kelsen ferreira freitas “estrutura da comunidade de...

130
KELSEN FERREIRA FREITAS “ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE MOSCAS-DAS-FRUTAS (DIPTERA: LONCHAEIDAE E TEPHRITIDAE) E SEUS PARASITOIDES (HYMENOPTERA) RELACIONADOS A ESPÉCIES DE PLANTAS EM UMA POLICULTURA ORGÂNICA NO MUNICÍPIO DE PARAIBUNA – SP” CAMPINAS 2014

Upload: others

Post on 20-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • KELSEN FERREIRA FREITAS

    “ESTRUTURA DA COMUNIDADE DE MOSCAS-DAS-FRUTAS (DIPTERA:

    LONCHAEIDAE E TEPHRITIDAE) E SEUS PARASITOIDES (HYMENOPTERA)

    RELACIONADOS A ESPÉCIES DE PLANTAS EM UMA POLICULTURA

    ORGÂNICA NO MUNICÍPIO DE PARAIBUNA – SP”

    CAMPINAS

    2014

  • ii

  • iii

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    INSTITUTO DE BIOLOGIA

    KELSEN FERREIRA FREITAS

    “Estrutura da comunidade de moscas-das-frutas (Diptera: Lonchaeidae e

    Tephritidae) e seus parasitoides (Hymenoptera) relacionados a espécies de

    plantas em uma policultura orgânica no município de Paraibuna – SP”

    Tese apresentada ao Instituto de Biologia,

    Universidade Estadual de Campinas como

    parte dos requisitos exigidos para a obtenção

    do título de Doutor em Biologia Animal.

    Orientador: Prof. Dr. João Vasconcellos Neto

    Co-orientador: Prof. Dr. Miguel Francisco de Souza Filho

    Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação defendida pelo aluno Kelsen Ferreira Freitas, e orientada pelo Prof. Dr. João Vasconcellos Neto.

    _________________________________

    CAMPINAS

    2014

  • iv

  • v

    Campinas, 19 de agosto de 2014.

    BANCA EXAMINADORA

  • vi

    Prof. Dr. João Vasconcellos Neto (Orientador)

    Prof. Dr. Valmir Antonio Costa

    Prof. Dr. Alberto Luiz Marsaro Júnior

    Prof. Dr. Thiago Gonçalves Souza

    Prof. Dr. Adalton Raga

    Prof. Dr. Arício Xavier Linhares

    Prof. Dr. Wesley Augusto Conde Godoy

    Prof. Dr. Paulo R Guimarães Jr

    ________________________ Assinatura

    ________________________

    Assinatura ________________________

    Assinatura

    ________________________

    Assinatura

    ________________________

    Assinatura

    ________________________

    Assinatura

    ________________________

    Assinatura

    ________________________

    Assinatura

  • vii

    RESUMO

    As espécies de plantas disponíveis em uma comunidade, sua estrutura e

    abundância são elementos cruciais que influenciam nas dinâmicas e interações de

    populações de insetos herbívoros, uma vez que definem a base de recursos e refletem na

    interação com outras populações de insetos herbívoros, como predadores e parasitoides.

    Estudos relacionados às moscas-das-frutas concentram-se em levantamentos de

    espécies, em especial aquelas consideradas pragas, e abordam principalmente os

    padrões populacionais. A densidade populacional de tefritídeos e lonqueídeos está

    intimamente ligada à abundância de plantas hospedeiras e de seus inimigos naturais. Os

    parasitoides das moscas-das-frutas são micro-himenópteros (Hymenoptera) que atacam e

    se alimentam das larvas dentro dos frutos. O reconhecimento de padrões de interação

    das moscas-das-frutas com plantas hospedeiras, em especial nas espécies nativas, e as

    relações com seus inimigos naturais são importantes para a compreensão da utilização

    dos recursos disponíveis em uma comunidade e pelo reconhecimento de diferenças na

    dieta entre as espécies ou populações de uma mesma espécie. O objetivo deste trabalho

    foi estudar a estrutura da comunidade de moscas-das-frutas e seus parasitoides em

    diferentes espécies de plantas em uma policultura orgânica entre fragmentos de Mata

    Atlântica localizada no município de Paraibuna. A utilização de plantas hospedeiras difere

    entre as espécies de moscas-das-frutas. Apesar de a policultura causar alterações da

    fisionomia vegetal, foi observado que a estrutura da comunidade de moscas-das-frutas

    possui características encontradas em comunidades de insetos de florestas tropicais,

    onde espécies de insetos frugívoros são mais especialistas em família de plantas. A

    utilização de plantas hospedeiras foi distinta entre as espécies de parasitoides. O fruto foi

    o fator que mais influenciou o parasitismo das larvas de moscas-das-frutas. As espécies

    da família Myrtaceae são reservatórios para as espécies de parasitoides da família

    Braconidae. As interações estabelecidas entre as moscas-das-frutas e as espécies de

    plantas hospedeiras e entre os parasitoides de moscas e as plantas hospedeiras foram

    marcadas pela heterogeneidade no número de interações, sendo que um pequeno

    número de espécies de moscas estabeleceu relações com um grande número de

    espécies vegetais, enquanto que a maioria delas estabeleceu interações com apenas

    uma espécie vegetal e vice-versa, apresentando as mesmas propriedades de uma rede

    de interação aninhada. A interação potencial entre moscas-das-frutas e parasitoides

    também possuem os padrões de aninhamento. A paisagem natural modificada em

  • viii

    policultura apresentou semelhanças com outras comunidades de insetos frugívoros de

    regiões tropicais.

  • ix

    ABSTRACT

    The plant species found in a community, their structure and abundance are crucial

    elements that influence the dynamics and interactions of populations of herbivorous

    insects since they define the resource base and reflect the interaction with other

    populations of herbivores, predators and parasitoids. The studies related to fruit flies are

    concentrated on surveys of species, especially those considered pests, and address the

    population patterns. Many efforts to understand the patterns of communities of

    endophagous frugivorous insects and the use of host plants. The population density of

    tephritids and lonchaeids is closely connected to the abundance of host plants and their

    natural enemies. The parasitoids of fruit flies are hymenopteran parasitoids that attack and

    feed on the larvae inside the fruit. The acknowledgment of interaction patterns of fruit flies

    with host plants, especially the native species, and relationships with their natural enemies

    are important for understanding the use of available resources in a community and for

    recognizing the diet differences between species or populations of the same species. The

    purpose of this work was to study the structure of the community of fruit flies and their

    parasitoids in different plant species of an organic polyculture between forest fragments

    located in Paraibuna – SP. The use of host plants was different among species of fruit

    flies. Although polyculture causes changes in vegetation type, it was observed that the

    structure of the fruit flies has features found in insect communities in tropical forests,

    where most species of frugivorous insects are specialists in plant family community. The

    use of host plants that sheltered the larvae of fruit flies was different among species of

    parasitoids. The fruit was the factor that most influenced the parasitism of the larvae of fruit

    flies. The Myrtaceae species are reservoirs to the parasitoid species of braconids. The

    interactions established between the fruit flies and species of host plants and between

    parasitoids and host plants that sheltered larvae of fruit flies were marked by heterogeneity

    in the number of interactions, where a small number of species of flies established

    relations with a large number of plant species, while most of these interactions established

    with only one plant species, and vice versa, with the same properties of a nested

    interaction network. The potential interaction between fruit flies and parasitoids also have

    patterns of nesting. The modified natural environment in polyculture showed similarities

    with other communities of frugivorous insects in tropical regions.

  • x

  • xi

    SUMÁRIO

    RESUMO ..................................................................................................................... vii

    ABSTRACT ................................................................................................................. ix

    Introdução Geral ........................................................................................................... 1

    Referências bibliográficas ............................................................................................. 7

    CAPÍTULO 1 - Estrutura da comunidade de moscas-das-frutas em uma policultura no

    município de Paraibuna – SP ...................................................................................... 13

    Resumo ...................................................................................................................... 14

    Abstract ...................................................................................................................... 15

    Introdução ................................................................................................................... 16

    Material e Métodos ..................................................................................................... 20

    Área de estudo ........................................................................................................ 20

    Amostragem dos frutos ........................................................................................... 23

    Identificação e composição das espécies na comunidade de moscas-das-frutas .... 24

    Análise estatística e cálculo dos índices ecológicos ................................................ 24

    Resultados .................................................................................................................. 28

    Discussão ................................................................................................................... 39

    Referências Bibliográficas .......................................................................................... 43

    CAPÍTULO 2 - Diversidade de parasitoides (Hymenoptera) de moscas-das-frutas (Diptera:

    Tephritidae e Lonchaeidae) em plantas hospedeiras em policultura em região de Mata

    Atlântica ....................................................................................................................... 51

    Resumo ...................................................................................................................... 52

    Abstract ...................................................................................................................... 53

    Introdução ................................................................................................................... 54

    Material e Métodos ..................................................................................................... 58

    Áreas de Estudo ...................................................................................................... 58

    Amostragem dos frutos ........................................................................................... 59

    Coleta e identificação e estudo dos parasitoides ..................................................... 60

    Resultados .................................................................................................................. 62

  • xii

    Discussão ................................................................................................................... 69

    Referências bibliográficas ........................................................................................... 73

    CAPÍTULO 3 - Estrutura das redes de interações entre plantas hospedeiras, moscas-das-

    frutas (Diptera: Lonchaeidae e Tephritidae) e parasitoides em policultura orgânica no

    município de Paraibuna – SP ...................................................................................... 81

    Resumo ...................................................................................................................... 82

    Abstract ...................................................................................................................... 83

    Introdução ................................................................................................................... 84

    Material e Métodos ..................................................................................................... 87

    Áreas de Estudo ...................................................................................................... 87

    Amostragem dos frutos ........................................................................................... 88

    Manutenção dos frutos em laboratório .................................................................... 89

    Identificação e composição das espécies na comunidade de moscas-das-frutas e

    parasitoides ............................................................................................................. 89

    Descrição das redes de interações ......................................................................... 90

    Resultados .................................................................................................................. 92

    Discussão ................................................................................................................. 102

    Referências bibliográficas ......................................................................................... 105

    Síntese geral ............................................................................................................ 113

  • xiii

    DEDICATÓRIA

    Ao Prof. Dr. Angelo Pires do Prado (in memoriam)

    Era leal, sensato, objetivo, ético, generoso; abria

    frentes de pesquisa para que outros continuassem,

    sem nada exigir em troca.

    Nelson Papavero

  • xiv

  • xv

    AGRADECIMENTOS

    Quantas são as tuas obras Senhor! Fizeste todas elas com sabedoria! A terra está

    cheia dos seres que criaste. Cantarei ao Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores ao

    meu Deus durante a minha vida. Seja-lhe agradável a minha meditação; eu me agradarei

    no Senhor (Salmo 104: 24, 33 e 34).

