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LEVANTAMENTO DE ANFÍBIOS NO BOSQUE MUNICIPAL DE OURO PRETO DO OESTE, RONDÔNIA, BRASIL. Ronnilda Maria Gonçalves Araújo 1 Kenia de Aguiar Carvalho 2 Alexandre Zandonadi Meneguelli 3 Angélica Pancieri Zandonadi 4 RESUMO: O Brasil apresenta a maior riqueza de anfíbios do planeta (SBH, 2010), com respectivamente 875 espécies. A maior parte dessas é conhecida para a Amazônia (ÁVILA-PIRES et al. 2007). Um dos indicadores de carência de estudos com este grupo nesse bioma é o fato de ser relativamente comum a publicação de espécies novas (GIARETTA et al., 2000, PELOSO & STURARO 2008, SIMÕES et al., 2010). No estado de Rondônia existem poucas pesquisas com informações sobre inventários e biologia de anfíbios. Dentre os estudos desenvolvidos em Rondônia, destaca-se o trabalho de VANZOLINI (1986) apresentou uma lista de anfíbios e répteis através de coletas ao longo da BR-364. Brandão (2002) realizou estudos coma a herpetofauna nas reservas extrativistas Pedras Negras e Curralinho no Município de Costa Marques. Bernarde (1999, 2007) apresenta dados sobre comunidades de anfíbios anuros na região de Espigão do Oeste. Na região de Cacoal foi desenvolvido trabalho sobre herpetofauna (TURCI & BERNARDE, 2008). Na Amazônia é encontrada uma grande riqueza de anfíbios. Entretanto, algumas regiões ainda são pouco conhecidas. Este estudo apresenta um inventário de anfíbios em uma área de fragmento de floresta secundária no Bosque municipal do Município de Ouro Preto do Oeste, localizada no estado de Rondônia. A coleta de dados ocorreu entre os meses de agosto de 2010 a fevereiro de 2011. As amostragens foram efetuadas pela procura limitada por tempo, armadilhas de interceptação e queda e encontros ocasionais. Foram registradas 14 espécies de anuros, distribuídos em oito gêneros e cinco famílias. Hylidae e Leptodactylidae foram às famílias com maior número de espécies encontradas. A curva de acumulação não atingiu a estabilidade indicando que o inventário não esta completo. O tamanho da área amostrada e o menor tempo nas amostragens podem estar associados à menor riqueza de anuros, quando comparados com os demais estudos realizados na região de Cacoal e Espigão do Oeste, Rondônia. Palavras-chave: Amazônia. Anfíbios. Anuros. Levantamento. Riqueza. Rondônia. _______________________________________________________________ 1 Especialista em Zoologia/Bióloga e Professora da Escola Altamir Billy Soares de Urupá-SEDUC-RO ; [email protected]. 2 Especialista em Zoologia/Bióloga e Professora -SEDUC-RO 3 Biólogo, Especialista em Zoologia, Mestrando em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Rondônia, campus Rolim de Moura. Professor do Ensino Superior pela Faculdade São Paulo de Rolim de Moura e UNIJIPA. 4 Bióloga, Especialista em Zoologia, Professora da Educação Básica – SEDUC/RO em Alta Floreste do Oeste.

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LEVANTAMENTO DE ANFÍBIOS NO BOSQUE MUNICIPAL DE OURO PRETO DO

OESTE, RONDÔNIA, BRASIL.

