leitura de textos publicitÁrios: o domÍnio … · ler e escrever torna-se, cada vez mais,...
TRANSCRIPT
LEITURA DE TEXTOS PUBLICITÁRIOS: O DOMÍNIO DISCURSIVO DA
PUBLIICDADE.
Autora: Elizabeth Gheller dos Santos¹
Orientadora: Lidia Maria Gonçalves ²
RESUMO
A nossa prática pedagógica tem como objetivo específico fomentar a habilidade de leitura de textos da área da publicidade. E este artigo relata tal experiência e divulga os resultados da implementação desenvolvida com alunos da oitava série (nono ano) do Ensino Fundamental da Escola Estadual Nereu Ramos, no município de Manoel Ribas – PR. Durante essa trajetória, promovemos leituras significativas de diversos suportes textuais e gêneros discursivos, entre eles, enfocamos os textos publicitários veiculados na esfera jornalística. Como o homem contemporâneo vive cercado pelos meios de comunicação de massa, no ambiente escolar, analisamos de que forma as mensagens divulgadas nos meios jornalísticos e publicitários contribuem para formar opiniões. Reconhecemos o anúncio publicitário como produto histórico, vinculado à vida cultural de estudantes e de trabalhadores. E, assim, o tomamos como objeto de investigação.
Palavras-chaves: Formação do leitor; publicidade; jornal na educação.
1 FORMAR LEITORES É ESSENCIAL
O ser humano precisa sempre estar se adaptando ao mundo das palavras.
Para Pinker (2002), o que faz nossa comunicação mais impressionante é a
habilidade de ler e escrever, proporcionando uma ligação entre tempos, espaços e
relacionamentos.
1 - A autora desse artigo é Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná.
E-mail: [email protected]
2 - A orientadora desse trabalho é Professora do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da
Universidade Estadual de Londrina – UEL- E-mail: lí[email protected]
Dolz & Scheneuwly (2004) defendem que, no processo de leitura e produção
textual, o desenvolvimento da autonomia do aluno, é uma consequência do domínio
do funcionamento da linguagem em situações de comunicação e que, por meio dos
gêneros discursivos, as práticas de linguagem vão sendo incorporadas às atividades
escolares.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2008) preconizam como um
dos objetivos do Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de posicionar-se
de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais.
Quanto mais se pratica a leitura, mais facilidade o leitor adquire na compreensão da
mensagem, na análise crítica, no reconhecimento das inferências, enfim, maior será
seu o relacionamento com o mundo por meio da atividade linguística.
A leitura depende da identificação do contexto extralinguístico e de fatores
ligados à sua produção e à circulação do texto. O leitor precisa entender que todo
texto tem uma função, carrega uma visão de mundo, contém uma ideologia, uma
crença. Afinal, o modo de ver as coisas depende da formação ideológica de cada
indivíduo.
Ler é meio de apreender informações das diversas áreas do conhecimento
humano, mesmo que esse não seja o motivo desencadeador da atividade. É um
modo de participar do discurso de outros, observarem distintas vozes, questionar e
reescrever aquilo que lhe é fornecido como aceitável ou não.
Comentar com outro o que estamos lendo, recomendar o que consideramos valioso, discutir diversas interpretações de uma mesma obra, intercambiar ideais sobre as relações entre diferentes obras e autores são práticas corriqueiras nos meios letrados. No entanto, interações entre leitores acerca dos textos são menos frequentes em muitos ambientes escolares e a leitura de jornais e revistas ainda está ausente em muitos centros educacionais. Diante dos exemplares expostos em uma banca de jornal, as pessoas lêem e comentam as notícias; a leitura do jornal é também compartilhada na intimidade dos lares de pessoas mais letradas, mas, na maior parte dos estabelecimentos de ensino por nós conhecidos, estas ainda são atividades raras. (...) A capacidade de ler e interpretar múltiplos textos é absolutamente essencial no e para o mundo que vivenciamos, mundo em que circula um infinito volume de informações com as quais estabelecemos variados nexos, gerando conhecimentos que nos instrumentalizam como cidadãos capazes de atuar na sociedade. (GONÇALVES, 2010, p. 68-69)
Ler e escrever torna-se, cada vez mais, atividades essenciais na vida em
sociedade. Por intermédio da leitura, relacionamos nossos próprios valores com os
dos outros e podemos ficar mais enriquecidos com novas experiências,
incorporando idéias oriundas de múltiplas fontes. Por meio da prática de leitura
conhecemos melhor o mundo e um pouco mais de nós próprios.
Para se ensinar a ler, precisa-se gostar de ler, ser bom leitor, familiarizar-se
com um grande número de textos. E, para exercer plenamente sua cidadania, o
sujeito precisa apossar-se da linguagem culta, tornando-se seu usuário competente.
Assim sendo, precisamos redimensionar o significado de ser leitor. O professor
precisa ler para os seus alunos, de forma que eles possam ser envolvidos pelo texto,
servindo de referencial para a turma. E ao trabalharmos projetos que privilegiem a
mídia na escola, visamos romper com concepções de linguagem que deram origem
aos trabalhos de pseudo – interpretação, com perguntas a serem respondidas
conforme as linhas do texto e usadas como forma de avaliação de um saber não
construído, porque, para nós, bakhtinianos, ler é um processo de interação dialética
entre leitor e texto. De acordo com o diálogo estabelecido, o leitor pode estranhar /
rejeitar o discurso divulgado em um determinado texto ou pode identificar-se com o
dito.
O leitor curioso e interessado é aquele que está em constante conflito com o
texto, conflito representado por uma ânsia incontida de compreender, de
concordar, de discordar – conflito, enfim, onde quem lê não somente capta
o objeto de leitura, como também transmite ao texto lido as cargas de sua
experiência humana e intelectual. (NAIEF Safady. Apud: SILVA, 2000, p.
44).
As Diretrizes Curriculares Estaduais da Educação Básica (2008) apontam a
necessidade do currículo escolar possibilitar a formação integral do educando, com
vista à transformação da realidade social, econômica e política de seu tempo. Como
expõe Nascimento (2009) a linguagem é uma atividade social e interativa, o
enunciado é a unidade concreta e real da atividade comunicativa entre indivíduos
situados em contextos sociais reais.
No contexto vivenciado, no ensino de Língua Portuguesa torna-se cada vez
mais necessário abordar questões práticas, elas são eficientes para viabilizar
condições de ensino-aprendizagem num processo de interação social. Nesta
perspectiva, o aluno é tido como ser capaz de agir de forma crítica e as atividades
propostas servem para desenvolver ainda mais a sua criticidade.
As Diretrizes Curriculares (2008) orientam a escola a ser um espaço que
promova o letramento do aluno por meio de uma gama de textos com diferentes
funções sociais, para que ele se envolva nas práticas de uso da língua, seja através
de leitura, da oralidade e/ou da escrita.
Para oportunizar o letramento de nossos alunos, devemos estar abertos às
inovações, às transformações que a sociedade constantemente nos proporciona. As
informações são disponibilizadas em placas, outdoors, sinais, revistas, jornais, livros,
TV e outros canais informativos e midiáticos que o mundo tecnológico apresenta.
Ser leitor não é resultado de um processo natural, depende da interferência
educacional e cultural, é necessário um contato permanente com materiais escritos,
sendo estes variados e de qualidade.
Esta formação requer um movimento consciente na busca pelo
aprimoramento intelectual. No entanto, desenvolver o hábito e o gosto pela leitura e
fazer perceber sua importância na formação de uma sociedade letrada tem sido uma
das maiores dificuldades encontradas nos contextos escolares. A busca pela
informação é uma maneira responsável de participar da sociedade, observando a
realidade, refletindo sobre o seu entorno, criando estratégias para intervir no mundo
real. Estas são atitudes responsivas, capazes de transformar o mundo. Mas, para
desenvolver o gosto pela leitura, é importante que o aluno interaja com diversos
textos e variados suportes textuais, familiarize-se com eles para, consequentemente,
capacitar-se para exercer sua cidadania de forma mais satisfatória, por ser capaz de
expressar o que sente e de criar novas possibilidades de interação e de inclusão
social. Esta competência não ocorre do dia para a noite e, além disso, exige
comprometimento de todas as partes envolvidas nesse processo de qualificação.
Segundo Dionísio (2005, p.159), o bom leitor é aquele “capaz de atribuir sentido a
mensagens oriundas de múltiplas formas de linguagem, bem como capaz de
produzir mensagens, incorporando múltiplas fontes de linguagem”. Cabe, portanto, à
escola oportunizar condições de letramento e isto se dá à medida que os alunos
apropriam-se das características discursivas e linguísticas dos mais variados
gêneros textuais. Inseri-los em práticas reais e contextualizadas de linguagem
facilita o mecanismo de socialização do grupo e de cada um dos seus membros.
Silva (2000, p. 44) considera, “o leitor curioso e interessado é aquele que
está em constante conflito com o texto, conflito representado por uma ânsia
incontida de compreender, de concordar, de discordar”.
Cabe ao professor oportunizar aos alunos a apropriação das características
através da leitura e da escrita discursivas e linguísticas dos mais variados gêneros
textuais, e inseri-los em práticas reais e contextualizadas, de modo a torná-los
letrados. Enquanto lê, o aluno interage, dialoga com o texto.
Nesse sentido, Vigotsky (1996) complementa que a apropriação do
conhecimento se efetiva a partir das interações recíprocas do ser humano com o
mundo. Em outras palavras, cabe salientar que, a leitura possibilita uma real
interação num processo contínuo e progressivo do conhecimento e de formação do
indivíduo; a relação entre o homem e o mundo é uma relação mediada, pois,
existem elementos que auxiliam a atividade humana e estes elementos de medição
são os gêneros discursivos instrumentos utilizados para nos comunicarmos.
Ao trabalhar com uma diversidade textual, o professor deve aproximar o aluno
das situações originais de produção dos textos não escolares; essa aproximação é
uma das condições para que o aprendiz compreenda o funcionamento dos gêneros
textuais e das peculiaridades de cada gênero discursivo, o que facilita o domínio que
deverá ter sobre eles. Dessa forma, o trabalho com gêneros favorece o aprendizado
de práticas de leitura, de produção textual e de análise linguística.
De acordo com Bakhtin (1997, p. 279), os gêneros textuais são mais ou
menos específicos em cada uma das esferas sociais. Assim, é possível falar em
gêneros textuais que ocorrem no cotidiano (marcados pelas relações familiares e
informais), acadêmicos (que se dão na vida estudantil), jornalísticos (produzidos no
âmbito da mídia) etc. E o lugar onde o gênero é fixado (seu suporte) também
influência na construção composicional do gênero e na sua apreciação.
Trabalhar o ensino de gêneros textuais é inserir os alunos em situações reais
de uso da língua, de modo que as atividades de leitura e escrita desenvolvidas no
ambiente escolar também sejam atividades de letramento e a escola seja um
“autêntico lugar de comunicação” e as situações escolares “ocasiões de produção e
recepção de textos” (SCHNEUWLYe DOLZ, 2004, p. 78).
A leitura de gêneros midiáticos deve fazer parte de nossa vivência escolar, é
uma ferramenta importante para o desenvolvimento da nossa cidadania. O contato
direto com objetos de leitura oriundos da mídia impressa favorece o ser humano a
crescer intelectualmente e a desenvolver sua sensibilidade para questões sociais.
Quando a escola se empenha para despertar nos alunos a motivação para a leitura,
eles passam a ler mais para melhor entender o mundo que os cerca e a ver esta
prática como uma necessidade pessoal. Sem o desenvolvimento desse perfil, não
serão leitores. “A leitura, na nossa sociedade, é uma condição para dar voz ao
cidadão, e, mais, é preciso prepará-lo para tornar-se sujeito no ato de ler” (FREIRE,
2010, on-line).
Ler, nessa perspectiva corresponde a compreender o meio em que está
inserido, além de aprender informações das diversas áreas do conhecimento
humano, mesmo que isto não esteja explícito. Assim, ao realizar a leitura, os
indivíduos participam, observam e, até mesmo, questionam tudo aquilo que lhe é
fornecido. A leitura de textos na esfera midiática pode formar leitores competentes e,
consequentemente, estimular escritores a desenvolverem melhor suas produções
textuais, articularem idéias e opiniões de forma mais adequada.
