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ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA GÊRENCIA DE CONTROLE DE ZOONOSES LEVANTAMENTO DE FAUNA FLEBOTOMÍNICA RELACIONADO AO SURTO DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM BLUMENAU – SC. SILVIA HELENA TORMEN JOÃO CÉZAR DO NASCIMENTO SETOR DE SUPORTE LABORATORIAL DIVISÃO DE VIGILÂNCIA DE VETORES, RESERVATÓRIOS E OUTROS/GEZOO/DIVE FLORIANÓPOLIS SETEMBRO/2006

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ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DIRETORIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA GÊRENCIA DE CONTROLE DE ZOONOSES

LEVANTAMENTO DE FAUNA FLEBOTOMÍNICA

RELACIONADO AO SURTO DE LEISHMANIOSE

TEGUMENTAR AMERICANA EM BLUMENAU – SC.

SILVIA HELENA TORMEN

JOÃO CÉZAR DO NASCIMENTO

SETOR DE SUPORTE LABORATORIAL

DIVISÃO DE VIGILÂNCIA DE

VETORES, RESERVATÓRIOS E OUTROS/GEZOO/DIVE

FLORIANÓPOLIS

SETEMBRO/2006

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1. INTRODUÇÃO A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença infecciosa,

não contagiosa, causada por protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e mucosas; é primariamente uma infecção zoonótica, afetando outros animais que não o homem, o qual pode ser envolvido secundariamente (MS, 2000).

No ciclo de transmissão de Leishmanias causadoras de LTA ao homem, estão envolvidos:

O hospedeiro natural, vertebrados silvestres como os marsupiais (gambá), roedores silvestres e edentados (tatu e preguiça);

O vetor, uma espécie ou mais espécies de flebotomíneos; O agente etiológico, uma espécie de Leishmania; O hospedeiro vertebrado acidental, o homem (MS, 2000).

Esse ciclo no Brasil, sempre requer a presença de vegetação mesmo que esparsa próximo da área.

Quando o padrão epidemiológico da doença é típico de áreas de colonização antiga, onde há ocupação de encostas, aglomerados semiurbanos na periferia de centros urbanos; os cães, eqüinos e roedores domésticos, parecem ter papel importante como reservatórios do parasita (MS, 2000).

Segue abaixo uma representação de um ciclo de transmissão de Leishmania (Viannia) braziliensis, principal espécie de Leishmania causadora de LTA no Brasil.

Figura 1. Ciclo de transmissão da Leishmania (V) braziliensis entre N. whitmani, mamíferos silvestres e o homem na Amazônia brasileira. Fonte: Ministério da Saúde (2000).

O modo de transmissão habitual é através da picada de insetos infectados com o parasita, que pertencem a várias espécies de flebotomíneos, conhecidos popularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui, entre outros (MS, 2000). Pertencem a ordem Diptera, família Psychodidae, subfamília Phlebotominae (Galati, 2003).

São Thiago e Guida (1990) relataram os primeiros casos humanos autóctones de LTA que ocorreram no Estado de Santa Catarina, nos municípios de Quilombo e Coronel Freitas, região oeste, em 1987.

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A partir de 1997 em Piçarras, região do Vale do Itajaí são registrados casos anualmente, tendo sido considerada área de risco para transmissão da doença (Makowiecky e Makowiecky 2005).

A expansão geográfica da doença e o aumento do número de casos autóctones começaram a serem observados quando, no período de 2003 a 2005, passa a ser registrada em outros municípios do Vale do Itajaí, oeste e norte do Estado, com número crescente de casos (SES/DIVE, 2006).

Ainda no ano 2005, ocorre surto da doença com registro de 50 casos, distribuídos pelos municípios de Camboriú, Balneário Camboriú e Itapema, sendo os dois últimos municípios, aqueles que mais registraram casos (SES/DIVE, 2006).

Em setembro de 2005, foi notificado o primeiro caso autóctone em Blumenau. Em reunião realizada em fevereiro/2006 a Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS/VS) de Blumenau apresentou relatório em que constavam dezessete casos confirmados, distribuídos em sete bairros, até a semana epidemiológica 07 de 2006. A partir desse momento a DIVE juntamente com a Gerência de Saúde (GERSA) e SMS de Blumenau organizaram os serviços para atendimento dos casos.

Diante da situação de surto, foram desencadeadas as atividades de vigilância entomológica através do laboratório de entomologia da DIVE, as quais fornecem subsídios para promover ações de controle adequadas e oportunas.

