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LÚCIA FREIRE MONTEIRO LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA PRAIA, SETEMBRO DE 2006

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LÚCIA FREIRE MONTEIRO

LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA

PRAIA, SETEMBRO DE 2006

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LÚCIA FREIRE MONTEIRO

PRAIA, SETEMBRO DE 2006

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Trabalho científico apresentado ao Instituto Superior de Educação para obtenção do

grau de licenciatura em Ensino de História.

Memória apresentada pela Lúcia Freire Monteiro sob a orientação do Dr.

Baltazar Neves e co – orientado pelo Mestre Lourenço

Gomes

PRAIA, SETEMBRO DE 2006

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LUCIA FREIRE MONTEIRO

Aprovado pelos membros do Júri e homologado pelo Presidente do Instituto Superior de

Educação, como requisito parcial à obtenção do grau de Licenciatura em Ensino de

História.

O Júri

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

_____________________________________________________________

Praia _________ de _________________________ de 2006

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Dedicatória

Dedico este trabalho ao meu estimado marido, amante e companheiro

António Pedro da Rosa que me ajudou a suportar os sacrifícios de todos esses cinco

longos anos. Sem ele a minha formatura não seria possível.

Esta dedicatória é extensiva a minha estimada mãe Amélia Semedo – que

deus a tenha em descanso eterno, porque teve a lucidez de me encaminhar para os

estudos e pelos seus bons conselhos que me guiaram ao longo da vida.

Dedico-o igualmente a todos os meus filhos que souberam apoiar-me todos

esses anos permitindo-me conciliar os estudos com o trabalho e os deveres de dona –

de- casa.

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Agradecimentos

Os meus espontâneos agradecimentos ao meu filho António Silva Roque por tudo que

fez e pelo que não fez na concretização do presente trabalho.

Apresento os meus cumprimentos ao meu orientador Mestre Baltazar Neves, ao meu

co – orientador Mestre Lourenço Gomes pela forma inteligente como me orientaram na

elaboração e finalização deste trabalho.

Um bem haja a todos.

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«A história é a relação, a conjunção, que a iniciativa do historiador estabelece entre dois

planos da humanidade o passado vivido pelos homens de outrora, e o presente em que se

desenvolve o esforço de recuperação desse passado em proveito do Homem, e os homens -

de- depois.»

Henri-Iréné Marrou

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Índice geral Pag.

INTRODUÇÃO........................................................................................ 8

CAPITULO I 11

1. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO 11

1.1 Santa Catarina no contexto nacional e o seu perfil…………………………….

CAPÍTULO II 14

2. CONTEXTO SOCIO-POLITICO DA ÉPOCA 14

2.1 A sociedade cabo-verdiana e o despertar para uma nova consciência

nacional.................................................................................................................. 14

2.2. A elite intelectual Cabo-verdiana e o seu papel no processo da independência

cultural e politica................................................................................................... 17

2.3. As revoltas sociais como fundamento de afirmação psicossocial …................... 20

CAPÍTULO III

3.

A CRIAÇÃO DO PAIGC E ANÁLISE DE POSSIBILIDADE DE

DESENCADEAMENTO DA LUTA ARMADA EM CABO

VERDE……………………………………........................................................

24

3.1 A luta clandestina em Cabo Verde………………………………………………….… 25

3.2 A Luta armada na Guiné-Bissau………………………………………………………. 27

3.3 A preparação para o desembarque em Cabo Verde………………………………... 29

CAPÍTULO IV

4.

A PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA NA LUTA PELA

INDEPENDÊNCIA DE CABO VERDE............................................................ 32

4.1 A ideia de consciência para a luta de libertação……………………………………. 32

4.2 Surgimento da ideia de assalto ao Pérola do Oceano…………………………….... 33

4.3 O assalto…………………………………………………………………….................... 34

4.4 Modos de sobrevivência na prisão…………………………………………………..… 38

4.5 O fim do pesadelo………………………………………………………………………... 39

4.6 Participação dos santacatarinenses noutras esferas da luta armada…………….. 40

CONCLUSÃO........................................................................................... 41

BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 43

ANEXOS..................................................................................................... 44

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 8

INTRODUÇÃO

Este tema vai debruçar sobre um facto histórico, que encerra uma densidade

politico-social que terá contribuindo para a sua fixação na memória colectiva da

população de Santiago.

Assim sendo, constitui nosso propósito, analisar este projecto, clarificando os diversos

momentos que o enformam.

Procuremos lançar pistas sobre determinadas questões que a nossa sociedade santiaguense e

cabo-verdiana desconhece, nomeadamente a camada jovem que, pouco ou quase nada sabem

da história da luta de libertação nacional, bem como dos homens que deram a vida em prol

duma sociedade mais justa, livre da pressão colonial. Focalizaremos determinados aspectos da

participação dos santacatarinenses no processo de luta de libertação, e apontaremos entre

outros casos, os de maior magnitude, com destaque particular, por exemplo, para uma

situação de grande magnitude que é o caso do assalto ao barco “Pérola do Oceano”, navio de

cabotagem a motor que na altura fazia trajecto Praia/Fogo/Brava ocorrido em 1970, na noite

de 19 para 20 de Agosto, por um grupo de 13 jovens com idade compreendida entre os 20 e os

30 anos.

O objectivo desse assalto era ingressar as fileiras do PAIGC na Guiné-Bissau, onde

decorria a luta armada pela autodeterminação da Guiné e Cabo Verde.

Porém, o grupo foi descoberto, o que fez com que todos fossem presos em Rincão-

Santa Catarina e mais tarde encarcerados na cadeia civil da Praia, e sete meses mais tarde

transferidos para o Campo de Concentração no Tarrafal.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 9

O presente Trabalho tem como Objectivo Geral, analisar a participação da população

de Santa Catarina na luta de libertação nacional e mais especificamente visa Conhecer os

protagonistas do assalto ao “Pérola do Oceano;” e o papel desempenhado por cada elemento

no assalto; bem como:

Compreender as motivações que estiveram na base do mesmo. Outrossim

pretendemos focalizar outros momentos em que os santacatarinenses protagonizaram a gesta

da luta de libertação. Assim sendo destacaremos as situações significativas por forma a

podermos defender a tese que ora assumimos como desafio.

Para a concretização deste projecto, cruzaremos dados advenientes dos protagonistas

do processo, aplicando a metodologia de entrevista. Procuraremos analisar e confrontar os

dados históricos registados pela imprensa da época.

Ainda neste processo de focalização do contributo dos santacatarinenses,

procuraremos alargar a base da nossa fundamentação teórico-cientifica socorrendo de outros

recursos como a imprensa, e os registos sonoros e fontes vivas. Neste ângulo de abordagem

dissecaremos todas as nuances possíveis que nos permitam uma abordagem mais alargada e

profunda.

O tema que ora se apresenta constitui para nós um desafio aliciante por constituir uma

oportunidade para lançar luzes, ainda que de forma modesta, sobre um dos momentos

significativos da nossa história. Outrossim constitui ensejo para focalizar de forma particular

o contributo dos santacarinenses no processo de luta pela emancipação da nação cabo-

verdiana.

Um opúsculo editado pela Associação dos Combatentes da liberdade da Pátria em

1997 serviu-nos de motivação para tentar descodificar esse contributo dos homens de um dos

maiores concelhos do país. Num universo de 25 perfis damos conta que 17 são originários de

Santa Catarina. Este feito só podia despertar em nós curiosidade, e no quadro de preparação e

elaboração deste trabalho académico entendemos procurar os fundamentos e as motivações

que enformam a gesta da luta de libertação, onde os santacatarinenses assumem papel de

relevo.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 10

As figuras invocadas neste opúsculo pertencem a uma geração que se recusou deixar

silenciar pela opressão e o arbítrio da dominação estrangeira. São a expressão da nossa revolta

colectiva, e souberam condensar a aspiração do povo cabo-verdiano em tempo oportuno.

Assim o nosso contributo vai no sentido de resgatar do baú de esquecimento as figuras e os

factos que marcaram a nossa trajectória, com a entrega incondicional de vários cabo-

verdianos, e de um modo particular dos santacatarinenses.

O trabalho que aqui se apresenta está esquematizado sobre os princípios que regem a

elaboração de uma monografia, de forma que respeita todos os preceitos norteadores de um

trabalho científico.

A nível do conteúdo socorremos de múltiplas fontes (activas e passivas) cruzámos os

dados com vista a clarificação de cada situação objecto de análise. Outrossim, as informações

que fazem parte do domínio comum são apresentados como enfoque de enriquecimento do

trabalho que ora abraçamos como um aliciante e real desafio.

Em termos de estruturação convém salientar que o trabalho comporta para alem de

uma introdução, de uma conclusão, da bibliografia e ainda como aspecto complementar os

anexos que englobam dados que reputamos de grande relevância para a densidade das

abordagens.

No primeiro capitulo “Enquadramento Histórico-geográfico de Santa Catarina”,

fazemos breve referencia da situação bem como a sua potencialidade agrícola.

No segundo capitulo “Contexto Socio-político da época”, focaliza diversos aspectos

como a tomada de consciência da sociedade cabo-verdiana face ao cenário vivido; as

revoltas sociais e o seu enquadramento histórico.

No terceiro capitulo “A criação do PAIGC e a análise de possibilidade de

desencadeamento da luta armada em Cabo Verde”, insere a questão da luta de libertação e

o processo da luta clandestina em Cabo Verde.

