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LÓGICA JURÍDICA Uma Análise Linguística das Regras de Predicação e Intermediação de Conceitos Jurídicos

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Lógica JurídicaUma Análise Linguística das Regras de

Predicação e Intermediação de Conceitos Jurídicos

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Lógica JurídicaUma Análise Linguística das Regras de

Predicação e Intermediação de Conceitos Jurídicos

LUIZ AUGUSTO LIMA DE ÁVILADoutor em Linguística e Língua Portuguesa pela PUC Minas

Mestre em Teoria do Direito pela PUC MinasMestre em Direito Internacional e Comunitário pela PUC Minas

Pós-graduado lato sensu em Filosofia pela PUC MinasProfessor Adjunto na Faculdade Mineira de Direito (FMD) e no Departamento

de Ciências Humanas da PUC MinasProfessor Adjunto na Faculdade de Políticas Públicas “Tancredo Neves” da

UEMG - Universidade Estadual de Minas GeraisProfessor e Coordenador em Pós-graduação lato sensu da PUC minas

Belo Horizonte2013

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Ávila, Luiz Augusto Lima de A958 Lógica jurídica: uma análise linguística das regras de predicação e intermediação de conceitos jurídicos / Luiz Augusto Lima de Ávila. – Belo Horizonte: Arraes Editores, 2012. 280p. ISBN: 978-85-62741-98-2

1. Filosofia do direito. I. Título.

CDD: 340.1 CDU: 340.12

Belo Horizonte2013

CONSELHO EDITORIAL

Elaborada por: Maria Aparecida Costa DuarteCRB/6-1047

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,inclusive por processos reprográficos, sem autorização expressa da editora.

Impresso no Brasil | Printed in Brazil

Arraes Editores Ltda., 2013.

Coordenação Editorial: Produção Editorial:

Revisão: Capa:

Fabiana CarvalhoNous EditorialAlexandre bomfim Gustavo Caram e Hugo Soares

Álvaro Ricardo de Souza CruzAndré Cordeiro Leal

André Lipp Pinto Basto LupiAntônio Márcio da Cunha Guimarães

Carlos Augusto Canedo G. da SilvaDavid França Ribeiro de Carvalho

Dhenis Cruz MadeiraDircêo Torrecillas Ramos

Emerson GarciaFelipe Chiarello de Souza Pinto

Florisbal de Souza Del’OlmoFrederico Barbosa Gomes

Gilberto BercoviciGregório Assagra de Almeida

Gustavo CorgosinhoJamile Bergamaschine Mata Diz

Jean Carlos Fernandes

Jorge Bacelar Gouveia – PortugalJorge M. LasmarJose Antonio Moreno Molina – EspanhaJosé Luiz Quadros de MagalhãesLeandro Eustáquio de Matos MonteiroLuciano Stoller de FariaLuiz Manoel Gomes JúniorLuiz MoreiraMárcio Luís de OliveiraMaria de Fátima Freire SáMário Lúcio Quintão SoaresNelson RosenvaldRenato CaramRodrigo Almeida MagalhãesRogério FilippettoRubens BeçakVladmir Oliveira da SilveiraWagner Menezes

Rua Pernambuco, 1389, Loja 05P – Savassi Belo Horizonte/MG - CEP 30130-151

Tel: (31) 3031-2330

www.arraeseditores.com.br [email protected]

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V

Ao meu pai, José Márcio de Ávila.À minha esposa Lilian Motta.

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VII

Aos juristas, positivistas práticos ou legalistas e em tempos determinados, não eram permitidas opiniões sobre a verdade, a validade ou justiça das leis, pois as próprias leis promulgadas é que determinavam ou determinam o que é justo, e os juristas deviam ou devem negar, por absurda ou contraditória (princípio da negação do contraditório), qual-quer outra questão que discuta a legitimidade ou justiça das leis. Os juristas fazem autênticas interpretações filológicas da lei, no entanto, incumbe ao linguista e ao filósofo da linguagem efetuar a interpretação da verdade conforme a ra-zão. Assim, se Jurisprudência é, dada a etimologia do termo, a prudência na aplicação do direito ou ciência do direito, o termo juízo implica o ato de estabelecer uma relação entre sujeito e predicado e pensar a própria relação estabelecida, pois, se é simbolizada por S é P, a partir de Se A é, B deve ser, só exprimem juízo as assertivas que têm a forma sujeito--predicado. Nesse sentido a linguagem detém a chave para resolver ou situar de modo satisfatório as questões da Filoso-fia, do Direito ou, mesmo, da Lógica.

