justificação interna e externa

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Introdução ao Estudo do Direito

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  • REVISTA DA ESMESC, v. 14, n. 20, 2007

    JUSTIFICAO INTERNA E JUSTIFICAO EXTERNA DA DECISO JUDICIAL : UM APORTE GARANTISTA | 175

    JUSTIFICAO INTERNA E JUSTIFICAO EXTERNA DA DECISO JUDICIAL : UM APORTE GARANTISTA

    Fernando David Perazzoli1

    Resumo : A construo de uma deciso judicial se desen-volve, dentro da teoria da argumentao jurdica, por in-termdio de duas estruturas de justificao dos argumentos que, concomitantemente, conferem lgica e coerncia aos enunciados. A primeira delas, considerada como interna, trabalha com as estruturas de uma lgica silogstica, para a qual a premissa maior a norma, a premissa menor o fato, encaixando-se e formando, como concluso, a deciso. J na justificao externa , trabalha-se com a busca por re-ferncias que tornem possvel a deciso judicial dentro do sistema de direito no qual estiver inserida.

    Palavras-chave : Justificao. Argumentao. Interna. Ex-terna. Garantismo.

    Abstract : (e construction of a judicial decision develop, inside the theory of juridical argumentation, trough two structures of justification that, together, gives logic and coherence to the proposition. (e first one, considered as intern, works with the structures of a syllogistic logic, for whom the biggest premise is the law, the smallest is the fact,

    1 Mestrando em Filosofia e Teoria do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, aluno da Es-cola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina e pesquisador pelo CNPQ na rea de filosofia e teoria do direito. Endereo: Rua Lauro Linhares, 1280, Edifcio Stoneville, Bloco 1, Apto. 101, Bairro Trindade, Florianpolis. Telefone (48) 3733-5557. Email: [email protected]

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    setting and conceiving, as a conclusion, the decision. In the extern justification it works with the search for references to make possible a judicial decision inside the correspondent law system.

    Key words : Justification. Argumentation. Internal. External. Garantism.

    1 Introduo

    O presente artigo trabalha com os elementos que, estrutural-mente, dentro da teoria da argumentao jurdica, formam a lgica e a coerncia da sentena.

    A discusso transcende s questes comumente abordadas quan-do do estudo da deciso judicial (tcnicas de relatrio, de fundamen-tao, de elaborao do dispositivo, etc.), para, por meio de uma anlise substancial dos argumentos colacionados na sentena pelo Juiz, apontar as justificaes (interna e externa) que a tornam poss-vel no sistema de direito em que estiver inserida.

    Trata-se, pois, de uma ampliao do campo de discusso e de um aprofundamento terico sobre o tema, haja vista que as decises judiciais so constantemente produzidas e influenciam diretamen-te aqueles que com ela se relacionam, haja vista que produz efeitos tanto na parte que a recebe como para os juristas que sobre elas exerceram seus ofcios.

    O aporte garantista, trazido tona pela teoria de Luigi Ferrajoli, demonstra que a premissa menor no pode trabalhar com o paradig-ma da verdade real, haja vista, numa aproximao com a investiga-o histrica, no se poder saber, com preciso, quais os fatos que, realmente, sero objetos da tutela jurisdicional.

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    2 A deciso judicial como discusso jurdica

    A construo de pensamentos, seja dentro do campo do sen-so comum ou de alguma rea dita cientfica/tcnica/especializada2, passa, indubitavelmente, pelo campo da discusso. Nesse terreno, emergem e expiram teses, enunciados, normas e racionalidades que constituem, na sua interao, o processo de avano e adequao da-quilo que se concebe como teoria quilo que h como realidade.

    Contudo, no se pode olvidar de que somente possvel a rela-o entre os pensamentos do senso comum e os cientficos/tcnicos/especializados, pelo fato de que h, entre eles, um espao de seme-lhanas e diferenas. Desta forma que a discusso, dentro da esfera jurdica, trabalha oposio e interao ao/com o senso comum.

    Como diferena, tem-se que a discusso jurdica se relaciona diretamente com a lei, ao passo que o senso comum no. Na esfera jurdica h limitao de tempo, de modo e de contedo. No senso comum no.

