laurindo mékie pereira - .décadas seguintes (1945-1964): o partido social democrático (psd), o
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Laurindo Mkie Pereira
Dependncia, Favores e Compromissos: Relaes Sociais e Polticas em Montes Claros nos anos 40 e 50.
Orientador: Profa. Helosa Helena Pacheco Cardoso
Uberlndia, maio de 2001
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Sumrio
SUMRIO............................................................................................................................ 1
INTRODUO.................................................................................................................... 2
CAPTULO I: A POLTICA DESENVOLVIMENTISTA EM MONTES CLAROS 14
1.1 MONTES CLAROS NOS ANOS 50: ENTRE A ESPERANA E A FRUSTRAO................ 14 1.2 - A INVENO DO CENTENRIO ................................................................................. 24 1.3 - O ACORDAR DO SONHO ........................................................................................... 43
CAPTULO II: A SACRALIZAO DA INSTNCIA DO POLTICO ................... 60
2.1 OS SIGNIFICADOS DO CORONELISMO ....................................................................... 61 2.2.- O CORONEL SACRALIZADO ....................................................................................... 72 2.3 A TEATRALIZAO DOS EVENTOS ........................................................................... 83 2.4 FAVORES, VIOLNCIA E FRAUDES. ........................................................................... 94
CAPTULO III: AS ESTRATGIAS POPULARES DE PARTICIPAO POLTICA........................................................................................................................ 110
3.1 A RELATIVIDADE DA DEPENDNCIA ...................................................................... 110 3.2 ESTRATGIAS DE SOBREVIVNCIA E AO POLTICA .............................................. 119 3.3 ENTRE A ACEITAO E A NEGAO DO PODER VI GENTE......................................... 127 3.4 O (RE)FAZER DA POLTICA ...................................................................................... 145
ANEXOS........................................................................................................................... 155
FONTES ........................................................................................................................... 168
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 173
2
Dependncia, Favores e Compromissos: Relaes Sociais e Polticas em Montes Claros nos anos 40 e 50.
Introduo
O perodo compreendido entre o fim do Estado Novo e o golpe militar de 1964
significativo na Histria do Brasil. Os processos de industrializao e urbanizao e as
complexas relaes sociais e polticas, nesse momento de mudanas, constituem temas
sempre suscetveis de discusses.
A industrializao foi, do ponto de vista econmico, a preocupao central do
Estado brasileiro que, aproveitando-se da situao externa favorvel crescimento
exuberante da economia internacional no ps-guerra , buscou acelerar o desenvolvimento
do capitalismo no Brasil, servindo como auxiliar do capital privado no processo de
acumulao, investindo em setores menos atrativos aos interesses privados, montando a
infraestrutura necessria implementao das indstrias e intervindo em questes sociais
com o fim de dar segurana aos capitais investidos.
Para tanto, a prtica do planejamento tornou-se necessria. Se durante os governos
de Eurico Gaspar Dutra e Getlio Vargas os planos revelaram-se infactveis, a execuo do
Plano de Metas durante a gesto de Juscelino Kubistchek proporcionou ao pas os maiores
ndices de crescimento industrial at ento registrados em sua histria.
Paralelo ao processo de industrializao, e em parte decorrente dele, o crescimento
da populao urbana, combinado com a existncia de prticas polticas razoavelmente
estveis como as eleies diretas e o voto universal (exceto analfabetos), forjou um
conjunto de relaes sociais e polticas complexo, articulando velhas e novas prticas.
3
O estudo dessas relaes o que se pretende neste trabalho que, embora se volte
para um local especfico a cidade de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais , no
compreende a manifestao dessas relaes isoladas do todo nacional. Os anos 40, com o
fim da ditadura varguista, assinalaram a volta democracia, agora com um significado
especial: a Constituio de 1946 garantia a elegibilidade do executivo local. Partindo dessa
conjuntura nacional, a pesquisa procura compreender como relacionavam-se populao e
lideranas polticas nesta nova fase, agora marcada por eleies para todas as instncias.
A manuteno das relaes de dependncia eram indispensveis s elites locais no
contexto do chamado perodo democrtico. O progressivo fortalecimento do Estado
como agente planejador, investidor e parceiro da iniciativa privada1 fez crescer a
importncia de se deter o seu controle. Conscientes dessa nova realidade, os grupos
dominantes de Montes Claros organizaram-se para se fazer representar no Congresso
Nacional, Assemblia Legislativa, Cmara e Prefeitura Municipais.
