levantamento da fauna de triatominae...

40
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade LEVANTAMENTO DA FAUNA DE TRIATOMINAE (HEMIPTERA: REDUVIIDAE) E INFECÇÃO NATURAL POR TRYPANOSOMATIDAE NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL PAULO SILVA DE ALMEIDA Orientadores HONÓRIO ROBERTO DOS SANTOS JOSÉ MARIA SOARES BARATA Dourados-MS Julho/2006

Upload: doankien

Post on 18-Dec-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade

LEVANTAMENTO DA FAUNA DE TRIATOMINAE (HEMIPTERA:

REDUVIIDAE) E INFECÇÃO NATURAL POR TRYPANOSOMATIDAE NO

ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL

PAULO SILVA DE ALMEIDA

Orientadores

HONÓRIO ROBERTO DOS SANTOS

JOSÉ MARIA SOARES BARATA

Dourados-MS

Julho/2006

2

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)

Programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade

LEVANTAMENTO DA FAUNA DE TRIATOMINAE (HEMIPTERA:

REDUVIIDAE) E INFECÇÃO NATURAL POR TRYPANOSOMATIDAE NO

ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL

PAULO SILVA DE ALMEIDA

Orientadores

HONÓRIO ROBERTO DOS SANTOS

JOSÉ MARIA SOARES BARATA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Entomologia e Conservação da

Biodiversidade, Universidade Federal da

Grande Dourados (UFGD), como parte das

exigências para a obtenção do título de Mestre

em Entomologia e Conservação da

Biodiversidade.

Dourados-MS

Julho/2006

3

595.75xxAlmeida, Paulo Silva de Levantamento da fauna de Triatominae (Hemiptera;

Reduviidae) e infecção Natural por Trypanosomatidae no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil / Paulo Silva de Almeida. Dourados, MS: UFGD, 2006.

51 p. Orientador: Prof. Dr. Honório Roberto dos Santos. Co-Orientador: Prof. Dr. José Maria Soares Barata. Dissertação (Mestrado em Entomologia) –

Universidade Federal da Grande Dourados. 1- Triatominae – Espécies – Levantamento – Mato

Grosso do Sul. 2- Triatominae – Infecção Natural – Trypanosomatidae – Mato Grosso do Sul. I. Título.

4

Ofereço À Deus.

Dedico

À minha esposa (Rosilene Francisca Moreira) e à minha filha (Talita Moreira Silva).

À minha mãe (Maria Silva de Almeida).

Ao meu pai (José Andrade de Almeida) (in memoriam).

5

AGRADECIMENTOS

Ao Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública/USP (Laboratório

de Triatomíneos), nas pessoas de Walter Ceretti Júnior, Marcos Takashi Obara e Paulo

Urbinatti pela colaboração na identificação dos triatomíneos.

Ao Laboratório Regional de Entomologia de Dourados/MS, em especial a Ademar

Dimas Ferreira, Maria Aparecida Ferreira de Souza e Silvana Rosa da Silva pela amizade e

incentivo.

Aos Técnicos dos Laboratórios Regionais de Entomologia do Estado, Ramão Virgilio

Larson, Francisco Portes, Airton Marques Miranda e Edson José de Souza.

Ao Núcleo Regional de Entomologia de Campo Grande/MS, em especial a Guilmara

Maria do Amaral Gonçalves pela colaboração na identificação dos triatomíneos.

Ao colega José Nicácio do Nascimento e ao Prof. Dr. Odival Faccenda pelas sugestões

nas análises estatísticas.

Ao colega João Cezar Nascimento pelo incentivo e contribuição com sugestões para

realização do trabalho.

A Coordenadoria de Controle de Vetores/CCV do Estado pela colaboração e apoio no

fornecimento de registros dos trabalhos de captura de triatomíneos.

Aos colegas Luiz Donizethe Minzão e Edima Ramos Minzão pelas sugestões no

manuscrito.

A todos que de uma forma direta ou indiretamente contribuíram para a realização do

curso.

6

SUMÁRIO

ARTIGO Página

LISTA DE TABELAS....................................................................................................07 LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................08 ABSTRACT....................................................................................................................10 RESUMO........................................................................................................................11 INTRODUÇÃO..............................................................................................................12 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................................15 RESULTADOS..............................................................................................................18 DISCUSSÃO..................................................................................................................21 AGRADECIMENTOS...................................................................................................23 REFERÊNCIAS..........................................................................................…………....25 TABELAS.......................................................................................................................29 FIGURAS.......................................................................................................................36

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................42 ABSTRACT………………………................................................................................44 RESUMO........................................................................................................................44 TEXTO.............................………………......................................................................45 AGRADECIMENTOS...................................................................................................47 REFERÊNCIAS..............................................................................................................49 FIGURAS.......................................................................................................................50

7

LISTA DE TABELAS

I. Distribuição geográfica das espécies de triatomíneos capturados em 56 municípios do

Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.....................................................29

II. Freqüência das principais espécies de triatomíneos capturados (intra e peridomicílio) no

Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.....................................................31

III. Espécies de triatomíneos capturados em 56 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul

e suas respectivas classes de abundância (A), constância (C), no período de 2000 a

2004...........................................................................................................................................32

IV. Distribuição das espécies de triatomíneos examinados e índice de infecção natural pelo

Trypanosoma cruzi no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a

2004...........................................................................................................................................33

V. Distribuição das espécies de triatomíneos capturados por ecótopos e por infecção natural

de Trypanosoma cruzi, por Regionais no Estado de Mato Grosso do Sul, período de 2000 a

2004...........................................................................................................................................34

VI. Distribuição dos triatomíneos capturados no Intra e peridomicílios nos Núcleos Regionais

do Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004................................................35

8

LISTA DE FIGURAS

1. Distribuição das espécies de triatomíneos capturados em cinco Regionais (Núcleo Regional

da Coordenadoria de Controle de Vetores) no Estado de Mato Grosso do Sul, período de 2000

a 2004. (u= Triatoma sordida (Espécie predominante); ¢ = Triatoma williami; ! =

Triatoma matogrossensis; ² = Triatoma brasiliensis; ¨ = Triatoma baratai; É = Triatoma

vandae; r= Rhodnius neglectus; s= Rhodnius pictipes; v = Panstrongylus diasi; w =

Panstrongylus geniculatus; ã = Panstrongylus guentheri; ö = Panstrongylus megistus). NR=

Núcleo Regional........................................................................................................................36

2. Análise de correspondência entre as variáveis: Núcleos Regionais e infestação por espécies

de triatomíneos capturados no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004. S1 -

P. diasi, S2 – P. geniculatus, S3 - P. guentheri, S4 - P. megistus, S5 - R. neglectus, S6 - R.

pictipes, S7 - T. matogrossensis, S8 - T. baratai, S9 - T. brasiliensis, S10 - T. sordida, S11 -

T. vandae, S12 - T. williami......................................................................................................37

3. Riqueza Observada (Sobs) e índice de Chao de primeira ordem (Chao 1) para os

triatomíneos coletados no intradomicílio e peridomicílio Estado de Mato Grosso do Sul,

período de 2000 a 2004.............................................................................................................38

4. Distribuição dos triatomíneos capturados no peridomicílio nos Núcleos Regionais do

Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.....................................................39

5. Distribuição dos triatomíneos capturados no intradomicílio nos Núcleos Regionais do

Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.....................................................40

9

Levantamento da fauna de Triatominae (Hemiptera: Reduviidae) e infecção natural por

Trypanosomatidae no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil.

