jup dezembro 2011

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A 15 de outubro, um dia de acção global varreu várias cidades do planeta com um novo movimento. O apelo dos indignados espanhóis foi o motivo para que se juntassem, em vários pontos do globo, milhares de pessoas por uma democracia real e contra a ditadura dos mercados financeiros. O JUP convidou alguns dos organizadores deste protesto no porto para escreverem sobre o seu significado. E o historiador Manuel Loff para responder à pergunta que os media e o senso comum repetem: a culpa é dos políticos? Jornal da Academia do Porto | Ano XXIV | Publicação mensal | Distribuição gratuita directora Dalila Teixeira | chefe de redação Maria Eduarda Moreira| director criativo Sergio Alves A DÉCIMA QUARTA CIMEIRA PARA A CRISE TRIPLA VITÓRIA DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO PORTUGUÊS NÓS SOMOS 99% Depois do consecutivo adiamento de decisões concretas e do malabarismo telefónico entre angela merkel e nicolas sarkozy, o acordo final sobre o futuro da união europeia e da moeda única ficou marcado para mais uma cimeira europeia, realizada no dia 26 Outubro. O desporto português continua a crescer. Cada vez mais são as chamadas “modalidades amadoras” a marcar pontos. Como prova, a dupla vitória da candidatura da universidade do porto para a realização do europeu e mundial de voleibol de praia universitário, em 2013 e 2014; e avitória da candidatura da universidade de coimbra para a realização do europeu de judo em 2013. A 15 de outubro, um dia de acção global varreu várias cidades do planeta com um novo movimento. O apelo dos indignados espanhóis foi o motivo para que se juntassem, em vários pontos do globo, milhares de pessoas por uma democracia real e contra a ditadura dos mercados financeiros. O JUP convidou alguns dos organizadores deste protesto no porto para escreverem sobre o seu significado. E o historiador Manuel Loff para responder à pergunta que os media e o senso comum repetem: a culpa é dos políticos? INTERNACIONAL / P 14 DESPORTO / P 28 PRAXIS O documentário Praxis, de Bruno Cabral, foi o grande vencedor da competição nacional da edição deste ano do doclisboa. Depois de ter sido mostrado também no parlamento, percorre o país com sessões em várias universidades. O JUP entrevistou o realizador, numa conversa sobre o filme, as questões que suscita e a generalização das praxes nas universidades portuguesas. PARÊNTESIS / P 02-03 DEZEMBRO 2011 Orçamento do Estado para 2012 foi marcado por um pacote de medidas que visam cumprir as obrigações impostas pela Troika. Dirige-se, essencialmente, aos gastos na função pública mas afecta também o sector privado. A proposta apresentada deverá garantir que o défice chegue a 4,5% do PIB no final do próximo ano. O JUP foi saber como se corta a torto e a direito em questões tão delicadas. DESTAQUE / P 04 - 07 SOCIEDADE / P 12

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Jornal da Academia do Porto | Ano XXIII | Publicação mensal | Distribuição gratuita | directora Dalila Teixeira | chefe de redação Maria Eduarda Moreira | director criativo Sergio Alves | directora de fotografia Daniela Tedim | directora de ilustração Mariana, a Miserável

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Page 1: JUP Dezembro 2011

A 15 de outubro, um dia de acção global varreu várias cidades do planeta com um novo movimento. O apelo dos indignados espanhóis foi o motivo para que se juntassem, em vários pontos do globo, milhares de pessoas por uma democracia real e contra a ditadura dos mercados financeiros. O JUP convidou alguns dos organizadores deste protesto no porto para escreverem sobre o seu significado. E o historiador Manuel Loff para responder à pergunta que os media e o senso comum repetem: a culpa é dos políticos?

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A DÉCIMA QUARTA CIMEIRA PARA A CRISE

TRIPLA VITÓRIA DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO PORTUGUÊS

NÓS SOMOS99%

Depois do consecutivo adiamento de decisões concretas e do malabarismo telefónico entre angela merkel e nicolas sarkozy, o acordo final sobre o futuro da união europeia e da moeda única ficou marcado para mais uma cimeira europeia, realizada no dia 26 Outubro.

O desporto português continua a crescer. Cada vez mais são as chamadas “modalidades amadoras” a marcar pontos. Como prova, a dupla vitória da candidatura da universidade do porto para a realização do europeu e mundial de voleibol de praia universitário, em 2013 e 2014; e avitória da candidatura da universidade de coimbra para a realização do europeu de judo em 2013.

A 15 de outubro, um dia de acção global varreu várias cidades do planeta com um novo movimento. O apelo dos indignados espanhóis foi o motivo para que se juntassem, em vários pontos do globo, milhares de pessoas por uma democracia real e contra a ditadura dos mercados financeiros. O JUP convidou alguns dos organizadores deste protesto no porto para escreverem sobre o seu significado. E o historiador Manuel Loff para responder à pergunta que os media e o senso comum repetem: a culpa é dos políticos? INTERNACIONAL / P 14

DESPORTO / P 28

PRAXISO documentário Praxis, de Bruno Cabral, foi o grande vencedor da competição nacional da edição deste ano do doclisboa. Depois de ter sido mostrado também no parlamento, percorre o país com sessões em várias universidades. O JUP entrevistou o realizador, numa conversa sobre o filme, as questões que suscita e a generalização das praxes nas universidades portuguesas.

PARÊNTESIS / P 02-03

DEZEM

BRO 2

011

Orçamento do Estado para 2012 foi marcado por um pacote de medidas que visam cumprir as obrigações impostas pela Troika. Dirige-se, essencialmente, aos gastos na função pública mas afecta também o sector privado. A proposta apresentada deverá garantir que o défice chegue a 4,5% do PIB no final do próximo ano. O JUP foi saber como se corta a torto e a direito em questões tão delicadas.

DESTAQUE / P 04 - 07

SOCIEDADE / P 12

Page 2: JUP Dezembro 2011

EDITORIAL E OPINIÃO02 JUP — DEZEMBRO 2011

EDITORIAL

-> “Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desu-manos ou degradantes” (art. 5.º Declaração Universal dos Direitos Humanos).

Nem tudo na AR é crise da dívida pública ou OE para 2012. No último mês outros temas fizeram parte do debate político no parlamento. As praxes académicas esti-veram na agenda.

Com origem medieval, as praxes académicas foram-se reinventando ao longo dos anos nunca perdendo, porém, o seu cunho animalesco, autoritário e fascista. De um lado os que obedecem e se submetem às mais arbitrárias barbaridades; do outro os “doutores” ignorantes que aproveitam os rituais praxísticos para soltar o ditadorzeco que neles existe. Abolidas por determinados períodos de tempo, os anos 80 have-riam de as desenterrar para até hoje perdurarem. Vistas por alguns como forma de “integração” dos alunos que então chegam ao Ensino Superior, doravante denomi-nados de “bestas”; são vistas por outros como práticas autoritárias e criminosas. A verdade é que o tema não reúne consenso. Talvez os factos ajudem a clarificar:

Janeiro de 2003. Ana Sofia Damião, aluna do Instituto Piaget de Macedo de Cava-leiros, denuncia publicamente as agressões de que terá sido alvo durante as praxes do início do ano lectivo. Insultada, obrigada a despir-se e a vestir-se novamente com a roupa interior por fora, forçada a simular orgasmos, a relatar pormenores da sua vida sexual e a simular relações sexuais com colegas. No desfecho, agressores e agre-dida foram sancionados, por igual, com uma repreensão escrita.

Março de 2003. Ana Santos, estudante da Escola Superior Agrária de Santarém, decide avançar com a denúncia pública. Faz uma queixa na polícia, envia uma carta para a direcção da escola e outra carta para o ministro do Ensino superior. Fora “es-fregada” com bosta, insultada e impedida de usar o telemóvel durante várias horas e, finalmente, abandonada a quilómetros de casa. O presidente do conselho directivo da ESAS, Henrique Soares Cruz, abre um inquérito, fazendo contudo saber que, no seu tempo de estudante, também tinha “recebido bosta no corpo”, o que era uma “tradição da escola”. É a primeira vez que as praxes vão a julgamento em Portugal.

Outubro de 2004. Felícia Cabrita assina um artigo na revista Grande Reportagem em que revela a morte, em circunstâncias estranhas, de um membro de uma tuna da Universidade Lusíada de Famalicão. “Morte na tuna” ou “Vítima da praxe” são títulos da responsabilidade da jornalista que pretendem deixar clara a sua tese: Diogo Macedo foi assassinado, pelos seus colegas, numa “praxe” da tuna.

E, de forma bastante abreviada, este tem sido o cenário dos últimos anos no que concerne ao “papel integrador” das praxes académicas que se consubstancia na hu-milhação, abuso, violência e crime.

Mas a violência da praxe só existe porque há um sistema de poder que a sustenta. Portanto, há que chamar para a conversa a classe política. Mas, também aqui, o tema não é novo. Já em 2008 se discutia um Projecto de Resolução apresentado pelo Bloco de Esquerda relativamente à violência das praxes. Na altura, o Ministério da Ciên-cia, Tecnologia e do Ensino Superior enviou às instituições de Ensino Superior um memorando onde informava os Conselhos Directivos que seriam responsabilizados caso ocorressem problemas na sequência de praxes nas suas escolas.

Alguns directores resolveram, assim, o problema dentro das suas faculdades lavando daí as suas mãos com aquilo que os seus alunos fizessem das portas para fora; outros ignoraram literalmente o memorando continuando a permitir as praxes académicas no interior das suas escolas. Tudo ficou, portanto, igual em violência e autoritarismo. Apenas o local dos rituais mudou em alguns casos.

No mês passado a ala bloquista volta ao tema na AR retomando as propostas apre-sentadas em 2008 recomendando ao Governo que fizesse “uma recomendação por escrito dirigida aos órgãos directivos das escolas no sentido de estes assumirem uma postura que não legitime as práticas de praxes violentas no interior ou no exterior das instituições de ensino superior”. Mas, lamentavelmente, a maioria parlamentar PSD / CDS-PP chumbou o Projecto de Resolução.

Ora já dizia o ditado que “tão ladrão é aquele que rouba como o que fica à porta”! Uma pergunta: até quando ficará esta maioria “à porta” enquanto mais alunos forem violentados física ou psicologicamente, mais alunos ficarem paraplégicos ou mais alunos morrerem depois de rituais praxísticos?

E desta vez não me despeço “até ao próximo episódio” porque também por aqui fica a minha passagem pelo JUP. Levo comigo uma mão cheia de aprendizagens, de histórias, de momentos inesquecíveis. Hoje aprendi aquilo que professor nenhum me ensinou: como diz o outro “imparcialidade não é neutralidade”. Hoje, com um olhar deveras mais atento ao que me rodeia, vou. Mas vou com o sentimento de dever cumprido!

Praxe? Não, muito obrigada!Dalila Teixeira

Praxe? Não, muito obrigada!

Plano Z

Q uando era mais nova tudo pa-recia mais fácil. Tinha imensos sonhos, queria correr o mundo

e experimentar quase todas as profis-sões. Hoje, basta abrir os jornais ou ligar a televisão para perceber que as coisas não são bem assim e que Portu-gal está longe de ser um país ideal para se viver. São os cortes nos subsídios e nos salários, a dívida externa, a dor de cabeça do Orçamento do Estado, as receitas que não cobrem as despesas, o desemprego que cresce a olhos vis-tos, a falta de garantia de vir sequer a experimentar a profissão para que se estudou. Enfim, o retrato de uma reali-dade que retrai os sonhos e ameaça as ambições até dos mais corajosos.

Eu não deixei de sonhar, apenas mudei de estratégia. Não sonho tão

alto, traço objectivos mais concreti-záveis e agarro as oportunidades que vão surgindo. De certeza que não sou excepção à regra - e ainda bem! - , mas devo fazer parte de uma minoria, o que me assusta.

Na recta final de um curso, quando se pergunta “Então e o que vais fazer a seguir?” as respostas são quase sem-pre “Não sei bem.”, “Ainda não pensei nisso.” ou ainda, por vezes acompa-nhadas de expressões preocupadas, outras completamente descontraídas “Não faço a mínima ideia.” É precipi-tado afirmar que os jovens baixaram os braços ou não têm objectivos de-finidos, porque, se calhar, até os têm demasiado definidos e o que lhes falta é um plano B que os realize pessoal e profissionalmente quase tanto como a

ideia inicial. Num país como o nosso, escrever sobre certos assuntos e pen-sar em voz alta há mais de trinta de anos que deixou de ser proibido, mas, passado todo este tempo, ficou quase a proibição de sonhar com um futuro melhor. Não que seja impossível, exige é que percorramos um caminho mais longo para chegar onde queremos e nos desviemos para a esquerda e para a direita algumas vezes, explorando outras áreas, para não tropeçarmos nas dificuldades económicas e esca-parmos aos buracos financeiros. Mas, se mantivermos os olhos fixos na meta, qualquer que ela seja, acabare-mos por lá chegar. Com persistência, havemos, com certeza, de lá chegar. Nem que para isso tenhamos de traçar um plano Z. •

C onstruir a solidariedade im-plica edificar a partir de cada um de nós uma organização

social que não esteja em segundo plano nos objectivos da economia e do sistema financeiro.

No Porto, em Março 09 contavam--se cerca de 2500 pessoas em situação de Sem Abrigo, cerca de 1% da popu-lação residente, logo estatisticamente sem expressão: no entanto, falamos de Pessoas! Só na rua Sta Catarina, contámos cerca de 75 pessoas a dor-mir em soleiras de entradas.

Através de uma rede interinstitucio-nal e com base nos princípios inscritos na “Estratégia Nacional de Apoio aos Sem-abrigo”(site Seg. Social, Março 09), utilizando os recursos das orga-nizações envolvidas, sem qualquer apoio monetário extraordinário, foi possível retirar da rua 1.158 pessoas até Novembro 10 (ver dados - Semi-nário da rede em 12 de Novembro 10). É possível, portanto, criar campos de possibilidades ainda que subordina-dos aos recursos.

Refira-se a inovação por a rede ser efectiva e conjugar esforços entre to-dos - Estado, IPSS’s, Ong’s e Volun-tariado. Atualmente porque se en-contram desenhadas as respostas de fundo, urge aplicá-las.

As políticas sociais deixaram de cum-prir a sua função de compensação em favor exclusivo do controlo social. O seu uso retirou, definitivamente, a consci-ência política e social aos mais frágeis inclusive a da necessidade: “muito obri-gada pela sopa…sair da rua gostava…mas quero fumar e no sítio que me arranjam para dormir não posso fazê-lo…não consigo!” disse-me um Sr. que ainda se mantém na rua e muitas vezes o encon-tro alcoolizado (15 anos de rua): pode alguém dizer que este homem decide em perfeita consciência?

Alojado e em processo de acompa-nhamento social, abstinente e com acei-tação das regras padronizadas dizia-me um outro Sr., “tenho 59 anos, arranjei há pouco um trabalho por dois meses, não me puderam fazer os descontos, estou de novo na mesma, sem nada, valem-

-me as minhas dras., não sei o que se-ria de mim, estaria de novo na rua, já ninguém me quer para trabalhar”. Esta é hoje a expressão assistencialista da política social. Impõem-se assim novas estratégias que devolvam a dignidade inscrita nos nossos discursos quan-do falamos de equidade e igual acesso aos direitos. Os direitos existem mas, apropriamo-nos deles de diferentes maneiras, de acordo com o nosso modo de vida, interessa portanto, aproximar modos de vida. Interessa, sobretudo, ter uma visão sobre o outro com base na vi-são que temos de nós próprios.

“Sistemas…”, afinal quem os do-mina são pessoas: o bem-estar do Homem deve ser colocado à frente do lucro económico-financeiro. A intro-duzir sistemas de “compensação” que sejam para controlar aquilo que, tam-bém, é intrínseco à natureza humana: a avidez de ser cada vez mais rico, não interessando como.

Afinal a responsabilidade é de to-dos, o problema é de todos, logo não se trata de apoiar mas sim resolver! •

DIRECÇÃO NJAP/JUP

presidente Ricardo Sá Ferreiravice-presidente Dalila Teixeiravogal JUP Nuno Monizvogal Galerias Hugo Soarespublicidade Sandra Mesquita

DIRECÇÃO JUP

directora Dalila Teixeiradirector criativo Sergio Alveschefe de redacção Maria Eduarda Moreiradirector de fotografia Daniela Tedindirectora de ilustração Mariana, a Miserável

EDITORES

educação Daniela Netosociedade José Soeirodesporto Ricardo Nortoncultura Liliana Pinho e Vera Quintasinternacional e economia Joana Caria opinião Nuno Moniz

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Adriano Campos, Alexandra Marques, Ana Almeida, Ana Sobrinho, André Teixeira, Angélica Prieto, Dalila Teixeira, Daniela Neto, Diogo Fernandes, Fábio André Silva, Filipa Guimarães, Filipa Sousa, Frederico Carpinteiro, Henrique Figueiredo, Inês Guedes, Inês Ramos, Irina Ribeiro, Joana Caria, Joana Domingues, João Vilela, José Soeiro, Júlia Rocha, Liliana Moreira, Liliana Pinho, Luísa Gomes, Luís Mendes, Maria Eduarda Moreira, Maria Inês Rocha, Marta Pimenta, Marta Portocarrero, Olga Rocha, Paula França, Paulo Macedo, Pedro Santos Ferreira, Raquel Biltes *, Raquel Costa, Raquel Teixeira, Ricardo Norton, Rui Silva, Sandra Mesquita,Tiago Reis e Vera Lopes

ilustradores — Artur Escarlate, David Penela, Diogo Valente, Jorge Amador, Laura Moreira, Miguel Sousa e Tiago Vaz

participações especiais — Paulo Pimenta (fotojornalista do jornal PÚBLICO) e Manuel Loff (Historiador e professor da FLUP)

imagem de capa — fotografia cedida por oblogouavida.blogspot.com

imagem de capa Mariana, a Miseráveldepósito legal nº 23502/88ti, ragem 10.000 exemplaresdesign sergio-alves.comtipografia Trump Gothic by Canada Type e Mafra by DSType

pré-impressão Jornal de Notícias, S.A.impressão Nave-printer - Indústria Gráfica, S.A.propriedade Núcledo de Jornalismo Académico do Porto/ Jornal Universitárioredacção e administração Rua Miguel Bombarda, nº 187 - R/C e Cave | 4050-381 Porto, Portugaltlf 222 039 041e-mail [email protected]

APOIOS

Reitoria da Universidade do Porto, Serviços da Acção Social da Universidade do Porto, Universidade Lusófona do Porto, Instituto Português da Juventude

por Paula França e Olga Rocha (Assistentes sociais)

por Marta Portocarrero

Pobreza: uma fatalidade?

Page 3: JUP Dezembro 2011

JUP — DEZEMBRO 2011 03OPINIÃO

Plano Z

Adriano Campos | 26 anosMestrado Sociologia – Universidade do Minho

Acho que é um imperativo cultural de ordem geoestratégica. Se os britânicos comem feijão, os espanhóis churros e os russos caviar não é difícil perceber que o nosso atraso estrutural reside no incipiente pão com manteiga. Além do mais, com o aumento do IVA para a alimentação e o corte nos salários mais vale concentrar o pequeno-almoço, o almoço e o jantar num grande prato de esparguete com atum. Sal a gosto. •

Helena Matos | 21 anosCiências da Comunicação, FLUP

O sabor é realçado se usarem meias com sandálias à refeição. •

Fernando Barros | 26 anosMestrado Multimedia, FEUP

Depende do tamanho da ressaca. Por exemplo, num caso de uma ressaca devidamente estruturada, um espaguete com atum é um prato que sacia imenso, de outra forma pode tornar-se um prato pesado. Pode-se então desta forma concluir idiossincraticamente que na pragmática da causa esparguete com atum ao pequeno almoço versus a ausência de massa com atum o sustento será proporcionalmente igual ao tamanho da ressaca. Mais ressaca, mais massa com atum. Concluíndo, 4 finos + 1 shot de tequilla = 1 dose; 4 Gin's tónicos + 2 finos + 1 whisky, pelo menos um tacho(equivalente a 6 doses). •

Cristina Barbosa| 23 anosCiências e tecnologia do ambiente - FCUP

Meter a palavra atum e massa na mesma frase apelidando-os de refeição, é um verdadeiro hino ao estudante. Chamar a isto pequeno-almoço é um salmo ao São Gregório e motivo de enjoo matinal, com alguma sorte, extensível a todo o dia. Bem sei que a austeridade põe à prova a imaginação de qualquer um e que a atum dado não se olhar o dente mas, a bem dos adictos do pão com manteiga e do leite achocolatado matinais, não deixem de guardar os restos do jantar no tupperware mais próximo. E a manter a prateleira com latas de carne do mar... não vá a fome tecê-las. •

O que achas de comer esparguete com atum ao pequeno-almoço?

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04 JUP — DEZEMBRO 2011DESTAQUE

Ingredientes1 chávena de Troika1 colher de sopa de PSD 1 colher de chá de CDS-PP1 raminho de dívida 1 pitada de austeridade 1 colher de café de descriminaçãoBrutalidade a gosto

PreparaçãoColoque num recipiente rectangular uma chávena de troika, uma colher de sopa de PSD e uma colher de chá de CDS-PP. Bata tudo até conseguir uma mistura homogénea. Em segui-da pegue num raminho de dívida e adicione à mistura. Leve a lume sem preocupação com a intensidade. A mistura impul-sionará por si só um lume bem forte. Vá mexendo até obter a consistência desejada e adicione uma pitada de austeridade e uma colher de café de descriminação. Pode pincelar com gema de PS. Tempere com brutalidade a gosto. O Orçamento do Estado para 2012 está pronto a servir!

por Alexandra Marques, Dalila Teixeira, Daniela Neto, Filipa Guimarães, Henrique Figueiredo, Inês Ramos, Luísa Gomes, Maria Eduarda Moreira e Raquel Costa.Daniela Neto, Luís Mendes, Marta Pimenta e Raquel Teixeirailustração Tiago Vaz

Orçamento do Estado

para 2012 com cortes

a torto e a direito!!!

Page 5: JUP Dezembro 2011

JUP — DEZEMBRO 2011 05DESTAQUE

O Orçamento do Estado (OE) para 2012 foi marcado por um pacote de me-didas que visam cumprir as obrigações impostas pela Troika. Dirige-se, essencialmente, aos gastos na função pública mas afecta também o sec-tor privado. A proposta apresentada deverá garantir que o défice chegue a 4,5% do PIB no final do próximo ano.

