king scorpion

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Impresso em 28/05/2015 às 15:05h. Civilização Egípcia Imprimir Fechar Rei Escorpião Dinastia: Pré‐dinástico Sede de Governo: Thinis Reinado: 3150 ‐ 3125 a.e.c.| Antecessor: Kha‐Sekhen 3175 ‐ 3150 a.e.c. Sucessor: Meni 3125 ‐ 3100 a.e.c. Representação e Fontes | O rei e o rio Nilo | A maça de guerra | O desenvolvimento da civilização | A Política Externa | Tempo de reinado e legado | Referências Bibliográficas Há alguma controvérsia quanto à sua suposta existência. Algumas figuras e referências a este rei do Egito pré-dinástico não chegam para provar a sua existência real. No entanto em 1898, o egiptólogo inglês James Edward Quibell, descobriu nas suas escavações no depósito principal (in QUIBELL, James, Hierakompolis, Part I, London, 1900) do templo de Nekhen (em grego: Hierakompolis), uma grande clava que mostra um rei com a coroa no Alto Egito e com um aluvião na mão num ritual possivelmente de fertilização dos solos após as cheias do Nilo. Esse rei tem à sua frente uma flor e por baixo um grande Escorpião a identificá-lo. Essa clava esta atualmente no Ashmolean Museum em Oxford. Juntamente com essa grande clava descobriu-se uma outra bem menor e em pior estado de conservação que, segundo alguns especialistas, mostra o mesmo rei-Escorpião sentado num trono com a coroa do Baixo Egito, tendo à sua frente um falcão a atacar um inimigo. Apesar da identificação dessas clavas não ser unânime, atualmente os especialistas inclinam-se para que o rei-Escorpião (também designado de Horus Serek), possa ser um rei do final da época pré-dinástica e tendo pertencido à enigmática dinastia e reinando entre cerca de 3150 e 3125 a.e.c. Poderá também ter sido durante o seu reinado que o reino do Alto Egito, que na altura abarcaria os reinos unidos de Thinis ou Tis, Naqqada e Nekhen, começou a expandir as suas fronteiras em direção ao Baixo Egito (o que poderia explicar o aparecimento do rei com a coroa vermelha do Baixo Egito). --------------- Representação e Fontes O Rei Escorpião foi sem dúvida um personagem impressionante, exibindo a coroa branca do Alto Egito. Já não é um simples chefe de clã, mas um monarca. Sua coroa constitui um indício de que não há engano. Seu nome é enigmático, escrito com o hieróglifo do escorpião, mas cuja leitura ainda não foi estabelecida. De modo que, para simplificação é chamado de rei-Escorpião. Existem vários objetos com a inscrição do seu nome, entre os quais um recipiente de Tura e oferendas encontradas no templo de Hierakonpolis, a Nekhen dos antigos egípcios. Mas o documento essencial é uma admirável peça proveniente da estação de Hierakonpolis e conservada no Ashmolean Museum de Oxford: um objeto de calcário contendo várias cenas em alto-relevo que marcam o aparecimento de um faraó na História. As representações são distribuídas segundo três registros, uma disposição típica da arte egípcia que atravessara as épocas.

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King Scorpion

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  • 28/05/2015 Templodeapolo.netImpresso

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    Impresso em 28/05/2015 s 15:05h. Civilizao Egpcia

    Imprimir Fechar

    Rei EscorpioDinastia: Prdinstico Sede de Governo: ThinisReinado:31503125 a.e.c.|

    Antecessor: KhaSekhen31753150a.e.c.Sucessor:Meni31253100a.e.c.