2. OBJETIVOS Conhecer as espécies de flebotomíneos que ocorrem no município de

Blumenau; Investigar a presença de espécies de flebotomíneos vetoras de LTA

na área de ocorrência dos casos.

3. MÉTODOS

3.1 ÁREA DE ESTUDO Blumenau é um município localizado na mesorregião do Vale do Itajaí,

região do Médio Vale do Itajaí. De acordo com o censo do IBGE de 2000, possui uma população de 261.808 habitantes, distribuída em 520 km2 de área, densidade populacional de 533,3 hab/km2, sendo que 92,4% vivem em área urbana. A população projetada para o ano 2004 era de 287.749 habitantes.

Quanto à vegetação, pertence ao bioma Mata Atlântica, com cobertura vegetal natural denominada Floresta Ombrófila Densa onde predomina vegetação secundária e atividade agrícola. Apresenta também, pequenas áreas remanescentes de mata primária (SC, 1991).

O relevo é constituído pelas Serras do Leste Catarinense (SC, 1991). Apresenta clima subtropical do tipo Cma, isto é, clima mesotérmico,

predominantemente úmido, com verões quentes, chegando aos 40°C (http://pt.wikipedia.org/wiki/Blumenau).

Sua bacia hidrográfica é composta principalmente pelo rio Itajaí-Açu, seguido pelos rios Garcia e Engano (SC, 1991).

A partir da distribuição de casos confirmados por bairro de residência apresentada pela SMS/VS Blumenau, foram selecionadas as localidades com o

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maior registro de casos para as coletas: Badenfurt (Anexo I), Fidelis (AnexoII) e Progresso (AnexoIII).

3.2 COLETA A coleta foi realizada durante três noites consecutivas, sendo cada

noite em uma localidade. Teve início no dia 07/03/06 e término em 09/03/06. Em cada localidade foram selecionadas 3 residências (Anexos I a III)

com casos autóctones diagnosticados em 2005 até 02/2006, para instalação das armadilhas. Em cada residência foram instaladas 2 armadilhas luminosas tipo CDC, sendo uma no intradomicílio e outra no peridomicílio (preferencialmente junto a abrigos de animais), totalizando 6 armadilhas por localidade. Foram expostas a partir do crepúsculo vespertino (18:40h) e recolhidas após 12 horas.

Paralelamente, em uma das residências de cada localidade, foi instalada uma Barraca de Shannon com armadilha luminosa e dois coletores munidos de Capturador de Castro, lanterna e tubo mortífero, no extradomicílio, junto à margem da mata. Essa coleta teve início a partir do crepúsculo vespertino e término 3 horas após.

Indicadores empregados:

- Índice geral de armadilhas positivas IGAP = Total de armadilhas instaladas X 100 Total de armadilhas positivas

- Abundância relativa do vetor ARV = Número de flebotomíneos coletados Total de armadilhas positivas

A metodologia de coleta e indicadores está de acordo com as definições estabelecidas na Reunião Nacional das Leishmanioses (2005).

A identificação e nomenclatura dos flebotomíneos seguem a taxonomia proposta por Galati (2003) que elevou o gênero os subgêneros propostos na taxonomia de Young e Duncan (1994) empregados anteriormente. Para Young e Duncan (1994) todos os flebotomíneos pertenciam ao gênero Lutzomyia. Para Galati (2003) além do gênero citado em que somente algumas espécies estão incluídas, há vários outros gêneros. Assim quando se lê Nyssomyia neivai estamos nos referindo a espécie Lutzomyia neivai que era empregada em publicações anteriores.

Os dados foram registrados no sistema de informação para vigilância e monitoramento de flebotomíneos, LT_GERAL, cedido pela SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA A área de coleta que coincide com a área de ocorrência de casos, situa-se em região periurbana sendo alguns pontos com características de área rural. Há presença de mata residual no entorno das residências, presença de animais domésticos como cães, aves, bovinos e suínos no peridomicílio. A estrutura das residências em geral é boa, construídas em alvenaria, com reboco e pintura, portas e janelas em boas condições. Há exceção para uma residência de alvenaria, com reboco, que apresentava frestas nas aberturas e rachaduras nas paredes. Em algumas casas, havia material orgânico em

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decomposição nos quintais tais como: fezes de aves, folhas de árvores e lixo doméstico.

