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O Prof. Dr. Franco Maria Lajolo, chair do Conselho Científico de Administração do ILSI Brasil, foi o vencedor do Prêmio Péter Murányi, 2016 Alimentação, pelo trabalho “Bases Moleculares das Transformações Pós-Colheita e Qualidade de Frutas”, de sua autoria ao lado da Profa. Dra. Beatriz Rosana Cordenuns e Prof. Dr. João Roberto Oliveira do Nascimento, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. “Foi um privilégio receber o prêmio. É o resultado de pesquisas de longo prazo do nosso grupo, sobre o controle genético das transformações pós- colheita e seu impacto na conservação e qualidade em frutas, importantes como base para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras de conservação”, comentou Prof. Franco. A Fundação Péter Murányi, criada em 1999, anualmente, reconhece e premia pesquisadores e cientistas, que com seus trabalhos, de qualquer parte do mundo e de forma inovadora, que tenham se destacado na descoberta ou progresso científico, que transformam a realidade, melhorando a qualidade de vida das populações em desenvolvimento. Contempla alternativamente as áreas de Alimentação, Educação, Saúde e Desenvolvimento Científico & Tecnológico. Com o tema transversal Olimpíadas, os participantes do VII Congresso ILSI Brasil encararam o espírito esportivo. A programação exigiu muito fôlego e concentração, em abordagens pelo universo da ciência dos alimentos, inovação, segurança e qualidade de vida. O revezamento entre as palestras fez com que coordenadores e convidados tivessem um amplo poder de síntese, diante das abordagens e questionamentos sobre o legado e os riscos dos grandes eventos, sob o olhar científico. E não faltou emoção no depoimento da triatleta Fernanda Keller, que encerrou o evento, e na homenagem a Dr.Aldo Baccarin, que se despediu da presidência do ILSI Brasil, após 15 anos, deixando o desafio de continuidade para este trabalho que se renova a cada dia. Descontração com o chorinho do Grupo do Conservatório de Tatuí, boa conversa e planos para o próximo congresso, completaram esta maratona de conhecimento. Ano 24 | nº 2 | abril a junho de 2016 Destaque desta edição: Cobertura completa do Congresso ILSI Brasil Reconhecimento merecido Um legado a ser seguido Prof. Dr. Franco M. Lajolo recebendo o prêmio Peter Murányi 2016 – Alimentação. Homenagem e confraternização: Ary Bucione, Dr. Aldo Baccarin, Flavia Goldfinger, Prof. Dr. Franco Lajolo, Kátia Schmider e Dr. Flavio Zambrone Apresentação do Conservatório de Tatuí Happy hour patrocinado pela Heineken

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O Prof. Dr. Franco Maria Lajolo,

chair do Conselho Científico de

Administração do ILSI Brasil, foi o vencedor do Prêmio Péter

Murányi, 2016 – Alimentação,

pelo trabalho “Bases Moleculares

das Transformações Pós-Colheita

e Qualidade de Frutas”, de sua

autoria ao lado da Profa. Dra. Beatriz

Rosana Cordenuns e Prof. Dr. João

Roberto Oliveira do Nascimento, da

Faculdade de Ciências Farmacêuticas

da Universidade de São Paulo. “Foi um privilégio receber o

prêmio. É o resultado de pesquisas de longo prazo do nosso

grupo, sobre o controle genético das transformações pós-

colheita e seu impacto na conservação e qualidade em frutas,

importantes como base para o

desenvolvimento de tecnologias

inovadoras de conservação”,

comentou Prof. Franco.

A Fundação Péter Murányi,

criada em 1999, anualmente,

reconhece e premia pesquisadores

e cientistas, que com seus trabalhos,

de qualquer parte do mundo e

de forma inovadora, que tenham

se destacado na descoberta

ou progresso científico, que

transformam a realidade, melhorando a qualidade de vida das

populações em desenvolvimento. Contempla alternativamente

as áreas de Alimentação, Educação, Saúde e Desenvolvimento

Científico & Tecnológico.

Com o tema transversal Olimpíadas, os participantes

do VII Congresso ILSI Brasil encararam o espírito esportivo.

A programação exigiu muito fôlego e concentração, em

abordagens pelo universo da ciência dos alimentos, inovação,

segurança e qualidade de vida. O revezamento entre as palestras

fez com que coordenadores e convidados tivessem um amplo

poder de síntese, diante das abordagens e questionamentos

sobre o legado e os riscos dos grandes eventos, sob o olhar

científico. E não faltou emoção no depoimento da triatleta

Fernanda Keller, que encerrou o evento, e na homenagem

a Dr.Aldo Baccarin, que se despediu da presidência do ILSI

Brasil, após 15 anos, deixando o desafio de continuidade para

este trabalho que se renova a cada dia. Descontração com o

chorinho do Grupo do Conservatório de Tatuí, boa conversa e

planos para o próximo congresso, completaram esta maratona

de conhecimento.