    RepresentaoeFontes | OreieorioNilo | Amaadeguerra | Odesenvolvimentodacivilizao | APolticaExterna | Tempodereinadoelegado | RefernciasBibliogrficas

    H alguma controvrsia quanto sua suposta existncia. Algumas figuras e referncias aeste rei do Egito pr-dinstico no chegam para provar a sua existncia real. No entantoem 1898, o egiptlogo ingls James Edward Quibell, descobriu nas suas escavaes nodepsito principal (in QUIBELL, James, Hierakompolis, Part I, London, 1900) do templo deNekhen (em grego: Hierakompolis), uma grande clava que mostra um rei com a coroa noAlto Egito e com um aluvio na mo num ritual possivelmente de fertilizao dos solosaps as cheias do Nilo. Esse rei tem sua frente uma flor e por baixo um grandeEscorpio a identific-lo.

    Essa clava esta atualmente no Ashmolean Museum em Oxford. Juntamente com essagrande clava descobriu-se uma outra bem menor e em pior estado de conservao que,segundo alguns especialistas, mostra o mesmo rei-Escorpio sentado num trono com acoroa do Baixo Egito, tendo sua frente um falco a atacar um inimigo. Apesar daidentificao dessas clavas no ser unnime, atualmente os especialistas inclinam-separa que o rei-Escorpio (tambm designado de Horus Serek), possa ser um rei do finalda poca pr-dinstica e tendo pertencido enigmtica dinastia e reinando entre cercade 3150 e 3125 a.e.c. Poder tambm ter sido durante o seu reinado que o reino do AltoEgito, que na altura abarcaria os reinos unidos de Thinis ou Tis, Naqqada e Nekhen,comeou a expandir as suas fronteiras em direo ao Baixo Egito (o que poderia explicaro aparecimento do rei com a coroa vermelha do Baixo Egito).

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    RepresentaoeFontes

    O Rei Escorpio foi sem dvida um personagem impressionante, exibindo a coroa brancado Alto Egito. J no um simples chefe de cl, mas um monarca. Sua coroa constitui umindcio de que no h engano. Seu nome enigmtico, escrito com o hierglifo doescorpio, mas cuja leitura ainda no foi estabelecida. De modo que, para simplificao chamado de rei-Escorpio.

    Existem vrios objetos com a inscrio do seu nome, entre os quais um recipiente deTura e oferendas encontradas no templo de Hierakonpolis, a Nekhen dos antigosegpcios. Mas o documento essencial uma admirvel pea proveniente da estao deHierakonpolis e conservada no Ashmolean Museum de Oxford: um objeto de calcriocontendo vrias cenas em alto-relevo que marcam o aparecimento de um fara naHistria. As representaes so distribudas segundo trs registros, uma disposio tpicada arte egpcia que atravessara as pocas.

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    No registro superior vem-se insgnias de provncias e aves mortas provavelmentepaves , e ainda arcos suspensos em galhardetes, que servem para sustentar asinsgnias. Nessa procisso das provncias reconhecem-se os smbolos do deus Seth, umanimal hibrido, uma figura muito estranha julgando-se ser um meteorito. Essa histriaem quadrinhos, por assim dizer, tem um significado preciso.

    O rei-Escorpio marca a sua soberania sobre as provncias do Alto Egito. Lidera as suastropas e vence as populaes simbolizadas pelos paves e pelos arcos, certamente oshabitantes do Delta e nmades que viviam nas fronteiras do Egito ou em osis. Assim seevoca uma grande vitoria do Sul sobre o Norte. Dessa forma surge um monarca deestatura nacional que, contudo, ainda apenas senhor do Alto Egito.

    Note-se que o rei-Escorpio no se fez representar nesta cena alusiva a sua conquista. So reencontramos no segundo registro, num contexto de paz e muito trabalho: com acoroa branca, uma tanga cerimonial dotada de uma cauda de animal presa a cintura ependente, maneja uma enxada com as duas mos e abre um canal. Diante dele, umpouco acima do seu rosto, uma estrela de sete pontas e um escorpio. Um porta-estandarte precede o rei, certamente para anunciar ao pais a obra inaugurada pelosoberano. Um sacerdote leva numa cesta a terra que o fara cavou. Figura central dacena, o rei imenso em relao aos seus servos. Os servos, de tamanho reduzido; omonarca, de tamanho colossal: esse simbolismo tambm ser uma constante naexpresso artstica dos egpcios.

