kênosis fascículo nº3

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nº 3 o agosto de 2013 SOMOS UM GRUPO DE LEIGOS CATÓLICOS DA COMUNIDADE DE SANTA SUZANA, EM SÃO PAULO, QUE TEM A CERTEZA DE QUE, COMO PARTE DO CORPO DE CRISTO, DA IGREJA CELESTE, TEMOS POR OBRIGAÇÃO PROPAGAR O REINO DE DEUS E A BOA- NOVA QUE É JESUS CRISTO AOS QUATRO CANTOS DA TERRA, A TODO SER HUMANO, EXATAMENTE COMO O SENHOR PEDIU AOS SEUS DISCÍPULOS ENQUANTO ESTEVE NESTE MUNDO. COMUNIDADE SANTA SUZANA QUEM SOMOS NOSSA NOSSA igreja VIDA DE santo VIDA moderna Irmãos e irmãs, é com muita alegria e cuidado que apresentamos o 3 º fascículo desta publicação, que tem como principal objetivo trazer de volta à prática cotidiana a verdadeira fé católica, herdada dos Apóstolos, desde que nosso Senhor Jesus Cristo encarnou há mais de 2.000 anos.Para dar cabo desse desafio, iremos adotar como premissa a centralidade de nossa fé a partir de Jesus Cristo, o Cristocentrismo. Em outras palavras, Jesus Cristo será a chave hermenêutica que usaremos para apresentar e disseminar o Evangelho e suas passagens aparentemente complexas ou mesmo conflitantes. Ao longo de todo o Evangelho, tudo que combinar com o que Jesus fez, pregou, pensou, sentiu ou decidiu se fortalece como verdade para nossa fé. Afinal, cabe a nós, leigos católicos, como disse Pedro, estarmos sempre preparados a dar razões de nossa fé e, mais ainda, a compartilhá-la com o próximo(cf. 1Pd 3,15) A QUEM Esta publicação bimestral destina- se a todo ser humano que, percebendo sua incapacidade e fraqueza diante da grandiosidade da obra de Deus, anseia por encontrá-lo e, assim, O procura a todo momento, em todos os lugares, muitas vezes aparentemente não encontrando a resposta esperada... ou mesmo qualquer resposta. Por isso, temos o objetivo de simplificar, clarear e fortalecer a fé católica em toda a sua Verdade, que reside na compreensão de que – como nos ensina o prólogo do Evangelho de São João – tudo foi feito por Jesus Cristo, o verbo encarnado de Deus (cf. Jo 1,3s). Católicos convictos, em dúvida, decepcionados, inseguros, afastados, com o coração esfriado, desesperançosos, críticos... Ex-católicos, irmãos protestantes e evangélicos, praticantes de toda e qualquer religião, eis a nossa boa-nova que queremos compartilhar com vocês: Jesus Cristo nos salvou em seu sacrifício na cruz e nos reconciliou com Deus, para que tenhamos abundância de vida, a vida eterna! SE DESTINA FASCÍCULO III: VOCAÇÕES

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Page 1: Kênosis fascículo nº3

nº 3 o agosto de 2013

SomoS um grupo de leigoS católicoS da comunidade de Santa Suzana, em São paulo, que tem a certeza de que, como parte do corpo de criSto, da igreja celeSte, temoS por obrigação propagar o reino de deuS e a boa-nova que é jeSuS criSto aoS quatro cantoS da terra, a todo Ser humano, exatamente como o Senhor pediu aoS SeuS diScípuloS enquanto eSteve neSte mundo.

comunidade Santa Suzana

Qu

em

so

mo

s

Nossa féNossa igrejavida de santo

vida moderna

Irmãos e irmãs, é com muita alegria

e cuidado que apresentamos o 3º fascículo desta

publicação, que tem como

principal objetivo trazer de volta à

prática cotidiana a verdadeira fé católica, herdada dos

Apóstolos, desde quenosso Senhor Jesus Cristo

encarnou há mais de 2.000 anos.Para dar cabo desse

desafio, iremos adotar como premissa

a centralidade de nossa fé a partir de

Jesus Cristo, o Cristocentrismo. Em outras palavras, Jesus Cristo será a

chave hermenêutica que usaremos para apresentar e disseminar o Evangelho

e suas passagens aparentemente

complexas ou mesmo conflitantes. Ao

longo de todo o Evangelho, tudo que

combinar com o que Jesus fez, pregou,

pensou, sentiu ou decidiu se fortalece

como verdade para nossa fé.

Afinal, cabe a nós, leigoscatólicos, como disse

Pedro, estarmos sempre preparados a dar razões

de nossa fé e, mais ainda, a compartilhá-la com o

próximo(cf. 1Pd 3,15)

a quemEsta publicação bimestral destina-

se a todo ser humano que, percebendo sua incapacidade e fraqueza diante da grandiosidade da obra de Deus, anseia por encontrá-lo e, assim, O procura a todo momento, em todos os lugares, muitas vezes aparentemente não encontrando a resposta esperada... ou mesmo qualquer resposta.

Por isso, temos o objetivo de simplificar, clarear e fortalecer a fé católica em toda a sua Verdade, que reside na compreensão de que – como nos ensina o prólogo do Evangelho de São João – tudo foi feito por Jesus Cristo, o verbo encarnado de Deus (cf. Jo 1,3s).

Católicos convictos, em dúvida, decepcionados, inseguros, afastados, com o coração esfriado, desesperançosos, críticos... Ex-católicos, irmãos protestantes e evangélicos, praticantes de toda e qualquer religião, eis a nossa boa-nova que queremos compartilhar com vocês: Jesus Cristo nos salvou em seu sacrifício na cruz e nos reconciliou com Deus, para que tenhamos abundância de vida, a vida eterna!

Se deStina

FaScículo iii: vocaçõeS

A publicação Kênosis é um fascículo bimestral da Comunidade Santa Suzana com finalidade específica de evangelização. Sua distribuição é gratuita.

Pároco: Manoel Correa Viana Neto.

Idealização e Conteúdo: Daniel Domeneghetti.

Produção: Pastoral da Comunicação - Renato e Camila Duarte.

Revisão: Maria Lúcia e Ana Lúcia Neiva.

Jornalista Responsável: Letícia Tavares (MTb 36.620).

Edição de arte: 107artedesign.

Impressão: Gráfica Taboão. Tiragem: 1.500 exemplares

Secretaria Paroquial Santa Suzana: (11) 3742-4754

Fale conosco! Visite, leia, divulgue e colabore em nosso blog kenosis.blog.br

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nós que gritamos Barrabás, Barrabás, conscientemente, todos os dias, em nossas famílias, no trabalho, entre estranhos.

Toda boa obra que fazemos, fruto de nossas vocações, é dom de Deus. Bem nenhum que fazemos ou temos vem de nós, porque são graça de Deus. De nossos pensamentos e ideias a nossas atitudes e ações, nosso instinto nos leva para o egoísmo (o famigerado e irrefutável gene egoísta de Richard Dawkins), à possessividade e ao ciúme, que são reações normais dos animais que somos.

De sorte que nem todo bem é bom. Nem todo bem que fazemos é bom para nós ou para nossos irmãos, ou mesmo para Deus. Quando agregamos coisas boas, que geram o bem, mas que não são do chamado de Deus para nós, e ainda acarretam admiração e ovação secular em nossa direção, não estamos fazendo o bem maior, mas cultivando o efeito salomônico da grandeza e da vaidade. Muitas vezes esse bem pode nos tornar hipócritas, insensíveis, falsos, iníquos, ímpios.

Esse animal que representa cada um de nós em essência só é vencido pelo amor de

Deus, quando O deixamos entrar em nossos corações, em nossas mentes, aceitando de graça, a sua Graça. O bem que está em nós procede de Deus, apesar da vontade estar em nós, mas não o poder para realizá-lo. Já o mal que está em nós procede de nós mesmos e pode ser cultivado pelas forças do mal. Por decorrência, essa é nossa escolha essencial: viver a plenitude, construindo o Reino de Deus, com e para os irmãos, a partir de nossos dons e vocações, realizando o projeto de Cristo na Terra; ou simplesmente construir o Reino do Eu S.A., para nós mesmos, a partir dos próprios interesses. E ambas as

escolhas têm seus pontos positivos, só que sob óticas salvíficas diferentes. Enquanto a primeira opção supostamente é pior nessa vida, mas garante a vida eterna e abundante, a segunda opção se tornou o frenesi da raça humana. Por isso Kênosis é difícil, é até ridicularizado por quem não entende sua

magnanimidade (“cristãos, desde sempre, os otários”), simplesmente porque não é da natureza humana, manchada pelo Pecado, viver para Deus. Por isso há mais egoísmo que solidariedade, mais frieza do que acolhimento, mais complacência do que mobilização. Por isso também Deus está sumindo do dia a dia dos países, das comunidades, das escolas, das famílias.

É o despertar e a realização plena e frutífera de nossas vocações que nos tornam humanos, plenos, de Deus e para o próximo, e que, quando não materializadas em vida, simplesmente morrem conosco, porque não despertam do sono profundo que hibernam em nossos corações, embriagadas pelo ego inflado que cultivamos. Afinal, “não temos tempo!”, “Gostaríamos de ajudar, mas não vai dar!”, “Contribuir com dinheiro resolve e é suficiente!”, “Tenho feito minha parte: vou à missa aos domingos, rezo para Deus, leio a Bíblia” (como se esses atos, por si só, salvassem)... Cada um, na verdade, que se vire!

E diariamente esquecemos que o Homem, nós, somos salvos exclusivamente pela graça santificante da cruz e reassumimos, pela Lei renovada, a obrigação de nos (res)salvarmos. Que absurdo! Devemos zelar, vigiar para não perdermos a salvação que Cristo nos conquistou, mas ao renegar o amor de Deus, caímos no pecado, porque aderir a Deus é renegar ao pecado.

Nossa atitude mental positiva é fruto de nossa espiritualidade sadia, fundada em fé, esperança e caridade. A generosidade e a partilha são práticas cristãs que só atraem coisas boas e o bem. São forças espirituais poderosas. Por isso, dar, compartilhar e contribuir são mais importantes que receber.

Quem realmente conhece o Evangelho não consegue abandoná-lo. Afinal a quem iremos senão a Jesus? Quem tem as palavras da vida eterna?

Nosso caminho está em sermos dóceis e deixar-nos conduzir pela mão suave de Deus, sem saber a direção, mas no sentido ideal para o Plano de Deus em nossas vidas. Esse é o sinal de que estamos no caminho certo. Pense nisso!

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igreja de criSto para nóS, católicoS, deSde 1981 agoSto é o mêS daS vocaçõeS. e o que é uma vocação, Senão o exercício de um Sim para um chamado que queima no coração e que, de tanto queimar, Se torna impoSSível de conter?

A palavra vocação, originária

do verbo latino “vocare”, quer

dizer chamado. Por isso, aos

cristãos, é sempre um chamado

de Deus para alguma missão

específica. Cada filho chamado

por Deus-Pai, quando abre seu

coração a esse chamado,

se sente impelido, natural-

mente atraído, para cumprir

aquilo a que é chamado.

Nossa Igreja vive e se renova ao

longo dos séculos por causa das

vocações de milhões e milhões

de pessoas. Como veremos,

são várias as vocações, de

diferentes naturezas, com

diferentes finalidades e

efeitos, mas todas igualmente

importantes, sob a mesma fé,

imbuídas do mesmo Espírito,

servindo ao mesmo Senhor.

o chamado que conduz a

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Mas

da

nosso próprio deleite, nessa vida, a tal vida com abundância, conforme prega o “novocristianismo positivista”.

Aqui temos a lógica do tudo posso por mim e em mim, pois é em mim que me fortaleço. É a mesma lógica do Senhor ao meu dispor, do abominável ato de determinar a Deus, como se isso fosse possível.

Jesus “odeia” a superlativização do Homem pelo Homem, mas ama a pequenez e a humildade. Enquanto muitas vezes, ainda sem entender completamente o Messias despojado, os discípulos disputavam entre si, como em Mateus 18,1-4: “quem de nós é o maior no reino dos céus?”, Jesus, paciente como é com cada um de nós, respondia: “Se alguém quiser ser o maior, seja o menor” (Mc 9, 30-37). Para Jesus, o maior é o que não tem trono, pois governa da cruz, é o que não tem pompas, o que se esvazia, o que não tem onde reclinar a cabeça, é o último que será feito – e não que se faz – o primeiro.

Também no campo religioso, a empáfia e o descaso das igrejas, inclusive a nossa em muitos momentos, seja pela preocupação fundamental com sua organização e gestão burocrática quotidiana (o Papa Francisco tem sido explícito ao dizer que a Igreja não é uma ONG), seja pelo engano que outras tantas igrejas “neo qualquer coisa” proclamam em nome de Jesus, somente aproximam o Homem de si próprio, afastando-o de Deus.

Jesus também não gosta da pose farisaica e legalista de muitos cristãos, católicos e de outras denominações, consagrados e leigos, que se colocam como perfeitos perante Deus, como se o Evangelho fosse uma Lei a ser cumprida. Isso é a rejudaização da fé, estigma cancelado por Jesus na cruz do calvário. A chamada vaidade do monastério, puritana, da ética, dos melhores, dos poucos escolhidos, do preciosismo, da dureza no coração é, na verdade, jactância, autoendeusamento, autopotestadização. Aquele que não teme seu tamanho (engrandecimento pelas honrarias humanas) se torna falso profeta, se torna anticristão, porque se assume maior do que é, maior do que Deus e do que o próximo (e todos somos iguais perante Deus).

Aquele que se acostuma com as honrarias e não sente desconforto com isso se torna blasé (arrogante) e acha normal receber essa carga brutal de energia. Ato sequente, esse tipo de comportamento abre espaço para as autogratificações, as

autocomplacências e passamos a aceitar que temos direito a mimos, a pequenas faltas e benefícios, ao ágio da “boa conduta”, aos tão desejados “pecadinhos permitidos”. Na verdade, nos tornamos ícones e reféns dessa dessa celebrização, que vicia e mata a alma. No fim, parece que nos convencemos que é uma “honra para Deus ter-nos como servos”, pois, afinal, somos “essenciais para Deus na Terra, porque Deus precisa de nós nessa Terra”.

