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Após o ocorrido heroico do casal Greenwich, considerado como órfão, o bebé Lester é levado pelo Sr. Rockley até a casa da avó de sua mãe, onde ali passa a ser criado pela sua bisavó – uma velha Anciã Magistral chamada Molly Wayne. Porém, quando se encontra pronto para ir ao ensino médio, Lester já com seus quinze anos de idade, tem seu primeiro contato em relação ao seu mundo. Ele descobre que não irá mais para o colégio de sua região – a Sra. Wayne havia lhe cadastrado na Academia Elemental de Magicruxes e Artes Marciais de Mist'sPeak – que passa a ter antes por ela, alguns treinamentos nada formais junto de sua melhor amiga de infância chamada Mary Watson, que também é para sua surpresa uma magistral. E dai deste ponto trouxe consigo um novo rumo para sua vida. Muito fã de Harry Potter e sonhando com a carta de Hogwarts, a descoberta de ser um Magistral – De Mestre, perfeito. Abre as portas para um novo universo a caminho de um centro de ensino tão desejado.

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LESTER GREENWICH

e Os Talismãs Elementais

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LESTER GREENWICH & OS TALISMÃS ELEMENTAIS

Livro Um

A Feiticeira,

Os Guardiões

E

A Princesa do Vento

Oliver Dickens

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Título Original

LESTER GREENWICH

e Os Talismãs Elementais

Primeira Publicação no Brasil

em 2012 pela Editora PerSe,

São Paulo – SP.

Copyright do texto © Oliver Dickens, 2012

O direito moral do autor foi assegurado.

Arte de capa © Oliver B. X. Januário.

LESTER GREENWICH, nomes, tipologias e símbolos

correspondentes estão protegido pelo copyright

e a marca registra de Oliver Dickens, 2012

Direitos desta edição reservados à

EDITORA PERSE LTDA.

Rua Dr. Avelino Lemos Jr., 60 - Campo Limpo

[email protected]

www.perse.doneit.com.br

Revisão técnica dos originais

RODRIGO GERDULLI

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Sumário

- CAPÍTULO UM - .................................................................................................................................. 6

A FAMÍLIA GREENWICH .................................................................................................................... 6

- CAPÍTULO DOIS - .............................................................................................................................. 14

O PIQUENIQUE .............................................................................................................................. 14

- CAPÍTULO TRÊS - .............................................................................................................................. 22

AS ANTIGAS LEMBRANÇAS ............................................................................................................. 22

- CAPÍTULO QUATRO - ........................................................................................................................ 47

O SR. RUBENS ROCKLEY .................................................................................................................. 47

- CAPÍTULO CINCO - ............................................................................................................................ 72

O ATAQUE DO INIMIGO ................................................................................................................. 72

- CAPÍTULO SEIS - ............................................................................................................................... 87

PARA PROTEGER QUEM AMA......................................................................................................... 87

- CAPÍTULO SETE - ............................................................................................................................ 103

MOLLY WAYNE ............................................................................................................................ 103

- CAPÍTULO OITO - ............................................................................................................................ 112

OS MISTERIOSOS OBJETOS ........................................................................................................... 112

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- CAPÍTULO UM -

A FAMÍLIA GREENWICH

O Sr. e a Sra. Greenwich mudaram-se recentemente para Rua dos Aristocratas, nº 13, numa cidadezinha do interior de São Paulo chamada Jales. Um lugar de tal beleza pouca vista na zona urbana e possuidora de gigantescas inúmeras casas nobres, uma mais grandiosa e fabulosa que a outra. Essa beleza não seria completa, se não fosse marcada pela a presença dos lençóis perfumados de um suntuoso verde campo. Embora se destacasse mais na paisagem; onde ali ao ar livre próximo de uma grande ponte, em que tinham que atravessar um lago fundo o suficiente para se nadar, a residência escolhida à orla pelo casal.

Os Greenwich eram uma das cinco famílias fidalguescas de uma secreta sociedade com maior poder entre todas as outras que entraram para a clandestinidade. Um povo discreto em seu modo de vida, que buscou se ocultar dos demais comumente ditos normais, por algumas razões. E talvez fosse natural criarem comunidades em lugares desertos e de difícil acesso, ligados entre si e associados aos mais variados distritos espalhados pelas vastas nações do globo terrestre — onde pessoas comuns nunca encontrariam seus povoados e aldeias ocultas. Entretanto, os primórdios dessas famílias eram aparentemente desconhecidos. E tanto como aos demais residentes em suas comunidades, e até mesmo pelos próprios integrantes.

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Contudo, havia algo nelas que era de fato para todos. Ou seja, tais famílias não só tinham tudo o que queriam mesmo sendo humildes de faces abertas, mas também possuíam misteriosos e alguns sombrios segredos. E um deles era referido e ligado diretamente com objetos extremamente poderosos que eram herdados de geração a geração, tornando-se, desse modo, Guardiões Fiéis Hereditários. Só os versados disso, porém, eram que realmente acreditavam que tais objetos não passavam de um mito ou de um pequeno fragmento de uma história para crianças, contada para divertir, e não para instruir, e nem tornara crente por incrível que pareça.

De acordo com o livro A Sociedade Magistral, essas famílias citadas anteriormente foram caçadas, entre cada meio século que se completava uma geração, por aqueles ditos versados sobre a existência dos mistérios objetos de grandes poderes. Em geral, os Guardiões Fiéis Hereditários eram perseguidos por criaturas das trevas. No entanto, nunca ocorrera que seus iguais, mesmo não deixando as coisas meio que transparentes, buscassem auxílios deles ou não, para tentar exterminá-los até então o presente momento — almejando possuir esses valiosos objetos. Mas, essa interessante questão é tratada, de início, como sendo o primeiro volume do livro. Vamos, portanto, continuar sem hesitação, pois a porta de entrada para um mundo sereno de pura imaginação aqui já foi dada.

O Sr. Greenwich era capitão do Sexto Esquadrão e comandante da unidade do Setor de Operações Secretas do Quartel-general do Centro-Oeste, situado em Armstrong, próximo ao povoado e Quartel-mestre de Lispector Magix. Era um homem alto, de

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musculatura bem definida, cabelo longo e castanho-claro, olhos azuis esverdeados que, lucilados, lembrava-lhe muito os de sua esposa. Ele sempre usava uma longa capa branca com as mangas de tonalidade de cor negra e cinza, que era uma espécie de uniforme para autoridades, usada para evidenciar diferença hierárquica.

A Sra. Greenwich era uma belíssima e “jovem” — embora tivesse a mesma idade de seu marido. O piercing no meio de seu queixo era absolutamente chamativo, mas nada comparado com seu longo cabelo negro com mechas brancas, que mudavam de vez em quando para cores variadas, passando a imagem de um afetuoso arco-íris. Na hierarquia dessa mesma comunidade, a qual pertencia perante essa secreta sociedade, ela não se intimidava frente aos demais por ser apenas mulher, e ocupava, também, postos superiores. Ocupava o cargo de capitã do Quinto Esquadrão e de comandante da unidade do Setor de Segurança Máxima. E devida a mais alta condecoração pela determinação, objetividade e coragem — o ato da maior operação de suprassumo entre os dez Quartéis-generais existentes no Quartel-mestre, resultou na sua mais recente-nomeação; o cargo de chefe da seção de Controle da Divisão de Magicruxes de Encantamentos.

O Quartel-general situado em Montmorency — a qual liderava os três cargos, embora separada a sua localização a quilômetros de distância de Armstrong — este aos poderes de seu esposo, se encontrava, também, na região Centro-Oeste do Brasil.

Os laços que uniam o casal era algo como fogo e gelo, mas

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compactado num perfeito equilíbrio e harmonia. E desse sereno amor fogoso e gélido gerou-se um bebezinho, Lester, que tinha atualmente apenas dezoito meses de vida. Os olhos, outrora azuis esverdeados, e o cabelo de tons claros. Era o que ele havia puxado do pai, mas com os marcantes traços da mãe, de quem refletia sua personalidade doce e gentil.

O Sr. e a Sra. Greenwich viviam mudando de casa em casa de diferentes lugares — algo muito misterioso e obscuro —; como havia dito já no começo, perturbavam-lhes quase todos os dias perante o receio de que alguém os descobrissem.

Um mês era o tempo ideal para que permanecessem em um determinado local. Porém, a imagem de que tanto lutavam para conseguir ter uma vida normal tornava-se cada vez mais impossível pelos demais, que não toleravam compactuar-se com pessoas consideradas estranhas. Mesmo assim, agora estavam dispostos a seguir em frente, tendo em mente ficar, dessa vez, uns dias a mais de costume. Embora fosse por apreciarem um pomposo ambiente — Prodigioso! Fabuloso! —, como costumavam e gostavam de falar. E isso, por assim dizer, simplesmente fazia com que os mesmos esquecessem as preocupantes e desagradáveis memórias do que tinha sido uma longa, cansativa e difícil semana.

Muitos de seus iguais, de suas comunidades das mais antigas, estavam constantemente desaparecendo. Até mesmo, no atual momento, entre as coisas mais obscuras que aconteciam no dia a dia, nada se igualava os ataques às outras famílias do lendário legado dos

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Guardiões Fiéis Hereditários. Em tempo algum, ambos foram amantes de guerras, mas possuíam grandes responsabilidades e, devido a isso, viram-se frequentemente obrigados a lutar para se manterem entre dois mundos difíceis.

A casa, como as demais, era gigantesca, bela e ao mesmo tempo solitária, pelo vasto e gigantesco tamanho. Mas, o que diferenciava essa casa das outras era a charmosa arquitetura, de uma tonalidade senhorial europeia da maior e mais importantíssima e imponente construção de toda a redondeza. Uma beleza que mesmo outrora continuava ali para o desencanto dos habitantes invejosos das demais residências, os quais achavam inadmissível que pessoas estranhíssimas mudassem do nada para esse lugar. Entretanto, o casal Greenwich ainda não tinha consciência de que acabara numa rua de uma vizinhança onde simplesmente eram malvistos.

Na realidade, de fato, era por serem em graus elevados grosseiros e esnobes, que desprezavam qualquer um que tivesse ligações de tendência mesmo nobre a humilde, simples e diferentes. E, por isso, depois de alguns dias algo lutava bastante para entristecer a Sra. Greenwich sempre que entrava ou saía de sua casa, ou permanecesse em seu jardim — ouviam-se cochichos e murmúrios irritantes dos vizinhos ao lado. Uns dos tipos de bobagens, que nem ela ou seu marido não se compactuavam de forma alguma. O pior de tudo é que essa deflagração era nada menos do que fofocas, por não simpatizarem com seus estilos e jeitos excêntricos.

Mas, aos poucos, a maioria das pessoas da vizinhança

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aparentemente parava de infernar com irritantes fofocas a pequena novata família no deslumbre dos dias que se seguiram. Contudo, não conseguiam de jeito algum se acostumar com os trajes esquisitões, extravagantes e excessivos de que tanto o Sr. e Sra. Greenwich se esforçavam para que parecessem dito normais. Ninguém jamais dali realmente havia vislumbrado nada parecido como o casal. Por isso, grupinhos sempre se reuniam sob a cerca do jardim ao lado do casarão. Cautelosamente, espichavam uma boa parte do tempo durante o período da tarde para espiar. E tornava-se a cada dia um costume que vinha atraindo mais pessoas, que pareciam achar a anomalia muito curiosa. Posto que ainda houvesse sempre um ou dois entre os demais aglomerados ao cercado do casarão do número treze, que olhavam fixamente pelas grandes janelas uniformes imaginando coisas alheias. E o porquê de alguém usar capas tão enormes e compridas naquele calor fortíssimo de interior, que costuma fazer quase todos os dias, após a cantoria do galo.

A resposta deles era muitas vezes ignorante a respeito dessa questão. Pois, mormente achavam que estes não se igualavam ou não se classificavam como pessoas morigeradas e igualitárias. Contudo, após passarem alguns dias, tais curiosos que espichavam sob a cerca do jardim e que insistiam em ficar de plantão, acredite, não pareciam extrair grande satisfação de suas vigílias. Por vezes, um deles partia em direção à entrada da casa, agitado, como se, enfim, tivesse visto algo interessante, dando aquela louca e maluca sensação de ser o primeiro do dia a ler as tão famosas e comentadas fofocas. E sim, aquelas escritas distorcidamente nas grandes ou pequenas revistas.

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Ou manchetes dos tabloides. Apenas… Por outro lado, acabavam sem sucesso recuando, desapontado. E isso dava a face de muitos deles ao casal um sorrisinho irônico que até transbordava.

Foi então que o Sr. Greenwich parou de repente. Viu-se da janela alguns dos vizinhos fofoqueiros da região. E lá na sala de estar, onde se encontrava, tratou de logo ir até o hall de entrada e, passando a porta a fora, ali os encarou de igual. Os olhos muito bem fixos nas pessoas que cochichavam em frente da residência, como se quisesse dizer alguma coisa, mas pensou melhor e voltou o mais depressa de volta para dentro do casarão.

Os dias que seguiram eles continuavam a fitá-los.

— Querida, eu devia ter imaginado — disse o Sr. Greenwich, olhando pela janela. — As pessoas da vizinhança são totalmente loucas. Todas elas. O que acham que vão conseguir ficar nos espiando? Esses esnobes não têm mais o que fazer?

A Sra. Greenwich assentiu-lhe, contudo, muito triste. Preocupada passou a maior parte dos dias que se procederam depois de um bom tempo, após uma semana de mudança evitando ir para algum lugar ou sair de casa. Ela costumava olhar em direção ao local algumas vezes discretamente, até mesmo quando ali, acerca do jardim lotado de curiosos ou quando paravam na frente do casarão, tornavam-se simplesmente vazio com o anoitecer. Então, ocorria-lhe nessas horas a convicção de que não havia qualquer meio realmente bom o bastante de se habituar aos demais da vizinhança. Pois, já havia tentado de tudo para ter uma vida normal.

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Um dia desses havia aproveitado que alguns curiosos olhavam pelas grandes janelas uniformes para conquistar algumas amizades. Para essa difícil façanha, preparou um grande bolo de chocolate, feito com muito carinho. Foi até eles e tentou dar algumas fatias de bolos para experimentarem. Mas, não teve sucesso algum; só aceitaram para, enfim, jogarem nela, demonstrando transparentemente seus desagradáveis desprezos. Ela poderia derrotá-los somente com um dedo, no entanto era contra a essa ideia porque acreditava que só os covardes usavam dar força para se vingar dos mais fracos.

Os dias se alongaram lentamente em semanas. Surgia um problema atrás do outro para resolverem. E dos quais levavam sempre ao desapontamento de não conseguirem ter uma vida de pessoas simples ou comumente ditas normais. A longa rua que sempre estivera meio vazia aparentava estar, agora, apinhada de mais e mais gente. E por isso, juntos, tentavam com muitas dificuldades em grau alto transparecer no dia a dia o mais normais que acreditavam ser, ou pelos menos não se anarquizar em diante de todos. Para que desse jeito fosse possível conviverem pelo menos um mês na harmonia e, também, para que se tornasse um lugar ainda agradável e belíssimo.

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- CAPÍTULO DOIS -

O PIQUENIQUE

Quando acordaram no início de uma nova semana neste lugar, o casal assimilou muito alegremente o despontar da existência de um dia mais luminoso e límpido, como nunca havia antes observado de tal diferente maneira. E melhor ainda era que não retornariam para seus tão secretos e específicos Quartéis-generais, pois se encontravam afastados de seus respectivos esquadrões por motivos pessoais.

O dia estava perfeito, e não necessariamente por terem ainda mais uma semana de licença, mas por ter se tornado simplesmente uma manhã muito risonha e quase surreal. A Sra. Greenwich não pôde deixar de notar isso, enquanto tomava café da manhã sozinha na varanda entre o jardim atrás do fundo do casarão. Ocorreu a ela a ideia de fazer um pequeno piquenique, pois fazia tempo, ou melhor décadas, da última vez que havia feito um num dia tão lindo. O clima e tudo favoreciam para que fosse um ótimo e inesquecível piquenique, debaixo das sombras dos laranjais a dois quilômetros de distância. A ideia que ocorrera de súbito era tão boa, que ela foi rapidamente para o segundo andar do casarão para convencer o Sr. Greenwich de irem todos juntos.

— Jardem, por favor! — ofegou ela. — Nós estamos evitando sair de casa já faz muito tempo. Querido, por favor, vamos? Será o

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primeiro piquenique do nosso pequenino.

O Sr. Greenwich estava alguns passos à sua distância, sentado numa poltrona confortável. Ele estava roído de dúvidas e confuso ao mesmo tempo, trabalhando em algumas pistas que havia coletado alguns meses atrás. Não conseguia nem sequer explicar satisfatoriamente o porquê se opusera a isso; cada vez que tentava reconstruir fragmentos ou encaixava numa outra, a mesma sempre o levara a diferentes conclusões.

O escritório era uma bonita sala, com uma fina lareira de granito em frente às longas janelas uniformes — encontravam-se abertas para que ele pudesse apreciar o ambiente do lado de fora enquanto trabalhava.

— Ah… Sim! — respondeu ele. — Mas, estou meio ocupado. Hoje acho que não vai dar. Deixe para outro dia, querida. Sabe, estou com muito trabalho… Não sei se vou realmente conseguir decifrar todas as pistas já aglomeradas — desviou o olhar brevemente, tentando concentrar-se no texto da página em sua frente.

Os dois se encararam.

O Sr. Greenwich franziu e mordeu os lábios. Ele sabia que não convencera a Sra. Greenwich e que ela se preparava para contra-argumentar. Pois ele não estava usando seu tempo livre para descansar, em vez de ficar apenas trabalhando à-toa.

— Desculpe-me, querida!

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A Sra. Greenwich fuzilou lhe com o olhar.

— Deixe para outro dia… — aconselhou-a, no entanto já sabendo completamente sua resposta. — Tudo bem?

O choro de Lester perante o momento, para seu grande alívio, ecoou entre a porta do corredor e o escritório, intervindo a insistência dela. Ele, então, voltou a fixar seus olhos na página do texto em sua frente. Com uma relutância visível, a Sra. Greenwich parou antes de uma possível discussão. Embora fosse uma discussão sempre amigável. O Sr. Greenwich não estivera seguro de que ela voltaria a atacar na primeira oportunidade. Nesse meio tempo, a Sra. Greenwich saiu do escritório e foi dar uma olhada rapidamente no filhinho.

Alguns minutos depois, ela reapareceu no escritório do Sr. Greenwich e, novamente, sob sua insistência de irem juntos fazer o piquenique debaixo das sombras dos laranjais. Era um lugar que a havia deslumbrado quando passou exatamente logo em frente de carro no dia da mudança.

