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Departamento de Artes e Design 1 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE LIVROS DE ATIVIDADE PARA ADULTOS: UM ESTUDO DE AMOSTRAGEM PARA A PRODUÇÃO DO CARIOSCÓPIO Aluno: Ana Luiza Guadalupe Meniconi Orientador: Nilton Gamba Junior Introdução O recente boom de livros de atividade para adultos no mercado editorial foi um fenômeno curioso que o Dhis - Laboratório de Design de Histórias e Narrativas da PUC-Rio, resolveu compreender mais a fundo. O sucesso de vendas de livros desse gênero foi observado primeiro na Europa, com o lançamento do livro The creative colouring book for gown-ups em 2012, pela editora britânica Michael O’Mara. A tendência chegou ao Brasil dois anos depois, com o lançamento do Jardim Secreto, pela editora Sextante. Este livro marcou o início de uma polêmica reviravolta no mercado, que levou o livro de atividades à lista dos mais vendidos no país. A apropriação do conceito de arte terapia e do discurso antiestresse foi essencial para cativar o público adulto e legitimar entre eles o ato de colorir. Para investigar o assunto, foi concebido o Carioscópio, projeto de desenvolvimento de um livro do gênero (livro de atividades para adultos), no qual a ilustração, a criação de personagens e atividades foram usadas para retratar as tribos urbanas cariocas e seus tabus, desde a década de 1950 até os dias de hoje. Esse projeto integra uma ampla investigação em curso no laboratório sobre a Etnoficção - pesquisa etnográfica que usa a produção ficcional como instrumento para a resolução de problemas nas Ciências Sociais. Associada à análise da imagem na ilustração, esse estudo oferece grande contribuição para o aprofundamento do campo do Design. O presente relatório visa apresentar um breve panorama dos estudos realizados pelos pesquisadores do Dhis sobre as tribos urbanas e seus respectivos tabus durante um proejto específico, o Carioscópio. O foco, no entanto, será a apresentação da investigação complementar sobre as características e variáveis, tanto estéticas quanto conceituais, em exemplares representativos do cenário editorial dos livros de atividade para adultos, mantida em paralelo pelo bolsista PIBIC dentro do laboratório. O referencial teórico base utilizado para analisar a amostragem baseia-se nos fenômenos apresentados por Mario Vargas Llosa em seu ensaio A civilização do espetáculo [7], sobre o conceito de cultura na contemporaneidade. Esse ensaio abre portas para a problematização do discurso da mídia, do marketing editorial, da supremacia da imagem sobre a escrita e do impacto observável desses livros na sociedade. No entanto, o projeto do Carioscópio e sua decisão pelo uso do conceito de tribos é baseada na obra de Mafesolli [5] e a problematização no âmbito da definição de juventude a partir da segunda metade do século XX tem como referência a obra de Pasolini [4] e [6]. O Projeto Carioscópio foi premiado pela FAPERJ no edital de exposições para as comemorações dos 450 anos da cidade e está em etapa de desenvolvimento final das atividades ilustradas. Objetivos Expandir a base de pesquisa e referencial para a produção do Carioscópio a partir do levantamento e análise de características e variáveis estéticas em exemplares representativos do cenário editorial dos livros de atividade para adultos, cruzando-as com o estudo dos fenômenos culturais contemporâneos apresentados por Mario Vargas Llosa em seu ensaio A civilização do espetáculo.

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LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE LIVROS DE ATIVIDADE PARA ADULTOS: UM ESTUDO DE AMOSTRAGEM PARA A

PRODUÇÃO DO CARIOSCÓPIO

Aluno: Ana Luiza Guadalupe Meniconi Orientador: Nilton Gamba Junior

Introdução

O recente boom de livros de atividade para adultos no mercado editorial foi um fenômeno curioso que o Dhis - Laboratório de Design de Histórias e Narrativas da PUC-Rio, resolveu compreender mais a fundo. O sucesso de vendas de livros desse gênero foi observado primeiro na Europa, com o lançamento do livro The creative colouring book for gown-ups em 2012, pela editora britânica Michael O’Mara. A tendência chegou ao Brasil dois anos depois, com o lançamento do Jardim Secreto, pela editora Sextante. Este livro marcou o início de uma polêmica reviravolta no mercado, que levou o livro de atividades à lista dos mais vendidos no país. A apropriação do conceito de arte terapia e do discurso antiestresse foi essencial para cativar o público adulto e legitimar entre eles o ato de colorir.

Para investigar o assunto, foi concebido o Carioscópio, projeto de desenvolvimento de um livro do gênero (livro de atividades para adultos), no qual a ilustração, a criação de personagens e atividades foram usadas para retratar as tribos urbanas cariocas e seus tabus, desde a década de 1950 até os dias de hoje. Esse projeto integra uma ampla investigação em curso no laboratório sobre a Etnoficção - pesquisa etnográfica que usa a produção ficcional como instrumento para a resolução de problemas nas Ciências Sociais. Associada à análise da imagem na ilustração, esse estudo oferece grande contribuição para o aprofundamento do campo do Design.

O presente relatório visa apresentar um breve panorama dos estudos realizados pelos pesquisadores do Dhis sobre as tribos urbanas e seus respectivos tabus durante um proejto específico, o Carioscópio. O foco, no entanto, será a apresentação da investigação complementar sobre as características e variáveis, tanto estéticas quanto conceituais, em exemplares representativos do cenário editorial dos livros de atividade para adultos, mantida em paralelo pelo bolsista PIBIC dentro do laboratório. O referencial teórico base utilizado para analisar a amostragem baseia-se nos fenômenos apresentados por Mario Vargas Llosa em seu ensaio A civilização do espetáculo [7], sobre o conceito de cultura na contemporaneidade. Esse ensaio abre portas para a problematização do discurso da mídia, do marketing editorial, da supremacia da imagem sobre a escrita e do impacto observável desses livros na sociedade. No entanto, o projeto do Carioscópio e sua decisão pelo uso do conceito de tribos é baseada na obra de Mafesolli [5] e a problematização no âmbito da definição de juventude a partir da segunda metade do século XX tem como referência a obra de Pasolini [4] e [6].

