leandro _ monografia- versão final

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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS CAMPUS IV CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA LEANDRO PEREIRA DA SILVA DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREAS DE EXTRAÇÃO MINERAL DE AREIA, ARGILA E CASCALHO: TRECHO PONTILHÃO/CANAVIERAS JACOBINA / BAHIA 2009

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Page 1: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

LEANDRO PEREIRA DA SILVA

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREAS DE EXTRAÇÃO MINERAL DE AREIA, ARGILA E CASCALHO: TRECHO

PONTILHÃO/CANAVIERAS

JACOBINA / BAHIA 2009

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LEANDRO PEREIRA DA SILVA

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREAS DE EXTRAÇÃO MINERAL DE AREIA, ARGILA E CASCALHO: TRECHO

PONTILHÃO/CANAVIERAS

Monografia apresentada à Universidade do Estado da Bahia – Campus IV, Departamento de Ciências Humanas como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Geografia. Orientador: Ms. Paulo Cezar Dávila Fernandes

JACOBINA / BAHIA 2009

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[ Ficha Catalográfica ]

É concedida à Universidade do Estado da Bahia permissão para reproduzir cópias desta Monografia, emprestar ou vender tais cópias, somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste trabalho pode ser reproduzido sem a prévia autorização, por escrito, do referido autor.

SILVA, Leandro Pereira da.

Diagnóstico ambiental em áreas de extração mineral de areia, argila e cascalho: trecho Pontilhão/Canavieiras / Leandro Pereira da Silva. – Jacobina – BA: UNEB, 2009. 111 f.

Monografia (graduação) - Universidade do Estado da Bahia. Curso de Licenciatura Plena em Geografia. Jacobina – BA – BR, 2009. Orientador: FERNANDES, Paulo Cezar Dávila.

1. Diagnóstico Ambiental, 2. Extração Mineral, 3. Areia, 4. Argila, 5. Cascalho.

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

LEANDRO PEREIRA DA SILVA

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREAS DE EXTRAÇÃO MINERAL

DE AREIA, ARGILA E CASCALHO: TRECHO PONTILHÃO/CANAVIERAS

Monografia aprovada em: ____/____/____ para obtenção do título de Licenciado em Geografia.

Banca Examinadora:

_______________________________________ Paulo Cezar Dávila Fernandes, Ms. (UNEB/DCH-4) Orientador

_______________________________________ Maria Zélia Martins Ferreira de Araújo Ms. (UNEB/DCH-4) Convidado(a)

_______________________________________ Joseane Gomes de Araújo Esp. (UNEB/DCH-4) Convidado(a)

JACOBINA / BAHIA 2009

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A Minha mãe, minha fonte de inspiração, aquela pessoa que sempre soube a sua maneira contribuir para que meus sonhos, objetivos e metas se realizassem, dedico este trabalho a esta pessoa tão maravilhosa.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu grande orientador, meu guia por ter me concedido força e

saúde para vencer todos os obstáculos encontrados.

Agradeço também pessoas que foram muito importantes no

desenvolvimento desse trabalho aos quais, declaro os meus sinceros

agradecimentos:

A minha família, especialmente à minha mãe, meu pai, por estarem sempre

prontos a me ajuda nos momentos difíceis em todo desenvolvimento da pesquisa. A

minha irmã Fabiane Pereira da Silva por toda sua grande contribuição durante a

minha Graduação e Desenvolvimento desse trabalho, serei-te eternamente grato.

Em especial ao Professor Cezar Dávila Fernandes pela orientação,

correções, incentivo e empenho no desenvolvimento do trabalho sem o qual este

não seria possível.

Ao meu Colega de Curso, João Batista Souza Reis por toda ajuda prestada

e disponibilizada na elaboração dos mapas, e na base de dados.

Ao Amigo e Colega de Curso, Sidvan dos Reis por toda sua Ajuda prestada

em todo o desenvolvimento da pesquisa.

Ao meu colega de Curso e Pesquisa, Gilberto Góis de Souza, pela ajuda

prestada nas discussões referentes à área, e pela troca de conteúdos prestada.

Ao Professor Marcio Lima Rios, pelos conhecimentos prestados nas

disciplinas Pedologia e Hidrografia, e também por seu incentivo e conselhos a seguir

a área.

Ao Professor Martônio Sacramento pelos Incentivos e iniciação nos

conteúdos da área Física.

À Professora Dr.ª Benedita Pereira Andrade, por toda ajuda e conselhos

prestados no decorrer do curso.

A minha Grande Amiga Aldiane dos Santos Silva, por todo incentivo,

conselhos e amizade.

Ao meu Colega de turma, Weskley Pereira por toda sua ajuda na

concessão e impressão de material para leitura.

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Aos Meus Colegas de Curso e de turma Vinicius, Napoleão, Moema,

Hadson, Roberto, Tarcisio Veloso, Ariney, Antonio Carlos, Danilo Ribeiro, José

Vinicius, David, Reuélio, Andreza, Erickson, Nilton, Hugo, Jônio por todo o

coleguismo incentivo e bons momentos proporcionados, nunca os esquecerei.

Aos meus colegas de Uneb: Adriano Fraga, Isis Cássia, Célio José, José

(Zezinho), Cinthia (Thola), Juliana Guimarães, Sidney dos Reis e Márcio Brito por

todo apóio, coleguismo, e momentos de descontração proporcionados.

Aos meus amigos Danilo, Michele por sua contribuição na digitação do

trabalho.

Ao Sr. João Marcos Nunes Pires Ferreira, filho do ex-proprietário da área

de estudo, por sua gentileza e ao responder os questionários.

Ao pessoal da Secretaria de Meio ambiente em especial, o Sr. Silvio

Fernando de Oliveira, e Gleriston Gonzaga por sua receptividade e gentileza ao

concederem entrevistas.

Ao meu Colega de Curso e funcionário do IBGE, Matheus Medrado de

Lima pela colaboração na concessão de dados para a pesquisa.

A professora Ediléia Santana Lima, pela colaboração nas correções de

português.

A minha colega de curso Andrea Magna por sua colaboração na impressão

do trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho consiste de um diagnóstico ambiental realizado em áreas de

extração de areia, argila e cascalho, usados como matéria prima para a construção

civil e na fabricação de artefatos cerâmicos, localizados no rio Itapicuru-Mirim, entre

os povoados de Pontilhão e Canavieiras, no município de Jacobina (BA). A área

estudada possui cerca de 3 Km² , mantém o processo de extração desde a década

de 1970, sendo esse favorecido pela grande ocorrência de reservas minerais em

toda planície fluvial, bem como em encostas próximas ao leito do rio. Foram

levantados os principais impactos socioeconômicos, no meio físico e no meio biótico,

da extração de agregados tendo sido distinguidos os positivos e negativos. Os

socioeconômicos de maior relevância diagnosticados foram: a geração de empregos

para cerca de setenta pessoas, e, por outro lado, a ocorrência de acidentes de

trabalho e problemas de saúde e medicina ocupacional. Já os impactos no meio

físico causados pela atividade extrativa foram à erosão de solos e contaminação do

lençol freático. No meio biótico diagnosticou-se principalmente a degradação das

APPs. Esses resultados subsidiaram a avaliação da área segundo seu grau de

antropização, com suporte no modelo geossistêmico (Bertrand, 1971) e no que diz

respeito à estabilidade dos meios naturais (Tricart, 1977), possibilitado

compartimentar a área de estudo em três geofácies ou unidades geoambientais

(UG’s), as quais foram classificadas segundo seu grau de estabilidade ambiental. Os

resultados revelaram que nenhuma geófacies apresentou condições de estabilidade

ambiental satisfatória, devido aos altos percentuais de terreno caracterizados como

meios instáveis. Apenas a UG II (geofácies de encosta) foi classificada como de

estabilidade ambiental moderada, por conta de apresentar o menor índice de

antropização. Já nas UG I (planície aluvial arenosa) e UG III (planície aluvial

rudácea) as áreas sujeitas a intervenções humanas foram bastante altas,

caracterizando-as respectivamente como UG’s com estabilidade ambiental baixa e

muito baixa. A partir dos impactos verificados foi feita a proposição de medidas

mitigadoras e ações de controle e monitoramento para a realidade diagnosticada,

sendo necessária, de pronto, a interrupção dos trabalhos de mineração nas Áreas

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de Preservação Permanente, com adoção de medidas de recomposição ambiental.

Devido ao baixo valor do material produzido e ao fato de que cerca de quarenta por

cento da renda auferida pela mineração de agregados é destinada ao proprietário do

terreno, sugere-se que a área seja desapropriada, de forma que os trabalhadores,

organizados juridicamente, possam utilizar este capital na recuperação do meio

ambiente com orientação técnica adequada.

PALAVRAS – CHAVE: Diagnóstico Ambiental, Extração Mineral, Areia, Argila, Cascalho.

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ABSTRACT

This work consists of a Environmental Diagnostic carried out in areas of sand

extraction, clay and gravel, used as raw material for construction and manufacturing

ceramic artifacts, located in Rio Itapicuru-Mirim, between the towns of Pontilhão and

Canavieiras, in the municipality of Jacobina (BA). The area studied has

approximately 3 Km², maintains the extraction process since the 1970s, which

favoured by large mineral reserves occurrence throughout river plain, as well as on

the slopes close to the river bed. Were raised, the main socioeconomic impacts in

the medium and amid the biotic, aggregate extraction has been distinguished positive

and negative impacts. Socioeconomic impacts of increased relevance diagnosed

were: the generation of jobs for about seventy people, and, Furthermore, the

occurrence of accidents at work and problems occupational health and medicine.

The physical impacts caused by activity extractive exploitation were the erosion of

soils and groundwater contamination of water.In the middle is mostly diagnosed

biotic degradation of apps. These subsidiaram assessment of results area according

to their degree of antropização, supported in template geossistêmico (Bertrand,

1971) and in regards stability of natural resources (Tricart, 1977) procedures were

designed to area of study in three geofácies or geoambientais units (UG ’ s), which

were classified according to their degree of environmental stability. The results

showed that no geófacies submitted satisfactory environmental conditions of stability,

due to high ground characterized as unstable. Only the UG II (geofácies of slope)

has been classified as environmental stability moderate, on behalf of presenting the

lowest antropização. Already in UG I (Sandy) has been increased by plain and UG III

(rudácea) has been increased by plain areas subject to human interventions was

very tall, characterizing them respectively as UG’s with low environmental stability

and very low. From the impacts checked the proposition was made of mitigating

measures and actions of control and monitoring to reality diagnosed, being ready

mining rose in permanent preservation areas, with adoption of environmental

recovery measures. Due to the low value of the material produced and the fact that

approximately forty per cent of income received by aggregated mining the landowner,

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it is suggested that the area is inappropriate, so that employees, organized legally,

can use this capital in recovery of the environment appropriate technical guidance.

WORD-KEY: Diagnos Environmental, mineral extraction, clay, sand, gravel.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01. Matriz de classificação de impactos ambientais dos empreendimentos de extração mineral de agregados da construção civil situados no Pontilhão/Canavieiras.................................................................................................75

Tabela 02: Comparativa dos impactos ambientais, medidas de Controle e ações de monitoramento......................................................................................................93-95

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Mapa de Localização da Área de Estudo Pontilhão/Canavieiras.......... 23 Figura 02: Afloramento de granitóides em antiga área de extração de material arenoso......................................................................................................................25 Figura 03: Mapa Geológico da Área de Estudo........................................................26 Figura 04: Mapa de Drenagem da Área de Estudo: Pontilhão/Canavieiras.............29 Figura 05: Vista Parcial da Serra de Jacobina..........................................................30 Figura 06: Perfil de Neossolo flúvico desenvolvido sobre argilas (cinza escuro) e areias (cinza claro) da planície aluvial........................................................................31 Figura 07: Mapa de solos da área de estudo: Pontilhão/Canavieiras.......................33 Figura 08: Vegetação de caatinga bastante rarefeita, área de encosta....................34 Figura 09: Vegetação secundária, com gramíneas, na planície aluvial....................34 Figura 10: Selagem do solo e formação de poças....................................................39 Figura 11: Ação das gotas da chuva descompactando o solo..................................40 Figura 12: Escoamento superficial: inicio do processo erosivo.................................41 Figura 13: Piping provocado pelo Escoamento subsuperficial..................................42 Figura 14: Voçoroca fase mais destrutiva do processo erosivo................................43 Figura 15: Esquema de uma definição teórica de geossistema................................57 Figura 16: Mapa de Localização das Áreas de Extração: Pontilhão/Canavieiras.................................................................................................64 Figura 17: Trabalhador fabricando tijolos com formas .............................................67 Foto 18: Tijolos sendo estocados em Caieira...........................................................67 Figura 19: – Lagoa artificial formada pelo afloramento do lençol freático em área de extração.....................................................................................................................68 Figura 20: Processo de extração e cava aberta / Areia e cascalho em leitos de estocagem.................................................................................................................69 Figura 21: Caminhão fazendo o transporte do material para ser comercializado...........................................................................................................69 Figura 22: Trabalhadores extraindo material, sem equipamento de segurança...................................................................................................................77 Figura 24: Assoreamento e mudança do sistema natural de drenagem...................77 Figura 25: Ravinamento em antiga área de extração de areia.................................79 Figura 26: Voçoroca em estagio bem desenvolvido, planície aluvial do Rio Itapicuru-Mirim..........................................................................................................................79 Figura 27: Lixo depositado sobre cavas abandonadas............................................82 Figura 28: Motor de dragagem abandonado perto de afloramento freático.............82 Figura 29: Madeira de desmatamento para queima de tijolos.................................83 Figura 30: Desmatamento de mata ciliar próximo de área de extração..................83 Figura 31: Cava de extração de areia próximo ao leito do rio.................................83 Figura 32: Mapa de Localização das Unidades Geoambientais do Pontilhão/Canavieiras...............................................................................................85 Figura 33: Unidade Geoambiental I.........................................................................86 Figura 34: Localização da UG II...............................................................................87 Figura 35: Unidade Geoambiental III.......................................................................88 Figura 36: Mapa de Antropização e Uso do Solo no Pontilhão/Canavieiras...........89 Figura 37: Mapa de Estabilidade Ambiental das Unidades Geoambientais do Pontilhão/Canavieiras................................................................................................92

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LISTAS DE GRÁFICOS Gráfico 01: Escolaridade dos Moradores/trabalhadores..................................70 Gráfico 02: Atividades em que os Moradores/trabalhadores trabalham...........70 Gráfico 03: Tempo em que os trabalhadores atuam na extração de agregados..........................................................................................................71 Gráfico 04: Faturamento mensal dos trabalhadores na indústria de agregados..........................................................................................................71 Gráfico 05: Taxa de Infiltração no Neossolo Coluvial.......................................79 Gráfico 06: Taxa de Infiltração Neossolo Flúvico.............................................81 Gráfico 07: Taxa de Infiltração Neossolo Flúvico/Sem Horizonte B argiloso...81 Gráfico 08: Atividade Antrópica nas Unidades Geoambientais........................90 Gráfico 19: Antropização por extração mineral na área de estudo..................90

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LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

ANA ................. ............................................................. Agência Nacional de Águas

ABNT ............... . ................................... Associação Brasileira de Normais Técnicas

ANEPAC.......... ...........................................Associação nacional de Entidades de Produtores de Agregados da Construção civil.

CPRM .............. ... ................................................ Companhia de Recursos Minerais

CETEC ............ .............................................................Centro de Estudos Técnicos

CRA ................ ...................................................... Centro de Recursos Ambientais

CONAMA......... ................................................. Código Nacional de Meio Ambiente

DNPM .............. .............................. Departamento Nacional de Pesquisas Minerais

EIA ................. .......................................................... Estudo de Impacto Ambiental

EMBRAPA.................................... Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IBGE.....................................................Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

JMC..........................................................................Jacobina Mineração e Comercio

NBR....................................................................................Norma Brasileira

RIMA .............. ..................................................... Relatório de Impactos Ambiental

RCA ................. ...................................................... Relatório de Controle Ambiental

IBGE ................ .................................. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PRAD .............. .................................... Plano de Recuperação de Área Degradada

TTG.......................................................Tonalítico – Trondhjemítico – Granodiorítica

UTM........................................................Universal Transversa de Mercator

UG...........................................................Unidade Geoambiental

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................19

1. ASPECTOS FÍSICOS REGIONAIS E LOCAIS.....................................................24 Introdução..............................................................................................................24

1.1. Geologia..........................................................................................................25

1.2. Clima...............................................................................................................27

1.3. Hidrografia......................................................................................................27

1.4. Geomorfologia...............................................................................................30

1.5. Solo................................................................................................................31

1.6. Vegetação......................................................................................................34

2. REFERÊNCIAIS ................................................................................................. 35

Introdução. ........................................................................................................... 35

2.1. Dinâmica Fluvial ........................................................................................ 35

2.2. Extração Mineral ....................................................................................... 36

2.3. Impacto ambiental ..................................................................................... 37

2.4. Erosão de Solos ........................................................................................ 39

2.4. 1. Inicio do processo erosivo ................................................................. 39 2.4.2 Infiltração de água no solo .................................................................. 40 2.4.3. Inicio do escoamento superficial......................................................... 41 2.4.4. Escoamento subsuperficial .................................................................. 42 2.4.5. Intensificação do Processo Erosivo: de Ravinas às Voçorocas .......... 43 2.4.6. Fatores Controladores da Erosão... ..................................................45 2.4.7. Controle e prevenção dos processos erosivos.....................................46 2.4.7.1. Técnicas de Monitoramento..............................................................46 2.6. Conservação de Solos................................................................................48 2.7. Agregados...................................................................................................50 2.7.1. Areia.........................................................................................................51 2.7.2. Cascalho..................................................................................................52 2.8. Argila...........................................................................................................53

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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS: ANÁLISE GEOSSISTÊMICA ...................... 56 3.1 Algumas considerações sobre a análise Sistêmica e Geossitêmica ............. 56 3.2 Métodos de procedimento e técnicas de coleta de dados ............................ 59

4. EXTRAÇÃO MINERAL DE AREIA, ARGILA E CASCALHO: TRECHO PRONTILHÃO/CANAVIEIRAS .......................................................................... 61

Introdução........................................................................................................61 a. . O processo de extração mineral de areia, argila e cascalho.................. 61

4.1.1. Desenvolvimento histórico da atividade de extração mineral em Jacobina.............................................................................................................61 4.1.2. Desenvolvimento da Exploração Mineral (ouro, areia, argila, cascalho) no Pontilhão/Canavieiras ................................................................................ ......62 4.1.3 Área de extração de areia fina n°1 - Faz. Amadeu Jr...........................65 4.1.4 Área de extração de areia grossa em encosta n° 2 – Faz. Abdias.......66 4.1.5 Área de extração de areia, argila e cascalho n° 3 – Faz. Japonês ......66 4.1.6 Métodos e técnicas de lavra e extração..................................................67

4.2. Caracterização Socioeconômica dos Trabalhadores em Extração de Agregados..................................................................................................................69

4.3. Fiscalização: o papel do poder público junto à atividade extrativista, e as questões ambientais do município..........................................................................71 4.4. Licenciamento ambiental aplicado à mineração de classe II (areia, argila e cascalho)................................................................................................................73 4.5. Classificação dos impactos ambientais provocados pela atividade de extração mineral de agregados e de argila no trecho pontilhão canavieiras ..................... 74

4.5.1 Impactos socioeconômicos.......................................................................76 4.5.1.1 Acidentes de trabalho e problemas na saúde e medicina ocupacional..............................................................................................................76

4.5.2 Impactos no Meio físico.............................................................................77

4.5.2.1 Erosão de Solos, escorregamento de solo e massa...............................78 4.5.2.2 Contaminação e Alteração no nível do lençol freático............................80

4.5.3 Impactos no Meio Biótico..........................................................................82

4.6 Análise da estabilidade ambiental das unidades geoambientais do pontilhão/canavieiras...............................................................................................84 4.6.1 Unidade I: Geofácie de planície aluvial arenosa........................................86 4.6.2 Unidade II: Geofácie de encosta................................................................87 4.6.3 Unidade III: Geofácie de planície aluvial rudácea......................................88 4.6.4 Avaliação da estabilidade ambiental das Unidades Geoambientais..........88

4.7 Medidas de controle e ações de monitoramento para os impactos ambientais diagnosticados........................................................................................................93

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CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 96

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 100

ANEXOS ............................................................................................................ 103

Page 19: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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INTRODUÇÃO

No atual cenário mundial, emerge uma inquietação em relação ao futuro,

entre o modelo de sociedade desenvolvimentista e o equilíbrio ambiental, que

caracteriza um ambiente de incertezas e questionamentos em relação à

problemática ambiental. Para tanto, a pesquisa ambiental se apresenta como um

instrumento capaz de fomentar medidas para o uso sustentável e racional dos

recursos naturais.

