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KafkaPraga&

Franz

HARALD SALFELLNER

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1ª edição

KafkaPraga&

Franz

HARALD SALFELLNER

TRADução ANDRé DELmoNTE

coLAboRAção DE JuLiANA Lugão1 Kafka com cerca de 30 anos

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PrefácioI. Resumo biográficoII. A Praga de Franz KafkaIII. Os primórdios da família Kafka em PragaIV. Itinerário de Kafka em Praga

A praça da Cidade VelhaO local de nascimento na antiga Niklasgasse (rua Nicolau) O edifício Sixt na Zeltnergasse (rua Zeltner)O edifício Zur Minute (Ao Minuto) na praça da Cidade VelhaA Escola Primária Imperial e Real para meninos, com aulas ministradas em alemão, na Cidade Velha de PragaO Ginásio Imperial e Real, com aulas ministradas em alemão, na Cidade Velha de PragaO edifício Zu den Drei Königen (Dos Três Reis) na ZeltnergasseA ponte CarlosA Universidade de PragaO ClementinumO Salão de Leitura e Palestras dos Universitários Alemães em PragaO café Louvre na antiga Ferdinandstraße (rua Ferdinand) O salão de Berta Fanta na praça da Cidade VelhaO Tribunal Civil Nacional no Obstmarkt (Mercadode Frutas)O edifício Zum Schiff (Ao Navio) na antiga Niklasstraße (rua Nicolau)A Assicurazioni Generali na praça Venceslau

SUMÁRIO

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162 Vista sobre os telhados da Cidade Baixa, também conhecida como Malá Strana, e o Castelo

de Praga

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V. Passear por PragaVI. Praga e a Boêmia nas obras de KafkaVII. A Boêmia amada por Kafka

NotasTabela de equivalênciasReferências bibliográficasReferências de imagens

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O prédio da antiga Academia de Comércio AlemãO Instituto de Seguros contra Acidentes de Trabalho do Reino da Boêmia O café Arco na Hibernergasse (rua Hibernia)A fábrica de amianto Prager Asbestwerke Hermann & Co.A Escola Civil de Natação à margem do rio Moldava, na Cidade Baixa O Novo Teatro AlemãoA Deutsche Haus (Casa Alemã) no GrabenA redação do Prager TagblattO café Savoy na antiga Ziegenplatz (praça das Cabras) A Sinagoga Velha-NovaA Prefeitura JudaicaO hotel Erzherzog Stephan (Arquiduque Stephan) na praça Venceslau A casa da família de Max Brod na Schalengasse (rua das Conchas)O apartamento do escritor Oskar Baum na Mánesgasse (rua Mánes)O edifício Oppelt na praça da Cidade VelhaO apartamento da Bílekgasse (rua Bílek) O edifício Zum Goldenen Hecht (Ao Peixe Dourado) na Langegasse (rua Larga)A casinha na viela Dourada O Palácio Schönborn na Cidade Baixa A casa de Milena Jesenská na antiga Obstgasse (ruadas Frutas)O Novo Cemitério JudaicoO monumento a Franz Kafka

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PREFÁCIO

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não fossem vistos como praguenses: em Viena, Zurique ou Berlim, dizia-se que eram austríacos. Qual era, àquele tempo, o significado do prêmio Kleist, que Kafka recebeu, na cena literária de Praga? Ali, vir de um clã tradicional era, na maioria das vezes, crucial. A própria obra corria o risco de ser considerada uma literatura nacional nos cafés, no Concordia e no Arco, pelo público dos teatros e por fre-quentadores de concertos.

Teria demorado ainda mais para que a grandeza da obra de Franz Kafka pudesse ser de fato reconhecida, se seu amigo Max Brod não tivesse preservado sua obra e percebido seu significado literário. Ainda assim, é incontestável o fato de que os escritos de Kafka, após sua morte, tiveram uma recepção bastante negativa num primeiro momento. Naquela nação ainda jovem, os escritores alemães tinham lugar garantido nos círculos literários que defendiam suas respecti-vas ideologias e ainda podiam contar com a imprensa e o público a seu dispor. Se fossem como Rilke, Werfel, Kraus et tutti quanti, que já estavam havia tempo em Viena, Munique e na Suíça, ou, como Egon Erwin Kisch, que estava sempre viajando, poderiam ser convidados a falar em sua terra natal e teriam um público literário no Continental, e, quem sabe até no café Slavia, depois do teatro.

Ainda demoraria muito para que houvesse algum interesse por Franz Kafka em Praga. É provável que esse despertar tenha ocorrido no outono de 1931. Em uma palestra com bastante público, o vivaz e teatral professor doutor Herbert Cysarz, germanista da Universidade Alemã, respondeu à pergunta vinda da plateia “E Kafka?” em tom de profecia literária e certeza absoluta: “Um clássico judaico”.

Foi preciso que a Segunda Guerra Mundial tomasse a Europa e que os alemães de Praga, sempre ávidos por conhecimento, sumis-sem daquela região para que o interesse pela obra de Franz Kafka

Quando Franz Kafka foi levado ao sepulcro por um pequeno grupo de parentes e amigos, não se imaginava nem de longe - nem mesmo nos círculos em que era conhecido em sua cidade natal - que um dos grandes nomes da literatura do século morria ali. Foi feita uma ho-menagem à sua memória no teatro Kleine Bühne, à qual comparece-ram alguns amigos e colegas, mas eles também não conseguiram cha-mar muita atenção. Os contemporâneos tchecos receberam a notícia de sua morte através de poucas linhas assinadas por Milena Jesenská.

