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Policial Rodoviário Federal Legislação Especial Prof. Rodolfo Souza

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Policial Rodoviário Federal

Legislação Especial

Prof. Rodolfo Souza

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Legislação Especial

Professor Rodolfo Souza

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Edital

LEGISLAÇÃO ESPECIAL: 1 Lei nº 10.826/2003 e alterações (Estatuto do Desarmamento). 2 Lei nº 7.716/1989 e alterações (crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor). 4 Lei nº 4.898/1965 (direito de representação e processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade). 5 Lei nº 9.455/1997 (definição dos crimes de tortura). 12 Lei nº 9.099/1995 e alterações (juizados especiais cíveis e criminais), Capítulo III,. 13 Lei nº 10.259/2001 e alterações (juizados especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal). 17 Decreto-Lei nº 3.688/1941 (Lei das contravenções penais). 19 Decretos nº 5.948/2006, nº 6.347/2008 e nº 7901/2013 (Tráfico de pessoas).

BANCA: Cespe

CARGO: Policial Rodoviário Federal

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Legislação Especial

LEI DOS CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90

1. CRIME HEDIONDO

1.1 Conceito

Trata-se de conduta humana reprovável, tipificada como crime, considerada asquerosa, nojenta, repugnante, sórdida e depravada, por essa razão merecedora de tratamento penal mais rigoroso.

1.2 Definição de crime hediondo

a) Sistema judicial – é o juiz quem, na apreciação do caso concreto, diante da gravidade do crime, decide se a infração é ou não hedionda.

b) Sistema legal – compete ao legislador enumerar, num rol taxativo, quais delitos serão considerados hediondos.

c) Sistema misto – o legislador apresenta rol exemplificativo de crimes hediondos, deixando ao juiz um campo fértil para encontrar outros casos.

Obs.: O Brasil adotou o sistema legal – art. 5º, XLIII, da CF – o constituinte outorgou ao legislador ordinário a tarefa de definir quais crimes serão considerados hediondos, todavia, já enumerou os equiparados a hediondos – tráfico de drogas, terrorismo, tortura.

Obs.: O STF vem adotando um quarto sistema: o legislador apresenta um rol taxativo de crimes hediondos, devendo o magistrado confirmar a hediondez na análise do caso concreto (o juiz não vai complementar; apenas confirmará se aquele crime tem requintes de hediondez) – GUILHERME DE SOUZA NUCCI também é filiado deste sistema.

2. ROL DOS CRIMES HEDIONDOS

São considerados hediondos os seguintes crimes todos tipificados no Código Penal (Dec. Lei 2.848/40), consumados e tentados:

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• Inciso I – Homicídio quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente – (art. 121, Caput do CP);

Conforme o art. 121, § 6º, CP a pena será aumenta de 1/3 (um terço) até a 1/2 (metade) se o crime for praticado por grupo de extermínio.

O homicídio simples, em regra, não é hediondo, salvo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente – trata-se de um homicídio condicionado.

Trata-se de circunstância muito imprecisa, muito criticada pela doutrina. Por ex., não se sabe, pela lei, o que é a “atividade típica de grupo de extermínio”. A doutrina a conceitua como sendo a chacina, matança generalizada.

Outra crítica feita é que, esta forma de crime jamais será praticada sobre a forma simples, sendo caracterizado sempre a qualificadora – PAULO RANGEL, NUCCI.

• Inciso I – Homicídio qualificado – (art. 121, 2º, I a VII do CP);

Tratando-se do homicídio qualificado, todas as qualificadoras redundam no crime hediondo (art. 121, paragrafo 2º, do CP).

Importante destacar que em 2015 foram inseridos os incisos VI e VII ao parágrafo segundo do artigo 121 do Código Penal, pela Lei 13.104/15 e Lei 13.142/15 respectivamente. O inciso VI, trata do homicídio qualificado contra a mulher por razoes da condição de sexo feminino (Feminicídio) e o inciso VII, trata do homicídio contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da CF, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até o terceiro grau inclusive, em razão dessa condição.

Obs.: O homicídio privilegiado (art. 121, § 1º, CP) não é hediondo.

Homicídio qualificado-privilegiado é hediondo?

1ª corrente – é hediondo, pois a lei não excepciona esta figura.

2ª corrente – Não é hediondo, pois o privilegiado prepondera sobre a qualificadora – tal corrente faz uma analogia ao art. 67 do CP – no concurso de agravantes e atenuantes, prepondera a de natureza subjetiva (onde está escrito agravante, colocar-se-á “qualificadora”; onde estiver escrito atenuante, colocar-se-á “privilégio”) – a segunda corrente é a que prevalece no STF e no STJ.

• Inciso I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; Incluído pela Lei 13.142/15.

• Inciso II – Latrocínio – (art. 157, parág. 3º, in fine, do CP);

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O art. 157 trata do crime de roubo e o parág. 3º traz o roubo qualificado (se da violência resulta lesão grave ou morte, a pena é qualificada). Só é hediondo o roubo qualificado pela morte (parte final do parágrafo 3º). O roubo qualificado pela lesão grave não é hediondo.

A morte pode ser dolosa ou culposa – o crime permanecerá hediondo.

A morte tem que ser decorrência da violência. Se a morte resultar da grave ameaça – não é latrocínio – STF.

A violência deve ser empregada durante o assalto e em razão do assalto (é imprescindível o fator tempo e o fator nexo).

Ex.: uma semana depois do assalto, o bandido mata o gerente do banco que o reconheceu – não é latrocínio (foi em razão do assalto, mas não foi durante o roubo) – será roubo combinado com homicídio. A morte é o meio para alcançar o fim – o roubo.

Assaltante que mata o outro para ficar com o proveito do crime, não é latrocínio (trata-se de roubo + homicídio torpe).

O assaltante que mata o outro, por tentar matar a vítima – art. 73 do CP – aberratio ictus – considerará as qualidades da vítima virtual e não da vítima real, logo, é latrocínio.

Se a intenção inicial do agente era matar e só depois resolveu subtrair, trata-se de homicídio seguido de furto – não é latrocínio.

Súmula 603 do STF – latrocínio não vai a júri, pois é crime contra o patrimônio – competência do juiz singular.

Súmula 610 do STF – há crime de latrocínio consumado quando há a consumação da morte, ainda que a subtração seja tentada –

• Inciso III – Extorsão qualificada pela morte – (art. 158, parágrafo 2º, do CP);

Tudo que se aplica ao latrocínio se aplica a este crime.

A diferença é que no crime de roubo o agente subtrai o bem ou pode, de imediato, subtrai-lo, mesmo que exista colaboração por parte da vitima.

Ex.: o agente aponta a arma e manda a vítima entregar o relógio.

Haverá extorsão quando a vítima entregar o bem e ficar demonstrado que sua colaboração era imprescindível para o agente obter a vantagem.

Ex.: carta constrangendo a vítima mandar dinheiro, sob ameaça de revelar segredo íntimo. Constranger a vítima fornecer senha do cartão de crédito.

• Inciso IV – Extorsão mediante sequestro – (art. 159, caput e parágrafos, do CP).

Tal crime sempre é crime hediondo, não importa se na forma simples ou qualificada.

Diferencia-se, porque nesta (extorsão mediante sequestro), o resgate é exigido de outras pessoas (familiares em geral), enquanto, no sequestro relâmpago, não há essa exigência a terceiros, mas a própria pessoa sequestrada.

• Inciso V – Estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º);

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Considera-se estupro o ato sexual ou qualquer outro ato libidinoso (dedos na vagina, sexo oral), mediante violência ou grave ameaça à pessoa da vítima ou a terceiro.

• Inciso VI – Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º);

Considera-se vulnerável, pessoa menor de 14 anos, ou pessoa portadora de enfermidade ou doença mental, que não tenha o necessário discernimento para a pratica do ato.

Nessas hipóteses a pratica da conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso será crime, mesmo que exista o consentimento da vítima.

• Inciso VII – Epidemia com resultado morte – (art. 267, parágrafo 1º, do CP);

O tipo consiste em causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos (vírus, bacilos ou protozoários) e se caso tal conduta resultar na morte de alguém, o crime será considerado hediondo, sendo a pena prevista no caput (reclusão de 10 a 15 anos) aplicado em dobro ao agente.

Ex.: meningite, sarampo, gripe, febre amarela;

Faz-se necessário que a conduta provoque epidemia, ou seja, surto de uma doença que atinja grande número de pessoas em determinado local ou região.

