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1 Superintendência Regional no Estado do Amazonas JULGAMENTO DE RECURSO TERMO: DECISÓRIO PROCESSO nº: 50601.001038/2019-17 REFERÊNCIA: PREGÃO ELETRÔNICO nº 215/2019-01 OBJETO: CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO (CONSERVAÇÃO/RECUPERAÇÃO) NA RODOVIA BR-319/AM; TRECHO: ENTRONCAMENTO BR-174/AM (A) (PRF (MANAUS/AM)) DIVISA AM/RO; SUBTRECHO: FIM DA TRAVESSIA DO RIO IGAPÓ AÇU ENTRONCAMENTO BR-174/AM (B)/AM-364; SEGMENTO: KM 261,10 KM 346,20, O QUE CORRESPONDE A UMA EXTENSÃO DE 85,10 KM, CÓDIGO SNV2019: 319BAM0120 319BAM0130, A CARGO DO DNIT, SOB A COORDENAÇÃO DA SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DNIT/AM, RECORRENTE: LCM CONSTRUÇÃO E COMÉRCIO S.A. E CASTILHO ENGENHARIA E EMPREENDIMENTOS S/A. O Pregoeiro do DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES DNIT, nos Estados do Amazonas, no exercício de suas atribuições designadas na Portaria 4840, de 15 de julho de 2019, e por força dos art. 4º, incisos XVIII e XX da Lei nº 10.520 de 17 de julho de 2002: (...) Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos interessados e observará as seguintes regras: XVIII - declarado o vencedor, qualquer licitante poderá manifestar imediata e motivadamente a intenção de recorrer, quando lhe será concedido o prazo de 3 (três) dias para apresentação das razões do recurso, ficando os demais licitantes desde logo intimados para apresentar contrarrazões em igual número de dias, que começarão a correr do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata dos autos

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1

Superintendência Regional no Estado do Amazonas

JULGAMENTO DE RECURSO

TERMO: DECISÓRIO

PROCESSO nº: 50601.001038/2019-17

REFERÊNCIA: PREGÃO ELETRÔNICO nº 215/2019-01

OBJETO: CONTRATAÇÃO DE EMPRESA PARA EXECUÇÃO DE SERVIÇOS DE

MANUTENÇÃO (CONSERVAÇÃO/RECUPERAÇÃO) NA RODOVIA BR-319/AM;

TRECHO: ENTRONCAMENTO BR-174/AM (A) (PRF (MANAUS/AM)) – DIVISA

AM/RO; SUBTRECHO: FIM DA TRAVESSIA DO RIO IGAPÓ AÇU –

ENTRONCAMENTO BR-174/AM (B)/AM-364; SEGMENTO: KM 261,10 – KM 346,20, O

QUE CORRESPONDE A UMA EXTENSÃO DE 85,10 KM, CÓDIGO SNV2019:

319BAM0120 – 319BAM0130, A CARGO DO DNIT, SOB A COORDENAÇÃO DA

SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DNIT/AM,

RECORRENTE: LCM CONSTRUÇÃO E COMÉRCIO S.A. E CASTILHO ENGENHARIA

E EMPREENDIMENTOS S/A.

O Pregoeiro do DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE

TRANSPORTES – DNIT, nos Estados do Amazonas, no exercício de suas atribuições

designadas na Portaria 4840, de 15 de julho de 2019, e por força dos art. 4º, incisos

XVIII e XX da Lei nº 10.520 de 17 de julho de 2002:

(...)

Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos

interessados e observará as seguintes regras:

XVIII - declarado o vencedor, qualquer licitante poderá manifestar imediata e

motivadamente a intenção de recorrer, quando lhe será concedido o prazo de 3 (três)

dias para apresentação das razões do recurso, ficando os demais licitantes desde logo

intimados para apresentar contrarrazões em igual número de dias, que começarão a

correr do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata dos

autos

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XX - a falta de manifestação imediata e motivada do licitante importará a

decadência do direito de recurso e a adjudicação do objeto da licitação pelo pregoeiro ao

vencedor;

art. 11, inciso VII do Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005:

(...)

Art. 11. Caberá ao pregoeiro, em especial:

(...)

VII - receber, examinar e decidir os recursos, encaminhando à autoridade

competente quando mantiver sua decisão;

e, subsidiariamente, do inciso II do art. 109 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993,

apresenta, para os fins administrativos a que se destinam suas considerações acerca

das razões do Recurso apresentado pelas Licitantes LCM CONSTRUÇÃO E

COMÉRCIO S.A. e CASTILHO ENGENHARIA E EMPREENDIMENTOS S/A., na data

de 27 de agosto de 2019, CONTRA SUA INABILITAÇÃO e HABILITAÇÃO DA TESCON

ENGENHARIA, respectivamente.

SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de procedimento licitatório na modalidade Pregão Eletrônico, regulado pelo

Edital n. 215/2019, publicado em 25/07/2019, visando a contratação de empresa para

execução de serviços de manutenção (conservação/recuperação) na Rodovia BR-

319/AM; trecho: entroncamento BR-174/AM (a) (PRF (Manaus/AM)) – divisa AM/RO;

subtrecho: fim da travessia do Rio Igapó Açu – entroncamento BR-174/AM (b)/am-364;

segmento: km 261,10 – km 346,20, o que corresponde a uma extensão de 85,10 km,

código snv2019: 319bam0120 – 319bam0130.

Nesse sentido, a LCM, interessada na execução das obras, avaliou as condições e

exigências estabelecidas no referido Edital e seus Anexos, elaborou sua proposta de

preço e levantou toda a documentação necessária para habilitação no certame.

No dia 13/08/2019, foi realizada Sessão Pública para divulgação das propostas e lances,

assim como prevê o art. 4º da Lei n. 10.520/2002 e item 6 do Edital, oportunidade na

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qual a LCM CONSTRUÇÕES S/A apresentou lance com valor mais vantajoso ao Erário

na importância de R$ 32.750.000,00 (trinta e dois milhões, setecentos e cinquenta mil

reais), razão pela qual prosseguiu-se à análise de sua documentação de habilitação.

Após a realização da referida análise, em 16/08/2019, a Equipe de Apoio ao Pregão,

nomeada pela Portaria nº 4.840 de 15/07/19, concluiu pela inabilitação da referida

empresa por não atender a exigências editalícias, especialmente quanto à execução

pretérita dos serviços de “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e

compactação mecânica - fornecimento e assentamento.” (item 5.1.b. do Termo de

Referência do Edital).

DAS ALEGAÇÕES DAS RECORRENTES

ALEGAÇÕES DA LCM CONSTRUÇÃO E COMÉRCIO

Preliminares

A LCM, surpresa com a referida decisão, identificou que o Pregoeiro se baseou na

Análise n. 1109/2019/SEMAN, proferida pela equipe de apoio aos pregoeiros, no qual foi

registrado que o atestado apresentado pela empresa comprova a execução do serviço

de “enrocamento de pedra jogada” quando, na realidade, exigiu-se o serviço de

“enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica -

fornecimento e assentamento”, que supostamente seriam divergentes no que tange à

execução e finalidade.

Quanto à execução, afirma-se que “o serviço de ‘Enrocamento com pedra de mão,

inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento’

apresenta maior complexidade, sendo necessário o uso de dois equipamentos (...)

enquanto o serviço de ‘Enrocamento de Pedra Jogada’ é totalmente manual, portanto de

menor complexidade”.

Ainda, quanto à finalidade, afirma-se que “o serviço de ‘Enrocamento com pedra de

mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento’

poderá ser utilizado como reforço do subleito, executado na plataforma da estrada,

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fazendo parte da estrutura do pavimento, enquanto o serviço de ‘Enrocamento de Pedra

Jogada’ é utilizado para proteger aterros ou estruturas do efeito da erosão”.

Deste modo, concluiu-se que os serviços seriam incompatíveis e, portanto, que o

atestado da LCM não seria apto a comprovar a experiência da empresa, ensejando, ao

final, a desclassificação da Recorrente.

Não obstante, conforme restará demonstrado, a Recorrente afirma que comprovou a

plena capacidade de executar os serviços requisitados, em função, não somente da

compatibilidade entre o serviço indicado no atestado e o exigido no Edital, como também

pela ampla experiência da empresa no manejo dos equipamentos exigidos no

enrocamento mecanizado.

Não observância aos princípios da Isonomia, Razoabilidade, busca da Proposta

mais Vantajosa e Formalismo Moderado.

A Recorrente alega ainda em seu recurso:

Além disso, verifica-se que a documentação da segunda colocada indicou a execução

pretérita de serviço similar ao comprovado pela LCM, inexistindo justificativa para

habilitação da 2ª colocada e não da Recorrente.

Nesse sentido, considerando a regularidade da proposta e da documentação de

habilitação da LCM, não há que se falar em sua inabilitação, razão pela qual faz-se

premente a reforma da decisão proferida.

É o que se passa a demonstrar.

II. REGULARIDADE DA DOCUMENTAÇÃO DE HABILITAÇÃO APRESENTADA – Da

inequívoca comprovação da expertise da Recorrente no serviço exigido no Edital

Como já dito, a proposta da LCM foi recusada por supostamente não atender ao item

5.1.1.b do Termo de Referência, sob a alegação de que o atestado/CAT do profissional

não é compatível e não comprova a execução serviço de "Enrocamento com pedra de

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mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento ≥

20.000,00 m³".

Sob a ótica do DNIT, o enrocamento de pedra jogada – cuja execução pretérita foi

comprovada pela LCM – possuiria finalidade diversa do enrocamento mecanizado, pois,

enquanto o primeiro se destinaria à proteção de aterros ou estruturas do efeito de

erosão, o segundo “poderá ser utilizado como reforço do subleito”.

