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LEITURA E CIDADANIA: FORMAÇÃO DO LEITOR PELA ESCOLA Emilio Davi Sampaio Iris Genaro Borges * RESUMO: Desde a Antiguidade os livros são vistos pela sociedade como fonte de conhecimento, pois neles estão registradas todas as informações obtidas no decorrer dos séculos. A leitura é a chave para o acesso dessa fonte do saber, que possibilita o crescimento pessoal e profissional do bom leitor. Sendo assim, este artigo pretende discutir questões voltadas ao ensino, ao hábito e à importância social da leitura. Seu principal objetivo é conhecer o processo de formação do leitor, os motivos que levam alunos a desistência dessa atividade, e a diferença entre a leitura espontânea, feita pelo prazer e a movida pela necessidade de se aperfeiçoar no seu campo de trabalho. A leitura, por ser passada de geração a geração, está profundamente enraizada na sociedade moderna, por ser de caráter transformador, aqueles que a buscam com empenho e interesse conseguem vários benefícios, como o desenvolvimento das aptidões intelectuais, conhecimento cultural, melhora na produção escrita, além de transformar o indivíduo em cidadão crítico. PALAVRAS-CHAVE: Leitura, ensino, educação ABSTRACT: Since ancient times books have been noticed by society as a source of knowledge, for in them, there have been registered all the information gotten throughout history. Reading is the key to access this source of Knowledge, what is responsible to the reader personal and professional growth. So, this article intends to discuss the questions on teaching, habits and reading social importance. Its mains objective is to know the reader formation process, the reasons that lead students to give it up and the difference between spontaneous reading, done for pleasure and the other triggered by necessity to enhance job activities. Reading, for being passed through generation to generation, is deeply rooted in the modern society. Reading has got a changing and challenging characteristic and those who dedicate seriously to it benefit themselves, getting intellectual and cultural development, enhancement in writing production, let alone the changes as critical citizenship. KEY-WORDS: reading, teaching, education Msc. em Educação pela UFSCar. Docente dos Cursos de Graduação e Pós- Graduação Lato Sensu em Letras da UEMS. * Graduada em letras pela UEMS.

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LEITURA E CIDADANIA: FORMAÇÃO DO LEITOR PELA ESCOLA

Emilio Davi Sampaio

Iris Genaro Borges*

RESUMO: Desde a Antiguidade os livros são vistos pela sociedade como fonte de conhecimento, pois neles estão registradas todas as informações obtidas no decorrer dos séculos. A leitura é a chave para o acesso dessa fonte do saber, que possibilita o crescimento pessoal e profissional do bom leitor. Sendo assim, este artigo pretende discutir questões voltadas ao ensino, ao hábito e à importância social da leitura. Seu principal objetivo é conhecer o processo de formação do leitor, os motivos que levam alunos a desistência dessa atividade, e a diferença entre a leitura espontânea, feita pelo prazer e a movida pela necessidade de se aperfeiçoar no seu campo de trabalho. A leitura, por ser passada de geração a geração, está profundamente enraizada na sociedade moderna, por ser de caráter transformador, aqueles que a buscam com empenho e interesse conseguem vários benefícios, como o desenvolvimento das aptidões intelectuais, conhecimento cultural, melhora na produção escrita, além de transformar o indivíduo em cidadão crítico.

PALAVRAS-CHAVE: Leitura, ensino, educação

ABSTRACT: Since ancient times books have been noticed by society as a source of knowledge, for in them, there have been registered all the information gotten throughout history. Reading is the key to access this source of Knowledge, what is responsible to the reader personal and professional growth. So, this article intends to discuss the questions on teaching, habits and reading social importance. Its mains objective is to know the reader formation process, the reasons that lead students to give it up and the difference between spontaneous reading, done for pleasure and the other triggered by necessity to enhance job activities. Reading, for being passed through generation to generation, is deeply rooted in the modern society. Reading has got a changing and challenging characteristic and those who dedicate seriously to it benefit themselves, getting intellectual and cultural development, enhancement in writing production, let alone the changes as critical citizenship.  