Dentre todas as atividades econômicas, a mineração é uma das atividades

que apresentam um alto poder de degradar, às vezes de forma irreversível, o meio

ambiente. A extração de agregados da construção civil (areia e cascalho) que

juntamente com a argila são classificados pelo Código de Mineração como

mineração de Classe II, por conta das características dos empreendimentos, que

afetam áreas menos extensas, porém pode ser responsável por sérios impactos

ambientais, quando executada de maneira irracional.

Neste trabalho de pesquisa, desenvolveu-se um Diagnóstico Ambiental

referente à atividade de extração mineral de areia, argila e cascalho no rio Itapicuru

– Mirim, no trecho situado entre os vilarejos de Pontilhão e Canavieiras, localizados

na rodovia de acesso à JMC - Jacobina Mineração e Comércio, na cidade de

Jacobina, Bahia (Figura 01).

Tendo em vista a importância econômica da extração de agregados

para os moradores locais, que se constitui na atividade básica para sobrevivência

desde a década de 1970, e diante da gama de impactos provocados ao longo dos

anos, este trabalho se constitui numa ferramenta básica na tentativa de uma

proposição do uso racional e sustentável dos recursos minerais, buscando propor

medidas de revitalização e conservação, que poderão ser colocadas à disposição

dos órgãos públicos responsáveis pela gestão ambiental e da comunidade local. Na

localidade supracitada, se desenvolvem as atividades de Extração Mineral de Areia,

Argila e Cascalho nas margens e em áreas próximas do Rio Itapicuru - Mirim. As

referidas atividades serão objeto de estudo, tendo em vista que são responsáveis

pela ocorrência de uma série de impactos ambientais, decorrentes em tal localidade.

Page 20: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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A atividade mineira desenvolve-se em áreas próximas ao leito do rio Itapicuru

- Mirim desde a década de 1970. Além desse fato, a CBPM (Companhia Baiana de

Pesquisas Minerais) passou a explorar ouro de aluvião na área, que caracterizou o

inicio da atividade de extração de areia em larga escala, que se desenvolveu ao

mesmo tempo em que extração de argilas, para suprir as olarias situadas na área.

Com a instalação da JMC – Jacobina Mineração e Comércio (Mineração

Morro Velho) em 1978 houve intenso crescimento urbano em Jacobina, que causou

significativo aumento da demanda de matéria-prima (areia, argila e cascalho) para a

construção civil. A extração mineral foi favorecida na área pela ocorrência de

depósitos aluviais de areia, argila e cascalho que se espalharam por toda planície de

inundação.

O trabalho se desenvolveu em forma de pesquisa aplicada, já que buscou

interferir em uma situação problemática, sendo este uma importante ferramenta no

âmbito acadêmico, por conta da carência de estudos referentes à temática,

principalmente no que se refere ao local.

O objetivo principal do trabalho consiste em fazer uma análise dos

impactos provocados pela atividade de extração de areia, argila e cascalho no Rio

Itapicuru-Mirim no trecho Pontilhão – Canavieiras, identificando os principais danos

ambientais provocados pela ação antrópica na referida localidade.

Propusemo-nos a fazer uma análise de como se dá o processo de

extração mineral no local, identificando-se os principais impactos ambientais

provocados pela ação antrópica causada pela referida atividade. Além disso, foi feito

um trabalho empírico de investigação das consequências da extração de areia nos

processos erosivos, visto não existirem dados quantitativos locais ou regionais que

pudessem dar suporte a ações de gerenciamento e educação ambiental na região.

O presente trabalho se estruturou com quatro capítulos.

No primeiro capítulo é feita uma caracterização de aspectos relevantes da

área de estudo, tendo como referência o contexto regional, sendo discutidos os

aspectos físicos (geologia, clima, geomorfologia, vegetação, e solos).

No segundo capítulo discutem-se os pressupostos metodológicos da

pesquisa, tendo como método de abordagem a análise Geossitêmica (Sotchava

1962, Bertrand 1971, Monteiro 2000), tendo apoio nos princípios da Ecodinâmica de

Jean Tricart (1977).

Page 21: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

21

No terceiro capítulo é feita uma abordagem teórico-conceitual sobre os

principais referenciais que nortearam a pesquisa. Sendo assim, iniciou a discussão

seguindo uma ordem hierárquica das temáticas. A principio tratou-se das dinâmicas

aluviais e processos de formação dos aluviões, em seguida falou-se sobre os

aspectos técnicos e teóricos da mineração. Dando continuidade, iniciou-se a parte

teórica sobre a problemática da pesquisa, falando primeiramente sobre impacto

ambiental, em seguida são apresentados principais aspectos teóricos sobre erosão,

degradação e conservação dos solos, tendo em vista que este é um dos principais

impactos ambientais provocados pela atividade de extração mineral. Neste capítulo

também são descritas as principais fases do processo erosivo, algumas técnicas de

monitoramento e controle dos processos erosivos e sua aplicabilidade a prevenção

da degradação de solos. Por fim, são retratados os conceitos técnicos a respeito dos

agregados da construção civil (areia, e cascalho) e sobre os processos de formação

das argilas.

O quarto capítulo traz o Diagnóstico ambiental da pesquisa, sendo

apresentados todos os impactos diagnosticados, classificados separadamente entre

positivos e negativos, ambientais e socioeconômicos, representados através de

matrizes de impacto, apresentam-se os resultados obtidos na mensuração de

parâmetros físicos dos solos (textura, permeabilidade e erodibilidade) em áreas

degradas e não degradadas pela extração de agregados, bem como um

experimento de monitoramento dos processos de desenvolvimento de voçorocas, e

perdas de solo. Apresenta-se o marco legal que rege as questões ambientais, sendo

discutidos aspectos relevantes das resoluções do CONAMA (Conselho Nacional de

Meio Ambiente), e a Legislação Mineral referente à extração de Agregados, bem

como a legislação estadual de meio ambiente, fazendo uma relação com o Código

de Meio Ambiente municipal. Para tanto, o diagnóstico se estruturou da seguinte

forma: primeiramente foi feita uma breve abordagem o processo de extração mineral

de areia, argila e cascalho na área de estudo; depois foi realizada uma discussão

acerca aspectos socioeconômicos da população junto à extração mineral, com base

nos dados obtidos pelos questionários. Foi apresentada também, neste capítulo uma

discussão sobre licenciamento ambiental aplicado a mineração de classe II (areia,

argila e cascalho). Em seguida, foi feita a classificação dos impactos ambientais

provocados pela atividade de extração mineral de agregados e de argila no trecho

Pontilhão Canavieiras, apresentando-se os principais impactos diagnosticados na

Page 22: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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área de estudo e as causas deles; concluiu-se a parte da problemática desse

trabalho com análise da estabilidade ambiental das unidades geoambientais do

Pontilhão/Canavieiras, com utilização da análise geossistêmica (Sotchava 1962,

Bertrand 1971, Monteiro 2000), sendo avaliadas as condições de estabilidade das

unidades de paisagem locais com base nos princípios do modelo ecodinâmico de

Tricart (1977); e por assim, serem apresentadas medidas de controle e ações de

monitoramento para os impactos ambientais diagnosticados.

Por fim, é feita a síntese dos dados obtidos, procurando retomar a discussão

apresentada durante toda a pesquisa, sendo apresentadas algumas ações e

proposições para o desenvolvimento da atividade mineral na área de estudo de

maneira sustentável.

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Figura 01: MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: PONTILHÃO/CANAVIERAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

B

A

C

D

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24

1. ASPECTOS FÍSICOS REGIONAIS E LOCAIS Introdução

A área onde acontece a extração mineral tem cerca de 3 Km², ocorrendo no

leito e em áreas da planície aluvial, assim como também em depósitos coluviais, em

encostas próximas à rodovia de acesso à JMC, situada entre as coordenadas UTM -

Universal Transversa de Mercator, extraídas de quatro pontos demarcados nas

extremidades da delimitação da área de estudo (conforme mapa que encontra-se ao

final da introdução deste trabalho – figura 01): Ponto A: Lat. 331900 S , Long.

8762040 W, Ponto B: Lat. 330663 S e Log. 8760658 W; Ponto C: Lat. 333000 S e

Log. 8758900 W e Ponto D: Lat. 33721 S e Log. 8759333 W. Este capítulo traz uma

abordagem dos aspectos geológicos, climáticos, geomorfológicos, pedológicos e

vegetação, regional bem como da área de estudo.

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1.1 Geologia

Na área de estudo foram mapeados (Sampaio et al., 1995) ortognaisses

tonaliticos-trondhjemíticos-granodioríticos

(TTG) arqueanos, bem como depósitos

coluvionares e depósitos aluvionares

recentes(Figura 03).

Os ortognaisses TTG (tonalito-

trondhjemito-granodioríticos) são rochas

cinza a cinza-escuro, de granulação

média, fortemente intemperizadas,

aflorando raramente, que frequentemente

contêm intercalações descontínuas de

metabasitos, visíveis em aforamentos situados fora da presente área de estudo, na

antiga pedreira de brita de Jacobina. Estes gnaisses contêm intrusões de

leucogranitos a muscovita e/ou biotita de dimensões variáveis, que formam corpos

cuja largura varia desde alguns decímetros (Figura 02) até a escala quilométrica,

caso em que formam relevos em meia-laranja, destacados em meio às regiões mais

aplainadas.

Os depósitos coluvionares são caracteristicamente materiais areno-argilosos

de coloração amarelada, de pequena espessura, que ocupam as porções médias e

inferiores das vertentes, representando materiais depositados por enxurradas e/ou

processos gravitacionais. Por representarem material pouco trabalhado pela erosão

dos ortognaisses e granitóides, muitas vezes não é possível à distinção, em

fotografia aérea, e mesmo em campo, entre material coluvionar e o manto de

intemperismo dos ortognaisses e granitóides aos quais são geneticamente

correlatos. Os depósitos aluvionares ocupam as poções mais planas e baixas do

terreno, sendo compostos de areias intercaladas com argilas e cascalhos.

Figura 02 – Afloramento de Granitóides em antiga área de extração de material arenoso Foto: Leandro Pereira, 2008.

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

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Figura 03: MAPA GEOLÓGICO DA ÁREA DE ESTUDO

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

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1.2 Clima

Apesar de estar situada em meio a uma região semi-árida, Jacobina

apresenta índices pluviométricos mais altos, influenciados pela topografia local, que

proporciona a ocorrência em maior intensidade de chuvas orográficas, que faz com

que o clima local caracterize-se como sub-úmido com precipitações atingindo mais

de 1000 mm anuais, geralmente com duas estações chuvosas.

Entre os meses de novembro e maio concentram-se os maiores índices

pluviométricos, caracterizando o período de “trovoadas”. Os meses mais secos são

setembro e outubro. As chuvas ocorrem com maior freqüência e intensidade no

verão, devido à ação da massa de ar equatorial continental, chovendo entre o

período de novembro e maio, sendo que neste último em maior intensidade. Nas

áreas mais elevadas os índices pluviométricos tendem a serem maiores e oscilam

entre 850 mm e mais de 1000 mm, já nas áreas mais baixas principalmente em

planícies e fundo de vales, os índices pluviométricos não ultrapassam 600 mm.

A temperatura média anual da região de Jacobina situa-se em torno da

mínima 20,5 °C e máxima de 31 °C, com uma variação de 9,5 °C decorrendo das

variações altimétricas, situando-se a média anual em torno de 21°C. A amplitude

térmica varia entre 21,5°C em Julho e 25,5 °C em Fevereiro.

Os ventos existentes em Jacobina tomam na sua grande maioria o sentido

Sudeste (SE), e com velocidades variando entre 2,7 e 3,6 m/s. A umidade relativa do

ar varia entre 62 % no mês de Outubro a 78% em Junho. Na área de estudo as

precipitações médias situam-se entre 700 e mais de 850 mm anuais. (RADAM,

PINHEIRO apud, 2004).

1.3 Hidrografia

A área de estudo localiza-se na bacia do alto Itapicuru, às margens do Rio

Itapicuru-Mirim (Figura 04).

O Itapicuru-Mirim é um rio perene, cujas nascentes situam-se nos contrafortes

da Serra Jacobina, no município de Miguel Calmon, onde hoje se localiza o Parque

Page 28: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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Estadual das Sete Passagens. E a área de estudo está situada relativamente

próxima das áreas de nascente.

Como conseqüência das chuvas bem distribuídas e da configuração

geológica e geomorfológica, a região de Jacobina apresenta uma rede hidrográfica

com alta densidade de drenagem tendo como padrões de drenagem o dendrítico,

em que a ocorrência do substrato rochoso homogêneo, favorece a ocorrência de

diversos canais. A área de estudo caracteriza-se por um vale, em U, aberto, com

tabuleiros depositados pelo rio e também com depósitos coluvionares, formados

pela erosão e deposição de sedimentos no sopé das encostas, na margem esquerda

da rodovia de acesso a JMC.

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Figura 04: MAPA DE DRENAGEM DA ÁREA DE ESTUDO: PONTILHÃO/CANAVIERAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

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30

1.4 Geomorfologia

A Serra de Jacobina (Figura 05) forma um conjunto de cristas e vales de

aproximadamente 200 Km de extensão

norte-sul, estendendo-se ao norte até o

município de Senhor do Bonfim e ao sul

até o município de Miguel Calmon), com

largura variando entre 8 e 14 Km e

topos de até 1300m acima do nível do

mar (Silva e Misi, 1998). Segundo

Pinheiro (2004), o modelado das Serras

Residuais, na região de Jacobina,

apresenta um caráter de dissecação

estrutural, com formas em cristas,

aprofundamento forte das incisões e densidade de drenagem mais alta do que

aquela ocorrente nas regiões adjacentes do Pediplano Sertanejo.

A área de estudo pode ser caracterizada pela presença de vertentes, cuja

declividade atinge até 45 graus, sendo os valores mais altos relacionados às áreas

de ocorrência de rochas quartzíticas, que são recobertas, na proximidade do leito do

Itapicuru-Mirim, por aluviões antigos de rio, que formam um terraço assimétrico com

cerca de 2.000 metros de largura.

Nos depósitos aluviais, os sedimentos são denominadamente arenosos, com

lentes mais finas de silte e argila, cascalhos variando no meio do conjunto, mas

geralmente na base. Nas encostas se formam depósitos coluvionares, provocados

pelo intemperismo e erosão do material adjacente, que se acumula no sopé da

mesma e formam depósitos de tálus.

Atualmente os terraços estão sendo

dissecados pela ação fluvial, que provoca desbarrancamentos do material aluvionar

a cada estação de cheia.

Figura 05 - Vista parcial da Serra de Jacobina. Foto: Leandro Pereira, 2009

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

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1.5 Solos

A região de Jacobina apresenta solos diferenciados, com influência decisiva

da topografia. Segundo Pinheiro (2002), nas áreas de relevo mais acidentado, com

declividade acima dos 30° predominam os neossolos litólicos, que são solos rasos e

pouco desenvolvidos, com um horizonte A sobre a rocha ou sobre o horizonte C

pouco espesso. O horizonte B pode aparecer em alguns casos, porém de forma

incipiente. Em função da dificuldade de implantação dos processos pedogenéticos

sobre rochas quartzíticas, não têm capacidade de sustentar vegetação de grande

porte, neles se desenvolvem os campos rupestres e os campos de altitude.

Nas áreas de baixadas com modelados de aplainamento predominam os

latossolos (vermelho-amarelo álicos e distróficos), que são solos bem mais

desenvolvidos, com estágio de intemperização mais avançado, onde os processos

pedogenéticos são mais significativos. Geralmente são muito profundos, possuem

boa porosidade e drenabilidade, baixa relação textural B/A (pouca diferenciação de

argila do horizonte A para o B), o que garante em geral baixa susceptibilidade à

erosão. São bastante utilizados para atividades agropecuárias.

São encontrados também, solos podzólicos vermelho-amarelos eutróficos e

distróficos, além de plintossolos

eutróficos e outras categorias.

Na área do presente estudo

(Figura 06) (Radam Brasil, 1981) os solos

presentes são os neossolos

quartzarênicos e litólicos além dos

Cambissolos nas vertentes onde é

retirada areia grossa. Na planície aluvial,

são encontrados solos neossolos flúvicos,

(Figura 07) com a presença de argila

expansivas do tipo 2:1 Esmectita, e

também caulinita tipo 1:1, onde é retirado

Figura 06: – Perfil de Neossolo flúvico desenvolvido sobre argilas (cinza escuro) e areias (cinza claro) da planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008.

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o material tanto para a confecção de produtos cerâmicos, como para extração de

areia matéria-prima para a construção civil.

Nos aluviões pode-se observar o desenvolvimento local de solos com

horizonte B concrecionário, plíntico a petroplíntico, com uma camada de laterita

situada no horizonte B.

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Figura 07: MAPA DE SOLOS DA ÁREA DE ESTUDO: PONTILHÃO/CANAVIERAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

Page 34: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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1.6 Vegetação

Devido à grande variação dos totais pluviométricos, influenciada pelo

relevo, e refletindo também a variação nas características do substrato rochoso, no

município de Jacobina ocorre os seguintes tipos de vegetação: refúgio ecológico

montano, ou campos rupestres, localizados nos topos das serras; florestas, situadas

nos vales estreitos, tais como a floresta estacional semidecidual; zonas de ecótonos,

caatinga arbustiva e caatinga arbórea densa.

Na área de estudo a vegetação encontrada é a Mata Ciliar muito rarefeita,

contendo um substrato de gramíneas com árvores de pequeno e médio porte na

encosta, (Figura 08) que grada para vegetação secundária, gramínea a arbustiva

e/ou arbórea, representando possivelmente estágios iniciais de regeneração das

matas ciliares antigamente presentes na planície aluvial. (Figura 09) na planície

Aluvial.

Fotografias: Vegetação na área de estudo.

Figura 09: – Vegetação secundária, com gramíneas, na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008

Figura 08: – Vegetação de caatinga bastante rarefeita, área de encosta. Foto: Leandro Pereira, 2008.

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2. REFERÊNCIAIS

Introdução

Neste capítulo será feita uma revisão dos aspectos teóricos e categorias de

análises apresentadas durante todo o trabalho, trazendo desde aspectos técnicos

relacionados com os processos de formação e extração dos agregados, até

conceitos teóricos sobre impactos ambientais provocados por essa atividade. E em

primeiro lugar, serão apresentados os conceitos relacionados à dinâmica fluvial,

seguindo por uma breve descrição teórica sobre os aspectos relativos ao processo

de extração mineral, dando ênfase à extração de agregados da construção civil.

Posteriormente será apresentada uma discussão teórico-conceitual acerca da

problemática da pesquisa, iniciando por considerações a respeito do conceito de

impacto ambiental. A seguir, são discutidos referenciais teóricos relativos ao

processo erosivo, principal impacto ambiental diagnosticado na área. Finalmente,

considerando a necessidade de entender as características geológicas, tecnológicas

e industriais dos materiais que são atualmente explorados no Rio Itapicuru-Mirim, é

apresentada, adiante, uma discussão sobre os agregados utilizados em construção

civil.

2.1. Dinâmica Fluvial

A areia, a argila e o cascalho extraídos como matéria-prima para a construção

civil, são resultantes na sua maioria da extração em planícies aluviais formadas pela

ação conjunta de diversos processos de deposição aluvionar. As areias, argilas e

cascalhos de depósitos aluviais, foram formados entre os períodos geológicos,

Terciário Superior e Quaternário (Cenozóico). No período Cenozóico, os rios que

drenavam regiões, cristalinas, tinham calhas fluviais superiores às atuais,

carregavam uma grande quantidade de sedimentos e espalhavam-se por toda

planície de inundação, definida como uma “... área relativamente plana adjacente a

um rio, coberta por água nas épocas de enchente.” (RICCOMINI, et. al. 2000, p.

