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Page 1: le Notas sobre as apresentações da Companhia da Saúde em ... · Elenco da Companhia da Saúde: Alex Moreira, Alex Vilela, Diogo Martins, Lorena Gabriel, Guanicéia Alves, Rafaella

COLEÇÃO ABIA Cidadania e Direitos 2

Notas sobre as apresentações daCompanhia da Saúdeem escolas da Baixada Fluminense

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COLEÇÃO ABIA Cidadania e Direitos 2

Notas sobre as apresentações daCompanhia da Saúdeem escolas da Baixada Fluminense

1a edição

Rio de Janeiro, 2008

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Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA)Av. Presidente Vargas, 446 – 13º andar – Centro –Rio de Janeiro – RJ – Brasil – Cep: 20071-907Telefone: +55 21 22231040 Fax: +55 21 22538495Email:[email protected] Site: www.abiaids.org.br

DiretoriaDiretor-Presidente: Richard ParkerDiretora Vice-Presidente: Regina Maria BarbosaSecretário Geral: Kenneth Rochel de Camargo JúniorTesoureiro: Miriam VenturaCoordenação Geral: Maria Cristina Pimenta e Veriano Terto Jr.

Etnografia das apresentações e redação original do texto: Joana SchroederCoordenação editorial, edição e texto final: Ivia Maksud e Veriano Terto Jr.Fotos: Ivia Maksud, Joana Schroeder, Luciana Kamel e Tatiana MoreiraDesenhos: Companhia da SaúdeProjeto Gráfico: Cecilia Leal/ Conexão Gravatá Ltda.Copydesk e revisão: Cláudio OliveiraConsultoria editorial: Maria Cristina Pimenta, Veriano Terto Jr., Ivia Maksud, Juan CarlosRaxach, José Marmo da Silva, Silvana Moreira, Luciana Kamel e Cecilia Leal

Coordenador do projeto Companhia da Saúde: José Marmo da SilvaEducadora e produtora da Companhia da Saúde: Silvana MoreiraElenco da Companhia da Saúde: Alex Moreira, Alex Vilela, Diogo Martins, LorenaGabriel, Guanicéia Alves, Rafaella de Paula, Rodnei Ferreira, Roger Oliveira, Joyce da Mota,Pollyana da Silva Santana, Phelipe Alan de Oliveira.Parceria: Secretaria Municipal de Educação de São João de Meriti/Coordenadoria deEnsino e Divisão de Orientação Educacional

Apoio:

É permitida a reprodução total ou parcial do texto desta publicação,desde que citada a fonte e a autoria.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

C444Chegou levantando a poeira! : notas sobre as apresentações da Companhia da Saúde em escolas da Baixada Fluminense / [coordenação José Marmo da Silva... et al.]. - 1.ed. - Rio de Janeiro : ABIA, 2008. il. - (Coleção ABIA. Cidadania e direitos ; 2)

Anexo ISBN 978-85-88684-36-2

1. Companhia da Saúde (Projeto teatral). 2. AIDS (Doença) - Prevenção. 3. AIDS (Doença) - Teatro.4. Educação sexual para a juventude. 5. Sexo seguro para prevenção da AIDS. 6. Jovens - São João deMeriti (RJ) - Condições sociais. I. Silva, José Marmo da. II. Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS.III. Série.

08-2499. CDD: 613.951 CDU: 613.888.1-053.6

18.06.08 20.06.08 007244

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Apresentação ............................................................................. 6

A Companhia da Saúde ............................................................. 8

O contexto sócio-cultural dos jovens ........................................... 9

“Aprendizado da sexualidade nas escolas” ................................... 12

Questões de gênero .................................................................... 15

O que os jovens querem saber? ................................................... 17

Temas que as escolas poderiam trabalhar: .............................. 21Homofobia ................................................................................... 21Racismo ....................................................................................... 21Religião .................................................................................... 22

Outras apresentações da Companhia da Saúde ........................... 24

Considerações finais ................................................................... 28

Notas ..................................................................................... 30

Anexo: Esquete “Prevenção é a Solução” ................................... 32

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Desde o início da epidemia, 15.738 jovens brasileiros morreram emdecorrência da AIDS. Atualmente, o controle da epidemia de HIV/AIDS entre jovens tem se estabelecido como um dos desafios e esforçosde prevenção no Brasil. Dados do Boletim Epidemiológico doMinistério da Saúde indicam que, no período de 2000 a 2006, foramnotificados 19.793 casos nesta população. O Programa Nacional deDST/AIDS destacou recentemente que o número de casos vemcrescendo entre jovens de 13 a 24 anos. A partir de 1998, houve inversãoda razão de sexo dos casos de AIDS entre jovens de 13 a 19 anos.Atualmente, são seis homens para cada dez mulheres. Entre jovensde 20 a 24 anos, a taxa de incidência é de 15,7/100.000 hab. entrehomens e 15,3/100.000 hab. em mulheres.1

Conforme os dados oficiais, verifica-se um aumento de casos nacategoria de exposição transmissão sexual. Entre jovens do sexomasculino, há um discreto aumento nas subcategorias homo/bissexuais, e entre jovens do sexo feminino, predomínio de casos detransmissão heterossexual. Nos dois casos, há uma diminuiçãoproporcional dos casos por uso de drogas injetáveis.2 Tais dadosevidenciam a urgência do debate franco e aberto sobre DST/AIDS entrejovens.

A situação se complexifica ainda mais quando se observam astendências gerais da epidemia de AIDS no Brasil, com destaque parao quadro de pauperização e aumento de casos entre pretos e pardos.3

Tendo como contexto este panorama sócio-epidemiológico, aCompanhia da Saúde — projeto teatral de disseminação deinformações sobre prevenção das DST/AIDS formado por jovens —vem realizando uma série de intervenções no cenário carioca. Numade suas apresentações, dirigida a 80 formandos orientadoreseducacionais da Baixada Fluminense, a Companhia da Saúde foiconvidada a realizar uma parceria com a Secretaria Municipal deEducação de São João de Meriti, através da Coordenadoria de Ensinoe Divisão de Orientação Educacional. A referida parceria consistiu

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numa série de apresentações teatrais a alunos de várias escolas domunicípio de São João de Meriti ao longo do ano 2007.

Esta experiência trouxe uma série de dados interessantes equestionamentos pertinentes quanto à relação dos jovens com aepidemia de HIV/AIDS. O papel da Companhia da Saúde nessas escolas,longe de encerrar-se na comunicação – via esquete “Prevenção é aSolução” – de uma mensagem de prevenção, esclarecimento esolidariedade, levantou vários pontos de debate, tensão e polêmica nointerior desses espaços.

Neste número especial da Coleção ABIA, destacamos algumasquestões pungentes para o entendimento do universo dos jovens e dasvulnerabilidades desta população à infecção pelo HIV/AIDS. O contextode pauperização, o idioma de gênero, as complexas relações entre alunos,professores e pais, o espaço da escola como cerceador ou reprodutor deconversas sobre sexo e sexualidade, a homofobia, a diversidade religiosae o racismo estão dentre os temas que nos chamaram atenção no processode intervenção. Cenas e situações cotidianas que acreditamos seremválidas para os jovens e para aqueles que realizam trabalhos de prevençãocom jovens.