PAULO SILVA DE ALMEIDA1

HONÓRIO ROBERTO SANTOS2

JOSÉ MARIA SOARES BARATA3

1Depto. de Ciências Biológicas (DCB), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD),

Rod. Dourados Itahum, Km 12, 79804-970, C. Postal 533, Cidade Universitária, Dourados,

MS, e-mail: [email protected]

2Depto.de Ciências Biológicas (DCB), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD),

Rod. Dourados Itahum, Km 12, 79804-970, C. Postal 533, Cidade Universitária, Dourados,

MS, e-mail: [email protected]

3Depto de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São

Paulo, SP, Brasil, Av. Dr. Arnaldo, 715, Pinheiros, São Paulo-SP, CEP - 01246-904, e-mail:

[email protected]

10

ABSTRACT. SURVEY OF TRIATOMINAE (HEMIPTERA: REDUVIIDAE) FAUNA AND NATURAL

INFECTION BY TRYPANOSOMATIDAE IN MATO GROSSO DO SUL STATE, BRAZIL. A survey of

Triatominae (Hemiptera: Reduviidae) fauna and its natural infection by Trypanosomatidae in

Mato Grosso do Sul State, Brazil, during the period between 2000 and 2004. During this

interval 13,671 Triatominae individuals were captured, from which 12.36% were found in

intradomiciliary and 87.64% in peridomiciliary. The species found in decrescent numeric

order were: Triatoma sordida (Stal, 1859) with 13,102 individuals, Rhodnius neglectus (Lent,

1954) with 415, Panstrongylus geniculatus (Latreille, 1811) with 51, Triatoma williami

(Galvão et al., 1965) with 29, Triatoma baratai (Carcavallo & Jurberg, 2000) with 22,

Triatoma matogrossensis (Leite & Barbosa, 1953) and Panstrongylus megistus (Burmeister,

1835) with 19, Triatoma vandae (Carcavallo et al., 2002) with 5, Triatoma brasiliensis

(Neiva, 1911) with 3, Rhodnius pictipes (Stal, 1872) and Panstrongylus guentheri (Berg,

1879) and Panstrongylus diasi (Pinto & Lent, 1946) with 2. According to the faunistic

analysis of Triatominae species collected, T. sordida was characterized as very abundant and

constant, while the others species were considered as rare and little constant. The natural

infection indexes by Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909) found in this research were low,

being 3.22% for P. geniculatus, 0.65% for R. neglectus and 0.15% for T. sordida. It is

concluded that Mato Grosso do Sul State is a free area of vectorial endemic transmission, and

it must kept the epidemiological and entomological surveillance service permanently, with the

population effective participation.

KEYWORDS. Chagas disease; intradomiciliary; peridomiciliary; species richness.

11

RESUMO. LEVANTAMENTO DA FAUNA DE TRIATOMINAE (HEMIPTERA: REDUVIIDAE) E

INFECÇÃO NATURAL POR TRYPANOSOMATIDAE NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL.

Realizou-se um levantamento da fauna de Triatominae (Hemiptera: Reduviidae) e infecção

natural por Trypanosomatidae no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil, no período de 2000 a

2004. Durante esse período foram coletados 13.671 exemplares de triatomíneos, 12,36%

estavam presentes no intradomicílio, enquanto 87,64% no peridomicílio. As espécies

encontradas em ordem numérica foram: Triatoma sordida (Stal, 1859) com 13.102

indivíduos, Rhodnius neglectus (Lent, 1954) com 415, Panstrongylus geniculatus (Latreille,

1811) com 51, Triatoma williami (Galvão et al., 1965) com 29, Triatoma baratai (Carcavallo

& Jurberg, 2000) com 22, Triatoma matogrossensis (Leite & Barbosa, 1953) e Panstrongylus

megistus (Burmeister, 1835) com 19, Triatoma vandae (Carcavallo et al., 2002) com 5,

Triatoma brasiliensis (Neiva, 1911) 3, Rhodnius pictipes (Stal, 1872), Panstrongylus

guentheri (Berg, 1879) e Panstrongylus diasi (Pinto & Lent, 1946) com 2. Na análise

faunística das espécies de Triatominae coletados no Estado, T. sordida foi caracterizada como

muito abundante e constante, enquanto que as demais espécies foram consideradas raras e

pouco constantes. Os índices de infecção natural para Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909)

encontrados neste trabalho foram baixos, sendo 3.22% em P. geniculatus, 0,65% em R.

neglectus e 0,15% em T. sordida. Conclui-se que até o momento desta pesquisa o Estado está

livre da transmissão vetorial endêmica, devendo manter o serviço de vigilância

epidemiológica e entomológica permanente com participação efetiva da população.

PALAVRAS-CHAVE. Doença de Chagas; intradomicílio; peridomicílio; riqueza de

espécies.

12

O primeiro relato observado sobre o aspecto e os hábitos de um triatomíneo foi em

1590, quando Frei Reginaldo de Lizarraga fazia inspeção à conventos no Peru e Chile.

Entretanto, o primeiro triatomíneo foi descrito formalmente em 1773 por De Geer, como

Cimex rubrofasciatus (Lent & Wygodzinsky 1979).

Darwin 1871, em sua célebre viagem pela América do Sul a bordo do “Beagle”

também teve a oportunidade de observar esses insetos na Argentina, inclusive submetendo-se

às suas picadas. Muitos outros viajantes fizeram referências a esses insetos, sempre

mencionando sua presença no domicílio e sua voracidade, entretanto, em nenhum relato

encontram-se informações sobre ataques de triatomíneos em ambiente silvestre, o que

demonstra o quanto são antigos seus hábitos domiciliares (Lent & Wygodzinsky 1979).