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IX

Sumário

PREFÁCIO 1Hugo Mari ................................................................................................. XIII

PREFÁCIO 2Dhenis Cruz Madeira .............................................................................. XVII

CaPítulO 1INTRODUÇÃO ...................................................................................... 1

CaPítulO 2

DE UMA ABORDAGEM SEMÂNTICA DOS FUTUROS CONTINGENTES DE ARISTÓTELES À TÓPICA DE THEODOR VIEHWEG ......................................................................... 7

2.1 Uma abordagem semântica dos “Futuros Contingentes” em “Da Interpretação” de Aristóteles ........................................ 7

2.2 O Positivismo Jurídico prático e o Pós-Positivismo de Theodor Viehweg, e a insuficiência de uma ciência do Direito fundada na Dogmática ou Ideologia Jurídica ............ 15

2.3 O acontecimento entre o valor pressupostamente analítico da Lei e o caráter contingente de sua aplicação ....................... 22

2.4 A Tópica e Jurisprudência em Theodor Viehweg: uma descrição lógico-semântica da jurisprudência para a determinação do contingente ...................................................... 29

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X

CaPítulO 3A LÓGICA COMO INSTRUMENTO DA LINGUAGEM E A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DA LÓGICA ....... 49

3.1 A base fundamental para as Lógicas Não Clássicas de três ou múltiplos valores .............................................................. 49

3.2 A demonstração canônica da incompletude de Kurt Gödel contra o determinismo: a inconsistência de um sistema que se ramifica ad infinitum sem uma solução provida no seu interior ................................................................................ 60

3.3 O Sistema Lógico-Filosófico de Jan Lukasiewicz: a Lógica de Três Valores e a Lógica de Muitos Valores .......................... 64

3.4 O Sistema Lógico-Filosófico de Alfred Tarski: The SemanticConception of Truth: and the Foundations of Semantics ......... 74

3.5 Os formalismos lógicos para uma análise da argumentação na jurisprudência: uma descrição do Direito fundada na dicotomia entre criação e aplicação do Direito ....................... 83

CaPítulO 4UMA TEORIA SEMÂNTICA FUNDADA EM FORMALISMOS LÓGICOS PARA UMA ANÁLISE LINGUÍSTICA DAS REGRAS DE PREDICAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE CONCEITOS JURÍDICOS ..................... 135

4.1 A identidade como função de dois lugares I(x, y) e os enunciados informativos de identidade: a análise dos Futuros Contingentes na perspectiva da referenciação semântica dos signos e conceitos jurídicos ............................... 135

4.2 Uma teoria semântica fundada em formalismos lógicos para uma análise linguística das regras de predicação e intermediação de conceitos jurídicos ...................................... 162

CONCLUSÃO ......................................................................................... 183

REFERÊNCIAS ....................................................................................... 195

ANEXOS ................................................................................................... 203

ANEXO 1a - TABELA DOS VALORES DE VERDADE PARA C E P ..................................................................... 203

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XI

ANEXO 1b - TABELA DOS VALORES DE VERDADE PARA P E Q .................................................................... 208

ANEXO 1c - TABELA DOS VALORES DE VERDADE PARA A E B .................................................................... 212

ANEXO 2 - QUADRO DAS PROPOSIÇÕES SIMPLES/COMPOSTA E LÓGICA MODAL .............................. 217

ANEXO 3 - O SISTEMA LÓGICO-FILOSÓFICO DE JAN LUKASIEWICZ: A LÓGICA DE TRÊS E MÚLTIPLOS VALORES ............................................. 218