Uma boa leitura a todos!

José Marmo da Silva

Silvana Moreira

Veriano Terto Jr.

Maria Cristina Pimenta

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Desde 2006, jovens com idadesentre 13 e 27 anos formam aCompanhia da Saúde, um grupo deadolescentes que utiliza roupascoloridas, pernas de pau, técnicascircenses e de teatro de rua, percussãoe dança para apresentar, de maneirairônica e divertida, a importância dos

cuidados que todos devem ter com a saúde.Em suas apresentações, o grupo provoca a platéia a participar

do espetáculo e com muita sensibilidade repassa informações sobreas formas de infecção pelo HIV, assim como estimula a solidariedadee o respeito aos direitos das pessoas soropositivas.

Os jovens encontram-se três vezes por semana na sede da ABIApara ensaiar e discutir temas que possibilitem sua atuação em cena eo repasse de informações atuais sobre a epidemia. A tarefa não é fácil,mas o resultado é sempre motivo de muita alegria em cena.

A entrada em cena é sempre um desafio para os jovens da Com-panhia da Saúde. O grupo já se apresentou em diferentes locais:terreiros de candomblé, terminais rodoviários, escolas públicas,serviços de saúde, praças, fábricas, ruas, etc.

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Em 2007 a Companhiada Saúde realizou uma sériede apresentações do esquete“Prevenção é a Solução” emescolas da Baixada Flumi-nense. Estas intervençõesocorreram no âmbito de umaparceria realizada entre a As-sociação Brasileira Interdis-ciplinar de AIDS (ABIA) e aSecretaria Municipal de Educação de São João de Meriti, através daCoordenadoria de Ensino e Divisão de Orientação Educacional.

As exposições do esquete aconteceram nos seguintes bairrosdo município de São João de Meriti: Centro, Vila Tiradentes, São JoãoBosco, Jardim Botânico, Tomazinho, Vilar dos Telles (duas escolas),Vila Rosali e Jardim Sumaré.

Um olhar preliminar sobre a população em questão é impres-cindível: quem são os jovens que assistiram as apresentações daCompanhia da Saúde?

São João de Meriti é um município da Baixada Fluminense doRio de Janeiro. Parte da Região Metropolitana do Estado do Rio deJaneiro, a Baixada é formada por um conjunto de 13 municípios, nosquais residem aproximadamente 3,5 milhões de pessoas. A região éreconhecida pela concentração de pobreza urbana, aliada a déficitsde infra-estrutura e à carência de políticas públicas eficazes. Os mu-nicípios da região que se localizam mais próximos à cidade do Rio

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de Janeiro, como é o casode São João de Meriti,apresentam elevadas ta-xas de densidade demo-gráfica.4

Segundo Farias(2005), uma característi-ca peculiar da populaçãoda Baixada Fluminense ésua distribuição segun-do cor/raça, observando-se o predomínio de indivíduos que se declaram “pretos” ou “pardos”.No conjunto, 56,6% desta população declara-se desta cor, contra 40,2%na capital.5

Os serviços são responsáveis pela maior parte dos empregos for-mais, setor seguido pelo comércio e pela administração pública.6 Emrelação aos indicadores de saúde, dados mostram que no Estado do Riode Janeiro, para o ano 2001, havia uma taxa de mortalidade infantil de18,25 mortes para cada 1000 nascidos vivos. Na Baixada Fluminense,esta taxa situava-se entre 21mil e 25 mil.7 Outro ponto a ser lembradosão as péssimas condições de saneamento, um dos mais graves proble-mas da Baixada Fluminense.8

As ruas em que estavam localizadas as escolas caracterizavam-secomo áreas bastante empobrecidas, algumas com traços de fortepauperização. Eram em sua maioria zonas residenciais assistidas porpequenos comércios de cunho familiar como bares e biroscas. Foi co-mum identificar nas redondezas dessas escolas Igrejas Cristãs, namaioria das vezes, evangélicas. Houve dois casos de parcerias entre “es-cola e Igreja vizinha”, que serão relatados adiante.

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Os jovens, alunos dessas escolas, eram moradores das proximi-dades das escolas. Inicialmente a apresentação do esquete “Prevenção éa Solução” se dirigia aos alunos do último ano do Ciclo 2 (antiga 5ªsérie) e todos os do Ciclo 3 (antigas 6ª, 7ª e 8ª séries), contemplandojovens que teriam entre onze e quinze anos. No entanto, por questões deincompatibilidade entre o turno em que eram ministradas as aulas paraesses alunos (geralmente noturno) e o horário das apresentações, quetinham início às 14hs, em cinco escolas a apresentação foi aberta paraalunos do 2º ano do Ciclo 2 (antiga 4ª série), já que o Ciclo 3 não estavana escola. Portanto, o público espectador do esquete foi formado porjovens que tinham entre nove e quinze anos de idade. Ao todo, cerca de500 jovens assistiram as apresentações da Companhia da Saúde.9

A restrição de determinados alunos a assistir ao esquete — porserem jovens demais — levou a um episódio, em Vilar dos Telles, nar-rado pela diretora da escola de forma emocionada. Segundo ela, umdesses alunos mais novos, que não pôde assistir ao grupo, reclamouentristecido: “Poxa tia, boneca de pano, perna de pau e palhaço e vocêsnão deixaram a gente assistir!”. A diretora também ressaltou: “A Compa-nhia é incrível, porque trata esse assunto de uma forma lúdica, divertidae sutil”.

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duziu um debate entre os edu-cadores e a produtora da Com-panhia da Saúde sobre “qual se-ria a idade adequada dos jovens”para assistir ao esquete. Che-gou-se a um acordo que, nas es-colas onde havia alunos de noveanos como espectadores, a cenado “pintinho” – em que a per-sonagem Professora ilustra comum pênis de borracha o uso cor-

reto do preservativo – não seria apresentada, pois “os alunos seriamjovens demais”. Nesse sentido foram comuns questionamentos en-tre os profissionais das escolas como: falar sobre sexo com os alunosnão “daria idéia”? Traria problemas para a escola caso os alunos “con-tassem para os pais” sobre a apresentação? Os pais não ligariam ouprocurariam a escola reclamando “que seus filhos são jovens de-mais”? Seria inadequado “mostrar o pênis de borracha a crianças denove anos”?

Esses questionamentos evidenciaram uma tensão e às vezes atéresistência em abordar a temática do sexo e da sexualidade entre osjovens nas escolas. As preocupações desses profissionais vincu-lavam-se não apenas à adequação do tema aos alunos (ou apenasdeterminados alunos, de determinadas idades), mas, principalmente,à relação entre as escolas e as famílias, que poderia ser colocada emxeque.

A preocupação e dificuldade de trabalhar esse tema apareceramdesde a terceira apresentação do grupo nas escolas, quando uma dasprofissionais de educação sugeriu que não fossem mais convidados

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alunos para participar do esquete como assistentes da Professora10.Segundo ela, numa das escolas “encarnaram muito no menino porqueele segurou o pintinho e deu até briga”. Dali em diante, essa participaçãofoi feita por um dos educadores – mesmo que alunos se candidatassem.