Essa idolatria sutil, mas retumbante, não está na imagem física, mas na forma como hedonicamente nos colocamos perante Deus e perante nossos irmãos e, portanto, como tratamos as realidades, nossas atitudes que nos aproximam ou nos afastam de Deus. A regra do “vinde a nós tudo e ao vosso reino nada” é a regra do mundo 24 x 7, instantâneo, multimídia, ultraconectado e desumano.

Por isso, para esses cristãos sem Jesus, o sol, por exemplo, que não é imagem feita por mão de Homem, pode ser idolatrado. De fato, o que idolatrar ou iconizar é escolha de cada um. Acabar com os bonecos de gesso e pau é fácil; difícil é acabar com a idolatria em nossos corações.

Em decorrência, o crente que mais sofre, mesmo sem saber que está sofrendo e se condenando, é aquele que é discípulo de igrejas e não da vida eterna. Os crentes sem fé, apáticos, sem ressurreição, carregadores da culpa da Lei ou os crentes compradores de bens terrenos e das “outras promessas malaquianas do Evangelho” são os dois tipos que prevalecem hoje nesse mundo de indiferenças. Acredite irmão, irmã... nenhum deles, nenhum de nós que é assim é verdadeiramente cristão, porque não entendeu nada sobre o cristianismo.

Infelizmente não podemos fugir de nossa natureza. Ao longo de toda a Bíblia, os profetas, Jesus, os apóstolos nos mandam enfrentar o demônio de frente, sem medo, com fé; mas igualmente nos mandam “fugir” de nossa carne. Os pecados capitais como a gula, a preguiça, o orgulho, a inveja, a avareza, a cobiça, a luxúria, a vaidade (conforme retratado no filme O Advogado do Diabo) são, em grande monta, os sentimentos que se mais nutrem no seio social – e muitos deles são aplaudidos e remunerados pelas regras deste mundo.

Fato é que a inclinação natural do homem é pecar, porque a carne é corrompida. E o que é da carne e não edifica, pois é animal. Reflita! Somos

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Além desses ídolos, outras potestades também assumem a posição exclusiva que devemos dar ao Deus-Trino. Dentre elas, podemos destacar os falsos deuses, os espíritos, os duendes, o sol, os ETs, os santos e anjos (quando os colocados acima de Jesus ou como mediadores diretos junto ao Pai), os líderes e celebridades humanas e mesmo Maria (quando endeusada e tratada hereticamente como a 4ª. pessoa da Trindade). Infelizmente, a mais perversa das potestades é mesmo um tal de Jesus, potestade essa criada e propagada por diversas seitas autoproclamadas cristãs, que carregam consigo o nome de Jesus, mas em nada se parece com sua forma de ser, pensar e agir.

Orar de forma santa é pedir o que é bom aos olhos de Deus e não o que é bom segundo nossos interesses imediatistas. Fé é servir a Deus e não servir-se de Deus. É amar a Deus em si mesmo e não pelos benefícios que dele podemos receber. Mas não é isso que vemos hoje no chamado mundo cristão.

Entretanto, o maior de todos os ídolos dessa sociedade que globaliza a indiferença, robotiza as pessoas, digitaliza as relações familiares

o mundo moderno

sufocam as vocaçõespessoais e demoniza o toque e o acolhimento humano tem como métrica de sucesso a capacidade individual de ser mais e melhor que o outro, de diminuir e oprimir o outro (ato que Jesus condenou como assassinato – “haka” – termo aramaico por Ele utilizado para definir esse tipo de coisificação e diminuição do outro à categoria de total insignificância, de completa irrelevância, de sinônimo de nada). Essa dinâmica quase ariana, que presume excluir os mais fracos, os mais pobres, os mais doentes, os mais velhos, os mais novos, as minorias, deve ser firmemente combatida pelos cristãos, com amor, com serviço, com acolhimento, com humildade, com as vocações, conforme vem reafirmando o Papa Francisco desde que foi eleito (recentemente, o Papa Francisco disse em uma entrevista a um canal de TV que a Igreja é uma mãe que deve abraçar, tocar, alimentar e aquecer seus filhos e não ser uma “mãe por correspondência”, impessoal).

Nessa sociedade dos “super-homens”, dos 15 Mb de fama na internet e das pseudocelebridades nas redes sociais, não há lugar para Jesus, não há lugar para o amor ao próximo, mas somente ao amor a si próprio, ao autobenefício, ao “salve-se quem puder” e ao “cada um com seus problemas”.

Por isso, se criam diariamente microimperadores, microNeros em todas as classes sociais, em todas as atividades humanas, em todas as etnias, com a clara missão de afirmar que o trono do Pai lhes pertence. Ah se não é esse o “pecado original” de Lúcifer! E assim vamos nos luciferizando sem perceber, nos empanturrando de nós mesmos, para

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a Sociedade moderna é uma Sociedade de ídoloS. ídoloS raSoS e pontualmente intereSSanteS e altamente atraenteS, deSejáveiS até, como a Fama, o poder, o dinheiro, o Sexo, aS drogaS. eSSeS ídoloS – ou íconeS – SubStituem jeSuS e aSSumem Seu lugar intranSFerível de adoração e culto.

e as várias formas de idolatria

No universo cristão, vocação não é a mesma coisa que profissão, pois não está diretamente conectada a aptidões inatas de qualquer natureza, algo que naturalmente excluiria a muitos e geraria frustrações profundas em tantos outros.

Todo ser humano filho de Deus, principalmente o batizado, é chamado a ser sempre e em todo lugar “sal da terra e luz do mundo”. Essa incumbência de todo cristão é, em si, uma vocação.

O cristão se caracteriza por ser sempre chamado a praticar o bem e a promover a justiça, afastando-se de tudo que é mal. Mais que desejo, realizar nossa vocação é um imperativo ditado pela nossa adesão incondicional a Cristo.

Vocação é mais que talento (como no dicionário), mais que inclinação, que uma simples propensão. É tudo isso, mas é, antes de tudo, um ato de liberdade suprema, uma escolha pelo amor, um ato de desprendimento de si próprio em prol dos irmãos (dimensão solidária de nossa existência), auxiliando-os em sua jornada de dignidade, descobrimento, potencialização e realização plena, também a partir do exercício das próprias vocações.

Vocação, portanto, tem a ver com o chamado essencial de felicidade plena e madura (sentido da vida) que Deus quer para o Homem criado à sua imagem e semelhança – a vocação fundamental à santidade.

qual é nosso papel na obra de Deus, é exercitarmos o desafio de ouvir atentamente o Seu chamado: ouvir nosso coração, ouvir o som no mais profundo de nossa mente, ouvir o apelo mais singelo de nossos irmãos, o clamor da Igreja, as palavras de Jesus. Como a fé, a vocação também se materializa pelo ouvir, mas é outro tipo de “ouvir”.

Este mês vocacional proposto pela Igreja tem por objetivo nos chamar à ação concreta a partir de nossa(s) vocação(ões) específica(s). Por isso, devemos refletir sobre a importância de nosso papel e de nosso compromisso com o Projeto de Deus, com a Igreja e com a sociedade. Afinal, para Jesus, todos importamos, porque “a messe é grande e os operários são poucos” (Lc 10, 1-9).

Seguir Jesus é encontrar e viver essa felicidade plena, pois, como aprendemos em João 10,10, aceitar Jesus é ter vida e vida em abundância, mesmo com todas as dificuldades, tribulações e limitações impostas pela vida. E isso mais do que suficiente é fantástico, porque o que Jesus promete nessa passagem do Evangelho de João é abundância de vida, a vida eterna conquistada por Ele na cruz; e não a vida mundana abundante de bens materiais, conforme apregoam algumas seitas supostamente cristãs.

Como tudo que vem de Jesus e é feito para o seguimento a Jesus, não há vocação que se baste em si própria, como não há bem que beneficie somente a quem o faz. Vocação, em Cristo, é e deve ser para o outro, porque tem a ver com trabalhar no projeto de Deus, na construção de seu Reino, propagado há 2000 anos.

É certo que todas as vocações são importantes, pois todas conduzem àquilo que é perfeito por definição: a caridade. Esta, por sua vez, se apresenta como a principal essência da vocação universal à santidade. E isso tem tudo a ver com a construção do Reino de Deus nesta vida, neste mundo. Assim, fica claro perceber que é pela manifestação produtiva das vocações que se fortalece a caridade, que direciona todos e a cada um de nós à santidade.

O primeiro passo para descobrirmos e termos certeza de qual é nossa vocação específica,

Querido Irmão,

querida irmã: vale,

então, refletir: Com que

frequência você tem

ouvido seu coração?

Você já encontrou sua

vocação? Pelo menos

a tem procurado?

Que ações concretas

você tem produzido

para a edificação do

Reino de Deus em

sua comunidade,

começando por sua

família?

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Page 4: Kênosis fascículo nº3

lhe disse: “Simão filho de João, tu Me amas?” Entristeceu-se Pedro porque, pela terceira vez, lhe perguntara “Tu Me amas?” e lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta Minhas ovelhas.” (João 21, 15-17).

Nesse trecho do Evangelho de João, Jesus propõe a Simão mudar de nome: Pedro (latim) ou Cefas (grego), alterando assim radicalmente sua identidade. Isso porque em Israel, naquela época, o nome significava a identidade da pessoa. Jesus faz isso para que Simão, agora Pedro, possa encontrar a própria razão de ser, sua busca pessoal, a verdadeira vocação. Pedro, que compreendia muito bem as escalas de poder, acaba encontrando no amor – e não no poder – sua verdadeira razão de ser (conforme era a visão de João, o discípulo amado); isso fica claro no Capítulo 21, conhecido como a Redenção de Pedro junto a Jesus.

Nesse episódio, no final do Evangelho de João, Pedro está pescando, nu, e o discípulo amado avista o Mestre ressuscitado na terra. Pedro, de forma estranha, se veste (referência ao avental de pastor de Jesus) e se joga no mar com o coração aberto, a fim de encontrar Jesus na praia (mar = campo da missão, missão de servir, de pescar almas). É aí que Jesus lhe pergunta 3 vezes, contrapondo as 3 negações por ele cometidas na noite da prisão de Jesus: “Tu Me amas?”, recontextualizando dessa forma sua relação com o Mestre, agora não mais somente pela hierarquia, mas pelo Amor.

Pedro, então, assume a missão, o pastoreio de Jesus. Adquire

uma força descomunal, cheio do Espírito Santo, e arrasta a rede cheia de peixes sozinho. Ao contrário de quando conheceu o Senhor na praia, essa rede não se rompe – de forma que ele não perde nenhum peixe, nenhum “homem” pescado, representando então o verdadeiro nascimento da Igreja, sob a liderança e a força de Pedro, liderança essa que é sua verdadeira vocação.

Além de Mateus e João, também em Lucas 22, 31-32 podemos constatar a vocação de Pedro: ”Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; Eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos”.

A contribuição de Pedro nos Evangelhos

Teoricamente Pedro era analfabeto. Mesmo que não fosse, falava aramaico e não grego, língua em que a grande maioria dos textos bíblicos foi originalmente escrita.

Assim, os textos bíblicos atribuídos a Pedro, na verdade, foram provavelmente inspirados por Pedro, como referência. O mesmo vale para o Evangelho de São Marcos, o primeiro, mais histórico e mais curto dos Evangelhos, escrito por volta do ano 50 d.C., por Marcos, discípulo mais evidente de Pedro.

São atribuídos a Pedro, no Novo Testamento, os seguintes textos: a “Primeira” e a “Segunda Epístola de São Pedro”. Outros textos apócrifos também foram atribuídos a ele, sem gozar da mesma credibilidade ou visão teológica daqueles que entraram formalmente no cânon católico. Dentre eles, estão o Evangelho de Pedro, o Apocalipse de Pedro, o Apocalipse Gnóstico de Pedro e diferentes livros sobre os Atos de Pedro, todos geralmente aceitos por historiadores como não sendo de sua autoria ou mesmo alinhados à sua visão teológica (configurando-se, portanto, claramente como fraudes histórico-teológicas).

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Nossa féJesus Cristo é a fonte e o espelho de todas as vocaçõesJesus Cristo ressuscitado, antes de voltar ao Pai, nos transferiu sua força transformadora pelo Espírito Santo, que nos deixou como advogado. Esse Espírito Santo é quem constantemente nos capacita com dons e é também quem nos fomenta e aquece as vocações latentes em nossos corações.Jesus fez isso para que pudéssemos ter resiliência, confiança, fé e esperança suficientes diante de todos os riscos, contraditórios, perseguições e desafios que desde sempre sabia e anunciou que enfrentaríamos ao carregarmos sua Mensagem e edificarmos sua Igreja ao longo dos séculos.

Cristo é a rocha espiritual sobre a qual a Igreja foi lastreada Somos membros da Igreja instituída por Cristo e sobre Cristo – Ele, a pedra rejeitada, a rocha espiritual sobre a qual a Igreja foi lastreada, porque dela seu corpo místico é a cabeça e, antes de tudo, porque é o Verbo Encarnado, a Palavra de Deus, o Filho Salvador. Cristo repetidamente anunciou que subiria ao Pai; que não estaria mais presencialmente conosco até o momento oportuno de sua volta. Com isso, nasceu e floresceu a importância do discipulado vivo, presente, eficiente, capaz de se capilarizar e converter a tantos quantos possível, porque sem Jesus presencialmente neste mundo, caberia aos discípulos – a nós – construir sua Igreja.