    Agradeço ao meu orientador Dr. João Vasconcellos Neto por sua amizade, por sua

    confiança e profissionalismo. Com a irreparável ausência do professor Angelo, ele abriu

    as portas do seu laboratório em um momento difícil na execução do meu trabalho.

    Agradeço também ao meu co-orientador Dr. Miguel Francisco Filho pelas

    inestimáveis contribuições nesse trabalho, especialmente no auxílio na identificação dos

    espécimes de Anastrepha e pelas discussões sobre os dados obtidos nesse trabalho.

    Ao Dr. Valmir Costa por sua amizade, ética, generosidade e pela colaboração na

    identificação dos parasitoides.

    À Universidade Estadual de Campinas e, especialmente, ao programa de Pós-

    graduação em Biologia Animal.

    À CAPES pela bolsa concedida durante o período de trabalho.

    Ao Douglas Bello por permitir a coleta dos frutos no Sítio do Bello. Agradeço por

    sua parceria ao longo dos anos. Foi um período de grande aprendizado que levarei para o

    resto da minha vida profissional. Torço pela continuidade do seu projeto e por seu

    empreendedorismo diferencial.

    Ao Helton Muniz por abrir as portas de sua propriedade (Sítio Frutas Raras) para a

    coleta de frutos da sua coleção de fruteiras. Obrigado por compartilhar um pouco do seu

    conhecimento. Espero que esse trabalho nos dê bons frutos e que possamos compartilhar

    muitas experiências.

  • xvi

    À Dona Tacilda por me auxiliar na triagem dos frutos, na coleta das mosquinhas,

    por sua simpatia e ânimo. Foi muito bom e gratificante contar com a senhora no período

    em que trabalhamos juntos.

    Aos professores que contribuíram significativamente na minha formação

    profissional: Arício Xavier Linhares, Patrícia J. Thyssen, Marlene T. Ueta. Em especial à

    Silmara Allegretti que esteve ao meu lado sempre que precisei de sua ajuda, de um apoio

    ou de um abraço.

    À colaboração dos professores Thomas Lewinsohn, Gustavo Romero.

    Ao Thiago Toyoyo, Mathias M. Pires e ao Setastian Sendoya pelo auxílio na

    análise dos dados.

    Aos professores que aceitaram o meu convite para comporem a pré-banca, banca

    e suplência dessa tese.

    Aos amigos e colegas de laboratório pela companhia e apoio: Maicon Grella,

    German Bonilla, Marisol Rios, Suzana Diniz, Thiago Marinho e Fernanda Fonseca.

    Por último, mas não menos importante, agradeço com todo meu carinho a minha

    família que tem aguentado minhas largas ausências na busca de meus sonhos e que tem

    acreditado em mim nesses anos: a minha amada esposa Susy Raquel de Miranda

    Guimarães, a minha mãe Dirce Ferreira Pinto, ao meu irmão Wagner Ferreira Freitas e

    sua esposa Janaina Borges Freitas e ao povo (tios e primos) do Paraná. Obrigado pela

    paciência, pelo amor e incentivo.

  • 1

    Introdução Geral

    A floresta ombrófila densa ou Mata Atlântica de encosta originalmente recobria a

    região costeira do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, avançando para o interior

    em alguns trechos. Com formação vegetação dominada por árvores de médio e grande

    porte, seu solo é rico em matéria orgânica e geralmente argiloso. Apesar do elevado nível

    de fragmentação e perturbações que a mata está sujeita, sua amplitude geográfica e

    climática resulta numa enorme diversidade de ecossistemas muito complexos (Scudeller

    et al. 2001; Joly et al. 2012). A manutenção e conservação de alguns remanescentes

    localizados nessas regiões devem-se principalmente ao relevo acidentado em que ocorre,

    garantindo a riqueza e diversidade da vegetação. Segundo Myers et al. (2000), cerca de

    8000 espécies vegetais encontradas nessa formação florestal são endêmicas. A Serra do

    Mar no litoral paulista representa um dos últimos fragmentos de floresta contínua do

    estado de São Paulo, sendo um importante corredor biológico que contém alta

    diversidade de espécies (Scudeller et al. 2001; Joly et al. 2012).

    A vegetação do estado de São Paulo é muito diversificada devido ao tipo de clima,

    relevo, solo e ocupação. Em alguns aspectos pode-se dizer que se trata de uma área de

    transição, apresentando uma vegetação com flora do sul e do norte do Brasil. (Wanderley

    et al. 2011). A Mata Atlântica e o Cerrado compõem as formações vegetais paulistas.

    Esses dois biomas foram intensamente devastados e recentemente foram incluídas entre

    os “hotspots” de biodiversidade, consideradas áreas prioritárias de conservação (Myers et

    al. 2000).

    Mais de 7.000 espécies de espermatófitas distribuídas em cerca de 150 famílias já

    foram identificadas e catalogadas no estado, perfazendo 23% da diversidade do Brasil e

    47% da diversidade do sudeste do país (Wanderley et al. 2011, Lima et al. 2012).

  • 2

    Mesmo reduzido e muito fragmentado, o bioma Mata Atlântica ainda é um dos

    mais ricos do mundo em diversidade de plantas e animais. Várias espécies endêmicas

    são frutíferas conhecidas, como é o caso da goiaba (Psidium guajava L.), espécies de

    araçás (Psidium spp.), da pitanga (Eugenia uniflora L.) e outras menos conhecidas como

    grumixama (Eugenia brasiliensis Lam.), cabeludinha (Myrciaria glazioviana (Kiaersk)),

    cereja-silvestre (Eugenia involucrata DC), feijoa (Acca sellowiana (Berg.) Burret.),

    gabiroba (Campomanesia rhombea Berg.) e uvaia (Eugenia uvalha Camb.). (Wanderley et

    al. 2011, Lima et al. 2012). Os frutos nativos são reservatórios naturais de inúmeras

    espécies de insetos, dentre eles as moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae e

    Lonchaeidae) (Souza-Filho et al. 2000).

    Em uma comunidade onde as espécies estão muito entrelaçadas em uma rede

    complexa de interdependência, o desaparecimento de uma planta ou animal compromete

    a manutenção local de várias outras espécies (Myers et al. 2000).

    Entre os aspectos dinâmicos da comunidade, os períodos de frutificação têm

    grande importância porque determinam a disponibilidade de recursos. Para insetos

    frugívoros, dentre eles as moscas-das-frutas, ambientes como a Mata Atlântica possuem

    abundância de recursos. Estes apresentam grandes variações espaciais e temporais em

    suas disponibilidades, que afetam diretamente as moscas-das-frutas, o que resulta em

    complexas associações entre insetos e plantas (Novotny et al. 2005, Novotny et al. 2010).

    As moscas-das-frutas obrigatoriamente passam a fase larval no fruto, alimentando-

    se da polpa e suas distribuições estão intimamente ligadas à ocorrência de suas plantas

    hospedeiras. As espécies nativas dos gêneros Anastrepha Schiner e Neosilba McAlpine

    adaptaram-se a seus hospedeiros como resultado de processos co-evolutivos e

    apresentam diferentes graus de especialização (Souza-Filho 2006). A utilização de

    plantas por parte desses insetos é singular, uma vez que cada espécie de hospedeiro

    possui composições químicas peculiares (Selivon 2000, Souza-Filho 2006).

  • 3

    De maneira geral os insetos necessitam desenvolver mecanismos fisiológicos e

    comportamentais para serem capazes de explorar os recursos disponíveis no ambiente e

    serem capazes de metabolizar, desintoxicar-se ou tolerar compostos químicos

    possivelmente deletérios (Selivon 2000, Duick et al. 2004).

    Muitas vezes é difícil correlacionar as espécies de moscas-das-frutas a suas

    plantas hospedeiras primárias, uma vez que grande parte dos trabalhos realizados se

    referem a hospedeiros não nativos utilizados na fruticultura. Um grande esforço tem sido

    realizado por pesquisadores brasileiros para ampliar as informações sobre as plantas

    hospedeiras nativas desses insetos (Malavasi & Zucchi 2000, Uchôa-Fernandes et al.

    2002, Uchôa-Fernandes & Nicácio 2010, Raga et al. 2011, Silva et al. 2011). Além disso,

    um considerável número de registros são provavelmente incidentais ou baseados em

    identificações equivocadas (Selivon 2000).

    A distribuição de uma espécie de mosca-da-fruta pode estar relacionada a fatores

    como a distribuição das espécies de plantas hospedeiras numa determinada localidade.

    Essas variações na disponibilidade de hospedeiros poderiam ser responsáveis por

    diferenças na dieta entre as espécies e até mesmo entre populações (Selivon 2000, Raga

    et al. 2011). Entretanto, a dinâmica populacional se modifica de uma região para outra.

    Uma espécie de mosca frequentemente relacionada a um fruto em uma região pode ser

    pouco abundante ou nem estar presente em outra localidade. Anastrepha striata (Schiner)

    é a espécie mais abundante e polífaga na região Norte do Brasil, com acentuada

    preferência por Myrtaceae, sobretudo goiaba (P. guajava). Já nas regiões litorâneas do

    nordeste até a região sul do país P. guajava é infestada por Anastrepha fraterculus

    (Wied.) (Selivon 2000).

    A manutenção e o manejo correto das espécies vegetais nativas, que servem

    como reservatórios naturais das moscas-das-frutas, são fundamentais para evitar o

    deslocamento de suas populações para pomares comerciais (Gloria de Deus et al. 2011).

  • 4

    As espécies de moscas generalistas apresentam distribuição mais ampla que

    espécies especialistas. Muitas vezes um fruto infestado por uma espécie de mosca em

    uma determinada região pode não ser atacado em outra ou pode ser competitivamente

    excluída por outra espécie (Novotny et al. 2005).

    As espécies de plantas introduzidas também influenciam na dispersão das

    espécies de moscas-das-frutas. Ceratitis capitata (Wied.) e A. fraterculus parecem se

    adaptar a uma grande variedade de frutos introduzidos, ampliando sua distribuição

    geográfica natural (Souza-Filho et al. 2000, Souza-Filho et al. 2009, Raga et al. 2011).

    Há relativamente poucos trabalhos que relatam a interação das moscas-das-frutas

    com frutos nativos, sendo que a maioria das publicações relatam dados de plantas de

    interesse comercial, até por conta dos danos causados nesses frutos (Raga et al. 2011).