De modo geral, as características encontradas nestes pontos podem ser estendidas para caracterizar os bairros como um todo. A presença de mata residual é constante atrás ou no entorno das residências (Figuras 2 a 5), ficando estas muitas vezes a menos de 10 metros de distância da mata. Há relatos da população local sobre a presença de animais silvestres tais como: gambás, bugios, capivaras e outros roedores nessas matas. Este ambiente é bastante propício para a ocorrência de flebotomíneos, pois estes insetos são silvestres, apesar de algumas espécies serem encontradas em abundância no peridomicílio da periferia de áreas urbanas. Encontram com facilidade locais úmidos, sombrios, frescos e solo rico em matéria-orgânica em decomposição para a postura de ovos e desenvolvimento das larvas. Os adultos também encontram com facilidade abrigos tais como: ocos de árvores, frestas de pedras, tocas de animais, abrigos de animais domésticos e outros anexos de residências que tenham umidade alta e temperatura amena. Da mesma forma que a presença de animais silvestres e a proximidade dos animais domésticos, muitas vezes presos em abrigos fornece alimento em abundância (Rangel e Lainson, 2003).

Segundo Carfan e col (2004) e Perehouskei e col (2003) a prevalência de LTA tem sido associada à degradação do meio ambiente em áreas urbanas e rurais. Dos efeitos continuados e cumulativos da ação antrópica, surgem os graves problemas de relacionamento das civilizações com a natureza. Assim, a preocupação do espaço ganha naturalmente uma dimensão de maior relevância nos mais diversos segmentos da ação humana.

Figura 2. Área com casos – Badenfurt – Blumenau. Figura 3. Área com casos. Progresso – Blumenau.

Figura 4. Área com casos. Progresso – Blumenau. Figura 5. Área com casos. Fidelis – Blumenau.

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4.2 RESULTADOS DA COLETA As condições meteorológicas estavam adequadas para a coleta: tempo

bom, céu parcialmente nublado, com pancada de chuva na tarde do dia 9/03. Vento ausente a fraco, temperatura média inicial (instalação das armadilhas) de 27ºC, temperatura média final (recolhimento das armadilhas) de 26ºC, umidade do ar mínima de 66% e umidade do ar máxima de 72%. Tabela 1. Distribuição e positividade de armadilhas. Levantamento de fauna de flebotomíneos em Blumenau – SC - Período de 7 a 9 de março de 2006.

Nº Armadilhas Instaladas e Positivas

Armadilhas Positivas %

Intra Peri Extra

Nº pontos coleta

Locali dades

Tipo de armadilha

Inst Pos Inst Pos Inst Pos Intra Peri Extra

Ponto

s in

stal

ad

Ponto

s posi

tivo

IGA

P

%

7 Badenfut CDC/

Shannon 3 1 3 2 1 1 33,3 66,7 100,0 7 4 57,14

7 Fidelis CDC/

Shannon 3 0 3 3 1 1 0,0 100,0 100,0 7 4 57,14

7 Progresso CDC/

Shannon 3 2 3 1 1 1 66,7 33,3 100,0 7 4 66,67

Total 9 3 9 6 3 3 33 66,7 100 21 12 57,14 * IGAP: Índice geral de armadilhas positivas em porcentagem. (Tabela completa ver anexo IV)

A positividade de 33% de armadilhas no intradomicílio (Tabela 1) sugere que o inseto tende a entrar no domicílio, sendo este porcentual significativo para este ponto. A alta positividade de flebotomíneos nas armadilhas instaladas nos pontos intradomicílio e peridomicílio sugere risco para transmissão no ambiente domiciliar. Foram registrados casos humanos em menores de 10 anos (SMS/VE) o que reforça a possibilidade de transmissão no ambiente domiciliar.

No intradomicilio as espécies encontradas foram Nys. neivai e Lutzomyia sp. (Anexos IV a VII).

As armadilhas com maior número de flebotomíneos foram aquelas instaladas junto a um canil, chiqueiro e estábulo com bovinos (Anexos V e VI). A maioria destes anexos é construída próximo das residências e matas. Dessa forma, torna-se relativamente fácil a aproximação dos flebotomíneos que estão na mata para estes locais a fim de se alimentarem e ocasionalmente picarem o homem. Tabela 2. Distribuição de espécies e abundância de flebotomíneos. Levantamento de fauna de flebotomíneos em Blumenau – SC - Período de 7 a 9 de março de 2006.

Espécies Nyssomyia

neivai Migonemyia

migonei Pintomyia fischeri

Psathyromyia lanei

Psychodopygus ayrozai

Lutzomyia sp.