KEY-WORDS: reading, teaching, education

1.Estratégias e ensino da Leitura

Msc. em Educação pela UFSCar. Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu em Letras da UEMS.* Graduada em letras pela UEMS.

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Há muito um debate vem sendo travado em nossa sociedade, chamado “Crise da leitura”, pois no atual momento acredita-se que a leitura não tem mais espaço reservado na vida das pessoas, principalmente na das crianças e jovens. Pode-se dizer que esse fato acontece pela falta de incentivo à leitura, por parte da família e dos educadores, vítimas do mesmo sistema? Esta é, sem dúvida, uma das mais contundentes perguntas no momento. O progresso tecnológico vem colocando as pessoas em um acelerado ritmo, pois vê-se que as informações e o conhecimento de hoje não serão suficientes amanhã e a leitura passa de privilégio para obrigação. O que ocorre é que a grande massa da população não tem acesso aos livros, literários ou não, e isso faz com que a leitura seja um privilégio de poucos.A leitura é uma ponte entre o conhecimento sistematizado e o mundo real. O livro, por ser a fonte de conhecimento, é um instrumento de combate à ignorância e à alienação, pois através dos textos os homens expõem os visíveis problemas sociais, enfrentados por seus semelhantes no dia-a-dia.É importante observar que a leitura pode, muitas vezes, estar sujeita às regras e conveniências sociais, que visam o domínio de uma classe social sobre outra, usando o analfabetismo funcional como uma arma opressora.O analfabetismo funcional refere-se às pessoas que são alfabetizadas, sabem ler e escrever, porém esse conhecimento se resume em leitura cotidiana, como por exemplo, para se localizar com os nomes de ruas, ônibus, lojas, supermercado, e leitura de textos curtos e simples. O conhecimento dessas pessoas, neste caso, é superficial, pois não conseguem buscar, em texto de nível médio, um significado mais profundo. Foucambert (1994, p.118) caracteriza o analfabetismo e o iletrismo da seguinte forma:

O analfabetismo caracteriza-se pela impossibilidade de compreender ou de produzir uma mensagem escrita simples [...] O analfabetismo funcional refere-se à mesma impossibilidade, porém envolve pessoas com vários anos de escolaridade que dominaram essas técnicas de correspondências grafo-fonética num certo período de sua vida, mas que perderam esse domínio por falta de uso e de exercícios com elas. [...] O iletrismo se caracteriza pelo afastamento em relação às redes de comunicação escrita, pela falta de familiaridade com livros e jornais, pela exclusão do indivíduo das preocupações e respostas contidas na elaboração da coisa escrita.

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Neste contexto, o analfabetismo funcional é visto como parte do iletrismo, ou melhor, como resultado do mesmo. Ao deixar a leitura de aprofundamento para trás o leitor passa apenas a fazer uma leitura superficial e desinteressante, pois não se envolve com o texto buscando mais compreensão e conhecimento. A leitura acompanha o poder, pois ela transforma o leitor, e ele o mundo a sua volta, através da busca pelo conhecimento, e sua aplicação traz somente benefícios para os seres envolvidos. Foucambert (1994, p.121) afirma que: “A defasagem entre leitores e não-leitores reproduz a divisão social entre o poder e a exclusão, entre as classes dominantes e os que são apenas executores.” Na busca pelo poder aquisitivo, o homem precisa se aperfeiçoar cada vez mais na sua área de trabalho e o maior e mais eficaz meio de consegui-lo é a leitura.Apesar de ser muito importante para a sociedade, o ensino da leitura vem sendo trabalhado de forma casual, formando analfabetos funcionais. Segundo Silva e Zilberman (1998, p.79):

[...] a escola não está vencendo o desafio de alfabetizar funcionalmente a parcela da população que consegue chegar a ela. [...] embora se tenha conseguido nos últimos anos um aumento substancial na taxa de escolarização, a escolarização por si só não está dando uma contribuição decisiva à solução do problema.

A melhor solução para o problema é, para Silva e Zilberman (1998, p.81) “[...] a maneira de aprender a ler funcionalmente é ler.” Isto é, manter o aluno dentro e fora da sala de aula em contato com a leitura. Isso não quer dizer que seja a realização de uma leitura didática e obrigatória, mas uma leitura interessante e envolvente, que desperte o prazer do aluno pela leitura.O bom leitor é aquele que relaciona o conteúdo do texto com a realidade que o cerca, fazendo críticas, concordando ou discordando de idéias e opiniões, elaborando hipóteses e questionando seu meio social. Segundo Silva (1995, p.47) “[...] a leitura enriquece ou empobrece, dinamiza ou paralisa, dirige ou desvia, conscientiza ou serve para alienar as ações relacionadas com a formação de leitores.” Sendo assim, o livro pode ou não abrir novos horizontes ao bom leitor.As crianças, ao serem alfabetizadas, reproduzem o som que ouvem para escrever, ou seja, escrevem da forma como ouvem. Quanto maior seu contato com materiais escritos, maior sua bagagem de conhecimento. Ler histórias, fazer bilhetes e anotações, dá às crianças o incentivo que elas precisam para ler qualquer coisa escrita, como por exemplo: livros, jornais, anúncios. Ao serem alfabetizadas, é fundamental que explorem

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o universo de significados contidos nos textos. Solé (1998, p.60) afirma que:

As crianças só podem aprender porque as correspondências entre o som e a letra lhe são transmitidas [...] a criança pode se beneficiar tanto do contexto de uma frase conhecida para descobrir o significado de uma palavra nova inserida na mesma, como de uma experiência em correspondência.

Cabe ao professor oferecer aos alunos amplas perspectivas, estratégias e caminhos, para que eles possam entrar em contato com o sistema da língua escrita e seus significados, e também com variados textos.O professor deve permitir que os alunos planejem a própria leitura, e sempre pedir que comentem os textos lidos, de forma que possam controlar suas leituras, indicando um caminho de motivações e objetivos. Deve deixar que os alunos julguem a parte mais importante no texto lido. Os educadores devem compartilhar os mais amplos e complexos significados que compõem o texto, exercendo o papel de guia. Segundo Solé (1998, p.75) o educador: “[...] deve garantir o elo entre a construção que o aluno pretende realizar e as construções socialmente estabelecidas.”. Ao servir de guia, os professores permitem que os alunos construam e assumam a responsabilidade do próprio desenvolvimento.Parafraseando Solé (1998), o melhor meio de fazer com que os alunos assumam a responsabilidade do próprio desenvolvimento é o professor dividir o ensino em três etapas: Na primeira etapa os professores são os modelos, esses modelos permitem aos alunos compreenderem os textos, os exemplos, hipóteses e mecanismos que os compõem, expondo aos alunos os procedimentos utilizados na compreensão textual. Na segunda etapa, começa a participação do aluno, embora dirigida pelo professor, que formula perguntas, sugere hipóteses e transmite as próprias opiniões e conclusões. Aos poucos, o professor vai transferindo a responsabilidade de compreender o texto para os alunos, incentivando-os a seguirem em frente com as próprias idéias, opiniões e conclusões sobre o texto discutido. Já na terceira etapa, os alunos passam a realizar sozinhos, as tarefas que antes eram orientadas pelo professor. Eles buscam exemplos que confirmam ou negam suas idéias, pensamento e conclusões a respeito do tema. Mas o método mais usado no ensino de leitura é o método direto ou ensino direto, em que ele explica e desenvolve o exercício em questão, sendo totalmente encarregado do ensino, não permitindo que os alunos busquem a leitura para a compreensão e interpretação. Para ensinar os alunos a compreender o texto, o professor deve reconhecer os objetivos do ensino da leitura e ser capaz de expor aos

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alunos. O ensino é construído em cima de livros de texto, realizado em grupos, grandes ou pequenos. O professor que está bem preparado deve ser capaz de prever e compreender o aluno, apontando, corrigindo e explicando os erros e as dúvidas dos alunos. Existem discussões sobre a eficácia desse método, porém esse modo de ensino é um dos métodos que mais se preocupa com a necessidade de ensinar os alunos a ler. Pois, na sala de aula o aluno é passivo, ele simplesmente responde ao entusiasmo do professor, fazendo o que ele pede, ou seja, o aluno só corresponde ao método direto se o professor dirigir o ensino diretamente a ele. Assim, o modelo proposto se torna recíproco, o aluno passa a assumir um papel ativo dentro do ensino, onde formula perguntas, esclarece dúvidas e resume o texto, depois expõe suas dúvidas e conclusões ao grupo, assim, um ajuda o outro, trocando opiniões. Para Silva (1995, p.103): “[...] o ensino da leitura significa estabelecer as funções que ela deve cumprir na escola e na sociedade [...] nenhum tipo de ensino é politicamente neutro.”As diferenças sociais estão presentes nas escolas, influenciando, com sua variável história de vida, a leitura e sua interpretação, pois um texto sempre está relacionado a um contexto e a leitura, quando crítica, remete o leitor a um mundo de percepções, conhecimentos e análises. Fica ao encargo do professor partilhar experiências de mundo com os alunos, incluindo toda a bagagem de conhecimento adquirida no decorrer dos anos.Segundo Kleiman (2002, p.30):

[...] o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos específicos em relação a essa atividade. Nele a atividade de leitura é difusa e confusa, muitas vezes se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos, análise sintática, e outras tarefas do ensino da língua. Assim, encontramos o paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é perfeitamente capaz de planejar as ações que o levarão a um objetivo pré-determinado (por exemplo, elogiar alguém para conseguir um favor) quando se trata de leitura, de interação à distância através do texto, na maioria das vezes esse estudante começa a ler sem ter idéia de onde quer chegar, e, portanto, a questão de como irá chegar lá... nem sequer supõe.

Especialistas em leitura afirmam que não há processo de compreensão e sim processos de leitura e que estes processos de leitura são tantos quantos forem os objetivos e as motivações do leitor. Afirmam também que a forma e o tipo de texto determinam os objetivos da leitura. É a partir dos objetivos da leitura que se permite ao aluno controlar e regular o próprio conhecimento, esse processo é chamado “estratégia metacognitiva”.

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Por controlar o próprio conhecimento o aluno só aprende o que lhe interessa, Kleiman (2002, p.35) afirma que “[...] a leitura desmotivada não conduz à aprendizagem.”, pois o texto lido apenas como atividade mecânica é esquecido rapidamente, é através do texto que o educador passa ao aluno, que ele vai estabelecer e desenvolver suas estratégias metacognitivas, ou seja, se o texto tratar de um tema que é de interesse do aluno, este procura aprofundar seu conhecimento porque estará fazendo algo prazeroso.Os objetivos que motivam o aluno a ler e compreender o texto trazem outra situação: a formulação de hipóteses, pois o aluno terá dúvidas e elaborará hipóteses sobre o assunto e a estrutura do texto, de forma que consegue alcançar novos horizontes, visando os amplos significados presentes no texto. Assim, sempre estará construindo novos conhecimentos para ele e para sua vida em sociedade.

2.O hábito como fator motivador da leitura

Cabe ao educador desenvolver nos alunos o interesse e o hábito pela leitura, adotando obras de ficção e não ficção no decorrer do ano letivo, de uma forma que eles possam ver a ligação de um assunto com outro, mostrando algo do interesse comum deles, pois o maior contato com os livros vem da escola. Para manter aceso o hábito da leitura, segundo Bamberger (2002, p.20):

[...] precisamos ir além das necessidades e interesses das várias fases de desenvolvimento e motivar a criança a ir ajustando o conteúdo de suas leituras à medida que suas necessidades intelectuais e condições ambientais forem mudando. É preciso fazer da leitura um hábito determinado por motivos permanentes, e não por inclinações mutáveis.

