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Page 1: LEADERSHIP A LIDERAZGO UN - facenf.uerj.br · Pelo menos duas correntes de pensamento pro-põem o fator determinante para que uma pessoa seja considerada líder: a Teoria Inatista

Vilela PF, Souza ÂC

Recebido em: 17/08/09 – Aprovado em: 31/08/09

Artigo de PesquisaOriginal ResearchArtículo de Investigación

Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):591-7. • p.591

RESUMO: O objetivo deste estudo foi identificar os desafios que o enfermeiro recém-formado encontra para exercer afunção de liderança e as estratégias adotadas. Trata-se de estudo exploratório com abordagem quanti-qualitativa. Foramrealizadas entrevistas com 15 enfermeiros que concluíram a graduação em 2006 na Universidade Federal Fluminense,Estado do Rio de Janeiro. Para atingir os objetivos, o roteiro de entrevista contemplou, além de dados referentes a idade,sexo e tempo de formação, questões que permitissem identificar os principais desafios e estratégias que os enfermeiros têmadotado no exercício da liderança. Os dados foram submetidos ao método de análise de conteúdo e agrupados em trêscategorias: atributos, desafios e estratégias adotadas no exercício da liderança. Fatores relacionados à insegurança, àsdificuldades de comunicação, de pouco entrosamento com os demais membros da equipe, de tomada de decisões e dedestreza na realização de procedimentos constituem desafios para o exercício da liderança.Palavras-Chave: Liderança; enfermagem; papel do profissional de enfermagem; administração de enfermagem.

ABSTRACT: The aim of this study was to identify the challenges that recently graduated nurses face when exercising leadershipand the strategies they adopt. It was an exploratory, quanti-qualitative study based on interviews of 15 nurses recently graduatedfrom the Fluminense Federal University, Rio de Janeiro, in 2006. In addition to information on age, sex and time since graduation,the interview script raised issues that enabled the key challenges posed to, and strategies adopted by, nurses in exercisingleadership. The data were evaluated by content analysis and grouped into three categories: duties, challenges and strategies.Challenges in exercising leadership included factors relating to insecurity, communication difficulties, lack of integration withother team members, decision making and lack of technical skills in performing procedures.Keywords: Leadership; nursing; nurse’s role; nursing administration.

RESUMEN: El objetivo de este estudio fue identificar los desafíos que el enfermero recién licenciado encuentra paraejercer la función de liderazgo y las estrategias que adopta para enfrentarlos. Se trata de un estudio exploratorio conenfoque cuanti-cualitativo. Las entrevistas habían sido realizadas con 15 enfermeros recién licenciados por la UniversidadFederal Fluminense – Río de Janeiro – Brasil, que concluyeron el pregrado en 2006. Para atingir los objetivos, el formulariode entrevista tenía, además de datos referentes a edad, sexo y tiempo de formación, cuestiones que permitían identificar losprincipales desafíos y estrategias que los enfermeros adoptan. En el ejercicio del liderazgo. Los datos fueron sometidos almétodo de análisis de contenido y agrupados en tres categorías: atributos, desafíos y estrategias adoptadas. Factores relacio-nados a la inseguridad a las dificultades de comunicación, de poco encadenamiento con los otros miembros del equipo, detoma de decisiones y de habilidad en la realización de procedimientos constituyen desaíos para el ejercicio del liderazgo.Palabras Clave: Liderazgo; enfermería; rol del enfermero; administración de enfermería.

LIDERANÇA: UM DESAFIO PARA O ENFERMEIRO RECÉM-FORMADO

LEADERSHIP: A CHALLENGE FOR RECENTLY GRADUATED NURSES

LIDERAZGO: UN DESAFÍO PARA EL ENFERMERO RECIÉN LICENCIADO

Paula França VilelaI

Ândrea Cardoso de SouzaII

IEnfermeira e licenciada em enfermagem. Especializanda em enfermagem do trabalho. Professora de Enfermagem de nível médio. São Gonçalo, Rio de Janeiro,Brasil. E-mail: [email protected] e Doutoranda em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz. Professora Assistente doDepartamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense. Niterói,Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: [email protected].