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211). Nos processos aluviais, “o material sedimentar é transportado de uma área

fonte erosional até o sitio de deposição” (BIGARELLA et. al. 1979, p. 45). O tamanho

do material transportado depende muito do tipo do material rochoso erodido e da

capacidade de transporte do rio, assim:

“Depósitos fluviais caracterizam-se geralmente pela alternância e ou interdigitamento de camadas de argila, silte e areia, mostrando contatos gradacionais em um ciclo e contatos abruptos ou truncados entre ciclos diferentes (Duff, Hallam e Walton, 1967 apud Bigarella, 1979, p. 46 )

Normalmente esses depósitos são formados numa sequência por uma

camada de argila na parte superficial, seguindo em um faixa de transição por silte,

depois areia, e mais embaixo por sedimentos de granulométria mais grossa, na

maioria das vezes cascalho de fundo de rio, até chegar ao afloramento freático. Os

tamanhos dos depósitos aluviais são proporcionais à extensão das planícies de

inundação. Sendo assim, quanto maior for à planície de inundação, maiores serão

os depósitos aluvionares.

2.2. Extração mineral

Há milhares de anos o homem se apropria de recursos naturais, que possam

lhe trazer benefícios.

A mineração foi definida por Campos (2007, p. 03), “[...] como a ação de

descobrir, avaliar e extrair as substanciais minerais úteis existentes no interior ou na

superfície do nosso planeta Terra”. A mineração se constituiu ao longo dos anos

num importante setor economia mundial, e vem sendo executada desde tempos

imemoriais.

A atividade de extração mineral é complexa, composta de diversas etapas,

dentre as quais merecem destaque a prospecção, que consiste na fase de

descoberta das jazidas, conforme o Código de Mineração Art. 6°:

Considera-se jazida toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, de valor econômico, aflorando à superfície ou existente no interior da terra; considera-se mina a jazida em lavra, ainda que suspensa.” (Código de Mineração art. 6° p. 2 1968)

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A descoberta das jazidas passa por todo um levantamento geológico através

de mapas, imagens de satélite, para depois iniciar-se a fase de exploração que

“consiste na realização de trabalhos necessários ao conhecimento geológico

detalhado de uma ou mais ocorrência mineral.” (CAMPOS, et. al. 2007, p. 03).

Depois de conhecido o valor e viabilidade do mineral encontrado, inicia-se a fase e

desenvolvimento de lavra ou explotação, que é quando ocorre o processo de

instalação e operação do empreendimento. As atividades minerárias, de uma forma

geral, possuem características muito parecidas no modo de extração, e a mineração

de classe II (areia, argila, e cascalho) não é muito diferente das demais atividades

minerárias, Segundo BROWN et. al. (1995, p. 23)

Depósitos de areia e cascalho são lavrados principalmente por dragas em leitos de rios ou planícies aluviais ou por escavadeiras mecânicas, e precisam ter pelo menos 1 metro de espessura para serem econômicos.

Esse processo de extração ainda passa pela retirada da argila, que fica na

parte superficial do solo, que normalmente é aproveitada para a fabricação de tijolos

ou artefatos cerâmicos. Depois de retirado o material argiloso começa o processo de

extração de areia, que na maioria das vezes ocorre até o afloramento freático ou até

encontrar com uma camada de cascalho, que também é aproveitada e extraída.

Os métodos de extração de areia, argila e cascalho podem ocorrer tanto em

cava fechada, como em leito de rio. No processo de extração em cava fechada é

formada uma lagoa, com auxílio de uma retroescavadeira ou de pás – carregadeiras.

Depois de aflorado o lençol freático ocorre o processo de retirada da areia com

auxílio de uma draga de sucção, formada por um motor de polpa que suga toda a

areia e coloca em locais de estocagem para que ocorra a secagem.

2.3 Impacto Ambiental

Toda e qualquer alteração no meio provocada pelo homem, seja ela positiva

ou negativa, e que gerar conseqüências, é considerada impacto ambiental, sendo

assim, conforme Resolução Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente):

Page 38: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

38

Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais. (RESOLUÇÂO CONAMA, n° 1 1986, p. 636).

Assim, os impactos ambientais consistem não só de interferências nocivas

como também positivas ao meio. Diante da gama de elementos que compõe os

impactos ambientais, seu estudo e avaliação consistem em tarefas um tanto árduas.

Com isso o Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama definiu alguns

instrumentos legais para esse fim. Assim, foram criados pela resolução CONAMA n°

001, de 1986, o EIA - Estudo de Impacto Ambiental e o RIMA – Relatório de Impacto

Ambiental, que visam definir os princípios básicos para implantação de

empreendimentos que gerem impactos ambientais. O EIA/RIMA tem como

principais objetivos:

O estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, pelos poderes públicos federal, estadual ou municipal; e, outros instrumentos normativos. (ROSS, 1996 p.301)

Para tanto, estes instrumentos são capazes de fomentar uma relação de

equidade entre o homem e meio, buscando produzir um ambiente sustentável. Nem

sempre a relação homem natureza ocorre de maneira sustentável. Na maioria das

vezes, o homem, através da apropriação e uso irracional dos recursos naturais, é

responsável pela produção de impactos que são na sua maioria nocivos ao meio,

revestindo-se como mecanismos de produção e intensificação da degradação

ambiental que consiste na “[...] redução dos potenciais recursos renováveis por uma

combinação de processos agindo sobre a terra.” (GUERRA, et al, 2007 p.19). Sendo

assim, a degradação ambiental constitui numa das formas mais destrutivas da

incidência de impactos negativos no ambiente.

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39

2.4. Erosão de Solos 2.4.1 O Início do Processo

O início do processo erosivo ocorre com a incidência das gotas da chuva

sobre o solo, onde o impacto provocado

por estas o Splash, atua na

desagregação dos grãos, provocando a

selagem do solo (Figura 10), ou melhor, o

preenchimento dos poros que

ocasionaram a formação de poças. Um

fator importante na intensificação do

Splash é a energia cinética da chuva, que

é a capacidade de erodir das gotas de

chuva, e a intensidade destas quando

atingem o solo provocam a ruptura dos agregados. Para que isso ocorra tem que

levar em conta à intensidade da chuva, em função de sua duração, massa, tamanho

da gota e velocidade. Para que ocorra a ação do splash, alguns fatores e

características do solo irão influenciar diretamente, são eles: a textura, a densidade

aparente, porosidade, declividade do terreno e o mais importante de todos que é o

teor de matéria orgânica no solo (este será fundamental na indicação da ruptura ou

não dos agregados), pois matéria orgânica no solo exerce um papel muito

importante na proteção do solo contra a erosão, pois ela torna os grãos mais coesos

e estáveis. Além da matéria orgânica o teor de silte no solo irá facilitar na ruptura

dos agregados, já a argila irá diminuir a intensidade desse processo.

A ruptura dos agregados é o fator inicial do processo erosivo, sendo que após

a ocorrência deste, acontece a formação de crostas que provocarão a selagem do

solo, segundo Farres (1978) apud Guerra (1999 p.23), “a formação de crostas no

topo do solo é um dos mecanismos mais importantes que antecede o runoff”. Esta

formação ocorre rapidamente em um evento chuvoso, pois a partir do momento em

que a capacidade de infiltrar do solo é excedida, começa a se formar poças, que ao

se interligarem iniciam o processo de escoamento. O principal fator para a

ocorrência da formação de crostas é a ausência de matéria orgânica no solo, ou

Figura 10 – Selagem do solo e formação de poças. Foto: Autor desconhecido.

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

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40

seja, quanto mais matéria orgânica a tendência é uma redução da formação de

crostas, pois estas tornam mais coesos os grãos do solo.

2.4.2 Infiltração de Água no Solo

Para que o escoamento superficial se inicie é necessário que a capacidade

de absorção de água no solo seja

excedida (Figura 11). Para isso ocorra, é

necessário à junção de alguns fatores

que irão determinar a taxa de infiltração

de água no solo, são eles: as

propriedades do solo, as características

das chuvas, tipo de cobertura vegetal, o

uso e manejo do solo a as características

das encostas.

Em se tratando de propriedades do

solo, a textura será o fator principal para determinar a intensidade de infiltração,

sendo que quanto mais grosseira for à textura do solo maior será a permeabilidade

dele e consequentemente maior será a taxa de infiltração. Assim, os solos arenosos

tendem a ser mais permeáveis que solo argiloso, e por serem mais permeáveis a

água infiltrará com mais facilidade, saturando mais rapidamente tornando o solo

mais suscetível à erosão. Outro fator importante para a infiltração é a característica

das chuvas que, quanto mais prolongada e mais intensa for mais rapidamente o solo

irá ficar saturado. Para que isso ocorra deve ser levado em consideração à umidade

antecedente do solo, pois quanto maior ela for a tendência é que o solo se sature

mais rapidamente. A cobertura vegetal tem um papel importante para a entrada de

água no solo, tanto na produção de matéria orgânica como na interceptação das

gotas pelas copas das árvores, a matéria orgânica ajuda na infiltração, facilitando a

entrada e percolação das gotas de chuva no solo. Já as copas dificultam a formação

de crostas e a ruptura dos agregados, pois estas interceptam as gotas diminuindo o

impacto desta sobre o solo, mas por outro lado, facilitam a infiltração, pois, ao serem

interceptadas as gotas de chuvas descem pelo tronco das árvores e entra no solo

Figura 11 - Ação das gotas da chuva

descompactando o solo.

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

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41

com mais facilidade. Em se tratando de infiltração é importante ressaltar a

importância do manejo correto do solo, pois ações incorretas de maquinário agrícola

podem afetar diretamente na diminuição da entrada de água no solo facilitando a

formação de poças que consequentemente geram runoff. E por fim deve-se levar em

consideração também a influência da declividade do terreno na taxa de infiltração,

pois, encostas com topo plano irão facilitar na infiltração, e com a ocorrência da

saturação inicia-se o escoamento superficial. Em contrapartida encostas com

declives muito altos a taxa de infiltração quase que não existirá.

2.4.3 Início do Escoamento Superficial

Depois de excedida a taxa de

infiltração de água no solo, inicia-se a

formação de poças e em um curto espaço

de tempo começa a ação do runoff, sendo

que quanto menor for à capacidade do solo

em absorver água, mais rápido iniciará o

escoamento (Figura 12). Para que a

formação de poças ocorra devem ser

levados em consideração à porosidade e

densidade aparente do solo. Quanto mais

poroso for o solo menor será a dificuldade

de infiltrar água no mesmo e consequentemente mais rápido irão se formar as

poças. Assim, os solos mais argilosos irão formar poças com mais facilidade, pois

eles são mais finos que os solos arenosos e siltosos, mas em contrapartida são

menos permeáveis. E o mesmo se aplica a densidade aparente, pois quanto mais

fino for o solo mais facilmente irão se formar poças. Outros fatores também irão

ajudar na intensidade da formação de poças que são: as propriedades do solo,

características da encosta, erosividade da chuva, o uso e manejo do solo, etc. E

com a incidência de formação de várias poças a junção destas dá inicio ao

escoamento superficial, e neste processo existem vários estágios de acordo com

sua intensidade e ação. A primeira fase é o escoamento em lençol, que também é

Figura 12 – Escoamento superficial: inicio do processo erosivo. Foto: Autor desconhecido

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42

conhecido como fluxo laminar que ocorre com formação de um lençol de água que

transporta pequenas partículas de sedimentos inconsolidados, segundo Horton

(1945) apud Guerra (1999, p. 30):

A força de cisalhamento imposta por esse fluxo ainda não suficiente para transportar partículas, mas, à medida que esse fluxo de água aumenta e acelera, encosta abaixo, ocorre o cisalhamento das partículas do solo e, finalmente, a erosão começa a ocorrer a partir de uma distância crítica do topo da encosta.

E com a intensificação desse processo pode posteriormente dá início a

formação de ravinas. Com a intensificação desse estágio inicia-se o escoamento

linear, caracterizado por um fluxo de água concentrado em canais bem pequenos,

que com o aumento da profundidade há uma diminuição na velocidade e

consequentemente uma queda na energia do fluxo, que faz com que haja uma

concentração de sedimentos no interior do fluxo linear, estes por sua vez ficam sob

um forte atrito fazendo com que aumente a erosão dos canais e inicie o processo de

formação de microrravinas.

A formação das microrravinas se dá com a formação de canais bem

definidos onde a água escoa em um fluxo canalizado sobre estes. De acordo com as

irregularidades provocadas pelo processo de sedimentação, elas tendem a

aumentar e formar cabeceiras e poças, dentro das microrravinas, que evoluem para

outro estágio o de microrravinas com cabeceiras e Segundo Guerra (1999, p.33)

“Essas cabeceiras tendem a coincidir com um segundo pico na produção de

sedimentos, resultantes da erosão ocorrida dentro das ravinas”. E com a

coincidência e ruptura dessas cabeceiras, a tendência é que ocorra um alargamento

e aprofundar mais as microrravinas, fazendo com que essas atinjam o estágio de

ravinas propriamente ditas.

2.4.4 Escoamento Subsuperficial Dada a importância do

escoamento superficial para a

intensificação dos processos

erosivos, é necessário frisar também

Figura 13 – Piping provocado pelo Escoamento subsuperficial. Foto: Autor desconhecido.

Page 43: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

43

o papel do escoamento subsuperficial na intensificação da erosão, já que este age

tão intensamente quanto o runoff.

O escoamento subsuperficial em condições de chuvas muito intensas em

que depois do solo saturado a água corre tanto na superfície quanto na

subsuperfície sendo que em situações de fluxo concentrado o escoamento

subsuperficial corre sobre dutos chamados de “Piping” (Figura 14). Estes dutos ao

evoluírem podem formar voçorocas com o colapso da parte superior, conforme

Guerra (1999 p.112): “O escoamento subsuperficial, além de controlar o

intemperismo, afeta diretamente a erodibilidade dos solos, através de suas

propriedades hidráulicas influenciando no transporte de minerais em solução”.

Sendo que a remoção desses minerais em solução pode ocasionar, uma fragilidade

maior no solo perante os agentes erosivos, pois alguns desses minerais, tipo o

cálcio tornam o solo mais agregado.

2.4.4 Intensificação do Processo Erosivo: de Ravinas às Voçorocas Através da intensificação dos processos erosivos chega-se à fase mais

crítica que é o surgimento de ravinas que ao evoluírem, se transformam em

voçorocas, um dos maiores impactos ambientais em se tratando de solo. As ravinas

se formam principalmente com o aumento da velocidade da água na encosta sendo

que, para alguns autores a velocidade necessária para formação de ravinas tem que

ser superior a 30 cm/s quando o fluxo se torna turbulento.

Segundo Guerra (1999, p.180) “As ravinas são quase sempre, iniciadas no

topo da encosta, onde o escoamento superficial se torna canalizado”. Depois de

formadas as ravinas, quando não são

monitoradas e não são aplicadas

técnicas de correção e recuperação dos

solos afetados, elas podem evoluir e

formar voçorocas que é o ultimo estágio

da erosão de solos e também o mais

crítico (Figura 14).

Figura 14 – Voçoroca fase mais destrutiva do processo erosivo. Foto: Leandro Pereira, 2007.

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44

Na literatura mundial especializada sobre erosão de solos, há uma

diversidade de conceitos a respeito da distinção de ravinas das voçorocas. Há

autores que consideram que ravinas podem ser obliteradas por máquinas agrícolas,

enquanto que as voçorocas não; Outros consideram que as voçorocas são formadas

pelo escoamento subsuperficial e ravinas pelo escoamento superficial. Daí surgem

questionamentos que invalidam essa teoria: como pode se considerar uma ravina

com dimensões muito grandes? E em se tratando em dimensões a definição que

mais é utilizada é a do Glossário de Ciências dos Solos, dos Estados Unidos (1987)

apud Guerra (1999, p.184) “... as voçorocas possuem de 0,5m de largura e de

profundidade, podendo chegar a mais de 30m de comprimento”. Assim as feições

erosivas que tiverem menos de 50 centímetros de largura e profundidade são

consideradas ravinas.

As voçorocas são feições erosivas com paredes laterais íngremes tendo um

fundo chato e que em eventos chuvosos corre água no seu interior. As voçorocas,

como foi citado anteriormente, são na maioria das vezes evoluções de ravinas, mas

estas podem surgir com o escoamento subsuperficial, através de formação de dutos

os chamados “piping”, que surgem quando chuvas muito pesadas provocam o fluxo

de água na subsuperficie, e com a remoção de sedimentos pela intensificação do

processo faz com que se aumente o diâmetro do duto provocando o colapso da

parte superior dele, incidindo assim a formação de voçorocas. De acordo com

Salomão (1999, p.230), “voçoroca é palco de vários fenômenos, como: erosão

superficial, erosão interna, solapamentos, desabamentos e escorregamentos,

configuram-se na forma mais destrutiva de todo o processo erosivo”. Diante disto, a

formação de voçorocas se caracteriza como sendo feições erosivas formadas a

partir da interação de processos superficiais e subsuperficiais. Quando não é feito

um controle e monitoramento das voçorocas, pode-se ter a ocorrência de sérios

danos ambientais, danos estes que podem ser irreversíveis em curto prazo, sendo

que as voçorocas em seus estágios finais chegam a atingir o horizonte C do solo,

quando não atinge o lençol freático.

Page 45: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

45

2.4.5 Fatores Controladores da Erosão

A ação dos agentes erosivos causa sérios danos no ambiente como um

todo. Evidentemente, para que isto ocorra é necessário a combinação de alguns

fatores que são determinantes na intensidade em que esse processo vai atuar são

eles: a erosividade da chuva, as propriedades do solo, a cobertura vegetal e as

características das encostas.

A erosividade da chuva é definida por Hudson (1961) apud Guerra (1999,

p. 123) como a “... habilidade da chuva em causar erosão”, mas embora tenha sido

aplicada uma definição tão simples o processo de erosão pela chuva é muito mais

complexo do que se pensa. Tanto que existem diversos parâmetros para definir a

capacidade de erosão de um solo pela chuva. Porém o que melhor se aplica e mais

se utiliza é a energia cinética, que é a capacidade de uma gota em romper os

agregados do solo e formar crostas, sendo assim quanto mais intensa for à chuva

maior será a capacidade de erodir dela.

As propriedades do solo é outro fator muito importante para determinar a

sua suscetibilidade em ser erodido, para isso existem alguns fatores que indicam a

fragilidade do solo diante dos agentes erosivos, são eles: a textura, densidade

aparente, porosidade, teor de matéria orgânica, teor de estabilidade dos agregados

e o pH (potencial de hidrogênio) do solo. Um solo com textura grosseira terá mais

facilidade em ser erodido, porque os materiais tendem a ser menos consolidados e

mais fáceis de serem levados. Um exemplo são os solos arenosos que são mais

suscetíveis à erosão. Já em relação à densidade é exatamente o contrário da

textura, pois os solos com maior densidade aparente são mais suscetíveis à erosão.

A título de exemplo se aplicam os solos argilosos que são mais resistentes aos

agentes erosivos, por que são mais coesos e agregados. A porosidade no solo tem

grande importância porque quanto menos poroso for o solo, mais suscetível à

erosão, por exemplo: os solos arenosos que apresentam maior facilidade para

infiltrar água e conseqüentemente ficam saturados mais rapidamente são mais

fáceis de serem erodidos. O teor de matéria orgânica talvez seja o fator mais

importante no que se refere à resistência a erosão, pois a matéria orgânica torna os

grãos do solo mais coesos e mais agregados, dificultado a ação dos agentes

erosivos. Assim quanto maior for o teor de matéria orgânica no solo mais resistência

ele apresentará. O pH (potencial de hidrogênio) exerce importância na proteção dos

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46

solos, pois o cálcio ajuda na agregação dos grãos sendo que a ausência deste torna

o solo mais alcalino e mais suscetível à erosão.

