lideranca e o exercicio da etica americo figueiredo maio 2015

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LIDERANÇA E O EXERCÍCIO DA ÉTICA 18 ARTIGO Executivo de Gestão de Pessoas e Docente em Administração “Empresas modernas contam com líderes que incentivam e promovem os debates; assim, a cultura ética nas organizações se instala e se consolida por meio do exemplo.” ILUSTRAÇÃO: LOVATTO Em abril último, tive o privilégio de assistir a uma palestra do renomado professor de Harvard Michael Sandel. Foi uma excelente oportunidade para refletir acerca do delicado momento vivido pela sociedade brasileira, afinal, as feridas éticas do nosso país estão expostas graças ao triste episódio da Operação Lava Jato, que manchou para sempre, a meu ver, a reputação da Petrobras e colocou o Brasil no centro dos debates sobre justiça e corrupção. Para além do lado obviamente triste dos fatos revelados diariamente, vejo que estamos diante de uma oportunidade única para refletirmos acerca da necessidade de definitivamente inserir a questão ética na agenda de educação das pessoas em todos os níveis, com ênfase na formação dos educadores. Sempre acreditei, com convicção, na força transformadora das empresas em prol de uma sociedade justa, igualitária e democrática. Tempos desafiadores requerem mais liderança e menos “gerenciamento”. As companhias precisam de líderes que sejam capazes de conectar emocional- mente as pessoas por uma missão e propósito, que propiciem o engajamento das pessoas, que as façam aderir ao projeto por convicção. No contexto atual, há ainda outra tarefa: ajudar a discutir o que é o certo a se fazer. Naturalmente, esse processo leva ao debate sobre dilemas éticos. Como bem pondera Sandel, há coisas que o dinheiro não pode comprar. As empresas devem fomentar tais noções em seu corpo de líderes, incentivando o debate aberto, dando bons exem- plos, fortalecendo a cultura ética perante os seus colaboradores, fornecedores e todos aqueles envolvidos em sua cadeia produtiva. É chegada a hora de cada um assumir seu papel de agente transformador. Ganhamos todos com o fortalecimento da democracia. Empresas modernas contam com líderes que incentivam e promovem os debates; assim, a cultura ética nas organizações se instala e se consolida por meio do exemplo. Foi exatamente isso que abordei em uma breve conversa com o acadêmico de Harvard. Perguntei sem rodeios: qual é o papel de RH nesse contexto? Ele respondeu: “Garantir o cumpri- mento das visões éticas da empresa por meio do exemplo. Se vocês não derem o exemplo, tudo vai ruir. Não há dinheiro, bom produto, nada para em pé se não existir uma liderança com credibi- lidade”. Na Nextel, por exemplo, efetivamente liderei uma agenda para colocar os programas de com- pliance no centro das atenções. Desenvolvemos diversos treinamentos com exemplos da reali- dade brasileira, enquetes, sempre reforçando a importância de a liderança ser guardiã do compor- tamento ético. E é esse o caminho, penso: a área de RH deve abraçar essa agenda, recrutando as pessoas certas, questionando-as, estimulando a competição, mas não a qualquer custo. Com as novas gerações, tal postura é também uma ótima ferramenta de atração, afinal, que plano de employer branding não trabalha a divulgação dos valores e compromissos éticos da organização? O RH não pode ter vergonha de advogar isso. Pelo contrário: para ser ético, é pre- ciso coragem, preferir perder a se submeter a condições impróprias. Quantos RHs que você co- nhece estão dispostos a liderar uma agenda eticamente coerente, de fato?

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LIDERANÇA E O EXERCÍCIO DA ÉTICA

18

A R T I G O

Executivo de Gestão de Pessoas e Docente em Administração

“Empresas modernascontam com

líderes queincentivam e

promovem osdebates; assim, acultura ética nasorganizações se

instala e seconsolida por

meio doexemplo.”

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Em abril último, tive o privilégio de assistir a uma palestra do renomado professor de HarvardMichael Sandel. Foi uma excelente oportunidade para refletir acerca do delicado momento vividopela sociedade brasileira, afinal, as feridas éticas do nosso país estão expostas graças ao tristeepisódio da Operação Lava Jato, que manchou para sempre, a meu ver, a reputação da Petrobras ecolocou o Brasil no centro dos debates sobre justiça e corrupção.

Para além do lado obviamente triste dos fatos revelados diariamente, vejo que estamos diantede uma oportunidade única para refletirmos acerca da necessidade de definitivamente inserir aquestão ética na agenda de educação das pessoas em todos os níveis, com ênfase na formação doseducadores.

Sempre acreditei, com convicção, na força transformadora das empresas em prol de umasociedade justa, igualitária e democrática. Tempos desafiadores requerem mais liderança e menos“gerenciamento”. As companhias precisam de líderes que sejam capazes de conectar emocional-mente as pessoas por uma missão e propósito, que propiciem o engajamento das pessoas, que asfaçam aderir ao projeto por convicção. No contexto atual, há ainda outra tarefa: ajudar a discutir oque é o certo a se fazer. Naturalmente, esse processo leva ao debate sobre dilemas éticos.

Como bem pondera Sandel, há coisas que o dinheiro não pode comprar. As empresas devemfomentar tais noções em seu corpo de líderes, incentivando o debate aberto, dando bons exem -plos, fortalecendo a cultura ética perante os seus colaboradores, fornecedores e todos aquelesenvolvidos em sua cadeia produtiva.

É chegada a hora de cada um assumir seu papel de agente transformador. Ganhamos todoscom o fortalecimento da democracia. Empresas modernas contam com líderes que incentivam epromovem os debates; assim, a cultura ética nas organizações se instala e se consolida por meiodo exemplo.

Foi exatamente isso que abordei em uma breve conversa com o acadêmico de Harvard.Perguntei sem rodeios: qual é o papel de RH nesse contexto? Ele respondeu: “Garantir o cumpri-mento das visões éticas da empresa por meio do exemplo. Se vocês não derem o exemplo, tudovai ruir. Não há dinheiro, bom produto, nada para em pé se não existir uma liderança com credibi -lidade”.

Na Nextel, por exemplo, efetivamente liderei uma agenda para colocar os programas de com-pliance no centro das atenções. Desenvolvemos diversos treinamentos com exemplos da reali-dade brasileira, enquetes, sempre reforçando a importância de a liderança ser guardiã do compor-tamento ético. E é esse o caminho, penso: a área de RH deve abraçar essa agenda, recrutando aspessoas certas, questionando-as, estimulando a competição, mas não a qualquer custo.

Com as novas gerações, tal postura é também uma ótima ferramenta de atração, afinal, queplano de employer branding não trabalha a divulgação dos valores e compromissos éticos daorganização? O RH não pode ter vergonha de advogar isso. Pelo contrário: para ser ético, é pre-ciso coragem, preferir perder a se submeter a condições impróprias. Quantos RHs que você co -nhece estão dispostos a liderar uma agenda eticamente coerente, de fato?