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    D

    EFESA

    PESSO

    AL

    oc j se imaginou ad-quirindo um carro usadosem testar o freio?

    Voc j se imaginoupulando de pra-quedassem verificar se estavatudo OK?

    Voc compraria uma arma de fogoe no a testaria?

    Aparentemente algo absurdode se pensar, certo? Mas o que a

    grande maioria dos praticantes de ar-tes marciais faz. Pouqussimos so osque realmente testam suas tcnicas.Na verdade, neste caso a maioria nosabe se ele prprio tem capacidade dese defender, e nem se a tcnica apren-dida realmente funciona. Mesmo as-sim, sente confiana no que aprendeu,apenas porque o professor ensinou ouporque viu no cinema um heri - dastelas - utilizando aquela arte marcial.

    Por que isso acontece?Creio, humildemente, que istoacontece porque confundem o seu pro-fessor de artes marciais com o donoda verdade, um guru de filmes ou his-trias em quadrinhos que sabe todosos segredos. Mas ningum o donoda verdade. Nem o autor deste artigo,nem o leitor. necessrio se questio-nar, questionar o professor, questionara arte. No nosso sistema, no apenaspermitido questionar, mas NECESS-RIO, para que ele possa evoluir.

    Testando seu conhecimento

    Kombato Texto: Paulo Albuquerque

    VPara saber se possvel aplicar as

    tcnicas aprendidas, deve-se test-lase testar a si prprio.

    preciso se machucar para testar?No. No preciso acelerar um car-

    ro a velocidade mxima para se testaro freio. Basta faz-lo se locomover epressionar o pedal. Da mesma forma,desenvolvi para a minha organizaotoda a metodologia de testes que te-mos usado todos estes anos e que nos

    levaram a colocar nossa filosofia realis-ta na Marinha, Aeronutica, e diversosoutros rgos.

    Sugiro ao leitor um teste simples:Treine sua defesa de faca, por

    exemplo. A defesa que voc aprendeuem uma arte marcial. Ou se preferir,treine vrias. Coloque um culos deproteo, um cachecol e um casaco.Pea para um amigo seu pegar umacaneta hidrogrfica e atac-lo. Masno da forma pr-determinada quevoc aprendeu. Nas ruas, se podeatacar de qualquer forma, de qual-quer jeito. Pea para seu amigo lheatacar o mais rpido possvel e vejadepois onde foi acertado antes deconseguir fazer a defesa. Supondo,claro, que voc conseguiu faz-la. Ex-plique ao seu amigo que ele no estsendo um parceiro de arte marcial,mas sim interpretando um bandido,um marginal. Agora olhe bem paraos riscos. O que teria acontecido sefosse uma faca de verdade? Muito

    sangue. Tendes rompidos, msculosdilacerados, e provavelmente artriase veias rompidas. Voc certamenteteria morrido. Isso, naturalmente, sea sua defesa falhar ou se o seu amigofoi bondoso com voc. Mas acredi-te a maioria das vezes, as defesastradicionais falham.

    O casaco, cachecol e culos de-vem ser usados porque a canetatem uma pequena ponta que pode

    machucar. Pea para ele fazer vriosataques. dez seqncias de dez repe-ties. Pea para outro amigo fazer omesmo etc. Depois teste cada umadas tcnicas que aprendeu.

    Agora voc j sabe o que maissimples e eficaz de fazer. Se todos osseus colegas de treinamento fizeremo mesmo, vo perceber que as tc-nicas bem-sucedidas para voc sogeralmente as bem-sucedidas paraeles tambm. E as que no funcionampara um no funcionam para os ou-tros. Tente chegar porcentagem desucesso.

    No fique chocado se perceberque a tcnica que voc confiava,milenar, criada por um mestre into-cvel, intangvel, simplesmente nofunciona pode ser que voc real-mente tenha treinado pouco. Mase se nenhum dos seus colegas con-segue? Repense isso. Pode ser quevoc esteja se enganando. E o preopode ser a sua vida.

    Este texto se destina aoscidados que se preocu-

    pam com sua capacidadede se defender e noqueles que procuramoutras razes para praticarartes marciais, como filo-sofia, preparo fsico, fazeramigos, arrumar brigas,passar o tempo etc.

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    Fighter Magazine 39

    Testando contra-ataquesindeterminados

    Me ataque com a faca deste jeito- uma frase comum em muitas aulasde defesa pessoal. claro que, nestecaso, a defesa vai funcionar maravilho-

    samente. Para se ensinar uma tcnicapela primeira vez este recurso tem re-almente que ser utilizado. No existeoutra forma. No entanto, deve-se tertreinamento aleatrio, com ataquesvindos de diversas direes e formasdiferentes. Feitas por adversrios dife-rentes grandes, pequenos, gordos,magros, leves, pesados, fortes ou no.

    Na rua o menos provvel de seacontecer so os socos retos, precisose certinhos das artes marciais. Mas

    quase todo o treinamento feito destaforma. Os agressores podem nem sa-ber socar, mas quando acertam, vomachucar muito, ou at mesmo que-brar alguns dos seus dentes e talvezossos, caso voc no tenha certeza deque seu treinamento realstico.