    Vale lembrar que Robert Alexy, o qual considera o discurso jur-dico como especializado e o senso comum como geral prtico, apon-ta que o primeiro comporta subdivises:

    H tipos bem diferentes de discusso jurdica. Pode-se fazer uma dis-tino entre as discusses na cincia jurdica (dogmtica legal), delibe-rao judicial, debates no tribunal, tratamentos jurdicos de questes legais (quer na prpria legislao ou diante de comisses ou comits), discusso de questes legais entre estudantes ou entre juristas ou ad-vogados ou entre pessoas juridicamente qualificadas na indstria ou administrao, bem como debates sobre problemas jurdicos na mdia, onde assumem a forma de argumentos legais. (2001, p. 211)

    A deciso judicial, como meio de produo de enunciados/ra-ciocnios, tambm , pois, constituda de discusso e argumentao,

    2 Sobre a questo epistemolgica ver POPPER, Karl, A Lgica da Pesquisa Cientfica; KUHN. Thomas S. A Estrutura das Revolues Cientficas, Chalmers A. F. O que cincia, afinal? e, num sentido de ruptura ou mudana, FAYERABEND, Paul. Contra o mtodo.; WARAT, L. A. Cincia Jurdica e seus Dois Maridos.; FAGUNDEZ, Paulo Roney vila. Direito e Taosmo.

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    de modo que igualmente obedece ao esquema de aproximao e di-ferenciao em relao ao senso comum.

    A particularidade da discusso jurdica (no caso a deciso) a de que esta no exige uma racionalidade absoluta, mas [...] apenas a exi-gncia de que possa ser racionalmente justificada no contexto da ordem jurdica prevalecente a tese da exigncia de correo, de Robert Alexy (2001, p. 213).

    Ainda, mister observar a lio de Manuel Atienza, que coloca as decises judiciais no campo de uma razo justificadora. Observe-se:

    Na filosofia da cincia costuma-se distinguir (cf. Reichenbach, 1951) entre o contexto da descoberta e o contexto da justificao das teorias cien-tficas. Assim, de um lado est a atividade que consiste em descobrir ou enunciar uma teoria e que, segundo a opinio geral, no suscetvel de uma anlise de tipo lgico; nesse plano, cabe unicamente mostrar como se gera e se desenvolve o conhecimento cientfico, o que cons-titui tarefa para o socilogo e o historiador da cincia. Mas do outro lado est o procedimento que consiste em validar a teoria, isto , em confront-la com os fatos a fim de mostrar a sua validade; essa ltima tarefa exige uma anlise de tipo lgico (embora no apenas lgico) e se rege pelas regras do mtodo cientfico (que no so aplicveis no contexto da descoberta). [...] De modo geral os rgos jurisdicionais ou administrativos no precisam explicar as suas decises; o que devem fazer justific-las. (2003, p. 20)

    Mas o que seria, afinal, essa justificao?

    Paolo Comanducci (1999, p. 49) entende que [...] la justifica-cin es un proceso argumentativo que tiende a afirmar que algo est dotado de algn valor, cualquiera que este sea3.

    Este significado, entretanto, apenas genrico, posto que com-porta vrios elementos, cada um com diferentes problemticas e limitaes.

    3 Traduo livre do Autor: [...] a justificao um processo argumentativo que tende a afirmar que algo est dotado de algum valor, qualquer que este seja.

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    O primeiro deles est relacionado aos objetos (afirmar que algo est dotado), que so, inicialmente, as entidades extralingsticas (comportamentos humanos observveis ou eventos fsicos) e os lin-gsticos (enunciados). Entretanto, aps discorrer sobre possveis elementos extralingsticos, o autor aponta que eles tambm podem ser reduzidos a enunciados, de modo que se tornem lingsticos (descrio da ao ou evento). Dessa forma, o estudo do objeto da justificao passa a ser somente com base nos elementos lingsticos (justificao da descrio da ao ou evento). Trata-se, pois, de ve-rificar se uma entidade lingstica est dotada de um valor qualquer, pois este consistir a causa de justificao.

    J um segundo elemento do conceito de justificao est rela-cionado com a noo de procedimento argumentativo, o qual, para Paolo Comanducci (1999, p. 50), se trata de [...] aducir razones en favor de una entidad lingstica (una conclusin, un juicio, una nor-ma, etc.)4. Essas razes podem ser boas (num sentido valorativo) ou persuasivas (num sentido descritivo/predicativo). , em sntese, o processo no qual se d a argumentao, considerando o qu, para quem, quando e por que se argumenta.