    No se trata de megalomania, mas da vontade de indicar a diferena de natureza entre osseres representados, entre o rei-deus, por um lado, e os humanos, por outro. A mesmaregra poder ser aplicada aos nobres possuidores de grandes domnios com uma idiasimilar: quando o nobre, sentado diante de trs registros onde trabalham as vriascorporaes do seu territrio, contempla as pessoas pelas quais responde, e as protegecom a sua estatura. O seu tamanho e a sua grandeza garantem, de certo modo, a suacapacidade para dirigir e velar sobre os seus empregados. O mesmo acontece com ofara.

    O rei-Escorpio revela-se a ns por um ato ritual, um ato de fundao. Aps 3.500 anos,nas salas dos templos ptolomaicos como Esna ou Kom Ombo, veremos imperadoresromanos, como Severo, Caracala ou Dcio, vestidos de faras egpcios, abrindotrincheiras de alicerces ou espetando estacas para calcular a orientao do templo queest para ser construdo. O trabalho do rei-Escorpio evoca ao mesmo tempo a aberturade um canal, ato econmico fundamental, e a sagrada tomada de posse da terra.Certamente os edifcios de culto da sua poca compunham-se de capelas em materiaisleves, protegidas por cercas, em nada comparveis aos enormes templos da poca greco-romana; porm, os gestos dos reis mantm-se idnticos.

    Numa paleta pr-dinstica vem-se muralhas de cidades encimadas por figurassimblicas um leo, falces e um escorpio com uma enxada. A interpretao no efcil Tratar-se-ia de varias evocaes do rei do Egito ou da representao de vrioschefes de cls que formaram uma coalizo da qual o rei-Escorpio fazia parte? Por outrolado, pensou-se durante muito tempo que esta cena evocava a destruio deaglomeraes. Mas outra hiptese parece prefervel efetivamente, uma enxada uminstrumento de fundao e no uma arma. O Escorpio e os seus aliados atuam comocriadores de cidades ou aldeias, provavelmente em zonas pantanosas ainda inexploradas,valorizando assim as margens libicas do Delta. Na poca em que foi composta estapaleta, intitulada do tributo lbio, provvel que o Escorpio fosse ainda um merosoberano local entre tantos outros. Voltemos pea, cujo terceiro registro mostra ocontorno sinuoso do Nilo e camponeses trabalhando. O rei-Escorpio indica, assim, quefavoreceu a atividade econmica do pas durante o seu reinado.

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    OreieorioNilo

    Este soberano um Hrus. Protegido pelo deus-falco, como toda a linhagem dos faras,ele aquele que pertence ao canavial em sua qualidade de rei do Alto Egito. Veste umasimples tanga e tem uma cauda de touro atada cintura, smbolo de seu poder. Reimago, a sua funo consiste em ser um chefe guerreiro vitorioso, mas tambm emassegurar as cheias e as colheitas. Estes pontos essenciais so assegurados pelas cenasda pea. Um deles deve chamar-nos a ateno: o fenmeno das cheias. Segundo aclebre frase de Herdoto, o Egito um dom do Nilo.

    Mas teria sido riscada do mapa no fosse a prodigiosa atividade dos egpcios emconfronto com um surpreendente fenmeno. O Nilo, com os seus 6.500 quilmetros decomprimento, nasce no Equador, atravessa o Sudo e a Nbia, transpe seis cataratas echega ao Egito. Durante o ms de junho, o rio vai subindo pouco a pouco. Em julho, assuas guas tornam-se lamacentas, ganhando uma cor castanho-avermelhada. Trata-sede matrias em suspenso provenientes da Etipia, cujas lamas abissnias so o elementofertilizante que d ao lodo do Nilo a sua excepcional qualidade. Iniciando-se emmaio/junho nos trpicos, as cheias s chegam ao Egito no vero, quando o sol escaldante. Em julho, o rio transborda, cobre a Egito e deposita o seu frtil limo. Quandose retira em outubro, fica fcil semear. Os camponeses constataram rapidamente quepara obter com facilidade ate trs colheitas por ano tinham que criar um sistema deirrigao.