Em se tratando de fatores que determinam a intensidade da erosão, a

cobertura vegetal tem grande importância, sendo que esta atua de diversas

maneiras na proteção do solo contra a erosão; a primeira forma seria na

interceptação das gotas pelas copas das árvores diminuindo o impacto sobre os

solos e assim diminuindo a energia cinética das gotas da chuva e

conseqüentemente ação do splash sobre o solo. A vegetação ajuda na produção de

serrapilheira no solo que dificulta a infiltração de água, assim diminuindo a incidência

de se ter runoff.

O último e não menos importante fator determinante na intensidade da

erosão é a característica topográfica das encostas, em que a declividade da encosta

irá determinar de que forma irão ocorrer os processos erosivos. Os solos localizados

em encostas declividade moderada e com o topo plano são os mais suscetíveis à

erosão, pois a água tanto tem as condições necessárias para infiltrar como para

percolar.Assim a junção de todos esses fatores irá determinar em que intensidade e

frequência os impactos erosivos nos solos irão ocorrer.

2.4.6 Controle e prevenção dos processos erosivos 2.4.6.1 Técnicas de Monitoramento

Visando uma prevenção contra a ação dos impactos erosivos, existem

algumas técnicas muito importantes para se monitorar solos em que os agentes

erosivos estão atuando, e o uso dessas técnicas propostas por Guerra e Cunha

(1996) e Bertone e Lombardi (1990) servem tanto como instrumento para produção

de possíveis mecanismos de intervenção como também a título de compreensão de

como esses processos atuam. Dentre as técnicas de monitoramento de erosão de

solos as principais são: o monitoramento da taxa de infiltração; monitoramento de

voçorocas; o monitoramento de ravinas; de propriedades do solo; técnica de pinos

de erosão e o teor de umidade no solo.

Page 47: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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A taxa de infiltração no solo pode ser medida através da construção de um

infiltrômetro que é um instrumento para medir o quanto de água infiltra no solo. A

construção do infiltrômetro pode ser feita com um cano de PVC ou de Ferro com as

seguintes dimensões: 15 cm de altura, e 10 cm de diâmetro, sendo que a parte que

será colocada no solo deverá ser mais fina do que a que vai ficar pra fora, após ser

feito e colocado no solo põe-se um pedaço de madeira ao lado para proteger.

Depois disso, deve-se encher de água e marcar o tempo de preferência com um

cronômetro ou relógio que contenha o marcador de segundos. E depois anotar a

profundidade a cada 30 segundos. Para a aplicação da atividade utiliza-se uma área

de pasto, agrícola e com cobertura vegetal. Assim, através desta atividade pode se

ter uma noção de quanto se infiltrou de água no solo.

Outra técnica importante é o monitoramento de voçorocas, na qual pode -

se verificar o quanto ela evoluiu desde o inicio do experimento. Para ser feita essa

atividade deve ser escolhida uma voçoroca (de preferência próxima à área em que

se reside), que para tanto é necessário que se façam visitas periódicas a área de

estudo. Para ser feito o monitoramento após ter sido escolhida a voçoroca, se pega

20 estacas de madeira ou vergalhão e coloca-se a 20m de distância da borda da

voçoroca, lembrando que as estacas devem ter 40 cm de altura 2 cm de espessura

e 5 cm de largura, devendo ser enterradas 30 cm de profundidade e numeradas,

sendo que a distância entre uma estaca e outra deve ser em linha reta. Assim,

depois de feita a atividade em campo realiza-se visitas periódicas a área de estudo,

munido da caderneta de campo, mede-se a distância do pino para a borda e anota-

se o quanto à área das bordas evolui para os pinos, faz-se vistas periódicas a cada

15 dias, monitorando a área durante um a período de seis meses a um ano, após o

término do experimento calcula-se o quanto evoluiu a voçoroca.

Uma técnica simples e muito importante em se tratando de monitoramento

de áreas que estão sendo erodidas é a de coletar matéria em uma determinada

área, para determinar as propriedades do solo. Esta atividade permite um

conhecimento a acerca da suscetibilidade do solo quanto à erosão. Para isso se

escolhe uma encosta que está sendo afetada pela erosão, sem cobertura vegetal, e

faz-se a coleta de solo em algumas áreas da encosta, em seguida desloca-se a um

laboratório de análise de solo e com peneiras granulométricas coloca-se o material

coletado em campo, penera-se e constata-se o teor de argila, areia e silte e matéria

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48

orgânica em cada área da coleta, feito isso é possível ter uma ideia da instabilidade

da encosta frente os argentes erosivo.

A técnica de monitoramento da taxa de erosão talvez seja a mais

importante em se tratando de monitorar áreas afetadas, para tanto existe a técnica

dos pinos de erosão, que consiste em escolher uma encosta e delimitar duas áreas

para serem feitas as atividades, uma área com vegetação e outra sem, feito isso se

coloca em torno de 50 pinos que podem ser tanto vergalhão como pregos de 10 cm,

e distribue - se esses pinos pelas áreas escolhidas, numerando e colocando de

forma que apenas a borda fique de fora. Feito isto se faz um esquema de

distribuição dos pinos em um papel milimetrado. É preciso a visita periódica das

áreas, a fim de medir o quanto a áreas dos pinos ficaram expostas. As visitas a área

do experimento devem acontecer semanalmente ou mensalmente, durante um ano,

para calcular o quanto foi perdido de solo.

A aplicação dessas técnicas pode servir como um importante instrumento

para o planejamento de ações de controle e prevenção contra os agentes erosivos.

2.5 Conservação de solos

Tendo em vista que a erosão de solos é um dos problemas ambientais que

mais traz danos ao ambiente, não se pode deixar de lado a importância de traçar

mecanismos para promover uma manutenção e conservação dos solos.

Sendo assim, as práticas conservacionistas têm por base a utilização dos

solos sem o empobrecimento de seu recurso significantemente. Conforme a

conceituação de Lepsch (2002) estas práticas não anularão os impactos, mas

reduzirão. A conservação do solo tem sua importância pautada na harmonia com o

ciclo da natureza, seja o hidrológico, ambiental, geomorfológico em formação e

conservação dos solos. Para efeito didático Lepsch (2002), apresenta três grupos

para a conservação, que são representadas por práticas de caráter edáfico,

mecânico e vegetativo. As práticas de caráter edáfico são medidas ligadas

diretamente ao solo, na questão nutricional das plantas, é baseada em alguns

princípios como a eliminação ou controles de queimadas. Estas medidas têm por

objetivo evitar as queimadas excessivas, em razão de a camada superficial ter

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49

grande quantidade de húmus, sendo uma camada de grande importância. Sabe-se

que com as queimadas as áreas ficam desprotegidas, pois com a retirada da

camada mais superficial e da vegetação do local, estas ficam sujeitas a erosão. Um

principio muito importante no que refere a questão nutricional das plantas é o de

Adubações, que objetiva corrigir as deficiências naturais do solo, adicionando algum

nutriente que lhe falta. E o Princípio do sistema de rotação de culturas, com isto uma

determinada área poderá ter várias culturas, e cada uma desta terá uma

característica planejada, pois no momento do plantio são feitos exames e verificam-

se as perdas e ganhos nutricionais, fortalecendo assim a próxima cultura com um

tipo de plantação que venha melhorar as condições do solo. O caráter mecânico

propõe a conservação do solo, com utilização de máquinas, onde em respostas o

relevo sofre alterações na busca de correções de declives acentuados. Essa prática

requer maior empenho financeiro. Sendo assim Lepsch (2002, p.162) propõe:

Entre as principais práticas mecânicas de conservação do solo podem-se citar o preparo do solo e plantio em curvas de nível, os terraços do tipo camalhão e as estruturas de desvios e infiltração das águas que escoam das estradas. [...] esses terraços –patamares tem aspectos de grandes degraus, como se fosse uma intensa escada.[...] o preparo do solo e plantio em curvas de nível, também chamado de plantio de contorno, consiste em semear e executar todas as operações de cultivo no sentido perpendicular às maiores pendentes [...] o plantio de contorno é uma prática que alem de ser uma medida simples de controle a erosão, facilita a adoção de outras praticas complementares de caráter vegetativo.

Essa prática conservacionista de caráter mecânico é muito eficiente no

controle da erosão – como arranjos que impedem ao transbordamento das águas

das chuvas e enxurradas que diante da geomorfologia natural acarretam a erosão. O

depauperamento dos solos que causa o empobrecimento das terras, em virtude das

derrubadas de matas nativas, e pelo desgaste do cultivo da monocultura ano após

ano, leva a baixa fertilidade do solo. Atribuindo a prática conservacionista de caráter

vegetativo, tem-se que a visão desse controle, sobretudo da erosão, em virtude de

submeter-se a métodos de aumento da cobertura vegetal, nessa prática utiliza-se,

segundo Lepsch (2002. p. 164) o reflorestamento, manejo de pastagens, cultivos em

faixa, árvores quebra-ventos e cobertura do solo com matéria orgânica – palha ou

acolchoamento. A cobertura desse solo tem o intuito de proteger da forte

intercepção das chuvas, assim como, diminuir a velocidade do escoamento das

enxurradas.

Page 50: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

50

2.6. Agregados

O termo agregado é usado na literatura científica referente à extração de

minerais referindo-se aos insumos minerais destinados à construção civil. Segundo

Valverde (2001, p.2):

O termo “agregados para a construção civil” é empregado no Brasil para identificar um segmento do setor mineral que produz matéria-prima mineral bruta ou beneficiada de emprego imediato na indústria da construção civil [...] o termo “emprego imediato na construção civil” – que consta da legislação mineral para definir uma classe de substâncias minerais – não é muito exato, já que nem sempre são usadas dessa forma. Muitas vezes elas entram em misturas – tais como o concreto e a argamassa – antes de serem empregadas na construção civil.

Sendo assim, a norma NBR 9935 (ABNT, 1987) define:

Agregado como o material granular pétreo, sem forma ou volume definido, a maioria das vezes quimicamente inerte, obtido por fragmentação natural ou artificial, com dimensões e propriedades adequadas a serem empregados em obras de engenharia.

Quanto ao tamanho dos fragmentos o serem comercializados o DNPM (2001

p.1) especifica que “tem-se agregados miúdos, os materiais de diâmetro mínimo

superior de 4,8 mm até diâmetro máximo de 0,075mm, especificada pela norma

ABNT NBR 7211”. [...]. Define-se ainda como agregado graúdo, ou pedregulho, o

material com diâmetro mínimo de 4,8mm e máximo de 152 mm”, parâmetros

especificados pela norma supracitada . Os principais agregados miúdos são a areia,

de origem natural e artificial proveniente de fragmentos da britagem; como agregado

graúdo tem-se o cascalho de origem natural e a pedra britada de origem artificial.

Os agregados podem ser tanto naturais como artificiais. Os naturais na maioria

dos casos são oriundos da formação de depósitos aluvionares, ou seja, deposição

de sedimentos transportados pelos rios, assim como podem se formar em depósitos

marinhos, em depósitos litorâneos de estabilização de dunas e nos casos de

depósitos antigos de origem flúvio – glacial. A produção de agregados artificiais é

feita através da fragmentação de grandes blocos de rochas que são extraídos e

moídos até atingir os padrões granulométricos exigidos pelo mercado.

Os agregados são utilizados para DNPM (2001, p.1)

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51

[...] a confecção de concreto, blocos para revestimento de edifícios e proteção de taludes de barragens, pedra britada para os leitos de ferrovias, aeroportos e rodovias, blocos para calçamento de ruas, avenidas, em indústria de cerâmica, de vidro, etc...

Sendo assim, a produção e extração de agregados tem se consolidado como

uns dos setores mais rentáveis no que se refere à extração mineral, apresentando-

se como os insumos minerais mais consumidos no Brasil e no mundo.

2.6.1 Areia

Conforme o DNPM (2001, p.1) “a areia é uma substância proveniente da

desagregação de rochas e minerais. Segundo as normas da ABNT, a areia possui

granulométria variável de 0,05 milímetros a 5 milímetros”. Embora todas as rochas

sejam passíveis de sofrer os efeitos do intemperismo químico e desagregação

mecânica, as ricas em quartzo são mais propicias a originar areias. Isso ocorre pelo

fato desse mineral ser muito resistente ao intemperismo, permitindo que, após a

decomposição da rocha, este seja o mineral restante. Sendo assim, as areias são

acompanhadas de altos teores de quartzo. Os grãos de areia podem variar quanto a

sua granulométria e grau de pureza, e são esses fatores que indicaram o emprego

especifico de cada areia. As areias puras são aquelas com baixo teor de ferro e ricas

em sílica. As chamadas areias silicosas são utilizadas na fabricação de vidros. Já as

areias mais impuras e granulação grossa são utilizadas como matéria-prima para a

construção civil.

A grande maioria da areia extraída para o mercado vem de depósitos

aluvionares, resultantes da deposição por rios em extensas áreas onde se localizam

as planícies de inundação. As areias podem também se formar em depósitos

lacustres, marinhos, litorâneos resultantes da estabilização de dunas e de veios de

areia subterrânea (minas) de depósitos antigos tendo origem tanto fluvio – glacial

como eólica. Segundo Rodrigues (2004, p.03) “a maior parte das areias produzidas

no Brasil é de leito de rios ou extraída de minas onde houve formação de cavas

inundadas pelo lençol freático.”

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A extração de areia se configura como uma das atividades, mais nocivas ao

meio ambiente, fato evidenciado principalmente pela maioria dos empreendimentos

de extração não possuírem licenciamento ambiental, bem como pela carência de

fiscalização por parte dos órgãos competentes.

2.6.2 Cascalho

Os cascalhos são materiais clásticos de origem sedimentar, e caracterizam - se

por terem uma forma arredondada oriunda do transporte fluvial. São também

conhecidos como “seixos rolados”. Assim, Segundo o DNPM (2001 p.3):

O cascalho é a denominação genética de seixos, originários de fragmentos de rochas preexistentes e se enquadram numa faixa granulométrica, variável de 2 a 256 mm de diâmetro, segundo as subdivisões de Wentworth. É definido como depósito, nível ou acumulação de fragmentos de rochas e/ ou minerais mais grossos do que do que a areia, principalmente com o tamanho de seixos. É um agregado de origem natural e

de tamanho graúdo.

Eles se constituem principalmente de depósitos superficiais de vales de rios e

se acumulam normalmente em faixas horizontais de planícies aluviais, nos

chamados aluviões ou depósitos aluvionares. Os cascalhos têm sua origem da

principalmente na era Cenozóica, onde rios que drenavam regiões com o

predomínio de rochas cristalinas granulares, carregaram grandes volumes destes

sedimentos e espalhavam seus depósitos em suas planícies de inundação, que na

maioria das vezes tinham seus limites constituídos de distâncias quilométricas e

tinham calhas fluviais superiores às atuais, “A maioria dos cascalhos escavados no

Brasil tem sua origem são dos períodos Terciário superior e Quaternário”. (BROWN

et. al. 1995 p.22)

Assim como a areia, os cascalhos se subdividem quanto à sua

granulométrica, e conforme BROWN et. al. (1995 p.21)

Cascalho é subdividido em agregado miúdo e agregado graúdo. O agregado miúdo tem diâmetro entre 0,15 mm e 4,8 mm [...]. O agregado graúdo, usado como agente aglomerante, tem diâmetro superior a 4,8mm e usualmente não passa de 3,8mm.

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Quanto a sua aplicabilidade o cascalho possui diversos usos que serão

direcionados baseados em alguns critérios técnicos, dentre os quais se podem citar:

a forma, tamanho e graduação. Assim, dentre os principais usos dos cascalhos

destacam-se a indústria da construção civil e a pavimentação de rodovias, sob a

forma de concreto tanto nas edificações como no revestimento dos pavimentos

asfálticos.

2.5. Argila

As argilas, embora não sejam consideradas agregados de “emprego imediato

na construção civil” como a areia e o cascalho, constituem uma importante matéria-

prima para produção de artefatos cerâmicos destinados a construção civil, a

exemplo dos tijolos e telhas. Conforme BROWN et. al. (1995, p.36) “Minerais de

argila ou argilominerais são formados pela decomposição química dos minerais

primários das rochas cristalinas, ígneas e metamórficas”. Por serem de

granulométrica muito fina, os argilominerais só podem ser visualizados com o auxilio

de um microscópio.

A maior parte das argilas foram constituídas pela ação do intemperismo, que

ao “atacar” os minerais das rochas causam a sua recombinação, transformando-os

em argilominerais. De acordo com a intensidade do intemperismo pode-se ter tipos

de argilominerais diferentes, e os principais são a montimorilonita, esmectita, ilita e

caulinita. As montimorilonitas e esmectitas se formam em condições de baixa

pluviosidade ou em situações topográficas onde a lixiviação do silício é dificultada, o

que atrapalha na solubilização de parte dos elementos químicos. As esmectitas são

argilominerais 2:1, isto é, possuem duas moléculas de alumínio, para uma de silício.

A ilita é um argilomineral considerado primário, pois, se forma no estágio inicial de

intemperismo, e ela pode surgir quando há remoção principalmente de qualquer

mineral, especialmente da sílica e parte do potássio. Já a caulinita, forma-se em

condições em que há decomposição de todo o feldspato mineral, assim as caulinitas

são típicas de climas tropicais úmidos, onde a junção entre altas temperaturas e

altos índices pluviométricos, faz com que o intemperismo químico atue com bastante

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intensidade e provoque a dissolução de praticamente todos os elementos químicos,

concentrando alumínio.

De acordo com sua formação as argilas podem ser de três tipos diferentes,

entre elas: as residuais, as sedimentares e as diagéneticas. As residuais são

aquelas originarias no local do intemperismo, ou seja, no manto de alteração,

conforme BROWN et al. (1995, p.39) “elas se acumulam onde ocorre intemperismo

químico intenso, os produtos solúveis são lixiviados para dentro do solo, e há

relativamente pouco transporte de produtos sólidos”. As argilas sedimentares são

aquelas removidas e transportadas do local onde ocorreu o intemperismo,

transportadas em água como diminutas partículas coloidais acumulando-se em

outros locais. De acordo com BROWN et al. (1995, p. 40)”[...] a diagênese refere –

se às alterações químicas e mineralógicas que os sedimentos sofrem à medida que

são soterrados em profundidade cada vez maiores sob o pacote sedimentar e

tornam-se compactados e litificados”. Baseado em seus usos, existe “uma

propriedade que todas as argilas têm em comum é a coesão, que lhes confere

plasticidade, a propriedade de ser conformada e moldada quando misturada com

água.” (BROWN et al. 1995, p. 42). Todas argilominerais, possuem certa quantidade

de água presente em sua estrutura, essa água contida na superfície das argilas, é

chamada de água de adsorção, que em condições de temperaturas elevadas, pode

ser retirada, acabando com a plasticidade da argila. Esse processo de remoção da

água presente na argila ocorre a temperaturas entre 105 -110 ° C. Cada tipo de

argila apresenta características plásticas diferentes, são chamados de limites de

plasticidade.

O limite de plasticidade definirá os usos mais indicados para cada argila, pois

embora todas as argilas tenham a capacidade de serem moldadas, algumas são

mais plásticas que outras sendo assim, alguns argilominerais são mais adequados

que outros em determinadas funções. A caulinita, por exemplo, possui duas

variedades, uma não – plástica e outra plástica. A não – plástica é típica de

depósitos residuais, e por possuir grãos maiores e bem mais cristalizados, não

dispõe de plasticidade adequada para ser moldada. Já as caulinitas sedimentares

por terem uma granulação mais fina e não serem tão bem cristalizados como as

residuais, possui maior plasticidade.

Na indústria de produção de tijolos e artefatos cerâmicos, os argilominerais

mais adequados são a caulinita sedimentar e a ilita, por possuírem o grau de

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plasticidade adequado. Já a montimorilonita e a esmectita, por sofrerem muita

redução de volume quando submetidas a altas temperaturas, não são adequadas

para esse uso. No processo de queima para confecção desses artefatos, os

argilominerais são submetidos a temperaturas de cerca de 900°C, o que faz com

que percam toda a água presente e sejam transformados em compostos de

aluminossilicatos anidros, com características de maior dureza e impermeabilidade.

A reação de desidratação pode ser descrita pela fórmula: (Al2Si2O3(OH)4 →

Al2O32Si2+2H2O), assim estes adquirem a dureza e resistência necessária para

serem utilizados com artefatos cerâmicos.