    Anastrepha é o maior e o mais economicamente importante gênero de Tephritidae

    das Américas (Norrbom et al. 2000, Uchôa-Fernandes et al. 2002, Raga et al. 2011). De

    235 espécies de Anastrepha descritas, cerca de metade são reportadas no Brasil, sendo

    que para a maioria dessas moscas não são conhecidas suas plantas hospedeiras nativas.

    Há relatos da associação entre moscas-das-frutas com 29 famílias de plantas diferentes.

    De 41 espécies de Anastrepha associadas com plantas, grande parte pertence à família

    Myrtaceae e Sapotaceae (Raga et al. 2011, Souza-Filho et al. 2000). A. fraterculus, A.

    ludens (Loew) e A. suspensa (Loew) são exemplos de espécies generalistas ou polífagas,

    assim designadas por atacarem frutos de diversas espécies e famílias de plantas com

    ampla distribuição e frequência (Selivon 2000, Uramoto et al. 2004).

    As espécies de moscas-das-frutas do gênero Neosilba são principalmente

    encontradas na região Neotropical e têm sido associadas a frutos de diversas famílias de

    plantas (McAlpine & Steyskal 1982, Uchôa-Fernandes & Nicácio 2010). Atualmente, cerca

    de 30 espécies de Lonchaeidae foram descritas; dessas, 25 são reportadas no Brasil

  • 5

    (McAlpine & Steyskal 1982, Strikis & Prado 2005, Strikis & Prado 2006, Strikis & Lerena

    2009, Strikis & Prado 2009).

    Exemplares de Lonchaeidae têm sido comumente recuperados a partir de

    amostras de frutas ou de armadilhas McPhail, mas em alguns casos, sem associação

    com a infestação de tefritídeos anterior (Uchôa-Fernandes & Nicácio 2010). Araújo (2002)

    observou que em pomares de acerola no Estado do Rio Grande do Norte, onde não

    encontrou exemplares de tefritídeos, os danos causados por Neosilba foram grandes, o

    que o levou a considerar espécies desse gênero como praga primária.

    É importante enfatizar a possibilidade dos padrões comportamentais serem

    diferentes ou divergirem, dependendo da disponibilidade dos recursos explorados pela

    espécie. Na escassez ou na falta de alguns recursos os lonqueídeos ovipõem nos frutos

    que encontram. Nesse caso podem apresentar comportamento diverso, procurando

    puncturas já feitas por tefritídeos, tornando-se, assim, verdadeiros oportunistas (Cardoso

    1991, Oliveira 1992).

    O gênero Ceratitis MacLeay é composto por aproximadamente 65 espécies,

    encontradas principalmente na África. Ceratitis capitata, também conhecida como mosca-

    do-Mediterrâneo, foi introduzida em diversas áreas do globo, de áreas temperadas a

    áreas tropicais. Essa espécie é considerada a mais prejudicial quando comparada com

    outras espécies de moscas-das-frutas. Há relatos de sua associação com mais de 350

    espécies de fruteiras ao redor do mundo; dessas, 59 apenas no Brasil. O sucesso

    biológico da espécie apoia-se em várias características adaptativas morfológicas,

    biológicas e comportamentais, envolvidas nos estágios do seu ciclo de vida (Meyer et al.

    2008).

    A densidade populacional das moscas-das-frutas está intimamente ligada a seus

    inimigos naturais, sendo os parasitoides seus principais inimigos. Os parasitoides das

  • 6

    moscas-das-frutas são micro-himenópteros (Hymenoptera) que se alimentam das larvas

    dentro dos frutos. No caso dos tefritídeos, a quantidade de informação disponível sobre

    suas associações com parasitoides é muito grande quando comparada ao que existe

    sobre as associações entre lonqueídeos e seus parasitoides (López et al., 1999; Vargas

    et al., 2002; Uchôa-Fernandes et al., 2003; Guimarães & Zucchi, 2004).

    O objetivo deste trabalho foi estudar a estrutura da comunidade de moscas-das-

    frutas e seus parasitoides em diferentes espécies de plantas em uma policultura orgânica

    entre fragmentos de Mata Atlântica localizada no município de Paraibuna – SP. Para a

    melhor compreensão dessa comunidade esse trabalho foi organizado em três capítulos e

    teve como principais objetivos:

    Capítulo 1: Descrever a estrutura da comunidade de moscas-das-frutas em uma

    policultura no município de Paraibuna, litoral norte do estado de São Paulo.

    Capítulo 2: Estudo dos parasitoides (Hymenoptera) associados às moscas-das-

    frutas (Diptera: Tephritidae e Lonchaeidae) em suas respectivas plantas hospedeiras.

    Capítulo 3: Analisar as redes ecológicas, determinando as espécies de plantas

    hospedeiras utilizadas pelas moscas-das-frutas e suas associações com os parasitoides.

  • 7

    Referências bibliográficas

    ARAÚJO, E.L. 2002. Dípteros frugívoros (Tephritidae e Lonchaeidae) na região de

    Mossoró/Assu, estado do Rio Grande do Norte. Tese de Doutorado em

    Entomologia. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São

    Paulo, Piracicaba – SP.

    CARDOSO, A.M.P. 1991. Moscas-das-frutas: Interações ecológicas, utilização de

    recursos e competição. Tese de Doutorado em Ecologia. Instituto de Biologia,

    Universidade de Estadual de Campinas, Campinas – SP.

    DUYCK, P.F.; DAVID, P.; QUILICI, S. 2004. A review of relationships between

    interspecific competition and invasions in fruit flies (Diptera: Tephritidae). Ecological

    Entomology. 29: 511-520.

    GLORIA DE DEUS, E.; SILVA, R.A.; RONCHI-TELES, B.; ZUCCHI, R.A. 2011.

    Conhecimento sobre as moscas-das-frutas no estado do Amazonas. In: SILVA, A.S.,

    LEMOS, W. P., ZUCCHI, R.A. (Ed.). Moscas-das-frutas na Amazônia Brasileira

    (diversidade, hospedeiros e inimigos naturais). Macapá: Embrapa – Amapá. p.

    238-245.

    GUIMARÃES, J.A. & ZUCCHI, R.A. 2004. Parasitism behavior of three species of

    Eucoilinae (Hymenoptera: Cynipoidea: Figitidae) fruit fly parasitoids (Diptera) in Brazil.

    Neotropical Entomology. 33(2): 217-224.

  • 8

    JOLY, C.A.; ASSIS, M.A.; BERNACCI, L.C.; TAMASHIRO, J.Y; CAMPOS, M.C.R.;

    GOMES, J.A.M.A.; LACERDA, M.S.; SANTOS, F.A.M.; PEDRONI, F.; PEREIRA, L.S.;

    PADGURSCHI, M.C.G.; PRATA, E.M.B.; RAMOS, E.; TORRES, R.B.; ROCHELLE,

    A.; MARTINS, F.R; ALVES, L.F.; VIEIRA, S.A.; MARTINELLI, L.A.; CAMARGO, P.B.;

    AIDAR, M.P.M.; EISENLOHR, P.V.; SIMÕES, E.; VILLANI, J.P.; BELINELLO, R.

    2012. Florística e fitossociologia em parcelas permanentes da Mata Atlântica do

    sudeste do Brasil ao longo de um gradiente altitudinal. Biota Neotropica. 12(1): 123-

    145.

    LIMA, R.A.F.; SOUZA, V.C.; DITTRICH, V.A.O.; SALINO, A. 2012. Composition, diversity

    and geographical distribution of vascular plants of an Atlantic Rain Forest,

    Southeastern Brazil. Biota Neotropica. 12(1): 241-249.

    LÓPEZ, M.; ALUJA, M.; SIVINSKI, J. 1999. Hymenopterous larval-pupal and parasitoids of

    Anastrepha flies (Diptera: Tephritidae) in Mexico. Biological Control. 15: 119-129.

    McALPINE, J. F. & STEYSKAL, G.C. 1982. A revision of Neosilba McAlpine with a key to

    the world genera of Lonchaeidae (Diptera). The Canadian Entomologist. 114(2):

    105-138.

    MALAVASI, A. & ZUCCHI, R.A. 2000. Moscas-das-frutas de importância econômica

    no Brasil (conhecimento básico e aplicado). Ribeirão Preto: FAPESP – Holos. 327

    p.

  • 9

    MEYER, M.; ROBERTSON, M.P.; PETERSON, A.T.; MANSELL, M.W. 2008. Ecological

    niches and potential geographical distributions of Mediterranean fruit fly (Ceratitis

    capitata) and Natal fruit fly (Ceratitis rosa). Journal of Biogeography. 35(2): 270-281.

    MYERS, N.; MITTERMEIER, R.A.; MITTERMEIER, C.G.; FONSECA, G.A.B.; KENT, J.

    2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature. 403: 853-858.

    NORRBOM, A.L.; ZUCCHI, R.A.; HERNÁNDEZ-ORTIZ, V. 2000. Phylogeny of the genera

    Anastrepha and Toxotrypana (Trypetinae: Toxotrypanini) based on morphology. In:

    ALUJA, M. & NORRBOM A.L. (Ed.). Fruit flies (Tephritidae): Phylogeny and

    evolution of behavior., Washington, D.C.: CRC Press. p. 299-342.

    NOVOTNY, V.; MILLER, S.E.; BAJE, L.; BALAGAWI, S.; BASSET, Y.; CIZEK, L.; CRAFT,

    K.J.; DEM, F.; DREW, R.A.I.; HULCR, J.; LEPS, J.; LEWIS, O.T.; POKON, R.;

    STEWART, A.J.A.; SAMUELSON, G.A.; WEIBLEN, G.D. 2010. Guild-specific patterns

    of species richness and host specialization in plant–herbivore food webs froma

    tropical forest. Journal of Animal Ecology. 79: 1193-1203.

    NOVOTNY, V.; CLARKE, A.R.; DREW, R.A.I.; BALAGAWI, S.; CLIFFORD, B. 2005. Host

    specialization and species richness of fruit flies (Diptera: Tephritidae) in a New Guinea

    rain forest. Journal of Tropical Ecology. 21(1): 67-77.

    OLIVEIRA, A.S. 1992. Diferenciação morfométrica e evolução de espécies de

    Neosilba (Diptera: Lonchaeidae). Dissertação de Mestrado em Ciências Biológicas.

    Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas – SP.

  • 10

    RAGA, A.; SOUZA-FILHO, M.F.; MACHADO, R.A.; SATO, M.E.; SILOTO, R.C. 2011. Host

    Ranges and Infestation Indices of Fruit Flies (Tephritidae) and Lance Flies

    (Lonchaeidae) in São Paulo State, Brazil. Florida Entomologist. 94(4): 787-794.