O crime pode ser praticado por qualquer meio: contaminação do ar, da agua, transmissão direta etc.

• Inciso VII, B – Falsificação, adulteração de produtos farmacêuticos e medicinais – (art. 273, § 1º, § 1-A, § 1-B do CP).

O art. 273, caput, pune o falsificador do produto terapêutico ou medicinal. A pena é de 10 a 15 anos.

O parágrafo 1º pune aquele que guarda, expõe a venda, vende produto já falsificado. A pena é a mesma, 10 a 15 anos.

O parágrafo 1º-A abrange como objeto material outros produtos, como por ex., cosméticos e saneantes.

Obs.: quanto aos cosméticos, trata-se apenas daqueles com finalidade terapêutica ou medicinal (se um batom for de finalidade terapêutica, incidirá neste parágrafo). Saneante abrange os produtos de limpeza.

O parágrafo 1º-B pune quem comercializa produto com infração às regras administrativas. A pena será a mesma, 10 a 15 anos – infringe o princípio da intervenção mínima (o Direito Administrativo poderia cuidar) – entendimento jurisprudencial.

• Inciso VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014

• Parágrafo Único: Genocídio – (art. 1º, 2º; 3º, da lei 2889/89);

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3. CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS, OU CRIMES HEDIONDOS POR EQUIPARAÇÃO

A Constituição elencou os crimes equiparados a hediondos, que serão tratados com o mesmo rigor:

a) Tráfico de Drogas – Lei 11.343/06

b) Tortura – Lei 9.455/97

c) Terrorismo – Lei 13.260/16

Obs.: Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o chamado tráfico privilegiado, no qual as penas podem ser reduzidas, conforme o artigo 33, parágrafo 4º, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime de natureza hedionda. A discussão ocorreu no julgamento do Habeas Corpus (HC) 11.8533, que foi deferido por maioria dos votos.

Importante destacar que o STJ entende que a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas, conforme enunciado da súmula 512, STJ.

4. VEDAÇÕES AOS CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS

Eles são tanto para os crimes hediondos, como para os crimes equiparados a hediondo (art. 2º da lei).

a) Insuscetíveis de anistia, graça e indulto.

O art. 5º, XLIII, da CF – não diz ser insuscetível de indulto. A lei 8072/90 arrola também a insuscetibilidade do indulto

Constitucional ou não?

1ª corrente – a vedação do indulto é inconstitucional – as vedações constitucionais seriam máximas, não podendo o legislador ordinário suplantá-las. Eles questionam que, se não se pode aumentar as prisões civis que estão na CF, não se poderia também acrescentar mais uma causa de proibição de aplicação aos crimes hediondos – Luís Flavio Gomes, Alberto Silva Franco.

2ª corrente – as vedações constitucionais são mínimas (A CF deu o poder ao legislador ordinário de aumentar tal rol). O indulto é uma graça coletiva; logo estaria já abrangido – posição do STF.

O indulto não respeita fatos pretéritos – posição do Supremo Tribunal federal – Recurso Habeas Corpus 84572/RJ. Neste recurso, o STF entendeu constitucional a vedação do indulto para crimes hediondos, até mesmo para os crimes praticados anteriormente à sua vigência (da lei 8.072/90) – deve-se analisar a natureza do crime no momento da execução.

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b) Inafiançável.

Antes da lei 11.464/2007, o art. 2º, II, vedava fiança e liberdade provisória. Com o advento desta lei, veda-se apenas a fiança (aboliu a vedação da liberdade provisória). Há dúvida ainda quanto à aplicação da liberdade provisória aos crimes hediondos:

Questão até pouco tempo tormentosa versava sobre a possibilidade ou não da concessão de liberdade provisória diante de crimes em que se vedava a fiança (como ocorre nos crimes hediondos e equiparados). Todavia, atualmente, o STF posiciona-se pela possibilidade da concessão de liberdade provisória, pautando-se nos seguintes fundamentos – Habeas Corpus 104339:

1. É possível liberdade provisória para crime hediondo, pois quem deve avaliar a possibilidade ou não de liberdade provisória é o juiz no caso concreto. Sendo assim, a vedação à liberdade provisória é inconstitucional, afrontando a individualização da pena e separação dos poderes.

2. Vedar a liberdade provisória por lei caracteriza antecipação de pena;

3. A proibição de concessão de liberdade provisória estabelece um tipo de regime de prisão preventiva obrigatória, na medida em que torna a prisão a regra e a liberdade a exceção. A CF/88, contudo, prevê que a liberdade é a regra e a necessidade da prisão precisa ser devidamente fundamentada.

Outrossim, por oportuno, importante destacar que a corrente minoritária afirma que não é possível liberdade provisória para crime hediondo, porque a vedação está implícita na inafiançabilidade (Min. Ellen Gracie).

Isto posto, para a corrente prevalente hoje, é cabível a liberdade provisória em sede de crimes hediondos, porém sem a exigência de fiança. Em questões subjetivas, principalmente para Defensoria Pública (caso alguém venha a prestar), é prudente citar os dois entendimentos.

5. CUMPRIMENTO DE PENA E PROGRESSÃO DE REGIME

A lei 11.464/2007 modificou a redação do parágrafo 1º e 2º do art. 2º da lei. Antes o regime deveria ser integral fechado (proibia-se a progressão de regimes). Agora a lei determina o cumprimento inicial fechado, permitindo a progressão de regime – cumprimento de 2/5 da pena se primário ou 3/5 se reincidente, não necessariamente especifico.

Todavia, o STF já havia declarado inconstitucional à vedação de progressão de regimes, antes mesmo do advento desta lei de 2007, admitindo a progressão de regimes através do cumprimento de 1/6 da pena – a Lei 11.464/2007 só tem aplicação para os fatos futuros – lei posterior maléfica ao réu, pois exige uma fração maior do que a que vinha se aceitando, conforme pode verificar no julgado a seguir:

"Ementa: Pena – Regime de cumprimento – Definição. O regime de cumprimento da pena é norteado, considerada a proteção do condenado, pela lei em vigor na data em que implementada a prática delituosa. Pena – Regime de cumprimento – Progressão – Fator temporal. A Lei nº 11.464/07, que majorou o tempo necessário a progredir-se no cumprimento

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da pena, não se aplica a situações jurídicas que retratem crime cometido em momento anterior à respectiva vigência – precedentes.'" (RE 579167, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgamento em 16.5.2013, DJe de 17.10.2013, com repercussão geral – tema 59)

Obs.: O STF considerou inconstitucional a obrigatoriedade do início de cumprimento de pena em regime fechado para os crimes hediondos e assemelhados, prevista no Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90, por violar os Princípios da Individualização da Pena e da proporcionalidade como consta nos julgados a seguir:

"Entendo que, se a Constituição Federal menciona que a lei regulará a individualização da pena, é natural que ela exista. Do mesmo modo, os critérios para a fixação do regime prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. Deixo consignado, já de início, que tais circunstâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação das condições subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33 c/c o art. 59 do Código Penal.A progressão de regime, ademais, quando se cuida de crime hediondo ou equiparado, também se dá em lapso temporal mais dilatado (Lei nº 8.072/90, art. 2º, § 2º). (...) Feitas essas considerações, penso que deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos previstos no art. 33, §§ 2º, b, e 3º, do CP, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fechado. Nessa conformidade, tendo em vista a declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, na parte em que impõe a obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento da pena aos condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados, concedo a ordem para alterar o regime inicial de cumprimento das reprimenda impostas ao paciente para o semiaberto." (HC 111840, Relator Ministro Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgamento em 27.6.2012, DJe de 17.12.2013).

"4. A Corte Constitucional, no julgamento do HC no 111.840/ES, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, removeu o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual determinava que '[a] pena por crime previsto nes[s]e artigo será cumprida inicialmente em regime fechado', declarando, de forma incidental, a inconstitucionalidade da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para o inicio do cumprimento de pena decorrente da condenação por crime hediondo ou equiparado. 5. Esse entendimento abriu passagem para que a fixação do regime prisional – mesmo nos casos de trafico ilícito de entorpecentes ou de outros crimes hediondos e equiparados – seja devidamente fundamentada, como ocorre nos demais delitos dispostos no ordenamento. 6. No caso, as instâncias ordinárias indicaram elementos concretos e individualizados aptos a demonstrar a necessidade da prisão do paciente em regime fechado, impondo-lhe o regime mais severo mediante fundamentação adequada, nos termos do que dispõe o art. 33, caput e parágrafos, do CP." (HC 119167, Relator Ministro Dias Toffoli, Primeira Turma, julgamento em 26.11.2013, DJe de 16.12.2013).