Ano 24 | nº 2 | abril a junho de 2016

Destaque desta edição: Cobertura completa do Congresso ILSI Brasil

Reconhecimento merecido

Um legado a ser seguido

Prof. Dr. Franco M. Lajolo recebendo o prêmio Peter Murányi 2016 – Alimentação.

Homenagem e confraternização: Ary Bucione, Dr. Aldo Baccarin, Flavia Goldfinger,Prof. Dr. Franco Lajolo, Kátia Schmider e Dr. Flavio Zambrone

Apresentação do Conservatório de Tatuí Happy hour patrocinado pela Heineken

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A manutenção de um fórum permanente de atualização de conhecimentos técnico-científicos que contribuem para a saúde da população e são de interesse comum às empresas, governos, universidades e institutos de pesquisa. Este é o principal objetivo do International Life Sciences Institute (ILSI), associação sem fins lucrativos, com sede em Washington, D.C., nos Estados Unidos, e seções regionais na América do Norte, Argentina, Austrália, Brasil, Europa, Japão, México e Sudeste Asiático. No Brasil, o ILSI colabora para o melhor entendimento de assuntos ligados à nutrição, segurança alimentar, toxicologia e meio ambiente, reunindo cientistas do meio acadêmico, do governo e da indústria.

ILSI no mundo e no Brasil

editorial

Diretoria / ConselhoPresidente do Conselho Científico e de Administração (Chair)Dr. Franco Lajolo (FCF - USP)

Vice-Presidente do Conselho Científico e de Administração (Vice-Chair)Dr. Flavio Zambrone (IBTOX)

PresidenteAry Bucione (Du Pont)

Vice-Presidente e Diretor FinanceiroIlton Azevedo (Coca-Cola)

DiretoriaAdriana Matarazzo (Danone)Alexandre Novachi (Mead Johnson)Elizabeth Vargas (Unilever)Dr. Hélio Vannucchi (FM USP / RP)Kathia Schmider (Nestlé)Dra. Maria Cecília Toledo (FEA - UNICAMP)Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP)Dr. Paulo Stringheta (UFV)

Diretora ExecutivaFlavia Goldfinger

Conselho Científico e de AdministraçãoAdriana Matarazzo (Danone)Alexandre Novachi (Mead Johnson)Amanda Poldi (Cargill)Ary Bucione (Du Pont)Dra. Bernadette Franco (FCF - USP)Dr. Carlos Nogueira de Almeida (FM - USP / RP)Deise M. F. Capalbo (EMBRAPA)Dra. Elizabeth Nascimento (FCF - USP)Elizabeth Vargas (Unilever)Dr. Félix G. Reyes (FEA - UNICAMP)Dr. Flavio Ailton Duque Zambrone (IBTOX)Dr. Franco Lajolo (FCF - USP)Dr. Hélio Vannucchi (FM - USP / RP)Ilton Azevedo (Coca-Cola)Dra. Ione Lemonica (UNESP / Botucatu)Dr. Jaime Amaya-Farfan (FEA - UNICAMP)Dr. João Lauro Viana de Camargo (UNESP / Botucatu)Karen Cristine Ceroni Cazarin (Basf S/A)Kathia Schmider (Nestlé)Dra. Maria Cecília Toledo (FEA - UNICAMP)Mary Carmen Mondragon (General Mills)Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP)Othon Abrahão (Futuragene)Dr. Paulo Stringheta (UFV)Dr. Robespierre Q. da Costa Ribeiro (Sec. do Estado de Minas Gerais)Taiana Trovão (Mondelez)Tatiana da Costa Raposo Pires (Herbalife)

ExpedientePublicaçãoInternational Life Sciences Institute ILSI BrasilRua Hungria, 664 Cj. 113 – 01455-904 – São Paulo-SPtel.: 11 3035-5585 – e-mail: [email protected] EditorialDra. Maria Cecília Toledo, Edna Vairolettie Flavia GoldfingerEditora ExecutivaFlavia GoldfingerRedaçãoEdna VairolettiProdução gráficaDagui Design

Circulação externaTiragem de 2.000 exemplaresDireitos reservados ao ILSI Brasil

Nova etapaA sétima edição do congresso

ILSI Brasil foi marcada por novidades e mudanças. Felizmente positivas. Os novos gestores na presidência administrativa e acadêmica assumiram oficialmente seus cargos e se despediram do Dr. Aldo Baccarin, que dedicou uma década e meia ao instituto e passou a responsabilidade aos seus sucessores de continuar a consolidar a imagem do ILSI Brasil e encarar cada desafio pensando sempre em todas as possibilidades.

Afinal, cada etapa tem suas peculiaridades, não pensando apenas na forma de conduzirmos o instituto internamente, mas de estarmos abertos pra um olhar amplo para os avanços da ciência e como reverter estas descobertas a favor da sociedade. Esta é nossa principal missão.

Nunca é demais agradecer aos que possibilitaram que o evento acontecesse com êxito e elogios. Jamais esperamos ser perfeitos. Impossível. Mas oferecermos o que há de melhor dentro do que nos propomos, com uma escolha de temas de interesse e palestrantes capazes de trazer ideias novas e estimular nossas dúvidas. Com certeza isso aconteceu. Palestras com sala cheia e disputa para fazer perguntas.