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XIII

Gostaria de aproveitar a oportunidade que Luiz Ávila, autor do livro - LÓ-GICA JURÍDICA: UMA ANÁLISE LINGUÍSTICA DAS REGRAS DE PREDI-CAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE CONCEITOS JURÍDICOS - me proporcio-na, neste momento, para traçar algumas linhas gerais sobre a sua reflexão, mas sem o compromisso essencial de conduzir o seu leitor pelos desafios enfrentados na construção desse texto. A tematização pontuada no sumário evidencia não só seu percurso, como também os desafios do autor ao buscar abordar questões tão melindrosas quanto aquelas afeitas à linguagem jurídica e, sobretudo, quan-do instigadas pelo arcabouço de diversas concepções lógicas que foram aqui abordadas. Opto, de forma mais direta, para desenvolver um exercício reflexivo de buscar, para a formulação presente, a sua importância filosófica, teórica e também social.

Destaco, nesse meu comentário, duas questões que perpassam a discussão proposta pelo autor. A primeira diz respeito ao lugar, à relevância que devemos conceder à lógica para uma compreensão de objetos discursivos no campo ju-rídico - leis, códigos, instruções, depoimentos, testemunhos e tantos outros. A segunda questão está orientada para aquilo que pode estreitar a relação entre lógica e linguagem jurídica, em outros termos a de reivindicar a importância da lógica para esse tipo de linguagem que permeia as nossas relações mais tensas dentro de uma sociedade.

Falar de lógica não é falar de uma coisa única, fechada, que esteja assentada em um único modelo de raciocínio. O mais apropriado seria falar de lógicas, pois nesse plural contemplamos não um padrão de procedimento analítico que se sobrepõe à vida, mas padrões que se ajustam às circunstâncias mais diversifi-

Prefácio 1

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XIV

cadas das formas de vida que experienciamos. É possível que, em muitas circuns-tâncias - e uma delas é, certamente, a linguagem jurídica - possamos experienciar o terceiro excluído [x é inocente, ou x é culpado], ou que desejemos as evidências de alguma lei de De Morgan para dirimir e depurar, por exemplo, nuanças entre formas de delito [É falso que [delito seja culposo ou o delito seja doloso]].

Entretanto, o que vivenciamos em sociedade – e a lógica aqui não deve ser o primeiro excluído - costuma diluir o valor de assertividade que gostaríamos de atribuir a muitos fatos do mundo, mas nem por isso a lógica se afasta das nossas pretensões. Os fatos são incorporados ao nosso convívio – ao julgamento dos tribunais, às peças jurídicas - a partir do ponto de vista que formulamos sobre eles. Nada disso é indiferente à lógica modal, pois uma rigidez suposta da assertividade encontra nessa lógica um padrão qualificado para melhor caracteri-zar sua formulação: modalidades aléticas (possível x necessário x contingente) e deônticas (obrigatório x proibido x permitido) são aquelas que, provavelmente, melhor podem expressar o ponto de vista de muitos objetos do campo jurídico.

Há, todavia, momentos em que a qualificação da assertividade nos parece ainda muito perturbadora, tal a plasticidade (para outros a fragilidade) do nosso raciocínio em relação a muitos fatos que integram a nossa experiência. Traduzo esse aspecto da questão como uma riqueza da nossa atividade intelectual, huma-na, social e, no caso particular desse livro, profissional sobre a compreensão dos fatos. Tornamos cada vez mais transparentes os nossos atos quando nos pauta-mos por uma dimensão contemporânea do hic et nunc, em franco contraste com o nunc et in aeternum.

Há padrões lógicos que também nos permitem essa transição para enxergar melhor o teor difuso de muitos dos objetos que comandam nossa conduta em (inter)ação. Sustentar pontos de vista sobre os objetos de que nos acercamos é sempre uma tarefa complicada; sustentar pontos de vista sobre o comportamen-to de pessoas com as quais interagimos será sempre uma tarefa complexa, tal a vulnerabilidade, os interesses das partes envolvidas. A lógica difusa preocupa-se com processos de percepção que percorrem uma gradiência, sem que nenhum de seus pontos de ancoragem nessa escala possa ter valor a não ser por meio de uma contingência respaldada racionalmente por justificativas locais. Isso implica que os processos discursivos que permeiam as nossas interações formais e informais devem buscar na lógica difusa argumentos para a sua caracterização e dentre eles estão, precisamente, objetos jurídicos que regem nossa vida em sociedade.

