lembranças do senhor - helena westpal

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Lembranças do SENHOR Extraído das minhas vivências em Vomperberg. por Helene Westphal Acima de Schwaz, no Tirol, sobre um alto platô e rodeada por altas montanhas, localiza-se a Colônia do Graal. É um maravilhoso pedacinho de terra, criado para ser um refúgio de paz. Há muito passou o tempo em que o SENHOR, o portador da Mensagem do Graal, andava em nosso meio, contudo, a lembrança, as vivências são profundas e inapagáveis. Éramos agraciados para viver na maior proximidade do Trígono, e, dessa forma, gostaria de escrever minhas lembranças para as pessoas que não vivenciaram essa época e não conheceram o SENHOR e nem Frau MARIA. ABD-RU-SHIN fundou a Colônia do Graal no ano de 1928, e no Natal de 1928 realizou-se a primeira Solenidade na residência do SENHOR. Os primeiros seres humanos, que ouviram o Seu chamado, haviam vindo para serem selados. Eram os mais elevados convocados, encarnados para proteção e auxílio, para a nova construção sob a condução do SENHOR. A primeira época deve ter sido sublime, acima de todo o terrenal. Cada um dava o melhor de si, seja âmbito espiritual ou terrenal. A Colônia, a princípio, era pequena, mas em pouco tempo havia um considerável número de casas. Algumas construções antigas ainda hoje existem e novas foram agregadas a elas; muita coisa foi modernizada; tudo se ampliou e também se modificou. Muitos dos primeiros convocados não vivem mais, contudo, muitos também haviam abandonado a Montanha ainda na época de vida do SENHOR e tornaram-se novamente infiéis à sua convocação. Em outubro de 1936 cheguei pela primeira vez à Montanha. Eu havia recebido a Mensagem “Na Luz da Verdade ” por meio de uma portadora da Cruz, e imediatamente havia decidido ir para a Montanha. Eu sempre havia procurado e agora havia encontrado. Minha chegada prevista fora anunciada, contudo eu me sentia bastante constrangida, pois não conhecia ninguém na Montanha. Contudo, meus receios dissiparam-se rapidamente, pois fui tão calorosamente recebida que imediatamente senti-me em casa. Tudo era tão maravilhoso, tantas pessoas irradiantes em uma paisagem maravilhosa e reconfortante, e se tornou claro para mim, que nem podia ser diferente, quando se podia viver na proximidade do SENHOR e de Frau MARIA. No dia seguinte pude participar de uma devoção na qual fora lido: “Vê, criatura humana, como tens de caminhar através desta Criação, para que fios de destino não impeçam, mas auxiliem tua ascensão!” *( N.T: Dissertação Nº 26 do livro Ressonâncias da Mensagem do Graal I). Em seguida fui recebida pelo SENHOR. Eu estava muito tensa, o que no entanto cedeu quando o SENHOR havia falado as primeiras palavras de saudação: “Enquanto a senhora estava subindo a escada, fora colocado um manto escuro ao redor da senhora, senão a senhora não teria suportado a minha força!” Como eu, na conversa que se seguiu, encontrei a coragem para perguntar ao SENHOR, se eu poderia viver com meus filhos na Montanha, ainda hoje eu não sei. Em todo caso a resposta foi: “Sim, a senhora pode!” A isso eu respondi espontaneamente: “Oh não, SENHOR, isso não dá, são tantos os impedimentos no caminho.” Eu estava pensando no meu marido. Contudo, o SENHOR respondeu:

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Lembranças do SENHOR

Extraído das minhas vivências em Vomperberg.

por Helene Westphal

Acima de Schwaz, no Tirol, sobre um alto platô e rodeada por altas montanhas, localiza-se a Colônia do Graal. É um maravilhoso pedacinho de terra, criado para ser um refúgio de paz. Há muito passou o tempo em que o SENHOR, o portador da Mensagem do Graal, andava em nosso meio, contudo, a lembrança, as vivências são profundas e inapagáveis. Éramos agraciados para viver na maior proximidade do Trígono, e, dessa forma, gostaria de escrever minhas lembranças para as pessoas que não vivenciaram essa época e não conheceram o SENHOR e nem Frau MARIA.

ABD-RU-SHIN fundou a Colônia do Graal no ano de 1928, e no Natal de 1928 realizou-se a primeira Solenidade na residência do SENHOR. Os primeiros seres humanos, que ouviram o Seu chamado, haviam vindo para serem selados. Eram os mais elevados convocados, encarnados para proteção e auxílio, para a nova construção sob a condução do SENHOR. A primeira época deve ter sido sublime, acima de todo o terrenal. Cada um dava o melhor de si, seja âmbito espiritual ou terrenal. A Colônia, a princípio, era pequena, mas em pouco tempo havia um considerável número de casas. Algumas construções antigas ainda hoje existem e novas foram agregadas a elas; muita coisa foi modernizada; tudo se ampliou e também se modificou. Muitos dos primeiros convocados não vivem mais, contudo, muitos também haviam abandonado a Montanha ainda na época de vida do SENHOR e tornaram-se novamente infiéis à sua convocação.

Em outubro de 1936 cheguei pela primeira vez à Montanha. Eu havia recebido a Mensagem “Na Luz da Verdade” por meio de uma portadora da Cruz, e imediatamente havia decidido ir para a Montanha. Eu sempre havia procurado – e agora havia encontrado. Minha chegada prevista fora anunciada, contudo eu me sentia bastante constrangida, pois não conhecia ninguém na Montanha. Contudo, meus receios dissiparam-se rapidamente, pois fui tão calorosamente recebida que imediatamente senti-me em casa. Tudo era tão maravilhoso, tantas pessoas irradiantes em uma paisagem maravilhosa e reconfortante, e se tornou claro para mim, que nem podia ser diferente, quando se podia viver na proximidade do SENHOR e de Frau MARIA.

No dia seguinte pude participar de uma devoção na qual fora lido: “Vê, criatura humana, como tens de caminhar através desta Criação, para que fios de destino não impeçam, mas auxiliem tua ascensão!” *( N.T: Dissertação Nº 26 do livro Ressonâncias da Mensagem do Graal I). Em seguida fui recebida pelo SENHOR. Eu estava muito tensa, o que no entanto cedeu quando o SENHOR havia falado as primeiras palavras de saudação: “Enquanto a senhora estava subindo a escada, fora colocado um manto escuro ao redor da senhora, senão a senhora não teria suportado a minha força!” Como eu, na conversa que se seguiu, encontrei a coragem para perguntar ao SENHOR, se eu poderia viver com meus filhos na Montanha, ainda hoje eu não sei. Em todo caso a resposta foi: “Sim, a senhora pode!” A isso eu respondi espontaneamente: “Oh não, SENHOR, isso não dá, são tantos os impedimentos no caminho.” Eu estava pensando no meu marido. Contudo, o SENHOR respondeu:

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“Se a senhora quiser, não haverá nenhum impedimento em sua vida.”

Nunca houve um impedimento em minha vida. Depois dessa primeira conversa com o SENHOR eu andava como que em sonho. Só havia um pensamento em minha cabeça: “Tu o conheces, de onde, porém, tu o conheces?” Apenas muito mais tarde eu tomei conhecimento de onde eu conhecia o SENHOR.

No natal de 1936 fui selada e em 13 de fevereiro de 1937 mudei-me com meus dois filhos para a Montanha. Havíamos morado em Tutzing e chegamos em pleno inverno à Montanha. Tudo estava preparado para a nossa chegada e ficamos muito bem alojados até nossos móveis chegarem.