"O STF já teve a oportunidade, por ocasião da análise do julgamento do HC nº 82.959/SP, rel. Min. Marco Aurélio, Dje 1º.9.2006, de declarar, incidenter tantum, a inconstitucionalidade da antiga redação do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90, a qual determinava que os condenados por crimes hediondos ou a eles equiparados deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado. Naquele caso, ficou assentado que essa imposição contraria o princípio constitucional

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da individualização da pena (CF, art. 5º, XLVI). Pois bem. Sobreveio a Lei nº 11.464/2007 que, ao promover mudanças no já mencionado art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90, determinou que a pena agora fosse cumprida no regime inicial fechado. É aqui que faço uma indagação: Esse dispositivo, em sua nova redação, não continuaria a violar o princípio constitucional da individualização da pena? Essa discussão, inclusive, já vem sendo alvo de debates nas instâncias inferiores e nesta Suprema Corte. No ponto, destaco, ainda, à guisa de ilustração, julgado recente proferido pelo próprio STJ que, ao analisar o HC nº 149.807/SP lá impetrado, concluiu pela inconstitucionalidade desse dispositivo, ao fundamento de que, a despeito das modificações preconizadas pela Lei 11.464/2007, persistiria ainda a ofensa ao princípio constitucional da individualização da pena e, também, da proporcionalidade. No caso concreto, com fundamento nessas considerações, entendo que o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início do cumprimento de pena no regime fechado) há de ser superado. É que o paciente preenche os requisitos previstos no art. 33, § 2º, c, do CP, para o início do cumprimento de pena no regime aberto." (HC 106153, Relator Ministro Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgamento em 22.11.2011, DJe de 19.12.2011).

6. DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE

Em caso de sentença condenatória não definitiva, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. Na verdade, é necessário avaliar a existência ou inexistência dos requisitos da prisão preventiva previstos nos artigos 311 e seguintes do CPP.

7. PRISÃO TEMPORÁRIA

A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes hediondos ou equiparados, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

8. LIVRAMENTO CONDICIONAL

Art. 83 do CP. É uma liberdade antecipada da execução. Se o agente é primário (não reincidente) e com bons antecedentes, deverá cumprir 1/3 da pena; se ele é reincidente, deverá cumprir 1/2 da pena; se ele for autor de crime hediondo ou equiparado, deverá cumprir 2/3 da pena, desde que não reincidente específico.

Quanto ao primário de maus antecedentes:

1ª corrente – entende que se deve aplicar analogia in bonam partem.

2ª corrente – entende que deve ser cumprida 1/2 da pena (como se fosse reincidente). A 1ª corrente é a que prevalece.

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Obs.: o que é reincidente específico?

1ª corrente – é aquele que pratica dois crimes hediondos ou equiparados do mesmo tipo penal (ex.: condenado por estupro e praticando outro estupro, não terá direito ao livramento condicional);

2ª corrente – é aquele que pratica crime hediondo ou equiparado, ofendendo um mesmo bem jurídico (ex.: condenado por estupro e depois atentado violento ao pudor – não terá direito ao livramento condicional);

3ª corrente – aquele que pratica crime hediondo ou equiparado, qualquer que seja ele (ex.: condenado por latrocínio e praticou estupro, não terá direito ao livramento condicional) – é a corrente que prevalece.

Obs.: quanto à progressão de regimes, não se exige ser reincidente específico para não se beneficiar deste instituto, apenas a reincidência normal.

9. CRIME DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no artigo 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.

A pena do art. 288 do CP passa a ser de 3 a 6 anos se a associação visar à prática de crime hediondo ou equiparado.

Lei 11.343/2006, o art. 35 que traz o crime de “associação” para o tráfico, com pena (3 a 10 anos). Assim, quanto ao tráfico, não se aplica o art. 8º da Lei 8072/90, e sim a Lei de Drogas.

Obs.: no art. 35 da lei de drogas, basta a união de duas pessoas para configurar o crime, sendo lei mais gravosa.

10. TRAIÇÃO BENÉFICA, DELAÇÃO PREMIADA OU COLABORAÇÃO PREMIADA

O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

Para ter direito ao benefício, a denúncia tem que ser eficaz, ocorrendo o desmantelamento da quadrilha ou bando.

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LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE – LEI 4.898/65

1. RESPONSABILIDADES

A Lei de Abuso de Autoridade regulamenta as três responsabilidades. Assim, ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização. (art. 1º da Lei 4.898/65)

a) Administrativa;

b) Civil;

c) Penal.

Art. 1º da Lei 4.898/65 – O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente Lei.

2. RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA

A Administração pública possui mecanismos internos aptos a punir o funcionário publico em geral. Tal poder punitivo decorre dos poderes hierárquico e disciplinar. Não se deve confundir o poder disciplinar da Administração com o poder punitivo do Estado, realizado através da justiça penal.

O servidor público que com sua conduta violar norma administrativa e penal, sofrerá sanção nas duas esferas, sendo que uma não exclui a outra.

A lei de abuso de autoridade prevê como penalidades administrativas ao servidor que comete crime de abuso:

a) advertência;

b) repreensão;

c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens;

d) destituição de função;

e) demissão;

f) demissão, a bem do serviço público.

Art. 6º da Lei 4.898/65 – O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.

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§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e consistirá em:

a) advertência;

b) repreensão;

c) suspensão do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda de vencimentos e vantagens;

d) destituição de função;

e) demissão;

f) demissão, a bem do serviço público.

Art. 7º Recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou militar competente determinará a instauração de inquérito para apurar o fato.

§ 1º O inquérito administrativo (inquérito administrativo, leia-se à processo administrativo) obedecerá às normas estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.

3. RESPONSABILIDADE CIVIL

Consiste no pagamento de uma importância em dinheiro, em razão do dano moral e material sofrido pela vitima do abuso. O agente responsável pelo abuso fica obrigado a reparar o dano civil decorrente do seu ato ilícito.

Se o ofendido preferir, não será necessário aguardar o trânsito em julgado, para ingressar na busca de ressarcir seu prejuízo, podendo ser ajuizada ação civil “ex delicto”, que no caso será ajuizada em desfavor do Estado, já que o artigo 37 § 6º da Constituição Federal traz a responsabilidade objetiva do Estado pelos atos ilícitos praticados por seus agentes, nessa qualidade.

A prefixação do valor indenizatório, em face da desvalorização da moeda, tornou-se letra morta.

Art. 6º da Lei 4.898/65 – O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.

§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.

4. RESPONSABILIDADE PENAL

O agente condenado por crime de abuso de autoridade responde pelo crime com as seguintes penas:

a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

b) detenção por dez dias a seis meses;

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c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.

Tais penais podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente (aplica uma, duas ou as três).

Quanto a pena de multa, com o advento da reforma da Parte Geral do Código Penal em 1984, foi revogado o sistema anterior de penas de multa. Todas as penas pecuniárias com valor expressos em cruzeiros, cruzados ou qualquer outra unidade monetária tiveram esses valores suprimidos.

Quanto à perda ou inabilitação par ao exercício de função pública, não se trata de efeito automático, deve ser aplicada na sentença de forma motivada, diferente da lei de tortura onde a perda do cargo é efeito automático da condenação.

Na Lei de abuso de autoridade há a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública pelo prazo de até 3 anos. Na lei de tortura, a inabilitação para o exercício de função pública é aplicada pelo dobro do prazo aplicado na pena de prisão (5 anos de reclusão – 10 anos de inabilitação para a função pública).

Tendo em vista que a pena máxima de reclusão prevista o crime é de 6 (seis) meses, os crimes desta lei são infrações penais de menor potencial ofensivo, sando da competência dos juizados especiais criminais, segundo o artigo 98, I, CF/88 e artigo 61, da Lei 9.099/95.

Art. 6º da Lei 4.898/65 – O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal.

§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em:

a) multa de cem a cinco mil cruzeiros;

b) detenção por dez dias a seis meses;

c) perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.

§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.

§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.

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5. SUJEITOS DO CRIME

5.1 Sujeito ativo

Tais crimes são próprios (crimes funcionais). Ou seja, exige uma condição especial do sujeito ativo (ser funcionário público).

Qualquer agente público no exercício de suas funções ou qualquer pessoa que exerça uma função pública seja ou não integrante da administração pública. Art. 5º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade.

Mesmo conceito de funcionário público para fins penais (art. 327, CP).

