lei penal no tempo e no espaço

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Page 1: Lei penal no tempo e no espaço

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

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Page 2: Lei penal no tempo e no espaço

LEI PENAL NO TEMPO

Art. 5.º, Constituição FederalXL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.

Código PenalArt. 1.º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legalArt. 2.º Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

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REGRA E EXCEÇÃO

Primeiramente, devemos analisar o disposto no art. 5.º, XL, da CF, que dispõe:

A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.

Portanto, podemos depreender que a regra é a não retroatividade (irretroatividade) da lex gravior e a extra-atividade in mellius (lex mitior ou novatio legis in mellius).

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LEI PENAL

BENÉFICA

EXTRA-ATIVIDADE

RETROATIVIDADE ULTRA-ATIVIDADE

MALÉFICA

IRRETROATIVIDADE

REGRA – NÃO ULTRA-ATIVIDADE

EXCEÇÃO: LEIS EXCEPCIONAIS E TEMPORÁRIAS

Page 5: Lei penal no tempo e no espaço

Para fixar o princípio da extra-atividade da lei penal, é necessário estudarmos o tempo do crime. O Código Penal adotou a teoria da atividade consoante o art. 4.º:

Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.

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ESPÉCIES DE EXTRA-ATIVIDADE

Quando afirmamos que a lei penal benéfica é extra-ativa, significa que ela é dinâmica, se movimenta livremente no tempo, podendo retroagir e ultra-agir.

Retroatividade e ultra-atividadeExemplo 1:Alguém, na direção de veículo automotor, praticou homicídio culposo em maio de 1997, ocasião em que ainda não havia entrado em vigor o Código de Trânsito (Lei 9.503. de 23.09.1997). Os autos foram conclusos para sentença em outubro de 1998.

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Qual norma será aplicada à espécie? O Código Penal, que nesse caso possuirá ultra-atividade, uma vez que é lex mitior, pois pune o homicídio culposo com pena de um a três anos, diferentemente da Lei 9.503/1997, que traz uma pena de dois a quatro anos. Tal se justifica por uma questão de segurança jurídica. Deve ser aplicada neste caso a lei benéfica em vigor na data do fato.

Page 8: Lei penal no tempo e no espaço

Imaginemos que a seguir exista uma linha do tempo:

Prática da conduta de tráfico de drogas - 02/2005

Entrada em vigor da lei 11343/06

Sentença – 01/2007

A conduta foi praticada na vigência da Lei 6368/76, que punia o tráfico no artigo 12 com uma pena de 03 a 12 anos. Com a entrada em vigor da lei 11343/06, o artigo 33 passou a cominar para o tráfico a pena de 05 a 15 anos. A lei benéfica (da data da conduta) irá ultra-agir para alcançar a data da sentença.

Page 9: Lei penal no tempo e no espaço

Agora vejamos outro exemplo, tendo como base a mesma lei:

Prática da conduta de posse de drogaspara consumo pessoal - 02/2005

Entrada em vigor da lei 11343/06

Sentença – 01/2007

A nova lei está retroagindo para um período em que ela não tinha vigência.

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A lei 11343/06 é benéfica no que tange à conduta do usuário, pois não prevê pena privativa de liberdade. Desta forma, a nova lei vai retroagir para alcançar a data da conduta praticada. Na sentença, o agente será condenado pelo artigo 28 da lei 11343/06.

Page 11: Lei penal no tempo e no espaço

A seta demonstra a ultra-atividade da lei penal benéfica, que embora não

esteja mais em vigor, será a aplicada na data da sentença.

Prática do homicídioM aio de 1997Vigência do art. 121,§ 3 do CP, ainda que se tratando de veículoautomotor

o

Imaginemos que a seguir exista uma linha do tempo:

CTB sentença1998

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Prática do furtoArt. 155Pena de 1 a 4 anos

Imaginemos agora uma outra linha do tempo:

A nova lei (benéfica) está retroagindopara alcançar a data do fato, quandoela ainda não tinha vigência.

nova lei diminuindo a pena6 meses a 3 anos

data da sentença

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REVOGAÇÃO:

Abolitio criminis

Continuidade típico

normativa

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CRIME PERMANENTE E CRIME CONTINUADO

Já houve muita controvérsia acerca de qual lei seria adotada, caso, durante a prática do crime continuado ou do crime permanente, duas leis pudessem ser aplicadas.A lei gravosa deve ser aplicada se sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou permanência.