Nesses quatro parágrafos antecedentes, procurei descrever aquilo que en-tendo pelo lugar das lógicas na compreensão dos objetos institucionais, em par-ticular de muitos objetos jurídicos, que validam relações sociais, comerciais. A sua relevância é a de prover aos protagonistas das cenas sociais parâmetros com razoável credibilidade para muitas das ações, quando nelas se envolvem agentes com funções diferenciadas pela prerrogativa dos papeis institucionais. É nesse

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XV

cenário que situo a segunda questão apontada – um estreitamento entre lógica e linguagem jurídica.

O que foi acima reivindicado, como um valor a ser assegurado à lógica, pode, em sua grande maioria, ser imputado à linguagem que fundamenta a ati-vidade jurídica. Os objetos, modelados sob a forma de códigos, de legislação, de regimentos etc., estão expostos às vicissitudes, às contingências de um fazer social contínuo e (in)tenso que podem anular qualquer tentativa de opção por essa ou aquela lógica.

Nenhuma dessas lógicas aqui lembradas (e de outros padrões que não fo-ram contemplados) é refratária ao cidadão: ao contrário, elas são apenas o reflexo daquilo que somos. Uma lógica não inventa nada, ela tenta apenas explicitar, de forma condensada, o nosso modo de ser, de pensar, de querer, de agir. A lingua-gem jurídica não pode desconhecer essa construção permanente do cidadão, pela natureza dos objetos que erige, pela natureza das relações que coloca esses objetos em funcionamento. Assim, a linguagem jurídica não requer uma lógica, requer todas as lógicas, pois elas representam o que somos, o que fazemos, o que não devíamos fazer, o que queremos ser/fazer numa sociedade.

Por fim, procurei relatar nesse espaço, de forma panorâmica, alguns pres-supostos que resgatam o essencial daquilo que se mostra verticalizado, ao longo da ampla reflexão desenvolvida pelo autor. O livro resgata, de forma concei-tualmente profunda e notacionalmente detalhada, a importância que a lógica deve assumir como um instrumento de rigor racional para nossas práticas de linguagem – em especial, a prática jurídica. O autor delineia um longo percurso sobre diferentes abordagens lógicas, explora aspectos notacionais implicados em cada uma delas, demonstra o seu valor operacional para os processos inferenciais e caracteriza sua importância essencial na compreensão de fatos do mundo (ju-rídico).

HUGO MARIDoutorado em Estudos Linguísticos pela

Universidade Federal de Minas GeraisPós-Doutorado na Université Paris XIII

Professor do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas

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XVII

Nos vários cursos de pós-graduação existentes no Brasil e no exterior, o Direito vem sendo compreendido sob uma perspectiva linguística, ou melhor, o Direito vem sendo estudado como linguagem normativa, como discurso nor-mativo. Tal enfoque parece ser, sob todos os ângulos, acertado, afinal, hoje e sempre, o Direito é linguagem! A veracidade dessa afirmação – a de que o Direito é linguagem – pode ser comprovada tanto na prática quanto na teoria.

Se se quiser usar um raciocínio dedutivo – partindo do geral para o particu-lar –, basta recordar que, no sistema romano-germânico (civil law), prevalece o princípio da legalidade e, portanto, a norma jurídica deve ser extraída após a inter-pretação de um texto normativo (lei). Via de regra, a lei deve ser interpretada e, em seguida, obtida a norma – que pode ser uma regra ou um princípio –, interpreta-se também a narrativa fático-jurídica das partes para, dela, extrair a situação jurídica, esta última comumente chamada de caso concreto. Dentro da atividade descrita, interpretam-se também os instrumentos de prova para, só então, em decisão ar-gumentativamente compartilhada entre juiz e partes, aplicar-se a norma jurídica obtida, ou, se se quiser dizer assim, o Direito. Parte-se do geral (norma jurídica abstrata) para o particular (situação jurídica concreta), sendo o provimento final fruto desse enquadramento entre a norma jurídica e a situação fático-jurídica nar-rada nos autos.