A entrada da Companhia nessas escolas acende uma polêmicasobre a necessidade de se falar sobre sexo e sexualidade nas escolas eaponta para a dificuldade em tratar dessas questões. Seria pertinentequestionar se as escolas estão preparadas para abordar questões relativasà socialização da sexualidade com seus alunos, à medida que, a partirdas situações experienciadas pela Companhia, o tema parece ter geradovárias dúvidas e embaraços acerca de sua adequação ao ambiente escolar.

Cabe refletir qual o papel dessas instituições e desses educadoresna multiplicação de informações e no combate à epidemia de HIV/AIDS,como também no esclarecimento da prevenção às DSTs de forma geral,no amadurecimento de idéias de planejamento familiar, no enfrenta-mento de preconceitos e exclusão social, no combate ao racismo e àhomofobia e na orientação de informações sobre saúde e sexualidadepara esses tantos jovens.

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A reação dos alunosdurante a apresentação doesquete demonstra o quantoo tema da sexualidade, men-cionado anteriormente, épouco conversado, debatidoe esclarecido no espaço es-colar. Trata-se de um assun-to impregnado por muitostabus.

As respostas mais comuns dos jovens à apresentação da Com-panhia expressavam vergonha e timidez. Foram muitos os risinhosconstrangidos, cochichos no ouvido (em geral entre meninas), e,ainda que menos comuns, reações expansivas como gargalhadas(sobretudo entre meninos), que pareciam também surgir por nervo-sismo ou talvez pela intenção de demonstrar “estar à vontade” com otema.

Cada uma das apresentações trouxe elementos singulares dainteração entre os alunos e os jovens atores da Companhia da Saúde.Muitos desses aspectos indicavam diferenças entre comportamen-tos de meninos e meninas, apontando para diferentes configuraçõesde relações de gênero.

A diferença de comportamento de meninos e meninas tambémaparecia na forma como os mesmos se organizavam no espaço daplatéia. Os alunos tendiam a se sentar em pequenos grupos de ami-gos. Esses grupos tinham de dois a seis alunos, geralmente do mes-mo sexo. Raramente os estudantes sentavam-se sozinhos. Em algu-mas escolas foi possível notar a concentração de vários grupos demeninos e de meninas, o que criava um mosaico de agrupamentosno espaço. Em outras instituições, a interação entre estudantes de

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sexos diferentes parecia maior. Para todas as apresentações, foram orga-nizadas colunas com fileiras de cadeiras. À sua frente, criou-se umespaço retangular, dividindo-se o espaço cênico entre palco e platéia,como ocorre em um “palco italiano”.

Além dos grupos de meninos e meninas na platéia estabeleceremuma relação de comunicação interna própria, suas reações à apresenta-ção também se davam de forma muito diversa de acordo com o gênero.Muitas vezes meninos e meninas riam de coisas diferentes. Alguns des-ses momentos repetiram-se em diversas apresentações. Como, por exem-plo, no início do esquete: quando as caixas, o tambor e o surdo chega-ram ao pátio “levantando a poeira”, em muitas escolas os meninos agi-tavam-se batucando em suas mesas, enquanto as meninas se entreolha-vam, murmuravam entre si e riam disfarçadamente com as mãos es-condendo os risos e os cochichos.

A timidez dos jovens diante do tema da sexualidade se revelava nacena da Professora, quando perguntava: “Ereto quer dizer...?”. De ummodo geral, pouquíssimos alunos respondiam: “Duro”. Risos e garga-lhadas eram muito comuns. Em várias escolas, os meninos pareciammais constrangidos que as meninas em responder à pergunta. Certa vezum menino disse: “Que isso?!”, rindo, depois que o grupo respondeu:“Duro”.

No entanto eram as meninasquem demonstravam mais vergo-nha e constrangimento diante do“pintinho”, um pênis de borrachautilizado na cena de demonstraçãodo uso correto do preservativo. Ou-tro elemento destacável desta cenafoi que em apenas uma escola ummenino teve um preservativo paraoferecer à Professora.

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Cena 3: Os atores alinham-se e vi-ram-se de costas para o público.Cada um dos componentes daCompanhia faz uma pergunta,voltando-se para o público e, emseguida, retornando à posição de costas:

Você sabe como se pega o vírus HIV?Você sabe o que são doenças sexualmente transmissíveis?Você sabe o que é sexo seguro?Você negocia o uso da camisinha com o seu parceiro ou suaparceira?Você conhece camisinha feminina?Homossexualidade é doença?Mulher também pega AIDS?O uso da camisinha tira o prazer?O uso da camisinha impede a gravidez?Você costuma dar apoio às pessoas soropositivas?

Inicia-se o esquete. Ao seu fim, depois de vinte e cinco minutos,abre-se um espaço para perguntas. No entanto em apenas duas escolasapareceram questões, além daquelas já abordadas na apresentação. Éimportante destacar que nestas houve um estímulo mais significativopor parte dos educadores, que frisaram que o assunto seria “matériade aulas de ciências”. De modo que, também por isso, os alunosdeveriam estar atentos e aproveitar para tirar dúvidas. Uma série de

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perguntas foi feita, por diversos alunos, sendo interessante destacarque havia uma espécie de “ordem” entre perguntas feitas por meninos e,em seguida, por meninas. Numa das escolas a orientadora educacionaldisse aos alunos: “(...) Vocês vão se comportar como mocinhas e rapazes,e ficar atentos às informações para aprender cada vez mais. Ninguémsabe tudo. (...) No final vocês vão poder fazer perguntas e não devem tervergonha de fazê-las (...) Se vocês ficarem falando durante a apresentação,vocês não vão entender o que ela quer passar. O grupo que vai se apresentaraqui agora vai falar sobre saúde e prevenção à DST e AIDS. Vocês vãoprestar atenção e depois, cada professor em sala vai trabalhar o tema comvocês”. Ao final ela perguntou: “Tem alguém que não quer assistir? Setiver, pode sair”.

Já os meninos, queriam saber se...

“A camisinha avisa quando pode engravidar?” “A partir de que idade pode usar camisinha?” 14

“O que é DST?” 15

“Beijo na boca também pode transmitir o HIV?” 16

Abaixo, algumas perguntas feitas por meninas:

“Eu queria saber se a camisinha usada mais de uma vez fazefeito?”“Com quantos anos uma pessoa pode engravidar?” 11

“Perder a virgindade muito cedo faz mal à saúde?” 12

“Há risco de uma mãe passar para o filho o vírus HIV?” 13

“Como é que funciona uma camisinha feminina?”

Nos momentos de perguntas e respostas, os jovens da ABIApuderam se aproximar daquilo que aqueles alunos realmentecompreenderam ou não do seu trabalho: das questões que o tema dasexualidade, DST e AIDS despertaram ou reforçaram nas apresentações.

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Ao mesmo tempo em que pareceu haver pouco esclarecimento eespaço para discussão de questões sobre sexo e sexualidade nas esco-las, esse tema revelou-se como demasiadamente importante para essesjovens. Foram muito comuns elogios ao trabalho da Companhia daSaúde por parte dos técnicos e educadores das escolas, que demonstra-vam admiração e encantamento com o grupo.