O Projeto Carioscópio foi premiado pela FAPERJ no edital de exposições para as comemorações dos 450 anos da cidade e está em etapa de desenvolvimento final das atividades ilustradas.

Objetivos

Expandir a base de pesquisa e referencial para a produção do Carioscópio a partir do levantamento e análise de características e variáveis estéticas em exemplares representativos do cenário editorial dos livros de atividade para adultos, cruzando-as com o estudo dos fenômenos culturais contemporâneos apresentados por Mario Vargas Llosa em seu ensaio A civilização do espetáculo.

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Além disso, este estudo pretende oferecer feedback aos pesquisadores do grupo, visando possíveis insights para a melhor expressividade do projeto como veículo de crítica à essa nova força no campo da ilustração e do design editorial

Metodologia

A metodologia do projeto de Iniciação Científica se desenvolveu paralelamente à metodologia de do projeto Carioscópio. A tabela a seguir resume as etapas de cada uma, organizadas em ordem cronológica:

Carioscópio Iniciação Científica

• Pesquisa documental e bibliográfica sobre a história do Rio

• Referencial teórico sobre tribos urbanas, tabus sociais e etnografia ficcional

• Elaboração de grupos por período histórico e temas

• Referencial teórico do Vargas Llosa para cultura e consumo

• Criação ficcional baseada nos dados históricos • Elaboração de categorias de análise

• Análise de amostragem editorial

• Ilustração de personagens e dinâmicas

• Análise de protótipo do Carioscópio

• Produção final do livro

Metodologia do projeto de Iniciação Científica

Referencial teórico de Mario Vargas Llosa para cultura e consumo

Para obter dispositivos analíticos, o estudo parte de dispositivos teóricos, sob a ótica dos fenômenos apresentados por Mario Vargas Llosa em seu ensaio A civilização do espetáculo, que versa sobre o conceito de cultura na contemporaneidade. No livro, o vencedor do prêmio Nobel resume a cultura contemporânea como pertencente à uma “civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigente é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal”. A necessidade pelo espetáculo é visível em todos os aspectos da cultura: na desvalorização da política; no sensacionalismo midiático; na morte do erotismo e a consequente banalização do sexo; na representatividade da literatura light, leve, ligeira e fácil; na massificação do conceito de cultura: tudo é cultura.

Vargas Llosa apresenta um discurso radical, defendendo com força a valorização do que ele denomina alta cultura em detrimento da baixa cultura, a tradição clássica e erudição em detrimento do popular ou industrial. O presente estudo não pretende realizar juízo de valor sobre todas as reflexões do autor e, sim, usar pontos de relevância em seu discurso para estimular o debate sobre os livros de atividades para adultos. No Dhis optamos por responder à várias das reflexões de Vargas Llosa com outros autores e nesse projeto, em específico, probrlmatizamos a obra com a análise de um produto tão implicado com esse contexto. Sobre diversos pontos de vista, tais livros são objetos extremamente representativos da civilização do espetáculo e seus produtos culturais. A análise não apenas ajudará a compreender melhor o sucesso de vendas desse gênero literário, como também a rever as teorias de Vargas Llosa, aplicando-as a contextos reais.

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O quadro a seguir apresenta, de forma resumida, os pontos de relevância para este estudo no escopo do ensaio:

Elaboração de categorias de análise

Nessa etapa, o projeto PIBIC se desenvolveu paralelamente ao grupo de pesquisa e realizou o levantamento e análise de características e variáveis estéticas em uma amostragem representativa do cenário editorial dos livros de atividade para adulto.

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Nove exemplares foram selecionados e, em seguida, divididos em categorias que levam em conta a relevância de suas propostas em relação aos desdobramentos do mercado como um todo. Quais sejam:

Marco inicial

Categoria representativa das edições que iniciaram o boom do gênero no Brasil. Lançado pela editora Sextante em 2014, o livro Jardim Secreto, de Johanna Basford, teve mais de 700 mil exemplares vendidos no país, acompanhado de perto pelo livro Floresta Encantada, lançado no ano seguinte.

A maior parte desses livros de colorir para adultos têm o discurso ligado à terapia antiestresse e ao universo da linguagem estética feminina – mandalas, flores, amigas são temas recorrentes. Tratam-se de recursos que buscam legitimar o consumo ao aproximar a prática de colorir, considerada infantil, com as necessidades e os interesses de um adulto.

Sátiras e ironias

O termo “adulto”, no entanto, pode ser desdobrado de diversas formas e foi exatamente essa ambiguidade que algumas editoras resolveram explorar. Possivelmente uma crítica ao discurso científico e estereotipado dos livros do Marco inicial, muitos ilustradores desenvolveram temas como a pornografia (Suruba para colorir), a ironia das dinâmicas sociais, o uso apenas da cor preta para colorir, etc.

Reflexões sociopolíticas

Outro desdobramento desse gênero literário é de ordem sociopolítica, que propõe uma interatividade menos superficial entre livro e leitor. O discurso do “colorir para relaxar” é substituído pelo incentivo à reflexão, à expressão de pensamentos e sonhos. É o caso do livro Okúpalo-Todo, de edição espanhola.

Derivações estéticas

A pregnância da estética dos livros de atividade pode ser observada com uma rápida análise do mercado editorial. Após o lançamento de Jardim Secreto, todo exemplar que reunir características como ilustração em contornos pretos, papel poroso, supremacia da imagem sobre o texto, será diretamente ligado ao gênero. Não necessariamente por uma deliberação editorial, mas pelo olhar viciado do leitor, exposto exaustivamente à variações da mesma linguagem visual. Essa categoria abarca, portanto, livros que são esteticamente semelhantes aos livros de atividade, apesar de não propor interatividade alguma. Um bom exemplo é a compilação de obras do ilustrador Cássio Loredano, Rio, Papel e Lápis. É mais provável que o público atente para a semelhança com Jardim Secreto que para o estilo do artista.