Não faltaram os momentos de confraternização. No hotel, o ar do campo era convidativo para relaxar. Mesmo que o tempo tenha sido pouco, foi possível ouvir boa música, rever amigos, conversar, saborear petiscos e brindar, depois de um dia de trabalho.

Agora é hora de mirar em frente e organizar os próximos eventos. Também ficamos devendo a cobertura dos cafés da manhã, que por conta do congresso têm seus registros na página 7.

Estamos começando uma nova jornada e a participação de todos é fundamental para que o ILSI Brasil continue a trilhar um caminho de

conquistas.

Flavia GoldfingerDiretora Executiva

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congresso

Esporte e ciência: novas descobertasO VII Congresso e Reunião

Anual do ILSI Brasil reuniram mais de 100 participantes, em abril, em Cesário Lange, interior de São Paulo, para discutir questões transversais de um dos mais importantes acontecimentos do país em 2016, as Olimpíadas. O tema foi escolhido como pano de fundo para chamar a atenção para a importância da tecnologia de alimentos em grandes eventos, sob o viés da inovação, segurança e qualidade de vida.

“É importante ressaltar que esta convergência de assuntos proporcionou a oportunidade de um amplo debate que ultrapassa a fronteira da ciência e suas implicações. Possibilita enxergar novos horizontes no papel da indústria e seus processos, os benefícios das inovações tecnológicas, o gerenciamento de potenciais riscos e crises, os rumos da biotecnologia, os avanços genéticos, as soluções sustentáveis, a redução de desperdícios, que se somam a tantos outros desafi os e descobertas. Este foi o propósito maior do nosso encontro”, detalha Prof. Dr. Franco Lajolo, presidente do congresso ao lado da Dra. Kathia Schmider.

Para alinhar tantos pontos relevantes, Dr. Gonzalo Vecina Neto, do Hospital Sírio Libanês, pontuou que a inovação e regulação mantêm uma profunda relação com a economia, quando se

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O VII Congresso e Reunião Anual do ILSI Brasil reuniram mais de 100 participantes, em abril, em Cesário Lange, interior de São Paulo, para discutir questões transversais de um dos mais importantes acontecimentos do país em 2016, as Olimpíadas. O tema foi escolhido como pano de fundo para chamar a atenção para a importância da tecnologia de alimentos em grandes eventos, sob o

“É importante ressaltar que esta convergência de assuntos

pensa em vigilância sanitária, pois envolve quem produz e quem consome. E neste contexto, os avanços tecnológicos causam importante impacto e, particularmente, a Tecnologia da Informação tem sido relevante para todas as áreas da ciência se desenvolverem. Vive-se o momento da ciência integrativa, num mundo que se transforma com rapidez e exige um comprometimento e discussão de toda sociedade, inclusive na área regulatória. ”A regra vem depois de a ciência chegar lá”, salientou.

Há pontos críticos, como fi nanciamentos em pesquisas e desenvolvimento, capacitação dos recursos humanos, investimentos estrangeiros no país e inovação. “A área de alimentos escapou da crise por causa da EMBRAPA, na interação de conhecimento, uma exceção à regra. Mas é possível fazer um país melhor, com um ambiente regulatório mais seguro e sensível à sociedade e um Brasil mais transparente, de gente que quer um país diferente e que possa contribuir para esta construção”.

Palestra de abertura – “Inovação e Regulação”Dr. Gonzalo Vecina Neto (Hospital Sírio Libanês)

No tripé alimentação, desempenho e saúde dos atletas, a relação genômica e atividade física é um dos focos que tem despertado interesse nos estudos que apontam que alterações na sequencia de DNA (polimorfi smos) provocam alterações nos níveis de expressão gênica e na translação de proteínas e, portanto, infl uenciam a função e o fenótipo, observou Dr.Igor Lucas G. dos Santos, do INCOR- HCFMUSP. Porém, este cenário

PAINEL 1 – Nutrição, performance física e qualidade de vida

é composto de muitas variantes, como genótipo, população, individualidade e mecanismos compensatórios. A Genômica da atividade física tem potencial para fazer contribuições substanciais para a compreensão e otimização de modelos de exercício físico. Contudo, isso ainda não está acontecendo, pois é preciso uma mudança de paradigma. Um dos caminhos é partir das análises genômica de populações ampla e uso de ferramentas de transcriptômica, proteômica, metabolômica e então buscar traços genéticos populacionais.