Localidades

♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀ ♂ ♀

de

Fleb

oto

Ponto

Po

sitivv

AR

V

Badenfut 11 8 1 1 5 4 1 0 0 0 0 0 31 4 7,75 Fidelis 58 12 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 71 4 17,75 Progresso 2 4 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 9 4 2,25

Total 71 24 1 1 5 5 1 0 1 1 1 0 111 12 9,25 * ARV: Abundância relativa do vetor. (Tabela completa ver anexo IV)

A abundância relativa de flebotomíneos foi de 9,25 insetos por

armadilha positiva.

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Gráfico 1. Resultado das coletas de flebotomíneos para levantamento da fauna nos bairro Badenfut, Fidelis e Progresso no Município de Blumenau-SC Período

de 7 a 9 de março de 2006.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

Nys. n

eivai

Mig. m

igone

i

Pin. fis

cheri

Psa.la

nei

Psy. a

yroza

i

Lutzo

myia sp

.

Espécies

Freq

üênc

ia R

elat

iva

em %

.

Machos Fêmeas

A espécie mais abundante é Nys. neivai (85,6%) (Tablea 2), seguida

por Pin. fischeri (9%), Mig. migonei (1,8%), Psy ayrozai (1,8%), Psa. lanei (0,9%) e Lutzomyia sp. (0,9%). Nys. neivai foi encontrada em 75% das armadilhas revelando sua alta freqüência.

Nys. neivai foi a espécie mais abundante e freqüente, foi capturada no intradomicílio, apresenta distribuição coincidente com a ocorrência de casos humanos de LTA e demonstra alta antropofilia (afinidade por picar o homem) (Casanova, Costa e Natal, 2005). Esses resultados vão ao encontro de algumas das definições estabelecidas por Killick-Kendrick (1990), para incriminação de flebotomíneos como vetores de leishmaniose (antropofilia, distribuição da espécie coincidente com a da doença, infecção natural da espécie por Leishmania e confirmação experimental da capacidade de transmitir a infecção de uma fonte para um novo hospedeiro).

Em alguns municípios do norte do Paraná, Membrive e col (2004), em Porto Alegre - Rio Grande do Sul, Gonçalves (2003) e em Balneário Camboriú e Itapema – Santa Catarina Camargo-Neves (2006), apontaram Nys. neivai como provável vetor de LTA.

Baseado nos antecedentes apontados e os resultados obtidos nesta coleta é possível que Nys. neivai atue como vetor principal de LTA na área.

Apesar de PIn. fisheri representar somente 9% dos insetos coletados e não haver relatos do encontro da espécie naturalmente infectada (Rangel e Lainson, 2003), é possível que atue como vetor secundário. Pesquisadores, ao estudarem áreas endêmicas em outros estados, fazem considerações sobre a possibilidade desta espécie desempenhar este papel, pois apresenta alto grau de antropofilia, e seu encontro em áreas desmatadas, com alta ação antrópica, e com ocorrência de casos humanos de LTA é comum (Rangel e Lainson, 2003; Massafera e col, 2005).

Mig. migonei foi incriminada como vetora de LTA em São Paulo e Ceará, e encontrada naturalmente infectada por L. (V) braziliensis (Rangel e Lainson, 2003). Não somente a capacidade de transmitir diretamente

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Leishmanias ao homem a torna importante epidemiologicamente, observações apontadas por Membrive e col (2004) apontam a presença da espécie em número considerável tanto na mata como no peridomicilio. Esse comportamento poderia favorecê-la a atuar como ponte entre os dois ambientes e introduzir a Leishmania no domicílio, que teria nos animais silvestres os seus reservatórios. Mig. migonei é uma espécie em processo de domiciliação o que a torna cada vez mais importante. Seu encontro mesmo em baixa quantidade (1, 8%) pode representar papel secundário na transmissão, mesmo porque a espécie apresenta comportamento sazonal, quase desaparecendo em períodos secos e frios, relatado em outros estados (Rangel e lainson, 2003).

Psy. ayrozai foi sugerida como transmissora de L (V) naiffi outra Leishmania causadora de LTA restrita a região amazônica (Amazonas e Pará) onde a espécie foi encontrada naturalmente infectada. Apesar de ter sido relatado seu comportamento altamente antropofílico na região montanhosa do sudeste do Brasil, no Pará este flebotomíneo não é muito atraído pelo homem (Rangel e Lainson, 2003). Considerando sua baixa abundância e freqüência e que até o momento não há registro de Psy. ayrozai infectado naturalmente por L. (V) braziliensis.), sua contribuição não parece ser relevante nessa área de ocorrência de LTA.

