“l io rliioso”: as issuras uaionais nas rÔnias ... · contraposição a uma escola...

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 3044 “LEIGO E RELIGIOSO”: AS FISSURAS EDUCACIONAIS NAS CRÔNICAS DE CECÍLIA MEIRELES NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS (1930-1932) Jodar de Castro Roberto 1 Introdução O leitor que toma um jornal começa, geralmente, por acreditar que o jornal é uma coisa infalível, certeira, indiscutível. Daí é que nasce o perigo do boato. Todo mundo crê na palavra impressa. Talvez seja ainda um certo fetichismo... Também há coisas que só nos parecem bem ditas por escrito, ali, no papel, sem as indecisões da fala, com os seus alados perigos... (MEIRELES, v. 4, 2001, p. 175) A produção jornalística de Cecília Meireles, através de seus “Comentários”, entrevistas e reportagens, na Página de Educação do Diário de Notícias 2 , no período de 1930 a 1933, ainda suscita até os dias atuais a possibilidade de descobertas e análises que nos ajudam a compreender o momento histórico que ela atuou e as contendas que se sobrepuseram a passagem do tempo. Multifacetada na sua produção, Cecília Meireles nos legou com a sua escrita uma apreciação de qualidade e engajada nas discussões que travou, principalmente contra os intelectuais católicos que defendiam a inserção da educação religiosa nas escolas públicas. Sintonizada com as mudanças que acreditava ser necessárias para inserir o país no caminho da modernidade, assumiu protagonismo ao se tornar responsável pela Editoria da Página de Educação, pois a educação se mostrava como o ambiente propício para estabelecer os novos rumos do país. Entretanto a disputa entre grupos divergentes sobre um projeto de nação que fosse capaz de dar uma direção ao país impulsionou a atuação e o engajamento dos intelectuais. Oriundos de diferentes clivagens políticas, estes intelectuais buscaram definir caminhos, redigir leis e dar uma direção às proposições encaminhadas na gestação das políticas de Estado. Neste contexto, a imprensa de opinião constituiu-se como um importante instrumento político e pedagógico, à medida que colaborava na difusão de ideias, na 1 Doutorando em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro PROPED/UERJ Campus: Maracanã. E-Mail: <[email protected]>. 2 Diário de Notícias, jornal criado em 1930. Num primeiro momento esteve alinhado em defesa da Revolução de 1930, posteriormente passou a questionar o Governo Provisório de Getúlio Vargas.

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 3044

“LEIGO E RELIGIOSO”: AS FISSURAS EDUCACIONAIS NAS CRÔNICAS DE CECÍLIA MEIRELES NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS (1930-1932)

Jodar de Castro Roberto1

Introdução

O leitor que toma um jornal começa, geralmente, por acreditar que o jornal é uma coisa infalível, certeira, indiscutível. Daí é que nasce o perigo do boato. Todo mundo crê na palavra impressa. Talvez seja ainda um certo fetichismo... Também há coisas que só nos parecem bem ditas por escrito, ali, no papel, sem as indecisões da fala, com os seus alados perigos... (MEIRELES, v. 4, 2001, p. 175)

A produção jornalística de Cecília Meireles, através de seus “Comentários”, entrevistas

e reportagens, na Página de Educação do Diário de Notícias2, no período de 1930 a 1933,

ainda suscita até os dias atuais a possibilidade de descobertas e análises que nos ajudam a

compreender o momento histórico que ela atuou e as contendas que se sobrepuseram a

passagem do tempo.

Multifacetada na sua produção, Cecília Meireles nos legou com a sua escrita uma

apreciação de qualidade e engajada nas discussões que travou, principalmente contra os

intelectuais católicos que defendiam a inserção da educação religiosa nas escolas públicas.

Sintonizada com as mudanças que acreditava ser necessárias para inserir o país no caminho

da modernidade, assumiu protagonismo ao se tornar responsável pela Editoria da Página de

Educação, pois a educação se mostrava como o ambiente propício para estabelecer os novos

rumos do país.

Entretanto a disputa entre grupos divergentes sobre um projeto de nação que fosse

capaz de dar uma direção ao país impulsionou a atuação e o engajamento dos intelectuais.

Oriundos de diferentes clivagens políticas, estes intelectuais buscaram definir caminhos,

redigir leis e dar uma direção às proposições encaminhadas na gestação das políticas de

Estado. Neste contexto, a imprensa de opinião constituiu-se como um importante

instrumento político e pedagógico, à medida que colaborava na difusão de ideias, na

1 Doutorando em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – PROPED/UERJ – Campus: Maracanã. E-Mail: <[email protected]>.

2 Diário de Notícias, jornal criado em 1930. Num primeiro momento esteve alinhado em defesa da Revolução de 1930, posteriormente passou a questionar o Governo Provisório de Getúlio Vargas.

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promoção de embates e na formação do leitor. Por meio da imprensa, esperava-se sedimentar

um projeto que proporcionasse o desenvolvimento econômico, social, educacional e cultural

do país aos moldes dos países considerados civilizados. Sendo assim,

A intelectualidade brasileira nascente, durante os anos de 1920, viu na educação um modo de formar as “novas elites” para servir o Estado e, ao mesmo tempo, promover a formação da nacionalidade por intermédio de uma cultura nacional e de uma educação moral sólidas que assegurassem o progresso de nossa civilização, dentro da ordem estabelecida e sem ruptura política. Não foi à toa que a imprensa brasileira, especialmente a paulista, deu tanta visibilidade às questões e aos debates educacionais (PAGNI, 2000, p. 49).