Para além das medidas serem de grande austeridade, alguns economistas receiam que o país não consiga recuperar do impacto económico que estas poderão trazer. De entre as várias classes financeiras, a classe média é a mais afectada.

As medidas, referidas como sendo de brutalidade e não de austeridade, têm resultado em vários protestos por parte dos grupos mais afectados e uma greve geral conjunta da CGTP e UGT. Os sindicatos têm desempenhado um papel preponderante, incentivando movimentos de oposição para os próximos meses. Apesar disso, Passos Coelho frisou que o “orçamento de Estado é indiscutível” e reforçou que serão encontrados "mecanismos" europeus a pensar nos "países que estão com mais dificuldades, como é o caso de Portugal”.

Dos 10.350 milhões de euros que fazem parte das medidas de consolidação orçamental da propos-ta do OE para 2012, 6259 milhões de euros per-tencem às famílias, 3255 milhões ao Estado e 655 milhões às empresas.

Nas Prestações Sociais prevê-se que o valor seja de 35.641 milhões de euros. O subsídio de de-semprego será acessível até 18 meses e terá um limite de 1.048 euros, com um corte de 10% no valor após os primeiros 6 meses.

Os salários irão registar um decréscimo, que será mais sentido pelos funcionários públicos, com a perda dos subsídios de Natal e de férias, com o valor estimado de 18.930 milhões de eu-ros. As horas extra da função pública serão tam-bém pagas apenas em metade do valor actual. A redução de despesas reflecte-se também no con-gelamento de salários do sector público, assim como nas progressões e promoções. Os trabalha-dores independentes beneficiam de mais tempo para pagar dívidas à Segurança Social, com um maior número de prestações.

Também as taxas de juros vão crescer em 25%, uma subida intimada pelos investidores para obter a dívida emitida pelo Estado, que terá que pagar mais 8 mil milhões de euros. A dívida de algumas empresas públicas será também trans-ferida para o Estado.

Os portugueses vão sentir no bolso o peso do aumento dos bens e serviços de consumo. Não só se irá sentir nas compras do supermercado, como também nas facturas da electricidade e gás natural. Também a tarefa de manter um negócio em pé se torna cada vez mais dificultada para a área da hotelaria e restauração, com mais de 50 mil estabelecimentos fechados e mais de 100 mil postos de trabalho extintos.

A palavra de ordem para 2012 é cortar. Quer seja para os contribuintes, quer seja para o Estado. 72.000.200.000€. Setenta e dois mil milhões de duzentos mil euros. É este o valor cheio de zeros que o Estado pretende que entre nos seus cofres com todos os cortes previstos no OE para 2012. No total dos 11 Ministérios que o compõem, o Estado prevê arrecadar mais de 1931 milhões de euros. O Ministério que mais vai “poupar” vai mesmo ser o da Educação com uma “poupança” total de 864 milhões de euros. No entanto, o cor-te mais significativo em termos percentuais vai para o Ministério dos Negócios Estrangeiros com uma descida de 10,6% da despesa. As pastas da Justiça, Saúde, Administração Interna e Defesa serão também alvo de cortes acima dos 4%. O Ministério da Solidariedade e Segurança Social é o único que de alguma forma vai manter os gas-tos, com a descida da despesa a rondar 1 milhão de euros, um valor residual em pontos percen-tuais. Mas nem todos os Ministérios vão cortar nos gastos. É o caso do Ministério das Finanças e da Administração Pública que vai aumentar os gastos em 1879,3 milhões de euros. No mes-mo patamar estão o Ministério da Agricultura e Ambiente, Presidência e Conselho de Ministros e Economia e Emprego. Relevância para os dois últimos que vêm a sua despesa subir em mais de 100%. Mas o valor chorudo que o Estado pre-vê arrecadar não se faz só de poupança interna. Com as subidas previstas do IVA, o governo de Passos Coelho prevê amealhar 2 mil milhões de euros, um valor bem acima dos 400 milhões que a Troika impôs. Já a eliminação nos subsídios de Natal e de férias e os cortes nos Ordenados vale-rão ao Estado 2500 milhões de euros.

-> Um exemplo de uma família que vai sentir os cortes na função pública.

José Sobrinho é casado e tem dois filhos, um estudante universitário e outro no segundo ciclo. “Sou auxiliar de apoio e vigilância no hospital de vila nova de gaia. A minha esposa é auxiliar

de acção médica principal e trabalha na mesma instituição. Os gastos com a educação dos meus filhos ascendem a mais de 2000 euros por ano lectivo distribuídos por propinas, gastos com ali-mentação, material de apoio ao estudo, livros e o próprio material escolar.

As medidas anunciadas pelo governo vão ser severas para a estabilização financeira da minha famí-lia em vários pontos, na qualidade da alimentação, menos dinheiro, menos poder de compra, propinas e material de apoio, vestuário e calçado. Para além de receber menos ainda vou ter que pagar mais em tudo e também em termos de deduções no IRS. A minha opinião é que por este andar só vão existir duas classes, os pobres e os ricos.

No meu ponto de vista, se os políticos e altos responsáveis de grandes empresas fossem responsa-bilizados pela gestão danosa da sua conduta, a minha família e muitas mais não tinham necessidade de passar a viver com mais dificuldades, mesmo não sendo de certeza das famílias que estão em pior situação, pois muitas famílias vão deixar de poder usufruir de muita coisa básica para o seu dia-a-dia. É de lamentar, mas vai ser uma realidade. Esta situação pode inclusive levar as famílias desfavorecidas a uma revolta sem precedentes no nosso país. Quem é que vai conseguir suportar por muito tempo esta devastação social?”

1/Famílias

Os 6259 milhões pagos pe-las famílias portuguesas equivalem a uma perda de 5% no rendimento dispo-nível de cada uma. No caso dos funcionários públicos, esta perda equivale a 25%

dos rendimentos, com o corte nos subsí-dios de Natal e de férias, o que se calcula que chegue a 1% do PIB, senão mais. A subida nos impostos e nas taxas do IVA relativamente a vários produtos e as redu-ções do IRS vão passar a ter certos limites em despesas como educação, saúde, entre outras.

Outra medida é a criação da sobretaxa de solidariedade do IRS, que irá render três milhões de euros, pagos pelo escalão mais elevado do imposto. O sector privado é ainda afectado com mais meia hora de trabalho diária não remunerada.

2/Estado

O sector empresarial do Estado vai sofrer muitos cortes com as medidas do OE para 2012, nome-adamente com a criação do PREMAC, o Programa de Redução e Melhoria

da Administração Central, cujo objectivo é promover a eficiência do Estado, através da abolição de determinados serviços e da criação de outros.

3/Empresas

Para espanto de alguns, uma das medidas apli-cadas às empresas traz benefícios para quem declara prejuízos há anos: os prejuízos são contados em apenas

75% e o reporte de prejuízos sobe de qua-tro para cinco anos, ao contrário da espe-rada descida para três.

As taxas reduzidas de IRC de 12,5%, cujo objectivo é ajudar as pequenas e médias empresas internamente, são abolidas e é fixada uma taxa única de IRC em 25%. Também a norma anti-abuso passa a ter regras mais rígidas.

> QUEM PAGARÁ A FACTURA?

u

> AS MAIORES DESPESAS

> A “POUPANÇA” QUE O ESTADO PRETENDE ARRECADAR

Page 6: JUP Dezembro 2011

06 JUP — DEZEMBRO 2011DESTAQUE

A taxa de IVA aplicada à restauração, refrigerantes e congelados regista um aumento de 13% para 23%, de acordo com as medidas para o OE para 2012. Ir ao cinema ou teatro, comprar livros e revistas vão pesar no bolso dos portugueses. Também a água engarrafada sofre um aumento do preço. Estas me-didas estão já a ser contestados pelos empresários das áreas da hotelaria e restauração, que estimam o fecho de milhares de empresas e a extinção de muitos milhares de postos de trabalho.

O IRS tinha já sofrido vários limites com o OE para 2011 quanto aos benefícios fiscais e às despesas que se podem deduzir. Em 2012, os contribuintes com rendimentos superiores a 153.300 mil euros por ano vão sofrer um aumento de 2,5% na taxa máxima do IRS, o que fará subir o IRS mais alto para os 49% numa “taxa adicional de solidariedade”. No caso de casais divorciados com filhos menores e pensão de alimentos, o desconto no IRS será menor.

No caso da saúde, os contribuintes não poderão abater os 30% das despesas de saúde, passando para apenas 10%. Todos os escalões terão limites às deduções fis-cais, excepto os dois primeiros e a taxa sobre mais-valias passa de 20 para 21,5%.

O IRC traz algumas vantagens às empresas, que podem, a partir de 2012, benefi-ciar de um alargamento do prazo de reporte de prejuízos de quatro para cinco anos. No entanto, este aumento provoca também um limite de 75% no valor da dedução a efectuar nos prejuízos reportados.

Associado à factura de electricidade vai estar o Imposto sobre Produtos Petro-líferos e Energéticos. Esta taxa deve-se a um consumo anual em média de 2,99 MWh, segundo a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, pelo que vai cus-tar 3 euros a cada família portuguesa ou 25 cêntimos por mês.

O Imposto do Selo vai sofrer pequenas alterações como a possibilidade de entre-ga da participação da transmissão gratuita de bens, seja por doação ou por herança, o aumento do prazo de caducidade da liquidação do imposto para venda de imó-veis ou de direitos sobre imóveis de quatro para oito anos.

Estabelecimentos do Ensino Superior vão perder 11,1% das verbas relativamente ao ano transacto. Os maiores cortes vão para a Técnica de Lisboa e Universidade do Porto.

Segundo o jornal Público, numa análise à pro-posta do OE para 2012, as despesas dos 30 es-tabelecimentos de ensino superior, excluindo a Universidade de Aveiro e o ISCTE (que têm esta-tuto de fundação), vão totalizar 1,4 mil milhões de euros. Ou seja, menos 178,9 milhões, uma quebra de 11,1% face ao OE de 2011.

A Universidade Técnica de Lisboa perde 23,9 milhões de euros, sendo, por isso, a que sofre a maior quebra. Logo a seguir está a Universidade do Porto, com menos 21,5 milhões. Só o Politéc-nico do Porto regista um acréscimo, ao receber mais 167 mil euros que em 2011.

Em declarações à Agência Lusa, António Ren-das, presidente do Conselho de Reitores das Uni-versidades Portuguesas (CRUP), já manifestou a sua preocupação relativamente aos cortes anun-ciados para o sector. "Verifico com muita pena que, neste momento, o ensino superior em Portu-gal não está no topo da agenda e além disso o Or-çamento de 2012, se for aprovado, vai trazer enor-mes limitações à autonomia das universidades, que se têm comportado de uma forma muito dig-na para contribuir para o melhoramento do país" afirma António Rendas acrescentando que "se estes cortes se mantiverem, Portugal poderá ficar numa posição muito diminuída e perder toda a sua capacidade competitiva a nível europeu".

-> Violação da equidade fiscal ou inconstitucionalidade?

Cavaco Silva considera que a suspensão dos subsídios de férias e de Natal para a função pública e pensionistas é “a violação de um princípio básico de equidade fiscal”. Já António Martins, presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP), considera a medida “ilegal e inconstitucional”.

A 19 de Outubro, seis dias depois de anunciados os novos cortes do OE para 2012, o Presidente da República afirmou, em declarações aos jornalistas à saída da sessão de abertura do IV Congresso Nacional dos Economistas, que decorreu em Lisboa, que a suspensão dos subsídios de férias e de Natal da função pública e dos pensionistas é "a violação de um princípio básico de equidade fiscal". O Chefe de Estado manifestou ainda, à data, o desejo de que a Assembleia da República fizesse um "debate aprofundado" sobre as propostas do Governo para OE de 2012.

Todavia, mais que violação da equidade fiscal, a ASJP considera a medida ilegal e inconsti-tucional utilizando mesmo quatro duras expressões para caracterizar a medida: “ilegalidade, inconstitucionalidade, brutalidade e discriminação”.

António Martins sublinha que o Estado só pode obter receitas “através dos impostos universais, abrangendo os rendimentos do capital e do trabalho”, e dos impostos “progressivos, para que quem mais ganhe pague mais” impostos.

O líder da ASJP sustenta que esta medida, sendo aplicada apenas a “uma parcela de por-tugueses”, poderá ter “consequências na sociedade e na economia”. Os juízes receiam que o corte nos subsídios possa levar à “desagregação e graves conflitos sociais”.

Os juizes “querem assegurar aos cidadãos que o seu dever é garantir os direitos fundamen-tais das pessoas e não proteger interesses ilegítimos do estado” e garantem que não permitirão “atropelos aos valores da Justiça e do Direito”, que estão “consagrados em instrumentos inter-nacionais e também na Constituição”.

António Martins assegura que a ASJP “vai lutar pela protecção dos direitos fundamentais das pessoas e contra os interesses ilegítimos do Estado”.

Austeridade. Esta é a palavra-chave para os próxi-mos dois anos. Face a uma crise a nível internacio-nal, o Governo procedeu a uma política de cortes.

As previsões não se afigu-ram optimistas, até 2012 está prevista uma queda de 2,8 % do PIB. Para o docente da Fa-culdade de Economia da Uni-versidade do Porto, Rui Hen-rique Alves este orçamento é um mal menor, visto que “as alternativas são muito curtas”. O economista tem confiança num crescimento económi-co, mas apenas quando cada país fizer o seu “trabalho de casa” em termos de arrumar as contas públicas. Em termos macroeconómicos Rui Henri-que Alves, não crê que “Por-tugal possa cair numa espiral recessiva como a Grécia”. To-davia avisa que “não há outra maneira de proceder sem ser

com a ajuda da União Europeia”. Também o de-semprego é um foco de crescente preocupação. Com previsões que apontam o aumento para 13,4% de desempregados em 2012, o professor da FEP alerta os portugueses para se “habituarem à manutenção de taxas de desemprego em níveis altos durante um conjunto significativo de anos”. Adivinha-se um cenário negro para a economia portuguesa nos próximos anos.

> AS MAIORES RECEITAS FISCAIS

> À TESOURADA NO ENSINO SUPERIOR

> CENÁRIO MACROECONÓMICO

u

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JUP — DEZEMBRO 2011 07

A notícia chega na noite do dia 13 de Outu-bro pela mão de Pedro Passos Coelho: tra-balhadores e pensionistas do sector público com vencimentos superiores a mil euros vão ter subsídios de férias e de Natal suspensos e, aqueles que ganhem entre 485 euros e mil euros sofrerão um corte progressivo que corresponderá, em média, a um dos subsí-dios. Muita tinta correu e a 28 de Novembro PSD e CDS aprovam novos tectos para o cor-te nos subsídios.

A maioria que sustenta o Governo deci-de agora que os cortes só se aplicarão aos funcionários públicos e pensionistas com salários superiores a 600 euros, contaria-mente aos 485 anteriormente fixados. E, por oposição aos 1000 euros inicialmente previstos, apenas quem receba acima dos 1100 euros verá ambos os subsídios ficarem por terra na totalidade.

A medida, anunciada como extraordiná-ria, incorpora o OE para 2012 e irá vigorar durante os próximos dois anos, enquanto durar o programa de ajustamento financei-ro. Os trabalhadores do sector privado não são afectados.

Uma das principais fontes de receita do Governo para 2012 é o valor que vai resultar das subidas do IVA (imposto de valor acrescentado). A acumular a algumas subidas do imposto nos últimos meses, muitos produtos e serviços vão agora ver os seus preços aumentados. As subidas encontram-se entre os 10 e os 17 pontos percentuais. O aumento mais significativo tem como base os produtos em que a taxa de IVA passa de 6% para 23%. Exem-plos desta subida são os espectáculos, bilhetes de futebol, refrigerantes, iogurtes de soja, batatas fritas congeladas e sobremesas lácteas. Com a mesma subida de IVA, a electricidade e o gás são talvez os serviços que maiores dores de cabeça trazem aos portugueses. Já produtos como refeições prontas, conservas (de frutas, de carnes e de moluscos), café, óleos e margarinas, compotas, frutos secos e aperitivos à base de produtos hortícolas e sementes sobem de 13% para 23%. Também aqui existe uma preocupação acrescida no que toca aos serviços de restauração, que vê assim a taxa de IVA nos 23%. Na taxa de 13% o vinho mantém a mesma percen-tagem de imposto, ao passo que a água engarrafada sobe de 6% para 13% de IVA.

O OE para 2012 vai provocar um agravamento da carga fiscal para os contribuintes. Os dois primeiros escalões não têm limites nas deduções fiscais, mas aqueles que ganhem mais de 7.410 euros anuais devem ter em atenção as novas regras, que estabe-lecem tectos globais às deduções no IRS.

Está prevista para os pró-ximos cinco anos uma dimi-nuição das deduções fiscais em IRS com a habitação. Estas despesas, até agora dedutíveis em 30%, passa-rão no próximo ano para os 15%, com um tecto máximo de 591 euros. Relativamen-te à saúde, os pensionistas serão os que mais vão sentir as diferenças instituídas pelo novo Orçamento: o valor má-ximo dedutível passa a ser 838 euros. Este valor ilustra a descida de 30% para 10% da dedução das despesas com este sector.

Na educação, o valor da dedução mantém-se: 30% das despesas poderão ser deduzidas, até um limite máximo de 670 euros.Uma outra alteração proposta pelo OE do próximo ano diz respeito às prestações sociais. Os subsídios de desemprego e de parentalidade não vão estar sujeitos a IRS. Os contribuintes enquadrados nos dois últimos escalões (a partir de 66 mil euros) dei-xarão de ter direito a fazer deduções.

> ERA UMA VEZ DOIS SUBSÍDIOS: O DE FÉRIAS E O DE NATAL

> AS ALTERAÇÕES NO IVA

> CONTRIBUINTES PENALIZADOS COM LIMITES ÀS DEDUÇÕES

DESTAQUE

n

-> Os novos impostos e agravamentos

Para além dos cortes no subsídio de Natal e de férias, o Estado vai, a partir de 2012, deixar de devolver os impostos pagos a mais pelo contribuinte, a menos que o próprio se aperceba da incorrecção. Isto não sig-nifica que deixe de receber o reembolso do IRS.

Quanto a este último, é de ter em conta as mudanças no subsídio de refeição, onde a majoração será re-duzida de 50% (pago em dinheiro) e 70% (em senhas de refeição), para 30% e 60%, respectivamente. Isto não significa que as entidades patronais reduzam o subsídio, mas se continuarem a pagar o mesmo, uma parte será considerada rendimento sujeito a imposto. Nas pensões, vai registar-se um maior número de pensionistas com rendimentos mais baixos a pagar imposto. No domínio das deduções à colecta, quanto mais elevados forem os rendimentos, menos despesas será possível reduzir. Os dois últimos escalões (6 045,01 a 153 300 e mais de 153 300 de rendimento colectável em euros) não poderão deduzir seja o que for.

No que diz respeito às despesas de saúde, se até agora era possível deduzir 30% das despesas isentas de IVA ou sujeitas à taxa de 6%, só se vai poder deduzir 10% e até 838,44 euros em 2012. Na habitação, passa a ser somente possível a dedução dos juros , de 30% para 15%. A ideia é abolir gradualmente esta dedução até 2016. As despesas com o crédito habitação só poderão ser deduzidas por quem comprar casa até ao final do presente ano. Já os contribuintes com rendimentos superiores a 153 300 euros anuais vão ver apli-cada uma taxa adicional de IRS de 2,5 %.

O IVA também se vai manifestar nas taxas aplicadas a alguns produtos, como os refrigerantes que passam a ser taxados a 23%. O imposto sobre veículos (ISV) sofre um aumento considerável de 7% em média. O Imposto Único de Circulação (IUC) aumenta entre 3,8 e 7,5 por cento e passa a ser pago por carros de colecção antigos.

Para além destas, são muitas as mudanças que o novo OE vai trazer à carteira dos portugueses.•

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08 JUP — DEZEMBRO 2011EDUCAÇÃO

por Daniela Neto e Joana Domingues

> O EMPREENDEDORISMO NA UNIVERSIDADE DO PORTO

Fundado em 2007, o clube de em-preendedorismo da Universida-de do Porto é o primeiro de uma Universidade portuguesa. A sua principal missão é alertar a comu-nidade universitária para a área

temática do empreendedorismo.O CEdUP nasceu da ideia de três sócios que

consideraram que a Universidade do Porto preci-sava de uma iniciativa para os estudantes na área empreendedorismo.

A UP já tinha alguns organismos que desem-penhavam papéis fundamentais na criação de empresas, como a UPIN e a UPTEC. No entanto, “faltava uma ferramenta de serviço aos alunos e que os chamasse para o empreendedorismo” re-fere Francisco Pimentel, representante da CEdUP.

Um dos principais objectivos do clube é o de incutir o espírito empreendedor na comunidade da Universidade do Porto. De acordo com Fran-cisco Pimentel o CEdUP “tem tido um número cada vez mais crescente de sócios”. No que diz respeito a colaborações o clube “trabalha cons-tantemente com a UPIN e a UPTEC”. Exemplos disso, são a co-realização com a UPIN do con-curso Ideias e negócios e a parceria com a UPTEC em eventos como o SPIE UP. Várias empresas, como também a Invicta Angels, foram já par-ceiras do CEdUP e como diz Francisco Pimentel “cada vez mais há uma tendência para essas en-tidades quererem associar-se connosco”.

Actualmente, a base de funcionamento do clu-be reside em três iniciativas. A Semana de Pro-moção de Inovação do empreendedorismo (SPIE UP) é o evento principal da CEdUP, realiza-se anualmente e “é um conjunto de conferências, conversas e workshops” que pretende inspirar os estudantes. Existem também, com maior perio-dicidade, os Encontros CEdUP – pequenas pales-tras com uma intervenção muito activa por parte dos sócios. O objectivo destes encontros é “que as pessoas sejam inspiradas através do exemplo de outros”, afirma Francisco Pimentel. O con-curso de Ideias e negócios, também faz parte das iniciativas do clube. A realizar este ano a tercei-ra edição, o concurso tem “várias participações, várias ideias muito interessantes e tem sido um sucesso”, de acordo com Francisco Pimentel.

