levantamento preliminar com base na ergonomia dos problemas do

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LEVANTAMENTO PRELIMINAR COM BASE NA ERGONOMIA DOS PROBLEMAS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DA RENDA FILÉ Layane Nascimento de Araujo (UFAL ) [email protected] STEFFANE LUIZA COSTA NEVES (UFAL ) [email protected] Anderson Elias Silva de Melo (UFAL ) [email protected] Juliana Donato de Almeida (UFAL ) [email protected] O artigo busca com base na analise ergonômica do trabalho (AET), melhorar a qualidade de vida e trabalho das artesãs locais do Núcleo do Pontal da Barra de Maceió, Alagoas, uma vez que foram identificados através de uma pesquisa preliminar problemas em seus postos de trabalho, que esses não apresentam condições satisfatórias para execução do oficio. Para tanto, foi utilizada uma metodologia baseada na Análise Ergonômica do Trabalho (AET) (Wisner, 1987; Guèrin, 2001; Vidal, 2008; Almeida, 2010), método que assegura a positividade da transformação por suas características e propriedades de foco, ordenação e sistematicidade, a partir da aplicação de métodos observacionais (observações da atividade utilizando recursos complementares como gravações, filmagens e fotografias da situação de trabalho) e interacionais (verbalizações espontâneas e provocadas, análise coletiva do trabalho). Pode-se perceber neste estudo que o trabalho das rendeiras apresenta uma série de problemas ergonômicos detectados, que podem originar diversos problemas de saúde, ocasionando uma má qualidade de vida e mau rendimento no processo de produção das mesmas. Palavras-chave: Design de produto, artesanato, ergonomia, análise ergonômica do trabalho, processo de produção XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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LEVANTAMENTO PRELIMINAR COM

BASE NA ERGONOMIA DOS

PROBLEMAS DO PROCESSO DE

PRODUÇÃO DA RENDA FILÉ

Layane Nascimento de Araujo (UFAL )

[email protected]

STEFFANE LUIZA COSTA NEVES (UFAL )

[email protected]

Anderson Elias Silva de Melo (UFAL )

[email protected]

Juliana Donato de Almeida (UFAL )

[email protected]

O artigo busca com base na analise ergonômica do trabalho (AET),

melhorar a qualidade de vida e trabalho das artesãs locais do Núcleo

do Pontal da Barra de Maceió, Alagoas, uma vez que foram

identificados através de uma pesquisa preliminar problemas em seus

postos de trabalho, já que esses não apresentam condições

satisfatórias para execução do oficio. Para tanto, foi utilizada uma

metodologia baseada na Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

(Wisner, 1987; Guèrin, 2001; Vidal, 2008; Almeida, 2010), método que

assegura a positividade da transformação por suas características e

propriedades de foco, ordenação e sistematicidade, a partir da

aplicação de métodos observacionais (observações da atividade

utilizando recursos complementares como gravações, filmagens e

fotografias da situação de trabalho) e interacionais (verbalizações

espontâneas e provocadas, análise coletiva do trabalho). Pode-se

perceber neste estudo que o trabalho das rendeiras apresenta uma

série de problemas ergonômicos detectados, que podem originar

diversos problemas de saúde, ocasionando uma má qualidade de vida e

mau rendimento no processo de produção das mesmas.

Palavras-chave: Design de produto, artesanato, ergonomia, análise

ergonômica do trabalho, processo de produção

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1. Introdução

A produção artesanal geralmente ocorre em pequenos locais e é bastante

personalizada, o que traz como resultado, uma baixa produtividade. O conhecimento tácito é o

responsável, em maior escala, pela realização da atividade, cuja transmissão entre os

indivíduos se dá baseada na experiência (BRAVERMAN, 1987; FLEURY&VARGAS, 1983;

FLEURY&FLEURY, 1997). Durante esse processo produtivo, entretanto, o artesão se

submete quase sempre a condições de trabalho não adequadas, comprometendo assim, sua

produtividade, sua saúde e sua qualidade de vida. Desse modo, podem ser identificadas

demandas ergonômicas no posto de trabalho das artesãs rendeiras do bordado filé.