Entretanto, a atividade de interpretação e aplicação não se restringe ao ra-ciocínio acima descrito. Todo esse jogo linguístico deve ocorrer num espaço procedimental – num espaço normativo, portanto –, afinal, há regras para que as partes e os juízes argumentem, há prazos, formas prescritas em lei, finalidades da argumentação, preclusões, ônus probatórios etc. Além de regras jurídicas, há

Prefácio 2

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XVIII

também princípios que regem a argumentação; dentre outros, recorda-se dos princípios da formalização argumentativa e oralidade, os quais autorizam que os argumentos sejam apresentados sob forma escrita ou oral, nos casos previstos em lei.

Acresce-se que, no Estado Democrático de Direito, o discurso jurídico ga-nha ainda maior relevo, porquanto, especialmente no discurso processual, a de-cisão jurisdicional deve ser fruto de um debate dialógico travado com as partes (e não apesar das partes), sendo estas últimas coautoras argumentativas do provi-mento final, ou seja, da decisão jurisdicional. Aliás, se todo poder emana do povo e se são os demandantes aqueles que sofrerão os efeitos das decisões prolatadas, nada mais lógico que lhes ser permitido contribuir argumentativamente para a construção das sentenças, acórdãos e decisões interlocutórias, afinal, no Direito Democrático, o juiz e o Estado como um todo não julgam mais sozinhos. Além disso, a Democracia possui como um de seus pilares a Fiscalização e, sendo assim, é preciso que o agente estatal – quem quer que seja – oferte à crítica os fundamentos de suas decisões, permitindo-se, assim, fiscalizá-las.

Conhecer e esclarecer como se dá toda essa trama argumentativa é, pois, uma questão de legitimidade democrática, na medida em que os destinatários das decisões estatais terão condições de compreender como as mesmas foram construídas.

Todo esse trabalho de interpretação e aplicação da lei advém, como dito, de um texto normativo, e este nada mais é do que, também, linguagem. Diz-se isso porque a lei é constituída por um conjunto de letras que, unidas logicamen-te, formam palavras, que, por sua vez, formam frases, períodos e orações. São, portanto, signos com significados, cujo sentido específico – norma jurídica a ser aplicada – é definido pelos intérpretes da lei, ou seja, pelos advogados das partes, juízes e todos aqueles que, eventualmente, venham a desempenhar alguma fun-ção argumentativa no discurso processual.

Tem-se, aí, em breves linhas, mais uma demonstração de que o Direito é, de fato, linguagem normativa.

Do ponto de vista lógico, a veracidade de tal premissa pode, também, ser demonstrada pela via do raciocínio indutivo, de situações particulares para o geral, ou, como mencionava Aristóteles em seu importante Órganon, pelo uso – indutivo – dos exemplos. Sendo assim, no discurso processual praticado nos fóruns e tribunais, é possível perceber que o demandante narra sua pretensão e o demandado, por sua vez e quase sempre, em defesa, costuma se opor narrativa-mente à pretensão do demandante. Há duas narrativas: a do demandante e a do demandado. Ao final, após oportunidade de produção de provas e argumentos, o julgador, levando em consideração todas as alegações trazidas aos autos, prolata a decisão, o provimento final, que contém, por sua vez, os fundamentos, a moti-vação, os argumentos para aplicação da norma jurídica de uma forma, e não de

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XIX

outra, a favor de um, e não de outro. Desse modo, demandante, demandado e juiz, todos eles, argumentam, interpretam, narram. Vê-se, portanto, no exemplo apresentado, que a prática forense é uma reprodução de um jogo linguístico.

Não há dúvidas: o Direito é, sob todos os aspectos, linguagem!Este é o motivo pelo qual, nos vários cursos de mestrado e doutorado es-

palhados pelo mundo, como dito no início deste prefácio, o Direito vem sendo estudado sob esse enfoque linguístico, afinal, compreender a linguagem jurídica é compreender o próprio Direito e, em sentido inverso, deixar de estudar o Direito como linguagem é renunciar à compreensão do próprio Direito.