Psa. lanei até o momento, são espécies sem importância epidemiológica (Rangel e Lainson, 2003).

O encontro de quantidade significativa e freqüente de flebotomíneos de espécies já apontadas em outras regiões como vetores comprovados e/ou prováveis de LTA; as características comportamentais de alta antropofilia e capacidade de adaptação ao ambiente antrópico; a distribuição destes coincidirem com casos humanos de LTA no município; as características ambientais (residências construídas próximo de matas, com presença de animais no peridomicílio) reforçam a autoctonia dos casos e que provavelmente o risco de contrair Leishmaniose Tegumentar, ocorre no ambiente domiciliar pela presença de flebotomíneos infectados das espécies Nys. neivai e secundariamente por Mig. migonei e Pin. ficheri.

Os resultados obtidos não são suficientes para a adoção de medidas mais específicas que as recomendadas abaixo. O conhecimento sobre o comportamento dessas espécies de flebotomíneos, o papel e comportamento dos reservatórios e influência do clima na ocorrência de LTA são limitados. Estudos são necessários para responder vários questionamentos que o serviço de saúde e a comunidade científica precisam para conhecer melhor a doença e controlá-la. Nesse sentido, cabe à DIVE com a colaboração da SMS, realizar o monitoramento de flebotomíneos, uma atividade de vigilância que tem como objetivo conhecer alguns elementos do comportamento desses insetos.

5. CONCLUSÃO

A transmissão pode estar ocorrendo no peri e/ou intradomicilio; As espécies de flebotomíneos encontradas são: Nys. neivai, Mig.

migonei, Pin. fischeri, Psa. lanei, Pys. ayrozai, Lutzomyia sp.; O vetor provável de LTA no município é N. neivai; Secundariamente podem estar envolvidos na transmissão Mig. migonei

e Pin. fischeri.

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6. RECOMENDAÇÕES 1. O uso de inseticidas não é recomendado uma vez que em função de

características silvestres ainda mantidas por essas espécies de flebotomíneos, fatores operacionais e do desempenho dos inseticidas empregados, o tratamento químico não aponta efetividade como medida de controle da doença;

2. Medidas preventivas de âmbito individual e coletivo e educação em saúde devem ser estimuladas desde que seja possível e adaptadas para cada área. Medidas de controle realizadas em conjunto e sistematizadas tendem a dar melhores resultados que medidas isoladas e descontínuas. Seguem abaixo algumas recomendações apresentadas na Reunião Nacional das Leishmanioses (2005):

Uso de repelentes quando exposto a ambientes onde os vetores habitualmente possam ser encontrados (matas ou próximo a estas);

Evitar a exposição nos horários de atividade do mesmo (crepúsculo e noite);

Uso de mosquiteiros de malha fina (tamanho de malha 1.2 a 1.5 mm e denier 40 a 100), bem como telagem de portas e janelas;

Manejo ambiental por meio de limpeza de quintais e terrenos, drenagem da água, a fim de alterar as condições do meio que propiciem o estabelecimento de criadouros e formas imaturas do vetor;

Poda de árvores de modo a aumentar a insolação a fim de diminuir o sombreamento do solo e evitar as condições favoráveis ao desenvolvimento de larvas;

Destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir a aproximação de mamíferos comensais, como gambás e roedores, prováveis fontes de infecção para os flebotomíneos;

Limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos; Manutenção de animais domésticos distantes (200 metros) do

domicílio durante a noite, de modo a reduzir a atração dos flebotomíneos para este ambiente;

Em áreas de potencial transmissão, sugere-se uma faixa de segurança de 400 a 500 metros entre as residências e a mata. Entretanto, uma faixa dessa natureza terá que ser planejada para evitar erosão e outros problemas ambientais;

Divulgação à população sobre a ocorrência da LTA na região, orientando para o reconhecimento de sinais clínicos e a procura dos serviços para o diagnóstico e tratamento, quando houver caso suspeito;

Capacitação das equipes dos programas de agentes comunitários de saúde (PACS), saúde da família (PSF), vigilâncias ambiental e epidemiológica e outros profissionais de áreas afins para diagnóstico precoce e tratamento adequado;

Estabelecimento de parcerias interinstitucionais, visando à implementação das ações de interesse sanitário, tais como limpeza pública, atividades de informação, educação e comunicação;

3. A implantação do monitoramento de flebotomíneos sob a coordenação e fornecimento de material pela DIVE, conta com o apoio da GERSA e/ou SMS as quais podem selecionar dentre os técnicos que participaram de treinamento em serviço durante esta coleta, aqueles que farão as futuras capturas.