O silêncio estava fluente no escritório. Insatisfeita, ela lançou um olhar severo ao se aproximar do gabinete da mesa do marido. O Sr. Greenwich, para o seu desencanto, ainda estava tralhando. E nisso lançou outro olhar, dessa vez um pouco fixante, nos arredores da mesa para contra-atacar. Mas, observando cada detalhe sobre suas rápidas piscadas viu, que realmente ele não estava tendo muito sucesso, pois ali entre as bagunça de papelada desordenada e pergaminhos só duas das várias pistas coletadas foram concluídas, e

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disso mudou de ideia ao contrafeito.

— Amor? — chamou ela, cautelosamente.

— Só, um segundo — respondeu ele.

Houve, então, novamente um longo silêncio na sala. A Sra. Greenwich não conseguia parar de imaginar, inquietamente, no quanto mais que ele poderia extrair das outras pistas, que, afinal, nem poderiam ser verdadeiras — mas era evidente que estava ainda tentando decifraras.

— Jardem… ?

O Sr. Greenwich pigarreou e sentiu-se insatisfeito. Ele deu mais uma boa olhada nas pistas, mas estas percorriam ainda em seu cérebro sem deixar vestígios de qualquer significado. Então, acabou concluindo outra, viu o quão longe tinha ido e desistiu de uma vez por toda. Em sua opinião, do mau trabalho que havia feito.

— Oh, meu Deus! — exclamou ela. — Jardem?

Ela o chamava novamente e acenava com uma das mãos sobre seu rosto. Mas era também evidente que ele não a escutara e nem muito menos prestava atenção em suas mãos, pois aparentava estar em outro planeta com a profunda bagunça que, ocorrera a cada segundo em sua cabeça.

Algum tempo depois.

— Ah, desculpe-me! — respondeu ele, largamente para o

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espanto dela. — Sim, vamos… Você me convenceu! Estou mesmo querendo ficar um pouco longe disso tudo. Um dia lindo como este com certeza será, certamente, ótimo para um bom piquenique! E, sem dúvida, quero muito aproveitá-lo para descansar um pouco a mente — terminou ele, alongando seus braços acima de sua cabeça.

A Sra. Greenwich ficou extremamente contente ao ouvir sua resposta assim de repente, como se sua insistência tivesse tido sucesso absoluto. Mas, então, prevendo a audácia e a astúcia dele em uma possível mudança de sua resposta afirmativa, saiu rapidamente do escritório. E do corredor do segundo andar dirigiu-se ao quarto de seu pequenino, para trocá-lo de roupa. O Sr. Greenwich, em seguida, tratou-se logo de se arrumar em seu quarto para assim saírem.

Às 11h50min, já estavam arrumados e prontos para partirem ao destinado lazer. O sol estava simplesmente cintilante e o clima, muito quente. O Sr. Greenwich ajudou a sua esposa acomodar o filhinho no banco de trás do carro e, após, todos sentados em seus específicos lugares, ele deu marcha a ré para sair do estacionamento de número treze de sua residência alugada. Contudo, o carro não era realmente o meio de transporte que preferiam usar. Havia outro método de irem rapidamente ao lugar destinado, mas estavam convencidos de não utilizá-lo.

— Mamãe, olha… — disse um menininho de cabelo loiro, ligeiramente curvo. — Acho que vão passear — apontou o dedo em direção ao carro dos Greenwich. Ao lado dele havia uma mulher

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magra de rosto pálido e azedo, muita parecida com ele.

— Não, meu filho! — zangou-se ela. — Não é educado apontar o dedo para aquelas aberrações — falou num tom arrogante, ao mesmo tempo batendo com um forte tapa no dedo do filho. — Você pode ficar doente, querido! Vai saber o que uma gentinha dessa laia pode fazer.

A Sra. Greenwich estremeceu em tristeza do contrafeito das terríveis palavras dita pela mãe do garotinho loiro. Ela tinha sido até o momento a única ao ouvir. No entanto, prevendo o pior, restabeleceu de volta ao normal e preferiu não incomodar o marido. A ideia de não transparecerem como esquisitões ou até mesmo algo pior de dizer vinda de pessoas que não são simplesmente civilizadas estava firme. Mas, lamentavelmente, parecia que isso, mesmo colocando em prática, não estava tendo bons resultados. De fato, havia muitas pessoas que agiam com descriminação e preconceito. Em algumas ocasiões, ela se refletia cautelosamente sozinha para si mesma sobre um pequeno texto que havia escrito quando era criança, e era mais ou menos algo assim:

“O sofrimento de uma pessoa vítima de discriminação e preconceito é, sobretudo, muitas vezes pior que até mesmo o último suspiro de ar neste mundo. As pessoas deveriam parar por um instante e pensar no sofrimento que poderia causar ao próximo.”

E isso lhe roía constante a mente.

O Sr. e Sra. Greenwich tinham seus jeitos excêntricos e tudo

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mais. Em geral, muitas pessoas que ambos ultimamente tentavam conhecer foram sempre de muitos diferentes lugares, de total ignorância a respeito deles; mas, como dizem todos, a compreensão insuficiente é muitas vezes mais perigosa do que a ignorância.

O dia de piquenique debaixo das sombras dos laranjais estava ficando prodigiosamente extraordinário quando lá enfim chegaram. E tanto que fez com que o casal perdesse a noção do tempo, mas tomaram consciência disso, por incrível que pareça, somente ao crepúsculo quando retornavam para casa.

No dia seguinte, a Sra. Greenwich contou para seu marido as palavras que havia escutado da mulher que estava junto de seu filho, quando saíam rumo ao piquenique. O resultado disso não poderia ser outro; ele exasperou muito de raiva, mas voltou ao normal com a destreza da euforia dela.

De tempos em tempos, as pessoas da vizinhança, conforme os dias passavam cada vez ainda mais rapidamente, tornavam-se desalmadas. Concentradas em seus pensamentos absurdos e confusos, pois agora sentiam prazer em ridicularizar o casal Greenwich quase visivelmente todos os dias, por não se encaixarem ao cotidiano. Ou seja, isso era por possuírem costumes, estilos e aspectos de vida diferentes daquele povo. Mas, nada explica a decepção para quem vê seus esforços jogados fora — tentando se mesclarem aos demais —, por simplesmente serem diferentes.

Agora era muito e muito raro. Sob todas as coisas preocupantes que eles tinham entre mistérios e segredos para resolver, saírem ou

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ficarem por muito tempo em um determinado lugar, quando precisamente tinham que sair apenas de casa. Ir a padaria comprar um pãozinho francês, leite e ovos, o que fazemos no dia-a-dia a fora, já não era a mesma coisa.

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- CAPÍTULO TRÊS -

AS ANTIGAS LEMBRANÇAS

A última coisa que o Sr. Greenwich queria fazer com a chegada do inverno era antecipar seus bons e adoráveis dias de descanso. Após, enfim, a Sra. Greenwich ter conseguido a façanha de tirar o trabalho de sua cabeça para aproveitar o momento; enquanto ainda se encontrava afastado de seus respectivos cargos e postos — por motivos pessoais. Mesmo assim, lá estava ele naquela manhã de segunda-feira, sombria, de névoas gélidas, sentado ao lado de sua esposa, que dessa vez dirigia seu carro.

— Relaxe! — disse a Sra. Greenwich. — Mas, ele sabia que a voz dela não parecia nada relaxada. — Vai dar tudo certo, querido!

O Sr. Greenwich franziu a testa.

— Obrigado, meu anjo! Infelizmente, contudo, não consigo. Aliás, você sabe melhor do que eu. Essa missão não é nada comparada com as outras.

A Sra. Greenwich sorriu de lado.

— Certamente! Eu compreendo isso, Jardem! No entanto, não acredito que essa seja realmente a causa de sua preocupação.

— O que você quer dizer com isso?

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— Ora, nada.

Fez-se silêncio.

O Sr. Greenwich, respirando em suspiro meio ofegante, parou por um momento. E olhou para o reflexo entre breves e rápidas piscadas de seus atentos olhos azuis esverdeados para seu rosto sobre o vidro do carro. Após isso, refletiu pausadamente sobre a conversa de minutos atrás. Concluiu que sua esposa, sob um ponto de vista, estava absolutamente certa, haja a vista que a causa de longe era realmente se conseguiria ou não concluir a missão. Ele estava mesmo era indignado por terem antecipado seus dias de folga, após ter conseguido, durante muito tempo, enfim, relaxar e esquecer-se dos atuais problemas indesejáveis.

No entanto, mesmo assim era uma idiotice sem sentido e incrivelmente irritante que não conseguisse pelos menos negar que a causa era provinda realmente dessa missão. Isso era até impertinente, mas era de seu conhecimento geral que somente uma missão de ranking do mais alto nível era designada para um capitão – onde sem saída e submetido por ordens superiores entre todos os demais para seu grande desencanto promovera.

O lado positivo de um capitão ser designado para tal, até então, pelas autoridades em si entre muitos, era que tinha que ser capacitado suficiente com habilidades únicas, sob muitas condecorações e com várias missões anteriores de absoluto sucesso. O fracasso não era tolerado, o resultado da missão tinha que ser bem sucedida, o lado negativo, a princípio, era o rebaixamento do atual

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posto pelo sistema hierárquico.

O Sr. Greenwich lembrou-se de uma frase de Sigmund Freud:

“O homem enérgico e que é bem sucedido é o que consegue transformar em realidades as fantasias do desejo”.

Fez o impossível para ignorar isso. Estava desanimado, embora enérgico e cheio de vigor para tudo ao seu alcance, até mesmo sendo bem sucedido, não desejava realizar a missão. Não havia nada desejado. Mas, após outro longo tempo de reflexão. Veio à mente Albert Einstein:

“Não tentes ser bem sucedido, tenta antes ser um homem de valor”.

Golpeou-o a ingratidão. Anteviu que a única coisa que realmente lhe preocupava, afinal, era o fato de não poder conviver nunca mais junto de sua amada família, se caso uma fatalidade iminente acontecesse durante a missão.

Era sim um homem de valor.

— Você está bem, querido? — perguntou a Sra. Greenwich com um ar de indulgente.

— Sim, estou!

— Sério?

— Você me conhece muito bem! — disse ele, num tom de pouca sinceridade. — Miley, meu anjo! Ora, você sabe que eu não sou de

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compactuar com palavras que não são simplesmente versíficas.

O carro de súbito parou diante de um gigantesco prédio de arenito.

— Já chegou?

— Bem, este não é o local que você havia marcado com seu tenente?

— Sim, é!

Ele deu um breve sorriso, então a beijou.

— Obrigado, querida!

Abriu a porta traseira do carro, pegou alguns pergaminhos ao lado. Despediu-se com um rápido beijinho no rosto de seu pequenino, que ali dormia tranquilamente entre suspiros lentos de pequenas nuvens de fumaças gélidas.

— Tchau, até mais.

A Sra. Greenwich ergueu os olhos azuis cintilantes, que se encontraram em direção aos do marido, sentindo uma mescla de exasperação e surpresa. Ele, que vinha mudando de ideia a cada minuto, agora parecia ter conseguido realmente se recompor.

— Sim, até mais! — confirmou a Sra. Greenwich, numa voz risonha. — Cuidado! E, também, lembre-se: não baixe de forma alguma sua guarda, ouviu?

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O Sr. Greenwich assentiu com o olhar. Agora, já um pouco longe, após ter alcançado o hall de entrada. Ele transmitiu um último aceno de mão. E, feito isso, entrou rapidamente no edifício. Ela, então, ligou o carro e deu marcha a ré para sair do estacionamento. Virou uma esquina —, tamborilando os dedos suavemente ao volante. Em seguida, desapareceu entre a névoa sob a estrada, onde o sol lutava diagonalmente a surgir.

Algum tempo depois, já de volta ao casarão, a Sra. Greenwich desceu do carro e pegou seu filho entre os braços.

— Querido, logo, logo. Em breve, seu pai retornará. Mas, acho que você é ainda muito novinho para entender isso. Não é mesmo?

A Sra. Greenwich franziu a testa e engoliu um soluço, logo após dizer tais palavras. Lester, achando engraçado assentiu-lhe com um radiante sorrisinho. Um sorriso muito marcante provindo de pureza e bondade da mais risonha beleza. Isso era o que muito a lembrava de que melhor uma pessoa podia herdar de alguém neste mundo.

Mas ela não parecia nem mesmo de perto feliz. Enquanto se deslumbrava no encontro de admiração ao flexionar seu olhar no rostinho pequenino do filho. Agora parecia que algo por dentro estava roendo incisivamente, no mesmo instante em que trazia algumas ressuscitáveis e indesejáveis lembranças.

— Onde é que coloquei a chave da porta? — pensou a Sra. Greenwich, subitamente.

Ela, então, apanhou a chave debaixo do tapete, abriu a porta e

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entrou na casa.

A Sra. Greenwich, diferentemente do marido, ainda se encontrava de licença por causa do filhinho.

Três dias depois.

A Sra. Greenwich acordou cedo naquela manhã, que prometia ser tempestuosa. E passou o tempo — alegremente até a hora do almoço — realizando suas tarefas, como se fosse realmente uma simples e talentosa dona de casa. No início da tarde, seu filho dormia tranquilamente em seu berço. Ela, então, foi ao encontro de seu respectivo quarto. E de cima de um clássico guarda-roupa retirou um estranho e misterioso pergaminho enrolado sobre um lacre, com os dizeres: Memórias de Outono, 1998 e 1999. Em seguida, não rasgou o lacre preso no pergaminho. Em vez disso, apenas o colocou firmemente fixado entre as duas mãos.

Em seguida, a Sra. Greenwich, sem hesitação, disse:

— Magicrux! Liberação Fluxo de Memória!

O pergaminho, desfazendo o lacre, flutuou no ar. Enquanto desenrolava, revelava algo; um símbolo dentro. A luz do ambiente, de súbito, tornava-se a cada segundo compactada sob um rápido lençol de escuridão. Quando surgiu em um apagão total um forte flash de luz, em que aos poucos, entre vários fragmentos, reconstruía uma curiosa cena de alguns anos atrás.

— Bom dia, Jardem! — disse a Sra. Greenwich, animadíssima e

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inquieta. — Vamos tomar café da manhã?

O Sr. Greenwich assentiu-lhe, contudo permaneceu calado sorrindo.

O casal localizava logo adiante, deitado numa gigantesca cama de cor negra, feita de uma raríssima madeira cuidadosamente desenhada, algo muito curioso e interessante. Tudo parecia ser completamente diferente da atual residência alugada, pois não era somente um grande casarão, mas uma gigantesca e enorme mansão.

A cena se desfez e outra surgia.

A Sra. Greenwich, agora cantarolando alegremente, enquanto o café da manhã estava por ela sendo preparado. E logo ali, entre alguns metros de sua distância, o Sr. Greenwich se encontrava sentado e concentrado, apoiado numa mezinha redonda, lendo um jornal de uma recente edição com as referidas letras: News Express Magix.

Alguns minutos depois.

O resultado do dote culinário da Sra. Greenwich surgia percorrendo aquela atmosfera suavemente num delicioso aroma. O cheiro era tão forte que roubou completamente a atenção do Sr. Greenwich, depois de invadir rapidamente sua narina.

— Ah… Obrigado!

— Desculpe-me pela demora! — lamentou a Sra. Greenwich. — Mas, acho que você vai gostar.

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— Sim. Não que isso, meu anjo! Tudo tem um preço a se pagar, sei quem mais demora a fazer uma comida é quem rigorosamente se dedica de corpo e alma.

Ela concordou e com uma expressão risonha na face, serviu mais uma xícara de café, após colocar em seu prato cinco gigantescas e enormes panquecas. As grandes responsáveis pelo delicioso aroma, que até mesmo aparentava percorrer longe entre as nobres mansões da vizinhança.

— Quer mais calda de mel de abelha, Jardem?

— Sim, por favor!

Meio tempo depois. O Sr. Greenwich — acredite —, como já era de costume foi o primeiro a terminar suas panquecas. Observa-se que quando sua esposa lhe serviu ainda estava no primeiro.

— Já volto.

Ele, então, saiu da cozinha, apanhou alguns sacos de lixo ao lado e dirigiu-se caminhando até a lixeira em frente da mansão. Um grande caminhão de reciclagem de orgânicos vinha de súbito, após uma curva na esquina ao seu encontro. Mas, já era de seu conhecimento que quase todos os dias exatamente nesse horário passava esse automóvel. Era engraçado, não tinha o costume de fazer isso diariamente. No entanto, estava determinado, até então, a continuar a fazer tais tipos de coisas.

O casal outrora época de infância era repleto de muitos

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empregados; mordomos, cozinheiros, jardineiros, porteiros, guardas, entre muitos outros. Continuaria assim, entretanto, se não fossem de bons corações, sempre a atentos e precavidos, por apenas tratasse da segurança deles. No momento, por causa de um grande mistério, os Greenwich se viram obrigados a fazerem eles mesmos os deveres e serviços domésticos que visivelmente eram feitos por aqueles que se paga pelos trabalhos caseiros. Não que os mesmos desconfiassem da lealdade de seus criados. Mas a chance de um deles ser manipulado a fazer aquilo que no fundo não gostaria de fazer, era de fato grande demais. Muitos eram os inimigos. Havia vários jeitos de manipular uma mente — apesar de não terem controle sobre seus atos —, todas de um jeito meio que incomum dos padrões conhecidos. A pessoa depois de manipulada pelo inimigo poderia possuir um caráter maligno e um objetivo cruel (matar, torturar, sequestrar…). E ainda por consequência da manipulação, por efeito colateral, poderia causar a pessoa enormes dores psicológicas e físicas. De jeito nenhum, por isso, a família Greenwich podia sequer deixar suas guardas abertas.

A cena se seguiu adiante.

A Sra. Greenwich terminou de tomar café da manhã, levantou-se da cadeira e foi até a pia para lavar o que havia sido usado. E, de fato, estava conseguindo ser, sem dúvidas, uma ótima dona de casa, que gostava de tudo impecavelmente limpo e organizado. Após alguns minutos, já havia terminado de lavar toda a louça e secar uma grande porção. Faltando apenas uma última louça, ela foi coloca-la no armário ao lado da pia, enquanto ainda cantarolava alegremente. A

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única louça guardada e ainda inclinada para fechar as pequenas portas do armário fez um movimento rápido para voltar ao normal. Ali, perante a isso, foi surpreendida por uma tontura que dela apoderou-se, e tudo começou ficar escuro em suas vistas, fazendo ficar, não exatamente devido a isso, muita enjoada.

O Sr. Greenwich despediu-se do moço do caminhão de reciclagem e percorreu até chegar próximo ao hall de entrada. Ele ali, então, entrou na residência e ultrapassou alguns dos cômodos, parando defronte à cozinha. Olhou rapidamente para sua mulher, no entanto não exatamente com a devida atenção. Virou-se aproximando de uma porta-dupla que se encontrava aberta para a sala de jantar. Entrando ali reparou que vaso ao centro da mesa se encontrava com flores já sem vigor. Resolveu apanhar um pouco no jardim para embelezar o ambiente.

