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Mestrado em Educação Área de Inovação

Pedagógica Ano Letivo 2011/2012

Paradigmas Educativos

Jean Piaget

Mestrandos: Laura Feteira nº 2071806

Paula Silva nº 2102611

Sandra Rodrigues nº2002111

Docente: Prof. Doutor António Bento

Funchal 2012

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Sumário

Resumo ......................................................................................................................... 2

Abstract ........................................................................................................................ 2

Introdução ..................................................................................................................... 2

Biografia ....................................................................................................................... 3

Teoria Piagetiana da Epistemologia genética ................................................................. 5

Adaptação do ser humano ao meio ..................................................................... 6

Invariantes funcionais ........................................................................................ 6

Teoria da equilibração ....................................................................................... 8

Estádios e desenvolvimento cognitivo ........................................................................... 9

Teoria do desenvolvimento moral ............................................................................... 10

Criticas à teoria de Jean Piaget .................................................................................... 12

Teoria de Piaget na educação em ciências e suas limitações ............................. 12

Desenvolvimento curricular e suas limitações .................................................. 12

Metodologia de ensino e suas limitações .......................................................... 13

Diferenças individuais e o conhecimento académico ........................................ 13

Conclusão ................................................................................................................... 14

Bibliografia ................................................................................................................. 15

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RESUMO

O presente trabalho tem como intuito abordar a vida e obra de Jean Piaget, dando a

conhecer as suas teorias.

Piaget foi um epistemologista de grande influência, não só no seu tempo, como

atualmente, tendo efetuado importantes estudos na área da Epistemologia Genética, em

que pretendeu compreender o desenvolvimento cognitivo das crianças. Piaget foi um

construtivista nato, encetando a sua observação, no entendimento do desenvolvimento

da inteligência das crianças, tendo em conta a interação indissociável do meio com os

indivíduos, como fator de aquisição de conhecimento.

ABSTRACT

This work has the intention to approach life and work of Jean Piaget. Getting to know

the theories developed by this.

Epistemologist Piaget was one of the great influence, not only in his time, as now,

having made important studies in the area of Genetic Epistemology. This sought to

understand the cognitive development of children. Piaget was born a constructivist,

engaging your observation on the understanding of cognitive development of children,

taking into account the interaction of the medium with inseparable individuals as a

factor for acquiring knowledge.

INTRODUÇÃO

Desde o nascimento que as crianças dão mostras de uma fantástica atividade sensorial e

motora, e à medida que esta vai crescendo, manifestam o seu desenvolvimento

cognitivo. Piaget, no desenvolvimento da sua teoria, deu-nos a conhecer as diferentes

fases de desenvolvimento da inteligência da criança e a perspetiva de como esse

desenvolvimento se processa. Este implica uma série de conceitos inovadores, incidindo

numa visão marcadamente construtivista de desenvolvimento humano. Quando nos

referimos à palavra desenvolvimento não podemos falar duma forma linear, pois o

conceito de desenvolvimento comporta demasiadas conceções, metamorfoses,

influências, estudos e dedicação à temática. Este conceito designa -se por um conjunto

de transformações a vários níveis, físico, fisiológico e psicológico, que influenciam e

marcam significativamente toda a existência do indivíduo, tendo em conta, que o

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mesmo não é um Ser isolado mas que é influenciado pelas suas experiências, atitudes e

características pessoais.

Este trabalho, tem como intuito perceber, e dar a perceber, alguns dos conceitos que

fazem parte da teoria do desenvolvimento, preconizada por um dos grandes nomes da

Psicologia do Desenvolvimento, Piaget, que foi inovador na descrição do

desenvolvimento do ser humano de forma construtivista e interpretou o

desenvolvimento cognitivo por estádios. Em suma, iniciamos este trabalho fazendo uma

breve abordagem sobre a vida e obra de Piaget, a teoria da Epistemologia Genética, a

teoria do Desenvolvimento Moral, e algumas críticas às teorias desenvolvidas.

BIOGRAFIA

Piaget nasce em 1896 na Suiça, Neuchâtel, no seio de uma família intelectual burguesa e

protestante liberal convicta. A pouca harmonia reinante entre os pais, assim como as

fortes convicções religiosas e o temperamento algo intransigente da mãe influenciam-no

decisivamente.

