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FEMPAR – FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ JULIANA SCHNEIDER DA COSTA LEI DE PROTEÇÃO À VÍTIMAS, TESTEMUNHAS E RÉUS COLABORADORES. CURITIBA 2008

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FEMPAR – FUNDAÇÃO ESCOLA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ

JULIANA SCHNEIDER DA COSTA

LEI DE PROTEÇÃO À VÍTIMAS, TESTEMUNHAS E RÉUS

COLABORADORES.

CURITIBA 2008

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JULIANA SCHNEIDER DA COSTA

LEI DE PROTEÇÃO À VÍTIMAS, TESTEMUNHAS E RÉUS COLABORADORES.

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Especialista em Ministério Público – Estado Democrático de Direito, na área de concentração em Direito Penal, Fundação Escola do Ministério Público do Paraná - FEMPAR, Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Bueno Gusso

CURITIBA 2008

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TERMO DE APROVAÇÃO

JULIANA SCHNEIDER DA COSTA

LEI DE PROTEÇÃO À VÍTIMAS, TESTEMUNHAS E RÉUS COLABORADORES.

Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista

no curso de Pós-Graduação em Ministério Público - Estado Democrático de Direito,

Fundação Escola do Ministério Público do Paraná - FEMPAR, Faculdades

Integradas do Brasil – UniBrasil, examinada pelo Professor Orientador Rodrigo

Bueno Gusso.

_____________________________

Prof. Dr. Rodrigo Bueno Gusso.

Orientador

Curitiba, 17 de Novembro de 2008.

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SUMÁRIO

RESUMO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................

2. HISTÓRICO DA LEI 9.807/99..........................................................................

3. PROGRAMA DE PROTEÇÃO ÀS VÍTIMAS E TESTEMUNHAS...................

3.1 SITUAÇÃO DE RISCO DA PESSOA AMEAÇADA....................................................

3.2 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ENTRE A COLABORAÇÃO E A AMEAÇA

SOFRIDA...........................................................................................................................

3.3 PERSONALIDADE E CONDUTA COMPATÍVEIS COM O PROGRAMA DE

PROTEÇÃO......................................................................................................................

3.4 INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO À LIBERDADE DO PROTEGIDO...........................

3.5 ANUÊNCIA DO PROTEGIDO PARA A PROTEÇÃO.................................................

4. PROTEÇÃO AOS ACUSADOS COLABORADORES.....................................

4.1 PERDÃO JUDICIAL....................................................................................................

4.1.1 PRIMARIEDADE DO ACUSADO COLABORADOR ...............................................

4.1.2 VOLUNTARIEDADE................................................................................................

4.1.3 EFETIVIDADE.........................................................................................................

4.1.4 IDENTIFICAÇÃO DOS DEMAIS PARTICIPANTES.................................................

4.1.5 RECUPERAÇÃO DO PRODUTO............................................................................

4.1.6 LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA.....................................................................................

4.1.7 REQUISITOS SUBJETIVOS....................................................................................

4.2 REDUÇÃO DA PENA..................................................................................................

5. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA LEI 9.807/99...............................

5.1 PROTEÇÃO ÀS VÍTIMAS E TESTEMUNHAS............................................................

5.1.1 ADMISSÃO NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO.......................................................

5.1.2 EXCEÇÃO A REGRA DE ADMISSÃO AO PROGRAMA ........................................

5.1.3 SOLICITAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ADMISSÃO NO PROGRAMA.

5.1.4 SIGILO.......................................................................................................................

5.1.5 EXCLUSÃO DO PROGRAMA DE PROTEÇÃO......................................................

5.1.6 MEDIDAS CAUTELARES........................................................................................

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5.1.7 ALTERAÇÃO NO REGISTRO CIVIL........................................................................

5.2 ACUSADOS COLABORADORES...............................................................................

5.2.1 PERDÃO JUDICIAL ................................................................................................

5.2.2 CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA........................................................................

5.3 PROTEÇÃO AOS RÉUS COLABORADORES...........................................................

5.3.1 DECRETO Nº. 3.518 DE 20 DE JUNHO DE 2000...................................................

5.3.2 DURAÇÃO DO PROGRAMA DE PROTEÇÃO........................................................

6. OUTRAS CONSIDERAÇÕES...........................................................................

7. CRÍTICAS A APLICAÇÃO DA LEI 9.807/99....................................................

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.................................................................

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RESUMO

O tema deste estudo refere-se à Lei de Proteção às Vítimas, Testemunhas e Réus Colaboradores (Lei nº. 9.807/99), mais especificamente, no que tange ao aspecto de seu conceito, aplicabilidade, efetividade e, ainda, quanto a atuação do Ministério Público neste instituto. O legislador buscou o amparo de tais pessoas, de modo que, se espontânea e voluntariamente vierem a expressar livremente o seu conhecimento a respeito dos fatos a serem investigados possam fazê-la de forma segura, sem estarem tão suscetíveis as possíveis intimidações que venham a sofrer. No que tange aos réus colaboradores, apesar de ser uma conduta altamente reprovável no mundo do crime, o conhecimento sobre os fatos são muito mais apurados e em conseqüência, a reprimenda e intimidação é muito mais elevada, o que justifica um melhor amparo àqueles réus que desejam colaborar efetivamente com a elucidação da verdade. A lei possui um nobre propósito de, não apenas proteger estes sujeitos que possuem seus direitos ameaçados, mas também incentivar o desmantelamento de quadrilhas e organizações criminosas bem como a elucidação mais rápida e eficaz de crimes, os quais vem crescendo em escala geométrica. Importa, também, em destacar a importância da atuação do Ministério Público na aplicação do instituto e a sua atuação como custos legis na aplicação correta da legislação e na proteção dos direitos constitucionalmente assegurados aos indivíduos.

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1. INTRODUÇÃO

A Lei 9.807/99, referente à Lei de Proteção às Vitimas,

Testemunhas e Acusados Colaboradores, tem por escopo proteger as referidas

pessoas que por espontânea vontade (‘sponte própria’) venham a colaborar com o

deslinde do caso que se encontra sob apreciação da autoridade, seja ela

administrativa ou judiciária.

A previsão legislativa vem com a finalidade de que as pessoas

chamadas a comparecer ao processo, ou mesmo aquelas que o façam livremente

possam, de maneira livre e destemida, expressar seus conhecimentos dos fatos

investigados, principalmente no que tange a autoria e materialidade do crime em

questão. Tem-se que tal medida traz uma forma de estimulo a elucidação e punição

de crimes, pois são estas pessoas que possuem um maior conhecimento do fato tido

como criminoso.

A Lei 9.807/99 não trata apenas da proteção às vítimas e

testemunhas ameaçadas, mas também no que se refere aos réus colaboradores,

conhecidas como a chamada “delação premiada”. A Delação Premiada, influenciada

principalmente pela legislação italiana, cria uma diminuição da pena para o indiciado

ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação criminal identificando

os co-autores e partícipes do delito, assim como a vítima e o produto do referido

delito. Esse instituto possibilita e facilita o desmantelamento de grupos, quadrilhas e

organizações criminosas, pois é realizado por um partícipe ou associado cujo

conhecimento a respeito do grupo e suas atividades é consideravelmente mais

elevado e detalhado.

A lei atua na proteção destas pessoas por meio de Programas de

Proteção, os quais tem a sua operacionalização e funcionamento realizados por

meio de estruturas especialmente delineadas para este fim. Desta maneira, cada

programa tem um Conselho Deliberativo responsável, o qual é composto por

representantes do Poder Judiciário, Ministério Público e de órgão públicos e

privados relacionados com a segurança pública e a defesa dos direitos humanos.

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Portanto, verifica-se a importância da atuação das autoridades policiais e dos

promotores de justiça para a eficaz aplicação legislativa, já que os mesmos estarão

em contato diretos mais freqüentes nos casos em que envolvem situação previstas

pela lei.

Contudo, existem várias críticas a respeito de seu resultado prático

em razão de diversos fatores como: a lealdade existente entre os integrantes das

organizações criminosas, o receio do delator de ser visto eternamente como um

traidor, a exposição do delator de vida a risco, a represália dos outros criminosos. A

Delação Premiada é muito criticada no sentido de ser um meio de suprir o “déficit”

estrutural investigatório do Estado através do estímulo da revelação da verdade, de

forma não ética, pela traição. DAMÁSIO DE JESUS já suscitou a questão ética da

delação:

[...] a delação premiada na Lei 9.034/95, que não é pedagógica, porque ensina que trair traz benefícios; sendo eticamente reprovável (ou, no mínimo, muito discutível), deve ser restringida ao máximo possível. 1

Esta discussão gravita em torno do conflito entre uma visão mais

pragmática e outra visão ética do Direito. Parte da doutrina acredita que o importante

é o resultado alcançado com a delação, já outra vê a delação como algo abominável

como uma contradição interna no sistema; sendo incentivo a condutas reprováveis,

como a traição, mal quista até pelo mais celerado dos homens.

Tem-se que, no processo penal, a apuração de fatos tipificados

como crimes, em regra, decorre das declarações de pessoas que sofreram a lesão

(as vítimas) e das que presenciaram ou tiveram conhecimento dos fatos (as

testemunhas). Sabe-se que, dentro do procedimento penal, uma das maiores fontes

probatórias são as provas testemunhais, as quais permitem uma maior, melhor e

mais célere elucidação do caso investigado.

1 JESUS, Damásio Evangelista de. In: MACHADO, Nilton João de Macedo. Lei N. 9.807/99-Proteção

à Vítima, Testemunhas Ameaçadas e Acusados Colaboradores (Delação Premiada). Centro de Estudo Jurídico. Florianópolis, 1999. p.01

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Em conformidade com os ensinamentos do professor Antonio

Scarance Fernandes “testemunha é pessoa que presta declarações a respeito de

um fato de que tem conhecimento, ou, ainda, sobre aspectos ligados à determinada

pessoa. E arremata o autor: Por meio dela, produz-se prova relevante no processo

penal, pois, na maioria das vezes, a verificação do crime e da autoria depende de

depoimentos testemunhais. 2

Contudo, ao longo do tempo, as represálias e vinganças contra

estas pessoas e seus familiares se tornaram mais constantes e bárbaros, instalando

e imperando-se o chamado “código do silêncio”. Desta forma, o temor traz o silêncio

como uma medida de sobrevivência, ante a inexistência de uma garantia concreta

ou um sistema de proteção que o Estado possa vir a oferecer. Por conseqüência, a

lei do silêncio revelou-se como uma das maiores dificuldades no combate a

criminalidade, razão pela qual, a Lei 9.807/99 vem a colaborar com esta

problemática.

A Lei 9.807/99 está posicionada às vítimas, testemunhas e réus

colaboradores, e é composta de nobre propósito embora silencie a respeito de

algumas questões relevantes à sua melhor viabilização.

