lindenberg 60 anos

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60anos de história

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Se me perguntassem se a construção de 600 prédios ao longo de 60 anos de trabalho significa para mim uma autossatisfação toda especial, eu responderia: em parte, sim, mas o que mais me deixa satisfeito, realizado, é o fato de ter conseguido montar uma equipe

de trabalho muito unida, cônscia de pertencer a um todo empresarial formado por pessoas e não por funcionários burocráticos, anônimos e interessados somente em ganhar bons salários...Isso pode ser resumido numa frase: a CAL não é simplesmente uma empresa que incorpora e cons-trói, ela é uma família composta de diretores, engenheiros, secretárias e office-boys que almejam sentir-se bem, realizados, amigos entre si, dispostos a trabalhar em harmonia. Já ia me esquecendo... a CAL também tem por objetivo incorporar e construir.

E esse objetivo de não priorizar o lucro, mas o bem viver harmonioso, estende-se ao relacionamento com os moradores que vivem em apartamentos por nós construídos. Sempre foi uma de nossas características tratar cada condômino como se fosse único, com direito ao contato pessoal com os engenheiros, alterar as plantas, indicar os acabamentos de suas unidades. É o que denominamos “acabamento personalizado”, marca registrada da CAL. E mesmo depois de entregues os aparta-mentos a seus proprietários, procuramos manter relacionamento com eles através de uma revista mensal que permanece aberta para eventuais anúncios de venda de seus imóveis.

Grupo de trabalho com tônus familiar; acabamento personalizado; inovações tecnológicas; transfor-mação dos compradores em clientes e amigos; esses são os traços descritivos de nossa empresa que está completando 60 anos de vida.

Adolpho Lindenberg

Uma Grande Família de Amigos

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índice1960Milton de Souza MeirelesDom João VPrincesa Imperial Fabio Prado

1970Condomínio Parque dos CisnesEdfício Casa Branca Casa do EngenhoImperatrizDom CristóvãoBarão de CapanemaGolden GatePaço de Cintra Dom Eugenio e Rua Cristovão Diniz Town HouseCapanema 74Flat Service AugustaDom Luiz Bragança Paço de Queluz

1980Campos ElyseosPaço de Higienópolis, Dona Veridiana e M. AngélicaSt Louis e St PatrickQuinta da Boa Vista Studium Vogue Largo do Boticário

1990Paço de Grão ParáVerde MarVicente de Azevedo Vila AméricaRio das PérolasOuteiro da Glória e Jardim da GlóriaPlace de L’Etoile

2000Lindenberg Melo AlvesLindenberg GroenlândiaMuranoAdolpho Carlos LindenbergLindenberg Gironda Lindenberg LightLeopoldo 695Lindenberg Joaquim MacedoLe Grand ArtLindenberg PanambyLos AndesPátio Villa LobosLindenberg Tucumã

CorporativosCasa Grande HotelColégio Santo AméricoQuinta AvenidaBanco Real Eluma Parque IguatemiWilson Mendes Caldeira Cal Center II Mario Garnero Grande São PauloEd. Porto SeguroEd. Mauro Paes de AlmeidaWin Work PinheirosL’ Ermitage

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2014. O mundo está mudado. E muito. O que antes era definitivo deixou de ser certeza; o que era inovador ficou fora de moda; o que era ficção científica passou a ser realidade. Décadas de turbulências e calmarias políticas e econômicas abalaram o País e as estruturas de uma

das mais conceituadas construtoras e incorporadoras do Brasil, mas não lhe roubaram o ânimo para sempre se reinventar, como vem fazendo nas últimas seis décadas. Parte do grupo LDI, uma full service real estate developer, que atua em quatro áreas de negócios: incorporação, urbanismo, centros comerciais e construção, a Construtora Adolpho Lindenberg é a joia da coroa que a holding soube aproveitar como lastro de referência em qualidade e tradição, em todas as suas marcas – Lindencorp, REP e Lindenhouse.Constituída em 2004, a então incorporadora Lindencorp alinhou-se à grife Lindenberg, sinônimo de empreendimentos de alto luxo, alto padrão de qualidade e dona de um invejável portfólio com cerca de 700 obras construídas, parceiros e investidores. E teve a sabedoria de respeitar e manter os valores da tradicional Construtora Adolpho Lindenberg (CAL), e valer-se das conquistas e de toda a experiência do fundador, Adolpho Lindenberg, engenheiro e arquiteto, formado pela Universidade Mackenzie que, em 1954, ano das comemorações do IV Centenário de São Paulo, decidiu montar um escritório de engenharia em uma salinha na Rua Quintino Bocaiuva, no Centro de São Paulo, onde mal cabia uma prancheta. E começava a desenhar os primeiros traços de uma história de sucesso.O engenheiro, então com 30 anos, resolveu investir a herança de seu pai na construção de três casas de estilo colonial, no recém-projetado bairro do Ibirapuera, que circundava o grande parque inaugurado no mesmo ano. Eram residências amplas, de dois andares, sendo que a área social e copa e cozinha ocupavam o andar de baixo, e os quartos e um único banheiro o de cima. As dependências dos empregados ficavam no fundo do quintal, geralmente em cima da lavanderia, e contavam com dois quartos e um banheiro. A fachada de estilo barroco brasileiro tinha portas e janelas emolduradas com pedra ou pintadas com cores que contrastavam com as paredes e o verde ou azul das portas e janelas. O telhado de duas águas era feito com telhas coloniais e os portões ladeados por pilastras encimadas por um par de pinhas de porcelana vindas de Portugal. Essas casas lembravam o casario das Minas Gerais ou a arquitetura das sedes das fazendas paulistas de café. O sucesso de venda foi imediato. E com o dinheiro arrecadado Adolpho Lindenberg construiu outras casas, e mais outras, que ele mesmo vendia, em plantões nos finais de semana passados no terreno das obras em companhia da esposa Thereza. Seu estilo e seu natural savoir-faire o levaram a conhecer muita gente, fazer muitos amigos, e ser convidado para reformar sedes de fazendas de café na região de Campinas.Era esse o cenário da segunda metade da década de 1950, anos em que Lindenberg e os companhei-ros Alberto Du Plessis e Plínio Vidigal Xavier da Silveira passaram projetando e construindo centenas de residências de estilo colonial, “por achar que era muito mais adequado ao clima e cultura brasilei-ros do que a Bauhaus, que estava em plena moda naquela época”, relembra Lindenberg.

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1960

Enquanto a Lindenberg construía seus primeiros edifícios al-tos, a cidade de São Paulo transformava-se a passos largos. Era o iní-cio da década de 1960, e o dínamo paulistano encontrava-se em pleno vigor. A população do município passou de pouco mais de 2 milhões em 1950 a 3,5 milhões de habitantes em 1960, um crescimento de 5% ao ano. A Região Metropolitana ampliou ainda mais, cerca de 6% ao ano. Era o dobro do que crescia o Brasil como um todo.

S ão Paulo e o mercado imobiliário estavam em plena ebulição, oportunidades não faltavam na cidade que começava a se tor-nar a locomotiva de um Brasil que se industrializava. Adolpho

Lindenberg, agora em sociedade com Du Plessis e Plínio Vidigal, acre-ditou que era hora de transformar o pequeno escritório de engenharia na Construtora Adolpho Lindenberg, cabendo a Lindenberg a área co-mercial e de definição do produto, um prato cheio para um homem que tinha excelente intuição para novos negócios e apurado tino comercial. O ano era 1958. A nova empresa tinha uma concha vermelha como logotipo, e seguia construindo casas e, em um ato de ousadia, começou a erguer prédios de apartamentos mudando sua meta.

Casas sobrepostas

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Edifício D. João V, do começo dos anos 1960

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No espaço urbano não cabiam mais empreendimentos horizontais, fossem eles casas ou predi-nhos de dois ou três andares. Migrantes e imigrantes desembarcavam aos montes na capital cheia de promessas. Gente pobre ou endinheirada que precisava de um teto para morar. Novos bairros se formavam para além dos Campos Elíseos e de Higienópolis, e a cidade começava a se estender para o “lado de lá” da Paulista. A solução era verticalizar a cidade.

A sociedade paulistana era bastante conservadora e ainda provinciana. Com casarões em bairros nobres em sinal de status social, até então apenas a classe média vivia em edifícios. Como convencer aquela gente grã-fina e rica, por conta do ouro negro, o café, que durante alguns séculos foi a maior riqueza do Brasil, que morar em um apartamento poderia não ser sinal de problemas financeiros? “Construindo casas sobrepostas”, solucionou o engenheiro. Ou seja: levar para os apartamentos o mes-mo espaço, padrão e luxo das mansões.

Vários eram os motores daquele desenvolvi-mento todo. Em primeiro lugar, a industriali-zação. São Paulo se industrializava em todas as direções: permaneciam as antigas regiões fabris, como o polivalente Brás, o núcleo de confec-ções do Bom Retiro, que produzia todas as eta-pas da produção de vestuário, a Lapa, a Barra Funda. Mas não era só lá. Os galpões das fábri-cas espalhavam-se por toda a cidade, mesmo em regiões que posteriormente foram muito eliti-zadas: o bairro do Itaim cheirava a chocolate produzido pela Kopenhagen, as vitrolas Invic-tus eram produzidas na Rua da Consolação. O Lanche Mirabel era fabricado em Pinheiros, a uma quadra da Rua Oscar Freire.

A indústria automobilística operava com vigor cada vez maior no ABC paulista. A Volkswagen instalou-se em São Bernardo do Campo, em 1959, para montar Kombis e Fuscas. A Ford instalou-se, em 1967, na mesma cidade, para iniciar a produção de automóveis, pois

a sua produção já não cabia mais nas insta-lações apertadas do bairro do Ipiranga, que produziam apenas caminhões. Em 1968, a GM começava a fazer automóveis na fábrica que já existia em São Caetano.

