levantamento de pequenos mamíferos em fragmentos florestais em santa cruz do sul, rs, brasil
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Inventário de pequenos mamíferos no município de Santa Cruz do Sul-RS.TRANSCRIPT
Curso de Ciências Biológicas
Paulo Francisco Kuester
Levantamento de pequenos mamíferos em fragmentos
florestais em Santa Cruz do Sul, RS, Brasil
Santa Cruz do Sul
2012
Paulo Francisco Kuester
Dados Preliminares do Levantamento de pequenos
mamíferos em fragmentos florestais em Santa Cruz do
Sul, RS, Brasil
Projeto de pesquisa apresentado à disciplina
de Pesquisa em Ciências Biológicas do Curso
de Ciências Biológicas-Bacharel,
Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC.
Orientador: Prof. Dr. Andreas Köhler
Co-orientador: Biólogo Felipe Peters (Nova
ULBRA).
Santa cruz do Sul
2012
2
Lista de ilustrações
Fotografia 1 - Modelos de armadilhas que serão utilizadas no inventário,
sherman (A), tomahawk (B) e pitfall(C) 22
Fotografia 2 - Um adulto e um filhote de Cavia sp. A e sementes de jerivá
roídas por um esquilo (Guerlinguetus sp.)B. 27
Fotografia 3 - T. alba (A) e o Mosteiro Santíssima Trindade (B) 29
Mapa 01 - Localização do município de Santa Cruz do Sul no estado do Rio
Grande do Sul, Brasil 20
Mapa 02 – Contorno da área de amostragem, com seus seis pontos
amostrais em destaque 21
Lista de Tabelas
Tabela 01. Número de táxons capturados em cada ponto de coleta dentro da
área de estudo. 25
Tabela 02. Lista de indivíduos encontrados nos egagrópilos de Tyto alba 26
Tabela 03. Lista de indivíduos capturados de acordo com a estação do ano 26
3
Sumário
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................9
2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................10
2.1 Mamíferos No Brasil..................................................................................10
2.2 No Rio Grande do Sul...............................................................................10
2.3 Nos fragmentos alvo do estudo.................................................................12
2.4 Os pequenos mamíferos...........................................................................14
2.5 A coruja de igreja......................................................................................16
2.6 Estudos envolvendo a Tyto alba...............................................................17
2.7 Status de conservação..............................................................................18
3 OBJETIVOS...............................................................................................19
3.1 Objetivos gerais.........................................................................................19
3.2 Objetivos específicos.................................................................................19
4 METODOLOGIA...................................................................................... 20
4.1 Localização...............................................................................................20
4.2 Amostragem..............................................................................................21
4.3 Análises dos dados...................................................................................23
4.4 Análises dos egagrópilos..........................................................................24
5 RESULTADOS..........................................................................................24
6 Discussão.................................................................................................27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................29
4
RESUMO
Pesquisa em Ciências Biológicas/Curso de Ciências Biológicas
Universidade de Santa Cruz do Sul
Dados Preliminares do Levantamento de pequenos
mamíferos em fragmentos florestais em Santa Cruz do
Sul, RS, Brasil
Autor: Paulo Francisco Kuester
Orientador: Prof. Dr. Andreas Köhler
Co-orientador: Biólogo Felipe Peters (Nova ULBRA).
O inventário realizado neste trabalho no Município de Santa Cruz do Sul
conta com dois métodos tradicionalmente usados em levantamentos de
pequenos mamíferos, o primeiro é a captura deste grupo com uso de
armadilhas não letais como, shermans, tomahawks, pitfalls de solo e de dóssel
e o outro é através da identificação cranial dos indivíduos oriundos de restos
mortais encontrados em pelotas de coruja de igreja (Tyto alba Scopoli, 1769).
Com os resultados obtidos a partir do uso de armadilhas, pode se verificar até
o presente momento a preferência dos pequenos mamíferos por ambientes
mais preservados e com maior disponibilidade de alimento. E onde ocorre a
monocultura de Pinus elliottii Engelm., ou a ausência de sub-bosque e
perturbação antrópica, ocorre um menor número de capturas ou até a ausência
desta. Dentro das coletas já realizadas, foi capturado um total de 10 espécimes
no P1 que é referente à área de mata em estado de regeneração, 15
espécimes para o P2 uma área que se encontra preservada, porém com
perturbação antrópica no entorno, no P3 que não tem sub-bosque e tem a
presença de ungulados e aves domésticas até o momento não foi capturado
5
nenhum indivíduo, no P4 que é o ponto mais preservado foram capturados 20
espécimes, no P3 que é formado basicamente pelo monocultivo de Pinus
eliottiiforam capturados apenas 3 indivíduos e no P6 que é referente a uma
mata de araucárias Araucaria angustifólia (Bertol.) Kuntze, 1898 foi onde se
teve o maior número de indivíduos capturados, um total de 39.
Em relação as espécies identificadas até o momento a que teve uma
maior taxa de captura foi o Akodon montensis (n=20), seguido do Oligoryzomys
flavescens e Monodelphis dimidiata (n=3), Akodon azarae e Oligoryzomys
nigripes (n=2) e com apenas um indivíduo de cada espécie Brucepattersonius
nassutus e Juliomys sp.. Totalizando assim em 33 indivíduos identificados,
restando mais 54 indivíduos não identificados referentes à terceira coleta, e a
quarta coleta que ainda será feita.
6
ABSTRACT
Search in Biology Sciences/Curse of Biology Sciences
University of Santa Cruz do Sul
Preliminary data from the Survey of small mammals in forest
fragments in Santa Cruz do Sul, RS, Brazil
Author: Paulo Francisco Kuester
Orientate: Prof. Dr. Andreas Köhler
Co-orientate: Biólogo Felipe Peters (Nova ULBRA).