INTRODUÇÃO

No desempenho das atividades inerentes à suafunção, o enfermeiro é responsável quase sempre poruma equipe de trabalho. Para coordenar as atividadesdesenvolvidas por este grupo e para o sucesso da orga-nização, a capacidade e a habilidade de liderança sãofatores determinantes. É imprescindível que o enfer-meiro no exercício de sua função manifeste essa habi-

lidade, pois esta é uma prática capaz de influenciarmudanças, apontando para uma melhoria na práticada enfermagem1,2.

No entanto, verifica-se a aparente insegurança doenfermeiro recém-formado, a falta de entrosamento coma equipe de enfermagem, a dificuldade em tomar deci-sões e de se posicionar diante da equipe, além da neces-

Recebido em: 17/08/09 – Aprovado em: 31/08/09

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Liderança e o enfermeiro recém-formado

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Artigo de PesquisaOriginal Research

Artículo de Investigación

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No contexto organizacional, são reconhecidas aliderança formal e a liderança informal. A primeira éatribuída àqueles a quem a autoridade ou poder foi con-fiado formalmente. Estes são os líderes nomeados. Naliderança informal, o líder surge do grupo por meio doconsentimento espontâneo da equipe e, geralmente,ele é considerado como aquele que exerce maior influ-ência verbal. Por ser mais ativo, ter maior habilidadetécnica e conhecimento e ter mais iniciativa em to-mar decisões, o grupo reconhece nele o líder capaz desatisfazer as aspirações e necessidades do coletivo4.

Então, percebe-se que a liderança está associada aoconceito de poder. Grande parcela do poder atribuído aolíder emana do grupo, pois a liderança é um processo cole-tivo e, portanto, compartilhado entre todos os membros5.

A Liderança na Perspectiva da EnfermagemA questão da liderança em enfermagem foi

introduzida por Florence Nightingale, precursora daenfermagem moderna na segunda metade do séculoXIX. Durante a Guerra da Crimeia, Florence envol-veu-se em atividades administrativas hospitalares edemonstrou habilidades de gerenciamento e lideran-ça, supervisionando as enfermeiras e organizando ocotidiano da assistência aos soldados feridos6.

Atualmente, a função administrativa e assis-tencial do enfermeiro é reconhecida nas unidades hos-pitalares e nas unidades básicas de saúde. É ele que, nasua rotina de trabalho, gera os recursos que garantem oatendimento prestado pelo pessoal de enfermagem epelos demais profissionais7. O enfermeiro usa a lide-rança como instrumento de trabalho ao exercer as suasatribuições e, dessa forma, pode definir o caráter detrabalho de seu grupo e da instituição e influenciar asfunções administrativas, as tomadas de decisões, o cres-cimento e autonomia da sua equipe8,9.

De acordo com a Lei no 7.498, de 25 de Junho de1986, em seu artigo 11, é competência do enfermeirochefiar o serviço e a unidade de enfermagem em insti-tuição pública e privada; organizar e dirigir os serviçosde enfermagem e suas atividades técnicas e auxiliares;planejar, organizar, coordenar, executar e avaliar os ser-viços de assistência de enfermagem10. De fato, o enfer-meiro é o líder da equipe de enfermagem. O poder des-te profissional provém da posição hierárquica que ocu-pa na organização e dos conhecimentos técnico, cien-tífico e ético que adquiriu durante a graduação, tor-nando-o apto a chefiar a equipe de enfermagem.