O governo emitia leis protecionistas que vi-savam nacionalizar cada vez mais a produção automobilística, traumatizada com a escassez de peças importadas, fato que ocorrera du-rante a Segunda Guerra Mundial, e também visando a criação de empregos e aumento da complexidade do parque industrial. Essas leis produziram um efeito em cascata: centenas de indústrias de autopeças de todos os tamanhos instalaram-se ao redor das grandes montado-ras, multiplicando os empregos e construindo naquela região o que podemos chamar de uma “sociedade operária”. Enquanto isso, brotavam novas regiões industriais à beira das rodovias, como Osasco e Guarulhos, os polos petroquí-micos de Mauá e São Miguel Paulista...

Fachada suntuosa e muito verde no edifício Milton de Souza Meirelles

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Os edifícios que ostentavam a concha vermelha da CAL eram de altíssimo padrão, com apartamen-tos enormes, com, no mínimo, 400 metros quadrados livres, acabamentos nobres, pé-direito de mais de três metros, mármores importados, muitos ambientes, salas e saletas como mandava a moda, quatro quartos e dois banheiros, sendo um para o casal e o outro para os filhos, copa e cozinha imensas, dois quartos de empregada com um banheiro, área para lavanderia com espaço para a secagem de roupas, e duas vagas de garagem. O hall de entrada tinha de ser portentoso, com pé-direito duplo, mármore no piso, portas e gradis trabalhados, alguns deles provenientes das sedes das embaixadas estrangeiras que estavam se mudando do Rio de Janeiro para Brasília, a nova capital. Tudo comme il faut, para convencer a elite de que ir viver em um apartamento com essas características era uma atitude moderna e sensata, visto que a falta de segurança tomava conta da cidade.

Com as indústrias e o emprego vinham as pes-soas em busca de oportunidades. Após a onda de imigração estrangeira da primeira metade do sé-culo 20, o grosso dos que chegavam vinha das partes mais pobres do Brasil. Instalavam-se onde podiam: nos cortiços e pensionatos dos bairros centrais, nas casas de aluguel e vilas operárias dos bairros industriais e (cada vez mais) nas pe-riferias longínquas e desequipadas. Jânio Qua-dros, grande liderança política da cidade na época, percebeu logo que a população vulnerá-vel era fonte de votos e iniciou uma prática que se estende até os dias de hoje: a troca de votos por equipamentos e infraestrutura. O Centro da cidade ainda concentrava grande parte das

atividades de comércio e serviços, outro dos motores da metrópole paulistana. No Centro Velho e nas imediações do Vale do Anhangabaú estava instalado o setor financeiro: além da Bolsa de Valores, as sedes dos bancos. Os escri-tórios de advocacia concentravam-se perto da Faculdade de Direito no Largo São Francisco e do Fórum na Praça João Mendes. O comércio elegante no Centro Novo, na Rua Barão de Ita-petininga e imediações. O zoneamento da região central era bastante generoso, permitindo a construção de edifícios como o Itália, com 165 metros de altura, inaugurado em 1965, e o Palá-cio Zarzur e Kogan, finalizado no ano seguinte com 5 metros a mais.

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O primeiro edifício construído pela Construtora Adolpho Lindenberg, em 1962, foi o Princesa Imperial, na Rua Piauí, bem perto da Avenida Angélica, onde passava o bonde, no nobre bairro de Higienópolis. Um edifício de linhas neoclássicas e forte influência europeia. “Era impossível levar o colonial brasileiro para os prédios de apartamentos. Até tentamos, mas não funcionou. E como nos-so público viajava muito, se identificava com a estética das construções francesas”, explica Adolpho, que lembra que o estilo de decoração colonial brasileiro tão em moda na casa dos endinheirados, migrou para os apartamentos. Do alto dos seus 80 e muitos anos, ele relembra o passado com sim-plicidade e divertimento. “Eram outros tempos, outro modo de vida, outras necessidades.”

Os edifícios do Centro estavam tão ocupados em disputar as alturas que não se davam conta de que a ameaça vinha do flanco sul. Em 1958 havia sido inaugurado o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, causando uma oferta inédita de espaços comerciais e de serviços fora da região central.

Em uma cidade marcada pelo tempo e pelos es-paços do trabalho, não eram muitas as regiões cobiçadas pelas elites. Partindo do Centro Novo, o setor da moradia elegante olhava na direção do Rio Pinheiros. Esses bairros estavam prudentemente distantes da fuligem e do baru-lho dos bairros industriais das várzeas dos rios

Tietê e Tamanduateí. Ao contrário dos inúmeros bairros proletários que se espalhavam cada vez mais longe – principalmente nas direções Norte e Leste – esses bairros mais ricos já nasciam re-gularizados, os loteamentos garantindo largu-ras mínimas para as ruas e deixando áreas verdes disponíveis para parques e outros equipamentos. É aqui que se situam os bairros de casas que a Companhia City loteava desde a década de 1920: Jardim América, Alto de Pinheiros, Pacaembu, Sumaré, Cidade Jardim, City Butantã, e alguns outros similares feitos por outras companhias inspiradas na City, como o Jardim Europa.

Fachada e hall de entrada imponentes são marca registrada: edifício D. João V

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Esse estrangeirismo da arquitetura da Lindenberg foi considerado uma heresia pelos arquitetos moder-nistas brasileiros de então, o que não roubou um minuto de sono do engenheiro que em seguida lançou o D. João V, na Avenida Higienópolis, um edifício com 21 andares, um apartamento por andar, 400 metros quadrados de área útil nas unidades, 650 metros quadrados na cobertura e duas novidades: uma suíte para o casal – até então os banheiros ficavam no corredor, já que não era bem aceito que eles ficassem nos dormitórios, por questões de intimidade –, e uma das primeiras piscinas construídas em um edifício. A maioria dos clientes Lindenberg era sócia de algum clube, e não fazia sentido instalar uma piscina nos jardins do edifício, mas a ideia agradou aos moradores.

Intercalavam-se com esses bairros algumas regiões onde era possível construir prédios: Higienópolis, os Jardins, as imediações dos clu-bes Pinheiros e Hebraica, que ficaram conheci-das como Jardim Paulistano. As fronteiras desses bairros com os bairros de casas, como a Rua Esta-dos Unidos, eram alguns dos poucos lugares de onde se abriam paisagens mais amplas na cidade. Foi nesses lugares que se concentrou uma ver-ticalização de alto padrão na cidade, que bus-cava atender a um público muito específico. Fa-mílias com muito dinheiro começavam a pensar em morar em apartamentos, por diversas razões. Mas queriam fazer essa transição com muito cuidado. Por um lado, ninguém podia interpre-

tar a mudança como queda no padrão de vida. Por outro, desde a construção dos primeiros prédios residenciais, na década de 1930, paira-va sobre eles um preconceito: a vida em aparta-mentos não seria algo saudável, principalmente para as crianças. Por essas razões, muitos não se sentiam atraídos pelos edifícios modernistas e suas fachadas desprovidas de ornamentos. Ao contrário do ideário moderno, que apregoava a simplificação, o despojamento – em suma, vi-ver com o mínimo – essas famílias buscavam o máximo: pés-direitos altíssimos, portas e jane-las feitas artesanalmente, vários quartos para empregados domésticos, dos quais dependia o bom funcionamento das unidades daqueles edi-

Entrada do ediƒício D. João V e detalhes típicos de um Lindenberg, como as colunas da varanda

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Mármore branco e preto e portão de ferro trabalhado por artesãos no hall do edifício Pátio Imperial

Enquanto o Brasil vivia o golpe militar de 1964, a quantidade de trabalho da construtora aumentava e chegava a hora de os três sócios mudarem da Rua Quintino Bocaiuva para um confortável escritório na Rua General Jardim.

O que diferenciava um Lindenberg dos outros edifícios, naquela época e ainda hoje, era a atenção, o cuidado e a qualidade que começavam na inteligência do desenho das plantas, seu detalhamento, na personalização dos espaços e, principalmente, nos acabamentos impecáveis feitos por artesãos italianos. “Eram profissionais de primeira ordem, verdadeiros artistas saídos do Lyceo de Artes e Ofíceos que, com a industrialização dos anos 1950, tinham perdido sua função”, relembra Lindenberg, que fazia questão de se cercar por uma equipe que tivesse a mesma qualidade de seus produtos. “A pessoa mais importante em uma construção é o mestre de obras. É ele que contrata e comanda pedreiros, encana-dores, eletricistas e todo um time que precisa estar afinado. Um bom mestre de obras é capaz de salvar um projeto ruim, já o inverso não é verdadeiro”, diz o engenheiro que até hoje faz questão de se cercar por mestres de obras e equipes de confiança que conhecem o padrão Lindenberg de qualidade. Daí ter sido chamado de “o inventor do alto luxo” pela revista Veja.

fícios. Do ponto de vista da planta, os aparta-mentos de São Paulo tinham configurações es-pecíficas que os diferenciavam de outros locais onde foram construídos prédios residenciais de muitos andares. Em primeiro lugar, as dependên-cias de serviços: os vários segmentos da classe média brasileira não abriram mão de seus empre-gados domésticos e até mesmo apartamentos de um dormitório possuíam quartos de empregada até os anos 1960. Juntando cozinhas, quartos e banheiros de empregados, halls e áreas de servi-ços, era bastante significativa a parte dos aparta-mentos que tinham uma configuração de espaço de trabalho bastante intenso.

Os ambientes de estar buscavam a especializa-ção: a sala de estar, onde a família tinha a sua convivência mais íntima; a sala de visitas, mais formal, onde eram pendurados os melhores qua-

dros e colocados os melhores tapetes; o escri-tório/biblioteca, local que era mais de demons-tração de erudição e posição social do dono da casa do que propriamente de trabalho; copas separadas de cozinhas. As salas de almoço eram os locais de uso cotidiano, enquanto as de jan-tar eram acionadas em ocasiões especiais, ou por famílias que buscavam um modo de vida verdadei-ramente aristocrático, com serviço à francesa.