Cerca de 100 adeptos viviam naquela época na Montanha. Particulares e funcionários. Havia uma escola estatal autorizada, um pequeno internato que era dirigido por um casal de professores. Os alunos sentavam-se separados dos adultos nas refeições. As meninas eram cuidadas por uma de quatro senhoras, que se alternavam a cada semana; os meninos eram cuidados pelo professor, o qual era muito rigoroso. Na Montanha viviam principalmente alemães, mas também holandeses, tchecos, franceses e ingleses. Quase todas as profissões estavam representadas, de modo que a Colônia era quase independente do mundo exterior. Como havia muito trabalho, o almoço e o jantar eram tomados em conjunto. O SENHOR determinava a disposição da mesa que, por motivos bem pensados, era sempre de novo modificada.

Nós éramos de índole das mais diversas e fomos sempre postos junto com alguém, que era apropriado, para moldarmo-nos, adaptarmo-nos e amadurecermos reciprocamente, a fim de formarmos um refúgio de paz e de harmonia na Terra. Tudo era e devia permanecer móvel, nada era rígido e, se algo se tornasse difícil, imediatamente havia ajuda e quem realmente não pudesse adaptar-se, deixava por si mesmo a Montanha. Jamais havia um: você deve! Assim aprendíamos a modificar-nos sempre que fosse necessário, pois os efeitos recíprocos efetuavam-se muitas vezes de forma imediata. Acontecia, por exemplo, que Frau MARIA determinasse bem cedo de manhã, que vários grupos tinham de trocar suas residências ou seus quartos. Para todos nós era um contínuo aprender e desenvolver sob a condução do Trígono.

Nossa vida na Montanha estava, por assim dizer, dividida em castas! Havia uma grande distância entre discípulos, portadores da Cruz de ouro e de prata. As castas, porém, não se encontravam uma acima das outras, mas sim uma ao lado das outras. Ninguém olhava para os outros com superioridade, pois o que contava era o ser humano e como ele desempenhava o seu trabalho. O mais ínfimo trabalho era exatamente tão importante como o maior. Os discípulos encontravam-se mais próximos do SENHOR, eram por ELE ensinados e tinham em tudo a maior responsabilidade. A seu próprio pedido puderam encarnar-se nessa época e foram agraciados com grandes capacidades, para poder auxiliar o SENHOR em Sua grande missão. Os portadores da Cruz de ouro tinham que de auxiliar os discípulos em suas tarefas terrenas e tinham igualmente uma grande responsabilidade. Os portadores da Cruz de prata não tinham esta responsabilidade, mas tinham de viver exemplarmente como seres humanos. O SENHOR expressou-se uma vez nesse sentido, que Ele preferia certos portadores da Cruz de prata a um discípulo.

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Nas devoções era sempre o SENHOR mesmo quem falava. Quando Ele entrava no recinto de devoção, vinha uma Luz com Ele, quando Ele deixava o recinto, então a Luz ia novamente com Ele, e ali escurecia. Sempre eu via isso dessa forma e sempre me atingia uma grande dor, quando novamente escurecia.

Uma discípula fora convocada para a música e tocava naquela época o harmônio, o órgão só viera muito mais tarde. Quando íamos para a devoção, já ouvíamos de longe a música do órgão. Não havia conversas e em silêncio tomávamos nossos lugares. Novamente em silêncio deixávamos o recinto, sempre sob o som do órgão, e em silêncio íamos para casa. Não havia aglomerações.

Uma vez por semana uma das senhoras, que morava na Colônia, ia até Schwaz, para fazer compras para os moradores da Montanha, os quais não podiam ir pessoalmente. Havia, de fato, uma pequena loja na Colônia, mas mantinha só o estritamente necessário, como sabão etc. As compras maiores vinham então para cima com o teleférico, o qual existia naquela época.

O SENHOR havia introduzido noites especiais para os portadores da Cruz de ouro, que deviam exercitar-se em palestras. O Trígono estava então presente, contudo, depois de algum tempo, essas palestras deixaram novamente de acontecer. Os temas eram geralmente determinados pelo SENHOR, como me fora dito, e os respectivos temas referiam-se sempre aos erros e fraquezas dos próprios palestrantes, os quais, contudo, não tinham conhecimento disso.

A Montanha era conhecida em toda a redondeza e o SENHOR era amado por todos. Mas também Frau MARIA conquistava muitos corações. As grandes forças terapêuticas, que ela possuía, podiam auxiliar muitas pessoas em busca de auxílio a saírem de sua aflição. O fato dela também ter que deixar imperar uma severidade justa, era algo que muitas pessoas não podiam compreender. As pessoas exigiam um amor mole, o qual, porém, não é capaz de auxiliar ninguém. O SENHOR mantinha pessoalmente um bom contato com os camponeses dos arredores, os quais Ele convidava uma vez por ano para uma refeição. Em uma dessas refeições levantou-se certa vez um simples camponês, foi até o SENHOR, bateu-Lhe no ombro e disse comovido: “Tu és o melhor de todos!”

Algo especialmente solene eram os sepultamentos, como é costume ainda hoje, diferenciando-se apenas pelo fato de que outrora era o SENHOR quem os celebrava. Um tal ato permaneceu-me na memória de forma bem especial. A senhora Jacks-Müncheberg deveria ser convocada discípula na Solenidade do Lírio e já se encontrava na Montanha. Pouco antes da Solenidade, porém, ela faleceu repentinamente. Ouvimos então que ela, por causa de sua fidelidade para com o SENHOR, pudera partir para o Além, pois havia sido convidada para um congresso partidário em Nürenberg e encontrava-se, na época de Adolf Hitler, em grande perigo terreno, e isso também poderia ter tido conseqüências para o SENHOR. A respeito disso o SENHOR esclarecera que ela na matéria fina já preencheu uma brecha e lutava contra as trevas. Mais tarde o SENHOR disse no decurso de uma conversa comigo, que a senhora J.M. estivera na Solenidade para buscar sua bênção de discípula, e que outrora ela fora soberana de um grande país.

Algo elevado único eram todas as Solenidades. Era uma imagem maravilhosa e memorável, quando discípulos e discípulas entravam no Templo sob o som da música do Graal. As apóstolas portavam seus mantos coloridos e os discípulos os seus uniformes. Quase não me é possível descrever as profundas impressões e intuições de uma Solenidade. A música era especialmente solene, a força que

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descia era tão poderosa que quase não era possível passar pela mesa do SENHOR. Fui convocada na Solenidade da Pomba em 1937 e jamais poderei esquecer a grandeza desse momento. Havia um tecer e vibrar ao nosso redor, que nos elevou por instantes a esferas mais elevadas. A Luz estava ancorada na Montanha por intermédio do SENHOR e ao recém-chegado era dito: “Tire teus sapatos, pois tu pisas em solo sagrado!” Isso se dava outrora, na época do SENHOR. Isso deve ser entendido de maneira simbólica.

Durante os dias de Solenidade vinham muitas pessoas de toda parte para participar dessa vivência grandiosa. Eram, então, muitas vezes realizadas viagens mais longas de carro, das quais podia participar quem quisesse, entre outras uma viagem com o teleférico pela cordilheira norte ou para o Patscherkofel. A isso estava ligado então um café em um hotel, onde os discípulos sempre se sentavam bem próximos ao SENHOR, algo mais distante os hóspedes de fora e, por fim, os moradores da Montanha. Isso naturalmente era para todos nós um encontro alegre e feliz.

