leandro -tcc v. final

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ UNIOESTE CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS CAMPUS DE FOZ DO IGUAÇU CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE EVENTOS NO ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE FURNAS SOBRE O SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL A PARTIR DE SIMULAÇÕES ELETROMECÂNICAS LEANDRO COPETTI WALTER FOZ DO IGUAÇU - PR 2011

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Page 1: Leandro -TCC v. Final

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE

CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS

CAMPUS DE FOZ DO IGUAÇU

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE EVENTOS NO ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE

FURNAS SOBRE O SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL A PARTIR DE

SIMULAÇÕES ELETROMECÂNICAS

LEANDRO COPETTI WALTER

FOZ DO IGUAÇU - PR

2011

Page 2: Leandro -TCC v. Final

LEANDRO COPETTI WALTER

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE EVENTOS NO ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE

FURNAS SOBRE O SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL A PARTIR DE

SIMULAÇÕES ELETROMECÂNICAS

Relatório de estágio apresentado ao Curso de

Engenharia Elétrica da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná, como parte dos requisitos para

obtenção do título de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. M. Eng. Jonas Roberto Pesente

Supervisor Técnico: Luiz Ricardo Sanches Colman

FOZ DO IGUAÇU

2011

Page 3: Leandro -TCC v. Final

LEANDRO COPETTI WALTER

AVALIAÇÃO DO IMPACTO DE EVENTOS NO ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE

FURNAS SOBRE O SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL A PARTIR DE

SIMULAÇÕES ELETROMECÂNICAS

Relatório de estágio apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual

do Oeste do Paraná, aprovado pela comissão julgadora:

_____________________________________________________

Docente Supervisor de Estágio: Prof. M. Eng. Jonas Roberto Pesente

Professor da UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu

_____________________________________________________

Prof. M.Sc. Robson Almir de Oliveira

Professor da UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu

Divisão de Estudos Elétricos e Normas – ITAIPU BINACIONAL

____________________________________________________

Eng. Jorge Luiz Jacopetti e Silva

Engenheiro do ITAI – Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação

____________________________________________________

Prof. Dr. Elídio de Carvalho Lobão

Coord. de Estágio Supervisionado do Curso de Engenharia Elétrica

UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu

Foz do Iguaçu, Outubro de 2011

Page 4: Leandro -TCC v. Final

iii

DEDICO ESTE TRABALHO

Este trabalho é dedicado aos meus pais Paulo Peters Walter e

Vera Regina Copetti os quais devo grande parte das conquistas na

vida, minha amada irmã Letícia Copetti Walter e minha namorada

Talita Cardoso Boff que apoiou e me incentivou em muitos

momentos importantes.

Page 5: Leandro -TCC v. Final

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha família, pelo apoio recebido durante toda a minha

formação como pessoa e como profissional.

Ao Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI), pela oportunidade do estágio;

Ao Professor e Mestre Jonas Roberto Pesente idealizador deste trabalho, a quem

agradeço por contribuir com minha formação acadêmica e profissional e por me orientar com

extrema competência e paciência;

Ao Engenheiro Luiz Ricardo Sanches Colman por me supervisionar no estágio e

agregar contribuições a este trabalho.

Aos meus amigos Edison Manuel Smith Rodríguez, Cláudio Augusto Mota e Rafael

Hentz por suas sugestões para com este trabalho;

À UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, ao Centro de Engenharia

e Ciências Exatas e em especial ao corpo docente de Engenharia Elétrica, os meus sinceros

agradecimentos.

Page 6: Leandro -TCC v. Final

v

"A insatisfação é a principal motivadora do

progresso."

Thomas A. Edison

Page 7: Leandro -TCC v. Final

vi

RESUMO

WALTER, L. C. (2011). Avaliação do impacto de eventos no elo de corrente contínua de

Furnas sobre o Sistema Interligado Nacional a partir de simulações eletromecânicas.

Relatório de Estágio (Graduação) – Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual do

Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2011.

Os Elos de Corrente Contínua (Elos de CC) são sistemas de transmissão de energia elétrica

com especificidades que podem reduzir custos da transmissão, aumentar a estabilidade ou

mesmo conectar sistemas de frequências diferentes. Como parte constituinte do chamado

“Sistema de Transmissão de Itaipu”, Furnas é proprietária e opera um Elo de CC com a

capacidade de transmissão de 6300 MW. Esta potência corresponde a uma parcela

considerável da potência elétrica circulante no Sistema de Energia Elétrico Brasileiro,

denominado Sistema Interligado Nacional (SIN). Por esse motivo, eventos neste Elo de CC

podem afetar a operação de todo o SIN, e, em casos específicos desencadear outros eventos

que, podem excitar oscilações eletromecânicas. Neste contexto, este trabalho trata de analisar

as consequências de eventos no Elo de CC de Furnas, a partir de simulações eletromecânicas,

baseadas em critérios bem definidos postulados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS),

considerando, por exemplo, diferentes condições de rede e carregamento – parâmetros que

interferem na magnitude das perturbações eletromecânicas. As simulações realizadas

mostraram que há risco de que eventos no Elo de CC de Furnas possam causar desligamentos

em cascata, afundamentos/elevações proibitivas de tensão, tanto transitórias quanto em

regime, assim como elevadas excursões de frequência no SIN.

Palavras-chave: Elos de corrente contínua, critérios de desempenho dinâmico, simulações

eletromecânicas.

Page 8: Leandro -TCC v. Final

vii

ABSTRACT

WALTER, L. C. (2011). Avaliação do impacto de eventos no elo de corrente contínua de

Furnas sobre o Sistema Interligado Nacional a partir de simulações eletromecânicas.

Relatório de Estágio (Graduação) – Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual do

Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2011.

The Direct Current links (DC links) are transmission systems with electrical characteristics

that can reduce transmission costs, increase stability or even connect systems with different

frequencies. As a constituent part of the “Sistema de Transmissão de Itaipu” Furnas owns and

operates a DC link with a transmission capability of 6300MW. This power corresponds to a

considerable portion of the circulating power in the Brazilian Power System, called “Sistema

Interligado Nacional” - (SIN). Therefore, events in this DC link may affect the operation of

the entire SIN, and in specific cases trigger other events that, may excite oscillations. In this

context, this paper analyses the consequences of events in Furnas’ DC link, from

electromechanical simulations, based on clearly defined criteria postulated by “Operador

Nacional do Sistema (ONS)”, considering, for example, different network conditions and

loading – parameters that affect the magnitude of the electromechanical disturbances. The

simulations showed that there is a risk that events in the Furnas’ DC link may cause cascading

outages, prohibitive collapsing/increasing voltage, under transient and steady state conditions,

as well as high frequency excursions in the SIN.

Key-words: DC links, performance criteria, dynamic electromechanical simulation.

Page 9: Leandro -TCC v. Final

viii

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 – Componentes típicos de HVDC ........................................................................... 20

Figura 2.2 – Circuito trifásico de um retificador de onda completa em ponte. ........................ 23

Figura 2.3 – Forma de onda das tensões de alimentação e sobre a carga para um circuito ponte

de seis pulsos. ................................................................................................................... 23

Figura 2.4 – Forma de onda das correntes CC nas válvulas e no secundário dos

transformadores para um circuito em ponte. .................................................................... 24

Figura 2.5 – Efeito da sobreposição das válvulas em sua comutação. ..................................... 25

Figura 2.6 – Períodos de Ignição da válvula com atraso de ignição. ....................................... 25

Figura 2.7 – Circuito Equivalente durante a condução. ........................................................... 26

Figura 2.8 –Forma de Onda mostrando o efeito de sobreposição durante a comutação da

válvula 1 para 3................................................................................................................. 26

Figura 2.9 –Forma de onda de tensão e períodos de condução das válvulas. .......................... 27

Figura 2.10 – a) Falha por atraso de Disparo e b) Tensão reduzida no lado de corrente

alternada............................................................................................................................ 28

Figura 2.11 – Características de tensão e corrente no Retificador. .......................................... 29

Figura 2.12 – Controle real do conversor – características em regime permanente. ................ 30

Figura 2.13 – Sistema HVDC e Modelo para inclusão no problema de Fluxo de Potência. ... 31

Figura 2.14 – Limites de dependência de Tensão e máxima corrente. ..................................... 33

Figura 2.15 – Circuito Elo HVDC de FURNAS. ..................................................................... 36

Figura 2.16 – Esquema geral de controle do elo CC de Furnas. .............................................. 37

Figura 2.17 – Modelo detalhado do esquema de controle do elo CC de Furnas. ..................... 37

Figura 2.18 – Sinal modulador de potência no elo de corrente contínua. ................................ 38

Figura 4.1 – Subdivisão Sudeste – Norte Nordeste .................................................................. 49

Figura 4.2 – Subdivisão Sul – Sudeste ..................................................................................... 50

Figura 4.3 – Diagrama simplificado mostrando o sentido dos quatro intercâmbios entre áreas

considerados ..................................................................................................................... 50

Figura 4.4 – Comportamento das ondas de tensão do tronco de 765kV de Furnas após

remoção de ponte retificadora. ......................................................................................... 52

Figura 4.5 – Abertura angular entre diversas barras do sistema e a barra de Ilha Solteira após

bloqueio de elo. ................................................................................................................ 53

Page 10: Leandro -TCC v. Final

ix

Figura 4.6 – Oscilação da frequência no sistema elétrico nacional após a remoção de ponte

retificadora. ....................................................................................................................... 53

Figura 4.7 – Proteção contra perda de sincronismo da interligação SE-NE e traçados no tempo

da variação das impedâncias “vistas” pela proteção. ....................................................... 54

Figura 4.8 – Variação da tensão no tronco de 765kV após a aplicação de um Bloqueio de Elo

no sistema HVDC de Furnas com um intercâmbio EXPSE e FSUL. .............................. 55

Figura 4.9 – Variação da frequência no tronco de 765kV após a aplicação de um Bloqueio de

Elo no sistema HVDC de Furnas com um intercâmbio EXPSE e FSUL. ........................ 56

Figura 4.10 – PPS da Interligação SE-NE e traçados de reatâncias vistas pelas mesmas para o

caso 4.6, com a aplicação de um bloqueio de elo no sistema de corrente contínua. ........ 56

Figura 4.11 – Área de atuação da PPS da interligação SE-NE e traçados de reatâncias vistas

pela mesma para o caso EXPSE e FSUL após a remoção de ponte retificadora. ............ 57

Figura 4.12 – Instabilidade de tensão vista no tronco de 765kV após a abertura de uma das

linhas do tronco de 765kV. ............................................................................................... 58

Figura 4.13 – Tensões em diversas áreas do sistema após a aplicação de um Bloqueio de Elo

em corrente contínua ........................................................................................................ 58

Figura 4.14 – Frequência em diversas regiões do Brasil após a aplicação de um Bloqueio de

Elo em corrente contínua. ................................................................................................. 59

Figura 4.15 – Abertura angular entre diversas barras do sistema e a barra de Ilha Solteira após

bloqueio de elo em condição de carga leve no sistema. ................................................... 59

Figura 4.16 – PPS da interligação SE-NE e traçados de reatâncias vistas pela mesma após o

bloqueio de bipólo em situação de carga leve. ................................................................. 60

Page 11: Leandro -TCC v. Final

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Parâmetros do elo de CC de Furnas ..................................................................... 36

Tabela 2.2 – Esquemas de Controle de Emergência de Itaipu ................................................. 39

Tabela 3.1 – Tempos indicativos de eliminação de defeitos. ................................................... 41

Tabela 4.1 – Principais eventos no Sistema Elétrico Brasileiro associados ao elo de Corrente

Contínua de Furnas ........................................................................................................... 47

Tabela 4.2 – Localização das proteções contra perda de sincronismo e limite das linhas

observadas ........................................................................................................................ 51

Tabela 4.3 – Barras sob análise de estabilidade de tensão e intervalos de tensão aceitáveis

durante o evento................................................................................................................ 51

Page 12: Leandro -TCC v. Final

xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANAREDE Aplicativo de Análise de Redes