    O terceiro elemento que compe a noo de justificao o va-lor, o qual pode ser expresso em inmeras formas. Camargo (2003, p. 13) aponta que [...] a norma jurdica encontra-se sempre referen-ciada a valores na medida em que defende comportamentos ou serve de meio para atingirmos fins mais elevados. Entretanto, h ao menos duas categorias de valores (COMANDUCCI, 1999, p. 50): a) os de ver-dade ou de probabilidade para descries, previses e as hipteses; b) os valores de justia, bondade, correo, eqidade, validade, etc., para as normas e valoraes.

    4 Traduo livre do Autor: [...] aduzir razes em favor de uma entidade lingstica (uma concluso, um juzo, uma norma, etc.).

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    Feitas essas consideraes sobre os elementos que compem o conceito genrico de justificao, possvel chegar, ento, a uma definio mais especfica. Observe-se:

    [...] por justificacin entiendo el procedimiento argumentativo que consiste en aducir razones (o aducir buenas razones o aducir razones persuasivas) en favor de uno de estos dos tipos de conclusiones: que es verdadero, probable, verosmil y atendible un enunciado cognoscitivo; lo que es justo, bueno, correcto y vlido un enunciado prescriptivo5. (COMANDUCCI, 1999, p. 71)

    Ainda, a questo da justificao se relaciona com a deciso judi-cial, posto que esta depende, tanto interna quanto externamente6, de uma coerncia entre os termos do seu processo de elaborao.

    Manuel Atienza (2003, p. 40) aponta que a justificao interna apenas questo de lgica dedutiva, mas, na justificao externa, preciso ir alm da lgica em sentido estrito.

    Nesse mesmo sentido, aponta Robert Alexy que

    [...] os discursos jurdicos se relacionam com a justificao de um caso especial de afirmaes normativas, isto , aquelas que expressam julga-mentos jurdicos. Dois aspectos da justificao podem ser distinguidos: justificao interna (internal justification) e justificao externa (external justification). A justificao interna diz respeito questo de se uma opinio segue logicamente das premissas aduzidas para justific-la. A correo dessas premissas o assunto tema da justificao externa. (2001, p. 218)

    Passa-se, ento, anlise de cada um desses elementos da deciso judicial.

    5 Traduo livre do Autor: [...] por justificao entendo o procedimento argumentativo que consiste em aduzir razes (ou aduzir boas razes ou aduzir razes persuasivas em favor de um desses dois tipos de concluso: que verdadeiro, provvel, verossmil e plausvel um enunciado cognoscvel; que justo, bom, correto e vlido um enunciado prescritivo.

    6 Essa diviso entre justificao externa e interna fundamentada, para os estudos de Paolo Coman-ducci, na obra de Jerzy Wrblewsky (1987), intitulada Elementi de um Modello Processsuale di Applica-zione Giudiziale del Diritto, in Rivista trimestrali di diritto e procedura civile, XLI, 2, p. 269-86.

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    2.1 A justificao interna

    De acordo com a teoria de Wrblewsky (1987, p. 270 apud CO-MANDUCCI, 1999, p. 72), a justificao interna [...] se funda en la exigencia de consistencia que es la forma fundamental y ms elemental de la racionalidad de una decisin7.

    O esquema de justificao interna instrumentalizado pela aplicao de um silogismo8 decisional, no qual o juiz considera como premissa maior um enunciado normativo a ser aplicado ao fato (mesmo que seja somente abstrato) e, como premissa menor, um enunciado ftico correspondente a uma norma. Como conclu-so, tem-se a conseqncia jurdica da lgica formal de aplicao da norma ao fato.

    Cabe ressaltar que Robert Alexy (2001, p. 7) aponta trs tipos de premissas que podem formar uma relao silogstica: regras de lei positiva (cuja justificao consiste em mostrar a sua validade de acor-do com os critrios do sistema jurdico); afirmaes empricas (que se justificam de acordo com uma srie de procedimentos, os quais vo dos mtodos das cincias empricas s mximas da presuno racional, passando pelas regras processuais da importncia da pro-va); e um terceiro tipo de enunciados que no so nem afirmaes empricas nem regras da lei positiva, mas cuja fundamentao busca a argumentao jurdica, ou, concretamente, as formas e regras da justificao externa.

