juliano guerra rocha...coragem para lutar e vencer obstáculos! À professora sônia maria dos...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO TESE DE DOUTORADO JULIANO GUERRA ROCHA HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS EM GOIÁS, 1835-1886 UBERLÂNDIA, MG 2019

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Page 1: JULIANO GUERRA ROCHA...coragem para lutar e vencer obstáculos! À Professora Sônia Maria dos Santos, que honra por ter sido seu orientando. Muito obrigado pela amizade, pelo carinho

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA

FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM EDUCACcedilAtildeO

TESE DE DOUTORADO

JULIANO GUERRA ROCHA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS

1835-1886

UBERLAcircNDIA MG

2019

2

JULIANO GUERRA ROCHA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS

1835-1886

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito

parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor de

Educaccedilatildeo

AacuteREA DE CONCENTRACcedilAtildeO Histoacuteria e Historiografia da

Educaccedilatildeo

ORIENTADORA Profordf Drordf Socircnia Maria dos Santos

UBERLAcircNDIA MG

2019

3

4

JULIANO GUERRA ROCHA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS 1835-1886

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de

Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito parcial para

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor de Educaccedilatildeo

Uberlacircndia 16 de agosto de 2019

BANCA EXAMINADORA

5

Agrave mulher que me ensinou saborear um livro acompanhado

de maccedilas picadas minha avoacute

Neide Teixeira de Morais (em memoacuteria)

6

AGRADECIMENTOS ____________________________________

Essa etapa da minha vida acadecircmica sem duacutevidas foi menos tensa ou ateacute

mesmo poderia dizer mais tranquila por ter pessoas que compartilharam comigo

essencialmente palavras e gestos de muito afeto Tocaram a minha alma e se

embrenharam pelas minhas memoacuterias Por isso o meu agradecimento e

reconhecimento

Obrigado Deus pelo dom da vida e pela sauacutede Pelos tropeccedilos e pelas

alegrias obrigado por ter colocado pessoas em minha vida que me deram forccedilas e

coragem para lutar e vencer obstaacuteculos

Agrave Professora Socircnia Maria dos Santos que honra por ter sido seu orientando

Muito obrigado pela amizade pelo carinho e pela confianccedila Com a senhora aprendi

que a vida na Universidade eacute muito melhor quando temos verdadeiras amizades

Aos meus pais Adriana Guerra de Morais Rocha e Antocircnio Soares da Rocha

meu irmatildeo Rafael Guerra Rocha obrigado por serem minha fortaleza e me apoiarem

A eles e a toda a minha famiacutelia obrigado pelo silecircncio e pelas palavras por sempre

entenderem a minha ausecircncia e me incentivarem aos estudos

Agraves minhas tias Luzimar Guerra de Morais e Fernanda Guerra de Morais meu

avocirc Manoel Guerra de Morais minha gratidatildeo pela confianccedila e forccedila em cada passo

da minha vida pessoal e profissional

Agrave Professora Francisca Izabel Pereira Maciel a quem eu sou muito grato

Obrigado professora pelo carinho e pelos conselhos pela amizade e pela confianccedila

E claro pelas valorosas contribuiccedilotildees a esta pesquisa tanto na qualificaccedilatildeo quanto

na defesa final

Agrave Professora Betacircnia de Oliveira Laterza Ribeiro pela sua generosidade e

carinho muito obrigado Obrigado pelas contribuiccedilotildees a essa pesquisa pelo

entusiasmo e gentileza de ler meu texto nas suas diferentes etapas de produccedilatildeo

7

Agrave Professora Cecilia Maria Aldigueri Goulart pessoa que me inspirou e me

apresentou a dimensatildeo discursiva da alfabetizaccedilatildeo com sua postura freireana e

bakhtiniana meus agradecimentos

Agrave Professora Mariacutelia Villela de Oliveira muito obrigado por compartilhar comigo

o momento da defesa da tese Pela amizade e carinho meus agradecimentos

Agrave Professora Sandra Cristina Fagundes de Lima uma grande mestra que com

delicadeza e muita poesia ensinou-me a apaixonar pelos caminhos labiriacutenticos da

memoacuteria e da histoacuteria Obrigado pelas suas contribuiccedilotildees

Agrave Professora Diane Valdez pela generosidade em compartilhar informaccedilotildees e

me indicar caminhos na pesquisa sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo goiana aleacutem de ceder

os livros do Baratildeo de Macauacutebas Muito obrigado

Agrave minha amiga Gabriela Marques de Sousa que o Doutorado me deu e como

ela diz nem mesmo a tese pode nos separar Obrigado pela amizade pelas palavras

de carinho e conforto nos diferentes momentos da escrita deste trabalho Tenho muito

orgulho de ser seu amigo

Ao Maacutercio Fernandes de Oliveira grande amigo que acompanhou todo o

processo de escrita da tese e me deu forccedilas para caminhar Minha gratidatildeo pela

paciecircncia e pela escuta nos momentos de afliccedilatildeo

Agrave Luana Cavalcanti Arauacutejo Borges pela amizade de sempre e pelas palavras

durante todo o percurso meus agradecimentos

Agrave Nuacutebia Gomes por me acolher em sua casa durante minha estada em

Uberlacircndia Obrigado por compartilhar seu lar comigo e pelas palavras sempre

amigas

Outros amigos que tambeacutem dividiram comigo esse momento e aos quais sou

muito grato Geracilda Maria Tacircnia Regina Rosimeire Pereira Rosaine Aparecida

Silvana Fernandes Maria Auxiliadora N Amorim Arlete de Falco Anair Freitas e

tantos outros os quais natildeo nominei mas que estatildeo anotados na memoacuteria

Aos meus amigos da Secretaria Municipal da Educaccedilatildeo e do Coleacutegio Estadual

Sebastiatildeo Xavier em ItumbiaraGO pessoas apaixonadas pela educaccedilatildeo e que

fazem a diferenccedila em minha vida

Agrave Maria Beatriz Villela de Oliveira obrigado pela leitura atenta na revisatildeo textual

deste trabalho e pelo zelo com as minhas palavras

ldquoA todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas

todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto

de eu neste instante explodir em eu Esse eu que eacute voacutes pois natildeo aguento ser apenas

mimrdquo1 muito obrigado

1 Dedicatoacuteria feita pela escritora Clarice Lispector (1977) nas paacuteginas iniciais do livro A hora da estrela

8

RESUMO ____________________________________

Esta tese de doutorado vinculada agrave linha de pesquisa de Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Uberlacircndia tem como objeto de estudo a alfabetizaccedilatildeo na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo XIX O objetivo da investigaccedilatildeo foi analisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas compreendendo os ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita difundidos nas escolas em Goiaacutes entre 1835 a 1886 O recorte temporal abarcou o periacuteodo em que se iniciou o processo de organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes por meio da promulgaccedilatildeo da primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 indo ateacute 1886 quando foi publicado o uacuteltimo Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes Ato de 2 de abril de 1886 levado a efetivo cumprimento durante o Impeacuterio Tendo isso em vista o trabalho se desenvolveu a partir das seguintes problematizaccedilotildees como a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o periacuteodo imperial Quais os materiais usados para se alfabetizar as crianccedilas goianas no decorrer dessa histoacuteria Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de Goiaacutes Essas questotildees orientaram a pesquisa que se baseou nos estudos sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo da leitura e dos livros no Brasil Como fonte histoacuterica foram usados os jornais os documentos oficiais as legislaccedilotildees as correspondecircncias de expediente escolar e os mapas de turmas inventariados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes bem como os Relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia dentre outras documentaccedilotildees depositadas em Arquivos Digitais brasileiros e europeus A partir desses documentos foi realizado um levantamento das cartilhas e livros de leitura utilizados nas escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia o que possibilitou depreender pela anaacutelise desses impressos os meacutetodos que circularam em Goiaacutes no oitocentos Os resultados da pesquisa apontaram que ao contraacuterio dos discursos que vecircm sendo mantidos sobre a instruccedilatildeo puacuteblica goiana do seacuteculo XIX no campo da alfabetizaccedilatildeo houve diferentes tentativas do governo provincial de alinhar a proposta da instruccedilatildeo primaacuteria aos ideaacuterios de modernidade educacional que circulavam pelo contexto nacional em especial no Rio de Janeiro A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu em diaacutelogo com o projeto educacional de uma Naccedilatildeo inspirado no modelo europeu Essa proviacutencia natildeo esteve isolada tampouco perifeacuterica ou interiorana em relaccedilatildeo a todo o Impeacuterio Goiaacutes no que concerne ao ensino de leitura e escrita aos livros e meacutetodos que subsidiavam esse processo esteve em sintonia com o contexto nacional no regime imperial Palavras-chave Cartilhas em Goiaacutes Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Goiaacutes Instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes Livros de leitura em Goiaacutes Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Meacutetodos de leitura em Goiaacutes Proviacutencia de Goiaacutes

9

ABSTRACT ____________________________________

This doctoral thesis linked to the research line of History and Historiography of Education of the Graduate Program in Education of the Federal University of Uberlacircndia has as object of study the literacy in the province of Goiaacutes in the nineteenth century The objective of the research was to analyze the history of the literacy of children in Goiaacutes comprehending the ideas about the initial teaching of reading and writing spread in schools in Goiaacutes between 1835 and 1886 The temporal cut included the period in which the process of organizing primary education in Goiaacutes began through the promulgation of the first Goiaacutesrsquo public education law Law no 13 of June 23rd 1835 going until 1886 when it was published the last Regulation on the Public Instruction of Goiaacutes Act of April 2nd 1886 led to effective compliance during the Empire In view of this the work developed from the following problematizations how did the history of literacy in Goias constitute itself during the imperial period What materials were used to literate the children of Goias throughout this history What ideas about the initial teaching of reading and writing circulated in the province of Goiaacutes These questions guided the research which was based on studies on the history of literacy reading and books in Brazil As a historical source newspapers official documents legislations correspondence of school files and maps of classes that were inventoried in the State Historic Archive of Goiaacutes as well as the Reports of the Presidents of the Province among other documents deposited in Brazilian and European Digital Archives were used From these documents a survey of the booklets and reading books used in the primary schools of the province was carried out which made it possible to understand through the analysis of these forms the methods that circulated in Goiaacutes in the nineteenth century The research results pointed out that contrary to the discourses that have been maintained on the public education in Goiaacutes in the nineteenth-century in the field of literacy there have been different attempts by the provincial government to align the proposal of primary education with the ideals of educational modernity that circulated through the national context level especially in Rio de Janeiro The history of literacy in Goiaacutes was constituted by a dialogue with the educational project of a Nation inspired by the European model This province was not isolated nor peripheral or interiorized in relation to all the Empire Goiaacutes in what concerns to the teaching of reading and writing to the books and methods that subsidized this process was in tune with the national context in the imperial regime Keywords Booklets in Goiaacutes History of literacy in Goiaacutes History of Education in Goiaacutes Primary education in Goiaacutes Reading Books in Goiaacutes Literacy methods in Goiaacutes Reading methods in Goiaacutes Province of Goiaacutes

10

LISTA DE FIGURAS ____________________________________

Figura 1 Mapa do Brasil exposto no I SIHELE quantidade por estado

de participantes inscritos no evento

25

Figura 2 Folha de rosto do livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por

Syllabas com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o

Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785)

146

Figura 3 Folha de rosto da 16ordf ediccedilatildeo do livro Methodo Facillimo para

aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais

curto espaccedilo de tempo (18--)

149

Figura 4 Paacuteginas 86 87 e 88 do Methodo Facillimo para aprender a ler

tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo (18--)

153

Figura 5 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do Pequeno Cathecismo Historico

contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde

(1846)

154

Figura 6 Folha de rosto da 4ordf ediccedilatildeo do Methodo facil para aprender a

ler em 15 liccedilotildees (1875)

159

Figura 7 Paacutegina vii do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees

(1875)

161

Figura 8 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o

ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e

numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

192

Figura 9 Paacuteginas 29 e 31 do livro Metodo Castilho para o ensino rapido

e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do

escrever (1853)

200

Figura 10 Paacuteginas 7 e 10 do livro O expositor portuguez ou rudimentos

de ensino da lingua materna (1831)

209

Figura 11 Folha de rosto da 9ordf ediccedilatildeo do livro Historia de Simatildeo de Nantua

ou O mercador de feiras (1867)

212

Figura 12 Modelos de penas de accedilo 221

Figura 13 Capas das ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute (1871 e 1877) 238

Figura 14 Primeira carta do meacutetodo Bacadafaacute (1871) 241

Figura 15 Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada (1871) 245

11

Figura 16 Carta de nomes do Meacutetodo Bacadafaacute 246

Figura 17 Folha de rosto da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

261

Figura 18 Paacutegina 20 da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para uso da infancia brasileira (1867)

266

12

LISTA DE QUADROS ____________________________________

Quadro 1 Grupos de Pesquisa sobre Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo localizados

no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil

70

Quadro 2 Mapa da turma da Escola do 2ordm grau da instruccedilatildeo primaacuteria em

Vila de Meiaponte (1837)

141

Quadro 3 Mapa mensal da turma da Freguesia de Santa Rita do

Paranaiacuteba (1867)

141

Quadro 4 Catecismos e ou Livros de Doutrina Cristatilde usados nas escolas

goianas 1835-1886

174

Quadro 5 Livros ou Manuais usados nas escolas goianas 1835-1886 177

13

LISTA DE TABELAS ____________________________________

Tabela 1 Populaccedilatildeo do Estado de Goiaacutes 29

Tabela 2 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees identificadas no Banco de dados da Capes a partir da busca com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo

55

Tabela 3 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees selecionadas no Banco de

dados da Capes

59

Tabela 4 Quantidade de dissertaccedilotildees identificadas com o tema alfabetizaccedilatildeo nas bibliotecas digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

62

Tabela 5 Quantidade de dissertaccedilotildees e teses identificadas no Banco de dados da Capes com os termos relacionados na tabela

65

Tabela 6 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por ano sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

67

Tabela 7 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por universidade sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

74

Tabela 8 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo dos estados brasileiros

78

Tabela 9 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por periacuteodo da histoacuteria do Brasil

83

14

SUMAacuteRIO ____________________________________

APRESENTACcedilAtildeO 16

INTRODUCcedilAtildeO 32

PARTE I ndash ldquoPASSEANDO PELOS ARREDORESrdquo DO CAMPO DA ALFABETIZACcedilAtildeO OS

DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE O OBJETO DE PESQUISA

50

1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 51

11 Alfabetizaccedilatildeo um tema em diferentes discursos 52

12 As teses e dissertaccedilotildees do campo temaacutetico da histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo lugares periacuteodos e fontes

64

13 Consideraccedilotildees parciais 84

PARTE II ndash ALFABETIZANDO CRIANCcedilAS NA PROVIacuteNCIA DE GOIAacuteS 86

2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo imperial 87

21 1835 a 1869 90

22 1869 a 1886 119

23 Consideraccedilotildees parciais 134

3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes 136

31 Impressos para ensinar a ler e escrever 139

32 Impressos para o ensino da leitura corrente 172

33 Consideraccedilotildees parciais 182

4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes 188

41 Um professor goiano no Rio de Janeiro impressotildees sobre os

meacutetodos Castilho e Simultacircneo

196

42 Repercussotildees da viagem de Primo Jardim na proviacutencia goiana 214

43 Consideraccedilotildees parciais 227

5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes 231

51 O Meacutetodo Bacadafaacute de Antonio Pinheiro de Aguiar 235

52 Os livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges 251

53 Consideraccedilotildees parciais 270

15

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 273

REFEREcircNCIAS 280

FONTES 312

Fontes citadas na Apresentaccedilatildeo 313

Fontes citadas na Introduccedilatildeo 313

Fontes citadas na Seccedilatildeo 1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo

imperial

314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas em Goiaacutes

320

Fontes citadas na Seccedilatildeo 4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

324

Fontes citadas na Seccedilatildeo 5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

329

Fonte citada nas Consideraccedilotildees Finais 334

Listas de Expediente Escolar e Mapas de Turmas 334

16

APRESENTACcedilAtildeO ____________________________________

ldquoSomos o que lemosrdquo2

A literatura eacute sempre um convite para um mergulho3 em terras inabitaacuteveis em

horizontes desconhecidos em caminhos abstratos As histoacuterias impressas em

paacuteginas marcam e selam seus leitores de uma forma ou outra a literatura provoca e

transforma Como algueacutem apaixonado por literatura natildeo poderia iniciar este trabalho

sem evocaacute-la procurando inspiraccedilatildeo entre os escritos de autores da literatura

brasileira para abrir estas reflexotildees

Iniciemos com O Ateneu de Raul Pompeacuteia Quando o pai de Seacutergio

personagem principal do enredo o deixa na porta do Ateneu e diz ldquoVais encontrar o

mundordquo uma sucessatildeo de fatos se desenrola desnudando o cotidiano de um

internato do Rio de Janeiro A escola na voz do pai seria o ambiente que

transformaria a vida do filho tirando-o do seio materno e inserindo-o numa instituiccedilatildeo

social diferente da famiacutelia A escola narrada por Pompeacuteia numa perspectiva histoacuterica

eacute o retrato dos modos de educar no regime imperial Sobre o processo de aprendizado

da leitura Seacutergio nos conta

Eu aprendera a ler pelos livros elementares de Aristarco e o supunha velho como o primeiro4 poreacutem rapado de cara chupada pedagoacutegica oacuteculos apocaliacutepticos carapuccedila negra de borla fanhoso onipotente e

2 Trecho de Alberto Manguel (1997 p 201) no livro Uma histoacuteria da leitura 3 Sim mergulho Paradoxalmente um mergulho em terras 4 ldquoO primeirordquo refere agrave imagem de Cristo descrita anteriormente pelo personagem

17

mau com uma das matildeos para traacutes escondendo a palmatoacuteria e doutrinando agrave humanidade o becirc-aacute-baacute (POMPEacuteIA 1996 p 8)

No Conto de Escola de Machado de Assis um garoto em 1840 relutante em ir

agrave escola relata sobre seus sentimentos em relaccedilatildeo ao coleacutegio e suas impressotildees com

as liccedilotildees de gramaacutetica

Para cuacutemulo de desespero vi atraveacutes das vidraccedilas da escola no claro azul do ceacuteu por cima do morro do Livramento um papagaio de papel alto e largo preso de uma corda imensa que bojava no ar uma coisa soberba E eu na escola sentado pernas unidas com o livro de leitura e a gramaacutetica nos joelhos (ASSIS 2002 p 207)

Os livros de leitura e as aulas da professora de Ernesto e Eugecircnio personagens

da obra Olhai os liacuterios do campo de Eacuterico Veriacutessimo marcaram suas vidas Algumas

leituras e livros ficam eternizados em nossas memoacuterias quem natildeo se lembra das

histoacuterias que povoaram a infacircncia Haacute textos que nos remetem a lugares cheiros

sabores pessoas

Eugecircnio tinha uma grande pena do pai mas natildeo conseguia amaacute-lo Sabia que os filhos devem amar os pais A professora falava na aula em amor filial contava histoacuterias dava exemplos Mas por mais que se esforccedilasse Eugecircnio natildeo lograva ir aleacutem da piedade Tinha pena do pai Porque ele tossia porque ele suspirava porque ele se lamentava porque ele se chamava Acircngelo Acircngelo eacute nome de gente infeliz nome de assassinado Ernesto natildeo podia olhar para o pai sem se lembrar da seacutetima liccedilatildeo do Segundo Livro de Leitura Sentira ao lecirc-la pela primeira vez uma comoccedilatildeo tatildeo grande que ficara um dia inteiro sob a impressatildeo da trageacutedia (VERIacuteSSIMO 1995 p 9-10)

As cenas transcritas acima registraram em estilo literaacuterio o fazer da escola e

o ensino da leitura e da escrita em eacutepocas e espaccedilos diferentes No entanto satildeo

registros de personagens que talvez natildeo tenham existido mas que se lidos numa

perspectiva sincrocircnica ao tempo que retratam instigam-nos a pensar mais sobre uma

histoacuteria que todos noacutes vivemos a nossa alfabetizaccedilatildeo Desse modo pesquisar a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo muito aleacutem de historiografar praacuteticas meacutetodos livros eacute falar

de pessoas que ensinaram e aprenderam a leitura e a escrita da liacutengua materna

E por que um estudo histoacuterico sobre alfabetizaccedilatildeo

Vidal (2014) refletindo sobre a questatildeo ldquoEm que os estudos de natureza

histoacuterica sobre o ensino da leitura escrita podem contribuir com as praacuteticas de

alfabetizaccedilatildeo na atualidaderdquo nos auxilia na proposiccedilatildeo de uma resposta agrave pergunta

[] o passado natildeo lega ao presente uma foacutermula de sucesso a ser recuperada nem necessariamente uma liccedilatildeo As vaacuterias abordagens

18

que fazemos do ontem nos alertam para a multiplicidade dos possiacuteveis de cada momento histoacuterico inscritos nas relaccedilotildees sociais de poder Oferecem exemplos sobre o que foi feito ampliando nosso repertoacuterio de praacuteticas [] Suscitam reconhecer que a nossa relaccedilatildeo com o ontem eacute simultaneamente de continuidade e ruptura atribuindo vaacuterias camadas de temporalidade ao passado Instigam-nos por fim a perscrutar os modos como atribuiacutemos sentido ao mundo e significamos nossa experiecircncia preteacuterita e atual levando em consideraccedilatildeo a materialidade da vida (VIDAL 2014 p 12-13)

Em consonacircncia Mortatti (2008) advoga a necessidade de conhecer o passado

da alfabetizaccedilatildeo natildeo para ressuscitaacute-lo agrave procura de soluccedilotildees para os problemas de

hoje tampouco para conceber o presente como uma repeticcedilatildeo simplista do que

ocorreu em tempos anteriores e sim para provocar pesquisas que suscitem novos

olhares novas questotildees e proposiccedilotildees

Eacute evidente que a alfabetizaccedilatildeo eacute um ldquocampo discursivordquo5 de frequentes

disputas tanto nas esferas poliacutetica e midiaacutetica como tambeacutem na acadecircmica

Apoiando-nos na pesquisa de Mortatti (2000) eacute possiacutevel dizer que os sentidos

atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo pelos sujeitos nas diferentes instituiccedilotildees (partidos

poliacuteticos governos universidades grupos de pesquisa meios de comunicaccedilatildeo)

evidenciam a homeacuterica luta entre Fracasso versus Sucesso no processo de

alfabetizaccedilatildeo Nas palavras da autora

[] visando agrave ruptura com seu passado determinados sujeitos

produziram em cada momento histoacuterico determinados sentidos

que consideravam modernos e fundadores do novo em relaccedilatildeo

ao ensino da leitura e escrita Entretanto no momento seguinte

esses sentidos acabaram por ser paradoxalmente configurados

pelos poacutesteros imediatos como um conjunto de semelhanccedilas

indicadoras da continuidade do antigo devendo ser combatido

como tradicional e substituiacutedo por um novo sentido para o

moderno (MORTATTI 2000 p 23 grifos nossos)

Ou seja haacute sempre um discurso em contraposiccedilatildeo a outro que

intencionalmente refuta ideias para marcar um territoacuterio autoral

No acircmbito poliacutetico-partidaacuterio uma situaccedilatildeo recente foi a mudanccedila preconizada

pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL 2017) que modificou a proposta do

ciclo de alfabetizaccedilatildeo considerando que a crianccedila deve estar plenamente

alfabetizada ateacute o fim do segundo ano do Ensino Fundamental O projeto revela

5 Expressatildeo utilizada em conformidade com a definiccedilatildeo feita por Maingueneau (2005)

19

claramente um embate entre posiccedilotildees partidaacuterias (Partido dos Trabalhadores versus

Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro) jaacute que os documentos publicados

durante o governo petista dos presidentes Luiz Inaacutecio Lula da Silva e Dilma Rousseff

ndash que antecederam o governo do presidente peemedebista Michel Temer ndash garantiam

a alfabetizaccedilatildeo ateacute o final do terceiro ano do Ensino Fundamental Haacute que se registrar

tambeacutem que no atual governo presidencial de Jair Bolsonaro o tema alfabetizaccedilatildeo

ocupou alguns discursos dos integrantes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que fizeram

apologia ao meacutetodo focircnico Aleacutem disso foi instituiacuteda a Poliacutetica Nacional de

Alfabetizaccedilatildeo por meio do Decreto nordm 9765 de 11 de abril de 2019 (BRASIL 2019)

tomando como base uma noccedilatildeo restrita de alfabetizaccedilatildeo enfatizando os aspectos

fonecircmicos do aprendizado da liacutengua portuguesa Outrossim o termo letramento natildeo

foi mencionado

Na imprensa os comentaacuterios dos jornalistas sobre determinados fazeres

pedagoacutegicos sobre as taxas de avaliaccedilotildees externas e os iacutendices de analfabetismo

(funcional e absoluto) tentam demonstrar ndash de forma banal ndash o que eacute ldquocorreto ou natildeordquo

para ensinar a ler e escrever Os comentaacuterios nas colunas do economista Claudio de

Moura Castro e do jornalista Alexandre Garcia por exemplo veiculados pela miacutedia

impressa ou televisiva hora ou outra causam polecircmicas sobre a escola brasileira e

seu desafio de alfabetizar Outro exemplo eacute uma revista de circulaccedilatildeo nacional dirigida

aos professores Nova Escola atualmente mantida pela Fundaccedilatildeo Lemann A

alfabetizaccedilatildeo eacute um tema recorrente e quase sempre ocupa uma ou mais mateacuterias de

suas ediccedilotildees formando a opiniatildeo do puacuteblico leitor

No meio acadecircmico como assevera Goulart (2014)

Ao enfrentarmos temas polecircmicos constituiacutemos e confrontamos argumentos de postos de observaccedilatildeo diferentes dos apresentados por aqueles com que dialogamos A criacutetica pela criacutetica natildeo constroacutei Quando falamos entretanto em nome de concepccedilotildees de sociedade de ser humano e de ensino-aprendizagem instauramos o debate que ganha corpo e se adensa [] O ponto de partida envolve respeito pelas posiccedilotildees alheias ndash natildeo um respeito obsequioso e passivo mas um respeito ativo e vivo que inclui considerar a importacircncia do diaacutelogo do pensamento divergente da possiacutevel revisatildeo de caminhos que pode ser desencadeada de ambos os lados capaz de gerar avanccedilos renovaccedilotildees de posturas teoacuterico-metodoloacutegicas e novos pontos de ancoragem (GOULART 2014 p 327)

De fato eacute necessaacuterio instaurar o diaacutelogo aleacutem dos muros das universidades

dos grupos de pesquisas dos projetos institucionais afinal o conhecimento eacute movido

20

pelas incertezas pois ldquonatildeo haacute homogeneidade nos lsquosentidosrsquo atribuiacutedos agrave

alfabetizaccedilatildeo no que se refere ao SABER na verdade haacute uma multiplicidade de

SABERES no plural natildeo um SABER sobre a alfabetizaccedilatildeordquo (SOARES 2014 p 29

grifo da autora)

Logo eacute premente estudar a alfabetizaccedilatildeo em suas ldquomuacuteltiplas facetasrdquo tal como

nos ensinou e propocircs a mestra Magda Soares (1985) No caso desta tese

contemplamos a ldquofaceta histoacuterica da alfabetizaccedilatildeordquo6 tendo como loacutecus de pesquisa

o estado de Goiaacutes

Fonseca (2003) ao refletir sobre o lugar da histoacuteria da educaccedilatildeo e suas

relaccedilotildees com diferentes abordagens historiograacuteficas verifica que comparativamente

agrave produccedilatildeo cientiacutefica nacional as publicaccedilotildees internacionais tecircm demonstrado maior

preocupaccedilatildeo com investigaccedilotildees histoacuterias na aacuterea da educaccedilatildeo Retomando

importantes pesquisas7 evidencia que a educaccedilatildeo foi tratada ora como um campo de

investigaccedilatildeo autocircnomo ora como um tema possiacutevel numa dada corrente

historiograacutefica

Saviani (2005) explica que no Brasil pelo fato de a histoacuteria da educaccedilatildeo

compor-se mais como um campo de pesquisadores formados em Pedagogia8 ldquoos

historiadores de modo geral acabam por natildeo incluir a educaccedilatildeo entre os domiacutenios

da investigaccedilatildeo histoacutericardquo (SAVIANI 2005 p 20-21) Tal questatildeo pode ser ilustrada

com as obras de Cardoso e Vainfas (1997 2012) Os autores ao organizarem os dois

tomos sobre os Domiacutenios da Histoacuteria natildeo incluiacuteram a educaccedilatildeo entre os territoacuterios do

historiador No entanto embora a disciplina histoacuteria da educaccedilatildeo tenha nascido no

bojo das Escolas Normais na preparaccedilatildeo dos professores para atuar no ensino

primaacuterio e posteriormente sido integrada nos curriacuteculos do curso de Pedagogia as

pesquisas da historiografia educacional procuram aparato conceitual-metodoloacutegico

mais na Histoacuteria do que propriamente na Pedagogia

Em torno da pesquisa e dos estudos pedagoacutegicos configuram-se diferentes

mateacuterias e aacutereas do conhecimento que estatildeo relacionadas essencialmente agrave praacutetica

6 Tomamos essa expressatildeo de empreacutestimo de Frade (2011) 7 Fonseca (2003) cita as pesquisas de Keith Thomas Daniel Roche Jean-Pierre Rioux Serge Gruzinski Franccedilois Furet Jacques Ozouf Pierre Nora Jean Heacutebrard Dominique Julia Roger Chartier Jacques Le Goff Philippe Ariegraves e outros pesquisadores ligados agrave Nova Histoacuteria 8 A Pedagogia que antes era uma disciplina ministrada na escola normal tornou-se a partir de 1939 (Cf SAVIANI 2005) um curso superior (graduaccedilatildeo) com curriacuteculo vasto em mateacuterias pedagoacutegicas habilitando o professor para atuar nas primeiras etapas da educaccedilatildeo baacutesica

21

educativa tais como metodologias de ensino planejamento praacuteticas de ensino

leitura escrita gestatildeo escolar etc A histoacuteria da educaccedilatildeo pode se ocupar de

investigar os aspectos histoacutericos de todas essas aacutereas mas ao contraacuterio delas natildeo

estaacute a serviccedilo diretamente das habilitaccedilotildees pedagoacutegicas A histoacuteria da educaccedilatildeo

pertence aos fundamentos da educaccedilatildeo

No universo da pesquisa na perspectiva historiograacutefica proposta por Pesavento

(2003) a educaccedilatildeo eacute uma temaacutetica pertencente ao campo metodoloacutegico da histoacuteria

cultural9 Destarte a histoacuteria da educaccedilatildeo natildeo estaacute inscrita em uma uacutenica corrente

historiograacutefica e aleacutem disso vaacuterios outros campos temaacuteticos encontram-se abrigados

em sua macroestrutura A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo ou a ldquohistoacuteria do ensino inicial de

leitura e escritardquo 10 eacute um exemplo disso

Sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Soares (2006 p 7) aponta que ldquoa

pesquisa histoacuterica eacute uma tendecircncia que vem se acentuando nos estudos sobre

educaccedilatildeo e o ensino no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas Na aacuterea da alfabetizaccedilatildeo e da

leitura essa tendecircncia tem sido talvez mais intensa que em outras aacutereasrdquo Como a

alfabetizaccedilatildeo eacute um processo que envolve a aprendizagem de dois aspectos

essenciais em uma sociedade letrada a leitura e escrita fazer a sua historiografia

demanda enormes dificuldades ldquoEacute que as praacuteticas de ensino se perdem na

transitoriedade de sua ocorrecircncia na natureza oral e portanto fugidia de seu

exerciacutecio na ausecircncia de registro de sua realizaccedilatildeo Ficam algumas poucas e raras

fontes []rdquo (SOARES 2006 p 7) Ainda nessa linha de raciociacutenio Magalhatildees afirma

No momento atual a investigaccedilatildeo [sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo] eacute de fato ainda muito reduzida em face da imensidatildeo do tema e das problemaacuteticas que sugere Eacute uma investigaccedilatildeo que depara com uma total ausecircncia de informaccedilatildeo histoacuterica em sentido direto Tambeacutem no niacutevel de fontes indiretas escasseiam quer os sinais autograacuteficos quer indicaccedilotildees sobre niacuteveis de analfabetismo [] As informaccedilotildees sobre a circulaccedilatildeo do livro e as praacuteticas de leitura satildeo igualmente escassas

9 Pesavento (2003) na trajetoacuteria da historiografia apresenta trecircs grandes campos metodoloacutegicos a histoacuteria-narrativa (historicista e positivista) a histoacuteria cultural e o marxismo Para maiores informaccedilotildees cf Bourdeacute e Martin (sd) na obra As Escolas Histoacutericas Esses trecircs campos metodoloacutegicos datildeo origem agraves correntes historiograacuteficas que por sua vez abrigam os campos temaacuteticos 10 Encontramos a menccedilatildeo a essa terminologia em Mortatti (2008 2009) Em Boto (2011) as denominaccedilotildees ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo e ldquohistoacuteria do ensino inicial da leitura e da escritardquo satildeo utilizadas como sinocircnimas Consideramos de igual maneira ambas as terminologias como sinocircnimas cientes conforme Mortatti (2004 p 59-60) aponta de que o termo recorrente utilizado na imprensa pedagoacutegica nos manuais e na legislaccedilatildeo para se referir ao aprendizado da liacutengua maternapaacutetria ateacute o iniacutecio do seacuteculo XX era ldquoensino de leitura (e escrita)rdquo Para compreender o surgimento do vocaacutebulo alfabetizaccedilatildeo cf Mortatti (2004)

22

no entanto nas cozinhas tradicionais natildeo raro se encontrava um moacutevel com alguns livros ndash catecismo livros de cuidados de sauacutede escrituraccedilotildees diversas Nesse sentido o historiador da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo depara com grande dificuldade de informaccedilatildeo []

(MAGALHAtildeES 2002 p 132)

Ao mesmo tempo em que existem essas dificuldades o campo temaacutetico da

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo11 foi-se instituindo substancialmente com uma natureza

hiacutebrida (MORTATTI 2011 2011a) Nos termos de Mortatti

[] nesta primeira deacutecada do seacuteculo XXI constata-se a tendecircncia agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo se constituir como campo de conhecimento especiacutefico e autocircnomo por meio da crescente definiccedilatildeo de objetos de estudo fontes documentais vertentes teoacutericas e abordagens metodoloacutegicas Tal tendecircncia por sua vez vem-se explicitando sem prejuiacutezo das possibilidades de estudos e pesquisas necessariamente interdisciplinares a fim de se explorarem os diferentes aspectos envolvidos na complexidade e na multifacetaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo (MORTATTI 2011a p 2)

Nessa linha interdisciplinar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo faz um diaacutelogo

incessante com outros campos temaacuteticos12 natildeo restritos agrave educaccedilatildeo podendo-se

citar histoacuteria do livro (incluindo aspectos que vatildeo da materialidade a uma cultura

imaterial etc) histoacuteria da mulher (sua escolarizaccedilatildeo e o empoderamento feminino

mediante a aprendizagem da leitura e escrita etc) histoacuteria do corpo (dos

gestosposiccedilotildees e culturas para aprendizagem da leitura e escrita dos meacutetodos de

repressatildeo corporal etc) histoacuteria da tecnologia e da comunicaccedilatildeo (suas influecircncias

para a transformaccedilatildeo dos modos de alfabetizar durante a histoacuteria etc) histoacuteria da

literatura etc (MORTATTI 2011) Frade (2018) ainda indica que

a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo como o estudo de formas preteacuteritas de ensinoaprendizagem da tecnologia da escrita de sua manifestaccedilatildeo no contexto das instituiccedilotildees as mais diversas dos meacutetodos para sua transmissatildeo dos materiais que estatildeo em jogo na sua apropriaccedilatildeo das praacuteticas empreendidas pelos sujeitos e grupos sociais em torno do processo de aquisiccedilatildeo inicial da escrita e de seus efeitos sociais e culturais na sociedade (FRADE 2018 p 39-40)

11 Eacute importante ressaltar que a expressatildeo ldquocampo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo foi amplamente difundida por Maria do Rosaacuterio Longo Mortatti e por ela sistematizada na coletacircnea Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria (MORTATTI 2011) A obra eacute fruto do I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita (SIHELE) realizado em Mariacutelia na Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP) em 2010 com o tema ldquoA constituiccedilatildeo do campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasilrdquo Reconhecemos que os estudos de Mortatti contribuiacuteram para a delimitaccedilatildeo desse campo (MORTATTI 2011b) 12 Tal questatildeo foi apontada e refletida por Frade (2011) ficando em evidecircncia na coletacircnea organizada por Mortatti (2011)

23

No meio acadecircmico brasileiro a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo foi ganhando

reconhecimento e espaccedilo sobretudo entre os fins do seacuteculo XX e a primeira deacutecada

do seacuteculo XXI quando pesquisas em teses e dissertaccedilotildees foram divulgadas13 Nesse

ponto eacute importante referenciar que o trabalho de Mortatti (2000) Os sentidos da

Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 destaca-se no universo cientiacutefico como aquele

que no seacuteculo XX marcou os estudos temaacuteticos acadecircmicos sobre a histoacuteria do

ensino de leitura e escrita no Brasil

Nesse mesmo percurso eventos cientiacuteficos passaram a inserir a historiografia

da leitura da cultura escrita e da alfabetizaccedilatildeo como eixo temaacutetico eou mote de

congressos e seminaacuterios Um dos marcos foi o Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria

do Ensino de Leitura e Escrita (SIHELE) coordenado pela Professora Maria do

Rosaacuterio Longo Mortatti cuja primeira ediccedilatildeo foi realizada em Mariacutelia na Universidade

Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP) em setembro de 201014 e a

segunda em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em

julho de 2013 Mais recente outro marco foi a incorporaccedilatildeo em 2015 do Simpoacutesio

Temaacutetico sobre a Histoacuteria da Cultura Escrita no 8ordm Congresso de Pesquisa e Ensino

de Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Minas Gerais (COPEHE) Na 9ordf ediccedilatildeo desse congresso

ocorrida em 2017 a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo foi inserida como eixo especiacutefico para

submissatildeo de trabalhos em comunicaccedilatildeo oral15

A pesquisa Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento realizada por

Soares (1989) e posteriormente por Soares e Maciel (2000)16 fez um panorama das

13 Tal questatildeo ficou evidenciada na obra de Mortatti (2011) Na Parte 1 dessa tese trataremos com maiores detalhes do estado do conhecimento das pesquisas de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil 14 Mortatti (2011a) aponta que embora jaacute existissem no ano da realizaccedilatildeo do I SIHELE eventos cientiacuteficos que abordavam temaacuteticas semelhantes agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo natildeo havia ateacute aquele momento um evento que tratasse especificamente sobre o assunto Como exemplo desses outros eventos a autora cita o Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo e o Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Na mesma linha haacute tambeacutem os grupos de trabalho ldquoHistoacuteria da Educaccedilatildeordquo e ldquoAlfabetizaccedilatildeo leitura e escritardquo da Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo (ANPEd) Para maiores informaccedilotildees acerca do I SIHELE cf Mortatti (2011a) 15 Vale referenciar que no 9ordm COPEHE dos 219 trabalhos inscritos para as comunicaccedilotildees orais apenas 9 pertenciam ao eixo temaacutetico 12 ndash Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e Escolarizaccedilatildeo 16 Na pesquisa de Soares (1989) foram analisados artigos publicados em 21 perioacutedicos especializados dissertaccedilotildees e teses excluindo-se capiacutetulos de livros e relatoacuterios de pesquisa natildeo publicados Jaacute em Soares e Maciel (2000) devido ao aumento substancial da produccedilatildeo acadecircmica e cientiacutefica sobre a alfabetizaccedilatildeo as pesquisadoras delinearam como corpus de anaacutelise as dissertaccedilotildees e teses

24

investigaccedilotildees sobre a alfabetizaccedilatildeo no Brasil Ambas as publicaccedilotildees evidenciaram

apenas uma pesquisa classificada do tipo histoacuterico entre os anos de 1954 a 1989

(DIETZSCH 1979) Por pesquisa histoacuterica Soares e Maciel (2000) entendem que

satildeo pesquisas que descrevem e analisam fatos ou fenocircmenos do passado o que foi como foi por que foi assim ndash ou seja como nas pesquisas descritivo-explicativas a pesquisa histoacuterica identifica eou descreve eou explica com a diferenccedila de que aquelas se referem a fatos ou fenocircmenos contemporacircneos ao pesquisador e esta a fatos passados (SOARES MACIEL 2000 p 58-59)

Na tese de doutorado de Silva (1998)17 a autora acrescenta ao levantamento

de Soares (1989) duas outras produccedilotildees acadecircmicas sobre a historiografia da

alfabetizaccedilatildeo brasileira

A primeira eacute um relatoacuterio de pesquisa intitulado ldquoNiacuteveis de alfabetizaccedilatildeograus

de instruccedilatildeo do processo modernizador brasileiro 1872-1920rdquo apresentado por Arno

Wehling ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

(INEP) e ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC)18

O segundo trabalho eacute a dissertaccedilatildeo de mestrado de Ana Maria Arauacutejo Freire

defendida no acircmbito do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica

Sociedade da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP) em 1988

Essa pesquisa traz importantes dados estatiacutesticos sobre a histoacuteria do analfabetismo

no Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute a primeira repuacuteblica Freire (1988) aponta o

analfabetismo como fenocircmeno historicamente estabelecido pelos contextos poliacuteticos

e econocircmicos

Do final da deacutecada de 1980 ao quase fim da segunda deacutecada do seacuteculo XXI

muitos outros trabalhos foram realizados Ao tratar sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

sempre haacute referecircncia a um lugar um estado ou municiacutepio ou escola Alguns estados

brasileiros se destacam nessas pesquisas outros foram pouco evidenciados19 Nesse

sentido esta tese tem como cenaacuterio o estado de Goiaacutes (GO) E por que esse estado

Apesar de eu ser goiano de nascenccedila e ainda residindo no estado nunca havia

me interessado pelas questotildees histoacutericas de Goiaacutes No entanto desde 2006 na minha

primeira graduaccedilatildeo a alfabetizaccedilatildeo eacute um tema que aprecio muito No mestrado na

17 Essa tese encontra-se publicada em livro pela Editora UNICAMP (SILVA 2015) 18 Na tese de Silva (1998) natildeo haacute referecircncia ao ano de publicaccedilatildeo desse relatoacuterio natildeo o haacute tambeacutem no curriacuteculo lattes de Wehling consultado em julho de 2019 19 Na seccedilatildeo 1 apresentamos um panorama geral das pesquisas da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por estado

25

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) pesquisei sobre o processo de

escrita argumentativa tomando como foco a crianccedila do ciclo de alfabetizaccedilatildeo 1ordm ao

3ordm ano do Ensino Fundamental (ROCHA 2012) Durante o percurso na UNICAMP em

2010 participei do I SIHELE juntamente com um grupo de colegas e pesquisadores

do ALLE (Grupo de Pesquisa Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita ndash UNICAMPCNPq)

Para esse seminaacuterio preparei um texto para comunicaccedilatildeo oral sobre a historiografia

das praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo no sul goiano Muito timidamente eu iniciava a minha

incursatildeo na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes sinalizando ao final do artigo

apresentado no seminaacuterio algo que viria a se tornar o meu objeto de estudo no

doutorado ldquovale destacar que nossa intenccedilatildeo futura para esta pesquisa eacute de se

engajar no estudo para quem sabe documentar as praacuteticas de leitura e escrita em

Goiaacutesrdquo (ROCHA 2010 p 6)

Durante o I SIHELE alguns fatos curiosos me chamaram a atenccedilatildeo As mesas

redondas propostas natildeo contemplavam nenhuma pesquisa sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes outro fato foi uma imagem exposta no hall de entrada do

auditoacuterio do evento na Faculdade de Filosofia e Ciecircncias da UNESP um mapa do

Brasil com indicaccedilatildeo dos estados de origem dos pesquisadores inscritos no

Seminaacuterio

Figura 1 Mapa do Brasil exposto no I SIHELE quantidade por estado de participantes

inscritos no evento

Fonte Acervo pessoal do autor setembro de 2010

26

Essa imagem ficou renitente em minha memoacuteria durante muito tempo e me fez

constatar numa anaacutelise dos Anais do Seminaacuterio que somente duas pessoas de Goiaacutes

estavam inscritas e apenas a minha pesquisa tratava sobre a historiografia do ensino

de leitura e escrita no territoacuterio goiano A partir de entatildeo venho me dedicando a

compreender a trajetoacuteria histoacuterica da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes visitando

arquivos puacuteblicos e privados conversando com pessoas procurando parcerias

participando de eventos sobre a temaacutetica inventariando fontes que auxiliem na escrita

destas paacuteginas da histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

ldquoAMO E CANTO COM TERNURA

TODO O ERRADO DA MINHA TERRArdquo20

A histoacuteria do estado de Goiaacutes21 eacute narrada geralmente a partir da chegada dos

bandeirantes paulistas nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVIII agrave procura de ouro na

regiatildeo (PALACIacuteN MORAES 1994) No entanto o territoacuterio goiano jaacute era povoado por

iacutendios pertencentes ao grupo macro-jecirc ldquoum grupo genuinamente brasileiro pois natildeo

se estendeu a outros paiacuteses como ocorreu com os tupis guaranisrdquo (PALACIacuteN

GARCIA AMADO 2001 p 12)

O sertatildeo goiano como ficou retratado nos relatos de viagens de cronistas do

periacuteodo colonial era uma terra de ldquoselvagensrdquo e ldquobaacuterbarosrdquo de aacutervores retorcidas e

frutos nativos de chatildeo feacutertil e muita seca Silva e Souza (1872)22 baseado na tradiccedilatildeo

oral conseguiu enumerar dezoito naccedilotildees indiacutegenas em Goiaacutes quase um seacuteculo apoacutes

a instalaccedilatildeo dos bandeirantes na regiatildeo agraves margens do Rio Vermelho (hoje Cidade

de Goiaacutes) No texto Memoria sobre o descobrimento governo populaccedilatildeo e cousas

mais notaacuteveis da Capitania de Goyaz Silva e Souza (1872) ainda relata os costumes

20 Trecho do poema ldquoBecos de Goiaacutesrdquo de Cora Coralina (1980 p 93) extraiacutedo do livro Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais 21 Natildeo temos o objetivo de copilar nas pouquiacutessimas paacuteginas deste item a histoacuteria do estado de Goiaacutes Eacute importante destacar que a intenccedilatildeo eacute apresentar ao leitor um pouco do percurso poliacutetico e histoacuterico do estado bem como suas particularidades na diversidade e extensatildeo territorial da cultura brasileira 22 O texto de Souza e Silva tem data de 30 de setembro de 1812 no entanto foi publicado na Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro no 4ordm trimestre de 1849 O exemplar a que tivemos acesso eacute de 1872 correspondente agrave 2ordf ediccedilatildeo

27

dessas tribos que ocupavam a extensatildeo da Capitania de Goiaacutes com tradiccedilotildees e um

legado proacuteprios das suas culturas

Cayaporsquos Naccedilatildeo bravissima e muito numerosa que com os seus ataques obstou em principio ao augmento da capital e hoje residentes nas aldecircas Maria e S Joseacute ainda que existem muitos ao sul de Villa-Boa tendo diferentes aldecircas [] satildeo valentes e guerreiros usam aleacutem do arco e frecha em que satildeo destrissimos de certos paacuteos cortados e rijos com que pelejam de perto tecircm alguns ritos judaicos admitem a polygamia e o divorcio contam os mezes por luas fazem festas e ajuntamentos nocturnos em que em confuso procuram a propagaccedilatildeo fazem as exequias dos seus mortos com danccedilas e se tingem de negro em as ocasiotildees do seu sentimento nas vizinhanccedilas da Paschoa pintam em si com tinta de jenipapo botinas peitos de armas e fazem entatildeo com grande vozeria as suas festas e jogos sendo o mais celebre o que chamam de touro em que disputam uns com os outros as forccedilas na carreira tomando uns do hombro de outros um grande tronco que empregam nrsquoeste ministerio (SILVA SOUZA 1872 p 494-495)

Segundo Silva e Souza (1872) e Pedroso (1992) a regiatildeo sul de Goiaacutes era

habitada pelos iacutendios Caiapoacutes Com a entrada das bandeiras23 paulistas no territoacuterio

goiano muitos desses iacutendios tornaram-se escravos na exploraccedilatildeo do ouro No

referido relato de Silva e Souza (1872) o autor ainda enumera alguns dos argumentos

utilizados pelos bandeirantes na escravizaccedilatildeo dos indiacutegenas que circulam em torno

do discurso do selvagem que precisa ser contido devido a sua natureza feroz

expressa nas lutas travadas entre os iacutendios e bandeirantes no processo de

colonizaccedilatildeo Outro argumento eacute o da guerra santa ou guerra justa justificativa aceita

pela legislaccedilatildeo da eacutepoca que era condescendente com a escravidatildeo dos povos

nativos quando esses lutavam e perdiam ou ateacute mesmo quando alguma tribo era

hostil com os colonizadores fato bem provaacutevel de acontecer no sistema de conquistas

de terras empregado pelos portugueses

Aleacutem do fato da existecircncia de indiacutegenas no territoacuterio goiano vaacuterias foram as

bandeiras que passaram pelo estado desde o final do seacuteculo XVI o que contraria a

versatildeo oficial apresentada por muitos anos nos livros didaacuteticos de histoacuteria regional de

Goiaacutes que confere agrave renomada bandeira chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva o

Anhanguera24 a responsabilidade pelo descobrimento de Goiaacutes

23 ldquoA bandeira era uma expediccedilatildeo organizada militarmente e tambeacutem uma espeacutecie de sociedade comercial Cada um dos participantes entrava com uma parcela da capital que consistia ordinariamente em certo nuacutemero de escravosrdquo (PALACIacuteN MORAES 1994 p 21) 24 Nome dado pelos indiacutegenas que significa ldquodiabo velhordquo

28

Em vias de explorar o ouro descoberto no Rio Vermelho a regiatildeo comeccedilou a

ser povoada pelos colonizadores no iniacutecio do seacuteculo XVIII surgindo numerosos

arraiais a partir da conglomeraccedilatildeo de garimpos e construccedilatildeo de capelas para

disseminaccedilatildeo da feacute catoacutelica nos rincotildees de todo o territoacuterio goiano Com o crescimento

da populaccedilatildeo instituiu-se em 1749 a Capitania de Goiaacutes governada pelo Conde dos

Arcos Jaacute com a Independecircncia em 1822 passou a denominar-se Proviacutencia de Goiaacutes

Nesse periacuteodo a sociedade organizada em torno da exploraccedilatildeo mineradora entrava

em decadecircncia regredindo agrave economia de subsistecircncia nos moldes de uma

sociedade pastoril (PALACIacuteN MORAES 1994)

Desde a instalaccedilatildeo das capitanias ateacute sua transformaccedilatildeo em proviacutencia Goiaacutes

ocupou uma grande extensatildeo territorial como se pode constatar nos mapas poliacuteticos

da eacutepoca sobretudo os do periacuteodo imperial Suas fronteiras tais como conhecemos

hoje satildeo consequecircncia de movimentos partidaacuterios e defesas em prol do

desenvolvimento econocircmico e cultural do norte ao sul do estado Esses movimentos

especialmente o Separatista do Norte liderado inicialmente em 1821 pelo capitatildeo

Felipe Antocircnio Cardoso e pelo Padre Luiz Bartolomeu Marques perduraram durante

mais de um seacuteculo ocasionando a emancipaccedilatildeo do estado do Tocantins em 1988

(PALACIacuteN MORAES 1994)

Para que houvesse essa separaccedilatildeo alguns fatos jaacute no seacuteculo XX foram

decisivos todavia a fala sobre o esquecimento das cidades ao norte de Goiaacutes pelo

governo estadual era recorrente desde o seacuteculo XIX25 Nessa perspectiva podemos

dizer que o primeiro fato que impulsionou a separaccedilatildeo entre Tocantins e Goiaacutes foi a

permanecircncia da capital goiana na regiatildeo centro-sul do estado Mesmo com a

transferecircncia da sede dos poderes puacuteblicos estaduais da Cidade de Goiaacutes para

Goiacircnia26 e com o aumento da populaccedilatildeo a regiatildeo norte do estado ainda permanecia

25 Sobre isso cf Silva e Souza (1872) 26 A respeito das dataccedilotildees desse periacuteodo podemos destacar duas datas importantes A primeira eacute a da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 560 de 13 de dezembro de 1935 no Correio Oficial do Estado de Goiaacutes em 21121935 que determina que para Goiacircnia ldquoa Nova Capital do Estado se transportem com o pessoal que os respectivos titulares julgarem necessaacuterio ao exerciacutecio de suas funccedilotildees as Secretaria Geral e de Govecircrno e a Casa Militarrdquo (Assinado por Dr Pedro Ludovico Teixeira e Benjamim da Luz Vieira) A segunda data eacute o dia 05 de julho de 1942 quando ocorreu o ldquobatismo culturalrdquo de Goiacircnia expressatildeo utilizada para designar a inauguraccedilatildeo oficial da cidade Tal evento tambeacutem selou uma nova alianccedila entre a Igreja e o Poder Puacuteblico em Goiaacutes marcando a transferecircncia definitiva de todas as instacircncias governamentais para a nova capital Para maiores detalhes sobre a questatildeo do ldquobatismo culturalrdquo cf Arauacutejo Juacutenior e Silva (2006)

29

esquecida aos olhos dos administradores Outro fato que contribuiu foi a construccedilatildeo

da nova capital brasileira Brasiacutelia em solo goiano na regiatildeo central do estado o que

ocasionou na deacutecada de 50 do seacuteculo XX a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do norte para o

entorno do Distrito Federal e para o sul do estado onde havia melhores condiccedilotildees de

empregabilidade diante das obras e da abertura de rodovias para a edificaccedilatildeo de

Brasiacutelia (CHAUL 1999)

A presenccedila da capital do paiacutes na regiatildeo sul de Goiaacutes e sua proximidade com

outros estados ao sudeste do Brasil fizeram com que as cidades ao centro-sul goiano

se desenvolvessem progressivamente diferente daquelas situadas ao norte que

acumulavam iacutendices expressivos de uma populaccedilatildeo de baixa renda Com uma

economia predominantemente agroindustrial os municiacutepios ao sul detinham as

maiores taxas de urbanizaccedilatildeo produccedilatildeo e exportaccedilatildeo de mateacuteria prima conforme

revelam os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e o estudo

empreendido por Arrais (2016)

Paulatinamente com um percurso particular mas acompanhando o movimento

poliacutetico brasileiro o estado de Goiaacutes foi-se constituindo transformando-se segundo

as estimativas do IBGE de julho de 2016 no 12ordm estado brasileiro mais populoso No

censo de 2010 jaacute compreendia uma populaccedilatildeo declarada em 6003788 habitantes

como se pode verificar na tabela abaixo que copila o crescimento populacional de

Goiaacutes entre o primeiro e o uacuteltimo censo

Tabela 1

Populaccedilatildeo do Estado de Goiaacutes

Ano Nuacutemero de habitantes

1872 160395 1890 227572 1900 255284 1920 511919 1940 661226 1950 1010880 1960 1626376 1970 2460007 1980 3229219 1991 4012562 2000 4996439 2010 6003788

Fonte Elaborado pelo autor a partir de dados do Annuario Estatistico do Brazil (1916) e do site do IBGE

30

Um estado de meacutedio porte27 que natildeo diferente de outros eacute formado por uma

miscigenaccedilatildeo de etnias pela diversidade de culturas pelas tradiccedilotildees e festejos pelos

mitos e folclore

Goiaacutes eacute terra de Cora Coralina de Joseacute J Veiga Bernardo Eacutelis e tantos outros

escritores Eacute a terra do sertanejo do pequi da pamonha e do falar com o eacuterre (r)

puxado Eacute terra de histoacuterias da roccedila contadas agraves crianccedilas ao redor da fogueira dos

diferentes personagens que sobreviveram na tradiccedilatildeo oral e que fazem parte do

imaginaacuterio social dos goianos terra de Tereza Bicuda e do Cavaleiro da Rua das

Flores de Jaraguaacute (cidade na regiatildeo central de GO) da Serpente do Rabo amarrada

na Igreja de Santo Estevatildeo em Formosa (cidade do entorno do Distrito Federal) da

moccedila da varanda de Catalatildeo (cidade do sul de GO) que apoacutes ser impedida de casar-

se com seu amor arranca a proacutepria cabeccedila com um cutelo terra dos escravos de

Pirenoacutepolis (cidade do lestre de GO) e das lendas de suas garrafas de Maria

Grampinho que leva as crianccedilas ldquocustosasrdquo28 em sua trouxa na Cidade de Goiaacutes

(noroeste de GO) do casal indiacutegena Angatuacute e Poratilde personagens de uma lenda que

deram nome ao municiacutepio de Porangatuacute (cidade na regiatildeo norte de GO) do tuacutemulo

de Joaquim Modesto que nomeia uma rua em Itumbiara (cidade ao sul de GO) de

onde cresciam cabelos e unhas de lobisomem do Necircgo Drsquoaacutegua dos Rios do Cerrado

do monstro que come liacutenguas e que habita o Rio Araguaia terra de outras tantas

historietas que datildeo vida ao sincretismo de costumes e agrave permanecircncia de um legado

ora esquecido nas paacuteginas dos livros antigos ou perdido nas memoacuterias dos sujeitos

ora reavivado pela tradiccedilatildeo regional e pelos recontos

ldquoSantuaacuterio da Serra Dourada[] Terra Querida Fruto da vida Recanto da

Paz [] O cerrado os campos e as matas A induacutestria gado cereais Nossos jovens

tecendo o futuro Poesia maior de Goiaacutesrdquo (Trecho do hino de Goiaacutes)

ldquoGoiaz querida peacuterola mimosa Destes sertotildees soberbos do Brasil Terra que

amo que minhrsquoalma adora Ao ver-te longe tatildeo distante agora Quero-te mais ainda

Minha terra gentilrdquo (JESUacuteS 1946 p 58)

27 De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2016 o estado de Goiaacutes possui hoje 246 municiacutepios divididos em 5 mesorregiotildees (Norte Sul Centro Leste e Noroeste) 28 Expressatildeo informal muito utilizada em Goiaacutes para se referir agraves crianccedilas malcriadas indisciplinadas

31

Eacute esse estado pouco investigado cheio de misteacuterios e encantos apresentado

nessas antecedentes paacuteginas que seraacute desvelado nas proacuteximas Tomando os livros

e outros documentos como objeto de estudo nosso desejo eacute acrescentar algumas

contribuiccedilotildees para a historiografia da alfabetizaccedilatildeo no Brasil O convite pois eacute

entrarmos pelos ldquobecos de Goiaacutesrdquo para revisitar ldquopassadas erasrdquo do ldquobequinho da

escolardquo goiana29

29 Fizemos uma brincadeira com trechos da poesia ldquoBecos de Goiaacutesrdquo de Cora Coralina (1980 p 93) encontrada no livro Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais

32

INTRODUCcedilAtildeO ____________________________________

ldquoPalavras juntam-se grudam-se atropelam-se umas por cima das outras Natildeo importa quais sejam Empurram-se e

trepam uma nos ombros das outras As isoladas as solitaacuterias acasalam-se cambaleiam multiplicam-serdquo30

Letras Siacutelabas Palavras A cadecircncia e a mistura entremeada desses signos

compotildeem diferentes textos (ou discursos) e esses ao mesmo tempo constituem o

ser humano ldquoSomos feitos de textosrdquo31

Os textos nos atravessam e nos definem ldquoA palavra eacute o proacuteprio homemrdquo32

Os textos nos aprisionam e nos libertam ldquoAi palavras ai palavras que

estranha potecircncia a vossardquo33

Bakhtin (2010) explica que o texto eacute o objeto central de estudos das Ciecircncias

Humanas tornando-se ponto de partida das pesquisas Nessa perspectiva o autor

advoga que o texto soacute ganha vida comunicando-se com outros ldquocada palavra (cada

signo) do texto leva para aleacutem dos seus limitesrdquo (BAKHTIN 2010 p 400)

Apoiados em Mortatti (1999 2000) consideramos que a interpretaccedilatildeo de um

texto para uma produccedilatildeo cientiacutefica se estabelece pelas relaccedilotildees que o leitor (nesse

caso o pesquisador) faz com o contexto de produccedilatildeo (localizando o texto no seu tempo

30 Trecho de Virginia Woolf (2011 p 78) no seu livro As ondas 31 Trecho de Manuel Gusmatildeo (2011 p 165) no seu livro Uma Razatildeo Dialoacutegica Ensaios sobre literatura a sua experiecircncia do humano e a sua teoria 32 Comentaacuterio de Octavio Paz (1982) na orelha do seu livro O Arco e a Lira 33 Verso do poema ldquoRomance LIII ou das palavras aeacutereasrdquo de Ceciacutelia Meireles (1977 p 148) publicado no seu livro Romanceiro da Inconfidecircncia

33

de escrita evitando anacronismos) e de leitura (fazendo uma relaccedilatildeo com os seus

objetivos da pesquisa focalizando aquilo que lhe interessa para responder a

determinada problematizaccedilatildeo) Logo conforme a autora alude este trabalho

compreende ldquoos documentos como textosrdquo34 analisados numa dimensatildeo discursiva

Essa dimensatildeo eacute entendida aqui no sentido macroestrutural sem desconsiderar

os fatores propriamente linguiacutesticos Cada palavra tem uma funccedilatildeo sintagmaacutetica que

orienta o discurso para uma intriacutenseca compreensatildeo isto eacute embora a leitura seja uma

ato dialoacutegico e sempre aberto (GERALDI 1992) ela tambeacutem tem uma certa

estabilidade mesmo que provisoacuteria condicionada pelos modos e pelas escolhas do

autor na escrita do texto

Mortatti (1999 2000) tratou os ldquodocumentos-fontesrdquo como ldquoconfiguraccedilotildees

textuaisrdquo

Por meio da expressatildeo ldquoconfiguraccedilatildeo textualrdquo busco nomear o conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto os quais se referem agraves opccedilotildees temaacutetico-conteudiacutesticas (o quecirc) e estruturas-formais (como) projetadas por um determinado sujeito (quem) que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde) e momento histoacuterico (quando) movido por certas necessidades (por quecirc) e propoacutesitos (para quecirc) visando a dterminado efeito em determinado tipo de leitor (para quem) e logrando determinado tipo de circulaccedilatildeo utilizaccedilatildeo e repercussatildeo (MORTATTI 2000 p 31)

Por isso torna-se importante localizar qualquer produccedilatildeo textual nas suas

relaccedilotildees interdiscursivas dentro do contexto histoacuterico em que se originou resgatando

as vozes sociais que a constituiacuteram Da mesma maneira todo texto tem um autor

ainda que apagado ou silenciado e recuperaacute-lo eacute essencial para o entendimento do

que foi escrito Tal como Foucault (1992 p 45) alertou haacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito

e sua escrita o nome do autor ldquoserve para caracterizar um certo modo de ser do

discursordquo

34 Expressatildeo tomada de empreacutestimo de Bertoletti (2011 p 102) ao referenciar a proposta de leituraanaacutelise de um texto por meio da ldquoconfiguraccedilatildeo textualrdquo Essa expressatildeo foi pioneiramente teorizada e empregada por Mortatti (1999 2000)

34

ldquoCADA PALAVRA DESCORTINA UM HORIZONTE CADA FRASE ANUNCIA OUTRA ESTACcedilAtildeOrdquo35

Na tentativa de contribuir para a historiografia da educaccedilatildeo tomando como

referecircncia principalmente os diversos textos (documentos) produzidos emsobre Goias

este trabalho assume por objetivo analisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

goianas compreendendo os ideaacuterios36 sobre o ensino inicial de leitura e escrita

difundidos nas escolas em Goiaacutes do seacuteculo XIX entre 1835 a 1886

O marco inicial 1835 natildeo foi escolhido aleatoriamente trata-se do ano em que

ocorreu a promulgaccedilatildeo da primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de

junho de 1835 (GOIAacuteS 1835) institucionalizando as praacuteticas educativas de ensinar a

ler escrever somar e rezar no contexto poliacutetico de uma escola pensada em Goiaacutes e

para atender as demandas da populaccedilatildeo goiana

Jaacute o marco final em 1886 eacute quando foi publicado o uacuteltimo Regulamento sobre

a Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes ato de 2 de abril de 1886 (GOIAacuteS 1886a) levado a

efetivo cumprimento durante o Impeacuterio na proviacutencia goiana (ABREU GONCcedilALVES

NETO CARVALHO 2015) Esse ato normativo conforme apontam Abreu Gonccedilalves

Neto e Carvalho (2015) ultrapassou o periacuteodo imperial vigorando ateacute 1893 ao ser

sancionada a Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 que reformava a instruccedilatildeo puacuteblica em

Goiaacutes (1893a) e o Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893 que instituiacutea o novo

Regulamento da Instruccedilatildeo Primaacuteria do Estado de Goiaacutes (1893b)

Boschi (2007) afirma que a periodizaccedilatildeo eacute um instrumento praacutetico do

historiador que ao fazecirc-la fornece ferramentas de uma anaacutelise sobre as

permanecircncias e rupturas nas tradiccedilotildees de uma eacutepoca O autor enfatiza o caraacuteter

subjetivo e autoral da periodizaccedilatildeo explicitando que cada um a realiza a partir de seu

estilo de ler (interpretar) as fontes histoacutericas Por essa razatildeo para situarmos este

35 Trecho do texto ldquoO livro eacute passaporte eacute bilhete de partidardquo de Bartolomeu Campos de Queiroacutes (1999) publicado no livro A formaccedilatildeo do leitor pontos de vista organizado por Jason Prado e Paulo Condini (1996) 36 Neste trabalho o termo ldquoideaacuteriordquo pode ser explicado a partir da definiccedilatildeo de ldquosaberesrdquo de modo que compreendemos que ldquoum saber eacute aquilo de que podemos falar em uma praacutetica discursiva que se encontra assim especificada o domiacutenio constituiacutedo pelos diferentes objetos que iratildeo adquirir ou natildeo um status cientiacutefico () um saber eacute tambeacutem o espaccedilo em que o sujeito pode tomar posiccedilatildeo para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso () um saber eacute tambeacutem o campo de coordenaccedilatildeo e de subordinaccedilatildeo dos enunciados em que os conceitos aparecem se definem se aplicam e se transformam () finalmente um saber se define por possibilidades de utilizaccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo oferecidas pelo discursordquo (FOUCAULT 2013 p 220 grifos nossos) Dessa maneira entendemos que um ideaacuterio se origina a partir de um coletivo de discursos

35

trabalho no acircmbito do seacuteculo XIX no contexto do Impeacuterio o recorte temporal ficou

compreendido entre 1835 a 1886

ldquoISSO Eacute O QUE PERGUNTAS NAtildeO ESPERES

RESPOSTA A NAtildeO SER DE TI MESMOrdquo37

Tomando como paracircmetro esses marcos nos questionamos como a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o Impeacuterio Quais os materiais usados no

decorrer dessa histoacuteria para alfabetizar as crianccedilas goianas Quais ideaacuterios sobre o

ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de Goiaacutes

Ao propor essas problematizaccedilotildees assumimos como hipoacutetese de pesquisa que

as regulamentaccedilotildees de ensino em Goiaacutes e os livros que circularam pela proviacutencia

determinaram os modos de alfabetizar as crianccedilas goianas uma vez que a formaccedilatildeo

da proviacutencia se deu numa poliacutetica latifundiaacuteria e coronelista marcada por um sistema

de inspeccedilatildeo e cerceamento da praacutetica docente

Diante disso defendemos a tese de que a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

em Goiaacutes do seacuteculo XIX ndash mesmo sob a influecircncia da Igreja e marcada por uma

tradiccedilatildeo ruralista que determinou a formaccedilatildeo cultural e social da populaccedilatildeo ndash esteve

em diaacutelogo com as transformaccedilotildees almejadas pelos ideaacuterios de modernidade da

educaccedilatildeo nacional oitocentista especialmente com os que circulavam no Rio de

Janeiro

Eacute necessaacuterio mencionar de antematildeo trecircs notas explicativas que auxiliam a

clarificar e justificar a formulaccedilatildeo da tese tal como foi apresentada Outrossim

esclarecemos que elas seratildeo melhor discutidas no decorrer do trabalho A primeira

refere-se ao uso da terminologia alfabetizaccedilatildeo no periacuteodo que a pesquisa compreende

A segunda agrave histoacuteria da constituiccedilatildeo e organizaccedilatildeo da sociedade goiana E

resumidamente a terceira nota dedica-se aos aspectos da tradiccedilatildeo da historiografia

educacional sobre Goiaacutes no oitocentos que evidencia seu atraso em relaccedilatildeo a outras

localidades do Brasil

Com relaccedilatildeo ao primeiro ponto acerca do uso do termo alfabetizaccedilatildeo para

denominar o processo de ensino e aprendizagem iniciais de leitura e escrita no seacuteculo

37 Versos do poema ldquoAos Vacilantesrdquo de Bertold Brecht (1976 p 678) no seu livro Gesammelte Gedicht Neste trabalho utilizamos a traduccedilatildeo para o portuguecircs de Leandro Konder (1996)

36

XIX alguns esclarecimentos satildeo fundamentais A opccedilatildeo por esse vocaacutebulo a princiacutepio

denotaria um anacronismo jaacute que essa terminologia ao que tudo indica soacute se tornou

usual no Brasil na Primeira Repuacuteblica nos primeiros anos do seacuteculo XX (MORTATTI

2004) ldquoNo decorrer de todo o seacuteculo XIX e nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX o

termo mais comum para designar o ensino das primeiras letras como tambeacutem todo o

processo de escolarizaccedilatildeo era instruccedilatildeordquo (MACIEL 2003 p 243) Trindade (2001)

elucida que no seacuteculo XIX natildeo era comum a associaccedilatildeo da leitura e da escrita para

nomear um mesmo meacutetodo Falava-se notadamente no contexto escolar e na

imprensa pedagoacutegica em meacutetodos de leitura ou de iniciaccedilatildeo agrave leitura

Portanto em consonacircncia com o proacuteprio recorte temporal desta pesquisa (1835-

1886) seria mais usual nominar o processo de ensino de ler e escrever como primeiras

letras e instruccedilatildeo primaacuteria expressotildees essas empregadas nas legislaccedilotildees goianas e

nos discursos produzidos em Goiaacutes no periacuteodo imperial38 Entretanto refletindo sobre

os textos da coletacircnea Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola

organizada por Schwartz Peres e Frade (2010) e as consideraccedilotildees feitas por Mortatti

(2011a) utilizamos a palavra alfabetizaccedilatildeo por ela ser habitual nos estudos brasileiros

que compreendem o ensino e tambeacutem a aprendizagem de leitura e escrita

independente do momento histoacuterico Ao nos debruccedilarmos nas pesquisas sobre a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil e em Portugal39 observamos que recorrer agrave palavra

ldquoalfabetizaccedilatildeordquo tradicionalmente ficou para se referir natildeo a um tempo especiacutefico

delimitado pela etimologia desse termo e sim para aludir aos ldquocontextosrdquo ldquopraacuteticasrdquo

ldquooportunidadesrdquo e ldquoformas de apropriaccedilatildeo e de uso da cultura escritardquo (MAGALHAtildeES

1996 p 444)

A segunda nota explicativa acerca da tese reporta-se aos sentidos histoacutericos da

formaccedilatildeo social e cultural do povo goiano Campos (1987 p 37) assevera que em

Goiaacutes ainda nos anos de 1920 havia uma grande maioria da populaccedilatildeo ldquohabitando

no campo e com uma pequena parcela residindo em pequenas cidades ou em vilasrdquo

Dessa maneira o meio urbano no periacuteodo em questatildeo conforme Campos (1987)

aponta era praticamente nulo Entre 1940 e 1970 segundo Paacutedua (2008) houve um

aumento significativo da produccedilatildeo agriacutecola no Estado levando ao crescimento de

38 Evidenciaremos essa questatildeo melhor no decorrer da tese especialmente na Parte II 39 Principalmente as produccedilotildees de Magalhatildees (1996 2001 2002 2005) Candeias (1996 2004 2008) Candeias e Simotildees (1999)

37

moradores no campo Esses nuacutemeros soacute iratildeo reduzir-se a partir da deacutecada de 1980

(CASARI RIBEIRO DAMASCENO 2014)

Tais dados que remontam ao periacuteodo republicano satildeo para demonstrar a

longevidade do ruralismo40 em Goiaacutes que se constituiu marcado como um territoacuterio

de uma populaccedilatildeo maiormente rural A gecircnese desse quadro deve-se segundo

Palaciacuten (1994) agrave decadecircncia do ouro no iniacutecio do seacuteculo XIX quando ocorreu uma

ldquoruralizaccedilatildeo da vidardquo formando uma nova configuraccedilatildeo da sociedade ldquoDe uma

populaccedilatildeo radicada quase exclusivamente em centros urbanos ndash por pequenas que

estas povoaccedilotildees fossem ndash passa-se a uma dispersatildeo atomizada da populaccedilatildeo dos

camposrdquo O autor acrescenta que ldquoa ruralizaccedilatildeo natildeo raro era acompanhada de uma

regressatildeo cultural que em muitos casos se traduzia numa verdadeira indianizaccedilatildeo de

grupos isoladosrdquo (PALACIacuteN 1994 p 150) ldquoDo Goiaacutes Colocircnia a ruralizaccedilatildeo

passaria como heranccedila ao Goiaacutes Impeacuteriordquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 24)

Essa dinacircmica populacional no decurso da histoacuteria de Goiaacutes refletindo numa

sociedade majoritariamente rural particulariza esse territoacuterio sua cultura e seus

costumes Essa realidade tornou-se desde o seacuteculo XVIII terreno feacutertil para a Igreja

Catoacutelica implantar suas ideias e influenciar com elas e a partir delas a formaccedilatildeo do

povo instalando as primeiras escolas e definindo os modos de viver se comportar e

ser um cidadatildeo goiano Consideramos que a presenccedila da Igreja na historiografia de

Goiaacutes eacute uma questatildeo decisiva para compreender tanto a fundaccedilatildeo de uma cidade e os

grupos que detinham o poder quanto a ldquocultura escolarrdquo41

Os viajantes e cronistas que passaram por Goiaacutes retrataram o estado da regiatildeo

no Seacuteculo XIX demonstrando aspectos de sua decadecircncia e de seu abandono

Sandes e Arrais (2013) fazem uma siacutentese desses escritos acoplando tambeacutem os

registros constantes nos relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia

Saint Hilaire (1819) fala em ldquogrande decadecircnciardquo e ldquoprofunda apatia em que estatildeo imersosrdquo os habitantes de Goiaacutes Rodrigues Jardim (1835) julga as estradas da proviacutencia como ldquosofriacuteveisrdquo assim como descreveu Camargo Fleury (1837) ldquoem peacutessimo estadordquo Pohl (1817) refere-se aos ldquocaminhos esburacadosrdquo e Castelnau (1843) ao ldquomau

40 Empregamos o termo ruralismo natildeo apenas para descrever a questatildeo do predomiacutenio da populaccedilatildeo no meio rural mas para associar agrave ideia de que haacute a partir dessa caracteriacutestica um desdobramento que pode ser compreendido como ldquoum movimentoideologia poliacuteticos produzido por agentes sociais concretos econocircmica e socialmente situados numa dada estrutura de classes e portadores de interesses nem sempre divergentesrdquo (MENDONCcedilA 1997 p 26) 41 Neste trabalho tomamos esse termo de empreacutestimo no sentido atribuiacutedo por Faria Filho (2003) Sobre isso cf Faria Filho Gonccedilalves Vidal e Paulilo (2004)

38

estado dos caminhosrdquo Foi tambeacutem Rodrigues Jardim quem caracterizou a dinacircmica social regional ldquoo ocio e a falta de poliacutetica em hum Paiz onde se pode viver sem trabaliar tem tambeacutem concorrido para a diminuiccedilatildeo da abundacircncia que nelle se disfructavardquo no que eacute acompanhado por Pohl ldquoenquanto tem uns vinteacutens no bolso natildeo mexem com as matildeosrdquo DacuteAlincourt (1818) descreve os habitantes de Goiaacutes como ldquodominados pela preguiccedila e demasiadamente entregues aos prazeres sexuais e bem diferentes satildeo as causas que os tecircm conduzido a tatildeo deploraacutevel estadordquo e para Taunay (1876) ldquoa populaccedilatildeo () vive vida lacircnguida e desanimadardquo Mesmo os escritos de Couto Magalhatildees (1863) que procuram fugir agraves lamentaccedilotildees e aos pedidos de auxiacutelio comuns agrave maioria dos relatoacuterios provinciais natildeo deixam de atestar o contraste entre o potencial econocircmico natildeo explorado e a degeneraccedilatildeo moral dos habitantes de Goiaacutes ldquoaqui a vida se escoa gemendo constantementerdquo sentencia o jovem presidente da proviacutencia (SANDES ARRAIS 2013 p 852-853)

Por esse panorama conjecturamos que a histoacuteria da educaccedilatildeo em e sobre

Goiaacutes se fundou com um discurso que demonstra em relaccedilatildeo a outras localidades do

paiacutes o recorrente atraso da sociedade goiana no oitocentos Observamos que

geralmente as pesquisas no campo da histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes recorrem ao

livro Histoacuteria da Instruccedilatildeo Puacuteblica em Goiaacutes de Bretas (1991) como um Manual para

compreensatildeo do percurso histoacuterico da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes desde o periacuteodo

colonial agrave primeira repuacuteblica Outro claacutessico recorrentemente citado eacute o livro de Palaciacuten

e Moraes (1994) Histoacuteria de Goiaacutes (1722-1972) Os autores apresentam uma narrativa

que associa a modernidade em Goiaacutes ao processo de urbanizaccedilatildeo Como o livro copila

mais de dois seacuteculos de histoacuteria ao tratar da educaccedilatildeo no periacuteodo oitocentista declara

sua inexistecircncia devido ao baixo nuacutemero de professores A impressatildeo que fica da obra

eacute da formaccedilatildeo histoacuterica de um povo goiano como um sempre-colono afastando Goiaacutes

dos ideaacuterios que circulavam no cenaacuterio nacional um ldquoterritoacuterio de analfabetos e

iletradosrdquo42 dentro de uma naccedilatildeo em desenvolvimento

Dessa maneira notamos que se conserva um discurso que quase sempre

reproduz o ldquoestado de periferiardquo de Goiaacutes em relaccedilatildeo ao paiacutes colocando-o como

ldquoalijado do centro do poder e por conseguinte gozando de uma autonomia forccedilada

quase que absolutardquo (CAMPOS 1987 p 16)

Por isso como terceira nota explicativa em relaccedilatildeo agrave tese formulada

acrescentariacuteamos que sem descartar ou menosprezar os creacuteditos das eminentes

pesquisas de Bretas (1991) e Palaciacuten e Moraes (1994) ndash inclusive as referenciando

42 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Haswani (2013 p 31)

39

para compreendermos o contexto poliacutetico e educacional da proviacutencia ndash este trabalho

vai na contramareacute dos discursos que vecircm sendo mantidos sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

goiana no seacuteculo XIX Evidenciamos que no campo da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes houve

diferentes tentativas do governo provincial de alinhar a proposta da instruccedilatildeo primaacuteria

goiana com os ideaacuterios de modernidade educacional que circulavam pelo contexto

nacional em especial no Municiacutepio da Corte43 no Rio de Janeiro

ldquoELA PERMANECERAacute ALI COSTURANDO SUA IMENSA COLCHA COM SEUS DIFERENTES

RETALHOS COLORIDOS SENTADA NA VELHA E EMPOEIRADA POLTRONA DA HISTOacuteRIArdquo44

A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes pode ser compreendida a partir da

ldquometaacutefora da colcha de retalhosrdquo Cada pedaccedilo de tecido costurado a outro pedaccedilo

forma um todo multiforme ao mesmo tempo simeacutetrico Os tecidos se cruzam um no

outro numa fusatildeo em que muitas vezes natildeo se percebe o iniacutecio ou fim do retalho o

que aparentemente estaacute isolado simultaneamente estaacute alinhavado pelos fios da

histoacuteria Logo compreendemos a histoacuteria como processo natildeo linear dialoacutegica e por

isso mesmo polifocircnica pensada a partir das contribuiccedilotildees de Certeau (2002) e Bloch

(2001) Consideramos dessa maneira que a ldquomateacuteria fundamental da histoacuteria eacute o

tempordquo (LE GOFF 1996 p 14)

Delgado (2010 p 33) afirma que o tempo eacute um movimento de muacuteltiplas faces

caracteriacutesticas e ritmos que ldquoinserido agrave vida humana implica duraccedilotildees rupturas

convenccedilotildees representaccedilotildees coletivas simultaneidades continuidades

descontinuidades e sensaccedilotildees (a demora a lentidatildeo a rapidez)rdquo

O olhar do historiador sobre o tempo traz consigo as nuances de suas

concepccedilotildees teoacutericas e de suas experiecircncias definidoras dos diversos modos de

43 Nesse trabalho a denominaccedilatildeo Municiacutepio da Corte eacute correspondente agrave Municiacutepio Neutro Trata-se de uma unidade administrativa instalada por meio do Ato Adicional de 1834 Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 (BRASIL 1834) o qual criou na proviacutencia do Rio de Janeiro a sede da Corte ou seja do governo imperial No regime republicano essa localidade ficou conhecida de Distrito Federal Hoje cidade do Rio de Janeiro 44 Trecho de uma narrativa oral ouvida e registrada em frente ao Museu de Arte de Satildeo Paulo (MASP) em junho de 2017 O autor um senhor que se nomeava como sendo o Zeacute do Poema Competindo com o alto som de muacutesicos e das vozes que passavam pela Avenida Paulista Zeacute do Poema declamava sua vida e suas histoacuterias rodeado por um pequeno grupo que o ouvia Ao final de cada uma de suas narrativas ele tirava a mochila das costas e dizia ldquoOacute meus amigos ouvintes ajudem esse velho escritor a sustentar suas palavras e seu corpo com uma moedardquo A cena ao mesmo tempo tiacutepica e singular permanece intacta em minha memoacuteria

40

analisar um episoacutedio Na teoria histoacuterica por exemplo a noccedilatildeo de tempo estrutural do

Movimento dos Annales colidiu com a visatildeo de tempo vivido do historicismo e

positivismo Essas noccedilotildees pareciam inconciliaacuteveis poreacutem Ricoeur (1994) as integrou

ponderando que a histoacuteria eacute simultaneamente loacutegica e temporal

Entendemos que a especificidade da ciecircncia histoacuterica estaacute em estudar eventos

de um determinado tempo localizados num espaccedilo a partir de discursos guardados

nos arquivos lembranccedilas livros aacutelbuns fotografias dentre tantos outros ldquolugares de

memoacuteriardquo (NORA 1993)

Natildeo obstante a aproximaccedilatildeo entre tempo espaccedilo e memoacuteria eacute uma ldquoarenardquo

de luta45 no campo da histoacuteria (DASSUNCcedilAtildeO BARROS 2006) Logo consideramos

que ao escrevermos sobre o passado por meio dos diferentes discursos os fatos o

tempo e os espaccedilos satildeo reconstruccedilotildees agrave mercecirc das recordaccedilotildees e das possibilidades

de acesso aos documentos A partir desses (des)encontros a histoacuteria amplia suas

versotildees

Com base nessas consideraccedilotildees a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes foi

pensada nesse trabalho em torno dos materiais e meacutetodos utilizados para ensinar as

crianccedilas a ler e escrever46

No que concerne aos materiais damos maior visibilidade aos impressos em

especial agraves cartilhas ou os livros voltados para o ensino de leitura sem negligenciar

outros objetos culturais que contribuiacuteram para a instalaccedilatildeo de modos distintos para

alfabetizar no contexto escolar A escolha pelos livros deu-se por serem eles segundo

Voloacutechinov (2017) elementos de uma interaccedilatildeo discursiva de um diaacutelogo que natildeo

estaacute restrito ao caraacuteter face a face Os livros tal como acrescenta Larrosa (2009) satildeo

maacutequinas do tempo capazes fornecer pistas sobre espaccedilos praacuteticas e sujeitos Nesse

sentido

Um livro ou seja um discurso verbal impresso tambeacutem eacute um elemento da comunicaccedilatildeo discursiva Esse discurso eacute debatido em um diaacutelogo direto e vivo e aleacutem disso eacute orientado para uma percepccedilatildeo ativa uma anaacutelise minuciosa e uma reacuteplica interior bem como uma reaccedilatildeo

45 ldquoArenardquo em alusatildeo ao princiacutepio da enunciaccedilatildeo de Voloacutechinov Mesmo considerando e tendo acesso agrave atual traduccedilatildeo de Marxismo e filosofia da linguagem (VOLOacuteCHINOV 2017) feita por Sheila Grillo e Ekaterina Voacutelkova Ameacuterico que substituiu o termo ldquoarenardquo por ldquopalcordquo conservamos para este trabalho a traduccedilatildeo anterior pois acreditamos ser mais propiacutecia para o efeito de sentido que gostariacuteamos de inserir na afirmativa Doravante ao utilizarmos a expressatildeo ldquoarenardquo ou ldquoarena de lutardquo seraacute a partir dos princiacutepios volochinovianosbakhtinianos 46 Vale referenciar que tal questatildeo natildeo se difere das pesquisas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo produzidas no Brasil (MORTATTI 2000 2019 2011 SCHWARTZ PERES FRADE 2010 etc)

41

organizada tambeacutem impressa sob formas diversas elaboradas em dada esfera da comunicaccedilatildeo discursiva (resenhas trabalhos criacuteticos textos que exercem influecircncia determinante sobre trabalhos posteriores etc) Aleacutem disso esse discurso verbal eacute inevitavelmente orientado para discursos anteriores tanto do proacuteprio autor quanto de outros realizados na mesma esfera e esse discurso verbal parte de determinada situaccedilatildeo de um problema cientiacutefico ou de um estilo literaacuterio Desse modo o discurso verbal impresso participa de uma espeacutecie de discussatildeo ideoloacutegica em grande escala responde refuta ou confirma algo antecipa as respostas e criacuteticas possiacuteveis busca apoio e assim por diante (VOLOacuteCHINOV 2017 p 219)

Jaacute com relaccedilatildeo agrave interpretaccedilatildeo sobre os meacutetodos para alfabetizar as crianccedilas

goianas no oitocentos consideramos aleacutem dos livros que circularam na proviacutencia

diferentes documentos oficiais expedidos em e sobre Goiaacutes a imprensa e

correspondecircncias entre professores e os oacutergatildeos de Inspeccedilatildeo da Instruccedilatildeo Puacuteblica

ldquoCHEGAREI ASSIM AO CAMPO E AOS VASTOS PALAacuteCIOS DA MEMOacuteRIArdquo47

Desse modo para feitura do trabalho alguns arquivos (materiais e digitais)

foram consultados com o objetivo de inventariar as fontes da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

em Goiaacutes Esses diferentes ldquolugares de memoacuteriasrdquo (NORA 1993) constituiacuteram nosso

objeto de estudo ao mesmo tempo possibilitando a leitura e a escrita que fizemos

acerca da temaacutetica da tese Nesse ponto tomando como referecircncia a teoria

enunciativa de Bakhtin (2010) e seus colaboradores em especial Voloacutechinov (2017)

e da Anaacutelise do Discurso sobretudo ancorada em Orlandi (1995) entendemos que

dada a polifonia dos discursos e a instabilidade da linguagem pela sua proacutepria

essecircncia hiacutebrida um texto (aqui todos os documentos consultados lidos e

analisados) mesmo pelos indiacutecios apresentados na sua materialidade natildeo possui

especificamente uma uacutenica interpretaccedilatildeo Qualquer texto de acordo com seu contexto

de uso e com o confronto que dele se faz com outros textos tem sentidos muacuteltiplos

(MORTATTI 1999) Por essa razatildeo as leituras de um documento provocam

diferentes formas de se pensar sobre um determinado fato jaacute que ldquoum texto eacute uma

peccedila de linguagem de um processo discursivo muito mais abrangenterdquo (ORLANDI

1995 p 117) Orlandi (1995) tambeacutem acrescenta que a proacutepria bagagem cultural e os

47 Trecho extraiacutedo da obra Confissotildees de Santo Agostinho (2010 p 274)

42

objetivos de um analista determinam fortemente as unidades de anaacutelise de um texto

por isso o sentido de algo eacute socialmente construiacutedo

No que tange agrave experiecircncia de investigaccedilatildeo dos documentos sobre a histoacuteria

da educaccedilatildeo goiana compartilhando da opiniatildeo de outros pesquisadores quanto agrave

dificuldade de acesso a essas fontes em Goiaacutes em todas as etapas desta pesquisa

enfrentamos variados empecilhos

O principal deles eacute a dispersatildeo dos documentos e as lacunas evidenciadas

durante o percurso Os documentos oficiais do estado estatildeo depositados no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes (AHEG) localizado em Goiacircnia Nesse local haacute muitas

fontes do seacuteculo XVIII e XIX48 estando organizadas em seccedilotildees e por ano (essa

organizaccedilatildeo seraacute melhor detalhada adiante) Dessa maneira o primeiro grande

desafio foi olhar caixa por caixa livro a livro ano a ano catalogando aquilo que era

imprescindiacutevel para o tema Ao mesmo tempo essa oportunidade de contato

prolongado com as fontes no Arquivo fez com que descobriacutessemos documentos

importantes que dariam outras tantas pesquisas como esta de doutorado Como

Valdez e Barra (2012) apontaram sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo goiana haacute ldquoum silecircncio

que paira em Goiaacutes a respeito das produccedilotildees na aacutereardquo (VALDEZ BARRA 2012 p

109) Nessa perspectiva muito ainda precisa ser desvelado e escrito sobre a

educaccedilatildeo no estado

Outra dificuldade refere-se agrave legislaccedilatildeo goiana Nem todas as leis expedidas

pelos Presidentes de Goiaacutes estatildeo disponibilizadas online nos repositoacuterios digitais do

Site da Secretaria de Estado da Casa Civil49 ou da Assembleia Legislativa de Goiaacutes50

As leis nesses sites estatildeo organizadas de acordo com o ano de sua sanccedilatildeo

apresentando diversas lacunas seja na ausecircncia de alguns anos que simplesmente

natildeo apresentam nenhuma lei seja na omissatildeo de algumas leis que foram aprovadas

mas natildeo estatildeo digitalizadas nos sites Isso nos obrigou a fazer uma minuciosa busca

nos Diaacuterios Oficiais do Estado nos Relatoacuterios de Presidentes de Proviacutencia e tambeacutem

nos livros com correspondecircncias oficiais da presidecircncia garimpando as legislaccedilotildees

do periacuteodo compreendido nesta tese

48 No Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes as fontes datadas do seacuteculo XX em sua grande maioria vatildeo ateacute o fim da Era Vargas 1945 A partir da deacutecada de 50 os documentos satildeo esparsos 49 Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrgt Acesso em 17 de junho de 2018 50 Disponiacutevel em lthttpsportalalgolegbrgt Acesso em 17 de junho de 2018

43

Sobre essa pesquisa nos Diaacuterios Oficiais do Estado outro detalhe tambeacutem

dificultou o acesso Na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do

Brasil encontramos digitalizados apenas os Diaacuterios Oficiais de Goiaacutes51 de 1837 a

1839 1852 1853 1866 a 188552 Por esse motivo a consulta agrave legislaccedilatildeo em grande

parte se deu no contato direto com os Diaacuterios Oficiais impressos conservados no

AHEG

As dificuldades poreacutem soacute impulsionaram o desejo por esta pesquisa

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade e Cora Coralina diriacuteamos que se

houve ldquopedras no meio do caminhordquo53 ldquoajuntei todas e levantei a pedra ruderdquo54 deste

estudo Adiante com a finalidade de tambeacutem facilitar a pesquisa de muitos

pesquisadores vindouros relacionamos os arquivos e as fontes neles consultadas

O Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes foi de fato o local onde encontramos

grande parte dos documentos analisados que se localizavam nas seccedilotildees de

1) Documentaccedilatildeo Avulsa organizada em caixas essa seccedilatildeo eacute composta por

documentos que podem ser lidos independentes uns dos outros jaacute que natildeo

tecircm relaccedilatildeo clara entre si Estatildeo dispostos por ano geralmente separados

pelo oacutergatildeo do governo a que se referem Nessa seccedilatildeo de Documentos

Avulsos encontramos grande parte das listas de expediente escolar dos

mapas de turmas correspondecircncias expedidas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

provas da Escola Normal etc

2) Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa satildeo livros ou

documentos encadernados ou costurados nas laterais organizados pela

coerecircncia que mantecircm com as informaccedilotildees constantes na fonte Nessa

seccedilatildeo encontramos diferentes livros com relatoacuterios de Inspetores

Escolares livros de registro de ofiacutecios expedidos pelas Secretarias de

Instruccedilatildeo Puacuteblica etc

51 O primeiro tiacutetulo do Diaacuterio Oficial de Goiaacutes eacute Correio Official de Goyaz que tem a sua primeira publicaccedilatildeo no dia 3 de junho de 1837 Para maiores informaccedilotildees acerca da histoacuteria da imprensa goiana cf Borges e Lima (2008) 52 Acrescenta-se que na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do Brasil no periacuteodo de escrita desta tese havia tambeacutem digitalizados os Diaacuterios Oficiais de Goiaacutes de 1887 1911 a 1913 1915 a 1921 No site do Diaacuterio Oficial do Estado de Goiaacutes as publicaccedilotildees digitalizadas satildeo de 2007 em diante 53 Verso do poema ldquoNo meio do caminhordquo de Carlos Drummond de Andrade (ANDRADE 1978) 54 Versos do poema ldquoDas pedrasrdquo de Cora Coralina (CORALINA 2013)

44

3) Caixas dos Municiacutepios Goianos no AHEG haacute caixas com documentos

especiacuteficos referentes aos municiacutepios de Goiaacutes Como eacute um acervo muito

grande consultamos para este trabalho apenas as Caixas dos municiacutepios

de Cidade de Goiaacutes (antiga capital de Goiaacutes) Pirenoacutepolis (um dos

municiacutepios mais antigos do estado) e Itumbiara (municiacutepio na fronteira com

Minas Gerais)

4) Caixas de Atos Decretos Regimentos Regulamentos Leis Mensagens

Constituiccedilotildees e Relatoacuterios satildeo caixas que conteacutem algumas leis aleacutem de

Relatoacuterios e Mensagens de Presidentes de Goiaacutes Nessa seccedilatildeo

conseguimos parte dos Regulamentos de Ensino de Goiaacutes jaacute que nela natildeo

haacute organicidade nem mesmo sequencialidade entre os documentos ali

guardados

5) Jornais nessa seccedilatildeo consultamos especificamente o Correio Oficial de

Goiaacutes impresso mantido pelo governo onde se publicavam as leis

aprovadas no Brasil e em Goiaacutes aleacutem de textos sobre temas diversos

Fora do estado de Goiaacutes identificamos algumas cartilhas e livros de leitura

utilizados nas escolas goianas mencionados nas fontes inventariadas em acervos de

outros estados Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Biblioteca do Arquivo Puacuteblico

do Estado de Satildeo Paulo

No que tange agraves fontes encontradas em meio digital os repositoacuterios

consultados foram

1) Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do Brasil55 na

qual coletamos sobretudo jornais e parte dos Relatoacuterios de Presidentes de

Goiaacutes

2) Center For Research Libraries56 vinculado agrave Universidade de Chicago

Como na Hemeroteca natildeo encontramos todos os Relatoacuterios de Presidentes

desde a instalaccedilatildeo das Assembleias Legislativas na proviacutencia goiana esse

acervo digital tambeacutem foi consultado Nele pesquisamos particularmente

55 Na Hemeroteca Digital Brasileira vinculada agrave Biblioteca Nacional Digital do Brasil encontramos o acervo digitalizado da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro A partir de buscas com palavras-chaves eacute possiacutevel consultar perioacutedicos de todo o paiacutes As consultas satildeo organizadas por local perioacutedico ou periacuteodo O link de acesso agrave paacutegina da Hemeroteca eacute lthttpbndigitalbngovbrhemeroteca-digitalgt Acesso em 17 de junho de 2018 56 Disponiacutevel em lthttpwwwcrledugt Acesso em 17 de junho de 2018

45

os Relatoacuterios de Goiaacutes embora haja Relatoacuterios de vaacuterios estados

brasileiros

3) Biblioteca Nacional de Portugal57

4) Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin da Universidade de Satildeo Paulo58

5) Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados do Brasil59

6) Biblioteca Puacuteblica Arthur Viana do Governo do Estado do Paraacute60

7) Biblioteca Digital do Senado Federal do Brasil61

8) Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina62

Dos repositoacuterios 3 a 8 numerados acima identificamos coacutepias digitalizadas de

livros que circularam na proviacutencia de Goiaacutes

Aleacutem desses repositoacuterios digitais tambeacutem utilizamos um DVD com documentos

digitalizados sobre Goiaacutes intitulado de Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 1) sob a organizaccedilatildeo da professora Valdeniza Maria de

Lopes da Barra da Universidade Federal de Goiaacutes63 O DVD foi vinculado agrave Rede de

Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes reuacutene cerca de 3200 paacuteginas de

documentos organizados em quatro seacuteries oriundas de diferentes arquivos de Goiaacutes

contemplando legislaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) imprensa com foco em temas da

educaccedilatildeo gabinete literaacuterio goiano expediente escolar Desse DVD utilizamos as

listas de expediente escolar os mapas de turmas a legislaccedilatildeo educacional goiana

Destacamos tambeacutem o acesso que tivemos a livros de leitura e cartilhas que

circularam pelo Brasil no periacuteodo imperial64 graccedilas agrave cessatildeo de trecircs pesquisadoras da

aacuterea da histoacuteria da leitura do livro e da alfabetizaccedilatildeo no Brasil professora Diane

Valdez da Universidade Federal de Goiaacutes professora Francisca Izabel Pereira

Maciel da Universidade Federal de Minas Gerais e professora Giselle Baptista

Teixeira da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias

57 Disponiacutevel em lthttpwwwbnportugalgovptgt Acesso em 22 de junho de 2019 58 Disponiacutevel em lthttpswwwbbmuspbrnodepage=5gt Acesso em 22 de junho de 2019 59 Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdgt Acesso em 22 de junho de 2019 60 Disponiacutevel em lthttpwwwfcppagovbrespacos-culturaissedebiblioteca-arthur-viannagt Acesso em 22 de junho de 2019 61 Disponiacutevel em lthttpswww2senadolegbrbdsfpagesobregt Acesso em 22 de junho de 2019 62 Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrgt Acesso em 22 de junho de 2019 63 Agradecemos agrave Diane Valdez professora da Universidade Federal de Goiaacutes que nos disponibilizou esse DVD 64 Especificaremos os livros cedidos oportunamente no decorrer do trabalho

46

Ao final deste trabalho listamos todas as referecircncias completas das fontes

mencionadas identificando a localizaccedilatildeo de cada uma Acreditamos que tal cuidado

atesta em alguns aspectos a veracidade das fontes ao mesmo tempo em que

facilitaraacute o trabalho dos pesquisadores que desejarem investigar a histoacuteria da

educaccedilatildeo em Goiaacutes

A consulta a todas essas fontes permitiu ao longo do trabalho levantar outras

problematizaccedilotildees novos objetos aguccedilando desdobramentos e continuidades desta

pesquisa aprofundando-a para aleacutem destas paacuteginas Concomitantemente essa

anaacutelise tambeacutem colaborou para delimitarmos e ampliarmos os argumentos que

sustentam nossa tese

Esses satildeo os principais ldquolocais de memoacuteriasrdquo65 em que pesquisamos outros

seratildeo durante o texto destacados com a especificaccedilatildeo das fontes laacute catalogadas Eacute

importante frisar que conservamos a grafia dos documentos consultados e citados

ldquoUM TAL DE CORTAR MEXER REESCREVER AMPUTAR

TRANSFORMAR A MATEacuteRIA-PRIMA EM PRODUTO FINAL A MOacute DE

QUE OS VACILOS A SANGRIA DESATADA NAtildeO TRANSPARECcedilAM

NINGUEacuteM TEM NADA A VER COM ESSAS PLAacuteSTICAS EM SEacuteRIE

O LEITOR QUER UM ROSTINHO BONITO NADA MAISrdquo66

Em vista do exposto organizamos este trabalho em duas partes com cinco

seccedilotildees dispostas da seguinte forma

A primeira parte ldquolsquoPasseando pelos arredoresrsquo do campo da alfabetizaccedilatildeo os

discursos produzidos sobre o objeto de pesquisardquo67 contempla a seccedilatildeo um ldquoGoiaacutes

na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasilrdquo em que compomos o estado da arte sobre as

pesquisas no campo da alfabetizaccedilatildeo no Brasil localizando as que tratam de seus

aspectos histoacutericos A tentativa tambeacutem foi de localizar o estado de Goiaacutes nessas

produccedilotildees

Jaacute a segunda parte da tese ldquoAlfabetizando crianccedilas na proviacutencia de Goiaacutesrdquo

conteacutem as seccedilotildees de dois a cinco

65 Expressatildeo de Nora (1993) 66 Verso do poema ldquoPoema eacute uma carnificinardquo de Chacal (2016) publicado na sua obra Tudo (e mais um pouco) 67 O tiacutetulo dessa parte da tese toma emprestada a expressatildeo ldquoPasseando pelos arredoresrdquo do livro de leitura Goiaz coraccedilatildeo do Brasil de Monteiro (1934)

47

Na seccedilatildeo dois analisamos como se organizou a instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes

no periacuteodo imperial apoacutes o Ato Adicional de 1834 (BRASIL 1834) pelo qual as

Assembleias Provinciais ficaram responsaacuteveis por legislar sobre a instruccedilatildeo nas

proviacutencias do paiacutes A partir de um panorama educacional e social de Goiaacutes em diaacutelogo

com as poliacuteticas nacionais do Impeacuterio esse capiacutetulo evidenciou as principais bases

de um projeto de sociedade goiana que se arquitetava sob influecircncia da Igreja e ao

mesmo tempo se abria agraves propostas de modernidade do seacuteculo XIX

Inventariar os meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas goianas no

oitocentos foi o objetivo da seccedilatildeo trecircs A partir dos documentos do Arquivo Histoacuterio

Estadual de Goiaacutes caracterizamos os tipos de impressos que circularam pelas

escolas da proviacutencia apreendendo seus ideaacuterios tanto para ensinar ler e escrever

quanto para o ensino da leitura corrente68

As seccedilotildees quatro e cinco tratam de iniciativas do governo goiano para

instaurar mudanccedilas na instruccedilatildeo primaacuteria especialmente para ensinar a ler e escrever

em menos tempo e de maneira agradaacutevel a partir de livros estrangeiros e brasileiros

Na seccedilatildeo quatro o destaque eacute para os livros estrangeiros tomando como referecircncia

as principais impressotildees e repercussotildees da viagem de Feliciano Primo Jardim na

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Primo Jardim foi um professor goiano enviado pelo

Presidente da Proviacutencia ao Rio de Janeiro para fazer um curso sobre o meacutetodo

Castilho Por fim na seccedilatildeo cinco apresentamos a produccedilatildeo didaacutetica brasileira que

circulou em Goiaacutes no periacuteodo imperial investigando sobre os impressos escritos por

educadores brasileiros que influenciaram a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas

ldquoSOB A PELE DAS PALAVRAS HAacute CIFRAS E COacuteDIGOSrdquo69

Antes de terminar uma ressalva linguiacutestica

Maiormente neste trabalho usamos a primeira pessoa do plural Parecia-nos

incoerente adotar algo ao contraacuterio jaacute que nossas anaacutelises se ancoram na teoria

discursiva de Bakhtin e de pensadores do seu ciacuterculo Para Bakhtin ldquoeu natildeo posso

me arranjar sem um outro eu natildeo posso me tornar eu mesmo sem um outro eu tenho

de me encontrar num outro para encontrar um outro em mimrdquo (BAKHTIN 2013 p

68 Especificaremos na seccedilatildeo 3 a distinccedilatildeo entre essas categorizaccedilotildees dos impressos 69 Versos do poema ldquoA Flor e a Naacuteuseardquo de Carlos Drummond de Andrade (1978) publicado no livro Antologia Poeacutetica

48

287) Portanto os tempos obscuros de individualismo cientiacutefico e intoleracircncia agrave

diversidade que assolam a Universidade e o mundo fazem mais que urgente a defesa

pelo rompimento de certos padrotildees que a pesquisa e a liacutengua nos impotildeem como por

exemplo o uso impessoal da 3ordm pessoa do singular

Por isso esta tese eacute um diaacutelogo entre a minha voz (de autor) e as diferentes

vozes impressas nos livros e nos documentos bem como com as vozes dos possiacuteveis

leitores Agrave vista disso falamos acreditamos pensamos analisamos descrevemos

fazemos sentimos definimos tratamos demarcamos e tantos outros verbos com

terminaccedilatildeo idecircntica ou de mesma natureza morfossintaacutetica que estabeleceram os

modos de escrever a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

VAMOS PASSEAR

O primeiro livro de leitura escrito em Goiaacutes e dirigido agraves crianccedilas com intuito de

ensinar a histoacuteria do estado foi Goiaz coraccedilatildeo do Brasil publicado em 1934 por Ofeacutelia

Soacutecrates do Nascimento Monteiro professora goiana (MONTEIRO 1934)70 A obra

conteacutem duas partes a primeira com setenta e quatro capiacutetulos e a segunda com vinte

e oito em que a autora trata de questotildees como ldquohigienizaccedilatildeo romantizaccedilatildeo da

infacircncia grupos escolares gecircnero ensino primaacuterio ambiente de estudo

(domeacutesticoescolar) precircmios ensino de histoacuteria leitura livro avaliaccedilatildeo []rdquo

(VALDEZ 2016 p 82)

As personagens principais meninas em idade escolar71 em alguns momentos

da narrativa ldquopasseiam pelos arredoresrdquo do estado de Goiaacutes sempre acompanhadas

por algueacutem da famiacutelia Durante os passeios elas satildeo instruiacutedas sobre algum aspecto

da cultura ou geografia ou histoacuteria goianas Inspirando-nos nesse enredo fazemos

70 Importante mencionar que esse livro foi adotado em todas os Grupos Escolares e Escolas Isoladas do estado por meio do Decreto nordm 4349 de 26 de fevereiro de 1934 (GOIAacuteS 1934) tendo duas ediccedilotildees (1934 e 1983) dada a sua linguagem acessiacutevel agrave crianccedila A narrativa que tem um tom moralista e muito patrioacutetico retrata o cotidiano escolar de crianccedilas que por meio de cartas contam os principais fatos da histoacuteria de Goiaacutes exaltando suas riquezas naturais e culturais A obra de Ofeacutelia surgia no contexto das transformaccedilotildees do estado de disputas poliacuteticas com a ascensatildeo de Pedro Ludovico Teixeira ao governo estadual que apresentou ao Presidente Vargas a ideia de fundar a nova capital goiana transferindo os poderes puacuteblicos a uma nova sede (MONTEIRO 1934 DIAS 2018) Sobre essa obra cf Oliveira e Peres (2016) Valdez (2016) e Dias (2018) 71 Monteiro (1934) daacute nome a essas meninas colocando-as como personagens principais do enredo Satildeo elas Aldacira Eunice Inaacute Iraniacute Jurema Lelia Luciacute Maria Siacutelvia e Tereza

49

um convite ao leitor vamos passear conosco por Goiaacutes do seacuteculo XIX e conhecer um

pouco da trajetoacuteria do ensino de leitura e escrita no ldquocoraccedilatildeo do Brasilrdquo

50

PARTE I

ldquoPASSEANDO PELOS ARREDORESrdquo DO CAMPO DA

ALFABETIZACcedilAtildeO OS DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE

O OBJETO DE PESQUISA

ldquondash Papai disse ela ofegante e ocultando o volume nas

costas adivinhe como se chama o livro que trago nas

costas

ndash Vejamos filhinha se sou bom feiticeiro Garanto que

vocecirc traz aiacute o ldquoGoiazrdquo de Taunay [] hontem agrave noite vocecirc

natildeo me disse que sua coleguinha Alci estava concluindo a

leitura do ldquoGoiazrdquo do Visconde de Taunay para lhe

emprestar

ndash Disse sim senhor

ndash Pois lembrando disso foi que conclui ser esse o livro que

trazias tatildeo triunfalmente

ndash Triunfalmente mesmo meu pai gosto imenso dos livros

que falam em minha terra queridardquo

(MONTEIRO 1934 p 204-205)

51

1 GOIAacuteS NA HISTOacuteRIA DA

ALFABETIZACcedilAtildeO DO BRASIL ____________________________________

Certeau (2002) assevera que o historiador nas uacuteltimas geraccedilotildees adentrou

zonas silenciosas deixando de constituir impeacuterios em busca de uma histoacuteria global

ldquoFez um desviordquo para outras margens a citar os estudos culturais E sob esse ponto

de vista investiga(ou) temascampos antes natildeo privilegiados a feiticcedilaria a loucura a

festa a literatura a cidade a leitura o livro escolar a alfabetizaccedilatildeoanalfabetismo

dentre outros

Ocupando-se de temaacuteticas distintas a histoacuteria mostrou-se tal como Manoel de

Barros descreve a poesia ldquolivre como um rumo nem desconfiadordquo (BARROS 2010

p 110) Entretanto essa liberdade estaacute cerceada pelos limites da operaccedilatildeo

historiograacutefica aqui entendida no modelo certeauniano

Encarar a histoacuteria como uma operaccedilatildeo seraacute tentar de maneira necessariamente limitada compreendecirc-la como a relaccedilatildeo entre um lugar (um recrutamento um meio uma profissatildeo etc) procedimentos de anaacutelise (uma disciplina) e a construccedilatildeo de um texto (uma literatura) (CERTEAU 2002 p 66 grifos do autor)

Desse modo na concepccedilatildeo de Ginzburg (1989) o historiador a estilo de

Sherlock Holmes Freud e do criacutetico de arte Morelli se ateacutem aos detalhes aos signos

mais esparsos aos indiacutecios deixados pelos rastros da histoacuteria Com uma lupa nas

matildeos examina os pormenores negligenciaacuteveis num ldquogesto talvez mais antigo da

histoacuteria intelectual do gecircnero humano o do caccedilador agachado na lama que escruta

52

as pistas da presardquo (GINZBURG 1989 p 154) Logo acompanhando a orientaccedilatildeo do

meacutetodo historiograacutefico de Hilsdorf assumida por Vidal e Faria Filho (2005)

movimentamos as lenteslupas da histoacuteria com objetivo nesta seccedilatildeo e parte da tese

de inventariar e refletir sobre a produccedilatildeo acadecircmica72 relativa agrave histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Brasil evidenciando o lugar ocupado pelo estado de Goiaacutes nesse

campo temaacutetico

Esta seccedilatildeo portanto estaacute organizada em dois itens Inicialmente fizemos um

balanccedilo do conhecimento produzido ao longo do tempo sobre alfabetizaccedilatildeo e das

pesquisas que consideram sua ldquofacetardquo histoacuterica (SOARES 1985) sobretudo no

contexto da Academia

Porteriormente no segundo toacutepico deslocamos as lentes da histoacuteria em duas

direccedilotildees A primeira lente refere-se aos lugares Circunscrevendo as pesquisas em

seus territoacuterios 1) de elaboraccedilatildeo (universidades grupos de pesquisa) e 2) de foco

investigativo (os espaccedilos a que as pesquisas se referem) demonstramos os estados

que mais produziram conhecimento acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e tambeacutem

aqueles que foram objetostemas de investigaccedilotildees A segunda lente volta-se para os

periacuteodos histoacutericos e fontes mais pesquisados tendo como temaacutetica a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo

Num diaacutelogo polifocircnico com os objetos de estudos e problematizaccedilotildees de

diferentes investigaccedilotildees colaboramos para a construccedilatildeo de novas perguntas e

algumas (in)certezas em relaccedilatildeo ao ensino inicial de leitura e escrita Afinal em

ldquotempo de morangosrdquo73 ldquocreio ser sempre necessaacuterio natildeo ter certeza isto eacute natildeo estar

excessivamente certo de lsquocertezasrsquordquo (FREIRE 2011 p 210)

11 ALFABETIZACcedilAtildeO UM TEMA EM DIFERENTES DISCURSOS

A origem de um gecircnero discursivo para Bakhtin (2010) estaacute intimamente

ligada agraves esferas de comunicaccedilatildeo social No que se refere agrave esfera acadecircmica a

exigecircncia eacute a incorporaccedilatildeo de um discurso cientiacutefico altamente dialoacutegico A fala dos

72 Vale ressaltar que neste trabalho compreendemos como produccedilatildeo acadecircmica as pesquisas em formato de teses e dissertaccedilotildees Como sabemos essa produccedilatildeo evolui a cada dia o que nos leva a definir o marco temporal desse levantamento entre a deacutecada de 1990 ateacute junho de 2019 73 Expressatildeo cunhada por Clarice Lispector no livro A hora da estrela (1977 p 108) ao se referir ao tempo passageiro

53

outros eacute integrada atraveacutes de citaccedilotildees de obras ou referecircncias (in)diretas aos sujeitos

da pesquisa tudo isso auxiliando na cientificidade de uma produccedilatildeo acadecircmica No

entanto natildeo se mede essa cientificidade ndash se eacute que ela seja mesmo mensuraacutevel ndash

calculando apenas a presenccedila de citaccedilotildees e sim pela articulaccedilatildeodiaacutelogo entre elas

e as ideias do autor Seraacute esse diaacutelogo que determinaraacute a promoccedilatildeo de novos

conhecimentos

Por esse motivo urge que cada campo levante uma espeacutecie de ldquoestado da arterdquo

sobre as temaacuteticasconhecimentos que circulam em torno de sua constituiccedilatildeo Afinal

com a expansatildeo das poliacuteticas de fomento agrave poacutes-graduaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de novos

cursos de mestrado e doutorado diariamente defendem-se mais teses e dissertaccedilotildees

a respeito de variados assuntos No caso da alfabetizaccedilatildeo Maciel (2014) ressalta que

o crescente interesse pelo tema reverberou em iniciativas governamentais e em

mudanccedilas na legislaccedilatildeo contudo ldquoos problemas baacutesicos dana alfabetizaccedilatildeo

persistemrdquo (MACIEL 2014 p 127)

A leitura dos diversos resumos e do conteuacutedo de dissertaccedilotildees e teses sobre

alfabetizaccedilatildeo fez-nos verificar que haacute uma histoacuterica preservaccedilatildeo do discurso que

procura os culpados para as mazelas da educaccedilatildeo ldquoPrevalecem as criacuteticas agrave

insuficiecircncia e agrave precariedade da formaccedilatildeo do professor alfabetizador [] ou ainda e

sobretudo apontando a falta de sintonia entre os discursos teoacutericos e as reflexotildees

sobre as praacuteticas dos alfabetizadoresrdquo (MACIEL 2014 p 126)

E embora constatemos que muitos dos problemas citados persistem no

universo da pesquisa acadecircmica natildeo podemos desconsiderar todos os avanccedilos que

obtivemos na aacuterea educacional devido agraves diferentes contribuiccedilotildees dos grupos de

pesquisa instalados nas universidades Exemplo notaacutevel disso eacute o acesso cada vez

maior da crianccedila com deficiecircncia agrave rede regular de ensino dentre outros aspectos

resguardados pela legislaccedilatildeo da educaccedilatildeo especial numa perspectiva inclusiva

Muitas dessas conquistas se devem aos trabalhos de vaacuterios pesquisadores que se

engajaram numa luta social e disseminaram teorias de inclusatildeo que valorizam o ser

humano e suas individualidades74

74 Nesse ponto destacam-se as pesquisas desenvolvidas pelo Laboratoacuterio de estudos e pesquisas em ensino e diferenccedila (LEPED) da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Campinas que desde 1996 coordenado pela Profordf Drordf Maria Teresa Egleacuter Mantoan disseminou vaacuterias propostas sobre uma educaccedilatildeo na diversidade auxiliando na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo especial Parte dos avanccedilos dessas poliacuteticas pode ser conferida em Mantoan (2014)

54

Destarte haacute que se questionar sobre alguns discursos que rondam a escola

brasileira e que de certa forma legitimam e naturalizam o fracasso do processo de

ensino e aprendizagem na fase inicial do ensino de leitura e escrita Quais foram as

repercussotildees e as consequecircncias desses discursos sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e

sobre as poliacuteticas puacuteblicas de leitura e escrita A favor de quem foram difundidos

Sobre quais bases filosoacuteficas epistemoloacutegicas e ideoloacutegicas foram essas praacuteticas e

poliacuteticas construiacutedas Parafraseando Klemperer (2009 p 55) acrescentariacuteamos que

discursos como esses podem ser como minuacutesculas doses de arsecircnico satildeo engolidos

de maneira despercebida e parecem ser inofensivos ldquopassado um tempo o efeito do

veneno se faz notarrdquo

Em direccedilatildeo contraacuteria aderimos agraves proposiccedilotildees de Charlot (2002) ao afirmar

que eacute preciso fazer uma leitura positiva da escola desvencilhada de preconceitos e

achismos No que concerne agrave temaacutetica desta tese um estudo histoacuterico da

alfabetizaccedilatildeo tal questatildeo alerta-nos para natildeo corrermos os riscos de uma anacrocircnica

ilusatildeo que nos leva a transformar a Histoacuteria em juiacuteza dos fatos Longe de julgar se o

passado ou o presente das praacuteticas alfabetizadoras deram conta das dimensotildees da

leitura e da escrita pretendemos compreender a alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir de

uma dimensatildeo historiograacutefica

Concebendo que estamos imersos numa rede discursiva e que ldquonovas palavras

satildeo criadas ou a velhas palavras daacute-se um novo sentindo quando emergem novos

fatos novas ideias novas maneiras de compreender os fenocircmenosrdquo (SOARES 1998

p 19) chama-nos a atenccedilatildeo como a palavra alfabetizaccedilatildeo ganhou ao longo do tempo

uma seacuterie de significados e natildeo estaacute mais restrita ao campo da liacutengua portuguesa

outrossim enxergamo-la aqui como um tema permeado e perpassado por diferentes

discursosvozes sociais (MORTATTI 2011a)

Numa busca no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes em junho de 2019

foram encontrados 6094 resultados com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo conforme

apresentamos na tabela a seguir

55

Tabela 2 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees identificadas no Banco de dados da Capes a

partir da busca com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo

Ano TesesDissertaccedilotildees

1987-1989 57

1990-1999 533

2000-2009 1656

2010-2019 3848

Total 6094

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Os 6094 resultados natildeo expressam exatamente a quantidade de produccedilotildees

acadecircmicas sobre a alfabetizaccedilatildeo Tal como Mortatti (2011a) aponta haacute uma

pluralidade e complexidade de conceitos atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo o que justifica o

nuacutemero expressivo de trabalhos localizados em aacutereas externas agraves ciecircncias humanas

Encontramos vocaacutebulos que adjetivavam o termo alfabetizaccedilatildeo destacando esse

processo no seu ldquosentido amplordquo75 (MORTATTI 2011a) e tambeacutem ao modo como se

aprende76

Poreacutem ao delimitar a definiccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo no seu ldquosentido mais restrito

e especiacuteficordquo (MORTATTI 2011a) entendendo-a como processo de ensino e

aprendizagem iniciais da leitura e escrita o nuacutemero se reduz mas ainda eacute significativo

confirmando o interesse dos pesquisadores pela temaacutetica A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a

pesquisa ldquoAlfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimentordquo (ABEC)77 realizada

75 Mortatti (2011a) elucida a ampliaccedilatildeo dos sentidos atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo utilizando a expressatildeo ldquosentido amplordquo e ldquosentido mais restrito e especiacuteficordquo do ldquotermoconceito alfabetizaccedilatildeordquo Na voz da autora ldquoa utilizaccedilatildeo do termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo consolidou-se no Brasil a partir do iniacutecio do seacuteculo XX sempre relacionado predominantemente com processos de escolarizaccedilatildeo e a partir das deacutecadas finais desse seacuteculo passou a ser utilizado tanto em sentido amplo (ldquoalfabetizaccedilatildeo matemaacuteticardquo ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo dentre outros) quanto em sentido mais restrito e especiacutefico ldquoensino-aprendizagem inicial de leitura e escritardquo (MORTATTI 2011a p 8) Em consulta aos tiacutetulos dos 6094 trabalhos algumas expressotildees encontradas para se referir a esse aspecto do ldquosentido amplordquo foram alfabetizaccedilatildeo ambiental artiacutestica cartograacutefica cientiacutefica cientiacutefica-tecnoloacutegica-digital computacional digital ecoloacutegica econocircmica estatiacutestica esteacutetica financeira geograacutefica histoacuterica informacional linguiacutestica matemaacutetica musical nutricional poliacutetica tecnoloacutegica visual etc 76 Foram identificadas algumas expressotildees que denotavam caracteriacutesticas aos modos de se alfabetizar alfabetizaccedilatildeo afetiva digital integral interacional online solidaacuteria etc 77 A pesquisa ldquoAlfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimentordquo (ABEC) teve iniacutecio em meados de 1980 e manteacutem desde entatildeo caraacuteter permanente no Centro de Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita (CEALE FaEUFMG) ldquoSeus objetivos satildeo 1) levantamento e avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo acadecircmica (teses e dissertaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeo) produzida nos programas de poacutes-graduaccedilatildeo das Instituiccedilotildees brasileiras 2) avaliaccedilatildeo qualitativa e quantitativa das

56

inicialmente por Soares (1989) e posteriormente atualizada por Soares e Maciel

(2000) e Maciel (2014) catalogou no periacuteodo compreendido entre 1961 e 2012 1618

trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

Ao cotejarmos esses dados com os apresentados por Mortatti Oliveira e

Pasquim (2014) que inventariaram cerca de 1440 teses e dissertaccedilotildees entre os anos

de 1965 e 201178 percebemos que a partir de deacutecada de 1980 aumenta o nuacutemero de

trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo o que expressa uma questatildeo

macroestrutural no campo Nesse momento ocorreram as primeiras divulgaccedilotildees da

teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita desenvolvida por Ferreiro e Teberosky (1985)

e o termo letramento79 comeccedilava a ser utilizado para denotar os aspectos sociais da

aprendizagem da liacutengua escrita

Esses fatos igualmente explicam as conclusotildees de pesquisas sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil feitas por Esposito (1992) Mortatti (2014) Guimaratildees e Quillici

Neto (2018)

Esposito (1992) demonstrou como nos fins da deacutecada de 1980 o enfoque dos

artigos publicados na Revista Cadernos de Pesquisa foi plural e voltado para o

questionamento dos materiais didaacuteticos utilizados na escola para alfabetizar as

crianccedilas Dentre esses materiais a cartilha foi tratada de forma mais atenuada devido

produccedilotildees cientiacuteficas 3) socializaccedilatildeo da produccedilatildeo aos pesquisadores brasileiros por meio da inclusatildeo no banco de dados 4) integraccedilatildeo de diversos pesquisadores do paiacutes Quatro categorias e seus cruzamentos orientam a anaacutelise assuntos privilegiados pela produccedilatildeo pressupostos teoacutericos ideaacuterios pedagoacutegicos e natureza de texto (ensaio relato de experiecircncia estudo de caso etc) A partir de 2006 a pesquisa tornou-se interinstitucional e conta com a colaboraccedilatildeo de pesquisadores de UEMG UFES UFMT UFPA UFRGS UFU e UNESPrdquo Informaccedilotildees disponiacuteveis em lthttpwwwcealefaeufmgbralfabetizacao-no-brasil-o-estado-do-conhecimentoabechtmlgt Acesso em 10 de junho de 2019 78 Eacute importante destacar que os criteacuterios para coleta de dados no acircmbito da ABEC (SOARES 1989 SOARES MACIEL 2000 MACIEL 2014) e na pesquisa feita por Mortatti Oliveira e Pasquim (2014) satildeo diferentes Ambas as investigaccedilotildees inventariaram os trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo no entanto em Soares (1989) foram inventariadas e analisadas dissertaccedilotildees de mestrado teses de caacutetedra de livre-docecircncia de doutorado e artigos publicados em 21 perioacutedicos especializados Em Soares e Maciel (2000) e Maciel (2014) permaneceram as dissertaccedilotildees e teses (doutorado e de concurso da carreira docente superior caacutetedraprofessor titular livre-docecircncia) excluindo os artigos cientiacuteficos Jaacute na pesquisa de Mortatti Oliveira e Pasquim (2014) satildeo consideradas apenas teses de doutorado e dissertaccedilotildees de mestrado 79 Segundo Mortatti (2004) a entrada do termo e conceito ldquoletramentordquo no Brasil inicia-se na deacutecada de 1980 quando eacute utilizado pela primeira vez por Mary Kato em 1986 na apresentaccedilatildeo do livro No mundo da escrita uma perspectiva psicolinguiacutestica Posteriormente a palavra tambeacutem aparece em publicaccedilotildees de Tfouni (1988) Kleiman (1995) e Soares (1995 1998 2003) Eacute importante destacar que na definiccedilatildeo do termo haacute divergecircncias e convergecircncias entre as autoras Para aprofundar nessas questotildees cf Mortatti (2004)

57

agrave criacutetica do construtivismo aos seus textos e aos meacutetodos de ensinar a ler e escrever

Na revista em questatildeo Esposito (1992) identifica e analisa cerca de 47 ensaios

publicados ao longo de 20 anos O primeiro trabalho identificado foi o de Poppovic em

1971 e o uacuteltimo o de Rosemberg em 199180

Mortatti (2014) consultando a Base Scientific Electronic Library Online

(SciELO) aponta 237 artigos sobre alfabetizaccedilatildeo em 78 perioacutedicos indexados e

divulgados entre 1972 e 2012 Desse total 207 foram publicados no periacuteodo

compreendido de 1992 a 2012 concluindo entatildeo a autora ldquopode-se constatar que

nas deacutecadas de 1990 e 2000 houve aumento significativo da divulgaccedilatildeo em

perioacutedicos ldquoqualificadosrdquo de artigos sobre alfabetizaccedilatildeordquo (MORTATTI 2014 p 145)

Comparando-se a quantidade de publicaccedilotildees de artigos de um lado e de teses

e dissertaccedilotildees de outro constata-se que haacute pouca visibilidade dessas pesquisas nos

perioacutedicos cientiacuteficos Mortatti (2014) assevera que muitos pesquisadores

principalmente mestrandos e doutorandos optam por publicar seus trabalhos em

livros capiacutetulos de livro anais de evento dentre outros meios e suportes de

divulgaccedilatildeo devido agraves exigecircncias da avaliaccedilatildeo para publicaccedilatildeo de artigos em revistas

cientiacuteficas e agrave grande demora para o seu aceite ou recusa Por isso consultando

outra base de dados o ldquoGoogle Acadecircmicordquo a autora localizou com a palavra

ldquoalfabetizaccedilatildeordquo 990 resultados entre 1987 a 2014 Diante disso ressalta a

necessidade de uma avaliaccedilatildeo do impacto cientiacutefico e social da produccedilatildeo acadecircmica

brasileira sobre o tema jaacute que as pesquisas sobre alfabetizaccedilatildeo natildeo tecircm chegado aos

ldquodestinataacuterios supostamente almejados professores alfabetizadores e gestores das

poliacuteticas puacuteblicas e da educaccedilatildeo baacutesicardquo (MORTATTI 2014 p 147)

Guimaratildees e Quillici Neto (2018) pesquisaram sobre a multiplicidade de

enfoques do tema alfabetizaccedilatildeo a partir da anaacutelise dos resumos de 5 perioacutedicos81

publicados entre 1944 e 2009 Nesse periacuteodo foram identificados 84 artigos Os

autores notaram que a partir da deacutecada de 1980 houve um aumento quantitativo no

nuacutemero de artigos publicados sobre alfabetizaccedilatildeo pois cerca de 8214 dos textos

80 Trata-se dos textos intitulados ldquoAlfabetizaccedilatildeo um problema interdisciplinarrdquo (POPPOVIC 1971) e ldquoRaccedila e educaccedilatildeo inicialrdquo (ROSEMBERG 1991) 81 Os perioacutedicos consultados por Guimaratildees e Quillici Neto (2018) foram Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos (RBEP) Cadernos de Pesquisa da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo ndash Universidade de Satildeo Paulo (Cessou em 1998 continuou como Educaccedilatildeo e Pesquisa USP) Revista Educaccedilatildeo amp Sociedade (CEDES) e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo (ANPEd)

58

localizados estatildeo em ediccedilotildees de 1980 a 2009 Observaram tambeacutem a recorrecircncia

frequente agrave teoria cognitivista como ressaltou Soares (1997)

nos anos 80 [] a Psicologia Geneacutetica piagetiana traz uma nova compreensatildeo do processo de aprendizagem da liacutengua escrita atraveacutes particularmente das pesquisas e publicaccedilotildees de Emilia Ferreiro e seus colaboradores obrigando a uma revisatildeo radical das concepccedilotildees do sujeito aprendiz da escrita e de suas relaccedilotildees com esse objeto de aprendizagem a liacutengua escrita (SOARES 1997 p 60)

As informaccedilotildees apresentadas por todos esses autores contrapondo-se ao

levantamento das teses e dissertaccedilotildees sobre a alfabetizaccedilatildeo incitam agrave reflexatildeo sobre

dois pontos essenciais acerca das tendecircncias do discurso produzido sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil

A primeira tendecircncia estaacute na ecircnfase dada agrave leitura como objeto privilegiado da

alfabetizaccedilatildeo Os discursos empreendidos sobre o processo de alfabetizaccedilatildeo

retinham-se historicamente aos estudos dos domiacutenios da habilidade de leitura ficando

a escrita agrave margem do processo Baseados em Mortatti (2000) sabemos que a

mudanccedila desse discurso se propagou sobretudo a partir de 1985 com a teoria da

psicogecircnese da liacutengua escrita e teve uma ruptura paradigmaacutetica com as ideias

difundidas por Geraldi (1984 1992 1996)82 e Smolka (1988) lanccediladas tambeacutem na

deacutecada de 80 mas que ganharam maior visibilidade a partir dos anos 90

Considerando a escrita como um processo de produccedilatildeo desvinculada da coacutepia e do

traccedilado de letras Geraldi (1984 1992 1996) e Smolka (1988)83 evocam uma

dimensatildeo discursiva do ensino de liacutengua portuguesa e o texto passa a ser o objeto

central da aula de modo que alfabetizar estaacute associado ao ensino da leitura e da

produccedilatildeo de textos

Ainda sobre essa primeira tendecircncia Soares (2016) nos lembra que os

meacutetodos e livros de alfabetizaccedilatildeo ateacute meados de 1980 destacavam a leitura como

elemento central do processo ldquomeacutetodos de leiturardquo e os ldquolivros de leiturardquo A

82 Embora muitos dos textos de Geraldi natildeo tratem precisamente da aprendizagem inicial da leitura e escrita as reflexotildees empreendidas pelo autor contribuiacuteram para inauguraccedilatildeo de um novo momento da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil como explica Mortatti (2000) 83 Sobre as contribuiccedilotildees de Geraldi para o ensino de liacutengua portuguesa no Brasil cf Silva Ferreira e Mortatti (2014) e Paula (2014) Acerca da dimensatildeo discursiva da alfabetizaccedilatildeo e das contribuiccedilotildees da publicaccedilatildeo da obra A crianccedila na fase inicial da escrita a alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo de Smolka (1988) cf Goulart Gontijo e Ferreira (2017)

59

produccedilatildeo de texto era conteuacutedo das seacuteries seguintes quando a crianccedila jaacute dominava

o ldquocoacutedigo escritordquo84 e as ldquoconvenccedilotildees da liacutenguardquo

A segunda tendecircncia evidencia-se nos referenciais teoacuterico-conceituais que

embasam as teses e dissertaccedilotildees Notamos que a teorizaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo na

perspectiva do letramento difundida especialmente por Magda Soares tem sido

recorrentemente utilizada pelos pesquisadores Numa anaacutelise por amostragem

selecionamos aleatoriamente 400 dissertaccedilotildees e teses do campo da alfabetizaccedilatildeo

produzidas a partir da deacutecada de 1980 conforme descrevemos na tabela

Tabela 3 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees selecionadas no Banco de dados da Capes

Ano Dissertaccedilotildees Teses

1980-1989 85 1585

1990-1999 80 2086

2000-2009 50 50

2010-2019 50 50

Total 265 135

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Dos 400 trabalhos analisados 203 declararam em seus resumos utilizar no

referencial teoacuterico da pesquisa a compreensatildeo de alfabetizaccedilatildeo atrelada agrave noccedilatildeo de

letramento 97 trabalhos natildeo declararam filiaccedilatildeo agraves noccedilotildees de letramento embora em

38 deles o termo surja no decorrer do texto

Nas 241 pesquisas que utilizaram o termo letramento a base teoacuterica eacute

sintetizada nas terminologias ldquoalfabetizar letrandordquo ldquoalfabetizaccedilatildeo e letramentordquo

ldquoalfabetizaccedilatildeo na perspectiva do letramentordquo No geral essas noccedilotildees foram

fundamentadas pelas contribuiccedilotildees de Magda Soares e Angela Kleiman De forma

mais especiacutefica Soares eacute referenciada nos 241 trabalhos enquanto Kleiman aparece

em apenas 106 o que nos leva a concluir que as ideias de Soares influenciaram na

84 Usamos aqui o termo ldquocoacutedigo escritordquo pois na base do pensamento dos meacutetodos tradicionais de alfabetizaccedilatildeo aprender a ler eacute um processo de aquisiccedilatildeo de um coacutedigo 85 Entre 1980 e 1989 foram selecionadas apenas 15 teses embora tenhamos identificado 23 trabalhos de doutoramento produzidos na deacutecada O criteacuterio de seleccedilatildeo foi a disponibilizaccedilatildeo desses trabalhos para download nas bibliotecas das universidades 86 Entre 1900 e 1999 foram selecionadas apenas 20 teses das 36 produzidas na deacutecada O criteacuterio de seleccedilatildeo foi a disponibilizaccedilatildeo desses trabalhos para download nas bibliotecas das universidades

60

na composiccedilatildeo de muitas pesquisas no campo da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Tal fato

pode ser explicado devido ao engajamento dessa autora na aacuterea da alfabetizaccedilatildeo

infantil ao passo que Kleiman tem trabalhos diversos que abrangem o letramento natildeo

soacute na primeira infacircncia mas tambeacutem entre jovens adultos professores etc

A tendecircncia desse discurso que compreende a alfabetizaccedilatildeo aliada ao

letramento tambeacutem dialoga com os referenciais teoacutericos que sustentaram as poliacuteticas

empreendidas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo na formaccedilatildeo continuada destinada aos

alfabetizadores no Brasil ateacute 201887 que ressaltaram a necessidade de o professor

conhecer a diferenccedila e indissociabilidade entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Desde a implantaccedilatildeo do PROFA (Programa de Formaccedilatildeo de Professores

Alfabetizadores) em 2001 os Guias do Formador88 traziam como foco nos seus

objetivos e conteuacutedos de definiccedilatildeo a relaccedilatildeo entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

recomendando aos professores a leitura dos capiacutetulos ldquoLetramento em verbeterdquo ldquoO

que eacute letramentordquo ldquoLetramento em texto didaacuteticordquo ldquoO que eacute letramento e

alfabetizaccedilatildeordquo do livro Letramento um tema em trecircs gecircneros de Magda Soares89

Os programas posteriores ao PROFA o PROacute-LETRAMENTO ndash Mobilizaccedilatildeo

pela Qualidade da Educaccedilatildeo (Programa de Formaccedilatildeo Continuada de Professores dos

AnosSeacuteries Iniciais do Ensino Fundamental) e o PNAIC (Pacto Nacional pela

87 Delimita-se esse recorte temporal com a ressalva de que o fim do programa federal Pacto Nacional pela Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa jaacute prenunciado em 2017 e efetivado em 2018 associado agrave implementaccedilatildeo do programa Mais Alfabetizaccedilatildeo instituiacutedo durante a gestatildeo de Michel Temer pocircs fim agrave discussatildeo da questatildeo do letramento na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas instaurando o discurso voltado para os resultados e responsabilizaccedilatildeo do corpo docente pelo desempenho acadecircmico dos alunos Em junho de 2019 o programa Mais Alfabetizaccedilatildeo continua em funcionamento com mudanccedilas definidas jaacute no governo de Jair Bolsonaro 88 O PROFA foi um programa organizado em trecircs moacutedulos (Cf BRASIL 2001a 2001b) Cada moacutedulo era direcionado por duas publicaccedilotildees o guia do formador e a coletacircnea de textos O guia do formador apresentava ldquoas sequecircncias de atividades de formaccedilatildeo com orientaccedilotildees detalhadas sobre como o formador pode encaminhar cada proposta de trabalho e como realizar suas intervenccedilotildees para favorecer a discussatildeo a reflexatildeo e a aprendizagem do grupo de professores Cada uma dessas sequecircncias eacute chamada de Unidaderdquo (BRASIL 2001a p 17) Na coletacircnea de textos encontravam-se reproduzidos alguns dos textos citados nas unidades de cada moacutedulo As orientaccedilotildees para o uso do Guia do Formador (BRASIL 2001a p 22) reforccedilavam que o formador ao planejar o seu trabalho ldquodeve providenciar com antecedecircncia as coacutepias dos textos indicados para fornececirc-las aos professores que por sua vez deveratildeo colocaacute-las na parte do Fichaacuterio destinada agrave Coletacircnea de Textosrdquo 89 Outro texto recomendado para estudo no acircmbito do PROFA (BRASIL 2001a) eacute o emblemaacutetico artigo de Magda Soares ldquoAs muitas facetas da alfabetizaccedilatildeordquo publicado no Cadernos de Pesquisa em 1985 (SOARES 1985)

61

Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa)90 trabalharam com as noccedilotildees de letramento baseadas

principalmente em Soares91

Enfim diante da complexidade dos discursos acadecircmicos ateacute aqui expostos

que auxiliaram na organizaccedilatildeo dos domiacutenios da alfabetizaccedilatildeo no Brasil faz-se

necessaacuterio no contexto desta tese questionar qual foi a contribuiccedilatildeo do estado de

Goiaacutes na constituiccedilatildeo desses discursos

Iniciemos nossas reflexotildees a partir de alguns dados

Os quatro programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo que se destacam no

estado de Goiaacutes estatildeo ligados agrave Universidade Federal de Goiaacutes (UFG) e agrave Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Goiaacutes (PUC-GO) Dos quatro trecircs se vinculam agrave UFG o

primeiro e mais antigo com sede na Faculdade de Educaccedilatildeo em Goiacircnia o segundo

na Unidade Acadecircmica Especial Educaccedilatildeo na Regional de Catalatildeo e o terceiro na

Unidade Acadecircmica Especial Ciecircncias Humanas e Letras na Regional de Jataiacute92 Os

trecircs oferecem mestrado e apenas o primeiro oferece doutorado Na PUC-GO haacute oferta

de vagas para o curso de mestrado e doutorado

Considerando essa realidade e numa busca nos sites institucionais desses

programas constatamos que a temaacutetica alfabetizaccedilatildeo aparece apenas no programa

de poacutes-graduaccedilatildeo da UFG Regional de Catalatildeo na caracterizaccedilatildeo da linha de

pesquisa intitulada ldquoLeitura educaccedilatildeo e ensino de liacutengua materna e ciecircncias da

naturezardquo93 A esta linha vincula-se o grupo de pesquisa ldquoEDULE ndash Educaccedilatildeo Leitura

e Escritardquo que natildeo traz em sua descriccedilatildeo explicitamente o termo alfabetizaccedilatildeo94 mas

90 O PROFA esteve em funcionamento de 2001 a 2003 O PROacute-LETRAMENTO de 2005 a 2012 Jaacute o PNAIC de 2012 a 2018 Para uma leitura criacutetica desses programas cf Rocha Santos e Oliveira (2018) 91 Para aprofundar o conhecimento da vida e da obra de Magda Soares e suas contribuiccedilotildees para a alfabetizaccedilatildeo no Brasil cf Maciel (2018) Mortatti e Oliveira (2011) e a ediccedilatildeo especial do Jornal Letra A (novembrodezembro de 2012) que fez uma homenagem e reflexatildeo sobre os 80 anos de Magda Soares 92 Essa Unidade Acadecircmica em 2018 foi desmembrada da UFG passando a denominar Universidade Federal de Jataiacute (UFJ) Utilizamos aqui o nome anterior pois as pesquisas catalogadas nesse item foram defendidas quando a atual UFJ ainda era Unidade Acadecircmica da Universidade Federal de Goiaacutes 93 Estatildeo vinculados agrave linha de pesquisa ldquoLeitura educaccedilatildeo e ensino de liacutengua materna e ciecircncias da naturezardquo quatro professores orientadores dos quais dois natildeo trabalham com a temaacutetica leitura e escrita 94 Segundo dados do Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil Lattes CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico) o EDULE foi criado em 2010 e tem como liacutederes Selma Martines Peres e Maria Aparecida Lopes Rossi As temaacuteticas dos trabalhos do grupo estatildeo inscritas na seguinte descriccedilatildeo ldquodesenvolvimento de pesquisas que contribuam para a compreensatildeo da educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a leitura e escrita leitor livro

62

as pesquisas conduzidas por Selma Martines Peres e Maria Aparecida Lopes Rossi

estatildeo direcionadas para essa aacuterea Esse grupo a partir de 2010 inaugurou algumas

iniciativas que colaboraram para a efervescecircncia de investigaccedilotildees acadecircmicas sobre

as praacuteticas de ensino de leitura e escrita no estado de Goiaacutes como o I Congresso

Nacional de Educaccedilatildeo e Leitura realizado em 2017 Esse evento contou com duas

ediccedilotildees antecedentes em niacutevel regional abrangendo as temaacuteticas Histoacuteria da Leitura

e do Livro e Praacuteticas de Leitura e Escrita

Outro dado importante para refletir sobre a questatildeo anteriormente formulada

diz respeito agraves produccedilotildees acadecircmicas sobre a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas

produzidas em Universidades de Goiaacutes Na busca nas bibliotecas digitais de

dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO em junho de 2019 identificamos 28

dissertaccedilotildees e nenhuma tese com o tema alfabetizaccedilatildeo conforme apresentamos na

tabela a seguir

Tabela 4 Quantidade de dissertaccedilotildees identificadas com o tema alfabetizaccedilatildeo nas bibliotecas

digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

Ano UFG PUC-GO

1990-1999 7 -

2000-2009 1 6

2010-2019 13 1

Total 21 7

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta nas bibliotecas digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

As 28 dissertaccedilotildees identificadas demonstram uma tiacutemida produccedilatildeo sobre o

tema alfabetizaccedilatildeo nos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Goiaacutes Reconhecemos que

possivelmente numa procura mais ampla encontrariacuteamos outras pesquisas sobre a

alfabetizaccedilatildeo goiana produzidas em outras universidades de outros estados Dentre

as encontradas apenas uma vinculada agrave PUC-GO se ocupa com aspectos do

passado a de Guimaratildees (2011) A autora faz uma pesquisa sobre o estado do

analisando a histoacuteria da leitura cultura escolar ensino da liacutengua materna praacuteticas de leitura condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de livros poliacuteticas de incentivo agrave leitura e livro adotadas por diferentes governos formaccedilatildeo do leitor em ambientes escolares e natildeo-escolaresrdquo O grupo conta com duas linhas de pesquisa 1) Ensino de Liacutengua Materna praacuteticas perspectivas e formaccedilatildeo do professor e 2) Leitura Histoacuteria Poliacuteticas e Praacuteticas Conta com 7 pesquisadores e 11 estudantes Informaccedilotildees disponiacuteveis em lthttpdgpcnpqbrdgpespelho grupo8175307049379548gt Acesso em 07 de junho de 2019

63

conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil ressaltando a preponderacircncia do

pensamento de Emilia Ferreiro Ana Teberosky e Magda Soares na educaccedilatildeo

brasileira As demais dissertaccedilotildees se inscrevem em anaacutelises de questotildees de sua

atualidade Vinte e trecircs pesquisas tecircm como objeto a alfabetizaccedilatildeo em municiacutepios

distintos do estado treze pesquisas foram realizadas sobre Goiacircnia duas sobre Santa

Cruz trecircs sobre Catalatildeo trecircs sobre Jataiacute e duas sobre Rio Verde95 Aleacutem disso duas

pesquisas96 se referiram agrave alfabetizaccedilatildeo no contexto estadual e uma dissertaccedilatildeo97

pesquisou acerca de documentos oficiais de um programa federal destinados aos

alfabetizadores A pesquisa de Amacircncio (1994) eacute a uacutenica que natildeo foi desenvolvida

sobre Goiaacutes tratando do espaccedilo ocupado pela cartilha em salas da 1ordf seacuterie no

municiacutepio de Rondonoacutepolis regiatildeo sul de Mato Grosso

Enfim esses dados ainda incitam a alguns questionamentos como a temaacutetica

alfabetizaccedilatildeo tem sido trabalhada no territoacuterio goiano no contexto da graduaccedilatildeo em

Pedagogia (jaacute que essa habilita o alfabetizador para exercer o seu ofiacutecio) Como o

estado de Goiaacutes e seus municiacutepios pensam suas poliacuteticas puacuteblicas de alfabetizaccedilatildeo

Como fomentar o interesse dos pesquisadores goianos pelo tema alfabetizaccedilatildeo Haacute

iniciativas externas agrave poacutes-graduaccedilatildeo em Goiaacutes que visem a conhecer o que se tem

feito e o que eacute premente fazer para garantia da alfabetizaccedilatildeo E ademais o que os

professores goianos tecircm praticado e em que se tecircm embasado para alfabetizar as

crianccedilas

As respostas a algumas dessas perguntas demandariam outras pesquisas98 e

novas problematizaccedilotildees Natildeo obstante a uacuteltima questatildeo vem ao encontro deste

trabalho de natureza histoacuterica Logo pesquisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

impotildee olhar para o contexto macro como temos pensado e o que jaacute temos produzido

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

95 As dissertaccedilotildees que trazem Goiacircnia como loacutecus de pesquisa satildeo Sousa (1993) Rosa (1993) Souza (1995) Silva (1998) Vieira (2004) Santos (2005) Martin (2005) Campos (2006) Braga (2009) Souza (2009) Moreira (2017) Alves Oliveira (2018) Martins (2018) O municiacutepio de Santa Cruz Ferreira (1991) Barros (1992) O municiacutepio de Catalatildeo Silva (2015) Oliveira (2018) Nascimento (2019) O municiacutepio de Jataiacute Assis (2016) Souza (2019) Lima (2019) O municiacutepio de Rio Verde Barros (2008) Rodrigues (2019) 96 Xavier (2017) e Santos (2019) 97 Jesus (2019) 98 Eis o convite aos possiacuteveis leitores-pesquisadores desta tese

64

12 AS TESES E DISSERTACcedilOtildeES DO CAMPO TEMAacuteTICO DA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO

LUGARES PERIacuteODOS E FONTES

A alfabetizaccedilatildeo eacute ldquoum processo muito complexordquo conforme adverte Soares

(2015) Essa complexidade ldquojaacute determina a configuraccedilatildeo do campo de pesquisa como

uma aacuterea que necessariamente precisa fazer interfaces com outros campos de

conhecimentos cientiacuteficos e acadecircmicosrdquo (MACIEL 2003 p 230)

Por ser a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo um campo temaacutetico recente concordamos

com a afirmaccedilatildeo de Maciel (2003) de que as pesquisas historiograacuteficas sobre a

alfabetizaccedilatildeo estatildeo tambeacutem abrigadas sob terminologias de outros campos ldquoA

histoacuteria da instruccedilatildeo primaacuteria da leitura e da escrita eacute a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo

(MACIEL 2003 p 248) Todavia embora haja essas evidentes aproximaccedilotildees com

outros campos a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo se constitui em torno dos usos e praacuteticas

da leitura e escrita como aponta Magalhatildees (2001)

Satildeo ldquovaacuterias portas de entrada para estudar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo as

instacircnciasinstituiccedilotildees os objetos os sujeitos os suportes e os meios de produccedilatildeo e

a transmissatildeo da escritardquo (FRADE 2011 p 184) A partir disso haacute uma variedade de

fontes que dialogam com esses objetos e que auxiliam na compreensatildeo do fenocircmeno

da alfabetizaccedilatildeo num espaccedilo e tempo particulares Essas fontes satildeo geralmente

selecionadas a partir do periacuteodo recortado que determina o tipo e o lugar onde

podemos encontraacute-las Frade (2018) nos provoca com algumas questotildees para pensar

sobre os estudos acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com as fontes

ldquoque aspectos da alfabetizaccedilatildeo estamos analisando sujeitos instacircncias objetos

meios de produccedilatildeo e transmissatildeo da escrita habilidades como isolaacute-los ou

relacionaacute-los aos fenocircmenos mais amplos que envolvem a cultura escritardquo (FRADE

2018 p 52)

Essas perguntas impulsionam a reflexatildeo que empreendemos doravante sobre

a produccedilatildeo acadecircmica relativa agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

Como jaacute mencionamos os trabalhos de Soares (1989) Soares e Maciel (2000)

e Silva (1998) alertaram para a escassez de pesquisas histoacutericas da alfabetizaccedilatildeo

pois no periacuteodo de 1961 a 1989 inventariaram somente 3 pesquisas sobre esse

assunto

Dando continuidade ao trabalho dessas autoras para o levantamento das

pesquisas produzidas a partir dos anos de 1990 no Brasil sobre a histoacuteria da

65

alfabetizaccedilatildeo realizamos uma busca no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

em junho de 2019 com os termos ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo ldquohistoacuteria do ensino inicial

de leiturardquo ldquohistoacuteria do ensino de leiturardquo ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo99 ldquohistoacuteria do

ensino primaacuteriordquo ldquohistoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteriardquo ldquohistoacuteria da escola primaacuteriardquo ldquoensino

de primeiras letrasrdquo ldquoprimeiras letrasrdquo ldquohistoacuteria da instruccedilatildeo primaacuteriardquo e ldquoinstruccedilatildeo

primaacuteriardquo Esses termos foram escolhidos por entendermos que satildeo nomenclaturas

referentes ao ensino inicial de leitura e escrita em diferentes momentos da histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira Os nuacutemeros de trabalhos identificados estatildeo sintetizados na

tabela 5

Tabela 5

Quantidade de dissertaccedilotildees e teses identificadas no Banco de dados da Capes com os termos relacionados na tabela

Termo Dissertaccedilotildees Teses

Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo 80 21

Histoacuteria do ensino inicial de leitura - 1

Histoacuteria do ensino de leitura 7 2

Histoacuteria do ensino de liacutengua 28 13

Histoacuteria do ensino primaacuterio 3 4

Histoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteria 6 4

Histoacuteria da escola primaacuteria 22 12

Ensino de primeiras letras 9 1

Primeiras letras 87 33

Histoacuteria da Instruccedilatildeo primaacuteria - 2

Instruccedilatildeo primaacuteria 85 50

Total 327 143

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Ao identificar os trabalhos o primeiro passo foi o de realizar o cruzamento entre

os resultados da pesquisa pois constatamos que algumas teses e ou dissertaccedilotildees se

repetiam nas buscas com determinados termos Por exemplo o trabalho de Pasquim

(2013) era mencionado tanto na busca ao termo ldquohistoacuteria do ensino de leiturardquo quanto

em ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo

Na sequecircncia fizemos a leitura de todos os resumos dos trabalhos e para

alguns casos quando no resumo natildeo estava expliacutecita a natureza do estudo tambeacutem

99 Deixamos apenas o termo ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo pois dessa forma na busca notamos que ele remete a todas as pesquisas inscritas pelas terminologias ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua e literaturardquo ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua portuguesardquo e ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua maternardquo

66

realizamos uma anaacutelise de conteuacutedo para de fato distinguirmos as pesquisas

inscritas na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Nesse ponto consideramos somente os

trabalhos que tinham o objeto e a metodologia calcados na historiografia Algumas

pesquisas apresentavam capiacutetulos que remetiam agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo mas

tratavam de questotildees contemporacircneas por isso tais pesquisas foram

desconsideradas

Ao fazermos as anaacutelises das dissertaccedilotildees e teses tambeacutem notamos que a

busca com alguns termos detectou trabalhos vinculados a projetos de pesquisa eou

grupo de pesquisa que carregavam em seu nometiacutetulo os termos pesquisados Por

exemplo a tese de Morais (2014) eacute uma pesquisa cujo objetivo foi identificar os modos

de ler o livro impresso por meio das escritas de textos eletrocircnicos e aparece na busca

com o termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo visto que estaacute vinculada a um projeto do grupo

de pesquisa ldquoHISALES ndash Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo leitura escrita e dos livros

escolaresrdquo da Universidade Federal de Pelotas

Quando concluiacutemos essas etapas ao olhar para o rol de trabalhos

selecionados ainda percebiacuteamos algumas lacunas sobretudo a partir dos anos 2000

uma vez que havia ausecircncia de pesquisas muito significativas na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo brasileira Foi daiacute que optamos por voltar ao Banco de Teses e

Dissertaccedilotildees da Capes e buscar entre as 5504 pesquisas100 localizadas com a

palavra-chave ldquoalfabetizaccedilatildeordquo as que tinham um caraacuteter histoacuterico

Eacute importante destacar desde jaacute que catalogar pesquisas eacute algo a ser pensado

de acordo com os criteacuterios e limites da catalogaccedilatildeo As conclusotildees a que chegamos

natildeo fazem convergecircncia com outras jaacute enunciadas por exemplo por Oriani (2012)

que apresenta alguns estudos a nosso ver natildeo categorizados em temas

concernentes agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Desse modo tal alerta evidencia o diaacutelogo

profiacutecuo estabelecido nas diversas formas de se analisar um objeto de estudo e

portanto de conceber um campo temaacutetico de pesquisa

Por conseguinte no entrecruzamento dos dados apoacutes as vaacuterias seleccedilotildees e

anaacutelises listamos 125 trabalhos identificados no Banco de Dados da Capes

pertencentes ao campo temaacutetico da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo101

100 O nuacutemero 5504 corresponde ao total de pesquisas com o termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo produzidas de 2000 ateacute junho de 2019 conforme evidenciamos na tabela 2 101 Reconhecemos os limites dessa busca considerando os filtros que fizemos A intenccedilatildeo natildeo foi catalogar todos os trabalhos em formato de dissertaccedilatildeo e tese com o tema da histoacuteria

67

Tabela 6 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por ano sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no

Brasil

Ano Dissertaccedilotildees Teses

1997 1 1

1998 - 1

1999 - -

2000 - 1

2001 3 3

2002 2 -

2003 3 -

2004 2 -

2005 2 3

2006 9 4

2007 5 1

2008 11 -

2009 5 -

2010 8 1

2011 6 2

2012 4 3

2013 14 5

2014 5 5

2015 3 1

2016 6 3

2017 2 -

2018 - -

2019 - -

Total 91 34

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes

Conforme evidenciado na tabela 73 dos trabalhos produzidos satildeo

dissertaccedilotildees de mestrado e apenas 27 teses de doutorado Esses dados vatildeo ao

encontro das conclusotildees de Maciel (2014) no levantamento sobre o estado do

conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil que indica uma disparidade entre o nuacutemero

de dissertaccedilotildees e teses numa proporccedilatildeo de 47 dissertaccedilotildees para uma tese

defendida102

da alfabetizaccedilatildeo mas fazer um panorama parcial do que se tem produzido dentro dos limites da pesquisa que realizamos 102 Segundo dados do Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes em junho de 2019 estavam registradas 22640 dissertaccedilotildees e 7330 teses defendidas no Brasil em programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo Proporcionalmente a cada 3 dissertaccedilotildees temos aproximadamente 1 tese defendida

68

Como podemos constatar os primeiros trabalhos localizados no Banco de

dados da Capes datam de 1997 Satildeo a pesquisa de Mestrado intitulada de Cartilha

do Povo e Upa Cavalinho O Projeto de Alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho de Bertoletti

(1997) e a tese de Doutorado A Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Poliacutetica na PARAIBRASIL

nos anos Sessenta de Scocuglia (1997)103

Ainda na deacutecada de 90 haacute o trabalho de Silva (1998) Ele transformou-se em

livro em 2015 publicado na Editora da Unicamp sob o tiacutetulo Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

no Brasil sentidos e sujeito da escolarizaccedilatildeo (SILVA 2015)

A pesquisa de Magnani (1997)104 por se tratar de uma tese de livre-

docecircncia105 natildeo eacute identificada na busca no Banco de dados da Capes A tese eacute uma

pesquisa na longa duraccedilatildeo da histoacuteria compreendendo o periacuteodo entre 1876 a 1994

transformou-se no marco inaugural de um meacutetodo e de uma proposta de compreensatildeo

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil106 O trabalho foi publicado posteriormente

em 2000 no formato de livro pela Editora da UNESP Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo

Satildeo Paulo 1876 ndash1994 Na apresentaccedilatildeo da obra Soares considera o trabalho de

Mortatti um ldquocacircnone das obras fundamentais de indispensaacutevel leitura sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil [] uma lsquofonte das fontesrsquo manancial de inuacutemeros estudos e

pesquisas sugeridos possibilitados facilitadosrdquo (SOARES 2000 p 13-15)

103 Gontijo (2011) tambeacutem destaca esse trabalho como um estudo sobre a alfabetizaccedilatildeo numa perspectiva histoacuterica 104 Magnani era o sobrenome da professora Maria do Rosaacuterio Longo Mortatti que passou a assim assinar apoacutes 1998 Ateacute entatildeo assinava Maria do Rosaacuterio Mortatti Magnani Tais dados podem ser conferidos no Curriacuteculo Lattes da autora no item ldquooutras observaccedilotildees relevantesrdquo 105 Trata-se da tese de concurso de livre-docecircncia na disciplina de Docecircncia em Metodologia do Ensino de 1ordm Grau Alfabetizaccedilatildeo Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo Presidente Prudente A tese intitulou-se Os sentidos da alfabetizaccedilatildeo a ldquoquestatildeo dos meacutetodosrdquo e a constituiccedilatildeo de um objeto de estudo (Satildeo Paulo 18761994) Participaram na comissatildeo julgadora do concurso de livre-docecircncia de Maria do Rosaacuterio os professores Luiz Carlos Cagliari Joatildeo Wanderley Geraldi Maria Alice Faria Clarice Nunes e Magda Soares 106 Mortatti (2000) propotildee quatro momentos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo tomando como referecircncia marcos formulados a partir das fontes documentais por ela consultadas o primeiro momento entre 1876 a 1890 em que haacute uma disputa entre o uso dos meacutetodos sinteacuteticos ndash de soletraccedilatildeo e silabaccedilatildeo ndash com o meacutetodo de palavraccedilatildeo proposto pelo poeta portuguecircs Joatildeo de Deus o segundo momento de 1890 a 1920 quando prevalece a disputa entre o meacutetodo analiacutetico e o sinteacutetico ndash especialmente o de silabaccedilatildeo ndash o terceiro momento a partir de meados de 1920 com a ecircnfase no meacutetodo misto (analiacutetico-sinteacutetico ou sinteacutetico-analiacutetico) e o quarto momento ainda em curso com iniacutecio no final da deacutecada de 1970 quando houve a entrada das teorias construtivistas no Brasil ndash sobretudo a de Emilia Ferreiro ndash e a perspectiva do ldquointeracionismo linguiacutesticordquo baseada em L S Vygotsky e Bakhtin jaacute na deacutecada de 80 quando comeccedilou a ser disseminada por meio das teorizaccedilotildees propostas por Joao Wanderley Geraldi e Ana Luiza Bustamante Smolka

69

Na busca a pesquisa de Carvalho (1998) tambeacutem natildeo foi referenciada com as

palavras-chave por noacutes selecionadas Esse trabalho analisou como foi organizado e

concebido o ensino de leitura e escrita em Satildeo Paulo no periacuteodo poacutes-proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica no Brasil (1890-1920) O discurso empreendido pela autora tomou como

base especialmente os artigos publicados na Revista de Ensino - Orgam da

Associaccedilatildeo Beneficente do Professorado Publico de Satildeo Paulo e nos Annuaacuterios do

Ensino do Estado de Satildeo Paulo

Da primeira deacutecada dos anos 2000 (2000-2009) catalogamos 54 trabalhos 42

dissertaccedilotildees de mestrado e 12 teses de doutorado Esses dados demonstram um

aumento das pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo coincidindo

com a maior divulgaccedilatildeo sobre a alfabetizaccedilatildeo nos perioacutedicos cientiacuteficos107 a

realizaccedilatildeo de eventos cientiacuteficos da aacuterea e tambeacutem a expansatildeo da publicaccedilatildeo de

livros e capiacutetulos sobre a historiografia da alfabetizaccedilatildeo Insta esclarecer que em

2003 foi lanccedilada a ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para a Alfabetizaccedilatildeordquo (2003-2012)

que notoriamente influenciou no Brasil segundo Mortatti (2013) algumas iniciativas

no acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo fazendo com que a alfabetizaccedilatildeo

ganhasse destaque entre as iniciativas governamentais e consequentemente as

acadecircmicas108

A partir dos anos 2000 o governo federal passou a investir em programas de

formaccedilatildeo continuada destinados aos alfabetizadores o PROFA o PROacute-

LETRAMENTO e o PNAIC Esses programas trouxeram agrave tona em todo o paiacutes o

tema alfabetizaccedilatildeo No PROFA e no PNAIC havia a discussatildeo sobre os aspectos

histoacutericos do ensino de leitura e escrita sendo retomada a perspectiva de

contextualizar as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XX sobretudo no Ocidente A

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo eacute tratada como conteuacutedo na formaccedilatildeo do professor

alfabetizador dando visibilidade aos estudos desse campo

Retomando a tabela 6 pontuamos que entre os anos 2010-2019 jaacute satildeo 68

trabalhos defendidos sendo 48 dissertaccedilotildees de mestrado e 20 teses de doutorado

nuacutemeros esses superiores aos da deacutecada anterior Nesses anos aumenta a produccedilatildeo

107 Conforme jaacute referenciado neste capiacutetulo os levantamentos de Mortatti (2014) Guimaratildees e Quillici Neto (2018) evidenciam tal fato 108 Sobre a ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para a Alfabetizaccedilatildeordquo (2003-2012) cf Mortatti (2013) A autora faz um balanccedilo criacutetico dessa deacutecada no Brasil retomando aspectos da iniciativa e de outras que provocam avanccedilos mas que tambeacutem indicam a permanecircncia de muitos problemas histoacutericos na educaccedilatildeo particularmente na alfabetizaccedilatildeo infantil

70

de teses de doutorado Esse crescimento tambeacutem se relaciona agrave difusatildeo dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo nas diversas regiotildees do paiacutes Aleacutem disso

grande parte dos orientadores dessas teses e dissertaccedilotildees se doutoraram entre os

anos 1999-2004 o que tambeacutem justifica a ampliaccedilatildeo vertiginosa de pesquisas de

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo nos uacuteltimos 10 anos

Enfim do que trataram essas pesquisas O que elas revelaram sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo do Brasil Onde foram produzidas E como foram difundidas

Quando tratamos sobre o lugar numa pesquisa natildeo estamos apenas

delimitando o espaccedilo onde ela foi produzida eou ao qual se refere A reflexatildeo vai

aleacutem O lugar tambeacutem eacute sinocircnimo de reconhecimentoposiccedilatildeo Eacute importante portanto

pensar esse lugar ocupado e conquistado pela histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no universo

da pesquisa

Na busca feita no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil com a palavra-

chave ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo109 localizamos 10 registros de grupos todos

vinculados agrave aacuterea de educaccedilatildeo Desse total natildeo identificamos pesquisas e relaccedilotildees

diretas com histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no ldquoGrupo de Estudo e Pesquisa em Narrativas

Formativas (Gepenaf)rdquo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Os demais

grupos arrolados abaixo satildeo mencionados e haacute pesquisas relacionadas agrave

historiografia da alfabetizaccedilatildeo

Quadro 1 Grupos de Pesquisa sobre Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo localizados no Diretoacuterio dos

Grupos de Pesquisa do Brasil

Grupo de Pesquisa Universidade Ano de Formaccedilatildeo

Centro de Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita (CEALE)

Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG

1990

Grupo de Pesquisa Histoacuteria do Ensino de Liacutengua e Literatura no

Brasil (GPHELLB)

Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita

Filho ndash UNESP

1994

Nuacutecleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Histoacuteria

da Educaccedilatildeo ndash NIEPHE

Universidade de Satildeo Paulo ndash USP

1996

Histoacuteria da Educaccedilatildeo Literatura e Gecircnero

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ndash UFRN

1998

109 Tal pesquisa foi realizada no site lthttplattescnpqbrwebdgphomegt Acesso em 28 de junho de 2019 A consulta foi parametrizada pelo termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo de modo que ele estivesse vinculado ao nome do grupo eou nome da linha de pesquisa eou palavra-chave da linha de pesquisa

71

Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Lugares de Formaccedilatildeo Cartilhas

e Modos de Fazer

Universidade Federal de Uberlacircndia ndash UFU

2004

Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Leitura Escrita e dos Livros Escolares

(HISALES)

Universidade Federal de Pelotas ndash UFPel

2006

NEPALES ndash Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em Alfabetizaccedilatildeo

Leitura e Escrita

Universidade Federal do Espiacuterito Santo ndash UFES

2006

Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de

Liacutengua e Literatura (NIPELL)

Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP

2017

Grupo de Estudo e Pesquisa Linguagem Oral Leitura e Escrita

(GEPLOLEI)

Universidade Federal de Mato Grosso ndash UFMT

2017

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil

Numa outra busca no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil110 com o

termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo constata-se o registro de 260 grupos voltados agrave pesquisa nessa

aacuterea enquanto com o termo ldquohistoacuteria da educaccedilatildeordquo haacute 497 registros Esses dados

contrapostos aos apresentados no Quadro 1 demonstram que haacute um crescimento

mesmo que tiacutemido de grupos de pesquisa voltados aos estudos histoacutericos da

alfabetizaccedilatildeo Entretanto haacute um longo caminho a percorrer para dar maior visibilidade

a essa temaacutetica

Dos grupos de pesquisa inventariados no Quadro 1 o CEALE eacute o mais antigo

Criado por Magda Soares em 1990 ele eacute um oacutergatildeo complementar da Faculdade de

Educaccedilatildeo da UFMG destacando-se por diferentes pesquisas na aacuterea de

alfabetizaccedilatildeo ensino de liacutengua portuguesa e literatura A primeira pesquisa entre as

teses e dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo vinculadas ao CEALE foi

defendida por Maciel (2001) Lucia Casasanta e o meacutetodo global de contos uma

contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Minas Gerais

Ainda na deacutecada de 1990 foram criados outros trecircs grupos de pesquisa

Em 1994 o GPHELLB na UNESP coordenado por Maria do Rosaacuterio Longo

Mortatti Nesse grupo a dissertaccedilatildeo de mestrado Cartilha do povo e cartilha Upa

cavalinho o projeto de alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho de Bertoletti (1997) e a tese

110 Tal pesquisa foi realizada no site lthttplattescnpqbrwebdgphomegt Acesso em 28 de junho de 2019 A consulta foi parametrizada de modo que os termos pesquisados estivessem vinculados ao nome do grupo eou nome da linha de pesquisa eou palavra-chave da linha de pesquisa

72

de doutorado Ensino de leitura na escola primaacuteria no Mato Grosso contribuiccedilatildeo para

o estudo de aspectos de um discurso institucional no iniacutecio do seacuteculo XX de Amacircncio

(2000) foram pioneiras por pesquisarem a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo a partir de

impressos destinados ao ensino de leitura e escrita bem como o discurso oficial

empreendido para difusatildeo dos meacutetodos para se ensinar a ler

Em 1996 na USP criou-se o NIEPHE tendo com uma das coordenadoras

Diana Gonccedilalves Vidal No acircmbito desse grupo a dissertaccedilatildeo de mestrado de Esteves

(2002) As prescriccedilotildees para o ensino da caligrafia e da escrita na escola puacuteblica

primaacuteria paulista (1910-1947) eacute o primeiro trabalho localizado que trata sobre a

temaacutetica alfabetizaccedilatildeo dedicando-se a discutir os modelos caligraacuteficos prescritos no

ensino primaacuterio em Satildeo Paulo entre os anos de 1910-1947

Em 1998 formou-se na UFRN o grupo ldquoGecircnero Educaccedilatildeo e Praacuteticas de

Leiturardquo que hoje recebe o nome de ldquoHistoacuteria da Educaccedilatildeo Literatura e Gecircnerordquo e

tem como uma das liacutederes Maria Arisnete Cacircmara de Morais Dentro dos limites da

pesquisa realizada acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil como expusemos no

item anterior nenhum trabalho vinculado a esse grupo eacute mencionado Poreacutem ao

explorarmos o repositoacuterio de teses e dissertaccedilotildees da UFRN detectamos a dissertaccedilatildeo

sob o tiacutetulo Do mestre aos disciacutepulos o legado de Nestor dos Santos Lima (1910-

1930) de Amorim (2012) que analisou os escritos de Nestor dos Santos Lima sobre

os princiacutepios e meacutetodos do ensino de leitura e escrita aplicados nos Grupos Escolares

do Rio Grande do Norte

Jaacute no seacuteculo XXI em 2004 foi criado na UFU o grupo de pesquisa ldquoHistoacuteria da

Alfabetizaccedilatildeo Lugares de Formaccedilatildeo Cartilhas e Modos de Fazerrdquo111 coordenado por

Socircnia Maria dos Santos e Mariacutelia Villela de Oliveira No contexto do grupo a primeira

pesquisa sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo eacute de Guimaratildees (2006) intitulada Histoacuterias

de Alfabetizadores Vida Memoacuteria e Profissatildeo Utilizando-se da histoacuteria oral temaacutetica

a autora busca compreender como algumas alfabetizadoras aposentadas de Patos de

MinasMG aprenderam a ler e como alfabetizaram seus alunos

111 Esse grupo funcionava desde 1992 com outro nome Nuacutecleo de Alfabetizaccedilatildeo do Triacircngulo Mineiro e Alto Paranaiacuteba Vinculado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo da UFU era composto inicialmente por professores da universidade da Escola de Educaccedilatildeo Baacutesica da UFU e das Redes Estadual e Municipal de Uberlacircndia O Nuacutecleo manteve a publicaccedilatildeo de uma Revista intitulada Revista do Alfabetizador com o objetivo de registrar as experiecircncias dos professores alfabetizadores bem como as pesquisas realizadas no contexto do Nuacutecleo A Revista era distribuiacuteda gratuitamente aos professores da educaccedilatildeo baacutesica

73

Em 2006 foi criado o HISALES na UFPel sob a coordenaccedilatildeo de Eliane

Teresinha Peres e Vania Grim Thies Nesse grupo de pesquisa o trabalho de Porto

(2005) Divulgaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do meacutetodo global de contos no Instituto de Educaccedilatildeo

Assis Brasil foi o primeiro a problematizar a questatildeo dos meacutetodos de ensino de leitura

em PelotasRS

Na Universidade Federal do Espiacuterito Santo ndash UFES o NEPALES formou-se em

2006 coordenado por Claacuteudia Maria Mendes Gontijo e Cleonara Maria Schwartz O

primeiro trabalho acadecircmico catalogado acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do

Espiacuterito Santo no NEPALES foi a dissertaccedilatildeo de mestrado A alfabetizaccedilatildeo no

Espiacuterito Santo na deacutecada 1950 de Campos (2008)

Mais recentemente em 2017 formaram-se na UNIFESP o Nuacutecleo

Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de Liacutengua e Literatura (NIPELL) e na

UFMT o Grupo de Estudo e Pesquisa Linguagem Oral Leitura e Escrita (GEPLOLEI)

Embora a criaccedilatildeo desses grupos seja mais recente a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da

literatura infantil faz parte da trajetoacuteria acadecircmica dos coordenadores O primeiro

grupo tem com coordenador Fernando Rodrigues de Oliveira e o segundo Baacuterbara

Cortella Pereira de Oliveira

Ao cotejarmos os dados da Tabela 6 que apresentou a quantidade de teses e

dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil e os do Quadro 1 que

nominou os Grupos de Pesquisa sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo localizados no

Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil percebemos que alguns grupos natildeo foram

mencionados o ldquoALFALE ndash Alfabetizaccedilatildeo e Letramento Escolarrdquo e o ldquoALLE ndash

Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escritardquo112 Esses dois grupos tambeacutem apresentam uma

produccedilatildeo acadecircmica substancial sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo destacando-se com

pesquisas que auxiliam tanto na compreensatildeo do passado como tambeacutem do presente

cenaacuterio do ensino inicial de leitura e escrita Entretanto a pesquisa que fizemos natildeo

registra esses grupos uma vez que o termo histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute

mencionado explicitamente na descriccedilatildeo dos nomes dos grupos e ou nomespalavras-

chaves das suas linhas de pesquisa

112 O ALLE em 2016 recebeu outro nome ndash ALLEAULA pois fundiu-se com outro grupo de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas ndash UNICAMP o AULA (Trabalho Docente na Formaccedilatildeo Inicial) Conserva-se aqui o nome ALLE pois as pesquisas que trataram sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo referenciadas neste trabalho no contexto desse grupo de pesquisa foram realizadas quando o grupo ainda estava sob esse tiacutetulo

74

O ALFALE criado em 2001 na Universidade Federal de Mato Grosso tem

como liacutederes Cancionila Janzkovski Cardoso e Siacutelvia de Faacutetima Pilegi Rodrigues A

principal linha de pesquisa do grupo eacute ldquoAlfabetizaccedilatildeo questotildees histoacutericas e

contemporacircneasrdquo A primeira pesquisa acadecircmica sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

defendida no acircmbito do ALFALE foi a dissertaccedilatildeo de mestrado Alfabetizaccedilatildeo na

escola primaacuteria em Diamantino - Mato Grosso (1930 a 1970) de Souza (2006)

Formado em 1998 na Universidade Estadual de Campinas ndash UNICAMP o ALLE

estaacute atualmente sob a coordenaccedilatildeo de Norma Sandra de Almeida Ferreira e Ana Luacutecia

Guedes-Pinto Ainda que natildeo se constitua o foco central de pesquisa desse grupo ele

apresenta trabalhos que se distinguem no campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo a citar

a tese de doutorado Lendo com Hilda Joatildeo Koumlpke ndash 1902 de Santos (2013) A autora

apresenta a anaacutelise de uma cartilha ndash O livro de Hilda ndash escrita por Koumlpke em 1902

e que provavelmente natildeo foi publicada Desconhecida pelo meio acadecircmico eacute

composta de histoacuterias e exerciacutecios para processuaccedilatildeo do meacutetodo analiacutetico de ensino

da leitura e da escrita

Esses grupos de pesquisa aqui relacionados auxiliaram na produccedilatildeo de uma

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo brasileira seja por pesquisas em teses e dissertaccedilotildees de

seus estudantes seja pelos projetos de pesquisa dos professores orientadores

divulgados em livros capiacutetulos de livros artigos em perioacutedicos etc

Tabela 7

Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por universidade sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Dissertaccedilatildeo Tese Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais (PUC Minas)

1 -

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUC-SP)

3 5

Universidade Catoacutelica de Santos (UNISANTOS) 1 - Universidade Catoacutelica Dom Bosco (UCDB) 1 - Universidade de Satildeo Paulo (USP) 3 2 Universidade de Uberaba (UNIUBE) 2 - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) 1 4 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) 2 - Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) 1 - Universidade Estadual do Maranhatildeo (UEMA) 1 - Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP)

8 6

Universidade Federal da Bahia (UFBA) 1 1 Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) 3 - Universidade Federal de Alagoas (UFAL) 1 -

75

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) 14 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) - 1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 3 2 Universidade Federal de Pelotas (UFPel) 8 - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 2 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 1 1 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) 1 1 Universidade Federal de Satildeo Carlos (UFSCar) 2 - Universidade Federal de Sergipe (UFS) 3 2 Universidade Federal de Uberlacircndia (UFU) 10 3 Universidade Federal de Viccedilosa (UFV) 1 - Universidade Federal do Espiacuterito Santo (UFES) 9 4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 2 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) 1 - Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) 1 - Universidade Satildeo Francisco (USF) 2 -

Total 91 34

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

As 125 produccedilotildees acadecircmicas identificadas satildeo advindas de 31 universidades

sendo que 60 delas satildeo da regiatildeo Sudeste 14 da regiatildeo Centro-Oeste 13 da

regiatildeo Nordeste e 12 da regiatildeo Sul Ateacute o momento natildeo encontramos nenhuma

dissertaccedilatildeo ou tese referente agrave histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produzida em universidade

da regiatildeo Norte O Sudeste destaca-se tambeacutem no nuacutemero de programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo e consequentemente deteacutem segundo os dados do Banco

de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes cerca de 4423 das produccedilotildees acadecircmicas

defendidas ateacute junho de 2019 nas universidades brasileiras

Nota-se pela Tabela 7 que UFES UFMT UFU e UNESP com seus respectivos

grupos de pesquisas NEPALES ALFALE ldquoHistoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Lugares de

Formaccedilatildeo Cartilhas e Modos de Fazerrdquo e GPHELLB satildeo os que detecircm os nuacutemeros

mais expressivos de pesquisas acadecircmicas

As 15 universidades do Sudeste nominadas nesta tabela totalizam 74 trabalhos

defendidos (48 dissertaccedilotildees e 26 teses) sendo que apenas 5 natildeo satildeo de programas

de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo 3 trabalhos estatildeo ligados a programas na aacuterea de

Letras da Universidade Estadual de Campinas e da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

de Satildeo Paulo 1 na aacuterea de Histoacuteria na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

e 1 na de Ciecircncias da Religiatildeo na Universidade Presbiteriana Mackenzie As

pesquisas vinculadas ao curso de Letras e Histoacuteria eram de se esperar uma vez que

76

a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo faz diferentes intersecccedilotildees com essas aacutereas do

conhecimento Todavia a dissertaccedilatildeo intitulada Benedicta Stahl Sodreacute mulher

protestante na educaccedilatildeo brasileira de Mendes (2008) identificada na Ciecircncias da

Religiatildeo chamou-nos bastante atenccedilatildeo

Mendes (2008) aborda a trajetoacuteria de vida e profissatildeo de Benedicta Stahl

Sodreacute analisando tambeacutem o material da coleccedilatildeo Sodreacute Cartilha Sodreacute Primeiro Livro

Sodreacute Segundo Livro Sodreacute Terceiro Livro Sodreacute e Quarto Livro Sodreacute Carimbos e

Cartazes A anaacutelise empreendida desvela os conteuacutedos religiosos sobretudo cristatildeos

de valores morais e eacuteticos presentes na proposta de alfabetizaccedilatildeo pensada por

Sodreacute Embora no discurso de Mendes (2008) haja marcas das crenccedilas e valores

religiosos da proacutepria autora a dissertaccedilatildeo apresenta aspectos sobre o conteuacutedo de

uma cartilha que estaacute no imaginaacuterio social de muitos brasileiros alfabetizados com a

ldquoA pata nadardquo (1ordf liccedilatildeo da Cartilha Sodreacute)

Na regiatildeo Centro-Oeste satildeo 4 universidades que totalizam 18 trabalhos

defendidos (17 dissertaccedilotildees e 1 tese) com representatividade de programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul As universidades e

seus grupos de pesquisa do estado de Goiaacutes natildeo aparecem com investigaccedilotildees em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

Sete universidades no Nordeste produziram 13 dissertaccedilotildees e 4 teses

seguidas de 5 universidades da Regiatildeo Sul com total de 13 dissertaccedilotildees e 3 teses

Na regiatildeo Nordeste 5 pesquisas satildeo de programas de poacutes-graduaccedilatildeo externos

agrave educaccedilatildeo duas na aacuterea de Histoacuteria duas na aacuterea de Letras e uma no Mestrado em

Direitos Humanos Cidadania e Poliacuteticas Puacuteblicas da Universidade Federal da

Paraiacuteba Essa uacuteltima de autoria de Santos (2015) intitulada Direito humano agrave

memoacuteria da educaccedilatildeo de adultos no Brasil autoritaacuterio documentos legais e narrativas

de ex participantes do MOBRAL (1967-1985) aborda a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de

adultos reconstituindo a memoacuteria educacional do Movimento Brasileiro de

Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

Jaacute no Sul apenas uma pesquisa natildeo estaacute vinculada aos programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo a tese de doutorado de Vojniak (2012) O Impeacuterio das

primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de alfabetizaccedilatildeo no

77

seacuteculo XIX113 defendida no programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade

Federal de Santa Catarina Nessa regiatildeo destaca-se o jaacute citado grupo de Pesquisa

HISALES da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que conta com um dos

maiores acervos de fontes histoacutericas sobre o ensino de leitura e escrita do Sul do

paiacutes114

Saindo do espaccedilo onde as teses e dissertaccedilotildees foram produzidas passando

aos seus conteuacutedos foi possiacutevel mapear os lugares aos quais as pesquisas se

referiam organizando um panorama dos estados que tecircm investigaccedilotildees sobre as

suas histoacuterias da alfabetizaccedilatildeo conforme registrado na Tabela 8

113 Essa pesquisa foi publicada em formato de livro sob o mesmo tiacutetulo da tese pela Editora Prismas em 2014 (VOJNIAK 2014) 114 Segundo dados do site do HISALES lthttpwpufpeledubrhisalesgt com acesso em 30 de junho de 2019 o grupo conta com um acervo de 2001 cadernos de alunos (ciclo de alfabetizaccedilatildeo e outras seacuteries) 281 cadernos de planejamento (diaacuterios de classe) de professoras 1255 livros para ensino da leitura e da escrita nacionais e estrangeiros 49 livros para ensino da leitura e da escrita em liacutengua nacional ldquoartesanaisrdquo 126 livros para ensino da leitura e da escrita em liacutengua estrangeira 359 livros didaacuteticos produzidos no Rio Grande do Sul entre 1940 e 1980 691 escritos pessoais e familiares tais como agendas cadernetas diaacuterios etc aleacutem de materiais didaacutetico-pedagoacutegicos

78

Tabela 8 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo dos estados

brasileiros

Estado Quantidades de

Dissertaccedilotildeesteses

Alagoas 1

Bahia 2

Espiacuterito Santo 13

Goiaacutes 1

Maranhatildeo 2

Mato Grosso 15

Mato Grosso do Sul 2

Minas Gerais 25

Paraiacuteba 3

Paranaacute 1

Pernambuco 3

Rio de Janeiro 1

Rio Grande do Norte 2

Rio Grande do Sul 12

Santa Catarina 1

Satildeo Paulo 22

Sergipe 4

Brasil 15

Total 125

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes

Em cerca de 85 das dissertaccedilotildees e teses haacute uma convergecircncia entre o lugar

(universidade) onde as pesquisas foram defendidas e o lugar (estado) a que se

referem Portanto a tendecircncia eacute de os programas de poacutes-graduaccedilatildeo investirem em

investigaccedilotildees alusivas ao seu estado

Quinze pesquisas natildeo tratavam especificamente de um estado mas do Brasil

de modo geral Como exemplo citamos a pesquisa de Silva (1998) que se apoiou na

Anaacutelise do Discurso especialmente nos trabalhos de Michel Pecirccheux buscando

compreender o processo de constituiccedilatildeo dos sentidos e dos sujeitos da

escolarizaccedilatildeoalfabetizaccedilatildeo no Brasil a partir dos discursos religiosos (seacuteculo XVI e

XVII) e cientiacuteficos (seacuteculo XIX e XX) que retratavam as poliacuteticas linguiacutesticas e

pedagoacutegicas de leitura e escrita

No total foram 17 estados pesquisados As dissertaccedilotildees eou teses geralmente

tinham como loacutecus uma cidade de um estado Poreacutem haacute aquelas que estudam o

79

discurso empreendido em niacutevel estadual natildeo se limitando agraves experiecircncias de um

municiacutepio eou grupo de professores

A regiatildeo Sudeste permanece como destaque com os maiores nuacutemeros de

pesquisas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Minas Gerais e Satildeo Paulo satildeo os dois

estados mais investigados seguidos do Espiacuterito Santo Aleacutem dos argumentos jaacute

relacionados anteriormente que justificam a quantidade de investigaccedilotildees sobre

alfabetizaccedilatildeo nessas localidades tambeacutem consideramos a organizaccedilatildeo e acesso115

aos arquivos puacuteblicos e agraves fontes documentais na capital mineira e paulista um

facilitador para a realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees historiograacuteficas

Ainda no Sudeste temos apenas uma dissertaccedilatildeo sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Rio de Janeiro Nesse estado a Universidade Federal Fluminense ndash

UFF abrigou dois projetos de pesquisa sob a coordenaccedilatildeo da Professora Cecilia

Maria Aldigueri Goulart acerca desta temaacutetica O primeiro entre os anos 2004-2007

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no municiacutepio de Niteroacutei ao longo do seacuteculo XX o

segundo de 2011-2014 que foi uma expansatildeo do primeiro analisou as propostas de

ensino-aprendizagem da escrita formuladas pela Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

do RJ nas deacutecadas de 1970 e 1980 Esses projetos deram origem ao relatoacuterio de

pesquisa apresentado agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

(FAPERJ)116 posteriormente divulgado em publicaccedilotildees de artigos em livros textos

em anais de evento117 e um cataacutelogo intitulado O ensino inicial da leitura e da escrita

na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000)118

115 Esse acesso eacute facilitado muitas vezes pelos mecanismos de digitalizaccedilatildeo das fontes como ocorre atualmente no Arquivo Puacuteblico Mineiro (Belo Horizonte) Aleacutem disso os cataacutelogos e diferentes fontes histoacutericas estatildeo disponiacuteveis nos sites dos Arquivos o que tambeacutem auxilia o trabalho do historiador 116 O relatoacuterio apresentado agrave FAPERJ intitulado O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) uma visatildeo histoacuterica no contexto da educaccedilatildeo fluminense e da cidade de Niteroacutei no seacuteculo XX foi coordenado por Cecilia Goulart e contou com a participaccedilatildeo de 10 pesquisadores vinculados ao PROALE ndash Programa de Alfabetizaccedilatildeo e Leitura da UFF O relatoacuterio eacute composto por trecircs partes A primeira detalha o cenaacuterio da educaccedilatildeo fluminense e aspectos do ensino de leitura e escrita ateacute meados do seacuteculo XX a segunda apresenta uma visatildeo histoacuterica dos aspectos poliacutetico-pedagoacutegicos do ensino da leitura e da escrita da rede municipal de Niteroacutei a terceira faz consideraccedilotildees acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Niteroacutei no periacuteodo estudado Agradecemos agrave Professora Cecilia Goulart que nos enviou uma coacutepia do relatoacuterio para anaacutelise 117 Cf Goulart e Abiacutelio (2007 2010) Goulart (2008 2011) 118 O cataacutelogo O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) foi organizado por Goulart Abiacutelio e Mattos (2007) Editado pelo PROALEUFF e com apoio da FAPERJ tem 48 paacuteginas e formato de 145 x 21 cm A tiragem da publicaccedilatildeo

80

No Sul haacute pesquisas de todos os estados entretanto destaca-se o Rio Grande

do Sul com 12 trabalhos jaacute defendidos que trataram sobre a sua histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo

No Nordeste natildeo foram identificadas pesquisas sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo do Piauiacute e Cearaacute Sergipe se sobressaiu em relaccedilatildeo aos outros estados

da regiatildeo nordestina com 4 pesquisas

Na regiatildeo Norte embora as palavras-chave por noacutes selecionadas na busca no

Banco de Dissertaccedilotildees e Teses da Capes natildeo tenham dado em retorno duas

pesquisas jaacute divulgadas em artigos de perioacutedicos e capiacutetulos de livros Correcirca

(2006)119 e Coelho (2008)120 consideramos que ambas nos possibilitam entender

aspectos importantes para a historiografia do ensino de leitura e escrita no Amazonas

e no Paraacute Na tese de Correcirca (2006) embora mais direcionada agrave histoacuteria da leitura e

do livro no contexto educacional amazonense os capiacutetulos que versam sobre as

cartilhas e livros de leitura esclarecem questotildees particulares dos meacutetodos e praacuteticas

de ensino de leitura no estado Jaacute na tese de Coelho (2008) a proposta eacute voltada para

a compreensatildeo de uma cultura escolar no Paraacute nas deacutecadas de 1920 a 1940 todavia

haacute itens referentes agrave alfabetizaccedilatildeo e aos livros para o ensino de leitura nesse estado

No Centro-Oeste o estado do Mato Grosso se evidencia com 15 pesquisas

Entre estas como jaacute referenciado apenas o trabalho de doutoramento de Amacircncio

(2000) foi defendido na UNESP no acircmbito do GPHELLB As demais quatorze

pesquisas satildeo advindas do grupo ALFALE na UFMT

Sobre o Mato Grosso do Sul satildeo duas pesquisas produzidas em programas de

poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo do proacuteprio estado

Por fim na regiatildeo Centro-Oeste estaacute o estado de Goiaacutes loacutecus desta tese

Identificamos um estudo que auxilia na compreensatildeo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

desse estado a tese de Abreu (2006) A instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes no

foi de 1000 exemplares que segundo uma das organizadoras Cecilia Goulart foram distribuiacutedos gratuitamente aos pesquisadores interessados e professores da educaccedilatildeo baacutesica aleacutem de ser utilizados como material didaacutetico nas turmas da disciplina Alfabetizaccedilatildeo no curso de Pedagogia da UFF Agradecemos agrave Professora Cecilia Goulart que generosamente nos enviou uma coacutepia do cataacutelogo para anaacutelise 119 Cf Correcirca e Silva (2008 2010) 120 Parte da pesquisa de Coelho (2008) foi difundida apoacutes a realizaccedilatildeo do seu poacutes-doutoramento (2013-2014) na Universidade Federal de Minas Gerais sob orientaccedilatildeo da Professora Francisca Izabel Pereira Maciel Cf Coelho e Maciel (2014a 2014b 2018)

81

seacuteculo XIX vinculada ao Doutorado em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica Sociedade da

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

Abreu (2006) tinha por objetivo analisar o processo de criaccedilatildeo e expansatildeo das

escolas de primeiras letras a constituiccedilatildeo da carreira docente e o exerciacutecio do

magisteacuterio na proviacutencia de Goiaacutes no periacuteodo de 1835 e 1893 As duas datas natildeo

escolhidas arbitrariamente se correlacionam com os propoacutesitos do estudo A primeira

marcou o ano em que foi promulgada a primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica ndash Lei

nordm 13 de 23 de julho de 1835 a segunda de acordo com a autora eacute a de quando

ocorreu uma cisatildeo entre o modelo escolar imperial e a repuacuteblica em Goiaacutes por meio

da sanccedilatildeo do primeiro regulamento da instruccedilatildeo primaacuteria poacutes-proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica ndash Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893 A tese em questatildeo embora

natildeo tenha objeto central o ensino inicial de leitura e escrita cita-o para compreender

o processo de institucionalizaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria no territoacuterio goiano Embora

natildeo haja um aprofundamento analiacutetico sobre os meacutetodos e materiais para ensinar a

crianccedila a ler e escrever concebemos o trabalho de Abreu (2006) como marco e

referencial nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteria de Goiaacutes

e portanto para a sua histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

Nesse ponto eacute necessaacuterio destacar que as pesquisas desenvolvidas por

Valdez (2003 2010121 2011 2016) embora natildeo sejam produccedilotildees acadecircmicas em

formato de dissertaccedilatildeo eou tese como estamos aqui destacando tecircm auxiliado na

histoacuteria da leitura e do livro em Goiaacutes logo notadamente trazem elementos para

discutirmos aspectos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no territoacuterio goiano no oitocentos

sendo referenciais recorrentemente utilizados neste trabalho

Haja vista a escassez de pesquisas que tratem especificadamente do campo

temaacutetico da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes nosso trabalho justifica-se pela sua

originalidade em mapear os principais meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo cartilhas e livros

adotados no periacuteodo imperial

Para a escrita dessa histoacuteria e de tantas outras Certeau (2002) nos lembra que

a operaccedilatildeo historiograacutefica passa necessariamente pelas praacuteticas pelas quais o

historiador lida diretamente com o tempo e as fontes histoacutericas

Nas teses e dissertaccedilotildees inventariadas no decorrer deste capiacutetulo natildeo

diferente das pesquisas de outros campos da histoacuteria percebemos a delimitaccedilatildeo de

121 Texto publicado em coautoria cf Valdez Rodrigues e Oliveira (2010)

82

um recorte temporal justificada a partir das fontes que o pesquisador utiliza Ideia que

Saviani corrobora ao afirmar que ldquoas fontes estatildeo na origem constituem o ponto de

partida a base o ponto de apoio da construccedilatildeo historiograacutefica [] eacute delas que brota

e nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da histoacuteriardquo (SAVIANI

2005 p 5-6)

Em consonacircncia com o estudo de Frade (2018) notamos que as principais

fontes usadas nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

satildeo de natureza escrita documentos escolares (diaacuterios de classe mapas cadernos

escolares incluindo o do aluno e o de planejamento do professor etc) documentos

oficiais livros (cartilhas livros e manuais para ensinar a ler e escrever etc) imprensa

perioacutedica (jornais e revistas para o puacuteblico em geral e tambeacutem outros especificamente

direcionados para professores como por exemplo os jornais pedagoacutegicos e

escolares as revistas de ensino etc) Essas fontes satildeo comumente advindas de

arquivos puacuteblicos pessoais e escolares

As iconografias nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

como jaacute apontamos em trabalho anterior122 natildeo foram objeto privilegiado de estudo

As fontes iconograacuteficas quando utilizadas tornaram-se frequentemente adorno agraves

outras fontes geralmente para comprovar algo sobretudo de natureza oral ou escrita

As fontes orais na uacuteltima deacutecada tiveram uma crescente adesatildeo dos

pesquisadores Sobre o seu emprego percebemos algumas tendecircncias A primeira eacute

do imperativo domiacutenio do documento escrito jaacute que assim como as iconografias as

narrativas orais muitas vezes foram empregadas para ratificar o conteuacutedo de outras

fontes A segunda tendecircncia eacute de que as pessoas entrevistadas satildeo mulheres e

professoras O trabalho de doutorado de Santos (2001) intitulado Histoacuterias de

Alfabetizadoras Brasileiras entre saberes e praacuteticas eacute pioneiro no uso das fontes

orais na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo reunindo 12 histoacuterias orais temaacuteticas de professoras

que narram o que eacute ser alfabetizadora no Brasil

Embora haja uma diversidade de fontes na composiccedilatildeo das 125 teses e

dissertaccedilotildees arroladas anteriormente observamos que haacute um expressivo conjunto de

produccedilotildees acadecircmicas que privilegiaram os documentos escolares e os livros

escolares com destaque para as cartilhas como as principais fontes para analisar os

materiais os meacutetodos e as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo vem ao

122 Sobre o uso das iconografias na historiografia da alfabetizaccedilatildeo cf Rocha Carvalho (2018)

83

encontro do que Mortatti (2011a) Frade (2018) e Cardoso e Amacircncio (2018) jaacute

assinalaram em seus estudos

O mapeamento tambeacutem fez-nos constatar que os trabalhos analisados estatildeo

atentos agraves precauccedilotildees apontadas por historiadores como Lombardi (2004) a

pesquisa natildeo deve recorrer apenas a uma uacutenica fonte e sim ao diaacutelogo entre as

diferentes fontes e os seus problemas de investigaccedilatildeo Afinal ldquoos textos ou os

documentos arqueoloacutegicos mesmo os aparentemente claros e mais complacentes

natildeo falam senatildeo quando sabemos interrogaacute-losrdquo (BLOCH 2001 p 79)

No que concerne aos tempos aos quais as teses e dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo arroladas anteriormente fazem menccedilatildeo seguindo as interpretaccedilotildees

mais recorrentemente utilizadas na periodizaccedilatildeo da histoacuteria do Brasil copilamos na

tabela a seguir os periacuteodos sobre os quais incidem as pesquisas

Tabela 9

Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por periacuteodo da histoacuteria do Brasil

Periacuteodo Quantidade de teses e dissertaccedilotildees

Colocircnia (1500-1822) 5 Impeacuterio (1822-1889) 22

Primeira Repuacuteblica (1889-1930) 32 Era Vargas (1930-1945) 29

Desenvolvimentismo (1945-1964) 41 Ditadura Civil-Militar (1964-1985) 51

1985-atual 32 Total 212123

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Esse conjunto de dados evidencia que os estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

seguem a tendecircncia da histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira (ALVES 1998 XAVIER 2001

CATANI FARIA FILHO 2002) havendo um nuacutemero reduzido de pesquisas nos

seacuteculos que abrangem o periacuteodo colonial talvez devido agrave dificuldade de acesso agraves

fontes bem como agrave conservaccedilatildeo delas para pesquisa

Em contrapartida o seacuteculo XX tem a maior quantidade de investigaccedilotildees com

destaque para o nuacutemero significativo de trabalhos que abordaram o momento da

123 Eacute importante explicar que a somatoacuteria dos periacuteodos nessa tabela ultrapassa o nuacutemero de teses e dissertaccedilotildees jaacute que haacute trabalhos cujo recorte temporal estaacute inscrito em mais de um periacuteodo da histoacuteria motivo pelo qual os alocamos nos diferentes momentos a que eles fazem menccedilatildeo

84

histoacuteria do Brasil conhecido como ditadura civil-militar Na tabela ainda podemos notar

que os trecircs uacuteltimos periacuteodos satildeo os mais pesquisados tanto pela facilidade de acesso

aos documentos como pela possibilidade de diaacutelogo com os sujeitos por meio da

histoacuteria oral

Cada recorte temporal exige uma praacutetica historiograacutefica diferente Quanto mais

tempo recuarmos na histoacuteria certamente maior cuidado devemos ter na coleta e

seleccedilatildeo das fontes bem como no tratamento delas pois afinal fazer a leitura de um

documento do seacuteculo XVII natildeo eacute o mesmo que ler outro do seacuteculo XX Haacute que se

considerar que os modelos suportes e materiais de escrita nesses seacuteculos satildeo

diferentes demandando meacutetodos especiacuteficos para anaacutelise dos dados

13 CONCLUSOtildeES PARCIAIS

No decorrer desta seccedilatildeo fizemos um inventaacuterio das pesquisas sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo no Brasil destacando a produccedilatildeo acadecircmica em Goiaacutes e sobre

Goiaacutes ndash estado que eacute o objeto central de estudo neste trabalho Nota-se portanto que

natildeo haacute uma produccedilatildeo consolidada sobre o estado fato justificado pelos diferentes

dados e apontamentos realizados nesta parte da tese

Para aleacutem dos dados apresentados numa consulta integrada agrave Base SciELO

com o termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo foram identificados 10 registros de artigos

publicados em 5 perioacutedicos cientiacuteficos brasileiros entre 2000 e 2019 Com a mesma

palavra-chave no Portal de Perioacutedicos da CapesMEC com o filtro para identificaccedilatildeo

apenas de artigos na busca por assunto essa expressatildeo gera 26 resultados em 15

perioacutedicos cientiacuteficos brasileiros Importante destacar que analisando todas essas

produccedilotildees nenhuma delas trata sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes

o que impotildee desafios para construccedilatildeo desta tese e ao mesmo tempo confere-lhe um

caraacuteter ineacutedito

Olhando todos esses dados constatamos que os que fazem pesquisa sobre

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em sua grande maioria satildeo pesquisadores que tecircm

inicialmente uma experiecircncia acadecircmica eou profissional na linha de saberes e

praacuteticas contemporacircneas do ensino de leitura e escrita Esses pesquisadores hoje

embora se dediquem mais agrave perspectiva histoacuterica ainda fazem pesquisas sobre

questotildees da alfabetizaccedilatildeo na atualidade

85

Por fim eacute preciso destacar que estabelecer um estado da arte dos trabalhos

que estatildeo inseridos numa determinada temaacutetica de pesquisa embora seja um

exerciacutecio laborioso eacute ao mesmo tempo fundamental natildeo soacute para verificar o que se

tem produzido quanto se tem produzido e por que se tem produzido sobre aquele

tema de pesquisa como tambeacutem para entrar em contato com um modo de fazer num

determinado campo O levantamento e leitura dos trabalhos da histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo provocou uma ruptura com certezas hermeacuteticas e a formulaccedilatildeo de

novas problematizaccedilotildees (e outras que ainda seratildeo feitas) desdobradas em trabalhos

que extrapolam esta tese extrapolam nosso objeto e objetivos aqui definidos Afinal

como Graff (1994) nos lembra a ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em outras palavras nunca

pode ser uma histoacuteria isolada abstraiacuteda ela eacute uma histoacuteria com outras histoacuterias

maiores complexas da sociedade da cultura do sistema poliacutetico e da economiardquo

(GRAFF 1994 p 174)

Portanto propomo-nos neste trabalho e doravante a constituir a nossa

interpretaccedilatildeo ndash nos termos da polifonia bakhtiniana ndash da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

goiana Nas diferentes dimensotildees do tempo acompanhando seus (des)compassos e

(des)estabilizando alguns sentidos histoacutericos construiacutedos sobre a educaccedilatildeo no estado

de Goiaacutes eacute um convite para uma viagem na proviacutencia de Goiaacutes

Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terriacutevel que lhe deres Trouxeste a chave []rdquo (ANDRADE 2002 p 106)

86

PARTE II

ALFABETIZANDO CRIANCcedilAS NA PROVIacuteNCIA DE GOIAacuteS

ldquoQuerida Luci

Finalmente cheguei a Goiaacutez Natildeo podes nem de leve

imaginar a emoccedilatildeo que senti quando avistei as primeiras

casas da cidade dessa querida cidade em que nasci

Apoderou-se de mim uma vertigem e como no cinema

desenrolaram-se os fatos histoacutericos ou os enredos de um

dramardquo

(MONTEIRO 1934 p 26)

87

2 A INSTRUCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA EM

GOIAacuteS NO PERIacuteODO IMPERIAL ____________________________________

O Ato Adicional de 1834 desencadeou uma discussatildeo em todo Brasil sobre a

responsabilidade de garantir a oferta da instruccedilatildeo puacuteblica nas proviacutencias (SAVIANI

2006 CASTANHA 2007) Ele estabelecia medidas poliacutetico-administrativas

descentralizadoras concedendo agraves Assembleias Legislativas Provinciais a funccedilatildeo de

legislar sobre o ensino primaacuterio e secundaacuterio enquanto o Governo Central se

responsabilizava pelo ensino superior Com isso a Lei de 15 de outubro de 1827

(BRASIL 1827)124 deixava de ter efeito ldquopassando a existir diversas formas de

ordenamento da instruccedilatildeo primaacuteriardquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO

2015 p 258)

Diferentes estudos da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil apontam que durante

muitos anos em virtude da falta de recursos nas proviacutencias a instruccedilatildeo primaacuteria ficou

relegada a segundo plano em peacutessima situaccedilatildeo devido agrave falta de escolas e de

professores qualificados o que evidenciava conforme Saviani (2006) alude a

124 Essa lei dispunha da criaccedilatildeo das escolas de primeiras letras e unificava por meio da adoccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo a organizaccedilatildeo escolar no paiacutes Entre algumas de suas prerrogativas legais ficou tambeacutem estabelecido o que os professores iriam ensinar nessas escolas leitura escrita as quatro operaccedilotildees aritmeacuteticas praacuteticas de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais da geometria praacutetica a gramaacutetica da liacutengua nacional os princiacutepios da moral cristatilde e da doutrina do catolicismo A lei tambeacutem indicava a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil como as principais leituras escolares

88

omissatildeo do Governo Central quanto agrave educaccedilatildeo Entretanto analisando tal periacuteodo

haacute entre os historiadores uma controversa opiniatildeo

Castanha (2007) define que haacute um primeiro grupo de pesquisadores125 que

defende que o Ato Adicional fez com que a instruccedilatildeo nas proviacutencias fracassasse jaacute

que elas natildeo tinham condiccedilotildees para mantecirc-la Ao colocar a instruccedilatildeo primaacuteria e

secundaacuteria sob responsabilidade das proviacutencias renunciava-se assim ldquoa um projeto

de escola puacuteblica nacionalrdquo (SAVIANI 2006 p 17) Portanto a educaccedilatildeo em cada

uma delas segundo Marcilio (2005) foi concebida sem um projeto de uniformidade

fragmentando-se ldquoao sabor volitivo de cada presidente [de proviacutencia] que se sucedia

a maioria dos quais se acreditava na obrigaccedilatildeo de efetuar a sua reforma de ensino

regional Estabeleceu-se assim o caos nesse setorrdquo (MARCILIO 2005 p 49)

Outro grupo de pesquisadores126 conforme Castanha (2007) aponta relativiza

o processo projetando a visatildeo de que a descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa

provocada pelo Ato de 1834 natildeo foi a responsaacutevel pelo fracasso da instruccedilatildeo puacuteblica

no paiacutes jaacute que ldquoatribuir a uma lei como o Ato Adicional de 1834 todas as mazelas que

dificultam e postergam o desenvolvimento de um sistema nacional de ensino significa

secundarizar o impacto das determinaccedilotildees externas sobre o processo educacionalrdquo

(VIEIRA FREITAS 2003 p 62)

Castanha (2007) sustenta a tese de que os discursos na historiografia

brasileira sobretudo do primeiro grupo se deram sob forte influecircncia do estudo A

Cultura Brasileira de Fernando de Azevedo que apontou que a educaccedilatildeo apoacutes o Ato

Adicional de 1834 arrastou-se ldquoatraveacutes de todo o seacuteculo XIX inorganizada anaacuterquica

incessantemente desagregadardquo (AZEVEDO 1976 p 76) Considerando que o autor

escreveu esse livro em meio ao regime de Estado Novo apoiando-se especialmente

em Joseacute Liberato Barroso Castanha (2007) assinala que as pesquisas sobre o Ato

Adicional na historiografia brasileira vecircm repetidas vezes tomando como referecircncia

e sem contestaccedilatildeo as proposiccedilotildees de Azevedo a partir de uma anaacutelise documental

que desconsidera o contexto do qual os documentos foram resultantes e defende que

o Ato de 1834 ldquofacilitou a criaccedilatildeo administraccedilatildeo e inspeccedilatildeo das escolas nas diversas

125 Representado principalmente pelos pesquisadores Romanelli (2000) Ribeiro (2001) Saviani (2006) dentre outros 126 Representado principalmente pelos pesquisadores Cunha (1980) Sucupira (1996) Hilsdorf (2003) Vieira e Freitas (2003) dentre outros

89

vilas e freguesias espalhadas no Brasilrdquo (CASTANHA 2007 p 498) contribuindo para

a expansatildeo da instruccedilatildeo elementar pelos rincotildees do Impeacuterio brasileiro

Aderindo agraves proposiccedilotildees de Castanha (2007) sem adentrar o limbo das

controveacutersias entre os estudos da historiografia educacional a respeito do Ato

Adicional mostraremos ao longo deste capiacutetulo que em Goiaacutes essa lei fez com que

a proviacutencia administrasse as escolas de primeiras letras com a forccedila motriz dos ideais

catoacutelicos

Logo o objetivo desta seccedilatildeo eacute traccedilar um panorama geral da escola goiana

entre 1835 a 1886 observando as bases de um projeto de sociedade que se

arquitetava sob a influecircncia da Igreja mas que vinha se abrindo para as propostas de

modernidade do seacuteculo XIX num diaacutelogo constante com as poliacuteticas governamentais

da Corte Ao mesmo tempo pretendemos que essas discussotildees contextualizem a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes sendo o cenaacuterio onde se ensinava as crianccedilas a

ler e escrever

Outrossim insta esclarecer que organizamos as discussotildees em dois itens

definidos cronologicamente e em sintonia com nosso objeto de estudos a

alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes

Por isso o primeiro item abriga as legislaccedilotildees e o panorama poliacutetico entre 1835

e 1869 Na primeira data como veremos foi sancionada a primeira lei do ensino

goiano em consequecircncia do Ato Adicional de 1834 (BRASIL 1834) E em 1869 foi

aprovado novo Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes

pela Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 sancionado pelo Presidente Ernesto

Augusto Pereira (GOIAacuteS 1869) que dava visibilidade ao uso dos livros escolares para

conduccedilatildeo das praacuteticas em sala de aula o que se refletiu significativamente nos

materiais e modos de ensinar leitura e escrita nas escolas goianas

No segundo item a discussatildeo comporta as iniciativas e regulamentaccedilotildees entre

1869 a 1886 quando haacute a entrada dos livros e materiais escolares nas leis A anaacutelise

dos documentos identificou neles a explicitaccedilatildeo da dificuldade de a escola ensinar a

ler e escrever se natildeo houvesse a disponibilizaccedilatildeo dos objetos necessaacuterios sobretudo

os livros e outros instrumentos tais como tinta papel caneta pena laacutepis lousa giz

esponjas etc

90

21 1835 A 1869

Natildeo podemos desconsiderar que o Ato Adicional de 1834 provocou significativo

aumento na publicaccedilatildeo de legislaccedilotildees nas proviacutencias que visavam normatizar

sobretudo a instruccedilatildeo primaacuteria Em Goiaacutes em 1835 a Assembleia Legislativa

Provincial aprovou e o Presidente da proviacutencia de Goiaacutes Joseacute Rodrigues Jardim

sancionou a primeira lei goiana da instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835

(GOIAacuteS 1835) Essa lei criou as escolas graduadas jaacute no primeiro artigo

diferenciando-as pelas mateacuterias que seriam lecionadas Na escola de 1ordm grau se

ensinava a ldquoler escrever a pratica das quatro operaccedilotildees Arithmeticas e a Doutrina

Christatilderdquo jaacute na de 2ordm grau ldquoler escrever Arithmetica ateacute as proporccedilotildees Grammatica

da Lingoa Nacional e as noccedilotildees geraes dos deveres moraes e religiososrdquo (GOIAacuteS

1835 art 1ordm)

A lei foi composta por 26 artigos que arquitetavam o funcionamento das escolas

a partir da obrigatoriedade de os ldquopais de famiacuteliardquo ofertarem instruccedilatildeo primaacuteria aos

filhos de 5 a 8 anos de idade estendendo-se tambeacutem aos que tinham 14 anos

(GOIAacuteS 1835 art 9ordm e 10) Previa inclusive multa agrave famiacutelia que descumprisse tal

medida

A regecircncia das aulas estava a cargo de um professor brasileiro ou estrangeiro

que professasse a religiatildeo catoacutelica com mais de 21 anos de idade e de bom

comportamento que ensinaria os conhecimentos das mateacuterias exigidas na lei

(GOIAacuteS 1835 art 11)

Embora natildeo explicite o meacutetodo de ensino recomendado ao professor a lei traz

posteriormente nos Regulamentos de Ensino algumas marcas da proposta

metodoloacutegica a ser empregada A primeira marca eacute relativa a um nuacutemero miacutenimo de

alunos que deveratildeo frequentar habitualmente a escola (GOIAacuteS 1835 art 2ordm) a

segunda se relaciona ao fato de que ao afirmar sobre a obrigatoriedade escolar

tambeacutem abre a possibilidade de a famiacutelia ofertar a educaccedilatildeo na escola puacuteblica ou

particular ou na proacutepria casa (GOIAacuteS 1835 art 9ordm)

Nesse periacuteodo circulavam no Impeacuterio as praacuteticas com o meacutetodo muacutetuo ndash

tambeacutem conhecido como monitorial ou lancasteriano ndash que se tornou oficial nas

proviacutencias por meio da mencionada da Lei de 15 de outubro de 1827 (BRASIL

91

1827)127 No entanto Arauacutejo e Silva (1975) argumenta que na proviacutencia de Goiaacutes

adotava-se com maior ecircnfase o meacutetodo individualordinaacuterio uma vez que as escolas

nesse periacuteodo funcionavam em casas residenciais geralmente dos professores ou

em espaccedilos domeacutesticos cedidos por famiacutelias abastadas que tinham interesse em

instruir os filhos com os conhecimentos rudimentares da leitura escrita doutrina cristatilde

e caacutelculo Outrossim a falta dos materiais para execuccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo tambeacutem

era um fator que prejudicava sua efetivaccedilatildeo jaacute que demandava entre outros o

quadro-negro e a ardoacutesialousa individual instrumentos didaacuteticos importados e de alto

custo128

Na instalaccedilatildeo da Assembleia Legislativa Provincial de Goiaacutes em 1ordm de junho de

1835 o Presidente Joseacute Rodrigues Jardim se pronunciou descrevendo o cenaacuterio do

ensino de primeiras letras na proviacutencia formado por ldquooito Cadeiras de Primeiras Letras

pelo methodo de Lancaster deseseis pelo methodo Individualrdquo (JARDIM Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1835 p 6) Na sequecircncia tambeacutem reitera que o ensino muacutetuo

natildeo havia apresentado o resultado esperado o que a nosso ver corroborou para sua

natildeo recomendaccedilatildeo na primeira lei de ensino promulgada em Goiaacutes Apesar de natildeo

justificar o fracasso desse meacutetodo no territoacuterio goiano a imprensa destacou a

dificuldade de implantaacute-lo

O Matutina Meyapontense129 primeiro jornal perioacutedico publicado em Goiaacutes

desde as suas primeiras ediccedilotildees relatava a dificuldade de se difundir o ensino pelo

meacutetodo muacutetuo nas escolas jaacute que faltavam professores habilitados O jornal tambeacutem

informava que mesmo havendo diferenccedila de salaacuterios entre os mestres da cadeira de

127 O meacutetodo muacutetuo no Brasil jaacute circulava e era propagandeado muito antes de a Lei de 15 de outubro de 1827 oficializaacute-lo Bastos (1999) aponta que a primeira referecircncia no paiacutes sobre esse meacutetodo aparece no Correio Brasiliense em 1816 em uma seacuterie de publicaccedilotildees de artigos sobre o meacutetodo Lancaster aconselhando-o sobretudo pelas suas vantagens econocircmicas a economia no salaacuterio do professor pois era apenas um mestre encarregado de vaacuterios alunos e na compra de livros elementares e papel A partir do iniacutecio da deacutecada de 20 do seacuteculo XIX algumas salas de aulas de ensino muacutetuo foram abertas no Rio de Janeiro 128 Os trabalhos de Barra (2013 2016) discutem o papel dos utensiacutelios escolares em especial da lousa na propagaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo dos meacutetodos de ensino A partir da relaccedilatildeo entre material e meacutetodo Barra (2013 2016) tambeacutem descreve como o custo influencia na prescriccedilatildeo de certas praacuteticas de ensino na escola 129 Esse jornal circulou entre 1830 a 1834 e encontra-se totalmente digitalizado e disponibilizado em CD-ROM A digitalizaccedilatildeo fez parte de um projeto de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural da Agecircncia Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira AGEPEL Agradecemos agrave Beatriz Otto de Santana que ocupava em julho de 2017 o cargo de Superintendente Substituta do Iphan em Goiaacutes pelo auxiacutelio ao enviar o CD-ROM com todas as ediccedilotildees do Matutina Meyapontense

92

ensino individual (150$ reis) e da cadeira de ensino muacutetuo (240$ reis)130 natildeo havia

profissionais formados para atender a demanda da educaccedilatildeo na proviacutencia o que

ocasionava a abertura de escolas de ensino individual

O Secretario disse que tendo considerado as muitas difficuldades se devem encontrar para acquisiccedilaotilde de Professores habeis de Ensino Mutuo como he o desta Cidade e desejando do modo possiacutevel que se propaguem as luzes quanto antes por todos esses Arraiaes onde naotilde ha Escolas de 1 letras a excepccedilaotilde de Trahiras e Natividade que as tem era a sua opiniaotilde que por ora se estabeleccedilaotilde nelles as del ensino individual ou ordinario e que no futuro se estabeleceraotilde as de ensino mutuo onde melhor conviereuml (MATUTINA MEYAPONTENSE 12 de agosto de 1830 p 2)

Haveraacute Escolas de 1 letras pelo methodo ordinario na Villa da Palma e nos Arrayaes Cavalcante S Felis Flores S Domingos Conceiccedilaotilde Carmo Porto Imperial e Carolina conservando-se as que haacute em Trahiras e Natividade em quanto as circunstancias nao permittirem o estabelecimento de Escolas de Ensino Mutuo em todos ou em alguns dos mencionados lugares (MATUTINA MEYAPONTENSE 14 de agosto de 1830 p 1)

Em ediccedilotildees do Matutina Meyapontense de 1830 a 1834 evidencia-se o debate

na implantaccedilatildeo e dificuldade em manter as cadeiras de ensino muacutetuo na proviacutencia

algumas classes eram abertas mas pela falta de preparaccedilatildeo do professor com o

meacutetodo muacutetuo acabavam sendo fechadas ou transformadas em classes do meacutetodo

individual que ldquoembora natildeo indicado oficialmente apoacutes 1835 gozou de ampla

disseminaccedilatildeo em todo o territoacuterio goianordquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 109)

Em ofiacutecio datado de 1837 o entatildeo Presidente da Proviacutencia Joseacute Rodrigues

Jardim autor da Lei Provincial nordm 13 de 23 de junho de 1835 (GOIAacuteS 1835) remeteu

ao Delegado de Instruccedilatildeo Primaacuteria da Vila de Natividade uma ordem a respeito do

uso do meacutetodo lancasteriano

23 de janeiro A Zacarias Antonio dos Santos Persuadido pelo contexto do oficio que V S me dirigio em data de 5 de Novembro convencido pela nota que V S lanccedilou no Mappa de que na Aula da Instrucccedilatildeo Primaria dessa Villa se continua a ensinar pelo Methodo Lancaster tenho a dizer-lhe que pela Lei Provincial Nordm 13 de 23 de julho de 1835 ficou abolido na Provincia o dito Methodo sendo a diferenccedila do 1ordm e 2ordm gratildeo unicamte quanto a materias que nelles se ensinatildeo e nunca quanto ao methodo do que a expperiencia fez adoptar o individual devendo V S assim o fazer observar na Aula estabelecida nessa Villa Ds Gde a V S Palacio do Gov da Prova de

130 O valor pago ao professor de ensino muacutetuo era semelhante ao da Mestra das meninas cf Matutina Meyapontense 29 de julho de 1830 p 1

93

Gs 23 de janeiro de 1837 = Joseacute Rod Jardim = Snro Zacarias Antonio dos Santos Delegado quanto a Instrucccedilatildeo primaria da Villa de Natividade (JARDIM 23 de janeiro de 1837 p 82 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

Eacute importante lembrar que a Vila de Natividade131 eacute o local onde os excertos do

jornal Matutina Meyapontense transcritos anteriormente mencionam que haacute escola

do meacutetodo muacutetuo ou lancasteriano Dessa maneira o Presidente Jardim (23 de janeiro

de 1837) faz uma espeacutecie de campanha para natildeo adoccedilatildeo desse meacutetodo ordenando

que fosse seguido o individual jaacute que a lei de 1835 (GOIAacuteS 1835) distinguia as

escolas de 1ordm ou 2ordm graus de acordo com as mateacuterias lecionadas e natildeo em relaccedilatildeo

aos meacutetodos Outrossim indica o meacutetodo individual conforme a experiecircncia da

proviacutencia mostra como mais bem-sucedido Com isso Jardim (23 de janeiro de 1837)

faz um discurso que se estenderaacute pelos discursos presidenciais na Assembleia

Legislativa ao longo do periacuteodo imperial que buscavam a ldquopadronizaccedilatildeordquo dos meacutetodos

e materiais de ensino nas escolas goianas algo tambeacutem pretendido pelas legislaccedilotildees

do Municiacutepio da Corte e em bastante evidecircncia nas regulamentaccedilotildees educacionais de

proviacutencias como Satildeo Paulo e Minas Gerais que despontavam nesse setor

(MARCILIO 2005)

Joseacute Rodrigues Jardim ficou na presidecircncia da proviacutencia ateacute 1837 Com um

governo de mais de 5 anos criou escolas a partir de uma estrateacutegia poliacutetico-

administrativa que reduzia custos na oferta de materiais escolares para arcar com os

ordenados dos professores (BRETAS 1991) Exemplo disso eacute quando relata sobre o

ensino muacutetuo mencionando que ldquoeconomisadas algumas quantias que com este

methodo inutilmente se despendem se poderatildeo estabelecer mais algumas Aulas na

Provinciardquo (JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1835 p 8)

No livro de Registros de Ofiacutecios enviados agrave Presidecircncia da Proviacutencia pela

Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica (CRUS 18 de abril de 1858

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) em 1858 o

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Proviacutencia de Goiaacutes Felipe Antocircnio Cardoso de

Santa Crus ao listar os objetos necessaacuterios para instruccedilatildeo primaacuteria argumentou

quanto agrave importacircncia de serem enviados Tratados sobre os Meacutetodos de Ensino

revelando que a natildeo circulaccedilatildeo do ensino muacutetuo em Goiaacutes deu-se sobretudo pela

131 Localizado ao norte da proviacutencia de Goiaacutes Hoje ainda com o mesmo nome Natividade eacute um municiacutepio do estado do Tocantins

94

falta de livros que ensinassem os professores a aplicarem esse meacutetodo e tambeacutem

porque natildeo se propagaram nessa proviacutencia as liccedilotildees dos princiacutepios de educaccedilatildeo de

Joseph-Marie de Geacuterando conhecido como Baratildeo Degerando

As ideias de Degerando foram difundidas no Brasil por meio da traduccedilatildeo e

impressatildeo em 1839 de sua obra intitulada Curso Normal para Professores de

Primeiras Letras ou Direcccedilotildees Relativas a Educaccedilatildeo Physica Moral e intelectual nas

Escolas Primarias (BARAtildeO DEGERANDO 1839)132 Segundo Bastos (1999) esse eacute

o primeiro manual didaacutetico-pedagoacutegico publicado no Brasil tratando-se de uma obra

estudada na Escola Normal de Niteroacutei133 Em Goiaacutes mesmo apoacutes a instalaccedilatildeo do

Curso Normal anexo ao Liceu de Goiaacutes em 1884 pelos estudos de Canezin e

Loureiro (1994) e Brzezinski (2008) natildeo se tem notiacutecia de que esse manual tenha

circulado na formaccedilatildeo dos professores goianos

A Lei de 1835 deu origem ao curriacuteculo das escolas primaacuterias goianas alterado

por vaacuterios Regulamentos de Ensino e Resoluccedilotildees subsequentes O meacutetodo de ensino

muacutetuo natildeo foi mencionado em nenhum deles Para Bretas (1991) houve uma tentativa

na proviacutencia de estabelececirc-lo por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3 de 10 de julho de 1844

sancionada pelo entatildeo Presidente Joseacute de Assis Mascarenhas Em junho de 1847

com Joaquim Ignaacutecio de Ramalho na presidecircncia a Assembleia Provincial questiona-

o sobre o natildeo cumprimento da referida resoluccedilatildeo O Cocircnego Feliciano Joseacute Leal

Secretaacuterio do Governo em 4 de junho de 1847 transmite a resposta por ofiacutecio

De ordem do mesmo Exmordm Snr (o presidente) sou authorizado a responder a duvida antes sinceramente almeja promover a instrucccedilatildeo a moral e os bons costumes por estar na firme persuassatildeo de serem as bases mais soacutelidas sobre as quais se apoia o edificio social porem que dependendo a Aula de Ensino Mutuo natildeo soacute drsquouma casa com a capacidade indispensavel infelizmente acontece que nem a provincia a possue nem suas rendas podem fazer face aos ordenados dos empregados puacuteblicos muito menos para a aquisiccedilatildeo drsquoum edificio e dos mais utensis natildeo pouco despendiosos indispensaveis ao ensino mutuo Alem drsquoisto acresce que achando-se

132 O Baratildeo Degerando publicou na Franccedila em 1832 uma coletacircnea de conferecircncias ministradas na Escola Normal de Paris Trata-se de 16 conferecircncias proferidas por ele direcionadas aos professores de primeiras letras A traduccedilatildeo foi realizada por forccedila do Decreto Imperial brasileiro nordm 28 de 11 de maio de 1839 O tradutor foi o Dr Joatildeo Candido de Deos e Silva na eacutepoca Deputado da Assembleia Legislativa da proviacutencia do Rio de Janeiro No Brasil as conferecircncias deram origem a um livro impresso pela Typographia Nictheroy de M G de S Rego Praccedila Municipal ndash 1839 com 421 paacuteginas Um exemplar encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Sobre isso cf Bastos 1999 133 A Escola Normal de Niteroacutei foi a primeira criada no Brasil em 1835 na capital da proviacutencia do Rio de Janeiro aberta com intuito de preparar os professores para aplicaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo Para aprofundar nessa questatildeo cf Arauacutejo Freitas Lopes 2008

95

o systema de Lancaster consideravelmente modificado e alterado convem que primeiramente se examine se elle deve ser ainda admitido na Provincia com as modificaccedilotildees e alteraccedilotildees radicaes por que tem passado (GOIAacuteS 1847 ofiacutecio nordm 26 livro nordm 38 de Correspondecircncias da Secretaria de Governo p 95 apud BRETAS 1991 p 233)

Com esse ofiacutecio Bretas (1991 p 233) advoga que ldquotransformou-se em letra

morta a resoluccedilatildeo nordm 3 e natildeo mais se falou oficialmente em ensino muacutetuo na

Proviacutenciardquo

Apoacutes a criaccedilatildeo da Lei de 1835 em Goiaacutes no mesmo ano foi aprovado o

Regulamento de Instruccedilatildeo nordm 5 de 25 de agosto que ldquoinstruiacutea sobre concursos de

professores escrituraccedilatildeo de matriacuteculas horaacuterio escolar licenccedila e substituiccedilatildeo de

professores feacuterias e feriados escolares adiantamento dos alunos e aplicaccedilatildeo de

castigosrdquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 266) Sobre a

aplicaccedilatildeo de castigos o Regulamento previa o uso de palmatoacuteria ao contraacuterio do que

a Lei Imperial de 15 de outubro de 1827 estabelecia ao mencionar que os castigos

seriam praticados pelo meacutetodo Lancaster Na leitura de Lesage (1999) Lancaster era

contra o uso de castigos corporais propondo um sistema disciplinatoacuterio da mente e

do corpo pelo qual a escola desenvolve crenccedilas civilizatoacuterias promovendo precircmios

ao despertar entre os alunos a emulaccedilatildeo Como se percebe e na concepccedilatildeo de Bretas

(1991) o meacutetodo lancasteriano natildeo foi incorporado e bem interpretado em Goiaacutes

assim como em outras proviacutencias brasileiras poreacutem ldquohouve uma mudanccedila no espiacuterito

nos fatos e nas praacuteticas cotidianas todos estavam de acordo que o mais importante

era a recompensa ao inveacutes das puniccedilotildeesrdquo (LESAGE 1999 p 22)

Nesse periacuteodo a fiscalizaccedilatildeo do ensino ficou a cargo dos Delegados

Paroquiais que enviavam relatoacuterios descrevendo como estavam sendo conduzidas

as aulas observando o cumprimentos das leis dos regulamentos e das ordens do

Governo ldquoesmerando se em que seja a mocidade doutrinada nas mais puras ideias

religiosas e moraes e a importancia da uniaotilde e integridade do Imperio ainda a custa

dos maiores sacrificiosrdquo (GOIAacuteS 1835 art 22 inciso 4ordm) Em 1836 o Presidente

Jardim nomeou duas pessoas de sua confianccedila para percorrer a proviacutencia e verificar

in loco a quantidade de alunos ao mesmo tempo que pretendia fiscalizar o trabalho

dos Delegados (JARDIM 19 de julho de 1836 p 56 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

96

No entanto com as dificuldades proacuteprias de comunicaccedilatildeo uma populaccedilatildeo mais

concentrada no meio rural e um nuacutemero expressivo de escravos134 devido ao contexto

agraacuterio-pastoril da proviacutencia os Delegados Paroquiais relatavam a dificuldade em

manter o nuacutemero de alunos Segundo pesquisa de Abreu (2006) estima-se que em

1835 o nuacutemero de escolas puacuteblicas de primeiras letras na proviacutencia era de 26

enquanto em 1837 28 com 522 alunos matriculados (FLEURY Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1837 p 11)

Em 1837 assumiu a presidecircncia em Goiaacutes o padre Luiz Gonzaga de Camargo

Fleury135 Liberal atuou como redator no Matutina Meyapontense difundindo em

vaacuterios de seus textos a instruccedilatildeo puacuteblica como caminho para a constituiccedilatildeo de uma

naccedilatildeo Sua formaccedilatildeo em Filosofia e Teologia se deu em Satildeo Paulo Esteve por dois

anos e meio no cargo conseguindo manter ateacute o final de seu mandato 30 escolas

por toda a proviacutencia (ABREU 2006) Entre seus feitos na instruccedilatildeo restaurou as aulas

de Latim solicitando das Cacircmaras e da Assembleia que se houvesse um nuacutemero de

alunos que se interessassem criassem as cadeiras de Latim nos municiacutepios jaacute que

em 1837 elas existiam apenas na Vila de Natividade ndash ao norte da proviacutencia Por isso

um dos seus primeiros atos foi restabelececirc-las na Vila de Meiaponte136 de onde era

natural

Em setembro de 1837 Fleury regulamentou o artigo 20 da primeira lei goiana

de instruccedilatildeo puacuteblica o qual regia o ordenado dos professores revogando os

dispositivos do Regulamento de 1835 que tratavam dos pagamentos Pela lei a

fixaccedilatildeo dos salaacuterios se definiria pelo nuacutemero de alunos o que fez com que

promulgasse a Resoluccedilatildeo nordm 17 de 4 de Setembro de 1837 especificando por

localizaccedilatildeo grau da escola e quantidade de alunos o valor a ser pago (GOIAacuteS 1837

p 3-4 FLEURY Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1838 p 6-7)

134 Eacute importante mencionar que a Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 em seu artigo 8ordm estabeleceu que somente as pessoas livres poderiam frequentar as escolas puacuteblicas 135 Luiz Gonzaga de Camargo Fleury eacute o avocirc do autor da seacuterie graduada de livros de leitura Meninice (1948-1949) ambos batizados com o mesmo nome O autor assinava as capas dos seus livros como Luiacutes Gonzaga Fleury embora seu nome de batismo segundo Melo (1954) fosse com ldquozrdquo Goulart (2013 2015) estudou a vida e obra do autor da seacuterie Meninice destacando que em seu discurso haacute flexibilidade ideoloacutegica na defesa dos meacutetodos de ensino ora se posicionando a favor do analiacutetico ora do meacutetodo sinteacutetico 136 Segundo dados do Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia assinado por Fleury em 1837 (FLEURY Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1837 p 12-13) as Aulas de Latim na Vila de Meiaponte foram criadas em 1787 fechadas em 1807 e totalmente suprimidas em 1811 Vale elucidar que Vila de Meiaponte hoje recebe o nome de Pirenoacutepolis cidade localizada no leste goiano

97

Mesmo declarando-se filiado aos ideais liberais Fleury manteve boas relaccedilotildees

com a ala conservadora jaacute que os padres de diferentes localidades mantinham

influecircncia sobre as escolas Um caso exemplar que confirma isso ocorreu em

Curralinho137 quando advertiu um professor por comportamento inapropriado ao

incomodar a vizinhanccedila com batuques em sua casa ateacute altas horas da noite O

Presidente ao advertir o professor Thomas Antonio da Fonseca tambeacutem deixou claro

que as regulamentaccedilotildees em vigecircncia no periacuteodo recomendavam que algueacutem que

ocupasse o ldquohonroso cargo de professorrdquo natildeo poderia ter conduta que infringisse a

moral puacuteblica os bons costumes e os preceitos religiosos (FLEURY 14 de fevereiro

de 1838 p 116-117 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

191)

Entre 1839 e 1845 Joseacute de Assis Mascarenhas esteve como presidente em

Goiaacutes Exercia tambeacutem o cargo de deputado na Assembleia Geral do Impeacuterio por isso

afastava-se por cerca seis meses ao ano quando era substituiacutedo interinamente pelos

vice-presidentes Joseacute Rodrigues Jardim e Francisco Ferreira dos Santos Azevedo O

segundo assumiu a vice-presidecircncia por forccedila da Carta Imperial de 12 de janeiro de

1842 em funccedilatildeo da morte de Joseacute Rodrigues Jardim (AZEVEDO Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1842 p 2)

Mascarenhas diplomou-se em Direito na Universidade de Coimbra onde

possivelmente teve contato com o pensamento dos iluministas e de educadores

europeus Tal influecircncia fez com que entre seus primeiros atos sobre a instruccedilatildeo

puacuteblica eliminasse os estudos de Retoacuterica substituindo-os pelos de Teologia Moral

pelos quais se ensinaria a Histoacuteria Eclesiaacutestica Teologia Dogmaacutetica entre outras

temaacuteticas espelhando-se na sua experiecircncia no Seminaacuterio Episcopal de Coimbra

onde observou que

[] os Sacerdores tinhaotilde instrucccedilaotilde e que natildeo podiaotilde tomar as Ordens Sacras sem se mostrarem approvados nas mateacuterias do Plano cujos estudos comprehendiaotilde tres anos no 1ordm se ensinava o Cathecismo Romano no 2ordm Theologia Dogmatica no 3ordm Theologia Moral e em todos tres Historia Ecclesiastica (MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1839 p 12)

Mascarenhas percebia que os Sacerdotes ordenados tinham uma grande

influecircncia sobre o povo e que por isso deveriam ser bem instruiacutedos natildeo bastando o

137 Hoje municiacutepio de Itaberaiacute na regiatildeo do centro goiano

98

aprendizado das noccedilotildees elementares Em trechos do relatoacuterio citado acima ele

denuncia que alguns padres em Goiaacutes eram ordenados sem instruccedilatildeo alguma

Acreditando que religiatildeo e moral ldquosatildeo duas acircncoras que sustentavam a nau do

Estadordquo promoveu as mudanccedilas apontadas sugerindo que os professores de

Retoacuterica assumissem as cadeiras de Teologia (MASCARENHAS Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1839 p 12)

No Relatoacuterio destinado agrave Assembleia Legislativa de Goiaacutes em 1ordm de outubro de

1840 no item sobre a educaccedilatildeo Mascarenhas relatava algumas de suas passagens

pelas escolas da proviacutencia ao visitaacute-las pessoalmente para conferir as suas

condiccedilotildees O Correio Official tambeacutem expotildee essa experiecircncia de Mascarenhas

O Excellentissimo Snr Presidente da Provincia sollicita em promover o progresso da instrucccedilatildeo depois de vesitar pessoalmente as Aulas estabelecidas nesta Cidade dando as mais sabias e acertadas providencias para o adiantamento do Alumnos [] No dia 6 do corrente Sua Excellencia animado do mesmo zelo seguio para a Villa de Meiaponte empreendendo huma jornada assaz incommoda em razaacuteotilde do pessimo estado a que se achaacuteotilde reduzidas as estradas com os muitas chuvas deste anno vesitou as Aulas de Latim e de Primeiras Letras da dita Villa as do Corrumbaacute e Jaraguaacute regressando chegou a esta Cidade no dia 17 do corrente [] Consta-nos que S Exc athe meado de Marccedilo se dirige com o mesmo fim para a Villa de Pilar e que logo que o tempo decirc lugar partiraacute para o Norte da Provincia onde a sua presenccedila he muito desejada como nos consta He necessario pois que os Snrs Delegados sobre a Instrucccedilaotilde Primaria activem os Professores para que empreguem todo o cuidado no adiantamento dos Alumnos afim de que perante S Exc mostrem a instrucccedilaotilde que tem adquirido pelos desvelos de seos Mestres (CORREIO OFFICIAL 29 de fevereiro de 1840 p 4)

As passagens de Mascarenhas pelas escolas da proviacutencia tambeacutem fizeram

circular ideias de pensadores da educaccedilatildeo Na Caixa de Documentos do Municiacutepio

de Pirenoacutepolis (AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis Caixa 4) haacute um

rascunho138 de uma correspondecircncia assinada por Padre Veiga139 datada de 20 de

marccedilo de 1840 agradecendo o Presidente Mascarenhas por apresentar ideias de

138 Acreditamos ser um rascunho pois o texto estava escrito a laacutepis e natildeo a tinta no canto superior de um papel almaccedilo Nesse mesmo papel havia outras anotaccedilotildees de nomes de pessoas como se fosse a composiccedilatildeo de um Mapa de Turma sendo possivelmente portanto nomes de alunos 139 Padre Joseacute Joaquim Pereira da Veiga conhecido como Padre Veiga eacute natural de Vila de Meiaponte hoje Pirenoacutepolis Morreu em 11 dezembro de 1840 aos 68 anos O Relatoacuterio apresentado na Assembleia Legislativa de Goiaacutes em 1841 assinado pelo entatildeo vice-presidente Joseacute Rodrigues Jardim (JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1841 p 5) informa da morte de Veiga mencionando que ele era professor de Gramaacutetica Latina

99

Pestalozzi que ali tentariam colocar em praacutetica ao mesmo tempo que solicita

indicaccedilotildees de compecircndios do referido educador Ao que tudo indica esse bilhete natildeo

chegou agraves matildeos do Presidente poreacutem notamos que suas viagens pelas escolas

influenciaram o pensamento e as praacuteticas dos professores com quem teve contato

Entretanto como eram escassos os meios de se ter acesso aos livros natildeo eacute possiacutevel

concluir que as ideias de Pestalozzi tenham sido aprofundadas pelos preletores

goianos

De acordo com Bretas (1991 p 204) Mascarenhas ldquofoi o presidente que pela

primeira vez em mensagens agrave Assembleia legislativa citou nomes de educadores de

fama internacional lembrando as conquistas cientiacuteficas no campo da educaccedilatildeordquo

[] a instruccedilaotilde he o ponto de partida e a base em que deve assentar o edifiacutecio social naotilde fallo soacute da instrucccedilaotilde que se costuma aacute dar nas escoacutelas ler escrever contar doutrina Christatilde demais alguma cousa se precisa he necessario inspirar nos meninos os principios de Moral o amor ao trabaacutelho o horror aacute preguiccedila para a qual tanto nos atrahe a espantosa fecundidade deste sogravelo abenccediloado Quem naotilde ha de pronuciar com respeito e gratidaotilde os nomes illustres e inmortaes de Pestalozzi Fellemberg Bell e Lancaster Hum povo illustrado facilmente se governa e he bem difficil senaotilde impossivel opprimil-o [] (MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia de Goiaacutes 1845 p 6-7 grifos nossos)

No uacuteltimo trecho desse fragmento ao dizer que o povo ilustrado eacute faacutecil de

governar e impossiacutevel de oprimir haacute uma aproximaccedilatildeo com as ideias liberais como

tambeacutem dos preceitos pestalozzianos que engajados politicamente ldquoenvidavam

esforccedilos para a laicizaccedilatildeo do ensino e a educaccedilatildeo do seacuteculo XIX da sociedade

urbana e industrial com os projetos para a implantaccedilatildeo da escola universal laica e

gratuitardquo (BRETTAS 2018 p 417) Logo mesmo Mascarenhas (1839) reconhecendo

a religiatildeo como sustentadora da organizaccedilatildeo social de um Estado consideramos a

partir da passagem do relatoacuterio transcrito acima que ele dissemina uma perspectiva

iluminista ao afirmar que a educaccedilatildeo tambeacutem guia ao trabalho por meio de um

pensamento racionalista calcado natildeo apenas em valores religiosos mas numa base

cientificista

Nas viagens que Mascarenhas empreendeu a realidade encontrada era de

escolas funcionando em espaccedilos pouco confortaacuteveis geralmente nas casas dos

professores A escassez de materiais didaacuteticos e de mobiacutelias escolares era outro fator

que prejudicava o andamento das aulas Bretas (1991) afirma que o periacuteodo de 1835

a 1845 foram anos de estagnaccedilatildeo da instruccedilatildeo na proviacutencia Logo se Mascarenhas

100

natildeo realizou grandes feitos para a educaccedilatildeo de Goiaacutes durante seus anos no poder

sua experiecircncia auxiliou no diagnoacutestico da realidade educacional no territoacuterio goiano

Constatou-se que a obrigatoriedade de matriacutecula das crianccedilas natildeo era cumprida jaacute

que predominava na sociedade goiana uma cultura muito arraigada no ruralismo

Desse diagnoacutestico resultaram algumas accedilotildees que o vice-presidente Francisco Ferreira

dos Santos Azevedo ao assumir interinamente articulou

[] presentemente nossos Mestres de Primeiras Letras nada mais fazem do que ensinar a ler e escrever de sorte que quando hum menino sahe da Escolla ignora os conhecimentos os mais treviaes e seos proprios deveres Para remediar este inconveniente estou mandando imprimir na Typographia Provincial Compendios escolhidos para serem destribuidos pelas diversas Aulas e se esta medida naotilde produzir o desejado effeito entaotilde o Governo tomaraacute outras propondo-vos as que exercederem aacute orbita de suas attribuiccedilotildees A impressaotilde deste Compendio naotilde augmenta a despesa com a Instrucccedilatildeo Publica porque a importancia do papel he tirada da quantia dos utencilios e Ordenados dos Professores das Aulas que estaotilde vagas (AZEVEDO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1843 p 8 grifos nossos)

Natildeo identificamos menccedilotildees de que essa impressatildeo tenha ocorrido de fato na

Tipografia Provincial de Goiaacutes nem se ocorreu como os compecircndios foram

distribuiacutedos No entanto fica evidente que a tipografia da proviacutencia nesse periacuteodo

adquiriu tambeacutem essa funccedilatildeo Borges e Lima (2008) explicam que a Tipografia Oficial

de Goiaacutes foi comprada do jornal Matutina Meyapontense pelo Presidente Joseacute

Rodrigues Jardim em 1836 A compra da Tipografia fez com que fosse criada a

imprensa oficial em Goiaacutes em 1837 atraveacutes das publicaccedilotildees do Correio Official140 As

tipografias das proviacutencias eram geralmente utilizadas para impressatildeo de veiacuteculos de

informaccedilotildees oficiais do Governo tais como leis regulamentos atos e natildeo para

impressatildeo de livros didaacuteticos ou literaacuterios Isso eacute reiterado no Ato nordm 3905 de 16 de

marccedilo de 1886 que fixa o Regulamento da Typografia Provincial de Goyaz de 1886

(GOIAacuteS 1886c)141 no capiacutetulo 1 estabelecendo como finalidade da tipografia do

governo a publicaccedilatildeo de leis e editais aleacutem da impressatildeo do Correio Official

Outro fato interessante foi a descoberta de uma correspondecircncia datada de

1843 portanto contemporacircnea ao relatoacuterio de Azevedo na Caixa de Documentos dos

140 O Correio Official de Goyaz teve a sua primeira publicaccedilatildeo no dia 3 de junho de 1837 Para maiores informaccedilotildees acerca da histoacuteria da imprensa goiana cf Borges e Lima (2008) 141 AHEG Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes Esse documento encontra-se digitalizado e disponiacutevel no CD-ROM e no site da Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes volume 1

101

Municiacutepios Goianos (SILVEIRA 1856 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos

Itumbiara Caixa 01) que mencionou a existecircncia de uma Recebedoria no Porto de

Santa Ritta do Paranahyba142 e informou ao Presidente da Proviacutencia que havia

chegado ao Porto143 um grande carregamento da Typographia Nacional vindo do Rio

de Janeiro dirigido a Francisco Azevedo Seria essa carga os livros que serviriam de

modelo para a referida impressatildeo na Tipografia Provincial de Goiaacutes Ou eram outros

materiais vindos da Tipografia Nacional Embora pela correspondecircncia identificada

natildeo seja possiacutevel descobrir o conteuacutedo da carga destinada ao vice-presidente

Azevedo fica claro que a proviacutencia mantinha relaccedilotildees comerciais com a Tipografia da

sede do Impeacuterio algo importante a se considerar jaacute que segundo Lima (2008 p 20-

21) ldquoa Imprensa Nacional era [] simultaneamente uma graacutefica oficial e tambeacutem

editora que iria publicar textos literaacuterios e didaacuteticos Recebeu diversos nomes ao longo

de sua existecircncia Impressatildeo Reacutegia Impressatildeo Nacional Tipografia Nacional

Imprensa Nacionalrdquo

Em 1845 assumiu a presidecircncia de Goiaacutes Joaquim Ignaacutecio Ramalho que ficou

no governo ateacute 1848 No primeiro relatoacuterio de Ramalho apresentado agrave Assembleia

Legislativa de Goiaacutes em 1ordm de maio de 1846 ele enumera que eram 33 escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria no territoacuterio goiano descrevendo as condiccedilotildees da instruccedilatildeo puacuteblica

na proviacutencia

O estado actual da Instrucccedilaotilde Publica com magoa vos digo naotilde he satisfactorio nem tenho esperanccedilas de que neste interessante objecto se possa em pouco tempo obter algum melhoramento Os professores salvas algumas poucas excepccedilotildees naotilde tem os conhecimenttos necessarios para desempenharem seos deveres e impossivel seria preencher todas as Cadeiras creadas na Provincia

142 Hoje cidade de Itumbiara ao sul do estado 143 Em Santa Ritta do Paranahyba havia um Porto primeiro por ser uma regiatildeo de fronteira e tambeacutem pela presenccedila do Rio Paranaiacuteba por onde chegavam embarcaccedilotildees com encomendas para municiacutepios da Proviacutencia de Goiaacutes e para outras Proviacutencias ao Norte Centro-Oeste do paiacutes Nesse Porto havia uma Recebedoria com um Administrador que recolhia os impostos das cargas e informava ao Presidente de Proviacutencia o que por ali passava O Administrador tambeacutem prestava contas agrave Tesouraria da Proviacutencia detalhando os rendimentos da Recebedoria por meio de um balancete mensal da receita e das despesas do Porto Nas Caixas de Documentos do Municiacutepio de Itumbiara no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes haacute diversos balancetes e ofiacutecios expedidos pela Recebedoria Na caixa 1 haacute uma carta assinada pelo entatildeo Administrador da eacutepoca Jozeacute Manuel da Silveira destinada ao Inspetor das Rendas Provinciais datada de 14 de janeiro de 1856 relatando as dificuldades de se administrar uma regiatildeo de fronteira ao mesmo tempo que entrega o cargo pois haacute cidadatildeos que por ali passam e natildeo querem pagar as taxas cobradas no Porto Por fim tambeacutem argumenta ldquonatildeo quero continuar a soffrer os dissabores causados por administraccedilotildees de barreirasrdquo (SILVEIRA 1856 p 2 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 01)

102

com homens professionaes revestidos de todas as habelitaccediloes exigidas pelas Leis em vigor A falta de homens que exerccedilaotilde dignamente o Magisterio he hum mal que affecta poderosamente o progresso da instrucccedilatildeo (RAMALHO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1846 p 12)

Em virtude da falta de pessoas para exercer o magisteacuterio e de formaccedilatildeo de

intelectuais na proviacutencia Ramalho criou o Liceu um estabelecimento de ensino

secundaacuterio sancionando a Lei nordm 9 de 17 de junho de 1846 (GOIAacuteS 1846) A

instalaccedilatildeo do Liceu aconteceu somente em 23 de fevereiro de 1847 sem sede proacutepria

com as aulas ocorrendo no preacutedio anexo da Casa da Fazenda da Cidade de Goiaacutes

(BARROS 2006) Em 1839 o Presidente Mascarenhas jaacute havia discutido na

Assembleia Legislativa a necessidade de construccedilatildeo de um Liceu na proviacutencia ldquo[]

eu quizera apresentar-vos hum Plano de Estudos e lembrar-vos a vantagem de hum

Licecirco em que estivessem reunidas as diferentes aulas e donde sahissem os Mestres

para as Escolas da Provincia hum tal Estabelecimento seria de grande utilidaderdquo

(MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1839 p 9) Poreacutem Mascarenhas

justifica que devido agrave falta de recursos financeiros na proviacutencia natildeo se conseguiria

instalar naquele ano o Liceu algo que ocorreu somente 7 anos depois no governo de

Ramalho (BARROS 2006)

No relatoacuterio que Ramalho apresentou agrave Assembleia Legislativa em 1847 haacute

um item sobre o ensino secundaacuterio intitulado de ldquoLicecircordquo Barros (2006 p 25) elucida

que o Liceu acabou se tornando uma escola cujo objetivo era formar ldquoprofissionais

liberais e tambeacutem os poliacuteticos que iriam representar Goiaacutes no cenaacuterio poliacutetico

nacionalrdquo Ateacute 1929 o Liceu foi a uacutenica instituiccedilatildeo de ensino secundaacuterio do estado

somente a partir de 1930 eacute que se iniciou a proliferaccedilatildeo dessas escolas pelo interior

goiano (BARROS 2017)144

Ramalho afastou-se da presidecircncia em 1848 para exercer o mandato de

Deputado Geral pela proviacutencia de Goiaacutes e o vice-presidente Antocircnio de Paacutedua Fleury

assumiu o cargo

Num curto espaccedilo de tempo entre fevereiro 1848 a junho de 1849 Antocircnio de

Paacutedua Fleury145 esteve no poder Em seus discursos aponta a necessidade de

construir uma Escola Normal jaacute que a instruccedilatildeo primaacuteria carecia de mestres

144 Para maiores informaccedilotildees sobre a histoacuteria do Liceu em Goiaacutes cf Barros (2006 2017) 145 Antocircnio de Paacutedua Fleury era irmatildeo de Luiz Gonzaga de Camargo Fleury que exerceu tambeacutem a presidecircncia da proviacutencia de Goiaacutes entre 1837 a 1839

103

habilitados com conhecimentos especiacuteficos sobre o exerciacutecio do magisteacuterio Fleury

(1848 1849) tambeacutem defende ordenados melhores aos professores no intuito de

atraiacute-los agrave docecircncia No entanto natildeo houve uma accedilatildeo efetiva para que isso fosse

operacionalizado Bretas (1991) ressalta que daiacute em diante os Relatoacuterios de

Presidente de Proviacutencia satildeo registros de um pessimismo motivado pelas condiccedilotildees

econocircmicas em Goiaacutes impactando no ensino que necessitava de investimentos

Aleacutem disso houve uma sucessatildeo de presidentes que ficaram pouco tempo no cargo

posto que alguns assumiam outros cargos poliacuteticos ocasionando a natildeo continuidade

das accedilotildees no acircmbito da educaccedilatildeo

Eduardo Olimpio Machado presidente da proviacutencia entre 1849 e 1850 relatou

que ldquoo estado da instrucccedilatildeo primaria excepccedilaotilde feita da Capital eacute desanimador e naotilde

corresponde seguramente aos sacrifiacutecios que com ella faz o Cofre Provincialrdquo

(MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1850 p 18) Para resolver tal

situaccedilatildeo Machado reitera a necessidade de uma Escola Normal mas como natildeo havia

meios financeiros para criaacute-la propotildee adicionar ao Liceu um professor de instruccedilatildeo

primaacuteria encarregado de preparar os docentes para o exerciacutecio do magisteacuterio das

primeiras letras Ao mesmo tempo percebe que falta na proviacutencia uma fiscalizaccedilatildeo

mais efetiva apresentando a ideia de criaccedilatildeo do cargo de Inspetor Geral das Escolas

que por recomendaccedilatildeo do Governo visitaria todas as escolas da proviacutencia No citado

relatoacuterio de 1850 Machado tambeacutem afirma que para ser professor eacute necessaacuterio ter

grau de instruccedilatildeo compatiacutevel com as exigecircncias da docecircncia propondo que os

professores que atuavam nas aulas de instruccedilatildeo primaacuteria caso natildeo fossem formados

passassem por uma ldquoprova de capacidaderdquo Os professores interinos e os vitaliacutecios

julgados natildeo aptos nessa prova seriam convocados para o ensino preparatoacuterio ndash uma

espeacutecie de escola de formaccedilatildeo destinada aos docentes Todavia como Machado

(1850) admite essas accedilotildees exigiam despesas dos cofres puacuteblicos e naquele momento

natildeo foram implementadas

Todas essas sugestotildees de Machado foram retomadas pelo presidente

seguinte Antonio Joaquim da Silva Gomes que governou entre julho de 1850 e

dezembro de 1852 entretanto Gomes justificou que a situaccedilatildeo econocircmica da

proviacutencia natildeo permitia os gastos previstos nas ideias de Machado e que embora os

concursos para cadeiras de instruccedilatildeo primaacuteria estivessem abertos em alguns

municiacutepios ningueacutem havia se habilitado para o magisteacuterio De acordo com o

Presidente Gomes tambeacutem se corria o risco de ao aplicar a ldquoprova de capacidaderdquo

104

faltarem professores por natildeo haver pessoas interessadas pela docecircncia e de fato

habilitadas com os conhecimentos exigidos para lecionar

Foucault (2004) discute que exercer um poder eacute formar organizar e pocircr em

circulaccedilatildeo um saber O discurso de Gomes proclama uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que marginaliza a profissatildeo docente e o ensino puacuteblico Um discurso que conforme

Abreu (2006) aponta ressoou na desvalorizaccedilatildeo da carreira e da formaccedilatildeo docente

em Goiaacutes por muitos anos

Em quanto for tao escasso o numero de indiviacuteduos que procuraotilde empregar-se no Magisterio naotilde deveis inovar couza alguma a respeito do ensino publico parecendo-me por ora bastante que o Governo proceda com escruacutepulo no provimento vitaliacutecio ou interino das Cadeiras conferindo tiacutetulos somente aacute aquelles em que se der maior graacuteu de meacuterito e capacidade e preferindo antes deixar algumas vagas do que confial-as a homens que vao perverter a mocidade pela sua supina ignoracircncia ou pelo escacircndalo de seos costumes (GOMES Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1851 p 30)

A defesa de Gomes (1851) faz parte de um saber sobre a formaccedilatildeo de

professores que circulou natildeo soacute em Goiaacutes como em outras proviacutencias poacutes Ato

Adicional de 1834 repercutindo nas falas presidenciais uma recorrente ldquoperspectiva

de que a formaccedilatildeo para o ofiacutecio docente era condiccedilatildeo primordial para lsquomelhorar a

instrucccedilatildeo da mocidaderdquo (REIS 2011 p 182)

Em 1852 estavam instaladas 44 escolas puacuteblicas de primeiras letras na

proviacutencia muitas das quais estavam sendo fechadas por falta de alunos (GOMES

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1852a) Canezin e Loureiro (1994) explicam que

nesse periacuteodo a populaccedilatildeo goiana era predominantemente rural e por isso havia

muitos escravos que assim como os filhos de famiacutelias mais pobres estavam

excluiacutedos da escola Jaacute em 1853 35 escolas estavam funcionando frequentadas por

947 meninos e 127 meninas

Quando Gomes apresentou o relatoacuterio ao seu sucessor Francisco Mariani

descrevendo brevemente a situaccedilatildeo da proviacutencia no que tange agrave educaccedilatildeo ele tratou

apenas do Liceu natildeo mencionando nada mais a respeito da instruccedilatildeo puacuteblica

(GOMES Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1852b) Destacou alguns investimentos

que fez no ensino secundaacuterio comprando materiais para as aulas no Liceu Fica

evidente desse modo como a educaccedilatildeo em Goiaacutes foi-se configurando empregando-

se mais recursos destinados agrave formaccedilatildeo de uma elite poliacutetica do que agrave instruccedilatildeo

primaacuteria (BARROS 2006 2017)

105

Mariani governou entre dezembro de 1852 a abril de 1854 Na Assembleia

Legislativa tambeacutem reclamou da falta de recursos para manter as escolas goianas

definindo como criteacuterio para manutenccedilatildeo da educaccedilatildeo na proviacutencia o custeamento de

no miacutenimo uma escola em efetivo exerciacutecio por municiacutepio transferindo professores de

localidade a fim de preencher algumas cadeiras que estavam vagas Em 1853 Mariani

apresentou na Assembleia o pedido de eliminaccedilatildeo da quota destinada para o

expediente das aulas justificando que

[] Natildeo eacute com meia duzia de folhas de papel distribuidas anualmente por cada menino que se lhes ha de ensinar a arte calligraphica entretanto que essas pequenas addiccedilotildees reunidas formaotilde uma somma que muito avulta no estado de penuria a que estaotilde reduzidos os Cofres Provinciais (MARIANI Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1853 p 28)

A escassez dos materiais de expediente escolar jaacute era evidenciada em

relatoacuterios anteriores como um agravante para a ineficaacutecia do ensino agora de forma

legitimada notamos os rumos que a educaccedilatildeo em Goiaacutes na metade do seacuteculo XIX

foram tomando ao mesmo tempo que comprovamos que os governos provinciais

com a responsabilidade de ofertar a educaccedilatildeo popular natildeo conseguiam se manter

sem a colaboraccedilatildeo do Poder Central (SAVIANI 2006)

Durante o governo de Mariani foi sancionada a Reforma Couto Ferraz pelo

Decreto nordm 1331A ndash de 17 de fevereiro de 1854 (BRASIL 1854) Essa reforma

regulamentou o ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte e influenciou em

Goiaacutes a expediccedilatildeo do novo Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria em 1856

(GOIAacuteS 1856) assinado no governo do Presidente Antonio Augusto Pereira da

Cunha Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) explicam que com exceccedilatildeo da

primeira lei de instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes homologada em 1835 todas as demais no

periacuteodo imperial possuem um dispositivo legal da Assembleia Legislativa autorizando

uma reforma no ensino na proviacutencia146

Quando o Regulamento de 1856 foi aprovado a educaccedilatildeo goiana estava

praticamente entregue aos Paacuterocos das Igrejas Em 1854 o entatildeo Presidente de

Goiaacutes Antonio Candido da Cruz Machado recomendou que por questotildees

financeiras nos municiacutepios em que natildeo houvesse aulas puacuteblicas e ou particulares os

146 Para expedir o Regulamento de 1856 o Presidente Antonio Augusto Pereira da Cunha recebeu autorizaccedilatildeo da Assembleia Legislativa por meio da Resoluccedilatildeo nordm 7 de 22 de novembro de 1855 (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015)

106

Paacuterocos assumissem essa missatildeo de ldquoensinar os rudimentos das letras aacute mocidade

a qual pelo duplo dever de pastor e mestre daraotilde a educaccedilaotilde religiosardquo (MACHADO

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1854 p 55) Em troca os Paacuterocos eram ressarcidos

com uma gratificaccedilatildeo anual Com a frequente dificuldade do governo da proviacutencia em

manter as escolas a Igreja Catoacutelica comeccedilou a compartilhar com o Estado a

responsabilidade pela instruccedilatildeo elementar das crianccedilas goianas uma entrada que se

fixou por muitos anos seja na presenccedila fiacutesica de Padres lecionando ou inspecionando

o ensino seja na influecircncia na manutenccedilatildeo de uma cultura escolar arraigada nas

tradiccedilotildees do catolicismo

Em 1856 quando foi lanccedilado o Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria

tambeacutem se publicou na mesma data o segundo Regulamento para o Liceu de

Goiaacutes147

Para a elaboraccedilatildeo dos referidos Regulamentos o Presidente da Proviacutencia

Antonio Candido da Cruz Machado enviou para o Rio de Janeiro em 1855 o Professor

Feliciano Primo Jardim no intuito de conhecer o meacutetodo portuguecircs de leitura

repentina denominado de Castilho Ao assumir o governo em setembro de 1855

Antonio Augusto Pereira da Cunha considerou o relatoacuterio de Primo Jardim e natildeo viu

motivos para implementar na proviacutencia uma Reforma com esse meacutetodo Como

constatamos pelos estudos de Arauacutejo e Silva (1975) na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

em 1825 o entatildeo Presidente Caetano Maria Lopes Gama enviou para a Corte um

militar para habilitaccedilatildeo no meacutetodo do ensino muacutetuo O envio de um militar pode ser

justificado pelo fato de que em 1823 houve uma ordem ministerial que exigia de cada

proviacutencia a disponibilizaccedilatildeo de um soldado das forccedilas militares para aprender o

meacutetodo muacutetuo em uma escola da Corte que o praticava para entatildeo propagaacute-lo nas

escolas de sua localidade de origem (ALMEIDA 2000148) Entretanto a partir das

fontes analisadas consideramos que Primo Jardim eacute o primeiro professor goiano que

147 O primeiro Regulamento do Liceu foi organizado em 1850 (Resoluccedilatildeo nordm 21 de 7 de julho de 1850) no governo de Eduardo Olimpio Machado O segundo Regulamento assinado e publicado em 1ordm de dezembro de 1856 tem 80 artigos que diferentemente do primeiro que tinha 34 artigos detalham minuciosamente elementos antes natildeo especificados Bretas (1991 p 224-225) entretanto alerta que nesse uacuteltimo Regulamento ldquonatildeo houve [] alteraccedilotildees de monta mas [ele] especifica com maior minuciosidaderdquo alguns pontos como ldquocondiccedilotildees de matriacutecula o regime das aulas e das feacuterias os exames as funccedilotildees de cada um dos funcionaacuterios a admissatildeo de professores seus direitos e deveresrdquo etc O segundo Regulamento do Liceu encontra-se digitalizado e disponiacutevel no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 1) 148 A primeira ediccedilatildeo desse livro de Pires de Almeida foi publicada em 1889

107

viajou sob encomenda do governo para colher informaccedilotildees acerca dos meacutetodos de

ensino de leitura e escrita para aplicaccedilatildeo nas escolas goianas149

Nessa perspectiva o Presidente Cunha recomenda no Regulamento sobre a

Instruccedilatildeo Primaacuteria de 1856 o meacutetodo de ensino simultacircneo tal como previsto na

Reforma Couto Ferraz enunciando que estabeleceu ldquohum methodo aproximado ao

seguido na corte visto natildeo poder adopta-lo por causa da insuficiencia das rendas

provinciaes e de pessoal habilitadordquo (CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes

1857 p 23) O meacutetodo de ensino simultacircneo no contexto do Regulamento que

apresenta 102 artigos eacute mencionado em duas passagens no 3ordm e no 99ordm artigos

Art 3ordm ndash O Presidente da Provincia ouvindo o Inspector da instrucccedilatildeo publica determinaraacute o methodo que deve ser seguido nas escolas preferindo sempre que for possiacutevel o simultacircneo [] Art 99ordm ndash As escolas regidas pelo methodo simultacircneo tendo um Professor adjunto se o numero dos alunnos que a frequumlentarem o exigirem o qual venceraacute o ordenado que focircr marcado pelo Presidente da Provincia e seraacute subordinado ao Professor da escola (GOIAacuteS 1856 art 3ordm e 99ordm)

Como se lecirc a adoccedilatildeo do meacutetodo de ensino ficava a criteacuterio do Presidente de

Proviacutencia e do Inspetor de Instruccedilatildeo Puacuteblica entretanto recomendava-se ldquosempre

que possiacutevelrdquo a aplicaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo O que se enuncia no Regulamento

sob uma oacutetica linguiacutestica no uso da expressatildeo ldquopreferindo sempre que for possiacutevelrdquo

no artigo 3ordm eacute uma condicionalidade impliacutecita Ou seja para escolher um determinado

meacutetodo considera-se que a sua adoccedilatildeo estaacute condicionada agraves possibilidades de seu

uso as quais o Regulamento deixa evidente serem a disponibilizaccedilatildeo dos materiais

escolares e a proacutepria formaccedilatildeo do professor Como na proviacutencia goiana ainda natildeo

havia um centro de formaccedilatildeo de professores nem a iniciativa para circulaccedilatildeo de livros

sobre os meacutetodos de ensino nas escolas houve dificuldade de os docentes

compreenderem o que era o meacutetodo simultacircneo tendo continuado a aplicar por muitos

anos o usual meacutetodo individual como eacute declarado no Relatoacuterio de Presidente de

Proviacutencia de 1859 assinado por Francisco Januario de Gama Cerqueira

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 33-37)

O Regulamento de 1856 no artigo primeiro define que a instruccedilatildeo primaacuteria

compreenderaacute o ensino da leitura escrita as regras elementares da aritmeacutetica a

teoria e praacuteticas das quatro operaccedilotildees sobre os nuacutemeros inteiros fraccedilotildees ordinaacuterias

149 Os detalhes sobre essa experiecircncia seratildeo melhor discutidos na seccedilatildeo 4 desta tese

108

e decimais e as proporccedilotildees os sistemas mais essenciais dos pesos e medidas a

gramaacutetica da liacutengua nacional o Catecismo as explicaccedilotildees sobre dogmas

fundamentais das religiatildeo doutrina cristatilde e principais oraccedilotildees Diferentemente o

ensino para meninas jaacute no artigo segundo diz que que consta das mesmas mateacuterias

mas limitando-se nos toacutepicos de aritmeacutetica agrave teoria e praacutetica das quatro operaccedilotildees

sobre os nuacutemeros inteiros aleacutem disso as professoras eram ldquoobrigadasrdquo ndash tal como

estaacute escrito no artigo 2ordm do Regulamento ndash a lecionar sobre prendas que auxiliariam

a economia domeacutestica bordado costura culinaacuteria etc Havia portanto uma

diferenciaccedilatildeo de ensino por gecircnero tanto que no artigo 79 se proiacutebe a admissatildeo de

alunos de ambos os sexos na mesma escola reproduzindo a organizaccedilatildeo social em

moldes patriarcais ao projetar na figura feminina tal como Elias (1994) explica um

modelo de agente do projeto civilizador SantrsquoAnna (2011) em pesquisa sobre a

experiecircncia de escolarizaccedilatildeo de meninos e meninas na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo

XIX expotildee que a legislaccedilatildeo goiana de instruccedilatildeo normatizava orientava controlava o

funcionamento da conduta escolar docente e discente acionando ldquorepresentaccedilotildees

sociais de gecircnero reiteradoras da partilha hierarquizada entre o puacuteblico e o privado

da divisatildeo sexuada dos papeacuteis sociaisrdquo (SANTrsquoANNA 2011 p 138)

Uma forte presenccedila dos preceitos cristatildeos e do catolicismo marca o

Regulamento tornando-se um requisito para o candidato ao magisteacuterio goiano ser

catoacutelico apostoacutelico romano (GOIAacuteS 1856 art 7ordm paraacutegrafo 3ordm) e obrigado a

acompanhar os alunos agrave igreja nos domingos e dias santos velando para guardarem

o devido respeito e prudecircncia nas missas (GOIAacuteS 1856 art 41)

No que diz respeito aos conhecimentos dos professores para ingresso na

carreira docente o Regulamento prevecirc a aplicaccedilatildeo de um exame em que os

candidatos eram avaliados seguindo os criteacuterios especificados nos artigos 10 11 e

12

Art 10 ndash No exame cada examinador deve sect1ordm Mandar o candidato fazer um exerciacutecio de leitura de diversos caracteres impressos e manuscriptos examinar lhe a pronuncia e conhecimento da pontuaccedilatildeo sect2ordm Propor lhe cacographicamente algumas palavras e frazes alternadas para sondar lo na orthographia sect3ordm Ditar lhe uma fraze para ele analisar indicando as partes do discurso e da oraccedilatildeo argumentando sua conjugaccedilatildeo de verbos e nas principais regras da grammatica sect4ordm Manda lo escrever algumas linhas em bastardo bastardinho e cursivo e faze-lo aparar a pena carregar la de escrever

109

sect5ordm Propor lhe questotildees de arithimethica que sejam proprias para mostrar o grau de experiencia do candidato no calculo e perguntar-lhe os principios elementares da arithimethica e os systemas mais usados dos pesos e medidas sect6ordm Propor-lhe diversas situaccedilotildees da vida examinar soluccedilotildees que a moral lhe aconselharia fazer-lhe perguntas sobre os dogmas da Religiatildeo e Doctrina Christam fazendo repetir as principais oraccedilotildees Art 11 ndash No exame para professoras ouvindo os examinadores o juiz de uma professora publica ou drsquouma senhora designada pelo Presidente da Provincia sobre os seus trabalhos drsquoagulhas e bordados Art 12 ndash Terminados os exames sobre os conhecimentos do candidato se procederaacute a de sua aptidatildeo para o ensino questionando os examinadores sobre o modo porque instruiraacute os alunos a conhecerem as letras e os princcipais elementos e depois a leitura a escriptura e o calculo sobre a applicaccedilatildeo dos principios que seguiraacute nas puniccedilotildees e recompensas em summa sobre os meios mais convenientes natildeo soacute para desenvolver a cultura das faculdades intellectuaes dos alunnos como principalmente para os instruir no exerciacutecio das virtudes cristans (GOIAacuteS 1856 art 10 11 e 12)

Os aspectos tratados nesses artigos tambeacutem demonstram concepccedilotildees que

circularam sobre a praacutetica de ensino na instruccedilatildeo primaacuteria goiana em especiacutefico no

ensino inicial de leitura escrita aritmeacutetica e doutrina cristatilde principais conteuacutedos nas

escolas masculinas e femininas Afinal se haacute uma exigecircncia de que se conheccedilam

algumas noccedilotildees da praacutetica escolar para pleitear o magisteacuterio espera-se que os

professores apliquem tais saberes para a accedilatildeo em saberes em accedilatildeo (A

CHARTIER150 2007)

O primeiro saber depreendido volta-se ao domiacutenio da leitura com fluecircncia Com

relaccedilatildeo agrave escrita se exige um conhecimento da grafia correta das palavras e a

distinccedilatildeo de modos diferentes de grafar as letras sendo cobrados trecircs tipos bastardo

bastardinho e cursivo151 Do mesmo modo aleacutem da grafia estabeleceu-se como

avaliaccedilatildeo o modo de o candidato aparar a pena e carregaacute-la para a escrita Arriada e

Tambara (2012) explicam que no seacuteculo XIX o artefato utilizado recorrentemente

150 Para diferenciar as citaccedilotildees de Anne-Marie Chartier e Roger Chartier para a primeira usaremos a referecircncia A CHARTIER 151 Magalhatildees (2005) explica que a escrita bastarda eacute de origem itaacutelica aproximando-se das caracteriacutesticas dos caracteres impressos ldquoPela proximidade do impresso e pela singeleza de traccedilo revelou-se mais acessiacutevel na aprendizagem e menos selectiva na instrumentalizaccedilatildeo do quotidiano por parte dos puacuteblicos pouco escolarizados ou menos habituados agrave escritardquo (MAGALHAtildeES 2005 p 5) Enquanto a escrita cursiva de origem inglesa permitiu a personificaccedilatildeo da escrita adaptando-a aos modelos pessoais de cada escritor e dos diferentes manuais que surgem para ensinaacute-la tendo sido difundida pelo mundo devido a ldquosua facilidade de execuccedilatildeo e comportando adaptaccedilotildees e esteticamente proacutexima do impressordquo (MAGALHAtildeES 2005 p 5)

110

para a escrita era a pena Os autores enumeram diferentes manuais e normativas que

surgiram no Brasil nesse periacuteodo com objetivo de ritualizar a escrita caligraacutefica que

dependia quase exclusivamente da eficaacutecia do escritor no manejo da pena para

desenhar as letras

O saber da gramaacutetica tambeacutem era cobrado mediante a referenciaccedilatildeo das

regras gramaticais Na aritmeacutetica o candidato agrave docecircncia teria que conhecer

princiacutepios elementares e por fim examinavam-se situaccedilotildees da vida apontando

conselhos ou seja esperava-se que o professor formasse o aluno dentro de uma

moral predominantemente cristatilde para civilizaacute-lo nas exigecircncias de uma vida religiosa

Igualmente ele teria que reproduzir as principais oraccedilotildees o que nos leva a conjecturar

que recitar as oraccedilotildees juntamente com os alunos constituiacutea uma praacutetica dos

professores em sala de aula

Interessante notar que esses saberes tambeacutem eram os mesmos exigidos nas

provas de admissotildees das Escolas Normais do Brasil e de Portugal em meados do

seacuteculo XIX e iniacutecio do XX (MAGALHAtildeES 2007 FERREIRA 2010) Mesmo natildeo

havendo nesse periacuteodo na proviacutencia goiana uma Escola Normal o Regulamento de

1856 dialoga com os saberes e praacuteticas de formaccedilatildeo docente difundidos pelo Impeacuterio

o que tambeacutem remonta a nossa tese de estudo de que a proviacutencia goiana se abria

para as tendecircncias de modernidade educacional do seacuteculo XIX o que influenciou a

constituiccedilatildeo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

Aleacutem disso as professoras eram avaliadas quanto ao seu conhecimento em

trabalhos de agulhas e bordados atividades tiacutepicas do caraacuteter domeacutestico da educaccedilatildeo

feminina Conforme Louro (1997 p 478) avalia ldquonatildeo parece ser possiacutevel

compreender a histoacuteria de como as mulheres ocuparam as salas de aula sem notar

que essa foi uma histoacuteria que se deu tambeacutem no terreno das relaccedilotildees de gecircnerordquo de

modo que muito do que foi reproduzido na escola e na legislaccedilatildeo foi reflexo dos

lugares que ocupava e das relaccedilotildees que a mulher estabelecia na sociedade goiana

no oitocentos

O Regulamento tambeacutem cobrava do candidato ao magisteacuterio o conhecimento

dos modos de ensinar ao contraacuterio do Regulamento anterior aqui vemos uma

perspectiva de normatizar a accedilatildeo docente para inculcar nas crianccedilas preceitos

intelectuais elementares baseados em comportamentos e virtudes cristatildes de modo

que se mantivesse nas escolas a exatidatildeo o silecircncio a regularidade e a dececircncia

necessaacuteria (GOIAacuteS 1856 art 34) A normatizaccedilatildeo das praacuteticas sob uma oacutetica

111

foucaultiana pode ser considerada uma forma de controle social e de poder do Estado

na instruccedilatildeo puacuteblica jaacute que conhecendo e controlando os modos de ensinar agraves

crianccedilas de certa forma controla-se tambeacutem o que eacute ensinado Ao mesmo tempo fica

impliacutecito que para se ensinar eacute necessaacuterio ter meacutetodo algo jaacute difundido no Brasil

desde a vinda dos jesuiacutetas e da educaccedilatildeo sob as bases do manual Ratio Studiorum

Outro aspecto que o Regulamento de 1856 tem como diferencial eacute a criaccedilatildeo da

figura do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica e do Inspetor Paroquial (ABREU

GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015) em substituiccedilatildeo aos Delegados Literaacuterios

(GOIAacuteS 1856 art 66) O Inspetor Paroquial era responsaacutevel por inspecionar as

escolas puacuteblicas e privadas de sua localidade vigiar as praacuteticas dos professores

repreendendo-os quando faltavam com as suas obrigaccedilotildees Tinha como funccedilatildeo ao

final de cada trimestre enviar comunicaccedilatildeo ao Inspetor Geral com o mapa geral das

escolas que ele acompanhava indicando o nuacutemero de matriculados e especificando

observaccedilotildees acerca do grau de aproveitamento dos alunos (GOIAacuteS 1856 art 68)

O Inspetor Geral era o Diretor do Liceu funccedilatildeo intermediaacuteria entre as escolas

e o Presidente de Proviacutencia Competia a ele apresentar para o governo da proviacutencia

o estado da instruccedilatildeo primaacuteria sugerindo medidas e reformas (GOIAacuteS 1856 art 69)

Tal norma dialoga com o que fora preconizado na Reforma Couto Ferraz que embora

fosse dirigida ao Municiacutepio da Corte trouxe aspectos que se aplicavam agrave jurisdiccedilatildeo

dos governos nas proviacutencias como vemos em seu artigo 3ordm paraacutegrafo 5ordm que expotildee

a competecircncia do Inspetor Geral do Municiacutepio da Corte

sect5ordm Coordenar os mappas e informaccedilotildees que os Presidentes das provincias remetterem annualmente ao Governo sobre a instrucccedilatildeo primaria e secundaria e apresentar hum relatorio circumstanciado do progresso comparativo neste ramo entre as diversas provincias e o municipio da Cocircrte com todos os esclarecimentos que a tal respeito puder ministrar (BRASIL 1854 art 3ordm paraacutegrafo 5ordm)

Como estaacute descrito as proviacutencias enviariam os mapas apresentando a situaccedilatildeo

da instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria das localidades O cargo de Inspetor Escolar e

outros de fiscalizaccedilatildeo aparecem nos primeiros artigos da lei denotando que uma de

suas ecircnfases foi a criaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo e controle sobre os

estabelecimentos os professores e os materiais por eles usados Em consonacircncia

Barra (2017) em estudo comparativo sobre o Regulamento goiano de 1856 e o

Regulamento de Instruccedilatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo de 1851 analisa vaacuterias

similaridades entre eles notando uma difusatildeo no Brasil oitocentista do serviccedilo de

112

inspeccedilatildeo escolar como um dispositivo essencial para a organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo

puacuteblica

O Regulamento de 1856 natildeo considerou a abertura de uma Escola Normal

algo que viria a ser retomado pelos Presidentes de Proviacutencia posteriores como accedilatildeo

necessaacuteria para mudanccedila da situaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes Poreacutem como

o proacuteprio Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira discursa ndash Presidente entre outubro

de 1857 a maio de 1860 ndash era imprescindiacutevel a melhoria do salaacuterio dos professores

antes mesmo da criaccedilatildeo de um centro de formaccedilatildeo ldquosem melhorar a sorte drsquoestes

empregados inuteis seratildeo quaesquer escolas de habilitaccedilatildeo para elles porque

ninguem quereraacute se habilitar para uma carreira que traz em perspectiva a miseriardquo

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1858 p 13)

A situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia natildeo eacute modificada com o novo

regulamento pois o orccedilamento destinado agrave educaccedilatildeo permanecia o mesmo de modo

que os presidentes analisavam a situaccedilatildeo com uma tocircnica muito pessimista

descrevendo a dificuldade em manter as escolas funcionando e reiterando que a falta

de pessoal habilitado influenciava tal realidade (BRETAS 1991)

Nada pude fazer pela realisaccedilatildeo destas ideas por que entendi sempre que seria meramente nominal toda a reforma que natildeo fosse procedida pela creaccedilatildeo de uma escola de habilitaccedilatildeo para os professores drsquoonde se pudesse tirar o pessoal para as cadeiras do segundo grao quando houvessem de ser instituiacutedos (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 28)

A mesma falta de pessoal devidamente habilitado e ate a de um edifiacutecio que offereccedila as necessaacuterias acommodaccedilotildees me tem impedido ateacute hoje de levar a effeito a creaccedilatildeo de uma classe normal na escola da capital onde possatildeo habilitar-se os individuos que se destinarem ao magisterio (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859b p 34)

Lembro-me que jaacute uma vez compenetrados da necessidade de elevar-se o professorado publico aacute sua verdadeira altura decretastes a fundaccedilatildeo de uma escolla normal Esse estabelecimento como eu o comprehendo estaacute superior aacutes forccedilas da provincia entendo que natildeo poacutede ser circumscripto aacutes funcccedilotildees de uma escola pratica desde que se tratar de estender a instrucccedilatildeo aleacutem da methodica escolastica (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1861 p 14)

Tanto se tem reconhecido que a reforma da instrucccedilatildeo deve comeccedilar pelo noviciado do mestre que ateacute jaacute se decretou nrsquoesta provincia a fundaccedilatildeo de uma escola normal mas V Exordf comprehenderaacute as difficuldades dacuteessa medida desde que observar que se acha em uma provincia onde a administraccedilatildeo luta com embaraccedilos insuperaveis

113

por falta de homens habilitados para os diversos ramos do serviccedilo publico E depois uma escola normal natildeo eacute como muitos entendem uma escola meramente pratica onde o professor vai aprender empiricamente para de igual modo ensinar uma escola normal comprehende um curso regular de humanidades e importaria sua organisaccedilatildeo despesas que natildeo pode supportar o cofre da provincia Entendo que essa ideacutea eacute por todas as razotildees inexequivel e direi ateacute que superfua porquanto do lycecirco se poacutede colher os mesmos resultados que ella nos daria se fosse fundada (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 53-54)

A lei de 28 de Junho de 1858 creando nesta capital uma escola normal determinou no artigo 2deg que daquella data em diante natildeo fosse provida vitaliciamente escola alguma sem que o pretendente se mostrasse habilitado nas materias ensinadas na escola normal Esta disposiccedilatildeo seria por certo muito util e vantajosa se houvesse desde logo realisado a creaccedilatildeo da escola normal mas natildeo tendo assim acontecido o resultado foi summamente prejudicial a instrucccedilatildeo publica porque vedada ateacute hoje a nomeaccedilatildeo de professores vitalicios na conformidade da referida lei tornou-se inevitavel a dos professores interinos na qual ordinariamente ha menos escrupulo aleacutem dos inconvenientes das interinidades (SIQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1867 p 4)

Esses excertos satildeo ilustraccedilotildees de um discurso muito difundido pelos

Presidentes da proviacutencia goiana que justificam o fracasso da instruccedilatildeo primaacuteria

devido agrave falta de professores habilitados Haacute tal como disposto por Bakhtin (2010)

um entrecruzamento dos enunciados numa perspectiva dialoacutegica de um discurso

sempre repleto de discursos de outrem que orientado ideologicamente retoma

palavras alheias para criar um enunciado autoral Ou seja verificamos a ressonacircncia

dos discursos de Presidentes antecedentes na fala do Presidente que discursa

sobretudo pelo que notamos nas descriccedilotildees iniciais nos Relatoacuterios de Presidentes de

proviacutencia que sucessivamente caracterizam o estado da instruccedilatildeo puacuteblica como

ldquonatildeo satisfatoacuteriordquo As desculpas arroladas geralmente satildeo as mesmas e repetidas

vezes os Presidentes justificam que devido agrave transitoriedade dos governos pouco se

conseguia fazer na Proviacutencia Natildeo podemos desconsiderar que essas falas surgem

em meio a contextos poliacuteticos e que de certa maneira na Assembleia Legislativa os

Presidentes pretendem abonar o fazer ou natildeo fazer nas aacutereas da administraccedilatildeo da

proviacutencia

Como se lecirc nos fragmentos haacute uma tentativa de abertura da Escola Normal em

Goiaacutes em 1858 com a publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 15 de 28 de julho de 1858 durante

o governo do Presidente Cerqueira entretanto a iniciativa natildeo se tornou real e a

114

Escola Normal natildeo foi instalada por falta de recursos (CANEZIN LOUREIRO 1994)

Em 1859 haacute o iniacutecio de uma negociaccedilatildeo de compra de um preacutedio na capital conforme

o Relatoacuterio apresentado agrave Assembleia Legislativa explica (CERQUEIRA Relatoacuterio de

Presidente de Proviacutencia GOIAacuteS 1859a p 26) poreacutem no local se instalou uma escola

para o sexo masculino

Na capital da Proviacutencia as escolas eram preacutedios do governo antigas casas

precariamente adaptadas para funcionarem as aulas (ARAUacuteJO E SILVA 1975) Nos

municiacutepios no interior ainda permanecia a praacutetica de as aulas ocorrerem em casas

alugadas porquanto natildeo havia uma construccedilatildeo proacutepria e adaptada para o

funcionamento de uma escola

Natildeo haacute na provincia casas proprias para as escolas e nem se dava aos professores ateacute aqui quantia alguma para aluga-las pelo que muitas drsquoellas funccionatildeo em salas inteiramente improprias para esse fim por acanhadas e por natildeo terem as necessarias condiccedilotildees de aceio e salubridade (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia GOIAacuteS 1858 p 13)

Aleacutem da falta de condiccedilotildees de espaccedilo fiacutesico eacute relatada a escassez de materiais

de expediente escolar e mobiacutelias o que dificultava a aplicaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo

recomendado no Regulamento de 1856 O Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da

Proviacutencia de Goiaacutes Fellipe Antocircnio Cardoso de Santa Crus em 1858 solicita do

Presidente Cerqueira por meio de ofiacutecio vaacuterias mobiacutelias para as aulas puacuteblicas da

proviacutencia justificando que os alunos se sentiam desmotivados com essa ausecircncia jaacute

que para organizaccedilatildeo pelo ensino simultacircneo era necessaacuterio ter mais cadeiras e

mesas em sala de aula e na falta dessas conforme ele descreve ldquoos alunos

escrevem nos bancos de joelhos no chaotilde ou ainda em posiccedilaotilde mais incommodardquo

(CRUS 10 de abril de 1858 p 15 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada

e Impressa nordm 397)

O Presidente Cerqueira no citado Relatoacuterio de 1858 tambeacutem explicita os

atrasos nos salaacuterios dos professores que ficavam meses sem receber embora

fossem responsaacuteveis por pagar os alugueacuteis das casas onde ocorriam as aulas de

instruccedilatildeo primaacuteria152 Essa situaccedilatildeo na Proviacutencia parece se repetir em vaacuterios

152 Nas Caixas dos Municiacutepios Goianos no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes identificamos vaacuterios recibos avulsos de aluguel de casa para instruccedilatildeo primaacuteria assinados pelos professores e enviados pelos Inspetores Paroquiais ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Proviacutencia Interessante notar que esses recibos seguiam o mesmo padratildeo ndash como se houvesse uma orientaccedilatildeo expressa na Proviacutencia do modelo a ser seguido identificava-se

115

momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes levando alguns docentes a desistir do

magisteacuterio153 e ateacute mesmo passar por situaccedilotildees constrangedoras em seus

municiacutepios como eacute relatado no ofiacutecio do Inspetor Paroquial Luis Antonio da Fonseca

da Vila de Curralinho

Inspectoria Parochial de Curralinho 12 de Setembro de 1869 Ilmordm Senrordm Tenho a honra de levar ao conhecimento de VS que desde do anno findo a aula drsquoesta Villa naotilde e suprida com os objectos ainda os mais indispensaacuteveis para o seo expediente como papel pena e tinta O professor naotilde recebeu tambem o seu ordenado e recebeu cobranccedilas publicas do proprietario da caza alugada para as aulas de instrucccedilatildeo O professor tem como sabe VS um ordenado que muito mal chega para sua subsistencia enfim naotilde pode fornecer a sua conta estes objetos mesmo por que a escola tem um numero crescido de alumnos que em geral saotilde naotilde soacute pobres como pauperrimos cujos pais jaacute fazem grande sacrificio em tel-os na escola [] E de novo levo ao conhecimento de VS que o referido preacutedio tem sido reclamado por seu proprietario a fim de seja quanto antes desocupado e certamente teraacute aacute aula de ser interrompida por algum tempo em seos trabalhos ateacute que se alugue uacutema outra caza e nrsquoella se faccedila os necessarios commodos Ilmo Senrordm Conego Joaquim Vicente de Azevedo Digno Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia O Inspor Parochial Luis Antonio da Fonseca (FONSECA 12 de setembro de 1869 p 1-2 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188)

O Inspetor Fonseca relata a situaccedilatildeo particular da Vila de Curralinho no

entanto ela ilustra como um todo a realidade educacional no interior da proviacutencia

quem era o pagador (geralmente o administrador da Coletoria ou Recebedoria do Municiacutepio ou Vila) o beneficiado a quantia o periacuteodo correspondente e a que se destinava (geralmente para pagar o ordenado o aluguel e expediente escolar) Numa anaacutelise desses recibos notamos os repetitivos atrasos e o costume de o pagamento ser efetivado trimestralmente Quando o atraso era superior a 12 meses comumente no recibo apresentava-se uma justificativa pela demora no pagamento As justificativas mais recorrentes entre outras eram a falta de orccedilamento devido ao natildeo pagamento de impostos pelos contribuintes ou um gasto inesperado com algum setor da administraccedilatildeo local que alterava a previsatildeo orccedilamentaacuteria Jaacute na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa do AHEG encontramos livros de brochura da Tesouraria da Fazenda intitulados de ldquoFolha de pagamento dos alugueacuteis de casas e expedientes das aulas de instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria da Proviacutenciardquo datados das deacutecadas de 70 a 80 do seacuteculo XIX que apresentavam as folhas de pagamento dos professores Cada folha era encabeccedilada pela identificaccedilatildeo do professor e de qual localidade ele era a indicaccedilatildeo de que se tratava do vencimento mensal com referecircncia ao mecircs e ano correspondente Abaixo havia uma tabela com trecircs colunas na primeira discriminaccedilatildeo a segunda intitulada de expediente e a terceira aluguel 153 A tese de Abreu (2006) descreve essa situaccedilatildeo como habitual em Goiaacutes entre 1835 e 1893 gerando baixa procura pela profissatildeo docente e a consequente situaccedilatildeo de vaacuterias escolas nos municiacutepios goianos ficarem desprovidas de professor

116

goiana no periacuteodo imperial os professores eram mal remunerados e deveriam arcar

muitas vezes com as despesas relacionadas ao expediente e alugueacuteis das casas O

argumento que Fonseca utiliza no ofiacutecio ao Inspetor Geral estaacute muito atrelado a um

apelo sentimental ao afirmar que o professor tem vencimentos que natildeo datildeo para sua

subsistecircncia justificando a necessidade de ele receber pois foi cobrado publicamente

pelo proprietaacuterio da casa que tambeacutem a solicitou por falta de pagamento

Galvatildeo (2001 p 83) afirma que a partir de meados do seacuteculo XIX os discursos

sobre a profissatildeo docente enalteciam a figura do mestre ao mesmo tempo que o

percebiam ldquocomo algueacutem sem condiccedilotildees de desenvolver um trabalho profissional

competente em consequecircncia dos baixiacutessimos salaacuterios que recebiardquo No caso da Vila

de Curralinho como eacute notificado no ofiacutecio as aulas foram suspensas o que

colaborava para a precarizaccedilatildeo das praacuteticas docentes que natildeo tinham continuidade

devido a fatores externos nesse caso a falta de local para que as aulas

acontecessem em outros casos relatados a falta de materiais ou mobiacutelias escolares

Eacute importante frisar que conforme esclarece Abreu (2006) para o professor

receber seus ordenados nesse periacuteodo havia uma burocratizaccedilatildeo do processo ele

solicitava ao Inspetor Paroquial154 o atestado de seu trabalho que por sua vez o

expedia ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica155 Nesse sentido o Regulamento de

1856 no artigo 68 paraacutegrafo 2ordm estabelecia que ficava a cargo do professor em

posse do atestado de frequecircncia emitido pelo Inspetor Paroquial cobrar o seu

ordenado O Inspetor Geral quando tomava ciecircncia da frequecircncia do professor

enviava o atestado agrave Tesouraria das Rendas Provinciais156 que ordenava o

pagamento ao Coletor de Rendas Provinciais ou ao Administrador da Recebedoria da

localidade a que o professor pertencia O professor emitia um recibo a quem o

pagasse Em alguns casos como pode ser observado em diferentes documentos

manuscritos encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes o professor

solicitava diretamente agrave Tesouraria da proviacutencia o pagamento das quantias para

compra de utensiacutelios para suas aulas bem como o seu ordenado (Cf GOIAacuteS 1835-

1839 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

154 No Regulamento de 1835 chamado de Delegado Paroquial e a partir de 1856 de Inspetor Paroquial 155 Ateacute 1856 os Delegados enviavam diretamente para o Presidente da Proviacutencia pois natildeo existia a figura do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica 156 Ateacute 1855 chamada de Provedoria de Fazenda Provincial a mudanccedila ocorreu em virtude do Regulamento de 30 de julho de 1855 (GOIAacuteS 1855)

117

Por si esse processo jaacute demandava um tempo que aliado agraves dificuldades de

comunicaccedilatildeo entre a sede do governo da proviacutencia e os municiacutepios provocava

atrasos consideraacuteveis para liberaccedilatildeo dos pagamentos isso quando natildeo ocorria

extravio de correspondecircncia como eacute relatado em ofiacutecio identificado no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

Pe Joatildeo Ignacio de Almeida Presbitero [ilegiacutevel] desta Freguesia e Inspector Parochial da Instrucccedilaotilde primaria de Santa Rita

Ilmordm Senrordm Enviei a VS no ultimo mes o atestado do Senhor Pedro Joseacute Rodrigues professor da Aula de instrucccedilaotilde primaria deste Arrayal Temo tel-o extraviado pois natildeo recebi retorno de VS Inspectoria Parochial do Arrayal de Santa Rita 5 de janeiro de 1860 Ilmo Senrordm Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia (ALMEIDA 1860 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 01)

Similar situaccedilatildeo era enfrentada constantemente na entrega de

correspondecircncias considerando as condiccedilotildees das estradas que ligavam o interior agrave

capital da proviacutencia e dos meios de transporte comumente os de montaria157 Haacute que

se destacar que no anexo do Regulamento de 1856 havia uma tabela especificando

o ordenado dos professores e professoras de primeiras letras da proviacutencia

diferenciando o vencimento entre vitaliacutecios158 e interinos159 entre homens e mulheres

entre as aulas na Capital de vilas mais povoadas e de outros lugares Evidentemente

os homens os professores vitaliacutecios e os que davam aula na Capital ganhavam

maiores ordenados o que justifica tambeacutem a ausecircncia constante de professores no

interior jaacute que na Capital os salaacuterios eram maiores similarmente aos recursos para

compra de materiais escolares que eram mais expressivos

Em 1859 o Presidente Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira com anuecircncia

da Assembleia Legislativa alterou a referida tabela do Regulamento de 1856

157 No ato de instalaccedilatildeo da Assembleia Legislativa na proviacutencia em 1835 o entatildeo Presidente Joseacute Rodrigues Jardim descreveu os serviccedilos postais que aconteciam em Goiaacutes naquele momento havia dois correios mensais apenas entre a Corte e a Capital da Proviacutencia Em 1835 o Governo Central aprovou a instalaccedilatildeo de serviccedilos postais trimensais e mensais entre a sede do governo de Goiaacutes e algumas localidades mais populosas da proviacutencia (Cf JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1835 p 22) A partir de 1857 comeccedilou uma expansatildeo de linhas do correio da proviacutencia abrindo agecircncias em vaacuterias localidades melhorando os serviccedilos postais entre os oacutergatildeos do governo e os municiacutepios e vilas (Cf CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1857 p 24-26) 158 Professores aprovados em exame de admissatildeo e nomeados pelo Presidente da Proviacutencia como professor vitaliacutecio 159 Na ausecircncia de um professor vitaliacutecio por quaisquer motivos era nomeado um professor interino

118

aumentando os vencimentos dos professores vitaliacutecios apenas nas vilas e municiacutepios

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 28-29) Em contrapartida

devido a esse aumento e ao estado financeiro da proviacutencia natildeo foi possiacutevel que se

preenchessem todas as cadeiras vagas de instruccedilatildeo primaacuteria num total de 65

escolas 25 estavam vagas das 43 escolas do sexo masculino 11 estavam vagas e

das 22 de sexo feminino 14 estavam vagas (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente

de Goiaacutes 1859b p 33 1867 p 4)

Apoacutes a promulgaccedilatildeo do Regulamento de 1856 nos anos 60 segundo Abreu

Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) a Assembleia Legislativa voltou a autorizar e exigir

novas reformas e regulamentaccedilotildees na instruccedilatildeo puacuteblica da proviacutencia e ao mesmo

tempo alguns presidentes ldquopediam autorizaccedilatildeo da Assembleia Legislativa para

reformar a instruccedilatildeo no que geralmente eram atendidos No ano seguinte ao

discursar para a Assembleia agradeciam a autorizaccedilatildeo que havia sido concedida e

justificavam sua inaccedilatildeordquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 264)

Essas justificativas se referiam agrave carecircncia de recursos financeiros e de pessoal

habilitado Em 1867 o vice-presidente Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira inseriu a

falta de vocaccedilatildeo de alguns professores para o magisteacuterio ausente dos discursos ateacute

entatildeo como explicaccedilatildeo do precaacuterio estado do ensino em Goiaacutes acrescentando que

tal questatildeo fazia com que o professor natildeo tivesse zelo e assiduidade no cumprimento

de seus deveres (SIQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1867 p 4)

Pressionado pela Assembleia Legislativa o Presidente Ernesto Augusto

Pereira ndash sucessor de Siqueira ndash sancionou o terceiro Regulamento de Ensino em

Goiaacutes aprovado em 1868 e passando a vigorar a partir de 1869 Embora com

diferenccedilas pouco substanciais em relaccedilatildeo ao Regulamento anterior essa nova lei deu

uma ecircnfase maior aos livros e ao meacutetodo de ensino simultacircneo o que consideramos

decisivo para que tambeacutem houvesse maior circulaccedilatildeo de obras didaacuteticas na proviacutencia

fato notoriamente comprovado pelas listas de expediente escolar e pelos dados que

seratildeo apresentados na seccedilatildeo 3 desta tese

Em siacutentese entre 1860 e 1870 foram 9 diferentes governos marcados pela

transitoriedade jaacute que alguns vice-presidentes assumiam interinamente a

presidecircncia enquanto os presidentes exerciam mandato na Assembleia Legislativa

ou cumpriam outra ordem imperial O efeito foi a natildeo continuidade das propostas

governamentais e os feitos na aacuterea educacional se reduzirem agrave supressatildeo e abertura

de novas escolas o que natildeo impactava diretamente na quantidade de alunos

119

matriculados De acordo com os Relatoacuterios dos Presidentes da Proviacutencia de Goiaacutes em

1861 eram 64 escolas primaacuterias com 978 meninos e 193 meninas matriculadas em

1869 existiam 63 escolas primaacuterias em funcionamento estando matriculados apenas

877 meninos e 222 meninas

22 1869 A 1886

Na segunda metade do seacuteculo XIX o Brasil passou por diferentes

transformaccedilotildees econocircmicas que impactaram os modos de organizaccedilatildeo poliacutetica

cultural e educacional do povo brasileiro (NAGLE 2001) O advento do capitalismo

comeccedilou a exigir a modernizaccedilatildeo do trabalho atribuindo agrave educaccedilatildeo uma

responsabilidade fundamental frente aos desafios que se impunham numa sociedade

caracterizada pelo baixo niacutevel de instruccedilatildeo e pela manutenccedilatildeo da matildeo de obra

escrava Machado (2005) explica que nesse periacuteodo diferentes projetos de reforma

da instruccedilatildeo puacuteblica tramitaram na Cacircmara de Deputados evidenciando a atribuiccedilatildeo

de importacircncia agrave educaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma sociedade que atendesse agraves

exigecircncias do modelo econocircmico capitalista nos moldes europeus Apesar de muitos

projetos natildeo terem sido aprovados os debates ocorridos entre os Deputados

demonstravam que havia preocupaccedilatildeo do legislativo em relaccedilatildeo ao investimento feito

pelo governo brasileiro no setor educacional (MACHADO 2005)

A obra de Barroso (2005) A instruccedilatildeo puacuteblica no Brasil publicada em 1867 jaacute

analisava a necessidade de o ensino puacuteblico ser livre e a inspeccedilatildeo do Estado ser

reforccedilada para garantia dos interesses da moral e da ordem social De certa maneira

jaacute antecipava algo que seria abordado na Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879

(BRASIL 1879) Anteriormente a essa Reforma vigoravam no paiacutes as

regulamentaccedilotildees da Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) que determinava entre

outras coisas a obrigatoriedade escolar o serviccedilo de inspeccedilatildeo escolar o dever do

estado de assistir os alunos pobres e um curriacuteculo escolar pautado na moralidade e

religiosidade compreendendo na instruccedilatildeo primaacuteria principalmente o ensino de

instruccedilatildeo moral e religiosa a leitura e a escrita as noccedilotildees essenciais de gramaacutetica

os princiacutepios elementares de aritmeacutetica o sistema de pesos e medidas dos

municiacutepios

Como visto no campo dos meacutetodos de ensino em Goiaacutes no seacuteculo XIX apesar

das iniciativas para implementaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo ndash tambeacutem conhecido como

120

lancasteriano ou monitorial ndash do meacutetodo Castilho e do meacutetodo simultacircneo as escolas

na proviacutencia mantinham a organizaccedilatildeo didaacutetica pelo meacutetodo individual (ARAUacuteJO E

SILVA 1975) Essa constataccedilatildeo fez parte dos discursos dos Presidentes que a partir

dos relatoacuterios dos Inspetores Gerais de Instruccedilatildeo Puacuteblica afirmavam que os

professores natildeo experimentavam outras possibilidades para ensinar devido a

diferentes fatores dentre eles como destacamos a carecircncia de Tratados de Ensino

para divulgaccedilatildeo de outros conhecimentos diferentes dos que jaacute circulavam na

proviacutencia Por esse motivo em 1858 o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felippe

Antonio Cardoso de Santa Crus e em 1862 o Presidente Joseacute Martins Pereira de

Alencastre solicitaram a compra de livros para serem distribuiacutedos aos professores

conforme os documentos atestam

[] Inclui no pedido 20 exemplares do melhor tratado sobre os diversos methodos de ensino com especialidade sobre o simultaneo para serem fornecidos aos professores que pela maior parte naotilde tem meios de adrsquoquiri[] 20 Exemplares do melhor tratado de ensino sobre o methodo simultaneo 2 exemplares dos compendios de Arithmetica adoptados para uso das escolas primarias do Rio de Janeiro 2 ditos de todos os outros compendios e livros adoptados nas mesmas escolas Secretaria da Inspectoria Geral da Instrucccedilaotilde Publica da Provincia de Goyaz 5 de abril de 1858 ndash A sua Excia a Ilmordm e Exmo Serntilde D Francisco Jannuario da Gama Cerqueira muito digno Presidente drsquoesta provincia O Inspector Geral da Instrucccedilaotilde publica Felippe Antonio Cardoso Crus (CRUS 18 de abril de 1858 p 5-6 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 grifos nossos)

Tendo visitado varias escolas observei que o melhorado individual era o unico nrsquoellas conhecido methodo este que os professores exercem como poacutedem e o tempo lhes permitte Sendo a applicaccedilatildeo deste methodo uma das causas maiores do atraso da instrucccedilatildeo procurei remedia-la mandando publicar o manual do ensino simultaneo adoptado na escola normal da Bahia e o fiz espalhar pelos professores recommendando muito expressamente e ateacute onde fosse possivel sua execussatildeo V Exordf sabe que toda a sciencia da escola tem por baze a methodica e a pedagogia (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 63 grifos nossos)

A accedilatildeo do Presidente Alencastre desse modo natildeo eacute a primeira que fez com

que se difundisse na proviacutencia um manual que distinguia os modos de organizaccedilatildeo

dos alunos para o ensino Apesar de ele ser considerado o Presidente que se

destacou com accedilotildees desse niacutevel (BARRA 2011) existiram accedilotildees antecedentes da

mesma natureza que tentaram disseminar formas diferentes das dispostas na

121

perspectiva do ensino individual para se pensar e fazer a instruccedilatildeo puacuteblica goiana

Entre os impressos mencionados nos excertos acima transcritos os que tratam do

meacutetodo simultacircneo estiveram entre os indicados comprovando a tentativa de se

difundir esse meacutetodo entre os professores goianos em sintonia com as tendecircncias de

modernidade educacional que alastravam pelo Brasil (MARCILIO 2005) Apesar de

ele ter sido oficializado no Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1856 isso natildeo foi o

bastante para se garantir sua aplicaccedilatildeo nas salas de aula Outro aspecto demonstrado

nos fragmentos foi a adoccedilatildeo de impressos utilizados nas escolas da Bahia e Rio de

Janeiro na instruccedilatildeo puacuteblica da proviacutencia de Goiaacutes

O Rio de Janeiro por ser a sede do Impeacuterio portuguecircs influenciou natildeo soacute a

educaccedilatildeo goiana como a de outras proviacutencias brasileiras tornando-se modelo para

as iniciativas locais

Quanto agrave Bahia sua Escola Normal foi uma das primeiras a ser instalada no

paiacutes (aberta em 1836 e com iniacutecio das atividades em 1842) e diferente de outras

trajetoacuterias a sua natildeo sofreu supressotildees e interrupccedilotildees das aulas (ROCHA 2008) Foi

uma Escola que se manteve sendo que a formaccedilatildeo do professor do sexo masculino

foi simultacircnea agrave do sexo feminino algo incomum nas histoacuterias de muitas Escolas

Normais brasileiras Os impressos ali adotados circularam em vaacuterios locais do paiacutes

com destaque para dois Manuais franceses sobre os meacutetodos de ensino muacutetuo e

simultacircneo traduzidos por dois professores da Escola Normal da Bahia160 (ROCHA

2008 ARAUacuteJO SILVA 2013) Outro fator que provocou sua influecircncia em Goiaacutes pode

ser explicado ateacute mesmo por uma questatildeo geograacutefica de proximidade e de

mobilidade devido agraves estradas que existiam entre essas proviacutencias161 Haacute que se

destacar tambeacutem que na Bahia ateacute 1763 estava localizada a primeira capital do paiacutes

que nesse ano foi transferida para o Rio de Janeiro fato que tambeacutem pode explicar

sua influecircncia em alguns setores da administraccedilatildeo puacuteblica goiana

160 Trata-se do Manual das Escolas Elementares DrsquoEnsino Mutuo escrito por M Sarazin e o Manual Completo do Ensino Simultacircneo assinado pelos professores da Escola Normal de Paris Ambas as obras foram traduzidas nos anos de 1850 pelo professor da Escola Normal da Bahia Joatildeo Alves Portella (Cf ARAUacuteJO SILVA 2013 ARRIADA TAMBARA 2012) Eacute bem provaacutevel que o Manual de Ensino Simultacircneo solicitado pelo Presidente Alencastre (1862) seja este citado anteriormente 161 Sobre isso cf o estudo de Lemes (2012) que destaca as relaccedilotildees comerciais entre Bahia e Goiaacutes desde o periacuteodo colonial e dada a extensatildeo territorial de Goiaacutes havia diferentes acessos geograacuteficos entre essas localidades

122

As legislaccedilotildees aprovadas no acircmbito do Municiacutepio da Corte como jaacute afirmamos

interferiam diretamente na organizaccedilatildeo das leis na proviacutencia goiana A Reforma Couto

Ferraz (BRASIL 1854) organizava o ensino em escolas de primeiro e segundo graus

disseminando no paiacutes o ensino simultacircneo Ainda sob sua forte influecircncia em Goiaacutes

foi aprovada a Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 sancionada pelo Presidente

Ernesto Augusto Pereira em 1869 conhecida como Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica

e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes de 1869 (GOIAacuteS 1869) Esse Regulamento eacute

menos minucioso que o anterior promulgado em 1856 (GOIAacuteS 1856) Bretas (1991)

aponta que natildeo havia diferenccedilas substancias entre ambos todavia ao compararmos

a forma como tratam o uso do livro nas praacuteticas escolares notamos que a lei de 1869

destacou com maior ecircnfase o emprego dos compecircndios em sala de aula conforme

detalharemos adiante

O Regulamento de 1869 conteacutem 65 artigos distribuiacutedos em capiacutetulos que tratam

de estrutura da educaccedilatildeo na proviacutencia competecircncias do Inspetor Geral Inspetores

Paroquiais condiccedilotildees para o magisteacuterio puacuteblico e particular regime de funcionamento

das escolas puacuteblicas e posteriormente das escolas particulares exames para se

candidatar ao magisteacuterio jubilaccedilatildeo (ou aposentadoria) dos professores penas a eles

aplicadas em funccedilatildeo de maacute conduta por fim disposiccedilotildees gerais acerca do

regulamento

A estrutura assemelha-se em alguns aspectos ao Regulamento anterior o de

1856 visto que haacute em todos os capiacutetulos uma centralidade na figura do docente

arquitetando sua carreira por meio de criteacuterios e uma constante inspeccedilatildeo dos seus

atos dos seus deveres dentro e fora das escolas Os princiacutepios de moralidade e de

religiosidade definiam o perfil de um professor na proviacutencia de modo que o Paacuteroco da

localidade onde os mestres pleiteassem o magisteacuterio deveria atestar que eles

professavam a religiatildeo do Estado tendo ldquocostumes morigeradosrdquo (GOIAacuteS 1869 art

10ordm) A Igreja portanto desempenhava um papel primordial na escolha dos

professores que se candidatavam agraves escolas da localidade Tal como Gondra e

Schueler (2008) apontam praticamente em todo o territoacuterio brasileiro no periacuteodo

imperial ela natildeo apenas influenciava na formaccedilatildeo de professores ldquocomo tambeacutem

detinha o monopoacutelio da concessatildeo da licenccedila para ensinar mantendo o controle sobre

os professores religiosos e leigosrdquo (GONDRA SCHUELER 2008 p 157)

As relaccedilotildees entre Igreja e Educaccedilatildeo eram tatildeo estreitas nesse periacuteodo que

temos exemplos notaacuteveis demonstrando a influecircncia da primeira instituiccedilatildeo na

123

segunda legitimando ritos e costumes religiosos dentro do modelo organizacional da

instruccedilatildeo primaacuteria goiana Um dos casos que podemos citar eacute a autorizaccedilatildeo de

afastamento de professores para cumprirem votos aos Santos algo comum no

periacuteodo conforme constatamos nas fontes encontradas (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Neste mesmo livro haacute

registros que revelam outra situaccedilatildeo comum o costume de os professores levarem

as crianccedilas agrave Igreja durante o periacuteodo de aula para assistirem a ritos catoacutelicos

Haacute tambeacutem diferentes livros na seccedilatildeo de Documentos Manuscritos

Datilografados e Impressos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes que demonstram

a presenccedila dos Padres nas salas de aula assumindo a docecircncia eou o papel de

Inspetor Paroquial assim como outros documentos em que constam notificaccedilotildees que

eles faziam ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana sobre as trocas que

promoviam dos professores de seus vilarejos162 Ou seja a Igreja tinha poder sobre a

escola de primeiras letras nos rincotildees da proviacutencia elegendo os docentes indicados

ao magisteacuterio e ao mesmo tempo mantendo aqueles que seguiam as normativas

religiosas catoacutelicas capazes de transitar entre a Doutrina Cristatilde e os conteuacutedos

previstos na regulamentaccedilatildeo educacional vigente

Sobre isso haacute que se acrescentar que especialmente para as mulheres havia

algumas exigecircncias que demonstravam como a sociedade goiana estava organizada

aos moldes patriarcais

Art 11 ndash As senhoras que pretenderem exercer o magisterio publico apresentaratildeo se forem casadas certidatildeo de seo casamento e authorisaccedilatildeo do marido pordf leccionarem se forem viuvas certidatildeo de obito de seo marido se separada judicialmente a certidatildeo de sentenccedila de divorcio que prove natildeo terem dado causa a elle digo ao divorcio sect 1ordm As senhoras solteiras que residirem soacutes natildeo poderatildeo ser nomeadas professoras publicas sem que tenhatildeo 25 annos se porem morarem com seos paes ou tutores seraacute bastante a idade de 21 sect 2ordm Quando alguma senhora viver separada de seo marido sem q~ tenha havido sentenccedila de divorcio deveraacute justificar natildeo ter dado causa a separaccedilatildeo sect 3ordm As senhoras devem instruir os seos requerimentos com os mesmos documentos de que trata o art 10 exceptuando-se quanto a maioridade das senhoras casadas as quaes poderatildeo ser nomeadas desde que completem 18 annos (GOIAacuteS 1869 art 11)

162 Cf GOIAacuteS 1858-1868 nordm 397 GOIAacuteS 1858-1873 nordm 402 GOIAacuteS 1862-1871 nordm 436 GOIAacuteS 1871-1879 nordm 529 GOIAacuteS 1873-1877 nordm 575 Todas essas fontes satildeo advindas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