2. HISTÓRICO DA LEI 9.807/99

No Brasil, a delação premiada surgiu com a Lei 9.807/993 que

trouxe, também, novos institutos. Com esta Lei foram estabelecidas “normas para a

organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a

testemunhas ameaçadas”; instituindo, portanto, o “Programa Federal de Assistência

a Vítima e Testemunhas Ameaçadas” e, ainda, prevê a respeito da “proteção de

2 FERNANDES, Antonio Scarance, Processo Penal Constitucional, Ed. RT, 3ª ed., pág. 76, 2002. 3 BRASIL, Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999. Estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 de julho de 1999.

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acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração

com a investigação policial e ao processo criminal”. 4

Como era muito difícil encontrar réus, até mesmo vítimas e

testemunhas, capazes de delatar outrem, em razão de ter, esta palavra, adquirido

uma conotação pejorativa, no sentido de acusação feita à outra pessoa, como uma

traição de uma confiança recebida. Desta forma, por não haver nenhuma segurança

ou sistema de proteção da pessoa delatora e até mesmo de sua família, ficando

jogados a própria sorte, a doutrina reclamava a instituição de um programa

destinado a essa proteção; principalmente em função de que o chamado “código do

silêncio” começou a ser uma prática muito comum, dificultando o combate a

criminalidade.5

A figura da delação premiada teve seu inicio nos países europeus

como a Itália, Alemanha, Espanha, Inglaterra e França, principalmente com o

objetivo de combater o terrorismo político. No Brasil, a adoção do deste instituto teve

influencia direta na experiência de outros países; em especial da Itália e dos Estados

Unidos da América, onde é amplamente utilizado.

Tendo o sistema penal brasileiro o fundamento de “estímulo à

verdade processual”, o legislador, influenciado principalmente pela legislação italiana

e norte americana, criou, primeiramente, uma causa de diminuição de pena para o

acusado ou indiciado que tenha colaborado de forma efetiva e voluntariamente com

a investigação do processo criminal, as quais estão previstas nas Leis nº 8.072 de

1990, nº 9.034 de 1995, nº 9.080 de 1995.6

Logo diversos outros textos legais vieram a tratar da diminuição de

pena para os casos em que houver a colaboração voluntária por parte do agente de

determinados crimes; como a acusados ou indiciados agentes criminosos

4 SCHUBNEL, Daniela. Jornal do Brasil, 15.07.99. 5 MACHADO, Nilton João de Macedo. Lei N. 9.807/99-Proteção à Vítima, Testemunhas Ameaçadas e Acusados Colaboradores (Delação Premiada). Centro de Estudo Jurídico. Florianópolis, 1999. p.01 6 Disponível em:< http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 19/05/2005.

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colaboradores: artigo 159, § 4º, do Código Penal, com a redação dada pelas Leis

8.072/90 e 9.269/96; artigo 1º, §5º, da Lei 9.613/98.

Saliente-se, ademais, que o Código Penal de 1940, anteriormente

às leis acima citadas dispondo sobre a matéria em questão; já fazia ensaios e

menção a respeito da redução de penas para os autores de crimes que

confessassem seus delitos, por meio de atenuantes. Cabe citar seu dispositivo legal:

Art. 65 São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (...) III - ter o agente: (...) d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; (...).

Por fim, dispondo sobre a matéria em questão de maneira clara e

irrefutável tem-se em 1999 a Lei 9.807, estabelecendo normas para a organização

de programas especiais de proteção a vítimas e testemunhas ameaçadas e dispõe

sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado

efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal

A figura da delação premiada foi introduzida pela Lei 8.072 de

1990, referente aos Crimes Hediondos criada como um meio de resposta aos

anseios populares de diminuição da violência urbana que, já àquela época, beirava a

insuportabilidade.

No que diz respeito às vítimas e testemunhas a Lei 9.807/99

menciona que será prestada “proteção especiais organizados conforme suas

disposições legais, previstas no Capítulo I, dos artigos 1º a 12º. Dados fornecidos

por ONG´s demonstram essa necessidade:

(...) segundo dados fornecidos por ONG´s que já atuaram nos Estados de Pernambuco, Bahia e Espírito Santo, a testemunha típica é homem, 18 anos, baixa escolaridade e rendas que, em 47% das vezes está denunciando crimes cometidos por policiais.7

7 GIMENEZ, Marcelo de Freitas. Delação Premiada. Jus Navegandi . Novembro de 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 07 de abril de 2008.

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Observa-se, então, que a Lei 9807/99 traz a respeito da proteção

as vítimas e testemunhas em seu primeiro capítulo que versa “Da Proteção Especial

a Vítima e a Testemunhas”:

Art. 1º As medidas de proteção requeridas por vítimas ou por testemunhas de crime que estejam coagidas ou expostas a grave ameaça em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal serão prestadas pela União, pelos Estados e pelo Distrito Federal, no âmbito das respectivas competências, na forma de programas especiais organizados com base nas disposições desta Lei.

Nos artigos seguintes o legislador dispôs a respeito das normas,

condições, sujeitos e suas extensões que poderão obter tal benefício, a maneira de

solicitação, os locais em que se darão as efetivas proteções a estas pessoas, entre

outros dispositivos reguladores.

Para haver a efetiva proteção e serem tomadas a medida

necessária, deve-se levar em conta a gravidade da coação ou da ameaça à

integridade física e/ou psicológica, os obstáculos e dificuldades em preveni-la ou

reprimi-la pelos meios tradicionais e a sua importância para a produção de provas.

Ressalta-se que estas medidas protetivas poderão ser estendidas ao cônjuge ou

companheiro, ascendentes, descendentes e dependentes que tenham convivência

habitual com a vítima ou testemunha8. Contudo, de acordo com o texto legal, nota-se

uma excludente:

Art. 2º (...)

§2º Estão excluídos da proteção os indivíduos cuja personalidade ou conduta seja incompatível com as restrições de comportamento exigidas pelo programa, os condenados que estejam cumprindo pena e os indiciados ou acusados sob prisão cautelar em qualquer de suas modalidades. Tal exclusão não trará prejuízo a eventual prestação de medidas preservação da integridade física desses indivíduos por parte dos órgãos de segurança pública.

8 MACHADO, Nilton João de Macedo. Op cit. p. 02.

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Desta forma, a norma, a qual tem um claro fim teleológico, propicia

tratamentos diferenciados entre os réus colaboradores e as vítimas e testemunhas,

onde o eventual protegido não poderá estar cumprindo pena nem ser indiciado ou

acusado submetido à prisão cautelar. 9

Para a sua efetividade, há necessidade de verbas próprias

alocadas no orçamento da União para a implantação dos programas nos Estados,

como o chamado PROVITA. Temos como exemplo à Itália onde foram “protegidas

5.615 pessoas até 1997, ao custo de US$ 40 milhões”; Estados Unidos no chamado

“Witnes Security Program criado em 1971, com o custo de US$ 20 milhões anuais” e

a Grã Bretanha com o “Victim Support, vinculado a Scotland Yard, que já atendeu 1

milhão de vítimas desde 1974, com custo de US$ 17,8 milhões do governo e US$

811 mil em doações”.10

A proposta de implantação de programas específicos ao

atendimento de vítimas e testemunhas ameaçadas foi originalmente prevista no

Programa Nacional de Direitos Humanos, em 1996. neste, mais especificamente no

Capítulo que trata da “Luta Contra a Impunidade”, estabeleceu-se a meta de apoiara

criação nos Estados de programas de proteção de vitimas e testemunhas de crimes,

expostas a grave a atual perigo em razão de suas colaborações ou declarações

prestadas no curso das investigações ou do processo criminal.

Em decorrência disto, o Ministério da Justiça – Secretaria de Estado

dos Direitos Humanos, assinou convenio com o Governo de Pernambuco e, de

forma pioneira, criou-se o PROVITA, com fundamento da idéia de reinserção social

de pessoas em situações de riscos em novos espaços comunitários, de forma

sigilosa. Tal programa tem a Coordenação da Organização Não Governamental do

gabinete de Assessoria Jurídica a Organizações Populares, o chamado GAJOP e,

ainda, contando com a efetiva participação da sociedade civil na construção de uma

rede solidária de proteção. Com o passar do tempo e a promulgação da Lei

9 MACHADO, Nilton João de Macedo. Op cit. p.03. 10 Ibid. p.06.

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9.807/99, diversos outros Estados passaram a integrar o Sistema Nacional de

Assistência às Vítimas e Testemunhas.

Deste modo, em 1996, criou-se no Brasil o chamado PROVITA -

Programa de Apoio e Proteção a Testemunhas e Vítimas de Violência; a qual é

composta por uma rede de voluntários, e promove a interação entre os diversos

órgãos estatais de Justiça e segurança como as Polícias, o Poder Judiciário, o

Ministério Público, entre outros que compõem o Conselho Deliberativo dos

PROVITA´s, responsável legal pela direção dos Programas. O PROVITA oferece,

com base na Lei n.º 9.807/99 assistência social, médica, psicológica e jurídica por

parte da equipe multidisciplinar do Programa e voluntários; bolsa de trabalho e

cursos profissionalizantes. Os Processos do PROVITA têm prioridade no Ministério

Público e no Poder Judiciário para diminuir o tempo de proteção e agilizar a sua

tramitação

Integram este programa, como representante do Estado, a

Secretaria de Justiça, Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Trabalho e

Ação Social, Poder Judiciário, Ministério Público Federal e Estadual e Defensoria

Pública; os quais compõem o Conselho Deliberativo que se reúnem para adotar

medidas sobre o Programa de Proteção a Testemunhas.

O PROVITA presta apoio psicológico, de saúde, alimentação e

transporte e, ainda, proteção em lugar seguro às testemunhas e às vítimas de

crimes de homicídio, tanto consumado quanto tentado, cometidos por grupos de

extermínio, policiais civis, militares e federais, bem como, os praticados por

organizações criminosas, as “máfias”, entre demais.

Contudo, as pessoas a serem protegidas por este programa eram

restritas, as testemunhas e as vítimas. Quanto à inserção dos réus que queiram

delatar, restou decidido, de início, que não estariam inclusos para tal benefício.

Posteriormente, com o famoso caso “Ruff” ocorrido no Rio de Janeiro, em 1998,

houve uma adaptação para a inclusão de eventuais réus, desde que não estejam

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com mandado de prisão decretada e sob análise e aprovação dos membros do

Conselho Deliberativo. 11

A Lei nº. 9.807/99 veio como uma tentativa de uniformizar o

tratamento dado à delação, prevendo o legislador a possibilidade de concessão de

perdão judicial ou a diminuição da pena do acusado que colabore de maneira

voluntária e eficaz. Podemos dizer que a Lei está impregnada de nobre propósito,

sendo proteger as testemunhas e as vítimas ameaçadas em razão de sua

colaboração na elucidação de crimes; observando que, está direcionada às vítimas,

testemunhas e réus colaboradores e, ainda aos parentes dos mesmos.