Nesta direção, assumiu relevância o papel da elite intelectual que, imbuída de uma

visão missionária e iluminista, concebeu a imprensa como um importante veículo de

comunicação e de embate, uma vez que potencializava a capacidade de convencer, mas

também de atacar se necessário fosse. Importante trincheira de luta, a imprensa configurou-

se como espaço marcado por uma retórica “mordaz e crítica, linguagem literária, sátira,

requerendo ao mesmo tempo densidade doutrinária e ideológica e agilidade para expressar,

em situações específicas e circunstanciais, uma visão de mundo geral e definida” (MARTINS;

LUCA, 2011, p. 37).

Assim, o Governo Provisório que se constituiu com a posse do Presidente Getúlio

Vargas (1930-1934), tomaria para si a atribuição de ser o “porta voz”, o “conciliador” na

elaboração de um projeto de nação que se alinhavava para além das digressões e interesses

conflitantes externados pelos diferentes projetos políticos em disputa. Por meio de um

aparato burocrático estatal intervencionista e centralizador, o Governo Provisório criou o

Ministério da Educação e Saúde Pública, o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e

promulgou leis e decretos de proteção ao trabalhador ampliando, assim os investimentos na

questão social (PANDOLFI, 2012, p. 20).

Nesse momento de mudanças políticas significativas foi fundado o jornal Diário de

Notícias, que juntamente com o Correio da Manhã, os Diários Associados e por outros

periódicos, como O Combate e A Batalha, formaram a base de apoio da Aliança Liberal que

sustentava politicamente o Presidente Getúlio Vargas (LAMEGO, 1996, p. 27). E, portanto,

como órgão da imprensa com a finalidade de defender a Revolução de 1930. Criado pelos

jornalistas Orlando Ribeiro Dantas3, Nóbrega da Cunha4 e Alberto Figueiredo Pimentel5, o

3 Orlando Ribeiro Dantas, natural de Ceará-Mirim, jornalista e parlamentar, atuou com afinco em defesa da Aliança Liberal e suas propostas. Depois da Revolução Constitucionalista de 1932, passa a criticar os procedimentos de Getúlio Vargas.

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Diário de Notícias circulou pela primeira vez em 12 de junho de 1930. Conforme Lamego, o

jornal apresentava uma linha editorial avançada para o seu tempo:

O clima da redação do Diário de Notícias tinha a mesma aura política que suscitou sua fundação. Lembra Carlos Lacerda, em seu Depoimento, que o Diário teve grande papel na Revolução de 30: “Ali havia um ambiente político muito intenso. O jornal era um centro de debates em torno da ocupação da Revolução de 30 (1996, p. 27).

Convidada por Nóbrega da Cunha, um dos fundadores do jornal, a jornalista e

educadora Cecília Meireles dirigiu de 12 de junho de 1930 a 12 de janeiro de 1933, uma seção

do jornal intitulada Página de Educação. Engajada e atuante, Cecilia Meireles tomou para si

o compromisso de fazer circular e discutir, por meio da seção, temas que elegeu como

centrais para o processo de (re)construção do país. A Página de Educação constituiu-se em

um instrumento de combate e de divulgação de ideias relacionadas à educação.

Neste momento, 1930 a 1933, Cecília Meireles desempenha suas funções de editora e

jornalista da Página de Educação do Diário de Notícias, qual a sua estratégia discursiva em

defesa da modernização da educação e da escola a colocava no exercício de intelectual

engajada e atuante no campo de disputa do poder, nos mostra que ela fazia parte de uma rede

de sociabilidades de outros intelectuais signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova. Lugar de onde se pode ver a sua escrita transformada em ação, pois a sua articulação e

a sua pertença a essa geração de intelectuais “modernizadores” lhe dava suporte.

Sendo assim, é a partir do texto e das suas inferências que passaremos a trabalhar com

as suas crônicas. Na busca de analisar a sua construção discursiva.

A Cronista e o Desejo

Às vezes nós nos supomos donos do mundo, e temos a coragem de tentar erguer uma aspiração capaz de atingir toda a humanidade. Construímo-la com as forças mais puras do nosso espírito, animamo-la com o sangue das mais nítidas esperanças, e apresentamo-la como a melhor parte de nós mesmos, edificada no silêncio e na sombra, fortalecida de todos os impulsos excelentes, digna de aparecer na vida para triunfar sem vacilações. Porque temos a boa fé imensa dos que acreditam que a humanidade deseja evoluir, e recebe com alegria todas as oportunidades de progresso (MEIRELES, vol. 1, 2001, p. 7)

4 Carlos Alberto Nóbrega da Cunha nasceu em Dorandia, Estado do Rio de Janeiro, em 1897, filho de Celestino Gomes da Cunha e Leocádia Nóbrega da Cunha. Foi jornalista e professor, tendo exercido a sua Militância profissional na Cidade do Rio de Janeiro. A sua aproximação com a Educação deu-se durante a gestão de Fernando de Azevedo na Direção-Geral da Instrução Pública do Distrito Federal (1927-30).

5 Dados biográficos não localizados.

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O vocábulo Comentário6, deriva do latim commentarium, e é uma observação, um

reparo, um parecer, uma opinião que alguém expressa sobre fatos, pessoas ou algo que

chame atenção do comentarista, já que a resposta pode ser oral ou escrita.

Contemporaneamente emitir comentários em torno de qualquer assunto passou a ser mais

fácil, uma vez que o advento da internet possibilita que nas páginas da Web, qualquer pessoa

possa interagir.

No caso de Cecília Meireles a escolha do termo por si só, já nos indica um caminho para

a coluna diária: leveza, rapidez, agilidade. A coluna por ela desenvolvida e construída ao

longo de três anos (1930/1933), através de cerca de oitocentos comentários, possibilita

perceber de antemão a quantidade de texto/discurso produzido por ela. Essa produção

abrange uma variada linha temática, entretanto priorizamos neste estudo a sua posição com

relação ao ensino religioso e a laicidade por ela defendida.