Contudo, não vivíamos isolados do mundo na Montanha. O SENHOR gostava de fazer viagens e, sobretudo, ia-se freqüentemente a Innsbruck. Então, no verão, fazíamos piquenique nas redondezas, o que o Trígono gostava em especial, e depois íamos muitas vezes a um cinema, pois o SENHOR tinha uma predileção por bons filmes. Uma vez apresentado um filme japonês, cotado como especialmente bom. Quando nós observávamos os cartazes diante do cinema, eu ouvi como o SENHOR disse: “Nós não vamos entrar, pois o Japão está morto.” O próprio SENHOR havia escrito peças teatrais durante Sua atividade de escritor, as quais também foram apresentadas. Entre outras coisas Ele também disse que as grandes invenções em filme e técnica somente surgiriam depois da guerra. Ele também já indicara naquela época para o fato de que a hora somente possui ainda 45 minutos.

Quando cheguei na Montanha, fui freqüentemente convidada por diversas senhoras para um café, mas todas as vezes voltava decepcionada para casa; pois eu procurava e tinha muitas perguntas. Então meu pai veio de passagem até a Montanha e visitou-me. Agora o senhor Lucien Siffrid vinha todas as manhãs até a minha casa, pois ele tinha a incumbência de cuidar dos visitantes masculinos. Meu pai tinha muitas perguntas e conversava de forma bem animada com ele. Eu ouvia atentamente, pois aí eu ouvia sobre as coisas que estava procurando. Liguei-me então aos Siffrids e aprendi assim muito com o senhor Siffrid. Durante as Solenidades vinham sempre muitos visitantes até a casa dele e de sua esposa, os quais igualmente tinham muitas perguntas. Também se tocava música e as horas lá eram sempre muito valiosas e enriquecedoras.

No início de abril de 1937 o Trígono planejara uma viagem para o Lago de Garda. Essas viagens tinham sempre um profundo motivo e eu ouvira que o SENHOR possuía uma grande preferência exatamente pelo Lago de Garda, e que Ele havia se expressado: “O que o Lago de Genezaré foi para JESUS, é para mim o Lago de Garda”, e “a muitos será dado aqui e a muitos será tirado aqui.” Eu fui indagada se eu gostaria de viajar junto e aí só podia haver um “Sim”. Minha alegria era grande, pois era sempre uma vivência bem especial poder estar assim nas imediações junto ao Trígono.

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Bem cedo, no dia 5 de abril de 1937 foi a partida. Durante toda a viagem tivemos tempo bom e quando entramos em uma cidade, foi como se um retumbar de trovão soasse ao nosso encontro. O SENHOR disse então: “Os enteais estão me saudando.” Nos passeios, as salamandras e as lagartixas aproximavam-se bastante DELE. Podia ser sentida uma tal vibração, uma tal força em Sua proximidade, que a gente nem sequer se cansava. O carro do Trígono era dirigido pelo senhor Deubler e o segundo pelo senhor Kovar de Praga. Neste estavam a senhora Berninger, a senhora Reckleben e eu. Naquela época eu era portadora da Cruz de prata entre discípulos e apóstolos, mas tudo era tão harmonioso, que eu não podia sentir qualquer distanciamento.

Nossa viagem passava por Bozen em direção a Gardone, onde nos hospedamos no hotel Fasano, um hotel tranqüilo à beira do lago. O SENHOR estava muito disposto, que logo contagiou a todos nós. O senhor Kovar foi nomeado copeiro e fez sua tarefa tão bem que avançou a guia de viagem e eu já posso agora adiantar, que ele exerceu seu cargo para plena satisfação do SENHOR.

No dia seguinte foi comunicado que iríamos depois do almoço para Veneza. Nós todos estávamos alegremente agitados – mas quão grande foi então a decepção. A tão afamada Veneza. A vi pela primeira vez e não conseguia evitar um horror. As gôndolas, todas pretas, pareciam-me como sarcófagos. Não pusemos os pés na cidade. Os carros foram estacionados e subimos num barco a vapor, com o qual navegamos descendo o Grande Canal, em direção ao Lido. Frau MARIA via muitas coisas fino-materialmente, pois disse: “Aqui tudo está morto.” Mas também com Lido o Trígono ficou decepcionado e no dia seguinte retornamos para Fasano, a qual todos amávamos. No barco o Trígono expressou o desejo, que nós outros, devêssemos pelo menos dar uma olhada na cidade. Apesar de todas nossas objeções de que não queríamos deixar o Trígono sozinho, Eles fizeram questão que devêssemos pelo menos colocar o pé na cidade, e voltaram então sozinhos para a garagem. Sobre todos nós, porém, pesava uma grande pressão – era horrível – e só tínhamos um único pensamento: sair o mais rápido daqui. Mais tarde o SENHOR disse, que Veneza iria submergir no mar.

Na viagem de volta para Gardone paramos então em Torino. O senhor Kovar e eu fizemos compras para um piquenique, enquanto o carro do Trígono foi à frente. As compras demoraram relativamente muito tempo, de modo que tivemos que nos apressar para encontrar novamente o Trígono. Contudo, imperava junto a nós uma tal alegria e uma tal vibração, e o senhor Kovar encontrou o seu caminho com uma certeza infalível. Nós então também encontramos o Trígono em um local muito bonito e quando as compras foram desempacotadas, a disposição aumentou visivelmente. Havia legítima mortadela, legítimo Formaggio e, acompanhando, um bom copo de vinho. De acordo com minhas lembranças eu só posso dizer que raramente na vida eu senti uma tal alegria e fiquei tão feliz, e o SENHOR também disse para mim: “Senhora Westphal, a senhora já foi alguma vez em sua vida tão feliz?” Esta felicidade de estar em companhia do Trígono, eu certamente jamais havia intuído.

Chegamos então, à tarde, bem no Hotel Fasano e até conseguimos nossos antigos quartos, de modo que todos nós nos sentimos como que em casa. Nós também despertávamos a atenção, e algumas pessoas perguntavam quem era o senhor estrangeiro. Também nós, mulheres, chamávamos atenção com nossos vestidos longos. Contudo, isso provavelmente tinha de ser assim.

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Na manhã seguinte todos nós nos encontramos na mesa do café. À noite houvera um forte temporal, que havia refrescado a natureza, após o dia de ontem muito quente, e o sol encontrava-se sorridente no céu. Depois do café o senhor Kovar propôs um passeio a pé, e o SENHOR, de quem se dizia que Ele nunca saía para passear a pé, concordou; e assim fizemos um belo passeio, subindo até a praça Del Vittorial, onde o escritor d’Annunzio tinha sua casa. Lá em cima, próximo à igreja, ofereceu-se uma vista maravilhosa. Frau MARIA, que gostava muito de visitar igrejas, fora indagada pelo SENHOR, se ela não queria visitar essa igreja, mas ela respondeu: “Não, aqui está muito sujo para mim!” E sentou-se com a senhora Reckleben em um banco com as costas para a igreja. Repentinamente levantou-se e disse para a senhora Reckleben: “Aqui eu não posso ficar sentada, queima como fogo.” Nós outros estávamos de pé com o SENHOR diante da igreja. Havia também uma atmosfera singular, solenemente sombria ao nosso redor – e isso fora o fechamento do círculo de um acontecimento, por causa do qual o SENHOR tivera de fazer esta viagem. Submersos em pensamentos, tomamos o caminho de volta.