Pedro, o 1º. discípulo e 1º. papa, é a rocha humana que Cristo escolheu para conduzir sua IgrejaSimão Pedro, o primeiro líder dos discípulos, o pescador simples, rude e analfabeto, tornou-se nosso primeiro papa. Pedro, em si, é a síntese do povo católico, em tudo que representa de santo e pecador.Pedro, esse líder, foi quem negou Jesus 3 vezes, quem dormiu no Jardim das Oliveiras enquanto o Senhor sofria agudamente antes de sua captura pelos soldados romanos, aquele que foi chamado de Satanás pelo próprio Jesus (Mt 16, 21-27).Mesmo com essas atitudes, Jesus “rebatizou” Simão de Pedro (Kepha ou Cefas = rochedo em grego) e o transformou na rocha humana, falha e pecadora, escolhida pelo Salvador desde o início para conduzir sua Igreja (“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” - Mt 16,18).

Pedro e essa “estranha” decisão de JesusMas porque Jesus teria outorgado sua Igreja e as chaves da religação com os céus a Pedro, se Ele já sabia detalhadamente de todos seus pecados e falhas? Por que não João, o discípulo amado, aparentemente “melhor”, Thiago Maior ou Filipe (ambos supostamente líderes mais fortes), ou qualquer outro discípulo? Parece não fazer sentido... mas faz enorme sentido e isso é a mais singela VERDADE sobre a legitimidade de nossa Igreja: Deus-Pai nos amou mais que tudo, antes mesmo de termos a chance de perceber, compreender e retribuir a parte humanamente possível desse amor infinito, mesmo com todas as nossas falhas e natureza pecadora.

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Page 5: Kênosis fascículo nº3

Pedro em RomaDesde a Reforma Protestante,

teólogos e historiadores vem procurando provar que Pedro não teria ido a Roma, em uma clara tentativa de desconfigurar sua primazia e liderança, o que certamente era interessante para os reformadores propagarem a fim de descredibilizar o papa de Roma como sucessor legítimo de Pedro.

Essa tese foi defendida por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen e outros como Heinrich Dressel, em 1872, que declarou que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia.

Hoje, porém, a enorme maioria dos historiadores sérios, inclusive não católicos, concorda que, apesar de não ter fundado a Igreja em Roma (por exemplo, a Carta de Paulo aos Tessalonicenses é anterior à ida de Pedro a Roma), Pedro realmente viveu e morreu em Roma depois da Assunção de Jesus, tendo assumido, primeiramente em colegiado e, depois, como papa, a função de líder da Igreja na capital do império. Por exemplo, o historiador luterano Adolf Harnack afirmou que muitas teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram um estudo mais fidedigno sobre a real vida e o papel de Pedro em Roma, confirmando assim a tradição católica.

De qualquer forma, sua vida continua sendo objeto de investigação e seu túmulo, descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação, está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

A liderança de Pedro por outras fontes

Além dos Evangelhos e Atos dos Apóstolos, livros que compõem a bíblia católica e todas as bíblias cristãs, outros livros como a Didaqué (escrito no século I, que apresenta a Doutrina dos Doze Apóstolos sobre o catecismo primitivo cristão), e escritos de autores como Clemente, Inácio de Antioquia, Papias, Orígenes e Irineu, dentre outros, comprovam que Pedro viveu em Roma e liderou a Igreja nascente desde o coração de seu maior perseguidor: o Império Romano.

Por muito tempo, pesquisadores

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os anos de 64 e 67 d.C., sendo crucificado, por opção, de ponta cabeça. Por quê? Basicamente por 2 razões:1. Por não se achar digno de morrer como seu Senhor, que havia sido crucificado “de pé”.2. Por acreditar que todo cristão, que chegava ao mundo no nascimento de cabeça para baixo (parto natural), deveria também viver e morrer de cabeça para baixo, pois só assim conseguiria enxergar a vida e a proposta de Jesus pelo “lado correto”: quando estamos de ponta-cabeça, a esquerda se torna direita e vice-versa. Isso porque Pedro entendia que, para seguir Jesus e compreender seu ministério espiritual, o cristão deveria estar totalmente desconectado das coisas do mundo e voltado somente às coisas do alto, para poder abarcar todo o mistério do que realmente significa a conversão total, de dentro para fora, do indivíduo à proposta cristã.

acreditavam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro teria sido um zelota, grupo surgido dos fariseus formado de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Esse fato supostamente estaria comprovado em Marcos 3,18, assim como em Atos 1,13. Atualmente, já há forte consenso de que Pedro não era um zelota, o que faz com que o tal “Simão, o Zelote” citado nessas passagens de Marcos não seja o apóstolo Pedro.

O primado de Pedro e o nascimento da Igreja Católica

A liderança de Pedro começa a cristalizar firmemente quando ganha peso a discussão sobre a identidade de Jesus. Quando inquirido pelo próprio Jesus, Simão foi o primeiro dos discípulos a responder que Ele, Jesus, era o filho de Deus, o Messias! Esse acontecimento, conhecido como “Confissão de Pedro”, muda cabalmente a posição de Simão no grupo de Jesus, levando Jesus a chamá-lo de Pedro.

Além da passagem de Mateus já descrita nos textos acima, também em João 21,15-17 e em Lucas 22,31 podemos respaldar o primado de Pedro, que deve ser exercido particularmente na ordem da Fé, dado que Cristo o torna chefe dos demais: “Simão, filho de João, tu Me amas mais do que estes?” Ele lhe respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta Meus cordeiros”. Segunda vez disse-lhe: “Simão filho de João, tu Me amas?”- “Sim, Senhor”, disse ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta Minhas ovelhas”. Pela terceira vez

A Igreja só é perfeita porque é santificada por Jesus

Eis aí a perfeição completa da Igreja. Perfeita, porque inspirada,

criada e alimentada por Cristo, sua cabeça, é espiritualmente Santa,

definitivamente Santa. Perfeita também porque incorporando a

imperfeição de todos nós, pecadores – justamente aos que Cristo veio

salvar e reconciliar com o Pai, na cruz – é pecadora pelos pecados

de seus membros, desde Pedro, mas humanamente Santa, pela

santificação dos Homens que por ela vivem... todos nós santificados

pelo sangue e pela graça de Cristo.

Jesus não poderia esperar que seres imperfeitos pudessem aceitar o

fardo impossível de edificar a perfeição na Igreja, representada por Ele.

Jesus quis (de fato foi sua ESCOLHA) que a imperfeição humana

conduzisse sua Igreja (no âmbito humano), porque somente assim

a Igreja seria humilde, pequenina e verdadeira o suficiente para ser

reflexo da Humanidade falha e, portanto, capaz de espelhar, acolher,

perdoar e converter para Sua Mensagem e para o Reino do Pai.

Só assim seria possível esperar que houvesse conversão real de

cada um de nós, adesão verdadeira ao Seu Projeto e, portanto,

o discipulado a partir das vocações individuais.

Por isso Jesus escolheu Pedro: porque Pedro representa

em essência toda a natureza humana. O mesmo

Pedro que deu seu sim “sem pensar” ao chamado

do “desconhecido” Jesus na praia enquanto

pescava com seu irmão André; aquele que

defendeu Cristo cortando a orelha de Malco; que

teve a graça de confessar, antes de todos, que Jesus

era o verdadeiro Messias, o Filho de Deus (a “revelação

fundamental de Pedro”), é o Pedro que também foi capaz de

fugir, negar e tentar conter o projeto salvífico do Senhor.

Pedro é claramente, em maior ou menor dimensão, exatamente

o que somos como imitadores de Cristo: seres dicotômicos na fé,

claudicantes na certeza, santos (porque santificados por Cristo)

e pecadores por natureza.

Nossas vocações materializadas em amor supremo a Deus e serviço ao próximo são o fermento da Igreja de Cristo

mas Cristo e seu Evangelho como única doutrina do Catolicismo.Por isso, se não materializarmos nossas vocações em serviço ao próximo, estaremos negando o Evangelho de Cristo, ao manter improdutivos os talentos que nos foram dados por Deus (conforme a Parábola dos Talentos

contada por Jesus em Mateus 25, 14-30). Em suma, as vocações são dons que devem ser transformados em FRUTOS concretos do Espírito e é somente atendendo a esse chamado de Deus que conseguimos, como espécie, realizar plenamente nossa vida nesse mundo (sentido existencial).

Pelo que está acima, temos, como Pedro, a obrigação de ser e agir como Igreja VERDADEIRA de Cristo – e não como Igreja que “também” tem ou traz Cristo em sua doutrina. Aqui não há e não pode haver relativizações do papel e da primazia de Jesus, porque não há doutrina de Cristo no Catolicismo,

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Page 6: Kênosis fascículo nº3

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o papa Francisco e a igreja servidora

Nossa igreja

as vocações são universais

de Forma recorrente em SuaS homiliaS e diScurSoS durante a viagem ao rio de janeiro por motivo da jornada mundial da juventude (jmj), em julho paSSado, o papa FranciSco Fez queStão de valorizar, Sobretudo, o imperativo de colocarmoS criSto no centro de noSSa Fé e de noSSa vida na igreja, em detrimento de qualquer outra queStão. e o que iSSo SigniFica para nóS?

Nossa missão é clara e nos foi imposta (e não proposta) pelo próprio Jesus, começando com Pedro e os demais discípulos, e estendendo-se a todo batizado: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho” (Mc 16,15). Os discípulos, os Pais da Igreja, todos os Santos, cada fiel, portanto, tem como DEVER zelar e disseminar o Evangelho de Jesus, o único Evangelho que podemos fiar e confiar.

Ora, se isso é verdade, então 100% da certeza de nossa fé se ampara no Evangelho – a Boa-Nova trazida por Jesus. Mais do que isso, se ampara no próprio Jesus. Por isso, nada, absolutamente nada em nossa Igreja pode ser mais ou menos do que Jesus falou, ensinou, fez, pediu ou impôs. Não há outro evangelho; não há outra lei, não há outros mediadores ou reveladores do Pai.Com essa compreensão clara, nossas vocações devem obrigatoriamente encontrar segurança no rochedo firmado por Cristo, porque Cristo é a somatória posta em prática de todas as vocações, é a epifania máxima da caridade e, portanto, da santidade. Cristo é nosso único modelo de vida vocacional.

Jesus foi explícito ao incluir a TODOS como herdeiros da graça conquistada na cruz com a conclusão de sua missão de Redenção-Reconciliação-Salvação da Humanidade, porque Ele não veio só para os judeus, mas também para os pagãos; não é somente da ordem de Abraão, mas de Melquisedeque (conforme o autor da Carta aos Hebreus); não veio justificar somente o povo judeu, mas todos os descendentes de Adão (conforme Lucas); é, como no Prólogo de João, o Verbo Encarnado pelo qual TODAS as coisas foram feitas, antes mesmo de existirem!

Por isso, importa reforçar que vocação NÃO é chamamento especial somente para alguns. Infelizmente, ainda hoje, faz-se parecer muitas vezes que algumas vocações são mais importantes do que outras, ou mais próximas de Deus, ou ainda mais especiais. Esse tipo de raciocínio, quase gnóstico, certamente não vem de Deus, porque o Deus-Pai-Amor revelado por Jesus não separa, mas une; não prioriza, mas universaliza. Por Deus, vocação é para todos; pois todos as têm, para alguma qualidade, para alguma finalidade especial em Sua obra, ainda mais quando convertidos e batizados. Certamente que não são as mesmas vocações, nem com as mesmas intensidades, nem com as mesmas características, porque, assim como com os dons, as vocações se desenvolvem e se fortalecem no Espírito, em cada qual de uma forma e em um tempo distintos, ativadas por um gatilho específico – que pode ser um convite, uma sensação, uma grande dor, um vazio profundo, uma revolta, uma grande perda, um bênção recebida e a vontade incontrolável de retribuir a alguém uma graça.

anteS de Se tornar um doS 12 diScípuloS de criSto, Simão, depoiS chamado de pedro, era peScador. acredita-Se que naSceu em betSaida e Falava aramaico. era Filho de um homem chamado joão (ou jonaS) e tinha o também apóStolo andré como irmão. Simão e andré eram peScadoreS que tinham a própria Frota de barcoS, em Sociedade com oS apóStoloS tiago e joão e o pai deSteS, zebedeu. pedro era caSado e tinha pelo menoS um Filho. algumaS FonteS apontam que Sua eSpoSa era de Família relativamente rica e que moravam em caSa própria, cuja deScrição é muito Semelhante a uma vila romana, na cidade romanizada de caFarnaum.

rompendo, sendo necessária a ajuda da barca de seus dois sócios, que também quase afundou ao puxar tanto peixes. Numa atitude de humildade e espanto Pedro prostrou-se diante de Jesus e disse para que se afastasse dele, já que era um pecador. Jesus convidou-o, então, a segui-Lo, vaticinando que o tornaria “pescador de homens”.

A liderança apostólica: a vocação de Pedro

Nos evangelhos sinóticos, o nome de Pedro sempre encabeça a lista dos discípulos de Jesus, fazendo transparecer assim seu lugar de primazia sobre o Colégio Apostólico. Não se descarta que Pedro, assim como seu irmão André, antes de seguir a Jesus, tenham sido discípulos de João Batista, como o fora o apóstolo Filipe, por exemplo.

Segundo a tradição defendida

pela Igreja Católica Romana e também pela Igreja Ortodoxa, o apóstolo Pedro, depois de ter exercido o episcopado em Antioquia, se tornou o primeiro Bispo de Roma.

Segundo essa tradição, depois de solto da prisão em Jerusalém, o apóstolo viajou até Roma e ali permaneceu até ser expulso com judeus e cristãos pelo imperador Cláudio, época em que voltou a Jerusalém para participar da reunião de apóstolos sobre os rituais judeus no chamado Concílio de Jerusalém. A Bíblia atesta que após essa reunião Pedro ficou em Antioquia (como Paulo afirma em sua Carta aos Gálatas).

Como Pedro morreu?A tradição da Igreja Católica

Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro foi martirizado em Roma entre

vida de santoQuem era o homem Pedro?

Quando e como Pedro conheceu Jesus?