Ronnilda Maria Gonçalves Araújo1 Kenia de Aguiar Carvalho 2

Alexandre Zandonadi Meneguelli 3

Angélica Pancieri Zandonadi4

RESUMO: O Brasil apresenta a maior riqueza de anfíbios do planeta (SBH, 2010), com respectivamente 875 espécies. A maior parte dessas é conhecida para a Amazônia (ÁVILA-PIRES et al. 2007). Um dos indicadores de carência de estudos com este grupo nesse bioma é o fato de ser relativamente comum a publicação de espécies novas (GIARETTA et al., 2000, PELOSO & STURARO 2008, SIMÕES et al., 2010). No estado de Rondônia existem poucas pesquisas com informações sobre inventários e biologia de anfíbios. Dentre os estudos desenvolvidos em Rondônia, destaca-se o trabalho de VANZOLINI (1986) apresentou uma lista de anfíbios e répteis através de coletas ao longo da BR-364. Brandão (2002) realizou estudos coma a herpetofauna nas reservas extrativistas Pedras Negras e Curralinho no Município de Costa Marques. Bernarde (1999, 2007) apresenta dados sobre comunidades de anfíbios anuros na região de Espigão do Oeste. Na região de Cacoal foi desenvolvido trabalho sobre herpetofauna (TURCI & BERNARDE, 2008). Na Amazônia é encontrada uma grande riqueza de anfíbios. Entretanto, algumas regiões ainda são pouco conhecidas. Este estudo apresenta um inventário de anfíbios em uma área de fragmento de floresta secundária no Bosque municipal do Município de Ouro Preto do Oeste, localizada no estado de Rondônia. A coleta de dados ocorreu entre os meses de agosto de 2010 a fevereiro de 2011. As amostragens foram efetuadas pela procura limitada por tempo, armadilhas de interceptação e queda e encontros ocasionais. Foram registradas 14 espécies de anuros, distribuídos em oito gêneros e cinco famílias. Hylidae e Leptodactylidae foram às famílias com maior número de espécies encontradas. A curva de acumulação não atingiu a estabilidade indicando que o inventário não esta completo. O tamanho da área amostrada e o menor tempo nas amostragens podem estar associados à menor riqueza de anuros, quando comparados com os demais estudos realizados na região de Cacoal e Espigão do Oeste, Rondônia. Palavras-chave: Amazônia. Anfíbios. Anuros. Levantamento. Riqueza. Rondônia.

_______________________________________________________________ 1 Especialista em Zoologia/Bióloga e Professora da Escola Altamir Billy Soares de Urupá-SEDUC-RO ; [email protected]. 2 Especialista em Zoologia/Bióloga e Professora -SEDUC-RO 3 Biólogo, Especialista em Zoologia, Mestrando em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Rondônia, campus Rolim de Moura. Professor do Ensino Superior pela Faculdade São Paulo de Rolim de Moura e UNIJIPA. 4 Bióloga, Especialista em Zoologia, Professora da Educação Básica – SEDUC/RO em Alta Floreste do Oeste.

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INTRODUÇÃO O Brasil apresenta a maior riqueza de anfíbios do planeta (SBH, 2010), com

respectivamente 875 espécies. A maior parte dessas são conhecidas para a

Amazônia (ÁVILA-PIRES et al. 2007). Essa riqueza provavelmente pode estar

subestimada, pois várias regiões na Amazônia permanecem subamostradas ou

mesmo não amostradas (AZEVEDO-RAMOS & GALLATI 2001, VOGT et al. 2001).

Um dos indicadores de carência de estudos com este grupo nesse bioma é fato de

ser relativamente comum a publicação de espécies novas (GIARETTA et al., 2000,

PELOSO & STURARO 2008, SIMÕES et al., 2010) e de novos registros de

ocorrência para o país (TOLEDO et al., 2009, CISNERO-HEREDIA et al., 2010,

SAMPAIO & SOUZA, 2010).

Em Rondônia são poucos os trabalhos apresentando informações sobre

inventários e biologia de anfíbios anuros (e.g., HEYER 1977, VANZOLINI 1986, VITT

& CALDWELL 1994, BERNARDE et al. 1999, BRANDÃO 2002, BERNARDE, 2007,

TURCI & BERNARDE, 2008).

Dentre os estudos desenvolvidos em Rondônia, destaca-se o trabalho de

VANZOLINI (1986) apresentou uma lista de anfíbios e répteis através de coletas ao

longo da BR-364. BRANDÃO (2002) realizou estudos coma a herpetofauna nas

reservas extrativistas Pedras Negras e Curralinho no Município de Costa Marques.

BERNARDE (1999, 2007) apresenta dados sobre comunidades de anfíbios anuros

na região de Espigão do Oeste. Na região de Cacoal foi desenvolvido trabalho sobre

herpetofauna (TURCI & BERNARDE, 2008).