Nos maiores apartamentos, os dormitórios eram espaços bem reservados, demarcando cla-ramente a divisão da casa entre serviços, estar e área íntima. Na década de 1960, um arranjo comum era que o casal tivesse a sua suíte, e os filhos dividissem um banheiro. Dessa forma, os apartamentos reproduziam o formato da família tradicional, com pai, mãe e filhos em uma estru-tura doméstica bastante hierarquizada.

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Com apartamentos de 700 metros quadrados, a Lindenberg fez seu grand début nos Jardins com o edifício Fabio Prado

Se Lindenberg e seus sócios chegaram a duvidar que a elite paulistana trocaria seus casarões por suas “casas sobrepostas”, a resposta foi imediata: o mercado clamava por apartamentos ainda maiores, cer-cados por jardins e muita segurança. E foi assim que, em 1966, foi entregue o edifício Fabio Prado, no Jardim Europa, nas bordas da Rua Iguatemi, e bem perto do Rio Pinheiros. Uma lonjura para a elite que vivia do outro lado da Paulista e hesitava em mudar-se para o outro lado da cidade, em uma região de casas acanhadas. O edifício de 750 metros quadrados de área útil ficou pronto no mesmo ano em que o Iguatemi, o primeiro shopping center da cidade, abria suas portas. A valorização do bairro veio a galope, e o tempo provou que o faro do engenheiro estava certo e os Jardins e a região da hoje Avenida Faria Lima são algumas das áreas mais nobres de São Paulo. Com apenas 16 andares, três suítes e seis vagas na garagem, o Gaiola de Ouro, como foi apelidado, foi sucesso imediato de vendas e até hoje é um ícone que desperta o desejo dos consumidores de alto luxo, que sonham com um lugar na fila de espera de potenciais compradores.

Com toda a sinceridade, Adolpho Lindenberg afirma que nunca foi um pioneiro, mas não nega que tem o tino para detectar para “onde o vento sopra”, e quais as ruas e bairros que estarão em alta em pouco tempo. Lindenberg procurava e encontrava excelentes terrenos em bairros que estavam sendo formados e ainda tinham grandes áreas à disposição, onde instalava seus produtos diferenciados, tanto o bairro quanto o empreendimento se valorizavam quase que imediatamente – o bairro por ter um Lindenberg, o Lindenberg por estar naquele bairro. Depois era só vender, muitas vezes por telefone, para investidores que sabiam que a valorização de um imóvel Lindenberg era mais garantida que as os-cilações da moeda e da bolsa de valores. Foi assim com a Rua Cristóvão Diniz, por exemplo, hoje uma das mais valorizadas da cidade, onde Lindenberg teve a ideia de construir uma espécie de condomínio para sócios do Clube Athlético Paulistano. Ali, entre o final dos anos 1960 e a década de 1970, ergueu cinco imóveis de estilo neoclássico, alto luxo, sendo o primeiro deles, de 1967, batizado de Milton de Souza Meirelles, com 13 andares, um apartamento de três quartos por andar. Com a construção dos outros quatro edifícios na década seguinte, a pequena rua de um quarteirão, bastante arborizada, ganhou ares europeus, um charme especial e o valor de seu metro quadrado é dos mais altos da cidade.

Na outra ponta do mercado existiam as fa-mosas quitinetes, espaços únicos combinando dormitório e estar com pequenos nichos para cozinhas e banheiros, que foram produzidas até os anos 1960 e depois foram proibidas pela legis-lação. A quitinete era uma solução para muitos problemas: famílias recém-chegadas a São Pau-lo e com pouco dinheiro, um “pé” das famílias do Interior na Capital, moradia de estudantes,

alternativa barata de aluguel para quem queria viver em regiões centrais – e não vamos nos es-quecer das garçonnières, que tantos homens das classes médias e elites possuíam para seus encon-tros furtivos. Objeto de tanto desprezo, as qui-tinetes na verdade eram uma solução bastante interessante – e, porque não dizer, mais moder-na, para o viver metropolitano. Quem diria que elas voltariam à moda dali a meio século?

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Apelidado de Gaiola de Ouro, o edifício Fabio Prado é o típico exemplo da arquitetura neoclássica europeia

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1970

Em 1971 foi inaugurado o edifício do hotel Hilton, na Rua da Con-solação, com toda a pompa e até um show de Roberto Carlos em ple-na época de Jovem Guarda. O formato redondo do Hilton chamava a atenção, bem ao estilo dos anos 70, que buscava as formas curvas, procurando uma modernidade mais libertária que já interpretava os protestos dos jovens do final da década de 1960.

A receita do sucesso da Construtora Adopho Lindenberg, que es-palhava suas conchas e edifícios pela cidade, não estava apenas na estética europeia, como acreditam alguns, mas na qualidade

de sua construção, e na reputação de um nome muito bem construído.

Mediterrâneos, modernos e outras modas

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Inspiração mediterrânea no edifício Golden Gate

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O neoclássico era um estilo intemporal, que jamais ficaria ultrapassado – verdade que o tempo prova. Principalmente em sua concepção construtiva. A entrada de um edifício, o andar térreo, é a base e uma das partes mais importantes de um projeto. A imponência de um hall de pé-direito alto não é apenas um símbolo de status, mas é fundamental para toda a estrutura de um edifício. Nos apartamentos, as paredes mais grossas e o pé-direito mais alto são feitos para garantir conforto térmico, assim como o uso de menos áreas envidraçadas e mais janelas que se abrem, mesmo que seja para sacadas falsas, garantem a circulação do ar, enquanto que o espaço vazio deixado entre as lajes ou as paredes entre os apartamentos em edifícios com duas unidades por andar, não é desperdício e sim a certeza de prote-ção acústica para que um vizinho não incomode o outro. Esses cuidados não são apenas aplicados aos edifícios de alto luxo, mas foram (e ainda são) adaptados aos prédios de menor metragem mas igual qualidade construtiva.

O arguto Tom Zé descreveu a tensão entre os projetos modernizadores da década de 1960 e de 1970 na letra bem-humorada da música “A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel”, em que os dois edifícios ganhavam vida e competiam pela proeminência no Centro Novo. A chegada do Hilton ameaçava o lugar do Edifício Itália, que até então “era o rei da Avenida Ipiranga: alto,

majestoso e belo”. O Itália começou difamando o Hilton, dizendo que ele, para ficar todo bran-quinho tomava chá de pó-de-arroz. Ao que o Hil-ton respondeu que o Itália tinha “corpo de aço e alma de robô”, e daí para baixo. O Itália sapateou de raiva e disse que o Hilton abusava das curvas para chamar a atenção, “parecia uma menina lou-ca, ou até a Torre de Pisa vestida de noiva”.

Nítida influência da arquitetura grega, aposta da Lindenberg para o clima brasileiro: Parque dos Cisnes

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Outro diferencial dos edifícios de alto luxo da Construtora Lindenberg, na época e ainda hoje, era a personalização dos apartamentos. Cada proprietário poderia ter sua moradia com as características que desejasse: número de quartos, salas, banheiros, tamanho da cozinha, acabamentos... Essa alta-costura imobiliária era custosa e demandava tempo, mas os compradores não se importavam (e ainda não se importam), em gastar mais: queriam exclusividade.

Enquanto corria a disputa no Centro Novo, as torres da Paulista olhavam lá de cima o , re-luzentes e triunfantes: elas tinham vencido a batalha sem nem precisar brigar. Nos anos 1970, uma a uma as mansões da Paulista eram substituídas por torres modernas, algumas delas com comportadas fachadas de vidro e outras com formas mais arriscadas, como a pi-râmide da Fiesp e o edifício do Sumitomo, que remetia levemente aos pontiagudos templos

budistas orientais. Em 1973, a Avenida Paulis-ta ganhou mais um toque de modernidade com o projeto de identidade visual da Cauduro e Martino, completando uma paisagem de alta qualidade em comparação com um urbanismo bastante pobre que predominava em São Paulo: fiação subterrânea, totens verticais escuros com a sinalização e a semaforização, calçadas em mosaico português, abrigos de ônibus futu-ristas em fibra de vidro.

Terraço, varandas de vidro e uma linguagem mais praiana para o Villa d’Este, no Rio de Janeiro

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A proposta do Villa d’Este era seguir a leveza dos edifícios da orla carioca e valer-se do vidro para deixar a natureza entrar

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Os terraços projetados para frente criam volumetria para a fachada neoclássica do edifício Casa de Engenho

Mesmo que o neoclássico reinasse absoluto sob a égide da concha, Adolpho gostava de testar novos formatos. E lançava modas, embora dissesse que não, que hoje, do alto de seus 80 e alguns anos, repensa como pontuais e passageiras. Encantado com a simplicidade da arquitetura grega, casinhas brancas de paredes irregulares e excelente ventilação natural, ele voltou de uma viagem para a Grécia acreditando que o estilo mediterrâneo combinaria perfeitamente com o clima brasileiro, pelo frescor de sua construção. E projetou uma série de edifícios com essa estética jovem e moderna, feita sob medida para aqueles que procuravam novas opções de moradia, mas não dispensavam a qualidade das plantas e da construção de um Lindenberg. Os apartamentos mediterrâneos tinham cantos curvos, janelas arre-dondadas, alvenarias, desníveis entre os ambientes, piso de tábua corrida, balaústres e grades internas de influência do colonial brasileiro que fizeram imenso sucesso com jovens casais. Entre os lançamen-tos estava o Parque dos Cisnes, em Santo Amaro, cinco torres cercadas por 25 mil metros quadrados de belos jardins, um prenúncio dos garden-buildings de hoje, que na época preconizava, em seu fôlder de vendas: “Pela primeira vez a obra humana interveio na obra da natureza sem desfigurá-la”, e cuja propaganda vendia “um empreendimento inspirado na mais humana forma de arquitetura redesco-berta pela Lindenberg: o estilo mediterrâneo”, o Golden Gate e seus mais de 700 metros quadrados de área privativa, ou o Tanger e o Agadir, dois edifícios com a privilegiada, e eterna, vista para os clubes Pinheiros e Hebraica.