No almoço éramos então novamente uma alegre mesa redonda, pois era algo bem especial poder almoçar com o Trígono. Imperava sempre uma grande harmonia e irradiava tanto amor e bondade deles, o que nem é possível explicar com palavras. O SENHOR disse que nenhuma viagem havia sido tão bela quanto esta e o senhor Kovar recebeu um elogio especial pela sua função de guia turístico. Como o SENHOR riu, quando o senhor Kovar narrou sobre seus passeios noturnos que fazia, depois que nos despedíamos à noite do Trígono. Para todos nós foi um período de verdadeiro relaxamento. Habitualmente, depois do café da manhã, Frau MARIA e a senhorita IRMINGARD sentavam-se à beira do lago e nós, as outras mulheres, fazíamos companhia a Elas. Contava-se e ria-se, pois Frau MARIA falava sempre francamente; Ela era muitas vezes bem sincera. O SENHOR passeava nesse meio tempo com os senhores no jardim e nós também gostávamos de ir até lá, pois tudo sobre o que o SENHOR falava era para nós novo, significativo e instrutivo.

O último dia da nossa estadia no Hotel Fasano havia chegado. Queríamos fazer ainda um passeio de barco pelo lago, pois o tempo estava maravilhoso e o lago tranqüilo. Assim passeamos ao redor da ilha di Garda, uma maravilhosa propriedade do duque Borghese, e fomos em direção da outra margem, onde desembarcamos e fizemos um passeio. Nesse meio tempo, porém, havia se formado uma camada de nuvens escura no horizonte, de modo que tomamos imediatamente o caminho de volta. Pudemos agora assistir a um maravilhoso espetáculo da natureza. Negra encontrava-se a camada de nuvens, elevando-se diretamente da água à nossa frente, de modo que o lago e as nuvens se confundiram. O lago estava ainda como um espelho e à nossa esquerda brilhava o sol. Isto certamente foi uma saudação dos enteais para o Trígono, pois somente quando havíamos novamente alcançado a margem, principiou uma forte chuva. Frau MARIA estava visivelmente feliz por estarmos novamente na margem, pois Ela havia se sentido muito inconfortável no barco, em recordação de seu tempo como Kassandra.

Para que o Trígono pudesse ficar um pouco sozinho, procuramos um lugar para nós em um pequeno terraço lateral do nosso hotel, onde o senhor Kovar já quis juntar rapidamente algumas pequenas mesas. Nisso escapou-lhe um tampo de mármore, que estivera solto sobre uma das pequenas mesas e quebrou. Triste ele

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segurou os pedaços quebrados nas mãos, no exato momento em que o SENHOR chegava e disse sorrindo: “Como Moisés com as tábuas das leis quebradas.” Todos nós tivemos que rir. – O Hotel também possuía uma pequena orquestra, mas os músicos não tocavam muito bem. Contudo, de repente, ficamos atentos, pois uma música de Wagner chegou aos nossos ouvidos, e de forma tão bem tocada como os músicos jamais haviam tocado antes. Era como se eles tivessem tomado conhecimento, sobre quem estava presente e que o SENHOR gostava especialmente da música de Wagner.

Assim, chegou a noite e com ela nossa refeição de despedida. Todos nós estávamos tristes, por estes maravilhosos dias terem chegado ao fim e encontrarmo-nos diante de nossa viagem de volta. Partimos bem cedo no dia seguinte, logo depois do café da manhã. O tempo estava perfeito para viajar, um pouco encoberto e fresco. Os enteais providenciavam sempre para o tempo certo e o SENHOR também dissera uma vez: “Quem não percebe isto, como os enteais nos saúdam por toda parte e como preparam tudo para nós, este é cego e surdo.” E assim também era.

Do hotel nós ainda levamos um bom Bordolini e café para um piquenique, e em Trento o senhor Kovar e eu ainda providenciamos algo complementar, de modo que nós retornamos bem carregados com toda a sorte de maravilhas. Não longe de Trento fizemos uma parada e, como estava bem fresco, o Trígono permaneceu no carro e nós Os servimos. Tudo dava maravilhosamente certo e fortalecidos prosseguimos, pois queríamos chegar à noite em casa. Jantamos em Innsbruck e, a seguir, assistimos ainda a um filme e então tomamos o caminho de casa. Com isso havia terminado essa maravilhosa viagem, a qual jamais esquecerei.

No dia seguinte, era um domingo, o SENHOR em companhia da senhorita IRMINGARD veio inesperadamente à noite me visitar. Nós conversamos sobre a tão bela viagem quando o SENHOR, de repente, dirigiu a pergunta a mim: “A senhora sentiu alguma coisa quando nós estávamos em Sopra Gardone à frente daquela igreja?” A senhorita IRMINGARD interrompeu e disse: “Sim, a senhora Westphal disse que os sinos já estavam soando novamente.” O SENHOR continuou: “Lá, naquele lugar, a senhora fora queimada uma vez como bruxa!” Eu ouvi do SENHOR que no mesmo momento em que nos encontrávamos de manhã em nosso passeio diante da igreja, onde rodeava-nos aquela atmosfera tenebrosamente solene, a senhora Manz, a qual vivia igualmente na Colônia do Graal, pôde simultaneamente receber todo o acontecimento de outrora de forma fino-material. Isso fora para mim o cumprimento de minha profecia, que eu havia feito naquela vida terrena, quando, no local diante da igreja eu tive de subir na fogueira, e exclamei: “Quando o Filho do Homem estiver neste local para dar o Juízo para os servos fiéis e infiéis da igreja, eu estarei ao Seu lado”. O SENHOR disse ainda para mim: “A senhora esteve ao meu lado e o Amor também estava presente!” Espontaneamente eu respondi então: “Por isso eu tive – eu pude participar desta viagem.” Em seguida o SENHOR disse: “Não, a senhora teve de fazer esta viagem junto, pois foi um fechamento de círculo para a senhora!” Depois dessa conversa foi como se tivesse caído um peso extraordinário da minha alma.

No dia 18 de abril festejamos o aniversário do SENHOR, era um domingo. Depois da devoção solene realizou-se uma seção de congratulação nos recintos do Trígono. Cada um de nós foi, sozinho, até o SENHOR e deu-Lhe os parabéns, e Ele tinha para cada um uma palavra bondosa. – No dia 19 de abril então a senhora

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Berninger fez aniversário e era costume convidar o Trígono para o jantar. Eu tive a grande felicidade de também ter sido convidada juntamente com a senhora Reckleben. Foi novamente uma grande vivência para mim. O SENHOR contou sobre seu internamento na Isle of Man pelos ingleses. No início de 1914 o SENHOR estava na Inglaterra e ao irromper da guerra ainda ficou livre por um bom tempo, pois ele possuía bons conhecidos. Depois, no entanto, as coisas se agravaram mais e o SENHOR foi levado a um campo de internamento. O campo era muito grande e o tratamento muito ruim. Os melhores cozinheiros de muitos países estavam igualmente internados lá e eles preparavam muitas vezes uma comida muito boa, já que muitas pessoas internadas recebiam pacotes de casa. Do contrário, teria sido muito ruim com as rações que foram distribuídas. Um pão por semana, de manhã e à tarde chá e ao meio-dia uma refeição bem simples. Devido a uma profunda intuição o SENHOR jamais tomou chá e um dia Ele leu em um jornal inglês que algo era adicionado ao chá, para enfraquecer os homens. Depois de Seu retorno para a Alemanha o SENHOR tentou publicar esse fato em um jornal, contudo, nenhum jornal se dispôs a fazê-lo. Pelas demais pessoas internadas o SENHOR fora muito respeitado e amado, e quando havia desavenças, então Ele era sempre chamado como árbitro.

