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Lição 6 – A justificação pela fé

Texto bíblico: Gálatas 2.15-21

Texto áureo:

“Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso

rio” – afirmou o pastor batista Martin Luther King Jr., durante um discurso, para mais

de 200.000 pessoas aglomeradas em torno do Memorial Lincoln, na capital dos Estados

Unidos, em 1963. No seu famoso discurso (I have a dream – Eu tenho um sonho),

Luther King afirmou, simbolicamente, que a sociedade americana passou aos negros

estadunidenses um “cheque sem fundos”, pois as promessas da Magna Constituição

americana não se cumpriam na vida deles.

Nesta lição, abordamos também uma luta pela obtenção da justiça. Mas, nos escritos

de Paulo, tal conceito extrapola o campo dos direitos civis e da justiça político-social,

para tornar-se uma questão espiritual: quais as condições para que o pecador possa,

diante de Deus, ser declarado inocente de seus pecados? E mais: quem vai emitir o

“cheque” da justiça em uma sociedade impenitente e governada pelo pecado?

O erro judaico

Em Gálatas, Paulo refere-se a si mesmo e a Pedro como “judeus por natureza” (Gl

2.15a), isto é, descendentes de Abraão. Tal origem étnica sempre foi algo louvável para

Paulo (Fp 3.5; At 26.4,5).

Paulo sempre preservou os costumes de sua nação, a fim de manter aberta a porta da

evangelização aos seus patrícios (1Co 9.20a). Na carta aos Romanos, inclusive, chegou

a defender a relevância nacional de Israel, por meio do qual Deus concedeu ao mundo

a adoção, a glória, as alianças, a legislação, o culto e suas promessas (Rm 9.4).

Entretanto, no que se refere à justiça exigida por Deus, os escritos de Paulo seguem na

contramão do judaísmo. Paulo denomina os judeus como aqueles que vivem sob o

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regime da lei (1Co 9.20b), isto é, pessoas que acreditam poder alcançar a retidão por

seus próprios méritos, pela obediência estrita da lei de Moisés. De acordo com esses

critérios, o caminho para a justiça constitui-se de inúmeros credos, ritos, tradições e

leis. Esse é o conceito conhecido como autojustificação, uma forma de religião na qual

o homem é o emissor do “cheque”. O capital dessa transação são as boas obras.

Esse jeito legalista de ser produziu, entre outros comportamentos reprováveis, as ações

seguintes:

● um tribunal de execução e de perseguição, vitimando Cristo, os profetas e os

apóstolos (1Ts 2.15);

● uma atitude de oposição ao avanço do evangelho entre os não judeus (1Ts 2.16);

● uma religião hipócrita, que negligenciava os preceitos mais importantes da lei (Mt

23.23b).

O erro judaico, por incrível que pareça, foi viver uma religião vazia de Deus. Quanto

mais se apegavam ao legalismo e às suas exigências mais afastavam-se do Senhor (Mt

5.20; Rm 10.2,3). O problema desse modo judaico de ver o mundo é que ele tem dois

pesos e duas medidas. Os judeus não se enxergavam como pecadores. Reservavam

esse estereótipo aos demais. Segundo essa perspectiva, os gentios não tinham a

mínima chance de justiça, estando fora do círculo judaico, pois eram “pecadores” por

definição (Gl 2.15b; cf. Rm 1.18-32).

Você consegue identificar, hoje, expressões religiosas que mantêm como seu

objetivo principal a guarda de práticas, ritos e costumes religiosos? Em nome do “orgulho” pela própria condição religiosa, que tipos de

comportamentos discriminatórios presenciamos na vida eclesiástica, hoje?

De onde procede o conceito paulino de justificação?

Paulo foi buscar no universo forense o conceito de justificação. Esse termo “denota um

ato judicial de administrar a lei – neste caso, ao proferir um veredicto de absolvição,

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excluindo, assim, toda a possibilidade de condenação”1. Nessa ordem de pensamento,

ficam estabelecidos os seguintes papéis:

1) Deus é o único juiz (Jr 11.20; Tg 4.12). Ninguém deixará de prestar contas a Deus, no

grande dia do juízo (At 17.31a; Rm 14.10-12).

2) No banco dos réus está o homem. Criado por Deus reto e moralmente bom (Ec 7.29;

Gn 1.31), por ter pecado, caiu do estado de justiça para um estado de iniquidade (Rm

5.12);

3) Cristo é o defensor apontado por Deus (1Jo 2.1). Suas ações estabelecem o padrão

de justiça pelo qual o juízo se dará (1Jo 2.2; At 17.31b; Rm 2.5,16).

De acordo com esse sentido jurídico, a justificação é um ato declarativo. Nele, Deus

absolve o pecador. Em consequência desse ato, o pecador tem a pena capital pelo

pecado suspensa (At 13.38) e o favor divino restaurado (Rm 5.21).