    Para testar, por exemplo, defesasde socos, vista um protetor de cabeae d um par de luvas a um amigo seu. Epea para ele lhe acertar aleatoriamen-te mas com socos abertos, fechados

    e de todos os ngulos possveis.Nas ruas os ataques no so pr-determinados, e desta forma os seustreinamentos e seus testes devem serassim tambm. No cinema, os dublsso pagos para apanhar por isso oastro consegue venc-los utilizandoas tcnicas mais absurdas. Acho ina-creditvel ver pessoas na rua dizendoele muito bom, no ?, como se aslutas dos filmes fossem reais.

    Muitas das tcnicas podem ser tes-

    tadas em casa. Cada ataque tem umaforma correta de se testar sem lesio-nar quem est testando. Existem al-gumas tcnicas, no entanto, nas quaisso necessrios alguns equipamentosespeciais. Facas que do choque el-trico, pistolas de paintball, manoplasde vrios formatos, objetos de plsticocomo cadeiras e garrafas.

    O Kombato um sistema marcial,uma tcnica marcial, um mtodo. Deforma alguma uma arte, pois no

    andamos pelo caminho da esttica.

    um mtodo cientfico, j que testamostudo de forma tcnica e precisa. NoBatalho Humait e Batalho Riachue-lo (batalhes de Fuzileiros da Marinhado Brasil), o contingente de 1300pessoas, 10 repeties de cada tc-nica, 26.000 testes de cada tcnica.

    Mesmo assim, no tnhamos atingidoo necessrio, j que mulheres, crian-as e idosos no fazem - naturalmente- parte do grupo de fuzileiros. Para issoprecisamos testar e retestar em aca-demias. Por isso podemos afirmar, comcerteza, que existem tcnicas de artesmarciais que funcionam perfeitamentee algumas cuja chance de sucessono chega a um porcento. E nissoque nos baseamos para desenvolvero sistema. Temos tudo tabelado, todas

    as probabilidades de cada tcnica, decada luta.Voc arriscaria sua vida em uma

    tcnica que voc mesmo testou e steve um por cento de sucesso?

    Cada experincia pode e DEVE serrepetida. Por isso eu sempre sugiro aosalunos testarem o que sabem. Faamos testes em casa e tirem suas pr-prias concluses. Comparem com ostestes dos seus amigos.

    Um dia, recebi um telefonema: Al?

    o Mestre Paulo? Do Kombato?. Sim.Boa tarde, respondi. E meu interlocu-tor foi direto ao assunto: Se um amigoseu estivesse sendo atacado por umafaca, o que voc faria?. No momento,imaginei que se tratava de uma brin-cadeira. Mas ele completou: srio..Eu disse: Em primeiro lugar, tentariatirar o meu amigo do local, em segun-do usaria uma arma longa, depois umaimprovisada, uma lmina. Em ltimo lu-gar, eu usaria as mos (Este princpio

    se chama ABACO2 no Kombato).Na primeira aula deste cidado,perguntei o porqu da pergunta, eele simplesmente tirou a camisa, mos-trou quase uma dezena de cicatrizes umas longas, umas curtas e outrasfundas. E comeou a chorar copio-samente, na frente de uma turma detreinamento em um sbado pela ma-nh. No estou falando de uma crian-a, mas de um homem de mais de 30anos, profissional liberal. Ficou um am-

    biente extremamente desagradvel.

    O fato que o traumatizou foi que elevivenciou a situao do Amigo ataca-do pelo agressor com faca, e procuroufazer o que lhe foi ensinado durante 14anos. E falhou drasticamente. Ficouum bom tempo sendo remendadono hospital no digo apenas pontos,

    mas ficou muito tempo porque algumaspartes simplesmente no fechavam.Ele no falhou por falta de habilidade tinha 14 anos de treinamento, masporque a tcnica usada simplesmenteno funciona.

    Eu recomendo a todos os leitores,que no ignoram a violncia que aest, a testar suas tcnicas. Nas ruasno se tem segunda chance. E o piorno seria a sua morte, mas a mortedas pessoas que voc no teve capaci-

    dade de defender, porque voc, comoguerreiro, preferiu confiar cegamenteno que aprendeu.

    Mestre Paulo Albuquerque:

    Fundador do Kombato - www.kombato.org

    Analista de Sistemas, e graduadoem diversas artes marciais, sendo onico graduado em Kali no Brasil,Mestre Paulo Albuquerque respon-svel pelo treinamento dos guarda-costas das maiores celebridades da

    TV Globo (RJ), e por diversas facesda Marinha do Brasil, tendo ensinadoinclusive no Curso de Especializaode Guerra Anfbia, Batalho Riachue-lo, batalho Humait, no primeiroCurso de Segurana para embaixadase Companhia de Polcia do BatalhoNaval, na polcia lecionou tambm naESPM (Escola Superior da Polcia Mi-litar), lecionou tambm para diversosMarines do Exrcito Americano, ondetrabalhou em 1995. A Kombato jest em diversas outras organizaes

    de todo o Brasil.