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7. REFERÊNCIAS BLUMENAU. Secretaria Municipal de Saúde. Vigilância Epidemiológica (SMS/VS). Número de casos notificados e confirmados de LTA, segundo faixa etária e bairro de residência. Blumenau, 2005 – 2006, 2006. CAMARGO-NEVES, VLF. Relatório de assessoria técnica prestada à Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, relativo ao surto de leishmaniose tegumentar americana. 22 de março de 2006. [Apresentação]. Florianópolis, 2006. CARFAN NA, DE ANGELIS BLD, MENEGUETI C, OLIVEIRA MC, PEREHOUSKEI NA, ICHIBA SHK. Leishmaniose Tegumentar Americana: o caso do conjunto residencial Inocente Vila Nova Júnior no município de Maringá, Estado do Paraná, 2001-2004. Acta Scientiarum. Helalth Sciences, 26 (2): 341-344, 2004. CASANOVA C, COSTA AIP, NATAL D. Dispersal parttern of the sand fly Lutzomyia neivai (Diptera: Psychodidae) in a cutaneous leishmaniasis endemic rural area in Southeastern Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 100 (7), 2005. GALATI EAB. Morfologia e taxonomia. In: RANGEL, EF, LAINSON, R.organizadores. Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. GONÇALVES RD. Identificação da Fauna de Flebotomíneos em Função de Casos Autóctones de LTA. Boletim Epidemiológico. Equipe de controle epidemiológico – Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Número 21, Ano V, Novembro de 2003. IBGE. Censo Demográfico 2000: Características da População e dos Domicílios: Resultados do universo. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/default.shtm. Acesso em: 04/09/2006. MASSAFERA R, SILVA AM, CARVALHO AP, SANTOS DR, GALATI EAB, TEODORO U. Fauna de flebotomíneos do município de Bandeirantes, no Estado do Paraná. Rev. Saúde Pública v.39 n.4 , 2005. MAKOWIECKY ME, MAKOWIECKY M. Aspectos clínicos e epidemiológicos dos casos de leishmaniose tegumentar americana diagnosticados em Santa Catarina. Anais do XLI Congresso da Sociedade Brasileira de medicina Tropical. Florianópolis. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 38 (1): 336 , 2005. MEMBRIVE NA e col. Flebotomíneos de municípios do norte do estado do Paraná, Sul do Brasil. Entomol. Vect. 11(4): 673-680, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de vigilância e controle da leishmaniose tegumentar americana. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Reunião nacional das Leishmanioses: Vigilância entomológica e controle de vetores. Uberaba: Ministério da Saúde, 2005. PEREHOUSKEI NA e col. Distribuição espacial da Leishmaniose Tegumentar (LT) no município de Maringá, Paraná, de 1991 a 2001. Anais do Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva. Brasília, ABRASCO, v 8, 2003. RANGEL EF, LAINSON R. organizadores. Flebotomíneos do Brasil. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Saúde. Diretoria de Vigilância Epidemiológica (SES/DIVE). Gerência de Controle de Zoonoses. Divisão de Vigilância de Vetores, Reservatórios e Outros. Programa de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar Americana. Florianópolis, 2006. SANTA CATARINA. Secretaria de Estado de Coordenação Geral e Planejamento. Subsecretaria de Estudos Geográficos e Estatísticos. Atlas escolar de Santa Catarina. Secretaria de Estado de Coordenação Geral e Planejamento. Rio de Janeiro: Aerofoto Cruzeiro, 1991. SILVA RF. Camboriú – aspectos geográficos. Disponível em [http://inema.com.br/mat/idmat002103.htm]. Acesso em 01/06/06. SAO THIAGO PT, GUIDA U. Leishmaniose tegumentar no oeste do estado de Santa Catarina, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 23 (4): 201-3, 1990. YOUNG DG e DUNCAN MA. Guide the identification and geographic distribution of Lutzomya sand files in Mexico, the West Indies Central and South America (Diptera: Psychodidae). Mem Amer Entomol Inst. 54: 1- 881, 1994.

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ANEXOS