Foi montada uma tabela com as características e variáveis estéticas a serem observadas em cada exemplar da amostragem (ver Anexo I).

Análise de amostragem editorial

Suas teorias foram cruzadas com as observações sobre cada livro e montadas em grandes tabelas comparativas, desmembradas para caber aqui (ver Anexo II). As tabelas foram preenchidas de acordo com a constatação ou não dos fenômenos de Vargas Llosa em cada exemplar. Portanto, se a análise reforça as teorias do escritor, a tabela indicará “sim” e uma breve explicação da semelhança entre o fenômeno em questão e a amostra. Se a análise não está de acordo com as teorias de Vargas Llosa, a tabela indicará “não” e uma breve explicação das suas diferenças. Quando o fenômeno não se aplicar ou não for observável, a tabela indicará “X”.

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No processo de montagem das tabelas, foi percebida a necessidade de dividir a análise em duas categorias distintas: uma que diz respeito às informações editoriais fornecidas pelo próprio livro e que podem ser traduzidas aqui como intenção ou proposta da editora; e outra com as interpretações do pesquisador, que leva em conta o contexto de produção do livro, a repercussão na mídia e sua própria bagagem teórica. Assim, podem ocorrer situações em que a informação editorial da amostra por si não é suficiente para reforçar ou contrariar um fenômeno. A interpretação do pesquisador a respeito da amostra, no entanto, independe da presença ou não desses indícios editoriais.

Como já era esperado, alguns fenômenos estão muito mais presentes que outros na amostragem. A tabela a seguir exibe uma síntese dos valores totais dessa recorrência:

Fica claro que alguns aspectos do estudo de Vargas Llosa não se aplica exatamente à esse estudo de caso, como o crescimento dos impulsos violentos, o desrespeito generalizado às leis, entre outros, que não foram observados na amostragem. Em compensação, questões como a superficialização da leitura (supremacia de imagens sobre textos), a facilidade, a busca por diversão e o domínio da baixa cultura foram unânimes em observações positivas. A ausência quase total de texto em todas as amostras é marcante.

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É possível levantar uma questão muito pertinente ao texto de Vargas Llosa, que inclusiva foi a causa de muita polêmica durante esse boom no mercado editorial. O livro de atividades para adulto pode, sequer, se considerado livro? Para o autor, provavelmente não, pois a resposta encontra-se na dialética básica que separa a alta cultura da baixa cultura. Muitos insistem que esse tipo de publicação seja chamada de caderno, e não livro. Aqui o consideramos livro por sua implicação como mercado editorial

Análise de protótipo do Carioscópio

Dentro da metodologia do Carioscópio, as tribos históricas e seus tabus foram definidos pelos pesquisadores do grupo de estudos em suas reuniões semanais. A relação completa está representada abaixo:

Tribo Década Período Tabu

Colégio militar 1950 1950 - 1954 Virgindade

Bossa Nova 1960 1958 -1962 Zona sul - Zona Norte

Ditadura 1960 1964 - 1968 Censura

Pier 1970 1970 - 1974 Drogas

Geração Saúde 1980 1978 - 1982 Beleza física

Soturnos 1980 1982 - 1986 Alegria esvaziada

NewWave 1980 1984 - 1990 Melancolia

Pagode 1990 1990 - 1994 Indústria e mercado

Funk 1990 1994 - 2000 Violência

Hipsters 2000 2004 - 2008 Consumo

Otaku 2000 2008 - 2012 Estilo

Favela 2000 2008 - 2012 Classe social

Manifestantes 2000 2012 - 2016 Política

Queer 2000 2012 - 2016 Sexualidade

Baixo Gávea 2000 2012 - 2016 Boemia

Cada pesquisador ficou responsável por aprofundar a pesquisa histórica relacionada a seu respectivo grupo e iniciar o trabalho de desenvolvimento de seus personagens e atividades para o Carioscópio. A tribo do Pagode foi a primeira a ser finalizada e, por isso, se tornou objeto de análise no presente estudo.

No processo de pesquisa, foram desenvolvidos três textos para cada grupo: o primeiro contextualizando o período histórico em escala global (até 1600 caracteres); o segundo especificando o contexto carioca e sua relação com o resto do país (até 3000 caracteres); e o terceiro com a narrativa ficcional construída sobre os personagens em linguagem mais coloquial. Por último, os pesquisadores ilustravam os personagens e desenvolviam as dinâmicas. No pagode, foi criada a história de três irmãos: Luan, Jorge e Sheila. Eles estão representados abaixo, seguidos pelo texto referente à sua história ficcional e o histórico do período sobre o pagode no Rio de Janeiro e no país, que serão inseridos na versão final do livro. Por motivos de espaço, não apresentaremos o histórico nacional e as dinâmicas, para podermos incluir na íntegra as tabelas de análise nos anexos.

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Texto 2: histórico carioca

1993 é o ano de efervescência para o pagode. O grupo Exaltasamba lançou seu primeiro disco (Eterno Amanhecer), assim como o grupo Katinguelê (disco Bem no Íntimo), o Negritude Júnior (disco Jeito de Seduzir) e o Grupo Sem Compromisso (disco Parte Desse Jogo). Todos grupos paulistas. O pagode, que nasceu no Rio de Janeiro, era ressignificado ganhando uma “cara” mais açucarada, pop e romântica em São Paulo.