Segundo o relato em Lucas 5,1-11, no episódio conhecido como “pesca milagrosa”, Pedro conheceu Jesus quando este lhe pediu que utilizasse uma das suas barcas, de forma a poder pregar a uma multidão de gente que o queria ouvir. Pedro, juntamente com seus sócios, concedeu-lhe o lugar na barca, que imediatamente foi afastada um pouco da margem.

No final da pregação, Jesus disse a Simão que fosse pescar de novo com as redes em águas mais profundas. Pedro, especialista naquelas águas, disse-lhe que tentara em vão pescar durante toda a noite e nada conseguira, mas, em atenção ao seu pedido, assim procederia.

O resultado inesperado para Simão foi uma pescaria de tal envergadura que as redes iam se

são Pedro

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as vocações e a eucaristia

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Jesus, como o Primogênito dentre os mortos, primícia revelada por Paulo, primeiro fruto da colheita, é aquele que “puxa a fila” da vida eterna dos ressuscitados, conforme o Apocalipse. “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia (João 6,44)”. Aqui percebemos claramente o estímulo da vocação de cada um, de sua fé, pela crença no poder mobilizador do Espírito Santo, que sopra como quer, onde quer, em quem quer. Deus-Pai, universalmente amoroso, que não faz diferença e acepção entre seus filhos, atrai a todos, cada qual de um jeito,

com uma proposta, linguagem ou sinal, mas cabe a cada um de nós aceitarmos ou não seu chamado, ao abrirmos ou endurecermos o nosso coração (por isso a exortação de Jesus sobre a urgência de imitarmos o coração dos pequeninos e dos humildes para entrarmos no Reino de Deus). Cumpre perceber que a dinâmica e o papel da Igreja como meio “mais eficaz” para a ligação do Homem com a Divindade Trina (Pai, Filho e Espírito Santo) e sua confirmação no Livro da Vida eterna conquistada pela graça salvífica alcançada por Cristo na cruz se fortalece mutuamente nos sacramentos, especialmente na Eucaristia.Essa Eucaristia – ou comunhão plena – é a permanência de cada um de nós Nele e a presença visceral Dele em cada um de nós, porque Ele permanece no Pai. Assim se estabelece a

comunhão profunda, via Jesus (único mediador), entre Deus e o Homem. Jesus explicita essa relação imperativa de comunhão espírito-carnal em João 6,54: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Conforme João 6,53: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”, porque é importante que enxerguemos que não nos damos nossa vida a nós mesmos, mas Cristo no-la dá, restabelecendo-a com a comunhão. A insistência de Jesus no comer o que comemos e beber o que bebemos está no fato de que o que comemos e bebemos, com a digestão, se mistura conosco, em nós se dilui e nos compõe como alimento celular. Isso – essa comunhão de composição simultaneamente física e transcendental – nos torna, naquele instante (pelo menos), semelhantes a Cristo; portanto,

permanecendo em Cristo, com Cristo, via Eucaristia. É nesse momento de Eucaristia – idealmente permanente, pela vida sem pecado – que nossas vocações se

potencializam, porque Cristo nos integra ao Pai.

alguns exemplos de vocações bíblicas

Como exemplo, Maria foi chamada a ser Mãe do Salvador (nossa mãe, por decorrência), chamado que foi prontamente atendido por ela, mesmo sem compreendê-lo plenamente. A maternidade é, por definição, o tipo de vocação que é uma bênção concedida por Deus e compreendida somente por quem a vive, mas, por outro, um chamado eterno para abençoar, se doar e amar incondicionalmente.José foi chamado a proteger a vida e pavimentar o futuro do Senhor e de sua bem-aventurada mãe, mesmo tendo sua fé e reputação, à época, postas publicamente à prova com o advento da gravidez virginal e humanamente inexplicável de sua futura esposa, que tinha somente em torno de 17 anos quando concebeu Jesus em seu ventre. João Batista foi chamado para preparar os caminhos do Senhor e deu sua vida por esse ideal, enquanto Pedro foi chamado para liderar sua Igreja (deixar de ser pescador de peixes para ser pescador de homens) e Maria Madalena para ser a anunciadora primeira da ressurreição de Jesus. Já Paulo foi claro ao ecoar a consciência de sua vocação em sua carta aos romanos: “Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus.” (Rm 1,1)

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os tipos de vocaçõesHá uma diversidade muito grande de vocações.

A título de exemplo resumiremos em quatro expressões vocacionais:

I – Leigo:9 Todos os cristãos batizados que herdaram a missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo – único Caminho, Verdade e Vida. Mas quem são esses cristãos?

• Nenhum batizado, nenhum não batizado que se motiva a procurar Deus (e que efetivamente chegará a Jesus) ou ainda aqueles que não puderam ser batizados por qualquer razão (como as crianças), pode ou deve ser afastado ou marginalizado do seio da Igreja que, como Mãe, tem obrigação de acolher (por mais pecador que possa ser) a todos (como Cristo fez), uma vez que sendo batizado, o cristão automaticamente participa do Corpo Místico de Cristo e, portanto, integral ou parcialmente da comunhão dos santos.• Vale lembrar aqui que conforme a profissão de nosso credo niceno constantinopolitano, “professamos um só batismo” e, portanto, devemos compreender que diversas igrejas cristãs fazem parte do Corpo Místico de Cristo, seja em comunhão integral ou parcial com a Igreja primaz, a Católica Apostólica Romana. São elas:

Vocações transformadas em serviço ao próximo: a Kênosis de cada um

Fica claro, portanto, que todo aquele que transforma sua vocação em serviço concreto ao próximo e para a edificação do Reino de Deus está se doando em alguma dimensão, ou seja, tirando o foco primário de seu benefício e prioridade para concentrá-lo nas coisas de Deus, nas questões da comunidade. Esse é o mais puro exemplo do exercício diário de Kênosis ou esvaziamento individual de cada cristão. Como poderemos ver abaixo, cada tipo de vocação tem seu papel específico e valoroso, cada qual com um nível de Kênosis ou esvaziamento pessoal em maior ou menor grau.

As vocações são individuais, mas SEMPRE para o outro

As vocações são pessoais, intransferíveis, irremediáveis, mas sempre em favor do outro, para edificar ao próximo tendo a Deus sobre todas as coisas.

Por isso, uma vocação tem sempre a dimensão da “alteridade” – é sempre “alter” – ou seja, voltada para fora de si mesmo, para o outro, tornando-se obrigatoriamente um serviço, uma doação.Por assim dizer, vocação é a plataforma sobre a qual estabelecemos nossa relação direta com Cristo, no ato consciente de segui-lo (conforme Mc 2,14). Com efeito, é o próprio Cristo quem nos dá o sentido de nossa vocação.Como o Pai é de todos e a cruz de Cristo é para todos e o Espírito Santo sopra em todos, assim também é com as vocações. Só que para que sejam seguras, vivas e frutíferas, o coração de cada um deve estar aberto ao chamado que Deus, por Jesus e pelo Espírito Santo, faz a todos e a cada um!

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• O matrimônio, mais do que um sacramento, é uma vocação que Deus planta

no coração de um homem e uma mulher com a prerrogativa final de levarem a cabo o plano do Criador: “Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a Terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra’.” (Gênesis 1,28)• Por isso, entende-se que um matrimônio sem frutos de procriação (exceto quando há impossibilidade física ou de natureza alheia ao controle e desejo do casal) é um não matrimônio na prática (seja esse heterossexual ou homossexual), porque não constitui um seio familiar sobre o qual o Reino de Deus possa se multiplicar a partir da ordem divina dada no Gênesis.• A família é, portanto, a Igreja essencial, a Igreja Doméstica (conforme o Concílio Vaticano II), o nó fundamental de sustentação do tecido social que fortalece e desenvolve a Humanidade criada por Deus. Isso torna o pai de família o sacerdote do lar.• Para que essas duas pessoas, homem e mulher, possam viver eternamente em comunhão, há também que se empreender o exercício diário da entrega e confiança plena, portanto, de amor mútuo, somente capaz quando há o Kênosis individual (esvaziamento de si pelo outro), a partir do acolhimento vivo

de Jesus no centro da relação.• Efetivamente, cabe também aos pais o ato de transmitir e educar religiosamente seus filhos batizados, sob a tutela doutrinária e sacramental da Igreja, fundamentando sua relação na mensagem de Jesus, de forma que também possam esses, quando adultos fiéis a Deus, viver sua máxima humanidade transformando suas vocações em atos concretos para outros irmãos.Outros chamados, alguns até considerados dons do Espírito Santo – que se traduzem claramente em serviço ao próximo – também podem ser considerados vocações, apesar de não serem qualificados como tal formalmente em todas as esferas católicas ou mesmo por estarem associados a pastorais específicas.• Catequese, Educação e Atuação Missionária – missão de evangelizar e educar corretamente na doutrina da Igreja – inclusive, no caso das Missões, levando o Evangelho aos locais remotos –, de forma que cada catequizado alcance suficiência completa em sua relação direta com Deus, por Jesus, pois compreende a Mensagem, vive os Mandamentos, ora e compartilha a Graça.• Profecia – missão de anunciar o Evangelho e denunciar o que está em desacordo com ele (nada a ver com a visão mística e anticristã de adivinhar ou prever o futuro).• Intercessão – missão de orar e interceder pelo próximo junto a Deus, colocando-se como canal de fortalecimento do Corpo Místico de Cristo – a comunhão dos

santos – em benefício do próximo (esteja ele vivo ou morto). • Suporte, Doação e Empatia – missão especial de cuidar ou suportar um irmão em dificuldade, de se doar integralmente a alguém, de assumir suas dores e sofrimentos.• Pacificação, Conciliação e Compartilhamento – missão especial de criar ambientes de paz, concórdia e participação, valores cristãos fundamentais para que o Reino de Deus se instale plenamente já neste mundo. A base da conciliação está em dois pilares fortíssimos do cristianismo: a união e o perdão mútuo. • Animação e Louvor – missão de animar, louvar e mobilizar os irmãos com músicas, cantos, movimentos grupais e outros procedimentos coletivos de adoração, glorificação e agradecimento a Deus.Assim, por sermos feitos à imagem e semelhança do Pai, que é Amor, fica claro que a vocação fundamental de todo ser humano é amar: a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (conforme os 2 mandamentos deixados por Jesus). Essa vocação de amor ao próximo, que agrada a Deus, sob o ponto de vista prático e refletida em como e quem foi Jesus quando esteve encarnado neste mundo, se traduz em 3 pilares indiscutíveis: serviço ao próximo, empatia (que é se colocar no lugar do próximo) e, acima de tudo, o perdão (70 x 7 ou o infinito como medida de limite para o perdão ao próximo).

IV – Familiar:II – Religiosa e consagrada:

III – sacerdotal:

• Pessoas que se sentiram impelidas a seguir a Jesus a partir de um carisma específico levado a cabo por um(a) fundador(a) de comunidade religiosa

sob a inspiração do Espírito Santo, consagrando-se exclusivamente a Ele por votos de pobreza, castidade e obediência, dentre outros, vivendo em oração e contínua busca pela conversão e pela proximidade máxima com Deus. • São fiéis que ofertam a si próprios como oferenda integral a Deus, em Kênosis (esvaziamento) de si mesmos. Neste rol os discípulos que, como os 12 escolhidos por Jesus, largaram suas crenças, culturas, religiões, profissões e famílias para se colocarem integralmente a serviço do Reino de Deus e do Projeto de Jesus. 9 Observação 1: Mortificação – do jejum à abstinência, é da cultura e da fé cristã o conceito de renúncia e até mesmo de mortificação da carne – ou seja, abrir mão de benesses terrenas em favor da

elevação espiritual (comum à Quaresma, por exemplo). Entretanto, algumas das ordens religiosas e mesmo cristãos individualmente levaram ao extremo suas “vocações” de mortificação, substituindo a paz advinda pela graça conquistada por Jesus por uma busca voluntária pelo sofrimento, o que não é saudável à luz do sacrifício perfeito e completo de Cristo (exceção feita às situações de involuntárias de dor e o sofrimento, onde passa a fazer total sentido associar – e não completar – o sofrimento de Cristo na cruz com nossa parcela de sofrimento). • Observação 2: Martírio – que a princípio era uma virtude perfeita e amada pela Igreja por ser um sinal irrefutável e legítimo de adesão e fidelidade incondicional a Cristo, acabou, entre os Séculos III e IV, sendo banalizado e “ambicionado” por alguns cristãos como prêmio e prova de santidade, o que certamente não cabe no desígnio de Deus para nós.

• Em comunhão integral: as 23 Igrejas Católicas irmãs com seus ritos autônomos, mas em perfeita comunhão plena com o Papa de Roma. Dentre elas podemos citar a Etíope, a Copta, a Maronita, a Melquita, a Malabar etc• Em comunhão não plena: outras tantas igrejas separadas, associadas ou advindas das católicas, como a Ortodoxa, a Luterana, a Anglicana e a Velha Igreja Católica.• Em comunhão imperfeita (principalmente porque não sacramentam a Eucaristia): igrejas cristãs dissidentes, já não denominadas católicas, mas que confessam Jesus Cristo como Deus, Salvador, dentre as quais as protestantes e evangélicas em geral, como a Presbiteriana, a Metodista, a Quadrangular, a Assembleia de Deus e a Batista, dentre outras.

• Todos os fiéis não consagrados que devem trabalhar na construção do Reino de Deus, implementando o Projeto de Jesus por uma sociedade digna, justa e fraterna. • Todos os ministros extraordinários e diáconos permanentes que exercem os diversos ministérios dentre eles: a catequese, o serviço social e a animação da liturgia. • Representam, em suma, o Homem na Igreja, com sua vida, desejos, prioridades e aflições e a Igreja no mundo dos homens, disseminando os valores cristãos nos mais diversos ambientes (escola, trabalho, família), a partir do testemunho de sua vida, sua postura de concórdia, sua palavra oportuna e sua ação concreta.