Verbete 711, STF:A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

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LEI INTERMEDIÁRIASe existirem três leis que regulem determinado fato, uma vigente na data do fato, outra na data da sentença e outra entre esses dois marcos, se a mais benéfica for a intermediária, esta é que deverá ser utilizada, pois, se essa aplicação não fosse possibilitada, inevitavelmente teríamos uma lei maléfica retroagindo ou ultra-agindo. Imaginemos que a lei maléfica fosse a data do fato; ela ultra-agiria para alcançar o julgamento. Se fosse a da sentença, retroagiria para alcançar a data do fato. Desta forma, concluindo, a lei benéfica será a aplicada, seja ela a da data do fato, da sentença, ou ainda a intermediária.

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COMBINAÇÃO DE LEISConsiste em combinar a parte benéfica de duas ou mais leis a fim de atender ao melhor interesse do réu.Alguns são contrários a essa solução, afirmando que se estaria criando uma terceira lei, o que não seria possível, pois não cabe ao aplicador da lei legislar, juntando dispositivos de leis distintas. Para esta corrente, a possibilidade de permitir ao magistrado a junção de leis distintas a fim de tornar mais benéfica a situação do réu criaria uma insegurança jurídica e ofenderia a separação de poderes, possibilitando ao Poder Judiciário sobrepor-se ao legislativo e invadir sua função.

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Outros sustentam que tal solução atende aos princípios constitucionais da ultra-atividade e retroatividade benéfica, sendo plenamente possível. Neste sentido, é o posicionamento de Rogério Greco, Bitencourt e Frederico Marques

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Outros sustentam que tal solução atende aos princípios constitucionais da ultra-atividade e retroatividade benéfica, sendo plenamente possível. Neste sentido, é o posicionamento de Rogério Greco, Bitencourt e Frederico Marques.

Muito embora já tenha havido controvérsia no âmbito dos nossos Tribunais Superiores, atualmente, ambos se posicionam pela impossibilidade da combinação de leis penais no tempo.

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No entanto, o STF, em 2011, no julgamento pelo Pleno do RE 596152/SP, modificou seu entendimento no que tange especificamente à aplicação do parágrafo 4º do artigo 33 da Lei 11.343 ao artigo 12 da Lei 6.368 para aqueles que praticaram o crime de tráfico na vigência desta última:

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O Min. Cezar Peluso, Presidente, frisou o teor do voto proferido pela 2ª Turma no julgamento do HC 95435/RS (DJe de 7.11.2008), no sentido de entender que aplicar a causa de diminuição não significaria baralhar e confundir normas, uma vez que o juiz, ao assim proceder, não criaria lei nova, apenas se movimentaria dentro dos quadros legais para uma tarefa de integração perfeitamente possível. Além disso, consignou que se deveria cumprir a finalidade e a ratio do princípio, para que fosse dada correta resposta ao tema, não havendo como se repudiar a aplicação da causa de diminuição também a situações anteriores. Realçou, ainda, que a vedação de convergência de dispositivos de leis diversas seria apenas produto de interpretação da doutrina e da jurisprudência, sem apoio direto em texto constitucional. RE 596152/SP, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Ayres Britto, 13.10.2011. 

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QUESTÕES PONTUAIS:

- Surgimento de dúvida- Competência para aplicação da lex mitior

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PRINCÍPIOS SOLUCIONADORES DO CONFLITO APARENTE DE NORMAS

Princípio da subsidiariedade

Princípio da consunção

Princípio da especialidade

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1ª QUESTÃO:JÚLIO, diretor da empresa "Calçados Belopé S/A", utilizando-se de notas fiscais falsas, reduziu os valores devidos ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica nos exercícios de 1988 a 1991. Desvendada a sonegação pela Auditoria Fiscal da Receita Federal, o Ministério Público ofereceu denúncia por infração ao artigo 1º, III, da Lei nº 8.137/90 (4 vezes), na forma do artigo 69 do CP, ou seja, redução de tributo através de falsificação de nota fiscal, em concurso material. Alegou a defesa que a hipótese era de continuidade delitiva, devendo ser aplicada a Lei nº 4.729/65, diploma então vigente à época da maioria dos delitos (1988 a 1990), pois, tendo a Lei nº 8.137 entrado em vigor em 1990, os fatos ocorridos anteriormente não poderiam ser por ela abrangidos, já que até então a Lei vigente era aquela que, inclusive, previa pena mais leve.