Originalmente, o termo pagode remete ao encontro (ao evento) em que se festeja. Posteriormente, pagode ganhou alcunha de gênero musical. Este mesmo processo também aconteceu com o samba, que originalmente se referia ao “local onde as pessoas do povo se reuniam para festejar algum evento social” (citar). Era isto que se fazia no começo do Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro dos anos 60 e 70. Funcionava como um escape às escolas de samba que, já naquela época, ganhavam ares comerciais. Buscava-se um intimismo, uma informalidade fora dos meios de comunicação. A quadra do Cacique era um lugar em que se jogava futebol, baralho e se fazia um sambinha. Com o tempo, acabou o futebol, acabou o jogo de cartas e se firmou o samba. Mas com este modo diferente das escolas de samba, um samba mais popular (próximo do samba de partido-alto) e também mais comercial. Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Almir Guineto e o Fundo de Quintal foram expoentes desse modo de fazer samba, do pagode da década de 80. Uma camisa aberta, um churrasco, amigos, músicos inexperientes, músicos profissionais e muita cerveja. A voz rouca e esganiçada se sobressai à densa percussão e se une a um cavaquinho ou um banjo. O ato de se reunir, tocar, dançar, comer e beber. A descontração, o improviso, o informal são as características do pagode, deste encontro de amigos e familiares. As letras desta época falam exatamente disto, são crônicas cotidianas das situações do subúrbio carioca. No pagode, o público se mistura ao músico (a mesma pessoa que ouve o pagode, também dança, canta e toca) e é a própria inspiração para as músicas: o popular se dá nesta combinação improvisada e informal.

Nos anos 90, o pagode foi assimilado aos grandes meios midiáticos ganhando âmbito nacional: uma nova musicalidade e uma expansão de público. Nesta época, o mercado começa a visar às classes sociais mais baixas (que passam a ter mais poder aquisitivo): acaba a era do Rock Brasil e novos gêneros ganham maior destaque como o axé baiano, o sertanejo, o funk e o pagode. Mas um pagode com influências do mundo industrial capitalista e, neste processo, há uma dificuldade de limitarmos e compreendermos a prática popular e o produto de consumo. O pagode assimila diversos elementos estrangeiros, como o teclado, o baixo e a guitarra, e se aproxima do “suingue” e do samba-rock protagonizado por Jorge Benjor. Pique Novo, Karametade, SPC, Pixote, Raça Negra e Negritude Jr. são ícones desta nova leva. Estes grupo se vestem paramentados em divertidos “uniformes” e posam sorrindo na capa do CD. Intensa influência da indústria publicitária no “estilo” dos grupos: perde-se a informalidade do pagode como festa. Os grupos fazem show, o que separa público e plateia, diferente da roda de pagode (em que há uma maior proximidade). Agora, o cantor (com voz suave e não rouca) vira estrela e o público vira fã. As músicas falam agora de amor e paixão (universal) e se afastam da crônica local. O pagode dos 90 é o pagode romântico. Há certamente um preconceito na industrialização do pagode. “Não é a toa” que o termo “samba de raiz” foi criado também na década de 90 para se contrapor ao pagode romântico. O “antigamente” como lugar do puro revela uma “fabricação de autenticidade” (Richard Peterson) e, assim, uma “tradição inventada” (Hobsbwan). A ideia de um samba mais autêntico que outro, mais “raiz”, de um popular que não aceita o popular industrializado, cria um popular irreal que, de fato, não existe. As categorias não são tão pertinentes quando vemos que o mesmo público consome ambos os “pagodes”. O pagode, com seu caráter inclusivo carnavalesco, assimila o teclado e o baixo elétrico misturando com banjo e o pandeiro. Convivem os shows lotados com o pagode de fundo de quintal, o visual desleixado e informal com os “uniformes” brilhantes, a “barriguinha de chopp” com o “saradinho” com boné para trás, o pagodeiro proletário com o pagodeiro playboy (e o pagodeiro que é o jogador de futebol). No subúrbio moderno, convivem (harmoniosamente ou não) o de lá e o de cá, o consumismo e o comunitário, o pop e o popular. Em 2002, o grupo Só Pra Contrariar lança o CD Acústico em que Alexandre Pires compartilha o palco com artistas da MPB como Caetano Veloso e Gilberto Gil.

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Texto 3 e Ilustrações: narrativa ficcional

Jorge tem 25 anos, mora em Del Castilho e pesa 140 kilos. Canta pagode, funk, forró e até

sertanejo. Teve uma infância difícil, depois que seu pai largou a família. Sua mãe, Dona Neuza, trabalhava na feira e ele a ajudava desde muito pequeno. Ele também participava das rodas de partido alto, sua mãe ia em todas e cantava até o amanhecer. Dormir tarde, acordar cedo e às vezes nem dormia. Teve que largar a escola na quarta série. Na adolescência, cantava na feira para chamar a atenção da freguesia. E dava certo, ficou conhecido pelo pessoal da feira. Depois começou a ir no Cacique de Ramos. Jorge e a galera da sua idade não tinha muito espaço pra entrar na roda dos coroas, todos "feras". Mas quando os coroas iam "bebericar" umas e outras, Jorge "dava uma canja" e cantava uns pagodes, no estilo "mais moderno". Os coroas ficavam meio assim: esse samba é diferente. É que Jorge gostava muito de black music também, Earth, Wind and Fire. Estilo de música melódica, bem cantada: "pra entrar no ouvido de todo mundo" como ele diz. Jorge aprendeu a tocar violão e teclado e, assim, se apresentar na noite: cantava funk, forró, sertanejo, pagode, o que pedissem, "é tudo uma coisa só". Passou um tempo, e ele montou um grupo cover de pagode romântico. Ele sabe tudo do Grupo Molejo, Travessos, Raça Negra e Pixote. Jorge faz vários shows, não vai mais a feira, e traz bem mais dinheiro para casa hoje em dia. O pagode começou como brincadeira, mas agora é fonte de renda. Só que Jorge ainda não se acostumou ao palco, as luzes, as fotos, ao figurino. Se sente bem mais confortável na roda de pagode de palma de mão.