• Representada pelos bispos, padres e diáconos. O sacerdote é um homem

consagrado que vive em comunidade com os membros leigos e outros membros consagrados, designado a pastorear e a servir a comunidade nas questões da fé e da religião (doutrina, missas e sacramentos), aproximando cada fiel de Deus.• Cabe ao sacerdote dar continuidade à missão pastoral de Jesus Cristo, imbuído do desafio de fazer crescer, compartilhar e materializar o amor entre os membros de sua comunidade, estimulando as obras, os serviços, os ministérios, os carismas e vocações. Como categoria, existem 2 tipos de padres: aqueles que exercem seu ministério paroquial e são ligados a alguma congregação

– portanto, religiosos, e aqueles que atuam ligados exclusivamente (daí o termo “incardinados”) a uma diocese, representada pelo bispo – portanto, diocesanos.• Vale lembrar que o Sacramento da Ordem possui 3 graus: o diaconado, que são os diáconos, homens que se colocam a serviço dos irmãos no ministério da caridade e a serviço do altar, através do ministério da liturgia e pregação - esses irmãos podem ser casados. Já o presbiterado, como foi dito acima, tem uma missão específica de reger, ensinar e santificar o povo de Deus numa determinada paróquia. O terceiro grau é o do Episcopado, que são os bispos, cuja missão, como sucessores dos Apóstolos, está reservada no pastoreio de uma porção do Povo de Deus que chamamos de Diocese.

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• O matrimônio, mais do que um sacramento, é uma vocação que Deus planta

no coração de um homem e uma mulher com a prerrogativa final de levarem a cabo o plano do Criador: “Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a Terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra’.” (Gênesis 1,28)• Por isso, entende-se que um matrimônio sem frutos de procriação (exceto quando há impossibilidade física ou de natureza alheia ao controle e desejo do casal) é um não matrimônio na prática (seja esse heterossexual ou homossexual), porque não constitui um seio familiar sobre o qual o Reino de Deus possa se multiplicar a partir da ordem divina dada no Gênesis.• A família é, portanto, a Igreja essencial, a Igreja Doméstica (conforme o Concílio Vaticano II), o nó fundamental de sustentação do tecido social que fortalece e desenvolve a Humanidade criada por Deus. Isso torna o pai de família o sacerdote do lar.• Para que essas duas pessoas, homem e mulher, possam viver eternamente em comunhão, há também que se empreender o exercício diário da entrega e confiança plena, portanto, de amor mútuo, somente capaz quando há o Kênosis individual (esvaziamento de si pelo outro), a partir do acolhimento vivo

de Jesus no centro da relação.• Efetivamente, cabe também aos pais o ato de transmitir e educar religiosamente seus filhos batizados, sob a tutela doutrinária e sacramental da Igreja, fundamentando sua relação na mensagem de Jesus, de forma que também possam esses, quando adultos fiéis a Deus, viver sua máxima humanidade transformando suas vocações em atos concretos para outros irmãos.Outros chamados, alguns até considerados dons do Espírito Santo – que se traduzem claramente em serviço ao próximo – também podem ser considerados vocações, apesar de não serem qualificados como tal formalmente em todas as esferas católicas ou mesmo por estarem associados a pastorais específicas.• Catequese, Educação e Atuação Missionária – missão de evangelizar e educar corretamente na doutrina da Igreja – inclusive, no caso das Missões, levando o Evangelho aos locais remotos –, de forma que cada catequizado alcance suficiência completa em sua relação direta com Deus, por Jesus, pois compreende a Mensagem, vive os Mandamentos, ora e compartilha a Graça.• Profecia – missão de anunciar o Evangelho e denunciar o que está em desacordo com ele (nada a ver com a visão mística e anticristã de adivinhar ou prever o futuro).• Intercessão – missão de orar e interceder pelo próximo junto a Deus, colocando-se como canal de fortalecimento do Corpo Místico de Cristo – a comunhão dos

santos – em benefício do próximo (esteja ele vivo ou morto). • Suporte, Doação e Empatia – missão especial de cuidar ou suportar um irmão em dificuldade, de se doar integralmente a alguém, de assumir suas dores e sofrimentos.• Pacificação, Conciliação e Compartilhamento – missão especial de criar ambientes de paz, concórdia e participação, valores cristãos fundamentais para que o Reino de Deus se instale plenamente já neste mundo. A base da conciliação está em dois pilares fortíssimos do cristianismo: a união e o perdão mútuo. • Animação e Louvor – missão de animar, louvar e mobilizar os irmãos com músicas, cantos, movimentos grupais e outros procedimentos coletivos de adoração, glorificação e agradecimento a Deus.Assim, por sermos feitos à imagem e semelhança do Pai, que é Amor, fica claro que a vocação fundamental de todo ser humano é amar: a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (conforme os 2 mandamentos deixados por Jesus). Essa vocação de amor ao próximo, que agrada a Deus, sob o ponto de vista prático e refletida em como e quem foi Jesus quando esteve encarnado neste mundo, se traduz em 3 pilares indiscutíveis: serviço ao próximo, empatia (que é se colocar no lugar do próximo) e, acima de tudo, o perdão (70 x 7 ou o infinito como medida de limite para o perdão ao próximo).

IV – Familiar:II – Religiosa e consagrada:

III – sacerdotal:

• Pessoas que se sentiram impelidas a seguir a Jesus a partir de um carisma específico levado a cabo por um(a) fundador(a) de comunidade religiosa

sob a inspiração do Espírito Santo, consagrando-se exclusivamente a Ele por votos de pobreza, castidade e obediência, dentre outros, vivendo em oração e contínua busca pela conversão e pela proximidade máxima com Deus. • São fiéis que ofertam a si próprios como oferenda integral a Deus, em Kênosis (esvaziamento) de si mesmos. Neste rol os discípulos que, como os 12 escolhidos por Jesus, largaram suas crenças, culturas, religiões, profissões e famílias para se colocarem integralmente a serviço do Reino de Deus e do Projeto de Jesus. 9 Observação 1: Mortificação – do jejum à abstinência, é da cultura e da fé cristã o conceito de renúncia e até mesmo de mortificação da carne – ou seja, abrir mão de benesses terrenas em favor da

elevação espiritual (comum à Quaresma, por exemplo). Entretanto, algumas das ordens religiosas e mesmo cristãos individualmente levaram ao extremo suas “vocações” de mortificação, substituindo a paz advinda pela graça conquistada por Jesus por uma busca voluntária pelo sofrimento, o que não é saudável à luz do sacrifício perfeito e completo de Cristo (exceção feita às situações de involuntárias de dor e o sofrimento, onde passa a fazer total sentido associar – e não completar – o sofrimento de Cristo na cruz com nossa parcela de sofrimento). • Observação 2: Martírio – que a princípio era uma virtude perfeita e amada pela Igreja por ser um sinal irrefutável e legítimo de adesão e fidelidade incondicional a Cristo, acabou, entre os Séculos III e IV, sendo banalizado e “ambicionado” por alguns cristãos como prêmio e prova de santidade, o que certamente não cabe no desígnio de Deus para nós.

• Em comunhão integral: as 23 Igrejas Católicas irmãs com seus ritos autônomos, mas em perfeita comunhão plena com o Papa de Roma. Dentre elas podemos citar a Etíope, a Copta, a Maronita, a Melquita, a Malabar etc• Em comunhão não plena: outras tantas igrejas separadas, associadas ou advindas das católicas, como a Ortodoxa, a Luterana, a Anglicana e a Velha Igreja Católica.• Em comunhão imperfeita (principalmente porque não sacramentam a Eucaristia): igrejas cristãs dissidentes, já não denominadas católicas, mas que confessam Jesus Cristo como Deus, Salvador, dentre as quais as protestantes e evangélicas em geral, como a Presbiteriana, a Metodista, a Quadrangular, a Assembleia de Deus e a Batista, dentre outras.

• Todos os fiéis não consagrados que devem trabalhar na construção do Reino de Deus, implementando o Projeto de Jesus por uma sociedade digna, justa e fraterna. • Todos os ministros extraordinários e diáconos permanentes que exercem os diversos ministérios dentre eles: a catequese, o serviço social e a animação da liturgia. • Representam, em suma, o Homem na Igreja, com sua vida, desejos, prioridades e aflições e a Igreja no mundo dos homens, disseminando os valores cristãos nos mais diversos ambientes (escola, trabalho, família), a partir do testemunho de sua vida, sua postura de concórdia, sua palavra oportuna e sua ação concreta.

• Representada pelos bispos, padres e diáconos. O sacerdote é um homem

consagrado que vive em comunidade com os membros leigos e outros membros consagrados, designado a pastorear e a servir a comunidade nas questões da fé e da religião (doutrina, missas e sacramentos), aproximando cada fiel de Deus.• Cabe ao sacerdote dar continuidade à missão pastoral de Jesus Cristo, imbuído do desafio de fazer crescer, compartilhar e materializar o amor entre os membros de sua comunidade, estimulando as obras, os serviços, os ministérios, os carismas e vocações. Como categoria, existem 2 tipos de padres: aqueles que exercem seu ministério paroquial e são ligados a alguma congregação

– portanto, religiosos, e aqueles que atuam ligados exclusivamente (daí o termo “incardinados”) a uma diocese, representada pelo bispo – portanto, diocesanos.• Vale lembrar que o Sacramento da Ordem possui 3 graus: o diaconado, que são os diáconos, homens que se colocam a serviço dos irmãos no ministério da caridade e a serviço do altar, através do ministério da liturgia e pregação - esses irmãos podem ser casados. Já o presbiterado, como foi dito acima, tem uma missão específica de reger, ensinar e santificar o povo de Deus numa determinada paróquia. O terceiro grau é o do Episcopado, que são os bispos, cuja missão, como sucessores dos Apóstolos, está reservada no pastoreio de uma porção do Povo de Deus que chamamos de Diocese.

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as vocações e a eucaristia

Noss

a igr

eja

Jesus, como o Primogênito dentre os mortos, primícia revelada por Paulo, primeiro fruto da colheita, é aquele que “puxa a fila” da vida eterna dos ressuscitados, conforme o Apocalipse. “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia (João 6,44)”. Aqui percebemos claramente o estímulo da vocação de cada um, de sua fé, pela crença no poder mobilizador do Espírito Santo, que sopra como quer, onde quer, em quem quer. Deus-Pai, universalmente amoroso, que não faz diferença e acepção entre seus filhos, atrai a todos, cada qual de um jeito,

com uma proposta, linguagem ou sinal, mas cabe a cada um de nós aceitarmos ou não seu chamado, ao abrirmos ou endurecermos o nosso coração (por isso a exortação de Jesus sobre a urgência de imitarmos o coração dos pequeninos e dos humildes para entrarmos no Reino de Deus). Cumpre perceber que a dinâmica e o papel da Igreja como meio “mais eficaz” para a ligação do Homem com a Divindade Trina (Pai, Filho e Espírito Santo) e sua confirmação no Livro da Vida eterna conquistada pela graça salvífica alcançada por Cristo na cruz se fortalece mutuamente nos sacramentos, especialmente na Eucaristia.Essa Eucaristia – ou comunhão plena – é a permanência de cada um de nós Nele e a presença visceral Dele em cada um de nós, porque Ele permanece no Pai. Assim se estabelece a

comunhão profunda, via Jesus (único mediador), entre Deus e o Homem. Jesus explicita essa relação imperativa de comunhão espírito-carnal em João 6,54: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Conforme João 6,53: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”, porque é importante que enxerguemos que não nos damos nossa vida a nós mesmos, mas Cristo no-la dá, restabelecendo-a com a comunhão. A insistência de Jesus no comer o que comemos e beber o que bebemos está no fato de que o que comemos e bebemos, com a digestão, se mistura conosco, em nós se dilui e nos compõe como alimento celular. Isso – essa comunhão de composição simultaneamente física e transcendental – nos torna, naquele instante (pelo menos), semelhantes a Cristo; portanto,

permanecendo em Cristo, com Cristo, via Eucaristia. É nesse momento de Eucaristia – idealmente permanente, pela vida sem pecado – que nossas vocações se

potencializam, porque Cristo nos integra ao Pai.

alguns exemplos de vocações bíblicas

Como exemplo, Maria foi chamada a ser Mãe do Salvador (nossa mãe, por decorrência), chamado que foi prontamente atendido por ela, mesmo sem compreendê-lo plenamente. A maternidade é, por definição, o tipo de vocação que é uma bênção concedida por Deus e compreendida somente por quem a vive, mas, por outro, um chamado eterno para abençoar, se doar e amar incondicionalmente.José foi chamado a proteger a vida e pavimentar o futuro do Senhor e de sua bem-aventurada mãe, mesmo tendo sua fé e reputação, à época, postas publicamente à prova com o advento da gravidez virginal e humanamente inexplicável de sua futura esposa, que tinha somente em torno de 17 anos quando concebeu Jesus em seu ventre. João Batista foi chamado para preparar os caminhos do Senhor e deu sua vida por esse ideal, enquanto Pedro foi chamado para liderar sua Igreja (deixar de ser pescador de peixes para ser pescador de homens) e Maria Madalena para ser a anunciadora primeira da ressurreição de Jesus. Já Paulo foi claro ao ecoar a consciência de sua vocação em sua carta aos romanos: “Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus.” (Rm 1,1)

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os tipos de vocaçõesHá uma diversidade muito grande de vocações.

A título de exemplo resumiremos em quatro expressões vocacionais:

I – Leigo:9 Todos os cristãos batizados que herdaram a missão de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo – único Caminho, Verdade e Vida. Mas quem são esses cristãos?