Em 1907 Carlos Chagas foi designado pelo diretor Dr. Oswaldo Gonçalves Cruz, para

executar a campanha do controle a malária na construção da Estrada de Ferro Central do

Brasil em Lassence no estado de Minas Gerais. Nesse período, Carlos Chagas foi informado

sobre a existência de insetos hematófagos, denominados pelos habitantes regionais de

barbeiro.

Esses insetos atacavam a noite, quando as pessoas estavam em repouso, de preferência

no rosto e, durante o dia, ocultava-se nas frestas das paredes ou nas coberturas das casas.

Carlos Chagas identificou o referido hematófago, como também descobriu a enfermidade e o

parasito flagelado causador da doença de Chagas, designando-o de Trypanosoma cruzi

(Chagas 1909).

Até 2003 foram registradas e descritas mais de 137 espécies de triatomíneos agrupados

em 6 tribos formadas por 19 gêneros. Entretanto, somente algumas são vetores efetivos da

doença de Chagas, devido ao alto grau de adaptação aos ambientes domésticos e antropofilia

(Lent & Wygodzinsky 1979; Carcavallo et al. 1997; Galvão et al. 2003).

13

Os gêneros Triatoma (Laporte, 1832), Panstrongylus (Berg, 1879) e Rhodnius (Stal,

1859) são considerados os mais importantes para a Saúde Pública. Dentre esses gêneros,

destacam-se: Rhodnius prolixus (Stal, 1859), Triatoma infestans (Klug, 1834), Triatoma

dimidiata (Letreille, 1811), Triatoma brasiliensis (Neiva, 1911) e Panstrongylus megistus

(Burmeister, 1835), como os principais vetores de T. cruzi na América Latina (Schofield &

Dias 1998).

T. infestans tem hábitos exclusivamente domiciliares e, está amplamente distribuído

pelos países do cone sul no continente americano, abrangendo Brasil, Peru, Argentina,

Paraguai e Chile, onde é considerado o principal vetor do T. cruzi, agente etiológico causador

da doença de Chagas (Schofield & Dias 1998).

No Brasil, as cinco espécies mais importantes na transmissão do agente causador da

doença de Chagas ao homem são: T. infestans, espécie introduzida, de maior antropofilia e

que alcançou ampla distribuição nos estados do sul, sudeste, centro-oeste e nordeste; P.

megistus, espécie nativa e domiciliada em extensa área da região sul, sudeste ao longo da área

litorânea do nordeste; T. brasiliensis, de larga distribuição no semi-árido do nordeste;

Triatoma pseudomaculata (Corrêa & Espínola, 1964), ocorrendo também no semi-árido do

nordeste e Triatoma sordida (Stal, 1859), espécie nativa do cerrado (Silveira 1983; Silveira &

Rezende 1994; Vinhaes & Dias 2000).

A maioria dos triatomíneos geralmente é de clima tropical com o ciclo de vida muito

longo de aproximadamente 300 dias de ovo a adulto, sendo que algumas espécies podem

atingir até dois anos para completar seu ciclo, como P. megistus, Triatoma recurva (Stal,

1868), Paratriatoma hirsuta (Barber, 1938) (Lent & Wygodzinsky 1979).

Os triatomíneos desenvolvem a capacidade de domiciliação quando as condições de

moradia são precárias ou quando eles são expulsos do meio silvestre por meio da ação

14

antrópica peridomiciliar; estando o mal de Chagas, associado a estas condições sócio-

econômicas precárias (Forattini 1980).

A qualidade deficiente da moradia (casa de pau-a-pique, telhados de folhas de

palmeira, piso de chão batido) e a falta de iluminação, fornecem abrigos favoráveis para a

proliferação desses insetos. A presença de animais domésticos e as construções

peridomiciliares, utilizadas para criação de animais, influenciam no ciclo da transmissão

natural do parasita ao homem por meio do vetor, pois, além de aproximarem o vetor do

homem, tornam-se uma fonte permanente de alimento, contribuindo consideravelmente para o

aumento da densidade desses vetores nos domicílios e peridomicílios (Lent & Wygodzinsky

1979; Who 1991).

As condições necessárias para ocorrer a transmissão domiciliar da doença de Chagas

dependem de variáveis ou atributos de cada espécie de vetor, como a capacidade de

colonização e o tamanho da colônia no interior da casa, ou seja, da densidade populacional e

de sua capacidade vetorial de se infectar e transmitir o T. cruzi ao homem (Silveira 1993,

2005).

O relatório da Fundação Nacional de Saúde (CORE/MS) de 1992, e o Programa de

Erradicação do T. infestans (PETi), implantado no Estado de Mato Grosso do Sul a partir de

levantamentos feitos em localidades com histórico da presença desse inseto vetor, reporta-se a

ocorrência ao registro do mesmo, em 23 municípios do Estado.

A história da presença do T. infestans no Estado de Mato Grosso do Sul, iniciou-se nas

décadas de 70 e 80, sempre apresentando baixa densidade e, geralmente, no ambiente

intradomiciliar, caracterizando-se como espécie de introdução recente e passiva,

provavelmente relacionada a expansão das atividades produtivas dessa região.

Com a expansão das atividades do Programa de Controle da Doença de Chagas

PCDCh no Estado de Mato Grosso do Sul, principalmente na década de 80, esse triatomíneo

15

praticamente foi controlado em quase toda a região, sendo apenas registrado em 3 municípios

(Bela Vista em 1991, Dourados em 1992 e Amambai em 1995), sempre em baixa densidade.

Após a conclusão das ações de controle da doença de Chagas no Estado de Mato Grosso do

Sul em 1995, a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), certificou a erradicação da

espécie nos domicílios (Ministério da Saúde 2000).

T. sordida é uma espécie considerada nativa do território brasileiro e pode reinvadir as

habitações a partir dos ecótopos silvestres. Predominantemente nos cerrados, essa espécie,

apresenta ainda marcada ornitofilia e está presente em ninhos de aves, madeira seca ou,

ecótopos artificiais como galinheiros e, quando a oferta alimentar está esgotada nesses

habitats, pode colonizar as casas (Silveira et al. 1984; Diotaiuti 1991).

Nesta pesquisa procurou-se conhecer a fauna e abundância das espécies de

triatomíneos, bem como, foi investigado o índice de infecção natural por flagelados

(Trypanosomatidae) nos municípios do Estado de Mato Grosso do Sul, visando fornecer

subsídios para realizar o controle efetivo desses vetores em áreas de alta densidade

populacional.