A diretora e a orientadora pedagógica de uma das escolas, ao elogi-arem o trabalho da Companhia da Saúde, ressaltaram o quanto a temáticada sexualidade e do HIV/AIDS era importante para os jovens. Numainstituição, uma das alunas havia realizado um aborto e o tema foi dis-cutido ao final da apresentação da Companhia. Segundo contaram, umaborto foi realizado por uma aluna da escola. Tal fato gerou opiniõesdiferentes e controversas entre os presentes. O ato de realização do abor-to pela aluna, naquela escola, foi associado ao seu comportamento pes-soal, quando várias questões estruturais estão em jogo e poderiam serabordadas pelos educadores. Dessa forma, é possível trabalhar numaoutra ótica, que não a do desvio, e entender os fatores sócio-culturais

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presentes na história, bem como as motivações individuais e, por ulti-mo, a importância das escolas trabalharem conteúdo de saúde e direitossexuais e reprodutivos. Para voltar à aluna que deu origem à discussão,notamos sua vontade em interagir com o grupo. Gargalhava, comentavae respondia as falas dos atores em voz alta. Ao final da apresentação,estava completamente integrada e absorvida. A menina saiu do pátio daescola dançando e cantando a última música: “É de perna de pau, cami-sinha não faz mal. É de perna de pau, prevenção é bem legal”. Tal fatodemonstra o quanto os jovens estão abertos ao diálogo sobre tais temas.

Esse caso serviu para pontuar o quanto assuntos como iniciaçãosexual, gravidez na adolescência, uso do preservativo e aborto — temasda saúde sexual e reprodutiva — fazem parte do universo dos jovens.Foi uma experiência incrível para a Companhia da Saúde.

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HHHHHomofomofomofomofomofobiobiobiobiobiaaaaaUma observação pode ser feita sobre a terceira cena do esquete

“Prevenção é a Solução”, em que os atores dirigem ao público apergunta: “Homossexualidade é doença?” 17. Foi muito comum queesse momento provocasse risos e murmurinhos entre os alunos(principalmente meninos), em várias escolas. Numa delas, ummenino respondeu: “ É ”, em alto tom de voz, gerando gargalhadasentre seus colegas. Em outra escola, ao final da apresentação, umgrupo de meninos, ao passar por um dos atores (19) da Companhia,rindo, disse: “Essa coca-cola é fanta”, de forma provocativa edebochada.

Os olhares, risos e comentários sobre homossexualidaderevelam que existe um forte preconceito nas escolas. Muitas vezes, osprofessores não sabem como lidar com o tema.

RRRRRaaaaacismocismocismocismocismoO racismo é mais um tema passível de discussão, a partir da

experiência da Companhia da Saúde nas escolas do município de

TTTTTemememememas quas quas quas quas que as ee as ee as ee as ee as escolasscolasscolasscolasscolas podepodepodepodepoderiri riririam tr

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São João de Meriti. Apesar de seus alunos conformarem uma populaçãopredominantemente afro-descendente, não havia em qualquer dasescolas visitadas um trabalho em torno da conscientização e/ou afirmaçãoétnico-racial. Além disso, em alguns colégios, a observação de desenhosde alunos pregados nas paredes das salas e corredores revela que eles“se desenham brancos”. A educadora e produtora da Companhia daSaúde chamou a atenção de algumas educadoras para este fato, o queevidenciou ainda mais a inexistência de um olhar acerca dessas questões,visto que as educadoras concordaram com ela, dizendo: “É verdade, nãotinha percebido isso”.

R e l i g i ã oR e l i g i ã oR e l i g i ã oR e l i g i ã oR e l i g i ã oDado o grande número de igrejas nos arredores dessas escolas e a

forte cultura religiosa que caracteriza essas comunidades da BaixadaFluminense, é imprescindível chamar a atenção para aspectos de religi-osidade. Apesar de não ter sido observado nenhum discurso religiosoentre os alunos nos momentos da apresentação, certamente há referên-cias religiosas que emolduram o imaginário dos jovens. 18

Apesar de serem públicas e estarem sob uma administração laica,a observação nos mostra que, no cotidiano há ligações entre as escolas ealgumas igrejas vizinhas. Em frente a uma das escolas, por exemplo,havia uma Igreja Batista cujo cartaz informava “Buscando Intimidadecom Deus”. Nesta escola, alunos do ciclo 2 não puderam assistir aoesquete justamente porque seus alunos estavam em uma palestra sobremeio-ambiente que acontecia naquela Igreja.

Em outro bairro, uma das escolas estava em obras e, por isso, divi-dia espaço com uma igreja, também Batista. A parceria com a IgrejaBatista possibilitou que a escola mantivesse suas atividades normais,durante todo o período da obra. A própria apresentação da Companhiada Saúde aconteceu nesta Igreja. A diretora da escola informou que oespaço da igreja foi concedido à escola pela prefeitura de São João deMeriti e teria sido o único espaço disponível para abrigar a escola du-rante o longo período de obras: “A prefeitura alugou o espaço da Igreja

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para realizar a obra”. Ela demonstrou que ini-cialmente houve bastante preocupação com oprocesso de adaptação da escola naquele es-paço: “A gente já tinha tido outra parceria comuma outra igreja, mas não assim, de dividir oespaço. A gente ficou assustado, tanto nósquanto eles (se referindo às pessoas da igre-ja), de vir aqui para a igreja”. Mas para a sur-presa de todos, segundo ela: “Os alunos estãonota dez! O entrosamento está dez!”. Disse tam-bém que convívio e o relacionamento estãoótimos, que os alunos estão de parabéns: “Osproblemas de barulho têm sido da parte da igre-ja, não dos alunos. A igreja está surpresa com o comportamento e aorganização dos alunos e da escola”. A diretora ressaltou tambémque a participação dos funcionários e da comunidade foi funda-mental nesse processo: “A equipe da escola, professores, funcionáriosé dez! A comunidade é muito boa, muito participativa, é uma família”,acrescentando que ela mesma está na escola há mais de 20 anos.

O maior problema que estariam enfrentando seria a questãodas salas: “A dificuldade maior são as salas, são metade do tamanhodas da escola. Todos estão colaborando”. São ministradas as noveséries da formação dos Ciclos 1, 2 e 3, divididas em dois turnos:manhã e noite. No turno da manhã, são oferecidas aulas do Ciclo 1 e2 ( que equivaleria ao período do CA a 5ª série), no turno da noiteCiclo 3 (antigas 6ª, 7ª e 8ª séries), além do supletivo. Durante a sema-na os cultos da Igreja só acontecem à noite.

Para esta apresentação havia um total de 84 espectadores entrealunos e educadores. Mas, ao contrário do que poderia ter aconteci-do, não foi possível identificar nenhuma pessoa da Igreja que tives-se assistido ao esquete. Também é importante assinalar que nãohouve transtorno em levar a apresentação para o interior da igreja.

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Durante os meses em que a Companhia da Saúde realizou aparceria com as escolas da rede municipal de São João de Meriti, nãodeixaram de ocorrer outros convites e parcerias, como a apresentaçãono núcleo de Circo Social para as comunidades de baixa renda doBairro de Cosme Velho, na Zona Sul, em parceria com a ONG “Se essarua fosse minha”; a primeira apresentação do esquete “Racismo naSaúde” na livraria Kitabu, na ocasião do lançamento da Cartilha doQuilombo da Marambaia; e duas apresentações em CRIAMs (Centrosde Reintegração do Menor Infrator), uma no CRIAM de Caxias, queatende à população masculina, com o esquete “Prevenção é aSolução”, e outra no CRIAM de Ricardo de Albuquerque, que atendeà população feminina, com o esquete “Racismo na Saúde”.

