lenços e xailes

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Lenços e Xailes A saia de castorina, de uso vulgar, na Glória, era substituída por xailes, em ocasiões festivas: nos casamentos, nas festas…Assim, consoante as épocas, foram adoptados tipos que vieram a ser conhecidos pelos respectivos nomes. Deste modo, os mais antigos que conhecemos (finais do sec XIX, princípio do sec. XX) são os xailes pretos, mais brilhantes ou mais baços e ligeiramente finos. Desta época, surgiram também alguns de cor, cuja raridade não nos permite fazer grandes afirmações. Segue-se depois o “xaile turco”, muito grande e grosso e que apresenta duas faces coloridas: castanho e azul, verde e azul, preto e azul, etc. O “lenço de malhas” ou “malhão”, coexistente na época do anterior, é um xaile mais pequeno e mais leve, menos festivo, apresentando relevos muito variados. Este, quando se tornava mais velho, passava a ser usado “à semana”, no Inverno, cruzado sobre o peito e atado com um nó atrás. Destes, há conhecimento de cores como azul, encarnado, castanho, rosado, alaranjado. O último desta sequência é o “pirinéu”, mais grosso que o anterior e sem relevos. As cores mais frequentes são o castanho, o azul e o preto, havendo também alguns rosados. Estes surgiram na década de sessenta e ainda hoje mulheres (idosas) que os usam no Inverno, em certas ocasiões.

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Page 1: Lenços e Xailes

Lenços e Xailes

A saia de castorina, de uso vulgar, na Glória, era substituída por xailes, em

ocasiões festivas: nos casamentos, nas festas…Assim, consoante as

épocas, foram adoptados tipos que vieram a ser

conhecidos pelos respectivos nomes. Deste

modo, os mais antigos que conhecemos (finais

do sec XIX, princípio do sec. XX) são os xailes

pretos, mais brilhantes ou mais baços e

ligeiramente finos. Desta época, surgiram

também alguns de cor, cuja raridade não nos

permite fazer grandes afirmações. Segue-se

depois o “xaile

turco”, muito grande

e grosso e que

apresenta duas faces coloridas: castanho e

azul, verde e azul, preto e azul, etc. O “lenço de

malhas” ou “malhão”, coexistente na época do

anterior, é um xaile mais pequeno e mais leve,

menos festivo, apresentando relevos muito

variados. Este, quando se tornava mais velho,

passava a ser usado “à semana”, no Inverno,

cruzado sobre o peito e atado com um nó

atrás. Destes, há conhecimento de cores como azul, encarnado, castanho,

rosado, alaranjado. O último

desta sequência é o “pirinéu”,

mais grosso que o anterior e sem

relevos. As cores mais frequentes

são o castanho, o azul e o preto,

havendo também alguns rosados.

Estes surgiram na década de

sessenta e ainda hoje há

mulheres (idosas) que os usam

no Inverno, em certas ocasiões.

Page 2: Lenços e Xailes

Quanto a lenços da cabeça, distinguem-se os de pano, (com fundo branco

ou amarelo) de uso vulgar (foto 1), mas todos conhecidos por nomes

específicos: aos ramos, às cartas, às cebolas, às bolachas, etc. De entre

estes, há ainda a considerar o lenço preto, o roxo (foto 2) e o cor-de-cana-

seca (foto 3), cujo uso correspondia a situações de luto ou sentimento.

Nas ocasiões especiais exibia-se o lenço chinês (foto 4), o cachené (foto 5)

ou o lenço de seda (foto 6) – esta variedade é a mais antiga e são raros os

exemplares. Deste grupo, destaca-se o cachené que, consoante as épocas,

é mais ou menos recheado com desenhos a fio de seda, coloridos, sobre lã

ou algodão. A cor de fundo mais frequente é o amarelo, mas são

abundantes também os verdes, em diversas tonalidades, os pretos, os

castanhos, os brancos, os cor-de-laranja…

Surpreendente é o facto de, no seu conjunto, perfazerem algumas

centenas de variedades, sintoma de uma comunidade com muita

sensibilidade e com padrões estéticos muito apurados e desenvolvidos.

Esta conclusão não é mais nem menos do que a confirmação do que já

havíamos encontrado, relativamente a todos os outros aspectos que

constituem esta cultura – quer se fale de bordados e artesanato, quer de

melodias, poesia, decoração das habitações, etc.

Foto 1 – Lenços de Pano

Page 3: Lenços e Xailes

Foto 2 - Lenços Roxos

Foto 3 - Lenços “Cor-de cana-seca”

Page 4: Lenços e Xailes

Foto 4 - Lenços Chinês

Foto 5 - Lenços Cachené

Page 5: Lenços e Xailes

Foto 5 - Lenços Cachené

Texto de Rita Cachulo Pote (2007)

Recolha Colectiva (Rancho Folclórico da Casa do Povo de Glória do Ribatejo)