A cena se extinguiu novamente.

O Sr. Greenwich de volta ao corredor rumo à cozinha permaneceu parado por um momento. Agora, ele sim a observava atentamente depois de ir e apanhar algumas flores. A Sra. Greenwich estava alguns metros de distância. Assimilando a situação, a cena pareceu muita lenta e indecisa ao mesmo tempo; disso seus olhos fixaram nos detalhes mais obscuros. Por um segundo desapareceu dali, deixando para trás uma grande nuvem de fumaça vaporosa e branca. Reapareceu através dela de volta à cozinha no exalto momento em que sua esposa estava prestes a cair desmaiada no chão.

— Amor! Você está bem? — perguntou ele, com um ar de

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espanto e parecia em pânico com a situação. — O que aconteceu com você?

O Sr. Greenwich ficou imaginando se aquilo não seria culpa das panquecas, mas descartou, pois se sentia bem e até mesmo porque havia comido cinco delas. Contudo, estava certo de uma coisa; sua esposa encontrava-se apenas desmaiada. No entanto, ele mesmo assim não pensou duas vezes em leva-la o mais rápido possível até a unidade hospitalar do que parecia ser um grande povoado. Para sua surpresa, após um breve exame foi constatado que ela não tinha nada e que o motivo do desmaio era, na realidade, de comemoração.

— Boa notícia! — disse o médico, num grande sorriso. — Parabéns! Você está grávida! Vejo que será uma futura mamãe — ele usava uma longa capa branca sob um avental; era um simpático oficial e senhor de cabelo grisalho.

O Sr. e Sra. Greenwich caíram no choro ao ouvir a notícia. Uma noticia, sim, de lágrimas de felicidade. Por que não? Entretanto, ninguém daquela sala pareceu mais feliz com isso que ele próprio. “Ora, que boa notícia!” — pensou muito alegre. “Quem poderia imaginar que a gente… Por Mil Raios, logo, logo… Vamos ter um novo integrante na nossa família”. Mas então ocorreu ao Sr. Greenwich que sua esposa só estava de dois meses e que ainda faltavam vários outros, enfim para o seu desencanto.

O casal voltou feliz com a notícia para casa. No entanto, o Sr. Greenwich teve que sair às pressas, pois estava muito atrasado para o trabalho. A Sra. Greenwich foi proibida pelo médico-oficial de ir

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trabalhar, pois não poderia fazer movimentos bruscos e nem lutar — o que necessariamente fazia quase todos os dias em suas missões —, e por isso agora se encontrava de licença materna. Ela estava feliz com a notícia de ser mãe, mas mesmo assim estava preocupada com uma coisa que tão cedo não deixaria em paz.

O Sr. Greenwich, orgulhosamente, comunicou a todos seus amigos e companheiros do Sexto Esquadrão de que logo seria pai e que estava louco para conhecer seu futuro filho. E era, sem dúvida, muito teimoso, pois era de seu conhecimento que esperaria mais sete meses e que ainda não havia constatado que o bebê era realmente um menino.

A cena novamente se desmanchava e outra surgia no lugar.

Uma bonita mulher jovem, de cabelos loiros platinados de mechas azuis marinhas, olhos da cor de esmeralda, peitos enormes fora do normal, aproximava-se da entrada de um casarão. Ela trajava uma veste longa; era uma capa branca e preta, de borda com a tonalidade das mechas de seus cabelos. A mansão parecia ser a mesma que a anterior, pois a redondeza e tudo mais no lugar aparentava ser igual.

A mulher, então, bateu três vezes.

Observou-se ali numa pequena janela um movimento súbito na porta marcada por um brasão; dois leões alados de gigantescas asas estavam de lados postos entre uma grande letra G, que se destacava muito com sua tonalidade cintilante de tons de ouro.

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— Quem está aí? — disse uma voz nervosa. Ela reconheceu ser a empregada chamada Dolores Grerobleach. — Se apresente!

— Sou eu, Muriel McCarthy!

A porta abriu-se imediatamente.

Lá estava de pé a Sra. Grerobleach — cabelo grisalho, pequena e gorda —, usando um velho roupão rosado sob um pequeno avental.

— Oh… Tenente McCarthy, querida! — disse a Sra. Grerobleach, graciosamente. — Você me deu um susto, pois justamente estava saindo para fazer a compra do mês na central do povoado. Mas, por que você simplesmente não tocou a campainha?

— Ah… É, desculpe-me! — respondeu a Srta. McCarthy, risonha. — Eu, acredita, simplesmente esqueci que tinha uma ao lado. Aliás, na verdade, eu nunca usei uma na minha vida.

A Sra. Grerobleach sorriu.

— McCarthy! — gritou uma voz vinda da sala de estar. Era uma mulher que caminhava lentamente ao encontro do hall de entrada.

— Entre, por favor! — convidou a Sra. Grerobleach.

Ela, não hesitando, avançou rapidamente para dentro.

A Srta. McCarthy deu uma olhada à sua frente, observando alegremente próximo dali a Sra. Greenwich. Ela vinha sorrindo ao seu encontro. No entanto, encontrava-se com uma face meio pálida, com formato de coração, cabelos negros com mechas brancas e com

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uma barriguinha que agora podia ser vista.

— Olá, McCarthy! — cumprimentou.

A Srta. McCarthy deduziu que a Sra. Greenwich parecia cansada, até mesmo doente, pois havia algo forçado em seu sorriso. Certamente, sua aparência era menos colorida que a habitual, sem a sombra de suas mechas de arco-íris chamativo.

— Vou deixar vocês sozinhas — comunicou a Sra. Grerobleach, ligeiramente. Ela tirou o avental e pendurou atrás da porta ao lado, ao mesmo tempo puxando apressadamente uma capa à direita por cima dos ombros.

— Por favor, não vá por minha causa — disse a Srta. McCarthy.

— Querida, não posso ficar! — respondeu ela. — Como já havia dito, tenho que fazer a compra do mês urgente. Aliás, tenho que comprar os ingredientes o mais rápido possível para fazer uma torta de morango.

— Torta de morango?

— Sim. É para esta aqui! — respondeu a Sra. Grerobleach, sorridente lançando um olhar em direção à Sra. Greenwich. — Ela, do nada, acredite, ficou com esse desejo.

— É como dizem — comentou a Srta. McCarthy, rindo —, quando está grávida não se pode contrariar.

— De qualquer maneira, tenho que ir! — disse Sra. Grerobleach.

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Ela acelerou e passou pela Srta. McCarthy na entrada; alguns passos além do degrau da porta. Após virar, desapareceu numa nuvem de fumaça vaporosa e branca.

A Sra. Greenwich fechou a porta da entrada. Agora, totalmente vazia, e guiou a Srta. McCarthy pelos ombros, levando-a até o sofá para acomodá-la e assim examinar sua aparência.

— Você continua a mesma — ela suspirou, enquanto a olhava de cima a baixo —, mas parece, pelo seu estado, que você anda trabalhando demais.

A Srta. McCarthy, que tinha ficado em silêncio, do nada levantou-se do sofá e deu um forte abraço na Sra. Greenwich.

— Parabéns! — disse a Srta. McCarthy. Suas feições estavam ao extremo de felicidade. — Recebi a notícia no quartel pelos próprios Comandantes Anciões: Rúbio e Elisabeth Cromwell. Todos já estão sabendo.

A Srta. McCarthy foi de volta para o lugar em que antes de se levantar estava sentada.

— Oh… Capitã Wayne, eu não acredito! — disse ela. — Estou tão feliz por você!

— Obrigada!

A Sra. Greenwich franziu a testa.

— Contudo — ofegou —, a Srta. McCarthy sabe melhor que

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ninguém, eu… Por Céus, agora já sou casada. Ora, eu não falei meses atrás que não fica muito bem você me chamar pelo nome de quando ainda era solteira, hein? Eu disse e volto a dizer, não sou mais a Srta. Wayne que você conhecia. Agora, deve chamar-me de Senhora ou Capitã Greenwich, por favor!

— Mas… Capitã! Você é tão nova quanto eu…

— Mas nada, McCarthy! — exclamou a Sra. Greenwich, em tons elevados.

— O.K. Desculpe-me! — desculpou-se a Srta. McCarthy, virando o rosto disfarçadamente do lado oposto da Sra. Greenwich. — Você continua a mesma de sempre. Por mim, já que prefere assim, tudo bem. Isso significa que há coisas que não dão para mudar, né?

— Ah, deixa disso! — disse a Sra. Greenwich. — Você sabe que tudo na vida muda. No momento, agora é a minha vez de mudar. Ora, só isso.

Ali o olhar da Srta. McCarthy entristeceu-se de súbito.

— Sim, entendo — disse ela. — Mas, sabe, é por isso… aliás, foi que eu também tomei a iniciativa de visitar você hoje, Capitã Miley. Estou um pouco, meio nervosa e preocupada. Pois, a senhora ficará vários meses de licença materna, longe do Quartel-general do Quinto Esquadrão. Não sei se dou conta sozinha de todos.

A Sra. Greenwich emitiu um sorriso.

— Ora, hein… McCarthy!

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— Sim?

— Você tem que logo tratar de levantar essa cabeça. Sabe, você é Tenente, não se esqueça. Basta agir como a tal, e todos vão obedecer as suas específicas ordens. Você algum dia vai tomar meu lugar e será, então, a nova capitã.

— Suas palavras — disse ela, seriamente — eu compreendo. Contudo, a Unidade e o Setor de Segurança Máxima são… Sabe, totalmente, muito cobiçados. Não sei se sou digna de ocupa seu cargo, mesmo que seja temporariamente.

— Não. Você é a melhor clarificada para isso — disse a Sra. Greenwich, não poderia ter estado mais claro que ela tinha estado estourando para dizer isto. — A única que realmente pode ocupar meu lugar.

— Nós tivemos sorte — disse McCarthy —, pois você é e sempre será a melhor Capitã de todos os esquadrões.

— Obrigada! — agradeceu a Sra. Greenwich; suas bochechas ao contrafeito se tornaram rosados.

— De nada, Capitã!

A Sra. Greenwich deu-lhe um forte abraço.

— Você realmente é um doce de pessoa — irradiou ela.

A Srta. McCarthy assentiu-lhe, e seus olhos possivelmente molhados pela emoção das afetuosas palavras.

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— Bem, já sabe que vou dar as coordenadas. Não precisa ficar preocupada ou nervosa, tudo vai dar certo.

— Sim, espero!

A Sra. Greenwich apanhou uma cadeira para próximo do sofá.

— Sabe… Eu, quando acordei hoje cedo — disse McCarthy —, pensei muito sobre você ter se casado. Ocorreu-me que você poderia ficar a qualquer instante grávida, e assim iria nos esquecer.

A Sra. Greenwich franziu inquietamente os lábios e a testa.

— Não é verdade — discordou ela. — Sei perfeitamente que quando uma autoridade se encontra acima de outros menos favorecidos pela hierarquia. Deve pensar nas necessidades delas, principalmente de seus subordinados, mas jamais perante a isso tentar agradar…

Ela conduziu a Srta. McCarthy em direção à cozinha para preparar um chá de erva japonesa. — Aliás, você é minha companheira de trabalho e uma grande amiga. Não é bom ficar refletindo sobre coisas confusas. Faça tudo do seu jeito, McCarthy!

A Srta. McCarthy concordou sem, contudo, dizer nada. Ela engoliu uma quantia grande de chá muito quente e podia sentir a garganta pegando fogo por dentro.

— Isso é ótimo! — ela ofegou.

— É uma variedade de chá feita a partir da infusão da erva

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Camellia senensis. Muito fina e cara, seu nome é uma referência ao tom verde pálido da infusão. É enrolada e processada como chás de tipos mais comuns, mas seu sabor é mais doce e delicado.

— É mesmo, gosto desses tipos de chá. Mas, atualmente, eu estou bebendo um chamado Banchá. Sabe, é o mais barato e contém menos cafeína do que as outras variedades de ervas japonesas.

— Adoro o sabor desse também! — disse a Sra. Greenwich. — Realmente o Banchá possui menos cafeína.

— Capitã?

— Sim, Tenente?

— Você pode deixar de ser a Capitã do Quinto Esquadrão, para ter algum dia uma vida normal como este?

— Não. Nenhum de nós pode desistir de permanecer nos Quartéis-generais dos dez esquadrões residido sob o poder do Quartel-mestre ligado à força do Exército Magistral do Reino Amazônico Oculto. Pois saiba que nunca teve status de desistência entre as pessoas de nossa sociedade que tenha simplesmente saído.

— Por que isso? — perguntou McCarthy, confusa.

— É complicado. Mas, desse a época dos Lendários Magistrais Amazônicos, as coisas vêm sendo mudadas constantemente. Uma delas é que existe uma lei que estabelece que quando alguém precisamente tem que se afastar do respectivo esquadrão por motivos pessoais…

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— Como você por motivo materno? — interrompeu a Srta. McCarthy.

— Sim, como eu. Continuando no que estava dizendo. Bem, quando é por motivos pessoais elas tiram simplesmente uma licença. Contudo, se isso caso venha a prolonga-se e não houver mais a possibilidade de retornar ao cargo, ela ou ele é destituído.

— Então, não existe desistência por vontade própria?

— Não! Por que simplesmente perante a lei isso não é permitido. Os dez esquadrões formam uma organização de alta categoria e uma vez aprovado para entra nela não pode sair ou tornar-se inapto depois.

— Isso é ridículo. Como existe uma lei dessas?

— Não sei, mas concordo com você. Voltando ao assunto, os integrantes que desistem, dependendo de seus níveis, são enviados automaticamente para instalações especiais de alta segurança. Ou seja, acabam virando prisioneiros por serem considerados perigosos e inaptos pelo contexto que acabamos de discutir.

A Srta. McCarthy franziu a testa e mordeu os lábios. Em seguida, disse:

— Nossa, é mesmo? Que horrível! Ah, falando nisso. Você está sabendo da história? Ou melhor, dos boatos?

— Que boatos? — perguntou a Sra. Greenwich, curiosa. — Vamos, diga!

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A Srta. McCarthy riu baixinho.

— Ora, é, sabe… — a Srta. McCarthy hesitou por um momento. — É sobre as misteriosas mortes que vêm acontecendo em vários lugares do mundo. E faz um mês que moradores de alguns povoados e aldeias de nossa oculta sociedade começaram a sumir de repente.

A Sra. Greenwich ergueu preocupada uma sobrancelha.

— Sério, mesmo? Mortes misteriosas?

— Sim. Mas a causa é desconhecida. Pois, dizem que não deixaram vestígios.

— Entendo, enfim… Quem está investigando esse assunto?

— O sétimo esquadrão foi quem entrou em ação.

A Sra. Greenwich ficou pensativa.

— Isso tudo é muito curioso.

— Por quê?

— Nada demais. É só que meu marido está investigando algo parecido no sexto-esquadrão.

A cena pela quarta vez se desfez.

Agora, uma nova ali surgia. Era uma bela manhã e, como de costume, jornais materializaram-se através de nuvens vaporosas e brancas. Em frente do casarão da família Greenwich surgiam

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recentes-edições do News Express Magix.

A Sra. Greenwich aparentava se encontrar agora mais ocupada com suas tarefas domésticas, pois sua cozinha estava irreconhecível — as panelas e os bules de chá de prata, as taças de cristais dadas pela sua avó, pratos e tudo mais que brilhava depois de polidos.

O Sr. Greenwich que já havia terminado seu café da manhã — pães frescos, tortas de morango e caramelo. Apreciava e saboreava suavemente sua xícara de cafezinho, que tanto gostava de tomar enquanto lia seu jornal.

Outra cena surgiu e, dessa vez, da manhã do dia seguinte.

O Sr. Greenwich surpreendeu a Sra. Greenwich, que, cansada, ainda estava dormindo. Seu recém-nascido não parava de chorar durante a noite inteira, e como era mãe de primeira viagem não sabia, até então o que fazer. Ele entrou no quarto com uma enorme bandeja cheia de coisas gostosas: torta de maçã com calda de morango, bolo de chocolate, suco de manga e uma forte vitamina de frutas.

A primeira coisa que a Sra. Greenwich fez após acordar foi correr ao banheiro para escovar seus dentes, e voltou rapidamente para cama. Seu marido serviu-lhe de um grande pedaço de uma deliciosa torta de maçã com calda de morango, seguido de um grande copo de uma bela vitamina de frutas. Tudo para demonstrar sua grandíssima felicidade e seu imenso amor por ela. Ele, terminando de servi-la, retirou-se do quarto e caminhou em sentido

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à cozinha para apanhar uma grande xícara de café; depois, acomodou-se em uma poltrona na sala de estar para ler a manchete do dia no jornal de que apanhara na porta.

Por apenas alguns segundos, ficou paralisado quando seus olhos fixaram nas grandes letras em negritos da primeira página. O jornal deu-lhe pistas para localizar as informações com maior rapidez e facilidade, e nisso, então, começou a ler sobre o assunto que tanto lhe interessava. No entanto, a notícia em si já era de seu conhecimento, mas não estava sabendo, ou melhor, desconhecia sobre os vários ataques sombrios e agourentos que outros povoados e aldeias ocultadas de diferentes nações vinham sofrendo recentemente. Em uma única noite foram encontradas inúmeras pessoas mortas, dentre elas os que declaram normais, Nocruxes, e aqueles ditos possuidores de dons especiais, Magistrais.

Após terminar de ler a edição recém-chegada, o Sr. Greenwich caiu ali rapidamente em um tão bom cochilo que lhe fez esquecer suas responsabilidades.

O tempo passava...

O cochilo converteu-se em sono.

Havia também várias edições antigas sobre a mesa ao lado da poltrona em frente à lareira de mármore e uma enorme bagunça embaixo de um abajur preferido da Sra. Greenwich. Era muito estranho, haja a vista que o Sr. Greenwich costumava não juntar edições antigas de jornais, e ainda destacava entre elas com uma linha

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sublinhada:

CAMINHOS DAS TREVAS

Em nossa sociedade, rumores sobre esses magistrais, como podemos

observar, causaram inúmeros ataques em vários lugares do mundo e

compactuando com o lado das trevas. No entanto, desconhecemos se

essas pessoas são realmente os causadores desses atos terríveis.

