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III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008
III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação
PUCRS
Limites e Possibilidades do Controle Social Democrático:
O Conselho Estadual de Assistência Social do Rio
Grande do Sul (CEAS-RS) em Perspectiva
Erika Scheeren Soares, Jairo Melo Araújo (orientador)
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Faculdade de Serviço Social, PUCRS,
Resumo
O estudo em questão visou a pesquisar como se processou a gestão do controle social
do Conselho Estadual de Assistência Social do Rio Grande do Sul - CEAS/RS, caracterizando
as correlações de forças dos interesses presentes no órgão objetivando um processo reflexivo
a sua qualificação. As diferentes perspectivas de controle social intrínsecas nessas estruturas –
a conservadora, a consensualista e a democrática - foram objetos centrais analisados na
Dissertação de Mestrado que o originou.
Palavras-chave: Controle Social; Democracia Deliberativa; Conselhos Gestores; Política de
Assistência Social.
Introdução
O trabalho fundamenta-se na origem histórica e cultural da instituição Estado e da
Sociedade Civil, na gênese dos direitos sociais, da democracia brasileira e de participação
social (MONTANO; 1999; DAGNINO, 2002), como também das esferas conselhistas de
controle social, sobretudo da política de assistência social, evidenciando seus limites e
possibilidades (RAICHELIS, 1998; GOHN, 2001).
Discorre acerca dos processos restritivos e colaborativos na efetivação do controle
social na perspectiva democrática do CEAS/RS pelos seus atores, que envolve os mecanismos
restritivos institucionais, as distintas concepções de assistência social presentes; as formas das
representatividades e de capacitação destes representantes, os processos de articulação
política, de comunicação interna e de poder.
III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008
Metodologia
Realizou-se Observação Sistemática nas Reuniões Plenárias quinzenais (dez
observações) e intercaladas com as Comissões de Trabalho (de Finanças, de Comunicação, de
Políticas e de Normas) do órgão a fim de subsidiar a analise das entrevistas (Total 22
sujeitos), realizadas por meio de formulário semi-estruturado, orientado pelo método
dialético-crítico, com todos os conselheiros assíduos e funcionários selecionados do
CEAS/RS no período de 2007. Visou o caráter interventivo da pesquisa, baseada na
abordagem Militante (RICHARDSON, 1999) e planejou-se devolução coletiva por meio de
Seminário Reflexivo ao lócus de Estudo.
Resultados e Discussão
O termo controle social é capaz de assumir diferentes conceitos, podendo ser
caracterizado como ambíguo no campo da ciência política e econômica, condicionado a partir
de concepções de Estado distintas. Este controle pode ser caracterizado primeiramente como o
controle do Estado sobre a sociedade em favor dos interesses das classes dominantes, por
meio da implementação de políticas sociais para amenizar o conflito de classes (CORREIA,
2004), denominado de controle social conservador.
A pactuação de interesses entre o Estado e a Sociedade Civil caracteriza a perspectiva
consensualista de controle social, pois “para ser mantido o consenso, o Estado incorpora
demandas das classes subalternas” (CORREIA, 2004, p. 164), de acordo com o que for mais
conveniente para a classe dominante. No entanto, o Estado dentro do conceito orgânico
Gramsciano amplia sua função de manutenção de consensos de uma classe sobre a outra e
incorpora, por vezes, as demandas das classes subalternas além dos interesses hegemônicos
da classe dominante que o constituiu. Surge, neste campo contraditório, outra perspectiva de
controle social: a das classes subalternas ou a perspectiva democrática de controle social.
Esta terceira perspectiva de controle social é, assim, movida pela “contraditoriedade
presente na sociedade civil, ora pendendo para a classe dominante, ora para as classes
subalternas, a depender da correlação de forças” (CORREIA, 2004, p. 165) que se constituem
entre estas. Implica a ocupação pelas classes subalternas dos espaços participativos de
controle social destinados à sociedade civil “na busca de conquistar mais poder e formar
consensos em torno de um projeto de classes contra-hegemônico” (Idem), como forma de
resistência aos objetivos dominantes de grupos ou estruturas de governos vigentes.
III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008
Conclusão
Há a primordial necessidade de compreensão das diferentes perspectivas de controle
social presentes por parte de seus atores/ sujeitos sociais, uma vez que se salientaram na
análise conduções à homogeneidade de interesses - ao controle social consensualista, e à
manipulação de instrumentos, informações e articulações por parte do Estado/governo vigente
no período. O processo de controle social do Conselho Estadual de Assistência Social do Rio
Grande do Sul precisa ser superado, pois há frágil realização do controle social na perspectiva
democrática. Dificultando-se ainda os interesses das classes subalternas usuárias das políticas
sociais quando na perspectiva conservadora o controle social era realizado.
Constatou-se que a dinâmica interna de gestão do CEAS/RS é caracterizada por
“dedicação exclusiva pela Mesa Diretora”, facilitada pela ausência de representatividade
propriamente dita pelo conjunto dos conselheiros, “justificada” pela falta de disponibilidade
horária, de compreensão da política e de ausência de comprometimento histórico ou direto
com as ações a com a Política de Assistência Social. No entanto compreende-se que questões
culturais históricas e de ausência de prévios indicadores de ingresso de representatividades
efetivas prejudicam as atribuições do CEAS, havendo poucas discussões e controle sobre os
temas deliberados.
Referências
CORREIA, M.V. C. A Relação Estado/Sociedade e o Controle Social: Fundamentos para o
debate. In Revista Serviço Social e Sociedade: Assistência Social Políticas e Direitos, n°77,
São Paulo, SP Cortez: 2004.
DAGNINO, E. Sociedade Civil, Espaços Públicos e a Construção Democrática no Brasil:
Limites e Possibilidades. In Sociedade Civil e Espaços Públicos no Brasil. São Paulo Paz e
Terra- UNICAMP: 2002.
GOHN. M. G. Conselhos Gestores e Participação Sócio-Política. Questões da nossa época,
n° 84. São Paulo, Cortez: 2001
MONTAÑO, C. Das Lógicas do Estado ás Lógicas da sociedade Civil. Revista Serviço Social e Sociedade, n. 59. São Paulo: 1999.
RAICHELIS, R. Esferas Públicas e Conselhos de Assistência Social: caminhos da construção democrática. São Paulo, Cortez:1999.
RICHARDSON, R. J. (e colab). Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3º Edição, São
Paulo, Atlas: 1999.