Para que haja entusiasmo por parte dos alunos, o professor também precisa ser um leitor entusiasta, possuir conhecimento de várias opções de leitura e ter um bom relacionamento com os alunos, de forma que possa orientá-los pelo mágico caminho da leitura.Estudos realizados com jovens leitores vêm mostrando que muitas crianças não leem por terem dificuldade de saber ler, de compreender e de analisar textos. Já os alunos que gostam dessa atividade têm maior concentração e assimilam com maior rapidez o conteúdo. O fato de ler mal leva o aluno a buscar outro passatempo, perdendo o interesse pela educação. E cabe ao professor motivar esse aluno a ler. Bamberger (2002, p.31), sobre isso aponta o seguinte: “[...] o que leva o jovem

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leitor a ler não é o reconhecimento da importância da leitura, e sim várias motivações e interesses que correspondem à sua personalidade e ao seu desenvolvimento intelectual”.Pesquisas vêm concluindo que são as motivações que levam as crianças a praticarem o hábito de leitura. O ato de ler, por sua vez, impulsiona as aptidões intelectuais, como o pensamento e a fantasia, a expansão do “eu”, o prazer de encontrar um mundo de fantasias e descobrir coisas novas e praticar uma habilidade recém adquirida.Os pais também devem incentivar nas crianças o hábito de ler. Como? Lendo em voz alta, contando histórias e mostrando figuras a elas, criando, dessa maneira, um ambiente que as conduzem ao interesse pela leitura. É preciso incentivar e acompanhar suas leituras, evitando a leitura mecânica, muito comum nas escolas, onde os professores fazem da leitura um exercício, uma atividade, obrigando seus alunos a ler. Muitos professores mandam cada criança ler um parágrafo e corrigem cada letra pronunciada errada. Essa atitude não melhora em nada o processo de aquisição do hábito de ler.Outro fator que leva alunos à desistência da leitura é, segundo Silva (1995, p.105), “[...] o vendaval de apostilas, que geralmente retalha a totalidade de uma ou mais obras e afasta os alunos das bibliotecas”, pois a leitura do aluno estará monitorada e sua importância será apenas o número de livros lidos, desviando sua atenção do objetivo mais importante no ensino da leitura: a compreensão crítica.Porém, para alcançar esse objetivo os pais e professores devem dar exemplos às crianças. No início da alfabetização devem incentivar as crianças a ler pequenos livros com vários desenhos e grandes letras, pois, segundo Bamberger (2002, p.50): “A criança entra em contato com a linguagem das gravuras antes da linguagem das letras. Uma vez que ela já aprendeu a entender o significado das figuras, é necessário que o material de leitura inicial as contenha em grande número.” Se a narrativa contém várias figuras e pequenas frases as crianças compreenderão o texto com maior facilidade.Conforme o desenvolvimento das crianças, a configuração do livro muda seus espaçamentos, gravuras e as letras diminuem. É importante que um adulto esteja acompanhando a leitura das crianças, fazendo-os debater suas opiniões e idéias sobre o assunto lido.Com o amadurecimento do leitor seu gosto pela leitura transforma-se. Bamberger (2002, p.35), diz que “As motivações para a leitura e os interesses por ela diferem não só para os vários grupos de idade, mas também para cada tipo particular de leitor.”. O autor afirma que o gosto pela leitura e seu gênero é influenciado pela idade, meio social e interesse pessoal. O interesse pessoal pode variar entre quatro tipos de leitura: informativa, escapista, literária e cognitiva. Também aumenta a exigência pela leitura independente, proporcionando melhora na