Quando os membros da equipe de enferma-gem são aliados e estão próximos do enfermeiro,percebe-se que as atividades executadas asseguramo bom funcionamento da unidade, possibilitandoo desenvolvimento dos profissionais que compõema equipe11.

sidade de ainda aperfeiçoar a destreza em algumas técni-cas de enfermagem, que evidenciam a falta de preparodo enfermeiro recém-formado para o exercício da lide-rança diante da equipe de enfermagem. É compreensí-vel o despreparo e a inexperiência do recém-formado,pois o tema da liderança ainda permanece circunscritoàs disciplinas ligadas ao ensino da administração, nãochegando às demais disciplinas curriculares, perpetu-ando assim um modelo fragmentado do ensino3. Soma-do a este fator, está a questão da não avaliação do gradu-ando de enfermagem quanto ao exercício da liderança,o que dificulta que ele desenvolva habilidades e compe-tências necessárias às funções de líder.

O objetivo deste estudo foi o de identificar osprincipais desafios que o enfermeiro recém-formadoencontra para exercer a função de liderança e as estra-tégias para superá-los. A pesquisa desenvolve e siste-matiza conhecimentos acerca do exercício da lideran-ça, visando a contribuir para a redução da ansiedadedos acadêmicos de enfermagem e propiciar-lhes co-nhecimento prévio acerca dos desafios que estes futu-ros enfermeiros poderão encontrar ao ingressar nomercado de trabalho. Assim, poderão desenvolver des-de a graduação as habilidades e, quando enfermeiros, játerão tido a oportunidade de exercer a liderança.

Este estudo também contribui para que os en-fermeiros recém-formados reconheçam o quanto aliderança está atrelada ao desempenho de suas atri-buições e a necessidade de desenvolver os atributosessenciais ao seu exercício.

REFERENCIAL TEÓRICO

Diante do avanço tecnológico e da rapidez comque as informações são processadas, da instabilidadee da competitividade do mercado, tem-se observadocada vez mais a necessidade de haver líderes dentrode uma organização. Liderar significa influenciar pes-soas, motivando-as a realizar as suas tarefas de modoa atingirem a excelência no trabalho. Porém, esta nãoé uma fácil tarefa.

Pelo menos duas correntes de pensamento pro-põem o fator determinante para que uma pessoa sejaconsiderada líder: a Teoria Inatista e a Teoria Socio-lógica. Na teoria inatista, a liderança está relaciona-da à genética e à hereditariedade. A pessoa herda tra-ços de personalidade que a capacitam para o exercí-cio da liderança. A teoria sociológica, por outro lado,defende a tese de que qualquer pessoa pode vir a serlíder, pois esta é, sobretudo, uma função do meio so-cial em que vive. De acordo com esta teoria, a lide-rança pode ser ensinada e aprendida, assim como asinúmeras habilidades pessoais requeridas (eloquência,destreza, técnica), sendo, portanto, um processo deaprendizado contínuo4.

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Vilela PF, Souza ÂC

Recebido em: 17/08/09 – Aprovado em: 31/08/09

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No entanto, há evidências de que a liderança in-competente do enfermeiro na organização de saúde,muitas vezes resulta em conflitos entre os membros daequipe de enfermagem. Isto decorre do fato de o enfer-meiro ocupar uma posição legitimada pelo poder e, fre-quentemente, alicerçada na estrutura formal da orga-nização, emergindo daí uma relação de dominação emque o líder se sobrepõe aos demais membros da equipe,que reagem com sentimentos de revolta e inquieta-ções, cujos reflexos recaem na assistência ao cliente12.

Outro fator que parece provocador para o enfer-meiro é o desafio de relacionar-se com a equipe médica.Ainda é possível encontrar uma enfermagem submissa,dirigida e determinada pelo discurso biomédico13. Al-guns enfermeiros são intimidados pelos médicos e sub-metem-se às suas ordens. Em vez de serem profissionaisativos, inovadores no cuidado ao paciente e agentes demudança nas instituições de saúde, eles silenciam dian-te dos discursos dos médicos, por considerá-los superio-res em conhecimento e poder.

No entanto, o Código de Ética dos Profissio-nais de Enfermagem, artigo 6°, estabelece que o en-fermeiro deve exercer sua profissão com autonomia14,pois ele tem o respaldo legal para determinar os cui-dados de enfermagem e realizar os procedimentosnecessários ao paciente. Quando o enfermeirodesconsidera a sua autonomia profissional, por se su-bordinar à equipe médica, perde a confiança e o res-peito da equipe de enfermagem.