A apresentação no CRIAM de Caxias se destacou pois, apesar detrabalhar o mesmo esquete que estava sendo encenado nas escolas deSão João de Meriti, com um público de faixa etária próxima – menoresde 18 anos – a experiência nesta instituição foi muito diferente.

Havia uma seriedade no semblante desses jovens que se man-teve por quase todo o esquete, desmanchando-se brevemente em

CompCompCompCompCompanhianhianhianhianhia da da da da da Sa Sa Sa Sa Saúde em 2007aúde em 2007aúde em 2007aúde em 2007aúde em 2007Ou

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momentos específicos que serão apontados em seguida. Diferentemen-te das apresentações nas escolas, que eram recheadas por risos e garga-lhadas, marcadas pela timidez e pela descontração, a apresentação noCRIAM tirou poucos risos e pouca reação dos adolescentes.

A região caracteriza-se como predominantemente residencial e bas-tante pauperizada. O alto muro que circundava o espaço da instituiçãofoi comentado pela diretora: “Esse é um CRIAM de alta segurança. Aidéia dos CRIAMs é não terem muros altos, esse aqui tem por causa dalocalização. O CRIAM de Caxias é rodeado de bocas de fumo. Mas asgrades ficam abertas, a idéia é a reintegração com a sociedade”. Ela escla-receu também que o objetivo do CRIAM é o cumprimento da medidasócio-educativa de semi-liberdade. A idéia é re-socializar o adolescente,através da re-inserção na rede escolar, em cursos profissionalizantes,tratamento de drogas, regularização da documentação, alistamento mi-litar. Ou mesmo através do encaminhamento para programas de pri-meiro emprego como o “Jovem Aprendiz”, da Petrobrás.

Ao contrário de como ocorreu nas escolas, a abertura do esquete,com os atores cantando e dançando, provocou contidos risos. Poucosbateram palmas na entrada do personagem Adalberto, apesar dele pedir

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e puxar as palmas. Cinco garotos mantiveram os braços cruzados du-rante quase toda a apresentação. Poucas e breves risadas foram dirigidasà boneca Cidiléa na cena de Adalberto, ao contrário do que normalmenteacontecia com jovens das demais escolas.

Surpreendentemente, a pergunta: “Homossexualidade é doença?”,da terceira cena, foi um dos ápices do esquete, um dos únicos momen-tos em que os risos efetivamente contagiaram a maioria, sugerindo anecessidade de trabalhar o tema da homofobia nestas instituições.

Uma questão de gênero interessante foi quando um dos atores(18) da Companhia entrou em cena como o Assistente nº 11, dizendo“Boa Tarde”, os jovens praticamente não o responderam. No entanto,quando a atriz (15) que fazia a Professora cumprimentou a platéia, qua-se todos a responderam. Um dos jovens disse: “Oi, você é uma graça”.Nesta hora, alguns sorrisos se esboçaram. Como ninguém se voluntarioupara ser assistente da Professora, na quarta cena, a atriz, de olhos fecha-dos, escolheu um dos espectadores e tentou trazê-lo para a cena. Depoisde muita resistência o jovem se levantou. Mas quando pediu para segu-rar o “pintinho”, ele se recusou, voltando a sentar-se em seu lugar. Estacena parece ter sido a que mais mexeu com os meninos, sendo a únicaem que gargalhadas se manifestaram. Foi preciso que a orientadora pe-dagógica do CRIAM fosse à frente da cena para que esta tivesse conti-nuidade. Quando ela segurou o pênis de borracha um dos meninos, aosrisos, disse: “Ih! A lá a coroa!”. Ainda nesta cena, quando a Professorainterrogou: “Ereto quer dizer o que?”, revelou-se um dos poucos mo-mentos em que a maioria dos jovens interagiu com o esquete, respon-dendo: “Duro!”.

Outro episódio surpreendente dessa apresentação foi que, apesardo pouco envolvimento desses jovens com o esquete, ao final, quando acoordenadora da Companhia da Saúde abriu espaço para perguntas,um deles expôs uma dúvida: “O que significa HIV?”. Foi a coordenado-ra quem respondeu: “Síndrome da Imunodeficiência Adquira”, expli-cando que a sigla vem do inglês. “E por que é adquirida?”, continuou:“Porque não é genética, então é adquirida”.

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Apesar dos aplausos mornos, a saída da Companhia da Saúdedesse serviço foi coroada pelos muitos meninos que fizeram questãode ir até os atores, cumprimentá-los: “Tchau, voltem sempre.” Um dissepara o grupo: “Vocês precisam vir mais vezes”. Outro gritou de longe:“Eu vou entrar pro teatro. Vou parar de roubar.”

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Em duas escolas, os atores da Companhia da Saúde vivenciaramuma situação sui generis: foram cercados por alunos que, com cader-nos e canetas nas mãos, pediram autógrafos dos atores.

Através de seu trabalho, a Companhia da Saúde vem conse-guindo estabelecer um diálogo concreto com os jovens. Através demetodologia de trabalho criativa e original, incita a participação dosjovens, permitindo que exteriorizem suas dúvidas. Essa atmosfera,na qual se desenvolve o diálogo e o debate, propicia o esclarecimentode dúvidas, de forma lúdica. Ao trazer o público para dentro da cena,desconstrói-se uma função expectadora, passiva, e estimulam-se atroca e o desenvolvimento coletivo das idéias.

E esta história continua a ser escrita...

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“A AIDS é uma doença grave que deve serlevada a sério. A AIDS não dá trégua.”

Rodnei Ferreira (ator da Companhia da Saúde, 17 anos)

“Estou passando as informaçõespara as pessoas que eu conheço

da minha comunidade.” Céia Alves (atriz da Companhia da Saúde, 18 anos)

“É um trabalho importante porque é sobreprevenção, é importante

estar passando isso pros jovens.”Roger Oliveira (ator da Companhia da Saúde, 15 anos)

“Somos de comunidades carentes,a gente aprende aqui e passa adiante,

é a multiplicação da informação.”Léa Damião (atriz da Companhia da Saúde, 27 anos)

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s 1 Brasil. Boletim Epidemiológico DST/AIDS. Ano IV, no 01. 27ª à 52ª semanasepidemiológicas – julho a dezembro de2006. 01 à 26ª semanas epidemiológicas –janeiro a junho de 2007. Brasília, Ministé-rio da Saúde, dezembro de 2007. p.6.

2 Idem. p.6.

3 “ A análise dos dados de raça/cor (...)apresenta limitações em razão dopercentual de ignorados, que,no entanto,vem diminuindo gradativamente. Obser-va-se queda da razão entre brancos: pre-tos e pardos mais pronunciada entre mu-lheres (de 1,6:1 em 2001 para 1,1:1 em2006)” (Id. p. 13).

4 Farias, LO. Diagnóstico das condiçõessócio-economicas e da gestão publica dosmunicípios da Baixada Fluminense. Mi-nistério do Desenvolvimento Social eCombate à Fome. Secretaria de Avaliaçãoe Gestão da Informação. Departamento deAvaliação e Monitoramento. Rio de Janei-ro e Brasília, 2005.