MATERIAL E MÉTODOS

O Estado de Mato Grosso do Sul possui 78 municípios em área de 358.168 km² e uma

população estimada de 2.264.468 habitantes (IBGE 2005). Limita-se a leste com os Estados

de Minas Gerais e São Paulo, ao norte com os Estados de Mato Grosso e Goiás, ao sul com

Paraná e Paraguai e ao oeste com a Bolívia.

As capturas dos triatomíneos foram coordenadas pelo autor da pesquisa e realizadas

pelos agentes de saúde da Secretaria Municipal de Saúde/SMS e Secretaria Estadual de

Saúde/SES, no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2004. O Estado atualmente está

16

dividido em cinco Núcleos Regionais Sanitários, conforme foi estabelecido pela

Coordenadoria de Controle de Vetores/CCV da Secretaria Estadual de Saúde/SES: Núcleo

Regional de Campo Grande que compreende um município, Núcleo Regional de Dourados

34, Núcleo Regional de Jardim 18, Núcleo Regional Três Lagoas 13 e Núcleo Regional de

Rio Verde com 11 municípios (Fig 1).

Para conhecer a fauna triatomínica do Estado de Mato Grosso do Sul, foram realizadas

pesquisas de busca passiva, através de notificação da população, quanto ao encontro de

qualquer inseto dado como triatomíneo e a pesquisa de busca ativa, que consiste na captura de

vetores da doença de Chagas ou de vestígios dos mesmos tais como exúvias, ovos e fezes nos

domicílios. A periodicidade da pesquisa de rotina nos domicílios é habitualmente bienal,

realizada no intradomicílio que corresponde à habitação (interior da casa e parede externas) e

peridomicílio que são os anexos (galinheiro, pocilga, paiol e outros), feita através de captura

manual, com uso de uma pinça e com auxílio de fonte artificial de iluminação (Ministério da

Saúde1996).

Os triatomíneos coletados foram levados para a rede de Laboratórios Regionais de

Entomologia da Secretaria Estadual de Saúde/SES, acondicionados em cristalizadores

úmidos, onde foram mantidos vivos para realização da identificação da espécie e pesquisa de

infecção natural.

No laboratório, os espécimes foram identificados através de chaves dicotômicas (Lent

& Wygodzinsky 1979; Carcavallo et al. 1997). Em seguida, utilizando-se de uma pinça, fez a

compressão dos últimos segmentos abdominais dos espécimes sobre lâmina retirando-se o

material fecal para a realização do exame, a fresco, das fezes colhidas de cada indivíduo.

Após a realização do exame a fresco, procedeu-se o esfregaço das fezes em duas lâminas, e

em seguida o material foi fixado com álcool metílico. Depois de seco, fez-se a pré-coloração

com azul de metileno e em seguida, preparou-se o Giemsa na proporção de 1:1 e colocou-se

17

essas lâminas em recipiente próprio para corar durante 30 minutos, depois foi realizado o

enxágüe em água corrente e em seguida deixou-se secar. Para a identificação dos flagelados,

as lâminas foram examinadas ao Microscópio Óptico com objetiva de aumento de 100x em

óleo de imersão (Ministério da Saúde 1981).

A verificação da riqueza esperada de triatomíneos do Estado foi realizada através de

curvas cumulativas das espécies, baseadas em cálculos de Chao de primeira ordem (Chao 1),

com 100 aleatorizações. Para as análises da riqueza esperada Chao 1, utilizou-se o Software

EstimateS 6.0 (Colwell 2001).

Foram determinadas as distribuições anuais das espécies de triatomíneos e,

posteriormente, realizou-se a análise faunística para definir as classes de abundância e

constância. De acordo com Thomazini & Thomazini (2002), através da média e do erro

padrão da média do número de indivíduos coletados por espécie determinou-se o intervalo de

confiança (IC) a 5% e 1% de probabilidade, estabelecendo-se as seguintes classes de

abundância: ma = muito abundante (número de indivíduos maior que o limite superior do IC a

1%); a = abundante (número de indivíduos situado entre os limites superiores do IC a 5 e a

1%); c = comum (número de indivíduos situado dentro do IC a 5%); d = dispersa (número de

indivíduos situado entre os limites inferiores do IC a 5 e a 1%) e r = rara (número de

indivíduos menor que o limite inferior do IC a 1%). Avaliou-se a porcentagem de coletas que

continham uma determinada espécie, calculando-se a constância através da seguinte fórmula:

c = (número de coletas com espécie x / número total de coletas) x 100. De acordo com os

valores obtidos as espécies foram separadas em: w = constante (C>50%); y = acessória (C

entre 25 e 50%) e z = acidental (C<25%).

onde: C = P x 100 N

18

Para verificar o índice de infecção natural dos triatomíneos examinados no Estado,

foram usados os indicadores operacionais para o Programa de Erradicação de T. infestans

(Silveira 1993).

RESULTADOS

A espécie predominante no Estado de Mato Grosso do Sul, presente nos cinco Núcleos

Regionais e 49 municípios estudados foi T. sordida, seguida por Rhodnius neglectus (Lent,

1954) coletado em 29 municípios e ausente apenas no Núcleo Regional de Campo Grande,

destacando-se também pela ampla distribuição. Merecem atenção ainda, as espécies:

Panstrongylus geniculatus (Latreille, 1811), coletado em 14 municípios e presente nos

Núcleos Regionais de Dourados, Rio Verde e Três Lagoas; P. megistus, coletado em 6

municípios e presente nos Núcleos Regionais de Dourados, Jardim e Três Lagoas e Triatoma

williami (Galvão et al., 1965), também coletado em seis municípios e presente nos Núcleos

Regionais de Dourados e Jardim. As espécies restantes estiveram presentes em apenas um

Núcleo Regional apresentando distribuição geográfica mais restrita (Tabela I e Fig. 1).

O resultado do teste do χ² foi de = 193,623; com p < 0,001 é altamente significativo ao

nível de 5% de significância. Observa-se na Figura 2, que para Regional Dourados há

municípios associados diretamente com infestação das espécies Panstrongylus guentheri

(Berg, 1879), P. geniculatus, P. megistus, R. neglectus; existem municípios com infestação de

duas espécies P. geniculatus e T. sordida e de três espécies P. geniculatus, R. neglectus e T.

sordida; a Regional de Três Lagoas está mais associada a municípios com infestação de duas

R. neglectus e T. sordida e três espécies Panstrongylus diasi (Pinto & Lent, 1946), R.

neglectus e T. sordida; as Regionais de Campo Grande, Jardim e Rio Verde estão muito

próximas e não discriminam muito claramente a riqueza de espécie entre os municípios. Mas

19

constata-se que tirando a espécie T. sordida que teve uma ampla predominância em todas as

Regionais, nestas três Regionais se destacaram as espécies R. neglectus T. brasiliensis, T.

williami, Triatoma matogrossensis (Leite & Barbosa, 1953), Triatoma vandae (Carcavallo et

al., 2002), Triatoma baratai (Carcavallo & Jurberg, 2000) e Rhodnius pictipes (Stal, 1872),

além disso, há municípios com registro de uma, duas, três e quatro espécies. As Regionais de

Dourados e Rio Verde apresentaram maior riqueza de espécies de triatomíneos, enquanto as

Regionais de Campo Grande e Rio Verde destacaram -se pela ausência de espécies.

