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Laboratório de Dinâmica e Simulação Veicular 1 SISTEMA MECÂNICO NÃO LINEAR COM MOVIMENTO CAÓTICO EM TORNO DE ATRATORES Por: Manoel Rodrigues Trigueiro Orientador: Professor Doutor Roberto Spinola Barbosa Sistemas mecânicos muito simples podem ter sua movimentação descrita por equações diferenciais não lineares que acarretam movimento caótico em torno de pontos de energia mínima chamados de atratores. O sistema composto por uma partícula interligada a duas molas conforme mostrado na Figura 1, capaz de se movimentar sobre o plano, possui esta característica. As molas têm rigidez k e comprimento natural l. Este problema foi adaptado de uma prova da disciplina de Mecânica B (PME 3200). Para obter as equações diferenciais de movimento, utilizouse a formulação de Lagrange, considerandose as coordenadas generalizadas x e y. Logo, é preciso obter as energias cinética e potencial, além das forças generalizadas, exclusivamente dissipativas. Para a energia cinética: = 1 2 ( ! + ! ) Enquanto que para o potencial, função apenas das molas: Figura 1 B A k k O a a x y r

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   1  

SISTEMA  MECÂNICO  NÃO  LINEAR  COM  MOVIMENTO  CAÓTICO  EM  TORNO  DE  ATRATORES  

 Por:  Manoel  Rodrigues  Trigueiro  

Orientador:  Professor  Doutor  Roberto  Spinola  Barbosa    

Sistemas  mecânicos  muito  simples  podem  ter   sua  movimentação  descrita  por  equações  diferenciais  não   lineares  que  acarretam  movimento  caótico  em   torno  de   pontos   de   energia  mínima   chamados   de   atratores.   O   sistema   composto   por  uma  partícula  interligada  a  duas  molas  conforme  mostrado  na  Figura  1,  capaz  de  se  movimentar  sobre  o  plano,  possui  esta  característica.  As  molas  têm  rigidez  k  e  comprimento  natural  l.  

                                 Este   problema   foi   adaptado   de   uma   prova   da   disciplina   de  Mecânica  B   (PME  3200).      Para  obter  as  equações  diferenciais  de  movimento,  utilizou-­‐se  a  formulação  de  Lagrange,   considerando-­‐se   as   coordenadas   generalizadas  x  e  y.   Logo,   é   preciso  obter   as   energias   cinética   e   potencial,   além   das   forças   generalizadas,  exclusivamente  dissipativas.    Para  a  energia  cinética:    

𝑇 =12𝑚(𝑥

! + 𝑦!)  

 Enquanto  que  para  o  potencial,  função  apenas  das  molas:  

Figura  1  

B

A

k

k

O

a

a

x

y

r

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   2  

 

𝑉 =12𝐾 𝑥! + (𝑦 − 𝑎)! − 𝑙

!+ 𝑥! + (𝑦 + 𝑎)! − 𝑙

!  

 Foram  consideradas  forças  generalizadas  com  caráter  dissipativo.  Na  sua  forma  mais  geral  as  forças  dissipativas  podem  ter  termos  proporcionais  ao  movimento  (atrito   seco),   à   velocidade   (atrito   viscoso)   e   ao   quadrado  da   velocidade   (atrito  fluido  dinâmico)  :    

𝐹! = −𝜇𝑁𝑥𝑣 − 𝑐𝑥 − 𝑘𝑣𝑥  

 

𝐹! = −𝜇𝑁𝑦𝑣 − 𝑐𝑦 − 𝑘𝑣𝑦  

 Em  que  𝑁 = 𝑚𝑔  é  a  força  normal,  𝑣  é  a  velocidade  absoluta  dada  por   𝑥! + 𝑦!  e  𝜇, 𝑐  e  𝑘  são  constantes  dissipativas.    Por  fim,  obtém-­‐se  as  acelerações  nas  coordenadas  em  análise:    

𝑥 =−𝐾𝑚 𝑥 2− 𝑙

1𝑥! + (𝑦 − 𝑎)!

+1

𝑥! + (𝑦 + 𝑎)!− 𝜇𝑔

𝑥𝑣  

 

𝑦 =−𝐾𝑚 (𝑦 − 𝑎) 1−

𝑙𝑥! + (𝑦 − 𝑎)!