O exercício da liderança exige preparo, criati-vidade, coragem e determinação, pois o modelo de pro-cesso de trabalho ideal encontra-se distante da reali-dade concreta do enfermeiro15. Além dos atributos edomínio das habilidades do exercício da liderança, oenfermeiro precisa expressar seus valores éticos, servirde referência por suas ações e atitudes e ter visão defuturo. É também indispensável respeitar o próximo evalorizar as relações humanas16,17.

É fundamental que os enfermeiros repensem omodo como exercem a liderança, para que possamgerenciar com eficácia e proporcionar uma assistên-cia de enfermagem qualificada aos clientes. Com isso,a enfermagem será valorizada e respeitada pelas pes-soas que buscam seus cuidados e equipe de saúde.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo exploratório comabordagem quantiqualitativa. A amostra deste estu-do é constituída por 15 enfermeiros recém-formadosem 2006, egressos do curso de enfermagem e licenci-atura da Escola de Enfermagem Aurora de AfonsoCosta (EEAAC) da Universidade Federal Fluminense(UFF), situada em Niterói, Estado do Rio de Janeiro.

Os dados da pesquisa foram analisados e siste-matizados de acordo com a técnica de análise de con-teúdo. Esta foi adotada por se configurar como umatécnica de pesquisa apropriada para a descrição obje-tiva, sistemática e quantitativa do conteúdo mani-festo das comunicações. A partir da análise e agrupa-mento de dados foram identificadas três categorias, asaber: atributos do exercício da liderança, desafios doexercício da liderança e estratégias adotadas no exer-cício da liderança.

Esta pesquisa foi submetida previamente à apre-ciação do comitê de ética em pesquisa do HospitalUniversitário Antônio Pedro da UFF, conforme aResolução no 196/96, do Conselho Nacional de Saú-de, recebendo aprovação com o no 027/07. Os dadoscontidos neste estudo foram coletados por meio deentrevistas semiestruturadas, com a assinatura deTermo de Consentimento Livre e Esclarecido, em2007. Cada entrevista foi numerada de acordo comsua ordem de realização e os enfermeiros participan-tes foram sucessivamente nomeados com a letra E emais um número sequencial, E1, E2, E3... Assim, foigarantido o sigilo das identidades dos participantes.

O roteiro de entrevista foi elaborado previa-mente, com dados que permitissem a caracterizaçãoda clientela, representando as variáveis do estudo:idade, sexo, tempo de conclusão do curso, nível deespecialização/formação, número de vínculosempregatícios e locais de atuação profissional. Alémde conter questões sobre os desafios, os atributos e aspercepções dos entrevistados sobre liderança.

A captação dos sujeitos da pesquisa deu-se pormeio de mala direta enviada por correio eletrônico àlista de contatos da turma que se formou, em 2006,na EEAAC – UFF. Desse modo, eles receberam as in-formações sobre a pesquisa e o Termo de Consenti-mento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para alcançar o objetivo proposto por esta pes-quisa, foram investigadas as variáveis: idade, sexo,tempo de conclusão do curso de graduação, nível depós-graduação/ formação, número de vínculosempregatícios e locais de atuação profissional.

Constatou-se que a maioria dos entrevistados éjovem, situada, portanto, na faixa etária produtiva evalorizada pelo mercado de trabalho. Dos sujeitos dapesquisa, 3(20%) tinham, na ocasião da pesquisa, 23anos de idade; 5(33%) deles, 24 anos; 1(7%), 25 anos;3(20%), 26 anos; 2(13%), 27 anos e 1(7%) deles, 34anos de idade. Observou-se a predominância do sexofeminino, sendo – 12(80%), correspondendo ao per-fil histórico da profissão.