Dessa forma exploramos também as crônicas que discutem as questões políticas, já que

política, educação e religião fazem parte do objeto de pesquisa, pois nas décadas de 1920 e

1930 os intelectuais tinham na imprensa uma forte aliada. Era nesse meio de comunicação

emergente que os debates e a disseminação de ideias se davam. Pelas páginas dos periódicos

buscava-se a construção de um país novo, através de propostas e discussões políticas, de

modernos planos para a edificação de caminhos que retirassem o país do atraso em que se

encontrava. Os intelectuais postulavam matrizes educacionais mais originais, alicerçados nas

ideias da Escola Nova, principalmente as inovações advindas da Europa e dos Estados

Unidos da América do Norte, que propunham uma escola atraente, centrada na criança, em

contraposição a uma escola tradicional, que correspondia as escolas massificadas das

sociedades pré-industriais. Nesta perspectiva, a Escola Nova surgia como a proposta que

possibilitaria não estabelecer diferenças de formação entre a população, mas seria o caminho

que possibilitaria dinamizar as relações no cotidiano escolar, ao propor que ela se tornasse

um organismo vivo e flexível e marcado pela liberdade

No momento em que Cecília Meireles entrava no jogo de forças que brotava a partir da

Revolução de 1930, o tom do seu discurso era potente ao se colocar de forma contrária ao

estabelecido. Para iluminar essa discussão Michel Foucault pode nos auxiliar ao levantar uma

hipótese que nos ajuda a ir dissecando as crônicas no que tange a ordem do discurso, quando

ele propõe:

6 Cf.: Conceito de comentário - O que é, Definição e Significado http://conceito.de/comentario#ixzz4Y1iHyGDu. Acesso em 01/02/2017.

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Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade (2010, p. 9).

Foucault alerta com precisão “que não se tem o direito de dizer tudo”, “que não se pode

falar de tudo em qualquer circunstância”, “que qualquer um, enfim, não pode falar de

qualquer coisa” (2010, p.9). Não nos parece que seja o caminho escolhido por Cecília

Meireles, como vimos na crônica acima. Ela posicionava-se politicamente de forma incisiva,

como veremos nos seus Comentários que iremos analisando.

Para que possamos estabelecer um diálogo com os leitores deste trabalho, vamos

procurar explicitar o caminho que estamos optando para a análise discursiva que praticamos.

Sendo assim, nas palavras de Norman Fairclough, o discurso é o uso da linguagem como

“prática social” e não um modelo de uso marcado pela individualidade ou “reflexo de

variáveis situacionais”. Nesta perspectiva, o discurso é uma forma de ação onde se pode agir

sobre o mundo ou sobre outras pessoas (2001, p. 90). É com esse intento que ao colocarmos

as crônicas de Cecília Meireles como centro da nossa discussão, buscamos elencar os seu

procedimentos como “socialmente constitutivos” de uma tomada de posição, sem

neutralidade.

Concordamos com Foucault (2010, p. 8) quando ele questiona, “mas, o que há, enfim,

de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e seus discursos proliferarem indefinidamente?

Onde, afinal, está o perigo?” Seguindo esta mesma linha de raciocínio podemos nos

perguntar: onde estaria o “perigo” nas crônicas de Cecília Meireles?

O mesmo Foucault nos ajuda na discussão, quando afirma que “o discurso não é

simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que,

pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar” (2010, p. 10). A hipótese que

defendemos é a que logo após a Revolução de 1930, Cecília Meireles acreditava na tomada do

poder, este poder aqui seria a possibilidade de indicar Fernando de Azevedo para o

Ministério da Educação, bem como que o grupo liderado por este e Anísio Teixeira seria

capaz de dar as cartas no complicado jogo de poder que se estabelecia, naquele momento em

função das disputas de poder, no campo da educação.

Cecília Meireles era personagem numa trama marcada pelo “perigo” que vinha da

acidez da sua escrita. Na crônica Política e pedagogia, de 16 de novembro de 1930, portanto

no calor da Revolução, momento no qual ela convida o leitor a estabelecer um paralelo “entre

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o governo e a escola”, pois na sua concepção, “de vez em quando, pedagogia e política

deslizam na mesma linha de coincidência” (MEIRELES, v. 3, 2001, p. 9).

O idealismo nos Comentários de Cecília Meireles pode ser observado a partir da

epígrafe. Nessa crônica intitulada A extensão de nossa liberdade, datada de 6 de janeiro de

1931, a escolha vocabular da cronista, mostrava o campo dos seus anseios: humanidade,

espírito, boa-fé, evoluir, oportunidade, progresso, entre outras. No entanto destacava a

necessidade de mudança para encarar a vida, pois segundo ela:

Nós somos criaturas do mundo, o mundo é o nosso ambiente – mas não é o nosso mundo; para desenvolvermos a aspiração que nos inquieta! ... Somos todos prisioneiros – uns mais, outros menos, mas todos prisioneiros. Temos as mãos acorrentadas, temos os braços atados, temos a boca fechada, temos os olhos vendados, temos os ouvidos obstruídos. E de todas essas prisões decorre o cativeiro do nosso pensamento. Porque até o pensamento nos conseguiram escravizar... (MEIRELES, vol. 1, 2001, p. 7).

Na mesma crônica, ela trazia mais vocábulos que marcavam a impotência diante do

real. Palavras como: cativos, imóveis, mudos, erro, ignorância e insucessos, vão dando a

tônica da construção do seu discurso. Todavia os novos caminhos são “impossíveis” de serem

seguidos, pois os “amigos e os inimigos” de forma distinta, emperravam a caminhada. Os

primeiros, por colocarem os interesses de “grupo, partido ou classe”, acima dos interesses

gerais e maiores. No segundo caso, os inimigos, por serem contrários aos ideais, que ela

considera mais altos, pois segundo ela “o mal tem sempre inúmeros adeptos e simpatizantes”

(MEIRELES, vol. 1, 2001, p. 8).