No quarto e último capitulo “A participação de Santa Catarina na luta pela Independência

de Cabo Verde”, especifica o contributo dos Santacatarinenses no processo da luta de

libertação, o assalto ao navio de cabotagem “Pérola do Oceano” e o desfecho final que

culminou com a libertação dos presos políticos do então campo de concentração do

Tarrafal.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 11

CAPÍTULO I

1.ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

O Concelho de Santa Catarina, geograficamente, fica situado no interior de Santiago,

lá mesmo no coração da ilha, entre as duas maiores elevações de Santiago: a montanha de

pico de António e a serra de malagueta. Ocupando uma vasta planície, interrompida por

algumas pequenas elevações, Santa Catarina é um dos maiores concelhos da ilha de Santiago,

com vales de raro encanto, pelo verde da sua paisagem.

De acordo com Henrique Santa Rita Vieira a génese de Santa Catarina de ponto vista

jurídico-administrativo está subjacente ao decreto de 17 de Dezembro de 1833. Pois através

desse decreto Manuel António Martins Geral da Urzela foi nomeado Prefeito. Nesta situação,

em 14 de Fevereiro de 1834, no dia imediato à sua posse transferiu a sede do Concelho da

cidade da Ribeira Grande, para a incipiente povoação dos Picos, na freguesia de S. Salvador

do Mundo, dando assim origem ao Concelho de Santa Catarina, ainda que não tivesse havido,

nessa altura, um diploma régio para sancionar a transferência. Observa o mesmo investigador

que esta fora uma “medida de grande alcance” para o desenvolvimento do interior de Santiago

como, de resto, as várias outras, em todo o país, que caracterizaram o espírito empreendedor

deste controverso personagem.

Julgamos saber que Picos não oferecia grandes condições para expansão do município,

já que os terrenos de cultivo não podiam ser sacrificados para o betão. O mesmo problema

1.1. Santa Catarina no contexto nacional e o seu perfil

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 12

punha-se em relação à Assomada, mas mesmo assim essa parcela deu origem a uma vila que

foi crescendo a ponto de hoje ostentar a categoria de cidade.

Santa Catarina enquanto Concelho esteve sob jurisdição do Tarrafal, até por volta de

1912 quando passou definitivamente a ostentar a categoria de concelho.

Consta que mesmo antes da criação do Concelho de Santa Catarina, os morgados já

tinham optado por se fixarem nos seus domínios do interior, escaldados pelas investidas dos

piratas à cidade da Ribeira Grande.

Se antes da criação do Concelho de Santa Catarina, o interior da ilha de Santiago já

tinha começado a desenvolver-se sob o ponto de vista agrícola, depois o progresso foi notório.

A Vila não terá começado onde hoje é centro. Há relatos que Achada Falcão, e mais tarde

Nhagar foram núcleos, que, em princípio, podiam vir esboçar o perfil da vila. A verdade é que

já a partir de 1912 com terrenos cedidos foi possível a construção da Igreja e da Câmara

Municipal. A partir dessa altura Santa Catarina toma novo rumo, com novo impulso de

desenvolvimento económico e social.

Situada quase no centro da ilha de Santiago, o Concelho de Santa Catarina para além

de ser um dos maiores da ilha e do país, tem uma população significativa com usos e

costumes a marcar a sua personalidade – base.

Dotado de terrenos férteis próprios para a prática agrícola, durante muito tempo foi

considerado celeiro de Cabo Verde. Ainda hoje ostenta essa fama, mas constata-se que as

sucessivas secas deixaram marcas na paisagem, e hoje em termos de produção agrícola Santa

Catarina está longe de ser o que fora outrora.

A riqueza ostentada nos séculos passados por causa da agricultura, foi de facto factor

determinante para aparição e projecção de uma elite que acabaria por exercer papel

preponderante no processo de desenvolvimento.

Essa elite aposta na educação dos seus mandando filhos para irem estudar em Lisboa,

no Seminário-Liceu de S. Nicolau, e mais tarde no Liceu Infante D. Henrique em S. Vicente,

que mais tarde passaria a ser Liceu Gil Eanes.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 13

Assim nesta perspectiva estaremos em condições de compreender a razão porque

vamos encontrar na nossa trajectória enquanto nação, ilustres figuras oriundas de Santa

Catarina.

Todo um conjunto de condicionalismos como a prosperidade económica, nível

académico da elite foram determinantes para o esboçar de um perfil do Concelho e da então

Vila de Assomada, que ficaria registada mais tarde na História como um espaço de referência.

Picos – actual concelho de São salvador do mundo

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 14

CAPÍTULO II

2. CONTEXTO SOCIO-POLITICO DA ÉPOCA

2.1.A sociedade cabo-verdiana e o despertar para uma nova consciência

nacional

O encontro de duas culturas diferentes (caso de Cabo Verde) resultou na separação de

cada uma delas da sua base, originando uma terceira que não é mais do que uma fusão secular

harmoniosa daquelas.

O historiador Ilídio Baleno1 considera que o mestiço nascido deste cruzamento é o

primeiro a confrontar-se com as diferenças dos seus progenitores. Ele é um ser híbrido, sem

uma identidade étnica definida, que num primeiro momento se vai desdobrar entre a cultura

europeia representada pela figura paterna e a africana representada pela mãe. Posteriormente

será levado a criar uma identidade própria.

É nossa convicção de que os fundamentos da cultura e da identidade cabo-verdianas,

já não assentam apenas no contributo dos escravos e do colono português mas também na

emigração do homem crioulo, para diversas paragens, facto que tão cedo acompanhou a

história e a evolução do arquipélago, facilitando contactos e aculturações.

1 BALENO, IlídioCabral, Povoamento e Formação da Sociedade, in História Geral de Cabo Verde, pg 175 Vol 1

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 15

Em Cabo Verde como em qualquer parte do mundo sempre existiu a tendência para

imitar os aspectos culturais que povos mais “ desenvolvidos”, economicamente e uma certa

propensão para seguir, a par e passo, as suas preferências estéticas. Nesta ordem de ideias,

completada pela facilidades de transporte, pela acção dos meios de comunicação que

veiculam novos hábitos, novas concepções filosóficas de vida, assiste-se a uma amálgama de

novas experiências que resultam em parte num enriquecimento da cultura nacional.

Numa outra perspectiva há que se reconhecer o papel que o ensino exerceu entre nós.

Como se sabe nos primórdios da colonização, o ensino estava a cargo da igreja.

Os primeiros educadores terão sido os franciscanos. Com a evolução histórica, em

1846 é implantado o Liceu na Cidade da Praia, denominado Liceu Nacional que foi extinto

pouco depois. Já no longínquo ano de 1886 fundaram o Seminário-Liceu de S. Nicolau com o

fim de ordenar sacerdotes e prepara jovens para a vida civil. Neste contexto não andaremos

longe da verdade, ao afirmarmos que o ensino acabou por desempenhar o papel de promoção

social, pois é inegável que quadros religiosos e administrativos, formados neste arquipélago

tornaram-se agentes da administração colonial, ocupando cargos, quer aqui em Cabo Verde,

quer nas outras colónias, como é caso da Guiné Bissau e Angola.

É de se reconhecer que durante a vigência do Seminário-Liceu de S. Nicolau sempre

houve estudantes oriundos de Santa Catarina. Os filhos dos morgados sempre tiveram esse

privilégio, e muitos deles acabaram por ter papel decisivo na formação de uma consciência

cívica. Juvenal Cabral, pai do líder histórico do P.AI.G.C., Amílcar Cabral, é exemplo mais

acabado dessa plêiade de homens que de uma forma ou de outra, em função da época, e de

outras variáveis se posicionaram nas mais variadas “frentes da batalha”.

O papel do ensino em Cabo Verde, quando comparado com o resto das colónias

portuguesas, acaba por ganhar uma certa notoriedade, pois, só em fins do século XIX e

princípios do século XX essas colónias esboçaram o plano para a criação das escolas

primárias. Todos esses ingredientes que acabámos de apontar são, sem dúvidas, argumentos a

favor de uma tese: a existência de uma nação, e o seu despertar para uma nova consciência.

Não é de admirar que a trajectória de Cabo Verde fosse esta realidade que vivemos e

não outra. No contexto da África lusófona antecipamos até o processo de abertura política.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 16

Por outro lado, o facto de termos constituído em nação, antes do Estado, significa que o nosso

processo histórico tem particularidades que requerem uma abordagem cuidada, pois a

densidade dos factos constitui um verdadeiro desafio para quem queira compreender de facto

a realidade. Estes e outros factos não são obra do acaso, são antes de mais resultado de um

processos evolutivo assente nos factores ensino tão cedo instalado entre nós, na questão da

emigração como elemento modelador da nossa personalidade base, e noutros factores de

idêntica importância.

Apontando estes factos, e situando agora num contexto temporal específico, somos a

afirmar que na segunda metade do século XIX e princípios do Século XX o número reduzido

do elemento europeu permitiu que Cabo Verde caminhasse para uma síntese cultural. A elite

crioula não pôde furtar-se a uma certa ambiguidade, não só cultural, mas também política,

pelo facto de se situar social e culturalmente entre o colonizador e a grande massa de

colonizados. Esta situação reflectiu-se na obra dos escritores da época, e continua a projectar-

se ainda nos dias de hoje no campo da política, quando diversos actores se posicionam a favor

de aproximação Cabo Verde / União Europeia e a eventual saída da CEDEAO.