Obs.: Encontra-se no conceito de autoridade pública também as pessoas que não integram a administração pública, mas que exerçam uma função pública, mesmo que transitório e sem remuneração (p. ex.: mesário eleitoral, jurado).

Obs.: Não está incluído no conceito de autoridade pessoas que exercem múnus público (encargo imposto pela lei ou pelo juiz para defesa de interesse particular ou social – p. ex.: depositário judicial, administrador de falência, advogado, tutores dativos, curadores dativos).

Obs.: Particular que não exerça nenhuma função pública pode cometer abuso de autoridade, desde que pratique em coautoria ou participação com autoridade pública (e tenha conhecimento).

Ex.: policial agredindo uma pessoa, auxiliado pelo pipoqueiro.

Art. 5º, da Lei 4.898/65 – Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração.

5.2 Sujeito passivo

Tem dupla subjetividade passiva (tem dois sujeitos passivos).

a) Sujeito passivo imediato ou principal: é a pessoa física ou jurídica que sofre a conduta abusiva.

Qualquer pessoa física capaz ou incapaz, nacional ou estrangeira pode ser sujeito passivo.

No caso de vítima criança ou adolescente pode configurar crime do ECA.

Autoridade pública pode ser vítima de abuso de autoridade (praticado por outra autoridade).

Também podem ser sujeitos passivos, pessoas jurídicas de direito público ou privado. Art. 4º, L. 4.898/65 – Lei de Abuso de Autoridade.

b) Sujeito passivo mediato ou secundário: é o Estado. Todo ato de abuso de autoridade prejudica a regular prestação dos serviços públicos.

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6. ELEMENTO SUBJETIVO

Só o dolo. Não se pune a forma culposa do abuso de autoridade. Autoridade, por culpa, excede os limites de sua atuação (abusa culposamente) não haverá crime de abuso de autoridade, mas existe o ato de abuso de autoridade.

7. AÇÃO PENAL

Da simples leitura do artigo 1º da lei de abuso de autoridade, pode-se pensar que este crime se procede mediante representação (ação publica condicionada a representação), no entanto a representação a que se refere à lei não é condição de procedibilidade das ações publicas condicionadas, mas mero direito de informar as autoridades competentes sobre o crime.

Portanto os crimes da lei 4.898/65 são de ação pública incondicionada.

Art. 1º, da Lei 4.898/65 – O direito de representação e o processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.

8. COMPETÊNCIA

O crime de abuso de autoridade é comum, em regra, é de competência da justiça comum estadual. Se o crime atingir bens, interesses ou serviços da União serão da competência da Justiça Federal.

Tratam-se de crimes de menor potencial ofensivo da competência do JECRIM Estadual ou Federal.

Obs.: Abuso de autoridade praticado por militar será julgado pelo JECRIM estadual ou federal. Não é de competência da justiça militar (súm. 172 do STJ). Pois não é crime militar, é crime comum.

Súmula: 172 do STJ. Compete a justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.

9. CONCURSO DE CRIMES

O STF reconheceu a possibilidade de concurso de crimes entre lesão corporal e abuso, e entre violação de domicílio e abuso. (HC. 92.912, STF).

O STJ reconheceu o concurso de crimes: abuso de autoridade (Justiça Comum)+ lesão corporal (Justiça Militar) + violação de domicilio (Justiça Militar) (separação dos processos, competências diversas). (HC. 81.752, STJ).

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Também é possível o concurso de crime contra a honra e abuso de autoridade (Resp. 684.532, STJ).

10. ARTIGO 3º DA LEI 4.898/65

Segundo o artigo 3º da lei de abuso de autoridade, qualquer atentado aos direitos e garantias fundamentais de 1º geração nele elencados.

Esse tipo penal não admite a tentativa, tendo em vista, que o mero atentado já configura crime consumado.

10.1 Atentado à liberdade de locomoção

Art. 5º XV, CF/88 – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens

Ex: policial militar manda cidadão de bem sair de uma praça pelo simples fato de estar mal vestido.

Os atos decorrentes do poder de polícia estatal como são auto executáveis (não dependem de ordem judicial) não configuram abuso de autoridade se justificados. (Exercício do poder de polícia legítimo do Estado – NUCCI).

Ébrios e doentes mentais, eles podem ser retirados de determinados locais e retidos em órgãos públicos (p. ex.: hospital) ou encaminhados para suas casas, desde que estejam perturbando a ordem pública ou colocando em perigo a segurança própria ou alheia.

10.2 Atentado à inviolabilidade de domicilio

Art. 5º XI, CF/88 – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

Ex.: executar busca e apreensão durante a noite e sem o consentimento do morador, mesmo que munido do mandado.

Domicílio: é qualquer local não aberto ao público que seja utilizado para o trabalho ou para moradia, ainda que momentânea.

Estão dentro de conceito de domicilio o trailer, escritório, cortiço, quarto de hotel, motel, etc.

10.3 Atentado ao sigilo da correspondência

Art. 5º XII, CF/88 – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

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Violar o sigilo das correspondências e das comunicações constitui crime de abuso de autoridade. Existem hipóteses em que o legislador pode limitar o direito ao sigilo, em atendimento a imperioso interesse público. Vejamos os exemplos:

• Durante a busca e apreensão domiciliar. (art. 250, CPP)

• A correspondência do preso (art. 41, LEP)

Obs.: somente ocorre crime a violação da correspondência fechada, pois a aberta não é considerada sigilosa.

Obs.: a lei de abuso de autoridade revogou o artigo 151 do CP (violação de correspondência), quando o agente for funcionário público, restando ainda o enquadramento quanto ao particular.

10.4 Atentado a liberdade de crença

Art. 5º VI, CF/88 – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

A liberdade de crença é protegida pela norma constitucional, constituindo abuso qualquer atentado contra esta.

Mas o agente que no regular exercício de sua função (estrito cumprimento do dever legal), dissolve culto religioso, por estar este perturbando com barulhos excessivos não comete ilícito.

10.5 Atentado a liberdade de associação e a liberdade de reunião

Art. 5º XVII, CF/88 – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar.

Art. 5º XVI, CF/88 – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

Associação é a reunião estável e permanente, enquanto a reunião é o agrupamento voluntario de pessoas sem fim permanente.

A CF diz que as associações podem ser criadas livremente, sem autorização do poder público.

A CF veda apenas dois tipos de associações: com fins ilícitos e as com caráter paramilitar.

Garante-se, o direito de reunião desde que seja pacífica, sem armas, seja em locais público desde que não prejudique uma outra reunião anteriormente marcada para o mesmo local.

Obs.: Não precisa de autorização para fazer a reunião, mas precisa avisar a autoridade pública (pré-aviso).

Se a reunião foi feita de forma legal, atendendo aos requisitos constitucionais, a interferência na reunião é abuso de autoridade.

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Não pode a reunião estar sendo realizada de forma desordeira ou violenta, ex.: passeata armada, reunião com agressões etc.

Não pode uma reunião atrapalhar outra reunião já marcada para aquele local.

10.6 Atentado ao direitos e garantias legais assegurados ao voto

Art. 1º Parágrafo único, CF/88 – Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 14, CF/88 – A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei.

10.7 Atentado à incolumidade física do individuo

Pode ser até uma vias de fato, como até uma tentativa de homicídio.

Obs: E a incolumidade psíquica? R.: Prevalece o entendimento de que sim! Incolumidade física é o que atinge o indivíduo em si (psicologicamente ou fisicamente).

Não se trata de analogia in malam partem ou interpretação extensiva em desfavor do réu.

Obs.: E se a vítima sofre lesões haverá concurso formal de crimes (lesão corporal (ou homicídio) + abuso de autoridade).

Tal perigo à incolumidade física do indivíduo não é absorvido pelo homicídio ou lesão corporal.

Mas, se o abuso de autoridade caracterizar tortura, prevalece o entendimento de que ele ficará absorvido pelo o crime de tortura.

10.8 Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício da profissão

Art. 5º XIII, CF/88 – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Trata-se de norma penal em branco – o direito ou garantia profissional deve estar previsto em outra lei.

Ex.: violar os direitos do advogado (com intuito de abusar) – são garantidos pelo o art. 7º do EOAB.

11. ARTIGO 4º DA LEI 4.898/65

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

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a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei;

c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;

d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;

e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;

f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie, quer quanto ao seu valor;

g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;

i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.

a) Ordenar ou executar medidas privativas de liberdade sem as formalidades legais ou com abuso de poder.

Esta alínea a revogou tacitamente o art. 350, caput, do CP (apenas o caput; o resto do artigo continua em vigor, como já aqui visto).