O uso da informação genética também tem sido a principal ferramenta para o projeto Atletas do Futuro, da UNIFESP (SP), que mantém um banco de genes dos atletas brasileiros de elite. O uso deste conhecimento busca responder como o gene e outros fatores como treinamento, nutrição, força de vontade e meio ambiente podem impactar na performance física. Segundo Dr. João Bosco Pesquero, da UNIFESP, o objetivo é aplicar as descobertas da genômica personalizada no esporte, para que o indivíduo possa ser orientado na escolha da modalidade, na prevenção de lesões, no aumento da sua vida útil como atleta,

Painel 1 – ”Nutrição, performance física e qualidade de vida” – Dr. João Bosco Pesqueiro (UNESP), Dr. Bruno Gualano (EEFE USP) e Dr. Igor dos Santos (InCor HCFMUSP)

Coordenação: Dr. Hélio Vannucchi (FMRP)

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congresso

na segurança do seu desempenho e como identificar pontos de risco, como uma morte súbita, por exemplo. Sabe-se que vários genes interferem na atividade física e alguns têm efeito decisivo, como o de velocidade, mas só a partir deste conhecimento mais apurado será possível modelar a habilidade atlética.

Já as estratégias nutricionais podem modificar o desempenho para melhor ou pior, pois a resposta dos atletas varia em relação

PAINEL 2 – Avanços Científicos em Segurança de Alimentos

a cada nutriente, salientou Dr. Bruno Gualano (EEFE-USP). Uma dieta adequada – sem excessos e restrições extremas – é um dos fatores influenciadores no desempenho e o uso dos suplementos nutricionais segue a mesma regra. Os suplementos eficazes são raros, promovem ganhos marginais e apresentam resposta variável. Deve se considerar que, embora relevantes, os estudos precisam ser avaliados criticamente.

Ter cuidado com o que se come deveria fazer parte da rotina de todos, mas esta atenção precisa ser redobrada quando se pensa nas toneladas de alimentos nos grandes eventos, como as Olimpíadas, e os riscos de contaminação que são proporcionais. A situação é alarmente. Se pensarmos que nos Estados Unidos, 1 em cada 6 pessoas, por ano, fica doente por conta da contaminação de alimentos e só as infecções por salmonela geram gastos médicos de US$365 milhões.

Estes dados mostram a alta prevalência das doenças veiculadas por alimentos, o que exige estratégias de controle, como a educação do consumidor, tecnologia e inovação e aplicação de novas técnicas de conservação, além da adoção de boas práticas nos processos industriais.

Hoje se sabe que as bactérias não se comportam como células individuais, mas em colônias, e possuem um mecanismo de comunicação (Quorum Sensing), processo pelo qual estes micro-organismos regulam sua densidade populacional, através de sinalização química, capazes de induzir diversas alterações, que as auxiliam na coordenação do seu comportamento. A busca de estratégias de inibição deste mecanismo é promissora para se criar novas metodologias para controle e devem auxiliar no “desarmamento” microbiano, aumentando a segurança dos alimentos, salientou Dr. Uelinton Pinto, da FCF-USP.

Neste contexto, outra ferramenta é a microbiologia preditiva. Dra Bernadette Franco, da FCF-USP, observou que, apesar de utilizada há décadas, só nos anos 2000 passou a ter outras aplicações, no desenvolvimento de novos produtos, processos, determinação de vida de prateleira, previsão das consequências de falhas no armazenamento, transporte, distribuição, eficiência da higiene no processamento, modificação de formulações e identificação de pontos críticos de controle nos processos.

Considerando que a resposta dos microorganismos aos fatores ambientais é reprodutível, ao conhecê-la é possível predizer ou modelar sua forma de agir em ambientes similares, tanto para multiplicação, como inativação microbiana. Além disso, alguns fatores afetam o comportamento microbiano. Uns peculiares aos alimentos, outros externos, como os ambientais, e os inerentes ao próprio micro-organismo.

Na construição de modelos, com um software, se pode predizer o comportamento microbiano, num conjunto de variáveis agindo ao mesmo tempo, em determinado tipo de alimento e

nas condições que se definiu para pesquisa. Assim estes modelos podem ser muito úteis para melhorar a segurança e a qualidade dos alimentos.

A prevenção e gerenciamento de crises nos eventos de massa também exigem atenção especial, pois mobiliza milhares de pessoas de várias países, ampliando a possibilidade de introdução e disseminação de novas doenças, por exemplo.Todos os envolvidos devem estar capacitados para detectar potenciais riscos, especialmente na contaminação dos alimentos, destacou a consultora Dra Denise Resende. A estratégia é a integração dos serviços num único plano de ação, para minimizar os riscos e a intervenção ser a mais rápida possível. O abuso de álcool, desastres naturais, consumo de alimentos em condições inadequadas de higiene, sobrecarga nos serviços de saúde e violência fazem parte deste contexto a ser monitorado.

Outro ponto relevante é o risco da contaminação intencional. O contaminante químico, substância que não é um dos componentes naturais do alimento, pode se tornar parte dele durante sua produção, processamento e/ou armazenamento, em razão de fatores naturais ou artificiais e que revelem risco para a saúde. O processo de contaminação de forma intencional ou não, pode ocorrer da fazenda até o consumidor, numa trajetória com várias etapas e manejos distintos. Segundo Dr. Flavio Zambrone, do Instituto Brasileiro de Toxicologia, o desafio é a percepção deste risco e implementar ações preventivas para garantir a segurança. Mas infelizmente, num evento de grande porte como as Olimpíadas, o país ainda não possui condições técnicas e financeiras para dar suporte numa emergência deste tipo. Por isso, o caminho é a prevenção.