Apesar dessas ambiguidades seculares, Cabo Verde foi capaz de assumir a sua

identidade, e atesta tal facto os feitos heróicos relacionados com a luta de libertação que foi o

verdadeiro despertar para uma nova consciência nacional.

O despertar de uma nova consciência nacional vai ter como mola o conjunto de

factores atrás referidos, mas a verdade é que outros, como é óbvio, prenhes de subjectivismo,

vão engendrar uma concepção filosófica de vida alimentada sobretudo por aqueles que tinham

algum lucidez sobre a situação interna do país. Na década de 50, Cabo Verde já tinha

ultrapassado as situações mais dramáticas, mas estava intacta na memória colectiva do povo

das ilhas as consequências nefastas desse período.

As últimas grandes crises tinham-se verificado em 1941, 42, 47 e 48, algumas com

violência tal a ponto de a população, avaliada, em 1939 em 174 mil pessoas, cair, em 1950,

para 139 mil. Somente a de Santiago, a ilha mais populosa do arquipélago, perde entre 1946 e

1948, 65 por cento dos seus habitantes2

2 História Geral de Cabo Verde, vol. I, pg 14, Instituto de Investigação Cientifica Tropical e Direcção Geral

do Património Cultural de Cabo Verde, Lisboa, 1991

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 17

Os sucessivos anos de estiagem, fome e mortandade constituem, também, um grande

factor que leva os sobreviventes a emigrarem em massa para S. Tomé e Príncipe ou para

outros pontos do mundo. Face a este quadro negro vai-se desenvolver em muitos a

consciência de que as fatalidades a que o povo das ilhas estava submetido tinha um

responsável, e é óbvio em circunstâncias como essas, a responsabilização da máquina

administrativa, que era orientada pelo poder colonial. Entendemos que a articulação de vários

factores, de natureza diversa, foram elementos catalizadores para uma tomada de consciência,

e um virar de páginas na história do arquipélago.

2.2. A elite intelectual Cabo-verdiana e o seu papel no processo da

independência cultural e politica

O reputado estudioso Manuel Ferreira no prefácio da compilação da revista Claridade

caracterizou estes escritores como sendo da geração da ambiguidade. Todavia como já

tivemos oportunidade de referir, ainda antes do intelectual cabo-verdiano se opor frontalmente

contra o colonialismo, ele conseguiu coincidir a sua identidade individual com a identidade

nacional ao evidenciar na sua obra valores específicos da cabo-verdianidade como é o caso de

Pedro Cardoso na defesa das teses nativistas e na exaltação das virtudes da língua crioula.3

Início dos anos 30 é o momento da emergência de um sentimento e de uma postura

intelectual em relação ao povo cabo-verdiano. A percepção de um povo heróico, vítima de

uma natureza agreste, obrigado a emigrar pela miséria, mas que permanece vinculado à sua

terra por indissolúveis laços natalícios. Contra a pretensão de que este sentimento é

constitutivo do cabo-verdiano desde sempre, é preciso determinar exactamente o momento

histórico da sua emergência. O que se sabe é que os claridosos deram nascimento, em 1936, à

primeira literatura africana de língua oficial portuguesa com características bem definidas.

Afirmaram uma postura traduzida pela consciência nacional, necessidade de se opor à

dominação colonial através de denúncia, ora frontal, ora velada.

3 FERREIRA Manuel, Compilação Revista CLARIDADE, 1ª edição, Lisboa, 1986

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 18

A geração da Claridade ao revelar o gosto pelas fontes tradicionais, acabou por colocar

o acento na mestiçagem assumindo-se como portador de uma identidade própria. As bases

culturais nem estavam na África, nem na Europa, mas sim no solo pátrio. Todavia não

podemos de modo nenhum deixar de reconhecer que “as viagens” que os claridosos fizeram à

Africa com os seus estudos de carácter etnográfico. E o mérito da Claridade vai para o estudo

das nossas raízes. Quando na década de 50 um grande número de naturais do arquipélago de

Cabo Verde é levado para as plantações de S. Tomé e Príncipe e Angola, em regime de semi-

escravidão, alguns intelectuais cabo-verdianos se posicionaram e reagem a favor do povo.

Curiosamente a revista Claridade não fez revelar nenhum escritor originário de Santa

Catarina, mas a verdade é que essa parcela do território nacional serviu como laboratório de

experiência, pois foi publicada nessa revista, um trabalho de recolha de carácter etnográfico,

dando conta da autenticidade da linguagem e do esquema de pensamento do homem do

interior. Gabriel Mariano, jovem poeta originário de S. Nicolau, que teve contactos com a ilha

de Santiago, em vários trabalhos de carácter telúrico bebe na experiência do interior, o que

prova uma vez mais a vitalidade cultural do interior de Santiago.

Como já dissemos, década de 50 é o início do “volt-face”. Os estudantes da Casa do

Império como Gabriel Mariano, Ovídio Martins, Yolanda Morazzo entre outros, assumem por

inteiro a tarefa da denúncia da situação colectiva de Cabo Verde. Nessa altura os jovens cabo-

verdianos que frequentaram em S. Vicente o Liceu Gil Eanes reencontraram-se em Portugal,

onde foram paulatinamente criando um espaço de reflexão da problemática colonial em Cabo

Verde. Nesta sequência surge o grupo Nova Largada em sintonia com as exigências da época

– e não simplesmente um espaço de convívio e tertúlia como se pode pensar.

Para a geração de 40/ 60 tornou-se evidente que para se encontrar a plena identidade

não bastava a libertação política. Impunha-se igualmente a valorização de todas as facetas de

cultura do colonizado, sobretudo aqueles traços culturais que geraram nele complexos de

inferioridade em relação à cultura do colonizador.

Para que o Homem cabo-verdiano herdeiro da África e da Europa pudesse assumir

integralmente as componentes específicas da sua cultura teria que começar pela

descodificação dos fundamentos históricos da sua identidade. A assunpção plena da cabo-

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 19

verdianidade, com acento na africanidade, viria constituir, por si só, a subscrição de um

projecto político de luta de libertação.

Mas focalizando um contributo muito particular e significativo atentemos ao do jovem

Amílcar Cabral, que antes de se lançar à luta, revela e dá mostras da sua inquietação face à

realidade colonial, que é de todos conhecido como uma realidade sombria.

Enquanto jovem, observa José Vicente Lopes, que “chegou a polemizar,

educadamente, no Boletim Cabo Verde, como o velho José Lopes sobre os problemas da

educação na província. Também, observa ainda o mesmo analista que nessa” revista, dirigida

por Bento Levy, publicou o primeiro ensaio crítico em relação aos claridosos, onde, bem

vistas as coisas, apresenta uma nova ética, nomeadamente, ao chamar a atenção da nossa elite

para a criação de uma nova mentalidade e, como tal, uma nova atitude, atrevendo-se a sugerir

que o sonho de evasão (…) não pode eternizar-se, rebatendo que o sonho tem de ser outro. E

apoiando-se num verso de Aguinaldo Fonseca Brito, poeta da geração de Certeza e de Nova

Largada, Cabral sugeria como divisa – Outra terra dentro da nossa terra.

É de crer que esta atitude ousada de Amílcar Cabral em questionar através do Boletim

de Cabo Verde, e outros canais de comunicação como a Rádio Clube da Praia, é um firme

indicador da sua disponibilidade em se transformar como um dos combatentes da realidade

colonial, facto comprovado pouco tempo depois, já que o término do seu curso no ramo de

Engenharia Agrónomo coincide com a sua entrada de forma irreversível na política que só

conheceria o seu fim na madrugada de 20 de Janeiro quando foi barbaramente assassinado

pelas forças inimigas.

A geração de 60 ao reivindicar a independência das ilhas cria o problema da definição

politica da identidade. O partido político que empreendera a independência era o actor melhor

situado para definir o problema que havia criado. Daí não restarem dúvidas de que Cabo

Verde seria assumido como um país africano. Esse despertar que procurámos focalizar tem

vários fundamentos que foram surgindo com a evolução histórico-cultural das ilhas. A

democratização do ensino4 que se foi operando aos poucos, a elevação do nível de vida das

classes populares cabo-verdianas através da emigração entre outras situações de peso.

4 Graças às pressões do PAIGC, o governo salazarista introduziu em 1968 o pré-primário como medida de

garantir mais qualidade do ensino, e mandou construir mais escolas primárias em diversas ilhas

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 20

Assim sintonizados com o espírito da época a intelectualidade cabo-verdiana e as

massas populares assumiram por inteiro a tomada de uma consciência nacional que

desembocaria numa luta armada com desfecho lógico: a INDEPÊNDÊNCIA.

Acreditamos, pois que os intelectuais souberam subjectivar como vivência o impacto

histórico do despertar dessa identidade e transferiram-na à sociedade como uma descoberta

resultante das lutas pela afirmação no contexto social, cultural e político.

2.3. As revoltas sociais como fundamento de afirmação psicossocial

A questão das revoltas sociais em Cabo Verde é relativamente obscura quando se

pretende compreender as suas origens e motivações, já que as fontes que existem sobre esses

factos são suspeitas constituídas muitas vezes por relatórios de autoridades que mandavam

reprimir essas revoltas, e em cada momento das abordagens desses relatórios verifica-se

juízos de valor que não evidenciam a dimensão real das situações, ficando apenas por mero

acto de recriminação.