Ex.1: sem as formalidades legais – manter alguém preso sem lavrar o auto de prisão em flagrante.

Ex.2: com abuso de poder – cumprir mandado de prisão algemando desnecessariamente

Súmula vinculante nº 11

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Obs.: Muitas das condutas previstas na Lei de abuso de autoridade, quando praticadas contra criança e adolescente, caracterizam crime previsto no ECA. Assim, se a vítima for criança ou adolescente, apreendida ilegalmente, caracteriza o art. 230 do ECA.

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Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:

Pena – detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.

b) Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei.

O autor deste crime só pode ser a autoridade que tenha a guarda ou a custódia da vítima.

Vítima pode ser qualquer pessoa, e não apenas o preso.

Fala-se de guarda e custódia de maneira genérica, ex.: pessoa que esteja cumprindo medida de segurança, pessoa que foi à Delegacia prestar testemunho e lá está sob custódia da autoridade policial etc. Submeter a pessoa a vexame ou constrangimento não autorizado em lei:

Ex.: impedir o preso, sem justa causa, de receber visitas; expor o preso na mídia sem o seu consentimento.

Se o vexame ou o constrangimento for legal, não haverá crime.

Ex.: suspender direito de visita do preso por justo motivo.

Obs.: Se esta conduta for praticada contra criança ou adolescente, o crime será o do art. 232 do ECA.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:

Pena – detenção de seis meses a dois anos.

c) Deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa.

A CF diz que a prisão precisa ser comunicada aos familiares ou pessoa de interesse do preso, imediatamente.

Art. 5º, LXII, da CF – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

O crime de abuso de autoridade só existe se a prisão não for comunicada ao juiz. Deixar de comunicar a família do preso ou a pessoa por ele indicada não é crime de abuso de autoridade.

Obs.2: Se a vítima for criança ou adolescente, o crime será o art. 231 do ECA.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:

Pena – detenção de seis meses a dois anos.

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d) Deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada.

O Delegado comunica o juiz quanto à prisão ilegal e este a mantém, deixando de relaxá-la caracteriza o crime em estudo.

A palavra “juiz” entende-se: juiz, desembargador, Ministro de Tribunal Superior, ou seja, qualquer magistrado.

Se a vítima for criança ou adolescente, o crime será o do art. 234 do ECA.

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:

Pena – detenção de seis meses a dois anos.

e) Prender ou deter quem quer se que proponha a prestar fiança permitida em lei.

f) Cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor.

g) Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal.

Deve lesar a honra ou patrimônio de pessoa física ou jurídica de forma ilegal. Se a lesão à pessoa for de forma legal, não haverá crime (interdição do estabelecimento comercial pela vigilância sanitária pois não cumpriu as regras básicas de saúde).

h) Prolongar a execução de prisão temporária ou de pena ou medida de segurança:

A Lei 7960/89 de Prisão temporária traz prazo de 5 dias prorrogável por mais 5 dias nos crimes comuns e de 30 dias prorrogável por mais 30 dias nos crimes hediondos e equiparados. Decorrido o prazo da prisão, a lei estipula que a autoridade policial deve soltar o preso, independentemente de alvará de soltura.

Tal prolongamento pode decorrer por deixar de expedir ordem de soltura ou por deixar de cumprir ordem de soltura.

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LEI DE TORTURA – LEI 9.455/97

1. HISTÓRICO (TORTURA)

Antes da 2ª guerra não havia preocupação específica sobre a tortura. As legislações mundiais, em princípio, ignoravam o tema. Após a 2ª guerra começou um movimento de repúdio à tortura. Inúmeros tratados foram aprovados, alguns foram ratificados pelo Brasil, garantindo o cidadão contra a tortura.

Somente com a CF de 1988, no art. 5º, III, é que o Brasil garante expressamente o cidadão contra a tortura. É uma das únicas garantias absolutas (nem o direito à vida é absoluto).

Art. 5º, CF/88 – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.

Antes, a tortura era punida como lesão corporal, homicídio; não havia um tipo penal específico punindo a tortura. Com a Lei 8069/90 – ECA, adveio a figura da punição da tortura à criança e ao adolescente – art. 233. Em 1997 adveio a Lei 9.455, tratando especificamente do crime de tortura, revogando o art. 233 do ECA. Agora a tortura é punida contra qualquer pessoa, seja criança, adolescente, maior de idade etc.

2. CRIME PRÓPRIO OU COMUM?

Os tratados internacionais, quando falam da tortura, tratam-na como crime próprio. O Brasil, quando resolveu disciplinar a tortura, disse ser crime comum.

Poderia o legislador infraconstitucional brasileiro dizer ser crime comum? Quando lei infraconstitucional conflitar com tratado internacional, deve-se aplicar o princípio do pro homine – prevalece o dispositivo que mais garanta direitos individuais (direitos humanos). No nosso caso, a nossa lei de tortura garante mais direitos do que os tratados internacionais ratificados por nosso país.

3. PRESCRIÇÃO DA TORTURA

Casos de imprescritibilidade: I – racismo e, II – ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Como o legislador silenciou-se em relação a tortura, logo ela prescreve.

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Art. 5º, XLII, CF/88 – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Art. 5º XLIV, CF/88 – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

1ª Corrente: considerando que a CF/88 rotulou a tortura como um delito prescritível; considerando que os tratados internacionais qualificam a tortura como um delito imprescritível, considerando que os tratados são infraconstitucionais, pois não ratificados com quórum de emenda. Conclusão: a tortura prescreve posição do STF (declaração de constitucionalidade da lei de anistia).

O Ministro Gilmar Mendes (STF) diz que tal garantia faz com que surja a eternização do direito de punir do Estado. Os direitos humanos limitam o direito de punir do Estado – assim, a CF e a lei ordinária devem prevalecer sobre os tratados.

2ª Corrente: considerando que no conflito entre a CF/88 e os tratados internacionais de direitos humanos deve prevalecer a norma que melhor atende garantias fundamentais do cidadão (o princípio do pro homine). Conclusão: a tortura é imprescritível. Posição da Corte Interamericana de direitos Humanos.

4. ESTUDO DO ARTIGO 1º, I, LEI 9.455/97

Art. 1º Constitui crime de tortura:

I – Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

Pena – reclusão, de dois a oito anos.

4.1 Objeto Jurídico

Integridade corporal e a saúde física e psicológica da pessoa.

4.2 Sujeito Ativo

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.

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4.3 Sujeito Passivo

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum quanto ao sujeito passivo.

4.4 Conduta

Constranger mediante violência ou grave ameaça. Constranger: forçar, coagir ou compelir.

4.5 Resultado

Causando sofrimento físico e mental.

4.6 Finalidade especifica

a) Obter informação, declaração ou confissão da vitima ou de terceira pessoa (Tortura-prova):

Ex.: policial que constrange a pessoa para confessar crime, ou a dizer onde escondeu objetos do crime.

Ex.: agente que constrange outro a dizer a senha do cartão, confessar divida, etc.

b) Provocar ação ou omissão de natureza criminosa (Tortura-crime):

Ex.: constranger alguém a roubar, constranger alguém a matar, constranger alguém a não prestar socorro.

Obs.: só haverá tortura quando se buscar a prática de crime, e não contravenção penal – é o que predomina.

Obs.: o torturador responde pelo crime de tortura mais o crime praticado pelo torturado (autoria mediata), em concurso material. O torturado está, sob coação irresistível (inexigível conduta diversa), logo não será penalizado.

c) Em razão de discriminação racial ou religiosa. (Tortura-racial)

Ex.: o torturado constrange um negro, proibindo-o de entrar num restaurante. Nesse caso existirá concurso formal imperfeito entre a tortura e o racismo da lei 7.716/89.

Obs.: na tortura-racial existe quando a discriminação é racial ou religiosa (sexual, econômica ou social, não gera o crime de tortura).

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5. ESTUDO DO ARTIGO 1º, II, LEI 9.455/97

II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena – reclusão, de dois a oito anos.

5.1 Objeto Jurídico

Integridade corporal e a saúde física e psicológica da pessoa.

5.2 Sujeito Ativo

Quem exerce guarda poder ou autoridade. Trata-se de crime próprio, exige-se qualidade especial do sujeito ativo.

5.3 Sujeito Passivo

A pessoa que esta sob a guarda poder ou autoridade. Trata-se de crime próprio, exige-se qualidade especial do sujeito passivo.

Obs.: quando o tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo e do sujeito passivo, ele é chamado de BI-PRÓPRIO.