Em Rondônia as atividades antrópicas modificaram muito a paisagem natural

principalmente devido ao desmatamento para a pecuária, extração de minério e

madeira (KEMPER, 2002, OLIVEIRA, 2002). Devido à expansão agropecuária e

extração de minérios e madeira, a paisagem natural florestal vem sendo modificada

rapidamente e diversas espécies podem estar desaparecendo antes mesmo de

serem descritas (HADDAD & PRADO 2005). Anfíbios anuros são animais sensíveis

a alterações ambientais, como destruição dos hábitats, alterações climáticas e

poluição, sendo um grupo de importância como bioindicadores da integridade

ambiental (e.g., VITT et al. 1990, HEYER et al. 1994).

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O presente estudo tem como objetivo apresentar a lista de espécies de

anfíbios em uma área de fragmento de floresta secundária no Bosque Municipal do

Município de Ouro Preto do Oeste, Rondônia.

1 MATERIAL E MÉTODOS

1.1 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo corresponde ao Bosque Municipal (latitude é -10º 44' 53" e

longitude é -62º 12' 57" altitude 280 m) do Município de Ouro Preto do Oeste/RO. A

área apresenta 56.582,48 m² (5.65) (Figura 1).

Figura 1: América do Sul, mostrando a localização do Estado de Rondônia e o município de Ouro Preto do Oeste (destaque em cinza).

O bosque integra duas áreas, uma de pastagem e uma de mata, divididas por

um igarapé. Ambas as áreas sofrem antropização. A área de estudo (bosque) possui

dois tipos de ambientes aquático um permanente (igarapé) e outro temporário

(poças)

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A região esta situada sob o Domínio Equatorial Amazônico (sensu Ab’SABER,

1977), com vegetação do tipo floresta Ombrófila Aberta Submontana (OLIVEIRA,

2002).A altitude da região varia em torno de 280 metros. O clima é equatorial quente

e úmido apresenta média pluviométrica anual de (2.000 mm), com dois períodos

distintos durante o ano: chuvoso (de outubro a março) e seco (de abril a setembro).

A temperatura média anual é de 26 ˚C (CEPLAC 2010.).

1.2 COLETA DE DADOS

A coleta de dados teve início em agosto de 2010 à fevereiro de 2011,

totalizando 7 meses de coleta. De agosto a novembro as coletas foram realizadas de

forma esporádicas durante o dia e a noite visando o reconhecimento da área e da

anurofauna local. A partir de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011, foram

empregados três meses de amostragem simultaneamente para registros da

anurofauna: Procura visual limitada por tempo, Armadilhas de interceptação e queda

(pitfall), Encontros Ocasionais.

1.3 DESCRIÇÃO DO ESFORÇO AMOSTRAL

a) Procura visual limitada por tempo (Ver CAMPBELL & CHRISTMAN 1982,

MARTINS & OLIVEIRA 1998): Foram percorridas trilhas dentro da floresta em torno

de ambientes aquáticos (igarapés e poças temporárias) no período noturno (entre

19:00 e 22:00 horas) e diurno (entre 07:00 e 09:00 horas) perfazendo um total de 30

horas de procura, sendo 18 horas no período noturno e 12 horas no período diurno.

b) Armadilhas de interceptação e queda: Foram instalados dois conjuntos de

armadilha dispostas em linha reta. Totalizando seis baldes. Cada armadilha é

constituída por três baldes plásticos de 75 litros, enterrados a cada dez metros e

ligados por uma cerca de lona preta de um metro de altura que passava sobre os

mesmos de acordo com (FITCH 1987, CECHIN & MARTINS 2000). As armadilhas

irão permanecer abertas quatro dias por mês, totalizando 96 horas mensais durante

três meses, totalizando 12 dias de amostragem. As armadilhas foram monitoradas

todos os dias de trabalho em campo.

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c) Encontros Ocasionais: Foram registrados os espécimes coletados ou

observados ocasionalmente durante as atividades de campo, segundo (MARTINS;

OLIVEIRA, 1998).

Os espécimes foram identificados partir de chaves, descrições e fotografias

presentes nas seguintes bibliografias: DUELLMAN (1978), DUELLMAN &

RODRIGUEZ (1994), DE LA RIVA et al. (2000), LECURE & MARTY (2002),

BARTLETT & BARTLETT (2003), DUELLMAN (2005), LIMA et al. (2006) e SOUZA

(2009).