124

Diferente das legislaccedilotildees jaacute tratadas nesta seccedilatildeo nesse excerto haacute menccedilatildeo

expliacutecita sobre os criteacuterios para a mulher assumir a docecircncia Afinal se esse

Regulamento de 1869 admitiu a educaccedilatildeo de ambos os sexos em escolas mistas

estabelecendo de forma tiacutemida a coeducaccedilatildeo ateacute os 8 anos de idade (GOIAacuteS 1869

art 27) era necessaacuterio inaugurar uma discussatildeo sobre o espaccedilo das mulheres na

carreira docente Vale lembrar que na proviacutencia ldquoabriu-se um campo de trabalho

remunerado e oficial para as mulheres a partir de 1827 pelo fato de que a instruccedilatildeo

puacuteblica das meninas deveria ser ministrada por mulheresrdquo (PRUDENTE 2011 p 63)

Como quesito para aceitaccedilatildeo das mulheres no magisteacuterio o Regulamento de

1856 (GOIAacuteS 1856) jaacute previa uma avaliaccedilatildeo dos trabalhos com agulha no momento

da admissatildeo Nas escolas femininas a partir de 1869 tornou-se uma exigecircncia que

nos exames finais as alunas fossem avaliadas por uma senhora que daria o seu juiacutezo

sobre o desempenho delas com a agulha (GOIAacuteS 1869 art 30)

Tal exigecircncia estava interligada agrave proposta de que os Trabalhos Manuais eram

uma disciplina do curriacuteculo escolar nas aulas para as meninas A todos meninos e

meninas ensinava-se Leitura e Escrita Gramaacutetica Portuguesa Doutrina Cristatilde

Aritmeacutetica

Em linhas gerais os conteuacutedos continuavam os mesmos nos dois

Regulamentos Poreacutem se olharmos para o modo como a disciplina Gramaacutetica foi

intitulada na Lei de 1856 veremos que em relaccedilatildeo agrave de 1869 houve uma

transformaccedilatildeo Na primeira ela era nomeada de Gramaacutetica da Liacutengua Nacional

enquanto na segunda Gramaacutetica Portuguesa Natildeo se trata pois somente de uma

troca lexical houve uma concepccedilatildeo estruturante subjacente marcada pela influecircncia

do modelo do ensino lusitano e de seu mercado livresco no Brasil

Naquele momento havia uma tendecircncia que se alastrava na educaccedilatildeo do paiacutes

e supervalorizava as liacutenguas estrangeiras como o Latim o Grego o Francecircs e o

Inglecircs Aleacutem disso cresciam no Impeacuterio os estudos indigenistas com a valorizaccedilatildeo

do iacutendio na literatura e de sua liacutengua como genuinamente brasileira (ORLANDI

GUIMARAtildeES 2002) Como exemplificaccedilatildeo disso podemos mencionar a publicaccedilatildeo

do Diccionario da Lingua Tupy chamada Lingua Geral dos Indigenas do Brazil por

Gonccedilalves Dias em 1858 (DIAS 1858) Esse autor tambeacutem foi representante da fase

do Indianismo uma tendecircncia literaacuteria no Romantismo no Brasil marcada pela

mitificaccedilatildeo do iacutendio como heroacutei nacional Nesse periacuteodo destacam-se Joseacute de

Alencar que publicou O Guarani (1857) Iracema (1865) e Ubirajara (1874) e

125

Gonccedilalves de Magalhatildees que lanccedilou A Confederaccedilatildeo de Tamoios (1857) e Os

Indiacutegenas do Brasil perante a Histoacuteria (1860) Todas essas obras evocam um espiacuterito

nacionalista e ufanista legitimando a liacutengua e os costumes indiacutegenas como a essecircncia

do ser brasileiro

Esse panorama leva-nos a conjecturar que a proviacutencia goiana acompanhava

outra tendecircncia nacional do periacuteodo ndash na contramareacute do que foi exposto anteriormente

ndash que privilegiava o ensino da Liacutengua Portuguesa e de sua gramaacutetica em relaccedilatildeo a

qualquer outra liacutengua por conseguinte a mudanccedila ocorrida na nomeaccedilatildeo do tipo de

Gramaacutetica a ser ensinada nas escolas de primeiras letras entre um regulamento e

outro em Goiaacutes natildeo foi ocasional mas ideoloacutegica e em sintonia com os preceitos da

coroa portuguesa que tambeacutem tentava manter sua hegemonia devido agraves

instabilidades no cenaacuterio poliacutetico e econocircmico do paiacutes na segunda metade do seacuteculo

XIX (GONDRA SCHUELER 2008 ROCHA 2004)

Ainda sobre o curriacuteculo no Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da

Proviacutencia de Goiaacutes de 1869 a organizaccedilatildeo das aulas se daria conforme os preceitos

do meacutetodo de ensino simultacircneo sendo que o professor candidato ao magisteacuterio

deveria demonstrar ldquoconhecimentos completosrdquo sobre os meacutetodos de ensino como um

todo (GOIAacuteS 1869 art 43) Diferente do Regulamento anterior o meacutetodo simultacircneo

eacute declaradamente recomendado e oficializado em Goiaacutes natildeo ficando mais a cargo do

Inspetor da Instruccedilatildeo Puacuteblica a indicaccedilatildeo daquele a ser trabalhado nas escolas

Poreacutem a oficializaccedilatildeo do meacutetodo natildeo garantia efetivamente a sua praacutetica no

cotidiano da sala de aula O Cocircnego Joaquim Vicente de Azevedo Inspetor Geral da

Instruccedilatildeo Puacuteblica menciona no Relatoacuterio dirigido ao Presidente Ernesto Augusto

Pereira em 30 de abril de 1869 que nas observaccedilotildees feitas durante as visitas agraves

escolas da proviacutencia ele natildeo via melhorias no ensino pelo meacutetodo simultacircneo jaacute que

[] natildeo eacute possivel que o professor com o adjunto possa conseguir o progresso dos discipulos ainda adoptando-se o methodo do ensino simultano parece-me pois conveniente para o progresso do ensino e commodidade dos alunnos a creaccedilatildeo de uma segunda aula que funcione em lugar mais proacuteximo aos habitantes dos bairros [] (AZEVEDO 30 de abril de 1869 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491)

No fragmento tambeacutem haacute menccedilatildeo agrave figura do professor adjunto Esse cargo

estava previsto desde o Regulamento anterior (GOIAacuteS 1856) para as escolas em que

devido ao grande nuacutemero de alunos o professor natildeo conseguisse cumprir com os

126

seus deveres Seria entatildeo contratado um Adjunto para auxiliaacute-lo ou para lecionar em

outra escola Azevedo (30 de abril de 1869) aponta que era preferiacutevel a abertura de

uma segunda aula em lugar proacuteximo aos habitantes demandando novo espaccedilo e

objetos o que provocava muitas vezes a precarizaccedilatildeo das turmas mantidas pelos

professores adjuntos Nos livros de registros de correspondecircncias da Inspetoria Geral

da Instruccedilatildeo Puacuteblica encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes163 haacute vaacuterias

notificaccedilotildees informando que as classes mantidas pelos Adjuntos na proviacutencia natildeo

contavam com condiccedilotildees estruturais baacutesicas natildeo havia material para uso dos alunos

faltando-lhes ateacute mesmo mesas e bancos para se acomodarem o que levava os

professores a improvisarem espaccedilos e objetos alternativos

O Presidente Ernesto Augusto Pereira no Relatoacuterio de 1869 cita que a

situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes era ldquopeacutessimardquo alegando para isso diferentes

motivos

A falta de professores habilitados o nenhum zelo da maior parte daqueles que regem as escolas os mesquinhos ordenados pagos pela provincia o pouco interesse da parte dos pais que em grande numero quase analphabetos contentatildeo-se tenhatildeo os filhos a educaccedilatildeo que elles receberatildeo a dificuldade em fazer vir livros e objectos necessarios para as escolas satildeo a meu ver as causas do atraso completo da instrucccedilatildeo (PEREIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1869 p 24)

Dentre as causas apontadas por Pereira (1869) para o lastimaacutevel estado da

educaccedilatildeo na proviacutencia evidencia-se a falta de livros e objetos necessaacuterios para a

conduccedilatildeo das aulas No Regulamento goiano de Ensino de 1856 o artigo 100

dispunha que o Presidente da Proviacutencia abonaria anualmente a cada professor uma

quantia para compra de materiais como papel penas tintas laacutepis e compecircndios para

os meninos pobres Jaacute no Regulamento de 1869 esse artigo foi suprimido constando

apenas no artigo 61 a obrigaccedilatildeo dos cofres provinciais de adquirir livros para os

alunos de pais indigentes No que concerne ao auxiacutelio enviado aos professores para

a compra de materiais escolares conforme os documentos apontam sua manutenccedilatildeo

foi irregular e em muitas ocasiotildees foi suprimido pelos Presidentes para garantia de

abertura de escolas e pagamento do salaacuterio dos professores dentre outras accedilotildees

justificadas nos discursos proferidos nas Assembleias Legislativas Ao ser mantida no

163 Cf GOIAacuteS 1868-1871 nordm 491 1873-1877 nordm 575 1874-1876 nordm 602 Todas essas fontes satildeo advindas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

127

Regulamento de 1869 a obrigaccedilatildeo do governo provincial de enviar os livros apenas

aos alunos pobres esse objeto da cultura escrita ganhou destaque nas praacuteticas

escolares da proviacutencia sendo artefato essencial na organizaccedilatildeo da escola pelo

meacutetodo simultacircneo Nesse sentido segundo Munakata (2009) o livro escolar foi um

dos dispositivos essenciais de propagaccedilatildeo da cultura impressa no Impeacuterio e um dos

recursos para o desenvolvimento do ensino simultacircneo no Brasil pois por meio dele

diferentes saberes pedagoacutegicos projetaram e organizaram as praacuteticas curriculares na

escola

Os livros escolares tambeacutem satildeo mencionados no Regulamento de Ensino

goiano de 1869 em mais trecircs passagens O artigo 6ordm menciona a obrigaccedilatildeo dos

Inspetores Paroquiais de verificar nas visitas agraves escolas de quais livros estatildeo

munidas e qual o seu estado de conservaccedilatildeo nesse mesmo artigo ainda haacute o inciso

7ordm que faz referecircncia ao livro como parte do patrimocircnio a ser inventariado sempre que

ocorresse troca de professores Os artigos 27 e 51 tratam do regime de funcionamento

das escolas puacuteblicas e particulares proibindo o uso de livros de conteuacutedo imoral

antirreligioso ou contraacuterio ao regime governamental estabelecendo inclusive a pena

de fechar as escolas particulares que consentissem com tal praacutetica

Tudo isso demonstra a influecircncia sobre a instruccedilatildeo primaacuteria das correntes

poliacuteticas e ideoloacutegicas vigentes no periacuteodo A escola por conseguinte estava

condicionada ao modo como a Igreja e o Governo concebiam o cidadatildeo goiano

projetando nela funccedilatildeo de educaacute-lo e civilizaacute-lo dentro da doutrina religiosa catoacutelica e

dos princiacutepios poliacuteticos da Monarquia

A partir de 1870 com toda a ecircnfase dada ao livro no Regulamento de Ensino

goiano de 1869 as listas de expediente escolar identificadas no Arquivo Histoacuterico

Estadual de Goiaacutes em comparaccedilatildeo agraves das deacutecadas anteriores predominantemente

comeccedilaram a solicitar nuacutemeros expressivos de compecircndios que passavam a ser

considerados materiais indispensaacuteveis para a manutenccedilatildeo das escolas164 Por esse

motivo esse Regulamento foi um divisor de aacuteguas na histoacuteria da educaccedilatildeo e da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes jaacute que ao evidenciar o livro como objeto patrimonial da escola

e indispensaacutevel para a conduccedilatildeo das praacuteticas em sala de aula tambeacutem cerceou seu

uso e definiu que os modos de ensinar estariam intimamente ligados aos ideaacuterios

contidos nesses impressos Segundo Lajolo (1996) os livros especialmente do

164 Esses aspectos satildeo abordados na seccedilatildeo 3 desta Tese

128

periacuteodo imperial brasileiro em diante adquiriram tamanha importacircncia que acabam

ldquodeterminando conteuacutedos e condicionando estrateacutegias de ensino marcando pois de

forma decisiva o que se ensina e como se ensina o que se ensinardquo (LAJOLO 1996

p 4)

Em 1864 o governo da proviacutencia criou o Gabinete Literaacuterio Goiano de acordo

com Barra (2008) a primeira biblioteca puacuteblica em Goiaacutes cujos usuaacuterios

exclusivamente homens eram ligados agrave elite goiana dentre eles meacutedicos

magistrados poliacuteticos O Gabinete desde a metade da deacutecada de 60 do seacuteculo XIX

auxiliou na propagaccedilatildeo da ideia de que o livro era depositaacuterio de uma mentalidade

ilustrada e que ao difundi-lo tambeacutem se contribuiria para a formaccedilatildeo de uma

identidade regional ldquoletradardquo dentro dos padrotildees da cultura europeia (BARRA 2011)

Em diferentes estudos realizados por Barra (BARRA 2008 SOUZA BARRA

2008 BARRA FABIANO 2010) a respeito do Gabinete Goiano descobrimos que a

partir de 1871 ocorreram mudanccedilas substanciais nessa instituiccedilatildeo que implicavam

entre outras coisas a admissatildeo de mulheres como soacutecias e leitoras do acervo da

biblioteca incluindo professoras Os Gabinetes de Leitura como aponta Veiga (2001)

foram espaccedilos culturais vistos no Brasil pela primeira vez no Rio de Janeiro em

meados do seacuteculo XIX tendo sido importantes para o desenvolvimento de uma

sociedade que elitizava a leitura e o livro tratando-os respectivamente como

atividade e objeto que diferenciavam socialmente um grupo de outro

Barra e Fabiano (2010) destacam que a imprensa local goiana na segunda

metade do seacuteculo XIX divulgou a instruccedilatildeo como elemento para a construccedilatildeo de uma

naccedilatildeo evidenciando desse modo o livro e a leitura como ldquoremeacutediosrdquo contra a

barbaacuterie

Natildeo se pode negar que todo esse ideaacuterio adentrou o ambiente educacional

influenciando as praacuteticas escolares que destacaram a funccedilatildeo do livro para a

organizaccedilatildeo didaacutetica das aulas Conforme Choppin (2004) advoga o livro eacute um

referencial instrumental ideoloacutegico ou cultural sendo depositaacuterio de conhecimento

vetor da liacutengua da cultura e dos valores de uma eacutepoca O livro escolar ldquoeacute produto de

uma eacutepoca e como tal revela o que essa eacutepoca delegou agrave escola em seu projeto de

naccedilatildeo A escola por sua vez cria mecanismos proacuteprios para usar o livro didaacuteticordquo

(BERTOLETTI SILVA 2016 p 379)

Ainda no regime de Impeacuterio outras leis educacionais que neste trabalho

consideramos para compreender o cenaacuterio da instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia foram

129

aprovadas o Regulamento de Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1884 lei nordm 3397 ato de 9 de

abril de 1884 (GOIAacuteS 1884) o Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1886 ato de 2

de abril de 1886 (GOIAacuteS 1886a) o Regulamento para serviccedilo da catequese na

proviacutencia de Goiaacutes de 1886 ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 (GOIAacuteS 1886b)

o Regulamento para Instruccedilatildeo Primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes de 1887 lei nordm 4148

ato de 11 de fevereiro de 1887 (GOIAacuteS 1887)

O Regulamento de 1884 criou o fundo escolar para aquisiccedilatildeo de objetos de

escrita responsaacutevel a partir de entatildeo por fornecer os livros e utensiacutelios para que os

alunos pobres frequentassem as aulas Tira portanto da esfera do governo provincial

a responsabilidade por tal questatildeo diferentemente do Regulamento de 1869 que o

antecedeu Sob forte influecircncia da Reforma Leocircncio de Carvalho (BRASIL 1879) que

reformou o ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte e o ensino superior

em todo Impeacuterio no Regulamento goiano de 1884 natildeo eacute especificado um meacutetodo

oficial de ensino deixando a cargo do professor a escolha de sua adoccedilatildeo Uma vez

ao ano como trata o paraacutegrafo 14 do artigo 2ordm do Regulamento os professores

primaacuterios e secundaacuterios exporiam ao Inspetor Geral de Ensino os meacutetodos de ensino

por eles adotados apresentando a frequecircncia e aproveitamento dos alunos Tal como

na Reforma Leocircncio de Carvalho em Goiaacutes foram implantados os conselhos oacutergatildeos

de direccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica que atuavam ao lado das figuras do

Inspetor Geral e do Inspetor Paroquial de Ensino Na capital da proviacutencia foi instalado

o conselho diretor formado por professores da Escola Normal e nas paroacutequias os

conselhos paroquiais cujos membros eram cidadatildeos daquela localidade nomeados

pelo Presidente da Proviacutencia

Em 1886 Guilherme Francisco Cruz estava na presidecircncia da proviacutencia e

mesmo apresentando na Assembleia Legislativa um discurso que denunciava a falta

de uniformidade do ensino em Goiaacutes como fator que atrapalhava o desenvolvimento

educacional na proviacutencia (CRUZ 1886) sancionou o Regulamento da instruccedilatildeo

puacuteblica de 1886 sem especificar o meacutetodo de ensino que deveria ser adotado nas

escolas Essa lei mudou a organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria nomeando as

escolas de acordo com o nuacutemero de alunos e localidade165 De acordo com esse

165 De acordo com o Regulamento de 1886 (GOIAacuteS 1886a) as escolas eram classificadas como efetivas se frequentadas por mais de 20 alunos e as elementares frequentadas por mais de 10 alunos e menos de 20 (art 1ordm) As efetivas eram divididas em trecircs entracircncias as de primeira entracircncia eram as escolas criadas nas vilas paroacutequias e arraiais as de segunda entracircncia as criadas na cidade as de terceira entracircncia as criadas na capital

130

Regulamento os livros e demais materiais de expediente escolar deveriam ser

fornecidos pelo governo provincial sob a responsabilidade da Inspeccedilatildeo Geral de

Ensino mediante os pedidos dos professores que se reportavam aos Delegados

Literaacuterios Logo se depreende que os livros e meacutetodos de ensino eram escolhidos

pelos professores Diferente do Regulamento anterior o de 1886 esse estabeleceu

que a fiscalizaccedilatildeo do ensino estava sob a direccedilatildeo de um Inspetor Geral de um

Conselho Diretor e de Delegados Literaacuterios em cada localidade

Esse mesmo presidente legislou na proviacutencia sobre o serviccedilo de educaccedilatildeo dos

indiacutegenas por meio do Regulamento para catequese na proviacutencia de Goiaacutes de 1886

sancionado pelo ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 (GOIAacuteS 1886b) Sob a

justificativa da uniformizaccedilatildeo desse ofiacutecio o Presidente Cruz estabeleceu que em

cada aldeamento indiacutegena houvesse um missionaacuterio que ensinaria leitura escrita as

quatro operaccedilotildees aritmeacuteticas e catecismo da religiatildeo catoacutelica aleacutem do trabalho de

agulha para ldquoas iacutendiasrdquo

Dessa maneira a uniformizaccedilatildeo do ensino como entendida nesse momento

da histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes se projetou mais na macroestrutura da escola

pensada em seus aspectos da organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo do que propriamente na

esfera das praacuteticas dos conteuacutedos e dos modos como esses eram ensinados

(ABREU 2006 BARRA 2011)

Ainda no regime imperial a uacuteltima lei goiana sobre a instruccedilatildeo primaacuteria foi

sancionada pelo Regulamento para Instruccedilatildeo Primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes de 1887

lei nordm 4148 ato de 11 de fevereiro de 1887 (GOIAacuteS 1887)

Na pesquisa realizada por Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) mediante

a anaacutelise documental dos jornais da deacutecada de 1880 eacute revelado que esses dois

uacuteltimos regulamentos (GOIAacuteS 1886a 1887) foram motivo de disputa no campo

poliacutetico entre os Presidentes do periacuteodo Os autores explicam que o Presidente Luiz

Silveacuterio Alves da Cruz que governou a proviacutencia entre 1886-1887 ao tomar posse

revogou o Regulamento que estava em vigor (GOIAacuteS 1886a) restabelecendo o

regulamento de 1884 Por pressatildeo da Assembleia Legislativa aprovou novo

Regulamento em 1887 (GOIAacuteS 1887) Entretanto quando o 2ordm Vice-presidente

Brigadeiro Feliciacutessimo do Espiacuterito Santo ldquoassumiu a presidecircncia provisoriamenterdquo em

1887 ldquodeclarou sem efeito o Regulamento de 1887 e recolocou em vigor o

Regulamento de 1886 E Fulgecircncio Firmino Simotildees (1887-1888) ao assumir a

131

presidecircncia da proviacutencia em 20 de outubro de 1887 manteve o ato de 9 de setembro

[Regulamento de 1887]rdquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 274)

Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) elucidam que durante seu governo

o Presidente Fulgecircncio restaurou o Regulamento de 1886 justificando perante a

Assembleia Legislativa (SIMOtildeES 1888) que a proviacutencia natildeo tinha condiccedilotildees

financeiras de adotar os dispositivos do Regulamento de 1887 pois traziam impacto

aos cofres devido agrave melhoria dos vencimentos dos professores e tambeacutem ao

dispositivo que previa o pagamento mesmo que pela metade aos mestres das

escolas extintas Esse Regulamento em seu capiacutetulo 6ordm classificava as escolas em

primeira segunda e terceira classes categorizando como de primeira classe todas as

escolas da capital e de todas as cidades da proviacutencia aumentando em consequecircncia

os gastos para manutenccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica que estava condicionada agrave

classificaccedilatildeo das escolas (BRETAS 1991) Em face de todas essas dificuldades

Fulgecircncio Simotildees publicou o Ato de 7 de janeiro de 1888 (GOIAacuteS 1888) modificando

substancialmente alguns aspectos do expediente escolar e de funcionamento da

escola goiana minimizando as despesas relativas agrave instruccedilatildeo (ABREU GONCcedilALVES

NETO CARVALHO 2015)

Como vimos a uacuteltima lei educacional que teve efeito em Goiaacutes166 no periacuteodo

imperial foi o Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1886 ato de 2 de abril de 1886

(GOIAacuteS 1886a) que marca inclusive a dataccedilatildeo do fechamento do recorte temporal

dessa pesquisa

Com relaccedilatildeo ao curriacuteculo escolar os uacuteltimos regulamentos promulgados em

Goiaacutes legislaram acerca dessa questatildeo estabelecendo

Art 22deg Nas do 1deg graacuteo seratildeo ensinadas as seguintes materias Instrucccedilatildeo moral e religiosa leitura e escripta Arithmetica operaccedilotildees sobre numeros inteiros fraccionarios decimaes e o systema legal de pezos e medidas Noccedilotildees de grammatica Nas escolas do 2deg graacuteo se ensinaraacute mais Arithmetica ateacute a regra de tres simples Noccedilotildees de geographia e historia do Brazil (GOIAacuteS 1884 art 22)

Art 9 ndash Nas escolas publicas primarias se ensinaraacute

166 Reiteramos que tal conclusatildeo foi a partir das contribuiccedilotildees da pesquisa de Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015)

132

sect 1deg ndash Nas elementares a ler e escrever a lingua portugueza taboada pratica das 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros catechismo e pezos e medidas metricas sect 2deg ndash Nas de 1deg entrancia a ler e escrever a lingua portugueza taboada as 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros decimais fraccionarios e complexos regra de trez e juros simples catechismo e systema metrico sect 3deg ndash Nas de 2ordf entrancia a grammatica leitura e escripta da lingua portugueza taboada as 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros decimais fraccionarios catechismo e o systema metrico sect 4deg ndash Nas de 3ordf entrancia grammatica leitura escripta e composiccedilatildeo da lingua portugueza catechismo e Historia Biblica arithmetica e metrologia chorographia e historia do Brazil sect 5deg ndash Nas escolas do sexo femenino regularaacute o art antecedente e mais os trabalhos de agulha (GOIAacuteS 1886a art 9ordm)

Analisando ambas as legislaccedilotildees basicamente notamos que a segunda em

relaccedilatildeo agrave primeira detalha melhor os conteuacutedos de Aritmeacutetica mantendo leitura

escrita gramaacutetica e a instruccedilatildeo moral e religiosa O Regulamento de 1886 especifica

o que seraacute ensinado de acordo com a classificaccedilatildeo das escolas Essa classificaccedilatildeo

como vimos estava subordinada agrave localidade das escolas de modo que nas de 3ordf

entracircncia localizadas na capital os estudantes tinham acesso a mais conteuacutedo do

que os das escolas dos vilarejos

Interessante atentar para a presenccedila do Catecismo retomado como conteuacutedo

curricular ele havia sido mencionado pela uacuteltima vez no Regulamento de ensino

goiano de 1856 (GOIAacuteS 1856) A Igreja firmava mais uma vez sua presenccedila e

permanecircncia na escola goiana jaacute que se mantinha no territoacuterio brasileiro como uma

das principais aliadas ao Trono defendendo o regime imperial (AZZI 1992)

O Regulamento de Ensino goiano de 1886 ficou em vigor ateacute 1893 (ABREU

GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015) quando foram aprovados a Reforma da

Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1893 (GOIAacuteS 1893a) e o Regulamento da Instruccedilatildeo Primaacuteria do

estado de Goiaacutes de 1893 instituiacutedo sob o Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893

(GOIAacuteS 1893b) nos quais a laicidade da instruccedilatildeo puacuteblica eacute mencionada com a

declaraccedilatildeo de um ensino gratuito leigo e uniforme Por esse motivo mesmo apoacutes a

proclamaccedilatildeo da repuacuteblica houve em Goiaacutes nos primeiros anos do regime

republicano a permanecircncia do ensino das Cartilhas de Doutrina Cristatilde e Catecismos

nas escolas do estado conforme a legislaccedilatildeo previa167 Isso se deve principalmente

167 Na pesquisa realizada no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes observamos por meio das listas de expediente escolar identificadas apoacutes a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica que houve a

133

ao fato de a Constituiccedilatildeo Goiana de 1891 natildeo ter feito alusatildeo ao caraacuteter laico do

estado e natildeo ratificar a deslegitimaccedilatildeo do catolicismo como religiatildeo oficial do estado

aos moldes da Constituiccedilatildeo Brasileira de 1891 que estabeleceu que nenhum culto ou

igreja gozaria de subvenccedilatildeo oficial nem manteria relaccedilotildees de dependecircncia ou alianccedila

com a Uniatildeo ou com os estados (BRASIL 1891 art 72 sect 7ordm)

A realidade educacional em Goiaacutes no fim do Impeacuterio era desastrosa conforme

Bretas (1991) relata jaacute que dos cerca de 158000 habitantes 80 eram analfabetos

Desse total de habitantes 15 a 18 estavam em idade escolar mas somente 10

deles recebiam instruccedilatildeo Os outros 90 natildeo tinham acesso agrave escola por residirem

na zona rural nos vilarejos afastados ou nas periferias das cidades (BRETAS 1991)

Toda essa situaccedilatildeo foi de certa forma um entrave para que as ideias

proclamadas com a Repuacuteblica se instaurassem na poliacutetica goiana Com a mudanccedila

no cenaacuterio brasileiro no fim do seacuteculo XIX como Nagle (2001) analisa na coexistecircncia

de dois brasis ndash um do interior e outro dos centros urbanos ndash o estado de Goiaacutes com

uma populaccedilatildeo maiormente rural e uma poliacutetica centralizadora dava passos muito

tiacutemidos para a implantaccedilatildeo do ideaacuterio republicano

A efervescecircncia durante a deacutecada de 1880 dos movimentos abolicionistas por

todo o paiacutes168 e o advento desde os anos de 1870 de partidos poliacuteticos e clubes

republicanos propagandeavam a Repuacuteblica projetando nela a utopia de um novo

Brasil (NAGLE 2001)

Palaciacuten e Moraes (1994) explicam que devido agrave estrutura socioeconocircmica e

cultural goiana as ideias dos republicanos foram disseminadas tardiamente no

estado Havia mudado o regime mas as praacuteticas governamentais continuavam as

mesmas Na educaccedilatildeo o impacto inicial foi ainda mais negativo jaacute que os diferentes

governos transitoacuterios e as crises poliacuteticas instaladas pela disputa agrave presidecircncia do

permanecircncia dos pedidos dos Catecismos No levantamento de documentos feitos pela Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes na Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes volume 1 tambeacutem haacute vaacuterios documentos do iniacutecio da Repuacuteblica que mencionam ou o pedido ou a compra de Catecismos e livros de Doutrina Cristatilde para serem utilizados nas escolas goianas 168 Assim como em outras proviacutencias brasileiras em Goiaacutes o movimento abolicionista realizou campanhas na imprensa em defesa da libertaccedilatildeo dos escravos sobretudo na deacutecada de 1880 SantrsquoAnna (2013) analisando o abolicionismo na cidade de Goiaacutes explica que os principais jornais que disseminaram essas ideias poliacuteticas e sociais na proviacutencia foram A Tribuna Livre O Publicador Goyano e Goyaz Dentre os principais abolicionistas goianos destacam-se os Bulhotildees uma famiacutelia da oligarquia goiana Nesses jornais vaacuterios membros da famiacutelia Bulhotildees eram redatores aleacutem de fundadores ou cofundadores

134

estado fizeram com que os investimentos na instruccedilatildeo puacuteblica se tornassem cada vez

mais reduzidos

23 CONCLUSOtildeES PARCIAIS

O Ato Adicional de 1834 foi um dos marcos da histoacuteria do Brasil pois

descentralizou a tomada de decisotildees sobre diferentes setores da administraccedilatildeo

provincial No que tange agrave instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria seja no acircmbito puacuteblico ou

privado as Assembleias Legislativas Provinciais instaladas a partir de entatildeo

passaram a organizaacute-las legislando sobre elas

Em Goiaacutes o Ato Adicional provocou no campo da educaccedilatildeo a promulgaccedilatildeo da

primeira lei goiana sobre instruccedilatildeo puacuteblica a Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835

(GOIAacuteS 1835) A instruccedilatildeo assim como outros setores da administraccedilatildeo estava na

governanccedila dos Presidentes de Proviacutencia sob a legislatura das Assembleias

Provinciais havendo daiacute em diante algumas iniciativas para abertura das escolas de

primeiras letras pelos vilarejos goianos A lei de 1835 marca a histoacuteria da educaccedilatildeo

de Goiaacutes inaugurando um discurso poliacutetico local mesmo que intermitente sobre a

instruccedilatildeo das crianccedilas na eacutegide de um projeto de sociedade goiana (ABREU 2006

BARRA 2011) Embora os Relatoacuterios de Presidentes da Proviacutencia de Goiaacutes apontem

a dificuldade de matricular e manter as crianccedilas na escola como visto no decorrer da

seccedilatildeo mas natildeo somente devido agrave resistecircncia dos pais que as colocavam para

trabalhar desde muito pequenas os discursos tambeacutem incidiam sobre a falta de

recursos para investimento e manutenccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica Ao mesmo tempo as

praacuteticas escolares mantidas nas escolas da proviacutencia eram apontadas pelos

Presidentes como fatores que prejudicavam o avanccedilo da instruccedilatildeo puacuteblica

especificamente no que concerne aos meacutetodos de ensino que se baseavam em

concepccedilotildees antigas

Como analisado a Lei de 1835 inaugurou em Goiaacutes uma discussatildeo mais

veemente sobre a instruccedilatildeo puacuteblica tornando-se nesta tese um marco inicial acerca

da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas no periacuteodo imperial jaacute que anteriormente a

1835 natildeo havia uma legislaccedilatildeo educacional especiacutefica para as escolas em Goiaacutes

Apesar de diferentes regulamentaccedilotildees de ensino aprovadas em Goiaacutes desde entatildeo

serem consideradas coacutepias de leis de outras localidades (BRETAS 1991) natildeo se

pode negar que isso foi uma decisatildeo poliacutetica e estabelece de toda maneira o modo

135

como se pensava concretizar a educaccedilatildeo constituindo possiacuteveis ideaacuterios e praacuteticas

sobre a escola goiana em diferentes periacuteodos

Durante todo o Impeacuterio a proviacutencia goiana aprovou leis que se tornaram em

alguns momentos motivo de disputas no campo poliacutetico impactando diretamente na

organizaccedilatildeo da escola e nos investimentos nela tanto no capital humano como nos

materiais para manutenccedilatildeo das aulas

A Igreja Catoacutelica por seu turno esteve presente nas raiacutezes da

institucionalizaccedilatildeo da escola goiana desde a primeira lei de 1835 mantendo-se de

diferentes maneiras em todas as leis educacionais analisadas no decurso do regime

imperial seja no curriacuteculo nos materiais aprovados para uso nas aulas na escolha

dos professores no trabalho de inspeccedilatildeo escolar dentre outras accedilotildees que ficaram

impregnadas pelos seus dogmas

Entretanto o projeto conservador da Igreja natildeo impediu que a proviacutencia abrisse

suas portas para as transformaccedilotildees que ocorriam em acircmbito nacional implantando

novas regulamentaccedilotildees que dialogavam com as reformas feitas no Municiacutepio da

Corte Ainda que algumas leis natildeo chegassem ao seu efetivo cumprimento

compreendemos que o ato de legislar denota uma abertura da proviacutencia para a

modernidade ndash mesmo que tiacutemida ndash da sociedade goiana em consonacircncia com as

mudanccedilas que ocorriam no contexto educacional do paiacutes

O Seacuteculo XIX em Goiaacutes protagonizou conforme analisamos a abertura da

proviacutencia para o que vinha ocorrendo no Brasil Embora houvesse dificuldade de

comunicaccedilatildeo entre a capital e os vilarejos foram sancionadas regulamentaccedilotildees que

pensavam a escola goiana como um todo sistematizando saberes que deveriam ser

ensinados na proviacutencia Esses saberes conforme discutimos em vaacuterios momentos

estavam em consonacircncia com o pensamento racional e liberal difundido pelo paiacutes e

tambeacutem presente nos discursos dos Presidentes goianos o que ratifica nossa tese de

estudo que adveacutem desse contexto poliacutetico e social da proviacutencia a escola goiana do

seacuteculo XIX se estabeleceu sob a influecircncia da Igreja o que natildeo a impediu de se inserir

nas transformaccedilotildees do Brasil do seacuteculo XIX especialmente no que tange agrave

alfabetizaccedilatildeo da crianccedila Afinal natildeo haacute como compreender os processos de ensino

de leitura e escrita sem pensar no contexto maior que os abriga que eacute a escola e de

igual maneira no modo como o governo e a sociedade a concebiam

136

3 MEacuteTODOS E LIVROS PARA

ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS

___________________________________

Em 1835 aleacutem de ter sido publicada a primeira lei de instruccedilatildeo puacuteblica

deliberada pela Assembleia Legislativa Provincial em Goiaacutes iniciou-se um processo

de institucionalizaccedilatildeo das praacuteticas escolares uma vez que a partir de entatildeo 1)

legislava-se sobre a quantidade de alunos para abertura e manutenccedilatildeo de uma

escola 2) obrigava-se os pais a oferecer instruccedilatildeo primaacuteria aos filhos seja em casa

ou nas escolas puacuteblicas ou particulares 3) definiam-se criteacuterios para ser professor 4)

estabelecia-se a inspeccedilatildeo de ensino por meio da figura dos Delegados Paroquiais e

das Cacircmaras Municipais e por fim 5) publicavam-se os Regulamentos de Ensino

que circunscreviam a escola numa rotina determinando as mateacuterias meacutetodos e

objetos a serem aplicados na instruccedilatildeo das crianccedilas (GOIAacuteS 1835 ABREU 2006)

Jaacute a uacuteltima lei de ensino goiano do periacuteodo imperial que foi levada a

cumprimento pelos presidentes data de 1886 Nessa a escola primaacuteria se organizou

pela sua classificaccedilatildeo condicionada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica e agrave quantidade de

alunos matriculados (GOIAacuteS 1886a)

Entre o marco inicial e final do recorte histoacuterico desta pesquisa 1835 a 1886

uma das situaccedilotildees recorrentemente descritas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia

goiana foi a falta de materiais escolares (PRIMITIVO MOACYR 1940) Nesse

intervalo em alguns momentos os professores ficaram responsaacuteveis por adquiri-los

137

com auxiacutelio de uma gratificaccedilatildeo em seus vencimentos bem como o governo que

tambeacutem se responsabilizou pela compra deles geralmente solicitados nas listas de

expediente escolar

Na consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nas seccedilotildees de

Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressos

pudemos inventariar entre 1835 e 1886 889 listas de expediente escolar169 dessas

528 vindas de diferentes localidades de Goiaacutes com pedidos remetidos ao governo da

proviacutencia para as aulas de primeiras letras e 361 listas em correspondecircncias do

governo notificando o envio de materiais dentre eles os de uso escolar Dada a

extensatildeo do periacuteodo histoacuterico a princiacutepio presumimos que eram poucas as listagens

e que haveria uma lacuna entre os pedidos Contudo ao contrastarmo-las com a

quantidade de escolas e as dificuldades relatadas pelos presidentes na manutenccedilatildeo

do ensino goiano no periacuteodo concluiacutemos que essas listas demonstram

significativamente o que circulava nas escolas e como se ensinava a ler e escrever

Com fundamento na anaacutelise dessas listagens nos propomos a inventariar

nesta seccedilatildeo os livros para o ensino inicial da leitura e escrita buscando compreender

a partir deles os meacutetodos que circularam na proviacutencia no periacuteodo imperial Aleacutem

dessas listas os mapas de turmas encontrados nesse Arquivo revelam alguns

aspectos dos fazeres dos professores na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em

Goiaacutes

Como analisamos a questatildeo dos meacutetodos de ensino foi debatida pelos

presidentes em seus relatoacuterios que estabeleceram diferentes tentativas de

implantaccedilatildeo de outros meacutetodos de ensino em Goiaacutes que natildeo o individual ou ordinaacuterio

jaacute amplamente difundido na proviacutencia Poreacutem conforme esses relatoacuterios demonstram

a tradiccedilatildeo de uso do meacutetodo individual a falta de material e de formaccedilatildeo fizeram com

que os professores se mostrassem resistentes a aplicar os meacutetodos muacutetuo eou

simultacircneo

No acircmbito do material a falta era tanto de objetos para os alunos tais como

livros ardoacutesias lousas laacutepis papel tinta bancos mesas etc necessaacuterios para a

conduccedilatildeo por exemplo do meacutetodo simultacircneo como tambeacutem de materiais para

169 Ao final desta tese haacute uma seccedilatildeo intitulada ldquoFontesrdquo Nela haacute o item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmasrdquo em que destacamos todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes em que encontramos algum documento que mencione materiais de expediente escolar solicitados ou enviados agraves escolas goianas aleacutem de Mapas de Turmas

138

formaccedilatildeo do professor como os Tratados sobre os Meacutetodos de Ensino e outros

compecircndios que fizessem circular diferentes ideias apresentando esclarecendo e

ilustrando o manejo didaacutetico em novas possibilidades de ensinar e aprender

No campo da formaccedilatildeo a ausecircncia de uma Escola Normal e de cursos de

aperfeiccediloamento para professores em praticamente todo o periacuteodo que esta tese

investiga tambeacutem comprometeu a propagaccedilatildeo de ideiasteoriascorrentes de

pensamento genuinamente goianas impossibilitando do mesmo modo uma

discussatildeo local sobre a questatildeo do ensino de leitura e escrita como ocorreu em outras

proviacutencias do paiacutes

Vale ressaltar que a Escola Normal Oficial de Goiaacutes de acordo com Canezin e

Loureiro (1994) tem sua gecircnese efetivamente com a publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo

Provincial nordm 676 de 03 de agosto de 1882 (GOIAacuteS 1882) A Resoluccedilatildeo criava anexa

ao Liceu uma Escola Normal para a preparaccedilatildeo de professores de instruccedilatildeo primaacuteria

No entanto a instalaccedilatildeo do curso soacute ocorreu em 1884 ano em que tambeacutem se

publicou o Ato Provincial nordm 3374 que instaurou o ldquoPrimeiro Regulamento da Escola

Normal anexa ao Lyceordquo (GOIAacuteS 1884) No Correio Official de 26 de abril de 1884 haacute

uma notiacutecia (ldquoInstallaccedilatildeo da Escola Normalrdquo p 2-3) relatando o ato religioso e poliacutetico

ocorrido durante a abertura do curso no dia 21 de abril de 1884 (CORREIO OFFICIAL

26 de abril de 1884) Houve como jaacute enunciamos na seccedilatildeo 2 algumas tentativas

anteriores de se instalar a Escola Normal que entretanto foram frustradas170

Logo tomando como referecircncia os estudos de Galvatildeo (2009) ao olharmos para

o conjunto de materiais presentes nas listagens de expediente escolar os

classificamos em 1) impressos para ensinar a ler e escrever e 2) impressos para o

ensino da leitura corrente Essa classificaccedilatildeo organiza os itens nesta seccedilatildeo ao

mesmo tempo que orienta nosso discurso para a anaacutelise sobre os meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo que circularam em Goiaacutes no seacuteculo XIX

Por fim eacute importante frisar que tal classificaccedilatildeo eacute uma das muitas possiacuteveis

leituras para compreendermos a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes e portanto natildeo

engessa as possibilidades dialoacutegicas que se estabelecem para novas leituras e novas

problematizaccedilotildees Natildeo satildeo classificaccedilotildees fixadas e emolduradas como se houvesse

apenas uma compreensatildeo dos usos dos impressos inventariados trata-se de uma

170 Para aprofundar na histoacuteria da Escola Normal em Goiaacutes cf Canezin Loureiro (1994) Brzezinski (2008)

139

perspectiva de leitura transformada em uma escrita historiograacutefica ambas

justificadas pelas escolhas que fizemos

31 IMPRESSOS PARA ENSINAR A LER E ESCREVER

Quanto aos impressos destinados ao ensino da leitura na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes do seacuteculo XIX houve hegemonia do uso das Cartas ndash folhetos

para ensinar e aprender a ler ndash nas listagens nomeadas de ldquoCartas de ABCrdquo ldquoCartas

de nomesrdquo ldquoCartas de abc e syllabasrdquo ldquoCartas de abc com seus syllabariosrdquo ldquoCartas

de abc com seus syllabarios e nomesrdquo ldquoCartas de syllabasrdquo ldquoCartas de syllabas para

principiantesrdquo ldquoCartas de alfabeto sillabas nomes e conselhos moraisrdquo e ldquoCartas com

lettras do alfabeto e sillabasrdquo

A solicitaccedilatildeo dessas Cartas ocorreu durante todo o periacuteodo pesquisado e o

ultrapassa Do total das 889 correspondecircncias de expediente escolar inventariadas

no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goias 709 listas ou seja aproximadamente 80

trazem alguma solicitaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo de envio desses impressos As quantidades

solicitadas ou remetidas demonstram que o uso das Cartas em sala de aula era

individual ou seja para cada aluno se adquiria uma jaacute que o montante de compra

delas era muito grande em comparaccedilatildeo aos outros objetos ou impressos Haacute registros

na deacutecada de 1850 de compras que chegaram a 2000 exemplares de Cartas de ABC

para serem distribuiacutedos aos alunos nas escolas de primeiras letras goianas (GOIAacuteS

1858-1868 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Nos arquivos e acervos consultados natildeo encontramos nenhum desses

impressos o que nos impediu de uma anaacutelise mais direta e descritiva pois conforme

Batista e Galvatildeo (2009) discutem no Brasil eles adquiriram valor social cultural e

histoacuterico haacute pouco tempo

De acordo com as pesquisas do campo da histoacuteria do livro (BATISTAGALVAtildeO

2009 FRADE 2010 VOJNIAK 2014 dentre outros) comumente sem instruccedilotildees de

uso ao professor as Cartas apresentavam as letras do alfabeto em vaacuterias fontes e

tamanhos (algumas versotildees das Cartas variavam na fonte da letra e no tamanho de

acordo com a publicaccedilatildeo) o silabaacuterio (das siacutelabas canocircnicas agraves natildeo canocircnicas) e

palavras e frases curtas (algumas coacutepias das maacuteximas da Doutrina Cristatilde ou da

Biacuteblia) Por meio de uma anaacutelise de dados indiciais Frade (2010) explica que essas

Cartas inicialmente pareciam ser materiais avulsos dispostas em paacuteginas natildeo

140

grampeadas Cada Carta representava uma liccedilatildeo com uma etapa para o aprendizado

da leitura Tomando como referecircncia o estudo dessa autora e o de Vieira (2017)

sabemos que esses impressos foram posteriormente publicados em formato de

folheto e tambeacutem copilados em livros Alguns deles conservaram no tiacutetulo a expressatildeo

ABC e Cartas de ABC171

A partir dos mencionados tiacutetulos das Cartas identificadas nas listas de

solicitaccedilatildeo de material escolar e de uma anaacutelise dos 129172 Mapas de Turmas

encontrados na seccedilatildeo de Documentos Avulsos e nas Caixas dos Municiacutepios Goianos

do AHEG no periacuteodo compreendido entre 1835 a 1886 podemos conjecturar que as

Cartas de ABC Cartas de Siacutelabas ou Silabaacuterios Cartas de Nomes e Cartas de

Conselhos Morais natildeo eram o mesmo tipo de impresso Eram impressos diferentes

que cumpriam a finalidade de ensinar a leitura mas com conteuacutedos diferentes e de

certa maneira complementares

A composiccedilatildeo claacutessica das Cartas de ABC conforme jaacute informado por Correcirca

e Silva (2008) era com o ldquoabecedaacuterio maiuacutesculo e minuacutesculo os silabaacuterios compostos

por segmentos de uma duas ou de trecircs letras e por fim as palavras soltas cujos

segmentos silaacutebicos apareciam separados por hiacutefenrdquo (CORREcircA SILVA 2008 p 2)

Entretanto podemos considerar que haacute Cartas que apresentavam apenas o alfabeto

outras somente as siacutelabas ou as palavras e as maacuteximas religiosas O que justificaria

nas solicitaccedilotildees dos professores especificar Cartas de ABC Cartas de Siacutelabas

Cartas de Nomes se natildeo para distinguir materiais de natureza diferente

A anaacutelise aos Mapas de Turmas auxilia a responder tal questatildeo A tiacutetulo de

exemplificaccedilatildeo transcrevemos parte de dois Mapas

171 Frade (2010) analisou duas obras identificadas na Biblioteca Nacional a primeira sob denominaccedilatildeo Cartas de ABC para principiantes (com 16 paacuteginas sem autor publicado na Bahia natildeo consta o ano de publicaccedilatildeo e a editora) a segunda ABC da infacircncia ndash introduccedilatildeo ao livro de infacircncia Primeira Colleccedilatildeo de Cartas para aprender a ler (com 32 paacuteginas sem autor publicado pela Livraria Francisco Alves a 56ordf ediccedilatildeo data de 1908 o que indicia que o livro circulou no seacuteculo XIX) Jaacute Vieira (2017) investigou o livro intitulado Meacutetodo ABC ensino praacutetico para aprender a ler (com 16 paacuteginas sem autor sem local de publicaccedilatildeo foi editado pela Caderbraacutes Induacutestria Brasileira ndash hoje com sede em Satildeo Paulo na versatildeo que consultamos tambeacutem natildeo consta o ano de publicaccedilatildeo) 172 Cf item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmasrdquo na seccedilatildeo ldquoFontesrdquo

141

Quadro 2 Mapa da turma da Escola do 2ordm grau da instruccedilatildeo primaacuteria em Vila de Meiaponte

(1837)173

Nomes dos Alumnos Estado de Instrucccedilatildeo Observaccediloens Manoel Moreira Lendo Escrita Agil e pouco aplicado

Luis Manoel Cartas de Nomes Pouco agil e pouco aplicado

Francisco dos Santos Cartas de Sillabas Pouco agil e pouco aplicado

Manoel Pera Guimes Cartas de A b c Pouco agil Aplicado Florencio Gonsalves Cartas de Sillabas Pouco agil e pouco

aplicado Jose da Cunha Soletrando Escrita Agil e pouco aplicado

Fulgencio Gomes Cartas de A b c Agil e pouco aplicado

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo da Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis Caixa 01

Quadro 3

Mapa mensal da turma da Freguesia de Santa Rita do Paranaiacuteba (1867)174

Nomes Grau de insrucccedilatildeo na ocasiatildeo da matricula

Moralidade

Joseacute Fleury Alves de Siqueira

Carta e cursivo Bocirca

Florentino Gomes Pereira Carta e bastardo Bocirca Belarmino Borges de

Guimes Carta de Nomes Bocirca

Moyzes Borges de Guimes Syllabas Bocirca Sabino Jeronimo de

Almeida Nomes e bastardo Maacute

Galdino Joseacute da Silveira Nomes Bocirca

Joaquim Glz dos Santos Carta Bocirca

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo da Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 02

173 Na transcriccedilatildeo desse Mapa de Turma foram suprimidas algumas colunas devido ao espaccedilo e agrave finalidade O documento na iacutentegra estaacute organizado na seguinte sequecircncia de colunas nordm de matriacutecula (natildeo estaacute sequencial eacute provaacutevel que seja o nuacutemero da matriacutecula do aluno na escola e natildeo na turma) nordm efetivo (nuacutemero da chamada em ordem crescente) nome dos alunos (natildeo estaacute em ordem alfabeacutetica mas na ordem da data da matriacutecula) nome dos pais ou educadores moradia dos pais ou educadores dias uacuteteis de frequecircncia e de faltas estado de instruccedilatildeo observaccedilotildees (informou apenas se o aluno eacute aacutegil ou natildeo se eacute aplicado ou natildeo) e notas (informou se o aluno faltou por consequecircncia de seus pais e para alguns receacutem-matriculados tambeacutem haacute informaccedilatildeo da data de matriacutecula) 174 Na transcriccedilatildeo desse Mapa de Turma foram suprimidas algumas colunas devido ao espaccedilo e finalidade O documento na iacutentegra estaacute organizado na seguinte sequecircncia de colunas nuacutemero da chamada nome idade nome dos pais ou tutores naturalidade grau de instruccedilatildeo na ocasiatildeo da matriacutecula frequecircncia aproveitamento moralidade observaccedilatildeo

142

Pelos dados constantes nos Mapas o grau de instruccedilatildeo dos alunos era

mensurado por meio das Cartas Provavelmente nos testes usava-se o recurso das

Cartas e aquela que o aluno conseguisse ler com fluecircncia era indicada como sendo o

niacutevel de leitura em que ele se encontrava Enquanto no primeiro Mapa foi informado

apenas o estado de instruccedilatildeo em leitura no segundo o professor tambeacutem acrescentou

sobre a escrita Outra diferenccedila substancial entre os dois Mapas eacute a presenccedila do

campo ldquoMoralidaderdquo no segundo que estaacute em acordo com o Regulamento de Ensino

Goiano de 1856 que previa no artigo 43 que o professor conhecesse e tomasse nota

sobre a inteligecircncia aproveitamento e moralidade de cada aluno (GOIAacuteS 1856)

Da forma como estatildeo descritas podemos inferir que as Cartas de ABC

continham o alfabeto nas Cartas de siacutelabas apresentavam combinaccedilotildees silaacutebicas

diversificadas nas Cartas de Nomes palavras e frases Poreacutem frequentemente

como se vecirc nas pesquisas histoacutericas da alfabetizaccedilatildeo no Impeacuterio as Cartas de ABC

intitulam todos esses impressos reunidos Nesse ponto Galvatildeo (2009) explica que a

princiacutepio essas Cartas eram conhecidas como Cartas para aprender a ler e mais

tarde como Cartas de ABC

Nas listas de expediente escolar tambeacutem era comum o pedido de materiais

intitulados de ldquoSilabaacuteriosrdquo ou ldquoSilabaacuterios para principiantesrdquo ou ldquoCartas de ABC com

seus Silabaacuteriosrdquo ou ldquoCartas de ABC e siacutelabasrdquo A partir dos estudos de Mortatti (2000)

Frade (2010 2011) Gontijo (2011) e Vojniak (2014) eacute possiacutevel concluir que os

Silabaacuterios eram impressos diferentes das Cartas de ABC Os quadros de siacutelabas

tambeacutem comumente chamados de Silabaacuterios poderiam estar presentes nessas

Cartas entretanto eles denominam outro impresso Sendo assim o Silabaacuterio pode ter

mais de um significado variando como ldquo(i) um tipo de livro (ii) uma tabela ou um

conjunto de tabelas com seacuteries silaacutebicas variadas apresentadas no interior das

paacuteginas de um livro (iii) um meacutetodo para alfabetizarrdquo (FRADE 2010 p 276)

Eacute importante esclarecer que os pedidos por Silabaacuterios nos documentos

catalogadas satildeo muito esparsos jaacute que encontramos apenas 14 listas das 889

inventariadas que mencionam essa denominaccedilatildeo com caracteriacutesticas muito

similares Satildeo listas advindas de materiais fornecidos agraves escolas pela Tesouraria

Provincial de Goiaacutes no intervalo de 1873-1877 assinadas pelo mesmo responsaacutevel

Pedro Luiz Xavier Brandatildeo chefe dessa reparticcedilatildeo puacuteblica (GOIAacuteS 1873-1877

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)

143

Nos documentos identificados notamos que a partir da deacutecada de 1870 essas

Cartas receberam novas denominaccedilotildees que ateacute entatildeo natildeo haviam sido utilizadas

ldquoCartas para leiturardquo ldquoCartas para ecerciacutecio de leitura raacutepidardquo ldquoCartas alphabeticasrdquo e

ldquoCartas de soletraccedilatildeordquo Mesmo natildeo encontrando nos referenciais teoacutericos

esclarecimentos para esses nomes inferimos algumas interpretaccedilotildees a partir das

fontes consultadas

A primeira eacute que esses tiacutetulos natildeo necessariamente correspondem aos tiacutetulos

dos impressos que circularam no mercado editorial brasileiro Podem ter sido assim

nomeados ou descritos em virtude das concepccedilotildees de ensino de leitura que estavam

sendo difundidas na proviacutencia especialmente da perspectiva de uma alfabetizaccedilatildeo

raacutepida e apraziacutevel para atender sobretudo os filhos de pais oriundos da zona rural

que precisavam da matildeo de obra da crianccedila para o trabalho no dia a dia das fazendas

Outrossim podemos supor a partir dos dois primeiros tiacutetulos (ldquoCartas para leiturardquo e

ldquoCartas para ecerciacutecio de leitura raacutepidardquo) que essas Cartas eram essencialmente

aplicadas para o ensino inicial da leitura mas tambeacutem da leitura corrente para seu

treino e aplicaccedilatildeo de exerciacutecios

Uma questatildeo bem interessante eacute com relaccedilatildeo agrave denominaccedilatildeo ldquoCartas

alphabeticasrdquo que encontramos pela primeira vez em correspondecircncia em 1874

remetendo um pedido de materiais escolares feito pelo Professor do municiacutepio de

Cavalcante175 (GOIAacuteS 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 236) Sobre

esse documento de 1874 que intitula as Cartas de alfabeacuteticas salientamos que ele

enuncia uma designaccedilatildeo que se tornou comum no periacuteodo republicano em Goiaacutes O

nome ldquoCartas Alfabeacuteticasrdquo e tambeacutem ldquoCartas de soletraccedilatildeordquo pode indicar a utilizaccedilatildeo

do meacutetodo alfabeacutetico e de soletraccedilatildeo ou apenas intitular uma obra cujo formato eacute o

mesmo das tradicionais Cartas de ABC nomeando esse antigo e usual impresso por

seu meacutetodo

Tradicionalmente por sua organizaccedilatildeo e disposiccedilatildeo graacutefica as Cartas de ABC

eram aplicadas para o ensino da leitura pelo meacutetodo de soletraccedilatildeo No primeiro Mapa

(Quadro 2) haacute resquiacutecios da aplicaccedilatildeo desse meacutetodo quando o professor classifica

o estado de instruccedilatildeo do aluno como ldquoSoletrando escritardquo Essa descriccedilatildeo foi comum

nos Mapas das Turmas da proviacutencia durante o periacuteodo imperial o que permite

175 Atualmente esse municiacutepio recebe o mesmo nome localiza-se na regiatildeo Norte do estado de Goiaacutes

144

considerar que o meacutetodo de soletraccedilatildeo tambeacutem marcou fortemente as praacuteticas de

ensino nas escolas de primeiras letras goianas do seacuteculo XIX

Ao olhar como um todo as listas de expediente escolar notamos que

especialmente as compras de Cartas de ABC em Goiaacutes foram ampliadas durante a

gestatildeo do Presidente Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira entre 1857 e 1860 No

discurso dirigido agrave Assembleia Legislativa Provincial Cerqueira (1858) expressa sua

percepccedilatildeo de que os docentes ensinavam tal como aprenderam por isso notifica que

fez uma accedilatildeo de compra de diferentes materiais de expediente escolar para serem

distribuiacutedos nas escolas goianas a fim de que fossem difundidas novas formas de

ensino

Contrapondo o referido relatoacuterio de Cerqueira (1858) com o ofiacutecio a ele enviado

pelo Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes Felippe Antonio Cardoso de Santa

Crus em 20 de marccedilo de 1858 observamos que o presidente literalmente copiou e

suprimiu alguns trechos da correspondecircncia Um dos apagamentos feitos por

Cerqueira revela a situaccedilatildeo do ensino de leitura naquele momento

Eacute limitadissimo o ensino que se daacute nas estas escolas a excepccedilatildeo de 4 em 6 drsquoelas ensina-se apenas ndash a ler ndash escrever e faser as quatro principais operaccedilotildees de arithmetica e o que faria e tudo isso muito mal Toda a educaccedilatildeo religiosa consiste em faser eacute decorar materialmente um compendio minha S Doutrina Christatilde Ensinaotilde leitura com adaptaccedilaotilde das Cartas do Novo Alphabeto Portuguez dividido por syllabas com os primeiros elementares da doutrina christatilde drsquoo Methodo Facillimo para aprender a ler e drsquoo Cathecismo Historico de Fleury (CRUS 20 de marccedilo de 1858 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Aleacutem da dificuldade relatada nesse pequeno registro em ensinar leitura

escrita e aritmeacutetica na escola podemos inferir algumas praacuteticas dos professores A

primeira eacute a ecircnfase na memorizaccedilatildeo proacutepria dos saberes sobre o processo de ensino

e aprendizagem que circulavam naquele momento que consideravam memoacuteria e

treino como condiccedilotildees essenciais ao aprendizado

A presenccedila da educaccedilatildeo religiosa tambeacutem eacute algo que fica muito evidente no

relatoacuterio de Cerqueira (1858) e no ofiacutecio do Inspetor jaacute que as leis e regulamentos de

ensino determinavam ser o ensino da doutrina cristatilde obrigatoacuterio nas salas de aula

Tanto o Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana de 1835 quanto o de 1856

que antecederam esse relatoacuterio de Crus (20 de marccedilo de 1858) determinavam o

ensino do Catecismo nas aulas tornando-o leitura obrigatoacuteria para todos os alunos e

seu conteuacutedo exigecircncia nas provas de admissatildeo ao magisteacuterio Essas praacuteticas

145

dialogavam com as recomendaccedilotildees destacadas na legislaccedilatildeo educacional da Corte ndash

a jaacute citada Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) ndash que enfatizava a leitura escolar

baseada em textos religiosos

O processo de ensino da leitura na escola goiana como Crus (20 de marccedilo de

1858) destacou se baseava na adaptaccedilatildeo de trecircs livros O primeiro Novo Alphabeto

Portuguez dividido por syllabas com os primeiros elementares da doutrina christatilde176

eacute uma publicaccedilatildeo cujo tiacutetulo completo eacute Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas

com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave

missa lanccedilado possivelmente em 1785177

Na obra haacute menccedilatildeo apenas ao local de publicaccedilatildeo Lisboa e de impressatildeo a

Officina de Simatildeo Thaddeo Ferreira natildeo nominando o autor Na Biblioteca Nacional

de Portugal haacute livros impressos nessa Oficina publicados no mesmo periacuteodo do Novo

Alfabeto Portuguez Numa anaacutelise comparativa notamos que a disposiccedilatildeo graacutefica das

folhas de rosto segue o padratildeo de o tiacutetulo vir em letras de imprensa maiuacutesculas dando

destaque a algumas palavras escritas em tamanho maior Na sequecircncia era registrado

o nome do autor o que natildeo eacute mencionado no livro em questatildeo Como ele reuacutene textos

que jaacute circulavam em outros diferentes livros como os Catecismos e Manuais de

Doutrina Cristatilde eacute provaacutevel que tenha sido pensado e copilado na Oficina de Simatildeo

Thaddeo o que era comum acontecer em tipografias e no mercado livresco portuguecircs

(VITERBO 1924 PEIXOTO 1967 ANSELMO 1981)

176 Interessante notar a similaridade entre os tiacutetulos de algumas obras didaacuteticas portuguesas destinadas ao aprendizado da leitura e escrita no seacuteculo XIX Podemos citar a tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo Alphabeto portuguez ou novo methodo para aprender a ler com muita facilidade e em mui pouco tempo tanto a letra redonda como a manuscripta de J I Roquete (1841) Novo methodo para aprender a ler de Joseacute Ramos Paz (1852) Nova Arte drsquoEscrita de Manuel Joseacute Satirio Salazar (publicado provavelmente em 1807 cf Marques 2014) Methodo facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo e tempo possivel de Emilio Achilles Monteverde (1836) Aleacutem do tiacutetulo muitas delas apresentam certa semelhanccedila no conteuacutedo e na organizaccedilatildeo do meacutetodo proposto Sobre isso cf Boto 2012 177 A uacutenica ediccedilatildeo identificada desse livro foi encontrada digitalizada no site Google Livros Natildeo encontramos menccedilatildeo ao ano da sua primeira ediccedilatildeo Poreacutem por meio de anaacutelise comparativa agrave ediccedilatildeo analisada por Arriada e Tambara (2012) datada de 1830 acreditamos que o exemplar de 1785 seja a primeira ediccedilatildeo

146

Figura 2 Folha de rosto do livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os

primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785)

Fonte Site Google Livros

Segundo Arriada e Tambara (2012) esse livro teve ampla circulaccedilatildeo no Brasil

Seu conteuacutedo associava o ensino da leitura aos preceitos da doutrina cristatilde catoacutelica

Organizado em 168 paacuteginas consideramos que pode ser dividido em trecircs seccedilotildees

A primeira seccedilatildeo (da paacutegina 3 agrave 9) apresenta o alfabeto completo e as vogais

separadamente Na sequecircncia haacute vaacuterias combinaccedilotildees silaacutebicas iniciando pelos

encontros vocaacutelicos (ai ei oi au eu ou) e seguindo a ordem alfabeacutetica apresenta

as siacutelabas na combinaccedilatildeo vogal + consoante (ar er ir or ur etc) consoante + vogal

(ba be bi bo bu ca ce ci co cu etc) consoante + vogal + vogal (bai bei 178

178 Em vaacuterios livros do periacuteodo que apresentam as combinaccedilotildees silaacutebicas o uso das reticecircncias na exposiccedilatildeo de uma famiacutelia silaacutebica substitui uma siacutelaba que natildeo eacute usual na sequecircncia que se apresenta Nesse caso seguindo a loacutegica a siacutelaba seria ldquobiirdquo natildeo pertencente aos padrotildees silaacutebicos da liacutengua portuguesa

147

boi bui etc) consoante + vogal + consoante (bal bel bil bol bul etc) consoante +

consoante + vogal (bla ble bli blo blu etc) e por fim as siacutelabas finalizadas em atildeo

(batildeo catildeo datildeo fatildeo gatildeo etc)

Na segunda seccedilatildeo (paacuteginas 10 e 11) eacute exposta a escrita dos nuacutemeros sua

representaccedilatildeo em algarismos araacutebicos e a seguir em numeral romano (Hum 1 I

Dous 2 II etc)

A terceira seccedilatildeo (da paacutegina 11 agrave 168) voltada agrave educaccedilatildeo religiosa estaacute

dividida em sete subseccedilotildees Do final da paacutegina 11 ateacute a 38 satildeo apresentadas oraccedilotildees

os mandamentos da lei de Deus os mandamentos da Igreja explicaccedilotildees da oraccedilatildeo

dominical e de crenccedilas da Igreja como a ressurreiccedilatildeo de Cristo etc Da paacutegina 39 agrave

67 satildeo publicados textos que objetivam inculcar os comportamentos adequados de

um cristatildeo no dia a dia e na missa Na paacutegina 68 se inicia uma chamada recopilaccedilatildeo

da doutrina cristatilde em que satildeo transcritos ateacute a paacutegina 98 trechos no formato de

perguntas e respostas retomando ensinamentos sobre a criaccedilatildeo Deus Jesus e as

crenccedilas e rituais catoacutelicos recorrentes nos Manuais de Doutrina Cristatilde Da paacutegina 98

agrave 115 sob o tiacutetulo de ldquoMaximas Tiradas da Sagrada Escriturardquo haacute citaccedilotildees de

passagens da Biacuteblia voltadas para ensinamentos de boas condutas na famiacutelia e na

sociedade A cada citaccedilatildeo identifica-se de qual livro capiacutetulo e versiacuteculo da Biacuteblia o

trecho foi retirado O ritual de reza do rosaacuterio com os misteacuterios gozosos dolorosos

gloriosos179 eacute publicado a partir da paacutegina 116 ateacute a 141 Essa parte finaliza-se com a

transcriccedilatildeo da Ladainha de Nossa Senhora Entre as paacuteginas 142 e 156 haacute uma

subseccedilatildeo intitulada ldquoModo de ajudar agrave missa no uso da Igreja Romanardquo em que

encontramos trechos em latim com a fala do Sacerdote e as respostas dos cristatildeos

durante alguns momentos da missa Por fim iniciando na paacutegina 157 e findando na

168 satildeo copiados salmos e cacircnticos para acompanhar a comunhatildeo aos enfermos ao

findar a missa

Interessante notar que no livro Novo Alphabeto Portuguez natildeo eacute mencionado

o meacutetodo para ensino da leitura que entretanto fica subjacente ao modo como foram

179 Na tradiccedilatildeo catoacutelica o rosaacuterio eacute rezado de acordo com o dia da semana Segue-se a tradiccedilatildeo de meditaccedilatildeo de misteacuterios (tradicionalmente divididos em gozosos dolorosos gloriosos) que satildeo episoacutedios da vida de Jesus No livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785) as oraccedilotildees e reflexotildees que compotildeem os misteacuterios gozosos satildeo rezadas nas segundas quintas-feiras domingos do advento ateacute a quaresma os misteacuterios dolorosos satildeo nas terccedilas sextas-feiras e domingos de quaresma jaacute os gloriosos nas quartas-feiras saacutebados e domingos de Paacutescoa ateacute o advento

148

apresentados as combinaccedilotildees silaacutebicas e os textos Ateacute a paacutegina 19 todas as

palavras satildeo divididas em siacutelabas e separadas por uma viacutergula

A ve Ma ri a che a de gra ccedila o Se nhor he com vos co ben ta so is [] (NOVO ALPHABETO 1785 p 13)

Da paacutegina 20 em diante os textos estatildeo sem a divisatildeo silaacutebica e sem as

viacutergulas Notamos por essas caracteriacutesticas que a obra segue uma concepccedilatildeo

sinteacutetica do ensino de leitura a partir da aprendizagem das unidades menores para as

maiores (letras siacutelabas palavras e por uacuteltimo os textos) Haacute uma influecircncia marcante

do meacutetodo de soletraccedilatildeo sobretudo pela separaccedilatildeo entre as palavras pela viacutergula ndash

lembrando que no meacutetodo de soletraccedilatildeo geralmente as siacutelabas e palavras vinham

separadas com hiacutefens Como o meacutetodo de ensino natildeo estava explicitado as teacutecnicas

para o uso do impresso ficavam a cargo do professor Todavia o que se supotildee pela

disposiccedilatildeo graacutefica e organizaccedilatildeo das sequecircncias silaacutebicas eacute o processo de silabaccedilatildeo

ou silaacutebico ou pelo menos um procedimento que fuja agrave loacutegica da soletraccedilatildeo

convencional

O segundo livro citado por Crus (20 de marccedilo de 1858) no ensino de leitura na

escola goiana eacute o Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute

Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no

mais curto espaccedilo de tempo180 de autoria do escritor portuguecircs Emilio Achilles

Monteverde

Nas proviacutencias brasileiras principalmente duas de suas obras destinadas ao

ensino da leitura foram difundidas o Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a

letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo e o Manual

encyclopedico para uso das escolas de instrucccedilatildeo primaria (BOTO 1997 CORREcircA

2006) Ficou conhecido no Brasil e em Portugal sobretudo pela primeira publicaccedilatildeo

No Brasil ela foi adotada oficialmente em vaacuterias proviacutencias e na instruccedilatildeo primaacuteria

portuguesa ldquofoi a cartilha que maior alcance teve em Portugal no periacuteodo

compreendido entre 1850 e 1880rdquo (BOTO 1997 p 554)

180 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo pelo link lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm2 66gt Acesso em 06 de maio de 2018 O livro tem dimensatildeo de 17 x 125 cm e 159 paacuteginas Publicado em Lisboa com Ediccedilatildeo da Livraria Central de Gomes de Carvalho

149

Figura 3 Folha de rosto da 16ordf ediccedilatildeo do livro Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a

letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo (18--)

Fonte Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin Satildeo Paulo

Nessa obra o autor descreve nas primeiras paacuteginas os meacutetodos de organizaccedilatildeo

de ensino (meacutetodos individual simultacircneo e muacutetuo) e os meacutetodos para o ensino da

leitura (meacutetodo antigo novo meacutetodo de soletraccedilatildeo e meacutetodo sem soletraccedilatildeo181) Sem

declarar filiaccedilatildeo a um meacutetodo especiacutefico afirma que o mais conveniente e proveitoso

181 Segundo Monteverde o meacutetodo antigo ldquoconsiste em conservar aacutes letras os seus nomes usuaes de aacute becirc cecirc decirc eacute eacutefe gecirc [] e nomeal-as todas sucessivamente antes de pronunciar a syllaba a qual por conseguinte nrsquoeste caso tem tantos elementos quantas satildeo as letras de que ella se compotildeerdquo no novo meacutetodo de soletraccedilatildeo ldquoas consoantes ou articulaccedilotildees pronunciatildeo-se como se fossem seguidas de e mudo B be C ce ou Ke D de F fe [] Assim a palavra fato ha de soletrar-se Fe a fa te o tordquo jaacute o novo meacutetodo sem soletraccedilatildeo consiste ldquo1ordm em dar como se viu aacutes consoantes um nome similhante ao valor que ellas tecircem na leitura be ce ou ke fe etc 2ordm em considerar as syllabas e natildeo as letras como verdadeiros elementos da palavra Partindo drsquoeste principio deve-se ler por exemplo a palavra a mi go sem decompor as syllabas esto eacute sem nomear cada uma das letras per si como succede pelo methodo antigordquo (MONTEVERDE 18-- p 6-7)

150

eacute ldquoum Professor haacutebil e zelozo dos seus deveres o melhor methodo eacute aquelle que

conduz mais longe com maior brevidade finalmente o melhor methodo eacute aquelle que

foacuterma os melhores discipulosrdquo (MONTEVERDE 18-- p 7)

Correcirca e Silva (2010) explicam que no decorrer de sucessivas ediccedilotildees da

cartilha Monteverde fez revisotildees no livro uma delas no tiacutetulo Em 1859 ano de sua

7ordf ediccedilatildeo o tiacutetulo era Methodo Facillimo para aprender a ler no mais curto espaccedilo de

tempo possiacutevel tanto a letra redonda quanto a letra manuscripta jaacute na 8ordf ediccedilatildeo

Monteverde passou a nomeaacute-lo de Methodo Facillimo para aprender a ler e escrever

no mais curto espaccedilo de tempo possiacutevel tanto a letra redonda quanto a letra

manuscripta A inclusatildeo do verbo escrever no tiacutetulo fazia parte de um projeto

pedagoacutegico e editorial do autor que abarcava a aprendizagem da escrita e da leitura

num mesmo manual de ensino jaacute que naquele momento da histoacuteria da educaccedilatildeo

portuguesa havia geralmente manuais distintos para ensinar a ler e escrever (BOTO

1997) O que tambeacutem se depreende eacute que para o autor se ensinava ao mesmo tempo

leitura e escrita (BOTO 1997 CORREcircA SILVA 2010)

Nesta tese foi consultada a 16ordf ediccedilatildeo em que o tiacutetulo estava diferente dos

citados anteriormente Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda

como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo Como se lecirc houve a supressatildeo

do verbo escrever e uma alteraccedilatildeo na posiccedilatildeo da expressatildeo ldquono mais curto espaccedilo

de tempordquo Eacute bem provaacutevel em consonacircncia com os pesquisadores que estudaram

esse livro que tal adequaccedilatildeo tenha acontecido em funccedilatildeo do mercado editorial que

impunha campanhas e disputas acirradas entre os materiais que conseguissem

ensinar a leitura e a escrita das letras de forma raacutepida Boto (1997) advoga que pairava

uma certa crenccedila de que havia uma alquimia ou segredo para ensinar a ler

rapidamente Muitos autores incluindo aiacute Monteverde aproveitavam-se desse

imaginaacuterio para vender seus trabalhos Dizia-se frequentemente ldquoque esta ou aquela

cartilha em particular ndash que a cada momento se anunciava ndash ensinava com mais

brevidade de maneira mais faacutecil sem cansar o aprendiz por procurar ser atraenterdquo

(BOTO 1997 p 553)

No que refere agrave organizaccedilatildeo do livro ele segue o padratildeo usual dos manuais de

ensino de leitura e escrita com a apresentaccedilatildeo do conteuacutedo e dos exerciacutecios de treino

A tendecircncia dos meacutetodos de marcha sinteacutetica eacute mantida pelo autor iniciando pelo

alfabeto em diferentes formatos (letra de imprensa maiuacutescula e minuacutescula letra

151

itaacutelica182 maiuacutescula e minuacutescula) dando ecircnfase agrave classificaccedilatildeo das letras em vogais

ou consoantes O primeiro exerciacutecio eacute intitulado de ldquoSons e articulaccedilotildees ou vogaes e

consoantesrdquo (paacutegina 12) opondo-se agraves atividades dos meacutetodos antigos ou novo de

soletraccedilatildeo classificados por Monteverde no iniacutecio da obra Na sequecircncia (paacutegina 13)

eacute apresentado um quadro com o alfabeto grafado em letra de imprensa e manuscrita

nos formatos maiuacutesculo e minuacutesculo As famiacutelias silaacutebicas vecircm posteriormente nas

paacuteginas 14 e 15 seguindo a ordem alfabeacutetica (ba ca ccedila da fa ga gua ha ja ka

la ma na pa qua ra sa ta va xa za) Essa liccedilatildeo eacute acompanhada de exerciacutecios

com uma coletacircnea de palavras contendo as siacutelabas aprendidas nas paacuteginas

anteriores O autor explica que o objetivo eacute que ldquoos principiantes possatildeo logo aacute

primeira liccedilatildeo conhecer o uso ou a aplicaccedilatildeo das mesmas syllabasrdquo (MONTEVERDE

18-- p 16) Nessa mesma paacutegina na primeira nota de rodapeacute ficam subjacentes as

teacutecnicas que seratildeo empregadas pelo professor para ensinar os alunos a lerem

Tendo algumas syllabas diversos sons como se vecirc por exemplo nas palavras Beca Beco Arabe etc em que be se pronuncia de tres differentes maneiras conviraacute recomendar aos principiantes que quando soletrarem decircem logo a cada um drsquoellas o som que lhe eacute proprio por isso que toda a syllaba de qualquer palavra pronunciada isoladamente deve ter o mesmo valor a mesma pronunciaccedilatildeo que tem na palavra pronunciada por inteiro (MONTEVERDE 18-- p 16)

O que vemos nesse trecho satildeo as caracteriacutesticas do que Monteverde intitulou

de meacutetodo sem soletraccedilatildeo ou seja no ensino da leitura natildeo se aplicaria a soletraccedilatildeo

convencional de letras e sim a decomposiccedilatildeo da palavra em siacutelabas evidenciando o

valor sonoro da siacutelaba no contexto da palavra em questatildeo Em vista disso o cerne do

processo seria o aprendizado das siacutelabas das siacutelabas para a palavra da palavra para

as siacutelabas Nesse sentido segue-se ateacute a paacutegina 37 primeiro apresentando as siacutelabas

canocircnicas e depois as natildeo canocircnicas Cada siacutelaba vem acompanhada de uma palavra

(separada em siacutelabas) que conteacutem na sua composiccedilatildeo a siacutelaba em estudo Ao

apresentar algumas palavras que o autor julga serem desconhecidas ele lanccedila matildeo

de notas de rodapeacute indicando o seu significado por meio de frases curtas

Na paacutegina 38 satildeo identificados os sinais de pontuaccedilatildeo e outros sinais de que

nos servirmos ao escrever Em sequecircncia da paacutegina 39 agrave 49 haacute um bloco de

exerciacutecios de leitura contendo regras de leitura e pequenos textos com uma conotaccedilatildeo

marcadamente moralista e religiosa

182 Monteverde (18-- p 11) nomeia a letra de imprensa com formataccedilatildeo inclinada de itaacutelica

152

O resumo da Doutrina Cristatilde estaacute publicado entre as paacuteginas 49 e 75 numa

extensatildeo bastante consideraacutevel se comparada com as demais seccedilotildees da obra Entre

os conteuacutedos dessa seccedilatildeo encontramos as oraccedilotildees da tradiccedilatildeo catoacutelica os artigos

da feacute os mandamentos da igreja os pecados capitais e as virtudes contraacuterias a esses

pecados as obras da misericoacuterdia os sacramentos da igreja as virtudes teologais

aleacutem de textos que tratam de orientaccedilotildees de moral e bons costumes com regras

quanto agraves paixotildees prazeres gula pudor ociosidade instruccedilatildeo egoiacutesmo docilidade

orgulho civilidade felicidade moral consciecircncia virtude e viacutecio

Na sequecircncia Monteverde (18--) expotildee as Regras de Escrita Entendida como

ldquoa arte de representar os sons da voz por meio de signaes chamados letrasrdquo

(MONTEVERDE 18-- p 76) a escrita eacute pensada como uma teacutecnica padronizada por

meio de recomendaccedilotildees que vatildeo desde a posiccedilatildeo do corpo ao traccedilado da letra No

ensino inicial da escrita natildeo se falava na composiccedilatildeo autoral do aprendente e sim no

domiacutenio da coacutepia e da arte de bem traccedilar as letras a caligrafia Segundo Monteverde

(18--) esse ensino principiava pelo desenho de riscos e ligaccedilotildees entre eles passando

para o traccedilado de letras mais simples e depois as mais difiacuteceis

Na obra foram enfatizados trecircs tipos de letras manuscritas ldquoo bastardo que eacute

letra mais cheia bastardinho ou letra media entre o bastardo e o cursivo sendo esta

ultima a mais pequena de todasrdquo (MONTEVERDE 18-- p 76)

153

Figura 4 Paacuteginas 86 87 e 88 do Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda

como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo (18--)

Fonte Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin Satildeo Paulo

Como notamos a diferenciaccedilatildeo entre os tipos de letras ensinadas dava-se

sobretudo pelo seus formatos e tamanhos o que dialoga com as recomendaccedilotildees do

ensino em Portugal no periacuteodo em que a obra de Monteverde foi pensada e escrita

(BOTO 1997) O ensino da escrita no Methodo Facillimo tem a sua extensatildeo entre a

paacutegina 72 e 91 com 33 liccedilotildees que tambeacutem veiculam textos de cunho religioso

Daiacute por diante entre as paacuteginas 92 e 158 conforme Correcirca e Silva (2010)

analisam agrupam-se liccedilotildees com textos diversificados quanto ao gecircnero extensatildeo e

temas que cumprem a finalidade de natildeo apenas aperfeiccediloar as praacuteticas de leitura e

escrita ldquomas tambeacutem transmitir um conjunto de conhecimentos (histoacutericos

matemaacuteticos geograacuteficos) e preceitos (morais religiosos) que naquele momento eram

percebidos como indispensaacuteveis para a formaccedilatildeo das crianccedilasrdquo (CORREcircA SILVA

2010 p 23)

Retomando o citado relatoacuterio do Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes

Felippe Antonio Cardoso de Santa Crus em 1858 aleacutem dos livros Methodo Facillimo

para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo (MONTEVERDE 18--) e do Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas

154

com os primeiros elementos da Doutrina Christa e o Methodo de ouvir e ajudar agrave

missa (1785) tambeacutem se ensinava leitura nas escolas goianas utilizando o

Cathecismo Historico de Fleury

Figura 5

Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do Pequeno Cathecismo Historico contendo em

compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde (1846)

Fonte Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados

Esse livro tem como tiacutetulo completo Pequeno Cathecismo Historico contendo

em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde sendo amplamente conhecido

e citado apenas como Catecismo Histoacuterico de Fleury183 Escrito em francecircs em 1619

pelo Abade Claude Fleury e traduzido para o portuguecircs brasileiro pelo Diretor das

Escolas Puacuteblicas do Municiacutepio da Corte Joaquim Joseacute da Silveira para uso nas

183 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018

155

mesmas escolas esse livro de acordo com Tambara (2005) e Galvatildeo (2009) foi

difundido em todo o paiacutes como texto de leitura nas salas de aula Em 1854 o Conselho

Diretor do Municiacutepio da Corte oficializou o Catecismo de Fleury como manual escolar

adotado nas escolas puacuteblicas da Corte (TAMBARA 2002)

ldquoAs primeiras ediccedilotildees traduzidas para o portuguecircs satildeo de 1820rdquo sendo que o

Catecismo de Fleury estava entre ldquoos livros escolares mais vendidos no final do seacuteculo

XIX em plena fase republicanardquo (BITTENCOURT 1993 p 201) A 2ordf ediccedilatildeo

publicada no Rio de Janeiro em 1846 foi identificada na Biblioteca Digital da Cacircmara

dos Deputados e segundo informaccedilotildees constantes na folha de rosto foi traduzida em

portuguecircs por ordem do governo imperial

O livro estaacute organizado em duas partes Na primeira com 29 liccedilotildees eacute tratada

a histoacuteria sagrada retomando algumas narrativas da Biacuteblia iniciando pelo Velho

Testamento com a criaccedilatildeo do universo e posteriormente tratando do Novo

Testamento passando pelo nascimento morte de Jesus e a fundaccedilatildeo da Igreja A

segunda parte tambeacutem com 29 liccedilotildees conteacutem a doutrina cristatilde

Na primeira parte as liccedilotildees incluem um pequeno resumo das narrativas biacuteblicas

e na sequecircncia em forma de perguntas e respostas curtas satildeo apresentadas

questotildees relativas aos valores e normas da igreja bem como condutas tiacutepicas do bom

homem civilizado e cristatildeo A segunda parte segue essa mesma organizaccedilatildeo tratando

os textos iniciais de aspectos da doutrina cristatilde tais como os mandamentos da igreja

os sacramentos as oraccedilotildees catoacutelicas etc

A apresentaccedilatildeo tiacutepica de perguntas e respostas remete ao meacutetodo de

catequizaccedilatildeo que ao ser transposto para o ensino de primeiras letras induz o aluno

a decorar com maior facilidade os ensinamentos da tradiccedilatildeo cristatilde e catoacutelica Nessa

perspectiva Orlando (2013) explica que o Catecismo Histoacuterico de Fleury segue o

padratildeo de forma e discurso dos Catecismos publicados no seacuteculo XVII principalmente

os difundidos poacutes-reforma protestante

Os Catecismos e os chamados Compecircndios de Doutrina Cristatilde na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira foram utilizados segundo Tambara (2003 2005) como material

para o ensino da leitura em vaacuterias proviacutencias Em contrapartida Frade (2010)

argumenta que numa anaacutelise dos mapas de turma do seacuteculo XVIII em Minas Gerais

eacute possiacutevel notar que esses impressos natildeo foram empregados para ensinar a ler e

escrever e sim como um dos conteuacutedos das aulas possivelmente transmitidos pelo

professor de forma oral

156

No caso de Goiaacutes em relatoacuterio Crus (20 de marccedilo de 1858) afirma que o

Catecismo Histoacuterico de Fleury era adaptado para o ensino de leitura Essa adaptaccedilatildeo

pode conotar diferentes usos entretanto o que fica evidente eacute que o livro em questatildeo

era empregado para o ensino inicial da leitura vinculando o processo de

aprendizagem a uma introjeccedilatildeo doutrinaacuteria catoacutelica Isso ratifica os dispositivos legais

aprovados na proviacutencia entre 1835 e 1886 jaacute discutidos na seccedilatildeo 2 desta tese que

indicavam a educaccedilatildeo religiosa nas praacuteticas escolares

Ao verificarmos conforme abordado por Crus (20 de marccedilo de 1858) que se

ensinava leitura por adaptaccedilatildeo dos trecircs livros analisados anteriormente

compreendemos que um dos meacutetodos predominantes no periacuteodo foi o sinteacutetico de

silabaccedilatildeo com forte influecircncia ainda das teacutecnicas do meacutetodo de soletraccedilatildeo A

organizaccedilatildeo de ensino como jaacute anunciado na anaacutelise dos Relatoacuterios de Presidente

de Proviacutencia mantinha-se no meacutetodo individual Caracteriacutesticas desse meacutetodo satildeo

tambeacutem identificadas nas obras anteriormente analisadas que ao trazerem o tiacutepico

exerciacutecio de perguntas e respostas ldquoparecem sugerir a utilizaccedilatildeo nas escolas do

meacutetodo individual de ensino em uma sociedade ainda predominantemente oralrdquo

(GALVAtildeO 2009 p 114)

Ainda sobre o processo de ensino de leitura outro impresso referenciado no

periacuteodo solicitado a partir dos anos de 1870 foi o Expositor Portuguez cujo tiacutetulo

completo eacute O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna

(MIDOSI 1831) sendo destinado agrave instruccedilatildeo primaacuteria de Portugal e escrito por Luiz

Francisco Midosi (1796-1877) Como veremos com maiores detalhes na proacutexima

seccedilatildeo essa obra foi mencionada em Goiaacutes pela primeira vez na listagem do

Relatoacuterio do Professor goiano Feliciano Primo Jardim (1855) a respeito da sua

experiecircncia na Corte com os meacutetodos Castilho e simultacircneo De antematildeo faz-

necessaacuterio aludir ao fato de que a expressatildeo ldquoExpositor Portuguezrdquo tambeacutem compotildee

o tiacutetulo da obra de Joaquim Maria de Lacerda Novo expositor portuguez ou methodo

facil para aprender a ler184 Considerando que a adjetivaccedilatildeo ldquonovordquo empregada antes

184 Tivemos acesso agrave nona ediccedilatildeo dessa obra (melhorada e aumentada) No livro natildeo consta o ano da ediccedilatildeo Na capa havia o tiacutetulo da obra Novo Expositor Portuguez ou Methodo Facil para aprender a ler o Portuguez tanto a letra impressa como a manuscripta composto para uso das escolas brazileiras por J M Lacerda informando tambeacutem que a publicaccedilatildeo era advinda da Livraria Garnier A obra apresenta dimensatildeo de 175 x 11 cm com 180 paacuteginas Antes de apresentar as liccedilotildees Lacerda faz uma advertecircncia ao leitor ldquoo NOVO EXPOSITOR PORTUGUEZ eacute uma obra inteiramente nova e differente do Expositor Portuguez de Midosi Divide-se em tres partes principaes o Syllabario o Primeiro livro de leitura e Pequenos

157

da expressatildeo ldquoExpositor Portuguezrdquo diferenciaria esses dois livros e que isso de certa

forma poderia se refletir nos pedidos feitos e tambeacutem em consonacircncia aos estudos

da histoacuteria do livro e da leitura no Brasil oitocentista (VOJNIAK 2014 GONTIJO

GOMES 2013) consideramos que o livro que circulou em Goiaacutes foi a publicaccedilatildeo de

Midosi (1831)

O Expositor Portuguez se destinava agrave alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas com teacutecnicas

de soletraccedilatildeo ldquopois os exerciacutecios partem do elemento letra avanccedilam para a silabaccedilatildeo

sem sentido depois introduzem palavras com sentido e finalmente pequenos textosrdquo

(VOJNIAK 2014 p 230) Midosi (1831) apresenta as palavras separadas por siacutelabas

tendo inclusive uma parte de sua obra destinada aos ensinamentos de Moral e

Doutrina Cristatilde o que remonta a uma das caracteriacutesticas dos impressos que

circularam em Goiaacutes os quais continham um vieacutes altamente religioso

As menccedilotildees encontradas ao Expositor Portuguez no periacuteodo entre 1835 e 1886

ocorreram na deacutecada de 50 como explicitaremos na proacutexima seccedilatildeo e depois apenas

em 1875 em trecircs documentos todos localizados no mesmo livro (GOIAacuteS 1873-1877

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575) Uma dessas

fontes destaca-se uma vez que faz referecircncia ao fornecimento dessa obra

juntamente com outros materiais agrave Professora da classe de primeiras letras do sexo

feminino da cidade de Palmas185 D Theodora Serra O mesmo pedido seria remetido

a outros professores da proviacutencia o que nos leva a crer que este livro circulou pelas

classes da instruccedilatildeo primaacuteria goiana Insta esclarecer que o documento natildeo especifica

quais outros professores receberiam a obra deixando tambeacutem duacutevidas quanto ao

envio Durante o Impeacuterio nos relatoacuterios analisados por Vojniak (2014) o autor elucida

que a obra de Midosi (1831) tambeacutem conhecida como a Cartilha de Midosi foi uma

das mais citadas como sendo utilizada por vaacuterias escolas de primeiras letras do

Municiacutepio da Corte

Outros impressos citados nas listagens de expediente escolar e que satildeo

destinados ao ensino de leitura foram Bacadafaacute ou Methodo de Leitura Abreviada de

Antonio Pinheiro de Aguiar (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529) e o Methodo facil para aprender a ler

tratadosrdquo (LACERDA sd p III grifos do autor) Consideramos que a questatildeo apresentada por Lacerda demonstra que para se referir ao seu livro era comum o uso da adjetivaccedilatildeo ldquonovordquo o que tambeacutem demarca a diferenccedila entre sua obra e a de Midosi 185 Palmas era um municiacutepio naquele momento localizado ao Norte da proviacutencia de Goiaacutes Apoacutes a emancipaccedilatildeo do Estado do Tocantins em 1988 Palmas tornou-se a sua capital

158

em 15 liccedilotildees de Victor Renault (THESOURARIA DA FASENDA DA PROVINCIA DE

GOYAS 3 de setembro de 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 575)

Ambos os livros tinham como mote a alfabetizaccedilatildeo em um curto espaccedilo de

tempo O primeiro impresso intitulado com o nome de seu meacutetodo Bacadafaacute sobre

o qual trataremos com maiores detalhes na seccedilatildeo 5 deste trabalho foi uma produccedilatildeo

brasileira do seacuteculo XIX destinada tanto agrave alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas quanto de jovens

e adultos (PINHEIRO DE AGUIAR 1871) Escrito por um professor natural da

Proviacutencia de Minas Gerais e que atuou na Corte Imperial Antonio Pinheiro de Aguiar

o meacutetodo consistia em 20 liccedilotildees para o ensino da leitura e da escrita A partir dos

nomes de quatro iacutendios que formavam uma famiacutelia brasileira (Bacadafaacute Gajalamaacute

Naparasaacute Tavaxazaacute) e com auxiacutelio de historietas o aprendizado da leitura e da escrita

vai se consolidando em praacuteticas que variam entre os meacutetodos sinteacuteticos e analiacuteticos

de alfabetizaccedilatildeo (SCHUELER 2005) Embora o autor se opusesse ao tradicional

meacutetodo de soletraccedilatildeo o que por si jaacute denotaria uma inovaccedilatildeo em sua proposta

metodoloacutegica Schueler (2005) demonstra que a originalidade da proposta de Aguiar

consistia no ldquosuposto caraacuteter nacionalrdquo que o livro continha Utilizando siacutembolos e

representaccedilotildees nacionais conforme a autora alude o meacutetodo Bacadafaacute formava uma

ideia de nacionalidade no alunado de modo que haacute ldquoreferecircncia ao uso do meacutetodo para

o ensino de uma histoacuteria e de uma geografia nacionaisrdquo (SCHUELER 2005 p 183

grifos da autora)

O segundo impresso sob a denominaccedilatildeo de Methodo facil para aprender a ler

em 15 liccedilotildees foi escrito por Pierre Victor Renault e mencionado apenas uma vez em

1874 sendo fornecidas duas duacutezias dele para o expediente da escola do sexo

masculino da cidade de Porto Imperial186 No documento fica evidenciado que o

professor da escola fez o pedido desse livro juntamente com a solicitaccedilatildeo de Cartilhas

e Traslados sem especificaccedilatildeo dos tiacutetulos (THESOURARIA DA FASENDA DA

PROVINCIA DE GOYAS 3 de setembro de 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 575)

Mauraux (2000) informa que Renault nasceu na Franccedila chegando ao Brasil em

1832 Com formaccedilatildeo em Engenharia Civil publicou livros especialmente ligados agrave

186 Porto Imperial era um municiacutepio naquele momento localizado ao Norte da proviacutencia de Goiaacutes Apoacutes a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica recebeu o nome de Porto Nacional hoje localizado no estado do Tocantins

159

aacuterea da Aritmeacutetica Atuou na mineraccedilatildeo e como professor abrindo um Coleacutegio em

Barbacena Minas Gerais e ldquojulgando insuficientes certos manuais disponiacuteveis no

mercadordquo iniciou a trajetoacuteria de escritor de manuais escolares para ensinar seus

alunos (MAURAUX 2000 p 42) Costa (2010) em sua pesquisa no Cataacutelogo Geral

da Biblioteca Nacional de Franccedila explicita que encontrou cinco publicaccedilotildees de autoria

de Renault sendo uma delas o Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees

atribuindo-lhe a primeira ediccedilatildeo em 1867

No Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

conseguimos ter acesso a uma coacutepia incompleta da 4ordf ediccedilatildeo desse livro datada de

1875187

Figura 6 Folha de rosto da 4ordf ediccedilatildeo do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees (1875)

Fonte Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

187 A versatildeo digitalizada de fragmentos dessa obra estaacute disponiacutevel no Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrhandle 123456789100353gt Acesso em 18 de maio de 2019

160

Na capa logo abaixo do tiacutetulo informa-se que a obra conteacutem as rezas cristatildes

a histoacuteria natural dos animais do Brasil faacutebulas moralidades maacuteximas e

pensamentos de autores os algarismos aacuterabes e romanos uma taacutebua de Pitaacutegoras

aleacutem das unidades de peso comprimento capacidade e tempo Portanto o livro de

Renault (1875) aleacutem do objetivo de ensinar a ler copilava outros conhecimentos de

disciplinas escolares presentes no curriacuteculo das escolas brasileiras do seacuteculo XIX

(BITTENCOURT 2008) Dentre esses conhecimentos um destaque que gostariacuteamos

de fazer eacute para as rezas cristatildes para os ensinamentos de moralidade e os conteuacutedos

de matemaacutetica saberes que constituiacuteam as mateacuterias ensinadas nas classes goianas

de ensino primaacuterio nos anos de 1870-80 conforme exaravam os Regulamentos da

Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes em vigecircncia no periacuteodo (GOIAacuteS

1869 1884 1886a) Logo o envio do livro Methodo facil para aprender a ler em 15

liccedilotildees para a escola de Porto Imperial obviamente se justificou devido agrave amplitude da

obra que estava em sintonia com a legislaccedilatildeo do periacuteodo e com os ideaacuterios que

circulavam sobre os meacutetodos utilizados para a crianccedila aprender a ler

O livro de Renault (1875) tem uma introduccedilatildeo na qual o autor aponta algumas

concepccedilotildees do meacutetodo

Para a utilidade da mocidade brasileira e para facilitar o conhecimento da leitura apresenta-se aos pais de familia o seguinte systema adoptado em Franccedila ha jaacute muitos annos e cujos resultados tecircm sido imensos por ter dispensado as inuteis e enfadonhas cartas do b a ba fazendo passar os meninos a soletrar immediatamente que conhecerem as lettras em 15 liccedilotildees poacutede um menino saber ler (RENAULT 1875 p v)

Por esse excerto e pelo desenrolar do discurso construiacutedo pelo autor notamos

que o meacutetodo utilizado eacute o de soletraccedilatildeo com o diferencial da supressatildeo das Cartas

de ABC o que indica que Renault utiliza um meacutetodo tradicional creditando-lhe um

tom de modernidade O escritor ainda demonstra a utilizaccedilatildeo de figuras que ilustram

a letra estudada conferindo a essa questatildeo um aspecto autoral

161

Figura 7 Paacutegina vii do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees (1875)

Fonte Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

As imagens ndash animais ou plantas ou objetos ndash como o autor salienta satildeo

tiacutepicas do Brasil utilizadas para ldquoexcitar a imaginaccedilatildeo viva das crianccedilasrdquo (RENAULT

1875 p v) A utilizaccedilatildeo de imagens acompanhando as letras do alfabeto jaacute era algo

bem comum nos impressos que circulavam no Brasil no seacuteculo XIX conforme Vojniak

(2014) esclarece Poreacutem em Victor Renault observamos que a diferenccedila estaacute na

associaccedilatildeo entre a letra e uma imagem tiacutepica do contexto brasileiro diferenciando seu

impresso de outros que circulavam no paiacutes

Como a obra a que tivemos acesso estava incompleta natildeo conseguimos fazer

um detalhamento das suas 15 liccedilotildees todavia sobre algumas natildeo acessiacuteveis haacute

informaccedilatildeo do autor na introduccedilatildeo de que ldquoentre os assumptos que os meninos

devem logo soletrar [] escolheu-se as rezas que satildeo indispensaveis ao chistatildeo

conhecer proporcionando assim dous imensos resultados nrsquoum soacute estudordquo

(RENAULT 1875 p v)

162

A circulaccedilatildeo das obras de Antonio Pinheiro de Aguiar e de Victor Renault pode

ser considerada uma das propostas da proviacutencia goiana em responder aos anseios

das famiacutelias e da demanda da sociedade Primitivo Moacyr (1940) explicita por meio

da coletacircnea de documentos da proviacutencia de Goiaacutes no periacuteodo imperial que entre os

motivos de os pais natildeo cumprirem com a obrigatoriedade escolar estava o fato de os

professores usarem meacutetodos enfadonhos que natildeo garantiam o aprendizado eficaz agrave

mocidade goiana Aleacutem disso os relatoacuterios de Presidente de Proviacutencia da Goiaacutes

referentes o periacuteodo histoacuterico desta tese enfatizaram essa questatildeo demonstrando

que ao longo do seacuteculo XIX houve vaacuterias tentativas do governo em difundir novas

propostas que atendessem aos anseios da populaccedilatildeo aliando um aprendizado

eficiente e um curto espaccedilo de tempo

Essa fusatildeo entre qualidade e tempo de aplicaccedilatildeo de um meacutetodo para o ensino

de leitura e escrita permitia que a crianccedila concluiacutesse os estudos elementares mais

rapidamente de forma a estar disponiacutevel para ajudar os pais nas lidas da casa e do

trabalho Canezin e Loureiro (1994) ratificam que as famiacutelias nesse periacuteodo natildeo

valorizavam a escola devido ao longo tempo demandado para a aprendizagem o que

se podia atribuir especialmente agrave falta de professores qualificados para aplicaccedilatildeo de

meacutetodos de ensino eficazes

Haacute que se destacar que durante o Impeacuterio as legislaccedilotildees educacionais em

Goiaacutes enfatizaram a necessidade de a escola responder agraves aspiraccedilotildees de uma

educaccedilatildeo praacutetica que aliasse o ensino das noccedilotildees rudimentares da leitura da escrita

e da educaccedilatildeo religiosa com a instruccedilatildeo de teacutecnicas que auxiliassem os alunos no

seu cotidiano civilizando-os pelas normas cristatildes e educando-os para o trabalho Agraves

meninas ensinavam-se trabalhos de agulhas e outras prendas domeacutesticas para os

meninos houve iniciativas de abertura nos anos de 1860 de oficinas para ensino de

uma profissatildeo como por exemplo ferreiro sapateiro carapina marceneiro alfaiate

seleiro etc (PRIMITIVO MOACYR 1940) Essas oficinas geralmente foram pensadas

para atender os oacuterfatildeos indigentes abandonados ou as crianccedilas cujas famiacutelias pela

extrema pobreza natildeo conseguiam alimentaacute-las e educaacute-las188 Ademais se cultivava

188 ldquoEm Goiaacutes Fonseca (1986) registra que durante o Impeacuterio a uacutenica tentativa para se instalar uma instituiccedilatildeo de ensino profissional refere-se a uma autorizaccedilatildeo para que o Presidente da Proviacutencia criasse na capital um estabelecimento desta natureza Caso viesse a funcionar a instituiccedilatildeo receberia o nome de Instituto Imperial de Educandos Artiacutefices Essa tentativa poreacutem natildeo chegou a se concretizar devido agrave falta de condiccedilotildees da proviacutencia para mantecirc-la Ademais a inexistecircncia de uma induacutestria manufatureira na regiatildeo dispensava este

163

a tradiccedilatildeo de o menino ter a mesma profissatildeo do pai e por isso o aprendizado para o

trabalho ocorria em casa Valdez (2003) em sua pesquisa sobre a histoacuteria da infacircncia

entre os seacuteculos XVIII e XIX explica que Goiaacutes natildeo se diferenciava das outras

proviacutencias brasileiras e as crianccedilas goianas eram ldquovistas como pequenos adultos

Delas era exigido comportamento de gente grande eram vestidas como adultos

casavam-se cedo trabalhavam precocemente etcrdquo (VALDEZ 2003 p 12)

Retomando a linha de exposiccedilatildeo deste capiacutetulo sobre os livros de primeiras

letras utilizados em Goiaacutes nas documentaccedilotildees inventariadas encontramos entre

1835 e 1886 apenas a menccedilatildeo a um livro designado de ldquolivro de leitura manuscritardquo

nomeado nas listagens de expediente escolar como Curso graduado de letra

manuscripta cujo tiacutetulo completo eacute Curso graduado de letra manuscripta em 21 liccedilotildees

composto para o uso da mocidade brasileira189 Segundo Batista (2002) ele foi

publicado em 1872 e na sua capa natildeo consta autoria apenas a indicaccedilatildeo da

publicaccedilatildeo que ocorreu pelo ldquoB Garnier livreiro-editorrdquo Na proviacutencia de Goiaacutes essa

obra foi indicada apenas duas vezes (SERRA 1873 DVD Coleccedilatildeo de Documentos

de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1 BRANDAtildeO 6 de abril de 1875 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575) Apesar disso ela

circulou com maior vigorosidade nas escolas primaacuterias goianas durante a Repuacuteblica

conforme constatamos na consulta agraves documentaccedilotildees do Arquivo Histoacuterico Estadual

de Goiaacutes

Os livros de leitura manuscrita ou paleoacutegrafos de acordo com Bertoletti (2017)

ldquodestinavam-se ao ensino da leitura e natildeo da escrita e cumpriram uma espeacutecie de

transiccedilatildeo entre os escassos materiais para ensino da leitura elaborados pelos

proacuteprios professores e os livros de leitura mais sofisticados []rdquo (BERTOLETTI 2017

p 79) Sobre a organizaccedilatildeo do livro Curso graduado de letra manuscripta sabemos a

partir dos estudos de Batista (2002) que ele estaacute dividido em duas partes a primeira

com tabelas do alfabeto em diferentes formatos de letras a segunda com textos do

proacuteprio autor abordando ldquouma seleccedilatildeo de temas cuja ecircnfase recai sobre a histoacuteria

poliacutetica e literaacuteria brasileira seus personagens e acontecimentosrdquo (BATISTA 2002

sp)

tipo de empreendimentordquo (SAacute et al 2015 p 9663) Para maiores informaccedilotildees cf Fonseca 1986 189 Natildeo conseguimos ter acesso a essa obra durante o periacuteodo de escrita desta tese As informaccedilotildees aqui apresentadas sobre esse livro foram extraiacutedas dos estudos de Batista (2002) e Batista e Galvatildeo (2009)

164

Batista (2009) ao analisar essa obra aponta que ela parece ser a primeira ldquoque

se baseia numa retoacuterica pedagoacutegica que simula uma exposiccedilatildeo oral a grupo de

crianccedilas e natildeo nos procedimentos retoacutericos tradicionaisrdquo (BATISTA 2009 p 162)

Essa nova retoacuterica segundo o autor se concretiza por uma interlocuccedilatildeo direta entre

o escritor e as crianccedilas que utiliza expressotildees que chamam a atenccedilatildeo do leitor

entusiasmando-o pela leitura e aprendizagem

Nas listas de expediente escolar ainda encontramos menccedilatildeo a materiais de

leitura destinados aos professores cuja funccedilatildeo foi disseminar aspectos do ensino de

leitura e dos meacutetodos de ensino subsidiando as praacuteticas nas escolas goianas Esses

impressos foram comprados a partir dos anos de 1870 momento em que houve na

proviacutencia uma difusatildeo de novas propostas metodoloacutegicas para alfabetizar crianccedilas

Mortatti (2000) evidencia que as ldquotematizaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeordquo190 estatildeo

presentes em livros teoacutericos prefaacutecios e nas instruccedilotildees de cartilhas eou livros de

leitura etc de modo que nesses impressos os professores tiveram acesso a

conteuacutedos que teorizavam e orientavam os modos de ensinar e de aprender leitura

Goiaacutes natildeo foi um produtor das tematizaccedilotildees mas consumidor desses impressos

advindos de proviacutencias vizinhas ou de experiecircncias bem-sucedidas no Brasil Arauacutejo

e Silva (1975) complementa que durante o Impeacuterio Goiaacutes buscou notadamente em

Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio de Janeiro algumas orientaccedilotildees legislaccedilotildees e praacuteticas

educacionais que pudessem contribuir para a melhoria da educaccedilatildeo goiana

Na seccedilatildeo anterior destacamos alguns feitos de presidentes que destinaram

recursos para a compra desses impressos dirigidos agrave formaccedilatildeo dos professores e

que tratavam sobre os meacutetodos de ensino Como vimos circulou no seacuteculo XIX a ideia

de que o atraso educacional em Goiaacutes se devia agrave falta de uma Escola Normal e

tambeacutem de livros e tratados que orientassem os professores a como manejar os novos

meacutetodos ou tendecircncias pedagoacutegicas

190 Termo utilizado em referecircncia ao trabalho de Mortatti (2000) Essa autora propotildee uma histoacuteria dos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo em Satildeo Paulo a partir de uma anaacutelise dos documentos enfatizando seu conteuacutedo finalidade e forma de veiculaccedilatildeo no que denomina de tematizaccedilotildees normatizaccedilotildees e concretizaccedilotildees ldquoa) tematizaccedilotildees ndash contidas especialmente em artigos conferecircncias relatos de experiecircncia memoacuterias livros teoacutericos e de divulgaccedilatildeo teses acadecircmicas prefaacutecios e instruccedilotildees de cartilhas e livros de leitura b) normatizaccedilotildees ndash contidas em legislaccedilatildeo de ensino (leis decretos regulamentos portarias programas e similares) e c) concretizaccedilotildees ndash contidas em cartilhas e livros de leitura ldquoguias do professorrdquo memoacuterias relatos de experiecircncias e material produzido por professores e alunos no decorrer das atividades didaacutetico-pedagoacutegicasrdquo (MORTATTI 2000 p 29)

165

Nas listas de expediente escolar foram mencionados dois livros cuja finalidade

era orientar o professor sobre os meacutetodos de ensino assim intitulados ldquoMethodos de

Leiturardquo e ldquoManual do Professor Primariordquo

Um dos documentos que encontramos faz menccedilatildeo a uma obra com o tiacutetulo

ldquoMethodos de Leiturardquo e manda distribuir 499 coacutepias dele nas escolas de instruccedilatildeo

primaacuteria da proviacutencia (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529) Entretanto por ter um tiacutetulo tatildeo

abrangente e comum aleacutem de principalmente no documento natildeo constar nome do

autor natildeo conseguimos identificaacute-lo e assim natildeo o localizamos

O segundo impresso no ofiacutecio expedido pela Tesouraria Provincial de Goiaacutes

consta que foi enviado apenas um volume da obra para uma escola de Vila das Flores

(BRANDAtildeO 26 de marccedilo de 1877 p 98 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 575) Acerca do referido Manual do Professor Primaacuterio

Bastos (1999) faz citaccedilatildeo em seu texto

VILLELA quando analisa a ldquoPraacutetica cotidiana na Escola Normal o projeto e sua realizaccedilatildeordquo assinala que o Presidente da Proviacutencia ndash Paulino Soares de Souza ldquomanda distribuir para os alunos da Escola Normal e para todos os professores da Proviacutencia o Manual do Professor Primaacuterio escrito por um francecircs Pretendia assim difundir o meacutetodo lancasteriano e tambeacutem os ensinamentos morais que continha esta obrardquo A autora natildeo cita o autor e nem aprofunda a temaacutetica relativa aos conteuacutedos da formaccedilatildeo de professores na primeira Escola Normal do Brasil [] (BASTOS 1999 p 242 grifos nossos)

O texto a que Bastos (1999) faz referecircncia eacute parte do Capiacutetulo 3 da Dissertaccedilatildeo

de Mestrado de Villela (1990) Percorrendo a possiacutevel rota realizada por esta autora

ao assinalar a menccedilatildeo sobre a distribuiccedilatildeo do Manual do Professor Primaacuterio feita pelo

Presidente da Proviacutencia do Rio de Janeiro Paulino Soares de Souza natildeo

identificamos nos Relatoacuterios expedidos por esse Presidente publicados entre 1836 a

1840191 nenhuma alusatildeo ao tiacutetulo desse livro Com esse mesmo tiacutetulo Theobaldo

Miranda Santos publicou uma obra de sua autoria em 1948 (ALMEIDA FILHO 2008)

Consultando duas ediccedilotildees desse livro (SANTOS 1954 1958) natildeo haacute nota ou

referecircncia a algum impresso sob a mesma denominaccedilatildeo Portanto tal como Bastos

(1999) apontou ainda permanece para noacutes desconhecido o autor e a temaacutetica

191 Disponiacutevel em lthttpddsnextcrledutitles184c=4ampm=0amps=0ampcv=0ampr=0ampxywh=532 2C1112C31432C2217gt Acesso em 19 de maio de 2019

166

completa do Manual do Professor Primaacuterio que circulou no periacuteodo imperial O que

fica assinalado pela citaccedilatildeo acima eacute que esse Manual foi baseado no meacutetodo

Lancaster e continha ensinamentos morais Tal como explicitamos na seccedilatildeo anterior

tal meacutetodo natildeo foi propagado em Goiaacutes devido aos altos custos dos materiais que sua

praacutetica impunha

No que concerne aos impressos destinados especificamente ao ensino da

escrita nas listas encontradas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes era comum os

professores solicitarem os Traslados ou Exemplares para a escrita Tomando como

referecircncia essas listagens e os dados das pesquisas de Batista e Galvatildeo (2009) e

Frade (2010) podemos dizer que os Traslados satildeo impressos publicados em folhas

soltas ou folhetos grampeados com modelos para a escrita cujo objetivo era ensinar

o traccedilado das letras para as crianccedilas Trindade (2001) a partir das obras portuguesas

Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primarias pelo Metodo Portuguez

de Antoacutenio Feliciano de Castilho192 (1854) e Metodologia Especial a liacutengua e a

literatura portuguesa na educaccedilatildeo primaacuteria de Bernardino da Fonseca Lage193 (1924)

explicita que os Traslados ldquoeram modelos que continham as liccedilotildees de escrita a serem

copiados pelosas alunosas em papel transparente A coacutepia se dava calcando e

cobrindo com o laacutepis o modelo que aparecia no papel transparenterdquo (TRINDADE

2001 p 314)

Frade (2010) discutindo sobre esses materiais alerta que haacute duacutevidas se eles

eram ou natildeo trabalhados no ensino inicial da escrita ldquouma vez que o ensino

simultacircneo dos princiacutepios da leitura e da escrita comeccedila a aparecer como discurso

pedagoacutegico e em manuais e livros produzidos no final do seacuteculo XIX principalmente

nos de Felisberto de Carvalhordquo (FRADE 2010 p 271) Importante ainda ressaltar

sobre a terminologia ldquotrasladordquo que ela pode designar tanto um impresso com as

caracteriacutesticas apresentadas anteriormente quanto uma praacutetica de ensino de escrita

192 Autor do meacutetodo portuguecircs de leitura repentina tambeacutem nominado de meacutetodo Castilho Antoacutenio Feliciano de Castilho foi educador e poeta portuguecircs Sobre ele trataremos com maiores detalhes na seccedilatildeo 4 desta tese Acerca do livro Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primarias pelo Metodo Portuguez citado por Trindade (2001) encontramos uma versatildeo digitalizada no repositoacuterio Google Livros (CASTILHO 1854) O referido livro tem 60 paacuteginas e foi publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 1854 Trata-se de uma espeacutecie de Manual para aplicaccedilatildeo do meacutetodo portuguecircs criado por Castilho 193 ldquoBernardino Lage diplomou-se na Escola Normal de Lisboa na viragem do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX Em 1911 era professor na Escola Normal de Coimbra Exerceu igualmente atividade docente em Angolardquo (SILVA 2013 p 244-245)

167

que se distinguia como um exerciacutecio de coacutepia em que o aluno cobria as letras

desenhadas pelo professor (FRADE GALVAtildeO 2016) Em Goiaacutes nos seacuteculos XIX e

XX Arauacutejo e Silva (1975) elucida que os Traslados foram usados para os alunos que

jaacute liam com fluecircncia com objetivo de que lessem todos os tipos de letras ao mesmo

tempo que aprendiam a reproduzir os variados modelos de escrita

Na maioria das solicitaccedilotildees feitas pelos professores goianos natildeo havia menccedilatildeo

ao tiacutetulo dos Traslados os pedidos faziam alusatildeo geneacuterica a ldquoColleccedilatildeo de trasladosrdquo

ldquoExemplares para a escritardquo ldquoColleccedilatildeo de exemplares para escritasrdquo ldquoTraslados

sortidosrdquo e ldquoTraslados Manuscriptosrdquo Os dois Traslados com nomeaccedilatildeo proacutepria foram

solicitados a partir dos anos de 1870 intitulados de Coleccedilatildeo de tralados de Cirillo e a

Collecccedilatildeo de traslado de Carstaires (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES

DE GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Os Traslados de Cirilo Dilermando da Silveira194 conforme pesquisa de

Tambara (2002) foram adotados em 1854 nas escolas puacuteblicas da Corte por meio

da autorizaccedilatildeo do Inspetor Geral auxiliado pelo Conselho Diretor do Municiacutepio da

Corte Vidal e Gvirtz (1998) expotildee que para o ensino da escrita na escola elementar

brasileira na segunda metade do seacuteculo XIX usavam-se os Manuais de Caligrafia

eou as Coleccedilotildees de Traslados com detaque para a obra de Cirilo

Sobre a Collecccedilatildeo de traslado de Carstaires natildeo identificamos ateacute esse

momento nenhuma referecircncia

Ainda sobre o ensino inicial de escrita nas escolas goianas notamos que

embora as Cartas de ABC fossem pensadas para se ensinar leitura haacute indiacutecios de

praacuteticas que delas se apropriavam para o ensino da escrita Numa das listagens

localizadas o professor interino Ravolindo [ilegiacutevel] Rosa do povoado de Satildeo Joseacute

do Araguaya notifica o recebimento de vaacuterios objetos relatando a ausecircncia das

Cartas

194 Cirilo eacute autor brasileiro natural de Icoacute Cearaacute Atuou tanto como funcionaacuterio puacuteblico na Proviacutencia do Espiacuterito Santo quanto no Municiacutepio da Corte como professor Conhecido pela publicaccedilatildeo da Colleccedilatildeo de traslados oferecidos para uso da mocidade brasileira (sd) tambeacutem foi autor de Compendio de Grammatica da liacutengua portuguesa (1855) e Exerciacutecios de analyse lexicograacutefica ou gramatical e de anaacutelise sintaacutexica ou loacutegica (1870) Cf Portal da Histoacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em lthttpportalcearaprobrindexphpoption=com_conten tampview=articleampid=1864ampcatid=293ampItemid=101gt Acesso em 18 de marccedilo de 2019

168

Naotilde tendo recebido todos os utensilios constantes na listagem na falta das 12 Cartas peccedilo a resma de papel almasso e uma Carta para os alunnos copiarem e soletrarem o abc e o livrinho do Cathecismo (ROSA 06 de marccedilo de 1869 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188)

O exerciacutecio da coacutepia no trecho eacute anunciado juntamente com o de soletraccedilatildeo

das Cartas de ABC e do Catecismo Embora se registre a praacutetica de um professor em

especiacutefico na mensagem haacute sinais de que nas escolas goianas se aproveitavam os

impressos existentes tanto para o ensino inicial da leitura e da escrita quanto para o

treino da leitura corrente de natureza memorizada No fragmento da correspondecircncia

do professor Ravolindo o Catecismo eacute mencionado como sendo utilizado nos

exerciacutecios de soletraccedilatildeo algo incomum nas apropriaccedilotildees desse livro na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Brasil (FRADE 2010) Nesse ponto se retomarmos o relatoacuterio de

Crus (20 de marccedilo de 1858) citado neste item que diz que o Catecismo Histoacuterico de

Fleury era adaptado para o ensino da leitura temos aqui um exemplo de como essa

adaptaccedilatildeo acontecia nas escolas de primeiras letras goianas Logo podemos afirmar

que os Catecismos em Goiaacutes do seacuteculo XIX foram instrumentos para que os alunos

conhecessem aleacutem da doutrina catoacutelica tambeacutem a palavra impressa de modo que

esse livro foi fortemente incorporado na alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas

Por fim cabe destacar que as atividades de escrita das crianccedilas foram

utilizadas para atestar o niacutevel de adiantamento das escolas certificando sobre o

desenvolvimento do trabalho dos professores e a quantidade de alunos matriculados

e frequentes nas aulas Por Ordem Presidencial de 18 de julho de 1866 ficou

determinado em Goiaacutes

1ordf secccedilatildeo ndash Palacio do governo de Goyaz 18 de julho de 1866 ndash Sendo de summa necessidade que esta presidencia seja sem cessar informada do modo porque os professores das cadeiras do ensino primario cumprem seus deveres se as escolas de um e outro sexo satildeo frequentadas e se os alumno tem ou natildeo adiantamento cumpre eu Vme determine aos inspetores parochiaes que os professores e professoras faratildeo constar que no principio de cada vez deveratildeo apresentar uma relaccedilatildeo dos alumnos ou alumnas matriculadas mencionando o numero de faltas que commeteratildeo no mez anterior e igualmente uma colecccedilatildeo das escriptas dos mesmo feitas nelas as devidas correcccedilotildees (FRANCcedilA 1867 Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes p 62-63)

Esta Ordem estaacute presente no Relatoacuterio do Presidente Augusto Ferreira Franccedila

de 1867 e tambeacutem foi enviada por ofiacutecio a todos os Inspetores Paroquiais da proviacutencia

169

(FRANCcedilA 7 de junho de 1866 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 436) Os resultados do ensino de escrita se estabeleceram como uma

forma de controle sobre as praacuteticas dos professores e nesse aspecto revela-se uma

visatildeo da escrita como decorrecircncia apenas do processo de alfabetizaccedilatildeo

considerando-a como atestado de boas praacuteticas Pela escrita dos alunos a intenccedilatildeo

era perceber se o meacutetodo de ensino funcionava e se os professores estavam

habilitados para o magisteacuterio jaacute que as coleccedilotildees de escrita a serem enviadas ao

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica deveriam ser remetidas com as devidas

correccedilotildees Franccedila (7 de junho de 1866 1867) explicou que uma das penalidades

aplicada aos Mestres que natildeo enviassem o que foi solicitado era a demissatildeo por justa

causa

A Ordem de Franccedila (1867) ainda dispunha que todos os documentos

constantes no excerto deveriam ser enviados pelos professores por intermeacutedio dos

Inspetores Paroquiais constando em ofiacutecio dirigido ao Inspetor Geral as seguintes

informaccedilotildees o estado das escolas e os progressos que os alunos estavam

manifestando Os Inspetores Paroquiais por sua vez deveriam informar o nuacutemero de

vezes que visitaram as escolas o estado em que elas se encontravam e o modo como

os professores desempenharam o magisteacuterio Finalmente apoacutes a anaacutelise das

coleccedilotildees de escritas e das informaccedilotildees encaminhadas pelos professores e Inspetores

Paroquiais o Inspetor Geral informaria ao Presidente a situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica

na proviacutencia

Agrave vista disso cabe retomar o que Foucault (2003) ao pensar as questotildees

relacionadas ao discurso afirmava O autor o entendia como um coletivo de

pensamentos reunidos por um indiviacuteduo ou um grupo que manifesta suas ideologias

constituindo subjetividades e relaccedilotildees de poder Um discurso tem uma histoacuteria proacutepria

sendo fruto das condiccedilotildees de uma eacutepoca e do grupo que o faz eou legitima Dessa

maneira o discurso empreendido por Franccedila (7 de junho de 1866 1867) demonstra

que haacute uma relaccedilatildeo de poder expliacutecita revelando um jeito de fazer poliacutetica que

considera a inspeccedilatildeo e a coerccedilatildeo como modos preconizantes da atuaccedilatildeo do Governo

para melhoria do cenaacuterio de analfabetismo da proviacutencia goiana

No Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes identificamos documentos que

mostram a atuaccedilatildeo do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica em relaccedilatildeo as coleccedilotildees de

escrita Haacute dois livros de correspondecircncias entre 1866 e 1867 com ofiacutecios entre o

Presidente e o Inspetor Geral em que fica niacutetida a ideia que se tinha sobre o ensino

170

de escrita naquele momento (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS 1862-1871 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

Agrave guisa de exemplo de uma dessas correspondecircncias apresentamos o

fragmento abaixo

Ilmo e Exmo Senr Dr Augusto Ferreira Franccedila ndash Presidente da provincia = Joatildeo Augusto de Paacutedua Fleury Secretaria drsquoinstruccedilatildeo publica em Goyaz 21 drsquoOutubro de 1866 ndash Ilmo e Exmo Senr o = Tenho a honra de passar as matildeos de V Exordf as collecccedilotildees drsquoescriptas e officios concernentes as escolas de Meiaponte S Cruz Morrinhos e Rio Claro [ilegiacutevel] por copia o officio que nesta data [ilegiacutevel] o Inspector Parochial de Meiaponte = Aos Inspectores Parochiais notei tambem os erros que encontrei nas escriptas recomendei que nas visitas que fizessem as respectivas escolas chamassem a atenccedilatildeo aos Professores para os mencionados erros que denotatildeo vicio e atraso no ensino Se as minhas observaccedilotildees natildeo produzerem efeito opportunamente requisitarei de V Excia as providencias que julgar acertadas ao bem do ensino Deos guarde a V Excia Ilmo e Exmo Sr Drordm Augusto Ferreira Franccedila ndash Presidente desta provincia Joatildeo Augusto de Paacutedua Fleury (FLEURY 21 de outubro de 1866 p 129 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Como visto o Inspetor Geral repreende os professores pelos erros encontrados

nas coleccedilotildees de escrita Nesse periacuteodo estava em vigor o Regulamento de Ensino

Goiano de 1856 que estabelecia os conhecimentos necessaacuterios para o professor se

candidatar ao magisteacuterio com destaque para os conteuacutedos que envolviam as

convenccedilotildees da liacutengua portuguesa o docente deveria dominar a leitura com fluecircncia

a pronuacutencia correta das palavras a leitura com pontuaccedilatildeo a ortografia as regras de

gramaacutetica e os tipos de letra (GOIAacuteS 1856 art 10) Portanto a Ordem Imperial

(FRANCcedilA 1867) estava em sintonia com os saberes exarados na legislaccedilatildeo goiana

que traccedilava o perfil de um professor com formaccedilatildeo erudita e com capacidade

profissional atestada por um exame realizado perante o Presidente da Proviacutencia o

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica e duas pessoas nomeadas pela presidecircncia

Afinal tal como Gondra e Schueler (2008) explicam na maior parte do Impeacuterio os

regulamentos e normas sobre a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria estabeleceram

ldquoregras e princiacutepios de seleccedilatildeo formaccedilatildeo recrutamento licenciamento e controle dos

professores puacuteblicos e particulares tentando uniformizar conformar homogeneizar e

disciplinar os diversos modos de ser professor no seacuteculo XIXrdquo (GONDRA

SCHUELER 2008 p 172 grifo dos autores)

171

Acreditamos que a praacutetica normatizada por Franccedila (1867) natildeo perdurou por

muito tempo na proviacutencia pois soacute encontramos documentaccedilotildees que atestassem o

envio de coleccedilotildees de escrita remetidas ao Inspetor Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica de

Goiaacutes durante os anos de 1866 e 1867 Natildeo podemos negligenciar o fato de que Abreu

(2006) faz referecircncia a uma coleccedilatildeo de escrita datada de 1868 encontrada tambeacutem

no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes como sendo fruto da referida Ordem

Presidencial

Outro documento que tambeacutem nos chamou a atenccedilatildeo foi uma correspondecircncia

enviada pelo Inspetor Joaquim Vicente de Azevedo em 4 de setembro de 1865

(AZEVEDO 4 de setembro de 1865 p 114 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 397) em que se notificava o envio de escritas de alunos

da escola de instruccedilatildeo primaacuteria do sexo masculino da Capital para o Presidente

Augusto Ferreira Franccedila autor da Ordem Presidencial analisada anteriormente

Embora os Relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia e as legislaccedilotildees anteriores agrave

referida Ordem natildeo mencionem a existecircncia de alguma recomendaccedilatildeo acerca do

envio de escritas dos alunos para a Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica tudo indica

que essa praacutetica jaacute ocorria nas escolas da Capital de Goiaacutes Pelo visto a

recomendaccedilatildeo de Franccedila (1867) apenas ampliou e regulamentou esse modo de

controle da praacutetica docente em todo o territoacuterio goiano

Como analisado no decorrer deste item na proviacutencia goiana durante o periacuteodo

de 1835 a 1886 houve uma forte presenccedila de livros escritos por portugueses e

franceses o que natildeo difere da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de outras localidades

brasileiras Ateacute a deacutecada de 60 do seacuteculo XIX circulavam nas escolas brasileiras

principalmente as cartilhas portuguesas e somente no fim dessa deacutecada eacute que Abiacutelio

Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas iniciou um movimento de nacionalizaccedilatildeo de

livros escolares publicando suas primeiras obras (LAJOLO ZILBERMAN 1996

MORTATTI 2000 VALDEZ 2006 FRADE 2010a) Os livros desse autor estiveram

entre as solicitaccedilotildees das listas de expediente escolar para o ensino inicial de leitura e

escrita e tambeacutem para o ensino de leitura corrente Sobre ele destacaremos sua

influecircncia na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes principalmente a partir de 1870 na

seccedilatildeo 5 desta tese

Por conseguinte ainda que essa proviacutencia tivesse conforme a historiografia

da educaccedilatildeo goiana aponta um desenvolvimento educacional atrasado

especialmente pela quantidade de analfabetos que ateacute meados da Repuacuteblica a

172

colocava entre as piores dos paiacutes haacute que se considerar que sua histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo faz intersecccedilatildeo com os movimentos que vinham ocorrendo no acircmbito

da educaccedilatildeo nacional

32 IMPRESSOS PARA O ENSINO DA LEITURA CORRENTE

Neste toacutepico destacaremos as obras identificadas nas listas de expediente

escolar cuja anaacutelise a partir dos indiacutecios de seus tiacutetulos eou conteuacutedos permitiram-

nos classificaacute-las como impressos destinados natildeo para alfabetizar a crianccedila mas para

o treino da leitura A escola primaacuteria brasileira no que tange ao ensino de leitura foi

constituindo uma tradiccedilatildeo pela qual depois de a crianccedila ter o domiacutenio da leitura os

professores utilizavam materiais impressos para os alunos aperfeiccediloarem a chamada

leitura corrente Batista Galvatildeo e Klinke (2002) notam que esse tipo de material

voltava-se para a ldquopassagem da leitura hesitante para a leitura corrente e possui

dentre outros objetivos a compreensatildeo total de periacuteodos e pequenas narrativas e

o domiacutenio geral do mecanismo e sentido da leiturardquo (BATISTA GALVAtildeO KLINKE

2002 p 42 grifos dos autores)

Inicialmente eacute importante esclarecer dois pontos O primeiro eacute que listariacuteamos

aqui tambeacutem os livros destinados ao ensino de outras disciplinas escolares que natildeo

apenas leitura e escrita Durante o periacuteodo imperial as regulamentaccedilotildees em Goiaacutes

previam no curriacuteculo Aritmeacutetica Gramaacutetica Doutrina Cristatilde entre outras mateacuterias

Logo na ausecircncia de materiais especiacuteficos para a alfabetizaccedilatildeo os professores

lanccedilavam matildeo dos que tinham disponiacuteveis para ensinar leitura e escrita agraves crianccedilas

(ARAUacuteJO E SILVA 1975 PRIMITIVO MOACYR 1940) O segundo destaque que

gostariacuteamos de registrar eacute que natildeo faremos um estudo aprofundado de cada uma das

obras mencionadas visto natildeo ser esse o foco da pesquisa Cada impresso listado

incita a novas pesquisas e novas problemaacuteticas principalmente relacionadas aos usos

que os professores fizeram desses materiais

Entre os pedidos de livros para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia

goiana destacaram-se os Catecismos Em muitas listas de expediente escolar eles

receberam a denominaccedilatildeo de cartilha com a indicaccedilatildeo do autor por exemplo Cartilha

de Fleury para se referir ao Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio

a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde escrito pelo Abade Claude Fleury Cartilha de

173

Montpelier ao tratar sobre o Catecismo da Diocese de Montpellier impresso por ordem

do Bispo Carlos Joaquim Colbert

Analisando as fontes documentais em especial as listas de expediente escolar

observamos que na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a denominaccedilatildeo de cartilha natildeo

era usual para indicar os materiais impressos especificamente para alfabetizaccedilatildeo ateacute

os anos de 1870195 A partir de entatildeo com a circulaccedilatildeo dos Livros de Leitura de Abiacutelio

Ceacutesar Borges pela proviacutencia os pedidos feitos pelos professores goianos

mencionavam juntamente com eles a compra de Cartilhas e de Catecismos

denotando nesses casos que as Cartilhas comeccedilavam a nominar materiais para o

ensino de leitura Poreacutem embora esse processo tenha-se iniciado na segunda metade

do seacuteculo XIX conservou-se em Goiaacutes durante todo o regime imperial a praacutetica de

designar como Cartilhas os livros de Doutrina Cristatilde Vale lembrar que Mortatti (2000

p 72) demonstra que nesse periacuteodo se iniciavam os discursos em torno da

ldquoconstituiccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo como objeto de estudo no Brasilrdquo principalmente com

a atuaccedilatildeo de Antonio da Silva Jardim na propaganda do ldquomeacutetodo Joatildeo de Deusrdquo e da

Cartilha Maternal do poeta portuguecircs Joatildeo de Deus

De acordo com Boto (2004) o termo cartilha vem de cartinhas manuscritos

utilizados em Portugal para ensinar a ler escrever e contar desde o iniacutecio da Idade

Moderna remontando agrave tradiccedilatildeo de uma educaccedilatildeo no lar baseada na religiosidade e

na moralidade As primeiras cartilhas brasileiras segundo Mortatti (2000a 2019)

foram publicadas na segunda metade do seacuteculo XIX o que corrobora a hipoacutetese de

que em Goiaacutes essa designaccedilatildeo para os livros escolares utilizados para o ensino inicial

de leitura tenha circulado pelas escolas no findar do Impeacuterio e sido adotada

oficialmente nas legislaccedilotildees goianas jaacute na Repuacuteblica196

Os Catecismos apesar de natildeo serem publicaccedilotildees pensadas para se ensinar

leitura foram incorporados nas escolas goianas principalmente como impressos para

195 Interessante notar que alguns livros de Doutrina Cristatilde que circularam na proviacutencia goiana eram nomeados de Cartilha como foi o livro Cartilha de Doutrina Christatilde de Antoacutenio Joseacute de Mesquita Pimentel mencionado nas listas de expediente escolar como ldquoCartilha de Pimentelrdquo ou ldquoCartilha de Mesquita Pimentelrdquo 196 A partir de uma anaacutelise das legislaccedilotildees educacionais goianas do periacuteodo imperial e republicano notamos que a recomendaccedilatildeo do uso de cartilhas nas classes de ensino primaacuterio esteve presente pela primeira vez nos Programas de ensino para as escolas primaacuterias do estado de 1930 (GOIAacuteS 1930) Anterior a isso em 1884 no Programa de ensino para a aula de instruccedilatildeo primaacuteria do sexo feminino anexo agrave Escola Normal identificamos referecircncia ao uso da cartilha para o ensino de leitura entretanto esse programa natildeo foi adotado em toda proviacutencia goiana

174

o ensino da leitura corrente (CRUS 20 de marccedilo de 1858) Seu uso no ensino de

leitura estaacute associado agrave praacutetica da oralizaccedilatildeo do escrito portanto remonta aos proacuteprios

aspectos de como os Manuais de Doutrina Cristatilde e os Catecismos eram organizados

e como foram concebidos impondo a necessidade de ler oralmente e repetidas

vezes as oraccedilotildees e dogmas catoacutelicos

Nas listas de expediente escolar os livros de conteuacutedo religioso quando natildeo

intitulados apenas de Catecismo tambeacutem foram nomeados como ldquoCatechismos

Historicosrdquo ldquoCompendios de Doutrina ou Cartilhardquo ldquoCatecissimos de Doutrinardquo

ldquoCompendios de Doutrinardquo ldquoCompendios de Doutrina Christatilderdquo ldquoDoutrina Chistatilderdquo

ldquoLivros da Doutrina Christatilderdquo ldquoLivrinhos ndash Cathecismosrdquo ldquoHistoria Sagradardquo ldquoHistoria

Sagrada contendo antigo e novo testamentordquo e ldquoHistoria Sagrada ilustradardquo

Geralmente nas listagens natildeo vinha solicitado um tiacutetulo especiacutefico nem mesmo a

menccedilatildeo ao autor Naquelas em que isso ocorria identificamos os seguintes tiacutetulos

Quadro 4197 Catecismos e ou Livros de Doutrina Cristatilde usados nas escolas goianas 1835-1886

Catechismo Historico resumindo contendo a Doutrina Christatilde traduzida e annotada por Henrique Vellozo de Oliveira Cathecismo do Paraacute Cartilha da Doutrina Christatilde por Antoacutenio J de Mesquita Pimentel Catecissimos de Doutrina por Pinheiro Cathecismo de Henry Cathecismo MontPelier Cathecismos de Fleury Compecircndio da missatildeo de Christo por Joaquim Pinti de Compo

Doutrina pr Barler

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilatildeo Manuscritas Datilografadas e Impressas

Interessante notar que os Catecismos ou Compecircndios de Doutrina Cristatilde eram

pedidos em quantidade bem numerosa geralmente igual a ou maior que o nuacutemero de

outros livros solicitados nas listagens Desse modo podemos considerar que em

Goiaacutes eles foram adquiridos para cada aluno e trabalhados individualmente como

197 Este quadro e o subsequente foram construiacutedos a partir das consultas aos documentos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes os quais estatildeo denominados de listas de expediente escolar cuja referecircncia completa pode ser verificada na seccedilatildeo ldquoFontesrdquo ao final desta tese

175

suporte para o ensino da leitura com fluecircncia e para a propagaccedilatildeo dos dogmas

catoacutelicos198

Esses materiais permaneceram presentes nas escolas goianas ateacute o final do

seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dentre os listados no Quadro 4 um dos Catecismos muito

solicitado pelos professores goianos nas deacutecadas de 1870 a 1890 foi o Catecismo

do Paraacute do Bispo D Antocircnio de Macedo Costa199 da Diocese da Proviacutencia do Gratildeo-

Paraacute ou Paraacute Ele manteve a hegemonia entre as solicitaccedilotildees jaacute que em relaccedilatildeo aos

outros livros esteve em destaque com pedidos volumosos realizados tanto pelos

professores quanto pelos Paacuterocos ou Inspetores Paroquiais O proacuteprio Bispo de

Goiaacutes em 1871 Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo escreveu ao Presidente da

Proviacutencia solicitando a compra de 500 exemplares do Catecismo do Paraacute para serem

distribuiacutedos pelas escolas de primeiras letras da proviacutencia (SIQUEIRA 27 de fevereiro

de 1871 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

Sobre essa obra encontramos poucas referecircncias e ainda natildeo conseguimos ter

acesso a ela Cotejando dados da imprensa paraense especialmente dois nuacutemeros

do Jornal A Regeneraccedilatildeo oacutergatildeo destinado aacute defesa do partido catholico (A

REGENERACcedilAtildeO 14 de marccedilo de 1875 29 de outubro de 1876) e do Cataacutelogo de

Obras Raras da Biblioteca Puacuteblica Arthur Vianna200 tudo indica que esse Catecismo

tinha uma extensatildeo que variava de uma ediccedilatildeo a outra ultrapassando geralmente 200

paacuteginas sendo publicado no exterior mais exatamente na Beacutelgica na Typographia

Zech

198 Eacute importante mencionar que a obra Cathecismo de Agricultura de Antonio de Castro Lopes foi divulgada em Goiaacutes em 1862 conforme atesta os documentos encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Entretanto dentro dos limites de nossa pesquisa natildeo encontramos referecircncia de que esse impresso foi adotado nas escolas goianas (LOPES 1862 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 144) 199 Sobre a vida de Dom Antocircnio de Macedo Costa Azzi (1980) explicita ldquoNascido em Maragogipe proviacutencia da Bahia a 7 de agosto de 1830 D Macedo Costa completou seus estudos eclesiaacutesticos na Franccedila no seminaacuterio de Satildeo Sulpiacutecio seguindo posteriormente para Roma onde se doutorou em direito eclesiaacutestico Ao voltar ao Brasil com trinta anos de idade recebeu a nomeaccedilatildeo para bispo do Paraacute tomando posse da diocese a 10 de agosto de 1861 Durante as trecircs deacutecadas em que esteve agrave frente da diocese D Macedo Costa interessou-se por todas as questotildees mais destacadas referentes agrave aacuterea esclesiaacutestica [] Reafirmou continuamente a vinculaccedilatildeo da Igreja do Brasil com a Santa Seacuterdquo [] Nomeado arcebispo da Bahia em 1890 [] Faleceu em Barbacena para onde se retirara por motivos de sauacutede em princiacutepios do ano seguinte [1891]rdquo (AZZI 1980 p 98-99) 200 A Biblioteca Puacuteblica Arthur Vianna eacute um oacutergatildeo do governo do Paraacute da Fundaccedilatildeo Cultural do Estado do Paraacute O Cataacutelogo de Obras Raras estaacute disponiacutevel na internet pelo link lthttpwwwfcppagovbr2016-11-24-18-22-47catalogo-de-obras-raras-da-biblioteca-arthur -vianna-seculos-xviii-xx-belem-secult-1998-120-pgt Acesso em 01 de junho de 2019

176

Na publicaccedilatildeo da imprensa catoacutelica do Maranhatildeo Civilisaccedilatildeo perioacutedico

Hebomadario Oacutergatildeo dos Interesse Catholicos na ediccedilatildeo de 24 de maio de 1890 haacute

um cataacutelogo de obras do Bispo do Paraacute destacando entre 35 obras de autoria de

Dom Macedo Costa o Catecismo do Paraacute com a seguinte descriccedilatildeo

Ornado de gravuras e exercicios de piedade e com um resumo das obrigaccedilotildees dos diversos estados ndash vesperas do Domingo ndash etc ndash mandado publicar pelo Exm Sr D Antono de Macedo Costa e adotaptado em varias dioceses Jaacute conta 6 ediccedilotildees (CIVILISACcedilAtildeO 24 de maio de 1890 p 3)

Em consonacircncia Tambara (2003) e Orlando (2008) esclarecem que esse

impresso se destacou entre os Catecismos que circularam nas escolas primaacuterias

brasileiras contando com vaacuterias reediccedilotildees e reimpressotildees

Ao procurarmos os motivos que levaram agrave alta circulaccedilatildeo apontada do

Catecismo do Paraacute nas escolas brasileiras e principalmente na proviacutencia goiana

algumas hipoacuteteses podem ser arquitetadas considerando quem foi o seu autor e sua

participaccedilatildeo nos cenaacuterios poliacutetico e religioso brasileiro

Azzi (1999) informa que Dom Antocircnio de Macedo Costa destacou-se como uma

das figuras importantes da Igreja no Brasil sendo uma das lideranccedilas esclesiaacutesticas

mais influentes quando a Repuacuteblica foi proclamada O autor demonstra tambeacutem a

influecircncia desse Bispo durante o Impeacuterio de modo que ele conseguiu transitar entre

um regime e outro alcanccedilando apoio poliacutetico para participar junto ao governo

republicano de iniciativas do projeto de separaccedilatildeo entre o Clero e o Estado de modo

que a ldquoaceitaccedilatildeo paciacutefica do advento da Repuacuteblica em 1889 por parte da Igreja do

Brasil deve-se ao esforccedilo ingente do Bispo do Paraacuterdquo (AZZI 1976 p 52)

A Diocese de Goiaacutes estabeleceu com a Diocese do Paraacute vaacuterias relaccedilotildees

eclesiaacutesticas O Bispo de Goiaacutes Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo que ficou agrave

frente da Diocese entre 1865 a 1877 nasceu na Proviacutencia do Gratildeo-Paraacute e

[] admitido como pobre no seminaacuterio em Beleacutem entre outros cargos civis ocupou o de Diretor Geral de Iacutendios Ademais o sacerdote exerceu importantes funccedilotildees na Igreja da regiatildeo e de Goiaacutes Azevedo foi vigaacuterio geral e reitor do seminaacuterio do Amazonas posiccedilotildees tambeacutem ocupadas no Paraacute Segundo D Alberto Gaudecircncio Ramos (1952)201 no Paraacute Azevedo foi nomeado Vigaacuterio Geral de Beleacutem sendo em 1866 sagrado Bispo de Goiaacutes por D Macedo Costa Foi a primeira sagraccedilatildeo episcopal na Amazocircnia (p 42-43) Envolvido diretamente com a formaccedilatildeo religiosa de seu rebanho visitou grande parte da

201 A obra de Ramos (1952) citada por Rizzini (2004) eacute a Cronologia eclesiaacutestica da Amazocircnia publicada em Manaus em 1952 por Dom Alberto Gaudecircncio Ramos

177

Diocese fundou o Seminaacuterio diocesano onde era professor e ensinava o catecismo nas escolas (RIZZINI 2004 p 53)

Fonseca e Silva (1948) destaca que durante o patroado de Dom Macedo

Costa em 1868 o Bispo de Goiaacutes Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo foi ateacute o

Paraacute com intuito de tratar ldquoacerca da ida de meninos para os seminaacuterios na Europa

que por concessatildeo de Pio IX foram postos agrave disposiccedilatildeo do mencionado Sr Bispo do

Paraacuterdquo (FONSECA E SILVA 1948 p 218) Nessa viagem tambeacutem pretendeu obter

meios para erigir o Seminaacuterio Episcopal goiano (FONSECA E SILVA 1948) Pelo

exposto notamos que Dom Macedo Costa tinha relaccedilotildees muito proacuteximas com a Santa

Seacute o que lhe possibilitava ter recursos financeiros para projetos eclesiaacutesticos

incluindo neles empreendimentos editoriais colocando-o entre as figuras notaacuteveis de

Bispos brasileiros que publicaram livros de doutrina cristatilde dirigidos para a mocidade

no seacuteculo XIX

Isso posto consideramos que a apropriaccedilatildeo e uso dos Catecismos eou Livros

de Doutrina Cristatilde na educaccedilatildeo brasileira colaborou para a conformaccedilatildeo de um

modelo escolar para civilizaccedilatildeo dos costumes e dos espiacuteritos com indiviacuteduos

obedientes agraves regras da Igreja e do Estado (OLIVEIRA CORREcircA 2006 ANJOS

2016)

Aleacutem dos Catecismos satildeo citadas em nuacutemero menor geralmente um ou dois

exemplares obras que devido agrave quantidade acreditamos que foram de uso do

professor para serem aplicadas oralmente em sala de aula no ensino da leitura ao

mesmo tempo que transmitiam conhecimentos escolares de uma disciplina curricular

Jaacute que nas listas natildeo haacute a menccedilatildeo de que elas satildeo para a escola primaacuteria ou a

secundaacuteria e sabendo que no periacuteodo em questatildeo como relatamos natildeo havia muitas

salas abertas de ensino secundaacuterio enumeramos todas as obras encontradas uma

vez que se natildeo foram usadas propriamente para o ensino inicial da leitura e escrita

circularam nas escolas difundindo saberes e praacuteticas entre os professores

Quadro 5202 Livros ou Manuais usados nas escolas goianas 1835-1886

Arithmetica Ascanio Ferraz

Arithmetica de Anila

Arithmetica de Lobato

Arithmetica de Ottoni

202 Natildeo foram inseridos nesse Quadro os Atlas Mapas e os livros de liacutengua estrangeira

178

Arithmeticas de Saacute

Bibliotheca Juvenil de Barler

Cartas Sellectas de Pe Vieira

Chorographia histoacuterica do imperio do Brasil pelo Doutor

Alexandre Joseacute de Mello Moraes

Compecircndio de gramaacutetica nacional

Compendios de Arithimetica

Compendios de Arithmetica Ascanio Ferraz

Compendios de Historia Universal

Compendios de systhema Metrico

Compendios para leitura

Desenho linear ou elementar de Geometria Pratica

Diccionario de Moraes

Geographia de Pompeu

Geographias da Mocidade

Geometrias de Euclides

Geometrias de Ottoni

Gramaticas portuguesas por Conego Ferns

Grammaticas

Grammaticas latinas de A Pereira

Grammatica portuguesa pr J Alexandre e Silva Paz

Historia do Brasil pr Belligarde

Historia do Brasil por Caruja

Historia do Brazil

Historia moderna por Tantephens

Iris Classico

Litteratura de Basmalem

Litteraturas de Noel

Livros de Coruja

Livros de J Alexandre

Livros de leitura

Manual dos Estudantes

Manual encyclopedico de Monte-Verde

Noccedilotildees de Geographia

Os Lusiacuteadas de Camotildees

Philosophia de Germes

Resumo da Grammatica latina pr Figueiredo

Retoricas de Meneses

Retoricas por Freire de Carvalho

Sciencia do Bom Homem Ricardo

Poesias escolhidas

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressas

179

Como observado relacionamos alguns livros que provavelmente natildeo eram

usados para as crianccedilas aprenderem a ler e escrever pois seus conteuacutedos remetem

a ensinamentos da instruccedilatildeo secundaacuteria poreacutem a apropriaccedilatildeo desses nos fazeres

pedagoacutegicos carece de pesquisas para adentrar o campo dos usos e das praacuteticas

com os impressos em sala de aula Valdez (2004) sinaliza algumas pistas acerca

dessa questatildeo elucidando que no Brasil oitocentista poucos eram os livros escritos

para as crianccedilas especialmente livros para uso escolar O que se utilizava ldquoeram os

claacutessicos da literatura internacional e as crianccedilas aprendiam a leitura nos abecedaacuterios

em toscas cartilhas papeacuteis de cartoacuterios e cartas manuscritas que professores e pais

de alunos forneciamrdquo (VALDEZ 2004 p 2)

Dentre os livros inventariados no Quadro 5 destaca-se a obra Sciencia do bom

homem Ricardo sempre solicitada em quantidade avolumada inclusive

desproporcional aos demais livros Agrave guisa de exemplo temos o caso de ela fazer

parte da relaccedilatildeo de objetos remetida pela Tesouraria de Rendas Provinciais de Goiaacutes

entregue ao Inspetor Geral interino da Instruccedilatildeo Puacuteblica da eacutepoca em 14 de fevereiro

de 1859 Segundo consta no documento em virtude de portaria do Governo da

Proviacutencia o Inspetor seria o responsaacutevel por distribuir os materiais nas escolas

Sciencia do bom homem Ricardo foi remetido em quantia de 100 exemplares que se

comparada com as quantidades enviadas dos outros livros de leitura203 representa

uma desproporcionalidade (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE

GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

O texto Sciencia do bom homem Ricardo tambeacutem eacute citado na lista de materiais

para aplicaccedilatildeo do Meacutetodo Castilho nas escolas goianas pelo professor Feliciano

Primo Jardim o que seraacute tratado na proacutexima seccedilatildeo Esses elementos por si datildeo

pistas de que o impresso circulou nas aulas de leitura das escolas de instruccedilatildeo

primaacuteria de Goiaacutes por dois motivos primeiro pelo fato de que o Meacutetodo Castilho era

sobretudo voltado para o aprendizado inicial da leitura e segundo porque a

quantidade de exemplares remetida pelo governo em 1859 foi expressiva o que natildeo

justificaria ser destinada ao Liceu uacutenica escola de ensino secundaacuterio naquele periacuteodo

que mantinha 77 alunos matriculados conforme eacute apontado no Relatoacuterio do

203 A maioria dos livros enviados com exceccedilatildeo das Cartas e dos Catecismos eram 1 2 ou 3 exemplares chegando no maacuteximo a 10

180

Presidente Cerqueira (1859a) Aleacutem do mais o mesmo presidente em 1858 registra

essa accedilatildeo de compra de livros para serem distribuiacutedos nas escolas da Proviacutencia

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1858)

Arriada Tambara e Duarte (2015) explicam que essa obra foi difundida em todo

o Impeacuterio ldquoElaborada a partir do Almanaque do Pobre Ricardo ndash Poor Richardrsquos

almanacks ndash publicado anualmente por Benjamin Franklin com a idade de 26 anos a

partir de 1732 a 1758 o autor usava o pseudocircnimo de Ricardo Saundersrdquo (ARRIADA

TAMBARA DUARTE 2015 p 244) Arriada (2002) expotildee que esse Almanaque era

uma espeacutecie de perioacutedico que circulou nos Estados Unidos da Ameacuterica atingindo um

grupo de leitores pelo mundo todo Escrito em 1757 e publicado pela primeira vez no

Almanaque em 1758 Sciencia do bom homem Ricardo recebeu diversas traduccedilotildees

sobretudo nos paiacuteses da Europa e na Ameacuterica (ARRIADA TAMBARA DUARTE

2015)

Em Portugal o texto foi publicado por Monteverde (18--) no Methodo Facillimo

para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo na seccedilatildeo de liccedilotildees para treino da leitura204 com o tiacutetulo ldquoA sciencia do bom

homem Ricardo ou meio de adquirir fortunardquo Nesse mesmo paiacutes houve outra versatildeo

datada de 1825 e lanccedilada pela Tipografia da Sociedade Propagadora dos

Conhecimento Uacuteteis em Lisboa205 Com o tiacutetulo A sciencia do bom homem Ricardo

ou meio de fazer fortuna o livro tem 16 paacuteginas traz na iacutentegra o texto de Franklin e

na uacuteltima folha uma taacutebua de multiplicaccedilatildeo de Pitaacutegoras

A partir da publicaccedilatildeo de Arriada Tambara e Duarte (2015) que expocircs uma

capa da ediccedilatildeo brasileira de 1884 sabemos que essa obra tambeacutem foi impressa no

Rio de Janeiro pela Livraria de Nicolau Alves intitulada A sciencia do bom homem

Ricardo ou o Caminho da fortuna

Como se nota Sciencia do bom homem Ricardo natildeo foi um texto escrito para

o uso escolar mas os preceitos ali publicados foram acolhidos pela escola jaacute que o

204 Na ediccedilatildeo de Monteverde (18--) que utilizamos nesta tese o texto de Benjamin Franklin estaacute publicado entre as paacuteginas 139 a 146 assinado com o pseudocircnimo de Franklin Ricardo Saudners Na obra consultada provavelmente por questatildeo de traduccedilatildeo estaacute grafado diferente do pseudocircnimo Ricardo Saunders conforme informado por Arriada Tambara e Duarte (2015) Apoacutes o tiacutetulo do texto Monteverde lanccedila uma nota de rodapeacute indicando que o texto foi extraiacutedo da obra ldquodo sabio BENJAMIM FRANKLIN intitulada La Science du Bon Homme Richardrdquo (MONTEVERDE 18-- p 139) 205 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt14349gt Acesso em 22 de maio de 2019 A obra tem dimensatildeo fiacutesica de 15 x 125 cm

181

discurso empreendido colaborava para a introjeccedilatildeo de uma mentalidade capitalista

proacutepria do Ocidente Esse fato justifica sua circulaccedilatildeo entre tantos paiacuteses (ARRIADA

2002 ARRIADA TAMBARA DUARTE 2015 NASCIMENTO SALES 2014)

A narrativa eacute quase um sermatildeo feito pelo Anciatildeo Abrahatildeo a respeito das

caracteriacutesticas de um cidadatildeo que por meio do seu trabalho consegue obter sucesso

financeiro Contra a preguiccedila defendendo uma postura de trabalhador persistente e

econocircmico o Anciatildeo retoma as maacuteximas do ldquoBom Homem Ricardordquo discursando

sobre as caracteriacutesticas de um cidadatildeo prudente

Conservemos pois a nossa liberdade e a nossa independencia Sejacircmos laboriosos e livres sejamos economicos e independentes Talvez julguem algumas pessoas que me estatildeo ouvindo acharem-se nrsquoum estado tal de opulencia que lhes permitte satisfazer aacutes suas fantasias mas eacute preciso poupar a fim de estar previnido natildeo soacute para o tempo da velhice mas tambem para qualquer adversidade que possa sobreviver ldquoO Sol da manhatilde natildeo dura todo diardquo ldquoO ganho eacute incerto e eventual mas a despeza eacute certa durante toda a vidardquo ldquoEacute mais facil derrubar duas chamineacutes do que conservar uma soacute com lume como diz o BOM HOMEM RICARDOrdquo (FRANKLIN apud MONTEVERDE 18-- p 145-146 grifos do autor)

O texto traz alguns juiacutezos de valor subjacentes e o principal eacute que o bom

cidadatildeo paga os seus impostos e auxilia na manutenccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico Tambeacutem

que os mais velhos tecircm muito o que ensinar portanto deve haver disposiccedilatildeo em ouvir

seus ensinamentos atentamente Pelo conteuacutedo exposto fica evidente que esse texto

escolar foi suporte ldquopara a aquisiccedilatildeo da leitura e para a constituiccedilatildeo da mentalidade

moral e ciacutevica do novo homem necessaacuterio ao estaacutegio de desenvolvimento econocircmico-

social do Impeacuterio brasileirordquo (ARRIADA TAMBARA DUARTE 2015 p 250)

Voltando ao Quadro 5 os Compecircndios para Leitura e os Livros de Leitura

destacaram-se pela quantidade de solicitaccedilotildees e ou envios em relaccedilatildeo agraves outras

obras especialmente a partir dos anos de 1870 quando os livros de Abiacutelio Ceacutesar

Borges o Baratildeo de Macauacutebas foram difundidos na proviacutencia goiana Nas listas

inventariadas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes quando essas duas

denominaccedilotildees apareciam natildeo se estava referindo ao autor e ou tiacutetulo da obra o que

denota que se dava mais importacircncia ao impresso em si do que agrave figura do autor de

um livro e seu meacutetodo

Ao demarcamos portanto o periacuteodo abrangido pela pesquisa sobre os

materiais impressos que circularam nas aulas de instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes ao

regime imperial natildeo estamos condicionando que tudo de que tratamos se encerrou

182

nesse periacuteodo Pelo contraacuterio muito do que circulou entre 1835 e 1886 esteve

revigorado nas salas de aula goianas na Repuacuteblica dialogando efetivamente com os

acontecimentos e praacuteticas de ensino de leitura e escrita em acircmbito nacional Delimitar

a temporalidade dessa histoacuteria natildeo significa colocar rupturas totais e sim demonstrar

que em determinados momentos os fazeres pedagoacutegicos estiveram influenciados

por mentalidades que constituiacuteram modos diferentes de pensar e atuar sobre o ato de

ler e escrever em sala de aula e por que natildeo tambeacutem fora dela

33 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

Como enfatizado no decorrer desta seccedilatildeo alguns dos livros aprovados e que

circularam pelo Municiacutepio da Corte influenciaram a organizaccedilatildeo dos meacutetodos de

ensino e de alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes o que corrobora nossa tese de estudo em que

defendemos que a proviacutencia goiana esteve inserida no contexto dos ideaacuterios de

modernidade que circulavam no paiacutes especialmente no campo do ensino inicial de

leitura e escrita Dessa maneira a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes no periacuteodo

imperial esteve em sintonia com as transformaccedilotildees e com as iniciativas educacionais

do paiacutes e sob forte influecircncia europeia

Nas consideraccedilotildees parciais desta seccedilatildeo retomaremos os aspectos tratados

nos itens anteriores a partir de trecircs apontamentos os quais consideramos pertinentes

para a compreensatildeo do nosso objeto de estudos ao mesmo tempo que fundamentam

nossa tese

1) Os impressos que circularam em Goiaacutes no periacuteodo imperial em sua grande

maioria satildeo produccedilotildees estrangeiras

Pensar os meacutetodos de ensino de leitura e escrita a partir dos impressos eacute algo

muito comum na historiografia da alfabetizaccedilatildeo (MORTATTI 2000 2011 2019) De

antematildeo eacute importante ressaltar que natildeo fugimos dessa loacutegica como o leitor pode

constatar por um motivo fatiacutedico nossa paixatildeo pela investigaccedilatildeo historiograacutefica dos

livros escolares Os misteacuterios que rondam essas publicaccedilotildees antigas e a busca por

desvelaacute-los nos motivaram para trazer o impresso como principal fonte na constituiccedilatildeo

desta tese Ateacute tentamos escapar dessa previsibilidade todavia na disputa entre a

relevacircncia cientiacutefica e o teor acadecircmico versus a subjetividade do ser pesquisador

183

trazer os livros como mote para essa investigaccedilatildeo foi inelutaacutevel na ldquoarenardquo206 da

construccedilatildeo de um trabalho de doutoramento que decirc prazer de escrever

Dito isso retomando os livros listados nessa seccedilatildeo notamos que os impressos

que circularam no intervalo entre 1835 e 1886 nas escolas goianas foram publicaccedilotildees

principalmente advindas da Europa e da Ameacuterica do Norte sendo obras que tambeacutem

circularam no Municiacutepio da Corte e em outras proviacutencias brasileiras

Nesse periacuteodo houve um discurso oficial mantido pelos Presidentes de

Proviacutencia marcado pela escassez de recursos para a manutenccedilatildeo das despesas da

instruccedilatildeo puacuteblica e consequentemente um pessimismo que enfatizava as

dificuldades da proviacutencia em avanccedilar nas questotildees do ensino Vaacuterios argumentos

foram arrolados nos Relatoacuterios dirigidos agrave Assembleia Legislativa Provincia

ressaltando que a falta de uma escola de formaccedilatildeo de professores ndash a Escola Normal

ndash e de livros para disseminaccedilatildeo dos novos modos de ensinar eram fatores

preponderantes para o atraso da instruccedilatildeo puacuteblica goiana O que se constata todavia

nas listas de expediente escolar analisadas eacute que muitos materiais para apoiar o

ensino de leitura e escrita que circularam durante o Impeacuterio brasileiro e foram enviados

agraves escolas de primeiras letras goianas aplicavam o antigo meacutetodo individual e o uso

das Cartas de ABC Tal meacutetodo era influenciado pelas praacuteticas de catequizaccedilatildeo

especialmente utilizadas nos Catecismos ou nos Manuais de Doutrina Cristatilde

organizados no formato de perguntas e respostas curtas

Natildeo podemos esquecer que o sertatildeo goiano era habitado por indiacutegenas antes

da chegada dos Bandeirantes paulistas que utilizando estrateacutegias de dominaccedilatildeo

infiltraram-se na vida dos iacutendios miscigenando natildeo somente a raccedila como tambeacutem as

suas caracteriacutesticas culturais e sociais (PALACIacuteN 1994) Portanto podemos

conjecturar que o meacutetodo de catequizaccedilatildeo dos iacutendios e de ensino em liacutengua

portuguesa utilizado pelos Padres ldquofundou uma tradiccedilatildeordquo207 no ensino de leitura e

escrita nas terras goianas que se arrastou desde o seacuteculo XVIII Por esse motivo era

tatildeo difiacutecil se desvincular das praacuteticas escolares com o denominado meacutetodo individual

O Presidente Francisco Januario de Gama Cerqueira (1858) em um dos seus

discursos analisados nesta seccedilatildeo chegou a constatar que os docentes na proviacutencia

206 Esta palavraconceito estaacute sendo utilizada aqui nos termos de Valentin Voloacutechinov conforme jaacute enunciamos na Introduccedilatildeo da tese 207 Tomamos essa expressatildeo de empreacutestimo de Mortatti (2000)

184

goiana ensinavam tal como aprenderam e em funccedilatildeo disso natildeo abriam matildeo de

alguns meacutetodos seculares

No que compete ao ensino de leitura e escrita em nenhuma das leis ou

recomendaccedilotildees entre 1835 e 1886 eacute indicado especificamente um meacutetodo A partir

de uma consulta aos mapas de turmas enviados pelos professores pelas listagens

dos objetos enviados por solicitaccedilatildeo das escolas de primeiras letras dos relatoacuterios de

Inspetores e correspondecircncias entre Inspetores e os Presidentes de Proviacutencia todos

documentos inventariados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes foi possiacutevel

analisar que na proviacutencia no periacuteodo imperial ensinava-se leitura e escrita pelos

meacutetodos de marcha sinteacutetica especialmente o de soletraccedilatildeo ou de silabaccedilatildeo

Nesta seccedilatildeo analisamos alguns livros portugueses que circularam no ensino

de leitura em Goiaacutes com destaque para os tiacutetulos Methodo Facillimo para aprender

a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo

(MONTERVERDE 18--) o Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os

primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa

(1785) e O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna escrito

por Luiz Francisco Midosi (MIDOSI 1831)

Entre os livros analisados houve tambeacutem um produzido primeiramente na

Franccedila e depois traduzido para o portuguecircs Pequeno Cathecismo Historico contendo

em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde escrito pelo francecircs Abade

Claude Fleury (FLEURY 1846)

Aleacutem desses impressos de origem portuguesa e francesa notadamente

influenciou a instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes o texto norte-americano de leitura Sciencia

do Bom Homem Ricardo (FRANKLIN 18--)

Destacamos obras direcionadas especificamente ao mercado escolar

brasileiro Antonio Pinheiro de Aguiar Victor Renault e Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo

de Macauacutebas

Para o ensino de escrita evidenciamos as coleccedilotildees de Traslados modelos

tambeacutem importados das escolas da Europa

Essas obras nos datildeo indiacutecios de possiacuteveis praacuteticas de ensino inicial de leitura

e escrita na proviacutencia goiana Embora houvesse tentativas de alguns desses autores

de fugir da fundamentaccedilatildeo de um meacutetodo de ensino de leitura tradicional cansativo

para os alunos e com um processo demorado para a aprendizagem o que vemos satildeo

os convencionais meacutetodos de soletraccedilatildeo eou silabaccedilatildeo reconfigurados por tentativas

185

de uma pseudomudanccedila por meio de figuras ou adornos que datildeo ao impresso um

tom de modernidade

As Cartas foram empregadas como material de apoio para essas praacuteticas pelo

meacutetodo de soletraccedilatildeo ou silabaccedilatildeo sendo o impresso mais solicitado pelos

professores eou enviado pelo governo agraves escolas na proviacutencia goiana O estudo que

fizemos tanto das listas de expediente escolar quanto dos mapas de turmas

encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nos permite afirmar que existiam

diferentes tipos de Cartas que indicavam uma sequencialidade no uso pela gradaccedilatildeo

do aprendizado das letras para as siacutelabas das siacutelabas para as palavras das palavras

para as frasestextos

Os textos que compunham essas Cartas e os outros impressos tinham um

caraacuteter religioso e eram fortemente caracterizados pelo meacutetodo de perguntas e

respostas curtas tiacutepico dos Catecismos e das aulas de Doutrina Cristatilde que tambeacutem

remontam agraves praacuteticas de ensino individual Esses textos eram utilizados para

divulgaccedilatildeo de conformismo do cidadatildeo agraves regras sociais impostas pelo Impeacuterio e

introjeccedilatildeo das condutas tiacutepicas da Doutrina da Igreja Catoacutelica

2) Os impressos que circularam em Goiaacutes tinham a intenccedilatildeo de inculcar um

comportamento social da cultura civilizada para formaccedilatildeo de uma sociedade que

aspirava agrave modernidade

Os esforccedilos para reversatildeo do panorama da instruccedilatildeo puacuteblica goiana se

mantiveram durante o periacuteodo analisado sobretudo em iniciativas no acircmbito da

legislaccedilatildeo e do envio de materiais escolares para as escolas Apoiados no estudo de

Abreu (2006) constatamos que a primeira lei goiana sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

promulgada em 1835 marcou a institucionalizaccedilatildeo das praacuteticas escolares em Goiaacutes

inaugurando ao mesmo tempo a profissionalizaccedilatildeo docente e a tentativa de

cristalizaccedilatildeo de meacutetodos e comportamentos na escola Do mesmo modo os

Regulamentos de Ensino aprovados durante todo o periacuteodo imperial enfatizaram a

influecircncia da Igreja Catoacutelica nos modos de pensar e fazer o ensino Essa influecircncia

estava comprovadamente legislada nas normativas condutoras da educaccedilatildeo goiana

que exigiam os conhecimentos religiosos nas aulas e nos concursos para professores

bem como nos impressos que circularam nas escolas durante o periacuteodo em questatildeo

e se baseavam especialmente na Doutrina Cristatilde eou nas narrativas biacuteblicas Aqui

eacute importante lembrar que na deacutecada de 1850 houve a recomendaccedilatildeo de que os

186

padres ficassem responsaacuteveis por ensinar as noccedilotildees elementares de leitura e de

educaccedilatildeo religiosa agrave mocidade principalmente nos municiacutepios com maior dificuldade

financeira

Ressaltamos nesta seccedilatildeo o uso dos Catecismos e dos livros de Doutrina

Cristatilde durante o Impeacuterio nas escolas da proviacutencia goiana entre os quais se destaca o

Catecismo do Paraacute publicado pelo Bispo Dom Antocircnio de Macedo Costa Os livros

com enfoque religioso tinham conteuacutedos para formaccedilatildeo de um cidadatildeo ainda aos

moldes coloniais que submissos agrave tradiccedilatildeo religiosa aos pais e ao Estado se

conformavam com uma vida simples e agrave civilizaccedilatildeo dos costumes dos haacutebitos e

valores

A populaccedilatildeo em Goiaacutes nesse periacuteodo era maiormente rural o que contribuiu

para que circulasse o ideaacuterio da necessidade da instruccedilatildeo para livrar a crianccedila da

aculturaccedilatildeo aproximando-a da leitura escrita religiatildeo e da aritmeacutetica como forma de

transformaccedilatildeo social e cultural da proviacutencia Enfim esse ideaacuterio de modernidade fez

com que Goiaacutes no advento dos anos 70 do seacuteculo XIX comeccedilasse a dar ecircnfase maior

ao uso do livro nas praacuteticas escolares ateacute mesmo legislando sobre quais compecircndios

deveriam ser usados nas escolas puacuteblicas ou particulares na proviacutencia Essa ecircnfase

associada agrave expansatildeo do mercado livresco brasileiro marcou enfaticamente a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo goiana pelo uso de livros de leitura e de outros impressos como

condiccedilatildeo para a efetividade do ensino de leitura e escrita

3) A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir de 1870 passou por diferentes

transformaccedilotildees devido ao contexto nacional do mercado editorial e das legislaccedilotildees

que vigoravam na proviacutencia

Um dos marcos na histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes conforme evidenciamos na

seccedilatildeo anterior foi a publicaccedilatildeo da Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 o

Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes de 1869

(GOIAacuteS 1869) Diferente do que se estabelecia ateacute entatildeo foi evidenciado o uso dos

livros nas praacuteticas escolares repercutindo em maior divulgaccedilatildeo e circulaccedilatildeo de livros

de leitura cartilhas e manuais de ensino no territoacuterio goiano o que

consequentemente ocasionou uma visatildeo diferente sobre as praacuteticas do ensino inicial

de leitura e escrita A partir dos anos 70 do seacuteculo XIX ocorreu a entrada de

diferentes impressos para alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas que permitiram a circulaccedilatildeo de

ideaacuterios de um ensino moderno que almejava romper com a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de

187

soletraccedilatildeo Apontamos nesta seccedilatildeo da tese vaacuterias publicaccedilotildees e iniciativas que

colocaram a proviacutencia em diaacutelogo com o que estava ocorrendo e sendo difundido na

Corte e no paiacutes como um todo

A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes oitocentista natildeo estava isolada do

contexto nacional nem tampouco descolada do anelo de implementar o que havia de

mais moderno no Brasil Doravante os dois capiacutetulos que seguem na organizaccedilatildeo

desta tese focalizam as iniciativas que colaboram para ratificar e fundamentar a

afirmaccedilatildeo anterior destacando tanto a questatildeo da circulaccedilatildeo de saberes escolares

advindos de uma publicaccedilatildeo portuguesa quanto da adoccedilatildeo de livros eminentemente

brasileiros para alfabetizaccedilatildeo

188

4 O MEacuteTODO CASTILHO NA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS

___________________________________

Em 1855 destaca-se uma iniciativa financiada pelo governo da proviacutencia de

Goiaacutes de enviar ao Rio de Janeiro um professor para conhecer o meacutetodo Castilho a

fim de propagaacute-lo nas escolas goianas O entatildeo Presidente da Proviacutencia Antonio

Candido da Cruz Machado tendo notiacutecias do sucesso do meacutetodo Castilho para o

ensino raacutepido da leitura e escrita e diante da situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica na

proviacutencia enviou ao Municiacutepio da Corte o professor Feliciano Primo Jardim

Tendo-se reconhecido a vantagem do methodo de ensinar a ler e escrever que o conselheiro Antonio Feliciano de Castilho estaacute propagando na capital do imperio e considerando que o professor da 1ordf aula de instrucccedilatildeo primaria desta cidade Feliciano Primo Jardim por sua intelligencia applicaccedilatildeo zecirclo e bocirca conducta estava nas circunstancias de bem comprehende-lo e pocirc-lo em pratica nacuteesta provincia e convindo que fosse estuda-lo com o proprio autor resolvi por acto de 21 de julho incumbi-lo dessa commissatildeo com a gratificaccedilatildeo mensal de 100$000 reacuteis e marquei-lhe o prazo de oito mezes para ida estada e volta ficando o mesmo obrigado a natildeo pedir demissatildeo do emprego trez annos depois e a ensinar pelo referido methodo como fosse determinado pelo governo incumbi-o tambem de examinar os compendios admittidos no ensino primario da cocircrte quer pelo methodo Castilho quer pelo actual e de enviar um relatorio circunstanciado em que mencione o preccedilo e quantidade dos compendios e mais objectos que forem precisos Tinha de submetter este acto aacute aprovaccedilatildeo da assemblea legislativa provincial (MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855 p 23-24)

189

Em Goiaacutes no periacuteodo em questatildeo o meacutetodo individual estava em voga sendo

considerado por muitos Presidentes da proviacutencia como um dos motivos pelo atraso

do ensino Como jaacute elucidamos nas seccedilotildees anteriores pouco circulavam nas escolas

goianas de primeiras letras manuais ou outros impressos que subsidiassem o ensino

de leitura e escrita Os livros que os professores tinham para lecionar estavam

geralmente calcados num vieacutes religioso que reproduzia um ensino pelo modelo de

perguntas e respostas remetendo a uma forma individual e catequeacutetica Entretanto

mesmo sob o domiacutenio da Igreja no campo educacional e com uma grande

concentraccedilatildeo de populaccedilatildeo no meio rural o excerto acima do relatoacuterio do Presidente

Antonio Candido da Cruz Machado mostra uma iniciativa que buscava inserir na

proviacutencia uma nova tendecircncia pedagoacutegica de alfabetizaccedilatildeo que circulava na Corte o

que tambeacutem ratifica a tese deste trabalho e abre a discussatildeo dessa seccedilatildeo

Machado submeteu a proposta de enviar Primo Jardim ao Rio de Janeiro para

aprovaccedilatildeo da Assembleia Legislativa Provincial em 01 de setembro de 1855 somente

para cumprir um protocolo legal legitimando a sua iniciativa jaacute que havia determinado

e autorizado a viagem por meio de Resoluccedilatildeo Provincial de 21 de julho de 1855

(MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855)

A presidecircncia conseguiu o aval da Assembleia que colocou a referida

resoluccedilatildeo em votaccedilatildeo aprovando-a em 6 de novembro de 1855 (GOIAacuteS 1855b)

sendo ela sancionada pelo sucessor de Machado o Presidente Antonio Augusto

Pereira da Cunha como foi registrado em trecircs passagens do jornal O Tocantins em

dezembro de 1855 (O TOCANTINS 08 de dezembro de 1855 p 1 15 de dezembro

de 1855 p 4 22 de dezembro 1855 p 2)208

Boto e Albuquerque (2018) explicitam que em 1855 foi ofertado pelo proacuteprio

Castilho no Rio de Janeiro um curso a respeito do seu meacutetodo ao qual foram

enviados representantes de vaacuterias proviacutencias do paiacutes De acordo com Arauacutejo e Silva

(1975) a ideia que circulava naquele momento na proviacutencia goiana era de que os

meacutetodos de ensino natildeo tinham grande efetividade eram muito lentos para as crianccedilas

aprenderem a ler e escrever e consequentemente seus pais natildeo as mantinham na

escola pois elas eram necessaacuterias na execuccedilatildeo de pequenos serviccedilos em casa ou

no trabalho Nesse sentido a propaganda difundida no Brasil e em Portugal sobre o

208 O Jornal O Tocantins ediccedilatildeo de 1855 estaacute transcrito e divulgado no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01)

190

meacutetodo Castilho era de que ele conseguia de maneira raacutepida e agradaacutevel ensinar a

ler e escrever e tinha por base a organizaccedilatildeo didaacutetica de ensino simultacircneo sendo

portanto uma alternativa para dirimir os problemas na instruccedilatildeo puacuteblica goiana

O meacutetodo Castilho foi criado pelo portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho Tem

origem em 1848 sendo publicado em Portugal em 1850 sob o tiacutetulo Leitura Repentina

ndash Methodo para em poucas liccedilotildees se ensinar a ler com recreaccedilatildeo de mestres e

disciacutepulos (FERREIRA 2010) Castilho graduou-se em Direito pela Universidade de

Coimbra dedicando-se agrave advocacia e agrave escrita poeacutetica em 1847 reavivou o perioacutedico

O Agricultor Michaelense que circulava na Ilha de Satildeo Miguel onde deparou com

uma situaccedilatildeo da privaccedilatildeo de leitura dos camponeses ndash alguns tinham acesso apenas

a esse jornal destinado especificamente a esse puacuteblico outros natildeo liam ou escreviam

(DIAS 2000) Sobre isso no Proacutelogo da sua obra Castilho esclarece

Qual eacute a istoria drsquoeste metodo O qe eacute este metodo De qem eacute este metodo [] Achava-me eu na ilha de S Miguel pertencia aacute Sociedade Promotora da Agricultura tratava-se em sessatildeo de Janeiro ou Fevereiro de 48 da sua conveniencia antes necessidade de se crearem escolas ruraes de primeiras letras Ofereci-me eu aacute falta de outrem a tentar para isso alguma facilitaccedilatildeo qe jaacute de muito andava estrevendo aceitou-se e registou-se a promessa por ventura leviana e fiqei por minha palavra obrigado pelo menos a diligenciar ateacute onde as forccedilas mrsquoo consentissem (CASTILHO 1853 p XXVII-XXVIII)

Para Dias (2000) o meacutetodo Castilho surge aiacute a partir de um compromisso

social e uma questatildeo didaacutetica que o autor levantou na eacutepoca qual o melhor e eficaz

meacutetodo para ensinar a ler e escrever

Boto (1997) avalia que Castilho inseriu no debate educacional portuguecircs nos

anos 50 do seacuteculo XIX a temaacutetica dos meacutetodos e teacutecnicas mais adequados para o

ensino polemizando aspectos ateacute entatildeo natildeo discutidos e por isso as reaccedilotildees criacuteticas

contra suas ideias foram amplamente divulgadas o que provocou a natildeo oficializaccedilatildeo

do meacutetodo em Portugal

A autora ainda destaca que Castilho fez uma extensa campanha no territoacuterio

lusitano em defesa do seu meacutetodo oferecendo cursos aos professores primaacuterios

escrevendo para perioacutedicos em resposta aos ataques sofridos jaacute que as criacuteticas iam

desde acusaccedilotildees de plaacutegio agrave contestaccedilatildeo da funcionalidade da proposta pois o

acusavam de uma negaccedilatildeo da tradiccedilatildeo nacional dos padrotildees ortograacuteficos da liacutengua

portuguesa (BOTO 1997)

191

Apoacutes a primeira ediccedilatildeo do livro em 1850 o autor produziu uma segunda em

1853 ampliando a obra e modificando seu tiacutetulo para Metodo Castilho para o ensino

rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever O autor

intitulou o meacutetodo com o seu nome para conferir-lhe a autoria jaacute que na primeira

ediccedilatildeo alvo de muitas criacuteticas em Portugal tratava-se de uma versatildeo melhorada do

meacutetodo do pedagogo francecircs Lemare209 (BOTO ALBUQUERQUE 2018) Dias (2000)

avalia ambos os meacutetodos o de Castilho e o de Lemare constatando que embora haja

aproximaccedilotildees ldquonatildeo haacute nem coacutepia nem plaacutegio no verdadeiro sentido dos termos

penso que poderiacuteamos afirmar que um serviu de matildee ao outrordquo (DIAS 2000 p 477)

Nesta seccedilatildeo utilizaremos para anaacutelise a segunda ediccedilatildeo da obra pois acreditamos ter

sido a que circulou em Goiaacutes jaacute que a terceira data de 1857 (BOTO 1997)

Publicado pela Imprensa Nacional em Lisboa com 319 paacuteginas210 o livro

apresenta inicialmente um aviso geral aos leitores e outro aos redatores de toda a

impressa portuguesa ambos com ressalva sobre o seu meacutetodo e a necessidade de

conhececirc-lo primeiro para depois dirigir-lhe criacuteticas Agrave imprensa Castilho eacute mais

enfaacutetico dizendo da obrigaccedilatildeo de conhecerem aceitarem e recomendarem a obra

nesse texto associa tambeacutem a ideia da escrita de um livro agrave tarefa de civilizar ou seja

o livro denota o sentido de transformaccedilatildeo com impactos culturais e sociais

(CASTILHO 1853 p XXV-XXVI)

209 Pierre-Alexandre Lemare pedagogo francecircs nasceu em 1766 e faleceu 1835 ldquopouco conhecido no seu tempo quase esquecido hoje [] autor de vaacuterias obras didaacuteticasrdquo (DIAS 2000 p 469) Dentre essas obras podemos destacar Cours theacuteorique et pratique de langue franccedilaise (1804) Traiteacute complet drsquoorthographe drsquousage et de prononciation (1815) Maniegravere drsquoapprendre les langues suivie de lrsquoanalyse et de lrsquoexamen des meacutethodes ou projets de meacutethodes de Despautegravere Comeacutenius Port-Royal Locke Rollin Dumarsais Pluche Radonvilliers Lhomond Maugard Pestalozzi etc et drsquoun mot sur le proceacutedeacute de Lancastre (1817) Cours pratique et theacuteorique de langue latine ou meacutethode preacutenotionnelle (1817) Cours de lecture ougrave proceacutedant du composeacute au simple on apprend agrave lire des phrases puis des mots sans connaicirctre ni syllabes ni lettres composeacute de 41 figures en taille-douce repreacutesentant chacune selon la maniegravere dont elles sont envisageacutees une lettre une syllabe un mot ou une phrase de phrases preacutepareacutees tireacutees de la Bible et amenant dans les syllabes initiales de chaque ligne tous les genres drsquoassemblage neacutecessaires dont se composent les syllabaires et termineacute par un Dictionnaire de prononciation a lrsquousage des Franccedilais et des eacutetrangers (1818) 210 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 A obra tem dimensatildeo fiacutesica de 16 x 125 cm

192

Figura 8 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel

do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

A obra tem dedicatoacuteria ldquoA sua Alteza o Priacutencipe Real D Pedrordquo e vem seguida

de uma carta a ele com elogios e consideraccedilotildees sobre a responsabilidade da Coroa

na educaccedilatildeo popular Naquele momento Portugal passava pelo periacuteodo regencial

aguardando a maioridade de D Pedro para ser aclamado como Rei ato que veio a

ocorrer em 1855 Castilho (1853) tambeacutem faz um apelo lembrando que sua obra eacute a

primeira dedicada ao Priacutencipe e sugerindo sua oficializaccedilatildeo no ensino portuguecircs

Embora o autor anuncie que essa dedicatoacuteria eacute desinteressada fica evidente sua

estrateacutegia de que ao enaltecer a jovialidade do Priacutencipe tambeacutem expressa a

modernidade instaurada em seu meacutetodo

[] o livro qe ousei pocircr nas suas matildeos eacute a carta da emancipaccedilatildeo da pueriacutecia eacute a boa nova jaacute festejada por matildees e paes e augura porqe no ler e escrever e escrever popular se encerra tudo uma eacutera nova uma revoluccedilatildeo moral drsquoestas em qe reis e principes e pontiacutefices devem arvorar o estandarte tocar o primeiro rebate e postar-se na primeira linha dos combatentes (CASTILHO 1853 p XXII-XXIII)

193

Chartier (1998) advoga que era comum a dedicatoacuteria de livros para os

Priacutencipes em razatildeo de que esses proviam os escritores de benefiacutecios cargos postos

estabelecendo uma relaccedilatildeo de clientelismo e patrociacutenio do mercado livresco A

retoacuterica construiacuteda na dedicatoacuteria e no Proacutelogo em Capiacutetulos211 que vem na

sequecircncia incide naquilo para o que Bourdieu (2011) chama a atenccedilatildeo na produccedilatildeo

de um livro ndash objeto cultural Quando o produzimos produzem-se paralelamente

crenccedilas que fazem com que ele ldquoseja reconhecido como um objeto cultural como um

quadro como uma natureza-morta se natildeo produzo isso natildeo produzi nada apenas

uma coisardquo (BOURDIEU 2011 240) Desse modo Castilho (1853) natildeo somente

apresenta ou explicita as ideias da sua obra como para Boto (1997) inaugura em

Portugal um debate sobre a importacircncia de um meacutetodo para o ensino e sobre a loacutegica

para a aprendizagem da leitura difundindo a crenccedila de que sua proposta alcanccedila

resultados porque parte do princiacutepio do ensinar pela seduccedilatildeo pelo prazer razatildeo pela

qual para o autor em relaccedilatildeo a outros meacutetodos tradicionais que circulavam no paiacutes

a crianccedila aprendia a ler e escrever em menos tempo

Tratando ainda da materialidade do livro e de sua organizaccedilatildeo apoacutes o Proacutelogo

em Capiacutetulos antes das liccedilotildees para a aplicaccedilatildeo do meacutetodo haacute quatro textos

intitulados ldquoMobilia e afaia necessarias para uma aula de leitura repentinardquo (p 1)

ldquoDisposiccedilatildeo do pessoal de uma aula de leitura repentinardquo (p 3) ldquoAvisos

eisperimentaes ao professor (p 7) ldquoTempo e modo das liccedilotildeesrdquo (p 9) Todos esses

apresentam a ritualizaccedilatildeo do meacutetodo desde os objetos escolares utilizados nas aulas

ateacute a postura do professor que tem um papel decisivo para o sucesso do processo

Para Castilho (1853) ldquoo professor estaacute sempre em cena quasi sempre em peacute

gritando palmeando acionando atentissimo a tudo e para toda a parte ao qe diz ao

qe deve dizer ao como o deve dizer ao qe eisecuta ao que ouve []rdquo (CASTILHO

1853 p 9) O professor ao aplicar uma liccedilatildeo tatildeo logo percebesse que estava

provocando fadiga nos alunos deveria trocar a atividade

O meacutetodo eacute organizado em 21 liccedilotildees todas antecedidas por um texto intitulado

de ldquoAdvertencia preacutevia aacute liccedilatildeordquo em que o autor apresenta atividades a serem

realizadas eou conhecimentos a serem abordados com os alunos antes da aplicaccedilatildeo

211 Castilho (1853) intitula o Proacutelogo como ldquoProacutelogo em Capiacutetulosrdquo pois divide as suas consideraccedilotildees em trecircs toacutepicoscapiacutetulos intitulados Capiacutetulo I ndash Istoria do presente metodo Capiacutetulo II ndash O qe eacute este metodo Capiacutetulo III ndash A qem pertence o presente metodo

194

da liccedilatildeo aleacutem de exarar preceitos teoacutericos que embasam o trabalho pedagoacutegico pelo

meacutetodo Castilho

Em Portugal a campanha de Castilho natildeo obteve sucesso Castelo-Branco

(1977) avalia ser esse o principal motivo de o autor procurar em outros locais a difusatildeo

do seu meacutetodo Em fevereiro de 1855 Castilho chegou ao Brasil212 e teve uma

audiecircncia com o Imperador D Pedro II que lhe concedeu autorizaccedilatildeo para ministrar

o Curso Normal de Leitura Repentina no Municiacutepio da Corte (BA CORREIO

MERCANTIL 11 de fevereiro de 1855 p 2)

A partir de uma consulta na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

notamos que no Brasil houve divulgaccedilotildees do meacutetodo Castilho em 1853 quando na

imprensa do Rio de Janeiro comeccedilaram a circular notiacutecias sobre a aplicaccedilatildeo desse

meacutetodo em Portugal e suas vantagens para o ensino raacutepido da leitura Localizamos

diversos textos publicados no Correio Mercantil durante o ano de 1853 na proviacutencia

do Rio de Janeiro O primeiro texto se refere a uma carta publicada na seccedilatildeo Exterior

com o tiacutetulo ldquoExtracto de uma carta escripta no dia 2 de agosto de 1853 em Lisboa por

um dos professores da Escola Normal do Methodo de Leitura Repentinardquo (CORREIO

MERCANTIL 01 de setembro de 1853 p 1) A carta natildeo eacute assinada e relata a

experiecircncia de aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho em Portugal e sua divulgaccedilatildeo na

Espanha Itaacutelia e Brasil No texto haacute alusatildeo a que no Brasil havia-se estudado o

meacutetodo e que algueacutem fizera experiecircncias que o desabonavam Explica tambeacutem que

provavelmente a pessoa que o aplicou utilizou a primeira ediccedilatildeo da obra de Castilho

que natildeo era mais do que o sistema Lemare ldquomelhoradiacutessimordquo e em contraposiccedilatildeo

recomenda o estudo da segunda ediccedilatildeo

[] Esta sim que reuacutene nrsquoum todo harmocircnico conjuntamente com elementos jaacute reconhecidos e agora aperfeiccediloados e pela primeira vez reunidos outros da mais prodigiosa efficacia sem precedente algum nacional ou estrangeiro antigo nem moderno taes como decomposiccedilatildeo e leitura auricular que satildeo a nossa via ferrea [] seja como focircr eacute evidente que mais dia menos dia se introduziraacute nesse imperio um dos mais poderosos meios civilizadores nestes ultimos

212 A chegada de Antonio Feliciano de Castilho ao Brasil eacute registrada pelo jornal Correio Mercantil de 11 de fevereiro de 1855 em notiacutecia intitulada ldquoA nova estrelardquo assinada por B A ldquoacaba de despontar em nosso bello horizonte uma fulgurante estrela do ceacuteo lusitano deixando o soberboso Tejo para vir esparhar-se aacute nossa majestosa Guanabara O digno vate Portuguez cuja lyra ressoou sempre hormoniosa em nossa alma o distincto litteracto o Sr Antonio Feliciano de Castilho acha-se entre noacutes []rdquo (BA CORREIO MERCANTIL 11 de fevereiro de 1855 p 2) Acompanhando a notiacutecia haacute dois poemas saudando Castilho escritos por Bernardino Pinheiro e M Leite Machado

195

tempos descobertos (CORREIO MERCANTIL 01 de setembro de 1853 p 1)

Diferente desse primeiro texto os demais estatildeo assinados por Joatildeo Vicente

Martins213 (1810-1854) que descreve sua experiecircncia em Portugal quando assistiu

agraves liccedilotildees e exerciacutecios do meacutetodo Castilho de leitura repentina sugerindo a sua

aplicaccedilatildeo nas escolas brasileiras Ao que tudo indica Martins foi se natildeo o primeiro

um dos principais divulgadores de Castilho no Brasil

Martins foi meacutedico lisbonense e trouxe as primeiras praacuteticas da homeopatia

para o Brasil por volta de 1837 (FERREIRA 1994) Em 1854 publicou o livro Cartilha

de leitura repentina ou plaacutegio do Methodo de Castilho (MARTINS 1854)214 utilizando

segundo Ferreira (1994) a teacutecnica francesa da zincografia215 da qual foi precursor no

paiacutes

O primeiro texto sobre o meacutetodo Castilho que Martins publicou no Correio

Mercantil216 propangadeia o lanccedilamento da segunda ediccedilatildeo da obra Metodo Castilho

para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do

escrever justificando que natildeo aplicaria tal meacutetodo porque estava se dedicando com

afinco aos estudos da homeopatia oferece aos habilitados para ensinar por esse

meacutetodo um ordenado ou gratificaccedilatildeo a casa os livros e materiais para abertura de

uma escola de leitura repentina Essa oferta se repete em outras de suas publicaccedilotildees

durante o ano de 1853 quando tambeacutem anuncia o patrociacutenio da reimpressatildeo do livro

de Castilho oferecendo a todas as Cacircmaras Municipais do Impeacuterio um exemplar do

Meacutetodo gratuitamente

O Methodo Castilho vai fazer com que a leitura seja mais facil ao pobrezinho filho de um misero sertanejo do que ateacute agora tem sido aos principes e filhos de grandes senhores Noacutes vamos reimprimir o Methodo Castilho vamos fazer elle as gravuras paniconographicas e vamos dar a musica suavissima de seus cantares escripta conforme o novo methodo ou pauta E porque esperamos gastar pouco nesta

213 Em alguns de seus textos publicados no Correio Mercantil entre 1853-1854 Joatildeo Vicente Martins tambeacutem assinava J V Martins 214 O livro foi publicado no Rio de Janeiro na Tipografia da viuacuteva Vianna Junior Conteacutem 159 paacuteginas e um anexo (de paacuteginas natildeo numeradas) com os desenhos das letras do alfabeto e nuacutemeros cada um associado a um desenho A obra tem dimensatildeo de 205 x 135 cm Martins copia vaacuterios trechos do Meacutetodo Castilho acrescentando explicaccedilotildees para aplicaccedilatildeo dessa proposta de ensino 215 Teacutecnica de impressatildeo que consiste em utilizar como matriz uma placa de zinco para imprimir ou gravar 216 Trata-se do texto ldquoUma escola de leitura repentina pelo Methodo Castilhordquo publicado na seccedilatildeo ldquoPublicaccedilotildees a pedidordquo (CORREIO MERCANTIL 3 de setembro de 1853 p 2)

196

reimpressatildeo e porque Deus manifestamente veiu em nosso auxilio daremos pelo menor preccedilo possivel cada exemplar do Methodo Castilho reservando os lucros que houverem para a manutenccedilatildeo de uma ESCOLA NORMAL DE LEITURA REPENTINA Todas as camaras municipaes do Imperio poderatildeo mandar buscar aacute nossa casa (rua de S Joseacute n 59) um exemplar desse Methodo quando reimpresso que lhe seraacute dado gratuitamente com tudo o mais que a este respeito publicarmos (MARTINS J V CORREIO MERCANTIL 8 de setembro de 1853 p 2)

A accedilatildeo de Martins sem duacutevida fez com que o obra e o ideaacuterio de Castilho

fossem conhecidos nas proviacutencias do Impeacuterio E conforme mencionamos em 1855 o

governo goiano enviou ao Municiacutepio da Corte o professor Feliciano Primo Jardim para

conhecer o meacutetodo jaacute que havia notiacutecias de que seu autor estava ministrando curso

no Rio de Janeiro Essa accedilatildeo eacute um marco pois foi a primeira vez pelo menos que se

tem notiacutecia ateacute entatildeo que um professor goiano era enviado ao Municiacutepio da Corte

numa missatildeo pedagoacutegica Logo nesta seccedilatildeo da tese apresentaremos as impressotildees

de Primo Jardim analisando as repercussotildees dessa viagem na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes

41 UM PROFESSOR GOIANO NO RIO DE JANEIRO IMPRESSOtildeES SOBRE OS MEacuteTODOS

CASTILHO E SIMULTAcircNEO

Primo Jardim saiu em sua missatildeo em 3 de setembro de 1855 O Presidente

Machado concedeu ao professor uma ajuda financeira para custear as suas despesas

no Municiacutepio da Corte sob a obrigaccedilatildeo de que ele natildeo podia pedir demissatildeo do

emprego por trecircs anos jaacute que um de seus compromissos era aplicar o meacutetodo

Castilho em Goiaacutes (MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855 p 23-24)

Pelo discurso apresentado por Machado (1855) se evidencia que para concretizaccedilatildeo

do ensino de leitura e escrita deveria haver investimento em objetos e compecircndios

indispensaacuteveis para subsidiar o processo Essa questatildeo denota certo avanccedilo do poder

provincial em conceber a escola de primeiras letras o que aos poucos impacta na

proacutepria legislaccedilatildeo educacional em Goiaacutes demonstrando tambeacutem um diaacutelogo com o

que vinha ocorrendo em acircmbito nacional (MORTATTI 2000 MARCILIO 2016)

Consideramos dessa maneira que a viagem de Primo Jardim agrave Corte eacute um marco

que auxiliou inclusive na definiccedilatildeo dos rumos da legislaccedilatildeo educacional em Goiaacutes

como veremos doravante

197

Na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas do Arquivo Histoacuterico Estadual de

Goiaacutes217 encontramos um relatoacuterio escrito por Primo Jardim narrando suas

experiecircncias do Rio de Janeiro datado de 28 de novembro de 1855 e endereccedilado ao

Presidente da Proviacutencia de Goiaacutes Antonio Augusto Pereira da Cunha Apesar de sua

extensatildeo a seguir transcrevemos alguns de seus trechos na iacutentegra em razatildeo de

trazerem elementos importantes para a compreensatildeo da natildeo oficializaccedilatildeo do meacutetodo

Castilho na proviacutencia goiana

Quando Primo Jardim chegou ao Municiacutepio da Corte natildeo encontrou Castilho e

tambeacutem descobriu que o meacutetodo por ele escrito natildeo havia sido adotado nas escolas

do Rio de Janeiro em virtude do que solicitou permissatildeo para frequentar algumas das

principais aulas da Corte O relatoacuterio portanto eacute fruto das experiecircncias na escola da

freguesia de Sacramento descrevendo inicialmente as observaccedilotildees das aulas com

o meacutetodo Castilho e posteriormente as das aulas com o meacutetodo simultacircneo

oficialmente adotado na Corte

Relatorio Ilmordm e Exmordm Senrordm Tendo sido encarregado pela Resoluccedilaotilde de 21 de Julho do corrente anno de vir a esta capital estudar o methodo de ler e escrever que pretendia plantar o Conselheiro Antonio Feliciano de Castilho entreguei a 24 drsquoAgosto a regencia da cadeira em que sou vitaliciamente provido e parti no dia 3 de Setembro para esta Cocircrte onde cheguei em 22 de Outubro do referido anno como jaacute tive a honra de participar a VExordf em officio datado de 6 do mez que corre ndash Nrsquoesse mesmo officio comuniquei a V Exordf que jaacute naotilde se achando aqui o dito Conselheiro Castilho apresentei o officio do Exmordm Antecessocircr de VExordf ao Exmordm Senrordm Inspector Geral da instrucccedilatildeo publica de que depois de informado de naotilde ter sido adoptado nesta Capital o methodo portuguez Castilho obtive permissatildeo para visitar as principais aulas aqui estabelecidas tendo em vista naotilde soacute colher alguma vantagem dessas visitas como o cumprimento do artigo 4 da jaacute citada Resoluccedilaotilde ndash Servindo-me pois drsquoessa permissatildeo dirigi-me aacute escola da freguesia do Sacramento onde encontrei o respectivo Professocircr leccionando pelo methodo aqui actualmente seguido e em cima das salas do mesmo estabelecimento um outro Professor que como eu comissionado pela sua Provincia ensaiava o methodo de leitura repentina cuja exposiccedilatildeo acabou de ouvir particularmente do proprio author visto que o curso publico tinha-se terminado de huma maneira irregular (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

No que se refere ao meacutetodo Castilho suas observaccedilotildees foram feitas numa sala

de aula de um professor que fez o curso com o portuguecircs Castilho durante a sua

217 Seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 Documento com 10 paacuteginas costurado nas laterais

198

estada no Rio de Janeiro Primo Jardim reitera que esse curso havia finalizado de

maneira irregular Segundo Castelo-Branco (1977) as cartas de Castilho dirigidas agrave

esposa durante seu periacuteodo no Brasil revelam que em 1855 as sessotildees puacuteblicas sobre

o seu meacutetodo foram encerradas antes do previsto devido a duas razotildees

fundamentais primeiro porque ldquono decorrer do curso foram apresentadas

discordacircncias e foi contestado o seu meacutetodordquo segundo ldquoA F Castilho filia

discordacircncias e contestaccedilotildees ao meacutetodo em pruridos patrioacuteticos visto existir no Brasil

o meacutetodo de Costa e Azevedordquo (CASTELO-BRANCO 1977 p 42)

Depreende-se nesse ponto que o meacutetodo Castilho natildeo foi bem recebido na

Corte sobretudo pela forte oposiccedilatildeo do professor Costa e Azevedo Castilho acusa

inclusive Costa e Azevedo de ser plagiaacuterio de Joseph Jacotot218 (CASTELO-

BRANCO 1977 BOTO ALBUQUERQUE 2018) Albuquerque e Boto (2017)

explicam que Costa e Azevedo atuou como diretor da Escola Normal de Niteroacutei e

professor de todas as cadeiras da instituiccedilatildeo publicando em 1832 as Liccedilotildees da

Instruccedilatildeo Elementar denominadas de Liccedilotildees de Ler compostas por 53 liccedilotildees para o

ensino de leitura pela marcha sinteacutetica (COSTA E AZEVEDO 1832) Em virtude das

rixas entre Castilho e Costa e Azevedo o primeiro acusou o segundo de plaacutegio agraves

obras do francecircs Joseph Jacotot e do portuguecircs Antoacutenio Arauacutejo de Travassos219

ldquoEsse cenaacuterio de embates entre diferentes propostas de meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo no

Brasil Imperial remontou um contexto de disputas poliacuteticas filosoacuteficas sociais dentre

outras que extrapolam as querelas dos meacutetodos pedagoacutegicosrdquo (ALBUQUERQUE

BOTO 2017 p 230 grifo das autoras)

Primo Jardim tambeacutem explicita elementos do meacutetodo Castilho que consistia

basicamente na decomposiccedilatildeo das palavras em siacutelabas e letras atribuindo a essas

os sons originais e por fim retornando agrave palavra inteira

218 Jean Joseph Jacotot (1770-1840) nasceu na Franccedila em Dijon ldquoEacute considerado um pedagogo francecircs Estudou Direito em Dijon Ensinou retoacuterica e depois letras e matemaacutetica Apoacutes a Revoluccedilatildeo foi oficial do exeacutercito francecircs mas apoacutes a queda de Napoleatildeo teve de se exilar na Beacutelgica Em 1818 ainda exilado na Beacutelgica aceitou um cargo na Universidade Seus alunos natildeo falavam francecircs e ele natildeo falava flamengo Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 1830 regressa agrave Franccedila na tentativa de propagar seu meacutetodo de ensino que buscava a emancipaccedilatildeo intelectual atraveacutes da educaccedilatildeordquo (BOTO ALBUQUERQUE 2018 p 29) Para mais informaccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo de Joseph Jacotot cf Ranciegravere 2015 219 Sobre isso Castelo-Branco (1977) reproduz trechos das cartas de Castilho em que faz a denuacutencia do plaacutegio Numa perspectiva descritivo-analiacutetica Albuquerque e Boto (2017) analisam as obras de Jacotot e Travassos contrapondo-as com o livro Liccedilotildees de Ler de Costa e Azevedo (1832)

199

ndash Procurarei dar a VExordf uma ideacuteia ainda que muito imperfeita do que tenho podido observar acerca do ensino primario nesta corte ndash Da pratica de alguns dos differentes processos de que se compotildee o methodo portuguez castilho pude coligir e do mesmo texto se vecirc que elle consiste em dar aos meninos com a possivel clareza o conhecimento da palavra fazer que eles com o socorro do rhythomo marcado com a percussatildeo de palmas a decomponhaotilde em syllabas e estas em elementos que por um processo contrario reunaotilde estes elementos em syllabas e destas formem a palavra alternando com o Professocircr este exercicio que tem o nome de leitura auricular e que tem grande importancia neste systema (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Como o proacuteprio Castilho (1853) aponta a palavra eacute o objeto da leitura e a fala

uma competecircncia anterior agrave habilidade de leitura Assim sendo o autor desenvolveu

a chamada leitura auricular mencionada por Primo Jardim que consistia na repeticcedilatildeo

do processo de decomposiccedilatildeo e composiccedilatildeo das palavras em siacutelabas e letras

acompanhado pela percussatildeo das palmas como ele explica detalhadamente no livro

O mestre aqi dividiraacute clara e pausadamente muitas palavras em silabas acompanhando cada silaba com uma palma ou pancada de vara e metendo de silaba a silaba um intervalo [] Logo qe o mestre presume qe a maioria dos discipulos tem entendido esta divisatildeo das palavras em postas silabas ou tempos propotildee-lhes palavras uma e uma pronunciando cada uma clara e distintamente mas de um jato e fazendo com qe os ouvintes lhrsquoa recambiem logo dividida em silabas acompanhada cada silaba por cada uma drsquoeles com uma palma [] Suponhamos qe eacute navio a primeira palavra que lhes qer apresentar para eisemplo drsquoesta recitaccedilatildeo esparralhada Dir-lhes-aacute primeiro navio correntemente depois o mesmo dividido nos cinco elementos de qe o vocaacutebulo se compotildee tendo cuidado em natildeo falsificar nenhum drsquoeles e em os proferir a um e um com certa demora e desleixo imitativo n-acirc-v-i-u Mulher m-u-lh-eacute-r Terra t-eacute-rr-acirc (CASTILHO 1853 p 18-19 p 21)

Apoacutes essa praacutetica explorando os sons das letras e suas transformaccedilotildees nas

palavras o professor apresenta as letras escritas entrando em cena as imagens

associadas agraves letras

Apresentaotilde-se varias figuras mais ou menos semelhantes aacutes letras fazendo-se sobre cada huma dellas pequenas historias taes que dellas resulte gravar na memoria dos ouvintes naotilde soacute a foacuterma como o valor das mesmas letras ndash Comeccedila este processo pelas vogaes e logo que signaes que as representaotilde saotilde conhecidos dos alunnos daotilde-se-lhes a ler palavras em cuja composiccedilatildeo naotilde entrem senaotilde as mesmas vogaes Passa-se depois co conhecimento das consoantes dos sons nasalados e finalmente das articulaccedilotildees compostas propondo-se a sempre para serem shysthmicamente lidas com a maior exacccedilatildeo aquellas palavras que contenhaotilde em si somente os elementos anteriormente conhecidos sendo intermeiado este processo do canto

200

de varias regras que dizem respeito aacute pronuncia de certas letras (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Aleacutem da leitura auricular temos acima descritos os princiacutepios da leitura ocular

em que se apresenta agrave crianccedila como os sons podem ser representados sentidos

pelos olhos por meio do registro escrito ou impresso Iniciando pelas vogais cada letra

eacute acompanhada de uma historieta que auxilia o aluno a memorizar tanto a sua escrita

por meio da associaccedilatildeo entre a imagem e o formato da letra quanto os seus variados

valores sonoros

Figura 9 Paacuteginas 29 e 31 do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

As historietas faziam relaccedilatildeo direta com a imagem da letra No caso da letra

ldquoArdquo a histoacuteria tratava de um preguiccediloso que vivia a bocejar e escorar-se pelas coisas

Para todas as letras as historietas enfatizavam os diferentes sons delas uma vez que

o meacutetodo consistia nessa primeira exploraccedilatildeo fonecircmica Ainda sobre essa questatildeo da

201

associaccedilatildeo da imagem letras e histoacuterias vale ressaltar que entre as polecircmicas do

plaacutegio de Castilho ao Meacutetodo Lemare o primeiro esclarece que da obra do segundo

ele toma essa ideia de empreacutestimo dando a ela outro caraacuteter e outro direcionamento

(CASTILHO 1853) Nos capiacutetulos introdutoacuterios da segunda ediccedilatildeo de seu livro

Castilho (1853) responde agraves criacuteticas e especulaccedilotildees de o seu meacutetodo ser uma coacutepia

do francecircs Lemare confrontando o livro de Lemare e o seu enfatizando que Lemare

propotildee um ensino pelo meacutetodo individual jaacute o Castilho pode ser aplicado sobre as

bases do meacutetodo simultacircneo visto que em suas proacuteprias palavras ldquoo meu metodo se

acha por tal arte desenvolvido e concertado qe tatildeo bem e eficazmente se poacutede

acomodar a uma classe de seiscentos discipulosrdquo (CASTILHO 1853 p LVI)

A sequecircncia das liccedilotildees como o proacuteprio Primo Jardim (1855) observou nas

aulas a que assistiu o professor apresenta as vogais (satildeo seis a e i y o u) as

consoantes (satildeo dezenove m n l r b p d t f v q k e ccedil s z x j g) os sons

nasalados com duas letras (satildeo sete an atildeo em em im on un) e as articulaccedilotildees

compostas com duas letras (satildeo quatro ch lh nh e ph) Primo Jardim (1855) destaca

que percorridas todas as letras passa-se ao ensino dos sinais de pontuaccedilatildeo Poreacutem

na obra de Castilho acompanhando o progresso das liccedilotildees observamos que haacute

anteriormente o exerciacutecio das ldquocombinaccedilotildees logogriacuteficasrdquo ou seja com as

letrassiacutelabas de uma palavra formam-se outras palavras O professor copia as

palavras no quadro com as siacutelabas separadas por hiacutefen cada siacutelaba enumerada

iniciando pelo nuacutemero 1 Daiacute por diante o exerciacutecio consiste em fazer combinaccedilotildees

entre as siacutelabas formando novas palavras conforme exemplo abaixo

1 2 3 4 5 6 7 Ma-te-ri-a-li-da-de Sete De Sete com acento circumflecso Decirc Seis Da Seis com acento agudo Daacute Cinco Li Quatro A Quatro com acento agudo Aacute [] Seis e seis Dada Um e dois Mate Dois e um Tema (CASTILHO 1853 p 165)

As combinaccedilotildees segundo o autor podem ser feitas sem respeitar as

convenccedilotildees ortograacuteficas pois a intenccedilatildeo eacute aprender a leitura Essa praacutetica faz parte

de um exerciacutecio de leitura ocular definido como a leitura da palavra grafada e

visualmente exposta seja no quadro-negro ou em um impresso

A escrita para Castilho deve ser introduzida posteriormente ao aprendizado

da leitura Entre as 21 liccedilotildees de sua obra eacute somente na liccedilatildeo 17ordf que os exerciacutecios

de escrita aparecem recomendando que ela seja feita nas ardoacutesias individuais a partir

202

da observaccedilatildeo de quadros modelos afixados na sala que contecircm a grafia das letras

Tal direcionamento justifica os materiais solicitados por Primo Jardim para aplicaccedilatildeo

do meacutetodo Castilho entre eles ardoacutesias giz esponja ou papel e laacutepis para os alunos

uma coleccedilatildeo completa de quadros que representam o alfabeto quadros modelos para

a escrita220 (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Outro material solicitado e recorrentemente utilizado na execuccedilatildeo do meacutetodo eacute

o Mississipi caracterizado como ldquouacutema grande teia de panno enrolada em dous

cilindros na qual estaotilde escriptas em grandes caracteres romanos palavras e numeros

para serem lidosrdquo (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm

123) Essa descriccedilatildeo eacute muito semelhante agrave que Castilho faz desse objeto em sua obra

ldquouma ou mais teias de papel formadas de folhas pegadas pela eistremidade uma aacutes

outras sendo a largura destas teias proporcionada ao comprimento dos cilindros do

Mississipi em qe tem de ser enroladasrdquo (CASTILHO 1853 p 4) Nele ficavam escritas

palavras nuacutemeros romanos nuacutemeros letras para serem lidas pelos alunos

Primo Jardim tambeacutem socilicita o livro do meacutetodo Castilho para o professor

podendo ser um para cada aluno bem como os exemplares do texto Sciencia do Bom

Homem Ricardo de Benjamin Franklin e o livro Arte de aprender a ler a letra

manuscripta de Duarte Ventura (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo

Avulsa Caixa nordm 123) Os dois uacuteltimos livros seriam utilizados conforme Primo Jardim

(1855) elucida para o ensino da letra manuscrita e letra redonda

Sciencia do Bom Homem Ricardo foi um texto de leitura escolar que circulou

no Brasil imperial e sobre o qual nos debruccedilamos com maiores detalhes na seccedilatildeo

anterior Conforme analisamos era geralmente publicado em letra de imprensa (ou

tambeacutem chamada de redonda) difundindo preceitos morais e valores sociais para

formaccedilatildeo de um cidadatildeo pronto para o trabalho (ARRIADA TAMBARA DUARTE

2015)

Jaacute a obra de Duarte Ventura segundo Batista (2002) foi provavelmente

publicada entre 1830 e 1848 pela firma de J-P Aillaud em Paris Como se enuncia

na capa ela eacute organizada em 10 liccedilotildees da letra mais faacutecil para mais difiacutecil

A ldquoPrimeira liccedilatildeordquo como se daacute geralmente nos livros do gecircnero apresenta o alfabeto em letras manuscritas maiuacutesculas (p 3 a 4) os numerais de 1 a 10 (p 4) e o alfabeto (p 5) novamente agora em letras minuacutesculas assim como nova sequecircncia dos numerais em

220 Esses quadros apresentam as letras do alfabeto maiuacutesculas e minuacutesculas de variadas caligrafias Segundo Castilho (1853) podem ser feitos por qualquer caliacutegrafo

203

tamanho menor Nessas pranchas utiliza-se sempre a letra cursiva inclinada As demais liccedilotildees constroem uma antologia (sempre em cursiva) composta por um uacutenico excerto de texto (no caso a opccedilatildeo recai em geral sobre Camotildees e ldquoOs Lusiacuteadasrdquo) por um texto do autor do livro ou de um texto desse autor entremeado por excertos de outros autores No que diz respeito agrave temaacutetica os textos celebram episoacutedios e particularmente heroacuteis da histoacuteria portuguesa (D Afonso Henriques D Joatildeo de Castro Afonso de Albuquerque) em geral inseridos por meio dos tiacutetulos e da introduccedilatildeo no quadro de valores como o amor agrave independecircncia nacional e agrave paacutetria assim como a lealdade a ela (BATISTA 2002 natildeo paginado)

Pinto (2009) em anaacutelise ao livro de Duarte Ventura explica que a obra aleacutem

de apresentar um meacutetodo de ensino de leitura e escrita tem um caraacuteter vigoroso da

educaccedilatildeo ciacutevica objetivando formar cidadatildeos patriotas com espiacuterito heroico e

militarista Trata-se por isso de um compecircndio ldquode todas as virtudes humanas morais

e cristatildes para a formaccedilatildeo do lsquohomem novorsquo para um lsquomundo novordquo (PINTO 2009 p

60) O livro Arte de aprender a ler a letra manuscripta como o proacuteprio tiacutetulo enuncia

tinha por objetivo ensinar a letra manuscrita ao aluno

No anexo ao relatoacuterio de Primo Jardim (1855) haacute uma relaccedilatildeo dos objetos

necessaacuterios para a praacutetica do meacutetodo de leitura repentina para uma turma com 8

alunos Na listagem ele solicita apenas 1 livro do meacutetodo Castilho (2$000 reacuteis) 8

exemplares da Sciencia do Bom Homem Ricardo (valor unitaacuterio $200) 8 do livro da

Arte de aprender a ler a letra manuscripta por Duarte Ventura (valor unitaacuterio $800)

(PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123) Essas

quantidades e valores denotam aspectos do ideaacuterio que circulava sobre as praacuteticas

de ensino de leitura e escrita no impeacuterio

O primeiro que podemos depreender refere-se aos aspectos econocircmicos Dado

o alto valor das obras impressas em geral eram elas destinadas ao professor que

copiava as liccedilotildees na lousa ou solicitava que os alunos fizessem as atividades

utilizando a ardoacutesia individual Os livros que eram adquiridos para os alunos eram os

de menor valor nesse caso tanto a obra de Benjamin Franklin quanto a de Duarte

Ventura que se comparadas agrave de Castilho eram de menor custo

O segundo ideaacuterio estaacute correlacionado ao desenvolvimento na escola de certa

mentalidade que associava o ensino de leitura e escrita agrave formaccedilatildeo moral e ciacutevica

notadamente presente nos livros adotados Por fim ao observar a quantidade de

objetos notamos pressupostos do meacutetodo de ensino que circulava naquele momento

sendo o meacutetodo individual o mais empregado nas escolas

204

No relatoacuterio de Primo Jardim (1855) eacute mencionado o meacutetodo simultacircneo como

aquele que estava sendo adotado oficialmente nas escolas da Corte Embora

descreva e recomende o meacutetodo simulacircneo Primo Jardim argumenta que nos trecircs

meacutetodos haacute evidentes dificuldades

Passarei agora a offecere aacute consideraccedilatildeo de VExordf mui suscintas observaccedilotildees sobre o methodo actualmente adoptado nesta Cocircrte ndash Dos tres methodos de ensino mais geralmente conhecidos o individual em que cada discipulo recebe as liccediloes diretamente do Professor o mutuo em que os alunnos aprendem e ensinaotilde mutuamente uns aos outros e o simultaneo em que uma soacute liccedilao explicada pelo proprio Professor deve ser ouvida e tem de servir para todos os escolares este ultimo eacute o actualmente adoptado nas escolas desta Cocircrte pois que assim o determina o artigo 73 do Regulamento approvado pelo Decreto de 17 de Fevereiro de 1854 Releva porem notar que assim como methodo individual o primeiro dos methodos deixa de ser proficuo desde que a quantidade dos discipulos passa de certo numero assim como o ensino mutuo deixa de offerecer segundo alguns resultados verdadeiramente vantajosos por isso que os escolares naotilde tem a sufficiente capacidade para transmitirem a seos colegas os conhecimento de a que elles haotilde necessidade assim tambem o ensino rigorosamente simultaneo naotilde deixa de apresentar embaraccedilos bem serios ao Professor que o tem de praticar E isto eacute claro Em huma escola de primeiras letras quasi diariamente concorrem alunnos a inscreverem-se na respectiva matricula e a liccedilaotilde drsquoaquelles que jaacute se achaotilde matriculados a quinze ou vinte dias naotilde poacutede servir para aquelle que eacute admittido quinze ou vinte dias depois Eacute verdade que este obstaculo se poderia de alguma sorte remover fixando-se a epoca para a admissatildeo aacute matricula porecircm sendo diversas as materias que se lhes tem de ensinar e diversas as capacidades dos alunnos aparece drsquoaqui a necessidade de se dividir uma mesma aula em vario numero de classes que por suas qualidades especiaes naotilde podem ser ao mesmo tempo regidas unicamente pelo Professocircr o qual por isso mesmo tem de confial-as aos cuidados dos mais adiantados de seos alunnos recorrendo assim ao methodo do ensino mutuo e ficando desta arte prejudicada a rigorosa simultaneidade do ensino ndash Eacute pois o ensino mutuo por diversos modos alterado a base sobre que descanccedila o systema mixto das escolas que aqui tenho visitado ndash Em todas ellas encontraotilde-se os monitores das classes e toda a aula obedecendo ao som da campainha a signaes que lhes faz o monitor qual que tem o seo assento ao lado do Professocircr Como porem todas estas modificaccediloes tem sido operadas segundo a entender dos mui dignos e zelosos Professocircres que com bastante dopteridade dirigirem os primeiros passos da mocidade fluminense estudando cada hum em particular o melhor meio de o conseguir resulta drsquoaqui naotilde haver ainda uma perfeita uniformidade de systhema circunstancia esta que tem necessariamente de desaparecer em vista do que dispotildee o artigo 76 do jaacute citado Regulamento (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

O excerto eacute o iniacutecio da segunda parte do relatoacuterio em que o autor relata sobre

os meacutetodos de ensino encontrados na Corte ndash o individual o muacutetuo e o simultacircneo

205

Esse uacuteltimo por ser o adotado oficialmente o descreve com maiores detalhes com a

ressalva de que no territoacuterio fluminense natildeo havia uniformidade sobre os modos de

ensinar Nesse periacuteodo estava em vigor a Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) que

embora tenha estabelecido o meacutetodo simultacircneo para as escolas em geral tambeacutem

deu brecha para o Inspector Geral determinar quando julgar conveniente a adoccedilatildeo

de outro meacutetodo conforme os recursos e necessidades

Primo Jardim (1855) indica os preceitos do professor Candido Matheos de Faria

Pardal221 conhecido como um dos mais distintos professores da capital

ndash Em quanto porem esta uniformidade se naotilde estabelece procuro iniciar-me no modo de ensinar seguido pelo Senrordm Candido Matheos de Faria Pardal um dos mais distinctos Professocircres desta Capital ndash Elle como quasi todos divide os trabalhos da sua aula que como as outras comeccedila as 9 horas da manhatilde e termina aacutes 2 da tarde em quatro processos a saber o de escripta o de cathecismo o de contabilidade e o de leitura fazendo objeto do 1ordm a calligraphia desde as linhas obliquas ateacute o cursivo do 2ordm as diversas liccedilotildees do cathecismo historico de Fleury do 3ordm a arithmetica desde os numeros diacutegitos ateacute as proporccediloes e do 4ordm o alfabeto ateacute a analyse gramatical sendo todas estas materias convenientemente distribuidas pelas diversas classes em que estaacute dividida toda a aula em que naotilde saotilde occupadas por mais de 7 alunnos inclusive o monitor respectivo (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

No relatoacuterio descreve que as aulas de Pardal se organizavam no ensino da

escrita do catecismo da aritmeacutetica e da leitura Todos esses quatro processos se

baseavam no aprendizado dos conteuacutedos mais simples aos mais complexos A escola

era organizada em vaacuterias turmas que natildeo ultrapassavam 7 alunos regidas pelo

professor mais o monitor e um professor adjunto A organizaccedilatildeo em classe marca os

preceitos do meacutetodo simultacircneo que ainda mantinha resquiacutecios das caracteriacutesticas

do meacutetodo monitorial ou muacutetuo este contava com a participaccedilatildeo de monitores que

em pequenos grupos orientavam as liccedilotildees e zelavam pela disciplina dos alunos A

221 ldquoCandido Matheus de Faria Pardal viveu 70 anos (1818-1888) mais da metade dos quais trabalhando na docecircncia Estudou na Academia de Belas Artes foi professor na escola primaacuteria no Coleacutegio de D Pedro II no Instituto Comercial da Corte no Coleacutegio de meninas da Baronesa de Geslin diretor das escolas municipais se apropriou de ideias estrangeiras escreveu livros escolares aprovou outros examinou professores adjuntos e alunos mobilizou a categoria e tambeacutem foi eleitor devoto membro de irmandades diretor de sociedades e associaccedilotildees beneficentes recreativas e poliacuteticas organizou subscriccedilotildees e fez parte de diversas comissotildees para agecircncia na cidaderdquo (BORGES 2014 p 275) Borges (2014) baseando-se na micro-histoacuteria faz uma anaacutelise da vida profissatildeo e pensamento do Professor Pardal projetando-o nas redes de relaccedilotildees estabelecidas no movimento da vida da profissatildeo da escola da cidade e do mundo

206

Reforma Couto Ferraz natildeo menciona a figura do monitor mas a do professor adjunto

cargo exercido por alunos das escolas puacuteblicas maiores de 12 anos que tivessem

bons resultados e propensatildeo ao magisteacuterio Os professores adjuntos eram auxiliares

das praacuteticas de ensino do professor da turma Entretanto na observaccedilatildeo que Primo

Jardim (1855) faz das aulas do professor Pardal haacute a figura do adjunto e se manteacutem

o monitor Isto eacute as novas praacuteticas satildeo imprimidas nas velhas preservando elementos

simboacutelicos mantidos pelas crenccedilas que circulam no acircmbito pedagoacutegico

Os arranjos organizativos das salas de aulas pelo meacutetodo simultacircneo satildeo

destacados ao final do relatoacuterio Bancos dispostos paralelos agrave mesa do professor para

cada aluno uma mesa inclinada com uma lousa tinteiros fixos e cabides para

dependurar os exemplares de escrita ornamentavam a sala juntamente com o retrato

do Cristo crucificado e do Imperador Tal descriccedilatildeo corrobora a perspectiva de que

espaccedilo e tempo escolares eram normatizados por uma ldquogramaacutetica baacutesica da escolardquo

como Vidal (2005) explica retomando o conceito dos americanos David Tyack e Larry

Cuban nos anos de 1990

Primo Jardim (1855) por fim enumera em anexo ao relatoacuterio uma relaccedilatildeo de

objetos para abertura de escola do ensino simultacircneo para 200 alunos

Relaccedilaotilde dos utensilios necessarios para huma escola do ensino simultaneo contendo 200 alunnos 200 louzas 200 canetas de lataotilde 4 massos de lapis de pedra 1 [ilegiacutevel] de esponja 4 ditas de giz branco 4 grosas de pennas de accedilo 4 ditos de cabos para as mesmas 50 exemplares de grammatica de Coruja 50 ditos de arithmetica do mesmo author 50 exemplares de primeira collecccedilaotilde de carta 50 cathecismos historicos de Fleury 20 exemplares do expositor Portuguez 20 ditos da Sciencia do Bom Homem Ricardo 10 ditos de Historia do Brasil Coruja 60 ditos de Duarte Ventura 50 pautas obliquas 6 dusias de lapis finos 1 estampa de Jesus Crucificado 1 retrato de S M O Imperador Total 329$360 (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Ao listar o conjunto desses materiais Primo Jardim (1855) daacute forccedila ao

argumento de que o meacutetodo simultacircneo seria o melhor para oficializaccedilatildeo nas escolas

207

goianas jaacute que para uma aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho o custo eacute de ldquo350$040rdquo

(meacutedia de 4$380 por aluno) ao passo que no meacutetodo simultacircneo o custo totaliza

ldquo329$360rdquo (meacutedia de 1$646 por aluno)

Eacute importante ainda destacar que o meacutetodo simultacircneo e o meacutetodo Castilho satildeo

colocados como tendo a mesma natureza Mas enquanto o primeiro se refere ao

ensino inicial de leitura escrita e da numeraccedilatildeo o segundo tem natureza didaacutetica mais

abrangente podendo ser utilizado em qualquer acircmbito seja na instruccedilatildeo primaacuteria ou

em outro niacutevel da educaccedilatildeo

Como se lecirc na listagem haacute livros comuns entre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho

e do meacutetodo simultacircneo como a obra Sciencia do Bom Homem Ricardo e a de Duarte

Ventura Ainda para a instruccedilatildeo primaacuteria a partir das fontes consultadas acreditamos

que mais trecircs impressos dos mencionados acima tambeacutem eram utilizados para

ensinar a ler e escrever o Cathecismo historico de Fleury (ABBADE FLEURY 1846)

as primeiras coleccedilotildees de cartas e o Expositor Portuguez (MIDOSI 1831)

Era muito comum nesse momento da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil a

presenccedila do Catecismo entre os objetos escolares destinados aos alunos (TAMBARA

2003 2005 ORLANDO 2013) Na lista de Primo Jardim (1855) eacute referido o

Cathecismo historico de Fleury Entre os Catecismos usados nas escolas em Goiaacutes

esse foi um dos que obteve maior difusatildeo As coleccedilotildees de Cartas mencionadas satildeo

outro material muito comum no Brasil imperial para o ensino das primeiras letras

Frade (2010) esclarece que esse material era recorrentemente conhecido como

cartas cartas de ABC cartas de siacutelabas cartas de nomes Galvatildeo e Batista (1998) e

Catani e Vicentini (2011) acrescentam que esses materiais eram tambeacutem intitulados

de cartas de ldquoforardquo cartinhas222

O referido Expositor Portuguez tem como tiacutetulo completo O expositor

portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna e trata-se de um livro

destinado agrave instruccedilatildeo primaacuteria portuguesa publicado provavelmente em 1831 em

Londres (BOTO 1997) Escrita pelo portuguecircs Luiz Francisco Midosi (1796-1877)223

222 Para maiores detalhes sobre o Cathecismo Historico de Fleury e das Cartas de ABC cf seccedilatildeo 3 dessa tese 223 Boto (1997) explica que Midosi atuava na poliacutetica liberal em Portugal Ao publicar o jornal O portuguez comeccedilou a sofrer perseguiccedilatildeo poliacutetica foi preso e emigrou para Inglaterra em 1828 Voltou a Portugal em 1834 onde ldquopassou a exercer um acentuado papel poliacutetico junto aos poderes centrais Em 1836 Midosi seria nomeado Governador Geral do distrito de Portalegrerdquo (BOTO 1997 p 353)

208

durante o periacuteodo que passou na Inglaterra fugindo de uma perseguiccedilatildeo poliacutetica em

Portugal a obra foi amplamente divulgada no territoacuterio portuguecircs e tambeacutem circulou

no Brasil como constata Boto (1997)

Carneiro (1844) faz uma descriccedilatildeo do livro datando sua publicaccedilatildeo em 1830

Poreacutem o exemplar que identificamos na Biblioteca Nacional de Portugal224 eacute de 1831

e natildeo apresenta referecircncia de ediccedilatildeo levando-nos a concluir por meio de uma anaacutelise

comparativa com as outras ediccedilotildees do Expositor Portuguez que essa pode ser a

primeira ediccedilatildeo

O livro tem como meacutetodo de ensino o alfabeacutetico225 utilizando tambeacutem

conforme Boto (1997) ratifica a soletraccedilatildeo como teacutecnica para o aprendizado da

leitura Com 132 paacuteginas segundo Carneiro

Este interessante livro de educaccedilatildeo e de que muito careciam as nossas escolas primarias acha-se dividido em cinco secccedilotildees e estas em liccedilotildees progressivas a 1ordf conteacutem tudo quanto eacute relativo aacutes letras e formaccedilatildeo dos vocabulos de differentes sillabas a 2ordf e 3ordf trata de ler soletrando e em periodos a 4ordf conteacutem catecismos geraes de artes e sciencias a 5ordf traz noccedilotildees de mathematica taboada pesos medidas valores das moedas palavras similhantes em som mas diversas em orthografia e sentido oraccedilotildees maximas Moraes e explicaccedilatildeo dos termos latinos e abreviaturas que andam em uso (CARNEIRO 1844 p 221)

Midosi (1831) faz uma breve apresentaccedilatildeo da obra em suas paacuteginas iniciais

enfatizando a natureza gradual da aprendizagem defendendo portanto um ensino

baseado na marcha sinteacutetica explorando das noccedilotildees mais simples agraves mais

complexas Para tanto na sequecircncia discrimina o alfabeto em quadros com a grafia

da letra de imprensa maiuacutescula e minuacutescula acompanhada de uma figura com a

escrita de seu nome separada por siacutelabas (a ndash aacuter-vo-re b ndash bra-ccedilo c ndash cor-ti-ccedilo d ndash

da-do etc)

224 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 225 Segundo Frade (2014) ldquoempregado desde a antiguidade ateacute meados do seacuteculo XIX em vaacuterios locais cujo sistema de escrita eacute o alfabeacutetico o meacutetodo alfabeacutetico pode ser considerado o mais antigo Segue o princiacutepio geral dos meacutetodos sinteacuteticos de centrar a atenccedilatildeo do aprendiz em unidades menores e abstratas a serem combinadas progressivamente Em sua estrutura mais baacutesica propotildee aprender os nomes das letras do alfabeto reconhecer cada letra fora da ordem soletrar seu nome decorar alguns quadros de siacutelabas e depois tentar redescobri-las em palavras ou textos a partir da soletraccedilatildeo ndash com separaccedilatildeo por hiacutefens ou espaccedilos que vatildeo guiando a oralizaccedilatildeo No Brasil eacute comum o uso das expressotildees ldquoCartas de letrasrdquo ou ldquoCartas do ABCrdquo ldquoCartas de siacutelabasrdquo e ldquoCartas de nomesrdquo o que indica a sequecircncia em que a soletraccedilatildeo eacute exercitadardquo (FRADE 2014 p 214)

209

Figura 10 Paacuteginas 7 e 10 do livro O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua

materna (1831)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

O recurso de apresentar as palavras separadas por siacutelabas se constitui como

parte do meacutetodo proposto por Midosi (1831) iniciado pelo aprendizado do alfabeto

Posteriormente aumentando gradativamente o nuacutemero de letras o autor propotildee na

primeira seccedilatildeo do livro o ensino das siacutelabas de duas letras trecircs e quatro letras

monossiacutelabos de duas trecircs e quatro letras dissiacutelabos de trecircs quatro cinco e seis

letras trissiacutelabos de cinco seis sete e oito letras A proposta nas liccedilotildees da seccedilatildeo dois

eacute de ler soletrando pequenos textos narrativos nos quais todas as palavras satildeo

apresentadas com as siacutelabas separadas por um hiacutefen Somente a partir da paacutegina 55

da seccedilatildeo trecircs em diante os textos deixam de apresentar essa divisatildeo silaacutebica O

proacuteprio autor menciona que o leitor quando alcanccedilar essas liccedilotildees jaacute saberaacute ler e

treinaraacute a partir de entatildeo a leitura global das palavras conhecendo os sons de cada

210

siacutelaba na formaccedilatildeo das palavras Se acaso durante a leitura o aluno encontrar

alguma palavra que natildeo compreendeu e natildeo souber pronunciaacute-la aconselha

ldquoprimeiro pergunta o seu significado e depois dividindo-a em syllabas a pronunciaraacutes

com facilidaderdquo (MIDOSI 1831 p 55)

O Expositor Portuguez na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes eacute aqui

mencionado pela primeira vez todavia natildeo identificamos registros de que ele tenha

sido adotado nas escolas goianas entre os anos 50-60 do seacuteculo XIX Apenas a partir

dos anos de 1870 encontramos sua presenccedila nas listas de solicitaccedilatildeo de expediente

escolar conforme explicitamos na seccedilatildeo anterior

No corpo do relatoacuterio de Primo Jardim (1855) outro compecircndio eacute mencionado

sendo um dos mais difundidos e usados nas escolas da Corte o livro Historia de

Simatildeo de Nantua ou o Mercador de Feiras de Laurent Pierre de Jussieu226 Nas fontes

que consultamos no Arquivo Puacuteblico Histoacuterico do Estado de Goiaacutes especialmente

entre 1835 a 1886 natildeo encontramos referecircncia a que esse livro tenha sido usado em

escolas de primeiras letras em Goiaacutes Entretanto Arauacutejo e Silva (1975 p 152)

demonstra que a obra em questatildeo foi usada numa aula puacuteblica mista de primeiras

letras em Bonfim227 na proviacutencia goiana oitocentista A autora destaca que havia

apenas um exemplar do livro que passava de aluno em aluno em praacuteticas de leitura

coletiva

Simatildeo de Nantua como ficou popularmente conhecido eacute um livro escrito e

publicado na Franccedila em 1818 porteriormente traduzido para o portuguecircs por Philippe

Pereira de Arauacutejo e Castro em 1830 (SENA 2017) Segundo Arriada Tambara e

Duarte (2015) essa obra faz parte de uma seleccedilatildeo de compecircndios publicados no

periacuteodo imperial natildeo com intuito de serem textos escolares mas que ldquoforam utilizados

como suporte no processo de aquisiccedilatildeo da leitura Ademais o uso desses textos

estava vinculado ao processo de introjeccedilatildeo de valores eacuteticos e moraisrdquo (ARRIADA

TAMBARA DUARTE 2015 p 244)

No estudo de Lima e Barbosa (2009) eacute destacada a ampla circulaccedilatildeo dessa

obra no Brasil comprovando por meio de fontes documentais que houve pelo poder

226 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo linklthttpsbooksgooglecombrbooksid=Qd3tAAAAMAAJampprintsec=frontcoveramphl=ptBRampsource=gbs_ge_summary_rampcad =0v=onepageampqampf=falsegt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 227 Em 1943 a cidade de Bonfim localizada na regiatildeo sul do estado de Goiaacutes passou a se chamar Silvacircnia

211

central da Corte uma tentativa de instaurar certa regularidade para o ensino de leitura

nas proviacutencias brasileiras principalmente por meio da promulgaccedilatildeo de leis e tambeacutem

pela expediccedilatildeo de orientaccedilotildees para as escolas de primeiras letras do impeacuterio Dessa

maneira entre as orientaccedilotildees expedidas pela Corte estava a utilizaccedilatildeo da Historia de

Simatildeo de Nantua para as aulas de leitura Gama e Gondra (1999) tambeacutem indicam

que esse livro foi utilizado na proviacutencia do Rio de Janeiro na deacutecada de 60 do seacuteculo

XIX

No apecircndice do relatoacuterio apresentado agrave Assembleia Geral do Rio de Janeiro

em 1872 assinado pelo Ministro e Secretaacuterio de Estado dos Negoacutecios do Impeacuterio

Joatildeo Alfredo Correcirca de Oliveira haacute um levantamento das escolas puacuteblicas e privadas

existentes no Municiacutepio da Corte especificando o meacutetodo e os compecircndios adotados

em cada instituiccedilatildeo naquele momento (OLIVEIRA Relatoacuterio do Ministeacuterio dos

Negoacutecios do Impeacuterio 1872) Ao analisar esse documento encontramos vaacuterias

referecircncias agrave obra de Jussieu (1867) tanto em escolas primaacuterias quanto em

secundaacuterias o que corrobora a afirmaccedilatildeo de Primo Jardim (1855) em seu relatoacuterio a

obra Simatildeo de Nantua era geralmente seguida para o ensino de leitura em escolas de

primeiras letras da Corte

212

Figura 11 Folha de rosto da 9ordf ediccedilatildeo do livro Historia de Simatildeo de Nantua ou O mercador de

feiras (1867)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

A ediccedilatildeo portuguesa a que tivemos acesso data de 1867 com 280 paacuteginas

dividida em duas partes A primeira parte (da paacutegina 7 a 187) com 39 capiacutetulos

apresenta Simatildeo de Nantua bem como suas histoacuterias advindas de vaacuterios lugares e

com diferentes personagens A segunda parte (da paacutegina 189 a 276) sob o tiacutetulo

ldquoObras poacutestumas de Simatildeo de Nantuardquo foi organizada pelo companheiro de viagem

de Simatildeo posteriormente agrave publicaccedilatildeo do livro ao que tudo indica em 1829 (SENA

2017) Eacute formada por 8 capiacutetulos No primeiro o companheiro de Simatildeo explica que

o amigo jaacute no leito de morte entrega-lhe uma pasta com manuscritos de seus

pensamentos e ensinamentos ldquopeguei na pasta e guardei-a como se a deixa fosse

uma burra Passados alguns instantes expirou o meu amigo e no outro dia vi assistir

ao seu funeral toda a cidade vestida de luctordquo (JUSSIEU 1867 p 195)

213

Historia de Simatildeo de Nantua ou o Mercador de Feiras narra a histoacuteria de Simatildeo

de Nantua conhecido assim em referecircncia seu local de nascimento Nantua uma

comuna francesa228 O desenrolar das histoacuterias ocorre a partir das vivecircncias de Simatildeo

que andava de feira em feira montado num cavalo vendendo mercadorias Era um

homem descrito com cabelos brancos ldquoo seu rosto risonho e nedio causava prazer

Natildeo obstante a sua grande barriga movia-se com agilidade e andava direito arrimado

ao seu bordatildeo de viagemrdquo (JUSSIEU 1867 p 8) Embora a famiacutelia tenha investido

na educaccedilatildeo de Simatildeo para que ele seguisse a vida sacerdotal ele abandonou os

estudos para seguir a profissatildeo do pai como mercador de feiras

Cada capiacutetulo da histoacuteria se desenrola em uma regiatildeo diferente da Franccedila em

que Simatildeo vendia suas mercadorias nas feiras e transmitia ensinamentos de civilidade

e moralidade Os diaacutelogos apresentados no livro vatildeo induzindo os leitores para

comportamentos e praacuteticas que atendiam aos ldquoideais educacionais que estavam

sendo propalados no Brasil imperial seja por ratificar um meacutetodo que estava em uso

nas escolas francesas229 seja por ter conteuacutedos de moral de virtude e de civilidaderdquo

(SENA 2017 p 212)

Por fim haacute tambeacutem uma obra mencionada no relatoacuterio de Primo Jardim (1855)

como indicada nas escolas de primeiras letras para o ensino de leitura Historia do

Brasil para a leitura da letra redonda Tomando em consideraccedilatildeo a listagem de livros

solicitados no anexo do relatoacuterio de Primo Jardim (1855) eacute provaacutevel que a obra a que

ele se referiu tenha sido escrita por Antonio Aacutelvaro Pereira Coruja popularmente

conhecido como Professor Coruja

Sabemos que as obras do Professor Coruja230 circularam em vaacuterias escolas

brasileiras no periacuteodo imperial como constatam Valdez (2006) e Bastos (2006) O

228 Nantua faz parte da proviacutencia de Ain localizada ao leste da Franccedila 229 O meacutetodo a que Sena (2017) se refere eacute o muacutetuo tambeacutem conhecido como Lancaster citado pelo personagem Simatildeo de Nantua na obra de Laurent Pierre de Jussieu como o ideal para transformar a crianccedila num sujeito doacutecil e civilizado Cf o capiacutetulo V intitulado ldquoSimatildeo de Nantua faz ver as vantagens das escolas em que as crianccedilas se instruem pelo methodo de ensino mutuo e conta a historia do cavalheiro Pauletrdquo (JUSSIEU 1867 p 22-27) 230 Segundo Tambara (2003) as obras didaacuteticas de Coruja satildeo Compecircndio de Gramaacutetica da Liacutengua Nacional (18351849 1862 1863 1867 1872 1879) Manual dos Estudantes de Latim (1838 1849 1866 ndash 5ordf ediccedilatildeo) Compecircndio de Ortografia da Liacutengua Nacional (1848) Manual de Ortografia da Liacutengua Nacional (1850 1852) Exerciacutecios para meninos (1850) Aritmeacutetica para meninos contendo unicamente o que eacute indispensaacutevel e se pode ensinar nas escolas de primeiras letras (1852) Liccedilotildees de Histoacuteria do Brasil adaptada agrave leitura nas escolas contendo a Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do Brasil (1855 1857 1861 1866 1869 1873 e 1877) Compecircndio de Gramaacutetica Latina do Pe A Figueiredo (1852) Catecismo histoacuterico-geograacutefico riograndense (1886) (TAMBARA 2003 p 83)

214

livro referido por Primo Jardim (1855) eacute o Liccedilotildees de Histoacuteria do Brasil adaptada agrave

leitura nas escolas publicado pela primeira vez em 1855 A partir da anaacutelise da 9ordf

ediccedilatildeo desse livro (CORUJA 1873) identificada na Biblioteca Digital do Senado

Federal231 podemos constatar que ele natildeo foi concebido propriamente para o ensino

inicial de leitura e escrita mas para o treino da leitura corrente Primo Jardim (1855)

informa que o referido compecircndio era para o ensino da letra redonda ou de imprensa

o que retoma aspectos das caracteriacutesticas da escola de primeiras letras no periacuteodo

no tocante ao ensino dos diferentes tipos de letras para a crianccedila Ensinava-se a

leitura de variadas letras no intuito de o aluno natildeo ter dificuldade de ler os livros que

circulavam dentro e fora da escola reconhecendo as caligrafias existentes Portanto

o ensino das letras em suas diferentes formas e tamanhos foi um conteuacutedo no

processo de alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas na escola brasileira no periacuteodo imperial

ganhando ainda mais ecircnfase no contexto republicano agrave luz dos princiacutepios dos

manuais franceses (FETTER LIMA LIMA 2010 VIDAL GVIRTZ 1998)

Enfim a partir da anaacutelise das fontes evidenciadas a experiecircncia de Primo

Jardim em 1855 analisada no decorrer deste toacutepico contribuiu na formulaccedilatildeo do

Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria de Goiaacutes em 1856 jaacute que o meacutetodo Castilho

foi descartado oficializando-se o meacutetodo simultacircneo Sendo assim quais foram as

repercussotildees na proviacutencia goiana da viagem do Professor Primo Jardim

42 REPERCUSSOtildeES DA VIAGEM DE PRIMO JARDIM NA PROVIacuteNCIA GOIANA

Quando Primo Jardim fez a viagem em 1855 estava ainda em voga em Goiaacutes

o Regulamento de Instruccedilatildeo nordm 5 de 25 de agosto de 1835 (GOIAacuteS 1835) que natildeo

especificava a adoccedilatildeo de um meacutetodo de ensino nas escolas goianas Naquele

momento a proviacutencia cogitava o lanccedilamento de um novo regulamento de ensino jaacute

que no Municiacutepio da Corte a Reforma Couto Ferraz tinha sido sancionada em 1854

(BRASIL 1854) O governo goiano ao enviar o Professor Feliciano Primo Jardim para

a Corte acompanhou uma tendecircncia que vinha se consolidando no Brasil imperial a

procura pelos grandes centros urbanos como modelos para a educaccedilatildeo

231 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Digital do Senado Federal pelo linklthttpwww2senadolegbrbdsfhandleid242459gt Acesso em 24 de fevereiro de 2019

215

Tal como estaacute divulgado no Jornal O Tocantins em 1855 (O TOCANTINS 15

de dezembro de 1855 p 4) o Presidente Machado pretendia uniformizar o ensino em

Goiaacutes por isso a necessidade de o professor Primo Jardim viajar ao Rio de Janeiro

para conhecer um meacutetodo que estava em alta naquele momento

Como visto o meacutetodo Castilho natildeo foi recomendado por Primo Jardim jaacute que

na Corte as escolas natildeo o seguiam e sim empregavam os meacutetodos individual ou

simultacircneo ou muacutetuo Seguindo o que estava exarado na Reforma Couto Ferraz

(BRASIL 1854) na proviacutencia goiana foi aprovado um novo Regulamento sobre a

instruccedilatildeo primaacuteria em 1856 (GOIAacuteS 1856)

Consideramos que a viagem de Primo Jardim repercutiu na elaboraccedilatildeo desse

novo regulamento uma vez que no discurso apresentando agrave Assembleia Legislativa

Provincial de Goiaacutes pelo entatildeo Presidente Antonio Augusto Pereira da Cunha fica

evidente que ele teve acesso ao relatoacuterio do Professor Primo Jardim e natildeo viu motivos

para reformar o ensino em Goiaacutes sob as bases do meacutetodo Castilho

A 23 drsquoabril ultimo chegou aacute esta capital o professor da 1ordf aula de 1as

letras da mesma Feliciano Primo Jardim que por ordem de meu antecessor foi a corte estudar o methodo de ler escrever que ali pretendia plantar o conselheiro Antonio Feliciano de Castilho O mesmo professor natildeo alcanccedilando na corte o conselheiro Castilho com permissatildeo do exmordm conselheiro inspector geral da instrucccedilatildeo primaria visitou diversas aulas do municipio neutro e entatildeo assistio as liccedilotildees que dava hum professor que como elle comissionado pela provincia ensinava o methodo de leitura repentina cuja exposiccedilatildeo ouvira particularmente do proprio autor visto que o curso publico tinha-se terminado drsquohuma maneira irregular por cujo motivo natildeo pocircde aprender o dito methodo Em seu minucioso relatorio depois de dar noccedilotildees do methodo Castilho informa que dos tres methodos de ensino mais geralmente conhecidos a saber o individual o mutuo o simultaneo este ultimo eacute o actualmente adoptado nas escolas da corte como dispotildee o artigo 73 do regulamento aprovado pelo decreto de 17 de fevereiro de 1854 Methodo este que como diz o exmordm conselheiro inspector geral da instrucccedilatildeo primaria e secundaria da corte em seu relatorio apresentado ao exmordm sr ministro do imperio a 15 de fevereiro ultimo tem a seu favor a opiniatildeo dos homens mais ilustrados e mais competentes nestas materias e a sancccedilatildeo da pratica dos paizes mais adiantados Nesse imenso relatorio diz mais o exordm que natildeo haacute por ora rasotildees plausiveis para alterar o systema do regulamento e que a experiencia que a pouco se fez do systema Castilho natildeo ofereceu resultado para autorizar huma reforma (CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1856 p 21)

Uma fonte importante para cotejarmos com o discurso acima eacute o relatoacuterio

escrito pelo Professor Feliciano Primo Jardim identificado no Arquivo Histoacuterico

Estadual de Goiaacutes e analisado anteriormente Aleacutem da aproximaccedilatildeo de conteuacutedo

216

como por exemplo a menccedilatildeo aos meacutetodos de ensino simultacircneo individual e muacutetuo

como propostas seguidas na Corte o discurso do Presidente tambeacutem referencia que

chegou a suas matildeos um relatoacuterio minucioso enviado pelo Professor Primo Jardim

Notamos ao confrontar ambas as fontes que elas confirmam a tese da nossa

pesquisa no campo educacional mais especificamente no ensino inicial de leitura e

escrita a proviacutencia goiana abria-se agraves reformas instauradas no acircmbito nacional e

procurava estar em sintonia com as ideias de modernidade do Brasil oitocentista

Ainda que os trabalhos sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes especialmente no

impeacuterio revelem o atraso da educaccedilatildeo dessa proviacutencia em relaccedilatildeo agrave de outras

localidades no paiacutes as fontes realccedilam que a Igreja Catoacutelica estava fortemente

presente na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas o que entretanto natildeo foi empecilho

para que o governo procurasse alternativas para mudanccedilas na organizaccedilatildeo didaacutetica

das escolas de primeiras letras

Advertimos sobre essa questatildeo que a Igreja natildeo foi entrave para possiacuteveis

mudanccedilas porque nesse periacuteodo suas relaccedilotildees com o governo da proviacutencia eram

amistosas jaacute que ela mantinha um grande apoio popular em toda a extensatildeo do

territoacuterio goiano Embora a Igreja Catoacutelica tenha se consolidado como uma das

maiores apoiadoras da monarquia durante o periacuteodo imperial Azzi (1991 1992 1994)

salienta que o viacutenculo entre a Igreja e os governos provinciais nem sempre foi

conciliador mas marcado por contracensos e disputas de espaccedilo e poder Todavia o

governo central da monarquia brasileira apoacutes a revoluccedilatildeo liberal de 1842 segundo

Wernet (1987) preferiu nomear bispos ou autoridades religiosas que

correspondessem agraves tendecircncias conservadoras e monarquistas na tentativa de

dirimir ideais liberais radicais e ateacute mesmo republicanos

Em alguns momentos da histoacuteria de Goiaacutes como jaacute evidenciado na seccedilatildeo dois

desta tese mesmo o governo assumindo uma posiccedilatildeo anticlerical a Igreja recebeu

durante todo o impeacuterio o apoio dos Presidentes na manutenccedilatildeo de escolas catoacutelicas

goianas e do Seminaacuterio Episcopal inaugurado em 1872 devido ao forte apoio popular

que ela mantinha Fonseca e Silva (1948) demonstra que em muitas vilas da

proviacutencia era comum durante o impeacuterio que a populaccedilatildeo local e tambeacutem a que

estava nos arredores de uma determinada regiatildeo ajudassem na edificaccedilatildeo de uma

igreja Como jaacute aludimos em Goiaacutes os habitantes eram maiormente rurais e viviam

de uma economia tambeacutem ruralista os mais ricos auxiliavam com donativos enquanto

217

a populaccedilatildeo mais simples com a proacutepria matildeo de obra Geralmente era no entorno de

uma igreja que se formava alguma cidade goiana

Dentro das escolas de primeiras letras a Igreja estava presente de diferentes

maneiras No relatoacuterio de Primo Jardim (1855) jaacute destacamos que muitos dos

compecircndios adotados na Corte estavam impregnados de marcas do catolicismo e de

seus princiacutepios catequeacuteticos e de doutrina cristatilde Logo uma das repercussotildees na

proviacutencia dessa indicaccedilatildeo de livros feita por Primo Jardim foi a solicitaccedilatildeo ou a compra

de alguns desses materiais por ele mencionados para as escolas goianas

Na pesquisa feita na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e de Documentaccedilotildees

Manuscritas Datilografadas e Impressas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

encontramos ofiacutecios do final da deacutecada de 50 e entre os anos 60 70 e 80 do seacuteculo

XIX que citam a compra e o envio agraves escolas de compecircndios indicados por Primo

Jardim (1855)

Sobre isso notamos por exemplo que houve uma grande repercussatildeo do livro

Sciencia do Bom Homem Ricardo na proviacutencia sobretudo no fim dos anos 50 e

durante toda a deacutecada de 60 posto que a primeira vez que encontramos menccedilatildeo

desse livro nas fontes consultadas foi em documento datado de 1859 quando a

Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica enviou para uso nas aulas do Professor Primo

Jardim alguns materiais por ele solicitados (BRANDAtildeO 30 de abril de 1859 p 36

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Importante

destacar que dentre todos os pedidos de livros de leitura corrente feitos por Primo

Jardim apenas esse foi enviado A esse respeito diferentes explicaccedilotildees poderiam ser

dadas mas ao analisarmos o custo desse livro em relaccedilatildeo aos outros como o proacuteprio

Primo Jardim (1855) alerta Sciencia do Bom Homem Ricardo tinha um preccedilo mais

acessiacutevel levando-nos a ponderar que a obra foi escolhida devido agraves suas vantagens

financeiras Soacute para termos uma ideia comparativa o governo conseguiria comprar 4

exemplares de Sciencia do Bom Homem Ricardo ao mesmo preccedilo de 1 exemplar do

livro Arte de aprender a ler a letra manuscripta de Duarte Ventura Jaacute em comparaccedilatildeo

ao livro do meacutetodo Castilho a diferenccedila era ainda maior o valor de 1 exemplar desta

obra correspondia a 10 exemplares de Sciencia do Bom Homem Ricardo

218

Daiacute em diante Sciencia do Bom Homem Ricardo esteve durante todo o impeacuterio

e iniacutecio da repuacuteblica nas listagens dos materiais encaminhados agraves escolas goianas232

Outras obras que se destacaram pelos pedidos avolumados de solicitaccedilatildeo ou

compra nas listas de expediente escolar sendo mencionadas pela primeira vez por

Primo Jardim (1855) e posteriormente citadas nas correspondecircncias da Presidecircncia

da Proviacutencia e ou da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica como materiais

encaminhados aos professores foram o popularmente conhecido Cathecismo

historico de Fleury (ABBADE FLEURY 1846) que circulou entre o final dos anos de

1850 e toda deacutecada de 1880 e O Expositor Portuguez ou rudimentos de ensino da

liacutengua materna (MIDOSI 1831) a partir da deacutecada de 1870

Acreditamos que essas obras foram usadas no processo inicial de ensino de

leitura e escrita de crianccedilas goianas pelos argumentos jaacute apresentados na seccedilatildeo trecircs

desta tese Para aleacutem da questatildeo dos compecircndios fazendo uma anaacutelise comparativa

com os materiais enviados no periacuteodo imperial agraves escolas goianas antes e depois do

marco temporal de 1855233 as fontes revelam que alguns objetos indicados por Primo

Jardim para aplicabilidade do meacutetodo simultacircneo e mencionados como essenciais

para manutenccedilatildeo das escolas foram remetidos com maior frequecircncia lousas

individuais laacutepis de pedra ou laacutepis esponja giz branco penas de accedilo botijas de tinta

aleacutem de folhas pautadas

Na pesquisa realizada no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes no periacuteodo de

1835 a 1886 identificamos 889 listas de expediente escolar em que constam ou o

pedido ou o envio de materiais mencionando algum dos objetos acima descritos

232 A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo encontramos menccedilatildeo agrave solicitaccedilatildeo ou compra da obra Sciencia do Bom Homem Ricardo para as escolas de primeiras letras em Goiaacutes nos livros da seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nordm 397 (1858-1868) 436 (1862-1871) 529 (1871-1879) 575 (1873-1877) 584 (1873-1883) 762 (1883-1885) 831 (1885-1888) e 843 (1886) No levantamento de documentos feito na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas publicada no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 01 pela Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (BARRA UFG 2002) o livro Sciencia do Bom Homem Ricardo eacute mencionado nas listas de expediente escolar do fim da deacutecada de 50 ateacute os anos de 1880 Esses pedidos geralmente eram muito esparsos dirigidos a alguma escola ou professor da proviacutencia de modo que a quantidade natildeo ultrapassava 10 exemplares O uacutenico pedido que difere trata da compra de 100 coacutepias do livro Sciencia do Bom Homem Ricardo enviadas agraves escolas de primeiras letras em 1859 sendo o uacutenico livro de leitura corrente comprado em nuacutemero mais expressivo (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1) 233 Justifica-se esse marco temporal pois em 1855 foi o ano da viagem de Primo Jardim agrave Corte (PRIMO JARDIM 1855)

219

Dessas listas cerca de 60 foram datadas a partir de 1860 um dado extremamente

relevante para conjecturarmos que a iniciativa do Estado de enviar um professor agrave

Corte reverberou em mudanccedilas nos modos de organizar as praacuteticas de ensino em

Goiaacutes diretamente relacionadas aos meacutetodos e materiais para o ensino de leitura e

escrita

Reconhecemos que natildeo eacute o fato isolado das experiecircncias do Professor Primo

Jardim na Corte em 1855 que influenciou propriamente na compra dos materiais

mencionados acima e na propagaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo na proviacutencia Somando-

se a isso haacute outras iniciativas que colaboraram para essa difusatildeo Entre elas

sabemos que na histoacuteria da cultura escrita esses objetos passaram a ser mais

divulgados no Brasil na segunda metade do seacuteculo XIX234 aleacutem de que a proacutepria

regulamentaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo por meio do Regulamento sobre a instruccedilatildeo

primaacuteria em 1856 (GOIAacuteS 1856) exigiu a entrada de novos materiais nas escolas

goianas Sobre isso Abreu (2006) aponta que mesmo apoacutes a indicaccedilatildeo do meacutetodo

simultacircneo no regulamento de 1856 os professores natildeo o adotaram e em muitos

casos os proacuteprios Inspetores tambeacutem natildeo o indicaram devido agrave falta de preparo dos

docentes para aplicaacute-lo Poreacutem sem duacutevidas esse foi um primeiro passo para

circulaccedilatildeo dessa proposta no acircmbito educacional da proviacutencia goiana

Para promover a difusatildeo do meacutetodo simultacircneo impulsionando sua aplicaccedilatildeo

nas classes de primeiras letras o Presidente Joseacute Martins Pereira de Alencastre

mandou imprimir em 1862 um Manual sobre esse meacutetodo distribuindo 50 coacutepias entre

as escolas da proviacutencia (ALENCASTRE 16 de marccedilo de 1862 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436) Neste mesmo ano Alencastre enviou

aos Inspetores Paroquiais uma correspondecircncia com ordem para a praacutetica do meacutetodo

simultacircneo no territoacuterio goiano

Nordm 20 16 de Marccedilo de 1862 1ordf Secccedilaotilde = Circular = Haja Vmce de mandar pocircr em execuccedilatildeo nas escolas publicas drsquoessa Parochia o methodo simultanneo e recomendando aos Professores que o ponhatildeo em pratica observaraacute se effectivamente o fazem conforme consignados no incluso manual que acabo de mandar imprimir para uso das escolas da Provincia ndash Nas informaccedilotildees que V tiver de prestar a respeito das escolas cuja inspecccedilatildeo se acha a seu cargo consignaraacute o desenvolvimento ~q por ventura for tendo esse methodo e os resultados que drsquoelle se for cothendo ndash Estava convencido que da inteligencia e zelo dos Professores se pode tudo esperar em favocircr do melhoramento do

234 Cf Frade e Galvatildeo (2016)

220

ensino e se por eles focircr bem compreendido o systema que mando pocircr em pratica ndash as vistas drsquoesta Presidencia em pouco seratildeo satisfeitas = Deos Guarde Vmce = Joseacute Martins Pereira drsquoAlencastre = Srn~ Inspector Parochial da Capital Identico aacutes demais Parochias da Provincia (ALENCASTRE 1862a 16 de marccedilo de 1862 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

A partir dessa correspondecircncia podemos inferir que tanto na escola da Capital

da proviacutencia quanto nas espalhadas pelos rincotildees de Goiaacutes o meacutetodo simultacircneo natildeo

estava sendo aplicado ateacute entatildeo conforme o Regulamento sobre a instruccedilatildeo primaacuteria

de 1856 previa (GOIAacuteS 1856) A ordem aos Inspetores de mandar executar esse

meacutetodo projeta nele as perspectivas de mudanccedilas do cenaacuterio da educaccedilatildeo goiana

Alencastre (1862a) tambeacutem ordena que em seus relatoacuterios os Inspetores Paroquiais

deveriam mencionar como estaacute sendo o desenvolvimento com esse sistema de ensino

e os frutos que os professores estatildeo colhendo com sua aplicaccedilatildeo Portanto natildeo passa

alheia ao Presidente uma forma de monitoramento para garantir a execuccedilatildeo do

meacutetodo simultacircneo jaacute que conforme elucidamos na seccedilatildeo dois desta tese Alencastre

foi um dos governantes que se destacou na frente de oposiccedilatildeo ao meacutetodo individual

investindo na compra de livros para implantaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo em Goiaacutes

(ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 63)

Retomando a discussatildeo acerca dos objetos fornecidos agraves escolas goianas a

partir de 1860 todos os de que trataremos adiante foram indicados por Primo Jardim

(1855) endossando a tentativa da saiacuteda da proviacutencia de uma tradiccedilatildeo de ensino

calcada na praacutetica individual para uma escola que buscava os ares da modernidade

principalmente por meio da aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos e materiais de ensino

capazes de ensinar mais alunos em menos tempo

As lousas individuais ou ardoacutesias solicitadas por Primo Jardim (1855) confome

Arauacutejo e Silva (1975) descreve jaacute eram comuns na escola goiana devido ao emprego

do meacutetodo ordinaacuterio ou individual e tambeacutem da tentativa de implantaccedilatildeo do meacutetodo

muacutetuo ou Lancaster As lousas portanto eram um suporte de escrita de maior

durabilidade e muito mais econocircmicas do que a folha de papel ou ateacute mesmo o livro

escolar utilizados na praacutetica com o meacutetodo lancasteriano somente apoacutes a

alfabetizaccedilatildeo do aluno (BARRA 2013)

Fernandes (2008) advoga que a difusatildeo das lousas pelo mundo ocidental foi

decorrente das recomendaccedilotildees de seu uso para efetivaccedilatildeo do meacutetodo lancasteriano

221

Esse embora natildeo tenha sido oficializado na proviacutencia goiana deixou suas marcas na

formaccedilatildeo de uma escola que aspirava a se modernizar em face de um ideaacuterio de

racionalizaccedilatildeo do ato pedagoacutegico que vinha se expandindo no Brasil no seacuteculo XIX e

exigia um ensino raacutepido eficiente de baixo custo por meio da ordem da

disciplinarizaccedilatildeo do corpo e da mente (BASTOS 1999)

Para uso da lousa outros materiais geralmente eram enviados para os alunos

como o giz branco ou o laacutepis de pedra destinados segundo Larousse (1869) a

escrever ou desenhar sobre a ardoacutesia sendo que o uacuteltimo era composto

frequentemente de fragmentos de ardoacutesia um pouco mais macia As esponjas

tambeacutem de uso individual ou em grupo eram para apagar os erros ou o que estava

escrito nas lousas (BARRA 2013) ldquoA limpeza das pedras de lousa eacute interessante

dizer constituiacutea cuidado que ficava a criteacuterio do aluno O recomendaacutevel eram os

paninhos trazidos de casa em geral zelosamente conservados pelas meninasrdquo

(ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 127)

Ao contrapormos as fontes notamos que tambeacutem a partir dos anos de 1860

houve a solicitaccedilatildeo cada vez maior de folhas pautadas laacutepis penas de accedilo penas de

ave botijas de tinta e canivetes

Figura 12 Modelos de penas de accedilo

Fonte Disponiacutevel em lthttptipografosnetglossariopenahtmlgt Acesso em 03 de marccedilo de 2019

222

As chamadas penas de accedilo eram compostas por uma ponta de accedilo acoplada

a uma estrutura metalizada ou amadeirada nomeada de caneta Os vaacuterios cortes da

ponteira condicionavam o tipo de escrita que o escriba desejava empregar sendo ou

leve ou fina ou regular bem como o tipo de traccedilado ou grosso ou fino235 Essa

ponteira era comprada no formato desejado sendo um suporte de escrita mais

sofisticado do que as penas de ave jaacute que havia uma distinccedilatildeo de custo numa

proporccedilatildeo de a cada oito penas de ave comprava-se em meacutedia uma pena de accedilo

(GOIAacuteS 1873-1877 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

575) Por isso geralmente nas listas de expediente escolar haacute maior quantidade de

solicitaccedilotildees de penas de ave do que de penas de accedilo Essas comumemente eram

compradas para uso dos professores ou de escritores mais experientes como

revelam algumas correspondecircncias identificadas (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Para aparar as penas de ave utilizavam-se canivetes tambeacutem presentes nas

listas de expediente escolar Frade (2014a) explicita que a pena de accedilo tambeacutem

conhecida como pena metaacutelica foi inventada em 1803 e divulgada na escola em 1840

A autora acrescenta que ao longo do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX houve um

barateamento e difusatildeo desse suporte de escrita uma vez que afiar a pena era uma

accedilatildeo muito perigosa para as crianccedilas embora em muitas fontes analisadas vejamos

a menccedilatildeo ao canivete como um objeto para uso do aluno (CERQUEIRA 19 de marccedilo

de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Razzini (2008) acrescenta que a substituiccedilatildeo da pena de ave pela pena de accedilo foi

gradual e lenta pois sua ldquodesvantagem era enferrujar-se pelo efeito corrosivo da

tintardquo236 (RAZZINI 2008 p 96)

Para grafar utilizando ou a pena de ave ou a pena de accedilo molhava-se a

ponteira da pena na tinta Por isso havia a compra de botijas de tintas o que era feito

em grandes quantias remetidas agraves escolas A tinta era mantida para seu uso

conforme consta nas fontes inventariadas em tinteiros ou nos chamados aparelhos

de tinta tambeacutem fornecidos pela presidecircncia da proviacutencia Em 1858 houve a

235 Essa descriccedilatildeo toma como referecircncia o Glossaacuterio do site tipografosnet Disponiacutevel em lthttptipografosnetglossariopenahtmlgt Acesso em 03 de marccedilo de 2019 236 Os grandes opositores da substituiccedilatildeo da pena de ave pela pena de accedilo foram os caliacutegrafos jaacute que essa substituiccedilatildeo colocava em debate a tradiccedilatildeo da arte da escrita questionando inclusive a necessidade da profissatildeo e da caligrafia ornamental Sobre isso cf Buisson 1888

223

solicitaccedilatildeo de 100 tinteiros proacuteprios para uso escolar em que haacute informaccedilotildees sobre o

modo de preparo da tinta

Nordm 12 Secretaria da inspectoria geral da instrucccedilatildeo publica da provordf de Goyas 9 de Abril de 1958 = Ilmordm e Exmordm Senr~ = Na relaccedilatildeo dos objetos q~ deveriaotilde ser encommendados para as escolas publicas drsquoesta provincia enviada a com o meu offordm de 5 do corre deixou-se de mencionar por engano os seguintes objetos - 100 tinteiros proacuteprios para as ditas escolas = Simplices para se prepararem 100 garrafas de tinta de escrever para as ditas escolas = Deos Guarde a VExcia A sua Excia o Ilmordm e Exmo Senr~ Dordm Francisco Jannuario da Gama Cerqueira mto digno presidente desta provincia = O inspector geral Felippe Antonio Cardoso de Santa Crus (CRUS 1858e AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

A partir das informaccedilotildees transcritas destacamos dois pontos O primeiro refere-

se agrave tinta que poderia ser comprada pronta sendo que os ldquotipos de tinta de uso

comum em Goiaacutes eram a de carbono ou nankin a capeche e a ferro gaacutelica aleacutem das

extraiacutedas de vegetaisrdquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 162) Aleacutem disso como

constatamos acima podia-se comprar uma espeacutecie de siacutemplice que consistia em

ingredientes para composiccedilatildeo da tinta de escrever Ainda sobre o excerto ao

relacionar essa fonte com os dados das pesquisas de Frade (2008 2009 2014a) e

Razzini (2008) chegamos agrave conclusatildeo de que os tinteiros nomeiam no decorrer do

seacuteculo XIX tanto o recipiente onde se guardava a tinta quanto uma espeacutecie de

caneta Vale lembrar que os tinteiros que Primo Jardim (1855) menciona na

organizaccedilatildeo da classe pelo meacutetodo simultacircneo satildeo os objetos fixados na mesa do

estudante onde a tinta ficava guardada

Sobre os pedidos de papel ou folha pautada eles satildeo mencionados por Primo

Jardim (1855) tanto na listagem dos materiais para o meacutetodo simultacircneo quanto para

o meacutetodo Castilho demonstrando que esse suporte jaacute estava difundido na Corte para

o ensino da escrita apesar de que sua vulgarizaccedilatildeo no Brasil data do periacuteodo da

primeira repuacuteblica jaacute no iniacutecio do seacuteculo XX quando tambeacutem foram difundidos os

cadernos escolares (MIGNOT 2008 RAZZINI 2008)

Em Goiaacutes o papel a partir dos anos de 1850 tornou-se um dos materiais mais

solicitados pelos professores contudo ainda havia os pedidos de lousas individuais

Em algumas listas havia referecircncia ao papel pautado (ou tambeacutem nomeado de folha

com linhas) sendo mais comum apenas a referecircncia a papel de uso escolar (GOIAacuteS

1868-1871 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491) No

ofiacutecio encaminhado pelo Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felippe Antonio Cardoso

224

de Santa Crus ao Presidente da Proviacutencia em 13 de abril de 1858 ele explica que o

papel ao norte da proviacutencia era mais caro do que na capital bem como no sul (CRUS

13 de abril de 1858 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

397) Por isso a distribuiccedilatildeo desse material nas escolas de primeiras letras goianas

foi desigual pois estava associada aos recursos e despesas provenientes para o

expediente das escolas de instruccedilatildeo primaacuteria Como as fontes indicam e a legislaccedilatildeo

da eacutepoca tambeacutem exarava geralmente a escola da capital de Goiaacutes tinha mais

recursos e materiais o que tambeacutem segundo Gondra e Schueler (2008) natildeo difere

de aspectos da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil imperial

Um material natildeo solicitado por Primo Jardim (1855) mas jaacute havendo indiacutecios

de seu uso em Goiaacutes na segunda metade do seacuteculo XIX foi o quadro-negro Ele fazia

parte dos mobiliaacuterios necessaacuterios para o desenvolvimento do meacutetodo lancasteriano

adotados especialmente para os exerciacutecios de desenho linear e aritmeacutetica Nas fontes

a que tivemos acesso a primeira referecircncia a esse objeto foi no ano de 1861 quando

solicitado pelo entatildeo Presidente da Proviacutencia Joseacute Martins Pereira de Alencastre

para ser utilizado na escola de primeiras letras da Capital goiana (ALENCASTRE

1861 p 93 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264)

Arauacutejo e Silva (1975 p 125) explicita que anteriormente houve em 1833 a compra

de um quadro-negro enviado agrave proviacutencia aos cuidados de um professor do ensino

muacutetuo

Logo com a maior divulgaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo o quadro-negro passou

a ser solicitado mas ele ldquonatildeo suplantaria o emprego da lousa individual Ambos os

materiais seriam recomendados nas praacuteticas de ler e escrever especialmente nas

classes iniciantes durante todo o seacuteculo XIXrdquo (BARRA 2013 p 130) Heacutebrard (1995)

explicita o uso do quadro-negro nas escolas do seacuteculo XIX reiterando que sua

aplicaccedilatildeo primeiro se deu em escolas mais elitizadas do mundo e depois se propagou

para a instruccedilatildeo de todas as crianccedilas

Primo Jardim solicitou os objetos para execuccedilatildeo do meacutetodo Castilho ao que

tudo indica pelo relatoacuterio analisado no decorrer desta seccedilatildeo logo apoacutes o seu retorno

agrave proviacutencia goiana Vale destacar que no Diario do Rio de Janeiro na ediccedilatildeo de 25 de

janeiro de 1856 (RIO DE JANEIRO 25 de janeiro de 1856 p 5) consta na seccedilatildeo de

registro da saiacuteda do Porto o passageiro Feliciano Primo Jardim Tambeacutem o Jornal

Correio Mercantil na ediccedilatildeo da mesma data acrescenta que essa viagem foi em

direccedilatildeo a Pernambuco (CORREIO MERCANTIL 25 de janeiro de 1856 p 2) Esses

225

registros mostram o iniacutecio da saga de regresso de Primo Jardim a Goiaacutes que chega

agrave capital da proviacutencia em 23 de abril de 1856 como estaacute aludido no Relatoacuterio do

Presidente da Proviacutencia Antonio Augusto Pereira da Cunha (CUNHA Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1856 p 21)

Em 1858 o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica menciona que ainda natildeo foram

adquiridos mas jaacute estavam sendo providenciados para Primo Jardim os objetos

necessaacuterios para experimentaccedilatildeo do meacutetodo Castilho de leitura repentina (CRUS 5

de abril de 1858 p 4 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

nordm 397) Nesse ofiacutecio escrito pelo Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felipe Antocircnio

Cardoso de Santa Crus eacute dito que aos professores da proviacutencia natildeo seratildeo enviados

materiais do meacutetodo Castilho e sim tratados de meacutetodos de ensino com ecircnfase no

simultacircneo sendo solicitados ao Presidente da Proviacutencia 20 exemplares destinados

agravequeles mestres que natildeo tinham condiccedilotildees de compraacute-los (CRUS 5 de abril de 1858

p 4 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Desse

modo o que vemos eacute que a viagem de Primo Jardim agrave Corte impulsionou a adoccedilatildeo

do meacutetodo simultacircneo em Goiaacutes bem como a compra de materiais condizentes com

essa proposta de organizaccedilatildeo didaacutetica

Primo Jardim aposentou-se em 29 de marccedilo de 1859 por motivos de sauacutede

como professor de geografia e histoacuteria do Liceu (CRUS 18 de marccedilo de 1859 p 31

29 de marccedilo de 1859 p 32237 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 397) Em 30 abril do mesmo ano o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica

Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo enviou correspondecircncia ao Presidente da Proviacutencia

Francisco Januario da Gama Cerqueira mencionando que Primo Jardim jaacute de posse

do material solicitado para aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho abriria uma turma para testaacute-

lo e para tanto necessitaria de 16 meninos em estado de absoluta ignoracircncia para o

iniacutecio do trabalho em 1ordm de maio de 1859

Nordm 23 Em 30 de Abril comunicando ter posto a disposiccedilatildeo de Feliciano Primo Jardim tudo quanto depende da Inspectoria ensaio do methodo Castilho Secretaria da Inspectoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica de Goyaz 30 de Abril de 1859

237 Em Crus (18 de marccedilo de 1859) encontramos a solicitaccedilatildeo de aposentadoria de Primo Jardim por motivo de sauacutede na sequecircncia em Crus (29 de marccedilo de 1859) eacute concedida a aposentadoria e substituiccedilatildeo do professor Primo Jardim interinamente pelo professor de Filosofia do Liceu Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo que posteriormente assumiria o cargo de Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes

226

Ilmordm Exmordm Senr~ Em virtude da autorisaccedilatildeo verbal que V Excia conferio-me em uma das conversaccedilotildees particulares com que V Excia se dignou de honrar-me entendi-me com o professor aposentado Feliciano Primo Jardim pondo a sua disposiccedilatildeo tudo quanto difundisse drsquoessa inspectoria para levar a efeito o ensino aque taotilde generosamente se propoe do methodo simultaneo portuguez Castilho Em consquencia drsquoesta minha declaraccedilaotilde e mesmo por se achar officialmente autorisado por V Excia declarou-me aquelle professor que precisava de 16 meninos em estado de absoluta ignorancia 16 lousas e lapis correspondentes numeros igual de folhetos da Sciencia do Bom Homem Ricardo dous bancos e um pouco de giz Todas estas exigencias faratildeo imediatamente satisfeitas e pretende aquelle professor dar principio aos trabalhos do ensino no dia 1ordm do proacuteximo mecircs de Maio Aqui tenho a honra de levar ao conhecimento de V Excia aver de alguma cousa bem V Excia que ordenem contrario Dios Guarde a V Excia Ilmordm Exmordm Senr Doutor Francisco Januario da Gama Cerqueira Presidente drsquoesta Provincia o Inspector Joatildeo Luis Her Brandatildeo (BRANDAtildeO 30 de abril de 1859 p 36 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Em resposta o Presidente Cerqueira em 3 de maio de 1859 daacute ciecircncia de que

foram disponibilizados a Primo Jardim os materiais solicitados e os 16 meninos

Secccedilatildeo Nordm 27 Palacio do Governo de Goyaz 3 de Maio de 1859 Pelo seo officio de 30 dersquoAbril ultimo sob ndeg 94 fiquei inteirado de que em virtude das ordens desta Presidencia Vmce mandou prestar ao Professor aposentado Feliciano Primo Jardim os objetos por me requisitados e 16 meninos em estado de absoluta ignorancia das mateacuterias que se ensinatildeo nas escolas de primeiras letras pelo methodo ordinario afim de tentar um ensaio do methodo Castilho Deos Guarde a Vmce Francisco Jamario da Gama Cerqueira Senro Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (CERQUEIRA 3 de maio de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Sobre esses dois registros um aspecto importante a destacar eacute que ambos

relatam o interesse do governo provincial no experimento com o meacutetodo Castilho

Essa questatildeo deixa transparecer a crenccedila de que os materiais e meacutetodos importados

eram melhores do que os disponiacuteveis no paiacutes demonstrando tal como Lajolo e

Zilberman (1996) apontam a forccedila da presenccedila portuguesa no mercado editorial

brasileiro bem como as tramas poliacuteticas enviesadas no campo educacional Tudo isso

se constituiacutea diante da ldquoprecariedade dependecircncia e insuficiecircncia das instituiccedilotildees

culturais brasileirasrdquo e mantinha-se tambeacutem devido agraves articulaccedilotildees poliacuteticas que

Antonio Feliciano de Castilho autor do meacutetodo Castilho e outros escritores de livros

portugueses estabeleciam com embaixadores e outros poliacuteticos do Brasil (LAJOLO

227

ZILBERMAN 1996) Sobre esse meacutetodo em questatildeo as autoras reiteram que ele foi

por diversas vezes ldquomencionado em discursos parlamentares e relatoacuterios

governamentaisrdquo (LAJOLO ZILBERMAN 1996 p 189)

A escolha por Primo Jardim para essa experiecircncia com o meacutetodo Castilho haacute

que se salientar natildeo foi aleatoacuteria Esse professor atuou como funcionaacuterio puacuteblico em

escola de primeiras letras no Liceu ocupou o cargo de Inspetor Paroquial da Capital

Consideramos que sua viagem como jaacute relatamos no decorrer desta seccedilatildeo eacute um

marco na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana uma vez que auxiliou no alastramento de novas

propostas de organizaccedilatildeo didaacutetica Sobre isso Abreu (2006) aponta em sua pesquisa

analisando uma tabela de utensiacutelios para expediente escolar elaborada pelo Inspetor

Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica em 1859 que ela foi montada ldquocom base na lista de

utensiacutelios e compecircndios apresentada pelo professor Feliciano Primo Jardim quando

esteve na capital do Impeacuteriordquo A autora ainda acrescenta que ldquotalvez a ideia fosse ir

aos poucos dotando as escolas com os utensiacutelios necessaacuterios para gradativamente

implantar o meacutetodo simultacircneo nas escolas de primeiras letrasrdquo (ABREU 2006 p 204-

205)

Por fim natildeo encontramos fontes que revelassem se a classe com o meacutetodo

Castilho mencionada nos excertos anteriormente foi de fato aberta Arauacutejo e Silva

(1975) informa que a classe foi aberta mas

[] algum tempo depois apoacutes o iniacutecio das atividades com a classe experimental dava-se por encerrada a experiecircncia atendendo-se ao representado pelo professor (Ato de 7 de julho de 1859) Recolheram-se agraves respectivas escolas os alunos que prestaram ao ensaio natildeo vindo a lume as razotildees para sua brusca interrupccedilatildeo Talvez o motivo estivesse na sauacutede do professor jaacute aposentado (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 145)

Por conseguinte a partir da consulta aos diferentes documentos inventariados

nesta tese e sua anaacutelise notamos que o meacutetodo Castilho natildeo repercutiu positivamente

pelas escolas de primeiras letras espalhadas pela proviacutencia goiana

43 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

As discussotildees em torno dos meacutetodos para alfabetizaccedilatildeo ganharam

efervescecircncia na segunda metade do seacuteculo XIX quando no Brasil circularam

algumas publicaccedilotildees portuguesas dirigidas para o ensino inicial da leitura e da escrita

228

(MORTATTI 2000 2000a) Entretanto os debates existentes naquele momento foram

muito tiacutemidos pois ainda natildeo havia no paiacutes um mercado livresco consolidado voltado

agrave escola Os livros que aqui circulavam eram vendidos por altos preccedilos uma vez que

geralmente eram importados da Europa (LAJOLO ZILBERMAN 1996 HALLEWELL

2012) Por este fato o puacuteblico que a eles tinha acesso era restrito a uma elite

intelectual e quando muito a professores escolhidos pelo governo que desfrutavam

do privileacutegio de ter contato com livros e participar de cursos e em troca tinham o

dever de difundir os ideaacuterios aprendidos entre os seus pares aspirando agrave melhoria da

escola e do ensino popular (LAJOLO ZILBERMAN 1996)

Na histoacuteria da educaccedilatildeo do Brasil oitocentista haacute casos exemplares

historiografados por diferentes pesquisadores brasileiros de professores que

participaram de cursos ou tiveram acesso a livros sobre ideias inovadoras para o

ensino e posteriormente eram encarregados de difundir o que tinham aprendido

(MORTATTI 2000 MARCILIO 2016 dentre outros) Em Goiaacutes ao que tudo indica o

primeiro professor financiado pelo Estado para ter contato com novos materiais e

meacutetodos no Municiacutepio da Corte a fim de propagaacute-los na proviacutencia goiana foi Feliciano

Primo Jardim

No seacuteculo XIX um dos meacutetodos difundidos no territoacuterio brasileiro foi o do

portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho divulgado popularmente como meacutetodo

Castilho com o slogan de ser direcionado para o ensino raacutepido e agradaacutevel da leitura

e da escrita tanto na escola quanto no ambiente domeacutestico

Como exposto nesta seccedilatildeo Castilho esteve no Brasil em 1855 para divulgar o

seu meacutetodo por meio de um curso Entretanto o seu retorno para Europa se deu antes

do previsto jaacute que o curso terminou irregularmente devido aos confrontos entre as

ideias desse autor e outras de autores brasileiros que imperavam com suas

publicaccedilotildees naquele momento (BOTO ALBUQUERQUE 2018)

Para participar desse curso o governo da proviacutencia de Goiaacutes por iniciativa do

Presidente Antonio Candido da Cruz enviou ao Municiacutepio da Corte Feliciano Primo

Jardim no intuito de conhecer o meacutetodo Castilho Ao chegar agrave Corte o curso havia

finalizado poreacutem Primo Jardim conseguiu acompanhar algumas aulas pelo meacutetodo

Castilho e tambeacutem pelo simultacircneo Na anaacutelise empreendida nesta seccedilatildeo expusemos

que os ideaacuterios da obra Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (CASTILHO 1853) circularam na

proviacutencia goiana poreacutem natildeo haacute documentaccedilatildeo suficiente que comprove a adoccedilatildeo

229

efetiva desse meacutetodo de ensino de leitura e escrita em Goiaacutes Sendo assim a viagem

de Primo Jardim contribuiu muito mais para oficializaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo no

Regulamento de Ensino de 1856 (GOIAacuteS 1856) jaacute que citado por ele como meacutetodo

em destaque nas escolas da Corte

Todas essas questotildees mostram que a proviacutencia de Goiaacutes natildeo se manteve

alheia ao que ocorria no acircmbito nacional mas pelo contraacuterio estava em sintonia com

vaacuterias iniciativas do Municiacutepio da Corte A viagem de Primo Jardim ao Rio de Janeiro

revela que houve tentativas do governo goiano de acompanhar as novidades que ali

circulavam e implementar essas ideias nas escolas de primeiras letras Poreacutem a natildeo

adoccedilatildeo ou oficializaccedilatildeo do meacutetodo Castilho em Goiaacutes natildeo demonstra uma situaccedilatildeo

isolada dessa proviacutencia no territoacuterio brasileiro Pelo contraacuterio como jaacute tratamos esse

meacutetodo natildeo foi amplamente difundido nas escolas do paiacutes principalmente pela

oposiccedilatildeo do professor Costa e Azevedo a Castilho Durante o curso oferecido no

Brasil Costa e Azevedo autor de um livro de ensino de leitura pela marcha sinteacutetica

o denominado Liccedilotildees de Ler fez frente de oposiccedilatildeo ao meacutetodo Castilho (CASTELO-

BRANCO 1977 BOTO ALBUQUERQUE 2018) Uma disputa que ultrapassou a

questatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo jaacute que trazia agrave tona questotildees poliacuteticas filosoacuteficas

e sociais (ALBUQUERQUE BOTO 2017)

Dado o exposto e em virtude da anaacutelise empreendida acerca da experiecircncia de

Primo Jardim na Corte as fontes confirmam que mesmo sendo a proviacutencia goiana

majoritariamente rural o que colocava em xeque a necessidade da escola e ainda

diante da influecircncia da onda conservadora da Igreja que pretendia se manter intacta

no poder no que concerne ao campo da alfabetizaccedilatildeo Goiaacutes esteve inserido nas

transformaccedilotildees e na onda das ideias de modernidade do Brasil do seacuteculo XIX

ratificando a nossa tese de estudo Embora as pesquisas sobre a institucionalizaccedilatildeo

da escola em Goiaacutes demonstrem que esta proviacutencia era atrasada em relaccedilatildeo a muitos

quesitos no acircmbito educacional se comparada a outras regiotildees do Brasil os indiacutecios

deixados nas fontes histoacutericas analisadas permitem afirmar que no campo da leitura

e da escrita o Governo mobilizava-se para trazer novidades para o ensino das

crianccedilas

Haacute que se destacar que muitos dos ideaacuterios natildeo se mantinham por diferentes

fatores especialmente por falta de recursos financeiros Tal como analisamos nesta

seccedilatildeo os valores totais dos materiais para implementaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo

eram muito inferiores aos do meacutetodo Castilho apesar das suas funccedilotildees e concepccedilotildees

230

diferentes Acrescentariacuteamos tambeacutem que havia uma cultura escolar em que se

arraigara o costume de ensinar pelo meacutetodo individual e pelo sistema de alfabetizaccedilatildeo

de marcha sinteacutetica o que unido agrave falta de materiais e formaccedilatildeo teacutecnica dos docentes

impossibilitava que as novas ideias resultassem em praacuteticas efetivas para o ensino

inicial de leitura e escrita

231

5 A PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICA BRASILEIRA

NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS

___________________________________

Ao longo do trabalho estamos desenvolvendo uma linha argumentativa que

evidencia a inserccedilatildeo da proviacutencia goiana no contexto das propostas que aspiravam a

modernizar a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas no Brasil do seacuteculo XIX Entretanto conforme

tratamos o governo em Goiaacutes natildeo levou adiante muitas iniciativas devido aos custos

e natildeo conseguiu alastraacute-las pelas diferentes localidades restringindo-as agrave Capital

Essa questatildeo a princiacutepio poderia refutar a tese da pesquisa jaacute que aparentemente

demonstra uma certa ambivalecircncia todavia essa contradiccedilatildeo traz os argumentos

fundantes para pensarmos acerca da difusatildeo da produccedilatildeo didaacutetica brasileira na

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir dos anos de 1870 objeto de nosso estudo

nesta seccedilatildeo

Anunciamos de antematildeo as duas principais ideias que desenvolveremos no

decorrer do capiacutetulo A primeira ligada ao fato de que o governo da proviacutencia goiana

aderiu mais agraves propostas que circularam pelo Impeacuterio concretizadas em cartilhas eou

livros de leitura cujos autores fizeram doaccedilatildeo de seus impressos como uma estrateacutegia

mercadoloacutegica para divulgaccedilatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo proposto A segunda

vincula-se com o panorama do mercado editorial jaacute que ldquoo abrasileiramento dos livros

didaacuteticos soacute se torna realidade no fim do seacuteculo XIX concomitantemente agrave

nacionalizaccedilatildeo do livro para crianccedilasrdquo (LAJOLO ZILBERMAN 1996 p 183) O

232

surgimento de autores e livrarias que investiram na produccedilatildeo de livros didaacuteticos

brasileiros fez com esse tipo de livro se comparado com os literaacuterios ficasse mais

acessiacutevel aos leitores e mais rentaacutevel aos editores como apontam Lajolo e Zilberman

(1996) e Hallewell (2012) Logo esse cenaacuterio facilitou a entrada de uma produccedilatildeo

editorial nacional nas escolas da proviacutencia goiana a partir de 1870

Nesse ponto eacute importante colocar em evidecircncia o contraponto feito por

Braganccedila (1999) ao demonstrar que os negoacutecios editoriais se arquitetaram no limiar

do seacuteculo XX quando se iniciou a construccedilatildeo do lugar social do escritor profissional

que teve ldquouma remuneraccedilatildeo digna pelo seu trabalho com acesso a contratos justosrdquo

o autor acrescenta que a partir dos anos de 1920 e 1930 eacute que ldquohouve a possibilidade

de um fortalecimento da induacutestria cultural com a expansatildeo do mercado da leiturardquo

(BRAGANCcedilA 1999 p 458)

El Far (2010) destaca que na segunda metade do seacuteculo XIX houve uma

mudanccedila no cenaacuterio editorial brasileiro em funccedilatildeo do surgimento de livreiros que

colocavam no mercado um ldquolivro popular de capa brochada e papel barato e

produzido com baixo custo de ediccedilatildeordquo A autora advoga que esse denominado livro

popular que se expandiu entre as publicaccedilotildees que circularam em especial no Rio de

Janeiro natildeo foi uma invenccedilatildeo do Brasil Portugal e Franccedila jaacute tinham uma experiecircncia

ldquona confecccedilatildeo em larga escala desses pequenos volumesrdquo (EL FAR 2010 p 90)

Dito isto notamos que embora o mercado editorial brasileiro tenha se

fortalecido com mais veemecircncia com as ideias da Repuacuteblica mesmo diante de todas

as dificuldades em adquirir os livros para as escolas em Goiaacutes eles ocuparam um

lugar importante no contexto educacional desde o seacuteculo XIX Em consonacircncia

Valdez Oliveira e Rodrigues (2010) ao tratarem sobre os livros escolares para a

infacircncia nas terras goianas no oitocentos revelaram que

O livro era considerado um objeto redentor que daria saber e traria luzes a uma proviacutencia que se encontrava isolada e distante dos grandes centros litoracircneos Essa crenccedila no poder do livro como depositaacuterio privilegiado do saber escolar e objeto de viabilizaccedilatildeo dos projetos educacionais incluindo a formaccedilatildeo de professores e alunos com poucas diferenccedilas transparecia nos discursos de grupos conservadores catoacutelicos positivistas ou cientificistas republicanos em diferentes lugares do Brasil oitocentista (VALDEZ OLIVEIRA RODRIGUES 2010 p 11)

Elegemos para esta uacuteltima seccedilatildeo a produccedilatildeo didaacutetica produzida por escritores

brasileiros que marcaram a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo goiana durante o Impeacuterio A

233

escolha natildeo foi aleatoacuteria e se justifica tanto pelo que as fontes inventariadas no

Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes indicaram a partir dos anos de 1870 quanto pela

ideia do que esses livros e autores representaram para a constituiccedilatildeo de um

sentimento de unificaccedilatildeo brasileira parafraseando Pfromm Neto Dib e Rosamilha

(1974)

Dessa forma objetivamos analisar como os impressos didaacuteticos

ldquoeminentemente brasileirosrdquo influenciaram a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes entre

1870 e 1886 quando se encerra o recorte temporal da nossa Tese As reflexotildees feitas

aqui podem impulsionar outras tantas jaacute que muitos dos livros que circularam nesse

periacuteodo estiveram presentes no decurso da Repuacuteblica

Munakata (2014) adverte que o vocaacutebulo ldquodidaacuteticordquo para se referir aos livros

escolares de uso pedagoacutegico ficou consagrado no Brasil a partir dos anos de 1930

com a criaccedilatildeo do Instituto Nacional do Livro (1937) e da Comissatildeo Nacional do Livro

Didaacutetico (1938) Optamos por utilizaacute-lo pois os estudos no campo da histoacuteria dos livros

escolares238 em especial os de Munakata (2014 2016) legitimou essa nomeaccedilatildeo

sem cair em anacronismos uma vez que ela eacute usual e estaacute mais para intitular uma

funccedilatildeo do objeto cultural livro do que para se referir a um momento histoacuterico especiacutefico

de seu consumo

Nos anos de 1870 dois autores brasileiros foram mencionados nas listas de

expediente escolar inventariadas segundo anunciamos na seccedilatildeo trecircs Antonio

Pinheiro de Aguiar e Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas Outros autores

poderiam ser aludidos poreacutem os pedidos mais avolumados satildeo de obras de autoria

desses motivo pelo qual os escolhemos para alongar o debate sobre seus impressos

e a influecircncia na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo na proviacutencia goiana O nuacutemero de livros

comprados eou recebidos por meio de doaccedilotildees permite-nos conjecturar que eles

circularam nas escolas primaacuterias de Goiaacutes no periacuteodo pesquisado

Aleacutem disso Pinheiro de Aguiar e Borges se aproximam quanto agrave estrateacutegia

comercial de divulgaccedilatildeo visto que ambos fizeram doaccedilotildees de exemplares de suas

obras agraves escolas O primeiro mais timidamente jaacute o segundo com expressivos

donativos em vaacuterios locais do paiacutes o que o colocou na rota de autores mais difundidos

no Impeacuterio e na Primeira Repuacuteblica

238 Para aprofundar nessa questatildeo cf o Dossiecirc Temaacutetico ldquoLivros didaacuteticos como fonteobjeto de pesquisa para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil e na Espanhardquo organizado Kecircnia Hilda Moreira e Kazumi Munakata na Revista Educaccedilatildeo e Fronteira (v 7 ndeg 20 2017)

234

Insta esclarecer que acerca da histoacuteria da obra de Abiacutelio Ceacutesar Borges muito jaacute

se pesquisou mas em contrapartida sobre Antonio Pinheiro de Aguiar haacute poucos

estudos levando-nos a fazer consideraccedilotildees mais detalhadas sobre esse autor A

anaacutelise que empreendemos considera a materialidade das obras cotejada com as

fontes documentais que incita variadas ldquointerpretaccedilotildees compreensotildees e usos de

seus diferentes puacuteblicosrdquo (CHARTIER 1998 p 18 grifos nossos)

Por fim para abrir os itens a seguir trazemos o poeta Maacuterio Quintana (1995)

para uma reflexatildeo

A beleza dos versos impressos em livro ndash serena beleza com algo de eternidade ndash Antes que venha conturbaacute-los a voz das declamadoras Ali repousam eles misteriosos cacircntaros Nas suas fraacutegeis prateleiras de vidro Ali repousam eles imoacuteveis e silenciosos Mas natildeo mudos e iguais como esses mortos em suas tumbas (QUINTANA 1995 p 10)

Eacute necessaacuterio frisar que diferente do que Quintana (1995) escreveu sobre o livro

de poesia os livros com caracteriacutesticas didaacuteticas impressos de uso escolar por mais

imoacuteveis e silenciosos que agrave primeira vista pareccedilam satildeo objetos que ldquo[] natildeo satildeo

meramente ideias sentimentos imagens sensaccedilotildees significaccedilotildees que o texto possa

representarrdquo (MUNAKATA 1997 p 84) Carregam em si ideologias de seus autores

e de seu tempo objetivos definidos politicamente situados e socialmente

estabelecidos por uma rede de comunicaccedilatildeo e uma ldquorede de sociabilidaderdquo239 de seus

escritores Enfim ateacute que algueacutem selecione esses livros para realizar a anaacutelise ldquoali

repousam eles misteriosos cacircntaros nas suas fraacutegeis prateleiras de vidrordquo

Vamos pois ao desafio de retiraacute-los das prateleiras e situaacute-los na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes

239 Expressatildeo utilizada tomando como referecircncia o que eacute proposto por Sirinelli (2003) ao definir redes de sociabilidade de um intelectual O autor explica que ldquotodo grupo de intelectuais organiza-se a partir de uma sensibilidade ideoloacutegica ou cultural comum e de afinidades que alimentam o desejo e o gosto de conviverrdquo (SIRINELLI 2003 p 246)

235

51 O MEacuteTODO BACADAFAacute DE ANTONIO PINHEIRO DE AGUIAR

O nome de Antonio Pinheiro de Aguiar e o de sua obra que conteacutem o meacutetodo

de leitura abreviada denominado de Bacadafaacute ainda satildeo poucos referenciados nos

estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Esse impresso passa despercebido como uma

das produccedilotildees didaacuteticas brasileiras escritas e publicadas no Brasil imperial talvez

pelas dificuldades de localizar a obra ou ateacute mesmo pela sua baixa circulaccedilatildeo nas

proviacutencias brasileiras Ateacute o momento encontramos apenas trecircs autoras que

analisaram o meacutetodo Bacadafaacute Maciel (2002) Schueler (2004 2005) e Teixeira

(2004 2008) Utilizamos principalmente essas pesquisas para tratar a respeito do

escritor o professor Pinheiro de Aguiar e de sua obra adicionando algumas

informaccedilotildees a partir das fontes consultadas

Embora essas autoras se tenham aprofundado em alguns aspectos sobre o

meacutetodo Bacadafaacute natildeo podemos negligenciar que ele eacute mencionado em outros

trabalhos como por exemplo o de Trindade (2001) Amacircncio (2008) Amacircncio e

Cardoso (2006) Assunccedilatildeo (2009) e Franklin (2017) Trindade o cita em sua tese de

doutorado referindo que natildeo haacute evidecircncias que ele foi usado na Instruccedilatildeo Puacuteblica

gauacutecha Jaacute Amacircncio e Cardoso explicitam que esse meacutetodo foi propagandeado na

proviacutencia de Mato Grosso mas natildeo foi adotado nas escolas mato-grossensses

Assunccedilatildeo em sua pesquisa sobre a alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo na deacutecada de

1870 certifica que os impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute foram enviados

a essa proviacutencia mas natildeo houve sua adoccedilatildeo oficial nas escolas capixabas Franklin

aponta que o sistema de leitura denominado Bacadafaacute fez parte de um momento poacutes-

implantaccedilatildeo do ensino secundaacuterio no Brasil fruto da tentativa de reformular o ensino

na Corte atraveacutes dos ldquomeacutetodos inovadores de alfabetizaccedilatildeordquo (FRANKLIN 2017 p

92)

Acerca da vida de Pinheiro de Aguiar Schueler (2005) explicita

Sobre o autor do meacutetodo de leitura Bacadafaacute ndash Pinheiro de Aguiar ndash pouco consegui descobrir Soube apenas que ele nascera na proviacutencia de Minas Gerais era professor de desenho e piano e exercia interinamente o cargo de professor puacuteblico na terceira escola primaacuteria de meninos da Freguesia de Santana local onde tambeacutem dirigia uma escola particular (SCHUELER 2005 p 174)

236

Podemos adicionar que o autor nasceu provavelmente em Ouro Preto em 1814

e faleceu em 1894240 foi casado com Maria Argentina de Aguiar que tambeacutem atuou

como professora no Rio de Janeiro Em notas do Jornal Correio Mercantil e do

Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro haacute propagandas da

abertura de uma escola do sexo feminino da professora Maria Argentina em ldquoSatildeo

Cristovatildeo na travessa das Flores nordm 4 ao lado da Academia Militarrdquo nos anos de

1860 em que se ensinava pelo meacutetodo Bacadafaacute esse local era a residecircncia do casal

(CORREIO MERCANTIL 19 de dezembro de 1861 p 4 ALMANAK

ADMINISTRATIVO 1865 p 431)

Satildeo Cristovatildeo nesse periacuteodo era um bairro nobre do Rio de Janeiro habitado

inclusive por famiacutelias da aristrocraria portuguesa O Coleacutegio ora nominado de

ldquoColeacutegio do Bacadafaacuterdquo ora com a referecircncia ao nome dos professores como ldquoColeacutegio

de Antonio de Pinheiro de Aguiarrdquo ou ldquoColeacutegio de D Maria Argentina de Aguiarrdquo

funcionou como um dos locais em que Pinheiro de Aguiar fazia suas exposiccedilotildees

puacuteblicas a respeito do sistema de leitura abreviada que havia criado

Essa escola foi uma das mais citadas na imprensa carioca como um dos locais

em que funcionava a aplicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute entretanto outros lugares em

que o autor abriu uma sala particular para ensinar ou para expor o seu meacutetodo no Rio

de Janeiro podem ser adicionados como o ldquocoleacutegio da Rua da Ajudardquo (PINHEIRO DE

AGUIAR CORREIO MERCANTIL 19 de julho de 1860 p 3) e a ldquocasa da rua da

Alfacircndegardquo (CORREIO MERCANTIL 8 de novembro de 1860 p 3)241 Em 1863 o

Jornal Correio Mercantil noticiou que o Imperador havia concedido a Pinheiro de

Aguiar uma ldquosala no ediacutefico lateral do Theatro S Pedrordquo onde lecionaria muacutesica e

explicaria o ldquosistema nacional de leitura raacutepidardquo oferecendo exposiccedilotildees perioacutedicas

240 No Relatoacuterio da Reparticcedilatildeo dos Negoacutecios do Impeacuterio no Rio de Janeiro haacute o Aviso datado de 14 de novembro de 1861 mencionando que Antonio Pinheiro de Aguiar autor do meacutetodo Bacadafaacute tinha na ocasiatildeo 49 anos levando ao ano de 1812 como sendo o marco de seu nascimento (RIO DE JANEIRO 1862 p 19) Utilizamos entretanto para referenciar o ano de nascimento e morte do autor os dados constantes na Plataforma Heacutelio Gravataacute um repositoacuterio com fontes digitalizadas pertencentes ao acervo do Arquivo Puacuteblico Mineiro Disponiacutevel em lthttpwwwsiaapmculturamggovbrmodulesgravata_brtdocsphotophpli d=55849gt Acesso em 25 de junho de 2019 241 Nas escolas em que Pinheiro de Aguiar lecionava ele utilizava o sistema de monitoria em que os alunos mais adiantados auxiliavam os menos adiantados Geralmente dividia-os em classe por grau de conhecimento (PINHEIRO DE AGUIAR CORREIO MERCANTIL 9 de setembro de 1861 p 2)

237

com as devidas provas que certificariam a eficaacutecia do meacutetodo Bacadafaacute (CORREIO

MERCANTIL 21 de outubro de 1863 p 2)

As exposiccedilotildees puacuteblicas abertas agrave comunidade principalmente direcionadas

aos pais de crianccedilas analfabetas foi uma das estrateacutegias utilizadas por Pinheiro de

Aguiar para divulgar o seu meacutetodo do qual foi o maior entusiasta e defensor

chegando a ser caracterizado pelo Conselho de Instruccedilatildeo Puacuteblica da Corte como

fanatista (TEIXEIRA 2008 A INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109)

Conseguiu em alguns momentos autorizaccedilatildeo desse Conselho para essas exposiccedilotildees

e quando a negavam recorria agrave Assembleia Geral Legislativa e ateacute ao proacuteprio

Imperador (CORREIO MERCANTIL 26 de maio de 1861 p 2 16 de junho de 1861

p 1 21 de outubro de 1863 p 2)

Sabe-se tambeacutem que Pinheiro de Aguiar passou um tempo na Proviacutencia de

Minas Gerais retornando ao Rio de Janeiro em 1886 No Distrito de Madre de Deus

do Anguacute pertencente ao municiacutepio de Leopoldina abriu internato de instruccedilatildeo

primaacuteria e secundaacuteria que funcionava pelo meacutetodo Bacadafaacute (PINHEIRO DE AGUIAR

JORNAL DO COMMERCIO 28 de abril de 1886 p 6)

O meacutetodo Bacadafaacute surgiu no Rio de Janeiro no final dos anos 50 do seacuteculo

XIX periacuteodo em que foi levado a puacuteblico Divulgado com mais veemecircncia entre os

anos 60 e 80 devido agrave publicaccedilatildeo de um impresso que continha a orientaccedilatildeo para

aplicaccedilatildeo do meacutetodo esse fato faz com que Pinheiro de Aguiar esteja entre os autores

nascidos no Brasil que publicaram cartilhas de alfabetizaccedilatildeo ldquogenuinamente

brasileirasrdquo242 no periacuteodo imperial Para anaacutelise do meacutetodo utilizamos duas ediccedilotildees

da cartilha datadas dos anos de 1870 agraves quais tivemos acesso por meio das

pesquisadoras professora Francisca Izabel Pereira Maciel da Universidade Federal

de Minas Gerais e professora Giselle Baptista Teixeira da Prefeitura Municipal de

Duque de Caxias O exemplar cedido por Francisca Maciel eacute uma coacutepia xerografada

de uma ediccedilatildeo de 1877 A professora Giselle Teixeira nos forneceu a digitalizaccedilatildeo de

algumas paacuteginas do impresso datado de 1871

242 Segundo Schueler (2005) Antonio Estevam Costa e Cunha defensor do Meacutetodo Bacadafaacute considerava-o ldquogenuinamente nacionalrdquo pois tratava-se de uma proposta de ensino que utilizava siacutembolos nacionais aleacutem de ter sido idealizada por um brasileiro

238

Figura 13 Capas das ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute (1871 e 1877)

Fonte Acervos pessoais das pesquisadoras Francisca Izabel Pereira Maciel e Giselle Baptista Teixeira

Analisando ambas as capas notamos mudanccedilas substanciais entre uma

ediccedilatildeo e outra principalmente no tiacutetulo A ediccedilatildeo de 1871 evidenciava o termo ldquocartardquo

jaacute a de 1877 enfatizava inicialmente o nome do meacutetodo Como Pinheiro de Aguiar

almejava que seu meacutetodo fosse conhecido entre os professores o autor pode tambeacutem

ter intitulado a obra associando-a agrave ideia das Cartas para ganhar espaccedilo e visibilidade

nas escolas de primeiras letras A partir das fontes consultadas acreditamos que a

mudanccedila do nome da obra tal como estaacute na ediccedilatildeo de 1877 foi devido agraves acusaccedilotildees

que Pinheiro de Aguiar sofreu pelos criacuteticos na impressa e pelo Conselho de Instruccedilatildeo

Puacuteblica da Corte de que seu meacutetodo natildeo tinha nada de inovador (ALAMBARY LUZ A

INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 24 de junho de 1872 p 82) Logo a mudanccedila no tiacutetulo pode

ter sido em funccedilatildeo da ideia transmitida pelo uso da expressatildeo ldquoCartardquo que se

associava agraves Cartas de ABC e ao meacutetodo de soletraccedilatildeo difundidos pelo paiacutes e

criticados como antigos e tradicionais no momento em que emergia o mercado

239

editorial do livro didaacutetico brasileiro e ldquotematizaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeordquo (MORTATTI

2000)

A disposiccedilatildeo das palavras em ambas as capas bem como a variaccedilatildeo do tipo

de letra presente nelas estava em sintonia com os livros que circulavam na corte

imperial naquele momento como por exemplo as capas dos livros de leitura de Abiacutelio

Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas editados na Franccedila conforme veremos no

proacuteximo item Tal questatildeo suscita a ideia de uma padronizaccedilatildeo das capas dos livros

ou uma referecircncia agraves capas aos moldes das tipografias francesas Essa aproximaccedilatildeo

entre a configuraccedilatildeo graacutefica brasileira e a francesa pode ser explicada ao levarmos

em consideraccedilatildeo a oficina tipograacutefica que editou a cartilha do meacutetodo Bacadafaacute

Nas capas do livro de Pinheiro de Aguiar eacute mencionada a tipografia de Pinheiro

amp C como a responsaacutevel pela ediccedilatildeo Segundo Stickel (2004) essa tipografia

pertencia ao xiloacutegrafo portuguecircs Manuel Joaquim da Costa Pinheiro (1832-1903)

ldquochegado ao Brasil em 1843 e estabelecido como tipoacutegrafo a partir de 1852 no Rio de

Janeirordquo Manuel Pinheiro foi ilustrador de vaacuterios livros ldquoprincipalmente para a Livraria

Garnierrdquo (STICKEL 2004 p 235)

Ferreira (1994) acrescenta maiores informaccedilotildees sobre Manuel Pinheiro que

sob a firma Pinheiro amp Cia entrou para o ramo editorial com uma oficina tipograacutefica

litograacutefica e xilograacutefica O ilustrador e tipoacutegrafo tinha o auxiacutelio de seu filho Alfredo

Pinheiro responsaacutevel tambeacutem pelo trabalho artiacutestico da oficina Em 1874 Ferreira

(1994) menciona que Alfredo Pinheiro foi agrave Franccedila para ldquoaperfeiccediloar-se na arte

xilograacuteficardquo recriando posteriormente nas suas produccedilotildees as teacutecnicas aprendidas

(FERREIRA 1994 p 177-183) Eacute possiacutevel a partir desses fatos pressupor que houve

aproximaccedilatildeo entre a obra do meacutetodo Bacadafaacute e os modelos de editoraccedilatildeo das capas

de livros didaacuteticos franceses

Ocorreu entre a ediccedilatildeo de 1871 e a de 1877 a supressatildeo das informaccedilotildees a

respeito da adoccedilatildeo do meacutetodo na escola puacuteblica da freguesia de SantrsquoAnna Aleacutem

disso a capa de 1877 estaacute ilustrada com um anjo cercado de livros No seacuteculo XIX a

presenccedila do siacutembolo do anjo nos livros destinados ao ensino inicial de leitura natildeo era

algo incomum e o encontramos por exemplo na estampa antes da folha de rosto da

2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso

manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever do portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho

240

(1853)243 assim como na capa do livro francecircs Meacutethode lecture sans eacutepellation de

Abria (1847)244

Passando ao conteuacutedo da obra considerando as fontes consultadas

especialmente as da imprensa carioca notamos que a ediccedilatildeo de 1871 se compocircs do

agrupamento de uma breve explicaccedilatildeo sobre o meacutetodo Bacadafaacute escrita por Antonio

Pinheiro de Aguiar no Rio de Janeiro em 06 de outubro de 1871245 as cartas de leitura

para aplicaccedilatildeo do meacutetodo proposto pelo autor as quais detalharemos adiante aleacutem

dos quadros de tabuada resumida de somar diminuir multiplicar e dividir246 A ediccedilatildeo

de 1877 foi modificada tendo havido a inserccedilatildeo do ldquoproacutelogordquo e o texto intitulado

ldquoMethodo Bacadafaacuterdquo que ocupou a extensatildeo de 7 paacuteginas escrito por Pinheiro de

Aguiar em 1ordm de julho de 1877 elucidando detalhadamente os exerciacutecios para

aplicaccedilatildeo do seu meacutetodo Nessa ediccedilatildeo natildeo constam os quadros matemaacuteticos

apresentados na anterior247

O meacutetodo Bacadafaacute consistia numa proposta que tinha como base historietas

sobre quatro indiacutegenas que formavam a famiacutelia Bacadafaacute o pai da famiacutelia Gajalamaacute

a matildee Naparasaacute a filha e Tavaxazaacute o filho Essa proposta pensada por Pinheiro de

Aguiar podia ser aplicada tanto para crianccedilas quanto para adultos analfabetos Nas

experiecircncias desse professor em seus coleacutegios ele abriu salas no diurno para ensinar

as crianccedilas e no noturno destinadas aos adultos (CORREIO MERCANTIL 8 de

243 A estampa apresenta um anjo na porta de local nomeado de ldquoTemplo do saberrdquo Haacute tambeacutem crianccedilas jogando numa fogueira folhas com letras inscritas essas remontando agraves Cartas de ABC No canto inferior ao lado esquerdo haacute a representaccedilatildeo de um homem com a matildeo na cabeccedila e semblante de preocupaccedilatildeo observando a cena 244 A imagem da capa desse livro apresenta um anjo sentado e ao seu redor quatro crianccedilas em peacute No colo do anjo haacute um livro aberto e duas das crianccedilas o seguram A expressatildeo e olhar do anjo demonstram que ele estaacute lendo o livro para as crianccedilas Aos peacutes do anjo haacute outra crianccedila sentada folheando um livro no colo com olhar direcionado agraves paacuteginas como se estivesse lendo Na imagem tambeacutem aparece uma cruz atraacutes do anjo e trecircs livros no chatildeo Frade (2012) analisa alguns elementos da configuraccedilatildeo graacutefica desse livro de uma ediccedilatildeo de 1852 Uma versatildeo digitalizada dessa obra pode ser consultada no link lthttpsgallicabnf frark12148bpt6k58494696gt Acesso em 21 de junho de 2019 245 Esse texto de Pinheiro de Aguiar tambeacutem estaacute publicado no perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica (PINHEIRO DE AGUIAR A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 108-109) 246 Segundo Alambary Luz (A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 108) Pinheiro de Aguiar mandou imprimir 10 mil exemplares do meacutetodo Bacadafaacute oferecendo-os ao governo central para que fossem distribuiacutedos pelas escolas da proviacutencia do Impeacuterio 247 Como natildeo conseguimos acessar os originais do Meacutetodo Bacadafaacute essa descriccedilatildeo toma especialmente como referecircncia os exemplares a que tivemos acesso Reconhecemos por conseguinte os limites dessa caracterizaccedilatildeo Consideramos tambeacutem as informaccedilotildees publicadas sobre o meacutetodo Bacadafaacute no perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica em 1872 e 1874 (A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 24 de junho de 1872 14 de julho de 1872 18 de agosto de 1872 20 de outubro de 1872 24 de novembro de 1872 6 de setembro de 1874)

