letras taquarenses nº 57 julho 2014 # antonio cabral filho - rj

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HAICAIS É noite, que espanto! Cruza a rua contramão Ágil gato branco. Auri Antonio Sudati RS Alegre portão Derramadas nas grades Pencas de flores. Eunice Mendes SP À noite, na rua, Pelo caminho de sempre, Jasmineiro em flor. Manoel F. Menendez SP Ainda está verde Doce de cidra esquecido Na velha dispensa. Neide Rocha Portugal PR Acordo de noite A rua toda molhada Me fala de vida. Humberto Del Maestro ES Na estrada sem luz Caminhão segue viagem Ao clarão da lua. Renata Paccola SP Sol não aparece Pegadas no caminho Geada no sul. João Batista serra-Ce Sol bebendo orvalho, Após noite de esplendor, Dia do Arquiteto. Fernando Vasconcelos Pr Venta... leve é o sol. Um menino solta pipa Sem usar cerol. Nilton Manoel SP Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Buscar paz de espírito. Vai de galho em galho, Pára, olha, me vigia: Esquilo mineiro... Cai um temporal Sobre o calor de domingo: São águas de março. Chove em Parati: Mil peixinhos vêm à tona, Provar outras águas. Antonio Cabral Filho - RJ TROVAS Vagalumes luminares, À noite alta, nos caminhos, Me parecem, aos milhares, Das estrelas, pedacinhos. Fernando Vasconcelos Pr Cheirosa qual um jasmim, Ela mal pisa no chão, Mas pisa ao passar por mim, Com força, meu coração. João Batista Será CE A vida com seus mistérios, Mostra-nos e muito bem, Que no poder, homens sérios São sérios se lhes convém. Nilton Manoel SP Vida feliz, meu amor, É a vida dos meus cansaços Que nascem do meu labor E vão morrer nos seus braços. Eno Teodoro Wanke RJ Dê-se ao jovem liberdade Para sem medo ele ousar. - É no ardor da mocidade Que o sonho aprende a voar. A. A. de Assis Pr Sigo na rua com frio, A brisa caminha leve... A lua, do céu vazio, Me abraça com mão de neve. Humberto Del Maestro ES Não viva em sonhos somente, Mas com todo o seu ardor, Viva mais intensamente Os seus momentos de amor. Jessé Nascimento RJ Aquela nuvem que corre, Lembra, de um velho, os cabelos, Que cada dia que morre, Deixa pra traz os desvelos. Henny Kropf RJ No ano que vem, diz o povo, “tudo vai ser diferente!”, Sem perceber que o Ano Novo Começa dentro da gente. Renata Paccola SP Na fúria negra da lua, A poesia me conduz: - Haja no ar treva de gruta, Meus olhos cantam na luz! Sérgio Bernardo RJ Urubu sobre o telhado E voando abertamente Ficou muito bem olhado Pelo suspiro da gente. Franc Assis Nascimento - Go Quando vi a nossa foto Desgastada na gaveta, Vi nascer um terremoto Neste inóspito poeta. Olivaldo Júnior - SP Ano VIII nº 57 Julho 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected] http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

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LETRAS TAQUARENSES é um fanzine literário virtual e impresso, com circulação nacional e internacional, aberto a toda forma de expressão estética, editado pelo Escritor Antonio Cabral Filho, do Rio de Janeiro - Brasil.

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Page 1: LETRAS TAQUARENSES Nº 57 JULHO 2014 # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

HAICAIS

É noite, que espanto!

Cruza a rua contramão

Ágil gato branco.

Auri Antonio Sudati – RS

Alegre portão –

Derramadas nas grades

Pencas de flores.

Eunice Mendes – SP

À noite, na rua,

Pelo caminho de sempre,

Jasmineiro em flor.

Manoel F. Menendez – SP

Ainda está verde

Doce de cidra esquecido

Na velha dispensa.

Neide Rocha Portugal – PR

Acordo de noite –

A rua toda molhada

Me fala de vida.

Humberto Del Maestro – ES

Na estrada sem luz

Caminhão segue viagem

Ao clarão da lua.

Renata Paccola – SP

Sol não aparece

Pegadas no caminho

Geada no sul.

João Batista serra-Ce

Sol bebendo orvalho,

Após noite de esplendor,

Dia do Arquiteto.

Fernando Vasconcelos – Pr

Venta... leve é o sol.