Entretanto, a verdade é que ambos os serviços possuem a característica de promover a

drenagem de estruturas, seja de aterro ou de subleito, de tal forma que a comprovação

de experiência de enrocamento de pedra jogada implica, por consequência, a

demonstração da expertise da empresa na execução de sistemas de drenagem com

utilização de pedras.

Explica-se: como se sabe, o material pedroso é comumente utilizado como sistema de

drenagem em obras rodoviárias, já que, em função de suas características

granulométricas possibilita que a água escoe por ele, protegendo as demais estruturas

constantes no pavimento ou talude.

Inclusive, no Manual de Custos de Infraestrutura de Transportes - Volume 05 –

Materiais (SICRO), a pedra de mão (código M1097) – utilizada tanto no enrocamento

manual quanto mecanizado – foi conceituada como “rocha britada utilizada em serviços

como (...) drenagem”, confirmando a natureza drenante do referido material.

Nesse contexto, o que se verifica é que a LCM, ao comprovar a execução de

enrocamento de pedra jogada, demonstra sua expertise em execução de sistemas de

drenagem que utilizam material pedroso, que é justamente o que se pretende executar

no presente caso.

Na realidade, a principal diferença entre os dois serviços é que o enrocamento com

pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica (listado no Edital), é

executado com a utilização de equipamentos (rolo compactador e trator de esteiras com

lâmina) e o enrocamento de pedra jogada é executado manualmente.

Não obstante, por meio dos atestados apresentados pela LCM, verifica-se a

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comprovação da expertise da empresa no manuseio de ambos os equipamentos

utilizados no enrocamento mecanizado, o que reforça, não somente a experiência na

execução de sistemas de drenagem com pedra, como também a qualificação da

Recorrente na utilização dos equipamentos exigidos.

Isso porque, no atestado constante às f. 46/51 da documentação de habilitação (que

trata da execução, para o DNIT, de serviços de manutenção na BR364RO), a LCM

comprovou a experiência no serviço de “Recomposição mecanizada de aterro”, o qual,

como se depreende da composição do SICRO, demanda a utilização justamente de

trator de esteiras com lâmina e rolo compactador, mesmos equipamentos exigidos para

a execução do enrocamento mecanizado.

Inclusive, a recomposição mecanizada de aterro demanda a utilização de praticamente

as mesmas técnicas executivas do enrocamento mecanizado, possuindo metodologia

igual ao serviço de enrocamento mecanizado, devendo o material ser espalhado pelo

trator e compactado pelo rolo.

Na verdade, a recomposição mecanizada de aterro possui complexidade até mesmo

superior ao enrocamento mecanizado, à medida em que necessita que seja regularizada

a umidade do material utilizado.

Ora, se a LCM (i) comprovou a execução pretérita de sistemas de drenagem com a

utilização de pedra de mão, (ii) demonstrou sua inequívoca expertise no manejo dos

equipamentos previstos no enrocamento mecanizado e, até mesmo, na execução de

serviço de complexidade superior à exigida no Edital, não há dúvidas acerca da

capacidade da empresa em executar o trabalho exigido no presente caso, qual seja, o

enrocamento mecanizado.

Como se sabe, o art. 30, §3º da Lei n. 8.666/93 – aplicável subsidiariamente aos

pregões conforme art. 9º da Lei n. 10.520/2002 – prevê que “será sempre admitida a

comprovação de aptidão através de certidões ou atestados de obras ou serviços

similares de complexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior.”

E é evidente que, por meio da análise, como um todo, do atestado apresentado pela

LCM, não há dúvidas de que a Recorrente comprovou sua aptidão na execução de

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serviços similares aos exigidos no presente Edital, inexistindo, qualquer justificativa para

sua inabilitação.

Afinal, não pode a Administração Pública se ater a análise restrita e literal de um serviço

exigido e desconsiderar toda a expertise comprovada nos serviços constantes ao

atestado apresentado pela empresa caso, por meio de uma análise completa do referido

documento, seja possível concluir pela aptidão da licitante na execução do objeto

licitado.

É legítimo e prudente que a Administração Pública estabeleça exigências aptas a

evidenciar a execução anterior de objeto similar, analisando as documentações

apresentadas pelos particulares interessados. No entanto, de forma alguma essa

prerrogativa pode “ser utilizada para frustrar a vontade constitucional de garantir o mais

amplo acesso de licitantes”, principalmente quando comprovada a plena capacidade, por

um dos interessados, de execução o objeto licitado (JUSTEN FILHO, Marçal.

Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 15ª ed., São Paulo,

Dialética: 2012; pp. 525-6 – Comentários ao art. 30 da Lei de Licitações.).

Nesse aspecto, eventual manutenção na inabilitação da LCM representaria o alijamento

do certame de empresa com larga experiência nos serviços previstos no presente Edital

e com total – e comprovada! – condição de executar o objeto licitado com excelência e

qualidade.