Paralelamente a estas iniciativas o CEdUP tem também o Internacional Entrepreneurship Camp, com o objectivo de ser este ano realizado em Portugal “para dar a conhecer os bons exem-plos portugueses”.

Por tudo isto, o Clube de Empreendedorismo da Universidade do Porto é um conceito inova-dor que pretende moldar as novas mentalidades empreendedoras.

> A SCIENTIA – FCUP JUNIOR ENTREPRISEA Scientia – FCUP junior Enterprise é um projecto empreendedor nascido da vontade de um grupo de estudantes da Faculdade de Ciências da Uni-versidade do Porto. Como contou ao JUP Raquel Almeida, uma das responsáveis pelo projecto, a

Scientia – FCUP Junior Enterprise “tem como ob-jectivo primário a criação de uma ponte entre o mundo académi-co e o universo empresarial”. O projecto é aberto a todos os estu-dantes e ex-estu-dantes da institui-ção (Faculdade de

Ciências). A dar os primeiros passos desde há um ano para cá, o projecto pretende fomentar “o em-preendedorismo e a inovação cientifico-tecno-lógica na sociedade portuguesa, particularmente no que respeita aos jovens”, acrescenta Raquel Almeida.

O projecto não tem ainda parcerias com ne-nhuma entidade oficial. Contudo, Raquel afirma que o projecto está no bom caminho para a lega-lização que ainda “não existe para júnior empre-sas em Portugal”.

O projecto Scientia – FCUP Junior Enterprise começou por se deruçar sobre áreas de estudo coincidentes com as temáticas dos cursos da Fa-culdade de Ciências. O ambiente e em particular a prevenção e protecção ambiental é o tema foi a primeira área que os fundadores pretendiam in-vestir. Contudo, como explica Raquel Almeida, poderão “investir em diversas áreas e o próprio mercado irá exigir uma adaptação às necessidades do momento”. O empreendedorismo social não é esquecido, uma vez que o projecto pretende assu-mir o compromisso de “identificar problemas da actualidade e propor soluções para os mesmos”.

A Scientia está agora a investir no primeiro pro-jecto, o START Up Live Porto #2. O projecto está a ser levado a cabo em parceria com a JuniFEUP

(organismo de junior empresas da Faculdade de Engenharia) e com a marca europeia STARTeuro-pe. 27 de Novembro na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.” Por: “O evento, de cariz internacional, realizou-se nos dias 25, 26 e 27 de Novembro na Faculdade de Ciências da Universi-dade do Porto.

Raquel Almeida salienta importância do ca-rácter empreen-dedor nos tem-pos que correm ao afirmar que “o ensino é cada vez mais comparti-mentalizado, o que se reflecte posteriormente nas aptidões que os estudantes le-vam para o mer-cado de traba-lho”. O objectivo das iniciativas de empreendedo-rismo é mesmo “ prop orc ionar

aos estudantes uma visão mais alargada, através da fusão de conhecimentos” realça Raquel Al-meida. As competências pessoais que passam ao lado do percurso académico também devem ser desenvolvidas na opinião de Raquel Almeida, que acrescenta que “empreender é precisamen-te ir além do curso, é integrar os conhecimentos técnicos e científicos”. Raquel Almeida afirma também que “já não há espaço para mais acadé-micos a tempo inteiro”.

> O START UP LIVE PORTO #2O START UP Live Porto #2 é um evento levado a cabo pela Scientia – FCUP Junior Enterprise e pela JuniFEUP, em aliança com a STARTeuro- pe. O evento, decorreu nos dias 25, 26 e 27 de Novembro na Faculdade de Ciências e preten-deu juntar pessoas de diferentes áreas criando um “ecossistema onde empreendedores ajudam outros empreendedores no desenvolvimento e concretização de ideias de negócio”. O projecto segue o modelo dos eventos STARTup Live que começaram em Viena e decorrem em várias ci-dades europeias.

Em 2010, o START Up Live #1 foi um grande sucesso e a segunda edição não ficou atrás. Teve a duração de um fim-de-semana e promoveu o “networking, recursos e incentivos aos partici-pantes individuais ou em equipa que pretendam passar da ideia de negócio ao seu lançamento”.

O objectivo do projecto foi que os concorren-tes formassem equipas e desenvolvessem uma ideia de negócio com mentores. Do painel de mentores constaram nomes como André Mar-quet, Nuno Correia, Rafael Pires, Diogo Teixeira, João Paulo Peixoto e Felipe Ávila da Costa. Os projectos, depois apresentados a potenciais in-vestidores, recebereram as críticas dos experts. Estas eram as “regras do jogo”. No final, as três melhores equipas foram premiadas. O evento esteve aberto a todos os que quiseram participar, com ideias de negócio, com curiosidade e vonta-de empreendedora. •

Empreendedorismo em tempos de criseFACE À ACTUAL CONJECTURA ECONÓMICA NO NOSSO PAÍS E ATÉ MESMO MUNDIAL, SER EMPREENDEDOR É CARACTERÍSTICA ESSENCIAL. A UNIVERSIDADE DO PORTO INOVOU AO USUFRUIR DE UM CLUBE DE EMPREENDEDORISMO, O CEDUP, ÚNICO NUMA UNIVERSIDADE PORTUGUESA. ADQUIRIR COMPETÊNCIAS É TAMBÉM O CERNE DE PROJECTOS COMO A SCIENTIA – FCUP JUNIOR ENTERPRISE E DA JUNIFEUP. O EVENTO STARTUP LIVE PORTO #2 FOI EM NOVEMBRO.

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JUP — DEZEMBRO 2011 09EDUCAÇÃO

Dos livros à prática no quotidiano

U.Porto aposta na formação contínua

Consultas dentárias mais económicas para estudantes da UP

A Editorial da Universidade do Porto, com o apoio da Univer-sidade Júnior, lançou este ano,

pela primeira vez, as Sessões Júnior à Volta dos Livros, um projecto que visa, através de palestras, a aproximação às escolas e àqueles que poderão ser os seus futuros alunos.

Mais voltado para estudantes do 3º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, este projecto nasceu da necessidade de “esclarecê-los quan-to a algumas matérias, alguns cursos, quanto à aplicabilidade prática de al-guns conteúdos que são leccionados na Universidade, partindo de alguns livros que temos editado no catálogo da U. Porto Editorial”, explica Manue-la Pestana, representante da U. Porto Editorial. Assim, o principal objectivo do projecto é tornar alguns conteú-dos ensinados na universidade mais próximos dos estudantes. Esta “é uma maneira de motivá-los mais para de-terminados conteúdos, tentar mos-trar-lhes que não são conhecimentos assim tão longínquos do dia-a-dia”, refere Manuela Pestana, pelo que a ideia passa também por demonstrar que esses conhecimentos não são só teóricos e que todos eles têm uma aplicação no quotidiano. Este primei-ro programa inclui essencialmente temáticas na área da matemática, da física e das ciências do meio aquático,

embora se espere “numa outra inicia-tiva, passar para outras áreas”, declara a representante do projecto.

A adesão por parte das escolas tem sido muita. Manuela Pestana assegura que têm recebido muitos pedidos de escolas das mais diversas localida-des. “Temos escolas do Porto, efecti-vamente, mas os primeiros pedidos que nos chegaram foram do Grande Porto. Temos escolas de Lousada, Es-pinho, bastantes de Gaia, tivemos até contactos de Lisboa, embora não pos-samos mesmo deslocar-nos lá para fazer estas palestras”, afirma Manuela Pestana.

A ideia das Sessões Júnior à Volta dos Livros é, no fundo, o seguimento de uma primeira edição, contudo diri-gida a um público sénior. Essas sessões “tinham módulos diferentes porque eram realizadas em espaços da univer-sidade”, sendo maioritariamente des-tinadas a antigos alunos da UP. Como afirma Manuela Pestana “esta edição Júnior é uma continuação desse pro-jecto, dirigida a um outro público”.

As palestras relativas às Sessões Júnior à Volta dos Livros nas escolas terão início em Novembro e vão pro-longar-se até ao final do ano lectivo. •

Almeida e Joana Domingues

C onsciente da necessidade de uma constante actualização de conhecimentos para dar res-

posta aos desafios do mercado de tra-balho actual, a Universidade do Porto aposta no seu potencial científico e pedagógico, investindo numa forte di-namização da área da educação con-tínua, características que a Universi-dade tem potenciado por via de uma oferta atractiva e crescente de cursos creditados segundo o modelo de ensi-no proposto por Bolonha.

Concebido a pensar naqueles que procuram estar actualizados nas mais variadas áreas do conhecimento e que pretendem prolongar a sua formação, estes cursos não conferentes de grau têm como objectivo abrir novas opor-tunidades profissionais e formativas através de uma oferta de programas de formação contínua flexíveis, diri-gidos a diversos públicos e distintas categorias profissionais e, em geral, a todos os interessados na actualização e aprofundamento de conhecimen-tos ou na sua valorização cultural e pessoal. Com esta oferta educativa pretende-se também dar mais valor à aposta em acções de formação em

áreas inovadoras e multidisciplinares que respondam a novas e crescentes necessidades pessoais, sociais e eco-nómicas.

O catálogo disponibilizado conta com 198 cursos organizados por áreas de formação de acordo com a CNA-EF (Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação), num total de 17 áreas de conhecimento que se dividem em artes, direito, humani-dades, informática, saúde, ambiente, engenharia, entre outras. Estes cursos que não conferem nenhum tipo de grau distinguem-se das denominadas formações conferentes de grau pela maior flexibilidade de horário (de cur-ta ou média duração, sendo que mui-tos deles são leccionados em horário pós-laboral, que permite uma parti-cipação mais alargada de pessoas e conjugação com um trabalho a tempo inteiro) e pelo carácter essencialmen-te prático.

A oferta formativa não conferente de grau inclui os cursos de especiali-zação (nível de 2º ciclo com um míni-mo de 30 créditos ECTS), de estudos avançados (nível de 3º ciclo), os cursos de formação contínua ou unidades de

formação e cursos livres, todos reuni-dos no Catálogo de Formação Contínua da Universidade do Porto. A Universi-dade organiza também formações de carácter profissional, especialmente dirigida aos seus Recursos Humanos, mas em alguns casos abertas a outros profissionais, constantes do Plano de Formação dos Recursos Humanos.As condições de acesso para cada um dos cursos de formação contínua da Universidade do Porto variam de acordo com as indicações do conselho coordenador do curso. Para mais in-formações sobre as condições de can-didatura, contactos para inscrições, preços, horários ou datas, os interes-sados deverão contactar directamente a Unidade Orgânica responsável pela organização do curso.

Com esta oferta de cursos de for-mação contínua disponibilizada pela Universidade do Porto pretende-se uma maior dinamização da educação ao longo da vida, contribuindo decisi-vamente para a valorização pessoal e profissional de todos os que a ela re-correm e para o desenvolvimento so-cial, cultural e económico da região e do país.• Ana Sobrinho e Inês Guedes

N uma consulta dentária sim-ples, um estudante da Univer-sidade do Porto pagará apenas

€11,00, incluindo radiografia” confir-ma o Dr. João Carvalho, Diretor da Fa-culdade de Medicina Dentária, sendo que o valor restante será suportado pelos SASUP. “Este protocolo abrange o primeiro, segundo ciclo e mestrado integrado e a 1ª consulta é marcada na Reitoria, sendo as restantes acordadas com a Faculdade de Medicina Dentá-ria” afirma o Diretor do Departamen-to de Integração Académica Saúde e Desporto, Dr. Sotero Martins. Segundo o Diretor do Departamento de Integra-ção Académica, “A medicina dentária era das mais necessitadas” para os alunos da Universidade do Porto.

A ideia partiu dos SASUP, mais pre-cisamente do Dr. João Carvalho, como refere o Diretor da Faculdade de Medi-cina Dentária, Dr. Afonso Pinhão Fer-reira. “Temos um bom equipamento técnico” e o protocolo já teve início no dia 9 de Outubro de 2010. As consultas serão feitas por “alunos de cursos de especialização de mestrado”, ou seja de quarto e quinto ano, e acompanha-dos pelo docente, refere o Diretor da Faculdade de Medicina Dentária.

O protocolo iniciou este ano letivo com quase 100 consultas marcadas. “Não há o reconhecimento dos servi-ços” a que cada aluno universitário tem direito, “há o cuidado de criar canais para ajuda do estudante através de por-tais para a divulgação” esclarece o Dr. Sotero Martins em relação à implemen-

tação do novo botão, “Saúde e Bem-es-tar”, no menu de cada site das diferentes Faculdades da Universidade do Porto. Tratamentos mais complexos que exi-jam meios laboratoriais como implan-tes próteses e aparelhos ortodônticos ou grandes cirurgias serão excluídas deste protocolo.

As consultas serão realizadas nas instalações da Faculdade de Medici-na Dentária às segundas-feiras todo o dia. Para requisitar consulta o aluno deverá dirigir-se ao Gabinete de Apoio Médico e Psicológico dos Serviços de Acção Social, sediado na Reitoria da Universidade do Porto. Para esclarecer qualquer dúvida basta apenas um cli-que no site portaldasaude.up.pt ou no portal da Reitoria na secção “Saúde e Bem-estar”. • Laura Pestana

IR ÀS ESCOLAS NUM ESFORÇO DE APROXIMAÇÃO AOS SEUS POTENCIAIS FUTUROS ALUNOS. É O QUE PROPÕE A U.PORTO EDITORIAL COM AS SESSÕES JÚNIOR À VOLTA DOS LIVROS, UM RECENTE PROJECTO DESTINADO A ESTUDANTES MAIS NOVOS.

APROFUNDAR CONHECIMENTOS, DIVERSIFICAR COMPETÊNCIAS, VALORIZAR O ESFORÇO PESSOAL E PERSPECTIVAR UMA APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA, SÃO OBJECTIVOS QUE A UNIVERSIDADE DO PORTO PROPÕE CUMPRIR ATRAVÉS DE UMA OFERTA MUITO ALARGADA DE CURSOS DE FORMAÇÃO CONTÍNUA, DISPONÍVEIS A TODA A POPULAÇÃO QUE DESEJE UM POUCO MAIS PARA SI.

OS ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO PORTO JÁ PODEM USUFRUIR DE CONSULTAS DENTÁRIAS A PREÇOS MAIS EM CONTA ATRAVÉS DO PROTOCOLO ENTRE OS SERVIÇOS DE ACÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE DO PORTO (SASUP) E A FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO (FMDUP).

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JUP — DEZEMBRO 2011EDUCAÇÃO10

Universidade do Porto aberta ao desporto júnior

Unidos por uma causa: combater o insucesso escolar

Novo Acordo Ortográfico: “Em todas as instituições, há defensores e detratores”

A UNIVERSIDADE DO PORTO ABRIU AS PORTAS DO DESPORTO À COMUNIDADE, EM PARTICULAR ÀS CRIANÇAS, NOMEADAMENTE PARA A NATAÇÃO. O PROJECTO É PARA JÁ UMA APOSTA BEM CONSEGUIDA DO GADUP.

SÃO MAIS DE CEM OS ALUNOS DA UNIVERSIDADE DO PORTO DISPOSTOS A AJUDAR CRIANÇAS EM RISCO DE NÃO TRANSITAR DE ANO. NESTE ANO LECTIVO, O PROJECTO VOLUNTARIADO ESTUDANTIL TUTORIAL REGRESSA EM FORÇA.

É OBRIGATÓRIA A APLICAÇÃO DO NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO NO SISTEMA EDUCATIVO DESDE SETEMBRO DE 2011. SEGUNDO A REITORIA, TODOS OS DOCUMENTOS OFICIAIS DA UNIVERSIDADE DO PORTO DEVEM ADOPTAR O ACORDO.

A decorrer nas instalações da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, o pro-

grama Júnior Desportivo na UP é uma iniciativa do GADUP (Gabinete de Apoio ao Desporto na Universidade do Porto).

O programa, existente há cerca de dois anos, está neste momento a fun-cionar apenas com a modalidade nata-ção, embora a intenção do GADUP seja abrir este ano mais duas modalidades, o Judo e o Taekowndo. A abertura de turmas para estas modalidades está dependente do número de inscrições que forem recebidas. Segundo Miguel Monteiro, coordenador do programa de Fitness do GADUP, a adesão ao pro-grama de natação tem sido muito boa, existindo agora 5 turmas por semana. As aulas decorrem à segunda, terça, quinta e sexta-feira, entre as 18h30m e as 19h15m. Todas as crianças a par-tir dos 5 anos podem participar até que atinjam idade universitária, altura em que podem continuar a participar nas actividades como universitários ou simplesmente como membros da co-munidade externa.

Miguel Monteiro explicou ao JUP que existe uma real necessidade das crianças praticarem desporto mas que “o que acontece é que muitos

pais não têm conhecimento de que a Universidade está aberta para receber as crianças, pensam que é só para os universitários”.

Daí a necessidade que a Universi-dade teve em dar resposta a pedidos de professores e funcionários com a criação deste programa. Miguel Mon-teiro refere que “a universidade existe para prestar um serviço à comunidade no geral, neste caso às crianças” e que “os pais ficam bastante satisfeitos” com o serviço prestado. A contribuir para essa satisfação, explica o coorde-nador do GADUP, está o facto de todas as aulas serem ministradas por técni-cos com habilitações superiores, o que é uma mais-valia.

O preço do serviço é também um aspecto tido em conta pelo GADUP. Os alunos pagam uma taxa anual, que inclui a inscrição (ou a renovação) e o pagamento de um seguro obrigatório por lei. O valor traduz-se em 15€/ano quando a inscrição é feita pela pri-meira vez, 10€/ano pela renovação. A mensalidade, que inclui duas aulas por semana, fixa-se nos 23€/mês, um valor abaixo do comum na generali-dade das escolas. • Daniela Neto

A poiar alunos mais novos em risco de insucesso ou abando-no escolar é o propósito do Vo-

luntariado Estudantil Tutorial, um pro-jecto integrante do Programa Porto de Futuro, da Câmara Municipal do Porto. Contando com a ajuda da Universida-de do Porto, a iniciativa vai já na sua quarta edição e tem vindo a recrutar estudantes de todos os cursos da UP. No presente ano lectivo, participam neste projecto os Agrupamentos de Escolas de Augusto Pires de Lima, Augusto Gil e Infante D. Henrique, todas elas situa-das na cidade Invicta.

O trabalho a desenvolver pelo vo-luntário assenta no acompanhamento de crianças na escola, no âmbito quer de actividades escolares, como o es-tudo e organização de trabalhos, quer de actividades formativas promovidas pela respectiva escola. Maria Clara Martins, interlocutora da organização com as escolas participantes e com a Câmara Municipal do Porto, explica que “no fundo, o voluntário é aqui uma figura do irmão mais velho que está ali disponível para os ajudar na escola, para os ouvir, para conversar com eles, sendo fundamentalmente uma referência muito próxima deles, de alguém que já passou por aquele

percurso, que chegou um bocadinho mais longe e que portanto eles tam-bém podem chegar um dia.”

O recrutamento faz-se no início de cada ano lectivo. Qualquer estudan-te universitário pode ser voluntário, sem ser necessária qualquer forma-ção prévia. Os requisitos pretendidos referem-se simplesmente a “dispo-nibilidade de tempo e disponibilida-de mental e muita motivação. O resto vem por acréscimo”, indica Maria Cla-ra Martins.

A diversidade, neste programa, é valorizada acima de tudo. Segundo a responsável, os resultados desta po-lítica estão à vista. “No início deste projecto havia um bocado a ideia de que eram precisos voluntários das Ci-ências Sociais, Psicologia e Ciências da Educação, porque estavam mais vocacionados para isto. Nós entende-mos que não e entendemos bem, por-que realmente os resultados têm sido muito positivos por causa deste leque diverso de proveniências”.

As aptidões de cada voluntário, no entanto, são também tidas em consi-deração. Se o voluntário estiver mais vocacionado para uma determinada área e houver na escola alunos que precisem de apoio nessa mesma área,

o coordenador tentará conciliar os in-teresses. No entanto, Maria Clara Mar-tins defende que “muitas vezes é indi-ferente. Portanto tanto faz ser de uma área como ser de outra, o que importa é ter ali o voluntário para acompanhar a criança.”

A adesão tem sido muito grande, com cerca de cem alunos da Univer-sidade do Porto inscritos, ainda que, afirma a responsável, “como é óbvio, nunca ficam todos”, na maior parte dos casos porque “o voluntário acaba por ver que não tem assim tanta dis-ponibilidade.”

Em curso há três anos, o Volun-tariado Estudantil Tutorial tem dado bons frutos, e veio para ficar. Segun-do Maria Clara Martins, o feedback das escolas tem sido muito positivo. É habitual, no início do ano lectivo se-guinte, as escolas manifestarem von-tade de receber mais jovens univer-sitários. “Os meninos estão à espera deles, já estão habituados a ter lá os voluntários”, e aqueles que têm sido indicados para o projecto têm conse-guido transitar de ano. “Tem tido re-almente muito sucesso.” •Ana Almeida

e Maria Inês Rocha

A 25 de Janeiro de 2011 foi aprova-da pelo Conselho de Ministros a resolução que estabelece a apli-

cação do novo Acordo Ortográfico nas instituições de ensino a partir do ano lectivo de 2011/2012. As novas regras, em vigor na ordem jurídica interna desde 13 de Maio de 2009, trazem dis-cussões quanto à sua utilização.

De acordo com Fátima Marinho, di-rectora da FLUP, a instituição “espera que a aplicação do Acordo se faça na-turalmente, sem violar possíveis ob-jecções”. Para a direcção, o processo se dará “aos poucos”, podendo a fase inicial ser a “mais complicada”. No entanto, Fátima Marinho revela ser di-fícil estabelecer uma posição quanto à utilização da nova grafia quando “em todas as instituições, há defensores e detratores”.

João Santos, estudante do 3º ano da Universidade do Minho, teme que

haja uma perda de identidade da Lín-gua Portuguesa e, consequentemente, uma aproximação ao português falado no Brasil. Contudo, defende que em poucos anos as novas medidas deixa-rão de causar protestos. Já para Vítor (nome fictício), estudante do 3ºano da Faculdade de Engenharia da Uni-versidade do Porto, a nova grafia não é um problema, refere apenas que “há palavras que ficaram mais simples de escrever, outras, no entanto, ainda nos levam a pensar como se escreve”.