ANATEM Aplicativo de Análise de Transitórios Eletromecânicos

CCC Capacitor Comuted Converter

CEA Constant Exti0ntion Angle

CIA Constant Ignition Angle

AC Corrente Alternada

CC Corrente Contínua

ECG Esquema de Corte de Geração

ERAC Esquema Regional de Alívio de Carga

FPTI Fundação Parque Tecnológico

HVDC High Voltage Direct Current

ITAI Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação

EXPSE Intercâmbio onde a região NNE exporta energia para o Sudeste

RNNE Intercâmbio onde a região NNE recebe energia do Sudeste

FSUL Intercâmbio onde a região Sul fornece energia para o Sudeste

RSUL Intercâmbio onde a região Sul recebe energia do Sudeste

LASSE Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas Elétricos

ONS Operador Nacional do Sistema

PPS Proteção Contra Perda de Sincronismo

RTDS Real Time Digital Simulator

SIN Sistema Interligado Nacional

SEP Sistemas Elétricos de Potência

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Page 13: Leandro -TCC v. Final

xii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14

1.1 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................................... 14

1.2 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 15

1.2.1 Objetivos específicos .......................................................................................................... 15

1.3 DESCRIÇÃO DAS PARTES ENVOLVIDAS NO ESTÁGIO ............................................. 16

1.3.1 Instituição de Ensino ......................................................................................................... 16

1.4 UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO ........................................................................... 16

1.4.1 Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação .................................................................. 16

1.4.2 Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas Elétricos .................................... 17

2. TRANSMISSÃO EM ALTA TENSÃO E CORRENTE CONTÍNUA (HIGH

VOLTAGE DIRECT CURRENT – HVDC TRANSMISSION) ........................................ 19

2.1 CONFIGURAÇÕES ................................................................................................................. 19

2.2 ELEMENTOS ........................................................................................................................... 20

2.2.1 Conversores ........................................................................................................................ 20

2.2.2 Reatores de Alisamento ..................................................................................................... 20

2.2.3 Filtros de Harmônicos ....................................................................................................... 21

2.2.4 Fontes de Reativos ............................................................................................................. 21

2.2.5 Eletrodos de aterramento ................................................................................................. 21

2.2.6 Disjuntores CA ................................................................................................................... 21

2.2.7 Bancos Transformadores ou Transformadores-Conversores ....................................... 21

2.2.8 Linhas CC........................................................................................................................... 22

2.3 TEORIA E EQUAÇÕES DE DESEMPENHO DOS CONVERSORES ............................. 22

2.4 OPERAÇÃO ANORMAL........................................................................................................ 27

2.5 CONTROLE DO HVDC .......................................................................................................... 28

2.6 REPRESENTAÇÃO DO ELO DE CC NO PROBLEMA DE FLUXO DE POTÊNCIA .. 31

2.7 REPRESENTAÇÃO EM ESTUDOS DE ESTABILIDADE ................................................ 31

2.7.1 Modelo Simples .................................................................................................................. 32

2.7.2 Modelo de Resposta ou Desempenho ............................................................................... 32

2.7.3 Modelo Flexível Detalhado ............................................................................................... 34

2.8 ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS .................. 35

2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 39

Page 14: Leandro -TCC v. Final

xiii

3. MÉTRICA DE AVALIAÇÃO ELETROMECÂNICA DO DESEMPENHO DO

SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL FRENTE À EVENTOS NO ELO DE CC DE

FURNAS .................................................................................................................................. 40

3.1 DIRETRIZES PARA ESTUDOS EM SISTEMAS CA ......................................................... 40

3.2 CRITÉRIOS PARA ESTUDOS EM SISTEMAS CA ........................................................... 41

3.3 DIRETRIZES E CRITÉRIOS PARA ESTUDOS EM SISTEMAS CC .............................. 42

3.3.1 Capacidade de sobrecarga no sistema CC....................................................................... 43

3.3.3 Estudos de desempenho dinâmico envolvendo Elos de CC. .......................................... 44

3.3.4 Recuperação da potência CC ............................................................................................ 44

3.3.5 Faltas e contingências no elo CC ...................................................................................... 45

3.4 METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ......................... 45

3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 46

4. SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS ............................................................................ 47

4.1 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO O ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE FURNAS 47

4.2 CENÁRIOS DE SIMULAÇÃO ............................................................................................... 48

4.3 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS SIMULAÇÕES ELETROMECÂNICAS ............... 51

4.4 CASO I – INTERCÂMBIO NO SENTIDO EXPSE e RSUL ............................................... 52

4.5 CASOS II e III ........................................................................................................................... 54

4.5.1 Caso II – Intercâmbio no sentido RNNE e FSUL ........................................................... 54

4.5.2 Caso III – Intercâmbio no sentido RNNE e RSUL ......................................................... 54

4.6 CASOS IV – INTERCÂMBIO NO SENTIDO EXPSE E FSUL .......................................... 55

4.6.1 Bloqueio do Elo de CC de Furnas Centrais Elétricas. ................................................... 55

4.6.2 Remoção de Ponte Retificadora ....................................................................................... 57

4.7 EVENTO NO SISTEMA DE CORRENTE ALTERNADA ................................................. 57

4.8 EVENTOS EM CONDIÇÃO OPERATIVA DE CARGA LEVE ........................................ 58

4.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 60

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 61

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES ................................................................................... 63

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64

Page 15: Leandro -TCC v. Final

14

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que a energia elétrica está presente na natureza na forma de cargas elétricas.

Esta possui a habilidade de ser convertida em outras formas de energia como luz, calor,

trabalho mecânico etc., tornando-se assim essencial para a promoção do bem-estar da

sociedade. De fato, a energia consumida per capita pode indicar, inclusive, o nível de

desenvolvimento de um país.

Uma, entre outras vantagens, é que esta pode ser transportada através de linhas de

transmissão por grandes distâncias com perdas relativamente baixas, por meio de duas formas

diferentes de transmissão: Corrente Alternada e Corrente Contínua.

A transmissão em corrente alternada é o meio mais comum de transmitir energia por

um sistema elétrico de potência. As linhas de transmissão em corrente contínua possuem

vantagens quando comparadas a linhas de corrente alternada, tais como a transmissão com

perdas reduzidas, pois, geralmente a corrente em linhas de CC será menor que as de CA,

devido a não necessidade de circulação de corrente com característica reativa. Outra vantagem

é que espaço físico requerido pela linha de corrente contínua é menor e a linha transmite uma

quantidade maior de energia. Todavia, a transmissão em corrente contínua só é vantajosa sob

condições específicas, uma vez que a eletricidade deve ser retificada, pois o restante do

sistema opera à frequência conhecida.

1.1 JUSTIFICATIVAS

As linhas de transmissão em corrente contínua estão ganhando destaque nos grandes

sistemas de potência. Sua existência era limitada por elevados custos de construção e

manutenção. Porém com o avanço tecnológico, expansão dos parques eólicos e integração das

redes elétricas entre países, os custos de fabricação, manutenção e operação dos elos de

corrente contínua diminuíram consideravelmente. Neste sentido, uma análise do “European

Smart Grid Market – Advanced Compound” produzido pela empresa Frost & Sullivan indica

que o mercado de HVDC recebeu € 550 milhões em receitas em 2008 e as previsões de que

este número atinja € 973,7 milhões em 2015.

No caso específico do Elo de CC de Furnas, eventos como o blecaute de 2009 (ONS,

2009), a contínua expansão da rede de transmissão, geração e conexão de novos

consumidores com características dinâmicas, e os numerosos eventos envolvendo este

Page 16: Leandro -TCC v. Final

15

elemento do SIN, sugerem uma contínua revisão da amplitude do alastramento de eventos que

ocorram no Elo de CC de Furnas e dos riscos associados.

1.2 OBJETIVOS

Este projeto tem por objetivo avaliar o impacto no Sistema Interligado Nacional – SIN

frente a eventos ocorridos no elo de corrente contínua de Furnas em condições operativas

críticas, efetuando uma análise em termos de excursão de tensões, variação de frequência e

fluxos de potência pós perturbação no SIN e aproximação das regiões de ajuste de Proteções

contra Perda de Sincronismo (PPS), sub/sobretensão e sub/sobrefrequência.

1.2.1 Objetivos específicos

i. Acompanhamento das atividades de simulação no Laboratório de Simulação e

Sistemas Elétricos – Lasse.

ii. Capacitação no aplicativo Análise de Redes – Anarede.

iii. Capacitação no aplicativo Análise de Transitórios Eletromecânicos – Anatem.

iv. Revisão bibliográfica acerca dos aspectos físicos dos Elos de Corrente Contínua.

v. Revisão bibliográfica acerca dos modelos de Elos de Corrente Contínua no problema

de Fluxo de Potência.

vi. Revisão bibliográfica acerca dos modelos de Elos de Corrente Contínua para

aplicações em análise da estabilidade eletromecânica.

vii. Revisão bibliográfica acerca das grandezas envolvidas no Elo de Corrente Contínua de

Furnas Centrais Elétricas.

viii. Ajuste de casos de fluxo de potência considerando intercâmbios máximos entre sub-

regiões do SIN.

ix. Definição de critérios de avaliação do impacto eletromecânicos de perturbações no Elo

de CC de Furnas.

x. Escrita de cartões no formato “Anatem” para visualização e análise de grandezas

eletromecânicas.

xi. Análise de diferentes perturbações no Elo de CC à vista dos critérios postulados no

objetivo ix.

Page 17: Leandro -TCC v. Final

16

xii. Documentação da atividade e estabelecimento da biblioteca de simulações realizadas

como contribuição com o Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas

Elétricos – Lasse.

1.3 DESCRIÇÃO DAS PARTES ENVOLVIDAS NO ESTÁGIO

1.3.1 Instituição de Ensino

A Universidade Estadual do Oeste do Paraná, a UNIOESTE1, originou-se da

integração de quatro instituições universitárias municipais de ensino não gratuito localizadas

em Cascavel, Foz do Iguaçu, Marechal Cândido Rondon e Toledo. Após a ocorrência de

seguidos atos regionais, pleiteando a transformação das faculdades isoladas em uma

universidade multi-campi, a instituição foi reconhecida em 23 de dezembro de 1994 através

da portaria 1784-A/94 do Ministério da Educação.

Após três anos de reconhecimento, a UNIOESTE, através da resolução n°. 002/97,

implantou o curso de Engenharia Elétrica2 no campus de Foz do Iguaçu. O curso iniciou-se no

ano seguinte com duas ênfases: em Sistemas de Controle e em Sistemas de Potência. As

disciplinas possuem, de acordo com sua ementa, atividades práticas e teóricas.

Dentro do regulamento vigente do curso, observa-se a obrigação do cumprimento,

como parte indispensável da formação do futuro profissional, de um plano de estágio

supervisionado na área. Tal atividade deve compreender 360 horas e ser acompanhada por um

supervisor técnico, da empresa, e um supervisor docente, da instituição de ensino.

1.4 UNIDADE CONCEDENTE DE ESTÁGIO

1.4.1 Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação

O estágio supervisionado que resultou no presente trabalho cumpriu-se no Instituto de

Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI). O ITAI é uma associação civil, pessoa jurídica de

direito privado, sem fins lucrativos. Criado em 12 de outubro de 1996 por diversas entidades,

1Histórico da Unioeste <http://www.foz.unioeste.br/historico.php>, Acesso em 10 de junho de

2011.

2Histórico do Curso <http://www.foz.unioeste.br/eletrica.php>, Acesso em 10 de junho de

2011.

Page 18: Leandro -TCC v. Final

17

dentre elas, iniciativa privada, empresas do setor público, universidades e centros

tecnológicos.

O ITAI3 iniciou sua constituição no ano de 1995 quando professores do curso de

Ciência da Computação da UNIOESTE fizeram uma série de acordos com prefeituras da

região, universidades e entidades não-governamentais da área de tecnologia com vista à

formação de uma instituição que congregasse esforços para impulsionar uma alternativa de

desenvolvimento para a região trinacional.

Em setembro do ano seguinte, diversas autoridades se reuniram com o objetivo de

discutir os aspectos técnicos e estratégicos para a implantação do instituto, bem como

apresentar as experiências e os resultados obtidos por instituições similares. No mês seguinte

foi realizada uma assembléia de constituição do ITAI sendo que, nesta reunião, foram

aprovados o estatuto social e a diretoria provisória. No início do ano de 1997, iniciaram-se as

atividades do ITAI no campus da UNIOESTE em Foz do Iguaçu.

O objetivo motriz do ITAI, segundo seu estatuto, reside na integração dos principais

agentes do desenvolvimento – setor público, comunidade empresarial e institutos de ensino e

pesquisa – visando à evolução tecnológica da região trinacional através de ações voltadas à

educação, à cultura e ao desenvolvimento sócio-econômico.