Um menino solta pipa

Sem usar cerol.

Nilton Manoel – SP

Caminho do mar:

A navalha no meu rosto,

Corta que nem gelo.

Trilha do mosteiro:

O andarilho vai convicto,

Buscar paz de espírito.

Vai de galho em galho,

Pára, olha, me vigia:

Esquilo mineiro...

Cai um temporal

Sobre o calor de domingo:

São águas de março.

Chove em Parati:

Mil peixinhos vêm à tona,

Provar outras águas.

Antonio Cabral Filho - RJ

TROVAS

Vagalumes luminares,

À noite alta, nos caminhos,

Me parecem, aos milhares,

Das estrelas, pedacinhos.

Fernando Vasconcelos – Pr

Cheirosa qual um jasmim,

Ela mal pisa no chão,

Mas pisa ao passar por mim,

Com força, meu coração.

João Batista Será – CE

A vida com seus mistérios,

Mostra-nos e muito bem,

Que no poder, homens sérios

São sérios se lhes convém.

Nilton Manoel – SP

Vida feliz, meu amor,

É a vida dos meus cansaços

Que nascem do meu labor

E vão morrer nos seus braços.

Eno Teodoro Wanke – RJ

Dê-se ao jovem liberdade

Para sem medo ele ousar.

- É no ardor da mocidade

Que o sonho aprende a voar.

A. A. de Assis – Pr

Sigo na rua com frio,

A brisa caminha leve...

A lua, do céu vazio,

Me abraça com mão de neve.

Humberto Del Maestro – ES

Não viva em sonhos somente,

Mas com todo o seu ardor,

Viva mais intensamente

Os seus momentos de amor.

Jessé Nascimento – RJ

Aquela nuvem que corre,

Lembra, de um velho, os cabelos,

Que cada dia que morre,

Deixa pra traz os desvelos.

Henny Kropf – RJ

No ano que vem, diz o povo,

“tudo vai ser diferente!”,

Sem perceber que o Ano Novo

Começa dentro da gente.

Renata Paccola – SP

Na fúria negra da lua,

A poesia me conduz:

- Haja no ar treva de gruta,

Meus olhos cantam na luz!

Sérgio Bernardo – RJ

Urubu sobre o telhado

E voando abertamente

Ficou muito bem olhado

Pelo suspiro da gente.

Franc Assis Nascimento - Go

Quando vi a nossa foto

Desgastada na gaveta,

Vi nascer um terremoto

Neste inóspito poeta.

Olivaldo Júnior - SP

Ano VIII nº 57 Julho 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho

Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected]

http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

Page 2: LETRAS TAQUARENSES Nº 57 JULHO 2014 # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

Poluição é o nosso ocaso...

No ar, os danos afligem:

Chaminés lançam descaso

Tampando o sol com fuligem.

Eliana Ruiz Jimenez - SC

Saudade, ponte estendida

Entre o passado e o presente.

E o tempo – rio da vida,

A correr eternamente.

Franklin Coutinho - Rj.

Quando, manhã, bem cedinho,

Abrindo os olhos desperto,

Através do teu carinho

Vejo logo um céu aberto.

Walter Siqueira – RJ

Nem sempre o cabelo branco

Reflete a sã consciência,

Por trás dum sorriso franco

Há muita maledicência.

Arlindo Nóbrega – SP

Caminhando contra o vento,

Como dizia o cantor,

Pensei em breve momento

Que felicidade é AMOR.

Osael de carvalho – RJ

No retrato na parede

Vejo teu belo semblante,

Vai matando a minha sede

Do teu olhar cativante.

Ivone vebber – RS

Seja casada ou solteira,

Seja velha ou rapariga,

Toda mulher janeleira

Tem um vergão na barriga.

&

Custou-te lutas cruentas,

Muita dor e sofrimento,

Essa grinalda que ostentas

No dia do casamento.

Pedro Giusti - Rj

Em 25 de Abril

Portugal respira fundo,

Manda à puta que pariu

Salazar e todo o mundo.

&

Amizade não tem preço

Nem é presente que enjeito,

É sempre mais que mereço

E guardo aqui bem no peito.

&

Lua de sangue ou vermelha

Não traz-me revelação,

Pois em nada se assemelha

Com a minha revolução.

&

Nenhum eclipse de sangue

Ofusca meu horizonte,

Em nada me faz exangue

Até que meu sol desponte.