O posicionamento de Cecília Meireles no texto vai num crescendo, e ela mesma se

inclui no texto, ao utilizar a primeira pessoa do plural ao afirmar: “andamos assim ... Temos

medo de tudo ... Dependemos de tudo...”, e assevera:

E dizemos que somos livres ... Que os cativeiros caíram ... Que a liberdade é um sol aberto sobre o mundo ... Dizemo-lo, assim amarrados a coisas mesquinhas, e amarrando, igualmente, com a tradição dos preconceitos, das mentiras convencionais, das invencionices de partido e casta, aqueles que passam em redor de nós ... Este mal de escravidão é, na verdade, hereditário... Veio até nós e irá de nós para diante (MEIRELES, vol. 1, 2001, p. 8).

Na conclusão do texto, ela convidava os leitores a tomarem posições “audaciosas” e

“arrojadas” para quebrar o modo tradicional em que a sociedade se encontrava, prospectando

a necessidade de ter a liberdade como o fim desejado. Entretanto deixava-nos ver a

dificuldade da discussão, pois trazia naquele momento a imagem da falência e miserabilidade

do corpo diante da imortalidade do espírito.

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A construção do arcabouço da visão ceciliana do que seria o político de grande

envergadura, “o verdadeiro”, deveria ser um homem “de profunda visão psicológica”. É com

esse intento que Cecília Meireles, na crônica Os políticos e a psicologia, de 4 de novembro de

1930, afirma que o político representa, para a nação, o mesmo que um professor em sala de

aula. E ratifica que o político:

Precisa conhecer as tendências da alma humana, precisa sentir a inquietação da época, precisa ter a força e a habilidade de colocar cada elemento em seu devido lugar, para que o rendimento de cada atividade se opere com a maior eficiência, e com essa alegria produtiva que é a condição indispensável para que os países, como as escolas, prosperem e sejam uma realidade útil e bela. (MEIRELES, v. 3, 2001, p. 3).

Nesse mesmo Comentário, Cecília Meireles trazia para a pauta de discussões o discurso

feito pelo Almirante Pinto da Luz à guarnição do São Paulo, onde o Almirante falava:

O São Paulo está pronto a partir para cooperar na defesa da ordem e da lei, como já o estão fazendo, dedicadamente, os outros navios da esquadra (...) A ordem e a lei não podem desaparecer do Brasil sem o deixarem aniquilado para todo o sempre. Na defesa dessa ordem e dessa lei, é que está a Marinha, por todos os seus elementos, firmes, coesos, em torno da Bandeira em que a cada instante, lemos “ordem e progresso”; ordem que precisamos restabelecer para que o Brasil possa enveredar de novo pelo caminho do progresso que o há de levar aos seus grandes destinos, no conjunto das nações. Viva o Brasil! Viva a Marinha! (Apud MEIRELES, v. 3, 2001, p. 4)

A cronista destacava no discurso do Almirante Pinto da Luz a necessidade do

cumprimento do dever que, segundo ela, é mais um lugar comum e contestava a Bandeira da

Pátria quando dizia que ela nem sempre seria “o poder constituído”, uma vez que já servira

de estandarte para os crimes dos governos anteriores. E Afirma: “O poder constituído só é,

realmente, a expressão de uma pátria, de uma bandeira, quando representa a vontade do

povo. Porque as leis só são leis quando correspondem, também a sua vontade” (MEIRELES,

v. 3, 2001, p. 5).

Em outro momento, também passa pelo crivo da cronista, a concepção de como a

imprensa deve agir e qual a sua finalidade. Dessa forma, no Comentário, “A função educativa

da imprensa”, de 20 de março de 1932, Meireles posiciona-se em torno do fazer jornalístico,

No dia em que a imprensa chamar a si, com sinceridade verdadeira, uma parte da função educativa que lhe compete, o Brasil começará a realizar com facilidade a formação que até agora lhe vem sendo tão custosa pelas múltiplas desorientações que reinam em quase todos os órgãos de sua atividade. Há mil maneiras de colaborar na obra da educação. Há terreno para todas as vocações. Assunto para todas penas.

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Àqueles que não se fizeram especialistas em qualquer dos inúmeros setores em que se distribui o vasto problema de educar, sempre resta a simples noção do bom senso, o prazer da boa vontade e a capacidade de compreensão respeitosa das obras alheias, para que, não lhes podendo levar um quinhão que acrescente, se abstenham de levianamente incorrer na malícia, que desnatura, e na fraude, que diminui (LAMEGO, 1996, p. 196).

Este Comentário é publicado no dia seguinte ao lançamento do Manifesto dos

Pioneiros da Educação Nova, momento em que os signatários do mesmo, buscavam defender

as suas concepções pedagógicas que iam de encontro ao posicionamento dos educadores

católicos o que gerava embates e tensões com posições conflitantes em disputa pelos rumos

educacionais do país.

As Crônicas sobre religião: “Como se originam as guerras religiosas”

Este decreto vai ser a porta aberta para uma série de tristes ocorrências. Por ele poderemos chegar até às guerras religiosas. (MEIRELES, v. 3, 2001, p. 15)

O decreto que a cronista se refere na epígrafe, é o decreto nº 19.941, de 30 de abril de

1931, sancionado pelo Presidente Provisório Getúlio Vargas e o Ministro Francisco Campos.

Onde se lia que o ensino religioso a partir daquela data seria facultativo, “nos

estabelecimentos de instrução primária, secundária e normal, o ensino da religião”

O chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil decreta. Art. 1º - Fica facultativo, nos estabelecimentos de instrução primária, secundária e normal, o ensino da religião7.

A publicação deste decreto deflagrou um posicionamento destemido que emergiu dos

escritos da poetisa, jornalista e educadora Cecília Meireles na Página de Educação do Jornal

Diário de Notícias, no período de 1930 a 1932. Intelectual ativa nas causas educacionais e

adepta do ideário do escolanovismo, como forma de inovar a educação do país. A partir da

publicação do decreto, Cecília Meireles centra o eixo de boa parte das suas crônicas no

questionamento do decreto e as consequências que ela via como limitações para os avanços

educacionais.