O que se busca com a apresentação dos atestados é justamente a garantia de que o

particular a ser contratado possui experiência na área e que terá condições de executar

de forma adequada o objeto licitado, o que, como já dito, foi plenamente comprovado

pela LCM.

O cenário fica ainda mais grave considerando que a LCM apresentou a proposta mais

vantajosa ao erário, com desconto de mais de 20% em face do valor do orçamento. Ou

seja, se restou demonstrada a experiência da empresa em serviços similares ao exigido

no Edital e se sua proposta representou uma economia ao Erário na ordem de mais de

R$ 9 milhões, não se pode cogitar a inabilitação da empresa sob pena de inobservância

aos princípios da concorrência e da seleção da proposta mais vantajosa, garantidos no

âmbito constitucional e infraconstitucional.

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Como se sabe, o princípio da seleção da proposta mais vantajosa foi erigido pela

Constituição da República (art. 37, inc. XXI) e pela Lei de Licitações (art. 3°) como

basilar da licitação pública, segundo o qual se deve assegurar à Administração a

seleção de proposta economicamente mais vantajosa para esta última, tendo em vista o

regime jurídico a que se sujeita: da supremacia e indisponibilidade dos interesses

públicos.” (PRADO, Luiz Regis & CASTRO, Bruna Azevedo de. “Delito Licitatório e Bem

Jurídico-Penal: Algumas Observações”. Revista dos Tribunais, v. 957, p. 259 – 272, jul.

2015.)

Em outras palavras, a própria função da licitação é possibilitar a mais ampla disputa

possível, envolvendo-se o maior número possível de agentes capacitados, de modo que

seja garantida a busca das propostas mais vantajosas ao interesse público. Confira-se o

entendimento do Supremo Tribunal Federal – STF no âmbito da ADI 3070/RN:

A licitação é um procedimento que visa à satisfação do interesse público, pautando-se

pelo princípio da isonomia. Está voltada a um duplo objetivo: o de proporcionar à

Administração a possibilidade de realizar o negócio mais vantajoso --- o melhor negócio

--- e o de assegurar aos administrados a oportunidade de concorrerem, em igualdade de

condições, à contratação pretendida pela Administração. Imposição do interesse público,

seu pressuposto é a competição. Procedimento que visa à satisfação do interesse

público, pautando-se pelo princípio da isonomia, a função da licitação é a de viabilizar,

através da mais ampla disputa, envolvendo o maior número possível de agentes

econômicos capacitados, a satisfação do interesse público. A competição visada pela

licitação, a instrumentar a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração,

impõe-se seja desenrolada de modo que reste assegurada a igualdade (isonomia) de

todos quantos pretendam acesso às contratações da Administração.

(STF - ADI 3070 RN. Tribunal Pleno, min. Relator Eros Grau, Julgamento29 de

Novembro de 2007).

A manutenção da decisão que inabilitou a LCM representará, em última instância,

privilégio do formalismo excessivo em detrimento dos princípios constitucionais da busca

pela proposta mais vantajosa e da ampla competitividade em certames públicos. Esse é

o entendimento consolidado do Superior Tribunal de Justiça – STJ, reproduzido, ainda,

pelos Tribunais Estaduais, à exemplo do TJMG, no sentido de que formalismos

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excessivos não podem ser admitidos por comprometerem diretamente a finalidade

precípua da licitação, qual seja, busca pela proposta mais vantajosa (STJ. REsp

797170/MT, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em

17/10/2006, DJ 07/11/2006, p. 252 e TJMG -Apelação Cível 1.0518.13.020039-8/001,

Relator(a): Des.(a) Teresa Cristina da Cunha Peixoto, 8ª CÂMARA CÍVEL, julgamento

em 22/01/2015, publicação da súmula em 02/02/2015).

A necessidade de reforma da decisão que inabilitou a LCM da presente licitação fica

premente considerando que a documentação apresentada pela segunda colocada e

aceita pelo Pregoeiro não indicou a execução pretérita do enrocamento mecanizado,

mas sim a experiência da empresa em serviço similar ao comprovado pela LCM.

Explica-se: a segunda colocada - TESCON Engenharia LTDA. - apresentou atestado

comprovando a execução do serviço de “camada drenante com rachão (material

drenante especial)”, que consiste na colocação de material drenante em determinado

terreno por servente ou trator.

E justamente nesse sentido é o serviço de pedra de mão jogada – comprovada pela

Recorrente –, que consiste na colocação de material drenante (pedra) em um

determinado local por um servente. Ou seja, o serviço comprovado pela segunda

colocada é praticamente o mesmo que a LCM demonstrou em seu atestado, não

havendo justificativa para o Pregoeiro ter aceito o atestado da segunda colocada e não o

da LCM.

Trata-se, como se vê, de inobservância ao princípio da isonomia art. art. 37, XXI, da

Constituição da República e art. 3º da Lei n. 8666/93), segundo o qual as licitantes

devem ser tratadas de forma igualitária, cabendo à Administração fornecer as mesmas

oportunidades à todas empresas, sem privilegiar uma empresa em detrimento de outra.