A investigação isenta e científica deverá responder a um número significativo de

questões como o sentido da organização dos motins, as razões dos levantamentos entre outras

situações que enforma a história das revoltas que marcaram a nação cabo-verdiana ao longo

dos séculos.

Em “ Subsídios para a história de Cabo Verde” e Rios da Guiné Senna Baracelos

escrito nos finais do século XIX encontramos relatos de diversas desavenças, e contradições

existentes entre os reinois residentes em Santiago, os morgados e as massas populares5.

Como motivação desses conflitos vários factores são apontados como por exemplo a

prepotência, o abuso do poder, a exploração até exaustão da condição das massas populares

que viviam em situação permanente de inferioridade.

5 BARCELOS Senna, Subsídios para a história de Cabo verde e Guiné, parte III, pg 42

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 21

Face à situação descrita, ao longo da nossa trajectória histórica vamos encontrar várias

revoltas sociais com diversas motivações, mas com um denominador comum: a luta pela

dignidade. É de crer que os motins registados não foram actos de arruaças tão comuns entre

outros povos. Não foram as diferenças étnicas, nem religiosas que mantiveram a chamadas

revoltas.

Com o triunfo do liberalismo em Portugal, Cabo Verde não fica fora das mudanças de

atitude decorrentes das alterações politico-institucionais.

Em 1822 os moradores dos Engenhos – Santa Catarina revoltaram-se em Janeiro desse

ano. “ Levantaram-se contra o Coronel Domingos Ramos, administrador do vínculo do

Engenho, que se dirigia à Junta queixando-se dos rendeiros, que não só queriam assassiná-lo,

mas até se negaram ao pagamento das rendas devidas, com o pretexto de que a Constituição

tinha abolido todos os vínculos e que as terras veiculadas ficariam sendo propriedade de quem

os trabalhasse”6.

A pedido da Junta, ouvidos os morgados, o Bispo com uma pastoral tentaram demover

os rendeiros. Estes armaram-se e ocuparam a Ribeira. As autoridades acabaram-se por render

não enviado qualquer força porque reconheceram logo de seguida que “a guarda da praça era

composta, em grande parte, de soldados mais ou menos aparentados com os sublevados”7.

Paralelamente ao levantamento camponês circulavam ideias em Cabo Verde se

desligar de Portugal e unindo-se ao Brasil, sabendo – se que chegavam a Santiago cartas de

Pernambuco, Baía e Maranhão, descrevendo o estado de agitação em prol da independência.

Senna Barcelos escreve que “ a revolução que se preparava então no Brasil encontrou apoio

de insignificantes moradores de Santiago, que deram alguns passos para isso, chamando o

povo às armas, e como os principais da ilha não anuísse o povo também não anuiu8.

Mais tarde, um relatório do Governador de Cabo Verde, que chegará ao arquipélago

em Fevereiro de 1823, acompanhado de soldados, revela que os cabecilhas do motim a favor

do Brasil tentaram captar para a sua causa os moradores da Ribeira dos Engenhos em revolta

6 BARCELOS, op. Cit, parte III, pg 228

7 BARCELOS, op.cit, parte III, pg 280

8 BARCELOS, op. Cit, parte III, pg 290

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 22

há um ano atrás. Estes factos para alem de denotarem a luta pela dignidade, revelam o desejo,

ainda que inconsciente, da luta pela soberania.

Volvidos duas décadas após a da revolta da Ribeira dos Engenhos, numa propriedade

da mesma ilha assiste a uma nova revolta, com as mesmas motivações. Desta vez o palco do

motim é Achada Falcão. Circulava em Santiago, em 1840, a ideia “ que se tinha decretado no

reino a extinção dos morgadios e que a Coroa distribuiria pelos habitantes as terras em poder

dos morgados, e só ela cobraria dali para o futuro os dízimos”9.

Face a este cenário os rendeiros recusaram-se a cumprir os seus “ deveres”, e instala-se

e desavença, acabando o processo por culminar com uma insurreição, onde 50 soldados

tiveram de marchar por Santa Catarina, amedrontando os insurrectos e restabelecendo a

ordem pública subvertida.

O cenário de tensão em Cabo Verde é distendido por algum tempo, e já em 1910 com

a implantação da República os ventos da mudança sopram em Cabo Verde. Uma vez mais, os

camponeses procuram tirar proveito da viragem histórica, e a 12 de Novembro desse ano, os

camponeses de Ribeirão Manuel insurgem contra os morgados que os impediam de colher as

sementes de purgueira, na altura eram de grande valor comercial. Com os fundamentos de que

a “terra era de todos” os camponeses revoltaram-se contra os morgados, só que desta vez

Marinha de Campos, então governador, um republicano convicto, para o espanto e surpresa de

todos coloca-se ao lado dos rendeiros, e dos camponeses de um modo geral. As consequências

dessa revolta são de todos conhecidos, já que é a revolta popular que mais ficou impregnada

na memória colectiva do arquipélago, tendo ficado conhecida como a revolta de “homi faca

mudjer matchadu.”

Várias pessoas ficaram detidas, e as forças militares tentaram reprimir a população que

todavia não se desarmou demonstrando resistência até ao culminar do processo.

Convém realçar que a ilha de Santiago não foi o único palco de motins, pois em

diversas ilhas outros tiveram lugar, como é o caso das ilhas do Sal, S Vicente, S. Nicolau,

Santo Antão, Fogo e Brava. Refira-se que a 21 de Maio de 1847 os escravos da “ Casa

9 BARCELOS, op. Cit, parte IV, pg 275

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 23

Martins” no Sal revoltaram-se e tentaram tomar comando da instituição onde trabalhavam

com a condição de “ não homens”10

.

Este conjunto de situações que temos vindo a apontar, Santa Catarina como palco de

algumas actividades subversivas ( revoltas sociais) atestam que essa parcela de território

serviu como “ uma panela onde se fermentou o desejo de luta de libertação , e a consequente

conquista da soberania.

10

É de se referir que na época da escravatura juridicamente o escravo não era um homem. Era tratado neste

quadro como sendo uma peça. Aliás os despachos alfandegários referiam-se a escravos como peças, já que como

se disse atrás o escravo não era juridicamente considerado um ser humano.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 24

CAPITULO III

3. A CRIAÇÃO DO PAIGC E ANÁLISE DE POSSIBILIDADE DE

DESENCADEAMENTO DA LUTA ARMADA EM CABO VERDE.

A 19 de Setembro de 1956 era fundado o Partido Africano da Independência da Guiné

e Cabo Verde designado pela sigla. P.A.I.G.C. Foram os fundadores Amílcar Cabral,

Aristides Pereira, Fernando Fortes, Júlio Almeida, Rafael Barbosa e Elisé Turpin. A criação

desta força política está enquadrada nos amplos movimentos africanistas que eclodiram nas

décadas 50 e 60. Só a título de exemplo eis alguns movimentos legais e outros nem por isso.

No quadro da legalidade aparece a Casa da África Portuguesa, “ A casa dos Estudantes do

Império” em 1945, “O Centro dos Estudos Africanos” em 1951.

No ano de 1969 conhecido como “O de África” criou-se a F.RA.I.N (Frente

Revolucionária Africana para a Independência Nacional), com objectivo de liquidar

totalmente o colonialismo português em África. E em 1961 realizou-se em Casablanca, no

Marrocos, a reunião que constituiu o C.O.N.C.P. (Conferência das Organizações Nacionais

das Colónias Portuguesas).

Após esse quadro político, somos a admitir que o processo de afirmação do PAIGC foi

sinuoso. Fundado clandestinamente em 1956, o partido, a principio, tentou chegar á

independência por meios pacíficos, utilizando como arma exclusiva, a diplomacia. Depois do

massacre de Pedjiguiti, em 1959, qualquer ilusão a este respeito foi dissipada e a única

solução vislumbrada foi a luta armada.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 25

Na opinião do colonizador, do qual tomamos com representante Silva e Cunha11

,

Ministro do Ultramar de 1965 a 1973, o PAIGC, não representava o povo da Guiné Bissau,

servindo como argumento para isto o facto de ser Amílcar Cabral um cabo-verdiano, assim

como os homens da cúpula do partido. Torna-se necessário recordar que, ainda em 1965, a

O.U.A. (Organização da Unidade Africana) considerava o P.AI.G.C como único movimento

de libertação Guiné e de Cabo Verde.

O PAIGC acabou por assumir como defensor das duas nações, pretendendo-se um

partido democrático, progressista, anti-colonialista e anti-imperialista. Possuindo aliados

como os países socialistas e os movimentos operários de vários países da Europa, América e

Ásia, o partido colocava-se, segundo o seu Secretário-Geral, contra o colonialismo e não

contra o povo português

A fundação do P.A.I.G.C. exigia a participação massiva dos cabo-verdianos para o

sucesso da luta armada, aprovada com estratégia para expulsar o inimigo do solo cabo-

verdiano e do solo guineense. Vários cabo-verdianos radicados em Dakar, e noutras paragens

da Europa foram mobilizados, e a verdade é que outros radicados no país seguiram o

exemplo. Vamos encontrar vários exemplos de santiaguenses que deram corpo à luta. Deles

só para citar registamos o caso de Justino Lopes (1925- 1970), Henrique Semedo (1928-

1980?), Pedro Lopes (1935- 1995), José Carlos Aguiar (1945- 1995), entre outros. A exibição

desses exemplos, embora um corpus reduzido, dá-nos a noção clara de que os santacarinenes

estavam engajados no processo de luta de libertação nacional.