1.4.2 Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas Elétricos

O Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas Elétricos - LASSE4 é um dos

laboratórios geridos pelo ITAI e foi o local específico onde o estágio supervisionado se

realizou. O estágio teve início no primeiro semestre do ano de 2011 e tem previsão para durar

até novembro de 2011.

Inaugurado em novembro de 2008, o laboratório é fruto de uma parceria entre Itaipu

Binacional, Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (FPTI) e ITAI e visa preencher uma

lacuna ainda existente no Brasil em termos de simulações digitais em tempo real.

3 Histórico sobre o ITAI <http://www.itai.org.br/historico>, Acesso em 10 de junho de 2011.

4 Institucional – LASSE <http://www.itai.org.br/lasse>, Acesso em 10 de junho de 2011.

Page 19: Leandro -TCC v. Final

18

O LASSE é um centro especializado em estudos, testes e verificações de componentes

indispensáveis aos atuais sistemas elétricos de potência. Tem a sua disposição um simulador

de alto desempenho da empresa canadense RTDS® e uma equipe de engenheiros

especializados em simulações de sistemas elétricos e validação de componentes que os

constituem.

Page 20: Leandro -TCC v. Final

19

2. TRANSMISSÃO EM ALTA TENSÃO E CORRENTE CONTÍNUA (HIGH

VOLTAGE DIRECT CURRENT – HVDC TRANSMISSION)

Este capítulo aborda a teoria geral acerca dos fundamentos dos Elos de Corrente

Contínua, assim como descrito por KUNDUR (1994), ARRILAGA (1983), entre outros.

Aspectos como as configurações típicas implementadas pelos fabricantes, equações de

performance, inclusão no problema de fluxo de potência e representações utilizadas pra

estudos de transitórios eletromecânicos são descritos como segue.

2.1 CONFIGURAÇÕES

Segundo KUNDUR (1994)5, os Elos de CC

6 (ou HVDCs) possuem diferentes

configurações, dependendo da aplicação: monopolares, bipolares e homopolares.

Elos de CC monopolares possuem somente uma linha de transmissão com apenas uma

polaridade, e geralmente são utilizados em aplicações de custo reduzido, estágio inicial da

operação de Elos de CC bipolares ou para transmissão subaquática.

Elos de CC bipolares possuem um condutor na polaridade negativa e outro na positiva.

Cada terminal tem dois conversores de tensão nominal igual e quando operam juntos não há

corrente de terra (podem operar em separado). A conexão entre os pólos é aterrada e a

utilização de bipólos injeta menos harmônicos que a operação monopolar. Esta configuração

permite, inclusive, inverter o fluxo de potência somente invertendo a polaridade dos pólos

(não é necessária nenhuma manobra mecânica). Se, por alta resistividade se necessite de um

cabo de retorno, se pode utilizar um cabo de guarda.

Elos de CC homopolares possuem mais de um condutor, porém todos têm a mesma

polaridade, geralmente negativa para redução do efeito corona. Dentre as modalidades de Elos

de CC, é a menos utilizada.

5 Este capítulo foi baseado, em grande parte, no descrito por KUNDUR (1994). Por simplicidade, em certos

trechos do texto à omissão da citação subentende-se que mantém-se a consulta a tal material de referência. 6 Neste texto, grandezas e dispositivos do sistema de corrente alternada conectado ao Elo de corrente contínua e

do Elo de Corrente Contínua serão tratadas simplesmente seguidas dos acrônimos CA e CC, respectivamente.

Page 21: Leandro -TCC v. Final

20

2.2 ELEMENTOS

Os elementos componentes típicos de HVDCs, ilustrados na Figura 2.1, são:

Figura 2.1 – Componentes típicos de HVDC

Fonte: KUNDUR, 1994.

2.2.1 Conversores

As conversões CA/CC e CC/CA são realizadas por pontes de válvulas e

transformadores com comutadores de derivação sob carga. Tais pontes consistem de válvulas

de alta tensão, conectadas em arranjos de seis ou doze pulsos. Nos conversores de doze pulsos

cada uma das fases CA deve estar defasada trinta graus com relação às outras fases da ponte.

2.2.2 Reatores de Alisamento

São equipamentos com indutâncias da ordem de 1H, conectados em série com cada

pólo da estação conversora. Tem como propósito: reduzir harmônicos de tensão e corrente do

lado CC, limitar a corrente de crista nos retificadores durante curto-circuitos no lado de CC,

prevenir a ocorrência de falhas de comutação nos inversores e prevenir que a corrente CC se

torne descontínua para cargas elevadas.

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21

2.2.3 Filtros de Harmônicos

Estes dispositivos têm objetivo de reduzir as tensões e correntes harmônicas tanto no

lado CA quanto no lado CC. Realizam esta tarefa fornecendo uma baixa impedância entre o

condutor energizado e a terra para a frequência indesejada. Os harmônicos geram

aquecimento de capacitores e geradores próximos e interferem nas telecomunicações dos

equipamentos de controle e proteção.

2.2.4 Fontes de Reativos

Conversores inerentemente absorvem potência reativa, em torno de 50 a 60% da

potência ativa transmitida em condições normais de operação e parcelas muito maiores

durante transitórios - (KUNDUR). Em sistemas CA fortes (elevada capacidade de curto-

circuito e com grande suporte de reativos), as fontes são bancos de capacitores, enquanto em

sistemas não tão fortes se utilizam também compensadores síncronos e/ou compensadores

estáticos de reativos.

2.2.5 Eletrodos de aterramento

Elos de corrente contínua são projetados para operar conduzindo pela terra, mesmo

que por períodos curtos de tempo. Esta conexão requer uma superfície condutora de grande

área junto ao aterramento, para reduzir as densidades de corrente e os gradientes de tensão na

superfície. Esta superfície condutora é chamada de eletrodo.

2.2.6 Disjuntores CA

São utilizados para isolar o transformador de falhas no sistema CA ou o conversor

para manutenção. Nos terminais CC não são utilizados disjuntores, pois o controle do disparo

das válvulas permite isolar estas falhas mais rapidamente que a proteção convencional.

2.2.7 Bancos Transformadores ou Transformadores-Conversores

Todo Elo de CC possui bancos de transformadores conectados em série no lado CC e

em paralelo no lado CA, que, com exceção dos HVDCs homopolares, estes possuem

conexões em YY e Y de modo a garantir a defasagem e a magnitude adequada das tensões

nas pontes conversora/inversora. Os transformadores não são aterrados, de forma a auxiliar a

Page 23: Leandro -TCC v. Final

22

tensão apropriada para o funcionamento da ponte. Assim é possível estabelecer a referência

de tensão do conversor ao aterrar o lado CC no terminal positivo ou negativo.

2.2.8 Linhas CC

As linhas de corrente contínua diferem nas torres (devido ao número de condutores –

geralmente somente dois estão energizados) e na disposição dos condutores (devido às

características mais simples de se obter isolamento). Estas possuem resistências tão baixas

quanto 10, por isso pequenas variações indesejadas de tensão podem causar grandes

flutuações de potência, desta maneira torna-se necessário manter a tensão em seus terminais

tão constante quanto possível.

2.3 TEORIA E EQUAÇÕES DE DESEMPENHO DOS CONVERSORES

Os conversores são os equipamentos responsáveis pelas conversões CA-CC e CC-CA

e também por controlar o fluxo de potência entre seus terminais. Assim, incorporam a maior

parte dos fenômenos elétricos e modulações de potência para controle de grandezas

eletromecânicas. Por isso, de uma forma geral, o desempenho do HVDC está associado aos

conversores e sua análise depende do equacionamento dos mesmos.

Os conversores desempenham sua função a partir de válvulas que são chaves

eletrônicas controladas. As válvulas de mercúrio têm valores nominais de tensão entre 50 e

150kV e de corrente entre 1000 e 2000A, porém deixaram de ser utilizadas após 1970,

quando foram adotadas as válvulas tiristorizadas, que são muito menos suscetíveis à falhas e

problemas de operação, além de não precisar de aquecimento. As válvulas tiristorizadas

possuem de valores nominais de tensão entre 3 e 5kV e de corrente entre 2500 e 3000A.

Nos terminais dos conversores empregam-se as válvulas em pontes de GRAETZ,

principalmente por garantir uma menor tensão reversa aplicadas às válvulas bloqueadas. Em

sua análise utiliza-se uma fonte ideal CA em série com uma indutância (que representa

principalmente o transformador conversor), considerando a corrente CC sem ripple e as

válvulas ideais (somente com estado fechado e aberto), tal como ilustrado na Figura 2.2.

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23

Figura 2.2 – Circuito trifásico de um retificador de onda completa em ponte.

Fonte: KUNDUR, 1994.

As tensões de fase da fonte CA podem ser representadas pela Equação 2.1.

);150cos(.3

);90cos(.3

);30cos(3

tEEEE

tEEEE

tEEEE

mbccb

mabba

mcaac

(2

.1)

(2.1)

Para a ponte da Figura 2.2 percebe-se que o cátodo das válvulas 1, 3 e 5 estão

conectados. Considerando a ponte operando com ignição dos tiristores em 0o, entre 0

o e

120o a tensão instantânea da fase “b” tem maior módulo, assim a válvula 3 está conduzindo. O

ânodo das válvulas 2, 4 e 6 estão também conectados, e percebe-se que de 60º a 180º a tensão

“a” é mais negativa, então a válvula 4 está conduzindo. Desta análise determina-se que

durante 60 a 120º a tensão sobre a carga é a diferença entre as duas tensões, igual à Vba. Esta

análise pode ser entendida aos demais “estágios de condução”, como ilustrado na Figura 2.3.

Figura 2.3 – Forma de onda das tensões de alimentação e sobre a carga para um circuito ponte de seis pulsos.

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24

Durante a análise é considerado que o reator de alisamento é tão grande que a corrente

CC não apresenta variações. Desta maneira, a corrente na válvula que se encontra conduzindo

é constante e varia instantaneamente de zero a Id durante a comutação. Tal corrente também

circula no secundário dos transformadores conversores. A transferência de corrente de uma

válvula para a outra chamada de comutação. Para “LC = 0H” a comutação é instantânea e

somente duas válvulas conduzem por ciclo de condução, como ilustrado na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Forma de onda das correntes CC nas válvulas e no secundário dos transformadores para um circuito

em ponte.

A análise do HVDC é realizada em termos da tensão média CC de saída do conversor

com relação à alimentação CA. Dois efeitos reduzem a tensão de saída e são passíveis de

formulação e análise: o disparo dos tiristores e o atraso de comutação entre válvulas oriundo

da reatância indutiva do sistema CA conectado ao conversor.

Aplicando-se a definição de tensão média sobre a carga para o caso da Figura 2.3

obtém-se a relação da Equação 2.2.

mCC EV

330 (2.1)

(2.2)

A tensão VCC0 é chamada tensão ideal sem carga do elo de corrente contínua.

Define-se como ângulo de disparo (também chamado ignição), o ângulo do instante

de recebimento de tensão pelo terminal de disparo (gate). Em um sistema monofásico este

ângulo é limitado à 180º a partir de quando a válvula falha na ignição. Seu efeito sobre a

tensão CC é reduzir a tensão CC por um fator cosseno, como descrito pela Equação 2.2.

);cos(.0 CCCC VV (2.1)

(2.2)

Page 26: Leandro -TCC v. Final

25

Como “” pode assumir valores entre 0o e 180º, VCC pode assumir valores entre +VCC0

e –VCC0, e uma vez que Id não varia, neste caso a defasagem entre a corrente da fase CA e a

tensão da mesma fase é igual a , logo é igual ao ângulo do fator de potência (=).

Na prática, a comutação de corrente de uma válvula para a outra não ocorre

instantaneamente, especialmente devido à indutância da fonte, das linhas e dos

transformadores de corrente alternada. O tempo gasto nesse processo (extinção ou condução)

é chamado tempo de sobreposição sendo denotado pelo ângulo Valores típicos para os elos

HVDC existentes, em carga nominal estão entre 15º e 25º.

Para ângulos de sobreposição entre 0º e 60º (0º<<60º), três válvulas conduzem

simultaneamente durante a comutação, enquanto no resto do período de condução somente

duas conduzem. O efeito da sobreposição das válvulas devido à existência da indutância CA é

ilustrado na Figura 2.5.

Figura 2.5 – Efeito da sobreposição das válvulas em sua comutação.

Fonte: KUNDUR, 1994.

Pode-se analisar a composição deste efeito ao efeito do ângulo de disparo por iniciar a

comutação da válvula em “t ” (disparo) e encerrar em “t ”, ângulo chamado

“de extinção”, como ilustrado na Figura 2.6.