Morena, pele de cuia,

Dos olhos fundo de poço,

Assim vai parar na tuia

O coração deste moço.

Antonio Cabral Filho – RJ

Nesta pedra está gravada

Toda minha emoção

De saber que não sou nada,

Além de mera ilusão.

Silvério da Costa – SC

Por sua causa morena,

Floresce em meu coração

Uma rosa, uma açucena,

Sol e mar, céu de verão.

Antonio Luiz Lopes – SP

Oh primavera das flores,

E da luminosidade,

Primavera dos odores,

Da PAZ, da felicidade.

João Birico Filho – PE

Na primavera da vida

Brotam flores sem cessar,

Esta estação florida

Estimula o meu cantar.

Auri Antonio Sudati – RS

Cidadania é saber

Manter a honra constante,

Ser sincero no dever

E servir ao semelhante.

Ruth Farah N. Lutterbach – RJ

CÉREBROS

TRANSISTRIZADOS

Cadê o controle remoto

Do meu pensamento?

Será que eu perdi

Ou esqueci na loja

De propósito?

Ou é o meu pensamento

Quem controla

O remoto

Controle remoto!?

Malungo Poeta - Pe

AVISO AOS MARGINAUTAS

Deus não está. Saiu para jantar

Curtindo uma de poeta

Marginal – sem métrica, sem

Rima , sem rumo, devidamente

Liberto de compromissos

Com toda a humanidade

E com a comunidade estelar.

Deus duvidou: ser ou não ser

Um poeta marginal?

E saiu abraçado com

Um soldado, não se sabe

Se do bem ou do mal,

Cambaleando,

Embriagado de verdade.

ILMA FONTES – SE

QUEM?

Tudo é cru e tudo universo

Mais se renova do que parece?

Não o real o que enxergamos?

O mais está sempre mais longe?

Sinal mais longe,

mais que o som,

então: quem disse

de cada coisa

o verdadeiro nome?

ARICY CURVELLO – ES

Page 3: LETRAS TAQUARENSES Nº 57 JULHO 2014 # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

ESTABILIDADE

Vivemos como casal:

Você trabalha demais,

Me sustenta,

Proíbe isso e aquilo,

Exige a casa arrumada,

Quer almoço à uma hora,

O jantar às sete e meia,

Sobremesas variadas...

Com teus caprichos concordo,

E por vingança, te engordo...

LEILA MÍCCOLIS – RJ

SANGUE NAS RETINAS

Não era vampiro

Nem assassino contumaz,

Mas emanava sangue

De seus olhos...

ANTONIO CABRAL FILHO

SOBRE AS HORAS

Enquanto barcos singram

Os mares – baleias na

Esperança de peixes – calmo,

Contrói o Tempo teias

E ruínas – febre, traição,

Morte e vilania – na boca

Insone da noite

Mastigando o dia

TANUSSI CARDOSO – Rj

MÃE

A claridade da manhã

Desenhava o horizonte

Como um sorriso de mãe

ANTONIO LUIZ LOPES – SP

DAS CARÍCIAS

Minha mão

Percorre teu corpo

Como água seguindo o rio,

Encontrando emoções,

Encontrando sentimentos.

WALMOR DS COLMENERO

MEMORABILIA 6

Donanja faz café

Numa tarde de maio

Benze portais ergue

Os santos do fim do mundo

: chamas para as quais

Serão levados a pé

Sobre milênios de milhos

Todos os tontos

Sem fé

Iacyr Anderson Freitas - Mg

CONTINUA NA PRÓXIMA

O seriado que eu vivi

Não teve fim,

Acabou,

Continua na próxima semana

Com a dor que

Ficou

MOACY CIRNE – RN

CAMINHADA

Quando me sentarei contigo

Na ternura das coisas justas

E tu me envolverás

Em teu perfume selvagem

E violento?

Quando te darei de presente

Minha alma inquieta?

José Jackson Sampaio – Ce

CAMINHOS

O teu sonho criou asas

E voou...voou...voou...

Para um lugar de magia.

E tão contente tu estavas

Que tua vida brilhou

No esplendor

De um novo dia.

E quando tu retornaste

Tudo ficou diferente

A vida mudou de cor.

Em tudo, pois, triunfaste

Ao seguires para sempre

Os caminhos do amor.

Auri Antonio Sudati – RS

POÉTICA

Não sei dizer palavras

Dúbias. Meu sermão

Chama ao lobo verdugo

E ao cordeiro irmão.