Enquanto estudante, acumula uma vasta cultura, desenvolve o talento da oratória e o

gosto pela filosofia religiosa de espiríto protestante, que coloca ao serviço da Associação

Cristã de Estudantes da Suiça Romanda. Mantém-se ligado a esta até 1931, ano em que

publica pela última vez sobre psicologia religiosa. Aos dezanove anos lança o seu

primeiro livro, La mission de l’idée e pouco depois Recherce, e aí defende que a razão “é

uma faculdade que nasce da ação” (Xypas, 1997, p. 27). Aos 21 anos é doutorado em

Ciências Naturais, tem vinte e seis artigos publicados e é considerado um especialista de

vulto em moluscos. A sua tese de doutoramento Une forme verbale di comparaison chez

l’enfant leva o orientador a convidá-lo a fazer investigação em psicologia da criança e a

dar formação a professores no Instituto J.-J. Rousseau, Instituto privado de Ciências da

Educação considerado um local de militância “a favor da Educação Nova” (p. 28).

Permanece para sempre ligado ao Instituto.

Em 1921 cria um grupo de investigação na área da psicologia religiosa e em 1928 um

outro, sobre “o julgamento moral da criança” (p. 19). Entre 1925 e 1929 é professor de

Psicologia, Sociologia e Filosofia das Ciências na Universidade de Neuchâtel sem nunca

deixar de desenvolver trabalho no Instituto. De 1929 a 1939 é professor extraordinário na

Faculdade de Ciências na Universidade de Genebra, de Pensamento Científico, e em

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1929 é nomeado diretor-adjunto do seu ex-orientador, P. Bovet e diretor do Instituto a

quem sucede em 1925.

Para Piaget qual o papel do professor? O defensor da psicologia ativa, viu o professor

como um criador de situações propícias à exploração e experimentação, à análise e

síntese. A orientação experiente do professor deve indicar ao aluno como e onde procurar

a resposta certa. Em simultâneo desenvolveu dois projetos de investigação: um

epistemológico e outro moral e humanista que se propoem reconciliar fé e ciência. Para

Piaget “a lógica é uma moral do pensamento, tal como a moral é uma lógica da ação”

(Piaget, 1973, p. 322 citado por Xypas, p.13).

Entre as duas guerras mundiais, como diretor do Bureau Internacional D’education, luta

por uma mudança de paradigma que desenvolva a cidadania e o entendimento entre os

estados em nome da defesa da paz. Em simultâneo desenvolve no campo da investigação

a Educação Nova e a defesa da escola ativa.

De 1938 a 1951 é professor em Lausana e na Faculdade de Ciências Económicas e

Sociais de Genebra. Em 1950 publica Introduction à l’épistémologie genétique. Em 1952,

aos cinquenta e seis anos, ocupa a cátedra de professor em Psicologia da Criança na

prestigiada Sorbonne e passa a ensinar exclusivamente Psicologia. Com o fim da guerra

considera que é chegada a altura de deixar de se intitular epistemelogista.

Reune muitos artigos de Sociologia num volume que intitula Études sociologuiques, onde

faz uma abordagem interdisciplinar da socialização e recorre à moral e à inteligência para

concluir que a socialização “é educação em sentido lato”. Neste período concretiza o

sonho de implementar o centro internacional de epistemologia genética.

Este puro cognitivista, que dá pouca importâmcia à afetividade, surge umas vezes como o

“Piaget epistémico”, onde fala da criança como meio e, outra como “Piaget psicológico”,

o do homem real com aspirações, valores, ideais, sonhos e desilusões que constitui o seu

projeto moral. Os textos, agrupados sob a capa de títulos neutros, L’individualité en

histoire:l’individu et la formation de la raison e Problèmes de la psychosociologie de

l’enfance» teorizam o projeto moral.

Na Universidade de Lausana e na Sorbonne Piaget ministra aulas magistrais, e no

Instituto Rousseau é um pedagogo inovador onde pratica pedagogia ativa baseada na

“ação direta de cada aluno sobre o objeto” (p.35), na cooperação entre os elementos do

grupo de trabalho, na motivação e orientação do professor, como guia, que dá voz ao

princípio de que só a pesquisa pessoal é formadora. Considera que as aulas magistrais só

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se tornam necessárias após a experiência e a pesquisa dos formandos, para então dar

resposta às dúvidas levantadas. O Instituto Rousseau foi sempre uma comunidade de

investigação e estudo. Fotografias da época testemunham o ambiente de amizade,

familiaridade e respeito mútuo entre professores e alunos, e decerto que foram estas as

razões da sua ligação ao Instituto, ao longo de toda a sua vida.