Análise do Mérito

Como se sabe, as exigências feitas a título habilitatório limitar-se-ão, estritamente,

àquelas indispensáveis a garantir/atestar o domínio de conhecimento e capacidade

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técnica, do potencial contratado em cumprir as obrigações por ele a serem assumidas. A

assertiva é extraível do inc. XXI, do art. 37, da Constituição da República, verbis:

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,

compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação

pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com

cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições

efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as

exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do

cumprimento das obrigações (sem grifos no original).

O supracitado matiz constitucional, com todas as suas luzes, foi recriado pelas

disposições do art. 27 da Lei 8.666/93, verbis:

Art. 27. Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,

exclusivamente, documentação relativa a:

I - habilitação jurídica;

II - qualificação técnica;

III - qualificação econômico-financeira;

IV - regularidade fiscal.

V – regularidade fiscal e trabalhista;

VI – cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7º da Constituição

Federal (sem grifos no original).

Os artigos que a ele se seguem (28 ao 30), encerram idêntica diretriz: as exigências

neles contidas limitar-se-ão àquelas por eles enunciadas. Ressalvadas eventuais

imposições contidas em legislação especial. Tratando-se dos documentos que podem

ser exigidos para fins de comprovação de qualificação técnica, assim preceitua o art.

30 da Lei 8.666/93:

Art. 30 - A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

I - registro ou inscrição na entidade profissional competente;

II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e

compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da

licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal

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técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação,

bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se

responsabilizará pelos trabalhos;

III - comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os

documentos, e, quando exigido, de que tomou conhecimento de todas as

informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto

da licitação;

IV - prova de atendimento de requisitos previstos em lei especial, quando

for o caso (sem grifos no original).

§1º. A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo, no

caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados

fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente

registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências a:

I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu

quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de

nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade competente,

detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou

serviço de características semelhantes, limitadas estas exclusivamente às

parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licitação,

vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos;

§3º. Será sempre admitida a comprovação de aptidão através de certidões ou

atestados de obras ou serviços similares de complexidade tecnológica e

operacional equivalente ou superior.

Dentre as muitas exigências ali prescritas, destaca-se a possibilidade de exigir, a

título qualificação técnica o exame da capacidade técnica-profissional e

operacional dos licitantes. Enquanto a primeira encontra-se disciplinada no inc. I

do §1° do art. 30 e diz, pois, com a análise da expertise dos profissionais

indicados para a execução do objeto, a segunda, encartada no inc. II c/c §3° do

art. 30, refere-se à comprovação de que o licitante ostenta as condições exigidas

para executar o contrato.

A qualificação técnica operacional é um requisito que diz respeito à empresa que

pretende executar a obra ou serviço licitados. Neste sentido, veja-se a Súmula

263 do Tribunal de Contas da União (TCU), referencialmente: “Para a

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comprovação da capacidade técnico-operacional das licitantes, e desde que

limitada, simultaneamente, às parcelas de maior relevância e valor significativo

do objeto a ser contratado, é legal a exigência de comprovação da execução de

quantitativos mínimos em obras ou serviços.

Ao solicitar a comprovação anterior de serviço de complexidade equivalente ou

superior ao do objeto desta licitação a Administração agiu dentro dos preceitos legais,

pois limitou a comprovação sobre os serviços correspondentes às parcelas de maior

relevância e valor significativo do objeto.

De acordo com o Item 5.1 , alínea “b” do Termo de Referência, a Licitante deverá

comprovar a execução anterior de serviço equivalente ou superior ao “Enrocamento

com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e

assentamento”.

O serviço solicitado apresenta maior complexidade, sendo necessário o uso de dois

equipamentos, quais sejam, trator de esteira com lâmina e rolo compactador liso

autopropelido vibratório, enquanto o serviço de “Enrocamento de Pedra Jogada” é

totalmente manual, portanto de menor complexidade.

O serviço de “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e

compactação mecânica - fornecimento e assentamento” poderá ser utilizado como

reforço do subleito, executado na plataforma da estrada, fazendo parte da estrutura do

pavimento, enquanto o serviço de “Enrocamento de Pedra Jogada” é utilizado para

proteger aterros ou estruturas do efeito da erosão.

Fica claro a incompatibilidade entre o serviço solicitado e serviço comprovado pela

Recorrente. Como demonstrado, a divergência se dá tanto na execução como na

finalidade do serviço.

Esta matéria foi alvo do Relatório nº 201408580 do Ministério da Transparência,

Fiscalização e Controladoria Geral da União – CGU que apontou a incompatibilidade

técnica entre os serviços enrocamento de pedra jogada e o serviço de Enrocamento

com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e

assentamento.