Figura 2.6 – Períodos de Ignição da válvula com atraso de ignição.

Fonte: KUNDUR, 1994.

Page 27: Leandro -TCC v. Final

26

O efeito da sobreposição das válvulas durante a comutação sobre a tensão de saída do

conversor é ilustrada na Figura 2.7, onde se percebe que durante a comutação da válvula “1”

para “3”, estas duas válvulas e a válvula “2” estão sob condução.

Figura 2.7 – Circuito Equivalente durante a condução.

Fonte: KUNDUR, 1994.

Pode-se demonstrar que imediatamente após o disparo da válvula “3” a tensão na

carga vale “(ea+eb)/2” ao invés de “eb”, o que significa que a área efetiva da tensão média na

carga é reduzida, como ilustrado na Figura 2.8.

Figura 2.8 –Forma de Onda mostrando o efeito de sobreposição durante a comutação da válvula 1 para 3.

Fonte: KUNDUR, 1994.

A magnitude dessa redução é determinada percebendo-se que durante a comutação

“i1 = ICC – i3” e corresponde à relação da Equação 2.12, que permite descrever os conversores

como circuitos de CC em função de “VCC0” e “ICC”.

CC

cCCCC I

XVV

3)cos(.0

(2.1)

(2.12)

Na operação inversora, os tiristores da ponte superior disparam com tensão negativa

no ânodo da válvula, como ilustrado na Figura 2.9.

Page 28: Leandro -TCC v. Final

27

Figura 2.9 –Forma de onda de tensão e períodos de condução das válvulas.

Fonte: KUNDUR, 1994.

Como a condição de condução dos tiristores é uma queda de tensão positiva do ânodo

com relação ao cátodo, a válvula “1” só comuta a condução para a válvula “3” porque a

tensão em seu ânodo é ainda mais negativa que da válvula “3” (a queda de tensão entre o

ânodo e o cátodo da válvula 3 é positiva e quando a mesma recebe o disparo passando a

conduzir).

Este processo inicia-se normalmente, pois as tensões senoidais estão presentes nos

respectivos terminais das válvulas.

De forma análoga, os tiristores da ponte inferior são disparados com tensão positiva

em seu cátodo, mas de uma maneira que a tensão em seu ânodo seja ainda mais positiva,

garantido a queda de tensão necessária entre ânodo e cátodo para disparo.

Em termos de nomenclatura e análise, também é utilizado nos inversores os ângulos

“” como ângulo de ignição avançada e “” como ângulo de extinção avançada.

Deve-se notar que nas válvulas a corrente nunca é invertida (os tiristores conduzem

sempre no mesmo sentido), assim, o sentido da potência é definido pela polarização da tensão

em seus terminais.

2.4 OPERAÇÃO ANORMAL

A condição mais recorrente de operação anormal dos conversores, e portanto dos

HVDCs, é a falha de comutação. Esta condição corresponde à falha de comutar a condução de

corrente entre válvulas antes que a tensão de comutação se torne negativa entre o ânodo e

cátodo novamente. É mais comum ocorrer em inversores especialmente para correntes CCs

elevadas ou tensões CA reduzidas. O retificador só apresenta falha de comutação caso seu

circuito de disparo falhar.

Page 29: Leandro -TCC v. Final

28

A título de exemplo, considere a Figura 2.10 a). Caso a comutação da válvula T1 para

a válvula T3 não ocorra entre 30º e 150º por atraso de disparo, quando T3 receber o disparo

não conduz porque a tensão entre seu ânodo e seu cátodo “ea-eb” é negativa.

a) b) Figura 2.10 – a) Falha por atraso de Disparo e b) Tensão reduzida no lado de corrente alternada.

Fonte: PESENTE, 2010.

Na Figura 2.10 b) a comutação não ocorre devido ao fato que a tensão CA na fase é

reduzida no momento do disparo, fazendo com naquele instante a tensão entre seu ânodo e

seu cátodo, “ea-ec” seja negativa. Desta análise, percebe-se que curto-circuitos nas fases que

alimentam os conversores podem causar falha de comutação.

Uma vez que a falha de comutação permite à válvula T1 continuar conduzindo na

ponte superior e ainda dispara normalmente a válvula T4 (da ponte inferior), ela sujeita o lado

CC do conversor a um curto-circuito, que é verificado pela queda da tensão no lado CC e a

interrupção de transferência de potência. A válvula T1 acaba por conduzir por um ciclo

elétrico completo (três vezes mais tempo que o normal), quando o conversor recupera-se

automaticamente.

2.5 CONTROLE DO HVDC

Pressupondo que as tensões CA de alimentação dos elos de CC são estáveis, as

correntes, tensões e o fluxo de potência nos HVDCs são estabelecidos apenas através do

disparo de seus tiristores, fazendo destes elementos sistemas altamente controláveis.

Sua eficiência depende do uso apropriado de sua controlabilidade para garantir o

desempenho desejado do sistema de potência.

De modo a usar toda sua flexibilidade e não comprometer o equipamento, vários laços

de controle são implementados de forma hierárquica, considerando a prevenção de flutuações

de ICC devido às oscilações no sistema CA. A tensão CC é mantida próxima da nominal e o

fator de potência nos conversores tão alto quanto possível para prevenir falhas de comutação.

Page 30: Leandro -TCC v. Final

29

Os pontos operativos de regime permanente em que os controles do HVDC mantém o

Elo de CC operando são retas determinadas pelas relações de correntes e tensões em cada um

dos terminais, definidas a partir da Equação 2.13 e chamadas “características VxI”.

CCinversorCC

LinversorCCrretificadoCC IX

RVV )3

()cos(.0

(2.1)

(2.13)

Em operação normal, o inversor tem como finalidade manter a tensão do HVDC

constante, então nesta condição o inversor opera no modo “angulo de extinção () constante”,

(Constant Extintion Angle - CEA). Esta característica é ilustrada na Figura 2.11, com uma

pequena inclinação causada pela queda de tensão na resistência da linha.

Já o retificador tem como função principal controlar a corrente fluindo pela linha,

gerando a linha vertical ilustrada na Figura 2.11. A condição de regime permanente é

determinada então pela intersecção das duas retas, indicada no ponto “E”.

Figura 2.11 – Características de tensão e corrente no Retificador.

Fonte: KUNDUR, 1994.

No retificador, a característica de corrente constante é mantida reduzindo-se “”

sempre que verificado “ICC < ICC desejada”.

No inversor, a tensão do retificador é mantida constante por variar “”, descontada a

queda de tensão na linha “ICC.RL”.

Quando “”atinge seus limites (geralmente 10º e 20º), ocorre a atuação do comutador

de derivações do transformador-conversor. Se esta ação não for suficiente, a modalidade de

controle é modificada modo “angulo de ignição () constante – CIA” originando a reta “FA”

na Figura 2.12. Imediatamente após, o inversor passa a controlar a corrente do HVDC, dando

origem à reta “GH”. A margem de corrente “Im” garante que ambos os terminais não atuem

sobre a mesma variável, que levaria o HVDC a uma condição operativa instável.

Page 31: Leandro -TCC v. Final

30

Considerando estes limites, a característica operativa completa do elo de CC é

apresentada na Figura 2.12.

Figura 2.12 – Controle real do conversor – características em regime permanente.

Fonte: KUNDUR, 1994.

Além dessas características existem restrições operativas de regime geradas por limites

operativos dos tiristores, que podem sofrer danos térmicos.

Em regime permanente os conversores limitam-se de 1,2 a 1,3 da corrente nominal e

em condições não-usuais limitam-se em mínima corrente, para proteger válvulas de estresse

incomum, flash-overs ou danos nos enrolamentos do transformador.

Os HVDCs possuem uma hierarquia de controle desde o operador até o tiristor: é

chamado de controle mestre aquele que recebe a referência de potência e envia a ordem de

corrente ao controle de pólo, que por sua vez define o ângulo de disparo dos tiristores da

ponte e inclui proteções de válvulas. O controle da ponte recebe a ordem de ângulo do

controle de pólo, determina os instantes de disparo e inclui os limites de min e min.

Os controles do HVDC podem ainda, ser utilizados para melhoria do desempenho do

sistema CA em perturbações. Entretanto, os elos HVDC não isolam completamente as

variações de fluxo de potência entre os dois sistemas e ainda aparecem como cargas

insensíveis à frequência contribuindo negativamente com o amortecimento dos sistemas.

Além disso, os elos CC podem contribuir negativamente para um colapso de tensão durante

oscilações, pois, demandam muita potência reativa.

Nestas condições, o disparo dos tiristores pode ser utilizado para amortecer oscilações

eletromecânicas, aumentar a estabilidade transitória, controlar a frequência de sistemas

pequenos, regular a potência reativa e dar suporte de tensão.

Page 32: Leandro -TCC v. Final

31

2.6 REPRESENTAÇÃO DO ELO DE CC NO PROBLEMA DE FLUXO DE POTÊNCIA

A inclusão do elo de CC no problema de fluxo de potência é realizada considerando

dois sistemas CA conectados a cargas nas barras de interface com o elo, como ilustrado na

Figura 2.13.

Figura 2.13 – Sistema HVDC e Modelo para inclusão no problema de Fluxo de Potência.

Fonte: NETTO, F. M., 2003, CUSTÓDIO, D. T., 2009.

Considerando a formulação típica de Newton-Raphson, o correto equacionamento nas

barras de fronteira deve incluir tanto as equações que relacionam a potência ativa e reativa

com tensões, correntes e ângulos, como as equações que representam os efeitos dos controles

do HVDC a partir das derivações dos transformadores e do ângulo de disparo dos tiristores.

2.7 REPRESENTAÇÃO EM ESTUDOS DE ESTABILIDADE

Em programas de estabilidade convencionais, as equações da rede CA são

quantificadas por meio de suas componentes de sequência positiva, o que impõe uma

limitação fundamental na modelagem de sistemas CC.

De fato, uma falha de comutação não pode ser exatamente prognosticada nestes

aplicativos, dificultando a representação de condições que podem ser originadas a partir desse

fenômeno, como faltas trifásicas severas nas proximidades do inversor e faltas desbalanceadas

no lado CA do sistema, ou ainda saturação dos transformadores do conversor durante

condições dinâmicas de sobretensão.

Alguns dos primeiros esforços para incorporar modelos de sistemas HVDC em

programas de estabilidade utilizavam uma representação detalhada que contava com a

representação dinâmica da linha e do controle do conversor (KUNDUR, 1994).

Nos últimos anos, os pesquisadores têm buscado modelos mais simplificados, que são

adequados para estudos de estabilidade de sistemas nos quais o Elo de CC está conectado a

partes fortes do sistema CA, exceto em sistemas CA enfraquecidos que requeiram sistemas de

controle CC complexos e para sistemas CC multiterminais.

Page 33: Leandro -TCC v. Final

32

Cada sistema CC deverá ter características únicas adaptadas às suas necessidades

específicas e a sua aplicação. Por isso, modelos padronizados com estruturas fixas não têm

sido desenvolvidos para estudos de estabilidade de sistemas com Elos de CC. Em vez disso,

três categorias de modelos são amplamente aceitas: a) modelo simples, b) modelo de resposta

ou desempenho, e c) modelo detalhado com flexibilidade (KUNDUR, 1994).

2.7.1 Modelo Simples

Para elos CC remotos, os quais não geram impactos significantes nos resultados da

análise de estabilidade, modelos simplificados são geralmente adequados. O Elo de CC pode

ser representado como injeções de potência ativa e reativa constante nos terminais CA dos

conversores. Quão mais realísticos são os modelos, o Elo de CC é representado pelas

equações dos conversores estáticos e efeitos funcionais dos controles.

2.7.2 Modelo de Resposta ou Desempenho

Em estudos de estabilidade em modo geral, a parte dinâmica do Elo de CC e dos

controles dos pólos podem ser ignorados. A ação de controle do pólo é assumida como sendo

instantânea e as linhas são representadas por suas resistências.

Muitas das funções de controle são representadas em termos de seus efeitos na rede,

mais que as características de hardware.

Equações do Conversor e linha:

Os três modos de controle implementados nesse modelo, assim como descritos no

subitem 2.5 são:

Retificador em CC e inversor em modo CEA;

Retificador em CIA e inversor em modo CC;

Retificador em CIA e inversor em controle de constante (modo de transição);

O controle lógico associado a estes três modos de controle pode ser incorporado a

soluções de estabilidade. Neste caso, entretanto, as derivações do transformador não são

ajustados, visto que não são rápidos o suficiente para atuar no período de interesse.