Sub-diretor geral da Unesco desde 1945 passa a ser membro do Conselho executivo em

1960. Nesta época, 1965, em Sagesse et illusion de la philosophie debruça-se sobre o

“risco do fechamento egocêntrico” (p. 28). Doutor honoris causa de Harvard em 1936 e

da Sorbonne em 1946, e de quase mais trinta doutoramentos honoríficos.

Morre em Genebra em Setembro de 1980.

TEORIA PIAGETIANA DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

A Epistemologia Genética focalizada por Piaget na sua teoria, dá ênfase ao estudo do

desenvolvimento humano, mais concretamente ao estudo da génese do conhecimento. A

investigação de Piaget trouxe contribuições essenciais para o estudo do comportamento

e do desenvolvimento da criança, tendo este autor uma visão desenvolvimentalista do

conhecimento.

A Epistemologia Genética tem como cerne a explicação da continuidade entre os

processos biológicos e cognitivos, sem minorar a importância de uns relativamente aos

outros. Desta forma, a descrição do desenvolvimento humano é feita de forma analítica

e descritiva. O processo evolutivo da genética humana tem uma génese biológica que é

ativada pela interação do organismo com o meio (físico e social), com o qual toma

contacto, e reafirma deste modo a interdependência entre o sujeito cognoscente e o

objeto cognoscível. Deste modo, tanto a experiência sensorial como o raciocínio, se

fundem no processo de construção da inteligência ou do pensamento lógico do ser

humano.

Na teoria de Piaget o conhecimento faz parte de uma construção contínua por parte do

sujeito que conhece. Em que a realidade externa ao sujeito é interpretada por este,

dependendo do modo como a informação lhe chega. O indivíduo evolui na construção e

reconstrução do seu conhecimento, desde o seu estado inicial até ao estado atual, ou

seja, a maturação do organismo é assim um processo histórico.

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Adaptação do Ser Humano ao Meio

O ser humano, bem como todos os seres vivos, têm a capacidade de se adaptar ao meio

em que está inserido, de modo a conseguir sobreviver. Piaget (1986) refere que o

principal recurso para o ser humano pôr em prática essa adaptação ao meio é a

inteligência, referindo que “ o organismo adapta-se construindo materialmente formas

novas para as inserir nas formas do Universo, enquanto que a inteligência prolonga esta

criação conduzindo mentalmente as estruturas suscetíveis de se aplicarem às do meio”.

A inteligência assim definida por Piaget é como que uma adaptação biológica, cuja

funcionalidade é a conceção do equilíbrio entre o meio e o organismo. Por sua vez este

equilíbrio constitui-se como progressivo. Cada etapa de equilíbrio, é seguida de outra de

desequilíbrio, à qual se segue uma nova fase de equilíbrio. Construindo-se o

conhecimento e a adaptação com um grau cada vez maior de complexidade.

Jean Piaget referiu o processo de equilibração como o meio pelo qual se dá a evolução

rumo ao equilíbrio. Sendo este conceito, marcante na sua teoria, pois representa o

alicerce de todo o processo do desenvolvimento humano.

Invariantes Funcionais

Estes conceitos, denominados de Invariantes Funcionais, são centrais na teoria do

desenvolvimento humano de Piaget. Convém relembrar que a inteligência nos permite

equilibrar com o meio em que estamos inseridos, e para a entender é imperioso

conhecer como ela funciona. Esta tem assim estruturas invariáveis na forma como

funciona.

Piaget expôs assim duas invariantes funcionais da inteligência: a adaptação e o

equilíbrio. Todo o individuo quando nasce trás consigo um conjunto de estruturas

biológicas que permanecem ao longo da sua vida, que não são mais que uma tendência

inata à organização e à adaptação (assimilação e acomodação). Estas duas componentes

são inseparáveis, complementando-se uma à outra, a organização é uma aspeto interno e

a adaptação um aspeto externo. São assim denominadas, de invariantes, pela sua

invariável presença em todo o processo de construção do conhecimento, e em todo o ato

adaptativo. A adaptação entende-se como um processo em que o organismo em

interação com o meio, sofre modificações devido a esse intercâmbio. Este processo

contínuo em que o indivíduo incorpora elementos do meio externo, tenta adaptar-se a

eles, integrando o novo conhecimento (assim os aspetos resultantes da experiência) em

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esquemas já estruturados, Piaget denominou de assimilação. Ou seja, os novos

elementos são assimilados e incorporados na estrutura cognitiva (mudança quantitativa

– modificação de conteúdo).