241

novembro de 1860 p 3) A sua principal propaganda era a eficiecircncia do meacutetodo que

obteria resultados de forma raacutepida e prazerosa de modo que se aplicado conforme

as orientaccedilotildees do autor com os exerciacutecios previstos qualquer sujeito se alfabetizava

em no maacuteximo 20 liccedilotildees

Os nomes dos personagens que compunham a famiacutelia de indiacutegenas conduziam

a organizaccedilatildeo do meacutetodo disposto em trecircs cartas

Sobre a primeira etapa o autor diz na ediccedilatildeo de 1871

Faccedila-se o menino conhecer os nomes dos quatro indios que se achatildeo escriptos no quatro ou carta por baixo de cada figura em sentido vertical explicando-lhe e mostrando-lhe que cada um destes nomes se compotildee de quatro tempos (syllabas) e obrigando-o a distinguir estes tempos uns dos outros jaacute seguidamente jaacute salteado primeiro em sentido vertical e depois no horizontal (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifo do autor)

As explicaccedilotildees feitas por Pinheiro de Aguiar ficam mais claras ao observarmos

a primeira carta presente na cartilha do meacutetodo Bacadafaacute denominada pelo autor

como Carta dos Iacutendios (PINHEIRO DE AGUIAR 1871)

Figura 14

Primeira carta do meacutetodo Bacadafaacute (1871)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

242

Inicialmente eram apresentados os personagens e os seus nomes utilizando

a primeira carta Essa carta tinha por objetivo apresentar as vogais as consoantes do

alfabeto e as principais combinaccedilotildees silaacutebicas com a vogal ldquoardquo Para a memorizaccedilatildeo

das vogais Pinheiro de Aguiar orientava contar a seguinte narrativa

O indio pai achando-se doente gemia constantemente deste modo ai ai ai Um carreiro passando pela porta ouvindo esse gemido fez parar o carro com o signal oacute oacute para o boi parar e perguntou Quem estaacute gemendo Eu eu respondeu o doente Eis aqui os sons das cinco vogaes a i e u o (PINHEIRO DE AGUIAR 1877 p 10 grifos do autor)

Notamos ao contrapor a imagem da primeira carta com as informaccedilotildees do

fragmento que na primeira linha da tabela na coluna do meio satildeo apresentadas as

vogais maiuacutesculas e minuacutesculas Entre essas vogais eacute utilizado um siacutembolo como

uma seta que as ligava remetendo para as siacutelabas compostas na historieta narrada

no excerto Importante destacar que Pinheiro de Aguiar (1871) explica que essa

narraccedilatildeo deve ser feita logo apoacutes o estudo da primeira carta Portanto o meacutetodo tem

o seu princiacutepio pela siacutelaba e na sequecircncia a ecircnfase estaacute na palavra O texto

empregado nessa etapa eacute oralizado pelo professor apenas para facilitar que os

alunos memorizem a liccedilatildeo aprendida

Como podemos verificar na figura 14 os nomes dos indiacutegenas satildeo

apresentados em siacutelabas separadas em quatro colunas distintas sendo a primeira

recomendaccedilatildeo do autor para uso dessa parte da carta um exerciacutecio de leitura das

siacutelabas na vertical e horizontal no qual o aprendente conhece o valor sonoro das

consoantes dispostas antes e depois das vogais tal como destaca

Como o methodo soacute admitte o som das cinco vogaes para que o alumno reconheccedila o semi-som das consoantes e principalmente das consoantes liquidas faccedila-se sentir bem a vibraccedilatildeo com que comeccedilatildeo as articulaccedilotildees la ma na ra as obrigando o menino a dizer vagarosamente para bem sentir a percussatildeo da consoante a-l-ma a-m-para a-n-ta a-r-ma a-s-pa etc em seguida mais depressa para exprimir os vocabulos ndash alma ampara anta arma aspa etc Exercite-se depois o menino a juntar estas mesmas consoantes aacutes syllabas de que satildeo formados os nomes dos indios para compor por exemplo os vocabulos balda campa dante farta fazendo vibrar bem a voz nas consoantes liquidas e ter-se-ha feito os primeiros e principaes exercicios do systema por meio dos quaes o analphabeto tem conhecido o valor de todas as consoantes quer se ache a consoante antes da vogal ex la quer se ache depois ex al (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifos do autor)

243

Na carta tambeacutem eacute apresentada aleacutem da letra de imprensa a letra manuscrita

em congruecircncia com o que se ensinava nas escolas de primeiras letras da Corte

(ARRIADA TAMBARA 2012) O destaque nessa primeira carta eacute a formaccedilatildeo de

siacutelabas com a vogal ldquoardquo Pinheiro de Aguiar (1871 1877) continua esclarecendo que

logo apoacutes o aluno iraacute ligar as letras dos nomes dos quatro indiacutegenas com as demais

vogais

Dessa maneira o que Pinheiro de Aguiar arquiteta eacute um sistema de

alfabetizaccedilatildeo constituiacutedo pelo meacutetodo silaacutebico uma vez que a base do processo de

ensino da leitura eacute a siacutelaba compondo palavras e as decompondo para enfatizar a

sonoridade das letras O autor na sua explicaccedilatildeo sobre o meacutetodo natildeo o classificava

assim mas encontramos tal referecircncia nos escritos do professor Antonio Estevam

Costa e Cunha segundo Schueler (2005 p 174) o ldquoprincipal estusiasta e divulgadorrdquo

do meacutetodo Bacadafaacute no Rio de Janeiro

Agora vejamos quaes os principaes methodos seguidos no ensino de leitura afim de habilitar-nos a estabelecer a comparaccedilatildeo entre elles e o que presentemente nos occupa Os dous methodos mais geraes satildeo o synthetico e o analytico No primeiro comeccedila o menino por ver a palavra (ou algumas palavras formando uma historiazinha) decompotildee a palavra nos sons ou syllabas que a foacutermam e estas nos seus elementos constituintes consoantes e vogaes ou soacute vogaes Parece um tal processo a quem nunca o aplicou ou viu aplicar escabroso anti-natural a algumas afigura-se ateacute como uma monstruosidade mas tanto isso natildeo eacute assim que por elle se ensina e se aprende nos paizes que em mateacuteria de instrucccedilatildeo publica caminham na vanguarda de todos os outros O processo do methodo analytico eacute conhecido de todos aprende-se a conhecer e distinguir as letras depois as syllabas e em seguida as palavras por meio da soletraccedilatildeo Foi por elle que aprendemos eacute o mais conhecido e applicado parece-nos por isso o mais natural e o mais facil Cumpre pois que prescindamos de uma tal parcialidade se quisermos julgar com equidade Ora entre os dous extremos fica o methodo syllabico que poacutede ser considerado o seu meio termo Este comeccedila natildeo jaacute pelas palavras como o synthetico nem pelas letras como o analytico mas pelos sons ou syllabas e que se denomina Bacadafaacute (como bem disse o Sr Dr Alambary) natildeo eacute outra cousa mais do que este mesmo methodo com o aditamento das figuras e historietas (COSTA E CUNHA A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 20 de outubro de 1872 p 241-242 grifos do autor)

Acompanhando as explicaccedilotildees sobre os meacutetodos presentes nesse discurso de

Costa e Cunha verificamos que sua distinccedilatildeo entre os meacutetodos analiacutetico e sinteacutetico

foge da compreensatildeo que se tem sobre eles nos estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

No campo educacional os meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo satildeo essencialmente

244

caracterizados como de marcha sinteacutetica ou de macha analiacutetica (MORTATTI 2000

FRADE 2007) Essa questatildeo foi teorizada por Guillaume (1911) sendo que ldquoestas

denominaccedilotildees sugerem que tal classificaccedilatildeo dos meacutetodos se baseava nos processos

psicoloacutegicos subjacentesrdquo (BRASLAVSKY 1988 p 42)

Segundo Guillaume (1911) os meacutetodos sinteacuteticos orientam-se pelo ensino das

partes para o todo (das letras ou fonemas ou siacutelabas para depois introduzir as

palavras frases e os textos) Jaacute os analiacuteticos satildeo aqueles que se orientam pelo inverso

(das palavras ou frases ou textos para compreensatildeo de unidades menores da liacutengua

ndash letras fonemas e siacutelabas)

A inversatildeo feita por Costa e Cunha248 ao explicar a questatildeo dos meacutetodos de

marchas analiacutetica e sinteacutetica eacute um tanto intrigante e carece de estudos apronfundados

ndash que ultrapassam os nossos objetivos desse item ndash para compreender o que teria

levado esse professor a tecer tal discurso classificando os meacutetodos de leitura de

forma diferente da que circulava naquele momento pelo paiacutes e pelo ocidente

(MARCILIO 2016 MACIEL 2002) Indubitavelmente ele enaltece o meacutetodo de

Pinheiro de Aguiar o define como silaacutebico acrescido de figuras e historietas

destacando tambeacutem que era um ldquomeio termordquo entre o analiacutetico e o sinteacutetico

Retomando os procedimentos para aplicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute logo apoacutes

a primeira carta em que o aprendente fez as combinaccedilotildees silaacutebicas formadas pela

estrutura de consoante + vogal Pinheiro de Aguiar (1871 1877) orienta o professor

Para que os meninos conheccedilam as syllabas taes como bla bra cla cra affecta-se que o indio diz ba e a iacutendia la e que subtrahindo a vogal do som expresso pelo indio fica soacute o semi-som do b que cahindo sobre a syllaba pronunciada pela india liga-se formando b-la e depois mais depressa bla e assim por diante se formatildeo as syllabas ndash b-ra mais depressa bra c-ra mais depressa cra pronunciadas pela india e em seguida se faraacute o mesmo com os sons das seguintes vogaes ndash e i o u ex ble cri dro fra etc Conveacutem guardar para as ultimas explicaccedilotildees as semelhanccedilas de certos sons como ccedila e sa xa e cha etc os diversos sons do c x ch as consonancias acessorias do nosso alfabeto lh e nh usando ainda de um artifiacutecio para obrigar o alumno a distinguir os sons gue je e que lembrando-lhe os nomes de certas fructas de que se alimentatildeo aquelles indios e que em sua lingua se chamatildeo ndash quejeque e com a vogal i guigiqui (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 sp grifos do autor)

248 Essa mesma inversatildeo consta no parecer sobre a explicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute emitido por Costa e Cunha ao governo imperial em 14 de dezembro de 1871 conforme atesta a documentaccedilatildeo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro inventariada por Teixeira (2008)

245

O fragmento ilustra o princiacutepio da segunda parte do meacutetodo que se apoiava no

uso de cartas de leituras subsequentes agrave Carta dos Iacutendios (figura 14) sendo

intituladas pelo autor de Quadro Synoptico do Methodo de Leitura Abreviada e Carta

de nomes

Figura 15 Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada (1871)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

Pinheiro de Aguiar (1871) acrescenta que os exerciacutecios da segunda carta

(figura 15) se bem desenvolvidos juntamente com a terceira carta (figura 16) datildeo

resultados em poucas liccedilotildees O autor explica que

A 2ordf carta ou quadro synoptico consta de cinco columnas no alto de cada qual se acha uma das cinco vogaes As consoantes escriptas em sentido horisontal ligadas agrave vogal de cima formatildeo na 1ordf columna os nomes dos indios e nas outras columnas as outras syllabas com e i o u Mais abaixo no sentido horisontal ainda se encontram as syllabas bla ble etc depois as syllabas bra bre etc Em seguida al el etc am na ar as etc ateacute as mais difiacuteceis emfim todas as que formatildeo os vocabulos da nossa opulenta lingua (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifos do autor)

246

Dessa maneira a terceira carta que apresentava 133 palavras foi pensada

pelo autor para aplicaccedilatildeo dos exerciacutecios da segunda carta

Figura 16 Carta de nomes do Meacutetodo Bacadafaacute

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

Ao observamos a informaccedilatildeo constante no rodapeacute dessa carta de que a

impressatildeo ocorreu na Tipografia de Paula Brito em 1860 consideramos que as

primeiras ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute circularam jaacute nos anos 60 sendo inicialmente

restritas ao coleacutegio mantido por Pinheiro de Aguiar onde se praticava o meacutetodo

Bacadafaacute e depois vendidas aos pais que se interessassem por conhecer a proposta

para ensinar aos filhos (JORNAL DO COMMERCIO 23 de dezembro de 1867 p 2)

No proacutelogo da ediccedilatildeo do Bacadafaacute de 1877 o autor menciona que a proposta

surgiu em 1858 tendo ele em 7 de novembro desse ano numa exposiccedilatildeo puacuteblica em

Satildeo Cristovatildeo apresentado os resultados de vinte liccedilotildees de meacutetodo aplicadas com

crianccedilas analfabetas Nesse texto o autor ainda explicita que fez nove exposiccedilotildees

puacuteblicas nas quais natildeo houve contestaccedilatildeo por isso demonstrava que o impresso

seria profiacutecuo natildeo apenas para uma escola e sim para o paiacutes249 Esse argumento

249 No Jornal Correio Mercantil na ediccedilatildeo de 27 de setembro de 1859 haacute uma nota sob o tiacutetutlo ldquoAttenccedilatildeordquo assinada por Antonio Pinheiro de Aguiar alegando que ele fez uma exposiccedilatildeo puacuteblica no dia 05 de dezembro de 1858 em que demonstrou a possibilidade de alfabetizar um menino em 20 dias Noticia que abriria um curso primaacuterio gratuito oferecendo-

247

pode inclusive justificar a supressatildeo na capa da ediccedilatildeo de 1877 das informaccedilotildees

constantes abaixo do tiacutetulo do impresso de 1871 sobre a adoccedilatildeo do meacutetodo na escola

puacuteblica da freguesia de SantrsquoAnna

Na deacutecada de 1870 ao que tudo indica expandiu-se a comercializaccedilatildeo do

meacutetodo Bacadafaacute em virtude do Parecer do Conselho de Instruccedilatildeo Puacuteblica da Corte

que destacava que na proposta de Pinheiro de Aguiar havia vantagens sendo digna

de estudos e testagens devido tambeacutem agraves cores e siacutembolos nacionais que eram

usados (A INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109-110)

O meacutetodo entretanto natildeo foi aprovado em primeira instacircncia pelo Conselho

Nos anos de 1860 Pinheiro de Aguiar percorreu um aacuterduo caminho em defesa da sua

aprovaccedilatildeo e difusatildeo Em 1861 haacute registros que o meacutetodo foi rejeitado pelo Ministeacuterio

do Impeacuterio (CORREIO MERCANTIL 26 de maio de 1861 p 2) Por isso o autor

recorreu no mesmo ano agrave Cacircmara de Instruccedilatildeo Puacuteblica na Assembleia Geral

Legislativa solicitando a permissatildeo para colocar o meacutetodo Bacadafaacute em praacutetica aleacutem

de pedir uma subvenccedilatildeo para auxiliaacute-lo (CORREIO MERCANTIL 16 de junho de

1861 p 1) O Jornal do Commercio menciona que em 1862 Pinheiro de Aguiar fez a

doaccedilatildeo de 1000 coleccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute agrave Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo

Puacuteblica para que fossem distribuiacutedas nas aulas puacuteblicas da Corte mas como o

material natildeo havia ainda sido aprovado para ampla divulgaccedilatildeo solicitou o estorno dos

donativos para o aproveitamento dos impressos em suas aulas particulares

(PINHEIRO DE AGUIAR JORNAL DO COMMERCIO 22 de janeiro de 1862 p 2)

Em 1863 com a autorizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Impeacuterio o meacutetodo pocircde ser praticado

mas com a ressalva de que era apenas sob a tutela do autor (JORNAL DO

COMMERCIO 29 de agosto de 1863 p 3) Entretanto o que Pinheiro de Aguiar

pretendia era que seu meacutetodo se expandisse pelas escolas primaacuterias do territoacuterio

carioca e pelo paiacutes

Schueler (2005) revela que em 1871 Pinheiro de Aguiar requereu agrave Inspetoria

de Instruccedilatildeo Puacuteblica o reconhecimento do seu meacutetodo apresentando provas que

atestavam a sua eficaacutecia No perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica haacute a transcriccedilatildeo do

parecer emitido em 1871 por uma comissatildeo instalada sob ordem do Imperador para

averiguar a utilidade do meacutetodo Bacadafaacute Na conclusatildeo do parecer ficou expresso

o tambeacutem aos pais e pessoas interessadas (PINHEIRO DE AGUIAR CORREIO MERCANTIL 27 de setembro de 1859 p 2)

248

que embora identificassem nele vaacuterias vantagens em relaccedilatildeo aos meacutetodos antigos

de ensino de leitura que circulavam pelas escolas acreditaram ser prudente natildeo

estendecirc-lo autorizando apenas que Pinheiro de Aguiar regesse uma cadeira

utilizando a sua proposta Reiteraram tambeacutem a necessidade de os professores serem

formados para aplicaccedilatildeo do sistema da aprendizagem de leitura abreviada devendo

o autor abrir espaccedilo para os professores que quisessem conhecer o meacutetodo e a

Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica igualmente designar Adjuntos para aprenderem

(A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109-110)

Nas deacutecadas de 1860 e 1870 os jornais Correio Mercantil e Jornal do

Commercio ndash publicaccedilotildees cariocas ndash que passaram a propagandear a venda dos

impressos de Pinheiro de Aguiar mencionavam que estavam agrave venda ldquoas cartas e as

tabuadas do sistema de leitura abreviadardquo o que pode indicar que a primeira segunda

e terceira cartas propostas pelo autor bem como o quadro de tabuada poderiam ser

comprados avulsos

Esses impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute circularam nas escolas

de primeiras letras goianas conforme atesta o ofiacutecio remetido pelo Presidente de

Goiaacutes Antero Ciacutecero de Assis ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da proviacutencia

em 1872

Nordm 24 17 de janeiro de 1872 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Sentilder = Remetto a v S a fim de mandal-os distribuir pelas escolas de instrucccedilatildeo primaria desta Provincia quinheiros e um exemplares de Cartas para o exercicio da leitura rapida quatrocentros e noventa e nove ditos do methodo de leitura quatrocentos e noventa e sete dos do Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada noventa e seis das explicaccedilotildees do methodo Bacadafa e noventa e cinco ditos de taboada do mesmo methodo recommendando aos Professores o estudo do systema e aplicaccedilatildeo com ensaio a alguns dos alunos para [ilegiacutevel] conta dos resultados adquiridos para os fins convenientes convindo que tal distribuiccedilatildeo seja feita de preferencia para aacutequelles lugares em que se poacutede tirar vantagem = Deos Guarde a VS = Antero Cicero de Assis = Sentilder Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529)

A questatildeo do meacutetodo Bacadafaacute em Goiaacutes foi referida por Arauacutejo e Silva (1975)

a qual alertou que ele natildeo foi bem aceito na proviacutencia visto que se afastava do ldquoniacutevel

cultural do professorado primaacuteriordquo goiano (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 142) Valdez

(2011) tambeacutem menciona que houve solicitaccedilotildees na deacutecada de 1870 da ldquoCarta do

methodo de leitura abreviada das explicaccediloes do methodo Bacadafaacuterdquo Ademais nas

249

fontes consultadas natildeo encontramos outros registros que demonstrassem a

circulaccedilatildeo desse meacutetodo e do impresso de seu autor pela proviacutencia

Retomando o ofiacutecio do Presidente Assis acima transcrito haacute a citaccedilatildeo de cartas

e quadros que compunham o sistema de leitura raacutepida pelo meacutetodo abreviado

denominado Bacadafaacute Todos os impressos mencionados satildeo obras de Antonio

Pinheiro de Aguiar Pela recomendaccedilatildeo do ofiacutecio os materiais seriam distribuiacutedos em

locais que tivessem condiccedilotildees para tirar vantagens do meacutetodo ou seja salas de aula

providas de materiais e de professores o que limitava consideravelmente as escolas

restringindo-as agraves proacuteximas da Capital Cotejando a fonte anterior com os dados

apresentados nas pesquisas de Assunccedilatildeo (2009) Amacircncio (2000) Amacircncio e

Cardoso (2006) eacute possiacutevel supor que as obras de Pinheiro de Aguiar distribuiacutedas pelo

governo goiano foram doadas pelo autor principalmente pela coincidecircncia das datas

e tiacutetulos das obras

Aleacutem disso haacute indiacutecios de que a proposta do meacutetodo Bacadafaacute circulou pelas

escolas goianas especialmente porque na proviacutencia houve iniciativas de divulgaccedilatildeo

da revista A Instrucccedilatildeo Puacuteblica que propagandeou esse meacutetodo publicando suas

vantagens em textos assinados sobretudo por Antonio Estevam Costa e Cunha250

Dois ofiacutecios datados de 1872 colaboram para entendermos essa questatildeo

Nordm 206 16 de 9brordm de 1872 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Sentilder = Remetto a V S por copia inclusa o Avizo Circular do Ministerio do Imperio nordm 4307 de 30 de setembro do corrente anno recommendando que se promova nesta Provincia a assinatura da folha hebdommandaria intitulada ndash A Instrucccedilatildeo Publica que se publica na Cocircrte im a qual satildeo apresentados ideas aacute respeito dos melhores methodos do ensino primario e outros assumptos correlativos cuja propagaccedilatildeo muito convem = Espero que V S empregaraacute seus esforccedilos no sentido de ser satisfeita a recommedanccedilatildeo constante do citado Avizo = Deos Guarde a V S = Antero Cicero Assis = Sentilder Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 16 de novembro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529)

Em 21 de 9bro de 1872 Circular aos Inspectores Parochiaes da Prova

I G da I P da P em 21 de Novbro de 1872 Ilmo Sr ndash Tendo V Exordf o Sr Preside da Prova por offordm nordm 206 de 16 do corre remettido aacute esta Inspectoria o Aviso Circular do Ministerio do Impo nordm 4307 de 30 de 7brordm ultimo expondo a convenniencia de propagar as ideias ~q na folha hebdomadaria intitulada ldquoA Instruccedilatildeo Publicardquo e publicada na Cocircrte satildeo apresentadas sobre os melhores methodos do ensino

250 Sobre isso cf Lima (2008) e Schueler (2005)

250

primario e outros assumptos correlativos e recommendando q~ se promova nesta provordf a assinatura da dordf folha especialmente pelos professores publicos e de mais pessocircas ~q se dedicaotilde ao magisteacuterio e se interessaotilde pelo progresso da instrucccedilatildeo popular espera ~q V S empregaraacute seus esforccedilos no sentudo de ser satisfeita a recomendaccedilatildeo constante da citado Aviso Ds ge aacute vS ndash Ilmo Srntilde Inspor Parochl da Frega de SantrsquoAnna desta Cidade o Cocircnego Jm Vice Azevedo Inspetor Geral da Instrucccedilatildeo Publica Identica aos demais Inspectores Parochiais da Prova inclusive a do Rosario da Capital (AZEVEDO 21 de novembro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402)

Como se lecirc no primeiro ofiacutecio o Presidente Assis se dirige ao Inspetor Geral de

Instruccedilatildeo Puacuteblica e recomenda atendendo a uma circular do Ministeacuterio do Imperio a

assinatura do perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica uma publicaccedilatildeo da Corte

Posteriormente o Inspetor Geral Joaquim Vicente de Azevedo encaminha aos

Inspetores Paroquiais a recomendaccedilatildeo de promover a assinatura desse impresso

pedagoacutegico entre os professores e pessoas interessadas pelo magisteacuterio sob a

justificativa de que ele apresentava explicaccedilatildeo dos melhores meacutetodos de ensino

A Instrucccedilatildeo Publica Publicaccedilatildeo Hebdomadaria teve seu primeiro nuacutemero

publicado em 13 de abril de 1872 sendo fundada e dirigida por Joseacute Carlos Alambary

Luz que atuou como Diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (SCHUELER 2005a

VILLELA 2002) Esse perioacutedico circulou segundo Lima (2008) em duas fases a

primeira entre 1872 e 1875 e a segunda de 1887 a 1888 Consultando as suas

ediccedilotildees disponiacuteveis no Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

notamos que os meacutetodos de ensino foram um tema frequentemente retomado pelos

redatores

A pesquisa de Lima (2018) ao tratar sobre a primeira fase desse perioacutedico

nota que ele veiculou com mais veemecircncia trecircs meacutetodos de ensino de leitura

indicando-os para as escolas primaacuterias o Meacutetodo Bacadafaacute o Meacutetodo de Leitura de

Michel Charbonneau e o Meacutetodo Portuguez Castilho A autora destaca que o

Bacadafaacute foi o primeiro a ser divulgado com a publicaccedilatildeo de artigos que explicaram

o meacutetodo e seus benefiacutecios na instruccedilatildeo de crianccedilas e adultos analfabetos

Se de fato os professores goianos tiveram acesso agraves publicaccedilotildees das ediccedilotildees

de A Instrucccedilatildeo Publica eles puderam acompanhar um discurso em defesa do meacutetodo

Bacadafaacute e sua brasilidade Nesse ponto Schueler (2004) demonstra que o ldquomeacutetodo

tinha a intenccedilatildeo de tambeacutem ensinar as primeiras noccedilotildees de histoacuteria e geografia

paacutetrias contribuindo dessa maneira para a formaccedilatildeo de sentimentos e ideias de

251

nacionalidaderdquo (SCHUELER 2004 p 81) O Bacadafaacute cindia com os meacutetodos

baseados em imagens e textos estrangeiros todavia para Schueler (2005) sua

originalidade natildeo estava relacionada a esse aspecto mas acima de tudo ldquona sua

aplicaccedilatildeo para o conjunto das disciplinas e dos saberes escolaresrdquo (SCHUELER

2005 p 183)

Aleacutem do mais a proposta de alfabetizaccedilatildeo em 20 liccedilotildees sintonizava-se com os

anseios da proviacutencia goiana naquele momento marcada pela cultura de uma

populaccedilatildeo que natildeo reconhecia a importacircncia da instruccedilatildeo primaacuteria devido aos baixos

resultados por ela produzidos e tambeacutem agraves dificuldades de acesso agrave escola (ASSIS

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1873 1874)

Como dito natildeo localizamos documentaccedilotildees para discorrer a respeito das

praacuteticas e dos usos dos impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute nas escolas

da proviacutencia goiana Apesar disso registramos nesta Tese que Goiaacutes esteve na rota

de Pinheiro de Aguiar entre as localidades que receberam seus impressos e os

distribuiacuteram pelas escolas puacuteblicas Mesmo assim permanece uma lacuna nas

pesquisas da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil imperial uma vez que pouco ainda

sabemos sobre a aplicabilidade do meacutetodo Bacadafaacute nas escolas brasileiras e em que

medida houve sua repercussatildeo no territoacuterio nacional

52 OS LIVROS DE LEITURA DE ABIacuteLIO CEacuteSAR BORGES

A presenccedila da obra de Abiacutelio Ceacutesar Borges na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana foi

registrada nas memoacuterias de Cora Coralina ao escrever passagens da sua infacircncia na

ldquoEscola da Mestra Silvinardquo

Minha escola primaacuteria Escola antiga de antiga mestra [] Nem recreio nem exames Nem notas nem feacuterias Sem cacircnticos sem merenda Digo mal mdash sempre havia distribuiacutedos alguns bolos de palmatoacuteria A granel Natildeo que a Mestra era boa velha cansada aposentada Tinha jaacute ensinado a uma geraccedilatildeo antes da minha A gente chegava ldquomdash Benccedila Mestrardquo

252

Sentava em bancos compridos escorridos sem encosto Lia alto liccedilotildees de rotina o velho abecedaacuterio liccedilatildeo salteada Aprendia a soletrar Vinham depois Primeiro segundo terceiro e quarto livros do erudito pedagogo Abiacutelio Ceacutesar Borges mdash Baratildeo de Macauacutebas E as maacuteximas sapientes do Marquecircs de Maricaacute (CORALINA 1977 p 40)

Esses versos de Cora satildeo recorrentemente mencionados para representar a

infacircncia e a sua escolarizaccedilatildeo no seacuteculo XIX no iniacutecio da Repuacuteblica em especial na

Cidade de Goiaacutes na eacutepoca capital do estado A poetisa desvela a cultura escolar do

periacuteodo levando-nos a considerar que as mudanccedilas advindas do sistema republicano

natildeo tiveram repercussotildees imediatas nos modos de fazer nas escolas em Goiaacutes Haacute

que se destacar que essa permanecircncia de praacuteticas escolares como advogam

Carvalho (2003) Souza (1998) e Faria Filho (2014) dentre outros autores natildeo foi um

fato restrito agrave histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

Reiterando o que Valdez (2006) aponta ao nos debruccedilarmos sobre as fontes

inventariadas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes notamos que as primeiras

menccedilotildees agrave utilizaccedilatildeo das obras de Abiacutelio Ceacutesar Borges na proviacutencia goiana datam do

iniacutecio da deacutecada de 1870 A autora elucida que as obras do Baratildeo foram mencionadas

nas listas de expediente escolar ateacute os anos 30 do seacuteculo XX o que certifica a

longevidade do uso desses impressos nas escolas espalhadas do sul ao norte de

Goiaacutes por mais de meio seacuteculo

Abiacutelio Ceacutesar Borges nasceu na Bahia em 1824251 e sua formaccedilatildeo em niacutevel

superior se deu entre a Faculdade de Medicina da Bahia e a Faculdade de Medicina

do Rio de Janeiro onde defendeu sua tese em 1847 (GONDRA 2004) Ainda na

faculdade manteve viacutenculos com a imprensa jornaliacutestica divulgando seus escritos

251 Mesmo com toda a ecircnfase laudatoacuteria feita por Isaias Alves (1936) um dos primeiros bioacutegrafos de Abiacutelio Ceacutesar Borges ele nos fornece alguns elementos importantes da vida desse escritor Por isso registramos que todas as dataccedilotildees e informaccedilotildees a respeito da vida e das obras de Abiacutelio foram referenciadas a partir das contribuiccedilotildees de Isaiacuteas Alves publicadas em Vida e obra do Baratildeo de Macahubas (ALVES 1936) A ediccedilatildeo a que tivemos acesso foi editada no Rio de Janeiro pela Ediccedilotildees Infacircncia e Juventude

253

Valdez (2006) fez um levantamento de alguns de seus textos escritos e afirma que

ldquocomo outros intelectuais de sua eacutepoca publicou artigos em jornais e revistas de

grande circulaccedilatildeo da Bahia e de outras proviacutencias Natildeo soacute escreveu em jornais como

tambeacutem lsquochefioursquo algunsrdquo (VALDEZ 2006 p 38)

Atuou pouco tempo como Meacutedico profissatildeo que abandonou em 1856 para

dedicar-se agrave educaccedilatildeo Foi Diretor da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Bahia e fundou escolas

privadas na Bahia no Rio de Janeiro e em Minas Gerais Nessas escolas que criou e

dirigiu ldquoprocurou materializar seu projeto de reforma e de modernizaccedilatildeo da instruccedilatildeordquo

(GONDRA 2009 p 67) Sobre sua experiecircncia nesses coleacutegios Aniacutesio Teixeira em

1952 publicou um texto na Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos em que

destacou que nesses espaccedilos Abiacutelio praticou ldquouma educaccedilatildeo revolucionaacuteria para o

tempo e em todos encontrando professocircres para auxiliaacute-lo e ambiente para lhe

aplaudir e estimular os esforccedilosrdquo (TEIXEIRA 1952 sp) Na mesma Revista

Bittencourt (1953) nomina os principais fundadores de escolas privadas no territoacuterio

brasileiro no Impeacuterio e na Repuacuteblica demonstrando que o nome de Borges esteve

entre os pioneiros em instituiccedilotildees consagradas pelos meacutetodos e pelos resultados

difundidos no Brasil

Reconhecido natildeo soacute em niacutevel nacional como tambeacutem no contexto

internacional por meio de premiaccedilotildees pelas obras produzidas e pelos feitos no campo

educacional foi condecorado em 1881 pelo Imperador Dom Pedro II com o tiacutetulo de

Baratildeo de Macauacutebas Com a Igreja manteve relaccedilotildees amistosas no Impeacuterio chegando

a receber em 1879 o grau de Comendador da Ordem de Satildeo Gregoacuterio Magno de

Roma pelas matildeos do Papa Pio IX (ALVES 1936)

Tudo isso demonstra como ldquoparticipou ativamente do Impeacuteriordquo (FRADE 2010a

p 173) Valdez (2006) aponta que devido aos laccedilos com a Monarquia apoacutes a

implementaccedilatildeo da Repuacuteblica nas escolas brasileiras os livros do Baratildeo de Macauacutebas

foram gradativamente sendo substituiacutedos por outras seacuteries de livros de leitura Sobre

isso acrescentariacuteamos que o cenaacuterio da produccedilatildeo didaacutetica do paiacutes no periacuteodo

tambeacutem contribuiu para que os impressos de Borges disputassem espaccedilo ao lado de

vaacuterios outros autores que lanccedilaram suas produccedilotildees sob a influecircncia do sistema

republicano e do espiacuterito nacionalista Outro aspecto a considerar foi a dificuldade dos

livreiros em fornecer os livros de Abiacutelio Uma correspondecircncia datada de 1890

encontrada na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa do

Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes pode clarear um pouco dessa questatildeo em Goiaacutes

254

Nordm 188 Governo do Estado de Goyas 30 de setembro de 1891

Com vosso officio nordm 178 de hontem datado me apresentando requerimto a vos dirigido em que os negociantes drsquoesta praccedila Adolpho Luis Guedes fornecedores de objetos de expediente para as reparticcedilotildees publicas drsquoeste Estado pedem permissatildeo para no fornecimto que doravante tiverem de faser p as escolas publicas primarias substituir o 1ordm livro de leitura do Dr Abilio p um novo 1ordm livro de mmo autor visto natildeo se encontrar drsquoaquelles que pelo contracto satildeo obrigados a fornecer Em resposta tenho a diser-vos que concordo na substituiccedilatildeo dos ditos livros contanto que seja conservado o preccedilo de taes livros estipulados no respectivo contracto Incluso vos devolvo o citado requerimento Saude e fraternidade Rodolpho G de Paixatildeo Ao Insp da Instr Publi Do Estado (PAIXAtildeO 30 de setembro de 1891 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 946)

A correspondecircncia enviada pelo entatildeo Governador do Estado Rodolpho

Gustavo de Paixatildeo ao Inspetor da Instruccedilatildeo Puacuteblica demonstra a dificuldade de

fornecer o Primeiro livro de leitura de Borges o que fez com que o negociante de

materiais escolares solicitasse a sua substituiccedilatildeo pelo novo primeiro livro de leitura do

autor Essa publicaccedilatildeo teve a primeira ediccedilatildeo em 1888 em Bruxelas na Typographia

e Lithographia e Guyot e seu tiacutetulo completo foi Novo primeiro livro de leitura segundo

o Methodo do Baratildeo de Macahubas (Dr Abilio Cesar Borges) dedicado ao povo

brasileiro (VALDEZ 2006) A dificuldade em fornecer as obras de Abiacutelio pode ter sido

causada por parte de suas publicaccedilotildees provir de editoras estrangeiras Mesmos

cientes que essas editoras mantiveram relaccedilotildees comerciais e pessoais com editoras

e livreiros instalados no Brasil sabemos que a importaccedilatildeo de impressos da Europa

demandava segundo Hallewell (2012) entre 1 mecircs e quase 3 meses por navio

dependendo da eacutepoca do ano Aleacutem do mais somam-se a isso as dificuldades

proacuteprias do transporte de livros da Corte para as proviacutencias bem como o alto custo

do transporte feito por carreto (SPINOLA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes1880 p

29)

Em Goiaacutes analisando as listas de expediente escolar252 observamos que

circularam com intensidade na escola primaacuteria os Primeiro Segundo e Terceiro livros

252 Na seccedilatildeo intitulada ldquoFontesrdquo no item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmardquo em todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes mencionados poacutes-1870 encontramos algum documento que cita as obras de Abiacutelio Ceacutesar Borges sendo solicitadas ou enviadas agraves escolas goianas

255

de leitura e a Gramaacutetica Portuguesa do Baratildeo de Macauacutebas obras que influenciaram

e constituiacuteram no final do impeacuterio os modos de ensinar leitura e escrita

Esses impressos fizeram parte da estrateacutegia desenvolvida por Abiacutelio que

doava exemplares para divulgar seus escritos pelas proviacutencias do Brasil O Presidente

Antero Ciacutecero de Assis conta essa passagem em Goiaacutes sintetizando-a no Relatoacuterio

apresentado agrave Assembleia Legislativa Provincial em junho de 1875

DONATIVOS ndash O ilustrado Sr Dr Abilio Cezar Borges meo comprovinciamo assaacutes conhecido por suas importantes obras dirigio-me um officio em que manifestando a persuasatildeo dos meus esforccedilos pela instrucccedilatildeo publica da provincia e o conhecimento das dificuldades com que lectava oriundas da exiguidade de recursos dos cofres offerecia-me para as escolas de 1as letras 200 exemplares dos seus 1ordm 2ordm e 3ordm livros de leitura e 400 de sua grammatica portuguesa elementar jaacute admitidos nas de quasi todas as provincias do imperio Acceitando tam importante offerecimento assim respondi aacutequelle tatildeo distincto cidadatildeo agradecendo-lhrsquoo em nome da provincia e por minha parte e prevenindo-o de que mandaria receber os livros na Cocircrte para terem o fim a que eratildeo destinados Providenciando arsquoeste sentido aqui chegaratildeo mediante o carreto de 11$000 reacuteis por 15 kilogramas que importou em 111$372 e que foi pago pela Thesouraria Provincial a qual recebeo-os e enviou-os aacute seus destinos conforme a distribuiccedilotilde feita aacutes escolas pela inspectoria geral de instrucccedilatildeo publica (ASSIS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1875 p 19)

Esse episoacutedio da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes eacute melhor compreendido

por meio de uma sequecircncia de ofiacutecios enviados pelo Presidente Antero Ciacutecero de

Assis em 1875 (GOIAacuteS 1874-1876 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada

e Impressa nordm 602) Em 02 de janeiro de 1875 Assis relata a chegada dos livros

doados por Abiacutelio ordenando que fossem entregues na Tesouraria da Fazenda

Provincial onde seriam pagos os carretos e verificado o estado dos livros Nessa

correspondecircncia o Presidente orienta o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para

organizar um quadro com a divisatildeo proporcional das obras que seriam distribuiacutedas

pelas escolas de primeiras letras da proviacutencia (ASSIS 02 de janeiro de 1875 p 18

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602) No dia 19 de

janeiro o Presidente Assis expotildee como foi de fato realizado o envio das obras do

Baratildeo de Macauacutebas pelos rincotildees de Goiaacutes

Nordm 21 19 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Senr = Estou de posse do officio que V S me dirigio hoje sob nordm 19 expondo natildeo terem sido entregues ao Porteiro dessa Inspetoria como pratica-se com os objectos de expediente para as aulas de primeiras lettras de foacutera desta Capital os livros ofertados aacute

256

Instrucccedilatildeo Publica da Provincia pelo Doutor Abiacutelio Cesar Borges o que estatildeo na Thezouraria Provincial que declarou ter ordem desta Presidencia para os enviar aacute seus destinos = Respondendo tenho a dizer aacute V S que sendo necessario verificar-se a entrega dos volumes contendo os ditos livros pela mesma Thezouraria que tinha de fazer o pagamento do carreto para facilitar o serviccedilo determinei logo que por ella fosse feita a remessa delles por intermedio dos seus agentes o que eacute diverso do exposto em seu officio citado nem vem revogar o que estaacute estabelecido por ser a distribuiccedilatildeo de que se trata um caso especial = Deos Guarde aacute V S = Antero Cicero drsquoAssiz = Senr Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 19 de janeiro de 1875 p 23 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602)

O Presidente Assis evidencia que a distribuiccedilatildeo dos livros doados por Abiacutelio foi

um caso especial alterando uma praacutetica de como os materiais eram remetidos agraves

escolas de primeiras letras fora da Capital da proviacutencia Pelo exposto era comum que

a Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica fizesse o envio dos objetos de expediente

escolar mas no caso das obras de Borges quem o fez foi a Tesouraria Provincial

encarregada de pagar o transporte dos livros vindos da Corte e de despachar os

impressos agraves escolas goianas por intermeacutedio de seus agentes

As doaccedilotildees das obras de Abiacutelio pelas proviacutencias brasileiras foram registradas

por Primitivo Moacyr (1939a 1939b) O que fica niacutetido ao cotejar os dados desse autor

com os da fonte supratranscrita eacute que variava muito a quantidade dos exemplares

enviados pelo Baratildeo de Macauacutebas portanto natildeo existia um padratildeo nessa distribuiccedilatildeo

pelo territoacuterio nacional Outra questatildeo eacute que na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX Abiacutelio

empreendeu uma forte campanha pelo paiacutes divulgando suas obras Alves (1936)

destaca que aproximadamente 400 mil exemplares delas foram distribuiacutedos de forma

gratuita pelas proviacutencias

Os donativos de livros feitos pelo Baratildeo de Macauacutebas a Goiaacutes vieram

acompanhados de uma proposta de oferta para compra anual de livros do autor

conforme evidenciamos pelo conteuacutedo de um ofiacutecio de 05 de fevereiro de 1875

remetido pela Tesouraria da Fazenda Provincial agrave Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo

Puacuteblica (JARDIM 05 de fevereiro de 1875 p 44-46 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)

Nesse ofiacutecio a Tesouraria da Fazenda Provincial faz uma previsatildeo da

quantidade de livros de Borges que seriam fornecidos anualmente agraves escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia dirigindo agrave Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica a

relaccedilatildeo de todas as escolas de primeiras letras da proviacutencia e especificando inclusive

257

os tipos de escolas (feminina ou masculina) agraves quais seriam remetidos o Primeiro

Segundo Terceiro livros de leitura e a Gramaacutetica Portuguesa Essas informaccedilotildees satildeo

organizadas numa tabela anexa ao ofiacutecio intitulada de ldquoRelaccedilatildeo das escolas de 1as

letras da Provincia que estatildeo no caso de serem prestados os livros de leitura

compostos pelo Dr Abilio Cesar Borgesrdquo A tabela ocupa a extensatildeo de 5 paacuteginas

somando uma quantia final de 2000 livros sendo 500 exemplares de cada um dos

tiacutetulos mencionados para um total de 53 escolas masculinas e 28 escolas femininas

em 52 diferentes localidades da proviacutencia (arraial cidade povoaccedilatildeo e vila)

Pelos dados da pesquisa de SantrsquoAnna (2010) estavam abertas em 1875 56

escolas do sexo masculino e 28 do sexo feminino com a frequecircncia de 1802 meninos

e 546 meninas Isso posto a quantidade de livros solicitados contraposta com esse

nuacutemero de alunos demonstra que natildeo era comprado um livro para cada aluno A partir

dessa questatildeo podemos conjecturar que o uso dos impressos na sala de aula ficava

restrito agraves crianccedilas mais adiantadas ou eram trabalhados em pequenos grupos Essa

uacuteltima hipoacutetese pode ser ratificada por meio da anaacutelise da mobiacutelia escolar jaacute que os

professores goianos solicitavam bancos medindo ldquotrecircs metros de comprimentordquo e

mesas de ldquodez palmos de comprimento e 4 frac12 de largurardquo (GOIAacuteS 1873-1877 p 16

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)253 Tais

dimensotildees comprovam que os alunos ocupavam a mesma mesa e sentavam-se um

ao lado do outro em bancos largos o que possibilitava uma organizaccedilatildeo didaacutetica em

trabalhos em grupo e pelo meacutetodo simultacircneo recomendado pela legislaccedilatildeo do

periacuteodo (GOIAacuteS 1869)

O Baratildeo de Macauacutebas enviou tambeacutem ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica

de Goiaacutes em 1876 20 exemplares da propaganda que ele fez contra o emprego de

castigos fiacutesicos no ensino da mocidade solicitando que os impressos fossem

distribuiacutedos aos professores da proviacutencia Tratava-se do livro Vinte annos de

propaganda contra o emprego da palmatoria e de outros meios aviltantes no ensino

da mocidade publicado no Rio de Janeiro na Tipografia do Globo em 1875254 Essa

obra foi uma coletacircnea de discursos escritos por ele em defesa de uma educaccedilatildeo sem

253 Nesse livro haacute vaacuterios pedidos de mobiacutelias escolares para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes Os tamanhos dos bancos e mesas para uso dos alunos variavam muito mas mantinham o padratildeo de serem de comprimento longo 254 Tivemos acesso a esse livro na Biblioteca do Arquivo Puacuteblico do Estado de Satildeo Paulo A ediccedilatildeo consultada datada de 1880 foi publicada na Typographia e Litographia E Guyot Rua Pacheco 12 em Bruxelas (BORGES 1880)

258

castigos corporais Os textos foram organizados por ano compreendendo o periacuteodo

de 1856 a 1875 (VALDEZ 2006)

Saviani (2013) advoga que Abiacutelio Ceacutesar Borges adotou ldquoa pedagogia moderna

procurando pocircr em praacutetica e difundir no Brasil lsquoos meacutetodos novosrdquo (SAVIANI 2013 p

155) Para o autor entre as praacuteticas que subsidiavam esses meacutetodos estava a de que

a escola seria o lugar de a crianccedila ser feliz que ela pudesse amar esse espaccedilo

aprendendo com prazer de modo que o professor conquistasse a atenccedilatildeo da crianccedila

com propostas atrativas e natildeo pelo medo e pelo uso da palmatoacuteria Valdez (2006)

explica que Abiacutelio ao sustentar em seus discursos a tese de que os castigos fiacutesicos e

a palmatoacuteria ldquonatildeo levavam a nada e que a ciecircncia natildeo era algo que se introduzisse

com pancadas aconselhava aos pais e mestres que corrigissem os lsquodesmandos do

espiacuteritorsquo com amor ou conselhos promovendo a emulaccedilatildeo e o gosto do estudordquo

(VALDEZ 2006 p 176)

Ainda sobre os donativos feitos por ele ao governo goiano no Impeacuterio uma

correspondecircncia enviada pela Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana em 17 de

setembro de 1880 aos Inspetores Paroquiais da proviacutencia nos chamou atenccedilatildeo ao

confrontarmos seu conteuacutedo com dados da pesquisa de Teixeira (2008) Vejamos

inicialmente um fragmento da fonte identificada no Arquivo Histoacuterico Estadual de

Goiaacutes

Arsquo 17 de setembro de 1880 Ao Insp tor Paroal Andreacute Ferra [ilegiacutevel] Inspetoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica em Goyaz 17 de setembro de 1880 Ilmo Senro Envio a V Srordf 36 exemplares dos seguintes opuacutesculos de Luziadas Dezenho linear ou elementos de Geometria Pratica e Pequeno tratado de leitura para serem distribuidos as escolas publicas sob sua inspeccedilatildeo devendo tocar a cada uma dellas 6 exemplares de cada um dos opuacutesculos Deos Guarde a V Sordf Conego Joaquim Vicente de Azevedo I G da I P = Senr~ Insptor Parocial da Freguesia do Rosario desta Capital Andreacute Ferreira Rios (AZEVEDO 17 de setembro de 1880 p 39 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690)

Esse ofiacutecio foi enviado a vaacuterias localidades da proviacutencia goiana variando o

nuacutemero de exemplares de acordo com a quantidade de escolas declaradas em cada

regiatildeo Acompanhando a seacuterie dos ofiacutecios encontrados no Livro de Registro das

Correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores

Paroquiais (GOIAacuteS 1879-1883 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 690) calculamos cerca de 1014 livros distribuiacutedos agraves escolas primaacuterias

259

de Goiaacutes cujos tiacutetulos satildeo os mesmos mencionados por Azevedo (17 de setembro de

1880)

Esse nuacutemero de livros chama atenccedilatildeo levando-nos a procurar a origem deles

Consultando os Relatoacuterios do Presidente de Proviacutencia agrave eacutepoca Aristides de Sousa

Spiacutenola e as fontes recolhidas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes natildeo

encontramos ateacute entatildeo menccedilatildeo ao local de onde foram enviados

Teixeira (2008) apresenta um dado que pode explicar a procedecircncia dos

impressos distribuiacutedos por Azevedo (17 de setembro de 1880) A autora cita parte do

Relatoacuterio do Ministro do Impeacuterio de 1878 que informa a distribuiccedilatildeo de obras que

Abiacutelio Ceacutesar Borges faz pelas escolas da Corte e das proviacutencias Foram 10000

exemplares de cada uma das obras Pequeno tratado de leitura Os Luziadas (ediccedilatildeo

especial) e Elementos de geometria pratica popular (TEIXEIRA 2008 p 131)255 A

partir da similaridade entre esses tiacutetulos e os mencionados no ofiacutecio do Cocircnego

Joaquim Vicente de Azevedo presumimos que as obras distribuiacutedas pela proviacutencia

goiana eram donativos feitos pelo Baratildeo de Macauacutebas

Em Goiaacutes no oitocentos a praacutetica de doaccedilotildees de artefatos para manutenccedilatildeo

das escolas natildeo era soacute realizada por autores de livros didaacuteticos Agrave guisa de exemplo

vejamos

Ins P de 23 de Maio de 1889 N 44 Inteirado pelo seu officio sob nordm 65 de 9 do corrente mes de haver o Coronel Frederico Joseacute [ilegiacutevel] residente na cidade de Porto Imperial feito um donativo a escola de 1as letras do sexo feminino da mesma cidade de 40 exemplares dos livros de leitura do Dr Abilio Cesar Borges conforme lhe foi comunicado pelo respectivo delegado litterario em officio de 3 de Abril findo recommendo-lhe que em nome do governo agradeccedila ao referido Coronel [ilegiacutevel] importante offerta que assim revelou o seu elevado patriotismo em favor da instrucccedilatildeo publica drsquoaquella localidade Dos Ge aacute Vmce

Eliacutesio Firmo Martins Insp Geral da Instrucccedilatildeo Publica (MARTINS 23 de maio de 1889 grifos nossos AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 930)

255 Segundo Alves (1936) o estudo da liacutengua nacional foi objeto de vaacuterias reflexotildees de Abiacutelio ldquoSeu interesse pelo estudo da lingua nacional natildeo ia soacute aacute aprendizagem mecacircnica de regras de gramaacutetica queria a leitura expressiva e a declamaccedilatildeo o conhecimento das belezas da lingua que ele sintetizava nos lsquoLUZIADASrsquordquo (ALVES 1936 p 81) Publicou em 1879 a Ediccedilatildeo Escolar dos Lusiacuteadas para uso das escolas brasileiras na qual se acham supressas todas as estacircncias que natildeo devem ser lidas pelos meninos (VALDEZ 2006)

260

Esse eacute um dos registros que mostra que os Coroneacuteis em Goiaacutes tambeacutem

forneciam materiais para as escolas primaacuterias o que os colocava como benfeitores

responsaacuteveis por manterem a ordem e a administraccedilatildeo dos territoacuterios juntamente com

os Presidentes da Proviacutencia Os Religiosos tambeacutem faziam muitos donativos

especialmente de livros de doutrina cristatilde e catecismos

O cenaacuterio goiano no final do Impeacuterio foi marcado por disputas no campo

poliacutetico devido agraves rixas entre as oligarquias locais No contexto dos municiacutepios

diferentes arranjos poliacuteticos e casamentos eram feitos entre as famiacutelias dos Coroneacuteis

para manutenccedilatildeo do poder e pela propriedade de terras Natildeo obstante como nos

informa Canezin e Loureiro (1994) o que estava em jogo natildeo eram soacute posses e sim

um poder simboacutelico de domiacutenio territorial proacuteprio do sistema de coronelismo que

imperava na proviacutencia

Entre os impressos de Borges nos deteremos doravante com maiores detalhes

no Primeiro livro de leitura uma vez que essa obra subsidiava o processo de

alfabetizaccedilatildeo nas escolas primaacuterias goianas Seu tiacutetulo completo eacute Primeiro livro de

leitura para uso da infancia brasileira

261

Figura 17 Folha de rosto da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Diane Valdez

Sua primeira ediccedilatildeo data de 1866256 conforme consta no primeiro item do livro

intitulado de ldquoRapidas consideraccedilotildees sobre o methodo seguido nrsquoeste livrinhordquo que

ocupa a extensatildeo da paacutegina 3 a 7 e se aproxima de um prefaacutecio que faz notas

introdutoacuterias sobre o meacutetodo e o livro A publicaccedilatildeo da obra ocorreu entretanto em

1867 em Paris

Borges (1867a) adverte inicialmente sobre os motivos que o levaram a escrever

a obra

Desde que me occupo de instruir e educar a mocidade tenho vanmente procurado um livro de primeira leitura em lingua portuguesa

256 Tivemos acesso a coacutepia dessa primeira ediccedilatildeo por meio da consulta ao Acervo Pessoal da pesquisadora Diane Valdez da Universidade Federal de Goiaacutes Segundo Valdez (2006) o Primeiro livro de leitura tinha formato 175 x 11 cm

262

que ao mesmo tempo que servisse para facilitar aacutes creanccedilas o conhecimento dos elementos da linguagem lhes comunicasse desde as primeiras lecccedilotildees o habito de pensarem e entenderem o que lessem (BORGES 1867a p 3)

Posto isso o autor lanccedila o seu principal desafio bem como o caraacuteter moderno

do seu Primeiro livro de leitura associar o aprendizado da liacutengua com o pensamento

e compreensatildeo do que se lecirc O gosto pela leitura continua Borges (1867a) seria

decorrente de o aluno se deparar com liccedilotildees cujas palavras e frases fossem familiares

Assim sendo propotildee o uso de expressotildees que as crianccedilas estavam ldquoacostumadas a

ouvir e fallar em suas casas e cuja significaccedilatildeo portanto lhes natildeo seria estranhardquo

(BORGES 1867a p 3)

Idealizando formar sujeitos pensantes exalta a primeira infacircncia justificando

que a escrita de um livro para crianccedilas eacute um ato da mais elevada posiccedilatildeo social Nesse

ponto jaacute apresenta argumento e contra-argumento aos possiacuteveis criacuteticos que

manifestassem opiniatildeo de que escrever livros para crianccedilas eacute se rebaixar numa

posiccedilatildeo de pouco prestiacutegio Por fim enaltece a educaccedilatildeo na primeira infacircncia

acrescentando

Na fundaccedilatildeo dos edifiacutecios puacuteblicos de alguma importancia natildeo satildeo os personagens de mais elevada posiccedilatildeo social os escolhidos para se abaixarem assentando-lhes a primeira pedra E qual o edifiacutecio de mais valor social e moral do que o da educaccedilatildeo da infancia (BORGES 1867a p 4 grifos do autor)

Sobre o meacutetodo Borges (1867a) explicita que os resultados seratildeo mais breves

que os das Cartas de ABC Manteacutem a loacutegica do ensino de leitura pelo meacutetodo de

soletraccedilatildeo com algumas inovaccedilotildees nas teacutecnicas palavras e textos contidos no livro

A princiacutepio pela organizaccedilatildeo do Primeiro livro de leitura a tendecircncia eacute sinalizar que o

meacutetodo por ele adotado era o de silabaccedilatildeo como Pfromm Neto Dib e Rosamilha

(1974) classificaram jaacute que as primeiras liccedilotildees apresentam as letras e na sequecircncia

as siacutelabas dispostas em ordem alfabeacutetica Contudo no prefaacutecio haacute as orientaccedilotildees

para o professor aplicar as liccedilotildees esclarecendo que a teacutecnica privilegiada eacute a

soletraccedilatildeo

Eacute assim que o mestre ensinaria perfeitamente de cor a seus discipulos o alphabeto seguido por ordem e a decomposiccedilatildeo das palavras em syllabas e a recomposiccedilatildeo destas nas mesmas palavras e so quando elles soubessem recitar todo o alphabeto e soletrar todas as palavras contidas nrsquoeste livrinho eacute que elle seria posto nas matildeos dos meninos os quaes por este modo em tres ou quatro semanas mais o leriam

263

sufficientemente bem para poderem passar ao segundo livro de leitura que tambem nrsquoesta data para elles publico Sabido perfeitamente o alphabeto de cor e a soletraccedilatildeo como acabo de recomendar a leitura sobre o livro se acharaacute infinitamente facilitada natildeo tendo as creanccedilas outra cousa aacute fazer sinatildeo conhecer pelos olhos aquillo que jaacute sabiam de memoria aprendido pelos ouvidos o que certamente lhes excitaraacute a curiosidade sendo-lhes motivo de satisfaccedilatildeo real (BORGES 1867a p 5)

A questatildeo da metodologia do ensino de leitura abordada pelo Baratildeo de

Macauacutebas no seu Primeiro livro eacute alvo da pesquisa de Frade (2010a) que assinala

que ldquonatildeo se pode dizer que seu meacutetodo seja baseado na palavraccedilatildeo uma vez que

fica claro que eacute preciso que os alunos soletrem antes das liccedilotildees tudo que apareceraacute

no impresso depois das paacuteginas do seu livrinhordquo Em seguida acrescenta ldquoparece

entatildeo que Abiacutelio herda o procedimento de soletraccedilatildeo mas aplica-o de forma mais

significativa em palavras do cotidianordquo (FRADE 2010a p 191)

Borges (1867a) indica que o livro natildeo deveria ser colocado na matildeo da crianccedila

nos primeiros dias de aula pois ele representa a cultura da escola tornando o

processo ainda mais penoso O professor aguardaria de duas a trecircs semanas periacuteodo

que o autor chama de ldquopreparaccedilatildeo para leitura sobre o papelrdquo que ldquodevem ser

empregadas em exercicios de leitura de cor aprendida so pelo ouvidordquo (BORGES

1867a p 5) A entrega do livro seria um ato solene destacou Borges (1867a)

Elucida tambeacutem que algumas passagens dele seriam trabalhadas com textos

decorados remontando agraves praacuteticas seculares de alfabetizaccedilatildeo o que mostra que

manteve a tradiccedilatildeo de uma teacutecnica de ensino que associava memorizaccedilatildeo das siacutelabas

pela soletraccedilatildeo reconhecendo-as e lendo-as em palavras que faziam parte do

repertoacuterio e do dia a dia das crianccedilas o que conferia agrave obra um diferencial em relaccedilatildeo

ao que circulava nas produccedilotildees didaacuteticas brasileiras Em consonacircncia o escritor

defendia que a aprendizagem da leitura passava necessariamente pelos sentidos

dos olhos e dos ouvidos pela oralizaccedilatildeo do escrito do conhecimento das pequenas

partes para o todo

Natildeo o recommendando pois no todo recommendo-o em parte e com encarecimento isto eacute que se ensine e acostume os meninos a lerem as palavras monosyllabas e mesmo as dissyllabas mais communs facillimas de conhecer aacute primeira vista independente da soletraccedilatildeo (BORGES 1867a p 6)

O ensino de leitura pensado por Borges (1867a) natildeo se associava ao ensino

da escrita jaacute que recomendava aos professores que natildeo se preocupassem com essa

264

questatildeo com os seu ldquodisciacutepulosrdquo com menos de sete anos de idade justificando que

esse processo eacute ldquopenoso demais para aquellas matildeosinhas ainda tatildeo pequenasrdquo

(BORGES 1867a p 7)

Entre os usos das obras de Abiacutelio na instruccedilatildeo primaacuteria goiana destaca-se o

caso na Escola Normal de Goiaacutes que exemplifica as possiacuteveis apropriaccedilotildees dos

impressos escritos por esse autor nas classes de primeiras letras da proviacutencia Em

1884 estavam abertas anexas agrave Escola Normal duas classes de instruccedilatildeo primaacuteria

sendo uma do sexo feminino e outra do sexo masculino O Programa de Ensino para

a aula das meninas cuja regecircncia era da professora Silvina Ermelinda Xavier de Brito

enunciava

Programma do ensino pa a aula de instrucccedilatildeo primaria do sexo feminino annexo a Escola Normal Estabelecer o methodo de ensino simultacircneo dividindo-se as alunas em 5 classes e funccionaraacute 2 vezes pr dia das 9 as 11 da manham e de 1 a 3 da tarde 1deg Classe Leitura ndash Conhecimto de letras e syllabas do 1 Livro de leitura de Abilio Escripta ndash Traccedilar na pedra letras soltas maiuacutesculas e minuacutesculas Arithmetica ndash Conhecimto dos algarismos e formaccedilatildeo dos nos ateacute dezenas Doutrina ndash Ensino oral das Oraccedilotildees da Cartilha ateacute a pagina 39 2deg Classe Leitura ndash Continuaccedilatildeo do 1deg Livro de Abilio ateacute a pag 33 Escripta ndash O alphabeto seguido e algarismos a lapes sobre papel Arithimetica ndash Formaccedilatildeo dos nos ateacute milhotildees Doutrina ndash Continuaccedilatildeo das Oraccedilotildees da Cartilha ateacute a pag 45 3deg Classe Leitura ndash Continuaccedilatildeo e fim do 1deg Livro de Abilio Escripta ndash Copia de traslados em bastardo Arithmetica ndash Taboada de addiccedilatildeo e subtracccedilatildeo Pratica dessas 2 pes Doutrina ndash Continuaccedilatildeo das oraccedilotildees da Cartilha ateacute o fim 4deg Classe Leitura ndash 2deg Livro de Leitura do Dr Abilio Escripta ndash Copia de traslados em bastardinho Arithmetica ndash Taboada de multiplicar e dividir Pratica dessas 2 opes Doutrina ndash Explicaccedilotildees da Cartilha ou Cathecismo 5deg Classe Leitura ndash 3deg Livro de leita do Dr Abilio e Grammatica Portugueza do mesmo auctor Escripto ndash Cursivo Copia e dictado Arithmetica ndash Problemas sobre as 4 opes e noccedilotildees de metologia Doutrina ndash Historia Sagrada

265

Aos sabbados execuccedilatildeo do artigo 75 do regulamento 1 dia da semana destinada unicamte aos trabalhos drsquoagulhas a qual seraacute a 5deg feira A Professora Silvina E Xavier de Brito (BRITO 1884 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa)257

A primeira questatildeo que depreendemos da anaacutelise dessa fonte eacute que a

organizaccedilatildeo das classes era de acordo com o niacutevel de adiantamento das alunas de

modo que na 1ordf classe matriculavam as meninas que estavam iniciando o processo

de alfabetizaccedilatildeo jaacute na uacuteltima classe a 5ordf as alunas que dominavam a leitura e escrita

com fluecircncia Na organizaccedilatildeo proposta pela professora Silvina os trecircs livros de leitura

do Baratildeo de Macauacutebas satildeo mencionados no ensino de leitura

O Primeiro livro de leitura era utilizado nas trecircs primeiras classes dividindo-o

pelo grau de dificuldade das liccedilotildees Na primeira classe os alunos utilizariam a parte

inicial da obra aprendendo as letras e siacutelabas introduzidas nas trecircs primeiras liccedilotildees

Na segunda classe se daria continuaccedilatildeo ao Primeiro livro ateacute a paacutegina 33

correspondendo agraves liccedilotildees com palavras de uma duas e trecircs siacutelabas e oraccedilotildees com

as combinaccedilotildees dessas palavras A loacutegica do autor era de uma liccedilatildeo com palavras e

outra subsequente com combinaccedilotildees dessas palavras em frases com os vocaacutebulos

aprendidos anteriormente

257 Este documento estaacute digitalizado no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar da Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes

266

Figura 18 Paacutegina 20 da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Diane Valdez

A partir das liccedilotildees com palavras de duas siacutelabas como notamos acima cada

vocaacutebulo era apresentado com um espaccedilo entre as siacutelabas Essa disposiccedilatildeo da

palavra com as siacutelabas separadas foi uma das caracteriacutesticas conforme jaacute

mencionamos nas seccedilotildees anteriores dos impressos tiacutepicos organizados pelo meacutetodo

de soletraccedilatildeo Frade (2012) ao tratar da questatildeo da separaccedilatildeo intersilaacutebica com hiacutefen

ou com espaccedilo nas cartilhas que circularam no Brasil no seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX traz contribuiccedilotildees a partir de uma anaacutelise comparativa entre obras brasileiras

portuguesas e francesas revelando que esse recurso foi usual nos impressos

brasileiros mesmo havendo variaccedilatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo Segundo a autora

ldquonatildeo podemos tomar o recurso graacutefico como exclusivo de um meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo

sob pena de cometer certos contrassensos uma vez que temos abecedaacuterios que se

267

utilizaram do meacutetodo alfabeacutetico cartilhas do meacutetodo focircnico e silaacutebico que utilizam

recursos graacuteficos parecidosrdquo (FRADE 2012 p 183-184)

Na terceira classe finalizava o Primeiro livro de leitura em liccedilotildees intuladas de

ldquoMiscellaneardquo Considerando que o livro a que tivemos acesso dispunha de 56 paacuteginas

(BORGES 1867a) eacute bem provaacutevel que essa parte da obra comeccedilava a ser trabalhada

na classe anterior uma vez que a professora Silvina menciona que ensinaria leitura

na segunda classe utilizando ateacute a paacutegina 33 Enfim o conjunto de textos da

coletacircnea denominada sob o tiacutetulo de miscelacircnea ldquorevela a entrada de outros

elementos do aprendizado e conteuacutedo escolar pois nele aparecem textos com

conteuacutedos enciclopeacutedicos morais e civilidades relacionadas agrave escolardquo (FRADE

2010a p 197)

Jaacute na quarta e quinta classes da aula primaacuteria do sexo feminino anexas agrave

Escola Normal eram utilizados respectivamente o Segundo e Terceiro livros de

leitura de Abiacutelio direcionados para leitura corrente Essas obras segundo o autor

eram concebidas em ldquoestilo verdadeiramente infantilrdquo para natildeo fadigar as crianccedilas

ensinando-lhes doutrinas morais e religiosas Especialmente no Segundo livro de

leitura os textos satildeo histoacuterias que levam para o aprendizado de algum ensinamento

moral civilizando as crianccedilas para serem doacuteceis e amaacuteveis despertando ldquoprimeiro no

coraccedilatildeo e no espiacuterito dos meninos [] a distincccedilatildeo do bem e do mal isto eacute da

consciecircncia moralrdquo (BORGES 1867b258 p VII)

O Terceiro livro de leitura (BORGES 1890)259 com 266 paacuteginas traz

conteuacutedos voltados para temaacuteticas variadas que podem ser agrupadas em quatro

seccedilotildees A primeira trata de conteuacutedos escolares correlatos como geografia ciecircncias

histoacuteria e sauacutede a segunda apresenta textos de moral civilidade incluindo faacutebulas e

paraacutebolas com esse teor a terceira com ecircnfase literaacuteria traz tambeacutem excertos de

poesia por fim a quarta seccedilatildeo retoma regras de moral e bons modos respeito e

obediecircncia aos pais agraves autoridades e aos professores Um aspecto interessante

nesse livro eacute como Borges (1890) se dirige aos leitores num tom iacutentimo como se

258 Interessante notar que na capa do Segundo livro de leitura estatildeo impressas duas datas da 1ordf ediccedilatildeo Primeiramente 1867 logo abaixo vem o ano de 1866 A introduccedilatildeo dessa obra vem datada de ldquoParis 16 de novembro de 1866rdquo Para referenciaacute-lo utilizamos a primeira data mencionada 1867 259 A primeira ediccedilatildeo desse livro data de 1871 editado em Bruxelas pela Tipografia e Litografia E Guyot

268

estivesse num diaacutelogo com as crianccedilas O autor lanccedila matildeo de expressotildees tais como

ldquocaros meninosrdquo ldquoqueridos meninosrdquo ldquomeus meninosrdquo

Na quinta classe eacute citado tambeacutem o livro de Gramaacutetica Portuguesa de Abiacutelio

Em Goiaacutes no oitocentos esclarece Valdez (2011) por ser uma regiatildeo com elevada

populaccedilatildeo indiacutegena e escrava investia-se no ensino de liacutengua portuguesa e nos

compecircndios de Gramaacuteticas para civilizar a populaccedilatildeo com objetivo de substituir o

ldquovocabulaacuterio considerado lsquovulgarrsquo dos iacutendios e dos escravosrdquo (VALDEZ 2011 p 123)

A autora acrescenta que

Inicialmente os compecircndios satildeo requeridos somente como lsquogramaticasrsquo sem definir autoria ou temaacutetica Em 1862 nos deparamos com a solicitaccedilatildeo da obta intitulada lsquoGrammatica Portuguezarsquo pedido que continuou nas listas ateacute o final do seacuteculo XIX Em relaccedilatildeo agraves obras gramaticais predomina ainda o pedido de lsquoGrammaticarsquo sem maiores especificaccedilotildees Adota-se ainda a obra lsquoResumos de Grammatica Portuguesa pelo Dr Abiliorsquo lsquoGrammatica Nacionalrsquo lsquoGrammaticas portuguesas do Conego Fernandesrsquo Na deacutecada de 1880 acrescenta-se lsquoSyllabario Portuguez de J R Galvatildeorsquo lsquoGrammatica de Saraivarsquo lsquoDiccionario de Saraivarsquo e lsquoSyntaxe do Padre Antocircnio Rodrigues Dantasrsquo Eacute nessa deacutecada que notamos maior investimento nas obras claacutessicas como lsquoOs Luziadasrsquo lsquoPoesias de Camotildeesrsquo lsquoCollecccedilatildeo completa de Selecta Latinarsquo e lsquoArte Versificatoriarsquo (VALDEZ 2011 p 123-124)

Nas listas de expediente escolar inventariadas na seccedilatildeo de Documentos

Avulsos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes apareceram diferentes tiacutetulos de

gramaacuteticas na maioria das vezes solicitadas para o Gabinete Literaacuterio ou Liceu ou

Escola Normal o que comprova que seu uso estava mais direcionado para os estudos

posteriores ao ensino primaacuterio Poreacutem elas natildeo deixaram de circular no curso primaacuterio

um tiacutetulo em destaque nas listas para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria goianas ateacute o

fim do seacuteculo XIX era a Grammatica do Abilio ou Grammatica Portugueza sem

especificaccedilatildeo do autor Considerando que na maioria desses pedidos havia tambeacutem

a solicitaccedilatildeo de outros livros de leitura de Abiacutelio Ceacutesar Borges acreditamos que essa

gramaacutetica possa ser a Grammatica portugueza para uso das escolas escrita pelo

autor Jaacute no fim do seacuteculo XIX ao iniacutecio do seacuteculo XX ganhou destaque a Grammatica

da Infancia de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro No seacuteculo XX ateacute a deacutecada de

30 passou a ser solicitada em maior quantidade a Grammatica Portugueza (Curso

Primaacuterio) de Joatildeo Ribeiro

Quanto ao ensino de escrita previsto no programa da aula de instruccedilatildeo primaacuteria

da professora Silvina Brito haacute uma sequecircncia que tambeacutem segue um meacutetodo

269

progressivo de aprendizagem apoiado primeiro na ideia do uso do material e depois

no formato da letra Quanto aos materiais na primeira classe estava previsto o

traccedilado das letras na pedra e na segunda classe no papel Jaacute em relaccedilatildeo ao formato

da letra havia sequecircncia da letra em bastardo (terceira classe) bastardinho (quarta

classe) e cursivo (quinta classe) Essa sequecircncia como tratamos na seccedilatildeo trecircs

estava em sintonia com os impressos e a legislaccedilatildeo lusitana (BOTO 1997) da mesma

maneira que tambeacutem dialoga com as legislaccedilotildees e recomendaccedilotildees para o ensino de

escrita na escola de primeiras letras do Brasil do seacuteculo XIX (ARRIADA TAMBARA

2012)

Embora o programa de ensino da aula de instruccedilatildeo primaacuteria feminina da Escola

Normal de Goiaacutes (BRITO 1884) seja um caso particular natildeo haacute como isolaacute-lo do que

ocorria na proviacutencia se considerarmos que essas Escolas lanccedilavam tendecircncias e

foram divulgadoras daquilo que se propagava de mais moderno no paiacutes e tambeacutem no

mundo especialmente na Europa e nos Estados Unidos (MORTATTI 2000

AMAcircNCIO 2008 ARAUacuteJO FREITAS LOPES 2008) Aleacutem do mais a autora desse

programa foi uma professora que se destacou na proviacutencia uma intelectual de seu

tempo Silvina Ermelinda Xavier de Brito ou Mestra Silvina como popularmente ficou

conhecida nas poesias de Cora Coralina260 segundo Prudente (2017) chegou a

participar do Gabinete Literaacuterio Goiano distinguindo-se no magisteacuterio feminino em

Goiaacutes como uma personalidade que desenvolveu meacutetodos de ensino e organizava

seu trabalho de acordo com a idade das meninas e o grau de conhecimento Dessa

maneira consideramos que praacuteticas da Escola Normal de Goiaacutes e das escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria da Capital de certo modo influenciavam o ensino das primeiras

letras pela proviacutencia (CANEZIN LOUREIRO 1994)

Diante do exposto no decorrer do item observamos que as obras de Abiacutelio

Ceacutesar Borges influenciaram os modos de alfabetizar nas escolas goianas

ultrapassando o periacuteodo Imperial e circulando durante a Repuacuteblica sendo

mencionadas ateacute os anos 30 do seacuteculo XX

[] Para base poreacutem para alicerce do edifiacutecio educacional o material deve ser mais soacutelido mais ldquosubstanciosordquo Eacute interessante lembrar que jaacute possuiacutemos e oacutetimo Quero me referir aos livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macaubas []

260 Notem que a poesia de Cora Coralina transcrita no iniacutecio desse item intitula-se ldquoEscola da Mestra Silvinardquo

270

O aluno que haja percorrido os livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges nunca responderaacute como tenho ouvido vaacuterias vezes ateacute de ginasianos da quarta seacuterie dizendo ignorar qual seja a origem e como se fabrica o papel Muito bem agiram as autoridades municipais de uma pequena cidade goiana quando logo depois da proclamaccedilatildeo da repuacuteblica e ao ser regulamentado o ensino primaacuterio instituiacuteram o seguinte artigo ldquoOs livros adotados satildeo os de Abiacutelio Ceacutesar Borgesrdquo (FLEURY 1939 p 5-6)

Essa publicaccedilatildeo eacute uma passagem do artigo do professor Fleury Catedraacutetico

de Quiacutemica do Liceu de Goiaacutes em 1939 na Revista de Educaccedilatildeo de Goiaacutes um

perioacutedico oficial de circulaccedilatildeo estadual destinado aos professores goianos que se

tornou cenaacuterio de divulgaccedilatildeo de ideais pedagoacutegicos no contexto republicano

O fragmento de Fleury (1939) foi uma das uacuteltimas menccedilotildees que identificamos

acerca da obra de Abiacutelio em Goiaacutes o que colabora para marcar que houve mais de

sete deacutecadas de influecircncia dos impressos do Baratildeo de Macauacutebas na educaccedilatildeo de

crianccedilas goianas

53 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

A partir dos anos de 1870 a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes ganhou outro

capiacutetulo marcado por princiacutepios da modernizaccedilatildeo A entrada de livros didaacuteticos de

autores brasileiros estabeleceu um cenaacuterio diferente na educaccedilatildeo goiana A ecircnfase

dada aos tradicionais meacutetodos de soletraccedilatildeo e agraves Cartas de ABC comeccedilou a ser

contestada por meio de impressos que defendiam modos diferentes de ensinar leitura

agraves crianccedilas

Buscando uma perspectiva metodoloacutegica que agradasse a infacircncia com

alternativas pedagoacutegicas distantes das difundidas pelos livros que circulavam pelas

proviacutencias ambos os autores destacados nessa seccedilatildeo ndash Antonio Pinheiro de Aguiar

e Abiacutelio Ceacutesar Borges ndash lanccedilaram-se no mercado editorial brasileiro oferecendo agraves

escolas propostas para modernizar o ensino de leitura

A proviacutencia goiana no periacuteodo que compreende esta Tese natildeo apresentou

uma regulamentaccedilatildeo especiacutefica que oficializasse um meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo em seu

territoacuterio portanto foram os livros didaacuteticos que chegavam agraves matildeos dos professores

que os orientaram e formaram para esse trabalho

271

Como assinalado em Goiaacutes as obras de Borges tiveram maior circulaccedilatildeo do

que as de Aguiar o que pode ser explicado ao confrontarmos os meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo definidos pelos autores Aguiar buscou na figura do indiacutegena e nas

historietas o apoio para delinear o seu meacutetodo denominado por Antonio Estevam

Costa e Cunha como silaacutebico Jaacute Abiacutelio mantinha a tradiccedilatildeo do meacutetodo de soletraccedilatildeo

com novidades nos procedimentos nas palavras e nos textos que suas obras

copilavam Essa questatildeo pode inclusive ter definido maior adesatildeo do professorado

goiano aos impressos de Abiacutelio jaacute que aspiravam agrave mudanccedila mas calcada na tradiccedilatildeo

de uma cultura escolar que se caracterizava pelo uso das teacutecnicas da soletraccedilatildeo

Aleacutem do mais comparando os impressos de ambos os autores eacute niacutetido que a

obra de Abiacutelio se configurava como uma seacuterie de leitura graduada Foram livros que

ultrapassavam o ensino inicial de leitura indo ateacute a leitura corrente Jaacute o meacutetodo

Bacadafaacute restringia-se agraves teacutecnicas de alfabetizaccedilatildeo A proacutepria qualidade da ediccedilatildeo

graacutefica dessas obras tambeacutem demonstra uma desleal disputa Enquanto Abiacutelio

preferiu as editoras estrangeiras para editar seus livros de leitura Pinheiro de Aguiar

publicou o seu impresso em Tipografias brasileiras o que diferenciava o lugar social

desses livros para a sociedade local num momento em que os dirigentes das

proviacutencias buscavam na Europa o modelo para o paiacutes se estruturar como naccedilatildeo

civilizada (VILLELA 2000)

Enfim no tocante agrave questatildeo de as obras de Borges serem mais difundidas isso

natildeo eacute um fato isolado da proviacutencia de Goiaacutes No proacuteprio Rio de Janeiro local onde

Pinheiro de Aguiar tentava expandir seu meacutetodo ele natildeo alcanccedilou as intenccedilotildees

pretendidas

Dessa maneira a identidade da alfabetizaccedilatildeo goiana foi-se arquitetando com

bastante influecircncia da proviacutencia do Rio de Janeiro De alguma forma a instruccedilatildeo

puacuteblica em Goiaacutes mantinha com a Corte estreitas relaccedilotildees natildeo somente poliacuteticas jaacute

que esteve no circuito de distribuiccedilatildeo de obras dos autores de livros didaacuteticos que

doavam suas produccedilotildees para propagandear seus meacutetodos de ensino de leitura Esse

ponto reitera a nossa tese de que a instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes esteve inserida nas

ideias de modernidade do seacuteculo XIX especialmente no campo da alfabetizaccedilatildeo

Essa proviacutencia natildeo estava isolada do que ocorria no paiacutes pois afinal o governo

goiano difundiu propostas advindas de autores brasileiros que buscavam inovar a

educaccedilatildeo das crianccedilas Aproveitando-se dos donativos feitos por Pinheiro de Aguiar

272

e Borges as escolas goianas foram palco para experimentaccedilatildeo de meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo que buscavam espaccedilo e reconhecimento entre os professores do paiacutes

Natildeo nos aprofundamos nesta seccedilatildeo na figura do Presidente da Proviacutencia de

Goiaacutes Antero Ciacutecero de Assis governante entre 1871 e 1878 Se observamos as

correspondecircncias transcritas nos itens anteriores que trataram da difusatildeo dos

impressos de Pinheiro de Aguiar e do Baratildeo de Macauacutebas pelas escolas goianas no

regime imperial notaremos que foram em grande parte assinadas por Assis Esse

Presidente em seus discursos mostrou vaacuterias iniciativas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

destacando especialmente a estrateacutegia de disseminaccedilatildeo de escolas por diferentes

locais da proviacutencia (Cf ASSIS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1873 1874 1875)

Portanto natildeo houve total negligecircncia do governo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo como

frequentemente a historiografia goiana veicula a respeito do periacuteodo imperial De igual

maneira a figura de Assis destaca-se na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes no

momento da entrada da produccedilatildeo didaacutetica brasileira nas escolas primaacuterias

Retomando o poema de Quintana (1995 p 10) que abriu esta seccedilatildeo em

continuidade aos seus versos transcritos o poeta ainda afirma sobre os livros que eles

ldquotecircm cada um um timbre diverso de silecircnciordquo Em diaacutelogo com os propoacutesitos do

capiacutetulo e com os objetivos da Tese uma parte do ldquotimbre diverso de silecircnciordquo das

obras dos brasileiros Antonio Pinheiro de Aguiar e Abiacutelio Ceacutesar Borges foi desvelada

pela nossa leitura ndash singular do ponto de vista de que ela esteve ancorada pelas fontes

e pela histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes Afinal ldquoque satildeo as palavras impressas em um

livro Que significam estes siacutembolos mortos Nada absolutamente Que eacute um livro

se natildeo o abrimos Eacute simplesmente um cubo de papel e couro com folhas Mas se

o lemos acontece uma coisa rara creio que ele muda a cada instanterdquo (BORGES

1985 p 11)

273

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS ____________________________________

ldquoNatildeo grites natildeo suspires natildeo te mates escreve [] E por que desprezas o homem papel se ele te fecunda

com dedos sujos mas dolorosos Pensa na doccedilura das palavras Pensa na dureza das palavras Pensa no

mundo das palavras [] Certos papeacuteis satildeo sensiacuteveis certos livros nos possuemrdquo261

ldquoEle potildee um pedaccedilo de papel em branco sobre a mesa agrave sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta

Foi Nunca seraacute de novordquo262

Escrever sempre eacute um ato solitaacuterio se o pensarmos restritamente como uma

pessoa com um papel ou tela em branco uma caneta ou o teclado do computador

Mas numa noccedilatildeo dialeacutetica e dialoacutegica do ato de escrever habitar o mundo das

palavras pela produccedilatildeo da escrita eacute um fazer coletivo (polifocircnico) Sou eu e os outros

em mim ou nas palavras bakhtinianas ldquoeu vivo em um mundo de palavras do outro

E toda a minha vida eacute uma orientaccedilatildeo nesse mundo eacute reaccedilatildeo agraves palavras do outrordquo

(BAKHTIN 2017 p 38) Por isso mesmo acreditamos que o texto eacute um ldquoespaccedilo de

dimensotildees muacuteltiplas onde se casam e se contestam escrituras variadas das quais

nenhuma eacute original o texto eacute um tecido de citaccedilotildees saiacutedas dos mil focos da culturardquo

(BARTHES 2004 p 62)

261 Trecho extraiacutedo de ldquoNoite na reparticcedilatildeordquo de Carlos Drummond de Andrade (2002 p 175) no livro Poesia Completa 262 Trecho do livro A invenccedilatildeo da solidatildeo de Paul Auster (2004 p 192)

274

Ao conceber a escrita desse modo fica muito mais prazeroso arriscar-se com

as palavras e escrever um texto Foi assim que comeccedilamos a incursatildeo pela histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo Habitamos mundos por noacutes antes natildeo habitados atrevemo-nos num

campo de estudos antes natildeo percorrido agarramo-nos aos livros Aos poucos fomos

percebendo que jaacute ldquonatildeo era mais um menino com um livrordquo263 ldquoFui pegando intimidade

com as palavras E quanto mais iacutentimas a gente ficavardquo264 melhor esta tese ia se

arquitetando Ela tomava forma chegava cada vez mais proacuteximo ao fim ou melhor

dizendo ao seu intervalo para conclusatildeo dessa etapa da vida acadecircmica

Por isso sobre esta pesquisa caro leitor faccedilo uma advertecircncia recorrendo aos

versos de Walt Whitman no claacutessico Folhas de Relva

Quem toca nisto toca em um homem (Eacute noite Estamos sozinhos) Sou eu que seguras e que te segura Eu salto das paacuteginas para teus braccedilos265

O convite feito na Introduccedilatildeo era de percorrermos a proviacutencia de Goiaacutes e seus

arredores no contexto do seacuteculo XIX compreendendo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas goianas entre 1835 e 1886 Por conseguinte esse percurso foi orientado por

estas problematizaccedilotildees ldquocomo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu

durante o Impeacuterio Quais os materiais usados no decorrer dessa histoacuteria para se

alfabetizar as crianccedilas goianas Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita

circularam na proviacutencia de Goiaacutesrdquo

Nossas consideraccedilotildees finais orientam-se a partir dessas perguntas retomando

algumas das descobertas feitas durante a pesquisa

1) Como a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o Impeacuterio

A histoacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes no Impeacuterio se estabeleceu por um

discurso oficial sobre a falta de recursos para o custeio das despesas da educaccedilatildeo

com um tom pessimista acerca das condiccedilotildees da escola A transitoriedade dos

Presidentes de Proviacutencia realccedilava as dificuldades de Goiaacutes em avanccedilar sobre as

questotildees do ensino devido agrave descontinuidade das propostas de cada um dele Esses

263 A frase entre aspas faz relaccedilatildeo intertextual com o trecho do livro Felicidade Clandestina de Clarice Lispector (1998 p 13) ldquoNatildeo era mais uma menina com um livro era uma mulher com seu amanterdquo 264 Trecho extraiacutedo do livro Livro um encontro de Lygia Bojunga (2004 p 7) 265 Utilizamos a traduccedilatildeo de Manguel (1997 p 192) publicada no livro Uma histoacuteria da leitura

275

fatores demarcaram a historiografia sobre Goiaacutes muitas vezes apagando ou

desconsiderando o papel desse territoacuterio no contexto nacional

Entretanto como ficou evidente na anaacutelise empreendida ao mesmo tempo que

esse discurso se mantinha a proviacutencia abria-se para novas iniciativas com o objetivo

de reverter o quadro da instruccedilatildeo puacuteblica Especialmente no que tange ao campo da

alfabetizaccedilatildeo as iniciativas na legislaccedilatildeo e os livros que circulavam por Goiaacutes

representam accedilotildees para cristalizaccedilatildeo de meacutetodos e comportamentos numa escola

que aspirava agrave modernidade

Logo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu em diaacutelogo com o

projeto educacional de uma Naccedilatildeo inspirado nos modelos europeus Destarte Goiaacutes

natildeo foi uma proviacutencia isolada tampouco considerada perifeacuterica ou interiorana em

relaccedilatildeo agrave Capital do Impeacuterio instalada no Rio de Janeiro Goiaacutes no que concerne ao

ensino de leitura e escrita aos livros e meacutetodos que subsidiavam esse processo

durante todo periacuteodo pesquisado esteve em sintonia com o contexto nacional

inspirou-se no pensamento racional e liberal que esteve presente nas accedilotildees

discursos e legislaccedilotildees empreendidas pelos Presidentes de Proviacutencia difundiu nas

escolas impressos estrangeiros para dar suporte agrave instruccedilatildeo das crianccedilas enviou um

professor agrave Corte ndash Feliciano Primo Jardim ndash em busca de novos meacutetodos para

transformar a escola num lugar com melhores resultados aderiu e divulgou livros

didaacuteticos eminentemente brasileiros ndash os livros de leitura Abiacutelio Ceacutesar Borges e o

Meacutetodo Bacadafaacute de Antonio Pinheiro de Aguiar ndash bem como um impresso

pedagoacutegico ndash A Instrucccedilatildeo Publica ndash para que os professores apropriando-se desses

materiais modificassem a tradiccedilatildeo escolar que se erigia pelo meacutetodo individual e

pelas praacuteticas convencionais e seculares de soletraccedilatildeo

2) Quais os materiais usados no decorrer dessa histoacuteria para se alfabetizar as crianccedilas

goianas

Tomando como elemento de anaacutelise os materiais que circularam pelas escolas

em Goiaacutes no oitocentos notamos que especialmente os meacutetodos de soletraccedilatildeo e

silabaccedilatildeo foram os mais difundidos

Para tanto entre as descobertas podemos subdividir os materiais utilizados nas

classesescolas de primeiras letras goianas em impressos e outros materiais de apoio

Dentre os impressos as Cartas de ABC tiveram a maior longevidade

compreendendo todo o periacuteodo investigado ultrapassando-o inclusive

276

Convencionalmente essas cartas eram convocadas para aplicaccedilatildeo dos

execiacutecios de soletrar Ademais os Catecismos e Manuais de Doutrina Cristatilde

marcaram a educaccedilatildeo goiana de modo que em alguns momentos da histoacuteria o

governo deixava de enviar cartilhas ou livros de leitura mas era ldquosagradordquo o envio

desses impressos No caso de Goiaacutes analisamos que seu uso era transversal e natildeo

somente de suporte para as aulas de Doutrina Cristatilde ou de Catecismo presentes no

curriacuteculo estruturado na legislaccedilatildeo goiana durante todo o Impeacuterio Esses impressos

foram apropriados para o ensino inicial de leitura e escrita vinculando os preceitos da

doutrina cristatilde com os demais conteuacutedosdisciplinas escolares Insta esclarecer que

os que circularam pelas escolas de Goiaacutes em sua grande maioria foram publicaccedilotildees

provenientes da Europa e da Ameacuterica do Norte

Aleacutem dos impressos outros materiais de apoio foram registrados nas fontes

lousataacutebuas individuais ou ardoacutesias quadro-negro giz branco ou o laacutepis de pedra

esponjas folhas pautadas laacutepis penas de accedilo penas de ave botijas de tinta tinteiros

siacutemplices canivetes etc Esses artefatos foram empregados na organizaccedilatildeo didaacutetica

das escolas especialmente pelos meacutetodos individual e simultacircneo

No campo dos meacutetodos de ensino em Goiaacutes apesar das iniciativas para

implementaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo ndash tambeacutem conhecido como lancasteriano ou

monitorial ndash do meacutetodo Castilho e do meacutetodo simultacircneo as escolas na proviacutencia

mantiveram a organizaccedilatildeo didaacutetica maiormente pelo meacutetodo individual (ARAUacuteJO E

SILVA 1975) Essa constataccedilatildeo fez parte dos discursos dos presidentes que a partir

dos relatoacuterios dos Inspetores Gerais de Instruccedilatildeo Puacuteblica afirmavam que os

professores natildeo experimentavam outras possibilidades para ensinar devido a

diferentes fatores dentre eles como destacamos a carecircncia de Tratados de Ensino

para divulgaccedilatildeo de outros conhecimentos diferentes dos que jaacute circulavam na

proviacutencia

Nessa conjuntura consideramos que os professores natildeo foram corpos doacuteceis

diante dos dispositivos de controle do governo Tal como Certeau (1990 2014) explica

mesmo com todo o sistema de vigilacircncia sobre as praacuteticas acreditamos que as

professoras e os professores goianos em seu cotidiano na sala de aula se apropriavam

de e experimentavam modos plurais e antidisciplinares para ensinar leitura e escrita a

partir de suas crenccedilas jaacute que os grupos ou indiviacuteduos sociais possuem uma

ldquocriatividade dispersa taacutetica e bricoladorardquo (CERTEAU 2014 p 41)

277

3) Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de

Goiaacutes

O principal saber que circulou sobre o ensino de leitura e escrita na proviacutencia

goiana e sintetiza todo o periacuteodo pesquisado eacute de que esse processo deveria ser raacutepido

e agradaacutevel aos alunos e para isso era necessaacuterio romper com uma cultura escolar

calcada tanto no meacutetodo individual quanto no sistema de soletraccedilatildeo

Esse ideaacuterio em Goiaacutes vinha para atender as demandas da proviacutencia naquele

momento Como a populaccedilatildeo se concentrava mais no meio rural do que nas vilas

paroacutequias arraiais cidades ou na capital era premente uma escola que instruiacutesse as

crianccedilas rapidamente fornecendo-lhe o essencial ndash ler escrever contar e rezar ndash para

que elas dominando o baacutesico fossem ldquoliberadasrdquo para auxiliar os pais nas lidas do

campo A escola foi concebida pelos goianos como local para civilizar a crianccedila e

instruiacute-la na feacute mas era tambeacutem espaccedilo pouco valorizado pelas famiacutelias na proviacutencia

alijado de seu papel de formaccedilatildeo cultural social e intelectual

Outro ideaacuterio acoplado ao ensino inicial de leitura e escrita em Goiaacutes

evidenciado nesta pesquisa esteve na questatildeo de uma religiosidade ou um caraacuteter

eminentemente cristatildeo e catequeacutetico entranhado nos modos de pensar e fazer a escola

goiana oitocentista Ou seja poderiacuteamos explicitar esse ponto afirmando que o cidadatildeo

que se esperava formar pela instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes era algueacutem submisso agrave

tradiccedilatildeo religiosa aos pais e ao Estado conformado com uma vida simples tendo seus

costumes haacutebitos e valores civilizados e sintonizados com a Doutrina Cristatilde e com a

soberania do governo imperial

Feitas essas consideraccedilotildees retomamos a nossa tese que se delineou durante

o trabalho e seguidamente foi reiterada em cada uma das seccedilotildees a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes do seacuteculo XIX mesmo sob a influecircncia da Igreja e

marcada por uma tradiccedilatildeo ruralista que determinou a formaccedilatildeo cultural e social da

populaccedilatildeo esteve em diaacutelogo com as transformaccedilotildees almejadas pelos ideaacuterios de

modernidade da educaccedilatildeo nacional oitocentista especialmente com os que circulavam

no Rio de Janeiro

De forma sinteacutetica algumas argumentaccedilotildees para sustentar essa tese foram

feitas em cada uma das seccedilotildees e sua recuperaccedilatildeo eacute importante nesse espaccedilo final a

fim de qualificar e ratificar a anaacutelise empreendida acerca da instruccedilatildeo primaacuteria e do

ensino de leitura e escrita em Goiaacutes do seacuteculo XIX

278

A princiacutepio na seccedilatildeo um demonstramos o caraacuteter original da pesquisa

destacando que este trabalho ndash sem desmerecer nenhum outro ndash compreende

especificamente a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

A partir da tese argumentativa na seccedilatildeo dois evidenciamos que nem o projeto

conservador da Igreja Catoacutelica e tampouco a ruralizaccedilatildeo da proviacutencia foram

impedimentos para que Goiaacutes implantasse novas regulamentaccedilotildees alinhadas com as

reformas feitas no Municiacutepio da Corte A proviacutencia goiana se abriu para as

transformaccedilotildees no cenaacuterio nacional regulamentando uma escola pensada em sua

totalidade

Jaacute na seccedilatildeo trecircs aproximando-nos dos materiais e meacutetodos para alfabetizaccedilatildeo

de crianccedilas em Goiaacutes argumentamos com base nas fontes listadas no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes que os impressos que circularam na proviacutencia foram os

mesmos amplamente divulgados na Corte sendo referenciados nos estudos da

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo como livros que subsidiaram o ensino de leitura e escrita no

oitocentos brasileiro Os documentos nomeados de Mapas de Turmas atestaram que

os impressos influenciaram a maneira como os professores cacterizavam o niacutevel de

leitura dos alunos atribuindo-lhes em muitos casos a Carta de Leitura que condizia agrave

sua etapa do processo de aprendizagem

As seccedilotildees quatro e cinco se basearam nas iniciativas da proviacutencia de conferir

um caraacuteter de modernidade agrave escola goiana A busca por um meacutetodo de ensino de

leitura na Corte em 1855 reverberou na formulaccedilatildeo de um novo regulamento de ensino

que oficializou o meacutetodo simultacircneo (GOIAacuteS 1856) Jaacute sobre a adesatildeo a livros

didaacuteticos de autores brasileiros a partir dos anos de 1870 esteve em consonacircncia

com a histoacuteria do mercado editorial do paiacutes que naquele momento se abria para uma

produccedilatildeo nacional (LAJOLO ZILBERMAN 1996)

Por mais distante que Goiaacutes estivesse da Capital e de outras proviacutencias do

Brasil esta tese localizou a proviacutencia goiana em seu merecido lugar no ldquocoraccedilatildeo do

Brasilrdquo266 As difiacuteceis estradas esburacas vias que davam acesso a Goiaacutes conforme

os viajantes que passaram por ali no seacuteculo XIX relataram natildeo impediram que as

ideias que gorjeavam em outros ninhos gorjeassem tambeacutem pelas terras goianas267

266 Tal como Monteiro (1934) intitulou em sua obra a qual destacamos na Introduccedilatildeo 267 Natildeo eacute mera coincidecircncia Pegamos de empreacutestimo aqui a ideia presente na poesia ldquoCanccedilatildeo do Exiacuteliordquo de Gonccedilalves Dias com o objetivo de que a relaccedilatildeo intertextual estabelecida aproxime os sentidos pretendidos nesse ponto

279

Consideramos que sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes ainda haacute muito o

que ser pesquisado O nosso contato com as fontes documentais no estado e fora dele

demonstraram as muacuteltiplas bifurcaccedilotildees dessa histoacuteria que orientada por buacutessolas

distintas (pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos) possibilitam ao pesquisador trilhar

variados caminhos (anaacutelises leituras e escritas)

Iniciamos esta tese declarando nossa paixatildeo pela literatura inspirando-nos

nela para principiar o nosso diaacutelogo com os leitores Portanto resta-nos convocar a

voz de outro grande escritor para encerrar

O homem eacute um vivente com palavra [] o homem eacute palavra [] o homem eacute enquanto palavra [] todo humano tem a ver com a palavra se daacute em palavra estaacute tecido de palavras [] o modo de viver proacuteprio deste vivente que eacute o homem se daacute na palavra e como palavra (LARROSA 2002 p 21)

Aqui estimado leitor sabendo que constantemente rompemos o abstrato com

as palavras e pelas palavras descobrimos no movimento de escrita desta pesquisa o

verdadeiro sentido de ser um lutador de palavras268 Afinal ldquosoacute quem estaacute em estado

de palavra pode enxergar as coisas sem feitiordquo269

268 Tal como Carlos Drummond de Andrade (2002) poetisou em ldquoO lutadorrdquo 269 Trecho do poema de Manoel de Barros (1998 p 35) recolhido no livro Retrato do artista quando coisa

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REFEREcircNCIAS ____________________________________

ABREU Sandra Elaine Aires de A instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo XIX 2006 340 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ________ GONCcedilALVES NETO Wenceslau CARVALHO Carlos Henrique de As reformas da instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes Brasil no periacuteodo imperial (1822-1889) Espacio Tiempo y Educacioacuten Salamanca Espanha v 2 nordm 1 p 255-280 2015 httpsdoiorg1014516ete2015002001013 AGOSTINHO Santo Confissotildees 22ordf ediccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Luiacuteza Jardim Amarante Satildeo Paulo Paulus 2010 ALBUQUERQUE Suzana Lopes BOTO Carlota O impresso Liccedilotildees de ler na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no impeacuterio brasileiro Poieacutesis Revista do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (Unisul) v 11 nordm 20 p 214-231 2017 httpsdoiorg1019177prppgev11e202017214-231 ALMEIDA FILHO Orlando Joseacute de A estrateacutegia da produccedilatildeo e circulaccedilatildeo catoacutelica do projeto editorial das coleccedilotildees de Theobaldo Miranda Santos (1945-1971) 2008 368 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ALVES OLIVEIRA Juliana Silva A contribuiccedilatildeo do gecircnero conto para formaccedilatildeo do leitor nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2018 148 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2018 ALVES Claacuteudia Costa Os resumos das comunicaccedilotildees e as possibilidades esboccediladas no II Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo In CATANI Denice SOUZA Cynthia Pereira de (Orgs) Praacuteticas educativas culturas escolares profissatildeo docente Satildeo Paulo Escrituras 1998

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ALVES Isaias Vida e obra do Baratildeo de Macahubas Rio Ediccedilotildees Infacircncia e Juventude 1936 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros O espaccedilo da cartilha na sala de aula 1994 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1994 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura na escola primaacuteria no Mato Grosso contribuiccedilatildeo para o estudo de aspectos de um discurso institucional no iniacutecio do seacuteculo XX 2000 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 2000 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura e grupos escolares Mato Grosso 1910-1930 Cuiabaacute EdUFMT 2008 ________ CARDOSO Cancionila Janzkovski Fontes para o estudo da produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de cartilhas no Estado de Mato Grosso In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva MACIEL Francisca Izabel Pereira (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo e circulaccedilatildeo de livros (MG RS MT ndash Seacutec XIX e XX) Belo Horizonte UFMGFAE 2006 AMORIM Sara Raphaela Machado de Do mestre aos disciacutepulos o legado

educacional de Nestor dos Santos Lima (1910-1930) 2012 128 p Dissertaccedilatildeo

(Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal

2012

ANDRADE Carlos Drummond de Antologia Poeacutetica 12ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978 ________ Poesia Completa Satildeo Paulo Nova Aguilar 2002 ANJOS Juarez Joseacute Tuchinski dos O Catecismo de Montpellier e a educaccedilatildeo da crianccedila no Brasil Imperial Cadernos de pesquisa Satildeo Paulo v 46 nordm 162 p 1028-1048 outubrodezembro 2016 httpsdoiorg101590198053143725 ANSELMO Artur As origens da imprensa em Portugal Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 1981 ARAUacuteJO E SILVA Nancy Ribeiro de Tradiccedilatildeo e renovaccedilatildeo educacional em Goiaacutes Goiacircnia Oriente 1975 ARAUacuteJO JUNIOR Edson Domingues de SILVA Maria da Conceiccedilatildeo Batismo cultural de Goiacircnia significados simboacutelicos e socioculturais na relaccedilatildeo entre a Igreja e o Estado In CONGRESSO DE PESQUISA ENSINO E EXTENSAtildeO DA UFG ndash CONPEEX 3 2006 Goiacircnia Anais do XIV Congresso de pesquisa ensino e extensatildeo da UFG CD-ROMGoiacircnia UFG 2006 ARAUacuteJO SILVA Joseacute Carlos de Como se deveria fazer e como era feito os manuais de ensino muacutetuo e simultacircneo e a praacutetica cotidiana nas escolas de primeiras letras na Bahia (1836 - 1852) 2013 In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA

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EDUCACcedilAtildeO VII 2013 Mato Grosso Anais do VII Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cuiabaacute SBHE 2013 p1-14 ARAUacuteJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 ARRAIS Tadeu Alencar A produccedilatildeo do territoacuterio goiano economia urbanizaccedilatildeo metropolizaccedilatildeo Goiacircnia Editora UFG 2016 ARRIADA Eduardo TAMBARA Elomar A cultura escolar material a modernidade e a aquisiccedilatildeo da escrita no Brasil no seacuteculo XIX Educaccedilatildeo Porto Alegre v 35 n 1 p 73-88 janeiroabril de 2012 ARRIADA Eduardo TAMBARA Elomar DUARTE Sheila A Sciencia do Bom Homem Ricardo um texto de leitura escolar no Brasil imperial Histoacuteria da Educaccedilatildeo Porto Alegre v 19 nordm 46 p 243-259 maioagosto de 2015 httpsdoiorg1015902236-345954808 ASSIS Ana Kaacutetia Ferreira de O PNAIC e a educaccedilatildeo baacutesica em Jataiacute o que relevam os documentos 2016 180 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Jataiacute 2016 ASSIS Machado de Contos Satildeo Paulo FTD 2002 ASSUNCcedilAtildeO Maria da Penha dos Santos A alfabetizaccedilatildeo na Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Espiacuterito Santo (deacutecada de 1870) 2009 152 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2009 AUSTER Paul A invenccedilatildeo da solidatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004 AZEVEDO Fernando A cultura brasileira BrasiacuteliaRio de Janeiro UnBUFRJ 1976 AZZI Riolando Dom Antocircnio de Macedo Costa e a Posiccedilatildeo da Igreja do Brasil diante do Advento da Repuacuteblica em 1889 Siacutentese v 3 nordm 8 p 45-69 1976 ________ A concepccedilatildeo da Ordem Social segundo Dom Antocircnio de Macedo Costa Bispo do Paraacute (1860-1890) Siacutentese v 7 nordm 20 p 97-123 1980 ________ A Crise da Cristandade e o Projeto Liberal Satildeo Paulo Ediccedilotildees Paulinas 1991 ________ O Altar unido ao trono um projeto conservador Satildeo Paulo Ediccedilotildees Paulinas 1992 ________ O Estado Leigo e o Projeto Ultramontano Satildeo Paulo Paulus 1994 ________ Histoacuteria da Educaccedilatildeo Catoacutelica no Brasil contribuiccedilatildeo dos Irmatildeos Maristas Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1999

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BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 2010

________ Problemas da poeacutetica de Dostoieacutevski Rio de Janeiro Forense

Universitaacuteria 2013

________ Fragmentos dos anos 1970-1971 In BAKHTIN Mikhail Notas sobre literatura cultura e ciecircncias humanas Organizaccedilatildeo traduccedilatildeo posfaacutecio e notas de Paulo Bezerra notas da ediccedilatildeo russa de Serguei Botcharov Satildeo Paulo Editora 34 2017 BARRA Valdeniza Maria Lopes da Livros e leituras do Gabinete Literaacuterio Goiano da Sociedade Oitentista de Goiaacutes Educativa Goiacircnia v 11 n 1 p 85-97 janeiro junho de 2008 ________ Projeto de educaccedilatildeo na sociedade goiana do seacuteculo XIX possiacutevel traduccedilatildeo de um processo histoacuterico multifacetado In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ A lousa de uso escolar traccedilos da histoacuteria de uma tecnologia moderna Educar em Revista (Impresso) Curitiba v 45 p 121-137 2013 httpsdoiorg101590S0104-40602013000300008 ________ Da pedra ao poacute o itineraacuterio da lousa na escola puacuteblica paulista do seacuteculo XIX Goiacircnia Kelps 2016 ________ SOUZA Maria Erilacircnde de Alguns aspectos da circulaccedilatildeo de livros em Goiaacutes no seacuteculo XIX In ENCONTRO MULTI CAMPI DE EDUCACcedilAtildeO E LINGUAGEM I 2008 Inhumas ndash GO Anais do I Encontro Multi Campi de Educaccedilatildeo e Linguagem Goiacircnia Graacutefica Vieira 2008 ________ FABIANO Tatiana Tasse Livros e leituras em Goiaacutes no seacuteculo XIX entre o Gabinete e a Tribuna In ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCACcedilAtildeO DA ANPED CENTRO-OESTE X 2010 Uberlacircndia ndash MG Anais do X Encontro de Pesquisa em educaccedilatildeo da ANPED Centro Oeste Uberlacircndia UFU 2010 BARROS Fernanda Castelfranchi de Aquisiccedilatildeo da leitura no processo de alfabetizaccedilatildeo contribuiccedilotildees do ensino desenvolvimento com foco no motivo de aprendizagem 2008 98 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2008 BARROS Fernanda Lyceu de Goyaz elitizaccedilatildeo endossada pelas oligarquias goianas 1906-1937 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia ________ O tempo do Lyceu em Goiaacutes formaccedilatildeo humanista e intelectuais (1906-1960) Jundiaiacute-SP Paco Editorial 2017 BARROS Manoel Retrato do artista quando coisa Rio de Janeiro Record 1998 ________ Poesia completa Satildeo Paulo Leya 2010

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BARROS Regina Celeste R de A importacircncia do contexto situacional na aquisiccedilatildeo da linguagem escrita em uma sala de aula 1992 197 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1992 BARROSO Joseacute Liberato A instruccedilatildeo puacuteblica no Brasil Pelotas Seixa 2005 BARTHES Roland O rumor da liacutengua Traduccedilatildeo Mario Laranjeira 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Martins Fontes 2004 BASTOS Maria Helena Camara A formaccedilatildeo de professores para o ensino muacutetuo no Brasil o Curso normal para professores de primeiras letras do baratildeo de Geacuterando (1839) In BASTOS Maria Helena Camara FARIA FILHO Luciano Mendes de (Orgs) A escola elementar no seacuteculo XIX o meacutetodo monitorialmuacutetuo Passo Fundo Ediupf 1999 ________ Reminiscecircncias de um tempo escolar Memoacuterias do professor Coruja Revista Educaccedilatildeo em Questatildeo (UFRN IMPRESSO) v 25 p 157-189 2006 BATISTA Antocircnio Augusto Gomes Paleoacutegrafos ou livros de leitura manuscrita elementos para o estudo do gecircnero In Memoacuteria da Leitura Campinas 2002 DisponiacutevellthttpwwwunicampbrielmemoriaEnsaiosBatistabatistahtmgt Acesso em 05 de fevereiro de 2018 ________ Dos papeacuteis velhos aos manuscritos impressos paleoacutegrafos ou livros de leitura manuscrita In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira KLINKE Karina Livros escolares de leitura uma morfologia (1866-1956) Revista Brasileira de Educaccedilatildeo nordm 20 maiojunhoagosto 2002 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 BAUMAN Zygmunt Modernidade Liacutequida Rio de Janeiro Zahar 2001 BERTOLETTI Estela Mantovani Cartilha do Povo e Upa Cavalinho O Projeto de Alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho 1997 129 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 1997 ________ Lourenccedilo filho alfabetizaccedilatildeo e cartilhas percurso e memoacuteria de uma pesquisa histoacuterica In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ Literatura manuscrita nas leituras para a infacircncia brasileira (1901-1955) In SILVA Maacutercia Cabral da Silva BERTOLETTI Estela Natalina Mantovani (Org) Literatura leitura e educaccedilatildeo Rio de Janeiro EdUerj 2017

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________ SILVA Maacutercia Cabral da Cultura escrita na escola primaacuteria a circulaccedilatildeo de livros didaacuteticos para ensino de leitura (1928-1961) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute v 16 n 1 (40) p 373-403 2016 httpsdoiorg104025rbhev16i17755 BITTENCOURT Circe Os confrontos de uma disciplina escolar da histoacuteria sagrada agrave histoacuteria profana Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 13 nordm 2526 p 193-221 setembro de 1992 agosto de 1993 ________ Livro didaacutetico e saber escolar 1810-1910 1ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Autecircntica Editora 2008 BITTENCOURT Raul A educaccedilatildeo brasileira no Impeacuterio e na Repuacuteblica Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Rio de Janeiro v 19 nordm 49 p 41-76 1953 BLOCH Marc Apologia da histoacuteria ou o ofiacutecio de historiador Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2001 BOJUNGA Lygia Livro um encontro Satildeo Paulo Editora Casa Lygia Bojunga Ltda 2004 BORGES Angeacutelica A urdira do magisteacuterio primaacuterio na Corte Imperial um professor na trama de relaccedilotildees e agecircncias 2014 416 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo BORGES Jose Luis Cinco visotildees pessoais Traduccedilatildeo de Maria Rosinda da Silva

Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1985

BORGES Rosana Maria Ribeiro LIMA Angelita Pereira de Histoacuteria da imprensa goiana os velhos tempos da Colocircnia agrave modernidade Revista UFG ano X nordm 5 p 68-87 dezembro de 2008 BOSCHI Caio Ceacutesar Por que estudar Histoacuteria Satildeo Paulo Aacutetica 2007

BOTO Carlota Ler escrever contar e se comportar a escola primaacuteria como rito do seacuteculo XIX portuguecircs (1820-1910) 1997 606 p Tese (Doutorado em Histoacuteria Social) ndash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ________ Aprender a ler entre cartilhas civilidade civilizaccedilatildeo e civismo pelas lentes do livro didaacutetico Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 30 p 492-511 setembrodezembro de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000300009 ________ Apresentaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ ALBUQUERQUE Suzana Lopes Entre idas e vindas vicissitudes do meacutetodo Castilho no Brasil do seacuteculo XIX Hist Educ Porto Alegre v 22 nordm 56 p16-37 setembrodezembro de 2018 httpsdoiorg1015902236-345970697

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BOURDEacute Guy MARTIN Herveacute As escolas histoacutericas Portugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica sd BOURDIEU Pierre CHARTIER Roger A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER Roger (Org) Praacuteticas da Leitura 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2011 BRAGA Isa Maria Uma escuta sobre as concepccedilotildees teoacutericas e praacuteticas das professoras alfabetizadoras da rede municipal de educaccedilatildeo de Goiacircnia (GO) 2009 125 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2009 BRAGANCcedilA Aniacutebal A poliacutetica editorial de Francisco Alves e a profissionalizaccedilatildeo do escritor no Brasil In ABREU Maacutercia (Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 BRASLAVSKY Berta O meacutetodo panaceia negaccedilatildeo ou pedagogia Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo n 66 p 41-48 agosto de 1988

BRECHT Bertold Gesammelte Gedichte Frankfurt Suhrkamp 1976 BRETAS Genesco Ferreira Histoacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes Coleccedilatildeo Documentos Goianos 21 Goiacircnia CEGRAFUFG 1991 BRETTAS Anderson Claytom Ferreira Brettas Johann Heinrich Pestalozzi a trajetoacuteria e a fundamentaccedilatildeo da Pedagogia Moral (17461827) Revista Profissatildeo Docente Uberaba-MG v18 nordm 39 p 415-431 julhodezembro 2018 httpsdoiorg1031496rpdv18i391216 BRZEZINSKI Iria Escola Normal de Goiaacutes nascimento apogeu ocaso (re)nascimento In ARAUJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 BUISSON Ferdinand (Dir) Dictionnaire de peacutedagogie et drsquoinstruction primaire Paris Hachette 1888 CAMPOS Dulcinea A alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo na deacutecada de 1950 2008 263 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 2008 CAMPOS Francisco Itami Coronelismo em Goiaacutes Goiacircnia Editora UFG 1987

CAMPOS Rosariane Glaucia M O programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores ndash Profa ndash e suas implicaccedilotildees pedagoacutegicas concepccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo atuaccedilatildeo profissional e resultados obtidos 2006 112 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2006

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CANDEIAS Antoacutenio Ritmos e formas de alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo portuguesa na transiccedilatildeo de seacuteculo o que nos mostram os Censos Populacionais compreendidos entre os anos de 1890 e 1930 Educaccedilatildeo Sociedade e Culturas Porto nordm 5 p 39-63 1996 ________ Alfabetizaccedilatildeo e Escola em Portugal nos Seacuteculos XIX e XX Os Censos e as Estatiacutesticas Lisboa Gulbenkian 2004 ________ Alfabetizaccedilatildeo escolarizaccedilatildeo e Capital Humano em Portugal nos seacuteculos XIX e XX em perspectiva comparada In CABRAL Manuel Villaverde (Org) Sucesso e insucesso escola economia e sociedade Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 2008 ________ SIMOtildeES Eduarda Alfabetizaccedilatildeo e escola em Portugal no seacuteculo XX Censos Nacionais e estudos de caso Anaacutelise Psicoloacutegica Lisboa v 17 nordm 1 marccedilo de 1999 CANEZIN Maria Teresa LOUREIRO Walderecircs Nunes A Escola Normal em Goiaacutes Goiacircnia Editora da UFG 1994 CARDOSO Cancionila Janzkovski AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Cartilhas na historiografia da alfabetizaccedilatildeo fontes evidecircncias e produccedilotildees no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 CARDOSO Ciro Flamarion VAINFAS Ronaldo (Orgs) Domiacutenios da Histoacuteria ensaios de teoria e metodologia Rio de Janeiro Campus 1997 ________ ________ (Orgs) Novos domiacutenios da histoacuteria Rio de Janeiro Elsevier 2012 CARVALHO Marta Maria Chagas de A Escola e A Repuacuteblica e outros ensaios Braganccedila Paulista EDUSF 2003 CARVALHO Silvia Aparecida Santos de O ensino de leitura e escrita o imaginaacuterio republicano (1890-1920) 1998 126 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1998 CASARI Priscila RIBEIRO Lilian Lopes DAMASCENO Joatildeo Pedro Tavares

Migraccedilatildeo para aacutereas rurais do estado de Goiaacutes uma anaacutelise baseada nos dados do

Censo Demograacutefico de 2010 Interaccedilotildees Campo Grande v 15 nordm 2 p 265-273

julhodezembro de 2014 httpsdoiorg101590S1518-70122014000200006

CASTANHA Andreacute Paulo O Ato Adicional de 1834 e a instruccedilatildeo puacuteblica elementar no impeacuterio descentralizaccedilatildeo ou centralizaccedilatildeo 2007 558 f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Centro de Educaccedilatildeo e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2007

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CASTELO-BRANCO Fernando Castilho tenta difundir o seu meacutetodo de leitura no Brasil Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo v 3 nordm 1 p 32-45 1977 CATANI Denice Barbara FARIA FILHO Luciano Mendes de Um lugar de produccedilatildeo e a produccedilatildeo de um lugar a histoacuteria e a historiografia divulgadas no GT Histoacuteria da Educaccedilatildeo da ANPEd (1985-2000) Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 19 janeiro a abril de 2002 httpsdoiorg101590S1413-24782002000100010 ________ VICENTINI Paula Perin Uma histoacuteria das praacuteticas de ensino da leitura e da escrita na produccedilatildeo autobiograacutefica de professores e alunos no Brasil (1870-1970) Educaccedilatildeo Porto Alegre v 34 nordm 2 p 207-212 maioagosto de 2011 CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano 1 artes do fazer Rio de Janeiro Vozes 1990 ________ A escrita da histoacuteria Rio de Janeiro Forense 2002 ________ A invenccedilatildeo do cotidiano 2 morar cozinhar Rio de Janeiro Vozes 2014 CHACAL Tudo (e mais um pouco) Satildeo Paulo Editora 34 2016 CHARLOT Bernard Formaccedilatildeo de professores a pesquisa e a poliacutetica educacional In PIMENTA Selma Garrido GHEDIN Evandro (Orgs) Professor reflexivo no Brasil gecircnese e criacutetica de um conceito 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2002 CHARTIER Anne-Marie Praacuteticas de leitura e escrita histoacuteria e atualidade Belo Horizonte CealeAutecircntica 2007 CHARTIER Roger A aventura do livro do leitor ao navegador Traduccedilatildeo Reginaldo Carmello Correcirca de Moraes Satildeo Paulo Editora UNESP 1998 CHAUL Nasr Fayad A construccedilatildeo de Goiacircnia e a transferecircncia da capital Goiacircnia Editora da UCG 1999 CHOPPIN Alain Histoacuteria dos livros e das ediccedilotildees didaacuteticas sobre o estado da arte Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo n 30 (3) p 549-566 setembrodezembro de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000300012 COELHO Maricilde Oliveira A escola primaacuteria no Estado do Paraacute (1920 - 1940) 2008 213 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008 ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Estrateacutegias de divulgaccedilatildeo de livros escolares no Paraacute (1890-1910) Linha Mestra (Associaccedilatildeo de Leitura do Brasil) Campinas n 8 p 2449-2453 2014a ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Livros de leitura para meninas no seacuteculo XIX Gecircnero na Amazocircnia Paraacute n 6 p 245-258 2014b

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________ MACIEL Francisca Izabel Pereira O ensino da leitura nas proviacutencias do norte do brasil primeiro livro de leitura de Augusto Ramos Pinheiro In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 CORALINA Cora Vinteacutem de cobre Goiacircnia Editora da UFG 1977 ________ Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais Goiacircnia Editora da Universidade Federal de Goiaacutes 1980 ________ Meu livro de cordel 18ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Global 2013 CORREcircA Carlos Humberto Alves Circuito do livro escolar elementos para a compreensatildeo de seu funcionamento no contexto educacional amazonense 1852-1910 2006 252 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 ________ SILVA Lilian Lopes Martin da Cartilhas de alfabetizaccedilatildeo no Amazonas de antigamente In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 ________ SILVA Lilian Lopes Martin da Cartas de abc e cartilhas escolares alfabetizaccedilatildeo nas escolas amazonenses (1850-1900) In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO V 2008 Aracajuacute - SE Anais do V Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo o ensino e a pesquisa em Histoacuteria da Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo Aracajuacute UFS UNIT 2008 p 1-10 COSTA David Antonio da A Aritmeacutetica Escolar no Ensino Primaacuterio Brasileiro 1890-1946 2010 279 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo Matemaacutetica) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo CUNHA Luiz Antocircnio A universidade Temporatilde o ensino superior da Colocircnia agrave Era Vargas Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 DASSUNCcedilAtildeO BARROS Joseacute Histoacuteria espaccedilo e tempo interaccedilotildees necessaacuterias

Varia histoacuteria Belo Horizonte v 22 nordm 36 p 460-476 julhodezembro de 2006

httpsdoiorg101590S0104-87752006000200012

DELGADO Lucilia de Almeida Neves Histoacuteria Oral memoacuteria tempo identidades

Belo Horizonte Autecircntica 2010

DIAS Ana Raquel ldquoPasseando pelos arredoresrdquo o ensino de Histoacuteria para crianccedilas no livro Goiaz coraccedilatildeo do Brasil (1934) 2018 169 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes 2018 DIAS Joseacute Maria Teixeira Castilho ndash leitura repentina meacutetodo original Arquipeacutelago-Histoacuteria Portugal 2ordf seacuterie v IV nordm 2 p 465-480 2000

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DIETZSCH Mary Julia Martins Alfabetizaccedilatildeo propostas e problemas para uma anaacutelise do seu discurso 1979 122 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia) ndash Instituto de Psicologia Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1979 EL FAR Alessandra Ao gosto do povo as ediccedilotildees baratiacutessimas de finais do seacuteculo XIX In BRAGANCcedilA Aniacutebal ABREU Maacutercia (Orgs) Impresso no Brasil dois seacuteculos de livros brasileiros Satildeo Paulo Editora da Unesp 2010 ELIAS Nobert O Processo Civilizador uma histoacuteria dos costumes Volume 1 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Zahar 1994 ESPOSITO Yara Luacutecia Alfabetizaccedilatildeo em revista uma leitura Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 80 p 21-27 fevereiro de 1992 ESTEVES Isabel de Lourdes As prescriccedilotildees para o ensino da caligrafia e da escrita

na escola puacuteblica primaacuteria paulista (1910-1947) 2002 155 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado

em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

2002

FARIA FILHO Luciano Mendes de Dos pardeiros aos palaacutecios forma e cultura escolar em Belo Horizonte (19061918) 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Uberlacircndia EDUFU 2014 httpsdoiorg1014393EDUFU-978-85-7078-376-9 ________ O processo de escolarizaccedilatildeo em Minas Gerais questotildees teoacuterico-metodoloacutegicas e perspectivas de anaacutelise In In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 ________ GONCcedilALVES Irlen Antocircnio VIDAL Diana Gonccedilalves PAULILO Andreacute Luiz A cultura escolar como categoria de anaacutelise e como campo de investigaccedilatildeo na histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 30 n 1 p 139-159 janeiroabril de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000100008 FERNANDES Rogeacuterio Um marco no territoacuterio da crianccedila o caderno escolar In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 FERREIRA Maira das Graccedilas A interaccedilatildeo verbal um estudo do papel da linguagem numa sala de aula de alfabetizaccedilatildeo 1991 186 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1991 FERREIRA Orlando da Costa Imagem e Letra introduccedilatildeo agrave bibliologia brasileira a imagem gravada 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1994 FERREIRA Rita de Caacutessia Oliveira A Escola Normal da capital instalaccedilatildeo e organizaccedilatildeo (1906-1916) 2010 158 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

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FERREIRA Liciacutenia A alfabetizaccedilatildeo e a poleacutemica do meacutetodo de Castilho nas paacuteginas drsquoO Instituto 2010 Disponiacutevel em lthttpinstitutodecoimbrablogspotcom201001 alfabetizacao-e-polemica-do-metodo-dehtmlgt Acesso em 05 de janeiro de 2018 FERREIRO Emilia TEBEROSKY Ana Psicogecircnese da liacutengua escrita Porto Alegre

Artes Meacutedicas 1985

FETTER Sandro R LIMA Edna Luacutecia da Cunha LIMA Guilherme da Cunha O

ensino da escrita manual no Brasil dos modelos caligraacuteficos agrave escrita pessoal no

seacuteculo XXI Biblioteca Online de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Portugal v IV p 1-31

2010

FONSECA E SILVA J Trindade da Lugares e pessoas subsiacutedios eclesiaacutesticos para a histoacuteria de Goiaacutes 1ordm volume Satildeo Paulo Escolas Profissionais Salesianas 1948 FONSECA Celso Suckow da Histoacuteria do Ensino Industrial no Brasil 5 vols 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro SENAI DN DPEA 1986 v 5 FONSECA Thais Nivia de Lima e Histoacuteria da Educaccedilatildeo e Histoacuteria Cultural In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 FOUCAULT Michel O que eacute um autor 3ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Passagens 1992

________ A Ordem do Discurso Satildeo Paulo Loyola 2003 ________ Microfiacutesica do poder 23ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Graal 2004 ________ A arqueologia do saber Traduccedilatildeo Luiz Felipe Baeta Neves Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 2013 FRADE Isabel Cristina Alves da Silva Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo meacutetodos de ensino e conteuacutedos da alfabetizaccedilatildeo perspectivas histoacutericas e desafios atuais Educaccedilatildeo (UFSM) Santa Maria v 32 nordm 1 p 21-40 2007 ________ Cultura escrita no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX em Minas Gerais suportes instrumentos e textos de alunos e professores In REUNIAtildeO ANUAL DA ANPED 31ordf 2008 Caxambu Anais da 31ordf Reuniatildeo Anual da Anped Constituiccedilatildeo Brasileira Direitos Humanos e Educaccedilatildeo Caxambu Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo 2008 p 01-15 ________ Suportes instrumentos e textos de alunos e professores em Minas Gerais indicaccedilotildees sobre usos da cultura escrita nas escolas no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 13 nordm 29 p 29-55 setembrodezembro de 2009 ________ Uma genealogia dos impressos para o ensino da escrita no Brasil no seacuteculo XIX Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 15 nordm 44 p 264-281 maioagosto de 2010 httpsdoiorg101590S1413-24782010000200005

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________ Livros de leitura de Abiacutelio Ceacutesar Borges ideaacuterios pedagoacutegicos produccedilatildeo e circulaccedilatildeo In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010a ________ Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da cultura escrita discutindo uma trajetoacuteria de pesquisa In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ As configuraccedilotildees graacuteficas de livros brasileiros e franceses para ensino da leitura e seus possiacuteveis efeitos no uso dos impressos (seacuteculos XIX e XX) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo CampinasSP v 12 Nordm 2 (29) p 171-208 maioagosto 2012 ________ Meacutetodo alfabeacutetico e de soletraccedilatildeo In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva COSTA VAL Maria da Graccedila BREGUNCI Maria das Graccedilas de Castro (Org) Glossaacuterio Ceale termos de alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita para educadores Belo Horizonte Faculdade de EducaccedilatildeoUFMG 2014 ________ Instrumentos de escrita In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva COSTA VAL Maria da Graccedila BREGUNCI Maria das Graccedilas de Castro (Orgs) Glossaacuterio Ceale termos de alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita para educadores Belo Horizonte Faculdade de EducaccedilatildeoUFMG 2014a ________ O campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com as fontes In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Instrumentos e suportes de escrita no processo de escolarizaccedilatildeo entre os usos prescritos e os natildeo convencionais (Minas Gerais primeira metade do seacuteculo XX) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute-PR v 16 nordm 1 (40) p 297-334 janeiroabril 2016 httpsdoiorg104025rbhev16i17753 FRANKLIN Ruben Maciel Projetos educacionais para um Brasil-naccedilatildeo uma reflexatildeo sobre a Educaccedilatildeo brasileira no processo de transiccedilatildeo impeacuterio-primeira repuacuteblica (1850-1930) Revista de Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo Curitiba v 1 nordm 1 p 86-101 janeiroabril de 2017 httpsdoiorg105380rhhev1i144458 FREIRE Ana Maria Arauacutejo Analfabetismo no Brasil da ideologia da interdiccedilatildeo do corpo agrave ideologia nacionalista ou de como deixar sem ler e escrever desde as Catarinas (Paraguaccedilu) Filipas Madalenas Anas Genebras Apolonias e Gracias ateacute os Severinos 1988 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica Sociedade) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988 FREIRE Paulo Alfabetizaccedilatildeo leitura do mundo leitura da palavra Rio de Janeiro Paz e Terra 2011

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GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Leituras de professores e professoras o que diz a historiografia da educaccedilatildeo brasileira In MARINHO Marildes (Org) Ler e navegar espaccedilos e percursos da leitura Belo Horizonte Ceale 2001 ________ O livro escolar de leitura na escola imperial pernambucana tipos gecircneros e autores In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 ________ BATISTA Antocircnio Augusto Gomes A leitura na escola primaacuteria brasileira alguns elementos histoacutericos In Memoacuteria da Leitura Campinas 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrielmemoriaprojetosensaio sensaio21htmlgt Acesso em 08 de maio de 2018 GAMA Zacarias Jaegger GONDRA Joseacute Gonccedilalves Uma estrateacutegia de unificaccedilatildeo curricular os estatutos das escolas puacuteblicas de instruccedilatildeo primaacuteria (Rio de Janeiro ndash 1865) Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 5 p 23-38 abril de 1999 GERALDI Joatildeo Wanderley (Org) O texto na sala de aula leitura amp produccedilatildeo Cascavel Assoeste 1984 ________ Portos de Passagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 ________ Linguagem e ensino exerciacutecios de militacircncia e divulgaccedilatildeo Campinas ALB Mercado de Letras 1996 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e histoacuteria Satildeo Paulo Cia das Letras 1989 GONDRA Joseacute Gonccedilalves Artes de civilizar medicina higiene e educaccedilatildeo escolar na Corte Imperial Rio de Janeiro EDUERJ 2004 ________ Instruccedilatildeo intelectualidade impeacuterio apontamentos a partir do caso brasileiro In VAGO Tarciacutesio Mauro INAacuteCIO Marcilaine Soares HAMDAN Juliana Cesaacuterio SANTOS Hercules Pimenta dos (Orgs) Intelectuais e Escola Puacuteblica no Brasil seacuteculos XIX e XX Belo Horizonte Mazza Ediccedilotildees 2009 ________ SCHUELER Alessandra Educaccedilatildeo poder e sociedade no Impeacuterio brasileiro Satildeo Paulo Cortez 2008 GONTIJO Claacuteudia Maria Mendes Alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo o meacutetodo muacutetuo ou monitorial Educaccedilatildeo em Revista Belo Horizonte n 40 p141-158 2011 httpsdoiorg101590S0104-40602011000200010 ________ GOMES Siacutelvia Cunha Escola primaacuteria e ensino da leitura e da escrita (alfabetizaccedilatildeo) no Espiacuterito Santo (1870 a 1930) Vitoacuteria ES EDUFES 2013 GOULART Cecilia Maria Aldigueri O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ discutindo a tensatildeo na construccedilatildeo de praacuteticas de

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ensino nas deacutecadas de 1970 e 1980 In ENCONTRO NACIONAL DE DIDAacuteTICA E PRAacuteTICA DE ENSINO XIV 2008 Porto Alegre Anais do XIV ENDIPE ndash Encontro Nacional de Didaacutetica e Praacutetica de Ensino Porto Alegre Editora da PUCRS 2008 p 1-15 ________ Aspectos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ problematizando questotildees teoacuterico-metodoloacutegicas In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ A avaliaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo em pesquisas praacuteticas e poliacuteticas puacuteblicas debatendo posiccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ ABIacuteLIO Eleonora Cretton Aspectos poliacutetico-pedagoacutegicos do ensino da leitura e da escrita no sistema escolar municipal de Niteroacutei uma visatildeo histoacuterica In ENCONTRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO I 2007 Niteroacutei ndash RJ Anais do I Encontro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo do Rio de Janeiro CR-ROM Niteroacutei UFF 2007 p 1-15 ________ ABIacuteLIO Eleonora Cretton MATTOS Margareth Silva de O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) Niteroacutei PROALEUFF FAPERJ 2007 ________ ABIacuteLIO Eleonora Cretton O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ um estudo do periacuteodo 1959-200 In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 ________ GONTIJO Claacuteudia Maria Mendes FERREIRA Norma Sandra de Almeida (Orgs) A alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo 30 anos de A crianccedila na fase inicial da escrita Satildeo Paulo Cortez 2017 GOULART Ilsa do Carmo Vieira As liccedilotildees de Meninice um estudo sobre as representaccedilotildees de livro de leitura inscritas na seacuterie graduada de leitura Meninice (19481949) de Luiz Gonzaga Fleury 2013 282 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas ________ O ensino da leitura na produccedilatildeo escrita de Luiz Gonzaga Fleury entre 1922 a 1936 Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute v 15 p 133-158 2015 httpsdoiorg104025rbhev15i2632 GRAFF Harvey Os labirintos da alfabetizaccedilatildeo reflexotildees sobre o passado e o presente da alfabetizaccedilatildeo Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994 GUILLAUME J Leacutecture In Nouveau dictionnaire de pedagogia et instruction primaire

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GUIMARAtildeES Edite da Gloacuteria Amorim Histoacuterias de alfabetizadores vida memoacuteria e

profissatildeo 2006 152 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de

Educaccedilatildeo Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2006

GUIMARAtildeES Maacutercia Campos Moraes Estado do conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil (1944-2009) 2011 213 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2011 ________ QUILLICI NETO Armindo Os perioacutedicos na historiografia da alfabetizaccedilatildeo temas abordados no periacuteodo de 1944 a 2009 In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 GUSMAtildeO Manuel Uma Razatildeo Dialoacutegica Ensaios sobre literatura a sua experiecircncia do humano e a sua teoria Lisboa Ediccedilotildees Avante 2011 HALLEWELL Laurence O livro no Brasil sua histoacuteria 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 HASWANI Mariacircngela Furlan O discurso obscuro da lei In MATOS Heloiza (Org) Comunicaccedilatildeo puacuteblica interlocuccedilotildees interlocutores e perspectivas Satildeo Paulo ECAUSP 2013 HEacuteBRARD Jean La leccedilon et lrsquoexercise quelques reacuteflexions sur lrsquohistoire des pratiques de scolarisation Paris INRP-CNRS-Service drsquohistoire de lrsquoeacuteducation 1995 HILSDORF Maria Lucia Spedo Histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira leituras Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning 2003 JESUS Simone Aparecida de A literatura no acircmbito do Pacto Nacional pela Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa (PNAIC) 2019 144 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 2019 KLEIMAN Angela (Org) Os Significados do Letramento Novas Perspectivas sobre a Praacutetica Social da Escrita Campinas Mercado de Letras 1995 KLEMPERER Victor LTI a linguagem do Terceiro Reich Rio de Janeiro Contraponto 2009 KONDER Leandro A poesia de Brecht e a histoacuteria Rio de Janeiro Jorge Zahar 1996 LAJOLO Marisa Livro didaacutetico um (quase) manual de usuaacuterio Em aberto Brasiacutelia ano 16 n 69 p 4-19 janeiromarccedilo de 1996 ________ ZILBERMAN Regina A formaccedilatildeo da leitura no Brasil Satildeo Paulo Editora Aacutetica 1996 LAROUSSE M Pierre Dictionnaire Universel du XIXe siegravecle Paris Librairie Classique Larousse et Boyer 1869

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MELO Luis Correia Dicionaacuterio de autores paulistas Comissatildeo do IV centenaacuterio da cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Irmatildeos Andrioli 1954 MENDES Elieth Sodreacute Terence Benedicta Stahl Sodreacute mulher protestante na

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MENDONCcedilA Sonia Regina de O ruralismo brasileiro Satildeo Paulo Hucitec 1997

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MIGNOT Ana Chrystina Venancio Antes da escrita uma papelaria na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de cadernos escolares In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 MORAIS Roselusia Teresa Pereira de Modos de ler o impresso muacuteltiplas escritas de leitores de Eacuterico Veriacutessimo na internet 2014 220 p Tese ndash (Doutorado em Educaccedilatildeo) Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Pelotas Pelotas 2014 MOREIRA Ana Karenine Souza Apropriaccedilatildeo do conceito de letramento por professores da rede municipal de educaccedilatildeo de Goiacircnia 2017 148 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2017 MOREIRA Kecircnia Hilda MUNAKATA Kazumi (Orgs) Dossiecirc Temaacutetico ldquoLivros didaacuteticos como fonteobjeto de pesquisa para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil e na Espanhardquo Revista Educaccedilatildeo e Fronteiras Mato Grosso do Sul v 7 nordm 20 maioagosto 2017 httpsdoiorg1030612edufv7i207424

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________ Cartilha de alfabetizaccedilatildeo e cultura escolar um pacto secular Cadernos Cedes ano XX n 52 p 41-54 novembro 2000a httpsdoiorg101590S0101-32622000000300004

________ Educaccedilatildeo e letramento Satildeo Paulo UNESP 2004

________ Prefaacutecio In AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura e grupos escolares Mato Grosso 1910-1930 Cuiabaacute EdUFMT 2008

________ A ldquoquerela dos meacutetodosrdquo de alfabetizaccedilatildeo no Brasil contribuiccedilotildees para metodizar o debate Acolhendo a Alfabetizaccedilatildeo nos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (USP) Satildeo Paulo v 3 nordm 5 p 91-114 2009 httpsdoiorg1011606issn1980-7686v3i5p91-114 ________ (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ O I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011a ________ Contribuiccedilotildees do GPHELLB para o Campo da Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011b

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________ Um balanccedilo criacutetico da ldquoDeacutecada da Alfabetizaccedilatildeordquo no Brasil Caderno Cedes Campinas v 33 n 89 p 15-34 2013 httpsdoiorg101590S0101-32622013000100002 ________ Produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre alfabetizaccedilatildeo avaliaccedilatildeo da qualidade e impacto cientiacutefico e social In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria concisa Satildeo Paulo Editora Unesp 2019 ________ OLIVEIRA Fernando Rodrigues de Magda Soares na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ OLIVEIRA Fernando Rodrigues de PASQUIM Franciele Ruiz 50 anos de produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre alfabetizaccedilatildeo avanccedilos contradiccedilotildees e desafios Interfaces da Educaccedilatildeo Paranaiacuteba v 5 nordm 13 p 6-31 2014 MUNAKATA Kazumi Produzindo livros didaacuteticos e paradidaacuteticos 1997 Tese (Doutorado em Histoacuteria e Filosofia da Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1997 ________ A legislaccedilatildeo como fonte de histoacuteria do livro didaacutetico numa eacutepca em que supostamente natildeo havia leis sobre isso e muito menos a histoacuteria do livro didaacutetico In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Histoacuteria do ensino de leitura e escrita meacutetodos e material didaacutetico Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Livro didaacutetico como indiacutecio da cultura escolar Hist Educ (Online) Porto Alegre v 20 n 50 p 119-138 setembrodezembro 2016 httpsdoiorg1015902236-3459624037 NAGLE Jorge Educaccedilatildeo e sociedade na primeira repuacuteblica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora DPampAA 2001 NASCIMENTO Liliane Querino do As concepccedilotildees de alfabetizaccedilatildeo e letramento na preacute-escola reflexotildees a partir da equipe gestora 2019 174 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2019 NASCIMENTO Estes Fraga Vilas-Bocircas Carvalho SALES Tacircmara Regina Reis Almanaque do Bom Homem Ricardo praacuteticas educacionais norte-americanas e sua circulaccedilatildeo no Brasil Oitocentista Cadernos do Tempo Presente n 15 p 72-75 marccediloabril de 2014 NORA Pierre Entre memoacuteria e histoacuteria ndash a problemaacutetica dos lugares Projeto Histoacuteria Satildeo Paulo n10 p 7-28 1993

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OLIVEIRA Ingrid Janini Ramos Oliveira PERES Selma Martines Histoacuteria do livro escolar ndash Goiaz coraccedilatildeo do Brasil In NEVES Adriana Freitas PAULA Maria Helena de ANJOS Petrus Henrique Ribeiro dos (Orgs) Estudos Interdisciplinares em Humanidades e Letras Satildeo Paulo Editora Blucher 2016 httpsdoiorg1051519788580391664-05 OLIVEIRA Luiz Eduardo CORREcircA Leda Pires A importacircndia do catecismo no processo de escolarizaccedilatildeo Interdisciplinar Satildeo Cristovatildeo-SE v 2 nordm 2 p 37-53 julhodezembo de 2006 OLIVEIRA Suzane Cardoso da Silva Eacute hora da histoacuteria oficinas de leitura no desenvolvimento das competecircncias leitoras de crianccedilas no primeiro ano do ensino fundamental 2018 153 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2018 ORIANI Angeacutelica Pall Consideraccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil a produccedilatildeo acadecircmico-cientiacutefica e a constituiccedilatildeo do campo de pesquisas Educ temat digit Campinas v 14 n 2 p 94-112 julho a dezembro de 2012 httpsdoiorg1020396etdv14i21224 ORLANDI Eni P GUIMARAtildeES Eduardo (Orgs) Institucionalizaccedilatildeo dos Estudos da Linguagem a disciplinarizaccedilatildeo das ideacuteias linguiacutesticas Campinas Pontes 2002 ORLANDI Eni Puccinelli Texto e Discurso ORGANON Revista do Instituto de Letras da UFRGS Rio Grande do Sul v 9 n 23 p 111-118 1995 ORLANDO Evelyn de Almeida Os manuais de catecismo e a circulaccedilatildeo de ideacuteias tradiccedilatildeo e modernidade na pedagogia catoacutelica brasileira In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO V 2008 Aracaju Anais do V Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo ldquoO ensino e a pesquisa em Histoacuteria da Educaccedilatildeordquo Satildeo Cristoacutevatildeo Aracaju Universidade Federal de Sergipe Universidade Tiradentes p 247-248 2008 ________ Os manuais de catecismo como fontes para a Histoacuteria da Educaccedilatildeo Roteiro Joaccedilaba Santa Catarina v 38 p 41-66 2013 PAacuteDUA Andreacuteia Aparecida Silva de Migraccedilatildeo expansatildeo demograacutefi ca e desenvolvimento econocircmico em Goiaacutes 2008 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial) ndash Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2008 PALACIacuteN Luiacutes O seacuteculo do outro em Goiaacutes 4ordf ediccedilatildeo Goiacircnia Editora da UCG 1994 ________ MORAES Maria Augusta de SantrsquoAnna Histoacuteria de Goiaacutes Goiacircnia Editora UCG 1994 ________ GARCIA Ledonias Franco AMADO Janaiacutena Histoacuteria de Goiaacutes em Documentos Colocircnia Goiacircnia Editora UFG 2001

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PASQUIM Franciele Ruiz Reforma do ensino da liacutengua materna (1884) de Antonio da Silva Jardim na histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil 2013 115 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 2013 ________ Antonio da Silva Jardim (1860-1891) na histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo BERTOLETTI Estela Natalina Mantovani Bertoletti et al (Orgs) Sujeitos da histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil Satildeo Paulo Editora UNESP 2015 PAULA Luzia de Faacutetima O ensino de liacutengua portuguesa no Brasil segundo Joatildeo Wanderley Geraldi Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 PAZ Octavio O arco e a lira Rio de Janeiro Nova Fronteira 1982

PEDROSO Dulce Madalena Rios Avaacute-canoeiros a histoacuteria do povo invisiacutevel seacuteculos XVIII e XIX 1992 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) ndash Instituto de Ciecircncias Humanas e Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1992 PEIXOTO Jorge Histoacuteria do livro impresso em Portugal Coimbra [sn] 1967 PESAVENTO Sandra Jatahy Histoacuteria amp histoacuteria cultural Belo Horizonte Autecircntica 2003 PFROMM NETO Samuel DIB Clauacutedio Zaki ROSAMILHA Nelson O livro na educaccedilatildeo Rio de Janeiro Primor INL 1974 PINTO Paula Alexandra Aguiar O ensino primaacuterio e seus valores em portugal de 1807 ateacute 1928 atraveacutes dos manuais escolares 2009 206 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade de Lisboa 2009 POMPEacuteIA Raul O Ateneu Satildeo Paulo Aacutetica 1996 POPPOVIC Ana Maria Alfabetizaccedilatildeo um problema interdisciplinar Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 2 novembro de 1971 PORTO Gilceane Caetano Divulgaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do meacutetodo global de contos no Instituto de Educaccedilatildeo Assis Brasil 2005 150 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Pelotas Pelotas 2005 PRIMITIVO MOACYR A instruccedilatildeo e as proviacutencias 1ordm volume Satildeo Paulo Nacional 1939a ________ A instruccedilatildeo e as proviacutencias 2ordm volume Satildeo Paulo Nacional 1939b ________ A instruccedilatildeo e as provincias 1834-1889 (subsidios para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil) 3ordm volume Satildeo Paulo Rio de Janeiro Recife Porto Alegre Companhia Editora Nacional 1940

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PRUDENTE Maria das Graccedilas Cunha Silvina Ermelinda Xavier de Brito In VALDEZ Diane (Org) Dicionaacuterio de Educadores e Educadoras em Goiaacutes seacuteculos XVIII ndash XXI Goiaacutes Editora Imprensa Universitaacuteria 2017 ________ O silecircncio no magisteacuterio professoras na instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia de Goyaz seacuteculo XIX In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 QUEIROacuteS Bartolomeu Campos de O livro eacute passaporte eacute bilhete de partida PRADO

Jason CONDINI Paulo (Org) A formaccedilatildeo do leitor pontos de vista Rio de Janeiro

Argus 1999 p 23-24

QUINTANA Maacuterio Apontamentos de histoacuteria sobrenatural 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Globo 1995 RANCIEgraveRE Jacques O mestre ignorante cinco liccedilotildees sobre a emancipaccedilatildeo intelectual Traduccedilatildeo de Liacutelian do Valle 3ordf ediccedilatildeo 4ordf reimpressatildeo Belo Horizonte Autecircntica Editora 2015 RAZZINI Marcia de Paula Gregorio Instrumentos de escrita na escola elementar tecnologias e praacuteticas In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 REIS Marlene Barbosa de Freitas Algumas consideraccedilotildees sobre o ofiacutecio de professor em Goiaacutes no Seacuteculo XIX (1835-1861) In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 RIBEIRO Maria Luisa Santos Histoacuteria da Educaccedilatildeo brasileira a organizaccedilatildeo escolar 17ordf ediccedilatildeo Campinas Autores Associados 2001 RICOEUR Paul Tempo e Narrativa Satildeo Paulo Papirus 1994 RIZZINI Irma O cidadatildeo polido e o selvagem bruto a educaccedilatildeo dos meninos desvalidos na Amazocircnia Imperial 2004 453 p Tese (Doutorado em Histoacuteria Social) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 ROCHA Juliano Guerra Entre vozes livros e cadernos por uma historiografia da alfabetizaccedilatildeo no sul goiano In I SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE HISTOacuteRIA DO ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 1 2010 Mariacutelia SP Anais do I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita CD-ROM Mariacutelia Editora Fundepe 2010 ________ Marcas argumentativas em narrativas infantis 2012 201 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2012

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________ CARVALHO Silvia Aparecida Santos de As iconografias na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ________ SANTOS Socircnia Maria dos Oliveira Mariacutelia Villela de Fragmentos histoacutericos da formaccedilatildeo continuada do alfabetizador no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ROCHA Lucia Maria da Franca A Escola Normal na proviacutencia da Bahia In ARAUacuteJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 ROCHA Marlos Bessa Mendes da Matrizes da modernidade republicana cultura poliacutetica e pensamento educacional no Brasil Campinas SP Autores Associados Brasiacutelia DF Editora Plano 2004 RODRIGUES Liacutedia Silva A formaccedilatildeo de leitores literaacuterios na perspectiva histoacuterico cultural leituras em uma escola puacuteblica de Rio Verde ndash GO 2019 170 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2019 ROMANELLI Otaiacuteza de Oliveira Histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil 24ordf ediccedilatildeo Pretoacutepolis Vozes 2000 ROSA Dalva E Gonccedilalves Abordagem construtivista em uma classe de ciclo baacutesico de alfabetizaccedilatildeo do proposto ao projeto real 1993 192 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1993 ROSEMBERG Fuacutelvia Raccedila e educaccedilatildeo inicial Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p 25-34 maio de 1991 SAacute Helveacutecio Goulart Malta de ARAUacuteJO Denise Silva SANTOS Oyana Rodrigues dos BOAVENTURA Geiacutesa dacuteAacutevila Ribeiro DI MENEZES Nayara Ruben Calaccedila Antecedentes histoacutericos do ensino profissional no Brasil nos periacuteodos colonial e imperial In CONGRESSO NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO XII 2015 Paranaacute Anais do EDUCERE ndash XII Congresso Nacional de Educaccedilatildeo Paranaacute PUCPR 2015 SANDES Noeacute Freire ARRAIS Cristiano Alencar Histoacuteria e memoacuteria em Goiaacutes no seacuteculo XIX uma consciecircncia da maacutegoa e da esperanccedila Varia histoacuteria Belo Horizonte v 29 nordm 51 p 847-861 2013 httpsdoiorg101590S0104-87752013000300010 SANTrsquoANNA Thiago Fernando Gecircnero histoacuteria e educaccedilatildeo a experiecircncia de escolarizaccedilatildeo de meninas e meninos na Proviacutencia de Goiaacutes (1827-1889) 2010 240 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2010 ________ Possibilidades aos meninos destino agraves meninas Escola Primaacuteria como tecnologia de gecircnero na Proviacutencia de Goiaacutes (1827-1887) In BARRA Valdeniza Maria

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Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ Os abolicionismos na cidade de Goiaacutes pluralidades e singularidades nos anos 1880 Eacuteliseacutee - Revista de Geografia da UEG Porangatu v 2 p 92-107 2013 SANTOS Dorotheia Baacuterbara A teoria e a praacutetica pedagoacutegica no cenaacuterio das turmas de alfabetizaccedilatildeo de uma escola inclusiva 2005 84 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2005 SANTOS Luciana Martins Teixeira dos Direito humano agrave memoacuteria da educaccedilatildeo de adultos no Brasil autoritaacuterio documentos legais e narrativas de ex-participantes do MOBRAL (1967-1985) 2015 163 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Direitos Humanos Cidadania e Poliacuteticas Puacuteblicas) ndash Universidade Federal da Paraiacuteba Joatildeo Pessoa 2015 SANTOS Maria Lygia Koumlpke dos Lendo com Hilda Joatildeo Koumlpke ndash 1902 2013 243 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2013 SANTOS Socircnia Maria dos Histoacuterias das alfabetizadoras brasileiras entre saberes e praacuteticas 2001 258 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2001 SANTOS Tatiane Soares dos Alfabetizaccedilatildeo e letramento de estudantes com siacutendrome de Down indicaccedilotildees a partir da partir da percepccedilatildeo de professores sobre a vivecircncia de estudantes em uso do software alfabetizaccedilatildeo focircnica computadorizada 2019 169 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2019 SAVIANI Dermeval Reflexotildees sobre o ensino e a pesquisa em histoacuteria da educaccedilatildeo In GATTI JUacuteNIOR Deacutecio FILHO Geraldo Inaacutecio (Orgs) Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Perspectiva ensino pesquisa produccedilatildeo e novas investigaccedilotildees Campinas Autores Associados Uberlacircndia EDUFU 2005 ________ O legado educacional do ldquoBreve Seacuteculo XIXrdquo brasileiro In SAVIANI Dermeval ALMEIDA Jane Soares de SOUZA Rosa Faacutetima de VALDEMARIN Vera Teresa O legado educacional do seacuteculo XIX 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Campinas SP Autores Associados 2006 ________ Histoacuteria das Ideias Pedagoacutegicas no Brasil 4ordf ediccedilatildeo Campinas Autores Associados 2013 SCHUELER Alessandra Aprendendo a ler com a Histoacuteria Nossa Histoacuteria Satildeo Paulo ano 2 nordm 14 p 80-82 dezembro de 2004 ________ O Meacutetodo Bacadafaacute leitura escrita e liacutengua nacional em escolas puacuteblicas primaacuterias da Corte imperial (1870-1880) Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 9 nordm 18 p 173-190 julhodezembro 2005

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________ Representaccedilatildeo da docecircncia na imprensa pedagoacutegica na Corte imperial (1870-1889) o exemplo da Instruccedilatildeo Puacuteblica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v31 nordm 3 p 379-390 setembrodezembro 2005a httpsdoiorg101590S1517-97022005000300004 SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 SCOCUGLIA Afonso Celso Caldeira A Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Poliacutetica na PARAIBRASIL nos anos Sessenta 1997 349 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade Federal de Pernambuco Recife 1997 SENA Fabiana A tradiccedilatildeo da civilidade nos livros de leitura no Impeacuterio e na Primeira Repuacuteblica Campina Grande EDUEPB 2017 SILVA Carlos Manique da O tema dos ldquomodos de ensinordquo nos manuais pedagoacutegicos em Portugal e no Brasil (segunda metade do seacuteculoXIX ndash anos de 1920) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Campinas-SP v 13 nordm 3 (33) p 235-256 setembrodezembro 2013 httpsdoiorg104322rbhe2014011 SILVA Lilian Lopes Martin da FERREIRA Norma Sandra de Almeida MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Orgs) O texto na sala de aula um claacutessico sobre o ensino de liacutengua portuguesa Campinas Autores Associados 2014 SILVA Mariza Vieira da Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil a constituiccedilatildeo de sentidos e do sujeito da escolarizaccedilatildeo 1998 268 f Tese (Doutorado em Linguiacutestica) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Campinas 1998 ________ Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo no Brasil sentidos e sujeitos da escolarizaccedilatildeo Campinas Editora da UNICAMP 2015 SILVA Patriacutecia Maria Machado Interfaces entre a Provinha Brasil e as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo da rede municipal de ensino de Catalatildeo-GO 2015 177 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Catalatildeo 2015 SILVA Simei Arauacutejo Representaccedilotildees sociais e praacuteticas de professores alfabetizadores da rede puacuteblica do municiacutepio de Goiacircnia 1998 199 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1998 SIRINELLI Jean-Franccedilois Os intelectuais In REMOND Reneacute (Org) Por uma histoacuteria poliacutetica 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Editora Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 2003 SMOLKA Ana Luiza Bustamante A crianccedila na fase inicial da escrita a alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1988 SOARES Magda As muitas facetas da alfabetizaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 52 p 19-24 fevereiro de 1985

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________ Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento Brasiacutelia DF INEP Santiago REDUC 1989 ________ Liacutengua escrita sociedade e cultura relaccedilotildees dimensotildees e perspectivas Revista brasileira de educaccedilatildeo ANPEd n 0 p 5-16 setembro a dezembro de 1995 ________ Aprender a escrever ensinar a escrever Seacuterie Ideias n 28 p 59-75 Satildeo Paulo FDE 1997 Disponiacutevel em lthttpwwwcrmariocovasspgovbrpdfideia s_28_p059 -075_cpdfgt Acesso em 08 de junho de 2017 ________ Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998 ________ Apresentaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 Satildeo Paulo Editora UNESP 2000 ________ Alfabetizaccedilatildeo e Letramento Satildeo Paulo Contexto 2003 ________ Apresentaccedilatildeo In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva MACIEL Francisca Izabel Pereira (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo e circulaccedilatildeo de livros (MG RS MT ndash Seacutec XIX e XX) Belo Horizonte UFMGFAE 2006 ________ Alfabetizaccedilatildeo o saber o fazer o querer In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Magda Soares responde Entrevista com Magda Soares Site Ceale 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwcealefaeufmgbrpagesviewmagda-soares-responde-2htmlgt Acesso em 11 de junho de 2019 ________ Alfabetizaccedilatildeo a questatildeo dos meacutetodos Satildeo Paulo Contexto 2016 ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento Brasiacutelia DF MECINEPCOMPED 2000 SODREacute Nelson Wemeck A histoacuteria da imprensa no Brasil Rio de Janeiro Editora Civilizaccedilatildeo Brasileira 1966 SOUSA Maria Alice de Deus e A aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita ndash uma experiecircncia realizada numa escola da periferia de Goiacircnia 1993 51 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1993 SOUZA Amelioene Franco Rezende de Trabalho docente no contexto da alfabetizaccedilatildeo concepccedilotildees e possibilidades 2019 191 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Jataiacute 2019 SOUZA Cleyde Nunes Leite Alfabetizaccedilatildeo em ciclos de formaccedilatildeo e desenvolvimento humano um estudo de caso 2009 94 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2009

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SOUZA Rosa Faacutetima de Templos de civilizaccedilatildeo a implantaccedilatildeo da escola primaacuteria graduada no Estado de Satildeo Paulo (1890-1910) Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Editora da Unesp 1998 SOUZA Terezinha Fernandes Martins de Alfabetizaccedilatildeo na escola primaacuteria em Diamantino ndash Mato Grosso (1930 a 1970) 2006 260 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Instituto de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Mato Grosso Cuiabaacute 2006 STICKEL Erico Joatildeo Siriuba Uma Pequena Biblioteca Particular subsiacutedios para o Estudo da Iconografia no Brasil Satildeo Paulo EDUSP 2004 SUCUPIRA Newton O ato adicional de 1834 e a descentralizaccedilatildeo da educaccedilatildeo In FAacuteVERO Osmar (Org) Educaccedilatildeo nas Constituintes Brasileiras 1823-1988 Campinas Autores Associados 1996 TAMBARA Elomar Trajetoacuterias e natureza do livro didaacutetico nas escolas de ensino primaacuterio no seacuteculo XIX no Brasil Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 11 p 25-52 abril de 2002 ________ Livros de leitura nas escolas de ensino primaacuterio no seacuteculo XIX no Brasil In REUNIAtildeO DA ANPED 26ordf 2003 Poccedilos de Caldas Disponiacutevel em ltwww26reuniao anpedorgbrtrabalhoselomarantoniotambarartfgt Acesso em 25 de maio de 2018 ________ Da Leitura do Catecismo agrave Catequizaccedilatildeo da leitura - O catecismo como texto de leitura na escola primaacuteria no Brasil no seacuteculo XIX In SIMPOacuteSIO NACIONAL HISTOacuteRIA GUERRA E PAZ XXIII 2005 Londrina Anais do XXIII Simpoacutesio Nacional Histoacuteria Guerra e Paz Londrina ANPUH 2005 p 1-7 TEIXEIRA Aniacutesio Um educador Abiacutelio Cesar Borges Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Rio de Janeiro v 18 nordm 47 p150-155 julhodezembro 1952 TEIXEIRA Giselle Baptista Livros Escolares no Seacuteculo XIX a Presenccedila de Pestalozzi In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO III 2004 Curitiba Anais do II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo a Educaccedilatildeo Escolar em Perspectiva Histoacuterica 2004 ________ O grande mestre da escola os livros de leitura para a escola primaacuteria da capital do Impeacuterio brasileiro 2008 237 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 TFOUNI Leda V Adultos natildeo alfabetizados o avesso do avesso Campinas Pontes 1988 TRINDADE Iole Maria Faviero A invenccedilatildeo de uma nova ordem para as cartilhas ser maternal nacional e mestra Queres Ler 2001 524 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2001

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VALDEZ Diane Histoacuteria da infacircncia em Goiaacutes seacuteculos XVIII e XIX Goiacircnia Editora Alternativa 2003 ________ Livros de leitura seriados para a infacircncia fontes para a histoacuteria da educaccedilatildeo nacional (18861930) Linhas (UDESC) Florianoacutepolis v 5 nordm 2 p 219-242 2004 ________ A representaccedilatildeo de infacircncia nas obras pedagoacutegicas do Dr Abilio Cesar Borges o baratildeo de Macahubas (1856-1891) 2006 282 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 ________ Livros para o expediente das aulas primaacuterias na proviacutencia de Goiaacutes (1850-1890) In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ ldquoPasseando pelos arredoresrdquo do livro e da leitura na obra Goiaz coraccedilatildeo do Brasil (1934) In SILVA Fabiany de Cassia Tavares MIRANDA Mariacutelia Gouvea de (Orgs) Escrita da Pesquisa em educaccedilatildeo no Centro-Oeste Campo Grande Editora Oeste 2016 ________ BARRA Valdeniza Maria Lopes da Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Goiaacutes Estado da Arte Revista de Educaccedilatildeo Publica (UFMT) v 46 p 56 ndash 70 2012 ________ RODRIGUES Ana Flaacutevia OLIVEIRA Wanessa Andrade de Livros solicitados para a infacircncia escolar Proviacutencia de Goiaacutes (Seacuteculo XIX) 2010 In SIMPOacuteSIO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO XIX 2010 Goiacircnia ndash GO Anais do XIX Simpoacutesio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educaccedilatildeo Conhecimento e modernidade ndash velhos e novos desafios Goiacircnia UFG 2010 VEIGA Cynthia Greive Histoacuteria da educaccedilatildeo Satildeo Paulo Aacutetica 2001 VERIacuteSSIMO Eacuterico Olhai os liacuterios do campo Satildeo Paulo Ciacuterculo do Livro 1995 VIDAL Diana Gonccedilalves Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria (Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX) Campinas SP Autores Associados 2005 ________ Em que os estudos de natureza histoacuterica sobre o ensino da leitura e da escrita podem contribuir com as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Histoacuteria do ensino de leitura e escrita meacutetodos e material didaacutetico Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ FARIA FILHO Luciano Mendes de As lentes da histoacuteria estudos de histoacuteria e historiografia da educaccedilatildeo no Brasil Campinas Autores Associados 2005

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________ GVIRTZ Silvina O ensino da escrita e a conformaccedilatildeo da modernidade escolar Brasil e Argentina 1880-1940 Revista brasileira de educaccedilatildeo ANPEd n 8 p 13-30 maioagosto de 1998 VIEIRA Sofia L FREITAS Isabel M S de Poliacutetica educacional no Brasil Brasiacutelia Plano 2003 VIEIRA Zeneide Paiva Pereira Cartilhas de alfabetizaccedilatildeo no Brasil um estudo sobre trajetoacuteria e memoacuteria de ensino e aprendizagem da liacutengua escritA 2017 197 p Tese (Doutorado em Memoacuteria Linguagem e Sociedade) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Memoacuteria Linguagem e Sociedade Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Bahia 2017 VILLELA Heloiacutesa de Oliveira Santos A primeira escola normal do Brasil uma contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da formaccedilatildeo de professores 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal Fluminense Niteroacutei 1990 ________ O mestre-escola e a professora In LOPES Eliane Marta Teixeira FARIA FILHO Luciano Mendes de VEIGA Cynthia Greive (Orgs) 500 anos de Educaccedilatildeo no Brasil 5ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Autecircntica 2000 ________ Da palmatoacuteria a lanterna maacutegica a Escola Normal da Proviacutencia do Rio de Janeiro entre o artesanato e a formaccedilatildeo profissional (1868-1876) 343 f 2002 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2002 VOJNIAK Fernando O Impeacuterio das primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XIX 2012 328 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2012 ________ O impeacuterio das primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de Alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XIX Curitiba Editora Prismas 2014 VOLOacuteCHINOV Valentin Marxismo e filosofia da linguagem Traduccedilatildeo de Sheila Grillo Ekaterina Voacutelkova Ameacuterico Satildeo Paulo Editora 34 2017 WERNET Augustin A Igreja Paulista no seacuteculo XIX a reforma de D Antocircnio Joaquim de Melo (1851 ndash 1861) Satildeo Paulo Aacutetica 1987 WOOLF Virginia As ondas Satildeo Paulo Saraiva 2011 XAVIER Elizete Divina O pacto nacional pela alfabetizaccedilatildeo na idade certa implicaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas na formaccedilatildeo do professor alfabetizador 2017 67 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2017

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XAVIER Libacircnia Nacif Particularidades de um campo disciplinar em consolidaccedilatildeo balanccedilo do I Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo (RJ2000) In SOCIEDADE BRASILEIRA DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO (Org) Educaccedilatildeo no Brasil Campinas Autores Associados SBHE 2001

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FONTES ____________________________________

NOTA EXPLICATIVA para facilitar a consulta optamos por 1) referenciar as fontes de acordo com as seccedilotildees nas quais elas foram citadas na tese 2) apoacutes a menccedilatildeo do nome do autor ou autora do documento mencionamos o ano em que ele foi escrito eou publicado 3) ao final de cada referecircncia descrevemos o repositoacuterio ou acervo ou arquivo onde o documento foi finalizado Apresentamos tambeacutem ao final o item ldquoListas de expediente escolar e Mapas de Turmasrdquo em que destacamos todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes onde encontramos algum documento dessa natureza

SUMAacuteRIO DAS FONTES

Fontes citadas na Apresentaccedilatildeo 313

Fontes citadas na Introduccedilatildeo 313

Fontes citadas na Seccedilatildeo 1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo

imperial

314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

em Goiaacutes

320

Fontes citadas na Seccedilatildeo 4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

em Goiaacutes

324

Fontes citadas na Seccedilatildeo 5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

329

Fontes citadas nas Consideraccedilotildees Finais 334

Listas de Expediente Escolar e Mapas de Turmas 334

313

FONTES CITADAS NA APRESENTACcedilAtildeO BRASIL [2017] Base Nacional Comum Curricular Brasiacutelia MEC CONSED UNDIME 2017 BRASIL [2019] Decreto nordm 9765 de 11 de abril de 2019 Institui a Poliacutetica Nacional de Alfabetizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2019-20222019decretoD9765htmgt Acesso em 01 de junho de 2019 JESUacuteS Leodegaacuteria de [1946] Goiaz Revista de Educaccedilatildeo e Sauacutede Goiacircnia ano 14 nordm 27-28 p 58 junhojulho 1946 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL [1916] Annuario Estatistico do Brazil 1ordm anno (1908 ndash 1912) Volume I (Territorio e Populaccedilatildeo) Ministerio da Agricultura induacutestria e commercio Rio de Janeiro Typographia da Estatistica 1916 SILVA E SOUZA Luiz Antonio da [1872] Memoria sobre o descobrimento governo populaccedilatildeo e cousas mais notaveis da Capitania de Goyaz Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro tomo XII 4ordm trimestre de 1849 p 429-510 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Joatildeo Ignacio da Silva 1872 FONTES CITADAS NA INTRODUCcedilAtildeO BRASIL [1834] Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 Coleccedilatildeo de Leis Impeacuterio do Brasil do ano de 1834 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1866 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1886a] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica de 1886 Acto de 2 de abril de 1886 reformando a Instrucccedilatildeo Publica da Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1893a] Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 Reformando a instrucccedilatildeo publica do Estado Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrpaginaver15549leis-ordinarias-1893gt Acesso em 01 de maio de 2018 GOIAacuteS [1893b] Decreto nordm 26 23 de dezembro de 1893 Regulamento da instrucccedilatildeo primaria do estado de Goyaz Goyaz Imp na Typ de Goyaz 1894 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1934] Decreto nordm 4349 de 26 de fevereiro de 1934 Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrgt Acesso em 01 de junho de 2018 MONTEIRO Ofeacutelia Soacutecrates do Nascimento [1934] Goiaz coraccedilatildeo do Brasil 1934 Acervo pessoal do autor

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FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 1 GOIAacuteS NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DO BRASIL BRASIL [2001a] Programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores Guia do Formador moacutedulo 1 Brasiacutelia MEC Secretaria de Ensino Fundamental 2001a BRASIL [2001b] Programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores documento de apresentaccedilatildeo Brasiacutelia MEC Secretaria de Ensino Fundamental 2001b FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 2 A INSTRUCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA EM GOIAacuteS NO PERIacuteODO IMPERIAL ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1861] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1861 pelo exm presidente da provincia Joseacute Martins Pereira de Alencastre Rio de Janeiro Typ Imperial e Constitucional de J Villeneuve e Comp 1861 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1862] Relatorio lido na abertura dAssembleacutea Legislativa de Goyaz pelo presidente da provincia o exmordm sr Joseacute Martins Pereira de Alencastre no dia 1ordm de julho de 1862 Goyaz Typ Provincial 1862 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALMEIDA Joseacute Ricardo Pires de [1889] Instruccedilatildeo Puacuteblica No Brasil (1500-1889) Traduccedilatildeo de Antonio Chizzoti Ed Criacutetica Maria do Carmo Guedes 2ordf ed Satildeo Paulo EDUC 2000 ALMEIDA [1860] Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixa 01 AZEVEDO Francisco Ferreira dos Santos [1842] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1842 o exm vice-presidente da mesma provincia Francisco Ferreira dos Santos Azevedo Goyaz Typ Provincial 1842 Center for Research Libraries Universidade de Chicago AZEVEDO Francisco Ferreira dos Santos [1843] Discurso com que o vice-presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da quinta legislatura da Assemblea Provincial no 1ordm de junho de 1843 Goyaz Typ Provincial 1843 Center for Research Libraries Universidade de Chicago AZEVEDO Joaquim Vicente de [30 de abril de 1869] Officio a Ernesto Augusto Pereira Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 BARAtildeO DEGERANDO [1839] Curso Normal para Professores de Primeiras Letras ou Direcccedilotildees Relativas a Educaccedilatildeo Physica Moral e intelectual nas Escolas Primarias Traduzido pelo Doutor Joatildeo Candido de Deos e Silva Nictheroy Typographia Nictheroy de M G de S Rego Praccedila Municipal 1839 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

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BRASIL [1827] Lei de 15 de outubro de 1827 Disponiacutevel em lthttpswww2 camaralegbrleginfedlei_sn1824-1899lei-38398-15-outubro-1827-566692-public acaooriginal-90222-plhtmlgt Acesso em 11 de junho de 2018 BRASIL [1834] Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 Coleccedilatildeo de Leis Impeacuterio do Brasil do ano de 1834 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1866 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 BRASIL [1879] Decreto nordm 7247 de 19 de abril de 1879 do Ministeacuterio do Impeacuterio Reforma o ensino primaacuterio e secundaacuterio no municiacutepio da Corte e o superior em todo o Impeacuterio Impeacuterio do Brasil de 1879 ndash Parte II Tomo XLII Rio de Janeiro Tipografia Nacional p 196-217 1879 BRASIL [1891] Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 1891 Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedconsti1824-1899constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-plhtmlgt Acesso em 10 de maio de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1858] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1858 pelo exm presidente da provincia dr Francisco Januario da Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1858 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859a] Relatorio com que o exm sr dr Francisco Januario da Gama Cerqueira entregou a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz ao exmordm sr dr Antonio Manoel de Aragatildeo e Mello Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859b] Relatorio apresentado aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1859 pelo exm presidente dr Francisco Januario de Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CORREIO OFFICIAL [29 de fevereiro de 1840] Expediente da Presidencia Continuaccedilatildeo da segunda parte do Relatoacuterio do Sr Foggia Correio Official Goyaz nordm 251 29 de fevereiro de 1840 p 4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [10 de abril de 1858] Ofiacutecio de nordm 13 enviando a relaccedilatildeo dos moacuteveis para as escolas da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica 10 de abril de 1858 Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [18 de abril de 1858] Ofiacutecio enviando lista dos objetos para as escolas Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 CRUZ Guilherme Francisco [1886] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz aacute 8 de abril de 1886 pelo exm presidente da provincia dr Guilherme Francisco Cruz Goyaz Typ Provincial 1886 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CUNHA Antonio Augusto Pereira da [1857] Relatorio que ao exm sr vice-presidente dr Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira apresentou no acto de passar-lhe a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz o ex-president exmo sr dr Antonio Augusto Pereira da Cunha Goyaz Typ Goyazense 1857 Center for Research Libraries Universidade de Chicago DIAS Gonccedilalves A [1858] Diccionario da lingua Tupy chamada Lingua Geral dos indigenas do Brazil Lipsia F A Brockhays Livreiro de S M O Imperador do Brasil 1858 Disponiacutevel em lthttpwwwetnolinguisticaorgbibliodias-1858-diccionariogt Acesso em 10 de marccedilo de 2018 FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [1837] Discurso com que o presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da segunda legislatura da Assembleacutea Provincial no 1ordm de julho de 1837 Goyaz Typ Provincial 1837 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [14 de fevereiro de 1838] Estranhando severamente a Thomaz Antonio da Fonseca concorrer a um batuque Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [1838] Discurso com que o presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da segunda legislatura da Assemblea Provincial no 1ordm de julho de 1838 Goyaz Typ Provincial 1838 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FONSECA Luis Antonio da [12 de setembro de 1869] Ofiacutecio enviado ao Conego Joaquim Vicente de Azevedo Digno Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1835-1839] Livro de Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191

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GOIAacuteS [1837] Resoluccedilaotilde nordm 17 de 4 de Setembro de 1837 Correio Official Goyaz Typographia Provincial 14 de outubro de 1837 p 3-4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1846] Lei nordm 9 de 17 de junho de 1846 Crecirca o Lyceo da Proviacutencia de Goyaz In Livro da Lei Goiana Goiaacutes Typograacutephia Provincial 1846 GOIAacuteS [1855] Regulamento de 30 de julho de 1855 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa caixa nordm 108 GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1858-1873] Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1884] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica ndeg 3397 Acto de 9 de abril de 1884 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes

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GOIAacuteS [1886a] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica de 1886 Acto de 2 de abril de 1886 reformando a Instrucccedilatildeo Publica da Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1886b] Ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 Regulamento para o serviccedilo da catechese na provincia de Goyaz Goyaz Typographia Provincial 1886 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1886c] Ato nordm 3905 de 16 de marccedilo de 1886 Regulamento da Typograacutephia Provincial de Goacuteiaz Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1887] Acto nordm 4148 de 11 de fevereiro de 1887 Regulamento para a Instrucccedilatildeo Primaria da Provincia Goyaz Typografia Provincial 1887 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1888] Acto de 7 de janeiro de 1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1893a] Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 Reformando a instrucccedilatildeo publica do Estado Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrpaginaver15549leis-ordinarias-1893gt Acesso em 01 de maio de 2018 GOIAacuteS [1893b] Decreto nordm 26 23 de dezembro de 1893 Regulamento da instrucccedilatildeo primaria do estado de Goyaz Goyaz Imp na Typ de Goyaz 1894 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOMES Antonio Joaquim da Silva [1851] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1851 o exm presidente da mesma provincia doutor Antonio Joaquim da Silva Gomes Goyaz Typ Provincial 1851 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOMES Antonio Joaquim da Silva [1852a] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1852 o exm presidente da provincia doutor Antonio Joaquim da Silva Gomes Goyaz Typ Provincial 1852 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOMES Antonio Joaquim da Silva [1852b] Relatorio com que o ex-presidente da provincia de Goyaz o exmordm sr Antonio Joaquim da Silva Gomes entregou a presidencia da mesma ao seo sucessor o exmordm sr Doutor Francisco Mariani Goyaz Typ Provincial 1852 Center for Research Libraries Universidade de Chicago JARDIM Joseacute Rodrigues [1835] Relatoacuterio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1835 o exm presidente Joze Rodrigues Jardim da mesma provincia Meyaponte Typ Provincial 1835 Center for Research Libraries Universidade de Chicago

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JARDIM Joseacute Rodrigues [19 de julho de 1836] Ofiacutecio de 19 de julho agrave Joaquim Joseacute da Silva Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 JARDIM Joseacute Rodrigues [23 de janeiro de 1837] Ofiacutecio de 23 de janeiro de 1837 agrave Zacaria Antonio dos Santos Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 In Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 JARDIM Joseacute Rodrigues [1841] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1841 o exm vice-presidente na mesma provincia Joze Rodrigues Jardim Goyaz Typ Provincial 1841 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MACHADO Antonio Candido da Cruz [1854] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1854 o presidente da provincia Antonio Candido da Cruz Machado Goyaz Typ Provincial 1854 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MACHADO Eduardo Olimpio [1850] Falla que recitou o prsidente [sic] da provincia de Goyaz o doutor Eduardo Olimpio Machado nabertura da Assemblea Legislativa da mesma provincia em o 1ordm de maio de 1850 Goyaz Typ Provincial 1850 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MARIANI Francisco [1853] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1853 o exm presidente da provincia doutor Francisco Mariani Goyaz Typ Provincial 1853 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MASCARENHAS Joseacute de Assis [1839] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1839 o exm presidente da mesma provincia d Joze de Assiz Mascarenhas Goyaz Typ Provincial 1839 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MASCARENHAS Joseacute de Assis [1845] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1845 o exm presidente da mesma provincia dr Jose de Assiz Mascarenhas Goyaz Typ Provincial 1845 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MATUTINA MEYAPONTENSE [29 de julho de 1830] Artigos de officio concelho geral da provincia Goyaz 14 de janeiro de 1830 continuaccedilaotilde do N antecedente Matutina Meyapontense Goyaz nordm 52 29 de julho de 1830 quinta-feira p 1 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013

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MATUTINA MEYAPONTENSE [12 de agosto de 1830] Artigos de Officio Concelho geral da provincia Goyaz 18 de janeiro de 1830 Matutina Meyapontense Goyaz nordm 58 12 de agosto de 1830 quinta-feira p 2 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013 MATUTINA MEYAPONTENSE [14 de agosto de 1830] Artigos de Officio Concelho geral da provincia Goyaz 18 de janeiro de 1830 33 sessaotilde ordinaria continuaccedilatildeo do N antecedente Matutina Meyapontense Goyaz nordm 59 14 de agosto de 1830 saacutebado p 1 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013 PEREIRA Ernesto Augusto [1869] Relatorio que o exm sr dr Ernesto Augusto Pereira presidente da provincia de Goyaz leu na abertura da Assembleacutea Legislativa da mesma provincia a 1ordm de junho de 1869 Goyaz Typ Provincial 1869 Center for Research Libraries Universidade de Chicago RAMALHO Joaquim Ignaacutecio [1846] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1846 o exm presidente da mesma provincia doutor Joaquim Ignacio Ramalho Goyaz Typ Provincial 1846 Center for Research Libraries Universidade de Chicago SILVEIRA Jozeacute Manuel da [1856] Correspondecircncia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixa 01 SIMOtildeES Firmino [1888] Relatorio 20 de fevereiro de 1888 Goyaz Typ Provincial 1888 Center for Research Libraries Universidade de Chicago SIQUEIRA Joatildeo Bonifacio Gomes de [1867] Relatorio que o exm sr desembargador Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira 1o vice-presidente da provincia de Goyaz leu na abertura da Assembleacutea Legislativa da mesma provincia no dia 1ordm de setembro de 1867 Goyaz Typ Provincial 1870 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 3 MEacuteTODOS E LIVROS PARA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM

GOIAacuteS A REGENERACcedilAtildeO Orgatildeo destinado aacute defesa do partido catholico 1875 [14 de marccedilo de 1875] A Regeneraccedilatildeo oacutergatildeo destinado aacute defesa do partido catholico Beleacutem do Paraacute anno II nordm 91 domingo 14 de marccedilo de 1875 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ABBADE FLEURY [1846] Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde composto em francez Traduzido em portuguecircs de ordem do governo imperial por Joaquim Joseacute da Silveira 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Bintot 1846 Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018

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ASSIS Antero Ciacutecero de [17 de janeiro de 1872] Officio nordm 24 de 17 de janeiro de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 AZEVEDO Joaquim Vicente de [4 de setembro de 1865] Na mesma data [ilegiacutevel] enviando trinta e seis escriptas dos alunos de instrucccedilatildeo primaria desta capital Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 BRANDAtildeO Pedro Luis Xavier Brandatildeo [26 de marccedilo de 1877] Informaccedilatildeo a cerca do fornecimento de objeto pordf a escola do sexo masculino de Villa Flores Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 BRANDAtildeO Pedro Luiz Xavier [6 de abril de 1875] Informando acerca do pedido dos objectos para a Professora [ilegiacutevel] de Palma reclama pordf respectiva escola Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 CASTILHO Antonio Feliciano de [1854] Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primaria pelo metodo portuguez por A F Castilho Coimbra Imprensa da Universidade 1854 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 08 de fevereiro de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1858] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1858 pelo exm presidente da provincia dr Francisco Januario da Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1858 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859a] Relatorio com que o exm sr dr Francisco Januario da Gama Cerqueira entregou a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz ao exmordm sr dr Antonio Manoel de Aragatildeo e Mello Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CIVILISACcedilAtildeO Periodico Hebdomadario oacutergatildeo dos interesses catholicos [24 de maio de 1890] Catalogo das obras do Exm Sr Bispo do Paraacute Civilisaccedilatildeo Periodico Hebdomadario oacutergatildeo dos interesses catholicos Maranhatildeo anno XI nordm 501 saacutebado 24 de maio de 1890 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO OFFICIAL [26 de abril de 1884] Noticiario Installaccedilatildeo da Escola Normal Correio Official Goyaz 26 de abril de 1884 p 2-3 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [20 de marccedilo de 1858] Coacutepia do relatoacuterio enviado aacute presidecircncia em 20 de marccedilo de 1858 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 FLEURY Joatildeo Augusto de Paacutedua [21 de outubro de 1866] Secretaria drsquoinstruccedilatildeo publica em Goyaz 21 drsquoOutubro de 1866 Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 FRANCcedilA Augusto Ferreira [1867] Relatorio com que o Exm Sr Dr Augusto Ferreira Franccedila Presidente da Provincia de Goyaz passou a administraccedilatildeo da mesma ao Exm Sr Vice-presidente Desembargador Joatildeo Bonifaacutecio Gomes de Siqueira em 29 de abril de 1867 Goyas Typographia Provincial 1867 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FRANCcedilA Augusto Ferreira [7 de junho de 1866] 1ordf secccedilatildeo 7 de junho de 1866 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 FRANKLIN Benjamin [18--] Sciencia do Bom Homem Ricardo ou meio de adquirir fortuna In MONTEVERDE Emilio Achilles Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo Lisboa Livraria Central de Gomes de Carvalho 18-- p 139-146 Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm26 6gt Acesso em 06 de maio de 2018 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575

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GOIAacuteS [1874] Instruccedilatildeo Puacuteblica relatoacuterio Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 236 GOIAacuteS [1882] Resoluccedilatildeo Provincial nordm 676 de 03 de agosto de 1882 Crecirca no Lyceo uma escola normal para a preparaccedilatildeo de professores de instruccedilatildeo primaacuteria Correio Official Goyaz 16 de setembro de 1882 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1884] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica ndeg 3397 Acto de 9 de abril de 1884 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1886a] Ato nordm 3905 de 16 de marccedilo de 1886 Regulamento da Typograacutephia Provincial de Goacuteiaz Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1930] Programma de Ensino para as Escolas Primarias 1930 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG LACERDA Joaquim Maria de [sd] Novo Exposito Portuguez ou Methodo Facil para aprender a ler o Portuguez tanto a letra impressa como a manuscripta composto para uso das escolas brasileiras 9ordf ediccedilatildeo (muito melhorada e augmentada) Livraria Garnier sd Acervo pessoal do autor LAGE Bernardino da Fonse [1924] Metodologia especial a liacutengua e a literatura portuguesa na educaccedilatildeo primaacuteria Lisboa Porto Coimbra LVMEN 1924 LOPES Antonio de Castro [1862] Ilmo Exmo Srn~ Presidente da Provincia de Goyaz Nordm 29 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 144 MIDOSI Luiacutes Francisco [1831] O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna Londres R Greenlaw 1831 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 MONTEVERDE Emilio Achilles [18--] Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo 16ordf ediccedilatildeo Lisboa Livraria Central de Gomes de Carvalho 18--Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm2 66gt Acesso em 06 de maio de 2018 NOVO ALFABETO PORTUGUEZ DIVIDIDO POR SYLLABAS COM OS PRIMEIROS ELEMENTOS DA DOUTRINA CHRISTA E O METHODO DE OUVIR E AJUDAR Agrave MISSA [1785] Lisboa Officina de Simatildeo Thaddeo Ferreira 1785 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 08 de fevereiro de 2018 PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1871] Carta para o exercicio da leitura raacutepida pelo methodo abreviado denominado Bacadafaacute Rio de Janeiro Tip De Pinheiro amp C 1871 Acervo pessoal da Professora Giselle Baptista Teixeira

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PRIMO JARDIM Feliciano [1855] Copia Ilmordm e Exmordm Senr~ Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 RENAULT Victor [1875] Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees 4ordf ediccedilatildeo ilustrada com numerosas estampas Rio de Janeiro BL Garnier Livreiro-Editor Paris E Belhatte 1875 Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrhandle123456789100353gt Acesso em 18 de maio de 2019 ROSA Raviolindo [ilegiacutevel] [06 de marccedilo de 1869] Officio de 06 de marccedilo de 1869 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188 SANTOS Theobaldo Miranda [1954] Manual do professor primaacuterio 3ordf ediccedilatildeo V 11 Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1954 SANTOS Theobaldo Miranda [1958] Manual do professor primaacuterio 6ordf ediccedilatildeo V 11 Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1958 SERRA D Theodora Ledom [1873] Pedidos da Professora de Palma In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG SIQUEIRA Joatildeo Bonifacio Gomes de [27 de fevereiro de 1871] N 15 27 de fevrordm de 1871 1ordf Secccedilatildeo Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 THESOURARIA DA FASENDA DA PROVINCIA DE GOYAS [3 de setembro de 1874] Informaccedilatildeo aacute respeito drsquoobjectos drsquoexpediente pordf a escola do sexo masculino do Porto Imperial Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ [14 de fevereiro de 1859] Relaccedilatildeo dos objetos que satildeo nesta data entregues ao Sem Inspector Geral Interino de Instrucccedilatildeo Publica em virtude da Portaria do Exmo Governo da Provincia sob Nordm 33 data de 5 do corrente mez In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG VITERBO Sousa [1924] O movimento tipograacutefico em Portugal no seacuteculo XVI apontamento para a sua histoacuteria Coimbra Imprensa da Universidade 1924 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lt httppurlpt188gt Acesso em 02 de junho de 2019 FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 4 O MEacuteTODO CASTILHO NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM

GOIAacuteS ABBADE FLEURY [1846] Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde composto em francez Traduzido em portuguecircs de ordem do governo imperial por Joaquim Joseacute da Silveira 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Bintot 1846 Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel

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em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1861] Officio de 23 de maio de 1861 Livro de Correspondecircncias da Presidecircncia da Proviacutencia aos funcionaacuterios da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1847-1861 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1862] Relatorio lido na abertura dAssembleacutea Legislativa de Goyaz pelo presidente da provincia o exmordm sr Joseacute Martins Pereira de Alencastre no dia 1ordm de julho de 1862 Goyaz Typ Provincial 1862 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [16 de marccedilo de 1862] Officio nordm 19 de 16 de marccedilo de 1862 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de 1862a [16 de marccedilo de 1862] Circular nordm 20 de 16 de marccedilo de 1862 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica In Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 BA CORREIO MERCANTIL 1855 [11 de fevereiro de 1855] A nova estrela Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano XII nordm 41 domingo 11 de fevereiro de 1855 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) Goiacircnia UFG REHEG 2002 BRANDAtildeO Joatildeo Luis Henrique [30 de abril de 1859] Ofiacutecio nordm 23 em 30 de abril communicando ter posto a disposiccedilatildeo de Feliciano Primo Jardim tudo quanto depende da Inspectoria G I ensaio do methodo Castilho Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 CARNEIRO Manoel Borges [1844] O mentor da mocidade ou cartas sobre educaccedilatildeo Lisboa Imprensa Nacional 1844 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 15 de marccedilo de 2018 CASTILHO Antonio Feliciano de [1853] Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever 2ordf ediccedilatildeo inteiramente refundida aumentada e ornada de um grande nuacutemero de vinhetas

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Lisboa Imprensa Nacional 1853 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [19 de marccedilo de 1859] 2ordf Secccedilatildeo Ofiacutecio nordm 12 tabela de distribuiccedilatildeo de utensis para as aulas primarias da provincia In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [3 de maio de 1859] Seccedilatildeo nordm 27 Ofiacutecio enviado ao Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CORREIO MERCANTIL [03 de setembro de 1853] Uma escola de leitura repentina pelo Methodo Castilho Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano X nordm 246 saacutebado 03 de setembro de 1853 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [25 de janeiro de 1856] Notiacutecias diversas Correiro Mercantil Rio de Janeiro nordm 25 ano XIII sexta-feira 25 de janeiro de 1856 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [01 de setembro de 1853] Extracto de uma carta escripta no dia 2 de agosto de 1853 em Lisboa por um dos professores da Escola Normal do methodo de leitura repentina Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Exterior ano X nordm 244 quinta-feira 01 de setembro de 1853 p 1 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORUJA Antonio Alvares Pereira [1873] Liccedilotildees da historia do Brasil adaptadas a leitura das escolas 9ordf ediccedilatildeo com alguns aumentos e correccedilotildees Rio de Janeiro Typographia Esperanccedila 1873 Disponiacutevel emlthttpwww2senadolegbrbdsfitemi d242459gt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 COSTA E AZEVEDO Joseacute [1832] Liccedilotildees de instrucccedilatildeo elementar agraves suas filhas Maria Joanna e Maria Julia Liccedilotildees de Ler Rio de Janeiro Typographia Nacional 1832 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [18 de marccedilo de 1859] Ofiacutecio nordm 7 em 18 de marccedilo propondo aposentadoria do Professor Geografia e Histoacuteria Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [13 de abril de 1858] Ofiacutecio nordm 17 em 13 de abril levando aprovaccedilatildeo de Sua Excia a tabela das qtas que devem ser distruibuiacutedas no corrente anno para expediente das aulas digo das escolas da provincia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [29 de marccedilo de 1859] Ofiacutecio nordm 11 em 29 de marccedilo propondo Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo para substituir Feliciano Primo Jardim na aula de Geographia e Historia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [5 de abril de 1858] Ofiacutecio enviando relaccedilatildeo dos objetos que satildeo necessaacuterios para as escolas da proviacutencia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CUNHA Antonio Augusto Pereira da [1856] Relatorio apresentando a Assembleacutea Legislativa provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaacuteria de 1856 pelo Exm Presidente da Provincia Dr Antonio Augusto Pereira da Cunha Goyaz Typographia Provincial 1856 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1855] Resoluccedilatildeo nordm 5 de 6 de novembro de 1855 Aprova resolitaccedilatildeo do governo tamada em vinte e um de julho do corrente ano mandando a corte o professor de primeiras letras Feliciano Primo Jardim In Livro da Lei Goyana contem as leis e resoluccedilotildees da Assemblea Legislativa da provincia de Goyaz e as sessotildees ordinaacuterias de 1855 Tomo 21 Goiaz Typographia goyanense 1856 GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575

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GOIAacuteS [1873-1883] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 584 GOIAacuteS [1883-1885] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 762 GOIAacuteS [1885-1888] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica - Correspondecircncia para a Presidecircncia da Proviacutencia ndash 1885-1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 831 GOIAacuteS [1886] Secretaria de Governo - Instruccedilatildeo Puacuteblica (jandez) ndash 1886 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 843 JUSSIEU Laurent [1867] Historia de Simatildeo de Nantua ou O mercador de feiras 9ordf ediccedilatildeo correcta augmentada e ornada com oito estampas coloridas Paris Livraria de Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Disponiacutevel em lthttpsbooksgooglecomb rbooksid=Qd3tAAAAMAAJampprintsec=frontcoveramphl=pt-BRampsource=gbs_ge_summ ary_rampcad =0v=onepageampqampf=falsegt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 MACHADO Antonio Candido da Cruz [1855] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1855 o exm presidente da provincia Antonio Candido da Cruz Machado Goyaz Typ Goyazense 1855 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MARTINS J V CORREIO MERCANTIL [8 de setembro 1853] Tres novidades e a reimpressatildeo do methodo Castilho Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano X nordm 251 quinta-feira 8 de setembro de 1853 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil MARTINS Joatildeo Vicente [1854] Cartilha de leitura repentina ou plaacutegio do Methodo de Castilho Rio de Janeiro Tipografia da viuacuteva Vianna Junior 1854 Acervo pessoal do autor MIDOSI Luiacutes Francisco [1831] O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna Londres R Greenlaw 1831 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 O TOCANTINS [08 de dezembro de 1855] Assemblea Provincial 38deg Sessaotilde ordinaria em 17 de Outubro de 1855 Presidencia do Sr Cardoso O Tocantins Goyaz nordm 69 08 de dezembro de 1855 p 1 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG O TOCANTINS [15 de dezembro de 1855] Aqui apresentamos a Synopse O Tocantins Goyaz nordm 70 15 de dezembro de 1855 p 4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG

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O TOCANTINS [22 de dezembro de 1855] 47ordf Sessatildeo ordinaria em 27 de outubro de 1855 O Tocantins Goyaz nordm 71 22 de dezembro de 1855 p 2 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG OLIVEIRA Joatildeo Alfredo Correcirca de [1872] Relatorio apresentado a Assembleia Geral da 4ordf sessatildeo da 14ordf legislatura pelo Ministro e Secretaacuterio drsquoEstado dos Negoacutecio do Imeacuterio Dr Joatildeo Alfredo Correcirca de Oliveira Rio de Janeiro Typografia Nacional 1872 Center for Research Libraries Universidade de Chicago PRIMO JARDIM Feliciano [1855] Copia Ilmordm e Exmordm Senr~ Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 RIO DE JANEIRO [25 de janeiro de 1856] Registro do Porto Diario do Rio de Janeiro Rio de Janeiro nordm 25 ano XXXV 25 de janeiro de 1856 p 5 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ [14 de fevereiro de 1859] Relaccedilatildeo dos objetos que satildeo nesta data entregues ao Sem Inspector Geral Interino de Instrucccedilatildeo Publica em virtude da Portaria do Exmo Governo da Provincia sob Nordm 33 data de 5 do corrente mez In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 5 A PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICA BRASILEIRA NA HISTOacuteRIA DA

ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de junho de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 11 24 de junho de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [18 de agosto de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 19 18 de agosto de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [6 de setembro de 1874] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro ano III nordm 36 6 de setembro de 1874 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [20 de outubro de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 28 20 de outubro de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de novembro de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 33 24 de novembro de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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ABRIA [1847] Meacutethode de lecture sans eacutepellation Nouvelle eacutedition Paris Langlois et leclercq Libraires 1847 Disponiacutevel em lthttpsgallicabnffrark12148bpt6k636 9759dtexteImagegt Acesso em 1 de julho de 2019 ALAMBARY LUZ Joseacute Carlos A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de junho de 1872] O ensino oficial no municipio neutro A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 11 24 de junho de 1872 p 81-82 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ALAMBARY LUZ Joseacute Carlos A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] Methodo de leitura Bacadafaacute A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 p 108 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ALMANAK ADMINISTRATIVO MERCANTIL E INDUSTRIAL DA CORTE E PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO [1865] Escola de D Maria Argentina de Aguiar Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e da Provincia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Cada dos Editores-proprietaacuterios Eduardo amp Henrique Laemmert 1865 p 431 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ASSIS Antero Ciacutecero de [02 de janeiro de 1875] Nordm 2 02 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 ASSIS Antero Ciacutecero de [17 de janeiro de 1872] Officio nordm 24 de 17 de janeiro de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 ASSIS Antero Ciacutecero de [16 de novembro de 1872] Nordm 206 16 de 9brordm de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 ASSIS Antero Ciacutecero de [1873] Relatorio apresentado arsquo Assemblegravea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Drordm Antero Cicero de Assis Presidente de Provincia em o 1ordm de junho de 1873 Goyaz Typographia Provincial 1873 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [1874] Relatorio apresentado aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Drordm Antero Cicero de Assis presidente da provincia em 1ordm de junho de 1874 Goyaz Typographia Provincial 1874 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [1875] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Dr Antero Cicero de Assis presidente da provincia em 1ordm de junho de 1875 Goyaz Typographia Provincial 1875 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [19 de janeiro de 1875] Nordm 21 19 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica

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Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 AZEVEDO Conego Joaquim Vicente de [17 de setembro de 1880] Nordm 77 Inspetoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica em Goyaz Livro de registro das correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 AZEVEDO Cocircnego Joaquim Vicente 1872 [21 de novembro de 1872] Em 21 de 9bro de 1872 Circular aos Inspectores Parochiaes da Prova Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1867a] Primeiro livro de leitura para uso da infancia brasileira composto pelo Dr Abiacutelio Cezar Borges Paris Livraria da Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1867b] Segundo livro de leitura para uso da infancia brasileira por Abilio Cezar Borges Paris Livraria de Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1880] Vinte annos de propaganda contra o emprego da palmatoria e de outros meios aviltantes no ensino da mocidade Bruxelas Typographia e Litographia E Guyot 1880 Biblioteca do Arquivo Puacuteblico do Estado de Satildeo Paulo BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1890] Terceiro livro de leitura para uso das escolas brasileiras 6ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Francisco Alves 1890 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BRITO Silvina Ermelinda Xavier de [1884] Programma do ensino pa a aula de instrucccedilatildeo primaria do sexo feminino anexo a Escola Normal In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CASTILHO Antonio Feliciano de [1853] Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever 2ordf ediccedilatildeo inteiramente refundida aumentada e ornada de um grande nuacutemero de vinhetas Lisboa Imprensa Nacional 1853 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 CORREIO MERCANTIL [8 de novembro de 1860] Ensino rapido de leitura Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVII nordm 310 quinta-feira 8 de novembro de 1860 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [26 de maio de 1861] Injusticcedila Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVIII nordm 143 domingo 26 de maio de 1861 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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CORREIO MERCANTIL [16 de junho de 1861] Expediente da Camara dos Srs Deputados sessatildeo de 15 de junho de 1861 Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVIII nordm 164 domingo 16 de junho de 1861 p 1 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [19 de dezembro de 1861] Antonio Pinheiro de Aguiar e sua Sra D Maria Correio Mercantil Annuncios Rio de Janeiro nordm 335 quinta-feira 19 de dezembro de 1861 p 4 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [21 de outubro de 1863] Bacadafa Correio Mercantil Publicaccedilotildees a pedido Rio de Janeiro nordm 289 quarta-feira 21 de outubro de 1863 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil COSTA E CUNHA Antonio Estevam A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [20 de outubro de 1872] O methodo de leitura denominado Bacadafaacute II A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 28 20 de outubro de 1872 p 241-242 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil FLEURY A A [1939] Livros Didarsquoticos Revista de Educaccedilatildeo Orgao da Diretoria Geral de Educaccedilatildeo Goiacircnia ano 3 nordm 9 p05-06 novembro e dezembro 1939 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1879-1883] Livro de registro das correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 JARDIM Joseacute Rodrigues [05 de fevereiro de 1875] Informando aacute respeito de uma proposta de livros que faz o Dr Abiacutelio Cesar Borges Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 JORNAL DO COMMERCIO [29 de agosto de 1863] Collegio do Bacadafaacute Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano XXXVIII nordm 238 saacutebado 29 de agosto de 1863 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil JORNAL DO COMMERCIO [23 de dezembro de 1867] Collegio Bacadafaacute Travessa das Flores em S Christovatildeo N B Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano 47 nordm 356 segunda-feira 23 de dezembro de 1867 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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MARTINS Eliacutesio Firmo Martins [23 de maio de 1889] Inst P de 23 de maio de 1889 N 44 Secretaria de Governo ndash Cadernos da Instruccedilatildeo Puacuteblica 1889 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 930 PAIXAtildeO Rodolpho G de [30 de setembro de 1891] Inst Publica nordm 188 governo do estado de Goyaz 30 de setembro de 1891 Instruccedilatildeo Puacuteblica 1889-1890 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 946 PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1871] Carta para o exercicio da leitura raacutepida pelo methodo abreviado denominado Bacadafaacute Rio de Janeiro Tip De Pinheiro amp C 1871 Acervo pessoal da Professora Giselle Baptista Teixeira PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1877] Bacadafaacute ou Methodo de Leitura Abreviada Rio de Janeiro Typ de Pinheiro amp C 1877 Acervo pessoal da Professora Francisca Izabel Pereira Maciel PINHEIRO DE AGUIAR Antonio A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] Methodo de leitura raacutepido denominado Bacadafaacute A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 p 108-109 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [27 de setembro de 1859] Attenccedilatildeo Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVL nordm 264 terccedila-feira 27 de setembro de 1859 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [19 de julho de 1860] Facto desagradaacutevel Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVII nordm 199 quinta-feira 19 de julho de 1860 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [9 de setembro de 1861] Para o ilustrado publico Correio Mercantil Publicaccedilotildees a pedido Rio de Janeiro ano VXIII nordm 235 segunda-feira 9 de setembro de 1861 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio JORNAL DO COMMERCIO [22 de janeiro de 1862] Instrucccedilatildeo primaria Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano XXXVII nordm 22 quarta-feira 22 de janeiro de 1862 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR JORNAL DO COMMERCIO [28 de abril de 1886] Escola dos Sete Passos Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano 64 nordm 117 quarta-feira 28 de abril de 1886 p 6 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PLATAFORMA HEacuteLIO GRAVATAacute Pinheiro de Aguiar Disponiacutevel em lthttpwwwsiaa pmculturamggovbrmodulesgravata_brtdocsphotophplid=55849gt Acesso em 25 de junho de 2019 Arquivo Puacuteblico Mineiro

334

RIO DE JANEIRO [1862] Annexos do relatorio do Ministerio do Imperio apresentado aacute Assembleacutea Geral na 2ordf sessatildeo da 11ordf legislatura Rio de Janeiro Typographia Universal de Laemmert 1862 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil SPINOLA Aristides de Souza [1880] Relatorio apresentado eplo Illm e Exm Sr Dr Aristides de Souza Spinola presidente da Proviacutencia agrave Assembleacutea L Provincial de Goyaz no dia 1ordm de marccedilo de 1880 Goyaz Typographia Provincial 1880 FONTE CITADA NAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes LISTAS DE EXPEDIENTE ESCOLAR E MAPAS DE TURMAS BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) Goiacircnia UFG REHEG 2002 GOIAacuteS [1847-1861] Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia da Proviacutencia aos funcionaacuterios da Instruccedilatildeo Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264 GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1858-1873] Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1862-1871 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Publica ndash 1868-1871 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1871-1873] Registro dos Ofiacutecios dirigidos agrave Presidecircncia da Proviacutencia pela Secretaria de Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 528 GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1871-1879 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1874] Secretaria de Governo ndash Ofiacutecios dirigidos pelo Governo da Proviacutencia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 564

335

GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterios e Informaccedilotildees ndash 1873-1877 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1873-1879] Correspondecircncia da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 581 GOIAacuteS [1873-1883] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 584 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1879-1883] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Ofiacutecio Correspondecircncia com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 GOIAacuteS [1880-1883] Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Registro de Correspondecircncia da Instruccedilatildeo Puacuteblica dirigidos agrave Presidecircncia da Proviacutenicia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 704 GOIAacuteS [1881] Secretaria da Inspetoria da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterio Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 710 GOIAacuteS [1882] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 735 GOIAacuteS [1883-1885] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 762 GOIAacuteS [1883-1887] Inspetoria da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Correspondecircncia da Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica com Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 766 GOIAacuteS [1885-1888] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica - Correspondecircncia para a Presidecircncia da Proviacutencia ndash 1885-1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 831 GOIAacuteS [1886] Secretaria de Governo - Instruccedilatildeo Puacuteblica (jandez) ndash 1886 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 843 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixas 01 02 03

336

GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis ndash Caixas 01 02 03 e 04 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Cidade de Goiaacutes ndash Caixas 02 03 04 05 e 06 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa caixas nordm 34 (1842) nordm 40 (1844) nordm 83 (1851) nordm 89 (1852) nordm 111 (1856) nordm 116 (1857) nordm 123 (1858) nordm 128 (1859) nordm 133 (1860) nordm 138 (1861) nordm 144 (1862) nordm 150 (1863) nordm 157 (1864) nordm 163 (1865) nordm 171 (1866) nordm 178 (1867) nordm 184 (1868) nordm 188 (1869) nordm 195 (1870) nordm 204 (1871) nordm 212 (1872) nordm 223 (1873) nordm 236 (1874) nordm 247 (1875) nordm 255 (1876) nordm 274 (1878) nordm 285 (1879) nordm 294 (1880) nordm 333 (1884) nordm 347 (1885)

Page 2: JULIANO GUERRA ROCHA...coragem para lutar e vencer obstáculos! À Professora Sônia Maria dos Santos, que honra por ter sido seu orientando. Muito obrigado pela amizade, pelo carinho

2

JULIANO GUERRA ROCHA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS

1835-1886

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo da

Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito

parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor de

Educaccedilatildeo

AacuteREA DE CONCENTRACcedilAtildeO Histoacuteria e Historiografia da

Educaccedilatildeo

ORIENTADORA Profordf Drordf Socircnia Maria dos Santos

UBERLAcircNDIA MG

2019

3

4

JULIANO GUERRA ROCHA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS 1835-1886

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de

Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito parcial para

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor de Educaccedilatildeo

Uberlacircndia 16 de agosto de 2019

BANCA EXAMINADORA

5

Agrave mulher que me ensinou saborear um livro acompanhado

de maccedilas picadas minha avoacute

Neide Teixeira de Morais (em memoacuteria)

6

AGRADECIMENTOS ____________________________________

Essa etapa da minha vida acadecircmica sem duacutevidas foi menos tensa ou ateacute

mesmo poderia dizer mais tranquila por ter pessoas que compartilharam comigo

essencialmente palavras e gestos de muito afeto Tocaram a minha alma e se

embrenharam pelas minhas memoacuterias Por isso o meu agradecimento e

reconhecimento

Obrigado Deus pelo dom da vida e pela sauacutede Pelos tropeccedilos e pelas

alegrias obrigado por ter colocado pessoas em minha vida que me deram forccedilas e

coragem para lutar e vencer obstaacuteculos

Agrave Professora Socircnia Maria dos Santos que honra por ter sido seu orientando

Muito obrigado pela amizade pelo carinho e pela confianccedila Com a senhora aprendi

que a vida na Universidade eacute muito melhor quando temos verdadeiras amizades

Aos meus pais Adriana Guerra de Morais Rocha e Antocircnio Soares da Rocha

meu irmatildeo Rafael Guerra Rocha obrigado por serem minha fortaleza e me apoiarem

A eles e a toda a minha famiacutelia obrigado pelo silecircncio e pelas palavras por sempre

entenderem a minha ausecircncia e me incentivarem aos estudos

Agraves minhas tias Luzimar Guerra de Morais e Fernanda Guerra de Morais meu

avocirc Manoel Guerra de Morais minha gratidatildeo pela confianccedila e forccedila em cada passo

da minha vida pessoal e profissional

Agrave Professora Francisca Izabel Pereira Maciel a quem eu sou muito grato

Obrigado professora pelo carinho e pelos conselhos pela amizade e pela confianccedila

E claro pelas valorosas contribuiccedilotildees a esta pesquisa tanto na qualificaccedilatildeo quanto

na defesa final

Agrave Professora Betacircnia de Oliveira Laterza Ribeiro pela sua generosidade e

carinho muito obrigado Obrigado pelas contribuiccedilotildees a essa pesquisa pelo

entusiasmo e gentileza de ler meu texto nas suas diferentes etapas de produccedilatildeo

7

Agrave Professora Cecilia Maria Aldigueri Goulart pessoa que me inspirou e me

apresentou a dimensatildeo discursiva da alfabetizaccedilatildeo com sua postura freireana e

bakhtiniana meus agradecimentos

Agrave Professora Mariacutelia Villela de Oliveira muito obrigado por compartilhar comigo

o momento da defesa da tese Pela amizade e carinho meus agradecimentos

Agrave Professora Sandra Cristina Fagundes de Lima uma grande mestra que com

delicadeza e muita poesia ensinou-me a apaixonar pelos caminhos labiriacutenticos da

memoacuteria e da histoacuteria Obrigado pelas suas contribuiccedilotildees

Agrave Professora Diane Valdez pela generosidade em compartilhar informaccedilotildees e

me indicar caminhos na pesquisa sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo goiana aleacutem de ceder

os livros do Baratildeo de Macauacutebas Muito obrigado

Agrave minha amiga Gabriela Marques de Sousa que o Doutorado me deu e como

ela diz nem mesmo a tese pode nos separar Obrigado pela amizade pelas palavras

de carinho e conforto nos diferentes momentos da escrita deste trabalho Tenho muito

orgulho de ser seu amigo

Ao Maacutercio Fernandes de Oliveira grande amigo que acompanhou todo o

processo de escrita da tese e me deu forccedilas para caminhar Minha gratidatildeo pela

paciecircncia e pela escuta nos momentos de afliccedilatildeo

Agrave Luana Cavalcanti Arauacutejo Borges pela amizade de sempre e pelas palavras

durante todo o percurso meus agradecimentos

Agrave Nuacutebia Gomes por me acolher em sua casa durante minha estada em

Uberlacircndia Obrigado por compartilhar seu lar comigo e pelas palavras sempre

amigas

Outros amigos que tambeacutem dividiram comigo esse momento e aos quais sou

muito grato Geracilda Maria Tacircnia Regina Rosimeire Pereira Rosaine Aparecida

Silvana Fernandes Maria Auxiliadora N Amorim Arlete de Falco Anair Freitas e

tantos outros os quais natildeo nominei mas que estatildeo anotados na memoacuteria

Aos meus amigos da Secretaria Municipal da Educaccedilatildeo e do Coleacutegio Estadual

Sebastiatildeo Xavier em ItumbiaraGO pessoas apaixonadas pela educaccedilatildeo e que

fazem a diferenccedila em minha vida

Agrave Maria Beatriz Villela de Oliveira obrigado pela leitura atenta na revisatildeo textual

deste trabalho e pelo zelo com as minhas palavras

ldquoA todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas

todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto

de eu neste instante explodir em eu Esse eu que eacute voacutes pois natildeo aguento ser apenas

mimrdquo1 muito obrigado

1 Dedicatoacuteria feita pela escritora Clarice Lispector (1977) nas paacuteginas iniciais do livro A hora da estrela

8

RESUMO ____________________________________

Esta tese de doutorado vinculada agrave linha de pesquisa de Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Uberlacircndia tem como objeto de estudo a alfabetizaccedilatildeo na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo XIX O objetivo da investigaccedilatildeo foi analisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas compreendendo os ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita difundidos nas escolas em Goiaacutes entre 1835 a 1886 O recorte temporal abarcou o periacuteodo em que se iniciou o processo de organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes por meio da promulgaccedilatildeo da primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 indo ateacute 1886 quando foi publicado o uacuteltimo Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes Ato de 2 de abril de 1886 levado a efetivo cumprimento durante o Impeacuterio Tendo isso em vista o trabalho se desenvolveu a partir das seguintes problematizaccedilotildees como a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o periacuteodo imperial Quais os materiais usados para se alfabetizar as crianccedilas goianas no decorrer dessa histoacuteria Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de Goiaacutes Essas questotildees orientaram a pesquisa que se baseou nos estudos sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo da leitura e dos livros no Brasil Como fonte histoacuterica foram usados os jornais os documentos oficiais as legislaccedilotildees as correspondecircncias de expediente escolar e os mapas de turmas inventariados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes bem como os Relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia dentre outras documentaccedilotildees depositadas em Arquivos Digitais brasileiros e europeus A partir desses documentos foi realizado um levantamento das cartilhas e livros de leitura utilizados nas escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia o que possibilitou depreender pela anaacutelise desses impressos os meacutetodos que circularam em Goiaacutes no oitocentos Os resultados da pesquisa apontaram que ao contraacuterio dos discursos que vecircm sendo mantidos sobre a instruccedilatildeo puacuteblica goiana do seacuteculo XIX no campo da alfabetizaccedilatildeo houve diferentes tentativas do governo provincial de alinhar a proposta da instruccedilatildeo primaacuteria aos ideaacuterios de modernidade educacional que circulavam pelo contexto nacional em especial no Rio de Janeiro A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu em diaacutelogo com o projeto educacional de uma Naccedilatildeo inspirado no modelo europeu Essa proviacutencia natildeo esteve isolada tampouco perifeacuterica ou interiorana em relaccedilatildeo a todo o Impeacuterio Goiaacutes no que concerne ao ensino de leitura e escrita aos livros e meacutetodos que subsidiavam esse processo esteve em sintonia com o contexto nacional no regime imperial Palavras-chave Cartilhas em Goiaacutes Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Goiaacutes Instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes Livros de leitura em Goiaacutes Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Meacutetodos de leitura em Goiaacutes Proviacutencia de Goiaacutes

9

ABSTRACT ____________________________________

This doctoral thesis linked to the research line of History and Historiography of Education of the Graduate Program in Education of the Federal University of Uberlacircndia has as object of study the literacy in the province of Goiaacutes in the nineteenth century The objective of the research was to analyze the history of the literacy of children in Goiaacutes comprehending the ideas about the initial teaching of reading and writing spread in schools in Goiaacutes between 1835 and 1886 The temporal cut included the period in which the process of organizing primary education in Goiaacutes began through the promulgation of the first Goiaacutesrsquo public education law Law no 13 of June 23rd 1835 going until 1886 when it was published the last Regulation on the Public Instruction of Goiaacutes Act of April 2nd 1886 led to effective compliance during the Empire In view of this the work developed from the following problematizations how did the history of literacy in Goias constitute itself during the imperial period What materials were used to literate the children of Goias throughout this history What ideas about the initial teaching of reading and writing circulated in the province of Goiaacutes These questions guided the research which was based on studies on the history of literacy reading and books in Brazil As a historical source newspapers official documents legislations correspondence of school files and maps of classes that were inventoried in the State Historic Archive of Goiaacutes as well as the Reports of the Presidents of the Province among other documents deposited in Brazilian and European Digital Archives were used From these documents a survey of the booklets and reading books used in the primary schools of the province was carried out which made it possible to understand through the analysis of these forms the methods that circulated in Goiaacutes in the nineteenth century The research results pointed out that contrary to the discourses that have been maintained on the public education in Goiaacutes in the nineteenth-century in the field of literacy there have been different attempts by the provincial government to align the proposal of primary education with the ideals of educational modernity that circulated through the national context level especially in Rio de Janeiro The history of literacy in Goiaacutes was constituted by a dialogue with the educational project of a Nation inspired by the European model This province was not isolated nor peripheral or interiorized in relation to all the Empire Goiaacutes in what concerns to the teaching of reading and writing to the books and methods that subsidized this process was in tune with the national context in the imperial regime Keywords Booklets in Goiaacutes History of literacy in Goiaacutes History of Education in Goiaacutes Primary education in Goiaacutes Reading Books in Goiaacutes Literacy methods in Goiaacutes Reading methods in Goiaacutes Province of Goiaacutes

10

LISTA DE FIGURAS ____________________________________

Figura 1 Mapa do Brasil exposto no I SIHELE quantidade por estado

de participantes inscritos no evento

25

Figura 2 Folha de rosto do livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por

Syllabas com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o

Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785)

146

Figura 3 Folha de rosto da 16ordf ediccedilatildeo do livro Methodo Facillimo para

aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais

curto espaccedilo de tempo (18--)

149

Figura 4 Paacuteginas 86 87 e 88 do Methodo Facillimo para aprender a ler

tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo (18--)

153

Figura 5 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do Pequeno Cathecismo Historico

contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde

(1846)

154

Figura 6 Folha de rosto da 4ordf ediccedilatildeo do Methodo facil para aprender a

ler em 15 liccedilotildees (1875)

159

Figura 7 Paacutegina vii do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees

(1875)

161

Figura 8 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o

ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e

numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

192

Figura 9 Paacuteginas 29 e 31 do livro Metodo Castilho para o ensino rapido

e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do

escrever (1853)

200

Figura 10 Paacuteginas 7 e 10 do livro O expositor portuguez ou rudimentos

de ensino da lingua materna (1831)

209

Figura 11 Folha de rosto da 9ordf ediccedilatildeo do livro Historia de Simatildeo de Nantua

ou O mercador de feiras (1867)

212

Figura 12 Modelos de penas de accedilo 221

Figura 13 Capas das ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute (1871 e 1877) 238

Figura 14 Primeira carta do meacutetodo Bacadafaacute (1871) 241

Figura 15 Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada (1871) 245

11

Figura 16 Carta de nomes do Meacutetodo Bacadafaacute 246

Figura 17 Folha de rosto da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

261

Figura 18 Paacutegina 20 da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para uso da infancia brasileira (1867)

266

12

LISTA DE QUADROS ____________________________________

Quadro 1 Grupos de Pesquisa sobre Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo localizados

no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil

70

Quadro 2 Mapa da turma da Escola do 2ordm grau da instruccedilatildeo primaacuteria em

Vila de Meiaponte (1837)

141

Quadro 3 Mapa mensal da turma da Freguesia de Santa Rita do

Paranaiacuteba (1867)

141

Quadro 4 Catecismos e ou Livros de Doutrina Cristatilde usados nas escolas

goianas 1835-1886

174

Quadro 5 Livros ou Manuais usados nas escolas goianas 1835-1886 177

13

LISTA DE TABELAS ____________________________________

Tabela 1 Populaccedilatildeo do Estado de Goiaacutes 29

Tabela 2 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees identificadas no Banco de dados da Capes a partir da busca com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo

55

Tabela 3 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees selecionadas no Banco de

dados da Capes

59

Tabela 4 Quantidade de dissertaccedilotildees identificadas com o tema alfabetizaccedilatildeo nas bibliotecas digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

62

Tabela 5 Quantidade de dissertaccedilotildees e teses identificadas no Banco de dados da Capes com os termos relacionados na tabela

65

Tabela 6 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por ano sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

67

Tabela 7 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por universidade sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

74

Tabela 8 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo dos estados brasileiros

78

Tabela 9 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por periacuteodo da histoacuteria do Brasil

83

14

SUMAacuteRIO ____________________________________

APRESENTACcedilAtildeO 16

INTRODUCcedilAtildeO 32

PARTE I ndash ldquoPASSEANDO PELOS ARREDORESrdquo DO CAMPO DA ALFABETIZACcedilAtildeO OS

DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE O OBJETO DE PESQUISA

50

1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 51

11 Alfabetizaccedilatildeo um tema em diferentes discursos 52

12 As teses e dissertaccedilotildees do campo temaacutetico da histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo lugares periacuteodos e fontes

64

13 Consideraccedilotildees parciais 84

PARTE II ndash ALFABETIZANDO CRIANCcedilAS NA PROVIacuteNCIA DE GOIAacuteS 86

2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo imperial 87

21 1835 a 1869 90

22 1869 a 1886 119

23 Consideraccedilotildees parciais 134

3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes 136

31 Impressos para ensinar a ler e escrever 139

32 Impressos para o ensino da leitura corrente 172

33 Consideraccedilotildees parciais 182

4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes 188

41 Um professor goiano no Rio de Janeiro impressotildees sobre os

meacutetodos Castilho e Simultacircneo

196

42 Repercussotildees da viagem de Primo Jardim na proviacutencia goiana 214

43 Consideraccedilotildees parciais 227

5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes 231

51 O Meacutetodo Bacadafaacute de Antonio Pinheiro de Aguiar 235

52 Os livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges 251

53 Consideraccedilotildees parciais 270

15

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 273

REFEREcircNCIAS 280

FONTES 312

Fontes citadas na Apresentaccedilatildeo 313

Fontes citadas na Introduccedilatildeo 313

Fontes citadas na Seccedilatildeo 1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo

imperial

314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas em Goiaacutes

320

Fontes citadas na Seccedilatildeo 4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

324

Fontes citadas na Seccedilatildeo 5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

329

Fonte citada nas Consideraccedilotildees Finais 334

Listas de Expediente Escolar e Mapas de Turmas 334

16

APRESENTACcedilAtildeO ____________________________________

ldquoSomos o que lemosrdquo2

A literatura eacute sempre um convite para um mergulho3 em terras inabitaacuteveis em

horizontes desconhecidos em caminhos abstratos As histoacuterias impressas em

paacuteginas marcam e selam seus leitores de uma forma ou outra a literatura provoca e

transforma Como algueacutem apaixonado por literatura natildeo poderia iniciar este trabalho

sem evocaacute-la procurando inspiraccedilatildeo entre os escritos de autores da literatura

brasileira para abrir estas reflexotildees

Iniciemos com O Ateneu de Raul Pompeacuteia Quando o pai de Seacutergio

personagem principal do enredo o deixa na porta do Ateneu e diz ldquoVais encontrar o

mundordquo uma sucessatildeo de fatos se desenrola desnudando o cotidiano de um

internato do Rio de Janeiro A escola na voz do pai seria o ambiente que

transformaria a vida do filho tirando-o do seio materno e inserindo-o numa instituiccedilatildeo

social diferente da famiacutelia A escola narrada por Pompeacuteia numa perspectiva histoacuterica

eacute o retrato dos modos de educar no regime imperial Sobre o processo de aprendizado

da leitura Seacutergio nos conta

Eu aprendera a ler pelos livros elementares de Aristarco e o supunha velho como o primeiro4 poreacutem rapado de cara chupada pedagoacutegica oacuteculos apocaliacutepticos carapuccedila negra de borla fanhoso onipotente e

2 Trecho de Alberto Manguel (1997 p 201) no livro Uma histoacuteria da leitura 3 Sim mergulho Paradoxalmente um mergulho em terras 4 ldquoO primeirordquo refere agrave imagem de Cristo descrita anteriormente pelo personagem

17

mau com uma das matildeos para traacutes escondendo a palmatoacuteria e doutrinando agrave humanidade o becirc-aacute-baacute (POMPEacuteIA 1996 p 8)

No Conto de Escola de Machado de Assis um garoto em 1840 relutante em ir

agrave escola relata sobre seus sentimentos em relaccedilatildeo ao coleacutegio e suas impressotildees com

as liccedilotildees de gramaacutetica

Para cuacutemulo de desespero vi atraveacutes das vidraccedilas da escola no claro azul do ceacuteu por cima do morro do Livramento um papagaio de papel alto e largo preso de uma corda imensa que bojava no ar uma coisa soberba E eu na escola sentado pernas unidas com o livro de leitura e a gramaacutetica nos joelhos (ASSIS 2002 p 207)

Os livros de leitura e as aulas da professora de Ernesto e Eugecircnio personagens

da obra Olhai os liacuterios do campo de Eacuterico Veriacutessimo marcaram suas vidas Algumas

leituras e livros ficam eternizados em nossas memoacuterias quem natildeo se lembra das

histoacuterias que povoaram a infacircncia Haacute textos que nos remetem a lugares cheiros

sabores pessoas

Eugecircnio tinha uma grande pena do pai mas natildeo conseguia amaacute-lo Sabia que os filhos devem amar os pais A professora falava na aula em amor filial contava histoacuterias dava exemplos Mas por mais que se esforccedilasse Eugecircnio natildeo lograva ir aleacutem da piedade Tinha pena do pai Porque ele tossia porque ele suspirava porque ele se lamentava porque ele se chamava Acircngelo Acircngelo eacute nome de gente infeliz nome de assassinado Ernesto natildeo podia olhar para o pai sem se lembrar da seacutetima liccedilatildeo do Segundo Livro de Leitura Sentira ao lecirc-la pela primeira vez uma comoccedilatildeo tatildeo grande que ficara um dia inteiro sob a impressatildeo da trageacutedia (VERIacuteSSIMO 1995 p 9-10)

As cenas transcritas acima registraram em estilo literaacuterio o fazer da escola e

o ensino da leitura e da escrita em eacutepocas e espaccedilos diferentes No entanto satildeo

registros de personagens que talvez natildeo tenham existido mas que se lidos numa

perspectiva sincrocircnica ao tempo que retratam instigam-nos a pensar mais sobre uma

histoacuteria que todos noacutes vivemos a nossa alfabetizaccedilatildeo Desse modo pesquisar a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo muito aleacutem de historiografar praacuteticas meacutetodos livros eacute falar

de pessoas que ensinaram e aprenderam a leitura e a escrita da liacutengua materna

E por que um estudo histoacuterico sobre alfabetizaccedilatildeo

Vidal (2014) refletindo sobre a questatildeo ldquoEm que os estudos de natureza

histoacuterica sobre o ensino da leitura escrita podem contribuir com as praacuteticas de

alfabetizaccedilatildeo na atualidaderdquo nos auxilia na proposiccedilatildeo de uma resposta agrave pergunta

[] o passado natildeo lega ao presente uma foacutermula de sucesso a ser recuperada nem necessariamente uma liccedilatildeo As vaacuterias abordagens

18

que fazemos do ontem nos alertam para a multiplicidade dos possiacuteveis de cada momento histoacuterico inscritos nas relaccedilotildees sociais de poder Oferecem exemplos sobre o que foi feito ampliando nosso repertoacuterio de praacuteticas [] Suscitam reconhecer que a nossa relaccedilatildeo com o ontem eacute simultaneamente de continuidade e ruptura atribuindo vaacuterias camadas de temporalidade ao passado Instigam-nos por fim a perscrutar os modos como atribuiacutemos sentido ao mundo e significamos nossa experiecircncia preteacuterita e atual levando em consideraccedilatildeo a materialidade da vida (VIDAL 2014 p 12-13)

Em consonacircncia Mortatti (2008) advoga a necessidade de conhecer o passado

da alfabetizaccedilatildeo natildeo para ressuscitaacute-lo agrave procura de soluccedilotildees para os problemas de

hoje tampouco para conceber o presente como uma repeticcedilatildeo simplista do que

ocorreu em tempos anteriores e sim para provocar pesquisas que suscitem novos

olhares novas questotildees e proposiccedilotildees

Eacute evidente que a alfabetizaccedilatildeo eacute um ldquocampo discursivordquo5 de frequentes

disputas tanto nas esferas poliacutetica e midiaacutetica como tambeacutem na acadecircmica

Apoiando-nos na pesquisa de Mortatti (2000) eacute possiacutevel dizer que os sentidos

atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo pelos sujeitos nas diferentes instituiccedilotildees (partidos

poliacuteticos governos universidades grupos de pesquisa meios de comunicaccedilatildeo)

evidenciam a homeacuterica luta entre Fracasso versus Sucesso no processo de

alfabetizaccedilatildeo Nas palavras da autora

[] visando agrave ruptura com seu passado determinados sujeitos

produziram em cada momento histoacuterico determinados sentidos

que consideravam modernos e fundadores do novo em relaccedilatildeo

ao ensino da leitura e escrita Entretanto no momento seguinte

esses sentidos acabaram por ser paradoxalmente configurados

pelos poacutesteros imediatos como um conjunto de semelhanccedilas

indicadoras da continuidade do antigo devendo ser combatido

como tradicional e substituiacutedo por um novo sentido para o

moderno (MORTATTI 2000 p 23 grifos nossos)

Ou seja haacute sempre um discurso em contraposiccedilatildeo a outro que

intencionalmente refuta ideias para marcar um territoacuterio autoral

No acircmbito poliacutetico-partidaacuterio uma situaccedilatildeo recente foi a mudanccedila preconizada

pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL 2017) que modificou a proposta do

ciclo de alfabetizaccedilatildeo considerando que a crianccedila deve estar plenamente

alfabetizada ateacute o fim do segundo ano do Ensino Fundamental O projeto revela

5 Expressatildeo utilizada em conformidade com a definiccedilatildeo feita por Maingueneau (2005)

19

claramente um embate entre posiccedilotildees partidaacuterias (Partido dos Trabalhadores versus

Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro) jaacute que os documentos publicados

durante o governo petista dos presidentes Luiz Inaacutecio Lula da Silva e Dilma Rousseff

ndash que antecederam o governo do presidente peemedebista Michel Temer ndash garantiam

a alfabetizaccedilatildeo ateacute o final do terceiro ano do Ensino Fundamental Haacute que se registrar

tambeacutem que no atual governo presidencial de Jair Bolsonaro o tema alfabetizaccedilatildeo

ocupou alguns discursos dos integrantes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que fizeram

apologia ao meacutetodo focircnico Aleacutem disso foi instituiacuteda a Poliacutetica Nacional de

Alfabetizaccedilatildeo por meio do Decreto nordm 9765 de 11 de abril de 2019 (BRASIL 2019)

tomando como base uma noccedilatildeo restrita de alfabetizaccedilatildeo enfatizando os aspectos

fonecircmicos do aprendizado da liacutengua portuguesa Outrossim o termo letramento natildeo

foi mencionado

Na imprensa os comentaacuterios dos jornalistas sobre determinados fazeres

pedagoacutegicos sobre as taxas de avaliaccedilotildees externas e os iacutendices de analfabetismo

(funcional e absoluto) tentam demonstrar ndash de forma banal ndash o que eacute ldquocorreto ou natildeordquo

para ensinar a ler e escrever Os comentaacuterios nas colunas do economista Claudio de

Moura Castro e do jornalista Alexandre Garcia por exemplo veiculados pela miacutedia

impressa ou televisiva hora ou outra causam polecircmicas sobre a escola brasileira e

seu desafio de alfabetizar Outro exemplo eacute uma revista de circulaccedilatildeo nacional dirigida

aos professores Nova Escola atualmente mantida pela Fundaccedilatildeo Lemann A

alfabetizaccedilatildeo eacute um tema recorrente e quase sempre ocupa uma ou mais mateacuterias de

suas ediccedilotildees formando a opiniatildeo do puacuteblico leitor

No meio acadecircmico como assevera Goulart (2014)

Ao enfrentarmos temas polecircmicos constituiacutemos e confrontamos argumentos de postos de observaccedilatildeo diferentes dos apresentados por aqueles com que dialogamos A criacutetica pela criacutetica natildeo constroacutei Quando falamos entretanto em nome de concepccedilotildees de sociedade de ser humano e de ensino-aprendizagem instauramos o debate que ganha corpo e se adensa [] O ponto de partida envolve respeito pelas posiccedilotildees alheias ndash natildeo um respeito obsequioso e passivo mas um respeito ativo e vivo que inclui considerar a importacircncia do diaacutelogo do pensamento divergente da possiacutevel revisatildeo de caminhos que pode ser desencadeada de ambos os lados capaz de gerar avanccedilos renovaccedilotildees de posturas teoacuterico-metodoloacutegicas e novos pontos de ancoragem (GOULART 2014 p 327)

De fato eacute necessaacuterio instaurar o diaacutelogo aleacutem dos muros das universidades

dos grupos de pesquisas dos projetos institucionais afinal o conhecimento eacute movido

20

pelas incertezas pois ldquonatildeo haacute homogeneidade nos lsquosentidosrsquo atribuiacutedos agrave

alfabetizaccedilatildeo no que se refere ao SABER na verdade haacute uma multiplicidade de

SABERES no plural natildeo um SABER sobre a alfabetizaccedilatildeordquo (SOARES 2014 p 29

grifo da autora)

Logo eacute premente estudar a alfabetizaccedilatildeo em suas ldquomuacuteltiplas facetasrdquo tal como

nos ensinou e propocircs a mestra Magda Soares (1985) No caso desta tese

contemplamos a ldquofaceta histoacuterica da alfabetizaccedilatildeordquo6 tendo como loacutecus de pesquisa

o estado de Goiaacutes

Fonseca (2003) ao refletir sobre o lugar da histoacuteria da educaccedilatildeo e suas

relaccedilotildees com diferentes abordagens historiograacuteficas verifica que comparativamente

agrave produccedilatildeo cientiacutefica nacional as publicaccedilotildees internacionais tecircm demonstrado maior

preocupaccedilatildeo com investigaccedilotildees histoacuterias na aacuterea da educaccedilatildeo Retomando

importantes pesquisas7 evidencia que a educaccedilatildeo foi tratada ora como um campo de

investigaccedilatildeo autocircnomo ora como um tema possiacutevel numa dada corrente

historiograacutefica

Saviani (2005) explica que no Brasil pelo fato de a histoacuteria da educaccedilatildeo

compor-se mais como um campo de pesquisadores formados em Pedagogia8 ldquoos

historiadores de modo geral acabam por natildeo incluir a educaccedilatildeo entre os domiacutenios

da investigaccedilatildeo histoacutericardquo (SAVIANI 2005 p 20-21) Tal questatildeo pode ser ilustrada

com as obras de Cardoso e Vainfas (1997 2012) Os autores ao organizarem os dois

tomos sobre os Domiacutenios da Histoacuteria natildeo incluiacuteram a educaccedilatildeo entre os territoacuterios do

historiador No entanto embora a disciplina histoacuteria da educaccedilatildeo tenha nascido no

bojo das Escolas Normais na preparaccedilatildeo dos professores para atuar no ensino

primaacuterio e posteriormente sido integrada nos curriacuteculos do curso de Pedagogia as

pesquisas da historiografia educacional procuram aparato conceitual-metodoloacutegico

mais na Histoacuteria do que propriamente na Pedagogia

Em torno da pesquisa e dos estudos pedagoacutegicos configuram-se diferentes

mateacuterias e aacutereas do conhecimento que estatildeo relacionadas essencialmente agrave praacutetica

6 Tomamos essa expressatildeo de empreacutestimo de Frade (2011) 7 Fonseca (2003) cita as pesquisas de Keith Thomas Daniel Roche Jean-Pierre Rioux Serge Gruzinski Franccedilois Furet Jacques Ozouf Pierre Nora Jean Heacutebrard Dominique Julia Roger Chartier Jacques Le Goff Philippe Ariegraves e outros pesquisadores ligados agrave Nova Histoacuteria 8 A Pedagogia que antes era uma disciplina ministrada na escola normal tornou-se a partir de 1939 (Cf SAVIANI 2005) um curso superior (graduaccedilatildeo) com curriacuteculo vasto em mateacuterias pedagoacutegicas habilitando o professor para atuar nas primeiras etapas da educaccedilatildeo baacutesica

21

educativa tais como metodologias de ensino planejamento praacuteticas de ensino

leitura escrita gestatildeo escolar etc A histoacuteria da educaccedilatildeo pode se ocupar de

investigar os aspectos histoacutericos de todas essas aacutereas mas ao contraacuterio delas natildeo

estaacute a serviccedilo diretamente das habilitaccedilotildees pedagoacutegicas A histoacuteria da educaccedilatildeo

pertence aos fundamentos da educaccedilatildeo

No universo da pesquisa na perspectiva historiograacutefica proposta por Pesavento

(2003) a educaccedilatildeo eacute uma temaacutetica pertencente ao campo metodoloacutegico da histoacuteria

cultural9 Destarte a histoacuteria da educaccedilatildeo natildeo estaacute inscrita em uma uacutenica corrente

historiograacutefica e aleacutem disso vaacuterios outros campos temaacuteticos encontram-se abrigados

em sua macroestrutura A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo ou a ldquohistoacuteria do ensino inicial de

leitura e escritardquo 10 eacute um exemplo disso

Sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Soares (2006 p 7) aponta que ldquoa

pesquisa histoacuterica eacute uma tendecircncia que vem se acentuando nos estudos sobre

educaccedilatildeo e o ensino no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas Na aacuterea da alfabetizaccedilatildeo e da

leitura essa tendecircncia tem sido talvez mais intensa que em outras aacutereasrdquo Como a

alfabetizaccedilatildeo eacute um processo que envolve a aprendizagem de dois aspectos

essenciais em uma sociedade letrada a leitura e escrita fazer a sua historiografia

demanda enormes dificuldades ldquoEacute que as praacuteticas de ensino se perdem na

transitoriedade de sua ocorrecircncia na natureza oral e portanto fugidia de seu

exerciacutecio na ausecircncia de registro de sua realizaccedilatildeo Ficam algumas poucas e raras

fontes []rdquo (SOARES 2006 p 7) Ainda nessa linha de raciociacutenio Magalhatildees afirma

No momento atual a investigaccedilatildeo [sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo] eacute de fato ainda muito reduzida em face da imensidatildeo do tema e das problemaacuteticas que sugere Eacute uma investigaccedilatildeo que depara com uma total ausecircncia de informaccedilatildeo histoacuterica em sentido direto Tambeacutem no niacutevel de fontes indiretas escasseiam quer os sinais autograacuteficos quer indicaccedilotildees sobre niacuteveis de analfabetismo [] As informaccedilotildees sobre a circulaccedilatildeo do livro e as praacuteticas de leitura satildeo igualmente escassas

9 Pesavento (2003) na trajetoacuteria da historiografia apresenta trecircs grandes campos metodoloacutegicos a histoacuteria-narrativa (historicista e positivista) a histoacuteria cultural e o marxismo Para maiores informaccedilotildees cf Bourdeacute e Martin (sd) na obra As Escolas Histoacutericas Esses trecircs campos metodoloacutegicos datildeo origem agraves correntes historiograacuteficas que por sua vez abrigam os campos temaacuteticos 10 Encontramos a menccedilatildeo a essa terminologia em Mortatti (2008 2009) Em Boto (2011) as denominaccedilotildees ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo e ldquohistoacuteria do ensino inicial da leitura e da escritardquo satildeo utilizadas como sinocircnimas Consideramos de igual maneira ambas as terminologias como sinocircnimas cientes conforme Mortatti (2004 p 59-60) aponta de que o termo recorrente utilizado na imprensa pedagoacutegica nos manuais e na legislaccedilatildeo para se referir ao aprendizado da liacutengua maternapaacutetria ateacute o iniacutecio do seacuteculo XX era ldquoensino de leitura (e escrita)rdquo Para compreender o surgimento do vocaacutebulo alfabetizaccedilatildeo cf Mortatti (2004)

22

no entanto nas cozinhas tradicionais natildeo raro se encontrava um moacutevel com alguns livros ndash catecismo livros de cuidados de sauacutede escrituraccedilotildees diversas Nesse sentido o historiador da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo depara com grande dificuldade de informaccedilatildeo []

(MAGALHAtildeES 2002 p 132)

Ao mesmo tempo em que existem essas dificuldades o campo temaacutetico da

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo11 foi-se instituindo substancialmente com uma natureza

hiacutebrida (MORTATTI 2011 2011a) Nos termos de Mortatti

[] nesta primeira deacutecada do seacuteculo XXI constata-se a tendecircncia agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo se constituir como campo de conhecimento especiacutefico e autocircnomo por meio da crescente definiccedilatildeo de objetos de estudo fontes documentais vertentes teoacutericas e abordagens metodoloacutegicas Tal tendecircncia por sua vez vem-se explicitando sem prejuiacutezo das possibilidades de estudos e pesquisas necessariamente interdisciplinares a fim de se explorarem os diferentes aspectos envolvidos na complexidade e na multifacetaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo (MORTATTI 2011a p 2)

Nessa linha interdisciplinar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo faz um diaacutelogo

incessante com outros campos temaacuteticos12 natildeo restritos agrave educaccedilatildeo podendo-se

citar histoacuteria do livro (incluindo aspectos que vatildeo da materialidade a uma cultura

imaterial etc) histoacuteria da mulher (sua escolarizaccedilatildeo e o empoderamento feminino

mediante a aprendizagem da leitura e escrita etc) histoacuteria do corpo (dos

gestosposiccedilotildees e culturas para aprendizagem da leitura e escrita dos meacutetodos de

repressatildeo corporal etc) histoacuteria da tecnologia e da comunicaccedilatildeo (suas influecircncias

para a transformaccedilatildeo dos modos de alfabetizar durante a histoacuteria etc) histoacuteria da

literatura etc (MORTATTI 2011) Frade (2018) ainda indica que

a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo como o estudo de formas preteacuteritas de ensinoaprendizagem da tecnologia da escrita de sua manifestaccedilatildeo no contexto das instituiccedilotildees as mais diversas dos meacutetodos para sua transmissatildeo dos materiais que estatildeo em jogo na sua apropriaccedilatildeo das praacuteticas empreendidas pelos sujeitos e grupos sociais em torno do processo de aquisiccedilatildeo inicial da escrita e de seus efeitos sociais e culturais na sociedade (FRADE 2018 p 39-40)

11 Eacute importante ressaltar que a expressatildeo ldquocampo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo foi amplamente difundida por Maria do Rosaacuterio Longo Mortatti e por ela sistematizada na coletacircnea Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria (MORTATTI 2011) A obra eacute fruto do I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita (SIHELE) realizado em Mariacutelia na Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP) em 2010 com o tema ldquoA constituiccedilatildeo do campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasilrdquo Reconhecemos que os estudos de Mortatti contribuiacuteram para a delimitaccedilatildeo desse campo (MORTATTI 2011b) 12 Tal questatildeo foi apontada e refletida por Frade (2011) ficando em evidecircncia na coletacircnea organizada por Mortatti (2011)

23

No meio acadecircmico brasileiro a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo foi ganhando

reconhecimento e espaccedilo sobretudo entre os fins do seacuteculo XX e a primeira deacutecada

do seacuteculo XXI quando pesquisas em teses e dissertaccedilotildees foram divulgadas13 Nesse

ponto eacute importante referenciar que o trabalho de Mortatti (2000) Os sentidos da

Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 destaca-se no universo cientiacutefico como aquele

que no seacuteculo XX marcou os estudos temaacuteticos acadecircmicos sobre a histoacuteria do

ensino de leitura e escrita no Brasil

Nesse mesmo percurso eventos cientiacuteficos passaram a inserir a historiografia

da leitura da cultura escrita e da alfabetizaccedilatildeo como eixo temaacutetico eou mote de

congressos e seminaacuterios Um dos marcos foi o Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria

do Ensino de Leitura e Escrita (SIHELE) coordenado pela Professora Maria do

Rosaacuterio Longo Mortatti cuja primeira ediccedilatildeo foi realizada em Mariacutelia na Universidade

Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP) em setembro de 201014 e a

segunda em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em

julho de 2013 Mais recente outro marco foi a incorporaccedilatildeo em 2015 do Simpoacutesio

Temaacutetico sobre a Histoacuteria da Cultura Escrita no 8ordm Congresso de Pesquisa e Ensino

de Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Minas Gerais (COPEHE) Na 9ordf ediccedilatildeo desse congresso

ocorrida em 2017 a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo foi inserida como eixo especiacutefico para

submissatildeo de trabalhos em comunicaccedilatildeo oral15

A pesquisa Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento realizada por

Soares (1989) e posteriormente por Soares e Maciel (2000)16 fez um panorama das

13 Tal questatildeo ficou evidenciada na obra de Mortatti (2011) Na Parte 1 dessa tese trataremos com maiores detalhes do estado do conhecimento das pesquisas de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil 14 Mortatti (2011a) aponta que embora jaacute existissem no ano da realizaccedilatildeo do I SIHELE eventos cientiacuteficos que abordavam temaacuteticas semelhantes agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo natildeo havia ateacute aquele momento um evento que tratasse especificamente sobre o assunto Como exemplo desses outros eventos a autora cita o Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo e o Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Na mesma linha haacute tambeacutem os grupos de trabalho ldquoHistoacuteria da Educaccedilatildeordquo e ldquoAlfabetizaccedilatildeo leitura e escritardquo da Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo (ANPEd) Para maiores informaccedilotildees acerca do I SIHELE cf Mortatti (2011a) 15 Vale referenciar que no 9ordm COPEHE dos 219 trabalhos inscritos para as comunicaccedilotildees orais apenas 9 pertenciam ao eixo temaacutetico 12 ndash Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e Escolarizaccedilatildeo 16 Na pesquisa de Soares (1989) foram analisados artigos publicados em 21 perioacutedicos especializados dissertaccedilotildees e teses excluindo-se capiacutetulos de livros e relatoacuterios de pesquisa natildeo publicados Jaacute em Soares e Maciel (2000) devido ao aumento substancial da produccedilatildeo acadecircmica e cientiacutefica sobre a alfabetizaccedilatildeo as pesquisadoras delinearam como corpus de anaacutelise as dissertaccedilotildees e teses

24

investigaccedilotildees sobre a alfabetizaccedilatildeo no Brasil Ambas as publicaccedilotildees evidenciaram

apenas uma pesquisa classificada do tipo histoacuterico entre os anos de 1954 a 1989

(DIETZSCH 1979) Por pesquisa histoacuterica Soares e Maciel (2000) entendem que

satildeo pesquisas que descrevem e analisam fatos ou fenocircmenos do passado o que foi como foi por que foi assim ndash ou seja como nas pesquisas descritivo-explicativas a pesquisa histoacuterica identifica eou descreve eou explica com a diferenccedila de que aquelas se referem a fatos ou fenocircmenos contemporacircneos ao pesquisador e esta a fatos passados (SOARES MACIEL 2000 p 58-59)

Na tese de doutorado de Silva (1998)17 a autora acrescenta ao levantamento

de Soares (1989) duas outras produccedilotildees acadecircmicas sobre a historiografia da

alfabetizaccedilatildeo brasileira

A primeira eacute um relatoacuterio de pesquisa intitulado ldquoNiacuteveis de alfabetizaccedilatildeograus

de instruccedilatildeo do processo modernizador brasileiro 1872-1920rdquo apresentado por Arno

Wehling ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

(INEP) e ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC)18

O segundo trabalho eacute a dissertaccedilatildeo de mestrado de Ana Maria Arauacutejo Freire

defendida no acircmbito do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica

Sociedade da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP) em 1988

Essa pesquisa traz importantes dados estatiacutesticos sobre a histoacuteria do analfabetismo

no Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute a primeira repuacuteblica Freire (1988) aponta o

analfabetismo como fenocircmeno historicamente estabelecido pelos contextos poliacuteticos

e econocircmicos

Do final da deacutecada de 1980 ao quase fim da segunda deacutecada do seacuteculo XXI

muitos outros trabalhos foram realizados Ao tratar sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

sempre haacute referecircncia a um lugar um estado ou municiacutepio ou escola Alguns estados

brasileiros se destacam nessas pesquisas outros foram pouco evidenciados19 Nesse

sentido esta tese tem como cenaacuterio o estado de Goiaacutes (GO) E por que esse estado

Apesar de eu ser goiano de nascenccedila e ainda residindo no estado nunca havia

me interessado pelas questotildees histoacutericas de Goiaacutes No entanto desde 2006 na minha

primeira graduaccedilatildeo a alfabetizaccedilatildeo eacute um tema que aprecio muito No mestrado na

17 Essa tese encontra-se publicada em livro pela Editora UNICAMP (SILVA 2015) 18 Na tese de Silva (1998) natildeo haacute referecircncia ao ano de publicaccedilatildeo desse relatoacuterio natildeo o haacute tambeacutem no curriacuteculo lattes de Wehling consultado em julho de 2019 19 Na seccedilatildeo 1 apresentamos um panorama geral das pesquisas da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por estado

25

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) pesquisei sobre o processo de

escrita argumentativa tomando como foco a crianccedila do ciclo de alfabetizaccedilatildeo 1ordm ao

3ordm ano do Ensino Fundamental (ROCHA 2012) Durante o percurso na UNICAMP em

2010 participei do I SIHELE juntamente com um grupo de colegas e pesquisadores

do ALLE (Grupo de Pesquisa Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita ndash UNICAMPCNPq)

Para esse seminaacuterio preparei um texto para comunicaccedilatildeo oral sobre a historiografia

das praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo no sul goiano Muito timidamente eu iniciava a minha

incursatildeo na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes sinalizando ao final do artigo

apresentado no seminaacuterio algo que viria a se tornar o meu objeto de estudo no

doutorado ldquovale destacar que nossa intenccedilatildeo futura para esta pesquisa eacute de se

engajar no estudo para quem sabe documentar as praacuteticas de leitura e escrita em

Goiaacutesrdquo (ROCHA 2010 p 6)

Durante o I SIHELE alguns fatos curiosos me chamaram a atenccedilatildeo As mesas

redondas propostas natildeo contemplavam nenhuma pesquisa sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes outro fato foi uma imagem exposta no hall de entrada do

auditoacuterio do evento na Faculdade de Filosofia e Ciecircncias da UNESP um mapa do

Brasil com indicaccedilatildeo dos estados de origem dos pesquisadores inscritos no

Seminaacuterio

Figura 1 Mapa do Brasil exposto no I SIHELE quantidade por estado de participantes

inscritos no evento

Fonte Acervo pessoal do autor setembro de 2010

26

Essa imagem ficou renitente em minha memoacuteria durante muito tempo e me fez

constatar numa anaacutelise dos Anais do Seminaacuterio que somente duas pessoas de Goiaacutes

estavam inscritas e apenas a minha pesquisa tratava sobre a historiografia do ensino

de leitura e escrita no territoacuterio goiano A partir de entatildeo venho me dedicando a

compreender a trajetoacuteria histoacuterica da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes visitando

arquivos puacuteblicos e privados conversando com pessoas procurando parcerias

participando de eventos sobre a temaacutetica inventariando fontes que auxiliem na escrita

destas paacuteginas da histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

ldquoAMO E CANTO COM TERNURA

TODO O ERRADO DA MINHA TERRArdquo20

A histoacuteria do estado de Goiaacutes21 eacute narrada geralmente a partir da chegada dos

bandeirantes paulistas nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVIII agrave procura de ouro na

regiatildeo (PALACIacuteN MORAES 1994) No entanto o territoacuterio goiano jaacute era povoado por

iacutendios pertencentes ao grupo macro-jecirc ldquoum grupo genuinamente brasileiro pois natildeo

se estendeu a outros paiacuteses como ocorreu com os tupis guaranisrdquo (PALACIacuteN

GARCIA AMADO 2001 p 12)

O sertatildeo goiano como ficou retratado nos relatos de viagens de cronistas do

periacuteodo colonial era uma terra de ldquoselvagensrdquo e ldquobaacuterbarosrdquo de aacutervores retorcidas e

frutos nativos de chatildeo feacutertil e muita seca Silva e Souza (1872)22 baseado na tradiccedilatildeo

oral conseguiu enumerar dezoito naccedilotildees indiacutegenas em Goiaacutes quase um seacuteculo apoacutes

a instalaccedilatildeo dos bandeirantes na regiatildeo agraves margens do Rio Vermelho (hoje Cidade

de Goiaacutes) No texto Memoria sobre o descobrimento governo populaccedilatildeo e cousas

mais notaacuteveis da Capitania de Goyaz Silva e Souza (1872) ainda relata os costumes

20 Trecho do poema ldquoBecos de Goiaacutesrdquo de Cora Coralina (1980 p 93) extraiacutedo do livro Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais 21 Natildeo temos o objetivo de copilar nas pouquiacutessimas paacuteginas deste item a histoacuteria do estado de Goiaacutes Eacute importante destacar que a intenccedilatildeo eacute apresentar ao leitor um pouco do percurso poliacutetico e histoacuterico do estado bem como suas particularidades na diversidade e extensatildeo territorial da cultura brasileira 22 O texto de Souza e Silva tem data de 30 de setembro de 1812 no entanto foi publicado na Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro no 4ordm trimestre de 1849 O exemplar a que tivemos acesso eacute de 1872 correspondente agrave 2ordf ediccedilatildeo

27

dessas tribos que ocupavam a extensatildeo da Capitania de Goiaacutes com tradiccedilotildees e um

legado proacuteprios das suas culturas

Cayaporsquos Naccedilatildeo bravissima e muito numerosa que com os seus ataques obstou em principio ao augmento da capital e hoje residentes nas aldecircas Maria e S Joseacute ainda que existem muitos ao sul de Villa-Boa tendo diferentes aldecircas [] satildeo valentes e guerreiros usam aleacutem do arco e frecha em que satildeo destrissimos de certos paacuteos cortados e rijos com que pelejam de perto tecircm alguns ritos judaicos admitem a polygamia e o divorcio contam os mezes por luas fazem festas e ajuntamentos nocturnos em que em confuso procuram a propagaccedilatildeo fazem as exequias dos seus mortos com danccedilas e se tingem de negro em as ocasiotildees do seu sentimento nas vizinhanccedilas da Paschoa pintam em si com tinta de jenipapo botinas peitos de armas e fazem entatildeo com grande vozeria as suas festas e jogos sendo o mais celebre o que chamam de touro em que disputam uns com os outros as forccedilas na carreira tomando uns do hombro de outros um grande tronco que empregam nrsquoeste ministerio (SILVA SOUZA 1872 p 494-495)

Segundo Silva e Souza (1872) e Pedroso (1992) a regiatildeo sul de Goiaacutes era

habitada pelos iacutendios Caiapoacutes Com a entrada das bandeiras23 paulistas no territoacuterio

goiano muitos desses iacutendios tornaram-se escravos na exploraccedilatildeo do ouro No

referido relato de Silva e Souza (1872) o autor ainda enumera alguns dos argumentos

utilizados pelos bandeirantes na escravizaccedilatildeo dos indiacutegenas que circulam em torno

do discurso do selvagem que precisa ser contido devido a sua natureza feroz

expressa nas lutas travadas entre os iacutendios e bandeirantes no processo de

colonizaccedilatildeo Outro argumento eacute o da guerra santa ou guerra justa justificativa aceita

pela legislaccedilatildeo da eacutepoca que era condescendente com a escravidatildeo dos povos

nativos quando esses lutavam e perdiam ou ateacute mesmo quando alguma tribo era

hostil com os colonizadores fato bem provaacutevel de acontecer no sistema de conquistas

de terras empregado pelos portugueses

Aleacutem do fato da existecircncia de indiacutegenas no territoacuterio goiano vaacuterias foram as

bandeiras que passaram pelo estado desde o final do seacuteculo XVI o que contraria a

versatildeo oficial apresentada por muitos anos nos livros didaacuteticos de histoacuteria regional de

Goiaacutes que confere agrave renomada bandeira chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva o

Anhanguera24 a responsabilidade pelo descobrimento de Goiaacutes

23 ldquoA bandeira era uma expediccedilatildeo organizada militarmente e tambeacutem uma espeacutecie de sociedade comercial Cada um dos participantes entrava com uma parcela da capital que consistia ordinariamente em certo nuacutemero de escravosrdquo (PALACIacuteN MORAES 1994 p 21) 24 Nome dado pelos indiacutegenas que significa ldquodiabo velhordquo

28

Em vias de explorar o ouro descoberto no Rio Vermelho a regiatildeo comeccedilou a

ser povoada pelos colonizadores no iniacutecio do seacuteculo XVIII surgindo numerosos

arraiais a partir da conglomeraccedilatildeo de garimpos e construccedilatildeo de capelas para

disseminaccedilatildeo da feacute catoacutelica nos rincotildees de todo o territoacuterio goiano Com o crescimento

da populaccedilatildeo instituiu-se em 1749 a Capitania de Goiaacutes governada pelo Conde dos

Arcos Jaacute com a Independecircncia em 1822 passou a denominar-se Proviacutencia de Goiaacutes

Nesse periacuteodo a sociedade organizada em torno da exploraccedilatildeo mineradora entrava

em decadecircncia regredindo agrave economia de subsistecircncia nos moldes de uma

sociedade pastoril (PALACIacuteN MORAES 1994)

Desde a instalaccedilatildeo das capitanias ateacute sua transformaccedilatildeo em proviacutencia Goiaacutes

ocupou uma grande extensatildeo territorial como se pode constatar nos mapas poliacuteticos

da eacutepoca sobretudo os do periacuteodo imperial Suas fronteiras tais como conhecemos

hoje satildeo consequecircncia de movimentos partidaacuterios e defesas em prol do

desenvolvimento econocircmico e cultural do norte ao sul do estado Esses movimentos

especialmente o Separatista do Norte liderado inicialmente em 1821 pelo capitatildeo

Felipe Antocircnio Cardoso e pelo Padre Luiz Bartolomeu Marques perduraram durante

mais de um seacuteculo ocasionando a emancipaccedilatildeo do estado do Tocantins em 1988

(PALACIacuteN MORAES 1994)

Para que houvesse essa separaccedilatildeo alguns fatos jaacute no seacuteculo XX foram

decisivos todavia a fala sobre o esquecimento das cidades ao norte de Goiaacutes pelo

governo estadual era recorrente desde o seacuteculo XIX25 Nessa perspectiva podemos

dizer que o primeiro fato que impulsionou a separaccedilatildeo entre Tocantins e Goiaacutes foi a

permanecircncia da capital goiana na regiatildeo centro-sul do estado Mesmo com a

transferecircncia da sede dos poderes puacuteblicos estaduais da Cidade de Goiaacutes para

Goiacircnia26 e com o aumento da populaccedilatildeo a regiatildeo norte do estado ainda permanecia

25 Sobre isso cf Silva e Souza (1872) 26 A respeito das dataccedilotildees desse periacuteodo podemos destacar duas datas importantes A primeira eacute a da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 560 de 13 de dezembro de 1935 no Correio Oficial do Estado de Goiaacutes em 21121935 que determina que para Goiacircnia ldquoa Nova Capital do Estado se transportem com o pessoal que os respectivos titulares julgarem necessaacuterio ao exerciacutecio de suas funccedilotildees as Secretaria Geral e de Govecircrno e a Casa Militarrdquo (Assinado por Dr Pedro Ludovico Teixeira e Benjamim da Luz Vieira) A segunda data eacute o dia 05 de julho de 1942 quando ocorreu o ldquobatismo culturalrdquo de Goiacircnia expressatildeo utilizada para designar a inauguraccedilatildeo oficial da cidade Tal evento tambeacutem selou uma nova alianccedila entre a Igreja e o Poder Puacuteblico em Goiaacutes marcando a transferecircncia definitiva de todas as instacircncias governamentais para a nova capital Para maiores detalhes sobre a questatildeo do ldquobatismo culturalrdquo cf Arauacutejo Juacutenior e Silva (2006)

29

esquecida aos olhos dos administradores Outro fato que contribuiu foi a construccedilatildeo

da nova capital brasileira Brasiacutelia em solo goiano na regiatildeo central do estado o que

ocasionou na deacutecada de 50 do seacuteculo XX a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do norte para o

entorno do Distrito Federal e para o sul do estado onde havia melhores condiccedilotildees de

empregabilidade diante das obras e da abertura de rodovias para a edificaccedilatildeo de

Brasiacutelia (CHAUL 1999)

A presenccedila da capital do paiacutes na regiatildeo sul de Goiaacutes e sua proximidade com

outros estados ao sudeste do Brasil fizeram com que as cidades ao centro-sul goiano

se desenvolvessem progressivamente diferente daquelas situadas ao norte que

acumulavam iacutendices expressivos de uma populaccedilatildeo de baixa renda Com uma

economia predominantemente agroindustrial os municiacutepios ao sul detinham as

maiores taxas de urbanizaccedilatildeo produccedilatildeo e exportaccedilatildeo de mateacuteria prima conforme

revelam os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e o estudo

empreendido por Arrais (2016)

Paulatinamente com um percurso particular mas acompanhando o movimento

poliacutetico brasileiro o estado de Goiaacutes foi-se constituindo transformando-se segundo

as estimativas do IBGE de julho de 2016 no 12ordm estado brasileiro mais populoso No

censo de 2010 jaacute compreendia uma populaccedilatildeo declarada em 6003788 habitantes

como se pode verificar na tabela abaixo que copila o crescimento populacional de

Goiaacutes entre o primeiro e o uacuteltimo censo

Tabela 1

Populaccedilatildeo do Estado de Goiaacutes

Ano Nuacutemero de habitantes

1872 160395 1890 227572 1900 255284 1920 511919 1940 661226 1950 1010880 1960 1626376 1970 2460007 1980 3229219 1991 4012562 2000 4996439 2010 6003788

Fonte Elaborado pelo autor a partir de dados do Annuario Estatistico do Brazil (1916) e do site do IBGE

30

Um estado de meacutedio porte27 que natildeo diferente de outros eacute formado por uma

miscigenaccedilatildeo de etnias pela diversidade de culturas pelas tradiccedilotildees e festejos pelos

mitos e folclore

Goiaacutes eacute terra de Cora Coralina de Joseacute J Veiga Bernardo Eacutelis e tantos outros

escritores Eacute a terra do sertanejo do pequi da pamonha e do falar com o eacuterre (r)

puxado Eacute terra de histoacuterias da roccedila contadas agraves crianccedilas ao redor da fogueira dos

diferentes personagens que sobreviveram na tradiccedilatildeo oral e que fazem parte do

imaginaacuterio social dos goianos terra de Tereza Bicuda e do Cavaleiro da Rua das

Flores de Jaraguaacute (cidade na regiatildeo central de GO) da Serpente do Rabo amarrada

na Igreja de Santo Estevatildeo em Formosa (cidade do entorno do Distrito Federal) da

moccedila da varanda de Catalatildeo (cidade do sul de GO) que apoacutes ser impedida de casar-

se com seu amor arranca a proacutepria cabeccedila com um cutelo terra dos escravos de

Pirenoacutepolis (cidade do lestre de GO) e das lendas de suas garrafas de Maria

Grampinho que leva as crianccedilas ldquocustosasrdquo28 em sua trouxa na Cidade de Goiaacutes

(noroeste de GO) do casal indiacutegena Angatuacute e Poratilde personagens de uma lenda que

deram nome ao municiacutepio de Porangatuacute (cidade na regiatildeo norte de GO) do tuacutemulo

de Joaquim Modesto que nomeia uma rua em Itumbiara (cidade ao sul de GO) de

onde cresciam cabelos e unhas de lobisomem do Necircgo Drsquoaacutegua dos Rios do Cerrado

do monstro que come liacutenguas e que habita o Rio Araguaia terra de outras tantas

historietas que datildeo vida ao sincretismo de costumes e agrave permanecircncia de um legado

ora esquecido nas paacuteginas dos livros antigos ou perdido nas memoacuterias dos sujeitos

ora reavivado pela tradiccedilatildeo regional e pelos recontos

ldquoSantuaacuterio da Serra Dourada[] Terra Querida Fruto da vida Recanto da

Paz [] O cerrado os campos e as matas A induacutestria gado cereais Nossos jovens

tecendo o futuro Poesia maior de Goiaacutesrdquo (Trecho do hino de Goiaacutes)

ldquoGoiaz querida peacuterola mimosa Destes sertotildees soberbos do Brasil Terra que

amo que minhrsquoalma adora Ao ver-te longe tatildeo distante agora Quero-te mais ainda

Minha terra gentilrdquo (JESUacuteS 1946 p 58)

27 De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2016 o estado de Goiaacutes possui hoje 246 municiacutepios divididos em 5 mesorregiotildees (Norte Sul Centro Leste e Noroeste) 28 Expressatildeo informal muito utilizada em Goiaacutes para se referir agraves crianccedilas malcriadas indisciplinadas

31

Eacute esse estado pouco investigado cheio de misteacuterios e encantos apresentado

nessas antecedentes paacuteginas que seraacute desvelado nas proacuteximas Tomando os livros

e outros documentos como objeto de estudo nosso desejo eacute acrescentar algumas

contribuiccedilotildees para a historiografia da alfabetizaccedilatildeo no Brasil O convite pois eacute

entrarmos pelos ldquobecos de Goiaacutesrdquo para revisitar ldquopassadas erasrdquo do ldquobequinho da

escolardquo goiana29

29 Fizemos uma brincadeira com trechos da poesia ldquoBecos de Goiaacutesrdquo de Cora Coralina (1980 p 93) encontrada no livro Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais

32

INTRODUCcedilAtildeO ____________________________________

ldquoPalavras juntam-se grudam-se atropelam-se umas por cima das outras Natildeo importa quais sejam Empurram-se e

trepam uma nos ombros das outras As isoladas as solitaacuterias acasalam-se cambaleiam multiplicam-serdquo30

Letras Siacutelabas Palavras A cadecircncia e a mistura entremeada desses signos

compotildeem diferentes textos (ou discursos) e esses ao mesmo tempo constituem o

ser humano ldquoSomos feitos de textosrdquo31

Os textos nos atravessam e nos definem ldquoA palavra eacute o proacuteprio homemrdquo32

Os textos nos aprisionam e nos libertam ldquoAi palavras ai palavras que

estranha potecircncia a vossardquo33

Bakhtin (2010) explica que o texto eacute o objeto central de estudos das Ciecircncias

Humanas tornando-se ponto de partida das pesquisas Nessa perspectiva o autor

advoga que o texto soacute ganha vida comunicando-se com outros ldquocada palavra (cada

signo) do texto leva para aleacutem dos seus limitesrdquo (BAKHTIN 2010 p 400)

Apoiados em Mortatti (1999 2000) consideramos que a interpretaccedilatildeo de um

texto para uma produccedilatildeo cientiacutefica se estabelece pelas relaccedilotildees que o leitor (nesse

caso o pesquisador) faz com o contexto de produccedilatildeo (localizando o texto no seu tempo

30 Trecho de Virginia Woolf (2011 p 78) no seu livro As ondas 31 Trecho de Manuel Gusmatildeo (2011 p 165) no seu livro Uma Razatildeo Dialoacutegica Ensaios sobre literatura a sua experiecircncia do humano e a sua teoria 32 Comentaacuterio de Octavio Paz (1982) na orelha do seu livro O Arco e a Lira 33 Verso do poema ldquoRomance LIII ou das palavras aeacutereasrdquo de Ceciacutelia Meireles (1977 p 148) publicado no seu livro Romanceiro da Inconfidecircncia

33

de escrita evitando anacronismos) e de leitura (fazendo uma relaccedilatildeo com os seus

objetivos da pesquisa focalizando aquilo que lhe interessa para responder a

determinada problematizaccedilatildeo) Logo conforme a autora alude este trabalho

compreende ldquoos documentos como textosrdquo34 analisados numa dimensatildeo discursiva

Essa dimensatildeo eacute entendida aqui no sentido macroestrutural sem desconsiderar

os fatores propriamente linguiacutesticos Cada palavra tem uma funccedilatildeo sintagmaacutetica que

orienta o discurso para uma intriacutenseca compreensatildeo isto eacute embora a leitura seja uma

ato dialoacutegico e sempre aberto (GERALDI 1992) ela tambeacutem tem uma certa

estabilidade mesmo que provisoacuteria condicionada pelos modos e pelas escolhas do

autor na escrita do texto

Mortatti (1999 2000) tratou os ldquodocumentos-fontesrdquo como ldquoconfiguraccedilotildees

textuaisrdquo

Por meio da expressatildeo ldquoconfiguraccedilatildeo textualrdquo busco nomear o conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto os quais se referem agraves opccedilotildees temaacutetico-conteudiacutesticas (o quecirc) e estruturas-formais (como) projetadas por um determinado sujeito (quem) que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde) e momento histoacuterico (quando) movido por certas necessidades (por quecirc) e propoacutesitos (para quecirc) visando a dterminado efeito em determinado tipo de leitor (para quem) e logrando determinado tipo de circulaccedilatildeo utilizaccedilatildeo e repercussatildeo (MORTATTI 2000 p 31)

Por isso torna-se importante localizar qualquer produccedilatildeo textual nas suas

relaccedilotildees interdiscursivas dentro do contexto histoacuterico em que se originou resgatando

as vozes sociais que a constituiacuteram Da mesma maneira todo texto tem um autor

ainda que apagado ou silenciado e recuperaacute-lo eacute essencial para o entendimento do

que foi escrito Tal como Foucault (1992 p 45) alertou haacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito

e sua escrita o nome do autor ldquoserve para caracterizar um certo modo de ser do

discursordquo

34 Expressatildeo tomada de empreacutestimo de Bertoletti (2011 p 102) ao referenciar a proposta de leituraanaacutelise de um texto por meio da ldquoconfiguraccedilatildeo textualrdquo Essa expressatildeo foi pioneiramente teorizada e empregada por Mortatti (1999 2000)

34

ldquoCADA PALAVRA DESCORTINA UM HORIZONTE CADA FRASE ANUNCIA OUTRA ESTACcedilAtildeOrdquo35

Na tentativa de contribuir para a historiografia da educaccedilatildeo tomando como

referecircncia principalmente os diversos textos (documentos) produzidos emsobre Goias

este trabalho assume por objetivo analisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

goianas compreendendo os ideaacuterios36 sobre o ensino inicial de leitura e escrita

difundidos nas escolas em Goiaacutes do seacuteculo XIX entre 1835 a 1886

O marco inicial 1835 natildeo foi escolhido aleatoriamente trata-se do ano em que

ocorreu a promulgaccedilatildeo da primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de

junho de 1835 (GOIAacuteS 1835) institucionalizando as praacuteticas educativas de ensinar a

ler escrever somar e rezar no contexto poliacutetico de uma escola pensada em Goiaacutes e

para atender as demandas da populaccedilatildeo goiana

Jaacute o marco final em 1886 eacute quando foi publicado o uacuteltimo Regulamento sobre

a Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes ato de 2 de abril de 1886 (GOIAacuteS 1886a) levado a

efetivo cumprimento durante o Impeacuterio na proviacutencia goiana (ABREU GONCcedilALVES

NETO CARVALHO 2015) Esse ato normativo conforme apontam Abreu Gonccedilalves

Neto e Carvalho (2015) ultrapassou o periacuteodo imperial vigorando ateacute 1893 ao ser

sancionada a Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 que reformava a instruccedilatildeo puacuteblica em

Goiaacutes (1893a) e o Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893 que instituiacutea o novo

Regulamento da Instruccedilatildeo Primaacuteria do Estado de Goiaacutes (1893b)

Boschi (2007) afirma que a periodizaccedilatildeo eacute um instrumento praacutetico do

historiador que ao fazecirc-la fornece ferramentas de uma anaacutelise sobre as

permanecircncias e rupturas nas tradiccedilotildees de uma eacutepoca O autor enfatiza o caraacuteter

subjetivo e autoral da periodizaccedilatildeo explicitando que cada um a realiza a partir de seu

estilo de ler (interpretar) as fontes histoacutericas Por essa razatildeo para situarmos este

35 Trecho do texto ldquoO livro eacute passaporte eacute bilhete de partidardquo de Bartolomeu Campos de Queiroacutes (1999) publicado no livro A formaccedilatildeo do leitor pontos de vista organizado por Jason Prado e Paulo Condini (1996) 36 Neste trabalho o termo ldquoideaacuteriordquo pode ser explicado a partir da definiccedilatildeo de ldquosaberesrdquo de modo que compreendemos que ldquoum saber eacute aquilo de que podemos falar em uma praacutetica discursiva que se encontra assim especificada o domiacutenio constituiacutedo pelos diferentes objetos que iratildeo adquirir ou natildeo um status cientiacutefico () um saber eacute tambeacutem o espaccedilo em que o sujeito pode tomar posiccedilatildeo para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso () um saber eacute tambeacutem o campo de coordenaccedilatildeo e de subordinaccedilatildeo dos enunciados em que os conceitos aparecem se definem se aplicam e se transformam () finalmente um saber se define por possibilidades de utilizaccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo oferecidas pelo discursordquo (FOUCAULT 2013 p 220 grifos nossos) Dessa maneira entendemos que um ideaacuterio se origina a partir de um coletivo de discursos

35

trabalho no acircmbito do seacuteculo XIX no contexto do Impeacuterio o recorte temporal ficou

compreendido entre 1835 a 1886

ldquoISSO Eacute O QUE PERGUNTAS NAtildeO ESPERES

RESPOSTA A NAtildeO SER DE TI MESMOrdquo37

Tomando como paracircmetro esses marcos nos questionamos como a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o Impeacuterio Quais os materiais usados no

decorrer dessa histoacuteria para alfabetizar as crianccedilas goianas Quais ideaacuterios sobre o

ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de Goiaacutes

Ao propor essas problematizaccedilotildees assumimos como hipoacutetese de pesquisa que

as regulamentaccedilotildees de ensino em Goiaacutes e os livros que circularam pela proviacutencia

determinaram os modos de alfabetizar as crianccedilas goianas uma vez que a formaccedilatildeo

da proviacutencia se deu numa poliacutetica latifundiaacuteria e coronelista marcada por um sistema

de inspeccedilatildeo e cerceamento da praacutetica docente

Diante disso defendemos a tese de que a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

em Goiaacutes do seacuteculo XIX ndash mesmo sob a influecircncia da Igreja e marcada por uma

tradiccedilatildeo ruralista que determinou a formaccedilatildeo cultural e social da populaccedilatildeo ndash esteve

em diaacutelogo com as transformaccedilotildees almejadas pelos ideaacuterios de modernidade da

educaccedilatildeo nacional oitocentista especialmente com os que circulavam no Rio de

Janeiro

Eacute necessaacuterio mencionar de antematildeo trecircs notas explicativas que auxiliam a

clarificar e justificar a formulaccedilatildeo da tese tal como foi apresentada Outrossim

esclarecemos que elas seratildeo melhor discutidas no decorrer do trabalho A primeira

refere-se ao uso da terminologia alfabetizaccedilatildeo no periacuteodo que a pesquisa compreende

A segunda agrave histoacuteria da constituiccedilatildeo e organizaccedilatildeo da sociedade goiana E

resumidamente a terceira nota dedica-se aos aspectos da tradiccedilatildeo da historiografia

educacional sobre Goiaacutes no oitocentos que evidencia seu atraso em relaccedilatildeo a outras

localidades do Brasil

Com relaccedilatildeo ao primeiro ponto acerca do uso do termo alfabetizaccedilatildeo para

denominar o processo de ensino e aprendizagem iniciais de leitura e escrita no seacuteculo

37 Versos do poema ldquoAos Vacilantesrdquo de Bertold Brecht (1976 p 678) no seu livro Gesammelte Gedicht Neste trabalho utilizamos a traduccedilatildeo para o portuguecircs de Leandro Konder (1996)

36

XIX alguns esclarecimentos satildeo fundamentais A opccedilatildeo por esse vocaacutebulo a princiacutepio

denotaria um anacronismo jaacute que essa terminologia ao que tudo indica soacute se tornou

usual no Brasil na Primeira Repuacuteblica nos primeiros anos do seacuteculo XX (MORTATTI

2004) ldquoNo decorrer de todo o seacuteculo XIX e nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX o

termo mais comum para designar o ensino das primeiras letras como tambeacutem todo o

processo de escolarizaccedilatildeo era instruccedilatildeordquo (MACIEL 2003 p 243) Trindade (2001)

elucida que no seacuteculo XIX natildeo era comum a associaccedilatildeo da leitura e da escrita para

nomear um mesmo meacutetodo Falava-se notadamente no contexto escolar e na

imprensa pedagoacutegica em meacutetodos de leitura ou de iniciaccedilatildeo agrave leitura

Portanto em consonacircncia com o proacuteprio recorte temporal desta pesquisa (1835-

1886) seria mais usual nominar o processo de ensino de ler e escrever como primeiras

letras e instruccedilatildeo primaacuteria expressotildees essas empregadas nas legislaccedilotildees goianas e

nos discursos produzidos em Goiaacutes no periacuteodo imperial38 Entretanto refletindo sobre

os textos da coletacircnea Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola

organizada por Schwartz Peres e Frade (2010) e as consideraccedilotildees feitas por Mortatti

(2011a) utilizamos a palavra alfabetizaccedilatildeo por ela ser habitual nos estudos brasileiros

que compreendem o ensino e tambeacutem a aprendizagem de leitura e escrita

independente do momento histoacuterico Ao nos debruccedilarmos nas pesquisas sobre a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil e em Portugal39 observamos que recorrer agrave palavra

ldquoalfabetizaccedilatildeordquo tradicionalmente ficou para se referir natildeo a um tempo especiacutefico

delimitado pela etimologia desse termo e sim para aludir aos ldquocontextosrdquo ldquopraacuteticasrdquo

ldquooportunidadesrdquo e ldquoformas de apropriaccedilatildeo e de uso da cultura escritardquo (MAGALHAtildeES

1996 p 444)

A segunda nota explicativa acerca da tese reporta-se aos sentidos histoacutericos da

formaccedilatildeo social e cultural do povo goiano Campos (1987 p 37) assevera que em

Goiaacutes ainda nos anos de 1920 havia uma grande maioria da populaccedilatildeo ldquohabitando

no campo e com uma pequena parcela residindo em pequenas cidades ou em vilasrdquo

Dessa maneira o meio urbano no periacuteodo em questatildeo conforme Campos (1987)

aponta era praticamente nulo Entre 1940 e 1970 segundo Paacutedua (2008) houve um

aumento significativo da produccedilatildeo agriacutecola no Estado levando ao crescimento de

38 Evidenciaremos essa questatildeo melhor no decorrer da tese especialmente na Parte II 39 Principalmente as produccedilotildees de Magalhatildees (1996 2001 2002 2005) Candeias (1996 2004 2008) Candeias e Simotildees (1999)

37

moradores no campo Esses nuacutemeros soacute iratildeo reduzir-se a partir da deacutecada de 1980

(CASARI RIBEIRO DAMASCENO 2014)

Tais dados que remontam ao periacuteodo republicano satildeo para demonstrar a

longevidade do ruralismo40 em Goiaacutes que se constituiu marcado como um territoacuterio

de uma populaccedilatildeo maiormente rural A gecircnese desse quadro deve-se segundo

Palaciacuten (1994) agrave decadecircncia do ouro no iniacutecio do seacuteculo XIX quando ocorreu uma

ldquoruralizaccedilatildeo da vidardquo formando uma nova configuraccedilatildeo da sociedade ldquoDe uma

populaccedilatildeo radicada quase exclusivamente em centros urbanos ndash por pequenas que

estas povoaccedilotildees fossem ndash passa-se a uma dispersatildeo atomizada da populaccedilatildeo dos

camposrdquo O autor acrescenta que ldquoa ruralizaccedilatildeo natildeo raro era acompanhada de uma

regressatildeo cultural que em muitos casos se traduzia numa verdadeira indianizaccedilatildeo de

grupos isoladosrdquo (PALACIacuteN 1994 p 150) ldquoDo Goiaacutes Colocircnia a ruralizaccedilatildeo

passaria como heranccedila ao Goiaacutes Impeacuteriordquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 24)

Essa dinacircmica populacional no decurso da histoacuteria de Goiaacutes refletindo numa

sociedade majoritariamente rural particulariza esse territoacuterio sua cultura e seus

costumes Essa realidade tornou-se desde o seacuteculo XVIII terreno feacutertil para a Igreja

Catoacutelica implantar suas ideias e influenciar com elas e a partir delas a formaccedilatildeo do

povo instalando as primeiras escolas e definindo os modos de viver se comportar e

ser um cidadatildeo goiano Consideramos que a presenccedila da Igreja na historiografia de

Goiaacutes eacute uma questatildeo decisiva para compreender tanto a fundaccedilatildeo de uma cidade e os

grupos que detinham o poder quanto a ldquocultura escolarrdquo41

Os viajantes e cronistas que passaram por Goiaacutes retrataram o estado da regiatildeo

no Seacuteculo XIX demonstrando aspectos de sua decadecircncia e de seu abandono

Sandes e Arrais (2013) fazem uma siacutentese desses escritos acoplando tambeacutem os

registros constantes nos relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia

Saint Hilaire (1819) fala em ldquogrande decadecircnciardquo e ldquoprofunda apatia em que estatildeo imersosrdquo os habitantes de Goiaacutes Rodrigues Jardim (1835) julga as estradas da proviacutencia como ldquosofriacuteveisrdquo assim como descreveu Camargo Fleury (1837) ldquoem peacutessimo estadordquo Pohl (1817) refere-se aos ldquocaminhos esburacadosrdquo e Castelnau (1843) ao ldquomau

40 Empregamos o termo ruralismo natildeo apenas para descrever a questatildeo do predomiacutenio da populaccedilatildeo no meio rural mas para associar agrave ideia de que haacute a partir dessa caracteriacutestica um desdobramento que pode ser compreendido como ldquoum movimentoideologia poliacuteticos produzido por agentes sociais concretos econocircmica e socialmente situados numa dada estrutura de classes e portadores de interesses nem sempre divergentesrdquo (MENDONCcedilA 1997 p 26) 41 Neste trabalho tomamos esse termo de empreacutestimo no sentido atribuiacutedo por Faria Filho (2003) Sobre isso cf Faria Filho Gonccedilalves Vidal e Paulilo (2004)

38

estado dos caminhosrdquo Foi tambeacutem Rodrigues Jardim quem caracterizou a dinacircmica social regional ldquoo ocio e a falta de poliacutetica em hum Paiz onde se pode viver sem trabaliar tem tambeacutem concorrido para a diminuiccedilatildeo da abundacircncia que nelle se disfructavardquo no que eacute acompanhado por Pohl ldquoenquanto tem uns vinteacutens no bolso natildeo mexem com as matildeosrdquo DacuteAlincourt (1818) descreve os habitantes de Goiaacutes como ldquodominados pela preguiccedila e demasiadamente entregues aos prazeres sexuais e bem diferentes satildeo as causas que os tecircm conduzido a tatildeo deploraacutevel estadordquo e para Taunay (1876) ldquoa populaccedilatildeo () vive vida lacircnguida e desanimadardquo Mesmo os escritos de Couto Magalhatildees (1863) que procuram fugir agraves lamentaccedilotildees e aos pedidos de auxiacutelio comuns agrave maioria dos relatoacuterios provinciais natildeo deixam de atestar o contraste entre o potencial econocircmico natildeo explorado e a degeneraccedilatildeo moral dos habitantes de Goiaacutes ldquoaqui a vida se escoa gemendo constantementerdquo sentencia o jovem presidente da proviacutencia (SANDES ARRAIS 2013 p 852-853)

Por esse panorama conjecturamos que a histoacuteria da educaccedilatildeo em e sobre

Goiaacutes se fundou com um discurso que demonstra em relaccedilatildeo a outras localidades do

paiacutes o recorrente atraso da sociedade goiana no oitocentos Observamos que

geralmente as pesquisas no campo da histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes recorrem ao

livro Histoacuteria da Instruccedilatildeo Puacuteblica em Goiaacutes de Bretas (1991) como um Manual para

compreensatildeo do percurso histoacuterico da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes desde o periacuteodo

colonial agrave primeira repuacuteblica Outro claacutessico recorrentemente citado eacute o livro de Palaciacuten

e Moraes (1994) Histoacuteria de Goiaacutes (1722-1972) Os autores apresentam uma narrativa

que associa a modernidade em Goiaacutes ao processo de urbanizaccedilatildeo Como o livro copila

mais de dois seacuteculos de histoacuteria ao tratar da educaccedilatildeo no periacuteodo oitocentista declara

sua inexistecircncia devido ao baixo nuacutemero de professores A impressatildeo que fica da obra

eacute da formaccedilatildeo histoacuterica de um povo goiano como um sempre-colono afastando Goiaacutes

dos ideaacuterios que circulavam no cenaacuterio nacional um ldquoterritoacuterio de analfabetos e

iletradosrdquo42 dentro de uma naccedilatildeo em desenvolvimento

Dessa maneira notamos que se conserva um discurso que quase sempre

reproduz o ldquoestado de periferiardquo de Goiaacutes em relaccedilatildeo ao paiacutes colocando-o como

ldquoalijado do centro do poder e por conseguinte gozando de uma autonomia forccedilada

quase que absolutardquo (CAMPOS 1987 p 16)

Por isso como terceira nota explicativa em relaccedilatildeo agrave tese formulada

acrescentariacuteamos que sem descartar ou menosprezar os creacuteditos das eminentes

pesquisas de Bretas (1991) e Palaciacuten e Moraes (1994) ndash inclusive as referenciando

42 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Haswani (2013 p 31)

39

para compreendermos o contexto poliacutetico e educacional da proviacutencia ndash este trabalho

vai na contramareacute dos discursos que vecircm sendo mantidos sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

goiana no seacuteculo XIX Evidenciamos que no campo da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes houve

diferentes tentativas do governo provincial de alinhar a proposta da instruccedilatildeo primaacuteria

goiana com os ideaacuterios de modernidade educacional que circulavam pelo contexto

nacional em especial no Municiacutepio da Corte43 no Rio de Janeiro

ldquoELA PERMANECERAacute ALI COSTURANDO SUA IMENSA COLCHA COM SEUS DIFERENTES

RETALHOS COLORIDOS SENTADA NA VELHA E EMPOEIRADA POLTRONA DA HISTOacuteRIArdquo44

A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes pode ser compreendida a partir da

ldquometaacutefora da colcha de retalhosrdquo Cada pedaccedilo de tecido costurado a outro pedaccedilo

forma um todo multiforme ao mesmo tempo simeacutetrico Os tecidos se cruzam um no

outro numa fusatildeo em que muitas vezes natildeo se percebe o iniacutecio ou fim do retalho o

que aparentemente estaacute isolado simultaneamente estaacute alinhavado pelos fios da

histoacuteria Logo compreendemos a histoacuteria como processo natildeo linear dialoacutegica e por

isso mesmo polifocircnica pensada a partir das contribuiccedilotildees de Certeau (2002) e Bloch

(2001) Consideramos dessa maneira que a ldquomateacuteria fundamental da histoacuteria eacute o

tempordquo (LE GOFF 1996 p 14)

Delgado (2010 p 33) afirma que o tempo eacute um movimento de muacuteltiplas faces

caracteriacutesticas e ritmos que ldquoinserido agrave vida humana implica duraccedilotildees rupturas

convenccedilotildees representaccedilotildees coletivas simultaneidades continuidades

descontinuidades e sensaccedilotildees (a demora a lentidatildeo a rapidez)rdquo

O olhar do historiador sobre o tempo traz consigo as nuances de suas

concepccedilotildees teoacutericas e de suas experiecircncias definidoras dos diversos modos de

43 Nesse trabalho a denominaccedilatildeo Municiacutepio da Corte eacute correspondente agrave Municiacutepio Neutro Trata-se de uma unidade administrativa instalada por meio do Ato Adicional de 1834 Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 (BRASIL 1834) o qual criou na proviacutencia do Rio de Janeiro a sede da Corte ou seja do governo imperial No regime republicano essa localidade ficou conhecida de Distrito Federal Hoje cidade do Rio de Janeiro 44 Trecho de uma narrativa oral ouvida e registrada em frente ao Museu de Arte de Satildeo Paulo (MASP) em junho de 2017 O autor um senhor que se nomeava como sendo o Zeacute do Poema Competindo com o alto som de muacutesicos e das vozes que passavam pela Avenida Paulista Zeacute do Poema declamava sua vida e suas histoacuterias rodeado por um pequeno grupo que o ouvia Ao final de cada uma de suas narrativas ele tirava a mochila das costas e dizia ldquoOacute meus amigos ouvintes ajudem esse velho escritor a sustentar suas palavras e seu corpo com uma moedardquo A cena ao mesmo tempo tiacutepica e singular permanece intacta em minha memoacuteria

40

analisar um episoacutedio Na teoria histoacuterica por exemplo a noccedilatildeo de tempo estrutural do

Movimento dos Annales colidiu com a visatildeo de tempo vivido do historicismo e

positivismo Essas noccedilotildees pareciam inconciliaacuteveis poreacutem Ricoeur (1994) as integrou

ponderando que a histoacuteria eacute simultaneamente loacutegica e temporal

Entendemos que a especificidade da ciecircncia histoacuterica estaacute em estudar eventos

de um determinado tempo localizados num espaccedilo a partir de discursos guardados

nos arquivos lembranccedilas livros aacutelbuns fotografias dentre tantos outros ldquolugares de

memoacuteriardquo (NORA 1993)

Natildeo obstante a aproximaccedilatildeo entre tempo espaccedilo e memoacuteria eacute uma ldquoarenardquo

de luta45 no campo da histoacuteria (DASSUNCcedilAtildeO BARROS 2006) Logo consideramos

que ao escrevermos sobre o passado por meio dos diferentes discursos os fatos o

tempo e os espaccedilos satildeo reconstruccedilotildees agrave mercecirc das recordaccedilotildees e das possibilidades

de acesso aos documentos A partir desses (des)encontros a histoacuteria amplia suas

versotildees

Com base nessas consideraccedilotildees a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes foi

pensada nesse trabalho em torno dos materiais e meacutetodos utilizados para ensinar as

crianccedilas a ler e escrever46

No que concerne aos materiais damos maior visibilidade aos impressos em

especial agraves cartilhas ou os livros voltados para o ensino de leitura sem negligenciar

outros objetos culturais que contribuiacuteram para a instalaccedilatildeo de modos distintos para

alfabetizar no contexto escolar A escolha pelos livros deu-se por serem eles segundo

Voloacutechinov (2017) elementos de uma interaccedilatildeo discursiva de um diaacutelogo que natildeo

estaacute restrito ao caraacuteter face a face Os livros tal como acrescenta Larrosa (2009) satildeo

maacutequinas do tempo capazes fornecer pistas sobre espaccedilos praacuteticas e sujeitos Nesse

sentido

Um livro ou seja um discurso verbal impresso tambeacutem eacute um elemento da comunicaccedilatildeo discursiva Esse discurso eacute debatido em um diaacutelogo direto e vivo e aleacutem disso eacute orientado para uma percepccedilatildeo ativa uma anaacutelise minuciosa e uma reacuteplica interior bem como uma reaccedilatildeo

45 ldquoArenardquo em alusatildeo ao princiacutepio da enunciaccedilatildeo de Voloacutechinov Mesmo considerando e tendo acesso agrave atual traduccedilatildeo de Marxismo e filosofia da linguagem (VOLOacuteCHINOV 2017) feita por Sheila Grillo e Ekaterina Voacutelkova Ameacuterico que substituiu o termo ldquoarenardquo por ldquopalcordquo conservamos para este trabalho a traduccedilatildeo anterior pois acreditamos ser mais propiacutecia para o efeito de sentido que gostariacuteamos de inserir na afirmativa Doravante ao utilizarmos a expressatildeo ldquoarenardquo ou ldquoarena de lutardquo seraacute a partir dos princiacutepios volochinovianosbakhtinianos 46 Vale referenciar que tal questatildeo natildeo se difere das pesquisas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo produzidas no Brasil (MORTATTI 2000 2019 2011 SCHWARTZ PERES FRADE 2010 etc)

41

organizada tambeacutem impressa sob formas diversas elaboradas em dada esfera da comunicaccedilatildeo discursiva (resenhas trabalhos criacuteticos textos que exercem influecircncia determinante sobre trabalhos posteriores etc) Aleacutem disso esse discurso verbal eacute inevitavelmente orientado para discursos anteriores tanto do proacuteprio autor quanto de outros realizados na mesma esfera e esse discurso verbal parte de determinada situaccedilatildeo de um problema cientiacutefico ou de um estilo literaacuterio Desse modo o discurso verbal impresso participa de uma espeacutecie de discussatildeo ideoloacutegica em grande escala responde refuta ou confirma algo antecipa as respostas e criacuteticas possiacuteveis busca apoio e assim por diante (VOLOacuteCHINOV 2017 p 219)

Jaacute com relaccedilatildeo agrave interpretaccedilatildeo sobre os meacutetodos para alfabetizar as crianccedilas

goianas no oitocentos consideramos aleacutem dos livros que circularam na proviacutencia

diferentes documentos oficiais expedidos em e sobre Goiaacutes a imprensa e

correspondecircncias entre professores e os oacutergatildeos de Inspeccedilatildeo da Instruccedilatildeo Puacuteblica

ldquoCHEGAREI ASSIM AO CAMPO E AOS VASTOS PALAacuteCIOS DA MEMOacuteRIArdquo47

Desse modo para feitura do trabalho alguns arquivos (materiais e digitais)

foram consultados com o objetivo de inventariar as fontes da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

em Goiaacutes Esses diferentes ldquolugares de memoacuteriasrdquo (NORA 1993) constituiacuteram nosso

objeto de estudo ao mesmo tempo possibilitando a leitura e a escrita que fizemos

acerca da temaacutetica da tese Nesse ponto tomando como referecircncia a teoria

enunciativa de Bakhtin (2010) e seus colaboradores em especial Voloacutechinov (2017)

e da Anaacutelise do Discurso sobretudo ancorada em Orlandi (1995) entendemos que

dada a polifonia dos discursos e a instabilidade da linguagem pela sua proacutepria

essecircncia hiacutebrida um texto (aqui todos os documentos consultados lidos e

analisados) mesmo pelos indiacutecios apresentados na sua materialidade natildeo possui

especificamente uma uacutenica interpretaccedilatildeo Qualquer texto de acordo com seu contexto

de uso e com o confronto que dele se faz com outros textos tem sentidos muacuteltiplos

(MORTATTI 1999) Por essa razatildeo as leituras de um documento provocam

diferentes formas de se pensar sobre um determinado fato jaacute que ldquoum texto eacute uma

peccedila de linguagem de um processo discursivo muito mais abrangenterdquo (ORLANDI

1995 p 117) Orlandi (1995) tambeacutem acrescenta que a proacutepria bagagem cultural e os

47 Trecho extraiacutedo da obra Confissotildees de Santo Agostinho (2010 p 274)

42

objetivos de um analista determinam fortemente as unidades de anaacutelise de um texto

por isso o sentido de algo eacute socialmente construiacutedo

No que tange agrave experiecircncia de investigaccedilatildeo dos documentos sobre a histoacuteria

da educaccedilatildeo goiana compartilhando da opiniatildeo de outros pesquisadores quanto agrave

dificuldade de acesso a essas fontes em Goiaacutes em todas as etapas desta pesquisa

enfrentamos variados empecilhos

O principal deles eacute a dispersatildeo dos documentos e as lacunas evidenciadas

durante o percurso Os documentos oficiais do estado estatildeo depositados no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes (AHEG) localizado em Goiacircnia Nesse local haacute muitas

fontes do seacuteculo XVIII e XIX48 estando organizadas em seccedilotildees e por ano (essa

organizaccedilatildeo seraacute melhor detalhada adiante) Dessa maneira o primeiro grande

desafio foi olhar caixa por caixa livro a livro ano a ano catalogando aquilo que era

imprescindiacutevel para o tema Ao mesmo tempo essa oportunidade de contato

prolongado com as fontes no Arquivo fez com que descobriacutessemos documentos

importantes que dariam outras tantas pesquisas como esta de doutorado Como

Valdez e Barra (2012) apontaram sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo goiana haacute ldquoum silecircncio

que paira em Goiaacutes a respeito das produccedilotildees na aacutereardquo (VALDEZ BARRA 2012 p

109) Nessa perspectiva muito ainda precisa ser desvelado e escrito sobre a

educaccedilatildeo no estado

Outra dificuldade refere-se agrave legislaccedilatildeo goiana Nem todas as leis expedidas

pelos Presidentes de Goiaacutes estatildeo disponibilizadas online nos repositoacuterios digitais do

Site da Secretaria de Estado da Casa Civil49 ou da Assembleia Legislativa de Goiaacutes50

As leis nesses sites estatildeo organizadas de acordo com o ano de sua sanccedilatildeo

apresentando diversas lacunas seja na ausecircncia de alguns anos que simplesmente

natildeo apresentam nenhuma lei seja na omissatildeo de algumas leis que foram aprovadas

mas natildeo estatildeo digitalizadas nos sites Isso nos obrigou a fazer uma minuciosa busca

nos Diaacuterios Oficiais do Estado nos Relatoacuterios de Presidentes de Proviacutencia e tambeacutem

nos livros com correspondecircncias oficiais da presidecircncia garimpando as legislaccedilotildees

do periacuteodo compreendido nesta tese

48 No Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes as fontes datadas do seacuteculo XX em sua grande maioria vatildeo ateacute o fim da Era Vargas 1945 A partir da deacutecada de 50 os documentos satildeo esparsos 49 Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrgt Acesso em 17 de junho de 2018 50 Disponiacutevel em lthttpsportalalgolegbrgt Acesso em 17 de junho de 2018

43

Sobre essa pesquisa nos Diaacuterios Oficiais do Estado outro detalhe tambeacutem

dificultou o acesso Na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do

Brasil encontramos digitalizados apenas os Diaacuterios Oficiais de Goiaacutes51 de 1837 a

1839 1852 1853 1866 a 188552 Por esse motivo a consulta agrave legislaccedilatildeo em grande

parte se deu no contato direto com os Diaacuterios Oficiais impressos conservados no

AHEG

As dificuldades poreacutem soacute impulsionaram o desejo por esta pesquisa

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade e Cora Coralina diriacuteamos que se

houve ldquopedras no meio do caminhordquo53 ldquoajuntei todas e levantei a pedra ruderdquo54 deste

estudo Adiante com a finalidade de tambeacutem facilitar a pesquisa de muitos

pesquisadores vindouros relacionamos os arquivos e as fontes neles consultadas

O Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes foi de fato o local onde encontramos

grande parte dos documentos analisados que se localizavam nas seccedilotildees de

1) Documentaccedilatildeo Avulsa organizada em caixas essa seccedilatildeo eacute composta por

documentos que podem ser lidos independentes uns dos outros jaacute que natildeo

tecircm relaccedilatildeo clara entre si Estatildeo dispostos por ano geralmente separados

pelo oacutergatildeo do governo a que se referem Nessa seccedilatildeo de Documentos

Avulsos encontramos grande parte das listas de expediente escolar dos

mapas de turmas correspondecircncias expedidas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

provas da Escola Normal etc

2) Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa satildeo livros ou

documentos encadernados ou costurados nas laterais organizados pela

coerecircncia que mantecircm com as informaccedilotildees constantes na fonte Nessa

seccedilatildeo encontramos diferentes livros com relatoacuterios de Inspetores

Escolares livros de registro de ofiacutecios expedidos pelas Secretarias de

Instruccedilatildeo Puacuteblica etc

51 O primeiro tiacutetulo do Diaacuterio Oficial de Goiaacutes eacute Correio Official de Goyaz que tem a sua primeira publicaccedilatildeo no dia 3 de junho de 1837 Para maiores informaccedilotildees acerca da histoacuteria da imprensa goiana cf Borges e Lima (2008) 52 Acrescenta-se que na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do Brasil no periacuteodo de escrita desta tese havia tambeacutem digitalizados os Diaacuterios Oficiais de Goiaacutes de 1887 1911 a 1913 1915 a 1921 No site do Diaacuterio Oficial do Estado de Goiaacutes as publicaccedilotildees digitalizadas satildeo de 2007 em diante 53 Verso do poema ldquoNo meio do caminhordquo de Carlos Drummond de Andrade (ANDRADE 1978) 54 Versos do poema ldquoDas pedrasrdquo de Cora Coralina (CORALINA 2013)

44

3) Caixas dos Municiacutepios Goianos no AHEG haacute caixas com documentos

especiacuteficos referentes aos municiacutepios de Goiaacutes Como eacute um acervo muito

grande consultamos para este trabalho apenas as Caixas dos municiacutepios

de Cidade de Goiaacutes (antiga capital de Goiaacutes) Pirenoacutepolis (um dos

municiacutepios mais antigos do estado) e Itumbiara (municiacutepio na fronteira com

Minas Gerais)

4) Caixas de Atos Decretos Regimentos Regulamentos Leis Mensagens

Constituiccedilotildees e Relatoacuterios satildeo caixas que conteacutem algumas leis aleacutem de

Relatoacuterios e Mensagens de Presidentes de Goiaacutes Nessa seccedilatildeo

conseguimos parte dos Regulamentos de Ensino de Goiaacutes jaacute que nela natildeo

haacute organicidade nem mesmo sequencialidade entre os documentos ali

guardados

5) Jornais nessa seccedilatildeo consultamos especificamente o Correio Oficial de

Goiaacutes impresso mantido pelo governo onde se publicavam as leis

aprovadas no Brasil e em Goiaacutes aleacutem de textos sobre temas diversos

Fora do estado de Goiaacutes identificamos algumas cartilhas e livros de leitura

utilizados nas escolas goianas mencionados nas fontes inventariadas em acervos de

outros estados Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Biblioteca do Arquivo Puacuteblico

do Estado de Satildeo Paulo

No que tange agraves fontes encontradas em meio digital os repositoacuterios

consultados foram

1) Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do Brasil55 na

qual coletamos sobretudo jornais e parte dos Relatoacuterios de Presidentes de

Goiaacutes

2) Center For Research Libraries56 vinculado agrave Universidade de Chicago

Como na Hemeroteca natildeo encontramos todos os Relatoacuterios de Presidentes

desde a instalaccedilatildeo das Assembleias Legislativas na proviacutencia goiana esse

acervo digital tambeacutem foi consultado Nele pesquisamos particularmente

55 Na Hemeroteca Digital Brasileira vinculada agrave Biblioteca Nacional Digital do Brasil encontramos o acervo digitalizado da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro A partir de buscas com palavras-chaves eacute possiacutevel consultar perioacutedicos de todo o paiacutes As consultas satildeo organizadas por local perioacutedico ou periacuteodo O link de acesso agrave paacutegina da Hemeroteca eacute lthttpbndigitalbngovbrhemeroteca-digitalgt Acesso em 17 de junho de 2018 56 Disponiacutevel em lthttpwwwcrledugt Acesso em 17 de junho de 2018

45

os Relatoacuterios de Goiaacutes embora haja Relatoacuterios de vaacuterios estados

brasileiros

3) Biblioteca Nacional de Portugal57

4) Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin da Universidade de Satildeo Paulo58

5) Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados do Brasil59

6) Biblioteca Puacuteblica Arthur Viana do Governo do Estado do Paraacute60

7) Biblioteca Digital do Senado Federal do Brasil61

8) Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina62

Dos repositoacuterios 3 a 8 numerados acima identificamos coacutepias digitalizadas de

livros que circularam na proviacutencia de Goiaacutes

Aleacutem desses repositoacuterios digitais tambeacutem utilizamos um DVD com documentos

digitalizados sobre Goiaacutes intitulado de Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 1) sob a organizaccedilatildeo da professora Valdeniza Maria de

Lopes da Barra da Universidade Federal de Goiaacutes63 O DVD foi vinculado agrave Rede de

Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes reuacutene cerca de 3200 paacuteginas de

documentos organizados em quatro seacuteries oriundas de diferentes arquivos de Goiaacutes

contemplando legislaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) imprensa com foco em temas da

educaccedilatildeo gabinete literaacuterio goiano expediente escolar Desse DVD utilizamos as

listas de expediente escolar os mapas de turmas a legislaccedilatildeo educacional goiana

Destacamos tambeacutem o acesso que tivemos a livros de leitura e cartilhas que

circularam pelo Brasil no periacuteodo imperial64 graccedilas agrave cessatildeo de trecircs pesquisadoras da

aacuterea da histoacuteria da leitura do livro e da alfabetizaccedilatildeo no Brasil professora Diane

Valdez da Universidade Federal de Goiaacutes professora Francisca Izabel Pereira

Maciel da Universidade Federal de Minas Gerais e professora Giselle Baptista

Teixeira da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias

57 Disponiacutevel em lthttpwwwbnportugalgovptgt Acesso em 22 de junho de 2019 58 Disponiacutevel em lthttpswwwbbmuspbrnodepage=5gt Acesso em 22 de junho de 2019 59 Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdgt Acesso em 22 de junho de 2019 60 Disponiacutevel em lthttpwwwfcppagovbrespacos-culturaissedebiblioteca-arthur-viannagt Acesso em 22 de junho de 2019 61 Disponiacutevel em lthttpswww2senadolegbrbdsfpagesobregt Acesso em 22 de junho de 2019 62 Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrgt Acesso em 22 de junho de 2019 63 Agradecemos agrave Diane Valdez professora da Universidade Federal de Goiaacutes que nos disponibilizou esse DVD 64 Especificaremos os livros cedidos oportunamente no decorrer do trabalho

46

Ao final deste trabalho listamos todas as referecircncias completas das fontes

mencionadas identificando a localizaccedilatildeo de cada uma Acreditamos que tal cuidado

atesta em alguns aspectos a veracidade das fontes ao mesmo tempo em que

facilitaraacute o trabalho dos pesquisadores que desejarem investigar a histoacuteria da

educaccedilatildeo em Goiaacutes

A consulta a todas essas fontes permitiu ao longo do trabalho levantar outras

problematizaccedilotildees novos objetos aguccedilando desdobramentos e continuidades desta

pesquisa aprofundando-a para aleacutem destas paacuteginas Concomitantemente essa

anaacutelise tambeacutem colaborou para delimitarmos e ampliarmos os argumentos que

sustentam nossa tese

Esses satildeo os principais ldquolocais de memoacuteriasrdquo65 em que pesquisamos outros

seratildeo durante o texto destacados com a especificaccedilatildeo das fontes laacute catalogadas Eacute

importante frisar que conservamos a grafia dos documentos consultados e citados

ldquoUM TAL DE CORTAR MEXER REESCREVER AMPUTAR

TRANSFORMAR A MATEacuteRIA-PRIMA EM PRODUTO FINAL A MOacute DE

QUE OS VACILOS A SANGRIA DESATADA NAtildeO TRANSPARECcedilAM

NINGUEacuteM TEM NADA A VER COM ESSAS PLAacuteSTICAS EM SEacuteRIE

O LEITOR QUER UM ROSTINHO BONITO NADA MAISrdquo66

Em vista do exposto organizamos este trabalho em duas partes com cinco

seccedilotildees dispostas da seguinte forma

A primeira parte ldquolsquoPasseando pelos arredoresrsquo do campo da alfabetizaccedilatildeo os

discursos produzidos sobre o objeto de pesquisardquo67 contempla a seccedilatildeo um ldquoGoiaacutes

na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasilrdquo em que compomos o estado da arte sobre as

pesquisas no campo da alfabetizaccedilatildeo no Brasil localizando as que tratam de seus

aspectos histoacutericos A tentativa tambeacutem foi de localizar o estado de Goiaacutes nessas

produccedilotildees

Jaacute a segunda parte da tese ldquoAlfabetizando crianccedilas na proviacutencia de Goiaacutesrdquo

conteacutem as seccedilotildees de dois a cinco

65 Expressatildeo de Nora (1993) 66 Verso do poema ldquoPoema eacute uma carnificinardquo de Chacal (2016) publicado na sua obra Tudo (e mais um pouco) 67 O tiacutetulo dessa parte da tese toma emprestada a expressatildeo ldquoPasseando pelos arredoresrdquo do livro de leitura Goiaz coraccedilatildeo do Brasil de Monteiro (1934)

47

Na seccedilatildeo dois analisamos como se organizou a instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes

no periacuteodo imperial apoacutes o Ato Adicional de 1834 (BRASIL 1834) pelo qual as

Assembleias Provinciais ficaram responsaacuteveis por legislar sobre a instruccedilatildeo nas

proviacutencias do paiacutes A partir de um panorama educacional e social de Goiaacutes em diaacutelogo

com as poliacuteticas nacionais do Impeacuterio esse capiacutetulo evidenciou as principais bases

de um projeto de sociedade goiana que se arquitetava sob influecircncia da Igreja e ao

mesmo tempo se abria agraves propostas de modernidade do seacuteculo XIX

Inventariar os meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas goianas no

oitocentos foi o objetivo da seccedilatildeo trecircs A partir dos documentos do Arquivo Histoacuterio

Estadual de Goiaacutes caracterizamos os tipos de impressos que circularam pelas

escolas da proviacutencia apreendendo seus ideaacuterios tanto para ensinar ler e escrever

quanto para o ensino da leitura corrente68

As seccedilotildees quatro e cinco tratam de iniciativas do governo goiano para

instaurar mudanccedilas na instruccedilatildeo primaacuteria especialmente para ensinar a ler e escrever

em menos tempo e de maneira agradaacutevel a partir de livros estrangeiros e brasileiros

Na seccedilatildeo quatro o destaque eacute para os livros estrangeiros tomando como referecircncia

as principais impressotildees e repercussotildees da viagem de Feliciano Primo Jardim na

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Primo Jardim foi um professor goiano enviado pelo

Presidente da Proviacutencia ao Rio de Janeiro para fazer um curso sobre o meacutetodo

Castilho Por fim na seccedilatildeo cinco apresentamos a produccedilatildeo didaacutetica brasileira que

circulou em Goiaacutes no periacuteodo imperial investigando sobre os impressos escritos por

educadores brasileiros que influenciaram a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas

ldquoSOB A PELE DAS PALAVRAS HAacute CIFRAS E COacuteDIGOSrdquo69

Antes de terminar uma ressalva linguiacutestica

Maiormente neste trabalho usamos a primeira pessoa do plural Parecia-nos

incoerente adotar algo ao contraacuterio jaacute que nossas anaacutelises se ancoram na teoria

discursiva de Bakhtin e de pensadores do seu ciacuterculo Para Bakhtin ldquoeu natildeo posso

me arranjar sem um outro eu natildeo posso me tornar eu mesmo sem um outro eu tenho

de me encontrar num outro para encontrar um outro em mimrdquo (BAKHTIN 2013 p

68 Especificaremos na seccedilatildeo 3 a distinccedilatildeo entre essas categorizaccedilotildees dos impressos 69 Versos do poema ldquoA Flor e a Naacuteuseardquo de Carlos Drummond de Andrade (1978) publicado no livro Antologia Poeacutetica

48

287) Portanto os tempos obscuros de individualismo cientiacutefico e intoleracircncia agrave

diversidade que assolam a Universidade e o mundo fazem mais que urgente a defesa

pelo rompimento de certos padrotildees que a pesquisa e a liacutengua nos impotildeem como por

exemplo o uso impessoal da 3ordm pessoa do singular

Por isso esta tese eacute um diaacutelogo entre a minha voz (de autor) e as diferentes

vozes impressas nos livros e nos documentos bem como com as vozes dos possiacuteveis

leitores Agrave vista disso falamos acreditamos pensamos analisamos descrevemos

fazemos sentimos definimos tratamos demarcamos e tantos outros verbos com

terminaccedilatildeo idecircntica ou de mesma natureza morfossintaacutetica que estabeleceram os

modos de escrever a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

VAMOS PASSEAR

O primeiro livro de leitura escrito em Goiaacutes e dirigido agraves crianccedilas com intuito de

ensinar a histoacuteria do estado foi Goiaz coraccedilatildeo do Brasil publicado em 1934 por Ofeacutelia

Soacutecrates do Nascimento Monteiro professora goiana (MONTEIRO 1934)70 A obra

conteacutem duas partes a primeira com setenta e quatro capiacutetulos e a segunda com vinte

e oito em que a autora trata de questotildees como ldquohigienizaccedilatildeo romantizaccedilatildeo da

infacircncia grupos escolares gecircnero ensino primaacuterio ambiente de estudo

(domeacutesticoescolar) precircmios ensino de histoacuteria leitura livro avaliaccedilatildeo []rdquo

(VALDEZ 2016 p 82)

As personagens principais meninas em idade escolar71 em alguns momentos

da narrativa ldquopasseiam pelos arredoresrdquo do estado de Goiaacutes sempre acompanhadas

por algueacutem da famiacutelia Durante os passeios elas satildeo instruiacutedas sobre algum aspecto

da cultura ou geografia ou histoacuteria goianas Inspirando-nos nesse enredo fazemos

70 Importante mencionar que esse livro foi adotado em todas os Grupos Escolares e Escolas Isoladas do estado por meio do Decreto nordm 4349 de 26 de fevereiro de 1934 (GOIAacuteS 1934) tendo duas ediccedilotildees (1934 e 1983) dada a sua linguagem acessiacutevel agrave crianccedila A narrativa que tem um tom moralista e muito patrioacutetico retrata o cotidiano escolar de crianccedilas que por meio de cartas contam os principais fatos da histoacuteria de Goiaacutes exaltando suas riquezas naturais e culturais A obra de Ofeacutelia surgia no contexto das transformaccedilotildees do estado de disputas poliacuteticas com a ascensatildeo de Pedro Ludovico Teixeira ao governo estadual que apresentou ao Presidente Vargas a ideia de fundar a nova capital goiana transferindo os poderes puacuteblicos a uma nova sede (MONTEIRO 1934 DIAS 2018) Sobre essa obra cf Oliveira e Peres (2016) Valdez (2016) e Dias (2018) 71 Monteiro (1934) daacute nome a essas meninas colocando-as como personagens principais do enredo Satildeo elas Aldacira Eunice Inaacute Iraniacute Jurema Lelia Luciacute Maria Siacutelvia e Tereza

49

um convite ao leitor vamos passear conosco por Goiaacutes do seacuteculo XIX e conhecer um

pouco da trajetoacuteria do ensino de leitura e escrita no ldquocoraccedilatildeo do Brasilrdquo

50

PARTE I

ldquoPASSEANDO PELOS ARREDORESrdquo DO CAMPO DA

ALFABETIZACcedilAtildeO OS DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE

O OBJETO DE PESQUISA

ldquondash Papai disse ela ofegante e ocultando o volume nas

costas adivinhe como se chama o livro que trago nas

costas

ndash Vejamos filhinha se sou bom feiticeiro Garanto que

vocecirc traz aiacute o ldquoGoiazrdquo de Taunay [] hontem agrave noite vocecirc

natildeo me disse que sua coleguinha Alci estava concluindo a

leitura do ldquoGoiazrdquo do Visconde de Taunay para lhe

emprestar

ndash Disse sim senhor

ndash Pois lembrando disso foi que conclui ser esse o livro que

trazias tatildeo triunfalmente

ndash Triunfalmente mesmo meu pai gosto imenso dos livros

que falam em minha terra queridardquo

(MONTEIRO 1934 p 204-205)