5.4 Conduta

Submeter com emprego violência ou grave ameaça. Submeter: reduzir a obediência, sujeitar, subjugar.

5.5 Resultado

Causando intenso sofrimento físico e mental.

5.6 Finalidade especifica

a) Aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. (Tortura-castigo):

1º – O crime se consuma independentemente se o sujeito ativo conseguiu aplicar o castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

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2º – No crime de maus-tratos, o sofrimento não é intenso (art. 136, CP). É o que diferencia do crime de tortura – elementar “intenso”.

Ex.: casos de babás que maltratam os filhos de suas patroas ou enfermeiras que maltratam, intensamente, idosos no asilo.

Ex.: Policial militar que auxilia polícia civil na contenção de rebelião em estabelecimento prisional durante a operação, detém, legitimamente, guarda poder ou autoridade sobre os detentos, podendo, nesta condição, responder por crime do art. 1º, II, da Lei de tortura – STJ – HC 50.095.

6. ESTUDO DO ARTIGO 1º, § 1º, LEI 9.455/97 (LEI DE TORTURA)

Art. 1º, § 1º, Lei nº 9.455/97 – Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

6.1 Objeto Jurídico

Integridade corporal e a saúde física e psicológica da pessoa.

6.2 Sujeito Ativo

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, não exige-se qualidade especial do sujeito ativo.

6.3 Sujeito Passivo

A pessoa que esta presa ou sujeita a medida de segurança. Trata-se de crime próprio, exige-se qualidade especial do sujeito passivo.

Obs.: abrange qualquer espécie de prisão, definitiva ou provisória, até mesmo a prisão civil. Abrange também os menores infratores que estão detidos, internados.

6.4 Conduta

Submeter com emprego violência ou grave ameaça. Submeter: reduzir a obediência, sujeitar, subjugar.

6.5 Resultado

Causando sofrimento físico e mental.

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6.6 Finalidade especifica

Não existe fim específico, bastando que a pessoa presa ou sujeita a medida de segurança seja submetida à medida não prevista em lei.

Ex.: policial que deixa o preso pelado na rua.

Obs.: o uso da algema, fora das hipóteses autorizadas na súmula vinculante nº 11, não configura tortura sendo este constrangimento abuso de autoridade.

7. TORTURA OMISSÃO (ART. 1º, § 2º LEI Nº 9.455/97)

Art. 1º, § 2º, Lei nº 9.455/97 – Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

A pena será a metade daquele que pratica a tortura.

7.1 Omissão ao dever de evitar

A CF diz que a sanção para o omitente com dever objetivo de evitar deveria ser a mesma daquele que tortura (art. 5º, XLIII).

1ª corrente – este parágrafo 2º, primeira parte é inconstitucional – a pena do garante (dever jurídico de cuidado), deverá ser a mesma do torturador, por expressa determinação constitucional. Deveria seguir a regra do Código Penal no seu artigo 13, § 2º, adotando a teoria monista do artigo 29, do mesmo código.

2ª corrente – a pena do garante deve ser de 1 a 4 anos, pois outra pena fere o princípio da legalidade. Não pune a forma culposa, pois não há previsão legal – corrente majoritária.

Para esta última corrente, a omissão imprópria não é crime equiparado a hediondo.

7.2 Omissão ao dever de apurar

Comete o delito quem tendo o dever de apurar, ao tomar conhecimento da infração nada faz, omitindo-se.

Ex.: menina de 15 anos que foi colocada num presídio comum masculino para cumprir ato infracional.

• As autoridades que colocaram esta menina neste estabelecimento praticaram a conduta do art. 1º, parágrafo 1º, da Lei 9455/97.

• As autoridades que verificaram tal procedimento, mas nada fizeram, respondem pelo o art. 1º, parágrafo 2º, primeira parte, da mesma lei.

• Se isso foi descoberto, mas não fosse apurado, quem teria este dever, responderia pelo o art. 1º, parágrafo 2º, segunda parte, da Lei.

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8. TORTURA QUALIFICADA (ART. 1º, § 3º LEI Nº 9.455/97)

Art. 1º, § 3º Lei nº 9.455/97 – Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

8.1 Pela lesão grave

O agente quer torturar, mas por excesso de força acaba cometendo uma lesão grave, neste caso existe dolo no antecedente e culpa no consequente (preterdoloso), sendo a pena majorada para quatro a dez anos.

8.2 Pela morte

O agente quer torturar, mas por excesso de força acaba matando a vitima, neste caso existe dolo no antecedente e culpa no consequente (preterdoloso), sendo a pena majorada para oito a dezesseis anos.

Obs.: não confundir com o homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 2º, III, CP), onde o agente quer matar, mas antes ele decide usar meio cruel, empregando tortura para satisfazer seu “animus necandi”. Nesse caso a pena será de doze a trinta anos.

9. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (ART. 1º, § 4º LEI Nº 9.455/97)

Art. 1º, § 4º Lei nº 9.455/97 Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I – se o crime é cometido por agente público;

O aumento incide quando o agente atua nesta qualidade ou na razão dela.

II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;

Para incidir tal causa, o torturador deve ter conhecimento dessas circunstâncias, sob pena de responsabilidade penal objetiva.

III – se o crime é cometido mediante sequestro.

Nada se fala sobre cárcere privado, porém, está abrangido. Usa-se a expressão “sequestro” no seu sentido amplo.

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10. EFEITO EXTRAPENAL ESPECÍFICO DA CONDENAÇÃO (ART. 1º, § 5º LEI Nº 9.455/97)

Art. 1º, § 5º Lei nº 9.455/97 – A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

No art. 92, I, “a” e “b” e parágrafo único, do CP, tal efeito não é automático, depende de motivação. Na lei de tortura, tal efeito extrapenal da condenação não há nenhum alerta quanto a ser automático ou não o efeito.

1ª corrente – não é automático (aplica o parágrafo único do art. 92 por analogia) – não prevalece;

2ª corrente – na lei de tortura, o efeito é automático – STJ – considerou ser efeito automático, decidiu o STJ, no dia 2 de dezembro de 2008.

11. FIANÇA, GRAÇA E ANISTIA (ART. 1º, § 6º LEI Nº 9.455/97)

Art. 1º, § 6º Lei nº 9.455/97 – O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

A lei de tortura veda expressamente a fiança a anistia e graça, mas o entendimento prevalecente é de que ao vedar a graça esta vedando implicitamente o indulto, que nada mais do que uma modalidade de graça coletiva.

12. INÍCIO DE CUMPRIMENTO EM REGIME FECHADO (ART. 1º, § 7º LEI Nº 9.455/97)

Art. 1º, § 6º Lei nº 9.455/97 – O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

Os omitentes (art. 1º, § 2º) jamais iniciarão a pena no regime fechado. Tais penas são de detenção. Segundo o entendimento majoritário não são crimes hediondos.

13. EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL (ART. 2º, LEI Nº 9.455/97)

Art. 2º Lei nº 9.455/97 – O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Em se tratando de crime de tortura não se aplica a regras de extraterritorialidade do artigo 7º do Código Penal, somente aplicando a própria lei de tortura. Se a vitima for brasileira aplicamos a extraterritorialidade incondicionada, o Brasil se obriga a agir, mesmo que o crime seja cometido fora do país. Agora sendo a vitima de outra nacionalidade, o Brasil somente agira se o agente estiver em local sob a jurisdição brasileira.

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Dois princípios da extraterritorialidade da lei penal fundamentam este artigo:

a) princípio da defesa ou real;

b) princípio da justiça penal universal ou cosmopolita.

Crimes Sujeitos Conduta Resultado Finalidade especifica

Art. 1º, I

Sujeito ativo: comum.

Sujeito passivo: comum.

Constranger mediante

violência ou grave ameaça.

Causando sofrimento físico

e mental.

a) Obter informação.b) Provocar conduta de natureza criminosa.c) Discriminação racial ou religiosa.

Art. 1º, II

Sujeito ativo: próprio.

Sujeito passivo: próprio.

(guarda, poder, autoridade).

Submeter mediante

violência ou grave ameaça.

Intenso sofrimento físico

ou mental.Diferença do

crime de maus tratos.

(Art. 136 CP)

Aplicar castigo pessoal ou medida preventiva.

Art. 1º, § 1º

Sujeito ativo: comum.

Sujeito passivo: próprio (pessoa presa ou sujeita

a medida de segurança)

Submeter pessoa presa contrariando lei, crime de

execução livre.

Sofrimento físico ou mental.

Não tem finalidade especifica.