The inventory carried out this work in the Municipality of Santa Cruz do
Sul has two methods traditionally used in surveys of small mammals, the first is
to capture this group with the use of non-lethal traps as Shermans, tomahawks,
and pitfalls of soil and canopy another is through the identification of individuals
from cranial remains found in owl pellets Church (Tyto alba). With the results
obtained from the use of traps, can be verified until now the preference of small
mammals and preserved for environments with higher food availability. E occurs
where monoculture of Pinus sp, or lack of understory and human disturbance,
occurring fewer catches or even absence. Within the collections already held,
was captured a total of 10 specimens in P1 that is related to the area of state
forest regeneration, 15 specimens P2 to an area that is preserved, but with
human disturbance on the environment, not the P3 has understory and has the
presence of ungulates and poultry to date no individual was not captured in P4
which is the most preserved 20 specimens were captured in P3 which is
basically formed by the monoculture of Pinus sp. were captured only 3
individuals and P6 which is related to a forest of pines (Araucaria angustifolia)
was where we had the largest number of individuals captured, a total of 39.
Regarding the species identified so far that had a higher rate of capture
was Akodon montensis (n = 20), followed by Oligoryzomys flavescens and
7
Monodelphis dimidiata (n = 3), Akodon azarae and Oligoryzomys nigripes (n =2)
and with only one individual of each species Brucepattersonius nassutus and
Juliomys sp. Totaling in 33 individuals identified, leaving 54 more unidentified
individuals regarding third collection, and the fourth collection that will still be
made.
8
1 Introdução
A mastofauna é de extrema importância para o equilíbrio dos
ecossistemas, uma vez que ela se envolve, nos mais distintos processos
ecológicos como o controle de suas presas e a constante regeneração das
matas. Os mamíferos um dos principais elementos dispersores de sementes
das florestas, também atuam como indicadores de ambientes, tanto pela sua
presença (locais preservados), ou pela sua ausência (locais devastados).
Mesmo os mamíferos apresentando uma série de benefícios para os
demais organismos dos ecossistemas em comum, eles vem sofrendo uma
grande pressão, por conta dos humanos que vem ano a ano destruindo cada
vez mais o habitat natural desse grupo.
No local delimitado como perímetro do estudo em questão, nota-se
facilmente a fragmentação da vegetação, está apresentando grandes áreas
que mostram o avanço de espécies arbóreas exóticas principalmente Hovenia
dulcis, mas a área conta também com outros problemas como: o avanço do
setor imobiliário, assim como o avanço das áreas plantadas, a derrubada ilegal
da espécie Euterpe edulis para a produção do palmito, grandes áreas de
pecuária e ainda problemas envolvendo a caça ilegal de animais silvestres.
Mas mesmo em meio de tantos problemas na região encontram se, locais
preservados, por vezes trechos com mata primária.
Sabendo se então, desse contraste na vegetação, que apresenta os
mais diversos fragmentos florestais, tem se por objetivo inventariar a fauna
local da região, ampliando assim os conhecimentos e dados a respeito da
distribuição geográfica e da biogeografia desse grupo e mostrar através dos
dados comparativos angariados em campo, as diferenças que ocorrem em
locais preservados e locais que já sofreram e vem sofrendo com a
antropização.
9
2 Revisão de Literatura
2.2 No Brasil
Em estudo recente, Reis et al., (2011), mostraram que atualmente são
conhecidas 688 espécies nativas de mamíferos ocorrentes em território
brasileiro, sendo os pequenos mamíferos distribuídos da seguinte forma:
Didelphimorphia (cuícas e gambás, uma família, 55 espécies); Chiroptera
(morcegos, nove famílias, 172 espécies) e Rodentia (rato, preá, capivara, cutia
e paca, sete famílias, 243 espécies). Esses números fazem com que o Brasil
possua a maior riqueza de mamíferos de toda a região neotropical (FONSECA
et al., 1996). Entretanto, no número total de mamíferos, 69 espécies estão
oficialmente ameaçadas, o que representa 10,6% das 652 espécies nativas de
mamíferos que ocorrem no país (CHIARELLO et al., 2008).
2.3 No Rio Grande do Sul
Os primeiros registros de mamíferos para o Rio Grande do Sul surgem
com os trabalhos de Ihering (1892, 1911 e 1927). Conforme Kasper et al.
(2007a), desde então, inúmeras listas mastofaunísticas foram conduzidas em
território gaúcho (SALVINI, 1936; ÁVILA-PIRES, 1987; ÁVILA-PIRES, 1994;
SILVA, 1994; FONTANA et al., 2003).
Segundo Silva (1994), a mastofauna do Rio Grande do Sul é expressiva,
sendo composta, na época de sua publicação, por 141 espécies. Hoje,
sabemos da ocorrência de 158 espécies, onde 33 espécies são consideradas
ameaçadas (2 espécies de Didelphimorphia, 2 de Xenarthra, 1 de Chiroptera, 2
de Primates, 13 de Carnivora, 2 de Cetacea, 7 de Artiodactyla, 1 de
Perissodactyla e 3 de Rodentia) (FONTANA et al., 2003).
Merecendo ainda destaque, trabalhos que contribuem para a elucidação
da distribuição da fauna de pequenos mamíferos no Rio Grande do Sul,
completando, ao menos em partes, lacunas do conhecido biogeográfico de
cada espécie. Em nota sobre mamíferos atropelados na região de Uruguaiana,
Tumeleiro et al. (2006), revelaram os seguintes táxons: Didelphis albiventris
10
Lund, 1840, Lutreolina crassicaudata Desmarest, 1758, Cavia aperea
Erxlebem, 1819, Holochilus brasiliensis Desmarest, 1819, dentre outros
mamíferos de médio e grande porte. A ordem mais freqüente foi Rodentia, com
o pequeno caviomorfo Cavia aperea.
Sponchiado, J (2011), em trabalho com a estrutura das comunidades de
pequenos mamíferos das unidades de conservação Taim e Espinilho
registraram cinco espécies de didelphideos e 19 espécies de roedores. Tendo
como principais ocorrências, gêneros como, Didelphis, Akodon e Oligoryzomys.