    E nesse ponto que o fara intervm. Esse projeto exige uma participao ativa doEstado. A irrigao, a abertura dos canais e a sua manuteno devem ser organizadas porele para se revelarem eficazes. As cenas gravadas na pea de Hierakonpolis provam que orei-Escorpio, que apenas reinava no Alto Egito, j tinha percebido claramente aimportncia da domesticao e explorao das cheias do Nilo. Os canais constituem umaverdadeira rede sangunea que permite que a gua circule no grande corpo formado pelaterra egpcia. Quando mudanas climticas provocaram o refluxo das guas e ofereceramao homem novas terras para cultivar, inventaram-se certamente processos rudimentaresde irrigao.

    Foram encontrados na Nbia vestgios dessas primeiras tcnicas sob a forma de baciasonde se retinha a gua depois da inundao. Mas a genialidade dos reis egpcios no ficas nisso, e sim em ultrapassar esses resultados pontuais para conceber um plano geral.Todos os anos seria preciso aplanar as terras arveis, consolidar os cliques, limpar oscanais. O trabalho entre duas cheias era pesado e no deveria ser efetuado de maneiradesordenada. Os prprios diques no poderiam ser construdos de qualquer maneira eem qualquer lugar. Tudo isso supunha a existncia de uma espcie de gabinete demestres-de-obras decididos a utilizar ao mximo a energia fertilizante fornecida pelascheias. Entretanto, s um poder forte e centralizado, encarnado na pessoa do fara, seriacapaz de realizar tal empreendimento. Nesse domnio, o rei-Escorpio foi um prodigiosoinovador. Tirou o Egito da pr-histria, ensinando-o a domesticar um fenmeno naturalsuscetvel de se tornar a fonte de uma grande riqueza. Hoje em dia, a obra realizadaparece simples e evidente, mas, se nos situarmos na poca do Escorpio, temos dereconhecer o seu gnio.

    Fonte de vida e de fertilidade, o Nilo tambm uma via de comunicao de sumaimportncia. No Egito, ele at a auto-estrada por excelncia, que naturalmente setoma para ir de um ponto a outro, o eixo econmico que favorece as relaes entre as

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    provncias para a existncia de uma sociedade coerente. O vento noroeste permite ao riosubir; ao descer, recolhem-se as velas quando a corrente se mostra rpida. Os egpciosmais que depressa construram barcos. Na poca do rei-Escorpio j devia existir umacorporao de artfices especializados. No estamos pensando apenas nos primitivosbarcos de papiro, mas em embarcaes de madeira.

    A paisagem egpcia mudou e atualmente vem-se poucas rvores. Em contrapartida, osoperrios do rei-Escorpio dispunham certamente de florestas que forneciam madeiraaos estaleiros navais. Quando, aps a inundao, o vale do Nilo vira um lago imenso, ascomunicaes entre as aglomeraes habitadas no so interrompidas. Efetivamente, asaldeias foram construdas em elevaes ligadas a caminhos sobranceiros que formam oalto dos diques.

    Nada na mentalidade egpcia reduz-se a um valor meramente material e profano. O Niloterrestre encontra o seu modelo num rio celeste. Quando as cheias cobrem o pas, estev-se de novo mergulhado no oceano primordial dos primeiros tempos em que emergemelevaes, as primeiras elevaes de terra onde a vida floresceu. Graas ao simplesfenmeno das estaes, o povo egpcio revive assim, anualmente, os mais profundos eessenciais mitos da Criao.

    Efetivamente, para o Egito, o mundo est cercado por um grande oceano circular uma dasformas de Noun, a energia de onde tudo surgiu. Sobre a Terra existe um Cu sustentadopor quatro pilares, e as pessoas se orientam pelo sul. Quanto ao esprito do Nilo, este chamado Hapy. um verdadeiro pai nutriente graas ao qual os homens gritam de jbilo.Hapy, gnio andrgino, nasce numa caverna situada perto de Assu, nas paragens daprimeira catarata.