A vida na Montanha nem sempre era fácil e a mudança para uma nova pessoa exigia muito reconhecimento e compreensão. Muita coisa eu não sabia, já que vivia há apenas pouco tempo lá, mas sempre o Trígono estava atrás de mim e sempre a senhora Illig aparecia no momento certo, quando outro portador da Cruz me abordava em alguma coisa que não devia acontecer. Na escola das meninas, por exemplo, havia coisas que não estavam de acordo com a vontade de Frau MARIA e também havia algumas outras coisas que não andavam de forma exemplar, como, na verdade, isso deveria ser uma evidência na Montanha. Todos os moradores da Colônia haviam vindo por sua própria solicitação, para poderem viver na proximidade do SENHOR e para auxiliá-Lo na grande modificação, de formar o novo ser humano. E mesmo assim constatou-se em pouco tempo, que alguns acreditavam que justamente neles não havia necessidade de mudança.

Nesse ínterim chegara o verão, uma nova viagem estava iminente. Também desta vez eu pude estar junto. O senhor Deubler dirigia novamente o carro do Trígono. Kurt Halseband era o chofer do segundo carro, no qual a senhora Reckleben e eu estávamos. O senhor Laute era acompanhante de viagem. No dia 28 de julho, cedo, às 6 horas, partimos em direção ao Arlberpaß e pouco antes de Feldkirch, o senhor Schöneberger e o senhor e a senhora Kaufmann de Straßburg vieram de carro ao nosso encontro. Houve uma cordial saudação e juntos fomos então para Staad no lago Bodensee, onde fora reservado o almoço no hotel “Weißes Rössel”. Era um pequeno hotel idilicamente situado com um belo jardim, diretamente junto ao lago. Tudo fora preparado com muito amor, a comida era muito boa e a sopa recebeu um elogio especial do SENHOR. Nós almoçamos no jardim, sob sol irradiante, e quando, aos poucos, ficava muito quente, vinham de fato algumas nuvens flutuando, presenteando-nos com uma sombra refrescante. Foi uma refeição alegre e feliz.

Depois da refeição seguimos logo para St. Gallen, onde diversos portadores da Cruz foram visitados e todos se encontraram então na casa dos Schönebergers para uma grande mesa de café. Todas as senhoras presentes dividiam entre si os trabalhos ocasionais e assim o trabalho para a senhora Schönenberger não foi tão desgastante. Depois do café, o SENHOR e os senhores Laute e Schönenberger

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retiraram-se para conversarem, Frau MARIA e a senhorita IRMINGARD conversavam com nós outros e uma parte das senhoras suíças ajudava a lavar a louça. A hora da partida chegou logo e fomos adiante até Arborn à casa dos Eisenbeiß. Lá o alojamento para o Trígono e para a senhora Reckleben fora festivamente preparado, também um jantar em conjunto para todos nós, contudo, nós outros não sabíamos onde iríamos pernoitar. O senhor Schöneberger providenciou mais tarde o nosso alojamento no hotel Schiff em Rorschach.

A comida estava excelente, a conversa era em geral conduzida pelo casal anfitrião, o que lamentávamos, pois para nós uma conversa do SENHOR, de Seu elevado ponto de vista, era sempre um grande presente. Depois da refeição ficamos ainda reunidos à vontade por algum tempo e Frau MARIA falou, entre outras coisas, sobre uma encarnação anterior da senhora Eisenbeiß.

Na manhã seguinte, todos nós fomos para St. Gallen. Lá visitamos a igreja de convento e Frau MARIA percebeu logo a grande limpeza que imperava ali. A igreja também possui a Cruz isóscele na ponta da torre. Nós ainda fomos passear no belíssimo parque municipal e então seguimos adiante para Herisau, onde éramos aguardados pelo casal Schöneberger para o almoço. Houve novamente uma mesa farta e de novo pudemos apreciar a companhia do Trígono.

Depois da refeição, seguimos adiante para Zurique. Frau MARIA e a senhorita IRMINGARD foram à senhorita Schärer para lavar o cabelo, pois ela era portadora da Cruz. O SENHOR havia seguido à frente até os Gieses, onde todos fomos convidados para um café. Na casa dos Gieses era realmente harmônico e agradável e todos se sentiram bem. No hotel “Eden au Lac”, onde haviam sido reservados quartos para todos, houve então um verdadeiro banquete. Tudo estava preparado da melhor forma e todos nós percebemos o amor previdente, que havia imperado aqui, diferenciando-se da Casa dos Eisenbeiß. Muitos portadores da Cruz de Zurique e dos arredores também participaram do banquete. A seguir fomos novamente assistir a um bom filme e depois ainda fomos beber algo numa bela lanchonete à beira do lago de Zurique. O SENHOR bebeu um copo de cerveja e alegrava-se muito com tudo. Os portadores da Cruz de Zurique ainda nos levaram até o hotel, onde nos despedimos alegremente deles.

Na manhã seguinte fomos com o Trígono até a loja do senhor Giese, na rua Bahnhofstraße. Ele tinha uma loja de antiguidades. Na vitrine da esquina da mesma, decorada com muito bom gosto, havia uma Mensagem aberta e todos os dias se virava uma página da mesma. Vieram ainda muitos portadores da Cruz de Zurique até ali, para cumprimentar o SENHOR. Para cada um Ele tinha um tempo para conversar e para cada um Ele tinha uma palavra bondosa. Podia-se notar como as pessoas O amavam e veneravam. Então fomos até a igreja Zürich-Enge, após cuja visitação fomos até o parque Belvoir, para darmos ainda um passeio. Almoçamos então novamente no nosso hotel; desta vez a mesa estava de novo menor e pudemos tomar o cafezinho na sala do hotel. Falou-se novamente sobre encarnações, mas Frau MARIA ficou calada, apesar do SENHOR perguntar-lhe algumas vezes a respeito. O Trígono visitou ainda uma exposição de automóveis e, em seguida, as portadoras da Cruz que estavam empregadas no Buffet da estação de trem. Foi impressionante o fato de o Trígono não esquecer ninguém por ocasião desta visita em Zurique.

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De Zurique seguimos para Mühlheim. Lá o senhor Kaufmann possuía uma gráfica, onde foram editadas as revistas “Die Stimme” (A Voz) durante o ano de 1937. Nós pudemos examiná-las, o que foi muito interessante. Em seguida nos sentamos numa mesa de café, que colocou na sombra tudo o que havíamos vivenciado até agora. Apesar de não estarmos com fome, a oferta era tentadora demais e tudo o que estava sendo ali ofertado tinha um sabor maravilhoso. A senhora Kaufmann queria ficar servindo, mas Frau MARIA disse: “Senhora Kaufmann, sente-se ao meu lado.” A senhora Kaufmann ficou sem saber o que fazer e eu sussurrei no seu ouvido:

“Sente-se, eu faço tudo.” E quando cheguei com uma travessa para o SENHOR, Ele disse bondosamente sorrindo: “Senhora Westphal, a senhora também sabe fazer isso?” Eu ouvi várias vezes tais pequenas observações do SENHOR e admirei-me com isso. Também aqui havia uma atmosfera solta e alegre.

Quando, então, voltamos de Mühlheim para Arborn, à casa dos Eisenbeiß, não havia ninguém ali para recepcionar o Trígono. A senhora Kirsteiner veio da cozinha e pediu desculpas pela senhora Eisenbeiß, que ainda estava se arrumando. Por fim apareceu o senhor Eisenbeiß e conduziu o Trígono e a senhora Reckleben ao seus quartos. Eu pude me refrescar no quarto da senhora Reckleben. Os senhores que estavam nos acompanhando trataram novamente de nosso alojamento. Ajeitamo-nos e fomos com o SENHOR e a senhorita IRMINGARD ao belíssimo jardim. Por fim, também aparecera a senhora Eisenbeiß e esperamos por Frau MARIA, contudo ela não vinha e não vinha. A senhora Eisenbeiß ficara visivelmente nervosa, pois suas trutas iriam queimar. Por fim, depois de meia hora Frau MARIA apareceu... em trajes de viagem. Havia uma certa tensão no ar e parecia haver uma pressão sobre todos nós. A comida estava novamente excelente, como na primeira noite. Separamo-nos bem cedo, depois de termos feito ainda um pequeno passeio à beira do lago. Por meio do empenho do senhor Kirsteiner, o senhor Kurt Halseband e eu obtivemos um quarto no hotel Grauer Bär in Arborn e o senhor Deubler e o senhor Laute puderam pernoitar na casa dos Kirsteiner.