Page 34: Leandro -TCC v. Final

33

Forma de controle e limites de corrente:

A forma de corrente é implementada de modo que possa reproduzir a condição de

prover controle de corrente e controle de potência como desejado. Restrições são impostas no

nível de corrente para mantê-la entre limites mínimos e máximos. A máxima corrente é

determinada pelo VDCOL e implica nas características de corrente ilustradas na Figura 2.14.

Na Figura 2.14, os valores de corrente dos conversores podem variar entre IMIN e IMAX,

de acordo com o aumento da tensão CC. Sendo VD a tensão dependente da corrente. De

maneira análoga a corrente de referência “Iord” também é limitada, não ultrapassando valores

de risco mesmo recebendo sinais de controle Idesejada para o mesmo.

Figura 2.14 – Limites de dependência de Tensão e máxima corrente.

Fonte: KUNDUR, 1994.

Ação de controle durante faltas no sistema CA:

Durante faltas no sistema de CA, os controles do HVDC têm funções específicas,

sendo necessário, portanto, uma representação adequada das ações de controle durante tais

eventos.

Na prática, se a tensão diminui em um lado do Elo de CC, por certo tempo maior que o

especificado, a corrente CC é ajustada em zero. Uma rampa limita a taxa de decrescimento da

corrente. A linha é desligada quando a corrente decai a um valor mínimo especificado.

A linha CC é restabelecida após a tensão ser recuperada a um valor aceitável. Se a

tensão se recupera antes da corrente do Elo de CC atingir seu mínimo, a corrente é recuperada

ao valor original. Existem outras formas alternativas de recuperação do elo:

A corrente é aumentada, controlando o ângulo “”, com o ângulo de disparo fixado

em 90 graus. Quando a corrente atinge o valor desejado menos o valor de corrente de

margem, o ângulo de extinção do inversor e decrescido em forma de rampa

normalmente ao seu valor original;

Page 35: Leandro -TCC v. Final

34

A corrente é aumentada, mantendo a tensão no valor máximo possível (min).

A primeira opção garante que durante a recuperação, a potência reativa máxima é

retirada do sistema CA e pode ser utilizada para controlar as sobretensões. A segunda opção

garante que a máxima potência possível é enviada através do Elo de CC.

Verificação de falha de comutação:

O modelo CC geralmente inclui uma lógica de desligamento da linha CC por falha de

comutação, detectada simplesmente a partir do monitoramento da tensão de comutação ou

pelo ângulo do conversor.

2.7.3 Modelo Flexível Detalhado

Em sistemas mais complexos onde é necessário um nível elevado de detalhamento são

comuns os seguintes recursos de modelagem:

Elo de CC – um modelo dinâmico, o qual representa os efeitos de resistência,

capacitância e indutância na linha. O efeito capacitivo pode ser particularmente

importante em cabos.

O Controle do conversor é representado por modelos dinâmicos apropriados para:

Controles Principais;

Dinâmica incluindo VDCOL;

Modulação de Corrente/Potência;

Mudança de lógica rápida para potência, incluindo bloqueio e desbloqueio;

Controles de pólo capazes de representar diferentes opções de controle, como CC,

CEA, tensão CA constante, tensão CC constante, prevenção à falha de comutação, etc.

Interface CA/CC – Representação correta de comutação da tensão, comutação da

reatância e terciário do transformador, com os tiristores, condensadores e outros

componentes conectados.

Modelos detalhados de sistemas HVDC incluem a parte dinâmica do sistema, os quais

são muito mais rápidos que os modelos com um sistema CA junto. Em estudos de estabilidade

envolvendo simulações no domínio do tempo, passos de integração muito pequenos são

necessários para resolver as equações CC.

Page 36: Leandro -TCC v. Final

35

Representação Trifásica Detalhada:

O modelo detalhado descrito acima, baseado na representação fasorial por sequência

positiva, não é preciso para a análise de faltas desbalanceadas e para previsão de falhas de

comutação. Uma simulação exata de tais condições requer um modelo trifásico detalhado,

representado ciclo a ciclo incluindo a parte dinâmica da linha CA, filtros e controles do

conversor durante o distúrbio e o início de sua recuperação.

Assim, os dois tipos de simulação, um utilizando uma representação trifásica

detalhada, de uma pequena parte do sistema próximo ao elo CC e a outra um modelo

monofásico em regime permanente com o sistema de potência completo sendo utilizado de

maneira complementar.

2.8 ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS

O Elo de corrente contínua de Furnas Centrais Elétricas tem terminais nas subestações

de Foz do Iguaçu (PR) e Ibiúna (SP) e foi concebido em 19797 como alternativa de

transmissão da potência gerada por Itaipu Binacional, pois, a energia excedente do Paraguai é

vendida ao Brasil. A frequência de operação no Paraguai é de 50Hz, e portanto para a

utilização desta energia, faz-se necessário a readequação da frequência, retificando e

convertendo em 60Hz novamente.

Este elo de corrente contínua tem capacidade máxima de transmissão de 6300 MW, e

tem seus elementos principais ilustrados na Figura 2.15, onde percebe-se que, em sua

constituição original possui dois bipólos (dois conjuntos retificadores-inversores com

polaridade positiva e negativa), onde cada um dos pólos é constituído de dois conversores em

série, resultando em oito conversores (quatro por retificador/inversor, dois por polaridade). O

elo possui aproximadamente 800 km de extensão, sua tensão de alimentação é de ± 600 kV.

Adicionalmente, para sua operação existem reatores de alisamento em CC, filtros de

harmônicas CA e CC e os eletrodos de aterramento – (anel composto por 841 barras de aço

silício, enterradas a cinco metros de profundidade).

Os elementos que constituem o Elo de Furnas possuem como principais parâmetros os

apresentados na Tabela 2.1, a seguir.

7 ITAIPU HVDC TRANSMISSION SYSTEM 10 YEARS OPERATIONAL EXPERIENCE

<http://www05.abb.com/global/scot/scot221.nsf/veritydisplay/81f41178f000ca94c1256fda00

4aead6/$file/sepope2.pdf >, Acesso em 21 de julho de 2011.

Page 37: Leandro -TCC v. Final

36

Figura 2.15 – Circuito Elo HVDC de FURNAS.

Fonte: ONS – Mapas do Sistema Interligado Nacional.

Tabela 2.1 – Parâmetros do elo de CC de Furnas

Elemento Número Parâmetros Principais

Retificador e elementos

consituintes 2

2 pólos por retificador

2 conversores por pólo

VCCnom / conversor = ±300 kV

Pnom = 471MW

Inom = 2610A

2 pontes de Graetz / conversor

= 12 a 17º, máximo de 163º

Vff/CA = 127,4kV

nom = 17º

Xcomutação = 17,8

2 filtros CA 349 Mvar

3 filtros CA de 280 Mvar

Total de reativos nos filtros = 1538 Mvar

Inversor e elementos consituintes 2

2 pólos por inversor

2 conversores por pólo

VCCnom / conversor = ±300 kV

Pnom = 450MW

Inom = 2610A

2 pontes de Graetz/conversor

min = 100º

Vff/CA = 122kV

nom = 17º

Xcomutação = 17,2

12 filtros CA 220 Mvar

4 Capacitores síncronos ±330/220 Mvar

Total de reativos = 3980 Mvar

Linhas de transmissão 4

Inom = 2610A

L = 1231,9 mH

R = 10,47

Transformadores-convesores 8 Snom 900 MVA

Vnom 345kV

Fonte: Banco de dados ANATEM, 2011.

Page 38: Leandro -TCC v. Final

37

Dinamicamente, no aplicativo de Análise de transitórios eletromecânicos, os seguintes

controles principais estão implementados:

CAC – amplificador para controle de corrente;

VCO – Oscilador controlado por tensão;

VDCOL – limitador de ordem de corrente controlado por tensão;

STOL – sobrecarga por tempo reduzido.

O controle geral dos conversores do Elo de CC de Furnas, implementado no aplicativo

de Análise de Transitórios eletromecânicos está representado na Figura 2.16, onde se percebe

que o controle principal representado está em termos de potência ativa.

O sinal de potência desejada é a referência de controle, que tem em sua malha a

modulação de sinal para controles adicionais, e que é transformado em ordem de corrente pela

divisão direta da tensão aferida no sistema de CC.

Esta ordem de corrente é comparada à corrente aferida no sistema de CC gerando um

erro de corrente que é utilizado como entrada para os blocos dinâmicos do VDCOL, CCA e

VCO, respectivamente.

Figura 2.16 – Esquema geral de controle do elo CC de Furnas.

Fonte: Banco de dados ANATEM, 2011.

Como pode ser verificado na malha de controle da Figura 2.16, a transcrição da ordem

de corrente para ordem de é realizada no elemento VCO.

O detalhamento da Figura 2.16, de modo a mostrar as funções dinâmicas de cada um

dos seus blocos, está ilustrado na Figura 2.17.

Figura 2.17 – Modelo detalhado do esquema de controle do elo CC de Furnas.

Fonte: Banco de dados ANATEM, 2011.

Page 39: Leandro -TCC v. Final

38

Na Figura 2.17, percebe-se que os seguintes blocos possuem as respectivas funções:

CCA: controlador de corrente proporcional-integral;

VCO: converte o sinal de corrente para uma ordem de , com um filtro de entrada;

VDCOL: modula a corrente por um fator redutivo quando percebe uma razão Vcc/Vesp

negativa;

STOL (Short Time Over Load): permite ao Elo de CC operar em sobrecarga por um

período curto de tempo, limitando a corrente superior quando percebe que esta se

aproxima do limite de aquecimento dos tiristores;

O sinal modulador que se soma à potência advém do controle STAB50 (Estabilizador

do setor de 50 Hz) que é ilustrado na Figura 2.18.

Na Figura 2.18, verifica-se que quando ocorre uma variação da frequência com relação

à frequência nominal, é gerado um sinal de referência de forma a compensar esta variação por

modular a potência do Elo de CC no sentido contrário. Este controle permite tanto elevar

quanto reduzir momentaneamente a potência transmitida pelo Elo de CC de Furnas.

Figura 2.18 – Sinal modulador de potência no elo de corrente contínua.

Fonte: Banco de dados ANATEM, 2011.

No Elo de CC de Furnas estão implementados ainda, esquemas de proteção,

principalmente para evitar que eventos no HVDC danifiquem dispositivos ou afetem de

maneira drástica a operação do sistema paraguaio, que possui uma potência relativa pequena

com relação à potência no Elo de CC de Furnas.

Os principais dispositivos de proteção instalados estão relacionados na Tabela 2.2, de

onde se percebe que as principais funções buscam reduzir desbalanços de potência gerados

por eventos no Elo de CC de Furnas (indicado por variações de frequência), por mudança de

topologia (identificação de abertura de linhas), entre outros.

Estas funções adicionais de proteção não estão implementadas no banco de dados do

aplicativo de Análise de Transitórios Eletromecânicos, que, tem como finalidade principal,

representar a resposta dinâmica do sistema para os próprios ajustes dos esquemas de proteção.

Page 40: Leandro -TCC v. Final

39

Tabela 2.2 – Esquemas de Controle de Emergência de Itaipu

SINAL MEDIDO PROVIDÊNCIA TOMADA

Abertura de LI MD-ACY 1 ou 2 OU 1 e 2 Corta carga ANDE

Bloqueio do último conversor Desliga todos filtros

Curto 1 + bloqueio de 3 conversores, OU curto 2 ou 3 Abertura interligação

Desligamento de filtro e IPU50>6400MW Bloqueia TAPs Elo

df/dt > 1,9Hz/s + (sinal de bloqueio de 4 ou + conversores) Corta 1 UG em Itaipu

df/dt > 2,4Hz/s + (sinal de bloqueio de 4 ou + conversores) Corta 2 UG em IPU OU separa 2UG para ANDE + corta carga

f/t>3Hz/s entre 51 e 52 Hz Abre interligação

f<45Hz Abre interligação

f>56Hz, t>3,3s Abre interligação

f>56Hz, t>3,3s (C7) Abre interligação

I>4000A na IPU-MD 1 ou 2 Desconecta LT adjascente

Nconversor < Nfiltros Desliga filtros

Ngerador < Nfiltros Desliga filtros

Perda de UGs em Itaipu Limita Pordem < 1100*NG

Sobrecarga de 38% em transformador SEMD Corta carga ANDE

V>600, t>1,5s Abre LT 500kV com Furnas

V>600, t>350ms e depois cada 250ms Desliga filtros

VCA<250kV t>400ms Abre interligação

VCA<350kV Abre LT 500kV com Furnas

VCA>550kV e I>300A sentido 220kV Abre interligação

VCA>575kV Aumenta Iordem no Elo

VCA>850kV t>200ms Abre interligação

VCA>850kV t>200ms OU VCA>750kV, t>350ms Abre LT 500kV com Furnas

Zero UGs Itaipu e Zero LT 500kV Abre interligação

Fonte: Procedimentos de Rede de Itaipu (2011).