(cont. pág. 2, coluna 3)

A maior parte da primeira página estava coberta por uma enorme foto de dez pessoas encapuzadas e de longas capas negras. Um símbolo estranho ao lado esquerdo do peito destacava-se numa espécie de um corvo negro sob uma caveira rachada, dando a imagem de um brasonado obscuro e sombrio. Ali, um segundo jornal encontrava-se também ao lado do primeiro, e esse tinha em seu cabeçalho:

UMA POSSÍVEL GUERRA ENTRE AS NAÇÕES

A nomeação do novo líder do distrito magistral e representante oficial

da força militar da nossa comunidade no Brasil tem sido largamente

tomada com entusiasmo pela população. Os representantes de Fineus

Rockwell nos informaram recentemente com exclusividade que ele foi

para a Inglaterra, pois foi convocado para participar de uma reunião

com os principais líderes das grandes nações de nossa oculta

sociedade. O objetivo dessa reunião é a respeito dos misteriosos

ataques que estão atualmente acontecendo. Uma boa notícia, pois ao

encerrar a reunião todos tentarão justificar a respeito de seus

renegados para assim evitarem uma possível 3ª Grande Guerra

Magistral… (cont. pág. 6, coluna 4)

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O Sr. Greenwich grunhiu em seu sono e mesmo escorregando sobre a poltrona não acordou. Um relógio de pêndulo muito antigo soou no alto da parede, saindo e entrando um passarinho assombreando e tiquetaqueando. Mostrava ao Sr. Greenwich nove horas e cinquenta e cinco minutos da manhã. Ele observava o relógio, mas não com a devida atenção. Contudo, somente quando o passarinho entrou foi que seus olhos fixaram nas horas e tomou, a partir disso, a consciência de que se encontrava atrasadíssimo.

Despediu-se da Sra. Greenwich com um breve beijo e deu uma passada rápida ao quarto de seu filho. Faltando somente um segundo, desapareceu, deixando para trás em sua sala de estar uma imensa nuvem de fumaça vaporosa e branca; e apareceu atrás da mesma em outro local.

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- CAPÍTULO QUATRO -

O SR. RUBENS ROCKLEY

A cena encerrou-se transportando subitamente de volta ao normal. A Sra. Greenwich parou por um momento, olhou para a janela e, sentada, contemplou a grande Lua cheia que havia surgido entre várias nuvens gigantescas que ocultavam suas fortes luzes cintilantes.

Após alguns minutos, muitas lembranças ainda pontuavam profundamente em sua mente. Memórias que, refletindo, deduziu que havia ido um pouco longe demais como de costume em sua técnica de flashback. Levantou-se, guardou o pergaminho de volta em cima do guarda-roupa, e sentou-se novamente de frente ao luar. E permaneceu sentada, simplesmente contemplando-o, até que, de repente, o choro de Lester escoou entre o corredor e a porta aberta do quarto.

O choro dele parecia ser diferente do normal, pois era tão claro, como se estivesse em seus braços passando mal. E deduzindo isso, rapidamente pôs-se de pé com um salto. Preocupada, glorificava o nome de Deus para que nada de mal acontecesse ao seu único pequenino filho. Foi ao quarto dele no final do longo corredor.

A Sra. Greenwich entrou no quarto e viu o filho. Ocorreu-lhe, perante a isso, que ele poderia estar com fome, contudo percebeu que uma coisa não estava certa ao tocar em sua testa. Lester não só estava

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vermelho que nem como um pimentão, mas também parecia uma troça humana com a alta temperatura que percorria sobre sua pele, tanto que transpirava constantemente.

— Miley, querida! Já cheguei, onde você está? — perguntou o Sr. Greenwich, num ar de espanto, enquanto subia a escadaria em forma de caracol.

— Jardem, por favor! — gritou a Sra. Greenwich.

O Sr. Greenwich parou na entrada do quarto e viu de longe a esposa desesperada em lágrimas.

— Acho que Lester não está passando bem…

O Sr. Greenwich fechou seus olhos.

— Oh, Senhor, Deus celestial! Por favor, guarde meu filho com seu santo manto e não deixai que nada lhe cause mal algum… Amém! — rezou ele rapidamente, baixinho, antes de entrar no quarto do filho, pois sentiu no coração o terror de separar-se de seu pequenino. Mas, era tão devoto e temente que isso consolava seu pobre coração imaturo.

No lado oposto deles, não reparam ali muito próximo, um terrível pássaro agourento — algo sinistro e sombrio que passou voando rapidamente entre o galho de uma árvore para outra defronte da janela do quarto.

— O que você acha? — perguntou a Sra. Greenwich.

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— Não sei… Até queria saber, também! Mas, não conheço realmente nada de medicina — respondeu o Sr. Greenwich. — Acho que devemos levá-lo à Unidade Hospitalar do Segundo Esquadrão do Quartel-general do Norte, em Frankenstein.

— Acho que não vai ser possível. Pois, a Capitã Lia McGowling encontra-se numa missão de nível máximo.

— É deve ser mesmo importante essa missão — concluiu o Sr. Greenwich num tom alto, demonstrando claramente que não aprovava isso —, para vossa senhoria não permanecer de plantão na unidade esta noite.

A Sra. Greenwich assentiu sem, contudo, concordar com seus comentários e dar explicações de motivos que desconhecia. O olhar dele fulminou-a, e ela deduziu que ele estava muito preocupado e prestes a destruir a parede do quarto com apenas um soco.

— Amor, vai dar tudo certo! — disse a Sra. Greenwich, de uma forma tão doce que homem algum conseguiria resistir a sua voz suave.

— Mas, querida! Então, como vamos proceder? Ou, melhor, o que você acha que devemos fazer a respeito?

O Sr. Greenwich olhou desesperado, esperando uma resposta e tudo mais, mas a Sra. Greenwich tinha procedência. Não apenas por que era uma jovem, entretanto sabia demais que mesmo com pouca idade havia concluído várias façanhas e tinha mais experiências que muitos de quando ainda não eram da elite.

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Dez minutos depois.

A Sra. Greenwich convenceu-o de irem juntos a um hospital público, por incrível que pareça. Chegaram rapidamente ao local, tão rápido como se fosse um movimento brusco de um piscar de olho. Mas, não de carro e nem nada derivado que possuísse rodas, tornando tudo ao mesmo tempo algo ainda mais curioso.

O casal ficou no hospital quase a noite toda, logo atrás de milhares de pessoas que estavam aguardando lá há mais tempo. E foram atendidos somente por volta das quatro e meia da manhã. O Sr. Greenwich não estava nenhum pouco à vontade, encostando um dos ombros na parede próxima da máquina de refrigerante daquele horrível ambiente, preocupado, como se a qualquer minuto fosse ter que lutar pela sua vida.

Enquanto isso, a Sra. Greenwich conversava com o médico.

Após um rápido exame, ela foi informada que seu pequenino filho estava apenas com uma febre passageira e que havia melhorado. Então, já poderia voltar para casa com ele sossegado.

O Sr. e a Sra. Greenwich poderiam muito bem, em vez de ir logo ao encontro a esse hospital, ter indo a um particular. No entanto, acharam sensato irem a um público, porque simplesmente desconheciam esse termo diferencial. E mesmo sendo uma família rica, de descendência de aristocratas, sobretudo, eram em seus corações humildes e simples, desconhecendo a realidade dos hospitais que, até então, estamos fardados em nosso dia a dia.

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A pequena família saía junto do hospital. Lester ali adormecia tranquilamente entre os braços de sua mãe. Mas, mesmo assim, como na entrada e agora na saída, o casal chamava muita atenção pelas longas capas que balançavam ao redor de seus tornozelos enquanto caminhavam. Após finalmente ultrapassarem a saída, atraírem muitos olhares curiosos, ficaram diante do prédio sob a calçada até terem certeza que nenhuma pessoa estava prestando atenção neles.

Alguns minutos depois.

O lugar onde se localizavam estava totalmente deserto.

— Jardem?

— Sim.

— O que estamos esperando? Agora, é uma ótima oportunidade!

— Ah… É mesmo! Vamos, este é um momento perfeito. Os Nocruxes desapareceram completamente.

O casal, juntamente com seu filhinho, diante dali dirigiu-se a pé rapidamente até o final da rua do hospital. No momento, adiante numa curva, foram subitamente surpreendidos por um ar frio que passou entre eles.

— Amor?

O Sr. Greenwich assentiu-lhe preocupado.

— Fique sempre preparada. Ouça, discretamente, o que eu digo.

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Não baixe sua guarda.

— Não me subestime, Jardem — respondeu ela, indiscretamente em um tom alto. — Você sabe muito bem que esse erro em mim não procede. E ainda mais com nosso filho junto de nós. Mas, existe um porquê de você estar me dizendo isso? Você está com aquela sensação de perigo novamente ou rastreou um grande poder perto deste lugar?

— Não, não, mais ou menos — disse o Sr. Greenwich, olhando de relance para ela, pelo qual viu uma expressão de insatisfação em seu rosto. — É que estou muito pensativo ultimamente, desde que saímos de casa.

Eles viraram uma esquina, passaram por um ponto de ônibus e avançaram entre dois orelhões defronte de algumas árvores. Ali pararam por um momento; em seguida, lado a lado, ao mesmo tempo disseram:

— Magicrux! Teletransportação!

O casal e seu único filho desapareceram naquela área. No local, deixaram para trás uma espécie de grande nuvem de fumaça vaporosa e branca. Feito isso, surgiram em outra região, numa rua totalmente deserta, cheia de enormes e gigantescas casas entre inúmeras árvores.

O sol ainda não havia nascido. No meio da escuridão, um belo casarão à orla do lago se destacava ao final de um caminho estreito, com luzes piscando nas janelas brilhantes do térreo. Juntos, caminharam até um portão cercado por uma sebe alta e cuidadosamente aparata. O Sr. Greenwich ergueu ambas as mãos na

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forma de uma pirâmide e uma forte circulação de energias reunidas comumente conhecida e chamada pelo nome de Kicrux apoderou-se em volta do casarão. Uma espécie de escudo semitransparente de aura tornou-se visível. Em silêncio, ambos, após abrirem o portão, atravessaram como se fosse uma camada de uma cachoeira invisível.

No longo caminho, o lago que se encontrava à margem dali do casarão, fazia uma pequena conexão com um pequeno; era uma fonte que jorrava bastante entre os jardins numa escuridão sem fim. A pequena família, enfim, caminharam até a porta da casa. E após abri-la o Sr. Greenwich empurrou-a muito lentamente. A preocupação do casal era exatamente o mistério que os cercava por alguns anos e que não os deixava em paz. Entraram na sala de estar, e à medida que seus olhos se acostumaram à falta de luz tomaram consciência do detalhe mais estranho daquela cena, e na qual parecia que um furacão tinha passado.

A devastação encontrou-se aos olhos deles com o surgimento de uma pequena iluminação provinda de uma belíssima chama sob a mão direita do Sr. Greenwich. E dando uma boa olhada e respirando profundamente, disse logo atrás:

— Não, querida! Eles nunca vão parar até obterem o que querem — disse o Sr. Greenwich, movendo-se cuidadosamente para o meio da sala e, ao mesmo tempo, examinando os destroços aos seus pés.

— Oh, meu Deus! — ela olhou para todos os lados; seus olhos azuis cintilaram e suas lágrimas se expandiram sobre sua face. E

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embora fosse muito corajosa estava de modo elevada assustada. — Jardem. Eles destruíram quase tudo. Não estou acreditando, meus móveis.

O Sr. Greenwich deu-lhe algumas palmadinhas em seus ombros, e contemplava o reflexo de seu rosto sobre um espelho partido ao meio diante dela.

— Não. Isso não! — ela ficou ainda mais nervosa, pois seus olhos fixaram em direção a um relógio de pêndulo que estava com sua parte frontal rachada; um antigo presente de casamento que havia ganhado de sua doce e amada avó.

O Sr. Greenwich balançou a cabeça e suspirou.

— Sabe, ouvi alguns boatos dias atrás durante a minha missão — disse ele, num tom de deter a voz para dentro do estomago. — Algo não vai bem. Eu acho… Você soube?

A Sra. Greenwich olhou para o marido de modo curioso.

— Não. O quê?

— Nada demais! É, na verdade, eles ainda estão querendo nos recrutar.

A Sra. Greenwich, ao ouvir isso, olhou para o marido por um momento e, ofegando, murmurou:

— Jardem Greenwich! — exclamou ela. — Você sabe melhor que ninguém. Eles não estão só interessados em nossos consideráveis

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e incríveis talentos de Magicruxes ou nossas extraordinárias habilidades em artes marciais. A maldita organização Névoa de Fúria só quer mesmo… é o Talismã Elemental do Fogo.

Ela ficou ainda mais nervosa. No momento, sentou com seu filho no colo sobre uma parte do sofá que ainda permanecia em perfeito estado. E exclamou:

— Oh, meu Deus!

Covinhas apareceram no rosto dele.

— Entendo. Já sei perfeitamente sobre isso. No entanto, foi uma sorte que nós saímos de casa. Nada de bom poderia ocorrer.

— Mesmo assim, Jardem! — ela olhou em seus olhos, começou a princípio a ficar segura de si e com uma sensação de bem-estar, de satisfação.

O Sr. Greenwich admirou a esposa, mas espantou-se um pouco com suas palavras. E a Sra. Greenwich, não prestando muita atenção nele, então, continuou:

— Eu não tenho medo deles, e nem muito menos sequer da morte — seus olhos se tornaram agora, enfim, confiantes. Contudo, havia em seu olhar uma indagação feroz. — Só aquele de lá de cima é que devemos temer. E também, outra… nós não vamos facilitar e nem dar a chance a eles. Pelo bem de nosso filho e de nosso povo, se for possível vou me assegurar de que levarei comigo o maior número de seguidores e membros dessa maldita organização.

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O Sr. Greenwich, ao ouvir o que ela disse, hesitou por um momento e, então, após reorganizar seus pensamentos, disse quase mudando de assunto à esposa:

— Eu concordo! E, eu sei… Isto é uma grande preocupação em si. Sabe, já faz muito tempo que temos que lidar com isso. Os acontecimentos estão piorando e cada vez mais se fundindo com os restos da minha memória, que felizmente não costuma mais ser tão boa quanto antes. Na verdade, quanto mais penso sobre isso, menos coincidência isso me parece. Os detalhes de todos os ocorridos e tudo mais. Algumas pistas lutei a ignorar, mas, ao olhar para o agora e relembrar de coisas do passado durante a minha última missão, vejo que são óbvias as reais intenções dessa organização — disse ele, olhando fixamente nos olhos de sua esposa. — Mas, sabe, acho que já podemos voltar para a mansão da minha família em Lispector Magix. Nós não precisamos mais ficar mudando de casa em casa, agora que já faz mais de um ano que o nosso filho nasceu. E, mormente, ainda temos que cumprir nossas obrigações e responsabilidades.

A Sra. Greenwich franziu a testa e mordeu os lábios.

— É… Eu estive pensando sobre isso durante a semana.

A situação mudou radicalmente e o casal parecia ler a mente um do outro. Antes, o ar estava pesado, mas tornou-se respirável após ficarem calmos.

— Claro, eu sei que temos que voltar para nosso trabalho… Ou,

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então, seremos destituídos de nossos postos e cargos. E sem falar que seremos considerados renegados por vários motivos. Mas, antes, quero ir a Fernandópolis para ver se minha avó Molly está bem. Depois de lá, podemos seguir para o povoado de Lispector Magix. Faz dias que estou querendo arrumar uma babá e para voltamos aos nossos antigos cargos e postos.

— Isso ótimo!

— Sim.

— Faltam quantos dias mesmo para acabar a sua licença? Seis ou cinco?

— Nenhuma das alternativas. Na verdade, faltam somente três dias — respondeu a Sra. Greenwich, agora sorrindo. — Foi bom ter conseguido mais que o normal de licença maternal.

O Sr. Greenwich, ao ouvir o que ela havia dito e observando sua grande emoção sobre o assunto, disse:

— A alegria e o trabalho são duas coisas sãs e que atraem reciprocamente.

— Ernest Renan... né?

O esposo fez que sim.

— É, sabe... espero que os antigos empregados dos meus pais estejam cuidando bem da mansão. Faz anos que não vou até lá, mas sei que o querido mordomo deles está cumprindo com seus

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respectivos deveres.

— Sosuke Tousaigan?

— Sim. É ele mesmo.

A Sra. Greenwich olhou para um retrato caído no chão; era uma imagem do casal reproduzida por uma belíssima pintura à óleo, ali usavam trajes a rigor.

— É lembrei-me dele hoje cedo. De quando ele nos ajudou nos preparativos do nosso casamento. Ainda bem que estão todos os empregados salvos em segurança.

A expressão do rosto do Sr. Greenwich se fechou.

— Sabe. O povoado não mudou em nada desde que nós saímos. Sua situação se encontra a mesma. E, no entanto, ainda continua sofrendo ocultamente muitos ataques. Isso me deixa com muita raiva. Até mesmo nossos melhores rastreadores ainda não conseguiram encontrar os dez principais membros dessa maldita organização. E, por isso, quando sempre acordo de manhã, não consigo parar de imaginar na taxa de mortalidade.

A Sra. Greenwich olhou de lado.

— Vamos mudar de assunto, querido. Ou melhor, continuaremos mais tarde. Agora, acho que minha única opção é arrumar o mais rápido essa bagunça. Ah, e nossas malas. Mas se bem que você poderia ficar um pouco com Lester.

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— Até você terminar?

— Sim.

— Então, me deixa pegar ele aqui — disse o Sr. Greenwich, num tom que parecia que estava nem um pouco abalado. Muito menos preocupado com a situação em que tinha encontrado a casa. Na verdade, era porque seu pensamento estava fixado em algo muito importante e que ainda se encontrava a salvo. Aquilo não poderia de jeito nenhum cair em mãos erradas.

A Sra. Greenwich não demorou muito em arrumar as bagunça. Ali, a maioria das coisas foi para o lixo.

Algum tempo depois.

O Sr. Greenwich deu um banho rápido em seu filhinho. No momento, depois de feito isso, foi liberado pela esposa a ir tirar uma soneca. Ela, então, dirigiu-se à cozinha para preparar um delicioso lanchinho. Ao chegar finalmente no quarto, o Sr. Greenwich tentou dormir um pouco. Sem dúvidas, estava muito cansado, pois não havia conseguido pregar o olho desde quando se encontrava no hospital. Não perdeu tempo e deu um enorme pulo na cama que sua esposa tinha recentemente acabado de arrumar.

Na cozinha, terminando de dar papinha ao seu filho, a Sra. Greenwich foi, após alguns longos minutos, levá-lo ao seu quarto. E chegando finalmente ao local, colocou-lhe no berço e esperou até que caísse no sono para poder se retirar do quarto e ir de volta à cozinha, para terminar de fazer os lanches — mesmo sendo quase

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quatro horas da manhã.