• Nenhum batizado, nenhum não batizado que se motiva a procurar Deus (e que efetivamente chegará a Jesus) ou ainda aqueles que não puderam ser batizados por qualquer razão (como as crianças), pode ou deve ser afastado ou marginalizado do seio da Igreja que, como Mãe, tem obrigação de acolher (por mais pecador que possa ser) a todos (como Cristo fez), uma vez que sendo batizado, o cristão automaticamente participa do Corpo Místico de Cristo e, portanto, integral ou parcialmente da comunhão dos santos.• Vale lembrar aqui que conforme a profissão de nosso credo niceno constantinopolitano, “professamos um só batismo” e, portanto, devemos compreender que diversas igrejas cristãs fazem parte do Corpo Místico de Cristo, seja em comunhão integral ou parcial com a Igreja primaz, a Católica Apostólica Romana. São elas:

Vocações transformadas em serviço ao próximo: a Kênosis de cada um

Fica claro, portanto, que todo aquele que transforma sua vocação em serviço concreto ao próximo e para a edificação do Reino de Deus está se doando em alguma dimensão, ou seja, tirando o foco primário de seu benefício e prioridade para concentrá-lo nas coisas de Deus, nas questões da comunidade. Esse é o mais puro exemplo do exercício diário de Kênosis ou esvaziamento individual de cada cristão. Como poderemos ver abaixo, cada tipo de vocação tem seu papel específico e valoroso, cada qual com um nível de Kênosis ou esvaziamento pessoal em maior ou menor grau.

As vocações são individuais, mas SEMPRE para o outro

As vocações são pessoais, intransferíveis, irremediáveis, mas sempre em favor do outro, para edificar ao próximo tendo a Deus sobre todas as coisas.

Por isso, uma vocação tem sempre a dimensão da “alteridade” – é sempre “alter” – ou seja, voltada para fora de si mesmo, para o outro, tornando-se obrigatoriamente um serviço, uma doação.Por assim dizer, vocação é a plataforma sobre a qual estabelecemos nossa relação direta com Cristo, no ato consciente de segui-lo (conforme Mc 2,14). Com efeito, é o próprio Cristo quem nos dá o sentido de nossa vocação.Como o Pai é de todos e a cruz de Cristo é para todos e o Espírito Santo sopra em todos, assim também é com as vocações. Só que para que sejam seguras, vivas e frutíferas, o coração de cada um deve estar aberto ao chamado que Deus, por Jesus e pelo Espírito Santo, faz a todos e a cada um!

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o papa Francisco e a igreja servidora

Nossa igreja

as vocações são universais

de Forma recorrente em SuaS homiliaS e diScurSoS durante a viagem ao rio de janeiro por motivo da jornada mundial da juventude (jmj), em julho paSSado, o papa FranciSco Fez queStão de valorizar, Sobretudo, o imperativo de colocarmoS criSto no centro de noSSa Fé e de noSSa vida na igreja, em detrimento de qualquer outra queStão. e o que iSSo SigniFica para nóS?

Nossa missão é clara e nos foi imposta (e não proposta) pelo próprio Jesus, começando com Pedro e os demais discípulos, e estendendo-se a todo batizado: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho” (Mc 16,15). Os discípulos, os Pais da Igreja, todos os Santos, cada fiel, portanto, tem como DEVER zelar e disseminar o Evangelho de Jesus, o único Evangelho que podemos fiar e confiar.

Ora, se isso é verdade, então 100% da certeza de nossa fé se ampara no Evangelho – a Boa-Nova trazida por Jesus. Mais do que isso, se ampara no próprio Jesus. Por isso, nada, absolutamente nada em nossa Igreja pode ser mais ou menos do que Jesus falou, ensinou, fez, pediu ou impôs. Não há outro evangelho; não há outra lei, não há outros mediadores ou reveladores do Pai.Com essa compreensão clara, nossas vocações devem obrigatoriamente encontrar segurança no rochedo firmado por Cristo, porque Cristo é a somatória posta em prática de todas as vocações, é a epifania máxima da caridade e, portanto, da santidade. Cristo é nosso único modelo de vida vocacional.

Jesus foi explícito ao incluir a TODOS como herdeiros da graça conquistada na cruz com a conclusão de sua missão de Redenção-Reconciliação-Salvação da Humanidade, porque Ele não veio só para os judeus, mas também para os pagãos; não é somente da ordem de Abraão, mas de Melquisedeque (conforme o autor da Carta aos Hebreus); não veio justificar somente o povo judeu, mas todos os descendentes de Adão (conforme Lucas); é, como no Prólogo de João, o Verbo Encarnado pelo qual TODAS as coisas foram feitas, antes mesmo de existirem!

Por isso, importa reforçar que vocação NÃO é chamamento especial somente para alguns. Infelizmente, ainda hoje, faz-se parecer muitas vezes que algumas vocações são mais importantes do que outras, ou mais próximas de Deus, ou ainda mais especiais. Esse tipo de raciocínio, quase gnóstico, certamente não vem de Deus, porque o Deus-Pai-Amor revelado por Jesus não separa, mas une; não prioriza, mas universaliza. Por Deus, vocação é para todos; pois todos as têm, para alguma qualidade, para alguma finalidade especial em Sua obra, ainda mais quando convertidos e batizados. Certamente que não são as mesmas vocações, nem com as mesmas intensidades, nem com as mesmas características, porque, assim como com os dons, as vocações se desenvolvem e se fortalecem no Espírito, em cada qual de uma forma e em um tempo distintos, ativadas por um gatilho específico – que pode ser um convite, uma sensação, uma grande dor, um vazio profundo, uma revolta, uma grande perda, um bênção recebida e a vontade incontrolável de retribuir a alguém uma graça.

anteS de Se tornar um doS 12 diScípuloS de criSto, Simão, depoiS chamado de pedro, era peScador. acredita-Se que naSceu em betSaida e Falava aramaico. era Filho de um homem chamado joão (ou jonaS) e tinha o também apóStolo andré como irmão. Simão e andré eram peScadoreS que tinham a própria Frota de barcoS, em Sociedade com oS apóStoloS tiago e joão e o pai deSteS, zebedeu. pedro era caSado e tinha pelo menoS um Filho. algumaS FonteS apontam que Sua eSpoSa era de Família relativamente rica e que moravam em caSa própria, cuja deScrição é muito Semelhante a uma vila romana, na cidade romanizada de caFarnaum.

rompendo, sendo necessária a ajuda da barca de seus dois sócios, que também quase afundou ao puxar tanto peixes. Numa atitude de humildade e espanto Pedro prostrou-se diante de Jesus e disse para que se afastasse dele, já que era um pecador. Jesus convidou-o, então, a segui-Lo, vaticinando que o tornaria “pescador de homens”.

A liderança apostólica: a vocação de Pedro

Nos evangelhos sinóticos, o nome de Pedro sempre encabeça a lista dos discípulos de Jesus, fazendo transparecer assim seu lugar de primazia sobre o Colégio Apostólico. Não se descarta que Pedro, assim como seu irmão André, antes de seguir a Jesus, tenham sido discípulos de João Batista, como o fora o apóstolo Filipe, por exemplo.

Segundo a tradição defendida

pela Igreja Católica Romana e também pela Igreja Ortodoxa, o apóstolo Pedro, depois de ter exercido o episcopado em Antioquia, se tornou o primeiro Bispo de Roma.

Segundo essa tradição, depois de solto da prisão em Jerusalém, o apóstolo viajou até Roma e ali permaneceu até ser expulso com judeus e cristãos pelo imperador Cláudio, época em que voltou a Jerusalém para participar da reunião de apóstolos sobre os rituais judeus no chamado Concílio de Jerusalém. A Bíblia atesta que após essa reunião Pedro ficou em Antioquia (como Paulo afirma em sua Carta aos Gálatas).

Como Pedro morreu?A tradição da Igreja Católica

Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro foi martirizado em Roma entre

vida de santoQuem era o homem Pedro?

Quando e como Pedro conheceu Jesus?

Segundo o relato em Lucas 5,1-11, no episódio conhecido como “pesca milagrosa”, Pedro conheceu Jesus quando este lhe pediu que utilizasse uma das suas barcas, de forma a poder pregar a uma multidão de gente que o queria ouvir. Pedro, juntamente com seus sócios, concedeu-lhe o lugar na barca, que imediatamente foi afastada um pouco da margem.

No final da pregação, Jesus disse a Simão que fosse pescar de novo com as redes em águas mais profundas. Pedro, especialista naquelas águas, disse-lhe que tentara em vão pescar durante toda a noite e nada conseguira, mas, em atenção ao seu pedido, assim procederia.

O resultado inesperado para Simão foi uma pescaria de tal envergadura que as redes iam se

são Pedro

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Pedro em RomaDesde a Reforma Protestante,

teólogos e historiadores vem procurando provar que Pedro não teria ido a Roma, em uma clara tentativa de desconfigurar sua primazia e liderança, o que certamente era interessante para os reformadores propagarem a fim de descredibilizar o papa de Roma como sucessor legítimo de Pedro.

Essa tese foi defendida por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen e outros como Heinrich Dressel, em 1872, que declarou que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia.

Hoje, porém, a enorme maioria dos historiadores sérios, inclusive não católicos, concorda que, apesar de não ter fundado a Igreja em Roma (por exemplo, a Carta de Paulo aos Tessalonicenses é anterior à ida de Pedro a Roma), Pedro realmente viveu e morreu em Roma depois da Assunção de Jesus, tendo assumido, primeiramente em colegiado e, depois, como papa, a função de líder da Igreja na capital do império. Por exemplo, o historiador luterano Adolf Harnack afirmou que muitas teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram um estudo mais fidedigno sobre a real vida e o papel de Pedro em Roma, confirmando assim a tradição católica.

De qualquer forma, sua vida continua sendo objeto de investigação e seu túmulo, descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação, está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

A liderança de Pedro por outras fontes

Além dos Evangelhos e Atos dos Apóstolos, livros que compõem a bíblia católica e todas as bíblias cristãs, outros livros como a Didaqué (escrito no século I, que apresenta a Doutrina dos Doze Apóstolos sobre o catecismo primitivo cristão), e escritos de autores como Clemente, Inácio de Antioquia, Papias, Orígenes e Irineu, dentre outros, comprovam que Pedro viveu em Roma e liderou a Igreja nascente desde o coração de seu maior perseguidor: o Império Romano.

Por muito tempo, pesquisadores

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os anos de 64 e 67 d.C., sendo crucificado, por opção, de ponta cabeça. Por quê? Basicamente por 2 razões:1. Por não se achar digno de morrer como seu Senhor, que havia sido crucificado “de pé”.2. Por acreditar que todo cristão, que chegava ao mundo no nascimento de cabeça para baixo (parto natural), deveria também viver e morrer de cabeça para baixo, pois só assim conseguiria enxergar a vida e a proposta de Jesus pelo “lado correto”: quando estamos de ponta-cabeça, a esquerda se torna direita e vice-versa. Isso porque Pedro entendia que, para seguir Jesus e compreender seu ministério espiritual, o cristão deveria estar totalmente desconectado das coisas do mundo e voltado somente às coisas do alto, para poder abarcar todo o mistério do que realmente significa a conversão total, de dentro para fora, do indivíduo à proposta cristã.

acreditavam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro teria sido um zelota, grupo surgido dos fariseus formado de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Esse fato supostamente estaria comprovado em Marcos 3,18, assim como em Atos 1,13. Atualmente, já há forte consenso de que Pedro não era um zelota, o que faz com que o tal “Simão, o Zelote” citado nessas passagens de Marcos não seja o apóstolo Pedro.

O primado de Pedro e o nascimento da Igreja Católica

A liderança de Pedro começa a cristalizar firmemente quando ganha peso a discussão sobre a identidade de Jesus. Quando inquirido pelo próprio Jesus, Simão foi o primeiro dos discípulos a responder que Ele, Jesus, era o filho de Deus, o Messias! Esse acontecimento, conhecido como “Confissão de Pedro”, muda cabalmente a posição de Simão no grupo de Jesus, levando Jesus a chamá-lo de Pedro.

Além da passagem de Mateus já descrita nos textos acima, também em João 21,15-17 e em Lucas 22,31 podemos respaldar o primado de Pedro, que deve ser exercido particularmente na ordem da Fé, dado que Cristo o torna chefe dos demais: “Simão, filho de João, tu Me amas mais do que estes?” Ele lhe respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta Meus cordeiros”. Segunda vez disse-lhe: “Simão filho de João, tu Me amas?”- “Sim, Senhor”, disse ele, “tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta Minhas ovelhas”. Pela terceira vez

A Igreja só é perfeita porque é santificada por Jesus

Eis aí a perfeição completa da Igreja. Perfeita, porque inspirada,

criada e alimentada por Cristo, sua cabeça, é espiritualmente Santa,

definitivamente Santa. Perfeita também porque incorporando a

imperfeição de todos nós, pecadores – justamente aos que Cristo veio

salvar e reconciliar com o Pai, na cruz – é pecadora pelos pecados

de seus membros, desde Pedro, mas humanamente Santa, pela

santificação dos Homens que por ela vivem... todos nós santificados

pelo sangue e pela graça de Cristo.

Jesus não poderia esperar que seres imperfeitos pudessem aceitar o

fardo impossível de edificar a perfeição na Igreja, representada por Ele.

Jesus quis (de fato foi sua ESCOLHA) que a imperfeição humana

conduzisse sua Igreja (no âmbito humano), porque somente assim

a Igreja seria humilde, pequenina e verdadeira o suficiente para ser

reflexo da Humanidade falha e, portanto, capaz de espelhar, acolher,

perdoar e converter para Sua Mensagem e para o Reino do Pai.

Só assim seria possível esperar que houvesse conversão real de

cada um de nós, adesão verdadeira ao Seu Projeto e, portanto,

o discipulado a partir das vocações individuais.

Por isso Jesus escolheu Pedro: porque Pedro representa

em essência toda a natureza humana. O mesmo

Pedro que deu seu sim “sem pensar” ao chamado

do “desconhecido” Jesus na praia enquanto

pescava com seu irmão André; aquele que

defendeu Cristo cortando a orelha de Malco; que

teve a graça de confessar, antes de todos, que Jesus

era o verdadeiro Messias, o Filho de Deus (a “revelação

fundamental de Pedro”), é o Pedro que também foi capaz de

fugir, negar e tentar conter o projeto salvífico do Senhor.