51

1 GOIAacuteS NA HISTOacuteRIA DA

ALFABETIZACcedilAtildeO DO BRASIL ____________________________________

Certeau (2002) assevera que o historiador nas uacuteltimas geraccedilotildees adentrou

zonas silenciosas deixando de constituir impeacuterios em busca de uma histoacuteria global

ldquoFez um desviordquo para outras margens a citar os estudos culturais E sob esse ponto

de vista investiga(ou) temascampos antes natildeo privilegiados a feiticcedilaria a loucura a

festa a literatura a cidade a leitura o livro escolar a alfabetizaccedilatildeoanalfabetismo

dentre outros

Ocupando-se de temaacuteticas distintas a histoacuteria mostrou-se tal como Manoel de

Barros descreve a poesia ldquolivre como um rumo nem desconfiadordquo (BARROS 2010

p 110) Entretanto essa liberdade estaacute cerceada pelos limites da operaccedilatildeo

historiograacutefica aqui entendida no modelo certeauniano

Encarar a histoacuteria como uma operaccedilatildeo seraacute tentar de maneira necessariamente limitada compreendecirc-la como a relaccedilatildeo entre um lugar (um recrutamento um meio uma profissatildeo etc) procedimentos de anaacutelise (uma disciplina) e a construccedilatildeo de um texto (uma literatura) (CERTEAU 2002 p 66 grifos do autor)

Desse modo na concepccedilatildeo de Ginzburg (1989) o historiador a estilo de

Sherlock Holmes Freud e do criacutetico de arte Morelli se ateacutem aos detalhes aos signos

mais esparsos aos indiacutecios deixados pelos rastros da histoacuteria Com uma lupa nas

matildeos examina os pormenores negligenciaacuteveis num ldquogesto talvez mais antigo da

histoacuteria intelectual do gecircnero humano o do caccedilador agachado na lama que escruta

52

as pistas da presardquo (GINZBURG 1989 p 154) Logo acompanhando a orientaccedilatildeo do

meacutetodo historiograacutefico de Hilsdorf assumida por Vidal e Faria Filho (2005)

movimentamos as lenteslupas da histoacuteria com objetivo nesta seccedilatildeo e parte da tese

de inventariar e refletir sobre a produccedilatildeo acadecircmica72 relativa agrave histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Brasil evidenciando o lugar ocupado pelo estado de Goiaacutes nesse

campo temaacutetico

Esta seccedilatildeo portanto estaacute organizada em dois itens Inicialmente fizemos um

balanccedilo do conhecimento produzido ao longo do tempo sobre alfabetizaccedilatildeo e das

pesquisas que consideram sua ldquofacetardquo histoacuterica (SOARES 1985) sobretudo no

contexto da Academia

Porteriormente no segundo toacutepico deslocamos as lentes da histoacuteria em duas

direccedilotildees A primeira lente refere-se aos lugares Circunscrevendo as pesquisas em

seus territoacuterios 1) de elaboraccedilatildeo (universidades grupos de pesquisa) e 2) de foco

investigativo (os espaccedilos a que as pesquisas se referem) demonstramos os estados

que mais produziram conhecimento acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e tambeacutem

aqueles que foram objetostemas de investigaccedilotildees A segunda lente volta-se para os

periacuteodos histoacutericos e fontes mais pesquisados tendo como temaacutetica a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo

Num diaacutelogo polifocircnico com os objetos de estudos e problematizaccedilotildees de

diferentes investigaccedilotildees colaboramos para a construccedilatildeo de novas perguntas e

algumas (in)certezas em relaccedilatildeo ao ensino inicial de leitura e escrita Afinal em

ldquotempo de morangosrdquo73 ldquocreio ser sempre necessaacuterio natildeo ter certeza isto eacute natildeo estar

excessivamente certo de lsquocertezasrsquordquo (FREIRE 2011 p 210)

11 ALFABETIZACcedilAtildeO UM TEMA EM DIFERENTES DISCURSOS

A origem de um gecircnero discursivo para Bakhtin (2010) estaacute intimamente

ligada agraves esferas de comunicaccedilatildeo social No que se refere agrave esfera acadecircmica a

exigecircncia eacute a incorporaccedilatildeo de um discurso cientiacutefico altamente dialoacutegico A fala dos

72 Vale ressaltar que neste trabalho compreendemos como produccedilatildeo acadecircmica as pesquisas em formato de teses e dissertaccedilotildees Como sabemos essa produccedilatildeo evolui a cada dia o que nos leva a definir o marco temporal desse levantamento entre a deacutecada de 1990 ateacute junho de 2019 73 Expressatildeo cunhada por Clarice Lispector no livro A hora da estrela (1977 p 108) ao se referir ao tempo passageiro

53

outros eacute integrada atraveacutes de citaccedilotildees de obras ou referecircncias (in)diretas aos sujeitos

da pesquisa tudo isso auxiliando na cientificidade de uma produccedilatildeo acadecircmica No

entanto natildeo se mede essa cientificidade ndash se eacute que ela seja mesmo mensuraacutevel ndash

calculando apenas a presenccedila de citaccedilotildees e sim pela articulaccedilatildeodiaacutelogo entre elas

e as ideias do autor Seraacute esse diaacutelogo que determinaraacute a promoccedilatildeo de novos

conhecimentos

Por esse motivo urge que cada campo levante uma espeacutecie de ldquoestado da arterdquo

sobre as temaacuteticasconhecimentos que circulam em torno de sua constituiccedilatildeo Afinal

com a expansatildeo das poliacuteticas de fomento agrave poacutes-graduaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de novos

cursos de mestrado e doutorado diariamente defendem-se mais teses e dissertaccedilotildees

a respeito de variados assuntos No caso da alfabetizaccedilatildeo Maciel (2014) ressalta que

o crescente interesse pelo tema reverberou em iniciativas governamentais e em

mudanccedilas na legislaccedilatildeo contudo ldquoos problemas baacutesicos dana alfabetizaccedilatildeo

persistemrdquo (MACIEL 2014 p 127)

A leitura dos diversos resumos e do conteuacutedo de dissertaccedilotildees e teses sobre

alfabetizaccedilatildeo fez-nos verificar que haacute uma histoacuterica preservaccedilatildeo do discurso que

procura os culpados para as mazelas da educaccedilatildeo ldquoPrevalecem as criacuteticas agrave

insuficiecircncia e agrave precariedade da formaccedilatildeo do professor alfabetizador [] ou ainda e

sobretudo apontando a falta de sintonia entre os discursos teoacutericos e as reflexotildees

sobre as praacuteticas dos alfabetizadoresrdquo (MACIEL 2014 p 126)

E embora constatemos que muitos dos problemas citados persistem no

universo da pesquisa acadecircmica natildeo podemos desconsiderar todos os avanccedilos que

obtivemos na aacuterea educacional devido agraves diferentes contribuiccedilotildees dos grupos de

pesquisa instalados nas universidades Exemplo notaacutevel disso eacute o acesso cada vez

maior da crianccedila com deficiecircncia agrave rede regular de ensino dentre outros aspectos

resguardados pela legislaccedilatildeo da educaccedilatildeo especial numa perspectiva inclusiva

Muitas dessas conquistas se devem aos trabalhos de vaacuterios pesquisadores que se

engajaram numa luta social e disseminaram teorias de inclusatildeo que valorizam o ser

humano e suas individualidades74

74 Nesse ponto destacam-se as pesquisas desenvolvidas pelo Laboratoacuterio de estudos e pesquisas em ensino e diferenccedila (LEPED) da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Campinas que desde 1996 coordenado pela Profordf Drordf Maria Teresa Egleacuter Mantoan disseminou vaacuterias propostas sobre uma educaccedilatildeo na diversidade auxiliando na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo especial Parte dos avanccedilos dessas poliacuteticas pode ser conferida em Mantoan (2014)

54

Destarte haacute que se questionar sobre alguns discursos que rondam a escola

brasileira e que de certa forma legitimam e naturalizam o fracasso do processo de

ensino e aprendizagem na fase inicial do ensino de leitura e escrita Quais foram as

repercussotildees e as consequecircncias desses discursos sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e

sobre as poliacuteticas puacuteblicas de leitura e escrita A favor de quem foram difundidos

Sobre quais bases filosoacuteficas epistemoloacutegicas e ideoloacutegicas foram essas praacuteticas e

poliacuteticas construiacutedas Parafraseando Klemperer (2009 p 55) acrescentariacuteamos que

discursos como esses podem ser como minuacutesculas doses de arsecircnico satildeo engolidos

de maneira despercebida e parecem ser inofensivos ldquopassado um tempo o efeito do

veneno se faz notarrdquo

Em direccedilatildeo contraacuteria aderimos agraves proposiccedilotildees de Charlot (2002) ao afirmar

que eacute preciso fazer uma leitura positiva da escola desvencilhada de preconceitos e

achismos No que concerne agrave temaacutetica desta tese um estudo histoacuterico da

alfabetizaccedilatildeo tal questatildeo alerta-nos para natildeo corrermos os riscos de uma anacrocircnica

ilusatildeo que nos leva a transformar a Histoacuteria em juiacuteza dos fatos Longe de julgar se o

passado ou o presente das praacuteticas alfabetizadoras deram conta das dimensotildees da

leitura e da escrita pretendemos compreender a alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir de

uma dimensatildeo historiograacutefica

Concebendo que estamos imersos numa rede discursiva e que ldquonovas palavras

satildeo criadas ou a velhas palavras daacute-se um novo sentindo quando emergem novos

fatos novas ideias novas maneiras de compreender os fenocircmenosrdquo (SOARES 1998

p 19) chama-nos a atenccedilatildeo como a palavra alfabetizaccedilatildeo ganhou ao longo do tempo

uma seacuterie de significados e natildeo estaacute mais restrita ao campo da liacutengua portuguesa

outrossim enxergamo-la aqui como um tema permeado e perpassado por diferentes

discursosvozes sociais (MORTATTI 2011a)

Numa busca no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes em junho de 2019

foram encontrados 6094 resultados com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo conforme

apresentamos na tabela a seguir

55

Tabela 2 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees identificadas no Banco de dados da Capes a

partir da busca com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo

Ano TesesDissertaccedilotildees

1987-1989 57

1990-1999 533

2000-2009 1656

2010-2019 3848

Total 6094

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Os 6094 resultados natildeo expressam exatamente a quantidade de produccedilotildees

acadecircmicas sobre a alfabetizaccedilatildeo Tal como Mortatti (2011a) aponta haacute uma

pluralidade e complexidade de conceitos atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo o que justifica o

nuacutemero expressivo de trabalhos localizados em aacutereas externas agraves ciecircncias humanas

Encontramos vocaacutebulos que adjetivavam o termo alfabetizaccedilatildeo destacando esse

processo no seu ldquosentido amplordquo75 (MORTATTI 2011a) e tambeacutem ao modo como se

aprende76

Poreacutem ao delimitar a definiccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo no seu ldquosentido mais restrito

e especiacuteficordquo (MORTATTI 2011a) entendendo-a como processo de ensino e

aprendizagem iniciais da leitura e escrita o nuacutemero se reduz mas ainda eacute significativo

confirmando o interesse dos pesquisadores pela temaacutetica A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a

pesquisa ldquoAlfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimentordquo (ABEC)77 realizada

75 Mortatti (2011a) elucida a ampliaccedilatildeo dos sentidos atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo utilizando a expressatildeo ldquosentido amplordquo e ldquosentido mais restrito e especiacuteficordquo do ldquotermoconceito alfabetizaccedilatildeordquo Na voz da autora ldquoa utilizaccedilatildeo do termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo consolidou-se no Brasil a partir do iniacutecio do seacuteculo XX sempre relacionado predominantemente com processos de escolarizaccedilatildeo e a partir das deacutecadas finais desse seacuteculo passou a ser utilizado tanto em sentido amplo (ldquoalfabetizaccedilatildeo matemaacuteticardquo ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo dentre outros) quanto em sentido mais restrito e especiacutefico ldquoensino-aprendizagem inicial de leitura e escritardquo (MORTATTI 2011a p 8) Em consulta aos tiacutetulos dos 6094 trabalhos algumas expressotildees encontradas para se referir a esse aspecto do ldquosentido amplordquo foram alfabetizaccedilatildeo ambiental artiacutestica cartograacutefica cientiacutefica cientiacutefica-tecnoloacutegica-digital computacional digital ecoloacutegica econocircmica estatiacutestica esteacutetica financeira geograacutefica histoacuterica informacional linguiacutestica matemaacutetica musical nutricional poliacutetica tecnoloacutegica visual etc 76 Foram identificadas algumas expressotildees que denotavam caracteriacutesticas aos modos de se alfabetizar alfabetizaccedilatildeo afetiva digital integral interacional online solidaacuteria etc 77 A pesquisa ldquoAlfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimentordquo (ABEC) teve iniacutecio em meados de 1980 e manteacutem desde entatildeo caraacuteter permanente no Centro de Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita (CEALE FaEUFMG) ldquoSeus objetivos satildeo 1) levantamento e avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo acadecircmica (teses e dissertaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeo) produzida nos programas de poacutes-graduaccedilatildeo das Instituiccedilotildees brasileiras 2) avaliaccedilatildeo qualitativa e quantitativa das

56

inicialmente por Soares (1989) e posteriormente atualizada por Soares e Maciel

(2000) e Maciel (2014) catalogou no periacuteodo compreendido entre 1961 e 2012 1618

trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

Ao cotejarmos esses dados com os apresentados por Mortatti Oliveira e

Pasquim (2014) que inventariaram cerca de 1440 teses e dissertaccedilotildees entre os anos

de 1965 e 201178 percebemos que a partir de deacutecada de 1980 aumenta o nuacutemero de

trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo o que expressa uma questatildeo

macroestrutural no campo Nesse momento ocorreram as primeiras divulgaccedilotildees da

teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita desenvolvida por Ferreiro e Teberosky (1985)

e o termo letramento79 comeccedilava a ser utilizado para denotar os aspectos sociais da

aprendizagem da liacutengua escrita

Esses fatos igualmente explicam as conclusotildees de pesquisas sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil feitas por Esposito (1992) Mortatti (2014) Guimaratildees e Quillici

Neto (2018)

Esposito (1992) demonstrou como nos fins da deacutecada de 1980 o enfoque dos

artigos publicados na Revista Cadernos de Pesquisa foi plural e voltado para o

questionamento dos materiais didaacuteticos utilizados na escola para alfabetizar as

crianccedilas Dentre esses materiais a cartilha foi tratada de forma mais atenuada devido

produccedilotildees cientiacuteficas 3) socializaccedilatildeo da produccedilatildeo aos pesquisadores brasileiros por meio da inclusatildeo no banco de dados 4) integraccedilatildeo de diversos pesquisadores do paiacutes Quatro categorias e seus cruzamentos orientam a anaacutelise assuntos privilegiados pela produccedilatildeo pressupostos teoacutericos ideaacuterios pedagoacutegicos e natureza de texto (ensaio relato de experiecircncia estudo de caso etc) A partir de 2006 a pesquisa tornou-se interinstitucional e conta com a colaboraccedilatildeo de pesquisadores de UEMG UFES UFMT UFPA UFRGS UFU e UNESPrdquo Informaccedilotildees disponiacuteveis em lthttpwwwcealefaeufmgbralfabetizacao-no-brasil-o-estado-do-conhecimentoabechtmlgt Acesso em 10 de junho de 2019 78 Eacute importante destacar que os criteacuterios para coleta de dados no acircmbito da ABEC (SOARES 1989 SOARES MACIEL 2000 MACIEL 2014) e na pesquisa feita por Mortatti Oliveira e Pasquim (2014) satildeo diferentes Ambas as investigaccedilotildees inventariaram os trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo no entanto em Soares (1989) foram inventariadas e analisadas dissertaccedilotildees de mestrado teses de caacutetedra de livre-docecircncia de doutorado e artigos publicados em 21 perioacutedicos especializados Em Soares e Maciel (2000) e Maciel (2014) permaneceram as dissertaccedilotildees e teses (doutorado e de concurso da carreira docente superior caacutetedraprofessor titular livre-docecircncia) excluindo os artigos cientiacuteficos Jaacute na pesquisa de Mortatti Oliveira e Pasquim (2014) satildeo consideradas apenas teses de doutorado e dissertaccedilotildees de mestrado 79 Segundo Mortatti (2004) a entrada do termo e conceito ldquoletramentordquo no Brasil inicia-se na deacutecada de 1980 quando eacute utilizado pela primeira vez por Mary Kato em 1986 na apresentaccedilatildeo do livro No mundo da escrita uma perspectiva psicolinguiacutestica Posteriormente a palavra tambeacutem aparece em publicaccedilotildees de Tfouni (1988) Kleiman (1995) e Soares (1995 1998 2003) Eacute importante destacar que na definiccedilatildeo do termo haacute divergecircncias e convergecircncias entre as autoras Para aprofundar nessas questotildees cf Mortatti (2004)

57

agrave criacutetica do construtivismo aos seus textos e aos meacutetodos de ensinar a ler e escrever

Na revista em questatildeo Esposito (1992) identifica e analisa cerca de 47 ensaios

publicados ao longo de 20 anos O primeiro trabalho identificado foi o de Poppovic em

1971 e o uacuteltimo o de Rosemberg em 199180

Mortatti (2014) consultando a Base Scientific Electronic Library Online

(SciELO) aponta 237 artigos sobre alfabetizaccedilatildeo em 78 perioacutedicos indexados e

divulgados entre 1972 e 2012 Desse total 207 foram publicados no periacuteodo

compreendido de 1992 a 2012 concluindo entatildeo a autora ldquopode-se constatar que

nas deacutecadas de 1990 e 2000 houve aumento significativo da divulgaccedilatildeo em

perioacutedicos ldquoqualificadosrdquo de artigos sobre alfabetizaccedilatildeordquo (MORTATTI 2014 p 145)

Comparando-se a quantidade de publicaccedilotildees de artigos de um lado e de teses

e dissertaccedilotildees de outro constata-se que haacute pouca visibilidade dessas pesquisas nos

perioacutedicos cientiacuteficos Mortatti (2014) assevera que muitos pesquisadores

principalmente mestrandos e doutorandos optam por publicar seus trabalhos em

livros capiacutetulos de livro anais de evento dentre outros meios e suportes de

divulgaccedilatildeo devido agraves exigecircncias da avaliaccedilatildeo para publicaccedilatildeo de artigos em revistas

cientiacuteficas e agrave grande demora para o seu aceite ou recusa Por isso consultando

outra base de dados o ldquoGoogle Acadecircmicordquo a autora localizou com a palavra

ldquoalfabetizaccedilatildeordquo 990 resultados entre 1987 a 2014 Diante disso ressalta a

necessidade de uma avaliaccedilatildeo do impacto cientiacutefico e social da produccedilatildeo acadecircmica

brasileira sobre o tema jaacute que as pesquisas sobre alfabetizaccedilatildeo natildeo tecircm chegado aos

ldquodestinataacuterios supostamente almejados professores alfabetizadores e gestores das

poliacuteticas puacuteblicas e da educaccedilatildeo baacutesicardquo (MORTATTI 2014 p 147)

Guimaratildees e Quillici Neto (2018) pesquisaram sobre a multiplicidade de

enfoques do tema alfabetizaccedilatildeo a partir da anaacutelise dos resumos de 5 perioacutedicos81

publicados entre 1944 e 2009 Nesse periacuteodo foram identificados 84 artigos Os

autores notaram que a partir da deacutecada de 1980 houve um aumento quantitativo no

nuacutemero de artigos publicados sobre alfabetizaccedilatildeo pois cerca de 8214 dos textos

80 Trata-se dos textos intitulados ldquoAlfabetizaccedilatildeo um problema interdisciplinarrdquo (POPPOVIC 1971) e ldquoRaccedila e educaccedilatildeo inicialrdquo (ROSEMBERG 1991) 81 Os perioacutedicos consultados por Guimaratildees e Quillici Neto (2018) foram Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos (RBEP) Cadernos de Pesquisa da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo ndash Universidade de Satildeo Paulo (Cessou em 1998 continuou como Educaccedilatildeo e Pesquisa USP) Revista Educaccedilatildeo amp Sociedade (CEDES) e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo (ANPEd)

58

localizados estatildeo em ediccedilotildees de 1980 a 2009 Observaram tambeacutem a recorrecircncia

frequente agrave teoria cognitivista como ressaltou Soares (1997)

nos anos 80 [] a Psicologia Geneacutetica piagetiana traz uma nova compreensatildeo do processo de aprendizagem da liacutengua escrita atraveacutes particularmente das pesquisas e publicaccedilotildees de Emilia Ferreiro e seus colaboradores obrigando a uma revisatildeo radical das concepccedilotildees do sujeito aprendiz da escrita e de suas relaccedilotildees com esse objeto de aprendizagem a liacutengua escrita (SOARES 1997 p 60)

As informaccedilotildees apresentadas por todos esses autores contrapondo-se ao

levantamento das teses e dissertaccedilotildees sobre a alfabetizaccedilatildeo incitam agrave reflexatildeo sobre

dois pontos essenciais acerca das tendecircncias do discurso produzido sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil

A primeira tendecircncia estaacute na ecircnfase dada agrave leitura como objeto privilegiado da

alfabetizaccedilatildeo Os discursos empreendidos sobre o processo de alfabetizaccedilatildeo

retinham-se historicamente aos estudos dos domiacutenios da habilidade de leitura ficando

a escrita agrave margem do processo Baseados em Mortatti (2000) sabemos que a

mudanccedila desse discurso se propagou sobretudo a partir de 1985 com a teoria da

psicogecircnese da liacutengua escrita e teve uma ruptura paradigmaacutetica com as ideias

difundidas por Geraldi (1984 1992 1996)82 e Smolka (1988) lanccediladas tambeacutem na

deacutecada de 80 mas que ganharam maior visibilidade a partir dos anos 90

Considerando a escrita como um processo de produccedilatildeo desvinculada da coacutepia e do

traccedilado de letras Geraldi (1984 1992 1996) e Smolka (1988)83 evocam uma

dimensatildeo discursiva do ensino de liacutengua portuguesa e o texto passa a ser o objeto

central da aula de modo que alfabetizar estaacute associado ao ensino da leitura e da

produccedilatildeo de textos

Ainda sobre essa primeira tendecircncia Soares (2016) nos lembra que os

meacutetodos e livros de alfabetizaccedilatildeo ateacute meados de 1980 destacavam a leitura como

elemento central do processo ldquomeacutetodos de leiturardquo e os ldquolivros de leiturardquo A

82 Embora muitos dos textos de Geraldi natildeo tratem precisamente da aprendizagem inicial da leitura e escrita as reflexotildees empreendidas pelo autor contribuiacuteram para inauguraccedilatildeo de um novo momento da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil como explica Mortatti (2000) 83 Sobre as contribuiccedilotildees de Geraldi para o ensino de liacutengua portuguesa no Brasil cf Silva Ferreira e Mortatti (2014) e Paula (2014) Acerca da dimensatildeo discursiva da alfabetizaccedilatildeo e das contribuiccedilotildees da publicaccedilatildeo da obra A crianccedila na fase inicial da escrita a alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo de Smolka (1988) cf Goulart Gontijo e Ferreira (2017)

59

produccedilatildeo de texto era conteuacutedo das seacuteries seguintes quando a crianccedila jaacute dominava

o ldquocoacutedigo escritordquo84 e as ldquoconvenccedilotildees da liacutenguardquo

A segunda tendecircncia evidencia-se nos referenciais teoacuterico-conceituais que

embasam as teses e dissertaccedilotildees Notamos que a teorizaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo na

perspectiva do letramento difundida especialmente por Magda Soares tem sido

recorrentemente utilizada pelos pesquisadores Numa anaacutelise por amostragem

selecionamos aleatoriamente 400 dissertaccedilotildees e teses do campo da alfabetizaccedilatildeo

produzidas a partir da deacutecada de 1980 conforme descrevemos na tabela

Tabela 3 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees selecionadas no Banco de dados da Capes

Ano Dissertaccedilotildees Teses

1980-1989 85 1585

1990-1999 80 2086

2000-2009 50 50

2010-2019 50 50

Total 265 135

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Dos 400 trabalhos analisados 203 declararam em seus resumos utilizar no

referencial teoacuterico da pesquisa a compreensatildeo de alfabetizaccedilatildeo atrelada agrave noccedilatildeo de

letramento 97 trabalhos natildeo declararam filiaccedilatildeo agraves noccedilotildees de letramento embora em

38 deles o termo surja no decorrer do texto

Nas 241 pesquisas que utilizaram o termo letramento a base teoacuterica eacute

sintetizada nas terminologias ldquoalfabetizar letrandordquo ldquoalfabetizaccedilatildeo e letramentordquo

ldquoalfabetizaccedilatildeo na perspectiva do letramentordquo No geral essas noccedilotildees foram

fundamentadas pelas contribuiccedilotildees de Magda Soares e Angela Kleiman De forma

mais especiacutefica Soares eacute referenciada nos 241 trabalhos enquanto Kleiman aparece

em apenas 106 o que nos leva a concluir que as ideias de Soares influenciaram na

84 Usamos aqui o termo ldquocoacutedigo escritordquo pois na base do pensamento dos meacutetodos tradicionais de alfabetizaccedilatildeo aprender a ler eacute um processo de aquisiccedilatildeo de um coacutedigo 85 Entre 1980 e 1989 foram selecionadas apenas 15 teses embora tenhamos identificado 23 trabalhos de doutoramento produzidos na deacutecada O criteacuterio de seleccedilatildeo foi a disponibilizaccedilatildeo desses trabalhos para download nas bibliotecas das universidades 86 Entre 1900 e 1999 foram selecionadas apenas 20 teses das 36 produzidas na deacutecada O criteacuterio de seleccedilatildeo foi a disponibilizaccedilatildeo desses trabalhos para download nas bibliotecas das universidades

60

na composiccedilatildeo de muitas pesquisas no campo da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Tal fato

pode ser explicado devido ao engajamento dessa autora na aacuterea da alfabetizaccedilatildeo

infantil ao passo que Kleiman tem trabalhos diversos que abrangem o letramento natildeo

soacute na primeira infacircncia mas tambeacutem entre jovens adultos professores etc

A tendecircncia desse discurso que compreende a alfabetizaccedilatildeo aliada ao

letramento tambeacutem dialoga com os referenciais teoacutericos que sustentaram as poliacuteticas

empreendidas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo na formaccedilatildeo continuada destinada aos

alfabetizadores no Brasil ateacute 201887 que ressaltaram a necessidade de o professor

conhecer a diferenccedila e indissociabilidade entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Desde a implantaccedilatildeo do PROFA (Programa de Formaccedilatildeo de Professores

Alfabetizadores) em 2001 os Guias do Formador88 traziam como foco nos seus

objetivos e conteuacutedos de definiccedilatildeo a relaccedilatildeo entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

recomendando aos professores a leitura dos capiacutetulos ldquoLetramento em verbeterdquo ldquoO

que eacute letramentordquo ldquoLetramento em texto didaacuteticordquo ldquoO que eacute letramento e

alfabetizaccedilatildeordquo do livro Letramento um tema em trecircs gecircneros de Magda Soares89

Os programas posteriores ao PROFA o PROacute-LETRAMENTO ndash Mobilizaccedilatildeo

pela Qualidade da Educaccedilatildeo (Programa de Formaccedilatildeo Continuada de Professores dos

AnosSeacuteries Iniciais do Ensino Fundamental) e o PNAIC (Pacto Nacional pela

87 Delimita-se esse recorte temporal com a ressalva de que o fim do programa federal Pacto Nacional pela Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa jaacute prenunciado em 2017 e efetivado em 2018 associado agrave implementaccedilatildeo do programa Mais Alfabetizaccedilatildeo instituiacutedo durante a gestatildeo de Michel Temer pocircs fim agrave discussatildeo da questatildeo do letramento na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas instaurando o discurso voltado para os resultados e responsabilizaccedilatildeo do corpo docente pelo desempenho acadecircmico dos alunos Em junho de 2019 o programa Mais Alfabetizaccedilatildeo continua em funcionamento com mudanccedilas definidas jaacute no governo de Jair Bolsonaro 88 O PROFA foi um programa organizado em trecircs moacutedulos (Cf BRASIL 2001a 2001b) Cada moacutedulo era direcionado por duas publicaccedilotildees o guia do formador e a coletacircnea de textos O guia do formador apresentava ldquoas sequecircncias de atividades de formaccedilatildeo com orientaccedilotildees detalhadas sobre como o formador pode encaminhar cada proposta de trabalho e como realizar suas intervenccedilotildees para favorecer a discussatildeo a reflexatildeo e a aprendizagem do grupo de professores Cada uma dessas sequecircncias eacute chamada de Unidaderdquo (BRASIL 2001a p 17) Na coletacircnea de textos encontravam-se reproduzidos alguns dos textos citados nas unidades de cada moacutedulo As orientaccedilotildees para o uso do Guia do Formador (BRASIL 2001a p 22) reforccedilavam que o formador ao planejar o seu trabalho ldquodeve providenciar com antecedecircncia as coacutepias dos textos indicados para fornececirc-las aos professores que por sua vez deveratildeo colocaacute-las na parte do Fichaacuterio destinada agrave Coletacircnea de Textosrdquo 89 Outro texto recomendado para estudo no acircmbito do PROFA (BRASIL 2001a) eacute o emblemaacutetico artigo de Magda Soares ldquoAs muitas facetas da alfabetizaccedilatildeordquo publicado no Cadernos de Pesquisa em 1985 (SOARES 1985)

61

Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa)90 trabalharam com as noccedilotildees de letramento baseadas

principalmente em Soares91

Enfim diante da complexidade dos discursos acadecircmicos ateacute aqui expostos

que auxiliaram na organizaccedilatildeo dos domiacutenios da alfabetizaccedilatildeo no Brasil faz-se

necessaacuterio no contexto desta tese questionar qual foi a contribuiccedilatildeo do estado de

Goiaacutes na constituiccedilatildeo desses discursos

Iniciemos nossas reflexotildees a partir de alguns dados

Os quatro programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo que se destacam no

estado de Goiaacutes estatildeo ligados agrave Universidade Federal de Goiaacutes (UFG) e agrave Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Goiaacutes (PUC-GO) Dos quatro trecircs se vinculam agrave UFG o

primeiro e mais antigo com sede na Faculdade de Educaccedilatildeo em Goiacircnia o segundo

na Unidade Acadecircmica Especial Educaccedilatildeo na Regional de Catalatildeo e o terceiro na

Unidade Acadecircmica Especial Ciecircncias Humanas e Letras na Regional de Jataiacute92 Os

trecircs oferecem mestrado e apenas o primeiro oferece doutorado Na PUC-GO haacute oferta

de vagas para o curso de mestrado e doutorado

Considerando essa realidade e numa busca nos sites institucionais desses

programas constatamos que a temaacutetica alfabetizaccedilatildeo aparece apenas no programa

de poacutes-graduaccedilatildeo da UFG Regional de Catalatildeo na caracterizaccedilatildeo da linha de

pesquisa intitulada ldquoLeitura educaccedilatildeo e ensino de liacutengua materna e ciecircncias da

naturezardquo93 A esta linha vincula-se o grupo de pesquisa ldquoEDULE ndash Educaccedilatildeo Leitura

e Escritardquo que natildeo traz em sua descriccedilatildeo explicitamente o termo alfabetizaccedilatildeo94 mas

90 O PROFA esteve em funcionamento de 2001 a 2003 O PROacute-LETRAMENTO de 2005 a 2012 Jaacute o PNAIC de 2012 a 2018 Para uma leitura criacutetica desses programas cf Rocha Santos e Oliveira (2018) 91 Para aprofundar o conhecimento da vida e da obra de Magda Soares e suas contribuiccedilotildees para a alfabetizaccedilatildeo no Brasil cf Maciel (2018) Mortatti e Oliveira (2011) e a ediccedilatildeo especial do Jornal Letra A (novembrodezembro de 2012) que fez uma homenagem e reflexatildeo sobre os 80 anos de Magda Soares 92 Essa Unidade Acadecircmica em 2018 foi desmembrada da UFG passando a denominar Universidade Federal de Jataiacute (UFJ) Utilizamos aqui o nome anterior pois as pesquisas catalogadas nesse item foram defendidas quando a atual UFJ ainda era Unidade Acadecircmica da Universidade Federal de Goiaacutes 93 Estatildeo vinculados agrave linha de pesquisa ldquoLeitura educaccedilatildeo e ensino de liacutengua materna e ciecircncias da naturezardquo quatro professores orientadores dos quais dois natildeo trabalham com a temaacutetica leitura e escrita 94 Segundo dados do Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil Lattes CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico) o EDULE foi criado em 2010 e tem como liacutederes Selma Martines Peres e Maria Aparecida Lopes Rossi As temaacuteticas dos trabalhos do grupo estatildeo inscritas na seguinte descriccedilatildeo ldquodesenvolvimento de pesquisas que contribuam para a compreensatildeo da educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a leitura e escrita leitor livro

62

as pesquisas conduzidas por Selma Martines Peres e Maria Aparecida Lopes Rossi

estatildeo direcionadas para essa aacuterea Esse grupo a partir de 2010 inaugurou algumas

iniciativas que colaboraram para a efervescecircncia de investigaccedilotildees acadecircmicas sobre

as praacuteticas de ensino de leitura e escrita no estado de Goiaacutes como o I Congresso

Nacional de Educaccedilatildeo e Leitura realizado em 2017 Esse evento contou com duas

ediccedilotildees antecedentes em niacutevel regional abrangendo as temaacuteticas Histoacuteria da Leitura

e do Livro e Praacuteticas de Leitura e Escrita

Outro dado importante para refletir sobre a questatildeo anteriormente formulada

diz respeito agraves produccedilotildees acadecircmicas sobre a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas

produzidas em Universidades de Goiaacutes Na busca nas bibliotecas digitais de

dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO em junho de 2019 identificamos 28

dissertaccedilotildees e nenhuma tese com o tema alfabetizaccedilatildeo conforme apresentamos na

tabela a seguir

Tabela 4 Quantidade de dissertaccedilotildees identificadas com o tema alfabetizaccedilatildeo nas bibliotecas

digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

Ano UFG PUC-GO

1990-1999 7 -

2000-2009 1 6

2010-2019 13 1

Total 21 7

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta nas bibliotecas digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

As 28 dissertaccedilotildees identificadas demonstram uma tiacutemida produccedilatildeo sobre o

tema alfabetizaccedilatildeo nos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Goiaacutes Reconhecemos que

possivelmente numa procura mais ampla encontrariacuteamos outras pesquisas sobre a

alfabetizaccedilatildeo goiana produzidas em outras universidades de outros estados Dentre

as encontradas apenas uma vinculada agrave PUC-GO se ocupa com aspectos do

passado a de Guimaratildees (2011) A autora faz uma pesquisa sobre o estado do

analisando a histoacuteria da leitura cultura escolar ensino da liacutengua materna praacuteticas de leitura condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de livros poliacuteticas de incentivo agrave leitura e livro adotadas por diferentes governos formaccedilatildeo do leitor em ambientes escolares e natildeo-escolaresrdquo O grupo conta com duas linhas de pesquisa 1) Ensino de Liacutengua Materna praacuteticas perspectivas e formaccedilatildeo do professor e 2) Leitura Histoacuteria Poliacuteticas e Praacuteticas Conta com 7 pesquisadores e 11 estudantes Informaccedilotildees disponiacuteveis em lthttpdgpcnpqbrdgpespelho grupo8175307049379548gt Acesso em 07 de junho de 2019

63

conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil ressaltando a preponderacircncia do

pensamento de Emilia Ferreiro Ana Teberosky e Magda Soares na educaccedilatildeo

brasileira As demais dissertaccedilotildees se inscrevem em anaacutelises de questotildees de sua

atualidade Vinte e trecircs pesquisas tecircm como objeto a alfabetizaccedilatildeo em municiacutepios

distintos do estado treze pesquisas foram realizadas sobre Goiacircnia duas sobre Santa

Cruz trecircs sobre Catalatildeo trecircs sobre Jataiacute e duas sobre Rio Verde95 Aleacutem disso duas

pesquisas96 se referiram agrave alfabetizaccedilatildeo no contexto estadual e uma dissertaccedilatildeo97

pesquisou acerca de documentos oficiais de um programa federal destinados aos

alfabetizadores A pesquisa de Amacircncio (1994) eacute a uacutenica que natildeo foi desenvolvida

sobre Goiaacutes tratando do espaccedilo ocupado pela cartilha em salas da 1ordf seacuterie no

municiacutepio de Rondonoacutepolis regiatildeo sul de Mato Grosso

Enfim esses dados ainda incitam a alguns questionamentos como a temaacutetica

alfabetizaccedilatildeo tem sido trabalhada no territoacuterio goiano no contexto da graduaccedilatildeo em

Pedagogia (jaacute que essa habilita o alfabetizador para exercer o seu ofiacutecio) Como o

estado de Goiaacutes e seus municiacutepios pensam suas poliacuteticas puacuteblicas de alfabetizaccedilatildeo

Como fomentar o interesse dos pesquisadores goianos pelo tema alfabetizaccedilatildeo Haacute

iniciativas externas agrave poacutes-graduaccedilatildeo em Goiaacutes que visem a conhecer o que se tem

feito e o que eacute premente fazer para garantia da alfabetizaccedilatildeo E ademais o que os

professores goianos tecircm praticado e em que se tecircm embasado para alfabetizar as

crianccedilas

As respostas a algumas dessas perguntas demandariam outras pesquisas98 e

novas problematizaccedilotildees Natildeo obstante a uacuteltima questatildeo vem ao encontro deste

trabalho de natureza histoacuterica Logo pesquisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

impotildee olhar para o contexto macro como temos pensado e o que jaacute temos produzido

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

95 As dissertaccedilotildees que trazem Goiacircnia como loacutecus de pesquisa satildeo Sousa (1993) Rosa (1993) Souza (1995) Silva (1998) Vieira (2004) Santos (2005) Martin (2005) Campos (2006) Braga (2009) Souza (2009) Moreira (2017) Alves Oliveira (2018) Martins (2018) O municiacutepio de Santa Cruz Ferreira (1991) Barros (1992) O municiacutepio de Catalatildeo Silva (2015) Oliveira (2018) Nascimento (2019) O municiacutepio de Jataiacute Assis (2016) Souza (2019) Lima (2019) O municiacutepio de Rio Verde Barros (2008) Rodrigues (2019) 96 Xavier (2017) e Santos (2019) 97 Jesus (2019) 98 Eis o convite aos possiacuteveis leitores-pesquisadores desta tese

64

12 AS TESES E DISSERTACcedilOtildeES DO CAMPO TEMAacuteTICO DA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO

LUGARES PERIacuteODOS E FONTES

A alfabetizaccedilatildeo eacute ldquoum processo muito complexordquo conforme adverte Soares

(2015) Essa complexidade ldquojaacute determina a configuraccedilatildeo do campo de pesquisa como

uma aacuterea que necessariamente precisa fazer interfaces com outros campos de

conhecimentos cientiacuteficos e acadecircmicosrdquo (MACIEL 2003 p 230)

Por ser a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo um campo temaacutetico recente concordamos

com a afirmaccedilatildeo de Maciel (2003) de que as pesquisas historiograacuteficas sobre a

alfabetizaccedilatildeo estatildeo tambeacutem abrigadas sob terminologias de outros campos ldquoA

histoacuteria da instruccedilatildeo primaacuteria da leitura e da escrita eacute a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo

(MACIEL 2003 p 248) Todavia embora haja essas evidentes aproximaccedilotildees com

outros campos a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo se constitui em torno dos usos e praacuteticas

da leitura e escrita como aponta Magalhatildees (2001)

Satildeo ldquovaacuterias portas de entrada para estudar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo as

instacircnciasinstituiccedilotildees os objetos os sujeitos os suportes e os meios de produccedilatildeo e

a transmissatildeo da escritardquo (FRADE 2011 p 184) A partir disso haacute uma variedade de

fontes que dialogam com esses objetos e que auxiliam na compreensatildeo do fenocircmeno

da alfabetizaccedilatildeo num espaccedilo e tempo particulares Essas fontes satildeo geralmente

selecionadas a partir do periacuteodo recortado que determina o tipo e o lugar onde

podemos encontraacute-las Frade (2018) nos provoca com algumas questotildees para pensar

sobre os estudos acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com as fontes

ldquoque aspectos da alfabetizaccedilatildeo estamos analisando sujeitos instacircncias objetos

meios de produccedilatildeo e transmissatildeo da escrita habilidades como isolaacute-los ou

relacionaacute-los aos fenocircmenos mais amplos que envolvem a cultura escritardquo (FRADE

2018 p 52)

Essas perguntas impulsionam a reflexatildeo que empreendemos doravante sobre

a produccedilatildeo acadecircmica relativa agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

Como jaacute mencionamos os trabalhos de Soares (1989) Soares e Maciel (2000)

e Silva (1998) alertaram para a escassez de pesquisas histoacutericas da alfabetizaccedilatildeo

pois no periacuteodo de 1961 a 1989 inventariaram somente 3 pesquisas sobre esse

assunto

Dando continuidade ao trabalho dessas autoras para o levantamento das

pesquisas produzidas a partir dos anos de 1990 no Brasil sobre a histoacuteria da

65

alfabetizaccedilatildeo realizamos uma busca no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

em junho de 2019 com os termos ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo ldquohistoacuteria do ensino inicial

de leiturardquo ldquohistoacuteria do ensino de leiturardquo ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo99 ldquohistoacuteria do

ensino primaacuteriordquo ldquohistoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteriardquo ldquohistoacuteria da escola primaacuteriardquo ldquoensino

de primeiras letrasrdquo ldquoprimeiras letrasrdquo ldquohistoacuteria da instruccedilatildeo primaacuteriardquo e ldquoinstruccedilatildeo

primaacuteriardquo Esses termos foram escolhidos por entendermos que satildeo nomenclaturas

referentes ao ensino inicial de leitura e escrita em diferentes momentos da histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira Os nuacutemeros de trabalhos identificados estatildeo sintetizados na

tabela 5

Tabela 5

Quantidade de dissertaccedilotildees e teses identificadas no Banco de dados da Capes com os termos relacionados na tabela

Termo Dissertaccedilotildees Teses

Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo 80 21

Histoacuteria do ensino inicial de leitura - 1

Histoacuteria do ensino de leitura 7 2

Histoacuteria do ensino de liacutengua 28 13

Histoacuteria do ensino primaacuterio 3 4

Histoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteria 6 4

Histoacuteria da escola primaacuteria 22 12

Ensino de primeiras letras 9 1

Primeiras letras 87 33

Histoacuteria da Instruccedilatildeo primaacuteria - 2

Instruccedilatildeo primaacuteria 85 50

Total 327 143

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Ao identificar os trabalhos o primeiro passo foi o de realizar o cruzamento entre

os resultados da pesquisa pois constatamos que algumas teses e ou dissertaccedilotildees se

repetiam nas buscas com determinados termos Por exemplo o trabalho de Pasquim

(2013) era mencionado tanto na busca ao termo ldquohistoacuteria do ensino de leiturardquo quanto

em ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo

Na sequecircncia fizemos a leitura de todos os resumos dos trabalhos e para

alguns casos quando no resumo natildeo estava expliacutecita a natureza do estudo tambeacutem

99 Deixamos apenas o termo ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo pois dessa forma na busca notamos que ele remete a todas as pesquisas inscritas pelas terminologias ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua e literaturardquo ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua portuguesardquo e ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua maternardquo

66

realizamos uma anaacutelise de conteuacutedo para de fato distinguirmos as pesquisas

inscritas na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Nesse ponto consideramos somente os

trabalhos que tinham o objeto e a metodologia calcados na historiografia Algumas

pesquisas apresentavam capiacutetulos que remetiam agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo mas

tratavam de questotildees contemporacircneas por isso tais pesquisas foram

desconsideradas

Ao fazermos as anaacutelises das dissertaccedilotildees e teses tambeacutem notamos que a

busca com alguns termos detectou trabalhos vinculados a projetos de pesquisa eou

grupo de pesquisa que carregavam em seu nometiacutetulo os termos pesquisados Por

exemplo a tese de Morais (2014) eacute uma pesquisa cujo objetivo foi identificar os modos

de ler o livro impresso por meio das escritas de textos eletrocircnicos e aparece na busca

com o termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo visto que estaacute vinculada a um projeto do grupo

de pesquisa ldquoHISALES ndash Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo leitura escrita e dos livros

escolaresrdquo da Universidade Federal de Pelotas

Quando concluiacutemos essas etapas ao olhar para o rol de trabalhos

selecionados ainda percebiacuteamos algumas lacunas sobretudo a partir dos anos 2000

uma vez que havia ausecircncia de pesquisas muito significativas na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo brasileira Foi daiacute que optamos por voltar ao Banco de Teses e

Dissertaccedilotildees da Capes e buscar entre as 5504 pesquisas100 localizadas com a

palavra-chave ldquoalfabetizaccedilatildeordquo as que tinham um caraacuteter histoacuterico

Eacute importante destacar desde jaacute que catalogar pesquisas eacute algo a ser pensado

de acordo com os criteacuterios e limites da catalogaccedilatildeo As conclusotildees a que chegamos

natildeo fazem convergecircncia com outras jaacute enunciadas por exemplo por Oriani (2012)

que apresenta alguns estudos a nosso ver natildeo categorizados em temas

concernentes agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Desse modo tal alerta evidencia o diaacutelogo

profiacutecuo estabelecido nas diversas formas de se analisar um objeto de estudo e

portanto de conceber um campo temaacutetico de pesquisa

Por conseguinte no entrecruzamento dos dados apoacutes as vaacuterias seleccedilotildees e

anaacutelises listamos 125 trabalhos identificados no Banco de Dados da Capes

pertencentes ao campo temaacutetico da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo101

100 O nuacutemero 5504 corresponde ao total de pesquisas com o termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo produzidas de 2000 ateacute junho de 2019 conforme evidenciamos na tabela 2 101 Reconhecemos os limites dessa busca considerando os filtros que fizemos A intenccedilatildeo natildeo foi catalogar todos os trabalhos em formato de dissertaccedilatildeo e tese com o tema da histoacuteria

67

Tabela 6 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por ano sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no

Brasil

Ano Dissertaccedilotildees Teses

1997 1 1

1998 - 1

1999 - -

2000 - 1

2001 3 3

2002 2 -

2003 3 -

2004 2 -

2005 2 3

2006 9 4

2007 5 1

2008 11 -

2009 5 -

2010 8 1

2011 6 2

2012 4 3

2013 14 5

2014 5 5

2015 3 1

2016 6 3

2017 2 -

2018 - -

2019 - -

Total 91 34

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes

Conforme evidenciado na tabela 73 dos trabalhos produzidos satildeo

dissertaccedilotildees de mestrado e apenas 27 teses de doutorado Esses dados vatildeo ao

encontro das conclusotildees de Maciel (2014) no levantamento sobre o estado do

conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil que indica uma disparidade entre o nuacutemero

de dissertaccedilotildees e teses numa proporccedilatildeo de 47 dissertaccedilotildees para uma tese

defendida102

da alfabetizaccedilatildeo mas fazer um panorama parcial do que se tem produzido dentro dos limites da pesquisa que realizamos 102 Segundo dados do Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes em junho de 2019 estavam registradas 22640 dissertaccedilotildees e 7330 teses defendidas no Brasil em programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo Proporcionalmente a cada 3 dissertaccedilotildees temos aproximadamente 1 tese defendida

68

Como podemos constatar os primeiros trabalhos localizados no Banco de

dados da Capes datam de 1997 Satildeo a pesquisa de Mestrado intitulada de Cartilha

do Povo e Upa Cavalinho O Projeto de Alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho de Bertoletti

(1997) e a tese de Doutorado A Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Poliacutetica na PARAIBRASIL

nos anos Sessenta de Scocuglia (1997)103

Ainda na deacutecada de 90 haacute o trabalho de Silva (1998) Ele transformou-se em

livro em 2015 publicado na Editora da Unicamp sob o tiacutetulo Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

no Brasil sentidos e sujeito da escolarizaccedilatildeo (SILVA 2015)

A pesquisa de Magnani (1997)104 por se tratar de uma tese de livre-

docecircncia105 natildeo eacute identificada na busca no Banco de dados da Capes A tese eacute uma

pesquisa na longa duraccedilatildeo da histoacuteria compreendendo o periacuteodo entre 1876 a 1994

transformou-se no marco inaugural de um meacutetodo e de uma proposta de compreensatildeo

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil106 O trabalho foi publicado posteriormente

em 2000 no formato de livro pela Editora da UNESP Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo

Satildeo Paulo 1876 ndash1994 Na apresentaccedilatildeo da obra Soares considera o trabalho de

Mortatti um ldquocacircnone das obras fundamentais de indispensaacutevel leitura sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil [] uma lsquofonte das fontesrsquo manancial de inuacutemeros estudos e

pesquisas sugeridos possibilitados facilitadosrdquo (SOARES 2000 p 13-15)

103 Gontijo (2011) tambeacutem destaca esse trabalho como um estudo sobre a alfabetizaccedilatildeo numa perspectiva histoacuterica 104 Magnani era o sobrenome da professora Maria do Rosaacuterio Longo Mortatti que passou a assim assinar apoacutes 1998 Ateacute entatildeo assinava Maria do Rosaacuterio Mortatti Magnani Tais dados podem ser conferidos no Curriacuteculo Lattes da autora no item ldquooutras observaccedilotildees relevantesrdquo 105 Trata-se da tese de concurso de livre-docecircncia na disciplina de Docecircncia em Metodologia do Ensino de 1ordm Grau Alfabetizaccedilatildeo Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo Presidente Prudente A tese intitulou-se Os sentidos da alfabetizaccedilatildeo a ldquoquestatildeo dos meacutetodosrdquo e a constituiccedilatildeo de um objeto de estudo (Satildeo Paulo 18761994) Participaram na comissatildeo julgadora do concurso de livre-docecircncia de Maria do Rosaacuterio os professores Luiz Carlos Cagliari Joatildeo Wanderley Geraldi Maria Alice Faria Clarice Nunes e Magda Soares 106 Mortatti (2000) propotildee quatro momentos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo tomando como referecircncia marcos formulados a partir das fontes documentais por ela consultadas o primeiro momento entre 1876 a 1890 em que haacute uma disputa entre o uso dos meacutetodos sinteacuteticos ndash de soletraccedilatildeo e silabaccedilatildeo ndash com o meacutetodo de palavraccedilatildeo proposto pelo poeta portuguecircs Joatildeo de Deus o segundo momento de 1890 a 1920 quando prevalece a disputa entre o meacutetodo analiacutetico e o sinteacutetico ndash especialmente o de silabaccedilatildeo ndash o terceiro momento a partir de meados de 1920 com a ecircnfase no meacutetodo misto (analiacutetico-sinteacutetico ou sinteacutetico-analiacutetico) e o quarto momento ainda em curso com iniacutecio no final da deacutecada de 1970 quando houve a entrada das teorias construtivistas no Brasil ndash sobretudo a de Emilia Ferreiro ndash e a perspectiva do ldquointeracionismo linguiacutesticordquo baseada em L S Vygotsky e Bakhtin jaacute na deacutecada de 80 quando comeccedilou a ser disseminada por meio das teorizaccedilotildees propostas por Joao Wanderley Geraldi e Ana Luiza Bustamante Smolka

69

Na busca a pesquisa de Carvalho (1998) tambeacutem natildeo foi referenciada com as

palavras-chave por noacutes selecionadas Esse trabalho analisou como foi organizado e

concebido o ensino de leitura e escrita em Satildeo Paulo no periacuteodo poacutes-proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica no Brasil (1890-1920) O discurso empreendido pela autora tomou como

base especialmente os artigos publicados na Revista de Ensino - Orgam da

Associaccedilatildeo Beneficente do Professorado Publico de Satildeo Paulo e nos Annuaacuterios do

Ensino do Estado de Satildeo Paulo

Da primeira deacutecada dos anos 2000 (2000-2009) catalogamos 54 trabalhos 42

dissertaccedilotildees de mestrado e 12 teses de doutorado Esses dados demonstram um

aumento das pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo coincidindo

com a maior divulgaccedilatildeo sobre a alfabetizaccedilatildeo nos perioacutedicos cientiacuteficos107 a

realizaccedilatildeo de eventos cientiacuteficos da aacuterea e tambeacutem a expansatildeo da publicaccedilatildeo de

livros e capiacutetulos sobre a historiografia da alfabetizaccedilatildeo Insta esclarecer que em

2003 foi lanccedilada a ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para a Alfabetizaccedilatildeordquo (2003-2012)

que notoriamente influenciou no Brasil segundo Mortatti (2013) algumas iniciativas

no acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo fazendo com que a alfabetizaccedilatildeo

ganhasse destaque entre as iniciativas governamentais e consequentemente as

acadecircmicas108

A partir dos anos 2000 o governo federal passou a investir em programas de

formaccedilatildeo continuada destinados aos alfabetizadores o PROFA o PROacute-

LETRAMENTO e o PNAIC Esses programas trouxeram agrave tona em todo o paiacutes o

tema alfabetizaccedilatildeo No PROFA e no PNAIC havia a discussatildeo sobre os aspectos

histoacutericos do ensino de leitura e escrita sendo retomada a perspectiva de

contextualizar as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XX sobretudo no Ocidente A

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo eacute tratada como conteuacutedo na formaccedilatildeo do professor

alfabetizador dando visibilidade aos estudos desse campo

Retomando a tabela 6 pontuamos que entre os anos 2010-2019 jaacute satildeo 68

trabalhos defendidos sendo 48 dissertaccedilotildees de mestrado e 20 teses de doutorado

nuacutemeros esses superiores aos da deacutecada anterior Nesses anos aumenta a produccedilatildeo

107 Conforme jaacute referenciado neste capiacutetulo os levantamentos de Mortatti (2014) Guimaratildees e Quillici Neto (2018) evidenciam tal fato 108 Sobre a ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para a Alfabetizaccedilatildeordquo (2003-2012) cf Mortatti (2013) A autora faz um balanccedilo criacutetico dessa deacutecada no Brasil retomando aspectos da iniciativa e de outras que provocam avanccedilos mas que tambeacutem indicam a permanecircncia de muitos problemas histoacutericos na educaccedilatildeo particularmente na alfabetizaccedilatildeo infantil

70

de teses de doutorado Esse crescimento tambeacutem se relaciona agrave difusatildeo dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo nas diversas regiotildees do paiacutes Aleacutem disso

grande parte dos orientadores dessas teses e dissertaccedilotildees se doutoraram entre os

anos 1999-2004 o que tambeacutem justifica a ampliaccedilatildeo vertiginosa de pesquisas de

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo nos uacuteltimos 10 anos

Enfim do que trataram essas pesquisas O que elas revelaram sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo do Brasil Onde foram produzidas E como foram difundidas

Quando tratamos sobre o lugar numa pesquisa natildeo estamos apenas

delimitando o espaccedilo onde ela foi produzida eou ao qual se refere A reflexatildeo vai

aleacutem O lugar tambeacutem eacute sinocircnimo de reconhecimentoposiccedilatildeo Eacute importante portanto

pensar esse lugar ocupado e conquistado pela histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no universo

da pesquisa

Na busca feita no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil com a palavra-

chave ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo109 localizamos 10 registros de grupos todos

vinculados agrave aacuterea de educaccedilatildeo Desse total natildeo identificamos pesquisas e relaccedilotildees

diretas com histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no ldquoGrupo de Estudo e Pesquisa em Narrativas

Formativas (Gepenaf)rdquo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Os demais

grupos arrolados abaixo satildeo mencionados e haacute pesquisas relacionadas agrave

historiografia da alfabetizaccedilatildeo

Quadro 1 Grupos de Pesquisa sobre Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo localizados no Diretoacuterio dos

Grupos de Pesquisa do Brasil

Grupo de Pesquisa Universidade Ano de Formaccedilatildeo

Centro de Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita (CEALE)

Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG

1990

Grupo de Pesquisa Histoacuteria do Ensino de Liacutengua e Literatura no

Brasil (GPHELLB)

Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita

Filho ndash UNESP

1994

Nuacutecleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Histoacuteria

da Educaccedilatildeo ndash NIEPHE

Universidade de Satildeo Paulo ndash USP

1996

Histoacuteria da Educaccedilatildeo Literatura e Gecircnero

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ndash UFRN

1998

109 Tal pesquisa foi realizada no site lthttplattescnpqbrwebdgphomegt Acesso em 28 de junho de 2019 A consulta foi parametrizada pelo termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo de modo que ele estivesse vinculado ao nome do grupo eou nome da linha de pesquisa eou palavra-chave da linha de pesquisa

71

Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Lugares de Formaccedilatildeo Cartilhas

e Modos de Fazer

Universidade Federal de Uberlacircndia ndash UFU

2004

Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Leitura Escrita e dos Livros Escolares

(HISALES)

Universidade Federal de Pelotas ndash UFPel

2006

NEPALES ndash Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em Alfabetizaccedilatildeo

Leitura e Escrita

Universidade Federal do Espiacuterito Santo ndash UFES

2006

Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de

Liacutengua e Literatura (NIPELL)

Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP

2017

Grupo de Estudo e Pesquisa Linguagem Oral Leitura e Escrita

(GEPLOLEI)

Universidade Federal de Mato Grosso ndash UFMT

2017

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil

Numa outra busca no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil110 com o

termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo constata-se o registro de 260 grupos voltados agrave pesquisa nessa

aacuterea enquanto com o termo ldquohistoacuteria da educaccedilatildeordquo haacute 497 registros Esses dados

contrapostos aos apresentados no Quadro 1 demonstram que haacute um crescimento

mesmo que tiacutemido de grupos de pesquisa voltados aos estudos histoacutericos da

alfabetizaccedilatildeo Entretanto haacute um longo caminho a percorrer para dar maior visibilidade

a essa temaacutetica

Dos grupos de pesquisa inventariados no Quadro 1 o CEALE eacute o mais antigo

Criado por Magda Soares em 1990 ele eacute um oacutergatildeo complementar da Faculdade de

Educaccedilatildeo da UFMG destacando-se por diferentes pesquisas na aacuterea de

alfabetizaccedilatildeo ensino de liacutengua portuguesa e literatura A primeira pesquisa entre as

teses e dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo vinculadas ao CEALE foi

defendida por Maciel (2001) Lucia Casasanta e o meacutetodo global de contos uma

contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Minas Gerais

Ainda na deacutecada de 1990 foram criados outros trecircs grupos de pesquisa

Em 1994 o GPHELLB na UNESP coordenado por Maria do Rosaacuterio Longo

Mortatti Nesse grupo a dissertaccedilatildeo de mestrado Cartilha do povo e cartilha Upa

cavalinho o projeto de alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho de Bertoletti (1997) e a tese

110 Tal pesquisa foi realizada no site lthttplattescnpqbrwebdgphomegt Acesso em 28 de junho de 2019 A consulta foi parametrizada de modo que os termos pesquisados estivessem vinculados ao nome do grupo eou nome da linha de pesquisa eou palavra-chave da linha de pesquisa

72

de doutorado Ensino de leitura na escola primaacuteria no Mato Grosso contribuiccedilatildeo para

o estudo de aspectos de um discurso institucional no iniacutecio do seacuteculo XX de Amacircncio

(2000) foram pioneiras por pesquisarem a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo a partir de

impressos destinados ao ensino de leitura e escrita bem como o discurso oficial

empreendido para difusatildeo dos meacutetodos para se ensinar a ler

Em 1996 na USP criou-se o NIEPHE tendo com uma das coordenadoras

Diana Gonccedilalves Vidal No acircmbito desse grupo a dissertaccedilatildeo de mestrado de Esteves

(2002) As prescriccedilotildees para o ensino da caligrafia e da escrita na escola puacuteblica

primaacuteria paulista (1910-1947) eacute o primeiro trabalho localizado que trata sobre a

temaacutetica alfabetizaccedilatildeo dedicando-se a discutir os modelos caligraacuteficos prescritos no

ensino primaacuterio em Satildeo Paulo entre os anos de 1910-1947

Em 1998 formou-se na UFRN o grupo ldquoGecircnero Educaccedilatildeo e Praacuteticas de

Leiturardquo que hoje recebe o nome de ldquoHistoacuteria da Educaccedilatildeo Literatura e Gecircnerordquo e

tem como uma das liacutederes Maria Arisnete Cacircmara de Morais Dentro dos limites da

pesquisa realizada acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil como expusemos no

item anterior nenhum trabalho vinculado a esse grupo eacute mencionado Poreacutem ao

explorarmos o repositoacuterio de teses e dissertaccedilotildees da UFRN detectamos a dissertaccedilatildeo

sob o tiacutetulo Do mestre aos disciacutepulos o legado de Nestor dos Santos Lima (1910-

1930) de Amorim (2012) que analisou os escritos de Nestor dos Santos Lima sobre

os princiacutepios e meacutetodos do ensino de leitura e escrita aplicados nos Grupos Escolares

do Rio Grande do Norte

Jaacute no seacuteculo XXI em 2004 foi criado na UFU o grupo de pesquisa ldquoHistoacuteria da

Alfabetizaccedilatildeo Lugares de Formaccedilatildeo Cartilhas e Modos de Fazerrdquo111 coordenado por

Socircnia Maria dos Santos e Mariacutelia Villela de Oliveira No contexto do grupo a primeira

pesquisa sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo eacute de Guimaratildees (2006) intitulada Histoacuterias

de Alfabetizadores Vida Memoacuteria e Profissatildeo Utilizando-se da histoacuteria oral temaacutetica

a autora busca compreender como algumas alfabetizadoras aposentadas de Patos de

MinasMG aprenderam a ler e como alfabetizaram seus alunos

111 Esse grupo funcionava desde 1992 com outro nome Nuacutecleo de Alfabetizaccedilatildeo do Triacircngulo Mineiro e Alto Paranaiacuteba Vinculado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo da UFU era composto inicialmente por professores da universidade da Escola de Educaccedilatildeo Baacutesica da UFU e das Redes Estadual e Municipal de Uberlacircndia O Nuacutecleo manteve a publicaccedilatildeo de uma Revista intitulada Revista do Alfabetizador com o objetivo de registrar as experiecircncias dos professores alfabetizadores bem como as pesquisas realizadas no contexto do Nuacutecleo A Revista era distribuiacuteda gratuitamente aos professores da educaccedilatildeo baacutesica

73

Em 2006 foi criado o HISALES na UFPel sob a coordenaccedilatildeo de Eliane

Teresinha Peres e Vania Grim Thies Nesse grupo de pesquisa o trabalho de Porto

(2005) Divulgaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do meacutetodo global de contos no Instituto de Educaccedilatildeo

Assis Brasil foi o primeiro a problematizar a questatildeo dos meacutetodos de ensino de leitura

em PelotasRS

Na Universidade Federal do Espiacuterito Santo ndash UFES o NEPALES formou-se em

2006 coordenado por Claacuteudia Maria Mendes Gontijo e Cleonara Maria Schwartz O

primeiro trabalho acadecircmico catalogado acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do

Espiacuterito Santo no NEPALES foi a dissertaccedilatildeo de mestrado A alfabetizaccedilatildeo no

Espiacuterito Santo na deacutecada 1950 de Campos (2008)

Mais recentemente em 2017 formaram-se na UNIFESP o Nuacutecleo

Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de Liacutengua e Literatura (NIPELL) e na

UFMT o Grupo de Estudo e Pesquisa Linguagem Oral Leitura e Escrita (GEPLOLEI)

Embora a criaccedilatildeo desses grupos seja mais recente a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da

literatura infantil faz parte da trajetoacuteria acadecircmica dos coordenadores O primeiro

grupo tem com coordenador Fernando Rodrigues de Oliveira e o segundo Baacuterbara

Cortella Pereira de Oliveira

Ao cotejarmos os dados da Tabela 6 que apresentou a quantidade de teses e

dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil e os do Quadro 1 que

nominou os Grupos de Pesquisa sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo localizados no

Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil percebemos que alguns grupos natildeo foram

mencionados o ldquoALFALE ndash Alfabetizaccedilatildeo e Letramento Escolarrdquo e o ldquoALLE ndash

Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escritardquo112 Esses dois grupos tambeacutem apresentam uma

produccedilatildeo acadecircmica substancial sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo destacando-se com

pesquisas que auxiliam tanto na compreensatildeo do passado como tambeacutem do presente

cenaacuterio do ensino inicial de leitura e escrita Entretanto a pesquisa que fizemos natildeo

registra esses grupos uma vez que o termo histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute

mencionado explicitamente na descriccedilatildeo dos nomes dos grupos e ou nomespalavras-

chaves das suas linhas de pesquisa

112 O ALLE em 2016 recebeu outro nome ndash ALLEAULA pois fundiu-se com outro grupo de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas ndash UNICAMP o AULA (Trabalho Docente na Formaccedilatildeo Inicial) Conserva-se aqui o nome ALLE pois as pesquisas que trataram sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo referenciadas neste trabalho no contexto desse grupo de pesquisa foram realizadas quando o grupo ainda estava sob esse tiacutetulo

74

O ALFALE criado em 2001 na Universidade Federal de Mato Grosso tem

como liacutederes Cancionila Janzkovski Cardoso e Siacutelvia de Faacutetima Pilegi Rodrigues A

principal linha de pesquisa do grupo eacute ldquoAlfabetizaccedilatildeo questotildees histoacutericas e

contemporacircneasrdquo A primeira pesquisa acadecircmica sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

defendida no acircmbito do ALFALE foi a dissertaccedilatildeo de mestrado Alfabetizaccedilatildeo na

escola primaacuteria em Diamantino - Mato Grosso (1930 a 1970) de Souza (2006)

Formado em 1998 na Universidade Estadual de Campinas ndash UNICAMP o ALLE

estaacute atualmente sob a coordenaccedilatildeo de Norma Sandra de Almeida Ferreira e Ana Luacutecia

Guedes-Pinto Ainda que natildeo se constitua o foco central de pesquisa desse grupo ele

apresenta trabalhos que se distinguem no campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo a citar

a tese de doutorado Lendo com Hilda Joatildeo Koumlpke ndash 1902 de Santos (2013) A autora

apresenta a anaacutelise de uma cartilha ndash O livro de Hilda ndash escrita por Koumlpke em 1902

e que provavelmente natildeo foi publicada Desconhecida pelo meio acadecircmico eacute

composta de histoacuterias e exerciacutecios para processuaccedilatildeo do meacutetodo analiacutetico de ensino

da leitura e da escrita

Esses grupos de pesquisa aqui relacionados auxiliaram na produccedilatildeo de uma

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo brasileira seja por pesquisas em teses e dissertaccedilotildees de

seus estudantes seja pelos projetos de pesquisa dos professores orientadores

divulgados em livros capiacutetulos de livros artigos em perioacutedicos etc

Tabela 7

Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por universidade sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Dissertaccedilatildeo Tese Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais (PUC Minas)

1 -

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUC-SP)

3 5

Universidade Catoacutelica de Santos (UNISANTOS) 1 - Universidade Catoacutelica Dom Bosco (UCDB) 1 - Universidade de Satildeo Paulo (USP) 3 2 Universidade de Uberaba (UNIUBE) 2 - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) 1 4 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) 2 - Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) 1 - Universidade Estadual do Maranhatildeo (UEMA) 1 - Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP)

8 6

Universidade Federal da Bahia (UFBA) 1 1 Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) 3 - Universidade Federal de Alagoas (UFAL) 1 -

75

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) 14 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) - 1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 3 2 Universidade Federal de Pelotas (UFPel) 8 - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 2 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 1 1 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) 1 1 Universidade Federal de Satildeo Carlos (UFSCar) 2 - Universidade Federal de Sergipe (UFS) 3 2 Universidade Federal de Uberlacircndia (UFU) 10 3 Universidade Federal de Viccedilosa (UFV) 1 - Universidade Federal do Espiacuterito Santo (UFES) 9 4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 2 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) 1 - Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) 1 - Universidade Satildeo Francisco (USF) 2 -

Total 91 34

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

As 125 produccedilotildees acadecircmicas identificadas satildeo advindas de 31 universidades

sendo que 60 delas satildeo da regiatildeo Sudeste 14 da regiatildeo Centro-Oeste 13 da

regiatildeo Nordeste e 12 da regiatildeo Sul Ateacute o momento natildeo encontramos nenhuma

dissertaccedilatildeo ou tese referente agrave histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produzida em universidade

da regiatildeo Norte O Sudeste destaca-se tambeacutem no nuacutemero de programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo e consequentemente deteacutem segundo os dados do Banco

de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes cerca de 4423 das produccedilotildees acadecircmicas

defendidas ateacute junho de 2019 nas universidades brasileiras

Nota-se pela Tabela 7 que UFES UFMT UFU e UNESP com seus respectivos

grupos de pesquisas NEPALES ALFALE ldquoHistoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Lugares de

Formaccedilatildeo Cartilhas e Modos de Fazerrdquo e GPHELLB satildeo os que detecircm os nuacutemeros

mais expressivos de pesquisas acadecircmicas

As 15 universidades do Sudeste nominadas nesta tabela totalizam 74 trabalhos

defendidos (48 dissertaccedilotildees e 26 teses) sendo que apenas 5 natildeo satildeo de programas

de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo 3 trabalhos estatildeo ligados a programas na aacuterea de

Letras da Universidade Estadual de Campinas e da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

de Satildeo Paulo 1 na aacuterea de Histoacuteria na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

e 1 na de Ciecircncias da Religiatildeo na Universidade Presbiteriana Mackenzie As

pesquisas vinculadas ao curso de Letras e Histoacuteria eram de se esperar uma vez que

76

a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo faz diferentes intersecccedilotildees com essas aacutereas do

conhecimento Todavia a dissertaccedilatildeo intitulada Benedicta Stahl Sodreacute mulher

protestante na educaccedilatildeo brasileira de Mendes (2008) identificada na Ciecircncias da

Religiatildeo chamou-nos bastante atenccedilatildeo

Mendes (2008) aborda a trajetoacuteria de vida e profissatildeo de Benedicta Stahl

Sodreacute analisando tambeacutem o material da coleccedilatildeo Sodreacute Cartilha Sodreacute Primeiro Livro

Sodreacute Segundo Livro Sodreacute Terceiro Livro Sodreacute e Quarto Livro Sodreacute Carimbos e

Cartazes A anaacutelise empreendida desvela os conteuacutedos religiosos sobretudo cristatildeos

de valores morais e eacuteticos presentes na proposta de alfabetizaccedilatildeo pensada por

Sodreacute Embora no discurso de Mendes (2008) haja marcas das crenccedilas e valores

religiosos da proacutepria autora a dissertaccedilatildeo apresenta aspectos sobre o conteuacutedo de

uma cartilha que estaacute no imaginaacuterio social de muitos brasileiros alfabetizados com a

ldquoA pata nadardquo (1ordf liccedilatildeo da Cartilha Sodreacute)

Na regiatildeo Centro-Oeste satildeo 4 universidades que totalizam 18 trabalhos

defendidos (17 dissertaccedilotildees e 1 tese) com representatividade de programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul As universidades e

seus grupos de pesquisa do estado de Goiaacutes natildeo aparecem com investigaccedilotildees em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

Sete universidades no Nordeste produziram 13 dissertaccedilotildees e 4 teses

seguidas de 5 universidades da Regiatildeo Sul com total de 13 dissertaccedilotildees e 3 teses

Na regiatildeo Nordeste 5 pesquisas satildeo de programas de poacutes-graduaccedilatildeo externos

agrave educaccedilatildeo duas na aacuterea de Histoacuteria duas na aacuterea de Letras e uma no Mestrado em

Direitos Humanos Cidadania e Poliacuteticas Puacuteblicas da Universidade Federal da

Paraiacuteba Essa uacuteltima de autoria de Santos (2015) intitulada Direito humano agrave

memoacuteria da educaccedilatildeo de adultos no Brasil autoritaacuterio documentos legais e narrativas

de ex participantes do MOBRAL (1967-1985) aborda a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de

adultos reconstituindo a memoacuteria educacional do Movimento Brasileiro de

Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

Jaacute no Sul apenas uma pesquisa natildeo estaacute vinculada aos programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo a tese de doutorado de Vojniak (2012) O Impeacuterio das

primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de alfabetizaccedilatildeo no

77

seacuteculo XIX113 defendida no programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade

Federal de Santa Catarina Nessa regiatildeo destaca-se o jaacute citado grupo de Pesquisa

HISALES da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que conta com um dos

maiores acervos de fontes histoacutericas sobre o ensino de leitura e escrita do Sul do

paiacutes114

Saindo do espaccedilo onde as teses e dissertaccedilotildees foram produzidas passando

aos seus conteuacutedos foi possiacutevel mapear os lugares aos quais as pesquisas se

referiam organizando um panorama dos estados que tecircm investigaccedilotildees sobre as

suas histoacuterias da alfabetizaccedilatildeo conforme registrado na Tabela 8

113 Essa pesquisa foi publicada em formato de livro sob o mesmo tiacutetulo da tese pela Editora Prismas em 2014 (VOJNIAK 2014) 114 Segundo dados do site do HISALES lthttpwpufpeledubrhisalesgt com acesso em 30 de junho de 2019 o grupo conta com um acervo de 2001 cadernos de alunos (ciclo de alfabetizaccedilatildeo e outras seacuteries) 281 cadernos de planejamento (diaacuterios de classe) de professoras 1255 livros para ensino da leitura e da escrita nacionais e estrangeiros 49 livros para ensino da leitura e da escrita em liacutengua nacional ldquoartesanaisrdquo 126 livros para ensino da leitura e da escrita em liacutengua estrangeira 359 livros didaacuteticos produzidos no Rio Grande do Sul entre 1940 e 1980 691 escritos pessoais e familiares tais como agendas cadernetas diaacuterios etc aleacutem de materiais didaacutetico-pedagoacutegicos

78

Tabela 8 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo dos estados

brasileiros

Estado Quantidades de

Dissertaccedilotildeesteses

Alagoas 1

Bahia 2

Espiacuterito Santo 13

Goiaacutes 1

Maranhatildeo 2

Mato Grosso 15

Mato Grosso do Sul 2

Minas Gerais 25

Paraiacuteba 3

Paranaacute 1

Pernambuco 3

Rio de Janeiro 1

Rio Grande do Norte 2

Rio Grande do Sul 12

Santa Catarina 1

Satildeo Paulo 22

Sergipe 4

Brasil 15

Total 125

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes

Em cerca de 85 das dissertaccedilotildees e teses haacute uma convergecircncia entre o lugar

(universidade) onde as pesquisas foram defendidas e o lugar (estado) a que se

referem Portanto a tendecircncia eacute de os programas de poacutes-graduaccedilatildeo investirem em

investigaccedilotildees alusivas ao seu estado

Quinze pesquisas natildeo tratavam especificamente de um estado mas do Brasil

de modo geral Como exemplo citamos a pesquisa de Silva (1998) que se apoiou na

Anaacutelise do Discurso especialmente nos trabalhos de Michel Pecirccheux buscando

compreender o processo de constituiccedilatildeo dos sentidos e dos sujeitos da

escolarizaccedilatildeoalfabetizaccedilatildeo no Brasil a partir dos discursos religiosos (seacuteculo XVI e

XVII) e cientiacuteficos (seacuteculo XIX e XX) que retratavam as poliacuteticas linguiacutesticas e

pedagoacutegicas de leitura e escrita

No total foram 17 estados pesquisados As dissertaccedilotildees eou teses geralmente

tinham como loacutecus uma cidade de um estado Poreacutem haacute aquelas que estudam o

79

discurso empreendido em niacutevel estadual natildeo se limitando agraves experiecircncias de um

municiacutepio eou grupo de professores

A regiatildeo Sudeste permanece como destaque com os maiores nuacutemeros de

pesquisas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Minas Gerais e Satildeo Paulo satildeo os dois

estados mais investigados seguidos do Espiacuterito Santo Aleacutem dos argumentos jaacute

relacionados anteriormente que justificam a quantidade de investigaccedilotildees sobre

alfabetizaccedilatildeo nessas localidades tambeacutem consideramos a organizaccedilatildeo e acesso115

aos arquivos puacuteblicos e agraves fontes documentais na capital mineira e paulista um

facilitador para a realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees historiograacuteficas

Ainda no Sudeste temos apenas uma dissertaccedilatildeo sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Rio de Janeiro Nesse estado a Universidade Federal Fluminense ndash

UFF abrigou dois projetos de pesquisa sob a coordenaccedilatildeo da Professora Cecilia

Maria Aldigueri Goulart acerca desta temaacutetica O primeiro entre os anos 2004-2007

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no municiacutepio de Niteroacutei ao longo do seacuteculo XX o

segundo de 2011-2014 que foi uma expansatildeo do primeiro analisou as propostas de

ensino-aprendizagem da escrita formuladas pela Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

do RJ nas deacutecadas de 1970 e 1980 Esses projetos deram origem ao relatoacuterio de

pesquisa apresentado agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

(FAPERJ)116 posteriormente divulgado em publicaccedilotildees de artigos em livros textos

em anais de evento117 e um cataacutelogo intitulado O ensino inicial da leitura e da escrita

na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000)118

115 Esse acesso eacute facilitado muitas vezes pelos mecanismos de digitalizaccedilatildeo das fontes como ocorre atualmente no Arquivo Puacuteblico Mineiro (Belo Horizonte) Aleacutem disso os cataacutelogos e diferentes fontes histoacutericas estatildeo disponiacuteveis nos sites dos Arquivos o que tambeacutem auxilia o trabalho do historiador 116 O relatoacuterio apresentado agrave FAPERJ intitulado O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) uma visatildeo histoacuterica no contexto da educaccedilatildeo fluminense e da cidade de Niteroacutei no seacuteculo XX foi coordenado por Cecilia Goulart e contou com a participaccedilatildeo de 10 pesquisadores vinculados ao PROALE ndash Programa de Alfabetizaccedilatildeo e Leitura da UFF O relatoacuterio eacute composto por trecircs partes A primeira detalha o cenaacuterio da educaccedilatildeo fluminense e aspectos do ensino de leitura e escrita ateacute meados do seacuteculo XX a segunda apresenta uma visatildeo histoacuterica dos aspectos poliacutetico-pedagoacutegicos do ensino da leitura e da escrita da rede municipal de Niteroacutei a terceira faz consideraccedilotildees acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Niteroacutei no periacuteodo estudado Agradecemos agrave Professora Cecilia Goulart que nos enviou uma coacutepia do relatoacuterio para anaacutelise 117 Cf Goulart e Abiacutelio (2007 2010) Goulart (2008 2011) 118 O cataacutelogo O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) foi organizado por Goulart Abiacutelio e Mattos (2007) Editado pelo PROALEUFF e com apoio da FAPERJ tem 48 paacuteginas e formato de 145 x 21 cm A tiragem da publicaccedilatildeo

80

No Sul haacute pesquisas de todos os estados entretanto destaca-se o Rio Grande

do Sul com 12 trabalhos jaacute defendidos que trataram sobre a sua histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo

No Nordeste natildeo foram identificadas pesquisas sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo do Piauiacute e Cearaacute Sergipe se sobressaiu em relaccedilatildeo aos outros estados

da regiatildeo nordestina com 4 pesquisas

Na regiatildeo Norte embora as palavras-chave por noacutes selecionadas na busca no

Banco de Dissertaccedilotildees e Teses da Capes natildeo tenham dado em retorno duas

pesquisas jaacute divulgadas em artigos de perioacutedicos e capiacutetulos de livros Correcirca

(2006)119 e Coelho (2008)120 consideramos que ambas nos possibilitam entender

aspectos importantes para a historiografia do ensino de leitura e escrita no Amazonas

e no Paraacute Na tese de Correcirca (2006) embora mais direcionada agrave histoacuteria da leitura e

do livro no contexto educacional amazonense os capiacutetulos que versam sobre as

cartilhas e livros de leitura esclarecem questotildees particulares dos meacutetodos e praacuteticas

de ensino de leitura no estado Jaacute na tese de Coelho (2008) a proposta eacute voltada para

a compreensatildeo de uma cultura escolar no Paraacute nas deacutecadas de 1920 a 1940 todavia

haacute itens referentes agrave alfabetizaccedilatildeo e aos livros para o ensino de leitura nesse estado

No Centro-Oeste o estado do Mato Grosso se evidencia com 15 pesquisas

Entre estas como jaacute referenciado apenas o trabalho de doutoramento de Amacircncio

(2000) foi defendido na UNESP no acircmbito do GPHELLB As demais quatorze

pesquisas satildeo advindas do grupo ALFALE na UFMT

Sobre o Mato Grosso do Sul satildeo duas pesquisas produzidas em programas de

poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo do proacuteprio estado

Por fim na regiatildeo Centro-Oeste estaacute o estado de Goiaacutes loacutecus desta tese

Identificamos um estudo que auxilia na compreensatildeo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

desse estado a tese de Abreu (2006) A instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes no

foi de 1000 exemplares que segundo uma das organizadoras Cecilia Goulart foram distribuiacutedos gratuitamente aos pesquisadores interessados e professores da educaccedilatildeo baacutesica aleacutem de ser utilizados como material didaacutetico nas turmas da disciplina Alfabetizaccedilatildeo no curso de Pedagogia da UFF Agradecemos agrave Professora Cecilia Goulart que generosamente nos enviou uma coacutepia do cataacutelogo para anaacutelise 119 Cf Correcirca e Silva (2008 2010) 120 Parte da pesquisa de Coelho (2008) foi difundida apoacutes a realizaccedilatildeo do seu poacutes-doutoramento (2013-2014) na Universidade Federal de Minas Gerais sob orientaccedilatildeo da Professora Francisca Izabel Pereira Maciel Cf Coelho e Maciel (2014a 2014b 2018)

81

seacuteculo XIX vinculada ao Doutorado em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica Sociedade da

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

Abreu (2006) tinha por objetivo analisar o processo de criaccedilatildeo e expansatildeo das

escolas de primeiras letras a constituiccedilatildeo da carreira docente e o exerciacutecio do

magisteacuterio na proviacutencia de Goiaacutes no periacuteodo de 1835 e 1893 As duas datas natildeo

escolhidas arbitrariamente se correlacionam com os propoacutesitos do estudo A primeira

marcou o ano em que foi promulgada a primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica ndash Lei

nordm 13 de 23 de julho de 1835 a segunda de acordo com a autora eacute a de quando

ocorreu uma cisatildeo entre o modelo escolar imperial e a repuacuteblica em Goiaacutes por meio

da sanccedilatildeo do primeiro regulamento da instruccedilatildeo primaacuteria poacutes-proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica ndash Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893 A tese em questatildeo embora

natildeo tenha objeto central o ensino inicial de leitura e escrita cita-o para compreender

o processo de institucionalizaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria no territoacuterio goiano Embora

natildeo haja um aprofundamento analiacutetico sobre os meacutetodos e materiais para ensinar a

crianccedila a ler e escrever concebemos o trabalho de Abreu (2006) como marco e

referencial nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteria de Goiaacutes

e portanto para a sua histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

Nesse ponto eacute necessaacuterio destacar que as pesquisas desenvolvidas por

Valdez (2003 2010121 2011 2016) embora natildeo sejam produccedilotildees acadecircmicas em

formato de dissertaccedilatildeo eou tese como estamos aqui destacando tecircm auxiliado na

histoacuteria da leitura e do livro em Goiaacutes logo notadamente trazem elementos para

discutirmos aspectos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no territoacuterio goiano no oitocentos

sendo referenciais recorrentemente utilizados neste trabalho

Haja vista a escassez de pesquisas que tratem especificadamente do campo

temaacutetico da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes nosso trabalho justifica-se pela sua

originalidade em mapear os principais meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo cartilhas e livros

adotados no periacuteodo imperial

Para a escrita dessa histoacuteria e de tantas outras Certeau (2002) nos lembra que

a operaccedilatildeo historiograacutefica passa necessariamente pelas praacuteticas pelas quais o

historiador lida diretamente com o tempo e as fontes histoacutericas

Nas teses e dissertaccedilotildees inventariadas no decorrer deste capiacutetulo natildeo

diferente das pesquisas de outros campos da histoacuteria percebemos a delimitaccedilatildeo de

121 Texto publicado em coautoria cf Valdez Rodrigues e Oliveira (2010)

82

um recorte temporal justificada a partir das fontes que o pesquisador utiliza Ideia que

Saviani corrobora ao afirmar que ldquoas fontes estatildeo na origem constituem o ponto de

partida a base o ponto de apoio da construccedilatildeo historiograacutefica [] eacute delas que brota

e nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da histoacuteriardquo (SAVIANI

2005 p 5-6)

Em consonacircncia com o estudo de Frade (2018) notamos que as principais

fontes usadas nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

satildeo de natureza escrita documentos escolares (diaacuterios de classe mapas cadernos

escolares incluindo o do aluno e o de planejamento do professor etc) documentos

oficiais livros (cartilhas livros e manuais para ensinar a ler e escrever etc) imprensa

perioacutedica (jornais e revistas para o puacuteblico em geral e tambeacutem outros especificamente

direcionados para professores como por exemplo os jornais pedagoacutegicos e

escolares as revistas de ensino etc) Essas fontes satildeo comumente advindas de

arquivos puacuteblicos pessoais e escolares

As iconografias nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

como jaacute apontamos em trabalho anterior122 natildeo foram objeto privilegiado de estudo

As fontes iconograacuteficas quando utilizadas tornaram-se frequentemente adorno agraves

outras fontes geralmente para comprovar algo sobretudo de natureza oral ou escrita

As fontes orais na uacuteltima deacutecada tiveram uma crescente adesatildeo dos

pesquisadores Sobre o seu emprego percebemos algumas tendecircncias A primeira eacute

do imperativo domiacutenio do documento escrito jaacute que assim como as iconografias as

narrativas orais muitas vezes foram empregadas para ratificar o conteuacutedo de outras

fontes A segunda tendecircncia eacute de que as pessoas entrevistadas satildeo mulheres e

professoras O trabalho de doutorado de Santos (2001) intitulado Histoacuterias de

Alfabetizadoras Brasileiras entre saberes e praacuteticas eacute pioneiro no uso das fontes

orais na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo reunindo 12 histoacuterias orais temaacuteticas de professoras

que narram o que eacute ser alfabetizadora no Brasil

Embora haja uma diversidade de fontes na composiccedilatildeo das 125 teses e

dissertaccedilotildees arroladas anteriormente observamos que haacute um expressivo conjunto de

produccedilotildees acadecircmicas que privilegiaram os documentos escolares e os livros

escolares com destaque para as cartilhas como as principais fontes para analisar os

materiais os meacutetodos e as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo vem ao

122 Sobre o uso das iconografias na historiografia da alfabetizaccedilatildeo cf Rocha Carvalho (2018)

83

encontro do que Mortatti (2011a) Frade (2018) e Cardoso e Amacircncio (2018) jaacute

assinalaram em seus estudos

O mapeamento tambeacutem fez-nos constatar que os trabalhos analisados estatildeo

atentos agraves precauccedilotildees apontadas por historiadores como Lombardi (2004) a

pesquisa natildeo deve recorrer apenas a uma uacutenica fonte e sim ao diaacutelogo entre as

diferentes fontes e os seus problemas de investigaccedilatildeo Afinal ldquoos textos ou os

documentos arqueoloacutegicos mesmo os aparentemente claros e mais complacentes

natildeo falam senatildeo quando sabemos interrogaacute-losrdquo (BLOCH 2001 p 79)

No que concerne aos tempos aos quais as teses e dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo arroladas anteriormente fazem menccedilatildeo seguindo as interpretaccedilotildees

mais recorrentemente utilizadas na periodizaccedilatildeo da histoacuteria do Brasil copilamos na

tabela a seguir os periacuteodos sobre os quais incidem as pesquisas

Tabela 9

Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por periacuteodo da histoacuteria do Brasil

Periacuteodo Quantidade de teses e dissertaccedilotildees

Colocircnia (1500-1822) 5 Impeacuterio (1822-1889) 22

Primeira Repuacuteblica (1889-1930) 32 Era Vargas (1930-1945) 29

Desenvolvimentismo (1945-1964) 41 Ditadura Civil-Militar (1964-1985) 51

1985-atual 32 Total 212123

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Esse conjunto de dados evidencia que os estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

seguem a tendecircncia da histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira (ALVES 1998 XAVIER 2001

CATANI FARIA FILHO 2002) havendo um nuacutemero reduzido de pesquisas nos

seacuteculos que abrangem o periacuteodo colonial talvez devido agrave dificuldade de acesso agraves

fontes bem como agrave conservaccedilatildeo delas para pesquisa

Em contrapartida o seacuteculo XX tem a maior quantidade de investigaccedilotildees com

destaque para o nuacutemero significativo de trabalhos que abordaram o momento da

123 Eacute importante explicar que a somatoacuteria dos periacuteodos nessa tabela ultrapassa o nuacutemero de teses e dissertaccedilotildees jaacute que haacute trabalhos cujo recorte temporal estaacute inscrito em mais de um periacuteodo da histoacuteria motivo pelo qual os alocamos nos diferentes momentos a que eles fazem menccedilatildeo

84

histoacuteria do Brasil conhecido como ditadura civil-militar Na tabela ainda podemos notar

que os trecircs uacuteltimos periacuteodos satildeo os mais pesquisados tanto pela facilidade de acesso

aos documentos como pela possibilidade de diaacutelogo com os sujeitos por meio da

histoacuteria oral

Cada recorte temporal exige uma praacutetica historiograacutefica diferente Quanto mais

tempo recuarmos na histoacuteria certamente maior cuidado devemos ter na coleta e

seleccedilatildeo das fontes bem como no tratamento delas pois afinal fazer a leitura de um

documento do seacuteculo XVII natildeo eacute o mesmo que ler outro do seacuteculo XX Haacute que se

considerar que os modelos suportes e materiais de escrita nesses seacuteculos satildeo

diferentes demandando meacutetodos especiacuteficos para anaacutelise dos dados

13 CONCLUSOtildeES PARCIAIS

No decorrer desta seccedilatildeo fizemos um inventaacuterio das pesquisas sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo no Brasil destacando a produccedilatildeo acadecircmica em Goiaacutes e sobre

Goiaacutes ndash estado que eacute o objeto central de estudo neste trabalho Nota-se portanto que

natildeo haacute uma produccedilatildeo consolidada sobre o estado fato justificado pelos diferentes

dados e apontamentos realizados nesta parte da tese

Para aleacutem dos dados apresentados numa consulta integrada agrave Base SciELO

com o termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo foram identificados 10 registros de artigos

publicados em 5 perioacutedicos cientiacuteficos brasileiros entre 2000 e 2019 Com a mesma

palavra-chave no Portal de Perioacutedicos da CapesMEC com o filtro para identificaccedilatildeo

apenas de artigos na busca por assunto essa expressatildeo gera 26 resultados em 15

perioacutedicos cientiacuteficos brasileiros Importante destacar que analisando todas essas

produccedilotildees nenhuma delas trata sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes

o que impotildee desafios para construccedilatildeo desta tese e ao mesmo tempo confere-lhe um

caraacuteter ineacutedito

Olhando todos esses dados constatamos que os que fazem pesquisa sobre

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em sua grande maioria satildeo pesquisadores que tecircm

inicialmente uma experiecircncia acadecircmica eou profissional na linha de saberes e

praacuteticas contemporacircneas do ensino de leitura e escrita Esses pesquisadores hoje

embora se dediquem mais agrave perspectiva histoacuterica ainda fazem pesquisas sobre

questotildees da alfabetizaccedilatildeo na atualidade

85

Por fim eacute preciso destacar que estabelecer um estado da arte dos trabalhos

que estatildeo inseridos numa determinada temaacutetica de pesquisa embora seja um

exerciacutecio laborioso eacute ao mesmo tempo fundamental natildeo soacute para verificar o que se

tem produzido quanto se tem produzido e por que se tem produzido sobre aquele

tema de pesquisa como tambeacutem para entrar em contato com um modo de fazer num

determinado campo O levantamento e leitura dos trabalhos da histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo provocou uma ruptura com certezas hermeacuteticas e a formulaccedilatildeo de

novas problematizaccedilotildees (e outras que ainda seratildeo feitas) desdobradas em trabalhos

que extrapolam esta tese extrapolam nosso objeto e objetivos aqui definidos Afinal

como Graff (1994) nos lembra a ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em outras palavras nunca

pode ser uma histoacuteria isolada abstraiacuteda ela eacute uma histoacuteria com outras histoacuterias

maiores complexas da sociedade da cultura do sistema poliacutetico e da economiardquo

(GRAFF 1994 p 174)

Portanto propomo-nos neste trabalho e doravante a constituir a nossa

interpretaccedilatildeo ndash nos termos da polifonia bakhtiniana ndash da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

goiana Nas diferentes dimensotildees do tempo acompanhando seus (des)compassos e

(des)estabilizando alguns sentidos histoacutericos construiacutedos sobre a educaccedilatildeo no estado

de Goiaacutes eacute um convite para uma viagem na proviacutencia de Goiaacutes

Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terriacutevel que lhe deres Trouxeste a chave []rdquo (ANDRADE 2002 p 106)

86

PARTE II

ALFABETIZANDO CRIANCcedilAS NA PROVIacuteNCIA DE GOIAacuteS

ldquoQuerida Luci

Finalmente cheguei a Goiaacutez Natildeo podes nem de leve

imaginar a emoccedilatildeo que senti quando avistei as primeiras

casas da cidade dessa querida cidade em que nasci

Apoderou-se de mim uma vertigem e como no cinema

desenrolaram-se os fatos histoacutericos ou os enredos de um

dramardquo

(MONTEIRO 1934 p 26)

87

2 A INSTRUCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA EM

GOIAacuteS NO PERIacuteODO IMPERIAL ____________________________________

O Ato Adicional de 1834 desencadeou uma discussatildeo em todo Brasil sobre a

responsabilidade de garantir a oferta da instruccedilatildeo puacuteblica nas proviacutencias (SAVIANI

2006 CASTANHA 2007) Ele estabelecia medidas poliacutetico-administrativas

descentralizadoras concedendo agraves Assembleias Legislativas Provinciais a funccedilatildeo de

legislar sobre o ensino primaacuterio e secundaacuterio enquanto o Governo Central se

responsabilizava pelo ensino superior Com isso a Lei de 15 de outubro de 1827

(BRASIL 1827)124 deixava de ter efeito ldquopassando a existir diversas formas de

ordenamento da instruccedilatildeo primaacuteriardquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO

2015 p 258)

Diferentes estudos da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil apontam que durante

muitos anos em virtude da falta de recursos nas proviacutencias a instruccedilatildeo primaacuteria ficou

relegada a segundo plano em peacutessima situaccedilatildeo devido agrave falta de escolas e de

professores qualificados o que evidenciava conforme Saviani (2006) alude a

124 Essa lei dispunha da criaccedilatildeo das escolas de primeiras letras e unificava por meio da adoccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo a organizaccedilatildeo escolar no paiacutes Entre algumas de suas prerrogativas legais ficou tambeacutem estabelecido o que os professores iriam ensinar nessas escolas leitura escrita as quatro operaccedilotildees aritmeacuteticas praacuteticas de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais da geometria praacutetica a gramaacutetica da liacutengua nacional os princiacutepios da moral cristatilde e da doutrina do catolicismo A lei tambeacutem indicava a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil como as principais leituras escolares

88

omissatildeo do Governo Central quanto agrave educaccedilatildeo Entretanto analisando tal periacuteodo

haacute entre os historiadores uma controversa opiniatildeo

Castanha (2007) define que haacute um primeiro grupo de pesquisadores125 que

defende que o Ato Adicional fez com que a instruccedilatildeo nas proviacutencias fracassasse jaacute

que elas natildeo tinham condiccedilotildees para mantecirc-la Ao colocar a instruccedilatildeo primaacuteria e

secundaacuteria sob responsabilidade das proviacutencias renunciava-se assim ldquoa um projeto

de escola puacuteblica nacionalrdquo (SAVIANI 2006 p 17) Portanto a educaccedilatildeo em cada

uma delas segundo Marcilio (2005) foi concebida sem um projeto de uniformidade

fragmentando-se ldquoao sabor volitivo de cada presidente [de proviacutencia] que se sucedia

a maioria dos quais se acreditava na obrigaccedilatildeo de efetuar a sua reforma de ensino

regional Estabeleceu-se assim o caos nesse setorrdquo (MARCILIO 2005 p 49)

Outro grupo de pesquisadores126 conforme Castanha (2007) aponta relativiza

o processo projetando a visatildeo de que a descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa

provocada pelo Ato de 1834 natildeo foi a responsaacutevel pelo fracasso da instruccedilatildeo puacuteblica

no paiacutes jaacute que ldquoatribuir a uma lei como o Ato Adicional de 1834 todas as mazelas que

dificultam e postergam o desenvolvimento de um sistema nacional de ensino significa

secundarizar o impacto das determinaccedilotildees externas sobre o processo educacionalrdquo

(VIEIRA FREITAS 2003 p 62)

Castanha (2007) sustenta a tese de que os discursos na historiografia

brasileira sobretudo do primeiro grupo se deram sob forte influecircncia do estudo A

Cultura Brasileira de Fernando de Azevedo que apontou que a educaccedilatildeo apoacutes o Ato

Adicional de 1834 arrastou-se ldquoatraveacutes de todo o seacuteculo XIX inorganizada anaacuterquica

incessantemente desagregadardquo (AZEVEDO 1976 p 76) Considerando que o autor

escreveu esse livro em meio ao regime de Estado Novo apoiando-se especialmente

em Joseacute Liberato Barroso Castanha (2007) assinala que as pesquisas sobre o Ato

Adicional na historiografia brasileira vecircm repetidas vezes tomando como referecircncia

e sem contestaccedilatildeo as proposiccedilotildees de Azevedo a partir de uma anaacutelise documental

que desconsidera o contexto do qual os documentos foram resultantes e defende que

o Ato de 1834 ldquofacilitou a criaccedilatildeo administraccedilatildeo e inspeccedilatildeo das escolas nas diversas

125 Representado principalmente pelos pesquisadores Romanelli (2000) Ribeiro (2001) Saviani (2006) dentre outros 126 Representado principalmente pelos pesquisadores Cunha (1980) Sucupira (1996) Hilsdorf (2003) Vieira e Freitas (2003) dentre outros

89

vilas e freguesias espalhadas no Brasilrdquo (CASTANHA 2007 p 498) contribuindo para

a expansatildeo da instruccedilatildeo elementar pelos rincotildees do Impeacuterio brasileiro

Aderindo agraves proposiccedilotildees de Castanha (2007) sem adentrar o limbo das

controveacutersias entre os estudos da historiografia educacional a respeito do Ato

Adicional mostraremos ao longo deste capiacutetulo que em Goiaacutes essa lei fez com que

a proviacutencia administrasse as escolas de primeiras letras com a forccedila motriz dos ideais

catoacutelicos

Logo o objetivo desta seccedilatildeo eacute traccedilar um panorama geral da escola goiana

entre 1835 a 1886 observando as bases de um projeto de sociedade que se

arquitetava sob a influecircncia da Igreja mas que vinha se abrindo para as propostas de

modernidade do seacuteculo XIX num diaacutelogo constante com as poliacuteticas governamentais

da Corte Ao mesmo tempo pretendemos que essas discussotildees contextualizem a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes sendo o cenaacuterio onde se ensinava as crianccedilas a

ler e escrever

Outrossim insta esclarecer que organizamos as discussotildees em dois itens

definidos cronologicamente e em sintonia com nosso objeto de estudos a

alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes

Por isso o primeiro item abriga as legislaccedilotildees e o panorama poliacutetico entre 1835

e 1869 Na primeira data como veremos foi sancionada a primeira lei do ensino

goiano em consequecircncia do Ato Adicional de 1834 (BRASIL 1834) E em 1869 foi

aprovado novo Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes

pela Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 sancionado pelo Presidente Ernesto

Augusto Pereira (GOIAacuteS 1869) que dava visibilidade ao uso dos livros escolares para

conduccedilatildeo das praacuteticas em sala de aula o que se refletiu significativamente nos

materiais e modos de ensinar leitura e escrita nas escolas goianas

No segundo item a discussatildeo comporta as iniciativas e regulamentaccedilotildees entre

1869 a 1886 quando haacute a entrada dos livros e materiais escolares nas leis A anaacutelise

dos documentos identificou neles a explicitaccedilatildeo da dificuldade de a escola ensinar a

ler e escrever se natildeo houvesse a disponibilizaccedilatildeo dos objetos necessaacuterios sobretudo

os livros e outros instrumentos tais como tinta papel caneta pena laacutepis lousa giz

esponjas etc

90

21 1835 A 1869

Natildeo podemos desconsiderar que o Ato Adicional de 1834 provocou significativo

aumento na publicaccedilatildeo de legislaccedilotildees nas proviacutencias que visavam normatizar

sobretudo a instruccedilatildeo primaacuteria Em Goiaacutes em 1835 a Assembleia Legislativa

Provincial aprovou e o Presidente da proviacutencia de Goiaacutes Joseacute Rodrigues Jardim

sancionou a primeira lei goiana da instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835

(GOIAacuteS 1835) Essa lei criou as escolas graduadas jaacute no primeiro artigo

diferenciando-as pelas mateacuterias que seriam lecionadas Na escola de 1ordm grau se

ensinava a ldquoler escrever a pratica das quatro operaccedilotildees Arithmeticas e a Doutrina

Christatilderdquo jaacute na de 2ordm grau ldquoler escrever Arithmetica ateacute as proporccedilotildees Grammatica

da Lingoa Nacional e as noccedilotildees geraes dos deveres moraes e religiososrdquo (GOIAacuteS

1835 art 1ordm)

A lei foi composta por 26 artigos que arquitetavam o funcionamento das escolas

a partir da obrigatoriedade de os ldquopais de famiacuteliardquo ofertarem instruccedilatildeo primaacuteria aos

filhos de 5 a 8 anos de idade estendendo-se tambeacutem aos que tinham 14 anos

(GOIAacuteS 1835 art 9ordm e 10) Previa inclusive multa agrave famiacutelia que descumprisse tal

medida

A regecircncia das aulas estava a cargo de um professor brasileiro ou estrangeiro

que professasse a religiatildeo catoacutelica com mais de 21 anos de idade e de bom

comportamento que ensinaria os conhecimentos das mateacuterias exigidas na lei

(GOIAacuteS 1835 art 11)

Embora natildeo explicite o meacutetodo de ensino recomendado ao professor a lei traz

posteriormente nos Regulamentos de Ensino algumas marcas da proposta

metodoloacutegica a ser empregada A primeira marca eacute relativa a um nuacutemero miacutenimo de

alunos que deveratildeo frequentar habitualmente a escola (GOIAacuteS 1835 art 2ordm) a

segunda se relaciona ao fato de que ao afirmar sobre a obrigatoriedade escolar

tambeacutem abre a possibilidade de a famiacutelia ofertar a educaccedilatildeo na escola puacuteblica ou

particular ou na proacutepria casa (GOIAacuteS 1835 art 9ordm)

Nesse periacuteodo circulavam no Impeacuterio as praacuteticas com o meacutetodo muacutetuo ndash

tambeacutem conhecido como monitorial ou lancasteriano ndash que se tornou oficial nas

proviacutencias por meio da mencionada da Lei de 15 de outubro de 1827 (BRASIL

91

1827)127 No entanto Arauacutejo e Silva (1975) argumenta que na proviacutencia de Goiaacutes

adotava-se com maior ecircnfase o meacutetodo individualordinaacuterio uma vez que as escolas

nesse periacuteodo funcionavam em casas residenciais geralmente dos professores ou

em espaccedilos domeacutesticos cedidos por famiacutelias abastadas que tinham interesse em

instruir os filhos com os conhecimentos rudimentares da leitura escrita doutrina cristatilde

e caacutelculo Outrossim a falta dos materiais para execuccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo tambeacutem

era um fator que prejudicava sua efetivaccedilatildeo jaacute que demandava entre outros o

quadro-negro e a ardoacutesialousa individual instrumentos didaacuteticos importados e de alto

custo128

Na instalaccedilatildeo da Assembleia Legislativa Provincial de Goiaacutes em 1ordm de junho de

1835 o Presidente Joseacute Rodrigues Jardim se pronunciou descrevendo o cenaacuterio do

ensino de primeiras letras na proviacutencia formado por ldquooito Cadeiras de Primeiras Letras

pelo methodo de Lancaster deseseis pelo methodo Individualrdquo (JARDIM Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1835 p 6) Na sequecircncia tambeacutem reitera que o ensino muacutetuo

natildeo havia apresentado o resultado esperado o que a nosso ver corroborou para sua

natildeo recomendaccedilatildeo na primeira lei de ensino promulgada em Goiaacutes Apesar de natildeo

justificar o fracasso desse meacutetodo no territoacuterio goiano a imprensa destacou a

dificuldade de implantaacute-lo

O Matutina Meyapontense129 primeiro jornal perioacutedico publicado em Goiaacutes

desde as suas primeiras ediccedilotildees relatava a dificuldade de se difundir o ensino pelo

meacutetodo muacutetuo nas escolas jaacute que faltavam professores habilitados O jornal tambeacutem

informava que mesmo havendo diferenccedila de salaacuterios entre os mestres da cadeira de

127 O meacutetodo muacutetuo no Brasil jaacute circulava e era propagandeado muito antes de a Lei de 15 de outubro de 1827 oficializaacute-lo Bastos (1999) aponta que a primeira referecircncia no paiacutes sobre esse meacutetodo aparece no Correio Brasiliense em 1816 em uma seacuterie de publicaccedilotildees de artigos sobre o meacutetodo Lancaster aconselhando-o sobretudo pelas suas vantagens econocircmicas a economia no salaacuterio do professor pois era apenas um mestre encarregado de vaacuterios alunos e na compra de livros elementares e papel A partir do iniacutecio da deacutecada de 20 do seacuteculo XIX algumas salas de aulas de ensino muacutetuo foram abertas no Rio de Janeiro 128 Os trabalhos de Barra (2013 2016) discutem o papel dos utensiacutelios escolares em especial da lousa na propagaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo dos meacutetodos de ensino A partir da relaccedilatildeo entre material e meacutetodo Barra (2013 2016) tambeacutem descreve como o custo influencia na prescriccedilatildeo de certas praacuteticas de ensino na escola 129 Esse jornal circulou entre 1830 a 1834 e encontra-se totalmente digitalizado e disponibilizado em CD-ROM A digitalizaccedilatildeo fez parte de um projeto de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural da Agecircncia Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira AGEPEL Agradecemos agrave Beatriz Otto de Santana que ocupava em julho de 2017 o cargo de Superintendente Substituta do Iphan em Goiaacutes pelo auxiacutelio ao enviar o CD-ROM com todas as ediccedilotildees do Matutina Meyapontense

92

ensino individual (150$ reis) e da cadeira de ensino muacutetuo (240$ reis)130 natildeo havia

profissionais formados para atender a demanda da educaccedilatildeo na proviacutencia o que

ocasionava a abertura de escolas de ensino individual

O Secretario disse que tendo considerado as muitas difficuldades se devem encontrar para acquisiccedilaotilde de Professores habeis de Ensino Mutuo como he o desta Cidade e desejando do modo possiacutevel que se propaguem as luzes quanto antes por todos esses Arraiaes onde naotilde ha Escolas de 1 letras a excepccedilaotilde de Trahiras e Natividade que as tem era a sua opiniaotilde que por ora se estabeleccedilaotilde nelles as del ensino individual ou ordinario e que no futuro se estabeleceraotilde as de ensino mutuo onde melhor conviereuml (MATUTINA MEYAPONTENSE 12 de agosto de 1830 p 2)

Haveraacute Escolas de 1 letras pelo methodo ordinario na Villa da Palma e nos Arrayaes Cavalcante S Felis Flores S Domingos Conceiccedilaotilde Carmo Porto Imperial e Carolina conservando-se as que haacute em Trahiras e Natividade em quanto as circunstancias nao permittirem o estabelecimento de Escolas de Ensino Mutuo em todos ou em alguns dos mencionados lugares (MATUTINA MEYAPONTENSE 14 de agosto de 1830 p 1)

Em ediccedilotildees do Matutina Meyapontense de 1830 a 1834 evidencia-se o debate

na implantaccedilatildeo e dificuldade em manter as cadeiras de ensino muacutetuo na proviacutencia

algumas classes eram abertas mas pela falta de preparaccedilatildeo do professor com o

meacutetodo muacutetuo acabavam sendo fechadas ou transformadas em classes do meacutetodo

individual que ldquoembora natildeo indicado oficialmente apoacutes 1835 gozou de ampla

disseminaccedilatildeo em todo o territoacuterio goianordquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 109)

Em ofiacutecio datado de 1837 o entatildeo Presidente da Proviacutencia Joseacute Rodrigues

Jardim autor da Lei Provincial nordm 13 de 23 de junho de 1835 (GOIAacuteS 1835) remeteu

ao Delegado de Instruccedilatildeo Primaacuteria da Vila de Natividade uma ordem a respeito do

uso do meacutetodo lancasteriano

23 de janeiro A Zacarias Antonio dos Santos Persuadido pelo contexto do oficio que V S me dirigio em data de 5 de Novembro convencido pela nota que V S lanccedilou no Mappa de que na Aula da Instrucccedilatildeo Primaria dessa Villa se continua a ensinar pelo Methodo Lancaster tenho a dizer-lhe que pela Lei Provincial Nordm 13 de 23 de julho de 1835 ficou abolido na Provincia o dito Methodo sendo a diferenccedila do 1ordm e 2ordm gratildeo unicamte quanto a materias que nelles se ensinatildeo e nunca quanto ao methodo do que a expperiencia fez adoptar o individual devendo V S assim o fazer observar na Aula estabelecida nessa Villa Ds Gde a V S Palacio do Gov da Prova de

130 O valor pago ao professor de ensino muacutetuo era semelhante ao da Mestra das meninas cf Matutina Meyapontense 29 de julho de 1830 p 1

93

Gs 23 de janeiro de 1837 = Joseacute Rod Jardim = Snro Zacarias Antonio dos Santos Delegado quanto a Instrucccedilatildeo primaria da Villa de Natividade (JARDIM 23 de janeiro de 1837 p 82 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

Eacute importante lembrar que a Vila de Natividade131 eacute o local onde os excertos do

jornal Matutina Meyapontense transcritos anteriormente mencionam que haacute escola

do meacutetodo muacutetuo ou lancasteriano Dessa maneira o Presidente Jardim (23 de janeiro

de 1837) faz uma espeacutecie de campanha para natildeo adoccedilatildeo desse meacutetodo ordenando

que fosse seguido o individual jaacute que a lei de 1835 (GOIAacuteS 1835) distinguia as

escolas de 1ordm ou 2ordm graus de acordo com as mateacuterias lecionadas e natildeo em relaccedilatildeo

aos meacutetodos Outrossim indica o meacutetodo individual conforme a experiecircncia da

proviacutencia mostra como mais bem-sucedido Com isso Jardim (23 de janeiro de 1837)

faz um discurso que se estenderaacute pelos discursos presidenciais na Assembleia

Legislativa ao longo do periacuteodo imperial que buscavam a ldquopadronizaccedilatildeordquo dos meacutetodos

e materiais de ensino nas escolas goianas algo tambeacutem pretendido pelas legislaccedilotildees

do Municiacutepio da Corte e em bastante evidecircncia nas regulamentaccedilotildees educacionais de

proviacutencias como Satildeo Paulo e Minas Gerais que despontavam nesse setor

(MARCILIO 2005)

Joseacute Rodrigues Jardim ficou na presidecircncia da proviacutencia ateacute 1837 Com um

governo de mais de 5 anos criou escolas a partir de uma estrateacutegia poliacutetico-

administrativa que reduzia custos na oferta de materiais escolares para arcar com os

ordenados dos professores (BRETAS 1991) Exemplo disso eacute quando relata sobre o

ensino muacutetuo mencionando que ldquoeconomisadas algumas quantias que com este

methodo inutilmente se despendem se poderatildeo estabelecer mais algumas Aulas na

Provinciardquo (JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1835 p 8)

No livro de Registros de Ofiacutecios enviados agrave Presidecircncia da Proviacutencia pela

Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica (CRUS 18 de abril de 1858

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) em 1858 o

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Proviacutencia de Goiaacutes Felipe Antocircnio Cardoso de

Santa Crus ao listar os objetos necessaacuterios para instruccedilatildeo primaacuteria argumentou

quanto agrave importacircncia de serem enviados Tratados sobre os Meacutetodos de Ensino

revelando que a natildeo circulaccedilatildeo do ensino muacutetuo em Goiaacutes deu-se sobretudo pela

131 Localizado ao norte da proviacutencia de Goiaacutes Hoje ainda com o mesmo nome Natividade eacute um municiacutepio do estado do Tocantins

94

falta de livros que ensinassem os professores a aplicarem esse meacutetodo e tambeacutem

porque natildeo se propagaram nessa proviacutencia as liccedilotildees dos princiacutepios de educaccedilatildeo de

Joseph-Marie de Geacuterando conhecido como Baratildeo Degerando

As ideias de Degerando foram difundidas no Brasil por meio da traduccedilatildeo e

impressatildeo em 1839 de sua obra intitulada Curso Normal para Professores de

Primeiras Letras ou Direcccedilotildees Relativas a Educaccedilatildeo Physica Moral e intelectual nas

Escolas Primarias (BARAtildeO DEGERANDO 1839)132 Segundo Bastos (1999) esse eacute

o primeiro manual didaacutetico-pedagoacutegico publicado no Brasil tratando-se de uma obra

estudada na Escola Normal de Niteroacutei133 Em Goiaacutes mesmo apoacutes a instalaccedilatildeo do

Curso Normal anexo ao Liceu de Goiaacutes em 1884 pelos estudos de Canezin e

Loureiro (1994) e Brzezinski (2008) natildeo se tem notiacutecia de que esse manual tenha

circulado na formaccedilatildeo dos professores goianos

A Lei de 1835 deu origem ao curriacuteculo das escolas primaacuterias goianas alterado

por vaacuterios Regulamentos de Ensino e Resoluccedilotildees subsequentes O meacutetodo de ensino

muacutetuo natildeo foi mencionado em nenhum deles Para Bretas (1991) houve uma tentativa

na proviacutencia de estabelececirc-lo por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3 de 10 de julho de 1844

sancionada pelo entatildeo Presidente Joseacute de Assis Mascarenhas Em junho de 1847

com Joaquim Ignaacutecio de Ramalho na presidecircncia a Assembleia Provincial questiona-

o sobre o natildeo cumprimento da referida resoluccedilatildeo O Cocircnego Feliciano Joseacute Leal

Secretaacuterio do Governo em 4 de junho de 1847 transmite a resposta por ofiacutecio

De ordem do mesmo Exmordm Snr (o presidente) sou authorizado a responder a duvida antes sinceramente almeja promover a instrucccedilatildeo a moral e os bons costumes por estar na firme persuassatildeo de serem as bases mais soacutelidas sobre as quais se apoia o edificio social porem que dependendo a Aula de Ensino Mutuo natildeo soacute drsquouma casa com a capacidade indispensavel infelizmente acontece que nem a provincia a possue nem suas rendas podem fazer face aos ordenados dos empregados puacuteblicos muito menos para a aquisiccedilatildeo drsquoum edificio e dos mais utensis natildeo pouco despendiosos indispensaveis ao ensino mutuo Alem drsquoisto acresce que achando-se

132 O Baratildeo Degerando publicou na Franccedila em 1832 uma coletacircnea de conferecircncias ministradas na Escola Normal de Paris Trata-se de 16 conferecircncias proferidas por ele direcionadas aos professores de primeiras letras A traduccedilatildeo foi realizada por forccedila do Decreto Imperial brasileiro nordm 28 de 11 de maio de 1839 O tradutor foi o Dr Joatildeo Candido de Deos e Silva na eacutepoca Deputado da Assembleia Legislativa da proviacutencia do Rio de Janeiro No Brasil as conferecircncias deram origem a um livro impresso pela Typographia Nictheroy de M G de S Rego Praccedila Municipal ndash 1839 com 421 paacuteginas Um exemplar encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Sobre isso cf Bastos 1999 133 A Escola Normal de Niteroacutei foi a primeira criada no Brasil em 1835 na capital da proviacutencia do Rio de Janeiro aberta com intuito de preparar os professores para aplicaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo Para aprofundar nessa questatildeo cf Arauacutejo Freitas Lopes 2008

95

o systema de Lancaster consideravelmente modificado e alterado convem que primeiramente se examine se elle deve ser ainda admitido na Provincia com as modificaccedilotildees e alteraccedilotildees radicaes por que tem passado (GOIAacuteS 1847 ofiacutecio nordm 26 livro nordm 38 de Correspondecircncias da Secretaria de Governo p 95 apud BRETAS 1991 p 233)

Com esse ofiacutecio Bretas (1991 p 233) advoga que ldquotransformou-se em letra

morta a resoluccedilatildeo nordm 3 e natildeo mais se falou oficialmente em ensino muacutetuo na

Proviacutenciardquo

Apoacutes a criaccedilatildeo da Lei de 1835 em Goiaacutes no mesmo ano foi aprovado o

Regulamento de Instruccedilatildeo nordm 5 de 25 de agosto que ldquoinstruiacutea sobre concursos de

professores escrituraccedilatildeo de matriacuteculas horaacuterio escolar licenccedila e substituiccedilatildeo de

professores feacuterias e feriados escolares adiantamento dos alunos e aplicaccedilatildeo de

castigosrdquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 266) Sobre a

aplicaccedilatildeo de castigos o Regulamento previa o uso de palmatoacuteria ao contraacuterio do que

a Lei Imperial de 15 de outubro de 1827 estabelecia ao mencionar que os castigos

seriam praticados pelo meacutetodo Lancaster Na leitura de Lesage (1999) Lancaster era

contra o uso de castigos corporais propondo um sistema disciplinatoacuterio da mente e

do corpo pelo qual a escola desenvolve crenccedilas civilizatoacuterias promovendo precircmios

ao despertar entre os alunos a emulaccedilatildeo Como se percebe e na concepccedilatildeo de Bretas

(1991) o meacutetodo lancasteriano natildeo foi incorporado e bem interpretado em Goiaacutes

assim como em outras proviacutencias brasileiras poreacutem ldquohouve uma mudanccedila no espiacuterito

nos fatos e nas praacuteticas cotidianas todos estavam de acordo que o mais importante

era a recompensa ao inveacutes das puniccedilotildeesrdquo (LESAGE 1999 p 22)

Nesse periacuteodo a fiscalizaccedilatildeo do ensino ficou a cargo dos Delegados

Paroquiais que enviavam relatoacuterios descrevendo como estavam sendo conduzidas

as aulas observando o cumprimentos das leis dos regulamentos e das ordens do

Governo ldquoesmerando se em que seja a mocidade doutrinada nas mais puras ideias

religiosas e moraes e a importancia da uniaotilde e integridade do Imperio ainda a custa

dos maiores sacrificiosrdquo (GOIAacuteS 1835 art 22 inciso 4ordm) Em 1836 o Presidente

Jardim nomeou duas pessoas de sua confianccedila para percorrer a proviacutencia e verificar

in loco a quantidade de alunos ao mesmo tempo que pretendia fiscalizar o trabalho

dos Delegados (JARDIM 19 de julho de 1836 p 56 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

96

No entanto com as dificuldades proacuteprias de comunicaccedilatildeo uma populaccedilatildeo mais

concentrada no meio rural e um nuacutemero expressivo de escravos134 devido ao contexto

agraacuterio-pastoril da proviacutencia os Delegados Paroquiais relatavam a dificuldade em

manter o nuacutemero de alunos Segundo pesquisa de Abreu (2006) estima-se que em

1835 o nuacutemero de escolas puacuteblicas de primeiras letras na proviacutencia era de 26

enquanto em 1837 28 com 522 alunos matriculados (FLEURY Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1837 p 11)

Em 1837 assumiu a presidecircncia em Goiaacutes o padre Luiz Gonzaga de Camargo

Fleury135 Liberal atuou como redator no Matutina Meyapontense difundindo em

vaacuterios de seus textos a instruccedilatildeo puacuteblica como caminho para a constituiccedilatildeo de uma

naccedilatildeo Sua formaccedilatildeo em Filosofia e Teologia se deu em Satildeo Paulo Esteve por dois

anos e meio no cargo conseguindo manter ateacute o final de seu mandato 30 escolas

por toda a proviacutencia (ABREU 2006) Entre seus feitos na instruccedilatildeo restaurou as aulas

de Latim solicitando das Cacircmaras e da Assembleia que se houvesse um nuacutemero de

alunos que se interessassem criassem as cadeiras de Latim nos municiacutepios jaacute que

em 1837 elas existiam apenas na Vila de Natividade ndash ao norte da proviacutencia Por isso

um dos seus primeiros atos foi restabelececirc-las na Vila de Meiaponte136 de onde era

natural

Em setembro de 1837 Fleury regulamentou o artigo 20 da primeira lei goiana

de instruccedilatildeo puacuteblica o qual regia o ordenado dos professores revogando os

dispositivos do Regulamento de 1835 que tratavam dos pagamentos Pela lei a

fixaccedilatildeo dos salaacuterios se definiria pelo nuacutemero de alunos o que fez com que

promulgasse a Resoluccedilatildeo nordm 17 de 4 de Setembro de 1837 especificando por

localizaccedilatildeo grau da escola e quantidade de alunos o valor a ser pago (GOIAacuteS 1837

p 3-4 FLEURY Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1838 p 6-7)

134 Eacute importante mencionar que a Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 em seu artigo 8ordm estabeleceu que somente as pessoas livres poderiam frequentar as escolas puacuteblicas 135 Luiz Gonzaga de Camargo Fleury eacute o avocirc do autor da seacuterie graduada de livros de leitura Meninice (1948-1949) ambos batizados com o mesmo nome O autor assinava as capas dos seus livros como Luiacutes Gonzaga Fleury embora seu nome de batismo segundo Melo (1954) fosse com ldquozrdquo Goulart (2013 2015) estudou a vida e obra do autor da seacuterie Meninice destacando que em seu discurso haacute flexibilidade ideoloacutegica na defesa dos meacutetodos de ensino ora se posicionando a favor do analiacutetico ora do meacutetodo sinteacutetico 136 Segundo dados do Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia assinado por Fleury em 1837 (FLEURY Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1837 p 12-13) as Aulas de Latim na Vila de Meiaponte foram criadas em 1787 fechadas em 1807 e totalmente suprimidas em 1811 Vale elucidar que Vila de Meiaponte hoje recebe o nome de Pirenoacutepolis cidade localizada no leste goiano

97

Mesmo declarando-se filiado aos ideais liberais Fleury manteve boas relaccedilotildees

com a ala conservadora jaacute que os padres de diferentes localidades mantinham

influecircncia sobre as escolas Um caso exemplar que confirma isso ocorreu em

Curralinho137 quando advertiu um professor por comportamento inapropriado ao

incomodar a vizinhanccedila com batuques em sua casa ateacute altas horas da noite O

Presidente ao advertir o professor Thomas Antonio da Fonseca tambeacutem deixou claro

que as regulamentaccedilotildees em vigecircncia no periacuteodo recomendavam que algueacutem que

ocupasse o ldquohonroso cargo de professorrdquo natildeo poderia ter conduta que infringisse a

moral puacuteblica os bons costumes e os preceitos religiosos (FLEURY 14 de fevereiro

de 1838 p 116-117 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

191)

Entre 1839 e 1845 Joseacute de Assis Mascarenhas esteve como presidente em

Goiaacutes Exercia tambeacutem o cargo de deputado na Assembleia Geral do Impeacuterio por isso

afastava-se por cerca seis meses ao ano quando era substituiacutedo interinamente pelos

vice-presidentes Joseacute Rodrigues Jardim e Francisco Ferreira dos Santos Azevedo O

segundo assumiu a vice-presidecircncia por forccedila da Carta Imperial de 12 de janeiro de

1842 em funccedilatildeo da morte de Joseacute Rodrigues Jardim (AZEVEDO Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1842 p 2)

Mascarenhas diplomou-se em Direito na Universidade de Coimbra onde

possivelmente teve contato com o pensamento dos iluministas e de educadores

europeus Tal influecircncia fez com que entre seus primeiros atos sobre a instruccedilatildeo

puacuteblica eliminasse os estudos de Retoacuterica substituindo-os pelos de Teologia Moral

pelos quais se ensinaria a Histoacuteria Eclesiaacutestica Teologia Dogmaacutetica entre outras

temaacuteticas espelhando-se na sua experiecircncia no Seminaacuterio Episcopal de Coimbra

onde observou que

[] os Sacerdores tinhaotilde instrucccedilaotilde e que natildeo podiaotilde tomar as Ordens Sacras sem se mostrarem approvados nas mateacuterias do Plano cujos estudos comprehendiaotilde tres anos no 1ordm se ensinava o Cathecismo Romano no 2ordm Theologia Dogmatica no 3ordm Theologia Moral e em todos tres Historia Ecclesiastica (MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1839 p 12)

Mascarenhas percebia que os Sacerdotes ordenados tinham uma grande

influecircncia sobre o povo e que por isso deveriam ser bem instruiacutedos natildeo bastando o

137 Hoje municiacutepio de Itaberaiacute na regiatildeo do centro goiano

98

aprendizado das noccedilotildees elementares Em trechos do relatoacuterio citado acima ele

denuncia que alguns padres em Goiaacutes eram ordenados sem instruccedilatildeo alguma

Acreditando que religiatildeo e moral ldquosatildeo duas acircncoras que sustentavam a nau do

Estadordquo promoveu as mudanccedilas apontadas sugerindo que os professores de

Retoacuterica assumissem as cadeiras de Teologia (MASCARENHAS Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1839 p 12)

No Relatoacuterio destinado agrave Assembleia Legislativa de Goiaacutes em 1ordm de outubro de

1840 no item sobre a educaccedilatildeo Mascarenhas relatava algumas de suas passagens

pelas escolas da proviacutencia ao visitaacute-las pessoalmente para conferir as suas

condiccedilotildees O Correio Official tambeacutem expotildee essa experiecircncia de Mascarenhas

O Excellentissimo Snr Presidente da Provincia sollicita em promover o progresso da instrucccedilatildeo depois de vesitar pessoalmente as Aulas estabelecidas nesta Cidade dando as mais sabias e acertadas providencias para o adiantamento do Alumnos [] No dia 6 do corrente Sua Excellencia animado do mesmo zelo seguio para a Villa de Meiaponte empreendendo huma jornada assaz incommoda em razaacuteotilde do pessimo estado a que se achaacuteotilde reduzidas as estradas com os muitas chuvas deste anno vesitou as Aulas de Latim e de Primeiras Letras da dita Villa as do Corrumbaacute e Jaraguaacute regressando chegou a esta Cidade no dia 17 do corrente [] Consta-nos que S Exc athe meado de Marccedilo se dirige com o mesmo fim para a Villa de Pilar e que logo que o tempo decirc lugar partiraacute para o Norte da Provincia onde a sua presenccedila he muito desejada como nos consta He necessario pois que os Snrs Delegados sobre a Instrucccedilaotilde Primaria activem os Professores para que empreguem todo o cuidado no adiantamento dos Alumnos afim de que perante S Exc mostrem a instrucccedilaotilde que tem adquirido pelos desvelos de seos Mestres (CORREIO OFFICIAL 29 de fevereiro de 1840 p 4)

As passagens de Mascarenhas pelas escolas da proviacutencia tambeacutem fizeram

circular ideias de pensadores da educaccedilatildeo Na Caixa de Documentos do Municiacutepio

de Pirenoacutepolis (AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis Caixa 4) haacute um

rascunho138 de uma correspondecircncia assinada por Padre Veiga139 datada de 20 de

marccedilo de 1840 agradecendo o Presidente Mascarenhas por apresentar ideias de

138 Acreditamos ser um rascunho pois o texto estava escrito a laacutepis e natildeo a tinta no canto superior de um papel almaccedilo Nesse mesmo papel havia outras anotaccedilotildees de nomes de pessoas como se fosse a composiccedilatildeo de um Mapa de Turma sendo possivelmente portanto nomes de alunos 139 Padre Joseacute Joaquim Pereira da Veiga conhecido como Padre Veiga eacute natural de Vila de Meiaponte hoje Pirenoacutepolis Morreu em 11 dezembro de 1840 aos 68 anos O Relatoacuterio apresentado na Assembleia Legislativa de Goiaacutes em 1841 assinado pelo entatildeo vice-presidente Joseacute Rodrigues Jardim (JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1841 p 5) informa da morte de Veiga mencionando que ele era professor de Gramaacutetica Latina

99

Pestalozzi que ali tentariam colocar em praacutetica ao mesmo tempo que solicita

indicaccedilotildees de compecircndios do referido educador Ao que tudo indica esse bilhete natildeo

chegou agraves matildeos do Presidente poreacutem notamos que suas viagens pelas escolas

influenciaram o pensamento e as praacuteticas dos professores com quem teve contato

Entretanto como eram escassos os meios de se ter acesso aos livros natildeo eacute possiacutevel

concluir que as ideias de Pestalozzi tenham sido aprofundadas pelos preletores

goianos

De acordo com Bretas (1991 p 204) Mascarenhas ldquofoi o presidente que pela

primeira vez em mensagens agrave Assembleia legislativa citou nomes de educadores de

fama internacional lembrando as conquistas cientiacuteficas no campo da educaccedilatildeordquo

[] a instruccedilaotilde he o ponto de partida e a base em que deve assentar o edifiacutecio social naotilde fallo soacute da instrucccedilaotilde que se costuma aacute dar nas escoacutelas ler escrever contar doutrina Christatilde demais alguma cousa se precisa he necessario inspirar nos meninos os principios de Moral o amor ao trabaacutelho o horror aacute preguiccedila para a qual tanto nos atrahe a espantosa fecundidade deste sogravelo abenccediloado Quem naotilde ha de pronuciar com respeito e gratidaotilde os nomes illustres e inmortaes de Pestalozzi Fellemberg Bell e Lancaster Hum povo illustrado facilmente se governa e he bem difficil senaotilde impossivel opprimil-o [] (MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia de Goiaacutes 1845 p 6-7 grifos nossos)

No uacuteltimo trecho desse fragmento ao dizer que o povo ilustrado eacute faacutecil de

governar e impossiacutevel de oprimir haacute uma aproximaccedilatildeo com as ideias liberais como

tambeacutem dos preceitos pestalozzianos que engajados politicamente ldquoenvidavam

esforccedilos para a laicizaccedilatildeo do ensino e a educaccedilatildeo do seacuteculo XIX da sociedade

urbana e industrial com os projetos para a implantaccedilatildeo da escola universal laica e

gratuitardquo (BRETTAS 2018 p 417) Logo mesmo Mascarenhas (1839) reconhecendo

a religiatildeo como sustentadora da organizaccedilatildeo social de um Estado consideramos a

partir da passagem do relatoacuterio transcrito acima que ele dissemina uma perspectiva

iluminista ao afirmar que a educaccedilatildeo tambeacutem guia ao trabalho por meio de um

pensamento racionalista calcado natildeo apenas em valores religiosos mas numa base

cientificista

Nas viagens que Mascarenhas empreendeu a realidade encontrada era de

escolas funcionando em espaccedilos pouco confortaacuteveis geralmente nas casas dos

professores A escassez de materiais didaacuteticos e de mobiacutelias escolares era outro fator

que prejudicava o andamento das aulas Bretas (1991) afirma que o periacuteodo de 1835

a 1845 foram anos de estagnaccedilatildeo da instruccedilatildeo na proviacutencia Logo se Mascarenhas

100

natildeo realizou grandes feitos para a educaccedilatildeo de Goiaacutes durante seus anos no poder

sua experiecircncia auxiliou no diagnoacutestico da realidade educacional no territoacuterio goiano

Constatou-se que a obrigatoriedade de matriacutecula das crianccedilas natildeo era cumprida jaacute

que predominava na sociedade goiana uma cultura muito arraigada no ruralismo

Desse diagnoacutestico resultaram algumas accedilotildees que o vice-presidente Francisco Ferreira

dos Santos Azevedo ao assumir interinamente articulou

[] presentemente nossos Mestres de Primeiras Letras nada mais fazem do que ensinar a ler e escrever de sorte que quando hum menino sahe da Escolla ignora os conhecimentos os mais treviaes e seos proprios deveres Para remediar este inconveniente estou mandando imprimir na Typographia Provincial Compendios escolhidos para serem destribuidos pelas diversas Aulas e se esta medida naotilde produzir o desejado effeito entaotilde o Governo tomaraacute outras propondo-vos as que exercederem aacute orbita de suas attribuiccedilotildees A impressaotilde deste Compendio naotilde augmenta a despesa com a Instrucccedilatildeo Publica porque a importancia do papel he tirada da quantia dos utencilios e Ordenados dos Professores das Aulas que estaotilde vagas (AZEVEDO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1843 p 8 grifos nossos)

Natildeo identificamos menccedilotildees de que essa impressatildeo tenha ocorrido de fato na

Tipografia Provincial de Goiaacutes nem se ocorreu como os compecircndios foram

distribuiacutedos No entanto fica evidente que a tipografia da proviacutencia nesse periacuteodo

adquiriu tambeacutem essa funccedilatildeo Borges e Lima (2008) explicam que a Tipografia Oficial

de Goiaacutes foi comprada do jornal Matutina Meyapontense pelo Presidente Joseacute

Rodrigues Jardim em 1836 A compra da Tipografia fez com que fosse criada a

imprensa oficial em Goiaacutes em 1837 atraveacutes das publicaccedilotildees do Correio Official140 As

tipografias das proviacutencias eram geralmente utilizadas para impressatildeo de veiacuteculos de

informaccedilotildees oficiais do Governo tais como leis regulamentos atos e natildeo para

impressatildeo de livros didaacuteticos ou literaacuterios Isso eacute reiterado no Ato nordm 3905 de 16 de

marccedilo de 1886 que fixa o Regulamento da Typografia Provincial de Goyaz de 1886

(GOIAacuteS 1886c)141 no capiacutetulo 1 estabelecendo como finalidade da tipografia do

governo a publicaccedilatildeo de leis e editais aleacutem da impressatildeo do Correio Official

Outro fato interessante foi a descoberta de uma correspondecircncia datada de

1843 portanto contemporacircnea ao relatoacuterio de Azevedo na Caixa de Documentos dos

140 O Correio Official de Goyaz teve a sua primeira publicaccedilatildeo no dia 3 de junho de 1837 Para maiores informaccedilotildees acerca da histoacuteria da imprensa goiana cf Borges e Lima (2008) 141 AHEG Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes Esse documento encontra-se digitalizado e disponiacutevel no CD-ROM e no site da Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes volume 1

101

Municiacutepios Goianos (SILVEIRA 1856 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos

Itumbiara Caixa 01) que mencionou a existecircncia de uma Recebedoria no Porto de

Santa Ritta do Paranahyba142 e informou ao Presidente da Proviacutencia que havia

chegado ao Porto143 um grande carregamento da Typographia Nacional vindo do Rio

de Janeiro dirigido a Francisco Azevedo Seria essa carga os livros que serviriam de

modelo para a referida impressatildeo na Tipografia Provincial de Goiaacutes Ou eram outros

materiais vindos da Tipografia Nacional Embora pela correspondecircncia identificada

natildeo seja possiacutevel descobrir o conteuacutedo da carga destinada ao vice-presidente

Azevedo fica claro que a proviacutencia mantinha relaccedilotildees comerciais com a Tipografia da

sede do Impeacuterio algo importante a se considerar jaacute que segundo Lima (2008 p 20-

21) ldquoa Imprensa Nacional era [] simultaneamente uma graacutefica oficial e tambeacutem

editora que iria publicar textos literaacuterios e didaacuteticos Recebeu diversos nomes ao longo

de sua existecircncia Impressatildeo Reacutegia Impressatildeo Nacional Tipografia Nacional

Imprensa Nacionalrdquo

Em 1845 assumiu a presidecircncia de Goiaacutes Joaquim Ignaacutecio Ramalho que ficou

no governo ateacute 1848 No primeiro relatoacuterio de Ramalho apresentado agrave Assembleia

Legislativa de Goiaacutes em 1ordm de maio de 1846 ele enumera que eram 33 escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria no territoacuterio goiano descrevendo as condiccedilotildees da instruccedilatildeo puacuteblica

na proviacutencia

O estado actual da Instrucccedilaotilde Publica com magoa vos digo naotilde he satisfactorio nem tenho esperanccedilas de que neste interessante objecto se possa em pouco tempo obter algum melhoramento Os professores salvas algumas poucas excepccedilotildees naotilde tem os conhecimenttos necessarios para desempenharem seos deveres e impossivel seria preencher todas as Cadeiras creadas na Provincia

142 Hoje cidade de Itumbiara ao sul do estado 143 Em Santa Ritta do Paranahyba havia um Porto primeiro por ser uma regiatildeo de fronteira e tambeacutem pela presenccedila do Rio Paranaiacuteba por onde chegavam embarcaccedilotildees com encomendas para municiacutepios da Proviacutencia de Goiaacutes e para outras Proviacutencias ao Norte Centro-Oeste do paiacutes Nesse Porto havia uma Recebedoria com um Administrador que recolhia os impostos das cargas e informava ao Presidente de Proviacutencia o que por ali passava O Administrador tambeacutem prestava contas agrave Tesouraria da Proviacutencia detalhando os rendimentos da Recebedoria por meio de um balancete mensal da receita e das despesas do Porto Nas Caixas de Documentos do Municiacutepio de Itumbiara no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes haacute diversos balancetes e ofiacutecios expedidos pela Recebedoria Na caixa 1 haacute uma carta assinada pelo entatildeo Administrador da eacutepoca Jozeacute Manuel da Silveira destinada ao Inspetor das Rendas Provinciais datada de 14 de janeiro de 1856 relatando as dificuldades de se administrar uma regiatildeo de fronteira ao mesmo tempo que entrega o cargo pois haacute cidadatildeos que por ali passam e natildeo querem pagar as taxas cobradas no Porto Por fim tambeacutem argumenta ldquonatildeo quero continuar a soffrer os dissabores causados por administraccedilotildees de barreirasrdquo (SILVEIRA 1856 p 2 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 01)

102

com homens professionaes revestidos de todas as habelitaccediloes exigidas pelas Leis em vigor A falta de homens que exerccedilaotilde dignamente o Magisterio he hum mal que affecta poderosamente o progresso da instrucccedilatildeo (RAMALHO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1846 p 12)

Em virtude da falta de pessoas para exercer o magisteacuterio e de formaccedilatildeo de

intelectuais na proviacutencia Ramalho criou o Liceu um estabelecimento de ensino

secundaacuterio sancionando a Lei nordm 9 de 17 de junho de 1846 (GOIAacuteS 1846) A

instalaccedilatildeo do Liceu aconteceu somente em 23 de fevereiro de 1847 sem sede proacutepria

com as aulas ocorrendo no preacutedio anexo da Casa da Fazenda da Cidade de Goiaacutes

(BARROS 2006) Em 1839 o Presidente Mascarenhas jaacute havia discutido na

Assembleia Legislativa a necessidade de construccedilatildeo de um Liceu na proviacutencia ldquo[]

eu quizera apresentar-vos hum Plano de Estudos e lembrar-vos a vantagem de hum

Licecirco em que estivessem reunidas as diferentes aulas e donde sahissem os Mestres

para as Escolas da Provincia hum tal Estabelecimento seria de grande utilidaderdquo

(MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1839 p 9) Poreacutem Mascarenhas

justifica que devido agrave falta de recursos financeiros na proviacutencia natildeo se conseguiria

instalar naquele ano o Liceu algo que ocorreu somente 7 anos depois no governo de

Ramalho (BARROS 2006)

No relatoacuterio que Ramalho apresentou agrave Assembleia Legislativa em 1847 haacute

um item sobre o ensino secundaacuterio intitulado de ldquoLicecircordquo Barros (2006 p 25) elucida

que o Liceu acabou se tornando uma escola cujo objetivo era formar ldquoprofissionais

liberais e tambeacutem os poliacuteticos que iriam representar Goiaacutes no cenaacuterio poliacutetico

nacionalrdquo Ateacute 1929 o Liceu foi a uacutenica instituiccedilatildeo de ensino secundaacuterio do estado

somente a partir de 1930 eacute que se iniciou a proliferaccedilatildeo dessas escolas pelo interior

goiano (BARROS 2017)144

Ramalho afastou-se da presidecircncia em 1848 para exercer o mandato de

Deputado Geral pela proviacutencia de Goiaacutes e o vice-presidente Antocircnio de Paacutedua Fleury

assumiu o cargo

Num curto espaccedilo de tempo entre fevereiro 1848 a junho de 1849 Antocircnio de

Paacutedua Fleury145 esteve no poder Em seus discursos aponta a necessidade de

construir uma Escola Normal jaacute que a instruccedilatildeo primaacuteria carecia de mestres

144 Para maiores informaccedilotildees sobre a histoacuteria do Liceu em Goiaacutes cf Barros (2006 2017) 145 Antocircnio de Paacutedua Fleury era irmatildeo de Luiz Gonzaga de Camargo Fleury que exerceu tambeacutem a presidecircncia da proviacutencia de Goiaacutes entre 1837 a 1839

103

habilitados com conhecimentos especiacuteficos sobre o exerciacutecio do magisteacuterio Fleury

(1848 1849) tambeacutem defende ordenados melhores aos professores no intuito de

atraiacute-los agrave docecircncia No entanto natildeo houve uma accedilatildeo efetiva para que isso fosse

operacionalizado Bretas (1991) ressalta que daiacute em diante os Relatoacuterios de

Presidente de Proviacutencia satildeo registros de um pessimismo motivado pelas condiccedilotildees

econocircmicas em Goiaacutes impactando no ensino que necessitava de investimentos

Aleacutem disso houve uma sucessatildeo de presidentes que ficaram pouco tempo no cargo

posto que alguns assumiam outros cargos poliacuteticos ocasionando a natildeo continuidade

das accedilotildees no acircmbito da educaccedilatildeo

Eduardo Olimpio Machado presidente da proviacutencia entre 1849 e 1850 relatou

que ldquoo estado da instrucccedilatildeo primaria excepccedilaotilde feita da Capital eacute desanimador e naotilde

corresponde seguramente aos sacrifiacutecios que com ella faz o Cofre Provincialrdquo

(MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1850 p 18) Para resolver tal

situaccedilatildeo Machado reitera a necessidade de uma Escola Normal mas como natildeo havia

meios financeiros para criaacute-la propotildee adicionar ao Liceu um professor de instruccedilatildeo

primaacuteria encarregado de preparar os docentes para o exerciacutecio do magisteacuterio das

primeiras letras Ao mesmo tempo percebe que falta na proviacutencia uma fiscalizaccedilatildeo

mais efetiva apresentando a ideia de criaccedilatildeo do cargo de Inspetor Geral das Escolas

que por recomendaccedilatildeo do Governo visitaria todas as escolas da proviacutencia No citado

relatoacuterio de 1850 Machado tambeacutem afirma que para ser professor eacute necessaacuterio ter

grau de instruccedilatildeo compatiacutevel com as exigecircncias da docecircncia propondo que os

professores que atuavam nas aulas de instruccedilatildeo primaacuteria caso natildeo fossem formados

passassem por uma ldquoprova de capacidaderdquo Os professores interinos e os vitaliacutecios

julgados natildeo aptos nessa prova seriam convocados para o ensino preparatoacuterio ndash uma

espeacutecie de escola de formaccedilatildeo destinada aos docentes Todavia como Machado

(1850) admite essas accedilotildees exigiam despesas dos cofres puacuteblicos e naquele momento

natildeo foram implementadas

Todas essas sugestotildees de Machado foram retomadas pelo presidente

seguinte Antonio Joaquim da Silva Gomes que governou entre julho de 1850 e

dezembro de 1852 entretanto Gomes justificou que a situaccedilatildeo econocircmica da

proviacutencia natildeo permitia os gastos previstos nas ideias de Machado e que embora os

concursos para cadeiras de instruccedilatildeo primaacuteria estivessem abertos em alguns

municiacutepios ningueacutem havia se habilitado para o magisteacuterio De acordo com o

Presidente Gomes tambeacutem se corria o risco de ao aplicar a ldquoprova de capacidaderdquo

104

faltarem professores por natildeo haver pessoas interessadas pela docecircncia e de fato

habilitadas com os conhecimentos exigidos para lecionar

Foucault (2004) discute que exercer um poder eacute formar organizar e pocircr em

circulaccedilatildeo um saber O discurso de Gomes proclama uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que marginaliza a profissatildeo docente e o ensino puacuteblico Um discurso que conforme

Abreu (2006) aponta ressoou na desvalorizaccedilatildeo da carreira e da formaccedilatildeo docente

em Goiaacutes por muitos anos

Em quanto for tao escasso o numero de indiviacuteduos que procuraotilde empregar-se no Magisterio naotilde deveis inovar couza alguma a respeito do ensino publico parecendo-me por ora bastante que o Governo proceda com escruacutepulo no provimento vitaliacutecio ou interino das Cadeiras conferindo tiacutetulos somente aacute aquelles em que se der maior graacuteu de meacuterito e capacidade e preferindo antes deixar algumas vagas do que confial-as a homens que vao perverter a mocidade pela sua supina ignoracircncia ou pelo escacircndalo de seos costumes (GOMES Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1851 p 30)

A defesa de Gomes (1851) faz parte de um saber sobre a formaccedilatildeo de

professores que circulou natildeo soacute em Goiaacutes como em outras proviacutencias poacutes Ato

Adicional de 1834 repercutindo nas falas presidenciais uma recorrente ldquoperspectiva

de que a formaccedilatildeo para o ofiacutecio docente era condiccedilatildeo primordial para lsquomelhorar a

instrucccedilatildeo da mocidaderdquo (REIS 2011 p 182)

Em 1852 estavam instaladas 44 escolas puacuteblicas de primeiras letras na

proviacutencia muitas das quais estavam sendo fechadas por falta de alunos (GOMES

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1852a) Canezin e Loureiro (1994) explicam que

nesse periacuteodo a populaccedilatildeo goiana era predominantemente rural e por isso havia

muitos escravos que assim como os filhos de famiacutelias mais pobres estavam

excluiacutedos da escola Jaacute em 1853 35 escolas estavam funcionando frequentadas por

947 meninos e 127 meninas

Quando Gomes apresentou o relatoacuterio ao seu sucessor Francisco Mariani

descrevendo brevemente a situaccedilatildeo da proviacutencia no que tange agrave educaccedilatildeo ele tratou

apenas do Liceu natildeo mencionando nada mais a respeito da instruccedilatildeo puacuteblica

(GOMES Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1852b) Destacou alguns investimentos

que fez no ensino secundaacuterio comprando materiais para as aulas no Liceu Fica

evidente desse modo como a educaccedilatildeo em Goiaacutes foi-se configurando empregando-

se mais recursos destinados agrave formaccedilatildeo de uma elite poliacutetica do que agrave instruccedilatildeo

primaacuteria (BARROS 2006 2017)

105

Mariani governou entre dezembro de 1852 a abril de 1854 Na Assembleia

Legislativa tambeacutem reclamou da falta de recursos para manter as escolas goianas

definindo como criteacuterio para manutenccedilatildeo da educaccedilatildeo na proviacutencia o custeamento de

no miacutenimo uma escola em efetivo exerciacutecio por municiacutepio transferindo professores de

localidade a fim de preencher algumas cadeiras que estavam vagas Em 1853 Mariani

apresentou na Assembleia o pedido de eliminaccedilatildeo da quota destinada para o

expediente das aulas justificando que

[] Natildeo eacute com meia duzia de folhas de papel distribuidas anualmente por cada menino que se lhes ha de ensinar a arte calligraphica entretanto que essas pequenas addiccedilotildees reunidas formaotilde uma somma que muito avulta no estado de penuria a que estaotilde reduzidos os Cofres Provinciais (MARIANI Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1853 p 28)

A escassez dos materiais de expediente escolar jaacute era evidenciada em

relatoacuterios anteriores como um agravante para a ineficaacutecia do ensino agora de forma

legitimada notamos os rumos que a educaccedilatildeo em Goiaacutes na metade do seacuteculo XIX

foram tomando ao mesmo tempo que comprovamos que os governos provinciais

com a responsabilidade de ofertar a educaccedilatildeo popular natildeo conseguiam se manter

sem a colaboraccedilatildeo do Poder Central (SAVIANI 2006)

Durante o governo de Mariani foi sancionada a Reforma Couto Ferraz pelo

Decreto nordm 1331A ndash de 17 de fevereiro de 1854 (BRASIL 1854) Essa reforma

regulamentou o ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte e influenciou em

Goiaacutes a expediccedilatildeo do novo Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria em 1856

(GOIAacuteS 1856) assinado no governo do Presidente Antonio Augusto Pereira da

Cunha Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) explicam que com exceccedilatildeo da

primeira lei de instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes homologada em 1835 todas as demais no

periacuteodo imperial possuem um dispositivo legal da Assembleia Legislativa autorizando

uma reforma no ensino na proviacutencia146

Quando o Regulamento de 1856 foi aprovado a educaccedilatildeo goiana estava

praticamente entregue aos Paacuterocos das Igrejas Em 1854 o entatildeo Presidente de

Goiaacutes Antonio Candido da Cruz Machado recomendou que por questotildees

financeiras nos municiacutepios em que natildeo houvesse aulas puacuteblicas e ou particulares os

146 Para expedir o Regulamento de 1856 o Presidente Antonio Augusto Pereira da Cunha recebeu autorizaccedilatildeo da Assembleia Legislativa por meio da Resoluccedilatildeo nordm 7 de 22 de novembro de 1855 (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015)

106

Paacuterocos assumissem essa missatildeo de ldquoensinar os rudimentos das letras aacute mocidade

a qual pelo duplo dever de pastor e mestre daraotilde a educaccedilaotilde religiosardquo (MACHADO

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1854 p 55) Em troca os Paacuterocos eram ressarcidos

com uma gratificaccedilatildeo anual Com a frequente dificuldade do governo da proviacutencia em

manter as escolas a Igreja Catoacutelica comeccedilou a compartilhar com o Estado a

responsabilidade pela instruccedilatildeo elementar das crianccedilas goianas uma entrada que se

fixou por muitos anos seja na presenccedila fiacutesica de Padres lecionando ou inspecionando

o ensino seja na influecircncia na manutenccedilatildeo de uma cultura escolar arraigada nas

tradiccedilotildees do catolicismo

Em 1856 quando foi lanccedilado o Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria

tambeacutem se publicou na mesma data o segundo Regulamento para o Liceu de

Goiaacutes147

Para a elaboraccedilatildeo dos referidos Regulamentos o Presidente da Proviacutencia

Antonio Candido da Cruz Machado enviou para o Rio de Janeiro em 1855 o Professor

Feliciano Primo Jardim no intuito de conhecer o meacutetodo portuguecircs de leitura

repentina denominado de Castilho Ao assumir o governo em setembro de 1855

Antonio Augusto Pereira da Cunha considerou o relatoacuterio de Primo Jardim e natildeo viu

motivos para implementar na proviacutencia uma Reforma com esse meacutetodo Como

constatamos pelos estudos de Arauacutejo e Silva (1975) na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

em 1825 o entatildeo Presidente Caetano Maria Lopes Gama enviou para a Corte um

militar para habilitaccedilatildeo no meacutetodo do ensino muacutetuo O envio de um militar pode ser

justificado pelo fato de que em 1823 houve uma ordem ministerial que exigia de cada

proviacutencia a disponibilizaccedilatildeo de um soldado das forccedilas militares para aprender o

meacutetodo muacutetuo em uma escola da Corte que o praticava para entatildeo propagaacute-lo nas

escolas de sua localidade de origem (ALMEIDA 2000148) Entretanto a partir das

fontes analisadas consideramos que Primo Jardim eacute o primeiro professor goiano que

147 O primeiro Regulamento do Liceu foi organizado em 1850 (Resoluccedilatildeo nordm 21 de 7 de julho de 1850) no governo de Eduardo Olimpio Machado O segundo Regulamento assinado e publicado em 1ordm de dezembro de 1856 tem 80 artigos que diferentemente do primeiro que tinha 34 artigos detalham minuciosamente elementos antes natildeo especificados Bretas (1991 p 224-225) entretanto alerta que nesse uacuteltimo Regulamento ldquonatildeo houve [] alteraccedilotildees de monta mas [ele] especifica com maior minuciosidaderdquo alguns pontos como ldquocondiccedilotildees de matriacutecula o regime das aulas e das feacuterias os exames as funccedilotildees de cada um dos funcionaacuterios a admissatildeo de professores seus direitos e deveresrdquo etc O segundo Regulamento do Liceu encontra-se digitalizado e disponiacutevel no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 1) 148 A primeira ediccedilatildeo desse livro de Pires de Almeida foi publicada em 1889

107

viajou sob encomenda do governo para colher informaccedilotildees acerca dos meacutetodos de

ensino de leitura e escrita para aplicaccedilatildeo nas escolas goianas149

Nessa perspectiva o Presidente Cunha recomenda no Regulamento sobre a

Instruccedilatildeo Primaacuteria de 1856 o meacutetodo de ensino simultacircneo tal como previsto na

Reforma Couto Ferraz enunciando que estabeleceu ldquohum methodo aproximado ao

seguido na corte visto natildeo poder adopta-lo por causa da insuficiencia das rendas

provinciaes e de pessoal habilitadordquo (CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes

1857 p 23) O meacutetodo de ensino simultacircneo no contexto do Regulamento que

apresenta 102 artigos eacute mencionado em duas passagens no 3ordm e no 99ordm artigos

Art 3ordm ndash O Presidente da Provincia ouvindo o Inspector da instrucccedilatildeo publica determinaraacute o methodo que deve ser seguido nas escolas preferindo sempre que for possiacutevel o simultacircneo [] Art 99ordm ndash As escolas regidas pelo methodo simultacircneo tendo um Professor adjunto se o numero dos alunnos que a frequumlentarem o exigirem o qual venceraacute o ordenado que focircr marcado pelo Presidente da Provincia e seraacute subordinado ao Professor da escola (GOIAacuteS 1856 art 3ordm e 99ordm)

Como se lecirc a adoccedilatildeo do meacutetodo de ensino ficava a criteacuterio do Presidente de

Proviacutencia e do Inspetor de Instruccedilatildeo Puacuteblica entretanto recomendava-se ldquosempre

que possiacutevelrdquo a aplicaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo O que se enuncia no Regulamento

sob uma oacutetica linguiacutestica no uso da expressatildeo ldquopreferindo sempre que for possiacutevelrdquo

no artigo 3ordm eacute uma condicionalidade impliacutecita Ou seja para escolher um determinado

meacutetodo considera-se que a sua adoccedilatildeo estaacute condicionada agraves possibilidades de seu

uso as quais o Regulamento deixa evidente serem a disponibilizaccedilatildeo dos materiais

escolares e a proacutepria formaccedilatildeo do professor Como na proviacutencia goiana ainda natildeo

havia um centro de formaccedilatildeo de professores nem a iniciativa para circulaccedilatildeo de livros

sobre os meacutetodos de ensino nas escolas houve dificuldade de os docentes

compreenderem o que era o meacutetodo simultacircneo tendo continuado a aplicar por muitos

anos o usual meacutetodo individual como eacute declarado no Relatoacuterio de Presidente de

Proviacutencia de 1859 assinado por Francisco Januario de Gama Cerqueira

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 33-37)

O Regulamento de 1856 no artigo primeiro define que a instruccedilatildeo primaacuteria

compreenderaacute o ensino da leitura escrita as regras elementares da aritmeacutetica a

teoria e praacuteticas das quatro operaccedilotildees sobre os nuacutemeros inteiros fraccedilotildees ordinaacuterias

149 Os detalhes sobre essa experiecircncia seratildeo melhor discutidos na seccedilatildeo 4 desta tese

108

e decimais e as proporccedilotildees os sistemas mais essenciais dos pesos e medidas a

gramaacutetica da liacutengua nacional o Catecismo as explicaccedilotildees sobre dogmas

fundamentais das religiatildeo doutrina cristatilde e principais oraccedilotildees Diferentemente o

ensino para meninas jaacute no artigo segundo diz que que consta das mesmas mateacuterias

mas limitando-se nos toacutepicos de aritmeacutetica agrave teoria e praacutetica das quatro operaccedilotildees

sobre os nuacutemeros inteiros aleacutem disso as professoras eram ldquoobrigadasrdquo ndash tal como

estaacute escrito no artigo 2ordm do Regulamento ndash a lecionar sobre prendas que auxiliariam

a economia domeacutestica bordado costura culinaacuteria etc Havia portanto uma

diferenciaccedilatildeo de ensino por gecircnero tanto que no artigo 79 se proiacutebe a admissatildeo de

alunos de ambos os sexos na mesma escola reproduzindo a organizaccedilatildeo social em

moldes patriarcais ao projetar na figura feminina tal como Elias (1994) explica um

modelo de agente do projeto civilizador SantrsquoAnna (2011) em pesquisa sobre a

experiecircncia de escolarizaccedilatildeo de meninos e meninas na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo

XIX expotildee que a legislaccedilatildeo goiana de instruccedilatildeo normatizava orientava controlava o

funcionamento da conduta escolar docente e discente acionando ldquorepresentaccedilotildees

sociais de gecircnero reiteradoras da partilha hierarquizada entre o puacuteblico e o privado

da divisatildeo sexuada dos papeacuteis sociaisrdquo (SANTrsquoANNA 2011 p 138)

Uma forte presenccedila dos preceitos cristatildeos e do catolicismo marca o

Regulamento tornando-se um requisito para o candidato ao magisteacuterio goiano ser

catoacutelico apostoacutelico romano (GOIAacuteS 1856 art 7ordm paraacutegrafo 3ordm) e obrigado a

acompanhar os alunos agrave igreja nos domingos e dias santos velando para guardarem

o devido respeito e prudecircncia nas missas (GOIAacuteS 1856 art 41)

No que diz respeito aos conhecimentos dos professores para ingresso na

carreira docente o Regulamento prevecirc a aplicaccedilatildeo de um exame em que os

candidatos eram avaliados seguindo os criteacuterios especificados nos artigos 10 11 e

12

Art 10 ndash No exame cada examinador deve sect1ordm Mandar o candidato fazer um exerciacutecio de leitura de diversos caracteres impressos e manuscriptos examinar lhe a pronuncia e conhecimento da pontuaccedilatildeo sect2ordm Propor lhe cacographicamente algumas palavras e frazes alternadas para sondar lo na orthographia sect3ordm Ditar lhe uma fraze para ele analisar indicando as partes do discurso e da oraccedilatildeo argumentando sua conjugaccedilatildeo de verbos e nas principais regras da grammatica sect4ordm Manda lo escrever algumas linhas em bastardo bastardinho e cursivo e faze-lo aparar a pena carregar la de escrever

109

sect5ordm Propor lhe questotildees de arithimethica que sejam proprias para mostrar o grau de experiencia do candidato no calculo e perguntar-lhe os principios elementares da arithimethica e os systemas mais usados dos pesos e medidas sect6ordm Propor-lhe diversas situaccedilotildees da vida examinar soluccedilotildees que a moral lhe aconselharia fazer-lhe perguntas sobre os dogmas da Religiatildeo e Doctrina Christam fazendo repetir as principais oraccedilotildees Art 11 ndash No exame para professoras ouvindo os examinadores o juiz de uma professora publica ou drsquouma senhora designada pelo Presidente da Provincia sobre os seus trabalhos drsquoagulhas e bordados Art 12 ndash Terminados os exames sobre os conhecimentos do candidato se procederaacute a de sua aptidatildeo para o ensino questionando os examinadores sobre o modo porque instruiraacute os alunos a conhecerem as letras e os princcipais elementos e depois a leitura a escriptura e o calculo sobre a applicaccedilatildeo dos principios que seguiraacute nas puniccedilotildees e recompensas em summa sobre os meios mais convenientes natildeo soacute para desenvolver a cultura das faculdades intellectuaes dos alunnos como principalmente para os instruir no exerciacutecio das virtudes cristans (GOIAacuteS 1856 art 10 11 e 12)

Os aspectos tratados nesses artigos tambeacutem demonstram concepccedilotildees que

circularam sobre a praacutetica de ensino na instruccedilatildeo primaacuteria goiana em especiacutefico no

ensino inicial de leitura escrita aritmeacutetica e doutrina cristatilde principais conteuacutedos nas

escolas masculinas e femininas Afinal se haacute uma exigecircncia de que se conheccedilam

algumas noccedilotildees da praacutetica escolar para pleitear o magisteacuterio espera-se que os

professores apliquem tais saberes para a accedilatildeo em saberes em accedilatildeo (A

CHARTIER150 2007)

O primeiro saber depreendido volta-se ao domiacutenio da leitura com fluecircncia Com

relaccedilatildeo agrave escrita se exige um conhecimento da grafia correta das palavras e a

distinccedilatildeo de modos diferentes de grafar as letras sendo cobrados trecircs tipos bastardo

bastardinho e cursivo151 Do mesmo modo aleacutem da grafia estabeleceu-se como

avaliaccedilatildeo o modo de o candidato aparar a pena e carregaacute-la para a escrita Arriada e

Tambara (2012) explicam que no seacuteculo XIX o artefato utilizado recorrentemente

150 Para diferenciar as citaccedilotildees de Anne-Marie Chartier e Roger Chartier para a primeira usaremos a referecircncia A CHARTIER 151 Magalhatildees (2005) explica que a escrita bastarda eacute de origem itaacutelica aproximando-se das caracteriacutesticas dos caracteres impressos ldquoPela proximidade do impresso e pela singeleza de traccedilo revelou-se mais acessiacutevel na aprendizagem e menos selectiva na instrumentalizaccedilatildeo do quotidiano por parte dos puacuteblicos pouco escolarizados ou menos habituados agrave escritardquo (MAGALHAtildeES 2005 p 5) Enquanto a escrita cursiva de origem inglesa permitiu a personificaccedilatildeo da escrita adaptando-a aos modelos pessoais de cada escritor e dos diferentes manuais que surgem para ensinaacute-la tendo sido difundida pelo mundo devido a ldquosua facilidade de execuccedilatildeo e comportando adaptaccedilotildees e esteticamente proacutexima do impressordquo (MAGALHAtildeES 2005 p 5)

110

para a escrita era a pena Os autores enumeram diferentes manuais e normativas que

surgiram no Brasil nesse periacuteodo com objetivo de ritualizar a escrita caligraacutefica que

dependia quase exclusivamente da eficaacutecia do escritor no manejo da pena para

desenhar as letras

O saber da gramaacutetica tambeacutem era cobrado mediante a referenciaccedilatildeo das

regras gramaticais Na aritmeacutetica o candidato agrave docecircncia teria que conhecer

princiacutepios elementares e por fim examinavam-se situaccedilotildees da vida apontando

conselhos ou seja esperava-se que o professor formasse o aluno dentro de uma

moral predominantemente cristatilde para civilizaacute-lo nas exigecircncias de uma vida religiosa

Igualmente ele teria que reproduzir as principais oraccedilotildees o que nos leva a conjecturar

que recitar as oraccedilotildees juntamente com os alunos constituiacutea uma praacutetica dos

professores em sala de aula

Interessante notar que esses saberes tambeacutem eram os mesmos exigidos nas

provas de admissotildees das Escolas Normais do Brasil e de Portugal em meados do

seacuteculo XIX e iniacutecio do XX (MAGALHAtildeES 2007 FERREIRA 2010) Mesmo natildeo

havendo nesse periacuteodo na proviacutencia goiana uma Escola Normal o Regulamento de

1856 dialoga com os saberes e praacuteticas de formaccedilatildeo docente difundidos pelo Impeacuterio

o que tambeacutem remonta a nossa tese de estudo de que a proviacutencia goiana se abria

para as tendecircncias de modernidade educacional do seacuteculo XIX o que influenciou a

constituiccedilatildeo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

Aleacutem disso as professoras eram avaliadas quanto ao seu conhecimento em

trabalhos de agulhas e bordados atividades tiacutepicas do caraacuteter domeacutestico da educaccedilatildeo

feminina Conforme Louro (1997 p 478) avalia ldquonatildeo parece ser possiacutevel

compreender a histoacuteria de como as mulheres ocuparam as salas de aula sem notar

que essa foi uma histoacuteria que se deu tambeacutem no terreno das relaccedilotildees de gecircnerordquo de

modo que muito do que foi reproduzido na escola e na legislaccedilatildeo foi reflexo dos

lugares que ocupava e das relaccedilotildees que a mulher estabelecia na sociedade goiana

no oitocentos

O Regulamento tambeacutem cobrava do candidato ao magisteacuterio o conhecimento

dos modos de ensinar ao contraacuterio do Regulamento anterior aqui vemos uma

perspectiva de normatizar a accedilatildeo docente para inculcar nas crianccedilas preceitos

intelectuais elementares baseados em comportamentos e virtudes cristatildes de modo

que se mantivesse nas escolas a exatidatildeo o silecircncio a regularidade e a dececircncia

necessaacuteria (GOIAacuteS 1856 art 34) A normatizaccedilatildeo das praacuteticas sob uma oacutetica

111

foucaultiana pode ser considerada uma forma de controle social e de poder do Estado

na instruccedilatildeo puacuteblica jaacute que conhecendo e controlando os modos de ensinar agraves

crianccedilas de certa forma controla-se tambeacutem o que eacute ensinado Ao mesmo tempo fica

impliacutecito que para se ensinar eacute necessaacuterio ter meacutetodo algo jaacute difundido no Brasil

desde a vinda dos jesuiacutetas e da educaccedilatildeo sob as bases do manual Ratio Studiorum

Outro aspecto que o Regulamento de 1856 tem como diferencial eacute a criaccedilatildeo da

figura do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica e do Inspetor Paroquial (ABREU

GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015) em substituiccedilatildeo aos Delegados Literaacuterios

(GOIAacuteS 1856 art 66) O Inspetor Paroquial era responsaacutevel por inspecionar as

escolas puacuteblicas e privadas de sua localidade vigiar as praacuteticas dos professores

repreendendo-os quando faltavam com as suas obrigaccedilotildees Tinha como funccedilatildeo ao

final de cada trimestre enviar comunicaccedilatildeo ao Inspetor Geral com o mapa geral das

escolas que ele acompanhava indicando o nuacutemero de matriculados e especificando

observaccedilotildees acerca do grau de aproveitamento dos alunos (GOIAacuteS 1856 art 68)

O Inspetor Geral era o Diretor do Liceu funccedilatildeo intermediaacuteria entre as escolas

e o Presidente de Proviacutencia Competia a ele apresentar para o governo da proviacutencia

o estado da instruccedilatildeo primaacuteria sugerindo medidas e reformas (GOIAacuteS 1856 art 69)

Tal norma dialoga com o que fora preconizado na Reforma Couto Ferraz que embora

fosse dirigida ao Municiacutepio da Corte trouxe aspectos que se aplicavam agrave jurisdiccedilatildeo

dos governos nas proviacutencias como vemos em seu artigo 3ordm paraacutegrafo 5ordm que expotildee

a competecircncia do Inspetor Geral do Municiacutepio da Corte

sect5ordm Coordenar os mappas e informaccedilotildees que os Presidentes das provincias remetterem annualmente ao Governo sobre a instrucccedilatildeo primaria e secundaria e apresentar hum relatorio circumstanciado do progresso comparativo neste ramo entre as diversas provincias e o municipio da Cocircrte com todos os esclarecimentos que a tal respeito puder ministrar (BRASIL 1854 art 3ordm paraacutegrafo 5ordm)

Como estaacute descrito as proviacutencias enviariam os mapas apresentando a situaccedilatildeo

da instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria das localidades O cargo de Inspetor Escolar e

outros de fiscalizaccedilatildeo aparecem nos primeiros artigos da lei denotando que uma de

suas ecircnfases foi a criaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo e controle sobre os

estabelecimentos os professores e os materiais por eles usados Em consonacircncia

Barra (2017) em estudo comparativo sobre o Regulamento goiano de 1856 e o

Regulamento de Instruccedilatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo de 1851 analisa vaacuterias

similaridades entre eles notando uma difusatildeo no Brasil oitocentista do serviccedilo de

112

inspeccedilatildeo escolar como um dispositivo essencial para a organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo

puacuteblica

O Regulamento de 1856 natildeo considerou a abertura de uma Escola Normal

algo que viria a ser retomado pelos Presidentes de Proviacutencia posteriores como accedilatildeo

necessaacuteria para mudanccedila da situaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes Poreacutem como

o proacuteprio Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira discursa ndash Presidente entre outubro

de 1857 a maio de 1860 ndash era imprescindiacutevel a melhoria do salaacuterio dos professores

antes mesmo da criaccedilatildeo de um centro de formaccedilatildeo ldquosem melhorar a sorte drsquoestes

empregados inuteis seratildeo quaesquer escolas de habilitaccedilatildeo para elles porque

ninguem quereraacute se habilitar para uma carreira que traz em perspectiva a miseriardquo

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1858 p 13)

A situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia natildeo eacute modificada com o novo

regulamento pois o orccedilamento destinado agrave educaccedilatildeo permanecia o mesmo de modo

que os presidentes analisavam a situaccedilatildeo com uma tocircnica muito pessimista

descrevendo a dificuldade em manter as escolas funcionando e reiterando que a falta

de pessoal habilitado influenciava tal realidade (BRETAS 1991)

Nada pude fazer pela realisaccedilatildeo destas ideas por que entendi sempre que seria meramente nominal toda a reforma que natildeo fosse procedida pela creaccedilatildeo de uma escola de habilitaccedilatildeo para os professores drsquoonde se pudesse tirar o pessoal para as cadeiras do segundo grao quando houvessem de ser instituiacutedos (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 28)

A mesma falta de pessoal devidamente habilitado e ate a de um edifiacutecio que offereccedila as necessaacuterias acommodaccedilotildees me tem impedido ateacute hoje de levar a effeito a creaccedilatildeo de uma classe normal na escola da capital onde possatildeo habilitar-se os individuos que se destinarem ao magisterio (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859b p 34)

Lembro-me que jaacute uma vez compenetrados da necessidade de elevar-se o professorado publico aacute sua verdadeira altura decretastes a fundaccedilatildeo de uma escolla normal Esse estabelecimento como eu o comprehendo estaacute superior aacutes forccedilas da provincia entendo que natildeo poacutede ser circumscripto aacutes funcccedilotildees de uma escola pratica desde que se tratar de estender a instrucccedilatildeo aleacutem da methodica escolastica (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1861 p 14)

Tanto se tem reconhecido que a reforma da instrucccedilatildeo deve comeccedilar pelo noviciado do mestre que ateacute jaacute se decretou nrsquoesta provincia a fundaccedilatildeo de uma escola normal mas V Exordf comprehenderaacute as difficuldades dacuteessa medida desde que observar que se acha em uma provincia onde a administraccedilatildeo luta com embaraccedilos insuperaveis

113

por falta de homens habilitados para os diversos ramos do serviccedilo publico E depois uma escola normal natildeo eacute como muitos entendem uma escola meramente pratica onde o professor vai aprender empiricamente para de igual modo ensinar uma escola normal comprehende um curso regular de humanidades e importaria sua organisaccedilatildeo despesas que natildeo pode supportar o cofre da provincia Entendo que essa ideacutea eacute por todas as razotildees inexequivel e direi ateacute que superfua porquanto do lycecirco se poacutede colher os mesmos resultados que ella nos daria se fosse fundada (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 53-54)

A lei de 28 de Junho de 1858 creando nesta capital uma escola normal determinou no artigo 2deg que daquella data em diante natildeo fosse provida vitaliciamente escola alguma sem que o pretendente se mostrasse habilitado nas materias ensinadas na escola normal Esta disposiccedilatildeo seria por certo muito util e vantajosa se houvesse desde logo realisado a creaccedilatildeo da escola normal mas natildeo tendo assim acontecido o resultado foi summamente prejudicial a instrucccedilatildeo publica porque vedada ateacute hoje a nomeaccedilatildeo de professores vitalicios na conformidade da referida lei tornou-se inevitavel a dos professores interinos na qual ordinariamente ha menos escrupulo aleacutem dos inconvenientes das interinidades (SIQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1867 p 4)

Esses excertos satildeo ilustraccedilotildees de um discurso muito difundido pelos

Presidentes da proviacutencia goiana que justificam o fracasso da instruccedilatildeo primaacuteria

devido agrave falta de professores habilitados Haacute tal como disposto por Bakhtin (2010)

um entrecruzamento dos enunciados numa perspectiva dialoacutegica de um discurso

sempre repleto de discursos de outrem que orientado ideologicamente retoma

palavras alheias para criar um enunciado autoral Ou seja verificamos a ressonacircncia

dos discursos de Presidentes antecedentes na fala do Presidente que discursa

sobretudo pelo que notamos nas descriccedilotildees iniciais nos Relatoacuterios de Presidentes de

proviacutencia que sucessivamente caracterizam o estado da instruccedilatildeo puacuteblica como

ldquonatildeo satisfatoacuteriordquo As desculpas arroladas geralmente satildeo as mesmas e repetidas

vezes os Presidentes justificam que devido agrave transitoriedade dos governos pouco se

conseguia fazer na Proviacutencia Natildeo podemos desconsiderar que essas falas surgem

em meio a contextos poliacuteticos e que de certa maneira na Assembleia Legislativa os

Presidentes pretendem abonar o fazer ou natildeo fazer nas aacutereas da administraccedilatildeo da

proviacutencia

Como se lecirc nos fragmentos haacute uma tentativa de abertura da Escola Normal em

Goiaacutes em 1858 com a publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 15 de 28 de julho de 1858 durante

o governo do Presidente Cerqueira entretanto a iniciativa natildeo se tornou real e a

114

Escola Normal natildeo foi instalada por falta de recursos (CANEZIN LOUREIRO 1994)

Em 1859 haacute o iniacutecio de uma negociaccedilatildeo de compra de um preacutedio na capital conforme

o Relatoacuterio apresentado agrave Assembleia Legislativa explica (CERQUEIRA Relatoacuterio de

Presidente de Proviacutencia GOIAacuteS 1859a p 26) poreacutem no local se instalou uma escola

para o sexo masculino

Na capital da Proviacutencia as escolas eram preacutedios do governo antigas casas

precariamente adaptadas para funcionarem as aulas (ARAUacuteJO E SILVA 1975) Nos

municiacutepios no interior ainda permanecia a praacutetica de as aulas ocorrerem em casas

alugadas porquanto natildeo havia uma construccedilatildeo proacutepria e adaptada para o

funcionamento de uma escola

Natildeo haacute na provincia casas proprias para as escolas e nem se dava aos professores ateacute aqui quantia alguma para aluga-las pelo que muitas drsquoellas funccionatildeo em salas inteiramente improprias para esse fim por acanhadas e por natildeo terem as necessarias condiccedilotildees de aceio e salubridade (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia GOIAacuteS 1858 p 13)

Aleacutem da falta de condiccedilotildees de espaccedilo fiacutesico eacute relatada a escassez de materiais

de expediente escolar e mobiacutelias o que dificultava a aplicaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo

recomendado no Regulamento de 1856 O Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da

Proviacutencia de Goiaacutes Fellipe Antocircnio Cardoso de Santa Crus em 1858 solicita do

Presidente Cerqueira por meio de ofiacutecio vaacuterias mobiacutelias para as aulas puacuteblicas da

proviacutencia justificando que os alunos se sentiam desmotivados com essa ausecircncia jaacute

que para organizaccedilatildeo pelo ensino simultacircneo era necessaacuterio ter mais cadeiras e

mesas em sala de aula e na falta dessas conforme ele descreve ldquoos alunos

escrevem nos bancos de joelhos no chaotilde ou ainda em posiccedilaotilde mais incommodardquo

(CRUS 10 de abril de 1858 p 15 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada

e Impressa nordm 397)

O Presidente Cerqueira no citado Relatoacuterio de 1858 tambeacutem explicita os

atrasos nos salaacuterios dos professores que ficavam meses sem receber embora

fossem responsaacuteveis por pagar os alugueacuteis das casas onde ocorriam as aulas de

instruccedilatildeo primaacuteria152 Essa situaccedilatildeo na Proviacutencia parece se repetir em vaacuterios

152 Nas Caixas dos Municiacutepios Goianos no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes identificamos vaacuterios recibos avulsos de aluguel de casa para instruccedilatildeo primaacuteria assinados pelos professores e enviados pelos Inspetores Paroquiais ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Proviacutencia Interessante notar que esses recibos seguiam o mesmo padratildeo ndash como se houvesse uma orientaccedilatildeo expressa na Proviacutencia do modelo a ser seguido identificava-se

115

momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes levando alguns docentes a desistir do

magisteacuterio153 e ateacute mesmo passar por situaccedilotildees constrangedoras em seus

municiacutepios como eacute relatado no ofiacutecio do Inspetor Paroquial Luis Antonio da Fonseca

da Vila de Curralinho

Inspectoria Parochial de Curralinho 12 de Setembro de 1869 Ilmordm Senrordm Tenho a honra de levar ao conhecimento de VS que desde do anno findo a aula drsquoesta Villa naotilde e suprida com os objectos ainda os mais indispensaacuteveis para o seo expediente como papel pena e tinta O professor naotilde recebeu tambem o seu ordenado e recebeu cobranccedilas publicas do proprietario da caza alugada para as aulas de instrucccedilatildeo O professor tem como sabe VS um ordenado que muito mal chega para sua subsistencia enfim naotilde pode fornecer a sua conta estes objetos mesmo por que a escola tem um numero crescido de alumnos que em geral saotilde naotilde soacute pobres como pauperrimos cujos pais jaacute fazem grande sacrificio em tel-os na escola [] E de novo levo ao conhecimento de VS que o referido preacutedio tem sido reclamado por seu proprietario a fim de seja quanto antes desocupado e certamente teraacute aacute aula de ser interrompida por algum tempo em seos trabalhos ateacute que se alugue uacutema outra caza e nrsquoella se faccedila os necessarios commodos Ilmo Senrordm Conego Joaquim Vicente de Azevedo Digno Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia O Inspor Parochial Luis Antonio da Fonseca (FONSECA 12 de setembro de 1869 p 1-2 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188)

O Inspetor Fonseca relata a situaccedilatildeo particular da Vila de Curralinho no

entanto ela ilustra como um todo a realidade educacional no interior da proviacutencia

quem era o pagador (geralmente o administrador da Coletoria ou Recebedoria do Municiacutepio ou Vila) o beneficiado a quantia o periacuteodo correspondente e a que se destinava (geralmente para pagar o ordenado o aluguel e expediente escolar) Numa anaacutelise desses recibos notamos os repetitivos atrasos e o costume de o pagamento ser efetivado trimestralmente Quando o atraso era superior a 12 meses comumente no recibo apresentava-se uma justificativa pela demora no pagamento As justificativas mais recorrentes entre outras eram a falta de orccedilamento devido ao natildeo pagamento de impostos pelos contribuintes ou um gasto inesperado com algum setor da administraccedilatildeo local que alterava a previsatildeo orccedilamentaacuteria Jaacute na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa do AHEG encontramos livros de brochura da Tesouraria da Fazenda intitulados de ldquoFolha de pagamento dos alugueacuteis de casas e expedientes das aulas de instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria da Proviacutenciardquo datados das deacutecadas de 70 a 80 do seacuteculo XIX que apresentavam as folhas de pagamento dos professores Cada folha era encabeccedilada pela identificaccedilatildeo do professor e de qual localidade ele era a indicaccedilatildeo de que se tratava do vencimento mensal com referecircncia ao mecircs e ano correspondente Abaixo havia uma tabela com trecircs colunas na primeira discriminaccedilatildeo a segunda intitulada de expediente e a terceira aluguel 153 A tese de Abreu (2006) descreve essa situaccedilatildeo como habitual em Goiaacutes entre 1835 e 1893 gerando baixa procura pela profissatildeo docente e a consequente situaccedilatildeo de vaacuterias escolas nos municiacutepios goianos ficarem desprovidas de professor

116

goiana no periacuteodo imperial os professores eram mal remunerados e deveriam arcar

muitas vezes com as despesas relacionadas ao expediente e alugueacuteis das casas O

argumento que Fonseca utiliza no ofiacutecio ao Inspetor Geral estaacute muito atrelado a um

apelo sentimental ao afirmar que o professor tem vencimentos que natildeo datildeo para sua

subsistecircncia justificando a necessidade de ele receber pois foi cobrado publicamente

pelo proprietaacuterio da casa que tambeacutem a solicitou por falta de pagamento

Galvatildeo (2001 p 83) afirma que a partir de meados do seacuteculo XIX os discursos

sobre a profissatildeo docente enalteciam a figura do mestre ao mesmo tempo que o

percebiam ldquocomo algueacutem sem condiccedilotildees de desenvolver um trabalho profissional

competente em consequecircncia dos baixiacutessimos salaacuterios que recebiardquo No caso da Vila

de Curralinho como eacute notificado no ofiacutecio as aulas foram suspensas o que

colaborava para a precarizaccedilatildeo das praacuteticas docentes que natildeo tinham continuidade

devido a fatores externos nesse caso a falta de local para que as aulas

acontecessem em outros casos relatados a falta de materiais ou mobiacutelias escolares

Eacute importante frisar que conforme esclarece Abreu (2006) para o professor

receber seus ordenados nesse periacuteodo havia uma burocratizaccedilatildeo do processo ele

solicitava ao Inspetor Paroquial154 o atestado de seu trabalho que por sua vez o

expedia ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica155 Nesse sentido o Regulamento de

1856 no artigo 68 paraacutegrafo 2ordm estabelecia que ficava a cargo do professor em

posse do atestado de frequecircncia emitido pelo Inspetor Paroquial cobrar o seu

ordenado O Inspetor Geral quando tomava ciecircncia da frequecircncia do professor

enviava o atestado agrave Tesouraria das Rendas Provinciais156 que ordenava o

pagamento ao Coletor de Rendas Provinciais ou ao Administrador da Recebedoria da

localidade a que o professor pertencia O professor emitia um recibo a quem o

pagasse Em alguns casos como pode ser observado em diferentes documentos

manuscritos encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes o professor

solicitava diretamente agrave Tesouraria da proviacutencia o pagamento das quantias para

compra de utensiacutelios para suas aulas bem como o seu ordenado (Cf GOIAacuteS 1835-

1839 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

154 No Regulamento de 1835 chamado de Delegado Paroquial e a partir de 1856 de Inspetor Paroquial 155 Ateacute 1856 os Delegados enviavam diretamente para o Presidente da Proviacutencia pois natildeo existia a figura do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica 156 Ateacute 1855 chamada de Provedoria de Fazenda Provincial a mudanccedila ocorreu em virtude do Regulamento de 30 de julho de 1855 (GOIAacuteS 1855)

117

Por si esse processo jaacute demandava um tempo que aliado agraves dificuldades de

comunicaccedilatildeo entre a sede do governo da proviacutencia e os municiacutepios provocava

atrasos consideraacuteveis para liberaccedilatildeo dos pagamentos isso quando natildeo ocorria

extravio de correspondecircncia como eacute relatado em ofiacutecio identificado no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

Pe Joatildeo Ignacio de Almeida Presbitero [ilegiacutevel] desta Freguesia e Inspector Parochial da Instrucccedilaotilde primaria de Santa Rita

Ilmordm Senrordm Enviei a VS no ultimo mes o atestado do Senhor Pedro Joseacute Rodrigues professor da Aula de instrucccedilaotilde primaria deste Arrayal Temo tel-o extraviado pois natildeo recebi retorno de VS Inspectoria Parochial do Arrayal de Santa Rita 5 de janeiro de 1860 Ilmo Senrordm Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia (ALMEIDA 1860 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 01)

Similar situaccedilatildeo era enfrentada constantemente na entrega de

correspondecircncias considerando as condiccedilotildees das estradas que ligavam o interior agrave

capital da proviacutencia e dos meios de transporte comumente os de montaria157 Haacute que

se destacar que no anexo do Regulamento de 1856 havia uma tabela especificando

o ordenado dos professores e professoras de primeiras letras da proviacutencia

diferenciando o vencimento entre vitaliacutecios158 e interinos159 entre homens e mulheres

entre as aulas na Capital de vilas mais povoadas e de outros lugares Evidentemente

os homens os professores vitaliacutecios e os que davam aula na Capital ganhavam

maiores ordenados o que justifica tambeacutem a ausecircncia constante de professores no

interior jaacute que na Capital os salaacuterios eram maiores similarmente aos recursos para

compra de materiais escolares que eram mais expressivos

Em 1859 o Presidente Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira com anuecircncia

da Assembleia Legislativa alterou a referida tabela do Regulamento de 1856

157 No ato de instalaccedilatildeo da Assembleia Legislativa na proviacutencia em 1835 o entatildeo Presidente Joseacute Rodrigues Jardim descreveu os serviccedilos postais que aconteciam em Goiaacutes naquele momento havia dois correios mensais apenas entre a Corte e a Capital da Proviacutencia Em 1835 o Governo Central aprovou a instalaccedilatildeo de serviccedilos postais trimensais e mensais entre a sede do governo de Goiaacutes e algumas localidades mais populosas da proviacutencia (Cf JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1835 p 22) A partir de 1857 comeccedilou uma expansatildeo de linhas do correio da proviacutencia abrindo agecircncias em vaacuterias localidades melhorando os serviccedilos postais entre os oacutergatildeos do governo e os municiacutepios e vilas (Cf CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1857 p 24-26) 158 Professores aprovados em exame de admissatildeo e nomeados pelo Presidente da Proviacutencia como professor vitaliacutecio 159 Na ausecircncia de um professor vitaliacutecio por quaisquer motivos era nomeado um professor interino

118

aumentando os vencimentos dos professores vitaliacutecios apenas nas vilas e municiacutepios

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 28-29) Em contrapartida

devido a esse aumento e ao estado financeiro da proviacutencia natildeo foi possiacutevel que se

preenchessem todas as cadeiras vagas de instruccedilatildeo primaacuteria num total de 65

escolas 25 estavam vagas das 43 escolas do sexo masculino 11 estavam vagas e

das 22 de sexo feminino 14 estavam vagas (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente

de Goiaacutes 1859b p 33 1867 p 4)

Apoacutes a promulgaccedilatildeo do Regulamento de 1856 nos anos 60 segundo Abreu

Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) a Assembleia Legislativa voltou a autorizar e exigir

novas reformas e regulamentaccedilotildees na instruccedilatildeo puacuteblica da proviacutencia e ao mesmo

tempo alguns presidentes ldquopediam autorizaccedilatildeo da Assembleia Legislativa para

reformar a instruccedilatildeo no que geralmente eram atendidos No ano seguinte ao

discursar para a Assembleia agradeciam a autorizaccedilatildeo que havia sido concedida e

justificavam sua inaccedilatildeordquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 264)

Essas justificativas se referiam agrave carecircncia de recursos financeiros e de pessoal

habilitado Em 1867 o vice-presidente Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira inseriu a

falta de vocaccedilatildeo de alguns professores para o magisteacuterio ausente dos discursos ateacute

entatildeo como explicaccedilatildeo do precaacuterio estado do ensino em Goiaacutes acrescentando que

tal questatildeo fazia com que o professor natildeo tivesse zelo e assiduidade no cumprimento

de seus deveres (SIQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1867 p 4)

Pressionado pela Assembleia Legislativa o Presidente Ernesto Augusto

Pereira ndash sucessor de Siqueira ndash sancionou o terceiro Regulamento de Ensino em

Goiaacutes aprovado em 1868 e passando a vigorar a partir de 1869 Embora com

diferenccedilas pouco substanciais em relaccedilatildeo ao Regulamento anterior essa nova lei deu

uma ecircnfase maior aos livros e ao meacutetodo de ensino simultacircneo o que consideramos

decisivo para que tambeacutem houvesse maior circulaccedilatildeo de obras didaacuteticas na proviacutencia

fato notoriamente comprovado pelas listas de expediente escolar e pelos dados que

seratildeo apresentados na seccedilatildeo 3 desta tese

Em siacutentese entre 1860 e 1870 foram 9 diferentes governos marcados pela

transitoriedade jaacute que alguns vice-presidentes assumiam interinamente a

presidecircncia enquanto os presidentes exerciam mandato na Assembleia Legislativa

ou cumpriam outra ordem imperial O efeito foi a natildeo continuidade das propostas

governamentais e os feitos na aacuterea educacional se reduzirem agrave supressatildeo e abertura

de novas escolas o que natildeo impactava diretamente na quantidade de alunos

119

matriculados De acordo com os Relatoacuterios dos Presidentes da Proviacutencia de Goiaacutes em

1861 eram 64 escolas primaacuterias com 978 meninos e 193 meninas matriculadas em

1869 existiam 63 escolas primaacuterias em funcionamento estando matriculados apenas

877 meninos e 222 meninas

22 1869 A 1886

Na segunda metade do seacuteculo XIX o Brasil passou por diferentes

transformaccedilotildees econocircmicas que impactaram os modos de organizaccedilatildeo poliacutetica

cultural e educacional do povo brasileiro (NAGLE 2001) O advento do capitalismo

comeccedilou a exigir a modernizaccedilatildeo do trabalho atribuindo agrave educaccedilatildeo uma

responsabilidade fundamental frente aos desafios que se impunham numa sociedade

caracterizada pelo baixo niacutevel de instruccedilatildeo e pela manutenccedilatildeo da matildeo de obra

escrava Machado (2005) explica que nesse periacuteodo diferentes projetos de reforma

da instruccedilatildeo puacuteblica tramitaram na Cacircmara de Deputados evidenciando a atribuiccedilatildeo

de importacircncia agrave educaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma sociedade que atendesse agraves

exigecircncias do modelo econocircmico capitalista nos moldes europeus Apesar de muitos

projetos natildeo terem sido aprovados os debates ocorridos entre os Deputados

demonstravam que havia preocupaccedilatildeo do legislativo em relaccedilatildeo ao investimento feito

pelo governo brasileiro no setor educacional (MACHADO 2005)

A obra de Barroso (2005) A instruccedilatildeo puacuteblica no Brasil publicada em 1867 jaacute

analisava a necessidade de o ensino puacuteblico ser livre e a inspeccedilatildeo do Estado ser

reforccedilada para garantia dos interesses da moral e da ordem social De certa maneira

jaacute antecipava algo que seria abordado na Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879

(BRASIL 1879) Anteriormente a essa Reforma vigoravam no paiacutes as

regulamentaccedilotildees da Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) que determinava entre

outras coisas a obrigatoriedade escolar o serviccedilo de inspeccedilatildeo escolar o dever do

estado de assistir os alunos pobres e um curriacuteculo escolar pautado na moralidade e

religiosidade compreendendo na instruccedilatildeo primaacuteria principalmente o ensino de

instruccedilatildeo moral e religiosa a leitura e a escrita as noccedilotildees essenciais de gramaacutetica

os princiacutepios elementares de aritmeacutetica o sistema de pesos e medidas dos

municiacutepios

Como visto no campo dos meacutetodos de ensino em Goiaacutes no seacuteculo XIX apesar

das iniciativas para implementaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo ndash tambeacutem conhecido como

120

lancasteriano ou monitorial ndash do meacutetodo Castilho e do meacutetodo simultacircneo as escolas

na proviacutencia mantinham a organizaccedilatildeo didaacutetica pelo meacutetodo individual (ARAUacuteJO E

SILVA 1975) Essa constataccedilatildeo fez parte dos discursos dos Presidentes que a partir

dos relatoacuterios dos Inspetores Gerais de Instruccedilatildeo Puacuteblica afirmavam que os

professores natildeo experimentavam outras possibilidades para ensinar devido a

diferentes fatores dentre eles como destacamos a carecircncia de Tratados de Ensino

para divulgaccedilatildeo de outros conhecimentos diferentes dos que jaacute circulavam na

proviacutencia Por esse motivo em 1858 o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felippe

Antonio Cardoso de Santa Crus e em 1862 o Presidente Joseacute Martins Pereira de

Alencastre solicitaram a compra de livros para serem distribuiacutedos aos professores

conforme os documentos atestam

[] Inclui no pedido 20 exemplares do melhor tratado sobre os diversos methodos de ensino com especialidade sobre o simultaneo para serem fornecidos aos professores que pela maior parte naotilde tem meios de adrsquoquiri[] 20 Exemplares do melhor tratado de ensino sobre o methodo simultaneo 2 exemplares dos compendios de Arithmetica adoptados para uso das escolas primarias do Rio de Janeiro 2 ditos de todos os outros compendios e livros adoptados nas mesmas escolas Secretaria da Inspectoria Geral da Instrucccedilaotilde Publica da Provincia de Goyaz 5 de abril de 1858 ndash A sua Excia a Ilmordm e Exmo Serntilde D Francisco Jannuario da Gama Cerqueira muito digno Presidente drsquoesta provincia O Inspector Geral da Instrucccedilaotilde publica Felippe Antonio Cardoso Crus (CRUS 18 de abril de 1858 p 5-6 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 grifos nossos)

Tendo visitado varias escolas observei que o melhorado individual era o unico nrsquoellas conhecido methodo este que os professores exercem como poacutedem e o tempo lhes permitte Sendo a applicaccedilatildeo deste methodo uma das causas maiores do atraso da instrucccedilatildeo procurei remedia-la mandando publicar o manual do ensino simultaneo adoptado na escola normal da Bahia e o fiz espalhar pelos professores recommendando muito expressamente e ateacute onde fosse possivel sua execussatildeo V Exordf sabe que toda a sciencia da escola tem por baze a methodica e a pedagogia (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 63 grifos nossos)

A accedilatildeo do Presidente Alencastre desse modo natildeo eacute a primeira que fez com

que se difundisse na proviacutencia um manual que distinguia os modos de organizaccedilatildeo

dos alunos para o ensino Apesar de ele ser considerado o Presidente que se

destacou com accedilotildees desse niacutevel (BARRA 2011) existiram accedilotildees antecedentes da

mesma natureza que tentaram disseminar formas diferentes das dispostas na

121

perspectiva do ensino individual para se pensar e fazer a instruccedilatildeo puacuteblica goiana

Entre os impressos mencionados nos excertos acima transcritos os que tratam do

meacutetodo simultacircneo estiveram entre os indicados comprovando a tentativa de se

difundir esse meacutetodo entre os professores goianos em sintonia com as tendecircncias de

modernidade educacional que alastravam pelo Brasil (MARCILIO 2005) Apesar de

ele ter sido oficializado no Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1856 isso natildeo foi o

bastante para se garantir sua aplicaccedilatildeo nas salas de aula Outro aspecto demonstrado

nos fragmentos foi a adoccedilatildeo de impressos utilizados nas escolas da Bahia e Rio de

Janeiro na instruccedilatildeo puacuteblica da proviacutencia de Goiaacutes

O Rio de Janeiro por ser a sede do Impeacuterio portuguecircs influenciou natildeo soacute a

educaccedilatildeo goiana como a de outras proviacutencias brasileiras tornando-se modelo para

as iniciativas locais

Quanto agrave Bahia sua Escola Normal foi uma das primeiras a ser instalada no

paiacutes (aberta em 1836 e com iniacutecio das atividades em 1842) e diferente de outras

trajetoacuterias a sua natildeo sofreu supressotildees e interrupccedilotildees das aulas (ROCHA 2008) Foi

uma Escola que se manteve sendo que a formaccedilatildeo do professor do sexo masculino

foi simultacircnea agrave do sexo feminino algo incomum nas histoacuterias de muitas Escolas

Normais brasileiras Os impressos ali adotados circularam em vaacuterios locais do paiacutes

com destaque para dois Manuais franceses sobre os meacutetodos de ensino muacutetuo e

simultacircneo traduzidos por dois professores da Escola Normal da Bahia160 (ROCHA

2008 ARAUacuteJO SILVA 2013) Outro fator que provocou sua influecircncia em Goiaacutes pode

ser explicado ateacute mesmo por uma questatildeo geograacutefica de proximidade e de

mobilidade devido agraves estradas que existiam entre essas proviacutencias161 Haacute que se

destacar tambeacutem que na Bahia ateacute 1763 estava localizada a primeira capital do paiacutes

que nesse ano foi transferida para o Rio de Janeiro fato que tambeacutem pode explicar

sua influecircncia em alguns setores da administraccedilatildeo puacuteblica goiana

160 Trata-se do Manual das Escolas Elementares DrsquoEnsino Mutuo escrito por M Sarazin e o Manual Completo do Ensino Simultacircneo assinado pelos professores da Escola Normal de Paris Ambas as obras foram traduzidas nos anos de 1850 pelo professor da Escola Normal da Bahia Joatildeo Alves Portella (Cf ARAUacuteJO SILVA 2013 ARRIADA TAMBARA 2012) Eacute bem provaacutevel que o Manual de Ensino Simultacircneo solicitado pelo Presidente Alencastre (1862) seja este citado anteriormente 161 Sobre isso cf o estudo de Lemes (2012) que destaca as relaccedilotildees comerciais entre Bahia e Goiaacutes desde o periacuteodo colonial e dada a extensatildeo territorial de Goiaacutes havia diferentes acessos geograacuteficos entre essas localidades

122

As legislaccedilotildees aprovadas no acircmbito do Municiacutepio da Corte como jaacute afirmamos

interferiam diretamente na organizaccedilatildeo das leis na proviacutencia goiana A Reforma Couto

Ferraz (BRASIL 1854) organizava o ensino em escolas de primeiro e segundo graus

disseminando no paiacutes o ensino simultacircneo Ainda sob sua forte influecircncia em Goiaacutes

foi aprovada a Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 sancionada pelo Presidente

Ernesto Augusto Pereira em 1869 conhecida como Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica

e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes de 1869 (GOIAacuteS 1869) Esse Regulamento eacute

menos minucioso que o anterior promulgado em 1856 (GOIAacuteS 1856) Bretas (1991)

aponta que natildeo havia diferenccedilas substancias entre ambos todavia ao compararmos

a forma como tratam o uso do livro nas praacuteticas escolares notamos que a lei de 1869

destacou com maior ecircnfase o emprego dos compecircndios em sala de aula conforme

detalharemos adiante

O Regulamento de 1869 conteacutem 65 artigos distribuiacutedos em capiacutetulos que tratam

de estrutura da educaccedilatildeo na proviacutencia competecircncias do Inspetor Geral Inspetores

Paroquiais condiccedilotildees para o magisteacuterio puacuteblico e particular regime de funcionamento

das escolas puacuteblicas e posteriormente das escolas particulares exames para se

candidatar ao magisteacuterio jubilaccedilatildeo (ou aposentadoria) dos professores penas a eles

aplicadas em funccedilatildeo de maacute conduta por fim disposiccedilotildees gerais acerca do

regulamento

A estrutura assemelha-se em alguns aspectos ao Regulamento anterior o de

1856 visto que haacute em todos os capiacutetulos uma centralidade na figura do docente

arquitetando sua carreira por meio de criteacuterios e uma constante inspeccedilatildeo dos seus

atos dos seus deveres dentro e fora das escolas Os princiacutepios de moralidade e de

religiosidade definiam o perfil de um professor na proviacutencia de modo que o Paacuteroco da

localidade onde os mestres pleiteassem o magisteacuterio deveria atestar que eles

professavam a religiatildeo do Estado tendo ldquocostumes morigeradosrdquo (GOIAacuteS 1869 art

10ordm) A Igreja portanto desempenhava um papel primordial na escolha dos

professores que se candidatavam agraves escolas da localidade Tal como Gondra e

Schueler (2008) apontam praticamente em todo o territoacuterio brasileiro no periacuteodo

imperial ela natildeo apenas influenciava na formaccedilatildeo de professores ldquocomo tambeacutem

detinha o monopoacutelio da concessatildeo da licenccedila para ensinar mantendo o controle sobre

os professores religiosos e leigosrdquo (GONDRA SCHUELER 2008 p 157)

As relaccedilotildees entre Igreja e Educaccedilatildeo eram tatildeo estreitas nesse periacuteodo que

temos exemplos notaacuteveis demonstrando a influecircncia da primeira instituiccedilatildeo na

123

segunda legitimando ritos e costumes religiosos dentro do modelo organizacional da

instruccedilatildeo primaacuteria goiana Um dos casos que podemos citar eacute a autorizaccedilatildeo de

afastamento de professores para cumprirem votos aos Santos algo comum no

periacuteodo conforme constatamos nas fontes encontradas (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Neste mesmo livro haacute

registros que revelam outra situaccedilatildeo comum o costume de os professores levarem

as crianccedilas agrave Igreja durante o periacuteodo de aula para assistirem a ritos catoacutelicos

Haacute tambeacutem diferentes livros na seccedilatildeo de Documentos Manuscritos

Datilografados e Impressos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes que demonstram

a presenccedila dos Padres nas salas de aula assumindo a docecircncia eou o papel de

Inspetor Paroquial assim como outros documentos em que constam notificaccedilotildees que

eles faziam ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana sobre as trocas que

promoviam dos professores de seus vilarejos162 Ou seja a Igreja tinha poder sobre a

escola de primeiras letras nos rincotildees da proviacutencia elegendo os docentes indicados

ao magisteacuterio e ao mesmo tempo mantendo aqueles que seguiam as normativas

religiosas catoacutelicas capazes de transitar entre a Doutrina Cristatilde e os conteuacutedos

previstos na regulamentaccedilatildeo educacional vigente

Sobre isso haacute que se acrescentar que especialmente para as mulheres havia

algumas exigecircncias que demonstravam como a sociedade goiana estava organizada

aos moldes patriarcais

Art 11 ndash As senhoras que pretenderem exercer o magisterio publico apresentaratildeo se forem casadas certidatildeo de seo casamento e authorisaccedilatildeo do marido pordf leccionarem se forem viuvas certidatildeo de obito de seo marido se separada judicialmente a certidatildeo de sentenccedila de divorcio que prove natildeo terem dado causa a elle digo ao divorcio sect 1ordm As senhoras solteiras que residirem soacutes natildeo poderatildeo ser nomeadas professoras publicas sem que tenhatildeo 25 annos se porem morarem com seos paes ou tutores seraacute bastante a idade de 21 sect 2ordm Quando alguma senhora viver separada de seo marido sem q~ tenha havido sentenccedila de divorcio deveraacute justificar natildeo ter dado causa a separaccedilatildeo sect 3ordm As senhoras devem instruir os seos requerimentos com os mesmos documentos de que trata o art 10 exceptuando-se quanto a maioridade das senhoras casadas as quaes poderatildeo ser nomeadas desde que completem 18 annos (GOIAacuteS 1869 art 11)

162 Cf GOIAacuteS 1858-1868 nordm 397 GOIAacuteS 1858-1873 nordm 402 GOIAacuteS 1862-1871 nordm 436 GOIAacuteS 1871-1879 nordm 529 GOIAacuteS 1873-1877 nordm 575 Todas essas fontes satildeo advindas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

124

Diferente das legislaccedilotildees jaacute tratadas nesta seccedilatildeo nesse excerto haacute menccedilatildeo

expliacutecita sobre os criteacuterios para a mulher assumir a docecircncia Afinal se esse

Regulamento de 1869 admitiu a educaccedilatildeo de ambos os sexos em escolas mistas

estabelecendo de forma tiacutemida a coeducaccedilatildeo ateacute os 8 anos de idade (GOIAacuteS 1869

art 27) era necessaacuterio inaugurar uma discussatildeo sobre o espaccedilo das mulheres na

carreira docente Vale lembrar que na proviacutencia ldquoabriu-se um campo de trabalho

remunerado e oficial para as mulheres a partir de 1827 pelo fato de que a instruccedilatildeo

puacuteblica das meninas deveria ser ministrada por mulheresrdquo (PRUDENTE 2011 p 63)

Como quesito para aceitaccedilatildeo das mulheres no magisteacuterio o Regulamento de

1856 (GOIAacuteS 1856) jaacute previa uma avaliaccedilatildeo dos trabalhos com agulha no momento

da admissatildeo Nas escolas femininas a partir de 1869 tornou-se uma exigecircncia que

nos exames finais as alunas fossem avaliadas por uma senhora que daria o seu juiacutezo

sobre o desempenho delas com a agulha (GOIAacuteS 1869 art 30)

Tal exigecircncia estava interligada agrave proposta de que os Trabalhos Manuais eram

uma disciplina do curriacuteculo escolar nas aulas para as meninas A todos meninos e

meninas ensinava-se Leitura e Escrita Gramaacutetica Portuguesa Doutrina Cristatilde

Aritmeacutetica

Em linhas gerais os conteuacutedos continuavam os mesmos nos dois

Regulamentos Poreacutem se olharmos para o modo como a disciplina Gramaacutetica foi

intitulada na Lei de 1856 veremos que em relaccedilatildeo agrave de 1869 houve uma

transformaccedilatildeo Na primeira ela era nomeada de Gramaacutetica da Liacutengua Nacional

enquanto na segunda Gramaacutetica Portuguesa Natildeo se trata pois somente de uma

troca lexical houve uma concepccedilatildeo estruturante subjacente marcada pela influecircncia

do modelo do ensino lusitano e de seu mercado livresco no Brasil

Naquele momento havia uma tendecircncia que se alastrava na educaccedilatildeo do paiacutes

e supervalorizava as liacutenguas estrangeiras como o Latim o Grego o Francecircs e o

Inglecircs Aleacutem disso cresciam no Impeacuterio os estudos indigenistas com a valorizaccedilatildeo

do iacutendio na literatura e de sua liacutengua como genuinamente brasileira (ORLANDI

GUIMARAtildeES 2002) Como exemplificaccedilatildeo disso podemos mencionar a publicaccedilatildeo

do Diccionario da Lingua Tupy chamada Lingua Geral dos Indigenas do Brazil por

Gonccedilalves Dias em 1858 (DIAS 1858) Esse autor tambeacutem foi representante da fase

do Indianismo uma tendecircncia literaacuteria no Romantismo no Brasil marcada pela

mitificaccedilatildeo do iacutendio como heroacutei nacional Nesse periacuteodo destacam-se Joseacute de

Alencar que publicou O Guarani (1857) Iracema (1865) e Ubirajara (1874) e

125

Gonccedilalves de Magalhatildees que lanccedilou A Confederaccedilatildeo de Tamoios (1857) e Os

Indiacutegenas do Brasil perante a Histoacuteria (1860) Todas essas obras evocam um espiacuterito

nacionalista e ufanista legitimando a liacutengua e os costumes indiacutegenas como a essecircncia

do ser brasileiro

Esse panorama leva-nos a conjecturar que a proviacutencia goiana acompanhava

outra tendecircncia nacional do periacuteodo ndash na contramareacute do que foi exposto anteriormente

ndash que privilegiava o ensino da Liacutengua Portuguesa e de sua gramaacutetica em relaccedilatildeo a

qualquer outra liacutengua por conseguinte a mudanccedila ocorrida na nomeaccedilatildeo do tipo de

Gramaacutetica a ser ensinada nas escolas de primeiras letras entre um regulamento e

outro em Goiaacutes natildeo foi ocasional mas ideoloacutegica e em sintonia com os preceitos da

coroa portuguesa que tambeacutem tentava manter sua hegemonia devido agraves

instabilidades no cenaacuterio poliacutetico e econocircmico do paiacutes na segunda metade do seacuteculo

XIX (GONDRA SCHUELER 2008 ROCHA 2004)

Ainda sobre o curriacuteculo no Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da

Proviacutencia de Goiaacutes de 1869 a organizaccedilatildeo das aulas se daria conforme os preceitos

do meacutetodo de ensino simultacircneo sendo que o professor candidato ao magisteacuterio

deveria demonstrar ldquoconhecimentos completosrdquo sobre os meacutetodos de ensino como um

todo (GOIAacuteS 1869 art 43) Diferente do Regulamento anterior o meacutetodo simultacircneo

eacute declaradamente recomendado e oficializado em Goiaacutes natildeo ficando mais a cargo do

Inspetor da Instruccedilatildeo Puacuteblica a indicaccedilatildeo daquele a ser trabalhado nas escolas

Poreacutem a oficializaccedilatildeo do meacutetodo natildeo garantia efetivamente a sua praacutetica no

cotidiano da sala de aula O Cocircnego Joaquim Vicente de Azevedo Inspetor Geral da

Instruccedilatildeo Puacuteblica menciona no Relatoacuterio dirigido ao Presidente Ernesto Augusto

Pereira em 30 de abril de 1869 que nas observaccedilotildees feitas durante as visitas agraves

escolas da proviacutencia ele natildeo via melhorias no ensino pelo meacutetodo simultacircneo jaacute que

[] natildeo eacute possivel que o professor com o adjunto possa conseguir o progresso dos discipulos ainda adoptando-se o methodo do ensino simultano parece-me pois conveniente para o progresso do ensino e commodidade dos alunnos a creaccedilatildeo de uma segunda aula que funcione em lugar mais proacuteximo aos habitantes dos bairros [] (AZEVEDO 30 de abril de 1869 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491)

No fragmento tambeacutem haacute menccedilatildeo agrave figura do professor adjunto Esse cargo

estava previsto desde o Regulamento anterior (GOIAacuteS 1856) para as escolas em que

devido ao grande nuacutemero de alunos o professor natildeo conseguisse cumprir com os

126

seus deveres Seria entatildeo contratado um Adjunto para auxiliaacute-lo ou para lecionar em

outra escola Azevedo (30 de abril de 1869) aponta que era preferiacutevel a abertura de

uma segunda aula em lugar proacuteximo aos habitantes demandando novo espaccedilo e

objetos o que provocava muitas vezes a precarizaccedilatildeo das turmas mantidas pelos

professores adjuntos Nos livros de registros de correspondecircncias da Inspetoria Geral

da Instruccedilatildeo Puacuteblica encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes163 haacute vaacuterias

notificaccedilotildees informando que as classes mantidas pelos Adjuntos na proviacutencia natildeo

contavam com condiccedilotildees estruturais baacutesicas natildeo havia material para uso dos alunos

faltando-lhes ateacute mesmo mesas e bancos para se acomodarem o que levava os

professores a improvisarem espaccedilos e objetos alternativos

O Presidente Ernesto Augusto Pereira no Relatoacuterio de 1869 cita que a

situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes era ldquopeacutessimardquo alegando para isso diferentes

motivos

A falta de professores habilitados o nenhum zelo da maior parte daqueles que regem as escolas os mesquinhos ordenados pagos pela provincia o pouco interesse da parte dos pais que em grande numero quase analphabetos contentatildeo-se tenhatildeo os filhos a educaccedilatildeo que elles receberatildeo a dificuldade em fazer vir livros e objectos necessarios para as escolas satildeo a meu ver as causas do atraso completo da instrucccedilatildeo (PEREIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1869 p 24)

Dentre as causas apontadas por Pereira (1869) para o lastimaacutevel estado da

educaccedilatildeo na proviacutencia evidencia-se a falta de livros e objetos necessaacuterios para a

conduccedilatildeo das aulas No Regulamento goiano de Ensino de 1856 o artigo 100

dispunha que o Presidente da Proviacutencia abonaria anualmente a cada professor uma

quantia para compra de materiais como papel penas tintas laacutepis e compecircndios para

os meninos pobres Jaacute no Regulamento de 1869 esse artigo foi suprimido constando

apenas no artigo 61 a obrigaccedilatildeo dos cofres provinciais de adquirir livros para os

alunos de pais indigentes No que concerne ao auxiacutelio enviado aos professores para

a compra de materiais escolares conforme os documentos apontam sua manutenccedilatildeo

foi irregular e em muitas ocasiotildees foi suprimido pelos Presidentes para garantia de

abertura de escolas e pagamento do salaacuterio dos professores dentre outras accedilotildees

justificadas nos discursos proferidos nas Assembleias Legislativas Ao ser mantida no

163 Cf GOIAacuteS 1868-1871 nordm 491 1873-1877 nordm 575 1874-1876 nordm 602 Todas essas fontes satildeo advindas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

127

Regulamento de 1869 a obrigaccedilatildeo do governo provincial de enviar os livros apenas

aos alunos pobres esse objeto da cultura escrita ganhou destaque nas praacuteticas

escolares da proviacutencia sendo artefato essencial na organizaccedilatildeo da escola pelo

meacutetodo simultacircneo Nesse sentido segundo Munakata (2009) o livro escolar foi um

dos dispositivos essenciais de propagaccedilatildeo da cultura impressa no Impeacuterio e um dos

recursos para o desenvolvimento do ensino simultacircneo no Brasil pois por meio dele

diferentes saberes pedagoacutegicos projetaram e organizaram as praacuteticas curriculares na

escola

Os livros escolares tambeacutem satildeo mencionados no Regulamento de Ensino

goiano de 1869 em mais trecircs passagens O artigo 6ordm menciona a obrigaccedilatildeo dos

Inspetores Paroquiais de verificar nas visitas agraves escolas de quais livros estatildeo

munidas e qual o seu estado de conservaccedilatildeo nesse mesmo artigo ainda haacute o inciso

7ordm que faz referecircncia ao livro como parte do patrimocircnio a ser inventariado sempre que

ocorresse troca de professores Os artigos 27 e 51 tratam do regime de funcionamento

das escolas puacuteblicas e particulares proibindo o uso de livros de conteuacutedo imoral

antirreligioso ou contraacuterio ao regime governamental estabelecendo inclusive a pena

de fechar as escolas particulares que consentissem com tal praacutetica

Tudo isso demonstra a influecircncia sobre a instruccedilatildeo primaacuteria das correntes

poliacuteticas e ideoloacutegicas vigentes no periacuteodo A escola por conseguinte estava

condicionada ao modo como a Igreja e o Governo concebiam o cidadatildeo goiano

projetando nela funccedilatildeo de educaacute-lo e civilizaacute-lo dentro da doutrina religiosa catoacutelica e

dos princiacutepios poliacuteticos da Monarquia

A partir de 1870 com toda a ecircnfase dada ao livro no Regulamento de Ensino

goiano de 1869 as listas de expediente escolar identificadas no Arquivo Histoacuterico

Estadual de Goiaacutes em comparaccedilatildeo agraves das deacutecadas anteriores predominantemente

comeccedilaram a solicitar nuacutemeros expressivos de compecircndios que passavam a ser

considerados materiais indispensaacuteveis para a manutenccedilatildeo das escolas164 Por esse

motivo esse Regulamento foi um divisor de aacuteguas na histoacuteria da educaccedilatildeo e da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes jaacute que ao evidenciar o livro como objeto patrimonial da escola

e indispensaacutevel para a conduccedilatildeo das praacuteticas em sala de aula tambeacutem cerceou seu

uso e definiu que os modos de ensinar estariam intimamente ligados aos ideaacuterios

contidos nesses impressos Segundo Lajolo (1996) os livros especialmente do

164 Esses aspectos satildeo abordados na seccedilatildeo 3 desta Tese

128

periacuteodo imperial brasileiro em diante adquiriram tamanha importacircncia que acabam

ldquodeterminando conteuacutedos e condicionando estrateacutegias de ensino marcando pois de

forma decisiva o que se ensina e como se ensina o que se ensinardquo (LAJOLO 1996

p 4)

Em 1864 o governo da proviacutencia criou o Gabinete Literaacuterio Goiano de acordo

com Barra (2008) a primeira biblioteca puacuteblica em Goiaacutes cujos usuaacuterios

exclusivamente homens eram ligados agrave elite goiana dentre eles meacutedicos

magistrados poliacuteticos O Gabinete desde a metade da deacutecada de 60 do seacuteculo XIX

auxiliou na propagaccedilatildeo da ideia de que o livro era depositaacuterio de uma mentalidade

ilustrada e que ao difundi-lo tambeacutem se contribuiria para a formaccedilatildeo de uma

identidade regional ldquoletradardquo dentro dos padrotildees da cultura europeia (BARRA 2011)

Em diferentes estudos realizados por Barra (BARRA 2008 SOUZA BARRA

2008 BARRA FABIANO 2010) a respeito do Gabinete Goiano descobrimos que a

partir de 1871 ocorreram mudanccedilas substanciais nessa instituiccedilatildeo que implicavam

entre outras coisas a admissatildeo de mulheres como soacutecias e leitoras do acervo da

biblioteca incluindo professoras Os Gabinetes de Leitura como aponta Veiga (2001)

foram espaccedilos culturais vistos no Brasil pela primeira vez no Rio de Janeiro em

meados do seacuteculo XIX tendo sido importantes para o desenvolvimento de uma

sociedade que elitizava a leitura e o livro tratando-os respectivamente como

atividade e objeto que diferenciavam socialmente um grupo de outro

Barra e Fabiano (2010) destacam que a imprensa local goiana na segunda

metade do seacuteculo XIX divulgou a instruccedilatildeo como elemento para a construccedilatildeo de uma

naccedilatildeo evidenciando desse modo o livro e a leitura como ldquoremeacutediosrdquo contra a

barbaacuterie

Natildeo se pode negar que todo esse ideaacuterio adentrou o ambiente educacional

influenciando as praacuteticas escolares que destacaram a funccedilatildeo do livro para a

organizaccedilatildeo didaacutetica das aulas Conforme Choppin (2004) advoga o livro eacute um

referencial instrumental ideoloacutegico ou cultural sendo depositaacuterio de conhecimento

vetor da liacutengua da cultura e dos valores de uma eacutepoca O livro escolar ldquoeacute produto de

uma eacutepoca e como tal revela o que essa eacutepoca delegou agrave escola em seu projeto de

naccedilatildeo A escola por sua vez cria mecanismos proacuteprios para usar o livro didaacuteticordquo

(BERTOLETTI SILVA 2016 p 379)

Ainda no regime de Impeacuterio outras leis educacionais que neste trabalho

consideramos para compreender o cenaacuterio da instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia foram

129

aprovadas o Regulamento de Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1884 lei nordm 3397 ato de 9 de

abril de 1884 (GOIAacuteS 1884) o Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1886 ato de 2

de abril de 1886 (GOIAacuteS 1886a) o Regulamento para serviccedilo da catequese na

proviacutencia de Goiaacutes de 1886 ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 (GOIAacuteS 1886b)

o Regulamento para Instruccedilatildeo Primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes de 1887 lei nordm 4148

ato de 11 de fevereiro de 1887 (GOIAacuteS 1887)

O Regulamento de 1884 criou o fundo escolar para aquisiccedilatildeo de objetos de

escrita responsaacutevel a partir de entatildeo por fornecer os livros e utensiacutelios para que os

alunos pobres frequentassem as aulas Tira portanto da esfera do governo provincial

a responsabilidade por tal questatildeo diferentemente do Regulamento de 1869 que o

antecedeu Sob forte influecircncia da Reforma Leocircncio de Carvalho (BRASIL 1879) que

reformou o ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte e o ensino superior

em todo Impeacuterio no Regulamento goiano de 1884 natildeo eacute especificado um meacutetodo

oficial de ensino deixando a cargo do professor a escolha de sua adoccedilatildeo Uma vez

ao ano como trata o paraacutegrafo 14 do artigo 2ordm do Regulamento os professores

primaacuterios e secundaacuterios exporiam ao Inspetor Geral de Ensino os meacutetodos de ensino

por eles adotados apresentando a frequecircncia e aproveitamento dos alunos Tal como

na Reforma Leocircncio de Carvalho em Goiaacutes foram implantados os conselhos oacutergatildeos

de direccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica que atuavam ao lado das figuras do

Inspetor Geral e do Inspetor Paroquial de Ensino Na capital da proviacutencia foi instalado

o conselho diretor formado por professores da Escola Normal e nas paroacutequias os

conselhos paroquiais cujos membros eram cidadatildeos daquela localidade nomeados

pelo Presidente da Proviacutencia

Em 1886 Guilherme Francisco Cruz estava na presidecircncia da proviacutencia e

mesmo apresentando na Assembleia Legislativa um discurso que denunciava a falta

de uniformidade do ensino em Goiaacutes como fator que atrapalhava o desenvolvimento

educacional na proviacutencia (CRUZ 1886) sancionou o Regulamento da instruccedilatildeo

puacuteblica de 1886 sem especificar o meacutetodo de ensino que deveria ser adotado nas

escolas Essa lei mudou a organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria nomeando as

escolas de acordo com o nuacutemero de alunos e localidade165 De acordo com esse

165 De acordo com o Regulamento de 1886 (GOIAacuteS 1886a) as escolas eram classificadas como efetivas se frequentadas por mais de 20 alunos e as elementares frequentadas por mais de 10 alunos e menos de 20 (art 1ordm) As efetivas eram divididas em trecircs entracircncias as de primeira entracircncia eram as escolas criadas nas vilas paroacutequias e arraiais as de segunda entracircncia as criadas na cidade as de terceira entracircncia as criadas na capital

130

Regulamento os livros e demais materiais de expediente escolar deveriam ser

fornecidos pelo governo provincial sob a responsabilidade da Inspeccedilatildeo Geral de

Ensino mediante os pedidos dos professores que se reportavam aos Delegados

Literaacuterios Logo se depreende que os livros e meacutetodos de ensino eram escolhidos

pelos professores Diferente do Regulamento anterior o de 1886 esse estabeleceu

que a fiscalizaccedilatildeo do ensino estava sob a direccedilatildeo de um Inspetor Geral de um

Conselho Diretor e de Delegados Literaacuterios em cada localidade

Esse mesmo presidente legislou na proviacutencia sobre o serviccedilo de educaccedilatildeo dos

indiacutegenas por meio do Regulamento para catequese na proviacutencia de Goiaacutes de 1886

sancionado pelo ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 (GOIAacuteS 1886b) Sob a

justificativa da uniformizaccedilatildeo desse ofiacutecio o Presidente Cruz estabeleceu que em

cada aldeamento indiacutegena houvesse um missionaacuterio que ensinaria leitura escrita as

quatro operaccedilotildees aritmeacuteticas e catecismo da religiatildeo catoacutelica aleacutem do trabalho de

agulha para ldquoas iacutendiasrdquo

Dessa maneira a uniformizaccedilatildeo do ensino como entendida nesse momento

da histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes se projetou mais na macroestrutura da escola

pensada em seus aspectos da organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo do que propriamente na

esfera das praacuteticas dos conteuacutedos e dos modos como esses eram ensinados

(ABREU 2006 BARRA 2011)

Ainda no regime imperial a uacuteltima lei goiana sobre a instruccedilatildeo primaacuteria foi

sancionada pelo Regulamento para Instruccedilatildeo Primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes de 1887

lei nordm 4148 ato de 11 de fevereiro de 1887 (GOIAacuteS 1887)

Na pesquisa realizada por Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) mediante

a anaacutelise documental dos jornais da deacutecada de 1880 eacute revelado que esses dois

uacuteltimos regulamentos (GOIAacuteS 1886a 1887) foram motivo de disputa no campo

poliacutetico entre os Presidentes do periacuteodo Os autores explicam que o Presidente Luiz

Silveacuterio Alves da Cruz que governou a proviacutencia entre 1886-1887 ao tomar posse

revogou o Regulamento que estava em vigor (GOIAacuteS 1886a) restabelecendo o

regulamento de 1884 Por pressatildeo da Assembleia Legislativa aprovou novo

Regulamento em 1887 (GOIAacuteS 1887) Entretanto quando o 2ordm Vice-presidente

Brigadeiro Feliciacutessimo do Espiacuterito Santo ldquoassumiu a presidecircncia provisoriamenterdquo em

1887 ldquodeclarou sem efeito o Regulamento de 1887 e recolocou em vigor o

Regulamento de 1886 E Fulgecircncio Firmino Simotildees (1887-1888) ao assumir a

131

presidecircncia da proviacutencia em 20 de outubro de 1887 manteve o ato de 9 de setembro

[Regulamento de 1887]rdquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 274)

Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) elucidam que durante seu governo

o Presidente Fulgecircncio restaurou o Regulamento de 1886 justificando perante a

Assembleia Legislativa (SIMOtildeES 1888) que a proviacutencia natildeo tinha condiccedilotildees

financeiras de adotar os dispositivos do Regulamento de 1887 pois traziam impacto

aos cofres devido agrave melhoria dos vencimentos dos professores e tambeacutem ao

dispositivo que previa o pagamento mesmo que pela metade aos mestres das

escolas extintas Esse Regulamento em seu capiacutetulo 6ordm classificava as escolas em

primeira segunda e terceira classes categorizando como de primeira classe todas as

escolas da capital e de todas as cidades da proviacutencia aumentando em consequecircncia

os gastos para manutenccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica que estava condicionada agrave

classificaccedilatildeo das escolas (BRETAS 1991) Em face de todas essas dificuldades

Fulgecircncio Simotildees publicou o Ato de 7 de janeiro de 1888 (GOIAacuteS 1888) modificando

substancialmente alguns aspectos do expediente escolar e de funcionamento da

escola goiana minimizando as despesas relativas agrave instruccedilatildeo (ABREU GONCcedilALVES

NETO CARVALHO 2015)

Como vimos a uacuteltima lei educacional que teve efeito em Goiaacutes166 no periacuteodo

imperial foi o Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1886 ato de 2 de abril de 1886

(GOIAacuteS 1886a) que marca inclusive a dataccedilatildeo do fechamento do recorte temporal

dessa pesquisa

Com relaccedilatildeo ao curriacuteculo escolar os uacuteltimos regulamentos promulgados em

Goiaacutes legislaram acerca dessa questatildeo estabelecendo

Art 22deg Nas do 1deg graacuteo seratildeo ensinadas as seguintes materias Instrucccedilatildeo moral e religiosa leitura e escripta Arithmetica operaccedilotildees sobre numeros inteiros fraccionarios decimaes e o systema legal de pezos e medidas Noccedilotildees de grammatica Nas escolas do 2deg graacuteo se ensinaraacute mais Arithmetica ateacute a regra de tres simples Noccedilotildees de geographia e historia do Brazil (GOIAacuteS 1884 art 22)

Art 9 ndash Nas escolas publicas primarias se ensinaraacute

166 Reiteramos que tal conclusatildeo foi a partir das contribuiccedilotildees da pesquisa de Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015)

132

sect 1deg ndash Nas elementares a ler e escrever a lingua portugueza taboada pratica das 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros catechismo e pezos e medidas metricas sect 2deg ndash Nas de 1deg entrancia a ler e escrever a lingua portugueza taboada as 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros decimais fraccionarios e complexos regra de trez e juros simples catechismo e systema metrico sect 3deg ndash Nas de 2ordf entrancia a grammatica leitura e escripta da lingua portugueza taboada as 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros decimais fraccionarios catechismo e o systema metrico sect 4deg ndash Nas de 3ordf entrancia grammatica leitura escripta e composiccedilatildeo da lingua portugueza catechismo e Historia Biblica arithmetica e metrologia chorographia e historia do Brazil sect 5deg ndash Nas escolas do sexo femenino regularaacute o art antecedente e mais os trabalhos de agulha (GOIAacuteS 1886a art 9ordm)

Analisando ambas as legislaccedilotildees basicamente notamos que a segunda em

relaccedilatildeo agrave primeira detalha melhor os conteuacutedos de Aritmeacutetica mantendo leitura

escrita gramaacutetica e a instruccedilatildeo moral e religiosa O Regulamento de 1886 especifica

o que seraacute ensinado de acordo com a classificaccedilatildeo das escolas Essa classificaccedilatildeo

como vimos estava subordinada agrave localidade das escolas de modo que nas de 3ordf

entracircncia localizadas na capital os estudantes tinham acesso a mais conteuacutedo do

que os das escolas dos vilarejos

Interessante atentar para a presenccedila do Catecismo retomado como conteuacutedo

curricular ele havia sido mencionado pela uacuteltima vez no Regulamento de ensino

goiano de 1856 (GOIAacuteS 1856) A Igreja firmava mais uma vez sua presenccedila e

permanecircncia na escola goiana jaacute que se mantinha no territoacuterio brasileiro como uma

das principais aliadas ao Trono defendendo o regime imperial (AZZI 1992)

O Regulamento de Ensino goiano de 1886 ficou em vigor ateacute 1893 (ABREU

GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015) quando foram aprovados a Reforma da

Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1893 (GOIAacuteS 1893a) e o Regulamento da Instruccedilatildeo Primaacuteria do

estado de Goiaacutes de 1893 instituiacutedo sob o Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893

(GOIAacuteS 1893b) nos quais a laicidade da instruccedilatildeo puacuteblica eacute mencionada com a

declaraccedilatildeo de um ensino gratuito leigo e uniforme Por esse motivo mesmo apoacutes a

proclamaccedilatildeo da repuacuteblica houve em Goiaacutes nos primeiros anos do regime

republicano a permanecircncia do ensino das Cartilhas de Doutrina Cristatilde e Catecismos

nas escolas do estado conforme a legislaccedilatildeo previa167 Isso se deve principalmente

167 Na pesquisa realizada no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes observamos por meio das listas de expediente escolar identificadas apoacutes a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica que houve a

133

ao fato de a Constituiccedilatildeo Goiana de 1891 natildeo ter feito alusatildeo ao caraacuteter laico do

estado e natildeo ratificar a deslegitimaccedilatildeo do catolicismo como religiatildeo oficial do estado

aos moldes da Constituiccedilatildeo Brasileira de 1891 que estabeleceu que nenhum culto ou

igreja gozaria de subvenccedilatildeo oficial nem manteria relaccedilotildees de dependecircncia ou alianccedila

com a Uniatildeo ou com os estados (BRASIL 1891 art 72 sect 7ordm)

A realidade educacional em Goiaacutes no fim do Impeacuterio era desastrosa conforme

Bretas (1991) relata jaacute que dos cerca de 158000 habitantes 80 eram analfabetos

Desse total de habitantes 15 a 18 estavam em idade escolar mas somente 10

deles recebiam instruccedilatildeo Os outros 90 natildeo tinham acesso agrave escola por residirem

na zona rural nos vilarejos afastados ou nas periferias das cidades (BRETAS 1991)

Toda essa situaccedilatildeo foi de certa forma um entrave para que as ideias

proclamadas com a Repuacuteblica se instaurassem na poliacutetica goiana Com a mudanccedila

no cenaacuterio brasileiro no fim do seacuteculo XIX como Nagle (2001) analisa na coexistecircncia

de dois brasis ndash um do interior e outro dos centros urbanos ndash o estado de Goiaacutes com

uma populaccedilatildeo maiormente rural e uma poliacutetica centralizadora dava passos muito

tiacutemidos para a implantaccedilatildeo do ideaacuterio republicano

A efervescecircncia durante a deacutecada de 1880 dos movimentos abolicionistas por

todo o paiacutes168 e o advento desde os anos de 1870 de partidos poliacuteticos e clubes

republicanos propagandeavam a Repuacuteblica projetando nela a utopia de um novo

Brasil (NAGLE 2001)

Palaciacuten e Moraes (1994) explicam que devido agrave estrutura socioeconocircmica e

cultural goiana as ideias dos republicanos foram disseminadas tardiamente no

estado Havia mudado o regime mas as praacuteticas governamentais continuavam as

mesmas Na educaccedilatildeo o impacto inicial foi ainda mais negativo jaacute que os diferentes

governos transitoacuterios e as crises poliacuteticas instaladas pela disputa agrave presidecircncia do

permanecircncia dos pedidos dos Catecismos No levantamento de documentos feitos pela Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes na Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes volume 1 tambeacutem haacute vaacuterios documentos do iniacutecio da Repuacuteblica que mencionam ou o pedido ou a compra de Catecismos e livros de Doutrina Cristatilde para serem utilizados nas escolas goianas 168 Assim como em outras proviacutencias brasileiras em Goiaacutes o movimento abolicionista realizou campanhas na imprensa em defesa da libertaccedilatildeo dos escravos sobretudo na deacutecada de 1880 SantrsquoAnna (2013) analisando o abolicionismo na cidade de Goiaacutes explica que os principais jornais que disseminaram essas ideias poliacuteticas e sociais na proviacutencia foram A Tribuna Livre O Publicador Goyano e Goyaz Dentre os principais abolicionistas goianos destacam-se os Bulhotildees uma famiacutelia da oligarquia goiana Nesses jornais vaacuterios membros da famiacutelia Bulhotildees eram redatores aleacutem de fundadores ou cofundadores

134

estado fizeram com que os investimentos na instruccedilatildeo puacuteblica se tornassem cada vez

mais reduzidos

23 CONCLUSOtildeES PARCIAIS

O Ato Adicional de 1834 foi um dos marcos da histoacuteria do Brasil pois

descentralizou a tomada de decisotildees sobre diferentes setores da administraccedilatildeo

provincial No que tange agrave instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria seja no acircmbito puacuteblico ou

privado as Assembleias Legislativas Provinciais instaladas a partir de entatildeo

passaram a organizaacute-las legislando sobre elas

Em Goiaacutes o Ato Adicional provocou no campo da educaccedilatildeo a promulgaccedilatildeo da

primeira lei goiana sobre instruccedilatildeo puacuteblica a Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835

(GOIAacuteS 1835) A instruccedilatildeo assim como outros setores da administraccedilatildeo estava na

governanccedila dos Presidentes de Proviacutencia sob a legislatura das Assembleias

Provinciais havendo daiacute em diante algumas iniciativas para abertura das escolas de

primeiras letras pelos vilarejos goianos A lei de 1835 marca a histoacuteria da educaccedilatildeo

de Goiaacutes inaugurando um discurso poliacutetico local mesmo que intermitente sobre a

instruccedilatildeo das crianccedilas na eacutegide de um projeto de sociedade goiana (ABREU 2006

BARRA 2011) Embora os Relatoacuterios de Presidentes da Proviacutencia de Goiaacutes apontem

a dificuldade de matricular e manter as crianccedilas na escola como visto no decorrer da

seccedilatildeo mas natildeo somente devido agrave resistecircncia dos pais que as colocavam para

trabalhar desde muito pequenas os discursos tambeacutem incidiam sobre a falta de

recursos para investimento e manutenccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica Ao mesmo tempo as

praacuteticas escolares mantidas nas escolas da proviacutencia eram apontadas pelos

Presidentes como fatores que prejudicavam o avanccedilo da instruccedilatildeo puacuteblica

especificamente no que concerne aos meacutetodos de ensino que se baseavam em

concepccedilotildees antigas

Como analisado a Lei de 1835 inaugurou em Goiaacutes uma discussatildeo mais

veemente sobre a instruccedilatildeo puacuteblica tornando-se nesta tese um marco inicial acerca

da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas no periacuteodo imperial jaacute que anteriormente a

1835 natildeo havia uma legislaccedilatildeo educacional especiacutefica para as escolas em Goiaacutes

Apesar de diferentes regulamentaccedilotildees de ensino aprovadas em Goiaacutes desde entatildeo

serem consideradas coacutepias de leis de outras localidades (BRETAS 1991) natildeo se

pode negar que isso foi uma decisatildeo poliacutetica e estabelece de toda maneira o modo

135

como se pensava concretizar a educaccedilatildeo constituindo possiacuteveis ideaacuterios e praacuteticas

sobre a escola goiana em diferentes periacuteodos

Durante todo o Impeacuterio a proviacutencia goiana aprovou leis que se tornaram em

alguns momentos motivo de disputas no campo poliacutetico impactando diretamente na

organizaccedilatildeo da escola e nos investimentos nela tanto no capital humano como nos

materiais para manutenccedilatildeo das aulas

A Igreja Catoacutelica por seu turno esteve presente nas raiacutezes da

institucionalizaccedilatildeo da escola goiana desde a primeira lei de 1835 mantendo-se de

diferentes maneiras em todas as leis educacionais analisadas no decurso do regime

imperial seja no curriacuteculo nos materiais aprovados para uso nas aulas na escolha

dos professores no trabalho de inspeccedilatildeo escolar dentre outras accedilotildees que ficaram

impregnadas pelos seus dogmas

Entretanto o projeto conservador da Igreja natildeo impediu que a proviacutencia abrisse

suas portas para as transformaccedilotildees que ocorriam em acircmbito nacional implantando

novas regulamentaccedilotildees que dialogavam com as reformas feitas no Municiacutepio da

Corte Ainda que algumas leis natildeo chegassem ao seu efetivo cumprimento

compreendemos que o ato de legislar denota uma abertura da proviacutencia para a

modernidade ndash mesmo que tiacutemida ndash da sociedade goiana em consonacircncia com as

mudanccedilas que ocorriam no contexto educacional do paiacutes

O Seacuteculo XIX em Goiaacutes protagonizou conforme analisamos a abertura da

proviacutencia para o que vinha ocorrendo no Brasil Embora houvesse dificuldade de

comunicaccedilatildeo entre a capital e os vilarejos foram sancionadas regulamentaccedilotildees que

pensavam a escola goiana como um todo sistematizando saberes que deveriam ser

ensinados na proviacutencia Esses saberes conforme discutimos em vaacuterios momentos

estavam em consonacircncia com o pensamento racional e liberal difundido pelo paiacutes e

tambeacutem presente nos discursos dos Presidentes goianos o que ratifica nossa tese de

estudo que adveacutem desse contexto poliacutetico e social da proviacutencia a escola goiana do

seacuteculo XIX se estabeleceu sob a influecircncia da Igreja o que natildeo a impediu de se inserir

nas transformaccedilotildees do Brasil do seacuteculo XIX especialmente no que tange agrave

alfabetizaccedilatildeo da crianccedila Afinal natildeo haacute como compreender os processos de ensino

de leitura e escrita sem pensar no contexto maior que os abriga que eacute a escola e de

igual maneira no modo como o governo e a sociedade a concebiam

136

3 MEacuteTODOS E LIVROS PARA

ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS

___________________________________

Em 1835 aleacutem de ter sido publicada a primeira lei de instruccedilatildeo puacuteblica

deliberada pela Assembleia Legislativa Provincial em Goiaacutes iniciou-se um processo

de institucionalizaccedilatildeo das praacuteticas escolares uma vez que a partir de entatildeo 1)

legislava-se sobre a quantidade de alunos para abertura e manutenccedilatildeo de uma

escola 2) obrigava-se os pais a oferecer instruccedilatildeo primaacuteria aos filhos seja em casa

ou nas escolas puacuteblicas ou particulares 3) definiam-se criteacuterios para ser professor 4)

estabelecia-se a inspeccedilatildeo de ensino por meio da figura dos Delegados Paroquiais e

das Cacircmaras Municipais e por fim 5) publicavam-se os Regulamentos de Ensino

que circunscreviam a escola numa rotina determinando as mateacuterias meacutetodos e

objetos a serem aplicados na instruccedilatildeo das crianccedilas (GOIAacuteS 1835 ABREU 2006)

Jaacute a uacuteltima lei de ensino goiano do periacuteodo imperial que foi levada a

cumprimento pelos presidentes data de 1886 Nessa a escola primaacuteria se organizou

pela sua classificaccedilatildeo condicionada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica e agrave quantidade de

alunos matriculados (GOIAacuteS 1886a)

Entre o marco inicial e final do recorte histoacuterico desta pesquisa 1835 a 1886

uma das situaccedilotildees recorrentemente descritas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia

goiana foi a falta de materiais escolares (PRIMITIVO MOACYR 1940) Nesse

intervalo em alguns momentos os professores ficaram responsaacuteveis por adquiri-los

137

com auxiacutelio de uma gratificaccedilatildeo em seus vencimentos bem como o governo que

tambeacutem se responsabilizou pela compra deles geralmente solicitados nas listas de

expediente escolar

Na consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nas seccedilotildees de

Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressos

pudemos inventariar entre 1835 e 1886 889 listas de expediente escolar169 dessas

528 vindas de diferentes localidades de Goiaacutes com pedidos remetidos ao governo da

proviacutencia para as aulas de primeiras letras e 361 listas em correspondecircncias do

governo notificando o envio de materiais dentre eles os de uso escolar Dada a

extensatildeo do periacuteodo histoacuterico a princiacutepio presumimos que eram poucas as listagens

e que haveria uma lacuna entre os pedidos Contudo ao contrastarmo-las com a

quantidade de escolas e as dificuldades relatadas pelos presidentes na manutenccedilatildeo

do ensino goiano no periacuteodo concluiacutemos que essas listas demonstram

significativamente o que circulava nas escolas e como se ensinava a ler e escrever

Com fundamento na anaacutelise dessas listagens nos propomos a inventariar

nesta seccedilatildeo os livros para o ensino inicial da leitura e escrita buscando compreender

a partir deles os meacutetodos que circularam na proviacutencia no periacuteodo imperial Aleacutem

dessas listas os mapas de turmas encontrados nesse Arquivo revelam alguns

aspectos dos fazeres dos professores na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em

Goiaacutes

Como analisamos a questatildeo dos meacutetodos de ensino foi debatida pelos

presidentes em seus relatoacuterios que estabeleceram diferentes tentativas de

implantaccedilatildeo de outros meacutetodos de ensino em Goiaacutes que natildeo o individual ou ordinaacuterio

jaacute amplamente difundido na proviacutencia Poreacutem conforme esses relatoacuterios demonstram

a tradiccedilatildeo de uso do meacutetodo individual a falta de material e de formaccedilatildeo fizeram com

que os professores se mostrassem resistentes a aplicar os meacutetodos muacutetuo eou

simultacircneo

No acircmbito do material a falta era tanto de objetos para os alunos tais como

livros ardoacutesias lousas laacutepis papel tinta bancos mesas etc necessaacuterios para a

conduccedilatildeo por exemplo do meacutetodo simultacircneo como tambeacutem de materiais para

169 Ao final desta tese haacute uma seccedilatildeo intitulada ldquoFontesrdquo Nela haacute o item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmasrdquo em que destacamos todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes em que encontramos algum documento que mencione materiais de expediente escolar solicitados ou enviados agraves escolas goianas aleacutem de Mapas de Turmas

138

formaccedilatildeo do professor como os Tratados sobre os Meacutetodos de Ensino e outros

compecircndios que fizessem circular diferentes ideias apresentando esclarecendo e

ilustrando o manejo didaacutetico em novas possibilidades de ensinar e aprender

No campo da formaccedilatildeo a ausecircncia de uma Escola Normal e de cursos de

aperfeiccediloamento para professores em praticamente todo o periacuteodo que esta tese

investiga tambeacutem comprometeu a propagaccedilatildeo de ideiasteoriascorrentes de

pensamento genuinamente goianas impossibilitando do mesmo modo uma

discussatildeo local sobre a questatildeo do ensino de leitura e escrita como ocorreu em outras

proviacutencias do paiacutes

Vale ressaltar que a Escola Normal Oficial de Goiaacutes de acordo com Canezin e

Loureiro (1994) tem sua gecircnese efetivamente com a publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo

Provincial nordm 676 de 03 de agosto de 1882 (GOIAacuteS 1882) A Resoluccedilatildeo criava anexa

ao Liceu uma Escola Normal para a preparaccedilatildeo de professores de instruccedilatildeo primaacuteria

No entanto a instalaccedilatildeo do curso soacute ocorreu em 1884 ano em que tambeacutem se

publicou o Ato Provincial nordm 3374 que instaurou o ldquoPrimeiro Regulamento da Escola

Normal anexa ao Lyceordquo (GOIAacuteS 1884) No Correio Official de 26 de abril de 1884 haacute

uma notiacutecia (ldquoInstallaccedilatildeo da Escola Normalrdquo p 2-3) relatando o ato religioso e poliacutetico

ocorrido durante a abertura do curso no dia 21 de abril de 1884 (CORREIO OFFICIAL

26 de abril de 1884) Houve como jaacute enunciamos na seccedilatildeo 2 algumas tentativas

anteriores de se instalar a Escola Normal que entretanto foram frustradas170

Logo tomando como referecircncia os estudos de Galvatildeo (2009) ao olharmos para

o conjunto de materiais presentes nas listagens de expediente escolar os

classificamos em 1) impressos para ensinar a ler e escrever e 2) impressos para o

ensino da leitura corrente Essa classificaccedilatildeo organiza os itens nesta seccedilatildeo ao

mesmo tempo que orienta nosso discurso para a anaacutelise sobre os meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo que circularam em Goiaacutes no seacuteculo XIX

Por fim eacute importante frisar que tal classificaccedilatildeo eacute uma das muitas possiacuteveis

leituras para compreendermos a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes e portanto natildeo

engessa as possibilidades dialoacutegicas que se estabelecem para novas leituras e novas

problematizaccedilotildees Natildeo satildeo classificaccedilotildees fixadas e emolduradas como se houvesse

apenas uma compreensatildeo dos usos dos impressos inventariados trata-se de uma

170 Para aprofundar na histoacuteria da Escola Normal em Goiaacutes cf Canezin Loureiro (1994) Brzezinski (2008)

139

perspectiva de leitura transformada em uma escrita historiograacutefica ambas

justificadas pelas escolhas que fizemos

31 IMPRESSOS PARA ENSINAR A LER E ESCREVER

Quanto aos impressos destinados ao ensino da leitura na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes do seacuteculo XIX houve hegemonia do uso das Cartas ndash folhetos

para ensinar e aprender a ler ndash nas listagens nomeadas de ldquoCartas de ABCrdquo ldquoCartas

de nomesrdquo ldquoCartas de abc e syllabasrdquo ldquoCartas de abc com seus syllabariosrdquo ldquoCartas

de abc com seus syllabarios e nomesrdquo ldquoCartas de syllabasrdquo ldquoCartas de syllabas para

principiantesrdquo ldquoCartas de alfabeto sillabas nomes e conselhos moraisrdquo e ldquoCartas com

lettras do alfabeto e sillabasrdquo

A solicitaccedilatildeo dessas Cartas ocorreu durante todo o periacuteodo pesquisado e o

ultrapassa Do total das 889 correspondecircncias de expediente escolar inventariadas

no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goias 709 listas ou seja aproximadamente 80

trazem alguma solicitaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo de envio desses impressos As quantidades

solicitadas ou remetidas demonstram que o uso das Cartas em sala de aula era

individual ou seja para cada aluno se adquiria uma jaacute que o montante de compra

delas era muito grande em comparaccedilatildeo aos outros objetos ou impressos Haacute registros

na deacutecada de 1850 de compras que chegaram a 2000 exemplares de Cartas de ABC

para serem distribuiacutedos aos alunos nas escolas de primeiras letras goianas (GOIAacuteS

1858-1868 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Nos arquivos e acervos consultados natildeo encontramos nenhum desses

impressos o que nos impediu de uma anaacutelise mais direta e descritiva pois conforme

Batista e Galvatildeo (2009) discutem no Brasil eles adquiriram valor social cultural e

histoacuterico haacute pouco tempo

De acordo com as pesquisas do campo da histoacuteria do livro (BATISTAGALVAtildeO

2009 FRADE 2010 VOJNIAK 2014 dentre outros) comumente sem instruccedilotildees de

uso ao professor as Cartas apresentavam as letras do alfabeto em vaacuterias fontes e

tamanhos (algumas versotildees das Cartas variavam na fonte da letra e no tamanho de

acordo com a publicaccedilatildeo) o silabaacuterio (das siacutelabas canocircnicas agraves natildeo canocircnicas) e

palavras e frases curtas (algumas coacutepias das maacuteximas da Doutrina Cristatilde ou da

Biacuteblia) Por meio de uma anaacutelise de dados indiciais Frade (2010) explica que essas

Cartas inicialmente pareciam ser materiais avulsos dispostas em paacuteginas natildeo

140

grampeadas Cada Carta representava uma liccedilatildeo com uma etapa para o aprendizado

da leitura Tomando como referecircncia o estudo dessa autora e o de Vieira (2017)

sabemos que esses impressos foram posteriormente publicados em formato de

folheto e tambeacutem copilados em livros Alguns deles conservaram no tiacutetulo a expressatildeo

ABC e Cartas de ABC171

A partir dos mencionados tiacutetulos das Cartas identificadas nas listas de

solicitaccedilatildeo de material escolar e de uma anaacutelise dos 129172 Mapas de Turmas

encontrados na seccedilatildeo de Documentos Avulsos e nas Caixas dos Municiacutepios Goianos

do AHEG no periacuteodo compreendido entre 1835 a 1886 podemos conjecturar que as

Cartas de ABC Cartas de Siacutelabas ou Silabaacuterios Cartas de Nomes e Cartas de

Conselhos Morais natildeo eram o mesmo tipo de impresso Eram impressos diferentes

que cumpriam a finalidade de ensinar a leitura mas com conteuacutedos diferentes e de

certa maneira complementares

A composiccedilatildeo claacutessica das Cartas de ABC conforme jaacute informado por Correcirca

e Silva (2008) era com o ldquoabecedaacuterio maiuacutesculo e minuacutesculo os silabaacuterios compostos

por segmentos de uma duas ou de trecircs letras e por fim as palavras soltas cujos

segmentos silaacutebicos apareciam separados por hiacutefenrdquo (CORREcircA SILVA 2008 p 2)

Entretanto podemos considerar que haacute Cartas que apresentavam apenas o alfabeto

outras somente as siacutelabas ou as palavras e as maacuteximas religiosas O que justificaria

nas solicitaccedilotildees dos professores especificar Cartas de ABC Cartas de Siacutelabas

Cartas de Nomes se natildeo para distinguir materiais de natureza diferente

A anaacutelise aos Mapas de Turmas auxilia a responder tal questatildeo A tiacutetulo de

exemplificaccedilatildeo transcrevemos parte de dois Mapas

171 Frade (2010) analisou duas obras identificadas na Biblioteca Nacional a primeira sob denominaccedilatildeo Cartas de ABC para principiantes (com 16 paacuteginas sem autor publicado na Bahia natildeo consta o ano de publicaccedilatildeo e a editora) a segunda ABC da infacircncia ndash introduccedilatildeo ao livro de infacircncia Primeira Colleccedilatildeo de Cartas para aprender a ler (com 32 paacuteginas sem autor publicado pela Livraria Francisco Alves a 56ordf ediccedilatildeo data de 1908 o que indicia que o livro circulou no seacuteculo XIX) Jaacute Vieira (2017) investigou o livro intitulado Meacutetodo ABC ensino praacutetico para aprender a ler (com 16 paacuteginas sem autor sem local de publicaccedilatildeo foi editado pela Caderbraacutes Induacutestria Brasileira ndash hoje com sede em Satildeo Paulo na versatildeo que consultamos tambeacutem natildeo consta o ano de publicaccedilatildeo) 172 Cf item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmasrdquo na seccedilatildeo ldquoFontesrdquo

141

Quadro 2 Mapa da turma da Escola do 2ordm grau da instruccedilatildeo primaacuteria em Vila de Meiaponte

(1837)173

Nomes dos Alumnos Estado de Instrucccedilatildeo Observaccediloens Manoel Moreira Lendo Escrita Agil e pouco aplicado

Luis Manoel Cartas de Nomes Pouco agil e pouco aplicado

Francisco dos Santos Cartas de Sillabas Pouco agil e pouco aplicado

Manoel Pera Guimes Cartas de A b c Pouco agil Aplicado Florencio Gonsalves Cartas de Sillabas Pouco agil e pouco

aplicado Jose da Cunha Soletrando Escrita Agil e pouco aplicado

Fulgencio Gomes Cartas de A b c Agil e pouco aplicado

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo da Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis Caixa 01

Quadro 3

Mapa mensal da turma da Freguesia de Santa Rita do Paranaiacuteba (1867)174

Nomes Grau de insrucccedilatildeo na ocasiatildeo da matricula

Moralidade

Joseacute Fleury Alves de Siqueira

Carta e cursivo Bocirca

Florentino Gomes Pereira Carta e bastardo Bocirca Belarmino Borges de

Guimes Carta de Nomes Bocirca

Moyzes Borges de Guimes Syllabas Bocirca Sabino Jeronimo de

Almeida Nomes e bastardo Maacute

Galdino Joseacute da Silveira Nomes Bocirca

Joaquim Glz dos Santos Carta Bocirca

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo da Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 02

173 Na transcriccedilatildeo desse Mapa de Turma foram suprimidas algumas colunas devido ao espaccedilo e agrave finalidade O documento na iacutentegra estaacute organizado na seguinte sequecircncia de colunas nordm de matriacutecula (natildeo estaacute sequencial eacute provaacutevel que seja o nuacutemero da matriacutecula do aluno na escola e natildeo na turma) nordm efetivo (nuacutemero da chamada em ordem crescente) nome dos alunos (natildeo estaacute em ordem alfabeacutetica mas na ordem da data da matriacutecula) nome dos pais ou educadores moradia dos pais ou educadores dias uacuteteis de frequecircncia e de faltas estado de instruccedilatildeo observaccedilotildees (informou apenas se o aluno eacute aacutegil ou natildeo se eacute aplicado ou natildeo) e notas (informou se o aluno faltou por consequecircncia de seus pais e para alguns receacutem-matriculados tambeacutem haacute informaccedilatildeo da data de matriacutecula) 174 Na transcriccedilatildeo desse Mapa de Turma foram suprimidas algumas colunas devido ao espaccedilo e finalidade O documento na iacutentegra estaacute organizado na seguinte sequecircncia de colunas nuacutemero da chamada nome idade nome dos pais ou tutores naturalidade grau de instruccedilatildeo na ocasiatildeo da matriacutecula frequecircncia aproveitamento moralidade observaccedilatildeo

142

Pelos dados constantes nos Mapas o grau de instruccedilatildeo dos alunos era

mensurado por meio das Cartas Provavelmente nos testes usava-se o recurso das

Cartas e aquela que o aluno conseguisse ler com fluecircncia era indicada como sendo o

niacutevel de leitura em que ele se encontrava Enquanto no primeiro Mapa foi informado

apenas o estado de instruccedilatildeo em leitura no segundo o professor tambeacutem acrescentou

sobre a escrita Outra diferenccedila substancial entre os dois Mapas eacute a presenccedila do

campo ldquoMoralidaderdquo no segundo que estaacute em acordo com o Regulamento de Ensino

Goiano de 1856 que previa no artigo 43 que o professor conhecesse e tomasse nota

sobre a inteligecircncia aproveitamento e moralidade de cada aluno (GOIAacuteS 1856)

Da forma como estatildeo descritas podemos inferir que as Cartas de ABC

continham o alfabeto nas Cartas de siacutelabas apresentavam combinaccedilotildees silaacutebicas

diversificadas nas Cartas de Nomes palavras e frases Poreacutem frequentemente

como se vecirc nas pesquisas histoacutericas da alfabetizaccedilatildeo no Impeacuterio as Cartas de ABC

intitulam todos esses impressos reunidos Nesse ponto Galvatildeo (2009) explica que a

princiacutepio essas Cartas eram conhecidas como Cartas para aprender a ler e mais

tarde como Cartas de ABC

Nas listas de expediente escolar tambeacutem era comum o pedido de materiais

intitulados de ldquoSilabaacuteriosrdquo ou ldquoSilabaacuterios para principiantesrdquo ou ldquoCartas de ABC com

seus Silabaacuteriosrdquo ou ldquoCartas de ABC e siacutelabasrdquo A partir dos estudos de Mortatti (2000)

Frade (2010 2011) Gontijo (2011) e Vojniak (2014) eacute possiacutevel concluir que os

Silabaacuterios eram impressos diferentes das Cartas de ABC Os quadros de siacutelabas

tambeacutem comumente chamados de Silabaacuterios poderiam estar presentes nessas

Cartas entretanto eles denominam outro impresso Sendo assim o Silabaacuterio pode ter

mais de um significado variando como ldquo(i) um tipo de livro (ii) uma tabela ou um

conjunto de tabelas com seacuteries silaacutebicas variadas apresentadas no interior das

paacuteginas de um livro (iii) um meacutetodo para alfabetizarrdquo (FRADE 2010 p 276)

Eacute importante esclarecer que os pedidos por Silabaacuterios nos documentos

catalogadas satildeo muito esparsos jaacute que encontramos apenas 14 listas das 889

inventariadas que mencionam essa denominaccedilatildeo com caracteriacutesticas muito

similares Satildeo listas advindas de materiais fornecidos agraves escolas pela Tesouraria

Provincial de Goiaacutes no intervalo de 1873-1877 assinadas pelo mesmo responsaacutevel

Pedro Luiz Xavier Brandatildeo chefe dessa reparticcedilatildeo puacuteblica (GOIAacuteS 1873-1877

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)

143

Nos documentos identificados notamos que a partir da deacutecada de 1870 essas

Cartas receberam novas denominaccedilotildees que ateacute entatildeo natildeo haviam sido utilizadas

ldquoCartas para leiturardquo ldquoCartas para ecerciacutecio de leitura raacutepidardquo ldquoCartas alphabeticasrdquo e

ldquoCartas de soletraccedilatildeordquo Mesmo natildeo encontrando nos referenciais teoacutericos

esclarecimentos para esses nomes inferimos algumas interpretaccedilotildees a partir das

fontes consultadas

A primeira eacute que esses tiacutetulos natildeo necessariamente correspondem aos tiacutetulos

dos impressos que circularam no mercado editorial brasileiro Podem ter sido assim

nomeados ou descritos em virtude das concepccedilotildees de ensino de leitura que estavam

sendo difundidas na proviacutencia especialmente da perspectiva de uma alfabetizaccedilatildeo

raacutepida e apraziacutevel para atender sobretudo os filhos de pais oriundos da zona rural

que precisavam da matildeo de obra da crianccedila para o trabalho no dia a dia das fazendas

Outrossim podemos supor a partir dos dois primeiros tiacutetulos (ldquoCartas para leiturardquo e

ldquoCartas para ecerciacutecio de leitura raacutepidardquo) que essas Cartas eram essencialmente

aplicadas para o ensino inicial da leitura mas tambeacutem da leitura corrente para seu

treino e aplicaccedilatildeo de exerciacutecios

Uma questatildeo bem interessante eacute com relaccedilatildeo agrave denominaccedilatildeo ldquoCartas

alphabeticasrdquo que encontramos pela primeira vez em correspondecircncia em 1874

remetendo um pedido de materiais escolares feito pelo Professor do municiacutepio de

Cavalcante175 (GOIAacuteS 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 236) Sobre

esse documento de 1874 que intitula as Cartas de alfabeacuteticas salientamos que ele

enuncia uma designaccedilatildeo que se tornou comum no periacuteodo republicano em Goiaacutes O

nome ldquoCartas Alfabeacuteticasrdquo e tambeacutem ldquoCartas de soletraccedilatildeordquo pode indicar a utilizaccedilatildeo

do meacutetodo alfabeacutetico e de soletraccedilatildeo ou apenas intitular uma obra cujo formato eacute o

mesmo das tradicionais Cartas de ABC nomeando esse antigo e usual impresso por

seu meacutetodo

Tradicionalmente por sua organizaccedilatildeo e disposiccedilatildeo graacutefica as Cartas de ABC

eram aplicadas para o ensino da leitura pelo meacutetodo de soletraccedilatildeo No primeiro Mapa

(Quadro 2) haacute resquiacutecios da aplicaccedilatildeo desse meacutetodo quando o professor classifica

o estado de instruccedilatildeo do aluno como ldquoSoletrando escritardquo Essa descriccedilatildeo foi comum

nos Mapas das Turmas da proviacutencia durante o periacuteodo imperial o que permite

175 Atualmente esse municiacutepio recebe o mesmo nome localiza-se na regiatildeo Norte do estado de Goiaacutes

144

considerar que o meacutetodo de soletraccedilatildeo tambeacutem marcou fortemente as praacuteticas de

ensino nas escolas de primeiras letras goianas do seacuteculo XIX

Ao olhar como um todo as listas de expediente escolar notamos que

especialmente as compras de Cartas de ABC em Goiaacutes foram ampliadas durante a

gestatildeo do Presidente Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira entre 1857 e 1860 No

discurso dirigido agrave Assembleia Legislativa Provincial Cerqueira (1858) expressa sua

percepccedilatildeo de que os docentes ensinavam tal como aprenderam por isso notifica que

fez uma accedilatildeo de compra de diferentes materiais de expediente escolar para serem

distribuiacutedos nas escolas goianas a fim de que fossem difundidas novas formas de

ensino

Contrapondo o referido relatoacuterio de Cerqueira (1858) com o ofiacutecio a ele enviado

pelo Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes Felippe Antonio Cardoso de Santa

Crus em 20 de marccedilo de 1858 observamos que o presidente literalmente copiou e

suprimiu alguns trechos da correspondecircncia Um dos apagamentos feitos por

Cerqueira revela a situaccedilatildeo do ensino de leitura naquele momento

Eacute limitadissimo o ensino que se daacute nas estas escolas a excepccedilatildeo de 4 em 6 drsquoelas ensina-se apenas ndash a ler ndash escrever e faser as quatro principais operaccedilotildees de arithmetica e o que faria e tudo isso muito mal Toda a educaccedilatildeo religiosa consiste em faser eacute decorar materialmente um compendio minha S Doutrina Christatilde Ensinaotilde leitura com adaptaccedilaotilde das Cartas do Novo Alphabeto Portuguez dividido por syllabas com os primeiros elementares da doutrina christatilde drsquoo Methodo Facillimo para aprender a ler e drsquoo Cathecismo Historico de Fleury (CRUS 20 de marccedilo de 1858 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Aleacutem da dificuldade relatada nesse pequeno registro em ensinar leitura

escrita e aritmeacutetica na escola podemos inferir algumas praacuteticas dos professores A

primeira eacute a ecircnfase na memorizaccedilatildeo proacutepria dos saberes sobre o processo de ensino

e aprendizagem que circulavam naquele momento que consideravam memoacuteria e

treino como condiccedilotildees essenciais ao aprendizado

A presenccedila da educaccedilatildeo religiosa tambeacutem eacute algo que fica muito evidente no

relatoacuterio de Cerqueira (1858) e no ofiacutecio do Inspetor jaacute que as leis e regulamentos de

ensino determinavam ser o ensino da doutrina cristatilde obrigatoacuterio nas salas de aula

Tanto o Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana de 1835 quanto o de 1856

que antecederam esse relatoacuterio de Crus (20 de marccedilo de 1858) determinavam o

ensino do Catecismo nas aulas tornando-o leitura obrigatoacuteria para todos os alunos e

seu conteuacutedo exigecircncia nas provas de admissatildeo ao magisteacuterio Essas praacuteticas

145

dialogavam com as recomendaccedilotildees destacadas na legislaccedilatildeo educacional da Corte ndash

a jaacute citada Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) ndash que enfatizava a leitura escolar

baseada em textos religiosos

O processo de ensino da leitura na escola goiana como Crus (20 de marccedilo de

1858) destacou se baseava na adaptaccedilatildeo de trecircs livros O primeiro Novo Alphabeto

Portuguez dividido por syllabas com os primeiros elementares da doutrina christatilde176

eacute uma publicaccedilatildeo cujo tiacutetulo completo eacute Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas

com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave

missa lanccedilado possivelmente em 1785177

Na obra haacute menccedilatildeo apenas ao local de publicaccedilatildeo Lisboa e de impressatildeo a

Officina de Simatildeo Thaddeo Ferreira natildeo nominando o autor Na Biblioteca Nacional

de Portugal haacute livros impressos nessa Oficina publicados no mesmo periacuteodo do Novo

Alfabeto Portuguez Numa anaacutelise comparativa notamos que a disposiccedilatildeo graacutefica das

folhas de rosto segue o padratildeo de o tiacutetulo vir em letras de imprensa maiuacutesculas dando

destaque a algumas palavras escritas em tamanho maior Na sequecircncia era registrado

o nome do autor o que natildeo eacute mencionado no livro em questatildeo Como ele reuacutene textos

que jaacute circulavam em outros diferentes livros como os Catecismos e Manuais de

Doutrina Cristatilde eacute provaacutevel que tenha sido pensado e copilado na Oficina de Simatildeo

Thaddeo o que era comum acontecer em tipografias e no mercado livresco portuguecircs

(VITERBO 1924 PEIXOTO 1967 ANSELMO 1981)

176 Interessante notar a similaridade entre os tiacutetulos de algumas obras didaacuteticas portuguesas destinadas ao aprendizado da leitura e escrita no seacuteculo XIX Podemos citar a tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo Alphabeto portuguez ou novo methodo para aprender a ler com muita facilidade e em mui pouco tempo tanto a letra redonda como a manuscripta de J I Roquete (1841) Novo methodo para aprender a ler de Joseacute Ramos Paz (1852) Nova Arte drsquoEscrita de Manuel Joseacute Satirio Salazar (publicado provavelmente em 1807 cf Marques 2014) Methodo facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo e tempo possivel de Emilio Achilles Monteverde (1836) Aleacutem do tiacutetulo muitas delas apresentam certa semelhanccedila no conteuacutedo e na organizaccedilatildeo do meacutetodo proposto Sobre isso cf Boto 2012 177 A uacutenica ediccedilatildeo identificada desse livro foi encontrada digitalizada no site Google Livros Natildeo encontramos menccedilatildeo ao ano da sua primeira ediccedilatildeo Poreacutem por meio de anaacutelise comparativa agrave ediccedilatildeo analisada por Arriada e Tambara (2012) datada de 1830 acreditamos que o exemplar de 1785 seja a primeira ediccedilatildeo

146

Figura 2 Folha de rosto do livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os

primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785)

Fonte Site Google Livros

Segundo Arriada e Tambara (2012) esse livro teve ampla circulaccedilatildeo no Brasil

Seu conteuacutedo associava o ensino da leitura aos preceitos da doutrina cristatilde catoacutelica

Organizado em 168 paacuteginas consideramos que pode ser dividido em trecircs seccedilotildees

A primeira seccedilatildeo (da paacutegina 3 agrave 9) apresenta o alfabeto completo e as vogais

separadamente Na sequecircncia haacute vaacuterias combinaccedilotildees silaacutebicas iniciando pelos

encontros vocaacutelicos (ai ei oi au eu ou) e seguindo a ordem alfabeacutetica apresenta

as siacutelabas na combinaccedilatildeo vogal + consoante (ar er ir or ur etc) consoante + vogal

(ba be bi bo bu ca ce ci co cu etc) consoante + vogal + vogal (bai bei 178

178 Em vaacuterios livros do periacuteodo que apresentam as combinaccedilotildees silaacutebicas o uso das reticecircncias na exposiccedilatildeo de uma famiacutelia silaacutebica substitui uma siacutelaba que natildeo eacute usual na sequecircncia que se apresenta Nesse caso seguindo a loacutegica a siacutelaba seria ldquobiirdquo natildeo pertencente aos padrotildees silaacutebicos da liacutengua portuguesa

147

boi bui etc) consoante + vogal + consoante (bal bel bil bol bul etc) consoante +

consoante + vogal (bla ble bli blo blu etc) e por fim as siacutelabas finalizadas em atildeo

(batildeo catildeo datildeo fatildeo gatildeo etc)

Na segunda seccedilatildeo (paacuteginas 10 e 11) eacute exposta a escrita dos nuacutemeros sua

representaccedilatildeo em algarismos araacutebicos e a seguir em numeral romano (Hum 1 I

Dous 2 II etc)

A terceira seccedilatildeo (da paacutegina 11 agrave 168) voltada agrave educaccedilatildeo religiosa estaacute

dividida em sete subseccedilotildees Do final da paacutegina 11 ateacute a 38 satildeo apresentadas oraccedilotildees

os mandamentos da lei de Deus os mandamentos da Igreja explicaccedilotildees da oraccedilatildeo

dominical e de crenccedilas da Igreja como a ressurreiccedilatildeo de Cristo etc Da paacutegina 39 agrave

67 satildeo publicados textos que objetivam inculcar os comportamentos adequados de

um cristatildeo no dia a dia e na missa Na paacutegina 68 se inicia uma chamada recopilaccedilatildeo

da doutrina cristatilde em que satildeo transcritos ateacute a paacutegina 98 trechos no formato de

perguntas e respostas retomando ensinamentos sobre a criaccedilatildeo Deus Jesus e as

crenccedilas e rituais catoacutelicos recorrentes nos Manuais de Doutrina Cristatilde Da paacutegina 98

agrave 115 sob o tiacutetulo de ldquoMaximas Tiradas da Sagrada Escriturardquo haacute citaccedilotildees de

passagens da Biacuteblia voltadas para ensinamentos de boas condutas na famiacutelia e na

sociedade A cada citaccedilatildeo identifica-se de qual livro capiacutetulo e versiacuteculo da Biacuteblia o

trecho foi retirado O ritual de reza do rosaacuterio com os misteacuterios gozosos dolorosos

gloriosos179 eacute publicado a partir da paacutegina 116 ateacute a 141 Essa parte finaliza-se com a

transcriccedilatildeo da Ladainha de Nossa Senhora Entre as paacuteginas 142 e 156 haacute uma

subseccedilatildeo intitulada ldquoModo de ajudar agrave missa no uso da Igreja Romanardquo em que

encontramos trechos em latim com a fala do Sacerdote e as respostas dos cristatildeos

durante alguns momentos da missa Por fim iniciando na paacutegina 157 e findando na

168 satildeo copiados salmos e cacircnticos para acompanhar a comunhatildeo aos enfermos ao

findar a missa

Interessante notar que no livro Novo Alphabeto Portuguez natildeo eacute mencionado

o meacutetodo para ensino da leitura que entretanto fica subjacente ao modo como foram

179 Na tradiccedilatildeo catoacutelica o rosaacuterio eacute rezado de acordo com o dia da semana Segue-se a tradiccedilatildeo de meditaccedilatildeo de misteacuterios (tradicionalmente divididos em gozosos dolorosos gloriosos) que satildeo episoacutedios da vida de Jesus No livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785) as oraccedilotildees e reflexotildees que compotildeem os misteacuterios gozosos satildeo rezadas nas segundas quintas-feiras domingos do advento ateacute a quaresma os misteacuterios dolorosos satildeo nas terccedilas sextas-feiras e domingos de quaresma jaacute os gloriosos nas quartas-feiras saacutebados e domingos de Paacutescoa ateacute o advento

148

apresentados as combinaccedilotildees silaacutebicas e os textos Ateacute a paacutegina 19 todas as

palavras satildeo divididas em siacutelabas e separadas por uma viacutergula

A ve Ma ri a che a de gra ccedila o Se nhor he com vos co ben ta so is [] (NOVO ALPHABETO 1785 p 13)

Da paacutegina 20 em diante os textos estatildeo sem a divisatildeo silaacutebica e sem as

viacutergulas Notamos por essas caracteriacutesticas que a obra segue uma concepccedilatildeo

sinteacutetica do ensino de leitura a partir da aprendizagem das unidades menores para as

maiores (letras siacutelabas palavras e por uacuteltimo os textos) Haacute uma influecircncia marcante

do meacutetodo de soletraccedilatildeo sobretudo pela separaccedilatildeo entre as palavras pela viacutergula ndash

lembrando que no meacutetodo de soletraccedilatildeo geralmente as siacutelabas e palavras vinham

separadas com hiacutefens Como o meacutetodo de ensino natildeo estava explicitado as teacutecnicas

para o uso do impresso ficavam a cargo do professor Todavia o que se supotildee pela

disposiccedilatildeo graacutefica e organizaccedilatildeo das sequecircncias silaacutebicas eacute o processo de silabaccedilatildeo

ou silaacutebico ou pelo menos um procedimento que fuja agrave loacutegica da soletraccedilatildeo

convencional

O segundo livro citado por Crus (20 de marccedilo de 1858) no ensino de leitura na

escola goiana eacute o Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute

Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no

mais curto espaccedilo de tempo180 de autoria do escritor portuguecircs Emilio Achilles

Monteverde

Nas proviacutencias brasileiras principalmente duas de suas obras destinadas ao

ensino da leitura foram difundidas o Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a

letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo e o Manual

encyclopedico para uso das escolas de instrucccedilatildeo primaria (BOTO 1997 CORREcircA

2006) Ficou conhecido no Brasil e em Portugal sobretudo pela primeira publicaccedilatildeo

No Brasil ela foi adotada oficialmente em vaacuterias proviacutencias e na instruccedilatildeo primaacuteria

portuguesa ldquofoi a cartilha que maior alcance teve em Portugal no periacuteodo

compreendido entre 1850 e 1880rdquo (BOTO 1997 p 554)

180 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo pelo link lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm2 66gt Acesso em 06 de maio de 2018 O livro tem dimensatildeo de 17 x 125 cm e 159 paacuteginas Publicado em Lisboa com Ediccedilatildeo da Livraria Central de Gomes de Carvalho

149

Figura 3 Folha de rosto da 16ordf ediccedilatildeo do livro Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a

letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo (18--)

Fonte Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin Satildeo Paulo

Nessa obra o autor descreve nas primeiras paacuteginas os meacutetodos de organizaccedilatildeo

de ensino (meacutetodos individual simultacircneo e muacutetuo) e os meacutetodos para o ensino da

leitura (meacutetodo antigo novo meacutetodo de soletraccedilatildeo e meacutetodo sem soletraccedilatildeo181) Sem

declarar filiaccedilatildeo a um meacutetodo especiacutefico afirma que o mais conveniente e proveitoso

181 Segundo Monteverde o meacutetodo antigo ldquoconsiste em conservar aacutes letras os seus nomes usuaes de aacute becirc cecirc decirc eacute eacutefe gecirc [] e nomeal-as todas sucessivamente antes de pronunciar a syllaba a qual por conseguinte nrsquoeste caso tem tantos elementos quantas satildeo as letras de que ella se compotildeerdquo no novo meacutetodo de soletraccedilatildeo ldquoas consoantes ou articulaccedilotildees pronunciatildeo-se como se fossem seguidas de e mudo B be C ce ou Ke D de F fe [] Assim a palavra fato ha de soletrar-se Fe a fa te o tordquo jaacute o novo meacutetodo sem soletraccedilatildeo consiste ldquo1ordm em dar como se viu aacutes consoantes um nome similhante ao valor que ellas tecircem na leitura be ce ou ke fe etc 2ordm em considerar as syllabas e natildeo as letras como verdadeiros elementos da palavra Partindo drsquoeste principio deve-se ler por exemplo a palavra a mi go sem decompor as syllabas esto eacute sem nomear cada uma das letras per si como succede pelo methodo antigordquo (MONTEVERDE 18-- p 6-7)

150

eacute ldquoum Professor haacutebil e zelozo dos seus deveres o melhor methodo eacute aquelle que

conduz mais longe com maior brevidade finalmente o melhor methodo eacute aquelle que

foacuterma os melhores discipulosrdquo (MONTEVERDE 18-- p 7)

Correcirca e Silva (2010) explicam que no decorrer de sucessivas ediccedilotildees da

cartilha Monteverde fez revisotildees no livro uma delas no tiacutetulo Em 1859 ano de sua

7ordf ediccedilatildeo o tiacutetulo era Methodo Facillimo para aprender a ler no mais curto espaccedilo de

tempo possiacutevel tanto a letra redonda quanto a letra manuscripta jaacute na 8ordf ediccedilatildeo

Monteverde passou a nomeaacute-lo de Methodo Facillimo para aprender a ler e escrever

no mais curto espaccedilo de tempo possiacutevel tanto a letra redonda quanto a letra

manuscripta A inclusatildeo do verbo escrever no tiacutetulo fazia parte de um projeto

pedagoacutegico e editorial do autor que abarcava a aprendizagem da escrita e da leitura

num mesmo manual de ensino jaacute que naquele momento da histoacuteria da educaccedilatildeo

portuguesa havia geralmente manuais distintos para ensinar a ler e escrever (BOTO

1997) O que tambeacutem se depreende eacute que para o autor se ensinava ao mesmo tempo

leitura e escrita (BOTO 1997 CORREcircA SILVA 2010)

Nesta tese foi consultada a 16ordf ediccedilatildeo em que o tiacutetulo estava diferente dos

citados anteriormente Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda

como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo Como se lecirc houve a supressatildeo

do verbo escrever e uma alteraccedilatildeo na posiccedilatildeo da expressatildeo ldquono mais curto espaccedilo

de tempordquo Eacute bem provaacutevel em consonacircncia com os pesquisadores que estudaram

esse livro que tal adequaccedilatildeo tenha acontecido em funccedilatildeo do mercado editorial que

impunha campanhas e disputas acirradas entre os materiais que conseguissem

ensinar a leitura e a escrita das letras de forma raacutepida Boto (1997) advoga que pairava

uma certa crenccedila de que havia uma alquimia ou segredo para ensinar a ler

rapidamente Muitos autores incluindo aiacute Monteverde aproveitavam-se desse

imaginaacuterio para vender seus trabalhos Dizia-se frequentemente ldquoque esta ou aquela

cartilha em particular ndash que a cada momento se anunciava ndash ensinava com mais

brevidade de maneira mais faacutecil sem cansar o aprendiz por procurar ser atraenterdquo

(BOTO 1997 p 553)

No que refere agrave organizaccedilatildeo do livro ele segue o padratildeo usual dos manuais de

ensino de leitura e escrita com a apresentaccedilatildeo do conteuacutedo e dos exerciacutecios de treino

A tendecircncia dos meacutetodos de marcha sinteacutetica eacute mantida pelo autor iniciando pelo

alfabeto em diferentes formatos (letra de imprensa maiuacutescula e minuacutescula letra

151

itaacutelica182 maiuacutescula e minuacutescula) dando ecircnfase agrave classificaccedilatildeo das letras em vogais

ou consoantes O primeiro exerciacutecio eacute intitulado de ldquoSons e articulaccedilotildees ou vogaes e

consoantesrdquo (paacutegina 12) opondo-se agraves atividades dos meacutetodos antigos ou novo de

soletraccedilatildeo classificados por Monteverde no iniacutecio da obra Na sequecircncia (paacutegina 13)

eacute apresentado um quadro com o alfabeto grafado em letra de imprensa e manuscrita

nos formatos maiuacutesculo e minuacutesculo As famiacutelias silaacutebicas vecircm posteriormente nas

paacuteginas 14 e 15 seguindo a ordem alfabeacutetica (ba ca ccedila da fa ga gua ha ja ka

la ma na pa qua ra sa ta va xa za) Essa liccedilatildeo eacute acompanhada de exerciacutecios

com uma coletacircnea de palavras contendo as siacutelabas aprendidas nas paacuteginas

anteriores O autor explica que o objetivo eacute que ldquoos principiantes possatildeo logo aacute

primeira liccedilatildeo conhecer o uso ou a aplicaccedilatildeo das mesmas syllabasrdquo (MONTEVERDE

18-- p 16) Nessa mesma paacutegina na primeira nota de rodapeacute ficam subjacentes as

teacutecnicas que seratildeo empregadas pelo professor para ensinar os alunos a lerem

Tendo algumas syllabas diversos sons como se vecirc por exemplo nas palavras Beca Beco Arabe etc em que be se pronuncia de tres differentes maneiras conviraacute recomendar aos principiantes que quando soletrarem decircem logo a cada um drsquoellas o som que lhe eacute proprio por isso que toda a syllaba de qualquer palavra pronunciada isoladamente deve ter o mesmo valor a mesma pronunciaccedilatildeo que tem na palavra pronunciada por inteiro (MONTEVERDE 18-- p 16)

O que vemos nesse trecho satildeo as caracteriacutesticas do que Monteverde intitulou

de meacutetodo sem soletraccedilatildeo ou seja no ensino da leitura natildeo se aplicaria a soletraccedilatildeo

convencional de letras e sim a decomposiccedilatildeo da palavra em siacutelabas evidenciando o

valor sonoro da siacutelaba no contexto da palavra em questatildeo Em vista disso o cerne do

processo seria o aprendizado das siacutelabas das siacutelabas para a palavra da palavra para

as siacutelabas Nesse sentido segue-se ateacute a paacutegina 37 primeiro apresentando as siacutelabas

canocircnicas e depois as natildeo canocircnicas Cada siacutelaba vem acompanhada de uma palavra

(separada em siacutelabas) que conteacutem na sua composiccedilatildeo a siacutelaba em estudo Ao

apresentar algumas palavras que o autor julga serem desconhecidas ele lanccedila matildeo

de notas de rodapeacute indicando o seu significado por meio de frases curtas

Na paacutegina 38 satildeo identificados os sinais de pontuaccedilatildeo e outros sinais de que

nos servirmos ao escrever Em sequecircncia da paacutegina 39 agrave 49 haacute um bloco de

exerciacutecios de leitura contendo regras de leitura e pequenos textos com uma conotaccedilatildeo

marcadamente moralista e religiosa

182 Monteverde (18-- p 11) nomeia a letra de imprensa com formataccedilatildeo inclinada de itaacutelica

152

O resumo da Doutrina Cristatilde estaacute publicado entre as paacuteginas 49 e 75 numa

extensatildeo bastante consideraacutevel se comparada com as demais seccedilotildees da obra Entre

os conteuacutedos dessa seccedilatildeo encontramos as oraccedilotildees da tradiccedilatildeo catoacutelica os artigos

da feacute os mandamentos da igreja os pecados capitais e as virtudes contraacuterias a esses

pecados as obras da misericoacuterdia os sacramentos da igreja as virtudes teologais

aleacutem de textos que tratam de orientaccedilotildees de moral e bons costumes com regras

quanto agraves paixotildees prazeres gula pudor ociosidade instruccedilatildeo egoiacutesmo docilidade

orgulho civilidade felicidade moral consciecircncia virtude e viacutecio

Na sequecircncia Monteverde (18--) expotildee as Regras de Escrita Entendida como

ldquoa arte de representar os sons da voz por meio de signaes chamados letrasrdquo

(MONTEVERDE 18-- p 76) a escrita eacute pensada como uma teacutecnica padronizada por

meio de recomendaccedilotildees que vatildeo desde a posiccedilatildeo do corpo ao traccedilado da letra No

ensino inicial da escrita natildeo se falava na composiccedilatildeo autoral do aprendente e sim no

domiacutenio da coacutepia e da arte de bem traccedilar as letras a caligrafia Segundo Monteverde

(18--) esse ensino principiava pelo desenho de riscos e ligaccedilotildees entre eles passando

para o traccedilado de letras mais simples e depois as mais difiacuteceis

Na obra foram enfatizados trecircs tipos de letras manuscritas ldquoo bastardo que eacute

letra mais cheia bastardinho ou letra media entre o bastardo e o cursivo sendo esta

ultima a mais pequena de todasrdquo (MONTEVERDE 18-- p 76)

153

Figura 4 Paacuteginas 86 87 e 88 do Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda

como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo (18--)

Fonte Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin Satildeo Paulo

Como notamos a diferenciaccedilatildeo entre os tipos de letras ensinadas dava-se

sobretudo pelo seus formatos e tamanhos o que dialoga com as recomendaccedilotildees do

ensino em Portugal no periacuteodo em que a obra de Monteverde foi pensada e escrita

(BOTO 1997) O ensino da escrita no Methodo Facillimo tem a sua extensatildeo entre a

paacutegina 72 e 91 com 33 liccedilotildees que tambeacutem veiculam textos de cunho religioso

Daiacute por diante entre as paacuteginas 92 e 158 conforme Correcirca e Silva (2010)

analisam agrupam-se liccedilotildees com textos diversificados quanto ao gecircnero extensatildeo e

temas que cumprem a finalidade de natildeo apenas aperfeiccediloar as praacuteticas de leitura e

escrita ldquomas tambeacutem transmitir um conjunto de conhecimentos (histoacutericos

matemaacuteticos geograacuteficos) e preceitos (morais religiosos) que naquele momento eram

percebidos como indispensaacuteveis para a formaccedilatildeo das crianccedilasrdquo (CORREcircA SILVA

2010 p 23)

Retomando o citado relatoacuterio do Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes

Felippe Antonio Cardoso de Santa Crus em 1858 aleacutem dos livros Methodo Facillimo

para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo (MONTEVERDE 18--) e do Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas

154

com os primeiros elementos da Doutrina Christa e o Methodo de ouvir e ajudar agrave

missa (1785) tambeacutem se ensinava leitura nas escolas goianas utilizando o

Cathecismo Historico de Fleury

Figura 5

Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do Pequeno Cathecismo Historico contendo em

compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde (1846)

Fonte Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados

Esse livro tem como tiacutetulo completo Pequeno Cathecismo Historico contendo

em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde sendo amplamente conhecido

e citado apenas como Catecismo Histoacuterico de Fleury183 Escrito em francecircs em 1619

pelo Abade Claude Fleury e traduzido para o portuguecircs brasileiro pelo Diretor das

Escolas Puacuteblicas do Municiacutepio da Corte Joaquim Joseacute da Silveira para uso nas

183 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018

155

mesmas escolas esse livro de acordo com Tambara (2005) e Galvatildeo (2009) foi

difundido em todo o paiacutes como texto de leitura nas salas de aula Em 1854 o Conselho

Diretor do Municiacutepio da Corte oficializou o Catecismo de Fleury como manual escolar

adotado nas escolas puacuteblicas da Corte (TAMBARA 2002)

ldquoAs primeiras ediccedilotildees traduzidas para o portuguecircs satildeo de 1820rdquo sendo que o

Catecismo de Fleury estava entre ldquoos livros escolares mais vendidos no final do seacuteculo

XIX em plena fase republicanardquo (BITTENCOURT 1993 p 201) A 2ordf ediccedilatildeo

publicada no Rio de Janeiro em 1846 foi identificada na Biblioteca Digital da Cacircmara

dos Deputados e segundo informaccedilotildees constantes na folha de rosto foi traduzida em

portuguecircs por ordem do governo imperial

O livro estaacute organizado em duas partes Na primeira com 29 liccedilotildees eacute tratada

a histoacuteria sagrada retomando algumas narrativas da Biacuteblia iniciando pelo Velho

Testamento com a criaccedilatildeo do universo e posteriormente tratando do Novo

Testamento passando pelo nascimento morte de Jesus e a fundaccedilatildeo da Igreja A

segunda parte tambeacutem com 29 liccedilotildees conteacutem a doutrina cristatilde

Na primeira parte as liccedilotildees incluem um pequeno resumo das narrativas biacuteblicas

e na sequecircncia em forma de perguntas e respostas curtas satildeo apresentadas

questotildees relativas aos valores e normas da igreja bem como condutas tiacutepicas do bom

homem civilizado e cristatildeo A segunda parte segue essa mesma organizaccedilatildeo tratando

os textos iniciais de aspectos da doutrina cristatilde tais como os mandamentos da igreja

os sacramentos as oraccedilotildees catoacutelicas etc

A apresentaccedilatildeo tiacutepica de perguntas e respostas remete ao meacutetodo de

catequizaccedilatildeo que ao ser transposto para o ensino de primeiras letras induz o aluno

a decorar com maior facilidade os ensinamentos da tradiccedilatildeo cristatilde e catoacutelica Nessa

perspectiva Orlando (2013) explica que o Catecismo Histoacuterico de Fleury segue o

padratildeo de forma e discurso dos Catecismos publicados no seacuteculo XVII principalmente

os difundidos poacutes-reforma protestante

Os Catecismos e os chamados Compecircndios de Doutrina Cristatilde na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira foram utilizados segundo Tambara (2003 2005) como material

para o ensino da leitura em vaacuterias proviacutencias Em contrapartida Frade (2010)

argumenta que numa anaacutelise dos mapas de turma do seacuteculo XVIII em Minas Gerais

eacute possiacutevel notar que esses impressos natildeo foram empregados para ensinar a ler e

escrever e sim como um dos conteuacutedos das aulas possivelmente transmitidos pelo

professor de forma oral

156

No caso de Goiaacutes em relatoacuterio Crus (20 de marccedilo de 1858) afirma que o

Catecismo Histoacuterico de Fleury era adaptado para o ensino de leitura Essa adaptaccedilatildeo

pode conotar diferentes usos entretanto o que fica evidente eacute que o livro em questatildeo

era empregado para o ensino inicial da leitura vinculando o processo de

aprendizagem a uma introjeccedilatildeo doutrinaacuteria catoacutelica Isso ratifica os dispositivos legais

aprovados na proviacutencia entre 1835 e 1886 jaacute discutidos na seccedilatildeo 2 desta tese que

indicavam a educaccedilatildeo religiosa nas praacuteticas escolares

Ao verificarmos conforme abordado por Crus (20 de marccedilo de 1858) que se

ensinava leitura por adaptaccedilatildeo dos trecircs livros analisados anteriormente

compreendemos que um dos meacutetodos predominantes no periacuteodo foi o sinteacutetico de

silabaccedilatildeo com forte influecircncia ainda das teacutecnicas do meacutetodo de soletraccedilatildeo A

organizaccedilatildeo de ensino como jaacute anunciado na anaacutelise dos Relatoacuterios de Presidente

de Proviacutencia mantinha-se no meacutetodo individual Caracteriacutesticas desse meacutetodo satildeo

tambeacutem identificadas nas obras anteriormente analisadas que ao trazerem o tiacutepico

exerciacutecio de perguntas e respostas ldquoparecem sugerir a utilizaccedilatildeo nas escolas do

meacutetodo individual de ensino em uma sociedade ainda predominantemente oralrdquo

(GALVAtildeO 2009 p 114)

Ainda sobre o processo de ensino de leitura outro impresso referenciado no

periacuteodo solicitado a partir dos anos de 1870 foi o Expositor Portuguez cujo tiacutetulo

completo eacute O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna

(MIDOSI 1831) sendo destinado agrave instruccedilatildeo primaacuteria de Portugal e escrito por Luiz

Francisco Midosi (1796-1877) Como veremos com maiores detalhes na proacutexima

seccedilatildeo essa obra foi mencionada em Goiaacutes pela primeira vez na listagem do

Relatoacuterio do Professor goiano Feliciano Primo Jardim (1855) a respeito da sua

experiecircncia na Corte com os meacutetodos Castilho e simultacircneo De antematildeo faz-

necessaacuterio aludir ao fato de que a expressatildeo ldquoExpositor Portuguezrdquo tambeacutem compotildee

o tiacutetulo da obra de Joaquim Maria de Lacerda Novo expositor portuguez ou methodo

facil para aprender a ler184 Considerando que a adjetivaccedilatildeo ldquonovordquo empregada antes

184 Tivemos acesso agrave nona ediccedilatildeo dessa obra (melhorada e aumentada) No livro natildeo consta o ano da ediccedilatildeo Na capa havia o tiacutetulo da obra Novo Expositor Portuguez ou Methodo Facil para aprender a ler o Portuguez tanto a letra impressa como a manuscripta composto para uso das escolas brazileiras por J M Lacerda informando tambeacutem que a publicaccedilatildeo era advinda da Livraria Garnier A obra apresenta dimensatildeo de 175 x 11 cm com 180 paacuteginas Antes de apresentar as liccedilotildees Lacerda faz uma advertecircncia ao leitor ldquoo NOVO EXPOSITOR PORTUGUEZ eacute uma obra inteiramente nova e differente do Expositor Portuguez de Midosi Divide-se em tres partes principaes o Syllabario o Primeiro livro de leitura e Pequenos

157

da expressatildeo ldquoExpositor Portuguezrdquo diferenciaria esses dois livros e que isso de certa

forma poderia se refletir nos pedidos feitos e tambeacutem em consonacircncia aos estudos

da histoacuteria do livro e da leitura no Brasil oitocentista (VOJNIAK 2014 GONTIJO

GOMES 2013) consideramos que o livro que circulou em Goiaacutes foi a publicaccedilatildeo de

Midosi (1831)

O Expositor Portuguez se destinava agrave alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas com teacutecnicas

de soletraccedilatildeo ldquopois os exerciacutecios partem do elemento letra avanccedilam para a silabaccedilatildeo

sem sentido depois introduzem palavras com sentido e finalmente pequenos textosrdquo

(VOJNIAK 2014 p 230) Midosi (1831) apresenta as palavras separadas por siacutelabas

tendo inclusive uma parte de sua obra destinada aos ensinamentos de Moral e

Doutrina Cristatilde o que remonta a uma das caracteriacutesticas dos impressos que

circularam em Goiaacutes os quais continham um vieacutes altamente religioso

As menccedilotildees encontradas ao Expositor Portuguez no periacuteodo entre 1835 e 1886

ocorreram na deacutecada de 50 como explicitaremos na proacutexima seccedilatildeo e depois apenas

em 1875 em trecircs documentos todos localizados no mesmo livro (GOIAacuteS 1873-1877

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575) Uma dessas

fontes destaca-se uma vez que faz referecircncia ao fornecimento dessa obra

juntamente com outros materiais agrave Professora da classe de primeiras letras do sexo

feminino da cidade de Palmas185 D Theodora Serra O mesmo pedido seria remetido

a outros professores da proviacutencia o que nos leva a crer que este livro circulou pelas

classes da instruccedilatildeo primaacuteria goiana Insta esclarecer que o documento natildeo especifica

quais outros professores receberiam a obra deixando tambeacutem duacutevidas quanto ao

envio Durante o Impeacuterio nos relatoacuterios analisados por Vojniak (2014) o autor elucida

que a obra de Midosi (1831) tambeacutem conhecida como a Cartilha de Midosi foi uma

das mais citadas como sendo utilizada por vaacuterias escolas de primeiras letras do

Municiacutepio da Corte

Outros impressos citados nas listagens de expediente escolar e que satildeo

destinados ao ensino de leitura foram Bacadafaacute ou Methodo de Leitura Abreviada de

Antonio Pinheiro de Aguiar (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529) e o Methodo facil para aprender a ler

tratadosrdquo (LACERDA sd p III grifos do autor) Consideramos que a questatildeo apresentada por Lacerda demonstra que para se referir ao seu livro era comum o uso da adjetivaccedilatildeo ldquonovordquo o que tambeacutem demarca a diferenccedila entre sua obra e a de Midosi 185 Palmas era um municiacutepio naquele momento localizado ao Norte da proviacutencia de Goiaacutes Apoacutes a emancipaccedilatildeo do Estado do Tocantins em 1988 Palmas tornou-se a sua capital

158

em 15 liccedilotildees de Victor Renault (THESOURARIA DA FASENDA DA PROVINCIA DE

GOYAS 3 de setembro de 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 575)

Ambos os livros tinham como mote a alfabetizaccedilatildeo em um curto espaccedilo de

tempo O primeiro impresso intitulado com o nome de seu meacutetodo Bacadafaacute sobre

o qual trataremos com maiores detalhes na seccedilatildeo 5 deste trabalho foi uma produccedilatildeo

brasileira do seacuteculo XIX destinada tanto agrave alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas quanto de jovens

e adultos (PINHEIRO DE AGUIAR 1871) Escrito por um professor natural da

Proviacutencia de Minas Gerais e que atuou na Corte Imperial Antonio Pinheiro de Aguiar

o meacutetodo consistia em 20 liccedilotildees para o ensino da leitura e da escrita A partir dos

nomes de quatro iacutendios que formavam uma famiacutelia brasileira (Bacadafaacute Gajalamaacute

Naparasaacute Tavaxazaacute) e com auxiacutelio de historietas o aprendizado da leitura e da escrita

vai se consolidando em praacuteticas que variam entre os meacutetodos sinteacuteticos e analiacuteticos

de alfabetizaccedilatildeo (SCHUELER 2005) Embora o autor se opusesse ao tradicional

meacutetodo de soletraccedilatildeo o que por si jaacute denotaria uma inovaccedilatildeo em sua proposta

metodoloacutegica Schueler (2005) demonstra que a originalidade da proposta de Aguiar

consistia no ldquosuposto caraacuteter nacionalrdquo que o livro continha Utilizando siacutembolos e

representaccedilotildees nacionais conforme a autora alude o meacutetodo Bacadafaacute formava uma

ideia de nacionalidade no alunado de modo que haacute ldquoreferecircncia ao uso do meacutetodo para

o ensino de uma histoacuteria e de uma geografia nacionaisrdquo (SCHUELER 2005 p 183

grifos da autora)

O segundo impresso sob a denominaccedilatildeo de Methodo facil para aprender a ler

em 15 liccedilotildees foi escrito por Pierre Victor Renault e mencionado apenas uma vez em

1874 sendo fornecidas duas duacutezias dele para o expediente da escola do sexo

masculino da cidade de Porto Imperial186 No documento fica evidenciado que o

professor da escola fez o pedido desse livro juntamente com a solicitaccedilatildeo de Cartilhas

e Traslados sem especificaccedilatildeo dos tiacutetulos (THESOURARIA DA FASENDA DA

PROVINCIA DE GOYAS 3 de setembro de 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 575)

Mauraux (2000) informa que Renault nasceu na Franccedila chegando ao Brasil em

1832 Com formaccedilatildeo em Engenharia Civil publicou livros especialmente ligados agrave

186 Porto Imperial era um municiacutepio naquele momento localizado ao Norte da proviacutencia de Goiaacutes Apoacutes a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica recebeu o nome de Porto Nacional hoje localizado no estado do Tocantins

159

aacuterea da Aritmeacutetica Atuou na mineraccedilatildeo e como professor abrindo um Coleacutegio em

Barbacena Minas Gerais e ldquojulgando insuficientes certos manuais disponiacuteveis no

mercadordquo iniciou a trajetoacuteria de escritor de manuais escolares para ensinar seus

alunos (MAURAUX 2000 p 42) Costa (2010) em sua pesquisa no Cataacutelogo Geral

da Biblioteca Nacional de Franccedila explicita que encontrou cinco publicaccedilotildees de autoria

de Renault sendo uma delas o Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees

atribuindo-lhe a primeira ediccedilatildeo em 1867

No Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

conseguimos ter acesso a uma coacutepia incompleta da 4ordf ediccedilatildeo desse livro datada de

1875187

Figura 6 Folha de rosto da 4ordf ediccedilatildeo do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees (1875)

Fonte Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

187 A versatildeo digitalizada de fragmentos dessa obra estaacute disponiacutevel no Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrhandle 123456789100353gt Acesso em 18 de maio de 2019

160

Na capa logo abaixo do tiacutetulo informa-se que a obra conteacutem as rezas cristatildes

a histoacuteria natural dos animais do Brasil faacutebulas moralidades maacuteximas e

pensamentos de autores os algarismos aacuterabes e romanos uma taacutebua de Pitaacutegoras

aleacutem das unidades de peso comprimento capacidade e tempo Portanto o livro de

Renault (1875) aleacutem do objetivo de ensinar a ler copilava outros conhecimentos de

disciplinas escolares presentes no curriacuteculo das escolas brasileiras do seacuteculo XIX

(BITTENCOURT 2008) Dentre esses conhecimentos um destaque que gostariacuteamos

de fazer eacute para as rezas cristatildes para os ensinamentos de moralidade e os conteuacutedos

de matemaacutetica saberes que constituiacuteam as mateacuterias ensinadas nas classes goianas

de ensino primaacuterio nos anos de 1870-80 conforme exaravam os Regulamentos da

Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes em vigecircncia no periacuteodo (GOIAacuteS

1869 1884 1886a) Logo o envio do livro Methodo facil para aprender a ler em 15

liccedilotildees para a escola de Porto Imperial obviamente se justificou devido agrave amplitude da

obra que estava em sintonia com a legislaccedilatildeo do periacuteodo e com os ideaacuterios que

circulavam sobre os meacutetodos utilizados para a crianccedila aprender a ler

O livro de Renault (1875) tem uma introduccedilatildeo na qual o autor aponta algumas

concepccedilotildees do meacutetodo

Para a utilidade da mocidade brasileira e para facilitar o conhecimento da leitura apresenta-se aos pais de familia o seguinte systema adoptado em Franccedila ha jaacute muitos annos e cujos resultados tecircm sido imensos por ter dispensado as inuteis e enfadonhas cartas do b a ba fazendo passar os meninos a soletrar immediatamente que conhecerem as lettras em 15 liccedilotildees poacutede um menino saber ler (RENAULT 1875 p v)

Por esse excerto e pelo desenrolar do discurso construiacutedo pelo autor notamos

que o meacutetodo utilizado eacute o de soletraccedilatildeo com o diferencial da supressatildeo das Cartas

de ABC o que indica que Renault utiliza um meacutetodo tradicional creditando-lhe um

tom de modernidade O escritor ainda demonstra a utilizaccedilatildeo de figuras que ilustram

a letra estudada conferindo a essa questatildeo um aspecto autoral

161

Figura 7 Paacutegina vii do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees (1875)

Fonte Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

As imagens ndash animais ou plantas ou objetos ndash como o autor salienta satildeo

tiacutepicas do Brasil utilizadas para ldquoexcitar a imaginaccedilatildeo viva das crianccedilasrdquo (RENAULT

1875 p v) A utilizaccedilatildeo de imagens acompanhando as letras do alfabeto jaacute era algo

bem comum nos impressos que circulavam no Brasil no seacuteculo XIX conforme Vojniak

(2014) esclarece Poreacutem em Victor Renault observamos que a diferenccedila estaacute na

associaccedilatildeo entre a letra e uma imagem tiacutepica do contexto brasileiro diferenciando seu

impresso de outros que circulavam no paiacutes

Como a obra a que tivemos acesso estava incompleta natildeo conseguimos fazer

um detalhamento das suas 15 liccedilotildees todavia sobre algumas natildeo acessiacuteveis haacute

informaccedilatildeo do autor na introduccedilatildeo de que ldquoentre os assumptos que os meninos

devem logo soletrar [] escolheu-se as rezas que satildeo indispensaveis ao chistatildeo

conhecer proporcionando assim dous imensos resultados nrsquoum soacute estudordquo

(RENAULT 1875 p v)

162

A circulaccedilatildeo das obras de Antonio Pinheiro de Aguiar e de Victor Renault pode

ser considerada uma das propostas da proviacutencia goiana em responder aos anseios

das famiacutelias e da demanda da sociedade Primitivo Moacyr (1940) explicita por meio

da coletacircnea de documentos da proviacutencia de Goiaacutes no periacuteodo imperial que entre os

motivos de os pais natildeo cumprirem com a obrigatoriedade escolar estava o fato de os

professores usarem meacutetodos enfadonhos que natildeo garantiam o aprendizado eficaz agrave

mocidade goiana Aleacutem disso os relatoacuterios de Presidente de Proviacutencia da Goiaacutes

referentes o periacuteodo histoacuterico desta tese enfatizaram essa questatildeo demonstrando

que ao longo do seacuteculo XIX houve vaacuterias tentativas do governo em difundir novas

propostas que atendessem aos anseios da populaccedilatildeo aliando um aprendizado

eficiente e um curto espaccedilo de tempo

Essa fusatildeo entre qualidade e tempo de aplicaccedilatildeo de um meacutetodo para o ensino

de leitura e escrita permitia que a crianccedila concluiacutesse os estudos elementares mais

rapidamente de forma a estar disponiacutevel para ajudar os pais nas lidas da casa e do

trabalho Canezin e Loureiro (1994) ratificam que as famiacutelias nesse periacuteodo natildeo

valorizavam a escola devido ao longo tempo demandado para a aprendizagem o que

se podia atribuir especialmente agrave falta de professores qualificados para aplicaccedilatildeo de

meacutetodos de ensino eficazes

Haacute que se destacar que durante o Impeacuterio as legislaccedilotildees educacionais em

Goiaacutes enfatizaram a necessidade de a escola responder agraves aspiraccedilotildees de uma

educaccedilatildeo praacutetica que aliasse o ensino das noccedilotildees rudimentares da leitura da escrita

e da educaccedilatildeo religiosa com a instruccedilatildeo de teacutecnicas que auxiliassem os alunos no

seu cotidiano civilizando-os pelas normas cristatildes e educando-os para o trabalho Agraves

meninas ensinavam-se trabalhos de agulhas e outras prendas domeacutesticas para os

meninos houve iniciativas de abertura nos anos de 1860 de oficinas para ensino de

uma profissatildeo como por exemplo ferreiro sapateiro carapina marceneiro alfaiate

seleiro etc (PRIMITIVO MOACYR 1940) Essas oficinas geralmente foram pensadas

para atender os oacuterfatildeos indigentes abandonados ou as crianccedilas cujas famiacutelias pela

extrema pobreza natildeo conseguiam alimentaacute-las e educaacute-las188 Ademais se cultivava

188 ldquoEm Goiaacutes Fonseca (1986) registra que durante o Impeacuterio a uacutenica tentativa para se instalar uma instituiccedilatildeo de ensino profissional refere-se a uma autorizaccedilatildeo para que o Presidente da Proviacutencia criasse na capital um estabelecimento desta natureza Caso viesse a funcionar a instituiccedilatildeo receberia o nome de Instituto Imperial de Educandos Artiacutefices Essa tentativa poreacutem natildeo chegou a se concretizar devido agrave falta de condiccedilotildees da proviacutencia para mantecirc-la Ademais a inexistecircncia de uma induacutestria manufatureira na regiatildeo dispensava este

163

a tradiccedilatildeo de o menino ter a mesma profissatildeo do pai e por isso o aprendizado para o

trabalho ocorria em casa Valdez (2003) em sua pesquisa sobre a histoacuteria da infacircncia

entre os seacuteculos XVIII e XIX explica que Goiaacutes natildeo se diferenciava das outras

proviacutencias brasileiras e as crianccedilas goianas eram ldquovistas como pequenos adultos

Delas era exigido comportamento de gente grande eram vestidas como adultos

casavam-se cedo trabalhavam precocemente etcrdquo (VALDEZ 2003 p 12)

Retomando a linha de exposiccedilatildeo deste capiacutetulo sobre os livros de primeiras

letras utilizados em Goiaacutes nas documentaccedilotildees inventariadas encontramos entre

1835 e 1886 apenas a menccedilatildeo a um livro designado de ldquolivro de leitura manuscritardquo

nomeado nas listagens de expediente escolar como Curso graduado de letra

manuscripta cujo tiacutetulo completo eacute Curso graduado de letra manuscripta em 21 liccedilotildees

composto para o uso da mocidade brasileira189 Segundo Batista (2002) ele foi

publicado em 1872 e na sua capa natildeo consta autoria apenas a indicaccedilatildeo da

publicaccedilatildeo que ocorreu pelo ldquoB Garnier livreiro-editorrdquo Na proviacutencia de Goiaacutes essa

obra foi indicada apenas duas vezes (SERRA 1873 DVD Coleccedilatildeo de Documentos

de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1 BRANDAtildeO 6 de abril de 1875 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575) Apesar disso ela

circulou com maior vigorosidade nas escolas primaacuterias goianas durante a Repuacuteblica

conforme constatamos na consulta agraves documentaccedilotildees do Arquivo Histoacuterico Estadual

de Goiaacutes

Os livros de leitura manuscrita ou paleoacutegrafos de acordo com Bertoletti (2017)

ldquodestinavam-se ao ensino da leitura e natildeo da escrita e cumpriram uma espeacutecie de

transiccedilatildeo entre os escassos materiais para ensino da leitura elaborados pelos

proacuteprios professores e os livros de leitura mais sofisticados []rdquo (BERTOLETTI 2017

p 79) Sobre a organizaccedilatildeo do livro Curso graduado de letra manuscripta sabemos a

partir dos estudos de Batista (2002) que ele estaacute dividido em duas partes a primeira

com tabelas do alfabeto em diferentes formatos de letras a segunda com textos do

proacuteprio autor abordando ldquouma seleccedilatildeo de temas cuja ecircnfase recai sobre a histoacuteria

poliacutetica e literaacuteria brasileira seus personagens e acontecimentosrdquo (BATISTA 2002

sp)

tipo de empreendimentordquo (SAacute et al 2015 p 9663) Para maiores informaccedilotildees cf Fonseca 1986 189 Natildeo conseguimos ter acesso a essa obra durante o periacuteodo de escrita desta tese As informaccedilotildees aqui apresentadas sobre esse livro foram extraiacutedas dos estudos de Batista (2002) e Batista e Galvatildeo (2009)

164

Batista (2009) ao analisar essa obra aponta que ela parece ser a primeira ldquoque

se baseia numa retoacuterica pedagoacutegica que simula uma exposiccedilatildeo oral a grupo de

crianccedilas e natildeo nos procedimentos retoacutericos tradicionaisrdquo (BATISTA 2009 p 162)

Essa nova retoacuterica segundo o autor se concretiza por uma interlocuccedilatildeo direta entre

o escritor e as crianccedilas que utiliza expressotildees que chamam a atenccedilatildeo do leitor

entusiasmando-o pela leitura e aprendizagem

Nas listas de expediente escolar ainda encontramos menccedilatildeo a materiais de

leitura destinados aos professores cuja funccedilatildeo foi disseminar aspectos do ensino de

leitura e dos meacutetodos de ensino subsidiando as praacuteticas nas escolas goianas Esses

impressos foram comprados a partir dos anos de 1870 momento em que houve na

proviacutencia uma difusatildeo de novas propostas metodoloacutegicas para alfabetizar crianccedilas

Mortatti (2000) evidencia que as ldquotematizaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeordquo190 estatildeo

presentes em livros teoacutericos prefaacutecios e nas instruccedilotildees de cartilhas eou livros de

leitura etc de modo que nesses impressos os professores tiveram acesso a

conteuacutedos que teorizavam e orientavam os modos de ensinar e de aprender leitura

Goiaacutes natildeo foi um produtor das tematizaccedilotildees mas consumidor desses impressos

advindos de proviacutencias vizinhas ou de experiecircncias bem-sucedidas no Brasil Arauacutejo

e Silva (1975) complementa que durante o Impeacuterio Goiaacutes buscou notadamente em

Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio de Janeiro algumas orientaccedilotildees legislaccedilotildees e praacuteticas

educacionais que pudessem contribuir para a melhoria da educaccedilatildeo goiana

Na seccedilatildeo anterior destacamos alguns feitos de presidentes que destinaram

recursos para a compra desses impressos dirigidos agrave formaccedilatildeo dos professores e

que tratavam sobre os meacutetodos de ensino Como vimos circulou no seacuteculo XIX a ideia

de que o atraso educacional em Goiaacutes se devia agrave falta de uma Escola Normal e

tambeacutem de livros e tratados que orientassem os professores a como manejar os novos

meacutetodos ou tendecircncias pedagoacutegicas

190 Termo utilizado em referecircncia ao trabalho de Mortatti (2000) Essa autora propotildee uma histoacuteria dos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo em Satildeo Paulo a partir de uma anaacutelise dos documentos enfatizando seu conteuacutedo finalidade e forma de veiculaccedilatildeo no que denomina de tematizaccedilotildees normatizaccedilotildees e concretizaccedilotildees ldquoa) tematizaccedilotildees ndash contidas especialmente em artigos conferecircncias relatos de experiecircncia memoacuterias livros teoacutericos e de divulgaccedilatildeo teses acadecircmicas prefaacutecios e instruccedilotildees de cartilhas e livros de leitura b) normatizaccedilotildees ndash contidas em legislaccedilatildeo de ensino (leis decretos regulamentos portarias programas e similares) e c) concretizaccedilotildees ndash contidas em cartilhas e livros de leitura ldquoguias do professorrdquo memoacuterias relatos de experiecircncias e material produzido por professores e alunos no decorrer das atividades didaacutetico-pedagoacutegicasrdquo (MORTATTI 2000 p 29)

165

Nas listas de expediente escolar foram mencionados dois livros cuja finalidade

era orientar o professor sobre os meacutetodos de ensino assim intitulados ldquoMethodos de

Leiturardquo e ldquoManual do Professor Primariordquo

Um dos documentos que encontramos faz menccedilatildeo a uma obra com o tiacutetulo

ldquoMethodos de Leiturardquo e manda distribuir 499 coacutepias dele nas escolas de instruccedilatildeo

primaacuteria da proviacutencia (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529) Entretanto por ter um tiacutetulo tatildeo

abrangente e comum aleacutem de principalmente no documento natildeo constar nome do

autor natildeo conseguimos identificaacute-lo e assim natildeo o localizamos

O segundo impresso no ofiacutecio expedido pela Tesouraria Provincial de Goiaacutes

consta que foi enviado apenas um volume da obra para uma escola de Vila das Flores

(BRANDAtildeO 26 de marccedilo de 1877 p 98 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 575) Acerca do referido Manual do Professor Primaacuterio

