karaoke de natal

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Natal 2008 Animação 17 Dez. 17:00h

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karaoke de natal - escola JB

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Page 1: karaoke de natal

Natal 2008 Animação17 Dez. 17:00h

Page 2: karaoke de natal

Ó sino da minha aldeia, Dolente na tarde calma, Cada tua badalada Soa dentro da minha alma.

Ó SINO DA MINHA ALDEIAFernando PessoaDito por João Villaret

E é tão lento o teu soar,Tão como triste da vida,Que já a primeira pancadaTem o som de repetida.

Por mais que me tanjas pertoQuando passo, sempre errante,És para mim como um sonho, Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua, Vibrante no céu deserto, Sinto mais longe o passado,Sinto a saudade mais perto.

Page 3: karaoke de natal

PRELÚDIO DE NATAL

Tudo principiavapela cúmplice neblinaque vinha perfumadade lenha e tangerinasSó depois se rasgavaa primeira cortinaE dispersa e douradano palco das vitrinasa festa começavaentre odor a resinae gosto a noz-moscadae vozes femininasA cidade ficavasob a luz vespertinapelas montras cercadade paisagens alpinas

David Mourão-Ferreira

Page 4: karaoke de natal

É talvez a ventania:mas se há pouco, há poucochinho,nem uma agulha buliana quieta melancoliados pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,com uma tão estranha leveza,que mal se ouve, mal se sente?Não é chuva, não é gente,nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caíado azul cinzento do céu,branca e leve, branca e fria...— Há quanto tempo a não via!E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraçaPôs tudo da cor do linho.Passa gente e, quando passa,os passos imprime e traçana brancura do caminho...

Fico olhando esses sinaisda pobre gente que avança,e noto, por entre os mais,os traços miniaturaisduns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...A neve deixa ainda vê-los,primeiro, bem definidos,depois, em sulcos compridos,porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecadorsofra tormentos, enfim!Mas as crianças, Senhor,porque lhes dais tanta dor?!...Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,uma funda turbaçãoentra em mim, fica em mim presa.Cai neve na Natureza...— e cai no meu coração.

Batem leve, levemente,Como quem chama por mim.Será chuva? Será gente?Gente não é certamente,E a chuva não bate assim.

Balada da NeveAugusto Gil

Dito por João Villaret

Page 5: karaoke de natal

UMA CEIA PARA UM MENINO

É dia da Consoada no Concelho da Sertã. Ceia que se come à noite, não se dá por terminada, que pode vir fora de horas o Deus Menino, cansado à beirinha da manhã. E tem de encontrar a mesa posta como deve ser, toalha branca de linho, bolinhos de bacalhau, chouriços e coscorões, docinhos, filhós e sonhos e mais coisas de comer. E tem de estar luz acesa porque pode o Deus Menino chegar ali esfomeado e não ver que há mesa posta nem ver o que está na mesa! Que tudo lhe foi deixado com muito amor e cuidado!

Maria Alberta Meneres

Page 6: karaoke de natal

Ande o frio por onde andar, no Natal cá vem parar.

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Eu queria ter um cestinho cheio de flores

Para tecer um xaile de muita cor, muito lindo!E um retalhinho do CéuPara fazer um vestidinho azul tão lindo!E mais sete estrelas das mais brilhantesPara armar um chapéuzinho de luz!E mais ainda dois quartinhos de LuaQue chegassem para uns sapatos de saltos muito altos…E tudo isto, depois,Eu dava a minha MãeDe dentro de meu coraçãoNeste dia de Natal:O xailezinho de muita cor,O vestidinho azul,O chapéuzinho de luz,Os sapatinhos de saltos muito altos…Minha Mãe! Minha Mãe!E hoje é o dia de NatalE só posso dizer:Minha Mãe! Minha Mãe!