É possível identificar os efeitos da absolvição do pecador por Deus?

O homem, o pecado e impossibilidade de autojustificação

Caso verídico: Certa vez, numa fila bancária, uma mulher resolveu iniciar uma conversa

comigo sobre as razões que a levavam a não participar de uma igreja. Críticas a

denominações “a”, “b” e “c” deixavam-me levemente irritado, mas eu ouvia, sem

retrucar. Num dado momento, aproveitando a pausa da mulher, para respirar,

interrompi: “A senhora identifica bem as falhas humanas geradas pelo pecado no

comportamento religioso evangélico” – exclamei, perguntando-lhe, em seguida: “A

senhora consegue identificar, também, em sua própria vida, algum pecado?”. A mulher

permaneceu calada, pensativa, por algum tempo. Depois, para minha surpresa, ela

disse: “Não.”

1 PARKER, J.I. Artigo Justificação. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, Vol. 2, p. 387

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Essa história encontra as seguintes similaridades com o comportamento legalista da

maioria das pessoas, hoje:

● primeiro: Muitos, como essa mulher, não têm a consciência de estarem debaixo da

escravidão do pecado (Rm 3.9b; 1Jo 1.8) e, por essa razão, de serem transgressores da

lei (1Jo 3.4), condenáveis perante Deus, o justo juiz.

● outra observação interessante: o olhar da mulher voltava-se para a igreja – que não é

meio de salvação! – em vez de voltar-se para o Salvador da igreja. Pura transferência: é

mais fácil julgar os outros do que olhar para si mesma (Mt 7.1-5).

Nenhuma atitude de autojustificação é aceita por Deus (Rm 3.10-12). “Ir para a igreja

tal”, “agir conforme a igreja tal determina”, “pagar” o preço da justificação por meio de

ofertas e sacrifícios, em muitos casos, são apenas tentativas desesperadas e

insuficientes para resolver o problema do pecado.

Usando a linguagem figurada, poderíamos dizer que a autojustificação é o

mesmo que tratar uma ferida com um curativo infeccionado? Por quê?

Deus, a graça e a realidade da justificação

No plano da justificação do pecador, graça e fé têm papel preponderante.

O pecado e sua consequência – a morte – projetam uma realidade sombria para a

humanidade. É a sombra do juízo divino. Para evitar esse destino trágico, Deus

escolheu, por sua livre graça, redimir os pecados dos homens e declará-los retos –

inocentes, justificados. Baseou sua sentença no ato redentor de Jesus. Pela cruz, a

graça manifestou-se sobre todos os homens para a justificação que dá vida (Rm 5.18).

O fator fé representa a única possibilidade real de enfrentar e vencer o pecado interior.

Para tanto, devem ser observadas duas situações:

1) A fé não é a base da justificação, mas sua condição (Gl 2.16). Se fosse a base, a fé

seria algo meritório, apenas um ato de soberba (Hc 2.4) . Uma bela imagem desse

gesto de fé é o estender as mãos vazias para serem preenchidas pela dádiva divina.

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2) A fé também não é o preço da justificação, mas o meio de nos aproximarmos dela

(Rm 3.22).

Assim, na analogia com o discurso de Luther King, a justificação é uma forma de

religião, na qual Deus é o emissor de um “cheque” com fundos infinitos. O capital

dessa transação é o sangue de Cristo, derramado na cruz (Ap 22.14). A fé representa o

gesto de compensar a ordem de pagamento.

A reprodução da tendência legalista, dentro das comunidades cristãs, imprime

nos crentes um grande temor em relação à salvação. Que resposta a doutrina

da justificação oferece aos receosos?

Conselhos úteis

A vida de Paulo é um exemplo vivo de como a misericórdia e a graça de Deus podem

transformar um homem (Gl 1.15b). Para ele, “estar crucificado com Cristo” (Gl 2.20;

6.14) era suficiente para apaziguar a dor e o sentimento de culpa causados pelo

pecado. Sua confiança na eficácia da obra de Cristo abriu-lhe as portas para um mundo

novo, de adoração e serviço.

Perguntemo-nos: “O velho homem está crucificado em nossa vida? Nosso testemunho

é um estandarte da fé em Cristo? Amamos na mesma proporção que o Filho de Deus,

até à renúncia própria?”

Bem, nunca é tarde para começar. Afinal, o sonho de justiça e liberdade de Martin

Luther King Jr. é real para nós, os salvos por Cristo. Fomos libertos do poder do pecado.

Somos livres e, nessa condição podemos servir a Deus, com gratidão.

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Lição 6 – A justificação pela fé

Leituras diárias

Segunda Salmo 24.1-10

Terça Romanos 3.1-8

Quarta Romanos 3.9-20

Quinta Romanos 3.21-31

Sexta Romanos 5.1-11

Sábado Romanos 8.1-17

Domingo Gálatas 2.15-21