    Artur Stamford (2000, p. 120), em estudo sobre a deciso judi-cial, aponta que

    [...] para cumprir a sua funo, a lgica formal dispe de princpios. Por princpios entendem-se os alicerces, as fundamentaes, os pontos de partida, indiscutveis e imutveis. Os princpios so, ento, verda-

    7 Traduo livre do Autor: [...] se funda na exigncia de consistncia que a forma fundamental e mais elementar da racionalidade de uma deciso.

    8 Ressalte-se que Comanducci faz distino entre silogismo simples (de subsuno), silogismo de eleio das conseqncias (fticas e jurdicas) e silogismo decisional completo (formado pela unio entre o silogismo de subsuno e o silogismo de eleio das conseqncias).

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    des com as quais se constroem as leis idias da lgica formal. So eles: o princpio da identidade, toda realidade idntica a si mesma; o princpio da contradio, uma coisa no pode ser e no ser ao mesmo tempo; e o princpio do terceiro excludo, algo ou no , no existe uma terceira possibilidade. Desses princpios, diz-se haver uma razo suficiente, ou seja, a verdade pode ser afirmada ou negada, pois a iden-tidade do ente no admite outra perspectiva.

    O silogismo , portanto, segundo Wrblewsky (1987, p. 275 apud COMANDUCCI, 1999, p. 74), a forma pela qual uma deci-so adquire consistncia e/ou coerncia9, o que se traduz na justifi-cao interna. Em outras palavras, trata-se da correspondncia que um procedimento argumentativo de aduzir razes (uma justificao, portanto.) possui entre as premissas que o formam. A razo para algo (seja valorativa ou persuasiva) uma concluso que, dentro de um contexto discursivo (no caso o jurdico), foi alcanada/elaborada atravs de um processo que se justifica pela coerncia/consistncia entre os elementos que o formam (internamente).

    Esse silogismo, porm, condicionado a um sistema jurdi-co (contexto discursivo) chamado por Comanducci de concreto. Observe-se:

    Ni el sistema jurdico caracterizado por el juez-dspota, ni el caracte-rizado por el juez-autmata suponen el empleo de una justificacin silogstica de las decisiones judiciales. Mi hiptesis inicial es que los sistemas jurdicos concretos, o al menos algunos de ellos (por ejemplo, los de Europa continental), se colocan en una posicin intermedia en-tre los extremos del juez dspota y del juez autmata. Por ello, estos sistemas permiten la utilizacin de una justificacin silogstica de las decisiones judiciales10. (1999, p. 73)

    9 Comanducci se vale da obra de D. Neil MacCormick, intitulada La Congruenza nella giustificazio-ne giurdica (1984), trad. Italiana P. Comanducci, para tecer consideraes sobre a diferena entre coerncia e consistncia, ligando esta a uma racionalidade instrumental e aquela a uma ausncia de contradies no enunciado.

    10 Traduo livre do Autor: Nem o sistema jurdico caracterizado pelo juiz-dspota, nem o caracte-rizado pelo juiz-autnomo supem o emprego de uma justificao silogstica das decises judiciais. Minha hiptese inicial que os sistemas jurdicos concretos, ou ao menos alguns deles (por exemplo, os da Europa continental), se colocam em uma posio intermediria entre os extremos do juiz-dspo-

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    Finalmente, a justificao interna da deciso judicial se assenta sobre o silogismo de subsuno (adequao formal da norma ao caso concreto), no qual no se procura uma valorao dos argumentos, atribuindo tal tarefa justificao externa.

    2.2 A justificao externa

    Enquanto a justificao interna analisa a coerncia entre as pre-missas e a prpria deciso, a justificao externa no vincula os sig-nificantes iniciais entre si no escopo de formar uma concluso. Em sede de justificao externa, o que importa mesmo a razo de acei-tao de cada premissa, individualmente. Observe-se:

    Esta ltima consiste, como ya he sealado, en la justificacin de las premisas del silogismo decisional: [...] Si se presenta el problema de las razones de la aceptacin interna, en la que las premisas son dadas por buenas y, en consecuencia, se justifican estas premisas, entonces la deci-sin est externamente justificada11. (COMANDUCCI, 1999, p. 84).

    O objeto do estudo, para fins de justificao externa, , pois, a motivao de cada uma das premissas do silogismo, de modo que se possa descobrir o porqu e quando elas so (ou no) aceitveis para a produo da deciso.