Neste processo de adaptação está sempre presente também a acomodação, em que ao

integrar elementos novos de conhecimento nos esquemas já existentes, a inteligência

modifica-se, ajustando os novos saberes àqueles que já se encontram estruturados. A

acomodação funciona assim como uma reorganização interna, permitindo um

ajustamento aos esquemas já existentes do novo conhecimento ou a criação de novos

esquemas, tendo em conta uma melhor adaptação (mudança qualitativa – modificação

da estrutura). A adaptação intelectual permite um equilíbrio progressivo entre um

mecanismo de assimilação e uma acomodação, sendo estes dois mecanismos

complementares e presentes em toda a vida do indivíduo.

Um conceito presente na teoria de Piaget e que convêm esclarecer, é o conceito de

esquema. Assim sendo, este pode ser entendido como estruturas que se modificam em

função do desenvolvimento mental, e que se tornam cada vez mais apurados à medida

que o indivíduo se torna mais hábil a generalizar estímulos. Os esquemas são assim

estruturas cognitivas ou comportamentos ou pensamentos, pelos quais os indivíduos se

adaptam e organizam o meio. Estes podem ser simples ou formar um conjunto

(esquemas coordenados). A criança quando nasce apresenta escassos esquemas, e à

medida que cresce os seus esquemas tornam-se mais generalizados e mais numerosos.

Sendo que uma criança diante de um estímulo externo, tenta encaixar o mesmo num

esquema (estrutura intelectual) que possua.

Por forma a proporcionar um melhor entendimento do descrito propõe-se o esquema

abaixo, que sintetiza os fundamentos da teoria piagetiana:

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Figura 1 - Fundamentos da Teoria Piagetiana

Fonte: Elaboração Própria

Nesta linha de pensamento, importa ainda referir a ideia de conservação presente nos

escritos de Piaget. Ao utilizar este conceito Piaget refere a capacidade de o indivíduo

identificar o permanente, o conhecimento contínuo dentro da mudança. A ideia de

conservação depende do desenvolvimento do raciocínio, e da distinção entre o que é

real e o que parece ser. Esta ideia surge, por exemplo, quando um objeto desaparece do

campo visual, mas permanece na nossa estrutura mental.

Teoria da Equilibração

De uma forma geral e segundo Piaget a Teoria da Equilibração trata de determinar o

equilíbrio entre a assimilação e a acomodação. Sendo considerada um estrutura auto-

reguladora essencial de modo a permitir uma interação eficaz entre o indivíduo e o meio

(social e físico) com o qual interage.

O processo de equilibração impõe aos indivíduos a assimilação dos novos

conhecimentos vindos do meio exterior a si mesmos, acomodando-os em estruturas

mentais que são alcançadas para refletir sobre o meio ambiente que o envolve, e desta

forma otimizar a ação neste.

Acrescente-se ainda que o equilíbrio cognitivo procura sempre estados mais complexos

nos quais a interação com o meio pode ser enriquecida, em que a nova situação de

equilíbrio (após o desequilíbrio e a acomodação) será aumentada, a nível de

complexidade e de qualidade dos conteúdos, relativamente à anterior.

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No que se refere à equilibração, Piaget diz-nos que podemos considerar três formas de

equilibração. Sendo a primeira aquela que tem a função inicial entre o individuo e os

objetos cognoscíveis, existindo “primeiro a equilibração entre a assimilação destes

esquemas de ações e a acomodação destes esquemas aos objetos” (Piaget, 1977). A

segunda, diz respeito à equilibração a proporcionar às interações entre sistemas, e por

último considera o “equilíbrio progressivo da diferenciação e da integração, e portanto,

das relações que unem subsistemas a uma totalidade que os engloba” (Piaget, 1977).

ESTÁDIOS E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Piaget contribuiu significativamente para a compreensão do desenvolvimento cognitivo,

através de estudos intensivos, e prolongados, de crianças em interação com o meio.