Matilde Rosa Araújo

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CHOVE. É DIA DE NATAL

Fernando Pessoa

Chove. É dia de Natal.Lá para o Norte é melhor:Há a neve que faz mal,E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contentePorque é dia de o ficar.Chove no Natal presente.Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esseO Natal da convenção,Quando o corpo me arrefeceTenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadraE o Natal a quem o fez,Pois se escrevo ainda outra quadraFico gelado dos pés.

Page 9: karaoke de natal

De Santa Luzia ao Natal, um salto de pardal, de Natal a Janeiro, um salto de carneiro.

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LITANIA PARA ESTE NATAL

Vai nascer esta noite à meia-noite em pontonum sótão num porão numa cave inundadaVai nascer esta noite à meia-noite em pontodentro de um foguetão reduzido a sucataVai nascer esta noite à meia-noite em pontonuma casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em pontonum presépio de lama e de sangue e de ciscoVai nascer esta noite à meia-noite em pontopara ter amanhã a suspeita que existeVai nascer esta noite à meia-noite em pontoTem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em pontoVê-lo-emos depois de chicote no temploVai nascer esta noite à meia-noite em pontoe anda já um terror no látego do ventoVai nascer esta noite à meia-noite em pontopara nos vir pedir contas do nosso tempo

David Mourão-Ferreira

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A NOITE DE NATAL

Em a noite de NatalAlegram-se os pequenitos;Pois sabem que o bom JesusCostuma dar-lhes bonitos.

Vão se deitar os lindinhosMas nem dormem de contentesE somente às dez horasAdormecem inocentes.

Perguntam logo à criadaQuando acorde de manhãSe Jesus lhes não deu nada.

– Deu-lhes sim, muitos bonitos.– Queremo-nos já levantarRespondem os pequenitos.

Mário de Sá-Carneiro

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NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmoreceNas ruas cheias de rumor;Minha alma vã desapareceNa muita pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,Dos que anunciam no jornal;Mas houve um etéreo desarranjoE o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapadoA quem dão coroas no meio disto,Um moço doente, desanimado…Só esse pobre me pareceu Cristo.

Vitorino Nemésio

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Namoro de Carnaval, não chega ao Natal.

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ESTRELA DO OCIDENTE

Por teus olhos acesos de inocênciaMe vou guiando agora, que anoitece.Rei Mago que procura e desconheceO caminho,Sigo aquele que adivinhoAnunciadoNessa luz só de luz adivinhada,Infância humana, humana madrugada.Presépio é qualquer berçoOnde a nudez do mundo tem calorE o amorRecomeça.Leva-me, pois, depressa,Através do deserto desta vida,À Belém prometida…Ou és tu a promessa?

Miguel Torga

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A noite de Natal. Em meu país, agora, O que não vai até romper o dia, a aurora! As mesas de jantar na cidade e na aldeia, À luz das velas, ou à luz duma candeia, Entre risadas de crianças e cristais (De que me chegam até mim só ais, só ais),

Dois milhões de almas e outros tantos corações, Pondo de parte ódios, torturas, aflições, Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:

São todas em redor duma toalha de linho!

António Nobre

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Mal vai Portugal se não há três cheias antes do Natal.

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Do Natal à Santa Luzia cresce um palmo o dia.

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Laranja antes do Natal livra do catarral.

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NATAL CHIQUEVitorino Nemésio

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Page 24: karaoke de natal

De Todos os Santos ao Natal, bom é chover e melhor nevar.

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Entrudo borralheiro, Natal em casa, Páscoa na praça.

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Galinhas de São João, pelo Natal poedeiras são.

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Natal 2008 KARAOKE17 Dez. 17:00h

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Os PobrezinhosGuerra Junqueiro

Pobres de pobres são pobrezinhos, Almas sem lares, aves sem ninhos... Passam em bandos, em alcateias, Pelas herdades, pelas aldeias. É em Novembro, rugem procelas... Deus nos acuda, nos livre delas!