Painel 2 – “Avanços Científicos em Segurança de Alimentos” – Dra. Maria Cecília Toledo (UNICAMP), Dra. Denise Resende, Dra. Bernadette Franco (FCF USP),

Dr. Uelinton Pinto (FCF USP) e Dr. Flavio Zambrone (IBTox).

Coordenação: Dra. Maria Cecília Toledo (UNICAMP)

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congresso

PAINEL 3 – O papel da Ciência e Tecnologia de Alimentos

PAINEL 4 – Novas aplicações em Biotecnologia

Painel 3 – “O Papel da Ciência e Tecnologia de Alimentos” –Dr. Gustavo Barbosa-Cánovas (Universidade de Washington), Dr. Luis Fernando Madi (ITAL),

Dra. Claire Sarantopolous (ITAL) e Dr. Paulo Stringheta (UFV)

A indústria brasileira de alimentos e bebidas tem um papel relevante na economia. Dados de 2014, da ABIA, registram 33,5 mil empresas, com investimentos de R$11,7 bilhões e um faturamento na casa de R$529,6 bilhões. O varejo é o principal canal de distribuição e as mudanças de hábitos no consumo alimentar do brasileiro, na busca por produtos mais naturais e alimentação fora do lar, tem mobilizado o setor. Para Dr. Luis Fernando Madi, do ITAL, é consenso, porém, a necessidade de se investir mais em pesquisa orientada para resultados, para que se possa aumentar a competitividade. Ao mesmo tempo o consumidor precisa ser melhor esclarecido para que se sinta mais seguro, diante do bombardeio de informações que recebe de dezenas de fontes sobre nutrição e sua relação com o processamento de alimentos.

A inovação e processamento de alimentos passam, portanto, pela busca constante do consumidor por qualidade e o maior desafio é oferecer alternativas, diante de um mundo sustentável, que não estava em voga na agenda há 30 anos. Segundo Dr. Gustavo Barbosa-Cánovas, da Washington State University, o sistema alimentar evoluiu e hoje é global, de grande dimensão e complexidade. Por isso, há o compromisso dos profissionais da ciência de alimentos e de engenharia, para avançar, mas garantindo um abastecimento seguro e abundante, e contribuindo para a saúde das pessoas. A sustentabilidade se insere no sistema de produção de alimentos e matérias-primas e há a necessidade de uma abordagem integrada, que considere a escassez relacionada aos recursos naturais, como solo, água, nitrogênio e fósforo, questões como as alterações climáticas e a biodiversidade, além do crescimento demográfico. As projeções sugerem que, até 2030, deveremos produzir cerca de 50% a mais de alimentos. A indústria terá que suprir esta demanda e adotar novos recursos tecnológicos para racionalizar seus processos e reduzir custos, entregar alimento de qualidade e “amigo” do meio ambiente.

A tecnologia também é uma aliada nas inovações das embalagens, que irão atender o consumidor do futuro e já estão sendo adotadas por algumas empresas, aliando conceitos de conveniência, confiança, durabilidade, bem-estar, sustentabilidade e maior valor agregado ao produto. Dra Claire Sarantopoulos, do ITAL, detalhou que nas embalagens ativas, uma série de tecnologias permite que elas interajam com o produto diretamente ou por meio do seu espaço livre, para aumentar a vida útil ou manter ou melhorar a qualidade e a segurança de alimentos, bebidas e medicamentos.

Entre as possibilidades estão as embalagens com atmosfera modificada, absorvedores de oxigênio, etileno, umidade, líquido, CO

2, de odor estranho, emissores CO

2, etanol, vapores

orgânicos, antimicrobianas, self heating e self cooling. Estes recursos permitem o controle da degradação de produtos frescos, excesso de umidade e redução de odores desagradáveis. Já as embalagens inteligentes monitoram e comunicam informações sobre o produto e/ou embalagem e/ou ambiente da embalagem ao consumidor, varejista ou produtor. Normalmente é um acessório incorporado à embalagem interna ou externamente, como indicadores de temperatura, frescor, oxigênio, integridade, sistemas antiviolação, microrganismos, antifurto, antifalsificação, rastreabilidade e identificação.

As aglomerações de pessoas e aumento de lixo servem de alerta para outro problema de saúde pública: as doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti, alertou Dra Margareth Capurro, do ICB-USP. Ela descreveu a implantação de uma das práticas inovadoras no combate ao mosquito, através do PAT – Projeto Aedes Transgênico, que visa controlar a transmissão da doença produzindo linhagens de mosquitos geneticamente modificados (OGM), capazes de suprimir populações naturais do mosquito transmissor. Os resultados em regiões da Bahia foram positivos, mas há a necessidade de investimentos constantes no projeto.