2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo foi apresentada uma revisão bibliográfica sobre as características físicas

dos Elos de Corrente Contínua, assim como de seus aspectos de implementação em

aplicativos de simulações eletromecânicas.

Por fim, foi realizada uma revisão acerca das peculiaridades do Elo de CC de Furnas

Centrais Elétricas, objeto deste trabalho.

Page 41: Leandro -TCC v. Final

40

3. MÉTRICA DE AVALIAÇÃO ELETROMECÂNICA DO DESEMPENHO DO

SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL FRENTE À EVENTOS NO ELO DE CC DE

FURNAS

Neste capítulo são postulados os critérios que delineiam a avaliação das simulações

realizadas da dinâmica do Sistema Interligado Nacional quando da ocorrência de eventos no

Elo de CC de Furnas, determinados, basicamente por procedimentos operativos postulados

pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

3.1 DIRETRIZES PARA ESTUDOS EM SISTEMAS CA

O ONS, por meio do submódulo 23.38 de Procedimentos de Rede estabelece alguns

critérios que devem ser respeitados no momento de se realizar um estudo em sistemas de

corrente alternada, os quais são, principalmente as condições de carga, geração e configuração

do sistema a serem utilizadas como condições iniciais devem ser condições normais de

operação, para cargas pesada, média, leve e mínima.

Com relação aos tipos de contingências a serem simuladas, devem ser aplicadas

contingências simples, dupla e saída de linha de transmissão com circuito duplo. Em função

da contingência analisada, deve ser considerada a atuação dos Sistemas de Proteção (SEPs)

existentes e relevantes para o desempenho do sistema elétrico.

Nos estudos de estabilidade eletromecânica deve-se ter como referência um conjunto

de situações dos quais se podem citar os seguintes casos:

Falta na barra com atuação correta da proteção;

Falta em circuitos – duplos ou não – com falha de disjuntor;

Perda de uma interligação elétrica que provoque a abertura de outras interligações.

Para os estudos de estabilidade eletromecânica, a modelagem do sistema deve

considerar os seguintes aspectos:

As usinas de pequeno porte podem ser representadas pelo método clássico ou,

simplesmente não serem representadas;

8 Diretrizes e critérios para estudos elétricos - Submódulo 23.3

<http://extranet.ons.org.br/operacao/prdocme.nsf/videntificadorlogico/AB6967420089787483

2577A5006BDD25/$file/Subm%C3%B3dulo%2023.3_Rev_1.1.pdf?openelement>, acesso

em 19 de julho de 2011.

Page 42: Leandro -TCC v. Final

41

Os Sistemas de CC devem ser representados com base no estabelecido no item 3.3 do

respectivo submódulo;

Proteções de distância, de sobretensão, perda de sincronismo e SEPs (Esquemas

Regionais de Alívio de Carga – ERAC, Esquemas de Corte de Geração – ECG, entre

outros) pertinentes à análise devem ser considerados.

Os tempos de isolamento dos defeitos devem ser obtidos com base nos tempos de

manobra de elementos que dependem do arranjo físico da subestação e do tempo de atuação

da própria proteção.

Tempos indicativos de isolamento do defeito são apresentados na Tabela 3.1. Estes

valores só devem ser utilizados quando não houver informações disponíveis nos bancos de

dados ou quando não forem fornecidas pelos agentes. Caso haja necessidade de elaborar

estudos específicos, devem ser solicitados aos agentes os dados de tempo de eliminação de

defeitos.

Tabela 3.1 – Tempos indicativos de eliminação de defeitos.

Fonte: SUBMÓDULO 23.3 ONS.

3.2 CRITÉRIOS PARA ESTUDOS EM SISTEMAS CA

No estudo de sistema de corrente alternada, sob qualquer condição de carga, o sistema

deve permanecer estável para aberturas intempestivas com ou sem a aplicação de curtos-

circuitos monofásicos, sem religamento, ainda que haja a perda de algum dos elementos do

sistema de transmissão, até mesmo de transformadores.

Page 43: Leandro -TCC v. Final

42

O curto circuito monofásico é usado por ser, entre os defeitos, o de mais alta

probabilidade de ocorrência. Nos casos de contingências do tipo simples ou saída de linha de

transmissão em circuito duplo, que provocam aberturas de parte ou da totalidade de

interligações elétricas entre áreas do SIN, os subsistemas que resultam dessas aberturas

devem se manter estáveis e sem corte de carga. Adicionalmente, o sistema deve ser

dinamicamente estável nas pequenas variações de intercâmbio nessas interligações.

Além de ser estável, o sistema não deve estar sujeito a riscos de sobrecargas

inadmissíveis em equipamentos, à violação de faixas de tensão, nem tampouco a

desligamentos indesejáveis de elementos da rede ou de carga. Em princípio não deve haver

atuação de dispositivos de proteção do banco de capacitores série para faltas externas, à

exceção de faltas que sejam eliminadas em tempo superior ao tempo máximo de eliminação

da falta sem falha do disjuntor (tabela 3.1).

Para a avaliação da estabilidade eletromecânica devem ser considerados os seguintes

critérios:

A tensão mínima para situação pós-distúrbio no SIN, na primeira oscilação, não pode

ser inferior a 60% da tensão nominal de operação (63% para 500kV) e, nas demais

oscilações, deve ser superior a 80% da tensão nominal de operação (84% para 500kV);

A máxima variação de tensão admitida entre o instante inicial e o final da simulação

dinâmica deve ser de 10% da tensão nominal de operação, ou seja,

;

A amplitude máxima de oscilações de tensão eficaz pico a pico deve ser menor ou

igual a 2%, em valor absoluto, 10 (dez) segundos após a eliminação do distúrbio;

A frequência mínima a ser observada após os distúrbios deve ser de 57,0 Hz devendo

se estabilizar em 59,5 Hz, em 20s.

3.3 DIRETRIZES E CRITÉRIOS PARA ESTUDOS EM SISTEMAS CC

De uma forma geral, para os estudos em sistemas CC deve-se realizar simulação da

influência e do comportamento de um elo de corrente contínua em um sistema CA. A

simulação deve permitir representar a modulação de grandeza da rede CA, do sistema CCC

(Capacitor Comuted Converter), back-to-back ou ponto-a-ponto (ICC, VCC), bem como do

sistema CC convencional, cuja representação possibilita melhorar a estabilidade do sistema,

em função da grande velocidade de resposta de seus controles.

Page 44: Leandro -TCC v. Final

43

Para a faixa de tensões CA estabelecida para as barras retificadora e inversora, o

sistema deve ser planejado para operar num nível de tensão CC inferior ao valor nominal

(tensão reduzida). Busca-se, assim, eliminar um curto-circuito nos isoladores estabelecido

entre o condutor e a terra, depois de tentativas, sem sucesso, de religamento a plena tensão.

Com relação à aspectos específicos dos estudos, devem ser considerados:

3.3.1 Capacidade de sobrecarga no sistema CC

Deve ser avaliada a necessidade de sobrecarga de curta duração no sistema CC para

que se obtenha um desempenho estável para o sistema de transmissão diante de situação de

faltas nos sistemas CC e CA.

3.3.2 Forma de representação do controle do sistema CC

Para a representação do controle do sistema CC alguns aspectos são relevantes:

Em estudos de estabilidade, o modelo que representa o Master Control apresenta duas

opções de funcionamento para o sistema CC – potência constante ou corrente

constante –, com possibilidade de aplicação de sinal externo para a modulação do elo

CC;

Em relação aos limites de corrente e modulação:

A corrente de referência Io (Iordem) se limita a um valor máximo da corrente nominal

do sistema CC. Esse valor varia de acordo com o projeto;

O bloco estabilizador ou de modulação representa uma função de transferência

ajustada para permitir a modulação do sinal da corrente ou potência na rede CA. Em

princípio, qualquer variável ou combinação de variáveis do sistema CA ou CC pode

ser utilizada como sinal de entrada para esse bloco;

Em relação à dependência entre a corrente de referência e a tensão do lado CC

(Voltage Dependent Current Order Limit – VDCOL):

A função do VDCOL é reduzir a ordem de corrente quando a tensão CC é reduzida a

menos que um valor previamente determinado; a redução da ordem de corrente é

importante para que o sistema se recupere da falta. Os valores ICC x VCC podem ser

alterados dependendo da conveniência do sistema CA, mas devem respeitar as

limitações do fabricante, que devem ser informadas pelo agente;

Page 45: Leandro -TCC v. Final

44

No caso de conversoras back-to-back, a ordem de corrente pode ser reduzida

dependendo da tensão CA do lado mais afetado. A curva de dependência deve ser

fornecida pelo agente.

A linha de transmissão em corrente contínua, nos casos de sistemas CC ponto-a-ponto,

é expressa pela sua própria constante de tempo “ = L/R”, onde L e R são a indutância e a

resistência total da linha.

3.3.3 Estudos de desempenho dinâmico envolvendo Elos de CC.

Tais estudos, devem:

a) otimizar os parâmetros de controle sistêmico do elo CC;

b) verificar o comportamento do elo CC durante faltas e transitórios do sistema CA e CC;

c) definir os tempos de recuperação pós-defeito no sistema CC e CA;

d) definir a necessidade de controle para amortecimento das oscilações sistêmicas;

e) definir a necessidade de controle de tensão.

O sistema de potência deve ser transitório e dinamicamente estável. Os estudos a ele

relativos devem considerar os seguintes critérios:

Em curto-circuito monofásico em elementos CA eletricamente próximos às barras

conversoras deve ser assumida potência zero na linha CC durante todo o período de

falta;

Para curto-circuito próximo à barra retificadora, deve ser considerada, durante a falta,

uma redução de 80% na potência da linha CC em relação ao seu valor pré falta;

3.3.4 Recuperação da potência CC

A recuperação da potência CC, após a eliminação da falta pode, para efeito de estudo,

ser representada simplificadamente por meio de uma rampa;

O tempo de recuperação, medido desde o instante da eliminação da falta até a potência

CC atingir 90% do seu valor de referência pré-falta, deve estar na faixa de 150 a 400ms e

deve ser avaliado por meio de estudos.

Page 46: Leandro -TCC v. Final

45

3.3.5 Faltas e contingências no elo CC

Para faltas monopolares temporárias na linha CC, os curtos-circuitos são eliminados

em poucos milissegundos pela atuação do controle. As tentativas de religamento

devem esperar cerca de 200ms (tempo estimado para a eliminação do arco) para se

efetivarem. Essas tentativas devem ser representadas, sejam elas com sucesso ou sem

sucesso;

Para falta monopolar permanente na linha CC com o bloqueio de um pólo, deve ser

avaliada a necessidade de outros pólos assumirem a potência perdida até o valor limite

da sobrecarga de corrente de curta duração, a fim de se obter um desempenho estável

para o sistema de potência. Deve ser avaliada também a necessidade de desligamentos

automáticos de filtros CA nos lados retificador e inversor, de forma a evitar

sobretensões ou riscos de auto-excitação de compensadores síncronos ou geradores

próximos ao sistema CC;

Para o tempo de eliminação de faltas monofásicas no sistema de corrente alternada, na

ausência de informações disponibilizadas pelos agentes, devem ser considerados os

valores descritos na Tabela 3.1.

Em relação a colapsos de tensão próximos ao elo CC:

Com relação aos colapsos de tensão em estações próximas às conversoras, o elo CC,

quando operando em controle de potência, deve ter a ordem de corrente limitada para

valores de tensão CC abaixo de um valor de referência, de forma a limitar o aumento

da ordem de corrente, reduzir o risco do elo CC e piorar o desempenho da tensão CA

em situações de colapso de tensão.