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    Amaadeguerra

    A maa de guerra extremamente grande e enfeitada, mas tambm danificada, hojeconhecida como a Maa de guerra do Escorpio (Museu de Oxford), apresenta um reiusando a coroa branca do Alto Egito. O rei, que usa um saiote, est em p em um campoe porta uma enxada.

    De frente para ele esto dois servos em escala menor, um carregando o que geralmentese interpreta como um feixe de cereais, e o outro carregando um cesto, enquanto atrsdo rei esto dois servos portando abanos para proteg-lo do sol quente. Na altura dacabea do rei esto dois entalhes pequenos, uma roseta e um escorpio, que geralmenteso interpretados como representao do nome e/ou ttulo do rei, embora nome talvezseja um termo preciso demais nesse contexto. Os entalhes podem ser classificados comigual validade como emblemas ou smbolos tribais/regionais representando a posio ouo poder do rei.

    Como parece improvvel que um personagem nobre sujasse suas mos com trabalhomanual, podemos supor que o rei esteja ali dando sua beno a algum programa cvico,talvez inaugurando um dique de irrigao, cortando a primeira faixa de grama, numacerimnia semelhante do que participa a moderna realeza quando, por exemplo, chamada a plantar rvores, assentar tijolos e batizar navios. Nesse caso, a cena estarianos fornecendo a primeira evidncia de irrigao artificial patrocinada pelo Estado.

    At a, apenas uma vinheta agrcola agradvel e inofensiva. Mas as inchadas podem ser

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    usadas como armas de guerra. A contempornea Cidades ou Paleta das Cidades ouLbia mostra urna srie de animais; smbolos tribais, atacando cidades muradas usandoinchadas. E sabemos, a partir de documentos posteriores, que os pssaros rekhyt mortos,pendurados pelo pescoo em estandartes militares posicionados acima da cabea do rei,significam a conquista de um povo no especificado.

    No Egito sempre haver uma confuso entre arte e escrita. Tal como os hierglifos usamfiguras para representar palavras especficas, uma cena pintada ou entalhada pode serlida como uma sentena. S h um ponto em que cessam as palavras e comea a escrita,onde exatamente se situa? Em certa medida, isso acontece em nossa prpria tradioartstica, mais que uma pintura religiosa aparentemente simples pode estar carregada designificado e simbolismo para os iniciados em um nvel mais bsico, um desenho podedizer muito a uma criana.

    No Egito isso levado ao extremo, com os artistas recorrendo a figuras, muitas vezes custa do texto, que pode ser mnimo ou at ausente, para contar uma histria; assim,toda arte formal s torna passvel de mais de uma interpretao e podemos encontrarmuitas camadas sobrepostas de significados em cada cena. Os pedreiros de Naqqadatinham a inteno de que a Maa de guerra do Escorpio fosse tida como um texto. Paraos observadores modernos, ela porta uma mensagem enigmtica, embora seussignificados mais bvios atravessem uma vasta barreira cultural. A partir de seu tamanhoextremo, dos entalhos detalhados e de sua insero em um esconderijo do templo,podemos deduzir que a Maa de guerra muito mais que o registro de um eventoagrcola especifico e um tanto inspido, uma pea que tem um valor sagrado oureligioso definido e celebra o papel do rei.

    O escorpio maior do que os objetos que o acompanham. No Egito, tamanho sempretransmite autoridade e o rei naturalmente sempre dominar toda cena terrestre. A coroafala por si s; estamos olhando para um monarca que j apreciava as vantagens dasinsgnias reais. O que surpreende quanto as formalidades da arte egpcia formalidades que persistiro quase inalteradas durante 3 mil anos j esto bemesclarecidas. Sabemos, por seu estilo e origem, que, embora a Maa de Guerra doEscorpio seja datada do fim da era Naqqada, sua imagem do perfil da realeza, com acoroa imediatamente identificvel, no ficaria deslocada no perodo dinstico tardio.