Desde modo, é notório o caráter benéfico da Lei 9.807/99, pois

além de se referir às vítimas e testemunhas, refere-se, também, a qualquer tipo de

réu que colabore de maneira efetiva. Ainda, quanto à espécie dos crimes, a lei não

faz distinção entre ação penal pública, tanto condicionada quanto incondicionada, e

ação penal privada; cabendo então, a aplicação a qualquer uma delas. 12

No que tange às vítimas e testemunhas, a Lei expressa “proteção

especial” a ser prestada de acordo com programas especiais organizados conforme

suas disposições, referente ao artigo 1º ao 12º da Lei de Vigência. 13

Para os réus colaboradores, apesar de excluídos dos programas de

proteção previstos para as testemunhas e vítimas, não foram desamparados; há

previsão na Lei de medidas que preservem a sua integridade física.

Em suma, a Lei 9.807 de 13 de julho de 1999 veio com a finalidade

de dispor e regulamentar sobre a Proteção Especial à Vítima e Testemunhas, em

seu primeiro capítulo, correspondente aos artigos 1º ao 12º; a Proteção aos Réus

Colaboradores, no capítulo segundo o qual compreende os artigos 13 a 15 e; por

fim, Disposições Gerais, dos artigos 16 a 21.

11 Disponível em <http://www.anpr.org.br/boletim13/programa.htm>. Acesso em 21/08/2006. 12 GIMENEZ, Marcelo de Freitas, Op. Cit. Disponível em: < http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em: 07 de abril de 2008. 13 Jornal Folha de São Paulo. 13 jul.1999. Caderno 3, p. 3.

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Portanto, a Lei previu para o réu colaborador ou partícipe, duas

benesses: o perdão judicial e a redução da pena de um terço a dois terços. 14

O Instituto da Delação Premiada foi primeiramente regulamentado

por esta Lei, no Capítulo referente à Proteção dos Réus Colaboradores; disciplinado

sobre suas características.

3. PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMAS E TESTEMUNHAS

A Lei 9.807/99 em seu Capítulo I, referente ao artigo 1º à 12º, trata

especificamente da proteção especial a vítimas e a testemunha e também regras

gerais sobre o programa de proteção. Também estabelece medidas efetivas para

que a testemunha e a vítima possam passar ilesas por toda a investigação, inclusive

podendo mudar o nome completo do próprio protegido como de toda a sua família.

Com base na Lei 9.807/99 e, em conformidade com a Subsecretaria

de Promoção e defesa dos Direitos Humanos, destaca-se, de forma simplificada, os

requisitos para o ingresso no Programa de Proteção:

3.1. Situação de risco da pessoa ameaçada.

A pessoa deve estar "coagida ou exposta a grave ameaça" (art. 1º,

caput). Obviamente não é necessário que a coação ou ameaça tenha já se tenham

consumado, sendo bastante a existência de elementos que demonstrem a

probabilidade de que tal possa vir a ocorrer. A situação de risco, entretanto, deve ser

atual.

3.2. Relação de causalidade entre a colaboração e a ameaça sofrida.

A situação de risco em que se encontra a pessoa deve decorrer da

colaboração por ela prestada a procedimento criminal em que figura como vítima ou 14 GIMENEZ, Marcelo de Freitas. Op cit.

Disponível em:< http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 19/05/2005.

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testemunha (art. 1º, caput). Assim, pessoas sob ameaça ou coação motivadas por

quaisquer outros fatores não comportam ingresso nos programas.

3.3. Personalidade e conduta compatíveis com o programa de proteção.

As pessoas a serem incluídas nos programas devem ter

personalidade e conduta compatíveis com as restrições de comportamento a eles

inerentes (art. 2º, § 2º), sob pena de por em risco as demais pessoas protegidas, as

equipes técnicas e a rede de proteção como um todo. Daí porque a decisão de

ingresso só é tomada após a realização de uma entrevista conduzida por uma

equipe multidisciplinar, incluindo um psicólogo, e os protegidos podem ser excluídos

quando revelarem conduta incompatível (art. 10, II, "b").

3.4. Inexistência de limitações à liberdade do protegido.

É necessário que a pessoa esteja no gozo de sua liberdade, razão

pela qual estão excluídos os "condenados que estejam cumprindo pena e os

indiciados ou acusados sob prisão cautelar em qualquer de suas modalidades" (art.

2º, § 2º), cidadãos que já se encontram sob custódia do Estado. Diferentemente do

programa americano e italianos, que ensejam até mesmo uma possível negociação

com o criminoso.

3.5. Anuência do protegido para a proteção.

O ingresso no programas, as restrições de segurança e demais

medidas por eles adotadas terão sempre a ciência e concordância da pessoa a ser

protegida, ou de seu representante legal (art. 2º, § 3º), que serão expressas em

Termo de Compromisso assinado no momento da inclusão. 15

15 Subsecretaria de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Coordenação Geral de Proteção as Testemunhas – Sistema Nacional de Assistência as Vitima e Testemunhas Ameaçadas. Disponível em: http://www.mj.gov.br/sedh/ct/spddh/cgpvta/sistema.htm. Acesso em 23 de abril de 2008

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21

4. PROTEÇÃO AOS ACUSADOS COLABORDORES

A Lei 9.807/99 dispôs a respeito da proteção aos réus

colaboradores. Em seu artigo 13º, há a previsão de que o Juiz poderá, a

requerimento das partes, inclusive do próprio réu, ou de ofício, conceder o perdão

judicial ao acusado que tenha efetiva e voluntariamente colaborado com a

investigação criminal, desde que esta colaboração tenha trazido resultado

significativo na identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;

localização da vítima com a sua integridade física preservada e a recuperação total

ou parcial do produto do crime. Para que haja o efetivo perdão judicial, a lei

condiciona a primariedade do réu para a concessão de tal benefício. 16

Para os réus colaboradores que não sejam agraciados com o

perdão judicial, há a possibilidade da redução de sua pena de um a dois terços. No

que se refere a este caso, pode-se afirmar que se trata de uma confissão

espontânea que combinada com a localização da vítima com vida e a recuperação

total ou parcial do produto do crime transforma-se em causa especial de redução de

pena.

Percebe-se que o ato do acusado colaborar com a justiça delatando

seus comparsas é considerado um procedimento abominável no mundo do crime e

no mundo penitenciário, resultando nos conhecidos juramentos de morte. Esta é

uma das razões pela qual deve insurgir uma proteção efetiva para estes

indivíduos.17

Como não há a inclusão dos réus colaboradores no programa de

proteção às vítimas e testemunhas, subsistiu a necessidade de a Lei fazer uma

previsão a respeito da proteção da integridade física do agente.

16 GIMENEZ, Marcelo de Freitas. Op. Cit. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 07 de abril de 2008.. 17 AQUINO, José Carlos G. Xavier de. A Prova Testemunhal no Processo Penal Brasileiro.4.ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 122.

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22

Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.

§ 1º Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos.

§ 2º Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador qualquer das medidas previstas no artigo 8º desta Lei.

§ 3º No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

O artigo acima transcrito traz algumas medidas especiais de

segurança e proteção da integridade física do réu colaborador, nos casos em que

houver ameaça ou coação eventual ou efetiva a sua pessoa. Nota-se que a Lei visa

apenas a proteção e segurança física do réu não mencionado em momento algum

da proteção de sua integridade psicológica. 18

De acordo com o dispositivo em questão o agente colaborador,

estando na prisão ou mesmo fora dela tem direito à aplicação das medidas especiais

de segurança e proteção a sua integridade física considerando os requisitos

previstos. Durante a instrução criminal, o juiz pode determinar, em favor do réu

colaborador, qualquer das medidas cautelares previstas no artigo 8º.

Exige-se a anuência do colaborador ou de seu representante bem

como o sigilo antes e durante a sua execução. O programa é marcado pela

temporalidade bienal que poderá ser prorrogado por tempo indefinido, exceto em

circunstâncias excepcionais. A medida perdurará enquanto permanecerem as

condições que de início a determinaram, pois, esta é a mens legis: “proteção de

colaboradores no deslinde de investigações criminais que estão sujeitas à coação ou

grave ameaça decorrentes desta colaboração”. 19

18 MACHADO, Nilton João de Macedo. Op. Cit. p 07. 19 Ibid. p. 03.

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23

Assim, não se encontram desamparados, podendo ser agraciados

com estas medidas cautelares que preservem sua integridade física. Acrescenta-se

que, na Lei 9.807/99 em seu artigo 2º, § 2º, na parte final, o legislador menciona que

tal exclusão não prejudicará uma “eventual prestação de medidas de preservação da

integridade física desses indivíduos por parte dos órgãos de segurança pública”.20

Desta forma importa salientar os requisitos tanto para a concessão

do benefício do perdão judicial, quanto para redução da pena.

4.1. PERDÃO JUDICIAL

Com relação à concessão do perdão judicial, a lei prevê, no artigo

13, que este poderá ser feito de ofício pelo juiz ou a requerimento das partes e

inclusive do próprio réu havendo, por conseqüência a extinção da punibilidade.

Porém, é necessário o preenchimento de determinados requisitos:

a) PRIMARIEDADE

Primário é aquele que, apesar de estar sendo processado

criminalmente, não possui contra si nenhuma sentença penal condenatória

transitada em julgado, anterior ao crime pelo qual responde.

Assim, conforme disposição legislativa, só poderá receber o perdão

judicial aquele colaborador primário, ou seja, que não tenha sofrido condenação

criminal anterior, com sentença transitada em julgado. Tratando-se, deste modo, de

um verdadeiro pressuposto de admissibilidade.

b) VOLUNTARIEDADE

De maneira intencional o legislador utilizou a expressão

“voluntariamente”, que corresponde à ação sem qualquer tipo de coação, seja ela

física ou psicológica, mas incentivada ou motivada por outrem. Ato voluntário é

aquele com significado adverso de pressão, coação. 21

20 Ibid. 21 GIMEMEZ, Marcelo de Freitas. Op. Cit.

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24

Oportuno diferenciar o ato voluntário do ato espontâneo, no

primeiro, como já dito, é a ação sem coação, mas incentivada por outrem e na

espontaneidade não haverá qualquer incitação ou motivação. A pessoa, por si, julga

conveniente e age conforme seu próprio julgamento.

c) EFETIVIDADE

O prêmio só poderá ser concedido se a colaboração for eficaz, ou

seja, deve influenciar na identificação dos demais co-autores ou partícipes, na

recuperação total ou parcial do produto do crime e na localização da vítima com a

sua integridade física preservada. 22

O artigo 13 da Lei deixa expressamente claro que o benefício só

será concedido se preenchidos os requisitos elencados em seus incisos:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:

I – a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosas;

II – a localização da vítima com sua integridade física preservada;

III – a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Aquelas declarações feitas sobre fatos sem relevância não devem

ser consideradas nem qualificadas para autorização do benefício assim como de

nada adiantará todo o esforço, a voluntariedade e até a espontaneidade se a

colaboração não influenciar na efetiva apuração do delito com os efeitos previstos na

Lei.23

Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 07 de abril de 2008 . 22 MACHADO, Nilton João de Macedo. Op. Cit. p.09. 23 SILVA, Eduardo Araújo da. Crime Organizado: procedimento probatório. São Paulo: Atlas, 2003. p. 82 – 83.

