licença

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É professora do quadro, agora está a contrato e recebe 265 euros por mês Clara Viana Ministério da Educação ignora disposições que regem o regresso de licenças sem vencimento a Se a Direcção-Geral de Recursos Humanos (DGRHE) do Ministério da Educação tivesse aplicado o que se encontra previsto na lei e nos seus documentos oficiais, Ondina Pires, professora de Inglês do 3.º ciclo, es- taria a auferir um vencimento líquido mensal quase cinco vezes superior àquele a que se viu confinada neste ano lectivo. Em vez dos 265 euros por mês que está a ganhar, teria direito a cerca de 1450, a remuneração líquida equivalente ao antigo 8.º escalão da carreira docente que era aquele a que pertencia antes de entrar de licença sem vencimento e de, no regresso, ter perdido quase tudo. Ondina Pires tem 49 anos. De do- cente do quadro passou a professora a contrato na Escola Básica 2/3 D. Luís de Mendonça, no Barreiro, a mesma em que ficou efectiva há nove anos. Tem um horário de seis horas por se- mana. Ainda está estupefacta: afinal, até mesmo na lei nada pode ser dado como certo. Às licenças sem vencimento aplica- se o estipulado no Estatuto da Car- reira Docente (ECD) e no Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas. Os artigos respectivos são citados numa circular divulgada em Abril pela DGRHE sobre a concessão de licenças e as condições de regres- so ao activo dos professores nesta situação. No caso das licenças sem vencimento de longa duração – On- dina Pires esteve fora cinco anos –, o docente perde o lugar, mas pode “requerer o regresso ao quadro de origem, numa das vagas existentes no respectivo grupo de docência ou na primeira que venha a ocorrer no quadro a que pertence”. Vaga por morte Em Setembro de 2010, Ondina pe- diu para regressar no presente ano lectivo à escola do Barreiro a cujo quadro pertence. O seu lugar estava ocupado, mas devido à morte de uma professora que também leccionava Inglês, ocorrida em Maio passado, passou a existir mais uma vaga nes- ta escola. Através do gabinete de im- prensa do Ministério da Educação, a DGRHE confirmou ao PÚBLICO o su- cedido e também que a directora da escola informou, de imediato, de que se encontrava, por isso, “em aberto um lugar do quadro”. Mas, por deter- minação da DGRHE, Ondina não foi colocada, embora estivessem aulas por assegurar. Segundo a DGRHE, o indeferimen- to justifica-se porque “os lugares do quadro que vaguem por morte, apo- sentação ou transferência dos respec- tivos titulares e que se mantenham após reavaliação da rede escolar, só poderão ser supridos por concurso externo que se realiza de quatro em quatro anos, tendo o último ocorrido em 2009”. Esta determinação não figura nem na legislação que abrange as licenças sem vencimento e que é citada pela DGRHE na circular que emitiu em Abril, nem nos esclareci- mentos que acrescentou nesse mes- mo documento. Também não se encontra descrita nos artigos, que nada têm a ver com licenças, dos dois diplomas (n.º 1 do art.º 8.º do decreto-lei que regula os concursos de professores-DL 51/2009; 26.º e 28.º do ECD) para os quais a DGRHE remeteu o PÚBLICO. Por via do Sindicato dos Professo- res da Grande Lisboa, o caso está ago- ra em tribunal. Ondina não sabe bem o que esperar. Diz apenas que “está profundamente triste e cansada”.

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Licença Sem Vencimento

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Page 1: Licença

Tiragem: 43909

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 9

Cores: Cor

Área: 22,81 x 13,40 cm²

Corte: 1 de 2ID: 39745771 20-01-2012

É professora do quadro, agora está a contrato e recebe 265 euros por mês

Clara Viana

Ministério da Educação

ignora disposições que

regem o regresso de licenças

sem vencimento

a Se a Direcção-Geral de Recursos Humanos (DGRHE) do Ministério da Educação tivesse aplicado o que se encontra previsto na lei e nos seus documentos ofi ciais, Ondina Pires, professora de Inglês do 3.º ciclo, es-taria a auferir um vencimento líquido mensal quase cinco vezes superior àquele a que se viu confi nada neste ano lectivo. Em vez dos 265 euros por mês que está a ganhar, teria direito a cerca de 1450, a remuneração líquida equivalente ao antigo 8.º escalão da carreira docente que era aquele a que pertencia antes de entrar de licença sem vencimento e de, no regresso, ter perdido quase tudo.

Ondina Pires tem 49 anos. De do-cente do quadro passou a professora a contrato na Escola Básica 2/3 D. Luís de Mendonça, no Barreiro, a mesma em que fi cou efectiva há nove anos. Tem um horário de seis horas por se-mana. Ainda está estupefacta: afi nal, até mesmo na lei nada pode ser dado como certo.

Às licenças sem vencimento aplica-se o estipulado no Estatuto da Car-reira Docente (ECD) e no Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas. Os artigos respectivos são citados numa circular divulgada em Abril pela DGRHE sobre a concessão de licenças e as condições de regres-so ao activo dos professores nesta situação. No caso das licenças sem vencimento de longa duração – On-dina Pires esteve fora cinco anos –, o docente perde o lugar, mas pode “requerer o regresso ao quadro de origem, numa das vagas existentes no respectivo grupo de docência ou

na primeira que venha a ocorrer no quadro a que pertence”.

Vaga por morteEm Setembro de 2010, Ondina pe-diu para regressar no presente ano lectivo à escola do Barreiro a cujo quadro pertence. O seu lugar estava ocupado, mas devido à morte de uma professora que também leccionava Inglês, ocorrida em Maio passado, passou a existir mais uma vaga nes-ta escola. Através do gabinete de im-prensa do Ministério da Educação, a DGRHE confi rmou ao PÚBLICO o su-cedido e também que a directora da escola informou, de imediato, de que se encontrava, por isso, “em aberto um lugar do quadro”. Mas, por deter-minação da DGRHE, Ondina não foi colocada, embora estivessem aulas por assegurar.

Segundo a DGRHE, o indeferimen-to justifi ca-se porque “os lugares do quadro que vaguem por morte, apo-

sentação ou transferência dos respec-tivos titulares e que se mantenham após reavaliação da rede escolar, só poderão ser supridos por concurso externo que se realiza de quatro em quatro anos, tendo o último ocorrido em 2009”. Esta determinação não fi gura nem na legislação que abrange as licenças sem vencimento e que é citada pela DGRHE na circular que emitiu em Abril, nem nos esclareci-mentos que acrescentou nesse mes-mo documento. Também não se encontra descrita nos artigos, que nada têm a ver com licenças, dos dois diplomas (n.º 1 do art.º 8.º do decreto-lei que regula os concursos de professores-DL 51/2009; 26.º e 28.º do ECD) para os quais a DGRHE remeteu o PÚBLICO.

Por via do Sindicato dos Professo-res da Grande Lisboa, o caso está ago-ra em tribunal. Ondina não sabe bem o que esperar. Diz apenas que “está profundamente triste e cansada”.

Page 2: Licença

Tiragem: 43909

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 36

Cores: Cor

Área: 5,87 x 7,14 cm²

Corte: 2 de 2ID: 39745771 20-01-2012

EducaçãoÉ professora do quadro, agora a contrato, e ganha 265 euros por mês Pág. 9