Em Alagoas, foi apontado na modalidade bordado filé, a ocorrência de 860 filezeiras

em Maceió, 626 em Marechal Deodoro e 21 em Coqueiro Seco, totalizando 1.507 emissões de

carteiras de artesão com domicílio na área das lagoas Mundaú e Manguaba nessa modalidade,

como mostra a figura 1. E ainda, estatisticamente o filé aparece como o maior registro de

técnica na tipologia bordados e rendas tradicionais de Alagoas, só superado pela modalidade

crochet (PAB/SEPLANDE, 2014). Em Maceió, um grupo de “filezeiras” trabalha em Pontal

da Barra, localizado às margens da Lagoa Mundaú. No local existem lojas que oferecem

produtos de rendas e bordados.

Figura 1. Localização das rendeiras no estado de Alagoas

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Fonte: Autores (2016)

Desta forma, foi realizada uma pesquisa preliminar no Núcleo Pontal da Barra, onde

foram identificadas demandas ergonômicas relacionadas ao posto de trabalho das artesãs

rendeiras do bordado filé. Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi necessário fazer

levantamentos bibliográficos, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com

o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão (Silva e

Menezes, 2001). Logo, esta pesquisa foi desenvolvida a partir de uma metodologia baseada na

Análise Ergonômica do Trabalho (AET) (WISNER,1978; GUERIN et al, 2001;VIDAL,

2002,2008; ALMEIDA, 2010). Desse modo, para observar o modo de produção das

“filezeiras” do referido local, em uma amostra de 10 rendeiras, foram utilizados métodos

interacionais (ação conversacional, verbalizações espontâneas e provocadas e escuta

ampliada) e métodos observacionais (observação da atividade das rendeiras e fotografias).

Nas quais foram identificadas as seguintes demandas: ausência de bem-estar físico na

execução do ofício pelas rendeiras, partindo então de um pressuposto da necessidade de um

redesign do tear utilizado na confecção das peças do filé, bem como a ausência de divulgação

dos produtos oferecidos e da valorização de seus trabalhos.

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Assim, com foco na compreensão da atividade de trabalho, ressaltam-se os

conhecimentos em ergonomia, que permitem realizar transformações positivas nas situações

de trabalho (VIDAL 2002, 2008). Para que isso seja possível, devemos essencialmente

modelar a atividade de trabalho, processo possibilitado pela realização da AET de maneira a

caracterizar de que forma os fatores técnicos, humanos, ambientais e sociais, numa situação

de trabalho, determinam as atividades dos trabalhadores (VIDAL, 2008).

Nesse contexto, segundo Niemeyer (2008), pode-se discutir o papel do designer em

processos de intervenção através da análise ergonômica, de forma que este deverá conhecer as

tendências correntes e os inúmeros parâmetros que as guiam e deve concretizar os princípios

que conduzem a sua atuação profissional. Para isso, o design se constitui coletivamente,

através da contribuição de cada profissional.

Assim, o presente artigo consiste no levantamento preliminar de demandas

ergonômicas na produção artesanal da renda filé do grupo Núcleo de Artesanato do Pontal da

Barra, de forma que tais análises serão seguidas de propostas de soluções baseadas na AET e

no design. Sendo o artesanato um produto de cunho cultural, social e histórico, a metodologia

empregada sobre esse contexto, é apropriada para a presente análise, visto que através da

mesma será possível discutir a possibilidade da inserção de recomendações ergonômicas e do

design no artesanato, enquanto fator de melhoria na produção, sem, contudo, desviar o

produto das suas características tradicionais.

2. Design, ergonomia e artesanato

Niemeyer (2008) discorre a respeito do papel do designer, quando observa que são

poucos os cursos de design que favorecem o preparo devido a seus alunos para tratarem e

resolverem impasses a esse respeito. Menos ainda se tem discutido sobre o papel do designer

em relação à identidade cultural; de modo a possibilitar o entendimento deste conceito,

permitindo ao designer a oportunidade de atuação no processo de construção, desconstrução,

renovação e transformação de características culturais (NIEMEYER, 2008).

Design é uma palavra que possui origem latina, designáre, que significa desenvolver,

conceber. Assim, entende-se que o artesão “designa”, salienta, uma forma que acredita ser

ideal para seu produto, do mesmo modo que um designer faz ao projetar um produto.

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Entretanto, o design não se limita só à função estética. Para que o design contribua

significativamente para o desenvolvimento de produtos adequados para os usuários, a

ergonomia deve ser parte integrante do processo projetual, de forma que os requisitos

ergonômicos possibilitem maximizar o conforto e a satisfação, além de garantir a

segurança do usuário.