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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 O estudo das paisagens: referenciais teórico-metodológicos. Dentro da ciência geográfica, existem algumas categorias que nortearam e

norteiam o discurso geográfico, e todas elas estão inseridas em uma só, o espaço

geográfico, objeto de estudo da geografia. Conforme Santos (1999, p.39) “o espaço

é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de

sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas

como o quadro único no qual a história se dá.”.

No conceito de espaço estão contidas as principais categorias de análise

da geografia, entre elas/tais como: região, território, lugar e paisagem.

Segundo Santos (1988, p. 21) a paisagem é “tudo aquilo que nós vemos, o

que nossa visão alcança é paisagem.” Assim, tudo aquilo que é visível e palpável é

considerado como paisagem. A paisagem pode ser tanto algo natural, como artificial,

pode ser uma floresta ou cidade.

A paisagem está em constante transformação, e a ação antrópica

(humana) é o principal agente transformador dela. Ao longo dos anos o homem se

apropriou dos recursos naturais, através de interesses econômicos, na maioria das

vezes explorando de forma “irracional”, transformado paisagens naturais, em

espaços artificializados, sempre buscando tirar algum proveito da exploração desses

ambientes, assim, de acordo com Santos (1988, p. 23) ”se um lugar não é

fisicamente tocado pela força do homem, ele, todavia é objeto de preocupações e de

intenções econômicas ou políticas.”.

O conceito de paisagem foi de grande importância para o desenvolvimento

de pesquisas nas áreas das ciências naturais, e a geografia foi uma das ciências

que mais se beneficiaram. No que diz respeito ao seu estudo na geografia, o

conceito de paisagem foi e tem sido muito utilizado nas pesquisas, principalmente

nas relacionadas à geografia física.

Embora na geografia física o conceito de paisagem como objeto de estudo

metodológico tenha sido muitas vezes criticado, e considerado muitas vezes um

estudo inadequado na geografia física moderna (Bertrand, 2004) alguns autores

tentaram criar as bases de uma abordagem geográfica do conceito de paisagem.

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Sotchava (1962) e Bertrand (1971) deram grande contribuição ao estudo

das paisagens tendo sido responsáveis pelo desenvolvimento do estudo da

paisagem na geografia física, propondo a análise das paisagens segundo diferentes

unidades e criando o conceito de Geossistema, que se apóia na Teoria Geral dos

Sistemas, desenvolvida nos Estados Unidos no final da década de 1920, que

provocou intensas transformações em diversas áreas do conhecimento, inclusive na

geografia.

Segundo Mendonça (1991, p. 45) um geossistema seria:

A expressão dos fenômenos naturais, ou seja, o potencial ecológico de determinado espaço no qual há uma exploração biológica, podendo influir fatores sociais e necessariamente, face aos processos dinâmicos, uma homogeneidade interna.

Um geossistema pode ser considerado como a expressão de elementos

que se interelacionam entre si, e a Figura 10 expressa, uma a organização

esquemática de um Geossistema.

Figura 15 - ESQUEMA DE UMA DEFINIÇÃO TEÓRICA DE GEOSSISTEMA

Fonte: G. Bertrand (2004).

Com base em seu grau de antropização e exploração, um Geossistema pode

ter diferentes dinâmicas. Diz-se que um geossistema está em Biostasia, quando a

atividade geomorfogenética é fraca ou quase nula e há um predomínio de

pedogênese sobre a paisagem, sendo que alguns ecologistas costumam utilizar o

termo “clímax” para definir esse estado.

Por outro lado, quando a geomorfogênese predomina sobre a pedogênese,

principalmente pela inexistência de uma cobertura vegetal, devido a causas naturais

GEOMORFOLOGIA CLIMA HIDROLOGIA VEGETAÇÃO SOLO FAUNA

POTENCIAL ECOLÓGICO EXPLORAÇÃO BIOLÓGICA

GEOSSISTEMA

AÇÃO ANTRÓPICA

Page 58: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

58

ou antrópicas, diz-se que o sistema se encontra em estado de Resistasia. Nesse

caso, há predomínio da denudação e recuo das vertentes, erosão e solapamento

dos materiais, e a pedogênese é subordinada ou inexiste.

O estudo de um geossistema deve ser feito de maneira, integrada, e tendo

em vista que todos seus elementos mantêm uma relação e características

parecidas, e para facilitar o seu estudo, um geossistema pode ser subdividido em

unidades que mantenham características fisiográficas diferentes. Seguindo uma

ordem hierárquica, pode-se dividir um geossistema específico em unidade de menor

escala, quais sejam, a Geofácies e Geótopo. A Geofácies (Bertrand, 1971) pode ser

definida como uma unidade geográfica que tenha características fisionômicas

parecidas, já o Geótopo é uma unidade que se situa no ultimo nível de escala

espacial.

Quase na mesma época em que surgiu a abordagem geossistêmica, o

francês Jean Tricart (1977), criou uma teoria que veio para complementar os

estudos da paisagem, a Ecodinâmica, que consiste numa análise dos meios

segundo sua estabilidade ambiental. Assim, ele definiu três categorias taxonômicas

para classificar os meios segundo o seu grau de estabilidade: meios estáveis, meios

intergrades, e os fortemente instáveis.

Tricart (1977) afirma que para um meio ser considerado estável, a sua

característica essencial seria uma lenta e constante evolução, que seria resultante

da permanência, no tempo, da combinação dos fatores. Assim, um meio

ecodinamicamente estável seria aquele em que se encontrasse em resistasia, ou

seja, com um predomínio de pedogênese sobre morfogênese. Para essa análise, um

dos principais critérios adotados seriam a presença da vegetação e a ausência de

atividades tectônicas. Assim, um meio estável deveria se encontrar em uma região

de vasta cobertura vegetal, e também imune de eventos catastróficos, como

vulcanismo e abalos sísmicos.

A situação intermediária entre um meio estável e instável é chamada de

“intergrade”, e nesse meio, a atividade geomorfogenética atua na mesma freqüência

ou até maior que a pedogenética. Um meio intergrade caracteriza-se pela passagem

entre o meio estável em instável, apresentando um grau de antropização um pouco

alto.

Finalmente, um meio com características fortemente instáveis, é aquele

encontrado em regiões de alta suscetibilidade a eventos catastróficos, bem como em

Page 59: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

59

áreas onde a vegetação e bastante rarefeita ou ausente, ou em locais onde há um

predomínio da atividade geomorfológica sobre a pedológica. São áreas naturalmente

desprovidas de vegetação ou que foram sujeitas a impactos ambientais em grande

escala.

4.2 Métodos de Procedimento e Técnicas de Coleta de Dados

Esse trabalho teve como métodos de procedimentos, as pesquisas

bibliográfica, experimental e de campo. Para o desenvolvimento dessas etapas

foram utilizadas algumas técnicas de coleta de dados, citadas posteriormente em

ordem de aplicação.

No primeiro, momento da pesquisa, foi feito um levantamento bibliográfico

de materiais referentes à temática, foram pesquisados e catalogados, desde livros,

até artigos e textos em formato digital. Grande parte do material pesquisado foi

fichado, tirando muitos elementos e conceitos que pudessem ser aproveitados para

a pesquisa. Essa etapa de levantamento e catalogação de material bibliográfico

durou cerca de 4 meses.

Passada a etapa de levantamento bibliográfico, iniciou-se a fase de coleta

de dados em campo. Nos trabalhos de campo foi feito um levantamento dos locais

onde foi feita exploração de agregados para a construção civil, sendo a área

mapeada com auxílio de fotografias, imagens de satélite escala de em escala

1:100.000, bússola e GPS, cartas topográficas etc...

Apartir das observações de campo, foram elaborados os mapas de

compartimentação da paisagem, (Bertrand 1971). Foi possível verificar a existência

de vários geofácies, e a partir dessas foi feita a análise de três delas: a unidade

Geoambiental I, situada na planície aluvial, arenosa na área de extração de areia de

propriedade do senhor Amadeu Pires Ferreira Junior; a unidade Geoambiental II

situada na encosta onde se extraía areia grossa, área de propriedade do senhor

Abdias e a unidade geoambiental III, situada na planície aluvial rudácea, situada na

fazenda Japonês.

Partindo desse recorte espacial em Geofácies, foi analisado, o nível de

antropização das áreas, baseado nos princípios da Ecodinâmica de Tricart (1977),

classificação as áreas quanto seu grau de estabilidade ambiental, tomando como

Page 60: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

60

base a intensidade e quantidade dos impactos ambientais diagnosticados em cada

área.

Assim, a pesquisa se constituiu em qualitativo-quantitativa, ou seja, serão

utilizados os princípios qualitativos, com apoio de dados quantitativos.

Por conta do reconhecimento dos impactos ambientais causados na área

das atividades de extração de agregados, foram elaborados roteiros de entrevistas

para serem aplicados com alguns personagens importantes no contexto da

pesquisa, entre eles: os moradores/trabalhadores, proprietários de áreas de

extração e secretário de meio ambiente do município.

Estas entrevistas foram realizadas em trabalhos de campo destinados

especificamente para tais fins, durante os quais foram também feitos alguns

registros fotográficos e aplicadas às técnicas de monitoramento em campo.

No processo de monitoramento em campo, foi aplicada a técnica de pinos

de erosão, que tem a finalidade de monitorar as taxas de erosão em algumas locais

da área de estudo (Guerra e Cunha, 1996). Devido alguns empecilhos de ordem

material, principalmente ao fato de que os pinos eram sistematicamente arrancados

ou deslocados pelos moradores das proximidades, esta técnica não obteve êxito.

Foi aplicada também a técnica de definida por Guerra e Cunha (1996), como

Monitoramento de taxa de Infiltração de água, em três áreas com características

fisiográficas distintas: na encosta em um Cambissolo; na planície aluvial no neossolo

flúvico com todos os horizontes e na planície com ausência do horizonte B argiloso,

feito sobre uma camada arenosa. A partir dessa técnica buscou-se verificar a

erosividade e a permeabilidade dos solos.

Page 61: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

61

5. EXTRAÇÃO DE AREIA, ARGILA E CASCALHO NO PONTILHÃO E CANAVIEIRA. Introdução

Neste capítulo serão inicialmente caracterizadas as áreas de extração de

agregados sob o ponto de vista histórico. A seguir, serão descritos os aspectos

tecnológicos e aspectos socioeconômicos da atividade de extração mineral, e um

diagnóstico dos impactos ambientais causados pela mineração de agregados. Mais

adiante, é feita uma análise ecodinâmica da área de mineração, e, ao fim, discutem-

se os impactos ambientais causados pela atividade extrativa à luz da legislação.

4.1 O PROCESSO DE EXTRAÇÃO MINERAL DE AREIA, ARGILA E CASCALHO. 4.1.1 Desenvolvimento histórico da atividade de extração mineral em Jacobina O surgimento e o povoamento histórico de Jacobina estão diretamente

ligados ao desenvolvimento da atividade de extração mineral, principalmente a

mineração aurífera. A atividade de extração de ouro em Jacobina teve seu marco

inicial, no século XVII (1612) com a chegada de Bandeirantes paulistas e

portugueses na região. Esta atividade caracterizou-se como o “vetor” de

desenvolvimento econômico da região, tendo em vista que mobilizou uma grande

quantidade de migrantes provenientes de diversos locais.

Ao longo dos anos a atividade mineral em Jacobina, foi marcada por períodos

antagônicos, com alternância de períodos de prosperidade e desenvolvimento, com

períodos de pouca produtividade. Essa oscilação na produção mineral ocorreu

muitas vezes devido às reduções do preço do ouro e nos custos de produção,

causando paralisações na produção ou fechamento das minas. O último fechamento

da mina deu-se em 1998, devido a quedas sucessivas nos preços do ouro e do

aumento dos custos de produção.

O ciclo do ouro na região de Jacobina teve seu desenvolvimento em escala

comercial, mais especificamente, a partir da década de 1930 com a criação da lei de

Garimpagem de 1934 que declarou a região livre para mineração (PINHEIRO,

2004).

Page 62: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

62

Até a década de 1960 a atividade mineral em Jacobina passou por uma

fase de grande produção e desenvolvimento, apresentado em 1950 uma produção

diária de em média 30 toneladas de minério, em três minas exploradas, João Belo,

Canavieiras e Serra Branca. Segundo Pinheiro (2004) devido o golpe militar em

1964, e de alterações no Código de Mineração, ocasionou-se no fechamento das

três minas em atividade, que ficaram com suas atividades paradas até 1978, quando

a empresa Mineração Morro Velho do grupo Britânico Anglo American da África do

Sul, adquiriu a concessão de Lavra, junto ao DNPM (Departamento Nacional de

Produção Mineral), e em 1980 o grupo britânico cria a JMC – Jacobina Mineração e

Comercio.

A exploração em Jacobina pela JMC ocorria nas minas Itapicuru

(subterrânea), João Belo (céu aberto, e subterrânea) e Canavieiras (Subterrânea), e

desenvolveram-se até 1998, quando a empresa pediu suspensão da lavra ao

DNPM, devido à queda nos preços do ouro e no aumento nos custos da produção.

Ocorreu ainda nesse período a mudança de donos da JMC, que foi vendida

em 1996 para a empresa Canadense William Resources. Somente em 2002, ocorre

à reabertura da JMC, que ocorre com a associação das empresas canadenses,

William Resources e Desert Sun Mining, que reativam a lavra aurífera,

principalmente impulsionada pelos aumentos nas cotações do ouro, Desde sua

reabertura, a JMC passou a atuar somente em áreas subterrâneas, encerrando as

atividades na mina céu aberto João Belo, sendo aproveitado o material de estéril

para construção da nova barragem de rejeitos. Em 2006 houve uma nova mudança

de donos da JMC, e a empresa canadense Yamana Gold adquiriu todas as ações.

4.1.2 Desenvolvimento da Exploração Mineral (ouro, areia, argila, cascalho) no Pontilhão/Canavieiras A exploração mineral de agregados da construção civil (areia, argila, e

cascalho) nos povoados de Pontilhão e Canavieiras desenvolve-se desde a década

de 1970, e sua intensificação está diretamente ligada à reabertura da Mineração

Morro Velha em 1978, que por dois motivos fez com que a atividade se

intensificasse. Um dos motivos foi que com a reabertura da mina, Jacobina passou

Page 63: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

63

por um intenso crescimento urbano nesse período, e isso fez com a demanda de

matéria-prima para suprir a construção civil crescesse significativamente. O outro

motivo foi à descoberta de ouro de aluvião, na planície do rio, fato que fez com que a

extração aurífera se devolvesse em grande intensidade por toda planície,

principalmente sob forma de garimpos artesanais e clandestinos. Atrelado a essa

atividade a extração de areia e cascalho se desenvolvia como uma segunda fonte de

renda para a população. E a atividade de garimpagem extração de agregados

ocorreu principalmente na planície aluvial, e em poucas áreas de encosta, ocorrendo

em três áreas (Figura 16). Iniciando na área situada na Fazenda Japonês, passando

a se desenvolver posteriormente na área do senhor Amadeus Pires Ferreira, grande

fazendeiro da região que possui terras na planície aluvial, que iniciou a extração

aurífera, culminando com a extração de agregados, vindo a desenvolver

posteriormente também nas terras do senhor Abdias, que possuía terras na encosta

situada na margem esquerda da rodovia de acesso a JMC.

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64

Figura 16: MAPA DE LOCALIZAÇÃO DAS ÁREAS DE EXTRAÇÃO: PONTILHÃO/CANAVIERAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

Page 65: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

65

4.1.3 Área de extração de areia fina - Faz. Amadeu Jr. Esta área de extração de agregados localiza-se na planície aluvial do Rio

Itapicuru-Mirim, na fazenda do senhor Amadeus Pires Ferreira, grande proprietário

de terras na região. Inicialmente a área era utilizada por pastagens para a criação de

gado bovino. Posteriormente a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral – CBPM

requereu a área para pesquisa, arrendando-a do Senhor Amadeu, para exploração

aurífera, com o valor de 0,5 % sobre o valor de retirado de ouro. Ao ser feita a

pesquisa mineral, a CBPM constatou a inviabilidade da produção comercial.

A partir de então, a atividade de extração de ouro, desenvolveu-se apenas

sob forma de poucos garimpos artesanais, e deu lugar à extração de areia e de

argila para utilização em olarias. A área atualmente é propriedade do senhor

Amadeu Pires Ferreira Jr., herdeiro do proprietário original. A atividade de extração

de agregados persiste até hoje, sendo produzidas areia e argila. A produção ocorre

em uma área de cerca de 128 hectares, com mais de 40 trabalhadores nas

atividades de extração de areia e argila. A extração de areia funciona sem que os

trabalhadores tenham relações de emprego com o proprietário da área, o qual

recebe uma participação correspondente a 40% do que é produzido.

A média de produção diária de areia é de cerca de 6 “carradas” de areia o

que corresponde a aproximadamente 5 m³, e a produção mensal situa-se em torno

de 180 carradas, com um faturamento de cerca de R$ 10.800,00, divididos

proporcionalmente entre o proprietário (R$4320,00) e os trabalhadores (R$

6480,00).

Já a extração de argila para produção de tijolo nas olarias ocorre sob o

comando do proprietário da área, que paga os trabalhadores por seus serviços um

valor baseado na quantidade vendida de tijolos por semana. Um milheiro (mil tijolos)

é vendido por R$ 150,00, o que rende um faturamento mensal de R$ 2250,00 que

gera ao proprietário a quantia R$1200,00, por cerca de 15 milheiros vendidos.

Atualmente a extração na área funciona com licenciamento ambiental, concedido há

cerca de quatro meses pela prefeitura municipal.

Page 66: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

66

5.1.4 Área de extração de areia grossa em encosta n° 2 – Faz. Abdias

A extração de agregados na propriedade do Sr. Abdias é bastante recente, e

não ocorreu em grande escala como nas outras áreas. A extração ocorreu em

apenas algumas áreas, em que se extraía areia grossa. A área possui cerca de

521m², sendo que, desse total apenas 5% é destinada à extração mineral.

Atualmente a maior parte das áreas de extração encontra-se abandonada, e sujeita

a diversos impactos ambientais, principalmente à ação dos agentes erosivos, tendo

em vista que os solos encontrados na área apresentam uma grande suscetibilidade

à erosão. Atualmente existe apenas uma área de extração em atividade, ficando

situada nas proximidades do Povoado de Canavieiras, onde é extraída areia grossa

e que funciona com devido licenciamento ambiental.

5.1.5 Área de extração de areia, argila e cascalho n° 3 – Faz. Japonês A área de extração mineral situada na propriedade de alcunha “Japonês”

ocupa cerca de 1.516 m². Nela são extraídos areia, cascalho e argila, para

confecção de produtos cerâmicos e confecção de tijolos, utilizados por uma única

olaria. Assim como na área do Sr. Amadeu Junior, na fazenda do “Japonês”, o

processo de extração mineral está diretamente ligado à extração aurífera, tendo em

vista que nesta área, por volta do início da década de 1970, havia diversos garimpos

artesanais e clandestinos, explorando ouro de aluvião. Após o encerramento desta

atividade iniciou-se o processo de extração de areia e cascalho, que ocorre até hoje

na área.

Nesta mesma área encontravam-se várias olarias, que com passar dos anos

foram desativadas, devido à substituição do modo produção artesanal de tijolos e de

telhas pela produção em indústrias de maior porte.

Nesta área atualmente são extraídos principalmente a areia e o cascalho

britado, em diversos locais, tendo restado apenas uma olaria, que produz tijolos em

pequena escala. O material produzido na área é comercializado vendido pelo

seguinte preço: caçamba de areia R$60,00; lata de 20L; cascalho britado R$0, 50 e

Page 67: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

67

milheiro de tijolos R$150, 00. Desses valores que são vendidos os materiais na Faz.

Japonês, sobre cada caçamba de areia que sai da área é pago ao proprietário o

valor de vinte e cinco reais, o equivalente a 40% de participação deste na produção.

A produção dos outros materiais explotados é baixa, e os preços obtidos são muito

baixos. Sendo Assim, os trabalhadores envolvidos pagam apenas um valor

simbólico ao proprietário da área.