+ (𝑦 + 𝑎) 1−𝑙

𝑥! + (𝑦 + 𝑎)!− 𝜇𝑔

𝑦𝑣  

 Com   o   intuito   de   simplificar   o   estudo,     os   termos   que   concernem   ao   atrito  viscoso  e  ao  atrito  fluido  dinâmico  foram  anulados.  A  partir  da  solução  analítica,  foi  implementado  um  código  no  software  Mat  Lab  para  estudo  do  movimento  da  particula  e  observação  de  sua  trajetória  ao  longo  do   tempo.   Duas   situações   são   analisadas:   molas   tensionadas   e   molas  comprimidas.     Os   valores   atribuídos   às   constantes   podem   ser   verificados   no  anexo.    Molas  tensionadas    Para  esta  configuração,  em  que   l  <  a,   foi   simulado  o  movimento  da  particula  a  partir  das  condições  iniciais  (𝑥, 𝑥,𝑦,𝑦) = (0,−10  𝑚/𝑠, 0, 0)  cujos  resultados  estão  apresentados  na  Figura  2.    Observa-­‐se  que  existe  apenas  um  ponto  de  equilíbrio:  a  própria  origem.  Dada  a  simetria  do  sistema,  a  força  resultante  sobre  a  partícula  atuará  de  modo  a  impor  a  posição  de  equilíbrio  a  todo  instante,  ou  seja,  tem-­‐se  uma  força  restauradora.    

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   3  

 

 Figura  2  

 Para  as  molas  tensionadas,  espera-­‐se  uma  superfície  parabólica  para  a  energia  potencial,   em  que  a   estabilidade   corresponde  a  𝑥 = 𝑦 = 0.   A  Figura  3   evidencia  isso.    

Figura  3  

-1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1Largura

-1

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

Com

primento

Retrato da trajetoria

2

1

Largura

01500

2 1.5 -1

Superfície Potencial

1

Comprimento

2000

0.5 0 -0.5 -1

2500

-2-1.5 -2

Potencial

3000

3500

4000

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   4  

 Figura  4  

É  possível  obter  as  curvas  de  níveis  para  a  energia  potencial  das  molas.  Note,  como   exposto   na   Figura   5,   a   variação   da   energia   potencial   sobre   o   plano  horizontal.  De  fato,  uma  vez  que  a  particula  está  sobre  a  mesa,  seu  potencial  se  deve  exclusivamente  às  molas  (não  há  ação  gravitacional).    

O   ponto   de   energia   potencial   minima   corresponde   a   um   ponto   de   equilibrio  estável  chamado  de  atrator,  indicado  pela  seta  que  aponta  o  local  de  estabilidade.  

 Figura  5  

O  movimento   da   particula   foi   simulado   para   diferentes   condições   iniciais.   As  figuras   6   e   7   retratam   sua   trajetória   para  (𝑥, 𝑥,𝑦,𝑦) = (1.5  𝑚, 0, 0,−15  𝑚/𝑠)  e  (𝑥, 𝑥,𝑦,𝑦) = (0,−8  𝑚/𝑠,−1.5  𝑚, 3  𝑚/𝑠),  respectivamente.    Para  efeito  ilustrativo,  as  curvas  de  níveis  da  função  de  energia  potencial  foram  

Curvas de níveis para a energia potencial

-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2Largura

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

Comprimento Estabilidade

-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2Largura

1200

1400

1600

1800

2000

2200

2400

Potencial

Energia potencial (y=0)

Equilíbrio estável

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   5  

determinadas  e  desenhadas  junto  com  a  trajetória  temporal  (em  vermelho).    