Na crônica “Como se originam as guerras religiosas”, de dois de maio de 1931, Cecília

Meireles afirma:

É justamente em atenção aos sentimentos de fraternidade universal que a escola moderna deve ser laica. Laica não quer dizer contrárias a nenhuma

7 Cf. CURY, Carlos Roberto Jamil. Ideologia e educação brasileira. São Paulo: Cortez & Moraes, 1978. (p. 125)

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religião; significa, somente: neutra, isenta de preocupações dessa natureza (MEIRELES, v. 3, 2001, P. 15).

Para referendar esta discussão, retomamos a produção escrita de Cecília Meireles, para

que os leitores possam perceber o encaminhamento dos conceitos analisados acima, no

conteúdo de suas crônicas. Retomemos a crônica “Como se originam as guerras religiosas”,

para que possamos observar a construção do discurso em defesa da escola laica:

A educação moderna fundamenta-se na evolução biológica do indivíduo. É um princípio mundialmente aceito, em pedagogia, que o ensino deve seguir passo a passo o desenvolvimento regular, pela intromissão de dados em desacordo com as suas várias etapas. Só por aí se vê que o estudo de uma religião qualquer não é adequado a crianças nem a mocinhas de liceu, - desde que se pretenda fazer, na verdade, alguma coisa séria, eficiente, de significação profunda e dignificadora (MEIRELES, v. 3, 2001, P. 15).

Na crônica “As crianças e a religião”, de cinco de maio de 1931, Cecília Meireles evoca

o “estado de pureza” no qual a mesma está inserida. Destaca também que a criança “não é

nem objeto satânico, nem um caso de anomalia mental, não tem, absolutamente, nenhuma

preocupação religiosa”. E outro destaca que a criança tem condições de estudar sozinha,

comparar, experimentar e construir conceitos. Na construção do discurso que defende, fala

das famílias que discutem as questões metafísicas, sem levar em conta a psicologia no seu dia

a dia (MEIRELES, v. 3, 2001, P. 19).

Logo a seguir afirma com veemência:

Por isso é que digo que este ensino religioso nas escolas, que um ministro irresponsável decretou, e um presidente desatento (ou hábil...) sancionou, é um crime contra a coletividade, contra a Nação e contra o mundo, contra os brasileiros e contra a humanidade, porque não se vive apenas nos limites geográficos de um país: nossas responsabilidades atravessam as fronteiras, e vão repercutir na fraternidade geral (MEIRELES, v. 3, 2001, p. 20).

O tom de contestação da cronista não diminui na crônica “O ensino religioso nas

escolas”, de dez de maio de 1931. Nominalmente, cita o Ministro Francisco Campos e

apresenta elementos em torno da circulação da informação entre os diferentes interessados

no decreto: “De todos os pontos do país, protestantes, espíritas, positivistas e livres-

pensadores apressaram-se em solicitar ao Sr. Getúlio Vargas um minuto de prudência, antes

de sancionar o malfadado decreto” (MEIRELES, v. 3, 2001, P. 23).

Na Página de Educação, Cecília Meireles sempre trazia intelectuais, pensadores,

cientistas, entre outros, para sustentar e dar força aos seus argumentos em defesa da escola

laica. Na crônica entre “Entre as pontas do dilema”, de quatorze de maio de 1931, traz para o

diálogo Professor Juliano Moreira que destaca a necessidade da “higiene psíquica”. Segundo

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a cronista, o professor aludia que os educadores deveriam seguir severos princípios de

isenção “no que se refere à imposição de credos, ideias e opiniões pessoais” (MEIRELES, v. 3,

2001, P. 25).

Os conceitos de laicismo e anticlericalismo foram elementos fundamentais nas

discussões em torno da presença da religião dentro do estado. Os dois conceitos de forma

radical ou não, defendem a separação da igreja e do estado, não devendo os dois se misturar,

principalmente no que concerne aos aspectos educacionais com a inclusão do ensino

religioso, mesmo que de forma facultativa.

Na concepção de Valerio Zanone o termo laicismo remete “a distinção entre igreja

docente e povo discente, isto é, entre o clero e o laicado”. Essa distinção se fez necessária,

pois o catolicismo exercia uma influência constante no que concernia a cultura política e as

instituições públicas. O termo Laicismo é utilizado com mais frequência em países de língua

latina, enquanto que na linguagem política anglo-saxônica, numa concepção mais moderna,

passou a ser usado o termo secularism (1998, p. 680).

Na acepção de Zanone, “as diferentes significações de Laicismo podem ser resumidas

nas duas expressões clássicas: cultura leiga e estado leigo” (1998, p. 680). No que tange ao

nosso objeto de estudo, interessa-nos observar que a fundamentação das Crônicas de Cecília

Meireles partia do afastamento da educação do compromisso de estar atrelada aos preceitos e

a moral religiosa, que ela considerava ineficientes para a formação das crianças.

Vejamos como Cecília Meireles agrega ao seu discurso o peso do conceito de laicismo:

Além de todos os males que decorrem do ensino religioso na parte referente à inadaptabilidade desse ensino às crianças das escolas primárias, é preciso tornar bem claro que o simbolismo das religiões tem de fatalmente se converter em superstição desde que não seja exposto a criaturas com a necessária capacidade para os compreender. Não falo de nenhuma religião particular. Falo de todas, ao mesmo tempo, - porque não condeno o ensino de uma determinada, mas o de todas elas, e unicamente porque religião não é conhecimento que caiba nos quadros pedagógicos, nas escola infantis. Aliás, nas escolas secundárias ou superiores, admitir-se-ia uma cadeira de ciência das religiões, de religião comparada, de filosofia das religiões, - ou qualquer outra coisa nesse gênero, mas sem cair num determinado proselitismo (MEIRELES, v. 3, 2001, p. 26).