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Liderança e o enfermeiro recém-formado

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Artigo de PesquisaOriginal Research

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Os sujeitos da pesquisa haviam se formado háno máximo um ano. Entre eles, 10(67%) informaramter concluído o curso nos seis meses anteriores e5(33%) o concluíram num período de 7 a 10 mesesanteriores. Apesar dos sujeitos do estudo terem con-cluído os Cursos de Enfermagem e Licenciatura hámenos de um ano, 7(47%) já cursavam algum tipo deespecialização e 8(53%) responderam estar apenastrabalhando.

Evidenciou-se que 10(66%) enfermeiros recém-formados desenvolvem suas atividades profissionaisem apenas um local de trabalho, 4(27%) possuem doisvínculos empregatícios e apenas 1(7%) já atua emtrês diferentes locais de trabalho. A unidade hospi-talar predomina como local de inserção profissional:11(58%) entrevistados desenvolvem suas práticasprofissionais em hospitais, 4(21%) atuam em Unida-des Básicas de Saúde, 3(16%) ministram aulas emcursos técnicos de enfermagem e 1(5%) atua comoenfermeiro do serviço de atendimento móvel de ur-gência (SAMU).

Os dados referentes ao tema foram analisadosem três categorias: atributos do exercício da lideran-ça, desafios do exercício da liderança e estratégiasadotadas no exercício da liderança.

Atributos Necessários ao Exercício daLiderança

Liderar significa influenciar pessoas pelo pro-cesso de comunicação humana a fim de alcançar umou mais objetivos18. Entre os atributos consideradosessenciais para o exercício da liderança, os entrevis-tados ressaltaram três: a comunicação, a inteligênciae a autoconfiança.

O primeiro destes atributos é destacado por to-dos os sujeitos da pesquisa. É preciso salientar que acomunicação é o atributo principal da liderança, poispor meio dela a pessoa inicia o contato com as demaise pode influenciar os outros4.

Inteligência, autoconfiança, carisma, autoridade,honestidade, destreza técnica e persuasão também fo-ram apontados como atributos necessários ao exercí-cio da liderança, conforme exposto na Figura 1.

Observa-se a estreita relação entre a liderançae a atuação profissional do enfermeiro, pois todos ossujeitos da pesquisa adotam estratégias para desen-volver as características de liderança, entre estas, odiálogo, a observação e o conhecimento técnico-ci-entífico. Outras estratégias podem ser evidenciadaspelas manifestações a seguir:

Quando você se encontra numa posição superior, você deveser educado, ou seja, gentil, mas com autoridade. (E8)

Quando você usa corresponsabilidade de acordo comas aptidões de cada membro da equipe, todos partici-pam ativamente do processo de trabalho, dividindo su-cessos e fracassos. (E13)

Acho que a comunicação é a principal delas. Tudo acon-tece no setor, seja bom ou ruim, deve ser comunicado atodos na equipe, principalmente ao enfermeiro. Acimade tudo, deve haver um entrosamento entre o enfermei-ro e a equipe. (E15)

Entre os tipos de liderança, foram identificados osestilos autocrático ou autoritário, democrático, liberal4,transformador19, estratégico e como potencial de apren-dizado coletivo e fenômeno linguístico20. Em relação aessa variável, observa-se que todos adotam algum estilode liderança. Os resultados destacam que 6(40%) se-guem o estilo democrático, 5(34%) desenvolvem umestilo próprio e 2(13%) exercem o estilo liberal.

FIGURA 1: Atributos essenciais no exercício da liderança na perspectiva dos enfermeiros recém-formados pela UFF em 2006. Niterói, 2007.