5 Id. p.15.

6 Id.p.21.

7 Id.p.25.

8 Id. p.27-28.

9 Farias destaca, em relação à educação ecultura, que o desempenho dos municí-pios da Baixada Fluminense mostra-seinferior à capital e, em muitos casos, àsmédias observadas para o estado comoum todo. No âmbito da cultura, existempoucas opções para os moradores da re-gião. De 223 bibliotecas existentes no es-tado, apenas 11 encontram-se na BaixadaFluminense (Farias, 2005, p. 29-30).

10 Durante a quarta cena do esquete a per-sonagem Professora pergunta ao públicose alguém teria um preservativo. Aoentregá-lo, ela convida o aluno a ser seu“assistente por um dia; sem vergonha, semmedo, sem preconceito”. Quando nenhum

aluno tem um preservativo, a Professora re-tira um de seu próprio bolso, dizendo: “Játenho um preservativo, mas continuo precisan-do de um assistente. Alguém se habilita?”. Nosdois casos, caso o espectador aceite, ela con-tinua: “Como é o seu nome? (Espera a respos-ta). Uma salva de palmas para ....(fala o nomeda pessoa)! Eu vou te pedir pra você seguraresse (retira um pênis ereto de borracha do bolsode seu jaleco) pintinho aqui pra mim!”. O pê-nis de borracha é utilizado para fazer umademonstração do uso correto do preservati-vo. Essa cena se revelou como o momento demaior graça, descontração e proximidadeentre o grupo e os espectadores.

11 Essa pergunta foi respondida por uma dasatrizes (15) que disse “A partir de quando elapassa a menstruar”. No entanto, a orientadoraeducacional da escola, aproximando-se dosalunos, chamou a atenção para outros aspec-tos relativos ao cuidado com o corpo e com asaúde e expressando também o papel daescola e da família na prevenção de gravide-zes não planejadas: “para evitar que coisaspossam acontecer por falta de orientação”, “cadaum tem seu tempo” para começar a ter rela-ções sexuais; “não é porque agora que estãomais informados sobre sexo seguro, que issosignifica que estão prontos para iniciar a vidasexual”; “a gravidez deve ser algo planejado econsciente, para que aconteça quando a mu-lher já estiver pronta. Ressaltou que criar eeducar uma criança é algo que envolve muitaresponsabilidade e maturidade. Concluiudizendo que: “ninguém deve ter pressa comrelação a isso, porque tudo tem seu tem-po”.

12 A orientadora educacional da escola in-formou aos alunos que eles “estão aprenden-do a lidar com o corpo, para terem todo o cuida-do possível”. “Perder a virgindade cedo podefazer mal à saúde dependendo da forma como amenina decidir se prevenir: se será com pre-servativo e/ou com anticoncepcional. Quan-do se toma o hormônio como método anticon-cepcional isso mexe muito com o corpo da pes-soa, o que pode não ser muito bom para a saú-de”.

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13 Os jovens da Companhia responderam quesim, sendo complementados pela coordena-dora educional do grupo: “Sim, se ela estivercontaminada. Há risco durante a gestação, noparto e na amamentação.”

14 A orientadora educacional da escola in-formou que “não existe idade certa para come-çar a vida sexual, mas que uma vez que se ini-cie deve-se usar preservativo para prevenir tan-to doenças quanto gravidez” e que os jovens“não devem ter pressa com relação a isso”.

15 Atores da Companhia e a orientadora edu-cacional da escola informaram que “são asdoenças que se transmitem através da relaçãosexual”, fornecendo alguns exemplos. Aorientadora educacional finalizou dizendo:“é muito importante se prevenir porque algu-mas dessas doenças podem inclusive levar amorte”. Acrescentou que os alunos estudari-am mais sobre essas doenças posteriormen-te, em sala de aula.

16 Os atores da Companhia da Saúderesponderam juntos que “não, só relaçõessexuais sem o uso do preservativo”.

17 Seria possível acrescentar que, apesardessa pergunta não ter provocado riso emtodas as escolas, não houve uma escolasequer que ela tenha passado sem provocaragitação entre os alunos.

18 Farias (2005) destaca que, do ponto de vis-ta das políticas públicas, dados sobre reli-gião são supra-importantes à medida que afiliação religiosa é um meio de inserção emdeterminadas redes de solidariedade comalta capilaridade. Nos municípios da Baixa-da Fluminense, o autor destacou a existên-cia dessas redes estruturadas pelas igrejasevangélicas, potenciais fontes de capital so-cial (Farias, 2005, p.16).

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Esquete P P P P Prrrrreeeeevenção é a Soluçãovenção é a Soluçãovenção é a Soluçãovenção é a Soluçãovenção é a Solução

A Companhia entra em cortejo, tocando, cantando e dançando:

“Chegou, chegou!

Chegou levantando a poeira!

Chegou, chegou!

Chegou levantando a poeira!

São os jovens da ABIA

começando a brincadeira!

São os jovens da ABIA

começando a brincadeira!”

Cena 1

Menino 1: Vestido de gari ou entra com uma vassoura na mão, varrendoe cantando, ou entra dançando com a boneca Cidiléa. Num determinadomomento pára, olha para o público.

AnAnAnAn Aneeee e x

oxoxoxo xo

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Menino 1 – Ah, eu nasci para ser artista, para brilhar nos palcos, no cinema,na televisão, mas esse pessoal da Companhia só quer me colocar vestidode gari e me pôr varrendo chão. Hoje eu não quero nem saber, hoje émeu dia de glória! Senhoras e senhores, meninos e meninas, a Companhiada Saúde tem o prazer de apresentar: a história de amor mais linda desseplaneta, a história de Adalberto. Foi em uma noite de lua cheia em queos corações palpitam e a gente sente aquele tremor no corpo.

Menina 1 – Pôde parando com essa tremedeira que quem tem quecontar essa história sou eu, eu que vi tudo com esses olhos que a terranão há de comer tão cedo. Vou contar tudinho para vocês (se dirigindoao público), porque eu fui com a cara de vocês, não é por maldade não,porque eu não sou fofoqueira...

Menino 1 – Ahhh, num é fofoqueira, tá bom, você tava era tomandoconta da vida dos outros!

Menina 1 – Que fofoqueira que nada! Você só está querendo é roubarminha cena! Já varreu tudo? Vá, vá, vê se te enxerga.

Menino 1 – Tá vendo como esse pessoal é? Eu tava aqui fazendo esseshow maravilhoso pra vocês e ninguém reconhece...

Os outros atores da Companhia – Ihhhhh....sai, sai....

Menina 1 – Sai logo porque o espetáculo tem que começar. Enfim, foiassim que tudo aconteceu.

Cena 2

Entra o malandro Adalberto dançando. A percussão oacompanha com um sambinha.

Ao mesmo tempo entra a Menina 2 com a boneca Cidiléa.Ou elas ficam sentadas uma ao lado da outra em duascadeiras que já estão em cena, ou ficam em pé com aatriz segurando a boneca. A Menina 2 age como seestivesse conversando com Cidiléa.