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Do contrário, estaria o Poder Judiciário aplicando a novatio legis in pejus, o que fere flagrantemente o princípio constitucional da legalidade. Ignorando eventual ocorrência da prescrição, se fosse você o juiz da causa, como decidiria?

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Do contrário, estaria o Poder Judiciário aplicando a novatio legis in pejus, o que fere flagrantemente o princípio constitucional da legalidade. Ignorando eventual ocorrência da prescrição, se fosse você o juiz da causa, como decidiria?

STF: Habeas Corpus nº 81.544-8/RS - Relator Ministro Moreira Alves

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2ª QUESTÃO:

A Lei 9.437/97 incrimina o uso de arma de brinquedo, na prática de crime. A Lei 10.826/03 silencia a respeito.Como magistrado, como decidiria a situação de agente que comete crime de estupro, ameaçando a vítima com arma de brinquedo, praticado sob a égide do primeiro diploma legal? Justifique.

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RESPOSTA:STJ: Recurso Especial nº 631.354 - RS (2004/0021122-0) - Relator Min. Felix Fischer: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. ROUBO. ARMA DE BRINQUEDO. ART. 10, § 1º, II, DA LEI Nº 9.437/97. CONFLITO APARENTE DE NORMAS. CONSUNÇÃO. LEI Nº 10.826/2003. ABOLITIO CRIMINIS.I - A utilização da arma de brinquedo, no caso em tela, foi meio necessário à prática, ou melhor, à configuração típica do delito de roubo, razão pela qual deve ser por este absorvido. Ademais, caso o recorrido fosse condenado nas sanções do art. 10, § 1º, II, da Lei nº 9.437/97, este, necessariamente, estaria sendo incriminado duplamente pela prática de uma mesma conduta. Na espécie, o uso da arma de brinquedo já embasou a configuração do delito de roubo.

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Logo, não há como dar o réu como incurso, pelo mesmo fato, no tipo legal do art. 10, § 1º, II, da Lei nº 9.437/97, sob pena de bis in idem.II - Ainda que assim não fosse, de qualquer forma o réu não poderia responder pelo crime previsto no art. 10, § 1º, II, da Lei nº 9.437/97. É que a Lei nº 10.826/2003, que revogou expressamente a Lei nº 9.437/97, não prevê a incriminação da conduta de utilização da arma de brinquedo para o fim de cometimento de crimes. Trata-se, assim, de exemplo acabado de abolitio criminis (art. 2º, caput, CP).Recurso desprovido.

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3ª QUESTÃO:

ALBERTO e DIOGO foram parados por viatura policial na noite do dia 20/06/2007 quando retornavam de uma festa na conhecida boate RUTI, cada qual em seu carro, conduzindo os respectivos veículos de forma anormal (zigue-zague). DIOGO, visivelmente embriagado, teve dificuldades até mesmo para compreender a ordem de parar dada pelos policiais, bem como não conseguiu, sem auxílio alheio, abrir a porta do carro. ALBERTO por seu turno, embora também aparentasse certo estado de embriaguez, não teve dificuldades em cumprir a ordem e sair do carro.Instados a realizar o teste do bafômetro, ALBERTO assim procedeu, e o aparelho acusou uma concentração de álcool de 7 dcg por litro de sangue.