Em mbito nacional, o fim do Estado Novo assinalou o surgimento de diversas
agremiaes partidrias no pas. Trs grandes partidos predominariam ao longo das
dcadas seguintes (1945-1964): o Partido Social Democrtico (PSD), O Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) e a Unio Democrtica Nacional (UDN). No plano estadual, o Partido
Republicano (PR) tambm detinha uma certa influncia.
A crescente oposio ditadura varguista entendida como decorrente do ambiente
internacional pr- liberalismo do ps-guerra forou a organizao de um sistema
partidrio no pas `a medida que situao e oposio convenciam-se da necessidade de se
1 ABREU, Marcelo de Paiva (org.) A ordem do progresso. Cem anos de poltica econmica republicana 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990. Conforme Abreu, as elites brasileiras sempre foram resistentes aceitao total do Laissez Faire. O fortalecimento e intervencionismo do Estado aps 1930 manifesta-se na sua crescente ao como agente planejador da economia e investidor em setores especficos como infra-estrutura e ramos no interessantes ao capital privado. Pp. 8-9.
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criar mecanismos institucionais para canalizar interesses e presses polticas.2 O PSD
nasceu das estruturas burocrticas do Estado Novo, ...criado, como se sabe, de cima para
baixo; ou mais exatamente de dentro para fora do Estado, atravs da convocao feita
pelos interventores s bases municipais nos estados.3 Reunindo as expressivas lideranas
municipais, sob o comando dos interventores e apoiadas num arcabouo burocrtico que
lhe garantia cargos e poder de deciso, o PSD j nasceu grande e foi, ao longo do perodo,
a maior fora partidria.
Tambm sob a orientao de Getlio Vargas, o PTB foi estruturado de maneira a
abrigar os interesses das camadas operrias urbanas. Estreitamente ligado ao Estado, o
Partido controlava cargos dos Ministrios do Trabalho e Previdncia e utilizava-se desse
mecanismo para exercer sua influncia poltica.4
A UDN surgiu como o partido de oposio ao getulismo e comportou-se como tal
at o desfecho golpista de 1964. Congregando interesses urbanos elite urbana e alta
classe mdia , a Unio Democrtica Nacional teve dificuldades em penetrar no interior,
onde a mquina pessedista era extremamente slida. Por outro lado, no espao urbano, teve
dificuldades em arrebanhar amplo apoio em virtude da penetrao do PTB junto ao
operariado e de partidos menores que tambm ocupavam seu espao contribuindo para a
pulverizao dos votos.
O PR foi um partido de base regional. Era o herdeiro do velho Partido Republicano
da Primeira Repblica. O PR conservou um significativo prestgio poltico em Minas
Gerais pois, embora no tivesse condies de chegar ao comando do Estado, era a fora
que decidia as eleies estaduais na medida em que poderia estar aliado tanto UDN
2 SOUZA, Maria do Carmo Campello de. Estado e Partidos Polticos no Brasil (1930-1964). So Paulo: Alfa-Omega, 1990, pp. 63-64. 3 SOUZA, Maria do Carmo Campello. Op. Cit., p. 109.
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quanto ao PSD. De posse desse instrumento, os perristas vendiam caro seu apoio a cada
eleio: em troca da aliana, abocanhavam vrios cargos de secretarias at delegados
municipais.
Apesar do aparente clima de mudanas no ocaso do Estado Novo, da agitao
poltica proporcionada pelo surgimento de partidos polticos com bases nacionais, segundo
Maria do Carmo Campello de Souza h mais continuidade que ruptura em 1945. Para a
autora, o Estado exercia, mesmo aps a queda de Vargas, enorme condicionamento
sobre os partidos e sua estrutura burocrtica, forjada ao longo dos 15 anos de predomnio
getulista, no foi alterada pela Constituio de 1946.
Exemplo concreto disso a prpria existncia de dois partidos sados das entranhas
do Estado o PSD e o PTB que, embora representassem segmentos sociais divergentes,
foram a base poltica predominante no perodo e que deu sustentao aos projetos de
desenvolvimento at a crise institucional do incio da dcada de 1960.
Em 1945, em Montes Claros, formaram-se dois partidos: o Partido Social
Democrata (PSD) e o Partido Republicano (PR