Bastos (1999) faz citaccedilatildeo em seu texto

VILLELA quando analisa a ldquoPraacutetica cotidiana na Escola Normal o projeto e sua realizaccedilatildeordquo assinala que o Presidente da Proviacutencia ndash Paulino Soares de Souza ldquomanda distribuir para os alunos da Escola Normal e para todos os professores da Proviacutencia o Manual do Professor Primaacuterio escrito por um francecircs Pretendia assim difundir o meacutetodo lancasteriano e tambeacutem os ensinamentos morais que continha esta obrardquo A autora natildeo cita o autor e nem aprofunda a temaacutetica relativa aos conteuacutedos da formaccedilatildeo de professores na primeira Escola Normal do Brasil [] (BASTOS 1999 p 242 grifos nossos)

O texto a que Bastos (1999) faz referecircncia eacute parte do Capiacutetulo 3 da Dissertaccedilatildeo

de Mestrado de Villela (1990) Percorrendo a possiacutevel rota realizada por esta autora

ao assinalar a menccedilatildeo sobre a distribuiccedilatildeo do Manual do Professor Primaacuterio feita pelo

Presidente da Proviacutencia do Rio de Janeiro Paulino Soares de Souza natildeo

identificamos nos Relatoacuterios expedidos por esse Presidente publicados entre 1836 a

1840191 nenhuma alusatildeo ao tiacutetulo desse livro Com esse mesmo tiacutetulo Theobaldo

Miranda Santos publicou uma obra de sua autoria em 1948 (ALMEIDA FILHO 2008)

Consultando duas ediccedilotildees desse livro (SANTOS 1954 1958) natildeo haacute nota ou

referecircncia a algum impresso sob a mesma denominaccedilatildeo Portanto tal como Bastos

(1999) apontou ainda permanece para noacutes desconhecido o autor e a temaacutetica

191 Disponiacutevel em lthttpddsnextcrledutitles184c=4ampm=0amps=0ampcv=0ampr=0ampxywh=532 2C1112C31432C2217gt Acesso em 19 de maio de 2019

166

completa do Manual do Professor Primaacuterio que circulou no periacuteodo imperial O que

fica assinalado pela citaccedilatildeo acima eacute que esse Manual foi baseado no meacutetodo

Lancaster e continha ensinamentos morais Tal como explicitamos na seccedilatildeo anterior

tal meacutetodo natildeo foi propagado em Goiaacutes devido aos altos custos dos materiais que sua

praacutetica impunha

No que concerne aos impressos destinados especificamente ao ensino da

escrita nas listas encontradas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes era comum os

professores solicitarem os Traslados ou Exemplares para a escrita Tomando como

referecircncia essas listagens e os dados das pesquisas de Batista e Galvatildeo (2009) e

Frade (2010) podemos dizer que os Traslados satildeo impressos publicados em folhas

soltas ou folhetos grampeados com modelos para a escrita cujo objetivo era ensinar

o traccedilado das letras para as crianccedilas Trindade (2001) a partir das obras portuguesas

Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primarias pelo Metodo Portuguez

de Antoacutenio Feliciano de Castilho192 (1854) e Metodologia Especial a liacutengua e a

literatura portuguesa na educaccedilatildeo primaacuteria de Bernardino da Fonseca Lage193 (1924)

explicita que os Traslados ldquoeram modelos que continham as liccedilotildees de escrita a serem

copiados pelosas alunosas em papel transparente A coacutepia se dava calcando e

cobrindo com o laacutepis o modelo que aparecia no papel transparenterdquo (TRINDADE

2001 p 314)

Frade (2010) discutindo sobre esses materiais alerta que haacute duacutevidas se eles

eram ou natildeo trabalhados no ensino inicial da escrita ldquouma vez que o ensino

simultacircneo dos princiacutepios da leitura e da escrita comeccedila a aparecer como discurso

pedagoacutegico e em manuais e livros produzidos no final do seacuteculo XIX principalmente

nos de Felisberto de Carvalhordquo (FRADE 2010 p 271) Importante ainda ressaltar

sobre a terminologia ldquotrasladordquo que ela pode designar tanto um impresso com as

caracteriacutesticas apresentadas anteriormente quanto uma praacutetica de ensino de escrita

192 Autor do meacutetodo portuguecircs de leitura repentina tambeacutem nominado de meacutetodo Castilho Antoacutenio Feliciano de Castilho foi educador e poeta portuguecircs Sobre ele trataremos com maiores detalhes na seccedilatildeo 4 desta tese Acerca do livro Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primarias pelo Metodo Portuguez citado por Trindade (2001) encontramos uma versatildeo digitalizada no repositoacuterio Google Livros (CASTILHO 1854) O referido livro tem 60 paacuteginas e foi publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 1854 Trata-se de uma espeacutecie de Manual para aplicaccedilatildeo do meacutetodo portuguecircs criado por Castilho 193 ldquoBernardino Lage diplomou-se na Escola Normal de Lisboa na viragem do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX Em 1911 era professor na Escola Normal de Coimbra Exerceu igualmente atividade docente em Angolardquo (SILVA 2013 p 244-245)

167

que se distinguia como um exerciacutecio de coacutepia em que o aluno cobria as letras

desenhadas pelo professor (FRADE GALVAtildeO 2016) Em Goiaacutes nos seacuteculos XIX e

XX Arauacutejo e Silva (1975) elucida que os Traslados foram usados para os alunos que

jaacute liam com fluecircncia com objetivo de que lessem todos os tipos de letras ao mesmo

tempo que aprendiam a reproduzir os variados modelos de escrita

Na maioria das solicitaccedilotildees feitas pelos professores goianos natildeo havia menccedilatildeo

ao tiacutetulo dos Traslados os pedidos faziam alusatildeo geneacuterica a ldquoColleccedilatildeo de trasladosrdquo

ldquoExemplares para a escritardquo ldquoColleccedilatildeo de exemplares para escritasrdquo ldquoTraslados

sortidosrdquo e ldquoTraslados Manuscriptosrdquo Os dois Traslados com nomeaccedilatildeo proacutepria foram

solicitados a partir dos anos de 1870 intitulados de Coleccedilatildeo de tralados de Cirillo e a

Collecccedilatildeo de traslado de Carstaires (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES

DE GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Os Traslados de Cirilo Dilermando da Silveira194 conforme pesquisa de

Tambara (2002) foram adotados em 1854 nas escolas puacuteblicas da Corte por meio

da autorizaccedilatildeo do Inspetor Geral auxiliado pelo Conselho Diretor do Municiacutepio da

Corte Vidal e Gvirtz (1998) expotildee que para o ensino da escrita na escola elementar

brasileira na segunda metade do seacuteculo XIX usavam-se os Manuais de Caligrafia

eou as Coleccedilotildees de Traslados com detaque para a obra de Cirilo

Sobre a Collecccedilatildeo de traslado de Carstaires natildeo identificamos ateacute esse

momento nenhuma referecircncia

Ainda sobre o ensino inicial de escrita nas escolas goianas notamos que

embora as Cartas de ABC fossem pensadas para se ensinar leitura haacute indiacutecios de

praacuteticas que delas se apropriavam para o ensino da escrita Numa das listagens

localizadas o professor interino Ravolindo [ilegiacutevel] Rosa do povoado de Satildeo Joseacute

do Araguaya notifica o recebimento de vaacuterios objetos relatando a ausecircncia das

Cartas

194 Cirilo eacute autor brasileiro natural de Icoacute Cearaacute Atuou tanto como funcionaacuterio puacuteblico na Proviacutencia do Espiacuterito Santo quanto no Municiacutepio da Corte como professor Conhecido pela publicaccedilatildeo da Colleccedilatildeo de traslados oferecidos para uso da mocidade brasileira (sd) tambeacutem foi autor de Compendio de Grammatica da liacutengua portuguesa (1855) e Exerciacutecios de analyse lexicograacutefica ou gramatical e de anaacutelise sintaacutexica ou loacutegica (1870) Cf Portal da Histoacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em lthttpportalcearaprobrindexphpoption=com_conten tampview=articleampid=1864ampcatid=293ampItemid=101gt Acesso em 18 de marccedilo de 2019

168

Naotilde tendo recebido todos os utensilios constantes na listagem na falta das 12 Cartas peccedilo a resma de papel almasso e uma Carta para os alunnos copiarem e soletrarem o abc e o livrinho do Cathecismo (ROSA 06 de marccedilo de 1869 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188)

O exerciacutecio da coacutepia no trecho eacute anunciado juntamente com o de soletraccedilatildeo

das Cartas de ABC e do Catecismo Embora se registre a praacutetica de um professor em

especiacutefico na mensagem haacute sinais de que nas escolas goianas se aproveitavam os

impressos existentes tanto para o ensino inicial da leitura e da escrita quanto para o

treino da leitura corrente de natureza memorizada No fragmento da correspondecircncia

do professor Ravolindo o Catecismo eacute mencionado como sendo utilizado nos

exerciacutecios de soletraccedilatildeo algo incomum nas apropriaccedilotildees desse livro na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Brasil (FRADE 2010) Nesse ponto se retomarmos o relatoacuterio de

Crus (20 de marccedilo de 1858) citado neste item que diz que o Catecismo Histoacuterico de

Fleury era adaptado para o ensino da leitura temos aqui um exemplo de como essa

adaptaccedilatildeo acontecia nas escolas de primeiras letras goianas Logo podemos afirmar

que os Catecismos em Goiaacutes do seacuteculo XIX foram instrumentos para que os alunos

conhecessem aleacutem da doutrina catoacutelica tambeacutem a palavra impressa de modo que

esse livro foi fortemente incorporado na alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas

Por fim cabe destacar que as atividades de escrita das crianccedilas foram

utilizadas para atestar o niacutevel de adiantamento das escolas certificando sobre o

desenvolvimento do trabalho dos professores e a quantidade de alunos matriculados

e frequentes nas aulas Por Ordem Presidencial de 18 de julho de 1866 ficou

determinado em Goiaacutes

1ordf secccedilatildeo ndash Palacio do governo de Goyaz 18 de julho de 1866 ndash Sendo de summa necessidade que esta presidencia seja sem cessar informada do modo porque os professores das cadeiras do ensino primario cumprem seus deveres se as escolas de um e outro sexo satildeo frequentadas e se os alumno tem ou natildeo adiantamento cumpre eu Vme determine aos inspetores parochiaes que os professores e professoras faratildeo constar que no principio de cada vez deveratildeo apresentar uma relaccedilatildeo dos alumnos ou alumnas matriculadas mencionando o numero de faltas que commeteratildeo no mez anterior e igualmente uma colecccedilatildeo das escriptas dos mesmo feitas nelas as devidas correcccedilotildees (FRANCcedilA 1867 Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes p 62-63)

Esta Ordem estaacute presente no Relatoacuterio do Presidente Augusto Ferreira Franccedila

de 1867 e tambeacutem foi enviada por ofiacutecio a todos os Inspetores Paroquiais da proviacutencia

169

(FRANCcedilA 7 de junho de 1866 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 436) Os resultados do ensino de escrita se estabeleceram como uma

forma de controle sobre as praacuteticas dos professores e nesse aspecto revela-se uma

visatildeo da escrita como decorrecircncia apenas do processo de alfabetizaccedilatildeo

considerando-a como atestado de boas praacuteticas Pela escrita dos alunos a intenccedilatildeo

era perceber se o meacutetodo de ensino funcionava e se os professores estavam

habilitados para o magisteacuterio jaacute que as coleccedilotildees de escrita a serem enviadas ao

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica deveriam ser remetidas com as devidas

correccedilotildees Franccedila (7 de junho de 1866 1867) explicou que uma das penalidades

aplicada aos Mestres que natildeo enviassem o que foi solicitado era a demissatildeo por justa

causa

A Ordem de Franccedila (1867) ainda dispunha que todos os documentos

constantes no excerto deveriam ser enviados pelos professores por intermeacutedio dos

Inspetores Paroquiais constando em ofiacutecio dirigido ao Inspetor Geral as seguintes

informaccedilotildees o estado das escolas e os progressos que os alunos estavam

manifestando Os Inspetores Paroquiais por sua vez deveriam informar o nuacutemero de

vezes que visitaram as escolas o estado em que elas se encontravam e o modo como

os professores desempenharam o magisteacuterio Finalmente apoacutes a anaacutelise das

coleccedilotildees de escritas e das informaccedilotildees encaminhadas pelos professores e Inspetores

Paroquiais o Inspetor Geral informaria ao Presidente a situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica

na proviacutencia

Agrave vista disso cabe retomar o que Foucault (2003) ao pensar as questotildees

relacionadas ao discurso afirmava O autor o entendia como um coletivo de

pensamentos reunidos por um indiviacuteduo ou um grupo que manifesta suas ideologias

constituindo subjetividades e relaccedilotildees de poder Um discurso tem uma histoacuteria proacutepria

sendo fruto das condiccedilotildees de uma eacutepoca e do grupo que o faz eou legitima Dessa

maneira o discurso empreendido por Franccedila (7 de junho de 1866 1867) demonstra

que haacute uma relaccedilatildeo de poder expliacutecita revelando um jeito de fazer poliacutetica que

considera a inspeccedilatildeo e a coerccedilatildeo como modos preconizantes da atuaccedilatildeo do Governo

para melhoria do cenaacuterio de analfabetismo da proviacutencia goiana

No Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes identificamos documentos que

mostram a atuaccedilatildeo do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica em relaccedilatildeo as coleccedilotildees de

escrita Haacute dois livros de correspondecircncias entre 1866 e 1867 com ofiacutecios entre o

Presidente e o Inspetor Geral em que fica niacutetida a ideia que se tinha sobre o ensino

170

de escrita naquele momento (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS 1862-1871 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

Agrave guisa de exemplo de uma dessas correspondecircncias apresentamos o

fragmento abaixo

Ilmo e Exmo Senr Dr Augusto Ferreira Franccedila ndash Presidente da provincia = Joatildeo Augusto de Paacutedua Fleury Secretaria drsquoinstruccedilatildeo publica em Goyaz 21 drsquoOutubro de 1866 ndash Ilmo e Exmo Senr o = Tenho a honra de passar as matildeos de V Exordf as collecccedilotildees drsquoescriptas e officios concernentes as escolas de Meiaponte S Cruz Morrinhos e Rio Claro [ilegiacutevel] por copia o officio que nesta data [ilegiacutevel] o Inspector Parochial de Meiaponte = Aos Inspectores Parochiais notei tambem os erros que encontrei nas escriptas recomendei que nas visitas que fizessem as respectivas escolas chamassem a atenccedilatildeo aos Professores para os mencionados erros que denotatildeo vicio e atraso no ensino Se as minhas observaccedilotildees natildeo produzerem efeito opportunamente requisitarei de V Excia as providencias que julgar acertadas ao bem do ensino Deos guarde a V Excia Ilmo e Exmo Sr Drordm Augusto Ferreira Franccedila ndash Presidente desta provincia Joatildeo Augusto de Paacutedua Fleury (FLEURY 21 de outubro de 1866 p 129 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Como visto o Inspetor Geral repreende os professores pelos erros encontrados

nas coleccedilotildees de escrita Nesse periacuteodo estava em vigor o Regulamento de Ensino

Goiano de 1856 que estabelecia os conhecimentos necessaacuterios para o professor se

candidatar ao magisteacuterio com destaque para os conteuacutedos que envolviam as

convenccedilotildees da liacutengua portuguesa o docente deveria dominar a leitura com fluecircncia

a pronuacutencia correta das palavras a leitura com pontuaccedilatildeo a ortografia as regras de

gramaacutetica e os tipos de letra (GOIAacuteS 1856 art 10) Portanto a Ordem Imperial

(FRANCcedilA 1867) estava em sintonia com os saberes exarados na legislaccedilatildeo goiana

que traccedilava o perfil de um professor com formaccedilatildeo erudita e com capacidade

profissional atestada por um exame realizado perante o Presidente da Proviacutencia o

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica e duas pessoas nomeadas pela presidecircncia

Afinal tal como Gondra e Schueler (2008) explicam na maior parte do Impeacuterio os

regulamentos e normas sobre a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria estabeleceram

ldquoregras e princiacutepios de seleccedilatildeo formaccedilatildeo recrutamento licenciamento e controle dos

professores puacuteblicos e particulares tentando uniformizar conformar homogeneizar e

disciplinar os diversos modos de ser professor no seacuteculo XIXrdquo (GONDRA

SCHUELER 2008 p 172 grifo dos autores)

171

Acreditamos que a praacutetica normatizada por Franccedila (1867) natildeo perdurou por

muito tempo na proviacutencia pois soacute encontramos documentaccedilotildees que atestassem o

envio de coleccedilotildees de escrita remetidas ao Inspetor Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica de

Goiaacutes durante os anos de 1866 e 1867 Natildeo podemos negligenciar o fato de que Abreu

(2006) faz referecircncia a uma coleccedilatildeo de escrita datada de 1868 encontrada tambeacutem

no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes como sendo fruto da referida Ordem

Presidencial

Outro documento que tambeacutem nos chamou a atenccedilatildeo foi uma correspondecircncia

enviada pelo Inspetor Joaquim Vicente de Azevedo em 4 de setembro de 1865

(AZEVEDO 4 de setembro de 1865 p 114 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 397) em que se notificava o envio de escritas de alunos

da escola de instruccedilatildeo primaacuteria do sexo masculino da Capital para o Presidente

Augusto Ferreira Franccedila autor da Ordem Presidencial analisada anteriormente

Embora os Relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia e as legislaccedilotildees anteriores agrave

referida Ordem natildeo mencionem a existecircncia de alguma recomendaccedilatildeo acerca do

envio de escritas dos alunos para a Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica tudo indica

que essa praacutetica jaacute ocorria nas escolas da Capital de Goiaacutes Pelo visto a

recomendaccedilatildeo de Franccedila (1867) apenas ampliou e regulamentou esse modo de

controle da praacutetica docente em todo o territoacuterio goiano

Como analisado no decorrer deste item na proviacutencia goiana durante o periacuteodo

de 1835 a 1886 houve uma forte presenccedila de livros escritos por portugueses e

franceses o que natildeo difere da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de outras localidades

brasileiras Ateacute a deacutecada de 60 do seacuteculo XIX circulavam nas escolas brasileiras

principalmente as cartilhas portuguesas e somente no fim dessa deacutecada eacute que Abiacutelio

Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas iniciou um movimento de nacionalizaccedilatildeo de

livros escolares publicando suas primeiras obras (LAJOLO ZILBERMAN 1996

MORTATTI 2000 VALDEZ 2006 FRADE 2010a) Os livros desse autor estiveram

entre as solicitaccedilotildees das listas de expediente escolar para o ensino inicial de leitura e

escrita e tambeacutem para o ensino de leitura corrente Sobre ele destacaremos sua

influecircncia na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes principalmente a partir de 1870 na

seccedilatildeo 5 desta tese

Por conseguinte ainda que essa proviacutencia tivesse conforme a historiografia

da educaccedilatildeo goiana aponta um desenvolvimento educacional atrasado

especialmente pela quantidade de analfabetos que ateacute meados da Repuacuteblica a

172

colocava entre as piores dos paiacutes haacute que se considerar que sua histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo faz intersecccedilatildeo com os movimentos que vinham ocorrendo no acircmbito

da educaccedilatildeo nacional

32 IMPRESSOS PARA O ENSINO DA LEITURA CORRENTE

Neste toacutepico destacaremos as obras identificadas nas listas de expediente

escolar cuja anaacutelise a partir dos indiacutecios de seus tiacutetulos eou conteuacutedos permitiram-

nos classificaacute-las como impressos destinados natildeo para alfabetizar a crianccedila mas para

o treino da leitura A escola primaacuteria brasileira no que tange ao ensino de leitura foi

constituindo uma tradiccedilatildeo pela qual depois de a crianccedila ter o domiacutenio da leitura os

professores utilizavam materiais impressos para os alunos aperfeiccediloarem a chamada

leitura corrente Batista Galvatildeo e Klinke (2002) notam que esse tipo de material

voltava-se para a ldquopassagem da leitura hesitante para a leitura corrente e possui

dentre outros objetivos a compreensatildeo total de periacuteodos e pequenas narrativas e

o domiacutenio geral do mecanismo e sentido da leiturardquo (BATISTA GALVAtildeO KLINKE

2002 p 42 grifos dos autores)

Inicialmente eacute importante esclarecer dois pontos O primeiro eacute que listariacuteamos

aqui tambeacutem os livros destinados ao ensino de outras disciplinas escolares que natildeo

apenas leitura e escrita Durante o periacuteodo imperial as regulamentaccedilotildees em Goiaacutes

previam no curriacuteculo Aritmeacutetica Gramaacutetica Doutrina Cristatilde entre outras mateacuterias

Logo na ausecircncia de materiais especiacuteficos para a alfabetizaccedilatildeo os professores

lanccedilavam matildeo dos que tinham disponiacuteveis para ensinar leitura e escrita agraves crianccedilas

(ARAUacuteJO E SILVA 1975 PRIMITIVO MOACYR 1940) O segundo destaque que

gostariacuteamos de registrar eacute que natildeo faremos um estudo aprofundado de cada uma das

obras mencionadas visto natildeo ser esse o foco da pesquisa Cada impresso listado

incita a novas pesquisas e novas problemaacuteticas principalmente relacionadas aos usos

que os professores fizeram desses materiais

Entre os pedidos de livros para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia

goiana destacaram-se os Catecismos Em muitas listas de expediente escolar eles

receberam a denominaccedilatildeo de cartilha com a indicaccedilatildeo do autor por exemplo Cartilha

de Fleury para se referir ao Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio

a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde escrito pelo Abade Claude Fleury Cartilha de

173

Montpelier ao tratar sobre o Catecismo da Diocese de Montpellier impresso por ordem

do Bispo Carlos Joaquim Colbert

Analisando as fontes documentais em especial as listas de expediente escolar

observamos que na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a denominaccedilatildeo de cartilha natildeo

era usual para indicar os materiais impressos especificamente para alfabetizaccedilatildeo ateacute

os anos de 1870195 A partir de entatildeo com a circulaccedilatildeo dos Livros de Leitura de Abiacutelio

Ceacutesar Borges pela proviacutencia os pedidos feitos pelos professores goianos

mencionavam juntamente com eles a compra de Cartilhas e de Catecismos

denotando nesses casos que as Cartilhas comeccedilavam a nominar materiais para o

ensino de leitura Poreacutem embora esse processo tenha-se iniciado na segunda metade

do seacuteculo XIX conservou-se em Goiaacutes durante todo o regime imperial a praacutetica de

designar como Cartilhas os livros de Doutrina Cristatilde Vale lembrar que Mortatti (2000

p 72) demonstra que nesse periacuteodo se iniciavam os discursos em torno da

ldquoconstituiccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo como objeto de estudo no Brasilrdquo principalmente com

a atuaccedilatildeo de Antonio da Silva Jardim na propaganda do ldquomeacutetodo Joatildeo de Deusrdquo e da

Cartilha Maternal do poeta portuguecircs Joatildeo de Deus

De acordo com Boto (2004) o termo cartilha vem de cartinhas manuscritos

utilizados em Portugal para ensinar a ler escrever e contar desde o iniacutecio da Idade

Moderna remontando agrave tradiccedilatildeo de uma educaccedilatildeo no lar baseada na religiosidade e

na moralidade As primeiras cartilhas brasileiras segundo Mortatti (2000a 2019)

foram publicadas na segunda metade do seacuteculo XIX o que corrobora a hipoacutetese de

que em Goiaacutes essa designaccedilatildeo para os livros escolares utilizados para o ensino inicial

de leitura tenha circulado pelas escolas no findar do Impeacuterio e sido adotada

oficialmente nas legislaccedilotildees goianas jaacute na Repuacuteblica196

Os Catecismos apesar de natildeo serem publicaccedilotildees pensadas para se ensinar

leitura foram incorporados nas escolas goianas principalmente como impressos para

195 Interessante notar que alguns livros de Doutrina Cristatilde que circularam na proviacutencia goiana eram nomeados de Cartilha como foi o livro Cartilha de Doutrina Christatilde de Antoacutenio Joseacute de Mesquita Pimentel mencionado nas listas de expediente escolar como ldquoCartilha de Pimentelrdquo ou ldquoCartilha de Mesquita Pimentelrdquo 196 A partir de uma anaacutelise das legislaccedilotildees educacionais goianas do periacuteodo imperial e republicano notamos que a recomendaccedilatildeo do uso de cartilhas nas classes de ensino primaacuterio esteve presente pela primeira vez nos Programas de ensino para as escolas primaacuterias do estado de 1930 (GOIAacuteS 1930) Anterior a isso em 1884 no Programa de ensino para a aula de instruccedilatildeo primaacuteria do sexo feminino anexo agrave Escola Normal identificamos referecircncia ao uso da cartilha para o ensino de leitura entretanto esse programa natildeo foi adotado em toda proviacutencia goiana

174

o ensino da leitura corrente (CRUS 20 de marccedilo de 1858) Seu uso no ensino de

leitura estaacute associado agrave praacutetica da oralizaccedilatildeo do escrito portanto remonta aos proacuteprios

aspectos de como os Manuais de Doutrina Cristatilde e os Catecismos eram organizados

e como foram concebidos impondo a necessidade de ler oralmente e repetidas

vezes as oraccedilotildees e dogmas catoacutelicos

Nas listas de expediente escolar os livros de conteuacutedo religioso quando natildeo

intitulados apenas de Catecismo tambeacutem foram nomeados como ldquoCatechismos

Historicosrdquo ldquoCompendios de Doutrina ou Cartilhardquo ldquoCatecissimos de Doutrinardquo

ldquoCompendios de Doutrinardquo ldquoCompendios de Doutrina Christatilderdquo ldquoDoutrina Chistatilderdquo

ldquoLivros da Doutrina Christatilderdquo ldquoLivrinhos ndash Cathecismosrdquo ldquoHistoria Sagradardquo ldquoHistoria

Sagrada contendo antigo e novo testamentordquo e ldquoHistoria Sagrada ilustradardquo

Geralmente nas listagens natildeo vinha solicitado um tiacutetulo especiacutefico nem mesmo a

menccedilatildeo ao autor Naquelas em que isso ocorria identificamos os seguintes tiacutetulos

Quadro 4197 Catecismos e ou Livros de Doutrina Cristatilde usados nas escolas goianas 1835-1886

Catechismo Historico resumindo contendo a Doutrina Christatilde traduzida e annotada por Henrique Vellozo de Oliveira Cathecismo do Paraacute Cartilha da Doutrina Christatilde por Antoacutenio J de Mesquita Pimentel Catecissimos de Doutrina por Pinheiro Cathecismo de Henry Cathecismo MontPelier Cathecismos de Fleury Compecircndio da missatildeo de Christo por Joaquim Pinti de Compo

Doutrina pr Barler

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilatildeo Manuscritas Datilografadas e Impressas

Interessante notar que os Catecismos ou Compecircndios de Doutrina Cristatilde eram

pedidos em quantidade bem numerosa geralmente igual a ou maior que o nuacutemero de

outros livros solicitados nas listagens Desse modo podemos considerar que em

Goiaacutes eles foram adquiridos para cada aluno e trabalhados individualmente como

197 Este quadro e o subsequente foram construiacutedos a partir das consultas aos documentos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes os quais estatildeo denominados de listas de expediente escolar cuja referecircncia completa pode ser verificada na seccedilatildeo ldquoFontesrdquo ao final desta tese

175

suporte para o ensino da leitura com fluecircncia e para a propagaccedilatildeo dos dogmas

catoacutelicos198

Esses materiais permaneceram presentes nas escolas goianas ateacute o final do

seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dentre os listados no Quadro 4 um dos Catecismos muito

solicitado pelos professores goianos nas deacutecadas de 1870 a 1890 foi o Catecismo

do Paraacute do Bispo D Antocircnio de Macedo Costa199 da Diocese da Proviacutencia do Gratildeo-

Paraacute ou Paraacute Ele manteve a hegemonia entre as solicitaccedilotildees jaacute que em relaccedilatildeo aos

outros livros esteve em destaque com pedidos volumosos realizados tanto pelos

professores quanto pelos Paacuterocos ou Inspetores Paroquiais O proacuteprio Bispo de

Goiaacutes em 1871 Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo escreveu ao Presidente da

Proviacutencia solicitando a compra de 500 exemplares do Catecismo do Paraacute para serem

distribuiacutedos pelas escolas de primeiras letras da proviacutencia (SIQUEIRA 27 de fevereiro

de 1871 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

Sobre essa obra encontramos poucas referecircncias e ainda natildeo conseguimos ter

acesso a ela Cotejando dados da imprensa paraense especialmente dois nuacutemeros

do Jornal A Regeneraccedilatildeo oacutergatildeo destinado aacute defesa do partido catholico (A

REGENERACcedilAtildeO 14 de marccedilo de 1875 29 de outubro de 1876) e do Cataacutelogo de

Obras Raras da Biblioteca Puacuteblica Arthur Vianna200 tudo indica que esse Catecismo

tinha uma extensatildeo que variava de uma ediccedilatildeo a outra ultrapassando geralmente 200

paacuteginas sendo publicado no exterior mais exatamente na Beacutelgica na Typographia

Zech

198 Eacute importante mencionar que a obra Cathecismo de Agricultura de Antonio de Castro Lopes foi divulgada em Goiaacutes em 1862 conforme atesta os documentos encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Entretanto dentro dos limites de nossa pesquisa natildeo encontramos referecircncia de que esse impresso foi adotado nas escolas goianas (LOPES 1862 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 144) 199 Sobre a vida de Dom Antocircnio de Macedo Costa Azzi (1980) explicita ldquoNascido em Maragogipe proviacutencia da Bahia a 7 de agosto de 1830 D Macedo Costa completou seus estudos eclesiaacutesticos na Franccedila no seminaacuterio de Satildeo Sulpiacutecio seguindo posteriormente para Roma onde se doutorou em direito eclesiaacutestico Ao voltar ao Brasil com trinta anos de idade recebeu a nomeaccedilatildeo para bispo do Paraacute tomando posse da diocese a 10 de agosto de 1861 Durante as trecircs deacutecadas em que esteve agrave frente da diocese D Macedo Costa interessou-se por todas as questotildees mais destacadas referentes agrave aacuterea esclesiaacutestica [] Reafirmou continuamente a vinculaccedilatildeo da Igreja do Brasil com a Santa Seacuterdquo [] Nomeado arcebispo da Bahia em 1890 [] Faleceu em Barbacena para onde se retirara por motivos de sauacutede em princiacutepios do ano seguinte [1891]rdquo (AZZI 1980 p 98-99) 200 A Biblioteca Puacuteblica Arthur Vianna eacute um oacutergatildeo do governo do Paraacute da Fundaccedilatildeo Cultural do Estado do Paraacute O Cataacutelogo de Obras Raras estaacute disponiacutevel na internet pelo link lthttpwwwfcppagovbr2016-11-24-18-22-47catalogo-de-obras-raras-da-biblioteca-arthur -vianna-seculos-xviii-xx-belem-secult-1998-120-pgt Acesso em 01 de junho de 2019

176

Na publicaccedilatildeo da imprensa catoacutelica do Maranhatildeo Civilisaccedilatildeo perioacutedico

Hebomadario Oacutergatildeo dos Interesse Catholicos na ediccedilatildeo de 24 de maio de 1890 haacute

um cataacutelogo de obras do Bispo do Paraacute destacando entre 35 obras de autoria de

Dom Macedo Costa o Catecismo do Paraacute com a seguinte descriccedilatildeo

Ornado de gravuras e exercicios de piedade e com um resumo das obrigaccedilotildees dos diversos estados ndash vesperas do Domingo ndash etc ndash mandado publicar pelo Exm Sr D Antono de Macedo Costa e adotaptado em varias dioceses Jaacute conta 6 ediccedilotildees (CIVILISACcedilAtildeO 24 de maio de 1890 p 3)

Em consonacircncia Tambara (2003) e Orlando (2008) esclarecem que esse

impresso se destacou entre os Catecismos que circularam nas escolas primaacuterias

brasileiras contando com vaacuterias reediccedilotildees e reimpressotildees

Ao procurarmos os motivos que levaram agrave alta circulaccedilatildeo apontada do

Catecismo do Paraacute nas escolas brasileiras e principalmente na proviacutencia goiana

algumas hipoacuteteses podem ser arquitetadas considerando quem foi o seu autor e sua

participaccedilatildeo nos cenaacuterios poliacutetico e religioso brasileiro

Azzi (1999) informa que Dom Antocircnio de Macedo Costa destacou-se como uma

das figuras importantes da Igreja no Brasil sendo uma das lideranccedilas esclesiaacutesticas

mais influentes quando a Repuacuteblica foi proclamada O autor demonstra tambeacutem a

influecircncia desse Bispo durante o Impeacuterio de modo que ele conseguiu transitar entre

um regime e outro alcanccedilando apoio poliacutetico para participar junto ao governo

republicano de iniciativas do projeto de separaccedilatildeo entre o Clero e o Estado de modo

que a ldquoaceitaccedilatildeo paciacutefica do advento da Repuacuteblica em 1889 por parte da Igreja do

Brasil deve-se ao esforccedilo ingente do Bispo do Paraacuterdquo (AZZI 1976 p 52)

A Diocese de Goiaacutes estabeleceu com a Diocese do Paraacute vaacuterias relaccedilotildees

eclesiaacutesticas O Bispo de Goiaacutes Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo que ficou agrave

frente da Diocese entre 1865 a 1877 nasceu na Proviacutencia do Gratildeo-Paraacute e

[] admitido como pobre no seminaacuterio em Beleacutem entre outros cargos civis ocupou o de Diretor Geral de Iacutendios Ademais o sacerdote exerceu importantes funccedilotildees na Igreja da regiatildeo e de Goiaacutes Azevedo foi vigaacuterio geral e reitor do seminaacuterio do Amazonas posiccedilotildees tambeacutem ocupadas no Paraacute Segundo D Alberto Gaudecircncio Ramos (1952)201 no Paraacute Azevedo foi nomeado Vigaacuterio Geral de Beleacutem sendo em 1866 sagrado Bispo de Goiaacutes por D Macedo Costa Foi a primeira sagraccedilatildeo episcopal na Amazocircnia (p 42-43) Envolvido diretamente com a formaccedilatildeo religiosa de seu rebanho visitou grande parte da

201 A obra de Ramos (1952) citada por Rizzini (2004) eacute a Cronologia eclesiaacutestica da Amazocircnia publicada em Manaus em 1952 por Dom Alberto Gaudecircncio Ramos

177

Diocese fundou o Seminaacuterio diocesano onde era professor e ensinava o catecismo nas escolas (RIZZINI 2004 p 53)

Fonseca e Silva (1948) destaca que durante o patroado de Dom Macedo

Costa em 1868 o Bispo de Goiaacutes Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo foi ateacute o

Paraacute com intuito de tratar ldquoacerca da ida de meninos para os seminaacuterios na Europa

que por concessatildeo de Pio IX foram postos agrave disposiccedilatildeo do mencionado Sr Bispo do

Paraacuterdquo (FONSECA E SILVA 1948 p 218) Nessa viagem tambeacutem pretendeu obter

meios para erigir o Seminaacuterio Episcopal goiano (FONSECA E SILVA 1948) Pelo

exposto notamos que Dom Macedo Costa tinha relaccedilotildees muito proacuteximas com a Santa

Seacute o que lhe possibilitava ter recursos financeiros para projetos eclesiaacutesticos

incluindo neles empreendimentos editoriais colocando-o entre as figuras notaacuteveis de

Bispos brasileiros que publicaram livros de doutrina cristatilde dirigidos para a mocidade

no seacuteculo XIX

Isso posto consideramos que a apropriaccedilatildeo e uso dos Catecismos eou Livros

de Doutrina Cristatilde na educaccedilatildeo brasileira colaborou para a conformaccedilatildeo de um

modelo escolar para civilizaccedilatildeo dos costumes e dos espiacuteritos com indiviacuteduos

obedientes agraves regras da Igreja e do Estado (OLIVEIRA CORREcircA 2006 ANJOS

2016)

Aleacutem dos Catecismos satildeo citadas em nuacutemero menor geralmente um ou dois

exemplares obras que devido agrave quantidade acreditamos que foram de uso do

professor para serem aplicadas oralmente em sala de aula no ensino da leitura ao

mesmo tempo que transmitiam conhecimentos escolares de uma disciplina curricular

Jaacute que nas listas natildeo haacute a menccedilatildeo de que elas satildeo para a escola primaacuteria ou a

secundaacuteria e sabendo que no periacuteodo em questatildeo como relatamos natildeo havia muitas

salas abertas de ensino secundaacuterio enumeramos todas as obras encontradas uma

vez que se natildeo foram usadas propriamente para o ensino inicial da leitura e escrita

circularam nas escolas difundindo saberes e praacuteticas entre os professores

Quadro 5202 Livros ou Manuais usados nas escolas goianas 1835-1886

Arithmetica Ascanio Ferraz

Arithmetica de Anila

Arithmetica de Lobato

Arithmetica de Ottoni

202 Natildeo foram inseridos nesse Quadro os Atlas Mapas e os livros de liacutengua estrangeira

178

Arithmeticas de Saacute

Bibliotheca Juvenil de Barler

Cartas Sellectas de Pe Vieira

Chorographia histoacuterica do imperio do Brasil pelo Doutor

Alexandre Joseacute de Mello Moraes

Compecircndio de gramaacutetica nacional

Compendios de Arithimetica

Compendios de Arithmetica Ascanio Ferraz

Compendios de Historia Universal

Compendios de systhema Metrico

Compendios para leitura

Desenho linear ou elementar de Geometria Pratica

Diccionario de Moraes

Geographia de Pompeu

Geographias da Mocidade

Geometrias de Euclides

Geometrias de Ottoni

Gramaticas portuguesas por Conego Ferns

Grammaticas

Grammaticas latinas de A Pereira

Grammatica portuguesa pr J Alexandre e Silva Paz

Historia do Brasil pr Belligarde

Historia do Brasil por Caruja

Historia do Brazil

Historia moderna por Tantephens

Iris Classico

Litteratura de Basmalem

Litteraturas de Noel

Livros de Coruja

Livros de J Alexandre

Livros de leitura

Manual dos Estudantes

Manual encyclopedico de Monte-Verde

Noccedilotildees de Geographia

Os Lusiacuteadas de Camotildees

Philosophia de Germes

Resumo da Grammatica latina pr Figueiredo

Retoricas de Meneses

Retoricas por Freire de Carvalho

Sciencia do Bom Homem Ricardo

Poesias escolhidas

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressas

179

Como observado relacionamos alguns livros que provavelmente natildeo eram

usados para as crianccedilas aprenderem a ler e escrever pois seus conteuacutedos remetem

a ensinamentos da instruccedilatildeo secundaacuteria poreacutem a apropriaccedilatildeo desses nos fazeres

pedagoacutegicos carece de pesquisas para adentrar o campo dos usos e das praacuteticas

com os impressos em sala de aula Valdez (2004) sinaliza algumas pistas acerca

dessa questatildeo elucidando que no Brasil oitocentista poucos eram os livros escritos

para as crianccedilas especialmente livros para uso escolar O que se utilizava ldquoeram os

claacutessicos da literatura internacional e as crianccedilas aprendiam a leitura nos abecedaacuterios

em toscas cartilhas papeacuteis de cartoacuterios e cartas manuscritas que professores e pais

de alunos forneciamrdquo (VALDEZ 2004 p 2)

Dentre os livros inventariados no Quadro 5 destaca-se a obra Sciencia do bom

homem Ricardo sempre solicitada em quantidade avolumada inclusive

desproporcional aos demais livros Agrave guisa de exemplo temos o caso de ela fazer

parte da relaccedilatildeo de objetos remetida pela Tesouraria de Rendas Provinciais de Goiaacutes

entregue ao Inspetor Geral interino da Instruccedilatildeo Puacuteblica da eacutepoca em 14 de fevereiro

de 1859 Segundo consta no documento em virtude de portaria do Governo da

Proviacutencia o Inspetor seria o responsaacutevel por distribuir os materiais nas escolas

Sciencia do bom homem Ricardo foi remetido em quantia de 100 exemplares que se

comparada com as quantidades enviadas dos outros livros de leitura203 representa

uma desproporcionalidade (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE

GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

O texto Sciencia do bom homem Ricardo tambeacutem eacute citado na lista de materiais

para aplicaccedilatildeo do Meacutetodo Castilho nas escolas goianas pelo professor Feliciano

Primo Jardim o que seraacute tratado na proacutexima seccedilatildeo Esses elementos por si datildeo

pistas de que o impresso circulou nas aulas de leitura das escolas de instruccedilatildeo

primaacuteria de Goiaacutes por dois motivos primeiro pelo fato de que o Meacutetodo Castilho era

sobretudo voltado para o aprendizado inicial da leitura e segundo porque a

quantidade de exemplares remetida pelo governo em 1859 foi expressiva o que natildeo

justificaria ser destinada ao Liceu uacutenica escola de ensino secundaacuterio naquele periacuteodo

que mantinha 77 alunos matriculados conforme eacute apontado no Relatoacuterio do

203 A maioria dos livros enviados com exceccedilatildeo das Cartas e dos Catecismos eram 1 2 ou 3 exemplares chegando no maacuteximo a 10

180

Presidente Cerqueira (1859a) Aleacutem do mais o mesmo presidente em 1858 registra

essa accedilatildeo de compra de livros para serem distribuiacutedos nas escolas da Proviacutencia

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1858)

Arriada Tambara e Duarte (2015) explicam que essa obra foi difundida em todo

o Impeacuterio ldquoElaborada a partir do Almanaque do Pobre Ricardo ndash Poor Richardrsquos

almanacks ndash publicado anualmente por Benjamin Franklin com a idade de 26 anos a

partir de 1732 a 1758 o autor usava o pseudocircnimo de Ricardo Saundersrdquo (ARRIADA

TAMBARA DUARTE 2015 p 244) Arriada (2002) expotildee que esse Almanaque era

uma espeacutecie de perioacutedico que circulou nos Estados Unidos da Ameacuterica atingindo um

grupo de leitores pelo mundo todo Escrito em 1757 e publicado pela primeira vez no

Almanaque em 1758 Sciencia do bom homem Ricardo recebeu diversas traduccedilotildees

sobretudo nos paiacuteses da Europa e na Ameacuterica (ARRIADA TAMBARA DUARTE

2015)

Em Portugal o texto foi publicado por Monteverde (18--) no Methodo Facillimo

para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo na seccedilatildeo de liccedilotildees para treino da leitura204 com o tiacutetulo ldquoA sciencia do bom

homem Ricardo ou meio de adquirir fortunardquo Nesse mesmo paiacutes houve outra versatildeo

datada de 1825 e lanccedilada pela Tipografia da Sociedade Propagadora dos

Conhecimento Uacuteteis em Lisboa205 Com o tiacutetulo A sciencia do bom homem Ricardo

ou meio de fazer fortuna o livro tem 16 paacuteginas traz na iacutentegra o texto de Franklin e

na uacuteltima folha uma taacutebua de multiplicaccedilatildeo de Pitaacutegoras

A partir da publicaccedilatildeo de Arriada Tambara e Duarte (2015) que expocircs uma

capa da ediccedilatildeo brasileira de 1884 sabemos que essa obra tambeacutem foi impressa no

Rio de Janeiro pela Livraria de Nicolau Alves intitulada A sciencia do bom homem

Ricardo ou o Caminho da fortuna

Como se nota Sciencia do bom homem Ricardo natildeo foi um texto escrito para

o uso escolar mas os preceitos ali publicados foram acolhidos pela escola jaacute que o

204 Na ediccedilatildeo de Monteverde (18--) que utilizamos nesta tese o texto de Benjamin Franklin estaacute publicado entre as paacuteginas 139 a 146 assinado com o pseudocircnimo de Franklin Ricardo Saudners Na obra consultada provavelmente por questatildeo de traduccedilatildeo estaacute grafado diferente do pseudocircnimo Ricardo Saunders conforme informado por Arriada Tambara e Duarte (2015) Apoacutes o tiacutetulo do texto Monteverde lanccedila uma nota de rodapeacute indicando que o texto foi extraiacutedo da obra ldquodo sabio BENJAMIM FRANKLIN intitulada La Science du Bon Homme Richardrdquo (MONTEVERDE 18-- p 139) 205 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt14349gt Acesso em 22 de maio de 2019 A obra tem dimensatildeo fiacutesica de 15 x 125 cm

181

discurso empreendido colaborava para a introjeccedilatildeo de uma mentalidade capitalista

proacutepria do Ocidente Esse fato justifica sua circulaccedilatildeo entre tantos paiacuteses (ARRIADA

2002 ARRIADA TAMBARA DUARTE 2015 NASCIMENTO SALES 2014)

A narrativa eacute quase um sermatildeo feito pelo Anciatildeo Abrahatildeo a respeito das

caracteriacutesticas de um cidadatildeo que por meio do seu trabalho consegue obter sucesso

financeiro Contra a preguiccedila defendendo uma postura de trabalhador persistente e

econocircmico o Anciatildeo retoma as maacuteximas do ldquoBom Homem Ricardordquo discursando

sobre as caracteriacutesticas de um cidadatildeo prudente

Conservemos pois a nossa liberdade e a nossa independencia Sejacircmos laboriosos e livres sejamos economicos e independentes Talvez julguem algumas pessoas que me estatildeo ouvindo acharem-se nrsquoum estado tal de opulencia que lhes permitte satisfazer aacutes suas fantasias mas eacute preciso poupar a fim de estar previnido natildeo soacute para o tempo da velhice mas tambem para qualquer adversidade que possa sobreviver ldquoO Sol da manhatilde natildeo dura todo diardquo ldquoO ganho eacute incerto e eventual mas a despeza eacute certa durante toda a vidardquo ldquoEacute mais facil derrubar duas chamineacutes do que conservar uma soacute com lume como diz o BOM HOMEM RICARDOrdquo (FRANKLIN apud MONTEVERDE 18-- p 145-146 grifos do autor)

O texto traz alguns juiacutezos de valor subjacentes e o principal eacute que o bom

cidadatildeo paga os seus impostos e auxilia na manutenccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico Tambeacutem

que os mais velhos tecircm muito o que ensinar portanto deve haver disposiccedilatildeo em ouvir

seus ensinamentos atentamente Pelo conteuacutedo exposto fica evidente que esse texto

escolar foi suporte ldquopara a aquisiccedilatildeo da leitura e para a constituiccedilatildeo da mentalidade

moral e ciacutevica do novo homem necessaacuterio ao estaacutegio de desenvolvimento econocircmico-

social do Impeacuterio brasileirordquo (ARRIADA TAMBARA DUARTE 2015 p 250)

Voltando ao Quadro 5 os Compecircndios para Leitura e os Livros de Leitura

destacaram-se pela quantidade de solicitaccedilotildees e ou envios em relaccedilatildeo agraves outras

obras especialmente a partir dos anos de 1870 quando os livros de Abiacutelio Ceacutesar

Borges o Baratildeo de Macauacutebas foram difundidos na proviacutencia goiana Nas listas

inventariadas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes quando essas duas

denominaccedilotildees apareciam natildeo se estava referindo ao autor e ou tiacutetulo da obra o que

denota que se dava mais importacircncia ao impresso em si do que agrave figura do autor de

um livro e seu meacutetodo

Ao demarcamos portanto o periacuteodo abrangido pela pesquisa sobre os

materiais impressos que circularam nas aulas de instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes ao

regime imperial natildeo estamos condicionando que tudo de que tratamos se encerrou

182

nesse periacuteodo Pelo contraacuterio muito do que circulou entre 1835 e 1886 esteve

revigorado nas salas de aula goianas na Repuacuteblica dialogando efetivamente com os

acontecimentos e praacuteticas de ensino de leitura e escrita em acircmbito nacional Delimitar

a temporalidade dessa histoacuteria natildeo significa colocar rupturas totais e sim demonstrar

que em determinados momentos os fazeres pedagoacutegicos estiveram influenciados

por mentalidades que constituiacuteram modos diferentes de pensar e atuar sobre o ato de

ler e escrever em sala de aula e por que natildeo tambeacutem fora dela

33 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

Como enfatizado no decorrer desta seccedilatildeo alguns dos livros aprovados e que

circularam pelo Municiacutepio da Corte influenciaram a organizaccedilatildeo dos meacutetodos de

ensino e de alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes o que corrobora nossa tese de estudo em que

defendemos que a proviacutencia goiana esteve inserida no contexto dos ideaacuterios de

modernidade que circulavam no paiacutes especialmente no campo do ensino inicial de

leitura e escrita Dessa maneira a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes no periacuteodo

imperial esteve em sintonia com as transformaccedilotildees e com as iniciativas educacionais

do paiacutes e sob forte influecircncia europeia

Nas consideraccedilotildees parciais desta seccedilatildeo retomaremos os aspectos tratados

nos itens anteriores a partir de trecircs apontamentos os quais consideramos pertinentes

para a compreensatildeo do nosso objeto de estudos ao mesmo tempo que fundamentam

nossa tese

1) Os impressos que circularam em Goiaacutes no periacuteodo imperial em sua grande

maioria satildeo produccedilotildees estrangeiras

Pensar os meacutetodos de ensino de leitura e escrita a partir dos impressos eacute algo

muito comum na historiografia da alfabetizaccedilatildeo (MORTATTI 2000 2011 2019) De

antematildeo eacute importante ressaltar que natildeo fugimos dessa loacutegica como o leitor pode

constatar por um motivo fatiacutedico nossa paixatildeo pela investigaccedilatildeo historiograacutefica dos

livros escolares Os misteacuterios que rondam essas publicaccedilotildees antigas e a busca por

desvelaacute-los nos motivaram para trazer o impresso como principal fonte na constituiccedilatildeo

desta tese Ateacute tentamos escapar dessa previsibilidade todavia na disputa entre a

relevacircncia cientiacutefica e o teor acadecircmico versus a subjetividade do ser pesquisador

183

trazer os livros como mote para essa investigaccedilatildeo foi inelutaacutevel na ldquoarenardquo206 da

construccedilatildeo de um trabalho de doutoramento que decirc prazer de escrever

Dito isso retomando os livros listados nessa seccedilatildeo notamos que os impressos

que circularam no intervalo entre 1835 e 1886 nas escolas goianas foram publicaccedilotildees

principalmente advindas da Europa e da Ameacuterica do Norte sendo obras que tambeacutem

circularam no Municiacutepio da Corte e em outras proviacutencias brasileiras

Nesse periacuteodo houve um discurso oficial mantido pelos Presidentes de

Proviacutencia marcado pela escassez de recursos para a manutenccedilatildeo das despesas da

instruccedilatildeo puacuteblica e consequentemente um pessimismo que enfatizava as

dificuldades da proviacutencia em avanccedilar nas questotildees do ensino Vaacuterios argumentos

foram arrolados nos Relatoacuterios dirigidos agrave Assembleia Legislativa Provincia

ressaltando que a falta de uma escola de formaccedilatildeo de professores ndash a Escola Normal

ndash e de livros para disseminaccedilatildeo dos novos modos de ensinar eram fatores

preponderantes para o atraso da instruccedilatildeo puacuteblica goiana O que se constata todavia

nas listas de expediente escolar analisadas eacute que muitos materiais para apoiar o

ensino de leitura e escrita que circularam durante o Impeacuterio brasileiro e foram enviados

agraves escolas de primeiras letras goianas aplicavam o antigo meacutetodo individual e o uso

das Cartas de ABC Tal meacutetodo era influenciado pelas praacuteticas de catequizaccedilatildeo

especialmente utilizadas nos Catecismos ou nos Manuais de Doutrina Cristatilde

organizados no formato de perguntas e respostas curtas

Natildeo podemos esquecer que o sertatildeo goiano era habitado por indiacutegenas antes

da chegada dos Bandeirantes paulistas que utilizando estrateacutegias de dominaccedilatildeo

infiltraram-se na vida dos iacutendios miscigenando natildeo somente a raccedila como tambeacutem as

suas caracteriacutesticas culturais e sociais (PALACIacuteN 1994) Portanto podemos

conjecturar que o meacutetodo de catequizaccedilatildeo dos iacutendios e de ensino em liacutengua

portuguesa utilizado pelos Padres ldquofundou uma tradiccedilatildeordquo207 no ensino de leitura e

escrita nas terras goianas que se arrastou desde o seacuteculo XVIII Por esse motivo era

tatildeo difiacutecil se desvincular das praacuteticas escolares com o denominado meacutetodo individual

O Presidente Francisco Januario de Gama Cerqueira (1858) em um dos seus

discursos analisados nesta seccedilatildeo chegou a constatar que os docentes na proviacutencia

206 Esta palavraconceito estaacute sendo utilizada aqui nos termos de Valentin Voloacutechinov conforme jaacute enunciamos na Introduccedilatildeo da tese 207 Tomamos essa expressatildeo de empreacutestimo de Mortatti (2000)

184

goiana ensinavam tal como aprenderam e em funccedilatildeo disso natildeo abriam matildeo de

alguns meacutetodos seculares

No que compete ao ensino de leitura e escrita em nenhuma das leis ou

recomendaccedilotildees entre 1835 e 1886 eacute indicado especificamente um meacutetodo A partir

de uma consulta aos mapas de turmas enviados pelos professores pelas listagens

dos objetos enviados por solicitaccedilatildeo das escolas de primeiras letras dos relatoacuterios de

Inspetores e correspondecircncias entre Inspetores e os Presidentes de Proviacutencia todos

documentos inventariados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes foi possiacutevel

analisar que na proviacutencia no periacuteodo imperial ensinava-se leitura e escrita pelos

meacutetodos de marcha sinteacutetica especialmente o de soletraccedilatildeo ou de silabaccedilatildeo

Nesta seccedilatildeo analisamos alguns livros portugueses que circularam no ensino

de leitura em Goiaacutes com destaque para os tiacutetulos Methodo Facillimo para aprender

a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo

(MONTERVERDE 18--) o Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os

primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa

(1785) e O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna escrito

por Luiz Francisco Midosi (MIDOSI 1831)

Entre os livros analisados houve tambeacutem um produzido primeiramente na

Franccedila e depois traduzido para o portuguecircs Pequeno Cathecismo Historico contendo

em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde escrito pelo francecircs Abade

Claude Fleury (FLEURY 1846)

Aleacutem desses impressos de origem portuguesa e francesa notadamente

influenciou a instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes o texto norte-americano de leitura Sciencia

do Bom Homem Ricardo (FRANKLIN 18--)

Destacamos obras direcionadas especificamente ao mercado escolar

brasileiro Antonio Pinheiro de Aguiar Victor Renault e Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo

de Macauacutebas

Para o ensino de escrita evidenciamos as coleccedilotildees de Traslados modelos

tambeacutem importados das escolas da Europa

Essas obras nos datildeo indiacutecios de possiacuteveis praacuteticas de ensino inicial de leitura

e escrita na proviacutencia goiana Embora houvesse tentativas de alguns desses autores

de fugir da fundamentaccedilatildeo de um meacutetodo de ensino de leitura tradicional cansativo

para os alunos e com um processo demorado para a aprendizagem o que vemos satildeo

os convencionais meacutetodos de soletraccedilatildeo eou silabaccedilatildeo reconfigurados por tentativas

185

de uma pseudomudanccedila por meio de figuras ou adornos que datildeo ao impresso um

tom de modernidade

As Cartas foram empregadas como material de apoio para essas praacuteticas pelo

meacutetodo de soletraccedilatildeo ou silabaccedilatildeo sendo o impresso mais solicitado pelos

professores eou enviado pelo governo agraves escolas na proviacutencia goiana O estudo que

fizemos tanto das listas de expediente escolar quanto dos mapas de turmas

encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nos permite afirmar que existiam

diferentes tipos de Cartas que indicavam uma sequencialidade no uso pela gradaccedilatildeo

do aprendizado das letras para as siacutelabas das siacutelabas para as palavras das palavras

para as frasestextos

Os textos que compunham essas Cartas e os outros impressos tinham um

caraacuteter religioso e eram fortemente caracterizados pelo meacutetodo de perguntas e

respostas curtas tiacutepico dos Catecismos e das aulas de Doutrina Cristatilde que tambeacutem

remontam agraves praacuteticas de ensino individual Esses textos eram utilizados para

divulgaccedilatildeo de conformismo do cidadatildeo agraves regras sociais impostas pelo Impeacuterio e

introjeccedilatildeo das condutas tiacutepicas da Doutrina da Igreja Catoacutelica

2) Os impressos que circularam em Goiaacutes tinham a intenccedilatildeo de inculcar um

comportamento social da cultura civilizada para formaccedilatildeo de uma sociedade que

aspirava agrave modernidade

Os esforccedilos para reversatildeo do panorama da instruccedilatildeo puacuteblica goiana se

mantiveram durante o periacuteodo analisado sobretudo em iniciativas no acircmbito da

legislaccedilatildeo e do envio de materiais escolares para as escolas Apoiados no estudo de

Abreu (2006) constatamos que a primeira lei goiana sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

promulgada em 1835 marcou a institucionalizaccedilatildeo das praacuteticas escolares em Goiaacutes

inaugurando ao mesmo tempo a profissionalizaccedilatildeo docente e a tentativa de

cristalizaccedilatildeo de meacutetodos e comportamentos na escola Do mesmo modo os

Regulamentos de Ensino aprovados durante todo o periacuteodo imperial enfatizaram a

influecircncia da Igreja Catoacutelica nos modos de pensar e fazer o ensino Essa influecircncia

estava comprovadamente legislada nas normativas condutoras da educaccedilatildeo goiana

que exigiam os conhecimentos religiosos nas aulas e nos concursos para professores

bem como nos impressos que circularam nas escolas durante o periacuteodo em questatildeo

e se baseavam especialmente na Doutrina Cristatilde eou nas narrativas biacuteblicas Aqui

eacute importante lembrar que na deacutecada de 1850 houve a recomendaccedilatildeo de que os

186

padres ficassem responsaacuteveis por ensinar as noccedilotildees elementares de leitura e de

educaccedilatildeo religiosa agrave mocidade principalmente nos municiacutepios com maior dificuldade

financeira

Ressaltamos nesta seccedilatildeo o uso dos Catecismos e dos livros de Doutrina

Cristatilde durante o Impeacuterio nas escolas da proviacutencia goiana entre os quais se destaca o

Catecismo do Paraacute publicado pelo Bispo Dom Antocircnio de Macedo Costa Os livros

com enfoque religioso tinham conteuacutedos para formaccedilatildeo de um cidadatildeo ainda aos

moldes coloniais que submissos agrave tradiccedilatildeo religiosa aos pais e ao Estado se

conformavam com uma vida simples e agrave civilizaccedilatildeo dos costumes dos haacutebitos e

valores

A populaccedilatildeo em Goiaacutes nesse periacuteodo era maiormente rural o que contribuiu

para que circulasse o ideaacuterio da necessidade da instruccedilatildeo para livrar a crianccedila da

aculturaccedilatildeo aproximando-a da leitura escrita religiatildeo e da aritmeacutetica como forma de

transformaccedilatildeo social e cultural da proviacutencia Enfim esse ideaacuterio de modernidade fez

com que Goiaacutes no advento dos anos 70 do seacuteculo XIX comeccedilasse a dar ecircnfase maior

ao uso do livro nas praacuteticas escolares ateacute mesmo legislando sobre quais compecircndios

deveriam ser usados nas escolas puacuteblicas ou particulares na proviacutencia Essa ecircnfase

associada agrave expansatildeo do mercado livresco brasileiro marcou enfaticamente a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo goiana pelo uso de livros de leitura e de outros impressos como

condiccedilatildeo para a efetividade do ensino de leitura e escrita

3) A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir de 1870 passou por diferentes

transformaccedilotildees devido ao contexto nacional do mercado editorial e das legislaccedilotildees

que vigoravam na proviacutencia

Um dos marcos na histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes conforme evidenciamos na

seccedilatildeo anterior foi a publicaccedilatildeo da Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 o

Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes de 1869

(GOIAacuteS 1869) Diferente do que se estabelecia ateacute entatildeo foi evidenciado o uso dos

livros nas praacuteticas escolares repercutindo em maior divulgaccedilatildeo e circulaccedilatildeo de livros

de leitura cartilhas e manuais de ensino no territoacuterio goiano o que

consequentemente ocasionou uma visatildeo diferente sobre as praacuteticas do ensino inicial

de leitura e escrita A partir dos anos 70 do seacuteculo XIX ocorreu a entrada de

diferentes impressos para alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas que permitiram a circulaccedilatildeo de

ideaacuterios de um ensino moderno que almejava romper com a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de

187

soletraccedilatildeo Apontamos nesta seccedilatildeo da tese vaacuterias publicaccedilotildees e iniciativas que

colocaram a proviacutencia em diaacutelogo com o que estava ocorrendo e sendo difundido na

Corte e no paiacutes como um todo

A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes oitocentista natildeo estava isolada do

contexto nacional nem tampouco descolada do anelo de implementar o que havia de

mais moderno no Brasil Doravante os dois capiacutetulos que seguem na organizaccedilatildeo

desta tese focalizam as iniciativas que colaboram para ratificar e fundamentar a

afirmaccedilatildeo anterior destacando tanto a questatildeo da circulaccedilatildeo de saberes escolares

advindos de uma publicaccedilatildeo portuguesa quanto da adoccedilatildeo de livros eminentemente

brasileiros para alfabetizaccedilatildeo

188

4 O MEacuteTODO CASTILHO NA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS

___________________________________

Em 1855 destaca-se uma iniciativa financiada pelo governo da proviacutencia de

Goiaacutes de enviar ao Rio de Janeiro um professor para conhecer o meacutetodo Castilho a

fim de propagaacute-lo nas escolas goianas O entatildeo Presidente da Proviacutencia Antonio

Candido da Cruz Machado tendo notiacutecias do sucesso do meacutetodo Castilho para o

ensino raacutepido da leitura e escrita e diante da situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica na

proviacutencia enviou ao Municiacutepio da Corte o professor Feliciano Primo Jardim

Tendo-se reconhecido a vantagem do methodo de ensinar a ler e escrever que o conselheiro Antonio Feliciano de Castilho estaacute propagando na capital do imperio e considerando que o professor da 1ordf aula de instrucccedilatildeo primaria desta cidade Feliciano Primo Jardim por sua intelligencia applicaccedilatildeo zecirclo e bocirca conducta estava nas circunstancias de bem comprehende-lo e pocirc-lo em pratica nacuteesta provincia e convindo que fosse estuda-lo com o proprio autor resolvi por acto de 21 de julho incumbi-lo dessa commissatildeo com a gratificaccedilatildeo mensal de 100$000 reacuteis e marquei-lhe o prazo de oito mezes para ida estada e volta ficando o mesmo obrigado a natildeo pedir demissatildeo do emprego trez annos depois e a ensinar pelo referido methodo como fosse determinado pelo governo incumbi-o tambem de examinar os compendios admittidos no ensino primario da cocircrte quer pelo methodo Castilho quer pelo actual e de enviar um relatorio circunstanciado em que mencione o preccedilo e quantidade dos compendios e mais objectos que forem precisos Tinha de submetter este acto aacute aprovaccedilatildeo da assemblea legislativa provincial (MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855 p 23-24)

189

Em Goiaacutes no periacuteodo em questatildeo o meacutetodo individual estava em voga sendo

considerado por muitos Presidentes da proviacutencia como um dos motivos pelo atraso

do ensino Como jaacute elucidamos nas seccedilotildees anteriores pouco circulavam nas escolas

goianas de primeiras letras manuais ou outros impressos que subsidiassem o ensino

de leitura e escrita Os livros que os professores tinham para lecionar estavam

geralmente calcados num vieacutes religioso que reproduzia um ensino pelo modelo de

perguntas e respostas remetendo a uma forma individual e catequeacutetica Entretanto

mesmo sob o domiacutenio da Igreja no campo educacional e com uma grande

concentraccedilatildeo de populaccedilatildeo no meio rural o excerto acima do relatoacuterio do Presidente

Antonio Candido da Cruz Machado mostra uma iniciativa que buscava inserir na

proviacutencia uma nova tendecircncia pedagoacutegica de alfabetizaccedilatildeo que circulava na Corte o

que tambeacutem ratifica a tese deste trabalho e abre a discussatildeo dessa seccedilatildeo

Machado submeteu a proposta de enviar Primo Jardim ao Rio de Janeiro para

aprovaccedilatildeo da Assembleia Legislativa Provincial em 01 de setembro de 1855 somente

para cumprir um protocolo legal legitimando a sua iniciativa jaacute que havia determinado

e autorizado a viagem por meio de Resoluccedilatildeo Provincial de 21 de julho de 1855

(MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855)

A presidecircncia conseguiu o aval da Assembleia que colocou a referida

resoluccedilatildeo em votaccedilatildeo aprovando-a em 6 de novembro de 1855 (GOIAacuteS 1855b)

sendo ela sancionada pelo sucessor de Machado o Presidente Antonio Augusto

Pereira da Cunha como foi registrado em trecircs passagens do jornal O Tocantins em

dezembro de 1855 (O TOCANTINS 08 de dezembro de 1855 p 1 15 de dezembro

de 1855 p 4 22 de dezembro 1855 p 2)208

Boto e Albuquerque (2018) explicitam que em 1855 foi ofertado pelo proacuteprio

Castilho no Rio de Janeiro um curso a respeito do seu meacutetodo ao qual foram

enviados representantes de vaacuterias proviacutencias do paiacutes De acordo com Arauacutejo e Silva

(1975) a ideia que circulava naquele momento na proviacutencia goiana era de que os

meacutetodos de ensino natildeo tinham grande efetividade eram muito lentos para as crianccedilas

aprenderem a ler e escrever e consequentemente seus pais natildeo as mantinham na

escola pois elas eram necessaacuterias na execuccedilatildeo de pequenos serviccedilos em casa ou

no trabalho Nesse sentido a propaganda difundida no Brasil e em Portugal sobre o

208 O Jornal O Tocantins ediccedilatildeo de 1855 estaacute transcrito e divulgado no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01)

190

meacutetodo Castilho era de que ele conseguia de maneira raacutepida e agradaacutevel ensinar a

ler e escrever e tinha por base a organizaccedilatildeo didaacutetica de ensino simultacircneo sendo

portanto uma alternativa para dirimir os problemas na instruccedilatildeo puacuteblica goiana

O meacutetodo Castilho foi criado pelo portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho Tem

origem em 1848 sendo publicado em Portugal em 1850 sob o tiacutetulo Leitura Repentina

ndash Methodo para em poucas liccedilotildees se ensinar a ler com recreaccedilatildeo de mestres e

disciacutepulos (FERREIRA 2010) Castilho graduou-se em Direito pela Universidade de

Coimbra dedicando-se agrave advocacia e agrave escrita poeacutetica em 1847 reavivou o perioacutedico

O Agricultor Michaelense que circulava na Ilha de Satildeo Miguel onde deparou com

uma situaccedilatildeo da privaccedilatildeo de leitura dos camponeses ndash alguns tinham acesso apenas

a esse jornal destinado especificamente a esse puacuteblico outros natildeo liam ou escreviam

(DIAS 2000) Sobre isso no Proacutelogo da sua obra Castilho esclarece

Qual eacute a istoria drsquoeste metodo O qe eacute este metodo De qem eacute este metodo [] Achava-me eu na ilha de S Miguel pertencia aacute Sociedade Promotora da Agricultura tratava-se em sessatildeo de Janeiro ou Fevereiro de 48 da sua conveniencia antes necessidade de se crearem escolas ruraes de primeiras letras Ofereci-me eu aacute falta de outrem a tentar para isso alguma facilitaccedilatildeo qe jaacute de muito andava estrevendo aceitou-se e registou-se a promessa por ventura leviana e fiqei por minha palavra obrigado pelo menos a diligenciar ateacute onde as forccedilas mrsquoo consentissem (CASTILHO 1853 p XXVII-XXVIII)

Para Dias (2000) o meacutetodo Castilho surge aiacute a partir de um compromisso

social e uma questatildeo didaacutetica que o autor levantou na eacutepoca qual o melhor e eficaz

meacutetodo para ensinar a ler e escrever

Boto (1997) avalia que Castilho inseriu no debate educacional portuguecircs nos

anos 50 do seacuteculo XIX a temaacutetica dos meacutetodos e teacutecnicas mais adequados para o

ensino polemizando aspectos ateacute entatildeo natildeo discutidos e por isso as reaccedilotildees criacuteticas

contra suas ideias foram amplamente divulgadas o que provocou a natildeo oficializaccedilatildeo

do meacutetodo em Portugal

A autora ainda destaca que Castilho fez uma extensa campanha no territoacuterio

lusitano em defesa do seu meacutetodo oferecendo cursos aos professores primaacuterios

escrevendo para perioacutedicos em resposta aos ataques sofridos jaacute que as criacuteticas iam

desde acusaccedilotildees de plaacutegio agrave contestaccedilatildeo da funcionalidade da proposta pois o

acusavam de uma negaccedilatildeo da tradiccedilatildeo nacional dos padrotildees ortograacuteficos da liacutengua

portuguesa (BOTO 1997)

191

Apoacutes a primeira ediccedilatildeo do livro em 1850 o autor produziu uma segunda em

1853 ampliando a obra e modificando seu tiacutetulo para Metodo Castilho para o ensino

rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever O autor

intitulou o meacutetodo com o seu nome para conferir-lhe a autoria jaacute que na primeira

ediccedilatildeo alvo de muitas criacuteticas em Portugal tratava-se de uma versatildeo melhorada do

meacutetodo do pedagogo francecircs Lemare209 (BOTO ALBUQUERQUE 2018) Dias (2000)

avalia ambos os meacutetodos o de Castilho e o de Lemare constatando que embora haja

aproximaccedilotildees ldquonatildeo haacute nem coacutepia nem plaacutegio no verdadeiro sentido dos termos

penso que poderiacuteamos afirmar que um serviu de matildee ao outrordquo (DIAS 2000 p 477)

Nesta seccedilatildeo utilizaremos para anaacutelise a segunda ediccedilatildeo da obra pois acreditamos ter

sido a que circulou em Goiaacutes jaacute que a terceira data de 1857 (BOTO 1997)

Publicado pela Imprensa Nacional em Lisboa com 319 paacuteginas210 o livro

apresenta inicialmente um aviso geral aos leitores e outro aos redatores de toda a

impressa portuguesa ambos com ressalva sobre o seu meacutetodo e a necessidade de

conhececirc-lo primeiro para depois dirigir-lhe criacuteticas Agrave imprensa Castilho eacute mais

enfaacutetico dizendo da obrigaccedilatildeo de conhecerem aceitarem e recomendarem a obra

nesse texto associa tambeacutem a ideia da escrita de um livro agrave tarefa de civilizar ou seja

o livro denota o sentido de transformaccedilatildeo com impactos culturais e sociais

(CASTILHO 1853 p XXV-XXVI)

209 Pierre-Alexandre Lemare pedagogo francecircs nasceu em 1766 e faleceu 1835 ldquopouco conhecido no seu tempo quase esquecido hoje [] autor de vaacuterias obras didaacuteticasrdquo (DIAS 2000 p 469) Dentre essas obras podemos destacar Cours theacuteorique et pratique de langue franccedilaise (1804) Traiteacute complet drsquoorthographe drsquousage et de prononciation (1815) Maniegravere drsquoapprendre les langues suivie de lrsquoanalyse et de lrsquoexamen des meacutethodes ou projets de meacutethodes de Despautegravere Comeacutenius Port-Royal Locke Rollin Dumarsais Pluche Radonvilliers Lhomond Maugard Pestalozzi etc et drsquoun mot sur le proceacutedeacute de Lancastre (1817) Cours pratique et theacuteorique de langue latine ou meacutethode preacutenotionnelle (1817) Cours de lecture ougrave proceacutedant du composeacute au simple on apprend agrave lire des phrases puis des mots sans connaicirctre ni syllabes ni lettres composeacute de 41 figures en taille-douce repreacutesentant chacune selon la maniegravere dont elles sont envisageacutees une lettre une syllabe un mot ou une phrase de phrases preacutepareacutees tireacutees de la Bible et amenant dans les syllabes initiales de chaque ligne tous les genres drsquoassemblage neacutecessaires dont se composent les syllabaires et termineacute par un Dictionnaire de prononciation a lrsquousage des Franccedilais et des eacutetrangers (1818) 210 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 A obra tem dimensatildeo fiacutesica de 16 x 125 cm

192

Figura 8 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel

do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

A obra tem dedicatoacuteria ldquoA sua Alteza o Priacutencipe Real D Pedrordquo e vem seguida

de uma carta a ele com elogios e consideraccedilotildees sobre a responsabilidade da Coroa

na educaccedilatildeo popular Naquele momento Portugal passava pelo periacuteodo regencial

aguardando a maioridade de D Pedro para ser aclamado como Rei ato que veio a

ocorrer em 1855 Castilho (1853) tambeacutem faz um apelo lembrando que sua obra eacute a

primeira dedicada ao Priacutencipe e sugerindo sua oficializaccedilatildeo no ensino portuguecircs

Embora o autor anuncie que essa dedicatoacuteria eacute desinteressada fica evidente sua

estrateacutegia de que ao enaltecer a jovialidade do Priacutencipe tambeacutem expressa a

modernidade instaurada em seu meacutetodo

[] o livro qe ousei pocircr nas suas matildeos eacute a carta da emancipaccedilatildeo da pueriacutecia eacute a boa nova jaacute festejada por matildees e paes e augura porqe no ler e escrever e escrever popular se encerra tudo uma eacutera nova uma revoluccedilatildeo moral drsquoestas em qe reis e principes e pontiacutefices devem arvorar o estandarte tocar o primeiro rebate e postar-se na primeira linha dos combatentes (CASTILHO 1853 p XXII-XXIII)

193

Chartier (1998) advoga que era comum a dedicatoacuteria de livros para os

Priacutencipes em razatildeo de que esses proviam os escritores de benefiacutecios cargos postos

estabelecendo uma relaccedilatildeo de clientelismo e patrociacutenio do mercado livresco A

retoacuterica construiacuteda na dedicatoacuteria e no Proacutelogo em Capiacutetulos211 que vem na

sequecircncia incide naquilo para o que Bourdieu (2011) chama a atenccedilatildeo na produccedilatildeo

de um livro ndash objeto cultural Quando o produzimos produzem-se paralelamente

crenccedilas que fazem com que ele ldquoseja reconhecido como um objeto cultural como um

quadro como uma natureza-morta se natildeo produzo isso natildeo produzi nada apenas

uma coisardquo (BOURDIEU 2011 240) Desse modo Castilho (1853) natildeo somente

apresenta ou explicita as ideias da sua obra como para Boto (1997) inaugura em

Portugal um debate sobre a importacircncia de um meacutetodo para o ensino e sobre a loacutegica

para a aprendizagem da leitura difundindo a crenccedila de que sua proposta alcanccedila

resultados porque parte do princiacutepio do ensinar pela seduccedilatildeo pelo prazer razatildeo pela

qual para o autor em relaccedilatildeo a outros meacutetodos tradicionais que circulavam no paiacutes

a crianccedila aprendia a ler e escrever em menos tempo

Tratando ainda da materialidade do livro e de sua organizaccedilatildeo apoacutes o Proacutelogo

em Capiacutetulos antes das liccedilotildees para a aplicaccedilatildeo do meacutetodo haacute quatro textos

intitulados ldquoMobilia e afaia necessarias para uma aula de leitura repentinardquo (p 1)

ldquoDisposiccedilatildeo do pessoal de uma aula de leitura repentinardquo (p 3) ldquoAvisos

eisperimentaes ao professor (p 7) ldquoTempo e modo das liccedilotildeesrdquo (p 9) Todos esses

apresentam a ritualizaccedilatildeo do meacutetodo desde os objetos escolares utilizados nas aulas

ateacute a postura do professor que tem um papel decisivo para o sucesso do processo

Para Castilho (1853) ldquoo professor estaacute sempre em cena quasi sempre em peacute

gritando palmeando acionando atentissimo a tudo e para toda a parte ao qe diz ao

qe deve dizer ao como o deve dizer ao qe eisecuta ao que ouve []rdquo (CASTILHO

1853 p 9) O professor ao aplicar uma liccedilatildeo tatildeo logo percebesse que estava

provocando fadiga nos alunos deveria trocar a atividade

O meacutetodo eacute organizado em 21 liccedilotildees todas antecedidas por um texto intitulado

de ldquoAdvertencia preacutevia aacute liccedilatildeordquo em que o autor apresenta atividades a serem

realizadas eou conhecimentos a serem abordados com os alunos antes da aplicaccedilatildeo

211 Castilho (1853) intitula o Proacutelogo como ldquoProacutelogo em Capiacutetulosrdquo pois divide as suas consideraccedilotildees em trecircs toacutepicoscapiacutetulos intitulados Capiacutetulo I ndash Istoria do presente metodo Capiacutetulo II ndash O qe eacute este metodo Capiacutetulo III ndash A qem pertence o presente metodo

194

da liccedilatildeo aleacutem de exarar preceitos teoacutericos que embasam o trabalho pedagoacutegico pelo

meacutetodo Castilho

Em Portugal a campanha de Castilho natildeo obteve sucesso Castelo-Branco

(1977) avalia ser esse o principal motivo de o autor procurar em outros locais a difusatildeo

do seu meacutetodo Em fevereiro de 1855 Castilho chegou ao Brasil212 e teve uma

audiecircncia com o Imperador D Pedro II que lhe concedeu autorizaccedilatildeo para ministrar

o Curso Normal de Leitura Repentina no Municiacutepio da Corte (BA CORREIO

MERCANTIL 11 de fevereiro de 1855 p 2)

A partir de uma consulta na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

notamos que no Brasil houve divulgaccedilotildees do meacutetodo Castilho em 1853 quando na

imprensa do Rio de Janeiro comeccedilaram a circular notiacutecias sobre a aplicaccedilatildeo desse

meacutetodo em Portugal e suas vantagens para o ensino raacutepido da leitura Localizamos

diversos textos publicados no Correio Mercantil durante o ano de 1853 na proviacutencia

do Rio de Janeiro O primeiro texto se refere a uma carta publicada na seccedilatildeo Exterior

com o tiacutetulo ldquoExtracto de uma carta escripta no dia 2 de agosto de 1853 em Lisboa por

um dos professores da Escola Normal do Methodo de Leitura Repentinardquo (CORREIO

MERCANTIL 01 de setembro de 1853 p 1) A carta natildeo eacute assinada e relata a

experiecircncia de aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho em Portugal e sua divulgaccedilatildeo na

Espanha Itaacutelia e Brasil No texto haacute alusatildeo a que no Brasil havia-se estudado o

meacutetodo e que algueacutem fizera experiecircncias que o desabonavam Explica tambeacutem que

provavelmente a pessoa que o aplicou utilizou a primeira ediccedilatildeo da obra de Castilho

que natildeo era mais do que o sistema Lemare ldquomelhoradiacutessimordquo e em contraposiccedilatildeo

recomenda o estudo da segunda ediccedilatildeo

[] Esta sim que reuacutene nrsquoum todo harmocircnico conjuntamente com elementos jaacute reconhecidos e agora aperfeiccediloados e pela primeira vez reunidos outros da mais prodigiosa efficacia sem precedente algum nacional ou estrangeiro antigo nem moderno taes como decomposiccedilatildeo e leitura auricular que satildeo a nossa via ferrea [] seja como focircr eacute evidente que mais dia menos dia se introduziraacute nesse imperio um dos mais poderosos meios civilizadores nestes ultimos

212 A chegada de Antonio Feliciano de Castilho ao Brasil eacute registrada pelo jornal Correio Mercantil de 11 de fevereiro de 1855 em notiacutecia intitulada ldquoA nova estrelardquo assinada por B A ldquoacaba de despontar em nosso bello horizonte uma fulgurante estrela do ceacuteo lusitano deixando o soberboso Tejo para vir esparhar-se aacute nossa majestosa Guanabara O digno vate Portuguez cuja lyra ressoou sempre hormoniosa em nossa alma o distincto litteracto o Sr Antonio Feliciano de Castilho acha-se entre noacutes []rdquo (BA CORREIO MERCANTIL 11 de fevereiro de 1855 p 2) Acompanhando a notiacutecia haacute dois poemas saudando Castilho escritos por Bernardino Pinheiro e M Leite Machado

195

tempos descobertos (CORREIO MERCANTIL 01 de setembro de 1853 p 1)

Diferente desse primeiro texto os demais estatildeo assinados por Joatildeo Vicente

Martins213 (1810-1854) que descreve sua experiecircncia em Portugal quando assistiu

agraves liccedilotildees e exerciacutecios do meacutetodo Castilho de leitura repentina sugerindo a sua

aplicaccedilatildeo nas escolas brasileiras Ao que tudo indica Martins foi se natildeo o primeiro

um dos principais divulgadores de Castilho no Brasil

Martins foi meacutedico lisbonense e trouxe as primeiras praacuteticas da homeopatia

para o Brasil por volta de 1837 (FERREIRA 1994) Em 1854 publicou o livro Cartilha

de leitura repentina ou plaacutegio do Methodo de Castilho (MARTINS 1854)214 utilizando

segundo Ferreira (1994) a teacutecnica francesa da zincografia215 da qual foi precursor no

paiacutes

O primeiro texto sobre o meacutetodo Castilho que Martins publicou no Correio

Mercantil216 propangadeia o lanccedilamento da segunda ediccedilatildeo da obra Metodo Castilho

para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do

escrever justificando que natildeo aplicaria tal meacutetodo porque estava se dedicando com

afinco aos estudos da homeopatia oferece aos habilitados para ensinar por esse

meacutetodo um ordenado ou gratificaccedilatildeo a casa os livros e materiais para abertura de

uma escola de leitura repentina Essa oferta se repete em outras de suas publicaccedilotildees

durante o ano de 1853 quando tambeacutem anuncia o patrociacutenio da reimpressatildeo do livro

de Castilho oferecendo a todas as Cacircmaras Municipais do Impeacuterio um exemplar do

Meacutetodo gratuitamente

O Methodo Castilho vai fazer com que a leitura seja mais facil ao pobrezinho filho de um misero sertanejo do que ateacute agora tem sido aos principes e filhos de grandes senhores Noacutes vamos reimprimir o Methodo Castilho vamos fazer elle as gravuras paniconographicas e vamos dar a musica suavissima de seus cantares escripta conforme o novo methodo ou pauta E porque esperamos gastar pouco nesta

213 Em alguns de seus textos publicados no Correio Mercantil entre 1853-1854 Joatildeo Vicente Martins tambeacutem assinava J V Martins 214 O livro foi publicado no Rio de Janeiro na Tipografia da viuacuteva Vianna Junior Conteacutem 159 paacuteginas e um anexo (de paacuteginas natildeo numeradas) com os desenhos das letras do alfabeto e nuacutemeros cada um associado a um desenho A obra tem dimensatildeo de 205 x 135 cm Martins copia vaacuterios trechos do Meacutetodo Castilho acrescentando explicaccedilotildees para aplicaccedilatildeo dessa proposta de ensino 215 Teacutecnica de impressatildeo que consiste em utilizar como matriz uma placa de zinco para imprimir ou gravar 216 Trata-se do texto ldquoUma escola de leitura repentina pelo Methodo Castilhordquo publicado na seccedilatildeo ldquoPublicaccedilotildees a pedidordquo (CORREIO MERCANTIL 3 de setembro de 1853 p 2)

196

reimpressatildeo e porque Deus manifestamente veiu em nosso auxilio daremos pelo menor preccedilo possivel cada exemplar do Methodo Castilho reservando os lucros que houverem para a manutenccedilatildeo de uma ESCOLA NORMAL DE LEITURA REPENTINA Todas as camaras municipaes do Imperio poderatildeo mandar buscar aacute nossa casa (rua de S Joseacute n 59) um exemplar desse Methodo quando reimpresso que lhe seraacute dado gratuitamente com tudo o mais que a este respeito publicarmos (MARTINS J V CORREIO MERCANTIL 8 de setembro de 1853 p 2)

A accedilatildeo de Martins sem duacutevida fez com que o obra e o ideaacuterio de Castilho

fossem conhecidos nas proviacutencias do Impeacuterio E conforme mencionamos em 1855 o

governo goiano enviou ao Municiacutepio da Corte o professor Feliciano Primo Jardim para

conhecer o meacutetodo jaacute que havia notiacutecias de que seu autor estava ministrando curso

no Rio de Janeiro Essa accedilatildeo eacute um marco pois foi a primeira vez pelo menos que se

tem notiacutecia ateacute entatildeo que um professor goiano era enviado ao Municiacutepio da Corte

numa missatildeo pedagoacutegica Logo nesta seccedilatildeo da tese apresentaremos as impressotildees

de Primo Jardim analisando as repercussotildees dessa viagem na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes

41 UM PROFESSOR GOIANO NO RIO DE JANEIRO IMPRESSOtildeES SOBRE OS MEacuteTODOS

CASTILHO E SIMULTAcircNEO

Primo Jardim saiu em sua missatildeo em 3 de setembro de 1855 O Presidente

Machado concedeu ao professor uma ajuda financeira para custear as suas despesas

no Municiacutepio da Corte sob a obrigaccedilatildeo de que ele natildeo podia pedir demissatildeo do

emprego por trecircs anos jaacute que um de seus compromissos era aplicar o meacutetodo

Castilho em Goiaacutes (MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855 p 23-24)

Pelo discurso apresentado por Machado (1855) se evidencia que para concretizaccedilatildeo

do ensino de leitura e escrita deveria haver investimento em objetos e compecircndios

indispensaacuteveis para subsidiar o processo Essa questatildeo denota certo avanccedilo do poder

provincial em conceber a escola de primeiras letras o que aos poucos impacta na

proacutepria legislaccedilatildeo educacional em Goiaacutes demonstrando tambeacutem um diaacutelogo com o

que vinha ocorrendo em acircmbito nacional (MORTATTI 2000 MARCILIO 2016)

Consideramos dessa maneira que a viagem de Primo Jardim agrave Corte eacute um marco

que auxiliou inclusive na definiccedilatildeo dos rumos da legislaccedilatildeo educacional em Goiaacutes

como veremos doravante

197

Na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas do Arquivo Histoacuterico Estadual de

Goiaacutes217 encontramos um relatoacuterio escrito por Primo Jardim narrando suas

experiecircncias do Rio de Janeiro datado de 28 de novembro de 1855 e endereccedilado ao

Presidente da Proviacutencia de Goiaacutes Antonio Augusto Pereira da Cunha Apesar de sua

extensatildeo a seguir transcrevemos alguns de seus trechos na iacutentegra em razatildeo de

trazerem elementos importantes para a compreensatildeo da natildeo oficializaccedilatildeo do meacutetodo

Castilho na proviacutencia goiana

Quando Primo Jardim chegou ao Municiacutepio da Corte natildeo encontrou Castilho e

tambeacutem descobriu que o meacutetodo por ele escrito natildeo havia sido adotado nas escolas

do Rio de Janeiro em virtude do que solicitou permissatildeo para frequentar algumas das

principais aulas da Corte O relatoacuterio portanto eacute fruto das experiecircncias na escola da

freguesia de Sacramento descrevendo inicialmente as observaccedilotildees das aulas com

o meacutetodo Castilho e posteriormente as das aulas com o meacutetodo simultacircneo

oficialmente adotado na Corte

Relatorio Ilmordm e Exmordm Senrordm Tendo sido encarregado pela Resoluccedilaotilde de 21 de Julho do corrente anno de vir a esta capital estudar o methodo de ler e escrever que pretendia plantar o Conselheiro Antonio Feliciano de Castilho entreguei a 24 drsquoAgosto a regencia da cadeira em que sou vitaliciamente provido e parti no dia 3 de Setembro para esta Cocircrte onde cheguei em 22 de Outubro do referido anno como jaacute tive a honra de participar a VExordf em officio datado de 6 do mez que corre ndash Nrsquoesse mesmo officio comuniquei a V Exordf que jaacute naotilde se achando aqui o dito Conselheiro Castilho apresentei o officio do Exmordm Antecessocircr de VExordf ao Exmordm Senrordm Inspector Geral da instrucccedilatildeo publica de que depois de informado de naotilde ter sido adoptado nesta Capital o methodo portuguez Castilho obtive permissatildeo para visitar as principais aulas aqui estabelecidas tendo em vista naotilde soacute colher alguma vantagem dessas visitas como o cumprimento do artigo 4 da jaacute citada Resoluccedilaotilde ndash Servindo-me pois drsquoessa permissatildeo dirigi-me aacute escola da freguesia do Sacramento onde encontrei o respectivo Professocircr leccionando pelo methodo aqui actualmente seguido e em cima das salas do mesmo estabelecimento um outro Professor que como eu comissionado pela sua Provincia ensaiava o methodo de leitura repentina cuja exposiccedilatildeo acabou de ouvir particularmente do proprio author visto que o curso publico tinha-se terminado de huma maneira irregular (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

No que se refere ao meacutetodo Castilho suas observaccedilotildees foram feitas numa sala

de aula de um professor que fez o curso com o portuguecircs Castilho durante a sua

217 Seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 Documento com 10 paacuteginas costurado nas laterais

198

estada no Rio de Janeiro Primo Jardim reitera que esse curso havia finalizado de

maneira irregular Segundo Castelo-Branco (1977) as cartas de Castilho dirigidas agrave

esposa durante seu periacuteodo no Brasil revelam que em 1855 as sessotildees puacuteblicas sobre

o seu meacutetodo foram encerradas antes do previsto devido a duas razotildees

fundamentais primeiro porque ldquono decorrer do curso foram apresentadas

discordacircncias e foi contestado o seu meacutetodordquo segundo ldquoA F Castilho filia

discordacircncias e contestaccedilotildees ao meacutetodo em pruridos patrioacuteticos visto existir no Brasil

o meacutetodo de Costa e Azevedordquo (CASTELO-BRANCO 1977 p 42)

Depreende-se nesse ponto que o meacutetodo Castilho natildeo foi bem recebido na

Corte sobretudo pela forte oposiccedilatildeo do professor Costa e Azevedo Castilho acusa

inclusive Costa e Azevedo de ser plagiaacuterio de Joseph Jacotot218 (CASTELO-

BRANCO 1977 BOTO ALBUQUERQUE 2018) Albuquerque e Boto (2017)

explicam que Costa e Azevedo atuou como diretor da Escola Normal de Niteroacutei e

professor de todas as cadeiras da instituiccedilatildeo publicando em 1832 as Liccedilotildees da

Instruccedilatildeo Elementar denominadas de Liccedilotildees de Ler compostas por 53 liccedilotildees para o

ensino de leitura pela marcha sinteacutetica (COSTA E AZEVEDO 1832) Em virtude das

rixas entre Castilho e Costa e Azevedo o primeiro acusou o segundo de plaacutegio agraves

obras do francecircs Joseph Jacotot e do portuguecircs Antoacutenio Arauacutejo de Travassos219

ldquoEsse cenaacuterio de embates entre diferentes propostas de meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo no

Brasil Imperial remontou um contexto de disputas poliacuteticas filosoacuteficas sociais dentre

outras que extrapolam as querelas dos meacutetodos pedagoacutegicosrdquo (ALBUQUERQUE

BOTO 2017 p 230 grifo das autoras)

Primo Jardim tambeacutem explicita elementos do meacutetodo Castilho que consistia

basicamente na decomposiccedilatildeo das palavras em siacutelabas e letras atribuindo a essas

os sons originais e por fim retornando agrave palavra inteira

218 Jean Joseph Jacotot (1770-1840) nasceu na Franccedila em Dijon ldquoEacute considerado um pedagogo francecircs Estudou Direito em Dijon Ensinou retoacuterica e depois letras e matemaacutetica Apoacutes a Revoluccedilatildeo foi oficial do exeacutercito francecircs mas apoacutes a queda de Napoleatildeo teve de se exilar na Beacutelgica Em 1818 ainda exilado na Beacutelgica aceitou um cargo na Universidade Seus alunos natildeo falavam francecircs e ele natildeo falava flamengo Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 1830 regressa agrave Franccedila na tentativa de propagar seu meacutetodo de ensino que buscava a emancipaccedilatildeo intelectual atraveacutes da educaccedilatildeordquo (BOTO ALBUQUERQUE 2018 p 29) Para mais informaccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo de Joseph Jacotot cf Ranciegravere 2015 219 Sobre isso Castelo-Branco (1977) reproduz trechos das cartas de Castilho em que faz a denuacutencia do plaacutegio Numa perspectiva descritivo-analiacutetica Albuquerque e Boto (2017) analisam as obras de Jacotot e Travassos contrapondo-as com o livro Liccedilotildees de Ler de Costa e Azevedo (1832)

199

ndash Procurarei dar a VExordf uma ideacuteia ainda que muito imperfeita do que tenho podido observar acerca do ensino primario nesta corte ndash Da pratica de alguns dos differentes processos de que se compotildee o methodo portuguez castilho pude coligir e do mesmo texto se vecirc que elle consiste em dar aos meninos com a possivel clareza o conhecimento da palavra fazer que eles com o socorro do rhythomo marcado com a percussatildeo de palmas a decomponhaotilde em syllabas e estas em elementos que por um processo contrario reunaotilde estes elementos em syllabas e destas formem a palavra alternando com o Professocircr este exercicio que tem o nome de leitura auricular e que tem grande importancia neste systema (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Como o proacuteprio Castilho (1853) aponta a palavra eacute o objeto da leitura e a fala

uma competecircncia anterior agrave habilidade de leitura Assim sendo o autor desenvolveu

a chamada leitura auricular mencionada por Primo Jardim que consistia na repeticcedilatildeo

do processo de decomposiccedilatildeo e composiccedilatildeo das palavras em siacutelabas e letras

acompanhado pela percussatildeo das palmas como ele explica detalhadamente no livro

O mestre aqi dividiraacute clara e pausadamente muitas palavras em silabas acompanhando cada silaba com uma palma ou pancada de vara e metendo de silaba a silaba um intervalo [] Logo qe o mestre presume qe a maioria dos discipulos tem entendido esta divisatildeo das palavras em postas silabas ou tempos propotildee-lhes palavras uma e uma pronunciando cada uma clara e distintamente mas de um jato e fazendo com qe os ouvintes lhrsquoa recambiem logo dividida em silabas acompanhada cada silaba por cada uma drsquoeles com uma palma [] Suponhamos qe eacute navio a primeira palavra que lhes qer apresentar para eisemplo drsquoesta recitaccedilatildeo esparralhada Dir-lhes-aacute primeiro navio correntemente depois o mesmo dividido nos cinco elementos de qe o vocaacutebulo se compotildee tendo cuidado em natildeo falsificar nenhum drsquoeles e em os proferir a um e um com certa demora e desleixo imitativo n-acirc-v-i-u Mulher m-u-lh-eacute-r Terra t-eacute-rr-acirc (CASTILHO 1853 p 18-19 p 21)

Apoacutes essa praacutetica explorando os sons das letras e suas transformaccedilotildees nas

palavras o professor apresenta as letras escritas entrando em cena as imagens

associadas agraves letras

Apresentaotilde-se varias figuras mais ou menos semelhantes aacutes letras fazendo-se sobre cada huma dellas pequenas historias taes que dellas resulte gravar na memoria dos ouvintes naotilde soacute a foacuterma como o valor das mesmas letras ndash Comeccedila este processo pelas vogaes e logo que signaes que as representaotilde saotilde conhecidos dos alunnos daotilde-se-lhes a ler palavras em cuja composiccedilatildeo naotilde entrem senaotilde as mesmas vogaes Passa-se depois co conhecimento das consoantes dos sons nasalados e finalmente das articulaccedilotildees compostas propondo-se a sempre para serem shysthmicamente lidas com a maior exacccedilatildeo aquellas palavras que contenhaotilde em si somente os elementos anteriormente conhecidos sendo intermeiado este processo do canto

200

de varias regras que dizem respeito aacute pronuncia de certas letras (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Aleacutem da leitura auricular temos acima descritos os princiacutepios da leitura ocular

em que se apresenta agrave crianccedila como os sons podem ser representados sentidos

pelos olhos por meio do registro escrito ou impresso Iniciando pelas vogais cada letra

eacute acompanhada de uma historieta que auxilia o aluno a memorizar tanto a sua escrita

por meio da associaccedilatildeo entre a imagem e o formato da letra quanto os seus variados

valores sonoros

Figura 9 Paacuteginas 29 e 31 do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

As historietas faziam relaccedilatildeo direta com a imagem da letra No caso da letra

ldquoArdquo a histoacuteria tratava de um preguiccediloso que vivia a bocejar e escorar-se pelas coisas

Para todas as letras as historietas enfatizavam os diferentes sons delas uma vez que

o meacutetodo consistia nessa primeira exploraccedilatildeo fonecircmica Ainda sobre essa questatildeo da

201

associaccedilatildeo da imagem letras e histoacuterias vale ressaltar que entre as polecircmicas do

plaacutegio de Castilho ao Meacutetodo Lemare o primeiro esclarece que da obra do segundo

ele toma essa ideia de empreacutestimo dando a ela outro caraacuteter e outro direcionamento

(CASTILHO 1853) Nos capiacutetulos introdutoacuterios da segunda ediccedilatildeo de seu livro

Castilho (1853) responde agraves criacuteticas e especulaccedilotildees de o seu meacutetodo ser uma coacutepia

do francecircs Lemare confrontando o livro de Lemare e o seu enfatizando que Lemare

propotildee um ensino pelo meacutetodo individual jaacute o Castilho pode ser aplicado sobre as

bases do meacutetodo simultacircneo visto que em suas proacuteprias palavras ldquoo meu metodo se

acha por tal arte desenvolvido e concertado qe tatildeo bem e eficazmente se poacutede

acomodar a uma classe de seiscentos discipulosrdquo (CASTILHO 1853 p LVI)

A sequecircncia das liccedilotildees como o proacuteprio Primo Jardim (1855) observou nas

aulas a que assistiu o professor apresenta as vogais (satildeo seis a e i y o u) as

consoantes (satildeo dezenove m n l r b p d t f v q k e ccedil s z x j g) os sons

nasalados com duas letras (satildeo sete an atildeo em em im on un) e as articulaccedilotildees

compostas com duas letras (satildeo quatro ch lh nh e ph) Primo Jardim (1855) destaca

que percorridas todas as letras passa-se ao ensino dos sinais de pontuaccedilatildeo Poreacutem

na obra de Castilho acompanhando o progresso das liccedilotildees observamos que haacute

anteriormente o exerciacutecio das ldquocombinaccedilotildees logogriacuteficasrdquo ou seja com as

letrassiacutelabas de uma palavra formam-se outras palavras O professor copia as

palavras no quadro com as siacutelabas separadas por hiacutefen cada siacutelaba enumerada

iniciando pelo nuacutemero 1 Daiacute por diante o exerciacutecio consiste em fazer combinaccedilotildees

entre as siacutelabas formando novas palavras conforme exemplo abaixo

1 2 3 4 5 6 7 Ma-te-ri-a-li-da-de Sete De Sete com acento circumflecso Decirc Seis Da Seis com acento agudo Daacute Cinco Li Quatro A Quatro com acento agudo Aacute [] Seis e seis Dada Um e dois Mate Dois e um Tema (CASTILHO 1853 p 165)

As combinaccedilotildees segundo o autor podem ser feitas sem respeitar as

convenccedilotildees ortograacuteficas pois a intenccedilatildeo eacute aprender a leitura Essa praacutetica faz parte

de um exerciacutecio de leitura ocular definido como a leitura da palavra grafada e

visualmente exposta seja no quadro-negro ou em um impresso

A escrita para Castilho deve ser introduzida posteriormente ao aprendizado

da leitura Entre as 21 liccedilotildees de sua obra eacute somente na liccedilatildeo 17ordf que os exerciacutecios

de escrita aparecem recomendando que ela seja feita nas ardoacutesias individuais a partir

202

da observaccedilatildeo de quadros modelos afixados na sala que contecircm a grafia das letras

Tal direcionamento justifica os materiais solicitados por Primo Jardim para aplicaccedilatildeo

do meacutetodo Castilho entre eles ardoacutesias giz esponja ou papel e laacutepis para os alunos

uma coleccedilatildeo completa de quadros que representam o alfabeto quadros modelos para

a escrita220 (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Outro material solicitado e recorrentemente utilizado na execuccedilatildeo do meacutetodo eacute

o Mississipi caracterizado como ldquouacutema grande teia de panno enrolada em dous

cilindros na qual estaotilde escriptas em grandes caracteres romanos palavras e numeros

para serem lidosrdquo (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm

123) Essa descriccedilatildeo eacute muito semelhante agrave que Castilho faz desse objeto em sua obra

ldquouma ou mais teias de papel formadas de folhas pegadas pela eistremidade uma aacutes

outras sendo a largura destas teias proporcionada ao comprimento dos cilindros do

Mississipi em qe tem de ser enroladasrdquo (CASTILHO 1853 p 4) Nele ficavam escritas

palavras nuacutemeros romanos nuacutemeros letras para serem lidas pelos alunos

Primo Jardim tambeacutem socilicita o livro do meacutetodo Castilho para o professor

podendo ser um para cada aluno bem como os exemplares do texto Sciencia do Bom

Homem Ricardo de Benjamin Franklin e o livro Arte de aprender a ler a letra

manuscripta de Duarte Ventura (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo

Avulsa Caixa nordm 123) Os dois uacuteltimos livros seriam utilizados conforme Primo Jardim

(1855) elucida para o ensino da letra manuscrita e letra redonda

Sciencia do Bom Homem Ricardo foi um texto de leitura escolar que circulou

no Brasil imperial e sobre o qual nos debruccedilamos com maiores detalhes na seccedilatildeo

anterior Conforme analisamos era geralmente publicado em letra de imprensa (ou

tambeacutem chamada de redonda) difundindo preceitos morais e valores sociais para

formaccedilatildeo de um cidadatildeo pronto para o trabalho (ARRIADA TAMBARA DUARTE

2015)

Jaacute a obra de Duarte Ventura segundo Batista (2002) foi provavelmente

publicada entre 1830 e 1848 pela firma de J-P Aillaud em Paris Como se enuncia

na capa ela eacute organizada em 10 liccedilotildees da letra mais faacutecil para mais difiacutecil

A ldquoPrimeira liccedilatildeordquo como se daacute geralmente nos livros do gecircnero apresenta o alfabeto em letras manuscritas maiuacutesculas (p 3 a 4) os numerais de 1 a 10 (p 4) e o alfabeto (p 5) novamente agora em letras minuacutesculas assim como nova sequecircncia dos numerais em

220 Esses quadros apresentam as letras do alfabeto maiuacutesculas e minuacutesculas de variadas caligrafias Segundo Castilho (1853) podem ser feitos por qualquer caliacutegrafo

203

tamanho menor Nessas pranchas utiliza-se sempre a letra cursiva inclinada As demais liccedilotildees constroem uma antologia (sempre em cursiva) composta por um uacutenico excerto de texto (no caso a opccedilatildeo recai em geral sobre Camotildees e ldquoOs Lusiacuteadasrdquo) por um texto do autor do livro ou de um texto desse autor entremeado por excertos de outros autores No que diz respeito agrave temaacutetica os textos celebram episoacutedios e particularmente heroacuteis da histoacuteria portuguesa (D Afonso Henriques D Joatildeo de Castro Afonso de Albuquerque) em geral inseridos por meio dos tiacutetulos e da introduccedilatildeo no quadro de valores como o amor agrave independecircncia nacional e agrave paacutetria assim como a lealdade a ela (BATISTA 2002 natildeo paginado)

Pinto (2009) em anaacutelise ao livro de Duarte Ventura explica que a obra aleacutem

de apresentar um meacutetodo de ensino de leitura e escrita tem um caraacuteter vigoroso da

educaccedilatildeo ciacutevica objetivando formar cidadatildeos patriotas com espiacuterito heroico e

militarista Trata-se por isso de um compecircndio ldquode todas as virtudes humanas morais

e cristatildes para a formaccedilatildeo do lsquohomem novorsquo para um lsquomundo novordquo (PINTO 2009 p

60) O livro Arte de aprender a ler a letra manuscripta como o proacuteprio tiacutetulo enuncia

tinha por objetivo ensinar a letra manuscrita ao aluno

No anexo ao relatoacuterio de Primo Jardim (1855) haacute uma relaccedilatildeo dos objetos

necessaacuterios para a praacutetica do meacutetodo de leitura repentina para uma turma com 8

alunos Na listagem ele solicita apenas 1 livro do meacutetodo Castilho (2$000 reacuteis) 8

exemplares da Sciencia do Bom Homem Ricardo (valor unitaacuterio $200) 8 do livro da

Arte de aprender a ler a letra manuscripta por Duarte Ventura (valor unitaacuterio $800)

(PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123) Essas

quantidades e valores denotam aspectos do ideaacuterio que circulava sobre as praacuteticas

de ensino de leitura e escrita no impeacuterio

O primeiro que podemos depreender refere-se aos aspectos econocircmicos Dado

o alto valor das obras impressas em geral eram elas destinadas ao professor que

copiava as liccedilotildees na lousa ou solicitava que os alunos fizessem as atividades

utilizando a ardoacutesia individual Os livros que eram adquiridos para os alunos eram os

de menor valor nesse caso tanto a obra de Benjamin Franklin quanto a de Duarte

Ventura que se comparadas agrave de Castilho eram de menor custo

O segundo ideaacuterio estaacute correlacionado ao desenvolvimento na escola de certa

mentalidade que associava o ensino de leitura e escrita agrave formaccedilatildeo moral e ciacutevica

notadamente presente nos livros adotados Por fim ao observar a quantidade de

objetos notamos pressupostos do meacutetodo de ensino que circulava naquele momento

sendo o meacutetodo individual o mais empregado nas escolas

204

No relatoacuterio de Primo Jardim (1855) eacute mencionado o meacutetodo simultacircneo como

aquele que estava sendo adotado oficialmente nas escolas da Corte Embora

descreva e recomende o meacutetodo simulacircneo Primo Jardim argumenta que nos trecircs

meacutetodos haacute evidentes dificuldades

Passarei agora a offecere aacute consideraccedilatildeo de VExordf mui suscintas observaccedilotildees sobre o methodo actualmente adoptado nesta Cocircrte ndash Dos tres methodos de ensino mais geralmente conhecidos o individual em que cada discipulo recebe as liccediloes diretamente do Professor o mutuo em que os alunnos aprendem e ensinaotilde mutuamente uns aos outros e o simultaneo em que uma soacute liccedilao explicada pelo proprio Professor deve ser ouvida e tem de servir para todos os escolares este ultimo eacute o actualmente adoptado nas escolas desta Cocircrte pois que assim o determina o artigo 73 do Regulamento approvado pelo Decreto de 17 de Fevereiro de 1854 Releva porem notar que assim como methodo individual o primeiro dos methodos deixa de ser proficuo desde que a quantidade dos discipulos passa de certo numero assim como o ensino mutuo deixa de offerecer segundo alguns resultados verdadeiramente vantajosos por isso que os escolares naotilde tem a sufficiente capacidade para transmitirem a seos colegas os conhecimento de a que elles haotilde necessidade assim tambem o ensino rigorosamente simultaneo naotilde deixa de apresentar embaraccedilos bem serios ao Professor que o tem de praticar E isto eacute claro Em huma escola de primeiras letras quasi diariamente concorrem alunnos a inscreverem-se na respectiva matricula e a liccedilaotilde drsquoaquelles que jaacute se achaotilde matriculados a quinze ou vinte dias naotilde poacutede servir para aquelle que eacute admittido quinze ou vinte dias depois Eacute verdade que este obstaculo se poderia de alguma sorte remover fixando-se a epoca para a admissatildeo aacute matricula porecircm sendo diversas as materias que se lhes tem de ensinar e diversas as capacidades dos alunnos aparece drsquoaqui a necessidade de se dividir uma mesma aula em vario numero de classes que por suas qualidades especiaes naotilde podem ser ao mesmo tempo regidas unicamente pelo Professocircr o qual por isso mesmo tem de confial-as aos cuidados dos mais adiantados de seos alunnos recorrendo assim ao methodo do ensino mutuo e ficando desta arte prejudicada a rigorosa simultaneidade do ensino ndash Eacute pois o ensino mutuo por diversos modos alterado a base sobre que descanccedila o systema mixto das escolas que aqui tenho visitado ndash Em todas ellas encontraotilde-se os monitores das classes e toda a aula obedecendo ao som da campainha a signaes que lhes faz o monitor qual que tem o seo assento ao lado do Professocircr Como porem todas estas modificaccediloes tem sido operadas segundo a entender dos mui dignos e zelosos Professocircres que com bastante dopteridade dirigirem os primeiros passos da mocidade fluminense estudando cada hum em particular o melhor meio de o conseguir resulta drsquoaqui naotilde haver ainda uma perfeita uniformidade de systhema circunstancia esta que tem necessariamente de desaparecer em vista do que dispotildee o artigo 76 do jaacute citado Regulamento (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

O excerto eacute o iniacutecio da segunda parte do relatoacuterio em que o autor relata sobre

os meacutetodos de ensino encontrados na Corte ndash o individual o muacutetuo e o simultacircneo

205

Esse uacuteltimo por ser o adotado oficialmente o descreve com maiores detalhes com a

ressalva de que no territoacuterio fluminense natildeo havia uniformidade sobre os modos de

ensinar Nesse periacuteodo estava em vigor a Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) que

embora tenha estabelecido o meacutetodo simultacircneo para as escolas em geral tambeacutem

deu brecha para o Inspector Geral determinar quando julgar conveniente a adoccedilatildeo

de outro meacutetodo conforme os recursos e necessidades

Primo Jardim (1855) indica os preceitos do professor Candido Matheos de Faria

Pardal221 conhecido como um dos mais distintos professores da capital

ndash Em quanto porem esta uniformidade se naotilde estabelece procuro iniciar-me no modo de ensinar seguido pelo Senrordm Candido Matheos de Faria Pardal um dos mais distinctos Professocircres desta Capital ndash Elle como quasi todos divide os trabalhos da sua aula que como as outras comeccedila as 9 horas da manhatilde e termina aacutes 2 da tarde em quatro processos a saber o de escripta o de cathecismo o de contabilidade e o de leitura fazendo objeto do 1ordm a calligraphia desde as linhas obliquas ateacute o cursivo do 2ordm as diversas liccedilotildees do cathecismo historico de Fleury do 3ordm a arithmetica desde os numeros diacutegitos ateacute as proporccediloes e do 4ordm o alfabeto ateacute a analyse gramatical sendo todas estas materias convenientemente distribuidas pelas diversas classes em que estaacute dividida toda a aula em que naotilde saotilde occupadas por mais de 7 alunnos inclusive o monitor respectivo (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

No relatoacuterio descreve que as aulas de Pardal se organizavam no ensino da

escrita do catecismo da aritmeacutetica e da leitura Todos esses quatro processos se

baseavam no aprendizado dos conteuacutedos mais simples aos mais complexos A escola

era organizada em vaacuterias turmas que natildeo ultrapassavam 7 alunos regidas pelo

professor mais o monitor e um professor adjunto A organizaccedilatildeo em classe marca os

preceitos do meacutetodo simultacircneo que ainda mantinha resquiacutecios das caracteriacutesticas

do meacutetodo monitorial ou muacutetuo este contava com a participaccedilatildeo de monitores que

em pequenos grupos orientavam as liccedilotildees e zelavam pela disciplina dos alunos A

221 ldquoCandido Matheus de Faria Pardal viveu 70 anos (1818-1888) mais da metade dos quais trabalhando na docecircncia Estudou na Academia de Belas Artes foi professor na escola primaacuteria no Coleacutegio de D Pedro II no Instituto Comercial da Corte no Coleacutegio de meninas da Baronesa de Geslin diretor das escolas municipais se apropriou de ideias estrangeiras escreveu livros escolares aprovou outros examinou professores adjuntos e alunos mobilizou a categoria e tambeacutem foi eleitor devoto membro de irmandades diretor de sociedades e associaccedilotildees beneficentes recreativas e poliacuteticas organizou subscriccedilotildees e fez parte de diversas comissotildees para agecircncia na cidaderdquo (BORGES 2014 p 275) Borges (2014) baseando-se na micro-histoacuteria faz uma anaacutelise da vida profissatildeo e pensamento do Professor Pardal projetando-o nas redes de relaccedilotildees estabelecidas no movimento da vida da profissatildeo da escola da cidade e do mundo

206

Reforma Couto Ferraz natildeo menciona a figura do monitor mas a do professor adjunto

cargo exercido por alunos das escolas puacuteblicas maiores de 12 anos que tivessem

bons resultados e propensatildeo ao magisteacuterio Os professores adjuntos eram auxiliares

das praacuteticas de ensino do professor da turma Entretanto na observaccedilatildeo que Primo

Jardim (1855) faz das aulas do professor Pardal haacute a figura do adjunto e se manteacutem

o monitor Isto eacute as novas praacuteticas satildeo imprimidas nas velhas preservando elementos

simboacutelicos mantidos pelas crenccedilas que circulam no acircmbito pedagoacutegico

Os arranjos organizativos das salas de aulas pelo meacutetodo simultacircneo satildeo

destacados ao final do relatoacuterio Bancos dispostos paralelos agrave mesa do professor para

cada aluno uma mesa inclinada com uma lousa tinteiros fixos e cabides para

dependurar os exemplares de escrita ornamentavam a sala juntamente com o retrato

do Cristo crucificado e do Imperador Tal descriccedilatildeo corrobora a perspectiva de que

espaccedilo e tempo escolares eram normatizados por uma ldquogramaacutetica baacutesica da escolardquo

como Vidal (2005) explica retomando o conceito dos americanos David Tyack e Larry

Cuban nos anos de 1990

Primo Jardim (1855) por fim enumera em anexo ao relatoacuterio uma relaccedilatildeo de

objetos para abertura de escola do ensino simultacircneo para 200 alunos

Relaccedilaotilde dos utensilios necessarios para huma escola do ensino simultaneo contendo 200 alunnos 200 louzas 200 canetas de lataotilde 4 massos de lapis de pedra 1 [ilegiacutevel] de esponja 4 ditas de giz branco 4 grosas de pennas de accedilo 4 ditos de cabos para as mesmas 50 exemplares de grammatica de Coruja 50 ditos de arithmetica do mesmo author 50 exemplares de primeira collecccedilaotilde de carta 50 cathecismos historicos de Fleury 20 exemplares do expositor Portuguez 20 ditos da Sciencia do Bom Homem Ricardo 10 ditos de Historia do Brasil Coruja 60 ditos de Duarte Ventura 50 pautas obliquas 6 dusias de lapis finos 1 estampa de Jesus Crucificado 1 retrato de S M O Imperador Total 329$360 (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Ao listar o conjunto desses materiais Primo Jardim (1855) daacute forccedila ao

argumento de que o meacutetodo simultacircneo seria o melhor para oficializaccedilatildeo nas escolas

207

goianas jaacute que para uma aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho o custo eacute de ldquo350$040rdquo

(meacutedia de 4$380 por aluno) ao passo que no meacutetodo simultacircneo o custo totaliza

ldquo329$360rdquo (meacutedia de 1$646 por aluno)

Eacute importante ainda destacar que o meacutetodo simultacircneo e o meacutetodo Castilho satildeo

colocados como tendo a mesma natureza Mas enquanto o primeiro se refere ao

ensino inicial de leitura escrita e da numeraccedilatildeo o segundo tem natureza didaacutetica mais

abrangente podendo ser utilizado em qualquer acircmbito seja na instruccedilatildeo primaacuteria ou

em outro niacutevel da educaccedilatildeo

Como se lecirc na listagem haacute livros comuns entre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho

e do meacutetodo simultacircneo como a obra Sciencia do Bom Homem Ricardo e a de Duarte

Ventura Ainda para a instruccedilatildeo primaacuteria a partir das fontes consultadas acreditamos

que mais trecircs impressos dos mencionados acima tambeacutem eram utilizados para

ensinar a ler e escrever o Cathecismo historico de Fleury (ABBADE FLEURY 1846)

as primeiras coleccedilotildees de cartas e o Expositor Portuguez (MIDOSI 1831)

Era muito comum nesse momento da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil a

presenccedila do Catecismo entre os objetos escolares destinados aos alunos (TAMBARA

2003 2005 ORLANDO 2013) Na lista de Primo Jardim (1855) eacute referido o

Cathecismo historico de Fleury Entre os Catecismos usados nas escolas em Goiaacutes

esse foi um dos que obteve maior difusatildeo As coleccedilotildees de Cartas mencionadas satildeo

outro material muito comum no Brasil imperial para o ensino das primeiras letras

Frade (2010) esclarece que esse material era recorrentemente conhecido como

cartas cartas de ABC cartas de siacutelabas cartas de nomes Galvatildeo e Batista (1998) e

Catani e Vicentini (2011) acrescentam que esses materiais eram tambeacutem intitulados

de cartas de ldquoforardquo cartinhas222

O referido Expositor Portuguez tem como tiacutetulo completo O expositor

portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna e trata-se de um livro

destinado agrave instruccedilatildeo primaacuteria portuguesa publicado provavelmente em 1831 em

Londres (BOTO 1997) Escrita pelo portuguecircs Luiz Francisco Midosi (1796-1877)223

222 Para maiores detalhes sobre o Cathecismo Historico de Fleury e das Cartas de ABC cf seccedilatildeo 3 dessa tese 223 Boto (1997) explica que Midosi atuava na poliacutetica liberal em Portugal Ao publicar o jornal O portuguez comeccedilou a sofrer perseguiccedilatildeo poliacutetica foi preso e emigrou para Inglaterra em 1828 Voltou a Portugal em 1834 onde ldquopassou a exercer um acentuado papel poliacutetico junto aos poderes centrais Em 1836 Midosi seria nomeado Governador Geral do distrito de Portalegrerdquo (BOTO 1997 p 353)

208

durante o periacuteodo que passou na Inglaterra fugindo de uma perseguiccedilatildeo poliacutetica em

Portugal a obra foi amplamente divulgada no territoacuterio portuguecircs e tambeacutem circulou

no Brasil como constata Boto (1997)

Carneiro (1844) faz uma descriccedilatildeo do livro datando sua publicaccedilatildeo em 1830

Poreacutem o exemplar que identificamos na Biblioteca Nacional de Portugal224 eacute de 1831

e natildeo apresenta referecircncia de ediccedilatildeo levando-nos a concluir por meio de uma anaacutelise

comparativa com as outras ediccedilotildees do Expositor Portuguez que essa pode ser a

primeira ediccedilatildeo

O livro tem como meacutetodo de ensino o alfabeacutetico225 utilizando tambeacutem

conforme Boto (1997) ratifica a soletraccedilatildeo como teacutecnica para o aprendizado da

leitura Com 132 paacuteginas segundo Carneiro

Este interessante livro de educaccedilatildeo e de que muito careciam as nossas escolas primarias acha-se dividido em cinco secccedilotildees e estas em liccedilotildees progressivas a 1ordf conteacutem tudo quanto eacute relativo aacutes letras e formaccedilatildeo dos vocabulos de differentes sillabas a 2ordf e 3ordf trata de ler soletrando e em periodos a 4ordf conteacutem catecismos geraes de artes e sciencias a 5ordf traz noccedilotildees de mathematica taboada pesos medidas valores das moedas palavras similhantes em som mas diversas em orthografia e sentido oraccedilotildees maximas Moraes e explicaccedilatildeo dos termos latinos e abreviaturas que andam em uso (CARNEIRO 1844 p 221)

Midosi (1831) faz uma breve apresentaccedilatildeo da obra em suas paacuteginas iniciais

enfatizando a natureza gradual da aprendizagem defendendo portanto um ensino

baseado na marcha sinteacutetica explorando das noccedilotildees mais simples agraves mais

complexas Para tanto na sequecircncia discrimina o alfabeto em quadros com a grafia

da letra de imprensa maiuacutescula e minuacutescula acompanhada de uma figura com a

escrita de seu nome separada por siacutelabas (a ndash aacuter-vo-re b ndash bra-ccedilo c ndash cor-ti-ccedilo d ndash

da-do etc)

224 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 225 Segundo Frade (2014) ldquoempregado desde a antiguidade ateacute meados do seacuteculo XIX em vaacuterios locais cujo sistema de escrita eacute o alfabeacutetico o meacutetodo alfabeacutetico pode ser considerado o mais antigo Segue o princiacutepio geral dos meacutetodos sinteacuteticos de centrar a atenccedilatildeo do aprendiz em unidades menores e abstratas a serem combinadas progressivamente Em sua estrutura mais baacutesica propotildee aprender os nomes das letras do alfabeto reconhecer cada letra fora da ordem soletrar seu nome decorar alguns quadros de siacutelabas e depois tentar redescobri-las em palavras ou textos a partir da soletraccedilatildeo ndash com separaccedilatildeo por hiacutefens ou espaccedilos que vatildeo guiando a oralizaccedilatildeo No Brasil eacute comum o uso das expressotildees ldquoCartas de letrasrdquo ou ldquoCartas do ABCrdquo ldquoCartas de siacutelabasrdquo e ldquoCartas de nomesrdquo o que indica a sequecircncia em que a soletraccedilatildeo eacute exercitadardquo (FRADE 2014 p 214)

209

Figura 10 Paacuteginas 7 e 10 do livro O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua

materna (1831)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

O recurso de apresentar as palavras separadas por siacutelabas se constitui como

parte do meacutetodo proposto por Midosi (1831) iniciado pelo aprendizado do alfabeto

Posteriormente aumentando gradativamente o nuacutemero de letras o autor propotildee na

primeira seccedilatildeo do livro o ensino das siacutelabas de duas letras trecircs e quatro letras

monossiacutelabos de duas trecircs e quatro letras dissiacutelabos de trecircs quatro cinco e seis

letras trissiacutelabos de cinco seis sete e oito letras A proposta nas liccedilotildees da seccedilatildeo dois

eacute de ler soletrando pequenos textos narrativos nos quais todas as palavras satildeo

apresentadas com as siacutelabas separadas por um hiacutefen Somente a partir da paacutegina 55

da seccedilatildeo trecircs em diante os textos deixam de apresentar essa divisatildeo silaacutebica O

proacuteprio autor menciona que o leitor quando alcanccedilar essas liccedilotildees jaacute saberaacute ler e

treinaraacute a partir de entatildeo a leitura global das palavras conhecendo os sons de cada

210

siacutelaba na formaccedilatildeo das palavras Se acaso durante a leitura o aluno encontrar

alguma palavra que natildeo compreendeu e natildeo souber pronunciaacute-la aconselha

ldquoprimeiro pergunta o seu significado e depois dividindo-a em syllabas a pronunciaraacutes

com facilidaderdquo (MIDOSI 1831 p 55)

O Expositor Portuguez na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes eacute aqui

mencionado pela primeira vez todavia natildeo identificamos registros de que ele tenha

sido adotado nas escolas goianas entre os anos 50-60 do seacuteculo XIX Apenas a partir

dos anos de 1870 encontramos sua presenccedila nas listas de solicitaccedilatildeo de expediente

escolar conforme explicitamos na seccedilatildeo anterior

No corpo do relatoacuterio de Primo Jardim (1855) outro compecircndio eacute mencionado

sendo um dos mais difundidos e usados nas escolas da Corte o livro Historia de

Simatildeo de Nantua ou o Mercador de Feiras de Laurent Pierre de Jussieu226 Nas fontes

que consultamos no Arquivo Puacuteblico Histoacuterico do Estado de Goiaacutes especialmente

entre 1835 a 1886 natildeo encontramos referecircncia a que esse livro tenha sido usado em

escolas de primeiras letras em Goiaacutes Entretanto Arauacutejo e Silva (1975 p 152)

demonstra que a obra em questatildeo foi usada numa aula puacuteblica mista de primeiras

letras em Bonfim227 na proviacutencia goiana oitocentista A autora destaca que havia

apenas um exemplar do livro que passava de aluno em aluno em praacuteticas de leitura

coletiva

Simatildeo de Nantua como ficou popularmente conhecido eacute um livro escrito e

publicado na Franccedila em 1818 porteriormente traduzido para o portuguecircs por Philippe

Pereira de Arauacutejo e Castro em 1830 (SENA 2017) Segundo Arriada Tambara e

Duarte (2015) essa obra faz parte de uma seleccedilatildeo de compecircndios publicados no

periacuteodo imperial natildeo com intuito de serem textos escolares mas que ldquoforam utilizados

como suporte no processo de aquisiccedilatildeo da leitura Ademais o uso desses textos

estava vinculado ao processo de introjeccedilatildeo de valores eacuteticos e moraisrdquo (ARRIADA

TAMBARA DUARTE 2015 p 244)

No estudo de Lima e Barbosa (2009) eacute destacada a ampla circulaccedilatildeo dessa

obra no Brasil comprovando por meio de fontes documentais que houve pelo poder

226 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo linklthttpsbooksgooglecombrbooksid=Qd3tAAAAMAAJampprintsec=frontcoveramphl=ptBRampsource=gbs_ge_summary_rampcad =0v=onepageampqampf=falsegt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 227 Em 1943 a cidade de Bonfim localizada na regiatildeo sul do estado de Goiaacutes passou a se chamar Silvacircnia

211

central da Corte uma tentativa de instaurar certa regularidade para o ensino de leitura

nas proviacutencias brasileiras principalmente por meio da promulgaccedilatildeo de leis e tambeacutem

pela expediccedilatildeo de orientaccedilotildees para as escolas de primeiras letras do impeacuterio Dessa

maneira entre as orientaccedilotildees expedidas pela Corte estava a utilizaccedilatildeo da Historia de

Simatildeo de Nantua para as aulas de leitura Gama e Gondra (1999) tambeacutem indicam

que esse livro foi utilizado na proviacutencia do Rio de Janeiro na deacutecada de 60 do seacuteculo

XIX

No apecircndice do relatoacuterio apresentado agrave Assembleia Geral do Rio de Janeiro

em 1872 assinado pelo Ministro e Secretaacuterio de Estado dos Negoacutecios do Impeacuterio

Joatildeo Alfredo Correcirca de Oliveira haacute um levantamento das escolas puacuteblicas e privadas

existentes no Municiacutepio da Corte especificando o meacutetodo e os compecircndios adotados

em cada instituiccedilatildeo naquele momento (OLIVEIRA Relatoacuterio do Ministeacuterio dos

Negoacutecios do Impeacuterio 1872) Ao analisar esse documento encontramos vaacuterias

referecircncias agrave obra de Jussieu (1867) tanto em escolas primaacuterias quanto em

secundaacuterias o que corrobora a afirmaccedilatildeo de Primo Jardim (1855) em seu relatoacuterio a

obra Simatildeo de Nantua era geralmente seguida para o ensino de leitura em escolas de

primeiras letras da Corte

212

Figura 11 Folha de rosto da 9ordf ediccedilatildeo do livro Historia de Simatildeo de Nantua ou O mercador de

feiras (1867)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

A ediccedilatildeo portuguesa a que tivemos acesso data de 1867 com 280 paacuteginas

dividida em duas partes A primeira parte (da paacutegina 7 a 187) com 39 capiacutetulos

apresenta Simatildeo de Nantua bem como suas histoacuterias advindas de vaacuterios lugares e

com diferentes personagens A segunda parte (da paacutegina 189 a 276) sob o tiacutetulo

ldquoObras poacutestumas de Simatildeo de Nantuardquo foi organizada pelo companheiro de viagem

de Simatildeo posteriormente agrave publicaccedilatildeo do livro ao que tudo indica em 1829 (SENA

2017) Eacute formada por 8 capiacutetulos No primeiro o companheiro de Simatildeo explica que

o amigo jaacute no leito de morte entrega-lhe uma pasta com manuscritos de seus

pensamentos e ensinamentos ldquopeguei na pasta e guardei-a como se a deixa fosse

uma burra Passados alguns instantes expirou o meu amigo e no outro dia vi assistir

ao seu funeral toda a cidade vestida de luctordquo (JUSSIEU 1867 p 195)

213

Historia de Simatildeo de Nantua ou o Mercador de Feiras narra a histoacuteria de Simatildeo

de Nantua conhecido assim em referecircncia seu local de nascimento Nantua uma

comuna francesa228 O desenrolar das histoacuterias ocorre a partir das vivecircncias de Simatildeo

que andava de feira em feira montado num cavalo vendendo mercadorias Era um

homem descrito com cabelos brancos ldquoo seu rosto risonho e nedio causava prazer

Natildeo obstante a sua grande barriga movia-se com agilidade e andava direito arrimado

ao seu bordatildeo de viagemrdquo (JUSSIEU 1867 p 8) Embora a famiacutelia tenha investido

na educaccedilatildeo de Simatildeo para que ele seguisse a vida sacerdotal ele abandonou os

estudos para seguir a profissatildeo do pai como mercador de feiras

Cada capiacutetulo da histoacuteria se desenrola em uma regiatildeo diferente da Franccedila em

que Simatildeo vendia suas mercadorias nas feiras e transmitia ensinamentos de civilidade

e moralidade Os diaacutelogos apresentados no livro vatildeo induzindo os leitores para

comportamentos e praacuteticas que atendiam aos ldquoideais educacionais que estavam

sendo propalados no Brasil imperial seja por ratificar um meacutetodo que estava em uso

nas escolas francesas229 seja por ter conteuacutedos de moral de virtude e de civilidaderdquo

(SENA 2017 p 212)

Por fim haacute tambeacutem uma obra mencionada no relatoacuterio de Primo Jardim (1855)

como indicada nas escolas de primeiras letras para o ensino de leitura Historia do

Brasil para a leitura da letra redonda Tomando em consideraccedilatildeo a listagem de livros

solicitados no anexo do relatoacuterio de Primo Jardim (1855) eacute provaacutevel que a obra a que

ele se referiu tenha sido escrita por Antonio Aacutelvaro Pereira Coruja popularmente

conhecido como Professor Coruja

Sabemos que as obras do Professor Coruja230 circularam em vaacuterias escolas

brasileiras no periacuteodo imperial como constatam Valdez (2006) e Bastos (2006) O

228 Nantua faz parte da proviacutencia de Ain localizada ao leste da Franccedila 229 O meacutetodo a que Sena (2017) se refere eacute o muacutetuo tambeacutem conhecido como Lancaster citado pelo personagem Simatildeo de Nantua na obra de Laurent Pierre de Jussieu como o ideal para transformar a crianccedila num sujeito doacutecil e civilizado Cf o capiacutetulo V intitulado ldquoSimatildeo de Nantua faz ver as vantagens das escolas em que as crianccedilas se instruem pelo methodo de ensino mutuo e conta a historia do cavalheiro Pauletrdquo (JUSSIEU 1867 p 22-27) 230 Segundo Tambara (2003) as obras didaacuteticas de Coruja satildeo Compecircndio de Gramaacutetica da Liacutengua Nacional (18351849 1862 1863 1867 1872 1879) Manual dos Estudantes de Latim (1838 1849 1866 ndash 5ordf ediccedilatildeo) Compecircndio de Ortografia da Liacutengua Nacional (1848) Manual de Ortografia da Liacutengua Nacional (1850 1852) Exerciacutecios para meninos (1850) Aritmeacutetica para meninos contendo unicamente o que eacute indispensaacutevel e se pode ensinar nas escolas de primeiras letras (1852) Liccedilotildees de Histoacuteria do Brasil adaptada agrave leitura nas escolas contendo a Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do Brasil (1855 1857 1861 1866 1869 1873 e 1877) Compecircndio de Gramaacutetica Latina do Pe A Figueiredo (1852) Catecismo histoacuterico-geograacutefico riograndense (1886) (TAMBARA 2003 p 83)

214

livro referido por Primo Jardim (1855) eacute o Liccedilotildees de Histoacuteria do Brasil adaptada agrave

leitura nas escolas publicado pela primeira vez em 1855 A partir da anaacutelise da 9ordf

ediccedilatildeo desse livro (CORUJA 1873) identificada na Biblioteca Digital do Senado

Federal231 podemos constatar que ele natildeo foi concebido propriamente para o ensino

inicial de leitura e escrita mas para o treino da leitura corrente Primo Jardim (1855)

informa que o referido compecircndio era para o ensino da letra redonda ou de imprensa

o que retoma aspectos das caracteriacutesticas da escola de primeiras letras no periacuteodo

no tocante ao ensino dos diferentes tipos de letras para a crianccedila Ensinava-se a

leitura de variadas letras no intuito de o aluno natildeo ter dificuldade de ler os livros que

circulavam dentro e fora da escola reconhecendo as caligrafias existentes Portanto

o ensino das letras em suas diferentes formas e tamanhos foi um conteuacutedo no

processo de alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas na escola brasileira no periacuteodo imperial

ganhando ainda mais ecircnfase no contexto republicano agrave luz dos princiacutepios dos

manuais franceses (FETTER LIMA LIMA 2010 VIDAL GVIRTZ 1998)

Enfim a partir da anaacutelise das fontes evidenciadas a experiecircncia de Primo

Jardim em 1855 analisada no decorrer deste toacutepico contribuiu na formulaccedilatildeo do

Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria de Goiaacutes em 1856 jaacute que o meacutetodo Castilho

foi descartado oficializando-se o meacutetodo simultacircneo Sendo assim quais foram as

repercussotildees na proviacutencia goiana da viagem do Professor Primo Jardim

42 REPERCUSSOtildeES DA VIAGEM DE PRIMO JARDIM NA PROVIacuteNCIA GOIANA

Quando Primo Jardim fez a viagem em 1855 estava ainda em voga em Goiaacutes

o Regulamento de Instruccedilatildeo nordm 5 de 25 de agosto de 1835 (GOIAacuteS 1835) que natildeo

especificava a adoccedilatildeo de um meacutetodo de ensino nas escolas goianas Naquele

momento a proviacutencia cogitava o lanccedilamento de um novo regulamento de ensino jaacute

que no Municiacutepio da Corte a Reforma Couto Ferraz tinha sido sancionada em 1854

(BRASIL 1854) O governo goiano ao enviar o Professor Feliciano Primo Jardim para

a Corte acompanhou uma tendecircncia que vinha se consolidando no Brasil imperial a

procura pelos grandes centros urbanos como modelos para a educaccedilatildeo

231 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Digital do Senado Federal pelo linklthttpwww2senadolegbrbdsfhandleid242459gt Acesso em 24 de fevereiro de 2019

215

Tal como estaacute divulgado no Jornal O Tocantins em 1855 (O TOCANTINS 15

de dezembro de 1855 p 4) o Presidente Machado pretendia uniformizar o ensino em

Goiaacutes por isso a necessidade de o professor Primo Jardim viajar ao Rio de Janeiro

para conhecer um meacutetodo que estava em alta naquele momento

Como visto o meacutetodo Castilho natildeo foi recomendado por Primo Jardim jaacute que

na Corte as escolas natildeo o seguiam e sim empregavam os meacutetodos individual ou

simultacircneo ou muacutetuo Seguindo o que estava exarado na Reforma Couto Ferraz

(BRASIL 1854) na proviacutencia goiana foi aprovado um novo Regulamento sobre a

instruccedilatildeo primaacuteria em 1856 (GOIAacuteS 1856)

Consideramos que a viagem de Primo Jardim repercutiu na elaboraccedilatildeo desse

novo regulamento uma vez que no discurso apresentando agrave Assembleia Legislativa

Provincial de Goiaacutes pelo entatildeo Presidente Antonio Augusto Pereira da Cunha fica

evidente que ele teve acesso ao relatoacuterio do Professor Primo Jardim e natildeo viu motivos

para reformar o ensino em Goiaacutes sob as bases do meacutetodo Castilho

A 23 drsquoabril ultimo chegou aacute esta capital o professor da 1ordf aula de 1as

letras da mesma Feliciano Primo Jardim que por ordem de meu antecessor foi a corte estudar o methodo de ler escrever que ali pretendia plantar o conselheiro Antonio Feliciano de Castilho O mesmo professor natildeo alcanccedilando na corte o conselheiro Castilho com permissatildeo do exmordm conselheiro inspector geral da instrucccedilatildeo primaria visitou diversas aulas do municipio neutro e entatildeo assistio as liccedilotildees que dava hum professor que como elle comissionado pela provincia ensinava o methodo de leitura repentina cuja exposiccedilatildeo ouvira particularmente do proprio autor visto que o curso publico tinha-se terminado drsquohuma maneira irregular por cujo motivo natildeo pocircde aprender o dito methodo Em seu minucioso relatorio depois de dar noccedilotildees do methodo Castilho informa que dos tres methodos de ensino mais geralmente conhecidos a saber o individual o mutuo o simultaneo este ultimo eacute o actualmente adoptado nas escolas da corte como dispotildee o artigo 73 do regulamento aprovado pelo decreto de 17 de fevereiro de 1854 Methodo este que como diz o exmordm conselheiro inspector geral da instrucccedilatildeo primaria e secundaria da corte em seu relatorio apresentado ao exmordm sr ministro do imperio a 15 de fevereiro ultimo tem a seu favor a opiniatildeo dos homens mais ilustrados e mais competentes nestas materias e a sancccedilatildeo da pratica dos paizes mais adiantados Nesse imenso relatorio diz mais o exordm que natildeo haacute por ora rasotildees plausiveis para alterar o systema do regulamento e que a experiencia que a pouco se fez do systema Castilho natildeo ofereceu resultado para autorizar huma reforma (CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1856 p 21)

Uma fonte importante para cotejarmos com o discurso acima eacute o relatoacuterio

escrito pelo Professor Feliciano Primo Jardim identificado no Arquivo Histoacuterico

Estadual de Goiaacutes e analisado anteriormente Aleacutem da aproximaccedilatildeo de conteuacutedo

216

como por exemplo a menccedilatildeo aos meacutetodos de ensino simultacircneo individual e muacutetuo

como propostas seguidas na Corte o discurso do Presidente tambeacutem referencia que

chegou a suas matildeos um relatoacuterio minucioso enviado pelo Professor Primo Jardim

Notamos ao confrontar ambas as fontes que elas confirmam a tese da nossa

pesquisa no campo educacional mais especificamente no ensino inicial de leitura e

escrita a proviacutencia goiana abria-se agraves reformas instauradas no acircmbito nacional e

procurava estar em sintonia com as ideias de modernidade do Brasil oitocentista

Ainda que os trabalhos sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes especialmente no

impeacuterio revelem o atraso da educaccedilatildeo dessa proviacutencia em relaccedilatildeo agrave de outras

localidades no paiacutes as fontes realccedilam que a Igreja Catoacutelica estava fortemente

presente na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas o que entretanto natildeo foi empecilho

para que o governo procurasse alternativas para mudanccedilas na organizaccedilatildeo didaacutetica

das escolas de primeiras letras

Advertimos sobre essa questatildeo que a Igreja natildeo foi entrave para possiacuteveis

mudanccedilas porque nesse periacuteodo suas relaccedilotildees com o governo da proviacutencia eram

amistosas jaacute que ela mantinha um grande apoio popular em toda a extensatildeo do

territoacuterio goiano Embora a Igreja Catoacutelica tenha se consolidado como uma das

maiores apoiadoras da monarquia durante o periacuteodo imperial Azzi (1991 1992 1994)

salienta que o viacutenculo entre a Igreja e os governos provinciais nem sempre foi

conciliador mas marcado por contracensos e disputas de espaccedilo e poder Todavia o

governo central da monarquia brasileira apoacutes a revoluccedilatildeo liberal de 1842 segundo

Wernet (1987) preferiu nomear bispos ou autoridades religiosas que

correspondessem agraves tendecircncias conservadoras e monarquistas na tentativa de

dirimir ideais liberais radicais e ateacute mesmo republicanos

Em alguns momentos da histoacuteria de Goiaacutes como jaacute evidenciado na seccedilatildeo dois

desta tese mesmo o governo assumindo uma posiccedilatildeo anticlerical a Igreja recebeu

durante todo o impeacuterio o apoio dos Presidentes na manutenccedilatildeo de escolas catoacutelicas

goianas e do Seminaacuterio Episcopal inaugurado em 1872 devido ao forte apoio popular

que ela mantinha Fonseca e Silva (1948) demonstra que em muitas vilas da

proviacutencia era comum durante o impeacuterio que a populaccedilatildeo local e tambeacutem a que

estava nos arredores de uma determinada regiatildeo ajudassem na edificaccedilatildeo de uma

igreja Como jaacute aludimos em Goiaacutes os habitantes eram maiormente rurais e viviam

de uma economia tambeacutem ruralista os mais ricos auxiliavam com donativos enquanto

217

a populaccedilatildeo mais simples com a proacutepria matildeo de obra Geralmente era no entorno de

uma igreja que se formava alguma cidade goiana

Dentro das escolas de primeiras letras a Igreja estava presente de diferentes

maneiras No relatoacuterio de Primo Jardim (1855) jaacute destacamos que muitos dos

compecircndios adotados na Corte estavam impregnados de marcas do catolicismo e de

seus princiacutepios catequeacuteticos e de doutrina cristatilde Logo uma das repercussotildees na

proviacutencia dessa indicaccedilatildeo de livros feita por Primo Jardim foi a solicitaccedilatildeo ou a compra

de alguns desses materiais por ele mencionados para as escolas goianas

Na pesquisa feita na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e de Documentaccedilotildees

Manuscritas Datilografadas e Impressas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

encontramos ofiacutecios do final da deacutecada de 50 e entre os anos 60 70 e 80 do seacuteculo

XIX que citam a compra e o envio agraves escolas de compecircndios indicados por Primo

Jardim (1855)

Sobre isso notamos por exemplo que houve uma grande repercussatildeo do livro

Sciencia do Bom Homem Ricardo na proviacutencia sobretudo no fim dos anos 50 e

durante toda a deacutecada de 60 posto que a primeira vez que encontramos menccedilatildeo

desse livro nas fontes consultadas foi em documento datado de 1859 quando a

Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica enviou para uso nas aulas do Professor Primo

Jardim alguns materiais por ele solicitados (BRANDAtildeO 30 de abril de 1859 p 36

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Importante

destacar que dentre todos os pedidos de livros de leitura corrente feitos por Primo

Jardim apenas esse foi enviado A esse respeito diferentes explicaccedilotildees poderiam ser

dadas mas ao analisarmos o custo desse livro em relaccedilatildeo aos outros como o proacuteprio

Primo Jardim (1855) alerta Sciencia do Bom Homem Ricardo tinha um preccedilo mais

acessiacutevel levando-nos a ponderar que a obra foi escolhida devido agraves suas vantagens

financeiras Soacute para termos uma ideia comparativa o governo conseguiria comprar 4

exemplares de Sciencia do Bom Homem Ricardo ao mesmo preccedilo de 1 exemplar do

livro Arte de aprender a ler a letra manuscripta de Duarte Ventura Jaacute em comparaccedilatildeo

ao livro do meacutetodo Castilho a diferenccedila era ainda maior o valor de 1 exemplar desta

obra correspondia a 10 exemplares de Sciencia do Bom Homem Ricardo

218

Daiacute em diante Sciencia do Bom Homem Ricardo esteve durante todo o impeacuterio

e iniacutecio da repuacuteblica nas listagens dos materiais encaminhados agraves escolas goianas232

Outras obras que se destacaram pelos pedidos avolumados de solicitaccedilatildeo ou

compra nas listas de expediente escolar sendo mencionadas pela primeira vez por

Primo Jardim (1855) e posteriormente citadas nas correspondecircncias da Presidecircncia

da Proviacutencia e ou da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica como materiais

encaminhados aos professores foram o popularmente conhecido Cathecismo

historico de Fleury (ABBADE FLEURY 1846) que circulou entre o final dos anos de

1850 e toda deacutecada de 1880 e O Expositor Portuguez ou rudimentos de ensino da

liacutengua materna (MIDOSI 1831) a partir da deacutecada de 1870

Acreditamos que essas obras foram usadas no processo inicial de ensino de

leitura e escrita de crianccedilas goianas pelos argumentos jaacute apresentados na seccedilatildeo trecircs

desta tese Para aleacutem da questatildeo dos compecircndios fazendo uma anaacutelise comparativa

com os materiais enviados no periacuteodo imperial agraves escolas goianas antes e depois do

marco temporal de 1855233 as fontes revelam que alguns objetos indicados por Primo

Jardim para aplicabilidade do meacutetodo simultacircneo e mencionados como essenciais

para manutenccedilatildeo das escolas foram remetidos com maior frequecircncia lousas

individuais laacutepis de pedra ou laacutepis esponja giz branco penas de accedilo botijas de tinta

aleacutem de folhas pautadas

Na pesquisa realizada no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes no periacuteodo de

1835 a 1886 identificamos 889 listas de expediente escolar em que constam ou o

pedido ou o envio de materiais mencionando algum dos objetos acima descritos

232 A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo encontramos menccedilatildeo agrave solicitaccedilatildeo ou compra da obra Sciencia do Bom Homem Ricardo para as escolas de primeiras letras em Goiaacutes nos livros da seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nordm 397 (1858-1868) 436 (1862-1871) 529 (1871-1879) 575 (1873-1877) 584 (1873-1883) 762 (1883-1885) 831 (1885-1888) e 843 (1886) No levantamento de documentos feito na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas publicada no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 01 pela Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (BARRA UFG 2002) o livro Sciencia do Bom Homem Ricardo eacute mencionado nas listas de expediente escolar do fim da deacutecada de 50 ateacute os anos de 1880 Esses pedidos geralmente eram muito esparsos dirigidos a alguma escola ou professor da proviacutencia de modo que a quantidade natildeo ultrapassava 10 exemplares O uacutenico pedido que difere trata da compra de 100 coacutepias do livro Sciencia do Bom Homem Ricardo enviadas agraves escolas de primeiras letras em 1859 sendo o uacutenico livro de leitura corrente comprado em nuacutemero mais expressivo (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1) 233 Justifica-se esse marco temporal pois em 1855 foi o ano da viagem de Primo Jardim agrave Corte (PRIMO JARDIM 1855)

219

Dessas listas cerca de 60 foram datadas a partir de 1860 um dado extremamente

relevante para conjecturarmos que a iniciativa do Estado de enviar um professor agrave

Corte reverberou em mudanccedilas nos modos de organizar as praacuteticas de ensino em

Goiaacutes diretamente relacionadas aos meacutetodos e materiais para o ensino de leitura e

escrita

Reconhecemos que natildeo eacute o fato isolado das experiecircncias do Professor Primo

Jardim na Corte em 1855 que influenciou propriamente na compra dos materiais

mencionados acima e na propagaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo na proviacutencia Somando-

se a isso haacute outras iniciativas que colaboraram para essa difusatildeo Entre elas

sabemos que na histoacuteria da cultura escrita esses objetos passaram a ser mais

divulgados no Brasil na segunda metade do seacuteculo XIX234 aleacutem de que a proacutepria

regulamentaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo por meio do Regulamento sobre a instruccedilatildeo

primaacuteria em 1856 (GOIAacuteS 1856) exigiu a entrada de novos materiais nas escolas

goianas Sobre isso Abreu (2006) aponta que mesmo apoacutes a indicaccedilatildeo do meacutetodo

simultacircneo no regulamento de 1856 os professores natildeo o adotaram e em muitos

casos os proacuteprios Inspetores tambeacutem natildeo o indicaram devido agrave falta de preparo dos

docentes para aplicaacute-lo Poreacutem sem duacutevidas esse foi um primeiro passo para

circulaccedilatildeo dessa proposta no acircmbito educacional da proviacutencia goiana

Para promover a difusatildeo do meacutetodo simultacircneo impulsionando sua aplicaccedilatildeo

nas classes de primeiras letras o Presidente Joseacute Martins Pereira de Alencastre

mandou imprimir em 1862 um Manual sobre esse meacutetodo distribuindo 50 coacutepias entre

as escolas da proviacutencia (ALENCASTRE 16 de marccedilo de 1862 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436) Neste mesmo ano Alencastre enviou

aos Inspetores Paroquiais uma correspondecircncia com ordem para a praacutetica do meacutetodo

simultacircneo no territoacuterio goiano

Nordm 20 16 de Marccedilo de 1862 1ordf Secccedilaotilde = Circular = Haja Vmce de mandar pocircr em execuccedilatildeo nas escolas publicas drsquoessa Parochia o methodo simultanneo e recomendando aos Professores que o ponhatildeo em pratica observaraacute se effectivamente o fazem conforme consignados no incluso manual que acabo de mandar imprimir para uso das escolas da Provincia ndash Nas informaccedilotildees que V tiver de prestar a respeito das escolas cuja inspecccedilatildeo se acha a seu cargo consignaraacute o desenvolvimento ~q por ventura for tendo esse methodo e os resultados que drsquoelle se for cothendo ndash Estava convencido que da inteligencia e zelo dos Professores se pode tudo esperar em favocircr do melhoramento do

234 Cf Frade e Galvatildeo (2016)

220

ensino e se por eles focircr bem compreendido o systema que mando pocircr em pratica ndash as vistas drsquoesta Presidencia em pouco seratildeo satisfeitas = Deos Guarde Vmce = Joseacute Martins Pereira drsquoAlencastre = Srn~ Inspector Parochial da Capital Identico aacutes demais Parochias da Provincia (ALENCASTRE 1862a 16 de marccedilo de 1862 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

A partir dessa correspondecircncia podemos inferir que tanto na escola da Capital

da proviacutencia quanto nas espalhadas pelos rincotildees de Goiaacutes o meacutetodo simultacircneo natildeo

estava sendo aplicado ateacute entatildeo conforme o Regulamento sobre a instruccedilatildeo primaacuteria

de 1856 previa (GOIAacuteS 1856) A ordem aos Inspetores de mandar executar esse

meacutetodo projeta nele as perspectivas de mudanccedilas do cenaacuterio da educaccedilatildeo goiana

Alencastre (1862a) tambeacutem ordena que em seus relatoacuterios os Inspetores Paroquiais

deveriam mencionar como estaacute sendo o desenvolvimento com esse sistema de ensino

e os frutos que os professores estatildeo colhendo com sua aplicaccedilatildeo Portanto natildeo passa

alheia ao Presidente uma forma de monitoramento para garantir a execuccedilatildeo do

meacutetodo simultacircneo jaacute que conforme elucidamos na seccedilatildeo dois desta tese Alencastre

foi um dos governantes que se destacou na frente de oposiccedilatildeo ao meacutetodo individual

investindo na compra de livros para implantaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo em Goiaacutes

(ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 63)

Retomando a discussatildeo acerca dos objetos fornecidos agraves escolas goianas a

partir de 1860 todos os de que trataremos adiante foram indicados por Primo Jardim

(1855) endossando a tentativa da saiacuteda da proviacutencia de uma tradiccedilatildeo de ensino

calcada na praacutetica individual para uma escola que buscava os ares da modernidade

principalmente por meio da aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos e materiais de ensino

capazes de ensinar mais alunos em menos tempo

As lousas individuais ou ardoacutesias solicitadas por Primo Jardim (1855) confome

Arauacutejo e Silva (1975) descreve jaacute eram comuns na escola goiana devido ao emprego

do meacutetodo ordinaacuterio ou individual e tambeacutem da tentativa de implantaccedilatildeo do meacutetodo

muacutetuo ou Lancaster As lousas portanto eram um suporte de escrita de maior

durabilidade e muito mais econocircmicas do que a folha de papel ou ateacute mesmo o livro

escolar utilizados na praacutetica com o meacutetodo lancasteriano somente apoacutes a

alfabetizaccedilatildeo do aluno (BARRA 2013)

Fernandes (2008) advoga que a difusatildeo das lousas pelo mundo ocidental foi

decorrente das recomendaccedilotildees de seu uso para efetivaccedilatildeo do meacutetodo lancasteriano

221

Esse embora natildeo tenha sido oficializado na proviacutencia goiana deixou suas marcas na

formaccedilatildeo de uma escola que aspirava a se modernizar em face de um ideaacuterio de

racionalizaccedilatildeo do ato pedagoacutegico que vinha se expandindo no Brasil no seacuteculo XIX e

exigia um ensino raacutepido eficiente de baixo custo por meio da ordem da

disciplinarizaccedilatildeo do corpo e da mente (BASTOS 1999)

Para uso da lousa outros materiais geralmente eram enviados para os alunos

como o giz branco ou o laacutepis de pedra destinados segundo Larousse (1869) a

escrever ou desenhar sobre a ardoacutesia sendo que o uacuteltimo era composto

frequentemente de fragmentos de ardoacutesia um pouco mais macia As esponjas

tambeacutem de uso individual ou em grupo eram para apagar os erros ou o que estava

escrito nas lousas (BARRA 2013) ldquoA limpeza das pedras de lousa eacute interessante

dizer constituiacutea cuidado que ficava a criteacuterio do aluno O recomendaacutevel eram os

paninhos trazidos de casa em geral zelosamente conservados pelas meninasrdquo

(ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 127)

Ao contrapormos as fontes notamos que tambeacutem a partir dos anos de 1860

houve a solicitaccedilatildeo cada vez maior de folhas pautadas laacutepis penas de accedilo penas de

ave botijas de tinta e canivetes

Figura 12 Modelos de penas de accedilo

Fonte Disponiacutevel em lthttptipografosnetglossariopenahtmlgt Acesso em 03 de marccedilo de 2019

222

As chamadas penas de accedilo eram compostas por uma ponta de accedilo acoplada

a uma estrutura metalizada ou amadeirada nomeada de caneta Os vaacuterios cortes da

ponteira condicionavam o tipo de escrita que o escriba desejava empregar sendo ou

leve ou fina ou regular bem como o tipo de traccedilado ou grosso ou fino235 Essa

ponteira era comprada no formato desejado sendo um suporte de escrita mais

sofisticado do que as penas de ave jaacute que havia uma distinccedilatildeo de custo numa

proporccedilatildeo de a cada oito penas de ave comprava-se em meacutedia uma pena de accedilo

(GOIAacuteS 1873-1877 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

575) Por isso geralmente nas listas de expediente escolar haacute maior quantidade de

solicitaccedilotildees de penas de ave do que de penas de accedilo Essas comumemente eram

compradas para uso dos professores ou de escritores mais experientes como

revelam algumas correspondecircncias identificadas (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Para aparar as penas de ave utilizavam-se canivetes tambeacutem presentes nas

listas de expediente escolar Frade (2014a) explicita que a pena de accedilo tambeacutem

conhecida como pena metaacutelica foi inventada em 1803 e divulgada na escola em 1840

A autora acrescenta que ao longo do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX houve um

barateamento e difusatildeo desse suporte de escrita uma vez que afiar a pena era uma

accedilatildeo muito perigosa para as crianccedilas embora em muitas fontes analisadas vejamos

a menccedilatildeo ao canivete como um objeto para uso do aluno (CERQUEIRA 19 de marccedilo

de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Razzini (2008) acrescenta que a substituiccedilatildeo da pena de ave pela pena de accedilo foi

gradual e lenta pois sua ldquodesvantagem era enferrujar-se pelo efeito corrosivo da

tintardquo236 (RAZZINI 2008 p 96)

Para grafar utilizando ou a pena de ave ou a pena de accedilo molhava-se a

ponteira da pena na tinta Por isso havia a compra de botijas de tintas o que era feito

em grandes quantias remetidas agraves escolas A tinta era mantida para seu uso

conforme consta nas fontes inventariadas em tinteiros ou nos chamados aparelhos

de tinta tambeacutem fornecidos pela presidecircncia da proviacutencia Em 1858 houve a

235 Essa descriccedilatildeo toma como referecircncia o Glossaacuterio do site tipografosnet Disponiacutevel em lthttptipografosnetglossariopenahtmlgt Acesso em 03 de marccedilo de 2019 236 Os grandes opositores da substituiccedilatildeo da pena de ave pela pena de accedilo foram os caliacutegrafos jaacute que essa substituiccedilatildeo colocava em debate a tradiccedilatildeo da arte da escrita questionando inclusive a necessidade da profissatildeo e da caligrafia ornamental Sobre isso cf Buisson 1888

223

solicitaccedilatildeo de 100 tinteiros proacuteprios para uso escolar em que haacute informaccedilotildees sobre o

modo de preparo da tinta

Nordm 12 Secretaria da inspectoria geral da instrucccedilatildeo publica da provordf de Goyas 9 de Abril de 1958 = Ilmordm e Exmordm Senr~ = Na relaccedilatildeo dos objetos q~ deveriaotilde ser encommendados para as escolas publicas drsquoesta provincia enviada a com o meu offordm de 5 do corre deixou-se de mencionar por engano os seguintes objetos - 100 tinteiros proacuteprios para as ditas escolas = Simplices para se prepararem 100 garrafas de tinta de escrever para as ditas escolas = Deos Guarde a VExcia A sua Excia o Ilmordm e Exmo Senr~ Dordm Francisco Jannuario da Gama Cerqueira mto digno presidente desta provincia = O inspector geral Felippe Antonio Cardoso de Santa Crus (CRUS 1858e AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

A partir das informaccedilotildees transcritas destacamos dois pontos O primeiro refere-

se agrave tinta que poderia ser comprada pronta sendo que os ldquotipos de tinta de uso

comum em Goiaacutes eram a de carbono ou nankin a capeche e a ferro gaacutelica aleacutem das

extraiacutedas de vegetaisrdquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 162) Aleacutem disso como

constatamos acima podia-se comprar uma espeacutecie de siacutemplice que consistia em

ingredientes para composiccedilatildeo da tinta de escrever Ainda sobre o excerto ao

relacionar essa fonte com os dados das pesquisas de Frade (2008 2009 2014a) e

Razzini (2008) chegamos agrave conclusatildeo de que os tinteiros nomeiam no decorrer do

seacuteculo XIX tanto o recipiente onde se guardava a tinta quanto uma espeacutecie de

caneta Vale lembrar que os tinteiros que Primo Jardim (1855) menciona na

organizaccedilatildeo da classe pelo meacutetodo simultacircneo satildeo os objetos fixados na mesa do

estudante onde a tinta ficava guardada

Sobre os pedidos de papel ou folha pautada eles satildeo mencionados por Primo

Jardim (1855) tanto na listagem dos materiais para o meacutetodo simultacircneo quanto para

o meacutetodo Castilho demonstrando que esse suporte jaacute estava difundido na Corte para

o ensino da escrita apesar de que sua vulgarizaccedilatildeo no Brasil data do periacuteodo da

primeira repuacuteblica jaacute no iniacutecio do seacuteculo XX quando tambeacutem foram difundidos os

cadernos escolares (MIGNOT 2008 RAZZINI 2008)

Em Goiaacutes o papel a partir dos anos de 1850 tornou-se um dos materiais mais

solicitados pelos professores contudo ainda havia os pedidos de lousas individuais

Em algumas listas havia referecircncia ao papel pautado (ou tambeacutem nomeado de folha

com linhas) sendo mais comum apenas a referecircncia a papel de uso escolar (GOIAacuteS

1868-1871 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491) No

ofiacutecio encaminhado pelo Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felippe Antonio Cardoso

224

de Santa Crus ao Presidente da Proviacutencia em 13 de abril de 1858 ele explica que o

papel ao norte da proviacutencia era mais caro do que na capital bem como no sul (CRUS

13 de abril de 1858 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

397) Por isso a distribuiccedilatildeo desse material nas escolas de primeiras letras goianas

foi desigual pois estava associada aos recursos e despesas provenientes para o

expediente das escolas de instruccedilatildeo primaacuteria Como as fontes indicam e a legislaccedilatildeo

da eacutepoca tambeacutem exarava geralmente a escola da capital de Goiaacutes tinha mais

recursos e materiais o que tambeacutem segundo Gondra e Schueler (2008) natildeo difere

de aspectos da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil imperial

Um material natildeo solicitado por Primo Jardim (1855) mas jaacute havendo indiacutecios

de seu uso em Goiaacutes na segunda metade do seacuteculo XIX foi o quadro-negro Ele fazia

parte dos mobiliaacuterios necessaacuterios para o desenvolvimento do meacutetodo lancasteriano

adotados especialmente para os exerciacutecios de desenho linear e aritmeacutetica Nas fontes

a que tivemos acesso a primeira referecircncia a esse objeto foi no ano de 1861 quando

solicitado pelo entatildeo Presidente da Proviacutencia Joseacute Martins Pereira de Alencastre

para ser utilizado na escola de primeiras letras da Capital goiana (ALENCASTRE

1861 p 93 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264)

Arauacutejo e Silva (1975 p 125) explicita que anteriormente houve em 1833 a compra

de um quadro-negro enviado agrave proviacutencia aos cuidados de um professor do ensino

muacutetuo

Logo com a maior divulgaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo o quadro-negro passou

a ser solicitado mas ele ldquonatildeo suplantaria o emprego da lousa individual Ambos os

materiais seriam recomendados nas praacuteticas de ler e escrever especialmente nas

classes iniciantes durante todo o seacuteculo XIXrdquo (BARRA 2013 p 130) Heacutebrard (1995)

explicita o uso do quadro-negro nas escolas do seacuteculo XIX reiterando que sua

aplicaccedilatildeo primeiro se deu em escolas mais elitizadas do mundo e depois se propagou

para a instruccedilatildeo de todas as crianccedilas

Primo Jardim solicitou os objetos para execuccedilatildeo do meacutetodo Castilho ao que

tudo indica pelo relatoacuterio analisado no decorrer desta seccedilatildeo logo apoacutes o seu retorno

agrave proviacutencia goiana Vale destacar que no Diario do Rio de Janeiro na ediccedilatildeo de 25 de

janeiro de 1856 (RIO DE JANEIRO 25 de janeiro de 1856 p 5) consta na seccedilatildeo de

registro da saiacuteda do Porto o passageiro Feliciano Primo Jardim Tambeacutem o Jornal

Correio Mercantil na ediccedilatildeo da mesma data acrescenta que essa viagem foi em

direccedilatildeo a Pernambuco (CORREIO MERCANTIL 25 de janeiro de 1856 p 2) Esses

225

registros mostram o iniacutecio da saga de regresso de Primo Jardim a Goiaacutes que chega

agrave capital da proviacutencia em 23 de abril de 1856 como estaacute aludido no Relatoacuterio do

Presidente da Proviacutencia Antonio Augusto Pereira da Cunha (CUNHA Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1856 p 21)

Em 1858 o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica menciona que ainda natildeo foram

adquiridos mas jaacute estavam sendo providenciados para Primo Jardim os objetos

necessaacuterios para experimentaccedilatildeo do meacutetodo Castilho de leitura repentina (CRUS 5

de abril de 1858 p 4 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

nordm 397) Nesse ofiacutecio escrito pelo Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felipe Antocircnio

Cardoso de Santa Crus eacute dito que aos professores da proviacutencia natildeo seratildeo enviados

materiais do meacutetodo Castilho e sim tratados de meacutetodos de ensino com ecircnfase no

simultacircneo sendo solicitados ao Presidente da Proviacutencia 20 exemplares destinados

agravequeles mestres que natildeo tinham condiccedilotildees de compraacute-los (CRUS 5 de abril de 1858

p 4 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Desse

modo o que vemos eacute que a viagem de Primo Jardim agrave Corte impulsionou a adoccedilatildeo

do meacutetodo simultacircneo em Goiaacutes bem como a compra de materiais condizentes com

essa proposta de organizaccedilatildeo didaacutetica

Primo Jardim aposentou-se em 29 de marccedilo de 1859 por motivos de sauacutede

como professor de geografia e histoacuteria do Liceu (CRUS 18 de marccedilo de 1859 p 31

29 de marccedilo de 1859 p 32237 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 397) Em 30 abril do mesmo ano o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica

Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo enviou correspondecircncia ao Presidente da Proviacutencia

Francisco Januario da Gama Cerqueira mencionando que Primo Jardim jaacute de posse

do material solicitado para aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho abriria uma turma para testaacute-

lo e para tanto necessitaria de 16 meninos em estado de absoluta ignoracircncia para o

iniacutecio do trabalho em 1ordm de maio de 1859

Nordm 23 Em 30 de Abril comunicando ter posto a disposiccedilatildeo de Feliciano Primo Jardim tudo quanto depende da Inspectoria ensaio do methodo Castilho Secretaria da Inspectoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica de Goyaz 30 de Abril de 1859

237 Em Crus (18 de marccedilo de 1859) encontramos a solicitaccedilatildeo de aposentadoria de Primo Jardim por motivo de sauacutede na sequecircncia em Crus (29 de marccedilo de 1859) eacute concedida a aposentadoria e substituiccedilatildeo do professor Primo Jardim interinamente pelo professor de Filosofia do Liceu Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo que posteriormente assumiria o cargo de Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes

226

Ilmordm Exmordm Senr~ Em virtude da autorisaccedilatildeo verbal que V Excia conferio-me em uma das conversaccedilotildees particulares com que V Excia se dignou de honrar-me entendi-me com o professor aposentado Feliciano Primo Jardim pondo a sua disposiccedilatildeo tudo quanto difundisse drsquoessa inspectoria para levar a efeito o ensino aque taotilde generosamente se propoe do methodo simultaneo portuguez Castilho Em consquencia drsquoesta minha declaraccedilaotilde e mesmo por se achar officialmente autorisado por V Excia declarou-me aquelle professor que precisava de 16 meninos em estado de absoluta ignorancia 16 lousas e lapis correspondentes numeros igual de folhetos da Sciencia do Bom Homem Ricardo dous bancos e um pouco de giz Todas estas exigencias faratildeo imediatamente satisfeitas e pretende aquelle professor dar principio aos trabalhos do ensino no dia 1ordm do proacuteximo mecircs de Maio Aqui tenho a honra de levar ao conhecimento de V Excia aver de alguma cousa bem V Excia que ordenem contrario Dios Guarde a V Excia Ilmordm Exmordm Senr Doutor Francisco Januario da Gama Cerqueira Presidente drsquoesta Provincia o Inspector Joatildeo Luis Her Brandatildeo (BRANDAtildeO 30 de abril de 1859 p 36 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Em resposta o Presidente Cerqueira em 3 de maio de 1859 daacute ciecircncia de que

foram disponibilizados a Primo Jardim os materiais solicitados e os 16 meninos

Secccedilatildeo Nordm 27 Palacio do Governo de Goyaz 3 de Maio de 1859 Pelo seo officio de 30 dersquoAbril ultimo sob ndeg 94 fiquei inteirado de que em virtude das ordens desta Presidencia Vmce mandou prestar ao Professor aposentado Feliciano Primo Jardim os objetos por me requisitados e 16 meninos em estado de absoluta ignorancia das mateacuterias que se ensinatildeo nas escolas de primeiras letras pelo methodo ordinario afim de tentar um ensaio do methodo Castilho Deos Guarde a Vmce Francisco Jamario da Gama Cerqueira Senro Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (CERQUEIRA 3 de maio de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Sobre esses dois registros um aspecto importante a destacar eacute que ambos

relatam o interesse do governo provincial no experimento com o meacutetodo Castilho

Essa questatildeo deixa transparecer a crenccedila de que os materiais e meacutetodos importados

eram melhores do que os disponiacuteveis no paiacutes demonstrando tal como Lajolo e

Zilberman (1996) apontam a forccedila da presenccedila portuguesa no mercado editorial

brasileiro bem como as tramas poliacuteticas enviesadas no campo educacional Tudo isso

se constituiacutea diante da ldquoprecariedade dependecircncia e insuficiecircncia das instituiccedilotildees

culturais brasileirasrdquo e mantinha-se tambeacutem devido agraves articulaccedilotildees poliacuteticas que

Antonio Feliciano de Castilho autor do meacutetodo Castilho e outros escritores de livros

portugueses estabeleciam com embaixadores e outros poliacuteticos do Brasil (LAJOLO

227

ZILBERMAN 1996) Sobre esse meacutetodo em questatildeo as autoras reiteram que ele foi

por diversas vezes ldquomencionado em discursos parlamentares e relatoacuterios

governamentaisrdquo (LAJOLO ZILBERMAN 1996 p 189)

A escolha por Primo Jardim para essa experiecircncia com o meacutetodo Castilho haacute

que se salientar natildeo foi aleatoacuteria Esse professor atuou como funcionaacuterio puacuteblico em

escola de primeiras letras no Liceu ocupou o cargo de Inspetor Paroquial da Capital

Consideramos que sua viagem como jaacute relatamos no decorrer desta seccedilatildeo eacute um

marco na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana uma vez que auxiliou no alastramento de novas

propostas de organizaccedilatildeo didaacutetica Sobre isso Abreu (2006) aponta em sua pesquisa

analisando uma tabela de utensiacutelios para expediente escolar elaborada pelo Inspetor

Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica em 1859 que ela foi montada ldquocom base na lista de

utensiacutelios e compecircndios apresentada pelo professor Feliciano Primo Jardim quando

esteve na capital do Impeacuteriordquo A autora ainda acrescenta que ldquotalvez a ideia fosse ir

aos poucos dotando as escolas com os utensiacutelios necessaacuterios para gradativamente

implantar o meacutetodo simultacircneo nas escolas de primeiras letrasrdquo (ABREU 2006 p 204-

205)

Por fim natildeo encontramos fontes que revelassem se a classe com o meacutetodo

Castilho mencionada nos excertos anteriormente foi de fato aberta Arauacutejo e Silva

(1975) informa que a classe foi aberta mas

[] algum tempo depois apoacutes o iniacutecio das atividades com a classe experimental dava-se por encerrada a experiecircncia atendendo-se ao representado pelo professor (Ato de 7 de julho de 1859) Recolheram-se agraves respectivas escolas os alunos que prestaram ao ensaio natildeo vindo a lume as razotildees para sua brusca interrupccedilatildeo Talvez o motivo estivesse na sauacutede do professor jaacute aposentado (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 145)

Por conseguinte a partir da consulta aos diferentes documentos inventariados

nesta tese e sua anaacutelise notamos que o meacutetodo Castilho natildeo repercutiu positivamente

pelas escolas de primeiras letras espalhadas pela proviacutencia goiana

43 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

As discussotildees em torno dos meacutetodos para alfabetizaccedilatildeo ganharam

efervescecircncia na segunda metade do seacuteculo XIX quando no Brasil circularam

algumas publicaccedilotildees portuguesas dirigidas para o ensino inicial da leitura e da escrita

228

(MORTATTI 2000 2000a) Entretanto os debates existentes naquele momento foram

muito tiacutemidos pois ainda natildeo havia no paiacutes um mercado livresco consolidado voltado

agrave escola Os livros que aqui circulavam eram vendidos por altos preccedilos uma vez que

geralmente eram importados da Europa (LAJOLO ZILBERMAN 1996 HALLEWELL

2012) Por este fato o puacuteblico que a eles tinha acesso era restrito a uma elite

intelectual e quando muito a professores escolhidos pelo governo que desfrutavam

do privileacutegio de ter contato com livros e participar de cursos e em troca tinham o

dever de difundir os ideaacuterios aprendidos entre os seus pares aspirando agrave melhoria da

escola e do ensino popular (LAJOLO ZILBERMAN 1996)

Na histoacuteria da educaccedilatildeo do Brasil oitocentista haacute casos exemplares

historiografados por diferentes pesquisadores brasileiros de professores que

participaram de cursos ou tiveram acesso a livros sobre ideias inovadoras para o

ensino e posteriormente eram encarregados de difundir o que tinham aprendido

(MORTATTI 2000 MARCILIO 2016 dentre outros) Em Goiaacutes ao que tudo indica o

primeiro professor financiado pelo Estado para ter contato com novos materiais e

meacutetodos no Municiacutepio da Corte a fim de propagaacute-los na proviacutencia goiana foi Feliciano

Primo Jardim

No seacuteculo XIX um dos meacutetodos difundidos no territoacuterio brasileiro foi o do

portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho divulgado popularmente como meacutetodo

Castilho com o slogan de ser direcionado para o ensino raacutepido e agradaacutevel da leitura

e da escrita tanto na escola quanto no ambiente domeacutestico

Como exposto nesta seccedilatildeo Castilho esteve no Brasil em 1855 para divulgar o

seu meacutetodo por meio de um curso Entretanto o seu retorno para Europa se deu antes

do previsto jaacute que o curso terminou irregularmente devido aos confrontos entre as

ideias desse autor e outras de autores brasileiros que imperavam com suas

publicaccedilotildees naquele momento (BOTO ALBUQUERQUE 2018)

Para participar desse curso o governo da proviacutencia de Goiaacutes por iniciativa do

Presidente Antonio Candido da Cruz enviou ao Municiacutepio da Corte Feliciano Primo

Jardim no intuito de conhecer o meacutetodo Castilho Ao chegar agrave Corte o curso havia

finalizado poreacutem Primo Jardim conseguiu acompanhar algumas aulas pelo meacutetodo

Castilho e tambeacutem pelo simultacircneo Na anaacutelise empreendida nesta seccedilatildeo expusemos

que os ideaacuterios da obra Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (CASTILHO 1853) circularam na

proviacutencia goiana poreacutem natildeo haacute documentaccedilatildeo suficiente que comprove a adoccedilatildeo

229

efetiva desse meacutetodo de ensino de leitura e escrita em Goiaacutes Sendo assim a viagem

de Primo Jardim contribuiu muito mais para oficializaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo no

Regulamento de Ensino de 1856 (GOIAacuteS 1856) jaacute que citado por ele como meacutetodo

em destaque nas escolas da Corte

Todas essas questotildees mostram que a proviacutencia de Goiaacutes natildeo se manteve

alheia ao que ocorria no acircmbito nacional mas pelo contraacuterio estava em sintonia com

vaacuterias iniciativas do Municiacutepio da Corte A viagem de Primo Jardim ao Rio de Janeiro

revela que houve tentativas do governo goiano de acompanhar as novidades que ali

circulavam e implementar essas ideias nas escolas de primeiras letras Poreacutem a natildeo

adoccedilatildeo ou oficializaccedilatildeo do meacutetodo Castilho em Goiaacutes natildeo demonstra uma situaccedilatildeo

isolada dessa proviacutencia no territoacuterio brasileiro Pelo contraacuterio como jaacute tratamos esse

meacutetodo natildeo foi amplamente difundido nas escolas do paiacutes principalmente pela

oposiccedilatildeo do professor Costa e Azevedo a Castilho Durante o curso oferecido no

Brasil Costa e Azevedo autor de um livro de ensino de leitura pela marcha sinteacutetica

o denominado Liccedilotildees de Ler fez frente de oposiccedilatildeo ao meacutetodo Castilho (CASTELO-

BRANCO 1977 BOTO ALBUQUERQUE 2018) Uma disputa que ultrapassou a

questatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo jaacute que trazia agrave tona questotildees poliacuteticas filosoacuteficas

e sociais (ALBUQUERQUE BOTO 2017)

Dado o exposto e em virtude da anaacutelise empreendida acerca da experiecircncia de

Primo Jardim na Corte as fontes confirmam que mesmo sendo a proviacutencia goiana

majoritariamente rural o que colocava em xeque a necessidade da escola e ainda

diante da influecircncia da onda conservadora da Igreja que pretendia se manter intacta

no poder no que concerne ao campo da alfabetizaccedilatildeo Goiaacutes esteve inserido nas

transformaccedilotildees e na onda das ideias de modernidade do Brasil do seacuteculo XIX

ratificando a nossa tese de estudo Embora as pesquisas sobre a institucionalizaccedilatildeo

da escola em Goiaacutes demonstrem que esta proviacutencia era atrasada em relaccedilatildeo a muitos

quesitos no acircmbito educacional se comparada a outras regiotildees do Brasil os indiacutecios

deixados nas fontes histoacutericas analisadas permitem afirmar que no campo da leitura

e da escrita o Governo mobilizava-se para trazer novidades para o ensino das

crianccedilas

Haacute que se destacar que muitos dos ideaacuterios natildeo se mantinham por diferentes

fatores especialmente por falta de recursos financeiros Tal como analisamos nesta

seccedilatildeo os valores totais dos materiais para implementaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo

eram muito inferiores aos do meacutetodo Castilho apesar das suas funccedilotildees e concepccedilotildees

230

diferentes Acrescentariacuteamos tambeacutem que havia uma cultura escolar em que se

arraigara o costume de ensinar pelo meacutetodo individual e pelo sistema de alfabetizaccedilatildeo

de marcha sinteacutetica o que unido agrave falta de materiais e formaccedilatildeo teacutecnica dos docentes

impossibilitava que as novas ideias resultassem em praacuteticas efetivas para o ensino

inicial de leitura e escrita

231

5 A PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICA BRASILEIRA

NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS

___________________________________

Ao longo do trabalho estamos desenvolvendo uma linha argumentativa que

evidencia a inserccedilatildeo da proviacutencia goiana no contexto das propostas que aspiravam a

modernizar a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas no Brasil do seacuteculo XIX Entretanto conforme

tratamos o governo em Goiaacutes natildeo levou adiante muitas iniciativas devido aos custos

e natildeo conseguiu alastraacute-las pelas diferentes localidades restringindo-as agrave Capital

Essa questatildeo a princiacutepio poderia refutar a tese da pesquisa jaacute que aparentemente

demonstra uma certa ambivalecircncia todavia essa contradiccedilatildeo traz os argumentos

fundantes para pensarmos acerca da difusatildeo da produccedilatildeo didaacutetica brasileira na

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir dos anos de 1870 objeto de nosso estudo

nesta seccedilatildeo

Anunciamos de antematildeo as duas principais ideias que desenvolveremos no

decorrer do capiacutetulo A primeira ligada ao fato de que o governo da proviacutencia goiana

aderiu mais agraves propostas que circularam pelo Impeacuterio concretizadas em cartilhas eou

livros de leitura cujos autores fizeram doaccedilatildeo de seus impressos como uma estrateacutegia

mercadoloacutegica para divulgaccedilatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo proposto A segunda

vincula-se com o panorama do mercado editorial jaacute que ldquoo abrasileiramento dos livros

didaacuteticos soacute se torna realidade no fim do seacuteculo XIX concomitantemente agrave

nacionalizaccedilatildeo do livro para crianccedilasrdquo (LAJOLO ZILBERMAN 1996 p 183) O

232

surgimento de autores e livrarias que investiram na produccedilatildeo de livros didaacuteticos

brasileiros fez com esse tipo de livro se comparado com os literaacuterios ficasse mais

acessiacutevel aos leitores e mais rentaacutevel aos editores como apontam Lajolo e Zilberman

(1996) e Hallewell (2012) Logo esse cenaacuterio facilitou a entrada de uma produccedilatildeo

editorial nacional nas escolas da proviacutencia goiana a partir de 1870

Nesse ponto eacute importante colocar em evidecircncia o contraponto feito por

Braganccedila (1999) ao demonstrar que os negoacutecios editoriais se arquitetaram no limiar

do seacuteculo XX quando se iniciou a construccedilatildeo do lugar social do escritor profissional

que teve ldquouma remuneraccedilatildeo digna pelo seu trabalho com acesso a contratos justosrdquo

o autor acrescenta que a partir dos anos de 1920 e 1930 eacute que ldquohouve a possibilidade

de um fortalecimento da induacutestria cultural com a expansatildeo do mercado da leiturardquo

(BRAGANCcedilA 1999 p 458)

El Far (2010) destaca que na segunda metade do seacuteculo XIX houve uma

mudanccedila no cenaacuterio editorial brasileiro em funccedilatildeo do surgimento de livreiros que

colocavam no mercado um ldquolivro popular de capa brochada e papel barato e

produzido com baixo custo de ediccedilatildeordquo A autora advoga que esse denominado livro

popular que se expandiu entre as publicaccedilotildees que circularam em especial no Rio de

Janeiro natildeo foi uma invenccedilatildeo do Brasil Portugal e Franccedila jaacute tinham uma experiecircncia

ldquona confecccedilatildeo em larga escala desses pequenos volumesrdquo (EL FAR 2010 p 90)

Dito isto notamos que embora o mercado editorial brasileiro tenha se

fortalecido com mais veemecircncia com as ideias da Repuacuteblica mesmo diante de todas

as dificuldades em adquirir os livros para as escolas em Goiaacutes eles ocuparam um

lugar importante no contexto educacional desde o seacuteculo XIX Em consonacircncia

Valdez Oliveira e Rodrigues (2010) ao tratarem sobre os livros escolares para a

infacircncia nas terras goianas no oitocentos revelaram que

O livro era considerado um objeto redentor que daria saber e traria luzes a uma proviacutencia que se encontrava isolada e distante dos grandes centros litoracircneos Essa crenccedila no poder do livro como depositaacuterio privilegiado do saber escolar e objeto de viabilizaccedilatildeo dos projetos educacionais incluindo a formaccedilatildeo de professores e alunos com poucas diferenccedilas transparecia nos discursos de grupos conservadores catoacutelicos positivistas ou cientificistas republicanos em diferentes lugares do Brasil oitocentista (VALDEZ OLIVEIRA RODRIGUES 2010 p 11)

Elegemos para esta uacuteltima seccedilatildeo a produccedilatildeo didaacutetica produzida por escritores

brasileiros que marcaram a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo goiana durante o Impeacuterio A

233

escolha natildeo foi aleatoacuteria e se justifica tanto pelo que as fontes inventariadas no

Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes indicaram a partir dos anos de 1870 quanto pela

ideia do que esses livros e autores representaram para a constituiccedilatildeo de um

sentimento de unificaccedilatildeo brasileira parafraseando Pfromm Neto Dib e Rosamilha

(1974)

Dessa forma objetivamos analisar como os impressos didaacuteticos

ldquoeminentemente brasileirosrdquo influenciaram a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes entre

1870 e 1886 quando se encerra o recorte temporal da nossa Tese As reflexotildees feitas

aqui podem impulsionar outras tantas jaacute que muitos dos livros que circularam nesse

periacuteodo estiveram presentes no decurso da Repuacuteblica

Munakata (2014) adverte que o vocaacutebulo ldquodidaacuteticordquo para se referir aos livros

escolares de uso pedagoacutegico ficou consagrado no Brasil a partir dos anos de 1930

com a criaccedilatildeo do Instituto Nacional do Livro (1937) e da Comissatildeo Nacional do Livro

Didaacutetico (1938) Optamos por utilizaacute-lo pois os estudos no campo da histoacuteria dos livros

escolares238 em especial os de Munakata (2014 2016) legitimou essa nomeaccedilatildeo

sem cair em anacronismos uma vez que ela eacute usual e estaacute mais para intitular uma

funccedilatildeo do objeto cultural livro do que para se referir a um momento histoacuterico especiacutefico

de seu consumo

Nos anos de 1870 dois autores brasileiros foram mencionados nas listas de

expediente escolar inventariadas segundo anunciamos na seccedilatildeo trecircs Antonio

Pinheiro de Aguiar e Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas Outros autores

poderiam ser aludidos poreacutem os pedidos mais avolumados satildeo de obras de autoria

desses motivo pelo qual os escolhemos para alongar o debate sobre seus impressos

e a influecircncia na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo na proviacutencia goiana O nuacutemero de livros

comprados eou recebidos por meio de doaccedilotildees permite-nos conjecturar que eles

circularam nas escolas primaacuterias de Goiaacutes no periacuteodo pesquisado

Aleacutem disso Pinheiro de Aguiar e Borges se aproximam quanto agrave estrateacutegia

comercial de divulgaccedilatildeo visto que ambos fizeram doaccedilotildees de exemplares de suas

obras agraves escolas O primeiro mais timidamente jaacute o segundo com expressivos

donativos em vaacuterios locais do paiacutes o que o colocou na rota de autores mais difundidos

no Impeacuterio e na Primeira Repuacuteblica

238 Para aprofundar nessa questatildeo cf o Dossiecirc Temaacutetico ldquoLivros didaacuteticos como fonteobjeto de pesquisa para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil e na Espanhardquo organizado Kecircnia Hilda Moreira e Kazumi Munakata na Revista Educaccedilatildeo e Fronteira (v 7 ndeg 20 2017)

234

Insta esclarecer que acerca da histoacuteria da obra de Abiacutelio Ceacutesar Borges muito jaacute

se pesquisou mas em contrapartida sobre Antonio Pinheiro de Aguiar haacute poucos

estudos levando-nos a fazer consideraccedilotildees mais detalhadas sobre esse autor A

anaacutelise que empreendemos considera a materialidade das obras cotejada com as

fontes documentais que incita variadas ldquointerpretaccedilotildees compreensotildees e usos de

seus diferentes puacuteblicosrdquo (CHARTIER 1998 p 18 grifos nossos)

Por fim para abrir os itens a seguir trazemos o poeta Maacuterio Quintana (1995)

para uma reflexatildeo

A beleza dos versos impressos em livro ndash serena beleza com algo de eternidade ndash Antes que venha conturbaacute-los a voz das declamadoras Ali repousam eles misteriosos cacircntaros Nas suas fraacutegeis prateleiras de vidro Ali repousam eles imoacuteveis e silenciosos Mas natildeo mudos e iguais como esses mortos em suas tumbas (QUINTANA 1995 p 10)

Eacute necessaacuterio frisar que diferente do que Quintana (1995) escreveu sobre o livro

de poesia os livros com caracteriacutesticas didaacuteticas impressos de uso escolar por mais

imoacuteveis e silenciosos que agrave primeira vista pareccedilam satildeo objetos que ldquo[] natildeo satildeo

meramente ideias sentimentos imagens sensaccedilotildees significaccedilotildees que o texto possa

representarrdquo (MUNAKATA 1997 p 84) Carregam em si ideologias de seus autores

e de seu tempo objetivos definidos politicamente situados e socialmente

estabelecidos por uma rede de comunicaccedilatildeo e uma ldquorede de sociabilidaderdquo239 de seus

escritores Enfim ateacute que algueacutem selecione esses livros para realizar a anaacutelise ldquoali

repousam eles misteriosos cacircntaros nas suas fraacutegeis prateleiras de vidrordquo

Vamos pois ao desafio de retiraacute-los das prateleiras e situaacute-los na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes

239 Expressatildeo utilizada tomando como referecircncia o que eacute proposto por Sirinelli (2003) ao definir redes de sociabilidade de um intelectual O autor explica que ldquotodo grupo de intelectuais organiza-se a partir de uma sensibilidade ideoloacutegica ou cultural comum e de afinidades que alimentam o desejo e o gosto de conviverrdquo (SIRINELLI 2003 p 246)

235

51 O MEacuteTODO BACADAFAacute DE ANTONIO PINHEIRO DE AGUIAR

O nome de Antonio Pinheiro de Aguiar e o de sua obra que conteacutem o meacutetodo

de leitura abreviada denominado de Bacadafaacute ainda satildeo poucos referenciados nos

estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Esse impresso passa despercebido como uma

das produccedilotildees didaacuteticas brasileiras escritas e publicadas no Brasil imperial talvez

pelas dificuldades de localizar a obra ou ateacute mesmo pela sua baixa circulaccedilatildeo nas

proviacutencias brasileiras Ateacute o momento encontramos apenas trecircs autoras que

analisaram o meacutetodo Bacadafaacute Maciel (2002) Schueler (2004 2005) e Teixeira

(2004 2008) Utilizamos principalmente essas pesquisas para tratar a respeito do

escritor o professor Pinheiro de Aguiar e de sua obra adicionando algumas

informaccedilotildees a partir das fontes consultadas

Embora essas autoras se tenham aprofundado em alguns aspectos sobre o

meacutetodo Bacadafaacute natildeo podemos negligenciar que ele eacute mencionado em outros

trabalhos como por exemplo o de Trindade (2001) Amacircncio (2008) Amacircncio e

Cardoso (2006) Assunccedilatildeo (2009) e Franklin (2017) Trindade o cita em sua tese de

doutorado referindo que natildeo haacute evidecircncias que ele foi usado na Instruccedilatildeo Puacuteblica

gauacutecha Jaacute Amacircncio e Cardoso explicitam que esse meacutetodo foi propagandeado na

proviacutencia de Mato Grosso mas natildeo foi adotado nas escolas mato-grossensses

Assunccedilatildeo em sua pesquisa sobre a alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo na deacutecada de

1870 certifica que os impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute foram enviados

a essa proviacutencia mas natildeo houve sua adoccedilatildeo oficial nas escolas capixabas Franklin

aponta que o sistema de leitura denominado Bacadafaacute fez parte de um momento poacutes-

implantaccedilatildeo do ensino secundaacuterio no Brasil fruto da tentativa de reformular o ensino

na Corte atraveacutes dos ldquomeacutetodos inovadores de alfabetizaccedilatildeordquo (FRANKLIN 2017 p

92)

Acerca da vida de Pinheiro de Aguiar Schueler (2005) explicita

Sobre o autor do meacutetodo de leitura Bacadafaacute ndash Pinheiro de Aguiar ndash pouco consegui descobrir Soube apenas que ele nascera na proviacutencia de Minas Gerais era professor de desenho e piano e exercia interinamente o cargo de professor puacuteblico na terceira escola primaacuteria de meninos da Freguesia de Santana local onde tambeacutem dirigia uma escola particular (SCHUELER 2005 p 174)

236

Podemos adicionar que o autor nasceu provavelmente em Ouro Preto em 1814

e faleceu em 1894240 foi casado com Maria Argentina de Aguiar que tambeacutem atuou

como professora no Rio de Janeiro Em notas do Jornal Correio Mercantil e do

Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro haacute propagandas da

abertura de uma escola do sexo feminino da professora Maria Argentina em ldquoSatildeo

Cristovatildeo na travessa das Flores nordm 4 ao lado da Academia Militarrdquo nos anos de

1860 em que se ensinava pelo meacutetodo Bacadafaacute esse local era a residecircncia do casal

(CORREIO MERCANTIL 19 de dezembro de 1861 p 4 ALMANAK

ADMINISTRATIVO 1865 p 431)

Satildeo Cristovatildeo nesse periacuteodo era um bairro nobre do Rio de Janeiro habitado

inclusive por famiacutelias da aristrocraria portuguesa O Coleacutegio ora nominado de

ldquoColeacutegio do Bacadafaacuterdquo ora com a referecircncia ao nome dos professores como ldquoColeacutegio

de Antonio de Pinheiro de Aguiarrdquo ou ldquoColeacutegio de D Maria Argentina de Aguiarrdquo

funcionou como um dos locais em que Pinheiro de Aguiar fazia suas exposiccedilotildees

puacuteblicas a respeito do sistema de leitura abreviada que havia criado

Essa escola foi uma das mais citadas na imprensa carioca como um dos locais

em que funcionava a aplicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute entretanto outros lugares em

que o autor abriu uma sala particular para ensinar ou para expor o seu meacutetodo no Rio

de Janeiro podem ser adicionados como o ldquocoleacutegio da Rua da Ajudardquo (PINHEIRO DE

AGUIAR CORREIO MERCANTIL 19 de julho de 1860 p 3) e a ldquocasa da rua da

Alfacircndegardquo (CORREIO MERCANTIL 8 de novembro de 1860 p 3)241 Em 1863 o

Jornal Correio Mercantil noticiou que o Imperador havia concedido a Pinheiro de

Aguiar uma ldquosala no ediacutefico lateral do Theatro S Pedrordquo onde lecionaria muacutesica e

explicaria o ldquosistema nacional de leitura raacutepidardquo oferecendo exposiccedilotildees perioacutedicas

240 No Relatoacuterio da Reparticcedilatildeo dos Negoacutecios do Impeacuterio no Rio de Janeiro haacute o Aviso datado de 14 de novembro de 1861 mencionando que Antonio Pinheiro de Aguiar autor do meacutetodo Bacadafaacute tinha na ocasiatildeo 49 anos levando ao ano de 1812 como sendo o marco de seu nascimento (RIO DE JANEIRO 1862 p 19) Utilizamos entretanto para referenciar o ano de nascimento e morte do autor os dados constantes na Plataforma Heacutelio Gravataacute um repositoacuterio com fontes digitalizadas pertencentes ao acervo do Arquivo Puacuteblico Mineiro Disponiacutevel em lthttpwwwsiaapmculturamggovbrmodulesgravata_brtdocsphotophpli d=55849gt Acesso em 25 de junho de 2019 241 Nas escolas em que Pinheiro de Aguiar lecionava ele utilizava o sistema de monitoria em que os alunos mais adiantados auxiliavam os menos adiantados Geralmente dividia-os em classe por grau de conhecimento (PINHEIRO DE AGUIAR CORREIO MERCANTIL 9 de setembro de 1861 p 2)

237

com as devidas provas que certificariam a eficaacutecia do meacutetodo Bacadafaacute (CORREIO

MERCANTIL 21 de outubro de 1863 p 2)

As exposiccedilotildees puacuteblicas abertas agrave comunidade principalmente direcionadas

aos pais de crianccedilas analfabetas foi uma das estrateacutegias utilizadas por Pinheiro de

Aguiar para divulgar o seu meacutetodo do qual foi o maior entusiasta e defensor

chegando a ser caracterizado pelo Conselho de Instruccedilatildeo Puacuteblica da Corte como

fanatista (TEIXEIRA 2008 A INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109)

Conseguiu em alguns momentos autorizaccedilatildeo desse Conselho para essas exposiccedilotildees

e quando a negavam recorria agrave Assembleia Geral Legislativa e ateacute ao proacuteprio

Imperador (CORREIO MERCANTIL 26 de maio de 1861 p 2 16 de junho de 1861

p 1 21 de outubro de 1863 p 2)

Sabe-se tambeacutem que Pinheiro de Aguiar passou um tempo na Proviacutencia de

Minas Gerais retornando ao Rio de Janeiro em 1886 No Distrito de Madre de Deus

do Anguacute pertencente ao municiacutepio de Leopoldina abriu internato de instruccedilatildeo

primaacuteria e secundaacuteria que funcionava pelo meacutetodo Bacadafaacute (PINHEIRO DE AGUIAR

JORNAL DO COMMERCIO 28 de abril de 1886 p 6)

O meacutetodo Bacadafaacute surgiu no Rio de Janeiro no final dos anos 50 do seacuteculo

XIX periacuteodo em que foi levado a puacuteblico Divulgado com mais veemecircncia entre os

anos 60 e 80 devido agrave publicaccedilatildeo de um impresso que continha a orientaccedilatildeo para

aplicaccedilatildeo do meacutetodo esse fato faz com que Pinheiro de Aguiar esteja entre os autores

nascidos no Brasil que publicaram cartilhas de alfabetizaccedilatildeo ldquogenuinamente

brasileirasrdquo242 no periacuteodo imperial Para anaacutelise do meacutetodo utilizamos duas ediccedilotildees

da cartilha datadas dos anos de 1870 agraves quais tivemos acesso por meio das

pesquisadoras professora Francisca Izabel Pereira Maciel da Universidade Federal

de Minas Gerais e professora Giselle Baptista Teixeira da Prefeitura Municipal de

Duque de Caxias O exemplar cedido por Francisca Maciel eacute uma coacutepia xerografada

de uma ediccedilatildeo de 1877 A professora Giselle Teixeira nos forneceu a digitalizaccedilatildeo de

algumas paacuteginas do impresso datado de 1871

242 Segundo Schueler (2005) Antonio Estevam Costa e Cunha defensor do Meacutetodo Bacadafaacute considerava-o ldquogenuinamente nacionalrdquo pois tratava-se de uma proposta de ensino que utilizava siacutembolos nacionais aleacutem de ter sido idealizada por um brasileiro

238

Figura 13 Capas das ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute (1871 e 1877)

Fonte Acervos pessoais das pesquisadoras Francisca Izabel Pereira Maciel e Giselle Baptista Teixeira

Analisando ambas as capas notamos mudanccedilas substanciais entre uma

ediccedilatildeo e outra principalmente no tiacutetulo A ediccedilatildeo de 1871 evidenciava o termo ldquocartardquo

jaacute a de 1877 enfatizava inicialmente o nome do meacutetodo Como Pinheiro de Aguiar

almejava que seu meacutetodo fosse conhecido entre os professores o autor pode tambeacutem

ter intitulado a obra associando-a agrave ideia das Cartas para ganhar espaccedilo e visibilidade

nas escolas de primeiras letras A partir das fontes consultadas acreditamos que a

mudanccedila do nome da obra tal como estaacute na ediccedilatildeo de 1877 foi devido agraves acusaccedilotildees

que Pinheiro de Aguiar sofreu pelos criacuteticos na impressa e pelo Conselho de Instruccedilatildeo

Puacuteblica da Corte de que seu meacutetodo natildeo tinha nada de inovador (ALAMBARY LUZ A

INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 24 de junho de 1872 p 82) Logo a mudanccedila no tiacutetulo pode

ter sido em funccedilatildeo da ideia transmitida pelo uso da expressatildeo ldquoCartardquo que se

associava agraves Cartas de ABC e ao meacutetodo de soletraccedilatildeo difundidos pelo paiacutes e

criticados como antigos e tradicionais no momento em que emergia o mercado

239

editorial do livro didaacutetico brasileiro e ldquotematizaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeordquo (MORTATTI

2000)

A disposiccedilatildeo das palavras em ambas as capas bem como a variaccedilatildeo do tipo

de letra presente nelas estava em sintonia com os livros que circulavam na corte

imperial naquele momento como por exemplo as capas dos livros de leitura de Abiacutelio

Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas editados na Franccedila conforme veremos no

proacuteximo item Tal questatildeo suscita a ideia de uma padronizaccedilatildeo das capas dos livros

ou uma referecircncia agraves capas aos moldes das tipografias francesas Essa aproximaccedilatildeo

entre a configuraccedilatildeo graacutefica brasileira e a francesa pode ser explicada ao levarmos

em consideraccedilatildeo a oficina tipograacutefica que editou a cartilha do meacutetodo Bacadafaacute

Nas capas do livro de Pinheiro de Aguiar eacute mencionada a tipografia de Pinheiro

amp C como a responsaacutevel pela ediccedilatildeo Segundo Stickel (2004) essa tipografia

pertencia ao xiloacutegrafo portuguecircs Manuel Joaquim da Costa Pinheiro (1832-1903)

ldquochegado ao Brasil em 1843 e estabelecido como tipoacutegrafo a partir de 1852 no Rio de

Janeirordquo Manuel Pinheiro foi ilustrador de vaacuterios livros ldquoprincipalmente para a Livraria

Garnierrdquo (STICKEL 2004 p 235)

Ferreira (1994) acrescenta maiores informaccedilotildees sobre Manuel Pinheiro que

sob a firma Pinheiro amp Cia entrou para o ramo editorial com uma oficina tipograacutefica

litograacutefica e xilograacutefica O ilustrador e tipoacutegrafo tinha o auxiacutelio de seu filho Alfredo

Pinheiro responsaacutevel tambeacutem pelo trabalho artiacutestico da oficina Em 1874 Ferreira

(1994) menciona que Alfredo Pinheiro foi agrave Franccedila para ldquoaperfeiccediloar-se na arte

xilograacuteficardquo recriando posteriormente nas suas produccedilotildees as teacutecnicas aprendidas

(FERREIRA 1994 p 177-183) Eacute possiacutevel a partir desses fatos pressupor que houve

aproximaccedilatildeo entre a obra do meacutetodo Bacadafaacute e os modelos de editoraccedilatildeo das capas

de livros didaacuteticos franceses

Ocorreu entre a ediccedilatildeo de 1871 e a de 1877 a supressatildeo das informaccedilotildees a

respeito da adoccedilatildeo do meacutetodo na escola puacuteblica da freguesia de SantrsquoAnna Aleacutem

disso a capa de 1877 estaacute ilustrada com um anjo cercado de livros No seacuteculo XIX a

presenccedila do siacutembolo do anjo nos livros destinados ao ensino inicial de leitura natildeo era

algo incomum e o encontramos por exemplo na estampa antes da folha de rosto da

2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso

manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever do portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho

240

(1853)243 assim como na capa do livro francecircs Meacutethode lecture sans eacutepellation de

Abria (1847)244

Passando ao conteuacutedo da obra considerando as fontes consultadas

especialmente as da imprensa carioca notamos que a ediccedilatildeo de 1871 se compocircs do

agrupamento de uma breve explicaccedilatildeo sobre o meacutetodo Bacadafaacute escrita por Antonio

Pinheiro de Aguiar no Rio de Janeiro em 06 de outubro de 1871245 as cartas de leitura

para aplicaccedilatildeo do meacutetodo proposto pelo autor as quais detalharemos adiante aleacutem

dos quadros de tabuada resumida de somar diminuir multiplicar e dividir246 A ediccedilatildeo

de 1877 foi modificada tendo havido a inserccedilatildeo do ldquoproacutelogordquo e o texto intitulado

ldquoMethodo Bacadafaacuterdquo que ocupou a extensatildeo de 7 paacuteginas escrito por Pinheiro de

Aguiar em 1ordm de julho de 1877 elucidando detalhadamente os exerciacutecios para

aplicaccedilatildeo do seu meacutetodo Nessa ediccedilatildeo natildeo constam os quadros matemaacuteticos

apresentados na anterior247

O meacutetodo Bacadafaacute consistia numa proposta que tinha como base historietas

sobre quatro indiacutegenas que formavam a famiacutelia Bacadafaacute o pai da famiacutelia Gajalamaacute

a matildee Naparasaacute a filha e Tavaxazaacute o filho Essa proposta pensada por Pinheiro de

Aguiar podia ser aplicada tanto para crianccedilas quanto para adultos analfabetos Nas

experiecircncias desse professor em seus coleacutegios ele abriu salas no diurno para ensinar

as crianccedilas e no noturno destinadas aos adultos (CORREIO MERCANTIL 8 de

243 A estampa apresenta um anjo na porta de local nomeado de ldquoTemplo do saberrdquo Haacute tambeacutem crianccedilas jogando numa fogueira folhas com letras inscritas essas remontando agraves Cartas de ABC No canto inferior ao lado esquerdo haacute a representaccedilatildeo de um homem com a matildeo na cabeccedila e semblante de preocupaccedilatildeo observando a cena 244 A imagem da capa desse livro apresenta um anjo sentado e ao seu redor quatro crianccedilas em peacute No colo do anjo haacute um livro aberto e duas das crianccedilas o seguram A expressatildeo e olhar do anjo demonstram que ele estaacute lendo o livro para as crianccedilas Aos peacutes do anjo haacute outra crianccedila sentada folheando um livro no colo com olhar direcionado agraves paacuteginas como se estivesse lendo Na imagem tambeacutem aparece uma cruz atraacutes do anjo e trecircs livros no chatildeo Frade (2012) analisa alguns elementos da configuraccedilatildeo graacutefica desse livro de uma ediccedilatildeo de 1852 Uma versatildeo digitalizada dessa obra pode ser consultada no link lthttpsgallicabnf frark12148bpt6k58494696gt Acesso em 21 de junho de 2019 245 Esse texto de Pinheiro de Aguiar tambeacutem estaacute publicado no perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica (PINHEIRO DE AGUIAR A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 108-109) 246 Segundo Alambary Luz (A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 108) Pinheiro de Aguiar mandou imprimir 10 mil exemplares do meacutetodo Bacadafaacute oferecendo-os ao governo central para que fossem distribuiacutedos pelas escolas da proviacutencia do Impeacuterio 247 Como natildeo conseguimos acessar os originais do Meacutetodo Bacadafaacute essa descriccedilatildeo toma especialmente como referecircncia os exemplares a que tivemos acesso Reconhecemos por conseguinte os limites dessa caracterizaccedilatildeo Consideramos tambeacutem as informaccedilotildees publicadas sobre o meacutetodo Bacadafaacute no perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica em 1872 e 1874 (A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 24 de junho de 1872 14 de julho de 1872 18 de agosto de 1872 20 de outubro de 1872 24 de novembro de 1872 6 de setembro de 1874)

241

novembro de 1860 p 3) A sua principal propaganda era a eficiecircncia do meacutetodo que

obteria resultados de forma raacutepida e prazerosa de modo que se aplicado conforme

as orientaccedilotildees do autor com os exerciacutecios previstos qualquer sujeito se alfabetizava

em no maacuteximo 20 liccedilotildees

Os nomes dos personagens que compunham a famiacutelia de indiacutegenas conduziam

a organizaccedilatildeo do meacutetodo disposto em trecircs cartas

Sobre a primeira etapa o autor diz na ediccedilatildeo de 1871

Faccedila-se o menino conhecer os nomes dos quatro indios que se achatildeo escriptos no quatro ou carta por baixo de cada figura em sentido vertical explicando-lhe e mostrando-lhe que cada um destes nomes se compotildee de quatro tempos (syllabas) e obrigando-o a distinguir estes tempos uns dos outros jaacute seguidamente jaacute salteado primeiro em sentido vertical e depois no horizontal (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifo do autor)

As explicaccedilotildees feitas por Pinheiro de Aguiar ficam mais claras ao observarmos

a primeira carta presente na cartilha do meacutetodo Bacadafaacute denominada pelo autor

como Carta dos Iacutendios (PINHEIRO DE AGUIAR 1871)

Figura 14

Primeira carta do meacutetodo Bacadafaacute (1871)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

242

Inicialmente eram apresentados os personagens e os seus nomes utilizando

a primeira carta Essa carta tinha por objetivo apresentar as vogais as consoantes do

alfabeto e as principais combinaccedilotildees silaacutebicas com a vogal ldquoardquo Para a memorizaccedilatildeo

das vogais Pinheiro de Aguiar orientava contar a seguinte narrativa

O indio pai achando-se doente gemia constantemente deste modo ai ai ai Um carreiro passando pela porta ouvindo esse gemido fez parar o carro com o signal oacute oacute para o boi parar e perguntou Quem estaacute gemendo Eu eu respondeu o doente Eis aqui os sons das cinco vogaes a i e u o (PINHEIRO DE AGUIAR 1877 p 10 grifos do autor)

Notamos ao contrapor a imagem da primeira carta com as informaccedilotildees do

fragmento que na primeira linha da tabela na coluna do meio satildeo apresentadas as

vogais maiuacutesculas e minuacutesculas Entre essas vogais eacute utilizado um siacutembolo como

uma seta que as ligava remetendo para as siacutelabas compostas na historieta narrada

no excerto Importante destacar que Pinheiro de Aguiar (1871) explica que essa

narraccedilatildeo deve ser feita logo apoacutes o estudo da primeira carta Portanto o meacutetodo tem

o seu princiacutepio pela siacutelaba e na sequecircncia a ecircnfase estaacute na palavra O texto

empregado nessa etapa eacute oralizado pelo professor apenas para facilitar que os

alunos memorizem a liccedilatildeo aprendida

Como podemos verificar na figura 14 os nomes dos indiacutegenas satildeo

apresentados em siacutelabas separadas em quatro colunas distintas sendo a primeira

recomendaccedilatildeo do autor para uso dessa parte da carta um exerciacutecio de leitura das

siacutelabas na vertical e horizontal no qual o aprendente conhece o valor sonoro das

consoantes dispostas antes e depois das vogais tal como destaca

Como o methodo soacute admitte o som das cinco vogaes para que o alumno reconheccedila o semi-som das consoantes e principalmente das consoantes liquidas faccedila-se sentir bem a vibraccedilatildeo com que comeccedilatildeo as articulaccedilotildees la ma na ra as obrigando o menino a dizer vagarosamente para bem sentir a percussatildeo da consoante a-l-ma a-m-para a-n-ta a-r-ma a-s-pa etc em seguida mais depressa para exprimir os vocabulos ndash alma ampara anta arma aspa etc Exercite-se depois o menino a juntar estas mesmas consoantes aacutes syllabas de que satildeo formados os nomes dos indios para compor por exemplo os vocabulos balda campa dante farta fazendo vibrar bem a voz nas consoantes liquidas e ter-se-ha feito os primeiros e principaes exercicios do systema por meio dos quaes o analphabeto tem conhecido o valor de todas as consoantes quer se ache a consoante antes da vogal ex la quer se ache depois ex al (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifos do autor)

243

Na carta tambeacutem eacute apresentada aleacutem da letra de imprensa a letra manuscrita

em congruecircncia com o que se ensinava nas escolas de primeiras letras da Corte

(ARRIADA TAMBARA 2012) O destaque nessa primeira carta eacute a formaccedilatildeo de

siacutelabas com a vogal ldquoardquo Pinheiro de Aguiar (1871 1877) continua esclarecendo que

logo apoacutes o aluno iraacute ligar as letras dos nomes dos quatro indiacutegenas com as demais

vogais

Dessa maneira o que Pinheiro de Aguiar arquiteta eacute um sistema de

alfabetizaccedilatildeo constituiacutedo pelo meacutetodo silaacutebico uma vez que a base do processo de

ensino da leitura eacute a siacutelaba compondo palavras e as decompondo para enfatizar a

sonoridade das letras O autor na sua explicaccedilatildeo sobre o meacutetodo natildeo o classificava

assim mas encontramos tal referecircncia nos escritos do professor Antonio Estevam

Costa e Cunha segundo Schueler (2005 p 174) o ldquoprincipal estusiasta e divulgadorrdquo

do meacutetodo Bacadafaacute no Rio de Janeiro

Agora vejamos quaes os principaes methodos seguidos no ensino de leitura afim de habilitar-nos a estabelecer a comparaccedilatildeo entre elles e o que presentemente nos occupa Os dous methodos mais geraes satildeo o synthetico e o analytico No primeiro comeccedila o menino por ver a palavra (ou algumas palavras formando uma historiazinha) decompotildee a palavra nos sons ou syllabas que a foacutermam e estas nos seus elementos constituintes consoantes e vogaes ou soacute vogaes Parece um tal processo a quem nunca o aplicou ou viu aplicar escabroso anti-natural a algumas afigura-se ateacute como uma monstruosidade mas tanto isso natildeo eacute assim que por elle se ensina e se aprende nos paizes que em mateacuteria de instrucccedilatildeo publica caminham na vanguarda de todos os outros O processo do methodo analytico eacute conhecido de todos aprende-se a conhecer e distinguir as letras depois as syllabas e em seguida as palavras por meio da soletraccedilatildeo Foi por elle que aprendemos eacute o mais conhecido e applicado parece-nos por isso o mais natural e o mais facil Cumpre pois que prescindamos de uma tal parcialidade se quisermos julgar com equidade Ora entre os dous extremos fica o methodo syllabico que poacutede ser considerado o seu meio termo Este comeccedila natildeo jaacute pelas palavras como o synthetico nem pelas letras como o analytico mas pelos sons ou syllabas e que se denomina Bacadafaacute (como bem disse o Sr Dr Alambary) natildeo eacute outra cousa mais do que este mesmo methodo com o aditamento das figuras e historietas (COSTA E CUNHA A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 20 de outubro de 1872 p 241-242 grifos do autor)

Acompanhando as explicaccedilotildees sobre os meacutetodos presentes nesse discurso de

Costa e Cunha verificamos que sua distinccedilatildeo entre os meacutetodos analiacutetico e sinteacutetico

foge da compreensatildeo que se tem sobre eles nos estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

No campo educacional os meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo satildeo essencialmente

244

caracterizados como de marcha sinteacutetica ou de macha analiacutetica (MORTATTI 2000

FRADE 2007) Essa questatildeo foi teorizada por Guillaume (1911) sendo que ldquoestas

denominaccedilotildees sugerem que tal classificaccedilatildeo dos meacutetodos se baseava nos processos

psicoloacutegicos subjacentesrdquo (BRASLAVSKY 1988 p 42)

Segundo Guillaume (1911) os meacutetodos sinteacuteticos orientam-se pelo ensino das

partes para o todo (das letras ou fonemas ou siacutelabas para depois introduzir as

palavras frases e os textos) Jaacute os analiacuteticos satildeo aqueles que se orientam pelo inverso

(das palavras ou frases ou textos para compreensatildeo de unidades menores da liacutengua

ndash letras fonemas e siacutelabas)

A inversatildeo feita por Costa e Cunha248 ao explicar a questatildeo dos meacutetodos de

marchas analiacutetica e sinteacutetica eacute um tanto intrigante e carece de estudos apronfundados

ndash que ultrapassam os nossos objetivos desse item ndash para compreender o que teria

levado esse professor a tecer tal discurso classificando os meacutetodos de leitura de

forma diferente da que circulava naquele momento pelo paiacutes e pelo ocidente

(MARCILIO 2016 MACIEL 2002) Indubitavelmente ele enaltece o meacutetodo de

Pinheiro de Aguiar o define como silaacutebico acrescido de figuras e historietas

destacando tambeacutem que era um ldquomeio termordquo entre o analiacutetico e o sinteacutetico

Retomando os procedimentos para aplicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute logo apoacutes

a primeira carta em que o aprendente fez as combinaccedilotildees silaacutebicas formadas pela

estrutura de consoante + vogal Pinheiro de Aguiar (1871 1877) orienta o professor

Para que os meninos conheccedilam as syllabas taes como bla bra cla cra affecta-se que o indio diz ba e a iacutendia la e que subtrahindo a vogal do som expresso pelo indio fica soacute o semi-som do b que cahindo sobre a syllaba pronunciada pela india liga-se formando b-la e depois mais depressa bla e assim por diante se formatildeo as syllabas ndash b-ra mais depressa bra c-ra mais depressa cra pronunciadas pela india e em seguida se faraacute o mesmo com os sons das seguintes vogaes ndash e i o u ex ble cri dro fra etc Conveacutem guardar para as ultimas explicaccedilotildees as semelhanccedilas de certos sons como ccedila e sa xa e cha etc os diversos sons do c x ch as consonancias acessorias do nosso alfabeto lh e nh usando ainda de um artifiacutecio para obrigar o alumno a distinguir os sons gue je e que lembrando-lhe os nomes de certas fructas de que se alimentatildeo aquelles indios e que em sua lingua se chamatildeo ndash quejeque e com a vogal i guigiqui (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 sp grifos do autor)

248 Essa mesma inversatildeo consta no parecer sobre a explicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute emitido por Costa e Cunha ao governo imperial em 14 de dezembro de 1871 conforme atesta a documentaccedilatildeo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro inventariada por Teixeira (2008)

245

O fragmento ilustra o princiacutepio da segunda parte do meacutetodo que se apoiava no

uso de cartas de leituras subsequentes agrave Carta dos Iacutendios (figura 14) sendo

intituladas pelo autor de Quadro Synoptico do Methodo de Leitura Abreviada e Carta

de nomes

Figura 15 Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada (1871)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

Pinheiro de Aguiar (1871) acrescenta que os exerciacutecios da segunda carta

(figura 15) se bem desenvolvidos juntamente com a terceira carta (figura 16) datildeo

resultados em poucas liccedilotildees O autor explica que

A 2ordf carta ou quadro synoptico consta de cinco columnas no alto de cada qual se acha uma das cinco vogaes As consoantes escriptas em sentido horisontal ligadas agrave vogal de cima formatildeo na 1ordf columna os nomes dos indios e nas outras columnas as outras syllabas com e i o u Mais abaixo no sentido horisontal ainda se encontram as syllabas bla ble etc depois as syllabas bra bre etc Em seguida al el etc am na ar as etc ateacute as mais difiacuteceis emfim todas as que formatildeo os vocabulos da nossa opulenta lingua (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifos do autor)

246

Dessa maneira a terceira carta que apresentava 133 palavras foi pensada

pelo autor para aplicaccedilatildeo dos exerciacutecios da segunda carta

Figura 16 Carta de nomes do Meacutetodo Bacadafaacute

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

Ao observamos a informaccedilatildeo constante no rodapeacute dessa carta de que a

impressatildeo ocorreu na Tipografia de Paula Brito em 1860 consideramos que as

primeiras ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute circularam jaacute nos anos 60 sendo inicialmente

restritas ao coleacutegio mantido por Pinheiro de Aguiar onde se praticava o meacutetodo

Bacadafaacute e depois vendidas aos pais que se interessassem por conhecer a proposta

para ensinar aos filhos (JORNAL DO COMMERCIO 23 de dezembro de 1867 p 2)

No proacutelogo da ediccedilatildeo do Bacadafaacute de 1877 o autor menciona que a proposta

surgiu em 1858 tendo ele em 7 de novembro desse ano numa exposiccedilatildeo puacuteblica em

Satildeo Cristovatildeo apresentado os resultados de vinte liccedilotildees de meacutetodo aplicadas com

crianccedilas analfabetas Nesse texto o autor ainda explicita que fez nove exposiccedilotildees

puacuteblicas nas quais natildeo houve contestaccedilatildeo por isso demonstrava que o impresso

seria profiacutecuo natildeo apenas para uma escola e sim para o paiacutes249 Esse argumento

249 No Jornal Correio Mercantil na ediccedilatildeo de 27 de setembro de 1859 haacute uma nota sob o tiacutetutlo ldquoAttenccedilatildeordquo assinada por Antonio Pinheiro de Aguiar alegando que ele fez uma exposiccedilatildeo puacuteblica no dia 05 de dezembro de 1858 em que demonstrou a possibilidade de alfabetizar um menino em 20 dias Noticia que abriria um curso primaacuterio gratuito oferecendo-

247

pode inclusive justificar a supressatildeo na capa da ediccedilatildeo de 1877 das informaccedilotildees

constantes abaixo do tiacutetulo do impresso de 1871 sobre a adoccedilatildeo do meacutetodo na escola

puacuteblica da freguesia de SantrsquoAnna

Na deacutecada de 1870 ao que tudo indica expandiu-se a comercializaccedilatildeo do

meacutetodo Bacadafaacute em virtude do Parecer do Conselho de Instruccedilatildeo Puacuteblica da Corte

que destacava que na proposta de Pinheiro de Aguiar havia vantagens sendo digna

de estudos e testagens devido tambeacutem agraves cores e siacutembolos nacionais que eram

usados (A INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109-110)

O meacutetodo entretanto natildeo foi aprovado em primeira instacircncia pelo Conselho

Nos anos de 1860 Pinheiro de Aguiar percorreu um aacuterduo caminho em defesa da sua

aprovaccedilatildeo e difusatildeo Em 1861 haacute registros que o meacutetodo foi rejeitado pelo Ministeacuterio

do Impeacuterio (CORREIO MERCANTIL 26 de maio de 1861 p 2) Por isso o autor

recorreu no mesmo ano agrave Cacircmara de Instruccedilatildeo Puacuteblica na Assembleia Geral

Legislativa solicitando a permissatildeo para colocar o meacutetodo Bacadafaacute em praacutetica aleacutem

de pedir uma subvenccedilatildeo para auxiliaacute-lo (CORREIO MERCANTIL 16 de junho de

1861 p 1) O Jornal do Commercio menciona que em 1862 Pinheiro de Aguiar fez a

doaccedilatildeo de 1000 coleccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute agrave Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo

Puacuteblica para que fossem distribuiacutedas nas aulas puacuteblicas da Corte mas como o

material natildeo havia ainda sido aprovado para ampla divulgaccedilatildeo solicitou o estorno dos

donativos para o aproveitamento dos impressos em suas aulas particulares

(PINHEIRO DE AGUIAR JORNAL DO COMMERCIO 22 de janeiro de 1862 p 2)

Em 1863 com a autorizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Impeacuterio o meacutetodo pocircde ser praticado

mas com a ressalva de que era apenas sob a tutela do autor (JORNAL DO

COMMERCIO 29 de agosto de 1863 p 3) Entretanto o que Pinheiro de Aguiar

pretendia era que seu meacutetodo se expandisse pelas escolas primaacuterias do territoacuterio

carioca e pelo paiacutes

Schueler (2005) revela que em 1871 Pinheiro de Aguiar requereu agrave Inspetoria

de Instruccedilatildeo Puacuteblica o reconhecimento do seu meacutetodo apresentando provas que

atestavam a sua eficaacutecia No perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica haacute a transcriccedilatildeo do

parecer emitido em 1871 por uma comissatildeo instalada sob ordem do Imperador para

averiguar a utilidade do meacutetodo Bacadafaacute Na conclusatildeo do parecer ficou expresso

o tambeacutem aos pais e pessoas interessadas (PINHEIRO DE AGUIAR CORREIO MERCANTIL 27 de setembro de 1859 p 2)

248

que embora identificassem nele vaacuterias vantagens em relaccedilatildeo aos meacutetodos antigos

de ensino de leitura que circulavam pelas escolas acreditaram ser prudente natildeo

estendecirc-lo autorizando apenas que Pinheiro de Aguiar regesse uma cadeira

utilizando a sua proposta Reiteraram tambeacutem a necessidade de os professores serem

formados para aplicaccedilatildeo do sistema da aprendizagem de leitura abreviada devendo

o autor abrir espaccedilo para os professores que quisessem conhecer o meacutetodo e a

Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica igualmente designar Adjuntos para aprenderem

(A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109-110)

Nas deacutecadas de 1860 e 1870 os jornais Correio Mercantil e Jornal do

Commercio ndash publicaccedilotildees cariocas ndash que passaram a propagandear a venda dos

impressos de Pinheiro de Aguiar mencionavam que estavam agrave venda ldquoas cartas e as

tabuadas do sistema de leitura abreviadardquo o que pode indicar que a primeira segunda

e terceira cartas propostas pelo autor bem como o quadro de tabuada poderiam ser

comprados avulsos

Esses impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute circularam nas escolas

de primeiras letras goianas conforme atesta o ofiacutecio remetido pelo Presidente de

Goiaacutes Antero Ciacutecero de Assis ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da proviacutencia

em 1872

Nordm 24 17 de janeiro de 1872 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Sentilder = Remetto a v S a fim de mandal-os distribuir pelas escolas de instrucccedilatildeo primaria desta Provincia quinheiros e um exemplares de Cartas para o exercicio da leitura rapida quatrocentros e noventa e nove ditos do methodo de leitura quatrocentos e noventa e sete dos do Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada noventa e seis das explicaccedilotildees do methodo Bacadafa e noventa e cinco ditos de taboada do mesmo methodo recommendando aos Professores o estudo do systema e aplicaccedilatildeo com ensaio a alguns dos alunos para [ilegiacutevel] conta dos resultados adquiridos para os fins convenientes convindo que tal distribuiccedilatildeo seja feita de preferencia para aacutequelles lugares em que se poacutede tirar vantagem = Deos Guarde a VS = Antero Cicero de Assis = Sentilder Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529)

A questatildeo do meacutetodo Bacadafaacute em Goiaacutes foi referida por Arauacutejo e Silva (1975)

a qual alertou que ele natildeo foi bem aceito na proviacutencia visto que se afastava do ldquoniacutevel

cultural do professorado primaacuteriordquo goiano (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 142) Valdez

(2011) tambeacutem menciona que houve solicitaccedilotildees na deacutecada de 1870 da ldquoCarta do

methodo de leitura abreviada das explicaccediloes do methodo Bacadafaacuterdquo Ademais nas

249

fontes consultadas natildeo encontramos outros registros que demonstrassem a

circulaccedilatildeo desse meacutetodo e do impresso de seu autor pela proviacutencia

Retomando o ofiacutecio do Presidente Assis acima transcrito haacute a citaccedilatildeo de cartas

e quadros que compunham o sistema de leitura raacutepida pelo meacutetodo abreviado

denominado Bacadafaacute Todos os impressos mencionados satildeo obras de Antonio

Pinheiro de Aguiar Pela recomendaccedilatildeo do ofiacutecio os materiais seriam distribuiacutedos em

locais que tivessem condiccedilotildees para tirar vantagens do meacutetodo ou seja salas de aula

providas de materiais e de professores o que limitava consideravelmente as escolas

restringindo-as agraves proacuteximas da Capital Cotejando a fonte anterior com os dados

apresentados nas pesquisas de Assunccedilatildeo (2009) Amacircncio (2000) Amacircncio e

Cardoso (2006) eacute possiacutevel supor que as obras de Pinheiro de Aguiar distribuiacutedas pelo

governo goiano foram doadas pelo autor principalmente pela coincidecircncia das datas

e tiacutetulos das obras

Aleacutem disso haacute indiacutecios de que a proposta do meacutetodo Bacadafaacute circulou pelas

escolas goianas especialmente porque na proviacutencia houve iniciativas de divulgaccedilatildeo

da revista A Instrucccedilatildeo Puacuteblica que propagandeou esse meacutetodo publicando suas

vantagens em textos assinados sobretudo por Antonio Estevam Costa e Cunha250

Dois ofiacutecios datados de 1872 colaboram para entendermos essa questatildeo

Nordm 206 16 de 9brordm de 1872 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Sentilder = Remetto a V S por copia inclusa o Avizo Circular do Ministerio do Imperio nordm 4307 de 30 de setembro do corrente anno recommendando que se promova nesta Provincia a assinatura da folha hebdommandaria intitulada ndash A Instrucccedilatildeo Publica que se publica na Cocircrte im a qual satildeo apresentados ideas aacute respeito dos melhores methodos do ensino primario e outros assumptos correlativos cuja propagaccedilatildeo muito convem = Espero que V S empregaraacute seus esforccedilos no sentido de ser satisfeita a recommedanccedilatildeo constante do citado Avizo = Deos Guarde a V S = Antero Cicero Assis = Sentilder Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 16 de novembro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529)

Em 21 de 9bro de 1872 Circular aos Inspectores Parochiaes da Prova

I G da I P da P em 21 de Novbro de 1872 Ilmo Sr ndash Tendo V Exordf o Sr Preside da Prova por offordm nordm 206 de 16 do corre remettido aacute esta Inspectoria o Aviso Circular do Ministerio do Impo nordm 4307 de 30 de 7brordm ultimo expondo a convenniencia de propagar as ideias ~q na folha hebdomadaria intitulada ldquoA Instruccedilatildeo Publicardquo e publicada na Cocircrte satildeo apresentadas sobre os melhores methodos do ensino

250 Sobre isso cf Lima (2008) e Schueler (2005)

250

primario e outros assumptos correlativos e recommendando q~ se promova nesta provordf a assinatura da dordf folha especialmente pelos professores publicos e de mais pessocircas ~q se dedicaotilde ao magisteacuterio e se interessaotilde pelo progresso da instrucccedilatildeo popular espera ~q V S empregaraacute seus esforccedilos no sentudo de ser satisfeita a recomendaccedilatildeo constante da citado Aviso Ds ge aacute vS ndash Ilmo Srntilde Inspor Parochl da Frega de SantrsquoAnna desta Cidade o Cocircnego Jm Vice Azevedo Inspetor Geral da Instrucccedilatildeo Publica Identica aos demais Inspectores Parochiais da Prova inclusive a do Rosario da Capital (AZEVEDO 21 de novembro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402)

Como se lecirc no primeiro ofiacutecio o Presidente Assis se dirige ao Inspetor Geral de

Instruccedilatildeo Puacuteblica e recomenda atendendo a uma circular do Ministeacuterio do Imperio a

assinatura do perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica uma publicaccedilatildeo da Corte

Posteriormente o Inspetor Geral Joaquim Vicente de Azevedo encaminha aos

Inspetores Paroquiais a recomendaccedilatildeo de promover a assinatura desse impresso

pedagoacutegico entre os professores e pessoas interessadas pelo magisteacuterio sob a

justificativa de que ele apresentava explicaccedilatildeo dos melhores meacutetodos de ensino

A Instrucccedilatildeo Publica Publicaccedilatildeo Hebdomadaria teve seu primeiro nuacutemero

publicado em 13 de abril de 1872 sendo fundada e dirigida por Joseacute Carlos Alambary

Luz que atuou como Diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (SCHUELER 2005a

VILLELA 2002) Esse perioacutedico circulou segundo Lima (2008) em duas fases a

primeira entre 1872 e 1875 e a segunda de 1887 a 1888 Consultando as suas

ediccedilotildees disponiacuteveis no Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

notamos que os meacutetodos de ensino foram um tema frequentemente retomado pelos

redatores

A pesquisa de Lima (2018) ao tratar sobre a primeira fase desse perioacutedico

nota que ele veiculou com mais veemecircncia trecircs meacutetodos de ensino de leitura

indicando-os para as escolas primaacuterias o Meacutetodo Bacadafaacute o Meacutetodo de Leitura de

Michel Charbonneau e o Meacutetodo Portuguez Castilho A autora destaca que o

Bacadafaacute foi o primeiro a ser divulgado com a publicaccedilatildeo de artigos que explicaram

o meacutetodo e seus benefiacutecios na instruccedilatildeo de crianccedilas e adultos analfabetos

Se de fato os professores goianos tiveram acesso agraves publicaccedilotildees das ediccedilotildees

de A Instrucccedilatildeo Publica eles puderam acompanhar um discurso em defesa do meacutetodo

Bacadafaacute e sua brasilidade Nesse ponto Schueler (2004) demonstra que o ldquomeacutetodo

tinha a intenccedilatildeo de tambeacutem ensinar as primeiras noccedilotildees de histoacuteria e geografia

paacutetrias contribuindo dessa maneira para a formaccedilatildeo de sentimentos e ideias de

251

nacionalidaderdquo (SCHUELER 2004 p 81) O Bacadafaacute cindia com os meacutetodos

baseados em imagens e textos estrangeiros todavia para Schueler (2005) sua

originalidade natildeo estava relacionada a esse aspecto mas acima de tudo ldquona sua

aplicaccedilatildeo para o conjunto das disciplinas e dos saberes escolaresrdquo (SCHUELER

2005 p 183)

Aleacutem do mais a proposta de alfabetizaccedilatildeo em 20 liccedilotildees sintonizava-se com os

anseios da proviacutencia goiana naquele momento marcada pela cultura de uma

populaccedilatildeo que natildeo reconhecia a importacircncia da instruccedilatildeo primaacuteria devido aos baixos

resultados por ela produzidos e tambeacutem agraves dificuldades de acesso agrave escola (ASSIS

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1873 1874)

Como dito natildeo localizamos documentaccedilotildees para discorrer a respeito das

praacuteticas e dos usos dos impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute nas escolas

da proviacutencia goiana Apesar disso registramos nesta Tese que Goiaacutes esteve na rota

de Pinheiro de Aguiar entre as localidades que receberam seus impressos e os

distribuiacuteram pelas escolas puacuteblicas Mesmo assim permanece uma lacuna nas

pesquisas da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil imperial uma vez que pouco ainda

sabemos sobre a aplicabilidade do meacutetodo Bacadafaacute nas escolas brasileiras e em que

medida houve sua repercussatildeo no territoacuterio nacional

52 OS LIVROS DE LEITURA DE ABIacuteLIO CEacuteSAR BORGES

A presenccedila da obra de Abiacutelio Ceacutesar Borges na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana foi

registrada nas memoacuterias de Cora Coralina ao escrever passagens da sua infacircncia na

ldquoEscola da Mestra Silvinardquo

Minha escola primaacuteria Escola antiga de antiga mestra [] Nem recreio nem exames Nem notas nem feacuterias Sem cacircnticos sem merenda Digo mal mdash sempre havia distribuiacutedos alguns bolos de palmatoacuteria A granel Natildeo que a Mestra era boa velha cansada aposentada Tinha jaacute ensinado a uma geraccedilatildeo antes da minha A gente chegava ldquomdash Benccedila Mestrardquo

252

Sentava em bancos compridos escorridos sem encosto Lia alto liccedilotildees de rotina o velho abecedaacuterio liccedilatildeo salteada Aprendia a soletrar Vinham depois Primeiro segundo terceiro e quarto livros do erudito pedagogo Abiacutelio Ceacutesar Borges mdash Baratildeo de Macauacutebas E as maacuteximas sapientes do Marquecircs de Maricaacute (CORALINA 1977 p 40)

Esses versos de Cora satildeo recorrentemente mencionados para representar a

infacircncia e a sua escolarizaccedilatildeo no seacuteculo XIX no iniacutecio da Repuacuteblica em especial na

Cidade de Goiaacutes na eacutepoca capital do estado A poetisa desvela a cultura escolar do

periacuteodo levando-nos a considerar que as mudanccedilas advindas do sistema republicano

natildeo tiveram repercussotildees imediatas nos modos de fazer nas escolas em Goiaacutes Haacute

que se destacar que essa permanecircncia de praacuteticas escolares como advogam

Carvalho (2003) Souza (1998) e Faria Filho (2014) dentre outros autores natildeo foi um

fato restrito agrave histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

Reiterando o que Valdez (2006) aponta ao nos debruccedilarmos sobre as fontes

inventariadas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes notamos que as primeiras

menccedilotildees agrave utilizaccedilatildeo das obras de Abiacutelio Ceacutesar Borges na proviacutencia goiana datam do

iniacutecio da deacutecada de 1870 A autora elucida que as obras do Baratildeo foram mencionadas

nas listas de expediente escolar ateacute os anos 30 do seacuteculo XX o que certifica a

longevidade do uso desses impressos nas escolas espalhadas do sul ao norte de

Goiaacutes por mais de meio seacuteculo

Abiacutelio Ceacutesar Borges nasceu na Bahia em 1824251 e sua formaccedilatildeo em niacutevel

superior se deu entre a Faculdade de Medicina da Bahia e a Faculdade de Medicina

do Rio de Janeiro onde defendeu sua tese em 1847 (GONDRA 2004) Ainda na

faculdade manteve viacutenculos com a imprensa jornaliacutestica divulgando seus escritos

251 Mesmo com toda a ecircnfase laudatoacuteria feita por Isaias Alves (1936) um dos primeiros bioacutegrafos de Abiacutelio Ceacutesar Borges ele nos fornece alguns elementos importantes da vida desse escritor Por isso registramos que todas as dataccedilotildees e informaccedilotildees a respeito da vida e das obras de Abiacutelio foram referenciadas a partir das contribuiccedilotildees de Isaiacuteas Alves publicadas em Vida e obra do Baratildeo de Macahubas (ALVES 1936) A ediccedilatildeo a que tivemos acesso foi editada no Rio de Janeiro pela Ediccedilotildees Infacircncia e Juventude

253

Valdez (2006) fez um levantamento de alguns de seus textos escritos e afirma que

ldquocomo outros intelectuais de sua eacutepoca publicou artigos em jornais e revistas de

grande circulaccedilatildeo da Bahia e de outras proviacutencias Natildeo soacute escreveu em jornais como

tambeacutem lsquochefioursquo algunsrdquo (VALDEZ 2006 p 38)

Atuou pouco tempo como Meacutedico profissatildeo que abandonou em 1856 para

dedicar-se agrave educaccedilatildeo Foi Diretor da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Bahia e fundou escolas

privadas na Bahia no Rio de Janeiro e em Minas Gerais Nessas escolas que criou e

dirigiu ldquoprocurou materializar seu projeto de reforma e de modernizaccedilatildeo da instruccedilatildeordquo

(GONDRA 2009 p 67) Sobre sua experiecircncia nesses coleacutegios Aniacutesio Teixeira em

1952 publicou um texto na Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos em que

destacou que nesses espaccedilos Abiacutelio praticou ldquouma educaccedilatildeo revolucionaacuteria para o

tempo e em todos encontrando professocircres para auxiliaacute-lo e ambiente para lhe

aplaudir e estimular os esforccedilosrdquo (TEIXEIRA 1952 sp) Na mesma Revista

Bittencourt (1953) nomina os principais fundadores de escolas privadas no territoacuterio

brasileiro no Impeacuterio e na Repuacuteblica demonstrando que o nome de Borges esteve

entre os pioneiros em instituiccedilotildees consagradas pelos meacutetodos e pelos resultados

difundidos no Brasil

Reconhecido natildeo soacute em niacutevel nacional como tambeacutem no contexto

internacional por meio de premiaccedilotildees pelas obras produzidas e pelos feitos no campo

educacional foi condecorado em 1881 pelo Imperador Dom Pedro II com o tiacutetulo de

Baratildeo de Macauacutebas Com a Igreja manteve relaccedilotildees amistosas no Impeacuterio chegando

a receber em 1879 o grau de Comendador da Ordem de Satildeo Gregoacuterio Magno de

Roma pelas matildeos do Papa Pio IX (ALVES 1936)

Tudo isso demonstra como ldquoparticipou ativamente do Impeacuteriordquo (FRADE 2010a

p 173) Valdez (2006) aponta que devido aos laccedilos com a Monarquia apoacutes a

implementaccedilatildeo da Repuacuteblica nas escolas brasileiras os livros do Baratildeo de Macauacutebas

foram gradativamente sendo substituiacutedos por outras seacuteries de livros de leitura Sobre

isso acrescentariacuteamos que o cenaacuterio da produccedilatildeo didaacutetica do paiacutes no periacuteodo

tambeacutem contribuiu para que os impressos de Borges disputassem espaccedilo ao lado de

vaacuterios outros autores que lanccedilaram suas produccedilotildees sob a influecircncia do sistema

republicano e do espiacuterito nacionalista Outro aspecto a considerar foi a dificuldade dos

livreiros em fornecer os livros de Abiacutelio Uma correspondecircncia datada de 1890

encontrada na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa do

Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes pode clarear um pouco dessa questatildeo em Goiaacutes

254

Nordm 188 Governo do Estado de Goyas 30 de setembro de 1891

Com vosso officio nordm 178 de hontem datado me apresentando requerimto a vos dirigido em que os negociantes drsquoesta praccedila Adolpho Luis Guedes fornecedores de objetos de expediente para as reparticcedilotildees publicas drsquoeste Estado pedem permissatildeo para no fornecimto que doravante tiverem de faser p as escolas publicas primarias substituir o 1ordm livro de leitura do Dr Abilio p um novo 1ordm livro de mmo autor visto natildeo se encontrar drsquoaquelles que pelo contracto satildeo obrigados a fornecer Em resposta tenho a diser-vos que concordo na substituiccedilatildeo dos ditos livros contanto que seja conservado o preccedilo de taes livros estipulados no respectivo contracto Incluso vos devolvo o citado requerimento Saude e fraternidade Rodolpho G de Paixatildeo Ao Insp da Instr Publi Do Estado (PAIXAtildeO 30 de setembro de 1891 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 946)

A correspondecircncia enviada pelo entatildeo Governador do Estado Rodolpho

Gustavo de Paixatildeo ao Inspetor da Instruccedilatildeo Puacuteblica demonstra a dificuldade de

fornecer o Primeiro livro de leitura de Borges o que fez com que o negociante de

materiais escolares solicitasse a sua substituiccedilatildeo pelo novo primeiro livro de leitura do

autor Essa publicaccedilatildeo teve a primeira ediccedilatildeo em 1888 em Bruxelas na Typographia

e Lithographia e Guyot e seu tiacutetulo completo foi Novo primeiro livro de leitura segundo

o Methodo do Baratildeo de Macahubas (Dr Abilio Cesar Borges) dedicado ao povo

brasileiro (VALDEZ 2006) A dificuldade em fornecer as obras de Abiacutelio pode ter sido

causada por parte de suas publicaccedilotildees provir de editoras estrangeiras Mesmos

cientes que essas editoras mantiveram relaccedilotildees comerciais e pessoais com editoras

e livreiros instalados no Brasil sabemos que a importaccedilatildeo de impressos da Europa

demandava segundo Hallewell (2012) entre 1 mecircs e quase 3 meses por navio

dependendo da eacutepoca do ano Aleacutem do mais somam-se a isso as dificuldades

proacuteprias do transporte de livros da Corte para as proviacutencias bem como o alto custo

do transporte feito por carreto (SPINOLA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes1880 p

29)

Em Goiaacutes analisando as listas de expediente escolar252 observamos que

circularam com intensidade na escola primaacuteria os Primeiro Segundo e Terceiro livros

252 Na seccedilatildeo intitulada ldquoFontesrdquo no item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmardquo em todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes mencionados poacutes-1870 encontramos algum documento que cita as obras de Abiacutelio Ceacutesar Borges sendo solicitadas ou enviadas agraves escolas goianas

255

de leitura e a Gramaacutetica Portuguesa do Baratildeo de Macauacutebas obras que influenciaram

e constituiacuteram no final do impeacuterio os modos de ensinar leitura e escrita

Esses impressos fizeram parte da estrateacutegia desenvolvida por Abiacutelio que

doava exemplares para divulgar seus escritos pelas proviacutencias do Brasil O Presidente

Antero Ciacutecero de Assis conta essa passagem em Goiaacutes sintetizando-a no Relatoacuterio

apresentado agrave Assembleia Legislativa Provincial em junho de 1875

DONATIVOS ndash O ilustrado Sr Dr Abilio Cezar Borges meo comprovinciamo assaacutes conhecido por suas importantes obras dirigio-me um officio em que manifestando a persuasatildeo dos meus esforccedilos pela instrucccedilatildeo publica da provincia e o conhecimento das dificuldades com que lectava oriundas da exiguidade de recursos dos cofres offerecia-me para as escolas de 1as letras 200 exemplares dos seus 1ordm 2ordm e 3ordm livros de leitura e 400 de sua grammatica portuguesa elementar jaacute admitidos nas de quasi todas as provincias do imperio Acceitando tam importante offerecimento assim respondi aacutequelle tatildeo distincto cidadatildeo agradecendo-lhrsquoo em nome da provincia e por minha parte e prevenindo-o de que mandaria receber os livros na Cocircrte para terem o fim a que eratildeo destinados Providenciando arsquoeste sentido aqui chegaratildeo mediante o carreto de 11$000 reacuteis por 15 kilogramas que importou em 111$372 e que foi pago pela Thesouraria Provincial a qual recebeo-os e enviou-os aacute seus destinos conforme a distribuiccedilotilde feita aacutes escolas pela inspectoria geral de instrucccedilatildeo publica (ASSIS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1875 p 19)

Esse episoacutedio da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes eacute melhor compreendido

por meio de uma sequecircncia de ofiacutecios enviados pelo Presidente Antero Ciacutecero de

Assis em 1875 (GOIAacuteS 1874-1876 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada

e Impressa nordm 602) Em 02 de janeiro de 1875 Assis relata a chegada dos livros

doados por Abiacutelio ordenando que fossem entregues na Tesouraria da Fazenda

Provincial onde seriam pagos os carretos e verificado o estado dos livros Nessa

correspondecircncia o Presidente orienta o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para

organizar um quadro com a divisatildeo proporcional das obras que seriam distribuiacutedas

pelas escolas de primeiras letras da proviacutencia (ASSIS 02 de janeiro de 1875 p 18

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602) No dia 19 de

janeiro o Presidente Assis expotildee como foi de fato realizado o envio das obras do

Baratildeo de Macauacutebas pelos rincotildees de Goiaacutes

Nordm 21 19 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Senr = Estou de posse do officio que V S me dirigio hoje sob nordm 19 expondo natildeo terem sido entregues ao Porteiro dessa Inspetoria como pratica-se com os objectos de expediente para as aulas de primeiras lettras de foacutera desta Capital os livros ofertados aacute

256

Instrucccedilatildeo Publica da Provincia pelo Doutor Abiacutelio Cesar Borges o que estatildeo na Thezouraria Provincial que declarou ter ordem desta Presidencia para os enviar aacute seus destinos = Respondendo tenho a dizer aacute V S que sendo necessario verificar-se a entrega dos volumes contendo os ditos livros pela mesma Thezouraria que tinha de fazer o pagamento do carreto para facilitar o serviccedilo determinei logo que por ella fosse feita a remessa delles por intermedio dos seus agentes o que eacute diverso do exposto em seu officio citado nem vem revogar o que estaacute estabelecido por ser a distribuiccedilatildeo de que se trata um caso especial = Deos Guarde aacute V S = Antero Cicero drsquoAssiz = Senr Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 19 de janeiro de 1875 p 23 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602)

O Presidente Assis evidencia que a distribuiccedilatildeo dos livros doados por Abiacutelio foi

um caso especial alterando uma praacutetica de como os materiais eram remetidos agraves

escolas de primeiras letras fora da Capital da proviacutencia Pelo exposto era comum que

a Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica fizesse o envio dos objetos de expediente

escolar mas no caso das obras de Borges quem o fez foi a Tesouraria Provincial

encarregada de pagar o transporte dos livros vindos da Corte e de despachar os

impressos agraves escolas goianas por intermeacutedio de seus agentes

As doaccedilotildees das obras de Abiacutelio pelas proviacutencias brasileiras foram registradas

por Primitivo Moacyr (1939a 1939b) O que fica niacutetido ao cotejar os dados desse autor

com os da fonte supratranscrita eacute que variava muito a quantidade dos exemplares

enviados pelo Baratildeo de Macauacutebas portanto natildeo existia um padratildeo nessa distribuiccedilatildeo

pelo territoacuterio nacional Outra questatildeo eacute que na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX Abiacutelio

empreendeu uma forte campanha pelo paiacutes divulgando suas obras Alves (1936)

destaca que aproximadamente 400 mil exemplares delas foram distribuiacutedos de forma

gratuita pelas proviacutencias

Os donativos de livros feitos pelo Baratildeo de Macauacutebas a Goiaacutes vieram

acompanhados de uma proposta de oferta para compra anual de livros do autor

conforme evidenciamos pelo conteuacutedo de um ofiacutecio de 05 de fevereiro de 1875

remetido pela Tesouraria da Fazenda Provincial agrave Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo

Puacuteblica (JARDIM 05 de fevereiro de 1875 p 44-46 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)

Nesse ofiacutecio a Tesouraria da Fazenda Provincial faz uma previsatildeo da

quantidade de livros de Borges que seriam fornecidos anualmente agraves escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia dirigindo agrave Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica a

relaccedilatildeo de todas as escolas de primeiras letras da proviacutencia e especificando inclusive

257

os tipos de escolas (feminina ou masculina) agraves quais seriam remetidos o Primeiro

Segundo Terceiro livros de leitura e a Gramaacutetica Portuguesa Essas informaccedilotildees satildeo

organizadas numa tabela anexa ao ofiacutecio intitulada de ldquoRelaccedilatildeo das escolas de 1as

letras da Provincia que estatildeo no caso de serem prestados os livros de leitura

compostos pelo Dr Abilio Cesar Borgesrdquo A tabela ocupa a extensatildeo de 5 paacuteginas

somando uma quantia final de 2000 livros sendo 500 exemplares de cada um dos

tiacutetulos mencionados para um total de 53 escolas masculinas e 28 escolas femininas

em 52 diferentes localidades da proviacutencia (arraial cidade povoaccedilatildeo e vila)

Pelos dados da pesquisa de SantrsquoAnna (2010) estavam abertas em 1875 56

escolas do sexo masculino e 28 do sexo feminino com a frequecircncia de 1802 meninos

e 546 meninas Isso posto a quantidade de livros solicitados contraposta com esse

nuacutemero de alunos demonstra que natildeo era comprado um livro para cada aluno A partir

dessa questatildeo podemos conjecturar que o uso dos impressos na sala de aula ficava

restrito agraves crianccedilas mais adiantadas ou eram trabalhados em pequenos grupos Essa

uacuteltima hipoacutetese pode ser ratificada por meio da anaacutelise da mobiacutelia escolar jaacute que os

professores goianos solicitavam bancos medindo ldquotrecircs metros de comprimentordquo e

mesas de ldquodez palmos de comprimento e 4 frac12 de largurardquo (GOIAacuteS 1873-1877 p 16

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)253 Tais

dimensotildees comprovam que os alunos ocupavam a mesma mesa e sentavam-se um

ao lado do outro em bancos largos o que possibilitava uma organizaccedilatildeo didaacutetica em

trabalhos em grupo e pelo meacutetodo simultacircneo recomendado pela legislaccedilatildeo do

periacuteodo (GOIAacuteS 1869)

O Baratildeo de Macauacutebas enviou tambeacutem ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica

de Goiaacutes em 1876 20 exemplares da propaganda que ele fez contra o emprego de

castigos fiacutesicos no ensino da mocidade solicitando que os impressos fossem

distribuiacutedos aos professores da proviacutencia Tratava-se do livro Vinte annos de

propaganda contra o emprego da palmatoria e de outros meios aviltantes no ensino

da mocidade publicado no Rio de Janeiro na Tipografia do Globo em 1875254 Essa

obra foi uma coletacircnea de discursos escritos por ele em defesa de uma educaccedilatildeo sem

253 Nesse livro haacute vaacuterios pedidos de mobiacutelias escolares para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes Os tamanhos dos bancos e mesas para uso dos alunos variavam muito mas mantinham o padratildeo de serem de comprimento longo 254 Tivemos acesso a esse livro na Biblioteca do Arquivo Puacuteblico do Estado de Satildeo Paulo A ediccedilatildeo consultada datada de 1880 foi publicada na Typographia e Litographia E Guyot Rua Pacheco 12 em Bruxelas (BORGES 1880)

258

castigos corporais Os textos foram organizados por ano compreendendo o periacuteodo

de 1856 a 1875 (VALDEZ 2006)

Saviani (2013) advoga que Abiacutelio Ceacutesar Borges adotou ldquoa pedagogia moderna

procurando pocircr em praacutetica e difundir no Brasil lsquoos meacutetodos novosrdquo (SAVIANI 2013 p

155) Para o autor entre as praacuteticas que subsidiavam esses meacutetodos estava a de que

a escola seria o lugar de a crianccedila ser feliz que ela pudesse amar esse espaccedilo

aprendendo com prazer de modo que o professor conquistasse a atenccedilatildeo da crianccedila

com propostas atrativas e natildeo pelo medo e pelo uso da palmatoacuteria Valdez (2006)

explica que Abiacutelio ao sustentar em seus discursos a tese de que os castigos fiacutesicos e

a palmatoacuteria ldquonatildeo levavam a nada e que a ciecircncia natildeo era algo que se introduzisse

com pancadas aconselhava aos pais e mestres que corrigissem os lsquodesmandos do

espiacuteritorsquo com amor ou conselhos promovendo a emulaccedilatildeo e o gosto do estudordquo

(VALDEZ 2006 p 176)

Ainda sobre os donativos feitos por ele ao governo goiano no Impeacuterio uma

correspondecircncia enviada pela Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana em 17 de

setembro de 1880 aos Inspetores Paroquiais da proviacutencia nos chamou atenccedilatildeo ao

confrontarmos seu conteuacutedo com dados da pesquisa de Teixeira (2008) Vejamos

inicialmente um fragmento da fonte identificada no Arquivo Histoacuterico Estadual de

Goiaacutes

Arsquo 17 de setembro de 1880 Ao Insp tor Paroal Andreacute Ferra [ilegiacutevel] Inspetoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica em Goyaz 17 de setembro de 1880 Ilmo Senro Envio a V Srordf 36 exemplares dos seguintes opuacutesculos de Luziadas Dezenho linear ou elementos de Geometria Pratica e Pequeno tratado de leitura para serem distribuidos as escolas publicas sob sua inspeccedilatildeo devendo tocar a cada uma dellas 6 exemplares de cada um dos opuacutesculos Deos Guarde a V Sordf Conego Joaquim Vicente de Azevedo I G da I P = Senr~ Insptor Parocial da Freguesia do Rosario desta Capital Andreacute Ferreira Rios (AZEVEDO 17 de setembro de 1880 p 39 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690)

Esse ofiacutecio foi enviado a vaacuterias localidades da proviacutencia goiana variando o

nuacutemero de exemplares de acordo com a quantidade de escolas declaradas em cada

regiatildeo Acompanhando a seacuterie dos ofiacutecios encontrados no Livro de Registro das

Correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores

Paroquiais (GOIAacuteS 1879-1883 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 690) calculamos cerca de 1014 livros distribuiacutedos agraves escolas primaacuterias

259

de Goiaacutes cujos tiacutetulos satildeo os mesmos mencionados por Azevedo (17 de setembro de

1880)

Esse nuacutemero de livros chama atenccedilatildeo levando-nos a procurar a origem deles

Consultando os Relatoacuterios do Presidente de Proviacutencia agrave eacutepoca Aristides de Sousa

Spiacutenola e as fontes recolhidas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes natildeo

encontramos ateacute entatildeo menccedilatildeo ao local de onde foram enviados

Teixeira (2008) apresenta um dado que pode explicar a procedecircncia dos

impressos distribuiacutedos por Azevedo (17 de setembro de 1880) A autora cita parte do

Relatoacuterio do Ministro do Impeacuterio de 1878 que informa a distribuiccedilatildeo de obras que

Abiacutelio Ceacutesar Borges faz pelas escolas da Corte e das proviacutencias Foram 10000

exemplares de cada uma das obras Pequeno tratado de leitura Os Luziadas (ediccedilatildeo

especial) e Elementos de geometria pratica popular (TEIXEIRA 2008 p 131)255 A

partir da similaridade entre esses tiacutetulos e os mencionados no ofiacutecio do Cocircnego

Joaquim Vicente de Azevedo presumimos que as obras distribuiacutedas pela proviacutencia

goiana eram donativos feitos pelo Baratildeo de Macauacutebas

Em Goiaacutes no oitocentos a praacutetica de doaccedilotildees de artefatos para manutenccedilatildeo

das escolas natildeo era soacute realizada por autores de livros didaacuteticos Agrave guisa de exemplo

vejamos

Ins P de 23 de Maio de 1889 N 44 Inteirado pelo seu officio sob nordm 65 de 9 do corrente mes de haver o Coronel Frederico Joseacute [ilegiacutevel] residente na cidade de Porto Imperial feito um donativo a escola de 1as letras do sexo feminino da mesma cidade de 40 exemplares dos livros de leitura do Dr Abilio Cesar Borges conforme lhe foi comunicado pelo respectivo delegado litterario em officio de 3 de Abril findo recommendo-lhe que em nome do governo agradeccedila ao referido Coronel [ilegiacutevel] importante offerta que assim revelou o seu elevado patriotismo em favor da instrucccedilatildeo publica drsquoaquella localidade Dos Ge aacute Vmce

Eliacutesio Firmo Martins Insp Geral da Instrucccedilatildeo Publica (MARTINS 23 de maio de 1889 grifos nossos AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 930)

255 Segundo Alves (1936) o estudo da liacutengua nacional foi objeto de vaacuterias reflexotildees de Abiacutelio ldquoSeu interesse pelo estudo da lingua nacional natildeo ia soacute aacute aprendizagem mecacircnica de regras de gramaacutetica queria a leitura expressiva e a declamaccedilatildeo o conhecimento das belezas da lingua que ele sintetizava nos lsquoLUZIADASrsquordquo (ALVES 1936 p 81) Publicou em 1879 a Ediccedilatildeo Escolar dos Lusiacuteadas para uso das escolas brasileiras na qual se acham supressas todas as estacircncias que natildeo devem ser lidas pelos meninos (VALDEZ 2006)

260

Esse eacute um dos registros que mostra que os Coroneacuteis em Goiaacutes tambeacutem

forneciam materiais para as escolas primaacuterias o que os colocava como benfeitores

responsaacuteveis por manterem a ordem e a administraccedilatildeo dos territoacuterios juntamente com

os Presidentes da Proviacutencia Os Religiosos tambeacutem faziam muitos donativos

especialmente de livros de doutrina cristatilde e catecismos

O cenaacuterio goiano no final do Impeacuterio foi marcado por disputas no campo

poliacutetico devido agraves rixas entre as oligarquias locais No contexto dos municiacutepios

diferentes arranjos poliacuteticos e casamentos eram feitos entre as famiacutelias dos Coroneacuteis

para manutenccedilatildeo do poder e pela propriedade de terras Natildeo obstante como nos

informa Canezin e Loureiro (1994) o que estava em jogo natildeo eram soacute posses e sim

um poder simboacutelico de domiacutenio territorial proacuteprio do sistema de coronelismo que

imperava na proviacutencia

Entre os impressos de Borges nos deteremos doravante com maiores detalhes

no Primeiro livro de leitura uma vez que essa obra subsidiava o processo de

alfabetizaccedilatildeo nas escolas primaacuterias goianas Seu tiacutetulo completo eacute Primeiro livro de

leitura para uso da infancia brasileira

261

Figura 17 Folha de rosto da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Diane Valdez

Sua primeira ediccedilatildeo data de 1866256 conforme consta no primeiro item do livro

intitulado de ldquoRapidas consideraccedilotildees sobre o methodo seguido nrsquoeste livrinhordquo que

ocupa a extensatildeo da paacutegina 3 a 7 e se aproxima de um prefaacutecio que faz notas

introdutoacuterias sobre o meacutetodo e o livro A publicaccedilatildeo da obra ocorreu entretanto em

1867 em Paris

Borges (1867a) adverte inicialmente sobre os motivos que o levaram a escrever

a obra

Desde que me occupo de instruir e educar a mocidade tenho vanmente procurado um livro de primeira leitura em lingua portuguesa

256 Tivemos acesso a coacutepia dessa primeira ediccedilatildeo por meio da consulta ao Acervo Pessoal da pesquisadora Diane Valdez da Universidade Federal de Goiaacutes Segundo Valdez (2006) o Primeiro livro de leitura tinha formato 175 x 11 cm

262

que ao mesmo tempo que servisse para facilitar aacutes creanccedilas o conhecimento dos elementos da linguagem lhes comunicasse desde as primeiras lecccedilotildees o habito de pensarem e entenderem o que lessem (BORGES 1867a p 3)

Posto isso o autor lanccedila o seu principal desafio bem como o caraacuteter moderno

do seu Primeiro livro de leitura associar o aprendizado da liacutengua com o pensamento

e compreensatildeo do que se lecirc O gosto pela leitura continua Borges (1867a) seria

decorrente de o aluno se deparar com liccedilotildees cujas palavras e frases fossem familiares

Assim sendo propotildee o uso de expressotildees que as crianccedilas estavam ldquoacostumadas a

ouvir e fallar em suas casas e cuja significaccedilatildeo portanto lhes natildeo seria estranhardquo

(BORGES 1867a p 3)

Idealizando formar sujeitos pensantes exalta a primeira infacircncia justificando

que a escrita de um livro para crianccedilas eacute um ato da mais elevada posiccedilatildeo social Nesse

ponto jaacute apresenta argumento e contra-argumento aos possiacuteveis criacuteticos que

manifestassem opiniatildeo de que escrever livros para crianccedilas eacute se rebaixar numa

posiccedilatildeo de pouco prestiacutegio Por fim enaltece a educaccedilatildeo na primeira infacircncia

acrescentando

Na fundaccedilatildeo dos edifiacutecios puacuteblicos de alguma importancia natildeo satildeo os personagens de mais elevada posiccedilatildeo social os escolhidos para se abaixarem assentando-lhes a primeira pedra E qual o edifiacutecio de mais valor social e moral do que o da educaccedilatildeo da infancia (BORGES 1867a p 4 grifos do autor)

Sobre o meacutetodo Borges (1867a) explicita que os resultados seratildeo mais breves

que os das Cartas de ABC Manteacutem a loacutegica do ensino de leitura pelo meacutetodo de

soletraccedilatildeo com algumas inovaccedilotildees nas teacutecnicas palavras e textos contidos no livro

A princiacutepio pela organizaccedilatildeo do Primeiro livro de leitura a tendecircncia eacute sinalizar que o

meacutetodo por ele adotado era o de silabaccedilatildeo como Pfromm Neto Dib e Rosamilha

(1974) classificaram jaacute que as primeiras liccedilotildees apresentam as letras e na sequecircncia

as siacutelabas dispostas em ordem alfabeacutetica Contudo no prefaacutecio haacute as orientaccedilotildees

para o professor aplicar as liccedilotildees esclarecendo que a teacutecnica privilegiada eacute a

soletraccedilatildeo

Eacute assim que o mestre ensinaria perfeitamente de cor a seus discipulos o alphabeto seguido por ordem e a decomposiccedilatildeo das palavras em syllabas e a recomposiccedilatildeo destas nas mesmas palavras e so quando elles soubessem recitar todo o alphabeto e soletrar todas as palavras contidas nrsquoeste livrinho eacute que elle seria posto nas matildeos dos meninos os quaes por este modo em tres ou quatro semanas mais o leriam

263

sufficientemente bem para poderem passar ao segundo livro de leitura que tambem nrsquoesta data para elles publico Sabido perfeitamente o alphabeto de cor e a soletraccedilatildeo como acabo de recomendar a leitura sobre o livro se acharaacute infinitamente facilitada natildeo tendo as creanccedilas outra cousa aacute fazer sinatildeo conhecer pelos olhos aquillo que jaacute sabiam de memoria aprendido pelos ouvidos o que certamente lhes excitaraacute a curiosidade sendo-lhes motivo de satisfaccedilatildeo real (BORGES 1867a p 5)

A questatildeo da metodologia do ensino de leitura abordada pelo Baratildeo de

Macauacutebas no seu Primeiro livro eacute alvo da pesquisa de Frade (2010a) que assinala

que ldquonatildeo se pode dizer que seu meacutetodo seja baseado na palavraccedilatildeo uma vez que

fica claro que eacute preciso que os alunos soletrem antes das liccedilotildees tudo que apareceraacute

no impresso depois das paacuteginas do seu livrinhordquo Em seguida acrescenta ldquoparece

entatildeo que Abiacutelio herda o procedimento de soletraccedilatildeo mas aplica-o de forma mais

significativa em palavras do cotidianordquo (FRADE 2010a p 191)

Borges (1867a) indica que o livro natildeo deveria ser colocado na matildeo da crianccedila

nos primeiros dias de aula pois ele representa a cultura da escola tornando o

processo ainda mais penoso O professor aguardaria de duas a trecircs semanas periacuteodo

que o autor chama de ldquopreparaccedilatildeo para leitura sobre o papelrdquo que ldquodevem ser

empregadas em exercicios de leitura de cor aprendida so pelo ouvidordquo (BORGES

1867a p 5) A entrega do livro seria um ato solene destacou Borges (1867a)

Elucida tambeacutem que algumas passagens dele seriam trabalhadas com textos

decorados remontando agraves praacuteticas seculares de alfabetizaccedilatildeo o que mostra que

manteve a tradiccedilatildeo de uma teacutecnica de ensino que associava memorizaccedilatildeo das siacutelabas

pela soletraccedilatildeo reconhecendo-as e lendo-as em palavras que faziam parte do

repertoacuterio e do dia a dia das crianccedilas o que conferia agrave obra um diferencial em relaccedilatildeo

ao que circulava nas produccedilotildees didaacuteticas brasileiras Em consonacircncia o escritor

defendia que a aprendizagem da leitura passava necessariamente pelos sentidos

dos olhos e dos ouvidos pela oralizaccedilatildeo do escrito do conhecimento das pequenas

partes para o todo

Natildeo o recommendando pois no todo recommendo-o em parte e com encarecimento isto eacute que se ensine e acostume os meninos a lerem as palavras monosyllabas e mesmo as dissyllabas mais communs facillimas de conhecer aacute primeira vista independente da soletraccedilatildeo (BORGES 1867a p 6)

O ensino de leitura pensado por Borges (1867a) natildeo se associava ao ensino

da escrita jaacute que recomendava aos professores que natildeo se preocupassem com essa

264

questatildeo com os seu ldquodisciacutepulosrdquo com menos de sete anos de idade justificando que

esse processo eacute ldquopenoso demais para aquellas matildeosinhas ainda tatildeo pequenasrdquo

(BORGES 1867a p 7)

Entre os usos das obras de Abiacutelio na instruccedilatildeo primaacuteria goiana destaca-se o

caso na Escola Normal de Goiaacutes que exemplifica as possiacuteveis apropriaccedilotildees dos

impressos escritos por esse autor nas classes de primeiras letras da proviacutencia Em

1884 estavam abertas anexas agrave Escola Normal duas classes de instruccedilatildeo primaacuteria

sendo uma do sexo feminino e outra do sexo masculino O Programa de Ensino para

a aula das meninas cuja regecircncia era da professora Silvina Ermelinda Xavier de Brito

enunciava

Programma do ensino pa a aula de instrucccedilatildeo primaria do sexo feminino annexo a Escola Normal Estabelecer o methodo de ensino simultacircneo dividindo-se as alunas em 5 classes e funccionaraacute 2 vezes pr dia das 9 as 11 da manham e de 1 a 3 da tarde 1deg Classe Leitura ndash Conhecimto de letras e syllabas do 1 Livro de leitura de Abilio Escripta ndash Traccedilar na pedra letras soltas maiuacutesculas e minuacutesculas Arithmetica ndash Conhecimto dos algarismos e formaccedilatildeo dos nos ateacute dezenas Doutrina ndash Ensino oral das Oraccedilotildees da Cartilha ateacute a pagina 39 2deg Classe Leitura ndash Continuaccedilatildeo do 1deg Livro de Abilio ateacute a pag 33 Escripta ndash O alphabeto seguido e algarismos a lapes sobre papel Arithimetica ndash Formaccedilatildeo dos nos ateacute milhotildees Doutrina ndash Continuaccedilatildeo das Oraccedilotildees da Cartilha ateacute a pag 45 3deg Classe Leitura ndash Continuaccedilatildeo e fim do 1deg Livro de Abilio Escripta ndash Copia de traslados em bastardo Arithmetica ndash Taboada de addiccedilatildeo e subtracccedilatildeo Pratica dessas 2 pes Doutrina ndash Continuaccedilatildeo das oraccedilotildees da Cartilha ateacute o fim 4deg Classe Leitura ndash 2deg Livro de Leitura do Dr Abilio Escripta ndash Copia de traslados em bastardinho Arithmetica ndash Taboada de multiplicar e dividir Pratica dessas 2 opes Doutrina ndash Explicaccedilotildees da Cartilha ou Cathecismo 5deg Classe Leitura ndash 3deg Livro de leita do Dr Abilio e Grammatica Portugueza do mesmo auctor Escripto ndash Cursivo Copia e dictado Arithmetica ndash Problemas sobre as 4 opes e noccedilotildees de metologia Doutrina ndash Historia Sagrada

265

Aos sabbados execuccedilatildeo do artigo 75 do regulamento 1 dia da semana destinada unicamte aos trabalhos drsquoagulhas a qual seraacute a 5deg feira A Professora Silvina E Xavier de Brito (BRITO 1884 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa)257

A primeira questatildeo que depreendemos da anaacutelise dessa fonte eacute que a

organizaccedilatildeo das classes era de acordo com o niacutevel de adiantamento das alunas de

modo que na 1ordf classe matriculavam as meninas que estavam iniciando o processo

de alfabetizaccedilatildeo jaacute na uacuteltima classe a 5ordf as alunas que dominavam a leitura e escrita

com fluecircncia Na organizaccedilatildeo proposta pela professora Silvina os trecircs livros de leitura

do Baratildeo de Macauacutebas satildeo mencionados no ensino de leitura

O Primeiro livro de leitura era utilizado nas trecircs primeiras classes dividindo-o

pelo grau de dificuldade das liccedilotildees Na primeira classe os alunos utilizariam a parte

inicial da obra aprendendo as letras e siacutelabas introduzidas nas trecircs primeiras liccedilotildees

Na segunda classe se daria continuaccedilatildeo ao Primeiro livro ateacute a paacutegina 33

correspondendo agraves liccedilotildees com palavras de uma duas e trecircs siacutelabas e oraccedilotildees com

as combinaccedilotildees dessas palavras A loacutegica do autor era de uma liccedilatildeo com palavras e

outra subsequente com combinaccedilotildees dessas palavras em frases com os vocaacutebulos

aprendidos anteriormente

257 Este documento estaacute digitalizado no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar da Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes

266

Figura 18 Paacutegina 20 da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Diane Valdez

A partir das liccedilotildees com palavras de duas siacutelabas como notamos acima cada

vocaacutebulo era apresentado com um espaccedilo entre as siacutelabas Essa disposiccedilatildeo da

palavra com as siacutelabas separadas foi uma das caracteriacutesticas conforme jaacute

mencionamos nas seccedilotildees anteriores dos impressos tiacutepicos organizados pelo meacutetodo

de soletraccedilatildeo Frade (2012) ao tratar da questatildeo da separaccedilatildeo intersilaacutebica com hiacutefen

ou com espaccedilo nas cartilhas que circularam no Brasil no seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX traz contribuiccedilotildees a partir de uma anaacutelise comparativa entre obras brasileiras

portuguesas e francesas revelando que esse recurso foi usual nos impressos

brasileiros mesmo havendo variaccedilatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo Segundo a autora

ldquonatildeo podemos tomar o recurso graacutefico como exclusivo de um meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo

sob pena de cometer certos contrassensos uma vez que temos abecedaacuterios que se

267

utilizaram do meacutetodo alfabeacutetico cartilhas do meacutetodo focircnico e silaacutebico que utilizam

recursos graacuteficos parecidosrdquo (FRADE 2012 p 183-184)

Na terceira classe finalizava o Primeiro livro de leitura em liccedilotildees intuladas de

ldquoMiscellaneardquo Considerando que o livro a que tivemos acesso dispunha de 56 paacuteginas

(BORGES 1867a) eacute bem provaacutevel que essa parte da obra comeccedilava a ser trabalhada

na classe anterior uma vez que a professora Silvina menciona que ensinaria leitura

na segunda classe utilizando ateacute a paacutegina 33 Enfim o conjunto de textos da

coletacircnea denominada sob o tiacutetulo de miscelacircnea ldquorevela a entrada de outros

elementos do aprendizado e conteuacutedo escolar pois nele aparecem textos com

conteuacutedos enciclopeacutedicos morais e civilidades relacionadas agrave escolardquo (FRADE

2010a p 197)

Jaacute na quarta e quinta classes da aula primaacuteria do sexo feminino anexas agrave

Escola Normal eram utilizados respectivamente o Segundo e Terceiro livros de

leitura de Abiacutelio direcionados para leitura corrente Essas obras segundo o autor

eram concebidas em ldquoestilo verdadeiramente infantilrdquo para natildeo fadigar as crianccedilas

ensinando-lhes doutrinas morais e religiosas Especialmente no Segundo livro de

leitura os textos satildeo histoacuterias que levam para o aprendizado de algum ensinamento

moral civilizando as crianccedilas para serem doacuteceis e amaacuteveis despertando ldquoprimeiro no

coraccedilatildeo e no espiacuterito dos meninos [] a distincccedilatildeo do bem e do mal isto eacute da

consciecircncia moralrdquo (BORGES 1867b258 p VII)

O Terceiro livro de leitura (BORGES 1890)259 com 266 paacuteginas traz

conteuacutedos voltados para temaacuteticas variadas que podem ser agrupadas em quatro

seccedilotildees A primeira trata de conteuacutedos escolares correlatos como geografia ciecircncias

histoacuteria e sauacutede a segunda apresenta textos de moral civilidade incluindo faacutebulas e

paraacutebolas com esse teor a terceira com ecircnfase literaacuteria traz tambeacutem excertos de

poesia por fim a quarta seccedilatildeo retoma regras de moral e bons modos respeito e

obediecircncia aos pais agraves autoridades e aos professores Um aspecto interessante

nesse livro eacute como Borges (1890) se dirige aos leitores num tom iacutentimo como se

258 Interessante notar que na capa do Segundo livro de leitura estatildeo impressas duas datas da 1ordf ediccedilatildeo Primeiramente 1867 logo abaixo vem o ano de 1866 A introduccedilatildeo dessa obra vem datada de ldquoParis 16 de novembro de 1866rdquo Para referenciaacute-lo utilizamos a primeira data mencionada 1867 259 A primeira ediccedilatildeo desse livro data de 1871 editado em Bruxelas pela Tipografia e Litografia E Guyot

268

estivesse num diaacutelogo com as crianccedilas O autor lanccedila matildeo de expressotildees tais como

ldquocaros meninosrdquo ldquoqueridos meninosrdquo ldquomeus meninosrdquo

Na quinta classe eacute citado tambeacutem o livro de Gramaacutetica Portuguesa de Abiacutelio

Em Goiaacutes no oitocentos esclarece Valdez (2011) por ser uma regiatildeo com elevada

populaccedilatildeo indiacutegena e escrava investia-se no ensino de liacutengua portuguesa e nos

compecircndios de Gramaacuteticas para civilizar a populaccedilatildeo com objetivo de substituir o

ldquovocabulaacuterio considerado lsquovulgarrsquo dos iacutendios e dos escravosrdquo (VALDEZ 2011 p 123)

A autora acrescenta que

Inicialmente os compecircndios satildeo requeridos somente como lsquogramaticasrsquo sem definir autoria ou temaacutetica Em 1862 nos deparamos com a solicitaccedilatildeo da obta intitulada lsquoGrammatica Portuguezarsquo pedido que continuou nas listas ateacute o final do seacuteculo XIX Em relaccedilatildeo agraves obras gramaticais predomina ainda o pedido de lsquoGrammaticarsquo sem maiores especificaccedilotildees Adota-se ainda a obra lsquoResumos de Grammatica Portuguesa pelo Dr Abiliorsquo lsquoGrammatica Nacionalrsquo lsquoGrammaticas portuguesas do Conego Fernandesrsquo Na deacutecada de 1880 acrescenta-se lsquoSyllabario Portuguez de J R Galvatildeorsquo lsquoGrammatica de Saraivarsquo lsquoDiccionario de Saraivarsquo e lsquoSyntaxe do Padre Antocircnio Rodrigues Dantasrsquo Eacute nessa deacutecada que notamos maior investimento nas obras claacutessicas como lsquoOs Luziadasrsquo lsquoPoesias de Camotildeesrsquo lsquoCollecccedilatildeo completa de Selecta Latinarsquo e lsquoArte Versificatoriarsquo (VALDEZ 2011 p 123-124)

Nas listas de expediente escolar inventariadas na seccedilatildeo de Documentos

Avulsos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes apareceram diferentes tiacutetulos de

gramaacuteticas na maioria das vezes solicitadas para o Gabinete Literaacuterio ou Liceu ou

Escola Normal o que comprova que seu uso estava mais direcionado para os estudos

posteriores ao ensino primaacuterio Poreacutem elas natildeo deixaram de circular no curso primaacuterio

um tiacutetulo em destaque nas listas para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria goianas ateacute o

fim do seacuteculo XIX era a Grammatica do Abilio ou Grammatica Portugueza sem

especificaccedilatildeo do autor Considerando que na maioria desses pedidos havia tambeacutem

a solicitaccedilatildeo de outros livros de leitura de Abiacutelio Ceacutesar Borges acreditamos que essa

gramaacutetica possa ser a Grammatica portugueza para uso das escolas escrita pelo

autor Jaacute no fim do seacuteculo XIX ao iniacutecio do seacuteculo XX ganhou destaque a Grammatica

da Infancia de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro No seacuteculo XX ateacute a deacutecada de

30 passou a ser solicitada em maior quantidade a Grammatica Portugueza (Curso

Primaacuterio) de Joatildeo Ribeiro

Quanto ao ensino de escrita previsto no programa da aula de instruccedilatildeo primaacuteria

da professora Silvina Brito haacute uma sequecircncia que tambeacutem segue um meacutetodo

269

progressivo de aprendizagem apoiado primeiro na ideia do uso do material e depois

no formato da letra Quanto aos materiais na primeira classe estava previsto o

traccedilado das letras na pedra e na segunda classe no papel Jaacute em relaccedilatildeo ao formato

da letra havia sequecircncia da letra em bastardo (terceira classe) bastardinho (quarta

classe) e cursivo (quinta classe) Essa sequecircncia como tratamos na seccedilatildeo trecircs

estava em sintonia com os impressos e a legislaccedilatildeo lusitana (BOTO 1997) da mesma

maneira que tambeacutem dialoga com as legislaccedilotildees e recomendaccedilotildees para o ensino de

escrita na escola de primeiras letras do Brasil do seacuteculo XIX (ARRIADA TAMBARA

2012)

Embora o programa de ensino da aula de instruccedilatildeo primaacuteria feminina da Escola

Normal de Goiaacutes (BRITO 1884) seja um caso particular natildeo haacute como isolaacute-lo do que

ocorria na proviacutencia se considerarmos que essas Escolas lanccedilavam tendecircncias e

foram divulgadoras daquilo que se propagava de mais moderno no paiacutes e tambeacutem no

mundo especialmente na Europa e nos Estados Unidos (MORTATTI 2000

AMAcircNCIO 2008 ARAUacuteJO FREITAS LOPES 2008) Aleacutem do mais a autora desse

programa foi uma professora que se destacou na proviacutencia uma intelectual de seu

tempo Silvina Ermelinda Xavier de Brito ou Mestra Silvina como popularmente ficou

conhecida nas poesias de Cora Coralina260 segundo Prudente (2017) chegou a

participar do Gabinete Literaacuterio Goiano distinguindo-se no magisteacuterio feminino em

Goiaacutes como uma personalidade que desenvolveu meacutetodos de ensino e organizava

seu trabalho de acordo com a idade das meninas e o grau de conhecimento Dessa

maneira consideramos que praacuteticas da Escola Normal de Goiaacutes e das escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria da Capital de certo modo influenciavam o ensino das primeiras

letras pela proviacutencia (CANEZIN LOUREIRO 1994)

Diante do exposto no decorrer do item observamos que as obras de Abiacutelio

Ceacutesar Borges influenciaram os modos de alfabetizar nas escolas goianas

ultrapassando o periacuteodo Imperial e circulando durante a Repuacuteblica sendo

mencionadas ateacute os anos 30 do seacuteculo XX

[] Para base poreacutem para alicerce do edifiacutecio educacional o material deve ser mais soacutelido mais ldquosubstanciosordquo Eacute interessante lembrar que jaacute possuiacutemos e oacutetimo Quero me referir aos livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macaubas []

260 Notem que a poesia de Cora Coralina transcrita no iniacutecio desse item intitula-se ldquoEscola da Mestra Silvinardquo

270

O aluno que haja percorrido os livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges nunca responderaacute como tenho ouvido vaacuterias vezes ateacute de ginasianos da quarta seacuterie dizendo ignorar qual seja a origem e como se fabrica o papel Muito bem agiram as autoridades municipais de uma pequena cidade goiana quando logo depois da proclamaccedilatildeo da repuacuteblica e ao ser regulamentado o ensino primaacuterio instituiacuteram o seguinte artigo ldquoOs livros adotados satildeo os de Abiacutelio Ceacutesar Borgesrdquo (FLEURY 1939 p 5-6)

Essa publicaccedilatildeo eacute uma passagem do artigo do professor Fleury Catedraacutetico

de Quiacutemica do Liceu de Goiaacutes em 1939 na Revista de Educaccedilatildeo de Goiaacutes um

perioacutedico oficial de circulaccedilatildeo estadual destinado aos professores goianos que se

tornou cenaacuterio de divulgaccedilatildeo de ideais pedagoacutegicos no contexto republicano

O fragmento de Fleury (1939) foi uma das uacuteltimas menccedilotildees que identificamos

acerca da obra de Abiacutelio em Goiaacutes o que colabora para marcar que houve mais de

sete deacutecadas de influecircncia dos impressos do Baratildeo de Macauacutebas na educaccedilatildeo de

crianccedilas goianas

53 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

A partir dos anos de 1870 a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes ganhou outro

capiacutetulo marcado por princiacutepios da modernizaccedilatildeo A entrada de livros didaacuteticos de

autores brasileiros estabeleceu um cenaacuterio diferente na educaccedilatildeo goiana A ecircnfase

dada aos tradicionais meacutetodos de soletraccedilatildeo e agraves Cartas de ABC comeccedilou a ser

contestada por meio de impressos que defendiam modos diferentes de ensinar leitura

agraves crianccedilas

Buscando uma perspectiva metodoloacutegica que agradasse a infacircncia com

alternativas pedagoacutegicas distantes das difundidas pelos livros que circulavam pelas

proviacutencias ambos os autores destacados nessa seccedilatildeo ndash Antonio Pinheiro de Aguiar

e Abiacutelio Ceacutesar Borges ndash lanccedilaram-se no mercado editorial brasileiro oferecendo agraves

escolas propostas para modernizar o ensino de leitura

A proviacutencia goiana no periacuteodo que compreende esta Tese natildeo apresentou

uma regulamentaccedilatildeo especiacutefica que oficializasse um meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo em seu

territoacuterio portanto foram os livros didaacuteticos que chegavam agraves matildeos dos professores

que os orientaram e formaram para esse trabalho

271

Como assinalado em Goiaacutes as obras de Borges tiveram maior circulaccedilatildeo do

que as de Aguiar o que pode ser explicado ao confrontarmos os meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo definidos pelos autores Aguiar buscou na figura do indiacutegena e nas

historietas o apoio para delinear o seu meacutetodo denominado por Antonio Estevam

Costa e Cunha como silaacutebico Jaacute Abiacutelio mantinha a tradiccedilatildeo do meacutetodo de soletraccedilatildeo

com novidades nos procedimentos nas palavras e nos textos que suas obras

copilavam Essa questatildeo pode inclusive ter definido maior adesatildeo do professorado

goiano aos impressos de Abiacutelio jaacute que aspiravam agrave mudanccedila mas calcada na tradiccedilatildeo

de uma cultura escolar que se caracterizava pelo uso das teacutecnicas da soletraccedilatildeo

Aleacutem do mais comparando os impressos de ambos os autores eacute niacutetido que a

obra de Abiacutelio se configurava como uma seacuterie de leitura graduada Foram livros que

ultrapassavam o ensino inicial de leitura indo ateacute a leitura corrente Jaacute o meacutetodo

Bacadafaacute restringia-se agraves teacutecnicas de alfabetizaccedilatildeo A proacutepria qualidade da ediccedilatildeo

graacutefica dessas obras tambeacutem demonstra uma desleal disputa Enquanto Abiacutelio

preferiu as editoras estrangeiras para editar seus livros de leitura Pinheiro de Aguiar

publicou o seu impresso em Tipografias brasileiras o que diferenciava o lugar social

desses livros para a sociedade local num momento em que os dirigentes das

proviacutencias buscavam na Europa o modelo para o paiacutes se estruturar como naccedilatildeo

civilizada (VILLELA 2000)

Enfim no tocante agrave questatildeo de as obras de Borges serem mais difundidas isso

natildeo eacute um fato isolado da proviacutencia de Goiaacutes No proacuteprio Rio de Janeiro local onde

Pinheiro de Aguiar tentava expandir seu meacutetodo ele natildeo alcanccedilou as intenccedilotildees

pretendidas

Dessa maneira a identidade da alfabetizaccedilatildeo goiana foi-se arquitetando com

bastante influecircncia da proviacutencia do Rio de Janeiro De alguma forma a instruccedilatildeo

puacuteblica em Goiaacutes mantinha com a Corte estreitas relaccedilotildees natildeo somente poliacuteticas jaacute

que esteve no circuito de distribuiccedilatildeo de obras dos autores de livros didaacuteticos que

doavam suas produccedilotildees para propagandear seus meacutetodos de ensino de leitura Esse

ponto reitera a nossa tese de que a instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes esteve inserida nas

ideias de modernidade do seacuteculo XIX especialmente no campo da alfabetizaccedilatildeo

Essa proviacutencia natildeo estava isolada do que ocorria no paiacutes pois afinal o governo

goiano difundiu propostas advindas de autores brasileiros que buscavam inovar a

educaccedilatildeo das crianccedilas Aproveitando-se dos donativos feitos por Pinheiro de Aguiar

272

e Borges as escolas goianas foram palco para experimentaccedilatildeo de meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo que buscavam espaccedilo e reconhecimento entre os professores do paiacutes

Natildeo nos aprofundamos nesta seccedilatildeo na figura do Presidente da Proviacutencia de

Goiaacutes Antero Ciacutecero de Assis governante entre 1871 e 1878 Se observamos as

correspondecircncias transcritas nos itens anteriores que trataram da difusatildeo dos

impressos de Pinheiro de Aguiar e do Baratildeo de Macauacutebas pelas escolas goianas no

regime imperial notaremos que foram em grande parte assinadas por Assis Esse

Presidente em seus discursos mostrou vaacuterias iniciativas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

destacando especialmente a estrateacutegia de disseminaccedilatildeo de escolas por diferentes

locais da proviacutencia (Cf ASSIS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1873 1874 1875)

Portanto natildeo houve total negligecircncia do governo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo como

frequentemente a historiografia goiana veicula a respeito do periacuteodo imperial De igual

maneira a figura de Assis destaca-se na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes no

momento da entrada da produccedilatildeo didaacutetica brasileira nas escolas primaacuterias

Retomando o poema de Quintana (1995 p 10) que abriu esta seccedilatildeo em

continuidade aos seus versos transcritos o poeta ainda afirma sobre os livros que eles

ldquotecircm cada um um timbre diverso de silecircnciordquo Em diaacutelogo com os propoacutesitos do

capiacutetulo e com os objetivos da Tese uma parte do ldquotimbre diverso de silecircnciordquo das

obras dos brasileiros Antonio Pinheiro de Aguiar e Abiacutelio Ceacutesar Borges foi desvelada

pela nossa leitura ndash singular do ponto de vista de que ela esteve ancorada pelas fontes

e pela histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes Afinal ldquoque satildeo as palavras impressas em um

livro Que significam estes siacutembolos mortos Nada absolutamente Que eacute um livro

se natildeo o abrimos Eacute simplesmente um cubo de papel e couro com folhas Mas se

o lemos acontece uma coisa rara creio que ele muda a cada instanterdquo (BORGES

1985 p 11)

273

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS ____________________________________

ldquoNatildeo grites natildeo suspires natildeo te mates escreve [] E por que desprezas o homem papel se ele te fecunda

com dedos sujos mas dolorosos Pensa na doccedilura das palavras Pensa na dureza das palavras Pensa no

mundo das palavras [] Certos papeacuteis satildeo sensiacuteveis certos livros nos possuemrdquo261

ldquoEle potildee um pedaccedilo de papel em branco sobre a mesa agrave sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta

Foi Nunca seraacute de novordquo262

Escrever sempre eacute um ato solitaacuterio se o pensarmos restritamente como uma

pessoa com um papel ou tela em branco uma caneta ou o teclado do computador

Mas numa noccedilatildeo dialeacutetica e dialoacutegica do ato de escrever habitar o mundo das

palavras pela produccedilatildeo da escrita eacute um fazer coletivo (polifocircnico) Sou eu e os outros

em mim ou nas palavras bakhtinianas ldquoeu vivo em um mundo de palavras do outro

E toda a minha vida eacute uma orientaccedilatildeo nesse mundo eacute reaccedilatildeo agraves palavras do outrordquo

(BAKHTIN 2017 p 38) Por isso mesmo acreditamos que o texto eacute um ldquoespaccedilo de

dimensotildees muacuteltiplas onde se casam e se contestam escrituras variadas das quais

nenhuma eacute original o texto eacute um tecido de citaccedilotildees saiacutedas dos mil focos da culturardquo

(BARTHES 2004 p 62)

261 Trecho extraiacutedo de ldquoNoite na reparticcedilatildeordquo de Carlos Drummond de Andrade (2002 p 175) no livro Poesia Completa 262 Trecho do livro A invenccedilatildeo da solidatildeo de Paul Auster (2004 p 192)

274

Ao conceber a escrita desse modo fica muito mais prazeroso arriscar-se com

as palavras e escrever um texto Foi assim que comeccedilamos a incursatildeo pela histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo Habitamos mundos por noacutes antes natildeo habitados atrevemo-nos num

campo de estudos antes natildeo percorrido agarramo-nos aos livros Aos poucos fomos

percebendo que jaacute ldquonatildeo era mais um menino com um livrordquo263 ldquoFui pegando intimidade

com as palavras E quanto mais iacutentimas a gente ficavardquo264 melhor esta tese ia se

arquitetando Ela tomava forma chegava cada vez mais proacuteximo ao fim ou melhor

dizendo ao seu intervalo para conclusatildeo dessa etapa da vida acadecircmica

Por isso sobre esta pesquisa caro leitor faccedilo uma advertecircncia recorrendo aos

versos de Walt Whitman no claacutessico Folhas de Relva

Quem toca nisto toca em um homem (Eacute noite Estamos sozinhos) Sou eu que seguras e que te segura Eu salto das paacuteginas para teus braccedilos265

O convite feito na Introduccedilatildeo era de percorrermos a proviacutencia de Goiaacutes e seus

arredores no contexto do seacuteculo XIX compreendendo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas goianas entre 1835 e 1886 Por conseguinte esse percurso foi orientado por

estas problematizaccedilotildees ldquocomo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu

durante o Impeacuterio Quais os materiais usados no decorrer dessa histoacuteria para se

alfabetizar as crianccedilas goianas Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita

circularam na proviacutencia de Goiaacutesrdquo

Nossas consideraccedilotildees finais orientam-se a partir dessas perguntas retomando

algumas das descobertas feitas durante a pesquisa

1) Como a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o Impeacuterio

A histoacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes no Impeacuterio se estabeleceu por um

discurso oficial sobre a falta de recursos para o custeio das despesas da educaccedilatildeo

com um tom pessimista acerca das condiccedilotildees da escola A transitoriedade dos

Presidentes de Proviacutencia realccedilava as dificuldades de Goiaacutes em avanccedilar sobre as

questotildees do ensino devido agrave descontinuidade das propostas de cada um dele Esses

263 A frase entre aspas faz relaccedilatildeo intertextual com o trecho do livro Felicidade Clandestina de Clarice Lispector (1998 p 13) ldquoNatildeo era mais uma menina com um livro era uma mulher com seu amanterdquo 264 Trecho extraiacutedo do livro Livro um encontro de Lygia Bojunga (2004 p 7) 265 Utilizamos a traduccedilatildeo de Manguel (1997 p 192) publicada no livro Uma histoacuteria da leitura

275

fatores demarcaram a historiografia sobre Goiaacutes muitas vezes apagando ou

desconsiderando o papel desse territoacuterio no contexto nacional

Entretanto como ficou evidente na anaacutelise empreendida ao mesmo tempo que

esse discurso se mantinha a proviacutencia abria-se para novas iniciativas com o objetivo

de reverter o quadro da instruccedilatildeo puacuteblica Especialmente no que tange ao campo da

alfabetizaccedilatildeo as iniciativas na legislaccedilatildeo e os livros que circulavam por Goiaacutes

representam accedilotildees para cristalizaccedilatildeo de meacutetodos e comportamentos numa escola

que aspirava agrave modernidade

Logo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu em diaacutelogo com o

projeto educacional de uma Naccedilatildeo inspirado nos modelos europeus Destarte Goiaacutes

natildeo foi uma proviacutencia isolada tampouco considerada perifeacuterica ou interiorana em

relaccedilatildeo agrave Capital do Impeacuterio instalada no Rio de Janeiro Goiaacutes no que concerne ao

ensino de leitura e escrita aos livros e meacutetodos que subsidiavam esse processo

durante todo periacuteodo pesquisado esteve em sintonia com o contexto nacional

inspirou-se no pensamento racional e liberal que esteve presente nas accedilotildees

discursos e legislaccedilotildees empreendidas pelos Presidentes de Proviacutencia difundiu nas

escolas impressos estrangeiros para dar suporte agrave instruccedilatildeo das crianccedilas enviou um

professor agrave Corte ndash Feliciano Primo Jardim ndash em busca de novos meacutetodos para

transformar a escola num lugar com melhores resultados aderiu e divulgou livros

didaacuteticos eminentemente brasileiros ndash os livros de leitura Abiacutelio Ceacutesar Borges e o

Meacutetodo Bacadafaacute de Antonio Pinheiro de Aguiar ndash bem como um impresso

pedagoacutegico ndash A Instrucccedilatildeo Publica ndash para que os professores apropriando-se desses

materiais modificassem a tradiccedilatildeo escolar que se erigia pelo meacutetodo individual e

pelas praacuteticas convencionais e seculares de soletraccedilatildeo

2) Quais os materiais usados no decorrer dessa histoacuteria para se alfabetizar as crianccedilas

goianas

Tomando como elemento de anaacutelise os materiais que circularam pelas escolas

em Goiaacutes no oitocentos notamos que especialmente os meacutetodos de soletraccedilatildeo e

silabaccedilatildeo foram os mais difundidos

Para tanto entre as descobertas podemos subdividir os materiais utilizados nas

classesescolas de primeiras letras goianas em impressos e outros materiais de apoio

Dentre os impressos as Cartas de ABC tiveram a maior longevidade

compreendendo todo o periacuteodo investigado ultrapassando-o inclusive

276

Convencionalmente essas cartas eram convocadas para aplicaccedilatildeo dos

execiacutecios de soletrar Ademais os Catecismos e Manuais de Doutrina Cristatilde

marcaram a educaccedilatildeo goiana de modo que em alguns momentos da histoacuteria o

governo deixava de enviar cartilhas ou livros de leitura mas era ldquosagradordquo o envio

desses impressos No caso de Goiaacutes analisamos que seu uso era transversal e natildeo

somente de suporte para as aulas de Doutrina Cristatilde ou de Catecismo presentes no

curriacuteculo estruturado na legislaccedilatildeo goiana durante todo o Impeacuterio Esses impressos

foram apropriados para o ensino inicial de leitura e escrita vinculando os preceitos da

doutrina cristatilde com os demais conteuacutedosdisciplinas escolares Insta esclarecer que

os que circularam pelas escolas de Goiaacutes em sua grande maioria foram publicaccedilotildees

provenientes da Europa e da Ameacuterica do Norte

Aleacutem dos impressos outros materiais de apoio foram registrados nas fontes

lousataacutebuas individuais ou ardoacutesias quadro-negro giz branco ou o laacutepis de pedra

esponjas folhas pautadas laacutepis penas de accedilo penas de ave botijas de tinta tinteiros

siacutemplices canivetes etc Esses artefatos foram empregados na organizaccedilatildeo didaacutetica

das escolas especialmente pelos meacutetodos individual e simultacircneo

No campo dos meacutetodos de ensino em Goiaacutes apesar das iniciativas para

implementaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo ndash tambeacutem conhecido como lancasteriano ou

monitorial ndash do meacutetodo Castilho e do meacutetodo simultacircneo as escolas na proviacutencia

mantiveram a organizaccedilatildeo didaacutetica maiormente pelo meacutetodo individual (ARAUacuteJO E

SILVA 1975) Essa constataccedilatildeo fez parte dos discursos dos presidentes que a partir

dos relatoacuterios dos Inspetores Gerais de Instruccedilatildeo Puacuteblica afirmavam que os

professores natildeo experimentavam outras possibilidades para ensinar devido a

diferentes fatores dentre eles como destacamos a carecircncia de Tratados de Ensino

para divulgaccedilatildeo de outros conhecimentos diferentes dos que jaacute circulavam na

proviacutencia

Nessa conjuntura consideramos que os professores natildeo foram corpos doacuteceis

diante dos dispositivos de controle do governo Tal como Certeau (1990 2014) explica

mesmo com todo o sistema de vigilacircncia sobre as praacuteticas acreditamos que as

professoras e os professores goianos em seu cotidiano na sala de aula se apropriavam

de e experimentavam modos plurais e antidisciplinares para ensinar leitura e escrita a

partir de suas crenccedilas jaacute que os grupos ou indiviacuteduos sociais possuem uma

ldquocriatividade dispersa taacutetica e bricoladorardquo (CERTEAU 2014 p 41)

277

3) Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de

Goiaacutes

O principal saber que circulou sobre o ensino de leitura e escrita na proviacutencia

goiana e sintetiza todo o periacuteodo pesquisado eacute de que esse processo deveria ser raacutepido

e agradaacutevel aos alunos e para isso era necessaacuterio romper com uma cultura escolar

calcada tanto no meacutetodo individual quanto no sistema de soletraccedilatildeo

Esse ideaacuterio em Goiaacutes vinha para atender as demandas da proviacutencia naquele

momento Como a populaccedilatildeo se concentrava mais no meio rural do que nas vilas

paroacutequias arraiais cidades ou na capital era premente uma escola que instruiacutesse as

crianccedilas rapidamente fornecendo-lhe o essencial ndash ler escrever contar e rezar ndash para

que elas dominando o baacutesico fossem ldquoliberadasrdquo para auxiliar os pais nas lidas do

campo A escola foi concebida pelos goianos como local para civilizar a crianccedila e

instruiacute-la na feacute mas era tambeacutem espaccedilo pouco valorizado pelas famiacutelias na proviacutencia

alijado de seu papel de formaccedilatildeo cultural social e intelectual

Outro ideaacuterio acoplado ao ensino inicial de leitura e escrita em Goiaacutes

evidenciado nesta pesquisa esteve na questatildeo de uma religiosidade ou um caraacuteter

eminentemente cristatildeo e catequeacutetico entranhado nos modos de pensar e fazer a escola

goiana oitocentista Ou seja poderiacuteamos explicitar esse ponto afirmando que o cidadatildeo

que se esperava formar pela instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes era algueacutem submisso agrave

tradiccedilatildeo religiosa aos pais e ao Estado conformado com uma vida simples tendo seus

costumes haacutebitos e valores civilizados e sintonizados com a Doutrina Cristatilde e com a

soberania do governo imperial

Feitas essas consideraccedilotildees retomamos a nossa tese que se delineou durante

o trabalho e seguidamente foi reiterada em cada uma das seccedilotildees a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes do seacuteculo XIX mesmo sob a influecircncia da Igreja e

marcada por uma tradiccedilatildeo ruralista que determinou a formaccedilatildeo cultural e social da

populaccedilatildeo esteve em diaacutelogo com as transformaccedilotildees almejadas pelos ideaacuterios de

modernidade da educaccedilatildeo nacional oitocentista especialmente com os que circulavam

no Rio de Janeiro

De forma sinteacutetica algumas argumentaccedilotildees para sustentar essa tese foram

feitas em cada uma das seccedilotildees e sua recuperaccedilatildeo eacute importante nesse espaccedilo final a

fim de qualificar e ratificar a anaacutelise empreendida acerca da instruccedilatildeo primaacuteria e do

ensino de leitura e escrita em Goiaacutes do seacuteculo XIX

278

A princiacutepio na seccedilatildeo um demonstramos o caraacuteter original da pesquisa

destacando que este trabalho ndash sem desmerecer nenhum outro ndash compreende

especificamente a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

A partir da tese argumentativa na seccedilatildeo dois evidenciamos que nem o projeto

conservador da Igreja Catoacutelica e tampouco a ruralizaccedilatildeo da proviacutencia foram

impedimentos para que Goiaacutes implantasse novas regulamentaccedilotildees alinhadas com as

reformas feitas no Municiacutepio da Corte A proviacutencia goiana se abriu para as

transformaccedilotildees no cenaacuterio nacional regulamentando uma escola pensada em sua

totalidade

Jaacute na seccedilatildeo trecircs aproximando-nos dos materiais e meacutetodos para alfabetizaccedilatildeo

de crianccedilas em Goiaacutes argumentamos com base nas fontes listadas no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes que os impressos que circularam na proviacutencia foram os

mesmos amplamente divulgados na Corte sendo referenciados nos estudos da

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo como livros que subsidiaram o ensino de leitura e escrita no

oitocentos brasileiro Os documentos nomeados de Mapas de Turmas atestaram que

os impressos influenciaram a maneira como os professores cacterizavam o niacutevel de

leitura dos alunos atribuindo-lhes em muitos casos a Carta de Leitura que condizia agrave

sua etapa do processo de aprendizagem

As seccedilotildees quatro e cinco se basearam nas iniciativas da proviacutencia de conferir

um caraacuteter de modernidade agrave escola goiana A busca por um meacutetodo de ensino de

leitura na Corte em 1855 reverberou na formulaccedilatildeo de um novo regulamento de ensino

que oficializou o meacutetodo simultacircneo (GOIAacuteS 1856) Jaacute sobre a adesatildeo a livros

didaacuteticos de autores brasileiros a partir dos anos de 1870 esteve em consonacircncia

com a histoacuteria do mercado editorial do paiacutes que naquele momento se abria para uma

produccedilatildeo nacional (LAJOLO ZILBERMAN 1996)

Por mais distante que Goiaacutes estivesse da Capital e de outras proviacutencias do

Brasil esta tese localizou a proviacutencia goiana em seu merecido lugar no ldquocoraccedilatildeo do

Brasilrdquo266 As difiacuteceis estradas esburacas vias que davam acesso a Goiaacutes conforme

os viajantes que passaram por ali no seacuteculo XIX relataram natildeo impediram que as

ideias que gorjeavam em outros ninhos gorjeassem tambeacutem pelas terras goianas267

266 Tal como Monteiro (1934) intitulou em sua obra a qual destacamos na Introduccedilatildeo 267 Natildeo eacute mera coincidecircncia Pegamos de empreacutestimo aqui a ideia presente na poesia ldquoCanccedilatildeo do Exiacuteliordquo de Gonccedilalves Dias com o objetivo de que a relaccedilatildeo intertextual estabelecida aproxime os sentidos pretendidos nesse ponto

279

Consideramos que sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes ainda haacute muito o

que ser pesquisado O nosso contato com as fontes documentais no estado e fora dele

demonstraram as muacuteltiplas bifurcaccedilotildees dessa histoacuteria que orientada por buacutessolas

distintas (pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos) possibilitam ao pesquisador trilhar

variados caminhos (anaacutelises leituras e escritas)

Iniciamos esta tese declarando nossa paixatildeo pela literatura inspirando-nos

nela para principiar o nosso diaacutelogo com os leitores Portanto resta-nos convocar a

voz de outro grande escritor para encerrar

O homem eacute um vivente com palavra [] o homem eacute palavra [] o homem eacute enquanto palavra [] todo humano tem a ver com a palavra se daacute em palavra estaacute tecido de palavras [] o modo de viver proacuteprio deste vivente que eacute o homem se daacute na palavra e como palavra (LARROSA 2002 p 21)

Aqui estimado leitor sabendo que constantemente rompemos o abstrato com

as palavras e pelas palavras descobrimos no movimento de escrita desta pesquisa o

verdadeiro sentido de ser um lutador de palavras268 Afinal ldquosoacute quem estaacute em estado

de palavra pode enxergar as coisas sem feitiordquo269

268 Tal como Carlos Drummond de Andrade (2002) poetisou em ldquoO lutadorrdquo 269 Trecho do poema de Manoel de Barros (1998 p 35) recolhido no livro Retrato do artista quando coisa

280

REFEREcircNCIAS ____________________________________

ABREU Sandra Elaine Aires de A instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo XIX 2006 340 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ________ GONCcedilALVES NETO Wenceslau CARVALHO Carlos Henrique de As reformas da instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes Brasil no periacuteodo imperial (1822-1889) Espacio Tiempo y Educacioacuten Salamanca Espanha v 2 nordm 1 p 255-280 2015 httpsdoiorg1014516ete2015002001013 AGOSTINHO Santo Confissotildees 22ordf ediccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Luiacuteza Jardim Amarante Satildeo Paulo Paulus 2010 ALBUQUERQUE Suzana Lopes BOTO Carlota O impresso Liccedilotildees de ler na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no impeacuterio brasileiro Poieacutesis Revista do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (Unisul) v 11 nordm 20 p 214-231 2017 httpsdoiorg1019177prppgev11e202017214-231 ALMEIDA FILHO Orlando Joseacute de A estrateacutegia da produccedilatildeo e circulaccedilatildeo catoacutelica do projeto editorial das coleccedilotildees de Theobaldo Miranda Santos (1945-1971) 2008 368 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ALVES OLIVEIRA Juliana Silva A contribuiccedilatildeo do gecircnero conto para formaccedilatildeo do leitor nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2018 148 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2018 ALVES Claacuteudia Costa Os resumos das comunicaccedilotildees e as possibilidades esboccediladas no II Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo In CATANI Denice SOUZA Cynthia Pereira de (Orgs) Praacuteticas educativas culturas escolares profissatildeo docente Satildeo Paulo Escrituras 1998

281

ALVES Isaias Vida e obra do Baratildeo de Macahubas Rio Ediccedilotildees Infacircncia e Juventude 1936 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros O espaccedilo da cartilha na sala de aula 1994 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1994 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura na escola primaacuteria no Mato Grosso contribuiccedilatildeo para o estudo de aspectos de um discurso institucional no iniacutecio do seacuteculo XX 2000 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 2000 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura e grupos escolares Mato Grosso 1910-1930 Cuiabaacute EdUFMT 2008 ________ CARDOSO Cancionila Janzkovski Fontes para o estudo da produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de cartilhas no Estado de Mato Grosso In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva MACIEL Francisca Izabel Pereira (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo e circulaccedilatildeo de livros (MG RS MT ndash Seacutec XIX e XX) Belo Horizonte UFMGFAE 2006 AMORIM Sara Raphaela Machado de Do mestre aos disciacutepulos o legado

educacional de Nestor dos Santos Lima (1910-1930) 2012 128 p Dissertaccedilatildeo

(Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal

2012

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282

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283

BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 2010

________ Problemas da poeacutetica de Dostoieacutevski Rio de Janeiro Forense

Universitaacuteria 2013

________ Fragmentos dos anos 1970-1971 In BAKHTIN Mikhail Notas sobre literatura cultura e ciecircncias humanas Organizaccedilatildeo traduccedilatildeo posfaacutecio e notas de Paulo Bezerra notas da ediccedilatildeo russa de Serguei Botcharov Satildeo Paulo Editora 34 2017 BARRA Valdeniza Maria Lopes da Livros e leituras do Gabinete Literaacuterio Goiano da Sociedade Oitentista de Goiaacutes Educativa Goiacircnia v 11 n 1 p 85-97 janeiro junho de 2008 ________ Projeto de educaccedilatildeo na sociedade goiana do seacuteculo XIX possiacutevel traduccedilatildeo de um processo histoacuterico multifacetado In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ A lousa de uso escolar traccedilos da histoacuteria de uma tecnologia moderna Educar em Revista (Impresso) Curitiba v 45 p 121-137 2013 httpsdoiorg101590S0104-40602013000300008 ________ Da pedra ao poacute o itineraacuterio da lousa na escola puacuteblica paulista do seacuteculo XIX Goiacircnia Kelps 2016 ________ SOUZA Maria Erilacircnde de Alguns aspectos da circulaccedilatildeo de livros em Goiaacutes no seacuteculo XIX In ENCONTRO MULTI CAMPI DE EDUCACcedilAtildeO E LINGUAGEM I 2008 Inhumas ndash GO Anais do I Encontro Multi Campi de Educaccedilatildeo e Linguagem Goiacircnia Graacutefica Vieira 2008 ________ FABIANO Tatiana Tasse Livros e leituras em Goiaacutes no seacuteculo XIX entre o Gabinete e a Tribuna In ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCACcedilAtildeO DA ANPED CENTRO-OESTE X 2010 Uberlacircndia ndash MG Anais do X Encontro de Pesquisa em educaccedilatildeo da ANPED Centro Oeste Uberlacircndia UFU 2010 BARROS Fernanda Castelfranchi de Aquisiccedilatildeo da leitura no processo de alfabetizaccedilatildeo contribuiccedilotildees do ensino desenvolvimento com foco no motivo de aprendizagem 2008 98 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2008 BARROS Fernanda Lyceu de Goyaz elitizaccedilatildeo endossada pelas oligarquias goianas 1906-1937 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia ________ O tempo do Lyceu em Goiaacutes formaccedilatildeo humanista e intelectuais (1906-1960) Jundiaiacute-SP Paco Editorial 2017 BARROS Manoel Retrato do artista quando coisa Rio de Janeiro Record 1998 ________ Poesia completa Satildeo Paulo Leya 2010

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BOURDEacute Guy MARTIN Herveacute As escolas histoacutericas Portugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica sd BOURDIEU Pierre CHARTIER Roger A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER Roger (Org) Praacuteticas da Leitura 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2011 BRAGA Isa Maria Uma escuta sobre as concepccedilotildees teoacutericas e praacuteticas das professoras alfabetizadoras da rede municipal de educaccedilatildeo de Goiacircnia (GO) 2009 125 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2009 BRAGANCcedilA Aniacutebal A poliacutetica editorial de Francisco Alves e a profissionalizaccedilatildeo do escritor no Brasil In ABREU Maacutercia (Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 BRASLAVSKY Berta O meacutetodo panaceia negaccedilatildeo ou pedagogia Cadernos de

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CAMPOS Rosariane Glaucia M O programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores ndash Profa ndash e suas implicaccedilotildees pedagoacutegicas concepccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo atuaccedilatildeo profissional e resultados obtidos 2006 112 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2006

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CANDEIAS Antoacutenio Ritmos e formas de alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo portuguesa na transiccedilatildeo de seacuteculo o que nos mostram os Censos Populacionais compreendidos entre os anos de 1890 e 1930 Educaccedilatildeo Sociedade e Culturas Porto nordm 5 p 39-63 1996 ________ Alfabetizaccedilatildeo e Escola em Portugal nos Seacuteculos XIX e XX Os Censos e as Estatiacutesticas Lisboa Gulbenkian 2004 ________ Alfabetizaccedilatildeo escolarizaccedilatildeo e Capital Humano em Portugal nos seacuteculos XIX e XX em perspectiva comparada In CABRAL Manuel Villaverde (Org) Sucesso e insucesso escola economia e sociedade Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 2008 ________ SIMOtildeES Eduarda Alfabetizaccedilatildeo e escola em Portugal no seacuteculo XX Censos Nacionais e estudos de caso Anaacutelise Psicoloacutegica Lisboa v 17 nordm 1 marccedilo de 1999 CANEZIN Maria Teresa LOUREIRO Walderecircs Nunes A Escola Normal em Goiaacutes Goiacircnia Editora da UFG 1994 CARDOSO Cancionila Janzkovski AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Cartilhas na historiografia da alfabetizaccedilatildeo fontes evidecircncias e produccedilotildees no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 CARDOSO Ciro Flamarion VAINFAS Ronaldo (Orgs) Domiacutenios da Histoacuteria ensaios de teoria e metodologia Rio de Janeiro Campus 1997 ________ ________ (Orgs) Novos domiacutenios da histoacuteria Rio de Janeiro Elsevier 2012 CARVALHO Marta Maria Chagas de A Escola e A Repuacuteblica e outros ensaios Braganccedila Paulista EDUSF 2003 CARVALHO Silvia Aparecida Santos de O ensino de leitura e escrita o imaginaacuterio republicano (1890-1920) 1998 126 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1998 CASARI Priscila RIBEIRO Lilian Lopes DAMASCENO Joatildeo Pedro Tavares

Migraccedilatildeo para aacutereas rurais do estado de Goiaacutes uma anaacutelise baseada nos dados do

Censo Demograacutefico de 2010 Interaccedilotildees Campo Grande v 15 nordm 2 p 265-273

julhodezembro de 2014 httpsdoiorg101590S1518-70122014000200006

CASTANHA Andreacute Paulo O Ato Adicional de 1834 e a instruccedilatildeo puacuteblica elementar no impeacuterio descentralizaccedilatildeo ou centralizaccedilatildeo 2007 558 f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Centro de Educaccedilatildeo e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2007

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________ MACIEL Francisca Izabel Pereira O ensino da leitura nas proviacutencias do norte do brasil primeiro livro de leitura de Augusto Ramos Pinheiro In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 CORALINA Cora Vinteacutem de cobre Goiacircnia Editora da UFG 1977 ________ Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais Goiacircnia Editora da Universidade Federal de Goiaacutes 1980 ________ Meu livro de cordel 18ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Global 2013 CORREcircA Carlos Humberto Alves Circuito do livro escolar elementos para a compreensatildeo de seu funcionamento no contexto educacional amazonense 1852-1910 2006 252 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 ________ SILVA Lilian Lopes Martin da Cartilhas de alfabetizaccedilatildeo no Amazonas de antigamente In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 ________ SILVA Lilian Lopes Martin da Cartas de abc e cartilhas escolares alfabetizaccedilatildeo nas escolas amazonenses (1850-1900) In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO V 2008 Aracajuacute - SE Anais do V Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo o ensino e a pesquisa em Histoacuteria da Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo Aracajuacute UFS UNIT 2008 p 1-10 COSTA David Antonio da A Aritmeacutetica Escolar no Ensino Primaacuterio Brasileiro 1890-1946 2010 279 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo Matemaacutetica) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo CUNHA Luiz Antocircnio A universidade Temporatilde o ensino superior da Colocircnia agrave Era Vargas Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 DASSUNCcedilAtildeO BARROS Joseacute Histoacuteria espaccedilo e tempo interaccedilotildees necessaacuterias

Varia histoacuteria Belo Horizonte v 22 nordm 36 p 460-476 julhodezembro de 2006

httpsdoiorg101590S0104-87752006000200012

DELGADO Lucilia de Almeida Neves Histoacuteria Oral memoacuteria tempo identidades

Belo Horizonte Autecircntica 2010

DIAS Ana Raquel ldquoPasseando pelos arredoresrdquo o ensino de Histoacuteria para crianccedilas no livro Goiaz coraccedilatildeo do Brasil (1934) 2018 169 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes 2018 DIAS Joseacute Maria Teixeira Castilho ndash leitura repentina meacutetodo original Arquipeacutelago-Histoacuteria Portugal 2ordf seacuterie v IV nordm 2 p 465-480 2000