Quem acha que a Lindenberg construiu ape-nas neoclássicos vai surpreender-se em saber que alguns dos edifícios mais modernos da cidade foram também obra da construtora, como o Quinta Avenida, na Paulista, e o Par-que Iguatemi, na Faria Lima. As elites paulista-nas abraçavam, assim, a modernidade de manei-ra bastante particular: no trabalho, buscavam uma imagem profissional e corporativa moder-na, que apontava para o futuro, o dinamismo. Já para a moradia, muitos preferiram remeter ao passado, à tradição.

A década de 1970 foi também um momento de

transformação das formas dos edifícios da ci-dade. Em 1972 foi aprovada a famosa lei do zo-neamento, que definia os usos e as metragens que podiam ser construídas em cada terreno na cidade. A lei de zoneamento, que obrigava to-dos os edifícios a terem recuos frontais e la-terais, significou um desafio para a Lindenberg, que buscava trazer uma aparência europeia à moradia vertical das elites paulistanas. Afi-nal, na Paris oitocentista, o grande modelo, os edifícios correm diretamente no alinhamento das ruas, construindo as quadras fechadas tão agradáveis de se passear.

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Simetria e solidez são marcas registradas da Lindenberg, como no edifício Imperatriz Leopoldina

Mas não foram apenas os edifícios de estilo mediterrâneo as estrelas da construtora na década de 1970. Outras experiências foram feitas. Pouca gente diria que aquele edifício de fachada moderna, na Rua Oscar Freire, o Edifício Villa Belfiori, uma combinação de tijolo e concreto aparente como acaba-mento, 22 apartamentos dúplex com mais de 300 metros quadrados e quatro quartos, levava a assina-tura Lindenberg. Do mesmo modo que os terraços desencontrados do edifício Capanema, projetado por Gian Carlo Gasperini especialmente para a Lindenberg, não denunciam quem está por trás de seu projeto, e nem aquele prédio de estilo colonial americano, na Alameda Casa Branca, com fachada de tijolo aparente, também é da CAL.

Para responder a esse desafio, buscaram-se referências mais antigas, nos portões e jardins dos “hôtels” aristocráticos do século 18, que isolavam os edifícios das elites parisienses das ruas, reforçando sua exclusividade. Os portões serviam também para prover segurança aos mo-radores, cada vez mais temerosos de uma cidade que se descobria violenta. A ideologia moder-na, que defendia a acessibilidade irrestrita, os térreos livres e os prédios sobre pilotis, tinha menos respostas a essa situação do que as solu-ções tradicionais.

Na década de 1970, Lindenberg trouxe ao mercado imobiliário uma outra solução de es-tilo: o mediterrâneo. Em 1979, a propaganda do conjunto Parque dos Cisnes anunciava três edi-fícios em meio a um grande terreno verde, dis-tribuídos de forma orgânica no espaço, fugindo da ortogonalidade que caracterizava tanto a arquitetura modernista quanto os edifícios neoclássicos de fachada disciplinadamente pa-ralela à rua. O mediterrâneo propunha cantos

curvos, portas em arco, janelas redondas, ter-raços também arredondados. Os edifícios eram brancos e se contrapunham a tudo o que o mer-cado oferecia: os revestimentos industrializa-dos como as pastilhas, o concreto aparente, o austero ocre dos edifícios neoclássicos.

Na parte de dentro dos apartamentos a estru-tura não se transformava na essência. Tanto os apartamentos neoclássicos como os mediterrâ-neos tinham grandes partes da casa reservadas às dependências de serviços. Os maiores aparta-mentos contavam com copas separadas das cozi-nhas, salas de jantar afastadas das salas de al-moço e assim por diante. Se até a década de 1960 eram mais comuns os banheiros compartilha-dos, a década de 1970 foi a da generalização da suíte nos maiores apartamentos: cada quarto com o seu banheiro, e um banheiro só para a ala social, o lavabo. A racionalização das plantas permitiu a redução de alguns ambientes quan-do necessário, principalmente cozinhas, áreas de serviço e banheiros.

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O estilo da arquitetura americana clássica foi aplicado no edifício Casa Branca

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O calçamento de paralelepípedos arremata o estilo neoclássico do edifício D. Cristóvão Diniz, que teve a forma das colunas da fachada levemente modificadas, sem perder suas principais características

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Esses exercícios de criatividade, que aconteciam paralelamente às construções dos neoclássicos, aca-bavam servindo de laboratório para os arquitetos e engenheiros da empresa, e foram aplicados em alguns neoclássicos, como as varandas laterais desencontradas do Dom Luís de Orleans e Bragança, na Alameda Franca, ou as largas varandas que renovaram as fachadas neoclássicas de três dos edifícios erguidos na Rua Cristóvão Diniz, e que quebraram com o padrão de simetria paralela à rua da arqui-tetura francesa, mas não perderam sua essência.

A grande vedete dos revestimentos foi a fórmi-ca, que já existia há algum tempo no mercado, mas passou a ser aplicada de forma mais generalizada nas cozinhas, banheiros e até nos dormitórios. Dependendo da ousadia do cliente, a fórmica vi-nha em branco, em tons pastel ou em cores fortes. As paredes eram, em geral, brancas, remetendo aos

reluzentes caiados gregos. Alguns móveis fun-diam-se à arquitetura: sofás, bancos e superfícies de apoio em alvenaria, sobre a qual dispunham-se as almofadas na medida certa: nem muito casual (não era o caso de abraçar inteiramente o mundo hippie) nem muito cuidado (muito menos reprodu-zir a estética burguesa da casa da mamãe).

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Entre neoclássicos e mediterrâneos, o edifício Barão de Capanema joga com os volumes dos terraços desencontrados, uma proposta mais ousada da construtora

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Apesar da fachada mediterrânea renovada pelo terraço lateral, o interior do hall do Golden Gate é clássico

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O sucesso da empresa era tamanho que ela optou por expandir seus negócios para outros bairros, outras cidades, como Rio de Janeiro e Brasília, que vivia uma época de expansão fantástica – a pri-meira incorporação do Distrito Federal foi feita pela Lindenberg. E também diversificou seus projetos construindo edifícios comerciais, hotéis e obras industriais para terceiros, criando um departamento especializado para eles dentro da empresa. Em meados da década a quantidade de edifícios residenciais e comerciais era quase a mesma. Apenas na Avenida Paulista, o centro financeiro da cidade, cinco dos sete bancos que estavam ali instalados tinham a assinatura Lindenberg. E passavam a imagem de so-lidez e tradição, como o pórtico do Banco Mercantil, por exemplo, que a sede de um banco deve ter.

Até a década de 1960, planta dentro de casa significava um vaso de flor no centro da mesa, no máximo. Na década de 1970 caiu por terra o mito de que o gás carbônico exalado pelas plantas à noite era prejudicial à saúde. As samambaias de metro, as avencas, as costelas- -de-adão conquistaram as salas e os jardins de inverno, e o verde não deixou mais o interior dos apartamentos.

O estilo mediterrâneo saiu de moda em pou-cos anos. Muita gente considera o mediter-râneo cafona. Mas é importante olhar para esses prédios com o olhar da época: consumir uma arquitetura de curvas, que rejeitava um alinhamento mecânico com as ruas ou com os limites dos terrenos era, de certa forma, mani-festar-se por uma modernidade não mecânica, pela liberdade possível, pelo não convencional,

No edifício Paço de Sintra o primeiro andar é diferente dos demais, com gradil no lugar das colunas da varanda

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Típico edifício neoclássico, o Dom Eugenio parece estar em Paris

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À frente de seu tempo, a Lindenberg lançou o primeiro flat brasileiro, um novo conceito de morar para pessoas que estavam de passagem pela cidade, que viviam em outras cidades ou estados, mas vinham muito a São Paulo, e para jovens solteiros ou casais. A Lindenberg começava a detectar o surgimento de novos formatos de família. A ideia, hoje mais do que incorporada pelo brasileiro, era simples: um edifício de apartamentos pequenos, decorados, e com serviço de hotelaria, restaurante e sala de ginástica. Instalado nos Jardins, em São Paulo, o primeiro flat Lindenberg estava todo vendido antes mesmo de seu lançamento.

Mesmo que os anos 1970 tenham sido a década de ouro da construtora, os anos politicamente conturbados, a instabilidade da moeda, a queda do petróleo e a retração imobiliária do final da década abalaram a construtora que teve, como todo o País, de apertar um ponto em seu cinto. Frase repetida a cada plano econômico lançado.

em uma situação de ditadura ainda forte. Na década de 1970, morar em um edifício mediter-râneo era uma forma de adequar-se ao sistema com uma pontinha de irreverência e liberdade, só para deixar a dúvida. Dava até para colocar baixinho na vitrola um Chico Buarque, uma

Nara Leão. Evidentemente, existiram exemplos bem mais radicais de inconformidade, como a famosa “Casa-Bola”, projetada e construída por Eduardo Longo, em São Paulo – mas ela não precisava ser vendida, o cliente era o pró-prio arquiteto.

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Os terraços laterais do edifício Dom Luís Bragança foram pensados para garantir o sol em todos os andares

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66 67O edifício Paço de Queluz tem algo de singelo

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1980Uma década estranha

Nunca vamos nos esquecer de Odete Roitman, a vilã da novela Vale Tudo que a Globo exibiu em 1988. Odete era carioca, mas se morasse em São Paulo era bem capaz que escolhesse um Lindenberg, provavelmente uma das poucas coisas no Brasil que considerava estar à sua altura.

C onsiderados como os “anos perdidos” pelos economistas brasi-leiros devido à estagnação econômica e à inflação desenfreada, a década de 1980 não teve o glamour dos anos 1960 e nem a

efervescência dos anos 1970. E foi marcada, principalmente, pelo start da tecnologia a serviço da pessoa física. Foi nesses anos que os primei-ros computadores pessoais começaram a ganhar espaço, e que a Apple e a Microsoft iniciaram sua queda de braço. Foram anos conturbados política e economicamente, o que afetou profundamente a indústria da construção, e todo o mercado.