3.1 A luta clandestina em Cabo Verde

Fundado que foi o P.A.I.G.C em 1956, parece começar a desenvolver-se uma atitude

mais firme contra o poder colonial, e nasce no espírito de muitos uma certa “ nostalgia” de

luta e um sentido de entrega à uma causa que tinha motivações nobres. O teatro de guerra vai

ter como palco Guiné-Bissau, país onde se encontrava cabo-verdianos com elevado grau de

influência, e de capacidade moral e intelectual.

11

CUNHA, Silva, O Ultramar, a Nação e o 25 de Abril, Coimbra, Atlântida, 1977

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 26

O P A.I.G.C vai definir o seu programa de luta, e os ideias que norteavam a formação

política, e vai encontrar no bloco socialista e nos países africanos “progressistas” – Guiné

Conakri e Argélia sobretudo - os seus principais aliados, que o financiam e armam. A

conjuntura internacional é favorável e o empreendimento levado a cabo por Amílcar Cabral,

enfrenta naturalmente obstáculos, mas a verdade é que a conjuntura vai determinar conquistas

importantes, tanto é que Amílcar Cabral foi recebido pelo Papa, e chegou mesmo a discursar

na O.N.U. assumindo a ideia de que a sua corporação era constituída por “ soldados da paz”.

A 23 de Janeiro de 1963 dá-se o início da luta armada na Guiné-Bissau, com o ataque

à caserna de Tite. Mas no quadro da preparação da luta pela soberania de Cabo Verde e da

Guiné-Bissau várias cogitações foram feitas, e a verdade é que algumas medidas foram

tomadas.

No processo político, e no quadro da luta clandestina registamos um facto relevante,

que tem a ver com o contributo de Abílio Duarte. Este quadro de alto nível no aparelho do

partido, chega a S. Vicente em 1959 matriculando-se no Liceu Gil Eanes após ter estado na

Guiné-Bissau. Com objectivo de prosseguir os estudos, e ao mesmo tempo agitar

politicamente o liceu, cria um núcleo de jovens pró-independência. Neste quadro regista-se

uma adesão em massa de estudantes, passando muitos deles a serem referenciados pela

P.I.D.E. para fugir às sevícias, e com o propósito de dar o seu contributo muitos fugiram para

se juntarem a outros cabo-verdianos que já estavam no quadro do processo de luta armada.

O trabalho de Abílio Duarte em S. Vicente é rodeado de um certo misticismo. Se por

um lado é visto como jovem que procura ascender na escala do saber, por outro lado é

questionado o propósito, já que antes era funcionário bancário em Bissau, e pelos vistos bem

sucedido. Em abono de verdade, o segundo questionamento parece ser legítimo, já que mais

tarde veio a ser comprovado que para além dos estudos fazia um trabalho de mobilização de

forma subterrânea, que comprova de facto ser este o seu principal objectivo. Concluído os

estudos deixa Mindelo, e junta-se de novo aos quadros do aparelho do seu partido passando a

ter uma intensa actividade no campo poliítico-diplomático. Outras figuras como José Leitão

da Graça, altamente referenciado e perseguido pela P.I.D.E, quer na Praia, quer no Mindelo

desenvolve intensas actividades no quadro de luta clandestina.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 27

Em 1960 ao tomar conhecimento de que corria o risco de ser preso, até porque o plano

da sua detenção já existia, foge para Senegal, torna-se um político errante pelas terras da

África. Com o verbo dos activistas políticos disseminados entre Praia e Mindelo, muitos

jovens aperceberam-se dos fundamentos da luta armada, e várias iniciativas, ainda que de

forma velada, foram ganhando corpo. Em 1960 Rolando Vera-cruz Martins, Mário Fonseca e

Arménio Vieira fundam a revista Selo, instrumento literário, mas com propósito político, que

alertados os agentes da P.I.D.E e da Censura fez logo silenciar, tendo saído apenas um

número.

3.2 A Luta armada na Guiné-bissau

Dias antes da eclosão da guerra em 1963, as forças militares do PAIGC já

movimentavam no terreno, com sabotagens, rompimentos de vias de comunicação.

Em Janeiro de 1963 a acção militar confirma o início de luta de libertação. Os

combatentes em pouco tempo organizaram-se e conseguiram infundir insegurança às tropas

lusas.

Segundo Aristides Pereira no seu livro O Meu Testemunho – Uma luta, um Partido e

dois Países, uma greve de (3 de Agosto de 1959) dos trabalhadores do cais de Bissau

(Pidjiguiti), que se saldou na morte de mais de 50 marinheiros, acabou por reforçar a

consciência nacionalista, e do lado do PAIGC, a necessidade de proceder a uma mobilização

do campesinato para a luta armada.

Essa ideia de mobilizar os homens do campo resulta da ideia de que o poder colonial tinha

mais força e expressão na cidade, e no campo dado às dificuldades inerentes à vida do

agricultor desprovido de meios económicos e financeiros, era mais fácil fazer-lhe

compreender da necessidade de travar a luta contra aquele que anos sem conta o vinha

explorando. A estratégia terá resultado, mas a verdade é que o PAICV esteve condicionado

por algum tempo pelo seu carácter ainda embrionário. Depois do início da luta armada

enfrentou problemas organizacionais, que de acordo com Aristides Maria Pereira, ainda na

mesma obra, considera que tal situação está “ ligado ao comportamento reprovável de alguns

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 28

quadros responsáveis que actuavam em diversas zonas, fazendo perigar as conquista que o

partido tinha alcançado desde a sua fundação. Advoga o mesmo analista que “ essa situação

requeria a introdução de ajustamentos e correcções imprescindíveis ao avanço da luta12

.

Não terá sido fácil o empreendimento da luta de libertação levado a cabo pela força

independentista, pois desmontar o esquema de alienação que o poder colonial conseguiu forjar

durante séculos no espírito do africano, criando nele sentido de inferioridade em relação ao

colono, seria tarefa ingente, mas que o PAIGC não podia deixar de travar.

Outros factores terão pesado no processo de luta de libertação condicionando-o nas

mais variadas frentes. Tratando-se Cabo Verde e Guiné Bissau de duas comunidade que se

fundaram com base numa sociedade escravocrata, o caldeamento de povos de diferentes

origens, numa determinada perspectiva pode ser encarado como uma riqueza cultural, mas

não deixa de ser ao mesmo tempo um constrangimento, pois no caso da Guiné as múltiplas

etnias, muitas vezes era difícil de se estabelecer um código comum, que fosse a ponte entre as

diferenças no combate ao poder colonial.

Em seis meses de luta, estavam libertados o Combal e os territórios ao sul do Geba.

Ainda em 1963, novas regiões foram ocupadas na Guiné Bissau e tomadas novas medidas

para a intensificação directa da luta em Cabo Verde, com o objectivo de chegar da fase

política á de acção da luta propriamente dita. E, em 1964, o colonialista sofria uma enorme

derrota na ilha do Komo, considerada uma plataforma estratégica para a reconquista do Sul da

Guiné.

Simultaneamente, realizava-se o primeiro Congresso do partido, que decidiu criar

órgãos de administração e um sistema de assistência nas regiões libertadas, além das forças

armadas revolucionárias do povo (Exército, Guerrilha, e Milícia Popular) e de um Conselho

de Guerra. Ao fim de 1966, 60% do território guineense encontrava-se liberto.

Após dezassete anos de luta, o partido proclamava independência da Guiné-bissau a

24 de Setembro de 1973, que se propôs como Estado soberano, republicano, democrático,

12

PEREIRA, Aristides O meu Testemunho uma luta um partido dois países, Editorial Notícias, 1 edição, Lisboa,

2003

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 29

anti-colonialista e anti-imperialista. Seus objectivos, a libertação total do povo da Guiné e

Cabo Verde e a união dos dois territórios.

Relativamente a Cabo Verde a ascensão do país à categoria de Estado soberano só

veio acontecer dois anos mais tarde, isto é a 5 de Julho de 1975.

Durante esta trajectória da luta de libertação, apesar de intensos esforços feito pelos

activista políticos afectos ao PAIGC, a polícia política desafiada, mantinha todavia

operacional o seu esquema de perseguir, amedrontar e aprisionar nas masmorras do Tarrafal,

o campo de concentração criado em 1936 para silenciar todos aqueles que se opunha ao

regime de António Oliveira Salazar ditador e Presidente da República Portuguesaque chegou

ao poder em 1928 através de um golpe de Estado.

3.3 A preparação para o desembarque em Cabo Verde

23 de Janeiro de 1963 foi o ano da eclosão da guerra, após um processo preparatório,

que evitava, todavia, a todo custo o recurso às armas. Amílcar Cabral pretendia que a luta

fosse diplomática, e acreditava mesmo que esse fosse possível. Porém, após o massacre de

Pidjiguiti, na Guiné Bissau, perpetrado pelo poder colonial que fez centenas de vítimas, o

líder histórico do P.A.I.G.C viu desfeitas as ilusões, e colocou de parte aquilo que seria

utopia, e passou a assumir uma atitude consentânea com a realidade desenhada pelo poder

salazarista.

Na posse de armas doadas por Marrocos, e rejeitadas que foram por Lisboa as

propostas de Cabral, o movimento independentista da Guiné-Bissau entrou no mato dando

corpo ao processo de luta armada. Com apoio da Guiné Conakri, Senegal, Argélia, China e

União Soviética, entre outros, em pouco tempo o movimento consegue resultados satisfatórios

passando a dominar várias zonas da Guiné-Bissau.