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DIETZSCH Mary Julia Martins Alfabetizaccedilatildeo propostas e problemas para uma anaacutelise do seu discurso 1979 122 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia) ndash Instituto de Psicologia Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1979 EL FAR Alessandra Ao gosto do povo as ediccedilotildees baratiacutessimas de finais do seacuteculo XIX In BRAGANCcedilA Aniacutebal ABREU Maacutercia (Orgs) Impresso no Brasil dois seacuteculos de livros brasileiros Satildeo Paulo Editora da Unesp 2010 ELIAS Nobert O Processo Civilizador uma histoacuteria dos costumes Volume 1 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Zahar 1994 ESPOSITO Yara Luacutecia Alfabetizaccedilatildeo em revista uma leitura Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 80 p 21-27 fevereiro de 1992 ESTEVES Isabel de Lourdes As prescriccedilotildees para o ensino da caligrafia e da escrita

na escola puacuteblica primaacuteria paulista (1910-1947) 2002 155 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado

em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

2002

FARIA FILHO Luciano Mendes de Dos pardeiros aos palaacutecios forma e cultura escolar em Belo Horizonte (19061918) 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Uberlacircndia EDUFU 2014 httpsdoiorg1014393EDUFU-978-85-7078-376-9 ________ O processo de escolarizaccedilatildeo em Minas Gerais questotildees teoacuterico-metodoloacutegicas e perspectivas de anaacutelise In In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 ________ GONCcedilALVES Irlen Antocircnio VIDAL Diana Gonccedilalves PAULILO Andreacute Luiz A cultura escolar como categoria de anaacutelise e como campo de investigaccedilatildeo na histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 30 n 1 p 139-159 janeiroabril de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000100008 FERNANDES Rogeacuterio Um marco no territoacuterio da crianccedila o caderno escolar In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 FERREIRA Maira das Graccedilas A interaccedilatildeo verbal um estudo do papel da linguagem numa sala de aula de alfabetizaccedilatildeo 1991 186 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1991 FERREIRA Orlando da Costa Imagem e Letra introduccedilatildeo agrave bibliologia brasileira a imagem gravada 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1994 FERREIRA Rita de Caacutessia Oliveira A Escola Normal da capital instalaccedilatildeo e organizaccedilatildeo (1906-1916) 2010 158 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

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Artes Meacutedicas 1985

FETTER Sandro R LIMA Edna Luacutecia da Cunha LIMA Guilherme da Cunha O

ensino da escrita manual no Brasil dos modelos caligraacuteficos agrave escrita pessoal no

seacuteculo XXI Biblioteca Online de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Portugal v IV p 1-31

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FONSECA E SILVA J Trindade da Lugares e pessoas subsiacutedios eclesiaacutesticos para a histoacuteria de Goiaacutes 1ordm volume Satildeo Paulo Escolas Profissionais Salesianas 1948 FONSECA Celso Suckow da Histoacuteria do Ensino Industrial no Brasil 5 vols 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro SENAI DN DPEA 1986 v 5 FONSECA Thais Nivia de Lima e Histoacuteria da Educaccedilatildeo e Histoacuteria Cultural In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 FOUCAULT Michel O que eacute um autor 3ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Passagens 1992

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________ Livros de leitura de Abiacutelio Ceacutesar Borges ideaacuterios pedagoacutegicos produccedilatildeo e circulaccedilatildeo In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010a ________ Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da cultura escrita discutindo uma trajetoacuteria de pesquisa In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ As configuraccedilotildees graacuteficas de livros brasileiros e franceses para ensino da leitura e seus possiacuteveis efeitos no uso dos impressos (seacuteculos XIX e XX) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo CampinasSP v 12 Nordm 2 (29) p 171-208 maioagosto 2012 ________ Meacutetodo alfabeacutetico e de soletraccedilatildeo In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva COSTA VAL Maria da Graccedila BREGUNCI Maria das Graccedilas de Castro (Org) Glossaacuterio Ceale termos de alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita para educadores Belo Horizonte Faculdade de EducaccedilatildeoUFMG 2014 ________ Instrumentos de escrita In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva COSTA VAL Maria da Graccedila BREGUNCI Maria das Graccedilas de Castro (Orgs) Glossaacuterio Ceale termos de alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita para educadores Belo Horizonte Faculdade de EducaccedilatildeoUFMG 2014a ________ O campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com as fontes In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Instrumentos e suportes de escrita no processo de escolarizaccedilatildeo entre os usos prescritos e os natildeo convencionais (Minas Gerais primeira metade do seacuteculo XX) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute-PR v 16 nordm 1 (40) p 297-334 janeiroabril 2016 httpsdoiorg104025rbhev16i17753 FRANKLIN Ruben Maciel Projetos educacionais para um Brasil-naccedilatildeo uma reflexatildeo sobre a Educaccedilatildeo brasileira no processo de transiccedilatildeo impeacuterio-primeira repuacuteblica (1850-1930) Revista de Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo Curitiba v 1 nordm 1 p 86-101 janeiroabril de 2017 httpsdoiorg105380rhhev1i144458 FREIRE Ana Maria Arauacutejo Analfabetismo no Brasil da ideologia da interdiccedilatildeo do corpo agrave ideologia nacionalista ou de como deixar sem ler e escrever desde as Catarinas (Paraguaccedilu) Filipas Madalenas Anas Genebras Apolonias e Gracias ateacute os Severinos 1988 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica Sociedade) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988 FREIRE Paulo Alfabetizaccedilatildeo leitura do mundo leitura da palavra Rio de Janeiro Paz e Terra 2011

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GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Leituras de professores e professoras o que diz a historiografia da educaccedilatildeo brasileira In MARINHO Marildes (Org) Ler e navegar espaccedilos e percursos da leitura Belo Horizonte Ceale 2001 ________ O livro escolar de leitura na escola imperial pernambucana tipos gecircneros e autores In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 ________ BATISTA Antocircnio Augusto Gomes A leitura na escola primaacuteria brasileira alguns elementos histoacutericos In Memoacuteria da Leitura Campinas 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrielmemoriaprojetosensaio sensaio21htmlgt Acesso em 08 de maio de 2018 GAMA Zacarias Jaegger GONDRA Joseacute Gonccedilalves Uma estrateacutegia de unificaccedilatildeo curricular os estatutos das escolas puacuteblicas de instruccedilatildeo primaacuteria (Rio de Janeiro ndash 1865) Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 5 p 23-38 abril de 1999 GERALDI Joatildeo Wanderley (Org) O texto na sala de aula leitura amp produccedilatildeo Cascavel Assoeste 1984 ________ Portos de Passagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 ________ Linguagem e ensino exerciacutecios de militacircncia e divulgaccedilatildeo Campinas ALB Mercado de Letras 1996 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e histoacuteria Satildeo Paulo Cia das Letras 1989 GONDRA Joseacute Gonccedilalves Artes de civilizar medicina higiene e educaccedilatildeo escolar na Corte Imperial Rio de Janeiro EDUERJ 2004 ________ Instruccedilatildeo intelectualidade impeacuterio apontamentos a partir do caso brasileiro In VAGO Tarciacutesio Mauro INAacuteCIO Marcilaine Soares HAMDAN Juliana Cesaacuterio SANTOS Hercules Pimenta dos (Orgs) Intelectuais e Escola Puacuteblica no Brasil seacuteculos XIX e XX Belo Horizonte Mazza Ediccedilotildees 2009 ________ SCHUELER Alessandra Educaccedilatildeo poder e sociedade no Impeacuterio brasileiro Satildeo Paulo Cortez 2008 GONTIJO Claacuteudia Maria Mendes Alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo o meacutetodo muacutetuo ou monitorial Educaccedilatildeo em Revista Belo Horizonte n 40 p141-158 2011 httpsdoiorg101590S0104-40602011000200010 ________ GOMES Siacutelvia Cunha Escola primaacuteria e ensino da leitura e da escrita (alfabetizaccedilatildeo) no Espiacuterito Santo (1870 a 1930) Vitoacuteria ES EDUFES 2013 GOULART Cecilia Maria Aldigueri O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ discutindo a tensatildeo na construccedilatildeo de praacuteticas de

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GUIMARAtildeES Edite da Gloacuteria Amorim Histoacuterias de alfabetizadores vida memoacuteria e

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Educaccedilatildeo Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2006

GUIMARAtildeES Maacutercia Campos Moraes Estado do conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil (1944-2009) 2011 213 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2011 ________ QUILLICI NETO Armindo Os perioacutedicos na historiografia da alfabetizaccedilatildeo temas abordados no periacuteodo de 1944 a 2009 In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 GUSMAtildeO Manuel Uma Razatildeo Dialoacutegica Ensaios sobre literatura a sua experiecircncia do humano e a sua teoria Lisboa Ediccedilotildees Avante 2011 HALLEWELL Laurence O livro no Brasil sua histoacuteria 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 HASWANI Mariacircngela Furlan O discurso obscuro da lei In MATOS Heloiza (Org) Comunicaccedilatildeo puacuteblica interlocuccedilotildees interlocutores e perspectivas Satildeo Paulo ECAUSP 2013 HEacuteBRARD Jean La leccedilon et lrsquoexercise quelques reacuteflexions sur lrsquohistoire des pratiques de scolarisation Paris INRP-CNRS-Service drsquohistoire de lrsquoeacuteducation 1995 HILSDORF Maria Lucia Spedo Histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira leituras Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning 2003 JESUS Simone Aparecida de A literatura no acircmbito do Pacto Nacional pela Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa (PNAIC) 2019 144 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 2019 KLEIMAN Angela (Org) Os Significados do Letramento Novas Perspectivas sobre a Praacutetica Social da Escrita Campinas Mercado de Letras 1995 KLEMPERER Victor LTI a linguagem do Terceiro Reich Rio de Janeiro Contraponto 2009 KONDER Leandro A poesia de Brecht e a histoacuteria Rio de Janeiro Jorge Zahar 1996 LAJOLO Marisa Livro didaacutetico um (quase) manual de usuaacuterio Em aberto Brasiacutelia ano 16 n 69 p 4-19 janeiromarccedilo de 1996 ________ ZILBERMAN Regina A formaccedilatildeo da leitura no Brasil Satildeo Paulo Editora Aacutetica 1996 LAROUSSE M Pierre Dictionnaire Universel du XIXe siegravecle Paris Librairie Classique Larousse et Boyer 1869

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LOURO Guacira Lopes Mulheres em sala de aula In DEL PRIORE Mary (Org) Histoacuteria das mulheres no Brasil Satildeo Paulo Contexto 1997 MACIEL Francisca Izabel Pereira Lucia Casasanta e o meacutetodo global de contos uma contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Minas Gerais 2001 157 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2001 ________ As cartilhas e a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil alguns apontamentos Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 11 p 147-168 abril de 2002 ________ Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo perspectivas de anaacutelise In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 ________ Alfabetizaccedilatildeo no Brasil pesquisas dados e anaacutelise In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Magda Becker Soares travessia de uma educadora In REGO Teresa Cristina (Org) Educadores brasileiros ideias e accedilotildees de nomes que marcaram a educaccedilatildeo nacional Curitiba Editora CRV 2018 MAGALHAtildeES Justino Pereira de Ler e escrever no mundo rural do Antigo Regime Um contributo para a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da escolarizaccedilatildeo em Portugal Anaacutelise Psicoloacutegica Portugal v XIX nordm 4 p 435-445 1996 ________ As alquimias da escrita alfabetizaccedilatildeo histoacuteria desenvolvimento no mundo ocidental do Antigo Regime Braganccedila Paulista Editora da Universidade Satildeo Francisco 2001 ________ Alfabetizaccedilatildeo e histoacuteria tendecircncias e perspectivas In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira (Orgs) Leitura praacuteticas impressos letramentos Belo Horizonte Autecircntica 2002 ________ Escrita escolar e oficializaccedilatildeo da Escola Portuguesa In CONGRESO INTERNACIONAL HISTORIA DE LA CULTURA ESCRITA VIII 2005 Espanha Anais do Congresso Internacional Historia de La Cultura Escrita Alcalaacute Universidad de Alcalaacute 2005 p 1-21 ________ Mediaccedilotildees da Cultura Escolar ndash a Praacutetica como Normatividade GOacuteMEZ Juan Fernaacutendez ESPIGADO Gloria Tocino BEAS Miguel Miranda (Orgs) La Escuela y sus Escenarios El Puerto de Santa Mariacutea Concejaliacutea de Cultura del Ayuntamiento de El Puerto de Santa Mariacutea 2007 ________ La Meacutethode Maternelle ou Art de lire de Joatildeo de Deus (1876) inventions typographiques et alphabeacutetisation populaire au Portugal Histoire de lEducation nordm 138 p 115-130 maio-agosto de 2013 httpsdoiorg104000histoire-education2663

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Brasileira 1977

MELO Luis Correia Dicionaacuterio de autores paulistas Comissatildeo do IV centenaacuterio da cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Irmatildeos Andrioli 1954 MENDES Elieth Sodreacute Terence Benedicta Stahl Sodreacute mulher protestante na

educaccedilatildeo brasileira 2008 163 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias da Religiatildeo) ndash

Universidade Presbiteriana Mackenzie Satildeo Paulo 2008

MENDONCcedilA Sonia Regina de O ruralismo brasileiro Satildeo Paulo Hucitec 1997

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MIGNOT Ana Chrystina Venancio Antes da escrita uma papelaria na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de cadernos escolares In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 MORAIS Roselusia Teresa Pereira de Modos de ler o impresso muacuteltiplas escritas de leitores de Eacuterico Veriacutessimo na internet 2014 220 p Tese ndash (Doutorado em Educaccedilatildeo) Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Pelotas Pelotas 2014 MOREIRA Ana Karenine Souza Apropriaccedilatildeo do conceito de letramento por professores da rede municipal de educaccedilatildeo de Goiacircnia 2017 148 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2017 MOREIRA Kecircnia Hilda MUNAKATA Kazumi (Orgs) Dossiecirc Temaacutetico ldquoLivros didaacuteticos como fonteobjeto de pesquisa para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil e na Espanhardquo Revista Educaccedilatildeo e Fronteiras Mato Grosso do Sul v 7 nordm 20 maioagosto 2017 httpsdoiorg1030612edufv7i207424

MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo Notas sobre linguagem texto e pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo Histoacuteria da Educaccedilatildeo Pelotas v3 n 6 p 69-77 out 1999 ________ Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 Satildeo Paulo Editora UNESP 2000

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________ Educaccedilatildeo e letramento Satildeo Paulo UNESP 2004

________ Prefaacutecio In AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura e grupos escolares Mato Grosso 1910-1930 Cuiabaacute EdUFMT 2008

________ A ldquoquerela dos meacutetodosrdquo de alfabetizaccedilatildeo no Brasil contribuiccedilotildees para metodizar o debate Acolhendo a Alfabetizaccedilatildeo nos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (USP) Satildeo Paulo v 3 nordm 5 p 91-114 2009 httpsdoiorg1011606issn1980-7686v3i5p91-114 ________ (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ O I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011a ________ Contribuiccedilotildees do GPHELLB para o Campo da Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011b

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________ Um balanccedilo criacutetico da ldquoDeacutecada da Alfabetizaccedilatildeordquo no Brasil Caderno Cedes Campinas v 33 n 89 p 15-34 2013 httpsdoiorg101590S0101-32622013000100002 ________ Produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre alfabetizaccedilatildeo avaliaccedilatildeo da qualidade e impacto cientiacutefico e social In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria concisa Satildeo Paulo Editora Unesp 2019 ________ OLIVEIRA Fernando Rodrigues de Magda Soares na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ OLIVEIRA Fernando Rodrigues de PASQUIM Franciele Ruiz 50 anos de produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre alfabetizaccedilatildeo avanccedilos contradiccedilotildees e desafios Interfaces da Educaccedilatildeo Paranaiacuteba v 5 nordm 13 p 6-31 2014 MUNAKATA Kazumi Produzindo livros didaacuteticos e paradidaacuteticos 1997 Tese (Doutorado em Histoacuteria e Filosofia da Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1997 ________ A legislaccedilatildeo como fonte de histoacuteria do livro didaacutetico numa eacutepca em que supostamente natildeo havia leis sobre isso e muito menos a histoacuteria do livro didaacutetico In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Histoacuteria do ensino de leitura e escrita meacutetodos e material didaacutetico Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Livro didaacutetico como indiacutecio da cultura escolar Hist Educ (Online) Porto Alegre v 20 n 50 p 119-138 setembrodezembro 2016 httpsdoiorg1015902236-3459624037 NAGLE Jorge Educaccedilatildeo e sociedade na primeira repuacuteblica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora DPampAA 2001 NASCIMENTO Liliane Querino do As concepccedilotildees de alfabetizaccedilatildeo e letramento na preacute-escola reflexotildees a partir da equipe gestora 2019 174 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2019 NASCIMENTO Estes Fraga Vilas-Bocircas Carvalho SALES Tacircmara Regina Reis Almanaque do Bom Homem Ricardo praacuteticas educacionais norte-americanas e sua circulaccedilatildeo no Brasil Oitocentista Cadernos do Tempo Presente n 15 p 72-75 marccediloabril de 2014 NORA Pierre Entre memoacuteria e histoacuteria ndash a problemaacutetica dos lugares Projeto Histoacuteria Satildeo Paulo n10 p 7-28 1993

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OLIVEIRA Ingrid Janini Ramos Oliveira PERES Selma Martines Histoacuteria do livro escolar ndash Goiaz coraccedilatildeo do Brasil In NEVES Adriana Freitas PAULA Maria Helena de ANJOS Petrus Henrique Ribeiro dos (Orgs) Estudos Interdisciplinares em Humanidades e Letras Satildeo Paulo Editora Blucher 2016 httpsdoiorg1051519788580391664-05 OLIVEIRA Luiz Eduardo CORREcircA Leda Pires A importacircndia do catecismo no processo de escolarizaccedilatildeo Interdisciplinar Satildeo Cristovatildeo-SE v 2 nordm 2 p 37-53 julhodezembo de 2006 OLIVEIRA Suzane Cardoso da Silva Eacute hora da histoacuteria oficinas de leitura no desenvolvimento das competecircncias leitoras de crianccedilas no primeiro ano do ensino fundamental 2018 153 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2018 ORIANI Angeacutelica Pall Consideraccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil a produccedilatildeo acadecircmico-cientiacutefica e a constituiccedilatildeo do campo de pesquisas Educ temat digit Campinas v 14 n 2 p 94-112 julho a dezembro de 2012 httpsdoiorg1020396etdv14i21224 ORLANDI Eni P GUIMARAtildeES Eduardo (Orgs) Institucionalizaccedilatildeo dos Estudos da Linguagem a disciplinarizaccedilatildeo das ideacuteias linguiacutesticas Campinas Pontes 2002 ORLANDI Eni Puccinelli Texto e Discurso ORGANON Revista do Instituto de Letras da UFRGS Rio Grande do Sul v 9 n 23 p 111-118 1995 ORLANDO Evelyn de Almeida Os manuais de catecismo e a circulaccedilatildeo de ideacuteias tradiccedilatildeo e modernidade na pedagogia catoacutelica brasileira In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO V 2008 Aracaju Anais do V Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo ldquoO ensino e a pesquisa em Histoacuteria da Educaccedilatildeordquo Satildeo Cristoacutevatildeo Aracaju Universidade Federal de Sergipe Universidade Tiradentes p 247-248 2008 ________ Os manuais de catecismo como fontes para a Histoacuteria da Educaccedilatildeo Roteiro Joaccedilaba Santa Catarina v 38 p 41-66 2013 PAacuteDUA Andreacuteia Aparecida Silva de Migraccedilatildeo expansatildeo demograacutefi ca e desenvolvimento econocircmico em Goiaacutes 2008 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial) ndash Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2008 PALACIacuteN Luiacutes O seacuteculo do outro em Goiaacutes 4ordf ediccedilatildeo Goiacircnia Editora da UCG 1994 ________ MORAES Maria Augusta de SantrsquoAnna Histoacuteria de Goiaacutes Goiacircnia Editora UCG 1994 ________ GARCIA Ledonias Franco AMADO Janaiacutena Histoacuteria de Goiaacutes em Documentos Colocircnia Goiacircnia Editora UFG 2001

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PASQUIM Franciele Ruiz Reforma do ensino da liacutengua materna (1884) de Antonio da Silva Jardim na histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil 2013 115 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 2013 ________ Antonio da Silva Jardim (1860-1891) na histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo BERTOLETTI Estela Natalina Mantovani Bertoletti et al (Orgs) Sujeitos da histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil Satildeo Paulo Editora UNESP 2015 PAULA Luzia de Faacutetima O ensino de liacutengua portuguesa no Brasil segundo Joatildeo Wanderley Geraldi Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 PAZ Octavio O arco e a lira Rio de Janeiro Nova Fronteira 1982

PEDROSO Dulce Madalena Rios Avaacute-canoeiros a histoacuteria do povo invisiacutevel seacuteculos XVIII e XIX 1992 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) ndash Instituto de Ciecircncias Humanas e Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1992 PEIXOTO Jorge Histoacuteria do livro impresso em Portugal Coimbra [sn] 1967 PESAVENTO Sandra Jatahy Histoacuteria amp histoacuteria cultural Belo Horizonte Autecircntica 2003 PFROMM NETO Samuel DIB Clauacutedio Zaki ROSAMILHA Nelson O livro na educaccedilatildeo Rio de Janeiro Primor INL 1974 PINTO Paula Alexandra Aguiar O ensino primaacuterio e seus valores em portugal de 1807 ateacute 1928 atraveacutes dos manuais escolares 2009 206 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade de Lisboa 2009 POMPEacuteIA Raul O Ateneu Satildeo Paulo Aacutetica 1996 POPPOVIC Ana Maria Alfabetizaccedilatildeo um problema interdisciplinar Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 2 novembro de 1971 PORTO Gilceane Caetano Divulgaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do meacutetodo global de contos no Instituto de Educaccedilatildeo Assis Brasil 2005 150 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Pelotas Pelotas 2005 PRIMITIVO MOACYR A instruccedilatildeo e as proviacutencias 1ordm volume Satildeo Paulo Nacional 1939a ________ A instruccedilatildeo e as proviacutencias 2ordm volume Satildeo Paulo Nacional 1939b ________ A instruccedilatildeo e as provincias 1834-1889 (subsidios para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil) 3ordm volume Satildeo Paulo Rio de Janeiro Recife Porto Alegre Companhia Editora Nacional 1940

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PRUDENTE Maria das Graccedilas Cunha Silvina Ermelinda Xavier de Brito In VALDEZ Diane (Org) Dicionaacuterio de Educadores e Educadoras em Goiaacutes seacuteculos XVIII ndash XXI Goiaacutes Editora Imprensa Universitaacuteria 2017 ________ O silecircncio no magisteacuterio professoras na instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia de Goyaz seacuteculo XIX In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 QUEIROacuteS Bartolomeu Campos de O livro eacute passaporte eacute bilhete de partida PRADO

Jason CONDINI Paulo (Org) A formaccedilatildeo do leitor pontos de vista Rio de Janeiro

Argus 1999 p 23-24

QUINTANA Maacuterio Apontamentos de histoacuteria sobrenatural 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Globo 1995 RANCIEgraveRE Jacques O mestre ignorante cinco liccedilotildees sobre a emancipaccedilatildeo intelectual Traduccedilatildeo de Liacutelian do Valle 3ordf ediccedilatildeo 4ordf reimpressatildeo Belo Horizonte Autecircntica Editora 2015 RAZZINI Marcia de Paula Gregorio Instrumentos de escrita na escola elementar tecnologias e praacuteticas In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 REIS Marlene Barbosa de Freitas Algumas consideraccedilotildees sobre o ofiacutecio de professor em Goiaacutes no Seacuteculo XIX (1835-1861) In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 RIBEIRO Maria Luisa Santos Histoacuteria da Educaccedilatildeo brasileira a organizaccedilatildeo escolar 17ordf ediccedilatildeo Campinas Autores Associados 2001 RICOEUR Paul Tempo e Narrativa Satildeo Paulo Papirus 1994 RIZZINI Irma O cidadatildeo polido e o selvagem bruto a educaccedilatildeo dos meninos desvalidos na Amazocircnia Imperial 2004 453 p Tese (Doutorado em Histoacuteria Social) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 ROCHA Juliano Guerra Entre vozes livros e cadernos por uma historiografia da alfabetizaccedilatildeo no sul goiano In I SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE HISTOacuteRIA DO ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 1 2010 Mariacutelia SP Anais do I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita CD-ROM Mariacutelia Editora Fundepe 2010 ________ Marcas argumentativas em narrativas infantis 2012 201 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2012

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________ CARVALHO Silvia Aparecida Santos de As iconografias na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ________ SANTOS Socircnia Maria dos Oliveira Mariacutelia Villela de Fragmentos histoacutericos da formaccedilatildeo continuada do alfabetizador no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ROCHA Lucia Maria da Franca A Escola Normal na proviacutencia da Bahia In ARAUacuteJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 ROCHA Marlos Bessa Mendes da Matrizes da modernidade republicana cultura poliacutetica e pensamento educacional no Brasil Campinas SP Autores Associados Brasiacutelia DF Editora Plano 2004 RODRIGUES Liacutedia Silva A formaccedilatildeo de leitores literaacuterios na perspectiva histoacuterico cultural leituras em uma escola puacuteblica de Rio Verde ndash GO 2019 170 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2019 ROMANELLI Otaiacuteza de Oliveira Histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil 24ordf ediccedilatildeo Pretoacutepolis Vozes 2000 ROSA Dalva E Gonccedilalves Abordagem construtivista em uma classe de ciclo baacutesico de alfabetizaccedilatildeo do proposto ao projeto real 1993 192 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1993 ROSEMBERG Fuacutelvia Raccedila e educaccedilatildeo inicial Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p 25-34 maio de 1991 SAacute Helveacutecio Goulart Malta de ARAUacuteJO Denise Silva SANTOS Oyana Rodrigues dos BOAVENTURA Geiacutesa dacuteAacutevila Ribeiro DI MENEZES Nayara Ruben Calaccedila Antecedentes histoacutericos do ensino profissional no Brasil nos periacuteodos colonial e imperial In CONGRESSO NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO XII 2015 Paranaacute Anais do EDUCERE ndash XII Congresso Nacional de Educaccedilatildeo Paranaacute PUCPR 2015 SANDES Noeacute Freire ARRAIS Cristiano Alencar Histoacuteria e memoacuteria em Goiaacutes no seacuteculo XIX uma consciecircncia da maacutegoa e da esperanccedila Varia histoacuteria Belo Horizonte v 29 nordm 51 p 847-861 2013 httpsdoiorg101590S0104-87752013000300010 SANTrsquoANNA Thiago Fernando Gecircnero histoacuteria e educaccedilatildeo a experiecircncia de escolarizaccedilatildeo de meninas e meninos na Proviacutencia de Goiaacutes (1827-1889) 2010 240 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2010 ________ Possibilidades aos meninos destino agraves meninas Escola Primaacuteria como tecnologia de gecircnero na Proviacutencia de Goiaacutes (1827-1887) In BARRA Valdeniza Maria

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Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ Os abolicionismos na cidade de Goiaacutes pluralidades e singularidades nos anos 1880 Eacuteliseacutee - Revista de Geografia da UEG Porangatu v 2 p 92-107 2013 SANTOS Dorotheia Baacuterbara A teoria e a praacutetica pedagoacutegica no cenaacuterio das turmas de alfabetizaccedilatildeo de uma escola inclusiva 2005 84 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2005 SANTOS Luciana Martins Teixeira dos Direito humano agrave memoacuteria da educaccedilatildeo de adultos no Brasil autoritaacuterio documentos legais e narrativas de ex-participantes do MOBRAL (1967-1985) 2015 163 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Direitos Humanos Cidadania e Poliacuteticas Puacuteblicas) ndash Universidade Federal da Paraiacuteba Joatildeo Pessoa 2015 SANTOS Maria Lygia Koumlpke dos Lendo com Hilda Joatildeo Koumlpke ndash 1902 2013 243 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2013 SANTOS Socircnia Maria dos Histoacuterias das alfabetizadoras brasileiras entre saberes e praacuteticas 2001 258 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2001 SANTOS Tatiane Soares dos Alfabetizaccedilatildeo e letramento de estudantes com siacutendrome de Down indicaccedilotildees a partir da partir da percepccedilatildeo de professores sobre a vivecircncia de estudantes em uso do software alfabetizaccedilatildeo focircnica computadorizada 2019 169 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2019 SAVIANI Dermeval Reflexotildees sobre o ensino e a pesquisa em histoacuteria da educaccedilatildeo In GATTI JUacuteNIOR Deacutecio FILHO Geraldo Inaacutecio (Orgs) Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Perspectiva ensino pesquisa produccedilatildeo e novas investigaccedilotildees Campinas Autores Associados Uberlacircndia EDUFU 2005 ________ O legado educacional do ldquoBreve Seacuteculo XIXrdquo brasileiro In SAVIANI Dermeval ALMEIDA Jane Soares de SOUZA Rosa Faacutetima de VALDEMARIN Vera Teresa O legado educacional do seacuteculo XIX 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Campinas SP Autores Associados 2006 ________ Histoacuteria das Ideias Pedagoacutegicas no Brasil 4ordf ediccedilatildeo Campinas Autores Associados 2013 SCHUELER Alessandra Aprendendo a ler com a Histoacuteria Nossa Histoacuteria Satildeo Paulo ano 2 nordm 14 p 80-82 dezembro de 2004 ________ O Meacutetodo Bacadafaacute leitura escrita e liacutengua nacional em escolas puacuteblicas primaacuterias da Corte imperial (1870-1880) Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 9 nordm 18 p 173-190 julhodezembro 2005

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________ Representaccedilatildeo da docecircncia na imprensa pedagoacutegica na Corte imperial (1870-1889) o exemplo da Instruccedilatildeo Puacuteblica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v31 nordm 3 p 379-390 setembrodezembro 2005a httpsdoiorg101590S1517-97022005000300004 SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 SCOCUGLIA Afonso Celso Caldeira A Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Poliacutetica na PARAIBRASIL nos anos Sessenta 1997 349 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade Federal de Pernambuco Recife 1997 SENA Fabiana A tradiccedilatildeo da civilidade nos livros de leitura no Impeacuterio e na Primeira Repuacuteblica Campina Grande EDUEPB 2017 SILVA Carlos Manique da O tema dos ldquomodos de ensinordquo nos manuais pedagoacutegicos em Portugal e no Brasil (segunda metade do seacuteculoXIX ndash anos de 1920) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Campinas-SP v 13 nordm 3 (33) p 235-256 setembrodezembro 2013 httpsdoiorg104322rbhe2014011 SILVA Lilian Lopes Martin da FERREIRA Norma Sandra de Almeida MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Orgs) O texto na sala de aula um claacutessico sobre o ensino de liacutengua portuguesa Campinas Autores Associados 2014 SILVA Mariza Vieira da Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil a constituiccedilatildeo de sentidos e do sujeito da escolarizaccedilatildeo 1998 268 f Tese (Doutorado em Linguiacutestica) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Campinas 1998 ________ Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo no Brasil sentidos e sujeitos da escolarizaccedilatildeo Campinas Editora da UNICAMP 2015 SILVA Patriacutecia Maria Machado Interfaces entre a Provinha Brasil e as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo da rede municipal de ensino de Catalatildeo-GO 2015 177 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Catalatildeo 2015 SILVA Simei Arauacutejo Representaccedilotildees sociais e praacuteticas de professores alfabetizadores da rede puacuteblica do municiacutepio de Goiacircnia 1998 199 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1998 SIRINELLI Jean-Franccedilois Os intelectuais In REMOND Reneacute (Org) Por uma histoacuteria poliacutetica 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Editora Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 2003 SMOLKA Ana Luiza Bustamante A crianccedila na fase inicial da escrita a alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1988 SOARES Magda As muitas facetas da alfabetizaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 52 p 19-24 fevereiro de 1985

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________ Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento Brasiacutelia DF INEP Santiago REDUC 1989 ________ Liacutengua escrita sociedade e cultura relaccedilotildees dimensotildees e perspectivas Revista brasileira de educaccedilatildeo ANPEd n 0 p 5-16 setembro a dezembro de 1995 ________ Aprender a escrever ensinar a escrever Seacuterie Ideias n 28 p 59-75 Satildeo Paulo FDE 1997 Disponiacutevel em lthttpwwwcrmariocovasspgovbrpdfideia s_28_p059 -075_cpdfgt Acesso em 08 de junho de 2017 ________ Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998 ________ Apresentaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 Satildeo Paulo Editora UNESP 2000 ________ Alfabetizaccedilatildeo e Letramento Satildeo Paulo Contexto 2003 ________ Apresentaccedilatildeo In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva MACIEL Francisca Izabel Pereira (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo e circulaccedilatildeo de livros (MG RS MT ndash Seacutec XIX e XX) Belo Horizonte UFMGFAE 2006 ________ Alfabetizaccedilatildeo o saber o fazer o querer In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Magda Soares responde Entrevista com Magda Soares Site Ceale 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwcealefaeufmgbrpagesviewmagda-soares-responde-2htmlgt Acesso em 11 de junho de 2019 ________ Alfabetizaccedilatildeo a questatildeo dos meacutetodos Satildeo Paulo Contexto 2016 ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento Brasiacutelia DF MECINEPCOMPED 2000 SODREacute Nelson Wemeck A histoacuteria da imprensa no Brasil Rio de Janeiro Editora Civilizaccedilatildeo Brasileira 1966 SOUSA Maria Alice de Deus e A aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita ndash uma experiecircncia realizada numa escola da periferia de Goiacircnia 1993 51 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1993 SOUZA Amelioene Franco Rezende de Trabalho docente no contexto da alfabetizaccedilatildeo concepccedilotildees e possibilidades 2019 191 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Jataiacute 2019 SOUZA Cleyde Nunes Leite Alfabetizaccedilatildeo em ciclos de formaccedilatildeo e desenvolvimento humano um estudo de caso 2009 94 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2009

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SOUZA Rosa Faacutetima de Templos de civilizaccedilatildeo a implantaccedilatildeo da escola primaacuteria graduada no Estado de Satildeo Paulo (1890-1910) Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Editora da Unesp 1998 SOUZA Terezinha Fernandes Martins de Alfabetizaccedilatildeo na escola primaacuteria em Diamantino ndash Mato Grosso (1930 a 1970) 2006 260 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Instituto de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Mato Grosso Cuiabaacute 2006 STICKEL Erico Joatildeo Siriuba Uma Pequena Biblioteca Particular subsiacutedios para o Estudo da Iconografia no Brasil Satildeo Paulo EDUSP 2004 SUCUPIRA Newton O ato adicional de 1834 e a descentralizaccedilatildeo da educaccedilatildeo In FAacuteVERO Osmar (Org) Educaccedilatildeo nas Constituintes Brasileiras 1823-1988 Campinas Autores Associados 1996 TAMBARA Elomar Trajetoacuterias e natureza do livro didaacutetico nas escolas de ensino primaacuterio no seacuteculo XIX no Brasil Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 11 p 25-52 abril de 2002 ________ Livros de leitura nas escolas de ensino primaacuterio no seacuteculo XIX no Brasil In REUNIAtildeO DA ANPED 26ordf 2003 Poccedilos de Caldas Disponiacutevel em ltwww26reuniao anpedorgbrtrabalhoselomarantoniotambarartfgt Acesso em 25 de maio de 2018 ________ Da Leitura do Catecismo agrave Catequizaccedilatildeo da leitura - O catecismo como texto de leitura na escola primaacuteria no Brasil no seacuteculo XIX In SIMPOacuteSIO NACIONAL HISTOacuteRIA GUERRA E PAZ XXIII 2005 Londrina Anais do XXIII Simpoacutesio Nacional Histoacuteria Guerra e Paz Londrina ANPUH 2005 p 1-7 TEIXEIRA Aniacutesio Um educador Abiacutelio Cesar Borges Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Rio de Janeiro v 18 nordm 47 p150-155 julhodezembro 1952 TEIXEIRA Giselle Baptista Livros Escolares no Seacuteculo XIX a Presenccedila de Pestalozzi In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO III 2004 Curitiba Anais do II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo a Educaccedilatildeo Escolar em Perspectiva Histoacuterica 2004 ________ O grande mestre da escola os livros de leitura para a escola primaacuteria da capital do Impeacuterio brasileiro 2008 237 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 TFOUNI Leda V Adultos natildeo alfabetizados o avesso do avesso Campinas Pontes 1988 TRINDADE Iole Maria Faviero A invenccedilatildeo de uma nova ordem para as cartilhas ser maternal nacional e mestra Queres Ler 2001 524 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2001

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VALDEZ Diane Histoacuteria da infacircncia em Goiaacutes seacuteculos XVIII e XIX Goiacircnia Editora Alternativa 2003 ________ Livros de leitura seriados para a infacircncia fontes para a histoacuteria da educaccedilatildeo nacional (18861930) Linhas (UDESC) Florianoacutepolis v 5 nordm 2 p 219-242 2004 ________ A representaccedilatildeo de infacircncia nas obras pedagoacutegicas do Dr Abilio Cesar Borges o baratildeo de Macahubas (1856-1891) 2006 282 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 ________ Livros para o expediente das aulas primaacuterias na proviacutencia de Goiaacutes (1850-1890) In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ ldquoPasseando pelos arredoresrdquo do livro e da leitura na obra Goiaz coraccedilatildeo do Brasil (1934) In SILVA Fabiany de Cassia Tavares MIRANDA Mariacutelia Gouvea de (Orgs) Escrita da Pesquisa em educaccedilatildeo no Centro-Oeste Campo Grande Editora Oeste 2016 ________ BARRA Valdeniza Maria Lopes da Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Goiaacutes Estado da Arte Revista de Educaccedilatildeo Publica (UFMT) v 46 p 56 ndash 70 2012 ________ RODRIGUES Ana Flaacutevia OLIVEIRA Wanessa Andrade de Livros solicitados para a infacircncia escolar Proviacutencia de Goiaacutes (Seacuteculo XIX) 2010 In SIMPOacuteSIO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO XIX 2010 Goiacircnia ndash GO Anais do XIX Simpoacutesio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educaccedilatildeo Conhecimento e modernidade ndash velhos e novos desafios Goiacircnia UFG 2010 VEIGA Cynthia Greive Histoacuteria da educaccedilatildeo Satildeo Paulo Aacutetica 2001 VERIacuteSSIMO Eacuterico Olhai os liacuterios do campo Satildeo Paulo Ciacuterculo do Livro 1995 VIDAL Diana Gonccedilalves Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria (Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX) Campinas SP Autores Associados 2005 ________ Em que os estudos de natureza histoacuterica sobre o ensino da leitura e da escrita podem contribuir com as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Histoacuteria do ensino de leitura e escrita meacutetodos e material didaacutetico Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ FARIA FILHO Luciano Mendes de As lentes da histoacuteria estudos de histoacuteria e historiografia da educaccedilatildeo no Brasil Campinas Autores Associados 2005

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________ GVIRTZ Silvina O ensino da escrita e a conformaccedilatildeo da modernidade escolar Brasil e Argentina 1880-1940 Revista brasileira de educaccedilatildeo ANPEd n 8 p 13-30 maioagosto de 1998 VIEIRA Sofia L FREITAS Isabel M S de Poliacutetica educacional no Brasil Brasiacutelia Plano 2003 VIEIRA Zeneide Paiva Pereira Cartilhas de alfabetizaccedilatildeo no Brasil um estudo sobre trajetoacuteria e memoacuteria de ensino e aprendizagem da liacutengua escritA 2017 197 p Tese (Doutorado em Memoacuteria Linguagem e Sociedade) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Memoacuteria Linguagem e Sociedade Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Bahia 2017 VILLELA Heloiacutesa de Oliveira Santos A primeira escola normal do Brasil uma contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da formaccedilatildeo de professores 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal Fluminense Niteroacutei 1990 ________ O mestre-escola e a professora In LOPES Eliane Marta Teixeira FARIA FILHO Luciano Mendes de VEIGA Cynthia Greive (Orgs) 500 anos de Educaccedilatildeo no Brasil 5ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Autecircntica 2000 ________ Da palmatoacuteria a lanterna maacutegica a Escola Normal da Proviacutencia do Rio de Janeiro entre o artesanato e a formaccedilatildeo profissional (1868-1876) 343 f 2002 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2002 VOJNIAK Fernando O Impeacuterio das primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XIX 2012 328 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2012 ________ O impeacuterio das primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de Alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XIX Curitiba Editora Prismas 2014 VOLOacuteCHINOV Valentin Marxismo e filosofia da linguagem Traduccedilatildeo de Sheila Grillo Ekaterina Voacutelkova Ameacuterico Satildeo Paulo Editora 34 2017 WERNET Augustin A Igreja Paulista no seacuteculo XIX a reforma de D Antocircnio Joaquim de Melo (1851 ndash 1861) Satildeo Paulo Aacutetica 1987 WOOLF Virginia As ondas Satildeo Paulo Saraiva 2011 XAVIER Elizete Divina O pacto nacional pela alfabetizaccedilatildeo na idade certa implicaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas na formaccedilatildeo do professor alfabetizador 2017 67 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2017

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XAVIER Libacircnia Nacif Particularidades de um campo disciplinar em consolidaccedilatildeo balanccedilo do I Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo (RJ2000) In SOCIEDADE BRASILEIRA DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO (Org) Educaccedilatildeo no Brasil Campinas Autores Associados SBHE 2001

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FONTES ____________________________________

NOTA EXPLICATIVA para facilitar a consulta optamos por 1) referenciar as fontes de acordo com as seccedilotildees nas quais elas foram citadas na tese 2) apoacutes a menccedilatildeo do nome do autor ou autora do documento mencionamos o ano em que ele foi escrito eou publicado 3) ao final de cada referecircncia descrevemos o repositoacuterio ou acervo ou arquivo onde o documento foi finalizado Apresentamos tambeacutem ao final o item ldquoListas de expediente escolar e Mapas de Turmasrdquo em que destacamos todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes onde encontramos algum documento dessa natureza

SUMAacuteRIO DAS FONTES

Fontes citadas na Apresentaccedilatildeo 313

Fontes citadas na Introduccedilatildeo 313

Fontes citadas na Seccedilatildeo 1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo

imperial

314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

em Goiaacutes

320

Fontes citadas na Seccedilatildeo 4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

em Goiaacutes

324

Fontes citadas na Seccedilatildeo 5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

329

Fontes citadas nas Consideraccedilotildees Finais 334

Listas de Expediente Escolar e Mapas de Turmas 334

313

FONTES CITADAS NA APRESENTACcedilAtildeO BRASIL [2017] Base Nacional Comum Curricular Brasiacutelia MEC CONSED UNDIME 2017 BRASIL [2019] Decreto nordm 9765 de 11 de abril de 2019 Institui a Poliacutetica Nacional de Alfabetizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2019-20222019decretoD9765htmgt Acesso em 01 de junho de 2019 JESUacuteS Leodegaacuteria de [1946] Goiaz Revista de Educaccedilatildeo e Sauacutede Goiacircnia ano 14 nordm 27-28 p 58 junhojulho 1946 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL [1916] Annuario Estatistico do Brazil 1ordm anno (1908 ndash 1912) Volume I (Territorio e Populaccedilatildeo) Ministerio da Agricultura induacutestria e commercio Rio de Janeiro Typographia da Estatistica 1916 SILVA E SOUZA Luiz Antonio da [1872] Memoria sobre o descobrimento governo populaccedilatildeo e cousas mais notaveis da Capitania de Goyaz Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro tomo XII 4ordm trimestre de 1849 p 429-510 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Joatildeo Ignacio da Silva 1872 FONTES CITADAS NA INTRODUCcedilAtildeO BRASIL [1834] Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 Coleccedilatildeo de Leis Impeacuterio do Brasil do ano de 1834 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1866 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1886a] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica de 1886 Acto de 2 de abril de 1886 reformando a Instrucccedilatildeo Publica da Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1893a] Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 Reformando a instrucccedilatildeo publica do Estado Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrpaginaver15549leis-ordinarias-1893gt Acesso em 01 de maio de 2018 GOIAacuteS [1893b] Decreto nordm 26 23 de dezembro de 1893 Regulamento da instrucccedilatildeo primaria do estado de Goyaz Goyaz Imp na Typ de Goyaz 1894 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1934] Decreto nordm 4349 de 26 de fevereiro de 1934 Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrgt Acesso em 01 de junho de 2018 MONTEIRO Ofeacutelia Soacutecrates do Nascimento [1934] Goiaz coraccedilatildeo do Brasil 1934 Acervo pessoal do autor

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FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 1 GOIAacuteS NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DO BRASIL BRASIL [2001a] Programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores Guia do Formador moacutedulo 1 Brasiacutelia MEC Secretaria de Ensino Fundamental 2001a BRASIL [2001b] Programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores documento de apresentaccedilatildeo Brasiacutelia MEC Secretaria de Ensino Fundamental 2001b FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 2 A INSTRUCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA EM GOIAacuteS NO PERIacuteODO IMPERIAL ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1861] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1861 pelo exm presidente da provincia Joseacute Martins Pereira de Alencastre Rio de Janeiro Typ Imperial e Constitucional de J Villeneuve e Comp 1861 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1862] Relatorio lido na abertura dAssembleacutea Legislativa de Goyaz pelo presidente da provincia o exmordm sr Joseacute Martins Pereira de Alencastre no dia 1ordm de julho de 1862 Goyaz Typ Provincial 1862 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALMEIDA Joseacute Ricardo Pires de [1889] Instruccedilatildeo Puacuteblica No Brasil (1500-1889) Traduccedilatildeo de Antonio Chizzoti Ed Criacutetica Maria do Carmo Guedes 2ordf ed Satildeo Paulo EDUC 2000 ALMEIDA [1860] Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixa 01 AZEVEDO Francisco Ferreira dos Santos [1842] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1842 o exm vice-presidente da mesma provincia Francisco Ferreira dos Santos Azevedo Goyaz Typ Provincial 1842 Center for Research Libraries Universidade de Chicago AZEVEDO Francisco Ferreira dos Santos [1843] Discurso com que o vice-presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da quinta legislatura da Assemblea Provincial no 1ordm de junho de 1843 Goyaz Typ Provincial 1843 Center for Research Libraries Universidade de Chicago AZEVEDO Joaquim Vicente de [30 de abril de 1869] Officio a Ernesto Augusto Pereira Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 BARAtildeO DEGERANDO [1839] Curso Normal para Professores de Primeiras Letras ou Direcccedilotildees Relativas a Educaccedilatildeo Physica Moral e intelectual nas Escolas Primarias Traduzido pelo Doutor Joatildeo Candido de Deos e Silva Nictheroy Typographia Nictheroy de M G de S Rego Praccedila Municipal 1839 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

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BRASIL [1827] Lei de 15 de outubro de 1827 Disponiacutevel em lthttpswww2 camaralegbrleginfedlei_sn1824-1899lei-38398-15-outubro-1827-566692-public acaooriginal-90222-plhtmlgt Acesso em 11 de junho de 2018 BRASIL [1834] Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 Coleccedilatildeo de Leis Impeacuterio do Brasil do ano de 1834 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1866 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 BRASIL [1879] Decreto nordm 7247 de 19 de abril de 1879 do Ministeacuterio do Impeacuterio Reforma o ensino primaacuterio e secundaacuterio no municiacutepio da Corte e o superior em todo o Impeacuterio Impeacuterio do Brasil de 1879 ndash Parte II Tomo XLII Rio de Janeiro Tipografia Nacional p 196-217 1879 BRASIL [1891] Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 1891 Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedconsti1824-1899constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-plhtmlgt Acesso em 10 de maio de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1858] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1858 pelo exm presidente da provincia dr Francisco Januario da Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1858 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859a] Relatorio com que o exm sr dr Francisco Januario da Gama Cerqueira entregou a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz ao exmordm sr dr Antonio Manoel de Aragatildeo e Mello Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859b] Relatorio apresentado aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1859 pelo exm presidente dr Francisco Januario de Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CORREIO OFFICIAL [29 de fevereiro de 1840] Expediente da Presidencia Continuaccedilatildeo da segunda parte do Relatoacuterio do Sr Foggia Correio Official Goyaz nordm 251 29 de fevereiro de 1840 p 4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [10 de abril de 1858] Ofiacutecio de nordm 13 enviando a relaccedilatildeo dos moacuteveis para as escolas da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica 10 de abril de 1858 Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [18 de abril de 1858] Ofiacutecio enviando lista dos objetos para as escolas Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 CRUZ Guilherme Francisco [1886] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz aacute 8 de abril de 1886 pelo exm presidente da provincia dr Guilherme Francisco Cruz Goyaz Typ Provincial 1886 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CUNHA Antonio Augusto Pereira da [1857] Relatorio que ao exm sr vice-presidente dr Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira apresentou no acto de passar-lhe a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz o ex-president exmo sr dr Antonio Augusto Pereira da Cunha Goyaz Typ Goyazense 1857 Center for Research Libraries Universidade de Chicago DIAS Gonccedilalves A [1858] Diccionario da lingua Tupy chamada Lingua Geral dos indigenas do Brazil Lipsia F A Brockhays Livreiro de S M O Imperador do Brasil 1858 Disponiacutevel em lthttpwwwetnolinguisticaorgbibliodias-1858-diccionariogt Acesso em 10 de marccedilo de 2018 FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [1837] Discurso com que o presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da segunda legislatura da Assembleacutea Provincial no 1ordm de julho de 1837 Goyaz Typ Provincial 1837 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [14 de fevereiro de 1838] Estranhando severamente a Thomaz Antonio da Fonseca concorrer a um batuque Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [1838] Discurso com que o presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da segunda legislatura da Assemblea Provincial no 1ordm de julho de 1838 Goyaz Typ Provincial 1838 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FONSECA Luis Antonio da [12 de setembro de 1869] Ofiacutecio enviado ao Conego Joaquim Vicente de Azevedo Digno Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1835-1839] Livro de Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191

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GOIAacuteS [1837] Resoluccedilaotilde nordm 17 de 4 de Setembro de 1837 Correio Official Goyaz Typographia Provincial 14 de outubro de 1837 p 3-4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1846] Lei nordm 9 de 17 de junho de 1846 Crecirca o Lyceo da Proviacutencia de Goyaz In Livro da Lei Goiana Goiaacutes Typograacutephia Provincial 1846 GOIAacuteS [1855] Regulamento de 30 de julho de 1855 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa caixa nordm 108 GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1858-1873] Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1884] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica ndeg 3397 Acto de 9 de abril de 1884 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes

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GOIAacuteS [1886a] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica de 1886 Acto de 2 de abril de 1886 reformando a Instrucccedilatildeo Publica da Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1886b] Ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 Regulamento para o serviccedilo da catechese na provincia de Goyaz Goyaz Typographia Provincial 1886 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1886c] Ato nordm 3905 de 16 de marccedilo de 1886 Regulamento da Typograacutephia Provincial de Goacuteiaz Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1887] Acto nordm 4148 de 11 de fevereiro de 1887 Regulamento para a Instrucccedilatildeo Primaria da Provincia Goyaz Typografia Provincial 1887 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1888] Acto de 7 de janeiro de 1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1893a] Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 Reformando a instrucccedilatildeo publica do Estado Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrpaginaver15549leis-ordinarias-1893gt Acesso em 01 de maio de 2018 GOIAacuteS [1893b] Decreto nordm 26 23 de dezembro de 1893 Regulamento da instrucccedilatildeo primaria do estado de Goyaz Goyaz Imp na Typ de Goyaz 1894 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOMES Antonio Joaquim da Silva [1851] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1851 o exm presidente da mesma provincia doutor Antonio Joaquim da Silva Gomes Goyaz Typ Provincial 1851 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOMES Antonio Joaquim da Silva [1852a] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1852 o exm presidente da provincia doutor Antonio Joaquim da Silva Gomes Goyaz Typ Provincial 1852 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOMES Antonio Joaquim da Silva [1852b] Relatorio com que o ex-presidente da provincia de Goyaz o exmordm sr Antonio Joaquim da Silva Gomes entregou a presidencia da mesma ao seo sucessor o exmordm sr Doutor Francisco Mariani Goyaz Typ Provincial 1852 Center for Research Libraries Universidade de Chicago JARDIM Joseacute Rodrigues [1835] Relatoacuterio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1835 o exm presidente Joze Rodrigues Jardim da mesma provincia Meyaponte Typ Provincial 1835 Center for Research Libraries Universidade de Chicago

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JARDIM Joseacute Rodrigues [19 de julho de 1836] Ofiacutecio de 19 de julho agrave Joaquim Joseacute da Silva Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 JARDIM Joseacute Rodrigues [23 de janeiro de 1837] Ofiacutecio de 23 de janeiro de 1837 agrave Zacaria Antonio dos Santos Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 In Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 JARDIM Joseacute Rodrigues [1841] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1841 o exm vice-presidente na mesma provincia Joze Rodrigues Jardim Goyaz Typ Provincial 1841 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MACHADO Antonio Candido da Cruz [1854] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1854 o presidente da provincia Antonio Candido da Cruz Machado Goyaz Typ Provincial 1854 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MACHADO Eduardo Olimpio [1850] Falla que recitou o prsidente [sic] da provincia de Goyaz o doutor Eduardo Olimpio Machado nabertura da Assemblea Legislativa da mesma provincia em o 1ordm de maio de 1850 Goyaz Typ Provincial 1850 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MARIANI Francisco [1853] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1853 o exm presidente da provincia doutor Francisco Mariani Goyaz Typ Provincial 1853 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MASCARENHAS Joseacute de Assis [1839] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1839 o exm presidente da mesma provincia d Joze de Assiz Mascarenhas Goyaz Typ Provincial 1839 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MASCARENHAS Joseacute de Assis [1845] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1845 o exm presidente da mesma provincia dr Jose de Assiz Mascarenhas Goyaz Typ Provincial 1845 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MATUTINA MEYAPONTENSE [29 de julho de 1830] Artigos de officio concelho geral da provincia Goyaz 14 de janeiro de 1830 continuaccedilaotilde do N antecedente Matutina Meyapontense Goyaz nordm 52 29 de julho de 1830 quinta-feira p 1 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013

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MATUTINA MEYAPONTENSE [12 de agosto de 1830] Artigos de Officio Concelho geral da provincia Goyaz 18 de janeiro de 1830 Matutina Meyapontense Goyaz nordm 58 12 de agosto de 1830 quinta-feira p 2 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013 MATUTINA MEYAPONTENSE [14 de agosto de 1830] Artigos de Officio Concelho geral da provincia Goyaz 18 de janeiro de 1830 33 sessaotilde ordinaria continuaccedilatildeo do N antecedente Matutina Meyapontense Goyaz nordm 59 14 de agosto de 1830 saacutebado p 1 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013 PEREIRA Ernesto Augusto [1869] Relatorio que o exm sr dr Ernesto Augusto Pereira presidente da provincia de Goyaz leu na abertura da Assembleacutea Legislativa da mesma provincia a 1ordm de junho de 1869 Goyaz Typ Provincial 1869 Center for Research Libraries Universidade de Chicago RAMALHO Joaquim Ignaacutecio [1846] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1846 o exm presidente da mesma provincia doutor Joaquim Ignacio Ramalho Goyaz Typ Provincial 1846 Center for Research Libraries Universidade de Chicago SILVEIRA Jozeacute Manuel da [1856] Correspondecircncia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixa 01 SIMOtildeES Firmino [1888] Relatorio 20 de fevereiro de 1888 Goyaz Typ Provincial 1888 Center for Research Libraries Universidade de Chicago SIQUEIRA Joatildeo Bonifacio Gomes de [1867] Relatorio que o exm sr desembargador Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira 1o vice-presidente da provincia de Goyaz leu na abertura da Assembleacutea Legislativa da mesma provincia no dia 1ordm de setembro de 1867 Goyaz Typ Provincial 1870 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 3 MEacuteTODOS E LIVROS PARA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM

GOIAacuteS A REGENERACcedilAtildeO Orgatildeo destinado aacute defesa do partido catholico 1875 [14 de marccedilo de 1875] A Regeneraccedilatildeo oacutergatildeo destinado aacute defesa do partido catholico Beleacutem do Paraacute anno II nordm 91 domingo 14 de marccedilo de 1875 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ABBADE FLEURY [1846] Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde composto em francez Traduzido em portuguecircs de ordem do governo imperial por Joaquim Joseacute da Silveira 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Bintot 1846 Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018

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ASSIS Antero Ciacutecero de [17 de janeiro de 1872] Officio nordm 24 de 17 de janeiro de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 AZEVEDO Joaquim Vicente de [4 de setembro de 1865] Na mesma data [ilegiacutevel] enviando trinta e seis escriptas dos alunos de instrucccedilatildeo primaria desta capital Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 BRANDAtildeO Pedro Luis Xavier Brandatildeo [26 de marccedilo de 1877] Informaccedilatildeo a cerca do fornecimento de objeto pordf a escola do sexo masculino de Villa Flores Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 BRANDAtildeO Pedro Luiz Xavier [6 de abril de 1875] Informando acerca do pedido dos objectos para a Professora [ilegiacutevel] de Palma reclama pordf respectiva escola Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 CASTILHO Antonio Feliciano de [1854] Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primaria pelo metodo portuguez por A F Castilho Coimbra Imprensa da Universidade 1854 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 08 de fevereiro de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1858] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1858 pelo exm presidente da provincia dr Francisco Januario da Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1858 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859a] Relatorio com que o exm sr dr Francisco Januario da Gama Cerqueira entregou a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz ao exmordm sr dr Antonio Manoel de Aragatildeo e Mello Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CIVILISACcedilAtildeO Periodico Hebdomadario oacutergatildeo dos interesses catholicos [24 de maio de 1890] Catalogo das obras do Exm Sr Bispo do Paraacute Civilisaccedilatildeo Periodico Hebdomadario oacutergatildeo dos interesses catholicos Maranhatildeo anno XI nordm 501 saacutebado 24 de maio de 1890 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO OFFICIAL [26 de abril de 1884] Noticiario Installaccedilatildeo da Escola Normal Correio Official Goyaz 26 de abril de 1884 p 2-3 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [20 de marccedilo de 1858] Coacutepia do relatoacuterio enviado aacute presidecircncia em 20 de marccedilo de 1858 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 FLEURY Joatildeo Augusto de Paacutedua [21 de outubro de 1866] Secretaria drsquoinstruccedilatildeo publica em Goyaz 21 drsquoOutubro de 1866 Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 FRANCcedilA Augusto Ferreira [1867] Relatorio com que o Exm Sr Dr Augusto Ferreira Franccedila Presidente da Provincia de Goyaz passou a administraccedilatildeo da mesma ao Exm Sr Vice-presidente Desembargador Joatildeo Bonifaacutecio Gomes de Siqueira em 29 de abril de 1867 Goyas Typographia Provincial 1867 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FRANCcedilA Augusto Ferreira [7 de junho de 1866] 1ordf secccedilatildeo 7 de junho de 1866 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 FRANKLIN Benjamin [18--] Sciencia do Bom Homem Ricardo ou meio de adquirir fortuna In MONTEVERDE Emilio Achilles Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo Lisboa Livraria Central de Gomes de Carvalho 18-- p 139-146 Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm26 6gt Acesso em 06 de maio de 2018 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575

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GOIAacuteS [1874] Instruccedilatildeo Puacuteblica relatoacuterio Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 236 GOIAacuteS [1882] Resoluccedilatildeo Provincial nordm 676 de 03 de agosto de 1882 Crecirca no Lyceo uma escola normal para a preparaccedilatildeo de professores de instruccedilatildeo primaacuteria Correio Official Goyaz 16 de setembro de 1882 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1884] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica ndeg 3397 Acto de 9 de abril de 1884 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1886a] Ato nordm 3905 de 16 de marccedilo de 1886 Regulamento da Typograacutephia Provincial de Goacuteiaz Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1930] Programma de Ensino para as Escolas Primarias 1930 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG LACERDA Joaquim Maria de [sd] Novo Exposito Portuguez ou Methodo Facil para aprender a ler o Portuguez tanto a letra impressa como a manuscripta composto para uso das escolas brasileiras 9ordf ediccedilatildeo (muito melhorada e augmentada) Livraria Garnier sd Acervo pessoal do autor LAGE Bernardino da Fonse [1924] Metodologia especial a liacutengua e a literatura portuguesa na educaccedilatildeo primaacuteria Lisboa Porto Coimbra LVMEN 1924 LOPES Antonio de Castro [1862] Ilmo Exmo Srn~ Presidente da Provincia de Goyaz Nordm 29 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 144 MIDOSI Luiacutes Francisco [1831] O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna Londres R Greenlaw 1831 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 MONTEVERDE Emilio Achilles [18--] Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo 16ordf ediccedilatildeo Lisboa Livraria Central de Gomes de Carvalho 18--Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm2 66gt Acesso em 06 de maio de 2018 NOVO ALFABETO PORTUGUEZ DIVIDIDO POR SYLLABAS COM OS PRIMEIROS ELEMENTOS DA DOUTRINA CHRISTA E O METHODO DE OUVIR E AJUDAR Agrave MISSA [1785] Lisboa Officina de Simatildeo Thaddeo Ferreira 1785 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 08 de fevereiro de 2018 PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1871] Carta para o exercicio da leitura raacutepida pelo methodo abreviado denominado Bacadafaacute Rio de Janeiro Tip De Pinheiro amp C 1871 Acervo pessoal da Professora Giselle Baptista Teixeira

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PRIMO JARDIM Feliciano [1855] Copia Ilmordm e Exmordm Senr~ Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 RENAULT Victor [1875] Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees 4ordf ediccedilatildeo ilustrada com numerosas estampas Rio de Janeiro BL Garnier Livreiro-Editor Paris E Belhatte 1875 Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrhandle123456789100353gt Acesso em 18 de maio de 2019 ROSA Raviolindo [ilegiacutevel] [06 de marccedilo de 1869] Officio de 06 de marccedilo de 1869 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188 SANTOS Theobaldo Miranda [1954] Manual do professor primaacuterio 3ordf ediccedilatildeo V 11 Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1954 SANTOS Theobaldo Miranda [1958] Manual do professor primaacuterio 6ordf ediccedilatildeo V 11 Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1958 SERRA D Theodora Ledom [1873] Pedidos da Professora de Palma In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG SIQUEIRA Joatildeo Bonifacio Gomes de [27 de fevereiro de 1871] N 15 27 de fevrordm de 1871 1ordf Secccedilatildeo Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 THESOURARIA DA FASENDA DA PROVINCIA DE GOYAS [3 de setembro de 1874] Informaccedilatildeo aacute respeito drsquoobjectos drsquoexpediente pordf a escola do sexo masculino do Porto Imperial Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ [14 de fevereiro de 1859] Relaccedilatildeo dos objetos que satildeo nesta data entregues ao Sem Inspector Geral Interino de Instrucccedilatildeo Publica em virtude da Portaria do Exmo Governo da Provincia sob Nordm 33 data de 5 do corrente mez In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG VITERBO Sousa [1924] O movimento tipograacutefico em Portugal no seacuteculo XVI apontamento para a sua histoacuteria Coimbra Imprensa da Universidade 1924 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lt httppurlpt188gt Acesso em 02 de junho de 2019 FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 4 O MEacuteTODO CASTILHO NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM

GOIAacuteS ABBADE FLEURY [1846] Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde composto em francez Traduzido em portuguecircs de ordem do governo imperial por Joaquim Joseacute da Silveira 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Bintot 1846 Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel

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em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1861] Officio de 23 de maio de 1861 Livro de Correspondecircncias da Presidecircncia da Proviacutencia aos funcionaacuterios da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1847-1861 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1862] Relatorio lido na abertura dAssembleacutea Legislativa de Goyaz pelo presidente da provincia o exmordm sr Joseacute Martins Pereira de Alencastre no dia 1ordm de julho de 1862 Goyaz Typ Provincial 1862 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [16 de marccedilo de 1862] Officio nordm 19 de 16 de marccedilo de 1862 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de 1862a [16 de marccedilo de 1862] Circular nordm 20 de 16 de marccedilo de 1862 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica In Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 BA CORREIO MERCANTIL 1855 [11 de fevereiro de 1855] A nova estrela Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano XII nordm 41 domingo 11 de fevereiro de 1855 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) Goiacircnia UFG REHEG 2002 BRANDAtildeO Joatildeo Luis Henrique [30 de abril de 1859] Ofiacutecio nordm 23 em 30 de abril communicando ter posto a disposiccedilatildeo de Feliciano Primo Jardim tudo quanto depende da Inspectoria G I ensaio do methodo Castilho Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 CARNEIRO Manoel Borges [1844] O mentor da mocidade ou cartas sobre educaccedilatildeo Lisboa Imprensa Nacional 1844 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 15 de marccedilo de 2018 CASTILHO Antonio Feliciano de [1853] Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever 2ordf ediccedilatildeo inteiramente refundida aumentada e ornada de um grande nuacutemero de vinhetas

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Lisboa Imprensa Nacional 1853 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [19 de marccedilo de 1859] 2ordf Secccedilatildeo Ofiacutecio nordm 12 tabela de distribuiccedilatildeo de utensis para as aulas primarias da provincia In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [3 de maio de 1859] Seccedilatildeo nordm 27 Ofiacutecio enviado ao Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CORREIO MERCANTIL [03 de setembro de 1853] Uma escola de leitura repentina pelo Methodo Castilho Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano X nordm 246 saacutebado 03 de setembro de 1853 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [25 de janeiro de 1856] Notiacutecias diversas Correiro Mercantil Rio de Janeiro nordm 25 ano XIII sexta-feira 25 de janeiro de 1856 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [01 de setembro de 1853] Extracto de uma carta escripta no dia 2 de agosto de 1853 em Lisboa por um dos professores da Escola Normal do methodo de leitura repentina Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Exterior ano X nordm 244 quinta-feira 01 de setembro de 1853 p 1 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORUJA Antonio Alvares Pereira [1873] Liccedilotildees da historia do Brasil adaptadas a leitura das escolas 9ordf ediccedilatildeo com alguns aumentos e correccedilotildees Rio de Janeiro Typographia Esperanccedila 1873 Disponiacutevel emlthttpwww2senadolegbrbdsfitemi d242459gt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 COSTA E AZEVEDO Joseacute [1832] Liccedilotildees de instrucccedilatildeo elementar agraves suas filhas Maria Joanna e Maria Julia Liccedilotildees de Ler Rio de Janeiro Typographia Nacional 1832 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [18 de marccedilo de 1859] Ofiacutecio nordm 7 em 18 de marccedilo propondo aposentadoria do Professor Geografia e Histoacuteria Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [13 de abril de 1858] Ofiacutecio nordm 17 em 13 de abril levando aprovaccedilatildeo de Sua Excia a tabela das qtas que devem ser distruibuiacutedas no corrente anno para expediente das aulas digo das escolas da provincia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [29 de marccedilo de 1859] Ofiacutecio nordm 11 em 29 de marccedilo propondo Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo para substituir Feliciano Primo Jardim na aula de Geographia e Historia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [5 de abril de 1858] Ofiacutecio enviando relaccedilatildeo dos objetos que satildeo necessaacuterios para as escolas da proviacutencia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CUNHA Antonio Augusto Pereira da [1856] Relatorio apresentando a Assembleacutea Legislativa provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaacuteria de 1856 pelo Exm Presidente da Provincia Dr Antonio Augusto Pereira da Cunha Goyaz Typographia Provincial 1856 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1855] Resoluccedilatildeo nordm 5 de 6 de novembro de 1855 Aprova resolitaccedilatildeo do governo tamada em vinte e um de julho do corrente ano mandando a corte o professor de primeiras letras Feliciano Primo Jardim In Livro da Lei Goyana contem as leis e resoluccedilotildees da Assemblea Legislativa da provincia de Goyaz e as sessotildees ordinaacuterias de 1855 Tomo 21 Goiaz Typographia goyanense 1856 GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575

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GOIAacuteS [1873-1883] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 584 GOIAacuteS [1883-1885] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 762 GOIAacuteS [1885-1888] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica - Correspondecircncia para a Presidecircncia da Proviacutencia ndash 1885-1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 831 GOIAacuteS [1886] Secretaria de Governo - Instruccedilatildeo Puacuteblica (jandez) ndash 1886 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 843 JUSSIEU Laurent [1867] Historia de Simatildeo de Nantua ou O mercador de feiras 9ordf ediccedilatildeo correcta augmentada e ornada com oito estampas coloridas Paris Livraria de Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Disponiacutevel em lthttpsbooksgooglecomb rbooksid=Qd3tAAAAMAAJampprintsec=frontcoveramphl=pt-BRampsource=gbs_ge_summ ary_rampcad =0v=onepageampqampf=falsegt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 MACHADO Antonio Candido da Cruz [1855] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1855 o exm presidente da provincia Antonio Candido da Cruz Machado Goyaz Typ Goyazense 1855 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MARTINS J V CORREIO MERCANTIL [8 de setembro 1853] Tres novidades e a reimpressatildeo do methodo Castilho Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano X nordm 251 quinta-feira 8 de setembro de 1853 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil MARTINS Joatildeo Vicente [1854] Cartilha de leitura repentina ou plaacutegio do Methodo de Castilho Rio de Janeiro Tipografia da viuacuteva Vianna Junior 1854 Acervo pessoal do autor MIDOSI Luiacutes Francisco [1831] O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna Londres R Greenlaw 1831 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 O TOCANTINS [08 de dezembro de 1855] Assemblea Provincial 38deg Sessaotilde ordinaria em 17 de Outubro de 1855 Presidencia do Sr Cardoso O Tocantins Goyaz nordm 69 08 de dezembro de 1855 p 1 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG O TOCANTINS [15 de dezembro de 1855] Aqui apresentamos a Synopse O Tocantins Goyaz nordm 70 15 de dezembro de 1855 p 4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG

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O TOCANTINS [22 de dezembro de 1855] 47ordf Sessatildeo ordinaria em 27 de outubro de 1855 O Tocantins Goyaz nordm 71 22 de dezembro de 1855 p 2 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG OLIVEIRA Joatildeo Alfredo Correcirca de [1872] Relatorio apresentado a Assembleia Geral da 4ordf sessatildeo da 14ordf legislatura pelo Ministro e Secretaacuterio drsquoEstado dos Negoacutecio do Imeacuterio Dr Joatildeo Alfredo Correcirca de Oliveira Rio de Janeiro Typografia Nacional 1872 Center for Research Libraries Universidade de Chicago PRIMO JARDIM Feliciano [1855] Copia Ilmordm e Exmordm Senr~ Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 RIO DE JANEIRO [25 de janeiro de 1856] Registro do Porto Diario do Rio de Janeiro Rio de Janeiro nordm 25 ano XXXV 25 de janeiro de 1856 p 5 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ [14 de fevereiro de 1859] Relaccedilatildeo dos objetos que satildeo nesta data entregues ao Sem Inspector Geral Interino de Instrucccedilatildeo Publica em virtude da Portaria do Exmo Governo da Provincia sob Nordm 33 data de 5 do corrente mez In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 5 A PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICA BRASILEIRA NA HISTOacuteRIA DA

ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de junho de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 11 24 de junho de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [18 de agosto de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 19 18 de agosto de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [6 de setembro de 1874] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro ano III nordm 36 6 de setembro de 1874 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [20 de outubro de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 28 20 de outubro de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de novembro de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 33 24 de novembro de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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ABRIA [1847] Meacutethode de lecture sans eacutepellation Nouvelle eacutedition Paris Langlois et leclercq Libraires 1847 Disponiacutevel em lthttpsgallicabnffrark12148bpt6k636 9759dtexteImagegt Acesso em 1 de julho de 2019 ALAMBARY LUZ Joseacute Carlos A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de junho de 1872] O ensino oficial no municipio neutro A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 11 24 de junho de 1872 p 81-82 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ALAMBARY LUZ Joseacute Carlos A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] Methodo de leitura Bacadafaacute A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 p 108 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ALMANAK ADMINISTRATIVO MERCANTIL E INDUSTRIAL DA CORTE E PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO [1865] Escola de D Maria Argentina de Aguiar Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e da Provincia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Cada dos Editores-proprietaacuterios Eduardo amp Henrique Laemmert 1865 p 431 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ASSIS Antero Ciacutecero de [02 de janeiro de 1875] Nordm 2 02 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 ASSIS Antero Ciacutecero de [17 de janeiro de 1872] Officio nordm 24 de 17 de janeiro de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 ASSIS Antero Ciacutecero de [16 de novembro de 1872] Nordm 206 16 de 9brordm de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 ASSIS Antero Ciacutecero de [1873] Relatorio apresentado arsquo Assemblegravea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Drordm Antero Cicero de Assis Presidente de Provincia em o 1ordm de junho de 1873 Goyaz Typographia Provincial 1873 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [1874] Relatorio apresentado aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Drordm Antero Cicero de Assis presidente da provincia em 1ordm de junho de 1874 Goyaz Typographia Provincial 1874 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [1875] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Dr Antero Cicero de Assis presidente da provincia em 1ordm de junho de 1875 Goyaz Typographia Provincial 1875 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [19 de janeiro de 1875] Nordm 21 19 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica

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Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 AZEVEDO Conego Joaquim Vicente de [17 de setembro de 1880] Nordm 77 Inspetoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica em Goyaz Livro de registro das correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 AZEVEDO Cocircnego Joaquim Vicente 1872 [21 de novembro de 1872] Em 21 de 9bro de 1872 Circular aos Inspectores Parochiaes da Prova Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1867a] Primeiro livro de leitura para uso da infancia brasileira composto pelo Dr Abiacutelio Cezar Borges Paris Livraria da Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1867b] Segundo livro de leitura para uso da infancia brasileira por Abilio Cezar Borges Paris Livraria de Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1880] Vinte annos de propaganda contra o emprego da palmatoria e de outros meios aviltantes no ensino da mocidade Bruxelas Typographia e Litographia E Guyot 1880 Biblioteca do Arquivo Puacuteblico do Estado de Satildeo Paulo BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1890] Terceiro livro de leitura para uso das escolas brasileiras 6ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Francisco Alves 1890 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BRITO Silvina Ermelinda Xavier de [1884] Programma do ensino pa a aula de instrucccedilatildeo primaria do sexo feminino anexo a Escola Normal In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CASTILHO Antonio Feliciano de [1853] Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever 2ordf ediccedilatildeo inteiramente refundida aumentada e ornada de um grande nuacutemero de vinhetas Lisboa Imprensa Nacional 1853 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 CORREIO MERCANTIL [8 de novembro de 1860] Ensino rapido de leitura Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVII nordm 310 quinta-feira 8 de novembro de 1860 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [26 de maio de 1861] Injusticcedila Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVIII nordm 143 domingo 26 de maio de 1861 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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CORREIO MERCANTIL [16 de junho de 1861] Expediente da Camara dos Srs Deputados sessatildeo de 15 de junho de 1861 Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVIII nordm 164 domingo 16 de junho de 1861 p 1 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [19 de dezembro de 1861] Antonio Pinheiro de Aguiar e sua Sra D Maria Correio Mercantil Annuncios Rio de Janeiro nordm 335 quinta-feira 19 de dezembro de 1861 p 4 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [21 de outubro de 1863] Bacadafa Correio Mercantil Publicaccedilotildees a pedido Rio de Janeiro nordm 289 quarta-feira 21 de outubro de 1863 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil COSTA E CUNHA Antonio Estevam A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [20 de outubro de 1872] O methodo de leitura denominado Bacadafaacute II A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 28 20 de outubro de 1872 p 241-242 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil FLEURY A A [1939] Livros Didarsquoticos Revista de Educaccedilatildeo Orgao da Diretoria Geral de Educaccedilatildeo Goiacircnia ano 3 nordm 9 p05-06 novembro e dezembro 1939 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1879-1883] Livro de registro das correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 JARDIM Joseacute Rodrigues [05 de fevereiro de 1875] Informando aacute respeito de uma proposta de livros que faz o Dr Abiacutelio Cesar Borges Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 JORNAL DO COMMERCIO [29 de agosto de 1863] Collegio do Bacadafaacute Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano XXXVIII nordm 238 saacutebado 29 de agosto de 1863 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil JORNAL DO COMMERCIO [23 de dezembro de 1867] Collegio Bacadafaacute Travessa das Flores em S Christovatildeo N B Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano 47 nordm 356 segunda-feira 23 de dezembro de 1867 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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MARTINS Eliacutesio Firmo Martins [23 de maio de 1889] Inst P de 23 de maio de 1889 N 44 Secretaria de Governo ndash Cadernos da Instruccedilatildeo Puacuteblica 1889 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 930 PAIXAtildeO Rodolpho G de [30 de setembro de 1891] Inst Publica nordm 188 governo do estado de Goyaz 30 de setembro de 1891 Instruccedilatildeo Puacuteblica 1889-1890 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 946 PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1871] Carta para o exercicio da leitura raacutepida pelo methodo abreviado denominado Bacadafaacute Rio de Janeiro Tip De Pinheiro amp C 1871 Acervo pessoal da Professora Giselle Baptista Teixeira PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1877] Bacadafaacute ou Methodo de Leitura Abreviada Rio de Janeiro Typ de Pinheiro amp C 1877 Acervo pessoal da Professora Francisca Izabel Pereira Maciel PINHEIRO DE AGUIAR Antonio A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] Methodo de leitura raacutepido denominado Bacadafaacute A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 p 108-109 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [27 de setembro de 1859] Attenccedilatildeo Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVL nordm 264 terccedila-feira 27 de setembro de 1859 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [19 de julho de 1860] Facto desagradaacutevel Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVII nordm 199 quinta-feira 19 de julho de 1860 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [9 de setembro de 1861] Para o ilustrado publico Correio Mercantil Publicaccedilotildees a pedido Rio de Janeiro ano VXIII nordm 235 segunda-feira 9 de setembro de 1861 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio JORNAL DO COMMERCIO [22 de janeiro de 1862] Instrucccedilatildeo primaria Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano XXXVII nordm 22 quarta-feira 22 de janeiro de 1862 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR JORNAL DO COMMERCIO [28 de abril de 1886] Escola dos Sete Passos Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano 64 nordm 117 quarta-feira 28 de abril de 1886 p 6 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PLATAFORMA HEacuteLIO GRAVATAacute Pinheiro de Aguiar Disponiacutevel em lthttpwwwsiaa pmculturamggovbrmodulesgravata_brtdocsphotophplid=55849gt Acesso em 25 de junho de 2019 Arquivo Puacuteblico Mineiro

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RIO DE JANEIRO [1862] Annexos do relatorio do Ministerio do Imperio apresentado aacute Assembleacutea Geral na 2ordf sessatildeo da 11ordf legislatura Rio de Janeiro Typographia Universal de Laemmert 1862 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil SPINOLA Aristides de Souza [1880] Relatorio apresentado eplo Illm e Exm Sr Dr Aristides de Souza Spinola presidente da Proviacutencia agrave Assembleacutea L Provincial de Goyaz no dia 1ordm de marccedilo de 1880 Goyaz Typographia Provincial 1880 FONTE CITADA NAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes LISTAS DE EXPEDIENTE ESCOLAR E MAPAS DE TURMAS BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) Goiacircnia UFG REHEG 2002 GOIAacuteS [1847-1861] Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia da Proviacutencia aos funcionaacuterios da Instruccedilatildeo Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264 GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1858-1873] Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1862-1871 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Publica ndash 1868-1871 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1871-1873] Registro dos Ofiacutecios dirigidos agrave Presidecircncia da Proviacutencia pela Secretaria de Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 528 GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1871-1879 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1874] Secretaria de Governo ndash Ofiacutecios dirigidos pelo Governo da Proviacutencia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 564

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GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterios e Informaccedilotildees ndash 1873-1877 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1873-1879] Correspondecircncia da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 581 GOIAacuteS [1873-1883] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 584 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1879-1883] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Ofiacutecio Correspondecircncia com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 GOIAacuteS [1880-1883] Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Registro de Correspondecircncia da Instruccedilatildeo Puacuteblica dirigidos agrave Presidecircncia da Proviacutenicia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 704 GOIAacuteS [1881] Secretaria da Inspetoria da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterio Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 710 GOIAacuteS [1882] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 735 GOIAacuteS [1883-1885] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 762 GOIAacuteS [1883-1887] Inspetoria da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Correspondecircncia da Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica com Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 766 GOIAacuteS [1885-1888] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica - Correspondecircncia para a Presidecircncia da Proviacutencia ndash 1885-1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 831 GOIAacuteS [1886] Secretaria de Governo - Instruccedilatildeo Puacuteblica (jandez) ndash 1886 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 843 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixas 01 02 03

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GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis ndash Caixas 01 02 03 e 04 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Cidade de Goiaacutes ndash Caixas 02 03 04 05 e 06 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa caixas nordm 34 (1842) nordm 40 (1844) nordm 83 (1851) nordm 89 (1852) nordm 111 (1856) nordm 116 (1857) nordm 123 (1858) nordm 128 (1859) nordm 133 (1860) nordm 138 (1861) nordm 144 (1862) nordm 150 (1863) nordm 157 (1864) nordm 163 (1865) nordm 171 (1866) nordm 178 (1867) nordm 184 (1868) nordm 188 (1869) nordm 195 (1870) nordm 204 (1871) nordm 212 (1872) nordm 223 (1873) nordm 236 (1874) nordm 247 (1875) nordm 255 (1876) nordm 274 (1878) nordm 285 (1879) nordm 294 (1880) nordm 333 (1884) nordm 347 (1885)

Page 3: JULIANO GUERRA ROCHA...coragem para lutar e vencer obstáculos! À Professora Sônia Maria dos Santos, que honra por ter sido seu orientando. Muito obrigado pela amizade, pelo carinho

3

4

JULIANO GUERRA ROCHA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS 1835-1886

Tese apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de

Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Uberlacircndia como requisito parcial para

obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor de Educaccedilatildeo

Uberlacircndia 16 de agosto de 2019

BANCA EXAMINADORA

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Agrave mulher que me ensinou saborear um livro acompanhado

de maccedilas picadas minha avoacute

Neide Teixeira de Morais (em memoacuteria)

6

AGRADECIMENTOS ____________________________________

Essa etapa da minha vida acadecircmica sem duacutevidas foi menos tensa ou ateacute

mesmo poderia dizer mais tranquila por ter pessoas que compartilharam comigo

essencialmente palavras e gestos de muito afeto Tocaram a minha alma e se

embrenharam pelas minhas memoacuterias Por isso o meu agradecimento e

reconhecimento

Obrigado Deus pelo dom da vida e pela sauacutede Pelos tropeccedilos e pelas

alegrias obrigado por ter colocado pessoas em minha vida que me deram forccedilas e

coragem para lutar e vencer obstaacuteculos

Agrave Professora Socircnia Maria dos Santos que honra por ter sido seu orientando

Muito obrigado pela amizade pelo carinho e pela confianccedila Com a senhora aprendi

que a vida na Universidade eacute muito melhor quando temos verdadeiras amizades

Aos meus pais Adriana Guerra de Morais Rocha e Antocircnio Soares da Rocha

meu irmatildeo Rafael Guerra Rocha obrigado por serem minha fortaleza e me apoiarem

A eles e a toda a minha famiacutelia obrigado pelo silecircncio e pelas palavras por sempre

entenderem a minha ausecircncia e me incentivarem aos estudos

Agraves minhas tias Luzimar Guerra de Morais e Fernanda Guerra de Morais meu

avocirc Manoel Guerra de Morais minha gratidatildeo pela confianccedila e forccedila em cada passo

da minha vida pessoal e profissional

Agrave Professora Francisca Izabel Pereira Maciel a quem eu sou muito grato

Obrigado professora pelo carinho e pelos conselhos pela amizade e pela confianccedila

E claro pelas valorosas contribuiccedilotildees a esta pesquisa tanto na qualificaccedilatildeo quanto

na defesa final

Agrave Professora Betacircnia de Oliveira Laterza Ribeiro pela sua generosidade e

carinho muito obrigado Obrigado pelas contribuiccedilotildees a essa pesquisa pelo

entusiasmo e gentileza de ler meu texto nas suas diferentes etapas de produccedilatildeo

7

Agrave Professora Cecilia Maria Aldigueri Goulart pessoa que me inspirou e me

apresentou a dimensatildeo discursiva da alfabetizaccedilatildeo com sua postura freireana e

bakhtiniana meus agradecimentos

Agrave Professora Mariacutelia Villela de Oliveira muito obrigado por compartilhar comigo

o momento da defesa da tese Pela amizade e carinho meus agradecimentos

Agrave Professora Sandra Cristina Fagundes de Lima uma grande mestra que com

delicadeza e muita poesia ensinou-me a apaixonar pelos caminhos labiriacutenticos da

memoacuteria e da histoacuteria Obrigado pelas suas contribuiccedilotildees

Agrave Professora Diane Valdez pela generosidade em compartilhar informaccedilotildees e

me indicar caminhos na pesquisa sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo goiana aleacutem de ceder

os livros do Baratildeo de Macauacutebas Muito obrigado

Agrave minha amiga Gabriela Marques de Sousa que o Doutorado me deu e como

ela diz nem mesmo a tese pode nos separar Obrigado pela amizade pelas palavras

de carinho e conforto nos diferentes momentos da escrita deste trabalho Tenho muito

orgulho de ser seu amigo

Ao Maacutercio Fernandes de Oliveira grande amigo que acompanhou todo o

processo de escrita da tese e me deu forccedilas para caminhar Minha gratidatildeo pela

paciecircncia e pela escuta nos momentos de afliccedilatildeo

Agrave Luana Cavalcanti Arauacutejo Borges pela amizade de sempre e pelas palavras

durante todo o percurso meus agradecimentos

Agrave Nuacutebia Gomes por me acolher em sua casa durante minha estada em

Uberlacircndia Obrigado por compartilhar seu lar comigo e pelas palavras sempre

amigas

Outros amigos que tambeacutem dividiram comigo esse momento e aos quais sou

muito grato Geracilda Maria Tacircnia Regina Rosimeire Pereira Rosaine Aparecida

Silvana Fernandes Maria Auxiliadora N Amorim Arlete de Falco Anair Freitas e

tantos outros os quais natildeo nominei mas que estatildeo anotados na memoacuteria

Aos meus amigos da Secretaria Municipal da Educaccedilatildeo e do Coleacutegio Estadual

Sebastiatildeo Xavier em ItumbiaraGO pessoas apaixonadas pela educaccedilatildeo e que

fazem a diferenccedila em minha vida

Agrave Maria Beatriz Villela de Oliveira obrigado pela leitura atenta na revisatildeo textual

deste trabalho e pelo zelo com as minhas palavras

ldquoA todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas

todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto

de eu neste instante explodir em eu Esse eu que eacute voacutes pois natildeo aguento ser apenas

mimrdquo1 muito obrigado

1 Dedicatoacuteria feita pela escritora Clarice Lispector (1977) nas paacuteginas iniciais do livro A hora da estrela

8

RESUMO ____________________________________

Esta tese de doutorado vinculada agrave linha de pesquisa de Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Universidade Federal de Uberlacircndia tem como objeto de estudo a alfabetizaccedilatildeo na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo XIX O objetivo da investigaccedilatildeo foi analisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas compreendendo os ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita difundidos nas escolas em Goiaacutes entre 1835 a 1886 O recorte temporal abarcou o periacuteodo em que se iniciou o processo de organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes por meio da promulgaccedilatildeo da primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 indo ateacute 1886 quando foi publicado o uacuteltimo Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes Ato de 2 de abril de 1886 levado a efetivo cumprimento durante o Impeacuterio Tendo isso em vista o trabalho se desenvolveu a partir das seguintes problematizaccedilotildees como a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o periacuteodo imperial Quais os materiais usados para se alfabetizar as crianccedilas goianas no decorrer dessa histoacuteria Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de Goiaacutes Essas questotildees orientaram a pesquisa que se baseou nos estudos sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo da leitura e dos livros no Brasil Como fonte histoacuterica foram usados os jornais os documentos oficiais as legislaccedilotildees as correspondecircncias de expediente escolar e os mapas de turmas inventariados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes bem como os Relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia dentre outras documentaccedilotildees depositadas em Arquivos Digitais brasileiros e europeus A partir desses documentos foi realizado um levantamento das cartilhas e livros de leitura utilizados nas escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia o que possibilitou depreender pela anaacutelise desses impressos os meacutetodos que circularam em Goiaacutes no oitocentos Os resultados da pesquisa apontaram que ao contraacuterio dos discursos que vecircm sendo mantidos sobre a instruccedilatildeo puacuteblica goiana do seacuteculo XIX no campo da alfabetizaccedilatildeo houve diferentes tentativas do governo provincial de alinhar a proposta da instruccedilatildeo primaacuteria aos ideaacuterios de modernidade educacional que circulavam pelo contexto nacional em especial no Rio de Janeiro A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu em diaacutelogo com o projeto educacional de uma Naccedilatildeo inspirado no modelo europeu Essa proviacutencia natildeo esteve isolada tampouco perifeacuterica ou interiorana em relaccedilatildeo a todo o Impeacuterio Goiaacutes no que concerne ao ensino de leitura e escrita aos livros e meacutetodos que subsidiavam esse processo esteve em sintonia com o contexto nacional no regime imperial Palavras-chave Cartilhas em Goiaacutes Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Goiaacutes Instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes Livros de leitura em Goiaacutes Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Meacutetodos de leitura em Goiaacutes Proviacutencia de Goiaacutes

9

ABSTRACT ____________________________________

This doctoral thesis linked to the research line of History and Historiography of Education of the Graduate Program in Education of the Federal University of Uberlacircndia has as object of study the literacy in the province of Goiaacutes in the nineteenth century The objective of the research was to analyze the history of the literacy of children in Goiaacutes comprehending the ideas about the initial teaching of reading and writing spread in schools in Goiaacutes between 1835 and 1886 The temporal cut included the period in which the process of organizing primary education in Goiaacutes began through the promulgation of the first Goiaacutesrsquo public education law Law no 13 of June 23rd 1835 going until 1886 when it was published the last Regulation on the Public Instruction of Goiaacutes Act of April 2nd 1886 led to effective compliance during the Empire In view of this the work developed from the following problematizations how did the history of literacy in Goias constitute itself during the imperial period What materials were used to literate the children of Goias throughout this history What ideas about the initial teaching of reading and writing circulated in the province of Goiaacutes These questions guided the research which was based on studies on the history of literacy reading and books in Brazil As a historical source newspapers official documents legislations correspondence of school files and maps of classes that were inventoried in the State Historic Archive of Goiaacutes as well as the Reports of the Presidents of the Province among other documents deposited in Brazilian and European Digital Archives were used From these documents a survey of the booklets and reading books used in the primary schools of the province was carried out which made it possible to understand through the analysis of these forms the methods that circulated in Goiaacutes in the nineteenth century The research results pointed out that contrary to the discourses that have been maintained on the public education in Goiaacutes in the nineteenth-century in the field of literacy there have been different attempts by the provincial government to align the proposal of primary education with the ideals of educational modernity that circulated through the national context level especially in Rio de Janeiro The history of literacy in Goiaacutes was constituted by a dialogue with the educational project of a Nation inspired by the European model This province was not isolated nor peripheral or interiorized in relation to all the Empire Goiaacutes in what concerns to the teaching of reading and writing to the books and methods that subsidized this process was in tune with the national context in the imperial regime Keywords Booklets in Goiaacutes History of literacy in Goiaacutes History of Education in Goiaacutes Primary education in Goiaacutes Reading Books in Goiaacutes Literacy methods in Goiaacutes Reading methods in Goiaacutes Province of Goiaacutes

10

LISTA DE FIGURAS ____________________________________

Figura 1 Mapa do Brasil exposto no I SIHELE quantidade por estado

de participantes inscritos no evento

25

Figura 2 Folha de rosto do livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por

Syllabas com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o

Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785)

146

Figura 3 Folha de rosto da 16ordf ediccedilatildeo do livro Methodo Facillimo para

aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais

curto espaccedilo de tempo (18--)

149

Figura 4 Paacuteginas 86 87 e 88 do Methodo Facillimo para aprender a ler

tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo (18--)

153

Figura 5 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do Pequeno Cathecismo Historico

contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde

(1846)

154

Figura 6 Folha de rosto da 4ordf ediccedilatildeo do Methodo facil para aprender a

ler em 15 liccedilotildees (1875)

159

Figura 7 Paacutegina vii do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees

(1875)

161

Figura 8 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o

ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e

numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

192

Figura 9 Paacuteginas 29 e 31 do livro Metodo Castilho para o ensino rapido

e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do

escrever (1853)

200

Figura 10 Paacuteginas 7 e 10 do livro O expositor portuguez ou rudimentos

de ensino da lingua materna (1831)

209

Figura 11 Folha de rosto da 9ordf ediccedilatildeo do livro Historia de Simatildeo de Nantua

ou O mercador de feiras (1867)

212

Figura 12 Modelos de penas de accedilo 221

Figura 13 Capas das ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute (1871 e 1877) 238

Figura 14 Primeira carta do meacutetodo Bacadafaacute (1871) 241

Figura 15 Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada (1871) 245

11

Figura 16 Carta de nomes do Meacutetodo Bacadafaacute 246

Figura 17 Folha de rosto da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

261

Figura 18 Paacutegina 20 da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para uso da infancia brasileira (1867)

266

12

LISTA DE QUADROS ____________________________________

Quadro 1 Grupos de Pesquisa sobre Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo localizados

no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil

70

Quadro 2 Mapa da turma da Escola do 2ordm grau da instruccedilatildeo primaacuteria em

Vila de Meiaponte (1837)

141

Quadro 3 Mapa mensal da turma da Freguesia de Santa Rita do

Paranaiacuteba (1867)

141

Quadro 4 Catecismos e ou Livros de Doutrina Cristatilde usados nas escolas

goianas 1835-1886

174

Quadro 5 Livros ou Manuais usados nas escolas goianas 1835-1886 177

13

LISTA DE TABELAS ____________________________________

Tabela 1 Populaccedilatildeo do Estado de Goiaacutes 29

Tabela 2 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees identificadas no Banco de dados da Capes a partir da busca com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo

55

Tabela 3 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees selecionadas no Banco de

dados da Capes

59

Tabela 4 Quantidade de dissertaccedilotildees identificadas com o tema alfabetizaccedilatildeo nas bibliotecas digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

62

Tabela 5 Quantidade de dissertaccedilotildees e teses identificadas no Banco de dados da Capes com os termos relacionados na tabela

65

Tabela 6 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por ano sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

67

Tabela 7 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por universidade sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

74

Tabela 8 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo dos estados brasileiros

78

Tabela 9 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por periacuteodo da histoacuteria do Brasil

83

14

SUMAacuteRIO ____________________________________

APRESENTACcedilAtildeO 16

INTRODUCcedilAtildeO 32

PARTE I ndash ldquoPASSEANDO PELOS ARREDORESrdquo DO CAMPO DA ALFABETIZACcedilAtildeO OS

DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE O OBJETO DE PESQUISA

50

1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 51

11 Alfabetizaccedilatildeo um tema em diferentes discursos 52

12 As teses e dissertaccedilotildees do campo temaacutetico da histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo lugares periacuteodos e fontes

64

13 Consideraccedilotildees parciais 84

PARTE II ndash ALFABETIZANDO CRIANCcedilAS NA PROVIacuteNCIA DE GOIAacuteS 86

2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo imperial 87

21 1835 a 1869 90

22 1869 a 1886 119

23 Consideraccedilotildees parciais 134

3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes 136

31 Impressos para ensinar a ler e escrever 139

32 Impressos para o ensino da leitura corrente 172

33 Consideraccedilotildees parciais 182

4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes 188

41 Um professor goiano no Rio de Janeiro impressotildees sobre os

meacutetodos Castilho e Simultacircneo

196

42 Repercussotildees da viagem de Primo Jardim na proviacutencia goiana 214

43 Consideraccedilotildees parciais 227

5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes 231

51 O Meacutetodo Bacadafaacute de Antonio Pinheiro de Aguiar 235

52 Os livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges 251

53 Consideraccedilotildees parciais 270

15

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 273

REFEREcircNCIAS 280

FONTES 312

Fontes citadas na Apresentaccedilatildeo 313

Fontes citadas na Introduccedilatildeo 313

Fontes citadas na Seccedilatildeo 1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo

imperial

314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas em Goiaacutes

320

Fontes citadas na Seccedilatildeo 4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

324

Fontes citadas na Seccedilatildeo 5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

329

Fonte citada nas Consideraccedilotildees Finais 334

Listas de Expediente Escolar e Mapas de Turmas 334

16

APRESENTACcedilAtildeO ____________________________________

ldquoSomos o que lemosrdquo2

A literatura eacute sempre um convite para um mergulho3 em terras inabitaacuteveis em

horizontes desconhecidos em caminhos abstratos As histoacuterias impressas em

paacuteginas marcam e selam seus leitores de uma forma ou outra a literatura provoca e

transforma Como algueacutem apaixonado por literatura natildeo poderia iniciar este trabalho

sem evocaacute-la procurando inspiraccedilatildeo entre os escritos de autores da literatura

brasileira para abrir estas reflexotildees

Iniciemos com O Ateneu de Raul Pompeacuteia Quando o pai de Seacutergio

personagem principal do enredo o deixa na porta do Ateneu e diz ldquoVais encontrar o

mundordquo uma sucessatildeo de fatos se desenrola desnudando o cotidiano de um

internato do Rio de Janeiro A escola na voz do pai seria o ambiente que

transformaria a vida do filho tirando-o do seio materno e inserindo-o numa instituiccedilatildeo

social diferente da famiacutelia A escola narrada por Pompeacuteia numa perspectiva histoacuterica

eacute o retrato dos modos de educar no regime imperial Sobre o processo de aprendizado

da leitura Seacutergio nos conta

Eu aprendera a ler pelos livros elementares de Aristarco e o supunha velho como o primeiro4 poreacutem rapado de cara chupada pedagoacutegica oacuteculos apocaliacutepticos carapuccedila negra de borla fanhoso onipotente e

2 Trecho de Alberto Manguel (1997 p 201) no livro Uma histoacuteria da leitura 3 Sim mergulho Paradoxalmente um mergulho em terras 4 ldquoO primeirordquo refere agrave imagem de Cristo descrita anteriormente pelo personagem

17

mau com uma das matildeos para traacutes escondendo a palmatoacuteria e doutrinando agrave humanidade o becirc-aacute-baacute (POMPEacuteIA 1996 p 8)

No Conto de Escola de Machado de Assis um garoto em 1840 relutante em ir

agrave escola relata sobre seus sentimentos em relaccedilatildeo ao coleacutegio e suas impressotildees com

as liccedilotildees de gramaacutetica

Para cuacutemulo de desespero vi atraveacutes das vidraccedilas da escola no claro azul do ceacuteu por cima do morro do Livramento um papagaio de papel alto e largo preso de uma corda imensa que bojava no ar uma coisa soberba E eu na escola sentado pernas unidas com o livro de leitura e a gramaacutetica nos joelhos (ASSIS 2002 p 207)

Os livros de leitura e as aulas da professora de Ernesto e Eugecircnio personagens

da obra Olhai os liacuterios do campo de Eacuterico Veriacutessimo marcaram suas vidas Algumas

leituras e livros ficam eternizados em nossas memoacuterias quem natildeo se lembra das

histoacuterias que povoaram a infacircncia Haacute textos que nos remetem a lugares cheiros

sabores pessoas

Eugecircnio tinha uma grande pena do pai mas natildeo conseguia amaacute-lo Sabia que os filhos devem amar os pais A professora falava na aula em amor filial contava histoacuterias dava exemplos Mas por mais que se esforccedilasse Eugecircnio natildeo lograva ir aleacutem da piedade Tinha pena do pai Porque ele tossia porque ele suspirava porque ele se lamentava porque ele se chamava Acircngelo Acircngelo eacute nome de gente infeliz nome de assassinado Ernesto natildeo podia olhar para o pai sem se lembrar da seacutetima liccedilatildeo do Segundo Livro de Leitura Sentira ao lecirc-la pela primeira vez uma comoccedilatildeo tatildeo grande que ficara um dia inteiro sob a impressatildeo da trageacutedia (VERIacuteSSIMO 1995 p 9-10)

As cenas transcritas acima registraram em estilo literaacuterio o fazer da escola e

o ensino da leitura e da escrita em eacutepocas e espaccedilos diferentes No entanto satildeo

registros de personagens que talvez natildeo tenham existido mas que se lidos numa

perspectiva sincrocircnica ao tempo que retratam instigam-nos a pensar mais sobre uma

histoacuteria que todos noacutes vivemos a nossa alfabetizaccedilatildeo Desse modo pesquisar a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo muito aleacutem de historiografar praacuteticas meacutetodos livros eacute falar

de pessoas que ensinaram e aprenderam a leitura e a escrita da liacutengua materna

E por que um estudo histoacuterico sobre alfabetizaccedilatildeo

Vidal (2014) refletindo sobre a questatildeo ldquoEm que os estudos de natureza

histoacuterica sobre o ensino da leitura escrita podem contribuir com as praacuteticas de

alfabetizaccedilatildeo na atualidaderdquo nos auxilia na proposiccedilatildeo de uma resposta agrave pergunta

[] o passado natildeo lega ao presente uma foacutermula de sucesso a ser recuperada nem necessariamente uma liccedilatildeo As vaacuterias abordagens

18

que fazemos do ontem nos alertam para a multiplicidade dos possiacuteveis de cada momento histoacuterico inscritos nas relaccedilotildees sociais de poder Oferecem exemplos sobre o que foi feito ampliando nosso repertoacuterio de praacuteticas [] Suscitam reconhecer que a nossa relaccedilatildeo com o ontem eacute simultaneamente de continuidade e ruptura atribuindo vaacuterias camadas de temporalidade ao passado Instigam-nos por fim a perscrutar os modos como atribuiacutemos sentido ao mundo e significamos nossa experiecircncia preteacuterita e atual levando em consideraccedilatildeo a materialidade da vida (VIDAL 2014 p 12-13)

Em consonacircncia Mortatti (2008) advoga a necessidade de conhecer o passado

da alfabetizaccedilatildeo natildeo para ressuscitaacute-lo agrave procura de soluccedilotildees para os problemas de

hoje tampouco para conceber o presente como uma repeticcedilatildeo simplista do que

ocorreu em tempos anteriores e sim para provocar pesquisas que suscitem novos

olhares novas questotildees e proposiccedilotildees

Eacute evidente que a alfabetizaccedilatildeo eacute um ldquocampo discursivordquo5 de frequentes

disputas tanto nas esferas poliacutetica e midiaacutetica como tambeacutem na acadecircmica

Apoiando-nos na pesquisa de Mortatti (2000) eacute possiacutevel dizer que os sentidos

atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo pelos sujeitos nas diferentes instituiccedilotildees (partidos

poliacuteticos governos universidades grupos de pesquisa meios de comunicaccedilatildeo)

evidenciam a homeacuterica luta entre Fracasso versus Sucesso no processo de

alfabetizaccedilatildeo Nas palavras da autora

[] visando agrave ruptura com seu passado determinados sujeitos

produziram em cada momento histoacuterico determinados sentidos

que consideravam modernos e fundadores do novo em relaccedilatildeo

ao ensino da leitura e escrita Entretanto no momento seguinte

esses sentidos acabaram por ser paradoxalmente configurados

pelos poacutesteros imediatos como um conjunto de semelhanccedilas

indicadoras da continuidade do antigo devendo ser combatido

como tradicional e substituiacutedo por um novo sentido para o

moderno (MORTATTI 2000 p 23 grifos nossos)

Ou seja haacute sempre um discurso em contraposiccedilatildeo a outro que

intencionalmente refuta ideias para marcar um territoacuterio autoral

No acircmbito poliacutetico-partidaacuterio uma situaccedilatildeo recente foi a mudanccedila preconizada

pela Base Nacional Comum Curricular (BRASIL 2017) que modificou a proposta do

ciclo de alfabetizaccedilatildeo considerando que a crianccedila deve estar plenamente

alfabetizada ateacute o fim do segundo ano do Ensino Fundamental O projeto revela

5 Expressatildeo utilizada em conformidade com a definiccedilatildeo feita por Maingueneau (2005)

19

claramente um embate entre posiccedilotildees partidaacuterias (Partido dos Trabalhadores versus

Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro) jaacute que os documentos publicados

durante o governo petista dos presidentes Luiz Inaacutecio Lula da Silva e Dilma Rousseff

ndash que antecederam o governo do presidente peemedebista Michel Temer ndash garantiam

a alfabetizaccedilatildeo ateacute o final do terceiro ano do Ensino Fundamental Haacute que se registrar

tambeacutem que no atual governo presidencial de Jair Bolsonaro o tema alfabetizaccedilatildeo

ocupou alguns discursos dos integrantes do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que fizeram

apologia ao meacutetodo focircnico Aleacutem disso foi instituiacuteda a Poliacutetica Nacional de

Alfabetizaccedilatildeo por meio do Decreto nordm 9765 de 11 de abril de 2019 (BRASIL 2019)

tomando como base uma noccedilatildeo restrita de alfabetizaccedilatildeo enfatizando os aspectos

fonecircmicos do aprendizado da liacutengua portuguesa Outrossim o termo letramento natildeo

foi mencionado

Na imprensa os comentaacuterios dos jornalistas sobre determinados fazeres

pedagoacutegicos sobre as taxas de avaliaccedilotildees externas e os iacutendices de analfabetismo

(funcional e absoluto) tentam demonstrar ndash de forma banal ndash o que eacute ldquocorreto ou natildeordquo

para ensinar a ler e escrever Os comentaacuterios nas colunas do economista Claudio de

Moura Castro e do jornalista Alexandre Garcia por exemplo veiculados pela miacutedia

impressa ou televisiva hora ou outra causam polecircmicas sobre a escola brasileira e

seu desafio de alfabetizar Outro exemplo eacute uma revista de circulaccedilatildeo nacional dirigida

aos professores Nova Escola atualmente mantida pela Fundaccedilatildeo Lemann A

alfabetizaccedilatildeo eacute um tema recorrente e quase sempre ocupa uma ou mais mateacuterias de

suas ediccedilotildees formando a opiniatildeo do puacuteblico leitor

No meio acadecircmico como assevera Goulart (2014)

Ao enfrentarmos temas polecircmicos constituiacutemos e confrontamos argumentos de postos de observaccedilatildeo diferentes dos apresentados por aqueles com que dialogamos A criacutetica pela criacutetica natildeo constroacutei Quando falamos entretanto em nome de concepccedilotildees de sociedade de ser humano e de ensino-aprendizagem instauramos o debate que ganha corpo e se adensa [] O ponto de partida envolve respeito pelas posiccedilotildees alheias ndash natildeo um respeito obsequioso e passivo mas um respeito ativo e vivo que inclui considerar a importacircncia do diaacutelogo do pensamento divergente da possiacutevel revisatildeo de caminhos que pode ser desencadeada de ambos os lados capaz de gerar avanccedilos renovaccedilotildees de posturas teoacuterico-metodoloacutegicas e novos pontos de ancoragem (GOULART 2014 p 327)

De fato eacute necessaacuterio instaurar o diaacutelogo aleacutem dos muros das universidades

dos grupos de pesquisas dos projetos institucionais afinal o conhecimento eacute movido

20

pelas incertezas pois ldquonatildeo haacute homogeneidade nos lsquosentidosrsquo atribuiacutedos agrave

alfabetizaccedilatildeo no que se refere ao SABER na verdade haacute uma multiplicidade de

SABERES no plural natildeo um SABER sobre a alfabetizaccedilatildeordquo (SOARES 2014 p 29

grifo da autora)

Logo eacute premente estudar a alfabetizaccedilatildeo em suas ldquomuacuteltiplas facetasrdquo tal como

nos ensinou e propocircs a mestra Magda Soares (1985) No caso desta tese

contemplamos a ldquofaceta histoacuterica da alfabetizaccedilatildeordquo6 tendo como loacutecus de pesquisa

o estado de Goiaacutes

Fonseca (2003) ao refletir sobre o lugar da histoacuteria da educaccedilatildeo e suas

relaccedilotildees com diferentes abordagens historiograacuteficas verifica que comparativamente

agrave produccedilatildeo cientiacutefica nacional as publicaccedilotildees internacionais tecircm demonstrado maior

preocupaccedilatildeo com investigaccedilotildees histoacuterias na aacuterea da educaccedilatildeo Retomando

importantes pesquisas7 evidencia que a educaccedilatildeo foi tratada ora como um campo de

investigaccedilatildeo autocircnomo ora como um tema possiacutevel numa dada corrente

historiograacutefica

Saviani (2005) explica que no Brasil pelo fato de a histoacuteria da educaccedilatildeo

compor-se mais como um campo de pesquisadores formados em Pedagogia8 ldquoos

historiadores de modo geral acabam por natildeo incluir a educaccedilatildeo entre os domiacutenios

da investigaccedilatildeo histoacutericardquo (SAVIANI 2005 p 20-21) Tal questatildeo pode ser ilustrada

com as obras de Cardoso e Vainfas (1997 2012) Os autores ao organizarem os dois

tomos sobre os Domiacutenios da Histoacuteria natildeo incluiacuteram a educaccedilatildeo entre os territoacuterios do

historiador No entanto embora a disciplina histoacuteria da educaccedilatildeo tenha nascido no

bojo das Escolas Normais na preparaccedilatildeo dos professores para atuar no ensino

primaacuterio e posteriormente sido integrada nos curriacuteculos do curso de Pedagogia as

pesquisas da historiografia educacional procuram aparato conceitual-metodoloacutegico

mais na Histoacuteria do que propriamente na Pedagogia

Em torno da pesquisa e dos estudos pedagoacutegicos configuram-se diferentes

mateacuterias e aacutereas do conhecimento que estatildeo relacionadas essencialmente agrave praacutetica

6 Tomamos essa expressatildeo de empreacutestimo de Frade (2011) 7 Fonseca (2003) cita as pesquisas de Keith Thomas Daniel Roche Jean-Pierre Rioux Serge Gruzinski Franccedilois Furet Jacques Ozouf Pierre Nora Jean Heacutebrard Dominique Julia Roger Chartier Jacques Le Goff Philippe Ariegraves e outros pesquisadores ligados agrave Nova Histoacuteria 8 A Pedagogia que antes era uma disciplina ministrada na escola normal tornou-se a partir de 1939 (Cf SAVIANI 2005) um curso superior (graduaccedilatildeo) com curriacuteculo vasto em mateacuterias pedagoacutegicas habilitando o professor para atuar nas primeiras etapas da educaccedilatildeo baacutesica

21

educativa tais como metodologias de ensino planejamento praacuteticas de ensino

leitura escrita gestatildeo escolar etc A histoacuteria da educaccedilatildeo pode se ocupar de

investigar os aspectos histoacutericos de todas essas aacutereas mas ao contraacuterio delas natildeo

estaacute a serviccedilo diretamente das habilitaccedilotildees pedagoacutegicas A histoacuteria da educaccedilatildeo

pertence aos fundamentos da educaccedilatildeo

No universo da pesquisa na perspectiva historiograacutefica proposta por Pesavento

(2003) a educaccedilatildeo eacute uma temaacutetica pertencente ao campo metodoloacutegico da histoacuteria

cultural9 Destarte a histoacuteria da educaccedilatildeo natildeo estaacute inscrita em uma uacutenica corrente

historiograacutefica e aleacutem disso vaacuterios outros campos temaacuteticos encontram-se abrigados

em sua macroestrutura A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo ou a ldquohistoacuteria do ensino inicial de

leitura e escritardquo 10 eacute um exemplo disso

Sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Soares (2006 p 7) aponta que ldquoa

pesquisa histoacuterica eacute uma tendecircncia que vem se acentuando nos estudos sobre

educaccedilatildeo e o ensino no Brasil nas uacuteltimas deacutecadas Na aacuterea da alfabetizaccedilatildeo e da

leitura essa tendecircncia tem sido talvez mais intensa que em outras aacutereasrdquo Como a

alfabetizaccedilatildeo eacute um processo que envolve a aprendizagem de dois aspectos

essenciais em uma sociedade letrada a leitura e escrita fazer a sua historiografia

demanda enormes dificuldades ldquoEacute que as praacuteticas de ensino se perdem na

transitoriedade de sua ocorrecircncia na natureza oral e portanto fugidia de seu

exerciacutecio na ausecircncia de registro de sua realizaccedilatildeo Ficam algumas poucas e raras

fontes []rdquo (SOARES 2006 p 7) Ainda nessa linha de raciociacutenio Magalhatildees afirma

No momento atual a investigaccedilatildeo [sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo] eacute de fato ainda muito reduzida em face da imensidatildeo do tema e das problemaacuteticas que sugere Eacute uma investigaccedilatildeo que depara com uma total ausecircncia de informaccedilatildeo histoacuterica em sentido direto Tambeacutem no niacutevel de fontes indiretas escasseiam quer os sinais autograacuteficos quer indicaccedilotildees sobre niacuteveis de analfabetismo [] As informaccedilotildees sobre a circulaccedilatildeo do livro e as praacuteticas de leitura satildeo igualmente escassas

9 Pesavento (2003) na trajetoacuteria da historiografia apresenta trecircs grandes campos metodoloacutegicos a histoacuteria-narrativa (historicista e positivista) a histoacuteria cultural e o marxismo Para maiores informaccedilotildees cf Bourdeacute e Martin (sd) na obra As Escolas Histoacutericas Esses trecircs campos metodoloacutegicos datildeo origem agraves correntes historiograacuteficas que por sua vez abrigam os campos temaacuteticos 10 Encontramos a menccedilatildeo a essa terminologia em Mortatti (2008 2009) Em Boto (2011) as denominaccedilotildees ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo e ldquohistoacuteria do ensino inicial da leitura e da escritardquo satildeo utilizadas como sinocircnimas Consideramos de igual maneira ambas as terminologias como sinocircnimas cientes conforme Mortatti (2004 p 59-60) aponta de que o termo recorrente utilizado na imprensa pedagoacutegica nos manuais e na legislaccedilatildeo para se referir ao aprendizado da liacutengua maternapaacutetria ateacute o iniacutecio do seacuteculo XX era ldquoensino de leitura (e escrita)rdquo Para compreender o surgimento do vocaacutebulo alfabetizaccedilatildeo cf Mortatti (2004)

22

no entanto nas cozinhas tradicionais natildeo raro se encontrava um moacutevel com alguns livros ndash catecismo livros de cuidados de sauacutede escrituraccedilotildees diversas Nesse sentido o historiador da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo depara com grande dificuldade de informaccedilatildeo []

(MAGALHAtildeES 2002 p 132)

Ao mesmo tempo em que existem essas dificuldades o campo temaacutetico da

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo11 foi-se instituindo substancialmente com uma natureza

hiacutebrida (MORTATTI 2011 2011a) Nos termos de Mortatti

[] nesta primeira deacutecada do seacuteculo XXI constata-se a tendecircncia agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo se constituir como campo de conhecimento especiacutefico e autocircnomo por meio da crescente definiccedilatildeo de objetos de estudo fontes documentais vertentes teoacutericas e abordagens metodoloacutegicas Tal tendecircncia por sua vez vem-se explicitando sem prejuiacutezo das possibilidades de estudos e pesquisas necessariamente interdisciplinares a fim de se explorarem os diferentes aspectos envolvidos na complexidade e na multifacetaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo (MORTATTI 2011a p 2)

Nessa linha interdisciplinar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo faz um diaacutelogo

incessante com outros campos temaacuteticos12 natildeo restritos agrave educaccedilatildeo podendo-se

citar histoacuteria do livro (incluindo aspectos que vatildeo da materialidade a uma cultura

imaterial etc) histoacuteria da mulher (sua escolarizaccedilatildeo e o empoderamento feminino

mediante a aprendizagem da leitura e escrita etc) histoacuteria do corpo (dos

gestosposiccedilotildees e culturas para aprendizagem da leitura e escrita dos meacutetodos de

repressatildeo corporal etc) histoacuteria da tecnologia e da comunicaccedilatildeo (suas influecircncias

para a transformaccedilatildeo dos modos de alfabetizar durante a histoacuteria etc) histoacuteria da

literatura etc (MORTATTI 2011) Frade (2018) ainda indica que

a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo como o estudo de formas preteacuteritas de ensinoaprendizagem da tecnologia da escrita de sua manifestaccedilatildeo no contexto das instituiccedilotildees as mais diversas dos meacutetodos para sua transmissatildeo dos materiais que estatildeo em jogo na sua apropriaccedilatildeo das praacuteticas empreendidas pelos sujeitos e grupos sociais em torno do processo de aquisiccedilatildeo inicial da escrita e de seus efeitos sociais e culturais na sociedade (FRADE 2018 p 39-40)

11 Eacute importante ressaltar que a expressatildeo ldquocampo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo foi amplamente difundida por Maria do Rosaacuterio Longo Mortatti e por ela sistematizada na coletacircnea Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria (MORTATTI 2011) A obra eacute fruto do I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita (SIHELE) realizado em Mariacutelia na Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP) em 2010 com o tema ldquoA constituiccedilatildeo do campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasilrdquo Reconhecemos que os estudos de Mortatti contribuiacuteram para a delimitaccedilatildeo desse campo (MORTATTI 2011b) 12 Tal questatildeo foi apontada e refletida por Frade (2011) ficando em evidecircncia na coletacircnea organizada por Mortatti (2011)

23

No meio acadecircmico brasileiro a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo foi ganhando

reconhecimento e espaccedilo sobretudo entre os fins do seacuteculo XX e a primeira deacutecada

do seacuteculo XXI quando pesquisas em teses e dissertaccedilotildees foram divulgadas13 Nesse

ponto eacute importante referenciar que o trabalho de Mortatti (2000) Os sentidos da

Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 destaca-se no universo cientiacutefico como aquele

que no seacuteculo XX marcou os estudos temaacuteticos acadecircmicos sobre a histoacuteria do

ensino de leitura e escrita no Brasil

Nesse mesmo percurso eventos cientiacuteficos passaram a inserir a historiografia

da leitura da cultura escrita e da alfabetizaccedilatildeo como eixo temaacutetico eou mote de

congressos e seminaacuterios Um dos marcos foi o Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria

do Ensino de Leitura e Escrita (SIHELE) coordenado pela Professora Maria do

Rosaacuterio Longo Mortatti cuja primeira ediccedilatildeo foi realizada em Mariacutelia na Universidade

Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP) em setembro de 201014 e a

segunda em Belo Horizonte na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em

julho de 2013 Mais recente outro marco foi a incorporaccedilatildeo em 2015 do Simpoacutesio

Temaacutetico sobre a Histoacuteria da Cultura Escrita no 8ordm Congresso de Pesquisa e Ensino

de Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Minas Gerais (COPEHE) Na 9ordf ediccedilatildeo desse congresso

ocorrida em 2017 a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo foi inserida como eixo especiacutefico para

submissatildeo de trabalhos em comunicaccedilatildeo oral15

A pesquisa Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento realizada por

Soares (1989) e posteriormente por Soares e Maciel (2000)16 fez um panorama das

13 Tal questatildeo ficou evidenciada na obra de Mortatti (2011) Na Parte 1 dessa tese trataremos com maiores detalhes do estado do conhecimento das pesquisas de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil 14 Mortatti (2011a) aponta que embora jaacute existissem no ano da realizaccedilatildeo do I SIHELE eventos cientiacuteficos que abordavam temaacuteticas semelhantes agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo natildeo havia ateacute aquele momento um evento que tratasse especificamente sobre o assunto Como exemplo desses outros eventos a autora cita o Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo e o Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Na mesma linha haacute tambeacutem os grupos de trabalho ldquoHistoacuteria da Educaccedilatildeordquo e ldquoAlfabetizaccedilatildeo leitura e escritardquo da Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo (ANPEd) Para maiores informaccedilotildees acerca do I SIHELE cf Mortatti (2011a) 15 Vale referenciar que no 9ordm COPEHE dos 219 trabalhos inscritos para as comunicaccedilotildees orais apenas 9 pertenciam ao eixo temaacutetico 12 ndash Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e Escolarizaccedilatildeo 16 Na pesquisa de Soares (1989) foram analisados artigos publicados em 21 perioacutedicos especializados dissertaccedilotildees e teses excluindo-se capiacutetulos de livros e relatoacuterios de pesquisa natildeo publicados Jaacute em Soares e Maciel (2000) devido ao aumento substancial da produccedilatildeo acadecircmica e cientiacutefica sobre a alfabetizaccedilatildeo as pesquisadoras delinearam como corpus de anaacutelise as dissertaccedilotildees e teses

24

investigaccedilotildees sobre a alfabetizaccedilatildeo no Brasil Ambas as publicaccedilotildees evidenciaram

apenas uma pesquisa classificada do tipo histoacuterico entre os anos de 1954 a 1989

(DIETZSCH 1979) Por pesquisa histoacuterica Soares e Maciel (2000) entendem que

satildeo pesquisas que descrevem e analisam fatos ou fenocircmenos do passado o que foi como foi por que foi assim ndash ou seja como nas pesquisas descritivo-explicativas a pesquisa histoacuterica identifica eou descreve eou explica com a diferenccedila de que aquelas se referem a fatos ou fenocircmenos contemporacircneos ao pesquisador e esta a fatos passados (SOARES MACIEL 2000 p 58-59)

Na tese de doutorado de Silva (1998)17 a autora acrescenta ao levantamento

de Soares (1989) duas outras produccedilotildees acadecircmicas sobre a historiografia da

alfabetizaccedilatildeo brasileira

A primeira eacute um relatoacuterio de pesquisa intitulado ldquoNiacuteveis de alfabetizaccedilatildeograus

de instruccedilatildeo do processo modernizador brasileiro 1872-1920rdquo apresentado por Arno

Wehling ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

(INEP) e ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC)18

O segundo trabalho eacute a dissertaccedilatildeo de mestrado de Ana Maria Arauacutejo Freire

defendida no acircmbito do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica

Sociedade da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP) em 1988

Essa pesquisa traz importantes dados estatiacutesticos sobre a histoacuteria do analfabetismo

no Brasil desde o periacuteodo colonial ateacute a primeira repuacuteblica Freire (1988) aponta o

analfabetismo como fenocircmeno historicamente estabelecido pelos contextos poliacuteticos

e econocircmicos

Do final da deacutecada de 1980 ao quase fim da segunda deacutecada do seacuteculo XXI

muitos outros trabalhos foram realizados Ao tratar sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

sempre haacute referecircncia a um lugar um estado ou municiacutepio ou escola Alguns estados

brasileiros se destacam nessas pesquisas outros foram pouco evidenciados19 Nesse

sentido esta tese tem como cenaacuterio o estado de Goiaacutes (GO) E por que esse estado

Apesar de eu ser goiano de nascenccedila e ainda residindo no estado nunca havia

me interessado pelas questotildees histoacutericas de Goiaacutes No entanto desde 2006 na minha

primeira graduaccedilatildeo a alfabetizaccedilatildeo eacute um tema que aprecio muito No mestrado na

17 Essa tese encontra-se publicada em livro pela Editora UNICAMP (SILVA 2015) 18 Na tese de Silva (1998) natildeo haacute referecircncia ao ano de publicaccedilatildeo desse relatoacuterio natildeo o haacute tambeacutem no curriacuteculo lattes de Wehling consultado em julho de 2019 19 Na seccedilatildeo 1 apresentamos um panorama geral das pesquisas da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por estado

25

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) pesquisei sobre o processo de

escrita argumentativa tomando como foco a crianccedila do ciclo de alfabetizaccedilatildeo 1ordm ao

3ordm ano do Ensino Fundamental (ROCHA 2012) Durante o percurso na UNICAMP em

2010 participei do I SIHELE juntamente com um grupo de colegas e pesquisadores

do ALLE (Grupo de Pesquisa Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita ndash UNICAMPCNPq)

Para esse seminaacuterio preparei um texto para comunicaccedilatildeo oral sobre a historiografia

das praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo no sul goiano Muito timidamente eu iniciava a minha

incursatildeo na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes sinalizando ao final do artigo

apresentado no seminaacuterio algo que viria a se tornar o meu objeto de estudo no

doutorado ldquovale destacar que nossa intenccedilatildeo futura para esta pesquisa eacute de se

engajar no estudo para quem sabe documentar as praacuteticas de leitura e escrita em

Goiaacutesrdquo (ROCHA 2010 p 6)

Durante o I SIHELE alguns fatos curiosos me chamaram a atenccedilatildeo As mesas

redondas propostas natildeo contemplavam nenhuma pesquisa sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes outro fato foi uma imagem exposta no hall de entrada do

auditoacuterio do evento na Faculdade de Filosofia e Ciecircncias da UNESP um mapa do

Brasil com indicaccedilatildeo dos estados de origem dos pesquisadores inscritos no

Seminaacuterio

Figura 1 Mapa do Brasil exposto no I SIHELE quantidade por estado de participantes

inscritos no evento

Fonte Acervo pessoal do autor setembro de 2010

26

Essa imagem ficou renitente em minha memoacuteria durante muito tempo e me fez

constatar numa anaacutelise dos Anais do Seminaacuterio que somente duas pessoas de Goiaacutes

estavam inscritas e apenas a minha pesquisa tratava sobre a historiografia do ensino

de leitura e escrita no territoacuterio goiano A partir de entatildeo venho me dedicando a

compreender a trajetoacuteria histoacuterica da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes visitando

arquivos puacuteblicos e privados conversando com pessoas procurando parcerias

participando de eventos sobre a temaacutetica inventariando fontes que auxiliem na escrita

destas paacuteginas da histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

ldquoAMO E CANTO COM TERNURA

TODO O ERRADO DA MINHA TERRArdquo20

A histoacuteria do estado de Goiaacutes21 eacute narrada geralmente a partir da chegada dos

bandeirantes paulistas nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XVIII agrave procura de ouro na

regiatildeo (PALACIacuteN MORAES 1994) No entanto o territoacuterio goiano jaacute era povoado por

iacutendios pertencentes ao grupo macro-jecirc ldquoum grupo genuinamente brasileiro pois natildeo

se estendeu a outros paiacuteses como ocorreu com os tupis guaranisrdquo (PALACIacuteN

GARCIA AMADO 2001 p 12)

O sertatildeo goiano como ficou retratado nos relatos de viagens de cronistas do

periacuteodo colonial era uma terra de ldquoselvagensrdquo e ldquobaacuterbarosrdquo de aacutervores retorcidas e

frutos nativos de chatildeo feacutertil e muita seca Silva e Souza (1872)22 baseado na tradiccedilatildeo

oral conseguiu enumerar dezoito naccedilotildees indiacutegenas em Goiaacutes quase um seacuteculo apoacutes

a instalaccedilatildeo dos bandeirantes na regiatildeo agraves margens do Rio Vermelho (hoje Cidade

de Goiaacutes) No texto Memoria sobre o descobrimento governo populaccedilatildeo e cousas

mais notaacuteveis da Capitania de Goyaz Silva e Souza (1872) ainda relata os costumes

20 Trecho do poema ldquoBecos de Goiaacutesrdquo de Cora Coralina (1980 p 93) extraiacutedo do livro Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais 21 Natildeo temos o objetivo de copilar nas pouquiacutessimas paacuteginas deste item a histoacuteria do estado de Goiaacutes Eacute importante destacar que a intenccedilatildeo eacute apresentar ao leitor um pouco do percurso poliacutetico e histoacuterico do estado bem como suas particularidades na diversidade e extensatildeo territorial da cultura brasileira 22 O texto de Souza e Silva tem data de 30 de setembro de 1812 no entanto foi publicado na Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro no 4ordm trimestre de 1849 O exemplar a que tivemos acesso eacute de 1872 correspondente agrave 2ordf ediccedilatildeo

27

dessas tribos que ocupavam a extensatildeo da Capitania de Goiaacutes com tradiccedilotildees e um

legado proacuteprios das suas culturas

Cayaporsquos Naccedilatildeo bravissima e muito numerosa que com os seus ataques obstou em principio ao augmento da capital e hoje residentes nas aldecircas Maria e S Joseacute ainda que existem muitos ao sul de Villa-Boa tendo diferentes aldecircas [] satildeo valentes e guerreiros usam aleacutem do arco e frecha em que satildeo destrissimos de certos paacuteos cortados e rijos com que pelejam de perto tecircm alguns ritos judaicos admitem a polygamia e o divorcio contam os mezes por luas fazem festas e ajuntamentos nocturnos em que em confuso procuram a propagaccedilatildeo fazem as exequias dos seus mortos com danccedilas e se tingem de negro em as ocasiotildees do seu sentimento nas vizinhanccedilas da Paschoa pintam em si com tinta de jenipapo botinas peitos de armas e fazem entatildeo com grande vozeria as suas festas e jogos sendo o mais celebre o que chamam de touro em que disputam uns com os outros as forccedilas na carreira tomando uns do hombro de outros um grande tronco que empregam nrsquoeste ministerio (SILVA SOUZA 1872 p 494-495)

Segundo Silva e Souza (1872) e Pedroso (1992) a regiatildeo sul de Goiaacutes era

habitada pelos iacutendios Caiapoacutes Com a entrada das bandeiras23 paulistas no territoacuterio

goiano muitos desses iacutendios tornaram-se escravos na exploraccedilatildeo do ouro No

referido relato de Silva e Souza (1872) o autor ainda enumera alguns dos argumentos

utilizados pelos bandeirantes na escravizaccedilatildeo dos indiacutegenas que circulam em torno

do discurso do selvagem que precisa ser contido devido a sua natureza feroz

expressa nas lutas travadas entre os iacutendios e bandeirantes no processo de

colonizaccedilatildeo Outro argumento eacute o da guerra santa ou guerra justa justificativa aceita

pela legislaccedilatildeo da eacutepoca que era condescendente com a escravidatildeo dos povos

nativos quando esses lutavam e perdiam ou ateacute mesmo quando alguma tribo era

hostil com os colonizadores fato bem provaacutevel de acontecer no sistema de conquistas

de terras empregado pelos portugueses

Aleacutem do fato da existecircncia de indiacutegenas no territoacuterio goiano vaacuterias foram as

bandeiras que passaram pelo estado desde o final do seacuteculo XVI o que contraria a

versatildeo oficial apresentada por muitos anos nos livros didaacuteticos de histoacuteria regional de

Goiaacutes que confere agrave renomada bandeira chefiada por Bartolomeu Bueno da Silva o

Anhanguera24 a responsabilidade pelo descobrimento de Goiaacutes

23 ldquoA bandeira era uma expediccedilatildeo organizada militarmente e tambeacutem uma espeacutecie de sociedade comercial Cada um dos participantes entrava com uma parcela da capital que consistia ordinariamente em certo nuacutemero de escravosrdquo (PALACIacuteN MORAES 1994 p 21) 24 Nome dado pelos indiacutegenas que significa ldquodiabo velhordquo

28

Em vias de explorar o ouro descoberto no Rio Vermelho a regiatildeo comeccedilou a

ser povoada pelos colonizadores no iniacutecio do seacuteculo XVIII surgindo numerosos

arraiais a partir da conglomeraccedilatildeo de garimpos e construccedilatildeo de capelas para

disseminaccedilatildeo da feacute catoacutelica nos rincotildees de todo o territoacuterio goiano Com o crescimento

da populaccedilatildeo instituiu-se em 1749 a Capitania de Goiaacutes governada pelo Conde dos

Arcos Jaacute com a Independecircncia em 1822 passou a denominar-se Proviacutencia de Goiaacutes

Nesse periacuteodo a sociedade organizada em torno da exploraccedilatildeo mineradora entrava

em decadecircncia regredindo agrave economia de subsistecircncia nos moldes de uma

sociedade pastoril (PALACIacuteN MORAES 1994)

Desde a instalaccedilatildeo das capitanias ateacute sua transformaccedilatildeo em proviacutencia Goiaacutes

ocupou uma grande extensatildeo territorial como se pode constatar nos mapas poliacuteticos

da eacutepoca sobretudo os do periacuteodo imperial Suas fronteiras tais como conhecemos

hoje satildeo consequecircncia de movimentos partidaacuterios e defesas em prol do

desenvolvimento econocircmico e cultural do norte ao sul do estado Esses movimentos

especialmente o Separatista do Norte liderado inicialmente em 1821 pelo capitatildeo

Felipe Antocircnio Cardoso e pelo Padre Luiz Bartolomeu Marques perduraram durante

mais de um seacuteculo ocasionando a emancipaccedilatildeo do estado do Tocantins em 1988

(PALACIacuteN MORAES 1994)

Para que houvesse essa separaccedilatildeo alguns fatos jaacute no seacuteculo XX foram

decisivos todavia a fala sobre o esquecimento das cidades ao norte de Goiaacutes pelo

governo estadual era recorrente desde o seacuteculo XIX25 Nessa perspectiva podemos

dizer que o primeiro fato que impulsionou a separaccedilatildeo entre Tocantins e Goiaacutes foi a

permanecircncia da capital goiana na regiatildeo centro-sul do estado Mesmo com a

transferecircncia da sede dos poderes puacuteblicos estaduais da Cidade de Goiaacutes para

Goiacircnia26 e com o aumento da populaccedilatildeo a regiatildeo norte do estado ainda permanecia

25 Sobre isso cf Silva e Souza (1872) 26 A respeito das dataccedilotildees desse periacuteodo podemos destacar duas datas importantes A primeira eacute a da publicaccedilatildeo do Decreto nordm 560 de 13 de dezembro de 1935 no Correio Oficial do Estado de Goiaacutes em 21121935 que determina que para Goiacircnia ldquoa Nova Capital do Estado se transportem com o pessoal que os respectivos titulares julgarem necessaacuterio ao exerciacutecio de suas funccedilotildees as Secretaria Geral e de Govecircrno e a Casa Militarrdquo (Assinado por Dr Pedro Ludovico Teixeira e Benjamim da Luz Vieira) A segunda data eacute o dia 05 de julho de 1942 quando ocorreu o ldquobatismo culturalrdquo de Goiacircnia expressatildeo utilizada para designar a inauguraccedilatildeo oficial da cidade Tal evento tambeacutem selou uma nova alianccedila entre a Igreja e o Poder Puacuteblico em Goiaacutes marcando a transferecircncia definitiva de todas as instacircncias governamentais para a nova capital Para maiores detalhes sobre a questatildeo do ldquobatismo culturalrdquo cf Arauacutejo Juacutenior e Silva (2006)

29

esquecida aos olhos dos administradores Outro fato que contribuiu foi a construccedilatildeo

da nova capital brasileira Brasiacutelia em solo goiano na regiatildeo central do estado o que

ocasionou na deacutecada de 50 do seacuteculo XX a migraccedilatildeo da populaccedilatildeo do norte para o

entorno do Distrito Federal e para o sul do estado onde havia melhores condiccedilotildees de

empregabilidade diante das obras e da abertura de rodovias para a edificaccedilatildeo de

Brasiacutelia (CHAUL 1999)

A presenccedila da capital do paiacutes na regiatildeo sul de Goiaacutes e sua proximidade com

outros estados ao sudeste do Brasil fizeram com que as cidades ao centro-sul goiano

se desenvolvessem progressivamente diferente daquelas situadas ao norte que

acumulavam iacutendices expressivos de uma populaccedilatildeo de baixa renda Com uma

economia predominantemente agroindustrial os municiacutepios ao sul detinham as

maiores taxas de urbanizaccedilatildeo produccedilatildeo e exportaccedilatildeo de mateacuteria prima conforme

revelam os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e o estudo

empreendido por Arrais (2016)

Paulatinamente com um percurso particular mas acompanhando o movimento

poliacutetico brasileiro o estado de Goiaacutes foi-se constituindo transformando-se segundo

as estimativas do IBGE de julho de 2016 no 12ordm estado brasileiro mais populoso No

censo de 2010 jaacute compreendia uma populaccedilatildeo declarada em 6003788 habitantes

como se pode verificar na tabela abaixo que copila o crescimento populacional de

Goiaacutes entre o primeiro e o uacuteltimo censo

Tabela 1

Populaccedilatildeo do Estado de Goiaacutes

Ano Nuacutemero de habitantes

1872 160395 1890 227572 1900 255284 1920 511919 1940 661226 1950 1010880 1960 1626376 1970 2460007 1980 3229219 1991 4012562 2000 4996439 2010 6003788

Fonte Elaborado pelo autor a partir de dados do Annuario Estatistico do Brazil (1916) e do site do IBGE

30

Um estado de meacutedio porte27 que natildeo diferente de outros eacute formado por uma

miscigenaccedilatildeo de etnias pela diversidade de culturas pelas tradiccedilotildees e festejos pelos

mitos e folclore

Goiaacutes eacute terra de Cora Coralina de Joseacute J Veiga Bernardo Eacutelis e tantos outros

escritores Eacute a terra do sertanejo do pequi da pamonha e do falar com o eacuterre (r)

puxado Eacute terra de histoacuterias da roccedila contadas agraves crianccedilas ao redor da fogueira dos

diferentes personagens que sobreviveram na tradiccedilatildeo oral e que fazem parte do

imaginaacuterio social dos goianos terra de Tereza Bicuda e do Cavaleiro da Rua das

Flores de Jaraguaacute (cidade na regiatildeo central de GO) da Serpente do Rabo amarrada

na Igreja de Santo Estevatildeo em Formosa (cidade do entorno do Distrito Federal) da

moccedila da varanda de Catalatildeo (cidade do sul de GO) que apoacutes ser impedida de casar-

se com seu amor arranca a proacutepria cabeccedila com um cutelo terra dos escravos de

Pirenoacutepolis (cidade do lestre de GO) e das lendas de suas garrafas de Maria

Grampinho que leva as crianccedilas ldquocustosasrdquo28 em sua trouxa na Cidade de Goiaacutes

(noroeste de GO) do casal indiacutegena Angatuacute e Poratilde personagens de uma lenda que

deram nome ao municiacutepio de Porangatuacute (cidade na regiatildeo norte de GO) do tuacutemulo

de Joaquim Modesto que nomeia uma rua em Itumbiara (cidade ao sul de GO) de

onde cresciam cabelos e unhas de lobisomem do Necircgo Drsquoaacutegua dos Rios do Cerrado

do monstro que come liacutenguas e que habita o Rio Araguaia terra de outras tantas

historietas que datildeo vida ao sincretismo de costumes e agrave permanecircncia de um legado

ora esquecido nas paacuteginas dos livros antigos ou perdido nas memoacuterias dos sujeitos

ora reavivado pela tradiccedilatildeo regional e pelos recontos

ldquoSantuaacuterio da Serra Dourada[] Terra Querida Fruto da vida Recanto da

Paz [] O cerrado os campos e as matas A induacutestria gado cereais Nossos jovens

tecendo o futuro Poesia maior de Goiaacutesrdquo (Trecho do hino de Goiaacutes)

ldquoGoiaz querida peacuterola mimosa Destes sertotildees soberbos do Brasil Terra que

amo que minhrsquoalma adora Ao ver-te longe tatildeo distante agora Quero-te mais ainda

Minha terra gentilrdquo (JESUacuteS 1946 p 58)

27 De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) de 2016 o estado de Goiaacutes possui hoje 246 municiacutepios divididos em 5 mesorregiotildees (Norte Sul Centro Leste e Noroeste) 28 Expressatildeo informal muito utilizada em Goiaacutes para se referir agraves crianccedilas malcriadas indisciplinadas

31

Eacute esse estado pouco investigado cheio de misteacuterios e encantos apresentado

nessas antecedentes paacuteginas que seraacute desvelado nas proacuteximas Tomando os livros

e outros documentos como objeto de estudo nosso desejo eacute acrescentar algumas

contribuiccedilotildees para a historiografia da alfabetizaccedilatildeo no Brasil O convite pois eacute

entrarmos pelos ldquobecos de Goiaacutesrdquo para revisitar ldquopassadas erasrdquo do ldquobequinho da

escolardquo goiana29

29 Fizemos uma brincadeira com trechos da poesia ldquoBecos de Goiaacutesrdquo de Cora Coralina (1980 p 93) encontrada no livro Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais

32

INTRODUCcedilAtildeO ____________________________________

ldquoPalavras juntam-se grudam-se atropelam-se umas por cima das outras Natildeo importa quais sejam Empurram-se e

trepam uma nos ombros das outras As isoladas as solitaacuterias acasalam-se cambaleiam multiplicam-serdquo30

Letras Siacutelabas Palavras A cadecircncia e a mistura entremeada desses signos

compotildeem diferentes textos (ou discursos) e esses ao mesmo tempo constituem o

ser humano ldquoSomos feitos de textosrdquo31

Os textos nos atravessam e nos definem ldquoA palavra eacute o proacuteprio homemrdquo32

Os textos nos aprisionam e nos libertam ldquoAi palavras ai palavras que

estranha potecircncia a vossardquo33

Bakhtin (2010) explica que o texto eacute o objeto central de estudos das Ciecircncias

Humanas tornando-se ponto de partida das pesquisas Nessa perspectiva o autor

advoga que o texto soacute ganha vida comunicando-se com outros ldquocada palavra (cada

signo) do texto leva para aleacutem dos seus limitesrdquo (BAKHTIN 2010 p 400)

Apoiados em Mortatti (1999 2000) consideramos que a interpretaccedilatildeo de um

texto para uma produccedilatildeo cientiacutefica se estabelece pelas relaccedilotildees que o leitor (nesse

caso o pesquisador) faz com o contexto de produccedilatildeo (localizando o texto no seu tempo

30 Trecho de Virginia Woolf (2011 p 78) no seu livro As ondas 31 Trecho de Manuel Gusmatildeo (2011 p 165) no seu livro Uma Razatildeo Dialoacutegica Ensaios sobre literatura a sua experiecircncia do humano e a sua teoria 32 Comentaacuterio de Octavio Paz (1982) na orelha do seu livro O Arco e a Lira 33 Verso do poema ldquoRomance LIII ou das palavras aeacutereasrdquo de Ceciacutelia Meireles (1977 p 148) publicado no seu livro Romanceiro da Inconfidecircncia

33

de escrita evitando anacronismos) e de leitura (fazendo uma relaccedilatildeo com os seus

objetivos da pesquisa focalizando aquilo que lhe interessa para responder a

determinada problematizaccedilatildeo) Logo conforme a autora alude este trabalho

compreende ldquoos documentos como textosrdquo34 analisados numa dimensatildeo discursiva

Essa dimensatildeo eacute entendida aqui no sentido macroestrutural sem desconsiderar

os fatores propriamente linguiacutesticos Cada palavra tem uma funccedilatildeo sintagmaacutetica que

orienta o discurso para uma intriacutenseca compreensatildeo isto eacute embora a leitura seja uma

ato dialoacutegico e sempre aberto (GERALDI 1992) ela tambeacutem tem uma certa

estabilidade mesmo que provisoacuteria condicionada pelos modos e pelas escolhas do

autor na escrita do texto

Mortatti (1999 2000) tratou os ldquodocumentos-fontesrdquo como ldquoconfiguraccedilotildees

textuaisrdquo

Por meio da expressatildeo ldquoconfiguraccedilatildeo textualrdquo busco nomear o conjunto de aspectos constitutivos de determinado texto os quais se referem agraves opccedilotildees temaacutetico-conteudiacutesticas (o quecirc) e estruturas-formais (como) projetadas por um determinado sujeito (quem) que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde) e momento histoacuterico (quando) movido por certas necessidades (por quecirc) e propoacutesitos (para quecirc) visando a dterminado efeito em determinado tipo de leitor (para quem) e logrando determinado tipo de circulaccedilatildeo utilizaccedilatildeo e repercussatildeo (MORTATTI 2000 p 31)

Por isso torna-se importante localizar qualquer produccedilatildeo textual nas suas

relaccedilotildees interdiscursivas dentro do contexto histoacuterico em que se originou resgatando

as vozes sociais que a constituiacuteram Da mesma maneira todo texto tem um autor

ainda que apagado ou silenciado e recuperaacute-lo eacute essencial para o entendimento do

que foi escrito Tal como Foucault (1992 p 45) alertou haacute uma relaccedilatildeo entre o sujeito

e sua escrita o nome do autor ldquoserve para caracterizar um certo modo de ser do

discursordquo

34 Expressatildeo tomada de empreacutestimo de Bertoletti (2011 p 102) ao referenciar a proposta de leituraanaacutelise de um texto por meio da ldquoconfiguraccedilatildeo textualrdquo Essa expressatildeo foi pioneiramente teorizada e empregada por Mortatti (1999 2000)

34

ldquoCADA PALAVRA DESCORTINA UM HORIZONTE CADA FRASE ANUNCIA OUTRA ESTACcedilAtildeOrdquo35

Na tentativa de contribuir para a historiografia da educaccedilatildeo tomando como

referecircncia principalmente os diversos textos (documentos) produzidos emsobre Goias

este trabalho assume por objetivo analisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

goianas compreendendo os ideaacuterios36 sobre o ensino inicial de leitura e escrita

difundidos nas escolas em Goiaacutes do seacuteculo XIX entre 1835 a 1886

O marco inicial 1835 natildeo foi escolhido aleatoriamente trata-se do ano em que

ocorreu a promulgaccedilatildeo da primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de

junho de 1835 (GOIAacuteS 1835) institucionalizando as praacuteticas educativas de ensinar a

ler escrever somar e rezar no contexto poliacutetico de uma escola pensada em Goiaacutes e

para atender as demandas da populaccedilatildeo goiana

Jaacute o marco final em 1886 eacute quando foi publicado o uacuteltimo Regulamento sobre

a Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes ato de 2 de abril de 1886 (GOIAacuteS 1886a) levado a

efetivo cumprimento durante o Impeacuterio na proviacutencia goiana (ABREU GONCcedilALVES

NETO CARVALHO 2015) Esse ato normativo conforme apontam Abreu Gonccedilalves

Neto e Carvalho (2015) ultrapassou o periacuteodo imperial vigorando ateacute 1893 ao ser

sancionada a Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 que reformava a instruccedilatildeo puacuteblica em

Goiaacutes (1893a) e o Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893 que instituiacutea o novo

Regulamento da Instruccedilatildeo Primaacuteria do Estado de Goiaacutes (1893b)

Boschi (2007) afirma que a periodizaccedilatildeo eacute um instrumento praacutetico do

historiador que ao fazecirc-la fornece ferramentas de uma anaacutelise sobre as

permanecircncias e rupturas nas tradiccedilotildees de uma eacutepoca O autor enfatiza o caraacuteter

subjetivo e autoral da periodizaccedilatildeo explicitando que cada um a realiza a partir de seu

estilo de ler (interpretar) as fontes histoacutericas Por essa razatildeo para situarmos este

35 Trecho do texto ldquoO livro eacute passaporte eacute bilhete de partidardquo de Bartolomeu Campos de Queiroacutes (1999) publicado no livro A formaccedilatildeo do leitor pontos de vista organizado por Jason Prado e Paulo Condini (1996) 36 Neste trabalho o termo ldquoideaacuteriordquo pode ser explicado a partir da definiccedilatildeo de ldquosaberesrdquo de modo que compreendemos que ldquoum saber eacute aquilo de que podemos falar em uma praacutetica discursiva que se encontra assim especificada o domiacutenio constituiacutedo pelos diferentes objetos que iratildeo adquirir ou natildeo um status cientiacutefico () um saber eacute tambeacutem o espaccedilo em que o sujeito pode tomar posiccedilatildeo para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso () um saber eacute tambeacutem o campo de coordenaccedilatildeo e de subordinaccedilatildeo dos enunciados em que os conceitos aparecem se definem se aplicam e se transformam () finalmente um saber se define por possibilidades de utilizaccedilatildeo e de apropriaccedilatildeo oferecidas pelo discursordquo (FOUCAULT 2013 p 220 grifos nossos) Dessa maneira entendemos que um ideaacuterio se origina a partir de um coletivo de discursos

35

trabalho no acircmbito do seacuteculo XIX no contexto do Impeacuterio o recorte temporal ficou

compreendido entre 1835 a 1886

ldquoISSO Eacute O QUE PERGUNTAS NAtildeO ESPERES

RESPOSTA A NAtildeO SER DE TI MESMOrdquo37

Tomando como paracircmetro esses marcos nos questionamos como a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o Impeacuterio Quais os materiais usados no

decorrer dessa histoacuteria para alfabetizar as crianccedilas goianas Quais ideaacuterios sobre o

ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de Goiaacutes

Ao propor essas problematizaccedilotildees assumimos como hipoacutetese de pesquisa que

as regulamentaccedilotildees de ensino em Goiaacutes e os livros que circularam pela proviacutencia

determinaram os modos de alfabetizar as crianccedilas goianas uma vez que a formaccedilatildeo

da proviacutencia se deu numa poliacutetica latifundiaacuteria e coronelista marcada por um sistema

de inspeccedilatildeo e cerceamento da praacutetica docente

Diante disso defendemos a tese de que a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

em Goiaacutes do seacuteculo XIX ndash mesmo sob a influecircncia da Igreja e marcada por uma

tradiccedilatildeo ruralista que determinou a formaccedilatildeo cultural e social da populaccedilatildeo ndash esteve

em diaacutelogo com as transformaccedilotildees almejadas pelos ideaacuterios de modernidade da

educaccedilatildeo nacional oitocentista especialmente com os que circulavam no Rio de

Janeiro

Eacute necessaacuterio mencionar de antematildeo trecircs notas explicativas que auxiliam a

clarificar e justificar a formulaccedilatildeo da tese tal como foi apresentada Outrossim

esclarecemos que elas seratildeo melhor discutidas no decorrer do trabalho A primeira

refere-se ao uso da terminologia alfabetizaccedilatildeo no periacuteodo que a pesquisa compreende

A segunda agrave histoacuteria da constituiccedilatildeo e organizaccedilatildeo da sociedade goiana E

resumidamente a terceira nota dedica-se aos aspectos da tradiccedilatildeo da historiografia

educacional sobre Goiaacutes no oitocentos que evidencia seu atraso em relaccedilatildeo a outras

localidades do Brasil

Com relaccedilatildeo ao primeiro ponto acerca do uso do termo alfabetizaccedilatildeo para

denominar o processo de ensino e aprendizagem iniciais de leitura e escrita no seacuteculo

37 Versos do poema ldquoAos Vacilantesrdquo de Bertold Brecht (1976 p 678) no seu livro Gesammelte Gedicht Neste trabalho utilizamos a traduccedilatildeo para o portuguecircs de Leandro Konder (1996)

36

XIX alguns esclarecimentos satildeo fundamentais A opccedilatildeo por esse vocaacutebulo a princiacutepio

denotaria um anacronismo jaacute que essa terminologia ao que tudo indica soacute se tornou

usual no Brasil na Primeira Repuacuteblica nos primeiros anos do seacuteculo XX (MORTATTI

2004) ldquoNo decorrer de todo o seacuteculo XIX e nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XX o

termo mais comum para designar o ensino das primeiras letras como tambeacutem todo o

processo de escolarizaccedilatildeo era instruccedilatildeordquo (MACIEL 2003 p 243) Trindade (2001)

elucida que no seacuteculo XIX natildeo era comum a associaccedilatildeo da leitura e da escrita para

nomear um mesmo meacutetodo Falava-se notadamente no contexto escolar e na

imprensa pedagoacutegica em meacutetodos de leitura ou de iniciaccedilatildeo agrave leitura

Portanto em consonacircncia com o proacuteprio recorte temporal desta pesquisa (1835-

1886) seria mais usual nominar o processo de ensino de ler e escrever como primeiras

letras e instruccedilatildeo primaacuteria expressotildees essas empregadas nas legislaccedilotildees goianas e

nos discursos produzidos em Goiaacutes no periacuteodo imperial38 Entretanto refletindo sobre

os textos da coletacircnea Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola

organizada por Schwartz Peres e Frade (2010) e as consideraccedilotildees feitas por Mortatti

(2011a) utilizamos a palavra alfabetizaccedilatildeo por ela ser habitual nos estudos brasileiros

que compreendem o ensino e tambeacutem a aprendizagem de leitura e escrita

independente do momento histoacuterico Ao nos debruccedilarmos nas pesquisas sobre a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil e em Portugal39 observamos que recorrer agrave palavra

ldquoalfabetizaccedilatildeordquo tradicionalmente ficou para se referir natildeo a um tempo especiacutefico

delimitado pela etimologia desse termo e sim para aludir aos ldquocontextosrdquo ldquopraacuteticasrdquo

ldquooportunidadesrdquo e ldquoformas de apropriaccedilatildeo e de uso da cultura escritardquo (MAGALHAtildeES

1996 p 444)

A segunda nota explicativa acerca da tese reporta-se aos sentidos histoacutericos da

formaccedilatildeo social e cultural do povo goiano Campos (1987 p 37) assevera que em

Goiaacutes ainda nos anos de 1920 havia uma grande maioria da populaccedilatildeo ldquohabitando

no campo e com uma pequena parcela residindo em pequenas cidades ou em vilasrdquo

Dessa maneira o meio urbano no periacuteodo em questatildeo conforme Campos (1987)

aponta era praticamente nulo Entre 1940 e 1970 segundo Paacutedua (2008) houve um

aumento significativo da produccedilatildeo agriacutecola no Estado levando ao crescimento de

38 Evidenciaremos essa questatildeo melhor no decorrer da tese especialmente na Parte II 39 Principalmente as produccedilotildees de Magalhatildees (1996 2001 2002 2005) Candeias (1996 2004 2008) Candeias e Simotildees (1999)

37

moradores no campo Esses nuacutemeros soacute iratildeo reduzir-se a partir da deacutecada de 1980

(CASARI RIBEIRO DAMASCENO 2014)

Tais dados que remontam ao periacuteodo republicano satildeo para demonstrar a

longevidade do ruralismo40 em Goiaacutes que se constituiu marcado como um territoacuterio

de uma populaccedilatildeo maiormente rural A gecircnese desse quadro deve-se segundo

Palaciacuten (1994) agrave decadecircncia do ouro no iniacutecio do seacuteculo XIX quando ocorreu uma

ldquoruralizaccedilatildeo da vidardquo formando uma nova configuraccedilatildeo da sociedade ldquoDe uma

populaccedilatildeo radicada quase exclusivamente em centros urbanos ndash por pequenas que

estas povoaccedilotildees fossem ndash passa-se a uma dispersatildeo atomizada da populaccedilatildeo dos

camposrdquo O autor acrescenta que ldquoa ruralizaccedilatildeo natildeo raro era acompanhada de uma

regressatildeo cultural que em muitos casos se traduzia numa verdadeira indianizaccedilatildeo de

grupos isoladosrdquo (PALACIacuteN 1994 p 150) ldquoDo Goiaacutes Colocircnia a ruralizaccedilatildeo

passaria como heranccedila ao Goiaacutes Impeacuteriordquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 24)

Essa dinacircmica populacional no decurso da histoacuteria de Goiaacutes refletindo numa

sociedade majoritariamente rural particulariza esse territoacuterio sua cultura e seus

costumes Essa realidade tornou-se desde o seacuteculo XVIII terreno feacutertil para a Igreja

Catoacutelica implantar suas ideias e influenciar com elas e a partir delas a formaccedilatildeo do

povo instalando as primeiras escolas e definindo os modos de viver se comportar e

ser um cidadatildeo goiano Consideramos que a presenccedila da Igreja na historiografia de

Goiaacutes eacute uma questatildeo decisiva para compreender tanto a fundaccedilatildeo de uma cidade e os

grupos que detinham o poder quanto a ldquocultura escolarrdquo41

Os viajantes e cronistas que passaram por Goiaacutes retrataram o estado da regiatildeo

no Seacuteculo XIX demonstrando aspectos de sua decadecircncia e de seu abandono

Sandes e Arrais (2013) fazem uma siacutentese desses escritos acoplando tambeacutem os

registros constantes nos relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia

Saint Hilaire (1819) fala em ldquogrande decadecircnciardquo e ldquoprofunda apatia em que estatildeo imersosrdquo os habitantes de Goiaacutes Rodrigues Jardim (1835) julga as estradas da proviacutencia como ldquosofriacuteveisrdquo assim como descreveu Camargo Fleury (1837) ldquoem peacutessimo estadordquo Pohl (1817) refere-se aos ldquocaminhos esburacadosrdquo e Castelnau (1843) ao ldquomau

40 Empregamos o termo ruralismo natildeo apenas para descrever a questatildeo do predomiacutenio da populaccedilatildeo no meio rural mas para associar agrave ideia de que haacute a partir dessa caracteriacutestica um desdobramento que pode ser compreendido como ldquoum movimentoideologia poliacuteticos produzido por agentes sociais concretos econocircmica e socialmente situados numa dada estrutura de classes e portadores de interesses nem sempre divergentesrdquo (MENDONCcedilA 1997 p 26) 41 Neste trabalho tomamos esse termo de empreacutestimo no sentido atribuiacutedo por Faria Filho (2003) Sobre isso cf Faria Filho Gonccedilalves Vidal e Paulilo (2004)

38

estado dos caminhosrdquo Foi tambeacutem Rodrigues Jardim quem caracterizou a dinacircmica social regional ldquoo ocio e a falta de poliacutetica em hum Paiz onde se pode viver sem trabaliar tem tambeacutem concorrido para a diminuiccedilatildeo da abundacircncia que nelle se disfructavardquo no que eacute acompanhado por Pohl ldquoenquanto tem uns vinteacutens no bolso natildeo mexem com as matildeosrdquo DacuteAlincourt (1818) descreve os habitantes de Goiaacutes como ldquodominados pela preguiccedila e demasiadamente entregues aos prazeres sexuais e bem diferentes satildeo as causas que os tecircm conduzido a tatildeo deploraacutevel estadordquo e para Taunay (1876) ldquoa populaccedilatildeo () vive vida lacircnguida e desanimadardquo Mesmo os escritos de Couto Magalhatildees (1863) que procuram fugir agraves lamentaccedilotildees e aos pedidos de auxiacutelio comuns agrave maioria dos relatoacuterios provinciais natildeo deixam de atestar o contraste entre o potencial econocircmico natildeo explorado e a degeneraccedilatildeo moral dos habitantes de Goiaacutes ldquoaqui a vida se escoa gemendo constantementerdquo sentencia o jovem presidente da proviacutencia (SANDES ARRAIS 2013 p 852-853)

Por esse panorama conjecturamos que a histoacuteria da educaccedilatildeo em e sobre

Goiaacutes se fundou com um discurso que demonstra em relaccedilatildeo a outras localidades do

paiacutes o recorrente atraso da sociedade goiana no oitocentos Observamos que

geralmente as pesquisas no campo da histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes recorrem ao

livro Histoacuteria da Instruccedilatildeo Puacuteblica em Goiaacutes de Bretas (1991) como um Manual para

compreensatildeo do percurso histoacuterico da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes desde o periacuteodo

colonial agrave primeira repuacuteblica Outro claacutessico recorrentemente citado eacute o livro de Palaciacuten

e Moraes (1994) Histoacuteria de Goiaacutes (1722-1972) Os autores apresentam uma narrativa

que associa a modernidade em Goiaacutes ao processo de urbanizaccedilatildeo Como o livro copila

mais de dois seacuteculos de histoacuteria ao tratar da educaccedilatildeo no periacuteodo oitocentista declara

sua inexistecircncia devido ao baixo nuacutemero de professores A impressatildeo que fica da obra

eacute da formaccedilatildeo histoacuterica de um povo goiano como um sempre-colono afastando Goiaacutes

dos ideaacuterios que circulavam no cenaacuterio nacional um ldquoterritoacuterio de analfabetos e

iletradosrdquo42 dentro de uma naccedilatildeo em desenvolvimento

Dessa maneira notamos que se conserva um discurso que quase sempre

reproduz o ldquoestado de periferiardquo de Goiaacutes em relaccedilatildeo ao paiacutes colocando-o como

ldquoalijado do centro do poder e por conseguinte gozando de uma autonomia forccedilada

quase que absolutardquo (CAMPOS 1987 p 16)

Por isso como terceira nota explicativa em relaccedilatildeo agrave tese formulada

acrescentariacuteamos que sem descartar ou menosprezar os creacuteditos das eminentes

pesquisas de Bretas (1991) e Palaciacuten e Moraes (1994) ndash inclusive as referenciando

42 Tomamos essa expressatildeo emprestada de Haswani (2013 p 31)

39

para compreendermos o contexto poliacutetico e educacional da proviacutencia ndash este trabalho

vai na contramareacute dos discursos que vecircm sendo mantidos sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

goiana no seacuteculo XIX Evidenciamos que no campo da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes houve

diferentes tentativas do governo provincial de alinhar a proposta da instruccedilatildeo primaacuteria

goiana com os ideaacuterios de modernidade educacional que circulavam pelo contexto

nacional em especial no Municiacutepio da Corte43 no Rio de Janeiro

ldquoELA PERMANECERAacute ALI COSTURANDO SUA IMENSA COLCHA COM SEUS DIFERENTES

RETALHOS COLORIDOS SENTADA NA VELHA E EMPOEIRADA POLTRONA DA HISTOacuteRIArdquo44

A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes pode ser compreendida a partir da

ldquometaacutefora da colcha de retalhosrdquo Cada pedaccedilo de tecido costurado a outro pedaccedilo

forma um todo multiforme ao mesmo tempo simeacutetrico Os tecidos se cruzam um no

outro numa fusatildeo em que muitas vezes natildeo se percebe o iniacutecio ou fim do retalho o

que aparentemente estaacute isolado simultaneamente estaacute alinhavado pelos fios da

histoacuteria Logo compreendemos a histoacuteria como processo natildeo linear dialoacutegica e por

isso mesmo polifocircnica pensada a partir das contribuiccedilotildees de Certeau (2002) e Bloch

(2001) Consideramos dessa maneira que a ldquomateacuteria fundamental da histoacuteria eacute o

tempordquo (LE GOFF 1996 p 14)

Delgado (2010 p 33) afirma que o tempo eacute um movimento de muacuteltiplas faces

caracteriacutesticas e ritmos que ldquoinserido agrave vida humana implica duraccedilotildees rupturas

convenccedilotildees representaccedilotildees coletivas simultaneidades continuidades

descontinuidades e sensaccedilotildees (a demora a lentidatildeo a rapidez)rdquo

O olhar do historiador sobre o tempo traz consigo as nuances de suas

concepccedilotildees teoacutericas e de suas experiecircncias definidoras dos diversos modos de

43 Nesse trabalho a denominaccedilatildeo Municiacutepio da Corte eacute correspondente agrave Municiacutepio Neutro Trata-se de uma unidade administrativa instalada por meio do Ato Adicional de 1834 Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 (BRASIL 1834) o qual criou na proviacutencia do Rio de Janeiro a sede da Corte ou seja do governo imperial No regime republicano essa localidade ficou conhecida de Distrito Federal Hoje cidade do Rio de Janeiro 44 Trecho de uma narrativa oral ouvida e registrada em frente ao Museu de Arte de Satildeo Paulo (MASP) em junho de 2017 O autor um senhor que se nomeava como sendo o Zeacute do Poema Competindo com o alto som de muacutesicos e das vozes que passavam pela Avenida Paulista Zeacute do Poema declamava sua vida e suas histoacuterias rodeado por um pequeno grupo que o ouvia Ao final de cada uma de suas narrativas ele tirava a mochila das costas e dizia ldquoOacute meus amigos ouvintes ajudem esse velho escritor a sustentar suas palavras e seu corpo com uma moedardquo A cena ao mesmo tempo tiacutepica e singular permanece intacta em minha memoacuteria

40

analisar um episoacutedio Na teoria histoacuterica por exemplo a noccedilatildeo de tempo estrutural do

Movimento dos Annales colidiu com a visatildeo de tempo vivido do historicismo e

positivismo Essas noccedilotildees pareciam inconciliaacuteveis poreacutem Ricoeur (1994) as integrou

ponderando que a histoacuteria eacute simultaneamente loacutegica e temporal

Entendemos que a especificidade da ciecircncia histoacuterica estaacute em estudar eventos

de um determinado tempo localizados num espaccedilo a partir de discursos guardados

nos arquivos lembranccedilas livros aacutelbuns fotografias dentre tantos outros ldquolugares de

memoacuteriardquo (NORA 1993)

Natildeo obstante a aproximaccedilatildeo entre tempo espaccedilo e memoacuteria eacute uma ldquoarenardquo

de luta45 no campo da histoacuteria (DASSUNCcedilAtildeO BARROS 2006) Logo consideramos

que ao escrevermos sobre o passado por meio dos diferentes discursos os fatos o

tempo e os espaccedilos satildeo reconstruccedilotildees agrave mercecirc das recordaccedilotildees e das possibilidades

de acesso aos documentos A partir desses (des)encontros a histoacuteria amplia suas

versotildees

Com base nessas consideraccedilotildees a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes foi

pensada nesse trabalho em torno dos materiais e meacutetodos utilizados para ensinar as

crianccedilas a ler e escrever46

No que concerne aos materiais damos maior visibilidade aos impressos em

especial agraves cartilhas ou os livros voltados para o ensino de leitura sem negligenciar

outros objetos culturais que contribuiacuteram para a instalaccedilatildeo de modos distintos para

alfabetizar no contexto escolar A escolha pelos livros deu-se por serem eles segundo

Voloacutechinov (2017) elementos de uma interaccedilatildeo discursiva de um diaacutelogo que natildeo

estaacute restrito ao caraacuteter face a face Os livros tal como acrescenta Larrosa (2009) satildeo

maacutequinas do tempo capazes fornecer pistas sobre espaccedilos praacuteticas e sujeitos Nesse

sentido

Um livro ou seja um discurso verbal impresso tambeacutem eacute um elemento da comunicaccedilatildeo discursiva Esse discurso eacute debatido em um diaacutelogo direto e vivo e aleacutem disso eacute orientado para uma percepccedilatildeo ativa uma anaacutelise minuciosa e uma reacuteplica interior bem como uma reaccedilatildeo

45 ldquoArenardquo em alusatildeo ao princiacutepio da enunciaccedilatildeo de Voloacutechinov Mesmo considerando e tendo acesso agrave atual traduccedilatildeo de Marxismo e filosofia da linguagem (VOLOacuteCHINOV 2017) feita por Sheila Grillo e Ekaterina Voacutelkova Ameacuterico que substituiu o termo ldquoarenardquo por ldquopalcordquo conservamos para este trabalho a traduccedilatildeo anterior pois acreditamos ser mais propiacutecia para o efeito de sentido que gostariacuteamos de inserir na afirmativa Doravante ao utilizarmos a expressatildeo ldquoarenardquo ou ldquoarena de lutardquo seraacute a partir dos princiacutepios volochinovianosbakhtinianos 46 Vale referenciar que tal questatildeo natildeo se difere das pesquisas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo produzidas no Brasil (MORTATTI 2000 2019 2011 SCHWARTZ PERES FRADE 2010 etc)

41

organizada tambeacutem impressa sob formas diversas elaboradas em dada esfera da comunicaccedilatildeo discursiva (resenhas trabalhos criacuteticos textos que exercem influecircncia determinante sobre trabalhos posteriores etc) Aleacutem disso esse discurso verbal eacute inevitavelmente orientado para discursos anteriores tanto do proacuteprio autor quanto de outros realizados na mesma esfera e esse discurso verbal parte de determinada situaccedilatildeo de um problema cientiacutefico ou de um estilo literaacuterio Desse modo o discurso verbal impresso participa de uma espeacutecie de discussatildeo ideoloacutegica em grande escala responde refuta ou confirma algo antecipa as respostas e criacuteticas possiacuteveis busca apoio e assim por diante (VOLOacuteCHINOV 2017 p 219)

Jaacute com relaccedilatildeo agrave interpretaccedilatildeo sobre os meacutetodos para alfabetizar as crianccedilas

goianas no oitocentos consideramos aleacutem dos livros que circularam na proviacutencia

diferentes documentos oficiais expedidos em e sobre Goiaacutes a imprensa e

correspondecircncias entre professores e os oacutergatildeos de Inspeccedilatildeo da Instruccedilatildeo Puacuteblica

ldquoCHEGAREI ASSIM AO CAMPO E AOS VASTOS PALAacuteCIOS DA MEMOacuteRIArdquo47

Desse modo para feitura do trabalho alguns arquivos (materiais e digitais)

foram consultados com o objetivo de inventariar as fontes da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

em Goiaacutes Esses diferentes ldquolugares de memoacuteriasrdquo (NORA 1993) constituiacuteram nosso

objeto de estudo ao mesmo tempo possibilitando a leitura e a escrita que fizemos

acerca da temaacutetica da tese Nesse ponto tomando como referecircncia a teoria

enunciativa de Bakhtin (2010) e seus colaboradores em especial Voloacutechinov (2017)

e da Anaacutelise do Discurso sobretudo ancorada em Orlandi (1995) entendemos que

dada a polifonia dos discursos e a instabilidade da linguagem pela sua proacutepria

essecircncia hiacutebrida um texto (aqui todos os documentos consultados lidos e

analisados) mesmo pelos indiacutecios apresentados na sua materialidade natildeo possui

especificamente uma uacutenica interpretaccedilatildeo Qualquer texto de acordo com seu contexto

de uso e com o confronto que dele se faz com outros textos tem sentidos muacuteltiplos

(MORTATTI 1999) Por essa razatildeo as leituras de um documento provocam

diferentes formas de se pensar sobre um determinado fato jaacute que ldquoum texto eacute uma

peccedila de linguagem de um processo discursivo muito mais abrangenterdquo (ORLANDI

1995 p 117) Orlandi (1995) tambeacutem acrescenta que a proacutepria bagagem cultural e os

47 Trecho extraiacutedo da obra Confissotildees de Santo Agostinho (2010 p 274)

42

objetivos de um analista determinam fortemente as unidades de anaacutelise de um texto

por isso o sentido de algo eacute socialmente construiacutedo

No que tange agrave experiecircncia de investigaccedilatildeo dos documentos sobre a histoacuteria

da educaccedilatildeo goiana compartilhando da opiniatildeo de outros pesquisadores quanto agrave

dificuldade de acesso a essas fontes em Goiaacutes em todas as etapas desta pesquisa

enfrentamos variados empecilhos

O principal deles eacute a dispersatildeo dos documentos e as lacunas evidenciadas

durante o percurso Os documentos oficiais do estado estatildeo depositados no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes (AHEG) localizado em Goiacircnia Nesse local haacute muitas

fontes do seacuteculo XVIII e XIX48 estando organizadas em seccedilotildees e por ano (essa

organizaccedilatildeo seraacute melhor detalhada adiante) Dessa maneira o primeiro grande

desafio foi olhar caixa por caixa livro a livro ano a ano catalogando aquilo que era

imprescindiacutevel para o tema Ao mesmo tempo essa oportunidade de contato

prolongado com as fontes no Arquivo fez com que descobriacutessemos documentos

importantes que dariam outras tantas pesquisas como esta de doutorado Como

Valdez e Barra (2012) apontaram sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo goiana haacute ldquoum silecircncio

que paira em Goiaacutes a respeito das produccedilotildees na aacutereardquo (VALDEZ BARRA 2012 p

109) Nessa perspectiva muito ainda precisa ser desvelado e escrito sobre a

educaccedilatildeo no estado

Outra dificuldade refere-se agrave legislaccedilatildeo goiana Nem todas as leis expedidas

pelos Presidentes de Goiaacutes estatildeo disponibilizadas online nos repositoacuterios digitais do

Site da Secretaria de Estado da Casa Civil49 ou da Assembleia Legislativa de Goiaacutes50

As leis nesses sites estatildeo organizadas de acordo com o ano de sua sanccedilatildeo

apresentando diversas lacunas seja na ausecircncia de alguns anos que simplesmente

natildeo apresentam nenhuma lei seja na omissatildeo de algumas leis que foram aprovadas

mas natildeo estatildeo digitalizadas nos sites Isso nos obrigou a fazer uma minuciosa busca

nos Diaacuterios Oficiais do Estado nos Relatoacuterios de Presidentes de Proviacutencia e tambeacutem

nos livros com correspondecircncias oficiais da presidecircncia garimpando as legislaccedilotildees

do periacuteodo compreendido nesta tese

48 No Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes as fontes datadas do seacuteculo XX em sua grande maioria vatildeo ateacute o fim da Era Vargas 1945 A partir da deacutecada de 50 os documentos satildeo esparsos 49 Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrgt Acesso em 17 de junho de 2018 50 Disponiacutevel em lthttpsportalalgolegbrgt Acesso em 17 de junho de 2018

43

Sobre essa pesquisa nos Diaacuterios Oficiais do Estado outro detalhe tambeacutem

dificultou o acesso Na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do

Brasil encontramos digitalizados apenas os Diaacuterios Oficiais de Goiaacutes51 de 1837 a

1839 1852 1853 1866 a 188552 Por esse motivo a consulta agrave legislaccedilatildeo em grande

parte se deu no contato direto com os Diaacuterios Oficiais impressos conservados no

AHEG

As dificuldades poreacutem soacute impulsionaram o desejo por esta pesquisa

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade e Cora Coralina diriacuteamos que se

houve ldquopedras no meio do caminhordquo53 ldquoajuntei todas e levantei a pedra ruderdquo54 deste

estudo Adiante com a finalidade de tambeacutem facilitar a pesquisa de muitos

pesquisadores vindouros relacionamos os arquivos e as fontes neles consultadas

O Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes foi de fato o local onde encontramos

grande parte dos documentos analisados que se localizavam nas seccedilotildees de

1) Documentaccedilatildeo Avulsa organizada em caixas essa seccedilatildeo eacute composta por

documentos que podem ser lidos independentes uns dos outros jaacute que natildeo

tecircm relaccedilatildeo clara entre si Estatildeo dispostos por ano geralmente separados

pelo oacutergatildeo do governo a que se referem Nessa seccedilatildeo de Documentos

Avulsos encontramos grande parte das listas de expediente escolar dos

mapas de turmas correspondecircncias expedidas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

provas da Escola Normal etc

2) Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa satildeo livros ou

documentos encadernados ou costurados nas laterais organizados pela

coerecircncia que mantecircm com as informaccedilotildees constantes na fonte Nessa

seccedilatildeo encontramos diferentes livros com relatoacuterios de Inspetores

Escolares livros de registro de ofiacutecios expedidos pelas Secretarias de

Instruccedilatildeo Puacuteblica etc

51 O primeiro tiacutetulo do Diaacuterio Oficial de Goiaacutes eacute Correio Official de Goyaz que tem a sua primeira publicaccedilatildeo no dia 3 de junho de 1837 Para maiores informaccedilotildees acerca da histoacuteria da imprensa goiana cf Borges e Lima (2008) 52 Acrescenta-se que na Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do Brasil no periacuteodo de escrita desta tese havia tambeacutem digitalizados os Diaacuterios Oficiais de Goiaacutes de 1887 1911 a 1913 1915 a 1921 No site do Diaacuterio Oficial do Estado de Goiaacutes as publicaccedilotildees digitalizadas satildeo de 2007 em diante 53 Verso do poema ldquoNo meio do caminhordquo de Carlos Drummond de Andrade (ANDRADE 1978) 54 Versos do poema ldquoDas pedrasrdquo de Cora Coralina (CORALINA 2013)

44

3) Caixas dos Municiacutepios Goianos no AHEG haacute caixas com documentos

especiacuteficos referentes aos municiacutepios de Goiaacutes Como eacute um acervo muito

grande consultamos para este trabalho apenas as Caixas dos municiacutepios

de Cidade de Goiaacutes (antiga capital de Goiaacutes) Pirenoacutepolis (um dos

municiacutepios mais antigos do estado) e Itumbiara (municiacutepio na fronteira com

Minas Gerais)

4) Caixas de Atos Decretos Regimentos Regulamentos Leis Mensagens

Constituiccedilotildees e Relatoacuterios satildeo caixas que conteacutem algumas leis aleacutem de

Relatoacuterios e Mensagens de Presidentes de Goiaacutes Nessa seccedilatildeo

conseguimos parte dos Regulamentos de Ensino de Goiaacutes jaacute que nela natildeo

haacute organicidade nem mesmo sequencialidade entre os documentos ali

guardados

5) Jornais nessa seccedilatildeo consultamos especificamente o Correio Oficial de

Goiaacutes impresso mantido pelo governo onde se publicavam as leis

aprovadas no Brasil e em Goiaacutes aleacutem de textos sobre temas diversos

Fora do estado de Goiaacutes identificamos algumas cartilhas e livros de leitura

utilizados nas escolas goianas mencionados nas fontes inventariadas em acervos de

outros estados Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Biblioteca do Arquivo Puacuteblico

do Estado de Satildeo Paulo

No que tange agraves fontes encontradas em meio digital os repositoacuterios

consultados foram

1) Hemeroteca Digital Brasileira da Biblioteca Nacional Digital do Brasil55 na

qual coletamos sobretudo jornais e parte dos Relatoacuterios de Presidentes de

Goiaacutes

2) Center For Research Libraries56 vinculado agrave Universidade de Chicago

Como na Hemeroteca natildeo encontramos todos os Relatoacuterios de Presidentes

desde a instalaccedilatildeo das Assembleias Legislativas na proviacutencia goiana esse

acervo digital tambeacutem foi consultado Nele pesquisamos particularmente

55 Na Hemeroteca Digital Brasileira vinculada agrave Biblioteca Nacional Digital do Brasil encontramos o acervo digitalizado da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro A partir de buscas com palavras-chaves eacute possiacutevel consultar perioacutedicos de todo o paiacutes As consultas satildeo organizadas por local perioacutedico ou periacuteodo O link de acesso agrave paacutegina da Hemeroteca eacute lthttpbndigitalbngovbrhemeroteca-digitalgt Acesso em 17 de junho de 2018 56 Disponiacutevel em lthttpwwwcrledugt Acesso em 17 de junho de 2018

45

os Relatoacuterios de Goiaacutes embora haja Relatoacuterios de vaacuterios estados

brasileiros

3) Biblioteca Nacional de Portugal57

4) Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin da Universidade de Satildeo Paulo58

5) Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados do Brasil59

6) Biblioteca Puacuteblica Arthur Viana do Governo do Estado do Paraacute60

7) Biblioteca Digital do Senado Federal do Brasil61

8) Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina62

Dos repositoacuterios 3 a 8 numerados acima identificamos coacutepias digitalizadas de

livros que circularam na proviacutencia de Goiaacutes

Aleacutem desses repositoacuterios digitais tambeacutem utilizamos um DVD com documentos

digitalizados sobre Goiaacutes intitulado de Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 1) sob a organizaccedilatildeo da professora Valdeniza Maria de

Lopes da Barra da Universidade Federal de Goiaacutes63 O DVD foi vinculado agrave Rede de

Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes reuacutene cerca de 3200 paacuteginas de

documentos organizados em quatro seacuteries oriundas de diferentes arquivos de Goiaacutes

contemplando legislaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) imprensa com foco em temas da

educaccedilatildeo gabinete literaacuterio goiano expediente escolar Desse DVD utilizamos as

listas de expediente escolar os mapas de turmas a legislaccedilatildeo educacional goiana

Destacamos tambeacutem o acesso que tivemos a livros de leitura e cartilhas que

circularam pelo Brasil no periacuteodo imperial64 graccedilas agrave cessatildeo de trecircs pesquisadoras da

aacuterea da histoacuteria da leitura do livro e da alfabetizaccedilatildeo no Brasil professora Diane

Valdez da Universidade Federal de Goiaacutes professora Francisca Izabel Pereira

Maciel da Universidade Federal de Minas Gerais e professora Giselle Baptista

Teixeira da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias

57 Disponiacutevel em lthttpwwwbnportugalgovptgt Acesso em 22 de junho de 2019 58 Disponiacutevel em lthttpswwwbbmuspbrnodepage=5gt Acesso em 22 de junho de 2019 59 Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdgt Acesso em 22 de junho de 2019 60 Disponiacutevel em lthttpwwwfcppagovbrespacos-culturaissedebiblioteca-arthur-viannagt Acesso em 22 de junho de 2019 61 Disponiacutevel em lthttpswww2senadolegbrbdsfpagesobregt Acesso em 22 de junho de 2019 62 Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrgt Acesso em 22 de junho de 2019 63 Agradecemos agrave Diane Valdez professora da Universidade Federal de Goiaacutes que nos disponibilizou esse DVD 64 Especificaremos os livros cedidos oportunamente no decorrer do trabalho

46

Ao final deste trabalho listamos todas as referecircncias completas das fontes

mencionadas identificando a localizaccedilatildeo de cada uma Acreditamos que tal cuidado

atesta em alguns aspectos a veracidade das fontes ao mesmo tempo em que

facilitaraacute o trabalho dos pesquisadores que desejarem investigar a histoacuteria da

educaccedilatildeo em Goiaacutes

A consulta a todas essas fontes permitiu ao longo do trabalho levantar outras

problematizaccedilotildees novos objetos aguccedilando desdobramentos e continuidades desta

pesquisa aprofundando-a para aleacutem destas paacuteginas Concomitantemente essa

anaacutelise tambeacutem colaborou para delimitarmos e ampliarmos os argumentos que

sustentam nossa tese

Esses satildeo os principais ldquolocais de memoacuteriasrdquo65 em que pesquisamos outros

seratildeo durante o texto destacados com a especificaccedilatildeo das fontes laacute catalogadas Eacute

importante frisar que conservamos a grafia dos documentos consultados e citados

ldquoUM TAL DE CORTAR MEXER REESCREVER AMPUTAR

TRANSFORMAR A MATEacuteRIA-PRIMA EM PRODUTO FINAL A MOacute DE

QUE OS VACILOS A SANGRIA DESATADA NAtildeO TRANSPARECcedilAM

NINGUEacuteM TEM NADA A VER COM ESSAS PLAacuteSTICAS EM SEacuteRIE

O LEITOR QUER UM ROSTINHO BONITO NADA MAISrdquo66

Em vista do exposto organizamos este trabalho em duas partes com cinco

seccedilotildees dispostas da seguinte forma

A primeira parte ldquolsquoPasseando pelos arredoresrsquo do campo da alfabetizaccedilatildeo os

discursos produzidos sobre o objeto de pesquisardquo67 contempla a seccedilatildeo um ldquoGoiaacutes

na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasilrdquo em que compomos o estado da arte sobre as

pesquisas no campo da alfabetizaccedilatildeo no Brasil localizando as que tratam de seus

aspectos histoacutericos A tentativa tambeacutem foi de localizar o estado de Goiaacutes nessas

produccedilotildees

Jaacute a segunda parte da tese ldquoAlfabetizando crianccedilas na proviacutencia de Goiaacutesrdquo

conteacutem as seccedilotildees de dois a cinco

65 Expressatildeo de Nora (1993) 66 Verso do poema ldquoPoema eacute uma carnificinardquo de Chacal (2016) publicado na sua obra Tudo (e mais um pouco) 67 O tiacutetulo dessa parte da tese toma emprestada a expressatildeo ldquoPasseando pelos arredoresrdquo do livro de leitura Goiaz coraccedilatildeo do Brasil de Monteiro (1934)

47

Na seccedilatildeo dois analisamos como se organizou a instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes

no periacuteodo imperial apoacutes o Ato Adicional de 1834 (BRASIL 1834) pelo qual as

Assembleias Provinciais ficaram responsaacuteveis por legislar sobre a instruccedilatildeo nas

proviacutencias do paiacutes A partir de um panorama educacional e social de Goiaacutes em diaacutelogo

com as poliacuteticas nacionais do Impeacuterio esse capiacutetulo evidenciou as principais bases

de um projeto de sociedade goiana que se arquitetava sob influecircncia da Igreja e ao

mesmo tempo se abria agraves propostas de modernidade do seacuteculo XIX

Inventariar os meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas goianas no

oitocentos foi o objetivo da seccedilatildeo trecircs A partir dos documentos do Arquivo Histoacuterio

Estadual de Goiaacutes caracterizamos os tipos de impressos que circularam pelas

escolas da proviacutencia apreendendo seus ideaacuterios tanto para ensinar ler e escrever

quanto para o ensino da leitura corrente68

As seccedilotildees quatro e cinco tratam de iniciativas do governo goiano para

instaurar mudanccedilas na instruccedilatildeo primaacuteria especialmente para ensinar a ler e escrever

em menos tempo e de maneira agradaacutevel a partir de livros estrangeiros e brasileiros

Na seccedilatildeo quatro o destaque eacute para os livros estrangeiros tomando como referecircncia

as principais impressotildees e repercussotildees da viagem de Feliciano Primo Jardim na

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes Primo Jardim foi um professor goiano enviado pelo

Presidente da Proviacutencia ao Rio de Janeiro para fazer um curso sobre o meacutetodo

Castilho Por fim na seccedilatildeo cinco apresentamos a produccedilatildeo didaacutetica brasileira que

circulou em Goiaacutes no periacuteodo imperial investigando sobre os impressos escritos por

educadores brasileiros que influenciaram a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas

ldquoSOB A PELE DAS PALAVRAS HAacute CIFRAS E COacuteDIGOSrdquo69

Antes de terminar uma ressalva linguiacutestica

Maiormente neste trabalho usamos a primeira pessoa do plural Parecia-nos

incoerente adotar algo ao contraacuterio jaacute que nossas anaacutelises se ancoram na teoria

discursiva de Bakhtin e de pensadores do seu ciacuterculo Para Bakhtin ldquoeu natildeo posso

me arranjar sem um outro eu natildeo posso me tornar eu mesmo sem um outro eu tenho

de me encontrar num outro para encontrar um outro em mimrdquo (BAKHTIN 2013 p

68 Especificaremos na seccedilatildeo 3 a distinccedilatildeo entre essas categorizaccedilotildees dos impressos 69 Versos do poema ldquoA Flor e a Naacuteuseardquo de Carlos Drummond de Andrade (1978) publicado no livro Antologia Poeacutetica

48

287) Portanto os tempos obscuros de individualismo cientiacutefico e intoleracircncia agrave

diversidade que assolam a Universidade e o mundo fazem mais que urgente a defesa

pelo rompimento de certos padrotildees que a pesquisa e a liacutengua nos impotildeem como por

exemplo o uso impessoal da 3ordm pessoa do singular

Por isso esta tese eacute um diaacutelogo entre a minha voz (de autor) e as diferentes

vozes impressas nos livros e nos documentos bem como com as vozes dos possiacuteveis

leitores Agrave vista disso falamos acreditamos pensamos analisamos descrevemos

fazemos sentimos definimos tratamos demarcamos e tantos outros verbos com

terminaccedilatildeo idecircntica ou de mesma natureza morfossintaacutetica que estabeleceram os

modos de escrever a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

VAMOS PASSEAR

O primeiro livro de leitura escrito em Goiaacutes e dirigido agraves crianccedilas com intuito de

ensinar a histoacuteria do estado foi Goiaz coraccedilatildeo do Brasil publicado em 1934 por Ofeacutelia

Soacutecrates do Nascimento Monteiro professora goiana (MONTEIRO 1934)70 A obra

conteacutem duas partes a primeira com setenta e quatro capiacutetulos e a segunda com vinte

e oito em que a autora trata de questotildees como ldquohigienizaccedilatildeo romantizaccedilatildeo da

infacircncia grupos escolares gecircnero ensino primaacuterio ambiente de estudo

(domeacutesticoescolar) precircmios ensino de histoacuteria leitura livro avaliaccedilatildeo []rdquo

(VALDEZ 2016 p 82)

As personagens principais meninas em idade escolar71 em alguns momentos

da narrativa ldquopasseiam pelos arredoresrdquo do estado de Goiaacutes sempre acompanhadas

por algueacutem da famiacutelia Durante os passeios elas satildeo instruiacutedas sobre algum aspecto

da cultura ou geografia ou histoacuteria goianas Inspirando-nos nesse enredo fazemos

70 Importante mencionar que esse livro foi adotado em todas os Grupos Escolares e Escolas Isoladas do estado por meio do Decreto nordm 4349 de 26 de fevereiro de 1934 (GOIAacuteS 1934) tendo duas ediccedilotildees (1934 e 1983) dada a sua linguagem acessiacutevel agrave crianccedila A narrativa que tem um tom moralista e muito patrioacutetico retrata o cotidiano escolar de crianccedilas que por meio de cartas contam os principais fatos da histoacuteria de Goiaacutes exaltando suas riquezas naturais e culturais A obra de Ofeacutelia surgia no contexto das transformaccedilotildees do estado de disputas poliacuteticas com a ascensatildeo de Pedro Ludovico Teixeira ao governo estadual que apresentou ao Presidente Vargas a ideia de fundar a nova capital goiana transferindo os poderes puacuteblicos a uma nova sede (MONTEIRO 1934 DIAS 2018) Sobre essa obra cf Oliveira e Peres (2016) Valdez (2016) e Dias (2018) 71 Monteiro (1934) daacute nome a essas meninas colocando-as como personagens principais do enredo Satildeo elas Aldacira Eunice Inaacute Iraniacute Jurema Lelia Luciacute Maria Siacutelvia e Tereza

49

um convite ao leitor vamos passear conosco por Goiaacutes do seacuteculo XIX e conhecer um

pouco da trajetoacuteria do ensino de leitura e escrita no ldquocoraccedilatildeo do Brasilrdquo

50

PARTE I

ldquoPASSEANDO PELOS ARREDORESrdquo DO CAMPO DA

ALFABETIZACcedilAtildeO OS DISCURSOS PRODUZIDOS SOBRE

O OBJETO DE PESQUISA

ldquondash Papai disse ela ofegante e ocultando o volume nas

costas adivinhe como se chama o livro que trago nas

costas

ndash Vejamos filhinha se sou bom feiticeiro Garanto que

vocecirc traz aiacute o ldquoGoiazrdquo de Taunay [] hontem agrave noite vocecirc

natildeo me disse que sua coleguinha Alci estava concluindo a

leitura do ldquoGoiazrdquo do Visconde de Taunay para lhe

emprestar

ndash Disse sim senhor

ndash Pois lembrando disso foi que conclui ser esse o livro que

trazias tatildeo triunfalmente

ndash Triunfalmente mesmo meu pai gosto imenso dos livros

que falam em minha terra queridardquo

(MONTEIRO 1934 p 204-205)

51

1 GOIAacuteS NA HISTOacuteRIA DA

ALFABETIZACcedilAtildeO DO BRASIL ____________________________________

Certeau (2002) assevera que o historiador nas uacuteltimas geraccedilotildees adentrou

zonas silenciosas deixando de constituir impeacuterios em busca de uma histoacuteria global

ldquoFez um desviordquo para outras margens a citar os estudos culturais E sob esse ponto

de vista investiga(ou) temascampos antes natildeo privilegiados a feiticcedilaria a loucura a

festa a literatura a cidade a leitura o livro escolar a alfabetizaccedilatildeoanalfabetismo

dentre outros

Ocupando-se de temaacuteticas distintas a histoacuteria mostrou-se tal como Manoel de

Barros descreve a poesia ldquolivre como um rumo nem desconfiadordquo (BARROS 2010

p 110) Entretanto essa liberdade estaacute cerceada pelos limites da operaccedilatildeo

historiograacutefica aqui entendida no modelo certeauniano

Encarar a histoacuteria como uma operaccedilatildeo seraacute tentar de maneira necessariamente limitada compreendecirc-la como a relaccedilatildeo entre um lugar (um recrutamento um meio uma profissatildeo etc) procedimentos de anaacutelise (uma disciplina) e a construccedilatildeo de um texto (uma literatura) (CERTEAU 2002 p 66 grifos do autor)

Desse modo na concepccedilatildeo de Ginzburg (1989) o historiador a estilo de

Sherlock Holmes Freud e do criacutetico de arte Morelli se ateacutem aos detalhes aos signos

mais esparsos aos indiacutecios deixados pelos rastros da histoacuteria Com uma lupa nas

matildeos examina os pormenores negligenciaacuteveis num ldquogesto talvez mais antigo da

histoacuteria intelectual do gecircnero humano o do caccedilador agachado na lama que escruta

52

as pistas da presardquo (GINZBURG 1989 p 154) Logo acompanhando a orientaccedilatildeo do

meacutetodo historiograacutefico de Hilsdorf assumida por Vidal e Faria Filho (2005)

movimentamos as lenteslupas da histoacuteria com objetivo nesta seccedilatildeo e parte da tese

de inventariar e refletir sobre a produccedilatildeo acadecircmica72 relativa agrave histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Brasil evidenciando o lugar ocupado pelo estado de Goiaacutes nesse

campo temaacutetico

Esta seccedilatildeo portanto estaacute organizada em dois itens Inicialmente fizemos um

balanccedilo do conhecimento produzido ao longo do tempo sobre alfabetizaccedilatildeo e das

pesquisas que consideram sua ldquofacetardquo histoacuterica (SOARES 1985) sobretudo no

contexto da Academia

Porteriormente no segundo toacutepico deslocamos as lentes da histoacuteria em duas

direccedilotildees A primeira lente refere-se aos lugares Circunscrevendo as pesquisas em

seus territoacuterios 1) de elaboraccedilatildeo (universidades grupos de pesquisa) e 2) de foco

investigativo (os espaccedilos a que as pesquisas se referem) demonstramos os estados

que mais produziram conhecimento acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e tambeacutem

aqueles que foram objetostemas de investigaccedilotildees A segunda lente volta-se para os

periacuteodos histoacutericos e fontes mais pesquisados tendo como temaacutetica a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo

Num diaacutelogo polifocircnico com os objetos de estudos e problematizaccedilotildees de

diferentes investigaccedilotildees colaboramos para a construccedilatildeo de novas perguntas e

algumas (in)certezas em relaccedilatildeo ao ensino inicial de leitura e escrita Afinal em

ldquotempo de morangosrdquo73 ldquocreio ser sempre necessaacuterio natildeo ter certeza isto eacute natildeo estar

excessivamente certo de lsquocertezasrsquordquo (FREIRE 2011 p 210)

11 ALFABETIZACcedilAtildeO UM TEMA EM DIFERENTES DISCURSOS

A origem de um gecircnero discursivo para Bakhtin (2010) estaacute intimamente

ligada agraves esferas de comunicaccedilatildeo social No que se refere agrave esfera acadecircmica a

exigecircncia eacute a incorporaccedilatildeo de um discurso cientiacutefico altamente dialoacutegico A fala dos

72 Vale ressaltar que neste trabalho compreendemos como produccedilatildeo acadecircmica as pesquisas em formato de teses e dissertaccedilotildees Como sabemos essa produccedilatildeo evolui a cada dia o que nos leva a definir o marco temporal desse levantamento entre a deacutecada de 1990 ateacute junho de 2019 73 Expressatildeo cunhada por Clarice Lispector no livro A hora da estrela (1977 p 108) ao se referir ao tempo passageiro

53

outros eacute integrada atraveacutes de citaccedilotildees de obras ou referecircncias (in)diretas aos sujeitos

da pesquisa tudo isso auxiliando na cientificidade de uma produccedilatildeo acadecircmica No

entanto natildeo se mede essa cientificidade ndash se eacute que ela seja mesmo mensuraacutevel ndash

calculando apenas a presenccedila de citaccedilotildees e sim pela articulaccedilatildeodiaacutelogo entre elas

e as ideias do autor Seraacute esse diaacutelogo que determinaraacute a promoccedilatildeo de novos

conhecimentos

Por esse motivo urge que cada campo levante uma espeacutecie de ldquoestado da arterdquo

sobre as temaacuteticasconhecimentos que circulam em torno de sua constituiccedilatildeo Afinal

com a expansatildeo das poliacuteticas de fomento agrave poacutes-graduaccedilatildeo e a criaccedilatildeo de novos

cursos de mestrado e doutorado diariamente defendem-se mais teses e dissertaccedilotildees

a respeito de variados assuntos No caso da alfabetizaccedilatildeo Maciel (2014) ressalta que

o crescente interesse pelo tema reverberou em iniciativas governamentais e em

mudanccedilas na legislaccedilatildeo contudo ldquoos problemas baacutesicos dana alfabetizaccedilatildeo

persistemrdquo (MACIEL 2014 p 127)

A leitura dos diversos resumos e do conteuacutedo de dissertaccedilotildees e teses sobre

alfabetizaccedilatildeo fez-nos verificar que haacute uma histoacuterica preservaccedilatildeo do discurso que

procura os culpados para as mazelas da educaccedilatildeo ldquoPrevalecem as criacuteticas agrave

insuficiecircncia e agrave precariedade da formaccedilatildeo do professor alfabetizador [] ou ainda e

sobretudo apontando a falta de sintonia entre os discursos teoacutericos e as reflexotildees

sobre as praacuteticas dos alfabetizadoresrdquo (MACIEL 2014 p 126)

E embora constatemos que muitos dos problemas citados persistem no

universo da pesquisa acadecircmica natildeo podemos desconsiderar todos os avanccedilos que

obtivemos na aacuterea educacional devido agraves diferentes contribuiccedilotildees dos grupos de

pesquisa instalados nas universidades Exemplo notaacutevel disso eacute o acesso cada vez

maior da crianccedila com deficiecircncia agrave rede regular de ensino dentre outros aspectos

resguardados pela legislaccedilatildeo da educaccedilatildeo especial numa perspectiva inclusiva

Muitas dessas conquistas se devem aos trabalhos de vaacuterios pesquisadores que se

engajaram numa luta social e disseminaram teorias de inclusatildeo que valorizam o ser

humano e suas individualidades74

74 Nesse ponto destacam-se as pesquisas desenvolvidas pelo Laboratoacuterio de estudos e pesquisas em ensino e diferenccedila (LEPED) da Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Campinas que desde 1996 coordenado pela Profordf Drordf Maria Teresa Egleacuter Mantoan disseminou vaacuterias propostas sobre uma educaccedilatildeo na diversidade auxiliando na construccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo especial Parte dos avanccedilos dessas poliacuteticas pode ser conferida em Mantoan (2014)

54

Destarte haacute que se questionar sobre alguns discursos que rondam a escola

brasileira e que de certa forma legitimam e naturalizam o fracasso do processo de

ensino e aprendizagem na fase inicial do ensino de leitura e escrita Quais foram as

repercussotildees e as consequecircncias desses discursos sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e

sobre as poliacuteticas puacuteblicas de leitura e escrita A favor de quem foram difundidos

Sobre quais bases filosoacuteficas epistemoloacutegicas e ideoloacutegicas foram essas praacuteticas e

poliacuteticas construiacutedas Parafraseando Klemperer (2009 p 55) acrescentariacuteamos que

discursos como esses podem ser como minuacutesculas doses de arsecircnico satildeo engolidos

de maneira despercebida e parecem ser inofensivos ldquopassado um tempo o efeito do

veneno se faz notarrdquo

Em direccedilatildeo contraacuteria aderimos agraves proposiccedilotildees de Charlot (2002) ao afirmar

que eacute preciso fazer uma leitura positiva da escola desvencilhada de preconceitos e

achismos No que concerne agrave temaacutetica desta tese um estudo histoacuterico da

alfabetizaccedilatildeo tal questatildeo alerta-nos para natildeo corrermos os riscos de uma anacrocircnica

ilusatildeo que nos leva a transformar a Histoacuteria em juiacuteza dos fatos Longe de julgar se o

passado ou o presente das praacuteticas alfabetizadoras deram conta das dimensotildees da

leitura e da escrita pretendemos compreender a alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir de

uma dimensatildeo historiograacutefica

Concebendo que estamos imersos numa rede discursiva e que ldquonovas palavras

satildeo criadas ou a velhas palavras daacute-se um novo sentindo quando emergem novos

fatos novas ideias novas maneiras de compreender os fenocircmenosrdquo (SOARES 1998

p 19) chama-nos a atenccedilatildeo como a palavra alfabetizaccedilatildeo ganhou ao longo do tempo

uma seacuterie de significados e natildeo estaacute mais restrita ao campo da liacutengua portuguesa

outrossim enxergamo-la aqui como um tema permeado e perpassado por diferentes

discursosvozes sociais (MORTATTI 2011a)

Numa busca no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes em junho de 2019

foram encontrados 6094 resultados com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo conforme

apresentamos na tabela a seguir

55

Tabela 2 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees identificadas no Banco de dados da Capes a

partir da busca com a palavra ldquoalfabetizaccedilatildeordquo

Ano TesesDissertaccedilotildees

1987-1989 57

1990-1999 533

2000-2009 1656

2010-2019 3848

Total 6094

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Os 6094 resultados natildeo expressam exatamente a quantidade de produccedilotildees

acadecircmicas sobre a alfabetizaccedilatildeo Tal como Mortatti (2011a) aponta haacute uma

pluralidade e complexidade de conceitos atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo o que justifica o

nuacutemero expressivo de trabalhos localizados em aacutereas externas agraves ciecircncias humanas

Encontramos vocaacutebulos que adjetivavam o termo alfabetizaccedilatildeo destacando esse

processo no seu ldquosentido amplordquo75 (MORTATTI 2011a) e tambeacutem ao modo como se

aprende76

Poreacutem ao delimitar a definiccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo no seu ldquosentido mais restrito

e especiacuteficordquo (MORTATTI 2011a) entendendo-a como processo de ensino e

aprendizagem iniciais da leitura e escrita o nuacutemero se reduz mas ainda eacute significativo

confirmando o interesse dos pesquisadores pela temaacutetica A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo a

pesquisa ldquoAlfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimentordquo (ABEC)77 realizada

75 Mortatti (2011a) elucida a ampliaccedilatildeo dos sentidos atribuiacutedos agrave alfabetizaccedilatildeo utilizando a expressatildeo ldquosentido amplordquo e ldquosentido mais restrito e especiacuteficordquo do ldquotermoconceito alfabetizaccedilatildeordquo Na voz da autora ldquoa utilizaccedilatildeo do termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo consolidou-se no Brasil a partir do iniacutecio do seacuteculo XX sempre relacionado predominantemente com processos de escolarizaccedilatildeo e a partir das deacutecadas finais desse seacuteculo passou a ser utilizado tanto em sentido amplo (ldquoalfabetizaccedilatildeo matemaacuteticardquo ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo dentre outros) quanto em sentido mais restrito e especiacutefico ldquoensino-aprendizagem inicial de leitura e escritardquo (MORTATTI 2011a p 8) Em consulta aos tiacutetulos dos 6094 trabalhos algumas expressotildees encontradas para se referir a esse aspecto do ldquosentido amplordquo foram alfabetizaccedilatildeo ambiental artiacutestica cartograacutefica cientiacutefica cientiacutefica-tecnoloacutegica-digital computacional digital ecoloacutegica econocircmica estatiacutestica esteacutetica financeira geograacutefica histoacuterica informacional linguiacutestica matemaacutetica musical nutricional poliacutetica tecnoloacutegica visual etc 76 Foram identificadas algumas expressotildees que denotavam caracteriacutesticas aos modos de se alfabetizar alfabetizaccedilatildeo afetiva digital integral interacional online solidaacuteria etc 77 A pesquisa ldquoAlfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimentordquo (ABEC) teve iniacutecio em meados de 1980 e manteacutem desde entatildeo caraacuteter permanente no Centro de Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita (CEALE FaEUFMG) ldquoSeus objetivos satildeo 1) levantamento e avaliaccedilatildeo da produccedilatildeo acadecircmica (teses e dissertaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeo) produzida nos programas de poacutes-graduaccedilatildeo das Instituiccedilotildees brasileiras 2) avaliaccedilatildeo qualitativa e quantitativa das

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inicialmente por Soares (1989) e posteriormente atualizada por Soares e Maciel

(2000) e Maciel (2014) catalogou no periacuteodo compreendido entre 1961 e 2012 1618

trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

Ao cotejarmos esses dados com os apresentados por Mortatti Oliveira e

Pasquim (2014) que inventariaram cerca de 1440 teses e dissertaccedilotildees entre os anos

de 1965 e 201178 percebemos que a partir de deacutecada de 1980 aumenta o nuacutemero de

trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo o que expressa uma questatildeo

macroestrutural no campo Nesse momento ocorreram as primeiras divulgaccedilotildees da

teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita desenvolvida por Ferreiro e Teberosky (1985)

e o termo letramento79 comeccedilava a ser utilizado para denotar os aspectos sociais da

aprendizagem da liacutengua escrita

Esses fatos igualmente explicam as conclusotildees de pesquisas sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil feitas por Esposito (1992) Mortatti (2014) Guimaratildees e Quillici

Neto (2018)

Esposito (1992) demonstrou como nos fins da deacutecada de 1980 o enfoque dos

artigos publicados na Revista Cadernos de Pesquisa foi plural e voltado para o

questionamento dos materiais didaacuteticos utilizados na escola para alfabetizar as

crianccedilas Dentre esses materiais a cartilha foi tratada de forma mais atenuada devido

produccedilotildees cientiacuteficas 3) socializaccedilatildeo da produccedilatildeo aos pesquisadores brasileiros por meio da inclusatildeo no banco de dados 4) integraccedilatildeo de diversos pesquisadores do paiacutes Quatro categorias e seus cruzamentos orientam a anaacutelise assuntos privilegiados pela produccedilatildeo pressupostos teoacutericos ideaacuterios pedagoacutegicos e natureza de texto (ensaio relato de experiecircncia estudo de caso etc) A partir de 2006 a pesquisa tornou-se interinstitucional e conta com a colaboraccedilatildeo de pesquisadores de UEMG UFES UFMT UFPA UFRGS UFU e UNESPrdquo Informaccedilotildees disponiacuteveis em lthttpwwwcealefaeufmgbralfabetizacao-no-brasil-o-estado-do-conhecimentoabechtmlgt Acesso em 10 de junho de 2019 78 Eacute importante destacar que os criteacuterios para coleta de dados no acircmbito da ABEC (SOARES 1989 SOARES MACIEL 2000 MACIEL 2014) e na pesquisa feita por Mortatti Oliveira e Pasquim (2014) satildeo diferentes Ambas as investigaccedilotildees inventariaram os trabalhos acadecircmicos sobre alfabetizaccedilatildeo no entanto em Soares (1989) foram inventariadas e analisadas dissertaccedilotildees de mestrado teses de caacutetedra de livre-docecircncia de doutorado e artigos publicados em 21 perioacutedicos especializados Em Soares e Maciel (2000) e Maciel (2014) permaneceram as dissertaccedilotildees e teses (doutorado e de concurso da carreira docente superior caacutetedraprofessor titular livre-docecircncia) excluindo os artigos cientiacuteficos Jaacute na pesquisa de Mortatti Oliveira e Pasquim (2014) satildeo consideradas apenas teses de doutorado e dissertaccedilotildees de mestrado 79 Segundo Mortatti (2004) a entrada do termo e conceito ldquoletramentordquo no Brasil inicia-se na deacutecada de 1980 quando eacute utilizado pela primeira vez por Mary Kato em 1986 na apresentaccedilatildeo do livro No mundo da escrita uma perspectiva psicolinguiacutestica Posteriormente a palavra tambeacutem aparece em publicaccedilotildees de Tfouni (1988) Kleiman (1995) e Soares (1995 1998 2003) Eacute importante destacar que na definiccedilatildeo do termo haacute divergecircncias e convergecircncias entre as autoras Para aprofundar nessas questotildees cf Mortatti (2004)

57

agrave criacutetica do construtivismo aos seus textos e aos meacutetodos de ensinar a ler e escrever

Na revista em questatildeo Esposito (1992) identifica e analisa cerca de 47 ensaios

publicados ao longo de 20 anos O primeiro trabalho identificado foi o de Poppovic em

1971 e o uacuteltimo o de Rosemberg em 199180

Mortatti (2014) consultando a Base Scientific Electronic Library Online

(SciELO) aponta 237 artigos sobre alfabetizaccedilatildeo em 78 perioacutedicos indexados e

divulgados entre 1972 e 2012 Desse total 207 foram publicados no periacuteodo

compreendido de 1992 a 2012 concluindo entatildeo a autora ldquopode-se constatar que

nas deacutecadas de 1990 e 2000 houve aumento significativo da divulgaccedilatildeo em

perioacutedicos ldquoqualificadosrdquo de artigos sobre alfabetizaccedilatildeordquo (MORTATTI 2014 p 145)

Comparando-se a quantidade de publicaccedilotildees de artigos de um lado e de teses

e dissertaccedilotildees de outro constata-se que haacute pouca visibilidade dessas pesquisas nos

perioacutedicos cientiacuteficos Mortatti (2014) assevera que muitos pesquisadores

principalmente mestrandos e doutorandos optam por publicar seus trabalhos em

livros capiacutetulos de livro anais de evento dentre outros meios e suportes de

divulgaccedilatildeo devido agraves exigecircncias da avaliaccedilatildeo para publicaccedilatildeo de artigos em revistas

cientiacuteficas e agrave grande demora para o seu aceite ou recusa Por isso consultando

outra base de dados o ldquoGoogle Acadecircmicordquo a autora localizou com a palavra

ldquoalfabetizaccedilatildeordquo 990 resultados entre 1987 a 2014 Diante disso ressalta a

necessidade de uma avaliaccedilatildeo do impacto cientiacutefico e social da produccedilatildeo acadecircmica

brasileira sobre o tema jaacute que as pesquisas sobre alfabetizaccedilatildeo natildeo tecircm chegado aos

ldquodestinataacuterios supostamente almejados professores alfabetizadores e gestores das

poliacuteticas puacuteblicas e da educaccedilatildeo baacutesicardquo (MORTATTI 2014 p 147)

Guimaratildees e Quillici Neto (2018) pesquisaram sobre a multiplicidade de

enfoques do tema alfabetizaccedilatildeo a partir da anaacutelise dos resumos de 5 perioacutedicos81

publicados entre 1944 e 2009 Nesse periacuteodo foram identificados 84 artigos Os

autores notaram que a partir da deacutecada de 1980 houve um aumento quantitativo no

nuacutemero de artigos publicados sobre alfabetizaccedilatildeo pois cerca de 8214 dos textos

80 Trata-se dos textos intitulados ldquoAlfabetizaccedilatildeo um problema interdisciplinarrdquo (POPPOVIC 1971) e ldquoRaccedila e educaccedilatildeo inicialrdquo (ROSEMBERG 1991) 81 Os perioacutedicos consultados por Guimaratildees e Quillici Neto (2018) foram Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos (RBEP) Cadernos de Pesquisa da Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo ndash Universidade de Satildeo Paulo (Cessou em 1998 continuou como Educaccedilatildeo e Pesquisa USP) Revista Educaccedilatildeo amp Sociedade (CEDES) e Revista Brasileira de Educaccedilatildeo (ANPEd)

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localizados estatildeo em ediccedilotildees de 1980 a 2009 Observaram tambeacutem a recorrecircncia

frequente agrave teoria cognitivista como ressaltou Soares (1997)

nos anos 80 [] a Psicologia Geneacutetica piagetiana traz uma nova compreensatildeo do processo de aprendizagem da liacutengua escrita atraveacutes particularmente das pesquisas e publicaccedilotildees de Emilia Ferreiro e seus colaboradores obrigando a uma revisatildeo radical das concepccedilotildees do sujeito aprendiz da escrita e de suas relaccedilotildees com esse objeto de aprendizagem a liacutengua escrita (SOARES 1997 p 60)

As informaccedilotildees apresentadas por todos esses autores contrapondo-se ao

levantamento das teses e dissertaccedilotildees sobre a alfabetizaccedilatildeo incitam agrave reflexatildeo sobre

dois pontos essenciais acerca das tendecircncias do discurso produzido sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil

A primeira tendecircncia estaacute na ecircnfase dada agrave leitura como objeto privilegiado da

alfabetizaccedilatildeo Os discursos empreendidos sobre o processo de alfabetizaccedilatildeo

retinham-se historicamente aos estudos dos domiacutenios da habilidade de leitura ficando

a escrita agrave margem do processo Baseados em Mortatti (2000) sabemos que a

mudanccedila desse discurso se propagou sobretudo a partir de 1985 com a teoria da

psicogecircnese da liacutengua escrita e teve uma ruptura paradigmaacutetica com as ideias

difundidas por Geraldi (1984 1992 1996)82 e Smolka (1988) lanccediladas tambeacutem na

deacutecada de 80 mas que ganharam maior visibilidade a partir dos anos 90

Considerando a escrita como um processo de produccedilatildeo desvinculada da coacutepia e do

traccedilado de letras Geraldi (1984 1992 1996) e Smolka (1988)83 evocam uma

dimensatildeo discursiva do ensino de liacutengua portuguesa e o texto passa a ser o objeto

central da aula de modo que alfabetizar estaacute associado ao ensino da leitura e da

produccedilatildeo de textos

Ainda sobre essa primeira tendecircncia Soares (2016) nos lembra que os

meacutetodos e livros de alfabetizaccedilatildeo ateacute meados de 1980 destacavam a leitura como

elemento central do processo ldquomeacutetodos de leiturardquo e os ldquolivros de leiturardquo A

82 Embora muitos dos textos de Geraldi natildeo tratem precisamente da aprendizagem inicial da leitura e escrita as reflexotildees empreendidas pelo autor contribuiacuteram para inauguraccedilatildeo de um novo momento da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil como explica Mortatti (2000) 83 Sobre as contribuiccedilotildees de Geraldi para o ensino de liacutengua portuguesa no Brasil cf Silva Ferreira e Mortatti (2014) e Paula (2014) Acerca da dimensatildeo discursiva da alfabetizaccedilatildeo e das contribuiccedilotildees da publicaccedilatildeo da obra A crianccedila na fase inicial da escrita a alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo de Smolka (1988) cf Goulart Gontijo e Ferreira (2017)

59

produccedilatildeo de texto era conteuacutedo das seacuteries seguintes quando a crianccedila jaacute dominava

o ldquocoacutedigo escritordquo84 e as ldquoconvenccedilotildees da liacutenguardquo

A segunda tendecircncia evidencia-se nos referenciais teoacuterico-conceituais que

embasam as teses e dissertaccedilotildees Notamos que a teorizaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo na

perspectiva do letramento difundida especialmente por Magda Soares tem sido

recorrentemente utilizada pelos pesquisadores Numa anaacutelise por amostragem

selecionamos aleatoriamente 400 dissertaccedilotildees e teses do campo da alfabetizaccedilatildeo

produzidas a partir da deacutecada de 1980 conforme descrevemos na tabela

Tabela 3 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees selecionadas no Banco de dados da Capes

Ano Dissertaccedilotildees Teses

1980-1989 85 1585

1990-1999 80 2086

2000-2009 50 50

2010-2019 50 50

Total 265 135

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Dos 400 trabalhos analisados 203 declararam em seus resumos utilizar no

referencial teoacuterico da pesquisa a compreensatildeo de alfabetizaccedilatildeo atrelada agrave noccedilatildeo de

letramento 97 trabalhos natildeo declararam filiaccedilatildeo agraves noccedilotildees de letramento embora em

38 deles o termo surja no decorrer do texto

Nas 241 pesquisas que utilizaram o termo letramento a base teoacuterica eacute

sintetizada nas terminologias ldquoalfabetizar letrandordquo ldquoalfabetizaccedilatildeo e letramentordquo

ldquoalfabetizaccedilatildeo na perspectiva do letramentordquo No geral essas noccedilotildees foram

fundamentadas pelas contribuiccedilotildees de Magda Soares e Angela Kleiman De forma

mais especiacutefica Soares eacute referenciada nos 241 trabalhos enquanto Kleiman aparece

em apenas 106 o que nos leva a concluir que as ideias de Soares influenciaram na

84 Usamos aqui o termo ldquocoacutedigo escritordquo pois na base do pensamento dos meacutetodos tradicionais de alfabetizaccedilatildeo aprender a ler eacute um processo de aquisiccedilatildeo de um coacutedigo 85 Entre 1980 e 1989 foram selecionadas apenas 15 teses embora tenhamos identificado 23 trabalhos de doutoramento produzidos na deacutecada O criteacuterio de seleccedilatildeo foi a disponibilizaccedilatildeo desses trabalhos para download nas bibliotecas das universidades 86 Entre 1900 e 1999 foram selecionadas apenas 20 teses das 36 produzidas na deacutecada O criteacuterio de seleccedilatildeo foi a disponibilizaccedilatildeo desses trabalhos para download nas bibliotecas das universidades

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na composiccedilatildeo de muitas pesquisas no campo da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Tal fato

pode ser explicado devido ao engajamento dessa autora na aacuterea da alfabetizaccedilatildeo

infantil ao passo que Kleiman tem trabalhos diversos que abrangem o letramento natildeo

soacute na primeira infacircncia mas tambeacutem entre jovens adultos professores etc

A tendecircncia desse discurso que compreende a alfabetizaccedilatildeo aliada ao

letramento tambeacutem dialoga com os referenciais teoacutericos que sustentaram as poliacuteticas

empreendidas pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo na formaccedilatildeo continuada destinada aos

alfabetizadores no Brasil ateacute 201887 que ressaltaram a necessidade de o professor

conhecer a diferenccedila e indissociabilidade entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

Desde a implantaccedilatildeo do PROFA (Programa de Formaccedilatildeo de Professores

Alfabetizadores) em 2001 os Guias do Formador88 traziam como foco nos seus

objetivos e conteuacutedos de definiccedilatildeo a relaccedilatildeo entre alfabetizaccedilatildeo e letramento

recomendando aos professores a leitura dos capiacutetulos ldquoLetramento em verbeterdquo ldquoO

que eacute letramentordquo ldquoLetramento em texto didaacuteticordquo ldquoO que eacute letramento e

alfabetizaccedilatildeordquo do livro Letramento um tema em trecircs gecircneros de Magda Soares89

Os programas posteriores ao PROFA o PROacute-LETRAMENTO ndash Mobilizaccedilatildeo

pela Qualidade da Educaccedilatildeo (Programa de Formaccedilatildeo Continuada de Professores dos

AnosSeacuteries Iniciais do Ensino Fundamental) e o PNAIC (Pacto Nacional pela

87 Delimita-se esse recorte temporal com a ressalva de que o fim do programa federal Pacto Nacional pela Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa jaacute prenunciado em 2017 e efetivado em 2018 associado agrave implementaccedilatildeo do programa Mais Alfabetizaccedilatildeo instituiacutedo durante a gestatildeo de Michel Temer pocircs fim agrave discussatildeo da questatildeo do letramento na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas instaurando o discurso voltado para os resultados e responsabilizaccedilatildeo do corpo docente pelo desempenho acadecircmico dos alunos Em junho de 2019 o programa Mais Alfabetizaccedilatildeo continua em funcionamento com mudanccedilas definidas jaacute no governo de Jair Bolsonaro 88 O PROFA foi um programa organizado em trecircs moacutedulos (Cf BRASIL 2001a 2001b) Cada moacutedulo era direcionado por duas publicaccedilotildees o guia do formador e a coletacircnea de textos O guia do formador apresentava ldquoas sequecircncias de atividades de formaccedilatildeo com orientaccedilotildees detalhadas sobre como o formador pode encaminhar cada proposta de trabalho e como realizar suas intervenccedilotildees para favorecer a discussatildeo a reflexatildeo e a aprendizagem do grupo de professores Cada uma dessas sequecircncias eacute chamada de Unidaderdquo (BRASIL 2001a p 17) Na coletacircnea de textos encontravam-se reproduzidos alguns dos textos citados nas unidades de cada moacutedulo As orientaccedilotildees para o uso do Guia do Formador (BRASIL 2001a p 22) reforccedilavam que o formador ao planejar o seu trabalho ldquodeve providenciar com antecedecircncia as coacutepias dos textos indicados para fornececirc-las aos professores que por sua vez deveratildeo colocaacute-las na parte do Fichaacuterio destinada agrave Coletacircnea de Textosrdquo 89 Outro texto recomendado para estudo no acircmbito do PROFA (BRASIL 2001a) eacute o emblemaacutetico artigo de Magda Soares ldquoAs muitas facetas da alfabetizaccedilatildeordquo publicado no Cadernos de Pesquisa em 1985 (SOARES 1985)

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Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa)90 trabalharam com as noccedilotildees de letramento baseadas

principalmente em Soares91

Enfim diante da complexidade dos discursos acadecircmicos ateacute aqui expostos

que auxiliaram na organizaccedilatildeo dos domiacutenios da alfabetizaccedilatildeo no Brasil faz-se

necessaacuterio no contexto desta tese questionar qual foi a contribuiccedilatildeo do estado de

Goiaacutes na constituiccedilatildeo desses discursos

Iniciemos nossas reflexotildees a partir de alguns dados

Os quatro programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo que se destacam no

estado de Goiaacutes estatildeo ligados agrave Universidade Federal de Goiaacutes (UFG) e agrave Pontifiacutecia

Universidade Catoacutelica de Goiaacutes (PUC-GO) Dos quatro trecircs se vinculam agrave UFG o

primeiro e mais antigo com sede na Faculdade de Educaccedilatildeo em Goiacircnia o segundo

na Unidade Acadecircmica Especial Educaccedilatildeo na Regional de Catalatildeo e o terceiro na

Unidade Acadecircmica Especial Ciecircncias Humanas e Letras na Regional de Jataiacute92 Os

trecircs oferecem mestrado e apenas o primeiro oferece doutorado Na PUC-GO haacute oferta

de vagas para o curso de mestrado e doutorado

Considerando essa realidade e numa busca nos sites institucionais desses

programas constatamos que a temaacutetica alfabetizaccedilatildeo aparece apenas no programa

de poacutes-graduaccedilatildeo da UFG Regional de Catalatildeo na caracterizaccedilatildeo da linha de

pesquisa intitulada ldquoLeitura educaccedilatildeo e ensino de liacutengua materna e ciecircncias da

naturezardquo93 A esta linha vincula-se o grupo de pesquisa ldquoEDULE ndash Educaccedilatildeo Leitura

e Escritardquo que natildeo traz em sua descriccedilatildeo explicitamente o termo alfabetizaccedilatildeo94 mas

90 O PROFA esteve em funcionamento de 2001 a 2003 O PROacute-LETRAMENTO de 2005 a 2012 Jaacute o PNAIC de 2012 a 2018 Para uma leitura criacutetica desses programas cf Rocha Santos e Oliveira (2018) 91 Para aprofundar o conhecimento da vida e da obra de Magda Soares e suas contribuiccedilotildees para a alfabetizaccedilatildeo no Brasil cf Maciel (2018) Mortatti e Oliveira (2011) e a ediccedilatildeo especial do Jornal Letra A (novembrodezembro de 2012) que fez uma homenagem e reflexatildeo sobre os 80 anos de Magda Soares 92 Essa Unidade Acadecircmica em 2018 foi desmembrada da UFG passando a denominar Universidade Federal de Jataiacute (UFJ) Utilizamos aqui o nome anterior pois as pesquisas catalogadas nesse item foram defendidas quando a atual UFJ ainda era Unidade Acadecircmica da Universidade Federal de Goiaacutes 93 Estatildeo vinculados agrave linha de pesquisa ldquoLeitura educaccedilatildeo e ensino de liacutengua materna e ciecircncias da naturezardquo quatro professores orientadores dos quais dois natildeo trabalham com a temaacutetica leitura e escrita 94 Segundo dados do Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil Lattes CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico) o EDULE foi criado em 2010 e tem como liacutederes Selma Martines Peres e Maria Aparecida Lopes Rossi As temaacuteticas dos trabalhos do grupo estatildeo inscritas na seguinte descriccedilatildeo ldquodesenvolvimento de pesquisas que contribuam para a compreensatildeo da educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a leitura e escrita leitor livro

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as pesquisas conduzidas por Selma Martines Peres e Maria Aparecida Lopes Rossi

estatildeo direcionadas para essa aacuterea Esse grupo a partir de 2010 inaugurou algumas

iniciativas que colaboraram para a efervescecircncia de investigaccedilotildees acadecircmicas sobre

as praacuteticas de ensino de leitura e escrita no estado de Goiaacutes como o I Congresso

Nacional de Educaccedilatildeo e Leitura realizado em 2017 Esse evento contou com duas

ediccedilotildees antecedentes em niacutevel regional abrangendo as temaacuteticas Histoacuteria da Leitura

e do Livro e Praacuteticas de Leitura e Escrita

Outro dado importante para refletir sobre a questatildeo anteriormente formulada

diz respeito agraves produccedilotildees acadecircmicas sobre a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas

produzidas em Universidades de Goiaacutes Na busca nas bibliotecas digitais de

dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO em junho de 2019 identificamos 28

dissertaccedilotildees e nenhuma tese com o tema alfabetizaccedilatildeo conforme apresentamos na

tabela a seguir

Tabela 4 Quantidade de dissertaccedilotildees identificadas com o tema alfabetizaccedilatildeo nas bibliotecas

digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

Ano UFG PUC-GO

1990-1999 7 -

2000-2009 1 6

2010-2019 13 1

Total 21 7

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta nas bibliotecas digitais de dissertaccedilotildees e teses da UFG e da PUC-GO

As 28 dissertaccedilotildees identificadas demonstram uma tiacutemida produccedilatildeo sobre o

tema alfabetizaccedilatildeo nos programas de poacutes-graduaccedilatildeo em Goiaacutes Reconhecemos que

possivelmente numa procura mais ampla encontrariacuteamos outras pesquisas sobre a

alfabetizaccedilatildeo goiana produzidas em outras universidades de outros estados Dentre

as encontradas apenas uma vinculada agrave PUC-GO se ocupa com aspectos do

passado a de Guimaratildees (2011) A autora faz uma pesquisa sobre o estado do

analisando a histoacuteria da leitura cultura escolar ensino da liacutengua materna praacuteticas de leitura condiccedilotildees de produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de livros poliacuteticas de incentivo agrave leitura e livro adotadas por diferentes governos formaccedilatildeo do leitor em ambientes escolares e natildeo-escolaresrdquo O grupo conta com duas linhas de pesquisa 1) Ensino de Liacutengua Materna praacuteticas perspectivas e formaccedilatildeo do professor e 2) Leitura Histoacuteria Poliacuteticas e Praacuteticas Conta com 7 pesquisadores e 11 estudantes Informaccedilotildees disponiacuteveis em lthttpdgpcnpqbrdgpespelho grupo8175307049379548gt Acesso em 07 de junho de 2019

63

conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil ressaltando a preponderacircncia do

pensamento de Emilia Ferreiro Ana Teberosky e Magda Soares na educaccedilatildeo

brasileira As demais dissertaccedilotildees se inscrevem em anaacutelises de questotildees de sua

atualidade Vinte e trecircs pesquisas tecircm como objeto a alfabetizaccedilatildeo em municiacutepios

distintos do estado treze pesquisas foram realizadas sobre Goiacircnia duas sobre Santa

Cruz trecircs sobre Catalatildeo trecircs sobre Jataiacute e duas sobre Rio Verde95 Aleacutem disso duas

pesquisas96 se referiram agrave alfabetizaccedilatildeo no contexto estadual e uma dissertaccedilatildeo97

pesquisou acerca de documentos oficiais de um programa federal destinados aos

alfabetizadores A pesquisa de Amacircncio (1994) eacute a uacutenica que natildeo foi desenvolvida

sobre Goiaacutes tratando do espaccedilo ocupado pela cartilha em salas da 1ordf seacuterie no

municiacutepio de Rondonoacutepolis regiatildeo sul de Mato Grosso

Enfim esses dados ainda incitam a alguns questionamentos como a temaacutetica

alfabetizaccedilatildeo tem sido trabalhada no territoacuterio goiano no contexto da graduaccedilatildeo em

Pedagogia (jaacute que essa habilita o alfabetizador para exercer o seu ofiacutecio) Como o

estado de Goiaacutes e seus municiacutepios pensam suas poliacuteticas puacuteblicas de alfabetizaccedilatildeo

Como fomentar o interesse dos pesquisadores goianos pelo tema alfabetizaccedilatildeo Haacute

iniciativas externas agrave poacutes-graduaccedilatildeo em Goiaacutes que visem a conhecer o que se tem

feito e o que eacute premente fazer para garantia da alfabetizaccedilatildeo E ademais o que os

professores goianos tecircm praticado e em que se tecircm embasado para alfabetizar as

crianccedilas

As respostas a algumas dessas perguntas demandariam outras pesquisas98 e

novas problematizaccedilotildees Natildeo obstante a uacuteltima questatildeo vem ao encontro deste

trabalho de natureza histoacuterica Logo pesquisar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

impotildee olhar para o contexto macro como temos pensado e o que jaacute temos produzido

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

95 As dissertaccedilotildees que trazem Goiacircnia como loacutecus de pesquisa satildeo Sousa (1993) Rosa (1993) Souza (1995) Silva (1998) Vieira (2004) Santos (2005) Martin (2005) Campos (2006) Braga (2009) Souza (2009) Moreira (2017) Alves Oliveira (2018) Martins (2018) O municiacutepio de Santa Cruz Ferreira (1991) Barros (1992) O municiacutepio de Catalatildeo Silva (2015) Oliveira (2018) Nascimento (2019) O municiacutepio de Jataiacute Assis (2016) Souza (2019) Lima (2019) O municiacutepio de Rio Verde Barros (2008) Rodrigues (2019) 96 Xavier (2017) e Santos (2019) 97 Jesus (2019) 98 Eis o convite aos possiacuteveis leitores-pesquisadores desta tese

64

12 AS TESES E DISSERTACcedilOtildeES DO CAMPO TEMAacuteTICO DA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO

LUGARES PERIacuteODOS E FONTES

A alfabetizaccedilatildeo eacute ldquoum processo muito complexordquo conforme adverte Soares

(2015) Essa complexidade ldquojaacute determina a configuraccedilatildeo do campo de pesquisa como

uma aacuterea que necessariamente precisa fazer interfaces com outros campos de

conhecimentos cientiacuteficos e acadecircmicosrdquo (MACIEL 2003 p 230)

Por ser a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo um campo temaacutetico recente concordamos

com a afirmaccedilatildeo de Maciel (2003) de que as pesquisas historiograacuteficas sobre a

alfabetizaccedilatildeo estatildeo tambeacutem abrigadas sob terminologias de outros campos ldquoA

histoacuteria da instruccedilatildeo primaacuteria da leitura e da escrita eacute a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo

(MACIEL 2003 p 248) Todavia embora haja essas evidentes aproximaccedilotildees com

outros campos a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo se constitui em torno dos usos e praacuteticas

da leitura e escrita como aponta Magalhatildees (2001)

Satildeo ldquovaacuterias portas de entrada para estudar a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo as

instacircnciasinstituiccedilotildees os objetos os sujeitos os suportes e os meios de produccedilatildeo e

a transmissatildeo da escritardquo (FRADE 2011 p 184) A partir disso haacute uma variedade de

fontes que dialogam com esses objetos e que auxiliam na compreensatildeo do fenocircmeno

da alfabetizaccedilatildeo num espaccedilo e tempo particulares Essas fontes satildeo geralmente

selecionadas a partir do periacuteodo recortado que determina o tipo e o lugar onde

podemos encontraacute-las Frade (2018) nos provoca com algumas questotildees para pensar

sobre os estudos acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com as fontes

ldquoque aspectos da alfabetizaccedilatildeo estamos analisando sujeitos instacircncias objetos

meios de produccedilatildeo e transmissatildeo da escrita habilidades como isolaacute-los ou

relacionaacute-los aos fenocircmenos mais amplos que envolvem a cultura escritardquo (FRADE

2018 p 52)

Essas perguntas impulsionam a reflexatildeo que empreendemos doravante sobre

a produccedilatildeo acadecircmica relativa agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

Como jaacute mencionamos os trabalhos de Soares (1989) Soares e Maciel (2000)

e Silva (1998) alertaram para a escassez de pesquisas histoacutericas da alfabetizaccedilatildeo

pois no periacuteodo de 1961 a 1989 inventariaram somente 3 pesquisas sobre esse

assunto

Dando continuidade ao trabalho dessas autoras para o levantamento das

pesquisas produzidas a partir dos anos de 1990 no Brasil sobre a histoacuteria da

65

alfabetizaccedilatildeo realizamos uma busca no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

em junho de 2019 com os termos ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo ldquohistoacuteria do ensino inicial

de leiturardquo ldquohistoacuteria do ensino de leiturardquo ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo99 ldquohistoacuteria do

ensino primaacuteriordquo ldquohistoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteriardquo ldquohistoacuteria da escola primaacuteriardquo ldquoensino

de primeiras letrasrdquo ldquoprimeiras letrasrdquo ldquohistoacuteria da instruccedilatildeo primaacuteriardquo e ldquoinstruccedilatildeo

primaacuteriardquo Esses termos foram escolhidos por entendermos que satildeo nomenclaturas

referentes ao ensino inicial de leitura e escrita em diferentes momentos da histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira Os nuacutemeros de trabalhos identificados estatildeo sintetizados na

tabela 5

Tabela 5

Quantidade de dissertaccedilotildees e teses identificadas no Banco de dados da Capes com os termos relacionados na tabela

Termo Dissertaccedilotildees Teses

Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo 80 21

Histoacuteria do ensino inicial de leitura - 1

Histoacuteria do ensino de leitura 7 2

Histoacuteria do ensino de liacutengua 28 13

Histoacuteria do ensino primaacuterio 3 4

Histoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteria 6 4

Histoacuteria da escola primaacuteria 22 12

Ensino de primeiras letras 9 1

Primeiras letras 87 33

Histoacuteria da Instruccedilatildeo primaacuteria - 2

Instruccedilatildeo primaacuteria 85 50

Total 327 143

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Ao identificar os trabalhos o primeiro passo foi o de realizar o cruzamento entre

os resultados da pesquisa pois constatamos que algumas teses e ou dissertaccedilotildees se

repetiam nas buscas com determinados termos Por exemplo o trabalho de Pasquim

(2013) era mencionado tanto na busca ao termo ldquohistoacuteria do ensino de leiturardquo quanto

em ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo

Na sequecircncia fizemos a leitura de todos os resumos dos trabalhos e para

alguns casos quando no resumo natildeo estava expliacutecita a natureza do estudo tambeacutem

99 Deixamos apenas o termo ldquohistoacuteria do ensino de liacutenguardquo pois dessa forma na busca notamos que ele remete a todas as pesquisas inscritas pelas terminologias ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua e literaturardquo ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua portuguesardquo e ldquohistoacuteria do ensino de liacutengua maternardquo

66

realizamos uma anaacutelise de conteuacutedo para de fato distinguirmos as pesquisas

inscritas na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Nesse ponto consideramos somente os

trabalhos que tinham o objeto e a metodologia calcados na historiografia Algumas

pesquisas apresentavam capiacutetulos que remetiam agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo mas

tratavam de questotildees contemporacircneas por isso tais pesquisas foram

desconsideradas

Ao fazermos as anaacutelises das dissertaccedilotildees e teses tambeacutem notamos que a

busca com alguns termos detectou trabalhos vinculados a projetos de pesquisa eou

grupo de pesquisa que carregavam em seu nometiacutetulo os termos pesquisados Por

exemplo a tese de Morais (2014) eacute uma pesquisa cujo objetivo foi identificar os modos

de ler o livro impresso por meio das escritas de textos eletrocircnicos e aparece na busca

com o termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo visto que estaacute vinculada a um projeto do grupo

de pesquisa ldquoHISALES ndash Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo leitura escrita e dos livros

escolaresrdquo da Universidade Federal de Pelotas

Quando concluiacutemos essas etapas ao olhar para o rol de trabalhos

selecionados ainda percebiacuteamos algumas lacunas sobretudo a partir dos anos 2000

uma vez que havia ausecircncia de pesquisas muito significativas na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo brasileira Foi daiacute que optamos por voltar ao Banco de Teses e

Dissertaccedilotildees da Capes e buscar entre as 5504 pesquisas100 localizadas com a

palavra-chave ldquoalfabetizaccedilatildeordquo as que tinham um caraacuteter histoacuterico

Eacute importante destacar desde jaacute que catalogar pesquisas eacute algo a ser pensado

de acordo com os criteacuterios e limites da catalogaccedilatildeo As conclusotildees a que chegamos

natildeo fazem convergecircncia com outras jaacute enunciadas por exemplo por Oriani (2012)

que apresenta alguns estudos a nosso ver natildeo categorizados em temas

concernentes agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Desse modo tal alerta evidencia o diaacutelogo

profiacutecuo estabelecido nas diversas formas de se analisar um objeto de estudo e

portanto de conceber um campo temaacutetico de pesquisa

Por conseguinte no entrecruzamento dos dados apoacutes as vaacuterias seleccedilotildees e

anaacutelises listamos 125 trabalhos identificados no Banco de Dados da Capes

pertencentes ao campo temaacutetico da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo101

100 O nuacutemero 5504 corresponde ao total de pesquisas com o termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo produzidas de 2000 ateacute junho de 2019 conforme evidenciamos na tabela 2 101 Reconhecemos os limites dessa busca considerando os filtros que fizemos A intenccedilatildeo natildeo foi catalogar todos os trabalhos em formato de dissertaccedilatildeo e tese com o tema da histoacuteria

67

Tabela 6 Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por ano sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no

Brasil

Ano Dissertaccedilotildees Teses

1997 1 1

1998 - 1

1999 - -

2000 - 1

2001 3 3

2002 2 -

2003 3 -

2004 2 -

2005 2 3

2006 9 4

2007 5 1

2008 11 -

2009 5 -

2010 8 1

2011 6 2

2012 4 3

2013 14 5

2014 5 5

2015 3 1

2016 6 3

2017 2 -

2018 - -

2019 - -

Total 91 34

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes

Conforme evidenciado na tabela 73 dos trabalhos produzidos satildeo

dissertaccedilotildees de mestrado e apenas 27 teses de doutorado Esses dados vatildeo ao

encontro das conclusotildees de Maciel (2014) no levantamento sobre o estado do

conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil que indica uma disparidade entre o nuacutemero

de dissertaccedilotildees e teses numa proporccedilatildeo de 47 dissertaccedilotildees para uma tese

defendida102

da alfabetizaccedilatildeo mas fazer um panorama parcial do que se tem produzido dentro dos limites da pesquisa que realizamos 102 Segundo dados do Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes em junho de 2019 estavam registradas 22640 dissertaccedilotildees e 7330 teses defendidas no Brasil em programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo Proporcionalmente a cada 3 dissertaccedilotildees temos aproximadamente 1 tese defendida

68

Como podemos constatar os primeiros trabalhos localizados no Banco de

dados da Capes datam de 1997 Satildeo a pesquisa de Mestrado intitulada de Cartilha

do Povo e Upa Cavalinho O Projeto de Alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho de Bertoletti

(1997) e a tese de Doutorado A Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Poliacutetica na PARAIBRASIL

nos anos Sessenta de Scocuglia (1997)103

Ainda na deacutecada de 90 haacute o trabalho de Silva (1998) Ele transformou-se em

livro em 2015 publicado na Editora da Unicamp sob o tiacutetulo Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

no Brasil sentidos e sujeito da escolarizaccedilatildeo (SILVA 2015)

A pesquisa de Magnani (1997)104 por se tratar de uma tese de livre-

docecircncia105 natildeo eacute identificada na busca no Banco de dados da Capes A tese eacute uma

pesquisa na longa duraccedilatildeo da histoacuteria compreendendo o periacuteodo entre 1876 a 1994

transformou-se no marco inaugural de um meacutetodo e de uma proposta de compreensatildeo

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil106 O trabalho foi publicado posteriormente

em 2000 no formato de livro pela Editora da UNESP Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo

Satildeo Paulo 1876 ndash1994 Na apresentaccedilatildeo da obra Soares considera o trabalho de

Mortatti um ldquocacircnone das obras fundamentais de indispensaacutevel leitura sobre a

alfabetizaccedilatildeo no Brasil [] uma lsquofonte das fontesrsquo manancial de inuacutemeros estudos e

pesquisas sugeridos possibilitados facilitadosrdquo (SOARES 2000 p 13-15)

103 Gontijo (2011) tambeacutem destaca esse trabalho como um estudo sobre a alfabetizaccedilatildeo numa perspectiva histoacuterica 104 Magnani era o sobrenome da professora Maria do Rosaacuterio Longo Mortatti que passou a assim assinar apoacutes 1998 Ateacute entatildeo assinava Maria do Rosaacuterio Mortatti Magnani Tais dados podem ser conferidos no Curriacuteculo Lattes da autora no item ldquooutras observaccedilotildees relevantesrdquo 105 Trata-se da tese de concurso de livre-docecircncia na disciplina de Docecircncia em Metodologia do Ensino de 1ordm Grau Alfabetizaccedilatildeo Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo Presidente Prudente A tese intitulou-se Os sentidos da alfabetizaccedilatildeo a ldquoquestatildeo dos meacutetodosrdquo e a constituiccedilatildeo de um objeto de estudo (Satildeo Paulo 18761994) Participaram na comissatildeo julgadora do concurso de livre-docecircncia de Maria do Rosaacuterio os professores Luiz Carlos Cagliari Joatildeo Wanderley Geraldi Maria Alice Faria Clarice Nunes e Magda Soares 106 Mortatti (2000) propotildee quatro momentos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo tomando como referecircncia marcos formulados a partir das fontes documentais por ela consultadas o primeiro momento entre 1876 a 1890 em que haacute uma disputa entre o uso dos meacutetodos sinteacuteticos ndash de soletraccedilatildeo e silabaccedilatildeo ndash com o meacutetodo de palavraccedilatildeo proposto pelo poeta portuguecircs Joatildeo de Deus o segundo momento de 1890 a 1920 quando prevalece a disputa entre o meacutetodo analiacutetico e o sinteacutetico ndash especialmente o de silabaccedilatildeo ndash o terceiro momento a partir de meados de 1920 com a ecircnfase no meacutetodo misto (analiacutetico-sinteacutetico ou sinteacutetico-analiacutetico) e o quarto momento ainda em curso com iniacutecio no final da deacutecada de 1970 quando houve a entrada das teorias construtivistas no Brasil ndash sobretudo a de Emilia Ferreiro ndash e a perspectiva do ldquointeracionismo linguiacutesticordquo baseada em L S Vygotsky e Bakhtin jaacute na deacutecada de 80 quando comeccedilou a ser disseminada por meio das teorizaccedilotildees propostas por Joao Wanderley Geraldi e Ana Luiza Bustamante Smolka

69

Na busca a pesquisa de Carvalho (1998) tambeacutem natildeo foi referenciada com as

palavras-chave por noacutes selecionadas Esse trabalho analisou como foi organizado e

concebido o ensino de leitura e escrita em Satildeo Paulo no periacuteodo poacutes-proclamaccedilatildeo

da Repuacuteblica no Brasil (1890-1920) O discurso empreendido pela autora tomou como

base especialmente os artigos publicados na Revista de Ensino - Orgam da

Associaccedilatildeo Beneficente do Professorado Publico de Satildeo Paulo e nos Annuaacuterios do

Ensino do Estado de Satildeo Paulo

Da primeira deacutecada dos anos 2000 (2000-2009) catalogamos 54 trabalhos 42

dissertaccedilotildees de mestrado e 12 teses de doutorado Esses dados demonstram um

aumento das pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo coincidindo

com a maior divulgaccedilatildeo sobre a alfabetizaccedilatildeo nos perioacutedicos cientiacuteficos107 a

realizaccedilatildeo de eventos cientiacuteficos da aacuterea e tambeacutem a expansatildeo da publicaccedilatildeo de

livros e capiacutetulos sobre a historiografia da alfabetizaccedilatildeo Insta esclarecer que em

2003 foi lanccedilada a ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para a Alfabetizaccedilatildeordquo (2003-2012)

que notoriamente influenciou no Brasil segundo Mortatti (2013) algumas iniciativas

no acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas de educaccedilatildeo fazendo com que a alfabetizaccedilatildeo

ganhasse destaque entre as iniciativas governamentais e consequentemente as

acadecircmicas108

A partir dos anos 2000 o governo federal passou a investir em programas de

formaccedilatildeo continuada destinados aos alfabetizadores o PROFA o PROacute-

LETRAMENTO e o PNAIC Esses programas trouxeram agrave tona em todo o paiacutes o

tema alfabetizaccedilatildeo No PROFA e no PNAIC havia a discussatildeo sobre os aspectos

histoacutericos do ensino de leitura e escrita sendo retomada a perspectiva de

contextualizar as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XX sobretudo no Ocidente A

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo eacute tratada como conteuacutedo na formaccedilatildeo do professor

alfabetizador dando visibilidade aos estudos desse campo

Retomando a tabela 6 pontuamos que entre os anos 2010-2019 jaacute satildeo 68

trabalhos defendidos sendo 48 dissertaccedilotildees de mestrado e 20 teses de doutorado

nuacutemeros esses superiores aos da deacutecada anterior Nesses anos aumenta a produccedilatildeo

107 Conforme jaacute referenciado neste capiacutetulo os levantamentos de Mortatti (2014) Guimaratildees e Quillici Neto (2018) evidenciam tal fato 108 Sobre a ldquoDeacutecada das Naccedilotildees Unidas para a Alfabetizaccedilatildeordquo (2003-2012) cf Mortatti (2013) A autora faz um balanccedilo criacutetico dessa deacutecada no Brasil retomando aspectos da iniciativa e de outras que provocam avanccedilos mas que tambeacutem indicam a permanecircncia de muitos problemas histoacutericos na educaccedilatildeo particularmente na alfabetizaccedilatildeo infantil

70

de teses de doutorado Esse crescimento tambeacutem se relaciona agrave difusatildeo dos

programas de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo nas diversas regiotildees do paiacutes Aleacutem disso

grande parte dos orientadores dessas teses e dissertaccedilotildees se doutoraram entre os

anos 1999-2004 o que tambeacutem justifica a ampliaccedilatildeo vertiginosa de pesquisas de

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo nos uacuteltimos 10 anos

Enfim do que trataram essas pesquisas O que elas revelaram sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo do Brasil Onde foram produzidas E como foram difundidas

Quando tratamos sobre o lugar numa pesquisa natildeo estamos apenas

delimitando o espaccedilo onde ela foi produzida eou ao qual se refere A reflexatildeo vai

aleacutem O lugar tambeacutem eacute sinocircnimo de reconhecimentoposiccedilatildeo Eacute importante portanto

pensar esse lugar ocupado e conquistado pela histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no universo

da pesquisa

Na busca feita no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil com a palavra-

chave ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo109 localizamos 10 registros de grupos todos

vinculados agrave aacuterea de educaccedilatildeo Desse total natildeo identificamos pesquisas e relaccedilotildees

diretas com histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no ldquoGrupo de Estudo e Pesquisa em Narrativas

Formativas (Gepenaf)rdquo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Os demais

grupos arrolados abaixo satildeo mencionados e haacute pesquisas relacionadas agrave

historiografia da alfabetizaccedilatildeo

Quadro 1 Grupos de Pesquisa sobre Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo localizados no Diretoacuterio dos

Grupos de Pesquisa do Brasil

Grupo de Pesquisa Universidade Ano de Formaccedilatildeo

Centro de Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escrita (CEALE)

Universidade Federal de Minas Gerais ndash UFMG

1990

Grupo de Pesquisa Histoacuteria do Ensino de Liacutengua e Literatura no

Brasil (GPHELLB)

Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita

Filho ndash UNESP

1994

Nuacutecleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Histoacuteria

da Educaccedilatildeo ndash NIEPHE

Universidade de Satildeo Paulo ndash USP

1996

Histoacuteria da Educaccedilatildeo Literatura e Gecircnero

Universidade Federal do Rio Grande do Norte ndash UFRN

1998

109 Tal pesquisa foi realizada no site lthttplattescnpqbrwebdgphomegt Acesso em 28 de junho de 2019 A consulta foi parametrizada pelo termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo de modo que ele estivesse vinculado ao nome do grupo eou nome da linha de pesquisa eou palavra-chave da linha de pesquisa

71

Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Lugares de Formaccedilatildeo Cartilhas

e Modos de Fazer

Universidade Federal de Uberlacircndia ndash UFU

2004

Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Leitura Escrita e dos Livros Escolares

(HISALES)

Universidade Federal de Pelotas ndash UFPel

2006

NEPALES ndash Nuacutecleo de Estudos e Pesquisas em Alfabetizaccedilatildeo

Leitura e Escrita

Universidade Federal do Espiacuterito Santo ndash UFES

2006

Nuacutecleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de

Liacutengua e Literatura (NIPELL)

Universidade Federal de Satildeo Paulo ndash UNIFESP

2017

Grupo de Estudo e Pesquisa Linguagem Oral Leitura e Escrita

(GEPLOLEI)

Universidade Federal de Mato Grosso ndash UFMT

2017

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil

Numa outra busca no Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa no Brasil110 com o

termo ldquoalfabetizaccedilatildeordquo constata-se o registro de 260 grupos voltados agrave pesquisa nessa

aacuterea enquanto com o termo ldquohistoacuteria da educaccedilatildeordquo haacute 497 registros Esses dados

contrapostos aos apresentados no Quadro 1 demonstram que haacute um crescimento

mesmo que tiacutemido de grupos de pesquisa voltados aos estudos histoacutericos da

alfabetizaccedilatildeo Entretanto haacute um longo caminho a percorrer para dar maior visibilidade

a essa temaacutetica

Dos grupos de pesquisa inventariados no Quadro 1 o CEALE eacute o mais antigo

Criado por Magda Soares em 1990 ele eacute um oacutergatildeo complementar da Faculdade de

Educaccedilatildeo da UFMG destacando-se por diferentes pesquisas na aacuterea de

alfabetizaccedilatildeo ensino de liacutengua portuguesa e literatura A primeira pesquisa entre as

teses e dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo vinculadas ao CEALE foi

defendida por Maciel (2001) Lucia Casasanta e o meacutetodo global de contos uma

contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Minas Gerais

Ainda na deacutecada de 1990 foram criados outros trecircs grupos de pesquisa

Em 1994 o GPHELLB na UNESP coordenado por Maria do Rosaacuterio Longo

Mortatti Nesse grupo a dissertaccedilatildeo de mestrado Cartilha do povo e cartilha Upa

cavalinho o projeto de alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho de Bertoletti (1997) e a tese

110 Tal pesquisa foi realizada no site lthttplattescnpqbrwebdgphomegt Acesso em 28 de junho de 2019 A consulta foi parametrizada de modo que os termos pesquisados estivessem vinculados ao nome do grupo eou nome da linha de pesquisa eou palavra-chave da linha de pesquisa

72

de doutorado Ensino de leitura na escola primaacuteria no Mato Grosso contribuiccedilatildeo para

o estudo de aspectos de um discurso institucional no iniacutecio do seacuteculo XX de Amacircncio

(2000) foram pioneiras por pesquisarem a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo a partir de

impressos destinados ao ensino de leitura e escrita bem como o discurso oficial

empreendido para difusatildeo dos meacutetodos para se ensinar a ler

Em 1996 na USP criou-se o NIEPHE tendo com uma das coordenadoras

Diana Gonccedilalves Vidal No acircmbito desse grupo a dissertaccedilatildeo de mestrado de Esteves

(2002) As prescriccedilotildees para o ensino da caligrafia e da escrita na escola puacuteblica

primaacuteria paulista (1910-1947) eacute o primeiro trabalho localizado que trata sobre a

temaacutetica alfabetizaccedilatildeo dedicando-se a discutir os modelos caligraacuteficos prescritos no

ensino primaacuterio em Satildeo Paulo entre os anos de 1910-1947

Em 1998 formou-se na UFRN o grupo ldquoGecircnero Educaccedilatildeo e Praacuteticas de

Leiturardquo que hoje recebe o nome de ldquoHistoacuteria da Educaccedilatildeo Literatura e Gecircnerordquo e

tem como uma das liacutederes Maria Arisnete Cacircmara de Morais Dentro dos limites da

pesquisa realizada acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil como expusemos no

item anterior nenhum trabalho vinculado a esse grupo eacute mencionado Poreacutem ao

explorarmos o repositoacuterio de teses e dissertaccedilotildees da UFRN detectamos a dissertaccedilatildeo

sob o tiacutetulo Do mestre aos disciacutepulos o legado de Nestor dos Santos Lima (1910-

1930) de Amorim (2012) que analisou os escritos de Nestor dos Santos Lima sobre

os princiacutepios e meacutetodos do ensino de leitura e escrita aplicados nos Grupos Escolares

do Rio Grande do Norte

Jaacute no seacuteculo XXI em 2004 foi criado na UFU o grupo de pesquisa ldquoHistoacuteria da

Alfabetizaccedilatildeo Lugares de Formaccedilatildeo Cartilhas e Modos de Fazerrdquo111 coordenado por

Socircnia Maria dos Santos e Mariacutelia Villela de Oliveira No contexto do grupo a primeira

pesquisa sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo eacute de Guimaratildees (2006) intitulada Histoacuterias

de Alfabetizadores Vida Memoacuteria e Profissatildeo Utilizando-se da histoacuteria oral temaacutetica

a autora busca compreender como algumas alfabetizadoras aposentadas de Patos de

MinasMG aprenderam a ler e como alfabetizaram seus alunos

111 Esse grupo funcionava desde 1992 com outro nome Nuacutecleo de Alfabetizaccedilatildeo do Triacircngulo Mineiro e Alto Paranaiacuteba Vinculado agrave Faculdade de Educaccedilatildeo da UFU era composto inicialmente por professores da universidade da Escola de Educaccedilatildeo Baacutesica da UFU e das Redes Estadual e Municipal de Uberlacircndia O Nuacutecleo manteve a publicaccedilatildeo de uma Revista intitulada Revista do Alfabetizador com o objetivo de registrar as experiecircncias dos professores alfabetizadores bem como as pesquisas realizadas no contexto do Nuacutecleo A Revista era distribuiacuteda gratuitamente aos professores da educaccedilatildeo baacutesica

73

Em 2006 foi criado o HISALES na UFPel sob a coordenaccedilatildeo de Eliane

Teresinha Peres e Vania Grim Thies Nesse grupo de pesquisa o trabalho de Porto

(2005) Divulgaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do meacutetodo global de contos no Instituto de Educaccedilatildeo

Assis Brasil foi o primeiro a problematizar a questatildeo dos meacutetodos de ensino de leitura

em PelotasRS

Na Universidade Federal do Espiacuterito Santo ndash UFES o NEPALES formou-se em

2006 coordenado por Claacuteudia Maria Mendes Gontijo e Cleonara Maria Schwartz O

primeiro trabalho acadecircmico catalogado acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do

Espiacuterito Santo no NEPALES foi a dissertaccedilatildeo de mestrado A alfabetizaccedilatildeo no

Espiacuterito Santo na deacutecada 1950 de Campos (2008)

Mais recentemente em 2017 formaram-se na UNIFESP o Nuacutecleo

Interdisciplinar de Pesquisas sobre Ensino de Liacutengua e Literatura (NIPELL) e na

UFMT o Grupo de Estudo e Pesquisa Linguagem Oral Leitura e Escrita (GEPLOLEI)

Embora a criaccedilatildeo desses grupos seja mais recente a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da

literatura infantil faz parte da trajetoacuteria acadecircmica dos coordenadores O primeiro

grupo tem com coordenador Fernando Rodrigues de Oliveira e o segundo Baacuterbara

Cortella Pereira de Oliveira

Ao cotejarmos os dados da Tabela 6 que apresentou a quantidade de teses e

dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil e os do Quadro 1 que

nominou os Grupos de Pesquisa sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo localizados no

Diretoacuterio dos Grupos de Pesquisa do Brasil percebemos que alguns grupos natildeo foram

mencionados o ldquoALFALE ndash Alfabetizaccedilatildeo e Letramento Escolarrdquo e o ldquoALLE ndash

Alfabetizaccedilatildeo Leitura e Escritardquo112 Esses dois grupos tambeacutem apresentam uma

produccedilatildeo acadecircmica substancial sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo destacando-se com

pesquisas que auxiliam tanto na compreensatildeo do passado como tambeacutem do presente

cenaacuterio do ensino inicial de leitura e escrita Entretanto a pesquisa que fizemos natildeo

registra esses grupos uma vez que o termo histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute

mencionado explicitamente na descriccedilatildeo dos nomes dos grupos e ou nomespalavras-

chaves das suas linhas de pesquisa

112 O ALLE em 2016 recebeu outro nome ndash ALLEAULA pois fundiu-se com outro grupo de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas ndash UNICAMP o AULA (Trabalho Docente na Formaccedilatildeo Inicial) Conserva-se aqui o nome ALLE pois as pesquisas que trataram sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo referenciadas neste trabalho no contexto desse grupo de pesquisa foram realizadas quando o grupo ainda estava sob esse tiacutetulo

74

O ALFALE criado em 2001 na Universidade Federal de Mato Grosso tem

como liacutederes Cancionila Janzkovski Cardoso e Siacutelvia de Faacutetima Pilegi Rodrigues A

principal linha de pesquisa do grupo eacute ldquoAlfabetizaccedilatildeo questotildees histoacutericas e

contemporacircneasrdquo A primeira pesquisa acadecircmica sobre histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

defendida no acircmbito do ALFALE foi a dissertaccedilatildeo de mestrado Alfabetizaccedilatildeo na

escola primaacuteria em Diamantino - Mato Grosso (1930 a 1970) de Souza (2006)

Formado em 1998 na Universidade Estadual de Campinas ndash UNICAMP o ALLE

estaacute atualmente sob a coordenaccedilatildeo de Norma Sandra de Almeida Ferreira e Ana Luacutecia

Guedes-Pinto Ainda que natildeo se constitua o foco central de pesquisa desse grupo ele

apresenta trabalhos que se distinguem no campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo a citar

a tese de doutorado Lendo com Hilda Joatildeo Koumlpke ndash 1902 de Santos (2013) A autora

apresenta a anaacutelise de uma cartilha ndash O livro de Hilda ndash escrita por Koumlpke em 1902

e que provavelmente natildeo foi publicada Desconhecida pelo meio acadecircmico eacute

composta de histoacuterias e exerciacutecios para processuaccedilatildeo do meacutetodo analiacutetico de ensino

da leitura e da escrita

Esses grupos de pesquisa aqui relacionados auxiliaram na produccedilatildeo de uma

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo brasileira seja por pesquisas em teses e dissertaccedilotildees de

seus estudantes seja pelos projetos de pesquisa dos professores orientadores

divulgados em livros capiacutetulos de livros artigos em perioacutedicos etc

Tabela 7

Quantidade de teses e dissertaccedilotildees por universidade sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

Instituiccedilatildeo de Ensino Superior Dissertaccedilatildeo Tese Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais (PUC Minas)

1 -

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUC-SP)

3 5

Universidade Catoacutelica de Santos (UNISANTOS) 1 - Universidade Catoacutelica Dom Bosco (UCDB) 1 - Universidade de Satildeo Paulo (USP) 3 2 Universidade de Uberaba (UNIUBE) 2 - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) 1 4 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) 2 - Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) 1 - Universidade Estadual do Maranhatildeo (UEMA) 1 - Universidade Estadual Paulista ldquoJuacutelio de Mesquita Filhordquo (UNESP)

8 6

Universidade Federal da Bahia (UFBA) 1 1 Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) 3 - Universidade Federal de Alagoas (UFAL) 1 -

75

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) 14 - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) - 1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) 3 2 Universidade Federal de Pelotas (UFPel) 8 - Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 2 1 Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 1 1 Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) 1 1 Universidade Federal de Satildeo Carlos (UFSCar) 2 - Universidade Federal de Sergipe (UFS) 3 2 Universidade Federal de Uberlacircndia (UFU) 10 3 Universidade Federal de Viccedilosa (UFV) 1 - Universidade Federal do Espiacuterito Santo (UFES) 9 4 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 2 - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) 2 1 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) 1 - Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) 1 - Universidade Satildeo Francisco (USF) 2 -

Total 91 34

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

As 125 produccedilotildees acadecircmicas identificadas satildeo advindas de 31 universidades

sendo que 60 delas satildeo da regiatildeo Sudeste 14 da regiatildeo Centro-Oeste 13 da

regiatildeo Nordeste e 12 da regiatildeo Sul Ateacute o momento natildeo encontramos nenhuma

dissertaccedilatildeo ou tese referente agrave histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produzida em universidade

da regiatildeo Norte O Sudeste destaca-se tambeacutem no nuacutemero de programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo e consequentemente deteacutem segundo os dados do Banco

de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes cerca de 4423 das produccedilotildees acadecircmicas

defendidas ateacute junho de 2019 nas universidades brasileiras

Nota-se pela Tabela 7 que UFES UFMT UFU e UNESP com seus respectivos

grupos de pesquisas NEPALES ALFALE ldquoHistoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Lugares de

Formaccedilatildeo Cartilhas e Modos de Fazerrdquo e GPHELLB satildeo os que detecircm os nuacutemeros

mais expressivos de pesquisas acadecircmicas

As 15 universidades do Sudeste nominadas nesta tabela totalizam 74 trabalhos

defendidos (48 dissertaccedilotildees e 26 teses) sendo que apenas 5 natildeo satildeo de programas

de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo 3 trabalhos estatildeo ligados a programas na aacuterea de

Letras da Universidade Estadual de Campinas e da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica

de Satildeo Paulo 1 na aacuterea de Histoacuteria na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

e 1 na de Ciecircncias da Religiatildeo na Universidade Presbiteriana Mackenzie As

pesquisas vinculadas ao curso de Letras e Histoacuteria eram de se esperar uma vez que

76

a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo faz diferentes intersecccedilotildees com essas aacutereas do

conhecimento Todavia a dissertaccedilatildeo intitulada Benedicta Stahl Sodreacute mulher

protestante na educaccedilatildeo brasileira de Mendes (2008) identificada na Ciecircncias da

Religiatildeo chamou-nos bastante atenccedilatildeo

Mendes (2008) aborda a trajetoacuteria de vida e profissatildeo de Benedicta Stahl

Sodreacute analisando tambeacutem o material da coleccedilatildeo Sodreacute Cartilha Sodreacute Primeiro Livro

Sodreacute Segundo Livro Sodreacute Terceiro Livro Sodreacute e Quarto Livro Sodreacute Carimbos e

Cartazes A anaacutelise empreendida desvela os conteuacutedos religiosos sobretudo cristatildeos

de valores morais e eacuteticos presentes na proposta de alfabetizaccedilatildeo pensada por

Sodreacute Embora no discurso de Mendes (2008) haja marcas das crenccedilas e valores

religiosos da proacutepria autora a dissertaccedilatildeo apresenta aspectos sobre o conteuacutedo de

uma cartilha que estaacute no imaginaacuterio social de muitos brasileiros alfabetizados com a

ldquoA pata nadardquo (1ordf liccedilatildeo da Cartilha Sodreacute)

Na regiatildeo Centro-Oeste satildeo 4 universidades que totalizam 18 trabalhos

defendidos (17 dissertaccedilotildees e 1 tese) com representatividade de programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul As universidades e

seus grupos de pesquisa do estado de Goiaacutes natildeo aparecem com investigaccedilotildees em

relaccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

Sete universidades no Nordeste produziram 13 dissertaccedilotildees e 4 teses

seguidas de 5 universidades da Regiatildeo Sul com total de 13 dissertaccedilotildees e 3 teses

Na regiatildeo Nordeste 5 pesquisas satildeo de programas de poacutes-graduaccedilatildeo externos

agrave educaccedilatildeo duas na aacuterea de Histoacuteria duas na aacuterea de Letras e uma no Mestrado em

Direitos Humanos Cidadania e Poliacuteticas Puacuteblicas da Universidade Federal da

Paraiacuteba Essa uacuteltima de autoria de Santos (2015) intitulada Direito humano agrave

memoacuteria da educaccedilatildeo de adultos no Brasil autoritaacuterio documentos legais e narrativas

de ex participantes do MOBRAL (1967-1985) aborda a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de

adultos reconstituindo a memoacuteria educacional do Movimento Brasileiro de

Alfabetizaccedilatildeo (MOBRAL)

Jaacute no Sul apenas uma pesquisa natildeo estaacute vinculada aos programas de poacutes-

graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo a tese de doutorado de Vojniak (2012) O Impeacuterio das

primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de alfabetizaccedilatildeo no

77

seacuteculo XIX113 defendida no programa de poacutes-graduaccedilatildeo em Histoacuteria da Universidade

Federal de Santa Catarina Nessa regiatildeo destaca-se o jaacute citado grupo de Pesquisa

HISALES da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) que conta com um dos

maiores acervos de fontes histoacutericas sobre o ensino de leitura e escrita do Sul do

paiacutes114

Saindo do espaccedilo onde as teses e dissertaccedilotildees foram produzidas passando

aos seus conteuacutedos foi possiacutevel mapear os lugares aos quais as pesquisas se

referiam organizando um panorama dos estados que tecircm investigaccedilotildees sobre as

suas histoacuterias da alfabetizaccedilatildeo conforme registrado na Tabela 8

113 Essa pesquisa foi publicada em formato de livro sob o mesmo tiacutetulo da tese pela Editora Prismas em 2014 (VOJNIAK 2014) 114 Segundo dados do site do HISALES lthttpwpufpeledubrhisalesgt com acesso em 30 de junho de 2019 o grupo conta com um acervo de 2001 cadernos de alunos (ciclo de alfabetizaccedilatildeo e outras seacuteries) 281 cadernos de planejamento (diaacuterios de classe) de professoras 1255 livros para ensino da leitura e da escrita nacionais e estrangeiros 49 livros para ensino da leitura e da escrita em liacutengua nacional ldquoartesanaisrdquo 126 livros para ensino da leitura e da escrita em liacutengua estrangeira 359 livros didaacuteticos produzidos no Rio Grande do Sul entre 1940 e 1980 691 escritos pessoais e familiares tais como agendas cadernetas diaacuterios etc aleacutem de materiais didaacutetico-pedagoacutegicos

78

Tabela 8 Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo dos estados

brasileiros

Estado Quantidades de

Dissertaccedilotildeesteses

Alagoas 1

Bahia 2

Espiacuterito Santo 13

Goiaacutes 1

Maranhatildeo 2

Mato Grosso 15

Mato Grosso do Sul 2

Minas Gerais 25

Paraiacuteba 3

Paranaacute 1

Pernambuco 3

Rio de Janeiro 1

Rio Grande do Norte 2

Rio Grande do Sul 12

Santa Catarina 1

Satildeo Paulo 22

Sergipe 4

Brasil 15

Total 125

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de teses e dissertaccedilotildees da Capes

Em cerca de 85 das dissertaccedilotildees e teses haacute uma convergecircncia entre o lugar

(universidade) onde as pesquisas foram defendidas e o lugar (estado) a que se

referem Portanto a tendecircncia eacute de os programas de poacutes-graduaccedilatildeo investirem em

investigaccedilotildees alusivas ao seu estado

Quinze pesquisas natildeo tratavam especificamente de um estado mas do Brasil

de modo geral Como exemplo citamos a pesquisa de Silva (1998) que se apoiou na

Anaacutelise do Discurso especialmente nos trabalhos de Michel Pecirccheux buscando

compreender o processo de constituiccedilatildeo dos sentidos e dos sujeitos da

escolarizaccedilatildeoalfabetizaccedilatildeo no Brasil a partir dos discursos religiosos (seacuteculo XVI e

XVII) e cientiacuteficos (seacuteculo XIX e XX) que retratavam as poliacuteticas linguiacutesticas e

pedagoacutegicas de leitura e escrita

No total foram 17 estados pesquisados As dissertaccedilotildees eou teses geralmente

tinham como loacutecus uma cidade de um estado Poreacutem haacute aquelas que estudam o

79

discurso empreendido em niacutevel estadual natildeo se limitando agraves experiecircncias de um

municiacutepio eou grupo de professores

A regiatildeo Sudeste permanece como destaque com os maiores nuacutemeros de

pesquisas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Minas Gerais e Satildeo Paulo satildeo os dois

estados mais investigados seguidos do Espiacuterito Santo Aleacutem dos argumentos jaacute

relacionados anteriormente que justificam a quantidade de investigaccedilotildees sobre

alfabetizaccedilatildeo nessas localidades tambeacutem consideramos a organizaccedilatildeo e acesso115

aos arquivos puacuteblicos e agraves fontes documentais na capital mineira e paulista um

facilitador para a realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees historiograacuteficas

Ainda no Sudeste temos apenas uma dissertaccedilatildeo sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Rio de Janeiro Nesse estado a Universidade Federal Fluminense ndash

UFF abrigou dois projetos de pesquisa sob a coordenaccedilatildeo da Professora Cecilia

Maria Aldigueri Goulart acerca desta temaacutetica O primeiro entre os anos 2004-2007

sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no municiacutepio de Niteroacutei ao longo do seacuteculo XX o

segundo de 2011-2014 que foi uma expansatildeo do primeiro analisou as propostas de

ensino-aprendizagem da escrita formuladas pela Secretaria de Estado de Educaccedilatildeo

do RJ nas deacutecadas de 1970 e 1980 Esses projetos deram origem ao relatoacuterio de

pesquisa apresentado agrave Fundaccedilatildeo de Amparo agrave Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

(FAPERJ)116 posteriormente divulgado em publicaccedilotildees de artigos em livros textos

em anais de evento117 e um cataacutelogo intitulado O ensino inicial da leitura e da escrita

na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000)118

115 Esse acesso eacute facilitado muitas vezes pelos mecanismos de digitalizaccedilatildeo das fontes como ocorre atualmente no Arquivo Puacuteblico Mineiro (Belo Horizonte) Aleacutem disso os cataacutelogos e diferentes fontes histoacutericas estatildeo disponiacuteveis nos sites dos Arquivos o que tambeacutem auxilia o trabalho do historiador 116 O relatoacuterio apresentado agrave FAPERJ intitulado O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) uma visatildeo histoacuterica no contexto da educaccedilatildeo fluminense e da cidade de Niteroacutei no seacuteculo XX foi coordenado por Cecilia Goulart e contou com a participaccedilatildeo de 10 pesquisadores vinculados ao PROALE ndash Programa de Alfabetizaccedilatildeo e Leitura da UFF O relatoacuterio eacute composto por trecircs partes A primeira detalha o cenaacuterio da educaccedilatildeo fluminense e aspectos do ensino de leitura e escrita ateacute meados do seacuteculo XX a segunda apresenta uma visatildeo histoacuterica dos aspectos poliacutetico-pedagoacutegicos do ensino da leitura e da escrita da rede municipal de Niteroacutei a terceira faz consideraccedilotildees acerca da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Niteroacutei no periacuteodo estudado Agradecemos agrave Professora Cecilia Goulart que nos enviou uma coacutepia do relatoacuterio para anaacutelise 117 Cf Goulart e Abiacutelio (2007 2010) Goulart (2008 2011) 118 O cataacutelogo O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) foi organizado por Goulart Abiacutelio e Mattos (2007) Editado pelo PROALEUFF e com apoio da FAPERJ tem 48 paacuteginas e formato de 145 x 21 cm A tiragem da publicaccedilatildeo

80

No Sul haacute pesquisas de todos os estados entretanto destaca-se o Rio Grande

do Sul com 12 trabalhos jaacute defendidos que trataram sobre a sua histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo

No Nordeste natildeo foram identificadas pesquisas sobre a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo do Piauiacute e Cearaacute Sergipe se sobressaiu em relaccedilatildeo aos outros estados

da regiatildeo nordestina com 4 pesquisas

Na regiatildeo Norte embora as palavras-chave por noacutes selecionadas na busca no

Banco de Dissertaccedilotildees e Teses da Capes natildeo tenham dado em retorno duas

pesquisas jaacute divulgadas em artigos de perioacutedicos e capiacutetulos de livros Correcirca

(2006)119 e Coelho (2008)120 consideramos que ambas nos possibilitam entender

aspectos importantes para a historiografia do ensino de leitura e escrita no Amazonas

e no Paraacute Na tese de Correcirca (2006) embora mais direcionada agrave histoacuteria da leitura e

do livro no contexto educacional amazonense os capiacutetulos que versam sobre as

cartilhas e livros de leitura esclarecem questotildees particulares dos meacutetodos e praacuteticas

de ensino de leitura no estado Jaacute na tese de Coelho (2008) a proposta eacute voltada para

a compreensatildeo de uma cultura escolar no Paraacute nas deacutecadas de 1920 a 1940 todavia

haacute itens referentes agrave alfabetizaccedilatildeo e aos livros para o ensino de leitura nesse estado

No Centro-Oeste o estado do Mato Grosso se evidencia com 15 pesquisas

Entre estas como jaacute referenciado apenas o trabalho de doutoramento de Amacircncio

(2000) foi defendido na UNESP no acircmbito do GPHELLB As demais quatorze

pesquisas satildeo advindas do grupo ALFALE na UFMT

Sobre o Mato Grosso do Sul satildeo duas pesquisas produzidas em programas de

poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo do proacuteprio estado

Por fim na regiatildeo Centro-Oeste estaacute o estado de Goiaacutes loacutecus desta tese

Identificamos um estudo que auxilia na compreensatildeo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

desse estado a tese de Abreu (2006) A instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes no

foi de 1000 exemplares que segundo uma das organizadoras Cecilia Goulart foram distribuiacutedos gratuitamente aos pesquisadores interessados e professores da educaccedilatildeo baacutesica aleacutem de ser utilizados como material didaacutetico nas turmas da disciplina Alfabetizaccedilatildeo no curso de Pedagogia da UFF Agradecemos agrave Professora Cecilia Goulart que generosamente nos enviou uma coacutepia do cataacutelogo para anaacutelise 119 Cf Correcirca e Silva (2008 2010) 120 Parte da pesquisa de Coelho (2008) foi difundida apoacutes a realizaccedilatildeo do seu poacutes-doutoramento (2013-2014) na Universidade Federal de Minas Gerais sob orientaccedilatildeo da Professora Francisca Izabel Pereira Maciel Cf Coelho e Maciel (2014a 2014b 2018)

81

seacuteculo XIX vinculada ao Doutorado em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica Sociedade da

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo

Abreu (2006) tinha por objetivo analisar o processo de criaccedilatildeo e expansatildeo das

escolas de primeiras letras a constituiccedilatildeo da carreira docente e o exerciacutecio do

magisteacuterio na proviacutencia de Goiaacutes no periacuteodo de 1835 e 1893 As duas datas natildeo

escolhidas arbitrariamente se correlacionam com os propoacutesitos do estudo A primeira

marcou o ano em que foi promulgada a primeira lei goiana de instruccedilatildeo puacuteblica ndash Lei

nordm 13 de 23 de julho de 1835 a segunda de acordo com a autora eacute a de quando

ocorreu uma cisatildeo entre o modelo escolar imperial e a repuacuteblica em Goiaacutes por meio

da sanccedilatildeo do primeiro regulamento da instruccedilatildeo primaacuteria poacutes-proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica ndash Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893 A tese em questatildeo embora

natildeo tenha objeto central o ensino inicial de leitura e escrita cita-o para compreender

o processo de institucionalizaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria no territoacuterio goiano Embora

natildeo haja um aprofundamento analiacutetico sobre os meacutetodos e materiais para ensinar a

crianccedila a ler e escrever concebemos o trabalho de Abreu (2006) como marco e

referencial nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo primaacuteria de Goiaacutes

e portanto para a sua histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

Nesse ponto eacute necessaacuterio destacar que as pesquisas desenvolvidas por

Valdez (2003 2010121 2011 2016) embora natildeo sejam produccedilotildees acadecircmicas em

formato de dissertaccedilatildeo eou tese como estamos aqui destacando tecircm auxiliado na

histoacuteria da leitura e do livro em Goiaacutes logo notadamente trazem elementos para

discutirmos aspectos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no territoacuterio goiano no oitocentos

sendo referenciais recorrentemente utilizados neste trabalho

Haja vista a escassez de pesquisas que tratem especificadamente do campo

temaacutetico da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes nosso trabalho justifica-se pela sua

originalidade em mapear os principais meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo cartilhas e livros

adotados no periacuteodo imperial

Para a escrita dessa histoacuteria e de tantas outras Certeau (2002) nos lembra que

a operaccedilatildeo historiograacutefica passa necessariamente pelas praacuteticas pelas quais o

historiador lida diretamente com o tempo e as fontes histoacutericas

Nas teses e dissertaccedilotildees inventariadas no decorrer deste capiacutetulo natildeo

diferente das pesquisas de outros campos da histoacuteria percebemos a delimitaccedilatildeo de

121 Texto publicado em coautoria cf Valdez Rodrigues e Oliveira (2010)

82

um recorte temporal justificada a partir das fontes que o pesquisador utiliza Ideia que

Saviani corrobora ao afirmar que ldquoas fontes estatildeo na origem constituem o ponto de

partida a base o ponto de apoio da construccedilatildeo historiograacutefica [] eacute delas que brota

e nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da histoacuteriardquo (SAVIANI

2005 p 5-6)

Em consonacircncia com o estudo de Frade (2018) notamos que as principais

fontes usadas nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil

satildeo de natureza escrita documentos escolares (diaacuterios de classe mapas cadernos

escolares incluindo o do aluno e o de planejamento do professor etc) documentos

oficiais livros (cartilhas livros e manuais para ensinar a ler e escrever etc) imprensa

perioacutedica (jornais e revistas para o puacuteblico em geral e tambeacutem outros especificamente

direcionados para professores como por exemplo os jornais pedagoacutegicos e

escolares as revistas de ensino etc) Essas fontes satildeo comumente advindas de

arquivos puacuteblicos pessoais e escolares

As iconografias nas pesquisas acadecircmicas sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

como jaacute apontamos em trabalho anterior122 natildeo foram objeto privilegiado de estudo

As fontes iconograacuteficas quando utilizadas tornaram-se frequentemente adorno agraves

outras fontes geralmente para comprovar algo sobretudo de natureza oral ou escrita

As fontes orais na uacuteltima deacutecada tiveram uma crescente adesatildeo dos

pesquisadores Sobre o seu emprego percebemos algumas tendecircncias A primeira eacute

do imperativo domiacutenio do documento escrito jaacute que assim como as iconografias as

narrativas orais muitas vezes foram empregadas para ratificar o conteuacutedo de outras

fontes A segunda tendecircncia eacute de que as pessoas entrevistadas satildeo mulheres e

professoras O trabalho de doutorado de Santos (2001) intitulado Histoacuterias de

Alfabetizadoras Brasileiras entre saberes e praacuteticas eacute pioneiro no uso das fontes

orais na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo reunindo 12 histoacuterias orais temaacuteticas de professoras

que narram o que eacute ser alfabetizadora no Brasil

Embora haja uma diversidade de fontes na composiccedilatildeo das 125 teses e

dissertaccedilotildees arroladas anteriormente observamos que haacute um expressivo conjunto de

produccedilotildees acadecircmicas que privilegiaram os documentos escolares e os livros

escolares com destaque para as cartilhas como as principais fontes para analisar os

materiais os meacutetodos e as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo Tal constataccedilatildeo vem ao

122 Sobre o uso das iconografias na historiografia da alfabetizaccedilatildeo cf Rocha Carvalho (2018)

83

encontro do que Mortatti (2011a) Frade (2018) e Cardoso e Amacircncio (2018) jaacute

assinalaram em seus estudos

O mapeamento tambeacutem fez-nos constatar que os trabalhos analisados estatildeo

atentos agraves precauccedilotildees apontadas por historiadores como Lombardi (2004) a

pesquisa natildeo deve recorrer apenas a uma uacutenica fonte e sim ao diaacutelogo entre as

diferentes fontes e os seus problemas de investigaccedilatildeo Afinal ldquoos textos ou os

documentos arqueoloacutegicos mesmo os aparentemente claros e mais complacentes

natildeo falam senatildeo quando sabemos interrogaacute-losrdquo (BLOCH 2001 p 79)

No que concerne aos tempos aos quais as teses e dissertaccedilotildees sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo arroladas anteriormente fazem menccedilatildeo seguindo as interpretaccedilotildees

mais recorrentemente utilizadas na periodizaccedilatildeo da histoacuteria do Brasil copilamos na

tabela a seguir os periacuteodos sobre os quais incidem as pesquisas

Tabela 9

Quantidades de dissertaccedilotildees e teses sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo por periacuteodo da histoacuteria do Brasil

Periacuteodo Quantidade de teses e dissertaccedilotildees

Colocircnia (1500-1822) 5 Impeacuterio (1822-1889) 22

Primeira Repuacuteblica (1889-1930) 32 Era Vargas (1930-1945) 29

Desenvolvimentismo (1945-1964) 41 Ditadura Civil-Militar (1964-1985) 51

1985-atual 32 Total 212123

Fonte Elaborada pelo autor a partir da consulta no Banco de Teses e Dissertaccedilotildees da Capes

Esse conjunto de dados evidencia que os estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

seguem a tendecircncia da histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira (ALVES 1998 XAVIER 2001

CATANI FARIA FILHO 2002) havendo um nuacutemero reduzido de pesquisas nos

seacuteculos que abrangem o periacuteodo colonial talvez devido agrave dificuldade de acesso agraves

fontes bem como agrave conservaccedilatildeo delas para pesquisa

Em contrapartida o seacuteculo XX tem a maior quantidade de investigaccedilotildees com

destaque para o nuacutemero significativo de trabalhos que abordaram o momento da

123 Eacute importante explicar que a somatoacuteria dos periacuteodos nessa tabela ultrapassa o nuacutemero de teses e dissertaccedilotildees jaacute que haacute trabalhos cujo recorte temporal estaacute inscrito em mais de um periacuteodo da histoacuteria motivo pelo qual os alocamos nos diferentes momentos a que eles fazem menccedilatildeo

84

histoacuteria do Brasil conhecido como ditadura civil-militar Na tabela ainda podemos notar

que os trecircs uacuteltimos periacuteodos satildeo os mais pesquisados tanto pela facilidade de acesso

aos documentos como pela possibilidade de diaacutelogo com os sujeitos por meio da

histoacuteria oral

Cada recorte temporal exige uma praacutetica historiograacutefica diferente Quanto mais

tempo recuarmos na histoacuteria certamente maior cuidado devemos ter na coleta e

seleccedilatildeo das fontes bem como no tratamento delas pois afinal fazer a leitura de um

documento do seacuteculo XVII natildeo eacute o mesmo que ler outro do seacuteculo XX Haacute que se

considerar que os modelos suportes e materiais de escrita nesses seacuteculos satildeo

diferentes demandando meacutetodos especiacuteficos para anaacutelise dos dados

13 CONCLUSOtildeES PARCIAIS

No decorrer desta seccedilatildeo fizemos um inventaacuterio das pesquisas sobre a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo no Brasil destacando a produccedilatildeo acadecircmica em Goiaacutes e sobre

Goiaacutes ndash estado que eacute o objeto central de estudo neste trabalho Nota-se portanto que

natildeo haacute uma produccedilatildeo consolidada sobre o estado fato justificado pelos diferentes

dados e apontamentos realizados nesta parte da tese

Para aleacutem dos dados apresentados numa consulta integrada agrave Base SciELO

com o termo ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeordquo foram identificados 10 registros de artigos

publicados em 5 perioacutedicos cientiacuteficos brasileiros entre 2000 e 2019 Com a mesma

palavra-chave no Portal de Perioacutedicos da CapesMEC com o filtro para identificaccedilatildeo

apenas de artigos na busca por assunto essa expressatildeo gera 26 resultados em 15

perioacutedicos cientiacuteficos brasileiros Importante destacar que analisando todas essas

produccedilotildees nenhuma delas trata sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no estado de Goiaacutes

o que impotildee desafios para construccedilatildeo desta tese e ao mesmo tempo confere-lhe um

caraacuteter ineacutedito

Olhando todos esses dados constatamos que os que fazem pesquisa sobre

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em sua grande maioria satildeo pesquisadores que tecircm

inicialmente uma experiecircncia acadecircmica eou profissional na linha de saberes e

praacuteticas contemporacircneas do ensino de leitura e escrita Esses pesquisadores hoje

embora se dediquem mais agrave perspectiva histoacuterica ainda fazem pesquisas sobre

questotildees da alfabetizaccedilatildeo na atualidade

85

Por fim eacute preciso destacar que estabelecer um estado da arte dos trabalhos

que estatildeo inseridos numa determinada temaacutetica de pesquisa embora seja um

exerciacutecio laborioso eacute ao mesmo tempo fundamental natildeo soacute para verificar o que se

tem produzido quanto se tem produzido e por que se tem produzido sobre aquele

tema de pesquisa como tambeacutem para entrar em contato com um modo de fazer num

determinado campo O levantamento e leitura dos trabalhos da histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo provocou uma ruptura com certezas hermeacuteticas e a formulaccedilatildeo de

novas problematizaccedilotildees (e outras que ainda seratildeo feitas) desdobradas em trabalhos

que extrapolam esta tese extrapolam nosso objeto e objetivos aqui definidos Afinal

como Graff (1994) nos lembra a ldquohistoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em outras palavras nunca

pode ser uma histoacuteria isolada abstraiacuteda ela eacute uma histoacuteria com outras histoacuterias

maiores complexas da sociedade da cultura do sistema poliacutetico e da economiardquo

(GRAFF 1994 p 174)

Portanto propomo-nos neste trabalho e doravante a constituir a nossa

interpretaccedilatildeo ndash nos termos da polifonia bakhtiniana ndash da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

goiana Nas diferentes dimensotildees do tempo acompanhando seus (des)compassos e

(des)estabilizando alguns sentidos histoacutericos construiacutedos sobre a educaccedilatildeo no estado

de Goiaacutes eacute um convite para uma viagem na proviacutencia de Goiaacutes

Chega mais perto e contempla as palavras Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terriacutevel que lhe deres Trouxeste a chave []rdquo (ANDRADE 2002 p 106)

86

PARTE II

ALFABETIZANDO CRIANCcedilAS NA PROVIacuteNCIA DE GOIAacuteS

ldquoQuerida Luci

Finalmente cheguei a Goiaacutez Natildeo podes nem de leve

imaginar a emoccedilatildeo que senti quando avistei as primeiras

casas da cidade dessa querida cidade em que nasci

Apoderou-se de mim uma vertigem e como no cinema

desenrolaram-se os fatos histoacutericos ou os enredos de um

dramardquo

(MONTEIRO 1934 p 26)

87

2 A INSTRUCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA EM

GOIAacuteS NO PERIacuteODO IMPERIAL ____________________________________

O Ato Adicional de 1834 desencadeou uma discussatildeo em todo Brasil sobre a

responsabilidade de garantir a oferta da instruccedilatildeo puacuteblica nas proviacutencias (SAVIANI

2006 CASTANHA 2007) Ele estabelecia medidas poliacutetico-administrativas

descentralizadoras concedendo agraves Assembleias Legislativas Provinciais a funccedilatildeo de

legislar sobre o ensino primaacuterio e secundaacuterio enquanto o Governo Central se

responsabilizava pelo ensino superior Com isso a Lei de 15 de outubro de 1827

(BRASIL 1827)124 deixava de ter efeito ldquopassando a existir diversas formas de

ordenamento da instruccedilatildeo primaacuteriardquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO

2015 p 258)

Diferentes estudos da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil apontam que durante

muitos anos em virtude da falta de recursos nas proviacutencias a instruccedilatildeo primaacuteria ficou

relegada a segundo plano em peacutessima situaccedilatildeo devido agrave falta de escolas e de

professores qualificados o que evidenciava conforme Saviani (2006) alude a

124 Essa lei dispunha da criaccedilatildeo das escolas de primeiras letras e unificava por meio da adoccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo a organizaccedilatildeo escolar no paiacutes Entre algumas de suas prerrogativas legais ficou tambeacutem estabelecido o que os professores iriam ensinar nessas escolas leitura escrita as quatro operaccedilotildees aritmeacuteticas praacuteticas de quebrados decimais e proporccedilotildees as noccedilotildees mais gerais da geometria praacutetica a gramaacutetica da liacutengua nacional os princiacutepios da moral cristatilde e da doutrina do catolicismo A lei tambeacutem indicava a Constituiccedilatildeo do Impeacuterio e a Histoacuteria do Brasil como as principais leituras escolares

88

omissatildeo do Governo Central quanto agrave educaccedilatildeo Entretanto analisando tal periacuteodo

haacute entre os historiadores uma controversa opiniatildeo

Castanha (2007) define que haacute um primeiro grupo de pesquisadores125 que

defende que o Ato Adicional fez com que a instruccedilatildeo nas proviacutencias fracassasse jaacute

que elas natildeo tinham condiccedilotildees para mantecirc-la Ao colocar a instruccedilatildeo primaacuteria e

secundaacuteria sob responsabilidade das proviacutencias renunciava-se assim ldquoa um projeto

de escola puacuteblica nacionalrdquo (SAVIANI 2006 p 17) Portanto a educaccedilatildeo em cada

uma delas segundo Marcilio (2005) foi concebida sem um projeto de uniformidade

fragmentando-se ldquoao sabor volitivo de cada presidente [de proviacutencia] que se sucedia

a maioria dos quais se acreditava na obrigaccedilatildeo de efetuar a sua reforma de ensino

regional Estabeleceu-se assim o caos nesse setorrdquo (MARCILIO 2005 p 49)

Outro grupo de pesquisadores126 conforme Castanha (2007) aponta relativiza

o processo projetando a visatildeo de que a descentralizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa

provocada pelo Ato de 1834 natildeo foi a responsaacutevel pelo fracasso da instruccedilatildeo puacuteblica

no paiacutes jaacute que ldquoatribuir a uma lei como o Ato Adicional de 1834 todas as mazelas que

dificultam e postergam o desenvolvimento de um sistema nacional de ensino significa

secundarizar o impacto das determinaccedilotildees externas sobre o processo educacionalrdquo

(VIEIRA FREITAS 2003 p 62)

Castanha (2007) sustenta a tese de que os discursos na historiografia

brasileira sobretudo do primeiro grupo se deram sob forte influecircncia do estudo A

Cultura Brasileira de Fernando de Azevedo que apontou que a educaccedilatildeo apoacutes o Ato

Adicional de 1834 arrastou-se ldquoatraveacutes de todo o seacuteculo XIX inorganizada anaacuterquica

incessantemente desagregadardquo (AZEVEDO 1976 p 76) Considerando que o autor

escreveu esse livro em meio ao regime de Estado Novo apoiando-se especialmente

em Joseacute Liberato Barroso Castanha (2007) assinala que as pesquisas sobre o Ato

Adicional na historiografia brasileira vecircm repetidas vezes tomando como referecircncia

e sem contestaccedilatildeo as proposiccedilotildees de Azevedo a partir de uma anaacutelise documental

que desconsidera o contexto do qual os documentos foram resultantes e defende que

o Ato de 1834 ldquofacilitou a criaccedilatildeo administraccedilatildeo e inspeccedilatildeo das escolas nas diversas

125 Representado principalmente pelos pesquisadores Romanelli (2000) Ribeiro (2001) Saviani (2006) dentre outros 126 Representado principalmente pelos pesquisadores Cunha (1980) Sucupira (1996) Hilsdorf (2003) Vieira e Freitas (2003) dentre outros

89

vilas e freguesias espalhadas no Brasilrdquo (CASTANHA 2007 p 498) contribuindo para

a expansatildeo da instruccedilatildeo elementar pelos rincotildees do Impeacuterio brasileiro

Aderindo agraves proposiccedilotildees de Castanha (2007) sem adentrar o limbo das

controveacutersias entre os estudos da historiografia educacional a respeito do Ato

Adicional mostraremos ao longo deste capiacutetulo que em Goiaacutes essa lei fez com que

a proviacutencia administrasse as escolas de primeiras letras com a forccedila motriz dos ideais

catoacutelicos

Logo o objetivo desta seccedilatildeo eacute traccedilar um panorama geral da escola goiana

entre 1835 a 1886 observando as bases de um projeto de sociedade que se

arquitetava sob a influecircncia da Igreja mas que vinha se abrindo para as propostas de

modernidade do seacuteculo XIX num diaacutelogo constante com as poliacuteticas governamentais

da Corte Ao mesmo tempo pretendemos que essas discussotildees contextualizem a

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes sendo o cenaacuterio onde se ensinava as crianccedilas a

ler e escrever

Outrossim insta esclarecer que organizamos as discussotildees em dois itens

definidos cronologicamente e em sintonia com nosso objeto de estudos a

alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes

Por isso o primeiro item abriga as legislaccedilotildees e o panorama poliacutetico entre 1835

e 1869 Na primeira data como veremos foi sancionada a primeira lei do ensino

goiano em consequecircncia do Ato Adicional de 1834 (BRASIL 1834) E em 1869 foi

aprovado novo Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes

pela Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 sancionado pelo Presidente Ernesto

Augusto Pereira (GOIAacuteS 1869) que dava visibilidade ao uso dos livros escolares para

conduccedilatildeo das praacuteticas em sala de aula o que se refletiu significativamente nos

materiais e modos de ensinar leitura e escrita nas escolas goianas

No segundo item a discussatildeo comporta as iniciativas e regulamentaccedilotildees entre

1869 a 1886 quando haacute a entrada dos livros e materiais escolares nas leis A anaacutelise

dos documentos identificou neles a explicitaccedilatildeo da dificuldade de a escola ensinar a

ler e escrever se natildeo houvesse a disponibilizaccedilatildeo dos objetos necessaacuterios sobretudo

os livros e outros instrumentos tais como tinta papel caneta pena laacutepis lousa giz

esponjas etc

90

21 1835 A 1869

Natildeo podemos desconsiderar que o Ato Adicional de 1834 provocou significativo

aumento na publicaccedilatildeo de legislaccedilotildees nas proviacutencias que visavam normatizar

sobretudo a instruccedilatildeo primaacuteria Em Goiaacutes em 1835 a Assembleia Legislativa

Provincial aprovou e o Presidente da proviacutencia de Goiaacutes Joseacute Rodrigues Jardim

sancionou a primeira lei goiana da instruccedilatildeo puacuteblica Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835

(GOIAacuteS 1835) Essa lei criou as escolas graduadas jaacute no primeiro artigo

diferenciando-as pelas mateacuterias que seriam lecionadas Na escola de 1ordm grau se

ensinava a ldquoler escrever a pratica das quatro operaccedilotildees Arithmeticas e a Doutrina

Christatilderdquo jaacute na de 2ordm grau ldquoler escrever Arithmetica ateacute as proporccedilotildees Grammatica

da Lingoa Nacional e as noccedilotildees geraes dos deveres moraes e religiososrdquo (GOIAacuteS

1835 art 1ordm)

A lei foi composta por 26 artigos que arquitetavam o funcionamento das escolas

a partir da obrigatoriedade de os ldquopais de famiacuteliardquo ofertarem instruccedilatildeo primaacuteria aos

filhos de 5 a 8 anos de idade estendendo-se tambeacutem aos que tinham 14 anos

(GOIAacuteS 1835 art 9ordm e 10) Previa inclusive multa agrave famiacutelia que descumprisse tal

medida

A regecircncia das aulas estava a cargo de um professor brasileiro ou estrangeiro

que professasse a religiatildeo catoacutelica com mais de 21 anos de idade e de bom

comportamento que ensinaria os conhecimentos das mateacuterias exigidas na lei

(GOIAacuteS 1835 art 11)

Embora natildeo explicite o meacutetodo de ensino recomendado ao professor a lei traz

posteriormente nos Regulamentos de Ensino algumas marcas da proposta

metodoloacutegica a ser empregada A primeira marca eacute relativa a um nuacutemero miacutenimo de

alunos que deveratildeo frequentar habitualmente a escola (GOIAacuteS 1835 art 2ordm) a

segunda se relaciona ao fato de que ao afirmar sobre a obrigatoriedade escolar

tambeacutem abre a possibilidade de a famiacutelia ofertar a educaccedilatildeo na escola puacuteblica ou

particular ou na proacutepria casa (GOIAacuteS 1835 art 9ordm)

Nesse periacuteodo circulavam no Impeacuterio as praacuteticas com o meacutetodo muacutetuo ndash

tambeacutem conhecido como monitorial ou lancasteriano ndash que se tornou oficial nas

proviacutencias por meio da mencionada da Lei de 15 de outubro de 1827 (BRASIL

91

1827)127 No entanto Arauacutejo e Silva (1975) argumenta que na proviacutencia de Goiaacutes

adotava-se com maior ecircnfase o meacutetodo individualordinaacuterio uma vez que as escolas

nesse periacuteodo funcionavam em casas residenciais geralmente dos professores ou

em espaccedilos domeacutesticos cedidos por famiacutelias abastadas que tinham interesse em

instruir os filhos com os conhecimentos rudimentares da leitura escrita doutrina cristatilde

e caacutelculo Outrossim a falta dos materiais para execuccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo tambeacutem

era um fator que prejudicava sua efetivaccedilatildeo jaacute que demandava entre outros o

quadro-negro e a ardoacutesialousa individual instrumentos didaacuteticos importados e de alto

custo128

Na instalaccedilatildeo da Assembleia Legislativa Provincial de Goiaacutes em 1ordm de junho de

1835 o Presidente Joseacute Rodrigues Jardim se pronunciou descrevendo o cenaacuterio do

ensino de primeiras letras na proviacutencia formado por ldquooito Cadeiras de Primeiras Letras

pelo methodo de Lancaster deseseis pelo methodo Individualrdquo (JARDIM Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1835 p 6) Na sequecircncia tambeacutem reitera que o ensino muacutetuo

natildeo havia apresentado o resultado esperado o que a nosso ver corroborou para sua

natildeo recomendaccedilatildeo na primeira lei de ensino promulgada em Goiaacutes Apesar de natildeo

justificar o fracasso desse meacutetodo no territoacuterio goiano a imprensa destacou a

dificuldade de implantaacute-lo

O Matutina Meyapontense129 primeiro jornal perioacutedico publicado em Goiaacutes

desde as suas primeiras ediccedilotildees relatava a dificuldade de se difundir o ensino pelo

meacutetodo muacutetuo nas escolas jaacute que faltavam professores habilitados O jornal tambeacutem

informava que mesmo havendo diferenccedila de salaacuterios entre os mestres da cadeira de

127 O meacutetodo muacutetuo no Brasil jaacute circulava e era propagandeado muito antes de a Lei de 15 de outubro de 1827 oficializaacute-lo Bastos (1999) aponta que a primeira referecircncia no paiacutes sobre esse meacutetodo aparece no Correio Brasiliense em 1816 em uma seacuterie de publicaccedilotildees de artigos sobre o meacutetodo Lancaster aconselhando-o sobretudo pelas suas vantagens econocircmicas a economia no salaacuterio do professor pois era apenas um mestre encarregado de vaacuterios alunos e na compra de livros elementares e papel A partir do iniacutecio da deacutecada de 20 do seacuteculo XIX algumas salas de aulas de ensino muacutetuo foram abertas no Rio de Janeiro 128 Os trabalhos de Barra (2013 2016) discutem o papel dos utensiacutelios escolares em especial da lousa na propagaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo dos meacutetodos de ensino A partir da relaccedilatildeo entre material e meacutetodo Barra (2013 2016) tambeacutem descreve como o custo influencia na prescriccedilatildeo de certas praacuteticas de ensino na escola 129 Esse jornal circulou entre 1830 a 1834 e encontra-se totalmente digitalizado e disponibilizado em CD-ROM A digitalizaccedilatildeo fez parte de um projeto de preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural da Agecircncia Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira AGEPEL Agradecemos agrave Beatriz Otto de Santana que ocupava em julho de 2017 o cargo de Superintendente Substituta do Iphan em Goiaacutes pelo auxiacutelio ao enviar o CD-ROM com todas as ediccedilotildees do Matutina Meyapontense

92

ensino individual (150$ reis) e da cadeira de ensino muacutetuo (240$ reis)130 natildeo havia

profissionais formados para atender a demanda da educaccedilatildeo na proviacutencia o que

ocasionava a abertura de escolas de ensino individual

O Secretario disse que tendo considerado as muitas difficuldades se devem encontrar para acquisiccedilaotilde de Professores habeis de Ensino Mutuo como he o desta Cidade e desejando do modo possiacutevel que se propaguem as luzes quanto antes por todos esses Arraiaes onde naotilde ha Escolas de 1 letras a excepccedilaotilde de Trahiras e Natividade que as tem era a sua opiniaotilde que por ora se estabeleccedilaotilde nelles as del ensino individual ou ordinario e que no futuro se estabeleceraotilde as de ensino mutuo onde melhor conviereuml (MATUTINA MEYAPONTENSE 12 de agosto de 1830 p 2)

Haveraacute Escolas de 1 letras pelo methodo ordinario na Villa da Palma e nos Arrayaes Cavalcante S Felis Flores S Domingos Conceiccedilaotilde Carmo Porto Imperial e Carolina conservando-se as que haacute em Trahiras e Natividade em quanto as circunstancias nao permittirem o estabelecimento de Escolas de Ensino Mutuo em todos ou em alguns dos mencionados lugares (MATUTINA MEYAPONTENSE 14 de agosto de 1830 p 1)

Em ediccedilotildees do Matutina Meyapontense de 1830 a 1834 evidencia-se o debate

na implantaccedilatildeo e dificuldade em manter as cadeiras de ensino muacutetuo na proviacutencia

algumas classes eram abertas mas pela falta de preparaccedilatildeo do professor com o

meacutetodo muacutetuo acabavam sendo fechadas ou transformadas em classes do meacutetodo

individual que ldquoembora natildeo indicado oficialmente apoacutes 1835 gozou de ampla

disseminaccedilatildeo em todo o territoacuterio goianordquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 109)

Em ofiacutecio datado de 1837 o entatildeo Presidente da Proviacutencia Joseacute Rodrigues

Jardim autor da Lei Provincial nordm 13 de 23 de junho de 1835 (GOIAacuteS 1835) remeteu

ao Delegado de Instruccedilatildeo Primaacuteria da Vila de Natividade uma ordem a respeito do

uso do meacutetodo lancasteriano

23 de janeiro A Zacarias Antonio dos Santos Persuadido pelo contexto do oficio que V S me dirigio em data de 5 de Novembro convencido pela nota que V S lanccedilou no Mappa de que na Aula da Instrucccedilatildeo Primaria dessa Villa se continua a ensinar pelo Methodo Lancaster tenho a dizer-lhe que pela Lei Provincial Nordm 13 de 23 de julho de 1835 ficou abolido na Provincia o dito Methodo sendo a diferenccedila do 1ordm e 2ordm gratildeo unicamte quanto a materias que nelles se ensinatildeo e nunca quanto ao methodo do que a expperiencia fez adoptar o individual devendo V S assim o fazer observar na Aula estabelecida nessa Villa Ds Gde a V S Palacio do Gov da Prova de

130 O valor pago ao professor de ensino muacutetuo era semelhante ao da Mestra das meninas cf Matutina Meyapontense 29 de julho de 1830 p 1

93

Gs 23 de janeiro de 1837 = Joseacute Rod Jardim = Snro Zacarias Antonio dos Santos Delegado quanto a Instrucccedilatildeo primaria da Villa de Natividade (JARDIM 23 de janeiro de 1837 p 82 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

Eacute importante lembrar que a Vila de Natividade131 eacute o local onde os excertos do

jornal Matutina Meyapontense transcritos anteriormente mencionam que haacute escola

do meacutetodo muacutetuo ou lancasteriano Dessa maneira o Presidente Jardim (23 de janeiro

de 1837) faz uma espeacutecie de campanha para natildeo adoccedilatildeo desse meacutetodo ordenando

que fosse seguido o individual jaacute que a lei de 1835 (GOIAacuteS 1835) distinguia as

escolas de 1ordm ou 2ordm graus de acordo com as mateacuterias lecionadas e natildeo em relaccedilatildeo

aos meacutetodos Outrossim indica o meacutetodo individual conforme a experiecircncia da

proviacutencia mostra como mais bem-sucedido Com isso Jardim (23 de janeiro de 1837)

faz um discurso que se estenderaacute pelos discursos presidenciais na Assembleia

Legislativa ao longo do periacuteodo imperial que buscavam a ldquopadronizaccedilatildeordquo dos meacutetodos

e materiais de ensino nas escolas goianas algo tambeacutem pretendido pelas legislaccedilotildees

do Municiacutepio da Corte e em bastante evidecircncia nas regulamentaccedilotildees educacionais de

proviacutencias como Satildeo Paulo e Minas Gerais que despontavam nesse setor

(MARCILIO 2005)

Joseacute Rodrigues Jardim ficou na presidecircncia da proviacutencia ateacute 1837 Com um

governo de mais de 5 anos criou escolas a partir de uma estrateacutegia poliacutetico-

administrativa que reduzia custos na oferta de materiais escolares para arcar com os

ordenados dos professores (BRETAS 1991) Exemplo disso eacute quando relata sobre o

ensino muacutetuo mencionando que ldquoeconomisadas algumas quantias que com este

methodo inutilmente se despendem se poderatildeo estabelecer mais algumas Aulas na

Provinciardquo (JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1835 p 8)

No livro de Registros de Ofiacutecios enviados agrave Presidecircncia da Proviacutencia pela

Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica (CRUS 18 de abril de 1858

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) em 1858 o

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Proviacutencia de Goiaacutes Felipe Antocircnio Cardoso de

Santa Crus ao listar os objetos necessaacuterios para instruccedilatildeo primaacuteria argumentou

quanto agrave importacircncia de serem enviados Tratados sobre os Meacutetodos de Ensino

revelando que a natildeo circulaccedilatildeo do ensino muacutetuo em Goiaacutes deu-se sobretudo pela

131 Localizado ao norte da proviacutencia de Goiaacutes Hoje ainda com o mesmo nome Natividade eacute um municiacutepio do estado do Tocantins

94

falta de livros que ensinassem os professores a aplicarem esse meacutetodo e tambeacutem

porque natildeo se propagaram nessa proviacutencia as liccedilotildees dos princiacutepios de educaccedilatildeo de

Joseph-Marie de Geacuterando conhecido como Baratildeo Degerando

As ideias de Degerando foram difundidas no Brasil por meio da traduccedilatildeo e

impressatildeo em 1839 de sua obra intitulada Curso Normal para Professores de

Primeiras Letras ou Direcccedilotildees Relativas a Educaccedilatildeo Physica Moral e intelectual nas

Escolas Primarias (BARAtildeO DEGERANDO 1839)132 Segundo Bastos (1999) esse eacute

o primeiro manual didaacutetico-pedagoacutegico publicado no Brasil tratando-se de uma obra

estudada na Escola Normal de Niteroacutei133 Em Goiaacutes mesmo apoacutes a instalaccedilatildeo do

Curso Normal anexo ao Liceu de Goiaacutes em 1884 pelos estudos de Canezin e

Loureiro (1994) e Brzezinski (2008) natildeo se tem notiacutecia de que esse manual tenha

circulado na formaccedilatildeo dos professores goianos

A Lei de 1835 deu origem ao curriacuteculo das escolas primaacuterias goianas alterado

por vaacuterios Regulamentos de Ensino e Resoluccedilotildees subsequentes O meacutetodo de ensino

muacutetuo natildeo foi mencionado em nenhum deles Para Bretas (1991) houve uma tentativa

na proviacutencia de estabelececirc-lo por meio da Resoluccedilatildeo nordm 3 de 10 de julho de 1844

sancionada pelo entatildeo Presidente Joseacute de Assis Mascarenhas Em junho de 1847

com Joaquim Ignaacutecio de Ramalho na presidecircncia a Assembleia Provincial questiona-

o sobre o natildeo cumprimento da referida resoluccedilatildeo O Cocircnego Feliciano Joseacute Leal

Secretaacuterio do Governo em 4 de junho de 1847 transmite a resposta por ofiacutecio

De ordem do mesmo Exmordm Snr (o presidente) sou authorizado a responder a duvida antes sinceramente almeja promover a instrucccedilatildeo a moral e os bons costumes por estar na firme persuassatildeo de serem as bases mais soacutelidas sobre as quais se apoia o edificio social porem que dependendo a Aula de Ensino Mutuo natildeo soacute drsquouma casa com a capacidade indispensavel infelizmente acontece que nem a provincia a possue nem suas rendas podem fazer face aos ordenados dos empregados puacuteblicos muito menos para a aquisiccedilatildeo drsquoum edificio e dos mais utensis natildeo pouco despendiosos indispensaveis ao ensino mutuo Alem drsquoisto acresce que achando-se

132 O Baratildeo Degerando publicou na Franccedila em 1832 uma coletacircnea de conferecircncias ministradas na Escola Normal de Paris Trata-se de 16 conferecircncias proferidas por ele direcionadas aos professores de primeiras letras A traduccedilatildeo foi realizada por forccedila do Decreto Imperial brasileiro nordm 28 de 11 de maio de 1839 O tradutor foi o Dr Joatildeo Candido de Deos e Silva na eacutepoca Deputado da Assembleia Legislativa da proviacutencia do Rio de Janeiro No Brasil as conferecircncias deram origem a um livro impresso pela Typographia Nictheroy de M G de S Rego Praccedila Municipal ndash 1839 com 421 paacuteginas Um exemplar encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Sobre isso cf Bastos 1999 133 A Escola Normal de Niteroacutei foi a primeira criada no Brasil em 1835 na capital da proviacutencia do Rio de Janeiro aberta com intuito de preparar os professores para aplicaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo Para aprofundar nessa questatildeo cf Arauacutejo Freitas Lopes 2008

95

o systema de Lancaster consideravelmente modificado e alterado convem que primeiramente se examine se elle deve ser ainda admitido na Provincia com as modificaccedilotildees e alteraccedilotildees radicaes por que tem passado (GOIAacuteS 1847 ofiacutecio nordm 26 livro nordm 38 de Correspondecircncias da Secretaria de Governo p 95 apud BRETAS 1991 p 233)

Com esse ofiacutecio Bretas (1991 p 233) advoga que ldquotransformou-se em letra

morta a resoluccedilatildeo nordm 3 e natildeo mais se falou oficialmente em ensino muacutetuo na

Proviacutenciardquo

Apoacutes a criaccedilatildeo da Lei de 1835 em Goiaacutes no mesmo ano foi aprovado o

Regulamento de Instruccedilatildeo nordm 5 de 25 de agosto que ldquoinstruiacutea sobre concursos de

professores escrituraccedilatildeo de matriacuteculas horaacuterio escolar licenccedila e substituiccedilatildeo de

professores feacuterias e feriados escolares adiantamento dos alunos e aplicaccedilatildeo de

castigosrdquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 266) Sobre a

aplicaccedilatildeo de castigos o Regulamento previa o uso de palmatoacuteria ao contraacuterio do que

a Lei Imperial de 15 de outubro de 1827 estabelecia ao mencionar que os castigos

seriam praticados pelo meacutetodo Lancaster Na leitura de Lesage (1999) Lancaster era

contra o uso de castigos corporais propondo um sistema disciplinatoacuterio da mente e

do corpo pelo qual a escola desenvolve crenccedilas civilizatoacuterias promovendo precircmios

ao despertar entre os alunos a emulaccedilatildeo Como se percebe e na concepccedilatildeo de Bretas

(1991) o meacutetodo lancasteriano natildeo foi incorporado e bem interpretado em Goiaacutes

assim como em outras proviacutencias brasileiras poreacutem ldquohouve uma mudanccedila no espiacuterito

nos fatos e nas praacuteticas cotidianas todos estavam de acordo que o mais importante

era a recompensa ao inveacutes das puniccedilotildeesrdquo (LESAGE 1999 p 22)

Nesse periacuteodo a fiscalizaccedilatildeo do ensino ficou a cargo dos Delegados

Paroquiais que enviavam relatoacuterios descrevendo como estavam sendo conduzidas

as aulas observando o cumprimentos das leis dos regulamentos e das ordens do

Governo ldquoesmerando se em que seja a mocidade doutrinada nas mais puras ideias

religiosas e moraes e a importancia da uniaotilde e integridade do Imperio ainda a custa

dos maiores sacrificiosrdquo (GOIAacuteS 1835 art 22 inciso 4ordm) Em 1836 o Presidente

Jardim nomeou duas pessoas de sua confianccedila para percorrer a proviacutencia e verificar

in loco a quantidade de alunos ao mesmo tempo que pretendia fiscalizar o trabalho

dos Delegados (JARDIM 19 de julho de 1836 p 56 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

96

No entanto com as dificuldades proacuteprias de comunicaccedilatildeo uma populaccedilatildeo mais

concentrada no meio rural e um nuacutemero expressivo de escravos134 devido ao contexto

agraacuterio-pastoril da proviacutencia os Delegados Paroquiais relatavam a dificuldade em

manter o nuacutemero de alunos Segundo pesquisa de Abreu (2006) estima-se que em

1835 o nuacutemero de escolas puacuteblicas de primeiras letras na proviacutencia era de 26

enquanto em 1837 28 com 522 alunos matriculados (FLEURY Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1837 p 11)