JOSÉ PAULO PAES –SP

SEM SENTIDO

Talvez a vida melhore

Se a fé de que tanto se fala

Vier a entrar nesta sala

E, para sempre, se instalar.

Pensando se vai por aí

Ou se fica mesmo aqui,

Sonhando se voa no ar,

Chorando se molha o sofá,

Morrendo se chega ao céu,

Vivendo se sofre a granel.

Eita vida complicada!

Vida inútil e sem sentido

Que faz todo mundo igual

Na hora do adeus final.

Araci Barreto – RJ

IN NATURA

A maçã do rosto

A batata da perna

A planta dos pés

A raiz dos cabelos

Delmo Fonseca – RJ

Canção Daquele Agosto

Drummond

Mineiro velho

Quando o teu barco de palavras

Te levou

De volta ao não-sei-onde

Ficou, num jardim triste,

Despetalada

A rosa do teu povo

E bem no meio do caminho

A eterna pedra

Tumular

Sergio Correa M. Filho-Rj

Page 4: LETRAS TAQUARENSES Nº 57 JULHO 2014 # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

SALDO ESCASSO

Após devorar

A sagrada esperança

De Agostinho Neto,

Com gosto de suor africano

Explorado em solo brasileiro,

Regada a muito café

E mergulhado em insônia,

Vou passear no quintal

Ver se colho um poema

Ou o sal da escassez.

NOITE

Depois de trabalhar

O dia inteiro

A noite fica exausta

E se dependura

Lá do céu sobre nós

E dorme como os morcegos...

É por isso que acordamos

Chamuscados de escuridão.

METAPOÉTICA

De tanto

Alavancar o poema

Acabei pavimentando

O verso

E instalando a poesia

Sempre no ponto final.

COMPLEXO DE KAFKA

Não fossem os calafrios

Da pobre coitada mãe

Que vivia em panos quentes

Pra manter seu pai

Em banho-maria

Teríamos mais psicanalistas

Tentando livrar as pessoas

Dos estados parasitários

E Kafka transformado

em barata.

LARGO DA BATALHA

Já diz tudo

O nome do local

Que nos lembra

Algo longe

Transido de combates

E ainda agora

Nos seus arredores

Chegam avisos da pólvora:

Seguem escaramuças

Por seu corpo escarpado,

Todo respingado de rubro.

PONTO CEM RÉIS

Não sei quantos reis

Passaram por este ponto

E não sei ainda

Se era sem réis

Caso houvesse pedágio

Transitar livremente.

ENQUETE

O vovô anarquista

Perguntou para o netinho

Se acreditava em Papai Noel:

- Por quê, vai me dar presente?

Inquiriu o garoto, todo serelepe,

Enquanto o avô confabulava

Com seus bigodes:

- Que menino materialista!

ANTI GULLAR

Inútil a luta corporal

Sem poemas concretos

Sobre romances de cordel

A sós dentro da noite veloz

Pra cometer poema sujo

E acender uma luz no chão

Em plena vertigem do dia

Causar crime na flora

E sair por aí fazendo barulhos

Com muitas vozes

E argumentação contra

A morte da arte

Pleno de antologias...

HORA DA RVOLUÇÃO

É hora da revolução!

É hora da revolução!

Não! Não é nenhum

Sinal dos tempos

Nem devido à queda

De algum ditador.

É que eu vi

Um homem no ônibus

Lendo o Manifesto Comunista.

PRÊMIO JUSTO

Corredor polonês

Só para o maldito inventor

Do corredor polonês,

Que eu fui.....

CACETE BAIANO

Depois de apanhar

Até gato morto miar,

Por dizer gracinhas

Para a menina dos olhos

Do paizão ciumento,

Diz que ganhou

O maior cacete baiano.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Eu sei que o boca-a-boca

É a melhor propaganda,

Mas não adianta resmungos

Nem choro pelos cantos.

Só devolvo o beijo

Que te roubei dormindo,

Se vieres tomá-lo

Boca-a-boca...

DEUSES DE PAUPÉRIA

Era uma cidade

Fundada por ATA

E lá estava escrito:

Artigo Único -

Aqui todos somos felizes,

Pela graça dos deuses.

E todos tudo fazem

Para o bem de todos.

§ Único – Revogam-se

as disposições em contrário.

Antonio Cabral Filho – RJ