    SCUDELLER, V.V.; MARTINS, F.R.; SHEPHERD, G.J. 2001. Distribution and abundance

    of arboreal species in the atlantic ombrophilous dense forest in Southeastern Brazil.

    Plant Ecology. 152: 185-199.

    SELIVON, D. 2000. Relações com as plantas hospedeiras. In: MALAVASI, A. & ZUCCHI,

    R.A. (Ed.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil

    (conhecimento básico e aplicado). Ribeirão Preto: FAPESP – Holos. p. 87-91.

    SILVA, A.S.; LEMOS, W.P.; ZUCCHI, R.A. 2011. Moscas-das-frutas na Amazônia

    Brasileira (diversidade, hospedeiros e inimigos naturais). Macapá: Embrapa –

    Amapá. 299 p.

    SOUZA-FILHO, M.F. 2006. Infestação de moscas-das-frutas (Diptera: Tephritidae e

    Lonchaeidae) relacionada à fenologia da goiabeira (Psidium guajava L.),

    nespereira (Eriobotrya japonica Lindl.) e do pessegueiro (Prunus persica

    Batsch). Tese de Doutorado em Ciências: Entomologia. Universidade Estadual de

    São Paulo, Piracicaba – SP.

    SOUZA-FILHO, M.F.; RAGA, A.; AZEVEDO FILHO, J.A.; STRIKIS, P.C.; GUIMARÃES,

    J.A.; ZUCCHI, R.A. 2009. Diversity and seasonality of fruit flies (Diptera: Tephritidae

    and Lonchaeidae) and their parasitoids (Hymenoptera: Braconidae and Figitidae) in

    orchards of guava, loquat and peach. Brazilian Journal of Biology. 69: 31-40.

  • 11

    SOUZA-FILHO, M.F.; RAGA, A.; ZUCCHI, R.A. 2000. São Paulo. In: MALAVASI, A. &

    ZUCCHI, R.A. (Ed.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil

    (conhecimento básico e aplicado). Ribeirão Preto: FAPESP – Holos. p. 277-283.

    STRIKIS, P.C. & PRADO, A.P. 2005. A new species of genus Neosilba (Diptera:

    Lonchaeidae). Zootaxa. 828: 1-4.

    STRIKIS, P.C. & PRADO, A.P. 2006. Neosilba (Tephritoidea: Lonchaeidae) species

    reared from coffee in Brasil, with description of a new species. Proceedings of 7th

    Symposium on Fruit Flies of Economic Importance. p187-193.

    STRIKIS, P.C. & PRADO, A.P. 2009. Lonchaeidae associados a frutos de nêspera,

    Eryobotria japonica (Rosaceae), com descrição de uma espécie nova de Neosilba

    (Diptera: Tephritoidea). Arquivos do Instituto Biológico. 76(1): 49-54.

    STRIKIS, P.C. & LERENA, M.L.M. 2009. A new species of Neosilba (Diptera:

    Lonchaeidae) from Brasil. Iheringia. 99(3): 273-275.

    UCHÔA-FERNANDES, M.A.; OLIVEIRA, I.; MOLINA, R.M.S.; ZUCCHI, R.A. 2002.

    Species diversity of frugivorous flies (Diptera: Tephritoidea) from hosts in the Cerrado

    of the state of MatoGrosso do Sul, Brazil. Neotropical Entomology. 31: 515–524.

    UCHÔA-FERNANDES, M.A. & NICÁCIO, J. 2010. New records of Neotropical fruit flies

    (Tephritidae), lance flies (Lonchaeidae) (Diptera: Tephritoidea), and their host plants in

    the South Pantanal and adjacent areas, Brazil. Annals of the Entomological Society

    of America. 103: 723-733.

  • 12

    UCHÔA-FERNANDES, M.A.; MOLINA, R.M.S.; OLIVEIRA, I.; ZUCCHI, R.A.; CANAL,

    N.A.; DÍAS, N.B. 2003. Larval endoparasitoids (Hymenoptera) of frugivorous flies

    (Diptera, Tephritoidea) reared from of the cerrado of the State Mato Grosso do Sul,

    Brazil. Revista Brasileira de Entomologia. 47(2): 181-186.

    URAMOTO, K.; WALDER, J.M.M.; ZUCCHI, R.A. 2004. Biodiversidade de moscas-das-

    frutas do gênero Anastrepha (Diptera, Tephritidae) no campus da ESALQ-USP,

    Piracicaba, São Paulo. Revista Brasileira de Entomologia. 48(3): 409-411.

    VARGAS, R.I.; RAMADANB, M.; HUSSAINC, T.; MOCHIZUKIA, N.; BAUTISTA, R.C.;

    STARKD, J.D. 2002. Comparative demography of six fruit fly (Diptera: Tephritidae)

    parasitoids (Hymenoptera: Braconidae). Biological Control. 25: 30-40.

    WANDERLEY, M.G.L.; SHEPHERD, G.J.; MARTINS, S.E.; ESTRADA, T.E.M.D.;

    ROMANINI, R.P.; KOCH, I.; PIRANI, J.R.; MELHEM, T.S.; HARLEY, A.M.G.;

    KINOSHITA, L.S.; MAGENTA, M.A.G.; WAGNER, H.M.L.; BARROS, F.; LOHMANN,

    L.G.; AMARAL, M.C.E.; CORDEIRO, I.; ARAGAKI, S.; BIANCHINI, R.S.; ESTEVES,

    G.L. 2011. Checklist of Spermatophyta of the São Paulo State, Brazil. Biota

    Neotropica. 11(1): 193-390.

  • 13

    Capítulo 1

    Estrutura da comunidade de moscas-das-frutas em uma policultura no

    município de Paraibuna – SP

  • 14

    Resumo

    O estudo da estrutura de uma comunidade é muito importante para as análises

    das interações diretas e indiretas entre herbívoros e plantas. As espécies de plantas

    disponíveis em uma comunidade, sua estrutura e abundância são elementos cruciais que

    influenciam as dinâmicas e interações de populações de insetos herbívoros, uma vez que

    definem a base de recursos e refletem na interação com outras populações de insetos

    herbívoros, predadores e parasitoides. A compreensão dos padrões da comunidade das

    moscas-das-frutas é importante para a análise de suas relações ecológicas e também

    fonte de informação útil para o aprimoramento do controle daquelas espécies

    consideradas pragas agrícolas. Para entender a relação entre as espécies de moscas-

    das-frutas e suas plantas hospedeiras, esse trabalho teve como objetivos: 1) Determinar a

    estrutura da comunidade de moscas-das-frutas em diferentes hospedeiros 2) Analisar a

    riqueza de espécies, a abundância, a constância e dominância das moscas-das-frutas nas

    famílias de plantas hospedeiras e 3) Avaliar a diversidade e equabilidade das moscas-

    das-frutas em frutos de Myrtaceae, Rosaceae, Malpighiaceae, Oxalidaceae, Sapotaceae e

    Anacardiaceae. A diferença no período de frutificação das plantas hospedeiras permitiu

    que as espécies de moscas-das-frutas se mantivessem presentes ao longo dos anos. As

    espécies Anastrepha fraterculus (Wied.), Anastrepha obliqua (Mcquart), Neosilba

    zadolicha McAlpine & Steyskal e Neosilba certa (Walker) foram abundantes e utilizaram

    uma sequência de frutos de espécies de plantas hospedeiras ao longo do ano. As

    espécies A. fraterculus, Anastrepha sororcula Zucchi, Anastrepha bahiensis Lima, N.

    zadolicha e N. certa foram exemplos de espécies generalistas, pois atacaram frutos de

    diversas espécies e famílias de plantas com ampla distribuição e frequência. A riqueza de

    espécies de moscas-das-frutas dos gêneros Anastrepha Schiner e Neosilba McAlpine

    pode ser atribuída à diversidade de espécies de plantas cultivadas na área e sua

    proximidade com áreas de fragmentos de mata com muitas espécies de plantas

    hospedeiras primárias para espécies de moscas-das-frutas. Os frutos de Anacardiaceae e

    Sapotaceae favoreceram a maior diversidade de moscas-das-frutas. Em frutos de

    Myrtaceae foi encontrado um dos menores índices de diversidade, mesmo possuindo a

    maior riqueza e abundância de espécies de moscas. As famílias de plantas disponíveis na

    comunidade e suas abundâncias foram elementos cruciais para a composição das

    espécies de moscas-das-frutas no local, uma vez que definiram a base de recursos e

    refletiram a interação com outras populações de moscas. Essas variações na

  • 15

    disponibilidade de hospedeiros foram responsáveis por diferenças na dieta entre as

    espécies amostradas.

    Abstract

    The study of the structure of a community is very important to the analysis of direct

    and indirect interactions between herbivores and plants. The plant species found in a

    community, their structure and abundance are crucial elements that influence the

    dynamics and interactions of populations of herbivorous insects since they define the

    resource base and reflect the interaction with other populations of herbivores, predators

    and parasitoids. The comprehension of the pattern of a fruit-flies community is important

    for the analysis of their ecological relationships and is also a source of useful information

    for the improvement of the control of those species considered agricultural pests. In order

    to understand the relationship between the species of fruit flies and their host plants, this

    study aimed to: 1) determine the structure and composition of fruit flies in different hosts 2)

    analyze the richness of the species, the abundance, constancy and dominance of fruit flies

    in the families of host plants, and 3) evaluate the diversity and equability of fruit flies in fruit

    of Myrtaceae, Rosaceae, Malpighiaceae, Oxalidaceae, Sapotaceae and Anacardiaceae.

    The difference in the frutication periods of host plants enabled the species of fruit flies to

    maintain themselves alive over the years. The species Anastrepha fraterculus (Wied.),

    Anastrepha obliqua (Mcquart), Neosilba zadolicha McAlpine & Steyskal and Neosilba certa

    (Walker) were abundant and used a sequence of host plants throughout the year. The

    species A. fraterculus, Anastrepha sororcula Zucchi, Anastrepha bahiensis Lima, N.

    zadolicha and N. certa were generalist because they attacked fruits of various species and

    families of plants with wide distribution and frequency. The richness of the fruit flies

    species of the genera Anastrepha Schiner and Neosilba McAlpine can be attributed to the

    diversity of cultivated plant species in the area and proximity to areas of forest fragments

    with many species of primary host plants for fruit flies species. The fruits of Anacardiaceae

    and Sapotaceae have favored a larger diversity of fruit flies. In fruits of Myrtaceae the

    lowest levels of diversity has been found, even though they have the highest richness and

    abundance of species of flies. The families of plants available in the community and their

    abundances were crucial elements for the composition of fruit flies species at that place,

    since they have defined the resource base and have reflected interaction with other

  • 16

    populations of flies. These variations in the availability of hosts were responsible for

    differences in diet among the sampled species.