Diante disso, utilizar a mídia na escola é dar um passo significativo para
provocar a leitura do mundo. È enriquecedor que o exercício cotidiano de uso da
mídia na sala de aula inclua à leitura de jornais, revistas, outdoors, veículos
eletrônicos e fontes diversas. Para se ler o mundo, é preciso filtrar os olhares dos
outros. Nesse sentido, é fundamental que aprendamos antes a ler o mundo
construído por meio da elaboração de suas próprias narrativas. Assim será possível
a construção de um conhecimento favorável à transformação do educando em
sujeito de sua própria história. A aquisição do pensamento crítico é resultado da
inserção do aluno como agente mobilizador na sua realidade e para desenvolvê-lo a
leitura de textos publicitários é um caminho.
2 LEITURA DE TEXTOS PUBLIICTÁRIOS
Carvalho (2002) leva-nos a perceber que o trabalho de análise de textos
publicitários pressupõe uma noção de texto que ultrapassa a concepção tradicional
de texto como um simples conjunto de palavras (ou signos) e frases inter-
relacionadas, importa o discurso e seus mecanismos de persuasão. O texto
publicitário, enquanto unidade significativa, não se limita ao uso do código verbal.
Como orienta a autora, a dimensão extraverbal do gênero publicitário exige uma
abordagem que transcenda a do signo linguístico e considere, sobretudo, os apelos
dos signos visuais expressos por meio das imagens e das cores, os quais são partes
integrantes (junto com os signos linguísticos) da “tessitura” do texto, formando um
todo significativo. Conforme a pesquisadora, abstrair os aspectos não-verbais na
análise de um texto publicitário pode significar a ruptura de sua unidade semântica.
Sendo assim, a noção de texto aqui utilizada abrange não só os processos verbais,
mas também aqueles que podem ser caracterizados como não-verbais. Aliás, há
uma tendência em enfocar a mensagem publicitária a partir de uma imagem, ou
seja, há predominância do imagético. E, aliar esse apelo imagético à linguagem
verbal é o que caracteriza o gênero como multimodal.
A publicidade é um dos discursos que mais nos fascinam, a sua linguagem
sedutora atua sobre a subjetividade de maneira rápida; o êxito do discurso
publicitário está justamente na combinação de elementos persuasivos que procuram
sempre utilizar as referências do momento para aderir o leitor.
O discurso publicitário é um dos instrumentos de controle social e, para bem realizar essa função, simula igualitarismo, remove da estrutura de superfície os indicadores de autoridade e poder, substituindo-os pela linguagem da sedução (CARVALHO, 2002, p. 17).
Cabe ao professor explicar aos seus educandos que a argumentação incide
num jogo de signos em que o emissor emprega táticas para dissimular a sua
intenção e manipular o destinatário. Desse modo, o texto ganha maior poder
persuasivo, ao nortear o modo de querer, pensar e agir do receptor. Da mesma
maneira, deve-se levar em conta a função social da mensagem e seu público alvo,
pois ao comunicar-se o homem constitui relações com os outros, esperando
respostas e comportamentos.
Assim, toda a estratégia publicitária é de natureza persuasiva, em maior ou
menor grau, e “a argumentação é uma atividade estruturante do discurso, pois é ela
que marca as possibilidades de sua construção e lhe assegura a continuidade.”
(KOCH, 2006, p.159)
De acordo com Koch (2006), os atos discursivos buscam não só informar,
como também transformar comportamentos. O sujeito comunicante edifica sua
mensagem por intermédio de “estratégias” discursivas: comunicar é usar estratégias
e interpretar é saber reconhecê-las. Dessa forma, segundo a autora, além de uma
competência linguística, o sujeito interpretante deve ter uma competência
semântico-discursiva que lhe admite depreender o sentido que decorrem de fatores
linguísticos e extra linguísticos.
Na publicidade, cada palavra é selecionada para conduzir de forma clara,
atraente e objetiva a mensagem desejada. Como destaca Sandmann (2001), as
frases utilizadas respeitam a estética empregada e a linguagem do público alvo do
anunciante, pois o texto publicitário é edificado em função do ouvinte ou do leitor
virtual. E, para que o discurso tenha capacidade de persuadir o público, na grande
maioria das vezes ele é constituído por um texto cuidadosamente selecionado em
seus componentes linguísticos.