Galiano, D et al. (2007), realizarão um estudo quanto a floração da
taquara lixa e explosão populacional de roedores silvestres no Horto Florestal
Municipal de Erechim-RS. Onde no presente estudo registraram cinco espécies
da família Muridae, sendo eles: Oligoryzomys flavescens, Akodon montensis,
Oryzomys angouya, Thaptomys nigrita e Oryzomys russatus. Das espécies
capturadas, Oligoryzomys flavescens apresentou maior número de indivíduos
capturados, seguido por Akodon montensis, Oryzomys angouya, Thaptomys
nigrita e Oryzomys russatus.
Rech, M. et al (2009) em uma avaliação da ocorrência de pequenos
mamíferos em diferentes sistemas de manejo agrícola, registraram seis
espécies: cinco de Rodentia e uma de Didelphimorphia. Onde o maior número
de capturas ocorreu com indivíduos generalistas como Akodon montensis e
Oligoryzomys nigripes.
Em um estudo realizado no Parque Estadual do Turvo, por Melo, G. L.
et al (2009), verificaram nas estruturas das comunidades e na estratificação
vertical da floresta do parque a presença de sete espécies de roedores:
Akodon montensis, Oligoryzomys nigripes, Thaptomys nigrita, Sooretamys
angouya, Necromys lasiurus , Oxymycterus judex e Brucepattersonius sp., e
duas espécies de marsupiais: Didelphis aurita e Gracilinanus microtarsus .
Outro pesquisador importante para trabalhos com pequenos mamíferos
no Rio Grande do Sul foi Scheibler que em: Scheibler, Dr. (2007) com um
trabalho entre a participação alimentar da Tyto alba e Elanus leucurus,
registrou 12 espécies de roedores e duas espécies de marsupiais, já em
SCHEIBLER, DR. e CHRISTOFF, AU., 2006, verificaram através de
egagrópilos de Tyto alba a presença de 18 espécies de pequenos mamíferos:
11
três marsupiais (Didelphis albiventris, Gracilinanus agilis e Monodelphis
dimidiata) e 15 roedores (Akodon paranaensis, Bruceppatersonius iheringi,
Calomys sp., Cavia aperea, Euryzygomatomys spinosus, Holochilus
brasiliensis, Mus musculus, Necromys lasiurus, Nectomys squamipes,
Oligoryzomys nigripes, Oryzomys angouya, Oxymycterus sp.1, Oxymycterus
sp.2, Rattus norvegicus e Rattus rattus).
Apesar dos trabalhos acima citados, são raros os dados referentes à
abundância relativa de mamíferos de pequeno porte no Rio Grande do Sul e
mesmo no Brasil. Além disto, Cerqueira (2001) ressalta que a grande maioria
das áreas de preservação não conta sequer com inventários que determinem
parâmetros de biodiversidade, destacando a importância dos trabalhos de
levantamento de dados básicos.
2.4 Nos fragmentos alvo do estudo.
Os habitats naturais têm vindo a ser destruídos para o aumento dos
terrenos agrícolas, agravando ainda mais os efeitos da fragmentação (LE
COEUR et at, 2002; DUELLI & OBRIST, 2003). Este efeito de fragmentação
consiste na transformação de uma paisagem natural contínua em manchas de
habitat original (VIEIRA et al., 2009) freqüentemente com graus de isolamento
distintos. Em paisagens fragmentadas, comuns na Mata Atlântica, muitas vezes
algumas espécies só ocorrem em alguns fragmentos florestais, apresentando
uma distribuição em mosaico.
Então, a fragmentação resulta na perda do habitat disponível para a
flora e fauna e no seu isolamento, o que por sua vez leva à diminuição do
efetivo populacional e aumenta a vulnerabilidade das populações a fatores
estocásticos, como perturbações ambientais, flutuações demográficas ou
deterioração genética, o que acaba por conduzir a um maior risco de extinção
ou extirpação (GELLING et al., 2007). As espécies mais afetadas são as
espécies raras e especialistas no que diz respeito aos seus requisitos de
habitat, enquanto que as espécies generalistas e mais comuns podem até ser
favorecidas a níveis moderados de fragmentação (MICHEL et al., 2006;
MILLÁN DE LA PEÑA, 2003).
12
A abundância dos indivíduos pode ser explicada pelo tamanho e
isolamento dos fragmentos, tendo como paradigma a Teoria de Biogeografia de
Ilhas (MACARTHUR & WILSON 1967). Esta teoria baseia - se na relação
espécie - área e prediz que ilhas ou fragmentos menores apresentam um
menor número de espécies devido a simples perda de área e conseqüente
redução das populações, o que aumentaria a probabilidade de extinção destas
(Gilpin & SOUL e, 1986). A redução na riqueza de espécies pode ainda ocorrer
porque áreas menores tendem a apresentar um número menor de hábitats
distintos e, conseqüentemente, uma reduzida diversidade de espécies
associadas (ROSENZWEIG 1995). Ainda segundo esta teoria, o grau de
isolamento dos fragmentos afeta a presença e abundância de espécies visto
que fragmentos isolados possuem menor taxa de colonização e menor efeito
resgate, tornando as populações mais suscetíveis a extinção. Como as taxas
de extinção estão relacionadas aos tamanhos populacionais, espera- se que
ilhas menores e mais distantes de fontes colonizadoras tenham menores
populações (MACARTHUR & WILSON1967).
Outra explicação para a abundância dos indivíduos pode ser dada pelas
características do meso habitat, seguindo o paradigma da qualidade do habitat
enunciando a aptidão das espécies (FRETWELL 1972). Habitat é definido
como as características independentes de densidade (cobertura vegetal, água,
clima) preferidas por determinada espécie (CERQUEIRA 1995), podendo ser
estudado em diferentes escalas espaciais. Os estudos realizados na escala de
meso habitat (regional) englobam fatores climáticos, topográficos, edáficos e
hidrológicos. A persistência das populações de marsupiais da Mata Atlântica já
foi associada a complexidade e heterogeneidade estrutural dos hábitats
(GRELLE 2003). Além destes fatores, a abundância das espécies pode ainda
ser enunciada pela conectividade estrutural da paisagem (FISCHER &
LINDENMAYER 2006), a qual permite que haja um fluxo de indivíduos entre os
fragmentos proporcionando manutenção das populações devido a
recolonizacão e manutenção da variabilidade genética.