5.1.6 Técnicas de extração e utilização dos agregados

No processo de extração mineral de agregados e de confecção de produtos

cerâmicos são utilizados técnicas e métodos diferenciados para cada tipo de

material extraído. Na confecção de produtos cerâmicos, a fabricação pode ocorrer

tanto em olarias, de forma mais artesanal, como em indústrias cerâmicas.

No processo de produção de tijolos em olarias, os interessados primeiramente

testam à plasticidade do material. Se o material for adequado ao uso industrial,

desmata-se a área, e com auxilio de picaretas e enxadas, escava-se o material, que

é então colocado em formas, para fabricação dos tijolos (Figura 17). Posteriormente

os tijolos permanecem expostos ao sol por um determinado período, até que

endureçam, sendo então estocados e queimados em “caieiras”, processos que dura

normalmente 24horas (figura 18).

Figura 17: Trabalhador fabricando tijolos com formas. Autor: Leandro Pereira, 2009.

Figura 18: tijolos sendo estocados em Caeira. Autor: Leandro Pereira, 2009

Page 68: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

68

Já na produção em indústrias cerâmicas, o processo de confecção de tijolos,

além de ser em escala maior, é feito em maior escala, o que requer o transporte da

argila retirada até o local de fabricação, onde é estocada em galpões até que sejam

fabricados os tijolos.

Para extração de areia, e cascalho, existem duas técnicas: em cava ou leito

de do curso d’água (cava aberta) e em cava fechada. O método de extração em

curso de rio ocorre com jazida em depósito fluvial, ou seja, quando são retirados

areia e o cascalho do leito do rio, sendo utilizados para extração do material retro

escavadeira ou pás carregadeiras.

Já o método de extração em

cava fechada refere-se ao processo em

que é formada uma cavidade no terreno

para extração do material, que é

normalmente retirado com retro

escavadeira. A lavra segue com

utilização de retro escavadeira até que

o lençol freático seja atingido (Figura

19). A partir do momento em que o

lençol freático é atingido, a depressão

escavada torna-se saturada em água,

formando-se uma lagoa, sendo então utilizadas dragas de sucção, que têm como

objetivo retirar o material da lagoa, sendo transportado até os locais de estocagem.

Existe também um método de extração em cava fechada sem a formação de lagoa,

em que são abertas as cavas apenas com picaretas e pás carregadeiras, e ocorre

até atingir o lençol freático, quando então há interrupção da extração e a cava é

abandonada.

Nas áreas estudadas, na maioria dos casos são utilizadas técnicas mais

rudimentares para extração. Segundo entrevistas com moradores, a “prospecção”

dos locais favoráveis à extração de areia é bastante simples e até engenhosa. Os

trabalhadores observam os formigueiros, em busca daqueles onde as formigas

estão trazendo areia do subsolo para a superfície. Uma vez que os locais favoráveis

tenham sido identificados, os trabalhadores retiram o solo, abrem a cava, e a partir

daí inicia-se o processo de extração da areia. Os trabalhadores retiram todo o

material arenoso, parando a extração na cava normalmente quando é atingido o

Figura 19: – Lagoa artificial formada pelo afloramento do lençol freático em área de extração Foto: Leandro Pereira, 2009

Page 69: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

69

nível freático ou quando é encontrada uma camada cascalhenta, que também é

extraída para ser utilizada como pedra britada (Figura 20). Na área de estudo toda a

areia extraída é vendida e transportada em caminhões ou caçambas, destinada a

lojas de materiais de construção ou diretamente a obras em andamento (Figura 21).

4.2. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DOS TRABALHADORES EM EXTRAÇÃO DE AGREGADOS

Os povoados de Pontilhão e Canavieiras tiveram seu povoamento

diretamente ligado ao desenvolvimento da atividade mineral, tendo em vista que por

volta da década de 1940 e1950, quando se intensificou o processo de extração

aurífera na área, houve uma grande migração de pessoas para trabalhar

principalmente em garimpos situados naquelas localidades. Em virtude da distância

até o centro da cidade, e também devido ao surgimento, nas proximidades, de

diversos conjuntos habitacionais, construídos principalmente a partir da década de

1970, muitos moradores deixaram a região do Pontilhão e de Canavieiras para

habitar nesses conjuntos, e, dessa forma, nestes povoados não houve crescimento

populacional e urbanização significativos.

Figura 20: Processo de extração e cava aberta / Areia e cascalho em leitos de estocagem. Autor: Leandro Pereira, 2009.

Foto 05: – Vegetação bastante rarefeita na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008

Figura 21: Caminhão fazendo o transporte do material para ser comercializado. Autor: Leandro Pereira, 2009

Foto 05: – Vegetação bastante rarefeita na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira,

Cascalho

Motor de

Dragagem

Page 70: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

70

No último censo do IBGE (2007), a área foi definida, como urbana não

urbanizada, tendo sido registrados em Pontilhão e Canavieiras um total de 192

domicílios habitados, tendo uma média entre 4 e 5 pessoas por residência, o que

significa uma população próxima a mil habitantes nas duas localidades.

Uma grande parcela da população destes povoados vive exclusivamente da

extração mineral de agregados. O fato de a grande maioria dos moradores dessas

localidades estarem envolvidos na atividade de extração mineral deve-se

principalmente à falta de oportunidades, à baixa renda familiar e à baixa

escolaridade da população, fato que pode ser constatado no gráfico 01, que

demonstra que mais da metade dos trabalhadores entrevistados não possui o

primeiro grau completo, sendo que

25% dos mesmos são analfabetos.

Devido à baixa escolaridade e à falta

de oportunidades e de capacitação

para atuar em outras áreas, grande

parte dos moradores das duas

localidades acaba tendo como única

opção de fonte de renda a atividade

de extração de areia, argila e

cascalho, sendo que a atividade que

mais gera postos de emprego é a de extração de areia e normalmente as pessoas

que trabalham com cascalho também trabalham com extração de areia. Esta

atividade é responsável pela

ocupação de 85% dos trabalhadores

entrevistados nos povoados de

Pontilhão e Canavieiras, seguida

pelas atividades de extração de

argila e trabalho em olarias 20,5%

do total e 42% na extração de

cascalho britado. Os trabalhadores

que entram na atividade de extração

de agregados costumam ficar muito

tempo envolvidos, e conforme as entrevistas, existem trabalhadores que já atuam na

Gráfico 02 – Atividades em que os Moradores/trabalhadores trabalham

85%

28,50%

42%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

1

Areia

Argila

Cascalho

Fonte: Entrevistas com 15 Moradores/ Trabalhadores Elaborado: Leandro Pereira

Gráfico 01- Escolaridade dos Moradores/trabalhadores

25%

12%51%

12%Analfabeto

Alfabetizado

1° Grau Incompleto

1° Completo

Fonte: Entrevistas com 15 Moradores/Trabalhadores Elaborado: Leandro Pereira.

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

Page 71: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

71

atividade há mais de 10 anos, como demonstra o gráfico 03, 71% das pessoas

envolvidas na atividade atuam na

extração há mais de um ano. No

processo de extração de

agregados, normalmente não

existe idade limite para o trabalho,

sendo o limite de idade

dependente da resistência física

do envolvido, tendo sido

constatada a existência de

trabalhadores com idade variável

de 16 a 65 anos.

Na atividade de extração mineral, o faturamento varia de trabalhador por

trabalhador, a depender da

produtividade individual, ou melhor,

de acordo com a quantidade de

material que cada um consiga

extrair. O gráfico 04 demonstra que

a maior parte (57%) da população

envolvida consegue atingir um

salário mensalmente ou até mais de

um, contra 43% de pessoas que não

conseguem atingir um salário.

4.3 FISCALIZAÇÃO: O PAPEL DO PODER PÚBLICO JUNTO A ATIVIDADE EXTRATIVISTA, E AS QUESTÕES AMBIENTAIS DO MUNICÍPIO. A fiscalização e o monitoramento sobre atividades potencialmente

impactantes é uma das principais formas se manterem o controle e prevenção

contra o surgimento de possíveis danos ao meio ambiente. E a fiscalização e

monitoramento ambiental, se desenvolvem sob a tutela de diversos órgãos, que

atuam em diferentes esferas, e sua abrangência vai depender da magnitude e da

significância da atividade impactante. Em escala Federal, têm se o IBAMA (Instituto

Gráfico 03 – Tempo em que os trabalhadores atuam na extração de agregados.

29%

71%

Menos de um ano

Mais de um ano

Fonte: Entrevistas com 15 Trabalhadores/Moradores. Elaborado: Leandro Pereira

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

Gráfico 04 – Faturamento mensal dos trabalhadores na indústria de agregados

42,80%

28,50% 28,50%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

1

Menos de um Salário

Até um Salário

Mais de um Salário

Fonte: Entrevistas com 15 Moradores/Trabalhadores Elaborado: Leandro Pereira

Figura...Vista parcial da Serra de Jacobina

Page 72: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

72

Brasileiro de Proteção ao Meio Ambiente), em escala estadual tem o CRA (Centro

de Recursos Ambientais) e em escalas municipais atuam as secretarias de meio

ambiente. Nesse sentido, através de entrevista realizada com o Sr. Silvio Fernando

de Oliveira, secretário de meio ambiente de Jacobina, buscou se verificar alguns

aspectos, relevantes a questões ambientais do município dando um foco a atuação

deste órgão em relação as fiscalização e licenciamento das atividades de extração

mineral.

No que diz respeito ao processo de licenciamento ambiental de atividades de

extração mineral em Jacobina, após solicitação por parte do

empreendimento/empreendedor, a secretaria de meio ambiente, faz vistoria na área

do empreendimento, caso o mesmo esteja enquadrado na pré-avaliação técnica

aceitável, é solicitado os documentos básicos necessários, assim como o Plano de

Gerenciamento de Rejeito Sólido, Plano de Recuperação de Áreas Degradadas e

outros documentos que venham solidificar o comprometimento quanto aos passivos

ambientais provocados pela atividade produtiva. Quando expedida uma Licença

Ambiental para uma empresa, segundo a secretaria, são focados junto aos

trabalhadores assuntos ligados ao meio ambiente que estejam relacionados com a

sua atividade produtiva, além de preconizá-los a discussão entre eles.

Após o licenciamento e a concessão de lavra ao empreendedor, a conforme

relatado em entrevista a secretaria passa atuar através de visitas periódicas aos

empreendimentos, realizadas fiscalizações que são feitas esporadicamente, quando

ocorrem denúncias, ou quando a indícios de suspeita muito grave, a apartir daí o

órgão age com notificações, auto de infração e até interdição da atividade. Para a

realização das fiscalizações, a secretária tem apoio apenas PM (Policia Militar),

realizando Blitz, sob atividades que estejam irregulares, os outros órgãos estaduais

como o IBAMA e o CRA, existe “parceria mais só no papel” conforme dito pelo

secretário, sendo que estes órgãos quase não atuam no que diz respeito à

fiscalização.

Page 73: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

73

4.4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL APLICADO A MINERAÇÃO DE CLASSE II (AREIA, ARGILA E CASCALHO)- PONTILHÃO/CANAVIEIRAS. No que diz, respeito às leis ambientais, o Brasil pode se considerar um país

privilegiado, por possuir uma das melhores legislações do mundo. No entanto,

quando se é requerido à atuação dela na prática, acaba deixando muito a desejar.

Nessa sessão serão apresentados alguns aspectos relevantes ao licenciamento

ambiental, priorizando alguns elementos intrínsecos a legislação mineral de classe

II, (areia, argila e Cascalho). Assim, serão apresentados alguns aspectos

relacionados ao processo de licenciamento ambiental presentes em leis federais,

estaduais e municipais. Em esfera federal serão apresentados aspectos de algumas

resoluções do CONAMA(Código Nacional, de Meio Ambiente, Código de Mineração

e Código Florestal. A nível estadual são apresentados aspectos do Licenciamento

Ambiental vigorado pelo CRA (Centro de Recursos Ambientais). E em esfera

municipal do Código de meio ambiente de Jacobina.

Para o que ocorra licenciamento ambiental de minerais de Classe II, conforme

consta no CONAMA, e Código de Mineração, são necessário três tipos de licenças:

LP – Licença Previa, LI - Licença de Instalação e LO - Licença de Operação.

Conforme art° da Resolução n° 10 CONAMA A Licença Prévia deve ser solicitada

junto ao órgão ambiental competente, quando o empreendedor apresentar os

respectivos EIA/RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) ou RCA (Relatório

de Controle Ambiental), após apresentados e analisados os documentos requeridos

pelo órgão ambiental, é concedida a licença prévia que autoriza o empreendedor

iniciou das pesquisas na área. Terminada a fase de pesquisas, e comprovada à

viabilidade dos materiais a serem extraídos, inicia-se o processo de requerimento de

da Licença de Instalação, que é quando o empreendedor deve apresentar o PCA

(Plano de Controle Ambiental), que segundo o código de meio ambiente de Jacobina

pode ser substituído pelo PRAD (Plano de Recuperação de Área Degradada). Após

analisados e aprovados, os documento exigidos na Licença de Previa e de

Instalação, é requerida a licença de Operação do empreendimento.

No que se refere à área de estudo, os três empreendimentos que estão em

atividade possuem licença ambiental (Lavra de areia lavada) e (lavra de areia

grossa) provisória de 4 meses, e tanto no empreendimento do Sr. Amadeu Jr., Faz.

Japonês, como na Faz. Abdias as licenças concedidas, obrigam os empreendedores

Page 74: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

74

a recuperarem os impactos provocados pelas atividades, tanto é que para

concessão da licença foi requerido junto aos proprietários à apresentação de um

Plano de Recuperação de Área Degradada PRAD, que nas duas áreas de planície

aluvial consiste em um projeto de piscicultura sob as cavas abandonadas que

aflorarem o lençol freático, e a recomposição do solo com entulho, já na encosta

consiste em um projeto de reflorestamento e regeneração natural, e conforme

relatado em entrevista com secretario de meio ambiente.

5.4 CLASSIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA ATIVIDADE DE EXTRAÇÃO MINERAL DE AGREGADOS E DE ARGILA NO TRECHO PONTILHÃO CANAVIEIRAS.

Conforme consta no art.1° da resolução n° 01/1986 do CONAMA,

considera-se impacto ambiental qualquer das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: A saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.

Assim, a partir das pesquisas em sensores remotos (foto aérea)

monitoramentos, observações entrevistas em campo e análises laboratoriais, foram

diagnosticados vários impactos ambientais na área de estudo, que foram

classificados seguindo critérios definidos na matriz de impacto do CONAMA, que

classifica os impactos baseado no seu grau de significância em: diretos e indiretos;

temporários e permanentes; benéficos e adversos; imediatos, e a médio e longos

prazos; reversíveis e irreversíveis; locais, regionais e estratégicos. Além dos

aspectos citados, os impactos são classificados também como de significância baixa

(grau 1), média (grau 2) e alta (grau 3). Além destes critérios, os impactos foram

ainda organizados em três categorias de atuação: impactos sócio-econômicos,

impactos no meio físico e impactos no meio biótico. A tabela 01 apresenta a matriz

de interação para classificação dos impactos ambientais nos três empreendimentos

de extração mineral de agregados situados na área de estudo.

Page 75: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

75

Tabela 01. Matriz de classificação de impactos ambientais dos empreendimentos de extração mineral de agregados da construção civil situados no Pontilhão/Canavieiras

CLASSIFICAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

Extrações de areia, argila e cascalho no Rio Itapicuru – Mirim trecho Pontilhão/Canavieira - Jacobina Bahia

IMPACTOS / CLASSIFICAÇÃO

Dir

eto

Ind

ireto

Te

mp

orá

rio

Perm

an

en

te

Ben

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co

Ad

vers

o

Imed

iato

dio

pra

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ível

Lo

cal

Reg

ion

al

Estr

até

gic

o

Gra

u d

e s

ign

ific

ân

cia

Impactos Sócio –

Econômicos

Geração de impostos 1

Geração de empregos 1

Geração de matéria-prima 1

Renda ao superficiário 1

Ausência de delimitação da cava 3 Acidente de trabalho e problema da saúde e medicina ocupacional

3

Mudança da paisagem natural 3 Aumento da renda municipal 1

Impactos Meio Físico

Modificação na estrutura e fertilidade do solo

3

Poluição atmosférica 1 Poluição sonora 1 Erosão de Solos, escorregamento de solo e massa

3

Alteração na qualidade da água 2 Contaminação e Alteração no nível do lençol freático

3

Alteração do sistema de drenagem natural

2

Alteração topográfica 2 Assoreamento de corpos d’água 2 Alterações, físicas e químicas do solo empobrecimento do solo

1

Impactos Meio Biótico

Alteração da flora: Diminuição de espécies arbóreas.

3

Deslocamento e alteração Comportamental da fauna

1

Degradação de APP (deposição de lixo e entulho nas cavas)

3

Desequilíbrio entre as espécies redução dos habitats

1

Adaptada: Leandro Pereira da Silva. Fonte: CONAMA, 2005.

1 – Baixa significância 2 - Média significância 3 – Alta significância

Page 76: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

76

4.5.1 Impactos Sócio-econômicos Impactos sócio-econômicos são impactos que surtem efeitos na vida da

população de forma positiva e negativa, e também na geração de renda e

movimentação da economia. Sendo assim, a partir das pesquisas de campo foram

diagnosticados na área de estudo vários impactos socioeconômicos positivos e

negativos. Os positivos foram: geração de empregos, geração de matéria-prima,

aumento da renda municipal e renda ao superficiário.

No que diz respeito aos impactos positivos, a atividade de extração

mineral de agregados nos povoados de Pontilhão/Canavieiras, foi ao longo dos anos

uma importante fonte de renda e principalmente de matéria-prima para suprir as

necessidades da construção civil no município de Jacobina, sendo responsável pela

geração de impostos na região do Pontilhão / Canavieira, gerando cerca de 70

postos de empregos diretos e indiretos aos envolvidos no processo de extração,

produção e transporte de agregados, e gerando um faturamento mensal de cerca de

dois mil reais aos proprietários das áreas.

Entretanto a atividade de extração de agregados não gera só impactos

socioeconômicos positivos, ela também traz prejuízos. Os impactos negativos

constatados foram: problemas na ausência de delimitação de cavas na área de

extração, as quais não possuem nenhuma sinalização para advertir as pessoas que

não trabalham na atividade e acidentes de trabalho. Há que se considerar que as

áreas de extração são próximas ao povoado, e que é possível que crianças

adentrem a mesma.

4.5.1.1 Acidentes de trabalho e problemas na saúde e medicina ocupacional

Um dos principais problemas verificados nas áreas de extração é ausência de

uma segurança maior no processo de trabalho, pois, os trabalhadores trabalham

sem nenhum equipamento de segurança, ficando sujeitos a acidentes (Figura 22).

Moradores entrevistados relataram à ocorrência de vários acidentes decorrentes da

queda de barrancos, que resultaram em morte de quatro pessoas e uma de um

Page 77: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

77

animal que fazia transporte do

material. Foi relatado também que

vários trabalhadores fraturaram

membros durante a atividade nas

cavas, ficando impedidos de

trabalhar.

5.5.2 Impactos no Meio Físico

Os impactos ocorridos no meio físico são impactos que trazem interferências

diretas na qualidade de um sistema natural e na maioria das vezes são provocados

pela ação antrópica. Na área de estudo foram diagnosticados vários impactos, com

diferentes graus de significância, e os principais foram: modificação na estrutura e

fertilidade do solo; poluição atmosférica; poluição sonora; alteração na qualidade da

água e no sistema de drenagem natural e assoreamento; contaminação e alteração

do nível do lençol freático; erosão de solos, escorregamento de solo e massa e

alteração topográfica.

A mudança na fertilidade do solo

pode ser verificada pelo simples fato de

ter sido retirada a camada orgânica do

mesmo, para abertura das cavas, bem

como sendo uma conseqüência indireta

da formação de ravinas causadas pela

retirada da vegetação natural, nas áreas

de encosta. Além disso, o

desbarrancamento das cavas

abandonadas desfaz a estrutura natural

do solo adjacente. Foi possível

constatar a ocorrência de poluição atmosférica, devido à emissão de fumaça na

queima de tijolos nas olarias situadas na área. Já a poluição sonora ocorre pelo

Figura 22: Trabalhadores extraindo material, sem equipamento de segurança. Foto: Leandro Pereira 2009.