Dessa maneira, segundo o conceito da ABERGO (2000), a Ergonomia se caracteriza

como estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente,

objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não dissociada,

a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas. Vidal (2002)

caracteriza a ergonomia como “ocupação de pessoas qualificadas para responder às demandas

acerca da atividade de trabalho”. Para o autor, a ergonomia tem sido recentemente

considerada como a solução para os problemas relativos à saúde e segurança no trabalho. Ela

visa à adaptação das tarefas ao homem e oferece vantagens econômicas através da melhoria

do bem-estar, da redução de custos, da melhoria da qualidade e da produtividade. Ainda

segundo o autor, “o objetivo prático da ergonomia é a segurança, a satisfação e o bem-estar do

trabalhador em seu relacionamento com os sistemas produtivos” (VIDAL, 2002).

A ergonomia, vista como uma área de estudo do design, pôde ser aplicada à prática

produtiva de muitas empresas e ambientes de trabalho ao longo dos anos, entretanto, práticas

mais antigas como o artesanato, acabaram por serem esquecidas. Nesse contexto, o artesanato

abrange tanto âmbitos culturais, quanto sociais, já que o mesmo se enquadra em uma prática

vernacular, em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente, com

características locais e regionais, e muitas vezes funcionam como principal fonte de renda das

famílias que o fazem, passando entre suas gerações. Entre os produtos artesanais, têm-se a

renda.

A renda possui origem Árabe, e por muito tempo foi associada nas épocas das cortes

européias como produto de luxo. Ela veio trazida pela rainha de Portugal D. Maria I, ao

Brasil, em 1807. Entretanto, com o passar dos anos a renda inspirada nas primeiras rendas

vindas da corte, seria produzida no nordeste brasileiro, às margens da lagoa mundaú, da

cidade de Maceió em Alagoas (BARROS, 2008). Ainda segundo Barros, 2008, o filé é uma

tipologia do artesanato que consiste em um bordado sobre uma rede semelhante às usadas

pelos pescadores da localidade, sua suposta origem é derivada do fato de que as mulheres dos

pescadores da região ao fazerem e consertarem as redes de seus maridos descobriram que era

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possível executar trabalhos artesanais utilizando-se do mesmo procedimento, como pode ser

observado na figura 2.

Figura 2. Pontos da renda Filé

Fonte: Autores (2016)

Dantas (2009, p. 139), afirma que o estado de Alagoas possui a posição de maior

centro de produção do filé no país, possuindo, segundo dados do PAB/Seplande, em abril de

2014, a ocorrência de 860 artesãs caracterizadas como “filezeiras”, seguido pelo Ceará e por

Santa Catarina. Nesse cenário, a demanda do mercado por produtos artesanais tem aumentado

cada vez mais o ritmo das rendeiras na geração desses produtos, de modo que há a

necessidade da adaptação constante nas questões relacionadas ao rendimento e desempenho

da tarefa, produtividade, e principalmente à segurança do trabalho.

Assim, segundo Barroso (1999), as intervenções no artesanato devem objetivar o

desenvolvimento e melhoria da qualidade da competitividade do produto de origem artesanal,

de modo sustentável. Estas intervenções podem ser feitas através de diagnósticos, pesquisas e

informações técnicas, design e desenvolvimento de novos produtos, transferência de

tecnologia, testes e experimentações, capacitação e aperfeiçoamento de recursos humanos,

promoção, divulgação e comercialização de sua produção (BARROSO, 1999). Corroborando

com as considerações do autor, bem como com as colocações discorridas a respeito da AET,

observam-se inúmeras possibilidades de indicação de recomendações que possam vir a

favorecer o desenvolvimento do trabalho das artesãs referenciadas na presente análise.

3. Métodos e ferramentas

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Esse estudo foi realizado a partir da conjugação de pesquisas bibliográficas e da

pesquisa de campo. De acordo com a Norma Regulamentadora NR17, a Análise Ergonômica

do Trabalho (AET), tem como objetivo, observar, rastrear, e avaliar as relações existentes

entre demandas de doenças, acidentes e produtividade com as condições de trabalho, com as

interfaces, com os sistemas e a organização do trabalho (BRASIL, ABNT, 1990). Nesse

sentido, a AET compreende a análise ergonômica da demanda, a análise ergonômica da tarefa

(envolve a análise dos ambientes físicos, das condições posturais e antropométricas dos

trabalhadores, dos aspectos psicológicos dos trabalhadores, da análise organizacional, das

condições ambientais) e a análise ergonômica das atividades. Posteriormente, com base nessas

análises, elenca-se a formulação do diagnóstico, bem como as recomendações ergonômicas.

Essa metodologia propõe vários métodos, técnicas e ferramentas que auxiliam no

entendimento da relação da atividade de trabalho com o seu contexto, sejam eles ambientais,

tecnológicos e organizacionais, visando uma transformação positiva no ambiente de trabalho

(WISNER,1978; GUERIN et al, 2001;VIDAL, 2002,2008; ALMEIDA, 2010).

Para tal finalidade, com informações preliminares coletadas com um grupo de

rendeiras do Núcleo Pontal da Barra em Maceió-AL e dados comparativos a partir de

bibliografia especializada na área da ergonomia, foram analisadas a relação entre o modo de

produção, o ambiente, os postos de trabalho, respectivos riscos ocupacionais com base em

diagnósticos ergonômicos, assim como recomendações e hipóteses de solução em design com

o objetivo de melhorar a qualidade de vida e trabalho das artesãs. Os dados coletados foram

obtidos através de visitas ao núcleo, observação das tarefas e atividades, entrevistas informais

e registro de imagens, que descrevem o ambiente e as condições de trabalho.

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4. Análises e diagnósticos ergonômicos

No estado de Alagoas, a renda Filé, chama a atenção por ser uma tipologia tradicional

da região. Esta tipologia do artesanato é caracterizada pela confecção de uma rede similar à de

pesca, presa nas extremidades a um tear de madeira, sendo trabalhado em agulha e linha de

algodão, transformando-se em um bordado com vários pontos geométricos e multicoloridos.

Nesse contexto, foi realizada uma pesquisa preliminar em Maceió com um grupo de 10

“filezeiras” que trabalham no Núcleo do Pontal da Barra, num local conhecido como “rua das

rendeiras”, localizado às margens da Lagoa Mundaú.

Inicialmente foi realizada uma entrevista para obtenção dos dados pessoais das

rendeiras, como nome, idade, como aprendeu o ofício, tempo da jornada diária de trabalho e

problemas de saúde originados através do mesmo. Em seguida, através de métodos

observacionais e interacionais, durante a produção artesanal das rendeiras do referido local,

identificou-se na análise preliminar, demandas relacionadas a um ambiente de trabalho

ergonomicamente inadequado, resultando na ausência de conforto físico ao longo da execução

de suas atividades, como mostra a figura 3.

Figura 3. Rendeira executando o seu ofício com postura inadequada

Fonte: Autores (2016)

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Matos et al (2012), divide as análises dos principais resultados e as respectivas

discussões, a respeito dos riscos e agentes ocupacionais, dos materiais e equipamentos, do

método/organização e do posto de trabalho, da seguinte forma: estrutura física, equipamentos

e máquinas, método de trabalho, posto de trabalho, questões legais, e identificação dos riscos.

Entretanto, devido a maioria das rendeiras analisadas não possuírem ligação com associações

locais, as mesmas não dispendem de um estatuto organizacional para a execução de seus

ofícios. Assim, fazendo uma adaptação de Matos et al (2012) temos:

a) Estrutura física

Cada artesã é responsável pela sua própria produção. Algumas trabalham em suas

lojas, que apresentam condições mais favoráveis à jornada de trabalho, com

iluminação adequada, para o não comprometimento da visão. Entretanto, em sua

maioria, o trabalho é realizado na calçada na porta de suas casas e

estabelecimentos, sentadas em cadeiras de praia, ou mesmo no chão, as artesãs

apoiam o tear em suas pernas e debruçam-se sobre o mesmo para o exercício de

suas funções. Dispondo de iluminação diurna, enfrentam uma jornada de

aproximadamente 8 horas diárias, submetidas a essas condições;

b) Materiais

Os materiais utilizados pelas artesãs da renda filé são: agulha para filé, linhas de

algodão e tesoura; 1 tear. As mesmas não utilizam nenhum Equipamento de

Proteção Individual (EPI), como máscaras e óculos protetores, para evitar a

inalação, do que muitas reclamam, serem pelos soltos das linhas de algodão

utilizados;

c) Método de trabalho

As artesãs durante o exercício de suas funções realizam movimentos repetitivos

dos punhos, ombros, braços, mãos e dedos. Já que o ofício e o equipamento atual

utilizado exigem esse tipo de esforço, além de que, as mesmas se abaixam sobre o

tear para alcançar pontos mais distantes. O tear pode chegar a mais de 1 metro de

comprimento e largura, dependendo da peça que deverá ser produzida no mesmo.

Esse tipo de movimento pode acarretar problemas no dorso, coluna, além dos

membros superiores, resultando em doenças ocupacionais;

d) Posto de trabalho

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Durante o processo de produção das artesãs identificou-se que as cadeiras

utilizadas, ou mesmo a ausência dessas, não são reguláveis, e não possuem o

tamanho adequado para as artesãs e para estas executarem o ofício. Além disso, ao

utilizarem o tear, as mesmas devem curvar-se para frente para terem acesso aos

pontos mais distantes do equipamento, e exercem maior força de ambos os

membros inferiores e superiores, tanto para movimentar a agulha quanto para

trocar os fios da linha de algodão;

e) Identificação dos riscos

Os riscos que afetam a saúde e a segurança das rendeiras, como pode ser

observado na figura 4, podem ser identificados através de técnicas dedutivas, que

ao analisar o perigo, seguem para as causas e consequências para propor soluções;

E indutivas, as quais criam um cenário problemático para então avaliar as causas e

consequências dos efeitos de um evento desejado e somente assim propor

soluções. Ambas as técnicas podem ser classificadas ainda em qualitativas e

quantitativas.

Figura 4. Riscos para a saúde das rendeiras

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Fonte: Autores (2016)

Os seguintes dados, referentes aos problemas que podem ser ocasionados durante

ofício da renda, foram levantados a partir da análise realizada in loco:

a) Químicos: Poeira despendida das linhas de fibra de algodão;

b) Ergonômicos: Permanecer na posição sentada por longo período de tempo; Postura

inadequada e um esforço excessivo para as trocas dos fios dos pontos confeccionados

para as peças; Utilização de movimentos repetitivos e com precisão; Quando utilizam

cadeiras, as mesmas não possuem acolchoamento adequado e nem controle de altura e

sem um encosto ergonomicamente adequado; Utilizam a vista fixa durante o período

de desenvolvimento da atividade por um longo período de tempo, sujeitas a uma má

iluminação do local;

c) Acidentes: Os acidentes mais comuns são perfuração e corte nos dedos e mãos, em

virtude dos materiais utilizados (tesoura e agulha).

Entre as doenças que poderiam ser ocasionadas devido aos riscos os quais as rendeiras

são submetidas em suas jornadas de trabalhos, como mostra a figura 5, estão principalmente o

LER (Lesão por Esforços Repetitivos), originada em virtude da realização de movimentos

repetitivos; O DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), ocasionado

devido a posturas inadequadas, também conhecidas como posturas anti-ergonômicas; E a

Bissinose que é causada pela poeira das fibras de algodão, que afetam, não só as pessoas que

trabalham na indústria algodoeira, como também os trabalhadores que lidam com as fibras do

mesmo.

Figura 5. Problemas que podem ser gerados durante o ofício da renda

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Fonte: Autores (2016)

5. Resultados preliminares

Após a análise feita dos problemas acima citados, pode ser constatado que o trabalho

das rendeiras apresenta uma série de problemas ergonômicos detectados, que podem originar

diversos problemas na saúde, já que devido a passarem um tempo muito longo na posição

sentada, ocasionam um gasto maior do sistema muscular e esquelético. Outro fator observado

foi a adoção de posição inadequada na cadeira ou mesmo sem o uso dela, debruçada sobre o

tear, que pode provocar problemas na coluna vertebral. Além desses, foram identificados

também que as mesmas se submetem a movimentos repetitivos durante a manipulação da

agulha e linha para a movimentação destes no tear, e o mesmo exige grande precisão e um uso

mais excessivo da visão. Assim, observou-se que as rendeiras não se preocupavam com os

equipamentos necessários para garantir a segurança delas no trabalho, o que poderá acarretar

a médio e longo prazos problemas ocupacionais.

Desse modo, foi visto inicialmente a necessidade de um redesign, reformulação a fim

de eliminar falhas existentes, do tear utilizado pelas rendeiras, que deverá ser desenvolvido

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através de estudos que se utilizem da Antropometria, que segundo Iida (1990), é um dos

ramos da Ergonomia que estuda as medidas físicas do corpo humano.

6. Referência

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http://www.abergo.org.br/ >

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