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Majestoso, o edifício Campos Elyseos é uma das joias da Lindenberg

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A Lindenberg tinha encontrado, na década anterior, uma solução criativa para driblar a inflação des-controlada: o Sistema de Construção a Preço de Custo, ou melhor, uma vez fechado o empreendi-mento, a cada mês as despesas eram rateadas entre todos os proprietários, conforme os desembolsos necessários para aquela obra. Os preços subiam, o dólar subia e as parcelas a serem pagas subiam, mas em compensação o prédio também subia. Era até mesmo uma forma de aplicação financeira e de proteção contra a escalada dos preços, pois o dinheiro desvalorizava, mas as fundações, as paredes, o elevador, não.

Para além da vilã, o sucesso da novela Vale Tudo explicava-se por retratar de frente a crise da sociedade brasileira da época: um co-tidiano atravessado por assaltos, arrivismos, contrabandistas, sonegação de impostos, des-crença no governo, e principalmente um mun-do desorganizado por uma inflação galopante.As grandes cidades eram a maior expressão dos problemas enfrentados pelo País. A população favelada de São Paulo, que mal chegava a 1%

do total em 1970, explodiu na década de 1980, atingindo mais de 10%.

De forma geral, a escolha das elites e das classes médias foi a de buscar um modo de vida que as protegesse das contradições das cida-des. De outra maneira, isso significou a busca por um modo de vida mais motorizado por par-te das classes média e alta. Tornou-se cada vez mais comum ver famílias de classe média alta com 3 ou 4 carros na garagem.

Detalhes completam a imponência do Campos Elyseos

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Em um generoso terreno muito arborizado fica o Paço Higienópolis, com pátios floridos e fontes

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Com juros estratosféricos, cada dia perdido pelas construtoras era um grande prejuízo, e muitas vezes sacrificava-se a qualidade de um projeto e da construção para finalizar uma obra em menor tempo. Com o “Preço de Custo”, a Lindenberg garantia a qualidade da construção, pois não precisava correr contra o relógio dos juros. Ao contrário: em alguns casos, as obras que andavam mais devagar eram um alívio para os proprietários que podiam diluir seus desembolsos por períodos mais prolongados.

Em São Paulo, aumentava o êxodo na direção do Rio Pinheiros, e até mesmo a Avenida Paulista perdia posição em relação à nova centralidade na Avenida Faria Lima. O Iguatemi, que nascera no final dos anos 1960 com cara de galeria, foi crescendo e se consolidando como local do co-mércio elegante. A década de 1980 foi a da ex-plosão dos shopping centers, com a abertura de vários novos em São Paulo e com a inauguração deles em várias capitais e nas cidades do interior mais ricas, como Campinas e Ribeirão Preto.

O modelo shopping center trazia algumas vantagens claras em relação ao comércio de

rua: proteção do sol, do calor e da chuva, a possibilidade de resolver muitas coisas em um só lugar, a segurança, a facilidade de estacio-namento em um período de acelerado aumento da motorização. Isso explica a sua multiplicação em tão pouco tempo. Por outro lado, o mode-lo cobrou o seu preço. Em todas as cidades onde se instalaram shopping centers, o comér-cio de rua sofria, principalmente as lojas mais elegantes tinham dificuldades em sobreviver fora dos shoppings. Isso significou uma gran-de popularização do comércio de rua em quase todas as cidades.

Colocar piscinas em cforma de leque ao redor do edifício Penthouse foi desafiador para a construtora

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Adolpho ressalta que o lucro não era a principal preocupação da construtora, mas sim a qualidade de sua construção. “Alguns trabalhos deram prejuízo, tamanho o cuidado com a construção e os acaba-mentos”, e da satisfação que sentia em saber que ele oferecia moradia de qualidade para tantas famílias. No portfólio da empresa constavam, nessa década, cerca de 400 empreendimentos.

Quem podia buscava afastar-se das regiões mais congestionadas da cidade. Até mesmo a Avenida Paulista sentia a crise, perdendo es-paço para edifícios mais modernos da Avenida Faria Lima. O transporte coletivo não era uma hipótese para os mais ricos, e os novos aparta-mentos eram vendidos para abrigar 3 ou 4 vagas nas garagens. O futuro parecia apontar para o outro lado do rio. Foi o período em que come-çou a verticalização do Morumbi, em São Pau-lo, e na Barra, no Rio.

Nenhuma cidade sentiu mais do que São Paulo a crise de sua região central. A Rua Augusta, que desde a década de 1960 era o local das lojas chiques, sentiu o baque. É verdade que o po-der público teve a sua parcela de culpa. Desde o final da década de 1960 uma série de interven-ções selaram o destino da região central como

um nó de articulação do transporte metro-politano: o Minhocão, a Praça Roosevelt, um emaranhado de viadutos no Parque Dom Pedro. Foram instalados no Centro grandes terminais de ônibus no Parque Dom Pedro, na Praça da Bandeira, na Praça dos Correios.

Aquela teria sido a época de se investir pesa-damente em uma rede de transporte de massa, que liberaria a superfície da cidade de uma par-te dos deslocamentos cotidianos e evitaria a de-gradação de uma série de espaços públicos. Mas por falta de recursos e pela priorização do espa-ço para os automóveis, isso só aconteceu muito lentamente. Após a inauguração da linha Nor-te-Sul do Metrô, em 1974, a linha Leste-Oeste foi sendo inaugurada aos poucos, entre 1979 e 1988. As duas linhas em cruz, com baldeação na Sé, eram muito pouco para uma metrópole que

Seguindo a linha “dois em um”, dois edifícios em um terreno, o Saint Patrick e Saint Louis

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A década de 1980 foi o auge da demanda pelo neoclássico. A Lindenberg ergueu novos projetos resi-denciais e entregou dezenas de edifícios que tinham sido iniciados no final dos anos 1970. Em 1983, a construtora lançou com toda a pompa e circunstância o Edifício Campos Elyseos, na Rua Padre João Manoel, em um terreno de quatro mil metros quadrados, talvez uma das últimas áreas com essas proporções na região dos Jardins. A estrutura de concreto armado do edifício tinha sido calculada prevendo possíveis alterações na planta, e a própria construtora oferecia sugestões diferenciadas para banheiros, copas e cozinhas, para que o apartamento fosse perfeito para o jeito de viver do morador. O edifício, um neoclássico com apartamentos de mais de mil metros quadrados de área útil, estava incrus-tado como uma joia em um exuberante jardim de 3.400 metros quadrados. Desde a sua inauguração, a Lindenberg foi defensora do verde, e cercava suas obras com jardins.

chegava a 1991 com mais de 15 milhões de habi-tantes. O outro metrô subterrâneo do País, o do Rio, era ainda mais diminuto.

A inflação requeria estratégia: assim que as pessoas recebiam o salário, corriam para o su-permercado para fazer as compras do mês, dis-putando os segundos com as vorazes máquinas remarcadoras de preços. Para dar conta disso, os apartamentos precisavam de espaço para as des-pensas e os freezers cheios de comida congelada.

Se nas décadas anteriores a prioridade para

os grandes apartamentos era a existência de grandes áreas de visitas, na década de 1980 elas mudaram bastante. A busca por segurança e os próprios avanços tecnológicos significaram a procura pela realização de atividades de lazer dentro de casa. Esse lazer era diferente para cada faixa etária: os pais agora podiam ver filmes em videocassete, os filhos jogar com aparelhos como o Atari conectado à TV. Dependendo da idade, as crianças tinham interesses diferentes, e ficava difícil compatibilizar isso tudo com uma

As formas abauladas do edifício Quinta da Baroneza atualizam o estilo neoclássico

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No edifício Largo do Boticário houve uma nítida fusão entre o neoclássico e o mediterrâneo

Uma proposta interessante, e que agradou ao cliente, era construir, em um mesmo terreno grande, duas torres gêmeas, de dimensões diferentes, cercadas por muitos jardins. Alguns exemplos são o Dona Ve-ridiana e o Dona Maria Angélica, em Higienópolis, bairro com quem a Lindenberg tinha uma forte ligação, o St. Louis e St. Patrick, no Jardim Paulista, com apenas oito pavimentos, por conta da legislação do bairro onde estava instalado e a garantia de ter, eternamente, o verde dos Jardins em seu horizonte.

Em uma sacada genial, a construtora convidou a revista Vogue, então a única revista de luxo do País, para lançarem o Studium Vogue, uma nova proposta situada em um novo endereço: a Avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi. As grifes Lindenberg e Vogue tinham tudo a ver. O Studium Vogue foi projetado para gente jovem, moderna. Tinha a sala com pé-direito duplo e um mezanino, o que possibilitava a criação de três ambientes em um único espaço, e dois tipos de apartamento de tamanhos diferentes, com duas ou três suítes. Eram apartamentos mais compactos para os padrões da época, tendo o menor deles 277 metros quadrados.

só televisão em casa. Dessa forma, cada quarto foi recebendo seus equipamentos, os ambientes foram se multiplicando e também reduzindo de tamanho. Sai de cena a biblioteca dando lugar para a sala de TV.

Não foram só as plantas internas dos aparta-mentos que sofreram transformações. A busca por segurança significou também a expansão das áreas de lazer e esportes nos prédios, o condomínio co-meçou a tomar o lugar do clube, e vão aparecendo

cada vez mais piscinas, saunas, salas de ginástica. Olhando para os apartamentos da década de

1980 com nossos olhos atuais, percebemos alguns passos desajeitados da nossa sociedade. Mesmo com espaço mais escasso, insistia-se em uma es-trutura residencial tradicional. As mudanças a passos largos da estrutura familiar, com novos hábitos, e a aprovação da lei do divórcio no final da década de 1970 não se refletiram em uma revi-são do imaginário das classes médias.

