lições de arquitetura - resumo

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resumo livro lições de arquitetura

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Lies de Arquitetura, de Herman Hertzberger

Neste livro, o arquiteto holands Herman Hertzberger transmite algumas lies sobre o fazer arquitetnico na atualidade. Sua leitura um convite anlise do sentido da profisso do arquiteto.

"(...) A arquitetura no pode ser outra coisa seno o interesse pela vida cotidiana, tal como vivida por todas as pessoas; como o vesturio, que no deve apenas nos vestir, mas ajustar-se bem a ns. O essencial que, seja l o que se faa, onde quer que se organize o espao e de que maneira, ele ter inevitavelmente certo grau de influncia sobre a situao das pessoas. A arquitetura, na verdade, tudo aquilo que se constri, no pode deixar de desempenhar algum tipo de papel nas vidas das pessoas que a usam, e a principal tarefa do arquiteto, quer ele goste, quer no, cuidar para que tudo o que faz seja adequado a todas estas situaes. No apenas uma questo de eficcia no sentido de ser prtico ou no, mas de verificar se o projeto est corretamente afinado com as relaes normais entre as pessoas e se ele afirma a igualdade de todas as pessoas. Toda interveno nos ambientes das pessoas, seja qual for o objetivo especfico do arquiteto, tem uma implicao social. A arte da arquitetura no consiste apenas em fazer coisas belas nem em fazer coisas teis, mas em fazer ambas ao mesmo tempo. Tudo o que projetamos deve ser adequado a cada situao que surja; em outras palavras, no deve ser apenas confortvel mas tambm estimulante e esta adequao fundamental e ativa que eu gostaria de designar como forma convidativa: a forma que possui mais afinidade com as pessoas."

Fonte: Google Imagens

PrefcioQuando discutimos nosso prprio trabalho, temos de nos perguntar o que adquirimos de quem. Pois tudo o que descobrimos vem de algum lugar. A fonte no foi nossa prpria mente, mas a cultura a que pertencemos. (...) Tudo o que absorvido e registrado por nossa mente soma-se coleo de idias armazenadas na memria. Uma espcie de biblioteca que podemos consultar toda vez que surge um problema. Assim, essencialmente, quanto mais tivermos visto, experimentado e absorvido, mais pontos de referncia teremos para nos ajudar a decidir que direo tomar: nosso quadro de referncia se expande. A capacidade para descobrir uma soluo fundamentalmente diferente para um problema, i.e., para criar um mecanismo diferente, depende da riqueza de nossa experincia (...).

A) Domnio Pblico

1 Pblico e PrivadoPblica uma rea acessvel a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manuteno assumida coletivamente. Privada uma rea cujo acesso determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mant-la. (...) No existe uma nica relao humana que nos interesse como arquitetos que se concentre exclusivamente em um individuo ou em um grupo (...), sempre uma questo de pessoas e grupos em inter-relao e compromisso mtuo, i.e., sempre uma questo de coletividade e indivduo, um em face do outro. Se, porm, o individualismo compreende apenas parte da humanidade, o coletivismo s compreende a humanidade como parte; nenhum deles apreende o todo da humanidade, a humanidade como um todo. Os conceitos de pblico e privado podem ser vistos e compreendidos em termos relativos como uma srie de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se ao acesso, responsabilidade, relao entre a propriedade privada e a superviso de unidades espaciais especificas.

2 Demarcaes TerritoriaisUm espao pode ser concebido como pblico ou privado dependendo do grau de acesso, da forma de superviso, de quem o utiliza, de quem toma conta dele e de suas respectivas responsabilidades.As gradaes de demarcaes territoriais so acompanhadas pela sensao de acesso. As vezes uma questo de legislao, mas, em geral, exclusivamente uma questo de conveno, respeitada por todos.Os termos pblico e privado so colocados a prova e tidos como inadequados, pois muitas vezes o espao pblico utilizado para interesses particulares, o que coloca seu carter em questo por meio do uso alm de fortalecer a demarcao por parte do usurio dessa rea aos olhos dos outros. Foram usados como exemplos as ruas e residncias em Bali, os edifcios pblicos, a Aldeia de Mrbisch na ustria, a Biblioteca Nacional em Paris / H. Labrouste e o Edifcio de Escritrios Centraal Beheerem Alpeldoorn. Oarquiteto tem importante papel nas demarcaes territoriais e nas possibilidades de acesso podendo trabalhar com formas, materiais, cores e luz utilizadas alm da articulao entre as dependncias do projeto.