Durante o período trabalhado, foram coletados 13.671 exemplares de triatomíneos,

12,36% estavam presentes no intradomicílio, enquanto 87,64% no peridomicílio. Pode-se

destacar aqui que T. sordida foi a espécie mais abundante com 13.102 exemplares,

correspondendo a 95,85% do total de insetos coletados; seguida por R. neglectus (415

exemplares), P. geniculatus (51 exemplares) e T. williami (29 exemplares). As demais

espécies capturadas: P. megistus, T. baratai, T. brasiliensis, T. matogrossensis, Triatoma

vandae, R. pictipes, P. diasi e P. guentheri, juntas perfizeram apenas 0,54% (74 exemplares)

dos insetos capturados (Tabela II).

Através da análise dos parâmetros faunísticos realizados para as espécies de

triatomíneos, T. sordida, foi caracterizada como muito abundante, enquanto as espécies

restantes foram caracterizadas como raras. Na avaliação da constância, o número de vezes que

se recuperou uma determinada espécie no total de coletas efetuadas, observou-se que a

espécie que esteve mais presente foi T. sordida, sendo capturada em 49 municípios do Estado,

todas as demais espécies foram caracterizadas como não constantes (Tabela III).

Com relação ao índice de infecção natural por T. cruzi o maior índice obtido refere-se

a P. geniculatus (3,22 %), seguido por R. neglectus (0,65 %) e T. sordida (0,15 %). Não

foram observados indivíduos com infecção natural dentre as demais espécies capturadas

(Tabela IV).

20

A espécie T. sordida, apresentou maior positividade para T. cruzi no Estado de Mato

Grosso do Sul, com 13 indivíduos infectados. Destes, oito foram encontrados na Regional de

Três Lagoas, sendo dois exemplares coletados no intradomicilio e seis no peridomicílio;

foram coletados três espécimes na Regional de Dourados no intradomicílio e também três

indivíduos foram coletados na Regional de Jardim, sendo dois encontrados no intradomicílio e

um no peridomicílio. P. geniculatus foi encontrada na Regional de Dourados com apenas um

indivíduo infectado (no intradomicílio). Enquanto R. neglectus, foi encontrado na Regional de

Rio Verde, também com um indivíduo infectado no intradomicílio (Tabela V).

Pela análise de riqueza de triatomíneos para a comunidade estudada, concluiu-se que

não houve diferença significativa entre o índice esperado (Chao1) e observado, tendo o

esforço amostral atingido o platô, isto é, a estabilidade, durante o período estudado indicando

que as coletas foram suficientes para amostrar a maioria das espécies presentes nesta

comunidade (Fig. 3).

As espécies de triatomíneos capturados em relação aos locais de captura,

(intradomicílio e peridomicílio), apresentou-se significativa (χ2 = 341, 32; p< 0,01), indicando

haver relação entre a abundância das espécies e o local de captura (Tabela VI). O

peridomicílio sempre apresentou maior abundância do que o intradomicílio e o Núcleo

Regional de Três Lagoas apresentou o maior destaque com (29%) dos triatomíneos

capturados neste ambiente, seguido dos Núcleos de Jardim (27%) e Rio Verde (20%). Os

Núcleos Regionais de Campo Grande (5%) e Dourados (8%) apresentaram as menores

abundâncias de indivíduos capturados (Tabela VI).

Os triatomíneos coletados no peridomicílio durante os cinco anos de pesquisa, estão

representados na Fig. 4. No Núcleo Regional de Três Lagoas foram encontrados mais insetos

nos anos de 2000 e 2001, seguido pelo Núcleo Regional de Jardim nos anos de 2002 e 2003 e

pelo Núcleo Regional de Rio Verde, em 2004,como o mais abundante em relação aos demais.

21

Com relação a presença dos triatomíneos no intradomicílio, durante os cinco anos de

coleta, destaca-se o Núcleo Regional de Três Lagoas com maior abundância nos anos de 2000

a 2003 e o Núcleo Regional de Rio Verde, no ano de 2004, verificou-se maior abundância em

relação as demais Regionais (Fig. 5).

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos neste trabalho evidenciam um aumento da diversidade de

espécies de triatomíneos relacionadas com o ambiente antrópico no Estado de Mato Grosso do

Sul. Enquanto que em levantamento anterior foram capturadas nove espécies no Estado de

Mato Grosso do Sul (Silveira et al. 1984), neste obteve-se um total de 12 espécies.

Ressaltando também, a captura de espécies, até então, consideradas como estritamente

silvestres, ocupando principalmente o peridomicílio, algumas destas, como T. vandae e T.

baratai, foram descritas recentemente e pouco se sabe sobre seu comportamento, biologia e

potencial como vetores do mal de Chagas. Ainda em relação às espécies silvestres, destaca-se

também o encontro de P. diasi, P. guentheri e R. pictipes, cujas ocorrências na região são

relatadas aqui pela primeira vez.

Com relação os resultados obtidos neste trabalho, T. sordida foi a espécie mais

abundante e com ampla distribuição geográfica no Estado de Mato Grosso do Sul. Esses

resultados corroboram aos obtidos por Diotaiuti (1991), Ministério da Saúde (2000) e Silveira

(2002). Para estes autores, após a eliminação das populações domiciliares de T. infestans, T.

sordida foi a espécie mais capturada em maior abundância nesse Estado e está presente

principalmente nos ecótopos peridomiciliares.

T. sordida esteve presente em 49 dos 56 municípios estudados, abrangendo os cinco

Núcleos Regionais e evidenciando a sua ampla distribuição territorial e alta predominância

entre as espécies capturadas coincidindo com os resultados obtidos por Silveira et al. (1984),

22

Ministério da Saúde (2000) e Silveira (2002). Aqui cabe comentar, a presença de R. neglectus

em 29 municípios que abrangem quatro Núcleos Regionais, P. geniculatus que esteve

presente em 14 municípios que abrangem três Núcleos e P. megistus que também ocorreu em

três Núcleos Regionais, porém, em apenas oito municípios.