Inteligência

Carisma

Autoridade

Honestidade

Destreza técnica

Persuasão

Comunicabilidade

Atributos

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Autoconfiança

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Vilela PF, Souza ÂC

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Artigo de PesquisaOriginal ResearchArtículo de Investigación

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Desafios do Exercício da LiderançaMuitos são os desafios encontrados pelos enfer-

meiros recém-formados para o desenvolvimento doexercício da liderança. Entre eles, foram salientados aaceitação por parte da equipe, a dificuldade de relacio-namento interpessoal, os profissionais desatualizados,a escassez de recursos e os fatores relacionados àinexperiência, conforme mostra a Figura 2. Foramselecionadas algumas declarações sobre os desafiosenfrentados pelos enfermeiros entrevistados:

Falta de experiência e do próprio gosto pela área na qualatuo no momento, principalmente porque trabalho em umaárea que não era minha preferida e dificuldade de relaciona-mento interpessoal. (E1)

Falta de prática profissional e o fato de ser recém-formada.(E2)

Lidar com a diferença de idade e tempo de formada é umagrande dificuldade... a equipe te olha de uma maneira dife-rente... te testa todo o tempo. (E3)

Fazer com que pessoas que trabalham há anos adotem a minhaforma de trabalho, ou seja, mudar os seus hábitos. (E11)

Aceitação inicial da equipe e comparações quanto àforma de liderar diferenciada do líder anterior. (E12)

Lidar com as chefias, as diferenças de opinião, profissi-onais antigos e desatualizados e sem nenhuma vontadede aprender. O fato de ser novo às vezes atrapalha e meleva a ser um pouco autoritário. (E13)

Creio que a resistência por parte de alguns médicos quenão acreditam na nossa capacidade ou não se confor-mam em receber ordens de uma pessoa mais nova doque eles. Muitas vezes, eles omitem informações impor-tantes que deveriam ser repassadas não só ao enfermei-ro, mas a toda equipe. (E15)

As declarações obtidas revelam que as queixasdos enfermeiros recém-formados são o resultado doseu despreparo para o mercado de trabalho ou do es-tilo de liderança adotado, que repercutem no seu re-

lacionamento com a equipe. Além desses fatores, per-cebe-se que alguns enfermeiros encontram resistên-cia na aceitação da sua liderança, principalmente pe-los técnicos e auxiliares de enfermagem, dificultandoo desenvolvimento das suas atividades. Evidencia-seque os líderes que desempenham mais tarefas dele-gam mais autoridade, controlam menos, apoiam maise se relacionam melhor com a equipe6, gerando gru-pos mais eficientes.

Embora esteja no topo da estrutura hierárquicada equipe, o enfermeiro sofre a influência da culturaorganizacional, conforme as relações de poder da ins-tituição. Assim, por estarem sujeitos às normas daorganização, muitos enfermeiros exercem a lideran-ça de modo limitado12.

Ao serem questionados sobre o principal desa-fio para o exercício da liderança, 10(67%) enfermei-ros assinalaram a dificuldade na comunicação com aequipe; 2(13%), a falta de habilidade técnica; 2(13%),a incompatibilidade com a equipe e apenas 1(7%)apontou a idade superior dos demais membros da equi-pe. Isto leva a refletir sobre a importância da comuni-cação nos processos de trabalho, que é percebida poreles como a capacidade de influenciar o comporta-mento de outros. Desse modo, manter uma boa co-municação é imprescindível para o enfermeiro coor-denar a equipe de enfermagem.

Com base nos resultados obtidos, um dos moti-vos que contribuem para a dificuldade do enfermeiroexercer a liderança é a insuficiência da formação pro-fissional para o alcance desta competência. É neces-sário que as intituições de ensino valorizem este con-teúdo temático, articulando a teoria com a prática naformação acadêmica dos enfermeiros, a fim de prepará-los para o exercício da liderança, uma das competên-cias exigidas pelo mercado de trabalho.

Sobretudo, é preciso desenvolver as habilida-des de comunicação e inter-relacionamento huma-no, qualificando o futuro enfermeiro para o exercícioda liderança, além de capacitá-lo para assistir inte-gralmente o paciente21,22.

Estratégias Adotadas no Exercício da Liderança

A liderança é um processo de aprendizagem con-tínua. Seu exercício está relacionado à disposição doenfermeiro em querer aprender a desenvolver as ha-bilidades de liderança23.

Diversas estratégias são adotadas pelo enfermei-ro para ampliar e reforçar o potencial de exercício daliderança, como pode ser observado na Figura 3.