Carvalho (2002) salienta que, no caso do texto publicitário, as afirmações
gerais devem ser poupadas; quanto mais específica e definida for a mensagem
maior e melhor será a força dos argumentos empregados. A estudiosa ensina que
textos do gênero publicitário utilizam como elementos linguísticos frases curtas e
concisas; palavras-chaves, carregadas de significação; adjetivos; verbos; advérbios;
imperativo; elipses; linguagem figurada e recursos, como o uso de modismos, gírias,
regionalismos e neologismos. A escolha dos elementos constituintes do texto busca
estar de acordo com o contexto evocado pelo anúncio.
Quando um texto retoma o conteúdo de outro(s) e/ou a sua forma, ocorre
intertextualidade, ou seja, eles “dialogam” entre si. Um aspecto relevante no modo
de interagir com um texto é o conhecimento partilhado entre autor do texto e leitor.
Para realizar uma leitura eficiente, o leitor precisa compartilhar das informações que
o autor empregou e aliar a própria visão de mundo com a versão da “realidade”
transmitida pelo texto. Quanto mais conhecimento prévio o leitor armazena, mais
favorecido ele estará para cooperar na construção de sentidos dos textos.
Como diz Koch (2004, p.145), há uma “(inevitável) presença do outro naquilo
que dizemos ou escrevemos”, ou seja, a intertextualidade acompanha todo o texto e
é um recurso argumentativo que pode estar explícito ou implícito, requerendo a
ativação do texto-fonte na mente do leitor no intuito de orientar a compreensão
daquilo que se lê. E, a intertextualidade ocorre em textos das mais variadas esferas
de comunicação, ou seja, não só nos literários, como também nos textos midiáticos.
e nos que circulam em outros contextos.
Como expõe Sandmann (2001), durante o processo de criação das peças
publicitárias, os criadores lançam mão de recursos semióticos que constituam o
universo cultural de uma dada esfera social. E a medida que um anúncio incorpora
significados materializados em outros textos e contextos, o processo criativo passa a
ser concebido como uma atividade de intertextualidade. Koch (2004) afirma que é
assim que, na publicidade, a Intertextualidade ganha caráter criativo. Existem
milhares de anúncios que fazem indicações implícitas ou explícitas, a outros textos
verbais e não verbais. Na leitura de textos publicitários, a identificação da
intertextualidade foi um caminho muito trilhado por nós durante a implementação do
meu projeto pedagógico e comprovou ser prática enriquecedora para o leitor.
3 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE LEITURA DE TEXTOS PUBLICITÁRIOS
A implementação do projeto teve início com uma conversa, visando o
envolvimento de todos os alunos com o assunto a ser a pesquisado. Inicialmente,|
mostramos textos publicitários em vários suportes textuais e promovemos a
apreciação dos textos que circulam nesta sua esfera da comunicação humana.
Em seguida, os alunos foram ao laboratório de informática (Proinfo) e
realizaram pesquisas sobre o tema publicidade e selecionaram textos publicitários
que, por algum motivo, interessaram a eles, consideraram importante analisá-los.
Em nossas aulas, sempre oportunizamos a leitura de textos publicitários e
jornalísticos. No momento da socialização da pesquisa, cada aluno pode expor o
material selecionado e, em grupo, analisamos a linguagem utilizada, enfocamos os
elementos persuasivos que acompanham a propaganda.
Dando continuidade ao trabalho, em outra ocasião, leram o texto Eu –
etiqueta de Carlos Drummond de Andrade e assistiram ao vídeo no youtube (Eu –
etiqueta). Após a leitura do texto e do vídeo, houve questionamentos, comentários,
discussões e produção de textos sobre o assunto em foco.
Segundo um aluno, devemos ter consciência na hora de fazermos nossas
compras, ver se aquele produto realmente é necessário, se cabe em nosso
orçamento, e se realmente iremos usá-lo, só assim poderemos usar a mídia a
nosso favor. Essa consciência foi disseminada, por meio desse projeto pedagógico,
a outros colegas da turma.