 Figura  6  

 

-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2Largura

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2Com

primento

Retrato da trajetoria

-2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2Largura

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

Com

primento

Retrato da trajetoria

Figura  7  

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   6  

O   percurso   é   iniciado   fora   do   ponto   de   equilibrio.   A   esfera   percorre   algumas  oscilações   caóticas   (rastro   vermelho),   até   encerrar   seu   movimento   devido   ao  atrito.  É  importante  ressalvar  que  na  ausência  da  dissipação  advinda  do  contato  entre   a   partícula   e   o   plano,   as   oscilações   não   teriam   fim,   mas   ocorreriam   em  torno  do  atrator.  Por   fim,   o   retrato   de   ambas   trajetórias   explicita   o   movimento   caótico   da  particula  no  entorno  do  ponto  de  menor  energia.      Molas  comprimidas    Com  as  molas  comprimidas,  ou  seja,  com  l  >  a,  haverá  dois  pontos  de  equilíbrio  estável  e  um  instável.  De  fato,  existem  dois  locais  para  os  quais  as  molas  atinjem  seus  comprimentos  naturais:  à  esqueda  e  à  direita  da  origem,  dada  a  simetria  do  sistema.   Ocorrem   portanto   dois   pontos   de   equilibrio   estável   (dois   atratores).  Ademais,  a  origem  deixa  de   figurar  como   local  de  energia  mínima,   tornando-­‐se  ponto   de   equilíbrio   instável.   Naturalmente,   por   se   tratar   de   um   ponto   de  instabilidade  é  representativo  de  um  ponto  de  cela  como  pode  ser  visto  na  Figura  8,  um  corte  da  superfície  potencial  (Figura  9).    

 Figura  8  

-6 -4 -2 0 2 4 6Largura

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

Potencial

Energia potencial (y=0)

Equilíbrio estávelEquilíbrio estável

Equilíbrio Instável

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   7  

 

Figura  9  

 A   seguir,   são  apresentados  dois   retratos.  No  primeiro   (Figura  10),   a  partícula  não  é  capaz  de  ultrapassar  a  barreira  energética.  Já  no  segundo  (Figura  11),  tem  maior  energia  e  desenvolve  sua  trajetória  mais  amplamente.    Para   a   Figura   10,   tem-­‐se  (𝑥, 𝑥,𝑦,𝑦) = (3  𝑚,−10  𝑚/𝑠, 3  𝑚, 10  𝑚/𝑠),   enquanto  que  para  a  Figura  11,  (𝑥, 𝑥,𝑦,𝑦) = (2  𝑚,−35  𝑚/𝑠, 0.5  𝑚, 20  𝑚/𝑠).        

6

4

2

Largura

0

-264

Comprimento

2 -40

Superfície Potencial

500

-2-4 -6

-6

Potencial

1000

1500

Ponto de cela: Equilíbrio instável

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   8  

 Figura  10  

 

 Figura  11  

-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8Largura

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

Com

primento

Retrato da trajetoria

-6 -4 -2 0 2 4 6Largura

-6

-4

-2

0

2

4

6

Com

primento

Retrato da trajetoria

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   9  

Como   esperado,   as   trajetórias   se   desenvolvem   no   entorno   dos   atratores,  regiões   que   polarizam   o   movimento.   No   primeiro   caso,   a   baixa   velocidade   da  partícula  potencializou  a  atração  à   região  de  menor  energia  à  direita  do  plano.  No   segundo   caso,   no   entanto,   a   partícula   foi   capaz   de   tangenciar   o   atrator  esquerdo  e  apenas  encerrar  seu  movimento  após  passar  pelo  ponto  de  cela,  onde  o  equilíbrio  é  instável.    A  Figura  12,  representativa  das  curvas  de  níveis  ao  longo  do  plano,  esclarece  os  pontos  de  equilíbrio  estável  e  instável.    

 Figura  12  

                               

Curvas de níveis para a energia potencial

-6 -4 -2 0 2 4 6Largura

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

Comprimento

Equilíbrio instável

Atratores: Equilíbrio estável

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Laboratório  de  Dinâmica  e  Simulação  Veicular   10  

Anexo    Para  a  configuração  tensionada  do  sistema,  as  constantes  adotadas  foram:    

𝐾 = 600  𝑁/𝑚;  𝑙 = 2.5  𝑚;  𝑎   =  4  𝑚;  𝑚   =  2  𝑘𝑔;  𝑔   =  9.79  𝑚/𝑠!;  𝜇 = 2.  

 Para  a  comprimida,  alterou-­‐se  a  constante  elástica  e  o  comprimento  natural  das  molas:    

𝐾 = 600  𝑁/𝑚;  𝑙 = 2.5  𝑚.