No dia seguinte, às 9 horas, o ponto de encontro foi na casa dos Eisenbeiß, deveríamos iniciar a viagem de volta. O senhor Schöneberger, que devia retornar conosco, não apareceu na hora marcada. Já eram nove e meia, e em resposta a um telefonema ele disse que ainda não podia vir, pois ainda havia pacientes na sala de espera. Então partimos sem o senhor Schöneberger. Esse fato desagradável não foi um bom presságio para este dia de viagem. Em Feldkirch, onde o Trígono queria visitar alguém, só pediram para que aguardassem. Passou um tempo relativamente curto e o Trígono voltou e deveríamos continuar a viagem. Mas, oh, a senhora Reckleben e o senhor Kurt Halseband haviam saído nesse meio tempo para comprar alguns presentes. Então tivemos primeiro que procurá-los. Felizmente logo os encontramos em uma loja, mas até que eles pagassem e recebessem seus pacotes, passou um bom tempo. Foi uma sorte, o fato de só um caminho conduzir ao Arlberg. Então saímos em disparada atrás do Trígono. Por longo tempo não conseguimos alcançá-los e só os encontramos pouco antes do desfiladeiro do Arlberg, sentados não longe da estrada, fazendo um piquenique. Sentamo-nos na proximidade e também comemos um pouco. O Trígono estava gélido e não falou uma palavra conosco. Então seguimos viagem em linha reta até Innsbruck. Contudo, também nessa viagem perdemos o carro do Trígono de vista – apesar da senhora Reckleben e eu termos prestado bastante atenção, porque os senhores

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choferes dirigiam em seu estilo teimos, em vez de delicadamente esperarem um pelo outro. Quando, então, descíamos a rua Theresienstraße em Innsbruck, o carro do Trígono já viera ao nosso encontro, mas ele estava vazio. O senhor Deubler simplesmente passou por nós e não sabíamos onde o Trígono estava. Refletimos, procuramos em um cinema por Eles, mas tudo fora em vão. De repente, algo me iluminou e disse: “Eu sei onde o Trígono está.” Eu fui com o senhor Laute ao hotel Theresia e lá, no jardim, estava o Trígono sentado. O senhor Laute retornou rapidamente para buscar a senhora Reckleben e eu fui muito feliz em direção à mesa do Trígono. Mas como Frau MARIA estava brava. Eu ainda nunca a havia visto tão furiosa. “O que há convosco, por que não existe harmonia entre vós?” Foi neste sentido que Frau MARIA censurou! O SENHOR estava sentado ao lado e não disse nenhuma palavra. Eu fiquei calada angustiada, pois eu não podia dizer que os senhores não haviam se sintonizado um com o outro, mas sim cada um agira por si próprio, sem consideração. Pouco antes de Innsbruck então também o senhor Schöneberger havia nos alcançado, de modo que nos sentamos novamente juntos no jardim do hotel Maria Theresia para um café. Em seguida fomos a um cinema, contudo, estávamos muito abatidos pelo fato de Frau MARIA estar tão brava conosco, enquanto o SENHOR, em Sua grande bondade, não disse uma palavra. Enquanto estávamos no cinema, despencou uma forte tempestade lá fora, e quando estávamos novamente ao ar livre, tudo também estava esquecido pelo Trígono e Eles estavam bondosos como sempre. Assim terminou esta viagem.

A viagem ao Lago de Garda fora tão bela, havia transcorrido de forma tão harmoniosa, já que ninguém havia colocado uma vontade própria em primeiro plano. Na viagem à Suíça mostraram-se alguns indícios pouco belos de uma vontade própria sem consideração, e atrapalharam sensivelmente a harmonia do grupo. Foi, por assim dizer, o início do fim, pois a maioria dos portadores da Cruz – discípulos e apóstolos – que estavam conosco e que haviam vivido na Montanha ou na Suíça, abandonaram o SENHOR, sim, alguns deles tornaram-se mais tarde inimigos. O único que permaneceu fiel foi o discípulo Giese de Zurique.

Seguiram-se, então, apenas decepções sobre decepções para o SENHOR. Os discípulos e apóstolos que haviam jurado fidelidade ao SENHOR, que deviam formar o círculo ao redor Dele, O abandonaram. Até o Natal de 1934 eles mantiveram a fidelidade, de modo que o SENHOR pôde revelar-se como IMANUEL. Mas então neles elevou-se a arrogância, consideravam-se como escolhidos e as trevas já se aninhavam em seu meio e destruíram o laço de fidelidade que deveriam manter. Já em 1937, quando eu cheguei na Montanha, algumas coisas já me chamaram a atenção, coisas que eu não esperava de discípulos. Contudo, todas as noites o SENHOR visitava esses discípulos, para apoiá-los e fortalecê-los. Contudo, não entendiam isso e gabavam-se ainda com isso. Como o SENHOR deve ter sofrido. ELE que sempre exerceu tanta generosidade para com as insuficiências de Seu ambiente. Um pequeno exemplo: no Natal de 1937 veio meu marido para a festa de Natal na Montanha. Ele queria alugar na Montanha o carro que habitualmente buscava os hóspedes na estação de trem de Schwaz, para ir com sua família até Innsbruck. Perguntei sobre isso na administração e comunicaram-me que isso não seria mais possível, pois estariam chegando hóspedes. Até Schwaz poderíamos ter ido junto a qualquer momento. Pouco tempo depois eu fui chamada pelo SENHOR. ELE havia sido informado do nosso desejo, e como a realização deste não fora possível por meio da

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administração, ELE me ofereceu um de seus próprios carros. Isso causou uma profunda impressão em mim, o fato DELE querer realizar-nos esse desejo. Assim era ELE sempre. Por ocasião desse encontro percebi que o SENHOR estava muito triste. ELE falou comigo sobre as grandes decepções que ELE sofria devido aos Seus portadores da Cruz.

Quando a Solenidade da Estrela Radiante de 1937 se aproximava, a última Solenidade que o SENHOR celebrou na Montanha, nós, moradores da Montanha, tivemos que nos inscrever em uma lista. As últimas palavras que o SENHOR falou foram: “Agora ide e vivenciai. EU não tenho nada mais para vos dizer.”

Depois da Solenidade eu pude me mudar para a residência dos Halsebands, a qual já estava vazia há um bom tempo. O Trígono viera a mim para inaugurar a casa e também a senhora Berninger estava junto. Foi uma bela noite. O SENHOR falou de Seus planos, de como ficaria um dia a Montanha quando o Burgo do Graal terreno estivesse de pé.

Em fevereiro de 1938 houve então novamente um passeio até Innsbruck e em seguida uma mesa de café no hotel Kreid, onde o SENHOR gostava de ir. Antes foram feitas grandes compras para a Colônia. O SENHOR falou novamente sobre o futuro, de Suas viagens e que iriam juntos os portadores da Cruz, para os quais havia lá um fechamento de círculo. Nessa ocasião ELE disse para mim: “A senhora também gostaria de ir novamente junto?” Nesse momento eu não percebi nada Nele de todas as decepções. ELE estava bondoso como sempre.