O casal ainda não tinha comido nada desde que foram para o hospital e passaram quase a noite toda lá, preocupados com o filho. Leste caiu rapidamente no sono, e isso possibilitou que a Sra. Greenwich terminasse de dar o último retoque nos lanches receados. E, terminando o que tinha de fazer, resolveu acordar o marido para lanchar. Mas, antes disso, passou primeiramente no quarto do filho, pois não conseguia ficar sem olhar para aqueles lindos olhos em parte azuis que eram iguais aos delas, embora também lembrasse os olhos azul-esverdeados do pai. Depois de ver o filho, retornou em direção o quarto onde se localizava seu dorminhoco marido.

— Jardem, querido! — disse a Sra. Greenwich, ao mesmo tempo em que abria a porta do quarto. — Amor, acorde já está tudo pronto.

Ali, totalmente esparramado na cama e com uma das pernas caída no chão, interpôs o Sr. Greenwich:

— Agora, querida! Mas… Eu estou ainda com um enorme sono… Vai, me deixe… por favor! Ora, dormir só mais… uns cinco minutos, que eu já desço para lanchar.

A Sra. Greenwich sorriu perante a imagem.

— Sim. Mas só alguns minutos a mais, ouviu, Jardem?

— Como quiser — concordo ele. — Feche a porta quando sair, amor!

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A Sra. Greenwich retirou-se do quarto. Foi rapidinho ao toalete e, de volta ao corredor do segundo andar do casarão, dirigiu-se até a escada em forma de caracol. De tão subitamente, parou ao chegar à metade dos degraus. Olhou para as cortinas das janelas bem em frente da sala de estar.

O medo invadiu-a.

Logo ali defronte percebeu, sob as cortinas, uma sombra. Era aparentemente de uma pessoa ou algo parecido andando ao redor da casa. E, embora pensasse que fossem coisas de sua imaginação, resolveu ir de volta ao quarto do filho e ver se estava tudo bem com ele.

Enquanto isso, algo sinistro, como de costume, assombrava o sono de seu marido. O Sr. Greenwich era incomodado perante todas as noites enquanto adormecia — não conseguia escapar dos terríveis maus sonhos, pesadelos, que na verdadem era a pura realidade que tinha presenciado em combates quando ainda moravam no povoado de Lispector Magix. E, devido a isso, o Sr. Greenwich, perturbado, levantou-se da cama meio sonolento. Ele foi, então, ao banheiro tomar um banho para ver se conseguia livrar-se de tais sonhos sombrios que tive e para que, também, finalmente fosse comer algo o mais rápido possível, para aliviar a fome.

A Sra. Greenwich estava de volta no quarto do filho.

Ela olhava fixamente para seu pequenino rosto — ele dormia num sono profundo e sereno. Ao mesmo tempo, começou a acariciar

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suavemente sua barriguinha, refletindo, enquanto isso, sobre a vida, as pessoas que tanto valorizava no quartel de seu esquadrão — alguns queridos amigos e, na atual vizinhança, que havia tentado de tudo para se misturar aos demais, no entanto sem sucesso. Sobre a segurança de sua família e o porquê de isso tudo ter se procedido a esse ponto. E até o momento, encontrar todas as coisas destruídas era de menos comparado a isso.

Alguns minutos depois.

Ela resolveu ir acordar logo seu marido. Caminhando pelos corredores que davam acesso aos quartos de hóspedes, virou à direta e ao empurrar a porta do quarto assustou-se.

— Jardem, querido? — o Sr. Greenwich não se encontrava na cama dormindo. — Amor?

Nada respondeu e o silêncio continuou. Ela franziu a testa e seus lábios de tamanha preocupação.

— Você está no banheiro? — perguntou ela.

— Miley, querida?

— Jardem?

— Estou aqui no banheiro — respondeu ele, após ter conseguido alcançar a toalha ao lado e limpado com ela as espumas em seus olhos. — Você estava me chamando? Bem, você sabe que aqui no banho com o chuveiro ligado não dá para ouvir nada.

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— Graça a Deus! — disse ela, aliviada ao perceber que ele estava bem.

— Meu amor?

— Sim.

— Você está meio estranha.

A Sra. Greenwich tentou agir normalmente.

— É mesmo? Nossa eu não queria deixar você a esse pronto preocupado. Desculpe-me!

— Não. Ora… — disse ele, confuso. — Que isso, querida!

A Sra. Greenwich sentou-se na ponta da cama.

— Ah, aconteceu alguma coisa?

— Não. Está tudo bem — respondeu ela rapidamente, para que ele não percebesse que estava preocupadíssima. — Já terminei de fazer tudo.

O Sr. Greenwich saiu do banheiro e foi em direção ao armário pegar uma roupa para se vestir. Após isso, virou-se, ficando de frente na direção da esposa.

Não adiantava o silêncio. Ela sabia que agora, de frente, teria que lhe dizer alguma coisa.

— Miley, querida! — ele sorriu para ela. — Eu te conheço. Sabe, faz anos que você não consegue me enganar com esse seu jeito

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simpático e silencioso. Então, ande, me diga logo. O que está te incomodando?

A Sra. Greenwich ficou com os lábios contraídos. Ela ainda estava em dúvida se teria coragem de lhe contar sobre a tal sombra. Decidiu que sim. Então, falou com a voz mais displicente que podia:

— Tudo bem. Já que não tem realmente um meio de esconder nada de você. Bem, eu vou dizer. Quando eu estava descendo as escadas…

A Sra. Greenwich hesitou-se por um breve momento.

— Sim?

— Eu acho, ou talvez seja minha imaginação, que tinha uma sombra de uma pessoa na cortina andando ao redor da casa.

— Nossa, você não me falou isso antes — interpôs ele, lembrando-se de algo de muito sério que subitamente havia surgido em sua mente ao ouvir o que ela dizia. — Isso é importante!

— Ora, não faz muito tempo — respondeu a Sra. Greenwich, agora parecendo pulverizada com o jeito que o Sr. Greenwich dirigiu-se a ela. — Foi exatamente antes de eu vir aqui. Só faz alguns minutos.

— Desculpe-me, não é sua culpa. É que Kenzie me ligou, quando eu aguardava você e Lester no hospital. Havia, até então, esquecido completamente disso.

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— Ah, é! O que ele queria? — perguntou ela, cautelosamente.

— Nada demais. Ele só me lembrou de que esfera de proteção em volta da nossa casa expirou ontem.

— Ora… Eu devia ter notado que o escudo de proteção estava enfraquecendo — lamentou a Sra. Greenwich, num tom de tristeza e sentindo um aperto horrível no coração. — É por causa disso, que eles nos encontraram.

— Não tem problema, querida! O importante é que estamos todos bem — consolou seu marido, transmitindo um sorriso. — Não se culpe à toa. E, mesmo que você tenha sido renomeada ao cargo de Chefe de Magicruxes de Encantamentos, isso é normal e acontece às vezes.

— Obrigada!

A Sra. Greenwich ainda estava preocupada, mas talvez ficasse mais feliz e calma, se eles não fossem pontuados por desaparecimentos, acidentes estranhos, até mesmo de mortes que apareciam quase diariamente nas edições dos jornais do News Express Magix.

— As malas já estão prontas?

— Sim. Por quê?

— Bem, é que meu armário está completamente sem nenhuma roupa.

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— Ora, querido! Estão lá em baixo, na sala de estar. Você quer que eu vá buscá-la? Ou, pelo menos, pegue uma roupa melhor que essa para você vestir?

— Não. Sinceramente, acho que não precisa. Estou bem com esta, mas de qualquer forma agradeço.

— Por mim, tudo bem.

— Voltando ao assunto que nós falávamos. Kenzie me lembrou, também, que nós não devemos ficar muito tempo nesse lugar.

— Bom, isso seria mais útil se ele tivesse dito algum tempo atrás — disse a Sra. Greenwich, interrompendo o marido. — Ora…

O Sr. Greenwich pareceu ignorá-la.

— Repetindo, novamente — ofegou ele. — Como eu estava dizendo, Kenzie vai enviar uma pessoa o mais rápido possível para acompanhar a gente antes que o dia amanheça.

— Você recusou certo? Nós não vamos levar nada daqui. E também, antes de voltamos para o povoado, temos que passar onde você sabe muito bem.

— É, eu sei, querida! Mas ele estava preocupado. Você queria que respondesse que não — ele falava de lado, tentando evitar no máximo o olhar severo de sua esposa. — Isso até seria falta de educação com alguém que é nosso amigo.

— Tudo bem, amor! Mas, quem vai vir aqui desta vez nos

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acompanhar?

— Bem… Você sabe como Kenzie é precavido. Ele achou melhor não me falar pelo telefone.

O ruído da porta no andar abaixo batendo ecoou escada acima. A campainha inesperadamente tocou no hall de entrada. No momento, ambos, ao assimilarem o som, hesitaram, mas em seguida saíram do quarto e desceram a escadaria.

Uma voz gritou:

— Ei! Vocês estão em casa? — Sou eu, Rubens Rockley!

— Rubens, é você mesmo? — perguntou o Sr. Greenwich, desconfiado.

— Como assim?

— Sim, sou eu! — respondeu ele, no mesmo instante.

O Sr. e Sra. Greenwich aproximaram-se um pouco do hall de entrada.

— Qual é a senha então? Bem, imagino que Kenzie deva ter revelado a você.

— Certamente, Capitão — respondeu o Sr. Rockley, lembrando-se subitamente. — Ele havia me dito que era por medida de segurança. Não é isso?

— Sim. Então, diga logo, por favor!

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O Sr. Rockley não hesitou e disse:

— O mundo que nós conhecemos, para que ainda permaneça estável, não é preciso que a escuridão seja eliminada completamente. O ideal é que esteja em equilíbrio com a luz. Ou seja, de modo que uma dessas forças nunca se torne maior do que a outra.

— Exato! — aliviou-se o Sr. Greenwich. — É isso mesmo.

No instante em que a porta se abriu, o Sr. Rockley fez uma profunda reverência e esganiçou uma voz animada:

— Capitão e Capitã. Vossa soberania. Uma honra como sempre!

— Obrigado! — respondeu o Sr. Greenwich, alegremente, concedendo um sorriso breve e meio inibido ao Sr. Rockley.

— Desculpe-me por perguntar, mas vocês já fizeram as malas?

— Sim. Elas estão aqui do lado.

— Excelente!

O Sr. e a Sra. Greenwich assentiram, contudo ambos permaneceram precavidos em silêncio.

— O plano, como Kenzie deve ter-lhes dito, é simples —, prosseguiu o Sr. Rockley, puxando um enorme relógio de bolso e consultando-o. — Vamos sair antes do amanhecer e seguiremos de carro, digamos por uns cinco quilômetros. Imagino que saiba dirigir, não? — perguntou ele, educadamente.

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O Sr. Greenwich sorriu.

— Saiba…? Claro que sei dirigir, faz um bom tempo que estou no mundo desses Nocruxes. Ora, tive que aprender, para evitar ao máximo o uso da técnica de teletransporte e, assim, deixar de ser rastreado.

Os olhos do Sr. Rockley brilharam em sinal de aprovação.

— É preciso muita inteligência, muita mesmo. Em nosso mundo não existem esses automóveis que os Nocruxes usam tanto. Eu tive que aprender a dirigir alguns anos atrás e fiquei absolutamente abobalhado com todos aqueles botões e alavancas de puxar e empurrar — disse Rubens, no entanto parecia estar falando mais consigo mesmo do que com os dois ali presente. — Mas, acho os automóveis sensacionais.

— Contudo — interviu a Sra. Greenwich —, não sei se é mais seguro percorrer agora de carro em campo aberto. Acho que será muitíssimo mais fácil para o inimigo nos apanhar.

— Sim, eu entendo! — disse o Sr. Greenwich. — Mas, querida, veja, a gente realmente não tem outra escolha. Não vamos ficar frustrados pela falta de sorte e a ocasião. Rockley? Continue, por favor.

— Eu não tenho mais nada, por enquanto, para apresentar sobre o plano. Mas, a Sra. Greenwich por um lado está certa. Não podemos cometer erro algum com relação à partida.

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O Sr. Rockley deixava transparecer o medo de ser responsabilizado se algo de ruim acontecesse e não pudesse fazer absolutamente nada por ser um simples oficial numa missão de guiá-los de modo cauteloso até o local escolhido.

— Muito bem, então! Vamos pegar as malas e levar para o carro. Ah, querida?

— Sim.

— Você me ajuda levar todas as nossas coisas até o porta-malas do carro?

— Ora, sim! — respondeu a Sra. Greenwich.

— Não, por favor! — disse Rubens, rapidamente. — Digo, não Capitã! Pode deixar isso comigo. Pois não é trabalho para uma dama… Como vossa senhoria!

— Obrigada! É muita gentileza de sua parte. Então, acho que vou buscar o Lester.

O Sr. Greenwich saiu da sala de estar e o Sr. Rockley seguiu logo atrás, meio desajeitado. A Sra. Greenwich ouvia lentamente seus passos apresados na entrada do saibro, então em poucos segundos a porta do carro bateu. Ela, que pelo jeito não esperava mudar de casa novamente de uma hora para outra, sabia perfeitamente que tinham de fazer isso, pois a segurança da família estava em jogo.

A Sra. Greenwich desceu as escadas com o filho em seus braços e por um momento parou na entrada da casa e olhou para trás, como

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se fosse um sinal de adeus. No entanto, olhou para as janelas e foi como se tivesse a sensação de quando havia visto horas antes a sombra de alguém sobre a cortina da janela. E, trêmula, fez um movimento brusco e saiu meio que correndo para se reunir com os outros.

Após alguns minutos, todos já se encontravam dentro do carro, prontos para partirem. O Sr. Greenwich, então, com apenas um movimento rápido, ligou o carro e seguiu adiante em uma ruazinha à direita até o final; as únicas luzes que havia ali faiscaram e se apagaram pelo caminho. Uma longa estrada se destacou nas trevas. Após uma curva, continuou o carro a percorrer de modo mais rápido e ainda aos cuidados do Sr. Greenwich — embora estivesse sendo guiado ao lado, no momento, por Rubens Rockley.

Profissionalmente, o velho oficial, sempre chegou aonde quis. Até o presente, havia traçado uma trajetória ascendente no quartel, a sua área se tratava da segurança de testemunhas, com pessoas das mais nobres e ricas do país. Antes, para o devido êxito, investira nas mais amplas e variedades de medidas de precauções, por conta da dificuldade de locomoção delas, conquistando uma extensa carteira de clientes. Ele era o único que tinha a noção do caminha que deveriam ir, a falha não era permitida, a experiência e solidez da cautela contavam e muito para o sucesso.

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- CAPÍTULO CINCO -

O ATAQUE DO INIMIGO

No meio da escuridão de um dia ainda amanhecendo, o carro já se encontrava alguns quilômetros longe do antigo casarão que o Sr. Greenwich tinha alugado. Não havia qualquer sinal de sons animados das cantorias dos pássaros nos altos galhos de árvores de folhas secas que se tornaram quebradiços dias anteriores pelo sol tão fluente.

O carro fez uma brusca curva estreita na mesma estrada mal iluminada. Aparentemente deserta e meio agourenta. E, ao final da curva, estupidamente estreita, surgia uma estrada serpenteada através de arvoradas enormes, ao lado de encostas de grandes colinas.

Longos minutos depois.

Algo chamou a atenção do Sr. Greenwich do lado oposto das árvores, enquanto dirigia. Era algo muito estranho ou o que aparentava simplesmente ser um corvo negro de olhos vermelhos, ali sobrevoando, logo acima — o pássaro tinha uma forma incomum e era muito grande para um simples corvo. Curioso, desacelerou um pouco e, ao fazer uma nova curva, ficou certo tempo olhando-o atentamente. Engano dos sentidos, o corvo não poderia ser, pois parecia uma miragem entre as trevas que ainda restavam da escuridão. Não era possível distinguir ali pelo início da calada manhã. O

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espírito que faz tomar a aparência pela realidade: a miragem poderia ser “sim” uma ilusão da vista.

Ficaram todos intrigados.

A Sra. Greenwich reconheceu o que era a criatura incomum de olhos vermelhos, embora mesclado pela falta de luz ao preto, confirmou que era sim um corvo. Mas não tão digna de preocupação, fez com que o marido continuasse o percurso. Assim, o corvo ocultou-se pela névoa. O Sr. Rockley demostrou seu primeiro sinal de medo.

Sem ver direito, o Sr. Greenwich, então, continuou a percorrer a estrada mal iluminada, sem sequer rever novamente o sombrio pássaro. Foi tão súbito que algo aconteceu do nada para o tamanho espanto, inesperadamente, de todos dentro do carro. Sob o mesmo solo da estrada, logo adiante, surgiram variados tipos de gigantescas rochas pontiagudas e outras espinhosas e firmemente fixadas. O carro parou a alguns metros de distância, devidamente impedido de ultrapassar e prosseguir em frente.

Os Greenwich foram os primeiro a sair do carro, numa extrema velocidade, deixando somente para trás alguns de seus pertences. No entanto, já o Sr. Rockley ainda estava dentro do automóvel. Pois, de fato, ele não tinha percebido ou notado, até então, absolutamente quase nada da situação que se encontrava. Mas, mesmo sem reação, o medo multiplicou-se em dobro.

— O que está acontecendo? — perguntou ele, angustiado e

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deprimido, ao mesmo tempo em que sua testa se contorcia em rugas de tantas dúvidas. — Vocês, voltem logo para dentro. Não é seguro sair, vamos, voltem logo.

O Sr. e a Sra. Greenwich se entreolharam — suas expressões se escureceram e após somente alguns segundos esboçaram um sorriso, meio discreto e um pouco tentador. Em seguida, o Sr. Greenwich disse algo muito inteligente, do tipo:

— Hein?

O silêncio do lado de fora se propagou em ondas frias e sombrias. Uma espécie de esfera gigantesca de aura vaporosa estava completando-se no local entre alguns quilômetros.

O Sr. Rockley ainda continuava a não entender nada, e nem o porquê daquilo tudo.

— Rubens! — a voz da Sra. Greenwich parecia vir de lugar muito distante. — Rápido! Dê o fora daí!

E foi quando que ele, de súbito, pôs-se de pé com um salto, ficando espantado e nervoso com a forte energia negativa e agourenta que havia lhe cercado. Dava, ao mesmo tempo, enormes calafrios medonhos e obscuros.

A cena pareceu imprecisa e lenta.

Um grupo formado de alguns homens se materializou inesperadamente, a poucos metros de distância. Não dava ainda para enxergar, a névoa e escuridão dificultavam em muito tudo. Mas

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tinham certeza que não era coisa boa.

Foi, então, que à medida que se acostumavam perante a cena, tornava-se cada vez mais presente, o vulto deles desenhado entre as trevas. Embora fossem figuras mal distintas, a princípio, dois se encontravam à direita acima da colina. Um que se tornou mais evidente desenhado sobre a estrada ao centro, de pontiagudas rochas, logo de vista desaparecera. No lago abaixo da encosta, os outros que restaram, porém, se encontravam à esquerda da estrada a margem de grandes árvores após a vertente.