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 14 espécies de anuros, distribuídos em oito gêneros e

cinco famílias (Tabela 1, Figura 2, 3). Hylidae e Leptodactylidae foram às famílias

com maior número de espécies, esse padrão é típico para a região Neotropical

(DUELLMAN, 1988), também é observado para muito biomas brasileiros (HADDAD

& SAZIMA 1992, BRANDÃO & ARAÚJO 1998, BERNARDE & MACHADO 2000,

IZECKSONH & CARVALHO-SILVA 2001, POMBAL & CARDOSO 2004).

Tabela 1: Espécies de anfíbios anuros registrados na localidade de estudo.

Família Espécies

Bufonidae Rhinella major (Muller & Helmich, 1936)

Rhinella marina (Linnaeus, 1758)

Leptodactylidae Leptodactylus andreae (Muller, 1923)

Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799)

Leptodactylus pentadactylus (Laurenti, 1768)

Hylidae Dendropsophus microcephalus (Cope, 1886)

Dendropsophus minutus (Peters, 1872)

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Hypsiboas calcaratus (Troschel in Schomburgk, 1848)

Hypsiboas fasciatus (Günther, 1859 "1858")

Hypsiboas geographicus (Spix, 1824)

Scinax ruber (Laurenti, 1768)

Trachycephalus venulosus (Laurenti, 1768)

Strabomantidae Pristimantis fenestratus (Steindachner, 1864)

Microhylidae Elachistocleis ovalis (Schneider, 1799)

Fonte: próprio autor (2010 e 2011).

O total de espécies registradas nesse estudo (14 spp.) é considerado baixo

quando comparados com outros estudos em localidades amazônicas: 53 espécies

no Rio Madeira (HEYER, 1977); 47 Rio Madeira e Aripuanã (VOGT et al., 2007), 45

em Roraima (MARTINS, 1998), 43 no Rio Purus (GORDO, 2003), 42 na INPA-WWF

Reserva na região de Manaus (ZIRMERMANN & SIMBERLOFF, 1996), 50 na

Reserva Adolfo Duck (LIMA et al., 2006). Esse número também foi menor quando

comparado com outros estudos em localidades em Rondônia nos municípios de

Espigão do Oeste e Cacoal (BERNARDE 2007, TURCI & BERNARDE, 2008). Houve

maior semelhança com o estudo feito na região de Cacoal onde foi registrado 17

espécies de anuros (TURCI & BERNARDE 2008). Esse fato pode esta relacionado

pela semelhança das áreas, ambas são áreas pequenas de fragmento de floresta

(Tabela 2).

Tabela 2: Riqueza de anuros em localidades em Rondônia.

Total de espécies

Este Estudo 14

Espigão do Oeste 47

Cacoal 17

BR-364 (Vanzolini 1986) 70

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Fonte: Este estudo (próprio autor), Espigão do Oeste (Bernarde, 2007), Cacoal (Turci & Bernarde, 2008), BR-364 (VANZOLINI, 1986).

O menor tempo de amostragem desse estudo (3 meses) pode esta

relacionado ao baixo número de espécies quando comparados com outras

localidades onde as amostragens seguiram um padrão sazonal. Também a área

fragmentada pode reduzir a disponibilidade de microambientes e conseqüentemente

a riqueza de espécies de anuros no local (Ver: AZEVEDO-RAMOS & GALLATI

2002, BERNADES 2007). Segundo (GASCON et al., 1999) com a diminuição dos

fragmentos florestais, ocorre a diminuição das espécies de anuros florestais.

Nenhuma das espécies de anuros registrada é considerada exclusivamente florestal.

Porém, uma maior riqueza é esperada para a área de estudos devido à riqueza da

anurofauna na Amazônia (DUELLMAN, 1990 e 1999).

O método de procura limitada por tempo registrou o maior número de

espécies (10 ssp.) e 49 indivíduos, totalizando 34,3% da abundância (Tabela 3).