Então veio o dia 12 de março de 1938. Voltei mais tarde do almoço para a Colônia. Não se via nenhum dos moradores da Montanha e quando me aproximei da Casa do Graal, algo me obrigou a olhar para cima. Então eu vi o SENHOR de pé na sacada, imóvel, olhando para o vale. Foi abalador ver a figura solitária e o SENHOR certamente sabia o que ainda Lhe aguardava naquele dia! À tarde, então, eles vieram, a AS *(NT: nacionais socialistas – tropa política, uniformizada e armada de luta, membro da NSDAP = Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista), e levaram o SENHOR em prisão preventiva. Foi de cortar o coração! Alguns moradores, entre eles o senhor Vollmann, Emil Siffrid, o senhor Fritsch e também o senhor Swarovski foram imediatamente para Innsbruck, para buscar o SENHOR. Eles foram mantidos durante a noite lá, contudo, foram libertados novamente no dia seguinte, com exceção do SENHOR. Um ou dois dias mais tarde o senhor Siffrid disse-nos que deveríamos ouvir o discurso que Hitler faria em Innsbruck. Contudo, Hitler mal conseguiu falar, seu discurso foi fraco e ele recebeu poucos aplausos. No dia seguinte fora publicado no jornal que ele estaria com uma dor de garganta e mal conseguira falar. O verdadeiro motivo, porém, era que ele se encontrava na irradiação do SENHOR e por isso não pôde falar.

Nos dias subseqüentes a SA veio então à Montanha e decretou prisão preventiva a todos os moradores da Montanha. Frau MARIA e a senhorita IRMINGARD tiveram de deixar sua casa e foram alojadas nos recintos do Trígono. Os guardas da SA ocuparam o escritório e fizeram barulho lá até tarde da noite. Em cima, no primeiro andar, estavam as Damas. A senhora Illig e a senhora Reckleben ficaram sempre junto delas fazendo companhia. Nós, das casas em série I, também tivemos que deixar nossas residências e alojar-nos nas casas em série II ou onde quer que houvesse lugar. Os homens foram todos colocados num acampamento em massa, erigido no local onde funcionara antes a escola do Graal. A SA buscava junto a nós

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tudo que eles precisavam para preparar lá embaixo, em Vomp, alojamentos para eles: tapetes, móveis, máquinas de escrever, enfim, tudo o que poderia ser carregado. Ameaçaram Frau MARIA com uma pistola, para que ela entregasse suas jóias. Também os carros foram confiscados. Quando íamos tomar as refeições na casa da escola, um homem da SA marchava à nossa frente com uma arma e outro nos seguia. A correspondência não funcionava de jeito nenhum, estávamos isolados de qualquer contato. Como eu era americana, não mexeram em minhas coisas e assim pude conservar e guardar comigo muitas coisas, o que não devia cair nas mãos da SA, pois a SA revirava tudo o mais, principalmente em busca de armas, para ter uma evidência contra nós. Mas não encontraram nada.

Nos primeiros dias de nossa prisão preventiva veio meu irmão, de Viena, para a Montanha. Ele se encontrava em uma viagem de negócios e como também possuía a nacionalidade americana, tinha mais liberdade do que nós. Ainda viviam diversos estrangeiros na Montanha, tchecos, holandeses e ingleses e todos nós escrevemos para nossos consulados e embaixadas, a fim de apresentarmos queixas contra a prisão preventiva. Meu irmão pôde levar essas queixas juntamente com suas próprias correspondências, já que ele não fora revistado. Na noite anterior havíamos combinado todo o necessário com ele.

No dia seguinte, eu fui com ele, disseram-nos no portal, que deveríamos apresentar-nos à SA de Vomp, também cada carro que descia da Montanha ou que subia para lá, tinha que apresentar-se lá. Também fizemos isso, – a mim, pessoalmente, fora me dada uma mulher nazista como escolta. Meu irmão e eu não iríamos poder conversar nada mais. Felizmente tudo já havia sido combinado.

Depois da partida do meu irmão, a minha escolta e eu subimos à Montanha. A mulher nazista estava bem curiosa e fez perguntas ardilosas. Entre outras coisas ela perguntou se na Montanha poderiam morar negros e judeus. Eu ouvi então minha voz, que disse: “A senhora pode proibir um chinês de alegrar-se com uma flor?”

Mais tarde veio uma nova ordem referente ao dinheiro estrangeiro. Todos deveriam entregá-lo, ou seja, trocá-lo, sob ameaça de pena de morte. Como eu também tinha dinheiro, apesar de não ser meu, eu o registrei. Eu tive de ir novamente para Innsbruck, o que devia ser avisado no quartel da SA. Quando da portaria aqui em cima ligaram para baixo, desligaram sem rodeios, sem dar permissão. Contudo, o homem da AS, que havia feito a ligação, virou-se para mim e disse:

“Se a senhora me prometer não empreender nada contra mim, eu a deixarei ir sob minha responsabilidade.” “Naturalmente, posso prometer-lhe isso”, respondi. Ele mandou chamar um carro, meu filho e eu pudemos subir nele e seguir sem termos de parar embaixo. Simplesmente passamos direto. No caminho para Innsbruck, foi como se um filme passasse à minha frente e foi-me mostrado o que deveria fazer.

Meu primeiro caminho levava ao advogado que defendia os interesses da Montanha. Tudo transcorreu às mil maravilhas e pude tratar de tudo com ele. Ele também se dispôs a trocar o dinheiro estrangeiro e indicou-me então o caminho exato, para que eu pudesse chegar para ter uma conversa com o SENHOR. Segui suas dicas de forma precisa e todos os caminhos aplainaram-se para mim, também o meu caminho até o SENHOR. ELE veio a uma pequena sala, onde eu havia ficado

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esperando, e naturalmente Ele se encontrava triste. Um guarda também havia ficado na sala, de modo que não pudemos falar nada de especial, eu apenas pude, por meio dessa conversa, estabelecer uma ligação com Frau MARIA e relatar a Ela como o SENHOR estava. Eu levei para o SENHOR duas garrafas de seu vinho preferido, mas não sei se ELE também as recebeu. Eu mesma estava, naturalmente, sentido-me bem oprimida por todas essas coisas horríveis que estavam acontecendo. Havia ficado bem tarde, quando retornamos. Também comprei um grande maço de cigarros para o homem da SA lá de cima, o qual lhe dei por ocasião do nosso retorno. Então ouvi seu comentário na Montanha: “Ela é nossa inimiga e presenteou-me com cigarros!” – No dia seguinte, o advogado veio até Frau MARIA e não demorou muito até que a SA se retirasse novamente. A assombração havia passado e eu acho que as cartas de queixas haviam conseguido seu objetivo.

As semanas seguintes transcorreram de forma extremamente simples, já que a SA também havia levado todo o dinheiro. Meu irmão sabia disso e antes dele ir novamente para a América, veio mais uma vez até a Montanha e trouxe dinheiro.

Em dezembro de 1966 meu irmão falecera em Munique. Ele estava em uma viagem de negócios. Em Hamburgo, na nossa lápide familiar, ele teve um sepultamento do Graal, apesar dele não ter sido selado.