Uma das cidades que adotou a iniciativa foi Piracicaba, no interior de São Paulo, por registrar epidemias constantes de

dengue e ter dificuldade de eliminar os criadouros. O projeto batizado de “Aedes aegypti do Bem”, depois de uma ampla campanha, trabalho ativo de agentes terceirizados em mutirões para coleta de lixo e ação intensiva dos órgãos municipais, obteve apoio da população. Numa região piloto, foi implantado em 2015 com uma redução de 82% das larvas na área controle e deve se expandir para outras áreas, anunciou Rodrigo Guidi, da Secretaria de Saúde de Piracicaba.

Outro ponto de estudo são as aplicações das novas técnicas de edição genética, que passam pela Engenharia Genética de Precisão. São metodologias que permitem a modificação de uma sequência genômica de forma precisa, específica e sítio dirigido.

Coordenação: Dr. Paulo Stringheta (UFV)

Coordenação: Dr. Flavio Finardi Filho (FCF - USP)

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Segundo Dr. Paulo Lee Ho, do Instituto Butantan, a recombinação gênica nos últimos 10 anos permitiu a maior velocidade nestas edições e já é possível hoje fazer cortes precisos nas sequências de DNA de forma a reparar e inserir outros genes, abrindo amplo potencial para cuidar de doenças graves, por exemplo. Porém, deve se considerar aspectos técnicos, morais e éticos quando se tem em mãos recursos onde o “céu é o limite”. Essas técnicas terão impacto importante para o desenvolvimento de alimentos transgênicos, biofármacos, medicina personalizada, doenças genéticas, bem como nos aspectos regulatórios envolvidos.

Painel 4 – “Novas Aplicações em Biotecnologia” –Rodrigo Guidi (Secretaria de Saúde de Piracicaba), Dr. Paulo Lee Ho (Instituto Butantan), Dra.

Margareth Capurro (ICB USP) e Dr. Flavio Finardi Filho (FCF USP).

PAINEL 5 – Sustentabilidade em Alimentos

O desperdício de alimentos entra na pauta dos grandes eventos como outra preocupação. Dra. Patrícia Barbieri, da Fundação Prato Cheio, mostrou que um terço de todos os alimentos para consumo humano, aproximadamente de 1,3 bilhão de toneladas, é desperdiçado por ano no mundo, juntamente com a energia, água e produtos químicos necessários para produzi-la e descartá-la. Enquanto isso 850 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Dessas, 52 milhões estão em estado de insegurança. Neste cenário, o Brasil é um dos 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo. Esta perda acontece do campo à mesa: 10% dos alimentos se perdem na colheita, 50% no manuseio e transporte, 30% nas centrais de abastecimento e 10% nos supermercados e casa dos consumidores.

Para redução das perdas no campo, já há a preocupação com a qualidade e uso de métodos não destrutivos pós-colheita, como análise da coloração, com visão computacional, espectroscopia NIR (infravermelho próximo), tomografias, capazes de identificar alterações até mesmo na semente. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Para o Dr. Gustavo H. A. Teixeira, da

UNESP Jaboticabal, somente quando os consumidores estiverem dispostos a pagar mais por frutas superdoces, por exemplo, é que os distribuidores e as casas de embalagens sentirão necessidade de adquirir equipamentos e mudarão seus sistemas, que até então são quase que exclusivamente baseados na aparência externa.

Painel 5 – "Sustentabilidade em Alimentos" – Dr. Gustavo H. A. Teixeira (UNESP Jaboticabal)e Dra. Patrícia Barbieri (Fundação Prato Cheio)

A triatleta Fernanda Keller, única a disputar o Campeonato Mundial de Ironman, no Havaí, por 22 anos seguidos e agora, com 52 anos, chegou à sua 25ª competição, fez um depoimento emocionante no encerramento do congresso, onde destacou sua vontade de vencer, dedicação e os exemplos de persistência que encontrou em sua trajetória profissional.

A campeã ressaltou que tudo muda em uma fração de segundo, na vida e no esporte. Por isso, não se pode parar diante dos obstáculos. “O atleta tem quase um sacerdócio e precisa abrir mão de muita coisa da sua vida pessoal. É um processo de perdas e ganhos e quando se representa o país a cobrança ainda é maior. É preciso acreditar em você, ter força e saber o que se pode fazer para transformar com o esporte. Assim como nas pesquisas, se têm desafios a serem superados e jamais se deve desistir, quando há a convicção que o resultado pode fazer bem para muitas pessoas.”

Lição de Perseverança

Coordenação: Dra. Deise Capalbo (EMBRAPA)

Coordenação: Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP)

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café da manhã

Soja e seus mitos

Ácidos graxos no início da vida

Aditivos alimentares e o debate no CODEX

“Os Benefícios do Consumo da Proteína da Soja ao Longo da Vida” foi abordado pela Dra. Ratna Mukherjea, presidente do Soy Nutrition Institution e líder global em Ciência da Nutrição, da DuPont Nutrição & Saúde (EUA) que atua nas áreas de síndrome metabólica, controle de peso e a saúde do músculo em jovens e idosos. O evento foi e conduzido pelo Prof. Dr. Franco Lajolo, da USP e coordenador científi co da FT de Funcionais.