Algum tempo depois, tornaram se visíveis seus trajes excêntricos e sombrios.

O Sr. Rockley, ao contrafeito, escondeu-se meio que encolhido ao lado da porta do carro. Já o casal Greenwich, parados, olharam firme e fixamente em direção aos homens — encapuzados com máscaras e de longas capas negras. E começaram a ficar nervosos e transpirar ao perceberem que diante deles, com exceção de um, eram nada menos do que seguidores da organização criminosa chamada “Névoa de Fúria”.

Eram os responsáveis por invadirem a residência alugada deles, quando não se encontravam no local. E sem falar dos vários atos terríveis que estavam cometendo sem piedade, juntamente com seus iguais, nos mais vastos lugares do mundo, atrás de cinco objetos poderosos e de extremo valor.

— Miley, precisamos fazer alguma coisa! — exclamou o Sr.

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Greenwich, inquietamente.

— O quê?

— Fique atenta e preparada — disse ele. — Faça um escudo de proteção entre vocês para se defenderem dos ataques. Eu vou lutar. Deixe, que tomarei conta deles.

Enquanto isso, a Sra. Greenwich, com seu filhinho no colo, parecia não ligar para as palavras de seu marido. Ela estava concentrada ali ao lado dele — estudava atentamente os inimigos de longas capas negras. E refletindo algumas estratégias, após olhares cautelosos, chegou a uma desagradável conclusão. Ela, então, fez um movimento brusco de apenas alguns passos para trás, que passaram despercebidos aos demais, para perto do Sr. Rockley.

— Aí estão vocês, Miley e Jardem Greenwich — falou uma voz aguda e sombria, ao mesmo tempo gélida de crueldade. — Estou extremamente abobalhado com esta situação. Pois parece que agora realmente os encontramos. Depois de tanto tempo, afinal das contas.

O dono da voz diferente de seus demais estava sem capuz e tinha como destaque medonhos olhos albinos, dando a entender ser o suposto líder — este que havia desaparecido quando, enfim, ao centro da estrada de frente as rochas pontiagudas, o vulto de sua imagem havia ali se tornado mais evidente que os demais.

O casal Greenwich e o Sr. Rockley, encurralados, mudaram de posição ao mesmo tempo, ficando em seguida frente a frente de quem havia acabado de pronunciar tais palavras insignificantes.

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Desse modo, a princípio ainda obstruídos, obtiveram dificuldade em distinguir de onde provinha a tal voz, pois o dono dela encontrava-se agora do lado oposto, em cima de uma gigantesca pedra próxima de algumas árvores entre a obscuridade.

A Sra. Greenwich segurou com mais força e firmemente seu filho, que dormia tranquilamente em suspiros lentos e levíssimos.

— Não ouse falar conosco novamente, seu ser alheio e desprezível! — exclamou ela, enfurecida e mal conseguia se segurar de uma extrema fúria que lhe queimava por dentro de tanta raiva. — Malditos!

A expressão do rosto de seu marido também se fechou de raiva.

— Tenha cuidado. Este encontro pode ser um acontecimento terrível. Um momento de revelação depois de tanto tempo, e do qual vocês não poderão sair ilesos — ele riu e seu modo de falar mudou, para um elevado tom de sarcasmo. — Miley, querida! Esses são realmente os modos de uma das mais brilhantes mente das dez ordens de honra instituídas por soberanos. É lamentável, vejo que muitas coisas mudaram desde a minha época.

— Bem, eu vou dizer só mais uma vez a você. Saia da nossa frente. Seu sei lá o quê — insistiu a Sra. Greenwich, determinada. — Antes que eu me irrite.

— Normalmente, eu apertaria a mão de vocês pela coragem, mas sob estas circunstâncias não me aproximarei. Vejo que você não se amedronta facilmente e nem perante a minha imagem se torna

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dissuadida a mim por meu poder. Isto é bom, gosto de gente assim do meu lado. Por isso, eu então digo que posso até concordar, entretanto primeiro ouçam a minha explicação de meu plano e, depois, talvez, nós os deixemos passar, dependendo de suas respostas.

O Sr. e Sra. Greenwich assentiram e ouviram suas palavras em silêncio.

— Bem, vocês já devem ter ouvido meu nome em algum lugar — disse ele; um tom maligno havia surgido em sua voz. — Dark Perrenelle Lockwald. Contudo, para os vossos magistrais da elite, podem me chamar só de apenas Dark.

— Eu conheço esse nome — interrompeu o Sr. Greenwich, confuso e nervoso. — Mas, como depois de todos estes séculos? Uns dos antigos ex-capitães do Nono-Esquadrão. Pela forte luz celestial de Deus! Como ainda se encontra vivo?

— Bem, essa é uma longa história. Por enquanto, só quero deixar uma coisa bem clara. E apenas lhes contar sobre meu objetivo.

— Isso tudo é ridículo! Nós não temos interesse algum em ouvir seus objetivos, ou sobre seus planos agourentos — disse Sra. Greenwich, rapidamente. — Acho melhor, aliás, não me subestimar. Às vezes com tipos de gente de sua decadência de conduta, posso ser bem perigosa.

Dark riu.

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— Eu não consigo entender vocês — disse o Sr. Greenwich. — E o pior, já é um choque saber que você, depois… deixe-me lembrar… Ah, lembrei. De quase meio milênio ainda esteja vivo.

— Como assim? — perguntou a Sra. Greenwich, confusa.

— Bem, esse é o nome provindo de homem que chegou a lutar contra Os Cinco Lendários Magistrais Amazônicos, que, juntamente aos cuidados de Hatake Tousano'o, criaram e fundaram a nossa secreta sociedade. Eles, os próprios que deram um novo sentido de vida para pessoas como nós.

— Certamente, meu caro! — disse Dark, depois que franziu a testa e avançou alguns metros.

— E, por isso — interrompeu o Sr. Greenwich —, não posso acreditar. Você, todos esses anos que esteve exilado e ocultando-se, vai saber onde, deve está realmente louco. Ainda assim, não acredito. Sua ambição destruirá milhares de sonhos. E os nossos jovens, onde aprenderão a usar seus poderes? Você, como ninguém, deveria saber disso melhor que nós.

— O que isso quer dizer? — perguntou a Sra. Greenwich, sem entender novamente o referido assunto.

— Eu já falei, este foi uns dos antigos ex-capitães do Quartel-General do Nono-Esquadrão. E também, uns dos ex-comandantes da Unidade e do Setor de Supervisão.

— Mas, isso eu compreendo. É que deu a entender que ele tem

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ligação a respeito da fundação de Mist's Peak?

— Ora, querida! Ele foi uns dos primeiros entre os milhares de alunos deles. E… é, lógico, aquele que foi consagrado como o mais brilhante prodígio de todos os tempos.

Os dois por um momento pareciam ter esquecido de que o inimigo ainda continuava no local. Contudo, se estavam tentando confundir Dark, isso de certa forma se procedia em pleno sucesso.

— Sério? Grande coisa! — disse a Sra. Greenwich, num tom de indignação elevado.

— Hum, muito curioso! — interviu Dark, animado. — Incrível! Mas, até onde, de certo ponto, você realmente conseguiu descobrir sobre mim?

O Sr. Greenwich permaneceu calado.

— Ah, é mesmo! — uma aura de névoa gélida surgia sobre os arredores de Dark; algo que deixou o Sr. Rockley todo fraquejado de medo.

— O quê?! — exclamou o Sr. Greenwich.

— Nada, demais. Mas, lembrei subitamente sobre sua habilidade secreta. O poder de extrair informações e as memórias das pessoas através de um simples toque.

O Sr. Greenwich sorriu.

— Bem, não sei como você descobriu isso. Mas, não precisei

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utilizar essa habilidade para saber sobre seu passado. Contudo, gostaria muito usar essa habilidade em você. Sabe, até hoje não consegui descobrir nada a respeito de quem foi o responsável pelo massacre da minha família. — o sorriso dele desapareceu em seguida e uma mescla cintilante de lágrimas surgiu em seu olhar. — Sei que a pessoa quem os demais, simplesmente por serem ignorantes, culpam até hoje não teria coragem de fazer tal ato de crueldade.

— Entendo! — disse numa voz irônica. — Imagino, então, que tal fato ocorreu quando cursava ainda o último ano em Mist's Peak, não é?

— Exato, Dark! — o Sr. Greenwich fuzilou-lhe com o olhar. — Porém, isso é algo que hoje descobrirei.

Ele, então, hesitou por um momento. E após reorganizar seus pensamentos, olhou fixamente nos olhos dos demais inimigos. Feito isso, retornou novamente para a face de Dark, que, como dito, era o único sem capuz. Respirou profundamente e fez de tudo para que não transparecesse sua raiva e seu ódio.

Em seguida, com testa e lábios franzidos, fez pausadamente, entre intervalos descontraídos e rápidos, uma pergunta:

— Por que será que você, um homem com a força que possui, recorre a estas táticas?

A Sra. Greenwich lançou um olhar fixante e severo.

— Bem, não lhe diria nem mesmo se eu quisesse — respondeu

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Dark, gentilmente. — Mas, posso afirmar que as feridas da minha batalha contra Os Lendários Magistrais Amazônicos são profundas. E agora, mesmo sendo digno de possuir um imerso poder ocultado, meus caros, não sou nada mais do que uma concha vazia do meu antigo eu, se assim é o modo correto de falar.

— Portanto, tudo isto é só para você retornar ao seu antigo eu… — disse o Sr. Greenwich; sua voz elevou num tom meio alterado. — Mas, como ficam, então, as pessoas que você está matando diariamente?

— Bem, não é isso exatamente. Mas, deixe para lá. Você tem muito a descobrir ainda. E, sobretudo, pois eu almejo serenamente me tornar o imperador do mundo. Aliás, de ambos os mundos. E para isso tenho que obter Os Cinco Talismãs Elementais para ampliar meus poderes e, assim, me consagrar o mais poderoso entre todos os magistrais de todas as gerações — a voz dele apresentava prazer. — É um bom plano e, ainda por cima, vocês poderão compartilhar isso comigo como os próximos governantes…

— Você nunca irá obter Os Cinco Talismãs Elementais. — exclamou o Sr. Greenwich. — Pois o mal nunca poderá despertar seu extremo poder.

— Exatamente! — interrompeu a Sra. Greenwich. — Só aquele que possui um coração puro e sereno poderá despertar seu poder e, desse modo, controlá-los.

— Poupe-me, sua tola, de suas desagradáveis palavras. Já me

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cansei disso tudo. Eu ordeno que vocês cooperem. Posso até, se forem bonzinhos, pensar a respeito de deixar vocês, lógico se concordarem com os meus ideais, serem meus novos fiéis seguidores.

— Não! — disse a Sra. Greenwich, friamente. — Você não sabe o significado da palavra “não” ou tem algum tipo de problema mental?

— Já chega! — disse Dark, numa voz que se tornou mais aguda e ameaçadora. — Não quero saber de enrolação. já estou a par de tudo. E como já deve imaginar, ordeno que me entregue agora o Talismã Elemental do Fogo. Caso contrário, não terei piedade.

— Nunca entregarei — discordou o Sr. Greenwich, rapidamente. — Não irei permitir que caia em mãos erradas.

A Sra. Greenwich sorriu.

— É isso mesmo — ela ficou vermelha como pimentão de tanta raiva. — Jamais vamos ajudar você. E as pessoas, coitadas, que estão desaparecendo e morrendo por causa disso?

Dark ficou surpreso.

— Já não deixei clara a situação em que vocês estão?

O Sr. Greenwich ergueu uma sobrancelha e disse:

— Não é bem assim. Como herdeiro honrado da família Greenwich — olhou fixamente para Dark e, reluzente, agora sobre suas palavras tremeu maliciosamente sobre si de prazer — e sendo o

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único vivo Guardião Fiel Hereditário e protetor do Talismã Elemental do Fogo, não permitirei em honra a conduta de meus entes queridos que caía em mãos erradas.

— Você ousa…

— Ouso, sim! E mesmo que tenha adquirido conhecimento das mais profundas e antigas técnicas elementais, hoje não será o nosso fim. Mas, tenha a certeza que será o seu, Dark.

— Eu poderia livrá-lo de muitos problemas e de muita dor — protestou o inimigo.

— Vou superar isso, meu caro — disse o Sr. Greenwich, enquanto uma força calorosa de coragem por dentro lhe apoderou. — Algumas pessoas nesta vida simplesmente não sabem lidar com essas barreiras que são diariamente impostas entre problemas e sofrimentos. Podem até ficar loucas por essa realidade absoluta. Mas, diferentemente delas, eu tenho minha família. Um forte e poderoso laço de amor. Isso é algo que tu jamais saberás perante o caminho obscuro no qual estás caminhando.

Dark ficou em silêncio. Embora, fuzilasse defronte a tais palavras com o olhar em direção a ele.

O Sr. Greenwich percebeu que se estivesse com o talismã e lhe entregasse ou revelasse a sua localização, mesmo assim não sairiam dali vivos.

Por outro lado, sua esposa naquele instante só estava preocupada

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com Lester. Aproveitou, então, o momento que o Sr. Greenwich e Dark se entreolhavam furiosamente para chegar mais próximo logo atrás do Sr. Rockley. Ela olhou profundamente em seus olhos e pediu-lhe que pegasse seu filho e fugisse dali o mais rapidamente possível. Pois, agora, já estava tudo certo o que teriam que fazer para salvar pelo menos ele e Lester. Enquanto isso, dariam cobertura.

— Então, a questão se resume a isso, não é? — disse Dark.

De tudo o que o Sr. Greenwich dissera nada aparentemente causava efeito nele, para seu grande espanto. E, no momento, ele sabia, estavam apenas a segundos de distância.

— Não! — disse Rubens. — Eu jamais poderia fazer isso. Vocês perderam o juízo?

— Você não compreende? — perguntou a Sra. Greenwich, forçando o tom de sua voz um pouco mais baixo. Nós temos consciência no que estamos fazendo.

— Não sei se conseguirei — respondeu ele, confuso. — Além disso, estou aqui para colocar minha vida em risco se for preciso.

— Isso de sua parte já é o bastante! — exclamou ela. — E agora já está decidido. Não temos tempo para mais nada. Eles vão atacar e nós não podemos deixar que nosso filho se machuque. Isso é algo que você deve compreender.

— Eu que deveria lutar.

— Você não deve se preocupar com ela — interviu o Sr.

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Greenwich, ali já muito próximo dele. — E outra, você é só um simples oficial que foi designado para apenas nos guiar e nada mais. — No momento, ele tomou consciência que o inimigo estava dando oportunidades para que tentassem fugir. Mas, não estava certo se aquilo realmente era ou não uma armadilha. — Rubens, você não deverá morrer por isto. Eu não permitirei. E também, já se esqueceu quem nós somos?

— Não… digo, Capitão. Sei que Vossas Senhorias são habilidosos e tudo mais.

O Sr. Greenwich sorriu com o elogio.

— Ora, estou preocupado. Vocês não sabem quem vão enfrentar.

— É claro que não — impacientou-se o Sr. Greenwich. — É por isso que estou mandando você, e não o contrário. Agora, pare de falar ou não chegaremos a lugar algum, e morreremos de qualquer forma todos.

A Sra. Greenwich colocou a mão no ombro do Sr. Rockley. Ela pediu novamente que fugisse com seu filho. E Dark, de longe, ordenava aos seus seguidores que capturassem todos vivos, pois queria a localização do talismã do fogo. Sabia que não poderia extrair isso facilmente dos dois, tendo em vista que suas mentes simplesmente poderiam obstruir e tornar as coisas complicadas em alto grau.

— Preparem-se — sussurrou. — Agora, atrás deles! Peguem-nos!

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- CAPÍTULO SEIS -

PARA PROTEGER QUEM AMA

Os seguidores de Dark, que se encontravam logo atrás só observando, sob as ordens de seu senhor, mexeram-se como se fossem simplesmente bons cães. E, quando correram, entretanto, o Sr. Greenwich não deu tempo para que eles atacassem e atacou-os utilizando uma técnica do elemento fogo, uma de suas especialidades. Ou melhor, uma magicrux patrono da natureza de seu kicrux. E, com as mãos unidas, canalizou a energia referida anteriormente em seu peito, fazendo com que surgisse uma forte aura de tonalidades de cores quentes e vivas. Logo após, disse:

— Magicrux! Grande Esfera de Fogo!

Uma gigantesca bola de fogo formou-se adiante, após uma rajada que saiu rapidamente pela boca do seu utilizador. E, a partir disso, devastou tudo em direção ao alvo, no mesmo instante em que se movia rapidamente em grau elevado. Entretanto, um dos seguidores de Dark bloqueou-a ao utilizar uma técnica defensiva do elemento terra para que não fossem atingidos.

— Que ótimo! — disse a Sra. Greenwich. — Não imaginava que eles usariam essa técnica.

O Sr. Greenwich lhe assentiu.

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— Pilares de terra. É pelo menos é uma boa técnica para se defender.

— É até que não são tão ruins — concordou a Sra. Greenwich, esboçando um sorriso.

O Sr. Greenwich, extasiado, em seguida disse:

— Magicrux! Agilidade Extrema!

Ele de súbito moveu-se numa velocidade altíssima, quase ao ponto de um movimento instantâneo, lutando contra quatro de uma vez, esquivando-se e contra-atacando efetivamente.

— Querido, rápido! Esquema de ataque número dois — disse a Sra. Greenwich, correndo em direção ao encontro do marido.

— Certo! — respondeu o Sr. Greenwich, já ao lado dela.

Prontamente, disseram ao mesmo tempo:

— Magicrux! Escuridão do Eclipse!

Uma vasta escuridão apoderou-se no ambiente em volta deles, formando-se um grande círculo. E dentro dele, os adversários do casal Greenwich não enxergavam absolutamente nada.

A técnica utilizada foi cessada pouco depois. E com seu desaparecimento revelou os inimigos caídos no chão — todos ali se encontravam nocauteados e inconscientes. Uma técnica terrível que permite somente seu utilizador de enxergar dentro do círculo de enormes lençóis de fumaças negras.

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— Querido, essa é a hora! — disse a Sra. Greenwich, alguns passos à frente do marido.

— Certamente, amor! — afirmou o Sr. Greenwich, dando ao mesmo tempo um mortal acima dela, tornando isso mais belíssimo do que dos atletas olímpicos.

Lado a lado, deram as mãos e se canalizaram para unir os elementos, algo difícil e poderoso que requer anos de treinamento.

— Magicrux! Dragão Flamejante Impiedoso de Luz!

Uma espécie de dragão de aura laranjada e mesclado a tons avermelhados de um fogo vivo formou-se no ar. E foi a uma extrema velocidade, que não deu tempo para os inimigos piscarem os olhos obviamente, eles estavam inconscientes e devido a isso não poderiam sequer contra-atacar.