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    Odesenvolvimentodacivilizao

    Antes do advento do rei-Escorpio, a civilizao egpcia no existia. Podemos falarapenas de culturas locais cujas produes artesanais eram mais ou menos bem-sucedidas. Ser na era pr-dinstica, poca do Escorpio, que a documentaoarqueolgica mudar. Nos mitos de exumao, constata-se que o cadver j no embrulhado em redes ou em peles, mas depositado em cestos de vime, e depois emsarcfagos de terracota ou de madeira. Desenvolvem-se a metalurgia e a marcenaria. Osutenslios de sliex e de cobre aperfeioam-se, bem como a tecelagem. A cermica abundante. Quando decorada, v-se ornada de cenas muito complexas onde intervmpersonagens e barcos. Recipientes em terra dura e cabeas de maa so fabricados emquantidades enormes.

    O rei-Escorpio foi o instigador e o beneficirio dessa evoluo de ordem social eeconmica. Chefe de cl conduzido ao trono, reina sobre as populaes de provnciasque conhecem uma certa prosperidade. At onde se estendia o seu reino? Talvez at

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    Tura, ao norte de Mnfis (que nessa poca ainda no existia): simples hiptese querepousa no achado de um fragmento marcado com o seu nome nesse local. O centro vitaldo pas que ele dirigia situava-se provavelmente em Hierakonpolis, entre Luxor e Assu.Hoje s existe o deserto, mas ali foi encontrado um importante conjunto de sepulturascujas paredes esto cobertas de representaes de caadas, combates, cenas de dana,viagens martimas; enfim, a expresso de uma civilizao j bem-constituda.

    A lenda nos fala de um reinado de mais de duzentos anos sob a gide de um rei-falco.Na mentalidade egpcia, Hierakonpolis manteve-se uma cidade santa, tal como Buto noDelta. Recorde-se a este propsito a refinada anlise de um egiptlogo estadounidense,J. A. Wison, cuja argumentao convincente. Diz ele que os "reinos de Hierakonpolis ede Buto no eram residncias rgias: efetivamente, Hierakonpolis situa-se numa zonarida, no-frtil; j Buto uma ilha nos pntanos do Delta. Seriam, por conseguinte,locais sagrados, centros de peregrinao carregados de poder divino, mas no zonashabitadas.

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    Apolticaexterna

    O bom entendimento quase nunca reinou entre Ibios e egpcios. Os conflitos remontamde muito tempo, sendo o primeiro endossado pela paleta intitulada do tributo lbio edatada da poca pr-dinstica. Neste monumento em pedra vemos diversos animaissendo trazidos para o Egito (vacas, burros, carneiros). Encontram-se igualmenterepresentados personagens com uma pena na cabea, de tanga e com um estojo peniano,mas difcil dizer se so lbios ou caadores egpcios. provvel que esse documentocomemore a primeira vitria historicamente confirmada do Egito sobre a Lbia.

    Na poca pr-dinstica, por conseguinte, o problema lbio existe. H, de fato, uma ntidadiferena de cultura e de potencial econmico entre os egpcios, agrupados em aldeiasjunto do Nilo, e as populaes distantes do rio. No obstante as mudanas climticastornarem ridas regies outrora frteis, os lbios so doravante obrigados a viver numpas pobre, tal como os bedunos do deserto arbico. De modo que tero sempre invejada rica terra egpcia, ousando por vezes fazer investidas para saquear. Muito mais tarde,os Lbios conseguiro at ascender ao trono do Egito durante um perodo muito breve.