Ela observou que a proteína da soja é comparável às do leite e do ovo, quanto à sua qualidade, e mesmo em relação a outras proteínas vegetais, por sua composição de aminoácidos e digestibilidade, sendo uma importante fonte alternativa quando se pensa em alimentação global. Se analisadas as faixas etárias, a soja é uma opção proteica importante na primeira infância para os alérgicos ao leite e até as fórmulas infantis. Entre 2 e 5 anos, cresce a demanda por aminoácidos, se inicia a alimentação sólida e a soja pode enriquecer snacks e bebidas, por exemplo. A proteína promove, ainda, o desenvolvimento cognitivo e adequado do cérebro e, inserida numa dieta saudável até a adolescência, pode trazer benefícios ao longo da vida.

Entre os adultos, a proteína de soja pode auxiliar na “construção” muscular em atletas e estudos investigam a sua combinação com a caseína, para o aumento da massa muscular. É, ainda, relevante para a saúde do coração, quando aliada a uma dieta balanceada e exercícios físicos, por gerar a redução de lipídeos no sangue, da pressão arterial e risco de doenças cardiovasculares. Outras áreas de interesse são o controle glicêmico e o bom funcionamento renal. Dra. Ratna destacou que a forma do alimento é menos importante do que a composição nutricional e a quantidade da proteína disponível, e que é preciso esclarecer certos mitos que ainda são empecilhos para o maior consumo.

Dr. Philip Calder, Prof. de Imunologia Nutricional pela Faculdade de Medicina da Universidade de Southampton, Reino Unido, abordou o tema “Os ácidos graxos para apoiar o desenvolvimento no início da vida”, no café da manhã, promovido pela FT Nutrição da Criança, sob a coordenação do Prof. Dr. Cláudio Leone, da Faculdade de Saúde Pública – USP e do Prof. Dr. Rubens Feferbaum, do Instituto da Criança – USP.

Ele observou que, apesar dos diferentes tipos de ácidos graxos – ARA, DHA, EPA - estas gorduras são sempre usadas como fonte de energia, incorporadas em vários tecidos. São sua estrutura e natureza – cadeias de distintos comprimentos e formas – que vão determinar suas propriedades e ação no organismo. Porém, independente do tipo, estes ácidos usam as mesmas enzimas e competem entre si, sendo por isso essencial o equilíbrio entre eles para se ter um benefício para saúde, principalmente no sistema nervoso central, cérebro e retina.

Por não serem produzidos pelo organismo, os alimentos são sua principal fonte e, no caso das crianças, o leite materno é essencial por conter alguns destes ácidos, importantes na primeira infância, pois contribuem para as funções cerebrais nesta etapa fundamental do desenvolvimento. Durante a gestação, o consumo desses ácidos é recomendado, pois há um mecanismo de transporte, através da placenta, e o bebê armazena estes ácidos no seu tecido adiposo, que poderá ser usado como fonte de energia pós-nascimento. Durante a amamentação a dieta da mãe - rica ou não em ácidos graxos – também infl uencia na nutrição do bebê, que tem uma maior habilidade de sintetizar estes ácidos graxos nos primeiros meses de vida.

Num bate-papo técnico, mas didático, promovido pela FT Food Safety, a Dra. Maria Cecília Toledo, da UNICAMP, integrante da delegação brasileira, traçou um panorama geral da 48ª Reunião do Comitê do CODEX sobre Aditivos Alimentares, que aconteceu em março, em Xian, na China, com destaque para presença da Rússia e de vários países do continente africano. Alguns temas já estão em debate há quase uma década e, a cada ano, entram novamente na pauta até que a discussão se esgote e possa se chegar a um consenso.

O encontro tem uma agenda complexa, que refl ete os debates que acontecem ao longo do ano, de forma virtual. O report do grupo de trabalho presencial sobre a Norma Geral de Aditivos, que se reúne antes da Plenária, aponta suas recomendações a serem postas em debate, além dos temas de competência de outros grupos de trabalho, cujas reuniões ocorrem nos horários livres. “É uma convergência de informações, opiniões, defesa de posição dos países, que envolve algumas vezes questões políticas e ou econômicas, além das técnicas. É o equilíbrio entre estes lados que dá o ritmo aos processos de aprovação de novos aditivos ou de outros usos ou exclusão dos já existentes”, comenta Dra. Maria Cecília.

Renata de Araújo Ferreira e Diego Botelho, da ANVISA, Ester Aguiar e Péricles Fernandes, do MAPA, também fi zeram parte da delegação.

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www.ilsi.org.br

especial

entrevista: Flavio Zambrone

Por que é importante assumir este novo cargo?Na prática não se trata de um novo cargo e sim de um processo de reestruturação do ILSI Brasil, com o objetivo de deixar nossa organização mais próxima dos outros ILSIs. Este é um desejo antigo da instituição, visto que esta nova estrutura valoriza a participação da comunidade científica no gerenciamento do ILSI Brasil e aproxima ainda mais os representantes da indústria. Mudanças são sempre um desafio, mas esta foi bem recebida e apoiada pelos colegas do ILSI.