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25

O investigado deverá, também, colaborar de forma permanente

com as autoridades, comparecendo perante tanto a autoridade policial quanto

judicial todas as vezes que for solicitada a sua presença ou acompanhar os atos de

diligência, se assim for preciso. 24

d) IDENTIFICAÇÃO DOS DEMAIS PARTICIPANTES

Esse é um ponto indiscutivelmente importante para a aplicação do

instituto e, um passo importante para o processo de investigação do delito. A

identificação dos demais co-autores ou partícipes é um requisito previsto pela Lei,

tanto para a concessão do perdão judicial (artigo 13) quanto para a redução da pena

(artigo 14).

É de suma importância que o delator forneça toda e qualquer

informação ou auxílio que permita identificar, com a necessária precisão e

segurança, os verdadeiros responsáveis pela ação delituosa. Este é um requisito

que irá nortear a direção correta em que o processo investigatório se desenvolverá,

promovendo, então, uma maior eficácia na elucidação do crime e na busca da

verdade, conduzindo à localização e libertação da vítima e, ou na recuperação do

produto do crime. 25

e) RECUPERAÇÃO DO PRODUTO

A recuperação do produto do crime é um requisito que possui uma

característica mais fácil no que se refere ao seu cumprimento, até mesmo por estar

definido pelo legislador que esta recuperação pode ser tanto total quanto parcial.

Sendo assim, qualquer participante de um crime contra o patrimônio, que tenha

participado em concurso poderá se arrepender e delatar contribuindo com a

investigação criminal e a recuperação do produto do crime, podendo ter por

conseqüência a concessão dos benefícios previstos. 26

24 Id. 25. LEAL, João José. Crimes Hediondos: A Lei 8.072/90 como Expressão do Direito Penal da Severidade. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2003. p.270. 26. LEAL, João José, Op. Cit. p.270.

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26

Adverte-se que, em casos de concessão do benefício do perdão

judicial, é importante que o juiz analise e exija um “maior grau de efetividade, de

relevância e eficácia na colaboração”. 27

f) LOCALIZAÇÃO DA VÍTIMA

A exigência do requisito da localização da vítima aplica-se nos

crimes de extorsão mediante seqüestro, de cárcere privado, e de redução à

condição de escravo, correspondente aos artigos 159, 148 e 149 do Código Penal

respectivamente; até mesmo por ser difícil de imaginar a hipótese de necessidade

de localizar a vítima em outros delitos, como por exemplo, o tráfico ilícito de

entorpecentes. 28

A delação nestes casos tem papel fundamental, pois informações

idôneas e detalhadas sobre o local exato do cativeiro, sobre os demais autores da

ação criminosa são de caráter relevante para a localização e liberdade da vítima.

Nos casos de concessão do benefício do perdão judicial, previsto no artigo 13, inciso

II; é necessário que a vítima seja localizada “com a sua integridade física

preservada” e, no caso de redução da pena, artigo 14, deve haver a “localização da

vítima com vida”. É suficiente que a informação prestada pelo réu colaborador auxilie

de forma indispensável para que a polícia conheça e localize exatamente o local em

que a vítima se encontra encarcerada, com o propósito de libertá-la. 29

Por fim, salienta-se que, se por qualquer outro motivo a vítima

evadir-se do local por conta própria ou mesmo com a ajuda de terceiros, que não

seja devido às informações fornecidas pelo delator, este não poderá ser beneficiado

com o instituto. 30

g) REQUISITOS SUBJETIVOS

Os requisitos subjetivos a serem analisados estão previstos no

parágrafo único do artigo 13, no qual se exige que a “personalidade do agente seja

27 Ibid. p. 275. 28 Ibid. p.271. 29 Ibid. p. 272. 30 LEAL, João José . Op. Cit. p. 273.

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27

tendente a merecer o perdão, as circunstâncias que envolvem o crime, a sua

gravidade e, também, a repercussão social do mesmo.” 31

O perdão judicial não poderá ser concedido ao colaborador sem

que o magistrado realize um “juízo altamente positivo” de todas as circunstâncias

fáticas e se convença de que o este merece tal “clemência judicial”; a qual deverá

ser utilizada com cautela e quando apresentar-se como “única opção de verdadeira

justiça criminal”.32

Compreende-se tal exigência legal, condicionando o perdão judicial

ao exame do judiciário nestas circunstâncias, por se tratar de uma causa de extinção

da punibilidade do colaborador em crime em que os outros autores e partícipes irão

se responsabilizar. Com relação a isso, a doutrina e a jurisprudência admitem que,

por ter uma característica altamente benéfica, o perdão judicial deve ser analisado

com muita cautela e prudência. 33

4.2. REDUÇÃO DA PENA

Com relação aos requisitos da redução da pena, são os mesmos do

perdão judicial, diferindo em alguns aspetos. O primeiro aspecto, como já

mencionado, é que, na redução de pena, não há necessidade da primariedade do

réu colaborador como é exigido no perdão judicial.

O segundo requisito diferenciador é evidenciado no que diz respeito

à localização da vítima. Para a hipótese da redução da pena, a lei exige apenas a

“localização da vítima”, enquanto que para o perdão deve haver a “localização da

vítima com a sua integridade física preservada”; significando que a redução será

concedida mesmo que a vítima apresente ferimentos. 34

Com a análise dos benefícios trazidos pelos artigos 13 e 14 da Lei

9.807/99, percebe-se que tanto para a concessão do perdão judicial quanto para a 31GIMEMEZ, Marcelo de Freitas. Op. Cit. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 07 de abril de 2008. 32 LEAL, João José, Op. Cit. p.266. 33 Ibid. p.276 34 LEAL, João José. Op. Cit. p. 272.

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28

redução da pena, devem estar presentes dois elementos: a voluntariedade e a

efetividade da colaboração. Por serem elementos jurídicos, a lei exige que a

colaboração tenha um resultado positivo, já que a efetividade pressupõe que a

relevância das informações e auxilio colaborem com a identificação dos demais co-

autores ou partícipes, a localização da vítima, com integridade física preservada no

caso do perdão judicial, e a recuperação total ou parcial do produto do crime. 35

Para o réu que tenha recebido o benefício da causa especial de

redução de pena, previsto no artigo 14, a pena a ser cumprida será aquela fixada na

sentença condenatória. Desta forma, é provável que o réu colaborador cumpra sua

pena com seus ex-comparsas, mesmo que a lei determine que sejam custodiados

em locais separados, a realidade demonstra essa inviabilidade e, portanto, ficarão a

mercê dos mesmos possivelmente de sua vingança36. Sem descartar tal hipótese, o

legislador previu a possibilidade de proteção aos réus colaboradores no artigo 15 da

Lei em questão.

Notória é a diferença da proteção legislativa entre a vítima e

testemunhas e os réus e partícipes. Para o primeiro caso, há um programa de

proteção destinado a estas pessoas. Já, no segundo caso, o que existe são medidas

especiais de segurança e proteção a sua integridade física e, apenas se houver

ameaça ou coação eventual ou efetiva a essas pessoas. 37

5. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público pode atuar de quatro formas diferentes na Lei

9.807/99, sendo como Membro do Conselho Deliberativo do programa de proteção,

como órgão executor do programa, como parte ou como fiscal da lei.

Em conformidade com o artigo 1º da Lei, as proteções requeridas

serão prestadas pela União, Estados e pelo Distrito Federal; os quais poderão

35. LEAL, João José. Op. Cit. p. 267. 36 MACHADO, Nilton João de Macedo. Op. Cit. p.05. 37 Ibid. p. 07.

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celebrar convênios, acordos, ajustes ou termos de parcerias entre si ou com

entidades não governamentais (ONG’s).

As proteções se darão por meio de programas especiais

organizados em conformidade com as disposições trazidas pela Lei. Cada programa

será dirigido por um Conselho Deliberativo, no qual haverá a presença necessária

de um representante do Ministério Público, além de representantes do Poder

Judiciário e de órgãos públicos e privados relacionados com a segurança pública e a

defesa dos direitos humanos. Esta presença, do Ministério Público, como um

membro do Conselho Deliberativo é uma das maiores participações do órgão

ministerial prevista na Lei.

Integrante do Conselho Deliberativo, o Ministério Público, participa

da direção do programa e da definição das políticas públicas de proteção. A

instituição deve zelar pela aplicação eficaz das disposições legais, vislumbrando

sempre a preservação da prova e, ainda, cuidando da defesa da vida e da dignidade

da pessoa humana. Deste modo, a função ministerial vai além da satisfação de

obrigações e da ocupação de espaço no combate a criminalidade, alcançando,

assim, a característica de indispensável para a consecução da paz social.

5.1 PROTEÇÃO À VÍTIMA E A TESTEMUNHA

A participação no programa de proteção, seja para a admissão ou

exclusão, será precedida de uma consulta ao Ministério Público. Nesta consulta será

analisada a existência de fundamentos básicos como a gravidade da coação ou

ameaça a integridade física ou psicológica, a dificuldade em prevenir ou reprimi-la, a

importância para a produção da prova e, ainda, a cessação dos motivos e a

incompatibilidade de comportamento da pessoa protegida. Desta forma, o Ministério

Público emitirá, obrigatoriamente, um parecer antes que seja admitida ou excluída

uma pessoa do programa de proteção. Esta manifestação ministerial será, por

lógica, de competência do Promotor de Justiça que acompanhar o Inquérito Policial

ou que promover a Ação Penal.

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30

5.1.1. Admissão no Programa de Proteção

Para a admissão, preliminarmente, será analisado se não é o caso

de pessoa que não pode ser atendida pelo programa, ou seja, pessoas excluídas da

proteção, sendo “os indivíduos cuja personalidade ou conduta seja incompatível com

as restrições de comportamento exigidas pelo programa, os condenados que

estejam cumprindo pena e os indiciados ou acusados sob prisão cautelar em

qualquer de suas modalidades”, como prevê o §2º do artigo 2º da Lei em questão.

Em seguida, analisar-se-á a importância do testemunho ou das

informações para a produção da prova, onde deverá apresentar relevância para o

caso em que se está investigando. Ademais, a colaboração deve ser efetiva, capaz

de proporcionar a revelação de um delito, o deslinde da autoria ou o fortalecimento

da prova anteriormente colhida. Analisa-se, ainda, a gravidade da coação ou

ameaça física ou psíquica, dirigida a pessoa, por meio da verificação do grau de

periculosidade apresentada pelo agente, o demonstrativo da situação de risco a que

se expõe o colaborador (risco efetivo ou potencial, atual ou eminente).

Em final análise, é verificada a dificuldade de prevenir ou reprimir

pelos meios convencionais a coação ou ameaça contra o individuo. Como medidas

convencionais podem-se ter as atividades da polícia preventiva e ate mesmo as

medidas judiciais com esta finalidade, como no caso de prisão temporária e a prisão

preventiva. Finalmente, deve haver a certificação da expressa concordância do

interessado em ingressar no programa de proteção. Desta forma, preenchidos os

requisitos objetivos e subjetivos previstos na Lei, o Ministério Público opinará pela

admissão do colaborador no programa.