    No reinado do rei-Escorpio, o Egito faranico ganha forma. Mas surge a questo de sesaber se o seu prprio gnio nico responsvel por esse nascimento fabuloso ou sehouve influncias externas. As paletas com temas guerreiros mostram conflitos entreegpcios e cls que vivem na periferia do pas, mas no indicam vestgios de uma grandeinvaso estrangeira vinda do Leste, por exemplo. Um nico objeto poderia ajudar aformular uma hiptese nesse sentido: o cabo em marfim da faca de Gebel el-Arak,conservado no Museu do Louvre. Est decorado dos dois lados. Um deles nos mostra umpersonagem que domina dois lemes, com uma srie de felinos embaixo; outro, umcombate. As armas usadas so paus. H tambm barcos, nadadores e afogados.

    O que surpreende o estilo no-egpcio dessas representaes. Estamos diante de umaobra de inspirao tipicamente mesopotmica. Talvez tambm a encontremos naconcepo das grandes sepulturas de tijolos da primeira dinastia, no mito dos animaishbridos (como o grilo alado, mas como especificar o alcance real de uma influncia daMesopotmia sobre o Egito? Se podemos considerar que na poca do rei-Escorpio houvemuitos contatos entre as civilizaes do Elam, da Sumria e do Egito, no poderamosafirmar a existncia de uma cultura prximo-oriental comum que tivesse presidido ao

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    nascimento de dois tipos de civilizaes uma na sia e a outra no vale do Nilo.

    A faca de Gebel el-Arak continua sendo um objeto misterioso. Trata-se certamente deuma arma ritual, talvez colocada num santurio para comemorar um combate. Se a idiade uma invaso mesopotmica deve ser posta de lado, em contrapartida muito provvelque artistas vindos da sia anterior tenham se estabelecido muito cedo no Egito e criadoobras cujo mais belo exemplo o cabo dessa faca. Nesse sentido, contriburam, por umlado, para a formao da conscincia artstica nascente dos egpcios e ofereceram-lhestemas simblicos que os artesos faranicos transpuseram para a sua prpria linguagem.

    O homem que domava os dois lees no podia deixar de chamar a ateno de um povopara o qual o fara e essencialmente aquele que rene as Duas Terras, que usa a duplacoroa e protegido pelas duas senhoras: abutre e a serpente.

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    Tempodereinadoelegado

    Quanto tempo durou o perodo pr-dinstico durante o reinado do rei-Escorpio? Nosabemos. Certos arquelogos lhe atriburam vrios sculos. Atualmente predomina adoutrina da cronologia curta. Homnung considera que o Escorpio viveu cerca de 3.000anos a.e.c. e que a primeira dinastia comea no ano 2950 a.e.c.. Outras incertezasacrescentam-se a essa impreciso cronolgica. Julgou-se poder estabelecer que o pr-dinstico recente, ou seja, o perodo anterior a Meni ou Narmer, compreendia apenasdois reis, o Escorpio e um tal Ka. Mas certas tradies mencionam sessenta reis noDelta, ou seja, uma longa linhagem monrquica no Alto Egito que teria comeado porvolta de 5500 a.e.c., e at sete rainhas que teriam governado o Egito, lenda est que teriaservido de hiptese a um matriarcado muito antigo. Uma concluso se impe: antes deMeni ou Narmer, o Egito no se encontra unificado. O Escorpio reina apenas no AltoEgito. Mas um grande problema se mantm: o das relaes exatas entre o Sul e o Norte,entre o Alto e o Baixo Egito.

    As paletas em xisto evocam combates entre cls. O Escorpio foi certamente um chefemais hbil do que os outros, pois foi capaz de formar uma civilizao que lhe permitiuimpor o seu poder aos habitantes do Norte. Mas o Delta realmente formava um mundoindependente? Houve efetivamente uma grande guerra entre as duas partes do pas,simbolizada pela luta entre Seth, senhor do Alto Egito, e Hrus, senhor do Baixo Egito? duvidoso. Alguns egiptlogos continuam a aplicar o mtodo do grego Evmero, queconsiste em procurar acontecimentos histricos ocultos sob narrativas mticas, aplicandoassim uma mentalidade nacional a um pensamento de ordem teolgica e simblica. Osestudos dos historiadores das regies, como Mircea Eliade, Heinrich Zimmer, Jean Serviere outros, mostraram claramente, no entanto, que o mito era uma histria verdadeira, umvalor em si, um elemento civilizacional que serve para criar a Histria e no ocontrrio.