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 30

No seu livro Crónica de Libertação Luís Cabral advoga que “ as forças colonialistas

encontravam-se incapazes de reagir; foram surpreendidos pelo aparecimento de armas

automáticas potentes em várias zonas do país e tiveram muitas baixas”13

Este relato dá-nos ideia do à-vontade com que os guerrilheiros do P.A.I.G.C

movimentavam-se nas matas da Guiné-Bissau. Mas o palco da guerra afigura-se “ estreito” já

que na retaguarda - Cabo Verde era necessário desencadear também um processo tendente à

luta de libertação. Embora o movimento ora em acção visava a independência das duas nações

em relação a Portugal, havia uma séria preocupação com as ilhas. Colocava-se todavia o

problema da natureza insular de Cabo Verde, daí reconhecerem ser difícil desencadear a luta

armada. Porém o projecto de desembarque em Cabo Verde existia, a ponto de terem enviado

para Cabo Verde materiais bélicos que foram desembarcados em Santo Antão.

Relativamente a este facto, e comparando as duas realidades políticas a do Mindelo e a

da Praia, observa o Jornalista José Vicente Lopes em “ Os Bastidores da Independência”: Em

Santiago a situação era mais ou menos idêntica. Havia, na prática, um grupo que actuava

fundamentalmente na zona urbana da Praia, e outro nas zonas rurais da ilha. Desde 1963 que

o PAIGC vinha tentando criar as condições para o início da luta armada em Cabo Verde, mais

concretamente na ilha de Santo Antão14

.

Este relato jornalístico que cita fontes ligadas ao movimento independentista prova-

nos que de facto iniciativas apontavam no sentido de fazer Cabo Verde um dos palcos para o

teatro da guerra. Estudo táctico sobre o assunto selou para sempre a hipótese, pois a natureza

insular podia funcionar como um constrangimento, e elemento determinante para uma derrota

militar dos homens do P.A.I.G.C.

Toda a preparação para um possível desembarque das forças do movimento

independentista acabou por ser de nulo efeito, tendo ficado esta hipótese como a verdadeira

utopia. A partir da constatação de que era inviável a ideia (em virtude da insularidade e outras

variáveis), Guiné-Bissau acaba por ser definitivamente o único palco de guerra. Face a esta

circunstância foi exactamente ali que as consequências da guerra fizeram sentir, provocando

13

CABRAL, Luís, op. Cit., P. 145 cr Crónica de Libertação 14

LOPES VICENTE, José. Os Bastidores da Independência, 2 ª edição, Spleen edições, Praia, 2002

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 31

milhares de desalojados, e empurrando milhares para a pobreza extrema, sendo sintomático

ainda hoje na sociedade guineense as sequelas da guerra colonial.

O que podemos garantir é que o facto de Cabo Verde não ter servido como palco de

guerra, não deixa de ter importância na luta de libertação, já que deu capital humano para

enformar o corpo de guerra e lutar pela soberania das duas nações. Está provado que o papel

de Cabo Verde neste processo foi de grande relevância, pois as estratégias da luta armada

tinham todos a relação umbilical com o arquipélago.

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CAPITULO IV

4. A PARTICIPAÇÃO DE SANTA CATARINA NA LUTA PELA

INDEPENDÊNCIA DE CABO VERDE

4.1. A ideia de consciência para a luta de libertação

A ideia de libertação em qualquer circunstância não é fruto do acaso. É antes de mais

um processo que incorpora variáveis, muitas vezes, difíceis de serem determinadas. No caso

de Cabo Verde pode-se depreender que ela teve a sua génese numa elite que se formou a

partir dos meados do século XVIII. Mais tarde com a criação da imprensa (1842) abre-se um

canal para discussão de ideias, e é bom reconhecer que a imprensa acabou por ter um papel

preponderante entre nós.

A fundação do Seminário-Liceu de S.Nicolau (1866- 1917), a criação do Liceu

Nacional em S. Vicente a partir de 1917 vão posicionar como factores para emergência de

uma espécie de iluminismo cabo-verdiano consubstanciado num instrumento/ movimento

literário designado Claridade.

Outros factores estarão na origem dessa tomada de consciência: a emigração forçada

para S. Tomé, as mortandades em massa, o abuso do poder instalado, enfim tudo isto num

somatório constituem ingredientes para tomada de consciência de um povo. Por outro lado, as

ideias de um estratega como Cabral vão sedimentar a consciência nacional. Acrescentar os

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ventos de mudança que sopravam por todos os lados, com impérios franceses e ingleses a

desmoronarem-se, enfim seria também em consequência o desmoronamento do império

português que estava de pé em virtude das intransigência e teimosia de António Oliveira

Salazar e os seus mais directos colaboradores.

4.2 Surgimento da ideia de assalto ao Pérola do Oceano

O surgimento da ideia do assalto é um dominador comum entre os assaltantes.

Movidos pelas ideias independentistas em voga, todos interiorizaram a ideia do projecto de

um Cabo Verde independente. As famosas reuniões de Achada Falcão e de Cruz Grande

estiveram na origem, desse assalto, cujas consequências mais directas foram o aprisionamento

geral da corporação.

Reina no seio desses valorosos homens a ideia de que o “comandante” teria sido objecto da

instrumentalização da PIDE. Por inferência pode-se concluir que José dos Reis Borges terá

urdido o enredo para levar os “ combatentes” a caírem nas malhas da PIDE. Fica por contar a

versão do Comandante que após esse feito deixou Cabo Verde, e só voltou uma vez, cuja

presença não foi notada.

Mas as causas do surgimento dessa ideia ultrapassam dados objectivos, para entrar no

domínio do subjectivismo, isto no lado do abstracto.

Ora, em 1970, vivia-se em Cabo Verde um momento especial. A luta armada ia-se na

sua fase mais avançada de conquistas, e como soe dizer a procissão ia-se no adro.

Assim sendo os cabo-verdianos tinham convicções fortes de que a vitória era certa.

Por outro lado as calamidades que iam marcando o país: o excesso de pobreza, o

analfabetismo, as secas intermináveis, a emigração forçada, enfim um rol de problemas assim

conjugados estavam a ser determinados na conduta daqueles que queriam de facto a libertação

total das ilhas de Cabo Verde. O que é certo é que o assalto ao Pérola do Oceano não atingiu

os objectivos traçados, mas a verdade é que serviu para junto da comunidade nacional reforçar

o sentido de luta que teria de ter por base o nacionalismo.

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Os intervenientes são unânimes em reconhecer que todavia com a experiência de vida,

caso fosse hoje a estratégia de assalto podia ser outra. Não arrependidos, porém deixa antever

que as coisas podiam ser processadas de outra forma, e seguramente teriam atingido os

objectivos na sua plenitude.

4.3 O assalto

A história do assalto a Pérola de Oceano está envolta em mistério e lendas, pois a

mistificação de actos históricos parece ser uma constante em qualquer processo de libertação.

Os agentes que protagonizaram este feito nos relatos convergem, mas a verdade é que há

situações que apontam para percepções diferentes sobre a mesma realidade.

José Bruno Spencer em artigo editado pelo jornal Horizonte considera que “ a história

do assalto ao Pérola de Oceano é cheia de contradições e muito se falou sobre se a intenção

era mesmo levar a embarcação para fora de Cabo Verde ou se pretendia outro objectivo. O

mesmo articulista, reconhece no entanto, que “ o caso do Pérola de Oceano constitui uma das

mais importantes cenas da história da época colonial de Cabo Verde”, para logo de seguida

sugerir “ mais investigações para que se saiba mais sobre o que realmente se passou.

O grupo de protagonistas deste feito era constituído por Alberto Gomes Semedo,

Ananias Gomes Cabral, António Pedro da Rosa, Arlindo Gomes dos Reis, Arsénio Vaz

Semedo, Benévolo Borges Furtado, Eugénio Borges Furtado, Ivo Pereira, João Augusto

Macedo, Joaquim Mendes Correia, Juvêncio da Veiga, Luís Furtado Mendonça, Martinho

Gomes Tavares, Sérgio dos Reis Furtado. Dessa longa lista apenas três já não fazem parte do

mundo dos vivos. Os restantes, ostentam a categoria de combatentes da liberdade da Pátria.

Com o propósito de clarificar o caso inquirimos duas personalidades lúcidas que

tomaram parte no assalto ao Pérola de Oceano. Um deles é Arlindo Gomes dos Reis. O nosso

entrevistado aborda a questão com emoção, colocando tónica no acto de bravura e heroicidade

que caracterizou os “valorosos combatentes”. Aquando do assalto Arlindo Gomes dos Reis

Borges contava 34 anos de idade. Influenciado pelo clima que se vivia (luta de libertação no

seu auge, com importantes conquistas pelas forças independentistas), e ainda com influência

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directa de dois destacados activistas do PAIGC – Pedro Martins e Ivo Pereira. Foi assim que

Arlindo Gomes dos Reis Borges começa a desenvolver o seu sentido de militância, a ponto de

incorporar o grupo dos assaltantes que pretendiam desviar o barco para Senegal. Integrado no

grupo dirige-se à Praia onde ia tomar o barco. Chegado ali e integrado no grupo comprou

bilhete com destino à ilha do Fogo.