Em 1837 assumiu a presidecircncia em Goiaacutes o padre Luiz Gonzaga de Camargo

Fleury135 Liberal atuou como redator no Matutina Meyapontense difundindo em

vaacuterios de seus textos a instruccedilatildeo puacuteblica como caminho para a constituiccedilatildeo de uma

naccedilatildeo Sua formaccedilatildeo em Filosofia e Teologia se deu em Satildeo Paulo Esteve por dois

anos e meio no cargo conseguindo manter ateacute o final de seu mandato 30 escolas

por toda a proviacutencia (ABREU 2006) Entre seus feitos na instruccedilatildeo restaurou as aulas

de Latim solicitando das Cacircmaras e da Assembleia que se houvesse um nuacutemero de

alunos que se interessassem criassem as cadeiras de Latim nos municiacutepios jaacute que

em 1837 elas existiam apenas na Vila de Natividade ndash ao norte da proviacutencia Por isso

um dos seus primeiros atos foi restabelececirc-las na Vila de Meiaponte136 de onde era

natural

Em setembro de 1837 Fleury regulamentou o artigo 20 da primeira lei goiana

de instruccedilatildeo puacuteblica o qual regia o ordenado dos professores revogando os

dispositivos do Regulamento de 1835 que tratavam dos pagamentos Pela lei a

fixaccedilatildeo dos salaacuterios se definiria pelo nuacutemero de alunos o que fez com que

promulgasse a Resoluccedilatildeo nordm 17 de 4 de Setembro de 1837 especificando por

localizaccedilatildeo grau da escola e quantidade de alunos o valor a ser pago (GOIAacuteS 1837

p 3-4 FLEURY Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1838 p 6-7)

134 Eacute importante mencionar que a Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 em seu artigo 8ordm estabeleceu que somente as pessoas livres poderiam frequentar as escolas puacuteblicas 135 Luiz Gonzaga de Camargo Fleury eacute o avocirc do autor da seacuterie graduada de livros de leitura Meninice (1948-1949) ambos batizados com o mesmo nome O autor assinava as capas dos seus livros como Luiacutes Gonzaga Fleury embora seu nome de batismo segundo Melo (1954) fosse com ldquozrdquo Goulart (2013 2015) estudou a vida e obra do autor da seacuterie Meninice destacando que em seu discurso haacute flexibilidade ideoloacutegica na defesa dos meacutetodos de ensino ora se posicionando a favor do analiacutetico ora do meacutetodo sinteacutetico 136 Segundo dados do Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia assinado por Fleury em 1837 (FLEURY Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1837 p 12-13) as Aulas de Latim na Vila de Meiaponte foram criadas em 1787 fechadas em 1807 e totalmente suprimidas em 1811 Vale elucidar que Vila de Meiaponte hoje recebe o nome de Pirenoacutepolis cidade localizada no leste goiano

97

Mesmo declarando-se filiado aos ideais liberais Fleury manteve boas relaccedilotildees

com a ala conservadora jaacute que os padres de diferentes localidades mantinham

influecircncia sobre as escolas Um caso exemplar que confirma isso ocorreu em

Curralinho137 quando advertiu um professor por comportamento inapropriado ao

incomodar a vizinhanccedila com batuques em sua casa ateacute altas horas da noite O

Presidente ao advertir o professor Thomas Antonio da Fonseca tambeacutem deixou claro

que as regulamentaccedilotildees em vigecircncia no periacuteodo recomendavam que algueacutem que

ocupasse o ldquohonroso cargo de professorrdquo natildeo poderia ter conduta que infringisse a

moral puacuteblica os bons costumes e os preceitos religiosos (FLEURY 14 de fevereiro

de 1838 p 116-117 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

191)

Entre 1839 e 1845 Joseacute de Assis Mascarenhas esteve como presidente em

Goiaacutes Exercia tambeacutem o cargo de deputado na Assembleia Geral do Impeacuterio por isso

afastava-se por cerca seis meses ao ano quando era substituiacutedo interinamente pelos

vice-presidentes Joseacute Rodrigues Jardim e Francisco Ferreira dos Santos Azevedo O

segundo assumiu a vice-presidecircncia por forccedila da Carta Imperial de 12 de janeiro de

1842 em funccedilatildeo da morte de Joseacute Rodrigues Jardim (AZEVEDO Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1842 p 2)

Mascarenhas diplomou-se em Direito na Universidade de Coimbra onde

possivelmente teve contato com o pensamento dos iluministas e de educadores

europeus Tal influecircncia fez com que entre seus primeiros atos sobre a instruccedilatildeo

puacuteblica eliminasse os estudos de Retoacuterica substituindo-os pelos de Teologia Moral

pelos quais se ensinaria a Histoacuteria Eclesiaacutestica Teologia Dogmaacutetica entre outras

temaacuteticas espelhando-se na sua experiecircncia no Seminaacuterio Episcopal de Coimbra

onde observou que

[] os Sacerdores tinhaotilde instrucccedilaotilde e que natildeo podiaotilde tomar as Ordens Sacras sem se mostrarem approvados nas mateacuterias do Plano cujos estudos comprehendiaotilde tres anos no 1ordm se ensinava o Cathecismo Romano no 2ordm Theologia Dogmatica no 3ordm Theologia Moral e em todos tres Historia Ecclesiastica (MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1839 p 12)

Mascarenhas percebia que os Sacerdotes ordenados tinham uma grande

influecircncia sobre o povo e que por isso deveriam ser bem instruiacutedos natildeo bastando o

137 Hoje municiacutepio de Itaberaiacute na regiatildeo do centro goiano

98

aprendizado das noccedilotildees elementares Em trechos do relatoacuterio citado acima ele

denuncia que alguns padres em Goiaacutes eram ordenados sem instruccedilatildeo alguma

Acreditando que religiatildeo e moral ldquosatildeo duas acircncoras que sustentavam a nau do

Estadordquo promoveu as mudanccedilas apontadas sugerindo que os professores de

Retoacuterica assumissem as cadeiras de Teologia (MASCARENHAS Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1839 p 12)

No Relatoacuterio destinado agrave Assembleia Legislativa de Goiaacutes em 1ordm de outubro de

1840 no item sobre a educaccedilatildeo Mascarenhas relatava algumas de suas passagens

pelas escolas da proviacutencia ao visitaacute-las pessoalmente para conferir as suas

condiccedilotildees O Correio Official tambeacutem expotildee essa experiecircncia de Mascarenhas

O Excellentissimo Snr Presidente da Provincia sollicita em promover o progresso da instrucccedilatildeo depois de vesitar pessoalmente as Aulas estabelecidas nesta Cidade dando as mais sabias e acertadas providencias para o adiantamento do Alumnos [] No dia 6 do corrente Sua Excellencia animado do mesmo zelo seguio para a Villa de Meiaponte empreendendo huma jornada assaz incommoda em razaacuteotilde do pessimo estado a que se achaacuteotilde reduzidas as estradas com os muitas chuvas deste anno vesitou as Aulas de Latim e de Primeiras Letras da dita Villa as do Corrumbaacute e Jaraguaacute regressando chegou a esta Cidade no dia 17 do corrente [] Consta-nos que S Exc athe meado de Marccedilo se dirige com o mesmo fim para a Villa de Pilar e que logo que o tempo decirc lugar partiraacute para o Norte da Provincia onde a sua presenccedila he muito desejada como nos consta He necessario pois que os Snrs Delegados sobre a Instrucccedilaotilde Primaria activem os Professores para que empreguem todo o cuidado no adiantamento dos Alumnos afim de que perante S Exc mostrem a instrucccedilaotilde que tem adquirido pelos desvelos de seos Mestres (CORREIO OFFICIAL 29 de fevereiro de 1840 p 4)

As passagens de Mascarenhas pelas escolas da proviacutencia tambeacutem fizeram

circular ideias de pensadores da educaccedilatildeo Na Caixa de Documentos do Municiacutepio

de Pirenoacutepolis (AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis Caixa 4) haacute um

rascunho138 de uma correspondecircncia assinada por Padre Veiga139 datada de 20 de

marccedilo de 1840 agradecendo o Presidente Mascarenhas por apresentar ideias de

138 Acreditamos ser um rascunho pois o texto estava escrito a laacutepis e natildeo a tinta no canto superior de um papel almaccedilo Nesse mesmo papel havia outras anotaccedilotildees de nomes de pessoas como se fosse a composiccedilatildeo de um Mapa de Turma sendo possivelmente portanto nomes de alunos 139 Padre Joseacute Joaquim Pereira da Veiga conhecido como Padre Veiga eacute natural de Vila de Meiaponte hoje Pirenoacutepolis Morreu em 11 dezembro de 1840 aos 68 anos O Relatoacuterio apresentado na Assembleia Legislativa de Goiaacutes em 1841 assinado pelo entatildeo vice-presidente Joseacute Rodrigues Jardim (JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1841 p 5) informa da morte de Veiga mencionando que ele era professor de Gramaacutetica Latina

99

Pestalozzi que ali tentariam colocar em praacutetica ao mesmo tempo que solicita

indicaccedilotildees de compecircndios do referido educador Ao que tudo indica esse bilhete natildeo

chegou agraves matildeos do Presidente poreacutem notamos que suas viagens pelas escolas

influenciaram o pensamento e as praacuteticas dos professores com quem teve contato

Entretanto como eram escassos os meios de se ter acesso aos livros natildeo eacute possiacutevel

concluir que as ideias de Pestalozzi tenham sido aprofundadas pelos preletores

goianos

De acordo com Bretas (1991 p 204) Mascarenhas ldquofoi o presidente que pela

primeira vez em mensagens agrave Assembleia legislativa citou nomes de educadores de

fama internacional lembrando as conquistas cientiacuteficas no campo da educaccedilatildeordquo

[] a instruccedilaotilde he o ponto de partida e a base em que deve assentar o edifiacutecio social naotilde fallo soacute da instrucccedilaotilde que se costuma aacute dar nas escoacutelas ler escrever contar doutrina Christatilde demais alguma cousa se precisa he necessario inspirar nos meninos os principios de Moral o amor ao trabaacutelho o horror aacute preguiccedila para a qual tanto nos atrahe a espantosa fecundidade deste sogravelo abenccediloado Quem naotilde ha de pronuciar com respeito e gratidaotilde os nomes illustres e inmortaes de Pestalozzi Fellemberg Bell e Lancaster Hum povo illustrado facilmente se governa e he bem difficil senaotilde impossivel opprimil-o [] (MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia de Goiaacutes 1845 p 6-7 grifos nossos)

No uacuteltimo trecho desse fragmento ao dizer que o povo ilustrado eacute faacutecil de

governar e impossiacutevel de oprimir haacute uma aproximaccedilatildeo com as ideias liberais como

tambeacutem dos preceitos pestalozzianos que engajados politicamente ldquoenvidavam

esforccedilos para a laicizaccedilatildeo do ensino e a educaccedilatildeo do seacuteculo XIX da sociedade

urbana e industrial com os projetos para a implantaccedilatildeo da escola universal laica e

gratuitardquo (BRETTAS 2018 p 417) Logo mesmo Mascarenhas (1839) reconhecendo

a religiatildeo como sustentadora da organizaccedilatildeo social de um Estado consideramos a

partir da passagem do relatoacuterio transcrito acima que ele dissemina uma perspectiva

iluminista ao afirmar que a educaccedilatildeo tambeacutem guia ao trabalho por meio de um

pensamento racionalista calcado natildeo apenas em valores religiosos mas numa base

cientificista

Nas viagens que Mascarenhas empreendeu a realidade encontrada era de

escolas funcionando em espaccedilos pouco confortaacuteveis geralmente nas casas dos

professores A escassez de materiais didaacuteticos e de mobiacutelias escolares era outro fator

que prejudicava o andamento das aulas Bretas (1991) afirma que o periacuteodo de 1835

a 1845 foram anos de estagnaccedilatildeo da instruccedilatildeo na proviacutencia Logo se Mascarenhas

100

natildeo realizou grandes feitos para a educaccedilatildeo de Goiaacutes durante seus anos no poder

sua experiecircncia auxiliou no diagnoacutestico da realidade educacional no territoacuterio goiano

Constatou-se que a obrigatoriedade de matriacutecula das crianccedilas natildeo era cumprida jaacute

que predominava na sociedade goiana uma cultura muito arraigada no ruralismo

Desse diagnoacutestico resultaram algumas accedilotildees que o vice-presidente Francisco Ferreira

dos Santos Azevedo ao assumir interinamente articulou

[] presentemente nossos Mestres de Primeiras Letras nada mais fazem do que ensinar a ler e escrever de sorte que quando hum menino sahe da Escolla ignora os conhecimentos os mais treviaes e seos proprios deveres Para remediar este inconveniente estou mandando imprimir na Typographia Provincial Compendios escolhidos para serem destribuidos pelas diversas Aulas e se esta medida naotilde produzir o desejado effeito entaotilde o Governo tomaraacute outras propondo-vos as que exercederem aacute orbita de suas attribuiccedilotildees A impressaotilde deste Compendio naotilde augmenta a despesa com a Instrucccedilatildeo Publica porque a importancia do papel he tirada da quantia dos utencilios e Ordenados dos Professores das Aulas que estaotilde vagas (AZEVEDO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1843 p 8 grifos nossos)

Natildeo identificamos menccedilotildees de que essa impressatildeo tenha ocorrido de fato na

Tipografia Provincial de Goiaacutes nem se ocorreu como os compecircndios foram

distribuiacutedos No entanto fica evidente que a tipografia da proviacutencia nesse periacuteodo

adquiriu tambeacutem essa funccedilatildeo Borges e Lima (2008) explicam que a Tipografia Oficial

de Goiaacutes foi comprada do jornal Matutina Meyapontense pelo Presidente Joseacute

Rodrigues Jardim em 1836 A compra da Tipografia fez com que fosse criada a

imprensa oficial em Goiaacutes em 1837 atraveacutes das publicaccedilotildees do Correio Official140 As

tipografias das proviacutencias eram geralmente utilizadas para impressatildeo de veiacuteculos de

informaccedilotildees oficiais do Governo tais como leis regulamentos atos e natildeo para

impressatildeo de livros didaacuteticos ou literaacuterios Isso eacute reiterado no Ato nordm 3905 de 16 de

marccedilo de 1886 que fixa o Regulamento da Typografia Provincial de Goyaz de 1886

(GOIAacuteS 1886c)141 no capiacutetulo 1 estabelecendo como finalidade da tipografia do

governo a publicaccedilatildeo de leis e editais aleacutem da impressatildeo do Correio Official

Outro fato interessante foi a descoberta de uma correspondecircncia datada de

1843 portanto contemporacircnea ao relatoacuterio de Azevedo na Caixa de Documentos dos

140 O Correio Official de Goyaz teve a sua primeira publicaccedilatildeo no dia 3 de junho de 1837 Para maiores informaccedilotildees acerca da histoacuteria da imprensa goiana cf Borges e Lima (2008) 141 AHEG Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes Esse documento encontra-se digitalizado e disponiacutevel no CD-ROM e no site da Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes volume 1

101

Municiacutepios Goianos (SILVEIRA 1856 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos

Itumbiara Caixa 01) que mencionou a existecircncia de uma Recebedoria no Porto de

Santa Ritta do Paranahyba142 e informou ao Presidente da Proviacutencia que havia

chegado ao Porto143 um grande carregamento da Typographia Nacional vindo do Rio

de Janeiro dirigido a Francisco Azevedo Seria essa carga os livros que serviriam de

modelo para a referida impressatildeo na Tipografia Provincial de Goiaacutes Ou eram outros

materiais vindos da Tipografia Nacional Embora pela correspondecircncia identificada

natildeo seja possiacutevel descobrir o conteuacutedo da carga destinada ao vice-presidente

Azevedo fica claro que a proviacutencia mantinha relaccedilotildees comerciais com a Tipografia da

sede do Impeacuterio algo importante a se considerar jaacute que segundo Lima (2008 p 20-

21) ldquoa Imprensa Nacional era [] simultaneamente uma graacutefica oficial e tambeacutem

editora que iria publicar textos literaacuterios e didaacuteticos Recebeu diversos nomes ao longo

de sua existecircncia Impressatildeo Reacutegia Impressatildeo Nacional Tipografia Nacional

Imprensa Nacionalrdquo

Em 1845 assumiu a presidecircncia de Goiaacutes Joaquim Ignaacutecio Ramalho que ficou

no governo ateacute 1848 No primeiro relatoacuterio de Ramalho apresentado agrave Assembleia

Legislativa de Goiaacutes em 1ordm de maio de 1846 ele enumera que eram 33 escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria no territoacuterio goiano descrevendo as condiccedilotildees da instruccedilatildeo puacuteblica

na proviacutencia

O estado actual da Instrucccedilaotilde Publica com magoa vos digo naotilde he satisfactorio nem tenho esperanccedilas de que neste interessante objecto se possa em pouco tempo obter algum melhoramento Os professores salvas algumas poucas excepccedilotildees naotilde tem os conhecimenttos necessarios para desempenharem seos deveres e impossivel seria preencher todas as Cadeiras creadas na Provincia

142 Hoje cidade de Itumbiara ao sul do estado 143 Em Santa Ritta do Paranahyba havia um Porto primeiro por ser uma regiatildeo de fronteira e tambeacutem pela presenccedila do Rio Paranaiacuteba por onde chegavam embarcaccedilotildees com encomendas para municiacutepios da Proviacutencia de Goiaacutes e para outras Proviacutencias ao Norte Centro-Oeste do paiacutes Nesse Porto havia uma Recebedoria com um Administrador que recolhia os impostos das cargas e informava ao Presidente de Proviacutencia o que por ali passava O Administrador tambeacutem prestava contas agrave Tesouraria da Proviacutencia detalhando os rendimentos da Recebedoria por meio de um balancete mensal da receita e das despesas do Porto Nas Caixas de Documentos do Municiacutepio de Itumbiara no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes haacute diversos balancetes e ofiacutecios expedidos pela Recebedoria Na caixa 1 haacute uma carta assinada pelo entatildeo Administrador da eacutepoca Jozeacute Manuel da Silveira destinada ao Inspetor das Rendas Provinciais datada de 14 de janeiro de 1856 relatando as dificuldades de se administrar uma regiatildeo de fronteira ao mesmo tempo que entrega o cargo pois haacute cidadatildeos que por ali passam e natildeo querem pagar as taxas cobradas no Porto Por fim tambeacutem argumenta ldquonatildeo quero continuar a soffrer os dissabores causados por administraccedilotildees de barreirasrdquo (SILVEIRA 1856 p 2 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 01)

102

com homens professionaes revestidos de todas as habelitaccediloes exigidas pelas Leis em vigor A falta de homens que exerccedilaotilde dignamente o Magisterio he hum mal que affecta poderosamente o progresso da instrucccedilatildeo (RAMALHO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1846 p 12)

Em virtude da falta de pessoas para exercer o magisteacuterio e de formaccedilatildeo de

intelectuais na proviacutencia Ramalho criou o Liceu um estabelecimento de ensino

secundaacuterio sancionando a Lei nordm 9 de 17 de junho de 1846 (GOIAacuteS 1846) A

instalaccedilatildeo do Liceu aconteceu somente em 23 de fevereiro de 1847 sem sede proacutepria

com as aulas ocorrendo no preacutedio anexo da Casa da Fazenda da Cidade de Goiaacutes

(BARROS 2006) Em 1839 o Presidente Mascarenhas jaacute havia discutido na

Assembleia Legislativa a necessidade de construccedilatildeo de um Liceu na proviacutencia ldquo[]

eu quizera apresentar-vos hum Plano de Estudos e lembrar-vos a vantagem de hum

Licecirco em que estivessem reunidas as diferentes aulas e donde sahissem os Mestres

para as Escolas da Provincia hum tal Estabelecimento seria de grande utilidaderdquo

(MASCARENHAS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1839 p 9) Poreacutem Mascarenhas

justifica que devido agrave falta de recursos financeiros na proviacutencia natildeo se conseguiria

instalar naquele ano o Liceu algo que ocorreu somente 7 anos depois no governo de

Ramalho (BARROS 2006)

No relatoacuterio que Ramalho apresentou agrave Assembleia Legislativa em 1847 haacute

um item sobre o ensino secundaacuterio intitulado de ldquoLicecircordquo Barros (2006 p 25) elucida

que o Liceu acabou se tornando uma escola cujo objetivo era formar ldquoprofissionais

liberais e tambeacutem os poliacuteticos que iriam representar Goiaacutes no cenaacuterio poliacutetico

nacionalrdquo Ateacute 1929 o Liceu foi a uacutenica instituiccedilatildeo de ensino secundaacuterio do estado

somente a partir de 1930 eacute que se iniciou a proliferaccedilatildeo dessas escolas pelo interior

goiano (BARROS 2017)144

Ramalho afastou-se da presidecircncia em 1848 para exercer o mandato de

Deputado Geral pela proviacutencia de Goiaacutes e o vice-presidente Antocircnio de Paacutedua Fleury

assumiu o cargo

Num curto espaccedilo de tempo entre fevereiro 1848 a junho de 1849 Antocircnio de

Paacutedua Fleury145 esteve no poder Em seus discursos aponta a necessidade de

construir uma Escola Normal jaacute que a instruccedilatildeo primaacuteria carecia de mestres

144 Para maiores informaccedilotildees sobre a histoacuteria do Liceu em Goiaacutes cf Barros (2006 2017) 145 Antocircnio de Paacutedua Fleury era irmatildeo de Luiz Gonzaga de Camargo Fleury que exerceu tambeacutem a presidecircncia da proviacutencia de Goiaacutes entre 1837 a 1839

103

habilitados com conhecimentos especiacuteficos sobre o exerciacutecio do magisteacuterio Fleury

(1848 1849) tambeacutem defende ordenados melhores aos professores no intuito de

atraiacute-los agrave docecircncia No entanto natildeo houve uma accedilatildeo efetiva para que isso fosse

operacionalizado Bretas (1991) ressalta que daiacute em diante os Relatoacuterios de

Presidente de Proviacutencia satildeo registros de um pessimismo motivado pelas condiccedilotildees

econocircmicas em Goiaacutes impactando no ensino que necessitava de investimentos

Aleacutem disso houve uma sucessatildeo de presidentes que ficaram pouco tempo no cargo

posto que alguns assumiam outros cargos poliacuteticos ocasionando a natildeo continuidade

das accedilotildees no acircmbito da educaccedilatildeo

Eduardo Olimpio Machado presidente da proviacutencia entre 1849 e 1850 relatou

que ldquoo estado da instrucccedilatildeo primaria excepccedilaotilde feita da Capital eacute desanimador e naotilde

corresponde seguramente aos sacrifiacutecios que com ella faz o Cofre Provincialrdquo

(MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1850 p 18) Para resolver tal

situaccedilatildeo Machado reitera a necessidade de uma Escola Normal mas como natildeo havia

meios financeiros para criaacute-la propotildee adicionar ao Liceu um professor de instruccedilatildeo

primaacuteria encarregado de preparar os docentes para o exerciacutecio do magisteacuterio das

primeiras letras Ao mesmo tempo percebe que falta na proviacutencia uma fiscalizaccedilatildeo

mais efetiva apresentando a ideia de criaccedilatildeo do cargo de Inspetor Geral das Escolas

que por recomendaccedilatildeo do Governo visitaria todas as escolas da proviacutencia No citado

relatoacuterio de 1850 Machado tambeacutem afirma que para ser professor eacute necessaacuterio ter

grau de instruccedilatildeo compatiacutevel com as exigecircncias da docecircncia propondo que os

professores que atuavam nas aulas de instruccedilatildeo primaacuteria caso natildeo fossem formados

passassem por uma ldquoprova de capacidaderdquo Os professores interinos e os vitaliacutecios

julgados natildeo aptos nessa prova seriam convocados para o ensino preparatoacuterio ndash uma

espeacutecie de escola de formaccedilatildeo destinada aos docentes Todavia como Machado

(1850) admite essas accedilotildees exigiam despesas dos cofres puacuteblicos e naquele momento

natildeo foram implementadas

Todas essas sugestotildees de Machado foram retomadas pelo presidente

seguinte Antonio Joaquim da Silva Gomes que governou entre julho de 1850 e

dezembro de 1852 entretanto Gomes justificou que a situaccedilatildeo econocircmica da

proviacutencia natildeo permitia os gastos previstos nas ideias de Machado e que embora os

concursos para cadeiras de instruccedilatildeo primaacuteria estivessem abertos em alguns

municiacutepios ningueacutem havia se habilitado para o magisteacuterio De acordo com o

Presidente Gomes tambeacutem se corria o risco de ao aplicar a ldquoprova de capacidaderdquo

104

faltarem professores por natildeo haver pessoas interessadas pela docecircncia e de fato

habilitadas com os conhecimentos exigidos para lecionar

Foucault (2004) discute que exercer um poder eacute formar organizar e pocircr em

circulaccedilatildeo um saber O discurso de Gomes proclama uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que marginaliza a profissatildeo docente e o ensino puacuteblico Um discurso que conforme

Abreu (2006) aponta ressoou na desvalorizaccedilatildeo da carreira e da formaccedilatildeo docente

em Goiaacutes por muitos anos

Em quanto for tao escasso o numero de indiviacuteduos que procuraotilde empregar-se no Magisterio naotilde deveis inovar couza alguma a respeito do ensino publico parecendo-me por ora bastante que o Governo proceda com escruacutepulo no provimento vitaliacutecio ou interino das Cadeiras conferindo tiacutetulos somente aacute aquelles em que se der maior graacuteu de meacuterito e capacidade e preferindo antes deixar algumas vagas do que confial-as a homens que vao perverter a mocidade pela sua supina ignoracircncia ou pelo escacircndalo de seos costumes (GOMES Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1851 p 30)

A defesa de Gomes (1851) faz parte de um saber sobre a formaccedilatildeo de

professores que circulou natildeo soacute em Goiaacutes como em outras proviacutencias poacutes Ato

Adicional de 1834 repercutindo nas falas presidenciais uma recorrente ldquoperspectiva

de que a formaccedilatildeo para o ofiacutecio docente era condiccedilatildeo primordial para lsquomelhorar a

instrucccedilatildeo da mocidaderdquo (REIS 2011 p 182)

Em 1852 estavam instaladas 44 escolas puacuteblicas de primeiras letras na

proviacutencia muitas das quais estavam sendo fechadas por falta de alunos (GOMES

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1852a) Canezin e Loureiro (1994) explicam que

nesse periacuteodo a populaccedilatildeo goiana era predominantemente rural e por isso havia

muitos escravos que assim como os filhos de famiacutelias mais pobres estavam

excluiacutedos da escola Jaacute em 1853 35 escolas estavam funcionando frequentadas por

947 meninos e 127 meninas

Quando Gomes apresentou o relatoacuterio ao seu sucessor Francisco Mariani

descrevendo brevemente a situaccedilatildeo da proviacutencia no que tange agrave educaccedilatildeo ele tratou

apenas do Liceu natildeo mencionando nada mais a respeito da instruccedilatildeo puacuteblica

(GOMES Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1852b) Destacou alguns investimentos

que fez no ensino secundaacuterio comprando materiais para as aulas no Liceu Fica

evidente desse modo como a educaccedilatildeo em Goiaacutes foi-se configurando empregando-

se mais recursos destinados agrave formaccedilatildeo de uma elite poliacutetica do que agrave instruccedilatildeo

primaacuteria (BARROS 2006 2017)

105

Mariani governou entre dezembro de 1852 a abril de 1854 Na Assembleia

Legislativa tambeacutem reclamou da falta de recursos para manter as escolas goianas

definindo como criteacuterio para manutenccedilatildeo da educaccedilatildeo na proviacutencia o custeamento de

no miacutenimo uma escola em efetivo exerciacutecio por municiacutepio transferindo professores de

localidade a fim de preencher algumas cadeiras que estavam vagas Em 1853 Mariani

apresentou na Assembleia o pedido de eliminaccedilatildeo da quota destinada para o

expediente das aulas justificando que

[] Natildeo eacute com meia duzia de folhas de papel distribuidas anualmente por cada menino que se lhes ha de ensinar a arte calligraphica entretanto que essas pequenas addiccedilotildees reunidas formaotilde uma somma que muito avulta no estado de penuria a que estaotilde reduzidos os Cofres Provinciais (MARIANI Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1853 p 28)

A escassez dos materiais de expediente escolar jaacute era evidenciada em

relatoacuterios anteriores como um agravante para a ineficaacutecia do ensino agora de forma

legitimada notamos os rumos que a educaccedilatildeo em Goiaacutes na metade do seacuteculo XIX

foram tomando ao mesmo tempo que comprovamos que os governos provinciais

com a responsabilidade de ofertar a educaccedilatildeo popular natildeo conseguiam se manter

sem a colaboraccedilatildeo do Poder Central (SAVIANI 2006)

Durante o governo de Mariani foi sancionada a Reforma Couto Ferraz pelo

Decreto nordm 1331A ndash de 17 de fevereiro de 1854 (BRASIL 1854) Essa reforma

regulamentou o ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte e influenciou em

Goiaacutes a expediccedilatildeo do novo Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria em 1856

(GOIAacuteS 1856) assinado no governo do Presidente Antonio Augusto Pereira da

Cunha Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) explicam que com exceccedilatildeo da

primeira lei de instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes homologada em 1835 todas as demais no

periacuteodo imperial possuem um dispositivo legal da Assembleia Legislativa autorizando

uma reforma no ensino na proviacutencia146

Quando o Regulamento de 1856 foi aprovado a educaccedilatildeo goiana estava

praticamente entregue aos Paacuterocos das Igrejas Em 1854 o entatildeo Presidente de

Goiaacutes Antonio Candido da Cruz Machado recomendou que por questotildees

financeiras nos municiacutepios em que natildeo houvesse aulas puacuteblicas e ou particulares os

146 Para expedir o Regulamento de 1856 o Presidente Antonio Augusto Pereira da Cunha recebeu autorizaccedilatildeo da Assembleia Legislativa por meio da Resoluccedilatildeo nordm 7 de 22 de novembro de 1855 (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015)

106

Paacuterocos assumissem essa missatildeo de ldquoensinar os rudimentos das letras aacute mocidade

a qual pelo duplo dever de pastor e mestre daraotilde a educaccedilaotilde religiosardquo (MACHADO

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1854 p 55) Em troca os Paacuterocos eram ressarcidos

com uma gratificaccedilatildeo anual Com a frequente dificuldade do governo da proviacutencia em

manter as escolas a Igreja Catoacutelica comeccedilou a compartilhar com o Estado a

responsabilidade pela instruccedilatildeo elementar das crianccedilas goianas uma entrada que se

fixou por muitos anos seja na presenccedila fiacutesica de Padres lecionando ou inspecionando

o ensino seja na influecircncia na manutenccedilatildeo de uma cultura escolar arraigada nas

tradiccedilotildees do catolicismo

Em 1856 quando foi lanccedilado o Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria

tambeacutem se publicou na mesma data o segundo Regulamento para o Liceu de

Goiaacutes147

Para a elaboraccedilatildeo dos referidos Regulamentos o Presidente da Proviacutencia

Antonio Candido da Cruz Machado enviou para o Rio de Janeiro em 1855 o Professor

Feliciano Primo Jardim no intuito de conhecer o meacutetodo portuguecircs de leitura

repentina denominado de Castilho Ao assumir o governo em setembro de 1855

Antonio Augusto Pereira da Cunha considerou o relatoacuterio de Primo Jardim e natildeo viu

motivos para implementar na proviacutencia uma Reforma com esse meacutetodo Como

constatamos pelos estudos de Arauacutejo e Silva (1975) na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

em 1825 o entatildeo Presidente Caetano Maria Lopes Gama enviou para a Corte um

militar para habilitaccedilatildeo no meacutetodo do ensino muacutetuo O envio de um militar pode ser

justificado pelo fato de que em 1823 houve uma ordem ministerial que exigia de cada

proviacutencia a disponibilizaccedilatildeo de um soldado das forccedilas militares para aprender o

meacutetodo muacutetuo em uma escola da Corte que o praticava para entatildeo propagaacute-lo nas

escolas de sua localidade de origem (ALMEIDA 2000148) Entretanto a partir das

fontes analisadas consideramos que Primo Jardim eacute o primeiro professor goiano que

147 O primeiro Regulamento do Liceu foi organizado em 1850 (Resoluccedilatildeo nordm 21 de 7 de julho de 1850) no governo de Eduardo Olimpio Machado O segundo Regulamento assinado e publicado em 1ordm de dezembro de 1856 tem 80 artigos que diferentemente do primeiro que tinha 34 artigos detalham minuciosamente elementos antes natildeo especificados Bretas (1991 p 224-225) entretanto alerta que nesse uacuteltimo Regulamento ldquonatildeo houve [] alteraccedilotildees de monta mas [ele] especifica com maior minuciosidaderdquo alguns pontos como ldquocondiccedilotildees de matriacutecula o regime das aulas e das feacuterias os exames as funccedilotildees de cada um dos funcionaacuterios a admissatildeo de professores seus direitos e deveresrdquo etc O segundo Regulamento do Liceu encontra-se digitalizado e disponiacutevel no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 1) 148 A primeira ediccedilatildeo desse livro de Pires de Almeida foi publicada em 1889

107

viajou sob encomenda do governo para colher informaccedilotildees acerca dos meacutetodos de

ensino de leitura e escrita para aplicaccedilatildeo nas escolas goianas149

Nessa perspectiva o Presidente Cunha recomenda no Regulamento sobre a

Instruccedilatildeo Primaacuteria de 1856 o meacutetodo de ensino simultacircneo tal como previsto na

Reforma Couto Ferraz enunciando que estabeleceu ldquohum methodo aproximado ao

seguido na corte visto natildeo poder adopta-lo por causa da insuficiencia das rendas

provinciaes e de pessoal habilitadordquo (CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes

1857 p 23) O meacutetodo de ensino simultacircneo no contexto do Regulamento que

apresenta 102 artigos eacute mencionado em duas passagens no 3ordm e no 99ordm artigos

Art 3ordm ndash O Presidente da Provincia ouvindo o Inspector da instrucccedilatildeo publica determinaraacute o methodo que deve ser seguido nas escolas preferindo sempre que for possiacutevel o simultacircneo [] Art 99ordm ndash As escolas regidas pelo methodo simultacircneo tendo um Professor adjunto se o numero dos alunnos que a frequumlentarem o exigirem o qual venceraacute o ordenado que focircr marcado pelo Presidente da Provincia e seraacute subordinado ao Professor da escola (GOIAacuteS 1856 art 3ordm e 99ordm)

Como se lecirc a adoccedilatildeo do meacutetodo de ensino ficava a criteacuterio do Presidente de

Proviacutencia e do Inspetor de Instruccedilatildeo Puacuteblica entretanto recomendava-se ldquosempre

que possiacutevelrdquo a aplicaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo O que se enuncia no Regulamento

sob uma oacutetica linguiacutestica no uso da expressatildeo ldquopreferindo sempre que for possiacutevelrdquo

no artigo 3ordm eacute uma condicionalidade impliacutecita Ou seja para escolher um determinado

meacutetodo considera-se que a sua adoccedilatildeo estaacute condicionada agraves possibilidades de seu

uso as quais o Regulamento deixa evidente serem a disponibilizaccedilatildeo dos materiais

escolares e a proacutepria formaccedilatildeo do professor Como na proviacutencia goiana ainda natildeo

havia um centro de formaccedilatildeo de professores nem a iniciativa para circulaccedilatildeo de livros

sobre os meacutetodos de ensino nas escolas houve dificuldade de os docentes

compreenderem o que era o meacutetodo simultacircneo tendo continuado a aplicar por muitos

anos o usual meacutetodo individual como eacute declarado no Relatoacuterio de Presidente de

Proviacutencia de 1859 assinado por Francisco Januario de Gama Cerqueira

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 33-37)

O Regulamento de 1856 no artigo primeiro define que a instruccedilatildeo primaacuteria

compreenderaacute o ensino da leitura escrita as regras elementares da aritmeacutetica a

teoria e praacuteticas das quatro operaccedilotildees sobre os nuacutemeros inteiros fraccedilotildees ordinaacuterias

149 Os detalhes sobre essa experiecircncia seratildeo melhor discutidos na seccedilatildeo 4 desta tese

108

e decimais e as proporccedilotildees os sistemas mais essenciais dos pesos e medidas a

gramaacutetica da liacutengua nacional o Catecismo as explicaccedilotildees sobre dogmas

fundamentais das religiatildeo doutrina cristatilde e principais oraccedilotildees Diferentemente o

ensino para meninas jaacute no artigo segundo diz que que consta das mesmas mateacuterias

mas limitando-se nos toacutepicos de aritmeacutetica agrave teoria e praacutetica das quatro operaccedilotildees

sobre os nuacutemeros inteiros aleacutem disso as professoras eram ldquoobrigadasrdquo ndash tal como

estaacute escrito no artigo 2ordm do Regulamento ndash a lecionar sobre prendas que auxiliariam

a economia domeacutestica bordado costura culinaacuteria etc Havia portanto uma

diferenciaccedilatildeo de ensino por gecircnero tanto que no artigo 79 se proiacutebe a admissatildeo de

alunos de ambos os sexos na mesma escola reproduzindo a organizaccedilatildeo social em

moldes patriarcais ao projetar na figura feminina tal como Elias (1994) explica um

modelo de agente do projeto civilizador SantrsquoAnna (2011) em pesquisa sobre a

experiecircncia de escolarizaccedilatildeo de meninos e meninas na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo

XIX expotildee que a legislaccedilatildeo goiana de instruccedilatildeo normatizava orientava controlava o

funcionamento da conduta escolar docente e discente acionando ldquorepresentaccedilotildees

sociais de gecircnero reiteradoras da partilha hierarquizada entre o puacuteblico e o privado

da divisatildeo sexuada dos papeacuteis sociaisrdquo (SANTrsquoANNA 2011 p 138)

Uma forte presenccedila dos preceitos cristatildeos e do catolicismo marca o

Regulamento tornando-se um requisito para o candidato ao magisteacuterio goiano ser

catoacutelico apostoacutelico romano (GOIAacuteS 1856 art 7ordm paraacutegrafo 3ordm) e obrigado a

acompanhar os alunos agrave igreja nos domingos e dias santos velando para guardarem

o devido respeito e prudecircncia nas missas (GOIAacuteS 1856 art 41)

No que diz respeito aos conhecimentos dos professores para ingresso na

carreira docente o Regulamento prevecirc a aplicaccedilatildeo de um exame em que os

candidatos eram avaliados seguindo os criteacuterios especificados nos artigos 10 11 e

12

Art 10 ndash No exame cada examinador deve sect1ordm Mandar o candidato fazer um exerciacutecio de leitura de diversos caracteres impressos e manuscriptos examinar lhe a pronuncia e conhecimento da pontuaccedilatildeo sect2ordm Propor lhe cacographicamente algumas palavras e frazes alternadas para sondar lo na orthographia sect3ordm Ditar lhe uma fraze para ele analisar indicando as partes do discurso e da oraccedilatildeo argumentando sua conjugaccedilatildeo de verbos e nas principais regras da grammatica sect4ordm Manda lo escrever algumas linhas em bastardo bastardinho e cursivo e faze-lo aparar a pena carregar la de escrever

109

sect5ordm Propor lhe questotildees de arithimethica que sejam proprias para mostrar o grau de experiencia do candidato no calculo e perguntar-lhe os principios elementares da arithimethica e os systemas mais usados dos pesos e medidas sect6ordm Propor-lhe diversas situaccedilotildees da vida examinar soluccedilotildees que a moral lhe aconselharia fazer-lhe perguntas sobre os dogmas da Religiatildeo e Doctrina Christam fazendo repetir as principais oraccedilotildees Art 11 ndash No exame para professoras ouvindo os examinadores o juiz de uma professora publica ou drsquouma senhora designada pelo Presidente da Provincia sobre os seus trabalhos drsquoagulhas e bordados Art 12 ndash Terminados os exames sobre os conhecimentos do candidato se procederaacute a de sua aptidatildeo para o ensino questionando os examinadores sobre o modo porque instruiraacute os alunos a conhecerem as letras e os princcipais elementos e depois a leitura a escriptura e o calculo sobre a applicaccedilatildeo dos principios que seguiraacute nas puniccedilotildees e recompensas em summa sobre os meios mais convenientes natildeo soacute para desenvolver a cultura das faculdades intellectuaes dos alunnos como principalmente para os instruir no exerciacutecio das virtudes cristans (GOIAacuteS 1856 art 10 11 e 12)

Os aspectos tratados nesses artigos tambeacutem demonstram concepccedilotildees que

circularam sobre a praacutetica de ensino na instruccedilatildeo primaacuteria goiana em especiacutefico no

ensino inicial de leitura escrita aritmeacutetica e doutrina cristatilde principais conteuacutedos nas

escolas masculinas e femininas Afinal se haacute uma exigecircncia de que se conheccedilam

algumas noccedilotildees da praacutetica escolar para pleitear o magisteacuterio espera-se que os

professores apliquem tais saberes para a accedilatildeo em saberes em accedilatildeo (A

CHARTIER150 2007)

O primeiro saber depreendido volta-se ao domiacutenio da leitura com fluecircncia Com

relaccedilatildeo agrave escrita se exige um conhecimento da grafia correta das palavras e a

distinccedilatildeo de modos diferentes de grafar as letras sendo cobrados trecircs tipos bastardo

bastardinho e cursivo151 Do mesmo modo aleacutem da grafia estabeleceu-se como

avaliaccedilatildeo o modo de o candidato aparar a pena e carregaacute-la para a escrita Arriada e

Tambara (2012) explicam que no seacuteculo XIX o artefato utilizado recorrentemente

150 Para diferenciar as citaccedilotildees de Anne-Marie Chartier e Roger Chartier para a primeira usaremos a referecircncia A CHARTIER 151 Magalhatildees (2005) explica que a escrita bastarda eacute de origem itaacutelica aproximando-se das caracteriacutesticas dos caracteres impressos ldquoPela proximidade do impresso e pela singeleza de traccedilo revelou-se mais acessiacutevel na aprendizagem e menos selectiva na instrumentalizaccedilatildeo do quotidiano por parte dos puacuteblicos pouco escolarizados ou menos habituados agrave escritardquo (MAGALHAtildeES 2005 p 5) Enquanto a escrita cursiva de origem inglesa permitiu a personificaccedilatildeo da escrita adaptando-a aos modelos pessoais de cada escritor e dos diferentes manuais que surgem para ensinaacute-la tendo sido difundida pelo mundo devido a ldquosua facilidade de execuccedilatildeo e comportando adaptaccedilotildees e esteticamente proacutexima do impressordquo (MAGALHAtildeES 2005 p 5)

110

para a escrita era a pena Os autores enumeram diferentes manuais e normativas que

surgiram no Brasil nesse periacuteodo com objetivo de ritualizar a escrita caligraacutefica que

dependia quase exclusivamente da eficaacutecia do escritor no manejo da pena para

desenhar as letras

O saber da gramaacutetica tambeacutem era cobrado mediante a referenciaccedilatildeo das

regras gramaticais Na aritmeacutetica o candidato agrave docecircncia teria que conhecer

princiacutepios elementares e por fim examinavam-se situaccedilotildees da vida apontando

conselhos ou seja esperava-se que o professor formasse o aluno dentro de uma

moral predominantemente cristatilde para civilizaacute-lo nas exigecircncias de uma vida religiosa

Igualmente ele teria que reproduzir as principais oraccedilotildees o que nos leva a conjecturar

que recitar as oraccedilotildees juntamente com os alunos constituiacutea uma praacutetica dos

professores em sala de aula

Interessante notar que esses saberes tambeacutem eram os mesmos exigidos nas

provas de admissotildees das Escolas Normais do Brasil e de Portugal em meados do

seacuteculo XIX e iniacutecio do XX (MAGALHAtildeES 2007 FERREIRA 2010) Mesmo natildeo

havendo nesse periacuteodo na proviacutencia goiana uma Escola Normal o Regulamento de

1856 dialoga com os saberes e praacuteticas de formaccedilatildeo docente difundidos pelo Impeacuterio

o que tambeacutem remonta a nossa tese de estudo de que a proviacutencia goiana se abria

para as tendecircncias de modernidade educacional do seacuteculo XIX o que influenciou a

constituiccedilatildeo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

Aleacutem disso as professoras eram avaliadas quanto ao seu conhecimento em

trabalhos de agulhas e bordados atividades tiacutepicas do caraacuteter domeacutestico da educaccedilatildeo

feminina Conforme Louro (1997 p 478) avalia ldquonatildeo parece ser possiacutevel

compreender a histoacuteria de como as mulheres ocuparam as salas de aula sem notar

que essa foi uma histoacuteria que se deu tambeacutem no terreno das relaccedilotildees de gecircnerordquo de

modo que muito do que foi reproduzido na escola e na legislaccedilatildeo foi reflexo dos

lugares que ocupava e das relaccedilotildees que a mulher estabelecia na sociedade goiana

no oitocentos

O Regulamento tambeacutem cobrava do candidato ao magisteacuterio o conhecimento

dos modos de ensinar ao contraacuterio do Regulamento anterior aqui vemos uma

perspectiva de normatizar a accedilatildeo docente para inculcar nas crianccedilas preceitos

intelectuais elementares baseados em comportamentos e virtudes cristatildes de modo

que se mantivesse nas escolas a exatidatildeo o silecircncio a regularidade e a dececircncia

necessaacuteria (GOIAacuteS 1856 art 34) A normatizaccedilatildeo das praacuteticas sob uma oacutetica

111

foucaultiana pode ser considerada uma forma de controle social e de poder do Estado

na instruccedilatildeo puacuteblica jaacute que conhecendo e controlando os modos de ensinar agraves

crianccedilas de certa forma controla-se tambeacutem o que eacute ensinado Ao mesmo tempo fica

impliacutecito que para se ensinar eacute necessaacuterio ter meacutetodo algo jaacute difundido no Brasil

desde a vinda dos jesuiacutetas e da educaccedilatildeo sob as bases do manual Ratio Studiorum

Outro aspecto que o Regulamento de 1856 tem como diferencial eacute a criaccedilatildeo da

figura do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica e do Inspetor Paroquial (ABREU

GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015) em substituiccedilatildeo aos Delegados Literaacuterios

(GOIAacuteS 1856 art 66) O Inspetor Paroquial era responsaacutevel por inspecionar as

escolas puacuteblicas e privadas de sua localidade vigiar as praacuteticas dos professores

repreendendo-os quando faltavam com as suas obrigaccedilotildees Tinha como funccedilatildeo ao

final de cada trimestre enviar comunicaccedilatildeo ao Inspetor Geral com o mapa geral das

escolas que ele acompanhava indicando o nuacutemero de matriculados e especificando

observaccedilotildees acerca do grau de aproveitamento dos alunos (GOIAacuteS 1856 art 68)

O Inspetor Geral era o Diretor do Liceu funccedilatildeo intermediaacuteria entre as escolas

e o Presidente de Proviacutencia Competia a ele apresentar para o governo da proviacutencia

o estado da instruccedilatildeo primaacuteria sugerindo medidas e reformas (GOIAacuteS 1856 art 69)

Tal norma dialoga com o que fora preconizado na Reforma Couto Ferraz que embora

fosse dirigida ao Municiacutepio da Corte trouxe aspectos que se aplicavam agrave jurisdiccedilatildeo

dos governos nas proviacutencias como vemos em seu artigo 3ordm paraacutegrafo 5ordm que expotildee

a competecircncia do Inspetor Geral do Municiacutepio da Corte

sect5ordm Coordenar os mappas e informaccedilotildees que os Presidentes das provincias remetterem annualmente ao Governo sobre a instrucccedilatildeo primaria e secundaria e apresentar hum relatorio circumstanciado do progresso comparativo neste ramo entre as diversas provincias e o municipio da Cocircrte com todos os esclarecimentos que a tal respeito puder ministrar (BRASIL 1854 art 3ordm paraacutegrafo 5ordm)

Como estaacute descrito as proviacutencias enviariam os mapas apresentando a situaccedilatildeo

da instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria das localidades O cargo de Inspetor Escolar e

outros de fiscalizaccedilatildeo aparecem nos primeiros artigos da lei denotando que uma de

suas ecircnfases foi a criaccedilatildeo de mecanismos de regulaccedilatildeo e controle sobre os

estabelecimentos os professores e os materiais por eles usados Em consonacircncia

Barra (2017) em estudo comparativo sobre o Regulamento goiano de 1856 e o

Regulamento de Instruccedilatildeo da Proviacutencia de Satildeo Paulo de 1851 analisa vaacuterias

similaridades entre eles notando uma difusatildeo no Brasil oitocentista do serviccedilo de

112

inspeccedilatildeo escolar como um dispositivo essencial para a organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo

puacuteblica

O Regulamento de 1856 natildeo considerou a abertura de uma Escola Normal

algo que viria a ser retomado pelos Presidentes de Proviacutencia posteriores como accedilatildeo

necessaacuteria para mudanccedila da situaccedilatildeo da instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes Poreacutem como

o proacuteprio Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira discursa ndash Presidente entre outubro

de 1857 a maio de 1860 ndash era imprescindiacutevel a melhoria do salaacuterio dos professores

antes mesmo da criaccedilatildeo de um centro de formaccedilatildeo ldquosem melhorar a sorte drsquoestes

empregados inuteis seratildeo quaesquer escolas de habilitaccedilatildeo para elles porque

ninguem quereraacute se habilitar para uma carreira que traz em perspectiva a miseriardquo

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1858 p 13)

A situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia natildeo eacute modificada com o novo

regulamento pois o orccedilamento destinado agrave educaccedilatildeo permanecia o mesmo de modo

que os presidentes analisavam a situaccedilatildeo com uma tocircnica muito pessimista

descrevendo a dificuldade em manter as escolas funcionando e reiterando que a falta

de pessoal habilitado influenciava tal realidade (BRETAS 1991)

Nada pude fazer pela realisaccedilatildeo destas ideas por que entendi sempre que seria meramente nominal toda a reforma que natildeo fosse procedida pela creaccedilatildeo de uma escola de habilitaccedilatildeo para os professores drsquoonde se pudesse tirar o pessoal para as cadeiras do segundo grao quando houvessem de ser instituiacutedos (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 28)

A mesma falta de pessoal devidamente habilitado e ate a de um edifiacutecio que offereccedila as necessaacuterias acommodaccedilotildees me tem impedido ateacute hoje de levar a effeito a creaccedilatildeo de uma classe normal na escola da capital onde possatildeo habilitar-se os individuos que se destinarem ao magisterio (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859b p 34)

Lembro-me que jaacute uma vez compenetrados da necessidade de elevar-se o professorado publico aacute sua verdadeira altura decretastes a fundaccedilatildeo de uma escolla normal Esse estabelecimento como eu o comprehendo estaacute superior aacutes forccedilas da provincia entendo que natildeo poacutede ser circumscripto aacutes funcccedilotildees de uma escola pratica desde que se tratar de estender a instrucccedilatildeo aleacutem da methodica escolastica (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1861 p 14)

Tanto se tem reconhecido que a reforma da instrucccedilatildeo deve comeccedilar pelo noviciado do mestre que ateacute jaacute se decretou nrsquoesta provincia a fundaccedilatildeo de uma escola normal mas V Exordf comprehenderaacute as difficuldades dacuteessa medida desde que observar que se acha em uma provincia onde a administraccedilatildeo luta com embaraccedilos insuperaveis

113

por falta de homens habilitados para os diversos ramos do serviccedilo publico E depois uma escola normal natildeo eacute como muitos entendem uma escola meramente pratica onde o professor vai aprender empiricamente para de igual modo ensinar uma escola normal comprehende um curso regular de humanidades e importaria sua organisaccedilatildeo despesas que natildeo pode supportar o cofre da provincia Entendo que essa ideacutea eacute por todas as razotildees inexequivel e direi ateacute que superfua porquanto do lycecirco se poacutede colher os mesmos resultados que ella nos daria se fosse fundada (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 53-54)

A lei de 28 de Junho de 1858 creando nesta capital uma escola normal determinou no artigo 2deg que daquella data em diante natildeo fosse provida vitaliciamente escola alguma sem que o pretendente se mostrasse habilitado nas materias ensinadas na escola normal Esta disposiccedilatildeo seria por certo muito util e vantajosa se houvesse desde logo realisado a creaccedilatildeo da escola normal mas natildeo tendo assim acontecido o resultado foi summamente prejudicial a instrucccedilatildeo publica porque vedada ateacute hoje a nomeaccedilatildeo de professores vitalicios na conformidade da referida lei tornou-se inevitavel a dos professores interinos na qual ordinariamente ha menos escrupulo aleacutem dos inconvenientes das interinidades (SIQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1867 p 4)

Esses excertos satildeo ilustraccedilotildees de um discurso muito difundido pelos

Presidentes da proviacutencia goiana que justificam o fracasso da instruccedilatildeo primaacuteria

devido agrave falta de professores habilitados Haacute tal como disposto por Bakhtin (2010)

um entrecruzamento dos enunciados numa perspectiva dialoacutegica de um discurso

sempre repleto de discursos de outrem que orientado ideologicamente retoma

palavras alheias para criar um enunciado autoral Ou seja verificamos a ressonacircncia

dos discursos de Presidentes antecedentes na fala do Presidente que discursa

sobretudo pelo que notamos nas descriccedilotildees iniciais nos Relatoacuterios de Presidentes de

proviacutencia que sucessivamente caracterizam o estado da instruccedilatildeo puacuteblica como

ldquonatildeo satisfatoacuteriordquo As desculpas arroladas geralmente satildeo as mesmas e repetidas

vezes os Presidentes justificam que devido agrave transitoriedade dos governos pouco se

conseguia fazer na Proviacutencia Natildeo podemos desconsiderar que essas falas surgem

em meio a contextos poliacuteticos e que de certa maneira na Assembleia Legislativa os

Presidentes pretendem abonar o fazer ou natildeo fazer nas aacutereas da administraccedilatildeo da

proviacutencia

Como se lecirc nos fragmentos haacute uma tentativa de abertura da Escola Normal em

Goiaacutes em 1858 com a publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 15 de 28 de julho de 1858 durante

o governo do Presidente Cerqueira entretanto a iniciativa natildeo se tornou real e a

114

Escola Normal natildeo foi instalada por falta de recursos (CANEZIN LOUREIRO 1994)

Em 1859 haacute o iniacutecio de uma negociaccedilatildeo de compra de um preacutedio na capital conforme

o Relatoacuterio apresentado agrave Assembleia Legislativa explica (CERQUEIRA Relatoacuterio de

Presidente de Proviacutencia GOIAacuteS 1859a p 26) poreacutem no local se instalou uma escola

para o sexo masculino

Na capital da Proviacutencia as escolas eram preacutedios do governo antigas casas

precariamente adaptadas para funcionarem as aulas (ARAUacuteJO E SILVA 1975) Nos

municiacutepios no interior ainda permanecia a praacutetica de as aulas ocorrerem em casas

alugadas porquanto natildeo havia uma construccedilatildeo proacutepria e adaptada para o

funcionamento de uma escola

Natildeo haacute na provincia casas proprias para as escolas e nem se dava aos professores ateacute aqui quantia alguma para aluga-las pelo que muitas drsquoellas funccionatildeo em salas inteiramente improprias para esse fim por acanhadas e por natildeo terem as necessarias condiccedilotildees de aceio e salubridade (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Proviacutencia GOIAacuteS 1858 p 13)

Aleacutem da falta de condiccedilotildees de espaccedilo fiacutesico eacute relatada a escassez de materiais

de expediente escolar e mobiacutelias o que dificultava a aplicaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo

recomendado no Regulamento de 1856 O Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da

Proviacutencia de Goiaacutes Fellipe Antocircnio Cardoso de Santa Crus em 1858 solicita do

Presidente Cerqueira por meio de ofiacutecio vaacuterias mobiacutelias para as aulas puacuteblicas da

proviacutencia justificando que os alunos se sentiam desmotivados com essa ausecircncia jaacute

que para organizaccedilatildeo pelo ensino simultacircneo era necessaacuterio ter mais cadeiras e

mesas em sala de aula e na falta dessas conforme ele descreve ldquoos alunos

escrevem nos bancos de joelhos no chaotilde ou ainda em posiccedilaotilde mais incommodardquo

(CRUS 10 de abril de 1858 p 15 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada

e Impressa nordm 397)

O Presidente Cerqueira no citado Relatoacuterio de 1858 tambeacutem explicita os

atrasos nos salaacuterios dos professores que ficavam meses sem receber embora

fossem responsaacuteveis por pagar os alugueacuteis das casas onde ocorriam as aulas de

instruccedilatildeo primaacuteria152 Essa situaccedilatildeo na Proviacutencia parece se repetir em vaacuterios

152 Nas Caixas dos Municiacutepios Goianos no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes identificamos vaacuterios recibos avulsos de aluguel de casa para instruccedilatildeo primaacuteria assinados pelos professores e enviados pelos Inspetores Paroquiais ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Proviacutencia Interessante notar que esses recibos seguiam o mesmo padratildeo ndash como se houvesse uma orientaccedilatildeo expressa na Proviacutencia do modelo a ser seguido identificava-se

115

momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes levando alguns docentes a desistir do

magisteacuterio153 e ateacute mesmo passar por situaccedilotildees constrangedoras em seus

municiacutepios como eacute relatado no ofiacutecio do Inspetor Paroquial Luis Antonio da Fonseca

da Vila de Curralinho

Inspectoria Parochial de Curralinho 12 de Setembro de 1869 Ilmordm Senrordm Tenho a honra de levar ao conhecimento de VS que desde do anno findo a aula drsquoesta Villa naotilde e suprida com os objectos ainda os mais indispensaacuteveis para o seo expediente como papel pena e tinta O professor naotilde recebeu tambem o seu ordenado e recebeu cobranccedilas publicas do proprietario da caza alugada para as aulas de instrucccedilatildeo O professor tem como sabe VS um ordenado que muito mal chega para sua subsistencia enfim naotilde pode fornecer a sua conta estes objetos mesmo por que a escola tem um numero crescido de alumnos que em geral saotilde naotilde soacute pobres como pauperrimos cujos pais jaacute fazem grande sacrificio em tel-os na escola [] E de novo levo ao conhecimento de VS que o referido preacutedio tem sido reclamado por seu proprietario a fim de seja quanto antes desocupado e certamente teraacute aacute aula de ser interrompida por algum tempo em seos trabalhos ateacute que se alugue uacutema outra caza e nrsquoella se faccedila os necessarios commodos Ilmo Senrordm Conego Joaquim Vicente de Azevedo Digno Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia O Inspor Parochial Luis Antonio da Fonseca (FONSECA 12 de setembro de 1869 p 1-2 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188)

O Inspetor Fonseca relata a situaccedilatildeo particular da Vila de Curralinho no

entanto ela ilustra como um todo a realidade educacional no interior da proviacutencia

quem era o pagador (geralmente o administrador da Coletoria ou Recebedoria do Municiacutepio ou Vila) o beneficiado a quantia o periacuteodo correspondente e a que se destinava (geralmente para pagar o ordenado o aluguel e expediente escolar) Numa anaacutelise desses recibos notamos os repetitivos atrasos e o costume de o pagamento ser efetivado trimestralmente Quando o atraso era superior a 12 meses comumente no recibo apresentava-se uma justificativa pela demora no pagamento As justificativas mais recorrentes entre outras eram a falta de orccedilamento devido ao natildeo pagamento de impostos pelos contribuintes ou um gasto inesperado com algum setor da administraccedilatildeo local que alterava a previsatildeo orccedilamentaacuteria Jaacute na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa do AHEG encontramos livros de brochura da Tesouraria da Fazenda intitulados de ldquoFolha de pagamento dos alugueacuteis de casas e expedientes das aulas de instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria da Proviacutenciardquo datados das deacutecadas de 70 a 80 do seacuteculo XIX que apresentavam as folhas de pagamento dos professores Cada folha era encabeccedilada pela identificaccedilatildeo do professor e de qual localidade ele era a indicaccedilatildeo de que se tratava do vencimento mensal com referecircncia ao mecircs e ano correspondente Abaixo havia uma tabela com trecircs colunas na primeira discriminaccedilatildeo a segunda intitulada de expediente e a terceira aluguel 153 A tese de Abreu (2006) descreve essa situaccedilatildeo como habitual em Goiaacutes entre 1835 e 1893 gerando baixa procura pela profissatildeo docente e a consequente situaccedilatildeo de vaacuterias escolas nos municiacutepios goianos ficarem desprovidas de professor

116

goiana no periacuteodo imperial os professores eram mal remunerados e deveriam arcar

muitas vezes com as despesas relacionadas ao expediente e alugueacuteis das casas O

argumento que Fonseca utiliza no ofiacutecio ao Inspetor Geral estaacute muito atrelado a um

apelo sentimental ao afirmar que o professor tem vencimentos que natildeo datildeo para sua

subsistecircncia justificando a necessidade de ele receber pois foi cobrado publicamente

pelo proprietaacuterio da casa que tambeacutem a solicitou por falta de pagamento

Galvatildeo (2001 p 83) afirma que a partir de meados do seacuteculo XIX os discursos

sobre a profissatildeo docente enalteciam a figura do mestre ao mesmo tempo que o

percebiam ldquocomo algueacutem sem condiccedilotildees de desenvolver um trabalho profissional

competente em consequecircncia dos baixiacutessimos salaacuterios que recebiardquo No caso da Vila

de Curralinho como eacute notificado no ofiacutecio as aulas foram suspensas o que

colaborava para a precarizaccedilatildeo das praacuteticas docentes que natildeo tinham continuidade

devido a fatores externos nesse caso a falta de local para que as aulas

acontecessem em outros casos relatados a falta de materiais ou mobiacutelias escolares

Eacute importante frisar que conforme esclarece Abreu (2006) para o professor

receber seus ordenados nesse periacuteodo havia uma burocratizaccedilatildeo do processo ele

solicitava ao Inspetor Paroquial154 o atestado de seu trabalho que por sua vez o

expedia ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica155 Nesse sentido o Regulamento de

1856 no artigo 68 paraacutegrafo 2ordm estabelecia que ficava a cargo do professor em

posse do atestado de frequecircncia emitido pelo Inspetor Paroquial cobrar o seu

ordenado O Inspetor Geral quando tomava ciecircncia da frequecircncia do professor

enviava o atestado agrave Tesouraria das Rendas Provinciais156 que ordenava o

pagamento ao Coletor de Rendas Provinciais ou ao Administrador da Recebedoria da

localidade a que o professor pertencia O professor emitia um recibo a quem o

pagasse Em alguns casos como pode ser observado em diferentes documentos

manuscritos encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes o professor

solicitava diretamente agrave Tesouraria da proviacutencia o pagamento das quantias para

compra de utensiacutelios para suas aulas bem como o seu ordenado (Cf GOIAacuteS 1835-

1839 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191)

154 No Regulamento de 1835 chamado de Delegado Paroquial e a partir de 1856 de Inspetor Paroquial 155 Ateacute 1856 os Delegados enviavam diretamente para o Presidente da Proviacutencia pois natildeo existia a figura do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica 156 Ateacute 1855 chamada de Provedoria de Fazenda Provincial a mudanccedila ocorreu em virtude do Regulamento de 30 de julho de 1855 (GOIAacuteS 1855)

117

Por si esse processo jaacute demandava um tempo que aliado agraves dificuldades de

comunicaccedilatildeo entre a sede do governo da proviacutencia e os municiacutepios provocava

atrasos consideraacuteveis para liberaccedilatildeo dos pagamentos isso quando natildeo ocorria

extravio de correspondecircncia como eacute relatado em ofiacutecio identificado no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

Pe Joatildeo Ignacio de Almeida Presbitero [ilegiacutevel] desta Freguesia e Inspector Parochial da Instrucccedilaotilde primaria de Santa Rita

Ilmordm Senrordm Enviei a VS no ultimo mes o atestado do Senhor Pedro Joseacute Rodrigues professor da Aula de instrucccedilaotilde primaria deste Arrayal Temo tel-o extraviado pois natildeo recebi retorno de VS Inspectoria Parochial do Arrayal de Santa Rita 5 de janeiro de 1860 Ilmo Senrordm Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia (ALMEIDA 1860 AHEG Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 01)

Similar situaccedilatildeo era enfrentada constantemente na entrega de

correspondecircncias considerando as condiccedilotildees das estradas que ligavam o interior agrave

capital da proviacutencia e dos meios de transporte comumente os de montaria157 Haacute que

se destacar que no anexo do Regulamento de 1856 havia uma tabela especificando

o ordenado dos professores e professoras de primeiras letras da proviacutencia

diferenciando o vencimento entre vitaliacutecios158 e interinos159 entre homens e mulheres

entre as aulas na Capital de vilas mais povoadas e de outros lugares Evidentemente

os homens os professores vitaliacutecios e os que davam aula na Capital ganhavam

maiores ordenados o que justifica tambeacutem a ausecircncia constante de professores no

interior jaacute que na Capital os salaacuterios eram maiores similarmente aos recursos para

compra de materiais escolares que eram mais expressivos

Em 1859 o Presidente Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira com anuecircncia

da Assembleia Legislativa alterou a referida tabela do Regulamento de 1856

157 No ato de instalaccedilatildeo da Assembleia Legislativa na proviacutencia em 1835 o entatildeo Presidente Joseacute Rodrigues Jardim descreveu os serviccedilos postais que aconteciam em Goiaacutes naquele momento havia dois correios mensais apenas entre a Corte e a Capital da Proviacutencia Em 1835 o Governo Central aprovou a instalaccedilatildeo de serviccedilos postais trimensais e mensais entre a sede do governo de Goiaacutes e algumas localidades mais populosas da proviacutencia (Cf JARDIM Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1835 p 22) A partir de 1857 comeccedilou uma expansatildeo de linhas do correio da proviacutencia abrindo agecircncias em vaacuterias localidades melhorando os serviccedilos postais entre os oacutergatildeos do governo e os municiacutepios e vilas (Cf CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1857 p 24-26) 158 Professores aprovados em exame de admissatildeo e nomeados pelo Presidente da Proviacutencia como professor vitaliacutecio 159 Na ausecircncia de um professor vitaliacutecio por quaisquer motivos era nomeado um professor interino

118

aumentando os vencimentos dos professores vitaliacutecios apenas nas vilas e municiacutepios

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1859a p 28-29) Em contrapartida

devido a esse aumento e ao estado financeiro da proviacutencia natildeo foi possiacutevel que se

preenchessem todas as cadeiras vagas de instruccedilatildeo primaacuteria num total de 65

escolas 25 estavam vagas das 43 escolas do sexo masculino 11 estavam vagas e

das 22 de sexo feminino 14 estavam vagas (CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente

de Goiaacutes 1859b p 33 1867 p 4)

Apoacutes a promulgaccedilatildeo do Regulamento de 1856 nos anos 60 segundo Abreu

Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) a Assembleia Legislativa voltou a autorizar e exigir

novas reformas e regulamentaccedilotildees na instruccedilatildeo puacuteblica da proviacutencia e ao mesmo

tempo alguns presidentes ldquopediam autorizaccedilatildeo da Assembleia Legislativa para

reformar a instruccedilatildeo no que geralmente eram atendidos No ano seguinte ao

discursar para a Assembleia agradeciam a autorizaccedilatildeo que havia sido concedida e

justificavam sua inaccedilatildeordquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 264)

Essas justificativas se referiam agrave carecircncia de recursos financeiros e de pessoal

habilitado Em 1867 o vice-presidente Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira inseriu a

falta de vocaccedilatildeo de alguns professores para o magisteacuterio ausente dos discursos ateacute

entatildeo como explicaccedilatildeo do precaacuterio estado do ensino em Goiaacutes acrescentando que

tal questatildeo fazia com que o professor natildeo tivesse zelo e assiduidade no cumprimento

de seus deveres (SIQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1867 p 4)

Pressionado pela Assembleia Legislativa o Presidente Ernesto Augusto

Pereira ndash sucessor de Siqueira ndash sancionou o terceiro Regulamento de Ensino em

Goiaacutes aprovado em 1868 e passando a vigorar a partir de 1869 Embora com

diferenccedilas pouco substanciais em relaccedilatildeo ao Regulamento anterior essa nova lei deu

uma ecircnfase maior aos livros e ao meacutetodo de ensino simultacircneo o que consideramos

decisivo para que tambeacutem houvesse maior circulaccedilatildeo de obras didaacuteticas na proviacutencia

fato notoriamente comprovado pelas listas de expediente escolar e pelos dados que

seratildeo apresentados na seccedilatildeo 3 desta tese

Em siacutentese entre 1860 e 1870 foram 9 diferentes governos marcados pela

transitoriedade jaacute que alguns vice-presidentes assumiam interinamente a

presidecircncia enquanto os presidentes exerciam mandato na Assembleia Legislativa

ou cumpriam outra ordem imperial O efeito foi a natildeo continuidade das propostas

governamentais e os feitos na aacuterea educacional se reduzirem agrave supressatildeo e abertura

de novas escolas o que natildeo impactava diretamente na quantidade de alunos

119

matriculados De acordo com os Relatoacuterios dos Presidentes da Proviacutencia de Goiaacutes em

1861 eram 64 escolas primaacuterias com 978 meninos e 193 meninas matriculadas em

1869 existiam 63 escolas primaacuterias em funcionamento estando matriculados apenas

877 meninos e 222 meninas

22 1869 A 1886

Na segunda metade do seacuteculo XIX o Brasil passou por diferentes

transformaccedilotildees econocircmicas que impactaram os modos de organizaccedilatildeo poliacutetica

cultural e educacional do povo brasileiro (NAGLE 2001) O advento do capitalismo

comeccedilou a exigir a modernizaccedilatildeo do trabalho atribuindo agrave educaccedilatildeo uma

responsabilidade fundamental frente aos desafios que se impunham numa sociedade

caracterizada pelo baixo niacutevel de instruccedilatildeo e pela manutenccedilatildeo da matildeo de obra

escrava Machado (2005) explica que nesse periacuteodo diferentes projetos de reforma

da instruccedilatildeo puacuteblica tramitaram na Cacircmara de Deputados evidenciando a atribuiccedilatildeo

de importacircncia agrave educaccedilatildeo na construccedilatildeo de uma sociedade que atendesse agraves

exigecircncias do modelo econocircmico capitalista nos moldes europeus Apesar de muitos

projetos natildeo terem sido aprovados os debates ocorridos entre os Deputados

demonstravam que havia preocupaccedilatildeo do legislativo em relaccedilatildeo ao investimento feito

pelo governo brasileiro no setor educacional (MACHADO 2005)

A obra de Barroso (2005) A instruccedilatildeo puacuteblica no Brasil publicada em 1867 jaacute

analisava a necessidade de o ensino puacuteblico ser livre e a inspeccedilatildeo do Estado ser

reforccedilada para garantia dos interesses da moral e da ordem social De certa maneira

jaacute antecipava algo que seria abordado na Reforma Leocircncio de Carvalho em 1879

(BRASIL 1879) Anteriormente a essa Reforma vigoravam no paiacutes as

regulamentaccedilotildees da Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) que determinava entre

outras coisas a obrigatoriedade escolar o serviccedilo de inspeccedilatildeo escolar o dever do

estado de assistir os alunos pobres e um curriacuteculo escolar pautado na moralidade e

religiosidade compreendendo na instruccedilatildeo primaacuteria principalmente o ensino de

instruccedilatildeo moral e religiosa a leitura e a escrita as noccedilotildees essenciais de gramaacutetica

os princiacutepios elementares de aritmeacutetica o sistema de pesos e medidas dos

municiacutepios

Como visto no campo dos meacutetodos de ensino em Goiaacutes no seacuteculo XIX apesar

das iniciativas para implementaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo ndash tambeacutem conhecido como

120

lancasteriano ou monitorial ndash do meacutetodo Castilho e do meacutetodo simultacircneo as escolas

na proviacutencia mantinham a organizaccedilatildeo didaacutetica pelo meacutetodo individual (ARAUacuteJO E

SILVA 1975) Essa constataccedilatildeo fez parte dos discursos dos Presidentes que a partir

dos relatoacuterios dos Inspetores Gerais de Instruccedilatildeo Puacuteblica afirmavam que os

professores natildeo experimentavam outras possibilidades para ensinar devido a

diferentes fatores dentre eles como destacamos a carecircncia de Tratados de Ensino

para divulgaccedilatildeo de outros conhecimentos diferentes dos que jaacute circulavam na

proviacutencia Por esse motivo em 1858 o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felippe

Antonio Cardoso de Santa Crus e em 1862 o Presidente Joseacute Martins Pereira de

Alencastre solicitaram a compra de livros para serem distribuiacutedos aos professores

conforme os documentos atestam

[] Inclui no pedido 20 exemplares do melhor tratado sobre os diversos methodos de ensino com especialidade sobre o simultaneo para serem fornecidos aos professores que pela maior parte naotilde tem meios de adrsquoquiri[] 20 Exemplares do melhor tratado de ensino sobre o methodo simultaneo 2 exemplares dos compendios de Arithmetica adoptados para uso das escolas primarias do Rio de Janeiro 2 ditos de todos os outros compendios e livros adoptados nas mesmas escolas Secretaria da Inspectoria Geral da Instrucccedilaotilde Publica da Provincia de Goyaz 5 de abril de 1858 ndash A sua Excia a Ilmordm e Exmo Serntilde D Francisco Jannuario da Gama Cerqueira muito digno Presidente drsquoesta provincia O Inspector Geral da Instrucccedilaotilde publica Felippe Antonio Cardoso Crus (CRUS 18 de abril de 1858 p 5-6 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 grifos nossos)

Tendo visitado varias escolas observei que o melhorado individual era o unico nrsquoellas conhecido methodo este que os professores exercem como poacutedem e o tempo lhes permitte Sendo a applicaccedilatildeo deste methodo uma das causas maiores do atraso da instrucccedilatildeo procurei remedia-la mandando publicar o manual do ensino simultaneo adoptado na escola normal da Bahia e o fiz espalhar pelos professores recommendando muito expressamente e ateacute onde fosse possivel sua execussatildeo V Exordf sabe que toda a sciencia da escola tem por baze a methodica e a pedagogia (ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 63 grifos nossos)

A accedilatildeo do Presidente Alencastre desse modo natildeo eacute a primeira que fez com

que se difundisse na proviacutencia um manual que distinguia os modos de organizaccedilatildeo

dos alunos para o ensino Apesar de ele ser considerado o Presidente que se

destacou com accedilotildees desse niacutevel (BARRA 2011) existiram accedilotildees antecedentes da

mesma natureza que tentaram disseminar formas diferentes das dispostas na

121

perspectiva do ensino individual para se pensar e fazer a instruccedilatildeo puacuteblica goiana

Entre os impressos mencionados nos excertos acima transcritos os que tratam do

meacutetodo simultacircneo estiveram entre os indicados comprovando a tentativa de se

difundir esse meacutetodo entre os professores goianos em sintonia com as tendecircncias de

modernidade educacional que alastravam pelo Brasil (MARCILIO 2005) Apesar de

ele ter sido oficializado no Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1856 isso natildeo foi o

bastante para se garantir sua aplicaccedilatildeo nas salas de aula Outro aspecto demonstrado

nos fragmentos foi a adoccedilatildeo de impressos utilizados nas escolas da Bahia e Rio de

Janeiro na instruccedilatildeo puacuteblica da proviacutencia de Goiaacutes

O Rio de Janeiro por ser a sede do Impeacuterio portuguecircs influenciou natildeo soacute a

educaccedilatildeo goiana como a de outras proviacutencias brasileiras tornando-se modelo para

as iniciativas locais

Quanto agrave Bahia sua Escola Normal foi uma das primeiras a ser instalada no

paiacutes (aberta em 1836 e com iniacutecio das atividades em 1842) e diferente de outras

trajetoacuterias a sua natildeo sofreu supressotildees e interrupccedilotildees das aulas (ROCHA 2008) Foi

uma Escola que se manteve sendo que a formaccedilatildeo do professor do sexo masculino

foi simultacircnea agrave do sexo feminino algo incomum nas histoacuterias de muitas Escolas

Normais brasileiras Os impressos ali adotados circularam em vaacuterios locais do paiacutes

com destaque para dois Manuais franceses sobre os meacutetodos de ensino muacutetuo e

simultacircneo traduzidos por dois professores da Escola Normal da Bahia160 (ROCHA

2008 ARAUacuteJO SILVA 2013) Outro fator que provocou sua influecircncia em Goiaacutes pode

ser explicado ateacute mesmo por uma questatildeo geograacutefica de proximidade e de

mobilidade devido agraves estradas que existiam entre essas proviacutencias161 Haacute que se

destacar tambeacutem que na Bahia ateacute 1763 estava localizada a primeira capital do paiacutes

que nesse ano foi transferida para o Rio de Janeiro fato que tambeacutem pode explicar

sua influecircncia em alguns setores da administraccedilatildeo puacuteblica goiana

160 Trata-se do Manual das Escolas Elementares DrsquoEnsino Mutuo escrito por M Sarazin e o Manual Completo do Ensino Simultacircneo assinado pelos professores da Escola Normal de Paris Ambas as obras foram traduzidas nos anos de 1850 pelo professor da Escola Normal da Bahia Joatildeo Alves Portella (Cf ARAUacuteJO SILVA 2013 ARRIADA TAMBARA 2012) Eacute bem provaacutevel que o Manual de Ensino Simultacircneo solicitado pelo Presidente Alencastre (1862) seja este citado anteriormente 161 Sobre isso cf o estudo de Lemes (2012) que destaca as relaccedilotildees comerciais entre Bahia e Goiaacutes desde o periacuteodo colonial e dada a extensatildeo territorial de Goiaacutes havia diferentes acessos geograacuteficos entre essas localidades

122

As legislaccedilotildees aprovadas no acircmbito do Municiacutepio da Corte como jaacute afirmamos

interferiam diretamente na organizaccedilatildeo das leis na proviacutencia goiana A Reforma Couto

Ferraz (BRASIL 1854) organizava o ensino em escolas de primeiro e segundo graus

disseminando no paiacutes o ensino simultacircneo Ainda sob sua forte influecircncia em Goiaacutes

foi aprovada a Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 sancionada pelo Presidente

Ernesto Augusto Pereira em 1869 conhecida como Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica

e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes de 1869 (GOIAacuteS 1869) Esse Regulamento eacute

menos minucioso que o anterior promulgado em 1856 (GOIAacuteS 1856) Bretas (1991)

aponta que natildeo havia diferenccedilas substancias entre ambos todavia ao compararmos

a forma como tratam o uso do livro nas praacuteticas escolares notamos que a lei de 1869

destacou com maior ecircnfase o emprego dos compecircndios em sala de aula conforme

detalharemos adiante

O Regulamento de 1869 conteacutem 65 artigos distribuiacutedos em capiacutetulos que tratam

de estrutura da educaccedilatildeo na proviacutencia competecircncias do Inspetor Geral Inspetores

Paroquiais condiccedilotildees para o magisteacuterio puacuteblico e particular regime de funcionamento

das escolas puacuteblicas e posteriormente das escolas particulares exames para se

candidatar ao magisteacuterio jubilaccedilatildeo (ou aposentadoria) dos professores penas a eles

aplicadas em funccedilatildeo de maacute conduta por fim disposiccedilotildees gerais acerca do

regulamento

A estrutura assemelha-se em alguns aspectos ao Regulamento anterior o de

1856 visto que haacute em todos os capiacutetulos uma centralidade na figura do docente

arquitetando sua carreira por meio de criteacuterios e uma constante inspeccedilatildeo dos seus

atos dos seus deveres dentro e fora das escolas Os princiacutepios de moralidade e de

religiosidade definiam o perfil de um professor na proviacutencia de modo que o Paacuteroco da

localidade onde os mestres pleiteassem o magisteacuterio deveria atestar que eles

professavam a religiatildeo do Estado tendo ldquocostumes morigeradosrdquo (GOIAacuteS 1869 art

10ordm) A Igreja portanto desempenhava um papel primordial na escolha dos

professores que se candidatavam agraves escolas da localidade Tal como Gondra e

Schueler (2008) apontam praticamente em todo o territoacuterio brasileiro no periacuteodo

imperial ela natildeo apenas influenciava na formaccedilatildeo de professores ldquocomo tambeacutem

detinha o monopoacutelio da concessatildeo da licenccedila para ensinar mantendo o controle sobre

os professores religiosos e leigosrdquo (GONDRA SCHUELER 2008 p 157)

As relaccedilotildees entre Igreja e Educaccedilatildeo eram tatildeo estreitas nesse periacuteodo que

temos exemplos notaacuteveis demonstrando a influecircncia da primeira instituiccedilatildeo na

123

segunda legitimando ritos e costumes religiosos dentro do modelo organizacional da

instruccedilatildeo primaacuteria goiana Um dos casos que podemos citar eacute a autorizaccedilatildeo de

afastamento de professores para cumprirem votos aos Santos algo comum no

periacuteodo conforme constatamos nas fontes encontradas (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Neste mesmo livro haacute

registros que revelam outra situaccedilatildeo comum o costume de os professores levarem

as crianccedilas agrave Igreja durante o periacuteodo de aula para assistirem a ritos catoacutelicos

Haacute tambeacutem diferentes livros na seccedilatildeo de Documentos Manuscritos

Datilografados e Impressos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes que demonstram

a presenccedila dos Padres nas salas de aula assumindo a docecircncia eou o papel de

Inspetor Paroquial assim como outros documentos em que constam notificaccedilotildees que

eles faziam ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana sobre as trocas que

promoviam dos professores de seus vilarejos162 Ou seja a Igreja tinha poder sobre a

escola de primeiras letras nos rincotildees da proviacutencia elegendo os docentes indicados

ao magisteacuterio e ao mesmo tempo mantendo aqueles que seguiam as normativas

religiosas catoacutelicas capazes de transitar entre a Doutrina Cristatilde e os conteuacutedos

previstos na regulamentaccedilatildeo educacional vigente

Sobre isso haacute que se acrescentar que especialmente para as mulheres havia

algumas exigecircncias que demonstravam como a sociedade goiana estava organizada

aos moldes patriarcais

Art 11 ndash As senhoras que pretenderem exercer o magisterio publico apresentaratildeo se forem casadas certidatildeo de seo casamento e authorisaccedilatildeo do marido pordf leccionarem se forem viuvas certidatildeo de obito de seo marido se separada judicialmente a certidatildeo de sentenccedila de divorcio que prove natildeo terem dado causa a elle digo ao divorcio sect 1ordm As senhoras solteiras que residirem soacutes natildeo poderatildeo ser nomeadas professoras publicas sem que tenhatildeo 25 annos se porem morarem com seos paes ou tutores seraacute bastante a idade de 21 sect 2ordm Quando alguma senhora viver separada de seo marido sem q~ tenha havido sentenccedila de divorcio deveraacute justificar natildeo ter dado causa a separaccedilatildeo sect 3ordm As senhoras devem instruir os seos requerimentos com os mesmos documentos de que trata o art 10 exceptuando-se quanto a maioridade das senhoras casadas as quaes poderatildeo ser nomeadas desde que completem 18 annos (GOIAacuteS 1869 art 11)

162 Cf GOIAacuteS 1858-1868 nordm 397 GOIAacuteS 1858-1873 nordm 402 GOIAacuteS 1862-1871 nordm 436 GOIAacuteS 1871-1879 nordm 529 GOIAacuteS 1873-1877 nordm 575 Todas essas fontes satildeo advindas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

124

Diferente das legislaccedilotildees jaacute tratadas nesta seccedilatildeo nesse excerto haacute menccedilatildeo

expliacutecita sobre os criteacuterios para a mulher assumir a docecircncia Afinal se esse

Regulamento de 1869 admitiu a educaccedilatildeo de ambos os sexos em escolas mistas

estabelecendo de forma tiacutemida a coeducaccedilatildeo ateacute os 8 anos de idade (GOIAacuteS 1869

art 27) era necessaacuterio inaugurar uma discussatildeo sobre o espaccedilo das mulheres na

carreira docente Vale lembrar que na proviacutencia ldquoabriu-se um campo de trabalho

remunerado e oficial para as mulheres a partir de 1827 pelo fato de que a instruccedilatildeo

puacuteblica das meninas deveria ser ministrada por mulheresrdquo (PRUDENTE 2011 p 63)

Como quesito para aceitaccedilatildeo das mulheres no magisteacuterio o Regulamento de

1856 (GOIAacuteS 1856) jaacute previa uma avaliaccedilatildeo dos trabalhos com agulha no momento

da admissatildeo Nas escolas femininas a partir de 1869 tornou-se uma exigecircncia que

nos exames finais as alunas fossem avaliadas por uma senhora que daria o seu juiacutezo

sobre o desempenho delas com a agulha (GOIAacuteS 1869 art 30)

Tal exigecircncia estava interligada agrave proposta de que os Trabalhos Manuais eram

uma disciplina do curriacuteculo escolar nas aulas para as meninas A todos meninos e

meninas ensinava-se Leitura e Escrita Gramaacutetica Portuguesa Doutrina Cristatilde

Aritmeacutetica

Em linhas gerais os conteuacutedos continuavam os mesmos nos dois

Regulamentos Poreacutem se olharmos para o modo como a disciplina Gramaacutetica foi

intitulada na Lei de 1856 veremos que em relaccedilatildeo agrave de 1869 houve uma

transformaccedilatildeo Na primeira ela era nomeada de Gramaacutetica da Liacutengua Nacional

enquanto na segunda Gramaacutetica Portuguesa Natildeo se trata pois somente de uma

troca lexical houve uma concepccedilatildeo estruturante subjacente marcada pela influecircncia

do modelo do ensino lusitano e de seu mercado livresco no Brasil

Naquele momento havia uma tendecircncia que se alastrava na educaccedilatildeo do paiacutes

e supervalorizava as liacutenguas estrangeiras como o Latim o Grego o Francecircs e o

Inglecircs Aleacutem disso cresciam no Impeacuterio os estudos indigenistas com a valorizaccedilatildeo

do iacutendio na literatura e de sua liacutengua como genuinamente brasileira (ORLANDI

GUIMARAtildeES 2002) Como exemplificaccedilatildeo disso podemos mencionar a publicaccedilatildeo

do Diccionario da Lingua Tupy chamada Lingua Geral dos Indigenas do Brazil por

Gonccedilalves Dias em 1858 (DIAS 1858) Esse autor tambeacutem foi representante da fase

do Indianismo uma tendecircncia literaacuteria no Romantismo no Brasil marcada pela

mitificaccedilatildeo do iacutendio como heroacutei nacional Nesse periacuteodo destacam-se Joseacute de

Alencar que publicou O Guarani (1857) Iracema (1865) e Ubirajara (1874) e

125

Gonccedilalves de Magalhatildees que lanccedilou A Confederaccedilatildeo de Tamoios (1857) e Os

Indiacutegenas do Brasil perante a Histoacuteria (1860) Todas essas obras evocam um espiacuterito

nacionalista e ufanista legitimando a liacutengua e os costumes indiacutegenas como a essecircncia

do ser brasileiro

Esse panorama leva-nos a conjecturar que a proviacutencia goiana acompanhava

outra tendecircncia nacional do periacuteodo ndash na contramareacute do que foi exposto anteriormente

ndash que privilegiava o ensino da Liacutengua Portuguesa e de sua gramaacutetica em relaccedilatildeo a

qualquer outra liacutengua por conseguinte a mudanccedila ocorrida na nomeaccedilatildeo do tipo de

Gramaacutetica a ser ensinada nas escolas de primeiras letras entre um regulamento e

outro em Goiaacutes natildeo foi ocasional mas ideoloacutegica e em sintonia com os preceitos da

coroa portuguesa que tambeacutem tentava manter sua hegemonia devido agraves

instabilidades no cenaacuterio poliacutetico e econocircmico do paiacutes na segunda metade do seacuteculo

XIX (GONDRA SCHUELER 2008 ROCHA 2004)

Ainda sobre o curriacuteculo no Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da

Proviacutencia de Goiaacutes de 1869 a organizaccedilatildeo das aulas se daria conforme os preceitos

do meacutetodo de ensino simultacircneo sendo que o professor candidato ao magisteacuterio

deveria demonstrar ldquoconhecimentos completosrdquo sobre os meacutetodos de ensino como um

todo (GOIAacuteS 1869 art 43) Diferente do Regulamento anterior o meacutetodo simultacircneo

eacute declaradamente recomendado e oficializado em Goiaacutes natildeo ficando mais a cargo do

Inspetor da Instruccedilatildeo Puacuteblica a indicaccedilatildeo daquele a ser trabalhado nas escolas

Poreacutem a oficializaccedilatildeo do meacutetodo natildeo garantia efetivamente a sua praacutetica no

cotidiano da sala de aula O Cocircnego Joaquim Vicente de Azevedo Inspetor Geral da

Instruccedilatildeo Puacuteblica menciona no Relatoacuterio dirigido ao Presidente Ernesto Augusto

Pereira em 30 de abril de 1869 que nas observaccedilotildees feitas durante as visitas agraves

escolas da proviacutencia ele natildeo via melhorias no ensino pelo meacutetodo simultacircneo jaacute que

[] natildeo eacute possivel que o professor com o adjunto possa conseguir o progresso dos discipulos ainda adoptando-se o methodo do ensino simultano parece-me pois conveniente para o progresso do ensino e commodidade dos alunnos a creaccedilatildeo de uma segunda aula que funcione em lugar mais proacuteximo aos habitantes dos bairros [] (AZEVEDO 30 de abril de 1869 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491)

No fragmento tambeacutem haacute menccedilatildeo agrave figura do professor adjunto Esse cargo

estava previsto desde o Regulamento anterior (GOIAacuteS 1856) para as escolas em que

devido ao grande nuacutemero de alunos o professor natildeo conseguisse cumprir com os

126

seus deveres Seria entatildeo contratado um Adjunto para auxiliaacute-lo ou para lecionar em

outra escola Azevedo (30 de abril de 1869) aponta que era preferiacutevel a abertura de

uma segunda aula em lugar proacuteximo aos habitantes demandando novo espaccedilo e

objetos o que provocava muitas vezes a precarizaccedilatildeo das turmas mantidas pelos

professores adjuntos Nos livros de registros de correspondecircncias da Inspetoria Geral

da Instruccedilatildeo Puacuteblica encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes163 haacute vaacuterias

notificaccedilotildees informando que as classes mantidas pelos Adjuntos na proviacutencia natildeo

contavam com condiccedilotildees estruturais baacutesicas natildeo havia material para uso dos alunos

faltando-lhes ateacute mesmo mesas e bancos para se acomodarem o que levava os

professores a improvisarem espaccedilos e objetos alternativos

O Presidente Ernesto Augusto Pereira no Relatoacuterio de 1869 cita que a

situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes era ldquopeacutessimardquo alegando para isso diferentes

motivos

A falta de professores habilitados o nenhum zelo da maior parte daqueles que regem as escolas os mesquinhos ordenados pagos pela provincia o pouco interesse da parte dos pais que em grande numero quase analphabetos contentatildeo-se tenhatildeo os filhos a educaccedilatildeo que elles receberatildeo a dificuldade em fazer vir livros e objectos necessarios para as escolas satildeo a meu ver as causas do atraso completo da instrucccedilatildeo (PEREIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1869 p 24)

Dentre as causas apontadas por Pereira (1869) para o lastimaacutevel estado da

educaccedilatildeo na proviacutencia evidencia-se a falta de livros e objetos necessaacuterios para a

conduccedilatildeo das aulas No Regulamento goiano de Ensino de 1856 o artigo 100

dispunha que o Presidente da Proviacutencia abonaria anualmente a cada professor uma

quantia para compra de materiais como papel penas tintas laacutepis e compecircndios para

os meninos pobres Jaacute no Regulamento de 1869 esse artigo foi suprimido constando

apenas no artigo 61 a obrigaccedilatildeo dos cofres provinciais de adquirir livros para os

alunos de pais indigentes No que concerne ao auxiacutelio enviado aos professores para

a compra de materiais escolares conforme os documentos apontam sua manutenccedilatildeo

foi irregular e em muitas ocasiotildees foi suprimido pelos Presidentes para garantia de

abertura de escolas e pagamento do salaacuterio dos professores dentre outras accedilotildees

justificadas nos discursos proferidos nas Assembleias Legislativas Ao ser mantida no

163 Cf GOIAacuteS 1868-1871 nordm 491 1873-1877 nordm 575 1874-1876 nordm 602 Todas essas fontes satildeo advindas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

127

Regulamento de 1869 a obrigaccedilatildeo do governo provincial de enviar os livros apenas

aos alunos pobres esse objeto da cultura escrita ganhou destaque nas praacuteticas

escolares da proviacutencia sendo artefato essencial na organizaccedilatildeo da escola pelo

meacutetodo simultacircneo Nesse sentido segundo Munakata (2009) o livro escolar foi um

dos dispositivos essenciais de propagaccedilatildeo da cultura impressa no Impeacuterio e um dos

recursos para o desenvolvimento do ensino simultacircneo no Brasil pois por meio dele

diferentes saberes pedagoacutegicos projetaram e organizaram as praacuteticas curriculares na

escola

Os livros escolares tambeacutem satildeo mencionados no Regulamento de Ensino

goiano de 1869 em mais trecircs passagens O artigo 6ordm menciona a obrigaccedilatildeo dos

Inspetores Paroquiais de verificar nas visitas agraves escolas de quais livros estatildeo

munidas e qual o seu estado de conservaccedilatildeo nesse mesmo artigo ainda haacute o inciso

7ordm que faz referecircncia ao livro como parte do patrimocircnio a ser inventariado sempre que

ocorresse troca de professores Os artigos 27 e 51 tratam do regime de funcionamento

das escolas puacuteblicas e particulares proibindo o uso de livros de conteuacutedo imoral

antirreligioso ou contraacuterio ao regime governamental estabelecendo inclusive a pena

de fechar as escolas particulares que consentissem com tal praacutetica

Tudo isso demonstra a influecircncia sobre a instruccedilatildeo primaacuteria das correntes

poliacuteticas e ideoloacutegicas vigentes no periacuteodo A escola por conseguinte estava

condicionada ao modo como a Igreja e o Governo concebiam o cidadatildeo goiano

projetando nela funccedilatildeo de educaacute-lo e civilizaacute-lo dentro da doutrina religiosa catoacutelica e

dos princiacutepios poliacuteticos da Monarquia

A partir de 1870 com toda a ecircnfase dada ao livro no Regulamento de Ensino

goiano de 1869 as listas de expediente escolar identificadas no Arquivo Histoacuterico

Estadual de Goiaacutes em comparaccedilatildeo agraves das deacutecadas anteriores predominantemente

comeccedilaram a solicitar nuacutemeros expressivos de compecircndios que passavam a ser

considerados materiais indispensaacuteveis para a manutenccedilatildeo das escolas164 Por esse

motivo esse Regulamento foi um divisor de aacuteguas na histoacuteria da educaccedilatildeo e da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes jaacute que ao evidenciar o livro como objeto patrimonial da escola

e indispensaacutevel para a conduccedilatildeo das praacuteticas em sala de aula tambeacutem cerceou seu

uso e definiu que os modos de ensinar estariam intimamente ligados aos ideaacuterios

contidos nesses impressos Segundo Lajolo (1996) os livros especialmente do

164 Esses aspectos satildeo abordados na seccedilatildeo 3 desta Tese

128

periacuteodo imperial brasileiro em diante adquiriram tamanha importacircncia que acabam

ldquodeterminando conteuacutedos e condicionando estrateacutegias de ensino marcando pois de

forma decisiva o que se ensina e como se ensina o que se ensinardquo (LAJOLO 1996

p 4)

Em 1864 o governo da proviacutencia criou o Gabinete Literaacuterio Goiano de acordo

com Barra (2008) a primeira biblioteca puacuteblica em Goiaacutes cujos usuaacuterios

exclusivamente homens eram ligados agrave elite goiana dentre eles meacutedicos

magistrados poliacuteticos O Gabinete desde a metade da deacutecada de 60 do seacuteculo XIX

auxiliou na propagaccedilatildeo da ideia de que o livro era depositaacuterio de uma mentalidade

ilustrada e que ao difundi-lo tambeacutem se contribuiria para a formaccedilatildeo de uma

identidade regional ldquoletradardquo dentro dos padrotildees da cultura europeia (BARRA 2011)

Em diferentes estudos realizados por Barra (BARRA 2008 SOUZA BARRA

2008 BARRA FABIANO 2010) a respeito do Gabinete Goiano descobrimos que a

partir de 1871 ocorreram mudanccedilas substanciais nessa instituiccedilatildeo que implicavam

entre outras coisas a admissatildeo de mulheres como soacutecias e leitoras do acervo da

biblioteca incluindo professoras Os Gabinetes de Leitura como aponta Veiga (2001)

foram espaccedilos culturais vistos no Brasil pela primeira vez no Rio de Janeiro em

meados do seacuteculo XIX tendo sido importantes para o desenvolvimento de uma

sociedade que elitizava a leitura e o livro tratando-os respectivamente como

atividade e objeto que diferenciavam socialmente um grupo de outro

Barra e Fabiano (2010) destacam que a imprensa local goiana na segunda

metade do seacuteculo XIX divulgou a instruccedilatildeo como elemento para a construccedilatildeo de uma

naccedilatildeo evidenciando desse modo o livro e a leitura como ldquoremeacutediosrdquo contra a

barbaacuterie

Natildeo se pode negar que todo esse ideaacuterio adentrou o ambiente educacional

influenciando as praacuteticas escolares que destacaram a funccedilatildeo do livro para a

organizaccedilatildeo didaacutetica das aulas Conforme Choppin (2004) advoga o livro eacute um

referencial instrumental ideoloacutegico ou cultural sendo depositaacuterio de conhecimento

vetor da liacutengua da cultura e dos valores de uma eacutepoca O livro escolar ldquoeacute produto de

uma eacutepoca e como tal revela o que essa eacutepoca delegou agrave escola em seu projeto de

naccedilatildeo A escola por sua vez cria mecanismos proacuteprios para usar o livro didaacuteticordquo

(BERTOLETTI SILVA 2016 p 379)

Ainda no regime de Impeacuterio outras leis educacionais que neste trabalho

consideramos para compreender o cenaacuterio da instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia foram

129

aprovadas o Regulamento de Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1884 lei nordm 3397 ato de 9 de

abril de 1884 (GOIAacuteS 1884) o Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1886 ato de 2

de abril de 1886 (GOIAacuteS 1886a) o Regulamento para serviccedilo da catequese na

proviacutencia de Goiaacutes de 1886 ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 (GOIAacuteS 1886b)

o Regulamento para Instruccedilatildeo Primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes de 1887 lei nordm 4148

ato de 11 de fevereiro de 1887 (GOIAacuteS 1887)

O Regulamento de 1884 criou o fundo escolar para aquisiccedilatildeo de objetos de

escrita responsaacutevel a partir de entatildeo por fornecer os livros e utensiacutelios para que os

alunos pobres frequentassem as aulas Tira portanto da esfera do governo provincial

a responsabilidade por tal questatildeo diferentemente do Regulamento de 1869 que o

antecedeu Sob forte influecircncia da Reforma Leocircncio de Carvalho (BRASIL 1879) que

reformou o ensino primaacuterio e secundaacuterio no Municiacutepio da Corte e o ensino superior

em todo Impeacuterio no Regulamento goiano de 1884 natildeo eacute especificado um meacutetodo

oficial de ensino deixando a cargo do professor a escolha de sua adoccedilatildeo Uma vez

ao ano como trata o paraacutegrafo 14 do artigo 2ordm do Regulamento os professores

primaacuterios e secundaacuterios exporiam ao Inspetor Geral de Ensino os meacutetodos de ensino

por eles adotados apresentando a frequecircncia e aproveitamento dos alunos Tal como

na Reforma Leocircncio de Carvalho em Goiaacutes foram implantados os conselhos oacutergatildeos

de direccedilatildeo e fiscalizaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica que atuavam ao lado das figuras do

Inspetor Geral e do Inspetor Paroquial de Ensino Na capital da proviacutencia foi instalado

o conselho diretor formado por professores da Escola Normal e nas paroacutequias os

conselhos paroquiais cujos membros eram cidadatildeos daquela localidade nomeados

pelo Presidente da Proviacutencia

Em 1886 Guilherme Francisco Cruz estava na presidecircncia da proviacutencia e

mesmo apresentando na Assembleia Legislativa um discurso que denunciava a falta

de uniformidade do ensino em Goiaacutes como fator que atrapalhava o desenvolvimento

educacional na proviacutencia (CRUZ 1886) sancionou o Regulamento da instruccedilatildeo

puacuteblica de 1886 sem especificar o meacutetodo de ensino que deveria ser adotado nas

escolas Essa lei mudou a organizaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica primaacuteria nomeando as

escolas de acordo com o nuacutemero de alunos e localidade165 De acordo com esse

165 De acordo com o Regulamento de 1886 (GOIAacuteS 1886a) as escolas eram classificadas como efetivas se frequentadas por mais de 20 alunos e as elementares frequentadas por mais de 10 alunos e menos de 20 (art 1ordm) As efetivas eram divididas em trecircs entracircncias as de primeira entracircncia eram as escolas criadas nas vilas paroacutequias e arraiais as de segunda entracircncia as criadas na cidade as de terceira entracircncia as criadas na capital

130

Regulamento os livros e demais materiais de expediente escolar deveriam ser

fornecidos pelo governo provincial sob a responsabilidade da Inspeccedilatildeo Geral de

Ensino mediante os pedidos dos professores que se reportavam aos Delegados

Literaacuterios Logo se depreende que os livros e meacutetodos de ensino eram escolhidos

pelos professores Diferente do Regulamento anterior o de 1886 esse estabeleceu

que a fiscalizaccedilatildeo do ensino estava sob a direccedilatildeo de um Inspetor Geral de um

Conselho Diretor e de Delegados Literaacuterios em cada localidade

Esse mesmo presidente legislou na proviacutencia sobre o serviccedilo de educaccedilatildeo dos

indiacutegenas por meio do Regulamento para catequese na proviacutencia de Goiaacutes de 1886

sancionado pelo ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 (GOIAacuteS 1886b) Sob a

justificativa da uniformizaccedilatildeo desse ofiacutecio o Presidente Cruz estabeleceu que em

cada aldeamento indiacutegena houvesse um missionaacuterio que ensinaria leitura escrita as

quatro operaccedilotildees aritmeacuteticas e catecismo da religiatildeo catoacutelica aleacutem do trabalho de

agulha para ldquoas iacutendiasrdquo

Dessa maneira a uniformizaccedilatildeo do ensino como entendida nesse momento

da histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes se projetou mais na macroestrutura da escola

pensada em seus aspectos da organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo do que propriamente na

esfera das praacuteticas dos conteuacutedos e dos modos como esses eram ensinados

(ABREU 2006 BARRA 2011)

Ainda no regime imperial a uacuteltima lei goiana sobre a instruccedilatildeo primaacuteria foi

sancionada pelo Regulamento para Instruccedilatildeo Primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes de 1887

lei nordm 4148 ato de 11 de fevereiro de 1887 (GOIAacuteS 1887)

Na pesquisa realizada por Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) mediante

a anaacutelise documental dos jornais da deacutecada de 1880 eacute revelado que esses dois

uacuteltimos regulamentos (GOIAacuteS 1886a 1887) foram motivo de disputa no campo

poliacutetico entre os Presidentes do periacuteodo Os autores explicam que o Presidente Luiz

Silveacuterio Alves da Cruz que governou a proviacutencia entre 1886-1887 ao tomar posse

revogou o Regulamento que estava em vigor (GOIAacuteS 1886a) restabelecendo o

regulamento de 1884 Por pressatildeo da Assembleia Legislativa aprovou novo

Regulamento em 1887 (GOIAacuteS 1887) Entretanto quando o 2ordm Vice-presidente

Brigadeiro Feliciacutessimo do Espiacuterito Santo ldquoassumiu a presidecircncia provisoriamenterdquo em

1887 ldquodeclarou sem efeito o Regulamento de 1887 e recolocou em vigor o

Regulamento de 1886 E Fulgecircncio Firmino Simotildees (1887-1888) ao assumir a

131

presidecircncia da proviacutencia em 20 de outubro de 1887 manteve o ato de 9 de setembro

[Regulamento de 1887]rdquo (ABREU GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015 p 274)

Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015) elucidam que durante seu governo

o Presidente Fulgecircncio restaurou o Regulamento de 1886 justificando perante a

Assembleia Legislativa (SIMOtildeES 1888) que a proviacutencia natildeo tinha condiccedilotildees

financeiras de adotar os dispositivos do Regulamento de 1887 pois traziam impacto

aos cofres devido agrave melhoria dos vencimentos dos professores e tambeacutem ao

dispositivo que previa o pagamento mesmo que pela metade aos mestres das

escolas extintas Esse Regulamento em seu capiacutetulo 6ordm classificava as escolas em

primeira segunda e terceira classes categorizando como de primeira classe todas as

escolas da capital e de todas as cidades da proviacutencia aumentando em consequecircncia

os gastos para manutenccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica que estava condicionada agrave

classificaccedilatildeo das escolas (BRETAS 1991) Em face de todas essas dificuldades

Fulgecircncio Simotildees publicou o Ato de 7 de janeiro de 1888 (GOIAacuteS 1888) modificando

substancialmente alguns aspectos do expediente escolar e de funcionamento da

escola goiana minimizando as despesas relativas agrave instruccedilatildeo (ABREU GONCcedilALVES

NETO CARVALHO 2015)

Como vimos a uacuteltima lei educacional que teve efeito em Goiaacutes166 no periacuteodo

imperial foi o Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1886 ato de 2 de abril de 1886

(GOIAacuteS 1886a) que marca inclusive a dataccedilatildeo do fechamento do recorte temporal

dessa pesquisa

Com relaccedilatildeo ao curriacuteculo escolar os uacuteltimos regulamentos promulgados em

Goiaacutes legislaram acerca dessa questatildeo estabelecendo

Art 22deg Nas do 1deg graacuteo seratildeo ensinadas as seguintes materias Instrucccedilatildeo moral e religiosa leitura e escripta Arithmetica operaccedilotildees sobre numeros inteiros fraccionarios decimaes e o systema legal de pezos e medidas Noccedilotildees de grammatica Nas escolas do 2deg graacuteo se ensinaraacute mais Arithmetica ateacute a regra de tres simples Noccedilotildees de geographia e historia do Brazil (GOIAacuteS 1884 art 22)

Art 9 ndash Nas escolas publicas primarias se ensinaraacute

166 Reiteramos que tal conclusatildeo foi a partir das contribuiccedilotildees da pesquisa de Abreu Gonccedilalves Neto e Carvalho (2015)

132

sect 1deg ndash Nas elementares a ler e escrever a lingua portugueza taboada pratica das 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros catechismo e pezos e medidas metricas sect 2deg ndash Nas de 1deg entrancia a ler e escrever a lingua portugueza taboada as 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros decimais fraccionarios e complexos regra de trez e juros simples catechismo e systema metrico sect 3deg ndash Nas de 2ordf entrancia a grammatica leitura e escripta da lingua portugueza taboada as 4 operaccedilotildees sobre numeros inteiros decimais fraccionarios catechismo e o systema metrico sect 4deg ndash Nas de 3ordf entrancia grammatica leitura escripta e composiccedilatildeo da lingua portugueza catechismo e Historia Biblica arithmetica e metrologia chorographia e historia do Brazil sect 5deg ndash Nas escolas do sexo femenino regularaacute o art antecedente e mais os trabalhos de agulha (GOIAacuteS 1886a art 9ordm)

Analisando ambas as legislaccedilotildees basicamente notamos que a segunda em

relaccedilatildeo agrave primeira detalha melhor os conteuacutedos de Aritmeacutetica mantendo leitura

escrita gramaacutetica e a instruccedilatildeo moral e religiosa O Regulamento de 1886 especifica

o que seraacute ensinado de acordo com a classificaccedilatildeo das escolas Essa classificaccedilatildeo

como vimos estava subordinada agrave localidade das escolas de modo que nas de 3ordf

entracircncia localizadas na capital os estudantes tinham acesso a mais conteuacutedo do

que os das escolas dos vilarejos

Interessante atentar para a presenccedila do Catecismo retomado como conteuacutedo

curricular ele havia sido mencionado pela uacuteltima vez no Regulamento de ensino

goiano de 1856 (GOIAacuteS 1856) A Igreja firmava mais uma vez sua presenccedila e

permanecircncia na escola goiana jaacute que se mantinha no territoacuterio brasileiro como uma

das principais aliadas ao Trono defendendo o regime imperial (AZZI 1992)

O Regulamento de Ensino goiano de 1886 ficou em vigor ateacute 1893 (ABREU

GONCcedilALVES NETO CARVALHO 2015) quando foram aprovados a Reforma da

Instruccedilatildeo Puacuteblica de 1893 (GOIAacuteS 1893a) e o Regulamento da Instruccedilatildeo Primaacuteria do

estado de Goiaacutes de 1893 instituiacutedo sob o Decreto nordm 26 de 23 de dezembro de 1893

(GOIAacuteS 1893b) nos quais a laicidade da instruccedilatildeo puacuteblica eacute mencionada com a

declaraccedilatildeo de um ensino gratuito leigo e uniforme Por esse motivo mesmo apoacutes a

proclamaccedilatildeo da repuacuteblica houve em Goiaacutes nos primeiros anos do regime

republicano a permanecircncia do ensino das Cartilhas de Doutrina Cristatilde e Catecismos

nas escolas do estado conforme a legislaccedilatildeo previa167 Isso se deve principalmente

167 Na pesquisa realizada no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes observamos por meio das listas de expediente escolar identificadas apoacutes a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica que houve a

133

ao fato de a Constituiccedilatildeo Goiana de 1891 natildeo ter feito alusatildeo ao caraacuteter laico do

estado e natildeo ratificar a deslegitimaccedilatildeo do catolicismo como religiatildeo oficial do estado

aos moldes da Constituiccedilatildeo Brasileira de 1891 que estabeleceu que nenhum culto ou

igreja gozaria de subvenccedilatildeo oficial nem manteria relaccedilotildees de dependecircncia ou alianccedila

com a Uniatildeo ou com os estados (BRASIL 1891 art 72 sect 7ordm)

A realidade educacional em Goiaacutes no fim do Impeacuterio era desastrosa conforme

Bretas (1991) relata jaacute que dos cerca de 158000 habitantes 80 eram analfabetos

Desse total de habitantes 15 a 18 estavam em idade escolar mas somente 10

deles recebiam instruccedilatildeo Os outros 90 natildeo tinham acesso agrave escola por residirem

na zona rural nos vilarejos afastados ou nas periferias das cidades (BRETAS 1991)

Toda essa situaccedilatildeo foi de certa forma um entrave para que as ideias

proclamadas com a Repuacuteblica se instaurassem na poliacutetica goiana Com a mudanccedila

no cenaacuterio brasileiro no fim do seacuteculo XIX como Nagle (2001) analisa na coexistecircncia

de dois brasis ndash um do interior e outro dos centros urbanos ndash o estado de Goiaacutes com

uma populaccedilatildeo maiormente rural e uma poliacutetica centralizadora dava passos muito

tiacutemidos para a implantaccedilatildeo do ideaacuterio republicano

A efervescecircncia durante a deacutecada de 1880 dos movimentos abolicionistas por

todo o paiacutes168 e o advento desde os anos de 1870 de partidos poliacuteticos e clubes

republicanos propagandeavam a Repuacuteblica projetando nela a utopia de um novo

Brasil (NAGLE 2001)

Palaciacuten e Moraes (1994) explicam que devido agrave estrutura socioeconocircmica e

cultural goiana as ideias dos republicanos foram disseminadas tardiamente no

estado Havia mudado o regime mas as praacuteticas governamentais continuavam as

mesmas Na educaccedilatildeo o impacto inicial foi ainda mais negativo jaacute que os diferentes

governos transitoacuterios e as crises poliacuteticas instaladas pela disputa agrave presidecircncia do

permanecircncia dos pedidos dos Catecismos No levantamento de documentos feitos pela Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes na Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes volume 1 tambeacutem haacute vaacuterios documentos do iniacutecio da Repuacuteblica que mencionam ou o pedido ou a compra de Catecismos e livros de Doutrina Cristatilde para serem utilizados nas escolas goianas 168 Assim como em outras proviacutencias brasileiras em Goiaacutes o movimento abolicionista realizou campanhas na imprensa em defesa da libertaccedilatildeo dos escravos sobretudo na deacutecada de 1880 SantrsquoAnna (2013) analisando o abolicionismo na cidade de Goiaacutes explica que os principais jornais que disseminaram essas ideias poliacuteticas e sociais na proviacutencia foram A Tribuna Livre O Publicador Goyano e Goyaz Dentre os principais abolicionistas goianos destacam-se os Bulhotildees uma famiacutelia da oligarquia goiana Nesses jornais vaacuterios membros da famiacutelia Bulhotildees eram redatores aleacutem de fundadores ou cofundadores

134

estado fizeram com que os investimentos na instruccedilatildeo puacuteblica se tornassem cada vez

mais reduzidos

23 CONCLUSOtildeES PARCIAIS

O Ato Adicional de 1834 foi um dos marcos da histoacuteria do Brasil pois

descentralizou a tomada de decisotildees sobre diferentes setores da administraccedilatildeo

provincial No que tange agrave instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria seja no acircmbito puacuteblico ou

privado as Assembleias Legislativas Provinciais instaladas a partir de entatildeo

passaram a organizaacute-las legislando sobre elas

Em Goiaacutes o Ato Adicional provocou no campo da educaccedilatildeo a promulgaccedilatildeo da

primeira lei goiana sobre instruccedilatildeo puacuteblica a Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835

(GOIAacuteS 1835) A instruccedilatildeo assim como outros setores da administraccedilatildeo estava na

governanccedila dos Presidentes de Proviacutencia sob a legislatura das Assembleias

Provinciais havendo daiacute em diante algumas iniciativas para abertura das escolas de

primeiras letras pelos vilarejos goianos A lei de 1835 marca a histoacuteria da educaccedilatildeo

de Goiaacutes inaugurando um discurso poliacutetico local mesmo que intermitente sobre a

instruccedilatildeo das crianccedilas na eacutegide de um projeto de sociedade goiana (ABREU 2006

BARRA 2011) Embora os Relatoacuterios de Presidentes da Proviacutencia de Goiaacutes apontem

a dificuldade de matricular e manter as crianccedilas na escola como visto no decorrer da

seccedilatildeo mas natildeo somente devido agrave resistecircncia dos pais que as colocavam para

trabalhar desde muito pequenas os discursos tambeacutem incidiam sobre a falta de

recursos para investimento e manutenccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica Ao mesmo tempo as

praacuteticas escolares mantidas nas escolas da proviacutencia eram apontadas pelos

Presidentes como fatores que prejudicavam o avanccedilo da instruccedilatildeo puacuteblica

especificamente no que concerne aos meacutetodos de ensino que se baseavam em

concepccedilotildees antigas

Como analisado a Lei de 1835 inaugurou em Goiaacutes uma discussatildeo mais

veemente sobre a instruccedilatildeo puacuteblica tornando-se nesta tese um marco inicial acerca

da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas no periacuteodo imperial jaacute que anteriormente a

1835 natildeo havia uma legislaccedilatildeo educacional especiacutefica para as escolas em Goiaacutes

Apesar de diferentes regulamentaccedilotildees de ensino aprovadas em Goiaacutes desde entatildeo

serem consideradas coacutepias de leis de outras localidades (BRETAS 1991) natildeo se

pode negar que isso foi uma decisatildeo poliacutetica e estabelece de toda maneira o modo

135

como se pensava concretizar a educaccedilatildeo constituindo possiacuteveis ideaacuterios e praacuteticas

sobre a escola goiana em diferentes periacuteodos

Durante todo o Impeacuterio a proviacutencia goiana aprovou leis que se tornaram em

alguns momentos motivo de disputas no campo poliacutetico impactando diretamente na

organizaccedilatildeo da escola e nos investimentos nela tanto no capital humano como nos

materiais para manutenccedilatildeo das aulas

A Igreja Catoacutelica por seu turno esteve presente nas raiacutezes da

institucionalizaccedilatildeo da escola goiana desde a primeira lei de 1835 mantendo-se de

diferentes maneiras em todas as leis educacionais analisadas no decurso do regime

imperial seja no curriacuteculo nos materiais aprovados para uso nas aulas na escolha

dos professores no trabalho de inspeccedilatildeo escolar dentre outras accedilotildees que ficaram

impregnadas pelos seus dogmas

Entretanto o projeto conservador da Igreja natildeo impediu que a proviacutencia abrisse

suas portas para as transformaccedilotildees que ocorriam em acircmbito nacional implantando

novas regulamentaccedilotildees que dialogavam com as reformas feitas no Municiacutepio da

Corte Ainda que algumas leis natildeo chegassem ao seu efetivo cumprimento

compreendemos que o ato de legislar denota uma abertura da proviacutencia para a

modernidade ndash mesmo que tiacutemida ndash da sociedade goiana em consonacircncia com as

mudanccedilas que ocorriam no contexto educacional do paiacutes

O Seacuteculo XIX em Goiaacutes protagonizou conforme analisamos a abertura da

proviacutencia para o que vinha ocorrendo no Brasil Embora houvesse dificuldade de

comunicaccedilatildeo entre a capital e os vilarejos foram sancionadas regulamentaccedilotildees que

pensavam a escola goiana como um todo sistematizando saberes que deveriam ser

ensinados na proviacutencia Esses saberes conforme discutimos em vaacuterios momentos

estavam em consonacircncia com o pensamento racional e liberal difundido pelo paiacutes e

tambeacutem presente nos discursos dos Presidentes goianos o que ratifica nossa tese de

estudo que adveacutem desse contexto poliacutetico e social da proviacutencia a escola goiana do

seacuteculo XIX se estabeleceu sob a influecircncia da Igreja o que natildeo a impediu de se inserir

nas transformaccedilotildees do Brasil do seacuteculo XIX especialmente no que tange agrave

alfabetizaccedilatildeo da crianccedila Afinal natildeo haacute como compreender os processos de ensino

de leitura e escrita sem pensar no contexto maior que os abriga que eacute a escola e de

igual maneira no modo como o governo e a sociedade a concebiam

136

3 MEacuteTODOS E LIVROS PARA

ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM GOIAacuteS

___________________________________

Em 1835 aleacutem de ter sido publicada a primeira lei de instruccedilatildeo puacuteblica

deliberada pela Assembleia Legislativa Provincial em Goiaacutes iniciou-se um processo

de institucionalizaccedilatildeo das praacuteticas escolares uma vez que a partir de entatildeo 1)

legislava-se sobre a quantidade de alunos para abertura e manutenccedilatildeo de uma

escola 2) obrigava-se os pais a oferecer instruccedilatildeo primaacuteria aos filhos seja em casa

ou nas escolas puacuteblicas ou particulares 3) definiam-se criteacuterios para ser professor 4)

estabelecia-se a inspeccedilatildeo de ensino por meio da figura dos Delegados Paroquiais e

das Cacircmaras Municipais e por fim 5) publicavam-se os Regulamentos de Ensino

que circunscreviam a escola numa rotina determinando as mateacuterias meacutetodos e

objetos a serem aplicados na instruccedilatildeo das crianccedilas (GOIAacuteS 1835 ABREU 2006)

Jaacute a uacuteltima lei de ensino goiano do periacuteodo imperial que foi levada a

cumprimento pelos presidentes data de 1886 Nessa a escola primaacuteria se organizou

pela sua classificaccedilatildeo condicionada agrave localizaccedilatildeo geograacutefica e agrave quantidade de

alunos matriculados (GOIAacuteS 1886a)

Entre o marco inicial e final do recorte histoacuterico desta pesquisa 1835 a 1886

uma das situaccedilotildees recorrentemente descritas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia

goiana foi a falta de materiais escolares (PRIMITIVO MOACYR 1940) Nesse

intervalo em alguns momentos os professores ficaram responsaacuteveis por adquiri-los

137

com auxiacutelio de uma gratificaccedilatildeo em seus vencimentos bem como o governo que

tambeacutem se responsabilizou pela compra deles geralmente solicitados nas listas de

expediente escolar

Na consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nas seccedilotildees de

Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressos

pudemos inventariar entre 1835 e 1886 889 listas de expediente escolar169 dessas

528 vindas de diferentes localidades de Goiaacutes com pedidos remetidos ao governo da

proviacutencia para as aulas de primeiras letras e 361 listas em correspondecircncias do

governo notificando o envio de materiais dentre eles os de uso escolar Dada a

extensatildeo do periacuteodo histoacuterico a princiacutepio presumimos que eram poucas as listagens

e que haveria uma lacuna entre os pedidos Contudo ao contrastarmo-las com a

quantidade de escolas e as dificuldades relatadas pelos presidentes na manutenccedilatildeo

do ensino goiano no periacuteodo concluiacutemos que essas listas demonstram

significativamente o que circulava nas escolas e como se ensinava a ler e escrever

Com fundamento na anaacutelise dessas listagens nos propomos a inventariar

nesta seccedilatildeo os livros para o ensino inicial da leitura e escrita buscando compreender

a partir deles os meacutetodos que circularam na proviacutencia no periacuteodo imperial Aleacutem

dessas listas os mapas de turmas encontrados nesse Arquivo revelam alguns

aspectos dos fazeres dos professores na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em

Goiaacutes

Como analisamos a questatildeo dos meacutetodos de ensino foi debatida pelos

presidentes em seus relatoacuterios que estabeleceram diferentes tentativas de

implantaccedilatildeo de outros meacutetodos de ensino em Goiaacutes que natildeo o individual ou ordinaacuterio

jaacute amplamente difundido na proviacutencia Poreacutem conforme esses relatoacuterios demonstram

a tradiccedilatildeo de uso do meacutetodo individual a falta de material e de formaccedilatildeo fizeram com

que os professores se mostrassem resistentes a aplicar os meacutetodos muacutetuo eou

simultacircneo

No acircmbito do material a falta era tanto de objetos para os alunos tais como

livros ardoacutesias lousas laacutepis papel tinta bancos mesas etc necessaacuterios para a

conduccedilatildeo por exemplo do meacutetodo simultacircneo como tambeacutem de materiais para

169 Ao final desta tese haacute uma seccedilatildeo intitulada ldquoFontesrdquo Nela haacute o item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmasrdquo em que destacamos todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes em que encontramos algum documento que mencione materiais de expediente escolar solicitados ou enviados agraves escolas goianas aleacutem de Mapas de Turmas

138

formaccedilatildeo do professor como os Tratados sobre os Meacutetodos de Ensino e outros

compecircndios que fizessem circular diferentes ideias apresentando esclarecendo e

ilustrando o manejo didaacutetico em novas possibilidades de ensinar e aprender

No campo da formaccedilatildeo a ausecircncia de uma Escola Normal e de cursos de

aperfeiccediloamento para professores em praticamente todo o periacuteodo que esta tese

investiga tambeacutem comprometeu a propagaccedilatildeo de ideiasteoriascorrentes de

pensamento genuinamente goianas impossibilitando do mesmo modo uma

discussatildeo local sobre a questatildeo do ensino de leitura e escrita como ocorreu em outras

proviacutencias do paiacutes

Vale ressaltar que a Escola Normal Oficial de Goiaacutes de acordo com Canezin e

Loureiro (1994) tem sua gecircnese efetivamente com a publicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo

Provincial nordm 676 de 03 de agosto de 1882 (GOIAacuteS 1882) A Resoluccedilatildeo criava anexa

ao Liceu uma Escola Normal para a preparaccedilatildeo de professores de instruccedilatildeo primaacuteria

No entanto a instalaccedilatildeo do curso soacute ocorreu em 1884 ano em que tambeacutem se

publicou o Ato Provincial nordm 3374 que instaurou o ldquoPrimeiro Regulamento da Escola

Normal anexa ao Lyceordquo (GOIAacuteS 1884) No Correio Official de 26 de abril de 1884 haacute

uma notiacutecia (ldquoInstallaccedilatildeo da Escola Normalrdquo p 2-3) relatando o ato religioso e poliacutetico

ocorrido durante a abertura do curso no dia 21 de abril de 1884 (CORREIO OFFICIAL

26 de abril de 1884) Houve como jaacute enunciamos na seccedilatildeo 2 algumas tentativas

anteriores de se instalar a Escola Normal que entretanto foram frustradas170

Logo tomando como referecircncia os estudos de Galvatildeo (2009) ao olharmos para

o conjunto de materiais presentes nas listagens de expediente escolar os

classificamos em 1) impressos para ensinar a ler e escrever e 2) impressos para o

ensino da leitura corrente Essa classificaccedilatildeo organiza os itens nesta seccedilatildeo ao

mesmo tempo que orienta nosso discurso para a anaacutelise sobre os meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo que circularam em Goiaacutes no seacuteculo XIX

Por fim eacute importante frisar que tal classificaccedilatildeo eacute uma das muitas possiacuteveis

leituras para compreendermos a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes e portanto natildeo

engessa as possibilidades dialoacutegicas que se estabelecem para novas leituras e novas

problematizaccedilotildees Natildeo satildeo classificaccedilotildees fixadas e emolduradas como se houvesse

apenas uma compreensatildeo dos usos dos impressos inventariados trata-se de uma

170 Para aprofundar na histoacuteria da Escola Normal em Goiaacutes cf Canezin Loureiro (1994) Brzezinski (2008)

139

perspectiva de leitura transformada em uma escrita historiograacutefica ambas

justificadas pelas escolhas que fizemos

31 IMPRESSOS PARA ENSINAR A LER E ESCREVER

Quanto aos impressos destinados ao ensino da leitura na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes do seacuteculo XIX houve hegemonia do uso das Cartas ndash folhetos

para ensinar e aprender a ler ndash nas listagens nomeadas de ldquoCartas de ABCrdquo ldquoCartas

de nomesrdquo ldquoCartas de abc e syllabasrdquo ldquoCartas de abc com seus syllabariosrdquo ldquoCartas

de abc com seus syllabarios e nomesrdquo ldquoCartas de syllabasrdquo ldquoCartas de syllabas para

principiantesrdquo ldquoCartas de alfabeto sillabas nomes e conselhos moraisrdquo e ldquoCartas com

lettras do alfabeto e sillabasrdquo

A solicitaccedilatildeo dessas Cartas ocorreu durante todo o periacuteodo pesquisado e o

ultrapassa Do total das 889 correspondecircncias de expediente escolar inventariadas

no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goias 709 listas ou seja aproximadamente 80

trazem alguma solicitaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo de envio desses impressos As quantidades

solicitadas ou remetidas demonstram que o uso das Cartas em sala de aula era

individual ou seja para cada aluno se adquiria uma jaacute que o montante de compra

delas era muito grande em comparaccedilatildeo aos outros objetos ou impressos Haacute registros

na deacutecada de 1850 de compras que chegaram a 2000 exemplares de Cartas de ABC

para serem distribuiacutedos aos alunos nas escolas de primeiras letras goianas (GOIAacuteS

1858-1868 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Nos arquivos e acervos consultados natildeo encontramos nenhum desses

impressos o que nos impediu de uma anaacutelise mais direta e descritiva pois conforme

Batista e Galvatildeo (2009) discutem no Brasil eles adquiriram valor social cultural e

histoacuterico haacute pouco tempo

De acordo com as pesquisas do campo da histoacuteria do livro (BATISTAGALVAtildeO

2009 FRADE 2010 VOJNIAK 2014 dentre outros) comumente sem instruccedilotildees de

uso ao professor as Cartas apresentavam as letras do alfabeto em vaacuterias fontes e

tamanhos (algumas versotildees das Cartas variavam na fonte da letra e no tamanho de

acordo com a publicaccedilatildeo) o silabaacuterio (das siacutelabas canocircnicas agraves natildeo canocircnicas) e

palavras e frases curtas (algumas coacutepias das maacuteximas da Doutrina Cristatilde ou da

Biacuteblia) Por meio de uma anaacutelise de dados indiciais Frade (2010) explica que essas

Cartas inicialmente pareciam ser materiais avulsos dispostas em paacuteginas natildeo

140

grampeadas Cada Carta representava uma liccedilatildeo com uma etapa para o aprendizado

da leitura Tomando como referecircncia o estudo dessa autora e o de Vieira (2017)

sabemos que esses impressos foram posteriormente publicados em formato de

folheto e tambeacutem copilados em livros Alguns deles conservaram no tiacutetulo a expressatildeo

ABC e Cartas de ABC171

A partir dos mencionados tiacutetulos das Cartas identificadas nas listas de

solicitaccedilatildeo de material escolar e de uma anaacutelise dos 129172 Mapas de Turmas

encontrados na seccedilatildeo de Documentos Avulsos e nas Caixas dos Municiacutepios Goianos

do AHEG no periacuteodo compreendido entre 1835 a 1886 podemos conjecturar que as

Cartas de ABC Cartas de Siacutelabas ou Silabaacuterios Cartas de Nomes e Cartas de

Conselhos Morais natildeo eram o mesmo tipo de impresso Eram impressos diferentes

que cumpriam a finalidade de ensinar a leitura mas com conteuacutedos diferentes e de

certa maneira complementares

A composiccedilatildeo claacutessica das Cartas de ABC conforme jaacute informado por Correcirca

e Silva (2008) era com o ldquoabecedaacuterio maiuacutesculo e minuacutesculo os silabaacuterios compostos

por segmentos de uma duas ou de trecircs letras e por fim as palavras soltas cujos

segmentos silaacutebicos apareciam separados por hiacutefenrdquo (CORREcircA SILVA 2008 p 2)

Entretanto podemos considerar que haacute Cartas que apresentavam apenas o alfabeto

outras somente as siacutelabas ou as palavras e as maacuteximas religiosas O que justificaria

nas solicitaccedilotildees dos professores especificar Cartas de ABC Cartas de Siacutelabas

Cartas de Nomes se natildeo para distinguir materiais de natureza diferente

A anaacutelise aos Mapas de Turmas auxilia a responder tal questatildeo A tiacutetulo de

exemplificaccedilatildeo transcrevemos parte de dois Mapas

171 Frade (2010) analisou duas obras identificadas na Biblioteca Nacional a primeira sob denominaccedilatildeo Cartas de ABC para principiantes (com 16 paacuteginas sem autor publicado na Bahia natildeo consta o ano de publicaccedilatildeo e a editora) a segunda ABC da infacircncia ndash introduccedilatildeo ao livro de infacircncia Primeira Colleccedilatildeo de Cartas para aprender a ler (com 32 paacuteginas sem autor publicado pela Livraria Francisco Alves a 56ordf ediccedilatildeo data de 1908 o que indicia que o livro circulou no seacuteculo XIX) Jaacute Vieira (2017) investigou o livro intitulado Meacutetodo ABC ensino praacutetico para aprender a ler (com 16 paacuteginas sem autor sem local de publicaccedilatildeo foi editado pela Caderbraacutes Induacutestria Brasileira ndash hoje com sede em Satildeo Paulo na versatildeo que consultamos tambeacutem natildeo consta o ano de publicaccedilatildeo) 172 Cf item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmasrdquo na seccedilatildeo ldquoFontesrdquo

141

Quadro 2 Mapa da turma da Escola do 2ordm grau da instruccedilatildeo primaacuteria em Vila de Meiaponte

(1837)173

Nomes dos Alumnos Estado de Instrucccedilatildeo Observaccediloens Manoel Moreira Lendo Escrita Agil e pouco aplicado

Luis Manoel Cartas de Nomes Pouco agil e pouco aplicado

Francisco dos Santos Cartas de Sillabas Pouco agil e pouco aplicado

Manoel Pera Guimes Cartas de A b c Pouco agil Aplicado Florencio Gonsalves Cartas de Sillabas Pouco agil e pouco

aplicado Jose da Cunha Soletrando Escrita Agil e pouco aplicado

Fulgencio Gomes Cartas de A b c Agil e pouco aplicado

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo da Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis Caixa 01

Quadro 3

Mapa mensal da turma da Freguesia de Santa Rita do Paranaiacuteba (1867)174

Nomes Grau de insrucccedilatildeo na ocasiatildeo da matricula

Moralidade

Joseacute Fleury Alves de Siqueira

Carta e cursivo Bocirca

Florentino Gomes Pereira Carta e bastardo Bocirca Belarmino Borges de

Guimes Carta de Nomes Bocirca

Moyzes Borges de Guimes Syllabas Bocirca Sabino Jeronimo de

Almeida Nomes e bastardo Maacute

Galdino Joseacute da Silveira Nomes Bocirca

Joaquim Glz dos Santos Carta Bocirca

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo da Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara Caixa 02

173 Na transcriccedilatildeo desse Mapa de Turma foram suprimidas algumas colunas devido ao espaccedilo e agrave finalidade O documento na iacutentegra estaacute organizado na seguinte sequecircncia de colunas nordm de matriacutecula (natildeo estaacute sequencial eacute provaacutevel que seja o nuacutemero da matriacutecula do aluno na escola e natildeo na turma) nordm efetivo (nuacutemero da chamada em ordem crescente) nome dos alunos (natildeo estaacute em ordem alfabeacutetica mas na ordem da data da matriacutecula) nome dos pais ou educadores moradia dos pais ou educadores dias uacuteteis de frequecircncia e de faltas estado de instruccedilatildeo observaccedilotildees (informou apenas se o aluno eacute aacutegil ou natildeo se eacute aplicado ou natildeo) e notas (informou se o aluno faltou por consequecircncia de seus pais e para alguns receacutem-matriculados tambeacutem haacute informaccedilatildeo da data de matriacutecula) 174 Na transcriccedilatildeo desse Mapa de Turma foram suprimidas algumas colunas devido ao espaccedilo e finalidade O documento na iacutentegra estaacute organizado na seguinte sequecircncia de colunas nuacutemero da chamada nome idade nome dos pais ou tutores naturalidade grau de instruccedilatildeo na ocasiatildeo da matriacutecula frequecircncia aproveitamento moralidade observaccedilatildeo

142

Pelos dados constantes nos Mapas o grau de instruccedilatildeo dos alunos era

mensurado por meio das Cartas Provavelmente nos testes usava-se o recurso das

Cartas e aquela que o aluno conseguisse ler com fluecircncia era indicada como sendo o

niacutevel de leitura em que ele se encontrava Enquanto no primeiro Mapa foi informado

apenas o estado de instruccedilatildeo em leitura no segundo o professor tambeacutem acrescentou

sobre a escrita Outra diferenccedila substancial entre os dois Mapas eacute a presenccedila do

campo ldquoMoralidaderdquo no segundo que estaacute em acordo com o Regulamento de Ensino

Goiano de 1856 que previa no artigo 43 que o professor conhecesse e tomasse nota

sobre a inteligecircncia aproveitamento e moralidade de cada aluno (GOIAacuteS 1856)

Da forma como estatildeo descritas podemos inferir que as Cartas de ABC

continham o alfabeto nas Cartas de siacutelabas apresentavam combinaccedilotildees silaacutebicas

diversificadas nas Cartas de Nomes palavras e frases Poreacutem frequentemente

como se vecirc nas pesquisas histoacutericas da alfabetizaccedilatildeo no Impeacuterio as Cartas de ABC

intitulam todos esses impressos reunidos Nesse ponto Galvatildeo (2009) explica que a

princiacutepio essas Cartas eram conhecidas como Cartas para aprender a ler e mais

tarde como Cartas de ABC

Nas listas de expediente escolar tambeacutem era comum o pedido de materiais

intitulados de ldquoSilabaacuteriosrdquo ou ldquoSilabaacuterios para principiantesrdquo ou ldquoCartas de ABC com

seus Silabaacuteriosrdquo ou ldquoCartas de ABC e siacutelabasrdquo A partir dos estudos de Mortatti (2000)

Frade (2010 2011) Gontijo (2011) e Vojniak (2014) eacute possiacutevel concluir que os

Silabaacuterios eram impressos diferentes das Cartas de ABC Os quadros de siacutelabas

tambeacutem comumente chamados de Silabaacuterios poderiam estar presentes nessas

Cartas entretanto eles denominam outro impresso Sendo assim o Silabaacuterio pode ter

mais de um significado variando como ldquo(i) um tipo de livro (ii) uma tabela ou um

conjunto de tabelas com seacuteries silaacutebicas variadas apresentadas no interior das

paacuteginas de um livro (iii) um meacutetodo para alfabetizarrdquo (FRADE 2010 p 276)

Eacute importante esclarecer que os pedidos por Silabaacuterios nos documentos

catalogadas satildeo muito esparsos jaacute que encontramos apenas 14 listas das 889

inventariadas que mencionam essa denominaccedilatildeo com caracteriacutesticas muito

similares Satildeo listas advindas de materiais fornecidos agraves escolas pela Tesouraria

Provincial de Goiaacutes no intervalo de 1873-1877 assinadas pelo mesmo responsaacutevel

Pedro Luiz Xavier Brandatildeo chefe dessa reparticcedilatildeo puacuteblica (GOIAacuteS 1873-1877

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)

143

Nos documentos identificados notamos que a partir da deacutecada de 1870 essas

Cartas receberam novas denominaccedilotildees que ateacute entatildeo natildeo haviam sido utilizadas

ldquoCartas para leiturardquo ldquoCartas para ecerciacutecio de leitura raacutepidardquo ldquoCartas alphabeticasrdquo e

ldquoCartas de soletraccedilatildeordquo Mesmo natildeo encontrando nos referenciais teoacutericos

esclarecimentos para esses nomes inferimos algumas interpretaccedilotildees a partir das

fontes consultadas

A primeira eacute que esses tiacutetulos natildeo necessariamente correspondem aos tiacutetulos

dos impressos que circularam no mercado editorial brasileiro Podem ter sido assim

nomeados ou descritos em virtude das concepccedilotildees de ensino de leitura que estavam

sendo difundidas na proviacutencia especialmente da perspectiva de uma alfabetizaccedilatildeo

raacutepida e apraziacutevel para atender sobretudo os filhos de pais oriundos da zona rural

que precisavam da matildeo de obra da crianccedila para o trabalho no dia a dia das fazendas

Outrossim podemos supor a partir dos dois primeiros tiacutetulos (ldquoCartas para leiturardquo e

ldquoCartas para ecerciacutecio de leitura raacutepidardquo) que essas Cartas eram essencialmente

aplicadas para o ensino inicial da leitura mas tambeacutem da leitura corrente para seu

treino e aplicaccedilatildeo de exerciacutecios

Uma questatildeo bem interessante eacute com relaccedilatildeo agrave denominaccedilatildeo ldquoCartas

alphabeticasrdquo que encontramos pela primeira vez em correspondecircncia em 1874

remetendo um pedido de materiais escolares feito pelo Professor do municiacutepio de

Cavalcante175 (GOIAacuteS 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 236) Sobre

esse documento de 1874 que intitula as Cartas de alfabeacuteticas salientamos que ele

enuncia uma designaccedilatildeo que se tornou comum no periacuteodo republicano em Goiaacutes O

nome ldquoCartas Alfabeacuteticasrdquo e tambeacutem ldquoCartas de soletraccedilatildeordquo pode indicar a utilizaccedilatildeo

do meacutetodo alfabeacutetico e de soletraccedilatildeo ou apenas intitular uma obra cujo formato eacute o

mesmo das tradicionais Cartas de ABC nomeando esse antigo e usual impresso por

seu meacutetodo

Tradicionalmente por sua organizaccedilatildeo e disposiccedilatildeo graacutefica as Cartas de ABC

eram aplicadas para o ensino da leitura pelo meacutetodo de soletraccedilatildeo No primeiro Mapa

(Quadro 2) haacute resquiacutecios da aplicaccedilatildeo desse meacutetodo quando o professor classifica

o estado de instruccedilatildeo do aluno como ldquoSoletrando escritardquo Essa descriccedilatildeo foi comum

nos Mapas das Turmas da proviacutencia durante o periacuteodo imperial o que permite

175 Atualmente esse municiacutepio recebe o mesmo nome localiza-se na regiatildeo Norte do estado de Goiaacutes

144

considerar que o meacutetodo de soletraccedilatildeo tambeacutem marcou fortemente as praacuteticas de

ensino nas escolas de primeiras letras goianas do seacuteculo XIX

Ao olhar como um todo as listas de expediente escolar notamos que

especialmente as compras de Cartas de ABC em Goiaacutes foram ampliadas durante a

gestatildeo do Presidente Francisco Januaacuterio da Gama Cerqueira entre 1857 e 1860 No

discurso dirigido agrave Assembleia Legislativa Provincial Cerqueira (1858) expressa sua

percepccedilatildeo de que os docentes ensinavam tal como aprenderam por isso notifica que

fez uma accedilatildeo de compra de diferentes materiais de expediente escolar para serem

distribuiacutedos nas escolas goianas a fim de que fossem difundidas novas formas de

ensino

Contrapondo o referido relatoacuterio de Cerqueira (1858) com o ofiacutecio a ele enviado

pelo Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes Felippe Antonio Cardoso de Santa

Crus em 20 de marccedilo de 1858 observamos que o presidente literalmente copiou e

suprimiu alguns trechos da correspondecircncia Um dos apagamentos feitos por

Cerqueira revela a situaccedilatildeo do ensino de leitura naquele momento

Eacute limitadissimo o ensino que se daacute nas estas escolas a excepccedilatildeo de 4 em 6 drsquoelas ensina-se apenas ndash a ler ndash escrever e faser as quatro principais operaccedilotildees de arithmetica e o que faria e tudo isso muito mal Toda a educaccedilatildeo religiosa consiste em faser eacute decorar materialmente um compendio minha S Doutrina Christatilde Ensinaotilde leitura com adaptaccedilaotilde das Cartas do Novo Alphabeto Portuguez dividido por syllabas com os primeiros elementares da doutrina christatilde drsquoo Methodo Facillimo para aprender a ler e drsquoo Cathecismo Historico de Fleury (CRUS 20 de marccedilo de 1858 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Aleacutem da dificuldade relatada nesse pequeno registro em ensinar leitura

escrita e aritmeacutetica na escola podemos inferir algumas praacuteticas dos professores A

primeira eacute a ecircnfase na memorizaccedilatildeo proacutepria dos saberes sobre o processo de ensino

e aprendizagem que circulavam naquele momento que consideravam memoacuteria e

treino como condiccedilotildees essenciais ao aprendizado

A presenccedila da educaccedilatildeo religiosa tambeacutem eacute algo que fica muito evidente no

relatoacuterio de Cerqueira (1858) e no ofiacutecio do Inspetor jaacute que as leis e regulamentos de

ensino determinavam ser o ensino da doutrina cristatilde obrigatoacuterio nas salas de aula

Tanto o Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana de 1835 quanto o de 1856

que antecederam esse relatoacuterio de Crus (20 de marccedilo de 1858) determinavam o

ensino do Catecismo nas aulas tornando-o leitura obrigatoacuteria para todos os alunos e

seu conteuacutedo exigecircncia nas provas de admissatildeo ao magisteacuterio Essas praacuteticas

145

dialogavam com as recomendaccedilotildees destacadas na legislaccedilatildeo educacional da Corte ndash

a jaacute citada Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) ndash que enfatizava a leitura escolar

baseada em textos religiosos

O processo de ensino da leitura na escola goiana como Crus (20 de marccedilo de

1858) destacou se baseava na adaptaccedilatildeo de trecircs livros O primeiro Novo Alphabeto

Portuguez dividido por syllabas com os primeiros elementares da doutrina christatilde176

eacute uma publicaccedilatildeo cujo tiacutetulo completo eacute Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas

com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave

missa lanccedilado possivelmente em 1785177

Na obra haacute menccedilatildeo apenas ao local de publicaccedilatildeo Lisboa e de impressatildeo a

Officina de Simatildeo Thaddeo Ferreira natildeo nominando o autor Na Biblioteca Nacional

de Portugal haacute livros impressos nessa Oficina publicados no mesmo periacuteodo do Novo

Alfabeto Portuguez Numa anaacutelise comparativa notamos que a disposiccedilatildeo graacutefica das

folhas de rosto segue o padratildeo de o tiacutetulo vir em letras de imprensa maiuacutesculas dando

destaque a algumas palavras escritas em tamanho maior Na sequecircncia era registrado

o nome do autor o que natildeo eacute mencionado no livro em questatildeo Como ele reuacutene textos

que jaacute circulavam em outros diferentes livros como os Catecismos e Manuais de

Doutrina Cristatilde eacute provaacutevel que tenha sido pensado e copilado na Oficina de Simatildeo

Thaddeo o que era comum acontecer em tipografias e no mercado livresco portuguecircs

(VITERBO 1924 PEIXOTO 1967 ANSELMO 1981)

176 Interessante notar a similaridade entre os tiacutetulos de algumas obras didaacuteticas portuguesas destinadas ao aprendizado da leitura e escrita no seacuteculo XIX Podemos citar a tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo Alphabeto portuguez ou novo methodo para aprender a ler com muita facilidade e em mui pouco tempo tanto a letra redonda como a manuscripta de J I Roquete (1841) Novo methodo para aprender a ler de Joseacute Ramos Paz (1852) Nova Arte drsquoEscrita de Manuel Joseacute Satirio Salazar (publicado provavelmente em 1807 cf Marques 2014) Methodo facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo e tempo possivel de Emilio Achilles Monteverde (1836) Aleacutem do tiacutetulo muitas delas apresentam certa semelhanccedila no conteuacutedo e na organizaccedilatildeo do meacutetodo proposto Sobre isso cf Boto 2012 177 A uacutenica ediccedilatildeo identificada desse livro foi encontrada digitalizada no site Google Livros Natildeo encontramos menccedilatildeo ao ano da sua primeira ediccedilatildeo Poreacutem por meio de anaacutelise comparativa agrave ediccedilatildeo analisada por Arriada e Tambara (2012) datada de 1830 acreditamos que o exemplar de 1785 seja a primeira ediccedilatildeo

146

Figura 2 Folha de rosto do livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os

primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785)

Fonte Site Google Livros

Segundo Arriada e Tambara (2012) esse livro teve ampla circulaccedilatildeo no Brasil

Seu conteuacutedo associava o ensino da leitura aos preceitos da doutrina cristatilde catoacutelica

Organizado em 168 paacuteginas consideramos que pode ser dividido em trecircs seccedilotildees

A primeira seccedilatildeo (da paacutegina 3 agrave 9) apresenta o alfabeto completo e as vogais

separadamente Na sequecircncia haacute vaacuterias combinaccedilotildees silaacutebicas iniciando pelos

encontros vocaacutelicos (ai ei oi au eu ou) e seguindo a ordem alfabeacutetica apresenta

as siacutelabas na combinaccedilatildeo vogal + consoante (ar er ir or ur etc) consoante + vogal

(ba be bi bo bu ca ce ci co cu etc) consoante + vogal + vogal (bai bei 178

178 Em vaacuterios livros do periacuteodo que apresentam as combinaccedilotildees silaacutebicas o uso das reticecircncias na exposiccedilatildeo de uma famiacutelia silaacutebica substitui uma siacutelaba que natildeo eacute usual na sequecircncia que se apresenta Nesse caso seguindo a loacutegica a siacutelaba seria ldquobiirdquo natildeo pertencente aos padrotildees silaacutebicos da liacutengua portuguesa

147

boi bui etc) consoante + vogal + consoante (bal bel bil bol bul etc) consoante +

consoante + vogal (bla ble bli blo blu etc) e por fim as siacutelabas finalizadas em atildeo

(batildeo catildeo datildeo fatildeo gatildeo etc)

Na segunda seccedilatildeo (paacuteginas 10 e 11) eacute exposta a escrita dos nuacutemeros sua

representaccedilatildeo em algarismos araacutebicos e a seguir em numeral romano (Hum 1 I

Dous 2 II etc)

A terceira seccedilatildeo (da paacutegina 11 agrave 168) voltada agrave educaccedilatildeo religiosa estaacute

dividida em sete subseccedilotildees Do final da paacutegina 11 ateacute a 38 satildeo apresentadas oraccedilotildees

os mandamentos da lei de Deus os mandamentos da Igreja explicaccedilotildees da oraccedilatildeo

dominical e de crenccedilas da Igreja como a ressurreiccedilatildeo de Cristo etc Da paacutegina 39 agrave

67 satildeo publicados textos que objetivam inculcar os comportamentos adequados de

um cristatildeo no dia a dia e na missa Na paacutegina 68 se inicia uma chamada recopilaccedilatildeo

da doutrina cristatilde em que satildeo transcritos ateacute a paacutegina 98 trechos no formato de

perguntas e respostas retomando ensinamentos sobre a criaccedilatildeo Deus Jesus e as

crenccedilas e rituais catoacutelicos recorrentes nos Manuais de Doutrina Cristatilde Da paacutegina 98

agrave 115 sob o tiacutetulo de ldquoMaximas Tiradas da Sagrada Escriturardquo haacute citaccedilotildees de

passagens da Biacuteblia voltadas para ensinamentos de boas condutas na famiacutelia e na

sociedade A cada citaccedilatildeo identifica-se de qual livro capiacutetulo e versiacuteculo da Biacuteblia o

trecho foi retirado O ritual de reza do rosaacuterio com os misteacuterios gozosos dolorosos

gloriosos179 eacute publicado a partir da paacutegina 116 ateacute a 141 Essa parte finaliza-se com a

transcriccedilatildeo da Ladainha de Nossa Senhora Entre as paacuteginas 142 e 156 haacute uma

subseccedilatildeo intitulada ldquoModo de ajudar agrave missa no uso da Igreja Romanardquo em que

encontramos trechos em latim com a fala do Sacerdote e as respostas dos cristatildeos

durante alguns momentos da missa Por fim iniciando na paacutegina 157 e findando na

168 satildeo copiados salmos e cacircnticos para acompanhar a comunhatildeo aos enfermos ao

findar a missa

Interessante notar que no livro Novo Alphabeto Portuguez natildeo eacute mencionado

o meacutetodo para ensino da leitura que entretanto fica subjacente ao modo como foram

179 Na tradiccedilatildeo catoacutelica o rosaacuterio eacute rezado de acordo com o dia da semana Segue-se a tradiccedilatildeo de meditaccedilatildeo de misteacuterios (tradicionalmente divididos em gozosos dolorosos gloriosos) que satildeo episoacutedios da vida de Jesus No livro Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa (1785) as oraccedilotildees e reflexotildees que compotildeem os misteacuterios gozosos satildeo rezadas nas segundas quintas-feiras domingos do advento ateacute a quaresma os misteacuterios dolorosos satildeo nas terccedilas sextas-feiras e domingos de quaresma jaacute os gloriosos nas quartas-feiras saacutebados e domingos de Paacutescoa ateacute o advento

148

apresentados as combinaccedilotildees silaacutebicas e os textos Ateacute a paacutegina 19 todas as

palavras satildeo divididas em siacutelabas e separadas por uma viacutergula

A ve Ma ri a che a de gra ccedila o Se nhor he com vos co ben ta so is [] (NOVO ALPHABETO 1785 p 13)

Da paacutegina 20 em diante os textos estatildeo sem a divisatildeo silaacutebica e sem as

viacutergulas Notamos por essas caracteriacutesticas que a obra segue uma concepccedilatildeo

sinteacutetica do ensino de leitura a partir da aprendizagem das unidades menores para as

maiores (letras siacutelabas palavras e por uacuteltimo os textos) Haacute uma influecircncia marcante

do meacutetodo de soletraccedilatildeo sobretudo pela separaccedilatildeo entre as palavras pela viacutergula ndash

lembrando que no meacutetodo de soletraccedilatildeo geralmente as siacutelabas e palavras vinham

separadas com hiacutefens Como o meacutetodo de ensino natildeo estava explicitado as teacutecnicas

para o uso do impresso ficavam a cargo do professor Todavia o que se supotildee pela

disposiccedilatildeo graacutefica e organizaccedilatildeo das sequecircncias silaacutebicas eacute o processo de silabaccedilatildeo

ou silaacutebico ou pelo menos um procedimento que fuja agrave loacutegica da soletraccedilatildeo

convencional

O segundo livro citado por Crus (20 de marccedilo de 1858) no ensino de leitura na

escola goiana eacute o Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute

Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no

mais curto espaccedilo de tempo180 de autoria do escritor portuguecircs Emilio Achilles

Monteverde

Nas proviacutencias brasileiras principalmente duas de suas obras destinadas ao

ensino da leitura foram difundidas o Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a

letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo e o Manual

encyclopedico para uso das escolas de instrucccedilatildeo primaria (BOTO 1997 CORREcircA

2006) Ficou conhecido no Brasil e em Portugal sobretudo pela primeira publicaccedilatildeo

No Brasil ela foi adotada oficialmente em vaacuterias proviacutencias e na instruccedilatildeo primaacuteria

portuguesa ldquofoi a cartilha que maior alcance teve em Portugal no periacuteodo

compreendido entre 1850 e 1880rdquo (BOTO 1997 p 554)

180 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo pelo link lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm2 66gt Acesso em 06 de maio de 2018 O livro tem dimensatildeo de 17 x 125 cm e 159 paacuteginas Publicado em Lisboa com Ediccedilatildeo da Livraria Central de Gomes de Carvalho

149

Figura 3 Folha de rosto da 16ordf ediccedilatildeo do livro Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a

letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo (18--)

Fonte Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin Satildeo Paulo

Nessa obra o autor descreve nas primeiras paacuteginas os meacutetodos de organizaccedilatildeo

de ensino (meacutetodos individual simultacircneo e muacutetuo) e os meacutetodos para o ensino da

leitura (meacutetodo antigo novo meacutetodo de soletraccedilatildeo e meacutetodo sem soletraccedilatildeo181) Sem

declarar filiaccedilatildeo a um meacutetodo especiacutefico afirma que o mais conveniente e proveitoso

181 Segundo Monteverde o meacutetodo antigo ldquoconsiste em conservar aacutes letras os seus nomes usuaes de aacute becirc cecirc decirc eacute eacutefe gecirc [] e nomeal-as todas sucessivamente antes de pronunciar a syllaba a qual por conseguinte nrsquoeste caso tem tantos elementos quantas satildeo as letras de que ella se compotildeerdquo no novo meacutetodo de soletraccedilatildeo ldquoas consoantes ou articulaccedilotildees pronunciatildeo-se como se fossem seguidas de e mudo B be C ce ou Ke D de F fe [] Assim a palavra fato ha de soletrar-se Fe a fa te o tordquo jaacute o novo meacutetodo sem soletraccedilatildeo consiste ldquo1ordm em dar como se viu aacutes consoantes um nome similhante ao valor que ellas tecircem na leitura be ce ou ke fe etc 2ordm em considerar as syllabas e natildeo as letras como verdadeiros elementos da palavra Partindo drsquoeste principio deve-se ler por exemplo a palavra a mi go sem decompor as syllabas esto eacute sem nomear cada uma das letras per si como succede pelo methodo antigordquo (MONTEVERDE 18-- p 6-7)

150

eacute ldquoum Professor haacutebil e zelozo dos seus deveres o melhor methodo eacute aquelle que

conduz mais longe com maior brevidade finalmente o melhor methodo eacute aquelle que

foacuterma os melhores discipulosrdquo (MONTEVERDE 18-- p 7)

Correcirca e Silva (2010) explicam que no decorrer de sucessivas ediccedilotildees da

cartilha Monteverde fez revisotildees no livro uma delas no tiacutetulo Em 1859 ano de sua

7ordf ediccedilatildeo o tiacutetulo era Methodo Facillimo para aprender a ler no mais curto espaccedilo de

tempo possiacutevel tanto a letra redonda quanto a letra manuscripta jaacute na 8ordf ediccedilatildeo

Monteverde passou a nomeaacute-lo de Methodo Facillimo para aprender a ler e escrever

no mais curto espaccedilo de tempo possiacutevel tanto a letra redonda quanto a letra

manuscripta A inclusatildeo do verbo escrever no tiacutetulo fazia parte de um projeto

pedagoacutegico e editorial do autor que abarcava a aprendizagem da escrita e da leitura

num mesmo manual de ensino jaacute que naquele momento da histoacuteria da educaccedilatildeo

portuguesa havia geralmente manuais distintos para ensinar a ler e escrever (BOTO

1997) O que tambeacutem se depreende eacute que para o autor se ensinava ao mesmo tempo

leitura e escrita (BOTO 1997 CORREcircA SILVA 2010)

Nesta tese foi consultada a 16ordf ediccedilatildeo em que o tiacutetulo estava diferente dos

citados anteriormente Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda

como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo Como se lecirc houve a supressatildeo

do verbo escrever e uma alteraccedilatildeo na posiccedilatildeo da expressatildeo ldquono mais curto espaccedilo

de tempordquo Eacute bem provaacutevel em consonacircncia com os pesquisadores que estudaram

esse livro que tal adequaccedilatildeo tenha acontecido em funccedilatildeo do mercado editorial que

impunha campanhas e disputas acirradas entre os materiais que conseguissem

ensinar a leitura e a escrita das letras de forma raacutepida Boto (1997) advoga que pairava

uma certa crenccedila de que havia uma alquimia ou segredo para ensinar a ler

rapidamente Muitos autores incluindo aiacute Monteverde aproveitavam-se desse

imaginaacuterio para vender seus trabalhos Dizia-se frequentemente ldquoque esta ou aquela

cartilha em particular ndash que a cada momento se anunciava ndash ensinava com mais

brevidade de maneira mais faacutecil sem cansar o aprendiz por procurar ser atraenterdquo

(BOTO 1997 p 553)

No que refere agrave organizaccedilatildeo do livro ele segue o padratildeo usual dos manuais de

ensino de leitura e escrita com a apresentaccedilatildeo do conteuacutedo e dos exerciacutecios de treino

A tendecircncia dos meacutetodos de marcha sinteacutetica eacute mantida pelo autor iniciando pelo

alfabeto em diferentes formatos (letra de imprensa maiuacutescula e minuacutescula letra

151

itaacutelica182 maiuacutescula e minuacutescula) dando ecircnfase agrave classificaccedilatildeo das letras em vogais

ou consoantes O primeiro exerciacutecio eacute intitulado de ldquoSons e articulaccedilotildees ou vogaes e

consoantesrdquo (paacutegina 12) opondo-se agraves atividades dos meacutetodos antigos ou novo de

soletraccedilatildeo classificados por Monteverde no iniacutecio da obra Na sequecircncia (paacutegina 13)

eacute apresentado um quadro com o alfabeto grafado em letra de imprensa e manuscrita

nos formatos maiuacutesculo e minuacutesculo As famiacutelias silaacutebicas vecircm posteriormente nas

paacuteginas 14 e 15 seguindo a ordem alfabeacutetica (ba ca ccedila da fa ga gua ha ja ka

la ma na pa qua ra sa ta va xa za) Essa liccedilatildeo eacute acompanhada de exerciacutecios

com uma coletacircnea de palavras contendo as siacutelabas aprendidas nas paacuteginas

anteriores O autor explica que o objetivo eacute que ldquoos principiantes possatildeo logo aacute

primeira liccedilatildeo conhecer o uso ou a aplicaccedilatildeo das mesmas syllabasrdquo (MONTEVERDE

18-- p 16) Nessa mesma paacutegina na primeira nota de rodapeacute ficam subjacentes as

teacutecnicas que seratildeo empregadas pelo professor para ensinar os alunos a lerem

Tendo algumas syllabas diversos sons como se vecirc por exemplo nas palavras Beca Beco Arabe etc em que be se pronuncia de tres differentes maneiras conviraacute recomendar aos principiantes que quando soletrarem decircem logo a cada um drsquoellas o som que lhe eacute proprio por isso que toda a syllaba de qualquer palavra pronunciada isoladamente deve ter o mesmo valor a mesma pronunciaccedilatildeo que tem na palavra pronunciada por inteiro (MONTEVERDE 18-- p 16)

O que vemos nesse trecho satildeo as caracteriacutesticas do que Monteverde intitulou

de meacutetodo sem soletraccedilatildeo ou seja no ensino da leitura natildeo se aplicaria a soletraccedilatildeo

convencional de letras e sim a decomposiccedilatildeo da palavra em siacutelabas evidenciando o

valor sonoro da siacutelaba no contexto da palavra em questatildeo Em vista disso o cerne do

processo seria o aprendizado das siacutelabas das siacutelabas para a palavra da palavra para

as siacutelabas Nesse sentido segue-se ateacute a paacutegina 37 primeiro apresentando as siacutelabas

canocircnicas e depois as natildeo canocircnicas Cada siacutelaba vem acompanhada de uma palavra

(separada em siacutelabas) que conteacutem na sua composiccedilatildeo a siacutelaba em estudo Ao

apresentar algumas palavras que o autor julga serem desconhecidas ele lanccedila matildeo

de notas de rodapeacute indicando o seu significado por meio de frases curtas

Na paacutegina 38 satildeo identificados os sinais de pontuaccedilatildeo e outros sinais de que

nos servirmos ao escrever Em sequecircncia da paacutegina 39 agrave 49 haacute um bloco de

exerciacutecios de leitura contendo regras de leitura e pequenos textos com uma conotaccedilatildeo

marcadamente moralista e religiosa

182 Monteverde (18-- p 11) nomeia a letra de imprensa com formataccedilatildeo inclinada de itaacutelica

152

O resumo da Doutrina Cristatilde estaacute publicado entre as paacuteginas 49 e 75 numa

extensatildeo bastante consideraacutevel se comparada com as demais seccedilotildees da obra Entre

os conteuacutedos dessa seccedilatildeo encontramos as oraccedilotildees da tradiccedilatildeo catoacutelica os artigos

da feacute os mandamentos da igreja os pecados capitais e as virtudes contraacuterias a esses

pecados as obras da misericoacuterdia os sacramentos da igreja as virtudes teologais

aleacutem de textos que tratam de orientaccedilotildees de moral e bons costumes com regras

quanto agraves paixotildees prazeres gula pudor ociosidade instruccedilatildeo egoiacutesmo docilidade

orgulho civilidade felicidade moral consciecircncia virtude e viacutecio

Na sequecircncia Monteverde (18--) expotildee as Regras de Escrita Entendida como

ldquoa arte de representar os sons da voz por meio de signaes chamados letrasrdquo

(MONTEVERDE 18-- p 76) a escrita eacute pensada como uma teacutecnica padronizada por

meio de recomendaccedilotildees que vatildeo desde a posiccedilatildeo do corpo ao traccedilado da letra No

ensino inicial da escrita natildeo se falava na composiccedilatildeo autoral do aprendente e sim no

domiacutenio da coacutepia e da arte de bem traccedilar as letras a caligrafia Segundo Monteverde

(18--) esse ensino principiava pelo desenho de riscos e ligaccedilotildees entre eles passando

para o traccedilado de letras mais simples e depois as mais difiacuteceis

Na obra foram enfatizados trecircs tipos de letras manuscritas ldquoo bastardo que eacute

letra mais cheia bastardinho ou letra media entre o bastardo e o cursivo sendo esta

ultima a mais pequena de todasrdquo (MONTEVERDE 18-- p 76)

153

Figura 4 Paacuteginas 86 87 e 88 do Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda

como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo (18--)

Fonte Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin Satildeo Paulo

Como notamos a diferenciaccedilatildeo entre os tipos de letras ensinadas dava-se

sobretudo pelo seus formatos e tamanhos o que dialoga com as recomendaccedilotildees do

ensino em Portugal no periacuteodo em que a obra de Monteverde foi pensada e escrita

(BOTO 1997) O ensino da escrita no Methodo Facillimo tem a sua extensatildeo entre a

paacutegina 72 e 91 com 33 liccedilotildees que tambeacutem veiculam textos de cunho religioso

Daiacute por diante entre as paacuteginas 92 e 158 conforme Correcirca e Silva (2010)

analisam agrupam-se liccedilotildees com textos diversificados quanto ao gecircnero extensatildeo e

temas que cumprem a finalidade de natildeo apenas aperfeiccediloar as praacuteticas de leitura e

escrita ldquomas tambeacutem transmitir um conjunto de conhecimentos (histoacutericos

matemaacuteticos geograacuteficos) e preceitos (morais religiosos) que naquele momento eram

percebidos como indispensaacuteveis para a formaccedilatildeo das crianccedilasrdquo (CORREcircA SILVA

2010 p 23)

Retomando o citado relatoacuterio do Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes

Felippe Antonio Cardoso de Santa Crus em 1858 aleacutem dos livros Methodo Facillimo

para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo (MONTEVERDE 18--) e do Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas

154

com os primeiros elementos da Doutrina Christa e o Methodo de ouvir e ajudar agrave

missa (1785) tambeacutem se ensinava leitura nas escolas goianas utilizando o

Cathecismo Historico de Fleury

Figura 5

Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do Pequeno Cathecismo Historico contendo em

compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde (1846)

Fonte Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados

Esse livro tem como tiacutetulo completo Pequeno Cathecismo Historico contendo

em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde sendo amplamente conhecido

e citado apenas como Catecismo Histoacuterico de Fleury183 Escrito em francecircs em 1619

pelo Abade Claude Fleury e traduzido para o portuguecircs brasileiro pelo Diretor das

Escolas Puacuteblicas do Municiacutepio da Corte Joaquim Joseacute da Silveira para uso nas

183 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018

155

mesmas escolas esse livro de acordo com Tambara (2005) e Galvatildeo (2009) foi

difundido em todo o paiacutes como texto de leitura nas salas de aula Em 1854 o Conselho

Diretor do Municiacutepio da Corte oficializou o Catecismo de Fleury como manual escolar

adotado nas escolas puacuteblicas da Corte (TAMBARA 2002)

ldquoAs primeiras ediccedilotildees traduzidas para o portuguecircs satildeo de 1820rdquo sendo que o

Catecismo de Fleury estava entre ldquoos livros escolares mais vendidos no final do seacuteculo

XIX em plena fase republicanardquo (BITTENCOURT 1993 p 201) A 2ordf ediccedilatildeo

publicada no Rio de Janeiro em 1846 foi identificada na Biblioteca Digital da Cacircmara

dos Deputados e segundo informaccedilotildees constantes na folha de rosto foi traduzida em

portuguecircs por ordem do governo imperial

O livro estaacute organizado em duas partes Na primeira com 29 liccedilotildees eacute tratada

a histoacuteria sagrada retomando algumas narrativas da Biacuteblia iniciando pelo Velho

Testamento com a criaccedilatildeo do universo e posteriormente tratando do Novo

Testamento passando pelo nascimento morte de Jesus e a fundaccedilatildeo da Igreja A

segunda parte tambeacutem com 29 liccedilotildees conteacutem a doutrina cristatilde

Na primeira parte as liccedilotildees incluem um pequeno resumo das narrativas biacuteblicas

e na sequecircncia em forma de perguntas e respostas curtas satildeo apresentadas

questotildees relativas aos valores e normas da igreja bem como condutas tiacutepicas do bom

homem civilizado e cristatildeo A segunda parte segue essa mesma organizaccedilatildeo tratando

os textos iniciais de aspectos da doutrina cristatilde tais como os mandamentos da igreja

os sacramentos as oraccedilotildees catoacutelicas etc

A apresentaccedilatildeo tiacutepica de perguntas e respostas remete ao meacutetodo de

catequizaccedilatildeo que ao ser transposto para o ensino de primeiras letras induz o aluno

a decorar com maior facilidade os ensinamentos da tradiccedilatildeo cristatilde e catoacutelica Nessa

perspectiva Orlando (2013) explica que o Catecismo Histoacuterico de Fleury segue o

padratildeo de forma e discurso dos Catecismos publicados no seacuteculo XVII principalmente

os difundidos poacutes-reforma protestante

Os Catecismos e os chamados Compecircndios de Doutrina Cristatilde na histoacuteria da

educaccedilatildeo brasileira foram utilizados segundo Tambara (2003 2005) como material

para o ensino da leitura em vaacuterias proviacutencias Em contrapartida Frade (2010)

argumenta que numa anaacutelise dos mapas de turma do seacuteculo XVIII em Minas Gerais

eacute possiacutevel notar que esses impressos natildeo foram empregados para ensinar a ler e

escrever e sim como um dos conteuacutedos das aulas possivelmente transmitidos pelo

professor de forma oral

156

No caso de Goiaacutes em relatoacuterio Crus (20 de marccedilo de 1858) afirma que o

Catecismo Histoacuterico de Fleury era adaptado para o ensino de leitura Essa adaptaccedilatildeo

pode conotar diferentes usos entretanto o que fica evidente eacute que o livro em questatildeo

era empregado para o ensino inicial da leitura vinculando o processo de

aprendizagem a uma introjeccedilatildeo doutrinaacuteria catoacutelica Isso ratifica os dispositivos legais

aprovados na proviacutencia entre 1835 e 1886 jaacute discutidos na seccedilatildeo 2 desta tese que

indicavam a educaccedilatildeo religiosa nas praacuteticas escolares

Ao verificarmos conforme abordado por Crus (20 de marccedilo de 1858) que se

ensinava leitura por adaptaccedilatildeo dos trecircs livros analisados anteriormente

compreendemos que um dos meacutetodos predominantes no periacuteodo foi o sinteacutetico de

silabaccedilatildeo com forte influecircncia ainda das teacutecnicas do meacutetodo de soletraccedilatildeo A

organizaccedilatildeo de ensino como jaacute anunciado na anaacutelise dos Relatoacuterios de Presidente

de Proviacutencia mantinha-se no meacutetodo individual Caracteriacutesticas desse meacutetodo satildeo

tambeacutem identificadas nas obras anteriormente analisadas que ao trazerem o tiacutepico

exerciacutecio de perguntas e respostas ldquoparecem sugerir a utilizaccedilatildeo nas escolas do

meacutetodo individual de ensino em uma sociedade ainda predominantemente oralrdquo

(GALVAtildeO 2009 p 114)

Ainda sobre o processo de ensino de leitura outro impresso referenciado no

periacuteodo solicitado a partir dos anos de 1870 foi o Expositor Portuguez cujo tiacutetulo

completo eacute O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna

(MIDOSI 1831) sendo destinado agrave instruccedilatildeo primaacuteria de Portugal e escrito por Luiz

Francisco Midosi (1796-1877) Como veremos com maiores detalhes na proacutexima

seccedilatildeo essa obra foi mencionada em Goiaacutes pela primeira vez na listagem do

Relatoacuterio do Professor goiano Feliciano Primo Jardim (1855) a respeito da sua

experiecircncia na Corte com os meacutetodos Castilho e simultacircneo De antematildeo faz-

necessaacuterio aludir ao fato de que a expressatildeo ldquoExpositor Portuguezrdquo tambeacutem compotildee

o tiacutetulo da obra de Joaquim Maria de Lacerda Novo expositor portuguez ou methodo

facil para aprender a ler184 Considerando que a adjetivaccedilatildeo ldquonovordquo empregada antes

184 Tivemos acesso agrave nona ediccedilatildeo dessa obra (melhorada e aumentada) No livro natildeo consta o ano da ediccedilatildeo Na capa havia o tiacutetulo da obra Novo Expositor Portuguez ou Methodo Facil para aprender a ler o Portuguez tanto a letra impressa como a manuscripta composto para uso das escolas brazileiras por J M Lacerda informando tambeacutem que a publicaccedilatildeo era advinda da Livraria Garnier A obra apresenta dimensatildeo de 175 x 11 cm com 180 paacuteginas Antes de apresentar as liccedilotildees Lacerda faz uma advertecircncia ao leitor ldquoo NOVO EXPOSITOR PORTUGUEZ eacute uma obra inteiramente nova e differente do Expositor Portuguez de Midosi Divide-se em tres partes principaes o Syllabario o Primeiro livro de leitura e Pequenos

157

da expressatildeo ldquoExpositor Portuguezrdquo diferenciaria esses dois livros e que isso de certa

forma poderia se refletir nos pedidos feitos e tambeacutem em consonacircncia aos estudos

da histoacuteria do livro e da leitura no Brasil oitocentista (VOJNIAK 2014 GONTIJO

GOMES 2013) consideramos que o livro que circulou em Goiaacutes foi a publicaccedilatildeo de

Midosi (1831)

O Expositor Portuguez se destinava agrave alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas com teacutecnicas

de soletraccedilatildeo ldquopois os exerciacutecios partem do elemento letra avanccedilam para a silabaccedilatildeo

sem sentido depois introduzem palavras com sentido e finalmente pequenos textosrdquo

(VOJNIAK 2014 p 230) Midosi (1831) apresenta as palavras separadas por siacutelabas

tendo inclusive uma parte de sua obra destinada aos ensinamentos de Moral e

Doutrina Cristatilde o que remonta a uma das caracteriacutesticas dos impressos que

circularam em Goiaacutes os quais continham um vieacutes altamente religioso

As menccedilotildees encontradas ao Expositor Portuguez no periacuteodo entre 1835 e 1886

ocorreram na deacutecada de 50 como explicitaremos na proacutexima seccedilatildeo e depois apenas

em 1875 em trecircs documentos todos localizados no mesmo livro (GOIAacuteS 1873-1877

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575) Uma dessas

fontes destaca-se uma vez que faz referecircncia ao fornecimento dessa obra

juntamente com outros materiais agrave Professora da classe de primeiras letras do sexo

feminino da cidade de Palmas185 D Theodora Serra O mesmo pedido seria remetido

a outros professores da proviacutencia o que nos leva a crer que este livro circulou pelas

classes da instruccedilatildeo primaacuteria goiana Insta esclarecer que o documento natildeo especifica

quais outros professores receberiam a obra deixando tambeacutem duacutevidas quanto ao

envio Durante o Impeacuterio nos relatoacuterios analisados por Vojniak (2014) o autor elucida

que a obra de Midosi (1831) tambeacutem conhecida como a Cartilha de Midosi foi uma

das mais citadas como sendo utilizada por vaacuterias escolas de primeiras letras do

Municiacutepio da Corte

Outros impressos citados nas listagens de expediente escolar e que satildeo

destinados ao ensino de leitura foram Bacadafaacute ou Methodo de Leitura Abreviada de

Antonio Pinheiro de Aguiar (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529) e o Methodo facil para aprender a ler

tratadosrdquo (LACERDA sd p III grifos do autor) Consideramos que a questatildeo apresentada por Lacerda demonstra que para se referir ao seu livro era comum o uso da adjetivaccedilatildeo ldquonovordquo o que tambeacutem demarca a diferenccedila entre sua obra e a de Midosi 185 Palmas era um municiacutepio naquele momento localizado ao Norte da proviacutencia de Goiaacutes Apoacutes a emancipaccedilatildeo do Estado do Tocantins em 1988 Palmas tornou-se a sua capital

158

em 15 liccedilotildees de Victor Renault (THESOURARIA DA FASENDA DA PROVINCIA DE

GOYAS 3 de setembro de 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 575)

Ambos os livros tinham como mote a alfabetizaccedilatildeo em um curto espaccedilo de

tempo O primeiro impresso intitulado com o nome de seu meacutetodo Bacadafaacute sobre

o qual trataremos com maiores detalhes na seccedilatildeo 5 deste trabalho foi uma produccedilatildeo

brasileira do seacuteculo XIX destinada tanto agrave alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas quanto de jovens

e adultos (PINHEIRO DE AGUIAR 1871) Escrito por um professor natural da

Proviacutencia de Minas Gerais e que atuou na Corte Imperial Antonio Pinheiro de Aguiar

o meacutetodo consistia em 20 liccedilotildees para o ensino da leitura e da escrita A partir dos

nomes de quatro iacutendios que formavam uma famiacutelia brasileira (Bacadafaacute Gajalamaacute

Naparasaacute Tavaxazaacute) e com auxiacutelio de historietas o aprendizado da leitura e da escrita

vai se consolidando em praacuteticas que variam entre os meacutetodos sinteacuteticos e analiacuteticos

de alfabetizaccedilatildeo (SCHUELER 2005) Embora o autor se opusesse ao tradicional

meacutetodo de soletraccedilatildeo o que por si jaacute denotaria uma inovaccedilatildeo em sua proposta

metodoloacutegica Schueler (2005) demonstra que a originalidade da proposta de Aguiar

consistia no ldquosuposto caraacuteter nacionalrdquo que o livro continha Utilizando siacutembolos e

representaccedilotildees nacionais conforme a autora alude o meacutetodo Bacadafaacute formava uma

ideia de nacionalidade no alunado de modo que haacute ldquoreferecircncia ao uso do meacutetodo para

o ensino de uma histoacuteria e de uma geografia nacionaisrdquo (SCHUELER 2005 p 183

grifos da autora)

O segundo impresso sob a denominaccedilatildeo de Methodo facil para aprender a ler

em 15 liccedilotildees foi escrito por Pierre Victor Renault e mencionado apenas uma vez em

1874 sendo fornecidas duas duacutezias dele para o expediente da escola do sexo

masculino da cidade de Porto Imperial186 No documento fica evidenciado que o

professor da escola fez o pedido desse livro juntamente com a solicitaccedilatildeo de Cartilhas

e Traslados sem especificaccedilatildeo dos tiacutetulos (THESOURARIA DA FASENDA DA

PROVINCIA DE GOYAS 3 de setembro de 1874 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 575)

Mauraux (2000) informa que Renault nasceu na Franccedila chegando ao Brasil em

1832 Com formaccedilatildeo em Engenharia Civil publicou livros especialmente ligados agrave

186 Porto Imperial era um municiacutepio naquele momento localizado ao Norte da proviacutencia de Goiaacutes Apoacutes a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica recebeu o nome de Porto Nacional hoje localizado no estado do Tocantins

159

aacuterea da Aritmeacutetica Atuou na mineraccedilatildeo e como professor abrindo um Coleacutegio em

Barbacena Minas Gerais e ldquojulgando insuficientes certos manuais disponiacuteveis no

mercadordquo iniciou a trajetoacuteria de escritor de manuais escolares para ensinar seus

alunos (MAURAUX 2000 p 42) Costa (2010) em sua pesquisa no Cataacutelogo Geral

da Biblioteca Nacional de Franccedila explicita que encontrou cinco publicaccedilotildees de autoria

de Renault sendo uma delas o Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees

atribuindo-lhe a primeira ediccedilatildeo em 1867

No Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

conseguimos ter acesso a uma coacutepia incompleta da 4ordf ediccedilatildeo desse livro datada de

1875187

Figura 6 Folha de rosto da 4ordf ediccedilatildeo do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees (1875)

Fonte Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

187 A versatildeo digitalizada de fragmentos dessa obra estaacute disponiacutevel no Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrhandle 123456789100353gt Acesso em 18 de maio de 2019

160

Na capa logo abaixo do tiacutetulo informa-se que a obra conteacutem as rezas cristatildes

a histoacuteria natural dos animais do Brasil faacutebulas moralidades maacuteximas e

pensamentos de autores os algarismos aacuterabes e romanos uma taacutebua de Pitaacutegoras

aleacutem das unidades de peso comprimento capacidade e tempo Portanto o livro de

Renault (1875) aleacutem do objetivo de ensinar a ler copilava outros conhecimentos de

disciplinas escolares presentes no curriacuteculo das escolas brasileiras do seacuteculo XIX

(BITTENCOURT 2008) Dentre esses conhecimentos um destaque que gostariacuteamos

de fazer eacute para as rezas cristatildes para os ensinamentos de moralidade e os conteuacutedos

de matemaacutetica saberes que constituiacuteam as mateacuterias ensinadas nas classes goianas

de ensino primaacuterio nos anos de 1870-80 conforme exaravam os Regulamentos da

Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes em vigecircncia no periacuteodo (GOIAacuteS

1869 1884 1886a) Logo o envio do livro Methodo facil para aprender a ler em 15

liccedilotildees para a escola de Porto Imperial obviamente se justificou devido agrave amplitude da

obra que estava em sintonia com a legislaccedilatildeo do periacuteodo e com os ideaacuterios que

circulavam sobre os meacutetodos utilizados para a crianccedila aprender a ler

O livro de Renault (1875) tem uma introduccedilatildeo na qual o autor aponta algumas

concepccedilotildees do meacutetodo

Para a utilidade da mocidade brasileira e para facilitar o conhecimento da leitura apresenta-se aos pais de familia o seguinte systema adoptado em Franccedila ha jaacute muitos annos e cujos resultados tecircm sido imensos por ter dispensado as inuteis e enfadonhas cartas do b a ba fazendo passar os meninos a soletrar immediatamente que conhecerem as lettras em 15 liccedilotildees poacutede um menino saber ler (RENAULT 1875 p v)

Por esse excerto e pelo desenrolar do discurso construiacutedo pelo autor notamos

que o meacutetodo utilizado eacute o de soletraccedilatildeo com o diferencial da supressatildeo das Cartas

de ABC o que indica que Renault utiliza um meacutetodo tradicional creditando-lhe um

tom de modernidade O escritor ainda demonstra a utilizaccedilatildeo de figuras que ilustram

a letra estudada conferindo a essa questatildeo um aspecto autoral

161

Figura 7 Paacutegina vii do Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees (1875)

Fonte Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina

As imagens ndash animais ou plantas ou objetos ndash como o autor salienta satildeo

tiacutepicas do Brasil utilizadas para ldquoexcitar a imaginaccedilatildeo viva das crianccedilasrdquo (RENAULT

1875 p v) A utilizaccedilatildeo de imagens acompanhando as letras do alfabeto jaacute era algo

bem comum nos impressos que circulavam no Brasil no seacuteculo XIX conforme Vojniak

(2014) esclarece Poreacutem em Victor Renault observamos que a diferenccedila estaacute na

associaccedilatildeo entre a letra e uma imagem tiacutepica do contexto brasileiro diferenciando seu

impresso de outros que circulavam no paiacutes

Como a obra a que tivemos acesso estava incompleta natildeo conseguimos fazer

um detalhamento das suas 15 liccedilotildees todavia sobre algumas natildeo acessiacuteveis haacute

informaccedilatildeo do autor na introduccedilatildeo de que ldquoentre os assumptos que os meninos

devem logo soletrar [] escolheu-se as rezas que satildeo indispensaveis ao chistatildeo

conhecer proporcionando assim dous imensos resultados nrsquoum soacute estudordquo

(RENAULT 1875 p v)

162

A circulaccedilatildeo das obras de Antonio Pinheiro de Aguiar e de Victor Renault pode

ser considerada uma das propostas da proviacutencia goiana em responder aos anseios

das famiacutelias e da demanda da sociedade Primitivo Moacyr (1940) explicita por meio

da coletacircnea de documentos da proviacutencia de Goiaacutes no periacuteodo imperial que entre os

motivos de os pais natildeo cumprirem com a obrigatoriedade escolar estava o fato de os

professores usarem meacutetodos enfadonhos que natildeo garantiam o aprendizado eficaz agrave

mocidade goiana Aleacutem disso os relatoacuterios de Presidente de Proviacutencia da Goiaacutes

referentes o periacuteodo histoacuterico desta tese enfatizaram essa questatildeo demonstrando

que ao longo do seacuteculo XIX houve vaacuterias tentativas do governo em difundir novas

propostas que atendessem aos anseios da populaccedilatildeo aliando um aprendizado

eficiente e um curto espaccedilo de tempo

Essa fusatildeo entre qualidade e tempo de aplicaccedilatildeo de um meacutetodo para o ensino

de leitura e escrita permitia que a crianccedila concluiacutesse os estudos elementares mais

rapidamente de forma a estar disponiacutevel para ajudar os pais nas lidas da casa e do

trabalho Canezin e Loureiro (1994) ratificam que as famiacutelias nesse periacuteodo natildeo

valorizavam a escola devido ao longo tempo demandado para a aprendizagem o que

se podia atribuir especialmente agrave falta de professores qualificados para aplicaccedilatildeo de

meacutetodos de ensino eficazes

Haacute que se destacar que durante o Impeacuterio as legislaccedilotildees educacionais em

Goiaacutes enfatizaram a necessidade de a escola responder agraves aspiraccedilotildees de uma

educaccedilatildeo praacutetica que aliasse o ensino das noccedilotildees rudimentares da leitura da escrita

e da educaccedilatildeo religiosa com a instruccedilatildeo de teacutecnicas que auxiliassem os alunos no

seu cotidiano civilizando-os pelas normas cristatildes e educando-os para o trabalho Agraves

meninas ensinavam-se trabalhos de agulhas e outras prendas domeacutesticas para os

meninos houve iniciativas de abertura nos anos de 1860 de oficinas para ensino de

uma profissatildeo como por exemplo ferreiro sapateiro carapina marceneiro alfaiate

seleiro etc (PRIMITIVO MOACYR 1940) Essas oficinas geralmente foram pensadas

para atender os oacuterfatildeos indigentes abandonados ou as crianccedilas cujas famiacutelias pela

extrema pobreza natildeo conseguiam alimentaacute-las e educaacute-las188 Ademais se cultivava

188 ldquoEm Goiaacutes Fonseca (1986) registra que durante o Impeacuterio a uacutenica tentativa para se instalar uma instituiccedilatildeo de ensino profissional refere-se a uma autorizaccedilatildeo para que o Presidente da Proviacutencia criasse na capital um estabelecimento desta natureza Caso viesse a funcionar a instituiccedilatildeo receberia o nome de Instituto Imperial de Educandos Artiacutefices Essa tentativa poreacutem natildeo chegou a se concretizar devido agrave falta de condiccedilotildees da proviacutencia para mantecirc-la Ademais a inexistecircncia de uma induacutestria manufatureira na regiatildeo dispensava este

163

a tradiccedilatildeo de o menino ter a mesma profissatildeo do pai e por isso o aprendizado para o

trabalho ocorria em casa Valdez (2003) em sua pesquisa sobre a histoacuteria da infacircncia

entre os seacuteculos XVIII e XIX explica que Goiaacutes natildeo se diferenciava das outras

proviacutencias brasileiras e as crianccedilas goianas eram ldquovistas como pequenos adultos

Delas era exigido comportamento de gente grande eram vestidas como adultos

casavam-se cedo trabalhavam precocemente etcrdquo (VALDEZ 2003 p 12)

Retomando a linha de exposiccedilatildeo deste capiacutetulo sobre os livros de primeiras

letras utilizados em Goiaacutes nas documentaccedilotildees inventariadas encontramos entre

1835 e 1886 apenas a menccedilatildeo a um livro designado de ldquolivro de leitura manuscritardquo

nomeado nas listagens de expediente escolar como Curso graduado de letra

manuscripta cujo tiacutetulo completo eacute Curso graduado de letra manuscripta em 21 liccedilotildees

composto para o uso da mocidade brasileira189 Segundo Batista (2002) ele foi

publicado em 1872 e na sua capa natildeo consta autoria apenas a indicaccedilatildeo da

publicaccedilatildeo que ocorreu pelo ldquoB Garnier livreiro-editorrdquo Na proviacutencia de Goiaacutes essa

obra foi indicada apenas duas vezes (SERRA 1873 DVD Coleccedilatildeo de Documentos

de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1 BRANDAtildeO 6 de abril de 1875 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575) Apesar disso ela

circulou com maior vigorosidade nas escolas primaacuterias goianas durante a Repuacuteblica

conforme constatamos na consulta agraves documentaccedilotildees do Arquivo Histoacuterico Estadual

de Goiaacutes

Os livros de leitura manuscrita ou paleoacutegrafos de acordo com Bertoletti (2017)

ldquodestinavam-se ao ensino da leitura e natildeo da escrita e cumpriram uma espeacutecie de

transiccedilatildeo entre os escassos materiais para ensino da leitura elaborados pelos

proacuteprios professores e os livros de leitura mais sofisticados []rdquo (BERTOLETTI 2017

p 79) Sobre a organizaccedilatildeo do livro Curso graduado de letra manuscripta sabemos a

partir dos estudos de Batista (2002) que ele estaacute dividido em duas partes a primeira

com tabelas do alfabeto em diferentes formatos de letras a segunda com textos do

proacuteprio autor abordando ldquouma seleccedilatildeo de temas cuja ecircnfase recai sobre a histoacuteria

poliacutetica e literaacuteria brasileira seus personagens e acontecimentosrdquo (BATISTA 2002

sp)

tipo de empreendimentordquo (SAacute et al 2015 p 9663) Para maiores informaccedilotildees cf Fonseca 1986 189 Natildeo conseguimos ter acesso a essa obra durante o periacuteodo de escrita desta tese As informaccedilotildees aqui apresentadas sobre esse livro foram extraiacutedas dos estudos de Batista (2002) e Batista e Galvatildeo (2009)

164

Batista (2009) ao analisar essa obra aponta que ela parece ser a primeira ldquoque

se baseia numa retoacuterica pedagoacutegica que simula uma exposiccedilatildeo oral a grupo de

crianccedilas e natildeo nos procedimentos retoacutericos tradicionaisrdquo (BATISTA 2009 p 162)

Essa nova retoacuterica segundo o autor se concretiza por uma interlocuccedilatildeo direta entre

o escritor e as crianccedilas que utiliza expressotildees que chamam a atenccedilatildeo do leitor

entusiasmando-o pela leitura e aprendizagem

Nas listas de expediente escolar ainda encontramos menccedilatildeo a materiais de

leitura destinados aos professores cuja funccedilatildeo foi disseminar aspectos do ensino de

leitura e dos meacutetodos de ensino subsidiando as praacuteticas nas escolas goianas Esses

impressos foram comprados a partir dos anos de 1870 momento em que houve na

proviacutencia uma difusatildeo de novas propostas metodoloacutegicas para alfabetizar crianccedilas

Mortatti (2000) evidencia que as ldquotematizaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeordquo190 estatildeo

presentes em livros teoacutericos prefaacutecios e nas instruccedilotildees de cartilhas eou livros de

leitura etc de modo que nesses impressos os professores tiveram acesso a

conteuacutedos que teorizavam e orientavam os modos de ensinar e de aprender leitura

Goiaacutes natildeo foi um produtor das tematizaccedilotildees mas consumidor desses impressos

advindos de proviacutencias vizinhas ou de experiecircncias bem-sucedidas no Brasil Arauacutejo

e Silva (1975) complementa que durante o Impeacuterio Goiaacutes buscou notadamente em

Satildeo Paulo Minas Gerais e Rio de Janeiro algumas orientaccedilotildees legislaccedilotildees e praacuteticas

educacionais que pudessem contribuir para a melhoria da educaccedilatildeo goiana

Na seccedilatildeo anterior destacamos alguns feitos de presidentes que destinaram

recursos para a compra desses impressos dirigidos agrave formaccedilatildeo dos professores e

que tratavam sobre os meacutetodos de ensino Como vimos circulou no seacuteculo XIX a ideia

de que o atraso educacional em Goiaacutes se devia agrave falta de uma Escola Normal e

tambeacutem de livros e tratados que orientassem os professores a como manejar os novos

meacutetodos ou tendecircncias pedagoacutegicas

190 Termo utilizado em referecircncia ao trabalho de Mortatti (2000) Essa autora propotildee uma histoacuteria dos meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo em Satildeo Paulo a partir de uma anaacutelise dos documentos enfatizando seu conteuacutedo finalidade e forma de veiculaccedilatildeo no que denomina de tematizaccedilotildees normatizaccedilotildees e concretizaccedilotildees ldquoa) tematizaccedilotildees ndash contidas especialmente em artigos conferecircncias relatos de experiecircncia memoacuterias livros teoacutericos e de divulgaccedilatildeo teses acadecircmicas prefaacutecios e instruccedilotildees de cartilhas e livros de leitura b) normatizaccedilotildees ndash contidas em legislaccedilatildeo de ensino (leis decretos regulamentos portarias programas e similares) e c) concretizaccedilotildees ndash contidas em cartilhas e livros de leitura ldquoguias do professorrdquo memoacuterias relatos de experiecircncias e material produzido por professores e alunos no decorrer das atividades didaacutetico-pedagoacutegicasrdquo (MORTATTI 2000 p 29)

165

Nas listas de expediente escolar foram mencionados dois livros cuja finalidade

era orientar o professor sobre os meacutetodos de ensino assim intitulados ldquoMethodos de

Leiturardquo e ldquoManual do Professor Primariordquo

Um dos documentos que encontramos faz menccedilatildeo a uma obra com o tiacutetulo

ldquoMethodos de Leiturardquo e manda distribuir 499 coacutepias dele nas escolas de instruccedilatildeo

primaacuteria da proviacutencia (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529) Entretanto por ter um tiacutetulo tatildeo

abrangente e comum aleacutem de principalmente no documento natildeo constar nome do

autor natildeo conseguimos identificaacute-lo e assim natildeo o localizamos

O segundo impresso no ofiacutecio expedido pela Tesouraria Provincial de Goiaacutes

consta que foi enviado apenas um volume da obra para uma escola de Vila das Flores

(BRANDAtildeO 26 de marccedilo de 1877 p 98 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 575) Acerca do referido Manual do Professor Primaacuterio

Bastos (1999) faz citaccedilatildeo em seu texto

VILLELA quando analisa a ldquoPraacutetica cotidiana na Escola Normal o projeto e sua realizaccedilatildeordquo assinala que o Presidente da Proviacutencia ndash Paulino Soares de Souza ldquomanda distribuir para os alunos da Escola Normal e para todos os professores da Proviacutencia o Manual do Professor Primaacuterio escrito por um francecircs Pretendia assim difundir o meacutetodo lancasteriano e tambeacutem os ensinamentos morais que continha esta obrardquo A autora natildeo cita o autor e nem aprofunda a temaacutetica relativa aos conteuacutedos da formaccedilatildeo de professores na primeira Escola Normal do Brasil [] (BASTOS 1999 p 242 grifos nossos)

O texto a que Bastos (1999) faz referecircncia eacute parte do Capiacutetulo 3 da Dissertaccedilatildeo

de Mestrado de Villela (1990) Percorrendo a possiacutevel rota realizada por esta autora

ao assinalar a menccedilatildeo sobre a distribuiccedilatildeo do Manual do Professor Primaacuterio feita pelo

Presidente da Proviacutencia do Rio de Janeiro Paulino Soares de Souza natildeo

identificamos nos Relatoacuterios expedidos por esse Presidente publicados entre 1836 a

1840191 nenhuma alusatildeo ao tiacutetulo desse livro Com esse mesmo tiacutetulo Theobaldo

Miranda Santos publicou uma obra de sua autoria em 1948 (ALMEIDA FILHO 2008)

Consultando duas ediccedilotildees desse livro (SANTOS 1954 1958) natildeo haacute nota ou

referecircncia a algum impresso sob a mesma denominaccedilatildeo Portanto tal como Bastos

(1999) apontou ainda permanece para noacutes desconhecido o autor e a temaacutetica

191 Disponiacutevel em lthttpddsnextcrledutitles184c=4ampm=0amps=0ampcv=0ampr=0ampxywh=532 2C1112C31432C2217gt Acesso em 19 de maio de 2019

166

completa do Manual do Professor Primaacuterio que circulou no periacuteodo imperial O que

fica assinalado pela citaccedilatildeo acima eacute que esse Manual foi baseado no meacutetodo

Lancaster e continha ensinamentos morais Tal como explicitamos na seccedilatildeo anterior

tal meacutetodo natildeo foi propagado em Goiaacutes devido aos altos custos dos materiais que sua

praacutetica impunha

No que concerne aos impressos destinados especificamente ao ensino da

escrita nas listas encontradas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes era comum os

professores solicitarem os Traslados ou Exemplares para a escrita Tomando como

referecircncia essas listagens e os dados das pesquisas de Batista e Galvatildeo (2009) e

Frade (2010) podemos dizer que os Traslados satildeo impressos publicados em folhas

soltas ou folhetos grampeados com modelos para a escrita cujo objetivo era ensinar

o traccedilado das letras para as crianccedilas Trindade (2001) a partir das obras portuguesas

Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primarias pelo Metodo Portuguez

de Antoacutenio Feliciano de Castilho192 (1854) e Metodologia Especial a liacutengua e a

literatura portuguesa na educaccedilatildeo primaacuteria de Bernardino da Fonseca Lage193 (1924)

explicita que os Traslados ldquoeram modelos que continham as liccedilotildees de escrita a serem

copiados pelosas alunosas em papel transparente A coacutepia se dava calcando e

cobrindo com o laacutepis o modelo que aparecia no papel transparenterdquo (TRINDADE

2001 p 314)

Frade (2010) discutindo sobre esses materiais alerta que haacute duacutevidas se eles

eram ou natildeo trabalhados no ensino inicial da escrita ldquouma vez que o ensino

simultacircneo dos princiacutepios da leitura e da escrita comeccedila a aparecer como discurso

pedagoacutegico e em manuais e livros produzidos no final do seacuteculo XIX principalmente

nos de Felisberto de Carvalhordquo (FRADE 2010 p 271) Importante ainda ressaltar

sobre a terminologia ldquotrasladordquo que ela pode designar tanto um impresso com as

caracteriacutesticas apresentadas anteriormente quanto uma praacutetica de ensino de escrita

192 Autor do meacutetodo portuguecircs de leitura repentina tambeacutem nominado de meacutetodo Castilho Antoacutenio Feliciano de Castilho foi educador e poeta portuguecircs Sobre ele trataremos com maiores detalhes na seccedilatildeo 4 desta tese Acerca do livro Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primarias pelo Metodo Portuguez citado por Trindade (2001) encontramos uma versatildeo digitalizada no repositoacuterio Google Livros (CASTILHO 1854) O referido livro tem 60 paacuteginas e foi publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra em 1854 Trata-se de uma espeacutecie de Manual para aplicaccedilatildeo do meacutetodo portuguecircs criado por Castilho 193 ldquoBernardino Lage diplomou-se na Escola Normal de Lisboa na viragem do seacuteculo XIX para o seacuteculo XX Em 1911 era professor na Escola Normal de Coimbra Exerceu igualmente atividade docente em Angolardquo (SILVA 2013 p 244-245)

167

que se distinguia como um exerciacutecio de coacutepia em que o aluno cobria as letras

desenhadas pelo professor (FRADE GALVAtildeO 2016) Em Goiaacutes nos seacuteculos XIX e

XX Arauacutejo e Silva (1975) elucida que os Traslados foram usados para os alunos que

jaacute liam com fluecircncia com objetivo de que lessem todos os tipos de letras ao mesmo

tempo que aprendiam a reproduzir os variados modelos de escrita

Na maioria das solicitaccedilotildees feitas pelos professores goianos natildeo havia menccedilatildeo

ao tiacutetulo dos Traslados os pedidos faziam alusatildeo geneacuterica a ldquoColleccedilatildeo de trasladosrdquo

ldquoExemplares para a escritardquo ldquoColleccedilatildeo de exemplares para escritasrdquo ldquoTraslados

sortidosrdquo e ldquoTraslados Manuscriptosrdquo Os dois Traslados com nomeaccedilatildeo proacutepria foram

solicitados a partir dos anos de 1870 intitulados de Coleccedilatildeo de tralados de Cirillo e a

Collecccedilatildeo de traslado de Carstaires (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES

DE GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Os Traslados de Cirilo Dilermando da Silveira194 conforme pesquisa de

Tambara (2002) foram adotados em 1854 nas escolas puacuteblicas da Corte por meio

da autorizaccedilatildeo do Inspetor Geral auxiliado pelo Conselho Diretor do Municiacutepio da

Corte Vidal e Gvirtz (1998) expotildee que para o ensino da escrita na escola elementar

brasileira na segunda metade do seacuteculo XIX usavam-se os Manuais de Caligrafia

eou as Coleccedilotildees de Traslados com detaque para a obra de Cirilo

Sobre a Collecccedilatildeo de traslado de Carstaires natildeo identificamos ateacute esse

momento nenhuma referecircncia

Ainda sobre o ensino inicial de escrita nas escolas goianas notamos que

embora as Cartas de ABC fossem pensadas para se ensinar leitura haacute indiacutecios de

praacuteticas que delas se apropriavam para o ensino da escrita Numa das listagens

localizadas o professor interino Ravolindo [ilegiacutevel] Rosa do povoado de Satildeo Joseacute

do Araguaya notifica o recebimento de vaacuterios objetos relatando a ausecircncia das

Cartas

194 Cirilo eacute autor brasileiro natural de Icoacute Cearaacute Atuou tanto como funcionaacuterio puacuteblico na Proviacutencia do Espiacuterito Santo quanto no Municiacutepio da Corte como professor Conhecido pela publicaccedilatildeo da Colleccedilatildeo de traslados oferecidos para uso da mocidade brasileira (sd) tambeacutem foi autor de Compendio de Grammatica da liacutengua portuguesa (1855) e Exerciacutecios de analyse lexicograacutefica ou gramatical e de anaacutelise sintaacutexica ou loacutegica (1870) Cf Portal da Histoacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em lthttpportalcearaprobrindexphpoption=com_conten tampview=articleampid=1864ampcatid=293ampItemid=101gt Acesso em 18 de marccedilo de 2019

168

Naotilde tendo recebido todos os utensilios constantes na listagem na falta das 12 Cartas peccedilo a resma de papel almasso e uma Carta para os alunnos copiarem e soletrarem o abc e o livrinho do Cathecismo (ROSA 06 de marccedilo de 1869 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188)

O exerciacutecio da coacutepia no trecho eacute anunciado juntamente com o de soletraccedilatildeo

das Cartas de ABC e do Catecismo Embora se registre a praacutetica de um professor em

especiacutefico na mensagem haacute sinais de que nas escolas goianas se aproveitavam os

impressos existentes tanto para o ensino inicial da leitura e da escrita quanto para o

treino da leitura corrente de natureza memorizada No fragmento da correspondecircncia

do professor Ravolindo o Catecismo eacute mencionado como sendo utilizado nos

exerciacutecios de soletraccedilatildeo algo incomum nas apropriaccedilotildees desse livro na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo no Brasil (FRADE 2010) Nesse ponto se retomarmos o relatoacuterio de

Crus (20 de marccedilo de 1858) citado neste item que diz que o Catecismo Histoacuterico de

Fleury era adaptado para o ensino da leitura temos aqui um exemplo de como essa

adaptaccedilatildeo acontecia nas escolas de primeiras letras goianas Logo podemos afirmar

que os Catecismos em Goiaacutes do seacuteculo XIX foram instrumentos para que os alunos

conhecessem aleacutem da doutrina catoacutelica tambeacutem a palavra impressa de modo que

esse livro foi fortemente incorporado na alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas

Por fim cabe destacar que as atividades de escrita das crianccedilas foram

utilizadas para atestar o niacutevel de adiantamento das escolas certificando sobre o

desenvolvimento do trabalho dos professores e a quantidade de alunos matriculados

e frequentes nas aulas Por Ordem Presidencial de 18 de julho de 1866 ficou

determinado em Goiaacutes

1ordf secccedilatildeo ndash Palacio do governo de Goyaz 18 de julho de 1866 ndash Sendo de summa necessidade que esta presidencia seja sem cessar informada do modo porque os professores das cadeiras do ensino primario cumprem seus deveres se as escolas de um e outro sexo satildeo frequentadas e se os alumno tem ou natildeo adiantamento cumpre eu Vme determine aos inspetores parochiaes que os professores e professoras faratildeo constar que no principio de cada vez deveratildeo apresentar uma relaccedilatildeo dos alumnos ou alumnas matriculadas mencionando o numero de faltas que commeteratildeo no mez anterior e igualmente uma colecccedilatildeo das escriptas dos mesmo feitas nelas as devidas correcccedilotildees (FRANCcedilA 1867 Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes p 62-63)

Esta Ordem estaacute presente no Relatoacuterio do Presidente Augusto Ferreira Franccedila

de 1867 e tambeacutem foi enviada por ofiacutecio a todos os Inspetores Paroquiais da proviacutencia

169

(FRANCcedilA 7 de junho de 1866 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 436) Os resultados do ensino de escrita se estabeleceram como uma

forma de controle sobre as praacuteticas dos professores e nesse aspecto revela-se uma

visatildeo da escrita como decorrecircncia apenas do processo de alfabetizaccedilatildeo

considerando-a como atestado de boas praacuteticas Pela escrita dos alunos a intenccedilatildeo

era perceber se o meacutetodo de ensino funcionava e se os professores estavam

habilitados para o magisteacuterio jaacute que as coleccedilotildees de escrita a serem enviadas ao

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica deveriam ser remetidas com as devidas

correccedilotildees Franccedila (7 de junho de 1866 1867) explicou que uma das penalidades

aplicada aos Mestres que natildeo enviassem o que foi solicitado era a demissatildeo por justa

causa

A Ordem de Franccedila (1867) ainda dispunha que todos os documentos

constantes no excerto deveriam ser enviados pelos professores por intermeacutedio dos

Inspetores Paroquiais constando em ofiacutecio dirigido ao Inspetor Geral as seguintes

informaccedilotildees o estado das escolas e os progressos que os alunos estavam

manifestando Os Inspetores Paroquiais por sua vez deveriam informar o nuacutemero de

vezes que visitaram as escolas o estado em que elas se encontravam e o modo como

os professores desempenharam o magisteacuterio Finalmente apoacutes a anaacutelise das

coleccedilotildees de escritas e das informaccedilotildees encaminhadas pelos professores e Inspetores

Paroquiais o Inspetor Geral informaria ao Presidente a situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica

na proviacutencia

Agrave vista disso cabe retomar o que Foucault (2003) ao pensar as questotildees

relacionadas ao discurso afirmava O autor o entendia como um coletivo de

pensamentos reunidos por um indiviacuteduo ou um grupo que manifesta suas ideologias

constituindo subjetividades e relaccedilotildees de poder Um discurso tem uma histoacuteria proacutepria

sendo fruto das condiccedilotildees de uma eacutepoca e do grupo que o faz eou legitima Dessa

maneira o discurso empreendido por Franccedila (7 de junho de 1866 1867) demonstra

que haacute uma relaccedilatildeo de poder expliacutecita revelando um jeito de fazer poliacutetica que

considera a inspeccedilatildeo e a coerccedilatildeo como modos preconizantes da atuaccedilatildeo do Governo

para melhoria do cenaacuterio de analfabetismo da proviacutencia goiana

No Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes identificamos documentos que

mostram a atuaccedilatildeo do Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica em relaccedilatildeo as coleccedilotildees de

escrita Haacute dois livros de correspondecircncias entre 1866 e 1867 com ofiacutecios entre o

Presidente e o Inspetor Geral em que fica niacutetida a ideia que se tinha sobre o ensino

170

de escrita naquele momento (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS 1862-1871 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

Agrave guisa de exemplo de uma dessas correspondecircncias apresentamos o

fragmento abaixo

Ilmo e Exmo Senr Dr Augusto Ferreira Franccedila ndash Presidente da provincia = Joatildeo Augusto de Paacutedua Fleury Secretaria drsquoinstruccedilatildeo publica em Goyaz 21 drsquoOutubro de 1866 ndash Ilmo e Exmo Senr o = Tenho a honra de passar as matildeos de V Exordf as collecccedilotildees drsquoescriptas e officios concernentes as escolas de Meiaponte S Cruz Morrinhos e Rio Claro [ilegiacutevel] por copia o officio que nesta data [ilegiacutevel] o Inspector Parochial de Meiaponte = Aos Inspectores Parochiais notei tambem os erros que encontrei nas escriptas recomendei que nas visitas que fizessem as respectivas escolas chamassem a atenccedilatildeo aos Professores para os mencionados erros que denotatildeo vicio e atraso no ensino Se as minhas observaccedilotildees natildeo produzerem efeito opportunamente requisitarei de V Excia as providencias que julgar acertadas ao bem do ensino Deos guarde a V Excia Ilmo e Exmo Sr Drordm Augusto Ferreira Franccedila ndash Presidente desta provincia Joatildeo Augusto de Paacutedua Fleury (FLEURY 21 de outubro de 1866 p 129 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Como visto o Inspetor Geral repreende os professores pelos erros encontrados

nas coleccedilotildees de escrita Nesse periacuteodo estava em vigor o Regulamento de Ensino

Goiano de 1856 que estabelecia os conhecimentos necessaacuterios para o professor se

candidatar ao magisteacuterio com destaque para os conteuacutedos que envolviam as

convenccedilotildees da liacutengua portuguesa o docente deveria dominar a leitura com fluecircncia

a pronuacutencia correta das palavras a leitura com pontuaccedilatildeo a ortografia as regras de

gramaacutetica e os tipos de letra (GOIAacuteS 1856 art 10) Portanto a Ordem Imperial

(FRANCcedilA 1867) estava em sintonia com os saberes exarados na legislaccedilatildeo goiana

que traccedilava o perfil de um professor com formaccedilatildeo erudita e com capacidade

profissional atestada por um exame realizado perante o Presidente da Proviacutencia o

Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica e duas pessoas nomeadas pela presidecircncia

Afinal tal como Gondra e Schueler (2008) explicam na maior parte do Impeacuterio os

regulamentos e normas sobre a instruccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria estabeleceram

ldquoregras e princiacutepios de seleccedilatildeo formaccedilatildeo recrutamento licenciamento e controle dos

professores puacuteblicos e particulares tentando uniformizar conformar homogeneizar e

disciplinar os diversos modos de ser professor no seacuteculo XIXrdquo (GONDRA

SCHUELER 2008 p 172 grifo dos autores)

171

Acreditamos que a praacutetica normatizada por Franccedila (1867) natildeo perdurou por

muito tempo na proviacutencia pois soacute encontramos documentaccedilotildees que atestassem o

envio de coleccedilotildees de escrita remetidas ao Inspetor Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica de

Goiaacutes durante os anos de 1866 e 1867 Natildeo podemos negligenciar o fato de que Abreu

(2006) faz referecircncia a uma coleccedilatildeo de escrita datada de 1868 encontrada tambeacutem

no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes como sendo fruto da referida Ordem

Presidencial

Outro documento que tambeacutem nos chamou a atenccedilatildeo foi uma correspondecircncia

enviada pelo Inspetor Joaquim Vicente de Azevedo em 4 de setembro de 1865

(AZEVEDO 4 de setembro de 1865 p 114 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita

Datilografada e Impressa nordm 397) em que se notificava o envio de escritas de alunos

da escola de instruccedilatildeo primaacuteria do sexo masculino da Capital para o Presidente

Augusto Ferreira Franccedila autor da Ordem Presidencial analisada anteriormente

Embora os Relatoacuterios dos Presidentes de Proviacutencia e as legislaccedilotildees anteriores agrave

referida Ordem natildeo mencionem a existecircncia de alguma recomendaccedilatildeo acerca do

envio de escritas dos alunos para a Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica tudo indica

que essa praacutetica jaacute ocorria nas escolas da Capital de Goiaacutes Pelo visto a

recomendaccedilatildeo de Franccedila (1867) apenas ampliou e regulamentou esse modo de

controle da praacutetica docente em todo o territoacuterio goiano

Como analisado no decorrer deste item na proviacutencia goiana durante o periacuteodo

de 1835 a 1886 houve uma forte presenccedila de livros escritos por portugueses e

franceses o que natildeo difere da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de outras localidades

brasileiras Ateacute a deacutecada de 60 do seacuteculo XIX circulavam nas escolas brasileiras

principalmente as cartilhas portuguesas e somente no fim dessa deacutecada eacute que Abiacutelio

Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas iniciou um movimento de nacionalizaccedilatildeo de

livros escolares publicando suas primeiras obras (LAJOLO ZILBERMAN 1996

MORTATTI 2000 VALDEZ 2006 FRADE 2010a) Os livros desse autor estiveram

entre as solicitaccedilotildees das listas de expediente escolar para o ensino inicial de leitura e

escrita e tambeacutem para o ensino de leitura corrente Sobre ele destacaremos sua

influecircncia na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes principalmente a partir de 1870 na

seccedilatildeo 5 desta tese

Por conseguinte ainda que essa proviacutencia tivesse conforme a historiografia

da educaccedilatildeo goiana aponta um desenvolvimento educacional atrasado

especialmente pela quantidade de analfabetos que ateacute meados da Repuacuteblica a

172

colocava entre as piores dos paiacutes haacute que se considerar que sua histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo faz intersecccedilatildeo com os movimentos que vinham ocorrendo no acircmbito

da educaccedilatildeo nacional

32 IMPRESSOS PARA O ENSINO DA LEITURA CORRENTE

Neste toacutepico destacaremos as obras identificadas nas listas de expediente

escolar cuja anaacutelise a partir dos indiacutecios de seus tiacutetulos eou conteuacutedos permitiram-

nos classificaacute-las como impressos destinados natildeo para alfabetizar a crianccedila mas para

o treino da leitura A escola primaacuteria brasileira no que tange ao ensino de leitura foi

constituindo uma tradiccedilatildeo pela qual depois de a crianccedila ter o domiacutenio da leitura os

professores utilizavam materiais impressos para os alunos aperfeiccediloarem a chamada

leitura corrente Batista Galvatildeo e Klinke (2002) notam que esse tipo de material

voltava-se para a ldquopassagem da leitura hesitante para a leitura corrente e possui

dentre outros objetivos a compreensatildeo total de periacuteodos e pequenas narrativas e

o domiacutenio geral do mecanismo e sentido da leiturardquo (BATISTA GALVAtildeO KLINKE

2002 p 42 grifos dos autores)

Inicialmente eacute importante esclarecer dois pontos O primeiro eacute que listariacuteamos

aqui tambeacutem os livros destinados ao ensino de outras disciplinas escolares que natildeo

apenas leitura e escrita Durante o periacuteodo imperial as regulamentaccedilotildees em Goiaacutes

previam no curriacuteculo Aritmeacutetica Gramaacutetica Doutrina Cristatilde entre outras mateacuterias

Logo na ausecircncia de materiais especiacuteficos para a alfabetizaccedilatildeo os professores

lanccedilavam matildeo dos que tinham disponiacuteveis para ensinar leitura e escrita agraves crianccedilas

(ARAUacuteJO E SILVA 1975 PRIMITIVO MOACYR 1940) O segundo destaque que

gostariacuteamos de registrar eacute que natildeo faremos um estudo aprofundado de cada uma das

obras mencionadas visto natildeo ser esse o foco da pesquisa Cada impresso listado

incita a novas pesquisas e novas problemaacuteticas principalmente relacionadas aos usos

que os professores fizeram desses materiais

Entre os pedidos de livros para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia

goiana destacaram-se os Catecismos Em muitas listas de expediente escolar eles

receberam a denominaccedilatildeo de cartilha com a indicaccedilatildeo do autor por exemplo Cartilha

de Fleury para se referir ao Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio

a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde escrito pelo Abade Claude Fleury Cartilha de

173

Montpelier ao tratar sobre o Catecismo da Diocese de Montpellier impresso por ordem

do Bispo Carlos Joaquim Colbert

Analisando as fontes documentais em especial as listas de expediente escolar

observamos que na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a denominaccedilatildeo de cartilha natildeo

era usual para indicar os materiais impressos especificamente para alfabetizaccedilatildeo ateacute

os anos de 1870195 A partir de entatildeo com a circulaccedilatildeo dos Livros de Leitura de Abiacutelio

Ceacutesar Borges pela proviacutencia os pedidos feitos pelos professores goianos

mencionavam juntamente com eles a compra de Cartilhas e de Catecismos

denotando nesses casos que as Cartilhas comeccedilavam a nominar materiais para o

ensino de leitura Poreacutem embora esse processo tenha-se iniciado na segunda metade

do seacuteculo XIX conservou-se em Goiaacutes durante todo o regime imperial a praacutetica de

designar como Cartilhas os livros de Doutrina Cristatilde Vale lembrar que Mortatti (2000

p 72) demonstra que nesse periacuteodo se iniciavam os discursos em torno da

ldquoconstituiccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo como objeto de estudo no Brasilrdquo principalmente com

a atuaccedilatildeo de Antonio da Silva Jardim na propaganda do ldquomeacutetodo Joatildeo de Deusrdquo e da

Cartilha Maternal do poeta portuguecircs Joatildeo de Deus

De acordo com Boto (2004) o termo cartilha vem de cartinhas manuscritos

utilizados em Portugal para ensinar a ler escrever e contar desde o iniacutecio da Idade

Moderna remontando agrave tradiccedilatildeo de uma educaccedilatildeo no lar baseada na religiosidade e

na moralidade As primeiras cartilhas brasileiras segundo Mortatti (2000a 2019)

foram publicadas na segunda metade do seacuteculo XIX o que corrobora a hipoacutetese de

que em Goiaacutes essa designaccedilatildeo para os livros escolares utilizados para o ensino inicial

de leitura tenha circulado pelas escolas no findar do Impeacuterio e sido adotada

oficialmente nas legislaccedilotildees goianas jaacute na Repuacuteblica196

Os Catecismos apesar de natildeo serem publicaccedilotildees pensadas para se ensinar

leitura foram incorporados nas escolas goianas principalmente como impressos para

195 Interessante notar que alguns livros de Doutrina Cristatilde que circularam na proviacutencia goiana eram nomeados de Cartilha como foi o livro Cartilha de Doutrina Christatilde de Antoacutenio Joseacute de Mesquita Pimentel mencionado nas listas de expediente escolar como ldquoCartilha de Pimentelrdquo ou ldquoCartilha de Mesquita Pimentelrdquo 196 A partir de uma anaacutelise das legislaccedilotildees educacionais goianas do periacuteodo imperial e republicano notamos que a recomendaccedilatildeo do uso de cartilhas nas classes de ensino primaacuterio esteve presente pela primeira vez nos Programas de ensino para as escolas primaacuterias do estado de 1930 (GOIAacuteS 1930) Anterior a isso em 1884 no Programa de ensino para a aula de instruccedilatildeo primaacuteria do sexo feminino anexo agrave Escola Normal identificamos referecircncia ao uso da cartilha para o ensino de leitura entretanto esse programa natildeo foi adotado em toda proviacutencia goiana

174

o ensino da leitura corrente (CRUS 20 de marccedilo de 1858) Seu uso no ensino de

leitura estaacute associado agrave praacutetica da oralizaccedilatildeo do escrito portanto remonta aos proacuteprios

aspectos de como os Manuais de Doutrina Cristatilde e os Catecismos eram organizados

e como foram concebidos impondo a necessidade de ler oralmente e repetidas

vezes as oraccedilotildees e dogmas catoacutelicos

Nas listas de expediente escolar os livros de conteuacutedo religioso quando natildeo

intitulados apenas de Catecismo tambeacutem foram nomeados como ldquoCatechismos

Historicosrdquo ldquoCompendios de Doutrina ou Cartilhardquo ldquoCatecissimos de Doutrinardquo

ldquoCompendios de Doutrinardquo ldquoCompendios de Doutrina Christatilderdquo ldquoDoutrina Chistatilderdquo

ldquoLivros da Doutrina Christatilderdquo ldquoLivrinhos ndash Cathecismosrdquo ldquoHistoria Sagradardquo ldquoHistoria

Sagrada contendo antigo e novo testamentordquo e ldquoHistoria Sagrada ilustradardquo

Geralmente nas listagens natildeo vinha solicitado um tiacutetulo especiacutefico nem mesmo a

menccedilatildeo ao autor Naquelas em que isso ocorria identificamos os seguintes tiacutetulos

Quadro 4197 Catecismos e ou Livros de Doutrina Cristatilde usados nas escolas goianas 1835-1886

Catechismo Historico resumindo contendo a Doutrina Christatilde traduzida e annotada por Henrique Vellozo de Oliveira Cathecismo do Paraacute Cartilha da Doutrina Christatilde por Antoacutenio J de Mesquita Pimentel Catecissimos de Doutrina por Pinheiro Cathecismo de Henry Cathecismo MontPelier Cathecismos de Fleury Compecircndio da missatildeo de Christo por Joaquim Pinti de Compo

Doutrina pr Barler

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilatildeo Manuscritas Datilografadas e Impressas

Interessante notar que os Catecismos ou Compecircndios de Doutrina Cristatilde eram

pedidos em quantidade bem numerosa geralmente igual a ou maior que o nuacutemero de

outros livros solicitados nas listagens Desse modo podemos considerar que em

Goiaacutes eles foram adquiridos para cada aluno e trabalhados individualmente como

197 Este quadro e o subsequente foram construiacutedos a partir das consultas aos documentos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes os quais estatildeo denominados de listas de expediente escolar cuja referecircncia completa pode ser verificada na seccedilatildeo ldquoFontesrdquo ao final desta tese

175

suporte para o ensino da leitura com fluecircncia e para a propagaccedilatildeo dos dogmas

catoacutelicos198

Esses materiais permaneceram presentes nas escolas goianas ateacute o final do

seacuteculo XIX e iniacutecio do XX Dentre os listados no Quadro 4 um dos Catecismos muito

solicitado pelos professores goianos nas deacutecadas de 1870 a 1890 foi o Catecismo

do Paraacute do Bispo D Antocircnio de Macedo Costa199 da Diocese da Proviacutencia do Gratildeo-

Paraacute ou Paraacute Ele manteve a hegemonia entre as solicitaccedilotildees jaacute que em relaccedilatildeo aos

outros livros esteve em destaque com pedidos volumosos realizados tanto pelos

professores quanto pelos Paacuterocos ou Inspetores Paroquiais O proacuteprio Bispo de

Goiaacutes em 1871 Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo escreveu ao Presidente da

Proviacutencia solicitando a compra de 500 exemplares do Catecismo do Paraacute para serem

distribuiacutedos pelas escolas de primeiras letras da proviacutencia (SIQUEIRA 27 de fevereiro

de 1871 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

Sobre essa obra encontramos poucas referecircncias e ainda natildeo conseguimos ter

acesso a ela Cotejando dados da imprensa paraense especialmente dois nuacutemeros

do Jornal A Regeneraccedilatildeo oacutergatildeo destinado aacute defesa do partido catholico (A

REGENERACcedilAtildeO 14 de marccedilo de 1875 29 de outubro de 1876) e do Cataacutelogo de

Obras Raras da Biblioteca Puacuteblica Arthur Vianna200 tudo indica que esse Catecismo

tinha uma extensatildeo que variava de uma ediccedilatildeo a outra ultrapassando geralmente 200

paacuteginas sendo publicado no exterior mais exatamente na Beacutelgica na Typographia

Zech

198 Eacute importante mencionar que a obra Cathecismo de Agricultura de Antonio de Castro Lopes foi divulgada em Goiaacutes em 1862 conforme atesta os documentos encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Entretanto dentro dos limites de nossa pesquisa natildeo encontramos referecircncia de que esse impresso foi adotado nas escolas goianas (LOPES 1862 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 144) 199 Sobre a vida de Dom Antocircnio de Macedo Costa Azzi (1980) explicita ldquoNascido em Maragogipe proviacutencia da Bahia a 7 de agosto de 1830 D Macedo Costa completou seus estudos eclesiaacutesticos na Franccedila no seminaacuterio de Satildeo Sulpiacutecio seguindo posteriormente para Roma onde se doutorou em direito eclesiaacutestico Ao voltar ao Brasil com trinta anos de idade recebeu a nomeaccedilatildeo para bispo do Paraacute tomando posse da diocese a 10 de agosto de 1861 Durante as trecircs deacutecadas em que esteve agrave frente da diocese D Macedo Costa interessou-se por todas as questotildees mais destacadas referentes agrave aacuterea esclesiaacutestica [] Reafirmou continuamente a vinculaccedilatildeo da Igreja do Brasil com a Santa Seacuterdquo [] Nomeado arcebispo da Bahia em 1890 [] Faleceu em Barbacena para onde se retirara por motivos de sauacutede em princiacutepios do ano seguinte [1891]rdquo (AZZI 1980 p 98-99) 200 A Biblioteca Puacuteblica Arthur Vianna eacute um oacutergatildeo do governo do Paraacute da Fundaccedilatildeo Cultural do Estado do Paraacute O Cataacutelogo de Obras Raras estaacute disponiacutevel na internet pelo link lthttpwwwfcppagovbr2016-11-24-18-22-47catalogo-de-obras-raras-da-biblioteca-arthur -vianna-seculos-xviii-xx-belem-secult-1998-120-pgt Acesso em 01 de junho de 2019

176

Na publicaccedilatildeo da imprensa catoacutelica do Maranhatildeo Civilisaccedilatildeo perioacutedico

Hebomadario Oacutergatildeo dos Interesse Catholicos na ediccedilatildeo de 24 de maio de 1890 haacute

um cataacutelogo de obras do Bispo do Paraacute destacando entre 35 obras de autoria de

Dom Macedo Costa o Catecismo do Paraacute com a seguinte descriccedilatildeo

Ornado de gravuras e exercicios de piedade e com um resumo das obrigaccedilotildees dos diversos estados ndash vesperas do Domingo ndash etc ndash mandado publicar pelo Exm Sr D Antono de Macedo Costa e adotaptado em varias dioceses Jaacute conta 6 ediccedilotildees (CIVILISACcedilAtildeO 24 de maio de 1890 p 3)

Em consonacircncia Tambara (2003) e Orlando (2008) esclarecem que esse

impresso se destacou entre os Catecismos que circularam nas escolas primaacuterias

brasileiras contando com vaacuterias reediccedilotildees e reimpressotildees

Ao procurarmos os motivos que levaram agrave alta circulaccedilatildeo apontada do

Catecismo do Paraacute nas escolas brasileiras e principalmente na proviacutencia goiana

algumas hipoacuteteses podem ser arquitetadas considerando quem foi o seu autor e sua

participaccedilatildeo nos cenaacuterios poliacutetico e religioso brasileiro

Azzi (1999) informa que Dom Antocircnio de Macedo Costa destacou-se como uma

das figuras importantes da Igreja no Brasil sendo uma das lideranccedilas esclesiaacutesticas

mais influentes quando a Repuacuteblica foi proclamada O autor demonstra tambeacutem a

influecircncia desse Bispo durante o Impeacuterio de modo que ele conseguiu transitar entre

um regime e outro alcanccedilando apoio poliacutetico para participar junto ao governo

republicano de iniciativas do projeto de separaccedilatildeo entre o Clero e o Estado de modo

que a ldquoaceitaccedilatildeo paciacutefica do advento da Repuacuteblica em 1889 por parte da Igreja do

Brasil deve-se ao esforccedilo ingente do Bispo do Paraacuterdquo (AZZI 1976 p 52)

A Diocese de Goiaacutes estabeleceu com a Diocese do Paraacute vaacuterias relaccedilotildees

eclesiaacutesticas O Bispo de Goiaacutes Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo que ficou agrave

frente da Diocese entre 1865 a 1877 nasceu na Proviacutencia do Gratildeo-Paraacute e

[] admitido como pobre no seminaacuterio em Beleacutem entre outros cargos civis ocupou o de Diretor Geral de Iacutendios Ademais o sacerdote exerceu importantes funccedilotildees na Igreja da regiatildeo e de Goiaacutes Azevedo foi vigaacuterio geral e reitor do seminaacuterio do Amazonas posiccedilotildees tambeacutem ocupadas no Paraacute Segundo D Alberto Gaudecircncio Ramos (1952)201 no Paraacute Azevedo foi nomeado Vigaacuterio Geral de Beleacutem sendo em 1866 sagrado Bispo de Goiaacutes por D Macedo Costa Foi a primeira sagraccedilatildeo episcopal na Amazocircnia (p 42-43) Envolvido diretamente com a formaccedilatildeo religiosa de seu rebanho visitou grande parte da

201 A obra de Ramos (1952) citada por Rizzini (2004) eacute a Cronologia eclesiaacutestica da Amazocircnia publicada em Manaus em 1952 por Dom Alberto Gaudecircncio Ramos

177

Diocese fundou o Seminaacuterio diocesano onde era professor e ensinava o catecismo nas escolas (RIZZINI 2004 p 53)

Fonseca e Silva (1948) destaca que durante o patroado de Dom Macedo

Costa em 1868 o Bispo de Goiaacutes Dom Joaquim Gonccedilalves de Azevedo foi ateacute o

Paraacute com intuito de tratar ldquoacerca da ida de meninos para os seminaacuterios na Europa

que por concessatildeo de Pio IX foram postos agrave disposiccedilatildeo do mencionado Sr Bispo do

Paraacuterdquo (FONSECA E SILVA 1948 p 218) Nessa viagem tambeacutem pretendeu obter

meios para erigir o Seminaacuterio Episcopal goiano (FONSECA E SILVA 1948) Pelo

exposto notamos que Dom Macedo Costa tinha relaccedilotildees muito proacuteximas com a Santa

Seacute o que lhe possibilitava ter recursos financeiros para projetos eclesiaacutesticos

incluindo neles empreendimentos editoriais colocando-o entre as figuras notaacuteveis de

Bispos brasileiros que publicaram livros de doutrina cristatilde dirigidos para a mocidade

no seacuteculo XIX

Isso posto consideramos que a apropriaccedilatildeo e uso dos Catecismos eou Livros

de Doutrina Cristatilde na educaccedilatildeo brasileira colaborou para a conformaccedilatildeo de um

modelo escolar para civilizaccedilatildeo dos costumes e dos espiacuteritos com indiviacuteduos

obedientes agraves regras da Igreja e do Estado (OLIVEIRA CORREcircA 2006 ANJOS

2016)

Aleacutem dos Catecismos satildeo citadas em nuacutemero menor geralmente um ou dois

exemplares obras que devido agrave quantidade acreditamos que foram de uso do

professor para serem aplicadas oralmente em sala de aula no ensino da leitura ao

mesmo tempo que transmitiam conhecimentos escolares de uma disciplina curricular

Jaacute que nas listas natildeo haacute a menccedilatildeo de que elas satildeo para a escola primaacuteria ou a

secundaacuteria e sabendo que no periacuteodo em questatildeo como relatamos natildeo havia muitas

salas abertas de ensino secundaacuterio enumeramos todas as obras encontradas uma

vez que se natildeo foram usadas propriamente para o ensino inicial da leitura e escrita

circularam nas escolas difundindo saberes e praacuteticas entre os professores

Quadro 5202 Livros ou Manuais usados nas escolas goianas 1835-1886

Arithmetica Ascanio Ferraz

Arithmetica de Anila

Arithmetica de Lobato

Arithmetica de Ottoni

202 Natildeo foram inseridos nesse Quadro os Atlas Mapas e os livros de liacutengua estrangeira

178

Arithmeticas de Saacute

Bibliotheca Juvenil de Barler

Cartas Sellectas de Pe Vieira

Chorographia histoacuterica do imperio do Brasil pelo Doutor

Alexandre Joseacute de Mello Moraes

Compecircndio de gramaacutetica nacional

Compendios de Arithimetica

Compendios de Arithmetica Ascanio Ferraz

Compendios de Historia Universal

Compendios de systhema Metrico

Compendios para leitura

Desenho linear ou elementar de Geometria Pratica

Diccionario de Moraes

Geographia de Pompeu

Geographias da Mocidade

Geometrias de Euclides

Geometrias de Ottoni

Gramaticas portuguesas por Conego Ferns

Grammaticas

Grammaticas latinas de A Pereira

Grammatica portuguesa pr J Alexandre e Silva Paz

Historia do Brasil pr Belligarde

Historia do Brasil por Caruja

Historia do Brazil

Historia moderna por Tantephens

Iris Classico

Litteratura de Basmalem

Litteraturas de Noel

Livros de Coruja

Livros de J Alexandre

Livros de leitura

Manual dos Estudantes

Manual encyclopedico de Monte-Verde

Noccedilotildees de Geographia

Os Lusiacuteadas de Camotildees

Philosophia de Germes

Resumo da Grammatica latina pr Figueiredo

Retoricas de Meneses

Retoricas por Freire de Carvalho

Sciencia do Bom Homem Ricardo

Poesias escolhidas

Fonte Elaborado pelo autor a partir da consulta ao Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressas

179

Como observado relacionamos alguns livros que provavelmente natildeo eram

usados para as crianccedilas aprenderem a ler e escrever pois seus conteuacutedos remetem

a ensinamentos da instruccedilatildeo secundaacuteria poreacutem a apropriaccedilatildeo desses nos fazeres

pedagoacutegicos carece de pesquisas para adentrar o campo dos usos e das praacuteticas

com os impressos em sala de aula Valdez (2004) sinaliza algumas pistas acerca

dessa questatildeo elucidando que no Brasil oitocentista poucos eram os livros escritos

para as crianccedilas especialmente livros para uso escolar O que se utilizava ldquoeram os

claacutessicos da literatura internacional e as crianccedilas aprendiam a leitura nos abecedaacuterios

em toscas cartilhas papeacuteis de cartoacuterios e cartas manuscritas que professores e pais

de alunos forneciamrdquo (VALDEZ 2004 p 2)

Dentre os livros inventariados no Quadro 5 destaca-se a obra Sciencia do bom

homem Ricardo sempre solicitada em quantidade avolumada inclusive

desproporcional aos demais livros Agrave guisa de exemplo temos o caso de ela fazer

parte da relaccedilatildeo de objetos remetida pela Tesouraria de Rendas Provinciais de Goiaacutes

entregue ao Inspetor Geral interino da Instruccedilatildeo Puacuteblica da eacutepoca em 14 de fevereiro

de 1859 Segundo consta no documento em virtude de portaria do Governo da

Proviacutencia o Inspetor seria o responsaacutevel por distribuir os materiais nas escolas

Sciencia do bom homem Ricardo foi remetido em quantia de 100 exemplares que se

comparada com as quantidades enviadas dos outros livros de leitura203 representa

uma desproporcionalidade (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE

GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da

Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

O texto Sciencia do bom homem Ricardo tambeacutem eacute citado na lista de materiais

para aplicaccedilatildeo do Meacutetodo Castilho nas escolas goianas pelo professor Feliciano

Primo Jardim o que seraacute tratado na proacutexima seccedilatildeo Esses elementos por si datildeo

pistas de que o impresso circulou nas aulas de leitura das escolas de instruccedilatildeo

primaacuteria de Goiaacutes por dois motivos primeiro pelo fato de que o Meacutetodo Castilho era

sobretudo voltado para o aprendizado inicial da leitura e segundo porque a

quantidade de exemplares remetida pelo governo em 1859 foi expressiva o que natildeo

justificaria ser destinada ao Liceu uacutenica escola de ensino secundaacuterio naquele periacuteodo

que mantinha 77 alunos matriculados conforme eacute apontado no Relatoacuterio do

203 A maioria dos livros enviados com exceccedilatildeo das Cartas e dos Catecismos eram 1 2 ou 3 exemplares chegando no maacuteximo a 10

180

Presidente Cerqueira (1859a) Aleacutem do mais o mesmo presidente em 1858 registra

essa accedilatildeo de compra de livros para serem distribuiacutedos nas escolas da Proviacutencia

(CERQUEIRA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1858)

Arriada Tambara e Duarte (2015) explicam que essa obra foi difundida em todo

o Impeacuterio ldquoElaborada a partir do Almanaque do Pobre Ricardo ndash Poor Richardrsquos

almanacks ndash publicado anualmente por Benjamin Franklin com a idade de 26 anos a

partir de 1732 a 1758 o autor usava o pseudocircnimo de Ricardo Saundersrdquo (ARRIADA

TAMBARA DUARTE 2015 p 244) Arriada (2002) expotildee que esse Almanaque era

uma espeacutecie de perioacutedico que circulou nos Estados Unidos da Ameacuterica atingindo um

grupo de leitores pelo mundo todo Escrito em 1757 e publicado pela primeira vez no

Almanaque em 1758 Sciencia do bom homem Ricardo recebeu diversas traduccedilotildees

sobretudo nos paiacuteses da Europa e na Ameacuterica (ARRIADA TAMBARA DUARTE

2015)

Em Portugal o texto foi publicado por Monteverde (18--) no Methodo Facillimo

para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo

de tempo na seccedilatildeo de liccedilotildees para treino da leitura204 com o tiacutetulo ldquoA sciencia do bom

homem Ricardo ou meio de adquirir fortunardquo Nesse mesmo paiacutes houve outra versatildeo

datada de 1825 e lanccedilada pela Tipografia da Sociedade Propagadora dos

Conhecimento Uacuteteis em Lisboa205 Com o tiacutetulo A sciencia do bom homem Ricardo

ou meio de fazer fortuna o livro tem 16 paacuteginas traz na iacutentegra o texto de Franklin e

na uacuteltima folha uma taacutebua de multiplicaccedilatildeo de Pitaacutegoras

A partir da publicaccedilatildeo de Arriada Tambara e Duarte (2015) que expocircs uma

capa da ediccedilatildeo brasileira de 1884 sabemos que essa obra tambeacutem foi impressa no

Rio de Janeiro pela Livraria de Nicolau Alves intitulada A sciencia do bom homem

Ricardo ou o Caminho da fortuna

Como se nota Sciencia do bom homem Ricardo natildeo foi um texto escrito para

o uso escolar mas os preceitos ali publicados foram acolhidos pela escola jaacute que o

204 Na ediccedilatildeo de Monteverde (18--) que utilizamos nesta tese o texto de Benjamin Franklin estaacute publicado entre as paacuteginas 139 a 146 assinado com o pseudocircnimo de Franklin Ricardo Saudners Na obra consultada provavelmente por questatildeo de traduccedilatildeo estaacute grafado diferente do pseudocircnimo Ricardo Saunders conforme informado por Arriada Tambara e Duarte (2015) Apoacutes o tiacutetulo do texto Monteverde lanccedila uma nota de rodapeacute indicando que o texto foi extraiacutedo da obra ldquodo sabio BENJAMIM FRANKLIN intitulada La Science du Bon Homme Richardrdquo (MONTEVERDE 18-- p 139) 205 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt14349gt Acesso em 22 de maio de 2019 A obra tem dimensatildeo fiacutesica de 15 x 125 cm

181

discurso empreendido colaborava para a introjeccedilatildeo de uma mentalidade capitalista

proacutepria do Ocidente Esse fato justifica sua circulaccedilatildeo entre tantos paiacuteses (ARRIADA

2002 ARRIADA TAMBARA DUARTE 2015 NASCIMENTO SALES 2014)

A narrativa eacute quase um sermatildeo feito pelo Anciatildeo Abrahatildeo a respeito das

caracteriacutesticas de um cidadatildeo que por meio do seu trabalho consegue obter sucesso

financeiro Contra a preguiccedila defendendo uma postura de trabalhador persistente e

econocircmico o Anciatildeo retoma as maacuteximas do ldquoBom Homem Ricardordquo discursando

sobre as caracteriacutesticas de um cidadatildeo prudente

Conservemos pois a nossa liberdade e a nossa independencia Sejacircmos laboriosos e livres sejamos economicos e independentes Talvez julguem algumas pessoas que me estatildeo ouvindo acharem-se nrsquoum estado tal de opulencia que lhes permitte satisfazer aacutes suas fantasias mas eacute preciso poupar a fim de estar previnido natildeo soacute para o tempo da velhice mas tambem para qualquer adversidade que possa sobreviver ldquoO Sol da manhatilde natildeo dura todo diardquo ldquoO ganho eacute incerto e eventual mas a despeza eacute certa durante toda a vidardquo ldquoEacute mais facil derrubar duas chamineacutes do que conservar uma soacute com lume como diz o BOM HOMEM RICARDOrdquo (FRANKLIN apud MONTEVERDE 18-- p 145-146 grifos do autor)

O texto traz alguns juiacutezos de valor subjacentes e o principal eacute que o bom

cidadatildeo paga os seus impostos e auxilia na manutenccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico Tambeacutem

que os mais velhos tecircm muito o que ensinar portanto deve haver disposiccedilatildeo em ouvir

seus ensinamentos atentamente Pelo conteuacutedo exposto fica evidente que esse texto

escolar foi suporte ldquopara a aquisiccedilatildeo da leitura e para a constituiccedilatildeo da mentalidade

moral e ciacutevica do novo homem necessaacuterio ao estaacutegio de desenvolvimento econocircmico-

social do Impeacuterio brasileirordquo (ARRIADA TAMBARA DUARTE 2015 p 250)

Voltando ao Quadro 5 os Compecircndios para Leitura e os Livros de Leitura

destacaram-se pela quantidade de solicitaccedilotildees e ou envios em relaccedilatildeo agraves outras

obras especialmente a partir dos anos de 1870 quando os livros de Abiacutelio Ceacutesar

Borges o Baratildeo de Macauacutebas foram difundidos na proviacutencia goiana Nas listas

inventariadas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes quando essas duas

denominaccedilotildees apareciam natildeo se estava referindo ao autor e ou tiacutetulo da obra o que

denota que se dava mais importacircncia ao impresso em si do que agrave figura do autor de

um livro e seu meacutetodo

Ao demarcamos portanto o periacuteodo abrangido pela pesquisa sobre os

materiais impressos que circularam nas aulas de instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes ao

regime imperial natildeo estamos condicionando que tudo de que tratamos se encerrou

182

nesse periacuteodo Pelo contraacuterio muito do que circulou entre 1835 e 1886 esteve

revigorado nas salas de aula goianas na Repuacuteblica dialogando efetivamente com os

acontecimentos e praacuteticas de ensino de leitura e escrita em acircmbito nacional Delimitar

a temporalidade dessa histoacuteria natildeo significa colocar rupturas totais e sim demonstrar

que em determinados momentos os fazeres pedagoacutegicos estiveram influenciados

por mentalidades que constituiacuteram modos diferentes de pensar e atuar sobre o ato de

ler e escrever em sala de aula e por que natildeo tambeacutem fora dela

33 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

Como enfatizado no decorrer desta seccedilatildeo alguns dos livros aprovados e que

circularam pelo Municiacutepio da Corte influenciaram a organizaccedilatildeo dos meacutetodos de

ensino e de alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes o que corrobora nossa tese de estudo em que

defendemos que a proviacutencia goiana esteve inserida no contexto dos ideaacuterios de

modernidade que circulavam no paiacutes especialmente no campo do ensino inicial de

leitura e escrita Dessa maneira a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes no periacuteodo

imperial esteve em sintonia com as transformaccedilotildees e com as iniciativas educacionais

do paiacutes e sob forte influecircncia europeia

Nas consideraccedilotildees parciais desta seccedilatildeo retomaremos os aspectos tratados

nos itens anteriores a partir de trecircs apontamentos os quais consideramos pertinentes

para a compreensatildeo do nosso objeto de estudos ao mesmo tempo que fundamentam

nossa tese

1) Os impressos que circularam em Goiaacutes no periacuteodo imperial em sua grande

maioria satildeo produccedilotildees estrangeiras

Pensar os meacutetodos de ensino de leitura e escrita a partir dos impressos eacute algo

muito comum na historiografia da alfabetizaccedilatildeo (MORTATTI 2000 2011 2019) De

antematildeo eacute importante ressaltar que natildeo fugimos dessa loacutegica como o leitor pode

constatar por um motivo fatiacutedico nossa paixatildeo pela investigaccedilatildeo historiograacutefica dos

livros escolares Os misteacuterios que rondam essas publicaccedilotildees antigas e a busca por

desvelaacute-los nos motivaram para trazer o impresso como principal fonte na constituiccedilatildeo

desta tese Ateacute tentamos escapar dessa previsibilidade todavia na disputa entre a

relevacircncia cientiacutefica e o teor acadecircmico versus a subjetividade do ser pesquisador

183

trazer os livros como mote para essa investigaccedilatildeo foi inelutaacutevel na ldquoarenardquo206 da

construccedilatildeo de um trabalho de doutoramento que decirc prazer de escrever

Dito isso retomando os livros listados nessa seccedilatildeo notamos que os impressos

que circularam no intervalo entre 1835 e 1886 nas escolas goianas foram publicaccedilotildees

principalmente advindas da Europa e da Ameacuterica do Norte sendo obras que tambeacutem

circularam no Municiacutepio da Corte e em outras proviacutencias brasileiras

Nesse periacuteodo houve um discurso oficial mantido pelos Presidentes de

Proviacutencia marcado pela escassez de recursos para a manutenccedilatildeo das despesas da

instruccedilatildeo puacuteblica e consequentemente um pessimismo que enfatizava as

dificuldades da proviacutencia em avanccedilar nas questotildees do ensino Vaacuterios argumentos

foram arrolados nos Relatoacuterios dirigidos agrave Assembleia Legislativa Provincia

ressaltando que a falta de uma escola de formaccedilatildeo de professores ndash a Escola Normal

ndash e de livros para disseminaccedilatildeo dos novos modos de ensinar eram fatores

preponderantes para o atraso da instruccedilatildeo puacuteblica goiana O que se constata todavia

nas listas de expediente escolar analisadas eacute que muitos materiais para apoiar o

ensino de leitura e escrita que circularam durante o Impeacuterio brasileiro e foram enviados

agraves escolas de primeiras letras goianas aplicavam o antigo meacutetodo individual e o uso

das Cartas de ABC Tal meacutetodo era influenciado pelas praacuteticas de catequizaccedilatildeo

especialmente utilizadas nos Catecismos ou nos Manuais de Doutrina Cristatilde

organizados no formato de perguntas e respostas curtas

Natildeo podemos esquecer que o sertatildeo goiano era habitado por indiacutegenas antes

da chegada dos Bandeirantes paulistas que utilizando estrateacutegias de dominaccedilatildeo

infiltraram-se na vida dos iacutendios miscigenando natildeo somente a raccedila como tambeacutem as

suas caracteriacutesticas culturais e sociais (PALACIacuteN 1994) Portanto podemos

conjecturar que o meacutetodo de catequizaccedilatildeo dos iacutendios e de ensino em liacutengua

portuguesa utilizado pelos Padres ldquofundou uma tradiccedilatildeordquo207 no ensino de leitura e

escrita nas terras goianas que se arrastou desde o seacuteculo XVIII Por esse motivo era

tatildeo difiacutecil se desvincular das praacuteticas escolares com o denominado meacutetodo individual

O Presidente Francisco Januario de Gama Cerqueira (1858) em um dos seus

discursos analisados nesta seccedilatildeo chegou a constatar que os docentes na proviacutencia

206 Esta palavraconceito estaacute sendo utilizada aqui nos termos de Valentin Voloacutechinov conforme jaacute enunciamos na Introduccedilatildeo da tese 207 Tomamos essa expressatildeo de empreacutestimo de Mortatti (2000)

184

goiana ensinavam tal como aprenderam e em funccedilatildeo disso natildeo abriam matildeo de

alguns meacutetodos seculares

No que compete ao ensino de leitura e escrita em nenhuma das leis ou

recomendaccedilotildees entre 1835 e 1886 eacute indicado especificamente um meacutetodo A partir

de uma consulta aos mapas de turmas enviados pelos professores pelas listagens

dos objetos enviados por solicitaccedilatildeo das escolas de primeiras letras dos relatoacuterios de

Inspetores e correspondecircncias entre Inspetores e os Presidentes de Proviacutencia todos

documentos inventariados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes foi possiacutevel

analisar que na proviacutencia no periacuteodo imperial ensinava-se leitura e escrita pelos

meacutetodos de marcha sinteacutetica especialmente o de soletraccedilatildeo ou de silabaccedilatildeo

Nesta seccedilatildeo analisamos alguns livros portugueses que circularam no ensino

de leitura em Goiaacutes com destaque para os tiacutetulos Methodo Facillimo para aprender

a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo

(MONTERVERDE 18--) o Novo Alfabeto Portuguez dividido por Syllabas com os

primeiros elementos da Doutrina Christatilde e o Methodo de ouvir e ajudar agrave missa

(1785) e O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna escrito

por Luiz Francisco Midosi (MIDOSI 1831)

Entre os livros analisados houve tambeacutem um produzido primeiramente na

Franccedila e depois traduzido para o portuguecircs Pequeno Cathecismo Historico contendo

em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde escrito pelo francecircs Abade

Claude Fleury (FLEURY 1846)

Aleacutem desses impressos de origem portuguesa e francesa notadamente

influenciou a instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes o texto norte-americano de leitura Sciencia

do Bom Homem Ricardo (FRANKLIN 18--)

Destacamos obras direcionadas especificamente ao mercado escolar

brasileiro Antonio Pinheiro de Aguiar Victor Renault e Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo

de Macauacutebas

Para o ensino de escrita evidenciamos as coleccedilotildees de Traslados modelos

tambeacutem importados das escolas da Europa

Essas obras nos datildeo indiacutecios de possiacuteveis praacuteticas de ensino inicial de leitura

e escrita na proviacutencia goiana Embora houvesse tentativas de alguns desses autores

de fugir da fundamentaccedilatildeo de um meacutetodo de ensino de leitura tradicional cansativo

para os alunos e com um processo demorado para a aprendizagem o que vemos satildeo

os convencionais meacutetodos de soletraccedilatildeo eou silabaccedilatildeo reconfigurados por tentativas

185

de uma pseudomudanccedila por meio de figuras ou adornos que datildeo ao impresso um

tom de modernidade

As Cartas foram empregadas como material de apoio para essas praacuteticas pelo

meacutetodo de soletraccedilatildeo ou silabaccedilatildeo sendo o impresso mais solicitado pelos

professores eou enviado pelo governo agraves escolas na proviacutencia goiana O estudo que

fizemos tanto das listas de expediente escolar quanto dos mapas de turmas

encontrados no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nos permite afirmar que existiam

diferentes tipos de Cartas que indicavam uma sequencialidade no uso pela gradaccedilatildeo

do aprendizado das letras para as siacutelabas das siacutelabas para as palavras das palavras

para as frasestextos

Os textos que compunham essas Cartas e os outros impressos tinham um

caraacuteter religioso e eram fortemente caracterizados pelo meacutetodo de perguntas e

respostas curtas tiacutepico dos Catecismos e das aulas de Doutrina Cristatilde que tambeacutem

remontam agraves praacuteticas de ensino individual Esses textos eram utilizados para

divulgaccedilatildeo de conformismo do cidadatildeo agraves regras sociais impostas pelo Impeacuterio e

introjeccedilatildeo das condutas tiacutepicas da Doutrina da Igreja Catoacutelica

2) Os impressos que circularam em Goiaacutes tinham a intenccedilatildeo de inculcar um

comportamento social da cultura civilizada para formaccedilatildeo de uma sociedade que

aspirava agrave modernidade

Os esforccedilos para reversatildeo do panorama da instruccedilatildeo puacuteblica goiana se

mantiveram durante o periacuteodo analisado sobretudo em iniciativas no acircmbito da

legislaccedilatildeo e do envio de materiais escolares para as escolas Apoiados no estudo de

Abreu (2006) constatamos que a primeira lei goiana sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

promulgada em 1835 marcou a institucionalizaccedilatildeo das praacuteticas escolares em Goiaacutes

inaugurando ao mesmo tempo a profissionalizaccedilatildeo docente e a tentativa de

cristalizaccedilatildeo de meacutetodos e comportamentos na escola Do mesmo modo os

Regulamentos de Ensino aprovados durante todo o periacuteodo imperial enfatizaram a

influecircncia da Igreja Catoacutelica nos modos de pensar e fazer o ensino Essa influecircncia

estava comprovadamente legislada nas normativas condutoras da educaccedilatildeo goiana

que exigiam os conhecimentos religiosos nas aulas e nos concursos para professores

bem como nos impressos que circularam nas escolas durante o periacuteodo em questatildeo

e se baseavam especialmente na Doutrina Cristatilde eou nas narrativas biacuteblicas Aqui

eacute importante lembrar que na deacutecada de 1850 houve a recomendaccedilatildeo de que os

186

padres ficassem responsaacuteveis por ensinar as noccedilotildees elementares de leitura e de

educaccedilatildeo religiosa agrave mocidade principalmente nos municiacutepios com maior dificuldade

financeira

Ressaltamos nesta seccedilatildeo o uso dos Catecismos e dos livros de Doutrina

Cristatilde durante o Impeacuterio nas escolas da proviacutencia goiana entre os quais se destaca o

Catecismo do Paraacute publicado pelo Bispo Dom Antocircnio de Macedo Costa Os livros

com enfoque religioso tinham conteuacutedos para formaccedilatildeo de um cidadatildeo ainda aos

moldes coloniais que submissos agrave tradiccedilatildeo religiosa aos pais e ao Estado se

conformavam com uma vida simples e agrave civilizaccedilatildeo dos costumes dos haacutebitos e

valores

A populaccedilatildeo em Goiaacutes nesse periacuteodo era maiormente rural o que contribuiu

para que circulasse o ideaacuterio da necessidade da instruccedilatildeo para livrar a crianccedila da

aculturaccedilatildeo aproximando-a da leitura escrita religiatildeo e da aritmeacutetica como forma de

transformaccedilatildeo social e cultural da proviacutencia Enfim esse ideaacuterio de modernidade fez

com que Goiaacutes no advento dos anos 70 do seacuteculo XIX comeccedilasse a dar ecircnfase maior

ao uso do livro nas praacuteticas escolares ateacute mesmo legislando sobre quais compecircndios

deveriam ser usados nas escolas puacuteblicas ou particulares na proviacutencia Essa ecircnfase

associada agrave expansatildeo do mercado livresco brasileiro marcou enfaticamente a histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo goiana pelo uso de livros de leitura e de outros impressos como

condiccedilatildeo para a efetividade do ensino de leitura e escrita

3) A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir de 1870 passou por diferentes

transformaccedilotildees devido ao contexto nacional do mercado editorial e das legislaccedilotildees

que vigoravam na proviacutencia

Um dos marcos na histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes conforme evidenciamos na

seccedilatildeo anterior foi a publicaccedilatildeo da Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 o

Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes de 1869

(GOIAacuteS 1869) Diferente do que se estabelecia ateacute entatildeo foi evidenciado o uso dos

livros nas praacuteticas escolares repercutindo em maior divulgaccedilatildeo e circulaccedilatildeo de livros

de leitura cartilhas e manuais de ensino no territoacuterio goiano o que

consequentemente ocasionou uma visatildeo diferente sobre as praacuteticas do ensino inicial

de leitura e escrita A partir dos anos 70 do seacuteculo XIX ocorreu a entrada de

diferentes impressos para alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas que permitiram a circulaccedilatildeo de

ideaacuterios de um ensino moderno que almejava romper com a tradiccedilatildeo dos meacutetodos de

187

soletraccedilatildeo Apontamos nesta seccedilatildeo da tese vaacuterias publicaccedilotildees e iniciativas que

colocaram a proviacutencia em diaacutelogo com o que estava ocorrendo e sendo difundido na

Corte e no paiacutes como um todo

A histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes oitocentista natildeo estava isolada do

contexto nacional nem tampouco descolada do anelo de implementar o que havia de

mais moderno no Brasil Doravante os dois capiacutetulos que seguem na organizaccedilatildeo

desta tese focalizam as iniciativas que colaboram para ratificar e fundamentar a

afirmaccedilatildeo anterior destacando tanto a questatildeo da circulaccedilatildeo de saberes escolares

advindos de uma publicaccedilatildeo portuguesa quanto da adoccedilatildeo de livros eminentemente

brasileiros para alfabetizaccedilatildeo

188

4 O MEacuteTODO CASTILHO NA

HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS

___________________________________

Em 1855 destaca-se uma iniciativa financiada pelo governo da proviacutencia de

Goiaacutes de enviar ao Rio de Janeiro um professor para conhecer o meacutetodo Castilho a

fim de propagaacute-lo nas escolas goianas O entatildeo Presidente da Proviacutencia Antonio

Candido da Cruz Machado tendo notiacutecias do sucesso do meacutetodo Castilho para o

ensino raacutepido da leitura e escrita e diante da situaccedilatildeo da instruccedilatildeo puacuteblica na

proviacutencia enviou ao Municiacutepio da Corte o professor Feliciano Primo Jardim

Tendo-se reconhecido a vantagem do methodo de ensinar a ler e escrever que o conselheiro Antonio Feliciano de Castilho estaacute propagando na capital do imperio e considerando que o professor da 1ordf aula de instrucccedilatildeo primaria desta cidade Feliciano Primo Jardim por sua intelligencia applicaccedilatildeo zecirclo e bocirca conducta estava nas circunstancias de bem comprehende-lo e pocirc-lo em pratica nacuteesta provincia e convindo que fosse estuda-lo com o proprio autor resolvi por acto de 21 de julho incumbi-lo dessa commissatildeo com a gratificaccedilatildeo mensal de 100$000 reacuteis e marquei-lhe o prazo de oito mezes para ida estada e volta ficando o mesmo obrigado a natildeo pedir demissatildeo do emprego trez annos depois e a ensinar pelo referido methodo como fosse determinado pelo governo incumbi-o tambem de examinar os compendios admittidos no ensino primario da cocircrte quer pelo methodo Castilho quer pelo actual e de enviar um relatorio circunstanciado em que mencione o preccedilo e quantidade dos compendios e mais objectos que forem precisos Tinha de submetter este acto aacute aprovaccedilatildeo da assemblea legislativa provincial (MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855 p 23-24)

189

Em Goiaacutes no periacuteodo em questatildeo o meacutetodo individual estava em voga sendo

considerado por muitos Presidentes da proviacutencia como um dos motivos pelo atraso

do ensino Como jaacute elucidamos nas seccedilotildees anteriores pouco circulavam nas escolas

goianas de primeiras letras manuais ou outros impressos que subsidiassem o ensino

de leitura e escrita Os livros que os professores tinham para lecionar estavam

geralmente calcados num vieacutes religioso que reproduzia um ensino pelo modelo de

perguntas e respostas remetendo a uma forma individual e catequeacutetica Entretanto

mesmo sob o domiacutenio da Igreja no campo educacional e com uma grande

concentraccedilatildeo de populaccedilatildeo no meio rural o excerto acima do relatoacuterio do Presidente

Antonio Candido da Cruz Machado mostra uma iniciativa que buscava inserir na

proviacutencia uma nova tendecircncia pedagoacutegica de alfabetizaccedilatildeo que circulava na Corte o

que tambeacutem ratifica a tese deste trabalho e abre a discussatildeo dessa seccedilatildeo

Machado submeteu a proposta de enviar Primo Jardim ao Rio de Janeiro para

aprovaccedilatildeo da Assembleia Legislativa Provincial em 01 de setembro de 1855 somente

para cumprir um protocolo legal legitimando a sua iniciativa jaacute que havia determinado

e autorizado a viagem por meio de Resoluccedilatildeo Provincial de 21 de julho de 1855

(MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855)

A presidecircncia conseguiu o aval da Assembleia que colocou a referida

resoluccedilatildeo em votaccedilatildeo aprovando-a em 6 de novembro de 1855 (GOIAacuteS 1855b)

sendo ela sancionada pelo sucessor de Machado o Presidente Antonio Augusto

Pereira da Cunha como foi registrado em trecircs passagens do jornal O Tocantins em

dezembro de 1855 (O TOCANTINS 08 de dezembro de 1855 p 1 15 de dezembro

de 1855 p 4 22 de dezembro 1855 p 2)208

Boto e Albuquerque (2018) explicitam que em 1855 foi ofertado pelo proacuteprio

Castilho no Rio de Janeiro um curso a respeito do seu meacutetodo ao qual foram

enviados representantes de vaacuterias proviacutencias do paiacutes De acordo com Arauacutejo e Silva

(1975) a ideia que circulava naquele momento na proviacutencia goiana era de que os

meacutetodos de ensino natildeo tinham grande efetividade eram muito lentos para as crianccedilas

aprenderem a ler e escrever e consequentemente seus pais natildeo as mantinham na

escola pois elas eram necessaacuterias na execuccedilatildeo de pequenos serviccedilos em casa ou

no trabalho Nesse sentido a propaganda difundida no Brasil e em Portugal sobre o

208 O Jornal O Tocantins ediccedilatildeo de 1855 estaacute transcrito e divulgado no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01)

190

meacutetodo Castilho era de que ele conseguia de maneira raacutepida e agradaacutevel ensinar a

ler e escrever e tinha por base a organizaccedilatildeo didaacutetica de ensino simultacircneo sendo

portanto uma alternativa para dirimir os problemas na instruccedilatildeo puacuteblica goiana

O meacutetodo Castilho foi criado pelo portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho Tem

origem em 1848 sendo publicado em Portugal em 1850 sob o tiacutetulo Leitura Repentina

ndash Methodo para em poucas liccedilotildees se ensinar a ler com recreaccedilatildeo de mestres e

disciacutepulos (FERREIRA 2010) Castilho graduou-se em Direito pela Universidade de

Coimbra dedicando-se agrave advocacia e agrave escrita poeacutetica em 1847 reavivou o perioacutedico

O Agricultor Michaelense que circulava na Ilha de Satildeo Miguel onde deparou com

uma situaccedilatildeo da privaccedilatildeo de leitura dos camponeses ndash alguns tinham acesso apenas

a esse jornal destinado especificamente a esse puacuteblico outros natildeo liam ou escreviam

(DIAS 2000) Sobre isso no Proacutelogo da sua obra Castilho esclarece

Qual eacute a istoria drsquoeste metodo O qe eacute este metodo De qem eacute este metodo [] Achava-me eu na ilha de S Miguel pertencia aacute Sociedade Promotora da Agricultura tratava-se em sessatildeo de Janeiro ou Fevereiro de 48 da sua conveniencia antes necessidade de se crearem escolas ruraes de primeiras letras Ofereci-me eu aacute falta de outrem a tentar para isso alguma facilitaccedilatildeo qe jaacute de muito andava estrevendo aceitou-se e registou-se a promessa por ventura leviana e fiqei por minha palavra obrigado pelo menos a diligenciar ateacute onde as forccedilas mrsquoo consentissem (CASTILHO 1853 p XXVII-XXVIII)

Para Dias (2000) o meacutetodo Castilho surge aiacute a partir de um compromisso

social e uma questatildeo didaacutetica que o autor levantou na eacutepoca qual o melhor e eficaz

meacutetodo para ensinar a ler e escrever

Boto (1997) avalia que Castilho inseriu no debate educacional portuguecircs nos

anos 50 do seacuteculo XIX a temaacutetica dos meacutetodos e teacutecnicas mais adequados para o

ensino polemizando aspectos ateacute entatildeo natildeo discutidos e por isso as reaccedilotildees criacuteticas

contra suas ideias foram amplamente divulgadas o que provocou a natildeo oficializaccedilatildeo

do meacutetodo em Portugal

A autora ainda destaca que Castilho fez uma extensa campanha no territoacuterio

lusitano em defesa do seu meacutetodo oferecendo cursos aos professores primaacuterios

escrevendo para perioacutedicos em resposta aos ataques sofridos jaacute que as criacuteticas iam

desde acusaccedilotildees de plaacutegio agrave contestaccedilatildeo da funcionalidade da proposta pois o

acusavam de uma negaccedilatildeo da tradiccedilatildeo nacional dos padrotildees ortograacuteficos da liacutengua

portuguesa (BOTO 1997)

191

Apoacutes a primeira ediccedilatildeo do livro em 1850 o autor produziu uma segunda em

1853 ampliando a obra e modificando seu tiacutetulo para Metodo Castilho para o ensino

rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever O autor

intitulou o meacutetodo com o seu nome para conferir-lhe a autoria jaacute que na primeira

ediccedilatildeo alvo de muitas criacuteticas em Portugal tratava-se de uma versatildeo melhorada do

meacutetodo do pedagogo francecircs Lemare209 (BOTO ALBUQUERQUE 2018) Dias (2000)

avalia ambos os meacutetodos o de Castilho e o de Lemare constatando que embora haja

aproximaccedilotildees ldquonatildeo haacute nem coacutepia nem plaacutegio no verdadeiro sentido dos termos

penso que poderiacuteamos afirmar que um serviu de matildee ao outrordquo (DIAS 2000 p 477)

Nesta seccedilatildeo utilizaremos para anaacutelise a segunda ediccedilatildeo da obra pois acreditamos ter

sido a que circulou em Goiaacutes jaacute que a terceira data de 1857 (BOTO 1997)

Publicado pela Imprensa Nacional em Lisboa com 319 paacuteginas210 o livro

apresenta inicialmente um aviso geral aos leitores e outro aos redatores de toda a

impressa portuguesa ambos com ressalva sobre o seu meacutetodo e a necessidade de

conhececirc-lo primeiro para depois dirigir-lhe criacuteticas Agrave imprensa Castilho eacute mais

enfaacutetico dizendo da obrigaccedilatildeo de conhecerem aceitarem e recomendarem a obra

nesse texto associa tambeacutem a ideia da escrita de um livro agrave tarefa de civilizar ou seja

o livro denota o sentido de transformaccedilatildeo com impactos culturais e sociais

(CASTILHO 1853 p XXV-XXVI)

209 Pierre-Alexandre Lemare pedagogo francecircs nasceu em 1766 e faleceu 1835 ldquopouco conhecido no seu tempo quase esquecido hoje [] autor de vaacuterias obras didaacuteticasrdquo (DIAS 2000 p 469) Dentre essas obras podemos destacar Cours theacuteorique et pratique de langue franccedilaise (1804) Traiteacute complet drsquoorthographe drsquousage et de prononciation (1815) Maniegravere drsquoapprendre les langues suivie de lrsquoanalyse et de lrsquoexamen des meacutethodes ou projets de meacutethodes de Despautegravere Comeacutenius Port-Royal Locke Rollin Dumarsais Pluche Radonvilliers Lhomond Maugard Pestalozzi etc et drsquoun mot sur le proceacutedeacute de Lancastre (1817) Cours pratique et theacuteorique de langue latine ou meacutethode preacutenotionnelle (1817) Cours de lecture ougrave proceacutedant du composeacute au simple on apprend agrave lire des phrases puis des mots sans connaicirctre ni syllabes ni lettres composeacute de 41 figures en taille-douce repreacutesentant chacune selon la maniegravere dont elles sont envisageacutees une lettre une syllabe un mot ou une phrase de phrases preacutepareacutees tireacutees de la Bible et amenant dans les syllabes initiales de chaque ligne tous les genres drsquoassemblage neacutecessaires dont se composent les syllabaires et termineacute par un Dictionnaire de prononciation a lrsquousage des Franccedilais et des eacutetrangers (1818) 210 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 A obra tem dimensatildeo fiacutesica de 16 x 125 cm

192

Figura 8 Folha de rosto da 2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel

do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

A obra tem dedicatoacuteria ldquoA sua Alteza o Priacutencipe Real D Pedrordquo e vem seguida

de uma carta a ele com elogios e consideraccedilotildees sobre a responsabilidade da Coroa

na educaccedilatildeo popular Naquele momento Portugal passava pelo periacuteodo regencial

aguardando a maioridade de D Pedro para ser aclamado como Rei ato que veio a

ocorrer em 1855 Castilho (1853) tambeacutem faz um apelo lembrando que sua obra eacute a

primeira dedicada ao Priacutencipe e sugerindo sua oficializaccedilatildeo no ensino portuguecircs

Embora o autor anuncie que essa dedicatoacuteria eacute desinteressada fica evidente sua

estrateacutegia de que ao enaltecer a jovialidade do Priacutencipe tambeacutem expressa a

modernidade instaurada em seu meacutetodo

[] o livro qe ousei pocircr nas suas matildeos eacute a carta da emancipaccedilatildeo da pueriacutecia eacute a boa nova jaacute festejada por matildees e paes e augura porqe no ler e escrever e escrever popular se encerra tudo uma eacutera nova uma revoluccedilatildeo moral drsquoestas em qe reis e principes e pontiacutefices devem arvorar o estandarte tocar o primeiro rebate e postar-se na primeira linha dos combatentes (CASTILHO 1853 p XXII-XXIII)

193

Chartier (1998) advoga que era comum a dedicatoacuteria de livros para os

Priacutencipes em razatildeo de que esses proviam os escritores de benefiacutecios cargos postos

estabelecendo uma relaccedilatildeo de clientelismo e patrociacutenio do mercado livresco A

retoacuterica construiacuteda na dedicatoacuteria e no Proacutelogo em Capiacutetulos211 que vem na

sequecircncia incide naquilo para o que Bourdieu (2011) chama a atenccedilatildeo na produccedilatildeo

de um livro ndash objeto cultural Quando o produzimos produzem-se paralelamente

crenccedilas que fazem com que ele ldquoseja reconhecido como um objeto cultural como um

quadro como uma natureza-morta se natildeo produzo isso natildeo produzi nada apenas

uma coisardquo (BOURDIEU 2011 240) Desse modo Castilho (1853) natildeo somente

apresenta ou explicita as ideias da sua obra como para Boto (1997) inaugura em

Portugal um debate sobre a importacircncia de um meacutetodo para o ensino e sobre a loacutegica

para a aprendizagem da leitura difundindo a crenccedila de que sua proposta alcanccedila

resultados porque parte do princiacutepio do ensinar pela seduccedilatildeo pelo prazer razatildeo pela

qual para o autor em relaccedilatildeo a outros meacutetodos tradicionais que circulavam no paiacutes

a crianccedila aprendia a ler e escrever em menos tempo

Tratando ainda da materialidade do livro e de sua organizaccedilatildeo apoacutes o Proacutelogo

em Capiacutetulos antes das liccedilotildees para a aplicaccedilatildeo do meacutetodo haacute quatro textos

intitulados ldquoMobilia e afaia necessarias para uma aula de leitura repentinardquo (p 1)

ldquoDisposiccedilatildeo do pessoal de uma aula de leitura repentinardquo (p 3) ldquoAvisos

eisperimentaes ao professor (p 7) ldquoTempo e modo das liccedilotildeesrdquo (p 9) Todos esses

apresentam a ritualizaccedilatildeo do meacutetodo desde os objetos escolares utilizados nas aulas

ateacute a postura do professor que tem um papel decisivo para o sucesso do processo

Para Castilho (1853) ldquoo professor estaacute sempre em cena quasi sempre em peacute

gritando palmeando acionando atentissimo a tudo e para toda a parte ao qe diz ao

qe deve dizer ao como o deve dizer ao qe eisecuta ao que ouve []rdquo (CASTILHO

1853 p 9) O professor ao aplicar uma liccedilatildeo tatildeo logo percebesse que estava

provocando fadiga nos alunos deveria trocar a atividade

O meacutetodo eacute organizado em 21 liccedilotildees todas antecedidas por um texto intitulado

de ldquoAdvertencia preacutevia aacute liccedilatildeordquo em que o autor apresenta atividades a serem

realizadas eou conhecimentos a serem abordados com os alunos antes da aplicaccedilatildeo

211 Castilho (1853) intitula o Proacutelogo como ldquoProacutelogo em Capiacutetulosrdquo pois divide as suas consideraccedilotildees em trecircs toacutepicoscapiacutetulos intitulados Capiacutetulo I ndash Istoria do presente metodo Capiacutetulo II ndash O qe eacute este metodo Capiacutetulo III ndash A qem pertence o presente metodo

194

da liccedilatildeo aleacutem de exarar preceitos teoacutericos que embasam o trabalho pedagoacutegico pelo

meacutetodo Castilho

Em Portugal a campanha de Castilho natildeo obteve sucesso Castelo-Branco

(1977) avalia ser esse o principal motivo de o autor procurar em outros locais a difusatildeo

do seu meacutetodo Em fevereiro de 1855 Castilho chegou ao Brasil212 e teve uma

audiecircncia com o Imperador D Pedro II que lhe concedeu autorizaccedilatildeo para ministrar

o Curso Normal de Leitura Repentina no Municiacutepio da Corte (BA CORREIO

MERCANTIL 11 de fevereiro de 1855 p 2)

A partir de uma consulta na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

notamos que no Brasil houve divulgaccedilotildees do meacutetodo Castilho em 1853 quando na

imprensa do Rio de Janeiro comeccedilaram a circular notiacutecias sobre a aplicaccedilatildeo desse

meacutetodo em Portugal e suas vantagens para o ensino raacutepido da leitura Localizamos

diversos textos publicados no Correio Mercantil durante o ano de 1853 na proviacutencia

do Rio de Janeiro O primeiro texto se refere a uma carta publicada na seccedilatildeo Exterior

com o tiacutetulo ldquoExtracto de uma carta escripta no dia 2 de agosto de 1853 em Lisboa por

um dos professores da Escola Normal do Methodo de Leitura Repentinardquo (CORREIO

MERCANTIL 01 de setembro de 1853 p 1) A carta natildeo eacute assinada e relata a

experiecircncia de aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho em Portugal e sua divulgaccedilatildeo na

Espanha Itaacutelia e Brasil No texto haacute alusatildeo a que no Brasil havia-se estudado o

meacutetodo e que algueacutem fizera experiecircncias que o desabonavam Explica tambeacutem que

provavelmente a pessoa que o aplicou utilizou a primeira ediccedilatildeo da obra de Castilho

que natildeo era mais do que o sistema Lemare ldquomelhoradiacutessimordquo e em contraposiccedilatildeo

recomenda o estudo da segunda ediccedilatildeo

[] Esta sim que reuacutene nrsquoum todo harmocircnico conjuntamente com elementos jaacute reconhecidos e agora aperfeiccediloados e pela primeira vez reunidos outros da mais prodigiosa efficacia sem precedente algum nacional ou estrangeiro antigo nem moderno taes como decomposiccedilatildeo e leitura auricular que satildeo a nossa via ferrea [] seja como focircr eacute evidente que mais dia menos dia se introduziraacute nesse imperio um dos mais poderosos meios civilizadores nestes ultimos

212 A chegada de Antonio Feliciano de Castilho ao Brasil eacute registrada pelo jornal Correio Mercantil de 11 de fevereiro de 1855 em notiacutecia intitulada ldquoA nova estrelardquo assinada por B A ldquoacaba de despontar em nosso bello horizonte uma fulgurante estrela do ceacuteo lusitano deixando o soberboso Tejo para vir esparhar-se aacute nossa majestosa Guanabara O digno vate Portuguez cuja lyra ressoou sempre hormoniosa em nossa alma o distincto litteracto o Sr Antonio Feliciano de Castilho acha-se entre noacutes []rdquo (BA CORREIO MERCANTIL 11 de fevereiro de 1855 p 2) Acompanhando a notiacutecia haacute dois poemas saudando Castilho escritos por Bernardino Pinheiro e M Leite Machado

195

tempos descobertos (CORREIO MERCANTIL 01 de setembro de 1853 p 1)

Diferente desse primeiro texto os demais estatildeo assinados por Joatildeo Vicente

Martins213 (1810-1854) que descreve sua experiecircncia em Portugal quando assistiu

agraves liccedilotildees e exerciacutecios do meacutetodo Castilho de leitura repentina sugerindo a sua

aplicaccedilatildeo nas escolas brasileiras Ao que tudo indica Martins foi se natildeo o primeiro

um dos principais divulgadores de Castilho no Brasil

Martins foi meacutedico lisbonense e trouxe as primeiras praacuteticas da homeopatia

para o Brasil por volta de 1837 (FERREIRA 1994) Em 1854 publicou o livro Cartilha

de leitura repentina ou plaacutegio do Methodo de Castilho (MARTINS 1854)214 utilizando

segundo Ferreira (1994) a teacutecnica francesa da zincografia215 da qual foi precursor no

paiacutes

O primeiro texto sobre o meacutetodo Castilho que Martins publicou no Correio

Mercantil216 propangadeia o lanccedilamento da segunda ediccedilatildeo da obra Metodo Castilho

para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do

escrever justificando que natildeo aplicaria tal meacutetodo porque estava se dedicando com

afinco aos estudos da homeopatia oferece aos habilitados para ensinar por esse

meacutetodo um ordenado ou gratificaccedilatildeo a casa os livros e materiais para abertura de

uma escola de leitura repentina Essa oferta se repete em outras de suas publicaccedilotildees

durante o ano de 1853 quando tambeacutem anuncia o patrociacutenio da reimpressatildeo do livro

de Castilho oferecendo a todas as Cacircmaras Municipais do Impeacuterio um exemplar do

Meacutetodo gratuitamente

O Methodo Castilho vai fazer com que a leitura seja mais facil ao pobrezinho filho de um misero sertanejo do que ateacute agora tem sido aos principes e filhos de grandes senhores Noacutes vamos reimprimir o Methodo Castilho vamos fazer elle as gravuras paniconographicas e vamos dar a musica suavissima de seus cantares escripta conforme o novo methodo ou pauta E porque esperamos gastar pouco nesta

213 Em alguns de seus textos publicados no Correio Mercantil entre 1853-1854 Joatildeo Vicente Martins tambeacutem assinava J V Martins 214 O livro foi publicado no Rio de Janeiro na Tipografia da viuacuteva Vianna Junior Conteacutem 159 paacuteginas e um anexo (de paacuteginas natildeo numeradas) com os desenhos das letras do alfabeto e nuacutemeros cada um associado a um desenho A obra tem dimensatildeo de 205 x 135 cm Martins copia vaacuterios trechos do Meacutetodo Castilho acrescentando explicaccedilotildees para aplicaccedilatildeo dessa proposta de ensino 215 Teacutecnica de impressatildeo que consiste em utilizar como matriz uma placa de zinco para imprimir ou gravar 216 Trata-se do texto ldquoUma escola de leitura repentina pelo Methodo Castilhordquo publicado na seccedilatildeo ldquoPublicaccedilotildees a pedidordquo (CORREIO MERCANTIL 3 de setembro de 1853 p 2)

196

reimpressatildeo e porque Deus manifestamente veiu em nosso auxilio daremos pelo menor preccedilo possivel cada exemplar do Methodo Castilho reservando os lucros que houverem para a manutenccedilatildeo de uma ESCOLA NORMAL DE LEITURA REPENTINA Todas as camaras municipaes do Imperio poderatildeo mandar buscar aacute nossa casa (rua de S Joseacute n 59) um exemplar desse Methodo quando reimpresso que lhe seraacute dado gratuitamente com tudo o mais que a este respeito publicarmos (MARTINS J V CORREIO MERCANTIL 8 de setembro de 1853 p 2)

A accedilatildeo de Martins sem duacutevida fez com que o obra e o ideaacuterio de Castilho

fossem conhecidos nas proviacutencias do Impeacuterio E conforme mencionamos em 1855 o

governo goiano enviou ao Municiacutepio da Corte o professor Feliciano Primo Jardim para

conhecer o meacutetodo jaacute que havia notiacutecias de que seu autor estava ministrando curso

no Rio de Janeiro Essa accedilatildeo eacute um marco pois foi a primeira vez pelo menos que se

tem notiacutecia ateacute entatildeo que um professor goiano era enviado ao Municiacutepio da Corte

numa missatildeo pedagoacutegica Logo nesta seccedilatildeo da tese apresentaremos as impressotildees

de Primo Jardim analisando as repercussotildees dessa viagem na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes

41 UM PROFESSOR GOIANO NO RIO DE JANEIRO IMPRESSOtildeES SOBRE OS MEacuteTODOS

CASTILHO E SIMULTAcircNEO

Primo Jardim saiu em sua missatildeo em 3 de setembro de 1855 O Presidente

Machado concedeu ao professor uma ajuda financeira para custear as suas despesas

no Municiacutepio da Corte sob a obrigaccedilatildeo de que ele natildeo podia pedir demissatildeo do

emprego por trecircs anos jaacute que um de seus compromissos era aplicar o meacutetodo

Castilho em Goiaacutes (MACHADO Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1855 p 23-24)

Pelo discurso apresentado por Machado (1855) se evidencia que para concretizaccedilatildeo

do ensino de leitura e escrita deveria haver investimento em objetos e compecircndios

indispensaacuteveis para subsidiar o processo Essa questatildeo denota certo avanccedilo do poder

provincial em conceber a escola de primeiras letras o que aos poucos impacta na

proacutepria legislaccedilatildeo educacional em Goiaacutes demonstrando tambeacutem um diaacutelogo com o

que vinha ocorrendo em acircmbito nacional (MORTATTI 2000 MARCILIO 2016)

Consideramos dessa maneira que a viagem de Primo Jardim agrave Corte eacute um marco

que auxiliou inclusive na definiccedilatildeo dos rumos da legislaccedilatildeo educacional em Goiaacutes

como veremos doravante

197

Na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas do Arquivo Histoacuterico Estadual de

Goiaacutes217 encontramos um relatoacuterio escrito por Primo Jardim narrando suas

experiecircncias do Rio de Janeiro datado de 28 de novembro de 1855 e endereccedilado ao

Presidente da Proviacutencia de Goiaacutes Antonio Augusto Pereira da Cunha Apesar de sua

extensatildeo a seguir transcrevemos alguns de seus trechos na iacutentegra em razatildeo de

trazerem elementos importantes para a compreensatildeo da natildeo oficializaccedilatildeo do meacutetodo

Castilho na proviacutencia goiana

Quando Primo Jardim chegou ao Municiacutepio da Corte natildeo encontrou Castilho e

tambeacutem descobriu que o meacutetodo por ele escrito natildeo havia sido adotado nas escolas

do Rio de Janeiro em virtude do que solicitou permissatildeo para frequentar algumas das

principais aulas da Corte O relatoacuterio portanto eacute fruto das experiecircncias na escola da

freguesia de Sacramento descrevendo inicialmente as observaccedilotildees das aulas com

o meacutetodo Castilho e posteriormente as das aulas com o meacutetodo simultacircneo

oficialmente adotado na Corte

Relatorio Ilmordm e Exmordm Senrordm Tendo sido encarregado pela Resoluccedilaotilde de 21 de Julho do corrente anno de vir a esta capital estudar o methodo de ler e escrever que pretendia plantar o Conselheiro Antonio Feliciano de Castilho entreguei a 24 drsquoAgosto a regencia da cadeira em que sou vitaliciamente provido e parti no dia 3 de Setembro para esta Cocircrte onde cheguei em 22 de Outubro do referido anno como jaacute tive a honra de participar a VExordf em officio datado de 6 do mez que corre ndash Nrsquoesse mesmo officio comuniquei a V Exordf que jaacute naotilde se achando aqui o dito Conselheiro Castilho apresentei o officio do Exmordm Antecessocircr de VExordf ao Exmordm Senrordm Inspector Geral da instrucccedilatildeo publica de que depois de informado de naotilde ter sido adoptado nesta Capital o methodo portuguez Castilho obtive permissatildeo para visitar as principais aulas aqui estabelecidas tendo em vista naotilde soacute colher alguma vantagem dessas visitas como o cumprimento do artigo 4 da jaacute citada Resoluccedilaotilde ndash Servindo-me pois drsquoessa permissatildeo dirigi-me aacute escola da freguesia do Sacramento onde encontrei o respectivo Professocircr leccionando pelo methodo aqui actualmente seguido e em cima das salas do mesmo estabelecimento um outro Professor que como eu comissionado pela sua Provincia ensaiava o methodo de leitura repentina cuja exposiccedilatildeo acabou de ouvir particularmente do proprio author visto que o curso publico tinha-se terminado de huma maneira irregular (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

No que se refere ao meacutetodo Castilho suas observaccedilotildees foram feitas numa sala

de aula de um professor que fez o curso com o portuguecircs Castilho durante a sua

217 Seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 Documento com 10 paacuteginas costurado nas laterais

198

estada no Rio de Janeiro Primo Jardim reitera que esse curso havia finalizado de

maneira irregular Segundo Castelo-Branco (1977) as cartas de Castilho dirigidas agrave

esposa durante seu periacuteodo no Brasil revelam que em 1855 as sessotildees puacuteblicas sobre

o seu meacutetodo foram encerradas antes do previsto devido a duas razotildees

fundamentais primeiro porque ldquono decorrer do curso foram apresentadas

discordacircncias e foi contestado o seu meacutetodordquo segundo ldquoA F Castilho filia

discordacircncias e contestaccedilotildees ao meacutetodo em pruridos patrioacuteticos visto existir no Brasil

o meacutetodo de Costa e Azevedordquo (CASTELO-BRANCO 1977 p 42)

Depreende-se nesse ponto que o meacutetodo Castilho natildeo foi bem recebido na

Corte sobretudo pela forte oposiccedilatildeo do professor Costa e Azevedo Castilho acusa

inclusive Costa e Azevedo de ser plagiaacuterio de Joseph Jacotot218 (CASTELO-

BRANCO 1977 BOTO ALBUQUERQUE 2018) Albuquerque e Boto (2017)

explicam que Costa e Azevedo atuou como diretor da Escola Normal de Niteroacutei e

professor de todas as cadeiras da instituiccedilatildeo publicando em 1832 as Liccedilotildees da

Instruccedilatildeo Elementar denominadas de Liccedilotildees de Ler compostas por 53 liccedilotildees para o

ensino de leitura pela marcha sinteacutetica (COSTA E AZEVEDO 1832) Em virtude das

rixas entre Castilho e Costa e Azevedo o primeiro acusou o segundo de plaacutegio agraves

obras do francecircs Joseph Jacotot e do portuguecircs Antoacutenio Arauacutejo de Travassos219

ldquoEsse cenaacuterio de embates entre diferentes propostas de meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo no

Brasil Imperial remontou um contexto de disputas poliacuteticas filosoacuteficas sociais dentre

outras que extrapolam as querelas dos meacutetodos pedagoacutegicosrdquo (ALBUQUERQUE

BOTO 2017 p 230 grifo das autoras)

Primo Jardim tambeacutem explicita elementos do meacutetodo Castilho que consistia

basicamente na decomposiccedilatildeo das palavras em siacutelabas e letras atribuindo a essas

os sons originais e por fim retornando agrave palavra inteira

218 Jean Joseph Jacotot (1770-1840) nasceu na Franccedila em Dijon ldquoEacute considerado um pedagogo francecircs Estudou Direito em Dijon Ensinou retoacuterica e depois letras e matemaacutetica Apoacutes a Revoluccedilatildeo foi oficial do exeacutercito francecircs mas apoacutes a queda de Napoleatildeo teve de se exilar na Beacutelgica Em 1818 ainda exilado na Beacutelgica aceitou um cargo na Universidade Seus alunos natildeo falavam francecircs e ele natildeo falava flamengo Apoacutes a Revoluccedilatildeo de 1830 regressa agrave Franccedila na tentativa de propagar seu meacutetodo de ensino que buscava a emancipaccedilatildeo intelectual atraveacutes da educaccedilatildeordquo (BOTO ALBUQUERQUE 2018 p 29) Para mais informaccedilotildees sobre a atuaccedilatildeo de Joseph Jacotot cf Ranciegravere 2015 219 Sobre isso Castelo-Branco (1977) reproduz trechos das cartas de Castilho em que faz a denuacutencia do plaacutegio Numa perspectiva descritivo-analiacutetica Albuquerque e Boto (2017) analisam as obras de Jacotot e Travassos contrapondo-as com o livro Liccedilotildees de Ler de Costa e Azevedo (1832)

199

ndash Procurarei dar a VExordf uma ideacuteia ainda que muito imperfeita do que tenho podido observar acerca do ensino primario nesta corte ndash Da pratica de alguns dos differentes processos de que se compotildee o methodo portuguez castilho pude coligir e do mesmo texto se vecirc que elle consiste em dar aos meninos com a possivel clareza o conhecimento da palavra fazer que eles com o socorro do rhythomo marcado com a percussatildeo de palmas a decomponhaotilde em syllabas e estas em elementos que por um processo contrario reunaotilde estes elementos em syllabas e destas formem a palavra alternando com o Professocircr este exercicio que tem o nome de leitura auricular e que tem grande importancia neste systema (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Como o proacuteprio Castilho (1853) aponta a palavra eacute o objeto da leitura e a fala

uma competecircncia anterior agrave habilidade de leitura Assim sendo o autor desenvolveu

a chamada leitura auricular mencionada por Primo Jardim que consistia na repeticcedilatildeo

do processo de decomposiccedilatildeo e composiccedilatildeo das palavras em siacutelabas e letras

acompanhado pela percussatildeo das palmas como ele explica detalhadamente no livro

O mestre aqi dividiraacute clara e pausadamente muitas palavras em silabas acompanhando cada silaba com uma palma ou pancada de vara e metendo de silaba a silaba um intervalo [] Logo qe o mestre presume qe a maioria dos discipulos tem entendido esta divisatildeo das palavras em postas silabas ou tempos propotildee-lhes palavras uma e uma pronunciando cada uma clara e distintamente mas de um jato e fazendo com qe os ouvintes lhrsquoa recambiem logo dividida em silabas acompanhada cada silaba por cada uma drsquoeles com uma palma [] Suponhamos qe eacute navio a primeira palavra que lhes qer apresentar para eisemplo drsquoesta recitaccedilatildeo esparralhada Dir-lhes-aacute primeiro navio correntemente depois o mesmo dividido nos cinco elementos de qe o vocaacutebulo se compotildee tendo cuidado em natildeo falsificar nenhum drsquoeles e em os proferir a um e um com certa demora e desleixo imitativo n-acirc-v-i-u Mulher m-u-lh-eacute-r Terra t-eacute-rr-acirc (CASTILHO 1853 p 18-19 p 21)

Apoacutes essa praacutetica explorando os sons das letras e suas transformaccedilotildees nas

palavras o professor apresenta as letras escritas entrando em cena as imagens

associadas agraves letras

Apresentaotilde-se varias figuras mais ou menos semelhantes aacutes letras fazendo-se sobre cada huma dellas pequenas historias taes que dellas resulte gravar na memoria dos ouvintes naotilde soacute a foacuterma como o valor das mesmas letras ndash Comeccedila este processo pelas vogaes e logo que signaes que as representaotilde saotilde conhecidos dos alunnos daotilde-se-lhes a ler palavras em cuja composiccedilatildeo naotilde entrem senaotilde as mesmas vogaes Passa-se depois co conhecimento das consoantes dos sons nasalados e finalmente das articulaccedilotildees compostas propondo-se a sempre para serem shysthmicamente lidas com a maior exacccedilatildeo aquellas palavras que contenhaotilde em si somente os elementos anteriormente conhecidos sendo intermeiado este processo do canto

200

de varias regras que dizem respeito aacute pronuncia de certas letras (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Aleacutem da leitura auricular temos acima descritos os princiacutepios da leitura ocular

em que se apresenta agrave crianccedila como os sons podem ser representados sentidos

pelos olhos por meio do registro escrito ou impresso Iniciando pelas vogais cada letra

eacute acompanhada de uma historieta que auxilia o aluno a memorizar tanto a sua escrita

por meio da associaccedilatildeo entre a imagem e o formato da letra quanto os seus variados

valores sonoros

Figura 9 Paacuteginas 29 e 31 do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (1853)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

As historietas faziam relaccedilatildeo direta com a imagem da letra No caso da letra

ldquoArdquo a histoacuteria tratava de um preguiccediloso que vivia a bocejar e escorar-se pelas coisas

Para todas as letras as historietas enfatizavam os diferentes sons delas uma vez que

o meacutetodo consistia nessa primeira exploraccedilatildeo fonecircmica Ainda sobre essa questatildeo da

201

associaccedilatildeo da imagem letras e histoacuterias vale ressaltar que entre as polecircmicas do

plaacutegio de Castilho ao Meacutetodo Lemare o primeiro esclarece que da obra do segundo

ele toma essa ideia de empreacutestimo dando a ela outro caraacuteter e outro direcionamento

(CASTILHO 1853) Nos capiacutetulos introdutoacuterios da segunda ediccedilatildeo de seu livro

Castilho (1853) responde agraves criacuteticas e especulaccedilotildees de o seu meacutetodo ser uma coacutepia

do francecircs Lemare confrontando o livro de Lemare e o seu enfatizando que Lemare

propotildee um ensino pelo meacutetodo individual jaacute o Castilho pode ser aplicado sobre as

bases do meacutetodo simultacircneo visto que em suas proacuteprias palavras ldquoo meu metodo se

acha por tal arte desenvolvido e concertado qe tatildeo bem e eficazmente se poacutede

acomodar a uma classe de seiscentos discipulosrdquo (CASTILHO 1853 p LVI)

A sequecircncia das liccedilotildees como o proacuteprio Primo Jardim (1855) observou nas

aulas a que assistiu o professor apresenta as vogais (satildeo seis a e i y o u) as

consoantes (satildeo dezenove m n l r b p d t f v q k e ccedil s z x j g) os sons

nasalados com duas letras (satildeo sete an atildeo em em im on un) e as articulaccedilotildees

compostas com duas letras (satildeo quatro ch lh nh e ph) Primo Jardim (1855) destaca

que percorridas todas as letras passa-se ao ensino dos sinais de pontuaccedilatildeo Poreacutem

na obra de Castilho acompanhando o progresso das liccedilotildees observamos que haacute

anteriormente o exerciacutecio das ldquocombinaccedilotildees logogriacuteficasrdquo ou seja com as

letrassiacutelabas de uma palavra formam-se outras palavras O professor copia as

palavras no quadro com as siacutelabas separadas por hiacutefen cada siacutelaba enumerada

iniciando pelo nuacutemero 1 Daiacute por diante o exerciacutecio consiste em fazer combinaccedilotildees

entre as siacutelabas formando novas palavras conforme exemplo abaixo

1 2 3 4 5 6 7 Ma-te-ri-a-li-da-de Sete De Sete com acento circumflecso Decirc Seis Da Seis com acento agudo Daacute Cinco Li Quatro A Quatro com acento agudo Aacute [] Seis e seis Dada Um e dois Mate Dois e um Tema (CASTILHO 1853 p 165)

As combinaccedilotildees segundo o autor podem ser feitas sem respeitar as

convenccedilotildees ortograacuteficas pois a intenccedilatildeo eacute aprender a leitura Essa praacutetica faz parte

de um exerciacutecio de leitura ocular definido como a leitura da palavra grafada e

visualmente exposta seja no quadro-negro ou em um impresso

A escrita para Castilho deve ser introduzida posteriormente ao aprendizado

da leitura Entre as 21 liccedilotildees de sua obra eacute somente na liccedilatildeo 17ordf que os exerciacutecios

de escrita aparecem recomendando que ela seja feita nas ardoacutesias individuais a partir

202

da observaccedilatildeo de quadros modelos afixados na sala que contecircm a grafia das letras

Tal direcionamento justifica os materiais solicitados por Primo Jardim para aplicaccedilatildeo

do meacutetodo Castilho entre eles ardoacutesias giz esponja ou papel e laacutepis para os alunos

uma coleccedilatildeo completa de quadros que representam o alfabeto quadros modelos para

a escrita220 (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Outro material solicitado e recorrentemente utilizado na execuccedilatildeo do meacutetodo eacute

o Mississipi caracterizado como ldquouacutema grande teia de panno enrolada em dous

cilindros na qual estaotilde escriptas em grandes caracteres romanos palavras e numeros

para serem lidosrdquo (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm

123) Essa descriccedilatildeo eacute muito semelhante agrave que Castilho faz desse objeto em sua obra

ldquouma ou mais teias de papel formadas de folhas pegadas pela eistremidade uma aacutes

outras sendo a largura destas teias proporcionada ao comprimento dos cilindros do

Mississipi em qe tem de ser enroladasrdquo (CASTILHO 1853 p 4) Nele ficavam escritas

palavras nuacutemeros romanos nuacutemeros letras para serem lidas pelos alunos

Primo Jardim tambeacutem socilicita o livro do meacutetodo Castilho para o professor

podendo ser um para cada aluno bem como os exemplares do texto Sciencia do Bom

Homem Ricardo de Benjamin Franklin e o livro Arte de aprender a ler a letra

manuscripta de Duarte Ventura (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo

Avulsa Caixa nordm 123) Os dois uacuteltimos livros seriam utilizados conforme Primo Jardim

(1855) elucida para o ensino da letra manuscrita e letra redonda

Sciencia do Bom Homem Ricardo foi um texto de leitura escolar que circulou

no Brasil imperial e sobre o qual nos debruccedilamos com maiores detalhes na seccedilatildeo

anterior Conforme analisamos era geralmente publicado em letra de imprensa (ou

tambeacutem chamada de redonda) difundindo preceitos morais e valores sociais para

formaccedilatildeo de um cidadatildeo pronto para o trabalho (ARRIADA TAMBARA DUARTE

2015)

Jaacute a obra de Duarte Ventura segundo Batista (2002) foi provavelmente

publicada entre 1830 e 1848 pela firma de J-P Aillaud em Paris Como se enuncia

na capa ela eacute organizada em 10 liccedilotildees da letra mais faacutecil para mais difiacutecil

A ldquoPrimeira liccedilatildeordquo como se daacute geralmente nos livros do gecircnero apresenta o alfabeto em letras manuscritas maiuacutesculas (p 3 a 4) os numerais de 1 a 10 (p 4) e o alfabeto (p 5) novamente agora em letras minuacutesculas assim como nova sequecircncia dos numerais em

220 Esses quadros apresentam as letras do alfabeto maiuacutesculas e minuacutesculas de variadas caligrafias Segundo Castilho (1853) podem ser feitos por qualquer caliacutegrafo

203

tamanho menor Nessas pranchas utiliza-se sempre a letra cursiva inclinada As demais liccedilotildees constroem uma antologia (sempre em cursiva) composta por um uacutenico excerto de texto (no caso a opccedilatildeo recai em geral sobre Camotildees e ldquoOs Lusiacuteadasrdquo) por um texto do autor do livro ou de um texto desse autor entremeado por excertos de outros autores No que diz respeito agrave temaacutetica os textos celebram episoacutedios e particularmente heroacuteis da histoacuteria portuguesa (D Afonso Henriques D Joatildeo de Castro Afonso de Albuquerque) em geral inseridos por meio dos tiacutetulos e da introduccedilatildeo no quadro de valores como o amor agrave independecircncia nacional e agrave paacutetria assim como a lealdade a ela (BATISTA 2002 natildeo paginado)

Pinto (2009) em anaacutelise ao livro de Duarte Ventura explica que a obra aleacutem

de apresentar um meacutetodo de ensino de leitura e escrita tem um caraacuteter vigoroso da

educaccedilatildeo ciacutevica objetivando formar cidadatildeos patriotas com espiacuterito heroico e

militarista Trata-se por isso de um compecircndio ldquode todas as virtudes humanas morais

e cristatildes para a formaccedilatildeo do lsquohomem novorsquo para um lsquomundo novordquo (PINTO 2009 p

60) O livro Arte de aprender a ler a letra manuscripta como o proacuteprio tiacutetulo enuncia

tinha por objetivo ensinar a letra manuscrita ao aluno

No anexo ao relatoacuterio de Primo Jardim (1855) haacute uma relaccedilatildeo dos objetos

necessaacuterios para a praacutetica do meacutetodo de leitura repentina para uma turma com 8

alunos Na listagem ele solicita apenas 1 livro do meacutetodo Castilho (2$000 reacuteis) 8

exemplares da Sciencia do Bom Homem Ricardo (valor unitaacuterio $200) 8 do livro da

Arte de aprender a ler a letra manuscripta por Duarte Ventura (valor unitaacuterio $800)

(PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123) Essas

quantidades e valores denotam aspectos do ideaacuterio que circulava sobre as praacuteticas

de ensino de leitura e escrita no impeacuterio

O primeiro que podemos depreender refere-se aos aspectos econocircmicos Dado

o alto valor das obras impressas em geral eram elas destinadas ao professor que

copiava as liccedilotildees na lousa ou solicitava que os alunos fizessem as atividades

utilizando a ardoacutesia individual Os livros que eram adquiridos para os alunos eram os

de menor valor nesse caso tanto a obra de Benjamin Franklin quanto a de Duarte

Ventura que se comparadas agrave de Castilho eram de menor custo

O segundo ideaacuterio estaacute correlacionado ao desenvolvimento na escola de certa

mentalidade que associava o ensino de leitura e escrita agrave formaccedilatildeo moral e ciacutevica

notadamente presente nos livros adotados Por fim ao observar a quantidade de

objetos notamos pressupostos do meacutetodo de ensino que circulava naquele momento

sendo o meacutetodo individual o mais empregado nas escolas

204

No relatoacuterio de Primo Jardim (1855) eacute mencionado o meacutetodo simultacircneo como

aquele que estava sendo adotado oficialmente nas escolas da Corte Embora

descreva e recomende o meacutetodo simulacircneo Primo Jardim argumenta que nos trecircs

meacutetodos haacute evidentes dificuldades

Passarei agora a offecere aacute consideraccedilatildeo de VExordf mui suscintas observaccedilotildees sobre o methodo actualmente adoptado nesta Cocircrte ndash Dos tres methodos de ensino mais geralmente conhecidos o individual em que cada discipulo recebe as liccediloes diretamente do Professor o mutuo em que os alunnos aprendem e ensinaotilde mutuamente uns aos outros e o simultaneo em que uma soacute liccedilao explicada pelo proprio Professor deve ser ouvida e tem de servir para todos os escolares este ultimo eacute o actualmente adoptado nas escolas desta Cocircrte pois que assim o determina o artigo 73 do Regulamento approvado pelo Decreto de 17 de Fevereiro de 1854 Releva porem notar que assim como methodo individual o primeiro dos methodos deixa de ser proficuo desde que a quantidade dos discipulos passa de certo numero assim como o ensino mutuo deixa de offerecer segundo alguns resultados verdadeiramente vantajosos por isso que os escolares naotilde tem a sufficiente capacidade para transmitirem a seos colegas os conhecimento de a que elles haotilde necessidade assim tambem o ensino rigorosamente simultaneo naotilde deixa de apresentar embaraccedilos bem serios ao Professor que o tem de praticar E isto eacute claro Em huma escola de primeiras letras quasi diariamente concorrem alunnos a inscreverem-se na respectiva matricula e a liccedilaotilde drsquoaquelles que jaacute se achaotilde matriculados a quinze ou vinte dias naotilde poacutede servir para aquelle que eacute admittido quinze ou vinte dias depois Eacute verdade que este obstaculo se poderia de alguma sorte remover fixando-se a epoca para a admissatildeo aacute matricula porecircm sendo diversas as materias que se lhes tem de ensinar e diversas as capacidades dos alunnos aparece drsquoaqui a necessidade de se dividir uma mesma aula em vario numero de classes que por suas qualidades especiaes naotilde podem ser ao mesmo tempo regidas unicamente pelo Professocircr o qual por isso mesmo tem de confial-as aos cuidados dos mais adiantados de seos alunnos recorrendo assim ao methodo do ensino mutuo e ficando desta arte prejudicada a rigorosa simultaneidade do ensino ndash Eacute pois o ensino mutuo por diversos modos alterado a base sobre que descanccedila o systema mixto das escolas que aqui tenho visitado ndash Em todas ellas encontraotilde-se os monitores das classes e toda a aula obedecendo ao som da campainha a signaes que lhes faz o monitor qual que tem o seo assento ao lado do Professocircr Como porem todas estas modificaccediloes tem sido operadas segundo a entender dos mui dignos e zelosos Professocircres que com bastante dopteridade dirigirem os primeiros passos da mocidade fluminense estudando cada hum em particular o melhor meio de o conseguir resulta drsquoaqui naotilde haver ainda uma perfeita uniformidade de systhema circunstancia esta que tem necessariamente de desaparecer em vista do que dispotildee o artigo 76 do jaacute citado Regulamento (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

O excerto eacute o iniacutecio da segunda parte do relatoacuterio em que o autor relata sobre

os meacutetodos de ensino encontrados na Corte ndash o individual o muacutetuo e o simultacircneo

205

Esse uacuteltimo por ser o adotado oficialmente o descreve com maiores detalhes com a

ressalva de que no territoacuterio fluminense natildeo havia uniformidade sobre os modos de

ensinar Nesse periacuteodo estava em vigor a Reforma Couto Ferraz (BRASIL 1854) que

embora tenha estabelecido o meacutetodo simultacircneo para as escolas em geral tambeacutem

deu brecha para o Inspector Geral determinar quando julgar conveniente a adoccedilatildeo

de outro meacutetodo conforme os recursos e necessidades

Primo Jardim (1855) indica os preceitos do professor Candido Matheos de Faria

Pardal221 conhecido como um dos mais distintos professores da capital

ndash Em quanto porem esta uniformidade se naotilde estabelece procuro iniciar-me no modo de ensinar seguido pelo Senrordm Candido Matheos de Faria Pardal um dos mais distinctos Professocircres desta Capital ndash Elle como quasi todos divide os trabalhos da sua aula que como as outras comeccedila as 9 horas da manhatilde e termina aacutes 2 da tarde em quatro processos a saber o de escripta o de cathecismo o de contabilidade e o de leitura fazendo objeto do 1ordm a calligraphia desde as linhas obliquas ateacute o cursivo do 2ordm as diversas liccedilotildees do cathecismo historico de Fleury do 3ordm a arithmetica desde os numeros diacutegitos ateacute as proporccediloes e do 4ordm o alfabeto ateacute a analyse gramatical sendo todas estas materias convenientemente distribuidas pelas diversas classes em que estaacute dividida toda a aula em que naotilde saotilde occupadas por mais de 7 alunnos inclusive o monitor respectivo (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

No relatoacuterio descreve que as aulas de Pardal se organizavam no ensino da

escrita do catecismo da aritmeacutetica e da leitura Todos esses quatro processos se

baseavam no aprendizado dos conteuacutedos mais simples aos mais complexos A escola

era organizada em vaacuterias turmas que natildeo ultrapassavam 7 alunos regidas pelo

professor mais o monitor e um professor adjunto A organizaccedilatildeo em classe marca os

preceitos do meacutetodo simultacircneo que ainda mantinha resquiacutecios das caracteriacutesticas

do meacutetodo monitorial ou muacutetuo este contava com a participaccedilatildeo de monitores que

em pequenos grupos orientavam as liccedilotildees e zelavam pela disciplina dos alunos A

221 ldquoCandido Matheus de Faria Pardal viveu 70 anos (1818-1888) mais da metade dos quais trabalhando na docecircncia Estudou na Academia de Belas Artes foi professor na escola primaacuteria no Coleacutegio de D Pedro II no Instituto Comercial da Corte no Coleacutegio de meninas da Baronesa de Geslin diretor das escolas municipais se apropriou de ideias estrangeiras escreveu livros escolares aprovou outros examinou professores adjuntos e alunos mobilizou a categoria e tambeacutem foi eleitor devoto membro de irmandades diretor de sociedades e associaccedilotildees beneficentes recreativas e poliacuteticas organizou subscriccedilotildees e fez parte de diversas comissotildees para agecircncia na cidaderdquo (BORGES 2014 p 275) Borges (2014) baseando-se na micro-histoacuteria faz uma anaacutelise da vida profissatildeo e pensamento do Professor Pardal projetando-o nas redes de relaccedilotildees estabelecidas no movimento da vida da profissatildeo da escola da cidade e do mundo

206

Reforma Couto Ferraz natildeo menciona a figura do monitor mas a do professor adjunto

cargo exercido por alunos das escolas puacuteblicas maiores de 12 anos que tivessem

bons resultados e propensatildeo ao magisteacuterio Os professores adjuntos eram auxiliares

das praacuteticas de ensino do professor da turma Entretanto na observaccedilatildeo que Primo

Jardim (1855) faz das aulas do professor Pardal haacute a figura do adjunto e se manteacutem

o monitor Isto eacute as novas praacuteticas satildeo imprimidas nas velhas preservando elementos

simboacutelicos mantidos pelas crenccedilas que circulam no acircmbito pedagoacutegico

Os arranjos organizativos das salas de aulas pelo meacutetodo simultacircneo satildeo

destacados ao final do relatoacuterio Bancos dispostos paralelos agrave mesa do professor para

cada aluno uma mesa inclinada com uma lousa tinteiros fixos e cabides para

dependurar os exemplares de escrita ornamentavam a sala juntamente com o retrato

do Cristo crucificado e do Imperador Tal descriccedilatildeo corrobora a perspectiva de que

espaccedilo e tempo escolares eram normatizados por uma ldquogramaacutetica baacutesica da escolardquo

como Vidal (2005) explica retomando o conceito dos americanos David Tyack e Larry

Cuban nos anos de 1990

Primo Jardim (1855) por fim enumera em anexo ao relatoacuterio uma relaccedilatildeo de

objetos para abertura de escola do ensino simultacircneo para 200 alunos

Relaccedilaotilde dos utensilios necessarios para huma escola do ensino simultaneo contendo 200 alunnos 200 louzas 200 canetas de lataotilde 4 massos de lapis de pedra 1 [ilegiacutevel] de esponja 4 ditas de giz branco 4 grosas de pennas de accedilo 4 ditos de cabos para as mesmas 50 exemplares de grammatica de Coruja 50 ditos de arithmetica do mesmo author 50 exemplares de primeira collecccedilaotilde de carta 50 cathecismos historicos de Fleury 20 exemplares do expositor Portuguez 20 ditos da Sciencia do Bom Homem Ricardo 10 ditos de Historia do Brasil Coruja 60 ditos de Duarte Ventura 50 pautas obliquas 6 dusias de lapis finos 1 estampa de Jesus Crucificado 1 retrato de S M O Imperador Total 329$360 (PRIMO JARDIM 1855 AHEG Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123)

Ao listar o conjunto desses materiais Primo Jardim (1855) daacute forccedila ao

argumento de que o meacutetodo simultacircneo seria o melhor para oficializaccedilatildeo nas escolas

207

goianas jaacute que para uma aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho o custo eacute de ldquo350$040rdquo

(meacutedia de 4$380 por aluno) ao passo que no meacutetodo simultacircneo o custo totaliza

ldquo329$360rdquo (meacutedia de 1$646 por aluno)

Eacute importante ainda destacar que o meacutetodo simultacircneo e o meacutetodo Castilho satildeo

colocados como tendo a mesma natureza Mas enquanto o primeiro se refere ao

ensino inicial de leitura escrita e da numeraccedilatildeo o segundo tem natureza didaacutetica mais

abrangente podendo ser utilizado em qualquer acircmbito seja na instruccedilatildeo primaacuteria ou

em outro niacutevel da educaccedilatildeo

Como se lecirc na listagem haacute livros comuns entre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho

e do meacutetodo simultacircneo como a obra Sciencia do Bom Homem Ricardo e a de Duarte

Ventura Ainda para a instruccedilatildeo primaacuteria a partir das fontes consultadas acreditamos

que mais trecircs impressos dos mencionados acima tambeacutem eram utilizados para

ensinar a ler e escrever o Cathecismo historico de Fleury (ABBADE FLEURY 1846)

as primeiras coleccedilotildees de cartas e o Expositor Portuguez (MIDOSI 1831)

Era muito comum nesse momento da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil a

presenccedila do Catecismo entre os objetos escolares destinados aos alunos (TAMBARA

2003 2005 ORLANDO 2013) Na lista de Primo Jardim (1855) eacute referido o

Cathecismo historico de Fleury Entre os Catecismos usados nas escolas em Goiaacutes

esse foi um dos que obteve maior difusatildeo As coleccedilotildees de Cartas mencionadas satildeo

outro material muito comum no Brasil imperial para o ensino das primeiras letras

Frade (2010) esclarece que esse material era recorrentemente conhecido como

cartas cartas de ABC cartas de siacutelabas cartas de nomes Galvatildeo e Batista (1998) e

Catani e Vicentini (2011) acrescentam que esses materiais eram tambeacutem intitulados

de cartas de ldquoforardquo cartinhas222

O referido Expositor Portuguez tem como tiacutetulo completo O expositor

portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna e trata-se de um livro

destinado agrave instruccedilatildeo primaacuteria portuguesa publicado provavelmente em 1831 em

Londres (BOTO 1997) Escrita pelo portuguecircs Luiz Francisco Midosi (1796-1877)223

222 Para maiores detalhes sobre o Cathecismo Historico de Fleury e das Cartas de ABC cf seccedilatildeo 3 dessa tese 223 Boto (1997) explica que Midosi atuava na poliacutetica liberal em Portugal Ao publicar o jornal O portuguez comeccedilou a sofrer perseguiccedilatildeo poliacutetica foi preso e emigrou para Inglaterra em 1828 Voltou a Portugal em 1834 onde ldquopassou a exercer um acentuado papel poliacutetico junto aos poderes centrais Em 1836 Midosi seria nomeado Governador Geral do distrito de Portalegrerdquo (BOTO 1997 p 353)

208

durante o periacuteodo que passou na Inglaterra fugindo de uma perseguiccedilatildeo poliacutetica em

Portugal a obra foi amplamente divulgada no territoacuterio portuguecircs e tambeacutem circulou

no Brasil como constata Boto (1997)

Carneiro (1844) faz uma descriccedilatildeo do livro datando sua publicaccedilatildeo em 1830