    A justificao externa, assente sobre a premissa maior (jurdica), passa a ser analisada sobre a rubrica de motivao em direito, ao passo que a premissa menor, que versa sobre o fato ao qual se aplica-r a norma, analisada por como motivao em fatos (COMAN-DUCCI, 1999).

    ta e do juiz-autnomo. Por isso, estes sistemas permitem a utilizao de uma justificao silogstica das decises judiciais.

    11 Traduo livre o Autor: Esta ltima consiste, como j assinalado, na justificao das premissas do silogismo decisional: [...] Se se apresenta o problema das razes de aceitao interna, em que as premissas so dadas por boas e, em conseqncia, se justificam essas premissas, ento a deciso est externamente justificada.

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    2.2.1 A motivao em direito: a justificao racional

    Trata-se do processo interpretativo que se relaciona com o sig-nificado dos documentos normativos (COMANDUCCI, 1999, p. 94). Cabe ressaltar, por meio da lio de Artur Stamford (2000, p. 122), que enquanto as leis naturais utilizam a linguagem-objeto, a lei jurdica faz uso da metalinguagem, ou seja, esta lei no depende de o fato normado ocorrer ou no na sociedade. Em outras palavras, a premissa maior um elemento que no existe em razo do fato sobre o qual vai incidir, mas que j estava presente no iderio antes desse evento ftico acontecer, o que implica na tarefa de extrair o mais apropriado dentre os significados que a regra normativa pode conter.

    Essa justificao externa estaria dividida, portanto, em duas re-as: descobrimento e eleio.

    O descobrimento versa sobre extrair um ou mais significados j preestabelecidos pela norma de direito, o que traz srios problemas, haja vista que no se pode ter certeza (ainda que se espere) se o ju-rista ir buscar esses significados na prpria semntica da norma, na proposta do legislador ou numa ratio legal.

    Por outro lado, a outra forma de justificao externa est rela-cionada com a eleio de significado, o que pode ser feito de duas formas: (i) arbitrria e (ii) vinculada.

    A primeira delas (i) rechaada por Comanducci (1999, p. 94) sob a idia de que, nas sociedades democrticas e por fora das vrias formas de controle da produo interpretativa (seja autntica ou so-cial), a atividade interpretativa do juiz/jurista no pode ser realizada do modo que estes bem entenderem pois dentro de um contexto lingstico h sempre interpretaes semanticamente possveis, e so-mente nesse rol de possibilidades que se d a escolha.

    Dessa forma, verifica-se que o juiz/jurista est vinculado (ii) ao contexto lingstico (no caso o tcnico-jurdico) dentro do qual est inserido o universo interpretativo de onde dever retirar o signi-ficado aplicvel ao caso. Observe-se:

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    Por otro lado, podemos afirmar que en un contexto jurdico dado hay interpretaciones jurdicamente posibles. En todos los pases el len-guaje jurdico est parcialmente tecnificado. Dentro de cada cultura jurdica existen algunas reglas ampliamente aceptadas relativas a la atri-bucin de significado a los enunciados normativos12. (COMANDUC-CI, 1999, p. 96).

    Surge, ento, a possibilidade de se agir discricionariamente, mas no de forma ilimitada. Alis, Hart (1996), quando de sua diviso das questes judiciais em casos claros (fceis) e de penumbra (dif-ceis), chama a ateno para a necessidade de eleio de um significa-do. Nesse mesmo sentido:

    Nos casos claros, aqueles que se encontram no ncleo de significado das regras jurdicas, tudo o que o juiz tem que fazer para alcanar a soluo jurdica vlida operar um raciocnio dedutivo: subsumir fatos particulares dentro dos termos gerais classificatrios da regra para al-canar uma concluso silogstica. Por outro lado, nos casos de penum-bra, onde as nossas convenes lingsticas ainda no esto solidificadas ou determinadas, o juiz deve eleger entre os possveis significados dos termos gerais antes de realizar a soluo. (STRUCHINER , 2002, p. 124)

    Nesse campo h, tambm, uma problemtica: quando se elege um significado, razes so, conjuntamente, aduzidas, no escopo de justificar a eleio. Acontece que essa justificao trabalha no cam-po da retrica, o que faz do enunciado justificativo algo no aceito universalmente13.