Ocorreu ao casal, por um instante, que conseguiriam ter sucesso absoluto. Contudo, Dark — como ele é um grande idiota — de súbito interviu, conseguindo bloquear ao utilizar um ataque de nível superior. E, no local, seus seguidores, que ainda se encontravam todos caídos no chão, em razão do impacto da técnica defensiva que ele havia utilizado, foram alguns arremessados para longe, entre as árvores que serpenteavam a estrada, e os demais voaram para debaixo dos destroços do solo.

Uma gigantesca nuvem de fumaça de terra se expandiu.

— Nunca tinha reparado que vocês fossem realmente, como os

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boatos diziam, tão habilidosos! — disse Dark. — Mas, que pena que não concordaram com a minha proposta. Vocês poderiam ter sido parte do meu legado.

A Sra. Greenwich, furiosa, interrompeu-lhe. Ela correu a uma velocidade três vezes mais rápido que o seu marido, embora não usasse nem 50% de sua habilidosa rapidez, chegou ali ao encontro do inimigo para lutar sob seus próprios punhos, não tendo sequer alguma dificuldade enfrentar o combate corpo-a-corpo.

A arte de lutar e o real combate verdadeiro a tornava imbatível, seu corpo exalando uma forte aura se transformava numa defesa mais forte que aço, servindo para opor-se em caso de agressão.

Dark ficou intrigado. Ali, entre golpes ferozes e furiosos, ele quase nem conseguia ver seus socos e mal conseguia desviá-los. E, sem dúvidas, era de fato que havia ouvido rumores a respeito de suas habilidades únicas. Aliás, ela era dotada de uma força muito bruta, que o permitia nocautear rapidamente seus adversários.

— Meus parabéns! — disse Dark, num tom de sarcasmo. — Muito bem executado. Ora, fazia muito tempo, aliás, que eu não encontrava alguém que pudesse acompanhar realmente a minha velocidade.

A Sra. Greenwich assentiu, contudo com graus altos de indignação. E, no caso de seu marido, apenas de longe franziu a testa e mordeu os lábios de tanta raiva.

Dark afastou-se dela, por medida de segura, entre alguns metros.

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— Querida, Miley! Você, mesmo levando em consideração que seja uma mulher, é com certeza digna do nome de seu pai. O rei dos Elfos Elementais do Trovão — disse ele, elogiando-a ao contrafeito.

— É óbvio que consigo — disse a Sra. Greenwich, encarando-o ao fixar seus olhos. — Não vem com essa conversa marxista de homem. Pois, fique já sabendo que fui discípula de minha avó, a extraordinária Molly Wayne. Como você deve conhecer, uma incrível mestra de arte marcial. Não é apenas nosso instinto magistral de luta. E, por isso, é bom que você não me subestime.

Ela respirou fundo.

Entre segundos corridos, a Sra. Greenwich refletiu ali o que Dark havia dito sobre seu pai ser um rei. Isso seria verdade? Mas, como nunca o havia conhecido em sua vida toda, apenas o ignorou completamente. E avançou em direção a Dark, novamente, evitando seu chute e tentou dar-lhe um soco com a mão direita em seu rosto. Entretanto, subitamente, neste momento, ela desistiu de atacar seu oponente. Retirou-se de onde estava para alguns metros longe dele, entre as árvores da colina.

Porém, o Sr. Greenwich aproveitou a situação e o atingiu-o com um soco não muito forte com a mão esquerda na cara e, depois, deu um salto para trás, evitando um contra-ataque do inimigo.

— Magicrux! Pântano do Além!

Apenas alguns segundos depois, o Sr. Greenwich ficou parado observando a estrada, que tinha virado uma gigantesca poça de lama.

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A técnica atraia e levava para o fundo dali várias e várias árvores que estavam serpenteando ao redor. Algo poderoso que atrai quem estivesse em cima, como se fosse areia movediça, levando-o para o subsolo, onde ficaria ali aprisionado pela eternidade. E devido à pressão, o inimigo de seu utilizador não poderia se mover e, não havendo de jeito alguma uma escapatória, morreria ali compactado entre a terra e seus minérios.

— Impressionante! Formidável! — disse o Sr. Greenwich, após conseguir escapar dela por um frio. — Sabe, sinceramente, eu nunca tinha visto uma técnica de magicrux como essa.

A Sra. Greenwich, observando de longe em cima de uma colina, percebeu ao fixar firmemente seu olhar no inimigo, um deslize de sua parte. Com a guarda aberta, aproveitou o momento e chegou de surpresa ao encontro de Dark — desatento pelo o Sr. Greenwich não havia percebido a sua chegada —, e foi atingido com um forte golpe. Em seguida, em virtude deste golpe, o choque que resulta do movimento com que um corpo atinge outro e por graça ao seu impacto, foi lançado então sob alguns metros de altura no ar.

Contudo, o inimigo era habilidoso demais. E por causa disso conseguiu aterrissar perfeitamente no chão. Mesmo sendo uns dos golpes brutos provindo da força dela, sendo impossível até certo ponto de se restabelecer rapidamente ao normal. Ele tornava o combate digno de ambas as partes como uma incrível erupção.

— Vocês são realmente mais do que soberanos da elite — disse Dark, soberbamente, e esboçando um sorriso medonho. — E, por

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isso, não posso mais subestimá-los. O efeito da luta contra quem vocês já sabem, como havia dito, é tenebroso. Sinceramente, acho que não conseguirei ganhar de vocês dois juntos com esse nível. Dois Capitães e ainda um deles sendo um Guardião e a outra sendo tão habilidosa.

O Sr. Greenwich não tinha percebido que o inimigo estava se canalizando para usar uma nova técnica Elemental de algum outro tipo de magicrux ou, apenas, neste caso um encantamento derivado.

Em seguida, ele ouviu uma voz delirante de fúria:

— Magicrux! Prisão de Terra!

Ele, de súbito, com a sua guarda aberta, foi pego pela técnica do inimigo, com a qual o deixou imóvel. Olhou fixamente nos olhos albinos do inimigo e Dark, perante a isso, esboçou um sorriso de glória. E estava preste esmagá-lo com outra técnica. Mas, para o grande espanto do Sr. Greenwich, que ficou quase sem esperança, a sua esposa jovem e belíssima vinha ao seu encontro novamente. E, sob sua rápida velocidade de passos instantâneos, ela atacou Dark com uns de seus brutos socos, de uma forte aura de tonalidade cor de opala ao redor. Ele não teve escolha a não ser recuar alguns metros de distância.

A Sra. Greenwich, refletindo nesse meio tempo, aproveitou para canalizar em seu punho direito uma grande quantidade de energia vital, fundindo-a junto com as demais. Então, mirou em direção ao centro da cúpula de terra que aprisionava o seu marido.

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O Sr. Greenwich já estava com seu sentimento de frustração em grau elevado, quase no máximo. Mas, algo aconteceu e, por causa disso, simplesmente sua incerteza esvaziou-se. E, de fato, graças a Sra. Greenwich, que com apenas um de seus brutos socos havia conseguido destruir a cúpula em milhares de fragmentos e, desse modo, livrou-o da morte.

— Eu ainda não fui derrotado — disse Dark; seu sorriso medonho havia retornado sob gélidas auras. — Agora, quero ver o que vossa senhoria é capaz. Estou avisando, essa não é uma técnica de nível inferior como as outras. Não há uma pessoa neste mundo capaz de fugir ou contra-atacá-la.

Por um momento, parou e começou a canalizar em sua mão direita a energia vital do copo, juntamente com a energia física e, por último, a energia Elemental. Apenas alguns segundos após, adicionou outro elemento e, assim, concluiu-a ao fundi-la com a energia da natureza.

— Magicrux! Corte Relâmpago!

A técnica surpreendeu o casal Greenwich, pois desconhecia que ele fosse usuário de magicrux patrono do elemento trovão. Mas, antes, a Sra. Greenwich, de forma astuta e inteligente, já havia tomado consciência do que o inimigo tinha feito. E por apenas alguns segundos, quase sem tempo algum, ela planejou um contra-ataque, ficando sob o efeito paralisada. Não porque estivesse com medo, mas por estar se concentrando para salvar a vida dela e do marido.

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Enquanto olhava na direção onde se encontrava Dark, refletia o que ele havia feito. E entre reflexões e tudo mais, deduziu, nesse meio tempo, que ele, ao tomar certa distância dela e de seu marido, calculou o perímetro, fazendo com que se tornassem dois pontos para a mira de seu poder. O poder que ele havia, antes, enquanto tentava ela salvar a vida do marido, convocado aos poucos. Ali a concentração totalizada das energias conhecidas como Kicrux (energia elemental + energia vital + energia física + energia espiritual) em sua mão direita. A partir disso, em seguida percebeu que havia executado uma mudança elemental de uma das cinco naturezas de que era usuário, ou seja, adicionou-a à sua Magicrux Patrono do elemento trovão.

— Querido, cuidado! — disse a Sra. Greenwich, cautelosamente.

O Sr. Greenwich assentiu sem, contudo, compreender suas palavras.

— Tola! Isso não faz nenhuma diferença — assoberbou Dark, que acompanhara com extasiada atenção cada palavra dela como se fossem suas últimas, mas, em seguida, soltou uma gargalhada demente. — Já que não tem como vocês fugirem daqui. Quero que fiquem sabendo que minha esfera de aprisionamento se encontra envolta a quilômetros. Bem, acho que vou, então, matá-los aqui e agora. É melhor fazer alguma coisa logo e rápido.

O casal Greenwich e o Sr. Rockley, com o pequenino filhinho deles, do outro lado, próximo do carro, assentiram, no entanto inquietos e nervosos.

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— Sabe, seus numerosos métodos que fizeram para me derrotar são a prova de seus esforços, de suas forças. E, ao mesmo tempo, de suas esperanças insignificantes. Sendo assim, eu serei misericordioso. Mas, talvez em algum lugar dentro de vocês, como aquele inútil com seu filho entre os braços, já tenham desistido desta luta e de tudo aquilo que é realmente importante.

Soltou novamente uma gargalhada demente e disse:

— Contudo, não sou tolo o bastante para cair em suas armadilhas.

Dito isso, Dark avançou correndo em direção ao casal Greenwich com uma enorme e poderosa técnica. Durante sua aproximação, nesse meio tempo, sua magicrux do elemento do trovão se arrastava e colidia-se com a superfície do solo. A intensidade da técnica produziu uma imensa carga elétrica que, ao se locomover, devastava tudo com mais poder em direção alvo.

E, sem dúvidas, essa era realmente uma técnica poderosa. Uma técnica que requeria um nível superior de aprendizagem, capaz, dependendo da intensidade e do grau do acerto, de causar muitos danos e até matar, ao conseguir perfurar o corpo totalmente da pessoa dita ou até comumente conhecida como anormal.

— Jardem, querido! — disse a Sra. Greenwich, num absoluto aturdimento no rosto. — Rápido, atrás de mim!

Por um momento, ela já sabia, estava apenas alguns segundos de distância. Mas, também, já demonstrava pelo seu jeito que tinha

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conhecimento da técnica que poderia utilizar para se defender do poderoso ataque relâmpago do inimigo.

A Sra. Greenwich respirou fundo e disse:

— Magicrux! Defesa Suprema Absoluta! Escudo Soberano Elemental da Terra!

O ataque de Dark encontrou, enfim, seu destino e colidiu-se com um obstáculo. A técnica da Sra. Greenwich numa velocidade incrível apareceu inopinadamente para o seu desencanto — um enorme escudo gigantesco de terra —, materializou-se a frente deles. O casal por uma fração de segundo, um milímetro, nem a mais e nem a menos, foi devido a isso ali protegido. A defesa executada impediu a uma iminente morte e ao se opor como obstáculo fez gerar uma imensa fumaça causada pelo choque entre o relâmpago e a sólida terra.

O Sr. Greenwich perante o ato da esposa ficou circunspecto e refletivo, deduziu que ela havia manipulado bastante a vasta terra do local, inclusive os minerais que estavam concentrados no fundo do subsolo. E estava certo disso, pois sua companheira, ao misturar com seu Kicrux, conseguiu com sucesso utilizá-lo para salvar suas vidas. Uma grande técnica capaz de proteger até mesmo de uma explosão em grande escala.

De lado, o Sr. Greenwich, assoberbado ouviu a voz de sua esposa dizer:

— Magicrux! Movimentação Rápida entre a Terra!

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Dito isso, a Sra. Greenwich se moveu rapidamente, entrando debaixo do solo. Utilizou outra técnica, mas, essa não era verbal: “Magicrux! Perseguição Subterrânea”. E, por meio dela, mudou instantaneamente a intensidade do solo. Aparecia e ocultava-se em seguida, logo atrás do inimigo — ela fez-se parecer água pela facilidade com que se movimentava entre o subsolo e a superfície.

— Magicrux! Muro de Barro! — disse Dark, após ser surpreendido por ela atrás de si, que em seguida canalizou as medidas necessárias e, apenas batendo as mãos no chão, fez surgir sob o solo uma enorme parede em forma de muro de tijolos.

Entretanto, não era a intenção de Sra. Greenwich atacá-lo com uma Magicrux Elemental, e sim surpreendê-lo. Ela, que já havia corrido rapidamente em direção do inimigo, que utilizou uma técnica defensiva, não tive muito sucesso. Mas, pelo menos a mesma foi despedaçada por um belo soco bruto, que atingiu exatamente no meio do alvo. Ultrapassando e acertando diretamente o rosto.

Dark enxergou com dificuldade e ficou meio torto. Logicamente, o impacto do soco bruto foi tão forte que não restava dúvida de que giraria três vezes no ar antes de cair sobre o chão. Então, no exalto momento, enquanto se encontrava caído, a Sra. Greenwich utilizou outra técnica:

— Magicrux! Prisão de Terra!

Porém antes, havia canalizado as medidas necessárias. Em seguida, logo bateu as duas mãos no chão, envolvendo

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completamente seu oponente em uma enorme cúpula de terra.

O Sr. Greenwich ficou a alguns metros de distância, pois sabia perfeitamente que sua mulher gostava de lutar sem ajuda dos outros. Ou melhor, considerava ser covardia. Logicamente a ajudaria, apenas se fosse necessário. Sem dúvidas, se ela lhe pedisse — o pior do caso seria observar isso numa situação entre vida e morte.

— Magicrux! Divisão de Terra! — disse a Sra. Greenwich, olhando em direção a um grande relevo de terra com gigantes pedras entre a estreita estrada.

Em seguida, ocorreu ali um deslizamento. Desse modo, criou um grande terremoto. E o inimigo se encontrava perante o momento debaixo sobre a cúpula de terra. As rochas brutalmente começaram a se colidir em constantes movimentos.

— Magicrux! Golpe Corrompido do Subterrâneo! — disse ele, de dentro da cúpula de terra.

E, com isso, Dark utilizou-a para escarpar do deslizamento de gigantes pedras, caindo sobre onde se encontrava após fugir da técnica anterior.

A Sra. Greenwich, próxima dali, ainda utilizou outra técnica, sabendo perfeitamente que suas forças estavam se esgotando. Ela, então, criou um enorme buraco profundo, mudando a densidade do solo de onde se encontrava o inimigo. Ele foi, dessa forma, engolido para dentro.

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No final das contas, a Sra. Greenwich respirou fundamente como se tivesse vencido. E fixou seus olhos entre as rochas e o abismo. Deu um sinal de adeus e virou em direção ao marido. Entretanto, de súbito, foi surpreendida. O inimigo havia conseguido escapar voando em cima de um enorme corvo negro de olhos vermelhos de dois metros de altura, cuja aura envolta era ainda mais gélida. E sem falar de sua pluma de escuridão, que imitia névoas sombrias e agourentas.

— Você tem absoluta certeza disso? — perguntou o Sr. Greenwich, ao lado de sua esposa.

— Bem, acho que sim! — respondeu ela, tristemente num tom de adeus. — Não temos escolha, o inimigo é muito poderoso. Se formos atingidos, morreremos de qualquer forma. Não podemos mais recuar. Agora, só nos resta recorrer àquela técnica e usá-la para dar cobertura para Rubens conseguir fugir com o Lester.

Enquanto o Senhor e a Sra. Greenwich discutiam entre sussurros e murmúrios. Dark, no alto, sobre seu grande pássaro negro os observava, o mesmo tempo em que preparava uma nova técnica. Mas, não estava com intenção agora de atacar o casal Greenwich. Estava ponto para acabar com o Sr. Rockley, que carregava entre os braços o pequenino Lester.

— Para proteger quem nós amamos — disse a Sra. Greenwich, olhando fixamente para o Sr. Greenwich, enquanto davam as mãos.

— Tudo vale a pena — disse ele —, por isso aceitamos as

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consequências de nossos destinos. As trevas não ousarão tentar impor novamente suas maldades, sofrimentos e tantas mortes.

Uma forte aura de luz extrema cintilando apoderou em volta do casal Greenwich, de cores de tonalidades variadas, como um belíssimo arco-íris.

— Isso é para você, meu filho — ele chorou amargamente de tristeza —, tenha um bom futuro e caminhe pelo lado do bem.

Foi um momento difícil em todas as palavras que saiam da boca deles. O Sr. Greenwich deixou de falar, assentindo sempre que havia uma pausa entre olhares, como se fosse um último adeus.

Dark ficou um bom tempo observando, parecia que havia desistido da intenção de perseguir o Sr. Rockley com o pequeno Lester. No momento, estava sobre seu pássaro negro focalizado no alto, no ar rarefeito, somente com seu olhar na direção do casal Greenwich. “O que eles estão querendo fazer?”, pensou. E continuou encarando-os com firmeza e agora rindo cada vez mais em tom de sarcasmo. O casal, no entanto, achou difícil sustentar estes olhares.

A Sra. Greenwich ergueu o rosto para o Sr. Greenwich, tomou fôlego e continuou depressa:

— Vamos, querido? Agora, já podemos usar aquela técnica.

O Sr. Greenwich confirmou com a cabeça. Ao mesmo tempo, juntos, canalizaram o Kicrux e disseram:

— Magicrux! Portal Supremo Elemental dos Cinco Legendários

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Magistrais: Aprisionamento!

— Não posso acreditar! — disse Dark, surpreso. — Vocês sacrificaram suas vidas só para me derrotar?

Ele tentou fugir o mais rápido possível, mas aquelas foram suas últimas palavras, sendo pego pela técnica. O Sr. e Sra. Greenwich haviam se teletransportado e surgido defronte de sua pessoa. Ele estava cercado, encurralado por ambos. Uma enorme e gigantesca esfera de luzes coloridas se expandiu em volta deles. E, após isso, compactou-se num pequeno globo. Em seguida, subitamente, desapareceram dali.