O enfermeiro precisa criar estratégias de desen-volvimento dessa habilidade para atingir um alto ní-vel de desempenho profissional, o que pode ser evi-denciado pelas seguintes afirmativas:

Aceitação da equipeDificuldades de relacionamento interpessoal

Dificuldades de trabalhar em equipeDificuldades em trabalhar com profissionais

desatualizadosEscassez de recursos

Estrutura organizacional clássicaFalta de experiência

Falta de prática profissionalInsegurança

Mudança de hábitos da equipePouca idade

Ser recém-formado

FIGURA 2: Principais desafios encontrados no exercício daliderança pelos enfermeiros recém-formados pela UFF. Niterói,2007.

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Liderança e o enfermeiro recém-formado

Recebido em: 17/08/09 – Aprovado em: 31/08/09

Artigo de PesquisaOriginal Research

Artículo de Investigación

p.596 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18(4):591-7.

Não há uma fórmula mágica que me proporciona lide-rança. (E12)

Corresponsabilidade, o fato de você ser líder não querdizer que suas condutas sejam autoritárias, que vocêsimplesmente manda e os outros supostamente obede-cem. Quando você usa corresponsabilidade de acordocom as aptidões de cada membro da equipe, todos par-ticipam ativamente do processo de trabalho, dividindosucessos e fracasso. (E13)

Acho que a comunicação é a principal delas. Tudo acon-tece no setor, seja bom ou ruim, deve ser comunicado atodos na equipe, principalmente ao enfermeiro. Acimade tudo, deve haver um entrosamento entre o enfermei-ro e a equipe. (E15)

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que, embora a liderança este-ja atrelada à prática do enfermeiro, os depoimentosdos profissionais recém-formados pesquisados cons-tataram que há desafios para o desenvolvimento des-ta habilidade no trabalho, devido à inexperiência, àinsegurança e à falta de exercício prático durante aformação acadêmica.

Da análise dos depoimentos dos sujeitos emergi-ram as categorias – atributos necessários ao exercício daliderança, desafios e estratégias adotadas nesse exercício.Os atributos mais citados foram a comunicação, a inteli-gência e a autoconfiança. Verificou-se que os principaisdesafios destes profissionais para exercerem a função deliderança no seu cotidiano são a faixa etária jovem, a difi-culdade de aceitação inicial pela equipe, a falta de experi-ência e de destreza técnica, a resistência de alguns com-ponentes da equipe em aceitar as orientações do enfer-meiro, a dificuldade de relacionar-se com o grupo e a es-trutura organizacional tradicional.

Entre as estratégias que os enfermeiros têm ado-tado para desenvolver as habilidades de liderança fo-ram destacadas: a educação, a comunicação, o conhe-cimento técnico e científico e a corres-ponsabilidade.

É necessário promover uma reflexão sobre oensino da liderança na formação profissional do en-fermeiro, com a inserção deste tema também nas dis-

ciplinas não relacionadas ao ensino administrativo,a fim de desenvolver nos graduandos as habilidadesinerentes às funções de liderança e reduzir a ansieda-de dos enfermeiros recém-formados no desempenhodas suas atividades. Além disso, é imprescindível queo estudo da liderança não esteja vinculado apenas àfunção administrativa. É fundamental que os enfer-meiros compreendam a importância do processo deliderança como aprendizado contínuo e dinâmico e,assim, busquem desenvolvê-lo e aplicá-lo na sua ati-vidade profissional.

REFERÊNCIAS

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AutoridadeComunicação

Conhecimento técnico-científicoCo-responsabilidade

DiálogoEducação

Entrosamento da equipeObservação

FIGURA 3 - Estratégias adotadas pelos enfermeiros recém-formados pela UFF para o exercício da liderança. Niterói, 2007

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Vilela PF, Souza ÂC

Recebido em: 17/08/09 – Aprovado em: 31/08/09

Artigo de PesquisaOriginal ResearchArtículo de Investigación

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