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DIOGO, por outro lado, valendo-se de seus conhecimentos jurídicos, dado que era estudante de direito do 1º período da Universidade Atacadão do Ensino, recusou-se a realizar o teste, forte no privilégio de não autoincriminação. Ambos foram denunciados pelo MINISTÉRIO PÚBLICO em outubro daquele ano, e recusaram proposta de suspensão condicional do processo. Estando em curso a instrução criminal, que providência deveria ser adotada pelo Juiz de Direito da causa, tendo em vista a alteração promovida pela Lei 11.705/2008 (Lei Seca) em relação a esse delito?Resposta objetivamente fundamentada em, no máximo, 20 linhas.

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Redação OriginalArt. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Redação da Lei 11.705/2008Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008)

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RESPOSTA:A questão apresentada demanda o confronto entre os dois tipos penais e, num segundo momento, a conclusão se houve alguma alteração que indique retroatividade benéfica no caso concreto. Certo é que o novo tipo penal, em que pese situado na chamada Lei Seca, agrega um novo requisito à embriaguez, qual seja, a concentração de álcool. Não basta beber para cometer o delito, é necessário ter aquela concentração sob pena de atipicidade. Logo se a lei inova ao exigir mais um requisito, não subsiste mais a conduta anterior, da redação original do CTB, sendo evidentemente caso de retroatividade benéfica. Ocorre que a retroatividade é condicionada ou secundum eventum litis, alcançando apenas aqueles contra os quais não exista a prova da quantidade de álcool. Logo, para DIOGO, não haverá prova de que cometeu o novo delito, o caso é de absolvição.

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Por outro lado, ALBERTO, por ter feito o teste do bafômetro tem comprovado o novo requisito típico podendo ser condenado uma vez que a alteração não lhe aproveita. Ora, se essa conclusão é correta, não menos certo é que há uma flagrante desproporcionalidade, quem cumpriu com o dever de realizar o teste, dispensando a prerrogativa processual do nemo tenetur se detegere, suportará ônus maiores do que aquele que, invocando-a, furtou-se ao teste. Assim sendo, forte no princípio da proporcionalidade, deve o juiz absolver ambos, como medida de Justiça.

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LEI PENAL NO ESPAÇO

TerritorialidadeArt. 5.º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. § 1.º Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2. É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

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Lugar do crime Art. 6.º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Extraterritorialidade Art. 7.º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I – os crimesa) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II – os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

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§ 1.º Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2.º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3.º A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça.

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Pena cumprida no estrangeiro Art. 8.º A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Page 38: Lei penal no tempo e no espaço

LEI PENAL NO ESPAÇO

PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE- aplicação da lei brasileira ao crime

cometido no território nacional

território nacional em sentido estrito (solo, subsolo, rios, lagos, lagoas, mar

territorial e espaço aéreo correspondente

território nacional por extensão - embarcações e aeronaves brasileiras

públicas ou a serviço do governo onde quer que se encontre e as privas e

mercantes que se encontrem em alto mar ou no espaço aéreo correspondente

PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE- aplicação da lei brasileira ao crime cometido em território estrangeiro

EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA- Inciso I

- Princípio real, da defesa ou da proteção (alíneas a,b,c)

- Princípio da Universalidade (alínea d)

EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA- Inciso II

- Princípio da Universalidade (alínea a)- Princípio da personalidade ativa (alínea

b)- Princípio da bandeira (alínea c)

Page 39: Lei penal no tempo e no espaço

Conceito de território nacional

Território, em sentido jurídico, é o âmbito espacial sujeito à soberania do Estado. Território em sentido estrito corresponde a solo, subsolo e águas fluviais e lacustres (rios e lagos), todos limitados pelas fronteiras políticas e o mar territorial, além do espaço aéreo correspondente. Quanto ao conceito de mar territorial, este já causou muita discussão; no âmbito interno, fixaram-se 200 milhas a partir da baixa-mar saindo para o mar aberto. Este conceito é dado pelo Decreto-lei 1.098/1970 (mar territorial é a área chamada de baixa-mar do litoral continental).

Page 40: Lei penal no tempo e no espaço

No entanto, tal limite foi amplo demais, acabando por não ser aceito internacionalmente, o que trouxe a necessidade de fixar um novo conceito de mar territorial, desta vez, um conceito internacional. Em âmbito internacional, o mar territorial é a faixa ao longo da costa que compreende 12 milhas. Conceito dado pela Lei 8.617/1993, que revogou o DL 1098/70.