Luan tem 19 anos, é irmão de Jorge. Luan, está no 1º ano do ensino médio. Luan já trabalhou como feirante, como boy, como bicheiro e, hoje em dia, trabalha como camelô na rua Uruguaiana. Vende CDs de grupos de pagode do momento. Luan adora esse trabalho. Como admira muito o irmão, Luan canta todos os sucessos novos para chamar os clientes, e funciona bastante. Num show em que Jorge se apresentava, Luan conheceu André que é pagodeiro de carteirinha e é jogador de futebol: foi com ele que Luan descobriu sua homossexualidade. Luan esconde isto de Jorge, tem medo dele. Mas também o admira, adora seu jeito de cantar. Luan quer ser pagodeiro e jogador de futebol.

Cíntia tem 17 anos e é irmã de Jorge e Luan. Terminou e o ensino médio e trabalha como caixa da Mesbla perto da cinelândia. Mas já trabalhou como manicure/pedicure, atendente de loja e, até, no disk sexo. Esse último trabalho rolou porque Cíntia é passista no Grêmio Recreativo Escola de Samba Caprichosos de Pilares. Dança um samba misturado com a ginga do axé bahiano, de forma bem sensual. Assim, foi convidada para trabalhar no disk sexo de modo clandestino, mas não durou muito. Quando Jorge soube, deu "uma cortada" na onda de sua irmã: "aquilo ia dar em prostituição". Cíntia é eclética, gosta de samba, de rock (adora os Hanson, mas não gosta daquela pessoal de preto que ouve Nirvana), de funk e de forró. Mas é no pagode e no axé que ela "se acaba". Dança todas músicas do É o Tchan, Travessos, Pixote, Art Popular. É apaixonada pelo Molejo, já tatuou o nome no braço esquerdo e fez uma faixa escrita: "Molejo é melhor que os Beatles". Cíntia está criando um fã-clube do Molejo com as amigas, apesar de não achar nenhum dos integrantes do grupo "gato". Ela pensa, seriamente, em se casar com o Belo do Soweto, nunca disse isso a ninguém, apenas seu diário-secreto sabe de suas "loucuras".

Diferente de todos os outros exemplares analisados durante a pesquisa de similares, o Carioscópio apresenta textos extensos sobre cada ilustração, buscando um aprofundamento maior sobre o tema abordado. Esse fator traz uma revisão do gênero na relação entre texto e imagem para adultos, que nos exemplos editoriais pende muito mais em direção à exclusividade da

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imagem. Vemos também que o aspecto lúdico das imagens e da função do livro, não prejudica uma abordagem Histórica de uma cidade. Figuras que lembram cartoons, narrativas que simplificadamente lidam com arquétipos e o potencial de dinâmicas em divertir se associam a novas funções que expandem a discussão sobre a civilização do espetáculo. Além disso, a aberta apresentação do processo de pesquisa e desenvolvimento do livro revela aspectos essenciais para a compreensão do objeto final: é muito mais fácil entender o resultado quando seu conceito é claro e relevante.

Conclusões

O estudo teórico permitiu uma maior compreensão do comportamento do mercado editorial em relação aos livros de atividade. A aproximação desse fenômeno com teorias político-sociais abriu portas para uma reflexão mais consciente sobre a prática do Design. O debate sobre cada observação e conclusão levaram ao desenvolvimento de um projeto crítico e relevante, não apenas para o campo do Design como para o campo da pesquisa histórica e dos estudos sociais. É importante ressaltar também que o Carioscópio é um projeto em desenvolvimento e algumas etapas ainda devem ser concluídas. O presente estudo espera ser útil para critérios de avaliação de seu processo.

Não apenas o estudo do Design mas também sua prática pode ser questionada após esse estudo. Pensar na relevância cultural do que se produz é essencial. Por mais que o discurso radical de Vargas Llosa muitas vezes tome uma rota apocalíptica, faz pensar sobre a séria superficialização das experiências e a falta de capacidade crítica do público, vivendo à mercê de imposições econômico-culturais. A grande busca é para tentar entender como o Design pode ajudar a reverter isso, a incentivar a produção e a divulgação legítima de cultura, seja ela erudita ou popular, global ou local.

Bibliografia

1 - CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX .Tradução de Patrícia Farias. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.

2 - FRASCARA, Jorge. User-Centred Graphic Design: Mass Communication And Social Change. Londres, Taylor and Francis associado, 1997.

3 - LAHUD, Michel. A vida clara. linguagens e realidade, segundo Pasolini. São Paulo: Companhia das Letras; Unicamp, 1993.

4 - LYOTARD, J. F. A Condição Pós-moderna. Rio de Janeiro: Editora José Olyimpio, 2002.

5 - MAFESOLLI, Michel. O Tempo das Tribos. São Paulo, Editora Forense, 2006.

6 - PASOLINI, P. P. Os jovens infelizes. Antologia dos ensaios corsários. São Paulo: Brasiliense, 1990.