Para que o leitor possa entender mais a questão, e relacionar com a defesa que Cecília

Meireles Fazia da escola leiga, convidamos novamente Zanone para nos ajudar a

compreender o conceito de “cultura leiga”. Segundo ele, a expressão Laicismo traz no seu

bojo a “emancipação da filosofia e da moral Positiva”. Essa discussão remonta ao

Renascimento, onde a partir do século XVII, a separação entre o pensamento político e o

pensamento religioso propiciou a propagação da mentalidade leiga, operando dessa forma “a

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primazia da razão sobre o mistério”. Sendo assim, “o Laicismo mergulha, pois, suas raízes no

processo de secularização cultural que cooperou para o fortalecimento de teorias

preexistentes acerca da natureza secular do governo” (1998, p. 680).

O Laicismo foi um conceito que atravessou o pensamento de Cecília Meireles ao longo

do período à frente da Página de Educação. Nos seus Comentários, que funcionavam como

editoriais sobre educação a questão era tema recorrente, bem como a liberdade, o exame

crítico e o debate, entre outros. Para que a nossa hipótese tenha efeito, vamos recorrer

novamente a Zanone, pois nas suas palavras:

a cultura leiga deve, em parte, sua origem às filosofias racionalistas e imanentistas que rejeitam a verdade revelada, absoluta e definitiva; e, ao contrário afirmam a livre busca de verdades relativas, mediante o exame crítico e o debate. Culturalmente, pois, o Laicismo mais que uma ideologia é um método; aliás, pode se autodefinir como um método cujo objetivo é o desmascaramento de todas as ideologias (1998, p. 680).

Poderíamos como provocação avançar mais um pouco, para que possamos perguntar o

que teria unido o pensamento de Cecília Meireles, participante de um grupo de intelectuais

de maioria liberal ao pensamento laicista? Poderíamos recorrer ao conceito moderno de

Laicismo, pois “este abrange em si não apenas a distinção entre Estado e Igreja, mas também

a concepção da Igreja como sendo associação voluntária” (ZANONE, 1998, p. 681).

O princípio leigo consistiria na seguinte regra básica: “não ter a pretensão de possuir a

verdade mais do que qualquer outro possa ter a pretensão de possuí-la” (Zanone, 1998, p.

682). Na concepção de Nicola Abbagnamo, o Laicismo deve ser marcado não só pela

autonomia entre o pensamento político e o pensamento religioso, “mas entre todas as

atividades humanas”. Dessa forma ele defende que as diferentes atividades não devem ser

subordinadas ou hierarquizadas, “nem podem ser submetidas às finalidades ou interesses

que não lhes são inerentes”.

Nessa perspectiva, podemos juntar ao termo Laicismo com a finalidade de melhorar o

entendimento, o termo Anticlericalismo, que na concepção de Guido Verrucci, discute o

posicionamento do “Clero Católico”, do confessionalismo, ou seja, uma tendência

intervencionista do poder eclesiástico de sair do âmbito dos espaços religiosos e invadir a

sociedade civil e o estado. O termo Anticlericalismo do ponto de vista prático, se apresentava

como crítica contra a corrupção, os vícios, a hipocrisia e a ganância, a prepotência e a

intolerância da ordem sacerdotal acusada de trair e de se afastar dos princípios evangélicos.

Os termos fundantes do anticlericalismo remetem a Idade Média, ao Renascimento, ao livre

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arbítrio e ao Iluminismo apresentando-se de forma mista em outros momentos (VERRUCCI,

1998, p. 32).

O Anticlericalismo defendia a separação entre Estado e Igreja, entre política e religião.

Nas palavras de Verrucci, “o Anticlericalismo invadiu parte da imprensa diária e periódica,

ocasionou uma forte literatura crítica e uma literatura de divulgação popular, se manifestou

nas poesias e na literatura de cordel, animou debates populares”. A parte comum, em todos

os países que o Anticlericalismo tomou assento e serviu de inspiração para grupos que viam

no poder da Igreja Católica, um poder coercitivo e invasivo, estava ligado ao clericalismo na

escola. Nessa perspectiva, a luta Anticlerical era marcada por buscar caminhos que pudessem

retirar o ensino da influência do clero e passar a pautá-lo nos princípios racionais e

científicos. O grupo mais específico da Igreja Católica, o alvo principal, eram os jesuítas, pois

estes já se encontravam assentados na sociedade (1998, p. 32-33).

De certa forma, na acepção de Verrucci, o Anticlericalismo liberal entra em colisão com

o democrático e o radical. Portanto,

[...] se no plano das ideias acaba investindo contra o próprio âmbito da religião e de seus princípios morais e sobrenaturais, no plano político o Anticlericalismo se configura como Laicismo, isto é, visa pelo menos, na maior de suas tendências, a um Estado plenamente laico, perante o qual sejam absolutamente livres e iguais todos os cultos e todas as profissões de ideias (VERRUCCI, 1998, p. 33).

No Brasil, o Anticlericalismo também foi levado como bandeira pelo Movimento

Anarquista e pelos periódicos que serviam de divulgadores para este movimento. Estes

periódicos pretendiam ser uma voz em defesa da classe trabalhadora, principalmente nas

cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, locais onde a urbanização acelerada e um modelo

industrialização que colocasse o país nos trilhos do desenvolvimento davam uma nova

configuração à sociedade brasileira. Nessa direção, a imprensa anarquista8 aparecia como

mais um elemento de força, não só por pleitear os direitos trabalhistas, mas também por

entrar em rota de colisão com o poder da igreja, especialmente a Igreja Católica. Sobre o

posicionamento dos anarquistas, assim nos explica Antonio Arnoni Prado:

Sabe-se que, para os anarquistas, o esclarecimento do homem comum nunca foi uma questão de doutrinação sistemática. Na verdade, a ação intelectual anarquista, embora assumindo um compromisso essencial com a libertação espiritual do povo, não se dirigia à massa em abstrato, nos termos em que o propunham “aqueles que pretendiam governá-la”, como disse certa vez o teatrólogo Neno Vasco. Bem, ao contrário, distanciava-se disso, ao dirigir-se

8 Sobre a imprensa anarquista, cf. Edgar Leuenroth, Maria Lacerda de Moura, os jornais: A Plebe, Spártacus, Na Barricada, entre outros.