    Entretanto, Comanducci (1999, p. 97) aponta que, em nvel terico, possvel elaborar um modelo racional de justificao para as teses interpretativas (eleio ou descobrimento).

    De acordo com Aarnio (1987), referido modelo se assenta sobre a certeza jurdica e sobre o senso de justia aplicada ao caso concreto.

    12 Traduo livre do Autor: Por outro lado, podemos afirmar que em um contexto jurdico dado h interpretaes juridicamente possveis. Em todos os pases a linguagem jurdica est parcialmente tcnica. Dentro de cada cultura jurdica existem regras amplamente aceitveis relativas atribuio de significado aos enunciados normativos.

    13 No porque o argumento retrico no necessariamente se alinha com o lgico, mas porque o Direito, na sua aplicao, no permite a certeza. (COMANDUCCI, 1999, p. 96)

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    A abstrao desses termos, contudo, no suficiente para invalidar a estrutura do modelo, posto que Aarnio se vale da idia de Chain Pe-realman de um auditrio universal, onde as leis valem para todos e as pessoas, em tese, compartilham do mesmo universo de racionalidade e, por isso, aceitam os mesmos valores, entre os quais o de justia.

    Nesse sentido, a justificao externa da premissa normativa do silogismo jurdico racional na medida em que se justifica numa forma ideal de vida, ou seja, na medida em que reflete as concepes aceitas no iderio social, principalmente aquelas que esto no uni-verso principiolgico do direito, como a justia.

    2.2.2 A motivao em fatos: a justificao garantista

    Comanducci faz coincidir a motivao externa da premissa silo-gstica menor (os fatos) com o modelo terico garantista elaborado por Luigi Ferrajoli (2002).

    No modelo garantista h uma necessria conexo entre a deciso e a motivao14, posto que essa regra garante a natureza cognoscitiva e potestativa do juzo e vincula a deciso, no campo do direito, ao princpio da legalidade e, para os fatos, na prova das hipteses acu-satrias. Assim,

    [...] en el modelo terico garantista la motivacin en hechos se con-figura como: justificacin externa de tipo hipottico-deductivo de la premisa menor, constituida por un enunciado factual verdadero del silogismo decisional15. (COMANDUCCI, 1999, p. 107)

    14 Ferrajoli parte do artigo 111, 1 da Constituio Italiana, que assim, dispe: Tutti i provvedimenti giurisdizionali i devono essere motivati. Relativamente ao ordenamento jurdico brasileiro, vale a regra do artigo 458 da Lei 5.869/73 (Cdigo de Processo Civil): So requisitos da sentena: I o relatrio, que conter os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do ru, bem como o registro das principais ocorrncias havidas no andamento do processo; II os fundamentos, em que o juiz analisar as questes de fato e de direito; III o dispositivo, em que o juiz resolver as questes, que as partes lhe submeterem.

    15 Traduo livre do Autor: [...] no modelo terico garantista a motivao em fatos se configura como: justificao externa do tipo hipottico-dedutivo da premissa menor, constituda por um enunciado fac-tual verdadeiro do silogismo decisional.

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    Cabe ressaltar que o modelo garantista requer que a deciso ju-dicial tenha tanto a premissa maior (jurdica) como a menor (factu-al) justificadas.

    O enunciado factual com o qual a deciso judicial trabalha for-mulado, portanto, nos seguintes termos (COMANDUCCI, 1999, p. 107): uma ao externa A realizada pelo indivduo X no tempo T no lugar L16. Essa formulao, para adentrar a seara jurdica, requer a presena de dois pressupostos: (i) a existncia de uma disposio normativa que seja certa (no vaga e/ou ambgua) e (ii) que essa norma traga alguma conseqncia jurdica para o ato. Na falta de um desses pressupostos, verifica-se que no se forma uma premissa puramente factual.

    O problema reside na constatao de que o ordenamento jurdi-co no versa diretamente sobre todos os fatos da vida de forma que no seja a genrica e abstrata. O enquadramento do mandamento prescritivo ao fato (condio de significao da ao real na seara do direito) fica, portanto, relegado para a interpretao, ou seja, possi-bilita e faz valorao normativa da ao, o que pode ser considerado prescritivo.