Foto 05: – Vegetação bastante rarefeita na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008

Figura 23: Assoreamento e mudança do sistema natural de drenagem. Foto: Leandro Pereira 2009.

Page 78: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

78

barulho dos motores das dragas de sucção e também pela constante passagem de

caminhões e caçambas transportando material extraído.

A alteração do sistema natural de drenagem e o assoreamento foram

verificados na área de estudo, por conseqüência principalmente do desmatamento

da mata ciliar para abertura de cavas destinada a extração mineral, que provocaram

a erosão nas margens e o desbarrancamento do material arenoso das margens,

com acúmulo de material no leito do rio, assoreando o mesmo (Figura 23).

4.5.2.1 Erosão de Solos, escorregamento de solo e massa

A erosão de solos foi um dos principais problemas ambientais diagnosticados

na área de estudo, principalmente nas encostas onde houve extração de areia

grossa e mesmo nos locais onde a extração é ainda ativa. Quando se encerram as

atividades de extração mineral nessas encostas, ficam as mesmas sujeitas aos

agentes erosivos, por conta dos solos locais, que podem ser classificados como

neossolos coluviais, formados por material arenoso depositado no sopé das

encostas oferecerem uma alta suscetibilidade à erosão. Esse fato foi verificado no

experimento de taxa de infiltração de solo, idealizado por Hills (1970) apud Teixeira

e Guerra, (1996) que se baseia em medir a taxa de infiltração de um solo utilizando

um cano de PVC.

Conforme demonstra o gráfico 11, que apresenta os resultados do

monitoramento da infiltração em um cambissolo, o mesmo apresenta uma alta taxa

de infiltração. Como o experimento propõe (Teixeira e Guerra, 1996), foi construído

um infiltrômetro graduado de PVC com volume de 1060ml. O mesmo foi fixado no

solo, a uma profundidade de 10cm³, preenchido com água, e feitas leituras do nível

da água após 30 segundos, e então, de minuto a minuto. O rebaixamento do nível

da água foi registrado a cada leitura, obtendo-se um gráfico (Gráfico 05). Neste solo,

a água do infiltrômetro esgotou-se eu um tempo de oito minutos e trinta segundos,

segundo uma taxa de infiltração de 2,07 mm/ segundo, mostrando a alta

permeabilidade do solo.

Sabe-se que, quanto maior for à permeabilidade do solo, mais rapidamente

este atingirá a saturação em água, permitindo mais cedo o início do runoff, e,

portanto, aumentando as possibilidades de erosão em lençol.

Page 79: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

79

Gráfico 05: Taxa de Infiltração no Cambissolo 1060 800 400 200 ________________________________ _ _ ___ 30’ 60” 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 7’ 8’ 30’

Fonte: Campo Elaborado: Leandro Pereira

A ação intensa dos agentes erosivos foi demonstrada pelo surgimento de

varias ravinas e voçorocas tanto em áreas rurais desmatadas como em áreas de

extração abandonadas, como demonstrado nas Figuras 25 e 26.

.

INF

ILT

RA

ÇÃ

O (

ml)

600

Figura 25: Ravinamento em antiga área de extração de areia. Foto: Leandro Pereira 2009

Figura 26: Voçoroca em estagio bem desenvolvido, planície aluvial do Rio Itapicuru – Mirim. Foto: Leandro Pereira 2009.

Page 80: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

80

4.5.2.2 Contaminação e Alteração no nível do lençol freático

Nas planícies aluviais os lençóis freáticos costumam ser bastante rasos e

próximos da superfície, existindo a possibilidade de fácil alteração do seu nível e

contaminação. Isso foi constatado na planície do rio Itapicuru – Mirim, em locais

onde se desenvolvem as atividades de extração mineral de agregados da

construção civil, entre os povoados de Pontilhão e Canavieiras.

Na planície aluvial do rio Itapicuru-Mirim, nas áreas de Pontilhão/Canavieiras,

o lençol freático, fica sob uma camada de neossolo flúvico formado a partir de

camadas sedimentares de areia, argila e material cascalhento depositadas pelo rio.

Para verificar a permeabilidade dos neossolos flúvicos foi aplicado o

experimento de monitoramento de infiltração com infiltromêtro de PVC, em dois tipos

distintos de neossolos flúvicos.

Primeiramente foi instalado o infiltrômetro em um neossolo formado sobre

material arenoso contendo uma camada de argila presente à profundidade de 10

centímetros cúbicos, sendo a alternância típica de materiais depositados em

planícies aluviais (Suguio e Bigarella, 1979). Como demonstra o gráfico 10,

constatou-se que no período de trinta minutos de experimento restara 400cm³ de

água no infiltrômetro, o que representa uma taxa de infiltração muito baixa,

equivalente a 0,36mm/segundo. Refletindo a baixa permeabilidade do solo,

favorecida pela camada argilosa no subsolo, onde a presença da argila dificulta a

infiltração.

Page 81: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

81

Gráfico 08: Taxa de Infiltração Neossolo Flúvico

1060 800 400 200 _________________________ _ _ _ ________ 30’ 60” 2’ 3’ 4’ 5’ 30’

Fonte: Campo Elaborado: Leandro Pereira

Já quando o experimento de monitoramento de infiltração foi executado no

neossolo arenoso em cujo subsolo não ocorre um horizonte aluvial argiloso, foi

constatada uma alta taxa de infiltração tendo em vista que o infiltromêtro secou

apenas em dois minutos de execução, equivalendo a 8,83 mm/segundo, como

demonstrado no gráfico 09. Esse fato demonstra a alta suscetibilidade de

contaminação do lençol freático neste tipo de material.

Gráfico 09: Taxa de Infiltração Neossolo Flúvico/Sem Horizonte B argiloso 1060 800 400 200 _________________________ _ _ _ _______ 30’ 60” 2’ 3’ 4’ 5’ 30’

Fonte: Campo Elaborado: Leandro Pereira

INF

ILT

RA

ÇÃ

O (

ml)

600

INF

ILT

RA

ÇÃ

O (

ml)

600

Page 82: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

82

A atividade de extração mineral sob a planície aluvial oferece sérios riscos à

contaminação do lençol, tendo em vista que ao retirar-se a camada de argila aluvial

para abertura das cavas destinadas a extrair material, o solo fica apenas com a

camada arenosa. Ao serem encerradas as atividades de extração de agregados, nas

cavas são depositados o lixo residencial e industrial dentro das mesmas, oferecendo

Um sério risco de contaminação (Figura 27).

Outro fato que contribui para contaminação do lençol freático é o processo de

extração em cavas fechadas, nas quais o material é extraído por motores em dragas

de sucção (Figura 28), que ao vazar óleo diesel acabam contaminando-o.

4.5.2.3 Impactos no Meio Biótico

Os impactos no meio biótico são aqueles que surtem efeitos diretos e

indiretos, sobre fauna e flora. Na área de estudo foram observados os seguintes

impactos: degradação de APP (extração mineral não respeitando os limites da

APPs); deslocamento e alteração comportamental da fauna, desequilíbrio entre as

espécies e redução dos habitats.

Figura 27: Lixo depositado sobre cavas abandonadas. Foto: Leandro Pereira 2009.

Foto 05: – Vegetação bastante rarefeita na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008

Figura 28: Motor de dragagem abandonado perto de afloramento freático. Foto: Leandro Pereira 2009.

Afloramento

freático

Page 83: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

83

A diminuição das espécies arbóreas é um dos impactos mais significantes no

que se refere ao meio biótico na área de estudo. Isto ocorre tanto pelo

desmatamento das áreas para extração, como pela retirada de madeira para suprir a

queima de tijolos em olarias (Figura. 29). A atividade de extração mineral não só traz

danos à flora, como também altera o

comportamento da fauna, pois, conforme

relataram alguns moradores, muitas

espécies de animais nativos da área

“desapareceram” depois da intensificação

das atividades de extração mineral. A

degradação das APPs ocorre na área de

estudo principalmente pelo

desmatamento da mata ciliar e abertura

de cavas para extração nas proximidades

do rio Itapicuru – Mirim, não respeitando

os limites preservação previstos no art. 3°

Resolução n°303/2002 do CONAMA, que dispõe e considera áreas de preservação

permanente, as situadas nas margens de cursos d’água, variando conforme a

largura do canal. Sendo assim, conforme o parágrafo primeiro da citada resolução,

deveria se preservar a vegetação ao longo de uma faixa de trinta metros em ambas

as margens do rio, já que na área estudada este possui menos de 10 metros de

largura. Estes limites não são respeitados, como demonstram as figuras 30 e 31, já

que são abertas cavas e desmatada a mata ciliar na margem do rio.

Figura 29: Madeira de desmatamento para queima de tijolos. Foto: Leandro Pereira 2009.

Foto 05: – Vegetação bastante rarefeita na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008

Figura 30: Desmatamento de mata ciliar próximo de área de extração. Foto: Leandro Pereira 2008

Figura 31: Cava de extração de areia próximo ao leito do rio. Foto: Leandro Pereira 2008.

Rio

Rio

Área de extração

Rio

Page 84: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

84

Como conseqüência do desmatamento na planície e nas proximidades do rio,

além do aumento da erosão e do assoreamento do leito fluvial, pode haver

empobrecimento e regressão das espécies da vegetação nativa, resultando em

extinção de espécies animais da área, inclusive da fauna aquática, por conta da

diminuição dos habitats.

4.6 ANÁLISE DA ESTABILIDADE AMBIENTAL DAS UNIDADES GEOAMBIENTAIS DO PONTILHÃO/CANAVIEIRAS

Utilizando como referenciais a teoria Geossistêmica (Bertrand, 1971) e as

contribuições de Tricart (1977), que utiliza o conceito de Ecodinâmica, dividiu-se a

área de estudo, que segundo Pinheiro (2004) que esta inserida entre geossistemas

III e IV foi dividida em três Geofácies (Figura. 32). São elas:

Unidade geoambiental I, situada na planície aluvial, arenosa, na área

de extração de areia de propriedade do senhor Amadeu Pires Ferreira

Junior;

Unidade geoambiental II, situada na encosta onde se extraía areia

grossa, área de propriedade do senhor Abdias;

Unidade geoambiental III, situada na planície aluvial rudácea, situada

na fazenda Japonês.

Page 85: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

85

Figura 32: MAPA DE LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES GEOAMBIENTAIS DO PONTILHÃO/CANAVIEIRAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

As Unidades Ambientais I, II e II serão descritas abaixo, e, a seguir serão analisadas

no que diz respeito à sua estabilidade ambiental.

Page 86: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

86

4.6.1 Unidade Geoambiental I: Geofácies de planície aluvial arenosa

A unidade geoambiental I situa-se na planície aluvial arenosa, do rio Itapicuru-

Mirim, a área possui 971metros quadrados (Figura 33). Constitui um dos principais

locais de extração de agregados, sendo também uma das UG’s onde os impactos

ambientais são mais intensos.

Formada a partir de depósitos

aluvionares, essa unidade

geoambiental conta com a

presença de um substrato

vegetal, de vegetação de

transição caatinga-floresta

estacional, instalada sobre

neossolos flúvicos, onde

localmente observa-se o início de

formação de horizonte B laterítico

a petroplítico.

Em termos

geomorfológicos, a área está

situada em meio à depressão

interplanáltica caracterizando em um terraço assimétrico de depósitos aluviais. As

principais atividades desenvolvidas são as extrações de areia fina, em larga escala,

e de argila.

Figura 33: UNIDADE GEOAMBIENTAL I

Page 87: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

87

4.6.2 Unidade Geoambiental II: Geofácies de encosta A unidade geoambiental II fica situada na encosta à margem direita que da

rodovia que dá acesso à JMC. É uma com área 529m², que equivalem a 17% da

área de estudo (Figura 34). Nela, a extração mineral, se dá de maneira incipiente,

ocorrendo apenas em uma

área localizada nas

proximidades do povoado de

Canavieiras onde é extraída a

areia de textura grossa.

Formada por deposição de

material coluvial, a UG II

apresenta solos de textura

argilo-arenosa, classificados

como neossolos quartzarênicos

nas partes mais baixas, litólicos

nas partes mais altas e

cambissolos. No que diz

respeito ao substrato vegetal, a

área apresenta vegetação de

caatinga arbórea e arbustiva nas vertentes, e campos rupestres no topo. Na área, o

um substrato geológico é composto por ortognaisses TTG (tonalito-trondhjemito-

granodioríticos), que são rochas cinza a cinza-escuro, de granulação média,

fortemente intemperizados, com intercalações de metabasitos e contendo intrusões

de granitos com dimensões variáveis de alguns metros a várias centenas de metros

quadrados. A cobertura vegetal é bastante rarefeita e os solos arenosos fazem com

que esta apresente uma vulnerabilidade aos agentes erosivos muito grandes.

Apesar da irregularidade de chuvas, em vários locais observa-se o surgimento de

ravinamentos e voçorocas em estágio de desenvolvimento avançado, fato corrido

principalmente em antigas áreas de lavra de areia abandonadas. .

Figura 34: Localização da UG II

Page 88: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

88

4.6.3 Unidade Geoambiental III: Geofácies de planície aluvial rudácea

A unidade geoambiental III situa-se em parte na planície aluvial rudácea

(cascalhenta) do rio Itapicuru -

Mirim, sendo a maior de todas as

geofácies, com uma área de

1.516m², o equivalente a 50% da

área de estudo (figura 35). Esta

unidade é formada principalmente

por depósitos aluvionares sobre os

quais desenvolvem-se neossolos

flúvicos. A cobertura vegetal original

era transicional entre floresta

estacional e caatinga, atualmente

bastante substituída por pastos e

vegetação secundária.

Os impactos produzidos pela

atividade de extração mineral nesta área foram erosão e assoreamento, provocados

pelo desmatamento nas margens do rio para abertura de cavas para extração de

areia, juntamente com a possível contaminação do lençol freático em virtude da

deposição de lixo nas cavas. Estes impactos foram classificados como de alta

significância na área (Tabela 02).

4.6.4 Avaliação da estabilidade ambiental das Unidades Geoambientais

Nestas três unidades geoambientais foram avaliados o grau de

estabilidade ambiental, com base no nível de antropização de cada área de acordo

com a quantidade e significância dos impactos diagnosticados. Para tanto verificou-

se o grau de antropização do uso do solo da área de estudo baseado em três

Figura 35: Unidade Geoambiental III

Page 89: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

89

categorias: áreas de extração mineral, áreas agrícolas e de pastagem, áreas

urbanizadas, preservadas (figura 36).

Figura 36: MAPA DE ANTROPIZAÇÃO E USO DO SOLO NO PONTILHÃO/CANAVIEIRAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

Page 90: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

90

A partir da análise do grau de antropização e uso do solo na área de estudo, fez se

um cálculo com auxílio do software

ArcGIS ESRI, do grau de ação

antrópica em cada Unidade

Geoambiental.

Como demonstra o Gráfico

11, a Unidade I foi a que

apresentou um nível maior de

antropização, equivalente a 75%

de sua superfície. A unidade III

possui 64% de sua superfície

antropizada, enquanto que o grau de antropização na Unidade II corresponde a

37%.

Dentre as ações antrópicas, foi verificado o grau de intensidade de cada

categoria sobre a área de estudo. Constatou-se que a atividade agrícola e de

pastagem ocupou 56% do total da área estudada, e a extração mineral ficou com os

44% restantes.

Embora os maiores percentuais de área antropizada correspondam a

atividades agrícolas e de pastagem, a

atividade de extração mineral, possui o

grau de significância maior, tendo em vista

que gera mais impactos ao ambiente.

Sendo assim, foi calculada a porcentagem

de atuação da extração mineral nas três

áreas situadas na área de estudo. Como

pode ser visto no gráfico 12 a Unidade

Geoambiental III, que corresponde à

Fazenda do “Japonês” apresentou 35% de sua área antropizada pela extração

mineral, enquanto a Unidade Geoambiental II (Fazenda Abdias) teve apenas 5% de

área impactada pela mineração de agregados, e a Unidade Geoambiental I

(Fazenda Amadeu Jr.) teve 30% da superfície afetada pela mineração.

Gráfico 12 – Antropização por extração mineral na área de estudo

0%

10%

20%

30%

40% AMADEU JR.

FAZ. ABDIAS

FAZ.

JAPONÊS

Fonte: ArcGIS ESRI Elaborado: Leandro Pereira

Gráfico 10 - Atividade Antrópica nas Unidades Geoambientais

0%

20%

40%

60%

80% UNIDADE

GEOAMBIENTAL

I

UNIDADE

GEOAMBIENTAL

II

UNIDADE

GEOAMBIENTAL

III

Fonte: ArcGIS ESRI Elaborado: Leandro Pereira.

Foto 05: – Vegetação bastante rarefeita na planície aluvial. Foto: Leandro Pereira, 2008

Page 91: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

91

A partir do grau de antropização, foi feito um levantamento da incidência de

impactos ambientais de alta significância em cada uma das três áreas, e assim

foram classificados o grau de estabilidade ambiental de cada uma das geofácies.

A partir desses dados, verificou-se o grau de estabilidade ambiental, e

classificaram-se as unidades geoambientais em áreas com estabilidade ambiental

baixa, moderada e muito baixa (Figura 37).

A UG I foi classificada como unidade com estabilidade ambiental baixa devido

ao alto grau instabilidade e suscetibilidade, principalmente associado ao fato de que

grande parte de sua superfície foi submetido a intervenções antrópicas mais

impactantes de alta significância. Este estado de degradação é justificado pelo fato

da grande interferência humana através a extração mineral de agregados da

construção civil, que foi responsável pelo surgimento de impactos ambientais de alta

significância como: alteração e contaminação do lençol freático, assoreamento dos

corpos d’água e modificação na estrutura e fertilidade do solo. O outro fator que

caracteriza a instabilidade de Unidade geoambiental é a sua vulnerabilidade e

suscetibilidade em ser impactada, tendo em vista que esta se situa em área com

características de APP’s por está em uma planície aluvial, e também por possuir

solos de textura arenosa que oferecem uma grande possibilidade de contaminação

do lençol freático quando retido seu horizonte B argiloso.

A Unidade Geoambiental II foi a que apresentou maior grau de estabilidade

ambiental, tendo sido classificada como área de estabilidade moderada.

Finalmente, a Unidade Geoambiental III foi a que apresentou a condição de

estabilidade ambiental mais crítica, devido ao fato de que grande parte de sua

superfície foi afetada pelas atividades antrópicas altamente impactantes, sendo

classificada como unidade com estabilidade muito baixa.

Page 92: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

92

Figura 37: MAPA DE ESTABILIDADE AMBIENTAL DAS UNIDADES GEOAMBIENTAIS DO PONTILHÃO/CANAVIERAS

Fonte: Yamana/IBGE Elaborado: João Batista

Page 93: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

93

4.7 MEDIDAS DE CONTROLE E AÇÕES DE MONITORAMENTO PARA OS IMPACTOS AMBIENTAIS DIAGNOSTICADOS As medidas de controle e ações de monitoramento servem como meio

prevenir reduzir, e recuperar de possíveis intervenções humanas geradoras de

impactos. E o diagnóstico dos impactos na área de estudo buscou a partir dos

impactos verificados, propor medidas a fim de mitigar ação antrópica sobre a área.

Sendo assim a tabela 03 apresenta de forma sintética algumas medidas controle e

compensatórias e ações de monitoramento.

Tabela 02: Comparativa dos impactos ambientais, medidas de Controle e ações de monitoramento.

Tipo de Impacto

Impactos ambientais

Medidas de Controle, compensatórias e de incremento

Ações de Monitoramento

Impactos Sócio-econômicos

Geração de impostos

- Incentivos Fiscais - Financiamentos para - Aumento de produção

- Acompanhar os programas e projetos desenvolvidos em prol das minerações.

Geração de empregos

-Planejamento para aumento da produção - Utilização de mão de obra do município - Valorização e incentivo ao profissional

- Criar relatórios anuais da realização de cursos de capacitação profissional, de desempenhos da produção

Geração de matéria prima

- Matéria prima indispensável à construção civil

- Realizar estudos para verificar a capacidade de exploração das lavras

Renda ao superficiário

- Propor medidas compensatórias da área

- Realizar a recuperação das áreas já exploradas

Ausência de Delimitação da cava

- Delimitar a área da cava, sinalizando e advertindo a entrada de pessoas.