2.5 Os pequenos mamíferos.
13
Os marsupiais e pequenos roedores neotropicais representam o grupo
ecológico mais diversificado de mamíferos com 295 espécies atualmente
reconhecidas no Brasil. Sendo 16 gêneros e 55 espécies da ordem
Didelphimorphia e 75 gêneros e 240 espécies da ordem Rodentia. (REIS et al.
2011). A coexistência deste grande número de espécies que possuem
características morfológicas e hábitos de vida semelhantes pode ser justificada
tanto pela complexidade do habitat, que se refere ao desenvolvimento do
estrato vertical da floresta, quanto pela heterogeneidade, relacionada a
variação horizontal na fisionomia da paisagem. Esta diferenciação dentro de
um mesmo habitat permite a segregação espacial das espécies que pode
resultar na diminuição do efeito negativo da competição interespecífica por
sobreposição de nicho (PASSAMANI, 1995; VIEIRA & MONTEIRO - FILHO,
2003; GRELLE, 2003).
Os roedores constituem a ordem mais diversificada dos mamíferos, com
aproximadamente 2000 espécies, que representam mais de 43% da
diversidade conhecida da classe Rodentia. Os indivíduos pertencentes à
família Muridae estão incluídos na subordem Sciurognathi e podem ser
caracterizados por apresentarem forma geral de rato, com cauda fina. Os
murídeos da América do Sul pertencem todos à subfamília Sigmodontinae, a
qual reúne aproximadamente 300 espécies (OLIVEIRA et al., 2005).
Os ciclos populacionais registrados para os roedores silvestres
compreendem períodos de aproximadamente quatro anos, enquanto
mamíferos de maior porte podem apresentar ciclos com períodos de 9-10 anos.
Porém, sabe-se que os ciclos são variáveis de espécie para espécie
(MARINHO, 2003).
Os movimentos de pequenos mamíferos e o tamanho de suas área de
vida podem ser afetados pelo sistema reprodutivo e sazonalidade reprodutiva
(ALHO et al., 1986; SUNQUIST et al., 1987, LORETTO & VIEIRA, 2005), pela
estrutura do habitat e sazonalidade na disponibilidade de recursos
(VALENZUELA & CEBALLOS, 2000, CACERES & MONTEIRO-FILHO, 2001),
pela categoria trófica e tamanho corporal do animal (BERGALLO, 1990) e, pela
presença e abundância de predadores (YUNGER, 2004).
14
As variações entre os sexos com relação aos movimentos individuais
podem estar relacionadas a diferentes necessidades energéticas
(VALENZUELLA & CEBALLOS, 2000) ou ao tipo de sistema reprodutivo. Em
um sistema de poligamia ou promiscuidade, por exemplo, é comum machos
apresentarem uma maior área de vida buscando encontrar o maior número
possível de fêmeas (GENTILE et al., 1997). A distribuição dos recursos pode
afetar o movimento dos indivíduos de maneiras opostas. Quando existem
recursos em abundância, as áreas de vida normalmente são mais restritas, já
quando os recursos são escassos e concentrados, as áreas são ampliadas e
podem se sobrepor (VALENZUELA & CEBALLOS, 2000, CACERES &
MONTEIRO-FILHO, 2001). Quanto maior o tamanho corporal dos animais,
maior sua necessidade energética e, como consequência, maior a sua área de
vida. Quanto às categorias tróficas, espécies essencialmente herbívoras, em
geral, têm áreas de vida menores que espécies carnívoras (BERGALLO, 1990).
Quando há maior abundância de predadores, muitos animais utilizam com
maior frequência ambientes mais protegidos (com vegetação fechada, por
exemplo) e evitam se afastar de seus abrigos (YUNGER, 2004).
Apesar do extenso conhecimento sobre história natural e ecologia das
espécies de pequenos mamíferos de regiões temperadas do hemisfério norte,
a falta de informações sobre taxonomia, sistemática, história natural e ecologia
foi apontada como uma das principais ameaças atuais à conservação desse
grupo no Brasil (COSTA et al., 2005). Além disso, o conhecimento existente
sobre a mastofauna encontra-se desequilibrado e as ordens mais diversificadas
são justamente as menos conhecidas, com destaque para Rodentia e
Didelphimorphia (SABINO & PRADO, 2005), os dois grupos contemplados no
presente estudo.
As florestas decíduas e semidecíduas desempenham um importante
papel do ponto de vista biogeográfico, pois formam uma conexão entre os
ambientes florestais do norte, Floresta Amazônica, florestas do nordeste,
Caatinga arbórea, do sul e sudeste, Floresta Atlântica, e do sudoeste, Florestas
Chaquenhas (FELFILI, 2003). Por essa mesma razão, as florestas de galeria
foram reconhecidas como importantes corredores de dispersão para a
mastofauna da Amazônia e da Mata Atlântica dentro do Cerrado (REDFORD
and FONSECA, 1986; MARES et al., 1986; JOHNSON et al., 1998).
15
Neste trabalho são considerados pequenos mamíferos os roedores e
marsupiais que pesam até 1 kg. Estes animais desempenham um importante
papel ecológico nos ecossistemas tropicais, pois além de serem componentes
básicos de muitas cadeias alimentares, constituindo uma importante fonte
proteica para animais maiores, também influenciam a estrutura das
comunidades vegetais (PRICE & JENKINS, 1986). Através da dispersão de
sementes, da predação seletiva de sementes e plântulas e até mesmo da
polinização de flores, eles podem influenciar os processos de sucessão e
regeneração florestal (VIEIRA et al., 2003).
Mesmo no século 21 o Brasil ainda é muito carente de inventários de
fauna. Contudo, nos últimos quatro anos tivemos um acréscimo de mais oito
espécies de roedores à lista de espécies conhecidas (REIS et al. 2011).
Levantamentos faunísticos em fragmentos florestais são essenciais para
avaliar o efeito da fragmentação das florestas sobre a diversidade de
mamíferos e o grau de perturbação dos remanescentes de florestas naturais
(D’ANDREA, 1999).
As florestas Estacionais do interior do Brasil são carentes de estudos de
pequenos mamíferos, o que deixa em aberto uma grande lacuna no
conhecimento da diversidade das comunidades destas regiões. Faltam,
portanto, estudos sobre os padrões de estruturação destas comunidades e a
relação com o habitat onde estão presentes. Sendo assim, é de extrema
importância a realização de estudos que visam aumentar as informações a
respeito da fauna nestas áreas.
2.6 Coruja de igreja
Segundo Tomé (1994), a espécie esta associada à biótopos abertos
(como pastagens e terrenos agrícolas) ou semi abertos (como montados pouco
densos). Nas zonas agrícolas ou em áreas reflorestadas ocorre apenas em
zonas com extensa rede de corredores de alimentação (SHAWYER 1994).
Procura alimento também junto beira de autoestradas (CRAMP 1985). Em
áreas mais agricultadas os restolhos de milho são particularmente
selecionados durante o outono e inverno (ELIAS et al 1998).
16
Alimenta se principalmente de pequenos mamíferos (JAKSIC et al,
1982;. EBENSPERGER et al., 1991), particularmente Muridae, Microtinae e
Soricidae (SHAWYER 1994) e também pequenos pássaros, répteis, anfíbios,
peixes e insetos e existe ocorrência de canibalismo entre irmãos (CRAMP
1985). Espécie essencialmente noturna procura alimento quase sempre 1 a 2
horas antes do nascer do sol e depois do anoitecer (CRAMP 1985).
A suindara é uma ave solitária e territorial. O tamanho do território varia
conforme a disponibilidade de alimento (CRAMP 1985). Espécie monogâmica,
podendo ocasionalmente haver bigamia. A relação entre os casais é
permanente e persiste durante todo o ano. Ambos os progenitores cuidam das
crias, as crias são nidícolas e os ninhos são usados em anos sucessivos
(CRAMP 1985).
2.7 Estudos envolvendo a Tyto alba
No mundo todo estudos a respeito da dieta alimentar da coruja de igreja
são muito freqüentes, principalmente na Europa e América do Norte.
(HAMILTON e NEIL, 1981; JAKSIC et al, 1982;. CLARK e BUNCK,
1991;TORRE et al, 1997). Esta alta freqüência de estudos deve se
principalmente ao fato desta coruja ser uma espécie cosmopolita e por ter o
habito de regurgitar pelotas com restos de suas presas, geralmente sob abrigos
ou nos seus ninhos (SICK, 1997; MOTTA-JÚNIOR e ALHO, 2000; BONVICINO
e BEZERRA, 2003; CORRÊA e ROA, 2005). Na America do Sul, informações
sobre a dieta da suindara esta concentrada no cone sul do continente,
principalmente no Chile e na Argentina (JAKSIC et al, 1982.;EBENSPERGER
et al, 1991;. PARDINÃS e CIRIGNOLI, 2002; CORRÊA e ROA, 2005), e ainda
é escassa no Brasil, onde tornou-se incipiente recentemente (MOTTA-JÚNIOR
e TALAMONI, 1996; MOTTA-JÚNIOR e ALHO, 2000; BONVICINO e
BEZERRA, 2003; ESCARLATE-TAVARES e PESSOA, 2005).
Sua dieta é considerada um reflexo preciso da composição da fauna
local e da flutuação populacional (CLARK e BUNCK, 1991). Pelotas
regurgitadas de suindara têm sido estudas por um longo tempo (JAKSIC et al,
1982;. PARDIÑAS e CIRIGNOLI, 2002), não só para descrever a dieta e as
relações tróficas com outras espécies predadoras (EBENSPERGER et al,
17
1991; CORRÊA e ROA, 2005), mas também a concentrar a riqueza e
abundância relativa de pequenos mamíferos (JAKSIC et al, 1982.; PARDIÑAS
e CIRIGNOLI, 2002; BONVICINO e BEZERRA, 2003; ESCARLATE-TAVARES
e PESSOA, 2005), os padrões de distribuição geográfica (BARBOSA et al,
1992;. TORRE, 2001), e mudanças temporais nas comunidades de presas
(CLARK e BUNCK, 1991).
Captura com armadilhas não letais é o método mais comum utilizado
para o estudo de pequenos mamíferos terrestres (ALHO, 1981; DIETZ, 1983;
MARES et al, 1986;. JOHNSON et al,. 1999; BONVICINO et al, 2002;. VIEIRA,
2003). No entanto, a análise de pelotas regurgitadas de suindara mostra
diferenças significativas em relação a esse método, tanto qualitativa e
quantitativa (TORRE et al., 2004), e pode ser útil para complementar o
inventário das espécies que vivem em uma determinada área (BONVICINO e
BEZERRA, 2003; ESCARLATE-TAVARES e PESSOA, 2005).
A predominância de roedores na dieta da coruja de igreja tem atraído a
atenção para o papel desta espécie no controle biológico de pragas agrícolas
(AGÜERO e POLEO, 2000; LEKUNZE et al, 2001).. Roedores também estão
associados a várias zoonoses (DABANCH, 2003) e o aumento de suas
populações em determinadas condições podem contribuir para a disseminação
de doenças em seres humanos (MORSE, 1995; CORTEGUERA, 2002).
Apesar da reconhecida importância da suindara na regulação de roedores
prejudiciais para a agricultura, não há estudos que investigam a sua
contribuição no controle de espécies reservatórios de doenças.