Uma vez admitido no programa, os beneficiários devem

permanecer à disposição da Justiça, da polícia e demais autoridades para que,

sempre que solicitados, possam comparecer pessoalmente para prestar

depoimentos nos procedimentos criminais.

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31

Cumpre destacar que, para aquelas pessoas excluídas do

programa de proteção previsto pelo legislador, caberá ao órgão de segurança

pública adotar as medidas necessárias a preservação da vida e da integridade física,

as quais são de competência do Estado.

5.1.2. Exceção

Ocorre que, em casos de urgência, onde se observa a procedência,

a gravidade e a iminência da coação ou ameaça a vítima ou testemunha poderá ser

colocada em proteção provisória, em que haja um prévio parecer do Ministério

Público. Contudo, deverá haver uma comunicação ao órgão ministerial, o qual, ao

recebê-la, fará, desde logo, seu parecer, não necessitando para tanto, aguardar uma

provocação formal do Conselho Deliberativo. Nota-se, então, que até mesmo nos

casos excepcionais haverá um parecer do Ministério Público analisando a existência

dos fundamentos básicos para a proteção, mesmo que esta manifestação seja

posterior.

5.1.3. Solicitação do Ministério Público para admissão

A atuação do Ministério Público não se limita a proferir pareceres

em casos de admissão e exclusão nos programas protetivos, podendo, também,

solicitar a admissão ou o ingresso de pessoas no programa, conforme disposição do

artigo 5º, inciso II, da Lei. A solicitação ao órgão executor, pelo promotor de justiça,

deverá conter a qualificação da pessoa a ser protegida, informações sobre a sua

vida pregressa, o fato delituoso e a coação ou ameaça que motiva a proteção, bem

como ser instruída com um Termo no qual o beneficiário manifeste a sua vontade.

Quando houver solicitação no Ministério Público para o ingresso de

pessoa no programa, por óbvio, se torna desnecessária a consulta ao mesmo antes

da admissão; salvo nos casos em que a solicitação venha desacompanhada de um

parecer a respeito dos fundamentos básicos para o ingresso no respectivo.

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32

Apesar de haver um intenso conflito doutrinário e jurisprudencial a

respeito do poder investigatório do Ministério Público; é crescente a procura direta a

este órgão para que tome as providências nos mais diferentes casos, inclusive em

situações em que há ameaça e coação e, portanto, se deu tal previsão legislativa.

5.1.4. Sigilo

Mesmo não havendo expressa previsão a respeito da necessidade

do sigilo na solicitação para o ingresso no programa, entende-se, por meio

interpretativo sistemático e levando em conta os parágrafos 3º e 4º, que outra

conclusão não seria possível senão a necessidade do sigilo.

A própria natureza da proteção e a intenção legislativa indicam que

todo o procedimento deve ocorrer no mais absoluto sigilo onde, a relação com a

imprensa deve se dar de forma bastante cautelosa. Ora, é notória a presença da

imprensa e de repórteres ávidos a cumprir seu papel de informar a população,

contudo ocorre que, além de ser um meio extremamente influente na formação de

opiniões e comportamentos, pode trazer imensos prejuízos à eficaz aplicação dos

meios protetivos trazidos pela Lei.

Nestes casos não há que se falar em afronta aos direitos

constitucionais de informação, mas sim de uma necessidade de restrição das

informações, bem como será necessária a punição do jornalista ou do membro que

divulgar as informações que deveriam ser sigilosas.

O sistema possibilita a permuta de beneficiários entre as diversas

redes de proteção e, levando-se em conta as dimensões continentais de nosso país,

pode-se providenciar o deslocamento de uma pessoa ameaçada para outro Estado.

Desta maneira, o sigilo de seu novo paradeiro é usado como garantia de sua

segurança e integridade, seja ela física ou psicológica.38

38 BARROS, Antonio Milton de. Lei de proteção a vítimas e testemunhas: e outros temas de direitos humanos. 2ª edição. São Paulo: Lemos e Cruz, 2006. p. 180.

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33

5.1.5. Exclusão do Programa de Proteção

Entende-se que o Ministério Público tem legitimidade para requerer

a exclusão de uma pessoa do programa de proteção, apesar de não estar

expressamente previsto na Lei. Ora, se o órgão ministerial está acompanhando a

proteção, se há ciência no que diz respeito à persistência ou não das razões que

motivaram a verificação do comportamento da pessoa protegida, há, também, a

possibilidade de solicitar a exclusão, desde que devidamente fundamentada.

Nestes casos, será verificado se não existe mais as causas que

deram oportunidade a inclusão da vítima ou testemunha no programa de proteção.

Primeiramente analisa se o protegido não se encontra mais em situação de risco e,

havendo risco, é verificado se este risco pode ser reprimido pelos meios

convencionais. Outro caso é quando a pessoa já prestou sua colaboração com a

investigação criminal e/ou à instrução processual.

Contudo, caso haja comportamento indevido por parte do protegido,

descumprindo normas prescritas as quais se comprometeu em face de sua

admissão, poderá, também, haver exclusão do programa. A exclusão nesta situação

ocorre, principalmente, em virtude de poder se colocar em risco a eficiência e até

mesmo a existência do programa.

Mesmo sendo excluída do programa, e persistindo a coação ou

ameaça, a vítima ou testemunha, ainda deverá ter em seu favor outras medidas

destinadas à preservação de sua vida e integridade física, medidas tais que deverão

ser prestadas pelo Estado.

5.1.6. Medidas Cautelares

Nos casos em que se entender necessário o requerimento ao juiz

de concessão de medidas cautelares direta ou indiretamente ligadas a eficácia da

proteção, o mesmo só poderá ser feito pelo Ministério Público. Deste modo,

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34

conforme previsão do artigo 8º da Lei, o Conselho Deliberativo poderá solicitar ao

Ministério Público que requeira ao Juiz a concessão da medida cautelar.

A solicitação ao órgão ministerial para o requerimento da medida

cautelar se dá em razão de tratar-se de uma peça processual e, para tanto,, a

exigência de técnica com a devida fundamentação e o pedido, expondo a

necessidade da medida cautelar. Essas medidas cautelares estão previstas no

Código de Processo Penal e na legislação extravagante, a exemplo de: inquirição

antecipada de testemunhas (art. 225 do CPP); prisão em flagrante (art. 302 do

CPP); prisão preventiva (art. 311 do CPP); prisão em razão de pronúncia (art. 408, §

1º, do CPP); prisão temporária (Lei nº. 7.960/89); interceptação de comunicações

telefônicas (Lei nº. 9.296/96); quebra de sigilo bancário (Lei Complementar nº.

105/01).

5.1.7. Alteração no Registro Civil

Existem casos em que a coação ou a ameaça atingem tal gravidade

que a alteração no registro para a mudança do nome completo se faz necessárias.

Tais situações são mais uma das previsões trazidas pelo legislador em que se exige

a oitiva prévia do Ministério Público, o qual atuará, nestes casos, como fiscal da lei.

Esta medida poderá se estendida ao cônjuge ou companheiro (a), ascendentes,

descendentes – inclusive filhos menores – ou dependentes que tenham convivência

habitual com a vítima ou testemunha.

A alteração do nome completo de uma pessoa traz conseqüências

extensas como nas relações com terceiros de boa-fé, como por exemplo, nas

promessas de compra e venda entre outros demais tipos de contratos, bem como no

que diz respeito aos sistemas de proteção ao consumidor e os bancos. Ademais, a

alteração do nome completo produz conseqüências na relação da pessoa com a

própria justiça, principalmente para o que consta nas Certidões de Antecedentes

Criminais e até mesmo a identificação no pólo das relações processuais.

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35

A função de custos legis está relacionada à atuação do promotor de

justiça na área civil, especificamente na alteração do nome completo da pessoa

protegida, outra importante inovação introduzida pela Lei nº. 9.807/99, em seu art.

9º. A competência é do representante do Ministério Público que atua junto à Vara de

Registros Públicos. Por estas e outras razões torna-se necessária a atuação do

representante do Ministério Público como sendo um fiscal da lei e resguardando

direitos.

Havendo cessação da coação ou ameaça que deu causa a

alteração do nome completo, o protegido poderá solicitar a alteração para a situação

e o nome original, onde, mais uma vez, haverá manifestação do Ministério Público. 39

5.2. ACUSADOS COLABORADORES

Um requisito importante é que a delação premiada deve passar

pelo exame de conveniência e oportunidade do Ministério Público e, ainda, quando

ocorrer durante o processo, avalia-se também a sua efetividade além dos outros

requisitos exigidos para a concessão. Agora, se manifestada durante a investigação

há a necessidade de ser ter um conjunto probatório já apurado, “uma vez que pode

ser perfeitamente dispensável a colaboração do pretendente delator. Esta delação

feita durante a fase investigatória fica condicionada à confirmação do depoimento

em juízo.” 40

Por se tratar de um critério subjetivo a ser analisado em cada caso

concreto, dá se ao julgador a possibilidade de, mesmo estando preenchidos todos

os requisitos, negar a concessão do benefício do perdão judicial e substituir pela

redução da pena.

39 PONTES, Bruno Cezar da Luz. Alguns comentários sobre a Lei 9807/99 (proteção às testemunhas). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 36, nov. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1005>. Acesso em: 10 março de 2008. 40 THUMS, Gilberto. Primeiros Posicionamentos Sobre a Delação Premiada, Informativo do Centro de Apoio Operacional Criminal. CAOCrim Informativo n. 07, Agosto de 2002. p. 02.

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36

Uma outra questão a ser levada em conta é a importância de ser, a

delação premiada, confirmada por outra fonte, ou seja, o Ministério Público deverá

sempre conferir a confiabilidade da delação por outros elementos de prova de

confirmação da verdade. 41

Quando houver depoimentos do delator em que se constatem

informações sigilosas, tais fatos deverão ser consignados em autos apartados, a fim

de dar prosseguimento à investigação criminal. Para atribuir a característica e

classificação de documentos sigilosos, mais uma vez, ficará a critério do Ministério

Público. Ainda, com relação aos depoimentos, este serão feitos em caráter

reservado, com a presença de seu advogado e de duas testemunhas, e registrados

por meios magnéticos, evitando ilegalidades durante a instrução processual. 42

Um último requisito importante é que a delação premiada só se

aplica às infrações penais graves, “eis que nem sempre o parâmetro da pena

representa a gravidade da conduta ilícita”. 43

No entanto, no momento da aplicação dos benefícios (perdão

judicial ou redução da pena) é essencial que o juiz analise com prudência o grau de

relevância e efetividade da colaboração prestada, bem como o verdadeiro

sentimento de arrependimento, sinceridade e boa-fé (requisitos subjetivos) do

colaborador. Caso observe-se que esta não atingiu a finalidade e a efetividade

suficiente, o magistrado poderá recusar a concessão do benefício. 44

5.2.1. Perdão Judicial

A Lei 9.807/99 não restringe a aplicação do beneficio do perdão

judicial a determinados crimes, como ocorria nas legislações anteriores a esta.