- Atualização da topografia e acompanhamento por técnico responsável

Área de extração fora das delimitações da Poligonal

- Planejamento da área da lavra (estaqueamento). - Recomposição do terreno fora da poligonal.

- Atualização da topografia e acompanhamento por técnico responsável

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Acidentes de trabalho

-Implementar um equipe de segurança do trabalho, que possa orientar os trabalhadores sobre as medidas de segura, introduzir ferramentas de trabalho mais seguras, e equipamento de segurança para cada trabalhador.

-Fazer vistorias em todos os empreendimentos para verificar se as noras de segurança estão sendo cumpridas.

Impactos Meio Físico

Modificação na estrutura e fertilidade do solo

Realizar o manejo correto do solo

- Acompanhar as práticas de manejo correto do solo

Alteração no nível do lençol freático

- Realizar estudos hidrológicos para verificar as situações do nível do lençol freático

- Construir poços de monitoramento e instalar medidores de nível para acompanhar possíveis alterações no lençol freático

Erosão de Solos, escorregamento de solo e massa

- Posicionar corretamente os Equipamentos de sucção - Promover a recomposição nas áreas susceptíveis à erosão

- Acompanhar os processos de extração para observar o posicionamento correto dos equipamentos de extração - Acompanhar o processo de revegetação

Alteração na qualidade da água

- Implementar sistemas de tratamento de efluentes

- Realizar amostragem e análise de água de 15 a 30 dias, tendo no mínimo dois pontos de amostragem - Garantir a eficiência do sistema de tratamento dos efluentes.

Alteração do sistema de Drenagem natural

- Implementar sistemas de drenagem para conter o processo erosivo

- Garantir a manutenção e limpeza dos sistemas de drenagem

Mudança da paisagem natural

- Promover a recomposição vegetal - Realizar prévios estudos antes de modificar a topografia

- Realizar atualização topográfica e acompanhamento por técnicos responsáveis - Acompanhar o processo de revegetação

Assoreamento de corpos d’água

-Fazer o reflorestamento

da mata ciliar. -Fazer um trabalho retida de sedimentos do fundo do rio.

-realizar fiscalização mais

rígida sobre as atividades de extração impondo limites e locais adequados para abertura das cavas.

Alteração da flora

- Realizar a revegetação das áreas exploradas - Implantar um viveiro de mudas com espécies nativas da região

- Acompanhar os processos de revegetação - Realizar a manutenção do viveiro de mudas

Deslocamento e alteração

- Manter corredores verdes para a migração da

- Realizar estudos para garantir que as espécies

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95

Impactos Meio Biótico

comportamental da fauna

fauna - Reintrodução de espécies da fauna local

da fauna não estão se extinguindo da região

Degradação de APP: Deposição de lixo e entulho nas cavas.

- Promover programas de reabilitação vegetal

- Acompanhamento da revetação

Adaptada: Leandro Pereira Fonte: Conama, 2005.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de extração mineral em Jacobina se configurou como principal

fonte de desenvolvimento econômico do município. O ouro foi ao longo dos anos o

principal mineral extraído na região, e além da extração de ouro desenvolveu-se

também a extração de outros minerais, como areia, argila e cascalho, para suprir a

construção civil. Esse grande potencial mineral de Jacobina muitas vezes foi

aproveitado de maneira “irracional”, no que se refere principalmente ao meio

ambiente, com a geração de diversos impactos.

As atividades de extração de agregados para suprir a construção civil e de

argila para confecção de produtos cerâmicos foram objeto de estudo deste trabalho.

As áreas de estudo foram delimitadas através das metodologias Geossistêmica

(Bertrand, 1971) e Ecodinâmica (Tricart, 1977), em Unidades Geoambientais ou

Geofácies, e a partir desse recorte foi avaliado o grau de estabilidade ambiental das

mesmas com base na significância dos impactos, no grau de antropização e

Vulnerabilidade ambiental, constatando-se que nenhuma das três geofácies

avaliadas apresentou um grau de estabilidade ambiental satisfatório.

A mineração de agregados foi responsável pelo surgimento de uma série de

impactos ambientais na área de estudo. Verificou-se que estes impactos decorrem

de um processo de licenciamento ambiental deficiente e da inexistência de uma

equipe técnica que oriente os trabalhadores, de forma que estes executem o

processo de extração sem causar tantos danos. Embora as três áreas onde se

desenvolvem, as atividades de extração mineral possuam licenças ambientais

concedidas pela prefeitura, elas apresentam uma série de irregularidades, no que

diz respeito ao seu licenciamento, e principalmente na fiscalização ambiental por

parte dos órgãos ambientais competentes.

Essa carência de uma política ambiental mais atuante foi marcante durante

todo o período em que se desenvolveu a atividade de extração de agregados no

município. Por muitos períodos, ela se desenvolveu sem qualquer licenciamento

ambiental, ou carente de fiscalização e monitoramentos mais rigorosos.

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97

No Código de Meio Ambiente do município, estão inseridos alguns princípios

intrínsecos a sua política de meio ambiente, tais como o art. 2° do referido

documento, onde se afirma que, “tem como objetivo manter ecologicamente

equilibrado o meio ambiente, bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida, razão pela qual se impõe ao poder público o dever de defendê-lo,

preservá-lo e recuperá-lo”. Em relação a essa política de meio ambiente de

Jacobina, foram verificados alguns princípios que não estão sendo executados da

maneira que propõe o Código de Meio Ambiente, tendo sido diagnosticados vários

impactos ambientais na área de estudo provocados pela extração de agregados.

Um princípio importante, existente na política de meio ambiente, mas que não

tem sido executado de maneira correta é o Zoneamento Ambiental, que objetiva a

conservação das Áreas de Preservação Permanente (APPs), em que se incluem as

encostas, planícies e matas ciliares como algumas das áreas a serem preservadas,

porém essa foi das principais deficiências verificadas na política ambiental do

município, sobre a área de estudo. No que se refere à encosta, o Código de Meio

Ambiente diz que encosta com declividade superior a 30% ou 45° devem ser

preservadas, no entanto, existe no Pontilhão/Canavieiras áreas de encosta com

essas características que eram destinadas a extração mineral, e que atualmente

estão abandonadas e sujeitas aos agentes erosivos. Na planície verifica-se a maior

parte dos empreendimentos de extração mineral, porém nenhuma política ambiental

é tomada para recuperar as áreas degradadas, o que demonstra a carência de uma

fiscalização maior.

A preservação da vegetação também é um dos elementos que compõem a

política ambiental no município. A vegetação é seriamente afetada pela atividade de

extração mineral, principalmente a mata ciliar, que é desmatada, tanto para abertura

de cavas para extração mineral, às vezes em áreas que não respeitam os limites de

APP, como para suprir fornos das olarias situadas na planície aluvial, nas áreas de

extração.

Além do Zoneamento Ambiental, outro princípio contido na política ambiental

é o da Qualidade Ambiental, que busca assegurar a qualidade do solo e subsolo e a

destinação dos resíduos. Em se tratando da qualidade do solo, verificou-se a

ausência de uma fiscalização mais rigorosa tanto nos solos da planície de extração

de areia, argila e cascalho, como nas encostas onde se extraem areia grossa. Na

área de planície foi constatada a contaminação do solo e subsolo pela deposição de

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lixo residencial e industrial sob as áreas das cavas abandonadas. Na encosta,

através de análise de taxa de infiltração, constatou-se a grande suscetibilidade do

solo à erosão, fato demonstrado também no surgimento de várias voçorocas e

ravinas sob áreas de extração desativadas. A Qualidade Ambiental também busca

assegurar a qualidade da água dos cursos superficiais e subterrâneos, no entanto,

nas duas áreas de extração mineral situadas na planície verificou-se uma possível

contaminação da água subterrânea tanto pelos vazamentos de óleos dos motores

das dragas de sucção, como pela deposição de lixo residencial e industrial nas

cavas, o que pode se agravado em razão de, em muitos locais não haver camadas

de argila aluvial intercalada nas areias. Esta é geralmente retirada durante o

processo de extração, o que aumenta as taxas de infiltração do solo, o que foi

verificado em um neossolo flúvico formado sobre areias.

Diante da degradação ambiental verificada, questionaram-se os trabalhadores

se os mesmos tinham consciência de que a atividade por eles desenvolvida causava

prejuízos ao meio ambiente. Foi verificado que a maioria deles (cerca de 86% do

total) sabe que a atividade causa impacto. Entretanto, ao serem questionados sobre

quais os impactos provocados e de que forma os mesmos ocorrem, a maioria dos

trabalhadores (cerca de 71,5 %) não soube responder. Esta última constatação

sugere que, mesmo querendo, os trabalhadores não saberiam quais elementos do

meio ambiente local deveriam ser recompostos, caso estivessem dispostos a fazê-lo.

Tendo em vista, a gama de impactos causados pelas atividades de extração

mineral de areia, argila e cascalho, verificados nos Povoados de Pontilhão e

Canavieiras, sugere-se como medida principal a ser tomada para a presevenção,

correção e recuperação da área, evitando-se o surgimento de novos danos

possíveis, seja a desapropriação das áreas de planície e encosta pela Prefeitura ou

o Estado, para formação de uma Cooperativa de trabalhadores em agregados da

construção civil. Dessa forma, eles não necessitariam pagar 40% do valor obtido

pela extração ao proprietário, poderiam trabalhar em áreas longe da APP, sendo

assim obrigados fazer a recomposição ambiental com este dinheiro, inclusive com a

ajuda de um Engenheiro de Minas ou Geólogo, como requer a legislação, fazer com

que o PRAD seja cumprido. Assim, os moradores das comunidades de Pontilhão e

Canavieiras que vivem exclusivamente da atividade de extração de areia, argila e

cascalho iriam adquirir o seu sustento sem provocar tantos danos ao meio ambiente,

e criariam a Cooperativa munida com uma equipe técnica em alguns setores cruciais

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99

para o desenvolvimento de forma sustentável do empreendimento, como: técnico em

meio ambiente, técnico em segurança do trabalho e um técnico em mineração. Essa

equipe técnica teria a função de orientá-los, de forma que a atividade não

apresentasse tantos danos ao meio ambiente, diminuindo os riscos de

acidentes. Além disso, com o crescimento da cotação do preço do ouro, poderia até

ser viável a extração do mesmo antes de vender à areia.

Outra saída para reduzir os impactos e recuperar as áreas degradadas,

através do abandono parcial destas áreas, passando as pessoas antes ocupadas

com a extração de areia, argila e cascalho, a trabalhar na moagem dos rejeitos da

JMC, a fim de produzir material de granulação areia (areia artificial), e pedra britada,

seguindo as normas da ABNT para produção desses materiais.

Assim, para efetivação das propostas de recuperação citadas acima, é

necessária principalmente uma mudança de postura, em todos os aspectos que

circundam a atividade de extração mineral, sendo necessária, a participação de

várias entidades, principalmente em esfera local, através da Prefeitura, com

promoção de ações de conscientização ambiental junto aos moradores, que

poderiam recorrer a parcerias com a UNEB, e promover palestras, e cursos de

capacitação, aumentando também o rigor sobre as fiscalizações nas áreas de

extração, buscando e cobrando apoio de órgãos ambientais como o IBAMA e CRA.

Espera-se que este trabalho possa servir como ferramenta para a mudança

de postura por parte dos órgãos gestores e entidades envolvidas no processo de

extração, contribuindo na tomada de decisões para implementação de medidas

capazes trazer melhorias nas condições ambientais.

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100

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 7211 Agregados para Concreto – Especificação Rio de Janeiro: ABNT, 2005. 9p. Disponível em: www.abnt.org.br/Erratas/7211%20-%20Errata.pdf - Acesso em:12/08/2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 9935 Agregados – Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 1987. 4p. Disponível em: www.ufrrj.br/institutos/it/dau/profs/edmundo/Agregados.pdf - Acesso em: 24/12/2008.

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Page 101: Leandro _ MONOGRAFIA- Versão Final

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ANEXOS

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV COLEGIADO DE GEOGRAFIA

Professor Orientador: Paulo Cezar Dávila Fernandes Discente pesquisador: Leandro Pereira da Silva

Pesquisa: Diagnóstico Ambiental em áreas de extração mineral de Areia, Argila e

Cascalho: trecho Pontilhão Canavieiras

Questionário n° 01 Moradores/Trabalhadores

1. Identificação: Nome: Sexo: ( ) Masc ( ) Fem Endereço: Faixa Etária: ( ) menos de 18 ( ) 18 a 25 anos ( ) 25 a 35 anos ( ) 35 a 45 anos ( ) Acima de 45 anos Profissão: Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Alfabetizado ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

1. Há quanto tempo reside no Pontilhão ou Canavieiras?

2. De onde veio? ( ) Zona Rural ( ) Zona Urbana Que cidade:

3. Em que atividade de extração mineral você trabalha?

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( ) Areia ( ) Argila ( ) Cascalho 4. A quanto tempo você trabalha na atividade de extração mineral? ( )Menos de um ano ( )Um ano ( )Mais de um ano 5. Quantas pessoas em sua família trabalham com extração mineral de Areia, Argila e Cascalho? ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ou mais 6. Já se existia extração mineral quando você veio morar aqui? ( ) Sim ( ) Não 7. Quanto é o faturamento mensal obtido pela extração mineral? ( )menos de 1 salário mínimo ( ) até um salário ( ) mais de um salário 8. Você tem consciência que atividade de extração de areia, argila ou cascalho quando executada de maneira irracional pode causar sérios danos ao meio ambiente? ( ) Sim ( ) Não, 9. O que você acha que pode acontecer quando retiram a vegetação próxima do leito do rio? 10. E quanto a escavar em áreas próximas do rio?O que pode ocorrer? 13. Quantas pessoas trabalham em sua família? E quem trabalha? ( ) Todos ( ) somente a esposa ( ) somente o esposo ( ) somente o(s) filho (s) ( ) o esposo e o(s) filho (s) ( ) a esposa e o(s) filho (s) ( ) tanto a esposa quanto o esposo 14. Qual é a renda mensal média da sua família? ( ) Até 01 salário mínimo

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( )Mais de 01 até 03 salários mínimos ( )Mais 03 a 05 salários mínimos ( )Mais 05 até 07 salários mínimo ( ) Mais de 07 salários mínimos 15. Como vocês fazem para saber se num determinado trecho da área, tem argila, ou cascalho para serem extraídos. 16. De que forma vocês extraem a areia, argila ou cascalho? 17. Existe uma delimitação de área de extração? Ou vocês extraem aleatoriamente?

( )Sim ( ) Não Justificativa: 17. Existem indícios de algum acidente de trabalho, (afogamento, soterramento por queda de barranco).

( )Sim ( ) Não

Justificativa:

18. E se existe ou existiu algum acidente de trabalho, ele foi grave? Já ouve alguma morte?

Sim( ) Não ( ) Justificativa:

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV COLEGIADO DE GEOGRAFIA

Professor Orientador: Paulo Cezar Dávila Fernandes Discente pesquisador: Leandro Pereira da Silva

Pesquisa: Diagnóstico Ambiental em áreas de extração mineral de Areia, Argila e Cascalho: trecho Pontilhão Canavieiras

Entrevista n° 01 Ex-proprietário da área de extração de areia e argila e cascalho

João Marcos Pires Ferreira

11. Identificação: Nome:_______________________________________________________ Idade:_______________________________________________________ Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem.

12. Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Alfabetizado ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

3. Quais eram as atribuições (finalidades) da área de extração mineral, antes de

ser arrendada para extração? 4. Qual empresa arrendou a área?Qual o valor?

5. Qual o tamanho da área?

6. Ao arrendar a área à empresa, apresentou algum plano de recuperação ambiental ?

Sim ( ) não ( ) Justificar: 7. A extração mineral de areia, argila e cascalho na área arredada dispõe de

algum tipo de licença concedida pela prefeitura ou órgão competente?

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Sim ( ) não ( ) Justificar: 8. E quanto às questões ambientais? Para que se iniciasse a extração, foi feito

algum plano de recuperação ambiental da área ou RCA (Relatório de Controle Ambiental?

Sim ( ) não ( ) Justificar: 9. O proprietário da área de extração dispõe de PCA (Plano de Controle

Ambiental)? Sim ( ) não ( ) Justificar:

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV COLEGIADO DE GEOGRAFIA

Professor Orientador: Paulo Cezar Dávila Fernandes Discente pesquisador: Leandro Pereira da Silva

Pesquisa: Diagnóstico Ambiental em áreas de extração mineral de Areia,

Argila e Cascalho: trecho Pontilhão Canavieiras

Entrevista n° 02

Secretário de Meio Ambiente de Jacobina Silvio Fernando Oliveira

13. Identificação:

1.1 Nome: _____________________________________________________________

1.2 Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem.

14. Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Alfabetizado ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

14.1 Caso tenha nível superior? Qual curso?

15. Como a secretaria de meio ambiente e agricultura, tem atuado em relação às questões ambientais no município?

16. De que forma a secretaria de tem promovido ações de fiscalização ambiental, em

relação à atividade extração mineral de areia, argila e cascalho?

17. A secretaria tem conhecimento de algum documento que autorize a extração mineral na área do Pontilhão à Canavieira?

( )sim

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Qual:

( )não

18. E quanto a projeto de controle e recuperação de impactos ambientais da área a secretaria possui algum?

Sim ( )

Qual______________________________________________

Não ( )

19. A secretaria tem apoio de outros órgãos ambientais para realizar atividades de fiscalização?

( ) Sim

( ) Não

Justificativa:

20. A secretaria de meio ambiente e agricultura promove alguma atividade de conscientização ambiental com os moradores/trabalhadores?

( ) Sim ( ) Não Justificativa/Comentários:

21. Que tipo de ajuda a prefeitura fornece? (questão condicionada à anterior)

22. Em sua gestão, quais benefícios a secretaria conseguiu fazer em relação às questões ambientais?

23. O que é necessário para se estabelecerem políticas mais eficazes sobre as questões ambientais?

24. A secretaria tem apoio e a aceitação dos moradores locais?Quanto às questões ambientais em referência a extração mineral?

25. O senhor tem conhecimento de quando se iniciou o processo de extração mineral?

( )Sim ( ) Não

Justificativa:

26. A Prefeitura tem obtido arrecadação de impostos através da atividade extrativista?

( )Sim ( )Não

Justificativa:

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV COLEGIADO DE GEOGRAFIA

Professor Orientador: Dr. Paulo Cezar Dávila Fernandes Discente pesquisador: Leandro Pereira da Silva

Pesquisa: Diagnóstico Ambiental em áreas de extração mineral de Areia, Argila e Cascalho: trecho Pontilhão Canavieiras

Questionário n° 02 Proprietário da área de extração de areia e argila e cascalho

01. Identificação:

Nome:_______________________________________________________ Idade:______________ Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem.

2. Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Alfabetizado ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

03. Há quanto tempo o Senhor desenvolve a atividade de extração mineral na área? Menos de um Ano ( ) Mais de um ano ( ) Entre um e dois anos ( ) Mais de 2 anos ( ) 04.Quantas pessoas trabalham na sua área de extração. Menos de 20 ( ) Entre 20 e 30 ( ) Mais de 30 ( ) 05. Qual o tamanho da área de extração? 06. Quanto o senhor arrecada pela extração mineral na área?

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6.1 Quanto é a produção diária de areia? E a produção mensal? 6.2 Quanto é a produção diária e mensal de tijolos nas olarias?

07. A extração mineral de areia, argila e cascalho na área arredada dispõe de algum tipo de licença concedida pela prefeitura ou órgão competente? Sim ( ) não ( ) Justificar: 08. Quanto às questões ambientais? Para que se iniciasse a extração, foi feito algum plano de recuperação ambiental da área ou RCA (Relatório de Controle Ambiental? Sim ( ) não ( ) Justificar: 09. O proprietário da área de extração dispõe de PCA (Plano de Controle Ambiental) ou PRAD (Plano de Recuperação de Área Degradada)? Sim ( ) não ( ) Justificar: