kant: a crÍtica da razÃo pura

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KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA PURA

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KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA. Kant (1724-1804) foi talvez o maior dos filósofos modernos. Teve formação em matemáticas e física. Sua maior obra foi a CRÍTICA DA RAZÃO PURA, um trabalho de teoria do conhecimento no sentido amplo da palavra. - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

KANT: A CRÍTICA DA KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURARAZÃO PURA

Page 2: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Kant (1724-1804) foi talvez o maior dos filósofos Kant (1724-1804) foi talvez o maior dos filósofos modernos.modernos.

Teve formação em matemáticas e física.Teve formação em matemáticas e física.

Sua maior obra foi a CRÍTICA DA RAZÃO PURA, um Sua maior obra foi a CRÍTICA DA RAZÃO PURA, um trabalho de teoria do conhecimento no sentido trabalho de teoria do conhecimento no sentido amplo da palavra.amplo da palavra.

Com essa obra ele intentou uma Com essa obra ele intentou uma grandegrande síntesesíntese do do empirismo (Locke, Berkeley, Hume) com o empirismo (Locke, Berkeley, Hume) com o racionalismo (Descartes, Leibniz), embora tenha racionalismo (Descartes, Leibniz), embora tenha aprendido também com os medievais e os filósofos aprendido também com os medievais e os filósofos antigos.antigos.

Sua filosofia contém Sua filosofia contém muitas idéias muitas idéias extraordinariamente sugestivasextraordinariamente sugestivas, mas , mas

também grande também grande obscuridadeobscuridade ou, como dele ou, como dele escreveu Strawson:escreveu Strawson:

“ “we read and re-read his work with a we read and re-read his work with a commingled sense of great insight and great commingled sense of great insight and great

mistification”. mistification”.

Page 3: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Lógica transcendental: Estética transcendental:

DIALÉTICA ANALÍTICA ESTÉTICA

RAZÃO JUÍZOS ESPAÇO/ fe-

X ou EU IDÉIAS: CATEGORIASCATEGORIAS: TEMPO no- COISA

TRANS- alma, substância, (formas puras me- EM

CEN- mundo, causalidade etc. da intuição) nos SI

DEN- deus (conceitos puros (MUNDO . do entendimento) NOUMÊ- . (ilusões NICO) . da razão) CONHECIMENTO A PRIORI

Page 4: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Kant discordava tanto do racionalismo quanto do empirismo, pretendendo fazer uma grande uma grande

síntese crítica. síntese crítica. Vejamos o que Kant via de errado Vejamos o que Kant via de errado em cada posição:em cada posição:

1.1.Consideremos primeiro o Consideremos primeiro o racionalismo (Descartes, Spinoza, racionalismo (Descartes, Spinoza, Leibniz). Ele via na Leibniz). Ele via na RAZÃO a única RAZÃO a única fonte verdadeira de conhecimentofonte verdadeira de conhecimento, , pois a via dotada de IDÉIAS INATAS, pois a via dotada de IDÉIAS INATAS, devendo a filosofia alcançá-las pelo devendo a filosofia alcançá-las pelo poder do raciocínio.poder do raciocínio.

(Hoje diríamos que as disposições inatas (Hoje diríamos que as disposições inatas são resultados evolucionários resultantes são resultados evolucionários resultantes de uma espécie de aprendizado empírico de uma espécie de aprendizado empírico

indutivo da própria espécie via seleção indutivo da própria espécie via seleção natural.)natural.)

Page 5: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Para o racionalista os juízos que Para o racionalista os juízos que contam são o que Leibniz chamava de contam são o que Leibniz chamava de as as VERDADES DA RAZÃO.VERDADES DA RAZÃO. São em São em Kant:Kant:

JUÍZO ANALÍTICO (Df) = JUÍZO ANALÍTICO (Df) = AQUELE EM AQUELE EM QUE O PREDICADO ESTÁ CONTIDO QUE O PREDICADO ESTÁ CONTIDO NO SUJEITO.NO SUJEITO.

O JUÍZO ANALÍTICO É O JUÍZO ANALÍTICO É NATURALMENTE A PRIORINATURALMENTE A PRIORI, ou seja , ou seja INDEPENDENTE DA EXPERIÊNCIA.INDEPENDENTE DA EXPERIÊNCIA. (Embora possamos precisar da (Embora possamos precisar da experiência para chegar até ele, não é experiência para chegar até ele, não é através dela que chegamos a ele.)através dela que chegamos a ele.)

Exemplo de Kant é:Exemplo de Kant é: “ “Todos os corpos são extensos”.Todos os corpos são extensos”.

Page 6: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Se considerarmos o juízo: “Todos os Se considerarmos o juízo: “Todos os corpos são extensos”, o predicado é corpos são extensos”, o predicado é um um aspecto do múltiplo de intuições aspecto do múltiplo de intuições que penso ao pensar o conceito de que penso ao pensar o conceito de corpocorpo..

Outros exemplos são:Outros exemplos são:

““Todos os homens são homens” Todos os homens são homens” (tautologia),(tautologia),

“ “Todos os gregos são homens”,Todos os gregos são homens”,

“ “Todos os triângulos tem três lados”,Todos os triângulos tem três lados”,

“ “Todos os solteiros são não casados”.Todos os solteiros são não casados”.

Nos últimos três casos o predicado Nos últimos três casos o predicado está apenas está apenas implicitamenteimplicitamente contido no contido no conceito do sujeito.conceito do sujeito.

Page 7: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Características do juízo analítico:Características do juízo analítico:

1) A negação é CONTRADITÓRIA 1) A negação é CONTRADITÓRIA (negá-los contradiz o princípio da não-(negá-los contradiz o princípio da não-contradição, ou ~(P & ~P)).contradição, ou ~(P & ~P)).

2) São PURAMENTE EXPLICATIVOS, 2) São PURAMENTE EXPLICATIVOS, NÃO AMPLIANDO O CONHECIMENTO.NÃO AMPLIANDO O CONHECIMENTO.

Na opinião de Kant a característica 2 é desastrosa para o racionalista porque para ele a ciência é feita de juízos ampliadores do conhecimento e se tudo o que a razão nos oferece são juízos analíticos e eles não ampliam o conhecimento, então eles não são capazes de fundamentar a ciência.

Page 8: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Afinal, as LEIS da física newtoniana são AMPLIADORAS DO CONHECIMENTO, o mesmo acontecendo, na opinião de Kant, com o conhecimento matemático!

Page 9: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

2) Vejamos agora o empirismo de Locke, 2) Vejamos agora o empirismo de Locke, Berkeley e Hume. Ele dizia que não temos Berkeley e Hume. Ele dizia que não temos idéias inatas e que idéias inatas e que a única fonte de a única fonte de conhecimento é a experiência...conhecimento é a experiência...

Os juízos que contam eram EMPÍRICOS (o Os juízos que contam eram EMPÍRICOS (o que Leibniz chamava de que Leibniz chamava de VERDADES DE VERDADES DE FATOFATO) ou, no dizer de Kant,) ou, no dizer de Kant,

JUÍZOS SINTÉTICOS (A POSTERIORI) JUÍZOS SINTÉTICOS (A POSTERIORI) (Df) = SÃO SINTÉTICOS PORQUE (Df) = SÃO SINTÉTICOS PORQUE NELES NELES O PREDICADO NÃO ESTÁ O PREDICADO NÃO ESTÁ

CONTIDO NO CONCEITO DO CONTIDO NO CONCEITO DO SUJEITOSUJEITO

e são A POSTERIORI PORQUE e são A POSTERIORI PORQUE DEPENDEM DA EXPERIÊNCIA.DEPENDEM DA EXPERIÊNCIA.

Exemplo de Kant: Exemplo de Kant: “Todos os corpos tem “Todos os corpos tem peso”.peso”.

Page 10: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Consideremos os exemplos:Consideremos os exemplos:

““Todos os corpos tem peso”,Todos os corpos tem peso”, “ “A terra gira em torno do sol”, A terra gira em torno do sol”, “ “Meu carro é amarelo”...Meu carro é amarelo”...

Se examinarmos o conceito dos Se examinarmos o conceito dos sujeitos: corpo, carro e terra, não sujeitos: corpo, carro e terra, não encontraremos o predicado contido.encontraremos o predicado contido.

Sem dúvida esses juízos dependem da Sem dúvida esses juízos dependem da experiência para serem conhecidos.experiência para serem conhecidos.

Page 11: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

As características dos juízos sintéticos As características dos juízos sintéticos são:são:

1) 1) Podem ser NEGADOS SEM Podem ser NEGADOS SEM CONTRADIÇÃOCONTRADIÇÃO..

2) São 2) São AMPLIADORESAMPLIADORES DO DO CONTEÚDO DO CONHECIMENTO.CONTEÚDO DO CONHECIMENTO.

3) 3) NÃO TEM VALOR UNIVERSAL E NÃO TEM VALOR UNIVERSAL E NECESSÁRIO.NECESSÁRIO.

Para Kant a característica 3) é uma deficiência gravedeficiência grave, pois para ele os juízos verdadeiramente científicos das matemáticas e da física newtoniana PRECISAVAM SER NECESSÁRIOS E UNIVERSAIS!

Page 12: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Na época de Kant era tido como certo que a geometria euclidiana era inatacável e que as leis da mecânica newtoniana eram VERDADES ÚLTIMAS descobertas pela física. (Hoje, contrariamente, impera a idéia peirceana do FALIBILISMO da ciência.)

Mas juízos empíricos, ou seja, juízos sintéticos não podem ter a sua não podem ter a sua universalidade garantida!universalidade garantida!

Por conseguinte, o filósofo empirista não é capaz de fundamentar nem as matemáticas nem a física, como um cético como Hume teria sabido admitir.

Page 13: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

COMO RESULTADO DISSO, NEM O EMPIRISMO, QUE VALORIZA AS VERDADES DE FATO, NEM O RACIONALISMO, QUE VALORIZA

AS VERDADES DA RAZÃO, É CAPAZ DE FUNDAMENTAR O

CONHECIMENTO CIENTÍFICO!

O sujeito só pode oferecer universalidade e o objeto só pode

oferecer novidade. Donde o racionalismo reduz o

conhecimento a universalidade sem novidade e o empirismo o

reduz à novidade sem universalidade...

Page 14: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A SOLUÇÃOSOLUÇÃO KANTIANAKANTIANA

Ela consiste em propor que a ciência (matemáticas e física) não se fundamenta nem nos juízos SINTÉTICOS nem nos juízos ANALÍTICOS, mas que

ela se funda em algo novo que ele chamou de JUÍZOS SINTÉTICOS A PRIORI.JUÍZOS SINTÉTICOS A PRIORI.

JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI (Df) JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI (Df) = = AQUELE EM QUE O CONCEITO DO AQUELE EM QUE O CONCEITO DO

PREDICADO NÃO ESTÁ CONTIDO NO PREDICADO NÃO ESTÁ CONTIDO NO CONCEITO DO SUJEITO (é CONCEITO DO SUJEITO (é

SINTÉTICO)SINTÉTICO)

e também é A PRIORI, POIS e também é A PRIORI, POIS INDEPENDE DA EXPERIÊNCIAINDEPENDE DA EXPERIÊNCIA..

Page 15: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Exemplos de Kant:

““7 + 5 = 12”, 7 + 5 = 12”,

““A reta é a distância mais curta entre dois A reta é a distância mais curta entre dois pontos”,pontos”,

“ “Todo evento tem uma causa”.Todo evento tem uma causa”.

Nesses exemplos o predicado não está predicado não está contido no conceito do sujeitocontido no conceito do sujeito e ao mesmo tempo eles são para Kant ampliadores do conhecimento.ampliadores do conhecimento.

E é informativo saber que todos os eventos tem uma causa...

Page 16: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Daí as características do juízo Daí as características do juízo sintético a priori. Ele é:sintético a priori. Ele é:

1) é AMPLIADOR DO 1) é AMPLIADOR DO CONHECIMENTO,CONHECIMENTO,

2) é NECESSÁRIO E UNIVERSAL2) é NECESSÁRIO E UNIVERSAL

SENDO POR ISSO CAPAZ DE FUNDAMENTAR A CIÊNCIA.

Ao propor fundamentar o conhecimento por meio de juízos sintéticos a priori Kant opera o que chamou de sua REVOLUÇÃO COPERNICANA

Page 17: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A REVOLUÇÃO COPERNICANA:A REVOLUÇÃO COPERNICANA:

O conhecimento não resulta nem O conhecimento não resulta nem do SUJEITO nem do OBJETO, mas do SUJEITO nem do OBJETO, mas

da AÇÃO da AÇÃO COMBINADACOMBINADA DE DE AMBOS: o sujeito dá a AMBOS: o sujeito dá a FORMAFORMA, o , o

objeto dá a objeto dá a MATÉRIAMATÉRIA, e o , e o CONHECIMENTO empírico resulta CONHECIMENTO empírico resulta de um elemento A PRIORI (vindo de um elemento A PRIORI (vindo do sujeito) e outro A POSTERIORI do sujeito) e outro A POSTERIORI

(vindo do objeto).(vindo do objeto).

O conhecimento não é mais reprodução O conhecimento não é mais reprodução passivapassiva do objeto, mas do objeto, mas

CONSTRUÇÃOCONSTRUÇÃO ATIVAATIVA DO OBJETO PELO DO OBJETO PELO SUJEITOSUJEITO. Ou, na . Ou, na

metáfora kantiana:metáfora kantiana:

Page 18: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A metáfora da revolução copernicana:

“Copérnico, não podendo mais admitir que todo o exército dos astros se move em torno do espectador, julgou admitir que o o observador gira e que os astros estão observador gira e que os astros estão paradosparados.

Assim também na metafísica...

Julgamos dever admitir que é o espectador, é o espectador, o sujeito, que se move...o sujeito, que se move...

Pois se a intuição deve se conformar à se a intuição deve se conformar à natureza dos objetosnatureza dos objetos, não vejo como se possa saber algo deles a priori.

Mas se o objeto deve se conformar à se o objeto deve se conformar à natureza de nossa faculdade intuitiva, natureza de nossa faculdade intuitiva, posso muito bem mostrar essa possibilidade.”

Page 19: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Com a admissão dos juízos sintéticos a priori a aritmética, a geometria e a física aritmética, a geometria e a física

tornam-se capazes de serem demonstradas tornam-se capazes de serem demonstradas universalmente válidas, pois sua verdade se universalmente válidas, pois sua verdade se

constata a priori.constata a priori.

A finalidade da Crítica da razão pura é mostrar comocomo isso acontece.

Para tal é preciso fazer a razão voltar-se fazer a razão voltar-se para si mesma e se considerar criticamente, para si mesma e se considerar criticamente,

justificando assim a existência de juízos justificando assim a existência de juízos sintéticos a priori, e com isso os limites do sintéticos a priori, e com isso os limites do

que pode ser legitimamente pensado.que pode ser legitimamente pensado.

Para isso ele precisa começar investigando as operaçõesoperações da mente, que são:

APREENSÃO, JUÍZO E RACIOCÍNIO.

Page 20: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Daí a divisão da Crítica três partes principais:

1) A ESTÉTICA TRANSCENDENTAL, que estuda a APREENSÃO.

2)LÓGICA TRANSCENDENTAL:

2a) A ANALÍTICA TRANSCENDENTAL, que estuda o JUÍZO

2b) A DIALÉTICA TRANSCENDENTAL, que estuda a RAZÃO

A seguir veremos resumidamente cada uma delas...

Page 21: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

ESTÉTICA TRANSCENDENTAL

Page 22: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

O pano de fundo da discussão é a disputa sobre a natureza do espaço entre NEWTON (defendido por Clarke) e LEIBNIZ

Newton: concepção absolutaabsoluta: ESPAÇO E TEMPO SÃO ÚNICOS, ABSOLUTOS E IMUTÁVEIS, dentro deles se encontrando os corpos físicos. Como um grande caixote!

Leibniz: concepção relacionalrelacional. ESPAÇO E TEMPO SÃO CONSTITUÍDOS através das RELAÇÕES ENTRE OS CORPOS FÍSICOS,

Exs:

em cima, embaixo, ao lado de de...

antes, depois, no mesmo momento...

Page 23: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Kant discorda de ambos:

Ambos pressupõem a REALIDADE OBJETIVA DO ESPAÇO e TEMPO.

Mas se o ESPAÇO E TEMPO SÃO OBJETIVOS, A MATEMÁTICA E A GEOMETRIA, que dependem do espaço e tempo para se constituírem, NÃO PODEM TER A SUA UNIVERSALIDADE E NECESSIDADE GARANTIDA, pois devem ser sintéticas a posteriori, ou seja, dependentes da experiência, posto que para Kant elas não são analíticas!

Por isso espaço e tempo NÃO PODEM SER espaço e tempo NÃO PODEM SER OBJETIVOS.OBJETIVOS.

Page 24: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Antes de começar a expor o pensamento de Kant é preciso distinguir entre TRANSCENTE (-) e TRANSCENDENTAL (+):

1) TRANSCENDENTE = AQUILO QUE TRANSCENDENTE = AQUILO QUE ULTRAPASSA TODA A ULTRAPASSA TODA A EXPERIÊNCIAEXPERIÊNCIA

( metafísica pré-kantiana).

2) TRANSCENDENTAL = TRANSCENDENTAL = AS AS CONDIÇÕES SUPREMAS PARA CONDIÇÕES SUPREMAS PARA QUALQUER TIPO DE QUALQUER TIPO DE CONHECIMENTOCONHECIMENTO

(espaço e tempo, categorias, as idéias da razão)

============================================

Page 25: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A ESTÉTICA TRANSCENDENTAL (do grego ‘aesthesis’ = sensação) visa mostrar como como

são possíveis a matemática e a são possíveis a matemática e a geometria.geometria.

Para Kant a matemática e a geometria são conhecimentoconhecimento universaluniversal de caráter intuitivo, a geometria requer espaçoespaço (e tempo) e a matemática requer o tempotempo.

Elas são universaisuniversais porque ESPAÇO e ESPAÇO e TEMPO não pertencem ao mundo externo TEMPO não pertencem ao mundo externo em si mesmo, mas à própria menteem si mesmo, mas à própria mente.

Eles são FORMAS A PRIORI DA INTUIÇÃO FORMAS A PRIORI DA INTUIÇÃO SENSÍVEL, dotadas de universalidade e SENSÍVEL, dotadas de universalidade e

intuitividade, residindo na menteintuitividade, residindo na mente!!

Por se encontrarem na mente, as matemáticas são a a prioripriori, independentes da experiência, pois AS

FORMAS A PRIORI DA INTUIÇÃO SE LHES SE LHES SOBREPÕEM...SOBREPÕEM...

Page 26: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Mas por que espaço e tempo são Mas por que espaço e tempo são condições a condições a prioripriori de toda a experiência e de toda a experiência e nãonão são são resultadosresultados da experiência? da experiência? Argumentos:Argumentos:

1)1)Qualquer sensação de coisas externas Qualquer sensação de coisas externas PRESSUPÕEPRESSUPÕE a intuição do ESPAÇO, e o TEMPO a intuição do ESPAÇO, e o TEMPO está presente em todas as intuições. está presente em todas as intuições. (Não podem (Não podem vir juntas?)vir juntas?)

2)2) Se você pensa em RELAÇÕES, como acima, ao Se você pensa em RELAÇÕES, como acima, ao lado de, você já as situa no espaço. Se X está ao lado de, você já as situa no espaço. Se X está ao lado de Y, você JÁ ASSUME A IDÉIA de espaço. O lado de Y, você JÁ ASSUME A IDÉIA de espaço. O mesmo com o antes e o depois no tempo. mesmo com o antes e o depois no tempo. (Mas (Mas não vem juntos?)não vem juntos?)

3)3)Você não pode imaginar objetos sem espaço, mas Você não pode imaginar objetos sem espaço, mas pode imaginar o espaço sem objetos... pode imaginar o espaço sem objetos... (eu não (eu não posso).posso).

2) Além disso ESPAÇO E TEMPO SÃO 2) Além disso ESPAÇO E TEMPO SÃO ÚNICOSÚNICOS E E ILIMITADOSILIMITADOS, não podendo ser abrangidos por , não podendo ser abrangidos por CONCEITOS. Sob um conceito (ex: casa) caem CONCEITOS. Sob um conceito (ex: casa) caem objetos, o que não acontece aqui. objetos, o que não acontece aqui. (Mas há (Mas há conceitos sob os quais cai uma só entidade.)conceitos sob os quais cai uma só entidade.)

Page 27: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Para Kant esses argumentos mostram quePara Kant esses argumentos mostram que

ESPAÇO E TEMPO não sãoESPAÇO E TEMPO não são NEM PRODUTOS DA EXPERIÊNCIANEM PRODUTOS DA EXPERIÊNCIA NEM CONCEITOS.NEM CONCEITOS.

Logo:Logo:

eles só podem ser eles só podem ser FORMAS A FORMAS A PRIORI DE NOSSA MENTE, PRIORI DE NOSSA MENTE, ESQUEMAS VAZIOS que se ESQUEMAS VAZIOS que se

tornam perceptíveis no ato de tornam perceptíveis no ato de formação de conteúdos empíricos.formação de conteúdos empíricos.

Page 28: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A conclusão é a oposição:

FORA: OBJETO x DENTRO, onde FORA: OBJETO x DENTRO, onde encontramos: encontramos:

1) O sentido externosentido externo recebe os estímulos sob a forma ESPACIAL, de modo que toda sensação nos parece EXTENSA.

2) O sentido internosentido interno (condição imediata das aparências internas e mediata das aparências externas) recebe os estímulos sob a forma de TEMPO, pois toda sensação ocupa um lugar no tempo.

PARA KANT O PARA KANT O ESPAÇOESPAÇO É A FORMA DE É A FORMA DE TUDO O QUE É PERCEBIDO PELO TUDO O QUE É PERCEBIDO PELO

SENTIDO EXTERNOSENTIDO EXTERNOe O TEMPO É A FORMA DE TUDO O QUE É e O TEMPO É A FORMA DE TUDO O QUE É

PERCEBIDO PELO SENTIDO INTERNO e PERCEBIDO PELO SENTIDO INTERNO e também externo.também externo.

Page 29: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Da Da SÍNTESESÍNTESE da da MATÉRIAMATÉRIA constituída pelos constituída pelos DADOS DADOS

SENSORIAISSENSORIAIS sob a sob a FORMAFORMA do do ESPAÇO E TEMPOESPAÇO E TEMPO resulta o resulta o FENÔMENOFENÔMENO..

(A intuição humana é só (A intuição humana é só sensível, só Deus tem intuição sensível, só Deus tem intuição

intelectual)intelectual)

******

Page 30: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Estabelecidos esses princípios Kant Estabelecidos esses princípios Kant conclui que conclui que a matemática e a a matemática e a geometria geometria são CIÊNCIAS porque são são CIÊNCIAS porque são formadas de proposições UNIVERSAIS formadas de proposições UNIVERSAIS E EXTENSIVAS DE NOSSO E EXTENSIVAS DE NOSSO CONHECIMENTO:CONHECIMENTO:

E essa UNIVERSALIDADE só é E essa UNIVERSALIDADE só é possível porque ESPAÇO E TEMPO, possível porque ESPAÇO E TEMPO, que acompanham todas as que acompanham todas as proposições geométricas e proposições geométricas e matemáticas, matemáticas, são FORMAS A PRIORI são FORMAS A PRIORI E PORTANTO UNIVERSAISE PORTANTO UNIVERSAIS..

Isso não quer dizer que espaço e tempo não ão quer dizer que espaço e tempo não sejam de modo algum reais (como nos sejam de modo algum reais (como nos sonhos): ELES SÃO sonhos): ELES SÃO IDEALIDADES IDEALIDADES TRANSCENDENTAIS E REALIDADES TRANSCENDENTAIS E REALIDADES EMPÍRICAS.EMPÍRICAS.

Page 31: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Com efeito, nada se prova em matemática e geometria apenas pela análiseanálise conceitual, mas por síntesesíntese. É sempre preciso o uso dos sentidos... sentidos... EXEMPLOS:

1)“A reta é a distância mais curta entre dois pontos”.

R: é a própria definição de reta que está aqui explicitada.

2) Como sabemos que “só uma única reta pode cortar outra em um ponto formando um ângulo reto com a primeira”?

R: primeiro desenhamos, apelamos à nossa intuição espacialintuição espacial, depois sabemos que isso vale universalmente (na geometria euclideana).

Page 32: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Considere agora o teorema de Euclides:

“A soma dos ângulos internos de um triângulo é 180º”.

Kant nota que não é uma proposição analítica, pois o predicado não está contido no sujeito. Poderia ser outro número qualquer! Precisamos de uma PROVA que se dá por meio de SÍNTESES: B E 1

2 3 2 1 A C D

Page 33: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Também aritmética é sintética a priori. Considere o juízo:

“2 + 2 = 4”

Para Kant ele é sintético, o que se mostra Para Kant ele é sintético, o que se mostra quando consideramos uma prova como a quando consideramos uma prova como a proposta por Leibniz:proposta por Leibniz:

2 + 2 = (1 + 1) + (1 + 1)2 + 2 = (1 + 1) + (1 + 1)(1 + 1) + (1 + 1) = 1 + 1 + 1 + 1 (1 + 1) + (1 + 1) = 1 + 1 + 1 + 1 (tirando os parêntesis)(tirando os parêntesis) = (1 + 1) + 1 + 1 (df. 2 = (1 + 1) + 1 + 1 (df. 2 = 1 + 1)= 1 + 1) = 2 + 1 + 1 = 2 + 1 + 1 = (2 + 1) + 1 (df. 3 = (2 + 1) + 1 (df. 3 = 2 + 1)= 2 + 1) = 3 + 1 (df. 4 = 3 + 1 (df. 4 = 3 + 1)= 3 + 1) = 4= 4

Mas Kant não acha que essa prova seja Mas Kant não acha que essa prova seja analítica, pois ela se dá no TEMPO! Mat. analítica, pois ela se dá no TEMPO! Mat. requer tempo... Como a geometria.requer tempo... Como a geometria.

Page 34: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Começa a se delinear que o o CONHECIMENTO humano se encontra CONHECIMENTO humano se encontra para Kant para Kant entreentre doisdois termostermos opostosopostos, os

quais são incognoscíveisincognoscíveis:

1)o OBJETO ou COISA EM SI ou OBJETO ou COISA EM SI ou NOUMENONNOUMENON do lado objetivoobjetivo, e

2) o SUJEITOSUJEITO entendido como XX ou EU EU TRANSCENDENTALTRANSCENDENTAL do lado subjetivosubjetivo.

Pois SÓ CONHECEMOS O QUE SE DÁ O QUE SE DÁ SOB AS CONDIÇÕES TRANSCENDENTAIS SOB AS CONDIÇÕES TRANSCENDENTAIS DO CONHECIMENTO, QUE SÃO OSDO CONHECIMENTO, QUE SÃO OS FENÔMENOSFENÔMENOS,

que quando são objetivos formam a NATUREZANATUREZA

e quando subjetivos formam o EUEU EMPÍRICOEMPÍRICO..

Page 35: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

ANALÍTICA ANALÍTICA TRANSCENDENTALTRANSCENDENTAL

Page 36: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Com a sua analítica transcendental Kant quer estudar a FACULDADE DO ENTENDIMENTO como uma maneira de investigar os conceitos a priori.

Para Kant

A SENSAÇÃO produz INTUIÇÕESINTUIÇÕES,

enquanto

O ENTENDIMENTO produz os CONCEITOSCONCEITOS.

Mas não há conhecimento sem o intercêmbio entre ambas:

“CONCEITOS SEM INTUIÇÕES SÃO VAZIOS E INTUIÇÕES SEM CONCEITOS SÃO CEGAS.”

Page 37: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Além disso, assim como na estética ele pretende ter provado que as matemáticas são possíveis, na analítica ele quer provar como a ciência empírica (a física newtoniana) é possível.

Como podemos saber que o campo da experiência está submetido à LEI UNIVERSAL E NECESSÁRIA?

Como são possíveis leis da física como:

G = M1 x M2M1 x M2

Page 38: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Ora, para Kant elas só são possíveis se o INTELECTO IMPÕE ESSAS LEIS À

NATUREZA.

O sujeito que as dita ÀS IMPÕE - não à natureza em si mesma - mas à

NATUREZA COMO ELA NOS APARECE, À NATUREZA FENOMÊNICA.

Só por serem provenientes do SUJEITO que as LEIS DA NATUREZA TEM

CARÁTER UNIVERSAL E NECESSÁRIO.

Page 39: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Para entender como Kant torna esse ponto plausível precisamos percorrer seu longo caminho argumentativo.

Para Kant o ENTENDIMENTO funciona aplicando CONCEITOS MÁXIMOS, as CATEGORIASCATEGORIAS, aos DADOS DA INTUIÇÃO.

Para entendermos o que é uma categoria Para entendermos o que é uma categoria é bom voltar por um momento a é bom voltar por um momento a Aristóteles...Aristóteles...

Aristóteles entendia como categorias os Aristóteles entendia como categorias os “os gêneros supremos do ser”, produzindo “os gêneros supremos do ser”, produzindo

uma tábua de conceitos que se aplicavam a uma tábua de conceitos que se aplicavam a tudo o que é dado. Ele tinha uma lista de tudo o que é dado. Ele tinha uma lista de

oito, por vezes dez categorias.oito, por vezes dez categorias.

Page 40: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Eis as categorias de Aristóteles:

1)1)Substância ou essência,Substância ou essência,2)2)Qualidade,Qualidade,3)3)Quantidade,Quantidade,4)4)Relação,Relação,5)5)Agir,Agir,6)6)Sofrer a ação,Sofrer a ação,7)7)Lugar (espaço),Lugar (espaço),8)8)Quando (tempo).Quando (tempo).

Assim, uma substância, essa ROSA, tem qualidade, é vermelha, tem quantidade, certo peso, está relacionada às outras flores do feixe, age ao exalar um perfume e ocupa certo lugar e dura um certo tempo.

Como vêem, elas parecem ser conceitos Como vêem, elas parecem ser conceitos fundamentais!fundamentais!

Page 41: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Kant não estava satisfeito com a tábua das categorias de Aristóteles, pois as considerava obtidas aleatoriamente.

Ele considera que conceitos são sempre predicados de JUÍZOS e que o entendimento também consiste na FACULDADE DE JULGAR, DE FORMAR JUÍZOS.

Com base nisso ele teve a idéia de construir a sua própria lista de categorias, usando como fio condutor A CLASSIFICAÇÃO LÓGICA DOS JUÍZOS, de modo que de cada espécie de juízo ele possa abstrair um conceito máximo, uma categoria, produzindo assim a sua própria tábua de categorias!

Page 42: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Kant produz uma tábua com 12 tipos de juízo segundo qualidade, quantidade, relação e modalidade, retirando daí 12 categorias:

ESQUEMA: JUÍZO: CATEGORIA:

QUANTIDADE singulares QUANTIDADE singulares totalidade . totalidade . particulares multiplicidade . particulares multiplicidade . universais unidade universais unidade

QUALIDADE afirmativos ser QUALIDADE afirmativos ser . negativos . negativos não-ser . não-ser . indefinidos limitação indefinidos limitação RELAÇÃO categóricos RELAÇÃO categóricos substância-inerência . substância-inerência . hipotéticos causalidade-dependência . hipotéticos causalidade-dependência . disjuntivos comunhão- disjuntivos comunhão-reciprocidadereciprocidade

MODALIDADE problemáticos possibilidade-MODALIDADE problemáticos possibilidade-impossibilidade . Assertóricos impossibilidade . Assertóricos realidade-irrealidade . realidade-irrealidade . Apodíticos necessidade e contingência Apodíticos necessidade e contingência

Page 43: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Quanto à QUANTIDADE os juízos se dividem em:

1)1)UNIVERSALUNIVERSAL: Ex: todos os homens são mortais.

2) PARTICULARPARTICULAR: Ex: alguns homens são calvos.

3) SINGULAR:SINGULAR: Ex: Sócrates é mortal.

Desses três momentos ou subclasses de juízos se deduzem respectivamente três categorias:

1)1)UNIDADEUNIDADE

2)2)PLURALIDADEPLURALIDADE

3)3)TOTALIDADETOTALIDADE

Page 44: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Quanto à QUALIDADE os juízos podem ser:

1) AFIRMATIVOAFIRMATIVO (ex: A alma é mortal)2) NEGATIVONEGATIVO (ex: A alma não é

mortal)3) INFINITOINFINITO (ex: A alma é não-mortal) (É infinito porque o sujeito é asserido

como pertencendo a uma classe infinita de coisas que não incluem o conceito de ser mortal.)

Dessas momentos se deduzem respectivamente as categorias de:

1)1)REALIDADEREALIDADE2)2)NEGAÇÃONEGAÇÃO3)3)LIMITAÇÃOLIMITAÇÃO

Page 45: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Quanto à RELAÇÃORELAÇÃO:

1)1)CATEGÓRICOCATEGÓRICO: Afirma relação S-P entre 2 conceitos, ex: “Os maus serão punidos”.

2)2)HIPOTÉTICO:HIPOTÉTICO: Afirma relação de consequência entre dois juízos, ex: “Se há justiça, os maus serão punidos.”

3)3)DISJUNTIVO:DISJUNTIVO: Afirma disjunção entre dois ou mais juízos, ex: “O mundo existe ou por acaso ou por necessidade ou por uma causa externa”.

Daí se deduzindo respectivamente as categorias de:

1)1)INERÊNCIA E SUBSISTÊNCIAINERÊNCIA E SUBSISTÊNCIA

2)2)CAUSALIDADE E DEPENDÊNCIACAUSALIDADE E DEPENDÊNCIA

3)3)COMUNIDADECOMUNIDADE (reciprocidade entre agente e paciente)

Page 46: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Quanto à MODALIDADE:

1) PROBLEMÁTICOPROBLEMÁTICO (ex: “O gato pode estar no tapete”)

2) ASSERTÓRICOASSERTÓRICO (ex: “O gato está no tapete”)

3) APODÍTICOAPODÍTICO (ex: “O gato deve estar em algum lugar”)

Desses momentos se deduzindo respectivamente as categorias de:

1)1)POSSIBILIDADE-IMPOSSIBILIDADEPOSSIBILIDADE-IMPOSSIBILIDADE2)2)EXISTÊNCIA-INEXISTÊNCIAEXISTÊNCIA-INEXISTÊNCIA3)3)NECESSIDADE-CONTINGÊNCIANECESSIDADE-CONTINGÊNCIA

Essas classificações são um tanto artificiais e mesmo em desacordo com a lógica

contemporânea, com o agravante de que elas se impõem ao restante da Crítica.

Essa dedução da origem a priori das categorias a partir dos juízos é chamada de DEDUÇÃO

METAFÍSICA para se distinguir da subsequente DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL

Page 47: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Segundo Kant o juízo dá-se quando superpomos categorias à associação do predicado ao sujeito, por exemplo:

Ex.1:

““Essa rosa é vermelha”,Essa rosa é vermelha”, categorias aplicadas: totalidade, ser, substância e inerência, realidade.

O intelecto pode agora realizar juízos universais ao impor categorias à experiência!

Ex.2:

““Se um metal é aquecido ele se Se um metal é aquecido ele se expande”:expande”: unidade, ser, causalidade, realidade.

Page 48: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Entendemos aqui como as categorias se aplicam aos objetos da experiência e vemos que há três fatores, um passivo e dois ativos, envolvidos no conhecimento a priori:

(i)(i)O múltiplo da intuição pura (a moldura O múltiplo da intuição pura (a moldura espacio-temporal)espacio-temporal)

(ii)(ii) A síntese desse múltiplo por meio da A síntese desse múltiplo por meio da imaginação.imaginação.

(iii)(iii) Os conceitos que dão unidade a essa Os conceitos que dão unidade a essa síntese. síntese.

A imaginação, com a ajuda dos A imaginação, com a ajuda dos conceitos puros do conceitos puros do entendimento, produz a entendimento, produz a atividade combinatória que dá atividade combinatória que dá sentido ao material apresentado sentido ao material apresentado pela sensibilidade. pela sensibilidade.

Page 49: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Chegamos aqui à famosa DEDUÇÃO Chegamos aqui à famosa DEDUÇÃO TRANSCENDENTAL.TRANSCENDENTAL.

A questão é: o que justifica a aplicação dos A questão é: o que justifica a aplicação dos conceitos puros do entendimento?conceitos puros do entendimento?

Resumidamente a resposta é:Resumidamente a resposta é:

Como as categorias se aplicam às Como as categorias se aplicam às aparências e não à coisa em si, aparências e não à coisa em si, deve ser natural que essa deve ser natural que essa aplicação dependa em parte da aplicação dependa em parte da própria estrutura de nossas própria estrutura de nossas mentes, só através delas podendo mentes, só através delas podendo ser os objetos pensados.ser os objetos pensados.

Mais detalhadamente:Mais detalhadamente:

Page 50: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

1)O múltiplo dado à intuição espacio-temporal é uma variedade de cores, odores, gostos, que não somos capazes de nomear nem conhecer. Para que isso aconteça nós precisamos ORGANIZÁ-LO ATIVAMENTE através da ATIVIDADE EXPONTÂNEA DO ENTENDIMENTO. Ele junta o múltiplo fazendo-nos reconhecer uma cadeira ou um cão.

2)Conceitos empíricos são formados por ABSTRAÇÃO. O problema é como são formados conceitos a priori, como as CATEGORIAS. Ele quer mostrar que assim como todo o material sensível é espacio-temporalmente ordenado, todo entendimento é ordenado segundo as CATEGORIAS, que são REGRASREGRAS, CONDIÇÕES FUNDAMENTAIS DE NOSSO PENSAMENTO.

Page 51: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

3) A atividade do entendimento consiste essencialmente de um ATO DE COMBINAÇÃO OU SÍNTESE. Se penso “João é mais alto que Maria” (juízo empírico) ou “Todo evento tem uma causa” (juízo a priori), estou combinando em pensamento duas coisas e dizendo que elas se combinam na realidade.

4) Essa atividade combinatória pressupõe uma UNIDADE na mente que combina. Toda representação (Vorstellung) precisa poder ser relacionada a representações passadas ou futuras numa única mente. Só essa unidade da consciência garante a síntese. Essa unidade é chamada de UNIDADE TRANSCENDENTAL DA APERCEPÇÃO. A mente forma uma unidade e esse princípio da unidade da unidade sintética da apercepção é o supremo princípio de todo o juízo.

Page 52: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Como ele diz numa famosa passagem:Como ele diz numa famosa passagem:

““o eu penso deve poder acompanhar todas o eu penso deve poder acompanhar todas as minhas representações pois elas não as minhas representações pois elas não seriam minhas se não pertencessem todas a seriam minhas se não pertencessem todas a minha autoconsciência.”minha autoconsciência.”

(Assim, a solução de Kant para o problema do Eu é intermediária entre Descartes e Hume:

Descartes achava que o Eu fosse cognoscível imediatamente em si mesmo.

Hume achava que o Eu fosse uma ilusão fictícia.

Kant acha que ele existe, mas é incognoscível.)

Page 53: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Obs: a apercepçãoapercepção transcendentaltranscendental precisa ser distinguida da apercepção empírica ou sentido apercepção empírica ou sentido internointerno, pela qual me torno consciente da sucessão de meus estados mentaismentais internos.

5) Questão: como essa unidade determina o funcionamento das regras do entendimento? Para tal precisamos investigar mais a natureza do juízo. Como o entendimento difere juízos com referência objetiva de asserções puramente subjetivas? Se digo que “sinto peso” isso é diferente do juízo objetivo “Todos os corpos são pesados” em que as idéias de corpo e peso são objetivamente combinadas.

Ora, porque no juízo, diversamente da mera asserção, eu submeto as cognições dadas à UNIDADE OBJETIVA DA APERCEPÇÃO (B141). Se ajuizo “Corpos são pesados”, faço referência ao “EU PENSO”, que envolve a NECESSÁRIA UNIDADE DA APERCEPÇÃO

Page 54: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

6) Mas como o entendimento realiza essa como o entendimento realiza essa atividade de unificação por meio dos JUÍZOS atividade de unificação por meio dos JUÍZOS da lógica, que são funções das CATEGORIAS da lógica, que são funções das CATEGORIAS (como mostrou a dedução metafísica), (como mostrou a dedução metafísica), segue-se que o múltiplo da intuição deve se segue-se que o múltiplo da intuição deve se submeter às CATEGORIAS.submeter às CATEGORIAS.

7. Adicionalmente, Kant distingue a 7. Adicionalmente, Kant distingue a SÍNTESE DA APREENSÃO da SÍNTESE DA SÍNTESE DA APREENSÃO da SÍNTESE DA APERCEPÇÃO: a síntese da apreensão APERCEPÇÃO: a síntese da apreensão concerne à combinação do múltiplo em uma concerne à combinação do múltiplo em uma intuição empírica. Ex: posso olhar para uma intuição empírica. Ex: posso olhar para uma casa sem reconhecê-la como tal, eu combino casa sem reconhecê-la como tal, eu combino as impressões visuais antes de reconhecer a as impressões visuais antes de reconhecer a casa ou mesmo um objeto. Aqui espaço e casa ou mesmo um objeto. Aqui espaço e tempo provêem a unidade, mas quem dá tempo provêem a unidade, mas quem dá essa unidade ao múltiplo JÁ É O essa unidade ao múltiplo JÁ É O ENTENDIMENTO, que nos faz reconhecê-lo ENTENDIMENTO, que nos faz reconhecê-lo como em UM espaço e em UM tempo. como em UM espaço e em UM tempo.

Page 55: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Daí se segue que Kant pensa que a síntese empírica da apreensão deve se conformar com a síntese puramente intelectual da apreensão, e daí que toda a síntese, empírica ou a priori, deve se conformar com as categorias.

Ele dá dois exemplos dessa conformidade:

a)Eu percebo uma casa. Penso que ela é necessariamente estendida no espaço. Essa unidade sintética espacial tem sua origem no entendimento, no caso, na categoria de quantidade, que se aplica à extensão da casa.

b)Eu percebo que a água se congela. Eu relaciono temporalmente os estados de fluidez e solidez. A unidade sintética é aqui também dada pelo entendimento, pela categoria de causalidade.

Page 56: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

O resultado disso tudo é que a NATUREZA deve se sujeitar às categorias do entendimento, pois ela é composta de aparências, e o MODO como ela aparece é determinado, em suas características gerais, pela aplicação das categorias, além da recepção do múltiplo pela moldura espacio-temporal.

Claro que o conhecimento empírico demanda experiência para ser adquirido. Mas a sua estrutura geral não é algo descoberto pela investigação empírica, mas pelo poder combinatório da mente humana.

***

Page 57: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A explicação das categorias dá lugar a princípios chamados por Kant de ANALOGIAS DA EXPERIÊNCIA, que são LEIS fundamentais da experiência.

1ª ANALOGIA é o princípio da permanência 1ª ANALOGIA é o princípio da permanência da substância:da substância:

“ “Em toda mudança dos fenômenos a Em toda mudança dos fenômenos a substância permanece, e a quantidade desta substância permanece, e a quantidade desta na natureza não aumenta nem diminui.”na natureza não aumenta nem diminui.”

Esse princípio é condição necessária para se perceber a mudança. Se uma cadeira desaparece e uma mesa aparece em seu lugar não podemos falar de mudança. Mas se um pedaço de cera aquecido se torna líquido, isso é mudança. Essa mudança, contudo, pressupõe que a substância permaneceu inalterada. Essa substância, aliás, não é para Kant nem a ousia aristotélica, nem a mônada leibniziana, mas simplesmente a QUANTIDADE DE MATÉRIA, a MASSA newtoniana! É a quantidade de matéria que permanece idêntica.

Page 58: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

A segunda analogia institui o princípio da causalidade:

2ª ANALOGIA DA EXPERIÊNCIA:2ª ANALOGIA DA EXPERIÊNCIA:

““Todas as mudanças acontecem Todas as mudanças acontecem segundo as leis do nexo de causa e segundo as leis do nexo de causa e efeito”.efeito”.

Note que a causa Note que a causa NECESSITANECESSITA o efeito. o efeito.

Para Hume essa necessidade era subjetiva, fruto do Para Hume essa necessidade era subjetiva, fruto do mero hábito.mero hábito.

Para Kant o princípio da causalidade é ao contrário Para Kant o princípio da causalidade é ao contrário condição A PRIORI de toda a experiência, pois essa condição A PRIORI de toda a experiência, pois essa necessidade é imposta pelo sujeito, pela categoria necessidade é imposta pelo sujeito, pela categoria do intelecto que lhe dá objetividade,do intelecto que lhe dá objetividade,

i.e. validade universal, embora só no campo da i.e. validade universal, embora só no campo da experiência possível.experiência possível.

A demonstração disso tem vários argumentos A demonstração disso tem vários argumentos intercalados, a idéia principal é a seguinte:intercalados, a idéia principal é a seguinte:

Page 59: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

1) Mudança implica em sucessão. Ora, em certos casos a sucessão parece ser IRREVERSÍVEL para nós, razão pela qual a atribuimos ao OBJETO, ELA É OBJETIVA.

2) Quando a ordem da sucessão é IRREVERSÍVEL, nós a atribuimos ao nosso MODO DE PERCEBER, considerando-a como existente só em nossa REPRESENTAÇÃO e não no objeto.

3) Mas OBJETIVO equivale a NECESSÁRIO.

4) Assim, quando atribuimos a sucessão ao OBJETO, o antes e o depois parecem-nos IRREVERSIVELMENTE ligados, de modo que tal NECESSIDADE só pode ser proveniente do entendimento, da aplicação da CATEGORIA DE CAUSALIDADE.

Page 60: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Kant tenta ilustrar isso com um exemplo.

Imagine um barco que desce o rio em nossa direção. Não podemos por nossa vontade reverter a ordem de suas sucessivas posições.

Mas imagine as sucessivas representações que tenho de uma casa: olho para o térreo, depois para o teto. São reversíveis: posso olhar para o teto e depois para o térreo. Isso é critério para dizermos que não há sucessão objetiva, na casa, mas subjetiva.

Em ambos os casos, diz Kant, estamos lidando apenas com representações, mas uma ordem é objetiva, outra subjetiva.

A segunda analogia corresponde à lei da inércia, dizendo que “toda a mudança da matéria tem uma causa externa”, que ele quer fazer equivaler ao princípio da razão suficiente.

Page 61: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

3ª ANALOGIA DA EXPERIÊNCIA:3ª ANALOGIA DA EXPERIÊNCIA:

““Todas as substâncias, enquanto Todas as substâncias, enquanto podem ser percebidas no espaço como podem ser percebidas no espaço como contemporâneas, estão em contínua contemporâneas, estão em contínua ação recíproca”.ação recíproca”.

Corresponde à terceira lei da mecânica newtoniana.

***

Page 62: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

O ESQUEMATISMOO ESQUEMATISMO: Para se por em contato, intuições e juízos precisam de um INTERMEDIÁRIO, que é a IMAGINAÇÃO ou FANTASIA, a qual inicia a associação entre as duas coisas segundo esquemas fundamentais...

O TEMPO tem a função de fazer uma O TEMPO tem a função de fazer uma INTERMEDIAÇÃO entre CONCEITOS PUROS e INTERMEDIAÇÃO entre CONCEITOS PUROS e DADOS DA SENSIBILIDADE, estando sempre DADOS DA SENSIBILIDADE, estando sempre presente nas analogias da experiência.presente nas analogias da experiência.

Como as CATEGORIAS são COMPLETAMENTE Como as CATEGORIAS são COMPLETAMENTE HETEROGÊNEASHETEROGÊNEAS em relação às INTUIÇÕES, em relação às INTUIÇÕES,

é necessário um é necessário um MEIOMEIO INTERMEDIADORINTERMEDIADOR entre as entre as CATEGORIAS e as INTUIÇÕES,CATEGORIAS e as INTUIÇÕES, que Kant chama que Kant chama

de de ESQUEMAESQUEMA e que é produto da e que é produto da IMAGINAÇÃOIMAGINAÇÃO. .

O esquema forma uma O esquema forma uma IMAGEMIMAGEM que não é a que não é a imagem sensível particular, mas imagem sensível particular, mas a imagem a imagem

VISTA COMO EXEMPLO DE UM CONCEITOVISTA COMO EXEMPLO DE UM CONCEITO..

Ex: se exemplifico o número 3 com a imagem <***> Ex: se exemplifico o número 3 com a imagem <***> isso é um ESQUEMA, mas isso é NUMERÁVEL e o isso é um ESQUEMA, mas isso é NUMERÁVEL e o NUMERAR exige TEMPO.NUMERAR exige TEMPO.

Page 63: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Com base em tudo isso Kant pode concluir Com base em tudo isso Kant pode concluir que a física newtoniana é válida quando que a física newtoniana é válida quando aplicada ao mundo fenomênico, sendo aplicada ao mundo fenomênico, sendo necessária e universal!necessária e universal!

Falta, porém, uma coisa: é que o Falta, porém, uma coisa: é que o conhecimento não é constituído de conhecimento não é constituído de elementos separados uns dos outros, elementos separados uns dos outros, mas forma um TODO UNITÁRIO. mas forma um TODO UNITÁRIO.

Para explicar isso Kant recorre à Para explicar isso Kant recorre à suprema condição unificadora de toda suprema condição unificadora de toda a experiência, que é o EU a experiência, que é o EU TRANSCENDENTAL.TRANSCENDENTAL.

Afinal, o que liga todas as minhas Afinal, o que liga todas as minhas representações é o fato delas todas poderem representações é o fato delas todas poderem ser reconhecidas como ligadas a um EU, ser reconhecidas como ligadas a um EU, senão ele seria variegado.senão ele seria variegado.

Page 64: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Como ele diz numa famosa passagem:Como ele diz numa famosa passagem: ““o eu penso deve poder acompanhar todas o eu penso deve poder acompanhar todas

as minhas representações pois elas não as minhas representações pois elas não seriam minhas se não pertencessem todas a seriam minhas se não pertencessem todas a

minha autoconsciência.”minha autoconsciência.”

Essa consciência da continuidade do eu é Essa consciência da continuidade do eu é chamada por Kant de chamada por Kant de APERCEPÇÃO APERCEPÇÃO TRANSCENDENTAL.TRANSCENDENTAL.

A solução de Kant para o problema do Eu é intermediária entre Descartes e Hume:

Descartes achava que o Eu fosse cognoscível imediatamente em si mesmo.

Hume achava que o Eu fosse uma ilusão fictícia.

Kant acha que ele existe, mas é incognoscível.

Page 65: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Finalmente, há um problema com o conceito de NOUMENON (da coisa em si, do X, do sujeito transcendental):

Se dizemos que ele EXISTE, ou CAUSA os Se dizemos que ele EXISTE, ou CAUSA os FENÔMENOS, então aplicamos as categorias FENÔMENOS, então aplicamos as categorias

de realidade e causalidade a ele. Mas isso é de realidade e causalidade a ele. Mas isso é contraditório com os princípios da Crítica.contraditório com os princípios da Crítica.

Talvez por isso é que na segunda edição da Talvez por isso é que na segunda edição da Crítica ele passou a considerá-lo um Crítica ele passou a considerá-lo um CONCEITO LIMITE (Grenzbegriff), podendo CONCEITO LIMITE (Grenzbegriff), podendo ser entendido simplesmente como O QUE ser entendido simplesmente como O QUE NÃONÃO PODE SER OBJETO DA NOSSA PODE SER OBJETO DA NOSSA INTUIÇÃO SENSÍVEL.INTUIÇÃO SENSÍVEL.

Mas o é isso do qual nada pode ser dito? Mas o é isso do qual nada pode ser dito? Como Strawson notou, essa parece ser uma Como Strawson notou, essa parece ser uma tese ININTELIGÍVEL!tese ININTELIGÍVEL!

Page 66: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

DIALÉTICA TRANSCENDENTAL

Page 67: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

DIALÉTICA TRANSCENDENTAL = Estudo da atividade da RAZÃO,

com o fito de avaliar a POSSIBILIDADE DA METAFÍSICA.Para Kant a ATIVIDADE DA RAZÃO consiste em RACIOCINARRACIOCINAR COM O FITO DE UNIFICAR UNIFICAR TODA A EXPERIÊNCIA SOB AS 3 IDÉIAS TODA A EXPERIÊNCIA SOB AS 3 IDÉIAS FUNDAMENTAIS DA RAZÃOFUNDAMENTAIS DA RAZÃO, QUE SÃO:

1) IDÉIA DA ALMA1) IDÉIA DA ALMA

2) IDÉIA DO MUNDO2) IDÉIA DO MUNDO

3) IDÉIA DE DEUS 3) IDÉIA DE DEUS

Page 68: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Isso é feito através do raciocínio CATEGÓRICO, que corresponde à idéia da ALMA, através do raciocínio HIPOTÉTICO, que corresponde à idéia do MUNDO, e o raciocínio DISJUNTIVO, que corresponde à idéia de DEUS.

O que são essas idéias unificadoras?

IDÉIA DE ALMA = representa a IDÉIA DE ALMA = representa a TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO AO SUJEITO.RELAÇÃO AO SUJEITO.

IDÉIA DO MUNDO = representa a IDÉIA DO MUNDO = representa a TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO AOS OBJETOS FENOMÊNICOS.RELAÇÃO AOS OBJETOS FENOMÊNICOS.

IDÉIA DE DEUS = representa a IDÉIA DE DEUS = representa a TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM TOTALIDADE DA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO A TODO OBJETO POSSÍVEL, RELAÇÃO A TODO OBJETO POSSÍVEL, INTERNO E EXTERNO.INTERNO E EXTERNO.

Page 69: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

É importante entender o específico status É importante entender o específico status epistêmico das epistêmico das idéias de ALMA, MUNDO E de ALMA, MUNDO E

DEUS.DEUS.

Elas são para Kant CONDIÇÕES A Elas são para Kant CONDIÇÕES A PRIORI UNIFICADORAS DA PRIORI UNIFICADORAS DA

EXPERIÊNCIA.EXPERIÊNCIA.

Elas nem são derivadas da Elas nem são derivadas da experiênciaexperiência, , como pensavam os empiristas, como pensavam os empiristas, nemnem são representações das são representações das coisas em sicoisas em si, ,

como pensavam os racionalistas como como pensavam os racionalistas como Descartes.Descartes.

Elas tem como única função UNIR UNIR JUIZOS, JUIZOS, não podendo se referir não podendo se referir

efetivamente a nada.efetivamente a nada.

Page 70: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Elas não são conceitos, mas são FORMAS SEM CONTEÚDOFORMAS SEM CONTEÚDO, não possuindo VALOR CONSTITUTIVO!

Elas não são como os conceitos do não são como os conceitos do entendimento, capazes de entendimento, capazes de CONSTITUIR OBJETOS.CONSTITUIR OBJETOS.

Elas são meros IDEAIS REGULATIVOSIDEAIS REGULATIVOS, , DIRETIVOSDIRETIVOS . .Sua função é INDICAR UMA INDICAR UMA DIREÇÃODIREÇÃO, , UM UM PONTO DE CONVERGÊNCIA PONTO DE CONVERGÊNCIA HIPOTÉTICOHIPOTÉTICO, PROBLEMÁTICO, PARA , PROBLEMÁTICO, PARA O QUAL O QUAL TENDEMTENDEM TODOS OS TODOS OS RACIOCÍNIOS.RACIOCÍNIOS.

Page 71: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Por não atentar para isso a mente Por não atentar para isso a mente humana foi levada a produzir humana foi levada a produzir

inúmeros argumentos no sentido de inúmeros argumentos no sentido de provar que as idéias da razão se provar que as idéias da razão se

referem a COISAS EM SI ou a referem a COISAS EM SI ou a FENÔMENOS, tratando-as como FENÔMENOS, tratando-as como

conceitos ordinários,conceitos ordinários,

Isso constitui aquilo que que se Isso constitui aquilo que que se entendia por metafísica na época de entendia por metafísica na época de Kant:Kant:

Ou seja, investigações sobre aOu seja, investigações sobre a

Existência da ALMA,Existência da ALMA,

Existência e natureza de DEUS,Existência e natureza de DEUS,

ou sobre as origens do MUNDO.ou sobre as origens do MUNDO.