3.4 METODOLOGIA DE SIMULAÇÃO E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Baseado nos critérios postulados neste capítulo, se estabelecem as seguintes simulações

para avaliação do desempenho dinâmico objeto deste trabalho:

Bloqueio de pólo;

Curto-circuito monofásico e abertura de linha de transmissão de corrente alternada;

Curto-circuito e abertura de linha de transmissão de corrente contínua;

Falha de comutação;

Rejeição de filtro de CA;

Remoção de Ponte Conversora;

Page 47: Leandro -TCC v. Final

46

Destas simulações, deseja-se que atendam aos critérios de estudo de performance

dinâmica do elo CC estabelecidos no item 3.2, no subitem 3.3.5 e, em senso9, que as

Proteções contra Perda de Sincronismo (PPS) que estejam ajustadas para separação

(ilhamentos controlados) de subsistemas não devem ter, no período transitório, para eventos

no Elo de CC de Furnas Centrais Elétricas, as condições de atuação atendidas. Isso significa

que eventos no Elo de CC de Furnas Centrais não devem ocasionar desligamentos da

interconexão entre subsistemas.

3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo foram apresentados os critérios para estudos de estabilidade do sistema

interligado nacional com base em procedimentos de rede adotados pelo operador nacional do

sistema elétrico, a metodologia utilizada para avaliar o sistema e os principais critérios de

avaliação da estabilidade do sistema que possam garantir um mínimo de integridade do

sistema.

Desta forma pode-se avaliar em que condições o sistema opera frente à eventos no elo

de corrente contínua de Furnas, permitindo a observação de possíveis riscos ao sistema

elétrico.

9 Isso porque, esse critério é introduzido consensualmente em reuniões dos grupos ou

comissões de operação.

Page 48: Leandro -TCC v. Final

47

4. SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS

Como deliberado no capítulo anterior, a metodologia de simulação e os critérios foram

aplicados como descrito no subítem 4.1, resultando nas avaliações e análises que se seguem.

Inicialmente citam-se ocorrências que envolveram o Elo de Corrente Contínua de

Furnas Centrais Elétricas S.A. verificadas nos últimos anos, com fundamentação da realização

deste trabalho, em seguida são relatados os cenários adotados para simulação, e por fim, são

apresentados os resultados obtidos de simulações, delineando a forma de avaliação e

ilustrando o desempenho dinâmico do Elo de CC.

4.1 OCORRÊNCIAS ENVOLVENDO O ELO DE CORRENTE CONTÍNUA DE FURNAS

Durante os últimos anos (2007 a 2011), diversas ocorrências envolvendo o elo de

Furnas causaram o desligamento total ou parcial. Os eventos mais importantes estão descritos

na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 – Principais eventos no Sistema Elétrico Brasileiro associados ao elo de Corrente Contínua de Furnas

Principais eventos relacionados ao ELO CC:

Data da Ocorrência Efeito / Energia não gerada

Ano de 2007 Não houve ocorrências relevantes

Ano de 2008 Não houve ocorrências relevantes

10/11/2009

Desligamento do Elo de Corrente Contínua com 5400 MW de fluxo.

Interrupção total de aproximadamente 28.800MW de carga no SIN

e 980MW de carga no Paraguai.

Ano de 2010 Não houve ocorrências relevantes

Ano de 2011 (até março) Não houve ocorrências relevantes

Fonte: IPDO – Informativos preliminares diários de operação.

Verifica-se, da Tabela 4.1, que até o ano de 2008 não houveram ocorrências relevantes

ao sistema. No ano de 2009, ocorreu um grande blackout levando a interrupção de

fornecimento de energia a consumidores. Este foi o caso mais grave relatado nos últimos anos

onde nove estados tiveram o fornecimento de energia interrompido por algumas horas. Após

este evento nenhuma outra perturbação relevante foi verificada no sistema interligado

nacional até o primeiro trimestre de 2011.

Page 49: Leandro -TCC v. Final

48

4.2 CENÁRIOS DE SIMULAÇÃO

Para simulação foram considerados que o carregamento do sistema e o intercâmbio

entre subsistemas são os parâmetros primários de severidade com relação a grandes

perturbações, enquanto perfis de tensão e distribuição de reativos, secundários.

Baseado na Tabela 4.1, foram considerados relevantes, especificamente para o Elo de

Corrente de Furnas Centrais Elétricas e suas conexões, os seguintes casos:

Abertura total de circuito de corrente alternada;

Aplicação de corrente de curto-circuito em barra de corrente contínua;

Bloqueio completo do elo;

Falha de comutação;

Perda de filtro 349 Mvar;

Remoção de ponte conversora.

Desta maneira, foram criados os seguintes cenários de intercâmbio, considerando o

SIN subdividido entre subsistema Norte-Nordeste, Sudeste-Centro-Oeste e Sul, em período

crítico para o sistema, como definido e ilustrado nas Figuras 4.1 e 4.2:

EXPSE e RSUL – NNE exportando para SE (1800 MW) e SUL recebendo do SE (560

MW);

RNNE e FSUL – NNE importando do SE (2050 MW) e SUL exportando para o SE

(3000 MW);

RNNE e RSUL – NNE importando do SE (600MW) e SUL exportando para o SE

(500 MW);

EXPSE e FSUL – NNE exportando para SE (1770 MW) e SUL recebendo do SE

(2200 MW);

Page 50: Leandro -TCC v. Final

49

Figura 4.1 – Subdivisão Sudeste – Norte Nordeste

Fonte: Planejamento da Operação Elétrica de Médio Prazo – ONS – 2010.

Page 51: Leandro -TCC v. Final

50

Figura 4.2 – Subdivisão Sul – Sudeste

Fonte: Planejamento da Operação Elétrica de Médio Prazo – ONS – 2010.

Figura 4.3 – Diagrama simplificado mostrando o sentido dos quatro intercâmbios entre áreas considerados

NNE

SE

SUL

EXPSE e FSUL

NNE

SE

SUL

RNNE e RSUL

NNE

SE

SUL

RNNE e FSUL

NNE

SE

SUL

EXPSE e RSUL

Page 52: Leandro -TCC v. Final

51

4.3 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS SIMULAÇÕES ELETROMECÂNICAS

Neste subitem, são explicitados os principais elementos com fatores limitantes aos

quais se submeteram avaliações transitórias e de regime permanente que correspondem ao

desempenho do Sistema Interligado Nacional.

As Tabelas 4.2 e 4.3 ilustram, respectivamente, linhas de transmissão que apresentam

carregamento limitante quando de rejeições no Elo CC abordado, assim como identifica a

existência de proteções contra perda de sincronismo instaladas no intuito de isolar

subsistemas e os barramentos adjacentes às conversoras que podem apresentar problemas

associados ao afundamento ou variação excessiva de tensão pós-perturbação para os eventos

postulados.

Em ambas tabelas, o número associado aos barramentos ou “barras” corresponde ao

cadastro do banco de dados do Operador Nacional do Sistema.

Tabela 4.2 – Localização das proteções contra perda de sincronismo e limite das linhas observadas

Localização da PPS Da Barra Para a Barra Limite da Linha

(MVA)

PPS da SE-NE (Bom Jesus da Lapa - Rio das Éguas LT 500kV) 6349 6444 1992

PPS Presidente Dutra - Teresina - LT 500kV 5580 5500 2123

PPS Presidente Dutra - Boa Esperança - LT 500kV 5580 5510 1905

PPS Ribeiro Gonçalves - Colinas - LT 500kV 5437 7300 1560

PPS da Interligação N-SE (em Miracema) - LT 500kV

7200 7301 2598

7200 7303 2728

PPS da Interligação N-SE (em Gurupi) - LT 500kV

7102 7201 2220

7104 7203 2728

PPS da Interligação N-SE (em Serra da Mesa) - LT 500kV

7236 7101 2220

7237 7103 2728

Fonte: Operador Nacional do Sistema – ONS – 2011.

Tabela 4.3 – Barras sob análise de estabilidade de tensão e intervalos de tensão aceitáveis durante o evento.

Barra Tensão Limites de Tensão em

Regime Permanente (pu)

Limite de Tensão Primeira

Oscilação (pu) /

depende de Vpré

Limite de Tensão Após

10 segundos (pu) /

depende de Vpos (t = 0+)

60 765kV 0,9 - 1,046 0,57 - 0,63 0,88 - 1,025

65 765kV 0,9 - 1,046 0,57 - 0,63 0,88 - 1,026

70 765kV 0,9 - 1,046 0,57 - 0,63 0,88 - 1,027

72 765kV 0,9 - 1,046 0,57 - 0,63 0,88 - 1,028

76 765kV 0,9 - 1,046 0,57 - 0,63 0,88 - 1,029

80 500kV 0,95 - 1,1 0,60 - 0,68 0,93 - 1,083

Fonte: Operador Nacional do Sistema – ONS – 2011.

Page 53: Leandro -TCC v. Final

52

Com o objetivo de mostrar o comportamento do sistema interligado nacional foi criada

uma determinada condição de operação do sistema pré-falta simulando quatro situações de

intercâmbio entre áreas e cinco perturbações distintas ao qual o sistema está sujeito. Destas

simulações, podem ser extraídos os resultados mostrados à seguir:

4.4 CASO I – INTERCÂMBIO NO SENTIDO EXPSE e RSUL

Por meio do software Anarede foi ajustado o intercâmbio EXPSE e RSUL com carga

pesada e carga leve, atingindo valores de 1800MW e 560MW respectivamente.

Posteriormente foram simulados os eventos de bloqueio de elo, curto-circuito em barra CC,

falha de comutação, perda de filtro e remoção de ponte retificadora. Neste modo de

intercâmbio o sistema elétrico se comportou de forma estável e satisfatória para critérios de

tensão, frequência, variação angular e atuação das PPS. O comportamento das ondas de

tensão do tronco de 765kV de Furnas foi semelhante para todos os casos simulados, atingindo

no pior caso um valor de 0,933 p.u. de mínimo. Um caso típico de comportamento da tensão

está ilustrado na Figura 4.4 onde após a perturbação, a tensão no tronco se estabilizou.

Figura 4.4 – Comportamento das ondas de tensão do tronco de 765kV de Furnas após remoção de ponte

retificadora.

A excursão angular relativa entre os rotores das massas girantes do SIN e a oscilação

na frequência também não foi significativa, o que é ilustrado Figuras 4.5 e 4.6,

respectivamente.

Page 54: Leandro -TCC v. Final

53

Figura 4.5 – Abertura angular entre diversas barras do sistema e a barra de Ilha Solteira após bloqueio de elo.

Figura 4.6 – Oscilação da frequência no sistema elétrico nacional após a remoção de ponte retificadora.

Com relação a análise do risco de atuação das proteções contra perda de sincronismo

do SIN neste caso, é possível notar o não atendimento às condições de atuação (também

chamada no jargão técnico de “não atuação”) de nenhuma das PPSs do sistema, fato ilustrado

na Figura 4.7.

Em tempo, nesta figura assim como nas demais que são apresentadas, há risco de

atuação quando a impedância da linha medida em seus terminais pela razão fasorial Z = V/I,

(também chamada no jargão de “impedância vista”) pela proteção adentra a região interna

delimitada pelas formas retangulares da Figura 4.7, permanecendo nesta região por um tempo

igual ou superior ao ajuste, de cada proteção.

Esse fato é coerente com a excursão das demais grandezas (tensão, frequência e

ângulo), de onde espera-se que para esta perturbação o sistema se recupere de forma

satisfatória.

Page 55: Leandro -TCC v. Final

54

Figura 4.7 – Proteção contra perda de sincronismo da interligação SE-NE e traçados no tempo da variação das

impedâncias “vistas” pela proteção.

4.5 CASOS II e III

4.5.1 Caso II – Intercâmbio no sentido RNNE e FSUL

Nesta situação de intercâmbio o fluxo de potência de regime permanente pré-

perturbação foi ajustado em 2050MW na interligação “RNNE” e de 3000MW na interligação

“FSUL”. Os eventos simulados nesta situação são análogos aos do caso I, resultando em

respostas bastante semelhantes aos do item 4.4, ou seja, não incluindo informações adicionais

às análises.

4.5.2 Caso III – Intercâmbio no sentido RNNE e RSUL

Neste caso, o fluxo de potência de regime permanente pré-perturbação foi ajustado em

600MW no sentido RNNE e 500MW no sentido RSUL, também resultando em um

desempenho dinâmico muito similar aos das Figuras 4.4 à 4.7.

Ou seja, em termos de estabilidade, excursões de grandezas e risco de atuações

indevidas, esta perturbação não submete o sistema a riscos excessivos. A título de exemplo,

valores mínimos de tensão em regime permanente para a pior situação atingiram cerca de 0,93

pu.