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A própria Recorrente reconhece a diferença entre a complexidade dos serviços ao

afirmar em suas razões recursais: “Na realidade, a principal diferença entre os dois

serviços é que o enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e

compactação mecânica (listado no Edital), é executado com a utilização de

equipamentos (rolo compactador e trator de esteiras com lâmina) e o enrocamento

de pedra jogada é executado manualmente”(sem grifo no original).

Em sequência a recorrente alega que no corpo do mesmo atestado apresentado

consta o Serviço de Recomposição Mecanizada de Aterro, no qual compreende a

utilização do mesmo maquinário necessário à execução do serviço de enrocamento

com compactação.

Apesar de utilizar os mesmos equipamentos e técnicas semelhantes os serviços não

são compatíveis, pois a compactação de solo difere da compactação de pedras.

Desta forma não pode ser considerado como serviço similar ou tecnicamente superior.

No entanto, assiste razão à recorrente quando afirma que o Atestado apresentado pela

TESCON ENGENHARIA LTDA. é semelhante ao seu e que não atende aos requisitos

do Edital.

Ao reanalisar o atestado apresentado pela empresa até então habilitada, verificou-se

que o serviço é semelhante ao apresentado pela recorrente e, portanto, incompatível

com os serviços cuja a capacidade técnica deverá ser comprovada na presente

Licitação.

Sendo assim, em observância ao Princípio da Isonomia a TESCON ENGENHARIA

LTDA. deverá ser inabilitada.

O Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório consubstancia-se em “princípio

essencial cuja inobservância enseja a nulidade do procedimento. Além de mencionado

no art. 3º da Lei 8.666/93, ainda tem matizes arraigados no art. 41, segundo o qual: ‘a

Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha

estritamente vinculada”( DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20. ed.

São Paulo: Atlas, 2007. p. 381.)

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Desta forma, este princípio “obriga a Administração a respeitar estritamente as regras

que tenha previamente estabelecido para disciplinar o certame”. Vincular-se ao edital

implica no reconhecimento, seja por parte da Administração, seja por parte dos

licitantes, de que ambos estão sujeitos ao que foi estabelecido no instrumento

convocatório da licitação, em toda sua particularidade e obrigações. Sendo que, é por

conta deste preceito que se afirma que o edital é a lei interna da licitação.

Entretanto, embora se reconheça que o edital faça lei entre as partes, não há como se

afirmar que o Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório é absoluto.

Contrario sensu, este pode ser relativizado nas hipóteses em que um licitante

apresentar documento de habilitação ou proposta com algum vício ou irregularidade

tido por formal. Isto porque, juntamente com a observância do citado Princípio, a

realização de certames licitatórios deve ser norteada, dentre outros objetivos, pela

busca da vantajosidade das propostas, bem como, deve ser processada de modo

vinculado aos Princípios da Economicidade, da Eficiência Administrativa e da

Competitividade. Sendo que, com relação a este último princípio, em sede de Pregão,

é oportuno trazer à colação o que dispõe o parágrafo único, do art. 5º, do Decreto

Federal 5.450/05: “as normas disciplinadoras da licitação serão sempre interpretadas

em favor da ampliação da disputa entre os interessados, desde que não

comprometam o interesse da administração, o princípio da isonomia, a finalidade e

a segurança da contratação”. Contudo, tal objetivo não resta vislumbrado se mantida a

proposta da licitante em questão.

Ou, em outras palavras, poderá haver situações em que o Princípio da Vinculação ao

Instrumento Convocatório dê lugar a um ou mais princípios do Regime Jurídico

Administrativo, a exemplo dos Princípios da Razoabilidade, do Formalismo Moderado e

da Competitividade.

Dos apontamentos acima aferimos que o princípio da Vinculação ao Instrumento

Convocatório só poderá ser afastado em situações que violem a Razoabilidade,

Competitividade, Formalismo Moderado, dentre outros princípios norteadores das

Licitações Públicas.

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O que não ocorre no caso em tela. Como já demonstrado, a Administração Pública

estabeleceu critérios técnicos de habilitação condizentes com o objeto da licitação e

limitados às parcelas de maior relevância técnica e valor significativo do objeto, visando

a contratação da proposta mais vantajosa, respeitando os princípios administrativos

inerentes as Licitações Públicas.

A busca pela proposta mais vantajosa não se resume à mais econômica, vejamos os

ensinamentos do ilustre Marçal Justein Filho:

A vantagem caracteriza-se como a adequação e satisfação do interesse coletivo por via

execução do contrato. A maior vantagem possível configura-se pela conjugação de dois

aspectos inter-relacionados. Um dos ângulos relaciona-se com a prestação a ser

executada por parte da Administração; o outro valor vincula-se à prestação a cargo do

particular. A maior vantagem apresenta-se quando a Administração assumir o dever de

realizar a prestação menos onerosa e o particular se obrigar a realizar a melhor e mais

completa prestação. Configura-se portanto, uma relação custo-benefício. A maior

vantagem corresponde à situação de menor custo e maior benefício para a

Administração.( JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos

administrativos. 12. ed. São Paulo: Dialética, 2008, p 63)

Diante o exposto não há de se falar em Formalismo Excessivo ou Vinculação ao

Instrumento convocatório de maneira desarrazoada. Verifica-se a busca do melhor

atendimento ao interesse público, respeitando sempre os princípios da Legalidade e

Razoabilidade.