Page 41: Lei penal no tempo e no espaço

No tocante ao conceito de espaço aéreo, podemos falar na existência de três teorias que tentaram conceituá-lo:

1.ª) Teoria da absoluta liberdade do ar – o ar a ninguém pertence. Os Estados seriam soberanos, mas o conceito lato de território não estaria compreendendo o ar. Se um crime acontecesse no ar, seria solucionado não pelo princípio da territorialidade, mas por sua exceção no art. 7.º do CP.

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2.ª) Teoria da soberania limitada ao alcance das baterias antiaéreas – o ar já não seria de liberdade absoluta, os países teriam soberania na delimitação até onde as aeronaves de proteção conseguissem alcançar ou o sistema de radar de proteção do país conseguisse. Este conceito é impreciso, pois, dependendo do potencial bélico e militar de cada país, o espaço aéreo sofreria alterações.3.ª) Teoria da soberania sobre a coluna atmosférica – está Foi mencionada no Código Brasileiro do Ar, Decreto-lei 32/1966, que já sofreu alteração pelo Decreto-lei 234/1967., tendo sido ambos revogados pela Lei 7565/86 – Código Brasileiro da Aeronáutica, que prevê a teoria por nós adotada em seu artigo 11.

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Território nacional por extensão

A disciplina do território nacional por extensão encontra-se no Art. 5.º, § 1.º, do CP: Aqui já se tem a aplicação da Lei brasileira fora do conceito lato de território nacional. Trata-se de uma ficção do que seria também território brasileiro, ou seja, uma extensão, uma equiparação, por ficção, do território nacional em sentido lato. Seriam os navios e aeronaves públicos brasileiros e os navios e aeronaves privados brasileiros em espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

Page 44: Lei penal no tempo e no espaço

No entanto, tal limite foi amplo demais, acabando por não ser aceito internacionalmente, o que trouxe a necessidade de fixar um novo conceito de mar territorial, desta vez, um conceito internacional. Em âmbito internacional, o mar territorial é a faixa ao longo da costa que compreende 12 milhas. Conceito dado pela Lei 8.617/1993, que revogou o DL 1098/70.

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Eficácia de sentença estrangeira           Art.  9º  -  A  sentença  estrangeira,  quando  a  aplicação  da  lei  brasileira  produz  na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:         I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;           II - sujeitá-lo a medida de segurança. Parágrafo único - A homologação depende:         a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;     b)  para  os  outros  efeitos,  da  existência  de  tratado  de  extradição  com  o  país  de  cuja autoridade  judiciária  emanou  a  sentença,  ou,  na  falta  de  tratado,  de  requisição  do Ministro da Justiça. 

Alguns desses efeitos são incondicionais, já que não dependem de qualquer provimento judicial para que se tornem efetivos. Como exemplo tem-se:- A reincidência (art. 63 do Código Penal);- Detração em relação ao tempo de prisão em país estrangeiro (art. 42 do Código Penal).

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CPP - DA HOMOLOGAÇÃO DAS SENTENÇAS ESTRANGEIRASArt. 787. As sentenças estrangeiras deverão ser previamente homologadas pelo Supremo Tribunal  Federal  para  que produzam os  efeitos  do art.  7o  do Código Penal.Art.  788. A  sentença penal  estrangeira  será homologada, quando a aplicação da lei brasileira produzir na espécie as mesmas conseqüências e concorrem os seguintes requisitos:I - estar revestida das formalidades externas necessárias, segundo a legislação do país de origem;II - haver sido proferida por juiz competente, mediante citação regular, segundo a mesma legislação;III - ter passado em julgado;IV - estar devidamente autenticada por cônsul brasileiro;V - estar acompanhada de tradução, feita por tradutor público.Art. 789. O procurador-geral da República,  sempre que tiver conhecimento da existência de sentença penal estrangeira, emanada de Estado que tenha com o Brasil  tratado de extradição e que haja  imposto medida de segurança pessoal ou  pena  acessória  que  deva  ser  cumprida  no  Brasil,  pedirá  ao  Ministro  da Justiça providências para obtenção de elementos que o habilitem a requerer a homologação da sentença.