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No edifício Largo do Boticário houve uma nítida fusão entre o neoclássico e o mediterrâneo

“Apesar de seguir construindo edifícios neoclássicos, a Lindenberg estava sempre procurando novida-des, diversidade. Depois do desafio estrutural de colocar uma piscina em leque em um edifício, tudo seria possível”, relembra Adolpho Lindenberg Filho, ele fala dos edifícios Penthouse e Roof, no Mo-rumbi, que tinham piscinas em todos os andares, construídas em leque ao redor dos dois prédios, para que o terraço de um não roubasse o sol do outro. Eles foram os dois últimos exemplares da arquitetura mediterrânea que deixava de ser moda.

O que os anos 1990 guardavam para o País ainda era uma incógnita. No final da década aconteceram as primeiras eleições democráticas para presidente, venceu Fernando Collor, que sequestrou as poupan-ças e investimentos da população para um plano econômico desastroso. Para a Lindenberg seriam anos de revisão, de revitalização, de reposicionamento. A elite já não era a mesma, o modo de viver também não, era necessário rever o que o mercado desejava. Sentir para onde “soprava o vento”.

A elite brasileira, perplexa com o presente e inse-gura em relação ao futuro, elegia o passado como o seu refúgio. Se para os arquitetos modernistas a década de 1980 foi um desastre de público, para a Lindenberg foi o oposto. A década de 1980 signifi-cou o auge da demanda pelo neoclássico. Era como se a elite, sem lastro monetário, buscasse a segu-rança na estabilidade das linguagens arquitetôni-cas tradicionais do velho continente. Até mesmo prédios comerciais começaram a ser propostos em

estilo neoclássico, algo inédito até então.Mas a história provou que os anos 1980 não

eram o fim do mundo, e sim um período de tran-sição – ainda que turbulenta. Se do ponto de vista econômico a década parecia um beco sem saída, do ponto de vista político a história foi outra. O País conseguiu superar um contexto autoritário, ganhou nova Constituição e uma sociedade civil vibrante, responsável pela volta do País à democracia.

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1990N o início dos anos 1990, o portfólio da Construtora Adolpho

Lindenberg reunia mais de 400 empreendimentos, sendo 70% destinados para uso residencial. Um feito e tanto para

uma construtora que sobreviveu a todas as turbulências políticas e econômicas das décadas anteriores. Ao se dar conta dos números de empreendimentos construídos, Lindenberg se emociona: “Saber que construí lares confortáveis para tantas pessoas me deixa muito feliz. Sempre encarei cada projeto como uma pedra preciosa que ia lapidando aos poucos”.

Diminuir para somar

Para o Brasil, a década de 1990 iniciou-se tão desafiadora quanto a anterior. Em dezembro de 1989 foi realizado o segundo turno da pri-meira eleição presidencial direta em quase trinta anos. O vencedor, Fernando Collor de Mello, tinha a bandeira do combate à corrup-ção e da moralização das instituições do País, mas seu mandato foi marcado pela instabilidade, escândalos e finalmente um impeachment decorrente de denúncias de várias ordens. Com a queda de Collor subiu ao poder o seu vice, Itamar Franco, que iniciou o processo de estabilização monetária. A partir de Itamar a hiperinflação foi com-batida, mas isso ocorreu mediante um doloroso ajuste econômico e fiscal repleto de vítimas, inclusive dentre as construtoras.

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O assunto na primeira metade dos anos 1990 era a economia. Analistas procuravam entender o que aconteceria naqueles anos. Com o impeachment do presidente, a gestão de Itamar Franco, a esta-bilidade do real, parecia que o País iria navegar em mares de calmaria nunca antes navegados. Esses foram os anos da tecnologia da comunicação, da internet, dos computadores pessoais, da telefonia celular e da terceirização de mão de obra, abrindo as portas de casa para os home-offices. Com toda a tecnologia disponível, era possível trabalhar em casa e estar conectado. As tecnologias aplicadas aos eletrodomésticos racionalizaram a vida doméstica, pedindo um novo formato para a antiga cozinha, e a chegada da TV por assinatura convidou as pessoas a ficarem mais em casa, melhor, em seus respectivos quartos, com seu banheiro, sua televisão, seu som, seu computador, seu videogame. A sociedade mudava de feição e a arquitetura precisava se alinhar às novas necessidades.

O cenário das cidades era tão turbulento quanto o do País. A escalada da violência ur-bana prosseguia, atingindo seu auge no final da década de 1990. Os dados do Censo de 2000 revelaram uma situação urbana bastante per-turbadora: em várias cidades as áreas centrais e mais bem providas de infraestrutura perdiam população, enquanto as periferias desequipadas inchavam sem parar. A população moradora de favelas aumentava, cidade parecia ser sinônimo de problema. E São Paulo parecia ser o exemplo máximo dessa crise.

A região central apresentou-se naquele mo-mento como grande desafio. Cerca de 30% dos imóveis estavam desocupados por razões variadas: falta de interesses econômicos dos proprietá-rios, problemas com a documentação, más con-dições físicas. Os calçadões, repletos de dia e abandonados durante a noite. O espaço público degradado por falta de manutenção.

Nesse momento, uma série de grupos percebeu que o Centro era problema, mas podia também ser solução. A iniciativa privada organizou-se em uma associação que buscava recuperar o Centro para os usos culturais e turísticos. Por outro lado, movimentos sociais de luta por moradia identifi-caram o grande número de imóveis desocupados como uma oportunidade, e passaram a pressionar o poder público para a realização de políticas ha-bitacionais para a baixa renda na região central.

Foi feito um pouco de cada coisa. Foram recu-perados edifícios como a Pinacoteca e a Estação Júlio Prestes, que se transformou em uma luxuo-sa sala de espetáculos. Espaços públicos foram recuperados e reformados, como o Mercado Municipal e a Praça do Patriarca. Foram também reformados vários edifícios para a população de baixa renda, que pela primeira vez conquistava o direito de viver em boas condições na região central da cidade.

Janelas de pele de vidro azuladas renovaram a fachada do edifício Paço Grão Pará

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A entrada para carros do Paço Gão Pará remete aos casarões dos tempos dos barões do caféA ideia de “casas sobrepostas” é bastante evidente no edifício Grão Pará

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Os parâmetros construtivos mudaram nessa década. Nos anos 1990, elas (essas novas necessidades) passaram a seguir um modelo que diminuiria o preço final do metro quadrado das construções, e as obras levariam menos tempo para ficarem prontas. No caso da Lindenberg, foi adotado o caminho do meio, nem a “estandartização” dos espaços, nem a personalização, mas a opção de escolher entre três ou quatro tipos de plantas que fariam parte do escopo da obra, o mesmo acontecendo com os acaba-mentos. A personalização plena foi mantida, apenas, nos edifícios de alto padrão.

Um dos principais movimentos foi a volta do poder público ao Centro. Iniciou-se no início da década de 1990, com a ida da Prefeitura para o Palácio das Indústrias. No início da dé-cada seguinte, a prefeitura se mudaria nova-mente, dessa vez para a parte mais bacana do Centro, o Vale do Anhangabaú. Muitas secre-tarias do Estado e do Município se mudariam também para o Centro, aproveitando que lá os aluguéis eram mais baratos e que havia a pre-sença de transporte coletivo. Mas o Centro permaneceu, em grande medida, uma questão

em aberto para a cidade.Ao mesmo tempo em que se debatiam os ru-

mos da região central da cidade, o grosso dos negócios continuava se deslocando. Na déca-da de 1990, o então prefeito Paulo Maluf pro-moveu a extensão da Avenida Brigadeiro Faria Lima em suas duas extremidades: para o Oeste entre o Largo da Batata e a Avenida Pedroso de Morais e para o Sul entre as avenidas Cidade Jardim e Hélio Pelegrino. Construiu-se, assim, um grande eixo de negócios que desbancou até mesmo a Avenida Paulista.

A construção do edifício Verde Mar, no litoral norte de São Paulo, combina elementos dos anos 1960, as pastilhas, a uma estética mais contemporânea emprestada da arquitetura comercial

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“Se nos anos 1980 o cliente tinha cultura, sabia o que queria, viajava para o exterior com seu decora-dor para comprar tecidos, ver móveis, a década de 1990 trouxe outro perfil de cliente”, relembra Rosi-lene Fontes, arquiteta da Lindenberg desde 1989. Embora seja apaixonada pelo estilo contemporâneo, Rosilene aprendeu, com o engenheiro, a admirar a harmonia e as proporções clássicas.

Essa foi, também, a década em que tudo começou a ficar menor e mais prático. Não faziam mais sentido os apartamentos gigantescos, recortados em salas e saletas, portas fechadas, biblioteca, copa e cozinha imensas e dois quartos para empregada. Era preciso racionalizar a vida.

Os apartamentos começaram a diminuir de tamanho e a perder algumas paredes, fazendo com que as muitas salas, separadas por portas de correr, com funções diferentes como biblioteca, sala de jantar, sala de visitas, etc., virassem um único ambiente. A sala de visitas mudou de nomenclatura e passou a se chamar sala de estar, já não era mais aquele espaço que vivia com as luzes apagadas e que só era usado quando vinham as visitas, agora era aproveitada. A sala de jantar se uniu ao living. A copa foi abolida, e em alguns casos foi transformada em sala de almoço, em outros teve seu espaço usado para outros fins, e a cozinha, menor, ganhou inteligência, tecnologia e planejamento. As áreas de serviço ficaram menores, mais práticas, planejadas e agora havia apenas um quarto de empregada e um banheiro nos fundos do apartamento.

Foi nesse momento que o Itaim consolidou-se como um dos bairros mais valorizados do ponto de vista imobiliário, ainda que suas ruas estrei-tas e calçadas ainda mais estreitas não sugeris-sem isso. Nesse momento a Vila Olímpia também muda completamente de perfil: saem de cena os sobradinhos, entram os prédios envidraçados, os restaurantes e baladas. Um pouco mais adiante, o poluído Rio Pinheiros espelhava um número cada vez maior de torres, e sua marginal passava a ser um dos endereços cobiçados para os negócios na cidade. Do outro lado do rio, potencializava-se a verticalização do Morumbi.