2.8 Status de conservação
No Brasil, 69 espécies de mamíferos estão oficialmente ameaçadas, o que
representa 10,6% 652 espécies de mamíferos nativas que ocorrem no Brasil
(Reis et al., 2006). No Rio Grande do Sul estão ameaçadas 33 espécies de
mamíferos, com uma espécie (Pteronura brasiliensis Gmelin, 1788)
provavelmente extinta do estado (MARQUES, A. A. B. et al., 2002).
18
No Vale do Rio Pardo a fragmentação dos hábitats está intimamente
relacionada com a cultura do tabaco, já que o mesmo caracteriza-se por ser a
principal região fumicultora do Brasil (CAMPOS & DELEVATTI, 2003).
Conforme o COREDE (1998), um dos problemas ambientais da região é o
desmatamento para ampliação de solo agrícola e aproveitamento de lenha
para os fornos de secagem de fumo.
Além disto, segundo Campos & Delevatti (2003), em torno de 40% da
população do Vale do Rio Pardo reside no meio rural, evidenciando a
necessidade de áreas para a produção agrícola. Está fragmentação do
ambiente natural pela cultura do tabaco e pelas atividades agregadas
(utilização de lenha para secagem do fumo), de modo geral, pode ser dita
como a principal ameaça as populações de mamíferos na região.
Os fatores que ameaçam a fauna são diversos: a destruição de habitat e
desmatamento, a caça e a perseguição, a captura ilegal para o comércio ilegal
e até o turismo que mesmo sendo uma atividade econômica deve ser mais
bem planejada para causar o mínimo de impacto possível.
3 Objetivos
3.1 Objetivo geral
Inventariar a fauna de pequenos mamíferos de fragmentos florestais as
margens das rodovias RS287 e RST471, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil.
3.2 Objetivos específicos
Verificar a riqueza de espécies que vivem na área de estudo, através da
captura, utilizando armadilhas não letais, utilizar também egagrópilos de Tyto
alba para inventariar a fauna local da área de amostragem, contribuir para a
biologia das espécies diminuindo as lacunas existentes, quanto à distribuição
geográfica das espécies e da biogeografia desses grupos. E por último mostrar
através dos resultados comparativos entre os pontos amostrais, como os
19
padrões espaciais e temporais da distribuição das espécies e da diversidade
são afetados pelas alterações antrópicas.
4 Metodologia
4.1 Localização
O município está situado na faixa de transição entre a Depressão Central e
os primeiros limites da Serra Geral do Rio Grande do Sul, com altitudes entre
50 e 150 metros do nível do mar. O município está inserido no bioma Mata
Atlântica. A vegetação predominante é a Floresta Estacional Decidual, com
espécies características como Euterpe edulis Mart. e Schinus terebinthifolius
Raddi, e o clima, segundo a classificação de Köppen, é do tipo Subtropical
úmido.
Mapa 01 – Em destaque o município de Santa Cruz do Sul dentro do estado do
Rio Grande do Sul, Brasil.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa Cruz do Sul
A área estudada localiza-se no município de Santa Cruz do Sul, RS
(29°40'25.01"S, 52°25'58.04”O). O perímetro da área está restrito ao norte pela
Rua Ernesto Augusto Mandler, Linha Travessa, ao sul pela rodovia RS 287, a
leste pela Rua Pref. Orlando Oscar Baumhardt, Linha Santa Cruz e ao oeste
pela rodovia RST 471.
20
Mapa 02 - Área de estudo com seus pontos de coleta demarcados em vermelho.
Fonte: Google Earth
4.2 Amostragem
O levantamento vem sendo realizado por cinco dias consecutivos, em seis
pontos amostrais, nas quatro diferentes estações climáticas do ano. Estão
sendo utilizadas 20 armadilhas do tipo Shermam (Fotografia 1-A) e Tomahawk
(Fotografia 1-B) intercaladas e dispostas no chão distantes 10 metros umas
das outras em cada ponto e ainda vem sendo utilizadas 3 armadilhas feitas de
cano PVC, tipo pitfall para dóssel (Fotografia 1-C) espalhadas aleatoriamente
em diferentes extratos nos dosséis dos pontos que apresentavam uma
vegetação que permitia este uso. E por último foram colocados pitfalls de solo
(armadilhas de queda) em “Y” nas duas extremidades de cada linha de
amostragem (Fotografia 1-D).
21
Fotografia 1- Exemplos de armadilhas utilizadas no inventário: Sherman (A), Tomahawk (B),
Pitfall de Dóssel (C) e Pitfall de Solo (D).
O local das armadilhas foi marcado com pedaços de fita zebrada, para
facilitar a localização em meio à vegetação e ainda estão sendo utilizados
pedaços de algodão dentro das armadilhas para fornecer aos indivíduos
capturados um conforto térmico na época de maior frio, para que eles não
morram de hipotermia, assim como pedaços de isopor onde os indivíduos
podem subir no caso dos pitfalls encherem de água, evitando assim a morte
por afogamento. As armadilhas são iscadas com um mistura de farinha de
milho, sardinha, banana, essência de baunilha e pasta de amendoim. A
revisão das armadilhas de queda (pitfall), bem como das demais, ocorre
sempre pela manhã juntamente com a recolocação das iscas.
4.3 Análise dos Dados
22
A B C
D
Estão sendo capturados até 10 espécimes por espécie de pequenos
roedores das famílias Cricetidae, Echimydae e Cavidae e quatro indivíduos por
espécie da ordem Didelphimorphia por ano.
Depois de capturados os animais são colocados em potes plásticos
furados para fazer o translado até o laboratório e ali mantidos vivos até o
momento em que é feita sua eutanásia, utilizando se para isso um chumaço de
algodão embebido em éter, que é lançado no pote, que neste momento já se
encontra com os furos fechados para evitar a saída do produto altamente
volátil, e propiciar ao indivíduo uma morte rápida. Seguindo assim o método de
eutanásia mais usado em estudos com pequenos mamíferos. Uma vez que o
deslocamento cervical e a decapitação que são métodos indicados na
resolução 714 de 20/06/2002 do Conselho Federal de Medicina Veterinária,
não poderão ser empregados, pois podem comprometer o crânio e outras
partes que serão utilizadas para a diferenciação das espécies alvo do estudo.