A obra do Professor Doutor Luiz Augusto Lima de Ávila, ora ofertada ao mercado editorial, enquadra-se, justamente, no elenco daquelas pesquisas que procuram alinhavar Direito e Linguística, algo que, pela sólida formação intelec-tual do autor, é feito com peculiar lucidez.

O Prof. Luiz Ávila, além de ser um experiente professor de Lógica Ju-rídica, Hermenêutica Jurídica e Filosofia do Direito, com marcante trabalho desenvolvido na PUC Minas e em muitos outros cursos jurídicos, é doutor em linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universi-dade Católica de Minas Gerais, tendo concluído, ainda, dois mestrados pelo Programa de Pós-Graduação em Direito pela PUC Minas, um, em Teoria do Direito, e outro, em Direito Internacional e Comunitário. Além disso, possui cursos de especialização em Filosofia, em Direito Processual, em Direito do Tra-balho e em Direito Empresarial, fora, evidentemente, o curso de bacharelado em Direito. Sua extensa e diversificada formação acadêmica, somada à sua grande experiência docente qualificam-no a caminhar, com segurança, pelos diversos ramos do Direito, conferindo-lhe, como poucos, uma visão ampla da própria Ciência Jurídica.

Desde já, contudo, é preciso advertir que o livro ora prefaciado é dirigido para os iniciados, e não para os iniciantes. Seu público-alvo é formado, especial-mente, por aqueles que já estudam o tema, aos pesquisadores da área jurídica e linguística, e não para aqueles que dão seus primeiros passos.

Aos que, mesmo após tal advertência, resolverem se aventurar nesta pro-veitosa leitura, perceberão que o esforço não será em vão. Ao final, o leitor perceberá que teve contato com uma pesquisa originalíssima não só no Brasil, mas – arrisco-me a dizer – no mundo.

A obra consegue, de forma sui generis, decompor a própria lógica do dis-curso jurídico e, mais ainda, elucidar a racionalidade do Direito. Para tanto, em minucioso tratamento bibliográfico, o autor se preocupa em esclarecer a relação entre a contingência e o pragmatismo jurídico, relacionando tais temas com a teoria semântica, com o formalismo lógico e os conceitos jurídicos. Nesse senti-do, o Prof. Dr. Luiz Ávila procura investigar como os sentidos são produzidos no discurso jurídico, e, para isso, alinhava, como um só tema, a Linguística, a

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Lógica e a Jurisprudência, esta última entendida com o significado alemão de Jurisprudenz, ou seja, como Ciência do Direito.

Aliás, dentre as dezenas de obras estudadas e citadas pelo autor, uma delas parece ter inspirado sobremaneira sua pesquisa: trata-se da obra Topik und Juris-prudenz, de Theodor Viehweg.

A mencionada obra, que, em língua portuguesa, recebeu a tradução de Tó-pica e Jurisprudência1, foi uma das mais famosas tentativas de resgate dos estudos linguísticos antigos e modernos. Trata-se de pesquisa que procurou retomar os estudos de Aristóteles, Cícero e Vico, alinhando-os ao Direito, numa tentativa de reestudar o direito linguisticamente, isto é, em contraposição ao sistema jurídico apodítico que prevaleceu desde Descartes, passando pelo movimento de codifica-ção francês e alemão, pelo positivismo jurídico exegético, até a Segunda Grande Guerra, quando, então, tal modelo de raciocínio jurídico passou a ser questio-nado com maior vigor. Foi Viehweg, jurista alemão que viveu entre os anos 1907 e 1988, que identificou a necessidade de se compreender o desenvolvimento do discurso jurídico, e, para tanto, visando solucionar dificuldades semânticas, propôs resgatar a dialética, a retórica e a tópica, todas estas métodos discursivos defendidos pelos estudiosos da Antiguidade.