Alguns desses estudos assentam na observação dos próprios filhos. Verificou que uma

criança necessita de duas funções elementares, a assimilação (integração de novas

informações nos esquemas já existentes) e a acomodação (ajustamento dos esquemas

existentes ou criação de novos), para que possa aprender e adaptar-se ao meio. Assim,

Piaget observou a criança como um sujeito que “constrói e reconstrói” (Eysenck e

Wilson, 1976). O seu próprio modelo da realidade, por integração de simples conceitos

em outros, mais complexos, ao longo de estádios, atinge assim um crescimento ao nível

cognitivo.

Piaget definiu quatro estádios no decurso evolutivo do ser humano, em que cada estádio

possui características elementares adequadas. Ele diz mesmo que a criança deve

transitar cada estádio numa estabelecida sequência regular, e que pode iniciar e terminar

determinado estádio em idades diferentes, embora tenha apresentado as idades médias

para se passar de um estádio para outro. Neste contexto, Eysenck e Wilson (1976),

salientaram que “a sua principal contribuição reside na delineação de etapas de

desenvolvimento conceptual através das quais ele crê que todas as crianças passam, não

necessariamente nas mesmas idades cronológicas mas na mesma ordem”. Em suma,

podemos concluir que, para Piaget há níveis de desenvolvimento separados por estádios,

divididos em idades, e que a cada estádio está associado um nível de desenvolvimento

das crianças. São estes:

Estádio Sensório-Motor (nascimento aos 2/3 anos) – a criança desenvolve um

conjunto de “esquemas de ação” sobre o objeto que lhe permite construir um

conhecimento físico da realidade. Neste estádio, Piaget divide-o em seis sub-estádios:

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Estádio I (0-1 mês) – As condutas gerais são determinadas pelos reflexos;

Estádio II (1-4 meses) – Primeiras adaptações adquiridas;

Estádio III (8 meses) – Comportamentos de repetição de gestos, anteriormente,

considerados interessantes;

Estádio IV (8-12 meses) – Aplicação de comportamentos já conhecidos para

resolver situações novas;

Estádio V (12-18 meses) – Experimentação ativa da descoberta de novas

conclusões para determinadas situações;

Estádio VI (além dos 18 meses) – Invenção de novas respostas por combinação

dedutiva;

Estádio Pré-Operatório (dos 2/3 anos aos 6/7 anos) – a criança inicia a construção da

relação causa e efeito. Neste estádio, podemos verificar que a criança: é egocêntrica;

começa com o porquê das coisas; possui a perceção global das coisas; não relaciona os

factos, pois deixa-se arrastar pela aparência;

Estádio Operatório Concreto (dos 6/7 anos aos 10/11) – a criança começa a construir

conceitos, através de estruturas lógicas, consolidada a conservação de quantidade e

constrói o conceito de número. O seu pensamento apesar de lógico, ainda está preso aos

conceitos concretos, não fazendo ainda abstrações. A criança já diferencia aspetos

físicos e consegue compreender a conservação da massa.

Estádio Operatório-Formal (dos 10/11 anos aos 15/16 anos) – fase em que o

adolescente constrói o pensamento abstrato, conceptual, conseguindo ter em conta as

hipóteses possíveis, os diferentes pontos de vista e sendo capaz de pensar

cientificamente. Aqui, a criança consegue abstrair-se da realidade e é capaz de executar

operações mentais. Na perspetiva de Piaget, o individuo ao “atingir” este estádio,

alcança o padrão intelectual em que permanece durante a idade adulta.

TEORIA DO DESENVOLVIMENTO MORAL

Piaget humanista, defendeu que a escola tem de permitir à criança “construir a razão e a

sua moral” (Xypas, 1997, p. 42) na medida em que considera que existe relação entre

inteligência e moral, e que ambas dependem de “situações estimulantes do meio

(equilibração)” (Lima,1980, p. 17). No trabalho desenvolvido no âmbito do

desenvolvimento moral, entrevista várias crianças sobre o ato de mentir. Para esta, os

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seus desejos, imaginação, ou sonhos, são tão reais como o mundo que a rodeia e mente

naturalmente. A criança dos 2 aos 6 anos quando inquirida sobre o que é uma mentira diz

ser uma palavra feia. Ela associa-a com a reação negativa da família e respetiva expressão

verbal. É a fase da anomia, da interpretação egocêntrica.