Assim, para a concessão do beneficio leva-se em consideração a personalidade do

infrator, a pequenez e as peculiaridades do delito, ou a inutilidade da punição em 41 Idem. 42 Ibid. p 03. 43 Ibid 44 LEAL, João José. Op. Cit. p.321 44 Ibid. p. 271.

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face das conseqüências do crime, ou seja, aplica-se aos casos destacados na Lei,

quando preenchidos os requisitos por ela previstos.

O perdão judicial poderá ser concedido pelo Juiz de ofício ou a

requerimento das partes, conforme prevê o artigo 13 da Lei. Deste modo, o

representante do Ministério Público poderá desde que preenchido os requisitos

legais, requerer a concessão do beneficio em favor do acusado colaborador. Nos

casos em que a concessão do benefício seja requerida pela defesa, o Ministério

Público deverá se manifestar, proferindo um parecer a respeito do caso.

Como a Lei, ao tratar do perdão judicial, menciona a palavra

“acusado” significa que deve haver uma denúncia contra o colaborador e, então, um

processamento para que, em sentença, conceda-se o benefício ao mesmo. Por esta

razão entende-se que não se aplica na fase do inquérito policial onde há apenas a

figura do indiciado ou do noticiado. Contudo, importa em salientar que existem

divergências doutrinárias a respeito do assunto onde, parte da doutrina admite a

possibilidade desta causa extintiva da punibilidade na fase do inquérito como sendo

fundamento para o pedido de arquivamento do mesmo.

5.2.2 Causa de Diminuição de Pena

A redução de pena ao acusado colaborador é outro benefício

previsto pela Lei, conforme o artigo 14 da respectiva. A causa de diminuição de pena

é aplicada nos casos em que não couber o perdão judicial, onde não se exige a

primariedade do réu, mas a colaboração deve ser voluntária, como ocorre no perdão

judicial.

O benefício da redução de pena, que pode ser de um a dois terços,

pode ser requerida pelo Ministério Público ou, em caso de requerimento do benefício

pela defesa, haverá manifestação ministerial a respeito da concessão ou não da

redução da pena. No caso da redução de pena, como o artigo 14 faz menção a

“indiciado ou acusado" que colaborar na investigação e processo criminal, tem-se

entendido que estão incluídos também os indiciados nos inquéritos policiais e não

apenas os acusados em processo criminal.

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5.3 PROTEÇÃO AOS RÉUS COLABORADORES

A Lei protege o co-réu ou participe de forma diferente do que as

vítimas e testemunhas. Não há inclusões do acusado em programas, com todas as

suas conseqüências como ocorre com as vítimas e testemunhas.

O que se aplica aos acusados colaboradores são medidas

especiais de segurança e proteção a sua integridade física, mas somente em casos

de ameaça ou coação eventual ou efetiva. Assim, a Lei fez algumas previsões de

medidas especiais de segurança e proteção aos mesmos, como se extrai dos

parágrafos do artigo 15 da Lei, contudo de forma bastante abrangente e, levando em

consideração a situação atual de nosso sistema prisional, com pouca efetividade.

A aplicação de medidas protetivas aos acusados colaboradores

também tem a atuação fundamental do Ministério Público. Para tais, incumbe ao

Promotor de Justiça, nos casos em que verificar a necessidade, requerer ao Juiz a

concessão da medida. Como nos demais casos, se houver requerimento por parte

da defesa haverá manifestação ministerial a seu respeito, a fim de zelar pela correta

aplicação da lei.

Levando-se me conta a fase da persecução penal, será atribuição

do representante do Ministério Público que estiver vinculado à investigação policial

ou aquele em exercício junto à vara competente para o julgamento da respectiva

ação penal. Nos casos em que já houver condenação, o promotor de Justiça

competente para o requerimento ou manifestação sobre a medida será o que atua

na vara das Execuções Penais.

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5.3.1 Decreto nº. 3.518 de 20 de Junho de 2000

O Decreto nº. 3.518/0045 vem regulamentar a lei em análise,

conceituando em seu artigo 10 o chamado “Depoente Especial” e trazendo o

“Serviço de Proteção ao Depoente Especial”, o que vem a colaborar e a esclarecer

as possíveis divergências conceituais e interpretativas. Para melhor entendimento,

salienta-se:

Art. 10. Entende-se por depoente especial:

I - o réu detido ou preso, aguardando julgamento, indiciado ou acusado sob prisão cautelar em qualquer de suas modalidades, que testemunhe em inquérito ou processo judicial, se dispondo a colaborar efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração possa resultar a identificação de autores, co-autores ou partícipes da ação criminosa, a localização da vítima com sua integridade física preservada ou a recuperação do produto do crime; e II - a pessoa que, não admitida ou excluída do Programa corra risco pessoa e colabore na produção da prova.

Ademais, o Depoente Especial está sujeito Serviço de Proteção ao

Depoente Especial, conforme prevê o artigo 11 do Decreto. O Serviço de Proteção

consiste na prestação de medidas de proteção assecuratórias da integridade física e

psicológica do depoente especial, aplicadas de forma isolada ou cumulativamente,

levando em conta as especificidades de cada situação. Tal previsão amplia a

proteção, levando em consideração à integridade psicológica do depoente, diferente

da lei 9.807/99 que apenas faz menção a integridade física do colaborador.

Exige-se a anuência do colaborador ou de seu representante bem

como o sigilo antes e durante a sua execução. O programa é marcado pela

temporalidade bienal que poderá ser prorrogado por tempo indefinido, exceto em

circunstâncias excepcionais. A medida perdurará enquanto permanecerem as

condições que de início a determinaram, pois, esta é a mens legis: “proteção de 45

BRASIL, Decreto nº. 3.518/00, de 20 de junho de 2000. Regulamenta o Programa de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, instituído pelo art. 12 da Lei n

o 9.807, de 13 de julho de 1999,

e dispõe sobre a atuação da Polícia Federal nas hipóteses previstas nos arts. 2o, § 2

o, 4

o, § 2

o, 5

o, §

3o, e 15 da referida Lei. Diário Oficial da república Federativa do Brasil, Brasília, 21 de abril. 2000.

Seção I, página 9.

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colaboradores no deslinde de investigações criminais que estão sujeitas à coação ou

grave ameaça decorrentes desta colaboração”.46

Têm-se como medidas de proteção, dentre outras: segurança na

residência, incluindo o controle de telecomunicações; escolta e segurança ostensiva

nos deslocamentos da residência, inclusive para fins de trabalho ou para a

prestação de depoimentos; transferência de residência ou acomodação provisória

em local compatível com a proteção; sigilo em relação aos atos praticados em

virtude da proteção concedida e; medidas especiais de segurança e proteção da

integridade física, inclusive dependência separada dos demais presos, na hipótese

de o depoente especial encontrar-se sob prisão temporária, preventiva ou

decorrente de flagrante delito. 47

5.3.2 Duração do Programa de Proteção

Conforme previsão do artigo 11 da Lei, a proteção oferecida pelo

programa terá duração máxima de 02 (dois) anos onde, em circunstancias

excepcionais, em que perdure os motivos que autorizam a admissão, a permanência

poderá ser prorrogada. Esta excepcionalidade leva em conta as manifestas

circunstancias, não havendo dúvidas a respeito da necessidade de continuar

mantendo a pessoa sob proteção.

Na hipótese de prorrogação, os motivos, correspondentes ao

fundamento básicos para a admissão no programa, devem perdurar pelos dois anos.

Ocorre que, em alguns casos, existe a figura do investigado que possui um

sentimento vingativo eterno, onde a atividade criminosa é predeterminada e

extremamente perigosa o que, por mais uma vez, justifica a prorrogação.

Diferente do que ocorre no programa de proteção, a duração da

alteração no nome completo tende a ser perpétua diante da possibilidade de

consumação das ameaças. Contudo, como já exposto anteriormente, nada impede

46 MACHADO, Nilton João de Macedo. Op. Cit. p. 03. 47 AGUDO, Luís Carlos. Estudos sobre a Lei nº. 9.807/99. Proteção a vítimas e testemunhas. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3498>. Acesso em: 10 dez. 2007.

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que o protegido solicite judicialmente o retorno à situação anterior, implicando em

nova alteração, agora para seu nome original.

6. OUTRAS CONSIDERAÇÕES

A inexistência de taxação de crimes feita pelo legislador, ou seja, a

possibilidade de que qualquer crime seja passível de proteção, é de suma

importância para que a lei se estenda aos mais diversos casos. Contudo, é

importante que os crimes contra a vida e o seqüestro sejam alvos de uma atenção

especial para que se tenha uma melhor efetivação, bem como para o crime

organizado e as quadrilhas nos casos de co-réus. Para tanto, é necessário que o

Conselho deliberativo tenha uma capacidade de análise de todo e qualquer caso,

pois se deve levar em consideração a imensidão de casos e a grande quantidade de

detalhes que os mesmos apresentam.

Para que seja concedida a medida protetiva é necessário que a

vítima ou a testemunha esteja sendo coagida em razão da colaboração com a

investigação ou o processo criminal. Deste modo, a colaboração poderá se dar

durante a tramitação do inquérito policial ou do processo criminal. Assim,

questionou-se a respeito da possibilidade de aplicação do instituto nos

procedimentos dos Juizados Especiais Criminais onde há o Termo Circunstanciado

ao invés do Inquérito Policial.

Vem se entendendo pela possibilidade de inclusão nos programas

de proteção nos procedimentos dos Juizados, pois, além de não haver qualquer

restrição legislativa a respeito, não há lógica alguma em excluí-los. Ora, além de não

se restringir apenas as esferas estaduais, os Juizados apresentam diversos delitos

considerados graves como as rixas qualificadas, violação de domicilio, assédio

sexual, subtração de incapazes, exercício ilegal da Medicina, desacato, entre outros

previstos na legislação extravagante.

Questiona-se, também, como ficará figurado nos autos o

depoimento prestado pelas vítimas, testemunhas e réus colaboradores. Haverá a

qualificação do depoente com seu verdadeiro nome, mesmo nos casos de mudança

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de identidade (não sendo revelada esta), quando comparecer perante a autoridade.

Para não se criar maiores questionamentos sobre o anonimato e o sigilo dos

depoimentos, tem-se que haverá a divulgação do nome do protegido e as

circunstâncias descritas pelo agente colaborador, mas manter-se-á o sigilo a

respeito de sua atual localização e nova identidade; até mesmo porque aquilo que

não está nos autos não está no mundo. 48

Para os casos de depoimento das pessoas protegidas, seja em

Juízo ou na Delegacia, esta deverá ser conduzida com escolta policial a ser

escolhida pela equipe do programa. O Ministério Público deve comunicar ao Juízo a

condição da testemunha, comprometendo-se a conduzi-la, independente de

intimação, não podendo ser fornecido qualquer endereço no momento da

qualificação.