    Introdução

    O estudo da estrutura de uma comunidade é muito importante para as análises

    das interações diretas e indiretas entre herbívoros e plantas (Novotny et al. 2005). As

    espécies de plantas disponíveis em uma comunidade, sua estrutura e abundância são

    elementos cruciais que influenciam as dinâmicas e interações de populações de insetos

    herbívoros, uma vez que definem a base de recursos e refletem na interação com outras

    populações de insetos herbívoros, predadores e parasitoides (Novotny & Basset 2005).

    Algumas espécies de herbívoros possuem a capacidade de utilizar grande

    diversidade de hospedeiros alternativos; entretanto, outras espécies apresentam algum

    grau de preferência (Foss & Rieske 2003, Novotny et al. 2002, Novotny & Basset 2005,

    Schoonhoven et al. 2005). As espécies de moscas-das-frutas, por exemplo, parecem se

    adaptar a uma grande variedade de frutos nativos e introduzidos. Apesar de possuir a

    capacidade fisiológica de utilizar hospedeiros alternativos, apresentam algum grau de

    preferência (Selivon 2000, Souza-Filho et al. 2000). Espécies consideradas generalistas

    ao longo de sua distribuição podem ser localmente especialistas, devido à disponibilidade

    e distribuição de espécies hospedeiras, e também em razão da presença de inimigos

    naturais, de predadores e da competição interespecífica (Selivon 2000, Uramoto et al.

    2004).

    A variedade de plantas da comunidade influencia as características ecológicas dos

    herbívoros, uma vez que define sua fonte de recursos. Ao mesmo tempo essas plantas

    apresentam um registro do passado das interações evolutivas entre herbívoros e

  • 17

    linhagem de plantas, fornecendo assim, indícios sobre o papel dos processos históricos

    na formação das comunidades ecológicas atuais (Novotny et al. 2002). Em consequência,

    o uso de plantas hospedeiras é evolutivamente variável, sendo limitado por fatores

    morfológicos, fisiológicos e ecológicos (Janz et al. 2001, Schoonhoven et al. 2005).

    Sobre a especificidade de insetos herbívoros em comunidade de florestas

    tropicais, Novotny & Basset (2005) concluiram que apenas uma pequena proporção das

    espécies de herbívoros (27%) se alimentava de uma única espécie de planta quando

    hospedeiros congêneres alternativos estavam disponíveis. Em contrapartida, a proporção

    de insetos que se alimentam de plantas de um mesmo gênero (48%) ou de uma mesma

    família (58%) é mais elevada e não difere estatisticamente um do outro.

    A utilização de espécies de plantas hospedeiras por insetos herbívoros tende a

    coincidir entre aquelas de mesmo gênero e não entre espécies de família ou táxon

    superior. Quando observados apenas os insetos frugívoros, mais de três quartos do

    número de espécies de herbívoros são especialistas em família de plantas. Esse mesmo

    padrão se repete nos hospedeiros de mesmo gênero (Novotny & Basset 2005).

    A especialização pode ser favorecida em três situações: (1) quando ocorre um

    “trade-off” no qual os indivíduos utilizam uma espécie mais eficientemente do que várias

    (Futuyma 1983); (2) o esforço na procura de espécies específicas de plantas permite o

    processamento mais preciso das informações no ambiente e, portanto, maior eficiência e

    menor tempo de decisão de escolha (Bernays 2001); ou (3) quando a pressão dos

    inimigos naturais difere entre as espécies de hospedeiros e os indivíduos que utilizam as

    plantas onde obtêm maior escape de inimigos naturais são selecionados (Bernays 1989).

    A vantagem ecológica da especialização parece ser a de que ela permite ao inseto

    adaptar-se mais estreitamente ao seu meio do que um inseto que utiliza uma ampla

    variedade de plantas hospedeiras.

  • 18

    As informações das relações entre inseto em fases larvais endófagas em plantas

    hospedeiras são particularmente pouco conhecidas quando comparado com aquelas

    espécies que se alimentam das partes externas das plantas, provavelmente porque as

    amostragens e a criação desses insetos são extremamente trabalhosas e a infestação

    não pode ser facilmente reconhecida (Novotny et al. 2005, Janzen 1980, Tavakilian et al.

    1997).

    Os estudos relacionados às moscas-das-frutas concentram-se em levantamentos

    de espécies, em especial aquelas consideradas pragas, e abordam padrões

    populacionais. São necessários muitos esforços para a compreensão dos padrões das

    comunidades dos insetos frugívoros endófagos e o uso de plantas hospedeiras (Drew

    1987, Drew & Hooper 1983, Drew et al. 1984, Novotny et al. 2005, Raghu et al. 2000). Há

    uma grande carência de dados em sistemas naturais que relatam a interação das

    moscas-das-frutas com frutos nativos.

    As moscas-das-frutas do gênero Anastrepha Schiner e Neosilba McAlpine são

    endêmicas nas Américas. De 235 espécies de Anastrepha descritas, cerca de metade são

    reportadas no Brasil (Raga et al. 2011). Cerca de 30 espécies de Neosilba foram descritas

    e, dessas, 25 são reportadas no Brasil (McAlpine & Steyskal 1982, Strikis & Prado 2005,

    Strikis & Prado 2006, Strikis & Lerena 2009, Strikis & Prado 2009).

    Para o estudo da diversidade de uma comunidade devem ser incluídos os

    componentes da riqueza de espécies, da concentração de dominância nas espécies mais

    abundantes e da equabilidade geral da distribuição da abundância (Whittaker 1972).

    Diferentes índices de diversidade alfa têm sido propostos, cada qual enfatizando

    um componente diferente da diversidade (Whittaker 1972, Magurran 2004, Ricotta 2005).

    No entanto, não há um consenso sobre qual índice apresentaria o melhor significado

    ecológico e as propriedades matemáticas mais desejáveis. Apesar disso, os índices de

    diversidade são considerados bons indicadores de sistemas ecológicos e exercem um

  • 19

    papel central na ecologia e na biologia da conservação, pois podem subsidiar tomadas de

    decisões sobre prioridades de conservação e técnicas de manejo de áreas naturais

    (Magurran 2004, Ricotta 2005).

    O presente trabalho centra-se no estudo da comunidade de moscas-das-frutas

    (Diptera: Tephritidae e Lonchaeidae) em uma região de Mata Atlântica fragmentada com

    uma guilda pouco conhecida de insetos frugívoros endófagos. A compreensão dos

    padrões da comunidade das moscas-das-frutas é importante para a análise de suas

    relações ecológicas e também fonte de informação útil para o aprimoramento do controle

    daquelas espécies consideradas pragas agrícolas.

    Para entender a relação entre as espécies de moscas-das-frutas e suas plantas

    hospedeiras, esse trabalho teve como objetivos:

    Analisar a riqueza de espécies, a abundância, a constância e dominância das

    moscas-das-frutas nas famílias de plantas hospedeiras;

    Avaliar a diversidade e equabilidade das moscas-das-frutas em frutos de

    Myrtaceae, Rosaceae, Malpighiaceae, Oxalidaceae, Sapotaceae e Anacardiaceae;

    Determinar a estrutura e composição da comunidade de moscas-das-frutas em

    seis famílias de plantas.

  • 20

    Material e Métodos

    Área de estudo

    A área de estudo se localiza no município de Paraibuna – SP (23027’53”S;

    45042’36”W) em uma propriedade particular com altitude aproximada de 736m. Na área

    são cultivadas espécies de fruteiras nativas e algumas espécies exóticas da Mata

    Atlântica em um sistema de policultura sem a utilização de agrotóxicos no controle de

    pragas e sem a utilização de adubo químico. O sítio conta com fragmentos da vegetação

    nativa em sua área e no entorno do local de estudo. A vegetação original da região pode

    ser classificada, segundo o sistema de Veloso et al. (1991), como Floresta Ombrófila

    Densa Montana.

    Ao redor da propriedade há atividades agrícolas e pecuárias. São poucas as

    propriedades no entorno que ainda preservam a mata ciliar (zona ripária). A retirada

    desse tipo de vegetação, localizada às margens dos rios, é comum na região, pois desde

    a colonização essas áreas se mostram mais férteis e consequentemente mais produtivas.

    Os fragmentos normalmente estão localizados nos topos das montanhas.

    O clima na região que abrange o município de Paraibuna é classificado como

    “clima mesotérmico de inverno seco”, segundo o sistema de Köppen (1948), sendo que a

    temperatura média do mês mais quente não atinge 26ºC. Durante o período de 2010 à

    2012 o apresentou índice pluviométrico médio anual de 992,5mm. O mês de junho é o

    mês mais frio, com média de 15,5ºC. Os meses de agosto de 2010 e julho de 2011 foram

    os mais secos e os meses de janeiro e novembro os mais chuvosos, respectivamente. Os

    dados climáticos foram obtidos das bases de dados do CPTEC/INPE 2013 a partir da

    estação meteorológica localizada na cidade de Paraibuna (Figura 1).

  • 21

    Figura 1 – Precipitação e temperatura média no município de Paraibuna entre os anos

    2010 a 2012.

    Para estudar a comunidade de moscas-das-frutas foram analisadas 16 espécies

    de plantas distribuídas em seis famílias botânicas. As espécies de Myrtaceae foram mais

    abundantes sendo representadas por cinco gêneros: Acca (Berg.), Eugenia L., Psidium L.,

    Campomanesia (Ruiz & Pavón) e Myrciaria (Berg.) (Tabela1).

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    Ab

    r

    Mai

    Jun

    Jul

    Ago Se

    tO

    ut

    No

    vD

    ez

    Jan

    Fev

    Mar

    Ab

    r

    Mai

    Jun

    Jul

    Ago Se

    tO

    ut

    No

    vD

    ez

    Jan

    Fev

    Mar

    2010 2011 2012

    Paraibuna

    Prec

    Temp. Média (°C)

  • 22

    Tabela 1 – Espécies de plantas coletados em Paraibuna, 2010 – 2012.