    Na poca pr-dinstica, o Delta ainda uma vasta plancie pantanosa. O prprio vale doNilo est longe de apresentar o aspecto que hoje oferece. Vegetao abundante, zonasperifricas ainda no atingidas pela desertificao, pntanos comparveis em certospontos aos do Delta formam uma paisagem verdejante e aqutica. Das mais arcaicascidades do Delta, tais como Buto, Busiris e Sas, no restam vestgios. Mas impe-se umaindagao: por acaso podiam restar? No se tratava originalmente de locais sagrados,particularmente venerados, de uma espcie de ilhas no imenso mar formado pelo Deltado Nilo?

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    O mito de base a vitria de Hrus sobre Seth numa poca muito remota. Depois, cercade 3200 a.e.c., acontece o contrrio. O senhor da regio de Heraklepolis, ao Sul,conquista o Norte. O mito ter-se-ia, portanto, invertido. Na realidade, a chave dessasconfrontaes reside na pessoa do prprio fara. Hrus e Seth, tio e sobrinho inimigos,combater-se-iam desde a origem dos tempos at o fim do mundo. O papel do faraconsiste em ser o terceiro termo, em fazer cessar este combate; em reunir as duas partesdo pas para estabelecer uma unidade. Mas, cada vez que morre um rei, Hrus e Sethvoltam a defrontar-se at que o novo fara suba ao trono.

    Nesta perspectiva, v-se claramente que o mito no evoca fatos histricos que nuncapodero ser verificados, mas veicula uma grande idia civilizatria e o fundamentoessencial da realeza egpcia. Sob a gide do Escorpio, uma regio de pntanos eflorestas transforma-se progressivamente em terra arvel. As cheias comeam a sercontroladas, as guas trazem a riqueza, o trabalho dos homens portador demaravilhosas esperanas. Graas irrigao, uma civilizao indita nasce do limofertilizante.

    Outra revoluo igualmente profunda se anuncia: o nascimento da mais perfeita lnguajamais criada pelos homens os hierglifos, uma lngua sagrada, igualmente criadora decultura e de civilizao. O nome do rei-Escorpio est inscrito num hierglifo. Aqui e ali,nas paletas pr-dinsticas, sente-se que o hierglifo est em formao, que opensamento dos homens se canaliza cada vez mais rapidamente para atingir uma formade expresso original. Cada hierglifo , ao mesmo tempo, uma obra de arte, umsmbolo, um sinal-ideograma portador de valores fonticos e silbicos certos sinaischegam a formar uma espcie de alfabeto a partir do qual os aprendizes de egiptologiaaprendem hoje a arte da decifrao. O nascimento dos hierglifos no associvel ao doEgito unificado: uma nica lngua para todo o pas a fim de registrar todas as vontadesdos deuses e dos reis; uma lngua carregada de poder mgico.

    Referncias Bibliogrficas:

    Baines,JohneMlek,Jaromr.Omundoegpcio,Madri,EdiesdelPrado,1996;

    Jacq,Christian.OEgitodosgrandesfaras,RiodeJaneiro,BertrandBrasil,2007;

    J.H.Breasted,AHistoryofEgypt,2ed.NewYork,1909;

    RevistaEdioIlustradaEgitoAntigo,Escala,2007.

    Como citar esta pgina:

    FERREIRA FH., O.A. ReiEscorpio . Portal Templodeapolo.net, Porto Alegre-RS. Disponvel em:http://www.historia.templodeapolo.net/governantes_ver.asp?cod_governante=44&value=ReiEscorpio&civ=CivilizaoEgpcia&sede=Thinis#topo . Consulta: 28/05/2015.

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