Entraram no navio e momentos depois deste sulcar as águas, fizeram aparição fardada

e munidos de armas de pequeno calibre, e uma bandeira do PAIGC. Cada um na corporação

tinha o seu posto e categoria, e Arlindo dos Reis Borges era 1º Sargento de Arrecadação. O

comandante era o Sr. José dos Reis Borges, seu primo, que tinha por missão prender o

comandante do navio e dar-lhe instruções sobre o rumo. Foi assim que Sérgio Pereira e José

dos Reis Borges actuaram. Dirigiram-se para cabine e ali prenderam o homem do leme, mas

tinha por missão continuar a viagem como o único piloto. Observadas as normas definidas

pelos assaltantes, o pavor apoderou-se dos ocupantes, e um passageiro (nhô Maninho) que

tinha como destino a ilha do Fogo caiu no mar. O comandante tentou, em vão, recuperar o

corpo, mas de facto este estava irremediavelmente perdido. O sucedido teve lugar na

localidade de Ribeirão Porco, anota Arlindo Reis Borges, considerando ser este um caso de

triste memória porquanto o objectivo dos assaltantes não era fazer ninguém perder vida. “ O

nosso propósito era fazer desviar o barco para Senegal e partir dali juntar à força

independentista PAIGC e libertar o país das garras da maldição, conclui, para retomar o fio à

meada dizendo que eles (os assaltantes) tinham mapa e algum sentido de orientação. Sabiam,

por exemplo, que a partir do farol da ponta temerosa (Praia) traçado 15 º (quinze graus) o

barco podia atingir Senegal. Logo de seguida, e sem resistência, o comandante que havia

obedecido as instruções assegurou-lhes que seguia a viagem com o rumo ora definido, mas o

combustível era insuficiente para a trajectória pretendida. Foi assim que foi reformulado o

rumo, e Rincão (porto de Santa Catarina) foi o destino.

Chegados ali o objectivo era procurar meios para abastecer o navio de combustível. De

acordo com o nosso informante verificou-se uma espécie de cisão no seio do grupo. Uns em

debandada com medo da Pide, outros mantiveram-se firmes nos seus postos. A notícia corre

célere, e a PIDE alertada, actua de imediato pondo fim à aventura, que hoje no entender de

Arlindo Reis Borges, apesar de atribuir grande significado ao acto, não deixa de reconhecer

falhas na estratégia. A viagem que tinha por objectivo alcançar o porto de Dakar terminara

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nas grades da prisão. Ficou, ele e os companheiros, na Cidade da Praia, e mais tarde

transferidos para as masmorras do Tarrafal.

Como foi referido atrás, a PIDE, alertada, actuou repentinamente e as Forças Armadas

foram convocadas para deter os “ terroristas”. Levaram-nos via marítima até à Praia, e ali

passaram sete meses. Transferidos que foram para o Tarrafal ali permaneceram mais três

anos. A “soltura” verificou-se logo após 25 de Abril, mais precisamente a 1 de Maio de 1974.

Instalados no “campo de morte lenta” ali estabeleceram contactos com outros presos

políticos nomeadamente Lineu Miranda, Carlos Tavares e Fernando Tavares. Este último

também foi alvo do nosso inquérito. Comunicativo por excelência, e homem que se define por

“ carneiro de convicções fortes” diz não ter participado no assalto porque nessa altura estava

já preso no Tarrafal sob acusação de ser “ terrorista a soldo do comunismo internacional”.

Entre gargalhadas irónicas diz ter gostado do epíteto, até porque considera-se “partidário de

pão e palavra para todos”.

Pondo de lado as tiradas irónicas, Fernando Tavares assegura que na prisão os presos

políticos trocavam ideias, ainda que em voz sussurrada, sobre os ideais da luta de libertação.

Mantinham contactos externos através de cartas que passavam pelas mãos de alguns guardas “

profundamente humanos”. A restrição era entrar em contacto com os presos de delito comum.

“ Essa restrição não nos afectou em nada, porque tínhamos outros propósitos, e sempre foi

possível fazer combate político mesmo na cadeia”, finaliza avaliando o caso de Pérola de

Oceano como um dos momentos de significado histórico na luta de libertação.

António Pedro da Rosa é um outro interveniente no caso Pérola de Oceano. Discreto

por natureza, tem reservas em abordar a questão de forma aberta, embora não faça tabu sobre

este caso. Ao participar no assalto assumiu a categoria de Alferes, e como tal foi acusado logo

que caiu nas malhas da PIDE.

Num documento (ver anexo) subscrito pelo Comando Territorial Independente de

Cabo Verde – Tribunal Militar Territorial (libelo Acusatório) lê-se que António Pedro da

Rosa “faz parte do PAIGC desde Julho último tendo prestado juramento de fidelidade ao

partido. Mais avança o documento que o arguido tomou parte em várias reuniões partidárias

com alguns co-réus em Achada Falcão e na Cruz Grande, onde foram tratados assuntos

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relacionados com o PAIGC. A sua principal missão a bordo foi a de guardar o dono do Pérola

do Oceano António Lubrano, para o que vestia uma farda de Alferes do PAIGC e empunhava

um revólver”. Sobre o mesmo pesa outras acusações como por exemplo, de ter assistido ao

caso de falsificação de documento do Comandante dos Assaltantes José dos Reis Borges.

Ainda recai a acusação de estar a preparar assalto ao campo de concentração do Tarrafal.

A verdade é que António Pedro Rosa não era uma figura qualquer. Tinha prestado

serviço militar na Praia, e era detentor de 4ºclasse o que para altura era um nível académico de

luxo. Influenciado pelos companheiros Ivo Pereira (Fefa) e Pedro Martins foi lendo o ideário

do PAIGC.

António Pedro Rosa enquanto inquirido defende que o assalto a Pérola de Oceano

resulta no simples facto de ser um barco mais fácil de ser assaltado usando a estratégia de

comprar passagens com destino a Fogo. Assume ter sido de facto ele o guarda do dono do

barco aquando do assalto, e assumia a função de Alferes.

No prelúdio da sua narração, António Pedro Rosa avança os arranjos do assalto. Seu

companheiro Arlindo Gomes dos Reis Borges, sendo costureiro de profissão foi ele quem

confeccionou as fardas, explica para acrescentar que tudo o que diz respeito ao assalto foi

preparado nas reuniões de Achada Falcão e Cruz Grande. Com convicção afirma de que o

destino era Senegal donde iria ser traçado o rumo para Guiné-Bissau. Partilha da opinião do

seu colega Arlindo dos Reis Borges que a falta de combustível esteve na origem do regresso a

Rincão. Chegados ali, salienta que José dos reis Borges (Comandante) e João Augusto

Macedo, seu sobrinho, decidiram ir comprar combustível em Assomada. A caminho dado ao

amanhecer e com notícias de que o barco não tinha chegado nem ao Fogo, nem à Brava. Com

a autoridade alertada, foram provavelmente interceptados.

Em relação ao abandono do “posto”, António Pedro da Rosa considera que esse acto

de abandono tem a ver com o simples facto de que com o ancoramento o perigo de cair nas

malhas da PIDE era iminente, e esclarece que os que ficaram tem a ver com o facto de

estarem enjoados e sem capacidade para reagir.

Falando do “Comandante” José dos Reis Borges, seu primo, António Pedro Rosa não

tem papas na língua em considerar que esse senhor “ fez teatro”, era instrumento da PIDE, e

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conseguiu ludibriá-los para assaltar o barco sob o seu comando. Aponta o exemplo deste ter

sido “ preso” na Praia (preso com estatuto especial), para seis meses depois seguir rumo a

Portugal e mais tarde França, ao lado da sua mulher. Sobre este assunto Arlindo dos Reis

Borges não levanta véu, limitando-se apenas a dizer que ele é primo do suposto Comandante.

O nosso entrevistado é concordante com Fernando Tavares (este já tinha saído da

cadeia) que tinham possibilidades de discutir política na cadeia, embora de “forma

encoberta”. Troca de impressões e de ideias era uma constante. Os contactos externos eram

possíveis, embora a limitação era maior.

4.4. Modos de sobrevivência na prisão

Embora o campo de concentração fosse uma espécie de Câmara de Morte lenta, havia

momentos de lazer que consistia em jogar às cartas, oril, e oportunidade para uma cavaqueira,

regra geral sobre a política, e o sonho de um novo “amanhecer”. Havia uma hora por dia para

tomarem um banho de sol, e a partir daí o cenário era outro. Embora vigiados por uma polícia

zelosa, mas mesmo assim era possível, como se disse atrás, uma cavaqueira.

Em relação às torturas, Pedro Martins um dos presos do campo de concentração

escreve no seu livro “ Testemunho de um Combatente” focalizando as condições “ sub –

humanas” a que os presos estavam sujeitos, mas ameniza a situação com a ideia de que estar

preso em certa medida seria melhor do que estava a ser perseguido pela PIDE.

Apesar da convergência de ideias sobre esta matéria, António Pedro Rosa dramatiza o

problema de sobrevivência na cadeia. O nosso inquirido considera que a situação era

degradante, e a esperança de vida era cada vez mais reduzida. Mesma opinião tem Arlindo

Gomes dos Reis Borges que considera que “ não havia como chegar ao estádio da libertação

se não houvesse outros combatentes da liberdade da pátria a libertar noutras frentes”. O que

somos a confirmar é que os relatos de condições sub – humanas a que estavam sujeitos os

presos apontam para um caso dramático, sem paralelo, que a PIDE estava interessada a

perpetrar.