Pedro é claramente, em maior ou menor dimensão, exatamente

o que somos como imitadores de Cristo: seres dicotômicos na fé,

claudicantes na certeza, santos (porque santificados por Cristo)

e pecadores por natureza.

Nossas vocações materializadas em amor supremo a Deus e serviço ao próximo são o fermento da Igreja de Cristo

mas Cristo e seu Evangelho como única doutrina do Catolicismo.Por isso, se não materializarmos nossas vocações em serviço ao próximo, estaremos negando o Evangelho de Cristo, ao manter improdutivos os talentos que nos foram dados por Deus (conforme a Parábola dos Talentos

contada por Jesus em Mateus 25, 14-30). Em suma, as vocações são dons que devem ser transformados em FRUTOS concretos do Espírito e é somente atendendo a esse chamado de Deus que conseguimos, como espécie, realizar plenamente nossa vida nesse mundo (sentido existencial).

Pelo que está acima, temos, como Pedro, a obrigação de ser e agir como Igreja VERDADEIRA de Cristo – e não como Igreja que “também” tem ou traz Cristo em sua doutrina. Aqui não há e não pode haver relativizações do papel e da primazia de Jesus, porque não há doutrina de Cristo no Catolicismo,

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lhe disse: “Simão filho de João, tu Me amas?” Entristeceu-se Pedro porque, pela terceira vez, lhe perguntara “Tu Me amas?” e lhe disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”. Jesus lhe disse: “Apascenta Minhas ovelhas.” (João 21, 15-17).

Nesse trecho do Evangelho de João, Jesus propõe a Simão mudar de nome: Pedro (latim) ou Cefas (grego), alterando assim radicalmente sua identidade. Isso porque em Israel, naquela época, o nome significava a identidade da pessoa. Jesus faz isso para que Simão, agora Pedro, possa encontrar a própria razão de ser, sua busca pessoal, a verdadeira vocação. Pedro, que compreendia muito bem as escalas de poder, acaba encontrando no amor – e não no poder – sua verdadeira razão de ser (conforme era a visão de João, o discípulo amado); isso fica claro no Capítulo 21, conhecido como a Redenção de Pedro junto a Jesus.

Nesse episódio, no final do Evangelho de João, Pedro está pescando, nu, e o discípulo amado avista o Mestre ressuscitado na terra. Pedro, de forma estranha, se veste (referência ao avental de pastor de Jesus) e se joga no mar com o coração aberto, a fim de encontrar Jesus na praia (mar = campo da missão, missão de servir, de pescar almas). É aí que Jesus lhe pergunta 3 vezes, contrapondo as 3 negações por ele cometidas na noite da prisão de Jesus: “Tu Me amas?”, recontextualizando dessa forma sua relação com o Mestre, agora não mais somente pela hierarquia, mas pelo Amor.

Pedro, então, assume a missão, o pastoreio de Jesus. Adquire

uma força descomunal, cheio do Espírito Santo, e arrasta a rede cheia de peixes sozinho. Ao contrário de quando conheceu o Senhor na praia, essa rede não se rompe – de forma que ele não perde nenhum peixe, nenhum “homem” pescado, representando então o verdadeiro nascimento da Igreja, sob a liderança e a força de Pedro, liderança essa que é sua verdadeira vocação.

Além de Mateus e João, também em Lucas 22, 31-32 podemos constatar a vocação de Pedro: ”Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; Eu, porém, orei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos”.

A contribuição de Pedro nos Evangelhos

Teoricamente Pedro era analfabeto. Mesmo que não fosse, falava aramaico e não grego, língua em que a grande maioria dos textos bíblicos foi originalmente escrita.

Assim, os textos bíblicos atribuídos a Pedro, na verdade, foram provavelmente inspirados por Pedro, como referência. O mesmo vale para o Evangelho de São Marcos, o primeiro, mais histórico e mais curto dos Evangelhos, escrito por volta do ano 50 d.C., por Marcos, discípulo mais evidente de Pedro.

São atribuídos a Pedro, no Novo Testamento, os seguintes textos: a “Primeira” e a “Segunda Epístola de São Pedro”. Outros textos apócrifos também foram atribuídos a ele, sem gozar da mesma credibilidade ou visão teológica daqueles que entraram formalmente no cânon católico. Dentre eles, estão o Evangelho de Pedro, o Apocalipse de Pedro, o Apocalipse Gnóstico de Pedro e diferentes livros sobre os Atos de Pedro, todos geralmente aceitos por historiadores como não sendo de sua autoria ou mesmo alinhados à sua visão teológica (configurando-se, portanto, claramente como fraudes histórico-teológicas).

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Nossa féJesus Cristo é a fonte e o espelho de todas as vocaçõesJesus Cristo ressuscitado, antes de voltar ao Pai, nos transferiu sua força transformadora pelo Espírito Santo, que nos deixou como advogado. Esse Espírito Santo é quem constantemente nos capacita com dons e é também quem nos fomenta e aquece as vocações latentes em nossos corações.Jesus fez isso para que pudéssemos ter resiliência, confiança, fé e esperança suficientes diante de todos os riscos, contraditórios, perseguições e desafios que desde sempre sabia e anunciou que enfrentaríamos ao carregarmos sua Mensagem e edificarmos sua Igreja ao longo dos séculos.

Cristo é a rocha espiritual sobre a qual a Igreja foi lastreada Somos membros da Igreja instituída por Cristo e sobre Cristo – Ele, a pedra rejeitada, a rocha espiritual sobre a qual a Igreja foi lastreada, porque dela seu corpo místico é a cabeça e, antes de tudo, porque é o Verbo Encarnado, a Palavra de Deus, o Filho Salvador. Cristo repetidamente anunciou que subiria ao Pai; que não estaria mais presencialmente conosco até o momento oportuno de sua volta. Com isso, nasceu e floresceu a importância do discipulado vivo, presente, eficiente, capaz de se capilarizar e converter a tantos quantos possível, porque sem Jesus presencialmente neste mundo, caberia aos discípulos – a nós – construir sua Igreja.

Pedro, o 1º. discípulo e 1º. papa, é a rocha humana que Cristo escolheu para conduzir sua IgrejaSimão Pedro, o primeiro líder dos discípulos, o pescador simples, rude e analfabeto, tornou-se nosso primeiro papa. Pedro, em si, é a síntese do povo católico, em tudo que representa de santo e pecador.Pedro, esse líder, foi quem negou Jesus 3 vezes, quem dormiu no Jardim das Oliveiras enquanto o Senhor sofria agudamente antes de sua captura pelos soldados romanos, aquele que foi chamado de Satanás pelo próprio Jesus (Mt 16, 21-27).Mesmo com essas atitudes, Jesus “rebatizou” Simão de Pedro (Kepha ou Cefas = rochedo em grego) e o transformou na rocha humana, falha e pecadora, escolhida pelo Salvador desde o início para conduzir sua Igreja (“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” - Mt 16,18).

Pedro e essa “estranha” decisão de JesusMas porque Jesus teria outorgado sua Igreja e as chaves da religação com os céus a Pedro, se Ele já sabia detalhadamente de todos seus pecados e falhas? Por que não João, o discípulo amado, aparentemente “melhor”, Thiago Maior ou Filipe (ambos supostamente líderes mais fortes), ou qualquer outro discípulo? Parece não fazer sentido... mas faz enorme sentido e isso é a mais singela VERDADE sobre a legitimidade de nossa Igreja: Deus-Pai nos amou mais que tudo, antes mesmo de termos a chance de perceber, compreender e retribuir a parte humanamente possível desse amor infinito, mesmo com todas as nossas falhas e natureza pecadora.

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vida

mod

erna

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Mas

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Além desses ídolos, outras potestades também assumem a posição exclusiva que devemos dar ao Deus-Trino. Dentre elas, podemos destacar os falsos deuses, os espíritos, os duendes, o sol, os ETs, os santos e anjos (quando os colocados acima de Jesus ou como mediadores diretos junto ao Pai), os líderes e celebridades humanas e mesmo Maria (quando endeusada e tratada hereticamente como a 4ª. pessoa da Trindade). Infelizmente, a mais perversa das potestades é mesmo um tal de Jesus, potestade essa criada e propagada por diversas seitas autoproclamadas cristãs, que carregam consigo o nome de Jesus, mas em nada se parece com sua forma de ser, pensar e agir.

Orar de forma santa é pedir o que é bom aos olhos de Deus e não o que é bom segundo nossos interesses imediatistas. Fé é servir a Deus e não servir-se de Deus. É amar a Deus em si mesmo e não pelos benefícios que dele podemos receber. Mas não é isso que vemos hoje no chamado mundo cristão.

Entretanto, o maior de todos os ídolos dessa sociedade que globaliza a indiferença, robotiza as pessoas, digitaliza as relações familiares

o mundo moderno

sufocam as vocaçõespessoais e demoniza o toque e o acolhimento humano tem como métrica de sucesso a capacidade individual de ser mais e melhor que o outro, de diminuir e oprimir o outro (ato que Jesus condenou como assassinato – “haka” – termo aramaico por Ele utilizado para definir esse tipo de coisificação e diminuição do outro à categoria de total insignificância, de completa irrelevância, de sinônimo de nada). Essa dinâmica quase ariana, que presume excluir os mais fracos, os mais pobres, os mais doentes, os mais velhos, os mais novos, as minorias, deve ser firmemente combatida pelos cristãos, com amor, com serviço, com acolhimento, com humildade, com as vocações, conforme vem reafirmando o Papa Francisco desde que foi eleito (recentemente, o Papa Francisco disse em uma entrevista a um canal de TV que a Igreja é uma mãe que deve abraçar, tocar, alimentar e aquecer seus filhos e não ser uma “mãe por correspondência”, impessoal).

Nessa sociedade dos “super-homens”, dos 15 Mb de fama na internet e das pseudocelebridades nas redes sociais, não há lugar para Jesus, não há lugar para o amor ao próximo, mas somente ao amor a si próprio, ao autobenefício, ao “salve-se quem puder” e ao “cada um com seus problemas”.

Por isso, se criam diariamente microimperadores, microNeros em todas as classes sociais, em todas as atividades humanas, em todas as etnias, com a clara missão de afirmar que o trono do Pai lhes pertence. Ah se não é esse o “pecado original” de Lúcifer! E assim vamos nos luciferizando sem perceber, nos empanturrando de nós mesmos, para

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a Sociedade moderna é uma Sociedade de ídoloS. ídoloS raSoS e pontualmente intereSSanteS e altamente atraenteS, deSejáveiS até, como a Fama, o poder, o dinheiro, o Sexo, aS drogaS. eSSeS ídoloS – ou íconeS – SubStituem jeSuS e aSSumem Seu lugar intranSFerível de adoração e culto.

e as várias formas de idolatria

No universo cristão, vocação não é a mesma coisa que profissão, pois não está diretamente conectada a aptidões inatas de qualquer natureza, algo que naturalmente excluiria a muitos e geraria frustrações profundas em tantos outros.

Todo ser humano filho de Deus, principalmente o batizado, é chamado a ser sempre e em todo lugar “sal da terra e luz do mundo”. Essa incumbência de todo cristão é, em si, uma vocação.

O cristão se caracteriza por ser sempre chamado a praticar o bem e a promover a justiça, afastando-se de tudo que é mal. Mais que desejo, realizar nossa vocação é um imperativo ditado pela nossa adesão incondicional a Cristo.

Vocação é mais que talento (como no dicionário), mais que inclinação, que uma simples propensão. É tudo isso, mas é, antes de tudo, um ato de liberdade suprema, uma escolha pelo amor, um ato de desprendimento de si próprio em prol dos irmãos (dimensão solidária de nossa existência), auxiliando-os em sua jornada de dignidade, descobrimento, potencialização e realização plena, também a partir do exercício das próprias vocações.

Vocação, portanto, tem a ver com o chamado essencial de felicidade plena e madura (sentido da vida) que Deus quer para o Homem criado à sua imagem e semelhança – a vocação fundamental à santidade.

qual é nosso papel na obra de Deus, é exercitarmos o desafio de ouvir atentamente o Seu chamado: ouvir nosso coração, ouvir o som no mais profundo de nossa mente, ouvir o apelo mais singelo de nossos irmãos, o clamor da Igreja, as palavras de Jesus. Como a fé, a vocação também se materializa pelo ouvir, mas é outro tipo de “ouvir”.

Este mês vocacional proposto pela Igreja tem por objetivo nos chamar à ação concreta a partir de nossa(s) vocação(ões) específica(s). Por isso, devemos refletir sobre a importância de nosso papel e de nosso compromisso com o Projeto de Deus, com a Igreja e com a sociedade. Afinal, para Jesus, todos importamos, porque “a messe é grande e os operários são poucos” (Lc 10, 1-9).

Seguir Jesus é encontrar e viver essa felicidade plena, pois, como aprendemos em João 10,10, aceitar Jesus é ter vida e vida em abundância, mesmo com todas as dificuldades, tribulações e limitações impostas pela vida. E isso mais do que suficiente é fantástico, porque o que Jesus promete nessa passagem do Evangelho de João é abundância de vida, a vida eterna conquistada por Ele na cruz; e não a vida mundana abundante de bens materiais, conforme apregoam algumas seitas supostamente cristãs.

Como tudo que vem de Jesus e é feito para o seguimento a Jesus, não há vocação que se baste em si própria, como não há bem que beneficie somente a quem o faz. Vocação, em Cristo, é e deve ser para o outro, porque tem a ver com trabalhar no projeto de Deus, na construção de seu Reino, propagado há 2000 anos.

É certo que todas as vocações são importantes, pois todas conduzem àquilo que é perfeito por definição: a caridade. Esta, por sua vez, se apresenta como a principal essência da vocação universal à santidade. E isso tem tudo a ver com a construção do Reino de Deus nesta vida, neste mundo. Assim, fica claro perceber que é pela manifestação produtiva das vocações que se fortalece a caridade, que direciona todos e a cada um de nós à santidade.