Page 72: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Tais argumentos, quando se referem a Tais argumentos, quando se referem a ALMA e a DEUS, são ALMA e a DEUS, são ERRÔNEOSERRÔNEOS e e chamados por Kant de chamados por Kant de PARALOGISMOSPARALOGISMOS. .

Já quando se referem ao MUNDO eles Já quando se referem ao MUNDO eles são são INCONCLUDENTESINCONCLUDENTES e chamados e chamados por Kant de por Kant de ANTINOMIASANTINOMIAS..

A dialética possui, pois, uma parte A dialética possui, pois, uma parte positivapositiva, que é a investigação da , que é a investigação da razão em si mesma, e razão em si mesma, e negativanegativa,, que éque é uma CRÍTICA ÀS ILUSÕES DA uma CRÍTICA ÀS ILUSÕES DA RAZÃO, À METAFÍSICA de seu RAZÃO, À METAFÍSICA de seu tempo.tempo.

Page 73: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

ALMA: Eis um exemplo de paralogismo:

1. O que pode ser pensado somente como 1. O que pode ser pensado somente como sujeitosujeito é uma substância. é uma substância.2. O eu pensante só pode ser pensado como 2. O eu pensante só pode ser pensado como sujeitosujeito..3. Logo: o eu pensante é uma substância.3. Logo: o eu pensante é uma substância.

Problema: Problema: na premissa maior o termo ‘sujeito’ significa na premissa maior o termo ‘sujeito’ significa EU NOUMÊNICO (TRANSCENDENTE), mas EU NOUMÊNICO (TRANSCENDENTE), mas na segunda o termo ‘sujeito’ significa EU na segunda o termo ‘sujeito’ significa EU FENOMÊNICO (TRANSCENDENTAL). FENOMÊNICO (TRANSCENDENTAL).

Logo o silogismo é EQUÍVOCO, FALAZ.Logo o silogismo é EQUÍVOCO, FALAZ.

Page 74: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

MUNDOMUNDO:

As antinomias, com as quais a RAZÃO intenta provar a ORIGEM DO MUNDO, são

INCONCLUDENTES.

As antinomias são quatro, segundo a QUANTIDADE, QUALIDADE, RELAÇÃO E MODALIDADE:

1) Antinomia de QUANTIDADE:1) Antinomia de QUANTIDADE:

TESE: o mundo teve início no tempo e é TESE: o mundo teve início no tempo e é limitado no espaço.limitado no espaço.

ANTÍTESE: o mundo não tem princípio no ANTÍTESE: o mundo não tem princípio no tempo nem limites no espaço.tempo nem limites no espaço.

Para Kant não há como decidir, pois Para Kant não há como decidir, pois diz respeito ao mundo em si mesmo. diz respeito ao mundo em si mesmo.

Page 75: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

2. Antinomia de QUALIDADE: 2. Antinomia de QUALIDADE:

tese: existe substância simples,tese: existe substância simples,

antítese: não existe nada simples no mundo.antítese: não existe nada simples no mundo...........................................................................................................................................................

3. Antinomia da RELAÇÃO:3. Antinomia da RELAÇÃO:

tese: além da causalidade necessária das leis tese: além da causalidade necessária das leis naturais, existe uma causalidade livre.naturais, existe uma causalidade livre.

Antítese: não existe liberdade, tudo ocorre sob as Antítese: não existe liberdade, tudo ocorre sob as leis da natureza.leis da natureza.................................................................................................................................................................................................................................................

4. Antinomia da MODALIDADE:4. Antinomia da MODALIDADE:

Tese: no mundo existe um ser absolutamente Tese: no mundo existe um ser absolutamente necessário, como parte ou como causa.necessário, como parte ou como causa.

Antítese: nem no mundo nem fora dele existe um Antítese: nem no mundo nem fora dele existe um ser absolutamente necessária.ser absolutamente necessária.

Page 76: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Todos esses argumentos são Todos esses argumentos são INCONCLUDENTESINCONCLUDENTES e mesmo e mesmo

ERRÔNEOSERRÔNEOS, posto que pressupõe que , posto que pressupõe que se possa dizer algo sobre o MUNDO se possa dizer algo sobre o MUNDO

EM SI MESMO!EM SI MESMO!

Eles são INDECIDÍVEIS porque vão Eles são INDECIDÍVEIS porque vão além da além da experiência possível.experiência possível.

a) Os argumentos das a) Os argumentos das TESES são dos TESES são dos RACIONALISTASRACIONALISTAS..

b) Os argumentos das b) Os argumentos das ANTÍTESES são dos ANTÍTESES são dos EMPIRISTASEMPIRISTAS,,ainda mais danosos que os racionalistas, por

afetarem os interesses práticos da razão.

Page 77: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

DEUS: Para Kant a razão não é capaz de demonstrar a existência de Deus, pois isso está além dos seus limites! A prova

fundamental é para ele a PROVA ONTOLÓGICA (sob a qual se fundam as

provas cosmológica e teleológica).

PROVA ONTOLÓGICA: DO CONCEITO DE DO CONCEITO DE SER PERFEITÍSSIMO DEDUZ-SE A SUA SER PERFEITÍSSIMO DEDUZ-SE A SUA EXISTÊNCIA.EXISTÊNCIA.

Kant responde que A Kant responde que A EXISTÊNCIAEXISTÊNCIA NÃO É NÃO É NENHUM PREDICADO CONTIDO NA NENHUM PREDICADO CONTIDO NA ESSÊNCIA DE NENHUM SUJEITO. ESSÊNCIA DE NENHUM SUJEITO.

Ela precisa lhe ser SINTETICAMENTE Ela precisa lhe ser SINTETICAMENTE ACRESCENTADA. ACRESCENTADA. Mas no caso do SER ABSOLUTO, que está ALÉM DE TODA A EXPERIÊNCIA, esse acréscimo é IMPOSSÍVEL.

Page 78: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

Em suma:

As idéias da razão são As idéias da razão são NORMASNORMAS QUE QUE IMPELEM NOSSAS MENTES A PROCURAR IMPELEM NOSSAS MENTES A PROCURAR UMA UNIDADE SEMPRE MAIS COMPLETA, UMA UNIDADE SEMPRE MAIS COMPLETA, UMA SÍNTESE SEMPRE MAIS VASTA DA UMA SÍNTESE SEMPRE MAIS VASTA DA EXPERIÊNCIAEXPERIÊNCIA. Elas são IDEAIS . Elas são IDEAIS INATINGÍVEIS, mas ORIENTADORES.INATINGÍVEIS, mas ORIENTADORES.

Embora a razão humana seja dotada de IDÉIAS A PRIORI da ALMA-MUNDO-DEUS, ela não pode dar-lhes CONTEÚDOnão pode dar-lhes CONTEÚDO, pois sendo essas coisas COISAS EM SI, elas são INCOGNOSCÍVEIS.

Além disso a METAFÍSICA como conhecimento das COISAS EM SI é IMPOSSÍVELIMPOSSÍVEL.

A METAFÍSICA só é possível como ESTUDO DAS FORMAS A PRIORI DA RAZÃO (o que a dialética faz).

Page 79: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

BIBLIOGRAFIA SUPLEMENTAR PARA A CRÍTICA DA RAZÃO PURA:

Quebra galhos:

- Giovanni Reale e D. Antiseri: História da filosofia, vol. 2, (ed. Paulinas).*

- Sofia Vanni Rovigui: História da Filosofia Moderna, vol. 1 (ed. Loyola).

Introduções gerais a Kant:

- John Kemp: The Philosophy of Kant (OUP 1968)*

- W. Wood: Kant (trad. Artmed 2008(2005))

Page 80: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

- Frederick Copleston: A History of Philosophy, vol. 6, parte II Kant (New York: Image Books 1959).

Introduções dedicadas à Crítica da Razão Pura:

- T.E. Wilkerson: Kant’s Critique of Pure Reason: A Comentary for Students (OUP 1976).*

- S. Gardner: Kant and the Critique of Pure Reason (Routledge 1999)

Comentários:

- N. Kemp Smith: A Comentary to Kant’s Critique of Pure Reason (London 1930). Clássico- H.J. Paton: Kant’s Metaphysics of Experience (London 1936). Clássico.- P.F. Strawson: The Bounds of Sense (Methuen 1966)*

Page 81: KANT: A CRÍTICA DA RAZÃO PURA

FIMFIM