Adalberto (olhando para as duas) – Malandro, vou me darbem. Que avião! É hoje que eu vou esquentar as turbinase descolar nesse DC-10 da Air Senegal (ou seráCompanhia Aérea de Moçambique?). Tanto faz, o que euquero mesmo é aproveitar essa noite.

Entra Menina 3, funcionando como a consciência.

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Menina 3 – Não é possível, eu não estou acreditando no que estou vendo.Eu acho que esse homem endoidou, só porque viu uma mulher linda,maravilhosa e sozinha na festa, já acha que ela está dando sopa. Eu nãosou nem um pouco curiosa, mas vou ficar na espreita, quero ver ondeisso vai chegar.

Adalberto (se dirigindo para a Menina 2 e a boneca Cidiléa) – Você medaria a honra de uma dança?

Menina 2 (vira-se para ele entusiasmada) – Mas é claro!

Adalberto – Não me leva a mal não colega, mas eu to falando com a suaamiga ali.

O restante da Trupe – Iaêêêê

Menina 2 entrega Cidiléa a Adalberto e sai de cena aos berros com umchoro tragicômico.

Adalberto (falando com Cidiléa) – Que isso minha jaboticabinha? Não sefaça de rogada e vem dançar comigo. Ah! Já sei quer saber quem eu sou.Nós não fomos apresentados ainda, mas meu nome é Adalberto. E o seuminha flor? (Faz como se estivesse a ouvindo falar) Cidiléa!!! Nome bonitoinspira poesia, meu azeite de dendê.

Menina 3 – Há! Há! Ora vejam só, primeiro ele começa por chamá-la de“jaboticabinha” e logo depois, “Cidiléa inspira poesia”. Prá mim inspiraoutra coisa. Isso está me cheirando à acarajé (ou será moqueca?). Mastem tempero baiano nesse azeite de dendê. Eu já estou ficando nervosa.Parece que eu já sei onde isso vai chegar.

Adalberto (conversando com Cidiléa) – E aí minha flor, vamos fazer umprograminha hoje no final da noite? Jantar juntos e ver um cineminhaabraçadinhos lá em casa. (Pára de falar por um instante, finge que está

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ouvindo e continua assustado) O que?!! Só se for de camisinha? Ahbobagem, eu não estou doente e você pelo visto, goza de boa saúde.Deixa disso, minha santa, eu não sou homem de chupar bala com papel!

Menina 3 – É aí que começam todos os problemas. Como é possívelnegociar o uso da camisinha com um homem como esse? Além do mais,quem é que disse que camisinha é só para prevenir doenças? Previnegravidez também.

Adalberto (continuando sua conversa com Cidiléa) – Que isso nega! Deixade fazer corpo duro. Deixa o Adalberto te dar prazer. Eu vim pro mundopra isso!

Menina 3 - Adalberto, Adalberto, me escute homem. Uma noite de prazerpode ser muito boa, mas é preciso que se tomem alguns cuidados. A suahistória parece a de milhões de brasileiros que pensam como você eacham que as coisas só acontecem com os outros.

Adalberto – Já sei o que você está falando, mas eu não saio por aí transandocom todo mundo que aparece.

Menina 3 – Tudo bem, Adalberto, mas mesmo assim você está se arriscando.Venha comigo aprender um pouco mais sobre o prazer com a Companhiada Saúde.

Todos saem de cena.

Cena 3

Os atores se alinham e viram de costas para o público. Cada um doscomponentes da Companhia faz uma pergunta se voltando para o públicoe, em seguida retorna a posição, voltando-se de costas.

1ª) Você sabe como se pega o vírus HIV?

2ª) Você sabe o que são doenças sexualmente transmissíveis?

3ª) Você sabe o que é sexo seguro?

4ª) Você negocia o uso da camisinha com o seu parceiro ou sua parceira?

5ª) Você conhece camisinha feminina?

6ª) Homossexualidade é doença?

7ª) Mulher também pega AIDS?

8ª) O uso da camisinha tira o prazer?

9ª) O uso da camisinha impede a gravidez?

10ª) Você costuma dar apoio as pessoas soropositivas?

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Todos (virando-se de frente para o público, perguntam bem alto, ao mesmotempo) – E vocês, estão se prevenindo?

Coreografia: as meninas dançam ao ritmo da percussão.

Cena 4

Ao final da coreografia todos retomam seus lugares iniciais no espaçocênico. Entra o Menino 2.

Menino 2 (falando para o público) – Bom dia! (Aguarda resposta do público.).Mais alto galera: BOM DIA! (Aguarda resposta). Hoje a Companhia da Saúdevai ensinar a vocês como fazer sexo seguro, evitando doenças sexualmentetransmissíveis, AIDS e gravidez não planejada. E com vocês: a Professora.

A Professora, vestida com um jaleco branco, entra em cena dançando,acompanhada pelo rufar dos tambores e também por um corinho dosdemais integrantes do grupo que cantam: “A Professora, a Professora, aProfessora”.

Professora – Oi gente! (Espera resposta do público). Estou vendo muitagente bonita por aqui. Como vocês já devem estar sabendo, quem vai daraula hoje não é a Secretaria da Saúde.

O restante da trupe fala ao mesmo tempo – E quem vai ser?

Professora – Sou eu!

Os tambores voltam a rufar e o corinho repete – A Professora, a Professora,a Professora.

Professora – Começarei a aula de hoje falando um pouco sobre o HIV/AIDS.

Os demais – HIV/AIDS, mas o que é isso?

Professora – O HIV é um vírus que entra no nosso organismo, nos deixandoexpostos a várias doenças.

Os demais – Entra xiiiiii....

Professora – Um exemplo disso que estou falando é quando a pessoa quetem o vírus HIV pega um simples resfriado.

O restante da trupe (indo para cima da Professora) – Atchim, atchim,atchim.

Professora (finge se limpar dos espirros) – A coisa pode ficar muito feia,mas nós da Companhia da Saúde estamos aqui para ensiná-los como sePREVENIR!

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Todos os demais gritam bem alto, fazendo umaenorme bagunça – Ehhh!

Professora – Silêncio, silêncio, pois esse assunto émuito importante. A epidemia de HIV/AIDS estáatingindo todo o planeta. E é geralmente nos paísesmais pobres ou em desenvolvimento que o estragoé maior. Atualmente, existem milhões de pessoasinfectadas com o HIV no mundo e no Brasil a doençacontinua se espalhando.

Entra menina 4 – É mesmo professora. É por isso quetodos devem se cuidar.

Os componentes da trupe, então, formam uma meialua, assistindo à cena e fazendo caras de acordo comas falas do texto.

Entra Menina 5 – Cruzes! Mas como essa doença foichegar até aqui minha gente?

Professora – Eu explico: os primeiros casos de HIV aconteceram lá naCalifórnia, nos Estados Unidos. Mas como todas as coisas ruins sãoimportadas, a doença chegou logo ao Brasil.

Menina 4 (com ar de deboche) diz: - É mesmo, a minha mãe sempre diziaque o que não presta lá vem logo cá.

Menina 5 – Cala a boca mulher. Não vamos deixar esse público maravilhosoesperando. A informação é fundamental. (Menina 4 faz uma careta paraela e sai de cena).