A Lei evita a aplicação de medida protetivas às pessoas que

estejam privadas de liberdade, inclusive cautelarmente. No entanto, a princípio,

mesmos os condenados que foram beneficiados com a substituição da pena

privativa de liberdade nos moldes previstos pela Lei 9.714/99, poderão ingressar nos

programas.

No que tange as vítimas e testemunhas com antecedentes criminais

não há qualquer obste legal ao ingresso ao programa, mas, mesmo assim, cabe ao

Ministério Público analisar o comportamento e personalidade do agente, requisito

que, em tese, pode impedir o acesso ao programa. Em conseqüência, conclui-se

que, os indivíduos, que não estando condenados, mas com processos suspensos

face ao artigo 89 da Lei 9.099/95 poderão, também, ingressar e obter a proteção do

programa.

Um outro questionamento trazido pela doutrina é quanto ao

momento em que o réu colaborou com a justiça. Caso o réu não tenha colaborado

na fase policial e, posteriormente, em juízo, auxilia na identificação dos demais

participantes, na localização da vítima e na recuperação do produto do crime; há três

correntes a respeito da possibilidade da concessão do perdão judicial. A primeira

48 MACHADO, Nilton João de Macedo.Op. Cit. p 04.

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corrente acredita na impossibilidade da concessão, pois o réu deverá colaborar

espontaneamente desde início é deste modo, a omissão na fase inquisitória

afastaria a voluntariedade da colaboração. A segunda corrente vê a possibilidade

por atingir os objetivos ansiados e, por constituir-se direito público subjetivo do réu

em face da delação eficaz e consumada. A última corrente acha possível a

concessão do benefício se os outros participantes do delito apenas foram

identificados na fase judicial em razão da colaboração do réu, ou no caso de

localização da vítima assim como na recuperação do produto, atingindo os

objetivos.49

Para se alcançar o valor probante da delação é necessária a

própria confissão do réu colaborador, como elemento essencial; passando pela

verificação de sua efetiva fidelidade, analisando a autenticidade da confissão e a

narração coerente com os outros fatos já demonstrados nos autos. Portanto não é

suficiente afirmar a participação de terceiro, mas, também, descrever toda a

modalidade da participação. 50

A voluntariedade e a espontaneidade da colaboração é um dos

requisitos mais importantes a serem analisados pelo representante do Ministério

Público, principalmente ante a possibilidade de constrangimentos para que haja uma

efetiva colaboração. Diante desta real possibilidade de haver constrangimento para

se realizar uma colaboração, a voluntariedade se torna um ponto sensível do

instituto da delação. Em havendo ocorrências de excessos para se extrair uma

confissão, a prova obtida será inevitavelmente considerada como sendo ilícita, em

virtude de que uma das decorrências da presunção de inocência no processo penal

referente a matéria probatória é a impossibilidade de se obrigar o acusado a

colaborar na investigação dos fatos. Portando, a inobservância deste requisito e,

49 Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em 19/04/2008. 50 MIGUEL, Alexandre; PEQUENO, Sandra Maria Nascimento de Souza. Comentários à Lei de Proteção às Vítimas, Testemunhas e Réus Colaboradores, Revista dos Tribunais – ano 89, n. 773, mar. 2000, p. 436.

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estando-se diante da ilicitude da prova, hoje inadmissível em nosso ordenamento

jurídico, restaria frustrada a aplicação eficaz do instituto previsto na Lei.51

O Ministério Público poderá, tanto na investigação de fatos quanto

na fase processual, valer-se da delação para o fim de obtenção de fonte de prova. A

delação deve ser confrontada com outras provas e haver verossimilhança, sendo

analisada como qualquer outra prova produzida. A prova produzida na delação

assume a natureza de prova testemunhal e não podendo ser entendida como uma

confissão, já que nesta o fato é dirigida a quem depõe e não contra terceiros. Uns

entendem que se trata de uma testemunha que não presta compromisso e; outros

entendem que não é testemunha, “porque somente quem se mantém eqüidistante

dos fatos e das partes pode, a princípio, ser testemunha”. 52

7. CRITICAS À APLICAÇÃO DA LEI 9.807/99.

A Lei de Proteção as Vítimas, Testemunhas e Acusados

Colaboradores vem sendo criticada severamente tanto sob o ponto de vista sócio-

psicológico como também no que tange a sua eficaz aplicação em detrimento da

realidade em que estamos inseridos. A questão financeira e estrutural do Estado traz

diversos questionamentos quanto à aplicação da lei de modo a produzir efeitos de

acordo com a intenção legislativa. Outra questão trazida por alguns doutrinadores é

quanto a chamada delação premiada, considerando imoral e até mesmo antiética,

em razão de estimular a traição, ensinado que trair é bom pois reduz a

conseqüência do “pecado penal”.53 Afirma-se, ainda, que a delação premiada

transforma o direito em um instrumento de anti-valores, pois, além de conceber um

prêmio ao traidor, ofende o princípio da proporcionalidade da pena.54

51 GOMES, Luis Flávio; CERVINI, Raúl. Crime organizado: enfoques criminológico, jurídico (Lei 9034/95) e político criminal. São Paulo: revista dos Tribunais, 1997. 52 MIGUEL, Alexandre, PEQUENO, Sandra Maria Nascimento de Souza. Apud Idem, ibidem. p. 436. 53 JESUS, Damásio Evangelista de. Perdão Judicial – colaboração premiada. Revista Brasileira de Ciências Criminais., n. 82, set. 1999. 54 GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raúl. Crime Organizado: enfoques criminológico, jurídico (Lei 9034/95) e político-criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, [S.I.: s.n] 1997.

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Para Bruno César da Luz Pontes55 o legislador pecou na previsão

dos requisitos da causa de diminuição de pena dos acusados colaboradores, por

não ser aplicado os mesmos requisitos subjetivos da concessão do perdão judicial.

Afirma, ainda, haver uma desproporção, pois reduziu-se a pena do crime

consumado na mesma quantidade do crime tentado, qual seja 1/3 (um terço) a 2/3

(dois terços); ou ainda, do arrependimento posterior, mesmo que o delito tenha sido

praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.

Para esse autor, por não ser exigido expressamente o requisito da

efetividade da colaboração, se torna possível e provável a existência de agentes que

irão se beneficiar com esta grande redução de pena sem que tenham ajudado na

investigação de forma alguma. Acrescenta, ainda, que o acusado poderá obter a

redução da pena mesmo que a colaboração não tenha sido efetiva e, mesmo com a

presença de reincidência, circunstancias, natureza, gravidade e repercussão do

crime desfavoráveis ao agente, o que se torna um tanto injusto e fere princípios

constitucionais como o da isonomia e da proporcionalidade.

Guilherme de Souza Nucci traz em sua obra, “Manual de Processo

Penal e Execução Penal”56, outros pontos negativos da chamada delação premiada.

Para o referido autor o instituto poderia ser um meio de oficializar, de forma legal, a

traição, ou seja, uma forma antiética de comportamento social, estimulando-se a

deslealdade nas relações interpessoais. Neste mesmo sentido afirma que a traição,

em regra, serve para agravar ou qualificar a pena e, deste modo, não deveria ser

utilizada como uma causa de redução de pena. Corroborando com a idéia de Bruno

César da Luz Pontes, afirma que o instituto fere o principio da proporcionalidade na

aplicação da pena, onde o delator ou colaborador receberia uma pena menor do que

os delatados, os quais seriam cúmplices e teriam agido na mesma proporção ou até

em menor importância que aquele que delatou. Por fim, afirma que a existente

delação premiada ainda não serviu para incentivar a criminalidade a quebrar a “lei

55

PONTES, Bruno Cezar da Luz. Op. cit. 56 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal. 4ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 432/434

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46

do silêncio” , a qual ainda prevalece no universo criminoso e, a possibilidade de um

estímulo a delações falsas e um incremento das vinganças pessoais.

Contudo as críticas de Guilherme de Souza Nucci não são

direcionadas apenas aos pontos negativos, destacando-se também os pontos

positivos do instituto da delação premiada. Primeiramente verifica-se a

impossibilidade de se falar em ética e em valores moralmente elevados no mundo

criminoso, já que é da própria natureza de suas condutas a quebra das normas

vigentes, ferindo bens jurídicos protegidos pelo Estado. Quanto a proporcionalidade

da pena, pode-se entender que não há ofensa no sentido de que, por ser regida pela

culpabilidade ou o chamado juízo de reprovação da conduta do agente, a qual é

flexível, aqueles que demonstram maior culpabilidade receberiam uma pena mais

severa, enquanto o delator, ao colaborar com o Estado na investigação,

demonstraria uma menor culpabilidade podendo, então, ter sua pena abrandada.

Ainda ressalta-se que, diante do elevado índice de impunidade que

reina no universo do crime, bem como a falta de agilidade estatal, a delação

premiada viria como uma forma a mais de tornar mais célere determinadas

investigações e soluções dos casos. Portanto, a delação premiada seria um “mal

necessário” onde se tutelaria um bem maior que é o estado Democrático de Direito,

pois é sabido que a criminalidade organizada tem ampla influência nas entranhas

estatais, com a real possibilidade de desestabilizar qualquer democracia, como já

vem ocorrendo nos dias atuais. Desta maneira, a colaboração daqueles que

conhecem a organização criminosa bem como seus co-autores e partícipes seria de

grande valia, para que se combata de forma eficaz o alastramento destas

organizações, as quais se destinam exclusivamente a pratica de infrações penais. 57

Outro ponto importante trazido, seria no que tange a traição que

poderia ser entendida como uma traição de bons propósitos, onde se agiria contra

um delito e em favor do Estado e, por tal razão, os fins poderiam justificar os meios

quando estes forem legalizados e inseridos no universo jurídico. Outra questão

crítica trazida é quanto a possibilidade de o Estado poder barganhar com o

57

NUCCI, Guilherme de Souza. Op.cit.

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criminoso, onde parte da doutrina acredita não ser possível. Já outra corrente

contrária entende ser possível esta barganha e, mais, que esta conduta já vem

sendo praticada como se observa na transação penal trazida pela Lei 9.099/95

(Juizados Especiais).

Em outra seara, é pacifico entre os doutrinadores que, para a

eficaz aplicação dos meios protetivos, é necessário a criação de estruturas que

viabilizem a implementação das diretrizes desta lei. Para tanto é importante que faça

um trabalho político com a devida destinação de verbas e com a disponibilidade

orçamentária a fim de custear os Programas de Proteção. Assim, verifica-se a

necessidade da imposição de um teto para a ajuda financeira, a qual deverá ser

definida pelo Conselho Deliberativo no inicio de cada exercício financeiro.