Qual seu papel na atual estrutura do ILSI Brasil?Será o de ajudar o presidente do CCA, Prof. Dr. Franco Lajolo e a diretoria do ILSI, na sua missão de integrar a academia, governo e indústria nas questões científicas de relevância para saúde pública. É necessário incentivar a participação dos cientistas do governo, que têm muito a contribuir neste processo. Fortalecer a imagem do ILSI Brasil junto aos stakeholders é fundamental neste momento.

Comente seu trabalho no ILSI Brasil e Internacional e quais os desafios atuais.Comecei no ILSI Brasil em 1998 e no ILSI Internacional em 2006. No ILSI Brasil, trazido pelo prof. Waldemar Almeida, primeiro diretor executivo, sempre colaborei na área de agroquímicos e avaliação do risco. No ILSI Internacional ocupo uma posição no Board e no Comitê Executivo, como secretário. Além da oportunidade única da convivência científica com os colegas, as tarefas administrativas me trouxeram uma boa experiência. Como membro efetivo de alguns comitês, onde inúmeros assuntos são discutidos, com a participação de importantes colegas da academia, do governo e da indústria, hoje posso contribuir com meus conhecimentos. Mas certamente o ILSI Brasil e o ILSI internacional me propiciaram inúmeras oportunidades acadêmicas e institucionais.

Como avalia o apoio do ILSI à pesquisa científica?O papel do ILSI é de catalizador e apoiador das pesquisas científicas nas áreas de interesse da sociedade. O apoio não deve ser entendido como apoio financeiro. Não é papel primordial do ILSI financiar pesquisas, mas sim viabilizá-las. Eventualmente, o financiamento pode estar presente, mas não é a regra. A busca por assuntos emergentes e que interessam a sociedade tem sido uma constante, tanto no ILSI Brasil como nos demais. O desafio de viabilizar os meios necessários para uma pesquisa,

ou mesmo para a revisão de um tema, envolve credibilidade, persistência e isenção de propósitos. Isto é o que se espera do ILSI nesta discussão.

Quais os riscos da falta de estímulo à pesquisa no país?Não há falta de estímulo às pesquisas científicas no Brasil. O que há é a falta de dinheiro e muitas vezes de bons projetos. Instituições como o CNPq, a FAPESP e outras, são respeitadas e estimulam a pesquisa. Os recursos não são ilimitados, cabendo aos pesquisadores, seja da academia, ou da iniciativa privada, o papel de elaborarem bons projetos.

Por que vários pesquisadores brasileiros têm seu trabalho reconhecido só depois que atuam no exterior?Não tenho esta percepção. Inúmeros pesquisadores brasileiros, trabalhando aqui, são respeitados no mundo inteiro. Pagamos o preço de vivermos em um país em desenvolvimento, onde, como já mencionei, os recursos são escassos e muitas vezes mal utilizados. Isso impacta nas condições de trabalho e certamente influencia na percepção que o reconhecimento é mais fácil quando se está fora do país. Isto, porém, não me parece verdadeiro.

A indústria e universidades deveriam se unir no incentivo às pesquisas?

Sim. Este é o modelo que vem sendo adotado em muitos países e que tem trazido ótimos resultados. A indústria e as universidades vivem das pesquisas e são, via de regra, competentes nesta atividade. O desafio é conjugar os interesses das duas partes. Eu ainda incluiria o governo como parte importante neste processo. Em suma, estamos falando do papel que o ILSI se propõe a fazer, colocar na mesma mesa as três partes e buscar as áreas de interesse comum.

Quais suas perspectivas e projetos para o ILSI Brasil em 2016?Acredito que este ano será muito positivo. As mudanças internas, certamente trarão novas ideias e desafios. Além dos projetos já em andamento, espero que em 2016 nós possamos consolidar as atividades das Forças-Tarefas e, sobretudo, estreitar a relação com os outros ILSIs da América Latina e com o ILSI Internacional. Temos muitos problemas em comum e, para alguns, as soluções e experiências poderiam ser compartilhadas, economizando esforços, tempo e recursos.

Atuante no ILSI Brasil, desde 1998, e no ILSI Internacional, a partir 2006, onde ocupa a posição no Board e no Comitê Executivo, como secretário, Dr. Flavio Zambrone assume o cargo de vice-chair do Conselho Científico e de Administração do ILSI Brasil. Médico especialista em Toxicologia e Farmacologia Clínica pela Universidade de Paris, sempre colaborou na área de agroquímicos e avaliação do risco. Foi professor na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp por 25 anos. Sua convivência científica e administrativa, no país e exterior, lhe proporcionou ampla experiência que agora terá a oportunidade de agregar nas discussões atuais que visam construir um ILSI Brasil ainda mais alinhado com os projetos e políticas internacionais do instituto. Conheça um pouco desse trabalho.