Poreacutem o exemplar que identificamos na Biblioteca Nacional de Portugal224 eacute de 1831

e natildeo apresenta referecircncia de ediccedilatildeo levando-nos a concluir por meio de uma anaacutelise

comparativa com as outras ediccedilotildees do Expositor Portuguez que essa pode ser a

primeira ediccedilatildeo

O livro tem como meacutetodo de ensino o alfabeacutetico225 utilizando tambeacutem

conforme Boto (1997) ratifica a soletraccedilatildeo como teacutecnica para o aprendizado da

leitura Com 132 paacuteginas segundo Carneiro

Este interessante livro de educaccedilatildeo e de que muito careciam as nossas escolas primarias acha-se dividido em cinco secccedilotildees e estas em liccedilotildees progressivas a 1ordf conteacutem tudo quanto eacute relativo aacutes letras e formaccedilatildeo dos vocabulos de differentes sillabas a 2ordf e 3ordf trata de ler soletrando e em periodos a 4ordf conteacutem catecismos geraes de artes e sciencias a 5ordf traz noccedilotildees de mathematica taboada pesos medidas valores das moedas palavras similhantes em som mas diversas em orthografia e sentido oraccedilotildees maximas Moraes e explicaccedilatildeo dos termos latinos e abreviaturas que andam em uso (CARNEIRO 1844 p 221)

Midosi (1831) faz uma breve apresentaccedilatildeo da obra em suas paacuteginas iniciais

enfatizando a natureza gradual da aprendizagem defendendo portanto um ensino

baseado na marcha sinteacutetica explorando das noccedilotildees mais simples agraves mais

complexas Para tanto na sequecircncia discrimina o alfabeto em quadros com a grafia

da letra de imprensa maiuacutescula e minuacutescula acompanhada de uma figura com a

escrita de seu nome separada por siacutelabas (a ndash aacuter-vo-re b ndash bra-ccedilo c ndash cor-ti-ccedilo d ndash

da-do etc)

224 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo link lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 225 Segundo Frade (2014) ldquoempregado desde a antiguidade ateacute meados do seacuteculo XIX em vaacuterios locais cujo sistema de escrita eacute o alfabeacutetico o meacutetodo alfabeacutetico pode ser considerado o mais antigo Segue o princiacutepio geral dos meacutetodos sinteacuteticos de centrar a atenccedilatildeo do aprendiz em unidades menores e abstratas a serem combinadas progressivamente Em sua estrutura mais baacutesica propotildee aprender os nomes das letras do alfabeto reconhecer cada letra fora da ordem soletrar seu nome decorar alguns quadros de siacutelabas e depois tentar redescobri-las em palavras ou textos a partir da soletraccedilatildeo ndash com separaccedilatildeo por hiacutefens ou espaccedilos que vatildeo guiando a oralizaccedilatildeo No Brasil eacute comum o uso das expressotildees ldquoCartas de letrasrdquo ou ldquoCartas do ABCrdquo ldquoCartas de siacutelabasrdquo e ldquoCartas de nomesrdquo o que indica a sequecircncia em que a soletraccedilatildeo eacute exercitadardquo (FRADE 2014 p 214)

209

Figura 10 Paacuteginas 7 e 10 do livro O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua

materna (1831)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

O recurso de apresentar as palavras separadas por siacutelabas se constitui como

parte do meacutetodo proposto por Midosi (1831) iniciado pelo aprendizado do alfabeto

Posteriormente aumentando gradativamente o nuacutemero de letras o autor propotildee na

primeira seccedilatildeo do livro o ensino das siacutelabas de duas letras trecircs e quatro letras

monossiacutelabos de duas trecircs e quatro letras dissiacutelabos de trecircs quatro cinco e seis

letras trissiacutelabos de cinco seis sete e oito letras A proposta nas liccedilotildees da seccedilatildeo dois

eacute de ler soletrando pequenos textos narrativos nos quais todas as palavras satildeo

apresentadas com as siacutelabas separadas por um hiacutefen Somente a partir da paacutegina 55

da seccedilatildeo trecircs em diante os textos deixam de apresentar essa divisatildeo silaacutebica O

proacuteprio autor menciona que o leitor quando alcanccedilar essas liccedilotildees jaacute saberaacute ler e

treinaraacute a partir de entatildeo a leitura global das palavras conhecendo os sons de cada

210

siacutelaba na formaccedilatildeo das palavras Se acaso durante a leitura o aluno encontrar

alguma palavra que natildeo compreendeu e natildeo souber pronunciaacute-la aconselha

ldquoprimeiro pergunta o seu significado e depois dividindo-a em syllabas a pronunciaraacutes

com facilidaderdquo (MIDOSI 1831 p 55)

O Expositor Portuguez na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes eacute aqui

mencionado pela primeira vez todavia natildeo identificamos registros de que ele tenha

sido adotado nas escolas goianas entre os anos 50-60 do seacuteculo XIX Apenas a partir

dos anos de 1870 encontramos sua presenccedila nas listas de solicitaccedilatildeo de expediente

escolar conforme explicitamos na seccedilatildeo anterior

No corpo do relatoacuterio de Primo Jardim (1855) outro compecircndio eacute mencionado

sendo um dos mais difundidos e usados nas escolas da Corte o livro Historia de

Simatildeo de Nantua ou o Mercador de Feiras de Laurent Pierre de Jussieu226 Nas fontes

que consultamos no Arquivo Puacuteblico Histoacuterico do Estado de Goiaacutes especialmente

entre 1835 a 1886 natildeo encontramos referecircncia a que esse livro tenha sido usado em

escolas de primeiras letras em Goiaacutes Entretanto Arauacutejo e Silva (1975 p 152)

demonstra que a obra em questatildeo foi usada numa aula puacuteblica mista de primeiras

letras em Bonfim227 na proviacutencia goiana oitocentista A autora destaca que havia

apenas um exemplar do livro que passava de aluno em aluno em praacuteticas de leitura

coletiva

Simatildeo de Nantua como ficou popularmente conhecido eacute um livro escrito e

publicado na Franccedila em 1818 porteriormente traduzido para o portuguecircs por Philippe

Pereira de Arauacutejo e Castro em 1830 (SENA 2017) Segundo Arriada Tambara e

Duarte (2015) essa obra faz parte de uma seleccedilatildeo de compecircndios publicados no

periacuteodo imperial natildeo com intuito de serem textos escolares mas que ldquoforam utilizados

como suporte no processo de aquisiccedilatildeo da leitura Ademais o uso desses textos

estava vinculado ao processo de introjeccedilatildeo de valores eacuteticos e moraisrdquo (ARRIADA

TAMBARA DUARTE 2015 p 244)

No estudo de Lima e Barbosa (2009) eacute destacada a ampla circulaccedilatildeo dessa

obra no Brasil comprovando por meio de fontes documentais que houve pelo poder

226 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Nacional de Portugal pelo linklthttpsbooksgooglecombrbooksid=Qd3tAAAAMAAJampprintsec=frontcoveramphl=ptBRampsource=gbs_ge_summary_rampcad =0v=onepageampqampf=falsegt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 227 Em 1943 a cidade de Bonfim localizada na regiatildeo sul do estado de Goiaacutes passou a se chamar Silvacircnia

211

central da Corte uma tentativa de instaurar certa regularidade para o ensino de leitura

nas proviacutencias brasileiras principalmente por meio da promulgaccedilatildeo de leis e tambeacutem

pela expediccedilatildeo de orientaccedilotildees para as escolas de primeiras letras do impeacuterio Dessa

maneira entre as orientaccedilotildees expedidas pela Corte estava a utilizaccedilatildeo da Historia de

Simatildeo de Nantua para as aulas de leitura Gama e Gondra (1999) tambeacutem indicam

que esse livro foi utilizado na proviacutencia do Rio de Janeiro na deacutecada de 60 do seacuteculo

XIX

No apecircndice do relatoacuterio apresentado agrave Assembleia Geral do Rio de Janeiro

em 1872 assinado pelo Ministro e Secretaacuterio de Estado dos Negoacutecios do Impeacuterio

Joatildeo Alfredo Correcirca de Oliveira haacute um levantamento das escolas puacuteblicas e privadas

existentes no Municiacutepio da Corte especificando o meacutetodo e os compecircndios adotados

em cada instituiccedilatildeo naquele momento (OLIVEIRA Relatoacuterio do Ministeacuterio dos

Negoacutecios do Impeacuterio 1872) Ao analisar esse documento encontramos vaacuterias

referecircncias agrave obra de Jussieu (1867) tanto em escolas primaacuterias quanto em

secundaacuterias o que corrobora a afirmaccedilatildeo de Primo Jardim (1855) em seu relatoacuterio a

obra Simatildeo de Nantua era geralmente seguida para o ensino de leitura em escolas de

primeiras letras da Corte

212

Figura 11 Folha de rosto da 9ordf ediccedilatildeo do livro Historia de Simatildeo de Nantua ou O mercador de

feiras (1867)

Fonte Biblioteca Nacional de Portugal

A ediccedilatildeo portuguesa a que tivemos acesso data de 1867 com 280 paacuteginas

dividida em duas partes A primeira parte (da paacutegina 7 a 187) com 39 capiacutetulos

apresenta Simatildeo de Nantua bem como suas histoacuterias advindas de vaacuterios lugares e

com diferentes personagens A segunda parte (da paacutegina 189 a 276) sob o tiacutetulo

ldquoObras poacutestumas de Simatildeo de Nantuardquo foi organizada pelo companheiro de viagem

de Simatildeo posteriormente agrave publicaccedilatildeo do livro ao que tudo indica em 1829 (SENA

2017) Eacute formada por 8 capiacutetulos No primeiro o companheiro de Simatildeo explica que

o amigo jaacute no leito de morte entrega-lhe uma pasta com manuscritos de seus

pensamentos e ensinamentos ldquopeguei na pasta e guardei-a como se a deixa fosse

uma burra Passados alguns instantes expirou o meu amigo e no outro dia vi assistir

ao seu funeral toda a cidade vestida de luctordquo (JUSSIEU 1867 p 195)

213

Historia de Simatildeo de Nantua ou o Mercador de Feiras narra a histoacuteria de Simatildeo

de Nantua conhecido assim em referecircncia seu local de nascimento Nantua uma

comuna francesa228 O desenrolar das histoacuterias ocorre a partir das vivecircncias de Simatildeo

que andava de feira em feira montado num cavalo vendendo mercadorias Era um

homem descrito com cabelos brancos ldquoo seu rosto risonho e nedio causava prazer

Natildeo obstante a sua grande barriga movia-se com agilidade e andava direito arrimado

ao seu bordatildeo de viagemrdquo (JUSSIEU 1867 p 8) Embora a famiacutelia tenha investido

na educaccedilatildeo de Simatildeo para que ele seguisse a vida sacerdotal ele abandonou os

estudos para seguir a profissatildeo do pai como mercador de feiras

Cada capiacutetulo da histoacuteria se desenrola em uma regiatildeo diferente da Franccedila em

que Simatildeo vendia suas mercadorias nas feiras e transmitia ensinamentos de civilidade

e moralidade Os diaacutelogos apresentados no livro vatildeo induzindo os leitores para

comportamentos e praacuteticas que atendiam aos ldquoideais educacionais que estavam

sendo propalados no Brasil imperial seja por ratificar um meacutetodo que estava em uso

nas escolas francesas229 seja por ter conteuacutedos de moral de virtude e de civilidaderdquo

(SENA 2017 p 212)

Por fim haacute tambeacutem uma obra mencionada no relatoacuterio de Primo Jardim (1855)

como indicada nas escolas de primeiras letras para o ensino de leitura Historia do

Brasil para a leitura da letra redonda Tomando em consideraccedilatildeo a listagem de livros

solicitados no anexo do relatoacuterio de Primo Jardim (1855) eacute provaacutevel que a obra a que

ele se referiu tenha sido escrita por Antonio Aacutelvaro Pereira Coruja popularmente

conhecido como Professor Coruja

Sabemos que as obras do Professor Coruja230 circularam em vaacuterias escolas

brasileiras no periacuteodo imperial como constatam Valdez (2006) e Bastos (2006) O

228 Nantua faz parte da proviacutencia de Ain localizada ao leste da Franccedila 229 O meacutetodo a que Sena (2017) se refere eacute o muacutetuo tambeacutem conhecido como Lancaster citado pelo personagem Simatildeo de Nantua na obra de Laurent Pierre de Jussieu como o ideal para transformar a crianccedila num sujeito doacutecil e civilizado Cf o capiacutetulo V intitulado ldquoSimatildeo de Nantua faz ver as vantagens das escolas em que as crianccedilas se instruem pelo methodo de ensino mutuo e conta a historia do cavalheiro Pauletrdquo (JUSSIEU 1867 p 22-27) 230 Segundo Tambara (2003) as obras didaacuteticas de Coruja satildeo Compecircndio de Gramaacutetica da Liacutengua Nacional (18351849 1862 1863 1867 1872 1879) Manual dos Estudantes de Latim (1838 1849 1866 ndash 5ordf ediccedilatildeo) Compecircndio de Ortografia da Liacutengua Nacional (1848) Manual de Ortografia da Liacutengua Nacional (1850 1852) Exerciacutecios para meninos (1850) Aritmeacutetica para meninos contendo unicamente o que eacute indispensaacutevel e se pode ensinar nas escolas de primeiras letras (1852) Liccedilotildees de Histoacuteria do Brasil adaptada agrave leitura nas escolas contendo a Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do Brasil (1855 1857 1861 1866 1869 1873 e 1877) Compecircndio de Gramaacutetica Latina do Pe A Figueiredo (1852) Catecismo histoacuterico-geograacutefico riograndense (1886) (TAMBARA 2003 p 83)

214

livro referido por Primo Jardim (1855) eacute o Liccedilotildees de Histoacuteria do Brasil adaptada agrave

leitura nas escolas publicado pela primeira vez em 1855 A partir da anaacutelise da 9ordf

ediccedilatildeo desse livro (CORUJA 1873) identificada na Biblioteca Digital do Senado

Federal231 podemos constatar que ele natildeo foi concebido propriamente para o ensino

inicial de leitura e escrita mas para o treino da leitura corrente Primo Jardim (1855)

informa que o referido compecircndio era para o ensino da letra redonda ou de imprensa

o que retoma aspectos das caracteriacutesticas da escola de primeiras letras no periacuteodo

no tocante ao ensino dos diferentes tipos de letras para a crianccedila Ensinava-se a

leitura de variadas letras no intuito de o aluno natildeo ter dificuldade de ler os livros que

circulavam dentro e fora da escola reconhecendo as caligrafias existentes Portanto

o ensino das letras em suas diferentes formas e tamanhos foi um conteuacutedo no

processo de alfabetizaccedilatildeo das crianccedilas na escola brasileira no periacuteodo imperial

ganhando ainda mais ecircnfase no contexto republicano agrave luz dos princiacutepios dos

manuais franceses (FETTER LIMA LIMA 2010 VIDAL GVIRTZ 1998)

Enfim a partir da anaacutelise das fontes evidenciadas a experiecircncia de Primo

Jardim em 1855 analisada no decorrer deste toacutepico contribuiu na formulaccedilatildeo do

Regulamento sobre a Instruccedilatildeo Primaacuteria de Goiaacutes em 1856 jaacute que o meacutetodo Castilho

foi descartado oficializando-se o meacutetodo simultacircneo Sendo assim quais foram as

repercussotildees na proviacutencia goiana da viagem do Professor Primo Jardim

42 REPERCUSSOtildeES DA VIAGEM DE PRIMO JARDIM NA PROVIacuteNCIA GOIANA

Quando Primo Jardim fez a viagem em 1855 estava ainda em voga em Goiaacutes

o Regulamento de Instruccedilatildeo nordm 5 de 25 de agosto de 1835 (GOIAacuteS 1835) que natildeo

especificava a adoccedilatildeo de um meacutetodo de ensino nas escolas goianas Naquele

momento a proviacutencia cogitava o lanccedilamento de um novo regulamento de ensino jaacute

que no Municiacutepio da Corte a Reforma Couto Ferraz tinha sido sancionada em 1854

(BRASIL 1854) O governo goiano ao enviar o Professor Feliciano Primo Jardim para

a Corte acompanhou uma tendecircncia que vinha se consolidando no Brasil imperial a

procura pelos grandes centros urbanos como modelos para a educaccedilatildeo

231 A versatildeo digitalizada dessa obra estaacute disponiacutevel na Biblioteca Digital do Senado Federal pelo linklthttpwww2senadolegbrbdsfhandleid242459gt Acesso em 24 de fevereiro de 2019

215

Tal como estaacute divulgado no Jornal O Tocantins em 1855 (O TOCANTINS 15

de dezembro de 1855 p 4) o Presidente Machado pretendia uniformizar o ensino em

Goiaacutes por isso a necessidade de o professor Primo Jardim viajar ao Rio de Janeiro

para conhecer um meacutetodo que estava em alta naquele momento

Como visto o meacutetodo Castilho natildeo foi recomendado por Primo Jardim jaacute que

na Corte as escolas natildeo o seguiam e sim empregavam os meacutetodos individual ou

simultacircneo ou muacutetuo Seguindo o que estava exarado na Reforma Couto Ferraz

(BRASIL 1854) na proviacutencia goiana foi aprovado um novo Regulamento sobre a

instruccedilatildeo primaacuteria em 1856 (GOIAacuteS 1856)

Consideramos que a viagem de Primo Jardim repercutiu na elaboraccedilatildeo desse

novo regulamento uma vez que no discurso apresentando agrave Assembleia Legislativa

Provincial de Goiaacutes pelo entatildeo Presidente Antonio Augusto Pereira da Cunha fica

evidente que ele teve acesso ao relatoacuterio do Professor Primo Jardim e natildeo viu motivos

para reformar o ensino em Goiaacutes sob as bases do meacutetodo Castilho

A 23 drsquoabril ultimo chegou aacute esta capital o professor da 1ordf aula de 1as

letras da mesma Feliciano Primo Jardim que por ordem de meu antecessor foi a corte estudar o methodo de ler escrever que ali pretendia plantar o conselheiro Antonio Feliciano de Castilho O mesmo professor natildeo alcanccedilando na corte o conselheiro Castilho com permissatildeo do exmordm conselheiro inspector geral da instrucccedilatildeo primaria visitou diversas aulas do municipio neutro e entatildeo assistio as liccedilotildees que dava hum professor que como elle comissionado pela provincia ensinava o methodo de leitura repentina cuja exposiccedilatildeo ouvira particularmente do proprio autor visto que o curso publico tinha-se terminado drsquohuma maneira irregular por cujo motivo natildeo pocircde aprender o dito methodo Em seu minucioso relatorio depois de dar noccedilotildees do methodo Castilho informa que dos tres methodos de ensino mais geralmente conhecidos a saber o individual o mutuo o simultaneo este ultimo eacute o actualmente adoptado nas escolas da corte como dispotildee o artigo 73 do regulamento aprovado pelo decreto de 17 de fevereiro de 1854 Methodo este que como diz o exmordm conselheiro inspector geral da instrucccedilatildeo primaria e secundaria da corte em seu relatorio apresentado ao exmordm sr ministro do imperio a 15 de fevereiro ultimo tem a seu favor a opiniatildeo dos homens mais ilustrados e mais competentes nestas materias e a sancccedilatildeo da pratica dos paizes mais adiantados Nesse imenso relatorio diz mais o exordm que natildeo haacute por ora rasotildees plausiveis para alterar o systema do regulamento e que a experiencia que a pouco se fez do systema Castilho natildeo ofereceu resultado para autorizar huma reforma (CUNHA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1856 p 21)

Uma fonte importante para cotejarmos com o discurso acima eacute o relatoacuterio

escrito pelo Professor Feliciano Primo Jardim identificado no Arquivo Histoacuterico

Estadual de Goiaacutes e analisado anteriormente Aleacutem da aproximaccedilatildeo de conteuacutedo

216

como por exemplo a menccedilatildeo aos meacutetodos de ensino simultacircneo individual e muacutetuo

como propostas seguidas na Corte o discurso do Presidente tambeacutem referencia que

chegou a suas matildeos um relatoacuterio minucioso enviado pelo Professor Primo Jardim

Notamos ao confrontar ambas as fontes que elas confirmam a tese da nossa

pesquisa no campo educacional mais especificamente no ensino inicial de leitura e

escrita a proviacutencia goiana abria-se agraves reformas instauradas no acircmbito nacional e

procurava estar em sintonia com as ideias de modernidade do Brasil oitocentista

Ainda que os trabalhos sobre a histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes especialmente no

impeacuterio revelem o atraso da educaccedilatildeo dessa proviacutencia em relaccedilatildeo agrave de outras

localidades no paiacutes as fontes realccedilam que a Igreja Catoacutelica estava fortemente

presente na alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas goianas o que entretanto natildeo foi empecilho

para que o governo procurasse alternativas para mudanccedilas na organizaccedilatildeo didaacutetica

das escolas de primeiras letras

Advertimos sobre essa questatildeo que a Igreja natildeo foi entrave para possiacuteveis

mudanccedilas porque nesse periacuteodo suas relaccedilotildees com o governo da proviacutencia eram

amistosas jaacute que ela mantinha um grande apoio popular em toda a extensatildeo do

territoacuterio goiano Embora a Igreja Catoacutelica tenha se consolidado como uma das

maiores apoiadoras da monarquia durante o periacuteodo imperial Azzi (1991 1992 1994)

salienta que o viacutenculo entre a Igreja e os governos provinciais nem sempre foi

conciliador mas marcado por contracensos e disputas de espaccedilo e poder Todavia o

governo central da monarquia brasileira apoacutes a revoluccedilatildeo liberal de 1842 segundo

Wernet (1987) preferiu nomear bispos ou autoridades religiosas que

correspondessem agraves tendecircncias conservadoras e monarquistas na tentativa de

dirimir ideais liberais radicais e ateacute mesmo republicanos

Em alguns momentos da histoacuteria de Goiaacutes como jaacute evidenciado na seccedilatildeo dois

desta tese mesmo o governo assumindo uma posiccedilatildeo anticlerical a Igreja recebeu

durante todo o impeacuterio o apoio dos Presidentes na manutenccedilatildeo de escolas catoacutelicas

goianas e do Seminaacuterio Episcopal inaugurado em 1872 devido ao forte apoio popular

que ela mantinha Fonseca e Silva (1948) demonstra que em muitas vilas da

proviacutencia era comum durante o impeacuterio que a populaccedilatildeo local e tambeacutem a que

estava nos arredores de uma determinada regiatildeo ajudassem na edificaccedilatildeo de uma

igreja Como jaacute aludimos em Goiaacutes os habitantes eram maiormente rurais e viviam

de uma economia tambeacutem ruralista os mais ricos auxiliavam com donativos enquanto

217

a populaccedilatildeo mais simples com a proacutepria matildeo de obra Geralmente era no entorno de

uma igreja que se formava alguma cidade goiana

Dentro das escolas de primeiras letras a Igreja estava presente de diferentes

maneiras No relatoacuterio de Primo Jardim (1855) jaacute destacamos que muitos dos

compecircndios adotados na Corte estavam impregnados de marcas do catolicismo e de

seus princiacutepios catequeacuteticos e de doutrina cristatilde Logo uma das repercussotildees na

proviacutencia dessa indicaccedilatildeo de livros feita por Primo Jardim foi a solicitaccedilatildeo ou a compra

de alguns desses materiais por ele mencionados para as escolas goianas

Na pesquisa feita na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas e de Documentaccedilotildees

Manuscritas Datilografadas e Impressas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

encontramos ofiacutecios do final da deacutecada de 50 e entre os anos 60 70 e 80 do seacuteculo

XIX que citam a compra e o envio agraves escolas de compecircndios indicados por Primo

Jardim (1855)

Sobre isso notamos por exemplo que houve uma grande repercussatildeo do livro

Sciencia do Bom Homem Ricardo na proviacutencia sobretudo no fim dos anos 50 e

durante toda a deacutecada de 60 posto que a primeira vez que encontramos menccedilatildeo

desse livro nas fontes consultadas foi em documento datado de 1859 quando a

Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica enviou para uso nas aulas do Professor Primo

Jardim alguns materiais por ele solicitados (BRANDAtildeO 30 de abril de 1859 p 36

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Importante

destacar que dentre todos os pedidos de livros de leitura corrente feitos por Primo

Jardim apenas esse foi enviado A esse respeito diferentes explicaccedilotildees poderiam ser

dadas mas ao analisarmos o custo desse livro em relaccedilatildeo aos outros como o proacuteprio

Primo Jardim (1855) alerta Sciencia do Bom Homem Ricardo tinha um preccedilo mais

acessiacutevel levando-nos a ponderar que a obra foi escolhida devido agraves suas vantagens

financeiras Soacute para termos uma ideia comparativa o governo conseguiria comprar 4

exemplares de Sciencia do Bom Homem Ricardo ao mesmo preccedilo de 1 exemplar do

livro Arte de aprender a ler a letra manuscripta de Duarte Ventura Jaacute em comparaccedilatildeo

ao livro do meacutetodo Castilho a diferenccedila era ainda maior o valor de 1 exemplar desta

obra correspondia a 10 exemplares de Sciencia do Bom Homem Ricardo

218

Daiacute em diante Sciencia do Bom Homem Ricardo esteve durante todo o impeacuterio

e iniacutecio da repuacuteblica nas listagens dos materiais encaminhados agraves escolas goianas232

Outras obras que se destacaram pelos pedidos avolumados de solicitaccedilatildeo ou

compra nas listas de expediente escolar sendo mencionadas pela primeira vez por

Primo Jardim (1855) e posteriormente citadas nas correspondecircncias da Presidecircncia

da Proviacutencia e ou da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica como materiais

encaminhados aos professores foram o popularmente conhecido Cathecismo

historico de Fleury (ABBADE FLEURY 1846) que circulou entre o final dos anos de

1850 e toda deacutecada de 1880 e O Expositor Portuguez ou rudimentos de ensino da

liacutengua materna (MIDOSI 1831) a partir da deacutecada de 1870

Acreditamos que essas obras foram usadas no processo inicial de ensino de

leitura e escrita de crianccedilas goianas pelos argumentos jaacute apresentados na seccedilatildeo trecircs

desta tese Para aleacutem da questatildeo dos compecircndios fazendo uma anaacutelise comparativa

com os materiais enviados no periacuteodo imperial agraves escolas goianas antes e depois do

marco temporal de 1855233 as fontes revelam que alguns objetos indicados por Primo

Jardim para aplicabilidade do meacutetodo simultacircneo e mencionados como essenciais

para manutenccedilatildeo das escolas foram remetidos com maior frequecircncia lousas

individuais laacutepis de pedra ou laacutepis esponja giz branco penas de accedilo botijas de tinta

aleacutem de folhas pautadas

Na pesquisa realizada no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes no periacuteodo de

1835 a 1886 identificamos 889 listas de expediente escolar em que constam ou o

pedido ou o envio de materiais mencionando algum dos objetos acima descritos

232 A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo encontramos menccedilatildeo agrave solicitaccedilatildeo ou compra da obra Sciencia do Bom Homem Ricardo para as escolas de primeiras letras em Goiaacutes nos livros da seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Manuscritas Datilografadas e Impressas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes nordm 397 (1858-1868) 436 (1862-1871) 529 (1871-1879) 575 (1873-1877) 584 (1873-1883) 762 (1883-1885) 831 (1885-1888) e 843 (1886) No levantamento de documentos feito na seccedilatildeo de Documentaccedilotildees Avulsas publicada no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 01 pela Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (BARRA UFG 2002) o livro Sciencia do Bom Homem Ricardo eacute mencionado nas listas de expediente escolar do fim da deacutecada de 50 ateacute os anos de 1880 Esses pedidos geralmente eram muito esparsos dirigidos a alguma escola ou professor da proviacutencia de modo que a quantidade natildeo ultrapassava 10 exemplares O uacutenico pedido que difere trata da compra de 100 coacutepias do livro Sciencia do Bom Homem Ricardo enviadas agraves escolas de primeiras letras em 1859 sendo o uacutenico livro de leitura corrente comprado em nuacutemero mais expressivo (THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ 14 de fevereiro de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1) 233 Justifica-se esse marco temporal pois em 1855 foi o ano da viagem de Primo Jardim agrave Corte (PRIMO JARDIM 1855)

219

Dessas listas cerca de 60 foram datadas a partir de 1860 um dado extremamente

relevante para conjecturarmos que a iniciativa do Estado de enviar um professor agrave

Corte reverberou em mudanccedilas nos modos de organizar as praacuteticas de ensino em

Goiaacutes diretamente relacionadas aos meacutetodos e materiais para o ensino de leitura e

escrita

Reconhecemos que natildeo eacute o fato isolado das experiecircncias do Professor Primo

Jardim na Corte em 1855 que influenciou propriamente na compra dos materiais

mencionados acima e na propagaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo na proviacutencia Somando-

se a isso haacute outras iniciativas que colaboraram para essa difusatildeo Entre elas

sabemos que na histoacuteria da cultura escrita esses objetos passaram a ser mais

divulgados no Brasil na segunda metade do seacuteculo XIX234 aleacutem de que a proacutepria

regulamentaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo por meio do Regulamento sobre a instruccedilatildeo

primaacuteria em 1856 (GOIAacuteS 1856) exigiu a entrada de novos materiais nas escolas

goianas Sobre isso Abreu (2006) aponta que mesmo apoacutes a indicaccedilatildeo do meacutetodo

simultacircneo no regulamento de 1856 os professores natildeo o adotaram e em muitos

casos os proacuteprios Inspetores tambeacutem natildeo o indicaram devido agrave falta de preparo dos

docentes para aplicaacute-lo Poreacutem sem duacutevidas esse foi um primeiro passo para

circulaccedilatildeo dessa proposta no acircmbito educacional da proviacutencia goiana

Para promover a difusatildeo do meacutetodo simultacircneo impulsionando sua aplicaccedilatildeo

nas classes de primeiras letras o Presidente Joseacute Martins Pereira de Alencastre

mandou imprimir em 1862 um Manual sobre esse meacutetodo distribuindo 50 coacutepias entre

as escolas da proviacutencia (ALENCASTRE 16 de marccedilo de 1862 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436) Neste mesmo ano Alencastre enviou

aos Inspetores Paroquiais uma correspondecircncia com ordem para a praacutetica do meacutetodo

simultacircneo no territoacuterio goiano

Nordm 20 16 de Marccedilo de 1862 1ordf Secccedilaotilde = Circular = Haja Vmce de mandar pocircr em execuccedilatildeo nas escolas publicas drsquoessa Parochia o methodo simultanneo e recomendando aos Professores que o ponhatildeo em pratica observaraacute se effectivamente o fazem conforme consignados no incluso manual que acabo de mandar imprimir para uso das escolas da Provincia ndash Nas informaccedilotildees que V tiver de prestar a respeito das escolas cuja inspecccedilatildeo se acha a seu cargo consignaraacute o desenvolvimento ~q por ventura for tendo esse methodo e os resultados que drsquoelle se for cothendo ndash Estava convencido que da inteligencia e zelo dos Professores se pode tudo esperar em favocircr do melhoramento do

234 Cf Frade e Galvatildeo (2016)

220

ensino e se por eles focircr bem compreendido o systema que mando pocircr em pratica ndash as vistas drsquoesta Presidencia em pouco seratildeo satisfeitas = Deos Guarde Vmce = Joseacute Martins Pereira drsquoAlencastre = Srn~ Inspector Parochial da Capital Identico aacutes demais Parochias da Provincia (ALENCASTRE 1862a 16 de marccedilo de 1862 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436)

A partir dessa correspondecircncia podemos inferir que tanto na escola da Capital

da proviacutencia quanto nas espalhadas pelos rincotildees de Goiaacutes o meacutetodo simultacircneo natildeo

estava sendo aplicado ateacute entatildeo conforme o Regulamento sobre a instruccedilatildeo primaacuteria

de 1856 previa (GOIAacuteS 1856) A ordem aos Inspetores de mandar executar esse

meacutetodo projeta nele as perspectivas de mudanccedilas do cenaacuterio da educaccedilatildeo goiana

Alencastre (1862a) tambeacutem ordena que em seus relatoacuterios os Inspetores Paroquiais

deveriam mencionar como estaacute sendo o desenvolvimento com esse sistema de ensino

e os frutos que os professores estatildeo colhendo com sua aplicaccedilatildeo Portanto natildeo passa

alheia ao Presidente uma forma de monitoramento para garantir a execuccedilatildeo do

meacutetodo simultacircneo jaacute que conforme elucidamos na seccedilatildeo dois desta tese Alencastre

foi um dos governantes que se destacou na frente de oposiccedilatildeo ao meacutetodo individual

investindo na compra de livros para implantaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo em Goiaacutes

(ALENCASTRE Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1862 p 63)

Retomando a discussatildeo acerca dos objetos fornecidos agraves escolas goianas a

partir de 1860 todos os de que trataremos adiante foram indicados por Primo Jardim

(1855) endossando a tentativa da saiacuteda da proviacutencia de uma tradiccedilatildeo de ensino

calcada na praacutetica individual para uma escola que buscava os ares da modernidade

principalmente por meio da aplicaccedilatildeo de novos meacutetodos e materiais de ensino

capazes de ensinar mais alunos em menos tempo

As lousas individuais ou ardoacutesias solicitadas por Primo Jardim (1855) confome

Arauacutejo e Silva (1975) descreve jaacute eram comuns na escola goiana devido ao emprego

do meacutetodo ordinaacuterio ou individual e tambeacutem da tentativa de implantaccedilatildeo do meacutetodo

muacutetuo ou Lancaster As lousas portanto eram um suporte de escrita de maior

durabilidade e muito mais econocircmicas do que a folha de papel ou ateacute mesmo o livro

escolar utilizados na praacutetica com o meacutetodo lancasteriano somente apoacutes a

alfabetizaccedilatildeo do aluno (BARRA 2013)

Fernandes (2008) advoga que a difusatildeo das lousas pelo mundo ocidental foi

decorrente das recomendaccedilotildees de seu uso para efetivaccedilatildeo do meacutetodo lancasteriano

221

Esse embora natildeo tenha sido oficializado na proviacutencia goiana deixou suas marcas na

formaccedilatildeo de uma escola que aspirava a se modernizar em face de um ideaacuterio de

racionalizaccedilatildeo do ato pedagoacutegico que vinha se expandindo no Brasil no seacuteculo XIX e

exigia um ensino raacutepido eficiente de baixo custo por meio da ordem da

disciplinarizaccedilatildeo do corpo e da mente (BASTOS 1999)

Para uso da lousa outros materiais geralmente eram enviados para os alunos

como o giz branco ou o laacutepis de pedra destinados segundo Larousse (1869) a

escrever ou desenhar sobre a ardoacutesia sendo que o uacuteltimo era composto

frequentemente de fragmentos de ardoacutesia um pouco mais macia As esponjas

tambeacutem de uso individual ou em grupo eram para apagar os erros ou o que estava

escrito nas lousas (BARRA 2013) ldquoA limpeza das pedras de lousa eacute interessante

dizer constituiacutea cuidado que ficava a criteacuterio do aluno O recomendaacutevel eram os

paninhos trazidos de casa em geral zelosamente conservados pelas meninasrdquo

(ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 127)

Ao contrapormos as fontes notamos que tambeacutem a partir dos anos de 1860

houve a solicitaccedilatildeo cada vez maior de folhas pautadas laacutepis penas de accedilo penas de

ave botijas de tinta e canivetes

Figura 12 Modelos de penas de accedilo

Fonte Disponiacutevel em lthttptipografosnetglossariopenahtmlgt Acesso em 03 de marccedilo de 2019

222

As chamadas penas de accedilo eram compostas por uma ponta de accedilo acoplada

a uma estrutura metalizada ou amadeirada nomeada de caneta Os vaacuterios cortes da

ponteira condicionavam o tipo de escrita que o escriba desejava empregar sendo ou

leve ou fina ou regular bem como o tipo de traccedilado ou grosso ou fino235 Essa

ponteira era comprada no formato desejado sendo um suporte de escrita mais

sofisticado do que as penas de ave jaacute que havia uma distinccedilatildeo de custo numa

proporccedilatildeo de a cada oito penas de ave comprava-se em meacutedia uma pena de accedilo

(GOIAacuteS 1873-1877 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

575) Por isso geralmente nas listas de expediente escolar haacute maior quantidade de

solicitaccedilotildees de penas de ave do que de penas de accedilo Essas comumemente eram

compradas para uso dos professores ou de escritores mais experientes como

revelam algumas correspondecircncias identificadas (GOIAacuteS 1858-1868 AHEG

Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Para aparar as penas de ave utilizavam-se canivetes tambeacutem presentes nas

listas de expediente escolar Frade (2014a) explicita que a pena de accedilo tambeacutem

conhecida como pena metaacutelica foi inventada em 1803 e divulgada na escola em 1840

A autora acrescenta que ao longo do seacuteculo XIX e iniacutecio do XX houve um

barateamento e difusatildeo desse suporte de escrita uma vez que afiar a pena era uma

accedilatildeo muito perigosa para as crianccedilas embora em muitas fontes analisadas vejamos

a menccedilatildeo ao canivete como um objeto para uso do aluno (CERQUEIRA 19 de marccedilo

de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Razzini (2008) acrescenta que a substituiccedilatildeo da pena de ave pela pena de accedilo foi

gradual e lenta pois sua ldquodesvantagem era enferrujar-se pelo efeito corrosivo da

tintardquo236 (RAZZINI 2008 p 96)

Para grafar utilizando ou a pena de ave ou a pena de accedilo molhava-se a

ponteira da pena na tinta Por isso havia a compra de botijas de tintas o que era feito

em grandes quantias remetidas agraves escolas A tinta era mantida para seu uso

conforme consta nas fontes inventariadas em tinteiros ou nos chamados aparelhos

de tinta tambeacutem fornecidos pela presidecircncia da proviacutencia Em 1858 houve a

235 Essa descriccedilatildeo toma como referecircncia o Glossaacuterio do site tipografosnet Disponiacutevel em lthttptipografosnetglossariopenahtmlgt Acesso em 03 de marccedilo de 2019 236 Os grandes opositores da substituiccedilatildeo da pena de ave pela pena de accedilo foram os caliacutegrafos jaacute que essa substituiccedilatildeo colocava em debate a tradiccedilatildeo da arte da escrita questionando inclusive a necessidade da profissatildeo e da caligrafia ornamental Sobre isso cf Buisson 1888

223

solicitaccedilatildeo de 100 tinteiros proacuteprios para uso escolar em que haacute informaccedilotildees sobre o

modo de preparo da tinta

Nordm 12 Secretaria da inspectoria geral da instrucccedilatildeo publica da provordf de Goyas 9 de Abril de 1958 = Ilmordm e Exmordm Senr~ = Na relaccedilatildeo dos objetos q~ deveriaotilde ser encommendados para as escolas publicas drsquoesta provincia enviada a com o meu offordm de 5 do corre deixou-se de mencionar por engano os seguintes objetos - 100 tinteiros proacuteprios para as ditas escolas = Simplices para se prepararem 100 garrafas de tinta de escrever para as ditas escolas = Deos Guarde a VExcia A sua Excia o Ilmordm e Exmo Senr~ Dordm Francisco Jannuario da Gama Cerqueira mto digno presidente desta provincia = O inspector geral Felippe Antonio Cardoso de Santa Crus (CRUS 1858e AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

A partir das informaccedilotildees transcritas destacamos dois pontos O primeiro refere-

se agrave tinta que poderia ser comprada pronta sendo que os ldquotipos de tinta de uso

comum em Goiaacutes eram a de carbono ou nankin a capeche e a ferro gaacutelica aleacutem das

extraiacutedas de vegetaisrdquo (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 162) Aleacutem disso como

constatamos acima podia-se comprar uma espeacutecie de siacutemplice que consistia em

ingredientes para composiccedilatildeo da tinta de escrever Ainda sobre o excerto ao

relacionar essa fonte com os dados das pesquisas de Frade (2008 2009 2014a) e

Razzini (2008) chegamos agrave conclusatildeo de que os tinteiros nomeiam no decorrer do

seacuteculo XIX tanto o recipiente onde se guardava a tinta quanto uma espeacutecie de

caneta Vale lembrar que os tinteiros que Primo Jardim (1855) menciona na

organizaccedilatildeo da classe pelo meacutetodo simultacircneo satildeo os objetos fixados na mesa do

estudante onde a tinta ficava guardada

Sobre os pedidos de papel ou folha pautada eles satildeo mencionados por Primo

Jardim (1855) tanto na listagem dos materiais para o meacutetodo simultacircneo quanto para

o meacutetodo Castilho demonstrando que esse suporte jaacute estava difundido na Corte para

o ensino da escrita apesar de que sua vulgarizaccedilatildeo no Brasil data do periacuteodo da

primeira repuacuteblica jaacute no iniacutecio do seacuteculo XX quando tambeacutem foram difundidos os

cadernos escolares (MIGNOT 2008 RAZZINI 2008)

Em Goiaacutes o papel a partir dos anos de 1850 tornou-se um dos materiais mais

solicitados pelos professores contudo ainda havia os pedidos de lousas individuais

Em algumas listas havia referecircncia ao papel pautado (ou tambeacutem nomeado de folha

com linhas) sendo mais comum apenas a referecircncia a papel de uso escolar (GOIAacuteS

1868-1871 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491) No

ofiacutecio encaminhado pelo Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felippe Antonio Cardoso

224

de Santa Crus ao Presidente da Proviacutencia em 13 de abril de 1858 ele explica que o

papel ao norte da proviacutencia era mais caro do que na capital bem como no sul (CRUS

13 de abril de 1858 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm

397) Por isso a distribuiccedilatildeo desse material nas escolas de primeiras letras goianas

foi desigual pois estava associada aos recursos e despesas provenientes para o

expediente das escolas de instruccedilatildeo primaacuteria Como as fontes indicam e a legislaccedilatildeo

da eacutepoca tambeacutem exarava geralmente a escola da capital de Goiaacutes tinha mais

recursos e materiais o que tambeacutem segundo Gondra e Schueler (2008) natildeo difere

de aspectos da histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil imperial

Um material natildeo solicitado por Primo Jardim (1855) mas jaacute havendo indiacutecios

de seu uso em Goiaacutes na segunda metade do seacuteculo XIX foi o quadro-negro Ele fazia

parte dos mobiliaacuterios necessaacuterios para o desenvolvimento do meacutetodo lancasteriano

adotados especialmente para os exerciacutecios de desenho linear e aritmeacutetica Nas fontes

a que tivemos acesso a primeira referecircncia a esse objeto foi no ano de 1861 quando

solicitado pelo entatildeo Presidente da Proviacutencia Joseacute Martins Pereira de Alencastre

para ser utilizado na escola de primeiras letras da Capital goiana (ALENCASTRE

1861 p 93 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264)

Arauacutejo e Silva (1975 p 125) explicita que anteriormente houve em 1833 a compra

de um quadro-negro enviado agrave proviacutencia aos cuidados de um professor do ensino

muacutetuo

Logo com a maior divulgaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo o quadro-negro passou

a ser solicitado mas ele ldquonatildeo suplantaria o emprego da lousa individual Ambos os

materiais seriam recomendados nas praacuteticas de ler e escrever especialmente nas

classes iniciantes durante todo o seacuteculo XIXrdquo (BARRA 2013 p 130) Heacutebrard (1995)

explicita o uso do quadro-negro nas escolas do seacuteculo XIX reiterando que sua

aplicaccedilatildeo primeiro se deu em escolas mais elitizadas do mundo e depois se propagou

para a instruccedilatildeo de todas as crianccedilas

Primo Jardim solicitou os objetos para execuccedilatildeo do meacutetodo Castilho ao que

tudo indica pelo relatoacuterio analisado no decorrer desta seccedilatildeo logo apoacutes o seu retorno

agrave proviacutencia goiana Vale destacar que no Diario do Rio de Janeiro na ediccedilatildeo de 25 de

janeiro de 1856 (RIO DE JANEIRO 25 de janeiro de 1856 p 5) consta na seccedilatildeo de

registro da saiacuteda do Porto o passageiro Feliciano Primo Jardim Tambeacutem o Jornal

Correio Mercantil na ediccedilatildeo da mesma data acrescenta que essa viagem foi em

direccedilatildeo a Pernambuco (CORREIO MERCANTIL 25 de janeiro de 1856 p 2) Esses

225

registros mostram o iniacutecio da saga de regresso de Primo Jardim a Goiaacutes que chega

agrave capital da proviacutencia em 23 de abril de 1856 como estaacute aludido no Relatoacuterio do

Presidente da Proviacutencia Antonio Augusto Pereira da Cunha (CUNHA Relatoacuterio de

Presidente de Goiaacutes 1856 p 21)

Em 1858 o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica menciona que ainda natildeo foram

adquiridos mas jaacute estavam sendo providenciados para Primo Jardim os objetos

necessaacuterios para experimentaccedilatildeo do meacutetodo Castilho de leitura repentina (CRUS 5

de abril de 1858 p 4 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa

nordm 397) Nesse ofiacutecio escrito pelo Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Felipe Antocircnio

Cardoso de Santa Crus eacute dito que aos professores da proviacutencia natildeo seratildeo enviados

materiais do meacutetodo Castilho e sim tratados de meacutetodos de ensino com ecircnfase no

simultacircneo sendo solicitados ao Presidente da Proviacutencia 20 exemplares destinados

agravequeles mestres que natildeo tinham condiccedilotildees de compraacute-los (CRUS 5 de abril de 1858

p 4 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397) Desse

modo o que vemos eacute que a viagem de Primo Jardim agrave Corte impulsionou a adoccedilatildeo

do meacutetodo simultacircneo em Goiaacutes bem como a compra de materiais condizentes com

essa proposta de organizaccedilatildeo didaacutetica

Primo Jardim aposentou-se em 29 de marccedilo de 1859 por motivos de sauacutede

como professor de geografia e histoacuteria do Liceu (CRUS 18 de marccedilo de 1859 p 31

29 de marccedilo de 1859 p 32237 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 397) Em 30 abril do mesmo ano o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica

Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo enviou correspondecircncia ao Presidente da Proviacutencia

Francisco Januario da Gama Cerqueira mencionando que Primo Jardim jaacute de posse

do material solicitado para aplicaccedilatildeo do meacutetodo Castilho abriria uma turma para testaacute-

lo e para tanto necessitaria de 16 meninos em estado de absoluta ignoracircncia para o

iniacutecio do trabalho em 1ordm de maio de 1859

Nordm 23 Em 30 de Abril comunicando ter posto a disposiccedilatildeo de Feliciano Primo Jardim tudo quanto depende da Inspectoria ensaio do methodo Castilho Secretaria da Inspectoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica de Goyaz 30 de Abril de 1859

237 Em Crus (18 de marccedilo de 1859) encontramos a solicitaccedilatildeo de aposentadoria de Primo Jardim por motivo de sauacutede na sequecircncia em Crus (29 de marccedilo de 1859) eacute concedida a aposentadoria e substituiccedilatildeo do professor Primo Jardim interinamente pelo professor de Filosofia do Liceu Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo que posteriormente assumiria o cargo de Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica de Goiaacutes

226

Ilmordm Exmordm Senr~ Em virtude da autorisaccedilatildeo verbal que V Excia conferio-me em uma das conversaccedilotildees particulares com que V Excia se dignou de honrar-me entendi-me com o professor aposentado Feliciano Primo Jardim pondo a sua disposiccedilatildeo tudo quanto difundisse drsquoessa inspectoria para levar a efeito o ensino aque taotilde generosamente se propoe do methodo simultaneo portuguez Castilho Em consquencia drsquoesta minha declaraccedilaotilde e mesmo por se achar officialmente autorisado por V Excia declarou-me aquelle professor que precisava de 16 meninos em estado de absoluta ignorancia 16 lousas e lapis correspondentes numeros igual de folhetos da Sciencia do Bom Homem Ricardo dous bancos e um pouco de giz Todas estas exigencias faratildeo imediatamente satisfeitas e pretende aquelle professor dar principio aos trabalhos do ensino no dia 1ordm do proacuteximo mecircs de Maio Aqui tenho a honra de levar ao conhecimento de V Excia aver de alguma cousa bem V Excia que ordenem contrario Dios Guarde a V Excia Ilmordm Exmordm Senr Doutor Francisco Januario da Gama Cerqueira Presidente drsquoesta Provincia o Inspector Joatildeo Luis Her Brandatildeo (BRANDAtildeO 30 de abril de 1859 p 36 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397)

Em resposta o Presidente Cerqueira em 3 de maio de 1859 daacute ciecircncia de que

foram disponibilizados a Primo Jardim os materiais solicitados e os 16 meninos

Secccedilatildeo Nordm 27 Palacio do Governo de Goyaz 3 de Maio de 1859 Pelo seo officio de 30 dersquoAbril ultimo sob ndeg 94 fiquei inteirado de que em virtude das ordens desta Presidencia Vmce mandou prestar ao Professor aposentado Feliciano Primo Jardim os objetos por me requisitados e 16 meninos em estado de absoluta ignorancia das mateacuterias que se ensinatildeo nas escolas de primeiras letras pelo methodo ordinario afim de tentar um ensaio do methodo Castilho Deos Guarde a Vmce Francisco Jamario da Gama Cerqueira Senro Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (CERQUEIRA 3 de maio de 1859 DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes vol 1)

Sobre esses dois registros um aspecto importante a destacar eacute que ambos

relatam o interesse do governo provincial no experimento com o meacutetodo Castilho

Essa questatildeo deixa transparecer a crenccedila de que os materiais e meacutetodos importados

eram melhores do que os disponiacuteveis no paiacutes demonstrando tal como Lajolo e

Zilberman (1996) apontam a forccedila da presenccedila portuguesa no mercado editorial

brasileiro bem como as tramas poliacuteticas enviesadas no campo educacional Tudo isso

se constituiacutea diante da ldquoprecariedade dependecircncia e insuficiecircncia das instituiccedilotildees

culturais brasileirasrdquo e mantinha-se tambeacutem devido agraves articulaccedilotildees poliacuteticas que

Antonio Feliciano de Castilho autor do meacutetodo Castilho e outros escritores de livros

portugueses estabeleciam com embaixadores e outros poliacuteticos do Brasil (LAJOLO

227

ZILBERMAN 1996) Sobre esse meacutetodo em questatildeo as autoras reiteram que ele foi

por diversas vezes ldquomencionado em discursos parlamentares e relatoacuterios

governamentaisrdquo (LAJOLO ZILBERMAN 1996 p 189)

A escolha por Primo Jardim para essa experiecircncia com o meacutetodo Castilho haacute

que se salientar natildeo foi aleatoacuteria Esse professor atuou como funcionaacuterio puacuteblico em

escola de primeiras letras no Liceu ocupou o cargo de Inspetor Paroquial da Capital

Consideramos que sua viagem como jaacute relatamos no decorrer desta seccedilatildeo eacute um

marco na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana uma vez que auxiliou no alastramento de novas

propostas de organizaccedilatildeo didaacutetica Sobre isso Abreu (2006) aponta em sua pesquisa

analisando uma tabela de utensiacutelios para expediente escolar elaborada pelo Inspetor

Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica em 1859 que ela foi montada ldquocom base na lista de

utensiacutelios e compecircndios apresentada pelo professor Feliciano Primo Jardim quando

esteve na capital do Impeacuteriordquo A autora ainda acrescenta que ldquotalvez a ideia fosse ir

aos poucos dotando as escolas com os utensiacutelios necessaacuterios para gradativamente

implantar o meacutetodo simultacircneo nas escolas de primeiras letrasrdquo (ABREU 2006 p 204-

205)

Por fim natildeo encontramos fontes que revelassem se a classe com o meacutetodo

Castilho mencionada nos excertos anteriormente foi de fato aberta Arauacutejo e Silva

(1975) informa que a classe foi aberta mas

[] algum tempo depois apoacutes o iniacutecio das atividades com a classe experimental dava-se por encerrada a experiecircncia atendendo-se ao representado pelo professor (Ato de 7 de julho de 1859) Recolheram-se agraves respectivas escolas os alunos que prestaram ao ensaio natildeo vindo a lume as razotildees para sua brusca interrupccedilatildeo Talvez o motivo estivesse na sauacutede do professor jaacute aposentado (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 145)

Por conseguinte a partir da consulta aos diferentes documentos inventariados

nesta tese e sua anaacutelise notamos que o meacutetodo Castilho natildeo repercutiu positivamente

pelas escolas de primeiras letras espalhadas pela proviacutencia goiana

43 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

As discussotildees em torno dos meacutetodos para alfabetizaccedilatildeo ganharam

efervescecircncia na segunda metade do seacuteculo XIX quando no Brasil circularam

algumas publicaccedilotildees portuguesas dirigidas para o ensino inicial da leitura e da escrita

228

(MORTATTI 2000 2000a) Entretanto os debates existentes naquele momento foram

muito tiacutemidos pois ainda natildeo havia no paiacutes um mercado livresco consolidado voltado

agrave escola Os livros que aqui circulavam eram vendidos por altos preccedilos uma vez que

geralmente eram importados da Europa (LAJOLO ZILBERMAN 1996 HALLEWELL

2012) Por este fato o puacuteblico que a eles tinha acesso era restrito a uma elite

intelectual e quando muito a professores escolhidos pelo governo que desfrutavam

do privileacutegio de ter contato com livros e participar de cursos e em troca tinham o

dever de difundir os ideaacuterios aprendidos entre os seus pares aspirando agrave melhoria da

escola e do ensino popular (LAJOLO ZILBERMAN 1996)

Na histoacuteria da educaccedilatildeo do Brasil oitocentista haacute casos exemplares

historiografados por diferentes pesquisadores brasileiros de professores que

participaram de cursos ou tiveram acesso a livros sobre ideias inovadoras para o

ensino e posteriormente eram encarregados de difundir o que tinham aprendido

(MORTATTI 2000 MARCILIO 2016 dentre outros) Em Goiaacutes ao que tudo indica o

primeiro professor financiado pelo Estado para ter contato com novos materiais e

meacutetodos no Municiacutepio da Corte a fim de propagaacute-los na proviacutencia goiana foi Feliciano

Primo Jardim

No seacuteculo XIX um dos meacutetodos difundidos no territoacuterio brasileiro foi o do

portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho divulgado popularmente como meacutetodo

Castilho com o slogan de ser direcionado para o ensino raacutepido e agradaacutevel da leitura

e da escrita tanto na escola quanto no ambiente domeacutestico

Como exposto nesta seccedilatildeo Castilho esteve no Brasil em 1855 para divulgar o

seu meacutetodo por meio de um curso Entretanto o seu retorno para Europa se deu antes

do previsto jaacute que o curso terminou irregularmente devido aos confrontos entre as

ideias desse autor e outras de autores brasileiros que imperavam com suas

publicaccedilotildees naquele momento (BOTO ALBUQUERQUE 2018)

Para participar desse curso o governo da proviacutencia de Goiaacutes por iniciativa do

Presidente Antonio Candido da Cruz enviou ao Municiacutepio da Corte Feliciano Primo

Jardim no intuito de conhecer o meacutetodo Castilho Ao chegar agrave Corte o curso havia

finalizado poreacutem Primo Jardim conseguiu acompanhar algumas aulas pelo meacutetodo

Castilho e tambeacutem pelo simultacircneo Na anaacutelise empreendida nesta seccedilatildeo expusemos

que os ideaacuterios da obra Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler

impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever (CASTILHO 1853) circularam na

proviacutencia goiana poreacutem natildeo haacute documentaccedilatildeo suficiente que comprove a adoccedilatildeo

229

efetiva desse meacutetodo de ensino de leitura e escrita em Goiaacutes Sendo assim a viagem

de Primo Jardim contribuiu muito mais para oficializaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo no

Regulamento de Ensino de 1856 (GOIAacuteS 1856) jaacute que citado por ele como meacutetodo

em destaque nas escolas da Corte

Todas essas questotildees mostram que a proviacutencia de Goiaacutes natildeo se manteve

alheia ao que ocorria no acircmbito nacional mas pelo contraacuterio estava em sintonia com

vaacuterias iniciativas do Municiacutepio da Corte A viagem de Primo Jardim ao Rio de Janeiro

revela que houve tentativas do governo goiano de acompanhar as novidades que ali

circulavam e implementar essas ideias nas escolas de primeiras letras Poreacutem a natildeo

adoccedilatildeo ou oficializaccedilatildeo do meacutetodo Castilho em Goiaacutes natildeo demonstra uma situaccedilatildeo

isolada dessa proviacutencia no territoacuterio brasileiro Pelo contraacuterio como jaacute tratamos esse

meacutetodo natildeo foi amplamente difundido nas escolas do paiacutes principalmente pela

oposiccedilatildeo do professor Costa e Azevedo a Castilho Durante o curso oferecido no

Brasil Costa e Azevedo autor de um livro de ensino de leitura pela marcha sinteacutetica

o denominado Liccedilotildees de Ler fez frente de oposiccedilatildeo ao meacutetodo Castilho (CASTELO-

BRANCO 1977 BOTO ALBUQUERQUE 2018) Uma disputa que ultrapassou a

questatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo jaacute que trazia agrave tona questotildees poliacuteticas filosoacuteficas

e sociais (ALBUQUERQUE BOTO 2017)

Dado o exposto e em virtude da anaacutelise empreendida acerca da experiecircncia de

Primo Jardim na Corte as fontes confirmam que mesmo sendo a proviacutencia goiana

majoritariamente rural o que colocava em xeque a necessidade da escola e ainda

diante da influecircncia da onda conservadora da Igreja que pretendia se manter intacta

no poder no que concerne ao campo da alfabetizaccedilatildeo Goiaacutes esteve inserido nas

transformaccedilotildees e na onda das ideias de modernidade do Brasil do seacuteculo XIX

ratificando a nossa tese de estudo Embora as pesquisas sobre a institucionalizaccedilatildeo

da escola em Goiaacutes demonstrem que esta proviacutencia era atrasada em relaccedilatildeo a muitos

quesitos no acircmbito educacional se comparada a outras regiotildees do Brasil os indiacutecios

deixados nas fontes histoacutericas analisadas permitem afirmar que no campo da leitura

e da escrita o Governo mobilizava-se para trazer novidades para o ensino das

crianccedilas

Haacute que se destacar que muitos dos ideaacuterios natildeo se mantinham por diferentes

fatores especialmente por falta de recursos financeiros Tal como analisamos nesta

seccedilatildeo os valores totais dos materiais para implementaccedilatildeo do meacutetodo simultacircneo

eram muito inferiores aos do meacutetodo Castilho apesar das suas funccedilotildees e concepccedilotildees

230

diferentes Acrescentariacuteamos tambeacutem que havia uma cultura escolar em que se

arraigara o costume de ensinar pelo meacutetodo individual e pelo sistema de alfabetizaccedilatildeo

de marcha sinteacutetica o que unido agrave falta de materiais e formaccedilatildeo teacutecnica dos docentes

impossibilitava que as novas ideias resultassem em praacuteticas efetivas para o ensino

inicial de leitura e escrita

231

5 A PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICA BRASILEIRA

NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS

___________________________________

Ao longo do trabalho estamos desenvolvendo uma linha argumentativa que

evidencia a inserccedilatildeo da proviacutencia goiana no contexto das propostas que aspiravam a

modernizar a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas no Brasil do seacuteculo XIX Entretanto conforme

tratamos o governo em Goiaacutes natildeo levou adiante muitas iniciativas devido aos custos

e natildeo conseguiu alastraacute-las pelas diferentes localidades restringindo-as agrave Capital

Essa questatildeo a princiacutepio poderia refutar a tese da pesquisa jaacute que aparentemente

demonstra uma certa ambivalecircncia todavia essa contradiccedilatildeo traz os argumentos

fundantes para pensarmos acerca da difusatildeo da produccedilatildeo didaacutetica brasileira na

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes a partir dos anos de 1870 objeto de nosso estudo

nesta seccedilatildeo

Anunciamos de antematildeo as duas principais ideias que desenvolveremos no

decorrer do capiacutetulo A primeira ligada ao fato de que o governo da proviacutencia goiana

aderiu mais agraves propostas que circularam pelo Impeacuterio concretizadas em cartilhas eou

livros de leitura cujos autores fizeram doaccedilatildeo de seus impressos como uma estrateacutegia

mercadoloacutegica para divulgaccedilatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo proposto A segunda

vincula-se com o panorama do mercado editorial jaacute que ldquoo abrasileiramento dos livros

didaacuteticos soacute se torna realidade no fim do seacuteculo XIX concomitantemente agrave

nacionalizaccedilatildeo do livro para crianccedilasrdquo (LAJOLO ZILBERMAN 1996 p 183) O

232

surgimento de autores e livrarias que investiram na produccedilatildeo de livros didaacuteticos

brasileiros fez com esse tipo de livro se comparado com os literaacuterios ficasse mais

acessiacutevel aos leitores e mais rentaacutevel aos editores como apontam Lajolo e Zilberman

(1996) e Hallewell (2012) Logo esse cenaacuterio facilitou a entrada de uma produccedilatildeo

editorial nacional nas escolas da proviacutencia goiana a partir de 1870

Nesse ponto eacute importante colocar em evidecircncia o contraponto feito por

Braganccedila (1999) ao demonstrar que os negoacutecios editoriais se arquitetaram no limiar

do seacuteculo XX quando se iniciou a construccedilatildeo do lugar social do escritor profissional

que teve ldquouma remuneraccedilatildeo digna pelo seu trabalho com acesso a contratos justosrdquo

o autor acrescenta que a partir dos anos de 1920 e 1930 eacute que ldquohouve a possibilidade

de um fortalecimento da induacutestria cultural com a expansatildeo do mercado da leiturardquo

(BRAGANCcedilA 1999 p 458)

El Far (2010) destaca que na segunda metade do seacuteculo XIX houve uma

mudanccedila no cenaacuterio editorial brasileiro em funccedilatildeo do surgimento de livreiros que

colocavam no mercado um ldquolivro popular de capa brochada e papel barato e

produzido com baixo custo de ediccedilatildeordquo A autora advoga que esse denominado livro

popular que se expandiu entre as publicaccedilotildees que circularam em especial no Rio de

Janeiro natildeo foi uma invenccedilatildeo do Brasil Portugal e Franccedila jaacute tinham uma experiecircncia

ldquona confecccedilatildeo em larga escala desses pequenos volumesrdquo (EL FAR 2010 p 90)

Dito isto notamos que embora o mercado editorial brasileiro tenha se

fortalecido com mais veemecircncia com as ideias da Repuacuteblica mesmo diante de todas

as dificuldades em adquirir os livros para as escolas em Goiaacutes eles ocuparam um

lugar importante no contexto educacional desde o seacuteculo XIX Em consonacircncia

Valdez Oliveira e Rodrigues (2010) ao tratarem sobre os livros escolares para a

infacircncia nas terras goianas no oitocentos revelaram que

O livro era considerado um objeto redentor que daria saber e traria luzes a uma proviacutencia que se encontrava isolada e distante dos grandes centros litoracircneos Essa crenccedila no poder do livro como depositaacuterio privilegiado do saber escolar e objeto de viabilizaccedilatildeo dos projetos educacionais incluindo a formaccedilatildeo de professores e alunos com poucas diferenccedilas transparecia nos discursos de grupos conservadores catoacutelicos positivistas ou cientificistas republicanos em diferentes lugares do Brasil oitocentista (VALDEZ OLIVEIRA RODRIGUES 2010 p 11)

Elegemos para esta uacuteltima seccedilatildeo a produccedilatildeo didaacutetica produzida por escritores

brasileiros que marcaram a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo goiana durante o Impeacuterio A

233

escolha natildeo foi aleatoacuteria e se justifica tanto pelo que as fontes inventariadas no

Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes indicaram a partir dos anos de 1870 quanto pela

ideia do que esses livros e autores representaram para a constituiccedilatildeo de um

sentimento de unificaccedilatildeo brasileira parafraseando Pfromm Neto Dib e Rosamilha

(1974)

Dessa forma objetivamos analisar como os impressos didaacuteticos

ldquoeminentemente brasileirosrdquo influenciaram a alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes entre

1870 e 1886 quando se encerra o recorte temporal da nossa Tese As reflexotildees feitas

aqui podem impulsionar outras tantas jaacute que muitos dos livros que circularam nesse

periacuteodo estiveram presentes no decurso da Repuacuteblica

Munakata (2014) adverte que o vocaacutebulo ldquodidaacuteticordquo para se referir aos livros

escolares de uso pedagoacutegico ficou consagrado no Brasil a partir dos anos de 1930

com a criaccedilatildeo do Instituto Nacional do Livro (1937) e da Comissatildeo Nacional do Livro

Didaacutetico (1938) Optamos por utilizaacute-lo pois os estudos no campo da histoacuteria dos livros

escolares238 em especial os de Munakata (2014 2016) legitimou essa nomeaccedilatildeo

sem cair em anacronismos uma vez que ela eacute usual e estaacute mais para intitular uma

funccedilatildeo do objeto cultural livro do que para se referir a um momento histoacuterico especiacutefico

de seu consumo

Nos anos de 1870 dois autores brasileiros foram mencionados nas listas de

expediente escolar inventariadas segundo anunciamos na seccedilatildeo trecircs Antonio

Pinheiro de Aguiar e Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas Outros autores

poderiam ser aludidos poreacutem os pedidos mais avolumados satildeo de obras de autoria

desses motivo pelo qual os escolhemos para alongar o debate sobre seus impressos

e a influecircncia na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo na proviacutencia goiana O nuacutemero de livros

comprados eou recebidos por meio de doaccedilotildees permite-nos conjecturar que eles

circularam nas escolas primaacuterias de Goiaacutes no periacuteodo pesquisado

Aleacutem disso Pinheiro de Aguiar e Borges se aproximam quanto agrave estrateacutegia

comercial de divulgaccedilatildeo visto que ambos fizeram doaccedilotildees de exemplares de suas

obras agraves escolas O primeiro mais timidamente jaacute o segundo com expressivos

donativos em vaacuterios locais do paiacutes o que o colocou na rota de autores mais difundidos

no Impeacuterio e na Primeira Repuacuteblica

238 Para aprofundar nessa questatildeo cf o Dossiecirc Temaacutetico ldquoLivros didaacuteticos como fonteobjeto de pesquisa para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil e na Espanhardquo organizado Kecircnia Hilda Moreira e Kazumi Munakata na Revista Educaccedilatildeo e Fronteira (v 7 ndeg 20 2017)

234

Insta esclarecer que acerca da histoacuteria da obra de Abiacutelio Ceacutesar Borges muito jaacute

se pesquisou mas em contrapartida sobre Antonio Pinheiro de Aguiar haacute poucos

estudos levando-nos a fazer consideraccedilotildees mais detalhadas sobre esse autor A

anaacutelise que empreendemos considera a materialidade das obras cotejada com as

fontes documentais que incita variadas ldquointerpretaccedilotildees compreensotildees e usos de

seus diferentes puacuteblicosrdquo (CHARTIER 1998 p 18 grifos nossos)

Por fim para abrir os itens a seguir trazemos o poeta Maacuterio Quintana (1995)

para uma reflexatildeo

A beleza dos versos impressos em livro ndash serena beleza com algo de eternidade ndash Antes que venha conturbaacute-los a voz das declamadoras Ali repousam eles misteriosos cacircntaros Nas suas fraacutegeis prateleiras de vidro Ali repousam eles imoacuteveis e silenciosos Mas natildeo mudos e iguais como esses mortos em suas tumbas (QUINTANA 1995 p 10)

Eacute necessaacuterio frisar que diferente do que Quintana (1995) escreveu sobre o livro

de poesia os livros com caracteriacutesticas didaacuteticas impressos de uso escolar por mais

imoacuteveis e silenciosos que agrave primeira vista pareccedilam satildeo objetos que ldquo[] natildeo satildeo

meramente ideias sentimentos imagens sensaccedilotildees significaccedilotildees que o texto possa

representarrdquo (MUNAKATA 1997 p 84) Carregam em si ideologias de seus autores

e de seu tempo objetivos definidos politicamente situados e socialmente

estabelecidos por uma rede de comunicaccedilatildeo e uma ldquorede de sociabilidaderdquo239 de seus

escritores Enfim ateacute que algueacutem selecione esses livros para realizar a anaacutelise ldquoali

repousam eles misteriosos cacircntaros nas suas fraacutegeis prateleiras de vidrordquo

Vamos pois ao desafio de retiraacute-los das prateleiras e situaacute-los na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de Goiaacutes

239 Expressatildeo utilizada tomando como referecircncia o que eacute proposto por Sirinelli (2003) ao definir redes de sociabilidade de um intelectual O autor explica que ldquotodo grupo de intelectuais organiza-se a partir de uma sensibilidade ideoloacutegica ou cultural comum e de afinidades que alimentam o desejo e o gosto de conviverrdquo (SIRINELLI 2003 p 246)

235

51 O MEacuteTODO BACADAFAacute DE ANTONIO PINHEIRO DE AGUIAR

O nome de Antonio Pinheiro de Aguiar e o de sua obra que conteacutem o meacutetodo

de leitura abreviada denominado de Bacadafaacute ainda satildeo poucos referenciados nos

estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo Esse impresso passa despercebido como uma

das produccedilotildees didaacuteticas brasileiras escritas e publicadas no Brasil imperial talvez

pelas dificuldades de localizar a obra ou ateacute mesmo pela sua baixa circulaccedilatildeo nas

proviacutencias brasileiras Ateacute o momento encontramos apenas trecircs autoras que

analisaram o meacutetodo Bacadafaacute Maciel (2002) Schueler (2004 2005) e Teixeira

(2004 2008) Utilizamos principalmente essas pesquisas para tratar a respeito do

escritor o professor Pinheiro de Aguiar e de sua obra adicionando algumas

informaccedilotildees a partir das fontes consultadas

Embora essas autoras se tenham aprofundado em alguns aspectos sobre o

meacutetodo Bacadafaacute natildeo podemos negligenciar que ele eacute mencionado em outros

trabalhos como por exemplo o de Trindade (2001) Amacircncio (2008) Amacircncio e

Cardoso (2006) Assunccedilatildeo (2009) e Franklin (2017) Trindade o cita em sua tese de

doutorado referindo que natildeo haacute evidecircncias que ele foi usado na Instruccedilatildeo Puacuteblica

gauacutecha Jaacute Amacircncio e Cardoso explicitam que esse meacutetodo foi propagandeado na

proviacutencia de Mato Grosso mas natildeo foi adotado nas escolas mato-grossensses

Assunccedilatildeo em sua pesquisa sobre a alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo na deacutecada de

1870 certifica que os impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute foram enviados

a essa proviacutencia mas natildeo houve sua adoccedilatildeo oficial nas escolas capixabas Franklin

aponta que o sistema de leitura denominado Bacadafaacute fez parte de um momento poacutes-

implantaccedilatildeo do ensino secundaacuterio no Brasil fruto da tentativa de reformular o ensino

na Corte atraveacutes dos ldquomeacutetodos inovadores de alfabetizaccedilatildeordquo (FRANKLIN 2017 p

92)

Acerca da vida de Pinheiro de Aguiar Schueler (2005) explicita

Sobre o autor do meacutetodo de leitura Bacadafaacute ndash Pinheiro de Aguiar ndash pouco consegui descobrir Soube apenas que ele nascera na proviacutencia de Minas Gerais era professor de desenho e piano e exercia interinamente o cargo de professor puacuteblico na terceira escola primaacuteria de meninos da Freguesia de Santana local onde tambeacutem dirigia uma escola particular (SCHUELER 2005 p 174)

236

Podemos adicionar que o autor nasceu provavelmente em Ouro Preto em 1814

e faleceu em 1894240 foi casado com Maria Argentina de Aguiar que tambeacutem atuou

como professora no Rio de Janeiro Em notas do Jornal Correio Mercantil e do

Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro haacute propagandas da

abertura de uma escola do sexo feminino da professora Maria Argentina em ldquoSatildeo

Cristovatildeo na travessa das Flores nordm 4 ao lado da Academia Militarrdquo nos anos de

1860 em que se ensinava pelo meacutetodo Bacadafaacute esse local era a residecircncia do casal

(CORREIO MERCANTIL 19 de dezembro de 1861 p 4 ALMANAK

ADMINISTRATIVO 1865 p 431)

Satildeo Cristovatildeo nesse periacuteodo era um bairro nobre do Rio de Janeiro habitado

inclusive por famiacutelias da aristrocraria portuguesa O Coleacutegio ora nominado de

ldquoColeacutegio do Bacadafaacuterdquo ora com a referecircncia ao nome dos professores como ldquoColeacutegio

de Antonio de Pinheiro de Aguiarrdquo ou ldquoColeacutegio de D Maria Argentina de Aguiarrdquo

funcionou como um dos locais em que Pinheiro de Aguiar fazia suas exposiccedilotildees

puacuteblicas a respeito do sistema de leitura abreviada que havia criado

Essa escola foi uma das mais citadas na imprensa carioca como um dos locais

em que funcionava a aplicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute entretanto outros lugares em

que o autor abriu uma sala particular para ensinar ou para expor o seu meacutetodo no Rio

de Janeiro podem ser adicionados como o ldquocoleacutegio da Rua da Ajudardquo (PINHEIRO DE

AGUIAR CORREIO MERCANTIL 19 de julho de 1860 p 3) e a ldquocasa da rua da

Alfacircndegardquo (CORREIO MERCANTIL 8 de novembro de 1860 p 3)241 Em 1863 o

Jornal Correio Mercantil noticiou que o Imperador havia concedido a Pinheiro de

Aguiar uma ldquosala no ediacutefico lateral do Theatro S Pedrordquo onde lecionaria muacutesica e

explicaria o ldquosistema nacional de leitura raacutepidardquo oferecendo exposiccedilotildees perioacutedicas

240 No Relatoacuterio da Reparticcedilatildeo dos Negoacutecios do Impeacuterio no Rio de Janeiro haacute o Aviso datado de 14 de novembro de 1861 mencionando que Antonio Pinheiro de Aguiar autor do meacutetodo Bacadafaacute tinha na ocasiatildeo 49 anos levando ao ano de 1812 como sendo o marco de seu nascimento (RIO DE JANEIRO 1862 p 19) Utilizamos entretanto para referenciar o ano de nascimento e morte do autor os dados constantes na Plataforma Heacutelio Gravataacute um repositoacuterio com fontes digitalizadas pertencentes ao acervo do Arquivo Puacuteblico Mineiro Disponiacutevel em lthttpwwwsiaapmculturamggovbrmodulesgravata_brtdocsphotophpli d=55849gt Acesso em 25 de junho de 2019 241 Nas escolas em que Pinheiro de Aguiar lecionava ele utilizava o sistema de monitoria em que os alunos mais adiantados auxiliavam os menos adiantados Geralmente dividia-os em classe por grau de conhecimento (PINHEIRO DE AGUIAR CORREIO MERCANTIL 9 de setembro de 1861 p 2)

237

com as devidas provas que certificariam a eficaacutecia do meacutetodo Bacadafaacute (CORREIO

MERCANTIL 21 de outubro de 1863 p 2)

As exposiccedilotildees puacuteblicas abertas agrave comunidade principalmente direcionadas

aos pais de crianccedilas analfabetas foi uma das estrateacutegias utilizadas por Pinheiro de

Aguiar para divulgar o seu meacutetodo do qual foi o maior entusiasta e defensor

chegando a ser caracterizado pelo Conselho de Instruccedilatildeo Puacuteblica da Corte como

fanatista (TEIXEIRA 2008 A INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109)

Conseguiu em alguns momentos autorizaccedilatildeo desse Conselho para essas exposiccedilotildees

e quando a negavam recorria agrave Assembleia Geral Legislativa e ateacute ao proacuteprio

Imperador (CORREIO MERCANTIL 26 de maio de 1861 p 2 16 de junho de 1861

p 1 21 de outubro de 1863 p 2)

Sabe-se tambeacutem que Pinheiro de Aguiar passou um tempo na Proviacutencia de

Minas Gerais retornando ao Rio de Janeiro em 1886 No Distrito de Madre de Deus

do Anguacute pertencente ao municiacutepio de Leopoldina abriu internato de instruccedilatildeo

primaacuteria e secundaacuteria que funcionava pelo meacutetodo Bacadafaacute (PINHEIRO DE AGUIAR

JORNAL DO COMMERCIO 28 de abril de 1886 p 6)

O meacutetodo Bacadafaacute surgiu no Rio de Janeiro no final dos anos 50 do seacuteculo

XIX periacuteodo em que foi levado a puacuteblico Divulgado com mais veemecircncia entre os

anos 60 e 80 devido agrave publicaccedilatildeo de um impresso que continha a orientaccedilatildeo para

aplicaccedilatildeo do meacutetodo esse fato faz com que Pinheiro de Aguiar esteja entre os autores

nascidos no Brasil que publicaram cartilhas de alfabetizaccedilatildeo ldquogenuinamente

brasileirasrdquo242 no periacuteodo imperial Para anaacutelise do meacutetodo utilizamos duas ediccedilotildees

da cartilha datadas dos anos de 1870 agraves quais tivemos acesso por meio das

pesquisadoras professora Francisca Izabel Pereira Maciel da Universidade Federal

de Minas Gerais e professora Giselle Baptista Teixeira da Prefeitura Municipal de

Duque de Caxias O exemplar cedido por Francisca Maciel eacute uma coacutepia xerografada

de uma ediccedilatildeo de 1877 A professora Giselle Teixeira nos forneceu a digitalizaccedilatildeo de

algumas paacuteginas do impresso datado de 1871

242 Segundo Schueler (2005) Antonio Estevam Costa e Cunha defensor do Meacutetodo Bacadafaacute considerava-o ldquogenuinamente nacionalrdquo pois tratava-se de uma proposta de ensino que utilizava siacutembolos nacionais aleacutem de ter sido idealizada por um brasileiro

238

Figura 13 Capas das ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute (1871 e 1877)

Fonte Acervos pessoais das pesquisadoras Francisca Izabel Pereira Maciel e Giselle Baptista Teixeira

Analisando ambas as capas notamos mudanccedilas substanciais entre uma

ediccedilatildeo e outra principalmente no tiacutetulo A ediccedilatildeo de 1871 evidenciava o termo ldquocartardquo

jaacute a de 1877 enfatizava inicialmente o nome do meacutetodo Como Pinheiro de Aguiar

almejava que seu meacutetodo fosse conhecido entre os professores o autor pode tambeacutem

ter intitulado a obra associando-a agrave ideia das Cartas para ganhar espaccedilo e visibilidade

nas escolas de primeiras letras A partir das fontes consultadas acreditamos que a

mudanccedila do nome da obra tal como estaacute na ediccedilatildeo de 1877 foi devido agraves acusaccedilotildees

que Pinheiro de Aguiar sofreu pelos criacuteticos na impressa e pelo Conselho de Instruccedilatildeo

Puacuteblica da Corte de que seu meacutetodo natildeo tinha nada de inovador (ALAMBARY LUZ A

INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 24 de junho de 1872 p 82) Logo a mudanccedila no tiacutetulo pode

ter sido em funccedilatildeo da ideia transmitida pelo uso da expressatildeo ldquoCartardquo que se

associava agraves Cartas de ABC e ao meacutetodo de soletraccedilatildeo difundidos pelo paiacutes e

criticados como antigos e tradicionais no momento em que emergia o mercado

239

editorial do livro didaacutetico brasileiro e ldquotematizaccedilotildees sobre alfabetizaccedilatildeordquo (MORTATTI

2000)

A disposiccedilatildeo das palavras em ambas as capas bem como a variaccedilatildeo do tipo

de letra presente nelas estava em sintonia com os livros que circulavam na corte

imperial naquele momento como por exemplo as capas dos livros de leitura de Abiacutelio

Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macauacutebas editados na Franccedila conforme veremos no

proacuteximo item Tal questatildeo suscita a ideia de uma padronizaccedilatildeo das capas dos livros

ou uma referecircncia agraves capas aos moldes das tipografias francesas Essa aproximaccedilatildeo

entre a configuraccedilatildeo graacutefica brasileira e a francesa pode ser explicada ao levarmos

em consideraccedilatildeo a oficina tipograacutefica que editou a cartilha do meacutetodo Bacadafaacute

Nas capas do livro de Pinheiro de Aguiar eacute mencionada a tipografia de Pinheiro

amp C como a responsaacutevel pela ediccedilatildeo Segundo Stickel (2004) essa tipografia

pertencia ao xiloacutegrafo portuguecircs Manuel Joaquim da Costa Pinheiro (1832-1903)

ldquochegado ao Brasil em 1843 e estabelecido como tipoacutegrafo a partir de 1852 no Rio de

Janeirordquo Manuel Pinheiro foi ilustrador de vaacuterios livros ldquoprincipalmente para a Livraria

Garnierrdquo (STICKEL 2004 p 235)

Ferreira (1994) acrescenta maiores informaccedilotildees sobre Manuel Pinheiro que

sob a firma Pinheiro amp Cia entrou para o ramo editorial com uma oficina tipograacutefica

litograacutefica e xilograacutefica O ilustrador e tipoacutegrafo tinha o auxiacutelio de seu filho Alfredo

Pinheiro responsaacutevel tambeacutem pelo trabalho artiacutestico da oficina Em 1874 Ferreira

(1994) menciona que Alfredo Pinheiro foi agrave Franccedila para ldquoaperfeiccediloar-se na arte

xilograacuteficardquo recriando posteriormente nas suas produccedilotildees as teacutecnicas aprendidas

(FERREIRA 1994 p 177-183) Eacute possiacutevel a partir desses fatos pressupor que houve

aproximaccedilatildeo entre a obra do meacutetodo Bacadafaacute e os modelos de editoraccedilatildeo das capas

de livros didaacuteticos franceses

Ocorreu entre a ediccedilatildeo de 1871 e a de 1877 a supressatildeo das informaccedilotildees a

respeito da adoccedilatildeo do meacutetodo na escola puacuteblica da freguesia de SantrsquoAnna Aleacutem

disso a capa de 1877 estaacute ilustrada com um anjo cercado de livros No seacuteculo XIX a

presenccedila do siacutembolo do anjo nos livros destinados ao ensino inicial de leitura natildeo era

algo incomum e o encontramos por exemplo na estampa antes da folha de rosto da

2ordf ediccedilatildeo do livro Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso

manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever do portuguecircs Antocircnio Feliciano de Castilho

240

(1853)243 assim como na capa do livro francecircs Meacutethode lecture sans eacutepellation de

Abria (1847)244

Passando ao conteuacutedo da obra considerando as fontes consultadas

especialmente as da imprensa carioca notamos que a ediccedilatildeo de 1871 se compocircs do

agrupamento de uma breve explicaccedilatildeo sobre o meacutetodo Bacadafaacute escrita por Antonio

Pinheiro de Aguiar no Rio de Janeiro em 06 de outubro de 1871245 as cartas de leitura

para aplicaccedilatildeo do meacutetodo proposto pelo autor as quais detalharemos adiante aleacutem

dos quadros de tabuada resumida de somar diminuir multiplicar e dividir246 A ediccedilatildeo

de 1877 foi modificada tendo havido a inserccedilatildeo do ldquoproacutelogordquo e o texto intitulado

ldquoMethodo Bacadafaacuterdquo que ocupou a extensatildeo de 7 paacuteginas escrito por Pinheiro de

Aguiar em 1ordm de julho de 1877 elucidando detalhadamente os exerciacutecios para

aplicaccedilatildeo do seu meacutetodo Nessa ediccedilatildeo natildeo constam os quadros matemaacuteticos

apresentados na anterior247

O meacutetodo Bacadafaacute consistia numa proposta que tinha como base historietas

sobre quatro indiacutegenas que formavam a famiacutelia Bacadafaacute o pai da famiacutelia Gajalamaacute

a matildee Naparasaacute a filha e Tavaxazaacute o filho Essa proposta pensada por Pinheiro de

Aguiar podia ser aplicada tanto para crianccedilas quanto para adultos analfabetos Nas

experiecircncias desse professor em seus coleacutegios ele abriu salas no diurno para ensinar

as crianccedilas e no noturno destinadas aos adultos (CORREIO MERCANTIL 8 de

243 A estampa apresenta um anjo na porta de local nomeado de ldquoTemplo do saberrdquo Haacute tambeacutem crianccedilas jogando numa fogueira folhas com letras inscritas essas remontando agraves Cartas de ABC No canto inferior ao lado esquerdo haacute a representaccedilatildeo de um homem com a matildeo na cabeccedila e semblante de preocupaccedilatildeo observando a cena 244 A imagem da capa desse livro apresenta um anjo sentado e ao seu redor quatro crianccedilas em peacute No colo do anjo haacute um livro aberto e duas das crianccedilas o seguram A expressatildeo e olhar do anjo demonstram que ele estaacute lendo o livro para as crianccedilas Aos peacutes do anjo haacute outra crianccedila sentada folheando um livro no colo com olhar direcionado agraves paacuteginas como se estivesse lendo Na imagem tambeacutem aparece uma cruz atraacutes do anjo e trecircs livros no chatildeo Frade (2012) analisa alguns elementos da configuraccedilatildeo graacutefica desse livro de uma ediccedilatildeo de 1852 Uma versatildeo digitalizada dessa obra pode ser consultada no link lthttpsgallicabnf frark12148bpt6k58494696gt Acesso em 21 de junho de 2019 245 Esse texto de Pinheiro de Aguiar tambeacutem estaacute publicado no perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica (PINHEIRO DE AGUIAR A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 108-109) 246 Segundo Alambary Luz (A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 108) Pinheiro de Aguiar mandou imprimir 10 mil exemplares do meacutetodo Bacadafaacute oferecendo-os ao governo central para que fossem distribuiacutedos pelas escolas da proviacutencia do Impeacuterio 247 Como natildeo conseguimos acessar os originais do Meacutetodo Bacadafaacute essa descriccedilatildeo toma especialmente como referecircncia os exemplares a que tivemos acesso Reconhecemos por conseguinte os limites dessa caracterizaccedilatildeo Consideramos tambeacutem as informaccedilotildees publicadas sobre o meacutetodo Bacadafaacute no perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica em 1872 e 1874 (A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 24 de junho de 1872 14 de julho de 1872 18 de agosto de 1872 20 de outubro de 1872 24 de novembro de 1872 6 de setembro de 1874)

241

novembro de 1860 p 3) A sua principal propaganda era a eficiecircncia do meacutetodo que

obteria resultados de forma raacutepida e prazerosa de modo que se aplicado conforme

as orientaccedilotildees do autor com os exerciacutecios previstos qualquer sujeito se alfabetizava

em no maacuteximo 20 liccedilotildees

Os nomes dos personagens que compunham a famiacutelia de indiacutegenas conduziam

a organizaccedilatildeo do meacutetodo disposto em trecircs cartas

Sobre a primeira etapa o autor diz na ediccedilatildeo de 1871

Faccedila-se o menino conhecer os nomes dos quatro indios que se achatildeo escriptos no quatro ou carta por baixo de cada figura em sentido vertical explicando-lhe e mostrando-lhe que cada um destes nomes se compotildee de quatro tempos (syllabas) e obrigando-o a distinguir estes tempos uns dos outros jaacute seguidamente jaacute salteado primeiro em sentido vertical e depois no horizontal (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifo do autor)

As explicaccedilotildees feitas por Pinheiro de Aguiar ficam mais claras ao observarmos

a primeira carta presente na cartilha do meacutetodo Bacadafaacute denominada pelo autor

como Carta dos Iacutendios (PINHEIRO DE AGUIAR 1871)

Figura 14

Primeira carta do meacutetodo Bacadafaacute (1871)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

242

Inicialmente eram apresentados os personagens e os seus nomes utilizando

a primeira carta Essa carta tinha por objetivo apresentar as vogais as consoantes do

alfabeto e as principais combinaccedilotildees silaacutebicas com a vogal ldquoardquo Para a memorizaccedilatildeo

das vogais Pinheiro de Aguiar orientava contar a seguinte narrativa

O indio pai achando-se doente gemia constantemente deste modo ai ai ai Um carreiro passando pela porta ouvindo esse gemido fez parar o carro com o signal oacute oacute para o boi parar e perguntou Quem estaacute gemendo Eu eu respondeu o doente Eis aqui os sons das cinco vogaes a i e u o (PINHEIRO DE AGUIAR 1877 p 10 grifos do autor)

Notamos ao contrapor a imagem da primeira carta com as informaccedilotildees do

fragmento que na primeira linha da tabela na coluna do meio satildeo apresentadas as

vogais maiuacutesculas e minuacutesculas Entre essas vogais eacute utilizado um siacutembolo como

uma seta que as ligava remetendo para as siacutelabas compostas na historieta narrada

no excerto Importante destacar que Pinheiro de Aguiar (1871) explica que essa

narraccedilatildeo deve ser feita logo apoacutes o estudo da primeira carta Portanto o meacutetodo tem

o seu princiacutepio pela siacutelaba e na sequecircncia a ecircnfase estaacute na palavra O texto

empregado nessa etapa eacute oralizado pelo professor apenas para facilitar que os

alunos memorizem a liccedilatildeo aprendida

Como podemos verificar na figura 14 os nomes dos indiacutegenas satildeo

apresentados em siacutelabas separadas em quatro colunas distintas sendo a primeira

recomendaccedilatildeo do autor para uso dessa parte da carta um exerciacutecio de leitura das

siacutelabas na vertical e horizontal no qual o aprendente conhece o valor sonoro das

consoantes dispostas antes e depois das vogais tal como destaca

Como o methodo soacute admitte o som das cinco vogaes para que o alumno reconheccedila o semi-som das consoantes e principalmente das consoantes liquidas faccedila-se sentir bem a vibraccedilatildeo com que comeccedilatildeo as articulaccedilotildees la ma na ra as obrigando o menino a dizer vagarosamente para bem sentir a percussatildeo da consoante a-l-ma a-m-para a-n-ta a-r-ma a-s-pa etc em seguida mais depressa para exprimir os vocabulos ndash alma ampara anta arma aspa etc Exercite-se depois o menino a juntar estas mesmas consoantes aacutes syllabas de que satildeo formados os nomes dos indios para compor por exemplo os vocabulos balda campa dante farta fazendo vibrar bem a voz nas consoantes liquidas e ter-se-ha feito os primeiros e principaes exercicios do systema por meio dos quaes o analphabeto tem conhecido o valor de todas as consoantes quer se ache a consoante antes da vogal ex la quer se ache depois ex al (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifos do autor)

243

Na carta tambeacutem eacute apresentada aleacutem da letra de imprensa a letra manuscrita

em congruecircncia com o que se ensinava nas escolas de primeiras letras da Corte

(ARRIADA TAMBARA 2012) O destaque nessa primeira carta eacute a formaccedilatildeo de

siacutelabas com a vogal ldquoardquo Pinheiro de Aguiar (1871 1877) continua esclarecendo que

logo apoacutes o aluno iraacute ligar as letras dos nomes dos quatro indiacutegenas com as demais

vogais

Dessa maneira o que Pinheiro de Aguiar arquiteta eacute um sistema de

alfabetizaccedilatildeo constituiacutedo pelo meacutetodo silaacutebico uma vez que a base do processo de

ensino da leitura eacute a siacutelaba compondo palavras e as decompondo para enfatizar a

sonoridade das letras O autor na sua explicaccedilatildeo sobre o meacutetodo natildeo o classificava

assim mas encontramos tal referecircncia nos escritos do professor Antonio Estevam

Costa e Cunha segundo Schueler (2005 p 174) o ldquoprincipal estusiasta e divulgadorrdquo

do meacutetodo Bacadafaacute no Rio de Janeiro

Agora vejamos quaes os principaes methodos seguidos no ensino de leitura afim de habilitar-nos a estabelecer a comparaccedilatildeo entre elles e o que presentemente nos occupa Os dous methodos mais geraes satildeo o synthetico e o analytico No primeiro comeccedila o menino por ver a palavra (ou algumas palavras formando uma historiazinha) decompotildee a palavra nos sons ou syllabas que a foacutermam e estas nos seus elementos constituintes consoantes e vogaes ou soacute vogaes Parece um tal processo a quem nunca o aplicou ou viu aplicar escabroso anti-natural a algumas afigura-se ateacute como uma monstruosidade mas tanto isso natildeo eacute assim que por elle se ensina e se aprende nos paizes que em mateacuteria de instrucccedilatildeo publica caminham na vanguarda de todos os outros O processo do methodo analytico eacute conhecido de todos aprende-se a conhecer e distinguir as letras depois as syllabas e em seguida as palavras por meio da soletraccedilatildeo Foi por elle que aprendemos eacute o mais conhecido e applicado parece-nos por isso o mais natural e o mais facil Cumpre pois que prescindamos de uma tal parcialidade se quisermos julgar com equidade Ora entre os dous extremos fica o methodo syllabico que poacutede ser considerado o seu meio termo Este comeccedila natildeo jaacute pelas palavras como o synthetico nem pelas letras como o analytico mas pelos sons ou syllabas e que se denomina Bacadafaacute (como bem disse o Sr Dr Alambary) natildeo eacute outra cousa mais do que este mesmo methodo com o aditamento das figuras e historietas (COSTA E CUNHA A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 20 de outubro de 1872 p 241-242 grifos do autor)

Acompanhando as explicaccedilotildees sobre os meacutetodos presentes nesse discurso de

Costa e Cunha verificamos que sua distinccedilatildeo entre os meacutetodos analiacutetico e sinteacutetico

foge da compreensatildeo que se tem sobre eles nos estudos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

No campo educacional os meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo satildeo essencialmente

244

caracterizados como de marcha sinteacutetica ou de macha analiacutetica (MORTATTI 2000

FRADE 2007) Essa questatildeo foi teorizada por Guillaume (1911) sendo que ldquoestas

denominaccedilotildees sugerem que tal classificaccedilatildeo dos meacutetodos se baseava nos processos

psicoloacutegicos subjacentesrdquo (BRASLAVSKY 1988 p 42)

Segundo Guillaume (1911) os meacutetodos sinteacuteticos orientam-se pelo ensino das

partes para o todo (das letras ou fonemas ou siacutelabas para depois introduzir as

palavras frases e os textos) Jaacute os analiacuteticos satildeo aqueles que se orientam pelo inverso

(das palavras ou frases ou textos para compreensatildeo de unidades menores da liacutengua

ndash letras fonemas e siacutelabas)

A inversatildeo feita por Costa e Cunha248 ao explicar a questatildeo dos meacutetodos de

marchas analiacutetica e sinteacutetica eacute um tanto intrigante e carece de estudos apronfundados

ndash que ultrapassam os nossos objetivos desse item ndash para compreender o que teria

levado esse professor a tecer tal discurso classificando os meacutetodos de leitura de

forma diferente da que circulava naquele momento pelo paiacutes e pelo ocidente

(MARCILIO 2016 MACIEL 2002) Indubitavelmente ele enaltece o meacutetodo de

Pinheiro de Aguiar o define como silaacutebico acrescido de figuras e historietas

destacando tambeacutem que era um ldquomeio termordquo entre o analiacutetico e o sinteacutetico

Retomando os procedimentos para aplicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute logo apoacutes

a primeira carta em que o aprendente fez as combinaccedilotildees silaacutebicas formadas pela

estrutura de consoante + vogal Pinheiro de Aguiar (1871 1877) orienta o professor

Para que os meninos conheccedilam as syllabas taes como bla bra cla cra affecta-se que o indio diz ba e a iacutendia la e que subtrahindo a vogal do som expresso pelo indio fica soacute o semi-som do b que cahindo sobre a syllaba pronunciada pela india liga-se formando b-la e depois mais depressa bla e assim por diante se formatildeo as syllabas ndash b-ra mais depressa bra c-ra mais depressa cra pronunciadas pela india e em seguida se faraacute o mesmo com os sons das seguintes vogaes ndash e i o u ex ble cri dro fra etc Conveacutem guardar para as ultimas explicaccedilotildees as semelhanccedilas de certos sons como ccedila e sa xa e cha etc os diversos sons do c x ch as consonancias acessorias do nosso alfabeto lh e nh usando ainda de um artifiacutecio para obrigar o alumno a distinguir os sons gue je e que lembrando-lhe os nomes de certas fructas de que se alimentatildeo aquelles indios e que em sua lingua se chamatildeo ndash quejeque e com a vogal i guigiqui (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 sp grifos do autor)

248 Essa mesma inversatildeo consta no parecer sobre a explicaccedilatildeo do meacutetodo Bacadafaacute emitido por Costa e Cunha ao governo imperial em 14 de dezembro de 1871 conforme atesta a documentaccedilatildeo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro inventariada por Teixeira (2008)

245

O fragmento ilustra o princiacutepio da segunda parte do meacutetodo que se apoiava no

uso de cartas de leituras subsequentes agrave Carta dos Iacutendios (figura 14) sendo

intituladas pelo autor de Quadro Synoptico do Methodo de Leitura Abreviada e Carta

de nomes

Figura 15 Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada (1871)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

Pinheiro de Aguiar (1871) acrescenta que os exerciacutecios da segunda carta

(figura 15) se bem desenvolvidos juntamente com a terceira carta (figura 16) datildeo

resultados em poucas liccedilotildees O autor explica que

A 2ordf carta ou quadro synoptico consta de cinco columnas no alto de cada qual se acha uma das cinco vogaes As consoantes escriptas em sentido horisontal ligadas agrave vogal de cima formatildeo na 1ordf columna os nomes dos indios e nas outras columnas as outras syllabas com e i o u Mais abaixo no sentido horisontal ainda se encontram as syllabas bla ble etc depois as syllabas bra bre etc Em seguida al el etc am na ar as etc ateacute as mais difiacuteceis emfim todas as que formatildeo os vocabulos da nossa opulenta lingua (PINHEIRO DE AGUIAR 1871 s p grifos do autor)

246

Dessa maneira a terceira carta que apresentava 133 palavras foi pensada

pelo autor para aplicaccedilatildeo dos exerciacutecios da segunda carta

Figura 16 Carta de nomes do Meacutetodo Bacadafaacute

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Giselle Baptista Teixeira

Ao observamos a informaccedilatildeo constante no rodapeacute dessa carta de que a

impressatildeo ocorreu na Tipografia de Paula Brito em 1860 consideramos que as

primeiras ediccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute circularam jaacute nos anos 60 sendo inicialmente

restritas ao coleacutegio mantido por Pinheiro de Aguiar onde se praticava o meacutetodo

Bacadafaacute e depois vendidas aos pais que se interessassem por conhecer a proposta

para ensinar aos filhos (JORNAL DO COMMERCIO 23 de dezembro de 1867 p 2)

No proacutelogo da ediccedilatildeo do Bacadafaacute de 1877 o autor menciona que a proposta

surgiu em 1858 tendo ele em 7 de novembro desse ano numa exposiccedilatildeo puacuteblica em

Satildeo Cristovatildeo apresentado os resultados de vinte liccedilotildees de meacutetodo aplicadas com

crianccedilas analfabetas Nesse texto o autor ainda explicita que fez nove exposiccedilotildees

puacuteblicas nas quais natildeo houve contestaccedilatildeo por isso demonstrava que o impresso

seria profiacutecuo natildeo apenas para uma escola e sim para o paiacutes249 Esse argumento

249 No Jornal Correio Mercantil na ediccedilatildeo de 27 de setembro de 1859 haacute uma nota sob o tiacutetutlo ldquoAttenccedilatildeordquo assinada por Antonio Pinheiro de Aguiar alegando que ele fez uma exposiccedilatildeo puacuteblica no dia 05 de dezembro de 1858 em que demonstrou a possibilidade de alfabetizar um menino em 20 dias Noticia que abriria um curso primaacuterio gratuito oferecendo-

247

pode inclusive justificar a supressatildeo na capa da ediccedilatildeo de 1877 das informaccedilotildees

constantes abaixo do tiacutetulo do impresso de 1871 sobre a adoccedilatildeo do meacutetodo na escola

puacuteblica da freguesia de SantrsquoAnna

Na deacutecada de 1870 ao que tudo indica expandiu-se a comercializaccedilatildeo do

meacutetodo Bacadafaacute em virtude do Parecer do Conselho de Instruccedilatildeo Puacuteblica da Corte

que destacava que na proposta de Pinheiro de Aguiar havia vantagens sendo digna

de estudos e testagens devido tambeacutem agraves cores e siacutembolos nacionais que eram

usados (A INTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109-110)

O meacutetodo entretanto natildeo foi aprovado em primeira instacircncia pelo Conselho

Nos anos de 1860 Pinheiro de Aguiar percorreu um aacuterduo caminho em defesa da sua

aprovaccedilatildeo e difusatildeo Em 1861 haacute registros que o meacutetodo foi rejeitado pelo Ministeacuterio

do Impeacuterio (CORREIO MERCANTIL 26 de maio de 1861 p 2) Por isso o autor

recorreu no mesmo ano agrave Cacircmara de Instruccedilatildeo Puacuteblica na Assembleia Geral

Legislativa solicitando a permissatildeo para colocar o meacutetodo Bacadafaacute em praacutetica aleacutem

de pedir uma subvenccedilatildeo para auxiliaacute-lo (CORREIO MERCANTIL 16 de junho de

1861 p 1) O Jornal do Commercio menciona que em 1862 Pinheiro de Aguiar fez a

doaccedilatildeo de 1000 coleccedilotildees do meacutetodo Bacadafaacute agrave Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo

Puacuteblica para que fossem distribuiacutedas nas aulas puacuteblicas da Corte mas como o

material natildeo havia ainda sido aprovado para ampla divulgaccedilatildeo solicitou o estorno dos

donativos para o aproveitamento dos impressos em suas aulas particulares

(PINHEIRO DE AGUIAR JORNAL DO COMMERCIO 22 de janeiro de 1862 p 2)

Em 1863 com a autorizaccedilatildeo do Ministeacuterio do Impeacuterio o meacutetodo pocircde ser praticado

mas com a ressalva de que era apenas sob a tutela do autor (JORNAL DO

COMMERCIO 29 de agosto de 1863 p 3) Entretanto o que Pinheiro de Aguiar

pretendia era que seu meacutetodo se expandisse pelas escolas primaacuterias do territoacuterio

carioca e pelo paiacutes

Schueler (2005) revela que em 1871 Pinheiro de Aguiar requereu agrave Inspetoria

de Instruccedilatildeo Puacuteblica o reconhecimento do seu meacutetodo apresentando provas que

atestavam a sua eficaacutecia No perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica haacute a transcriccedilatildeo do

parecer emitido em 1871 por uma comissatildeo instalada sob ordem do Imperador para

averiguar a utilidade do meacutetodo Bacadafaacute Na conclusatildeo do parecer ficou expresso

o tambeacutem aos pais e pessoas interessadas (PINHEIRO DE AGUIAR CORREIO MERCANTIL 27 de setembro de 1859 p 2)

248

que embora identificassem nele vaacuterias vantagens em relaccedilatildeo aos meacutetodos antigos

de ensino de leitura que circulavam pelas escolas acreditaram ser prudente natildeo

estendecirc-lo autorizando apenas que Pinheiro de Aguiar regesse uma cadeira

utilizando a sua proposta Reiteraram tambeacutem a necessidade de os professores serem

formados para aplicaccedilatildeo do sistema da aprendizagem de leitura abreviada devendo

o autor abrir espaccedilo para os professores que quisessem conhecer o meacutetodo e a

Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica igualmente designar Adjuntos para aprenderem

(A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA 14 de julho de 1872 p 109-110)

Nas deacutecadas de 1860 e 1870 os jornais Correio Mercantil e Jornal do

Commercio ndash publicaccedilotildees cariocas ndash que passaram a propagandear a venda dos

impressos de Pinheiro de Aguiar mencionavam que estavam agrave venda ldquoas cartas e as

tabuadas do sistema de leitura abreviadardquo o que pode indicar que a primeira segunda

e terceira cartas propostas pelo autor bem como o quadro de tabuada poderiam ser

comprados avulsos

Esses impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute circularam nas escolas

de primeiras letras goianas conforme atesta o ofiacutecio remetido pelo Presidente de

Goiaacutes Antero Ciacutecero de Assis ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica da proviacutencia

em 1872

Nordm 24 17 de janeiro de 1872 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Sentilder = Remetto a v S a fim de mandal-os distribuir pelas escolas de instrucccedilatildeo primaria desta Provincia quinheiros e um exemplares de Cartas para o exercicio da leitura rapida quatrocentros e noventa e nove ditos do methodo de leitura quatrocentos e noventa e sete dos do Quadro synoptico do methodo de leitura abreviada noventa e seis das explicaccedilotildees do methodo Bacadafa e noventa e cinco ditos de taboada do mesmo methodo recommendando aos Professores o estudo do systema e aplicaccedilatildeo com ensaio a alguns dos alunos para [ilegiacutevel] conta dos resultados adquiridos para os fins convenientes convindo que tal distribuiccedilatildeo seja feita de preferencia para aacutequelles lugares em que se poacutede tirar vantagem = Deos Guarde a VS = Antero Cicero de Assis = Sentilder Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 17 de janeiro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529)

A questatildeo do meacutetodo Bacadafaacute em Goiaacutes foi referida por Arauacutejo e Silva (1975)

a qual alertou que ele natildeo foi bem aceito na proviacutencia visto que se afastava do ldquoniacutevel

cultural do professorado primaacuteriordquo goiano (ARAUacuteJO E SILVA 1975 p 142) Valdez

(2011) tambeacutem menciona que houve solicitaccedilotildees na deacutecada de 1870 da ldquoCarta do

methodo de leitura abreviada das explicaccediloes do methodo Bacadafaacuterdquo Ademais nas

249

fontes consultadas natildeo encontramos outros registros que demonstrassem a

circulaccedilatildeo desse meacutetodo e do impresso de seu autor pela proviacutencia

Retomando o ofiacutecio do Presidente Assis acima transcrito haacute a citaccedilatildeo de cartas

e quadros que compunham o sistema de leitura raacutepida pelo meacutetodo abreviado

denominado Bacadafaacute Todos os impressos mencionados satildeo obras de Antonio

Pinheiro de Aguiar Pela recomendaccedilatildeo do ofiacutecio os materiais seriam distribuiacutedos em

locais que tivessem condiccedilotildees para tirar vantagens do meacutetodo ou seja salas de aula

providas de materiais e de professores o que limitava consideravelmente as escolas

restringindo-as agraves proacuteximas da Capital Cotejando a fonte anterior com os dados

apresentados nas pesquisas de Assunccedilatildeo (2009) Amacircncio (2000) Amacircncio e

Cardoso (2006) eacute possiacutevel supor que as obras de Pinheiro de Aguiar distribuiacutedas pelo

governo goiano foram doadas pelo autor principalmente pela coincidecircncia das datas

e tiacutetulos das obras

Aleacutem disso haacute indiacutecios de que a proposta do meacutetodo Bacadafaacute circulou pelas

escolas goianas especialmente porque na proviacutencia houve iniciativas de divulgaccedilatildeo

da revista A Instrucccedilatildeo Puacuteblica que propagandeou esse meacutetodo publicando suas

vantagens em textos assinados sobretudo por Antonio Estevam Costa e Cunha250

Dois ofiacutecios datados de 1872 colaboram para entendermos essa questatildeo

Nordm 206 16 de 9brordm de 1872 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Sentilder = Remetto a V S por copia inclusa o Avizo Circular do Ministerio do Imperio nordm 4307 de 30 de setembro do corrente anno recommendando que se promova nesta Provincia a assinatura da folha hebdommandaria intitulada ndash A Instrucccedilatildeo Publica que se publica na Cocircrte im a qual satildeo apresentados ideas aacute respeito dos melhores methodos do ensino primario e outros assumptos correlativos cuja propagaccedilatildeo muito convem = Espero que V S empregaraacute seus esforccedilos no sentido de ser satisfeita a recommedanccedilatildeo constante do citado Avizo = Deos Guarde a V S = Antero Cicero Assis = Sentilder Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 16 de novembro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529)

Em 21 de 9bro de 1872 Circular aos Inspectores Parochiaes da Prova

I G da I P da P em 21 de Novbro de 1872 Ilmo Sr ndash Tendo V Exordf o Sr Preside da Prova por offordm nordm 206 de 16 do corre remettido aacute esta Inspectoria o Aviso Circular do Ministerio do Impo nordm 4307 de 30 de 7brordm ultimo expondo a convenniencia de propagar as ideias ~q na folha hebdomadaria intitulada ldquoA Instruccedilatildeo Publicardquo e publicada na Cocircrte satildeo apresentadas sobre os melhores methodos do ensino

250 Sobre isso cf Lima (2008) e Schueler (2005)

250

primario e outros assumptos correlativos e recommendando q~ se promova nesta provordf a assinatura da dordf folha especialmente pelos professores publicos e de mais pessocircas ~q se dedicaotilde ao magisteacuterio e se interessaotilde pelo progresso da instrucccedilatildeo popular espera ~q V S empregaraacute seus esforccedilos no sentudo de ser satisfeita a recomendaccedilatildeo constante da citado Aviso Ds ge aacute vS ndash Ilmo Srntilde Inspor Parochl da Frega de SantrsquoAnna desta Cidade o Cocircnego Jm Vice Azevedo Inspetor Geral da Instrucccedilatildeo Publica Identica aos demais Inspectores Parochiais da Prova inclusive a do Rosario da Capital (AZEVEDO 21 de novembro de 1872 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402)

Como se lecirc no primeiro ofiacutecio o Presidente Assis se dirige ao Inspetor Geral de

Instruccedilatildeo Puacuteblica e recomenda atendendo a uma circular do Ministeacuterio do Imperio a

assinatura do perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica uma publicaccedilatildeo da Corte

Posteriormente o Inspetor Geral Joaquim Vicente de Azevedo encaminha aos

Inspetores Paroquiais a recomendaccedilatildeo de promover a assinatura desse impresso

pedagoacutegico entre os professores e pessoas interessadas pelo magisteacuterio sob a

justificativa de que ele apresentava explicaccedilatildeo dos melhores meacutetodos de ensino

A Instrucccedilatildeo Publica Publicaccedilatildeo Hebdomadaria teve seu primeiro nuacutemero

publicado em 13 de abril de 1872 sendo fundada e dirigida por Joseacute Carlos Alambary

Luz que atuou como Diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (SCHUELER 2005a

VILLELA 2002) Esse perioacutedico circulou segundo Lima (2008) em duas fases a

primeira entre 1872 e 1875 e a segunda de 1887 a 1888 Consultando as suas

ediccedilotildees disponiacuteveis no Acervo da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

notamos que os meacutetodos de ensino foram um tema frequentemente retomado pelos

redatores

A pesquisa de Lima (2018) ao tratar sobre a primeira fase desse perioacutedico

nota que ele veiculou com mais veemecircncia trecircs meacutetodos de ensino de leitura

indicando-os para as escolas primaacuterias o Meacutetodo Bacadafaacute o Meacutetodo de Leitura de

Michel Charbonneau e o Meacutetodo Portuguez Castilho A autora destaca que o

Bacadafaacute foi o primeiro a ser divulgado com a publicaccedilatildeo de artigos que explicaram

o meacutetodo e seus benefiacutecios na instruccedilatildeo de crianccedilas e adultos analfabetos

Se de fato os professores goianos tiveram acesso agraves publicaccedilotildees das ediccedilotildees

de A Instrucccedilatildeo Publica eles puderam acompanhar um discurso em defesa do meacutetodo

Bacadafaacute e sua brasilidade Nesse ponto Schueler (2004) demonstra que o ldquomeacutetodo

tinha a intenccedilatildeo de tambeacutem ensinar as primeiras noccedilotildees de histoacuteria e geografia

paacutetrias contribuindo dessa maneira para a formaccedilatildeo de sentimentos e ideias de

251

nacionalidaderdquo (SCHUELER 2004 p 81) O Bacadafaacute cindia com os meacutetodos

baseados em imagens e textos estrangeiros todavia para Schueler (2005) sua

originalidade natildeo estava relacionada a esse aspecto mas acima de tudo ldquona sua

aplicaccedilatildeo para o conjunto das disciplinas e dos saberes escolaresrdquo (SCHUELER

2005 p 183)

Aleacutem do mais a proposta de alfabetizaccedilatildeo em 20 liccedilotildees sintonizava-se com os

anseios da proviacutencia goiana naquele momento marcada pela cultura de uma

populaccedilatildeo que natildeo reconhecia a importacircncia da instruccedilatildeo primaacuteria devido aos baixos

resultados por ela produzidos e tambeacutem agraves dificuldades de acesso agrave escola (ASSIS

Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1873 1874)

Como dito natildeo localizamos documentaccedilotildees para discorrer a respeito das

praacuteticas e dos usos dos impressos que compunham o meacutetodo Bacadafaacute nas escolas

da proviacutencia goiana Apesar disso registramos nesta Tese que Goiaacutes esteve na rota

de Pinheiro de Aguiar entre as localidades que receberam seus impressos e os

distribuiacuteram pelas escolas puacuteblicas Mesmo assim permanece uma lacuna nas

pesquisas da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil imperial uma vez que pouco ainda

sabemos sobre a aplicabilidade do meacutetodo Bacadafaacute nas escolas brasileiras e em que

medida houve sua repercussatildeo no territoacuterio nacional

52 OS LIVROS DE LEITURA DE ABIacuteLIO CEacuteSAR BORGES

A presenccedila da obra de Abiacutelio Ceacutesar Borges na histoacuteria da educaccedilatildeo goiana foi

registrada nas memoacuterias de Cora Coralina ao escrever passagens da sua infacircncia na

ldquoEscola da Mestra Silvinardquo

Minha escola primaacuteria Escola antiga de antiga mestra [] Nem recreio nem exames Nem notas nem feacuterias Sem cacircnticos sem merenda Digo mal mdash sempre havia distribuiacutedos alguns bolos de palmatoacuteria A granel Natildeo que a Mestra era boa velha cansada aposentada Tinha jaacute ensinado a uma geraccedilatildeo antes da minha A gente chegava ldquomdash Benccedila Mestrardquo

252

Sentava em bancos compridos escorridos sem encosto Lia alto liccedilotildees de rotina o velho abecedaacuterio liccedilatildeo salteada Aprendia a soletrar Vinham depois Primeiro segundo terceiro e quarto livros do erudito pedagogo Abiacutelio Ceacutesar Borges mdash Baratildeo de Macauacutebas E as maacuteximas sapientes do Marquecircs de Maricaacute (CORALINA 1977 p 40)

Esses versos de Cora satildeo recorrentemente mencionados para representar a

infacircncia e a sua escolarizaccedilatildeo no seacuteculo XIX no iniacutecio da Repuacuteblica em especial na

Cidade de Goiaacutes na eacutepoca capital do estado A poetisa desvela a cultura escolar do

periacuteodo levando-nos a considerar que as mudanccedilas advindas do sistema republicano

natildeo tiveram repercussotildees imediatas nos modos de fazer nas escolas em Goiaacutes Haacute

que se destacar que essa permanecircncia de praacuteticas escolares como advogam

Carvalho (2003) Souza (1998) e Faria Filho (2014) dentre outros autores natildeo foi um

fato restrito agrave histoacuteria da educaccedilatildeo goiana

Reiterando o que Valdez (2006) aponta ao nos debruccedilarmos sobre as fontes

inventariadas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes notamos que as primeiras

menccedilotildees agrave utilizaccedilatildeo das obras de Abiacutelio Ceacutesar Borges na proviacutencia goiana datam do

iniacutecio da deacutecada de 1870 A autora elucida que as obras do Baratildeo foram mencionadas

nas listas de expediente escolar ateacute os anos 30 do seacuteculo XX o que certifica a

longevidade do uso desses impressos nas escolas espalhadas do sul ao norte de

Goiaacutes por mais de meio seacuteculo

Abiacutelio Ceacutesar Borges nasceu na Bahia em 1824251 e sua formaccedilatildeo em niacutevel

superior se deu entre a Faculdade de Medicina da Bahia e a Faculdade de Medicina

do Rio de Janeiro onde defendeu sua tese em 1847 (GONDRA 2004) Ainda na

faculdade manteve viacutenculos com a imprensa jornaliacutestica divulgando seus escritos

251 Mesmo com toda a ecircnfase laudatoacuteria feita por Isaias Alves (1936) um dos primeiros bioacutegrafos de Abiacutelio Ceacutesar Borges ele nos fornece alguns elementos importantes da vida desse escritor Por isso registramos que todas as dataccedilotildees e informaccedilotildees a respeito da vida e das obras de Abiacutelio foram referenciadas a partir das contribuiccedilotildees de Isaiacuteas Alves publicadas em Vida e obra do Baratildeo de Macahubas (ALVES 1936) A ediccedilatildeo a que tivemos acesso foi editada no Rio de Janeiro pela Ediccedilotildees Infacircncia e Juventude

253

Valdez (2006) fez um levantamento de alguns de seus textos escritos e afirma que

ldquocomo outros intelectuais de sua eacutepoca publicou artigos em jornais e revistas de

grande circulaccedilatildeo da Bahia e de outras proviacutencias Natildeo soacute escreveu em jornais como

tambeacutem lsquochefioursquo algunsrdquo (VALDEZ 2006 p 38)

Atuou pouco tempo como Meacutedico profissatildeo que abandonou em 1856 para

dedicar-se agrave educaccedilatildeo Foi Diretor da Instruccedilatildeo Puacuteblica da Bahia e fundou escolas

privadas na Bahia no Rio de Janeiro e em Minas Gerais Nessas escolas que criou e

dirigiu ldquoprocurou materializar seu projeto de reforma e de modernizaccedilatildeo da instruccedilatildeordquo

(GONDRA 2009 p 67) Sobre sua experiecircncia nesses coleacutegios Aniacutesio Teixeira em

1952 publicou um texto na Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos em que

destacou que nesses espaccedilos Abiacutelio praticou ldquouma educaccedilatildeo revolucionaacuteria para o

tempo e em todos encontrando professocircres para auxiliaacute-lo e ambiente para lhe

aplaudir e estimular os esforccedilosrdquo (TEIXEIRA 1952 sp) Na mesma Revista

Bittencourt (1953) nomina os principais fundadores de escolas privadas no territoacuterio

brasileiro no Impeacuterio e na Repuacuteblica demonstrando que o nome de Borges esteve

entre os pioneiros em instituiccedilotildees consagradas pelos meacutetodos e pelos resultados

difundidos no Brasil

Reconhecido natildeo soacute em niacutevel nacional como tambeacutem no contexto

internacional por meio de premiaccedilotildees pelas obras produzidas e pelos feitos no campo

educacional foi condecorado em 1881 pelo Imperador Dom Pedro II com o tiacutetulo de

Baratildeo de Macauacutebas Com a Igreja manteve relaccedilotildees amistosas no Impeacuterio chegando

a receber em 1879 o grau de Comendador da Ordem de Satildeo Gregoacuterio Magno de

Roma pelas matildeos do Papa Pio IX (ALVES 1936)

Tudo isso demonstra como ldquoparticipou ativamente do Impeacuteriordquo (FRADE 2010a

p 173) Valdez (2006) aponta que devido aos laccedilos com a Monarquia apoacutes a

implementaccedilatildeo da Repuacuteblica nas escolas brasileiras os livros do Baratildeo de Macauacutebas

foram gradativamente sendo substituiacutedos por outras seacuteries de livros de leitura Sobre

isso acrescentariacuteamos que o cenaacuterio da produccedilatildeo didaacutetica do paiacutes no periacuteodo

tambeacutem contribuiu para que os impressos de Borges disputassem espaccedilo ao lado de

vaacuterios outros autores que lanccedilaram suas produccedilotildees sob a influecircncia do sistema

republicano e do espiacuterito nacionalista Outro aspecto a considerar foi a dificuldade dos

livreiros em fornecer os livros de Abiacutelio Uma correspondecircncia datada de 1890

encontrada na seccedilatildeo de Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa do

Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes pode clarear um pouco dessa questatildeo em Goiaacutes

254

Nordm 188 Governo do Estado de Goyas 30 de setembro de 1891

Com vosso officio nordm 178 de hontem datado me apresentando requerimto a vos dirigido em que os negociantes drsquoesta praccedila Adolpho Luis Guedes fornecedores de objetos de expediente para as reparticcedilotildees publicas drsquoeste Estado pedem permissatildeo para no fornecimto que doravante tiverem de faser p as escolas publicas primarias substituir o 1ordm livro de leitura do Dr Abilio p um novo 1ordm livro de mmo autor visto natildeo se encontrar drsquoaquelles que pelo contracto satildeo obrigados a fornecer Em resposta tenho a diser-vos que concordo na substituiccedilatildeo dos ditos livros contanto que seja conservado o preccedilo de taes livros estipulados no respectivo contracto Incluso vos devolvo o citado requerimento Saude e fraternidade Rodolpho G de Paixatildeo Ao Insp da Instr Publi Do Estado (PAIXAtildeO 30 de setembro de 1891 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 946)

A correspondecircncia enviada pelo entatildeo Governador do Estado Rodolpho

Gustavo de Paixatildeo ao Inspetor da Instruccedilatildeo Puacuteblica demonstra a dificuldade de

fornecer o Primeiro livro de leitura de Borges o que fez com que o negociante de

materiais escolares solicitasse a sua substituiccedilatildeo pelo novo primeiro livro de leitura do

autor Essa publicaccedilatildeo teve a primeira ediccedilatildeo em 1888 em Bruxelas na Typographia

e Lithographia e Guyot e seu tiacutetulo completo foi Novo primeiro livro de leitura segundo

o Methodo do Baratildeo de Macahubas (Dr Abilio Cesar Borges) dedicado ao povo

brasileiro (VALDEZ 2006) A dificuldade em fornecer as obras de Abiacutelio pode ter sido

causada por parte de suas publicaccedilotildees provir de editoras estrangeiras Mesmos

cientes que essas editoras mantiveram relaccedilotildees comerciais e pessoais com editoras

e livreiros instalados no Brasil sabemos que a importaccedilatildeo de impressos da Europa

demandava segundo Hallewell (2012) entre 1 mecircs e quase 3 meses por navio

dependendo da eacutepoca do ano Aleacutem do mais somam-se a isso as dificuldades

proacuteprias do transporte de livros da Corte para as proviacutencias bem como o alto custo

do transporte feito por carreto (SPINOLA Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes1880 p

29)

Em Goiaacutes analisando as listas de expediente escolar252 observamos que

circularam com intensidade na escola primaacuteria os Primeiro Segundo e Terceiro livros

252 Na seccedilatildeo intitulada ldquoFontesrdquo no item ldquoListas de Expediente Escolar e Mapas de Turmardquo em todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes mencionados poacutes-1870 encontramos algum documento que cita as obras de Abiacutelio Ceacutesar Borges sendo solicitadas ou enviadas agraves escolas goianas

255

de leitura e a Gramaacutetica Portuguesa do Baratildeo de Macauacutebas obras que influenciaram

e constituiacuteram no final do impeacuterio os modos de ensinar leitura e escrita

Esses impressos fizeram parte da estrateacutegia desenvolvida por Abiacutelio que

doava exemplares para divulgar seus escritos pelas proviacutencias do Brasil O Presidente

Antero Ciacutecero de Assis conta essa passagem em Goiaacutes sintetizando-a no Relatoacuterio

apresentado agrave Assembleia Legislativa Provincial em junho de 1875

DONATIVOS ndash O ilustrado Sr Dr Abilio Cezar Borges meo comprovinciamo assaacutes conhecido por suas importantes obras dirigio-me um officio em que manifestando a persuasatildeo dos meus esforccedilos pela instrucccedilatildeo publica da provincia e o conhecimento das dificuldades com que lectava oriundas da exiguidade de recursos dos cofres offerecia-me para as escolas de 1as letras 200 exemplares dos seus 1ordm 2ordm e 3ordm livros de leitura e 400 de sua grammatica portuguesa elementar jaacute admitidos nas de quasi todas as provincias do imperio Acceitando tam importante offerecimento assim respondi aacutequelle tatildeo distincto cidadatildeo agradecendo-lhrsquoo em nome da provincia e por minha parte e prevenindo-o de que mandaria receber os livros na Cocircrte para terem o fim a que eratildeo destinados Providenciando arsquoeste sentido aqui chegaratildeo mediante o carreto de 11$000 reacuteis por 15 kilogramas que importou em 111$372 e que foi pago pela Thesouraria Provincial a qual recebeo-os e enviou-os aacute seus destinos conforme a distribuiccedilotilde feita aacutes escolas pela inspectoria geral de instrucccedilatildeo publica (ASSIS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1875 p 19)

Esse episoacutedio da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes eacute melhor compreendido

por meio de uma sequecircncia de ofiacutecios enviados pelo Presidente Antero Ciacutecero de

Assis em 1875 (GOIAacuteS 1874-1876 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada

e Impressa nordm 602) Em 02 de janeiro de 1875 Assis relata a chegada dos livros

doados por Abiacutelio ordenando que fossem entregues na Tesouraria da Fazenda

Provincial onde seriam pagos os carretos e verificado o estado dos livros Nessa

correspondecircncia o Presidente orienta o Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para

organizar um quadro com a divisatildeo proporcional das obras que seriam distribuiacutedas

pelas escolas de primeiras letras da proviacutencia (ASSIS 02 de janeiro de 1875 p 18

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602) No dia 19 de

janeiro o Presidente Assis expotildee como foi de fato realizado o envio das obras do

Baratildeo de Macauacutebas pelos rincotildees de Goiaacutes

Nordm 21 19 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo = Ilmo Senr = Estou de posse do officio que V S me dirigio hoje sob nordm 19 expondo natildeo terem sido entregues ao Porteiro dessa Inspetoria como pratica-se com os objectos de expediente para as aulas de primeiras lettras de foacutera desta Capital os livros ofertados aacute

256

Instrucccedilatildeo Publica da Provincia pelo Doutor Abiacutelio Cesar Borges o que estatildeo na Thezouraria Provincial que declarou ter ordem desta Presidencia para os enviar aacute seus destinos = Respondendo tenho a dizer aacute V S que sendo necessario verificar-se a entrega dos volumes contendo os ditos livros pela mesma Thezouraria que tinha de fazer o pagamento do carreto para facilitar o serviccedilo determinei logo que por ella fosse feita a remessa delles por intermedio dos seus agentes o que eacute diverso do exposto em seu officio citado nem vem revogar o que estaacute estabelecido por ser a distribuiccedilatildeo de que se trata um caso especial = Deos Guarde aacute V S = Antero Cicero drsquoAssiz = Senr Conego Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica (ASSIS 19 de janeiro de 1875 p 23 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602)

O Presidente Assis evidencia que a distribuiccedilatildeo dos livros doados por Abiacutelio foi

um caso especial alterando uma praacutetica de como os materiais eram remetidos agraves

escolas de primeiras letras fora da Capital da proviacutencia Pelo exposto era comum que

a Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica fizesse o envio dos objetos de expediente

escolar mas no caso das obras de Borges quem o fez foi a Tesouraria Provincial

encarregada de pagar o transporte dos livros vindos da Corte e de despachar os

impressos agraves escolas goianas por intermeacutedio de seus agentes

As doaccedilotildees das obras de Abiacutelio pelas proviacutencias brasileiras foram registradas

por Primitivo Moacyr (1939a 1939b) O que fica niacutetido ao cotejar os dados desse autor

com os da fonte supratranscrita eacute que variava muito a quantidade dos exemplares

enviados pelo Baratildeo de Macauacutebas portanto natildeo existia um padratildeo nessa distribuiccedilatildeo

pelo territoacuterio nacional Outra questatildeo eacute que na deacutecada de 70 do seacuteculo XIX Abiacutelio

empreendeu uma forte campanha pelo paiacutes divulgando suas obras Alves (1936)

destaca que aproximadamente 400 mil exemplares delas foram distribuiacutedos de forma

gratuita pelas proviacutencias

Os donativos de livros feitos pelo Baratildeo de Macauacutebas a Goiaacutes vieram

acompanhados de uma proposta de oferta para compra anual de livros do autor

conforme evidenciamos pelo conteuacutedo de um ofiacutecio de 05 de fevereiro de 1875

remetido pela Tesouraria da Fazenda Provincial agrave Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo

Puacuteblica (JARDIM 05 de fevereiro de 1875 p 44-46 AHEG Documentaccedilatildeo

Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)

Nesse ofiacutecio a Tesouraria da Fazenda Provincial faz uma previsatildeo da

quantidade de livros de Borges que seriam fornecidos anualmente agraves escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia dirigindo agrave Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica a

relaccedilatildeo de todas as escolas de primeiras letras da proviacutencia e especificando inclusive

257

os tipos de escolas (feminina ou masculina) agraves quais seriam remetidos o Primeiro

Segundo Terceiro livros de leitura e a Gramaacutetica Portuguesa Essas informaccedilotildees satildeo

organizadas numa tabela anexa ao ofiacutecio intitulada de ldquoRelaccedilatildeo das escolas de 1as

letras da Provincia que estatildeo no caso de serem prestados os livros de leitura

compostos pelo Dr Abilio Cesar Borgesrdquo A tabela ocupa a extensatildeo de 5 paacuteginas

somando uma quantia final de 2000 livros sendo 500 exemplares de cada um dos

tiacutetulos mencionados para um total de 53 escolas masculinas e 28 escolas femininas

em 52 diferentes localidades da proviacutencia (arraial cidade povoaccedilatildeo e vila)

Pelos dados da pesquisa de SantrsquoAnna (2010) estavam abertas em 1875 56

escolas do sexo masculino e 28 do sexo feminino com a frequecircncia de 1802 meninos

e 546 meninas Isso posto a quantidade de livros solicitados contraposta com esse

nuacutemero de alunos demonstra que natildeo era comprado um livro para cada aluno A partir

dessa questatildeo podemos conjecturar que o uso dos impressos na sala de aula ficava

restrito agraves crianccedilas mais adiantadas ou eram trabalhados em pequenos grupos Essa

uacuteltima hipoacutetese pode ser ratificada por meio da anaacutelise da mobiacutelia escolar jaacute que os

professores goianos solicitavam bancos medindo ldquotrecircs metros de comprimentordquo e

mesas de ldquodez palmos de comprimento e 4 frac12 de largurardquo (GOIAacuteS 1873-1877 p 16

AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575)253 Tais

dimensotildees comprovam que os alunos ocupavam a mesma mesa e sentavam-se um

ao lado do outro em bancos largos o que possibilitava uma organizaccedilatildeo didaacutetica em

trabalhos em grupo e pelo meacutetodo simultacircneo recomendado pela legislaccedilatildeo do

periacuteodo (GOIAacuteS 1869)

O Baratildeo de Macauacutebas enviou tambeacutem ao Inspetor Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica

de Goiaacutes em 1876 20 exemplares da propaganda que ele fez contra o emprego de

castigos fiacutesicos no ensino da mocidade solicitando que os impressos fossem

distribuiacutedos aos professores da proviacutencia Tratava-se do livro Vinte annos de

propaganda contra o emprego da palmatoria e de outros meios aviltantes no ensino

da mocidade publicado no Rio de Janeiro na Tipografia do Globo em 1875254 Essa

obra foi uma coletacircnea de discursos escritos por ele em defesa de uma educaccedilatildeo sem

253 Nesse livro haacute vaacuterios pedidos de mobiacutelias escolares para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria da proviacutencia de Goiaacutes Os tamanhos dos bancos e mesas para uso dos alunos variavam muito mas mantinham o padratildeo de serem de comprimento longo 254 Tivemos acesso a esse livro na Biblioteca do Arquivo Puacuteblico do Estado de Satildeo Paulo A ediccedilatildeo consultada datada de 1880 foi publicada na Typographia e Litographia E Guyot Rua Pacheco 12 em Bruxelas (BORGES 1880)

258

castigos corporais Os textos foram organizados por ano compreendendo o periacuteodo

de 1856 a 1875 (VALDEZ 2006)

Saviani (2013) advoga que Abiacutelio Ceacutesar Borges adotou ldquoa pedagogia moderna

procurando pocircr em praacutetica e difundir no Brasil lsquoos meacutetodos novosrdquo (SAVIANI 2013 p

155) Para o autor entre as praacuteticas que subsidiavam esses meacutetodos estava a de que

a escola seria o lugar de a crianccedila ser feliz que ela pudesse amar esse espaccedilo

aprendendo com prazer de modo que o professor conquistasse a atenccedilatildeo da crianccedila

com propostas atrativas e natildeo pelo medo e pelo uso da palmatoacuteria Valdez (2006)

explica que Abiacutelio ao sustentar em seus discursos a tese de que os castigos fiacutesicos e

a palmatoacuteria ldquonatildeo levavam a nada e que a ciecircncia natildeo era algo que se introduzisse

com pancadas aconselhava aos pais e mestres que corrigissem os lsquodesmandos do

espiacuteritorsquo com amor ou conselhos promovendo a emulaccedilatildeo e o gosto do estudordquo

(VALDEZ 2006 p 176)

Ainda sobre os donativos feitos por ele ao governo goiano no Impeacuterio uma

correspondecircncia enviada pela Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica goiana em 17 de

setembro de 1880 aos Inspetores Paroquiais da proviacutencia nos chamou atenccedilatildeo ao

confrontarmos seu conteuacutedo com dados da pesquisa de Teixeira (2008) Vejamos

inicialmente um fragmento da fonte identificada no Arquivo Histoacuterico Estadual de

Goiaacutes

Arsquo 17 de setembro de 1880 Ao Insp tor Paroal Andreacute Ferra [ilegiacutevel] Inspetoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica em Goyaz 17 de setembro de 1880 Ilmo Senro Envio a V Srordf 36 exemplares dos seguintes opuacutesculos de Luziadas Dezenho linear ou elementos de Geometria Pratica e Pequeno tratado de leitura para serem distribuidos as escolas publicas sob sua inspeccedilatildeo devendo tocar a cada uma dellas 6 exemplares de cada um dos opuacutesculos Deos Guarde a V Sordf Conego Joaquim Vicente de Azevedo I G da I P = Senr~ Insptor Parocial da Freguesia do Rosario desta Capital Andreacute Ferreira Rios (AZEVEDO 17 de setembro de 1880 p 39 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690)

Esse ofiacutecio foi enviado a vaacuterias localidades da proviacutencia goiana variando o

nuacutemero de exemplares de acordo com a quantidade de escolas declaradas em cada

regiatildeo Acompanhando a seacuterie dos ofiacutecios encontrados no Livro de Registro das

Correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores

Paroquiais (GOIAacuteS 1879-1883 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e

Impressa nordm 690) calculamos cerca de 1014 livros distribuiacutedos agraves escolas primaacuterias

259

de Goiaacutes cujos tiacutetulos satildeo os mesmos mencionados por Azevedo (17 de setembro de

1880)

Esse nuacutemero de livros chama atenccedilatildeo levando-nos a procurar a origem deles

Consultando os Relatoacuterios do Presidente de Proviacutencia agrave eacutepoca Aristides de Sousa

Spiacutenola e as fontes recolhidas no Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes natildeo

encontramos ateacute entatildeo menccedilatildeo ao local de onde foram enviados

Teixeira (2008) apresenta um dado que pode explicar a procedecircncia dos

impressos distribuiacutedos por Azevedo (17 de setembro de 1880) A autora cita parte do

Relatoacuterio do Ministro do Impeacuterio de 1878 que informa a distribuiccedilatildeo de obras que

Abiacutelio Ceacutesar Borges faz pelas escolas da Corte e das proviacutencias Foram 10000

exemplares de cada uma das obras Pequeno tratado de leitura Os Luziadas (ediccedilatildeo

especial) e Elementos de geometria pratica popular (TEIXEIRA 2008 p 131)255 A

partir da similaridade entre esses tiacutetulos e os mencionados no ofiacutecio do Cocircnego

Joaquim Vicente de Azevedo presumimos que as obras distribuiacutedas pela proviacutencia

goiana eram donativos feitos pelo Baratildeo de Macauacutebas

Em Goiaacutes no oitocentos a praacutetica de doaccedilotildees de artefatos para manutenccedilatildeo

das escolas natildeo era soacute realizada por autores de livros didaacuteticos Agrave guisa de exemplo

vejamos

Ins P de 23 de Maio de 1889 N 44 Inteirado pelo seu officio sob nordm 65 de 9 do corrente mes de haver o Coronel Frederico Joseacute [ilegiacutevel] residente na cidade de Porto Imperial feito um donativo a escola de 1as letras do sexo feminino da mesma cidade de 40 exemplares dos livros de leitura do Dr Abilio Cesar Borges conforme lhe foi comunicado pelo respectivo delegado litterario em officio de 3 de Abril findo recommendo-lhe que em nome do governo agradeccedila ao referido Coronel [ilegiacutevel] importante offerta que assim revelou o seu elevado patriotismo em favor da instrucccedilatildeo publica drsquoaquella localidade Dos Ge aacute Vmce

Eliacutesio Firmo Martins Insp Geral da Instrucccedilatildeo Publica (MARTINS 23 de maio de 1889 grifos nossos AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 930)

255 Segundo Alves (1936) o estudo da liacutengua nacional foi objeto de vaacuterias reflexotildees de Abiacutelio ldquoSeu interesse pelo estudo da lingua nacional natildeo ia soacute aacute aprendizagem mecacircnica de regras de gramaacutetica queria a leitura expressiva e a declamaccedilatildeo o conhecimento das belezas da lingua que ele sintetizava nos lsquoLUZIADASrsquordquo (ALVES 1936 p 81) Publicou em 1879 a Ediccedilatildeo Escolar dos Lusiacuteadas para uso das escolas brasileiras na qual se acham supressas todas as estacircncias que natildeo devem ser lidas pelos meninos (VALDEZ 2006)

260

Esse eacute um dos registros que mostra que os Coroneacuteis em Goiaacutes tambeacutem

forneciam materiais para as escolas primaacuterias o que os colocava como benfeitores

responsaacuteveis por manterem a ordem e a administraccedilatildeo dos territoacuterios juntamente com

os Presidentes da Proviacutencia Os Religiosos tambeacutem faziam muitos donativos

especialmente de livros de doutrina cristatilde e catecismos

O cenaacuterio goiano no final do Impeacuterio foi marcado por disputas no campo

poliacutetico devido agraves rixas entre as oligarquias locais No contexto dos municiacutepios

diferentes arranjos poliacuteticos e casamentos eram feitos entre as famiacutelias dos Coroneacuteis

para manutenccedilatildeo do poder e pela propriedade de terras Natildeo obstante como nos

informa Canezin e Loureiro (1994) o que estava em jogo natildeo eram soacute posses e sim

um poder simboacutelico de domiacutenio territorial proacuteprio do sistema de coronelismo que

imperava na proviacutencia

Entre os impressos de Borges nos deteremos doravante com maiores detalhes

no Primeiro livro de leitura uma vez que essa obra subsidiava o processo de

alfabetizaccedilatildeo nas escolas primaacuterias goianas Seu tiacutetulo completo eacute Primeiro livro de

leitura para uso da infancia brasileira

261

Figura 17 Folha de rosto da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Diane Valdez

Sua primeira ediccedilatildeo data de 1866256 conforme consta no primeiro item do livro

intitulado de ldquoRapidas consideraccedilotildees sobre o methodo seguido nrsquoeste livrinhordquo que

ocupa a extensatildeo da paacutegina 3 a 7 e se aproxima de um prefaacutecio que faz notas

introdutoacuterias sobre o meacutetodo e o livro A publicaccedilatildeo da obra ocorreu entretanto em

1867 em Paris

Borges (1867a) adverte inicialmente sobre os motivos que o levaram a escrever

a obra

Desde que me occupo de instruir e educar a mocidade tenho vanmente procurado um livro de primeira leitura em lingua portuguesa

256 Tivemos acesso a coacutepia dessa primeira ediccedilatildeo por meio da consulta ao Acervo Pessoal da pesquisadora Diane Valdez da Universidade Federal de Goiaacutes Segundo Valdez (2006) o Primeiro livro de leitura tinha formato 175 x 11 cm

262

que ao mesmo tempo que servisse para facilitar aacutes creanccedilas o conhecimento dos elementos da linguagem lhes comunicasse desde as primeiras lecccedilotildees o habito de pensarem e entenderem o que lessem (BORGES 1867a p 3)

Posto isso o autor lanccedila o seu principal desafio bem como o caraacuteter moderno

do seu Primeiro livro de leitura associar o aprendizado da liacutengua com o pensamento

e compreensatildeo do que se lecirc O gosto pela leitura continua Borges (1867a) seria

decorrente de o aluno se deparar com liccedilotildees cujas palavras e frases fossem familiares

Assim sendo propotildee o uso de expressotildees que as crianccedilas estavam ldquoacostumadas a

ouvir e fallar em suas casas e cuja significaccedilatildeo portanto lhes natildeo seria estranhardquo

(BORGES 1867a p 3)

Idealizando formar sujeitos pensantes exalta a primeira infacircncia justificando

que a escrita de um livro para crianccedilas eacute um ato da mais elevada posiccedilatildeo social Nesse

ponto jaacute apresenta argumento e contra-argumento aos possiacuteveis criacuteticos que

manifestassem opiniatildeo de que escrever livros para crianccedilas eacute se rebaixar numa

posiccedilatildeo de pouco prestiacutegio Por fim enaltece a educaccedilatildeo na primeira infacircncia

acrescentando

Na fundaccedilatildeo dos edifiacutecios puacuteblicos de alguma importancia natildeo satildeo os personagens de mais elevada posiccedilatildeo social os escolhidos para se abaixarem assentando-lhes a primeira pedra E qual o edifiacutecio de mais valor social e moral do que o da educaccedilatildeo da infancia (BORGES 1867a p 4 grifos do autor)

Sobre o meacutetodo Borges (1867a) explicita que os resultados seratildeo mais breves

que os das Cartas de ABC Manteacutem a loacutegica do ensino de leitura pelo meacutetodo de

soletraccedilatildeo com algumas inovaccedilotildees nas teacutecnicas palavras e textos contidos no livro

A princiacutepio pela organizaccedilatildeo do Primeiro livro de leitura a tendecircncia eacute sinalizar que o

meacutetodo por ele adotado era o de silabaccedilatildeo como Pfromm Neto Dib e Rosamilha

(1974) classificaram jaacute que as primeiras liccedilotildees apresentam as letras e na sequecircncia

as siacutelabas dispostas em ordem alfabeacutetica Contudo no prefaacutecio haacute as orientaccedilotildees

para o professor aplicar as liccedilotildees esclarecendo que a teacutecnica privilegiada eacute a

soletraccedilatildeo

Eacute assim que o mestre ensinaria perfeitamente de cor a seus discipulos o alphabeto seguido por ordem e a decomposiccedilatildeo das palavras em syllabas e a recomposiccedilatildeo destas nas mesmas palavras e so quando elles soubessem recitar todo o alphabeto e soletrar todas as palavras contidas nrsquoeste livrinho eacute que elle seria posto nas matildeos dos meninos os quaes por este modo em tres ou quatro semanas mais o leriam

263

sufficientemente bem para poderem passar ao segundo livro de leitura que tambem nrsquoesta data para elles publico Sabido perfeitamente o alphabeto de cor e a soletraccedilatildeo como acabo de recomendar a leitura sobre o livro se acharaacute infinitamente facilitada natildeo tendo as creanccedilas outra cousa aacute fazer sinatildeo conhecer pelos olhos aquillo que jaacute sabiam de memoria aprendido pelos ouvidos o que certamente lhes excitaraacute a curiosidade sendo-lhes motivo de satisfaccedilatildeo real (BORGES 1867a p 5)

A questatildeo da metodologia do ensino de leitura abordada pelo Baratildeo de

Macauacutebas no seu Primeiro livro eacute alvo da pesquisa de Frade (2010a) que assinala

que ldquonatildeo se pode dizer que seu meacutetodo seja baseado na palavraccedilatildeo uma vez que

fica claro que eacute preciso que os alunos soletrem antes das liccedilotildees tudo que apareceraacute

no impresso depois das paacuteginas do seu livrinhordquo Em seguida acrescenta ldquoparece

entatildeo que Abiacutelio herda o procedimento de soletraccedilatildeo mas aplica-o de forma mais

significativa em palavras do cotidianordquo (FRADE 2010a p 191)

Borges (1867a) indica que o livro natildeo deveria ser colocado na matildeo da crianccedila

nos primeiros dias de aula pois ele representa a cultura da escola tornando o

processo ainda mais penoso O professor aguardaria de duas a trecircs semanas periacuteodo

que o autor chama de ldquopreparaccedilatildeo para leitura sobre o papelrdquo que ldquodevem ser

empregadas em exercicios de leitura de cor aprendida so pelo ouvidordquo (BORGES

1867a p 5) A entrega do livro seria um ato solene destacou Borges (1867a)

Elucida tambeacutem que algumas passagens dele seriam trabalhadas com textos

decorados remontando agraves praacuteticas seculares de alfabetizaccedilatildeo o que mostra que

manteve a tradiccedilatildeo de uma teacutecnica de ensino que associava memorizaccedilatildeo das siacutelabas

pela soletraccedilatildeo reconhecendo-as e lendo-as em palavras que faziam parte do

repertoacuterio e do dia a dia das crianccedilas o que conferia agrave obra um diferencial em relaccedilatildeo

ao que circulava nas produccedilotildees didaacuteticas brasileiras Em consonacircncia o escritor

defendia que a aprendizagem da leitura passava necessariamente pelos sentidos

dos olhos e dos ouvidos pela oralizaccedilatildeo do escrito do conhecimento das pequenas

partes para o todo

Natildeo o recommendando pois no todo recommendo-o em parte e com encarecimento isto eacute que se ensine e acostume os meninos a lerem as palavras monosyllabas e mesmo as dissyllabas mais communs facillimas de conhecer aacute primeira vista independente da soletraccedilatildeo (BORGES 1867a p 6)

O ensino de leitura pensado por Borges (1867a) natildeo se associava ao ensino

da escrita jaacute que recomendava aos professores que natildeo se preocupassem com essa

264

questatildeo com os seu ldquodisciacutepulosrdquo com menos de sete anos de idade justificando que

esse processo eacute ldquopenoso demais para aquellas matildeosinhas ainda tatildeo pequenasrdquo

(BORGES 1867a p 7)

Entre os usos das obras de Abiacutelio na instruccedilatildeo primaacuteria goiana destaca-se o

caso na Escola Normal de Goiaacutes que exemplifica as possiacuteveis apropriaccedilotildees dos

impressos escritos por esse autor nas classes de primeiras letras da proviacutencia Em

1884 estavam abertas anexas agrave Escola Normal duas classes de instruccedilatildeo primaacuteria

sendo uma do sexo feminino e outra do sexo masculino O Programa de Ensino para

a aula das meninas cuja regecircncia era da professora Silvina Ermelinda Xavier de Brito

enunciava

Programma do ensino pa a aula de instrucccedilatildeo primaria do sexo feminino annexo a Escola Normal Estabelecer o methodo de ensino simultacircneo dividindo-se as alunas em 5 classes e funccionaraacute 2 vezes pr dia das 9 as 11 da manham e de 1 a 3 da tarde 1deg Classe Leitura ndash Conhecimto de letras e syllabas do 1 Livro de leitura de Abilio Escripta ndash Traccedilar na pedra letras soltas maiuacutesculas e minuacutesculas Arithmetica ndash Conhecimto dos algarismos e formaccedilatildeo dos nos ateacute dezenas Doutrina ndash Ensino oral das Oraccedilotildees da Cartilha ateacute a pagina 39 2deg Classe Leitura ndash Continuaccedilatildeo do 1deg Livro de Abilio ateacute a pag 33 Escripta ndash O alphabeto seguido e algarismos a lapes sobre papel Arithimetica ndash Formaccedilatildeo dos nos ateacute milhotildees Doutrina ndash Continuaccedilatildeo das Oraccedilotildees da Cartilha ateacute a pag 45 3deg Classe Leitura ndash Continuaccedilatildeo e fim do 1deg Livro de Abilio Escripta ndash Copia de traslados em bastardo Arithmetica ndash Taboada de addiccedilatildeo e subtracccedilatildeo Pratica dessas 2 pes Doutrina ndash Continuaccedilatildeo das oraccedilotildees da Cartilha ateacute o fim 4deg Classe Leitura ndash 2deg Livro de Leitura do Dr Abilio Escripta ndash Copia de traslados em bastardinho Arithmetica ndash Taboada de multiplicar e dividir Pratica dessas 2 opes Doutrina ndash Explicaccedilotildees da Cartilha ou Cathecismo 5deg Classe Leitura ndash 3deg Livro de leita do Dr Abilio e Grammatica Portugueza do mesmo auctor Escripto ndash Cursivo Copia e dictado Arithmetica ndash Problemas sobre as 4 opes e noccedilotildees de metologia Doutrina ndash Historia Sagrada

265

Aos sabbados execuccedilatildeo do artigo 75 do regulamento 1 dia da semana destinada unicamte aos trabalhos drsquoagulhas a qual seraacute a 5deg feira A Professora Silvina E Xavier de Brito (BRITO 1884 AHEG Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa)257

A primeira questatildeo que depreendemos da anaacutelise dessa fonte eacute que a

organizaccedilatildeo das classes era de acordo com o niacutevel de adiantamento das alunas de

modo que na 1ordf classe matriculavam as meninas que estavam iniciando o processo

de alfabetizaccedilatildeo jaacute na uacuteltima classe a 5ordf as alunas que dominavam a leitura e escrita

com fluecircncia Na organizaccedilatildeo proposta pela professora Silvina os trecircs livros de leitura

do Baratildeo de Macauacutebas satildeo mencionados no ensino de leitura

O Primeiro livro de leitura era utilizado nas trecircs primeiras classes dividindo-o

pelo grau de dificuldade das liccedilotildees Na primeira classe os alunos utilizariam a parte

inicial da obra aprendendo as letras e siacutelabas introduzidas nas trecircs primeiras liccedilotildees

Na segunda classe se daria continuaccedilatildeo ao Primeiro livro ateacute a paacutegina 33

correspondendo agraves liccedilotildees com palavras de uma duas e trecircs siacutelabas e oraccedilotildees com

as combinaccedilotildees dessas palavras A loacutegica do autor era de uma liccedilatildeo com palavras e

outra subsequente com combinaccedilotildees dessas palavras em frases com os vocaacutebulos

aprendidos anteriormente

257 Este documento estaacute digitalizado no DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar da Rede de Estudos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes

266

Figura 18 Paacutegina 20 da 1ordf ediccedilatildeo do Primeiro livro de leitura para

uso da infancia brasileira (1867)

Fonte Acervo pessoal da pesquisadora Diane Valdez

A partir das liccedilotildees com palavras de duas siacutelabas como notamos acima cada

vocaacutebulo era apresentado com um espaccedilo entre as siacutelabas Essa disposiccedilatildeo da

palavra com as siacutelabas separadas foi uma das caracteriacutesticas conforme jaacute

mencionamos nas seccedilotildees anteriores dos impressos tiacutepicos organizados pelo meacutetodo

de soletraccedilatildeo Frade (2012) ao tratar da questatildeo da separaccedilatildeo intersilaacutebica com hiacutefen

ou com espaccedilo nas cartilhas que circularam no Brasil no seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX traz contribuiccedilotildees a partir de uma anaacutelise comparativa entre obras brasileiras

portuguesas e francesas revelando que esse recurso foi usual nos impressos

brasileiros mesmo havendo variaccedilatildeo do meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo Segundo a autora

ldquonatildeo podemos tomar o recurso graacutefico como exclusivo de um meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo

sob pena de cometer certos contrassensos uma vez que temos abecedaacuterios que se

267

utilizaram do meacutetodo alfabeacutetico cartilhas do meacutetodo focircnico e silaacutebico que utilizam

recursos graacuteficos parecidosrdquo (FRADE 2012 p 183-184)

Na terceira classe finalizava o Primeiro livro de leitura em liccedilotildees intuladas de

ldquoMiscellaneardquo Considerando que o livro a que tivemos acesso dispunha de 56 paacuteginas

(BORGES 1867a) eacute bem provaacutevel que essa parte da obra comeccedilava a ser trabalhada

na classe anterior uma vez que a professora Silvina menciona que ensinaria leitura

na segunda classe utilizando ateacute a paacutegina 33 Enfim o conjunto de textos da

coletacircnea denominada sob o tiacutetulo de miscelacircnea ldquorevela a entrada de outros

elementos do aprendizado e conteuacutedo escolar pois nele aparecem textos com

conteuacutedos enciclopeacutedicos morais e civilidades relacionadas agrave escolardquo (FRADE

2010a p 197)

Jaacute na quarta e quinta classes da aula primaacuteria do sexo feminino anexas agrave

Escola Normal eram utilizados respectivamente o Segundo e Terceiro livros de

leitura de Abiacutelio direcionados para leitura corrente Essas obras segundo o autor

eram concebidas em ldquoestilo verdadeiramente infantilrdquo para natildeo fadigar as crianccedilas

ensinando-lhes doutrinas morais e religiosas Especialmente no Segundo livro de

leitura os textos satildeo histoacuterias que levam para o aprendizado de algum ensinamento

moral civilizando as crianccedilas para serem doacuteceis e amaacuteveis despertando ldquoprimeiro no

coraccedilatildeo e no espiacuterito dos meninos [] a distincccedilatildeo do bem e do mal isto eacute da

consciecircncia moralrdquo (BORGES 1867b258 p VII)

O Terceiro livro de leitura (BORGES 1890)259 com 266 paacuteginas traz

conteuacutedos voltados para temaacuteticas variadas que podem ser agrupadas em quatro

seccedilotildees A primeira trata de conteuacutedos escolares correlatos como geografia ciecircncias

histoacuteria e sauacutede a segunda apresenta textos de moral civilidade incluindo faacutebulas e

paraacutebolas com esse teor a terceira com ecircnfase literaacuteria traz tambeacutem excertos de

poesia por fim a quarta seccedilatildeo retoma regras de moral e bons modos respeito e

obediecircncia aos pais agraves autoridades e aos professores Um aspecto interessante

nesse livro eacute como Borges (1890) se dirige aos leitores num tom iacutentimo como se

258 Interessante notar que na capa do Segundo livro de leitura estatildeo impressas duas datas da 1ordf ediccedilatildeo Primeiramente 1867 logo abaixo vem o ano de 1866 A introduccedilatildeo dessa obra vem datada de ldquoParis 16 de novembro de 1866rdquo Para referenciaacute-lo utilizamos a primeira data mencionada 1867 259 A primeira ediccedilatildeo desse livro data de 1871 editado em Bruxelas pela Tipografia e Litografia E Guyot

268

estivesse num diaacutelogo com as crianccedilas O autor lanccedila matildeo de expressotildees tais como

ldquocaros meninosrdquo ldquoqueridos meninosrdquo ldquomeus meninosrdquo

Na quinta classe eacute citado tambeacutem o livro de Gramaacutetica Portuguesa de Abiacutelio

Em Goiaacutes no oitocentos esclarece Valdez (2011) por ser uma regiatildeo com elevada

populaccedilatildeo indiacutegena e escrava investia-se no ensino de liacutengua portuguesa e nos

compecircndios de Gramaacuteticas para civilizar a populaccedilatildeo com objetivo de substituir o

ldquovocabulaacuterio considerado lsquovulgarrsquo dos iacutendios e dos escravosrdquo (VALDEZ 2011 p 123)

A autora acrescenta que

Inicialmente os compecircndios satildeo requeridos somente como lsquogramaticasrsquo sem definir autoria ou temaacutetica Em 1862 nos deparamos com a solicitaccedilatildeo da obta intitulada lsquoGrammatica Portuguezarsquo pedido que continuou nas listas ateacute o final do seacuteculo XIX Em relaccedilatildeo agraves obras gramaticais predomina ainda o pedido de lsquoGrammaticarsquo sem maiores especificaccedilotildees Adota-se ainda a obra lsquoResumos de Grammatica Portuguesa pelo Dr Abiliorsquo lsquoGrammatica Nacionalrsquo lsquoGrammaticas portuguesas do Conego Fernandesrsquo Na deacutecada de 1880 acrescenta-se lsquoSyllabario Portuguez de J R Galvatildeorsquo lsquoGrammatica de Saraivarsquo lsquoDiccionario de Saraivarsquo e lsquoSyntaxe do Padre Antocircnio Rodrigues Dantasrsquo Eacute nessa deacutecada que notamos maior investimento nas obras claacutessicas como lsquoOs Luziadasrsquo lsquoPoesias de Camotildeesrsquo lsquoCollecccedilatildeo completa de Selecta Latinarsquo e lsquoArte Versificatoriarsquo (VALDEZ 2011 p 123-124)

Nas listas de expediente escolar inventariadas na seccedilatildeo de Documentos

Avulsos do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes apareceram diferentes tiacutetulos de

gramaacuteticas na maioria das vezes solicitadas para o Gabinete Literaacuterio ou Liceu ou

Escola Normal o que comprova que seu uso estava mais direcionado para os estudos

posteriores ao ensino primaacuterio Poreacutem elas natildeo deixaram de circular no curso primaacuterio

um tiacutetulo em destaque nas listas para as escolas de instruccedilatildeo primaacuteria goianas ateacute o

fim do seacuteculo XIX era a Grammatica do Abilio ou Grammatica Portugueza sem

especificaccedilatildeo do autor Considerando que na maioria desses pedidos havia tambeacutem

a solicitaccedilatildeo de outros livros de leitura de Abiacutelio Ceacutesar Borges acreditamos que essa

gramaacutetica possa ser a Grammatica portugueza para uso das escolas escrita pelo

autor Jaacute no fim do seacuteculo XIX ao iniacutecio do seacuteculo XX ganhou destaque a Grammatica

da Infancia de Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro No seacuteculo XX ateacute a deacutecada de

30 passou a ser solicitada em maior quantidade a Grammatica Portugueza (Curso

Primaacuterio) de Joatildeo Ribeiro

Quanto ao ensino de escrita previsto no programa da aula de instruccedilatildeo primaacuteria

da professora Silvina Brito haacute uma sequecircncia que tambeacutem segue um meacutetodo

269

progressivo de aprendizagem apoiado primeiro na ideia do uso do material e depois

no formato da letra Quanto aos materiais na primeira classe estava previsto o

traccedilado das letras na pedra e na segunda classe no papel Jaacute em relaccedilatildeo ao formato

da letra havia sequecircncia da letra em bastardo (terceira classe) bastardinho (quarta

classe) e cursivo (quinta classe) Essa sequecircncia como tratamos na seccedilatildeo trecircs

estava em sintonia com os impressos e a legislaccedilatildeo lusitana (BOTO 1997) da mesma

maneira que tambeacutem dialoga com as legislaccedilotildees e recomendaccedilotildees para o ensino de

escrita na escola de primeiras letras do Brasil do seacuteculo XIX (ARRIADA TAMBARA

2012)

Embora o programa de ensino da aula de instruccedilatildeo primaacuteria feminina da Escola

Normal de Goiaacutes (BRITO 1884) seja um caso particular natildeo haacute como isolaacute-lo do que

ocorria na proviacutencia se considerarmos que essas Escolas lanccedilavam tendecircncias e

foram divulgadoras daquilo que se propagava de mais moderno no paiacutes e tambeacutem no

mundo especialmente na Europa e nos Estados Unidos (MORTATTI 2000

AMAcircNCIO 2008 ARAUacuteJO FREITAS LOPES 2008) Aleacutem do mais a autora desse

programa foi uma professora que se destacou na proviacutencia uma intelectual de seu

tempo Silvina Ermelinda Xavier de Brito ou Mestra Silvina como popularmente ficou

conhecida nas poesias de Cora Coralina260 segundo Prudente (2017) chegou a

participar do Gabinete Literaacuterio Goiano distinguindo-se no magisteacuterio feminino em

Goiaacutes como uma personalidade que desenvolveu meacutetodos de ensino e organizava

seu trabalho de acordo com a idade das meninas e o grau de conhecimento Dessa

maneira consideramos que praacuteticas da Escola Normal de Goiaacutes e das escolas de

instruccedilatildeo primaacuteria da Capital de certo modo influenciavam o ensino das primeiras

letras pela proviacutencia (CANEZIN LOUREIRO 1994)

Diante do exposto no decorrer do item observamos que as obras de Abiacutelio

Ceacutesar Borges influenciaram os modos de alfabetizar nas escolas goianas

ultrapassando o periacuteodo Imperial e circulando durante a Repuacuteblica sendo

mencionadas ateacute os anos 30 do seacuteculo XX

[] Para base poreacutem para alicerce do edifiacutecio educacional o material deve ser mais soacutelido mais ldquosubstanciosordquo Eacute interessante lembrar que jaacute possuiacutemos e oacutetimo Quero me referir aos livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges o Baratildeo de Macaubas []

260 Notem que a poesia de Cora Coralina transcrita no iniacutecio desse item intitula-se ldquoEscola da Mestra Silvinardquo

270

O aluno que haja percorrido os livros de Abiacutelio Ceacutesar Borges nunca responderaacute como tenho ouvido vaacuterias vezes ateacute de ginasianos da quarta seacuterie dizendo ignorar qual seja a origem e como se fabrica o papel Muito bem agiram as autoridades municipais de uma pequena cidade goiana quando logo depois da proclamaccedilatildeo da repuacuteblica e ao ser regulamentado o ensino primaacuterio instituiacuteram o seguinte artigo ldquoOs livros adotados satildeo os de Abiacutelio Ceacutesar Borgesrdquo (FLEURY 1939 p 5-6)

Essa publicaccedilatildeo eacute uma passagem do artigo do professor Fleury Catedraacutetico

de Quiacutemica do Liceu de Goiaacutes em 1939 na Revista de Educaccedilatildeo de Goiaacutes um

perioacutedico oficial de circulaccedilatildeo estadual destinado aos professores goianos que se

tornou cenaacuterio de divulgaccedilatildeo de ideais pedagoacutegicos no contexto republicano

O fragmento de Fleury (1939) foi uma das uacuteltimas menccedilotildees que identificamos

acerca da obra de Abiacutelio em Goiaacutes o que colabora para marcar que houve mais de

sete deacutecadas de influecircncia dos impressos do Baratildeo de Macauacutebas na educaccedilatildeo de

crianccedilas goianas

53 CONSIDERACcedilOtildeES PARCIAIS

A partir dos anos de 1870 a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes ganhou outro

capiacutetulo marcado por princiacutepios da modernizaccedilatildeo A entrada de livros didaacuteticos de

autores brasileiros estabeleceu um cenaacuterio diferente na educaccedilatildeo goiana A ecircnfase

dada aos tradicionais meacutetodos de soletraccedilatildeo e agraves Cartas de ABC comeccedilou a ser

contestada por meio de impressos que defendiam modos diferentes de ensinar leitura

agraves crianccedilas

Buscando uma perspectiva metodoloacutegica que agradasse a infacircncia com

alternativas pedagoacutegicas distantes das difundidas pelos livros que circulavam pelas

proviacutencias ambos os autores destacados nessa seccedilatildeo ndash Antonio Pinheiro de Aguiar

e Abiacutelio Ceacutesar Borges ndash lanccedilaram-se no mercado editorial brasileiro oferecendo agraves

escolas propostas para modernizar o ensino de leitura

A proviacutencia goiana no periacuteodo que compreende esta Tese natildeo apresentou

uma regulamentaccedilatildeo especiacutefica que oficializasse um meacutetodo de alfabetizaccedilatildeo em seu

territoacuterio portanto foram os livros didaacuteticos que chegavam agraves matildeos dos professores

que os orientaram e formaram para esse trabalho

271

Como assinalado em Goiaacutes as obras de Borges tiveram maior circulaccedilatildeo do

que as de Aguiar o que pode ser explicado ao confrontarmos os meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo definidos pelos autores Aguiar buscou na figura do indiacutegena e nas

historietas o apoio para delinear o seu meacutetodo denominado por Antonio Estevam

Costa e Cunha como silaacutebico Jaacute Abiacutelio mantinha a tradiccedilatildeo do meacutetodo de soletraccedilatildeo

com novidades nos procedimentos nas palavras e nos textos que suas obras

copilavam Essa questatildeo pode inclusive ter definido maior adesatildeo do professorado

goiano aos impressos de Abiacutelio jaacute que aspiravam agrave mudanccedila mas calcada na tradiccedilatildeo

de uma cultura escolar que se caracterizava pelo uso das teacutecnicas da soletraccedilatildeo

Aleacutem do mais comparando os impressos de ambos os autores eacute niacutetido que a

obra de Abiacutelio se configurava como uma seacuterie de leitura graduada Foram livros que

ultrapassavam o ensino inicial de leitura indo ateacute a leitura corrente Jaacute o meacutetodo

Bacadafaacute restringia-se agraves teacutecnicas de alfabetizaccedilatildeo A proacutepria qualidade da ediccedilatildeo

graacutefica dessas obras tambeacutem demonstra uma desleal disputa Enquanto Abiacutelio

preferiu as editoras estrangeiras para editar seus livros de leitura Pinheiro de Aguiar

publicou o seu impresso em Tipografias brasileiras o que diferenciava o lugar social

desses livros para a sociedade local num momento em que os dirigentes das

proviacutencias buscavam na Europa o modelo para o paiacutes se estruturar como naccedilatildeo

civilizada (VILLELA 2000)

Enfim no tocante agrave questatildeo de as obras de Borges serem mais difundidas isso

natildeo eacute um fato isolado da proviacutencia de Goiaacutes No proacuteprio Rio de Janeiro local onde

Pinheiro de Aguiar tentava expandir seu meacutetodo ele natildeo alcanccedilou as intenccedilotildees

pretendidas

Dessa maneira a identidade da alfabetizaccedilatildeo goiana foi-se arquitetando com

bastante influecircncia da proviacutencia do Rio de Janeiro De alguma forma a instruccedilatildeo

puacuteblica em Goiaacutes mantinha com a Corte estreitas relaccedilotildees natildeo somente poliacuteticas jaacute

que esteve no circuito de distribuiccedilatildeo de obras dos autores de livros didaacuteticos que

doavam suas produccedilotildees para propagandear seus meacutetodos de ensino de leitura Esse

ponto reitera a nossa tese de que a instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes esteve inserida nas

ideias de modernidade do seacuteculo XIX especialmente no campo da alfabetizaccedilatildeo

Essa proviacutencia natildeo estava isolada do que ocorria no paiacutes pois afinal o governo

goiano difundiu propostas advindas de autores brasileiros que buscavam inovar a

educaccedilatildeo das crianccedilas Aproveitando-se dos donativos feitos por Pinheiro de Aguiar

272

e Borges as escolas goianas foram palco para experimentaccedilatildeo de meacutetodos de

alfabetizaccedilatildeo que buscavam espaccedilo e reconhecimento entre os professores do paiacutes

Natildeo nos aprofundamos nesta seccedilatildeo na figura do Presidente da Proviacutencia de

Goiaacutes Antero Ciacutecero de Assis governante entre 1871 e 1878 Se observamos as

correspondecircncias transcritas nos itens anteriores que trataram da difusatildeo dos

impressos de Pinheiro de Aguiar e do Baratildeo de Macauacutebas pelas escolas goianas no

regime imperial notaremos que foram em grande parte assinadas por Assis Esse

Presidente em seus discursos mostrou vaacuterias iniciativas sobre a instruccedilatildeo puacuteblica

destacando especialmente a estrateacutegia de disseminaccedilatildeo de escolas por diferentes

locais da proviacutencia (Cf ASSIS Relatoacuterio de Presidente de Goiaacutes 1873 1874 1875)

Portanto natildeo houve total negligecircncia do governo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo como

frequentemente a historiografia goiana veicula a respeito do periacuteodo imperial De igual

maneira a figura de Assis destaca-se na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes no

momento da entrada da produccedilatildeo didaacutetica brasileira nas escolas primaacuterias

Retomando o poema de Quintana (1995 p 10) que abriu esta seccedilatildeo em

continuidade aos seus versos transcritos o poeta ainda afirma sobre os livros que eles

ldquotecircm cada um um timbre diverso de silecircnciordquo Em diaacutelogo com os propoacutesitos do

capiacutetulo e com os objetivos da Tese uma parte do ldquotimbre diverso de silecircnciordquo das

obras dos brasileiros Antonio Pinheiro de Aguiar e Abiacutelio Ceacutesar Borges foi desvelada

pela nossa leitura ndash singular do ponto de vista de que ela esteve ancorada pelas fontes

e pela histoacuteria da educaccedilatildeo em Goiaacutes Afinal ldquoque satildeo as palavras impressas em um

livro Que significam estes siacutembolos mortos Nada absolutamente Que eacute um livro

se natildeo o abrimos Eacute simplesmente um cubo de papel e couro com folhas Mas se

o lemos acontece uma coisa rara creio que ele muda a cada instanterdquo (BORGES

1985 p 11)

273

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS ____________________________________

ldquoNatildeo grites natildeo suspires natildeo te mates escreve [] E por que desprezas o homem papel se ele te fecunda

com dedos sujos mas dolorosos Pensa na doccedilura das palavras Pensa na dureza das palavras Pensa no

mundo das palavras [] Certos papeacuteis satildeo sensiacuteveis certos livros nos possuemrdquo261

ldquoEle potildee um pedaccedilo de papel em branco sobre a mesa agrave sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta

Foi Nunca seraacute de novordquo262

Escrever sempre eacute um ato solitaacuterio se o pensarmos restritamente como uma

pessoa com um papel ou tela em branco uma caneta ou o teclado do computador

Mas numa noccedilatildeo dialeacutetica e dialoacutegica do ato de escrever habitar o mundo das

palavras pela produccedilatildeo da escrita eacute um fazer coletivo (polifocircnico) Sou eu e os outros

em mim ou nas palavras bakhtinianas ldquoeu vivo em um mundo de palavras do outro

E toda a minha vida eacute uma orientaccedilatildeo nesse mundo eacute reaccedilatildeo agraves palavras do outrordquo

(BAKHTIN 2017 p 38) Por isso mesmo acreditamos que o texto eacute um ldquoespaccedilo de

dimensotildees muacuteltiplas onde se casam e se contestam escrituras variadas das quais

nenhuma eacute original o texto eacute um tecido de citaccedilotildees saiacutedas dos mil focos da culturardquo

(BARTHES 2004 p 62)

261 Trecho extraiacutedo de ldquoNoite na reparticcedilatildeordquo de Carlos Drummond de Andrade (2002 p 175) no livro Poesia Completa 262 Trecho do livro A invenccedilatildeo da solidatildeo de Paul Auster (2004 p 192)

274

Ao conceber a escrita desse modo fica muito mais prazeroso arriscar-se com

as palavras e escrever um texto Foi assim que comeccedilamos a incursatildeo pela histoacuteria

da alfabetizaccedilatildeo Habitamos mundos por noacutes antes natildeo habitados atrevemo-nos num

campo de estudos antes natildeo percorrido agarramo-nos aos livros Aos poucos fomos

percebendo que jaacute ldquonatildeo era mais um menino com um livrordquo263 ldquoFui pegando intimidade

com as palavras E quanto mais iacutentimas a gente ficavardquo264 melhor esta tese ia se

arquitetando Ela tomava forma chegava cada vez mais proacuteximo ao fim ou melhor

dizendo ao seu intervalo para conclusatildeo dessa etapa da vida acadecircmica

Por isso sobre esta pesquisa caro leitor faccedilo uma advertecircncia recorrendo aos

versos de Walt Whitman no claacutessico Folhas de Relva

Quem toca nisto toca em um homem (Eacute noite Estamos sozinhos) Sou eu que seguras e que te segura Eu salto das paacuteginas para teus braccedilos265

O convite feito na Introduccedilatildeo era de percorrermos a proviacutencia de Goiaacutes e seus

arredores no contexto do seacuteculo XIX compreendendo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo de

crianccedilas goianas entre 1835 e 1886 Por conseguinte esse percurso foi orientado por

estas problematizaccedilotildees ldquocomo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu

durante o Impeacuterio Quais os materiais usados no decorrer dessa histoacuteria para se

alfabetizar as crianccedilas goianas Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita

circularam na proviacutencia de Goiaacutesrdquo

Nossas consideraccedilotildees finais orientam-se a partir dessas perguntas retomando

algumas das descobertas feitas durante a pesquisa

1) Como a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu durante o Impeacuterio

A histoacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes no Impeacuterio se estabeleceu por um

discurso oficial sobre a falta de recursos para o custeio das despesas da educaccedilatildeo

com um tom pessimista acerca das condiccedilotildees da escola A transitoriedade dos

Presidentes de Proviacutencia realccedilava as dificuldades de Goiaacutes em avanccedilar sobre as

questotildees do ensino devido agrave descontinuidade das propostas de cada um dele Esses

263 A frase entre aspas faz relaccedilatildeo intertextual com o trecho do livro Felicidade Clandestina de Clarice Lispector (1998 p 13) ldquoNatildeo era mais uma menina com um livro era uma mulher com seu amanterdquo 264 Trecho extraiacutedo do livro Livro um encontro de Lygia Bojunga (2004 p 7) 265 Utilizamos a traduccedilatildeo de Manguel (1997 p 192) publicada no livro Uma histoacuteria da leitura

275

fatores demarcaram a historiografia sobre Goiaacutes muitas vezes apagando ou

desconsiderando o papel desse territoacuterio no contexto nacional

Entretanto como ficou evidente na anaacutelise empreendida ao mesmo tempo que

esse discurso se mantinha a proviacutencia abria-se para novas iniciativas com o objetivo

de reverter o quadro da instruccedilatildeo puacuteblica Especialmente no que tange ao campo da

alfabetizaccedilatildeo as iniciativas na legislaccedilatildeo e os livros que circulavam por Goiaacutes

representam accedilotildees para cristalizaccedilatildeo de meacutetodos e comportamentos numa escola

que aspirava agrave modernidade

Logo a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes se constituiu em diaacutelogo com o

projeto educacional de uma Naccedilatildeo inspirado nos modelos europeus Destarte Goiaacutes

natildeo foi uma proviacutencia isolada tampouco considerada perifeacuterica ou interiorana em

relaccedilatildeo agrave Capital do Impeacuterio instalada no Rio de Janeiro Goiaacutes no que concerne ao

ensino de leitura e escrita aos livros e meacutetodos que subsidiavam esse processo

durante todo periacuteodo pesquisado esteve em sintonia com o contexto nacional

inspirou-se no pensamento racional e liberal que esteve presente nas accedilotildees

discursos e legislaccedilotildees empreendidas pelos Presidentes de Proviacutencia difundiu nas

escolas impressos estrangeiros para dar suporte agrave instruccedilatildeo das crianccedilas enviou um

professor agrave Corte ndash Feliciano Primo Jardim ndash em busca de novos meacutetodos para

transformar a escola num lugar com melhores resultados aderiu e divulgou livros

didaacuteticos eminentemente brasileiros ndash os livros de leitura Abiacutelio Ceacutesar Borges e o

Meacutetodo Bacadafaacute de Antonio Pinheiro de Aguiar ndash bem como um impresso

pedagoacutegico ndash A Instrucccedilatildeo Publica ndash para que os professores apropriando-se desses

materiais modificassem a tradiccedilatildeo escolar que se erigia pelo meacutetodo individual e

pelas praacuteticas convencionais e seculares de soletraccedilatildeo

2) Quais os materiais usados no decorrer dessa histoacuteria para se alfabetizar as crianccedilas

goianas

Tomando como elemento de anaacutelise os materiais que circularam pelas escolas

em Goiaacutes no oitocentos notamos que especialmente os meacutetodos de soletraccedilatildeo e

silabaccedilatildeo foram os mais difundidos

Para tanto entre as descobertas podemos subdividir os materiais utilizados nas

classesescolas de primeiras letras goianas em impressos e outros materiais de apoio

Dentre os impressos as Cartas de ABC tiveram a maior longevidade

compreendendo todo o periacuteodo investigado ultrapassando-o inclusive

276

Convencionalmente essas cartas eram convocadas para aplicaccedilatildeo dos

execiacutecios de soletrar Ademais os Catecismos e Manuais de Doutrina Cristatilde

marcaram a educaccedilatildeo goiana de modo que em alguns momentos da histoacuteria o

governo deixava de enviar cartilhas ou livros de leitura mas era ldquosagradordquo o envio

desses impressos No caso de Goiaacutes analisamos que seu uso era transversal e natildeo

somente de suporte para as aulas de Doutrina Cristatilde ou de Catecismo presentes no

curriacuteculo estruturado na legislaccedilatildeo goiana durante todo o Impeacuterio Esses impressos

foram apropriados para o ensino inicial de leitura e escrita vinculando os preceitos da

doutrina cristatilde com os demais conteuacutedosdisciplinas escolares Insta esclarecer que

os que circularam pelas escolas de Goiaacutes em sua grande maioria foram publicaccedilotildees

provenientes da Europa e da Ameacuterica do Norte

Aleacutem dos impressos outros materiais de apoio foram registrados nas fontes

lousataacutebuas individuais ou ardoacutesias quadro-negro giz branco ou o laacutepis de pedra

esponjas folhas pautadas laacutepis penas de accedilo penas de ave botijas de tinta tinteiros

siacutemplices canivetes etc Esses artefatos foram empregados na organizaccedilatildeo didaacutetica

das escolas especialmente pelos meacutetodos individual e simultacircneo

No campo dos meacutetodos de ensino em Goiaacutes apesar das iniciativas para

implementaccedilatildeo do meacutetodo muacutetuo ndash tambeacutem conhecido como lancasteriano ou

monitorial ndash do meacutetodo Castilho e do meacutetodo simultacircneo as escolas na proviacutencia

mantiveram a organizaccedilatildeo didaacutetica maiormente pelo meacutetodo individual (ARAUacuteJO E

SILVA 1975) Essa constataccedilatildeo fez parte dos discursos dos presidentes que a partir

dos relatoacuterios dos Inspetores Gerais de Instruccedilatildeo Puacuteblica afirmavam que os

professores natildeo experimentavam outras possibilidades para ensinar devido a

diferentes fatores dentre eles como destacamos a carecircncia de Tratados de Ensino

para divulgaccedilatildeo de outros conhecimentos diferentes dos que jaacute circulavam na

proviacutencia

Nessa conjuntura consideramos que os professores natildeo foram corpos doacuteceis

diante dos dispositivos de controle do governo Tal como Certeau (1990 2014) explica

mesmo com todo o sistema de vigilacircncia sobre as praacuteticas acreditamos que as

professoras e os professores goianos em seu cotidiano na sala de aula se apropriavam

de e experimentavam modos plurais e antidisciplinares para ensinar leitura e escrita a

partir de suas crenccedilas jaacute que os grupos ou indiviacuteduos sociais possuem uma

ldquocriatividade dispersa taacutetica e bricoladorardquo (CERTEAU 2014 p 41)

277

3) Quais ideaacuterios sobre o ensino inicial de leitura e escrita circularam na proviacutencia de

Goiaacutes

O principal saber que circulou sobre o ensino de leitura e escrita na proviacutencia

goiana e sintetiza todo o periacuteodo pesquisado eacute de que esse processo deveria ser raacutepido

e agradaacutevel aos alunos e para isso era necessaacuterio romper com uma cultura escolar

calcada tanto no meacutetodo individual quanto no sistema de soletraccedilatildeo

Esse ideaacuterio em Goiaacutes vinha para atender as demandas da proviacutencia naquele

momento Como a populaccedilatildeo se concentrava mais no meio rural do que nas vilas

paroacutequias arraiais cidades ou na capital era premente uma escola que instruiacutesse as

crianccedilas rapidamente fornecendo-lhe o essencial ndash ler escrever contar e rezar ndash para

que elas dominando o baacutesico fossem ldquoliberadasrdquo para auxiliar os pais nas lidas do

campo A escola foi concebida pelos goianos como local para civilizar a crianccedila e

instruiacute-la na feacute mas era tambeacutem espaccedilo pouco valorizado pelas famiacutelias na proviacutencia

alijado de seu papel de formaccedilatildeo cultural social e intelectual

Outro ideaacuterio acoplado ao ensino inicial de leitura e escrita em Goiaacutes

evidenciado nesta pesquisa esteve na questatildeo de uma religiosidade ou um caraacuteter

eminentemente cristatildeo e catequeacutetico entranhado nos modos de pensar e fazer a escola

goiana oitocentista Ou seja poderiacuteamos explicitar esse ponto afirmando que o cidadatildeo

que se esperava formar pela instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes era algueacutem submisso agrave

tradiccedilatildeo religiosa aos pais e ao Estado conformado com uma vida simples tendo seus

costumes haacutebitos e valores civilizados e sintonizados com a Doutrina Cristatilde e com a

soberania do governo imperial

Feitas essas consideraccedilotildees retomamos a nossa tese que se delineou durante

o trabalho e seguidamente foi reiterada em cada uma das seccedilotildees a histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas em Goiaacutes do seacuteculo XIX mesmo sob a influecircncia da Igreja e

marcada por uma tradiccedilatildeo ruralista que determinou a formaccedilatildeo cultural e social da

populaccedilatildeo esteve em diaacutelogo com as transformaccedilotildees almejadas pelos ideaacuterios de

modernidade da educaccedilatildeo nacional oitocentista especialmente com os que circulavam

no Rio de Janeiro

De forma sinteacutetica algumas argumentaccedilotildees para sustentar essa tese foram

feitas em cada uma das seccedilotildees e sua recuperaccedilatildeo eacute importante nesse espaccedilo final a

fim de qualificar e ratificar a anaacutelise empreendida acerca da instruccedilatildeo primaacuteria e do

ensino de leitura e escrita em Goiaacutes do seacuteculo XIX

278

A princiacutepio na seccedilatildeo um demonstramos o caraacuteter original da pesquisa

destacando que este trabalho ndash sem desmerecer nenhum outro ndash compreende

especificamente a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

A partir da tese argumentativa na seccedilatildeo dois evidenciamos que nem o projeto

conservador da Igreja Catoacutelica e tampouco a ruralizaccedilatildeo da proviacutencia foram

impedimentos para que Goiaacutes implantasse novas regulamentaccedilotildees alinhadas com as

reformas feitas no Municiacutepio da Corte A proviacutencia goiana se abriu para as

transformaccedilotildees no cenaacuterio nacional regulamentando uma escola pensada em sua

totalidade

Jaacute na seccedilatildeo trecircs aproximando-nos dos materiais e meacutetodos para alfabetizaccedilatildeo

de crianccedilas em Goiaacutes argumentamos com base nas fontes listadas no Arquivo

Histoacuterico Estadual de Goiaacutes que os impressos que circularam na proviacutencia foram os

mesmos amplamente divulgados na Corte sendo referenciados nos estudos da

histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo como livros que subsidiaram o ensino de leitura e escrita no

oitocentos brasileiro Os documentos nomeados de Mapas de Turmas atestaram que

os impressos influenciaram a maneira como os professores cacterizavam o niacutevel de

leitura dos alunos atribuindo-lhes em muitos casos a Carta de Leitura que condizia agrave

sua etapa do processo de aprendizagem

As seccedilotildees quatro e cinco se basearam nas iniciativas da proviacutencia de conferir

um caraacuteter de modernidade agrave escola goiana A busca por um meacutetodo de ensino de

leitura na Corte em 1855 reverberou na formulaccedilatildeo de um novo regulamento de ensino

que oficializou o meacutetodo simultacircneo (GOIAacuteS 1856) Jaacute sobre a adesatildeo a livros

didaacuteticos de autores brasileiros a partir dos anos de 1870 esteve em consonacircncia

com a histoacuteria do mercado editorial do paiacutes que naquele momento se abria para uma

produccedilatildeo nacional (LAJOLO ZILBERMAN 1996)

Por mais distante que Goiaacutes estivesse da Capital e de outras proviacutencias do

Brasil esta tese localizou a proviacutencia goiana em seu merecido lugar no ldquocoraccedilatildeo do

Brasilrdquo266 As difiacuteceis estradas esburacas vias que davam acesso a Goiaacutes conforme

os viajantes que passaram por ali no seacuteculo XIX relataram natildeo impediram que as

ideias que gorjeavam em outros ninhos gorjeassem tambeacutem pelas terras goianas267

266 Tal como Monteiro (1934) intitulou em sua obra a qual destacamos na Introduccedilatildeo 267 Natildeo eacute mera coincidecircncia Pegamos de empreacutestimo aqui a ideia presente na poesia ldquoCanccedilatildeo do Exiacuteliordquo de Gonccedilalves Dias com o objetivo de que a relaccedilatildeo intertextual estabelecida aproxime os sentidos pretendidos nesse ponto

279

Consideramos que sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes ainda haacute muito o

que ser pesquisado O nosso contato com as fontes documentais no estado e fora dele

demonstraram as muacuteltiplas bifurcaccedilotildees dessa histoacuteria que orientada por buacutessolas

distintas (pressupostos teoacuterico-metodoloacutegicos) possibilitam ao pesquisador trilhar

variados caminhos (anaacutelises leituras e escritas)

Iniciamos esta tese declarando nossa paixatildeo pela literatura inspirando-nos

nela para principiar o nosso diaacutelogo com os leitores Portanto resta-nos convocar a

voz de outro grande escritor para encerrar

O homem eacute um vivente com palavra [] o homem eacute palavra [] o homem eacute enquanto palavra [] todo humano tem a ver com a palavra se daacute em palavra estaacute tecido de palavras [] o modo de viver proacuteprio deste vivente que eacute o homem se daacute na palavra e como palavra (LARROSA 2002 p 21)

Aqui estimado leitor sabendo que constantemente rompemos o abstrato com

as palavras e pelas palavras descobrimos no movimento de escrita desta pesquisa o

verdadeiro sentido de ser um lutador de palavras268 Afinal ldquosoacute quem estaacute em estado

de palavra pode enxergar as coisas sem feitiordquo269

268 Tal como Carlos Drummond de Andrade (2002) poetisou em ldquoO lutadorrdquo 269 Trecho do poema de Manoel de Barros (1998 p 35) recolhido no livro Retrato do artista quando coisa

280

REFEREcircNCIAS ____________________________________

ABREU Sandra Elaine Aires de A instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes no seacuteculo XIX 2006 340 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ________ GONCcedilALVES NETO Wenceslau CARVALHO Carlos Henrique de As reformas da instruccedilatildeo primaacuteria na proviacutencia de Goiaacutes Brasil no periacuteodo imperial (1822-1889) Espacio Tiempo y Educacioacuten Salamanca Espanha v 2 nordm 1 p 255-280 2015 httpsdoiorg1014516ete2015002001013 AGOSTINHO Santo Confissotildees 22ordf ediccedilatildeo Traduccedilatildeo de Maria Luiacuteza Jardim Amarante Satildeo Paulo Paulus 2010 ALBUQUERQUE Suzana Lopes BOTO Carlota O impresso Liccedilotildees de ler na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no impeacuterio brasileiro Poieacutesis Revista do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo (Unisul) v 11 nordm 20 p 214-231 2017 httpsdoiorg1019177prppgev11e202017214-231 ALMEIDA FILHO Orlando Joseacute de A estrateacutegia da produccedilatildeo e circulaccedilatildeo catoacutelica do projeto editorial das coleccedilotildees de Theobaldo Miranda Santos (1945-1971) 2008 368 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ALVES OLIVEIRA Juliana Silva A contribuiccedilatildeo do gecircnero conto para formaccedilatildeo do leitor nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2018 148 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2018 ALVES Claacuteudia Costa Os resumos das comunicaccedilotildees e as possibilidades esboccediladas no II Congresso Luso-Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo In CATANI Denice SOUZA Cynthia Pereira de (Orgs) Praacuteticas educativas culturas escolares profissatildeo docente Satildeo Paulo Escrituras 1998

281

ALVES Isaias Vida e obra do Baratildeo de Macahubas Rio Ediccedilotildees Infacircncia e Juventude 1936 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros O espaccedilo da cartilha na sala de aula 1994 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1994 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura na escola primaacuteria no Mato Grosso contribuiccedilatildeo para o estudo de aspectos de um discurso institucional no iniacutecio do seacuteculo XX 2000 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 2000 AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura e grupos escolares Mato Grosso 1910-1930 Cuiabaacute EdUFMT 2008 ________ CARDOSO Cancionila Janzkovski Fontes para o estudo da produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de cartilhas no Estado de Mato Grosso In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva MACIEL Francisca Izabel Pereira (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo e circulaccedilatildeo de livros (MG RS MT ndash Seacutec XIX e XX) Belo Horizonte UFMGFAE 2006 AMORIM Sara Raphaela Machado de Do mestre aos disciacutepulos o legado

educacional de Nestor dos Santos Lima (1910-1930) 2012 128 p Dissertaccedilatildeo

(Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Rio Grande do Norte Natal

2012

ANDRADE Carlos Drummond de Antologia Poeacutetica 12ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1978 ________ Poesia Completa Satildeo Paulo Nova Aguilar 2002 ANJOS Juarez Joseacute Tuchinski dos O Catecismo de Montpellier e a educaccedilatildeo da crianccedila no Brasil Imperial Cadernos de pesquisa Satildeo Paulo v 46 nordm 162 p 1028-1048 outubrodezembro 2016 httpsdoiorg101590198053143725 ANSELMO Artur As origens da imprensa em Portugal Lisboa Imprensa Nacional Casa da Moeda 1981 ARAUacuteJO E SILVA Nancy Ribeiro de Tradiccedilatildeo e renovaccedilatildeo educacional em Goiaacutes Goiacircnia Oriente 1975 ARAUacuteJO JUNIOR Edson Domingues de SILVA Maria da Conceiccedilatildeo Batismo cultural de Goiacircnia significados simboacutelicos e socioculturais na relaccedilatildeo entre a Igreja e o Estado In CONGRESSO DE PESQUISA ENSINO E EXTENSAtildeO DA UFG ndash CONPEEX 3 2006 Goiacircnia Anais do XIV Congresso de pesquisa ensino e extensatildeo da UFG CD-ROMGoiacircnia UFG 2006 ARAUacuteJO SILVA Joseacute Carlos de Como se deveria fazer e como era feito os manuais de ensino muacutetuo e simultacircneo e a praacutetica cotidiana nas escolas de primeiras letras na Bahia (1836 - 1852) 2013 In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA

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EDUCACcedilAtildeO VII 2013 Mato Grosso Anais do VII Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cuiabaacute SBHE 2013 p1-14 ARAUacuteJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 ARRAIS Tadeu Alencar A produccedilatildeo do territoacuterio goiano economia urbanizaccedilatildeo metropolizaccedilatildeo Goiacircnia Editora UFG 2016 ARRIADA Eduardo TAMBARA Elomar A cultura escolar material a modernidade e a aquisiccedilatildeo da escrita no Brasil no seacuteculo XIX Educaccedilatildeo Porto Alegre v 35 n 1 p 73-88 janeiroabril de 2012 ARRIADA Eduardo TAMBARA Elomar DUARTE Sheila A Sciencia do Bom Homem Ricardo um texto de leitura escolar no Brasil imperial Histoacuteria da Educaccedilatildeo Porto Alegre v 19 nordm 46 p 243-259 maioagosto de 2015 httpsdoiorg1015902236-345954808 ASSIS Ana Kaacutetia Ferreira de O PNAIC e a educaccedilatildeo baacutesica em Jataiacute o que relevam os documentos 2016 180 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Jataiacute 2016 ASSIS Machado de Contos Satildeo Paulo FTD 2002 ASSUNCcedilAtildeO Maria da Penha dos Santos A alfabetizaccedilatildeo na Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Espiacuterito Santo (deacutecada de 1870) 2009 152 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Espiacuterito Santo Espiacuterito Santo 2009 AUSTER Paul A invenccedilatildeo da solidatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2004 AZEVEDO Fernando A cultura brasileira BrasiacuteliaRio de Janeiro UnBUFRJ 1976 AZZI Riolando Dom Antocircnio de Macedo Costa e a Posiccedilatildeo da Igreja do Brasil diante do Advento da Repuacuteblica em 1889 Siacutentese v 3 nordm 8 p 45-69 1976 ________ A concepccedilatildeo da Ordem Social segundo Dom Antocircnio de Macedo Costa Bispo do Paraacute (1860-1890) Siacutentese v 7 nordm 20 p 97-123 1980 ________ A Crise da Cristandade e o Projeto Liberal Satildeo Paulo Ediccedilotildees Paulinas 1991 ________ O Altar unido ao trono um projeto conservador Satildeo Paulo Ediccedilotildees Paulinas 1992 ________ O Estado Leigo e o Projeto Ultramontano Satildeo Paulo Paulus 1994 ________ Histoacuteria da Educaccedilatildeo Catoacutelica no Brasil contribuiccedilatildeo dos Irmatildeos Maristas Satildeo Paulo Ediccedilotildees Loyola 1999

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BAKHTIN Mikhail Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo Martins Fontes 2010

________ Problemas da poeacutetica de Dostoieacutevski Rio de Janeiro Forense

Universitaacuteria 2013

________ Fragmentos dos anos 1970-1971 In BAKHTIN Mikhail Notas sobre literatura cultura e ciecircncias humanas Organizaccedilatildeo traduccedilatildeo posfaacutecio e notas de Paulo Bezerra notas da ediccedilatildeo russa de Serguei Botcharov Satildeo Paulo Editora 34 2017 BARRA Valdeniza Maria Lopes da Livros e leituras do Gabinete Literaacuterio Goiano da Sociedade Oitentista de Goiaacutes Educativa Goiacircnia v 11 n 1 p 85-97 janeiro junho de 2008 ________ Projeto de educaccedilatildeo na sociedade goiana do seacuteculo XIX possiacutevel traduccedilatildeo de um processo histoacuterico multifacetado In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ A lousa de uso escolar traccedilos da histoacuteria de uma tecnologia moderna Educar em Revista (Impresso) Curitiba v 45 p 121-137 2013 httpsdoiorg101590S0104-40602013000300008 ________ Da pedra ao poacute o itineraacuterio da lousa na escola puacuteblica paulista do seacuteculo XIX Goiacircnia Kelps 2016 ________ SOUZA Maria Erilacircnde de Alguns aspectos da circulaccedilatildeo de livros em Goiaacutes no seacuteculo XIX In ENCONTRO MULTI CAMPI DE EDUCACcedilAtildeO E LINGUAGEM I 2008 Inhumas ndash GO Anais do I Encontro Multi Campi de Educaccedilatildeo e Linguagem Goiacircnia Graacutefica Vieira 2008 ________ FABIANO Tatiana Tasse Livros e leituras em Goiaacutes no seacuteculo XIX entre o Gabinete e a Tribuna In ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCACcedilAtildeO DA ANPED CENTRO-OESTE X 2010 Uberlacircndia ndash MG Anais do X Encontro de Pesquisa em educaccedilatildeo da ANPED Centro Oeste Uberlacircndia UFU 2010 BARROS Fernanda Castelfranchi de Aquisiccedilatildeo da leitura no processo de alfabetizaccedilatildeo contribuiccedilotildees do ensino desenvolvimento com foco no motivo de aprendizagem 2008 98 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2008 BARROS Fernanda Lyceu de Goyaz elitizaccedilatildeo endossada pelas oligarquias goianas 1906-1937 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia ________ O tempo do Lyceu em Goiaacutes formaccedilatildeo humanista e intelectuais (1906-1960) Jundiaiacute-SP Paco Editorial 2017 BARROS Manoel Retrato do artista quando coisa Rio de Janeiro Record 1998 ________ Poesia completa Satildeo Paulo Leya 2010

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BARROS Regina Celeste R de A importacircncia do contexto situacional na aquisiccedilatildeo da linguagem escrita em uma sala de aula 1992 197 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1992 BARROSO Joseacute Liberato A instruccedilatildeo puacuteblica no Brasil Pelotas Seixa 2005 BARTHES Roland O rumor da liacutengua Traduccedilatildeo Mario Laranjeira 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Martins Fontes 2004 BASTOS Maria Helena Camara A formaccedilatildeo de professores para o ensino muacutetuo no Brasil o Curso normal para professores de primeiras letras do baratildeo de Geacuterando (1839) In BASTOS Maria Helena Camara FARIA FILHO Luciano Mendes de (Orgs) A escola elementar no seacuteculo XIX o meacutetodo monitorialmuacutetuo Passo Fundo Ediupf 1999 ________ Reminiscecircncias de um tempo escolar Memoacuterias do professor Coruja Revista Educaccedilatildeo em Questatildeo (UFRN IMPRESSO) v 25 p 157-189 2006 BATISTA Antocircnio Augusto Gomes Paleoacutegrafos ou livros de leitura manuscrita elementos para o estudo do gecircnero In Memoacuteria da Leitura Campinas 2002 DisponiacutevellthttpwwwunicampbrielmemoriaEnsaiosBatistabatistahtmgt Acesso em 05 de fevereiro de 2018 ________ Dos papeacuteis velhos aos manuscritos impressos paleoacutegrafos ou livros de leitura manuscrita In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira KLINKE Karina Livros escolares de leitura uma morfologia (1866-1956) Revista Brasileira de Educaccedilatildeo nordm 20 maiojunhoagosto 2002 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 BAUMAN Zygmunt Modernidade Liacutequida Rio de Janeiro Zahar 2001 BERTOLETTI Estela Mantovani Cartilha do Povo e Upa Cavalinho O Projeto de Alfabetizaccedilatildeo de Lourenccedilo Filho 1997 129 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 1997 ________ Lourenccedilo filho alfabetizaccedilatildeo e cartilhas percurso e memoacuteria de uma pesquisa histoacuterica In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ Literatura manuscrita nas leituras para a infacircncia brasileira (1901-1955) In SILVA Maacutercia Cabral da Silva BERTOLETTI Estela Natalina Mantovani (Org) Literatura leitura e educaccedilatildeo Rio de Janeiro EdUerj 2017

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________ SILVA Maacutercia Cabral da Cultura escrita na escola primaacuteria a circulaccedilatildeo de livros didaacuteticos para ensino de leitura (1928-1961) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute v 16 n 1 (40) p 373-403 2016 httpsdoiorg104025rbhev16i17755 BITTENCOURT Circe Os confrontos de uma disciplina escolar da histoacuteria sagrada agrave histoacuteria profana Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v 13 nordm 2526 p 193-221 setembro de 1992 agosto de 1993 ________ Livro didaacutetico e saber escolar 1810-1910 1ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Autecircntica Editora 2008 BITTENCOURT Raul A educaccedilatildeo brasileira no Impeacuterio e na Repuacuteblica Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Rio de Janeiro v 19 nordm 49 p 41-76 1953 BLOCH Marc Apologia da histoacuteria ou o ofiacutecio de historiador Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2001 BOJUNGA Lygia Livro um encontro Satildeo Paulo Editora Casa Lygia Bojunga Ltda 2004 BORGES Angeacutelica A urdira do magisteacuterio primaacuterio na Corte Imperial um professor na trama de relaccedilotildees e agecircncias 2014 416 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo BORGES Jose Luis Cinco visotildees pessoais Traduccedilatildeo de Maria Rosinda da Silva

Brasiacutelia Universidade de Brasiacutelia 1985

BORGES Rosana Maria Ribeiro LIMA Angelita Pereira de Histoacuteria da imprensa goiana os velhos tempos da Colocircnia agrave modernidade Revista UFG ano X nordm 5 p 68-87 dezembro de 2008 BOSCHI Caio Ceacutesar Por que estudar Histoacuteria Satildeo Paulo Aacutetica 2007

BOTO Carlota Ler escrever contar e se comportar a escola primaacuteria como rito do seacuteculo XIX portuguecircs (1820-1910) 1997 606 p Tese (Doutorado em Histoacuteria Social) ndash Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo ________ Aprender a ler entre cartilhas civilidade civilizaccedilatildeo e civismo pelas lentes do livro didaacutetico Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 30 p 492-511 setembrodezembro de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000300009 ________ Apresentaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ ALBUQUERQUE Suzana Lopes Entre idas e vindas vicissitudes do meacutetodo Castilho no Brasil do seacuteculo XIX Hist Educ Porto Alegre v 22 nordm 56 p16-37 setembrodezembro de 2018 httpsdoiorg1015902236-345970697

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BOURDEacute Guy MARTIN Herveacute As escolas histoacutericas Portugal Publicaccedilotildees Europa-Ameacuterica sd BOURDIEU Pierre CHARTIER Roger A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER Roger (Org) Praacuteticas da Leitura 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2011 BRAGA Isa Maria Uma escuta sobre as concepccedilotildees teoacutericas e praacuteticas das professoras alfabetizadoras da rede municipal de educaccedilatildeo de Goiacircnia (GO) 2009 125 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2009 BRAGANCcedilA Aniacutebal A poliacutetica editorial de Francisco Alves e a profissionalizaccedilatildeo do escritor no Brasil In ABREU Maacutercia (Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 BRASLAVSKY Berta O meacutetodo panaceia negaccedilatildeo ou pedagogia Cadernos de

Pesquisa Satildeo Paulo n 66 p 41-48 agosto de 1988

BRECHT Bertold Gesammelte Gedichte Frankfurt Suhrkamp 1976 BRETAS Genesco Ferreira Histoacuteria da instruccedilatildeo puacuteblica em Goiaacutes Coleccedilatildeo Documentos Goianos 21 Goiacircnia CEGRAFUFG 1991 BRETTAS Anderson Claytom Ferreira Brettas Johann Heinrich Pestalozzi a trajetoacuteria e a fundamentaccedilatildeo da Pedagogia Moral (17461827) Revista Profissatildeo Docente Uberaba-MG v18 nordm 39 p 415-431 julhodezembro 2018 httpsdoiorg1031496rpdv18i391216 BRZEZINSKI Iria Escola Normal de Goiaacutes nascimento apogeu ocaso (re)nascimento In ARAUJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 BUISSON Ferdinand (Dir) Dictionnaire de peacutedagogie et drsquoinstruction primaire Paris Hachette 1888 CAMPOS Dulcinea A alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo na deacutecada de 1950 2008 263 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Espiacuterito Santo Vitoacuteria 2008 CAMPOS Francisco Itami Coronelismo em Goiaacutes Goiacircnia Editora UFG 1987

CAMPOS Rosariane Glaucia M O programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores ndash Profa ndash e suas implicaccedilotildees pedagoacutegicas concepccedilatildeo de alfabetizaccedilatildeo atuaccedilatildeo profissional e resultados obtidos 2006 112 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2006

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CANDEIAS Antoacutenio Ritmos e formas de alfabetizaccedilatildeo da populaccedilatildeo portuguesa na transiccedilatildeo de seacuteculo o que nos mostram os Censos Populacionais compreendidos entre os anos de 1890 e 1930 Educaccedilatildeo Sociedade e Culturas Porto nordm 5 p 39-63 1996 ________ Alfabetizaccedilatildeo e Escola em Portugal nos Seacuteculos XIX e XX Os Censos e as Estatiacutesticas Lisboa Gulbenkian 2004 ________ Alfabetizaccedilatildeo escolarizaccedilatildeo e Capital Humano em Portugal nos seacuteculos XIX e XX em perspectiva comparada In CABRAL Manuel Villaverde (Org) Sucesso e insucesso escola economia e sociedade Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian 2008 ________ SIMOtildeES Eduarda Alfabetizaccedilatildeo e escola em Portugal no seacuteculo XX Censos Nacionais e estudos de caso Anaacutelise Psicoloacutegica Lisboa v 17 nordm 1 marccedilo de 1999 CANEZIN Maria Teresa LOUREIRO Walderecircs Nunes A Escola Normal em Goiaacutes Goiacircnia Editora da UFG 1994 CARDOSO Cancionila Janzkovski AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Cartilhas na historiografia da alfabetizaccedilatildeo fontes evidecircncias e produccedilotildees no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 CARDOSO Ciro Flamarion VAINFAS Ronaldo (Orgs) Domiacutenios da Histoacuteria ensaios de teoria e metodologia Rio de Janeiro Campus 1997 ________ ________ (Orgs) Novos domiacutenios da histoacuteria Rio de Janeiro Elsevier 2012 CARVALHO Marta Maria Chagas de A Escola e A Repuacuteblica e outros ensaios Braganccedila Paulista EDUSF 2003 CARVALHO Silvia Aparecida Santos de O ensino de leitura e escrita o imaginaacuterio republicano (1890-1920) 1998 126 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1998 CASARI Priscila RIBEIRO Lilian Lopes DAMASCENO Joatildeo Pedro Tavares

Migraccedilatildeo para aacutereas rurais do estado de Goiaacutes uma anaacutelise baseada nos dados do

Censo Demograacutefico de 2010 Interaccedilotildees Campo Grande v 15 nordm 2 p 265-273

julhodezembro de 2014 httpsdoiorg101590S1518-70122014000200006

CASTANHA Andreacute Paulo O Ato Adicional de 1834 e a instruccedilatildeo puacuteblica elementar no impeacuterio descentralizaccedilatildeo ou centralizaccedilatildeo 2007 558 f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Centro de Educaccedilatildeo e Ciecircncias Humanas da Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2007

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CASTELO-BRANCO Fernando Castilho tenta difundir o seu meacutetodo de leitura no Brasil Revista da Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo v 3 nordm 1 p 32-45 1977 CATANI Denice Barbara FARIA FILHO Luciano Mendes de Um lugar de produccedilatildeo e a produccedilatildeo de um lugar a histoacuteria e a historiografia divulgadas no GT Histoacuteria da Educaccedilatildeo da ANPEd (1985-2000) Revista Brasileira de Educaccedilatildeo n 19 janeiro a abril de 2002 httpsdoiorg101590S1413-24782002000100010 ________ VICENTINI Paula Perin Uma histoacuteria das praacuteticas de ensino da leitura e da escrita na produccedilatildeo autobiograacutefica de professores e alunos no Brasil (1870-1970) Educaccedilatildeo Porto Alegre v 34 nordm 2 p 207-212 maioagosto de 2011 CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano 1 artes do fazer Rio de Janeiro Vozes 1990 ________ A escrita da histoacuteria Rio de Janeiro Forense 2002 ________ A invenccedilatildeo do cotidiano 2 morar cozinhar Rio de Janeiro Vozes 2014 CHACAL Tudo (e mais um pouco) Satildeo Paulo Editora 34 2016 CHARLOT Bernard Formaccedilatildeo de professores a pesquisa e a poliacutetica educacional In PIMENTA Selma Garrido GHEDIN Evandro (Orgs) Professor reflexivo no Brasil gecircnese e criacutetica de um conceito 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2002 CHARTIER Anne-Marie Praacuteticas de leitura e escrita histoacuteria e atualidade Belo Horizonte CealeAutecircntica 2007 CHARTIER Roger A aventura do livro do leitor ao navegador Traduccedilatildeo Reginaldo Carmello Correcirca de Moraes Satildeo Paulo Editora UNESP 1998 CHAUL Nasr Fayad A construccedilatildeo de Goiacircnia e a transferecircncia da capital Goiacircnia Editora da UCG 1999 CHOPPIN Alain Histoacuteria dos livros e das ediccedilotildees didaacuteticas sobre o estado da arte Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo n 30 (3) p 549-566 setembrodezembro de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000300012 COELHO Maricilde Oliveira A escola primaacuteria no Estado do Paraacute (1920 - 1940) 2008 213 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2008 ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Estrateacutegias de divulgaccedilatildeo de livros escolares no Paraacute (1890-1910) Linha Mestra (Associaccedilatildeo de Leitura do Brasil) Campinas n 8 p 2449-2453 2014a ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Livros de leitura para meninas no seacuteculo XIX Gecircnero na Amazocircnia Paraacute n 6 p 245-258 2014b

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________ MACIEL Francisca Izabel Pereira O ensino da leitura nas proviacutencias do norte do brasil primeiro livro de leitura de Augusto Ramos Pinheiro In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 CORALINA Cora Vinteacutem de cobre Goiacircnia Editora da UFG 1977 ________ Poemas dos becos de Goiaacutes e estoacuterias mais Goiacircnia Editora da Universidade Federal de Goiaacutes 1980 ________ Meu livro de cordel 18ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Global 2013 CORREcircA Carlos Humberto Alves Circuito do livro escolar elementos para a compreensatildeo de seu funcionamento no contexto educacional amazonense 1852-1910 2006 252 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 ________ SILVA Lilian Lopes Martin da Cartilhas de alfabetizaccedilatildeo no Amazonas de antigamente In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 ________ SILVA Lilian Lopes Martin da Cartas de abc e cartilhas escolares alfabetizaccedilatildeo nas escolas amazonenses (1850-1900) In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO V 2008 Aracajuacute - SE Anais do V Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo o ensino e a pesquisa em Histoacuteria da Educaccedilatildeo Satildeo Cristovatildeo Aracajuacute UFS UNIT 2008 p 1-10 COSTA David Antonio da A Aritmeacutetica Escolar no Ensino Primaacuterio Brasileiro 1890-1946 2010 279 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo Matemaacutetica) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo CUNHA Luiz Antocircnio A universidade Temporatilde o ensino superior da Colocircnia agrave Era Vargas Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1980 DASSUNCcedilAtildeO BARROS Joseacute Histoacuteria espaccedilo e tempo interaccedilotildees necessaacuterias

Varia histoacuteria Belo Horizonte v 22 nordm 36 p 460-476 julhodezembro de 2006

httpsdoiorg101590S0104-87752006000200012

DELGADO Lucilia de Almeida Neves Histoacuteria Oral memoacuteria tempo identidades

Belo Horizonte Autecircntica 2010

DIAS Ana Raquel ldquoPasseando pelos arredoresrdquo o ensino de Histoacuteria para crianccedilas no livro Goiaz coraccedilatildeo do Brasil (1934) 2018 169 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes 2018 DIAS Joseacute Maria Teixeira Castilho ndash leitura repentina meacutetodo original Arquipeacutelago-Histoacuteria Portugal 2ordf seacuterie v IV nordm 2 p 465-480 2000

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DIETZSCH Mary Julia Martins Alfabetizaccedilatildeo propostas e problemas para uma anaacutelise do seu discurso 1979 122 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Psicologia) ndash Instituto de Psicologia Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1979 EL FAR Alessandra Ao gosto do povo as ediccedilotildees baratiacutessimas de finais do seacuteculo XIX In BRAGANCcedilA Aniacutebal ABREU Maacutercia (Orgs) Impresso no Brasil dois seacuteculos de livros brasileiros Satildeo Paulo Editora da Unesp 2010 ELIAS Nobert O Processo Civilizador uma histoacuteria dos costumes Volume 1 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Zahar 1994 ESPOSITO Yara Luacutecia Alfabetizaccedilatildeo em revista uma leitura Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 80 p 21-27 fevereiro de 1992 ESTEVES Isabel de Lourdes As prescriccedilotildees para o ensino da caligrafia e da escrita

na escola puacuteblica primaacuteria paulista (1910-1947) 2002 155 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado

em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo

2002

FARIA FILHO Luciano Mendes de Dos pardeiros aos palaacutecios forma e cultura escolar em Belo Horizonte (19061918) 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Uberlacircndia EDUFU 2014 httpsdoiorg1014393EDUFU-978-85-7078-376-9 ________ O processo de escolarizaccedilatildeo em Minas Gerais questotildees teoacuterico-metodoloacutegicas e perspectivas de anaacutelise In In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 ________ GONCcedilALVES Irlen Antocircnio VIDAL Diana Gonccedilalves PAULILO Andreacute Luiz A cultura escolar como categoria de anaacutelise e como campo de investigaccedilatildeo na histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v 30 n 1 p 139-159 janeiroabril de 2004 httpsdoiorg101590S1517-97022004000100008 FERNANDES Rogeacuterio Um marco no territoacuterio da crianccedila o caderno escolar In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 FERREIRA Maira das Graccedilas A interaccedilatildeo verbal um estudo do papel da linguagem numa sala de aula de alfabetizaccedilatildeo 1991 186 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1991 FERREIRA Orlando da Costa Imagem e Letra introduccedilatildeo agrave bibliologia brasileira a imagem gravada 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 1994 FERREIRA Rita de Caacutessia Oliveira A Escola Normal da capital instalaccedilatildeo e organizaccedilatildeo (1906-1916) 2010 158 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte

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FERREIRA Liciacutenia A alfabetizaccedilatildeo e a poleacutemica do meacutetodo de Castilho nas paacuteginas drsquoO Instituto 2010 Disponiacutevel em lthttpinstitutodecoimbrablogspotcom201001 alfabetizacao-e-polemica-do-metodo-dehtmlgt Acesso em 05 de janeiro de 2018 FERREIRO Emilia TEBEROSKY Ana Psicogecircnese da liacutengua escrita Porto Alegre

Artes Meacutedicas 1985

FETTER Sandro R LIMA Edna Luacutecia da Cunha LIMA Guilherme da Cunha O

ensino da escrita manual no Brasil dos modelos caligraacuteficos agrave escrita pessoal no

seacuteculo XXI Biblioteca Online de Ciecircncias da Comunicaccedilatildeo Portugal v IV p 1-31

2010

FONSECA E SILVA J Trindade da Lugares e pessoas subsiacutedios eclesiaacutesticos para a histoacuteria de Goiaacutes 1ordm volume Satildeo Paulo Escolas Profissionais Salesianas 1948 FONSECA Celso Suckow da Histoacuteria do Ensino Industrial no Brasil 5 vols 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro SENAI DN DPEA 1986 v 5 FONSECA Thais Nivia de Lima e Histoacuteria da Educaccedilatildeo e Histoacuteria Cultural In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 FOUCAULT Michel O que eacute um autor 3ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Passagens 1992

________ A Ordem do Discurso Satildeo Paulo Loyola 2003 ________ Microfiacutesica do poder 23ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Graal 2004 ________ A arqueologia do saber Traduccedilatildeo Luiz Felipe Baeta Neves Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 2013 FRADE Isabel Cristina Alves da Silva Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo meacutetodos de ensino e conteuacutedos da alfabetizaccedilatildeo perspectivas histoacutericas e desafios atuais Educaccedilatildeo (UFSM) Santa Maria v 32 nordm 1 p 21-40 2007 ________ Cultura escrita no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX em Minas Gerais suportes instrumentos e textos de alunos e professores In REUNIAtildeO ANUAL DA ANPED 31ordf 2008 Caxambu Anais da 31ordf Reuniatildeo Anual da Anped Constituiccedilatildeo Brasileira Direitos Humanos e Educaccedilatildeo Caxambu Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo 2008 p 01-15 ________ Suportes instrumentos e textos de alunos e professores em Minas Gerais indicaccedilotildees sobre usos da cultura escrita nas escolas no final do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo XX Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 13 nordm 29 p 29-55 setembrodezembro de 2009 ________ Uma genealogia dos impressos para o ensino da escrita no Brasil no seacuteculo XIX Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 15 nordm 44 p 264-281 maioagosto de 2010 httpsdoiorg101590S1413-24782010000200005

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________ Livros de leitura de Abiacutelio Ceacutesar Borges ideaacuterios pedagoacutegicos produccedilatildeo e circulaccedilatildeo In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010a ________ Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da cultura escrita discutindo uma trajetoacuteria de pesquisa In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ As configuraccedilotildees graacuteficas de livros brasileiros e franceses para ensino da leitura e seus possiacuteveis efeitos no uso dos impressos (seacuteculos XIX e XX) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo CampinasSP v 12 Nordm 2 (29) p 171-208 maioagosto 2012 ________ Meacutetodo alfabeacutetico e de soletraccedilatildeo In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva COSTA VAL Maria da Graccedila BREGUNCI Maria das Graccedilas de Castro (Org) Glossaacuterio Ceale termos de alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita para educadores Belo Horizonte Faculdade de EducaccedilatildeoUFMG 2014 ________ Instrumentos de escrita In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva COSTA VAL Maria da Graccedila BREGUNCI Maria das Graccedilas de Castro (Orgs) Glossaacuterio Ceale termos de alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita para educadores Belo Horizonte Faculdade de EducaccedilatildeoUFMG 2014a ________ O campo da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com as fontes In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ________ GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Instrumentos e suportes de escrita no processo de escolarizaccedilatildeo entre os usos prescritos e os natildeo convencionais (Minas Gerais primeira metade do seacuteculo XX) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute-PR v 16 nordm 1 (40) p 297-334 janeiroabril 2016 httpsdoiorg104025rbhev16i17753 FRANKLIN Ruben Maciel Projetos educacionais para um Brasil-naccedilatildeo uma reflexatildeo sobre a Educaccedilatildeo brasileira no processo de transiccedilatildeo impeacuterio-primeira repuacuteblica (1850-1930) Revista de Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo Curitiba v 1 nordm 1 p 86-101 janeiroabril de 2017 httpsdoiorg105380rhhev1i144458 FREIRE Ana Maria Arauacutejo Analfabetismo no Brasil da ideologia da interdiccedilatildeo do corpo agrave ideologia nacionalista ou de como deixar sem ler e escrever desde as Catarinas (Paraguaccedilu) Filipas Madalenas Anas Genebras Apolonias e Gracias ateacute os Severinos 1988 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Histoacuteria Poliacutetica Sociedade) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1988 FREIRE Paulo Alfabetizaccedilatildeo leitura do mundo leitura da palavra Rio de Janeiro Paz e Terra 2011

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GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Leituras de professores e professoras o que diz a historiografia da educaccedilatildeo brasileira In MARINHO Marildes (Org) Ler e navegar espaccedilos e percursos da leitura Belo Horizonte Ceale 2001 ________ O livro escolar de leitura na escola imperial pernambucana tipos gecircneros e autores In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira Livros escolares de leitura no Brasil elementos para uma histoacuteria Campinas SP Mercado das Letras 2009 ________ BATISTA Antocircnio Augusto Gomes A leitura na escola primaacuteria brasileira alguns elementos histoacutericos In Memoacuteria da Leitura Campinas 1998 Disponiacutevel em lthttpwwwunicampbrielmemoriaprojetosensaio sensaio21htmlgt Acesso em 08 de maio de 2018 GAMA Zacarias Jaegger GONDRA Joseacute Gonccedilalves Uma estrateacutegia de unificaccedilatildeo curricular os estatutos das escolas puacuteblicas de instruccedilatildeo primaacuteria (Rio de Janeiro ndash 1865) Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 5 p 23-38 abril de 1999 GERALDI Joatildeo Wanderley (Org) O texto na sala de aula leitura amp produccedilatildeo Cascavel Assoeste 1984 ________ Portos de Passagem Satildeo Paulo Martins Fontes 1992 ________ Linguagem e ensino exerciacutecios de militacircncia e divulgaccedilatildeo Campinas ALB Mercado de Letras 1996 GINZBURG Carlo Mitos Emblemas e Sinais morfologia e histoacuteria Satildeo Paulo Cia das Letras 1989 GONDRA Joseacute Gonccedilalves Artes de civilizar medicina higiene e educaccedilatildeo escolar na Corte Imperial Rio de Janeiro EDUERJ 2004 ________ Instruccedilatildeo intelectualidade impeacuterio apontamentos a partir do caso brasileiro In VAGO Tarciacutesio Mauro INAacuteCIO Marcilaine Soares HAMDAN Juliana Cesaacuterio SANTOS Hercules Pimenta dos (Orgs) Intelectuais e Escola Puacuteblica no Brasil seacuteculos XIX e XX Belo Horizonte Mazza Ediccedilotildees 2009 ________ SCHUELER Alessandra Educaccedilatildeo poder e sociedade no Impeacuterio brasileiro Satildeo Paulo Cortez 2008 GONTIJO Claacuteudia Maria Mendes Alfabetizaccedilatildeo no Espiacuterito Santo o meacutetodo muacutetuo ou monitorial Educaccedilatildeo em Revista Belo Horizonte n 40 p141-158 2011 httpsdoiorg101590S0104-40602011000200010 ________ GOMES Siacutelvia Cunha Escola primaacuteria e ensino da leitura e da escrita (alfabetizaccedilatildeo) no Espiacuterito Santo (1870 a 1930) Vitoacuteria ES EDUFES 2013 GOULART Cecilia Maria Aldigueri O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ discutindo a tensatildeo na construccedilatildeo de praacuteticas de

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ensino nas deacutecadas de 1970 e 1980 In ENCONTRO NACIONAL DE DIDAacuteTICA E PRAacuteTICA DE ENSINO XIV 2008 Porto Alegre Anais do XIV ENDIPE ndash Encontro Nacional de Didaacutetica e Praacutetica de Ensino Porto Alegre Editora da PUCRS 2008 p 1-15 ________ Aspectos da histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ problematizando questotildees teoacuterico-metodoloacutegicas In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ A avaliaccedilatildeo da alfabetizaccedilatildeo em pesquisas praacuteticas e poliacuteticas puacuteblicas debatendo posiccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ ABIacuteLIO Eleonora Cretton Aspectos poliacutetico-pedagoacutegicos do ensino da leitura e da escrita no sistema escolar municipal de Niteroacutei uma visatildeo histoacuterica In ENCONTRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO DO RIO DE JANEIRO I 2007 Niteroacutei ndash RJ Anais do I Encontro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo do Rio de Janeiro CR-ROM Niteroacutei UFF 2007 p 1-15 ________ ABIacuteLIO Eleonora Cretton MATTOS Margareth Silva de O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ (1959-2000) Niteroacutei PROALEUFF FAPERJ 2007 ________ ABIacuteLIO Eleonora Cretton O ensino inicial da leitura e da escrita na rede escolar municipal de NiteroacuteiRJ um estudo do periacuteodo 1959-200 In SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 ________ GONTIJO Claacuteudia Maria Mendes FERREIRA Norma Sandra de Almeida (Orgs) A alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo 30 anos de A crianccedila na fase inicial da escrita Satildeo Paulo Cortez 2017 GOULART Ilsa do Carmo Vieira As liccedilotildees de Meninice um estudo sobre as representaccedilotildees de livro de leitura inscritas na seacuterie graduada de leitura Meninice (19481949) de Luiz Gonzaga Fleury 2013 282 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas ________ O ensino da leitura na produccedilatildeo escrita de Luiz Gonzaga Fleury entre 1922 a 1936 Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Maringaacute v 15 p 133-158 2015 httpsdoiorg104025rbhev15i2632 GRAFF Harvey Os labirintos da alfabetizaccedilatildeo reflexotildees sobre o passado e o presente da alfabetizaccedilatildeo Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994 GUILLAUME J Leacutecture In Nouveau dictionnaire de pedagogia et instruction primaire

Paris Hachette 1911

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GUIMARAtildeES Edite da Gloacuteria Amorim Histoacuterias de alfabetizadores vida memoacuteria e

profissatildeo 2006 152 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de

Educaccedilatildeo Universidade Federal de Uberlacircndia Uberlacircndia 2006

GUIMARAtildeES Maacutercia Campos Moraes Estado do conhecimento da alfabetizaccedilatildeo no Brasil (1944-2009) 2011 213 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2011 ________ QUILLICI NETO Armindo Os perioacutedicos na historiografia da alfabetizaccedilatildeo temas abordados no periacuteodo de 1944 a 2009 In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 GUSMAtildeO Manuel Uma Razatildeo Dialoacutegica Ensaios sobre literatura a sua experiecircncia do humano e a sua teoria Lisboa Ediccedilotildees Avante 2011 HALLEWELL Laurence O livro no Brasil sua histoacuteria 3ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora da Universidade de Satildeo Paulo 2012 HASWANI Mariacircngela Furlan O discurso obscuro da lei In MATOS Heloiza (Org) Comunicaccedilatildeo puacuteblica interlocuccedilotildees interlocutores e perspectivas Satildeo Paulo ECAUSP 2013 HEacuteBRARD Jean La leccedilon et lrsquoexercise quelques reacuteflexions sur lrsquohistoire des pratiques de scolarisation Paris INRP-CNRS-Service drsquohistoire de lrsquoeacuteducation 1995 HILSDORF Maria Lucia Spedo Histoacuteria da educaccedilatildeo brasileira leituras Satildeo Paulo Pioneira Thomson Learning 2003 JESUS Simone Aparecida de A literatura no acircmbito do Pacto Nacional pela Alfabetizaccedilatildeo na Idade Certa (PNAIC) 2019 144 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 2019 KLEIMAN Angela (Org) Os Significados do Letramento Novas Perspectivas sobre a Praacutetica Social da Escrita Campinas Mercado de Letras 1995 KLEMPERER Victor LTI a linguagem do Terceiro Reich Rio de Janeiro Contraponto 2009 KONDER Leandro A poesia de Brecht e a histoacuteria Rio de Janeiro Jorge Zahar 1996 LAJOLO Marisa Livro didaacutetico um (quase) manual de usuaacuterio Em aberto Brasiacutelia ano 16 n 69 p 4-19 janeiromarccedilo de 1996 ________ ZILBERMAN Regina A formaccedilatildeo da leitura no Brasil Satildeo Paulo Editora Aacutetica 1996 LAROUSSE M Pierre Dictionnaire Universel du XIXe siegravecle Paris Librairie Classique Larousse et Boyer 1869

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LARROSA Jorge Notas sobre experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Campinas nordm 19 2002 ________ Carta aos leitores que vatildeo nascer Texto traduzido por Ana Isabel Pasztor Moretti com copidesque de Maiacutera Libertad Soligo Takemoto e Rosaura Soligo e revisatildeo final de Tereza Barreiros 2009 [Texto digitado] LE GOFF Jacques Histoacuteria e memoacuteria Campinas Unicamp 1996 LEMES Fernando Lobo Governo colonial distacircncia e espera nas minas e capitania de Goiaacutes Topoi Rio de Janeiro v 13 nordm 25 p 112-129 julhodezembro de 2012 httpsdoiorg1015902237-101X013025007 LESAGE Pierre A pedagogia nas escolas muacutetuas no seacuteculo XIX In BASTOS Maria Helena Cacircmara FARIA FILHO Luciano Mendes de (Org) A escola elementar no seacuteculo XIX o meacutetodo monitorialmuacutetuo Passo Fundo Ediupf 1999 LETRA A O JORNAL DO ALFABETIZADOR Belo Horizonte 16 p novembrodezembro de 2012 LIMA Jocilele Pereira BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Uma histoacuteria da leitura a virtude e a moral em Histoacuteria de Simatildeo de Nantua In SEMINAacuteRIO BRASILEIRO DO LIVRO E DA HISTOacuteRIA EDITORIAL II 2009 Niteroacutei Anais do II Seminaacuterio Brasileiro Livro e Histoacuteria Editorial Niteroacutei 2009 LIMA Edna Lucia Oliveira da Cunha Fundidoras de Tipo do Seacuteculo XIX Anunciantes no Almanack Laemmert Relatoacuterio de pesquisa Biblioteca Nacional Programa Nacional de Apoio agrave Pesquisa ndash PNAP 2008 Disponiacutevel lthttpswww bngovbrproducaointelectualdocumentosfundidoras-tipo-seculo-xix-anunciantesal manackgt Acesso em 18 de marccedilo de 2018 LIMA Naacutefren Ferreira A Avaliaccedilatildeo Nacional da Alfabetizaccedilatildeo (ANA) na rede municipal de ensino de JataiacuteGO 2019 180 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2019 LIMA Sara Talitiane Viana Machado Leandro de O perioacutedico A Instrucccedilatildeo Publica em destaque as publicaccedilotildees sobre o ensino primaacuterio (1872-1875) 2018 141 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Centro de Ciecircncias Humanas Letras e Artes Universidade Estadual de Maringaacute Maringaacute 2018 LISPECTOR Clarice A hora da estrela Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1977 ________ Felicidade Clandestina Satildeo Paulo Rocco 1998 LOMBARDI Joseacute Claudinei Histoacuteria e historiografia da educaccedilatildeo atentando para as fontes (141-176) In LOMBARDI Joseacute Claudinei NASCIMENTO Maria Isabel Moura (Orgs) Fontes histoacuteria e historiografia da educaccedilatildeo Campinas SP Autores Associados 2004

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LOURO Guacira Lopes Mulheres em sala de aula In DEL PRIORE Mary (Org) Histoacuteria das mulheres no Brasil Satildeo Paulo Contexto 1997 MACIEL Francisca Izabel Pereira Lucia Casasanta e o meacutetodo global de contos uma contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo em Minas Gerais 2001 157 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2001 ________ As cartilhas e a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil alguns apontamentos Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 11 p 147-168 abril de 2002 ________ Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo perspectivas de anaacutelise In VEIGA Cynthia Greive FONSECA Thais Nivia de Lima e (Orgs) Histoacuteria e Historiografia da Educaccedilatildeo no Brasil Belo Horizonte Autecircntica Editora 2003 ________ Alfabetizaccedilatildeo no Brasil pesquisas dados e anaacutelise In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Magda Becker Soares travessia de uma educadora In REGO Teresa Cristina (Org) Educadores brasileiros ideias e accedilotildees de nomes que marcaram a educaccedilatildeo nacional Curitiba Editora CRV 2018 MAGALHAtildeES Justino Pereira de Ler e escrever no mundo rural do Antigo Regime Um contributo para a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da escolarizaccedilatildeo em Portugal Anaacutelise Psicoloacutegica Portugal v XIX nordm 4 p 435-445 1996 ________ As alquimias da escrita alfabetizaccedilatildeo histoacuteria desenvolvimento no mundo ocidental do Antigo Regime Braganccedila Paulista Editora da Universidade Satildeo Francisco 2001 ________ Alfabetizaccedilatildeo e histoacuteria tendecircncias e perspectivas In BATISTA Antocircnio Augusto Gomes GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira (Orgs) Leitura praacuteticas impressos letramentos Belo Horizonte Autecircntica 2002 ________ Escrita escolar e oficializaccedilatildeo da Escola Portuguesa In CONGRESO INTERNACIONAL HISTORIA DE LA CULTURA ESCRITA VIII 2005 Espanha Anais do Congresso Internacional Historia de La Cultura Escrita Alcalaacute Universidad de Alcalaacute 2005 p 1-21 ________ Mediaccedilotildees da Cultura Escolar ndash a Praacutetica como Normatividade GOacuteMEZ Juan Fernaacutendez ESPIGADO Gloria Tocino BEAS Miguel Miranda (Orgs) La Escuela y sus Escenarios El Puerto de Santa Mariacutea Concejaliacutea de Cultura del Ayuntamiento de El Puerto de Santa Mariacutea 2007 ________ La Meacutethode Maternelle ou Art de lire de Joatildeo de Deus (1876) inventions typographiques et alphabeacutetisation populaire au Portugal Histoire de lEducation nordm 138 p 115-130 maio-agosto de 2013 httpsdoiorg104000histoire-education2663

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MAGNANI Maria do Rosaacuterio Mortatti Os sentidos da alfabetizaccedilatildeo ldquoa questatildeo dos meacutetodosrdquo e a constituiccedilatildeo de um objeto de estudo (Satildeo Paulo 18761994) 1997 Tese (Livre-docecircncia) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Presidente Prudente 1997 MAINGUENEAU Dominique Gecircnese dos Discursos Traduccedilatildeo de Siacuterio Possenti Curitiba Criar Ediccedilotildees 2005 MANGUEL Alberto Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MANTOAN Maria Teresa Egleacuter A escola e suas transformam(accedilotildees) a partir da educaccedilatildeo especial na perspectiva inclusiva Relatoacuterio III Campinas Librum Editora 2014 MARAUX Vicent Pierre Victor Renault um pioneiro francecircs no seacuteculo XIX (1811-1892) Virtualbooks 2000 MARCILIO Maria Luiza Histoacuteria da escola em Satildeo Paulo e no Brasil Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de Satildeo Paulo Instituto Fernand Braudel 2005 ________ Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil Satildeo Paulo EdUSP 2016 MARQUES Ana Luiacutesa dos Santos Arte ciecircncia e histoacuteria no livro portuguecircs do seacuteculo XVIII 2014 505 p Tese (Doutorado em Belas-Artes especialidade em Ciecircncia da Arte) ndash Faculdade de Belas-Artes Universidade de Lisboa Lisboa 2014 MARTIN Daniela Taranta Praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo nas seacuteries iniciais do ensino fundamental uma anaacutelise das metodologias na perspectiva histoacuterico cultural 2005 100 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2005 MARTINS Claacuteudio Rodrigues Cenas de produccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de textos na alfabetizaccedilatildeo um olhar sobre a praacutetica pedagoacutegica 2018 143 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2018 MEIRELES Ceciacutelia Romanceiro da Inconfidecircncia Rio de Janeiro Editora Civilizaccedilatildeo

Brasileira 1977

MELO Luis Correia Dicionaacuterio de autores paulistas Comissatildeo do IV centenaacuterio da cidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Irmatildeos Andrioli 1954 MENDES Elieth Sodreacute Terence Benedicta Stahl Sodreacute mulher protestante na

educaccedilatildeo brasileira 2008 163 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias da Religiatildeo) ndash

Universidade Presbiteriana Mackenzie Satildeo Paulo 2008

MENDONCcedilA Sonia Regina de O ruralismo brasileiro Satildeo Paulo Hucitec 1997

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MIGNOT Ana Chrystina Venancio Antes da escrita uma papelaria na produccedilatildeo e circulaccedilatildeo de cadernos escolares In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 MORAIS Roselusia Teresa Pereira de Modos de ler o impresso muacuteltiplas escritas de leitores de Eacuterico Veriacutessimo na internet 2014 220 p Tese ndash (Doutorado em Educaccedilatildeo) Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Pelotas Pelotas 2014 MOREIRA Ana Karenine Souza Apropriaccedilatildeo do conceito de letramento por professores da rede municipal de educaccedilatildeo de Goiacircnia 2017 148 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2017 MOREIRA Kecircnia Hilda MUNAKATA Kazumi (Orgs) Dossiecirc Temaacutetico ldquoLivros didaacuteticos como fonteobjeto de pesquisa para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil e na Espanhardquo Revista Educaccedilatildeo e Fronteiras Mato Grosso do Sul v 7 nordm 20 maioagosto 2017 httpsdoiorg1030612edufv7i207424

MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo Notas sobre linguagem texto e pesquisa histoacuterica em educaccedilatildeo Histoacuteria da Educaccedilatildeo Pelotas v3 n 6 p 69-77 out 1999 ________ Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 Satildeo Paulo Editora UNESP 2000

________ Cartilha de alfabetizaccedilatildeo e cultura escolar um pacto secular Cadernos Cedes ano XX n 52 p 41-54 novembro 2000a httpsdoiorg101590S0101-32622000000300004

________ Educaccedilatildeo e letramento Satildeo Paulo UNESP 2004

________ Prefaacutecio In AMAcircNCIO Laacutezara Nanci de Barros Ensino de leitura e grupos escolares Mato Grosso 1910-1930 Cuiabaacute EdUFMT 2008

________ A ldquoquerela dos meacutetodosrdquo de alfabetizaccedilatildeo no Brasil contribuiccedilotildees para metodizar o debate Acolhendo a Alfabetizaccedilatildeo nos Paiacuteses de Liacutengua Portuguesa (USP) Satildeo Paulo v 3 nordm 5 p 91-114 2009 httpsdoiorg1011606issn1980-7686v3i5p91-114 ________ (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ O I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011a ________ Contribuiccedilotildees do GPHELLB para o Campo da Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011b

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________ Um balanccedilo criacutetico da ldquoDeacutecada da Alfabetizaccedilatildeordquo no Brasil Caderno Cedes Campinas v 33 n 89 p 15-34 2013 httpsdoiorg101590S0101-32622013000100002 ________ Produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre alfabetizaccedilatildeo avaliaccedilatildeo da qualidade e impacto cientiacutefico e social In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Meacutetodos de alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria concisa Satildeo Paulo Editora Unesp 2019 ________ OLIVEIRA Fernando Rodrigues de Magda Soares na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Org) Alfabetizaccedilatildeo no Brasil uma histoacuteria de sua histoacuteria Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Mariacutelia Oficina Universitaacuteria 2011 ________ OLIVEIRA Fernando Rodrigues de PASQUIM Franciele Ruiz 50 anos de produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre alfabetizaccedilatildeo avanccedilos contradiccedilotildees e desafios Interfaces da Educaccedilatildeo Paranaiacuteba v 5 nordm 13 p 6-31 2014 MUNAKATA Kazumi Produzindo livros didaacuteticos e paradidaacuteticos 1997 Tese (Doutorado em Histoacuteria e Filosofia da Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 1997 ________ A legislaccedilatildeo como fonte de histoacuteria do livro didaacutetico numa eacutepca em que supostamente natildeo havia leis sobre isso e muito menos a histoacuteria do livro didaacutetico In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Histoacuteria do ensino de leitura e escrita meacutetodos e material didaacutetico Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Livro didaacutetico como indiacutecio da cultura escolar Hist Educ (Online) Porto Alegre v 20 n 50 p 119-138 setembrodezembro 2016 httpsdoiorg1015902236-3459624037 NAGLE Jorge Educaccedilatildeo e sociedade na primeira repuacuteblica 2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Editora DPampAA 2001 NASCIMENTO Liliane Querino do As concepccedilotildees de alfabetizaccedilatildeo e letramento na preacute-escola reflexotildees a partir da equipe gestora 2019 174 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2019 NASCIMENTO Estes Fraga Vilas-Bocircas Carvalho SALES Tacircmara Regina Reis Almanaque do Bom Homem Ricardo praacuteticas educacionais norte-americanas e sua circulaccedilatildeo no Brasil Oitocentista Cadernos do Tempo Presente n 15 p 72-75 marccediloabril de 2014 NORA Pierre Entre memoacuteria e histoacuteria ndash a problemaacutetica dos lugares Projeto Histoacuteria Satildeo Paulo n10 p 7-28 1993

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OLIVEIRA Ingrid Janini Ramos Oliveira PERES Selma Martines Histoacuteria do livro escolar ndash Goiaz coraccedilatildeo do Brasil In NEVES Adriana Freitas PAULA Maria Helena de ANJOS Petrus Henrique Ribeiro dos (Orgs) Estudos Interdisciplinares em Humanidades e Letras Satildeo Paulo Editora Blucher 2016 httpsdoiorg1051519788580391664-05 OLIVEIRA Luiz Eduardo CORREcircA Leda Pires A importacircndia do catecismo no processo de escolarizaccedilatildeo Interdisciplinar Satildeo Cristovatildeo-SE v 2 nordm 2 p 37-53 julhodezembo de 2006 OLIVEIRA Suzane Cardoso da Silva Eacute hora da histoacuteria oficinas de leitura no desenvolvimento das competecircncias leitoras de crianccedilas no primeiro ano do ensino fundamental 2018 153 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Regional Catalatildeo 2018 ORIANI Angeacutelica Pall Consideraccedilotildees sobre a histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil a produccedilatildeo acadecircmico-cientiacutefica e a constituiccedilatildeo do campo de pesquisas Educ temat digit Campinas v 14 n 2 p 94-112 julho a dezembro de 2012 httpsdoiorg1020396etdv14i21224 ORLANDI Eni P GUIMARAtildeES Eduardo (Orgs) Institucionalizaccedilatildeo dos Estudos da Linguagem a disciplinarizaccedilatildeo das ideacuteias linguiacutesticas Campinas Pontes 2002 ORLANDI Eni Puccinelli Texto e Discurso ORGANON Revista do Instituto de Letras da UFRGS Rio Grande do Sul v 9 n 23 p 111-118 1995 ORLANDO Evelyn de Almeida Os manuais de catecismo e a circulaccedilatildeo de ideacuteias tradiccedilatildeo e modernidade na pedagogia catoacutelica brasileira In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO V 2008 Aracaju Anais do V Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo ldquoO ensino e a pesquisa em Histoacuteria da Educaccedilatildeordquo Satildeo Cristoacutevatildeo Aracaju Universidade Federal de Sergipe Universidade Tiradentes p 247-248 2008 ________ Os manuais de catecismo como fontes para a Histoacuteria da Educaccedilatildeo Roteiro Joaccedilaba Santa Catarina v 38 p 41-66 2013 PAacuteDUA Andreacuteia Aparecida Silva de Migraccedilatildeo expansatildeo demograacutefi ca e desenvolvimento econocircmico em Goiaacutes 2008 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial) ndash Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2008 PALACIacuteN Luiacutes O seacuteculo do outro em Goiaacutes 4ordf ediccedilatildeo Goiacircnia Editora da UCG 1994 ________ MORAES Maria Augusta de SantrsquoAnna Histoacuteria de Goiaacutes Goiacircnia Editora UCG 1994 ________ GARCIA Ledonias Franco AMADO Janaiacutena Histoacuteria de Goiaacutes em Documentos Colocircnia Goiacircnia Editora UFG 2001

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PASQUIM Franciele Ruiz Reforma do ensino da liacutengua materna (1884) de Antonio da Silva Jardim na histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil 2013 115 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho Mariacutelia 2013 ________ Antonio da Silva Jardim (1860-1891) na histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo BERTOLETTI Estela Natalina Mantovani Bertoletti et al (Orgs) Sujeitos da histoacuteria do ensino de leitura e escrita no Brasil Satildeo Paulo Editora UNESP 2015 PAULA Luzia de Faacutetima O ensino de liacutengua portuguesa no Brasil segundo Joatildeo Wanderley Geraldi Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 PAZ Octavio O arco e a lira Rio de Janeiro Nova Fronteira 1982

PEDROSO Dulce Madalena Rios Avaacute-canoeiros a histoacuteria do povo invisiacutevel seacuteculos XVIII e XIX 1992 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Histoacuteria) ndash Instituto de Ciecircncias Humanas e Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1992 PEIXOTO Jorge Histoacuteria do livro impresso em Portugal Coimbra [sn] 1967 PESAVENTO Sandra Jatahy Histoacuteria amp histoacuteria cultural Belo Horizonte Autecircntica 2003 PFROMM NETO Samuel DIB Clauacutedio Zaki ROSAMILHA Nelson O livro na educaccedilatildeo Rio de Janeiro Primor INL 1974 PINTO Paula Alexandra Aguiar O ensino primaacuterio e seus valores em portugal de 1807 ateacute 1928 atraveacutes dos manuais escolares 2009 206 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias da Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Psicologia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo Universidade de Lisboa 2009 POMPEacuteIA Raul O Ateneu Satildeo Paulo Aacutetica 1996 POPPOVIC Ana Maria Alfabetizaccedilatildeo um problema interdisciplinar Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 2 novembro de 1971 PORTO Gilceane Caetano Divulgaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo do meacutetodo global de contos no Instituto de Educaccedilatildeo Assis Brasil 2005 150 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Pelotas Pelotas 2005 PRIMITIVO MOACYR A instruccedilatildeo e as proviacutencias 1ordm volume Satildeo Paulo Nacional 1939a ________ A instruccedilatildeo e as proviacutencias 2ordm volume Satildeo Paulo Nacional 1939b ________ A instruccedilatildeo e as provincias 1834-1889 (subsidios para a histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil) 3ordm volume Satildeo Paulo Rio de Janeiro Recife Porto Alegre Companhia Editora Nacional 1940

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PRUDENTE Maria das Graccedilas Cunha Silvina Ermelinda Xavier de Brito In VALDEZ Diane (Org) Dicionaacuterio de Educadores e Educadoras em Goiaacutes seacuteculos XVIII ndash XXI Goiaacutes Editora Imprensa Universitaacuteria 2017 ________ O silecircncio no magisteacuterio professoras na instruccedilatildeo puacuteblica na proviacutencia de Goyaz seacuteculo XIX In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 QUEIROacuteS Bartolomeu Campos de O livro eacute passaporte eacute bilhete de partida PRADO

Jason CONDINI Paulo (Org) A formaccedilatildeo do leitor pontos de vista Rio de Janeiro

Argus 1999 p 23-24

QUINTANA Maacuterio Apontamentos de histoacuteria sobrenatural 5ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Globo 1995 RANCIEgraveRE Jacques O mestre ignorante cinco liccedilotildees sobre a emancipaccedilatildeo intelectual Traduccedilatildeo de Liacutelian do Valle 3ordf ediccedilatildeo 4ordf reimpressatildeo Belo Horizonte Autecircntica Editora 2015 RAZZINI Marcia de Paula Gregorio Instrumentos de escrita na escola elementar tecnologias e praacuteticas In MIGNOT Ana Chrystina Venancio (Org) Cadernos agrave vista escola memoacuteria e cultura escrita Rio de Janeiro EdUERJ 2008 REIS Marlene Barbosa de Freitas Algumas consideraccedilotildees sobre o ofiacutecio de professor em Goiaacutes no Seacuteculo XIX (1835-1861) In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 RIBEIRO Maria Luisa Santos Histoacuteria da Educaccedilatildeo brasileira a organizaccedilatildeo escolar 17ordf ediccedilatildeo Campinas Autores Associados 2001 RICOEUR Paul Tempo e Narrativa Satildeo Paulo Papirus 1994 RIZZINI Irma O cidadatildeo polido e o selvagem bruto a educaccedilatildeo dos meninos desvalidos na Amazocircnia Imperial 2004 453 p Tese (Doutorado em Histoacuteria Social) ndash Instituto de Filosofia e Ciecircncias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2004 ROCHA Juliano Guerra Entre vozes livros e cadernos por uma historiografia da alfabetizaccedilatildeo no sul goiano In I SEMINAacuteRIO INTERNACIONAL SOBRE HISTOacuteRIA DO ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 1 2010 Mariacutelia SP Anais do I Seminaacuterio Internacional sobre Histoacuteria do Ensino de Leitura e Escrita CD-ROM Mariacutelia Editora Fundepe 2010 ________ Marcas argumentativas em narrativas infantis 2012 201 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2012

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________ CARVALHO Silvia Aparecida Santos de As iconografias na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ________ SANTOS Socircnia Maria dos Oliveira Mariacutelia Villela de Fragmentos histoacutericos da formaccedilatildeo continuada do alfabetizador no Brasil In SANTOS Socircnia Maria dos ROCHA Juliano Guerra (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo e suas fontes Uberlacircndia EDUFU 2018 ROCHA Lucia Maria da Franca A Escola Normal na proviacutencia da Bahia In ARAUacuteJO Joseacute Carlos de Souza FREITAS Anamaria Gonccedilalves Bueno LOPES Antocircnio de Paacutedua Carvalho (Orgs) As Escolas Normais no Brasil do Impeacuterio a Repuacuteblica Campinas Aliacutenea 2008 ROCHA Marlos Bessa Mendes da Matrizes da modernidade republicana cultura poliacutetica e pensamento educacional no Brasil Campinas SP Autores Associados Brasiacutelia DF Editora Plano 2004 RODRIGUES Liacutedia Silva A formaccedilatildeo de leitores literaacuterios na perspectiva histoacuterico cultural leituras em uma escola puacuteblica de Rio Verde ndash GO 2019 170 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2019 ROMANELLI Otaiacuteza de Oliveira Histoacuteria da educaccedilatildeo no Brasil 24ordf ediccedilatildeo Pretoacutepolis Vozes 2000 ROSA Dalva E Gonccedilalves Abordagem construtivista em uma classe de ciclo baacutesico de alfabetizaccedilatildeo do proposto ao projeto real 1993 192 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1993 ROSEMBERG Fuacutelvia Raccedila e educaccedilatildeo inicial Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p 25-34 maio de 1991 SAacute Helveacutecio Goulart Malta de ARAUacuteJO Denise Silva SANTOS Oyana Rodrigues dos BOAVENTURA Geiacutesa dacuteAacutevila Ribeiro DI MENEZES Nayara Ruben Calaccedila Antecedentes histoacutericos do ensino profissional no Brasil nos periacuteodos colonial e imperial In CONGRESSO NACIONAL DE EDUCACcedilAtildeO XII 2015 Paranaacute Anais do EDUCERE ndash XII Congresso Nacional de Educaccedilatildeo Paranaacute PUCPR 2015 SANDES Noeacute Freire ARRAIS Cristiano Alencar Histoacuteria e memoacuteria em Goiaacutes no seacuteculo XIX uma consciecircncia da maacutegoa e da esperanccedila Varia histoacuteria Belo Horizonte v 29 nordm 51 p 847-861 2013 httpsdoiorg101590S0104-87752013000300010 SANTrsquoANNA Thiago Fernando Gecircnero histoacuteria e educaccedilatildeo a experiecircncia de escolarizaccedilatildeo de meninas e meninos na Proviacutencia de Goiaacutes (1827-1889) 2010 240 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2010 ________ Possibilidades aos meninos destino agraves meninas Escola Primaacuteria como tecnologia de gecircnero na Proviacutencia de Goiaacutes (1827-1887) In BARRA Valdeniza Maria

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Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ Os abolicionismos na cidade de Goiaacutes pluralidades e singularidades nos anos 1880 Eacuteliseacutee - Revista de Geografia da UEG Porangatu v 2 p 92-107 2013 SANTOS Dorotheia Baacuterbara A teoria e a praacutetica pedagoacutegica no cenaacuterio das turmas de alfabetizaccedilatildeo de uma escola inclusiva 2005 84 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2005 SANTOS Luciana Martins Teixeira dos Direito humano agrave memoacuteria da educaccedilatildeo de adultos no Brasil autoritaacuterio documentos legais e narrativas de ex-participantes do MOBRAL (1967-1985) 2015 163 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Direitos Humanos Cidadania e Poliacuteticas Puacuteblicas) ndash Universidade Federal da Paraiacuteba Joatildeo Pessoa 2015 SANTOS Maria Lygia Koumlpke dos Lendo com Hilda Joatildeo Koumlpke ndash 1902 2013 243 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2013 SANTOS Socircnia Maria dos Histoacuterias das alfabetizadoras brasileiras entre saberes e praacuteticas 2001 258 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2001 SANTOS Tatiane Soares dos Alfabetizaccedilatildeo e letramento de estudantes com siacutendrome de Down indicaccedilotildees a partir da partir da percepccedilatildeo de professores sobre a vivecircncia de estudantes em uso do software alfabetizaccedilatildeo focircnica computadorizada 2019 169 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2019 SAVIANI Dermeval Reflexotildees sobre o ensino e a pesquisa em histoacuteria da educaccedilatildeo In GATTI JUacuteNIOR Deacutecio FILHO Geraldo Inaacutecio (Orgs) Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Perspectiva ensino pesquisa produccedilatildeo e novas investigaccedilotildees Campinas Autores Associados Uberlacircndia EDUFU 2005 ________ O legado educacional do ldquoBreve Seacuteculo XIXrdquo brasileiro In SAVIANI Dermeval ALMEIDA Jane Soares de SOUZA Rosa Faacutetima de VALDEMARIN Vera Teresa O legado educacional do seacuteculo XIX 2ordf ediccedilatildeo revista e ampliada Campinas SP Autores Associados 2006 ________ Histoacuteria das Ideias Pedagoacutegicas no Brasil 4ordf ediccedilatildeo Campinas Autores Associados 2013 SCHUELER Alessandra Aprendendo a ler com a Histoacuteria Nossa Histoacuteria Satildeo Paulo ano 2 nordm 14 p 80-82 dezembro de 2004 ________ O Meacutetodo Bacadafaacute leitura escrita e liacutengua nacional em escolas puacuteblicas primaacuterias da Corte imperial (1870-1880) Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 9 nordm 18 p 173-190 julhodezembro 2005

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________ Representaccedilatildeo da docecircncia na imprensa pedagoacutegica na Corte imperial (1870-1889) o exemplo da Instruccedilatildeo Puacuteblica Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v31 nordm 3 p 379-390 setembrodezembro 2005a httpsdoiorg101590S1517-97022005000300004 SCHWARTZ Cleonara Maria PERES Eliane FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Estudos de histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo e da leitura na escola Vitoacuteria ES EDUFES 2010 SCOCUGLIA Afonso Celso Caldeira A Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo Poliacutetica na PARAIBRASIL nos anos Sessenta 1997 349 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade Federal de Pernambuco Recife 1997 SENA Fabiana A tradiccedilatildeo da civilidade nos livros de leitura no Impeacuterio e na Primeira Repuacuteblica Campina Grande EDUEPB 2017 SILVA Carlos Manique da O tema dos ldquomodos de ensinordquo nos manuais pedagoacutegicos em Portugal e no Brasil (segunda metade do seacuteculoXIX ndash anos de 1920) Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Campinas-SP v 13 nordm 3 (33) p 235-256 setembrodezembro 2013 httpsdoiorg104322rbhe2014011 SILVA Lilian Lopes Martin da FERREIRA Norma Sandra de Almeida MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo (Orgs) O texto na sala de aula um claacutessico sobre o ensino de liacutengua portuguesa Campinas Autores Associados 2014 SILVA Mariza Vieira da Histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo no Brasil a constituiccedilatildeo de sentidos e do sujeito da escolarizaccedilatildeo 1998 268 f Tese (Doutorado em Linguiacutestica) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Campinas 1998 ________ Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo no Brasil sentidos e sujeitos da escolarizaccedilatildeo Campinas Editora da UNICAMP 2015 SILVA Patriacutecia Maria Machado Interfaces entre a Provinha Brasil e as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo da rede municipal de ensino de Catalatildeo-GO 2015 177 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Catalatildeo 2015 SILVA Simei Arauacutejo Representaccedilotildees sociais e praacuteticas de professores alfabetizadores da rede puacuteblica do municiacutepio de Goiacircnia 1998 199 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1998 SIRINELLI Jean-Franccedilois Os intelectuais In REMOND Reneacute (Org) Por uma histoacuteria poliacutetica 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Editora Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas 2003 SMOLKA Ana Luiza Bustamante A crianccedila na fase inicial da escrita a alfabetizaccedilatildeo como processo discursivo 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 1988 SOARES Magda As muitas facetas da alfabetizaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 52 p 19-24 fevereiro de 1985

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________ Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento Brasiacutelia DF INEP Santiago REDUC 1989 ________ Liacutengua escrita sociedade e cultura relaccedilotildees dimensotildees e perspectivas Revista brasileira de educaccedilatildeo ANPEd n 0 p 5-16 setembro a dezembro de 1995 ________ Aprender a escrever ensinar a escrever Seacuterie Ideias n 28 p 59-75 Satildeo Paulo FDE 1997 Disponiacutevel em lthttpwwwcrmariocovasspgovbrpdfideia s_28_p059 -075_cpdfgt Acesso em 08 de junho de 2017 ________ Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998 ________ Apresentaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo Os sentidos da Alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo 1876 ndash 1994 Satildeo Paulo Editora UNESP 2000 ________ Alfabetizaccedilatildeo e Letramento Satildeo Paulo Contexto 2003 ________ Apresentaccedilatildeo In FRADE Isabel Cristina Alves da Silva MACIEL Francisca Izabel Pereira (Orgs) Histoacuteria da Alfabetizaccedilatildeo produccedilatildeo difusatildeo e circulaccedilatildeo de livros (MG RS MT ndash Seacutec XIX e XX) Belo Horizonte UFMGFAE 2006 ________ Alfabetizaccedilatildeo o saber o fazer o querer In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Alfabetizaccedilatildeo e seus sentidos o que sabemos fazemos e queremos Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ Magda Soares responde Entrevista com Magda Soares Site Ceale 2015 Disponiacutevel em lthttpwwwcealefaeufmgbrpagesviewmagda-soares-responde-2htmlgt Acesso em 11 de junho de 2019 ________ Alfabetizaccedilatildeo a questatildeo dos meacutetodos Satildeo Paulo Contexto 2016 ________ MACIEL Francisca Izabel Pereira Alfabetizaccedilatildeo no Brasil o estado do conhecimento Brasiacutelia DF MECINEPCOMPED 2000 SODREacute Nelson Wemeck A histoacuteria da imprensa no Brasil Rio de Janeiro Editora Civilizaccedilatildeo Brasileira 1966 SOUSA Maria Alice de Deus e A aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita ndash uma experiecircncia realizada numa escola da periferia de Goiacircnia 1993 51 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Faculdade de Letras Universidade Federal de Goiaacutes Goiacircnia 1993 SOUZA Amelioene Franco Rezende de Trabalho docente no contexto da alfabetizaccedilatildeo concepccedilotildees e possibilidades 2019 191 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Campus Jataiacute 2019 SOUZA Cleyde Nunes Leite Alfabetizaccedilatildeo em ciclos de formaccedilatildeo e desenvolvimento humano um estudo de caso 2009 94 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Goiaacutes Goiacircnia 2009

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SOUZA Rosa Faacutetima de Templos de civilizaccedilatildeo a implantaccedilatildeo da escola primaacuteria graduada no Estado de Satildeo Paulo (1890-1910) Satildeo Paulo Fundaccedilatildeo Editora da Unesp 1998 SOUZA Terezinha Fernandes Martins de Alfabetizaccedilatildeo na escola primaacuteria em Diamantino ndash Mato Grosso (1930 a 1970) 2006 260 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Instituto de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Mato Grosso Cuiabaacute 2006 STICKEL Erico Joatildeo Siriuba Uma Pequena Biblioteca Particular subsiacutedios para o Estudo da Iconografia no Brasil Satildeo Paulo EDUSP 2004 SUCUPIRA Newton O ato adicional de 1834 e a descentralizaccedilatildeo da educaccedilatildeo In FAacuteVERO Osmar (Org) Educaccedilatildeo nas Constituintes Brasileiras 1823-1988 Campinas Autores Associados 1996 TAMBARA Elomar Trajetoacuterias e natureza do livro didaacutetico nas escolas de ensino primaacuterio no seacuteculo XIX no Brasil Histoacuteria da Educaccedilatildeo ASPHEFaEUFPel Pelotas v 11 p 25-52 abril de 2002 ________ Livros de leitura nas escolas de ensino primaacuterio no seacuteculo XIX no Brasil In REUNIAtildeO DA ANPED 26ordf 2003 Poccedilos de Caldas Disponiacutevel em ltwww26reuniao anpedorgbrtrabalhoselomarantoniotambarartfgt Acesso em 25 de maio de 2018 ________ Da Leitura do Catecismo agrave Catequizaccedilatildeo da leitura - O catecismo como texto de leitura na escola primaacuteria no Brasil no seacuteculo XIX In SIMPOacuteSIO NACIONAL HISTOacuteRIA GUERRA E PAZ XXIII 2005 Londrina Anais do XXIII Simpoacutesio Nacional Histoacuteria Guerra e Paz Londrina ANPUH 2005 p 1-7 TEIXEIRA Aniacutesio Um educador Abiacutelio Cesar Borges Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos Rio de Janeiro v 18 nordm 47 p150-155 julhodezembro 1952 TEIXEIRA Giselle Baptista Livros Escolares no Seacuteculo XIX a Presenccedila de Pestalozzi In CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO III 2004 Curitiba Anais do II Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo a Educaccedilatildeo Escolar em Perspectiva Histoacuterica 2004 ________ O grande mestre da escola os livros de leitura para a escola primaacuteria da capital do Impeacuterio brasileiro 2008 237 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2008 TFOUNI Leda V Adultos natildeo alfabetizados o avesso do avesso Campinas Pontes 1988 TRINDADE Iole Maria Faviero A invenccedilatildeo de uma nova ordem para as cartilhas ser maternal nacional e mestra Queres Ler 2001 524 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre 2001

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VALDEZ Diane Histoacuteria da infacircncia em Goiaacutes seacuteculos XVIII e XIX Goiacircnia Editora Alternativa 2003 ________ Livros de leitura seriados para a infacircncia fontes para a histoacuteria da educaccedilatildeo nacional (18861930) Linhas (UDESC) Florianoacutepolis v 5 nordm 2 p 219-242 2004 ________ A representaccedilatildeo de infacircncia nas obras pedagoacutegicas do Dr Abilio Cesar Borges o baratildeo de Macahubas (1856-1891) 2006 282 p Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Campinas 2006 ________ Livros para o expediente das aulas primaacuterias na proviacutencia de Goiaacutes (1850-1890) In BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) Estudos de histoacuteria da educaccedilatildeo de Goiaacutes (1830-1930) Goiacircnia Editora da PUC Goiaacutes 2011 ________ ldquoPasseando pelos arredoresrdquo do livro e da leitura na obra Goiaz coraccedilatildeo do Brasil (1934) In SILVA Fabiany de Cassia Tavares MIRANDA Mariacutelia Gouvea de (Orgs) Escrita da Pesquisa em educaccedilatildeo no Centro-Oeste Campo Grande Editora Oeste 2016 ________ BARRA Valdeniza Maria Lopes da Histoacuteria da Educaccedilatildeo em Goiaacutes Estado da Arte Revista de Educaccedilatildeo Publica (UFMT) v 46 p 56 ndash 70 2012 ________ RODRIGUES Ana Flaacutevia OLIVEIRA Wanessa Andrade de Livros solicitados para a infacircncia escolar Proviacutencia de Goiaacutes (Seacuteculo XIX) 2010 In SIMPOacuteSIO DE ESTUDOS E PESQUISAS DA FACULDADE DE EDUCACcedilAtildeO XIX 2010 Goiacircnia ndash GO Anais do XIX Simpoacutesio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educaccedilatildeo Conhecimento e modernidade ndash velhos e novos desafios Goiacircnia UFG 2010 VEIGA Cynthia Greive Histoacuteria da educaccedilatildeo Satildeo Paulo Aacutetica 2001 VERIacuteSSIMO Eacuterico Olhai os liacuterios do campo Satildeo Paulo Ciacuterculo do Livro 1995 VIDAL Diana Gonccedilalves Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria (Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX) Campinas SP Autores Associados 2005 ________ Em que os estudos de natureza histoacuterica sobre o ensino da leitura e da escrita podem contribuir com as praacuteticas de alfabetizaccedilatildeo In MORTATTI Maria do Rosaacuterio Longo FRADE Isabel Cristina Alves da Silva (Orgs) Histoacuteria do ensino de leitura e escrita meacutetodos e material didaacutetico Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo Editora UNESP 2014 ________ FARIA FILHO Luciano Mendes de As lentes da histoacuteria estudos de histoacuteria e historiografia da educaccedilatildeo no Brasil Campinas Autores Associados 2005

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________ GVIRTZ Silvina O ensino da escrita e a conformaccedilatildeo da modernidade escolar Brasil e Argentina 1880-1940 Revista brasileira de educaccedilatildeo ANPEd n 8 p 13-30 maioagosto de 1998 VIEIRA Sofia L FREITAS Isabel M S de Poliacutetica educacional no Brasil Brasiacutelia Plano 2003 VIEIRA Zeneide Paiva Pereira Cartilhas de alfabetizaccedilatildeo no Brasil um estudo sobre trajetoacuteria e memoacuteria de ensino e aprendizagem da liacutengua escritA 2017 197 p Tese (Doutorado em Memoacuteria Linguagem e Sociedade) ndash Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Memoacuteria Linguagem e Sociedade Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Bahia 2017 VILLELA Heloiacutesa de Oliveira Santos A primeira escola normal do Brasil uma contribuiccedilatildeo agrave histoacuteria da formaccedilatildeo de professores 1990 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal Fluminense Niteroacutei 1990 ________ O mestre-escola e a professora In LOPES Eliane Marta Teixeira FARIA FILHO Luciano Mendes de VEIGA Cynthia Greive (Orgs) 500 anos de Educaccedilatildeo no Brasil 5ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Autecircntica 2000 ________ Da palmatoacuteria a lanterna maacutegica a Escola Normal da Proviacutencia do Rio de Janeiro entre o artesanato e a formaccedilatildeo profissional (1868-1876) 343 f 2002 Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) ndash Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2002 VOJNIAK Fernando O Impeacuterio das primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XIX 2012 328 p Tese (Doutorado em Histoacuteria) ndash Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2012 ________ O impeacuterio das primeiras letras uma histoacuteria da institucionalizaccedilatildeo da cartilha de Alfabetizaccedilatildeo no seacuteculo XIX Curitiba Editora Prismas 2014 VOLOacuteCHINOV Valentin Marxismo e filosofia da linguagem Traduccedilatildeo de Sheila Grillo Ekaterina Voacutelkova Ameacuterico Satildeo Paulo Editora 34 2017 WERNET Augustin A Igreja Paulista no seacuteculo XIX a reforma de D Antocircnio Joaquim de Melo (1851 ndash 1861) Satildeo Paulo Aacutetica 1987 WOOLF Virginia As ondas Satildeo Paulo Saraiva 2011 XAVIER Elizete Divina O pacto nacional pela alfabetizaccedilatildeo na idade certa implicaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas na formaccedilatildeo do professor alfabetizador 2017 67 p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Goiaacutes Centro de Pesquisa Aplicada agrave Educaccedilatildeo (CEPAE) 2017

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XAVIER Libacircnia Nacif Particularidades de um campo disciplinar em consolidaccedilatildeo balanccedilo do I Congresso Brasileiro de Histoacuteria da Educaccedilatildeo (RJ2000) In SOCIEDADE BRASILEIRA DE HISTOacuteRIA DA EDUCACcedilAtildeO (Org) Educaccedilatildeo no Brasil Campinas Autores Associados SBHE 2001

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FONTES ____________________________________

NOTA EXPLICATIVA para facilitar a consulta optamos por 1) referenciar as fontes de acordo com as seccedilotildees nas quais elas foram citadas na tese 2) apoacutes a menccedilatildeo do nome do autor ou autora do documento mencionamos o ano em que ele foi escrito eou publicado 3) ao final de cada referecircncia descrevemos o repositoacuterio ou acervo ou arquivo onde o documento foi finalizado Apresentamos tambeacutem ao final o item ldquoListas de expediente escolar e Mapas de Turmasrdquo em que destacamos todos os livros ou caixas do Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes onde encontramos algum documento dessa natureza

SUMAacuteRIO DAS FONTES

Fontes citadas na Apresentaccedilatildeo 313

Fontes citadas na Introduccedilatildeo 313

Fontes citadas na Seccedilatildeo 1 Goiaacutes na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo do Brasil 314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 2 A instruccedilatildeo primaacuteria em Goiaacutes no periacuteodo

imperial

314

Fontes citadas na Seccedilatildeo 3 Meacutetodos e livros para alfabetizaccedilatildeo de crianccedilas

em Goiaacutes

320

Fontes citadas na Seccedilatildeo 4 O meacutetodo Castilho na histoacuteria da alfabetizaccedilatildeo

em Goiaacutes

324

Fontes citadas na Seccedilatildeo 5 A produccedilatildeo didaacutetica brasileira na histoacuteria da

alfabetizaccedilatildeo em Goiaacutes

329

Fontes citadas nas Consideraccedilotildees Finais 334

Listas de Expediente Escolar e Mapas de Turmas 334

313

FONTES CITADAS NA APRESENTACcedilAtildeO BRASIL [2017] Base Nacional Comum Curricular Brasiacutelia MEC CONSED UNDIME 2017 BRASIL [2019] Decreto nordm 9765 de 11 de abril de 2019 Institui a Poliacutetica Nacional de Alfabetizaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2019-20222019decretoD9765htmgt Acesso em 01 de junho de 2019 JESUacuteS Leodegaacuteria de [1946] Goiaz Revista de Educaccedilatildeo e Sauacutede Goiacircnia ano 14 nordm 27-28 p 58 junhojulho 1946 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL [1916] Annuario Estatistico do Brazil 1ordm anno (1908 ndash 1912) Volume I (Territorio e Populaccedilatildeo) Ministerio da Agricultura induacutestria e commercio Rio de Janeiro Typographia da Estatistica 1916 SILVA E SOUZA Luiz Antonio da [1872] Memoria sobre o descobrimento governo populaccedilatildeo e cousas mais notaveis da Capitania de Goyaz Revista Trimensal de Historia e Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro tomo XII 4ordm trimestre de 1849 p 429-510 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Joatildeo Ignacio da Silva 1872 FONTES CITADAS NA INTRODUCcedilAtildeO BRASIL [1834] Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 Coleccedilatildeo de Leis Impeacuterio do Brasil do ano de 1834 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1866 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1886a] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica de 1886 Acto de 2 de abril de 1886 reformando a Instrucccedilatildeo Publica da Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1893a] Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 Reformando a instrucccedilatildeo publica do Estado Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrpaginaver15549leis-ordinarias-1893gt Acesso em 01 de maio de 2018 GOIAacuteS [1893b] Decreto nordm 26 23 de dezembro de 1893 Regulamento da instrucccedilatildeo primaria do estado de Goyaz Goyaz Imp na Typ de Goyaz 1894 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1934] Decreto nordm 4349 de 26 de fevereiro de 1934 Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrgt Acesso em 01 de junho de 2018 MONTEIRO Ofeacutelia Soacutecrates do Nascimento [1934] Goiaz coraccedilatildeo do Brasil 1934 Acervo pessoal do autor

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FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 1 GOIAacuteS NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO DO BRASIL BRASIL [2001a] Programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores Guia do Formador moacutedulo 1 Brasiacutelia MEC Secretaria de Ensino Fundamental 2001a BRASIL [2001b] Programa de formaccedilatildeo de professores alfabetizadores documento de apresentaccedilatildeo Brasiacutelia MEC Secretaria de Ensino Fundamental 2001b FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 2 A INSTRUCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA EM GOIAacuteS NO PERIacuteODO IMPERIAL ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1861] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1861 pelo exm presidente da provincia Joseacute Martins Pereira de Alencastre Rio de Janeiro Typ Imperial e Constitucional de J Villeneuve e Comp 1861 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1862] Relatorio lido na abertura dAssembleacutea Legislativa de Goyaz pelo presidente da provincia o exmordm sr Joseacute Martins Pereira de Alencastre no dia 1ordm de julho de 1862 Goyaz Typ Provincial 1862 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALMEIDA Joseacute Ricardo Pires de [1889] Instruccedilatildeo Puacuteblica No Brasil (1500-1889) Traduccedilatildeo de Antonio Chizzoti Ed Criacutetica Maria do Carmo Guedes 2ordf ed Satildeo Paulo EDUC 2000 ALMEIDA [1860] Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixa 01 AZEVEDO Francisco Ferreira dos Santos [1842] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1842 o exm vice-presidente da mesma provincia Francisco Ferreira dos Santos Azevedo Goyaz Typ Provincial 1842 Center for Research Libraries Universidade de Chicago AZEVEDO Francisco Ferreira dos Santos [1843] Discurso com que o vice-presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da quinta legislatura da Assemblea Provincial no 1ordm de junho de 1843 Goyaz Typ Provincial 1843 Center for Research Libraries Universidade de Chicago AZEVEDO Joaquim Vicente de [30 de abril de 1869] Officio a Ernesto Augusto Pereira Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 BARAtildeO DEGERANDO [1839] Curso Normal para Professores de Primeiras Letras ou Direcccedilotildees Relativas a Educaccedilatildeo Physica Moral e intelectual nas Escolas Primarias Traduzido pelo Doutor Joatildeo Candido de Deos e Silva Nictheroy Typographia Nictheroy de M G de S Rego Praccedila Municipal 1839 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

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BRASIL [1827] Lei de 15 de outubro de 1827 Disponiacutevel em lthttpswww2 camaralegbrleginfedlei_sn1824-1899lei-38398-15-outubro-1827-566692-public acaooriginal-90222-plhtmlgt Acesso em 11 de junho de 2018 BRASIL [1834] Lei nordm 16 de 12 de agosto de 1834 Coleccedilatildeo de Leis Impeacuterio do Brasil do ano de 1834 Rio de Janeiro Typographia Nacional 1866 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 BRASIL [1879] Decreto nordm 7247 de 19 de abril de 1879 do Ministeacuterio do Impeacuterio Reforma o ensino primaacuterio e secundaacuterio no municiacutepio da Corte e o superior em todo o Impeacuterio Impeacuterio do Brasil de 1879 ndash Parte II Tomo XLII Rio de Janeiro Tipografia Nacional p 196-217 1879 BRASIL [1891] Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica dos Estados Unidos do Brasil de 1891 Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfedconsti1824-1899constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-publicacaooriginal-15017-plhtmlgt Acesso em 10 de maio de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1858] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1858 pelo exm presidente da provincia dr Francisco Januario da Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1858 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859a] Relatorio com que o exm sr dr Francisco Januario da Gama Cerqueira entregou a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz ao exmordm sr dr Antonio Manoel de Aragatildeo e Mello Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859b] Relatorio apresentado aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1859 pelo exm presidente dr Francisco Januario de Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CORREIO OFFICIAL [29 de fevereiro de 1840] Expediente da Presidencia Continuaccedilatildeo da segunda parte do Relatoacuterio do Sr Foggia Correio Official Goyaz nordm 251 29 de fevereiro de 1840 p 4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [10 de abril de 1858] Ofiacutecio de nordm 13 enviando a relaccedilatildeo dos moacuteveis para as escolas da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica 10 de abril de 1858 Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [18 de abril de 1858] Ofiacutecio enviando lista dos objetos para as escolas Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 CRUZ Guilherme Francisco [1886] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz aacute 8 de abril de 1886 pelo exm presidente da provincia dr Guilherme Francisco Cruz Goyaz Typ Provincial 1886 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CUNHA Antonio Augusto Pereira da [1857] Relatorio que ao exm sr vice-presidente dr Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira apresentou no acto de passar-lhe a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz o ex-president exmo sr dr Antonio Augusto Pereira da Cunha Goyaz Typ Goyazense 1857 Center for Research Libraries Universidade de Chicago DIAS Gonccedilalves A [1858] Diccionario da lingua Tupy chamada Lingua Geral dos indigenas do Brazil Lipsia F A Brockhays Livreiro de S M O Imperador do Brasil 1858 Disponiacutevel em lthttpwwwetnolinguisticaorgbibliodias-1858-diccionariogt Acesso em 10 de marccedilo de 2018 FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [1837] Discurso com que o presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da segunda legislatura da Assembleacutea Provincial no 1ordm de julho de 1837 Goyaz Typ Provincial 1837 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [14 de fevereiro de 1838] Estranhando severamente a Thomaz Antonio da Fonseca concorrer a um batuque Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 FLEURY Luiz Gonzaga de Camargo [1838] Discurso com que o presidente da provincia de Goyaz fez a abertura da primeira sessatildeo ordinaria da segunda legislatura da Assemblea Provincial no 1ordm de julho de 1838 Goyaz Typ Provincial 1838 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FONSECA Luis Antonio da [12 de setembro de 1869] Ofiacutecio enviado ao Conego Joaquim Vicente de Azevedo Digno Inspector Geral da Instrucccedilatildeo Publica desta Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1835-1839] Livro de Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191

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GOIAacuteS [1837] Resoluccedilaotilde nordm 17 de 4 de Setembro de 1837 Correio Official Goyaz Typographia Provincial 14 de outubro de 1837 p 3-4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1846] Lei nordm 9 de 17 de junho de 1846 Crecirca o Lyceo da Proviacutencia de Goyaz In Livro da Lei Goiana Goiaacutes Typograacutephia Provincial 1846 GOIAacuteS [1855] Regulamento de 30 de julho de 1855 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa caixa nordm 108 GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1858-1873] Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1884] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica ndeg 3397 Acto de 9 de abril de 1884 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes

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GOIAacuteS [1886a] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica de 1886 Acto de 2 de abril de 1886 reformando a Instrucccedilatildeo Publica da Provincia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1886b] Ato nordm 3856 de 18 de janeiro de 1886 Regulamento para o serviccedilo da catechese na provincia de Goyaz Goyaz Typographia Provincial 1886 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1886c] Ato nordm 3905 de 16 de marccedilo de 1886 Regulamento da Typograacutephia Provincial de Goacuteiaz Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1887] Acto nordm 4148 de 11 de fevereiro de 1887 Regulamento para a Instrucccedilatildeo Primaria da Provincia Goyaz Typografia Provincial 1887 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1888] Acto de 7 de janeiro de 1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1893a] Lei nordm 38 de 31 de julho de 1893 Reformando a instrucccedilatildeo publica do Estado Disponiacutevel em lthttpwwwcasacivilgogovbrpaginaver15549leis-ordinarias-1893gt Acesso em 01 de maio de 2018 GOIAacuteS [1893b] Decreto nordm 26 23 de dezembro de 1893 Regulamento da instrucccedilatildeo primaria do estado de Goyaz Goyaz Imp na Typ de Goyaz 1894 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOMES Antonio Joaquim da Silva [1851] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1851 o exm presidente da mesma provincia doutor Antonio Joaquim da Silva Gomes Goyaz Typ Provincial 1851 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOMES Antonio Joaquim da Silva [1852a] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1852 o exm presidente da provincia doutor Antonio Joaquim da Silva Gomes Goyaz Typ Provincial 1852 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOMES Antonio Joaquim da Silva [1852b] Relatorio com que o ex-presidente da provincia de Goyaz o exmordm sr Antonio Joaquim da Silva Gomes entregou a presidencia da mesma ao seo sucessor o exmordm sr Doutor Francisco Mariani Goyaz Typ Provincial 1852 Center for Research Libraries Universidade de Chicago JARDIM Joseacute Rodrigues [1835] Relatoacuterio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1835 o exm presidente Joze Rodrigues Jardim da mesma provincia Meyaponte Typ Provincial 1835 Center for Research Libraries Universidade de Chicago

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JARDIM Joseacute Rodrigues [19 de julho de 1836] Ofiacutecio de 19 de julho agrave Joaquim Joseacute da Silva Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 JARDIM Joseacute Rodrigues [23 de janeiro de 1837] Ofiacutecio de 23 de janeiro de 1837 agrave Zacaria Antonio dos Santos Registro de ofiacutecios e ordens expedidas pelo governo provincial a diversos ndash 1835-1839 In Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 191 JARDIM Joseacute Rodrigues [1841] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1841 o exm vice-presidente na mesma provincia Joze Rodrigues Jardim Goyaz Typ Provincial 1841 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MACHADO Antonio Candido da Cruz [1854] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1854 o presidente da provincia Antonio Candido da Cruz Machado Goyaz Typ Provincial 1854 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MACHADO Eduardo Olimpio [1850] Falla que recitou o prsidente [sic] da provincia de Goyaz o doutor Eduardo Olimpio Machado nabertura da Assemblea Legislativa da mesma provincia em o 1ordm de maio de 1850 Goyaz Typ Provincial 1850 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MARIANI Francisco [1853] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1853 o exm presidente da provincia doutor Francisco Mariani Goyaz Typ Provincial 1853 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MASCARENHAS Joseacute de Assis [1839] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1839 o exm presidente da mesma provincia d Joze de Assiz Mascarenhas Goyaz Typ Provincial 1839 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MASCARENHAS Joseacute de Assis [1845] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1845 o exm presidente da mesma provincia dr Jose de Assiz Mascarenhas Goyaz Typ Provincial 1845 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MATUTINA MEYAPONTENSE [29 de julho de 1830] Artigos de officio concelho geral da provincia Goyaz 14 de janeiro de 1830 continuaccedilaotilde do N antecedente Matutina Meyapontense Goyaz nordm 52 29 de julho de 1830 quinta-feira p 1 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013

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MATUTINA MEYAPONTENSE [12 de agosto de 1830] Artigos de Officio Concelho geral da provincia Goyaz 18 de janeiro de 1830 Matutina Meyapontense Goyaz nordm 58 12 de agosto de 1830 quinta-feira p 2 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013 MATUTINA MEYAPONTENSE [14 de agosto de 1830] Artigos de Officio Concelho geral da provincia Goyaz 18 de janeiro de 1830 33 sessaotilde ordinaria continuaccedilatildeo do N antecedente Matutina Meyapontense Goyaz nordm 59 14 de agosto de 1830 saacutebado p 1 In DVD Matutina meyapontense Todas as ediccedilotildees do primeiro jornal de Goiaacutes em uacutenico CD 3ordf ediccedilatildeo Secult ndash Secretaria de Estado de Cultura AGEPEL IPHAN 2013 PEREIRA Ernesto Augusto [1869] Relatorio que o exm sr dr Ernesto Augusto Pereira presidente da provincia de Goyaz leu na abertura da Assembleacutea Legislativa da mesma provincia a 1ordm de junho de 1869 Goyaz Typ Provincial 1869 Center for Research Libraries Universidade de Chicago RAMALHO Joaquim Ignaacutecio [1846] Relatorio que aacute Assemblea Legislativa de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1846 o exm presidente da mesma provincia doutor Joaquim Ignacio Ramalho Goyaz Typ Provincial 1846 Center for Research Libraries Universidade de Chicago SILVEIRA Jozeacute Manuel da [1856] Correspondecircncia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixa 01 SIMOtildeES Firmino [1888] Relatorio 20 de fevereiro de 1888 Goyaz Typ Provincial 1888 Center for Research Libraries Universidade de Chicago SIQUEIRA Joatildeo Bonifacio Gomes de [1867] Relatorio que o exm sr desembargador Joatildeo Bonifacio Gomes de Siqueira 1o vice-presidente da provincia de Goyaz leu na abertura da Assembleacutea Legislativa da mesma provincia no dia 1ordm de setembro de 1867 Goyaz Typ Provincial 1870 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 3 MEacuteTODOS E LIVROS PARA ALFABETIZACcedilAtildeO DE CRIANCcedilAS EM

GOIAacuteS A REGENERACcedilAtildeO Orgatildeo destinado aacute defesa do partido catholico 1875 [14 de marccedilo de 1875] A Regeneraccedilatildeo oacutergatildeo destinado aacute defesa do partido catholico Beleacutem do Paraacute anno II nordm 91 domingo 14 de marccedilo de 1875 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ABBADE FLEURY [1846] Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde composto em francez Traduzido em portuguecircs de ordem do governo imperial por Joaquim Joseacute da Silveira 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Bintot 1846 Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018

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ASSIS Antero Ciacutecero de [17 de janeiro de 1872] Officio nordm 24 de 17 de janeiro de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 AZEVEDO Joaquim Vicente de [4 de setembro de 1865] Na mesma data [ilegiacutevel] enviando trinta e seis escriptas dos alunos de instrucccedilatildeo primaria desta capital Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 BRANDAtildeO Pedro Luis Xavier Brandatildeo [26 de marccedilo de 1877] Informaccedilatildeo a cerca do fornecimento de objeto pordf a escola do sexo masculino de Villa Flores Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 BRANDAtildeO Pedro Luiz Xavier [6 de abril de 1875] Informando acerca do pedido dos objectos para a Professora [ilegiacutevel] de Palma reclama pordf respectiva escola Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 CASTILHO Antonio Feliciano de [1854] Diretorio para os senhores professores das escoacutelas primaria pelo metodo portuguez por A F Castilho Coimbra Imprensa da Universidade 1854 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 08 de fevereiro de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1858] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaria de 1858 pelo exm presidente da provincia dr Francisco Januario da Gama Cerqueira Goyaz Typ Goyazense 1858 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [1859a] Relatorio com que o exm sr dr Francisco Januario da Gama Cerqueira entregou a administraccedilatildeo da provincia de Goyaz ao exmordm sr dr Antonio Manoel de Aragatildeo e Mello Goyaz Typ Goyazense 1859 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CIVILISACcedilAtildeO Periodico Hebdomadario oacutergatildeo dos interesses catholicos [24 de maio de 1890] Catalogo das obras do Exm Sr Bispo do Paraacute Civilisaccedilatildeo Periodico Hebdomadario oacutergatildeo dos interesses catholicos Maranhatildeo anno XI nordm 501 saacutebado 24 de maio de 1890 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO OFFICIAL [26 de abril de 1884] Noticiario Installaccedilatildeo da Escola Normal Correio Official Goyaz 26 de abril de 1884 p 2-3 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [20 de marccedilo de 1858] Coacutepia do relatoacuterio enviado aacute presidecircncia em 20 de marccedilo de 1858 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 FLEURY Joatildeo Augusto de Paacutedua [21 de outubro de 1866] Secretaria drsquoinstruccedilatildeo publica em Goyaz 21 drsquoOutubro de 1866 Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 FRANCcedilA Augusto Ferreira [1867] Relatorio com que o Exm Sr Dr Augusto Ferreira Franccedila Presidente da Provincia de Goyaz passou a administraccedilatildeo da mesma ao Exm Sr Vice-presidente Desembargador Joatildeo Bonifaacutecio Gomes de Siqueira em 29 de abril de 1867 Goyas Typographia Provincial 1867 Center for Research Libraries Universidade de Chicago FRANCcedilA Augusto Ferreira [7 de junho de 1866] 1ordf secccedilatildeo 7 de junho de 1866 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 FRANKLIN Benjamin [18--] Sciencia do Bom Homem Ricardo ou meio de adquirir fortuna In MONTEVERDE Emilio Achilles Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo Lisboa Livraria Central de Gomes de Carvalho 18-- p 139-146 Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm26 6gt Acesso em 06 de maio de 2018 GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575

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GOIAacuteS [1874] Instruccedilatildeo Puacuteblica relatoacuterio Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 236 GOIAacuteS [1882] Resoluccedilatildeo Provincial nordm 676 de 03 de agosto de 1882 Crecirca no Lyceo uma escola normal para a preparaccedilatildeo de professores de instruccedilatildeo primaacuteria Correio Official Goyaz 16 de setembro de 1882 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1884] Regulamento da Instrucccedilatildeo Publica ndeg 3397 Acto de 9 de abril de 1884 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1886a] Ato nordm 3905 de 16 de marccedilo de 1886 Regulamento da Typograacutephia Provincial de Goacuteiaz Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1930] Programma de Ensino para as Escolas Primarias 1930 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG LACERDA Joaquim Maria de [sd] Novo Exposito Portuguez ou Methodo Facil para aprender a ler o Portuguez tanto a letra impressa como a manuscripta composto para uso das escolas brasileiras 9ordf ediccedilatildeo (muito melhorada e augmentada) Livraria Garnier sd Acervo pessoal do autor LAGE Bernardino da Fonse [1924] Metodologia especial a liacutengua e a literatura portuguesa na educaccedilatildeo primaacuteria Lisboa Porto Coimbra LVMEN 1924 LOPES Antonio de Castro [1862] Ilmo Exmo Srn~ Presidente da Provincia de Goyaz Nordm 29 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 144 MIDOSI Luiacutes Francisco [1831] O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna Londres R Greenlaw 1831 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 MONTEVERDE Emilio Achilles [18--] Methodo Facillimo para aprender a ler cujo tiacutetulo completo eacute Methodo Facillimo para aprender a ler tanto a letra redonda como a manuscripta no mais curto espaccedilo de tempo 16ordf ediccedilatildeo Lisboa Livraria Central de Gomes de Carvalho 18--Biblioteca Brasiliana Guita e Joseacute Mindlin na Universidade de Satildeo Paulo Disponiacutevel em lthttpsdigitalbbmuspbrhandlebbm2 66gt Acesso em 06 de maio de 2018 NOVO ALFABETO PORTUGUEZ DIVIDIDO POR SYLLABAS COM OS PRIMEIROS ELEMENTOS DA DOUTRINA CHRISTA E O METHODO DE OUVIR E AJUDAR Agrave MISSA [1785] Lisboa Officina de Simatildeo Thaddeo Ferreira 1785 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 08 de fevereiro de 2018 PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1871] Carta para o exercicio da leitura raacutepida pelo methodo abreviado denominado Bacadafaacute Rio de Janeiro Tip De Pinheiro amp C 1871 Acervo pessoal da Professora Giselle Baptista Teixeira

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PRIMO JARDIM Feliciano [1855] Copia Ilmordm e Exmordm Senr~ Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 RENAULT Victor [1875] Methodo facil para aprender a ler em 15 liccedilotildees 4ordf ediccedilatildeo ilustrada com numerosas estampas Rio de Janeiro BL Garnier Livreiro-Editor Paris E Belhatte 1875 Repositoacuterio Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina Disponiacutevel em lthttpsrepositorioufscbrhandle123456789100353gt Acesso em 18 de maio de 2019 ROSA Raviolindo [ilegiacutevel] [06 de marccedilo de 1869] Officio de 06 de marccedilo de 1869 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 188 SANTOS Theobaldo Miranda [1954] Manual do professor primaacuterio 3ordf ediccedilatildeo V 11 Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1954 SANTOS Theobaldo Miranda [1958] Manual do professor primaacuterio 6ordf ediccedilatildeo V 11 Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1958 SERRA D Theodora Ledom [1873] Pedidos da Professora de Palma In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG SIQUEIRA Joatildeo Bonifacio Gomes de [27 de fevereiro de 1871] N 15 27 de fevrordm de 1871 1ordf Secccedilatildeo Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 THESOURARIA DA FASENDA DA PROVINCIA DE GOYAS [3 de setembro de 1874] Informaccedilatildeo aacute respeito drsquoobjectos drsquoexpediente pordf a escola do sexo masculino do Porto Imperial Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ [14 de fevereiro de 1859] Relaccedilatildeo dos objetos que satildeo nesta data entregues ao Sem Inspector Geral Interino de Instrucccedilatildeo Publica em virtude da Portaria do Exmo Governo da Provincia sob Nordm 33 data de 5 do corrente mez In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG VITERBO Sousa [1924] O movimento tipograacutefico em Portugal no seacuteculo XVI apontamento para a sua histoacuteria Coimbra Imprensa da Universidade 1924 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lt httppurlpt188gt Acesso em 02 de junho de 2019 FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 4 O MEacuteTODO CASTILHO NA HISTOacuteRIA DA ALFABETIZACcedilAtildeO EM

GOIAacuteS ABBADE FLEURY [1846] Pequeno Cathecismo Historico contendo em compendio a Historia Sagrada e Doutrina Christatilde composto em francez Traduzido em portuguecircs de ordem do governo imperial por Joaquim Joseacute da Silveira 2ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Typographia de Bintot 1846 Biblioteca Digital da Cacircmara dos Deputados Disponiacutevel

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em lthttpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara22562gt Acesso em 12 de maio de 2018 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1861] Officio de 23 de maio de 1861 Livro de Correspondecircncias da Presidecircncia da Proviacutencia aos funcionaacuterios da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1847-1861 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [1862] Relatorio lido na abertura dAssembleacutea Legislativa de Goyaz pelo presidente da provincia o exmordm sr Joseacute Martins Pereira de Alencastre no dia 1ordm de julho de 1862 Goyaz Typ Provincial 1862 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de [16 de marccedilo de 1862] Officio nordm 19 de 16 de marccedilo de 1862 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 ALENCASTRE Joseacute Martins Pereira de 1862a [16 de marccedilo de 1862] Circular nordm 20 de 16 de marccedilo de 1862 Livro da Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica In Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 BA CORREIO MERCANTIL 1855 [11 de fevereiro de 1855] A nova estrela Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano XII nordm 41 domingo 11 de fevereiro de 1855 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) Goiacircnia UFG REHEG 2002 BRANDAtildeO Joatildeo Luis Henrique [30 de abril de 1859] Ofiacutecio nordm 23 em 30 de abril communicando ter posto a disposiccedilatildeo de Feliciano Primo Jardim tudo quanto depende da Inspectoria G I ensaio do methodo Castilho Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 BRASIL [1854] Decreto nordm 1331-A de 17 de fevereiro de 1854 Approva o Regulamento para a reforma do ensino primario e secundario do Municipio da Cocircrte Reforma Couto Ferraz Disponiacutevel em lthttpwww2camaralegbrleginfeddecret 1824-1899decreto-1331-a-17-fevereiro-1854-590146-publicacaooriginal-115292peh tmlgt Acesso em 01 de fevereiro de 2018 CARNEIRO Manoel Borges [1844] O mentor da mocidade ou cartas sobre educaccedilatildeo Lisboa Imprensa Nacional 1844 Disponiacutevel em Google Livros Acesso em 15 de marccedilo de 2018 CASTILHO Antonio Feliciano de [1853] Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever 2ordf ediccedilatildeo inteiramente refundida aumentada e ornada de um grande nuacutemero de vinhetas

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Lisboa Imprensa Nacional 1853 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [19 de marccedilo de 1859] 2ordf Secccedilatildeo Ofiacutecio nordm 12 tabela de distribuiccedilatildeo de utensis para as aulas primarias da provincia In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CERQUEIRA Francisco Januario de Gama [3 de maio de 1859] Seccedilatildeo nordm 27 Ofiacutecio enviado ao Inspector Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CORREIO MERCANTIL [03 de setembro de 1853] Uma escola de leitura repentina pelo Methodo Castilho Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano X nordm 246 saacutebado 03 de setembro de 1853 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [25 de janeiro de 1856] Notiacutecias diversas Correiro Mercantil Rio de Janeiro nordm 25 ano XIII sexta-feira 25 de janeiro de 1856 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [01 de setembro de 1853] Extracto de uma carta escripta no dia 2 de agosto de 1853 em Lisboa por um dos professores da Escola Normal do methodo de leitura repentina Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Exterior ano X nordm 244 quinta-feira 01 de setembro de 1853 p 1 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORUJA Antonio Alvares Pereira [1873] Liccedilotildees da historia do Brasil adaptadas a leitura das escolas 9ordf ediccedilatildeo com alguns aumentos e correccedilotildees Rio de Janeiro Typographia Esperanccedila 1873 Disponiacutevel emlthttpwww2senadolegbrbdsfitemi d242459gt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 COSTA E AZEVEDO Joseacute [1832] Liccedilotildees de instrucccedilatildeo elementar agraves suas filhas Maria Joanna e Maria Julia Liccedilotildees de Ler Rio de Janeiro Typographia Nacional 1832 Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [18 de marccedilo de 1859] Ofiacutecio nordm 7 em 18 de marccedilo propondo aposentadoria do Professor Geografia e Histoacuteria Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [13 de abril de 1858] Ofiacutecio nordm 17 em 13 de abril levando aprovaccedilatildeo de Sua Excia a tabela das qtas que devem ser distruibuiacutedas no corrente anno para expediente das aulas digo das escolas da provincia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397

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CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [29 de marccedilo de 1859] Ofiacutecio nordm 11 em 29 de marccedilo propondo Joatildeo Luis Henrique Brandatildeo para substituir Feliciano Primo Jardim na aula de Geographia e Historia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CRUS Felipe Antocircnio Cardoso de Santa [5 de abril de 1858] Ofiacutecio enviando relaccedilatildeo dos objetos que satildeo necessaacuterios para as escolas da proviacutencia Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 Center for Research Libraries Universidade de Chicago CUNHA Antonio Augusto Pereira da [1856] Relatorio apresentando a Assembleacutea Legislativa provincial de Goyaz na sessatildeo ordinaacuteria de 1856 pelo Exm Presidente da Provincia Dr Antonio Augusto Pereira da Cunha Goyaz Typographia Provincial 1856 Center for Research Libraries Universidade de Chicago GOIAacuteS [1835] Lei nordm 13 de 23 de junho de 1835 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) legislaccedilatildeo Goiacircnia UFG REHEG GOIAacuteS [1855] Resoluccedilatildeo nordm 5 de 6 de novembro de 1855 Aprova resolitaccedilatildeo do governo tamada em vinte e um de julho do corrente ano mandando a corte o professor de primeiras letras Feliciano Primo Jardim In Livro da Lei Goyana contem as leis e resoluccedilotildees da Assemblea Legislativa da provincia de Goyaz e as sessotildees ordinaacuterias de 1855 Tomo 21 Goiaz Typographia goyanense 1856 GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo - Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575

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GOIAacuteS [1873-1883] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 584 GOIAacuteS [1883-1885] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 762 GOIAacuteS [1885-1888] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica - Correspondecircncia para a Presidecircncia da Proviacutencia ndash 1885-1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 831 GOIAacuteS [1886] Secretaria de Governo - Instruccedilatildeo Puacuteblica (jandez) ndash 1886 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 843 JUSSIEU Laurent [1867] Historia de Simatildeo de Nantua ou O mercador de feiras 9ordf ediccedilatildeo correcta augmentada e ornada com oito estampas coloridas Paris Livraria de Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Disponiacutevel em lthttpsbooksgooglecomb rbooksid=Qd3tAAAAMAAJampprintsec=frontcoveramphl=pt-BRampsource=gbs_ge_summ ary_rampcad =0v=onepageampqampf=falsegt Acesso em 24 de fevereiro de 2019 MACHADO Antonio Candido da Cruz [1855] Relatorio que aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz apresentou na sessatildeo ordinaria de 1855 o exm presidente da provincia Antonio Candido da Cruz Machado Goyaz Typ Goyazense 1855 Center for Research Libraries Universidade de Chicago MARTINS J V CORREIO MERCANTIL [8 de setembro 1853] Tres novidades e a reimpressatildeo do methodo Castilho Correio Mercantil Rio de Janeiro Seccedilatildeo Publicaccedilotildees a pedido ano X nordm 251 quinta-feira 8 de setembro de 1853 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil MARTINS Joatildeo Vicente [1854] Cartilha de leitura repentina ou plaacutegio do Methodo de Castilho Rio de Janeiro Tipografia da viuacuteva Vianna Junior 1854 Acervo pessoal do autor MIDOSI Luiacutes Francisco [1831] O expositor portuguez ou rudimentos de ensino da lingua materna Londres R Greenlaw 1831 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt6487gt Acesso em 18 de maio de 2018 O TOCANTINS [08 de dezembro de 1855] Assemblea Provincial 38deg Sessaotilde ordinaria em 17 de Outubro de 1855 Presidencia do Sr Cardoso O Tocantins Goyaz nordm 69 08 de dezembro de 1855 p 1 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG O TOCANTINS [15 de dezembro de 1855] Aqui apresentamos a Synopse O Tocantins Goyaz nordm 70 15 de dezembro de 1855 p 4 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG

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O TOCANTINS [22 de dezembro de 1855] 47ordf Sessatildeo ordinaria em 27 de outubro de 1855 O Tocantins Goyaz nordm 71 22 de dezembro de 1855 p 2 In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) imprensa Goiacircnia UFG REHEG OLIVEIRA Joatildeo Alfredo Correcirca de [1872] Relatorio apresentado a Assembleia Geral da 4ordf sessatildeo da 14ordf legislatura pelo Ministro e Secretaacuterio drsquoEstado dos Negoacutecio do Imeacuterio Dr Joatildeo Alfredo Correcirca de Oliveira Rio de Janeiro Typografia Nacional 1872 Center for Research Libraries Universidade de Chicago PRIMO JARDIM Feliciano [1855] Copia Ilmordm e Exmordm Senr~ Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa Caixa nordm 123 RIO DE JANEIRO [25 de janeiro de 1856] Registro do Porto Diario do Rio de Janeiro Rio de Janeiro nordm 25 ano XXXV 25 de janeiro de 1856 p 5 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil THESOURARIA DAS RENDAS PRONVICIAES DE GOYAZ [14 de fevereiro de 1859] Relaccedilatildeo dos objetos que satildeo nesta data entregues ao Sem Inspector Geral Interino de Instrucccedilatildeo Publica em virtude da Portaria do Exmo Governo da Provincia sob Nordm 33 data de 5 do corrente mez In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG FONTES CITADAS NA SECcedilAtildeO 5 A PRODUCcedilAtildeO DIDAacuteTICA BRASILEIRA NA HISTOacuteRIA DA

ALFABETIZACcedilAtildeO EM GOIAacuteS A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de junho de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 11 24 de junho de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [18 de agosto de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 19 18 de agosto de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [6 de setembro de 1874] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro ano III nordm 36 6 de setembro de 1874 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [20 de outubro de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 28 20 de outubro de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de novembro de 1872] A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 33 24 de novembro de 1872 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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ABRIA [1847] Meacutethode de lecture sans eacutepellation Nouvelle eacutedition Paris Langlois et leclercq Libraires 1847 Disponiacutevel em lthttpsgallicabnffrark12148bpt6k636 9759dtexteImagegt Acesso em 1 de julho de 2019 ALAMBARY LUZ Joseacute Carlos A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [24 de junho de 1872] O ensino oficial no municipio neutro A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 11 24 de junho de 1872 p 81-82 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ALAMBARY LUZ Joseacute Carlos A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] Methodo de leitura Bacadafaacute A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 p 108 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ALMANAK ADMINISTRATIVO MERCANTIL E INDUSTRIAL DA CORTE E PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO [1865] Escola de D Maria Argentina de Aguiar Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e da Provincia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro Cada dos Editores-proprietaacuterios Eduardo amp Henrique Laemmert 1865 p 431 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil ASSIS Antero Ciacutecero de [02 de janeiro de 1875] Nordm 2 02 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 ASSIS Antero Ciacutecero de [17 de janeiro de 1872] Officio nordm 24 de 17 de janeiro de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 ASSIS Antero Ciacutecero de [16 de novembro de 1872] Nordm 206 16 de 9brordm de 1872 Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 ASSIS Antero Ciacutecero de [1873] Relatorio apresentado arsquo Assemblegravea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Drordm Antero Cicero de Assis Presidente de Provincia em o 1ordm de junho de 1873 Goyaz Typographia Provincial 1873 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [1874] Relatorio apresentado aacute Assemblea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Drordm Antero Cicero de Assis presidente da provincia em 1ordm de junho de 1874 Goyaz Typographia Provincial 1874 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [1875] Relatorio apresentado aacute Assembleacutea Legislativa Provincial de Goyaz pelo Exmordm Sr Dr Antero Cicero de Assis presidente da provincia em 1ordm de junho de 1875 Goyaz Typographia Provincial 1875 Center for Research Libraries Universidade de Chicago ASSIS Antero Ciacutecero de [19 de janeiro de 1875] Nordm 21 19 de janeiro de 1875 1ordf Secccedilatildeo Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica

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Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 AZEVEDO Conego Joaquim Vicente de [17 de setembro de 1880] Nordm 77 Inspetoria Geral da Instrucccedilatildeo Publica em Goyaz Livro de registro das correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 AZEVEDO Cocircnego Joaquim Vicente 1872 [21 de novembro de 1872] Em 21 de 9bro de 1872 Circular aos Inspectores Parochiaes da Prova Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1867a] Primeiro livro de leitura para uso da infancia brasileira composto pelo Dr Abiacutelio Cezar Borges Paris Livraria da Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1867b] Segundo livro de leitura para uso da infancia brasileira por Abilio Cezar Borges Paris Livraria de Vva J P Aillaud Guillard e Ca 1867 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1880] Vinte annos de propaganda contra o emprego da palmatoria e de outros meios aviltantes no ensino da mocidade Bruxelas Typographia e Litographia E Guyot 1880 Biblioteca do Arquivo Puacuteblico do Estado de Satildeo Paulo BORGES Abiacutelio Ceacutesar [1890] Terceiro livro de leitura para uso das escolas brasileiras 6ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Francisco Alves 1890 Acervo pessoal da Professora Diane Valdez BRITO Silvina Ermelinda Xavier de [1884] Programma do ensino pa a aula de instrucccedilatildeo primaria do sexo feminino anexo a Escola Normal In DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) expediente escolar Goiacircnia UFG REHEG CASTILHO Antonio Feliciano de [1853] Metodo Castilho para o ensino rapido e aprasivel do ler impresso manuscrito e numeraccedilatildeo e do escrever 2ordf ediccedilatildeo inteiramente refundida aumentada e ornada de um grande nuacutemero de vinhetas Lisboa Imprensa Nacional 1853 Biblioteca Nacional de Portugal Disponiacutevel em lthttppurlpt185gt Acesso em 07 de abril de 2018 CORREIO MERCANTIL [8 de novembro de 1860] Ensino rapido de leitura Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVII nordm 310 quinta-feira 8 de novembro de 1860 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [26 de maio de 1861] Injusticcedila Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVIII nordm 143 domingo 26 de maio de 1861 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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CORREIO MERCANTIL [16 de junho de 1861] Expediente da Camara dos Srs Deputados sessatildeo de 15 de junho de 1861 Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVIII nordm 164 domingo 16 de junho de 1861 p 1 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [19 de dezembro de 1861] Antonio Pinheiro de Aguiar e sua Sra D Maria Correio Mercantil Annuncios Rio de Janeiro nordm 335 quinta-feira 19 de dezembro de 1861 p 4 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil CORREIO MERCANTIL [21 de outubro de 1863] Bacadafa Correio Mercantil Publicaccedilotildees a pedido Rio de Janeiro nordm 289 quarta-feira 21 de outubro de 1863 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil COSTA E CUNHA Antonio Estevam A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [20 de outubro de 1872] O methodo de leitura denominado Bacadafaacute II A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 28 20 de outubro de 1872 p 241-242 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil FLEURY A A [1939] Livros Didarsquoticos Revista de Educaccedilatildeo Orgao da Diretoria Geral de Educaccedilatildeo Goiacircnia ano 3 nordm 9 p05-06 novembro e dezembro 1939 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes

GOIAacuteS [1869] Lei nordm 414 de 9 de novembro de 1868 Regulamento da Instruccedilatildeo Puacuteblica e Particular da Proviacutencia de Goiaacutes Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica - Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1879-1883] Livro de registro das correspondecircncias da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 JARDIM Joseacute Rodrigues [05 de fevereiro de 1875] Informando aacute respeito de uma proposta de livros que faz o Dr Abiacutelio Cesar Borges Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterios e Informaccedilotildees Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 JORNAL DO COMMERCIO [29 de agosto de 1863] Collegio do Bacadafaacute Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano XXXVIII nordm 238 saacutebado 29 de agosto de 1863 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil JORNAL DO COMMERCIO [23 de dezembro de 1867] Collegio Bacadafaacute Travessa das Flores em S Christovatildeo N B Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano 47 nordm 356 segunda-feira 23 de dezembro de 1867 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil

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MARTINS Eliacutesio Firmo Martins [23 de maio de 1889] Inst P de 23 de maio de 1889 N 44 Secretaria de Governo ndash Cadernos da Instruccedilatildeo Puacuteblica 1889 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 930 PAIXAtildeO Rodolpho G de [30 de setembro de 1891] Inst Publica nordm 188 governo do estado de Goyaz 30 de setembro de 1891 Instruccedilatildeo Puacuteblica 1889-1890 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 946 PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1871] Carta para o exercicio da leitura raacutepida pelo methodo abreviado denominado Bacadafaacute Rio de Janeiro Tip De Pinheiro amp C 1871 Acervo pessoal da Professora Giselle Baptista Teixeira PINHEIRO DE AGUIAR Antonio [1877] Bacadafaacute ou Methodo de Leitura Abreviada Rio de Janeiro Typ de Pinheiro amp C 1877 Acervo pessoal da Professora Francisca Izabel Pereira Maciel PINHEIRO DE AGUIAR Antonio A INSTRUCCcedilAtildeO PUBLICA [14 de julho de 1872] Methodo de leitura raacutepido denominado Bacadafaacute A Instrucccedilatildeo Publica Folha Hebdomadaria Rio de Janeiro nordm 14 14 de julho de 1872 p 108-109 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [27 de setembro de 1859] Attenccedilatildeo Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVL nordm 264 terccedila-feira 27 de setembro de 1859 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [19 de julho de 1860] Facto desagradaacutevel Correio Mercantil Rio de Janeiro ano XVII nordm 199 quinta-feira 19 de julho de 1860 p 3 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio CORREIO MERCANTIL [9 de setembro de 1861] Para o ilustrado publico Correio Mercantil Publicaccedilotildees a pedido Rio de Janeiro ano VXIII nordm 235 segunda-feira 9 de setembro de 1861 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR Antonio JORNAL DO COMMERCIO [22 de janeiro de 1862] Instrucccedilatildeo primaria Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano XXXVII nordm 22 quarta-feira 22 de janeiro de 1862 p 2 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PINHEIRO DE AGUIAR JORNAL DO COMMERCIO [28 de abril de 1886] Escola dos Sete Passos Jornal do Commercio Rio de Janeiro ano 64 nordm 117 quarta-feira 28 de abril de 1886 p 6 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil PLATAFORMA HEacuteLIO GRAVATAacute Pinheiro de Aguiar Disponiacutevel em lthttpwwwsiaa pmculturamggovbrmodulesgravata_brtdocsphotophplid=55849gt Acesso em 25 de junho de 2019 Arquivo Puacuteblico Mineiro

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RIO DE JANEIRO [1862] Annexos do relatorio do Ministerio do Imperio apresentado aacute Assembleacutea Geral na 2ordf sessatildeo da 11ordf legislatura Rio de Janeiro Typographia Universal de Laemmert 1862 Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil SPINOLA Aristides de Souza [1880] Relatorio apresentado eplo Illm e Exm Sr Dr Aristides de Souza Spinola presidente da Proviacutencia agrave Assembleacutea L Provincial de Goyaz no dia 1ordm de marccedilo de 1880 Goyaz Typographia Provincial 1880 FONTE CITADA NAS CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS GOIAacuteS [1856] Regulamento sobre a Instrucccedilatildeo Primaria de 1ordm de dezembro de 1856 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa de Regulamentos ndash Goiaacutes LISTAS DE EXPEDIENTE ESCOLAR E MAPAS DE TURMAS BARRA Valdeniza Maria Lopes da (Org) DVD Coleccedilatildeo de Documentos de Histoacuteria da Educaccedilatildeo de Goiaacutes (vol 01) Goiacircnia UFG REHEG 2002 GOIAacuteS [1847-1861] Secretaria de Governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia da Proviacutencia aos funcionaacuterios da Instruccedilatildeo Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 264 GOIAacuteS [1858-1868] Livro de Registro de Correspondecircncias da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica para a presidecircncia ndash 1858-1868 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 397 GOIAacuteS [1858-1873] Registros Geral de Ofiacutecios da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Primaacuteria ndash 1858-1873 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 402 GOIAacuteS [1862-1871] Secretaria do governo ndash Correspondecircncia da Presidecircncia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1862-1871 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 436 GOIAacuteS [1868-1871] Secretaria de Governo ndash Registro dos Ofiacutecios dirigidos ao Governo Provincial pela Secretaria da Instruccedilatildeo Publica ndash 1868-1871 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 491 GOIAacuteS [1871-1873] Registro dos Ofiacutecios dirigidos agrave Presidecircncia da Proviacutencia pela Secretaria de Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 528 GOIAacuteS [1871-1879] Livro 3ordm da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash 1871-1879 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 529 GOIAacuteS [1873-1874] Secretaria de Governo ndash Ofiacutecios dirigidos pelo Governo da Proviacutencia para a Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 564

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GOIAacuteS [1873-1877] Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterios e Informaccedilotildees ndash 1873-1877 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 575 GOIAacuteS [1873-1879] Correspondecircncia da Secretaria da Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 581 GOIAacuteS [1873-1883] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 584 GOIAacuteS [1874-1876] Registro de Ofiacutecios da Presidecircncia da Proviacutencia dirigidos agrave Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 602 GOIAacuteS [1879-1883] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Ofiacutecio Correspondecircncia com os Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 690 GOIAacuteS [1880-1883] Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Registro de Correspondecircncia da Instruccedilatildeo Puacuteblica dirigidos agrave Presidecircncia da Proviacutenicia Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 704 GOIAacuteS [1881] Secretaria da Inspetoria da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Relatoacuterio Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 710 GOIAacuteS [1882] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 735 GOIAacuteS [1883-1885] Assentamento dos Inspetores Paroquiais ndash 1873-1883 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 762 GOIAacuteS [1883-1887] Inspetoria da Instruccedilatildeo Puacuteblica ndash Correspondecircncia da Inspetoria Geral de Instruccedilatildeo Puacuteblica com Inspetores Paroquiais Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 766 GOIAacuteS [1885-1888] Inspetoria Geral da Instruccedilatildeo Puacuteblica - Correspondecircncia para a Presidecircncia da Proviacutencia ndash 1885-1888 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 831 GOIAacuteS [1886] Secretaria de Governo - Instruccedilatildeo Puacuteblica (jandez) ndash 1886 Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Manuscrita Datilografada e Impressa nordm 843 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Itumbiara ndash Caixas 01 02 03

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GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Pirenoacutepolis ndash Caixas 01 02 03 e 04 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Caixa dos Municiacutepios Goianos Cidade de Goiaacutes ndash Caixas 02 03 04 05 e 06 GOIAacuteS Arquivo Histoacuterico Estadual de Goiaacutes Documentaccedilatildeo Avulsa caixas nordm 34 (1842) nordm 40 (1844) nordm 83 (1851) nordm 89 (1852) nordm 111 (1856) nordm 116 (1857) nordm 123 (1858) nordm 128 (1859) nordm 133 (1860) nordm 138 (1861) nordm 144 (1862) nordm 150 (1863) nordm 157 (1864) nordm 163 (1865) nordm 171 (1866) nordm 178 (1867) nordm 184 (1868) nordm 188 (1869) nordm 195 (1870) nordm 204 (1871) nordm 212 (1872) nordm 223 (1873) nordm 236 (1874) nordm 247 (1875) nordm 255 (1876) nordm 274 (1878) nordm 285 (1879) nordm 294 (1880) nordm 333 (1884) nordm 347 (1885)

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