Professora – Exatamente e já que você (dirigindo-se à Menina 5) está tãointeressada, vou lhe fazer uma pequena perguntinha: Você sabe como sepega o HIV?

Menina 5 – Sei não senhora, me dá até coceira. Não gosto nem de brincarcom essas coisas. (Sai de cena se coçando).

Professora – Calma, calma, não tenha medo. É só ficar de olhos abertos,ouvidos bem atentos e tomar alguns cuidados. O HIV se pega do sanguecontaminado de uma pessoa para a outra, do uso compartilhado deagulhas e seringas não esterilizadas, da mãe contaminada para o filhodurante a gravidez, no parto ou durante a amamentação e da relaçãosexual sem o uso do preservativo. E por fala nisso, nós vamos ensinar aesse público lindo como usar o preservativo corretamente. Para começar,gostaria de chamar minha (ou meu) Assistente no11. Uma salva de palmaspara ela(e).

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Entra a(o) Assistente no11, também vestida(o) com um jaleco branco. Ostambores voltam a rufar. E a(o) Assistente no11 entra dançando, tambémacompanhada por um corinho: A(o) assistente, a(o) assistente, a(o)assistente.

Professora - Ihhh, mas que jalequinho mais amarrotado, hein? Pareceque não vê ferro há muito tempo. (risos da Professora).

A(o) Assistente confere se seu jaleco está amarrotado. E devolve aprovocação.

Assistente no11 – Pior o seu que está todo sujo, se liga Professora roupalimpa é sinal de saúde. (risos da(o) Assistente).

Professora – Hããã...Vamos logo ao que interessa (estende a mão): umacamisinha por favor.

A(o) Assistente no11 retira do bolso do seu jaleco uma miniatura decamisa de pano, que parece uma camisa de bebê ou de boneca, eentrega à Professora.

Professora (olha para aquilo surpresa, abre a camisa, mostrando-a aopúblico e irritada pergunta) – Mas o que é isso?

Assistente no11 – Uma camisinha.

Professora (risos forçados) – Hã, hã, hã... (Ainda mais irritada) Cadê acamisinha?

Assistente no11 – Ta aí Professora.

Professora – Isso aqui é uma camisinha?

Assistente no11 – É.

Professora – Isso aqui é uma camisinha? Você não sabe o que é camisinhanão? Vai lá com aquela moça (ou rapaz, aponta para alguém do público)que ela(e) vai te ensinar o que é uma camisinha, vai.

A(o) Assistente no11 sai de cena.

Professora (dirigindo-se ao público) – Continuo precisando de umpreservativo. Alguém teria um para me ceder?

Aguarda resposta do público. Se alguém tiver, ela chama essa pessoapara a cena, nesse caso fala:

Professora – Muito obrigado. Quer ser minha (meu) assistente semvergonha, sem medo, sem preconceito?

Outra possibilidade para a cena é ninguém do público ter um preservativo.Nesse caso a Professora procura no bolso do seu jaleco por um eencontrando, volta-se para o público:

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Professora – Já tenho um preservativo, mas continuoprecisando de um assistente, alguém se habilita?

Caso a pessoa aceite ou alguém se habilite ela continua:

Professora – Como é o seu nome? (Espera a resposta).Uma salva de palmas para ....(fala o nome da pessoa)!Eu vou te pedir pra você segurar esse (retira um pênisereto de borracha do bolso de seu jaleco) pintinhoaqui pra mim!

O restante da Trupe faz corinho, os tamboresacompanham – Pintinho, pintinho, pintinho.

Professora (começa uma demonstração utilizando opreservativo) – Rasgar a embalagem com cuidado paranão prejudicar o preservativo (rasga a embalagem,retira o preservativo de seu interior) e jogue fora nolixo (referindo-se à embalagem). Não vale jogar nochão não, minha gente. (Em seguida, conforme fala vai fazendo as ações,ilustrando o que está dizendo). Segure na ponta do preservativo paraque não entre ar, senão na hora H ele pode estourar.

Os demais integrantes da Companhia – Bum!

Professora – Ponha na cabeça do pênis e vá (rufar do tambor: todos daCompanhia falam juntos) desenrolando, desenrolando, desenrolando (aProfessora ilustra colocando a camisinha no pênis de borracha).

Entra a Menina 1 ou 3 rodopiando e rebolando ao mesmo tempo, que deolhos fechados continua o coro sozinha, como se não percebesse que osdemais param.

Menina – Desenrolando, desenrolando, desenrolando.... (vai entrandoem cena até esbarrar na Professora e em seu assistente).

Professora (olhando-a espantada) – Mas o que é isso? (ou improvisandousa um caco como: Ih... endoidou de vez! Ou: Sai desse corpo que não tepertence! Ou qualquer outro nesse sentido.)

A Menina olha para o público, envergonhada, e volta para o seu lugar.

Professora – Depois de terminada a relação sexual, lembrar que para aretirada do preservativo o pênis ainda deve estar ereto. Agora querosaber de vocês da platéia se aprenderam a lição: — Ereto quer dizer oquê?

Os demais integrantes da Trupe em coro, puxando a participação daplatéia: – DURO!

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Professora – Ah! não ouvi. Ereto quer dizer o quê? (Espera a resposta). Evá desenrolando, desenrolando, desenrolando (o restante do gruponovamente faz coro junto com a Professora, ao mesmo tempo, ela ilustra,retirando o preservativo do pênis de borracha), amarre-o e jogue fora nolixo (também ilustra). Não esquecendo que a camisinha só pode serusada uma vez, não vale lavar, nem virar do lado avesso, pois já perdeutoda a lubrificação e a elasticidade. (Chama um dos de mais integrantesdo grupo). É bom lembrar também que: beijos (o integrante dá um beijono assistente), abraços (o integrante da um abraço no assistente) e apertosde mão (o integrante aperta a mão do assistente), não se contaminamcom o vírus HIV.

A Professora agradece a participação do assistente. Pede mais palmaspara ele(a). O integrante da Companhia que ilustrou o beijo, abraço eaperto de mão leva-o(a) de volta a platéia.

Professora - Agradeço a participação do(a) nosso(a) amigo(a) e a atençãode todos vocês. Obrigado e até a próxima vez.

Entra uma Menina ou um Menino (pode ser qualquer um da Trupe,geralmente entra quem fez o (a) Assistente no11).

Menina(o) – Gostaria de lembrar a todos que o preconceito e adiscriminação têm sido uma barreira na vida de muitas pessoas eenquanto não temos a cura da AIDS a solidariedade pode ser um remédioeficaz.

Entra outro Menino ou Menina (que também pode ser qualquer um datrupe, mas geralmente é a própria Professora).

Menino(a) – Certamente colega, todas as pessoas soropositivas têm odireito de uma vida digna e feliz, com todos os seus direitos garantidos.As pessoas soropositivas merecem nosso cuidado, carinho e atenção, ecada um de nós deve ser parceiro nessa luta.

Os(as) dois(duas) falam juntos(as) – Nesse momento a Companhia daSaúde se despede, deixando uma mensagem de carinho, solidariedadee paz.

A percussão retorna. Todos cantam e dançam juntos:

“Tombei, tomei, tornei tombá.

A brincadeira já vai terminar.

O raio o sol suspende a lua,

olha o palhaço no meio da rua.”

(Continuam a música)

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