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§ 1o A homologação de sentença emanada de autoridade judiciária de Estado, que não tiver tratado de extradição com o Brasil, dependerá de requisição do Ministro da Justiça.§ 2o Distribuído o requerimento de homologação, o relator mandará citar o interessado para deduzir embargos, dentro de dez dias, se residir no Distrito Federal, de trinta dias, no caso contrário.§ 3o Se nesse prazo o interessado não deduzir os embargos, ser-lhe-á pelo relator nomeado defensor, o qual dentro de dez dias produzirá a defesa.§ 4o Os embargos somente poderão fundar-se em dúvida sobre a autenticidade do documento, sobre a inteligência da sentença, ou sobre a falta de qualquer dos requisitos enumerados nos arts. 781 e 788.§ 5o Contestados os embargos dentro de dez dias, pelo procurador-geral, irá o processo ao relator e ao revisor, observando-se no seu julgamento o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.§ 6o Homologada a sentença, a respectiva carta será remetida ao presidente do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, do Estado, ou do Território.§ 7o Recebida a carta de sentença, o presidente do Tribunal de Apelação a remeterá ao juiz do lugar de residência do condenado, para a aplicação da medida de segurança ou da pena acessória, observadas as disposições do Título II, Capítulo III, e Título V do Livro IV deste Código.Art. 790. O interessado na execução de sentença penal estrangeira, para a reparação do dano, restituição e outros efeitos civis, poderá requerer ao Supremo Tribunal Federal a sua homologação, observando-se o que a respeito prescreve o Código de Processo Civil.

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Em relação à homologação do laudo arbitral, a Lei de Arbitragem nº 9.307/96 trouxe consideráveis mudanças se comparada com a legislação anterior. A atual lei utiliza o termo sentença arbitral estrangeira, o que o equiparou às sentenças estrangeiras, tornando, assim, desnecessária sua prévia homologação pela justiça do lugar de origem, bastando, simplesmente, sua homologação pelo STJ (segundo o art. 35 dessa lei: para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita, unicamente, à homologação do Supremo Tribunal Federal, devendo, por força da EC 45/2004, ser lido como se fizesse alusão ao STJ).

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No processo de homologação, a função judiciária do STJ é observar se o julgado proferido no exterior coaduna com os princípios básicos do direito vigentes no Brasil. É vedado, em princípio, discutir o mérito da sentença estrangeira para sua homologação (Sistema de delibação). Não será homologada a sentença que ofender a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes brasileiros.

Não poderá ser utilizada a sentença penal condenatória estrangeira no Brasil. Deverá ser julgado novamente para aplicação da lei penal brasileira.

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CONTAGEM DE PRAZO, FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA E LEGISLAÇÃO ESPECIAL Contagem de prazo        Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.  Frações não computáveis da pena           Art.  11  -  Desprezam-se,  nas  penas  privativas  de  liberdade  e  nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.  Legislação especial           Art.  12  -  As  regras  gerais  deste  Código  aplicam-se  aos  fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. 

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CONTAGEM DO PRAZO

O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum

Podem incidir em feriados e fins de semana

Nas penas de multa, frações de cruzeiros

(centavos)

Nas penas privativas de liberdade e restritivas de

direito - frações de dia (ou seja, as horas)

FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA

PENA

LEGISLAÇÃO ESPECIAL

A princípio são aplicadas as regras da legislação

especial

No que a legislação especial for omissa, aplicam-se as regras

gerais do Código Penal

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1ª QUESTÃO:Um navio de guerra argentino deixou o porto de seu país com destino à Argélia, na África. Um problema mecânico obrigou o capitão a ancorar em terras brasileiras. Nesse ínterim, alguns marinheiros saíram do navio para comemorar a vitória da Argentina sobre o Brasil, no futebol, e acabaram por se envolver numa tremenda briga com os torcedores brasileiros. Durante o confronto, um marinheiro argentino acabou matando um cidadão brasileiro.Pergunta-se:a) Tendo o navio argentino natureza pública, o crime deverá ser julgado segundo a lei penal argentina?b) Se os marinheiros estivessem em missão oficial, a situação se alteraria, caso os marinheiros se refugiassem a bordo do navio?