Não havia mais qualquer sinal deles. E os únicos que ainda mantinham-se parados no lugar eram o Sr. Rockley, com o pequenino Lester entre seus braços. Os seguidores de Dark, que haviam sido derrotados pelo casal Greenwich, permaneciam caídos inconscientes no chão.

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- CAPÍTULO SETE -

MOLLY WAYNE

Rubens, mesmo de longe, observou tudo o que tinha ocorrido. Ele estava péssimo e se culpava por tudo o que havia acontecido. E, então, lágrimas escorreram de seus olhos e na sua face avançaram, expandindo completamente sobre ela uma enorme e forte tristeza. O inimigo não se encontrava mais ali, apenas eles.

O mundo foi honrado pelo ato heroico dos dois, e disso o Sr. Rockley tinha plena consciência, mas não havia coragem o bastante para ainda viver, depois de tamanhas consequências, que o casal teve de pagar em troca e que ele, por sua vez, não pôde fazer absolutamente nada. No entanto, poderia ainda realizar um desejo de ambos, e para manter a criança a salvo já sabia aonde poderia ir.

— Desculpe-me! — olhou para o rostinho do bebê; estava calmo e sorridente com seus pequeninos olhos azuis esverdeados cintilando belissimamente. — A partir de hoje, ficará tudo bem agora. As trevas não retornarão tão cedo meu pequeno anjo. Você terá uma vida boa com a pessoa que criou a sua doce mãe. Só quero que você, um dia me perdoe, pela arrogância de minha fraqueza. Prometo que irei mudar esta triste situação.

Resolveu, então, seguir em frente em direção de certa casa. Rumo a este novo destino, Rubens Rockley estava frustrado, pois não

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importava a velocidade que ele imprimisse, tal lugar parecia ficar longe, a muitos quilômetros dali. E dirigindo por uma estrada de terra, parou um momento para ver se estava tudo bem com o bebê; ele estava dormindo tranquilamente em uma cesta ao seu lado. Não havia sinal de qualquer habitação ao longo da estrada ou que nela ainda restasse, deixando-lhe muito perturbado ao passar do tempo.

Depois de algumas horas, percorrendo até uma rua deserta de sobrados gigantescos na zona rural, finalmente avistou de longe entre eles a referida casa. E, perante a isso, aproximou-se com extremo cuidado. Demorou um pouco para estacionar, porque não estava acostumado, e, passando por cima das latas de lixo, conseguiu parar o carro em frente da casa — realmente não considerava fácil essa façanha.

O sol estava quase surgindo e, na pouca escuridão que ainda lutava ali para permanecer firme, um jardim destacou-se ao lado do estacionamento, no final de um caminho estreito. O Sr. Rockley, com o pequeno adormecido na cesta, após passar próximo de um cercado de uma sebe alta e cuidadosamente aparata, caminhou ali adiante até um portão.

O lugar lembrava muito o casarão que o casal Greenwich havia alugado, embora fosse um enorme sobrado parecidíssimo com as demais da vizinhança. Ele colocou por um breve momento a cesta no chão e ergueu as duas mãos na forma de uma pirâmide, de modo que uma forte circulação de energias reunidas, Kicrux, apoderou-se em volta do sobrado. Uma espécie escudo meio transparente de aura

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tornou-se visível. Era algo que o Sr. Greenwich também havia feito para se aproximar com segurança e não se aniquilado, usando como defesa contra os inimigos.

Em silêncio, após abrir o portão, junto de Lester com a cesta em seus braços, atravessou como se fosse uma camada de uma cachoeira invisível e caminhou até a porta.

— Quem é a esta hora da manhã? — uma voz feminina ecoou de dentro do sobrado. — Como você conseguiu passar pelo escudo?

O Sr. Rockley ficou muito nervoso, franziu a testa e mordeu os lábios.

— Meu nome é Rubens Rockley.

A porta abriu-se rapidamente. Uma senhora de cabelos grisalhos, presos num coque apertado, surgiu ali entre a porta com um cajado de apoio. Ela trajava uma roupa de dormir de estilo escocês.

— Você é um oficial de Lispector Magix? — perguntou ela.

— Sim! — respondeu o Sr. Rockley. — E, infelizmente, Sra. Wayne, trago péssimas notícias.

— Como assim?

— Desculpe-me! — ele parecia que iria cair desmaiado, enquanto olhava para ela. — Eu realmente não queria incomodar a senhora a esta hora da manhã. Contudo, é que sua neta…

A expressão da Sra. Wayne mudou totalmente.

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— O que isso tem a ver com minha neta? — Ela tremia com o pior da resposta. — Vamos, diga-me logo. Aconteceu alguma coisa ruim com ela?

— Bem, isso vai ser difícil.

A Sra. Wayne lhe fuzilou com um forte olhar.

— Você tem notícia de minha neta? — esganiçou-se ela. — Então, por que o senhor não me diz logo?

O Sr. Rockley, olhando diretamente para seus olhos, comunicou:

— Miley e Jardem Greenwich — a voz dele parou por um momento. — Até que se prove ao contrário… Eles morreram numa batalha contra o líder de uma organização criminosa.

A Sra. Wayne não falou nada e nem se mexeu ao ouvir tais palavras. Respirou profundamente; as lágrimas em pequeninas gotas ali se espalhavam amargamente, queimando lhe por dentro algo forte, pior do que fogo em brasa. Nesse momento, sentiu que alguma coisa estava deixando-lhe, atravessando entre céu e terra, caminhando rumo a um novo caminho e esquecendo-a para trás perante a avançada idade sozinha no mundo.

— Não pode ser minha neta! — exclamou a Sra. Wayne. Suas lágrimas em seus olhos escorriam agora se expandindo até chega à ponta do seu nariz curvo. — Ela é tudo que tenho nessa vida. Já basta a dor de ter perdido a minha filha logo quando ela teve minha neta, e agora isso. Não sei se ainda posso viver. Oh, meu Deus…

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Os dois se entreolharam. Uma sensação de culpa se apoderou do Sr. Rockley ao ver as expressões de tristeza no rosto dela. Então, olhou novamente para a Sra. Wayne, querendo se desculpar pelo medo que lhe infundira e por tudo, porque se sentia profundamente responsável, mas não lhe ocorreram palavras que não parecessem vazias e insinceras.

— Vimos acontecer, foi horrível — continuou ele, lágrimas brilhantes escorrendo por sua face à claridade de um belo sol.

— Como assim, vimos acontecer? — perguntou a Sra. Wayne; o tom de voz estava baixo e muito fraco.

O Sr. Rockley, com o olhar lagrimejado, apontou para a cesta entre suas mãos. A Sra. Wayne não havia percebido até o momento e, para o espanto de ambos, subitamente o choro de Lester surgiu, cortando o silêncio.

— Lester? — disse ela. — Meu pequenino, bisneto?

O Sr. Rockley fez sinal de afirmação.

— Ele acordou algumas vezes durante a batalha de seus pais. Mas não se lembrará de nada, pois caía no sono assim que acordava.

A Sra. Wayne avançou nele quase empurrando completamente e o apanhou de dentro da cesta, entre lençóis, para seus braços. Lester estava empunhado por uma coberta de algodão azul-marinho.

— É o meu garotinho — uma esperança havia surgido entre seus olhos. — Ele está salvo!

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Um músculo ainda tremia no queixo do Sr. Rockley. Ele assentiu, mas parecia incapaz de dizer qualquer palavra.

— Lester, querido! — disse ela, tentando sorrir. — Graças a Deus, graças a Deus…

A voz da Sra. Wayne de repente quebrou. O Sr. Rockley e ela se entreolharam. Ambos não conseguiam ainda absorver o cruel ocorrido. Aliás, quem conseguiria tal coisa? Por fim, começaram a compreender, embora permanecessem em silêncio, que não havia mais razão de ainda continuar ali fora falando ainda a respeito do que havia acontecido.

— Você não teria conhaque aí, ou teria Sra. Wayne? — perguntou Rubens.

— Ah, sim.

A Sra. Wayne entregou Lester para o Sr. Rockley.

— Bem, vou buscar para o senhor. Enquanto isso, por favor, poderia colocá-lo no berçário que era da mãe dele, no quarto do segundo andar, ao fim do corredor?

O Sr. Rockley ficou satisfeito por ela ter indo buscar um pouco de conhaque e foi até o lugar que havia dito. Chegando lá, localizou um berçário meio antigo e colocou o bebê dentro; dormia tranquilamente, como de acostume. Retornou, então, para a sala de estar e consultou o relógio para ver as horas.

A Sra. Wayne reapareceu trazendo uma garrafa de conhaque, que

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lhe entregou como se fosse um presente.

— Obrigado, por tudo! — disse ela, agora calmamente.

— Eu que agradeço!

A Sra. Wayne assentiu e continuou em silêncio.

— Bom, já vou… tenho que informar as autoridades do Reino Amazônico Oculto. Já deviria ter chegado lá há mais de uma hora.

A Sra. Wayne, então, despediu-se dele.

— Tchau! Que as forças do bem te guiem!

— Igualmente! Tchau!

O Sr. Rockley bebeu o conhaque no bico da garrafa, deu um último aceno e se afastou para o além do portão. Não olhou para trás, apenas seguiu adiante. No presente momento, não surgia a mente palavras que não fossem apenas de sentimentos vazios e simples de um triste adeus. E assim sendo, desapareceu de vista.

A Sra. Wayne parou por um momento perante a entrada da porta. E ali, sozinha, olhou para o sobrado, levantou seu cajado e, em seguida, disse:

“Convoco-me o despertar pelo tempo e espaço,

que um dia selado pela dor encontraste.

Viva há muitos anos na solidão de um ideal,

à sombra da luz do entristecer,

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anos de medo dos poderes que eu renegaste.

Quero de volta perante a este amanhecer,

outrora por direito meu foste.

O dom e o talento que dentro de mim nasceste,

Retorne de volta agora e para sempre!”

Uma luz forte fortificou-se a sua volta. E, feito isso, a Sra. Wayne entrou satisfeita e reluzente para o sobrado. Parecia que algo havia lhe dado, de algum modo, a tão conhecida esperança. Sim, esperança! E a descrença mesclada ao seu interior numa antiga e profunda tristeza nas trevas dos mares de solidão. Agora se desmanchava aos poucos.

A Sra. Wayne tinha mais de um século de vida. Muitos anos de muitas felicidades. Mas, também, muitas décadas solitárias que não desejaria para ninguém que a conhecesse. Perdera o Sr. Wayne, ou achava que havia lhe perdido, pois ele se encontrava num estado de coma profundo já havia anos e nada poderia fazer. Até então, a única filha que tivera dele, já velhota, infelizmente, havia falecido ainda moça após conceder à luz a sua neta. Ela se chamava Holly Wayne, a magnífica.

Holly era um grande orgulho que qualquer mãe do mundo gostaria de ter a sua semelhança. Honrada como uma das Lendárias Magistrais do Reino Amazônico Oculto, ao qual fez jus por sua coragem e determinação. O seu passado era repleto de segredos e

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mistérios. Mas, ainda na pouca idade, já havia conquistado muitas das façanhas. E assim também podemos dizer da Sra. Greenwich, a terceira da geração feminina.

Lester Greenwich não poderia ser diferente. Apesar de que na família Wayne, as mulheres sempre foram as protagonistas de grandes feitos. Molly, Holly e Miley. Ele chegou para trazer à tona o lado de grandeza que herdara de ambas as famílias. Pois assim como a família Wayne com o lado feminino, a família Greenwich teve membros entre muitas gerações, no entanto do sexo masculino — grandes trajetórias de pura e de muita proeza. Seus relatos valeriam muito a pena, sem dúvidas, quem sabe em outra oportunidade, de se ouvir ou sem hesitação contar.

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- CAPÍTULO OITO -

OS MISTERIOSOS OBJETOS

A luz do dia com força, de súbito, cintilou preguiçosamente perante o despertar do amanhecer. A escuridão que ainda permanecia ali lutando em lampejos de sombras foi cessada por uma grande esfera de cores quentes entre várias nuvens azuis. E ela se comprimia em fortes brilhos solares nas enormes e transparentes vidraças uniformes do elegante sobrado da Sra. Wayne. Desfazendo, uma cena sombria e agourenta do que havia sido uma longa e gélida madrugada.

A milhares de quilômetros desse local, vários fragmentos de notícias do ocorrido estavam se expandido aos mais vastos lugares do globo terrestre. Em um vilarejo entre inúmeras gigantescas árvores, nas proximidades de montanhas com neblina em seus picos, sons animados de murmúrios de pessoas agitadas se multiplicavam cada vez mais conforme o tempo passava. O clima não estava razoável, como na região da Sra. Wayne; em vez disso havia uma variedade de pessoas com vestes diferentes do normal, e a maioria usava nessa manhã longas capas. Uma forte neblina de um tempo frio os arredondava, mas isso, de fato, não impedia de ficarem em murmúrios agitados e ferventes sobre a manchete do dia, embora muitos moradores dessa comunidade não se compactuavam com isso.

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Nesse mesmo lugar, em uma ruazinha, um homem corria em direção oposta dessas pessoas e, reconhecendo uma outra que havia se materializado a poucos metros de distância, manteve sua conduta por algum tempo. Os dois cumprimentaram-se e começaram a andar apressados na mesma direção entre raios de luzes, contudo sem um sol quente no alto para os aquecerem. Suas longas capas esvoaçavam ao redor dos tornozelos e arrastavam pelo chão enquanto caminhavam entre passos largos.

— Você já soube? — perguntou a mulher, em voz de desdém.

— Sim! — respondeu ele, num suspiro cansado. — Foi um pouco mais complicado do que imaginei. Mas, acho que ele vai ficar melhor depois que se acostumar com a notícia.

O casal virou para direita, para um largo caminho de entrada de um belo casarão. Caminharam pelo jardim até o saibro, que começou a estalar sob os pés de passos apresados em direção à porta da frente. O homem tocou a campainha e a mulher esperou ao seu lado, até que foram atendidos e convidados a entrar na sala de estar.

Os dois caminharam suntuosamente sob um magnífico tapete que quase cobria todo o piso de pedra e subiram as escadas até chegarem ao segundo andar do casarão. E entre vários cômodos se detiveram à frente de uma gigante porta que levava a outro cômodo, então a mulher, ao lado do homem girou a maçaneta e pararam por um instante na entrada.

A sala estava cheia de pessoas silenciosas. Todas sentadas nas

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cadeiras de uma comprida mesa ao lado de uma lareira de mármore, onde provinham chamas capazes de iluminar toda a área e, ao mesmo tempo, aquecê-los. Todos da sala, inclusive os dois recém-chegados, tinham em seus peitos do lado esquerdo uma espécie de brasonado. Era um leão em pé, como se fosse um cavalo, e em suas costas existiam asas gigantescas, na qual ali em sua volta se expandia chamas vivas.

— Julie e Fiuk — disse uma voz aguda que parecia incapaz de se conter em lágrimas a qualquer instante, e de frente para todos da cabeceira da enorme mesa —, vocês estão atrasados.

Os dois assentiram sem dar explicações dos devidos atrasos; em vez disso, sentaram imediatamente em duas próximas cadeiras vazias. Julie dirigiu-se à sua esquerda, onde seu acompanhante Fiuk sentara.

— E então?

— Capitão Kenzie, a Vossa Soberania da ordem suprema de nossa hierarquia. Os magistrais rei e rainha: Fineus Rockwell e Joanne Meireles, de acordo com os Comandantes Anciões suas ordens são bem ditas. Nosso esquadrão irá cumprir a missão, e ficará sobre nosso encargo a captura de todos os membros e seguidores da tal organização criminosa Névoa de Fúria.

O murmúrio de pessoas animadas estabeleceu-se quase entre todos. O interesse intensificou-se perceptivamente; uns enrijeceram e outros se tornaram hostis a respeito disso, contudo todos ficaram atentos olhando para Fiuk e Kenzie.

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— Bom. Muito bom — disse Kenzie. — Quero que todos escutem com a devida atenção. Estou realmente disposto a cumprir com sucesso esta missão. Nós não teremos piedade dos atos criminosos desses sujeitos.

Em silêncio, todos aprovaram aparentemente a missão com a cabeça. Ouviram a determinação de coragem sob a voz dele e perante o seu olhar, que fixava com tanta intensidade, que alguns observadores não teriam a audácia de contradizer.

— Certamente! — disse Fiuk.

— Capitão Kenzie — chamou Julie —, como o senhor já sabe o Capitão e Capitã Jardem e Miley Greenwich derrotaram o suposto líder dessa organização e alguns de seus seguidores, no entanto os dois desapareceram sem deixar qualquer pista. Provavelmente, não então mais entre nós.

Muitos da mesa se horrorizam com tais palavras. Ela havia dito sem alterar o seu tom de voz, baixo e reflexivo, e sustentando um olhar calmo, mas não deteve suas feições grosseiras. No entanto, algo sob Kenzie o queimava por dentro, ao mesmo tempo, fazendo seus olhos ficarem brilhantes de lágrimas.

— Desculpe-me! — disse ela. — Não sou boa em lidar com emoções.

— Tudo bem — disse Kenzie. — Já estou a par de disso tudo. Contudo, como vocês devem ter percebido, isso é um grande choque para mim. Fui muito amigo dos dois deste que éramos crianças —

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seus lábios descarnados temiam enquanto falava sobre o ocorrido da madrugada até o amanhecer. — Isso que aconteceu é terrivelmente monstruoso e… Nada pudemos fazer, nada… Eu deveria ter previsto isso quando mandei o velho oficial Rubens Rockley guiá-los…

A voz de Kenzie flutuou nos ouvidos de todos. Alguns se entreolharam e, por um momento, permaneceram em silêncio.

— Claro que o Sr. Capitão não poderia ter feito nada — disse Fiuk.

Ninguém sabia o que fazer ou se continuariam com a reunião. O oficial Fiuk, dentre todos era o único que realmente tinha visto pessoalmente no esquadrão como os três foram chegados e ficava imaginando a dor que Kenzie estava sentido por ter perdido seus protegidos amigos.

— Capitão Kenzie? — adiantou-se Joe Surfenes.

— Sim.

Joe Surfenes tinha se inclinado para a frente e todos os rosto se voltaram contra ele.

— Tenho algumas informações que nos será muito útil em nossa missão.

— Continue, por favor!

— O próprio Capitão Jardem Greenwich me informou, uma

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semana antes do ocorrido, que ele havia encontrado, como todos já sabem, os responsáveis por todos aqueles ocultos ataques. Nada menos que tal organização. Até então, os demais magistrais de outras nações estão abnegando o ocorrido dessa madruga.

— Sim, Joe!— disse Julie. — Infelizmente, nós já sabemos. Mas, onde você quer chegar com isso?

— A nada senão — respondeu ele —, ao objetivo dessa organização. Ou melhor, ao propósito deles.

— Certamente! — interrompeu Kenzie. — Estou compreendo, continue.

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