Não realização de diligências

A Recorrente alega ainda que:

E tal questão poderia ser facilmente sanada caso o DNIT tivesse baixado o processo em

diligência para esclarecimentos quanto ao atestado apresentado (prerrogativa garantida

nos termos do art. 43, §3º da Lei n. 8.666/93 e item 7.8.1 do Edital), oportunidade na

qual a Recorrente poderia ter demonstrado a compatibilidade dos serviços já executados

com os que a Autarquia está exigindo.

Contudo, em nenhum momento, a LCM foi instada a se manifestar acerca dos termos

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propostos, tendo sua documentação sido rejeitada sem que antes fosse viabilizada

qualquer chance de prestar esclarecimentos, em desconformidade com o que prevê a

legislação aplicável e o próprio Edital.

Como se sabe, a realização de diligências visa justamente buscar a proposta mais

vantajosa ao Erário, viabilizando que eventuais esclarecimentos demonstrem a

regularidade de determinada proposta, de modo a garantir que a contratação pública

ocorra pelo preço mais competitivo.

Nesse sentido é que parte da doutrina entende que não se trata de uma prerrogativa da

Administração e sim de um dever diligenciar para obter informações quando surgirem

dúvidas diante dos documentos apresentados pelo particular interessado. Confira-se:

“Em primeiro lugar, deve destacar-se que não existe uma competência discricionária

para escolher entre realizar ou não a diligência. Se os documentos apresentados pelo

particular ou as informações nele contidas envolverem pontos obscuros – apurados de

ofício pela Comissão ou por provação de interessados -, a realização de diligências será

obrigatória. Ou seja, não é possível decidir a questão (seja para desclassificar o licitante,

seja para reputar superada a questão) mediante uma escolha de mera vontade.

Portanto, a realização da diligência será obrigatória se houver dúvidas relevantes”.

(FILHO, Marçal Justen. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 12ª

Edição São Paulo: Dialética, 2008. P. 556)

“Evidentemente não se pode aceitar que o agente administrativo possa decidir

livremente se deseja ou não promover uma diligência esclarecedora. Se assim fosse,

sempre haveria risco de tratamento não igualitário; de condescendência com relação a

algum licitante ou de rigor em relação a outro. Portanto, a previsão legal estabelece um

dever de promover diligências esclarecedoras, e não uma faculdade. Esclarecer

eventual dúvida quanto a sua proposta é um direito do licitante.” (DALLARI, Adilson

Abreu. Aspectos Jurídicos da Licitação. 6ª Edição. São Paulo. Saraiva, 2003, p.121)

Nesse sentido, a realização de diligência representa, em última instância, o cumprimento

do princípio constitucional da ampliação da competitividade do certame e busca da

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proposta mais vantajosa, entendimento já exarado pelos Tribunais Pátrios, à exemplo do

posicionamento do E. TRF-4:

EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. LICITAÇÃO. EDITAL.

FORMALIDADES. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. PRECEDENTES.

Tratando-se de licitação, deve prevalecer sempre a interpretação que favoreça a

ampliação de disputa entre os interessados, de modo a não comprometer o interesse da

Administração, o princípio da isonomia, a finalidade e a segurança da contratação.

Pelo princípio da razoabilidade, as exigências administrativas devem ser aptas a cumprir

os fins a que se destinam;

Na hipótese, o ato da autoridade coatora mostra-se desproporcional à finalidade

pretendida, uma vez que o artigo 43, parágrafo 3º, da Lei nº 8.666/93 faculta à

Administração efetuar diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução

do processo em qualquer fase da licitação, inclusive com a concessão de prazo para

sanar o defeito na documentação, visando ao interesse público em detrimento de um

formalismo exarcebado.

(TRF4 5061255-46.2015.404.7000, QUARTA TURMA, Relator CANDIDO ALFREDO

SILVA LEAL JUNIOR, juntado aos autos em 16/09/2016)

Na realidade, pelo exposto acima, a Recorrente tinha a legitima expectativa que o

atestado apresentado seria suficiente para comprovar o atendimento aos requisitos do

Edital, razão pela qual não entendeu necessária a juntada de outros atestados, como,

por exemplo, o de execução pretérita de camada drenante.

A verdade é que a LCM possui outros atestados, nos quais constam expressamente sua

expertise na execução de “enrocamento de pedra jogada (colchão drenante)”, por

exemplo, o atestado emitido pelo DNIT em 13/03/2015 pela execução do contrato

2100029/2014, (o qual, inclusive, pode ser apresentado por meio da devida diligência),

ou seja, o mesmo serviço que a atual vencedora apresentou em seu atestado,

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inexistindo, por consequência, qualquer justificativa para declaração de inabilitação da

Recorrente.