    Local de coleta Família Espécie Nome comum

    Se Anacardiaceae Spondias purpurea L. Seriguela

    Cj Anacardiaceae Spondias dulcis Forst Cajá-manga

    Ac Malpighiaceae Malpighia emarginata DC Acerola

    Pi Myrtaceae Eugenia uniflora L. Pitanga

    Ga Myrtaceae Campomanesia rhombea Berg. Gabiroba

    Gr Myrtaceae Eugenia brasiliensis Lam. Grumixama

    Ce Myrtaceae Eugenia involucrata DC Cereja

    Cab Myrtaceae Myrciaria glazioviana (Kiaersk) Cabeludinha

    Go Myrtaceae Psidium guajava L. Goiaba

    Am Myrtaceae Psidium cattleianum Sabine Araçá-Amarelo

    Av Myrtaceae P. longipetiolatum D. Legrand Araçá-vermelho

    Fe Myrtaceae Acca sellowiana (Berg.) Burret Feijoa

    Car Oxalidaceae Averrhoa carambola L. Carambola

    Ne Rosaceae Eriobotrya japonica (Thunb.) Lind Nêspera

    Uv Myrtaceae Eugenia uvalha Camb. Uvaia

    Ab Sapotaceae Pouteria caimito (Ruiz & Pavon) Radlk Abiu

    Os pomares estavam distribuídos ao longo da propriedade próximos a pequenos

    fragmentos restaurados de Mata Atlântica. Os locais de coleta estão representados por

    cores diferentes para cada família de planta analisada (Figura 1).

    Figura 1 – Locais de coleta de frutos no município de Paraibuna – SP de acordo com a

    família das espécies de plantas.

  • 23

    Amostragem dos frutos

    As coletas dos frutos foram realizadas de acordo com a época de frutificação das

    espécies das plantas hospedeiras entre os meses de abril de 2010 a abril de 2012. Foram

    amostrados frutos maduros ou recém-caídos no chão.

    Foram auferidos aleatoriamente 90 frutos de cada espécie de planta hospedeira.

    Em espécies de plantas com abundância menor que 90 unidades foram coletados

    quantos exemplares posse possível.

    Os frutos amostrados em campo foram separados por espécie, acondicionados em

    caixas de isopor e levados ao Laboratório de Entomologia do Departamento de

    Parasitologia da Universidade Estadual de Campinas.

    Em laboratório os frutos foram individualizados e pesados em uma balança

    analítica. A pesagem inicial foi considerada como peso inicial do fruto (PI).

    Após a pesagem os frutos individualizados foram acondicionados em recipientes

    plásticos de 300 ml contendo areia esterilizada e cobertos com uma tela de organza para

    evitar a fuga das larvas de terceiro ínstar e dos adultos.

    Os recipientes foram numerados e etiquetados com as informações sobre o dia da

    coleta e peso inicial do fruto e acondicionados em temperatura ambiente para a

    emergência dos adultos.

    Esse tipo de amostragem é útil para investigar a relação existente entre as plantas,

    as espécies de tefritídeos e lonqueídeos.

  • 24

    Identificação e composição das espécies na comunidade de moscas-das-

    frutas

    Com o auxílio de um microscópio estereoscópico as moscas-das-frutas do gênero

    Neosilba foram dissecadas em uma lâmina para obtenção de suas medidas e para

    evidenciar as estruturas necessárias na identificação, segundo chaves propostas por

    McAlpine & Steyskal (1982), Strikis & Prado (2005), Strikis & Prado (2006), Strikis &

    Lerena (2009) e Strikis & Prado (2009). As fêmeas foram identificadas como Neosilba

    spp. por não apresentarem características morfológicas para o seu reconhecimento

    (McAlpine & Steyskal 1982).

    A identificação das espécies de Anastrepha foi baseada nos caracteres

    morfológicos das fêmeas, usando o padrão alar, padrão torácico, mediotergito (metanoto),

    subescutelo (pós-escutelo) e exame ventral do acúleo (ovipositor), de acordo com a chave

    de identificação de moscas-das-frutas (Zucchi 2000). Os machos foram identificados

    como Anastrepha spp. por não apresentarem características morfológicas para o seu

    reconhecimento específico, como ocorre na maioria das espécies do gênero (Zucchi

    2000).

    Análise estatística e cálculo dos índices ecológicos

    As diferenças da composição das espécies entre os locais foram avaliadas usando

    uma análise de ordenação “Non-Metric Multi-Dimensional Scaling” (NMDS) e testadas

    através de uma análise de Permanova de permutações de um fator (Anderson 2001),

    usando o pacote “vegan” para o programa R V.2.15.3 R Development Core Team (2013).

  • 25

    Em comparações de comunidades, o número de espécies por número de

    indivíduos amostrados é uma medida bastante útil. Entretanto, frequentemente a

    comparação de comunidades é baseada em diferentes tamanhos amostrais. Para lidar

    com esse problema foi proposto o método de rarefação, que consiste em calcular o

    número esperado de espécies em cada amostra para um tamanho de amostra padrão. O

    número esperado de espécies é obtido pela equação:

    Onde E(S) é o número esperado de espécies em uma amostragem aleatória, S é o

    número total de espécies registradas, N é o número total de indivíduos registrados, Ni é o

    número de indivíduos da espécie i, e n é o tamanho padronizado da amostra escolhido.

    O termo��

    �� é calculado como

    �!

    �!(���)!

    Além da rarefação, o índice de Margalef (DMg) foi utilizado como medida de

    riqueza de espécies. Este índice combina o número de espécies registrado (S) com o

    número total de indivíduos (N) e é calculado pela seguinte equação:

    Dmg= (S-1)/1Nn

    Foi adotado o índice de diversidade H’ de Shannon (1948) para a análise da

    distribuição das espécies de moscas-das-frutas em diferentes famílias de plantas. Dentre

    os muitos índices de diversidade alfa, o índice H’ de Shannon apresenta a melhor relação

    entre riqueza de espécies e equabilidade (Stocker et al. 1985).

    H’= - ∑ p�lnp�����

  • 26

    Onde:

    H’ = índice de diversidade de Shannon

    Pi = abundância relativa da espécie i

    ln = logarítmo natural de pi

    A medida de equitabilidade compara a diversidade de Shanon-Wiener com a

    distribuição das espécies observadas que maximiza a diversidade. Se todas as espécies

    da comunidade tiverem a mesma abundância a equabilidade seria máxima (max):

    J = H’/Hmax= H’/LnS

    O estimador de riqueza Chao I (Chao 1984) utiliza informações sobre a distribuição

    de espécies raras na amostra, isto é, aquelas representadas por apenas um ou dois

    indivíduos (Colwell & Coddington 1994). Quanto maior o número de espécies raras na

    amostra, maior é a probabilidade de que outras espécies que não as representadas na

    amostra ocorram na área (Gotelli & Colwell 2001).

    SChao 1= Sobs + ��

    ��

    Onde: SChao 1 = estimador de riqueza Chao I

    Sobs = número observado de espécies na amostra;

    a = número de espécies representado por um indivíduo;

    b = número de espécies representado por dois indivíduos.

  • 27

    De acordo com Silveira Neto et al. (1976), Krebs (1978) e Ludwig & Reynolds

    (1988), foram estimados os seguintes parâmetros:

    Frequência: Proporção de indivíduos de uma espécie em relação ao total de

    indivíduos da amostra: pi=��

    �, onde ni = número de indivíduos da espécie i e N: total de

    indivíduos da amostra.

    Abundância relativa: Esta forma de análise consiste em determinar o intervalo de

    confiança (IC) de 5% e a 1% de probabilidade através do Teste t (Zar 1996). Então se

    adotaram as seguintes classes para estimar a abundância das espécies: Rara (R) =

    número de indivíduos menor que o limite do IC a 1% de probabilidade. Dispersa (D) =

    número de indivíduos situados entre os limites inferiores do IC a 5% e 1%. Comum (C)=

    número de indivíduos situados dentro do IC a 5%. Abundantes (A) = número de indivíduos

    situados entre os limites superiores de IC a 5% e a 1%. Muito abundante (MA) = número

    de indivíduos maior que o limite superior do IC a 1%.

    Constância: Porcentagem de amostras em que uma determinada espécie esteve

    presente. C = �.���

    �, onde p = número de amostras com a espécie e N = número total de

    amostras tomadas.

    Classificação das espécies quanto à constância:

    Espécie constante: presente em mais de 50% das amostras;

    Espécie acessória: presente em 25-50% das amostras;

    Espécie acidental: presente em menos de 25% das amostras.

  • 28

    Dominância: Relação dada pelo número de indivíduos de uma espécie dividido

    pelo número total de indivíduos de todas as espécies. A espécie é considerada dominante

    quando a sua frequência é superior a 1/S, onde S é o número total de espécies da

    comunidade. A classificação das espécies foi feita de acordo com a dominância: Super-

    dominante (SD): número de indivíduos é maior que o limite superior do intervalo de

    confiança de 5% (IC). Dominante (D): número de indivíduos está dentro da faixa do IC

    5%. Não dominante (ND): número de indivíduos é menor que o limite inferior do IC 5%.

    Riqueza (S): Número total de espécies observadas na comunidade.

    A riqueza, a frequência, a abundância relativa, a dominância e a constância são

    parâmetros que indica quão eficientes as espécies de moscas-das-frutas foram na

    exploração de diferentes recursos disponíveis na comunidade e qual o potencial das

    espécies como pragas.

    Para testar se houve diferenças significativas entre a composição de espécies de

    moscas-das-frutas entre as famílias de plantas foram feitas comparações por análise de

    similaridade através do teste Permanova (Permutacional Multivariate Analysis of

    Variance), a partir da matriz de similaridade pelo índice de Bray-Curtis, utilizando o

    método de permutações aleatórias (9.999), usando para isto o pacote “vegan” para o

    programa R V.2.15.3 R Development Core Team (2013).

    Resultados

    O padrão de frutificação das espécies de plantas hospedeiras variou em todos os

    meses de coleta. Spondias dulcis Forst, Eugenia brasiliensis Lam., Psidium guajava L. e

    Averrhoa carambola L. frutificaram pelo menos quatro vezes entre abril de 2010 e março

  • 29

    de 2011. No mês de fevereiro de 2011 as espécies Malpighia emarginata DC, P. guajava

    e A. carambola frutificaram, mas, não foram realizadas coletas de frutos devido à

    dificuldade de acesso ao local, onde estavam disponíveis os frutos (Tabela 2).

    Tabela 2 – Período de frutificação e coleta de frutos em 2010 – 2011 em Paraibuna, SP.

    Família Nome científico Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar

    Anacardiaceae Spondias purpurea

    Anacardiaceae Spondias dulcis

    Malpighiaceae Malpighia emarginata N I N C

    Myrtaceae Eugenia uniflora

    Myrtaceae Campomanesia rhombea

    Myrtaceae Eugenia brasiliensis

    Myrtaceae Eugenia involucrata

    Myrtaceae Myrciaria glazioviana

    Myrtaceae Psidium guajava N C

    Myrtaceae Psidium cattleianum

    Myrtaceae Psidium longipetiolatum

    Myrtaceae Acca sellowiana

    Oxalidaceae Averrhoa carambola N C

    Rosaceae Eriobotrya japonica

    Myrtaceae Eugenia uvalha

    Sapotaceae Pouteria caimito

    Onde: N I = Os frutos não foram infestados por moscas das frutas; N C= Não houve coleta

    de frutos.