Os índices de infecção natural dos triatomíneos com T. cruzi demonstrados neste

trabalho, foram baixos, concordando com os índices anteriores verificados pelo Ministério da

Saúde (2000), Silveira (2002) e Dias et al. (1985), os quais obtiveram 1,2% de índice de

infecção para T. sordida no Estado de Minas Gerais.

Os dados deste trabalho apontam para uma alta infestação por T. sordida mais

relacionada ao peridomicílio. Os baixos índices de infecção natural para o T. cruzi não só

desta espécie, mas também de outras que estiveram presentes durante o período de estudo,

demonstram que a transmissão vetorial da doença de Chagas no Estado de Mato Grosso do

Sul está controlada, uma vez que se constatou a eliminação do T. infestans do território deste

Estado, como ocorreu em São Paulo e Lassence em Minas Gerais (Dias et al. 2002; Silva et

al. 2003).

Assim, comparando-se os dados anteriores da fauna triatomínica, índices de infecção

natural por T. cruzi e o inquérito sorológico realizado na população escolar nos municípios de

maior risco, verifica-se que as espécies de triatomíneos existentes no Estado de Mato Grosso

do Sul são nativas, geralmente se estabelecem no peridomicílio e permanecem ainda com

baixo poder de domiciliação. Algumas espécies são muito abundantes como o T. sordida e R.

neglectus, porém apresentam índices de infecção natural muito baixos, tal fato parece estar

associado com os ecótopos peridomiciliares (Ministério da Saúde 2000).

Quanto ao inquérito sorológico para determinar a prevalência pelo T. cruzi em

escolares de 7 – 14 anos em municípios de risco no Estado, este foi extremamente baixo, de

2.092 amostras realizadas entre 1993 a 1995, revelou apenas um (1) sororeagente em

23

Paranhos, município que localiza-se na fronteira com o Paraguai (Ministério da Saúde 2000),

e entre 1998 a 1999 de 4.151 amostras processadas foram encontrados dois indivíduos

infectados (Silveira 2002).

Concluiu-se que até o momento desta pesquisa, o Estado de Mato Grosso do Sul está

livre da transmissão vetorial endêmica da doença de Chagas. Contudo, faz-se necessário

manter o serviço de vigilância epidemiológica e entomológica permanente, não só para

monitorar uma possível reintrodução do T. infestans no Estado, mas também para detectar

espécies consideradas nativas, como T. baratai, T. sordida, P. megistus, P. geniculatus e R.

neglectus que predominam em alguns municípios do Estado e podem tornar - se domiciliados,

devido a ação antrópica que favorecem a dispersão e a colonização desses triatomíneos e

conseqüentemente aumentam o risco de transmissão vetorial.

AGRADECIMENTOS

Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública/USP (Laboratório de

Triatomíneos), Walter Ceretti Júnior, Marcos Takashi Obara e Paulo Urbinatti pela

colaboração na identificação dos triatomíneos.

Laboratório Regional de Entomologia de Dourados/MS, Ademar Dimas Ferreira,

Maria Aparecida Ferreira de Souza e Silvana Rosa da Silva pela amizade e incentivo.

Aos Técnicos dos Laboratórios Regionais de Entomologia do Estado, Ramão Virgilio

Larson, Francisco Portes, Airton Marques Miranda e Edson José de Souza.

Núcleo Regional de Entomologia de Campo Grande/MS, em especial a Guilmara

Maria do Amaral Gonçalves pela colaboração na identificação dos triatomíneos.

Aos colegas da UEMS José Nicácio e Professor Odival Faccenda pelas sugestões nas

análises estatísticas.

24

Ao colega João Cezar Nascimento pelo incentivo e contribuição com sugestões para

realização do trabalho.

A Coordenadoria de Controle de Vetores/CCV do Estado pela colaboração e apoio no

fornecimento de registros dos trabalhos de captura de triatomíneos.

A todos que de uma forma direta ou indiretamente contribuíram para a realização do

curso.

25

REFERÊNCIAS

Carcavallo, R. U.; I. G. Girón; J. Jurberg & H. Lent. 1997. Atlas of Chagas Disease Vectors

on the Americas. Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, Vol. III, 393p.

Carcavallo, R.U. & J. Jurberg. 2000. Triatoma baratai sp.n. do estado de Mato Grosso do Sul,

Brasil (Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) Entomologia Vectores 7: 373-387.

Carcavallo, R. U.; J. Jurberg; J. Rocha; C. Galvão; C. F. Noireau & H. Lent. 2002. Triatoma

vandae sp. n. do complexo oliverai encontrado no Estado de Mato Grosso, Brasil

(Hemiptera, Reduviidae, Triatominae) Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 97: 649-

654.

Chagas, C. 1909. Nova tripanosomíase humana. Estudos sobre a morfologia e o ciclo

evolutivo do Schizotrypanum cruzi n.gen.,n.sp., agente etiológico de nova entidade

mórbita do homem. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 1: 159-218.

Colwell, R. K. 2001. Statistical estimation of richness and shared species from samples.

Version 6.0 b1. User’s guide and aplication published at: http:

//viceroy.eeb.uconn.edu/estimates. Consultado em 17 de dezembro de 2005.

Dias, J. C. P.; C. C. P. Loyola & S. Brener. 1985. Doença de Chagas em Minas Gerais:

Situação Atual e Perspectivas. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais

37: 7-28.

Dias, J. C. P.; E. M. M. Machado; E. C. Borges; E. F. Moreira; C. Gontijo & B. V. M.

Azevedo. 2002. Doença de Chagas em Lassence, Minas Gerais: Reavaliação clínico-

epidemiológica 90 anos após a descoberta de Carlos Chagas. Revista da Sociedade

Brasileira de Medicina Tropical 35: 167-176.

Diotaiuti, L. 1991. Importância atual e perspectivas de controle de Triatoma sordida em

Minas Gerais. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais.

26

Forattini, O. P. 1980. Biogeografia, Origem e Distribuição Domiciliação de Triatomíneos no

Brasil. Revista de Saúde Pública. São Paulo 14: 265-99.

Galvão, C.; R. U. Carcavallo; D. S. Rocha & J. Jurberg. 2003. A checklist of the current valid

species of the subfamily Triatominae Jeannel, 1919 (Hemiptera, Reduviidae) and their

geographical distribution, with nomenclatural and taxonomic notes. Zootaxa 202: 1-36.

Disponível em www.mapress.com/zootaxa.