Esse fato pode esta relacionada pela maior parte dos anfíbios anuros registrados

apresentarem atividade noturna (Ver: DUELLMAN, 1990, BERNADES, 2007). A

pouca amostragem nas armadilhas de interceptação e queda se deve

provavelmente ao pequeno tamanho dos baldes (Ver: CECHIN & MARTINS, 2000),

e pelo baixo número de armadilhas (Ver: TURCI & BERNARDE, 2008).

Tabela 3: Espécies de anfíbios anuros registrados em cada método de amostragem, no Bosque Municipal de Ouro Preto do Oeste, Rondônia, Brasil.

Família/Espécies

Métodos de Amostragem

PLT

Diurna Noturna Pitfall EO

BUFONIDAE

Rhinella major 4 1

Rhinella marina 2

LEPTODACTYLIDAE

Leptodactylus andreae 12 10 9

Leptodactylus fuscus 1 1

Leptodactylus pentadactylus 1

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HYLIDAE

Dendropsophus microcephalus 1

Dendropsophus minutus 1

Hypsiboas calcaratus 4

Hypsiboas fasciatus 1

Hypsiboas geographicus 5

Scinax ruber 6

Trachycephalus venulosus 1

STRABOMANTIDAE

Pristimantis fenestratus 8 1

MICROHYLIDAE

Elachistocleis ovalis 1 Total de espécies registradas 1 9 4 8 Total de espécimes registrados 12 37 14 7

Porcentagem (%) 8,4% 25,9 9,8% 4,9 Legenda: PLT – Procura Limitada por Tempo; Pitfall – armadilha de interceptação e queda; EO – encontro Ocasional.

As amostragens foram realizadas na borda e dentro da floresta. A maior parte

das espécies foi registrada em atividade na borda da floresta sobre a vegetação

(Tabela 4).

Tabela 4: Tipo de ambiente e substrato em que as espécies foram registradas em

atividade, Rondônia, Brasil.

Espécies Floresta

Borda Interior Chão Vegetação

BUFONIDAE

Rhinella major x x

Rhinella marina x x

LEPTODACTYLIDAE

Leptodactylus andreae x x

Leptodactylus fuscus x x

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Leptodactylus pentadactylus x x

HYLIDAE

Dendropsophus microcephalus x x

Dendropsophus minutus x x

Hypsiboas calcaratus x x

Hypsiboas fasciatus x x

Hypsiboas geographicus x x x

Scinax ruber x x

Trachycephalus venulosus x x

STRABOMANTIDAE

Pristimantis fenestratus x x x x

MICROHYLIDAE

Elachistocleis ovalis x x Fonte: próprio autor (2010 e 2011).

As espécies das famílias Bufonidae, Hylidae, Leptodactylidade,

Strabomantidae e Microhylidae foram registradas em borda de floresta (Ver: tabela

4) com excesso de espécie Hypsiboas calcaratus que foi encontrada apenas dentro

da floresta. Essas espécies apresentam grande plasticidade ambiental ocorrendo em

diferentes ambientes tanto em borda de floresta, dentro da floresta e pastagem (Ver:

Bernarde, 2007). Algumas espécies como Leptodactylus fuscus, Scinax ruber,

Trachycephalus venulosus acabam sendo favorecidas em com áreas de fragmentos

ou abertas em relação aquelas espécies de anuros que são estritamente florestais.

A curva cumulativa de espécies (curva do coletor) não atingiu a estabilidade

durante o período amostral, espera-se uma maior riqueza para a localidade, com um

maior período de amostragem (Figura 4).

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Figura 4: Curva cumulativa de espécies das espécies de anuros durante as seis amostragens entre dezembro de 2010 e fevereiro de 2011.

Zimmermann e Bierregaard (1986) apontam que áreas de floresta primárias

são de fundamental importância na manutenção da anurofauna amazônica.

Segundo TOCHER (1998) os estudo em fragmentos florestais de diferentes

tamanhos e diferente grau de perturbação (floresta primária, secundária, campos e

pastagem) que a uma diminuição da riqueza de anuros em fragmentos menores e

áreas com maior perturbação, esse fato esta relacionado à menor disponibilidade de

ambientes para reprodução em pequenos fragmentos ou em áreas de campos e

pastagem. BERNARDE (2007) observou uma menor riqueza de anuros em áreas de

pastagem em relação á áreas de floresta ou borda.