Entre os 5 e os 10 anos, define-a como uma inverdade, ou exageros. Até aos 7/8 a mentira

“é algo que não é verdade, inclusive os erros” (Duska e Whelan, 1994, p. 33). A criança

ainda não fez a própria regra mas começa já a perceber que o mundo as tem.

Entre os 8 e os 10, experimenta a verdade nas relações biunívocas de respeito, envoltas

em afetividade. Se não é verdade é mentira, e define esta como algo intencionalmente

falso. Através da experiência adquirida no seio dos diversos grupos, de familiares e de

amigos, onde desenvolve os conceitos de verdade e mentira, vai sentir a necessidade da

verdade como resposta à cooperação mútua e autêntica. Até aos 10 anos a mentira é uma

regra heterónoma.

Na continuação da citada análise, Piaget construiu duas mentiras com histórias. Conta as

histórias às crianças e pede a cada uma que identifique a maior mentira. Os resultados

são: a idade média para se obter um julgamento objetivo corresponde aos sete anos; aos

10 anos o julgamento já é subjetivo (estágio de realismo moral) e a partir daí, as crianças

têm em conta as intenções. A passagem da heteronomia à autonomia moral acontece num

grupo cooperativo, que pode ou não ser a família, onde se estabelecem regras que os seus

membros estão empenhados em cumprir. A moral é uma construção que se inicia nas

regras impostas, para passar à dinâmica de grupo, e aí a criança delibera, crítica e toma

consciência dos comportamentos dos outros e do seu. Da democratização da convivência

resulta um indivíduo que adquire princípios éticos e morais.

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Tabela 1 - Definições de Mentira

Fonte: Duska e Whelan, 1994, p. 46

CRITICAS À TEORIA DE JEAN PIAGET

Teoria de Piaget na educação em Ciências e suas Limitações

Quando a prática pedagógica se apoia nos princípios piagetianos sentimos que a teoria

não nos diz o suficiente sobre a influência do conhecimento cultural no desenvolvimento

humano, as diferenças individuais (Sequeira, 1990, p. 27), e como lidar com a

multiplicidade de estilos cognitivos que encontramos na sala de aula, sem esquecer o

contexto social desta. Alguns dos princípios da teoria de Piaget, dificilmente são

transponíveis para dentro da sala de aula, e outros podem induzir a práticas pedagógicas

incorretas.

Desenvolvimento Curricular e suas Limitações

Quando equacionamos as componentes a desenvolver num programa curricular de

ciências, temos de ter em conta o conhecimento informal e o nível de compreensão do

aluno. A teoria de Piaget aplicada às ciências, com base nos estádios de desenvolvimento

cognitivo, coloca-nos alguma perplexidade quando aplicada a crianças dos países

ocidentais, uma vez que é reconhecido o modo espontâneo como “atingem os estádios

pré-operacional e concreto” (Sequeira, 1990, p. 27). Hoje é dado como adquirido que em

diferentes situações os alunos “não operam ao mesmo nível de pensamento” (p. 27) e que

as operações formais não são independentes do conteúdo da área curricular na qual se

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procede à avaliação, e também do contexto, por isso, é arriscado catalogar os alunos por

estádios cognitivos, e com base nestes, estabelecer estratégias de ensino sem ter em conta

os parâmetros acima referidos. Assim, organizar programas segundo uma ordem

sequencial de conteúdos para encaixar nos diversos estádios piagetianos, isto é, os

“conteúdos passíveis de serem aprendidos em cada estádio” (p. 27), prova ser ineficaz.

Antes de nos propormos organizar um programa curricular que naturalmente se pretende

eficiente, devemos saber previamente qual o conhecimento informal que os nossos alunos

detêm e só depois ordenar os conteúdos pelos estádios.

A par disto, Sequeira considerou que Piaget reduziu os objetivos da educação ao

desenvolvimento cognitivo ignorando os valores culturais e sociais.

Metodologia de Ensino e suas Limitações

Segundo Piaget o ato de aprender depende de forças exteriores e do papel ativo da criança

na redescoberta. Apesar de Piaget ter afirmado que “a memória, a obediência passiva, a

imitação do adulto e os fatores recetivos em geral são todos tão naturais para a criança

como a atividade espontânea” (Piaget, 1970, p. 137-138, citado por Sequeira, 1990, p.

28), não volta a dedicar qualquer atenção à aprendizagem recetiva. No entanto, em

algumas situações esta aprendizagem é essencial para que posteriormente a criança possa

conduzir a sua própria aprendizagem.

