lei rouanet – 22 anos depois. - cultura.rj · a lei rouanet já tem 22 anos e, claro, apresenta...

2

Click here to load reader

Upload: duongcong

Post on 15-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: LEI ROUANET – 22 ANOS DEPOIS. - Cultura.rj · A Lei Rouanet já tem 22 anos e, claro, apresenta algumas fragilidades, como a divisão desproporcional de investimentos entre as regiões

LEI ROUANET – 22 ANOS DEPOIS.

Autor: Henilton Menezes. Dezembro de 2013http://www.culturaemercado.com.br/pontos-de-vista/lei-rouanet-22-anos-depois/

No Ceará, jovens oriundos de áreas vulneráreis da capital tornam-se bailarinos profissionais e seapresentam em palcos internacionais. Em São Paulo, uma escola de música é construída e mantida nocentro da mais populosa comunidade paulistana, levando seus alunos à principal sala de concerto doBrasil. Em Santa Catarina, a mais famosa escola de balé clássico do mundo forma, gratuitamente,jovens bailarinos brasileiros, oriundos de todos os estados. No Rio de Janeiro, mais de 600 mil pessoasapreciam obras inéditas no Brasil de Renoir, Cézanne, Manet, Gauguin, Van Gogh, Degas e Toulouse-Lautrec. Em Minas Gerais, um grupo de teatro sediado numa pequena cidade do interior muda, pelaarte, o cotidiano da população e apresenta seus espetáculos em todo o país. Em Pernambuco, umgrupo de palhaços faz intervenções artísticas em hospitais pediátricos, da rede pública, levandoalegria e esperança a centenas de crianças enfermas. No Maranhão, uma peça de teatro infantil, comtodas as formas de acessibilidade, possibilita a milhares de pessoas terem o primeiro contato com umespetáculo cênico. No Piauí, mais de mil jovens estudam música, tendo na arte a única oportunidadede profissionalização e desenvolvimento de seus potenciais artísticos. Na Paraíba, uma ação deformação em patrimônio histórico possibilita que jovens sejam treinados e formados para o trabalhocomo guias culturais. No Espírito Santo, uma orquestra de tambores e cordas possibilita aos alunos darede pública a pesquisa e valorização de uma forma tradicional da música local. Em Goiás, jovenscarentes de um bairro de periferia recebem a formação musical para montagem de uma camerata deviolões. Em Brasília, uma escola de choro preserva a mais brasileira forma musical, com aulas diáriaspara centenas de alunos, de todas as idades. Tudo isso está acontecendo em nosso país nesse momento, mesmo sendo invisível aos olhos de quemnão quer enxergar. Em 2011, por exemplo, a exposição de arte mais visitada no mundo foi “O MundoMágico de Escher”, do artista gráfico holandês Mauritius Cornelis Escher. Foi realizada no Rio deJaneiro e teve uma visitação média de 9.677 pessoas/dia, fato não divulgado por aqui, mas registradopela revista americana “The Art Newspaper” (No. 234, abril/2012). Na mesma revista, entre as dezexposições mais visitadas, estavam outras duas que aconteceram no Brasil: a da jovem performerjaponesa Mariko Mori, com 6.991 visitantes/dia; e a da vanguardista Laurie Anderson, uma exposiçãoque já havia sido apresentada no Guggenheim e no Museum of Modern Art (MOMA), em NovaIorque. O sucesso de público dessas exposições deve-se, em especial, à gratuidade, ao programaeducativo e à localização com acesso fácil por transporte público.O que tudo isso tem em comum? A utilização do mais importante mecanismo de financiamento dacultura brasileira, que permite a realização total ou parcial de todas essas ações. É o ProgramaNacional de Apoio à Cultura (Pronac), criado em 1991, pela Lei 8.313, conhecida como Lei Rouanet,que já investiu mais de R$ 15 bilhões, viabilizando mais de 40 mil ações culturais em todos os estadosdo país. Somente em 2012 foram cerca de 3.500 projetos financiados. Hoje existem 12 mil projetosem execução.São projetos em todas as linguagens artísticas, oriundos dos mais remotos lugares. Projetos quemantêm grupos estáveis de dança e teatro, equipamentos culturais e museus. Viabilizam festivais de

Page 2: LEI ROUANET – 22 ANOS DEPOIS. - Cultura.rj · A Lei Rouanet já tem 22 anos e, claro, apresenta algumas fragilidades, como a divisão desproporcional de investimentos entre as regiões

música, de cinema, de dança e de teatro. Permitem a continuidade de bienais de artes visuais e defestas literárias. Recuperam e preservam o patrimônio histórico nacional. Mantêm orquestras, grupossinfônicos, cameratas e bandas de música. Financiam grandes festas populares, carnavais, bumbas-meu-boi, maracatus, folguedos e manifestações tradicionais. Viabilizam eventos internacionais,levando, mundo afora, as artes visuais, a música, o teatro, a gastronomia, a moda, a literatura, ocinema brasileiros, nosso soft power, nossa marca Brasil.A Lei Rouanet já tem 22 anos e, claro, apresenta algumas fragilidades, como a divisão desproporcionalde investimentos entre as regiões do País, provocada pela concentração econômica no sudeste.Também é perversa a destinação de 65% dos recursos para apenas três segmentos, resultado dapossibilidade de renúncia de 100% em projetos de música, artes cênicas e artes visuais. Mas isso nãocoloca a Lei no banco dos réus, ao contrário, estimula sua revisão e seu aperfeiçoamento, missãoinerente ao Congresso Nacional. Essas mudanças poderão criar um modelo de incentivo fiscal maismoderno, que enxergue a cultura brasileira em toda sua grandeza, riqueza e diversidade, com seustempos e movimentos, com seus saberes, cores e sabores. Teremos uma ferramenta de financiamentoda cultura brasileira que possibilite a realização de ações culturais em todos os estados, garantindo adistribuição dos recursos entre as regiões de forma mais justa. Enquanto a reforma da Lei não chega, estamos, a cada dia, buscando melhoria na sua gestão, emparceria com os segmentos culturais, inserindo aqueles que nunca tiveram acesso, induzindo umamelhor distribuição regional dos recursos. A partir desse diálogo com todos que operam a Lei, embusca permanente de uma maior governança e com a utilização de modernas ferramentas de gestão,ousamos transformar o Pronac no mais transparente mecanismo de incentivos fiscais do Brasil.