A importância de se inventariar e que podemos descrever espécies por localidade

ou até espécies dominantes por áreas. E descobrir novas espécies.

O número de espécies descritas num inventário depende da conservação do

ambiente que pode ser favorável ou não. No Brasil vários ambientes que foram

inventariados e os que estão para ser; sofreram ou sofrem algum tipo de

degradação, fazendo com que algumas espécies nunca sejam catalogadas.

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Figura 2: Espécies de anfíbios anuros amostradas no bosque municipal de Outro Preto do Oeste, RO: A,Leptodactylus pentadactylus; B, Leptodactylus fuscus; C, Dendropsophus microcephalus; D, Dendropsophus minutus; E, Hypsiboas fasciatus; F, Hypsiboas geographicus (fotos por L.C.Turci).

A B

C D

E F

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Figura 3: Espécies de anfíbios anuros amostradas no bosque municipal de Outro Preto do Oeste, RO: G, Hypsiboas calcaratus; H, Trachycephalus venulosus; I, Leptodactylus andreae; J, Rhinella marina; K, Elachistocleis ovalis; L, Pristimantis fenestratus (fotos por L.C.Turci).

G H

I

J

K L

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REFERÊNCIAS

AB’ Saber, A. N. 1977. Os domínios morfoclimáticos da América do Sul. Boletim do Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo 52:1-21. ÁVILA-PIRES, T. C. S., Hoogmoed, M. S. & Vitt, L. J. 2007. Herpetofauna da Amazônia. In Herpetologia no Brasil II (L. B. Nascimento & M. E. Oliveira, eds.). Sociedade Brasileira de Herpetologia, Belo Horizonte, p.13-43. AZEVEDO-RAMOS, C. & Gallati, U. 2001. Relatório técnico sobre a diversidade de anfíbios na Amazônia brasileira: Biodiversidade na Amazônia Brasileira, Avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentavel e repartição de benefícios (In J. P. R. Capobianco Org.). Estação Liberdade: Instituto SocioAmbiental, São Paulo, SP, p.79-88. BARTLETT, R. D.; Bartlett, P. 2003. Reptiles and Amphibians of the Amazon: An Ecoturist’s Guide. University Press Florida, Gainsville, FL. 291 pgs. BERNARDE, P. S., Kokubum, M. C. N., Machado, R. A. & Anjos, L. 1999. Uso de hábitats naturais e antrópicos pelos anuros em uma localidade no Estado de Rondônia, Brasil (Amphibia: Anura). Acta Amazonica. 29:555-562 BERNARDE, P. S. 2007. Ambientes e temporada de vocalização da anurofauna no Município de Espigão do Oeste, Rondônia, Sudoeste da Amazônia - Brasil (Amphibia: Anura). Biota Neotrop. 7(2): http://www.biotaneotropica.org.br/v7n2/pt/abstract?article+bn01507022007 (último acesso em 20/10/2010). BRANDÃO, R. A. 2002. Avaliação ecológica rápida da herpetofauna nas reservas extrativistas de Pedras Negras e Curralinho, Costa Marques, RO. Brasil Florestal 74:61-73. CISNEROS-HEREDIA, D. F., Strussmann, C., Ávila, R. W. & Kawashita-Ribeiro, R. A. 2010. Amphibia, Anura, Centrolenidae, Hyalinobatrachium carlesvilai Castroviejo-Fisher, Padial, Chaparro, Aguayo & De La Riva, 2009: First contry record, Brazil. Check List. 6(2):225-226. DUELLMAN, W. E. 1998. Patterns of species diversity in anuran amphibians in the Americans Tropics. Annals of the Missouri Botanical Garden 75: 79-104. DUELLMAN, W. E. 1999. Patterns of distribution of amphibians: a global perspective. John Hopkins University Press, Baltimore, USA, 633pp. GIARETTA, A. A., Bernarde, P. S. & Kokubum, M. C. N. 2000. A new species of Proceratophrys (Anura: Leptodactylidae) from the Amazon Rain Forest. J. Herpetol. 34:173-178. HEYER, W. R. 1977. Taxonomic notes on frogs from the Madeira and Purus rivers, Brasil. Pap. Avulsos Zool. 31:141-162.

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