ESTATUTO DO DESARMAMENTO – LEI 10.826/03

1. HISTÓRICO

• Até 1997, as condutas envolvendo armas de fogo eram meras contravenções penais.

• A Lei nº 9.437/97 – Lei de Arma de Fogo – as contravenções tornaram-se crimes. No art. 10 punia posse, disparo, venda ilegal etc. Todos juntos. Havia crítica por isso, dizia que havia violação do princípio da proporcionalidade.

• O Estatuto do Desarmamento – Lei nº 10.826/03 de 23.12.03 distinguiu todos os crimes, tipificando-os cada um em tipo. Com isso observou a proporcionalidade e a individualização, porque essa acontece em 3 momentos (na fase legislativa, aplicação da pena e na sua execução). Como estatuto houve observância do princípio da individualização no momento da cominação abstrata do crime

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2. CONCEITO DE ARMA DE USO PERMITIDO E DE USO RESTRITO

Conceito de arma de fogo: engenho mecânico que cumpre com a função de lançar a distância com grande velocidade corpos pesados, chamados projéteis, utilizando a energia explosiva da pólvora.

a) Arma de uso proibido: uso proibido: a antiga designação "de uso proibido" é dada aos produtos controlados pelo Exército designados como "de uso restrito"; (Art. 3 LXXX, Dec. 3665/00).

Ex.: canhão, tanque de guerra, etc.

b) Arma de uso restrito: arma de uso restrito: arma que só pode ser utilizada pelas Forças Armadas, por algumas instituições de segurança, e por pessoas físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Exército, de acordo com legislação específica; (Art. 11, Dec. 5123/04 e Art. 3 XVIII, Dec. 3665/00).

Ex.: revolver calibre 357, pistola calibre .40, armas automáticas, armas com aparência de objetos inofensivos ( caneta-revolver, bengala-pistola).

c) Arma de uso permitido: é a arma cuja utilização é permitida por pessoas físicas ou jurídicas, de acordo com a legislação normativa do exercito. (Art. 10, Dec. 5123/04 e Art. 3 XVII, Dec. 3665/00).

Ex.: revolver calibre 38, pistola calibre 380, ou espingarda calibre 12.

3. COMPETÊNCIA NA LEI 10.826/06

STJ /STF decidiram que em regra a competência dos crimes do estatuto é da justiça estadual, salvo se atingir interesse direto da União (funcionário infrator).

Exceção: tráfico internacional de armas é crime genuinamente federal.

4. DIFERENÇA ENTRE POSSE E PORTE

4.1 A posse ocorre no interior da residência do infrator ou nas dependências dela ou no local de trabalho do qual o infrator seja o proprietário ou o responsável legal. (Art. 5º e 12 da Lei 10.826/03).

4.2 O porte ocorre em qualquer outro local que não seja residência ou local de trabalho que o dono da arma seja o proprietário.

Art. 5º Lei 10.826/03 O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

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5. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO (art. 12)

Art. 12, Lei 10.826/03 – Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa:

Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

5.1 Objeto Jurídico

A incolumidade pública, segurança coletiva.

5.2 Sujeito Ativo

Qualquer pessoa, crime comum (tese majoritária) – CAPEZ;

5.3 Sujeito Passivo

É a coletividade, porque é ela que é a titular do bem jurídico “segurança pública”. Assim, crime de posse de arma de fogo é crime vago.

5.4 Objeto Material

Arma de fogo, acessório ou munição.

Obs.: Tais objetos devem ser permitidos (o particular pode usar desse calibre caso tenha a devida permissão de possuir arma de fogo). Se for arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido, a posse configura o crime do art. 16 da mesma lei.

5.5 Elemento normativo do tipo

“Em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.

Obs.: Só é crime a posse irregular; a posse regular (com registro da arma) é fato atípico.

5.6 Resultado

Não existe resultado esperado basta ter a arma sob a posse.

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5.7 Elemento espacial do tipo penal

A posse tem que ocorrer:

a) No interior da residência do infrator ou;

b) No local de trabalho do qual ele seja o proprietário ou o responsável legal.

6. PORTE ILEGAL DE ARMA PERMITIDA (ART. 14)

Art. 14. Lei 10.826/03 – Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.

6.1 Objeto Jurídico

A incolumidade pública, segurança coletiva.

6.2 Sujeito Ativo

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, não exige-se qualidade especial do sujeito ativo.

6.3 Sujeito Passivo

É a coletividade, porque é ela que é a titular do bem jurídico “segurança pública”. Assim, crime de posse de arma de fogo é crime vago.

6.4 Objeto Material

Arma de fogo, acessório ou munição.

Obs.: Tais objetos devem ser permitidos (o particular pode usar desse calibre caso tenha a devida permissão de possuir arma de fogo). Se for arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido, a posse configura o crime do art. 16 da mesma lei.

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6.5 Elemento normativo do tipo

“Em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.

Obs.: Só é crime o porte irregular; o porte regular (com registro da arma) é fato atípico.

6.6 Resultado

Não existe resultado esperado basta estar portando arma.

6.7 Elemento espacial do tipo penal

O porte tem que ocorrer em qualquer lugar a não ser:

a) No interior da residência do infrator ou;

b) No local de trabalho do qual ele seja o proprietário ou o responsável legal.

6.8 Conduta

Trata-se de crime de conduta múltipla ou de conteúdo variado ou de tipo misto alternativo – ou seja, se praticada mais de uma conduta no mesmo contexto fático, trata-se de crime único (princípio da alternatividade).

Ex.: sujeito adquire, transporta e oculta arma de fogo responderá apenas por um crime.

6.9 Vedação a fiança

O art. 14 diz ser o crime inafiançável, salvo se a arma estiver registrada no nome do agente.

Tal parágrafo único foi declarado inconstitucional pelo STF – ADIn 3112. Ou seja, cabe fiança em qualquer caso (mesmo que a arma não esteja registrada em nome do infrator).

A fundamentação do STF foi de que a vedação da fiança fere o princípio da razoabilidade ou proporcionalidade, pois crimes de igual ou menor gravidade são afiançáveis.

Obs.1: É necessário exame pericial da arma para comprovar se ela era apta a disparar?

R.: na jurisprudência do STJ e STF o exame pericial da arma para comprovar se ela era apta a disparar é desnecessário, por se tratar de crime de perigo abstrato (STF HC 93188/RS de 03.02.2009; STJ RESP 1103293/RJ de 23.04.2009).

Obs.2: Arma de fogo desmuniciada configura crime ou não?

R.: STJ é pacífico de que arma de fogo desmuniciada é crime, haja ela ou não pronta condições de municiamento. STF – HC 93188.

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1ª turma, julgado de 03.02.2009 – entendeu que arma desmuniciada configura crime (votação unânime); HC 87819/SP.

2ª turma, julgado de 09.06.2009 – arma de fogo desmuniciada e sem condições de pronto municiamento não configura crime (informativa 550) – votação não unânime.

Obs.3: O porte apenas de munição configura crime?

R.: Existe uma tese de que o porte de munição isolado (desacompanhado de arma) não possui nenhuma lesividade, portanto, criminalizá-lo fere o princípio constitucional da ofensividade ou lesividade. Mas no STJ prevalece que porte de munição configura crime, trata-se de crime abstrato.

7. PORTE ILEGAL DE ARMA PROIBIDA (ART. 16 CAPUT)

Art. 16. Lei 10.826/03 – Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Aplica-se tudo que foi dito quanto aos crimes de posse e de porte dos arts. 12 e 14 desta lei. Há uma única diferença é que o objeto material do delito do artigo 16 é a arma é de uso proibido ou restrito.

Atentar que o art. 16 pune no mesmo tipo penal a posse e o porte.

• Se for arma permitida, posse art. 12.

• Se for arma permitida, porte art. 14.

• Se for arma proibida ou restrita posse ou porte art. 16.

8. ART. 16, PARÁGRAFO ÚNICO

Art. 16, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;

II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;

III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;

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IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado;

V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e revogou tacitamente o art. 242 do ECA

VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.

Obs.: É unânime o entendimento de que o parágrafo único constitui crime penal autônomo e independente do caput, ou seja, pode ter como objeto material arma de fogo proibida ou permitida.

Inciso I: pune a conduta de quem altera a ou suprime a marca a numeração ou qualquer identificação da arma.

Inciso II: pune a conduta de quem modifica as características da arma de fogo, tornando-a equivalente a arma de calibre superior.

Inciso III: pune a conduta de quem possuir, portar ou vender artefato explosivo ou incendiário.