No prosseguimento das atividades, os alunos tiveram uma palestra com o
jornalista e proprietário do jornal Paraná Centro. Ele falou sobre a história do jornal
e deu incentivo à leitura, expôs a importância de saber ler e compreender um
anúncio publicitário e também revelou sua história de vida e como a leitura
contribuiu para que se tornasse um jornalista. A palestra estava prevista para durar
em torno de uma hora, mas, devido ao grande interesse dos alunos, durou quase
três horas. Após a palestra, os alunos foram ao laboratório de informática
(PROINFO), juntos com o jornalista e lá acessaram o site do jornal Paraná Centro
leram as notícias, analisaram as fotos, interessaram-se pelos anúncios
classificados e pelo caderno imobiliário.
Na aula do dia seguinte, através de mensagens de textos on-line, os
estudantes quiseram agradecer o jornalista por ministrar a palestra sobre leitura de
textos publicitários e, assim, registraram o quanto a palestra “mexeu com eles”, foi
produtiva.
No dia seguinte a produção dos e-mails, um editor da empresa jornalística
telefonou para esta docente e animado com o que os alunos haviam declarado
sobre a palestra e também sobre o nosso projeto, pediu uma foto de cada aluno
que havia mandado mensagem para que as mesmas fossem publicadas, ao lado
dos textos enviados. O jornalista publicou as mensagens recebidas e também
agradeceu a oportunidade de participar desse projeto. Retribuiu o carinho dos
alunos ao publicar suas mensagens e fotos, além de enaltecer mais uma vez a
iniciativa de incentivo à leitura que promovemos na Escola Estadual Nereu Ramos.
Durante a implementação desse projeto, os alunos tiveram a oportunidade de
analisar vários textos publicitários, identificando o plano textual de uma publicidade,
o papel social da publicidade, a quem é dirigido cada tipo de texto e a intenção do
produtor. Também estudaram a linguagem usada na propaganda, a ambiguidade,
os verbos, as pontuações, entre outros recursos linguísticos.
Após a leitura de vários classificados, cada aluno imaginou que tivesse um
veículo que desejasse vender e produziu um anúncio para a venda, expondo esta
produção textual para os colegas da classe.
Em nova ocasião, os alunos produziram vários anúncios publicitários sobre os
males causados pela bebida e pelo cigarro. Os materiais produzidos foram
expostos no mural da escola e assim ganharam maior visibilidade e contribuíram
para a conscientização acerca do valor de viver de forma saudável.
Para finalizar esta jornada, em dupla e de acordo com a livre escolha, os
alunos responsabilizaram-se por criar e por gravar uma campanha publicitária para
um estabelecimento comercial do município. As equipes gravaram comerciais
excelentes e apresentaram para a classe, na TV pendrive. Em outra oportunidade,
os comerciais foram assistidos pela direção e pela equipe pedagógica da escola,
os quais enalteceram os alunos e esta docente pelo trabalho realizado durante a
implementação.
Como já estávamos no final do ano letivo de 2011, não tivemos tempo para
publicar aqueles textos na imprensa local, mas posso afirmar com certeza que
saíram trabalhos maravilhosos, como testemunhou a comunidade escolar.
No encerramento da implementação, fizemos um feedback de tudo o que foi
realizado e foi emocionante o depoimento dos alunos sobre o crescimento que
tiveram durante a realização das atividades.
Uma das coisas que nos marcou bastante foi quando um aluno nos disse:
“Professora, obrigado por ter escolhido nossa sala para a realização desse
trabalho. Valeu pelo incentivo à leitura e por compartilhar sua experiência de vida.
Com certeza, vou guardar tudo o que aprendi como um incentivo a ser alguém
diferente. Afinal, o conhecimento não tem fronteiras, nunca é demais.” Diante disso,
podemos concluir que impulsionamos a conscientização dos nossos alunos, o
objetivo foi alcançado.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ler é estar atento às informações, é buscar novos conhecimentos, é expandir
o universo cultural e entender o mundo de forma mais ampla. Queremos sempre
estar receptivos ao avanço tecnológico, midiático e cultural que vivenciamos. E com
a realização desse projeto entendemos o valor da leitura de textos publicitários e de
se explorar o domínio discursivo da publicidade. Este conhecimento é um
componente importante na busca de novos conhecimentos, acerca da Língua
Portuguesa, favoreceu a argumentação dos participantes e a produção de novos
textos e mais criativos.