Após sacrificados esta se utilizando o máximo de informações que os
animais podem oferecer para que a morte deles tenha um significado mais
amplo. O crânio é enviado para a ULBRA para ser limpo com a ajuda de
dermestídeos e posteriormente identificado até nível de espécie, a pele de
táxons morfologicamente diferentes esta sendo taxidermizada de modo
científico, o restante do corpo (carcaça) vem sendo guardado em meio liquido e
por último se retira ainda todos os ectoparasitas neles encontrados, para
posterior estudo.
Os indivíduos capturados são identificados com base nos padrões
morfológicos conforme Bonvicino (2008). Mas por apresentarem uma
complexidade na identificação são necessárias observações cranianas,
comparando com exemplares depositados em museus e com indivíduos
descritos em bibliografias especializadas. Os indivíduos capturados e já
devidamente identificados serão tombados na coleção zoológica da
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC).
23
4.4 Análise dos Egagrópilos
O material encontrado foi colocado em potes de plástico, etiquetado e
levado ao Laboratório de Zoologia da Universidade de Santa Cruz do Sul, em
seguida, as amostras eram desmembradas manualmente com auxílio de uma
pinça ou com uma solução de hidróxido de sódio (Na OH ) diluída em água. O
material presente nas pelotas foi separado por tipos de ossos e crânio. A
identificação das presas contidas nos egagrópilos de Tyto alba foi feita com
base nos crânios (completos ou fragmentados), mandíbulas e molares
utilizando- se bibliografia especializada para cada grupo, além da comparação
com material tombado na coleção do Museu de Ciências Naturais da ULBRA e
com material existente na coleção mastozoológica da UNISC. O número de
presas em cada pelota era determinado pela contagem dos ossos mais
comuns, como o crânio e pares de mandíbulas, escápulas ou pélvis.
5 Resultados
Durante o estudo estão sendo utilizadas um total de 120 armadilhas não
letais (Sherman e Tomahawk), 12 pitfalls de solo e mais 18 pitfalls de dossel a
cada 24 horas durante os cinco dias de cada estação climática do ano,
totalizando assim 750 armadilhas em cada estação, onde no final serão 3000
armadilhas/noite. Até o presente momento do estudo ocorreu um total de 87
capturas de pequenos mamíferos não voadores, porém falta realizar a última
coleta relacionada à estação da primavera.
Os resultados do trabalho são basicamente separados em dois ramos. O
primeiro é a partir do trabalho realizado utilizando as armadilhas não letais
(tabela 1) e o seguinte são os dados conseguidos a partir da triagem de
egagrópilos de Tyto alba que nidificam dentro da área de estudo (tabela 2).
Dentro das coletas realizadas, foi capturado um total de 10 espécimes
no P1 que é referente à área de mata em estado de regeneração, 15
espécimes para o P2 uma área que se encontra preservada, porém com
distúrbios antrópicos no entorno, no P3 que não tem sub-bosque e tem a
presença de ungulados e aves domésticas até o momento não foi capturado
24
nenhum espécime, no P4 que é o ponto mais preservado foram capturados 20
espécimes, no P3 que é formado basicamente pelo monocultivo de Pinus sp.
foram capturados apenas 3 indivíduos e no P6 que é referente a uma mata de
araucárias (Araucaria angustifolia) que se teve o maior número de indivíduos
capturados, um total de 39.
P1 P2 P3 P4 P5 P60
5
10
15
20
25
1 20
3
0
9
2 1 0
31
87
12
0
14
2
22
Espécies capturadas por ponto e estação climática
VerãoOutonoInverno
Pontos de coleta
№ d
e in
diví
duos
Em relação as espécies identificadas até o momento a que teve uma
maior taxa de captura foi o Akodon montensis (n=20), seguido do Oligoryzomys
flavescens e Monodelphis dimidiata (n=3), Akodon azarae e Oligoryzomys
nigripes (n=2) e com apenas um indivíduo de cada espécie Brucepattersonius
nassutus, Akodon sp. e Oligoryzomys sp. Totalizando assim em 33 indivíduos
identificados, restando mais 53 indivíduos não identificados referentes à
terceira coleta, e a quarta coleta a ser feita.
Tabela 1. Número de táxons capturados em cada ponto de coleta dentro da área
de estudo.
Táxon Número de indivíduos por ponto de amostragemP1 P2 P3 P4 P5 P6
DIDELPHIMORPHIA Didelphidae Monodelphis dimidiata 2 1RODENTIA Cricetidae Akodon azarae 2
25
Akodon montensis 2 3 1 15 Oligoryzomys flavescens 1 2 Oligoryzomys nigripes 2 1 Brucepattersonius nassutus 1 Juliomys sp. 1Indivíduos da 3a coleta 7 10 14 2 20Total 10 15 20 3 39
Na tabela 2 pode se notar um maior número de indivíduos pertencentes a
família muridae (n=128), este fato se deve basicamente a área de caça, ou seja, o
território em torno do local de nidificação da coruja de igreja estar inserido em uma
região antropizada e com muitos galpões de estocagem de grãos, favorecendo assim
a proliferação destes animais.
Tabela 2 - Lista de indivíduos encontrados nos egagrópilos de Tyto alba.
Táxon Número de indivíduos encontrados no ponto de coleta de egagrópilos
RODENTIA Cricetidae Akodon paranaensis 3 Holochilus brasiliensis 4 Juliomys sp. 1 Oligoryzomys flavescens 3 Oligoryzomys nigripes 10 Oxymycterus nassutus 3Muridae Rattus rattus 1 Mus musculus 127Total 152
O maior número de indivíduos capturados foi na estação climática do inverno
(tabela 3) totalizando 57 espécimes capturados enquanto que durante o verão e o
outono foram capturados apenas 15 espécimes.