IBGE. 2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População de Mato Grosso do

Sul e seus respectivos municípios, segunda estimativa de 2005. Publicado no Diário

Oficial União –nr. 168, com data de referência de 31/07/2005. Disponível em

http://map.ibge.gov.br.

Lent, H. & P. Wygodzinsky. 1979. Revision of the Triatominae (Hemiptera, Reduviidae) and

their significance as vectors of Chagas’ disease. Bulletin American Museum Natural

History 163: 123-520.

Ministério da Saúde - Funasa. 1992. Relatório do Programa de Erradicação do Triatoma

infestans (PETi). Fundação Nacional de Saúde, Coordenação Regional de Mato Grosso

do Sul.

Ministério da Saúde - Funasa. 1996. Controle da Doença de Chagas. Diretrizes Técnicas.

Brasília, Fundação Nacional de Saúde. 80 p.

Ministério da Saúde - Funasa. 2000. Proposta para certificação da interrupção da

transmissão vetorial da doença de Chagas por Triatoma infestans no Brasil. Brasília,

Fundação Nacional de Saúde. 287 p.

Ministério da Saúde - Sucam. 1981. Manual de Normas Sobre a Organização e

Fundamento de Laboratórios de Diagnóstico da Doença de Chagas. Brasília, Sucam.

183 p.

27

Schofield, C. G. & J. C. P. Dias. 1998. The Southern Cone initiative against Chagas disease.

Advances in Parasitology 42: 1-27.

Silva, A. R.; V. L. C. C. Rodrigues; M. E. Carvalho & C. P. Junior. 2003. Programa de

Controle da Doença de Chagas de São Paulo: persistência de alta infestação por

triatomíneos em localidades na década de 1990. Caderno de Saúde Pública. Rio de

Janeiro. 19: 965-971.

Silveira, A. C. 1983. Epidemiologia e Controle da Doença de Chagas. A Saúde no Brasil. 1

(4) out./dez.

Silveira, A. C. 1993. Indicadores Operacionais para o Programa de Eliminação de Triatoma

infestans. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 26: 51-54.

Silveira, A. C. 2002. El control de la enfermedad de Chagas em los Países do Cono Sur da

América: História de uma iniciativa internacional. 1991/2001. Uberaba: Revista da

Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 316 p.

Silveira, A. C. 2005. Informe de Consultoria. Enfoque de risco na vigilância

epidemiológica da doença de Chagas. OPAS. Mimeo. 15p.

Silveira, A. C. & D. F. Rezende. 1994. Epidemiologia e Controle da Transmissão Vetorial da

Doença de Chagas no Brasil. Revista Sociedade Brasileira Medicina Tropical 27: 11-

22.

Silveira, A. C.; V. R. Feitosa & R. Borges. 1984. Distribuição de triatomíneos capturados no

ambiente domiciliar, no período de 1975/83, Brasil. Revista Brasileira de Malariologia

de Doenças Tropicais. 36: 15-312.

Thomazini, M. J. & A. P. B. W. Thomazini. 2002. Diversidade de abelhas (Hymenoptera:

Apoidea) em inflorescências de Piper hispidinervum (C. DC.). Neotropical Entomology.

31: 27-34.

28

Vinhaes, M. C. & J. C. P. Dias. 2000. Doença de Chagas no Brasil. Caderno de Saúde

Pública. Rio de Janeiro. 16: 7-12.

WHO (World Health Organization). 1991.Control of Chagas Disease. Geneva:Technical

Report Series. 811 p.

29

Tabela I. Distribuição geográfica das espécies de triatomíneos capturados em 56 municípios

do Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.

Regionais Municípios

Espécies de Triatomíneos

P. g

enic

ulat

us

P. g

uent

heri

P. d

iasi

P. m

egis

tus

R. n

egle

ctus

R. p

ictip

es

T. b

arat

ai

T. w

illia

mi

T. so

rdid

a

T. m

atog

ross

ensi

s

T. v

anda

e

T. b

rasi

liens

is

Campo Grande Campo Grande 628

Dourados

Amambai 1 Angélica 1 Anaurilândia 17 Antônio João 24 Bataiporã 1 1 18 Caarapó 2 1 Douradina 1 8 1 221 Dourados 8 2 48 126 Deodápolis 5 2 Fátima do Sul 19 2 23 1 2 Glória de Dourados 5 5 Itaporã 10 1 3 23 2 Iguatemi 1 Ivinhema 2 1 Nova Alvorada do Sul 2 12 Novo Horizonte do Sul 3 Ponta Porã 1 75 Paranhos 3 Rio Brilhante 2 4 2 Vicentina 4

Jardim

Anastácio 553 Aquidauana 2 6 1047 Bela Vista 3 8 141 Bodoquena 1 3 218 Bonito 8 Caracol 46 Corumbá 2 692 Dois Irmão do Buriti 9 Guia Lopes da Laguna 23 Jardim 1 Miranda 1 2 350 Maracaju 111 Nioaque 1 2 19 14 356 Porto Murtinho 202 Sidrolândia 1 96 Terenos 160

Continua...

30

Regionais Municípios

Espécies de Triatomíneos

P. g

enic

ulat

us

P. g

uent

heri

P. d

iasi

P. m

egis

tus

R. n

egle

ctus

R. p

ictip

es

T. b

arat

ai

T. w

illia

mi

T. so

rdid

a

T. m

atog

ross

ensi

s

T. v

anda

e

T. b

rasi

liens

is

Rio Verde

Coxim 7 1019 Camapuã 20 Rio Verde 1 1254 1 Rochedo 2 605 São Gabriel do Oeste 5 5 Rio Negro 5 Sonora 1 68 13 3

Três Lagoas

Aparecida do Taboado 29 1577 Bataguassu 1 153 Brasilândia 3 166 Cassilândia 9 105 Costa Rica 1 11 51 Chapadão do Sul 18 Inocência 93 301 Paranaíba 1 1 117 2002 Ribas do Rio Pardo 1 145 Santa Rita do Pardo 1 13 Selvíria 1 264 Três Lagoas 8 190

TOTAL 56 51 2 2 19 415 2 22 29 13102 19 5 3

31

Tabela II. Freqüência das principais espécies de triatomíneos capturados (intra e

peridomicílio) no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.