7 - VARGAS LLOSA, M. A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e cultura. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

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Anexo I

Categoria Amostra Variáveis

Proposta Capa

Marco inicial

Jardim Secreto

(Ed Sextante, 2014) Johanna Basford

Colorir e desenhar; passeio por jardins; caça ao tesouro; antiestresse

Indica que é para colorir no subtítulo; ilustração de um elefante todo colorido à esquerda

Cores Criativas - Animais

(Ed Sextante, 2015) Valentina Harper

Colorir; folhas destacáveis para presentear

Indica que é para colorir no subtítulo; ilustração de um elefante todo colorido à esquerda

Obras de Arte para Colorir

(Ed Universo dos Livros, 2015)

Colorir obras de arte famosas e criar sua própria arte “memorável”

Indica que é para colorir no título e na ilustração: 3 quadros famosos coloridos como no original e um com metade em pb

O Pequeno Livro de Colorir do Príncipe

(Ed Universo dos livros,

2015)

Colorir e escrever; passeio pelo universo do Pequeno Príncipe; caça ao tesouro; antiestresse

Indica que é para colorir no título e na ilustração: Pequeno Príncipe em pb

Black White Colour

(Random House, 2011)

Ilustrações diversas que se deve completar, compor ou interferir com desenhos

Ilustrações diversas que se deve completar, compor ou interferir com desenhos

Sátiras e ironias Suruba para Colorir

(Ed Bebel Books, 2015)

Colorir cenas de suruba desenhadas por artistas e quebrar tabus

Indica que é para colorir no subtítulo e título e não há ilustrações

Reflexões sociopolíticas

Okúpalo-Todo

(Ed. Coco Books, 2014) Moose Allain

Comunicar os pensamentos ao colorir, desenhar e escrever em ilustrações que exibem cenas diversas

Indica que é para colorir em uma etiqueta e dentro da ilustração: personagens carregam placas - alguns estão coloridos e algumas placas preenchidas

Uma gente sem terra para uma terra sem gente

Derivações estéticas

Rio, Papel e Lápis

(IMS - Cássio Loredano, 2015)

Compilação de obras do ilustrador

Título e recorte de uma ilustração em pouco destaque

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Categoria Amostra Variáveis

Introdução Ilustração

Marco inicial

Jardim Secreto

(Ed Sextante, 2014) Johanna Basford

Este livro pertence a; indicação dos elementos escondidos; instruções em texto

Elementos da natureza e objetos arranjados em padronagens, cenários, mandalas ou composições abstratas

Cores Criativas - Animais

(Ed Sextante, 2015) Valentina Harper

Explicação do funcionamento do livro, teoria básica de cor; exemplos de como colorir as ilustrações

Animais preenchidos e às vezes adornados por elementos abstratos

Obras de Arte para Colorir

(Ed Universo dos Livros, 2015)

Pequeno texto explicando proposta do livro na introdução

Quadros famosos

O Pequeno Livro de Colorir do Príncipe

(Ed Universo dos livros,

2015)

Este livro pertence a; indicação dos elementos escondidos; instruções em texto

Interpretações de cenas, personagens e temas do livro original

Black White Colour

(Random House, 2011) X

Imagens diversas usando técnicas diversas: desenho, caligrafia, fotografia, montagem

Sátiras e ironias Suruba para Colorir

(Ed Bebel Books, 2015)

Texto da editora Estilos diversos, referentes à cada artista, ilustrando cenas de sexo

Reflexões sociopolíticas

Okúpalo-Todo

(Ed. Coco Books, 2014) Moose Allain

Pequeno texto explicando proposta do livro na introdução

Cenas diversas divididas em 7 temas / capítulos; às vezes compõem paisagens, às vezes mais gráficas e abstratas

Uma gente sem terra para uma terra sem gente

Derivações estéticas

Rio, Papel e Lápis

(IMS - Cássio Loredano, 2015)

Texto dos editores; texto introdutório por Renato Gomes;

Paisagens do Rio

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Categoria Amostra Variáveis

Guardas Orelhas

Marco inicial

Jardim Secreto

(Ed Sextante, 2014) Johanna Basford

X Poucas ilustrações com pequeno texto falando sobre autora

Cores Criativas - Animais

(Ed Sextante, 2015) Valentina Harper

X X

Obras de Arte para Colorir

(Ed Universo dos Livros, 2015)

X X

O Pequeno Livro de Colorir do Príncipe

(Ed Universo dos livros,

2015)

X X

Black White Colour

(Random House, 2011)

Ilustração com tipografia como na capa X

Sátiras e ironias Suruba para Colorir

(Ed Bebel Books, 2015)

X X

Reflexões sociopolíticas

Okúpalo-Todo

(Ed. Coco Books, 2014) Moose Allain

Ilustração em pb invertido Textos falando do livro e do autor

Uma gente sem terra para uma terra sem gente

Derivações estéticas

Rio, Papel e Lápis

(IMS - Cássio Loredano, 2015)

Título X

Departamento de Artes e Design

13

Categoria Amostra Variáveis

Personagens Elementos textuais

Marco inicial

Jardim Secreto

(Ed Sextante, 2014) Johanna Basford

X Introdução; ocasionais instruções incorporadas às ilustrações

Cores Criativas - Animais

(Ed Sextante, 2015) Valentina Harper

Animais

Introdução; ao lado de cada ilustração, uma citação e um espaço com pautas para escrever, com nomes já assinando em baixo

Obras de Arte para Colorir

(Ed Universo dos Livros, 2015)

X Introdução; uma breve biografia do pintor ao lado de cada ilustração

O Pequeno Livro de Colorir do Príncipe

(Ed Universo dos livros,

2015)

Pequeno Príncipe & cia Introdução

Black White Colour

(Random House, 2011) X Ocasionalmente compondo

as ilustrações

Sátiras e ironias Suruba para Colorir

(Ed Bebel Books, 2015)

X Introdução; citações ao lado de cada ilustração

Reflexões sociopolíticas

Okúpalo-Todo

(Ed. Coco Books, 2014) Moose Allain

Pessoas, animais antropomorfizados e seres surreais

Introdução; capítulo; cada cena dentro do capítulo possui um título e uma instrução; “despedida”

Uma gente sem terra para uma terra sem gente

Derivações estéticas

Rio, Papel e Lápis

(IMS - Cássio Loredano, 2015)

X Introdução; histórias e explicações ao lado de cada ilustração

Departamento de Artes e Design

14

Categoria Amostra Variáveis

Índex Observações

Marco inicial

Jardim Secreto

(Ed Sextante, 2014) Johanna Basford

Espelho das páginas com indicações de onde estão os elementos escondidos

X

Cores Criativas - Animais

(Ed Sextante, 2015) Valentina Harper

Espelho das páginas com exemplos de como colorir

Outro título da autora: Cores criativas Y Mandalas

Obras de Arte para Colorir

(Ed Universo dos Livros, 2015)