Algumas das tendências da década anterior per-maneciam: as muitas vagas na garagem refletiam

uma cidade que optava pelo transporte individual, em parte por falta de opção pública. Os maiores apartamentos mantinham os quartos de emprega-da, mas muitos deles já não tinham moradoras.

Aos poucos apareciam algumas mudanças. As dimensões dos apartamentos diminuíam por dois motivos principais. O primeiro deles eram os avanços tecnológico e do design, que racio-nalizavam o uso do espaço: móveis mais leves, armários embutidos que se valiam de desenhos mais avançados. O segundo foi a necessidade de maior disciplina no uso do espaço. Até mesmo os orçamentos da classe média-alta já começavam a se comprometer com o pagamento dos condomí-nios e dos IPTUs.

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Os neoclássicos nunca deixaram de ser construídos, mesmo que revisitados, o edifício Vicente de Azevedo, por exemplo, é um basico

Foi nessa década, também, que os edifícios ganharam, por uma questão de segurança, áreas de lazer, piscina, playground, brinquedoteca, sala de ginástica. Poder se exercitar no prédio, as crianças brinca-rem em segurança no jardim, era tudo o que as famílias queriam.

Talvez a maior mudança trazida pela década foi a entrada em cheio da tecnologia dentro das casas. Se os anos 80 foram da internalização do lazer, a década de 1990 foi a da internali-zação do trabalho nos apartamentos. Introdu-ziu-se o uso dos computadores pessoais, e com isso mais e mais pessoas passaram a trabalhar em casa. As plantas precisavam adaptar-se. No lugar dos austeros escritórios e bibliotecas, que eram quase símbolos de status, entrava em cena o ho-me-office, ambiente de trabalho para valer.

O espaço precisava ser usado com maior ra-cionalidade. Foram desaparecendo os halls e

corredores, salas e cozinhas tiveram suas di-mensões reduzidas. Começavam a ficar claras as mudanças no serviço doméstico, e mesmo as famílias mais ricas dispensavam parte dos em-pregados que dormiam no emprego, em parte por causa dos custos e em parte por opção de reforçar a intimidade da família. Mas as plantas demoraram um pouco a se adaptar. Um aparta-mento sem quarto de empregada ainda era con-siderado sinal de um status social rebaixado, e por isso eles ainda existiam – mas muitos desses quartos produzidos nos anos 1990 nunca foram habitados.

Portas e portões não perdem os arabescos decorativos mas ganham chapas de ferro que “fecham” o edifício

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Na contramão da tendência de diminuir para somar, embora tenha lançado alguns empreendimen-tos menores, com perto de 300 metros quadrados, a Lindenberg ousou lançar o Place De L’Étoile, um neoclássico com 455 metros quadrados de área útil o apartamento tipo, quatro suítes com closet e banheiro, sendo que a do casal media 50 metros quadrados, e tinha uma banheira de hidromassagem instalada em seu banheiro. O interessante desse empreendimento, na Rua Maranhão, é sua fachada irregular, a planta enviesada, os jardins e a segurança que São Paulo já exigia. Na mesma linha dos es-paços generosos foi erguido o Paço Grão Pará, na Alameda Campinas, com o living todo aberto e com desníveis que ajudavam a criar vários ambientes e uma novidade: a incorporação da pele de vidro – tira-da dos edifícios comerciais – às janelas da fachada, emprestando atualidade para a estética neoclássica.

No final da década, quase virada do milênio, a Lindenberg passou a dotar seus imóveis com larei-ra, sistema de ar condicionado mult Split – exigência dos novos consumidores –, e segurança com guarita e circuito interno de televisão.

Os mais modernos começaram a usar as super-fícies de maneira criativa, mesclando arquite-tura e design de interiores. Com certeza, tudo era questão de medida: uma parede azul ou ver-melha definindo um grande ambiente com to-ques de Mondrian era considerado muito chi-que. Mas uma casa cheia de soluções de cores e texturas, sem descanso para os olhos, era obje-to de piada.

A própria cidade e a qualidade urbana come-çavam a entrar mais fortemente na agenda. Na segunda metade da década de 1990, com a esta-bilização da moeda, as viagens internacionais tornaram-se muito mais frequentes e mais gente pôde conhecer cidades como Paris, Nova York,

Londres, Amsterdã. É claro que muitos volta-vam deslumbrados com a riqueza e com as pos-sibilidades de consumo no Hemisfério Norte. Mas alguns voltavam com outras coisas na cabeça e na máquina fotográfica: as ruas se-guras, as calçadas largas, as fachadas contí-nuas onde era possível fazer as compras a pé, o café com mesinhas para fora onde se lia o jornal... partes das elites começavam a se in-comodar com a falta de qualidade dos espaços públicos. Começavam a reconhecer que a ar-quitetura era apenas uma das razões que fazia das cidades europeias lugares agradáveis. Não bastavam grandes apartamentos: era preciso uma cidade generosa.

No centro de jardins que remetem a Versailles ergue-se o edifício Vila América

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O terraço em forma de onda emprestou o ar praiano para o edifício Rio das Pérolas

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Olhando para o futuro, a Lindenberg detecta a tendência das varandas que podem ser integradas ao estar, como no edifício Outeiro da Glória

Eu tirava mm

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Toda a área social do edifício Place de l’Etoile fica voltada para a mesma vista

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2000

As cidades e os modos de morar no Brasil transformaram-se enor-memente nos primeiros anos do século 21, talvez mais intensamente do que em todas as outras décadas de existência da Lindenberg. Após décadas de crises, o Brasil voltou a crescer, trazendo novas perspec-tivas – e também novos desafios – para a sociedade.

A impressão que se tem ao olhar para trás é que tudo o que acon-teceu nas décadas anteriores preparou a Lindenberg para en-frentar o novo milênio com novo fôlego. E mesmo sendo uma

empresa familiar, tradicional, ela soube se adaptar muito bem aos novos tempos. Como diz, com muita propriedade o fundador da construtora, que em 1997 passou para o filho Adolpho Lindenberg Filho o comando da CAL, “uma empresa quando cresce não pode se isolar, isso não é sau-dável, é preciso entender o mercado e se adaptar a ele”. E foi isso que a Lindenberg fez na primeira década do novo século.

O ontem de hoje

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O pano de vidro usado no edifícios comerciais faz toda a diferença da fachada do Lindenberg Melo Alves

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Lazer passa a ser prioridade, e para a Lindenberg é a piscina coberta do Melo Alves

No começo dos anos 2000, a Lindenberg deixou de ser uma empresa familiar e se associou a Flavio Buazar que, por sua vez, além de dar novo fôlego e renovar o ânimo da empresa, soube aproveitar tudo o que a Construtora Adolpho Lindenberg tinha de bom: valer-se de seu nome sólido e fazer as necessárias mudanças sem descaracterizar nem a empresa e nem o produto. Alguns anos depois de sua chegada, a CAL passou a integrar a Lindencorp, que acabou também fazendo parte da LDISA, ao lado da REP e da Lindenhouse, cabendo à Construtora Adolpho Lindenberg a execução dos edifícios de alto padrão, tanto residenciais quanto comerciais.

O perfil da sociedade brasileira vem transfor-mando-se a passos rápidos. A estrutura de renda da sociedade brasileira sempre teve um formato piramidal, com poucos ricos no topo e muitos pobres na base. No lugar desse modelo vai apa-recendo uma sociedade de formato mais justo, com uma classe média maior e menos pobres. O impacto dessa transformação nas cidades é muito grande e apenas começamos a percebê-los.

O automóvel, que sempre foi um artigo de luxo disponível para poucos, generalizou-se pelo aumento do poder de compra de uma par-te grande da população e também pelo aumento das oportunidades de crédito e financiamento. Se por um lado mais gente tem acesso aos benefí-cios relacionados ao transporte individual, por outro lado transportar-se nas cidades tornou-se algo lento e penoso.

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Poucos andares, um quê de vila italiana no jardim que cerca a fonte e uma vista sensacional são características do Lindenberg Groenlândia

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Fachada do Lindenberg Groenlândia: varandas podem ser acopladas ao living

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Se os ventos sopravam para novidades, o engenheiro assinou embaixo todas as decisões tomadas pela nova geração. Já não havia mais bons terrenos disponíveis nos bairros nobres, e se existissem, o preço do metro quadrado seria impraticável. A solução foi levar a grife da concha para outros bairros, como a Vila Mariana, a Chácara Santo Antonio, o Ibirapuera, entre outros. Eram bairros que estavam mudando de perfil, recebendo casais recém-casados, jovens em começo de carreira, que procuravam imóveis de qualidade por um valor justo. Ali estão sendo erguidos edifícios com apartamentos de vários tamanhos, começando em 70 metros quadrados e nunca tendo mais do que 170 metros quadrados. Apartamentos de dois ou três dormitórios, um único ambiente para estar, cozinha americana ligada à sala ou ao terraço, onde quase sempre há uma churrasqueira. Na área social do edifício, salão de festas, brinquedoteca, sala de ginástica, piscina, jardim. E por trás desses itens, o selo Lindenberg de qualidade.

O excesso de automóveis nas ruas vem provo-cando mudanças importantes de comportamen-to. Mais e mais pessoas buscam morar em regiões centrais, em bairros onde os percursos cotidia-nos podem ser feitos a pé. Isso vem provocando um retorno da população aos bairros centrais das grandes cidades. É uma tendência que existe nas grandes cidades do mundo há décadas, e que

alcançou o Brasil. Aos poucos, as pessoas voltam a perceber que um bom bairro não é necessaria-mente um lugar tranquilo e arborizado, mas uma vizinhança completa, onde é possível morar, trabalhar, estudar e se divertir em percursos menores. Um lugar onde não é necessário pegar o carro para ir ao cabeleireiro, ao pet shop, à padaria tomar um café com os amigos.