Espécies Nº Capturados

Local de captura Total % Intradomicílio % Peridomicílio % 1 - P. diasi 2 0,01 0,00 0,01 2 – P. geniculatus 51 0,24 0,13 0,37 3 - P. guentheri 2 0,01 0,00 0,01 4 - P. megistus 19 0,12 0,02 0,14 5 - R. neglectus 415 2,45 0,58 3,04 6 - R. pictipes 2 0,01 0,00 0,01 7 - T. matogrossensis 19 0,01 0,13 0,14 8 - T. brasiliensis 3 0,01 0,01 0,02 9 - T. baratai 22 0,12 0,04 0,16 10 - T. sordida 13.102 9,27 86,58 95,85 11 - T. vandae 5 0,01 0,03 0,04 12 - T. williami 29 0,10 0,11 0,21 Total 13.671 12,36 87,64 100,00

32

Tabela III. Espécies de triatomíneos capturados em 56 municípios do Estado de Mato Grosso

do Sul e suas respectivas classes de abundância (A), constância (C), no período de 2000 a

2004.

Espécies Capturados¹ Abundância² Constância³ 1 - P. diasi 2 r z 2 – P. geniculatus 51 r z 3 - P. guentheri 2 r z 4 - P. megistus 19 r z 5 - R. neglectus 415 r z 6 - R. pictipes 2 r z 7 - T. matogrossensis 19 r z 8 - T. brasiliensis 3 r z 9 - T. baratai 22 r z 10 - T. sordida 13.102 ma w 11 - T. vandae 5 r z 12 - T. williami 29 r z Total 13.671 1Número de indivíduos capturados= total de 56 municípios (5 anos de coleta) 2ma= muito abundante, a= abundante, c= comum, d= dispersa, r= rara 3w= constante, y= acessória, z= acidental

33

Tabela IV. Distribuição das espécies de triatomíneos examinados e índice de infecção natural

pelo Trypanosoma cruzi no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.

Espécies Examinados Infectados Infectados (%) 1 - P. diasi 0 0 0,00 2 – P. geniculatus 31 1 3,22 3 - P. guentheri 0 0 0,00 4 - P. megistus 13 0 0,00 5 - R. neglectus 154 1 0,65 6 - R. pictipes 0 0 0,00 7 - T. matogrossensis 19 0 0,00 8 - T. brasiliensis 2 0 0,00 9 - T. baratai 10 0 0,00 10 - T. sordida 8.615 13 0,15 11 - T. vandae 0 0 0,00 12 - T. williami 24 0 0,00 Total 8.868 15 0,17

34

Tabela V. Distribuição das espécies de triatomíneos capturados por ecótopos e por infecção

natural de Trypanosoma cruzi, por Regionais no Estado de Mato Grosso do Sul, período de

2000 a 2004.

Regionais Espécies

Local de captura Total Intradomicílio Peridomicílio

Cap

tura

dos

Infe

ctad

os

Cap

tura

dos

Infe

ctad

os

Cap

tura

dos

Infe

ctad

os

C. Grande T. sordida 8 620 628

Dourados

P. guentheri 2 2 P. geniculatus 31 1 16 47 1 P. megistus 8 3 11 R. neglectus 96 19 115 T. sordida 95 2 374 469 2 T. williami 2 2

Jardim

P. megistus 1 1 R. neglectus 3 5 8 R. pictipes 2 2 T. baratai 14 8 22 T. sordida 257 2 3603 1 3860 3 T. williami 12 15 27

Rio Verde

P. geniculatus 1 1 R. neglectus 1 1 3 4 1 T. brasiliensis 2 1 3 T. matogrossensis 16 3 19 T. sordida 194 2729 2923 T. vandae 5 5

Três Lagoas

P. diasi 2 2 P. geniculatus 1 1 P. megistus 1 1 R. neglectus 122 47 169 T. sordida 637 2 3839 6 4530 8

35

Tabela VI. Distribuição dos triatomíneos capturados no Intra e peridomicílios nos Núcleos

Regionais do Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.

Núcleos Regionais Indivíduos capturados Local de capturas

Intradomicílio Peridomicílio n % n %

Campo Grande 628 8 0 620 5 Dourados 1.321 243 2 1.078 8 Jardim 3.981 290 2 3.691 27 Rio Verde 3.012 215 2 2.797 20 Três Lagoas 4.729 736 5 3.993 29 Total 13.671 1.492 11 12.179 89 χ2 = 341,32; (P< 0,01)

36

Figura 1. Distribuição das espécies de triatomíneos capturados em cinco Regionais (Núcleo

Regional da Coordenadoria de Controle de Vetores) no Estado de Mato Grosso do Sul,

período de 2000 a 2004. (u= Triatoma sordida (Espécie predominante); ¢ = Triatoma

williami; ! = Triatoma matogrossensis; ² = Triatoma brasiliensis; ¨ = Triatoma baratai;

É = Triatoma vandae; r= Rhodnius neglectus; s= Rhodnius pictipes; v = Panstrongylus

diasi; w = Panstrongylus geniculatus; ã = Panstrongylus guentheri; ö = Panstrongylus

megistus). NR= Núcleo Regional.

r

r

r

u u

u

s

ö

ö

ã

²

É w

v w

¢ w

NR 1 Campo Grande (1 município)

ã

ö ¢ u

r

u

¨

!

NR 2 Dourados (34 municípios)

NR 5 Três Lagoas (13 municípios)

NR 3 Jardim (18 municípios)

NR 4 Rio Verde (11 municípios)

37

Figura 2. Análise de correspondência entre as variáveis: Núcleos Regionais e infestação por

espécies de triatomíneos capturados no Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a

2004. S1 - P. diasi, S2 – P. geniculatus, S3 - P. guentheri, S4 - P. megistus, S5 - R. neglectus,

S6 - R. pictipes, S7 - T. matogrossensis, S8 - T. baratai, S9 - T. brasiliensis, S10 - T. sordida,

S11 - T. vandae, S12 - T. williami.

38

Figura 3. Riqueza Observada (Sobs) e índice de Chao de primeira ordem (Chao 1) para os

triatomíneos coletados no intradomicílio e peridomicílio Estado de Mato Grosso do Sul,

período de 2000 a 2004.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Amostras cumulativas

Riq

ueza

de

Espé

cies

SobsChao1

39

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

Peri Peri Peri Peri Peri

2000 2001 2002 2003 2004

Campo GrandeDouradosJardimRio VerdeTrës Lagoas

Figura 4. Distribuição dos triatomíneos capturados no peridomicílio nos Núcleos Regionais do

Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.

40

0

50

100

150

200

250

Intra Intra Intra Intra Intra

2000 2001 2002 2003 2004

Campo GrandeDouradosJardimRio VerdeTrës Lagoas

Figura 5. Distribuição dos triatomíneos capturados no intradomicílio nos Núcleos Regionais

do Estado de Mato Grosso do Sul, no período de 2000 a 2004.