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concretamente aos indivíduos tomados cada um em sua circunstância, com vistas a “formar consciências, despertar energias, coordenar vontades” e sobretudo desenvolver solidariedades” (2015, p. 132).

Mesmo não trabalhando com essa discussão e seguindo por este caminho, interessou-

nos buscar o entendimento breve destes conceitos para que pudéssemos iluminar as crônicas

de Cecília Meireles. Destacamos também que atuavam na Liga Anticlerical9 os educadores

Edgar Sussekind de Mendonça e Armanda Álvaro Alberto também signatários do Manifesto

dos Pioneiros da Educação Nova.

As conferências: “Porque a escola deve ser leiga”10

Nessa direção, mudamos a escala de análise com lentes de aproximação e nos deixamos

levar de forma atenta para dezembro de 1931, quando a jornalista inicia as publicações no

Periódico Diário de Notícias, para além das crônicas e reportagens, das suas conferências

realizadas na Liga Anticlerical do Rio de Janeiro11.

Foi nesse cenário propício para as discussões, que Cecília Meireles recebeu o convite da

Liga Anticlerical, para que proferisse um Ciclo de Conferências. Este Ciclo organizado com

três conferências ocorreu nos meses de dezembro de 1931 a fevereiro de 1932. A temática

central era a questão do ensino religioso nas escolas, tema este que permitiu a Cecília

Meireles discorrer longamente sobre o assunto e confrontar o ensino leigo ao ensino

alicerçado na religião, no caso específico em questão, o ensino católico.

As Conferências receberam o título de Porque a escola deve ser leiga. De forma

didática Cecília Meireles nos legou nos textos das conferências, a possibilidade de leitura

sobre um momento único da História da Educação, no Brasil.

Na Primeira Conferência, que foi divulgada na Página de Educação do Diário de

Notícias, no dia 29 de dezembro de 1931, a cronista passava a discorrer, mais uma vez, sobre

um dos seus temas prediletos: a criança. Iniciava o seu pronunciamento destacando uma

“Declaração dos Direitos da Criança”, de 1928, divulgada pela “União Internacional de

Socorros às Crianças” que proclamava o seguinte:

9 Sobre a Liga Anticlerical no Rio de Janeiro, conferir Maria Lacerda de Moura, Jussara Valéria de Miranda, Maria Emília Martins Pinto, entre outros.

10Cf. ROBERTO, Jodar de Castro. Ecos de uma voz feminina: Cecília Meireles e a “Página de Educação” do Diário de Notícias no ano de 1932. Jodar de Castro Roberto; Orientadora: Sônia Camara. Dissertação - PPGEdu da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Processos Formativos e Desigualdades Sociais. São Gonçalo/RJ: FFP-UERJ, 2013.

11 As publicações ocorreram nas seguintes datas: 1ª conferência- 29/12/1931 –DN- nº 557; 2ª conferência – 17/01/1932 DN- nº 576; 3ª conferência (1ª parte)- 28/02/1932- DN- nº 616; 3ª conferência (2ª parte)- 01/03/1932- DN- nº 618. Conferir textos completos no acervo digital da Biblioteca Nacional.

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I – Que toda criança deve gozar de todas as condições essenciais necessárias para tingir normalmente o seu desenvolvimento físico e espiritual. II – Que, em casos de calamidade pública, a criança, em quem reside o futuro da humanidade deve ser assistida, de preferência ao adulto. III – Que a criança deve ser protegida sempre, qualquer que seja a sua raça, nacionalidade e religião. IV – Que a criança com fome deve ser alimentada, a doente tratada, a ignorante instruída, a órfã abandonada ou vagabunda deve ser socorrida e auxiliada convenientemente, protegendo-a contra toda a exploração. VI – Que é necessário educar a criança de modo que ela ponha as suas mais altas e melhores qualidades ao serviço de seus irmãos e cuide de enriquecer com o seu esforço o patrimônio comum da humanidade, herança que há de transmitir-se às gerações futuras (MEIRELES, Diário de Notícias, 29/12/1931, p. 5).

Podemos observar que de uma forma sintética a declaração acima, resume os

elementos que vão nortear a concepção de infância auferida por Cecília Meireles ao longo de

sua produção. Segundo ela, essas prerrogativas estariam de acordo com a “pedagogia

moderna”, que consistia em oferecer às crianças todas as possibilidades para o seu

desenvolvimento pleno, sem quaisquer diferenças entre sexo, raça e religião. Acreditava,

pois, que a criança oriunda de qualquer lugar e sem distinção, deveria ser tratada: “sem

nenhum favor e sem nenhum empecilho, pelo direito de estar no mundo, de ser criatura

humana e de ter por destino viver” (Meireles, Diário de Notícias, 29/12/1931, p. 5).

Na Segunda Conferência, Cecília Meireles reacendeu a discussão em torno da inserção

do ensino religioso, que ocorreu através da edição do decreto nº 19.941, 30 de abril de 1931,

onde o Governo Provisório de Vargas, no Artigo 1º, estabeleceu que: “Fica facultado, nos

estabelecimentos de instrução primária, secundária e normal o ensino da religião” (Lamego,

1996, p. 22).