Os dois estudantes notam já algumas modificações na sala de aula. As apre-sentações de conteúdos por parte dos docentes, mensagens de correio elec-trónico e documentos emitidos pela Universidade são alguns exemplos da-dos por Vítor, estudante da FEUP.

Outra novidade na realidade do alu-no João Santos é a existência de uma “grande relutância dos professores em

aplicar o Acordo”. O estudante afirma que os docentes deixam a critério dos estudantes a grafia que preferem utilizar.

No site do Portal da Língua Portuguesa é possí-vel aceder ao conversor LINCE, uma ferramenta que converte conteúdos em texto para a nova grafia estabelecida pelo Acordo Ortográfico. As novas medidas não afectam a Língua falada. • Angélica Prieto ilu

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SusanaMendesSusana é uma artista de 5 ou mais ofícios e o jup foi descobrir mais sobre a pessoa que se esconde atrás da obra. Se não viu a performance “x” no Festival Trama, ainda vai a tempo de conhecer a sua mentora. }nº05

Dezembro2011

caderno cultural integrante do Jornal Universitário do Porto

"Na Casa de"Chama-se “Na Casa de” e são retratos de situações de pessoas que vivem no limiar da pobreza na cidade do Porto. O projecto é da autoria do fotojornalista Paulo Pimenta em colaboração com o assistente social José António Pinto. }

PraxisO documentário PRAXIS, de Bruno Cabral, foi o grande vencedor da competição nacional da edição deste ano do DocLisboa. Depois de ter sido mostrado também no Parlamento, percorre o país em sessões em várias universidades. O JUP entrevistou o realizador. }

entrevista p/04.05

destaque p/02.03

Page 12: JUP Dezembro 2011

{ parêntesis jup dezembro 201102/destaque

O DOCUMENTÁRIO PRAXIS, DE BRUNO CABRAL, FOI O GRANDE VENCEDOR DA COMPETIÇÃO NACIONAL DA EDIÇÃO DESTE ANO DO DOCLISBOA. DEPOIS DE TER SIDO MOSTRADO TAMBÉM NO PARLAMENTO, PERCORRE O PAÍS EM SESSÕES EM VÁRIAS UNIVERSIDADES. O JUP ENTREVISTOU O REALIZADOR, NUMA CONVERSA SOBRE O FILME, AS QUESTÕES QUE SUSCITA E A GENERALIZAÇÃO DAS PRAXES NAS UNIVERSIDADES PORTUGUESAS.

Porquê um documentário sobre as praxes?As praxes naturalizaram-se pelas universidades portuguesas enquanto forma de integração no ensino superior. A adesão às praxes é maciça de Norte a Sul do país, estendendo-se muitas vezes ao longo de todo o ano. Por outro lado, como se sabe, surgem periodicamente relatos de abusos e violência, que inclusicamente deram origem a processos em tribunal. Achei por isso importante retratar o fenómeno.

O filme é uma sequência de actividades da pra-xe, mas nele não aparecem testemunhos. Por-quê esta escolha?É difícil ser indiferente às praxes. Falar delas sus-cita sempre as maiores animosidades. Se que-remos falar de praxes, temos de saber observá--las e avaliá-las sem preconceitos. Quis por isso procurar a maior objectividade e filmar a praxe como um observador.

entrevista José Soeirofotografias cedidas por Bruno Cabral

Muitas das cenas do filme dir-se-ia que mos-tram um lado mais agressivo da praxe. Como foi conseguir o consentimento para as filmar?Já me disseram que só aparecem no filme pra-xes invulgares, mais violentas, mas não percebo porquê. Em todas as universidades, encontrámos o mesmo tipo de jogos, desafios, disciplina, cân-ticos e relações. O filme mostra a forma de inte-gração através das praxes, que tem sempre alguma violência associada. Esta violência parece ser con-sentida e faz parte deste ritual de iniciação, mas uma discussão a fazer é se o consentimento é livre e explícito ou é implicito e condicionado por uma sé-rie de medos sobre o que representa não participar nas praxes.

Acho que esta “agressi-vidade” que se pode sen-tir em alguns momentos é muito comum nas praxes que vimos. Aliás, em todas as cenas filmadas, os estu-dantes sabiam que estáva-mos a fazer este documen-tário, sob a premissa da observação das práticas, e várias vezes indicaram-nos a melhor altura para se filmar o que achavam mais relevante para o do-

cumentário.O principal argumento a favor da praxe é que ela promove a integração. Da tua sensibilidade, a praxe integra em quê?A praxe integra, é claro. Por um lado integra na hierarquia estudantil, para poder usar o traje, fa-zer parte do grupo, para poder praxar nos anos seguintes. Integra também de forma geral na fa-culdade porque, como é praticada no momento da entrada à universidade, é durante as praxes que os estudantes se conhecem e fazem amiza-des. Mas há muitas outras formas de se integrar, as praxes são só a forma mais generalizada.

No filme há uma cena em que algumas estudan-tes são obrigadas a comer alho cru, noutra cena

vê-se os estudantes a re-bolar no estrume. Como achas que os estudantes vivem este tipo de praxes?Cada estudante tem a sua forma de reagir ou de viver as praxes. Há estudantes mais entusiastas e outros muito mais constrangidos e até feridos pela pra-xe. Do que me apercebi, independentemente do sentimento que fica du-rante as praxes, no final a maior parte dos estudan-tes fica aliviada porque já passou e fica com vontade de perpetuar no próximo ano, numa lógica de “ago-ra é a minha vez, passei por coisas boas e más, agora vou poder vingar--me”. Este sentimento é muito generalizado.

“É difícil ser indiferente às praxes”

Page 13: JUP Dezembro 2011

2011 dezembro jup parêntesis } destaque/03

Õ Bruno Cabral, realizador

ÓÑ Os cartazes do documentário "Praxis"

Este é um filme militante?O género do filme militante não corresponde de todo a este filme. Praxis é um filme de observação que, pela temática, acaba sempre por suscitar de-bate. O filme não procura desenvolver uma tese ou responder a alguma questão. E se o filme levantar questões, ainda bem! Acho que este é o papel do documentário.

Então quais são estas questões?Já falamos um pouco sobre elas. A principal ques-tão é: como e porquê a praxe integra? Acho que o filme também pode ser um pouco um retrato dos nossos tempos de incertezas, em que as pessoas querem sentir-se unidas, fazer parte de uma or-ganização com determinados valores e disciplina, com possibilidade de destacar-se e exercer formas de poder.

Há movimentos em Portugal que lutam contra a praxe académica. Sentiste a sua presença nas escolas?Esta pergunta é interessante. Ouvi recorrentemen-te e em várias cidades os estudantes falar das ame-aças de quem é anti-praxe, de um denominado “M.A.T.A – Movimento Anti-Tradição Académica” que só aparece para estragar a festa e impedir os rituais. Mas acabei por perceber que este inimigo muito poderoso é inventado para fortalecer e unir os estudantes. Tal movimento anti-praxe já não existe há anos, mas a sua perpetuação no imagi-nário colectivo faz parte da praxe.

O que vi foi uma aceitação esmagadora das pra-xes, e uma minoria de estudantes a não participar nelas, sem oposição activa. Pode haver uma ou ou-tra pessoa preocupada com as praxes, mas não vi em lado nenhum tais movimentos organizados ao longo dos 3 meses de filmagens.

Apresentaste o filme no Parlamento, na Comis-são de Educação, a deputados de todos os parti-dos. Porquê?O prémio do Doclisboa foi um estímulo muito grande para a produtora difundir o filme pelo país e organizar sessões de debate. Depois do Doc envi-ámos algumas propostas, uma das quais à Assem-bleia da República, já que nos parecia um filme que pela temática era interessante que fosse visto pelos responsáveis da Educação. Também sei que tinha havido um estudo sobre as praxes feito pela Comissão e achei natural. Foi com surpresa que nos comunicaram que a Comissão Parlamentar de Educação agendou logo para a semana seguinte o filme. Nunca esperamos uma resposta tão célere. Acabou por ser a primeira sessão a seguir ao Doc e ficamos muito contentes.

O que achaste do debate sobre o teu filme no Par-lamento?O que foi surpreendente para mim foi não existir uma divisão ideológica e partidária sobre o assun-to. Houve claramente uma divisão geracional em re-lação ao filme e às praxes em geral. Os deputados mais novos eram mais re-ceptivos à ideia das praxes enquanto os mais velhos não entendiam de todo a sua existência e até re-velavam bastante indignação. Também deu para perceber que os deputados mais velhos não vive-ram as praxes, ou porque elas não existiam - não estavam em Coimbra – ou, no caso dos que esta-vam em Coimbra, tinham-nos abolido por causa da contestação estudantil, na década de 60 e 70. Os mais novos claramente tinham passado pelas praxes e sentiam-se próximos dessa realidade.

Por outro lado, os deputados expressaram a necessidade de debater o fenómeno e encontrar formas de intervenção sobre ele. Mas também pelo facto de ser um assunto relativo às univer-sidades, mais académico, parece haver um certo sentimento de impotência, o que não percebo porque se é uma realidade que preocupa o poder político e institucional, é preciso em primeiro lugar debater mas também encontrar formas de intervenção, desde as universidades até à As-sembleia... O debate foi interessante por levantar os problemas das praxes e abusos mas senti uma certa falta de capacidade de resposta...

O Bloco de Esquerda já apresentou um projec-to para combater as praxes violentas. Ao mes-mo tempo, vários reitores têm tomado posição contra a existência das praxes nas instituições... O que pensas disto?Acho importante haver tomadas de posição mais claras por parte das instituições de ensino supe-

rior e dos partidos políti-cos. Acho que ainda são posições isoladas porque é importante que os res-ponsáveis das instituições e o poder político pensem se os valores que as pra-xes transmitem são com-patíveis com os valores do ensino superior, nomea-damente a valorização do indivíduo, a reflexão crí-tica, a democracia, o res-peito pela dignidade, uma relação construtiva com o meio social, a ciência, a in-

vestigação, o conhecimento... Há países onde as praxes se tornaram tão fortes e os abusos tão fre-quentes que foram totalmente proibidas pela lei, como em França.

Vais continuar a mostrar o filme? Quando pode-mos vê-lo no Porto?Sim, vamos passar o filme em Coimbra, integra-do no festival Caminhos do Cinema Português. Vai haver uma sessão no Porto em Dezembro e vamos levar o filme às Universidades onde fil-mámos. Queremos difundi-lo e promover a dis-cussão em todas as universidades e faculdades que nos solicitarem... }

Page 14: JUP Dezembro 2011

SUSANA MENDES SILVA É UMA ARTISTA DE 5 OU MAIS OFÍCIOS E O JUP FOI DESCOBRIR MAIS SOBRE A PESSOA QUE SE ESCONDE ATRÁS

DA OBRA. SE NÃO VIU A PERFORMANCE “X” NO FESTIVAL TRAMA, AINDA VAI A TEMPO DE CONHECER A SUA MENTORA.

entrevista Vera Lopesfotografia Sofia Romualdo

ilustração Miguel Sousa

Susana Mendes

Silva “Quando a alma não é pequena,

uma só arte não basta”

Page 15: JUP Dezembro 2011

2011 dezembro jup parêntesis } entrevista/04.05

A Susana não utiliza só um meio de comunicação, mas vários. Porquê?Eu costumo adaptar os meios que uso a cada projecto. Ou seja, cada projeto é que vai exigir o media que eu escolho e não o contrário.

Apesar disso, há algum meio que goste mais de trabalhar que outro?Não. A minha formação inicial é um escultura. Mas qualquer ma-neira gosto muito de experimentar, às vezes utilizo medias novos que nunca tinha utilizado antes, e às vezes até me assusta um bo-cado (risos), mas acho que vale muito a pena aventurarmo-nos um bocadinho, e tentarmos coisas novas.

No entanto, curiosamente, nunca utilizou a pintura.Não (risos). A minha formação nunca passou por aí, e também nunca foi algo que me interessasse, porque acho que tem que ver com um conhecimento muito específico. Não quer dizer que um dia não vá utilizar ou colaborar com algum pintor, mas a questão nunca se pôs. Já fiz trabalhos que reflectem sobre a ideia de pin-tura e sobre pintura. “Phantasia” é uma reflexão sobre a pintura, e sobre representação e identidade, e não um trabalho utilizando a pintura como meio, de facto.

A Susana era daquelas crianças que já em pequena adorava me-xer em material de desenho ou foi algo que surgiu mais tarde? Desde pequenina sempre achei que ia fazer qualquer coisa na área artística, e o que eu desejava era ser bailarina clássica. Mas depois frequentei uma escola de ballet e não gostei nada, nem da pro-fessora nem das outras raparigas. Imaginava uma escola de ballet com um aspecto completamente diferente, e depois com essa de-silusão decidi que queria fazer qualquer coisa mais ligada às artes plásticas (risos).

O que é que a inspira? Em geral, são experiências da minha vida. Coisas que vivi ou coi-sas que vêm ter comigo, ou seja, deixar que o mundo nos toque. Outras vezes também são coisas em que eu participo, espectácu-los que vou ver, conferências, conhecer um outro artista, conhecer uma outra pessoa, quer no âmbito das artes, quer no âmbito da vida. Acho que não posso particularizar, há muitas coisas que aca-bam por influenciar o nosso trabalho e nós às vezes nem temos percepção imediata que aquelas coisas nos estão a tocar de alguma maneira tão forte.

Pode contar-nos alguma experiência que tenha sido marcante para si e que depois se tenha traduzido numa das suas obras?Há um caso muito engraçado. Antes de ter começado a fazer o meu doutoramento, que é sobre as minhas performances, eu nun-ca tinha reflectido sobre o facto de que algumas delas são de um para um, ou seja, eu e mais um participante, e não há espectadores nem registos do que aconteceu. Outra coisa que eu fiz foi trabalhar numa rádio local na minha adolescência, e cheguei a falar durante as sessões de rádio. Nunca tinha pensado nisso enquanto influ-ência do meu trabalho, mas acho que nunca teria, por exemplo, feito performance utilizando novas tec-nologias em que falo com pessoas que não conheço, e em que estou ali num encontro com alguém, se não tivesse tido essas experiências há muito tempo atrás. Só mais tarde é que percebi a influência que elas tinham tido em mim e também a própria vontade de estar com os outros de uma maneira diferente.

A Susana é também estudante. Para si, o estudo das artes é melhor em Portugal ou no estrangeiro?Há muitas coisas positivas no ensino por-tuguês, e há coisas que eu aprendi com professores maravilhosos, que ainda hoje são meus amigos e acompanham o meu trabalho. Mas, no geral, eu penso que o ensino em Portugal precisava de ser um bocadinho mais aberto e menos formal. Acho que era importante os professores portugueses conhecerem outra realidade e outros modelos de ensino para com-binar com o nosso modelo, que também tem os seus pontos im-portantes. Seria mesmo muito mais rico se pudessem fazer outras experiências. O facto de não haver muitas verbas para a educação torna difícil haver uma mobilidade de professores mais forte e mais intensa e trocar experiências docentes com um bocadinho mais de tempo, e não irem apenas a uma conferência ou apresen-tar um trabalho artístico.

Considera que a arte em Portugal está de boa saúde? A arte sim, porque há artistas fantásticos, e mesmo com poucos meios há exposições e há uma vida cultural bastante intensa, quer em Lisboa quer no Porto. Não tanto em outras cidades mais pe-quenas, infelizmente. Mas as políticas culturais é que penso que não tem sido das mais correctas ultimamente (risos). Acho que não entendem que a cultura em geral é uma das áreas em maior crescimento, e das mais ricas da Europa.

Então, sendo assim, ser-se artista em Portugal não está fácil?Não é fácil. Eu acho que de qualquer maneira nunca foi fácil, pelo menos olhando para o século XX e até se formos mais atrás, ser ar-tista ou ser autor sempre foi algo muito complicado no nosso país. No entanto acho extraordinário porque temos um leque de artistas e de autores que são muito bons. Alguns deles mesmo sem grandes apoios conseguem uma grande projecção internacional, e penso que a qualidade é muito boa.

A sua performance no Trama deste ano foi inspirada em Reinal-do Ferreira, o Repórter X, tema que já tinha abordado anterior-mente. O que é que esta figura tem de especial para si?A figura do Reinaldo Ferreira surgiu na minha vida um bocadinho por acaso. Fui convidada em 2009 para fazer uma exposição numa galeria em Lisboa. Fui lá ter uma reunião, e ao sair olhei para a placa da rua e vi lá escrito “Rua Reinaldo Ferreira - jornalista”, e depois a data de nascimento e a data de morte. Olhei para aquilo e até tirei uma fotografia com o telemóvel, porque aquele nome dizia-me qualquer coisa mas ao mesmo tempo não me dizia nada. Quando cheguei a casa fui ao Google e escrevi “Reinaldo Ferreira”, e nos resultados apareceu imediatamente Repórter X. E aí fez-se um “clic” porque eu lembrei-me imediatamente do filme do José Nascimento, “Repórter X”, que eu tinha visto em miúda em 1986, portanto eu devia ter p'raí uns 11 anos ou coisa assim. A partir daí comecei a investigar e cada vez fiquei mais enredada na pessoa dele e em todas as suas personagens. O que é muito interessante é que o Repórter X, mais do que um pseudónimo ou um alter-ego ou como queiram chamar, acaba mesmo por ter uma personalidade própria, uma espécie de doppelganger. Ou seja, torna-se um outro e então foi impossível não fazer a exposição sobre ele e não desve-lar esse significado do nome da rua. Aproveitar aquele local para fazer isso, também porque ele acaba por ser uma personalidade

que é de culto mas é muito pouco conhe-cido, não há muitas pessoas que saibam quem ele é. É interessante cruzar esse vários níveis de significação, e devolver e enfocar a figura dele.

Qual foi a reação do público do Trama à sua perfomance?Hmm, eu penso que foi boa mas não se-rei a melhor pessoa para responder a isso (risos). Mas gostei bastante da relação que se estabeleceu com as pessoas após a projecção de filmes, no Trama. Quer o filme do José Nascimento, que esteve presente no Cinema Passos Manuel para uma conversa com o público, e depois no sábado, a seguir à primeira performance. A maior parte das pessoas que participa-ram na performance depois foram ver os filmes mudos do Reinaldo, e foi engraça-da a troca que se deu. Algumas pessoas já o conheciam, outras foram procurar coi-sas e depois vieram perguntar-me se eu já

visto isto ou se já tinha visto aquilo. E foi curioso porque também a própria performance dava azo a que se estabelecessem conversas, não era algo fechado, as pessoas podiam colocar questões e iam participando activamente.

Gostava que deixasse uma mensagem para as pessoas que, ou são artistas ou estão a lutar para se inserirem na vida artística, e que neste momento vêem a situação do pais tão complicada. Eu acho que é muito importante as pessoas terem uma paixão por aquilo que estão a fazer, se não tiverem paixão a coisa não fun-ciona porque facilmente alguém as demove daquilo que elas que-rem. Depois tem que haver trabalho, persistência, e uma grande disciplina porque muitos artistas têm que ter outro emprego. Ou muitas vezes gostam de ter outro emprego para poderem ter a sua independência, para poderem ensinar e estar com outras pessoas. E perseguir o sonho, rodear-se de pessoas que lhes possam dar um feedback, mesmo que as vezes não seja o mais positivo. Em Portugal há uma certa dificuldade das pessoas saberem criticar as coisas, ver o lado positivo e negativo. Quando as coisas correm bem dizem "ah 'tá tão giro!" mas não dizem o porquê. É muito im-portante rodear-se de pessoas e amigos que possam criar um am-biente de debate, ao fim ao cabo, para que o nosso trabalho cresça e o deles também. }

-> Artista visual que trabalha com desenho, fotografia, vídeo, instalação e performance. Estudou Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e está a terminar um doutoramento em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Lecciona no curso de Arquitectura Paisagista, na Universidade de Évora. Já espalhou o seu trabalho por cidades como Helsínquia, Sarajevo, Frankfurt e Baltimore. Recentemente passou pelo Festival Trama, no Porto, com a perfomance “X”.

http://www.susanamendessilva.com/http://x-projecto.blogspot.com/

Bio

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PAULO PIMENTA, FOTOJORNALISTA DO PÚBLICO, E JOSÉ ANTÓNIO PINTO, ASSISTENTE SOCIAL DA JUNTA DE FREGUESIA DE CAMPANHÃ, DÃO A CONHECER UM CONJUNTO DE FOTOGRAFIAS QUE RESULTOU DE UM PROJETO DE RECOLHA DE IMAGENS NA CASA DE PESSOAS NO LIMIAR DA POBREZA, QUE HABITAM NO PORTO, COM PARTICULAR INCIDÊNCIA NO VALE DE CAMPANHÃ. ESTA INICIATIVA FOI DESENVOLVIDA AO LONGO DE UM ANO E ENVOLVEU SEMPRE UMA VISITA ÀS HABITAÇÕES RETRATADAS, GUIADA PELOS PRÓPRIOS MORADORES, ASSIM COMO UMA RECOLHA DAS HISTÓRIAS DE VIDA DOS MESMOS. HOUVE, EM TODOS OS CASOS, A PREOCUPAÇÃO DE SALVAGUARDAR A IDENTIDADE DAS PESSOAS FOTOGRAFADAS. O RESULTADO É UM CONJUNTO DE 12 RETRATOS PARTIDOS EM DUAS IMAGENS: O MORADOR QUE HABITA O ESPAÇO E UMA AMOSTRA DO LOCAL A QUE CHAMA CASA.

"Na Casa de" — Exposição de Paulo PimentaFNAC do Gaia Shopping até 19 de Fevereiro de 2012

CasaNade

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2011 dezembro jup parêntesis }

flash/06.07

(1-2) Laurinda Araujo (64 anos) Sitio da doença e da tristeza

(3-4) Albino Rêgo (73 anos) Barraco de um cão vadio

(5-6) António Peixoto (68 anos) Abrigo da minha vergonha

(7-8) Maria Conceição (65 Anos) Tenho um quarto e aí não chove

(9-10) Delfim Gonçalves (66 anos) Ruína dos espíritos

Casade

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{ parêntesis jup dezembro 201108/breves

A entrada nos museus ao domingo vai dei-xar de ser gratuita. A medida foi anun-ciada pelo secretário de estado da Cultu-

ra, Francisco José Viegas.Segundo o secretário de estado esta medida é

essencial para conservar os museus, uma vez que a percentagem de entradas pagas está aquém do número desejado e necessário para a sustenta-bilidade dos estabelecimentos. De acordo com a mesma fonte, o aumento das entradas pagas, através desta medida, vai permitir o aumento das receitas e consequentemente o alargamento do horário de abertura ao público de cada museu.

Luís Humberto Marcos, responsável pelo Mu-seu Nacional da Imprensa, afirma que é preciso que os museus abram cada vez mais as portas, mas defende também que a cultura é um produ-to e por isso, deve ser paga.

O responsável diz ainda que, apesar de a medida não ser implementada no Museu da Imprensa (o Museu da Imprensa não é estatal, tal como vários outros museus da cidade), é importante que as al-ternativas para os tempos livres das pessoas, como é o caso destas instituições, não sejam reduzidas.

Mas nem tudo é mau. Os museus vão deixar de ser gratuitos ao domingo, mas Francisco José Viegas, secretário de estado para a Cultura, diz que provavelmente vai ser reservado um dia por mês em que as visitas serão gratuitas.

Governo avalia ainda aumento do IVA na Cultura

O anúncio da subida do IVA nos preços dos es-pectáculos e lazer está a preocupar vários agen-tes culturais. Em causa está uma proposta go-vernamental que implica o aumento do imposto sobre o valor acrescentado de 6% para 23% nos espectáculos de música, cinema, teatro e outras manifestações culturais, à excepção dos livros.

Um grupo de agentes culturais e figuras pú-blicas ligadas à música, ao cinema e ao teatro, e profissionais que integram a estrutura dos espec-táculos, decidiu criar uma comissão para deline-ar propostas para entregar ao Governo de forma a evitar esta medida. Num encontro de agentes do sector, a presidente do conselho de administra-ção do coliseu de Lisboa, Maria Ricardo Covões, afirmou que, se esta subida do IVA for aprovada, o Coliseu de Lisboa poderá ter de fechar durante uma parte do próximo ano.

Esta alteração das categorias de produtos do IVA era um dos pedidos presentes no memoran-do da troika e um dos pontos mais polémicos do acordo. O Orçamento de 2012 para a cultura agra-va a situação. A secretaria de Estado vai receber 180 milhões de euros para o financiamento públi-co da cultura, menos 31 milhões do que este ano. } Irina Ribeiro e Sandra Mesquita

Estação de S.Bento entre as mais

belas do mundo

Casas em Movimento

A estação de S. Bento é uma das estações mais concorridas do País e já foi várias vezes elogiada pela beleza e história

do edifício. Já antes classificada como Patri-mónio da Humanidade, foi agora referenciada como a décima mais bela estação do mundo pela Travel+Leisure. A revista de turismo e lazer destaca essencialmente os azulejos que se en-contram na entrada e que representam partes da história de Portugal: “Se o exterior é certamente bonito - e traz-nos à memória a arquitectura pa-risiense do século XIX - é o átrio principal que o fará engolir em seco. As paredes estão cobertas por 20.000 esplêndidos azulejos, que levaram onze anos para o artista Jorge Colaço completar”, pode ler-se no site da revista americana.

Na lista das mais belas estações do mundo encontram-se também a Gare du Nord, em Paris, os jardins de Atocha, em Madrid, a estação de S. Pancras, em Londres, entre outras. Esta é a úni-ca estação portuguesa incluída na lista se se ex-cluir a de Maputo, que ocupa a terceira posição. } Ana Mota

I magina que vives numa casa que muda de po-sição ao sabor, não do vento, mas do sol. Ima-gina uma casa onde ao longo de 24 horas se

vão desenhando diferentes espaços. Imagina uma casa com personalidade. Imagina uma casa viva. Agora pára de imaginar porque a coisa é real. Es-tamos a falar do projecto “Casas em Movimento”.

Da autoria de Manuel Vieira Lopes, estudan-te da FAUP, o conceito “Casas em Movimento” assenta sobre o potencial do sol como fonte de luz e calor, assim como na gestão e mutação dos espaços da casa em resposta à vida monótona que o novo século viu crescer. Assim, Manuel desenhou uma habitação que interage com o ambiente e as variações de luminosidade solar e que recria a cada momento um novo interior e espaço exterior. É, na verdade, uma casa com personalidade: ao longo de 24 horas assume vá-rios estadios de humor. O sol é quem comanda. Segundo Manuel Lopes “o conceito do edifício surgiu da vontade de inverter o estado real da de-pendência energética da rede eléctrica nacional - a criação de uma habitação capaz de produzir energia para a auto-sustentabilidade”.

No projecto, o estudante de arquitectura diz querer “explorar não apenas o uso de painéis fo-tovoltaicos, como também outros equipamentos” acrescentando que valoriza “o uso de materiais com isolamento térmico e acústico, devido à sua natureza, como madeira ou cortiça, contribuindo para aproveitar a oferta do produto nacional”.

O projeto "Casas em Movimento", desenvolvi-do inicialmente no âmbito dos projectos Lidera UP, realiza-se na vanguarda da Arquitetura e En-genharia e foi recentemente seleccionado para a fase final da competição "Solar Decathlon Euro-pe 2012", que decorrerá em Madrid. } Dalila Teixeira

A ESTAÇÃO DE S. BENTO, NO PORTO, FOI REFERENCIADA COMO UMA DAS 16 MAIS

BELAS ESTAÇÕES DO MUNDO PELA REVISTA NORTE-AMERICANA TRAVEL+LEISURE.

NÃO É MITO, É MESMO VERDADE. O PRIMAVERA SOUND VAI ACONTECER

NO PORTO, JÁ NO PRÓXIMO ANO, E OS PRIMEIROS MIL BILHETES DISPONIBILIZADOS ESGOTARAM

EM APENAS DOIS DIAS.

Agora ao domingo também se paga

O s rumores foram muitos, mas finalmente deu-se a confirmação oficial. De 7 a 10 de Junho, no Parque da Cidade, um dos

maiores festivais de música indie do Mundo cria uma artéria de Barcelona para o Porto e prome-te trazer grandes nomes à Invicta. O Primavera Sound vai mesmo realizar-se há promessa de se anunciar os primeiros nomes já em Dezembro.

O espaço tem capacidade para trinta mil pes-soas e quatro palcos, com concertos a decorrer das 17h às 4h, mas o festival vai ainda difundir--se pelo resto da cidade, em salas mais ou menos convencionais.

Os primeiros bilhetes postos à venda tiveram o custo de 65€, mas esgotaram em dois dias. Actu-almente estão disponíveis até 31 de Dezembro ao preço de 75€ nos locais habituais, e permitem o acesso aos quatro dias de festival, quer no recinto quer na cidade.

O Porto foi a cidade seleccionada, de entre muitas candidatas do Mundo inteiro, por parti-lhar “com Barcelona certos traços idiossincráti-cos, como a sua localização junto ao mar, o agra-dável clima, as suas dimensões, o seu carácter empreendedor ou a sua oferta de serviços”. } Liliana Pinho

Mais em: http://www.optimusprimaverasound.com/pt/

Sons da Primavera chegam ao

Porto no Verão

Page 19: JUP Dezembro 2011

2011 dezembro jup parêntesis } roteiro/09

Miradouro do Terreiro da Sé

Miradouro da praia do Homem do Leme

Miradouro do Palácio de Cristal

O Miradouro do Terreiro da Sé é um dos mais co-nhecidos da cidade, e por isso um dos mais pro-curados pelos turistas. Entre as conversas do povo, de sotaque nortenho e o som das águas do rio, são muitas as línguas que povoam o miradouro todos os dias. Parte do Terreiro da Sé portuense e um dos pontos mais altos da cidade, este miradouro ofere-ce duas das panorâmicas mais bonitas da cidade. A primeira para o tradicional Bairro do Morro da Sé e para o Porto Histórico, que sobe a colina até aos Clérigos e nos apresenta a cidade cheia de história e contrastes. A segunda para o Douro, as caves do Vinho do Porto, os barquinhos rabelos, os pesca-dores de pontão, a bela da marginal ou as impo-nentes pontes para Gaia que surge, imponente, do outro lado da margem.

Perfeito para um passeio relaxante, uma visita cultural e um banho de sol nos dias mais bonitos.

Mas é no São João que este miradouro é mais procurado pelos populares, para assistir ao tra-dicional fogo-de-artifício sobre o rio e lançar os balões de São João, numa paisagem de cortar a respiração. }

O Miradouro da Praia do Homem do Leme é só mais um ponto a favor da fabulosa zona da Foz. Para quem quer fugir à confusão da cidade e apre-cia mais o cheiro a mar em detrimento do das flo-res, este é o sítio ideal, a qualquer hora do dia ou da noite.

Depois de um crepe com chocolate, um dia de passeio ou uma corrida no passadiço, nada mais agradável que debruçar-se nos balaústres do mira-douro, ao pôr-do-sol, e ver o rio beijar o mar.

São paisagens belíssimas, de praias tímidas e rochosas repletas de vida marítima a espreitar em cada pocinha de água salgada e um horizonte que parece não ter fim.

Sempre banhado pelo sol e com o típico vento portuense como pano de fundo, é um local obriga-tório da cidade, com ou sem gelado. Mas uma das melhores características deste miradouro é a quie-tude, sendo normalmente o mais apropriado para sentar, descansar e reflectir. }

O Miradouro do Palácio de Cristal é um dos mais agradáveis, principalmente por estar já inseri-dos num dos locais mais bonitos da Cidade. Os jardins do Palácio de Cristal proporcionam um ambiente imbatível de descontracção, quietude e contacto com a natureza, além de conceberem um autêntico pulmão da Invicta.

Mas tão belas como os próprios jardins são as paisagens que de lá se observam, sobre o Douro, Gaia e a Invicta, com a Ponte da Arrábida como pano de fundo. Pode ver-se ainda as zonas da Al-fândega e Miragaia, num cenário de continuação àquele que se vê do Terreiro.

Com pequenos miradouros em vários pontos do Jardim, é o retiro ideal para quem aprecia a agradável paisagem ribeirinha, a envolvência dos animais e da natureza ou ainda a arte da fo-tografia, já que é possível trazer de lá verdadeiras obras de arte.

Mas o mais especial do Miradouro do Palácio são as mesinhas colocadas junto à beira dos gran-des pedregulhos, que permitem piqueniques ro-mânticos com uma vista maravilhosa e todo um clima místico impossível de igualar. }

Um miradouro, no senso comum, é uma zona turística de onde se obtêm agradáveis perspectivas de determinada cidade. No Porto isto não podia ser mais verdade. Por toda a cidade, estes cantinhos oferecem verdadeiras panorâmicas da Invicta. Para ver as estrelas, para observar o rio, para reflectir ou namorar um bocadinho… os miradouros portuenses oferecem o ambiente perfeito. O JUP apresenta-lhe três, em pontos distintos da cidade – na urbe, nos jardins, e na praia.

texto Liliana Pinhofotografia Liliana Pinho e Frederico Carpinteiro

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{ parêntesis jup dezembro 201110/gadgets

Kymera Magic Hand

SleepPhonesPode parecer que foi ontem, mas a verdade é que já passaram 14 anos desde que em 1997 J. K. Ro-wling lançou o primeiro livro de Harry Potter. 7 li-vros e 8 filmes depois, Harry Potter encantou mi-lhões e não é difícil encontrar quem ainda espere receber uma carta de Hogwarts pelo aniversário. Pois enquanto a carta não chega, a varinha mágica Kymera é provavelmente a melhor aquisição para os aspirantes a aprendizes de feiticeiro de qual-quer idade.

Desenvolvida pela The Wand Company, a Ky-mera é um controlo remoto universal, em forma de varinha. E como, obviamente, um feiticeiro que se preze não usa botões, a Kymera é sensí-vel ao movimento. É possível programá-la com funções dos comandos dos diversos aparelhos lá de casa e depois, por exemplo, mudar o canal da televisão com um movimento de deslize, aumen-tar o volume com uma rotação, abrir e fechar o DVD com um toque na varinha, etc. Para ajudar nos primeiros tempos, a varinha tem um modo de treino, que ajuda a perceber como executar os movimentos correctamente.

A Kymera reconhece 13 movimentos diferentes e pode gravar funções de qualquer comando por infravermelhos. Para funcionar a Kymera requer apenas 2 pilhas AAA. O único problema desta va-rinha é o preço. A custar 50£ (cerca de 56€) a Ky-mera é um comando de televisão particularmente caro. Ainda assim, dado que o objectivo desta va-rinha não é tanto o de substituir os comandos mas mais o de proporcionar diversão a quem quer dar asas ao feiticeiro que tem dentro de si, haverá cer-tamente muitos interessados em comprar uma.

www.thewandcompany.com

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Desde criança que sabemos que uma música cal-ma ajuda a adormecer. Foi para isso que inven-taram as canções de embalar. Com o passar dos anos vamos aprendendo que nem todos os sons são agradáveis para dormir: desde barulho na rua ao ressonar de alguém, o ruído tira-nos muitas noites de descanso. E se há várias maneiras de dar a volta à situação, como por exemplo com tam-pões de ouvidos, os SleepPhones apresentam-se como uma alternativa muito atraente.

Acomodados no interior de uma banda elástica que se ajusta ao tamanho da cabeça, os SleepPho-nes são headphones finos e planos, que podem ser confortavelmente usados a dormir sem mago-ar as orelhas. Juntando assim o útil ao agradável, é possível adormecer ao som de músicas calmas, esquecendo os ruídos indesejados. Para além dis-so, ligados a um leitor de música com alarme, os SleepPhones podem ser usados como um des-pertador privado, para quem partilha o quarto com pessoas que acordam a horas diferentes. Para ajudar quem tem dificuldades a dormir, a emba-lagem traz ainda um CD com 30 minutos de ruí-do agradável e que utiliza batimentos binaurais e que alguns estudos admitem que podem ajudar a adormecer. Não sendo uma solução garantida, será certamente uma opção agradável para quem sofre de insónias.

Os SleepPhones pretendem ser tão práticos quanto possível. A banda elástica permite-lhes ter um tamanho quase universal e os headphones podem ser facilmente removidos para a lavar. São fabricados por uma pequena empresa americana mas podem ser comprados na Europa por cerca de 40€.

www.sleepphones.com

Os computadores portáteis são hoje em dia uma das principais escolhas para utilizadores domés-ticos. Dos pequenos netbooks aos laptops mais sérios, ninguém dispensa a comodidade de os poder levar de um lado para o outro da casa, ou até mesmo para o emprego, sempre com tudo disponível. Apesar de todas as vantagens e co-modidades, os portáteis ainda têm alguns pro-blemas por resolver. Um desses problemas é o aquecimento. Pode-se dizer que no pico do In-verno até substitui um aquecedor ou um cober-tor, mas na maior parte dos casos ter um com-putador sobreaquecido ao colo é desconfortável.

Enquanto os portáteis não melhoram, vão aparecendo soluções alternativas, neste caso a Lapdesk da Logitech, que tenta combinar design e funcionalidade num produto simples. Como o nome indica, esta é uma espécie de secretária para ter ao colo, servindo de base ao computador e que tem múltiplas funções. Para além de isolar o portátil das pernas, evitando o aquecimento, o design curvo da Lapdesk oferece um melhor ângulo para visualizar o monitor, permitindo um maior conforto a quem passa horas com o com-putador no sofá. Por último, a Lapdesk está de-senhada para se equilibrar de pé, permitindo o arrumo fácil e discreto em qualquer lugar.

Não resolvendo o problema de aquecimento dos portáteis, a Lapdesk traz certamente con-forto e comodidade muito procurados. Pesando apenas 1 kg e custando 30€, a Lapdesk é uma boa opção para quem não passa sem o seu por-tátil, em qualquer sítio, a qualquer hora. Suporta portáteis até 17 polegadas.

www.logitech.com

A invenção da guitarra eléctrica mudou para sempre o mundo da música. Desde o início as-sociada ao Rock n' Roll, tornou-se num símbolo. Inspiração de muitos, o desejo de tocar uma gui-tarra eléctrica continua bem vivo, como o prova o tremendo sucesso dos jogos Guitar Hero. Até há pouco tempo, quem não tinha uma guitarra ou uma consola tinha que se contentar com fingir que tocava no ar. Esta T-Shirt, não sendo propria-mente um instrumento de alta-fidelidade, vem colmatar essa falha.

A T-Shirt Guitarra Eléctrica é constituída por 3 partes: a t-shirt propriamente dita, um painel sensível ao toque e um míni amplificador. Trazer permanentemente um amplificador preso ao bol-so das calças pode não ser prático nem confortá-vel, mas a t-shirt não deixa de proporcionar bons momentos de diversão em festas esporádicas. De positivo tem a opção de ligar um par de headpho-nes ao amplificador e apreciar a nossa habilidade musical sem incomodar terceiros. O painel tam-bém não se compara a uma guitarra a sério, ser-vindo só para tocar acordes. Ainda assim estes são suficientes reproduzir músicas bem conhecidas. Há ainda o inconveniente de ter que desmontar os cabos sempre que é preciso lavá-la.

A T-shirt Guitarra Eléctrica deve ser encarada como um brinquedo, para arrancar umas garga-lhadas aos amigos, e desse ponto de vista o seu sucesso é indiscutível. Quem lhe apanhar o gos-to depois lá terá que evoluir para uma guitarra a sério e aulas de música. Custam certa de 35€ e estão disponíveis em vários tamanhos, também para crianças.

www.thinkgeek.com

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Lapdesk N500

T-Shirt Guitarra Eléctrica

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2011 dezembro jup parêntesis } crítica/11

Conversas de Escritores

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sica

livro

sFriends With Benefits

Teen Dreams

Cartas a Um Jovem Jornalista

Midnight in Paris

Chuckles And Mr. Squeezy

Teen Dream é o terceiro álbum dos Beach Hou-se, o duo americano de dream pop, e traz com ele novas ideias conceptuais. Letras profundas e ritmos suaves continuam a ser a característica especial nas dez novas músicas.

No momento em que pressionamos o “play”, acedemos imediatamente a uma outra atmosfe-ra, onde valores como a adolescência e o amor serão sublimes. São sonhos adolescentes em for-mato mp3, mas com um maior toque de consci-ência, e isso pode ser observado em temas como “Silver Soul”. É considerado pelos críticos o me-lhor trabalho da banda, como se pode verificar pela calorosa recepção do álbum no mercado.

A voz de Victoria Legrand e o apoio instru-mental de Alex Scally, conseguiram produzir um álbum com maior singularidade e melancolia. Mais uma vez encantou os fãs e surpreendeu os novos ouvintes. Teen Dreams, marcou a 17º posi-ção no top 30 Melhores Álbuns de 2010, por par-te da revista Rolling Stone. } André Teixeira

Um livro obrigatório para futuros jornalistas, jornalistas e para quem se interesse. Tem uma escrita fantástica e acessível, de um dos mais conceituados profissionais espanhóis (fez parte do grupo fundador do “El País”, do qual foi o primeiro director). Juan Luís Cebrián, que já trabalhou em todos os meios de comunicação, escreve cartas a Honório, um aspirante a jornalista. Estas cartas são respostas a Honório, apesar de não estarem no livro as missivas do jovem. Juan Luís Cébrian é abertamente honesto sobre a sua profissão e responde às dúvidas do jovem aprendiz, que acaba por representar todos os es-tudantes, e sonhadores, que querem ser jornalistas. Põe sem dúvida os pés no chão e define a clara posição de Espanha no negócio dos media. Este livro foi também uma oportunidade de Cebrián responder a algumas polémicas e questões em que esteve envolvido. Ape-sar de não ser um livro novo, é um “must read”, pela sua envolvência e dinâmica, e pelos seus conselhos. } Júlia Rocha

É certo afirmar que 2011 tem trazido grandes obras cinematográficas aos nossos olhos. “Meia-noite em Paris” enquadra-se nesta onda de longas--metragens de elevada qualidade. Apontado pela crítica como o ressurgimento de Woody Allen, os adjectivos para descrever esta obra resumem-se a “belo”, “envolvente” e, sobretudo, “mágico”.

Allen traz ao ecrã uma crítica moralista e exis-tencial sobre a constante insatisfação da huma-nidade perante o presente e o regular desejo de viajar para uma época antiga, melhor, de ouro. A dicotomia entre o presente, aborrecido e sem imaginação, e um passado recheado de perso-nalidades fortes, cheias de vida. O protagonista refugia-se no último para escapar ao tédio do primeiro, a cada badalada da meia-noite.

O resultado é uma perfeita ironia contra ma-terialismo e superficialismo atuais, sem nunca esquecer que o tempo em que vivemos é aquele que devemos aceitar. É no presente que se deve fazer a diferença e viver a vida da forma que me-lhor se adapta a nós, fazendo frente aos defeitos da sociedade dos dias de hoje.} Fábio André Silva

Amigos coloridos poderia ser só mais uma comédia romântica, mas não é. Poderíamos esperar até ao fim do filme para perceber o que é que tem de diferente, já que tudo parece um cliché, mas se pensarmos um bo-cadinho chegamos lá facilmente. Esta é uma comédia romântica que merece realmente a classificação de co-média – tem piada e faz-nos soltar umas gargalhadas, desde os diálogos, às expressões ou às próprias cenas. E é romântica, sim, mas com um romantismo picante e jovial, sem lamechices manhosas ou lágrimas no canto do olho. É verdade que muito disto advém da fantástica relação de cumplicidade entre Mila Kunis e Justin Tim-berlake, que salta à vista sem pudor.

Mas passemos à história. Os dois jovens actores de Hollywood interpretam um casal com problemas emo-cionais que se envolvem sem querer numa relação de “sexo sem emoção”, para rapidamente passarem para uma relação de “emoção sem sexo”, como eles próprios o descrevem. Não passa de uma tentativa de relação de amigos coloridos completamente falhada onde o amor acaba, mais uma vez, por vencer. Mas é bom. É ver para crer. } Liliana Pinho

Depois de “The Pariah, the Parrot, the Delusion” (2009), considerado um dos melhores álbuns da banda estadunidense de rock alternativo, surge “Chuckles And Mr. Squeezy”. Como já é hábito, surge um álbum com-pletamente diferente dos anteriores, mostrando que os Dredg continuam a conseguir reinventar-se sem perder o seu estilo característico. O quinto álbum de estúdio da banda é um trabalho muito bom mas não tanto como o anterior. Apresenta um trabalho mais calmo e me-nos ambicioso, que soa bem ao ouvido em momentos de descontracção. No geral, a banda apresenta músicas que parecem autênticas composições magistrais, de um cuidado e excelência sonora impecáveis. Em “Chuckles And Mr. Squeezy” a voz assume uma predominância maior e que os refrões assumem um papel verdadeira-mente central nas melodias.