    Os frutos de M. emarginata coletados no mês de novembro de 2010 não foram

    infestados por moscas-das-frutas.

    No período de abril de 2011 à março de 2012, S. dulcis, Eugenia uniflora L.,

    Psidium cattleianum Sabine, Acca sellowiana (Berg.) Burret, Averrhoa carambola e

    Eriobotrya japonica (Thunb.) Lind. frutificaram pelo menos três vezes durante o ano. Em

    maio de 2011 não houve coleta dos frutos de S. dulcis, A. carambola e Pouteria caimito

    (Tabela 3).

  • 30

    Tabela 3 – Período de frutificação e coleta de frutos durante os anos de 2011-2012 em

    Paraibuna, SP.

    Família Nome científico Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar

    Anacardiaceae Spondias purpurea

    Anacardiaceae Spondias dulcis N C

    Malpighiaceae Malpighia emarginata

    Myrtaceae Eugenia uniflora

    Myrtaceae Campomanesia rhombea

    Myrtaceae Eugenia brasiliensis

    Myrtaceae Eugenia involucrata

    Myrtaceae Myrciaria glazioviana

    Myrtaceae Psidium guajava

    Myrtaceae Psidium cattleianum

    Myrtaceae Psidium longipetiolatum

    Myrtaceae Acca sellowiana

    Oxalidaceae Averrhoa carambola N C

    Rosaceae Eriobotrya japonica

    Myrtaceae Eugenia uvalha

    Sapotaceae Pouteria caimito N C

    Onde: N C= Não houve coleta de frutos.

    Foram coletadas oito espécies de Anastrepha (Tabela 4) e nove do gênero

    Neosilba (Tabela 5), uma delas considerada espécie nova, em dezesseis espécies de

    plantas hospedeiras pertencentes a seis famílias botânicas.

    Os espécimes de A. fraterculus foram relacionadas a 14 espécies de plantas

    hospedeiras, não sendo encontrados apenas em Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk e

    M. emarginata (Tabela 4).

    Anastrepha leptozona Hendel e A. serpentina (Wied.), foram as únicas espécies de

    moscas do gênero Anastrepha que não estavam associadas a frutos de Myrtaceae. Essas

    espécies foram amostradas em frutos de P. caimito, único representante da família

    Sapotaceae na comunidade de plantas hospedeiras de moscas-das-frutas (Tabela 4).

    Praticamente todas as espécies de moscas da família Tephritidae foram

    relacionadas a diferentes espécies de plantas hospedeiras. As únicas exceções foram

  • 31

    Anastrepha perdita Stone em frutos de Eugenia uvalha Camb. e A. sepentina em frutos de

    P. caimito, onde, apesar da disponibilidade de outras espécies de plantas frutificando na

    mesma época, não ocorreu infestação de seus frutos (Tabela 2).

    Tabela 4 – Espécies de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha (Tephritoidea:

    Tephritidae) coletadas em frutos de seis famílias botânicas. Paraibuna, SP, 2010-2012.

    Espécies de plantas Nome comum Tephritidae

    A.fr A.le A.se A.ob A.so A.ba A.pe A.bi

    Sapotaceae

    Pouteria caimito Abiu X X

    Myrtaceae

    Psidium guajava Goiaba X

    Psidium longipetiolatum Araçá-vermelho X X X X

    Psidium cattleianum Araçá-amarelo X X X

    Myrciaria glazioviana Cabeludinha X X

    Eugenia involucrata Cereja-silvestre X

    Eugenia brasiliensis Grumixama X X

    Eugenia uniflora Pitanga X

    Eugenia uvalha Uvaia X X X X

    Acca sellowiana Feijoa X X X

    Campomanesia rhombea Gabiroba X

    Rosaceae

    Eriobotrya japonica Nêspera X X X X

    Anacardiaceae

    Spondias dulcis Cajá-Manga X X X X

    Spondias purpurea Seriguela X X

    Oxalidaceae

    Averrhoa carambola Carambola X X

    Malpighiaceae

    Malpighia emarginata Acerola

    Onde: A.fr, A. fraterculus (Wied.); A.le, A. leptozona Hendel; A.se, A. serpentina (Wied.);

    A.ob, A. obliqua (Mcquart); A. so, A. sororcula Zucchi; A.ba, A. bahiensis Lima; A.pe, A.

    perdita Stone e A.bi, A. bistrigata Bezzi.

    As espécies de moscas da família Lonchaeidae foram menos abundantes que as

    da família Tephritidae. A mesma afirmação não pode ser feita com relação à riqueza das

  • 32

    espécies de moscas em frutos de abiu e goiaba, onde a riqueza de espécies de Neosilba

    foi maior que espécies de Anastrepha. Em frutos de acerola apenas espécimes de

    Neosilba foram coletados (Tabela 5).

    As espécies de Neosilba foram associadas às seis famílias de plantas

    hospedeiras; entretanto, não foram encontradas nos frutos de Campomanesia rhombea

    Berg., Spondias purpurea L., Myrciaria glazioviana (Kiaersk) e Eugenia involucrata DC

    (Tabela 5).

    Tabela 5 – Espécies de moscas-das-frutas do gênero Neosilba (Tephritoidea:

    Lonchaeidae) coletadas em seis famílias de frutos. Paraibuna, SP, 2010-2012.

    Espécies de plantas Nome comum Lonchaeidae

    N.za N.in N.gl N.bi N.ce N.pr N.pe N.be N. sp1

    Sapotaceae

    Pouteria Caimito Abiu X X X

    Myrtaceae

    Psidium guajava Goiaba X X X X X X X

    Psidium longipetiolatum Araçá-vermelho X

    Psidium cattleianum Araçá-amarelo X

    Myrciaria glazioviana Cabeludinha

    Eugenia involucrata Cereja-silvestre

    Eugenia brasiliensis Grumixama X

    Eugenia uniflora Pitanga X

    Eugenia uvalha Uvaia X X

    Acca sellowiana Feijoa X

    Campomanesia rhombea Gabiroba

    Rosaceae

    Eriobotrya japonica Nêspera X

    Anacardiaceae

    Spondias dulcis Cajá-Manga X X X X

    Spondias purpurea Seriguela

    Oxalidaceae

    Averrhoa carambola Carambola X X

    Malpighiaceae

    Malpighia emarginata Acerola X X X X

    Onde: N.za, N. zadolicha McAlpine & Steyskal; N.in, N. inesperata Strikis & Prado; N. gl,

    N. glaberrima (Wied.); N. bi, N. bifida Strikis & Prado; N.ce, N. certa (Walker); N.pr, N.

  • 33

    Ana

    Mal

    Myr

    Oxa

    RosSap

    0 250 500 750 100012501500 17502000

    Specimens

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    Ta

    xa (

    95%

    co

    nfid

    ence)

    pradoi Strikis & Lerena; N. pe., N. pendula (Bezzi); N. be, N. bella Strikis & Prado e N.

    sp1, N. espécie nova 1.

    Seis espécimes de Ceratitis capitata (Wied.) foram coletados em Eriobotrya

    japonica em setembro de 2010 e dois em Eugenia brasiliensis nos meses de setembro e

    novembro de 2010.

    Após dois anos de coletas, a curva de acumulação de espécies indicou que

    apenas Malpighiaceae não se aproximou de uma assíntota, por conta da pequena

    abundância de moscas coletadas desses frutos; consequentemente, a riqueza desses

    insetos frugívoros não foi completamente amostrada (Figura 2).

    Figura 2 – Curvas de rarefação de espécies de moscas-das-frutas coletadas de 16

    espécies de plantas distribuídas em seis famílias botâncias. As curvas foram criadas a

    partir das amostras dos frutos durante os anos de 2010 a 2012.

    Onde: Myr, Myrtaceae; Ana, Anacardiaceae; Ros, Rosaceae; Sap, Sapotaceae; Oxa,

    Oxalidaceae; Mal, Malpighiaceae.

  • 34

    De acordo com o Índice de Margalef, as famílias de plantas que possuíram menor

    riqueza de espécies de moscas-das-frutas foram: Rosaceae (α = 0.772), Sapotaceae (α =

    0.725) e Oxalidaceae (α = 0.347); entretanto, vale salientar que as três famílias foram

    representadas, cada uma delas, por apenas uma espécie de planta hospedeira (Tabela

    6).

    Os frutos de 10 espécies de Myrtaceae estavam distribuídos em cinco gêneros,

    onde foram amostradas 14 espécies de moscas-das-frutas. A família Myrtaceae foi a mais

    abundante na área de coleta e onde, também, possuiu o maior número de espécimes de

    moscas-das-frutas (Tabela 6).

    A família Myrtaceae apresentou o menor índice de diversidade (H’) e o segundo

    menor índice de equabilidade entre as seis famílias de plantas representadas nesse

    trabalho (Tabela 6).

    Tabela 6 – Diversidade de moscas-das-frutas em famílias botânicas de frutos coletados

    em Paraibuna – SP, em 2010- 2012.

    Anac Malp* Myrt Oxal Rosa Sapo

    S 8 3 14 3 6 5

    N 464 7 2061 317 652 249

    H' 1.183 0.9557 0.405 0.549 0.2365 1.129

    J' 0.5691 0.8699 0.1535 0.4998 0.132 0.7014

    α 1.140 1.028 1.704 0.347 0.772 0.725 Onde: Anac, Anacardiaceae; Malp, Malpighiaceae; Myrt, Myrtaceae; Oxal, Oxalidaceae;

    Rosa, Rosaceae; Sapo, Sapotaceae. Riqueza (S), Número de indivíduos amostrados (N),

    Índice de Shannon (H’), Equabilidade de Pielou (J’) e Índice de Margalef (α).

    * Curva de acumulação de espécies não se aproximou de uma assíntota.

    As famílias Anacardiaceae e Sapotaceae possuíram os maiores índices de

    diversidade (H’) e os maiores índices de equabilidade, mesmo levando-se em

  • 35

    consideração a família Myrtaceae onde as espécies de mosca-das-frutas foram mais

    frequentes e abundantes (Tabela 6).