Envolve granadas, dinamites etc. Se o crime deixar vestígios necessitará da perícia. O objeto material em relação aos crimes anteriores (não se fala em arma, munição ou acessório).

Inciso IV: pune a conduta de quem modifica as características da arma de fogo, tornando-a equivalente a arma de calibre superior.

Inciso V: pune a conduta de quem vende, entrega dolosamente arma, acessório ou munição a criança ou adolescente.

É indispensável que o sujeito saiba que a vítima seja criança ou adolescente. Se ele, por erro escusável, supõe que se tratava de um adulto, tratar-se-á de erro de tipo.

Obs.: O explosivo também está previsto como objeto material.

Obs.: Vender fogos de artifício à criança ou adolescente → incide no ECA

Inciso VI: pune a conduta de quem produz ou recarrega munição.

9. OMISSÃO DE CAUTELA (ART. 13, CAPUT)

Art. 13. Lei 10.826/03 – Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

9.1 Objeto Jurídico

a) Objeto jurídico imediato – é a incolumidade pública.

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b) Objeto jurídico mediato – é a vida e a integridade física do menor de 18 anos e do doente mental.

9.2 Sujeito Ativo

Só pode ser o proprietário ou possuidor da arma de fogo – ele que tem o dever de cautela na guarda da arma (trata-se de crime próprio).

9.3 Sujeito Passivo

a) Sujeito passivo primário é a coletividade.

b) Sujeito passivo secundário é o menor de 18 anos ou deficiente mental.

9.4 Objeto Material

“Arma de fogo” de uso permitido ou proibido, porque o tipo penal não especifica a espécie de arma.

9.5 Elemento normativo do tipo

“Em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.

Obs.: Só é crime o porte irregular; o porte regular (com registro da arma) é fato atípico.

9.6 Resultado

Não existe resultado esperado basta estar portando arma.

9.7 Elemento subjetivo

É punido a título de culpa (não pode ele ter a intenção da criança se apoderar da arma). Se ele tiver dolo na conduta comete o crime do artigo 16, paragrafo único, inciso V, sendo a pena de reclusão de 3 a 6 anos.

9.8 Conduta

É “deixar de observar as cautelas necessárias” – significa: quebra do dever de cuidado objetivo.

Obs.1: Não importa se o menor de 18 anos já adquiriu a maioridade civil.

Obs.2: Deixar a arma ao alcance de pessoa portadora de deficiência física é fato atípico.

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Obs.3: O tipo penal não exige nenhuma relação de parentesco entre o sujeito passivo e o sujeito ativo. Ex.: um amigo vai à casa do outro amigo e deixa a arma próximo ao filho de 15 anos do proprietário da casa.

Obs.4: Omitir a cautela em relação a acessório ou munição é fato atípico, pois o tipo penal só traz o elemento “arma de fogo”.

10. OMISSÃO DE COMUNICAÇÃO (ART. 13, PARAGRAFO ÚNICO)

Art. 13. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato.

10.1 Objeto Jurídico

a) Objeto jurídico imediato – é a incolumidade pública.

b) Objeto jurídico mediato – é o Estado que tem seu controle sobre as armas desrespeitado.

10.2 Sujeito Ativo

Proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores. (trata-se de crime próprio).

10.3 Sujeito Passivo

a) Sujeito passivo primário é a coletividade.

b) Sujeito passivo secundário o Estado (pois coloca em risco o controle de armas de fogo no Brasil).

10.4 Objeto Material

Arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou restrito, porque o tipo penal não especifica a espécie.

10.5 Resultado

Não existe resultado esperado basta deixar de comunicar.

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10.6 Elemento subjetivo

Prevalece de forma amplamente majoritário de que o crime é doloso – deve deixar de comunicar de forma proposital.

10.7 Conduta

A consumação se dá após 24 horas depois de ocorrido o fato (deve o agente comunicar neste horário o sumiço da arma) – trata-se de um crime a prazo. A doutrina faz uma correção ao artigo – deve-se ler: “24 horas depois da ciência do fato” e não “24 horas depois do fato”, como está escrito no tipo.

11. DISPARO DE ARMA DE FOGO (ART. 15)

Art. 15. Lei 10.826/03 – Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.

11.1 Objeto Jurídico

É a incolumidade pública, segurança coletiva.

11.2 Sujeito Ativo

Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, não exige-se qualidade especial do sujeito ativo.

11.3 Sujeito Passivo

É a coletividade, porque é ela que é a titular do bem jurídico “segurança pública”. Assim, crime de disparo de arma de fogo é crime vago.

11.4 Elemento espacial do tipo

O disparo tem que ocorrer em lugar habitado ou suas adjacências, em via pública ou em direção a ela.

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11.5 Elemento subjetivo

Prevalece de forma amplamente majoritário de que o crime é doloso – se o disparo ocorrer por culpa não há crime.

11.6 Conduta

“Disparar arma de fogo” ou “acionar munição” (ou seja, mesmo que não efetuado o disparo).

Obs.1: Indivíduo que efetua disparo de arma de fogo em lugar ermo (lugar vazio) pratica fato atípico.

Obs.2: Dois ou mais disparos configura crime único – a quantidade de disparos será levada em conta na dosagem da pena.

Obs.1: Trata-se de crime de perigo abstrato – para a maioria da doutrina. Assim, não é necessário que o disparo cause perigo real a alguém. Não confundir o perigo do crime com o lugar ermo!

Ex.: disparo em lugar habitado, mas não causou perigo real, pois a via pública estava vazia no momento do disparo responde pelo crime.

11.7 Consumação

Dar-se-á com o mero disparo ou com o acionamento da munição. A tentativa é possível.

12. COMERCIO ILEGAL DE ARMAS (ART. 17)

Art. 17. Lei 10.826/03 – Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

12.1 Objeto Jurídico

É a incolumidade pública, segurança coletiva.

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12.2 Sujeito Ativo

Comerciante ou industrial, legal ou clandestino, de arma de fogo, acessório ou munição (crime próprio).

12.3 Sujeito Passivo

É a coletividade, porque é ela que é a titular do bem jurídico “segurança pública”.

12.4 Objeto Material

Arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido ou restrito.

12.5 Elemento subjetivo

O crime é doloso.

12.6 Consumação

A consumação se dá com a prática de qualquer uma das condutas do tipo. A tentativa é perfeitamente possível, exceto nas modalidades que constituem crimes permanentes.

Obs.1: Este crime é habitual?

R.: Não. Ele exige a condição de comerciante ou industrial de armas, mas uma única comercialização ilegal já configura o crime.

Ex.: comerciante de armas no shopping; vende 30 armas legalmente e vende uma arma ilegalmente → já responde pelo o crime do art. 17.

Obs.2: O dono do restaurante vende sua arma para o seu cliente?

R.: Não praticou o crime do art. 17, pois ele não é comerciante do ramo de armas de fogo. Responderá pelo o art. 14 ou 16, a depender se a arma é de uso permitido ou restrito.

13. TRAFICO INTERNACIONAL DE ARMAS (ART. 18)

Art. 18. Lei 10.826/03 – Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização da autoridade competente:

Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Antes do Estatuto do Desarmamento o tráfico internacional de arma de fogo configurava o crime de contrabando.

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Pelo o princípio da especialidade, aplica-se o art. 18 da lei.

Competência para julgamento

É da Justiça Federal. O Brasil é signatário de tratados internacionais comprometendo-se a reprimir o tráfico internacional de drogas.

Obs.: Indivíduo entrou com 2 munições no bolso no território brasileiro; a defesa alegou o princípio da insignificância. O STJ não concedeu; ou seja, não se aplica o princípio da insignificância (HC 45099).

14. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (ART. 19 E 20)

Art. 19. Lei 10.826/03 – Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.

Art. 20. Lei 10.826/03 – Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei.

• Nos crimes dos arts. 17 e 18 (comércio ilegal e tráfico internacional) se a arma, acessório ou munição for de uso proibido ou restrito, a pena é aumentada da metade (Art. 19).

• Arts 14 a 18 – a pena será aumentada se praticadas por integrantes de órgãos previstos no art. 6º do ED (Art. 20).

15. VEDAÇÃO A LIBERDADE PROVISÓRIA (ART. 21)

Art. 21. Lei 10.826/03 – Os crimes previstos nos arts. 16, 17 e 18 são insuscetíveis de liberdade provisória.

O STF, por maioria de votos, declarou a inconstitucionalidade, da vedação a liberdade provisória, trazida pelo artigo 21. (DOU de 10-5-2007).