Tendo em vista o grande avanço das telecomunicações e das tecnologias em
nossa sociedade, este trabalho, buscou refletir sobre as proporções do uso da mídia
e sua função na sala de aula. Afinal, nossa sociedade confere credibilidade a estes
veículos de comunicação, canais de informação rápida sobre acontecimentos
provenientes da comunidade local e da mundial, recurso acessível às várias classes
sociais.
O professor deve ser o mediador, um agente nesse processo de ensino e de
aprendizagem. Atualmente, a pesquisa científica e a investigação pedagógica são
fundamentos essenciais na formação profissional do educador. E não só para o
trabalho docente, mas para todas as áreas do conhecimento, interessa a formação
do leitor e a capacitação do cidadão para a leitura crítica da publicidade. Assim, é
preciso investir em procedimentos que conduzam o leitor ao conhecimento científico,
não desprezando o conhecimento comum, pois, o conhecimento prévio é pré-
requisito para novas possibilidades de aprofundamentos. Como ensina
Vigostky(1996), é preciso atuar na zona do desenvolvimento proximal, partindo-se
do conhecido para o desconhecido.
A pesquisa é um processo educativo emancipatório e deve refletir a conduta
de cidadão como sujeito ativo, consciente, crítico e responsável dentro do contexto
social em que vive, para que ele seja capaz de “contar” sua própria história de forma
autêntica e criativa, como ensina o eterno Paulo Freire. E somos responsáveis pela
construção da sociedade que todos esperaram, ou seja, uma sociedade mais justa,
solidária, sem distinção de raça ou credo. Então formemos leitores. E, estejamos
cientes de que desenvolver atividades de leitura requer disposição, Entretanto,
existe a necessidade de levar o aluno a ler e reconhecer diversos tipos de textos,
para que ele possa redescobrir características textuais, assim como perceber que
convive, com maior ou menor frequência, com uma grande diversidade de gêneros
textuais na vida cotidiana e pode ser não só consumidor desses textos como
também produtor deles
Os alunos concluíram, pela análise dos textos publicitários e pela maior
exercitação em leitura, que o texto publicitário traz tanto informações explícitas
quanto implícitas, é preciso desvelá-las. Promovemos conscientização da realidade,
ao analisarmos criticamente textos midiáticos e, no nosso caso particular, pela
leitura das publicidades.
5 REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Anna Blume, 2002. ______. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa, área de linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/ SEF. 1998. CARVALHO, Nelly. Publicidade: a linguagem da sedução. São Paulo: Ática, 2002. DIONÍSIO, A. P. Gêneros multimodais e multiletramento. In: KARWOSKY, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Org.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. União de Vitória/PR: Kaygangue, 2005. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p 36. Disponível em content/uploads/2007/02/pedagogia do oprimido. Acesso em 28 de ago. 2010. GONÇALVES, Lidia Maria. Do ledor ao leitor: um estudo de casos sobre as insuficiências do jornal em sala de aula no ensino fundamental. Tese de Doutorado. Defendida em 2004, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ______ Formação de Leitores: O Jornal no Ensino de Língua Portuguesa. Boletim, Centro de Letras e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Londrina. Vol. 1. Londrina: a Universidade, 1980. KOCH, Ingedore V. Argumentação e Linguagem. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1987. ______ Introdução à Linguística Textual: trajetória e grandes temas. São Paulo, Martins Fontes, 2004. (Coleção Texto e Linguagem). ______ Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: contexto, 2006 NASCIMENTO, Elvira Lopes. Gêneros Textuais; da didática das línguas aos objetos de ensino. São Paulo. Editora Claraluz, 2009. PARANA. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Língua Portuguesa. SEED. 2008
PINKER, Steven. O Instituto da Linguagem: Como a Mente Cria a Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SANDMAN, Antônio José. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 2001. SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares – das práticas de linguagem aos objetos de ensino. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim (Org.). Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização: Roxane Rojo e Glais Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004. SILVA, Ezequiel Teodoro da. O Ato de Ler, Fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 8ª edição, São Paulo: Cortez, 2000. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996. .