A preocupação com esse ponto se dá principalmente quando da

leitura do artigo 7º da Lei 9.807/99, que prevê, nos programas de proteção, a adoção

de medidas em benefício da pessoa protegida, para manter-lhe um nível de vida,

bem como a necessidade de verbas existentes para o própria funcionamento dos

programas protetivos. Para tanto, importa em salientar o dispositivo de lei citado:

“Art.7º Os programas compreendem, dentre outras, as seguintes medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente em benefício da pessoa protegida, segundo a gravidade e as circunstancias de cada caso:

I – segurança da residência, incluindo o controle de telecomunicações;

II – escola e segurança nos deslocamentos da residência, inclusive para fins de trabalho ou para a prestação de depoimentos;

III – transferência de residência ou acomodação provisória em local compatível com a proteção;

IV – preservação da identidade, imagem e dados pessoais;

V – ajuda financeira mensal para prover as despesas necessárias à subsistência individual ou familiar, no caso de a pessoa protegida estar impossibilitada de desenvolver trabalho regular ou de inexistência de qualquer fonte de renda;

VI – suspensão temporária das atividades funcionais, sem prejuízo dos respectivos vencimentos ou vantagens, quando servidor público ou militar;

VII - apoio e assistência social, médica e psicológica;

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VIII – sigilo em relação aos atos praticados em virtude da proteção concedida;

IX – apoio do órgão executor do programa para o cumprimento de obrigações civis e administrativas que exijam o comparecimento pessoal.

Parágrafo único. A ajuda financeira mensal terá um teto fixado pelo conselho deliberativo do inicio de casa exercício financeiro.”58

Desta maneira, verifica-se a real importância da questão financeira

para que haja uma eficaz aplicação do dispositivo legal, a fim de se prestar um

programa protetivo que realmente produza resultados positivos, como a realização

da verdadeira intenção do legislador. Portanto é notório que o problema se torna

mais complexo já que para essa efetividade existe a dependência de verbas próprias

alocadas no orçamento da União para a implantação do programa nos Estados. 59

Contudo, a falta de interesse político neste tipo de investimento

acaba por trazer a falência de projetos, como este, que poderiam fazer toda a

diferença na questão da segurança pública brasileira. Ademais, a dotação

orçamentária não teria qualquer tipo de perda das verbas públicas, não se exigindo

quantias tão significantes aos cofres públicos, isso se levado em conta a grande

diferença entre o custo-benefício, posto que se cortaria ou evitaria outros tipos de

gastos resultantes e próprios das ações criminosas.

Como fato notório, sabe-se que o nosso sistema prisional encontra-

se praticamente falido, onde nossas penitenciárias, cadeias públicas, colônias

penais agrícolas, casa do albergado; quando existem, apresentam condições

deploráveis em que as pessoa que ali se encontram vivem, na maioria da vezes, em

condições subumanas. Tal fato pode ser claramente constatado no nosso sistema

penitenciário, em que deveria ter por fim a ressocialização do preso, trazendo-o de

58

BRASIL, Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999. Estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 de julho de 1999. 59

MACHADO, Nilton João de Macedo. Lei N. 9.807/99-Proteção à Vítima, Testemunhas Ameaçadas e Acusados Colaboradores (Delação Premiada). Centro de Estudo Jurídico. Florianópolis, 1999.

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volta reabilitado para o convívio em sociedade se adequando as regras por ela

trazidas.

Ao contrário, o que se extrai é que, pela falência estatal o sistema

prisional acabou sendo “esquecido”, e o descaso com essa questão o transformou

em um ambiente totalmente insalubre e tão ou mais hostil que a própria vida na

miséria. Assim, acabou-se transformando as penitenciárias em um depósito de

infratores da legislação penal e mais, sem qualquer ocupação e em situação física e

psíquica precárias acaba por acarretar em um incentivo e estimulo a produção de

mais revolta, mais violência e o conseqüente aumento do numero de práticas de

condutas criminosas.

O descaso do Poder Executivo, e não só deste mas como de toda a

sociedade, impede o tratamento diferenciado de presos em cadeias públicas e/ou

penitenciárias (presos provisórios e presos em cumprimento de pena), o que torna

mais inviável ainda a proteção àqueles acusados colaboradores. Desta forma, torna-

se praticamente inócua a manutenção do delator no estabelecimento prisional, tanto

pela sua estrutura física, já que tais estabelecimentos não comportam mais presos

quanto mais a manutenção dos colaboradores em locais apartados para o

cumprimento de sua pena; bem como pela questão financeira que impede a efetiva

proteção do acusado colaborador, visto a impossibilidade de segregação deste dos

demais presos.

Essa falta de estrutura dificulta e pode ate mesmo impedir a eficácia

da realização da intenção legislativa em proteger também os réus colaboradores, os

quais são vistos pela população carcerária como um traidor, sendo considerado

como o mais vil e celerado dos homens.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implementação definitiva e efetiva da legislação em questão

ainda é um grande desafio a ser enfrentado pelos órgão judiciais, governamentais e,

enfim, de toda a sociedade.

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O fenômeno mundial pelo qual a violência toma proporções

assustadoras é fato notório e, seu recrudescimento, principalmente nos grandes

centros urbanos, vem constituindo um dos maiores e mais graves dos problemas

sociais; a serem enfrentados pelos nossos governantes. Merecendo, tais questões,

atenção especial nos debates políticos, intelectuais e sociais a fim de se obter e

optar por ações ou medidas mais apropriadas à resolução desta problemática.

A violência atual apresenta causas de extrema complexidade,

possuindo origens e determinações históricas, econômicas, políticas e culturais as

quais vem se manifestando e se aprimorando ao longo dos tempos. Por isso, não

basta a criação de medidas imediatistas, as quais apenas maquiam os profundos

problemas construídos pela sociedade; mas sim a criação e implementação de

políticas públicas bem estruturadas de modo a atingir drasticamente a concepção

atual que existe, alterando-se o quadro causal e minorando seus efeitos.

Contudo, mesmo que de forma singela vem se percebendo

manifestações e criações de organizações e centros que atendem estas pessoas

vitimas da violência, mediante o acompanhamento de psicólogos, assistentes

sociais, núcleos jurídicos, bem como de outras instituições governamentais e não

governamentais. Tais organizações visam tanto o acompanhamento de questões

jurídicas, como o acompanhamento do andamento processual do caso; questões

sociais, com o apoio à família, a recapacitação profissional, tratamentos; e também

das questões psicológicas individuais e familiares, visto que a desestabilização do

núcleo familiar é um ponto relevante na maioria dos casos.

Como exemplo pode ser citado o Programa Estadual de Direitos

Humanos (PEDH) criado em São Paulo, sob a inspiração do Programa Nacional de

Direitos Humanos, com a participação de centenas de entidades da sociedade civil

(Decreto 42.209/97). Tem-se, também, como exemplo o Centro de Referencia e

Apoio à Vitima, o chamado CRAVI, o qual apresenta o objetivo de ações de

prevenção e ruptura da banalização e disseminação da violência. O CRAVI tem

como finalidade especifica a prestação de atendimento psicológico, jurídico e social

a familiares de vitimas de homicídio e latrocínio entre outros casos graves de

violência, identificando os perfis desta e as formas possíveis de prevenção, em

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suma, trazer toda uma atuação no sentido de prestar uma assistência, analisar

casos e devolver possíveis soluções para as diversas manifestações de violência.

Portanto, o desenvolvimento de projetos na área de assistência e

proteção a vitimas e testemunhas de crimes, bem como dos acusados

colaboradores, é de suma importância, pois visam expandir a atenção do Estado

para os vários sujeitos envolvidos no processo penal, como também na luta contra a

impunidade, auxiliando no desmantelamento de organizações criminosos e na

devida responsabilização dos envolvidos.

O objetivo principal da delineação de importância do instituto é a

iniciativa de por a disposição daqueles que são diretamente afetados pelos ditames

impostos pela violência social, um serviço que torna o Estado, em seu papel de

garantidor do acesso à justiça e da pratica da cidadania, uma figura mais presente

em suas vidas. Ainda mais, de primordial importância, é no que se refere ao

restabelecimento da ordem social, individual e familiar, o que implica, em ultima

instancia, o controle da violência, o exercício da cidadania e o resgate dos direitos

humanos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. AGUDO, Luís Carlos. Estudos sobre a Lei nº 9.807/99. Proteção a vítimas e testemunhas. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3498>. Acesso em: 10 dez. 2007. 2. AQUINO, José Carlos G. Xavier de. A Prova Testemunhal no Processo Penal Brasileiro.4.ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. p. 122. 3. BARROS, Antonio Milton de. Lei de proteção a vítimas e testemunhas: e outros temas de direitos humanos. 2ª edição. São Paulo: Lemos e Cruz, 2006 4. BRASIL, Decreto nº. 3.518/00, de 20 de junho de 2000. Regulamenta o Programa de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, instituído pelo art. 12 da Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, e dispõe sobre a atuação da Polícia Federal nas hipóteses previstas nos arts. 2o, § 2o, 4o, § 2o, 5o, § 3o, e 15 da referida Lei. Diário Oficial da república Federativa do Brasil, Brasília, 21 de abril. 2000. 5. BRASIL, Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999. Estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 de julho de 1999. 6. FERNANDES, Antonio Scarance, Processo Penal Constitucional, Ed. RT, 3ª ed. 2002. 7. GIMENEZ, Marcelo de Freitas. Delação Premiada. Jus Navegandi . Novembro de 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3620>. Acesso em abril de 2008. 8. GOMES FILHO, Magalhães. Presunção de Inocência e Prisão Cautelar. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 40. 9. GOMES, Luis Flávio; CERVINI, Raúl. Crime organizado: enfoques criminológico, jurídico (Lei 9034/95) e político criminal. São Paulo: revista dos Tribunais, [S.I.: s.n]1997. 10. JESUS, Damásio Evangelista de. In: MACHADO, Nilton João de Macedo.Lei N. 9.807/99-Proteção à Vítima, Testemunhas Ameaçadas e Acusados Colaboradores (Delação Premiada). Florianópolis: Centro de Estudo Jurídico, 1999. p. 01-165. 11.JESUS, Damásio Evangelista de. Perdão Judicial – colaboração premiada. Revista Brasileira de Ciências Criminais., n. 82, set. 1999

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12. Jornal Folha de São Paulo. 13 jul.1999. Caderno 3, p. 3. 13. LEAL, João José. Crimes Hediondos: A Lei 8.072/90 como Expressão do Direito Penal da Severidade. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2003. p.270 14. MACHADO, Nilton João de Macedo. Lei N. 9.807/99-Proteção à Vítima, Testemunhas Ameaçadas e Acusados Colaboradores (Delação Premiada). Centro de Estudo Jurídico. Florianópolis, 1999. 15. MIGUEL, Alexandre; PEQUENO, Sandra Maria Nascimento de Souza. Comentários à Lei de Proteção às Vítimas, Testemunhas e Réus Colaboradores, Revista dos Tribunais – ano 89, n. 773, p. 426-441, mar. 2000. 16. NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal. 4ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 432/434 17. PONTES, Bruno Cezar da Luz. Alguns comentários sobre a Lei 9807/99 (proteção às testemunhas). Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 36, nov. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1005>. Acesso em:

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