O primeiro passo para descobrirmos e termos certeza de qual é nossa vocação específica,

Querido Irmão,

querida irmã: vale,

então, refletir: Com que

frequência você tem

ouvido seu coração?

Você já encontrou sua

vocação? Pelo menos

a tem procurado?

Que ações concretas

você tem produzido

para a edificação do

Reino de Deus em

sua comunidade,

começando por sua

família?

3

Page 15: Kênosis fascículo nº3

2

igreja de criSto para nóS, católicoS, deSde 1981 agoSto é o mêS daS vocaçõeS. e o que é uma vocação, Senão o exercício de um Sim para um chamado que queima no coração e que, de tanto queimar, Se torna impoSSível de conter?

A palavra vocação, originária

do verbo latino “vocare”, quer

dizer chamado. Por isso, aos

cristãos, é sempre um chamado

de Deus para alguma missão

específica. Cada filho chamado

por Deus-Pai, quando abre seu

coração a esse chamado,

se sente impelido, natural-

mente atraído, para cumprir

aquilo a que é chamado.

Nossa Igreja vive e se renova ao

longo dos séculos por causa das

vocações de milhões e milhões

de pessoas. Como veremos,

são várias as vocações, de

diferentes naturezas, com

diferentes finalidades e

efeitos, mas todas igualmente

importantes, sob a mesma fé,

imbuídas do mesmo Espírito,

servindo ao mesmo Senhor.

o chamado que conduz a

diLe

Mas

da

nosso próprio deleite, nessa vida, a tal vida com abundância, conforme prega o “novocristianismo positivista”.

Aqui temos a lógica do tudo posso por mim e em mim, pois é em mim que me fortaleço. É a mesma lógica do Senhor ao meu dispor, do abominável ato de determinar a Deus, como se isso fosse possível.

Jesus “odeia” a superlativização do Homem pelo Homem, mas ama a pequenez e a humildade. Enquanto muitas vezes, ainda sem entender completamente o Messias despojado, os discípulos disputavam entre si, como em Mateus 18,1-4: “quem de nós é o maior no reino dos céus?”, Jesus, paciente como é com cada um de nós, respondia: “Se alguém quiser ser o maior, seja o menor” (Mc 9, 30-37). Para Jesus, o maior é o que não tem trono, pois governa da cruz, é o que não tem pompas, o que se esvazia, o que não tem onde reclinar a cabeça, é o último que será feito – e não que se faz – o primeiro.

Também no campo religioso, a empáfia e o descaso das igrejas, inclusive a nossa em muitos momentos, seja pela preocupação fundamental com sua organização e gestão burocrática quotidiana (o Papa Francisco tem sido explícito ao dizer que a Igreja não é uma ONG), seja pelo engano que outras tantas igrejas “neo qualquer coisa” proclamam em nome de Jesus, somente aproximam o Homem de si próprio, afastando-o de Deus.

Jesus também não gosta da pose farisaica e legalista de muitos cristãos, católicos e de outras denominações, consagrados e leigos, que se colocam como perfeitos perante Deus, como se o Evangelho fosse uma Lei a ser cumprida. Isso é a rejudaização da fé, estigma cancelado por Jesus na cruz do calvário. A chamada vaidade do monastério, puritana, da ética, dos melhores, dos poucos escolhidos, do preciosismo, da dureza no coração é, na verdade, jactância, autoendeusamento, autopotestadização. Aquele que não teme seu tamanho (engrandecimento pelas honrarias humanas) se torna falso profeta, se torna anticristão, porque se assume maior do que é, maior do que Deus e do que o próximo (e todos somos iguais perante Deus).

Aquele que se acostuma com as honrarias e não sente desconforto com isso se torna blasé (arrogante) e acha normal receber essa carga brutal de energia. Ato sequente, esse tipo de comportamento abre espaço para as autogratificações, as

autocomplacências e passamos a aceitar que temos direito a mimos, a pequenas faltas e benefícios, ao ágio da “boa conduta”, aos tão desejados “pecadinhos permitidos”. Na verdade, nos tornamos ícones e reféns dessa dessa celebrização, que vicia e mata a alma. No fim, parece que nos convencemos que é uma “honra para Deus ter-nos como servos”, pois, afinal, somos “essenciais para Deus na Terra, porque Deus precisa de nós nessa Terra”.

Essa idolatria sutil, mas retumbante, não está na imagem física, mas na forma como hedonicamente nos colocamos perante Deus e perante nossos irmãos e, portanto, como tratamos as realidades, nossas atitudes que nos aproximam ou nos afastam de Deus. A regra do “vinde a nós tudo e ao vosso reino nada” é a regra do mundo 24 x 7, instantâneo, multimídia, ultraconectado e desumano.

Por isso, para esses cristãos sem Jesus, o sol, por exemplo, que não é imagem feita por mão de Homem, pode ser idolatrado. De fato, o que idolatrar ou iconizar é escolha de cada um. Acabar com os bonecos de gesso e pau é fácil; difícil é acabar com a idolatria em nossos corações.

Em decorrência, o crente que mais sofre, mesmo sem saber que está sofrendo e se condenando, é aquele que é discípulo de igrejas e não da vida eterna. Os crentes sem fé, apáticos, sem ressurreição, carregadores da culpa da Lei ou os crentes compradores de bens terrenos e das “outras promessas malaquianas do Evangelho” são os dois tipos que prevalecem hoje nesse mundo de indiferenças. Acredite irmão, irmã... nenhum deles, nenhum de nós que é assim é verdadeiramente cristão, porque não entendeu nada sobre o cristianismo.

Infelizmente não podemos fugir de nossa natureza. Ao longo de toda a Bíblia, os profetas, Jesus, os apóstolos nos mandam enfrentar o demônio de frente, sem medo, com fé; mas igualmente nos mandam “fugir” de nossa carne. Os pecados capitais como a gula, a preguiça, o orgulho, a inveja, a avareza, a cobiça, a luxúria, a vaidade (conforme retratado no filme O Advogado do Diabo) são, em grande monta, os sentimentos que se mais nutrem no seio social – e muitos deles são aplaudidos e remunerados pelas regras deste mundo.

Fato é que a inclinação natural do homem é pecar, porque a carne é corrompida. E o que é da carne e não edifica, pois é animal. Reflita! Somos

vida

mod

erna

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Page 16: Kênosis fascículo nº3

nº 3 o agosto de 2013

SomoS um grupo de leigoS católicoS da comunidade de Santa Suzana, em São paulo, que tem a certeza de que, como parte do corpo de criSto, da igreja celeSte, temoS por obrigação propagar o reino de deuS e a boa-nova que é jeSuS criSto aoS quatro cantoS da terra, a todo Ser humano, exatamente como o Senhor pediu aoS SeuS diScípuloS enquanto eSteve neSte mundo.

comunidade Santa Suzana

Qu

em

so

mo

s

Nossa féNossa igrejavida de santo

vida moderna

Irmãos e irmãs, é com muita alegria

e cuidado que apresentamos o 3º fascículo desta

publicação, que tem como

principal objetivo trazer de volta à

prática cotidiana a verdadeira fé católica, herdada dos

Apóstolos, desde quenosso Senhor Jesus Cristo

encarnou há mais de 2.000 anos.Para dar cabo desse

desafio, iremos adotar como premissa

a centralidade de nossa fé a partir de

Jesus Cristo, o Cristocentrismo. Em outras palavras, Jesus Cristo será a

chave hermenêutica que usaremos para apresentar e disseminar o Evangelho

e suas passagens aparentemente

complexas ou mesmo conflitantes. Ao

longo de todo o Evangelho, tudo que

combinar com o que Jesus fez, pregou,

pensou, sentiu ou decidiu se fortalece

como verdade para nossa fé.

Afinal, cabe a nós, leigoscatólicos, como disse

Pedro, estarmos sempre preparados a dar razões

de nossa fé e, mais ainda, a compartilhá-la com o

próximo(cf. 1Pd 3,15)

a quemEsta publicação bimestral destina-

se a todo ser humano que, percebendo sua incapacidade e fraqueza diante da grandiosidade da obra de Deus, anseia por encontrá-lo e, assim, O procura a todo momento, em todos os lugares, muitas vezes aparentemente não encontrando a resposta esperada... ou mesmo qualquer resposta.

Por isso, temos o objetivo de simplificar, clarear e fortalecer a fé católica em toda a sua Verdade, que reside na compreensão de que – como nos ensina o prólogo do Evangelho de São João – tudo foi feito por Jesus Cristo, o verbo encarnado de Deus (cf. Jo 1,3s).

Católicos convictos, em dúvida, decepcionados, inseguros, afastados, com o coração esfriado, desesperançosos, críticos... Ex-católicos, irmãos protestantes e evangélicos, praticantes de toda e qualquer religião, eis a nossa boa-nova que queremos compartilhar com vocês: Jesus Cristo nos salvou em seu sacrifício na cruz e nos reconciliou com Deus, para que tenhamos abundância de vida, a vida eterna!

Se deStina

FaScículo iii: vocaçõeS

A publicação Kênosis é um fascículo bimestral da Comunidade Santa Suzana com finalidade específica de evangelização. Sua distribuição é gratuita.

Pároco: Manoel Correa Viana Neto.

Idealização e Conteúdo: Daniel Domeneghetti.

Produção: Pastoral da Comunicação - Renato e Camila Duarte.

Revisão: Maria Lúcia e Ana Lúcia Neiva.

Jornalista Responsável: Letícia Tavares (MTb 36.620).

Edição de arte: 107artedesign.

Impressão: Gráfica Taboão. Tiragem: 1.500 exemplares

Secretaria Paroquial Santa Suzana: (11) 3742-4754

Fale conosco! Visite, leia, divulgue e colabore em nosso blog kenosis.blog.br

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nós que gritamos Barrabás, Barrabás, conscientemente, todos os dias, em nossas famílias, no trabalho, entre estranhos.

Toda boa obra que fazemos, fruto de nossas vocações, é dom de Deus. Bem nenhum que fazemos ou temos vem de nós, porque são graça de Deus. De nossos pensamentos e ideias a nossas atitudes e ações, nosso instinto nos leva para o egoísmo (o famigerado e irrefutável gene egoísta de Richard Dawkins), à possessividade e ao ciúme, que são reações normais dos animais que somos.

De sorte que nem todo bem é bom. Nem todo bem que fazemos é bom para nós ou para nossos irmãos, ou mesmo para Deus. Quando agregamos coisas boas, que geram o bem, mas que não são do chamado de Deus para nós, e ainda acarretam admiração e ovação secular em nossa direção, não estamos fazendo o bem maior, mas cultivando o efeito salomônico da grandeza e da vaidade. Muitas vezes esse bem pode nos tornar hipócritas, insensíveis, falsos, iníquos, ímpios.

Esse animal que representa cada um de nós em essência só é vencido pelo amor de

Deus, quando O deixamos entrar em nossos corações, em nossas mentes, aceitando de graça, a sua Graça. O bem que está em nós procede de Deus, apesar da vontade estar em nós, mas não o poder para realizá-lo. Já o mal que está em nós procede de nós mesmos e pode ser cultivado pelas forças do mal. Por decorrência, essa é nossa escolha essencial: viver a plenitude, construindo o Reino de Deus, com e para os irmãos, a partir de nossos dons e vocações, realizando o projeto de Cristo na Terra; ou simplesmente construir o Reino do Eu S.A., para nós mesmos, a partir dos próprios interesses. E ambas as

escolhas têm seus pontos positivos, só que sob óticas salvíficas diferentes. Enquanto a primeira opção supostamente é pior nessa vida, mas garante a vida eterna e abundante, a segunda opção se tornou o frenesi da raça humana. Por isso Kênosis é difícil, é até

ridicularizado por quem não entende sua magnanimidade (“cristãos, desde sempre, os otários”), simplesmente porque não é da natureza humana, manchada pelo Pecado, viver para Deus. Por isso há mais egoísmo que solidariedade, mais frieza do que acolhimento, mais complacência do que mobilização. Por isso também Deus está sumindo do dia a dia dos países, das comunidades, das escolas, das famílias.

É o despertar e a realização plena e frutífera de nossas vocações que nos tornam humanos, plenos, de Deus e para o próximo, e que, quando não materializadas em vida, simplesmente morrem conosco, porque não despertam do sono profundo que hibernam em nossos corações, embriagadas pelo ego inflado que cultivamos. Afinal, “não temos tempo!”, “Gostaríamos de ajudar, mas não vai dar!”, “Contribuir com dinheiro resolve e é suficiente!”, “Tenho feito minha parte: vou à missa aos domingos, rezo para Deus, leio a Bíblia” (como se esses atos, por si só, salvassem)... Cada um, na verdade, que se vire!

E diariamente esquecemos que o Homem, nós, somos salvos exclusivamente pela graça santificante da cruz e reassumimos, pela Lei renovada, a obrigação de nos (res)salvarmos. Que absurdo! Devemos zelar, vigiar para não perdermos a salvação que Cristo nos conquistou, mas ao renegar o amor de Deus, caímos no pecado, porque aderir a Deus é renegar ao pecado.

Nossa atitude mental positiva é fruto de nossa espiritualidade sadia, fundada em fé, esperança e caridade. A generosidade e a partilha são práticas cristãs que só atraem coisas boas e o bem. São forças espirituais poderosas. Por isso, dar, compartilhar e contribuir são mais importantes que receber.

Quem realmente conhece o Evangelho não consegue abandoná-lo. Afinal a quem iremos senão a Jesus? Quem tem as palavras da vida eterna?

Nosso caminho está em sermos dóceis e deixar-nos conduzir pela mão suave de Deus, sem saber a direção, mas no sentido ideal para o Plano de Deus em nossas vidas. Esse é o sinal de que estamos no caminho certo. Pense nisso!

diLe

Mas

da

vida

mod

erna

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