De onde vem, então, o fenômeno em que se transformou a obra de Kafka? Teria vindo de suas condições de vida, semelhantes às de tantos outros talentos daquela cidade e daquela região? Viria de seu destino, que ele dividira com tantos outros provenientes de Praga, Brünn [Brno], Reichenberg [Liberec] ou de Ostrau [Ostrava], na Morávia e que, de início, não tiveram o reconhecimento e a valori-zação do próprio talento em terra natal? O fato de terem alcançado sucesso fora de suas fronteiras fez com que, durante muito tempo,

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HARALD SALFELLNER: FRANZ KAFKA & PRAGA PREFÁCIO

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de usar o idioma. O número de estudiosos da obra de Franz Kafka na então Tchecoeslováquia era muito limitado. Depois da queda do muro, verificou-se nos documentos que esses especialistas eram to-dos alvos da polícia secreta.

Além disso, Max Brod morava em Tel Aviv, muito longe de Pra-ga. Era impossível naquela época pensar na participação dele como responsável pelo legado do escritor. Só em 1964, pouco antes da Pri-mavera de Praga, ele colocou os pés na cidade para falar, diante de centenas de leitores e amigos, sobre a obra de Kafka e a conjuntu-ra literária na cidade natal do autor. O antigo funcionário público Max Brod fez sua palestra, proferida no salão nobre do monastério Strahov, em tcheco. Ele foi coberto de elogios e começou-se a falar em levar de volta a obra de Franz Kafka para sua cidade natal. Mais tarde, quem viveu naquele tempo disse que aquele dia teria sido um dos precursores da Primavera de Praga de 1968.

Para quem viveu a época, não é nenhum espanto que um jovem intelectual de Graz se sentisse em casa como escritor e editor em Praga, a cidade natal de Kafka. A origem do ex-médico Harald Salfellner é austríaca. Por isso, ele não sofre da enorme distância que deixa tantos historiadores alemães da literatura um pouco perdidos. Pois foi Max Brod mesmo quem disse certa vez que ele e Kafka eram austríacos de Praga. Fazendo as vezes de autor e editor, Salfellner perpassou toda a cena literária da capital da Boêmia. Ele aprendeu o idioma tcheco e o utiliza. Seu livro sobre Franz Kafka e Praga não é um novo guia turístico ou manual literário, nem um vade-mécum da indústria do turismo, tão em voga. É um caminho pessoal, percorrido com Kafka, rumo aos locais da vida do escritor em Praga. Harald Salfellner traz consigo a bagagem que falta a muitos dos estudiosos da obra de Kafka. É a trajetória do idioma tcheco,

pudesse voltar a ser despertado na terra natal do escritor. Os primei-ros intérpretes apareceram na Alemanha Ocidental no pós-guerra, e entre eles estavam cidadãos americanos, emigrantes e novos auto-res. Eles visitavam Praga e traziam sempre novas informações sobre Kafka. Visitavam a neta da empregada da casa de Kafka, suas babás e uns poucos sobreviventes do holocausto. Bastaram as visitas dos especialistas ocidentais para que a entrada da obra do autor nos anais literários ficasse comprometida. Kafka era um autor de origem tche-co-judaica que escrevia em alemão e que tivera educação alemã. Ele certamente falara sobre seu idioma materno, o alemão, mas também de sua compaixão sincera por seus compatriotas. Do lado tcheco, a reação era de reserva. Os argumentos contra ele eram os mais varia-dos. Além do mais, não era o momento de fazer de Praga um reno-mado centro literário. Informações sobre uma possível aliança po-lítica entre Berlim Oriental e Praga foram responsáveis por manter uma distância fria, até mesmo certa rejeição a Kafka. Os discursos giravam sempre em torno das palavras “decadência” e “alienação”. Fazia parte dos absurdos da época o fato de a burocracia do regime popular-democrático de Praga permitir que Berlim Oriental tivesse influência legítima até sobre escritores.

Certamente, a obra de Kafka e sua importância não se deixaram esquecer - nem mesmo em Praga. Várias conferências aconteciam, basta considerarmos a de Liblice,1 na qual juízes e advogados debate-ram a obra do autor. Quantas horas de deliberações intermináveis do partido governante não eram necessárias para determinar o número de participantes e até os lugares na mesa na conferência!

Debates acalorados tentavam definir se germanistas estrangeiros que falassem no idioma de Kafka seriam aceitos. Por outro lado, os especialistas tchecos, que certamente sabiam alemão, eram proibidos

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HARALD SALFELLNER: FRANZ KAFKA & PRAGA

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da linguagem cotidiana do mundo em que viveu Franz Kafka, que precisa ser entendida.

O trabalho de Salfellner como editor em Praga está relacionado ao tipo de produção literária que já era comum no país desde o tempo de Rodolfo II - e que não é, e não era, necessariamente voltada para o visitante estrangeiro. Nas bibliotecas dos estudiosos tchecos de to-das as áreas, o espaço para literatura em alemão não é nada insigni-ficante. E é assim até hoje.

É aí que está a simbiose secreta desta cidade. Fazem parte dela os grandes mestres dos dois idiomas - Pavel Eisner, Otakar Fischer, Otto Pick, O.F. Babler. É assim também que começa o livro de Harald Salfellner, que nos leva para uma dimensão indispensável à compre-ensão da obra de Franz Kafka. Ele nos ensina a ver Praga como Franz Kafka a enxergava.

Hugo Rokyta, Praga, 1998