Vêm por desertos, por estevais, Mantas aos ombros, grandes bornais,Como farrapos, coisas sombrias, Trapos levados nas ventanias... Filhos de Cristo, filhos d’ Adão, Buscam no mundo côdeas de pão!Há-os ceguinhos, em treva densa, D’olhos fechados desde nascença.

Há-os com f’ridas esburacadas, Roxas de lírios, já gangrenadas.Uns de voz rouca, grandes bordões, Quem sabe lá se serão ladrões!... Outros humildes, riso magoado, Lembram Jesus que anda disfarçado... Enjeitadinhos, rotos, sem pão, Tremem maleitas d’olhos no chão... Campos e vinhas!... hortas com flores!... Ai, que ditosos os lavradores!

Olha, fumegam tectos e lares... Fumo tão lindo!... branco, nos ares! Batem às portas, erguem-se as mães, Choram meninos, ladram os cães... Rezam e cantam, levam a esmola, Vinho no bucho, pão na sacola, Fruta da horta, caldo ou toucinho, Dão sempre os pobres a um pobrezinho.

Um que tem chagas, velho, coitado, Quer ligaduras ou mel rosado. Outro, promessa feita a Maria, Deitam-lhe azeite na almotolia. Pelos alpendres, pelos currais, Dormem deitados como animais.

Em caravanas, em alcateias, Vão por herdades, vão por aldeias...Sabem cantigas, oraçõezinhas, contos d’estrelas, reis e rainhas Choram cantando, penam rezando, Ai, só a morte sabe até quando!

Mas no outro mundo Deus lhes prepara Leito o mais alvo, ceia a mais rara... Os pés doridos lhos lavarão Santos e santas com devoção! Para lavá-los, perfumaria Em gomil d’ouro, d’ouro a bacia.

E embalsamados, transfigurados, Túnicas brancas, como em noivados, Viverão sempre na eterna luz, Pobres benditos, ámem, Jesus!...

Page 29: karaoke de natal

CHOVE. É DIA DE NATAL

Fernando Pessoa

Chove. É dia de Natal.Lá para o Norte é melhor:Há a neve que faz mal,E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contentePorque é dia de o ficar.Chove no Natal presente.Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esseO Natal da convenção,Quando o corpo me arrefeceTenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadraE o Natal a quem o fez,Pois se escrevo ainda outra quadraFico gelado dos pés.

Page 30: karaoke de natal

Ó sino da minha aldeia, Dolente na tarde calma, Cada tua badalada Soa dentro da minha alma.

Ó SINO DA MINHA ALDEIAFernando PessoaDito por João Villaret

E é tão lento o teu soar,Tão como triste da vida,Que já a primeira pancadaTem o som de repetida.

Por mais que me tanjas pertoQuando passo, sempre errante,És para mim como um sonho, Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua, Vibrante no céu deserto, Sinto mais longe o passado,Sinto a saudade mais perto.

Page 31: karaoke de natal

É talvez a ventania:mas se há pouco, há poucochinho,nem uma agulha buliana quieta melancoliados pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,com uma tão estranha leveza,que mal se ouve, mal se sente?Não é chuva, não é gente,nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caíado azul cinzento do céu,branca e leve, branca e fria...— Há quanto tempo a não via!E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraçaPôs tudo da cor do linho.Passa gente e, quando passa,os passos imprime e traçana brancura do caminho...

Fico olhando esses sinaisda pobre gente que avança,e noto, por entre os mais,os traços miniaturaisduns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...A neve deixa ainda vê-los,primeiro, bem definidos,depois, em sulcos compridos,porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecadorsofra tormentos, enfim!Mas as crianças, Senhor,porque lhes dais tanta dor?!...Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,uma funda turbaçãoentra em mim, fica em mim presa.Cai neve na Natureza...— e cai no meu coração.

Batem leve, levemente,Como quem chama por mim.Será chuva? Será gente?Gente não é certamente,E a chuva não bate assim.