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RESPOSTA:a) Se o crime tivesse sido praticado a bordo do navio de guerra, o crime seria julgado de acordo com a lei argentina, de acordo com o artigo 5º, § 2º, a contrario sensu, do Diploma Penal Brasileiro, uma vez que o navio não seria considerado como extensão do território nacional, não tendo aplicação, portanto, o Princípio do Pavilhão ou Bandeira.Entretanto, os atos praticados pela equipagem, a título particular, fora de bordo, estão sujeitos à jurisdição penal do Estado territorial onde ela - a equipagem - se encontra.Assim, como os marinheiros saíram do navio e ingressaram em território brasileiro, o crime de homicídio deve ser julgado de acordo com a lei brasileira, aplicando-se o Princípio da Territorialidade, insculpido no artigo 5º, caput, do Código Penal;

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b) Neste caso, estando a equipagem em serviço comandado, os atos praticados pelos marinheiros ficariam sujeitos à aplicação da Lei Penal argentina, de acordo com o mesmo dispositivo penal acima citado. Há quem entenda que a lei brasileira é a aplicável, posto que os marinheiros se refugiaram no navio, após a prática dos crimes, havendo apenas óbice processual ao julgamento. Assim, com a correta fundamentação, ambas as respostas são consideradas corretas.

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2ª QUESTÃO:WALBERTO, nascido em Governador Valadares, foi ao Consulado dos Estados Unidos a fim de obter visto de entrada no território americano, o que lhe foi negado. Inconformado, entrou em contato com SINVAL, que, mediante paga, inseriu visto falso no passaporte de WALBERTO. Assim, WALBERTO conseguiu viajar para os Estados Unidos; entretanto, lá chegando, é verificado que seu visto é falso. Em consequência, é deportado para o Brasil.

Sabendo-se que nos Estados Unidos tal conduta é ilícita, pergunta-se:a) Qual o crime praticado por WALBERTO?b) Onde se consumou este crime?c) A lei brasileira será aplicada ao caso?

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RESPOSTA:a) Art. 304, CP - uso de documento falso.b) Nos Estados Unidos, com a apresentação do passaporte com o visto falso. O objeto material do crime, ou seja, o documento falsificado é o visto e não o passaporte. Se fosse o passaporte, o crime teria sido consumado no Brasil.c) Para que seja aplicada a lei brasileira, é necessário que estejam presentes todas as condições do art. 7º, § 2º, CP, por se tratar de um caso de Extraterritorialidade Condicionada, previsto no inciso II, alínea b, desse mesmo artigo. No caso em tela, o fato é criminoso nos Estados Unidos e não foi instaurado procedimento algum lá, sendo apenas WALBERTO deportado para o Brasil, o que configuraria perdão tácito. Desse modo, não estaria preenchida a condição do art. 7º, § 2º, e, CP, e portanto, não se poderia aplicar a lei brasileira ao caso.

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3ª QUESTÃO:ALBERTINO, brasileiro, em sua primeira visita turística ao sul da França, se envolve em uma acirrada discussão com o francês PIERRE. No calor da discussão, ALBERTINO desfere socos e pontapés na vítima, que não reage e acaba por se ferir gravemente. Preso por autoridade francesa, ALBERTINO acaba respondendo a processo pelo crime praticado. ALBERTINO estava preso há seis meses, quando é enviado de volta ao Brasil, pois caracterizada a falta de vagas para presos nacionais, o Estado francês entende mais relevante a aplicação da pena a nacionais. Chegando ao Brasil, ALBERTINO sofre nova ação penal pelo crime de lesão corporal grave, sendo condenado a uma pena de reclusão de três anos.Analise a decisão proferida, esclarecendo se ALBERTINO deverá cumprir pena.

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RESPOSTA:

Deve ser abordada a extraterritorialidade condicionada, que impede a aplicação da lei brasileira se ausente alguma condição do par. 2º do art. 7º do CP. No caso em tela, houve perdão tácito.

ALBERTINO sequer poderia ter sido processado no Brasil. A decisão deve ser desconstituída.

ALBERTINO não deve cumprir pena.