Uma expressão singular oriunda dos arredores da Montanha ainda merece ser aqui mencionada. Em uma ida até Schwaz foi-me perguntado se eu poderia levar no carro a velha camponesa Jaud, que também precisava fazer compras lá embaixo. Como eu a conhecia bem, dispus-me a fazê-lo e, no caminho, ela disse de repente: “A senhora sabe, senhora Westphal, JESUS tinha um Judas perto de si! O SENHOR, porém, muitos Judas!” Quão verdadeiras e amplas eram essas palavras, mostrou-se mais tarde em toda sua tragicidade. —

Junho havia chegado e com ele a temida SS *(NT: organização nacional socialista – polícia nazista ) para a Montanha. Agora viera a ordem de que dentro de dois dias todos nós teríamos que deixar a Montanha, mas ainda demorou 4 semanas até que o último morador deixasse a Colônia. O chefe superior da SS era um homem muito fino; os moradores da Montanha obtiveram durante esse período os cuidados da SS, as crianças receberam frutas e chocolate de presente, eles eram muito prestativos. Também as ordens não eram sempre executadas por ele, assim como a ordem de que todos os livros, que estavam armazenados na Montanha, devessem ser triturados. Mas o que fez o dirigente da SS? Mandou abrir todas as caixas e anunciou: “Quem quiser pegar livros, que os peque para si!” Naturalmente nós pegamos tantos quantos pudemos, mesmo os homens da SS vieram e saíram com muitos livros embaixo dos braços. Muitos começaram a ler e reconheceram a Mensagem. Os suíços tinham oferecido uma quantia de dinheiro ao governo alemão para que liberasse os livros, mas eles deveriam ser imediatamente transportados para a Suíça neutra. Lembro- exatamente como estávamos sentados com ambas as Damas e algumas portadoras da Cruz em Innsbruck e discutíamos como deveríamos arranjar dinheiro. Apesar de tudo conseguimos e uma entre nós até empenhou seu violino para poder ajudar.

Logo quando os da SS apareceram na Montanha e nos deram a entender que todos deveriam deixar a mesma, pois seria instalado ali um local de treinamento, Frau MARIA pediu ajuda ao discípulo Müller-Schlauroth. O senhor Müller era um alto membro do partido. Em uma conversa com o SENHOR, ele havia expressado sua

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intenção de deixar a NSDAP *(NT: NSDAP=Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista ). Contudo, o SENHOR aconselhou-o a ficar, com a observação, de que um dia no interesse do Graal poderia ser necessário, ter um ou outro representante nessa organização. Agora havia chegado o momento! O senhor Müller veio imediatamente. Frau MARIA e a senhorita IRMINGARD foram as primeiras que tiveram de deixar a Montanha; a despedida foi de cortar o coração. Contudo, o senhor Muller-Schlauroth ficou fielmente ao lado delas e aplainava os caminhos; também os móveis do Trígono puderam ser transportados. Frau MARIA e a senhorita IRMINGARD ficaram hospedadas a princípio no hotel Theresia em Innsbruck. Elas nunca estavam sozinhas. A senhora Reckleben e sua filha estavam sempre com Elas. Mais tarde as Damas foram para um hotel em Hungerburg, pois a liberação do SENHOR estava se estendendo e eu ouvi que Elas também moraram na casa das senhoras holandesas na montanha.

O senhor Müller trabalhou ininterruptamente na libertação do SENHOR da prisão preventiva, o que, porém, só conseguiu em setembro de 1938, por meio de sua garantia pessoal. O SENHOR morou então com Sua família na propriedade Schlauroth sob a proteção do senhor Müller. Alguns meses mais tarde eles se mudaram então para Kipsdorf no Erzgebirge, para a propriedade do discípulo Giesecke, onde o SENHOR deixou a Terra em 6 de dezembro de 1941, deixando seus adeptos e amigos em profunda confusão.

Nesse meio tempo a Colônia do Graal foi se tornando cada vez mais vazia. Os nazistas ofereceram a alguns moradores da Montanha, para que ficassem lá em cima e trabalhassem para eles, contudo eles teriam de abjurar do SENHOR. Mas ninguém fez isso, apesar de muitos não saberem para onde deveriam ir. O senhor Halseband e o senhor Deubler foram os primeiros que abandonaram a Montanha. Também não era mais a mesma coisa, pois mal o SENHOR havia deixado a Montanha, formaram-se também dois grupos. Um incluía os fiéis, o outro, aqueles que abandonaram o SENHOR. Uma tristeza indescritível tinha se apoderado de nós, pois ninguém conhecia o desenvolvimento que as coisas do Graal tomariam. E quando então o SENHOR deixara a Terra prematuramente, ninguém sabia o que fazer, nós havíamos nos tornado apátridas.

Na época da dissolução da Montanha meu marido também esteve novamente ali. As crianças e eu nos mudamos para a Suíça, onde as crianças passaram a freqüentar o Instituto Rosenberg em St. Gallen. Meu marido teve que voltar para a América. Em 1939 ele veio novamente para a Europa, e pensava que a guerra logo terminaria. No outono de 1942 tivemos então que voltar para a América, já que surgiram grandes dificuldades, pois não recebíamos mais dinheiro de lá. Os contatos findaram e só era possível ainda estabelecer contato através do Departamento de Estado de Washington. Tudo era uma grande aventura e eu agradecia a DEUS, do fundo do coração, por cada noite que sobrevivíamos. Pouco antes de Hitler invadir a França, havíamos viajado. Tivemos que esperar quatro semanas em Lisboa e devíamos pegar o avião, mas viajamos de volta, por fim, com muitas outras pessoas em um pequeno navio português. Chegamos bem em Baltimore. Uma nova vida iniciou-se. Não se notava nada da guerra, só pelo fato de meu filho ter sido recrutado um ano mais tarde para a Marinha. Ele foi para o maior navio de guerra, o “North Carolina”, e sobreviveu à guerra.

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Todos nós morávamos dispersos, separados, sem orientação e organização e diretrizes, e somente quando Frau MARIA conseguira anular o confisco da Montanha, é que os fiéis puderam voltar e a Colônia do Graal voltou a viver.

Também Frau MARIA teve de experimentar muitas decepções e muitas vezes ela criticou a presunção dos portadores da Cruz, pois Ela queria continuar de forma correta a obra iniciada. Contudo, nós, os mais antigos, havíamos co-vivenciado na época do SENHOR como os mais elevados convocados haviam falhado, não sustentando a magnificência do SENHOR no corpo terreno e também como o círculo, que deveria proteger e apoiar o SENHOR, rompeu-se, dando início a uma corrente de sofrimento, inimizade e perseguição, não apenas pelos nazistas, mas também pelos adeptos de outrora, por organizações hostis e coisas semelhantes. Quando Frau MARIA então adoeceu e encontrava-se no hospital em Innsbruck, eu pude visitá-la uma vez. Com lágrimas nos olhos ela me perguntou: “Senhora Westphal, será que as pessoas realmente gostam de mim?” – Também ela não confiava mais nos seres humanos!

E hoje, como estão hoje as coisas? Muitas, muitíssimas coisas se modificaram. Contudo, também à senhorita IRMINGARD devemos um grande agradecimento, por ela ter assumido a difícil e penosa tarefa de continuar a obra do SENHOR. Uma nova geração surgiu, ela mostra outras formas de pensar, tem outras idéias, outros planos. Mas a Mensagem “NA LUZ DA VERDADE” está aí! Ela vale, inalterada, – para todas as gerações – por toda a eternidade! De acordo com ela temos que nos orientar, de acordo com os valores eternos, não de acordo com o breve e defeituoso agir humano! Que cada um de nós peça diária e insistentemente por energia e força, para servir em fidelidade ao SENHOR e à Sua Obra através de um incansável atuar! O relógio universal segue imperturbavelmente seu rumo e uma hora o seu badalar nos chamará para o Juízo – peçamos por força, para que estejamos preparados.