3 Diferenciao TerritorialNa planta podemos observar as gradaes de acesso pblico s partes de um edifcio, que mostram as caractersticas dessas reas de modo que se possa intensificar ou atenuar a construo posteriormente.

4 Zoneamento TerritorialAs caractersticas de cada rea dependem de quem se sente responsvel por ela. Foram usados como exemplo o Edifcio de Escritrios Centraal Beheer, em Alpeldoorn, a Faculdade de Arquitetura do MIT em Cambridge, USA, a Escola Montessori em Delft e o Centro Musical Vredenburgem Utrecht. Emtodos esses exemplos a influncia dos usurios poderia ser ou foi estimulada para o envolvimento necessrio entre a estrutura organizacional e os mesmos.

5 De Usurio a MoradorUm arquiteto precisa ter tato para criar condies para um maior envolvimento no arranjo e no mobiliamento de uma rea para que, enfim, os usurios se tornem moradores. A Escola Montessori em Delft e as Escolas Apollo em Amsterdam ilustram bem essa situao. Como um ninho seguro essas escolas proporcionam aos usurios uma sensao de proteo, um lugar que se possa chamar de meu.

6 O IntervaloA soleira fornece a chave para a transio e a conexo entre reas com demarcaes territoriais divergentes e, na qualidade de um lugar por direito prprio, constitui, essencialmente, a condio espacial para o encontro e o dialogo entre reas de ordens diferentes, o pblico e o privado. Como exemplo temos a Escola Montessori, Delft, De Overloop, Lar para Idosos, Almere, De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam, Residncias Documenta Urbana, Kassel, Alemanha e Cit Napolon, Paris / M. H. Veugny. Nesses espaos, a concretizao da soleira como intervalo significa, em primeiro lugar e acima de tudo, criar um espao para as boas-vindas e as despedidas, sendo de suma importncia para o contato social.

7 Demarcaes Privadas no Espao PblicoO conceito de intervalo a chave para eliminar a diviso rgida entre reas com diferentes demarcaes territoriais. A questo ets, portanto, em criar espaos intermedirios que, embora do ponto de vista administrativo possam pertencer tanto ao domnio publico quanto ao privado, sejam igualmente acessveis para ambos os lados, isto , quando inteiramente aceitvel, para ambos os lados, que o outro tambm possa us-lo. Assim temos o De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam, as Residncias Diagoon, Delft e as Moradias LiMa, Berlim. Nesses espaos os moradores sentem-se mais inclinados a expandir sua esfera de influencia em direo a rea publica, aprimorando a qualidade do espao publico pelo interesse comum. H at mesmo uma rea da rua com a qual os moradores esto envolvidos , onde marcas individuais so criadas por eles prprios e que apropriada conjuntamente e transformada num espao comunitrio.

8 Conceito de Obra PblicaO segredo dar aos espaos pblicos uma forma tal que a comunidade se sinta pessoalmente responsvel por eles, fazendo com que cada membro da comunidade contribua sua maneira para um ambiente com o qual possa se relacionar e se identificar. Os servios prestados pelos rgos municipais so, normalmente, tidos como abstraes opressivas; como se as obras pblicas fossem uma imposio vinda de cima; o homem comum sente que no tem nada a ver com ele, e, deste modo, o sistema produz um sentimento generalizado de alienao. As Moradias Vroesenlaan, Rotterdam / J. H. van den Broek e o De Drie Hoven, Lar para Idosos, Amsterdam ilustram como as melhores intenes podem levar indiferena. As coisas comeam a dar errado quando as escalas se tornam grandes demais e quando a conservao e a administrao de uma rea comunitria no podem mais ser entregues queles que esto diretamente envolvidos. Quando a burocracia assume o controle, as regras tornam-se uma camisa-de-fora de regulamentos. O crescimento do nvel de controle imposto de cima para baixo est abrindo caminho para a agressividade, que, por sua vez, conduz a um enrijecimento ainda maior da teia de regulamentos. O resultado um crculo vicioso, a falta de comprometimento e o medo exagerado do caos alimentando-se mutuamente. O arquiteto pode contribuir para criar um ambiente que oferea muito mais oportunidades para que as pessoas deixem suas marcas e identificaes pessoais, que possa ser apropriado e anexado por todos como um lugar que realmente lhes pertena. Construdo com entidades pequenas e funcionais que proporcionem uso intenso para apelar em favor da descentralizao das responsabilidades.