    Entretanto:

    En el modelo garantista, a premisa menor est constituida por un enunciado (factual) verdadero. En este modelo verdadero significa ms probable que cualquier otra hiptesis alternativa que explique los hechos del caso17. (COMANDUCCI, 1999, p. 109)

    Em outras palavras, o garantismo trabalha com a noo de que a verdade, na questo judicial, no possvel de ser encontrada, e o que se deve buscar , to-somente, a hiptese mais provvel para explicao dos fatos. Observe-se:

    16 Aproxima-se do enunciado factual utilizado pela histria, posto que so eventos pretritos e no comprovveis experimentalmente.

    17 Traduo livre do Autor: No modelo garantista, a premissa menor est constituda por um enun-ciado (factual) verdadeiro. Neste modelo verdadeiro significa mais provvel que qualquer outra hiptese alternativa que explique os fatos do caso.

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    En campos como la historia y el Derecho slo tienen sentido hablar de la verdad como correspondencia en frases negativas en las que se niegue que algo se corresponda con la realidad y nunca en frases positivas, en las que se afirma que algo corresponde a la realidad. La verdad como correspondencia slo sirve para falsear hiptesis y no para aseverarlas positivamente18. (COMANDUCCI, 1999, p. 109)

    Mais especificamente:

    A idia contrria de que se pode conseguir e asseverar uma verdade objetiva ou absolutamente certa , na realidade, uma ingenuidade epistemolgica, que as doutrinas jurdicas iluministas do juzo, como aplicao mecnica da lei, compartilham com o realismo gnosiolgico vulgar. [...] Ao mximo, podemos e devemos pretender que, quan-do se descubra a falsidade de uma ou de vrias teses de uma teoria, esta deva ser rechaada ou reformulada. [...] Tudo isso vale com maior razo para a verdade processual, que tambm pode ser concebida como uma verdade aproximada a respeito do ideal iluminista da perfeita corres-pondncia. (FERRAJOLI, 2002, p. 42)

    Desta forma, uma vez que o juiz deve se expressar positivamente a respeito do enunciado ftico sobre o qual se sustenta a premissa menor, dever ser entendido, no sentido garantista, que o conceito de verdadeiro fica substitudo pelo de o mais aproximado possvel.

    Ressalte-se que esse entendimento reflete a prpria sistemtica da prtica forense: tese e anttese, onde a que superar os testes de fal-seamento impostos pela outra (qualquer que seja) ser a vencedora19. Em um sentido inverso, quando tese e anttese restarem comprova-das pelas provas carreadas nos autos, tambm haver prevalncia da qual for considerada a mais provvel de ser verdade.

    Essa idia ganha fora quando somada ao fato de que o procedi-mento judicial um procedimento que se inicia com a nica certeza

    18 Traduo livre do Autor: Em campos como a histria e o Direito somente tem sentido falar da ver-dade como correspondncia nas frases negativas nas quais se negue que algo se corresponda com a realidade e nunca em frases positivas, nas quais se afirma que algo corresponda realidade. A verdade como correspondncia somente serve para falsear hipteses e no para assever-las positivamente.

    19 Vale lembrar que a proposta de Ferrajoli parte do direito penal e se desdobra sobre o sistema penal acusatrio.

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    de que ir, um dia acabar. Atravs desse argumento que a proximi-dade entre o fato e a verdade real aumenta, na medida em que, aps o julgamento e o trnsito em julgado, no mais se poder discutir o assunto, o que trabalha, algumas vezes, em funo do prprio ru de uma demanda. Nesse sentido:

    Diferentemente de outros tipos de investigao, a comprovao juris-dicional, sem dvida, obrigatria e deve ser concluda sem algum momento: assim, pois, se o dilema no resolvel, prevalece a hiptese mais favorvel ao acusado, graas a uma regra jurdica sobre as condi-es de aceitabilidade da verdade processual; ademais, cada uma das hipteses fticas formuladas no processo pode ser desmentida por uma prova ulterior incompatvel com aquelas, s at que, conforme outra regra jurdica, no intervenha a presuno legal de verdade da coisa julgada. (FERRAJOLI, 2002, p. 45)

    Ainda:

    En el modelo garantista el procedimiento argumentativo que justifi-ca el enunciado factual verdadero es del tipo hipottico-deductivo. El enunciado queda justificado porque puede ser configurado como una hiptesis explicativa de los hechos relevantes del caso, de la cual, me-diante una inferencia vlida (ms comnmente, con una serie de infe-rencias vlidas), se pueden deducir los hechos probados en el proceso20. (COMANDUCCI, 1999, p. 111)

    Nesses termos, o garantismo jurdico se preocupa em extrair da esfera de justificao ftica a busca por uma verdade absoluta e imo-dificvel para a composio daquilo que se conhece por verdade processual. No h, pois, uma perfeita correspondncia entre o que ocorreu, o que se afirma e o que se prova nos autos, mas apenas uma aproximao.