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habilidade de leitura, de forma que, progressivamente, os alunos se familiarizem com a literatura e venham a adquirir o hábito de ler e também possam utilizar essa habilidade para conseguir acesso a novos conteúdos.Nesse sentido, cabe aos professores introduzirem a leitura aos alunos para que estes venham a praticar o ato de ler com prazer. Os educadores devem dar a eles chance de entrar em contato com uma diversidade de textos e deixá-los captar as primeiras emoções e ideias do texto. Para esse tipo de exercício as bibliotecas escolares e públicas se tornam importantes, pois elas possuem variados gêneros literários que os alunos precisam para satisfazerem seus interesses pessoais.É importante que os alunos se sintam à vontade entre os livros e após a leitura cabe aos educadores estimulá-los a compartilhar as emoções e ideias que a leitura lhes despertou. Se a leitura envolve compreensão, o leitor se aproxima do mundo significativo do autor, que lhe oferece novas perspectivas e opiniões. A leitura contribui para a cultura do indivíduo, seja a leitura realizada por obrigação ou por interesse pessoal.Na leitura feita com o intuito de buscar conhecimento o importante é a experiência emocional e os critérios elaborados com o objetivo de analisar e criticar a obra lida, não importando se o leitor esteja ou não lendo por obrigação ou prazer. Quando se lê para aprender o aluno passa a se interrogar sobre o assunto em questão, estabelecendo relações com o que sabia e as informações recém adquiridas, faz anotações e procura tirar dúvidas, levando-o, assim, a outros significados não presentes no texto.Outro beneficio que a leitura traz é referente a escrita, quanto mais se lê, melhor se escreve, pois o aluno adquire base para apoiar suas idéias e desenvolvê-las, também a leitura dos próprios escritos faz com que os alunos se tornem críticos. O erro na redação leva-os a escreverem com maior perfeição, juntando o conhecimento antigo e o adquirido com a nova leitura.

3.A biblioteca: um espaço necessário

As bibliotecas têm sido, desde a Antiguidade, um local reservado a intelectualidade, o centro do conhecimento humano. Elas funcionam como guardiãs do saber, onde o ser humano busca conhecimento e informação. Milanesi (1983, p.22) afirma que:

A informação tornou-se um bem acumulável e valorável. “Um homem informado vale por dois.” Saber e poder passaram a ter

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uma trajetória claramente paralela. Do profissional especializado ao cidadão comum, a necessidade de informar-se caracterizou-se como algo prioritário. A biblioteca passou a ser o território mais adequado a esse exercício determinado pelas transformações sociais: o desenvolvimento industrial, a competição acirrada em todos os setores, notadamente no científico-tecnológico (em particular durante as guerras). A partir disso, a informação foi vista como um elemento estratégico para a segurança e o desenvolvimento.

No Brasil colônia, os livros que vinham de Portugal tinham duas funções definidas: religiosa e educativa, e todos eram passados por censuras. Segundo Milanesi (1983, p.26) “Os portugueses foram sempre rigorosos com a publicação e circulação de impressos. Desde 1533, qualquer impressão de livro passava por três censuras: Santo Ofício e Ordinário (da Igreja Católica) e o Desembargo do Paço (poder civil).” Por ser proibida a impressão de livros no Brasil, eles eram importados e a maioria pertencia aos conventos. Para Milanesi (1983, p.28): “[...] a maior transformação que a Colônia sofreu foi a vinda de D. João VI em 1808.” Pois o rei trouxe de Portugal sua biblioteca com 60 mil volumes e a tipografia, que começa a funcionar, mesmo sob a vigilância da censura.Após a independência, aconteceram algumas importantes mudanças, como a fundação de jornais, livros, folhetos, escolas, divulgações de novas idéias, principalmente na literatura, além da criação de novas bibliotecas públicas. Infelizmente, o nível de analfabetos no Brasil era enorme, como diz Milanesi (1983, p.31): “No começo do século XX, o índice de alfabetizados não chegava a 30%.”, e como a população não podia acompanhar o desenvolvimento da imprensa, várias atividades ligadas à leitura não sobreviveram. Com o surgimento do rádio e da televisão, por volta de 1920, a população se afasta ainda mais das publicações escritas, pois para assistir televisão e ouvir rádio não precisa de concentração ou habilidade de leitura. Com os novos meios de comunicação, a função do livro sofreu uma alteração, Milanesi (1983, p. 35), afirma que:

[...] a própria função do livro mudou: de lazer e instrução ele passou a instrumento quase exclusivo para os trabalhos escolares, as chamadas “pesquisas”, uma atividade meramente prática, rotineira. A função do prazer diminuiu, bem como o papel, a ideia do apostólico ligada à leitura.