De forma didática convidava todos para a compreensão do que estava ocorrendo:

O vastíssimo interesse que tem despertado o decreto sobre o ensino religioso seria suficiente para nos demosntrar se ainda houvesse dúvidas sobre isso, que existe realmente no Brasil, uma consciência da atualidade do mundo e da vida, incapaz de se deixar oprimir por pretensões sectaristas que, por serem sectaristas, não possuem, justamente, essa isenção e essa capacidade de compreender a evolução das coisas que parece ser uma particularidade distintiva do homem, como animal superior (MEIRELES, Diário de Notícias, 17/01/1932, p. 4).

Nessa perspectiva, entabulava um discurso que era concebido, nas suas palavras, com

“honestidade e sinceridade” em defesa de uma escola leiga, e na primeira pessoa do plural

asseverava:

Nosso papel deve ser, antes que o de combater, o de esclarecer. As lutas aumentam as confusões. A serenidade do pensamento conduz à visão total

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dos fatos. A verdade se faz por si só. E não podemos pretender a nada mais alto que ficar onde a verdade estiver (MEIRELES, Diário de Notícias, 17/01/1932, p. 4).

A matéria prima que movia esta segunda Conferência, versava sobre o desejo de viver e

de viver melhor. Dentre os questionamentos e mudanças arrolados pela cronista está a

pedagogia e a educação que apresentavam fracassos sucessivos ao longo do tempo, desde a

antiguidade clássica. No texto, chamava atenção para a dificuldade de se buscar um novo

paradigma para o progresso, pois na sua concepção, a sociedade ainda estava presa ao

questionamento clássico do “Conhece-te a ti mesmo...”, o que demonstrava o apego com as

tradições e dificultava o desenvolvimento necessário para os novos tempos.

Ao retomar o questionamento inicial, que foi a provocação motivadora das

Conferências, Cecília Meireles desfere os últimos “golpes” nos “detratores da escola leiga”,

chamando atenção dos ouvintes/leitores para o “falso moralismo” dos opositores que,

segundo ela, através da mentira e do cinismo não possibilitariam a formação ideal das

crianças. Com intuito de qualificar mais o discurso que ela defendia, ratificava que a escola

precisava utilizar o estudo dos psicólogos para não agir de forma preconceituosa.

Na terceira conferência, Cecília Meireles concluía ratificando que a educação não

poderia ser concebida de maneira arbitrária “com estes ou aqueles interesses, mas, ao

contrário, é a fórmula de conduzir o indivíduo à posse perfeita de si mesmo, dentro de uma

rigorosa isenção por parte dos que lhe oferecem essa oportunidade” (MEIRELES, Diário de

Notícias, 04/03/1932, p. 6).

A escola leiga não pode dizer como qualquer escola sectarista: só nós sabemos, só nós valemos, só nós somos. Por isso, só a escola leiga prepara a paz. E ainda quando não fizesse mais, creio que estava nisso o maior elogio que uma instituição qualquer podia receber (MEIRELES, Diário de Notícias, 04/03/1932, p. 6).

A “isenção” atribuída por Cecília Meireles à escola leiga servia como seu argumento de

defesa para as acusações desferidas pelos “detratores”, de que essa escola seria “amoral,

imoral ou antirreligiosa”. Nessa direção afirmava “que a escola leiga, sem servir a nenhuma

religião, é a mais religiosa das escolas, porque serve a todas, fazendo-as igualmente

respeitadas, ainda quando entra na apreciação dos seus próprios defeitos”.

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“A cultura liberta. O catolicismo escraviza”12

Não houve neutralidade nas crônicas e nas conferências de Cecília Meireles. A

intelectual defendeu com maestria e habilidade a escola que ela acreditava que deveria ser

oferecida ao povo brasileiro. A defesa intransigente da cronista em torno de uma escola laica

e sem as amarras das religiões estiveram nas suas preocupações diárias em torno de uma

escola que pudesse propiciar aos educandos liberdade para a construção e formação das suas

subjetividades.

Ao olharmos para o passado, que parece distante, podemos observar como as

discussões travadas por Cecília Meireles estão atualizadas e ressignificadas no mundo

contemporâneo. Estamos vivendo no cotidiano escolar os mesmos problemas arrolados pela

cronista, no século passado.

Das páginas dos jornais atuais, vemos brotar a intolerância religiosa como marca do

nosso tempo. Vemos a escola novamente, enquanto lugar de disputa para a supremacia de

uma determinada religião e o desrespeito as que são de credos diferentes. A visão de

fraternidade universal que deveria ser a marca do ensinamento das escolas não resiste aos

profissionais que não respeitam a diversidade dos credos e das matrizes formadoras da

cultura religiosa nacional.

Diante deste quadro desolador no qual se encontra a escola e a educação brasileira, os

textos de Cecília Meireles apresentam o mesmo frescor da época em que foram escritos. A

mesma necessidade de defender uma escola laica e que respeite a diversidade se faz

necessária. Reiterar a pureza da criança, a beleza da infância, convidar os educadores a

refletir, arejar a escola com a beleza da arte e a leveza do espírito serão bandeiras que

precisarão ser empunhadas por aqueles que desejam a educação como um lugar de

transformação e mudança.

Faço das palavras de Cecília Meireles uma profissão de fé, a escola laica não será a que

nega as religiões, mas aquela que respeita a diversidade das escolhas no processo formador

das crianças em direção a fraternidade e a paz universal.

12 Cf. Meireles, Cecília. Crônicas de educação. Volume 3. Rio de janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca nacional, 2001.

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Fontes primárias – periódicos

Jornal Diário de Notícias. 1ª Conferência. Vinte e nove de dezembro de 1931, nº 557. ____________________. 2ª Conferência. Dezessete de janeiro de 1932, nº 576. ____________________. 3ª Conferência (1ª parte). Vinte e oito de fevereiro de 1932, nº 616. ____________________. 3ª Conferência (2ª parte). Primeiro de março de 1932, nº 618.

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