Ouve-se de uma assentada, sem quase nos aperce-bermos da mudança entre faixas e ao mesmo tempo, sem nos parecer cansativo ou repetitivo. } Frederico Carpinteiro

Esta obra, lançada o ano passado, reúne uma compila-ção de entrevistas que José Rodrigues dos Santos fez no seu programa de televisão. Desde Isabel Allende a José Saramago, passando por Dan Brown, Luís Sepúlveda e Ian McEwan, o autor destaca a aprendizagem que recebe deste gigantes da literatura.

As conversas com Allende e Sepúlveda partem para a história do Chile, e histórias de vida. Com Dan Brown há uma conversa sobre as polémicas dos livros e sobre o gé-nero em que ambos se incluem. Em praticamente todas elas, aborda-se a paixão pela palavra escrita, a definição da literatura. É interessante perceber como é que pessoas tão criativas respondem sobre as suas próprias criações, aquilo que acaba por defini-las, fantástico conhecer o au-tor por trás daquela obra. Uns com respostas mais enig-máticas e literárias que outros, outros mais directos, mas todos interessantes. A maneira como está organizado o livro ficou muito preso à escrita televisiva, mas trata-se de uma óptima compilação.} Júlia Rocha

Beach House

de Will Gluck de Woody Allen

de Juan Luís Cebrián de José Rodrigues dos Santos

Dredg

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3 SÁBADOCASA DA MÚSICABattles+Suuns

22H30

6 E 7 CULTURGESTB Fachada

22H — €5

9 SEXTA-FEIRAHARDCLUBHammerFall+Vicious Rumors+Amaranthe

21H — €20

10 SÁBADOHARDCLUBDealema + Nach

22H — €14

15 QUINTA-FEIRACINE-TEATRO CONSTANTINO NERYConcerto com o pianista António Rosado

21H30

25 DOMINGOCASA DA MÚSICAGrande Gala Strauss

18H00 — €41

28 QUARTA-FEIRACOLISEU DO PORTOAlabama Gospel Choir

21H30 — €20 A €44

em DezembroMÚSICA TEATRO VÁRIOSEXPOSIÇÕES

1 E 3RIVOLI TEATRO MUNICIPAL – PEQUENO AUDITÓRIOTão Estranhamente Eu

10H30; 14H E 21H30

ATÉ DIA 4TEATRO CARLOS ALBERTOMonstros de Vidro

QUARTA-FEIRA A SÁBADO 21H30DOMINGO 16H

ATÉ DIA 18TUP (ENTRADA PELA ACE – PRAÇA CORONEL PACHECO)TAR

22H00

TEATRO NACIONAL SÃO JOÃOA Voz Humana

QUARTA-FEIRA A SÁBADO 21H30; DOMINGO 16H

TEATRO HELENA SÁ E COSTAA Tempestade

21H30

ATÉ DIA 4MUSEU MILITARFeira do Livro Temática

14 A 16TEATRO CARLOS ALBERTOTexto e Representação no Teatro Contemporâneo Espanhol e Ibero-Americano

DAS 14H30 ÀS 18H30

17 SÁBADOCAFÉ GUARANYCiclo O Documento do Mês - O Natal de outros tempos Arquitectura no Porto

15H30— ENTRADA LIVRE

ATÉ DIA 31MUSEU NACIONAL DA IMPRENSADo Papel à Impressão: Oficina de Reciclagem

TODOS OS DIAS, 15H00H - 20H00 DE TERÇA A SEXTA-FEIRA, 10H30H - 12H30

ATÉ DIA 3ARTES SOLAR STO. ANTÓNIORaquel Gralheiro

TERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H30 ÀS 13H E DAS 14H ÀS 19H30; SÁBADO DAS 11H ÀS 13H E DAS 14H ÀS 20H;

ATÉ DIA 4CENTRO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA A Rota do Vinho do Porto

TERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 12H30 E DAS 15H ÀS 18H; SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS DAS 15H ÀS 19H

ATÉ DIA 18TEATRO NACIONAL SÃO JOÃOInsomnia

ENTRADA GRATUITA

CENTRO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA Marín. Fotografias 1908-1940

TERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 12H30 E DAS 15H ÀS 18H; SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS DAS 15H ÀS 19H

ATÉ DIA 31PALACETE VISCONDES DE BALSEMÃOMemórias Devolvidas à Cidade

SEGUNDA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 12H E DAS 14H30 ÀS 17H30; SÁBADO DAS 13H ÀS 20H

MUSEU DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕESPanhard&Levassor - 116º aniversário do 1º automóvel em Portugal

TERÇA-FEIRA A SEXTA DAS 10H ÀS 18H; SÁBADOS, DOMINGOS E FERIADOS DAS 15H ÀS 19H

Graande Gala Strauss

Alabama Gospel Choir

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JUP — DEZEMBRO 2011

AGENDA

Até 31 DE NOVEMBROEXPOSIÇÃO: “MARIE CURIE”Edifício da Reitoria da U.Porto (Átrio de Química)Coordenação: Museu de Ciências da Universidade de Coimbra em colaboração com o Museu de Ciência da Universidade do Porto

Até 31 DE DEZEMBROEXPOSIÇÃO ARMANDA PASSOS: OBRA GRÁFICAEdifício da Reitoria da U.PortoHorário: 2ª feira a 6ª feira, das 10h às 18hEntrada livre

ATÉ 8 DE JANEIRO DE 2012EXPOSIÇÃO ARMANDA PASSOS: RESERVASCasa Andresen / Jardim Botânico do PortoHorário: 4ª feira a domingo, das 14h30 às 18h30Entrada livre

ATÉ 8 DE JANEIRO DE 2012EXPOSIÇÃO: “HAROLD EDGERTON, FRAGMENTOS DE TEMPO”Casa Andresen / Jardim Botânico do PortoEntrada livre

EM PERMANÊNCIAEXPOSIÇÃO: “COLEÇÃO EGÍPCIA DO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL DA UNIVERSIDADE DO PORTO”Edifício da Reitoria da U.PortoHorário: 2ª feira a 6ª feira, das 10h às 17h. Entrada livre

Mais informações sobre todos os eventos em http://centenario.up.pt

U.PORTO 11

Desporto para todos na U.Porto

Em roteiro pelo Centenário

L íder destacada no panorama do ensino superior português, a Universidade do Porto é também a mais bem-sucedida das

instituições de ensino superior nacionais com presença oficial no Facebook. Segundo os dados disponibilizados pelo FbRank Pt - o primeiro ranking diário de páginas portuguesas naquela rede social -, a U.Porto (http://facebook.com/universidadedoporto) lidera o universo do ensi-no superior português com um total de 20.424 fãs (dados do dia 13 de novembro de 2011) na-quela que é a 5ª página nacional mais procurada na categoria “Ensino e Formação”.

Comprovando o sucesso da aposta nos media sociais que a U.Porto tem vindo a protagonizar nos últimos anos, o desempenho da Universidade no Facebook não tem paralelo entre as restantes instituições nacionais. Com menos de metade dos fãs surge a Universidade da Beira Interior (8564), seguida de instituições como o Instituto Superior Técnico (7942), o Instituto Politécnico de Beja (7922), ou a Universidade do Minho (5647).

A presença da U.Porto no Facebook sai ainda reforçada através das páginas oficiais das unida-des orgânicas, associações de estudantes e outros

organismos que operam na órbita da Universida-de. Num mini-ranking dominado pela Faculda-de de Engenharia (10385 fãs), nota para a presen-ça significativa das faculdades de Letras (4807), Ciências (4271), Economia (2459), Arquitetura (2306), Belas Artes (1516), ICBAS (1409) e da EGP - University of Porto Business School (3148).

Recorde-se que a Universidade do Porto foi a primeira universidade portuguesa a lançar a sua página oficial no Facebook em Março de 2009, respondendo na altura ao crescimento expo-nencial da chamada Web 2.0. De então para cá essa aposta tem sido reforçada através da afirma-ção das redes sociais como canais privilegiado de e interação com a comunidade, cumprindo-se o objetivo de estreitar, diariamente, laços com es-tudantes, docentes, investigadores, alumni e o público em geral. A U.Porto disponibiliza ainda uma versão inglesa da sua página oficial. Com conteúdos pensados para potenciais estudantes e instituições parceiras de todo o mundo, esta plataforma enquadra-se na estratégia de inter-nacionalização que a Universidade tem vincado nos últimos anos.

C om 2011 a chegar ao fim, todos os motivos são bons para comemorar os 100 anos da Universidade do Porto. Como? Visitando

as várias exposições que a U.Porto abre ao pú-blico até final do ano, no âmbito do programa de comemorações do Centenário.

Num périplo que combina Arte e História, todos os caminhos começam por dar ao edifício da Rei-toria (Praça Gomes Teixeira) e à "Coleção Egípcia do Museu de História Natural da Universidade do Porto". Falamos de uma exposição, sim, mas so-bretudo de uma aula de História em três dimen-sões proporcionada por mais de uma centena de peças pertencentes ao núcleo egiptológico da U.Porto, a segunda maior coleção de antiguidades faraónicas conservadas em Portugal.

Para quem resistir às múmias e aos enigmas da Antiguidade, a “casa mãe” da U.Porto propõe ainda um salto até à “Obra Gráfica” de Armanda Passos. Assim se designa a exposição que revela a totalidade da obra de impressão gráfica sobre papel realizada pela conceituada artista portuense, nome incontornável nas celebrações do Centenário.

Na verdade, é na companhia de Armanda Passos que rumamos até à Casa Andresen / Jardim Bo-tânico do Porto (Rua do Campo Alegre, 1191) ao encontro das “Reservas”, exposição que reúne uma seleção de obras a óleo assinadas pela artis-ta. Pelo caminho não estranhes se vires uma bala a atravessar uma maçã. O mais provável é tratar--se de uma obra de Harold Edgerton, o homem que, nos anos 30, espantou o mundo com uma técnica de fotografia capaz de revelar fenómenos que o olho humano jamais conseguira captar. Quase 80 anos depois, “o homem que se atreveu a parar o tempo” revela-se em "Harold Edgerton, Fragmentos de Tempo”.

As exposições da Reitoria podem ser visitadas até final do ano, de segunda a sexta-feira, entre as 10 e as 17 horas. Já as exposições da Casa An-dresen abrem ao público até 8 de Janeiro de 2012, de quarta a domingo, das 14h30 às 18h30.

Todos os eventos são de entrada livre e gratuita. Mais informações em http://centenario.up.pt.

Sentes-te em baixo de forma e que-res pôr o corpo “a mexer”. Queres praticar desporto enquanto convi-ves com outros estudantes. És es-tudante da maior universidade por-tuguesa e desejas competir ao mais

alto nível universitário. Não és nosso estudante mas, ainda assim, gostavas de usufruir de alguns dos melhores equipamentos e técnicos despor-tivos da cidade, a preços low cost. Pois bem, to-dos esses cenários são agora possíveis através do programa de atividades desportivas que a Uni-versidade do Porto preparou para este ano letivo e que promete "fazer mexer" toda a comunidade universitária da cidade.

À imagem dos últimos anos, a U.Porto pre-tende proporcionar a toda a comunidade as melhores condições para a prática desportiva, oferecendo um programa alargado de atividades direcionadas para o bem-estar e saúde dos utili-zadores. A partir daí o difícil é mesmo escolher entre as mais de 20 modalidades coordenadas pelo Gabinete de Apoio ao Desporto da U.Porto (GADUP). É o caso do Programa Fitness, uma atividade que, em 2010/2011, mobilizou 1.888 pessoas (entre estudantes, docentes, não docen-tes mas também não externos à U.Porto) para a prática desportiva. Ao longo do ano podes assim usufruir de aulas de Cardio-Fitness, Aero-com-bat, aero-local, step-local, cardio-local, cycling e Full training no ginásio da Faculdade de Despor-to da (FADEUP). No mesmo local há espaço para testar os limites da resistência na “Rapidinha das 18” e para frequentar aulas de Hidroginástica, Natação Individual, Natação Avançada, Pilates, Oficina Cognitiva, Yôga e Escalada.

Mas as opções não se ficam por aí. Se és um amante das artes marciais a U.Porto oferece-te a possibilidade de praticares Taekwondo, Judo, Karaté e Jiu-Jitsu, sob orientação de mestres – li-teralmente - na matéria. Num programa que vai dos “greens” (Golfe) até à praia (Surf, Bodyboard ou Voleibol de Praia), podes ainda experimentar Badminton, Ténis, Andebol, Xadrez, Basquete-bol, Futebol 7, Rugby7, Voleibol, Tiro com Arco, Squash, entre outras modalidades.De resto, a U.Porto é a opção ideal para aqueles que, dentro da Universidade, desejam competir ao mais alto nível universitário. Se praticas al-gum desporto e gostas de competição e convívio, escolhe uma das 27 modalidades da U.Porto e mostra o que vales contra atletas estudantes de

todo o país (e não só). Do Andebol ao Atletismo, Basquetebol, Bilhar, Bodyboard, Escalada, Esgri-ma, Futebol de 7, Ginástica, Golfe, Hóquei em Patins, Judo, Karaté, Natação, Orientação, Pólo Aquático, Rugby 7, Squash, Surf, Taekwondo, Té-nis, Ténis de Mesa, triatlo, Tiro com Arco, Volei-bol de Praia e Xadrez, as opções são muitas. O desafio, esse, é um só. Ajudar a U.Porto a repetir o feito de 2010/2011, ano em que foi líder do des-porto universitário em Portugal com 115 meda-lhas conquistadas nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s).

Desporto para a inclusãoMas porque a prática desportiva deve ser aberta a todos, a oferta desportiva da U.Porto não esquece aqueles que têm mais dificuldades em encontrar atividades à sua medida. É nesse sentido que aponta o programa pioneiro de aulas de Natação adaptada que a Universidade promove, já a partir de novembro, junto de toda a comunidade aca-démica (alumni incluídos).

Fruto de uma parceria do GADUP com o Ga-binete de Educação Física Especial da FADEUP, o objetivo é criar as melhores condições despor-tivas aos mais de 90 membros da U.Porto com necessidades educativas especiais, proporcio-nando-lhes a oportunidade de praticar desporto com técnicos qualificados e usufruindo de um plano de acompanhamento individualizado.

Para te inscreveres nesta e noutras propostas desportivas da U.Porto, deves dirigir-te ao bal-cão do GADUP, localizado na entrada da FADEUP. Mais informações (horários, preços, locais das atividades, etc.) no site do GADUP (http://gadup.up.pt/) ou através do telefone 222094164 e do e--mail [email protected].

U.Porto lidera no Facebook

textos Tiago Reis/ Gabinete de Comunicação da Reitoria da U.P.

ACÃO, DIVERSÃO, COMPETIÇÃO E INCLUSÃO SÃO INGREDIENTES DO PROGRAMA DESPORTIVO PROMOVIDO PELA MAIOR UNIVERSIDADE PORTUGUESA EM 2011/2012.

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JUP — DEZEMBRO 2011SOCIEDADE12

Nós somos os

A 15 de Outubro, um dia de acção global varreu várias cidades do planeta com um movimento de novo tipo. O apelo dos Indignados espanhóis foi o motivo para que se juntassem, em vários pontos do globo, milhares de pessoas por uma democracia real e contra a ditadura dos mercados financeiros. Das acampadas de Madrid ou Barcelona ao movimento Occupy nos Estados Unidos (que se tem estendido bem para além de Wall Street), passando pelo protesto da Geração à Rasca, há uma nova vaga de activismo político que toma o espaço público. Ela traz para a luta social sectores que não se têm sentido representados pelas organizações que existem. Um traço comum destas mobilizações parece ser a forte presença de precários, desempregados e estudantes; a sua tendência assembleária; a utilização das redes sociais; e a articulação de uma experiência colectiva em que cada voz se exprime à sua maneira – como fica patente na imensa pluralidade das pancartas do 15 de Outubro em Portugal. Nalguns casos, como nos EUA, ela articula-se com outros movimentos da sociedade civil organizada, como os sindicatos e tem tido a simpatia e até a presença de figuras como Noam Chomsky, Angela Davis ou Naomi Klein. Em Portugal, o 15 de Outubro já apelou à mobilização generalizada no dia da greve geral, em 24 de Novembro, contra as medidas de austeridade que penalizam os “99%”.

O JUP convidou alguns dos organizadores deste protesto no Porto para escreverem sobre o seu significado. E o historiador Manuel Loff para responder à pergunta que os media e o senso comum repetem: a culpa é dos políticos?

por José Soeirofotografia oblogouavida.blogspot.com

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JUP — DEZEMBRO 2011 13SOCIEDADE

O dia seguinteRaquel BiltesPsicóloga, membro da organização do 15 de Outubro

A manif de 15 de Outubro mostrou que há dificuldades globais na saúde, na educação, na cultura, no emprego e

no trabalho, na habitação, na família e na alimentação, esferas tão básicas e centrais.

Nesse dia gritámos BASTA de corrupção política, de injustiças sociais, de especulação financeira, de agências de rating que nos atiram para o lixo (ou em risco de lá ir parar) e mantêm o ciclo vicioso dos grandes mercados capitalistas que prometem mais financiamento à custa de sacrifícios dos cidadãos.

Esta manif é importante porque se constituiu como tentativa: - de contrariar a ordem (estabelecida) natural das coisas, ao levar-nos para a rua e ao ouvir o que cada um de nós tem a dizer. É por essa razão que os momentos de “open-mic” são tão emotivos e tão aplaudidos. Porque nos entendemos. Para que saibamos que não estamos sozinhos nas dificuldades e que muito-mais-é-o-que-nos-une-do-que-aquilo-que-nos-separa. - de consciencializar para criar novas formas de pensamento e acção mais concretas, capazes de ter em conta os direitos fundamentais dos cidadãos como sejam a saúde, a educação e o pleno emprego. Nas assembleias populares, tenta-se discutir e encontrar soluções para os problemas que afectam cada um dos presentes seja a nível de micro ou macro escala.

As medidas anunciadas para o OE de 2012 foram como o rastilho que trouxe mais gente às ruas.

Tão cedo as medidas de “brutalidade” não vão parar. E a resposta a estas medidas também não.

Novos protestos, acções de luta, manifestações, convocatórias, estão já a ser agendadas.

Se as manifestações de 12 de Março e de 15 de Outubro de 2011, baseadas em 3 princípios fundamentais para o sucesso da sua própria força – laicas, apartidárias e pacíficas - ajudaram a despertar populações nacionais e internacionais, a fazê-las sair à rua e a lutar pelos seus direitos, que venham mais. Muitas mais. Resta-nos perguntar – para onde vamos no dia seguinte? •

A força do 15 de OutubroAdriano CamposSociólogo, membro do FERVE e da organização do 15 de Outubro

A força da manifestação de 15 de Outubro foi ter mobilizado pessoas muitos diferentes em torno de um objectivo comum: a

indignação face à austeridade para a maioria em proveito de uns poucos. A convicção de que as coisas podem ser diferentes fez com que em Portugal, assim como no mundo, as ruas se tornassem em mais um palco da democracia e que as pessoas reclamassem o poder de decidir sobre as suas vidas. Todos nós, trabalhadores, precários, reformados, desempregados, estudantes e cidadãos, que temos vindo a sofrer com o ataque da austeridade em nome do salvamento dos bancos e do pagamento de uma dívida ilegítima, conseguimos transformar o descontentamento em proposta e alternativa.

Nas ruas do Porto, assim como de Nova Iorque ou Atenas, percebemos que os nossos problemas, desde a bolsa de estudo ao desemprego e a precariedade para a vida, são problemas de todos. E mais, que esses problemas têm causas e autores. Este movimento soube recusar o discurso que põe o Estado e os nossos serviços públicos como a causa de todos os males e apontar o dedo ao 1% que vive às custas dos outros 99%. Em Portugal o plano que favorece esse 1% chama-se memorando da troika, o que faz com que a recusa das medidas que levam ao nosso empobrecimento só possa ter lugar a partir de uma maioria de pessoas muito diversas. Por isso, a Greve Geral de dia 24 pode ser um encontro de todos, não só dos trabalhadores mas dos 99% que querem ter um emprego, um salário, uma casa, uma felicidade, em suma: uma vida com dignidade. •

Organizar e ConsciencializarJoão VilelaHistoriador, membro da organização do 15 de Outubro

1– De 12 de Março para 15 de Outubro, fruto sobretudo do aceleramento do saque aos trabalhadores para pagar a crise, sentiu-

se um endurecimento da oposição popular ao neoliberalismo. Os cartazes, as palavras de ordem, a ocupação quer da entrada da câmara do Porto quer da escadaria de S. Bento, tudo revela uma radicalização da oposição popular. Essa radicalização é preciso compreendê-la e saber de que modo a dinamizar, sem atrasar o seu progresso nem a deixar descambar. E importa que dela surjam propostas de acção política, como se fez em Lisboa e como tem vindo a ser feito nas assembleias populares do Porto. As propostas são sobretudo importantes enquanto pontos de confluência e organização.

2– O drama deste tipo de movimento tem sido sempre o mesmo: inconsequência e incapacidade organizativa. O carácter dramaticamente difuso das reivindicações apresentadas é a causa. Veja-se a própria palavra «indignado», usada como classificação do movimento: a indignação é uma resposta a situação que colide com os valores morais do sujeito. É algo de emocional, não tem maturação, reflexão, consolidação ideológica, pelo que não pode levar a um trabalho consequente de transformação social. Será extremamente difícil obter confluência entre a disparidade de gentes que toma parte no movimento dos indignados, e não é com ilusões consensualistas e sincretizantes que a ela chegaremos: mas sem organizar e consolidar ideologicamente o movimento, nada poderá ser feito.