Tabela 3 - Lista de indivíduos capturados de acordo com a estação do ano.
Táxon Número de indivíduos por Estação do ano Verão Outono Inverno Primavera
02/01/201206/01/2012
21/05/201225/05/2012
30/07/201203/08/2012
15/10/201219/10/2012
DIDELPHIMORPHIA Didelphidae Monodelphis dimidiata 1 2RODENTIA
26
Cricetidae Akodon azarae 1 1 Akodon montensis 11 11 Oligoryzomys flavescens 2 1 Oligoryzomys nigripes 1 2 Brucepattersonius nassutus Juliomys sp.
1 1
Indivíduos por identificar 53Total 15 15 57.
Foram ainda amostrados na área do inventário dois indivíduos do gênero Cavia
(um adulto e dois filhotes) através de registro fotográfico e utilizando a metodologia
indireta de identificação por vestígios observou se na área ainda a presença de
espécimes de Guerlinguetus sp., pois em muitos pontos pode se verificar a presença
de sementes de jerivá ( Syagrus romanzoffiana) com marcas típicas do roedor.
Fotografia 2. A- um adulto e um filhote de Cavia sp. B- sementes de jerivá roídas por um
esquilo (Guerlinguetus sp.)
6
Discussão
Para se ter um número eficiente de armadilhas em uso por noite em
regiões de mata atlântica deve se dispor de no mínimo 500 armadilhas/noite,
onde um número menor pode acabar comprometendo os resultados e um
número maior não irá trazer um aumento significativo de capturas, como
sugere Jones et al. (1996). Porém conforme os resultados obtidos até o
presente momento, já são contabilizadas oito espécies de pequenos mamíferos
o que segundo dados obtidos nos trabalhos de Fonseca (1989); Stallings,
(1989); Fonseca and Kierulff, (1989); Fonseca and Robinson, (1990); Stallings
et al., (1991); Bergallo, (1994); Grelle, (2003); Castro and Fernandez, (2004);
Pardini et al., (2005), seria o mínimo, onde maximo para floresta atlântica seria
de 21 espécies.
27
A B
Um dos principais fatores que influenciam no sucesso de captura com
certeza é a pluviosidade, uma vez que quanto maior os índices pluviométricos,
maior a chance dos predadores perderem os rastros de suas presas, pois
diminuem se as pistas olfativas, visuais e audíveis (DOUCET and BIDER,
1974), e conforme Brown et al. (1988) e Daly et al. (1991) a luz lunar também é
importante por influenciar no comportamento de forrageamento dos roedores,
assim, Dice (1945) mostrou que o aumento mínimo de intensidade luminosa é
suficiente para que os predadores encontrem suas presas. Então relacionando
a luz lunar e a pluviosidade, Stokes et al. (2001) associaram a ocorrência de
precipitação ao encobrimento do céu e a diminuição da claridade da lua,
fornecendo condições de maior segurança para que assim os pequenos
mamíferos possam assim aumentar suas atividades.
O aumento dos níveis pluviométricos também faz com que muitas vezes
os roedores de hábitos terrestres, que geralmente fazem seus abrigos em
pequenas galerias subterrâneas, sejam obrigados a sair das mesmas, pela
inundação causada pelo escoamento superficial, o que faz aumentar a chance
de captura (DAWSON e LANG, 1973).
A pluviosidade ainda influencia aparentemente nos processos de
reprodução dos marsupiais que não são muito afetados em áreas com alguns
meses de seca (FONSECA and KIERULFF, 1989; STALLINGS, 1989;
CERQUEIRA et al., 1993; GENTILE et al., 2000). Porém do outro lado, ou seja,
os roedores mostram na maioria das espécies uma diminuição nas capturas
conforme diminuem os níveis de pluviosidade nas matas semideciduais, então
quanto maior o número de chuvas maior a taxa de reprodução dos roedores
(CERQUEIRA et al., 1989; FONSECA and KIERULFF, 1989; BERGALLO and
MAGNUSSON, 1999).
Diversos são os estudos que nos mostram ainda que quanto maior a
complexidade vegetal, maior a diversidade e a riqueza de espécies de
pequenos mamíferos. Outros autores ainda nos mostram as diferenças
significativas entre a composição e a abundância deste grupo de estudo
quando relacionados a uma monocultura e a mata nativa (SCHEIBLER,
CHRISTOFF 2007; BELTRAME, 2006; GHELER-COSTA, 2006; MIRANDA,
MIRANDA, 2004).
28
Exceto o marsupial Monodelphis dimidiata, os roedores capturados até o
presente momento são espécies generalistas e geralmente amostrados em
áreas antropizadas como nos mostram os estudos de Scheibler e Christoff,
(2007); Beltrame, (2006); Gheler-Costa, (2006); Miranda e Miranda, (2004).
O que pode se observar de fato até o presente momento do estudo é
que quanto maior a disponibilidade de alimento, como no ponto das araucárias
(P6), ou maior a complexidade da vegetação arbórea e arborescente (P2 e P4)
maiores são os resultados do sucesso de captura. Já em pontos com um
avançado grau de antropização como no P3 que sofre influência de rebanhos
de ungulados e aves domésticas que acabam suprimindo o sub-bosque e como
no P5 que encontramos basicamente o monocultivo de pinus que com o grande
número de acículas que solta também acaba suprimindo o sub-bosque os
números de captura diminuem drasticamente, mas um fato que pode ser
considerado como positivo é que quando pegamos o P1 que é uma área que
se encontra hoje em recuperação das ações antrópicas e o comparamos com
os pontos mais preservados e os mais degradados, verificamos um número
intermediário no sucesso de captura do grupo de pequenos mamíferos, o que
nos mostra a importância na preservação de áreas preservadas e áreas em
regeneração, para que as populações destes animais possam se restabelecer
neste ecossistema.
Fotografia 3 - Mosteiro Santíssima Trindade (A) e a Tyto alba (B)
29
A
BA
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