Balada da NeveAugusto Gil

Dito por João Villaret

Page 32: karaoke de natal

A noite de Natal. Em meu país, agora, O que não vai até romper o dia, a aurora! As mesas de jantar na cidade e na aldeia, À luz das velas, ou à luz duma candeia, Entre risadas de crianças e cristais (De que me chegam até mim só ais, só ais),

Dois milhões de almas e outros tantos corações, Pondo de parte ódios, torturas, aflições, Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:

São todas em redor duma toalha de linho!

António Nobre

Page 33: karaoke de natal

Os PobrezinhosGuerra Junqueiro

Pobres de pobres são pobrezinhos, Almas sem lares, aves sem ninhos... Passam em bandos, em alcateias, Pelas herdades, pelas aldeias. É em Novembro, rugem procelas... Deus nos acuda, nos livre delas!

Vêm por desertos, por estevais, Mantas aos ombros, grandes bornais,Como farrapos, coisas sombrias, Trapos levados nas ventanias... Filhos de Cristo, filhos d’ Adão, Buscam no mundo côdeas de pão!Há-os ceguinhos, em treva densa, D’olhos fechados desde nascença.

Há-os com f’ridas esburacadas, Roxas de lírios, já gangrenadas.Uns de voz rouca, grandes bordões, Quem sabe lá se serão ladrões!... Outros humildes, riso magoado, Lembram Jesus que anda disfarçado... Enjeitadinhos, rotos, sem pão, Tremem maleitas d’olhos no chão... Campos e vinhas!... hortas com flores!... Ai, que ditosos os lavradores!

Olha, fumegam tectos e lares... Fumo tão lindo!... branco, nos ares! Batem às portas, erguem-se as mães, Choram meninos, ladram os cães... Rezam e cantam, levam a esmola, Vinho no bucho, pão na sacola, Fruta da horta, caldo ou toucinho, Dão sempre os pobres a um pobrezinho.

Um que tem chagas, velho, coitado, Quer ligaduras ou mel rosado. Outro, promessa feita a Maria, Deitam-lhe azeite na almotolia. Pelos alpendres, pelos currais, Dormem deitados como animais.

Em caravanas, em alcateias, Vão por herdades, vão por aldeias...Sabem cantigas, oraçõezinhas, contos d’estrelas, reis e rainhas Choram cantando, penam rezando, Ai, só a morte sabe até quando!

Mas no outro mundo Deus lhes prepara Leito o mais alvo, ceia a mais rara... Os pés doridos lhos lavarão Santos e santas com devoção! Para lavá-los, perfumaria Em gomil d’ouro, d’ouro a bacia.

E embalsamados, transfigurados, Túnicas brancas, como em noivados, Viverão sempre na eterna luz, Pobres benditos, ámem, Jesus!...

Page 34: karaoke de natal

Feliz Natal

Page 35: karaoke de natal

DIA DE NATALLuisa Ducla Soares

Page 36: karaoke de natal

EU QUERIA TER UM CESTINHO CHEIO DE FLORES

Matilde Rosa Araújo

Page 37: karaoke de natal

LITANIA DO NATALJosé Régio

Page 38: karaoke de natal

ESTRELA DO OCIDENTEMiguel Torga

Page 39: karaoke de natal

Um CESTO DE MORANGOSBatista Bastos

Page 40: karaoke de natal

A CASA FICAVA DIFERENTEManuel Alegre

Page 41: karaoke de natal

PRELÚDIO DE NATALDavid Mourão-Ferreira

Page 42: karaoke de natal

LITANIA PARA ESTE NATALDavid Mourão-Ferreira

Page 43: karaoke de natal

NOITE DE NATALAntónio Feijó

Page 44: karaoke de natal

UMA CEIA PARA UM MENINOMaria Alberta Meneres

Page 45: karaoke de natal

A NOITE DE NATALMário de Sá-Carneiro