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Não é de estranhar tal situação, já que a ideia era aniquilar e amordaçar aqueles que

tinham o ideal de libertação. Basta ver a acção da PIDE em Cabo Verde, bem como o seu

ideário para se concluir que não se tratava de uma polícia científica, nem de uma polícia

romântica.

4.5. O fim do pesadelo

Vendo a questão num ângulo abrangente, somos a dizer que no quadro da luta de

libertação, na senda dos esforços consentidos para alterar a situação militar estacionária, o

PAIGC procurou introduzir meios bélicos sofisticados, incluindo blindados, mísseis

antiaéreos e até aviação no sentido de garantir a flagelação do inimigo. Tal desiderato foi

atingido e a tropa inimiga foi-se recuando, aos poucos, devagar, a ponto de PAIGC ter tomado

o controlo total da situação.

Em 1974 a luta estava a culminar, e só restava esforços diplomáticos com várias delegações

de Alto Nível a tentar equacionar o problema da descolonização.

Em Cabo Verde a Rádio Libertação é interdita, certos jornais e livros só circulam de

forma clandestina. Mas o processo vai-se acelerando e chega 25 de Abril e com ele a

Revolução dos Cravos. Impera-se a mudança e a 1 de Maio de 1974 é o fim do pesadelo, com

as portas do Campo de Concentração totalmente franqueadas. Alguns presos que saíram

acabaram por ter papel decisivo no processo da independência que viria ser facto a 5 de Julho

de 1975.

Observa o Jornalista José Vicente Lopes no seu livro “ Os Bastidores da

Independência” que “ em Cabo Verde, com o 25 de Abril, os acontecimentos sucedem-se num

ritmo vertiginoso. Acrescenta ainda o Jornalista investigador que Passada a surpresa do golpe

em Portugal surgem três teses em relação ao futuro de Cabo Verde. De um lado o PAIGC que

preconizava a independência e a unidade com a Guiné-bissau; e do outro a UPICCV, que era

a favor da independência, mas sem quaisquer vínculos externos, e ainda a União Democrática

de Cabo Verde (UDC), criada em Maio, no Mindelo, e presidida pelo advogado João Baptista

Monteiro, que embora aceitando o precipício da autodeterminação e mais tarde da própria

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independência total. Ganhou finalmente o partido da luta de libertação o PAIGC, e como já se

referiu, Cabo Verde assumiu o seu destino sob o comando de partido único, que embora

profundamente contestado por altura da mudança política operada em 1991, criou um clima

de segurança e concórdia, que afugentou para longe a imagem da PIDE.

Face a este cenário, estamos autorizados a concluir que de facto 5 de Julho de 1975 foi

o corolário da liberdade e de prelúdio de um Cabo Verde próspero.

4.6. Participação dos santacatarinenses noutras esferas da luta armada

A participação dos santacarinenses no processo da conquista da soberana nacional não

se esgota com o assalto ao “Pérola do Oceano”. Essa participação foi mais vasta e mais

expressiva, já que vamos encontrar em diversas fases da luta figuras oriundas de Santa

Catarina, que se destacaram pela sua bravura e heroicidade. Muitos estão ainda vivos e são

personalidades referenciadas pela história e pela memória colectiva.

Não ocuparemos de focalizar todas as figuras de Santa Catarina que se posicionaram

no contexto de luta de libertação, mas como já tivemos oportunidade de referenciar neste

trabalho, que só num opúsculo editado pela ACOLP (Associação dos Combatentes da

liberdade da Pátria) dentre as 25 figuras – combatentes da liberdade da pátria 17 são

originários de Santa Catarina. Noutra perspectiva não podemos ignorar que o antigo

Presidente da República António Mascarenhas Monteiro foi combatente nas matas da Guiné,

embora seja referenciado como um desertor.

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CONCLUSÃO

A participação dos santiaguenses, particularmente santa catarineneses no processo de

luta de libertação foi determinante. Na ilha de Santiago, a mais populosa, e a que tem maior

dimensão geográfica, foi lançada a “ semente” que engendrou uma atitude de combate. Foi ali

que, sobretudo no interior, ocorreu várias revoltas populares, que ao longo do tempo foram

condensando o desejo de liberdade. O próprio líder histórico do P.A.I.G.C, Amílcar Cabral é

originário dessas paragens, embora tenha nascido na Guiné Bissau, passou parte da sua

infância em Achada Falcão – interior de Santa Catarina, na ilha de Santiago.

Não podemos ignorar que o sucesso da luta armada está correlacionada com a disponibilidade

dos santa catarinenses de um modo muito particular. Atesta tal facto o número de combates

oriundos dessa parcela do território nacional, e o grau de ilustração que atingiram.

Movido pelos sentimento patriótico muitos jovens de Santa Catarina decidiram aderir

à luta armada, tendo muitos sucumbido nas frentes de batalha diante do inimigo. Outros

resistiram heroicamente, e constituem hoje a plêiade de homens referência da nação.

Uma tradição de rebeldia no sentido da conquista da liberdade e da dignidade

engendrada em Santa Catarina no desenrolar dos séculos, foi determinante para que muitos

jovens entregassem sem hesitação ao processo de luta que visava a emancipação de Cabo

Verde. Muitos deles ainda muito jovens, e com colocação profissional assumiram por inteiro

o desafio de questionar o poder colonial e contribuir para o seu desmoronamento.

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Julgamos ser fundamental, que à medida que os cabo-verdianos se tornem cada vez

mais maduros, e à medida que vão ganhando mais lucidez em relação à sua própria história, e

reconhecer os momentos significativos da sua trajectória, assumir uma atitude de orgulho por

ter como pilares da sua história figuras de tão elevado quilate moral, cívico e intelectual.

Com o termino deste trabalho cientifico que refata, chagaram as seguintes anotações.

Após dezanove anos de luta em comum, os povos da Guiné Bissau e de cabo Verde

conseguiram o seu reconhecimento internacional como Estados soberanos.

Em Cabo Verde, as eleições para 56 cadeiras da Assembleia Nacional Popular

foram realizadas a 20 de Junho de 1975 e o único partido a disputar as eleições foi o

P.A.I.G.C.

Após uma “luta titânica” travada internamente entre o PAIGC que assumia ser guia e

luz da nação, essa força conseguiu afastar a U.P.I.C-CV e a U.D.C da luta pelo poder,

e instalou-se no poder durante 15 anos, até 13 de Janeiro de 1991, altura em que foram

realizadas as primeiras eleições livres, através do voto directo, universal e secreto.

A 4 de Julho de 1975 a Assembleia reuniu-se na Praia e a independência ocorreu a 5

de Julho, com Aristides Pereira, Secretário-Geral do partido, elegendo-se Presidente.

A 6 de Julho do mesmo ano as tropas portuguesas retiraram-se parcialmente das ilhas

levando consigo diversos oponentes do PAIGC, para os quais negociaram uma

amnistia.

A 16 de Setembro do mesmo ano Cabo Verde foi admitido nas Nações Unidas. O

resultado destas acções que culminaram com a independência de Cabo Verde, com

admissão do país como membro de pelo direito no seio da ONU, são frutos do labor

do homem cabo-verdiano e guineense que guiados pela mesma causa lutaram para

afirmação dos dois países no concerto das nações.

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Anexos 1: Cidade de Assomada

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Anexos 2: Navio de Cabotagem “Pérola do Oceano”

Abandonado na Praia da Gambôa

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Anexos 3: Libelo Acusatório Subscrito pelo comando Territorial

Independente de Cabo Verde -Tribunal Militar Territorial

- Nota de Culpa –

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Instituto Superior de Educação

Departamento de História e Filosofia

Entrevista

No âmbito da elaboração de um trabalho científico para a obtenção do grau de

licenciatura, pretendo apresentar um trabalho intitulado “A participação de santa Catarina

- Santiago de cabo verde na luta pela independência nacional”, para efeito, proponho

realizar uma entrevista a alguns participantes do assalto ao navio de cabotagem “Pérola do

Oceano”, cujo objectivo é recolher opiniões individualizadas.

Espero a sua colaboração durante a mesma.

Lúcia Freire Monteiro

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1. Que motivações para assaltar o Pérola do Oceano?

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2. Quem foi o mentor do projecto?

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3. Nessa altura tinham contactos com activistas do PAIGC?

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Se sim especificar: ___________________________________________________________

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4. Como é que decorreram os preparativos para o assalto?

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5. Estando já no barco como é que se processou o assalto?

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6. Que conhecimentos tinham das ciências náuticas para comandar um barco?

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7. Não tendo sido possível a viagem, o barco muda de rota para Rincão?

Sim Não

Se sim especificar: ________________________________________________________

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8. Chegados ali houve denúncia, houve cisão no seio do grupo, como é que afinal se

processou o problema?

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9. Estando na prisão como é que era a vida ali?

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10. Era possível comunicar com outros presos?

Sim Não

Se sim especificar: ___________________________________________________________

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____________________________________________________________________________

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Se não especificar: ___________________________________________________________

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11. Como é que conseguiram a libertação?

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A Participação de Santa Catarina – Santiago de Cabo Verde – na Luta da Libertação Nacional 22

12. Hoje que leitura tem da gesta da luta de libertação?

13. Assume como combatente da liberdade da pátria?

Sim Não

Se sim especificar: ___________________________________________________________

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Se não especificar: ___________________________________________________________

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