    Em frutos de Myrtaceae foi A. fraterculus (Wied.) a espécie considerada

    superdominante entre as 13 espécies de moscas identificadas. Neosilba zadolicha

    McAlpine & Steyskal e Neosilba certa (Walker) estavam entre as espécies mais

    abundantes em Myrtaceae (Tabela 7). Nos frutos de Anacardiaceae a espécie mais

    frequente foi Anastrepha obliqua (Mcquart), seguida por de N. zadolicha, que se mostrou

    a mais abundante e polífaga entre todas as espécies de Lonchaeidae (Tabela 7).

    Tabela 7 – Frequência (F), abundância (A), constância (C), dominância (D) e número de

    indivíduos (N) das espécies de moscas-das-frutas em frutos de Myrtaceae e

    Anacardiaceae. Paraibuna, 2010 – 2012.

    Myrtaceae Anacardiaceae

    N F A C D N F A C D

    Anastrepha fraterculus 1909 0.926 MA W SD 100 0.216 C W D

    Anastrepha leptozona 0 0.000 _ _ _ 1 0.002 C Z D

    Anastrepha serpentina 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha obliqua 5 0.002 C Z D 214 0.461 MA W SD

    Anastrepha sororcula 7 0.003 C Z D 1 0.002 C Z D

    Anastrepha bahiensis 6 0.003 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha perdita 1 0.000 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha bistrigata 11 0.005 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba zadolicha 49 0.024 C Z D 137 0.295 A W SD

    Neosilba inesperata 0 0.000 _ _ D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba glaberrima 17 0.008 C Z D 3 0.006 C Z D

    Neosilba bifida 2 0.001 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba certa 42 0.020 C Z D 7 0.015 C Y D

    Neosilba pradoi 0 0.000 _ _ _ 1 0.002 C Z D

    Neosilba pendula 3 0.001 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba bella 6 0.003 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba. sp1 1 0.000 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Onde: R, Rara; D, Dispersa; C, Comum; A, Abundante; MA, Muito abundante; W,

    Constante; Y, Acessória; Z, Acidental; SD, Super-dominante; D, Dominante; ND, Não

    dominante.

  • 36

    A espécie de mosca-das-frutas mais frequente e abundante em frutos de

    Rosaceae foi A. fraterculus, sendo considerada muito abundante e superdominante entre

    as cinco espécies de moscas amostradas. Apenas alguns exemplares de Neosilba certa

    foram coletados, mesmo assim, não foram consideradas espécies raras em frutos dessa

    família (Tabela 8). Em frutos de Oxalidaceae, A. obliqua foi a espécie mais frequente,

    seguida por A. fraterculus. Essas espécies são muito comuns e dominantes em frutos

    dessa família de planta. As espécies de Lonchaeidae representadas em frutos de

    Oxalidaceae foram N. certa e N. bella. (Tabela 8).

    Tabela 8 – Frequência (F), abundância (A), constância (C), dominância (D) e número de

    indivíduos (N) das espécies de moscas-das-frutas em frutos de Rosaceae e Oxalidaceae.

    Paraibuna, SP, 2010 – 2012.

    Rosaceae Oxalidaceae

    N F A C D N F A C D

    Anastrepha fraterculus 623 0.956 MA W SD 57 0.179 C W D

    Anastrepha leptozona 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha serpentina 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha obliqua 1 0.002 C Z D 255 0.802 C W D

    Anastrepha sororcula 2 0.003 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha bahiensis 16 0.025 C W D 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha perdita 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha bistrigata 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba zadolicha 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba inesperata 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba glaberrima 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba bifida 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba certa 4 0.006 C Y D 5 0.016 C Y D

    Neosilba pradoi 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba pendula 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba bella 0 0.000 _ _ _ 1 0.003 C Z D

    Neosilba sp1 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Onde: R, Rara; D, Dispersa; C, Comum; A, Abundantes; MA, Muito abundante; W,

    Constante; Y, Acessória; Z, Acidental; SD, Super-dominante; D, Dominante; ND, Não

    dominante.

  • 37

    Em frutos de Malpighiaceae não foram amostradas espécies de moscas do gênero

    Anastrepha. Entretanto, sabe-se que A. obliqua e A. fraterculus estão relacionadas a

    frutos de Malpighiaceae em outras localidades (Araújo et al. 2005, Ohashi et al.1997).

    Espécimes de N. zadolicha, N. certa, Neosilba pendula (Bezzi) e Neosilba bifida Strikis &

    Prado foram coletadas em frutos de Malpighiaceae (Tabela 9).

    Sapotaceae, único representante da ordem Ericales, A. serpentina e N. zadolicha

    possuíram a maior frequência, sendo que a primeira foi a espécie superdominante e muito

    comum na família de Sapotaceae (Tabela 9).

    Nos frutos de Sapotaceae, assim como ocorreu na família Myrtaceae e na família

    Anacardiaceae, as moscas do gênero Neosilba estão entre as espécies mais frequentes e

    abundantes.

    Tabela 9 – Frequência (F), abundância (A), constância (C), dominância (D) e número de

    indivíduos (N) das espécies de moscas-das-frutas em frutos de Malpighiaceae e

    Sapotaceae. Paraibuna, SP, 2010 – 2012.

    Malpighiaceae Sapotaceae

    N F A C D N F A C D

    Anastrepha fraterculus 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha leptozona 0 0.000 _ _ _ 35 0.141 C W D

    Anastrepha serpentina 0 0.000 _ _ _ 135 0.542 A W SD

    Anastrepha obliqua 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha sororcula 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha bahiensis 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha perdita 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Anastrepha bistrigata 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba zadolicha 4 0.500 C W D 68 0.273 C W D

    Neosilba inesperata 0 0.000 _ _ _ 4 0.016 C Y D

    Neosilba glaberrima 0 0.000 _ _ _ 7 0.028 C W D

    Neosilba bifida 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba certa 2 0.250 C Y D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba pradoi 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Neosilba pendula 1 0.125 C Z D 0 0.000 _ _ _

  • 38

    Neosilba bella 1 0.125 C Z D 0 0.000 _ _ _

    Neosilba. sp1 0 0.000 _ _ _ 0 0.000 _ _ _

    Onde: R, Rara; D, Dispersa; C, Comum; A, Abundante; MA, Muito abundante; W,

    Constante; Y, Acessória; Z, Acidental; SD, Super-dominante; D, Dominante; ND, Não

    dominante.

    De acordo com comparações por análise de similaridade da composição de

    espécies de moscas-das-frutas em diferentes famílias de frutos através do teste

    PERMANOVA (Permutacional Multivariate Analysis of Variance), a variação foi

    significativa (r2= 0,046; p< 0.0001) (Figura 3). O peso dos frutos explica pequena parte

    dessa variação dentro das famílias das plantas analisadas (r2= 0,096; p< 0.0001).

    Figura 3 - Diferenças na composição das espécies de moscas-das-frutas entre diferentes

    famílias de plantas utilizando a análise de ordenação “Non-Metric Multi-Dimensional

  • 39

    Scaling” (NMDS) (Stress=0,009). Paraibuna, 2010 – 2012. Onde: Anac, Anacardiaceae;

    Malp, Malpighiaceae; Myrt, Myrtaceae; Oxal, Oxalidaceae; Rosa, Rosaceae; Sapo,

    Sapotaceae.

    Como a família Myrtaceae foi bem representada nas amostras, foi possível

    analisar a similaridade da composição das espécies de moscas-das-frutas em diferentes

    gêneros da família através do teste PERMANOVA. As plantas dessa família não

    apresentaram diferença em sua composição, levando-se em conta o gênero (r2= 0,104; p=

    0,764) e peso médio (r2= 0,070; p = 0,171) das espécies frutos hospedeiros.

    Discussão

    A frutificação sequencial de plantas hospedeiras ao longo do ano permitiu que as

    espécies de moscas-das-frutas se reproduzissem por todo período. A. fraterculus, A.

    obliqua, N. zadolicha e N. certa foram abundantes e utilizaram uma sequência de

    espécies de plantas hospedeiras ao longo do ano. Anastrepha sororcula Zucchi e N.

    pendula, apesar de pouco abundantes, estavam relacionadas a cinco e quatro espécies

    de plantas, respectivamente. As demais espécies de moscas-das-frutas, pouco

    abundantes, foram relacionadas a uma ou até três espécies de plantas hospedeiras.

    Essas espécies de moscas estavam sempre relacionadas a frutos que albergavam várias

    espécies de moscas. De acordo com Lewinson et al. (2006) espécies de animais

    especialistas associam-se preferencialmente a plantas que interagem com o maior

    número de espécies.

    Em comunidades pouco perturbadas uma grande proporção de espécies raras é

    observada. De acordo com Cao et al. (1998) sítios muito degradados mostram-se com

    baixa riqueza de espécies, havendo proporcionalmente poucas espécies raras quando

  • 40

    comparados com sítios não impactados. Quando espécies raras são excluídas, removem-

    se proporcionalmente mais espécies dos locais não impactados.

    Na policultura do município de Paraibuna todas as espécies frutíferas amostradas

    estavam infestadas por moscas-das-frutas. No período de 24 meses de levantamento os

    frutos das famílias de plantas coletadas apresentaram diferentes padrões de riqueza e

    abundância. Entretanto, a comunidade das moscas-das-frutas não mostrou a

    predominância de espécies raras em relação às espécies abundantes e comuns. As

    espécies de moscas-das-frutas analisadas nesse trabalho foram consideradas

    abundantes ou comuns. Clemente (1995) sugere que a alta percentagem de espécies

    raras em comunidades florestais indica uma resistência do meio à proliferação dessas

    espécies, enquanto que as espécies classificadas como muito abundantes, comuns e

    dominantes indicam o estabelecimento dessas espécies dentro das comunidades.

    Anastrepha fraterculus e Neosiba zadolicha foram as espécies que possuíram alta

    abundância, alta dominância e alta constância entre as espécies de moscas coletadas. A

    alta dominância de uma ou duas espécies de moscas-das-frutas também foi verificada em

    estudos similares conduzidos no Brasil, mas, geralmente levando-se em conta apenas as

    moscas do gênero Anastrepha (Uramoto 2002; Garcia et al., 2003, Marsaro Júnior et al.

    2012).

    Muitos levantamentos da composição das espécies de moscas-das-frutas

    negligenciaram as espécies de Neosilba. As espécies de Anastrepha são as mais

    abundantes, mas é preciso levar em consideração as espécies que consomem as

    mesmas fontes de recursos de alimento. N. zadolicha e N. certa foram menos abundantes

    que A. fraterculus, entretanto, foram eficientes na exploração de diferentes recursos

    disponíveis na comunidade quando comparadas às outras espécies de moscas-das-

    frutas. Na região central do Brasil, as larvas de Neosilba foram associadas a frutos de

    diferentes famílias e em muitos c