3 – A dissociação popular relativamente a partidos, sindicatos, associações, etc., é grassante e as razões são múltiplas. Movimentos como os de 12 de Março e 15 de Outubro podem constituir instrumentos importantes de reintegração das populações na luta política. Assim tenham, esses mesmos movimentos, uma teoria revolucionária com que sustentar o seu movimento revolucionário: sob pena de se tornarem inconsequentes. •

A culpa é dos políticos?Manuel LoffHistoriador e professor da FLUP

Mas de quais políticos?... Os da Assembleia da República, os do Governo (boys incluídos), os presidentes de Câmara

e as famílias funcionarizadas deles? Enfim, os Jardins todos deste país? Ou seja, os que nos governam gerindo o Estado? Pois, esses, coitados, parecem-me ser o último elo (o elo mais fraco?...) de uma cadeia que começa nos conselhos de administração das grandes empresas, no segredo dos Offshores, no CEO's da Banca, prosseguindo pelos chefões políticos de Washington, Berlim, Londres, Pequim, Moscovo, …, até chegar aos secundários chefinhos que nos saíram na rifa em Lisboa (mas é de Lisboa que falamos?).

«Que nos saíram na rifa», vírgula! É que políticos somos todos, porque todos dispomos (ainda...) do direito de emitir livre e secretamente um voto, mas, mais importante do que isso, temos a capacidade plena de nos expressarmos livremente, de nos manifestarmos, de nos organizarmos coletivamente para gerir os negócios da pólis, isto é, de tomar a vida nas nossas mãos, de discutirmos os assuntos que, por serem públicos e afetarem a vida de todos, ou de muitos, por mais complexos que possam parecer, têm de ser negociados entre todos até conseguirmos chegar a consensos que representem a vontade da grande maioria de entre nós.

A culpa, a havê-la, é de todos nós. Porque todos nós tomámos – ou, sendo interpelados a tomá-la, recusamo-nos a tomar – uma atitude sobre se aceitamos ou não que um sistema económico, o capitalista, que domina e/ou condiciona as nossas vidas e todas as formas pelas quais nos relacionamos, continue a ter nelas o papel totalitário que nos pretendem descrever como inevitável - ou, pior ainda, que nos expliquem ser ele a consagração da melhor forma de organização económica das comunidades humanas em toda a sua história... Ninguém trabalha sob determinadas condições porque sim, nem ninguém se cala porque tem medo de falar porque sim. Quem o faz, fá-lo submetido a regras e a contextos que eliminam a liberdade, que anulam a vontade. E, claro, alguém criou essas regras e alguém impõe o medo – e alguém o deixa instalar-se dentro de si.

A culpa é, por exemplo, de quem achou que era preciso votar Sócrates para pôr o Santana de lá para fora, e depois votou Passos Coelho para mandar o Sócrates estudar Filosofia (sem comentários adicionais...), e é provável que vá votar Seguro no dia em que a voz operática do Passos lhe começar a parecer uma e a mesma coisa que o crédito impagável da casa ou do carro, e a angústia de não saber o que fazer da vida... A culpa é de quem, solicitado a dizer de sua justiça e participar num protesto para se fazer ouvir, não faz greve «porque não serve de nada» e insiste, irritado, que «a minha política é o trabalho» - e dois meses depois já nem trabalho tem... A culpa é de quem, sentado em frente à TV, diz «eles é que sabem, isto não é comigo...», ou de quem os prefere nem ouvir e dedica três horas seguidas ao último jogo na consola – até que os pais lhe venham dizer que já não há mais dinheiro para pagar as propinas e que o melhor é que comece a pensar em procurar uma caixa do Minipreço a que dedicar 8 horas (só?, não, mais meia-horita) por dia e ganhar o salário mínimo.

Como escrevia o Mário Henrique Leiria há muitos anos: «Uma nêspera estava na cama, deitada, muito calada, a ver o que acontecia. Chegou a Velha e disse: olha uma nêspera, e, zás, comeu-a. É o que acontece às nêsperas que ficam deitadas, caladas, a esperar o que acontece.» É melhor desnesperizarmo-nos..., e bem depressa! •

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A Décima Quarta Cimeira para a Crise

texto Joana Cariailustrações Jorge Amador

Nos dias que antecediam a Ci-meira de chefes de Estado ou de Governo da zona euro, mar-cada para o dia 23 de Outubro, mais uma vez dada como de-cisiva para o futuro da Europa,

França e Alemanha atiravam achas à fogueira, apanhando muitos dos altos dirigentes europeus de surpresa, e decidem que qualquer tomada de decisão não seria feita antes do dia 26, aquando da realização de uma nova Cimeira Europeia. O anúncio deste adiamento, foi feito através de um comunicado emitido em Berlim e Paris de-pois da intensa troca de ideias entre Merkel e Sa-rkozy sobre os elementos que deveriam integrar a tão prometida “resposta global e rápida” para a resolução da crise. Este recorrente adiamento de decisões não é mais que o reflexo das profundas divergências entres duas das maiores economias europeias no que toca a estratégia a seguir na re-solução da crise.

O desacordo assenta principalmente na maneira de dotar o FEEF (Fundo Europeu de Estabilização Financeira) de um efeito de alavanca que permita multiplicar o dinheiro já nele investido na ajuda dos países com falta de liquidez. Sarkozy defende um modelo em que o FEEF funcione como um banco, usando os fundos e títulos de divida sobe-rana junto do Banco Central Europeu (BCE) para ajudar os países em dificuldades. Por seu lado a Alemanha liderada por Merkel rejeita esta possi-bilidade, defendendo que o FEEF deve agir como um seguro que garanta 20 a 30% da nova divida em caso do não cumprimento dos países.

Aliás, as únicas palavras em que os dois lide-res parecem acordar são as já conhecidas “res-posta global e ambiciosa para a crise que a zona euro atravessa actualmente” e foi seguindo este pensamento que decidiram “ que o conjunto dos elementos desta resposta global e ambiciosa será examinada de forma aprofundada durante a ci-meira de domingo [dia 23] para poder ser defini-tivamente adoptada pelos chefes de Estado ou de Governo durante um segundo encontro, o mais tardar na quarta-feira [dia 26] ” deixando assim a Europa e a moeda única a tremer junto ao abis-mo da crise, sob o escrutínio dos mercados fi-nanceiros internacionais e dos restantes comuns mortais durante a semana que se seguia.

E pelo meio de protestos e confrontos violen-tos de manifestantes na Grécia, da queda de um satélite alemão não se sabe bem onde mas em que a probabilidade de acertar alguém era ao que parece baixa, do desafio à autoridade de David Cameron com a ameaça de um referendo à per-manência do Reino Unido na EU, do anuncio da ETA do “fim definitivo da sua actividade arma-da” e sensivelmente na mesma altura em que o Tribunal Federal nº5 argentino condenava Alfre-do Astiz e associados a uma pena de prisão per-petua por crimes contra a humanidade durante a ditadura militar (1976-83) os chefes de estado europeus chegavam ao fim de uma maratona de muitas horas, em mais uma cimeira decisiva para o futuro da identidade europeia.

O acordo da cimeira de 26 de Outubro, atin-gido já na madrugada do dia 27 às 4 da manha, permite a moeda única ficar a tona nas bolsas internacionais, por agora.O primeiro-ministro belga, Yves Leterme afirmou que “pela primei-ra vez tenho a impressão que a zona euro está à frente da crise” mas para já o acordo conseguido limita-se a uma nova estratégia anticrise que se vê incompleta, vaga e complexa. Deste encontro, entre as divergências dos Dezassete e que a certa altura foi liderado por Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, saiu uma redução da divida grega (em 100 mil milhões de euros), um plano europeu de recapitalização da banca e o reforço do FEEF.

A Europa respirou de alívio e também os mer-cados e as bolsas, que receberam com euforia a chegada a acordo dos países da zona euro. Reac-ção que já vem sendo hábito, depois das altas ex-pectativas e tensão entre os lideres europeus, que quando se chega por fim a uma estratégia contra a crise da divida esta parece melhor do que o fim do mundo antecipado.Não é por acaso que nenhum dos chefes de estado no fim da cimeira foi capaz de explicar os detalhes deste acordo, não devido a sua complexidade mas porque parte do seu suces-so está na forma como estes vão ser negociados e concretizados pelas partes interessadas e como já vimos no passado muitas das boas intenções eu-ropeias várias vezes ficam-se pelas linhas políti-cas gerais sem nunca chegarem a ser realizadas.

O primeiro-ministro grego, Georgios Papan-dreou exultou com a decisão da zona euro na redução nominal de 50% da divida grega detida por privados (num total de 210 mil milhões de euros) e por esta permitir “virar uma pagina do passado” do país. Esta redução da divida será atingida através da troca de títulos e de mais 30mil milhões de euros de garantias pelos novos títulos de divida aos credores. Foi também defi-

nido um novo refinanciamento a Atenas no valor de 100 mil milhões de euros para assegurar a sua liquidez ate 2014, esperando-se assim que a di-vida grega atinja 120% do PIB em 2020 contra os actuais insustentáveis 165%.

Quanto a um dos principais pontos de desa-cordo, o reforço do FEEF, a recusa da Alemanha de transformar o Fundo em banco, obrigou a uma ginástica por parte dos Governos para chegar a uma fórmula que optimize os fundos já existen-tes e possibilitar a defesa económica da Espanha e Itália sem aumentar mais as contribuições. O “efeito de alavanca” através da multiplicação dos 250 mil milhões de euros actualmente disponí-veis para assegurar uma resposta de 1 bilião de euros do FEEF deverá ser conseguido usando-o como um seguro contra os riscos de incumpri-mento sobre as novas emissões de divida dos dois países e ao mesmo tempo como um veiculo para atrair capital externo.

Mais uma vez os problemas da zona euro estão longe de serem resolvidos e certamente alguns acordos caíram por terra … pelo menos até à pró-xima Cimeira. •

DEPOIS DO CONSECUTIVO ADIAMENTO DE DECISÕES CONCRETAS E DO MALABARISMO TELEFÓNICO ENTRE ANGELA MERKEL E NICOLAS SARKOZY, O ACORDO FINAL SOBRE O FUTURO DA UNIÃO EUROPEIA E DA MOEDA ÚNICA FICOU MARCADO PARA MAIS UMA CIMEIRA EUROPEIA, REALIZADA NO DIA 26 OUTUBRO.

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JUP — DEZEMBRO 2011 15INTERNACIONAL E ECONOMIA

“Cristina Kirchner atinge vitória histórica na Argentina”

Ensaio clínico sobre a cegueira

O primeiro ensaio clínico em humanos decorreu na última semana de Outubro,

no Oxford Eye Hospital. O primeiro paciente foi, Jonathan Wyatt um advogado de Bristol, de um grupo de 12 pacientes seleccionados para o teste deste novo tratamento.

Esta terapia pioneira tem como objectivo travar a progressão de uma doença genética que começa por se manifestar durante a infância e lentamente leva a cegueira total.

A coroideremia, uma condição recessiva ligada ao cromossoma X, está incluída no grupo de doenças congénitas da retina e caracteriza-se por uma atrofia progressiva da córnea e do epitélio pigmentar da retina. Manifesta-se logo na infância com perda da visão nocturna, seguida da perda progressiva da visão periférica na vida adulta e mais tarde ocorre o desaparecimento do campo de visão central. Apenas os homens exibem sintomas e são afectados por esta doença enquanto as mulheres geralmente são portadoras da condição.

Wyatt começou a perder a sua visão aos 19 anos e hoje com 63 anos ainda conserva alguma visão mas esta doença geralmente conduz à cegueira por volta dos 40 anos.

Esta doença degenerativa é causada pela falta de um gene - REP 1 - nas células sensíveis a luz que constituem o epitélio no fundo do olho. A falta deste gene faz com que as células fotoreceptoras degenerem e morram.

No olho de Wyatt, foram injectados milhões de cópias deste gene em falta directamente no seu olho esquerdo deixando o direito como controlo. Os investigadores esperam saber se o tratamento resultou daqui a 2 anos e posteriormente iram tratar o seu olho direito se os resultados forem positivos. O propósito deste tratamento não e reverter os danos já causados mas prevenir que eles venham acontecer travando a progressão da doença.

O trabalho de investigação começou com a identificação e isolamento do gene afectado de forma a obter-se uma forma funcional do gene para ser usada nas fases seguintes. Posteriormente cópias do gene foram inseridas num vírus “vazio” (assim só o gene de interesse vai ser replicado) programado para se deslocar directamente às células fotoreceptoras onde esse gene está em falta no DNA. Os investigadores esperam assim activar o gene nas células e prevenir qualquer dano futuro.

Estas copias do gene REP 1 foram depois usadas em ensaios pré-clínicos, nos quais uma estripe de ratinhos com uma mutação que imitava a mutação humana e que desenvolveram a doença foram a plataforma para obter resultados que respondessem a questões importantes para se chegar a uma terapia passível de ser usada em humanos, tal como que tipos de vírus, técnicas de introdução possíveis, a eventual toxicidade e os efeitos terapêuticos entre outros aspectos.

Esta nova terapia, consiste numa única dose de efeito vitalício e a ser bem sucedida neste pequeno grupo de pacientes poderá levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para uma variedade de doenças genéticas oculares, anteriormente incuráveis, como a degeneração macular uma das mais frequentes causas de cegueira. • Joana Caria

N o domingo, 23 de Outubro, a advogada de 58 anos Cristina Fernandez de Kirchner (CFK)

fez história na política argentina ao ser reeleita como Presidente com 54% dos votos. Uma subida significativa face às sondagens há menos de dois anos atrás que a colocavam abaixo dos 30%.

Desde o regresso de Juan Domingo Peron do seu exílio em 1973, quando foi eleito com 62% dos votos, mais nenhum politico argentino tinha conseguido re-colher tanto apoio como Kirchner.

CFK foi senadora durante a presidên-cia de Nestor Kirchner (seu marido) em 2003-2007 e torna-se a primeira mu-lher a ser eleita Presidente em 2007, altura em que muitos esperavam que Nestor voltasse apresentar a sua candi-datura a presidência de 2011.

Nestor foi reconhecido como o res-ponsável por levantar a Argentina da crise financeira que mergulhou em 2001, reestruturando enormes dívidas e promovendo o investimento. O seu pro-jecto populista foi continuado por CFK, que no entanto se confrontou com es-peculações de que seria forçada a abdi-

car devido a possíveis disputas politicas internas, após a súbita morte de Nestor por ataque cardíaco, em 2010.

Pelo contrário, CFK conquistou no-vos apoiantes e uma onda de apoio público, explorando uma imagem mais compreensiva e amável durante um longo período de luto público.

Num emotivo discurso de agradeci-mento, em Buenos Aires perante uma multidão de apoiantes, CFK dedicou a vitória ao marido “um dos maiores líderes políticos da Argentina” nas suas palavras e criticou aqueles que manifestam duvidas sobre o modelo económico-social seguido pelo seu Governo, prometendo “aprofundar o projecto político que melhorou a vida de 40 milhões de argentinos” neste segundo mandato.

Argentina apresenta um crescimento económico de 8%, a mais alta taxa de crescimento da América Latina e quase o dobro do vizinho Brasil. No entanto, e acreditar nas previsões financeiras, o ritmo de crescimento da economia argentina devera diminuir para quase metade da taxa actual no futuro.

Kirchner tem vindo a mostrar um esti-lo político mais consensual, tentando silenciar as críticas ao seu gosto pela aparência e espírito autoritário, e fa-zendo esforços para melhorar as rela-ções do Governo com sectores chave da economia argentina, como a agri-cultura e a indústria.

O seu luto público foi encarado como uma arma política e em gran-de parte contribuiu para a crescente simpatia popular, travando assim o declínio da sua popularidade nas son-dagens. Juntamente com um elevado investimento social, o aumento no consumo e um crescimento econó-mico renovado e uma oposição fraca e fracturada (o rival socialista Hermes Binner apenas conseguiu 17% votos) o pacote ficou completo. Garantindo o apoio dos eleitores, indiferentes às acusações de corrupção e enriqueci-mento ilegal do casal Kirchner e seus colaboradores mais próximos.

Após a vitória do dia 23, o partido pe-ronista Frente para a Vitoria reconquis-tou a maioria no Congresso (que perde-ra em 2009) onde estavam em jogo 130 lugares e manteve o controlo do Senado onde 24 lugares eram disputados.

Durante esta campanha presiden-cial, CFK expôs-se o mínimo possível não houve campanha política, dirigin-do-se através de anúncios televisivos extremamente bem produzidos e com forte carga emocional, sob o slogan “Fuerza Argentina”.

Ate quando esta força se vai manter face a crise económica internacional, que poderá abrandar o crescimento argentino, vai provavelmente influen-ciar a forma como este novo mandato de Kirchner decorrera.

Para já, parece que a maioria dos ar-gentinos concorda e está do seu lado.• Joana Caria

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A PRIMEIRA MULHER A SER REELEITA PRESIDENTE DA ARGENTINA, CRISTINA FERNANDEZ DE KIRCHNER CONSEGUE A MAIOR PERCENTAGEM DE VOTOS DESDE A ELEIÇÃO DO GENERAL JUAN DOMINGO PERON EM 1973.

NOVA TERAPIA GENÉTICA PARA O TRATAMENTO DE UMA FORMA HEREDITÁRIA E SEM CURA DE CEGUEIRA REALIZADA PELA PRIMEIRA VEZ NUM HOSPITAL BRITÂNICO.

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JUP — DEZEMBRO 201116 DESPORTO

Tripla vitória do Desporto Universitário Português

O Comité Executivo da Asso-ciação Europeia de Desporto Universitário (EUSA) divulgou os países organizadores das fases europeias das modali-dades universitárias, tendo

atribuído a Portugal a organização da Fase Final do Europeu de Judo e a organização do Europeu de Voleibol de Praia Universitário. No seguimen-to da decisão do EUSA, a Federação Internacio-nal do Desporto Universitário (FISU) atribuiu a organização do Mundial também ao nosso país. O Europeu e Mundial de Voleibol de Praia Uni-versiário irão ocorrer em 2013 e 2014, respectiva-mente, estando a cargo da Federação Académica do Porto (FAP). A organização ocorre numa par-ceria com o Instituto Politécnico do Porto (IPP) e a Universidade do Porto (UP).

Apesar de ainda não estarem definidas as da-tas oficiais de cada um dos eventos, sabe-se que nenhum dos Europeus vai ser realizado entre 6 e Julho de 2013, período em que ocorre a 27ª Uni-versíada de Verão, a ocorrer em Kazan, na Rússia.

Será a terceira vez que a cidade do Porto aco-lherá uma competição de renome em Voleibol de Praia, reforçando a importância crescente do nosso país no panorama internacional da moda-lidade. No ano de 2010, Portugal acolheu o Euro-peu de sub-23 e o Mundial de sub-19. É de des-tacar o honroso 9ºlugar alcançado pela dupla Rui Moreira/Ricardo Alvar, na competição europeia.

Em termos de Voleibol de Praia a nível uni-versitário, Portugal participou, no ano transacto, no Europeu Universitário, que ocorreu na cidade espanhola de Málaga. O nosso país fez-se repre-sentar por duas duplas masculinas e femininas, tendo alcançado resultados satisfatórios. No sec-tor feminino, Ana Rita Magalhães e Filipa Teixei-ra, alunas da FEUP e FADEUP, respectivamente, alcançaram o 13ºlugar na competição. O mesmo resultado foi alcançado pela dupla Sofia Lima/Fabiana Silva.

No sector masculino, registou-se o melhor resultado nacional de sempre na competição. A dupla Fabrício Barros/Januário Silva, proveniente do Instituto Politécnico do Porto (IPP), alcançou um meritório 3ºlugar e consequente medalha de bronze. Depois da prestação extremamente positiva no Circuito Nacional, onde se sagraram vice-campeões, a dupla manteve os bons resul-

texto Ricardo Nortonilustração David Penela tados, agora a nível internacional. Fabrício Barros

classifica o feito obtido como “inédito, visto que a melhor classificação anterior de Portugal tinha sido um sétimo lugar” e aponta a vasta experi-ência de jogo com o seu parceiro como “funda-mental para alcançarmos os resultados”. A outra dupla masculina foi composta por dois alunos da Universidade de Motricidade Humana de Lisboa, que se ficaram pela segunda fase da prova.

Em jeito de balanço, Rita Magalhães classifica a participação feminina como “ uma participa-ção aquém das expectativas, onde poderíamos ter feito melhor”, apontando o elevado nível das opositoras como um impedimento a metas mais altas do que as obtidas. No entanto, a atleta con-sidera a prestação masculina “bastante positiva, por ter superado as expectativas”. No entanto Fabrício Barros prefere destacar o colectivo, afir-mando que, apesar de tudo, “as duplas portugue-sas estão todas de parabéns pela luta e empenho que demonstraram durante todo o torneio”.

Os dois atletas são unânimes quando questio-nados sobre a preparação efectuada para a prova. Nenhuma das duplas efetuou trabalho específi-co, algo que condicionou os resultados obtidos. Apesar da dupla Barros/Silva jogar junta quer no pavilhão quer na praia, algo que lhes dá expe-riência e ritmo de jogo, o mesmo não acontece com as outras duplas, algo que poderá explicar as diferenças de rendimento. Segundo Rita Ma-galhães, “é sempre diferente ver uma pessoa a jogar e jogar com ela”, justificando o pouco en-trosamento com a parceira Filipa Teixeira, que resultou no 13º lugar para a dupla.

Com o capítulo de Málaga 2010 encerrado, é altura de iniciar a preparação para o próximo compromisso: o Europeu de 2013, no Porto.

Fabrício Barros não tem dúvidas sobre a prepon-derância de uma competição desta envergadura ser jogada em solo nacional. O atleta da Associa-ção Académica de Espinho é claro quando diz que “com o europeu em casa, aumenta a responsabili-dade, mas também com certeza a vantagem tam-bém aumenta”, acrescentado que “o factor casa é decisivo” numa situação destas. Rita Magalhães partilha da mesma opinião. Reforça a ideia da res-ponsabilidade acrescida, considerando que o nível de jogo tem de ser o melhor “por termos de mos-trar aos portugueses a qualidade do nosso país e termos receio de os deixar ficar mal”. No entanto, a atleta considera também que “um Europeu em casa é sempre uma festa”, mostrando-se motivada para os desafios que se avizinham.