A piscina coberta foi incorporada aos edifícios da Lindenberg, como a do edifício Murano

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Luxo dos luxos, o edifício Prof. Adolpho Carlos Lindenberg tem apartamentos com mais de mil metros quadrados

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A reedição do neoclássico interpretada no edifíco Lindenberg Gironda

A melhor tradução para o novo milênio responde por Leopolldo 695, um edifício de estilo contem-porâneo, conceituado como um edifício de apartamentos para investidores, aluguéis temporários ou pessoas que querem viver pequeno – os apartamentos têm entre 50 e 91 metros quadrados e uma planta extremamente inteligente, onde todos os espaços são muito bem ocupados –, e tão charmoso a ponto de ter uma biblioteca no hall de entrada.

Ocorreu um grande aumento na escala dos financiamentos imobiliários. Expandiram-se as linhas de crédito, alargaram-se os prazos de financiamento. Até os anos 1990 eram raros os financiamentos de mais de 10 anos, e atual-mente financiam-se imóveis em até 30 anos. As taxas de juros foram reduzidas e a documen-tação necessária foi simplificada. Todas essas medidas significaram um grande crescimento do público comprador de imóveis. Por um lado isso é bom, porque muito mais gente tem ago-

ra acesso à aquisição de imóveis. Mas existem também novos desafios. O aumento do crédi-to disponível resultou em um grande aumento do preços dos imóveis. Ao contrário do que se imagina, preços de terra altos não são bons para as construtoras ou as incorporadoras, pois os locais disponíveis para novas constru-ções são tão disputados e os preços de terrenos são tão altos que até as grandes empresas têm dificuldades em adquiri-los e fechar as contas dos empreendimentos.

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Com janelões do teto ao chão, o edifício Light é uma das interpretações do morar no terceiro milênio

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“Com o mercado saturado e o perfil da cidade bastante mudado, passamos a procurar novas opor-tunidades, outros bairros onde um Lindenberg se fazia necessário, e as cidades do interior em pleno desenvolvimento”, explica o fundador. Se São Paulo está ficando inviável, com trânsito caótico e falta de segurança, o caminho a seguir não seria outro que não o do interior, onde ainda existem grandes áreas para grandes projetos. É o que a Lindenberg está fazendo, levando sua grife para cidades como Ribeirão Preto, Santos, Piracicaba, Campinas. Com muito sucesso.

Uma das soluções para essa situação é a redu-ção do tamanho dos imóveis, de forma que os preços caibam no orçamento dos compradores. E nos últimos anos o tamanho dos apartamentos vem sendo reduzido e as plantas, racionalizadas.

Unidades menores não são apenas resultado da concorrência do mercado, elas têm a ver com as novas formas de morar nas cidades. Ca-sais com menos filhos, famílias não tradicio-nais, mais gente morando sozinha, idosos, são

muitos os grupos sociais que demandam menos espaço nas moradias. Além disso, não podemos esquecer as mudanças tecnológicas: hoje em dia, coleções de discos e bibliotecas inteiras cabem dentro de aparelhinhos. Tudo converge para uma necessidade menor de espaço. Quem di-ria que a quitinete, aquela coitada, voltaria à moda? Pois é, voltou, só que agora localizada em bairros bacanas, repletos de opções de lazer e com o nome bem mais chique de “studio”.

Residencial com serviço é outra aposta da Linderberg com o lançamento do edifício Leopoldo 695

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O problema da mobilidade na cidade e a falta de segurança fizeram surgir um novo tipo de empreen-dimento, muito comum nos Estados Unidos, que não pode ser considerado bairro, por ser fechado, e nem condomínio por abrigar lazer, comércio, hotel e escritórios, além de residências. Aqui são chama-dos de edifícios de uso misto, em Miami de garden buildings. Localizados em terrenos grandes, esses empreendimentos reúnem, em um mesmo espaço, torres de diferentes usos: moradia, escritório, hotel e ainda contam com shopping centers com supermercado, farmácia, livraria, lavanderia e algumas lojas,

As plantas com muitos ambientes vêm sendo substituídas por espaços multifuncionais, e am-bientes como a sala de visitas, a copa, os corre-dores e vestíbulos vão aos poucos deixando de existir. Muitos apartamentos fundem cozinha e área de serviço em um só espaço. Por outro lado, os brasileiros redescobriram as varandas, que estão cada vez maiores e de uso cada vez mais intenso, desempenhando o papel de verda-deiras salas. A TV, que por muito tempo tinha sido banida da parte mais social da casa, entra

em cheio nas salas. Ninguém mais tem vergo-nha de as visitas verem seus grandes aparelhos de TV, que nesse período perderam o tubo, fo-ram ficando mais finos e esbeltos e atualmen-te ocupam pouco mais do que o lugar de um quadro na parede. Com isso, mudaram também os sofás. Aqueles sofazinhos de visita da casa da vovó foram substituídos por sofazões mais profundos e cheios de almofadas onde a gente se inclina ou se deita para ver filmes, novelas e jogar.

Formas arredondadas permitem uma visão de 180 graus no edifício Lindenberg Joaquim Macedo

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Uma nova linguagem arquitetônica para um novo tempo: fachada mais limpa, piscina externa e o luxo de detalhes como o piso de mármore

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148 149Lindenberg Panamby, a versão século 21 do neoclássico

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além de área de lazer com piscina, quadras poliesportivas, salas de ginástica, brinquedoteca, e até salas de reuniões. “Oferecer moradia, trabalho, lazer, serviços e outras facilidades em um mesmo espaço geográfico é qualidade de vida. Admiro esses grandes empreendimentos verticais que estão sendo cons-truídos. São verdadeiras microcidades. Tenho orgulho de ver que nossa empresa está envolvida nesse movimento de inteligência urbana”, afirma.

Morando em bairros mais centrais e mais den-sos, e também expostos, e um trânsito caótico, parte da sociedade vem redescobrindo o uso do transporte coletivo. As maiores cidades es-tão construindo ou aumentando suas redes de transporte de massa, como metrôs, trens, mo-notrilhos, corredores de ônibus, alcançando mais regiões e permitindo que mais gente pos-sa optar pelo transporte coletivo. É certo que muito precisa ser feito, principalmente melho-rar a qualidade e o conforto, de forma que o transporte coletivo se transforme efetivamen-

te em uma opção melhor do que o automóvel. E também é importante pensarmos em diversificar as nossas modalidades de transporte: ciclovias, compartilhamento de carros, e a combinação de todos os diferentes sistemas. E não podemos es-quecer o meio mais antigo de todos: o caminhar a pé, que para isso precisamos de calçadas largas e bem mantidas, de passagens cobertas para en-frentar o frio, o sol e a chuva. E por que não pensar mais ousadamente: escadas e esteiras ro-lantes, passagens climatizadas, elevadores urba-nos para superar os grandes desníveis, etc.?

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Inspirado nos edifícios de Fisher Island, em Miami, e nas vilas mexicanas, o Los Andes é uma nova aposta da Lindenberg

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Seguindo a estética do Los Andes, o Pátio Villa Lobos também tem poucos andares e lembra uma vila

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A simplicidade das linhas retas do Lindenberg Tucumã abriga apartamentos de luxo

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No litoral norte de São Paulo, no edifício Porto Seguro todos os apartamentos dão vista para o mar

A arquiteta Rosilene Fontes confirma que a década de 2000 foi marcada pelos espaços menores, pela derrubada das paredes, a abertura de vãos, terraços espaçosos com portas-balcão maiores. O office-home, mesmo para quem não trabalha em casa, foi integrado com elegância à sala de estar, a cozinha deixou de ser domínio dos empregados e passou a ficar aberta para a sala e para o terraço social, cumprindo também o papel de sala de jantar. “Como os espaços estão menores, é preciso saber aproveitá-los com inteligência e valer-se da tecnologia”, avalia ela.

Outra das grandes mudanças recentes diz res-peito ao serviço doméstico. Se nas décadas passa-das era normal que apartamentos de classe média tivessem quartos de empregada (até mais de um), isso vai tornando-se cada vez mais raro. Cada vez menos famílias têm empregados domésticos dor-mindo em suas casas, e cada vez menos emprega-dos querem isso. Todos querem ter sua casa e sua intimidade, e é muito bom que nossa sociedade esteja mudando e permitindo que mais gente te-nha direito a ela.

O planejamento urbano também está se trans-formando nos últimos anos. Várias cidades já vêm

discutindo a ideia de que deve existir um número máximo de garagens por apartamento – até pouco tempo atrás só se pensava em número mínimo de vagas. Estão sendo também discutidos estímulos para as chamadas “fachadas vivas”, edifícios com aberturas para as ruas com comércio e serviços, fundamentais para manter vivas as ruas. Ao que parece, vem aí um novo modelo de cidade, mais denso, multifuncional, amigável ao pedestre.

É certo também que são muitos os desafios deixados pelo passado, que precisamos enfrentar. São milhões de pessoas vivendo em favelas, em loteamentos irregulares e clandestinos, em

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O neoclássico revisitado no Lindenberg Jardim Paulista: a estética de ontem aplicada ao hoje

Mesmo que o próprio Adolpho Lindenberg tenha dito em uma entrevista: “Na década de 1950 cons-truímos centenas de residências em estilo colonial, por achar que o estilo era mais adequado aos nossos clima e cultura. Nas décadas de 60, 70 e 80 construímos edifícios em estilo neoclássico ou mediterrâneo. Hoje, no entanto, inclino-me a julgar que o ideal a ser seguido pelos nossos arquitetos deveria ser o de uma arquitetura autenticamente brasileira, adequada ao nosso clima e às nossas tradições, independente-mente dos modismos internacionais”.

cortiços, sob fios de alta tensão e em terrenos contaminados. Ao mesmo tempo, são muitos os monótonos bairros-dormitórios, os grandes condomínios que não se abrem para as ruas, pro-

duzindo espaços urbanos pouco qualificados. O desafio para os próximos 60 anos passa pela produção de espaços públicos de qualidade nas cidades brasileiras.

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Villas Lindenberg: com jeito e tamanho de casa e toda a segurança dos apartamentos