É justamente Viehweg que traz, ao que parece – e arriscando-me a sintetizá--lo numa só pergunta –, o problema central da obra do Prof. Luiz Ávila: qual o papel da semântica no raciocínio jurídico? Porém, isso não quer dizer que o autor está simplesmente com Viehweg, pois, não raro e na maioria das vezes, posiciona-se contra Viehweg.

Isso ocorre principalmente quando Viehweg afirma, sem maior aprofun-damento e explicações, que as lógicas multivalentes de Jan Lukasiewicz devem ser deixadas de lado quando do raciocínio jurídico. É justamente nessa aporia deixada por Viehweg que Luiz Ávila, com a audácia intelectual necessária para o enfrentamento do tema, desenvolve sua pesquisa, explicando que os forma-lismos lógicos de Lukasiewicz, diferentemente do que havia afirmado generi-camente Viehweg, podem justamente propiciar uma teoria semântica para as regras de predicação e intermediação dos conceitos jurídicos, abrindo caminho para que tanto o aspecto formal quanto o material do raciocínio jurídico sejam levados em conta quando da argumentação jurídica; isso tudo sem desprezar

1 A primeira edição alemã é datada como sendo de 1953, constituindo a tese de livre docência de Theodor Viehweg na Universidade de München (Munique). Na Espanha, em 1964, foi pu-blicada a tradução castelhana de Luis Díez-Picazo, pela editora madrilense Taurus, recebendo o título Tópica y Jurisprudencia, tradução esta feita com base na segunda edição alemã (de 1963). No Brasil, ao que se tem notícia, a tradução foi realizada, pela primeira vez, por Tércio Sampaio Ferraz Júnior, sendo publicada no ano de 1979 pelo Departamento de Imprensa Nacional em coedição com a Editora da Universidade de Brasília e apoio do Ministério da Justiça.

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XXI

que a contingência tende a abalar, justamente, o rigor lógico do discurso jurí-dico apodítico.

O autor explica que o fato do Direito ser intersubjetivo, e não mais subjeti-vo, faz com que toda comunicação deva ser mediada por proposições linguísticas – particularmente, acrescentaria teórico-linguística, por influência de Karl Pop-per –, daí a necessidade de se esclarecerem justamente as bases dessa linguagem jurídica utilizada não somente nas Universidades, mas também nos Fóruns e Tribunais, quer os interlocutores tenham ou não consciência disso.

Numa leitura detida da presente obra, percebe-se que muitas perguntas são satisfatoriamente respondidas, ou, no mínimo, trazidas a lume: o que é lógica jurídica? Qual seu papel? Quais são os tipos de raciocínio jurídico? Qual o papel da contingência? É necessário que os interlocutores façam um pacto de sentidos? Qual a função do formalismo lógico? E dos conceitos jurídicos? Como estes últimos são determinados?

Contudo, não custa repetir que a obra aqui prefaciada não é um manual, uma obra que abriga respostas prontas, mas, diferentemente, é um livro que obri-ga o leitor a pensar, a refletir, a pesquisar, a ir mais longe. Trata-se de um livro que convida os iniciantes a começar e, os iniciados, a continuar.

Por tudo isso, não posso deixar de parabenizar a Editora Arraes pela pu-blicação de tão rigoroso trabalho científico e, ao mesmo tempo, agradecer ao Prof. Dr. Luiz Ávila pelo honroso convite de prefácio. Tenho certeza de que a lembrança de meu nome não encontra qualquer amparo em meu conhecimento ou currículo acadêmico. Em realidade, o convite a mim dirigido só encontra jus-tificativa na tendência humana de desrespeitar os critérios de decisão puramente racionais. Eis aqui uma prova de que o ser humano não é – ainda bem! – dirigido somente pela razão e que, em alguns casos, abandonar a lógica pode ser vantajo-so, pelo menos para o prefaciador!

Aos leitores, boa leitura e muitas reflexões!

DHENIS CRUZ MADEIRADoutor em Direito Processual pela PUC Minas

Coordenador do Curso de Direito da PUC Minas ContagemAdvogado e Professor na graduação e pós-graduação da Faculdade

Mineira de Direito da PUC Minas

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