9 A RuaMundo hostil de vandalismo ou agresso ou lugar de contato social entre os moradores? A desvalorizao da rua pode ser atribuda a muitos fatores, entre eles o aumento do trafego motorizado e as melhores condies de vida da populao, que tendem a passar mais tempo dentro de casa. No mbito da organizao espacial o arquiteto pode estimular as ruas de convivncia onde os adultos podem interagir e as crianas brincar. Seu conceito est baseado na idia de que os moradores tm algo em comum, expectativas mtuas. Assim as unidades de habitao tambm funcionam melhor quando esto localizadas em espaos de convivncia. Isto determinado em grande parte pelo planejamento e pelo detalhamento do layout da vizinhana. Em bairros residenciais devemos dar rua a qualidade de uma sala de estar para a interao cotidiana e para as ocasies especiais entre os membros da comunidade. To importante quanto a disposio relativa das unidades residenciais umas em relao s outras a colocao das janelas, sacadas, varandas, terraos, patamares, degraus das portas, alpendres... Casas e ruas so complementares: a qualidade de uma depende da qualidade da outra.

10 O Domnio PblicoSe as casas so domnios privados, a rua o domnio publico. A rua foi, originalmente, o espao para aes, revolues, celebraes, e ao longo de toda a histria podemos ver como, de um perodo para o outro, os arquitetos projetaram o espao publico no interesse da comunidade a que de fato serviam. Este, portanto, um apelo para se dar mais nfase ao tratamento do domnio publico, para que este possa funcionar no s para estimular a interao social como tambm para refleti-la.

11 O Espao Pblico como Ambiente ConstrudoAt o sc. XIX havia poucos edificios publicos, e mesmo estes no o eram de maneira integral. O acesso pblico a edifcios como igrejas sofria certas restries, impostas pelos encarregados de sua manuteno ou pelos proprietrios. Os verdadeiros espaos pblicos estavam quase sempre ao ar livre. Os tipos de edifcio que foram desenvolvidos nesse perodo formaram os blocos de construo para a cidade, mais convidativos e hospitaleiros. A (r)evoluo industrial abriu um novo mercado de massa. A acelerao e a massificao dos sistemas de produo e distribuio conduziram criao de lojas de departamento, exposies, mercados cobertos, estaes ferrovirias e metr, e conseqente aumento do turismo. A razo mais importante para o intercambio social sempre foi o comercio, que em todas as formas de vida comunitria sempre ocorre em certas medidas nas ruas, onde cidade e campo se encontram e onde as noticias correm.

12 O Acesso Pblico ao Espao PrivadoEmbora os grandes edifcios que tem como objetivo ser acessveis para o maior numero possvel de pessoas no fiquem permanentemente abertos implicam uma expanso fundamental e considervel do mundo publico. Os exemplos mais caractersticos desta mudana de nfase so as galerias. As galerias serviam em primeiro lugar para explorar os espaos interiores abertos e eram empreendimentos comerciais por onde circulavam os pedestres, graas ausncia de transito. As passagens altas e compridas, iluminadas de cima graas ao telhado de vidro, nos do a sensao de um interior: deste modo estamos do lado de dentro e de fora ao mesmo tempo. Na medida em que a oposio entre as massas do dos edifcios e o espao da rua serve para distinguir grosso modo o mundo privado do publico, o domnio privado circunscrito transcendido pela incluso de galerias. O espao interior se torna mais acessvel, enquanto o tecido das ruas se torna mais unido. A cidade virada pelo avesso, tanto espacialmente quanto no que concerne ao principio do acesso. O abandono do assentamento de quadras num permetro fechado, no urbanismo do sculo XX, significou a desintegrao da definio espacial ntida dada pelo padro da rua. Esse novo tipo de assentamento urbano individualizou as fachadas, privatizou as entradas e afastou os edifcios uns dos outros, tornando maior a oposio entre publico e privado. Por isso os arquitetos modernos objetivam a melhoria dos edifcios por meio de um assentamento de melhor qualidade. Devemos considerar a qualidade do espao das ruas e dos edifcios relacionando-os uns aos outros, com uma relao de reciprocidade. Embora a expresso da relatividade dos conceitos de interior e exterior seja uma questo de organizao espacial, o fato de uma rea tender para uma atmosfera mais parecida com a da rua ou com a de um interior depende da qualidade do espao, de suas dimenses, da forma e da escolha dos materiais. a unio de interior e exterior e a conseqente ambigidade que intesificam a percepo de acesso espacial e de intimidade. O uso de uma rea, o sentido de responsabilidade por ela e o cuidado dispensado a ela encontram-se todos ligados s demarcaes territoriais e administrao. Mas a arquitetura, graas as qualidades evocativas de todas as imagens explicitamente espaciais, formas e materiais, possui a capacidade de estimular determinados tipos de uso.

Fonte: Lies de Arquitetura, de Herman Hertzberger