X X

O Pequeno Livro de Colorir do Príncipe

(Ed Universo dos livros,

2015)

Espelho das páginas com indicações de onde estão os elementos escondidos

X

Black White Colour

(Random House, 2011) X Foco maior em desenhar do

que em colorir

Sátiras e ironias Suruba para Colorir

(Ed Bebel Books, 2015)

X X

Reflexões sociopolíticas

Okúpalo-Todo

(Ed. Coco Books, 2014) Moose Allain

X X

Uma gente sem terra para uma terra sem gente

Derivações estéticas

Rio, Papel e Lápis

(IMS - Cássio Loredano, 2015)

X Não é para colorir

Departamento de Artes e Design

15

Anexo II

Fenômenos + desdobramentos

Amostragem

Jardim Secreto

Informação editorial Interpretação do autor

- Superficialização de leitura, leitura light Sim – imagens com instruções simples

- Simplificação de conteúdos – Sim – leitura rápida de imagens e tema light: obras de arte famosas

- Imediatismo, facilidade – Sim

- Hedonismo Sim – colorir para se sentir bem

- Desconsideração de outras funções (reflexão, aprendizado, concentração, introspecção) em nome da necessidade de prazer

– Não – colorir exige concentração e introspecção

- Excesso de estímulos X X

- Busca pela extroversão, diversão, expressão, humor Sim – proposta “antiestresse”

- Baixa resistência à frustração – Sim – desafio de colorir tudo se torna frustrante

- Quantidade em detrimento de qualidade X X

- Fim da tensão entre alta e baixa cultura – popular, regional, democratizada, cultura do entretenimento, massificada

X X

- Domínio da baixa cultura Sim – leitura de imagens com instruções simples

- Inversão de valores entre obra e crítica (crítica especializada se torna mais importante que obra) X X

- Desconexão entre literatura/linguagem e a realidade – Sim – proposta de reflexão sobre estresse infundada, como proposta de marketing

- Desrespeito generalizado às leis X X

- Pirataria X X

- Morte do erotismo X X

- Banalização do sexo X X

- Crescimento dos impulsos violentos X X

- Desvalorização da política X X

- Ideias e ideais transformados em publicidade e aparência – Sim – banalização do campo de estudo da arte terapia

- Cidadãos conformados, apáticos, cínicos X X

- Bufões e comediantes transformados em mentores Sim – autora e editora fazem do livro uma solução contra o estresse, sem especialização

X

- Notícias triviais e superficiais X X

- Substituição da crítica pela publicidade – Sim – mídia não se interessa se a proposta é relevante ou coerente

Departamento de Artes e Design

16

Fenômenos + desdobramentos

Amostragem

Suruba para colorir

Informação editorial Interpretação do autor

- Superficialização de leitura, leitura light Sim – Imagens com legendas

- Simplificação de conteúdos – Não – leitura rápida de imagens, mas tema tabu: sexo visto de forma “light, com humor

- Imediatismo, facilidade – Sim

- Hedonismo Sim – proposta de humor –

- Desconsideração de outras funções (reflexão, aprendizado, concentração, introspecção) em nome da necessidade de prazer

Não – reflexão indireta sobre o tabu em relação ao sexo –

- Excesso de estímulos X X

- Busca pela extroversão, diversão, expressão, humor – Sim – humor, diversão

- Baixa resistência à frustração – Sim – desafio de colorir tudo se torna frustrante

- Quantidade em detrimento de qualidade X X

- Fim da tensão entre alta e baixa cultura – popular, regional, democratizada, cultura do entretenimento, massificada

X X

- Domínio da baixa cultura Sim – leitura de imagens e legendas –

- Inversão de valores entre obra e crítica (crítica especializada se torna mais importante que obra) X X

- Desconexão entre literatura/linguagem e a realidade – Não – proposta de reflexão sobre a forma de se ver o sexo, ainda que com humor

- Desrespeito generalizado às leis X X

- Pirataria X X

- Morte do erotismo X X

- Banalização do sexo X X

- Crescimento dos impulsos violentos X X

- Desvalorização da política X X

- Ideias e ideais transformados em publicidade e aparência – Sim – descontextualização de citações

- Cidadãos conformados, apáticos, cínicos – Não – desconformidade em relação à ao tabu do sexo na sociedade

- Bufões e comediantes transformados em mentores X X

- Notícias triviais e superficiais X X

- Substituição da crítica pela publicidade X X

Departamento de Artes e Design

17

Fenômenos + desdobramentos

Amostragem

Okúpalo Todo

Informação editorial Interpretação do autor

- Superficialização de leitura, leitura light Sim – imagens com instruções simples

- Simplificação de conteúdos – Dúbio – leitura rápida sobre questões do dia a dia, mas com proposta de reflexão

- Imediatismo, facilidade – Sim

- Hedonismo Não – proposta de reflexão social –

- Desconsideração de outras funções (reflexão, aprendizado, concentração, introspecção) em nome da necessidade de prazer

Não – reflexão social –

- Excesso de estímulos X X

- Busca pela extroversão, diversão, expressão, humor – Sim – expressão pessoal

- Baixa resistência à frustração – Não

- Quantidade em detrimento de qualidade X X

- Fim da tensão entre alta e baixa cultura – popular, regional, democratizada, cultura do entretenimento, massificada

X X

- Domínio da baixa cultura Sim – leitura de imagens com instruções simples –

- Inversão de valores entre obra e crítica (crítica especializada se torna mais importante que obra) X X