Sabemos que os fatores presentes no desenvolvimento cognitivo são a maturação, a

experiência, equilibração e transmissão social. No campo da física e da matemática,

Piaget considerou que pela observação direta do mundo real a criança consegue adquirir o

conhecimento abstrato. Esta metodologia necessita de explicar quais os mecanismos que

o permitem. Com base no princípio de que a aprendizagem da criança se encontra

condicionada ao seu estádio de desenvolvimento, muitas vezes é se induzido a considerar

que o raciocínio abstrato não acontece no pré-operacional, e aqui convém lembrar que a

criança consegue generalizar “o significado das palavras” (p. 29) desde muito cedo.

Piaget considera que no ato de pensar, a linguagem é meramente secundária, o que pode

induzir os professores a ensinar um reduzido verbalismo.

Diferenças Individuais e o Conhecimento Académico e suas Limitações

Outro princípio decorrente da teoria de Piaget, considera que as diferenças individuais na

forma como os indivíduos atingem os estágios de desenvolvimento cognitivo se devem à

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maturação, experiência e às questões culturais, no entanto não nos explica

suficientemente sobre a rapidez e maneira como “as crianças passam de um estádio a

outro” (Sequeira, 1990, p. 30).

Não se preocupou demasiado com a criatividade e com as formas culturais do

conhecimento. Também a persistência, o empenho e a impulsividade são levemente

abordadas. Se existisse resposta para estas questões os professores podiam definir

estratégias com vista à supressão das diferenças existentes na sala de aula.

CONCLUSÃO

De acordo com Piaget “a inteligência desenvolve-se através de situações-problema e a

moral resulta da dinâmica de grupo” (Lima, 1921, p. 17). A sua teoria encerra princípios

que contribuem para o desenvolvimento mental, a interação social, e o desenvolvimento

moral da criança, no qual foi pioneiro. Alerta para o fato da transmissão de

conhecimentos para ter algum efeito, não pode ser feita nem à pressa, nem à custa da

simples exposição, sob pena de não surtir efeito naqueles a quem se destina. Devemos

ter presente que para Piaget a simples observação feita pela criança à atividade de

outrem não é de todo suficiente para “a formação de novos esquemas operatórios na

criança” (Piaget, 1976, citado por Perraudeau, 1996, p.10). Assim, o sistema escolar não

pode assemelhar-se a um vasto auditório onde a observação e a experimentação, ou

qualquer outro conhecimento pode ser ensinado através da mera descrição oral.

Desvaloriza o ensino/aprendizagem que se encontra subjacente à noção de que a escola

é um local onde os alunos vão para serem ensinados, principalmente pelos professores,

e bem menos para pensar. As competências operatórias de Piaget passam pela ideia de

que “compreender é inventar ou reconstruir por reinvenção” (Lourenço, 1997, p. 5).

Esteve mais interessado na construção daquilo que considerava ser o “conhecimento

moral obrigatório e o conhecimento cognitivo necessário” (p. 6) do que no

desenvolvimento do conhecimento considerado verdadeiro, sendo de acentuar as

implicações pedagógicas causadas pela epistemologia construtivista. No entanto, a

idade média proposta para as transições dos diversos estágios, verifica-se ser hoje

menor devido à maior estimulação resultante das interações sociais e dos medias, a que

as crianças estão, no século XXI, continuadamente sujeitas.

O indivíduo é um ser indivisível que não pode relegar o meio, a família, os amigos, o

grupo de referência, a escola e a comunidade.

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Foi focada a teoria de Piaget no que concerne aos princípios que contribuem para o

desenvolvimento mental e moral da criança, bem como algumas limitações na sua

aplicação. A necessidade lógica, tal como a obrigação moral de que fala Piaget, são

preocupações que se mantêm atualizadas, e portanto continua a ser importante conhecer

para “transformar a realidade” (Lourenço, 1997, p. 6). Na era atual é cada vez mais

importante compreender as próprias aprendizagens em contexto de sala de aula, ou não,

e as que cada vez mais são possíveis realizar através de eLearning. Piaget deixou-nos o

legado do possível. Continuemos a fazer o necessário.

BIBLIOGRAFIA

Battro, A. (1976). O pensamento de Jean Piaget. 1ª edição Brasileira. Rio de Janeiro:

Editora Forense Universitária Lda.

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