Com isso, várias mudanças acontecem e as bibliotecas deixam de exercer a função de aprimorar e estimular a vida cultural dos cidadãos

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para acompanharem a nova função do livro, transformando-se em um ambiente de pesquisa e estudo.O aluno que tinha condição social média mantinha esses livros para pesquisa em casa, então deixava de freqüentar a biblioteca, que passa a prestar serviço a alunos carentes. As bibliotecas públicas são responsabilidade do município a qual pertence, e o acervo, em vários casos, reflete a falta de interesse pela leitura, acompanhando somente as publicações de pesquisas e obras de cunho comercial. Milanesi (1983, p.63), acrescenta: “Biblioteca pública é sinônimo de museu de livros por mostrar coleção morta.” Este é o mal das bibliotecas, tanto as municipais quanto as das escolas públicas, pois elas se esqueceram de sua outra função, especificamente, as públicas. Milanesi (1983, p.92) aponta que: “As bibliotecas, passando a atender aos estudantes em estado de pesquisa, deixou de lado esse papel básico: prestação de serviços à coletividade no âmbito do interesse geral.”Atualmente, percebe-se que esta realidade ainda permanece em grande parte do país. O mal das bibliotecas tem início nas escolas, que não tem biblioteca, e quando tem é ineficiente. Os alunos começam a ter aversão pela leitura desde os anos iniciais, quando, a eles são impostas tarefas e obrigações maçantes e desinteressantes, então uma vez adquirida essa aversão, ela o acompanhará por toda a vida. Essa problemática faz parte de um círculo vicioso, onde o desprezo pela leitura passa, como uma herança, de geração a geração. Observa-se que os alunos não se sentem à vontade em uma biblioteca, cercados pelo silêncio e pelos livros, normalmente os poucos existentes.

Considerações finais

A importância da leitura não se limita apenas em um prazeroso ato e nos estudos, ela vai além, pois sua presença está em todos os lugares, principalmente nas escolas, bibliotecas, empregos e centros urbanos, até mesmo para localização de algo como uma rua, um restaurante.No Brasil, a leitura dá os primeiros passos com a vinda da Família Real que foge de Napoleão e da guerra na Europa. Ao se instalar no Rio de Janeiro ordena a construção de escolas e uma tipografia. Lentamente a leitura vai se “popularizando”, o comércio de livros cresce muito, porém a população letrada é pequena.A leitura atinge o auge no século XX quando livros e bibliotecas eram encontrados em vários os lugares. Mesmo com toda a produção, discussão e divulgação da leitura, ela não atingiu a massa brasileira, pois muitos não freqüentavam escolas. Então, surgem o rádio e a televisão, que, por sua simplicidade em ver e ouvir afasta a grande população do ato de ler.

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Pode-se dizer, referindo-se a leitura prazerosa, que a sociedade pouco lê. As escolas ainda trabalham a leitura de forma mecânica, contribuindo para a formação de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas capazes de ler, mas com dificuldade para compreender.Constata-se que o Brasil ainda não amadureceu no processo de formação de leitores. Falta hábito, incentivo e bibliotecas. Fato compreendido quando se busca o contexto histórico da alfabetização do país. Sendo fácil compreender o motivo da “Crise de leitura”. Por sermos vítimas de uma sociedade que despreza a leitura prazerosa pode-se dizer que a leitura tornou-se, de privilégio uma obrigação, pois o ato de ler é exercido somente pela procura em crescer socialmente. Para mudar esse fato é preciso, portanto, que todos, desde a escola, a família e a comunidade em geral se lancem juntos num projeto que possam formar novos e bons leitores. Com certeza assim sendo, teremos uma sociedade diferente, pautada nos valores humanos que a leitura pode oferecer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SILVA, E.T. Leitura na escola e na biblioteca. Campinas, São Paulo: Papirus, 1995.SILVA, E.T. ZILBERMAN, R. Leitura, perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Editora Ática, 1998.SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed Editora, 1998.