- Desconexão entre literatura/linguagem e a realidade –

- Desrespeito generalizado às leis X X

- Pirataria X X

- Morte do erotismo X X

- Banalização do sexo X X

- Crescimento dos impulsos violentos X X

- Desvalorização da política – Não – valorização da política

- Ideias e ideais transformados em publicidade e aparência – Não – valorização de ideias e ideais

- Cidadãos conformados, apáticos, cínicos Não – proposta de reflexão social e política em crianças –

- Bufões e comediantes transformados em mentores X X

- Notícias triviais e superficiais X X

- Substituição da crítica pela publicidade X X

Departamento de Artes e Design

18

Fenômenos + desdobramentos

Amostragem

Obras de arte para colorir

Informação editorial Interpretação do autor

- Superficialização de leitura, leitura light Sim – imagens com instruções simples _

- Simplificação de conteúdos Sim – leitura rápida de imagens e tema light: obras de arte famosas –

- Imediatismo, facilidade – Sim

- Hedonismo – Não – proposta de valorização da arte

- Desconsideração de outras funções (reflexão, aprendizado, concentração, introspecção) em nome da necessidade de prazer

– Não – colorir exige concentração e introspecção

- Excesso de estímulos X X

- Busca pela extroversão, diversão, expressão, humor - Sim – diversão com a arte

- Baixa resistência à frustração - Sim – desafio de colorir tudo pode se tornar frustração

- Quantidade em detrimento de qualidade X X

- Fim da tensão entre alta e baixa cultura – popular, regional, democratizada, cultura do entretenimento, massificada

X X

- Domínio da baixa cultura – Sim – leitura de imagens com instruções simples

- Inversão de valores entre obra e crítica (crítica especializada se torna mais importante que obra) X X

- Desconexão entre literatura/linguagem e a realidade – Sim – proposta de reflexão sobre estresse infundada, como proposta de marketing

- Desrespeito generalizado às leis X X

- Pirataria X X

- Morte do erotismo X X

- Banalização do sexo X X

- Crescimento dos impulsos violentos X X

- Desvalorização da política X X

- Ideias e ideais transformados em publicidade e aparência – Sim – banalização do campo de estudo da arte

- Cidadãos conformados, apáticos, cínicos X X

- Bufões e comediantes transformados em mentores – Sim – autor e editora fazem do livro uma solução, sem prova, p/ estresse e o ensino,

sem base, da arte

- Notícias triviais e superficiais X X

- Substituição da crítica pela publicidade – Sim – mídia não se interessa se a proposta é relevante ou coerente

Departamento de Artes e Design

19

Fenômenos + desdobramentos

Amostragem

Black White Colour

Informação editorial Interpretação do autor

- Superficialização de leitura, leitura light Sim – composições minimalistas –

- Simplificação de conteúdos Sim – ausência quase total de texto –

- Imediatismo, facilidade – Sim

- Hedonismo – Sim – proposta de distração da mente e livre criação

- Desconsideração de outras funções (reflexão, aprendizado, concentração, introspecção) em nome da necessidade de prazer

– Sim – desenho livre apenas para o prazer

- Excesso de estímulos X X

- Busca pela extroversão, diversão, expressão, humor – Sim – expressão e extroversão estimuladas pelo desenhar

- Baixa resistência à frustração – Sim – desafio de preencher tudo pode se tornar frustração

- Quantidade em detrimento de qualidade X X

- Fim da tensão entre alta e baixa cultura – popular, regional, democratizada, cultura do entretenimento, massificada

X X

- Domínio da baixa cultura – Sim – leitura de imagens apenas

- Inversão de valores entre obra e crítica (crítica especializada se torna mais importante que obra) X X

- Desconexão entre literatura/linguagem e a realidade – Sim – nenhuma proposta de conexão com a realidade

- Desrespeito generalizado às leis X X

- Pirataria X X

- Morte do erotismo X X

- Banalização do sexo X X

- Crescimento dos impulsos violentos X X

- Desvalorização da política X X

- Ideias e ideais transformados em publicidade e aparência X X

- Cidadãos conformados, apáticos, cínicos X X

- Bufões e comediantes transformados em mentores X X

- Notícias triviais e superficiais X X

- Substituição da crítica pela publicidade X X

Departamento de Artes e Design

20

Fenômenos + desdobramentos

Amostragem

Rio Lápis e Papel

Informação editorial Interpretação do autor

- Superficialização de leitura, leitura light Sim – imagens com instruções simples –

- Simplificação de conteúdos Sim – textos descritivos breves e paisagens –

- Imediatismo, facilidade – Sim

- Hedonismo – Não – proposta de apresentação do trabalho do artista

- Desconsideração de outras funções (reflexão, aprendizado, concentração, introspecção) em nome da necessidade de prazer

– Não – reflexão sobre trabalho do artista

- Excesso de estímulos X X

- Busca pela extroversão, diversão, expressão, humor Não – apresentação do trabalho do artista

- Baixa resistência à frustração X X

- Quantidade em detrimento de qualidade X X

- Fim da tensão entre alta e baixa cultura – popular, regional, democratizada, cultura do entretenimento, massificada

X X

- Domínio da baixa cultura – Sim – olhar de um artista sobre seu entorno usando técnicas de ilustração simples

- Inversão de valores entre obra e crítica (crítica especializada se torna mais importante que obra) X X

- Desconexão entre literatura/linguagem e a realidade – Não – registros esquemáticos da arquitetura e paisagens de uma cidade de grande movimento

- Desrespeito generalizado às leis X X

- Pirataria X X

- Morte do erotismo X X

- Banalização do sexo X X

- Crescimento dos impulsos violentos X X

- Desvalorização da política X X

- Ideias e ideais transformados em publicidade e aparência – Não – valorização artística de ideias e ideais

- Cidadãos conformados, apáticos, cínicos X X

- Bufões e comediantes transformados em mentores X X

- Notícias triviais e superficiais X X

- Substituição da crítica pela publicidade – Não – livro lançado por editora de museu