    Essa caracterstica da verdade encontra origem na prpria idia de garantismo penal, que, segundo Ferrajoli (2002, p. 30), orienta-

    20 Traduo livre do Autor: No modelo garantista o procedimento argumentativo que justifica o enun-ciado factual verdadeiro do tipo hipottico-dedutivo. O enunciado resta justificado porque pode ser configurado como uma hiptese explicativa dos fatos relevantes do caso, da qual, mediante uma in-ferncia vlida (mais comumente com uma srie de inferncias vlidas) se podem deduzir os fatos provados no processo.

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    do a assegurar [...] o mximo grau de racionalidade e confiabilidade do juzo e, portanto, de limitao do poder punitivo e de tutela da pessoa contra a arbitrariedade.

    A investigao e o procedimento judicial devem se preocupar, ento, em eliminar a hiptese que no encontre capacidade de ex-plicao e comprovao, ou ainda, em descartar aquela que menos conseguiu ser comprovada.

    Ressalte-se que essa verdade aproximativa , sempre, uma hip-tese, condicionada quilo que est presente em determinado proce-dimento judicial, realizado em certo lugar e tempo, sobre determi-nadas normas.

    Em sntese, a insero da racionalidade garantista na deciso responsvel por inserir na concepo formalista e abstrata da premis-sa silogstica menor o elemento de imperfeio, isto , a concepo de que dentro de uma demanda judicial no se chegar verdade real, mas to-somente a uma reproduo de elementos que, juntos, tentaro chegar prximo ao que, de fato, ocorreu.

    3 Concluso

    A sociedade ocidental atravessa, hoje, um estgio que, por mui-tos, chamado de ps-modernidade. Nesse perodo de fragmentao e desmantelamento das instituies que ainda compem o sistema de regras de convivncia (entre elas, o direito), percebe-se que os mtodos, tcnicas e racionalidades projetadas na ascenso do esprito moderno j no so capazes de responder, efetivamente, aos anseios da populao.

    A dinmica forense, especialmente no momento da deciso ju-dicial, tambm externa os sintomas dessa crise que se vivencia: a problemtica epistemolgica da (re)produo do conhecimento jur-dico (iluministas iludidos e desiludidos, como aponta Ferrajoli).

    A tcnica e o mtodo, mesmo quando reduzidos e especificados ao mundo da teoria do direito, mostram-se como instrumentos de um jogo forense que finge refletir a verdade.

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    Subsuno do fato norma , pois, uma tcnica que, num apor-te garantista, deve receber novos contornos, haja vista no possuir a pretenso de ultrapassar a esfera daquilo, dentro do campo das premissas menores (fticas), demonstrado nas demandas. Por outro lado, pretende utilizar toda a sua racionalidade para a produo de uma deciso coerente como os fatos, mesmo que eles s possam se mostrar de forma aproximativa.

    Em outras palavras, trata-se de considerar os fatos no como abso-lutos, mas como prximos da verdade e, por isso, romper com o dogma de um direito formal e moldado sobre retratos infiis da realidade.

    A deciso judicial, dessa forma, pode-se valer de mecanismos jurdicos diversos daqueles comumente empregados, de modo que se produza uma deciso muito mais coerente com a realidade.

    Referncias

    ALEXY, Robert. Teoria da Argumentao Jurdica: a teoria do discurso racional como teoria da justificao jurdica. Trad. de Zilda Hutchinson Schild Silva. Landy Editora: So Paulo, 2001.

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    CAMARGO, Margarida Maria Lacombe. Hermenutica e Argumentao: uma contribuio ao estudo do direito. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

    COMANDUCCI, Paolo. Razonamiento Jurdico: elementos para un modelo. Trad. espaol Pablo Larra. 1999.

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    STRUCHINER, Noel. Uma Anlise da Textura Aberta da Linguagem e sua Aplicao ao Direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.