Page 56: Leandro -TCC v. Final

55

4.6 CASOS IV – INTERCÂMBIO NO SENTIDO EXPSE E FSUL

Neste caso, o fluxo de potência de regime permanente pré-perturbação foi ajustado em

1770MW no sentido EXPSE e 2200MW no sentido FSUL. Nos eventos de curto-circuito em

barra de corrente contínua, falha de comutação e perda de um filtro de 349Mvar o sistema se

mostrou operar de modo satisfatório, no entanto a simulação dos outros dois eventos restantes

sugerem condições de risco, infrações de critérios de desempenho ou até mesmo

instabilidades no sistema. Tais análises são descritas separadamente com detalhes deliberados

como segue.

4.6.1 Bloqueio do Elo de CC de Furnas Centrais Elétricas.

Neste caso, como ilustrado na Figura 4.8, a tensão no “tronco de 765kV” oscila

atingindo um valor mínimo de 0,91 p.u., superior ao limite estabelecido, e por isso, atendendo

os critérios de desempenho dinâmico postulados pelo ONS.

Figura 4.8 – Variação da tensão no tronco de 765kV após a aplicação de um Bloqueio de Elo no sistema HVDC

de Furnas com um intercâmbio EXPSE e FSUL.

A frequência do sistema, ilustrada na Figura 4.9, também apresenta um valor superior

o limite mínimo de 57 Hz estabelecido pelo ONS (mínimo de 59,71 Hz).

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56

Figura 4.9 – Variação da frequência no tronco de 765kV após a aplicação de um Bloqueio de Elo no sistema

HVDC de Furnas com um intercâmbio EXPSE e FSUL.

Apesar de atender os critérios de tensão e de frequência, as simulações sugeriram que

a PPS da interligação SE-NNE pode atingir uma condição de atuação e levar à abertura da

interligação N-NE, como ilustrado na Figura 4.10. Neste caso, esta atuação acarretaria a

interrupção da importação de aproximadamente 1800 MW pela região Sudeste, o que poderia,

inclusive, causar outros desligamentos em cascata agravando os efeitos da perturbação.

Figura 4.10 – PPS da Interligação SE-NE e traçados de reatâncias vistas pelas mesmas para o caso 4.6, com a

aplicação de um bloqueio de elo no sistema de corrente contínua.

Page 58: Leandro -TCC v. Final

57

4.6.2 Remoção de Ponte Retificadora

A exemplo do caso anterior, caso ocorra uma remoção de ponte retificador por falha,

há novamente o risco de atendimento das condições de atuação de PPS do Sistema Interligado

Nacional. Neste caso, mais de um dos ajustes associados à interligação SE-NNE adentram a

região de atuação, como ilustrado na Figura 4.11.

Figura 4.11 – Área de atuação da PPS da interligação SE-NE e traçados de reatâncias vistas pela mesma para o

caso EXPSE e FSUL após a remoção de ponte retificadora.

4.7 EVENTO NO SISTEMA DE CORRENTE ALTERNADA

Nas quatro condições de fluxo ajustadas, foi simulada a titulo de comparação, a

abertura de um circuito de corrente alternada, mais especificamente a abertura de uma das

linhas do tronco de 765kV de Furnas.

Após analisar os resultados, foi possível observar que em qualquer situação de fluxo, a

variação nas tensões e frequências foi maior, o que evidencia uma tendência maior a

instabilidade no sistema frente a perturbações no sistema de corrente alternada. Uma das

situações notáveis pode ser vista na figura 4.12, onde tem-se evidenciada uma instabilidade de

tensão no tronco de 765kV de Furnas, fazendo com que se perca a geração de Itaipu 60Hz.

Page 59: Leandro -TCC v. Final

58

Figura 4.12 – Instabilidade de tensão vista no tronco de 765kV após a abertura de uma das linhas do tronco de

765kV.

4.8 EVENTOS EM CONDIÇÃO OPERATIVA DE CARGA LEVE

Outra condição operativa existente é a operação em carga leve, período que ocorre

diariamente em períodos de baixo consumo de energia (madrugada). Ao simular as mesmas

perturbações em condições operativas diferentes, pode-se notar que o sistema permaneceu

com características predominantemente estáveis. Todas as simulações realizadas atenderam

aos requisitos de estabilidade postulados pelo ONS.

O evento mais impactante ao sistema foi a aplicação de um bloqueio de bipólo do elo

de corrente contínua de Furnas. As tensões, frequências e aberturas angulares podem ser

observadas nas Figuras 4.13, 4.14 e 4.15 respectivamente.

Figura 4.13 – Tensões em diversas áreas do sistema após a aplicação de um Bloqueio de Elo em corrente

contínua

Page 60: Leandro -TCC v. Final

59

Figura 4.14 – Frequência em diversas regiões do Brasil após a aplicação de um Bloqueio de Elo em corrente

contínua.

Figura 4.15 – Abertura angular entre diversas barras do sistema e a barra de Ilha Solteira após bloqueio de elo

em condição de carga leve no sistema.

A excursão das impedâncias aparentes verificadas pelos relés instalados na

interligação NE-SE, a qual apresenta maiores oscilações de potência dentre as demais, é

ilustrada na Figura 4.16, para a ocorrência de um bloqueio de bipólo.

É possível notar que existe o risco da ocorrência da abertura da interligação para esta

condição de carga, e por esse motivo, a possibilidade de abertura da interligação, evento

bastante crítico com relação a operação do Sistema Interligado Nacional.

Adicionalmente, com relação ao período de carga leve, verificou-se que as grandezas

neste sistema de transmissão oscilam com maiores amplitudes que com relação à carga

Page 61: Leandro -TCC v. Final

60

pesada. Suspeita-se, baseado nas simulações realizadas, que este aspecto ocorra devido à

menor inércia sistêmica conectada ao SIN no período de carga leve.

Figura 4.16 – PPS da interligação SE-NE e traçados de reatâncias vistas pela mesma após o bloqueio de bipólo

em situação de carga leve.

4.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo foram apresentadas as simulações realizadas por meio de aplicativo para

analisar o desempenho dinâmico do sistema interligado nacional frente à eventos associados

ao Elo de Corrente Contínua.

De maneira geral, o sistema elétrico brasileiro se manteve estável, não apresentando

grandes riscos de instabilidade. Num total de 24 eventos simulados, foram gerados 96

gráficos. Após a aplicação dos critérios de estabilidade em todos os gráficos, foram

observadas 4 situações em que critérios de estabilidade não foram atendidos. Duas possíveis

atuações das proteções contra perda de sincronismo e mais dois gráficos de tensão no tronco

765 kV. Pode-se notar também que qualquer perturbação no sistema CA gera instabilidades

mais facilmente no sistema.

Page 62: Leandro -TCC v. Final

61

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho foi realizado um estudo visando a avaliação do desempenho dinâmico

do sistema elétrico brasileiro, frente a distúrbios no principal elo de corrente contínua

existente neste sistema, do ponto de vista eletromecânico, a partir de simulações.

Este trabalho foi motivado pela necessidade de constante avaliação do desempenho do

Sistema Interligado Nacional frente a eventos neste elemento, que corresponde a uma parcela

significativa da potência gerada e consumida no Sistema brasileiro de Energia Elétrica.

Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica acerca das características físicas

dos Elos de Corrente Contínua e suas características para simulação em programas de fluxo

de potência e de análise de transitórios eletromecânicos.

Evidenciou-se que a performance dos Elos de Corrente Contínua está principalmente

associada às estações conversoras e pode ser indicada pela tensão média apresentada em sua

saída.

Esta tensão é afetada por dois fenômenos em especial: redução de tensão por atraso do

disparo nos tiristores e redução causada pela superposição de válvulas originada na “inércia”

de corrente associada à alta indutância do sistema CA conectado aos conversores.

Em seguida, foi realizada uma revisão bibliográfica dos critérios de avaliação de

simulações eletromecânicas para sistemas em CA e CC de acordo com diretrizes postuladas

pelo Operador Nacional do Sistema.

Baseada nesta revisão, uma metodologia de simulação e de análise das grandezas

apresentadas como resultado da simulação foi realizada.

Neste sentido, foi proposta a avaliação de cinco eventos no sistema de corrente

contínua e um evento no sistema CA, a saber: bloqueio de elo de CC, falha de comutação,

bloqueio de ponte conversora, perda de filtro, curto circuito CC e abertura de linhas de CA;

aplicadas em quatro modos diferentes de intercâmbio entre as regiões do sistema interligado

nacional, dados pelas combinação de importação/exportação pelo subsistemas sul, sudeste e

norte-nordeste.

Em geral as simulações realizadas mostraram que o sistema elétrico brasileiro atende

os requisitos postulados pelo Operador Nacional do Sistema na maioria dos casos, exceto nos

casos de Bloqueio de Elo e Remoção de Ponte Retificadora no sistema CC, onde possíveis

Page 63: Leandro -TCC v. Final

62

atuações das proteções contra perda de sincronismo poderiam separar a região sudeste da

Nordeste.

Esta indicação é relevante, pois este tipo de separação pode causar desligamentos em

cascata e levar o sistema à instabilidade. Foi verificado, adicionalmente, que em geral, as

simulações envolvendo distúrbios no sistema de corrente alternada causam maiores oscilações

nas unidades geradoras de Itaipu 60 Hz e por isso tendem a causar oscilações de maior

abrangência no Sistema Interligado Nacional.

Nos casos simulados com carga leve, existe um risco de atuação da proteção da

interligação SE-NE, após a aplicação de um bloqueio de bipólo. Adicionalmente percebe-se

que a oscilação na frequência do sistema é maior em casos de carga leve no sistema.

Page 64: Leandro -TCC v. Final

63

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

ATIVIDADES NO

ANO 2011 Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov.

Revisão bibliográfica acerca

da modelagem de elos de

corrente contínua.

Levantamento do histórico de

desempenho do elo de

corrente contínua de Furnas

frente à perturbações no

Sistema Interligado Nacional.

Ajuste de casos de fluxo de

potência.

Simulação da dinâmica

eletromecânica do Sistema

Interligado Nacional frente à

perturbações no elo de

corrente contínua de Furnas.

Análise de risco sistêmico

induzido por perturbações no

elo de corrente contínua de

Furnas.

Simulação dinâmica do SIN

baseadas nas diretrizes e

critérios para estudos em

sistemas CC dos

Procedimentos de Rede do

ONS – Submódulo 23.3.

Elaboração e emissão do

relatório final.

Legenda: - atividades previstas

- atividades realizadas

Page 65: Leandro -TCC v. Final

64

REFERÊNCIAS

KUNDUR, P. Power System Stability and Control. McGraw-Hill, 1994.

KIMBARK, E. W., Direct Current Transmission, Vol. 1, John Wiley and Sons Inc., New

York,1971.

ARRILAGA, J. A., C. P. e Harker, B. J., Computer Modelling of Electrical Power Systems,

John Wiley and Sons Inc., New York, 1983.

FERNANDES, B., S. – Elos de Transmissão em Corrente Contínua em Programas de

Estabilidade Transitória. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, 2005.

CUSTÓDIO, D., T. – Utilização do Elo de Corrente Contínua para Amortecimento de

Oscilações Eletromecânicas em Sistemas Elétricos de Potência. Dissertação de Mestrado.

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, 2009.

CEPEL, Programa ANAREDE - Programa de Análise de Redes – Manual do Usuário,

V09.04.06, Rio de Janeiro, CEPEL – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, 2002.

CEPEL, Programa ANATEM - Programa de Análise de Transitórios Eletromecânicos –

Manual do Usuário, V10.04.01, Rio de Janeiro, CEPEL – Centro de Pesquisas de Energia

Elétrica, 2002.

CEPEL. – ANATEM, V– Manual do Usuário. 2009.

ONS. Procedimentos de Rede. Operador Nacional do Sistema Elétrico. 2009. Disponível em:

<http://extranet.ons.org.br/operacao/prdocme.nsf/videntificadorlogico/AB6967420089787483

2577A5006BDD25/$file/Subm%C3%B3dulo%2023.3_Rev_1.1.pdf?openelement> Acesso

em: 19 de Julho de 2011. Submódulo 23.3

PESENTE, J. R., Notas de aula da disciplina de eletrônica de potência – UNIOESTE, Foz do

Iguaçu, 2011.

IPDO. Informativo Preliminar Diário de Operação. Disponível em:

<http://www.ons.org.br/publicacao/ipdo/> Acesso em: 09 de Novembro de 2011.