As boas estruturas organizativas criadas por altura do Mundial sub-19 e Europeu de sub-23, deixam antever que o Europeu de 2013 será orga-nizado com qualidade, algo que reforçará o bom nome que a UP goza internacionalmente. Fabrício reforça esta posição, ao afirmar que “ Portugal foi escolhido, porque tem comida boa, gente boa e

condições ex-celentes para a prática des-portiva. Acho que Portugal vai mais uma vez mostrar que sabe aco-lher e preparar eventos a ní-vel europeu e mundial”, con-siderando que Portugal está preparado para o que aí vem. Rita Magalhães vai ao encon-tro do colega, elogiando a UP

pela “grande vitória” que obteve, adiantando que “isso traz-nos também oportunidades futuras e sobretudo reconhecimento internacional”.

Quando questionada sobre as hipóteses da co-mitiva portuguesa na prova, a atleta do GDC Guei-fães mostra-se um pouco mais contida na abor-dagem ao assunto. Rita Magalhães considera que “as hipóteses de Portugal são sempre aquelas que os atletas estiverem propostos a oferecer. Isto é, se os atletas portugueses fizerem um trabalho coe-rente e com objectivos as hipóteses de Portugal aumentam sempre. A prova disso foram o Fabrí-cio e o Januário. Apesar de sabermos que a nível nacional eles eram dos mais destacados, penso

que ninguém imaginou que eles chegassem onde chegaram no Europeu de Málaga. Isso mostra que eles trabalharam com objectivos, que fizeram por merecer o 3º lugar! É claro que para os portugue-ses debater com duplas que têm muito mais expe-riência de jogo dificulta a possibilidade de chegar ao topo, às vezes são óbvias as diferenças de níveis de jogo mas com esforço penso que os portugue-ses podem sempre sonhar mais alto.”

As diferenças em relação ao estrangeiro veri-ficam-se, na opinião de Rita Magalhães e Fabrí-cio Barros, devido à falta de apoios ao voleibol por parte da Federação Portuguesa de Voleibol. Ambos propõem uma independência maior da modalidade em relação à vertente indoor. Essa independência passa, na opinião de ambos, pela escolha de atletas e treinadores que se de-dicassem exclusivamente ao Voleibol de Praia, treinando para isso durante o ano inteiro. Ao terem mais tempo para se ambientar às particu-laridades da modalidade, o nível de jogo subiria, considera Fabrício Barros. Rita propõe ainda um projecto mais conciso e com maiores perspec-tivas, de modo a equiparar Portugal às grandes potências da modalidade, como Brasil ou Ale-manha. Segundo a jovem, é necessário aumentar os recursos disponíveis, de modo a trabalhar-se mais e melhor.

Sobre o futuro da modalidade, mais uma vez, os dois atletas estão em acordo. Afirmam que, apesar de o nível já ser positivo, é necessário mudar e investir-se mais, de modo a garantir-se um retorno em termos de resultados, no futuro. “Espero que seja um futuro bom, porque tem to-das as condições para isso. Mas como está, não conseguirá sobreviver”, conclui Fabrício Barros.

O DESPORTO PORTUGUÊS CONTINUA A CRESCER. CADA VEZ MAIS SÃO AS CHAMADAS “MODALIDADES AMADORAS” A DAR ALEGRIAS AO NOSSO PAÍS, COMO PROVA A DUPLA VITÓRIA DA CANDIDATURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO, PARA A REALIZAÇÃO DO EUROPEU E MUNDIAL DE VOLEIBOL DE PRAIA UNIVERSITÁRIO, EM 2013 E 2014 E AVITÓRIA DA CANDIDATURA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA PARA A REALIZAÇÃO DO EUROPEU DE JUDO EM 2013.

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JUP — DEZEMBRO 2011 DESPORTO 17

Voleibol de praia, uma aposta da Universidade do Porto

Objectivos: defender o título e repetir a boa prestação no europeu

E agora, Selecção?

A Selecção Nacional e o sentimento patriótico

O voleibol de praia foi criado na Califórnia, na década de 1920, mas só se tornou uma modali-

dade profissional em 1950. Da chegada ao Brasil até à expansão pelas praias de todo o mundo foi um pequeno passo. Para jogar são necessários 16 metros de comprimento por 8 metros de largura que formam um quadrado delimitado por uma fita branca na areia. A dividir o campo fica a rede que deve medir 2,43 metros de altura para equipas mascu-linas e 2,24 metros para as femininas. As equipas são formadas por duplas (2 jogadores), mas podem ser de 4 joga-dores, no máximo. O objectivo é fazer a bola atingir o campo do adversário e conquistar dois dos três sets. É um des-porto olímpico desde 1996 e conta com a Federação Internacional de Voleibol de Praia (FIVB) a organizar as compe-

tições internacionais. Em 2009, a Universidade do Por-

to (UP) conquistou o título nacional universitário de voleibol de praia nos Campeonatos Nacionais Universitá-rios (CNU) nas duas categorias (femi-nino e masculino) e, em 2013 e 2014, Portugal irá organizar o Europeu e o Mundial Universitário de Voleibol de Praia, respectivamente, ambos na ci-dade do Porto. Joana Resende, aluna da Universidade do Porto e jogadora do GDC Gueifães é número dois do ranking nacional de voleibol de praia.

Quando questionada sobre a afirma-ção independente do voleibol de praia realça que ainda não estão criadas as condições necessárias para tal: “Seria necessário um enorme investimento financeiro para que fossem criadas infra estruturas que nos permitissem a prática da modalidade durante todo o ano porque o nosso clima é frio e torna-se complicado. Tendo em conta a própria situação financeira do nosso país, é difícil encontrar patrocinadores interessados em investir”.

Apesar de observar que a nível nacio-nal o campeonato tem cada vez menos procura por parte dos atletas, realça que Portugal tem conseguido elevar o seu nome a nível internacional com alguns feitos. No entanto, confirma também que a modalidade tem sido alvo de al-gumas críticas a nível competitivo. Os custos de inscrição, o prize money e, por

exemplo, o número de duplas e etapas que é cada vez mais reduzido são algu-mas das fraquezas da modalidade que, segundo a estudante, têm conduzido ao elevado número de críticas. Joana, que se confessa uma amante da modalidade e diz jogar para “poder evoluir cada vez mais e enriquecer a história do voleibol de praia português e elevar o nome do nosso país e do nosso povo” não vê um futuro muito feliz para a modalidade em Portugal. “O baixo número, os custos de inscrição elevados e os reduzidos prize money diferentes consoante os sexos são muitas das razões que têm feito com que a participação dos atletas baixe”. Refere também que é imprescindível que atle-tas e dirigentes repensem as suas posi-ções de modo a alterar positivamente o rumo que a modalidade está a tomar.

Por último, refere que a realidade portuguesa é muito diferente da de outros países, que se encontram ao melhor nível. “Estas duplas, treinam voleibol de praia o ano inteiro e pos-suem também um grande apoio a nível económico e de serviços, não são como nós que temos o voleibol indoor a maior parte do ano e no Verão jogamos voleibol de praia”. Para além disso, co-menta que “os atletas são profissionais e apenas praticam a modalidade, en-quanto em Portugal sabemos que isso é praticamente impossível e a maio-ria tem também vida académica”. •

Filipa Sousa e Pedro Santos Ferreira

A cidade de Coimbra acolheu a 4.ª edição da Gala do Desporto Universitário. Com o objetivo

de reconhecer os que se destacaram no ano letivo 2010/2011, foram reali-zadas homenagens aos 16 medalhados em campeonatos europeus universitá-rios em diversas modalidades, e desta-cados outros atletas.

A equipa de voleibol da AEFMUP, uma das presentes, estreou-se nos cam-peonatos nacionais universitários no ano lectivo anterior, 2010/2011, e desde cedo se afirmou como uma equipa ven-cedora. “Ser campeã nacional foi muito engraçado principalmente pelo facto de sermos uma equipa nova na competição e não termos treinador”, afirma Cláudia.

Ambas as atletas, que entraram para esta equipa para manter a prática do voleibol e defender as cores da facul-dade/universidade, consideram que conciliar treinos, exames e trabalhos “nunca é fácil. Ainda por cima, numa faculdade como a nossa, em que o grau de exigência é máximo”. En-quanto Cláudia jogou voleibol federa-do muitos anos, mas viu-se obrigada a deixar por razões académicas, Aman-

da joga, actualmente, na equipa sénior feminina do GDC Gueifães e diz nunca ter sido necessário preterir o voleibol federado ao universitário.

Após alcançarem o título de campe-ãs universitárias o próximo passo era a participação nos Europeus. Aí, e já com treinador, sentiram que as expectativas não aumentaram, mas segundo Cláudia queriam “fazer melhor que as equipas portuguesas de voleibol nos campeo-natos europeus anteriores”. No entanto, numa competição onde se destacaram países como a Alemanha, 1ª classifica-da, a equipa portuguesa orgulhou as co-res nacionais e da UP. “O terceiro lugar nos CEU foi uma grande surpresa, co-nhecíamos bem o nível do voleibol eu-ropeu, que é muito alto, e confesso que não estávamos nada confiantes. A me-dalha de bronze foi fruto de um grande espírito de entrega e união partilhado por toda a equipa”, refere Amanda.

Este ano, ambas pretendem voltar a fazer parte da equipa universitária, “de-fender o título e, se possível, repetir a boa prestação no europeu”. Apontam que a experiência no europeu demons-trou que há países onde o desporto uni-

versitário é levado bem mais a sério que em Portugal e realçam o facto de, no nosso país, a Universidade do Minho e a Universidade de Coimbra se destaca-rem das demais devido à maior aposta e apoio ao desporto universitário.

Apesar de não terem ganho o pré-mio de “Melhor Equipa Feminina” na Gala do Desporto Universitário acre-ditam ter sido muito bom pertencer às equipas nomeadas. Amanda real-ça ainda a importância deste tipo de eventos: “penso que iniciativas como esta são de grande importância pois distinguem o empenho e dedicação ao desporto universitário ao longo do ano. É um incentivo à busca da excelência, o que na sociedade actual, infelizmen-te, acontece cada vez menos”.Cláudia Melo acredita que deveria exis-tir um maior número de competições internas e que equipas inscritas que não comparecem nos jogos deviam ser penalizadas. Por sua vez, Amanda des-taca a criação do estatuto de Estudan-te-Atleta como uma mais-valia, mas acredita que não é suficiente e ainda muito mais pode ser feito. • Filipa Sousa

S e eu fosse jogador profissional de futebol, o meu sonho era po-der jogar pela selecção nacional.

Mais do que jogar por um dos grandes de Portugal e da Europa ou do que ter uma carreira brilhante a nível indivi-dual, a selecção devia ser o ponto alto da vida profissional do jogador. É de la-mentar que nem todos pensem assim.

O exemplo mais recente ocorreu no dia 11 de Outubro na Dinamarca. Por-tugal dependia de si e precisava da vi-tória para garantir a qualificação para o Euro 2012, mas o que se viu nesse jogo? Apatia total em relação ao resul-tado que acabou por ser injusto para os Dinamarqueses.

Sabemos que a equipa das quinas é recheada de talento, o que para muitos portugueses já justifica a compra do bilhete (que não é barato) e a desloca-ção ao estádio para assistir a um jogo de CR7 e companhia, mas os próprios adeptos ficam frequentemente des-contentes com a qualidade exibicional dos jogadores.

É certo que as provas internacionais têm lugar de dois em dois anos e as fa-

ses de apuramento estão longe de ter a mesma emoção do que as fases de grupo das competições europeias de clubes. No entanto, aqueles que são privilegiados com uma convocatória deviam ter essa motivação extra: o orgulho de representar o país ao mais alto nível. O mesmo discurso é válido para todas as outras modalidades.

A Bósnia é o adversário que se segue e é já uma equipa bem conhecida dos portugueses. Não se adivinha um jogo fácil, tendo em conta a determinação dos bósnios em demonstrar competên-cia para estar à altura dos gigantes euro-peus, ainda assim, somos muito melho-res do que eles e temos neste jogo uma excelente oportunidade para o provar.

Espera-se mais, muito mais, da turma de Paulo Bento, porque a selecção não pode padecer de um mal que caracte-riza a nossa sociedade, a preguiça de trabalhar bem e procurar fazer melhor.

Para aqueles que ainda não estavam habituados a sofrer tanto numa fase de apuramento, ficam a saber que Portu-gal já viu este filme.• Pedro Santos Ferreira

A história não muda para a Se-lecção Nacional. Dois anos depois, encontramos outra vez

a Bósnia. O seleccionador já não é o mesmo mas a verdade é que o trajecto para o Europeu, tal como para o Mun-dial, deixou muito a desejar e Portugal só tem de culpar a si próprio por não ter um bilhete garantido para a Polónia e Ucrânia.

Paulo Bento vinha a fazer um per-curso praticamente imaculado, se qui-sermos esquecer a derrota com a Ar-gentina em Fevereiro mas as exibições baixaram de nível assim que a polémi-ca voltou à Selecção. O caso Ricardo Carvalho é algo difícil de compreender e Carlos Queiroz aproveitou este mo-mento para voltar a apontar o dedo à Federação. Coincidência ou não, a vi-tória tremida diante da Islândia e o de-saire incontestável com a Dinamarca demonstram que algo de mal se passa na equipa das Quinas.

Agora, a Bósnia-Herzegovina está uma vez mais no caminho da Selec-ção e prevê-se uma eliminatória mais complicada do que em 2009. Subesti-mar esta equipa, antiga parte da Jugos-

lávia, seria um erro grave ao verificar a evolução desta mesma. O adversário de Portugal subiu 32 lugares no Ranking da FIFA no espaço de um ano e a gran-de maioria dos seus jogadores actuam nos campeonatos mais competitivos da Europa. A criatividade de Pjanic e Mi-simovic no meio-campo e a frieza de Dzeko no ataque são alguns pontos a focar numa selecção que, ainda assim, se destaca pelo seu colectivo.

É importante que Paulo Bento con-siga estabilizar o estado emocional no balneário, num momento em que alguns jogadores demonstram pouca alma numa camisola que é o sonho de qualquer jogador português. Mas isso tem de começar pela própria Federa-ção que necessita de impedir que de-clarações e casos de terceiros afectem o ambiente da Selecção Nacional pois, nos últimos anos, tem demonstrado não saber lidar com a pressão. Está na altura de Portugal se unir, sob o risco de falhar um Campeonato da Europa pela primeira vez em 19 anos.•

Diogo Fernandes

VOLEIBOL? SIM, MAS COM MUITA AREIA E PRATICADO NA PRAIA. ESTA É UMA MODALIDADE QUE NÃO PÁRA DE EVOLUIR E QUE FOI INCLUÍDA, A PAR DE MUITAS OUTRAS, NO GABINETE DE APOIO AO DESPORTO DA UNIVERSIDADE DO PORTO (GADUP).

NO RESCALDO DA GALA DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO, REALIZADA A 11 DE OUTUBRO, FOI ENTREGUE, PELA PRIMEIRA VEZ À UNIVERSIDADE DO PORTO, O TROFÉU UNIVERSITÁRIO DE CLUBES ÀS ESTUDANTES DA FMUP, AMANDA ROCHA E CLÁUDIA MELO, QUE REPRESENTARAM DIGNAMENTE A UP.

DEPOIS DE NÃO TER CONSEGUIDO O APURAMENTO DIRECTO PARA O EURO 2012, EM VIRTUDE DA DERROTA COM A DINAMARCA, A SELECÇÃO NACIONAL VÊ-SE OBRIGADA A DISPUTAR UM PLAY-OFF, PARA MANTER VIVAS AS ASPIRAÇÕES DE MARCAR PRESENÇA NA MAIOR COMPETIÇÃO DE SELECÇÕES A NÍVEL EUROPEU. O ADVERSÁRIO A BATER É A BÓSNIA.

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JUP — DEZEMBRO 2011CRÓNICAS18

Andar na Vida – Prostituição de Rua e Reacção Social

… ser vendedora de castanhas

UM LIVRO DE ALEXANDRA OLIVEIRA

CONTA-ME COMO É…

Q UE PROSTITUIÇÃO DE RUA É ESTA, agora, em Portugal? Quem são os seus actores?

Como se relacionam? Que trajectos de vida têm? Como são as suas fa-mílias? O que é ser-se prostituta de rua? Quem são a(o)s estrangeira(o)s que fazem prostituição de rua? Serão vítimas de tráfico e de exploração se-xual? Que funções desempenham as instituições na resolução dos proble-mas que enfrentam estas mulheres e homens? Como se relacionam as prostitutas e prostitutos com a res-tante população? E com o resto da cidade? O que pensam sobre a legali-zação do seu trabalho?

São estas as questões que motiva-ram a investigação etnográfica sobre prostituição de rua, na cidade do Por-to, ao longo de cinco anos. Andar na Vida – Prostituição de Rua e Reacção Social surge assim em livro como re-sultado de uma adaptação da tese de Doutoramento em Psicologia de Ale-xandra Oliveira (professora da Uni-versidade do Porto, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação).O livro reflecte um vasto leque de abordagens, depoimentos, teste-munhos e experiências contextu-alizadas, que visam uma profunda aproximação do leitor ao “mundo da prostituição de rua e dos actores que

O outono é rico em sons e sa-bores e com certeza que não seria o mesmo sem umas cas-

tanhas quentinhas em papel de jornal. Na cidade do Porto, o cenário habi-

tual enche-se de vendedores de casta-nhas e fumo branquinho, espalhado por toda a baixa. Na icónica rua de Santa Catarina encontramos Maria do Céu Carneiro, de 48 anos, que trabalha rodeada de sons bem característicos e pregões de outros comerciantes, junto aos milhares de pessoas que passam todos os dias numa das ruas mais mo-vimentadas e comercias da Invicta. Isso não significa contudo, que o ne-gócio seja muito rentável.

Esta vendedora trabalha no negó-cio da venda de produtos alimentares todo o ano. Nas castanhas em Santa Catarina está há cerca de seis anos.

Os fins-de-semana são sempre os mais rentáveis, mas durante toda a semana enfrenta condicionamentos de tempo e horas. Costuma trabalhar principalmente da parte da tarde, até ao encerramento das lojas da rua.

Como tem acontecido com todos

os portugueses, o negócio não está a correr muito bem: “Este ano começou muito mal, por causa do calor de Outu-bro. Há dias em que se vende um saco grande de castanha, mas às vezes não”.

Os portugueses não estão a aderir às castanhas este ano, por isso é no turis-mo que esta vendedora confia. “Os es-trangeiros são os que mais compram. Alguns não conhecem e querem pro-var”, diz Maria do Céu. São os de fora que têm mais curiosidade em experi-mentar a iguaria portuguesa.

As castanhas que vende são de Trás--os-Montes e compra-as sempre ao mesmo fornecedor. Uma fidelidade justificada pelas questões logísticas, visto que não mora no Porto.

Os equipamentos de confecção da castanha também não são baratos. A vendedora diz que além da compra, custa ainda muito manter o bom fun-cionamento do equipamento. “São utensílios caros. É preciso pintar e evi-tar que ganhem ferrugem”, explica. Os custos prendem-se também com a compra de carvão e deslocações entre o Porto e Vila Nova de Gaia, onde vive.

A aproximação dos magustos e do São Martinho anima o negócio, uma vez que Maria do Céu colabora nos magus-tos de escolas e empresas, mas ainda não compensa o começo de Outono quente. “Aquilo que me pedirem para fazer, eu faço. Costumo ir a escolas, agora no São Martinho”, conta.

Sendo este um emprego sazonal, no resto do ano Maria do Céu ven-de pipocas, chocolates e outros bens alimentares pelas ruas e festas popu-lares. Explica que não tem trabalho e que tem de fazer alguma coisa para ganhar o seu sustento. Além da Rua de Santa Catarina, costuma estar nas entradas do Estádio do Dragão em dias de jogo. Por vezes é uma verdadeira maratona: depois do dia na rua, vai ao fim da tarde para o futebol. Se fores fã de castanhas, é esperar para encontrar a D. Maria e levar umas quantas folhas de jornal. Até pode ser o JUP, nós dei-xamos. Ela agradece, e as mãozinhas quentes também. • Júlia Rocha

texto Liliana Moreira

foto

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o habitam…”, desmistificando e afas-tando os estereótipos e preconceitos inerentes à prostituição e às prostitu-tas de rua. A leitura de Andar na Vida permite--nos o acesso a um relato fiel e a uma abordagem à prostituição enquanto actividade profissional, multifacetada, repleta de rostos e actores, que se in-serem nesta dimensão social comple-xa e vista pela sociedade como moral-mente condenável.O estigma, a exclusão, as problemáti-cas sociais, económicas e morais, bem como as várias dimensões da violên-cia (que estão associados à prosti-tuição pelo seu carácter ilegal e pela sua reprovação social) são descritas e relatadas neste livro, colocando a pertinente questão da legalização da prostituição e o seu reconhecimento enquanto actividade profissional.Andar na Vida – Prostituição de Rua e Reacção Social é o livro para nos levar na viagem perfeita até ao entendi-mento da prostituição enquanto uma actividade profissional, enquanto tra-balho sexual afastando a sua “defini-ção” de actividade redutora, desviante e marginalizante. •

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JUP — DEZEMBRO 2011 DEVANEIOS 19

ilust

raçã

o A

rtu

r Es

carl

ate

Eu simplesmente expectante,Morto de inveja dos que odeio,Cínico? Não, apenas relutanteDa forma vil como repulso qualquer devaneio. Sou eu, simplesmente adormecido,Desligado daquilo que um dia me fez feliz,Destruo tudo o que até agora tenho construídoDeixando que a felicidade passe apenas por um triz. Sou um amante inconformado,Á procura desse amor que não parece existir.És como uma droga á qual estou agarrado,Uma droga da qual não quero desistir. Este é o meu grito de revolta,Grito de quem quer e não pode ter,Porque me revolto com tudo aquilo que está á minha volta,Por não conseguir ser, tudo aquilo que sonho ser. Então deixo-me ficar assim,Um pseudo-poeta inundado de uma paixão ardente,Com tanta merda, ás vezes nem sei o que vai ser de mim,Que acho que depois de tanta porrada, o meu coração já nem sente. E então deixo-me ficar assim,Adormecido, Desligado, Destrutivo e Inconformado,Porque o Amor, pelos visto tem sempre o fim,E ao menos esses sentimentos, ficam sempre ao meu lado. E sou eu assim, um Pseudo-Poeta Inconformado...

Rui Silva

Page 32: JUP Dezembro 2011

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anos depoiso JUP aindaprecisa de ti

opinião • educação • cultura • sociedade internacional/economia • desporto

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