Nesse sentido, considerando a compatibilidade entre o atestado apresentado pela LCM

e as exigências do Edital, o que demonstra a inequívoca expertise da Recorrente na

execução do objeto licitado, faz-se premente que a decisão seja reformada e que a

Recorrente seja habilitada no presente certame, sob pena de representar grave

infringência aos princípios norteadores das licitações públicas, especialmente o da

competitividade e da busca pela proposta mais vantajosa.

Análise do Mérito

A Recorrente Alega em suas Razões que deveria ter sido promovida diligência para

verificação do atestado apresentado, bem como afirma ser possuidora de outros

atestados capazes de comprovar a habilitação solicitada, e que os mesmos deveriam ter

sido requisitados.

Sobre a Diligência se faz necessário que observemos o art. 43, § 3º de Lei 8.666/93:

(...)

§ 3o É facultada à Comissão ou autoridade superior, em qualquer fase da licitação, a

promoção de diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do

processo, vedada a inclusão posterior de documento ou informação que deveria

constar originariamente da proposta. (sem grifos no original).

Verifica-se que deve ser utilizada em situações em que ocorram dúvidas sobre

documentos já apresentados ou para correções de erros formais em propostas. No caso

em questão não há dúvidas, pois, o atestado apresentado é incompatível com o Serviço

solicitado, conforme já demonstrado. Aceitá-lo ensejaria em descumprimento a

orientações exaradas por Órgão de Controle Externo, resultando em possível

responsabilização do Agente Público.

O entendimento dos pregoeiros da Superintendência Regional do DNIT no Estado do

Amazonas sobre a realização de Diligências se coaduna com o que prevê a vasta

doutrina e a jurisprudência do Tribunal de Contas da União, pois, entendemos que a

diligência não é mera faculdade mas uma obrigação quando for observada a existência

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de erros formais passíveis de correção que possam resultar em inabilitação de maneira

desarrazoada. Prova disso se fez no Pregão 206/2019-01 em que foi oportunizado à

Recorrente a correção de sua planilha de formação de preços.

Mesmo tendo o dever de diligenciar o Pregoeiro não pode ultrapassar os limites legais

existentes. Assevera a Doutrina e a Jurisprudência a que em sede de diligência não se

pode acrescentar novos documentos que deveriam ter sido apresentados na proposta

original, vejamos:

Joel de Menezes NIEBUHR A respeito do tema o §3° do art. 43 da Lei n° 8.666/93 ganha especial relevância, haja

vista que permite a “promoção de diligência destinada a esclarecer ou informação que

deveria constar originariamente da proposta”. Dito de outra forma, para a sistemática da

Lei n° 8.666/93 a desatenção ao edital importa na inabilitação do licitante ou

desclassificação da proposta, dado que é proibida a inclusão posterior de documento

ou informação, o que, em tese poderia sanear o defeito existente em documento

de habilitação ou proposta. ( NIEBUHR, Joel Menezes. Licitação Pública e Contrato

Administrativo. 4. ed. Fórum: Belo Horizonte, 2015. p. 613. ).

Marçal JUSTEN FILHO As diligências e esclarecimentos consistem em atividades desenvolvidas diretamente

pela autoridade julgadora, destinadas a eliminar imprecisões e confirmar dados

contidos na documentação apresentada pelo licitante. Envolvem a prática de ato

administrativo, consistente em verificação de situação fática, requerimento de

informações perante outras autoridades públicas, confirmação da veracidade de

documentos e assim por diante. A diligência é uma providência para confirmar o

atendimento pelo licitante de requisitos exigidos pela lei ou pelo edital, seja no tocante à

habilitação, seja quanto ao próprio conteúdo da proposta. Portanto, a expressão

“diligência” abrange providências de diversas naturezas. A Comissão poderá (deverá)

promover vistorias, para comprovar in loco o estado de instalações, maquinários e

outras, delas participando todos ou apenas alguns de seus membros. As providências e

diligências adotadas pela Comissão deverão ser documentadas por escrito. Se delas

não participarem todos os integrantes da Comissão, mais minuciosas precisam ser as

anotações e os informes (JUSTEN FILHO, Marçal. Op. cit., p 947 ).

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Tribunal de Contas da União

É irregular a inabilitação de licitante em razão de ausência de informação exigida pelo

edital, quando a documentação entregue contiver de maneira implícita o elemento

supostamente faltante e a Administração não realizar a diligência prevista no art. 43, §

3º, da Lei 8.666/93, por representar formalismo exagerado, com prejuízo à

competitividade do certame. (Acórdão 1795/2015 – Plenário)

Portanto, não é possível a inclusão posterior de documento ou informação que deveria

constar originariamente da proposta, ressalvada a hipótese admitida pela jurisprudência

de realização de diligência quando a documentação apresentada contiver de maneira

implícita o elemento supostamente faltante.

Por todo o exposto resta claro que o caso em questão não poderia ser alvo de diligência,

pois, não restou dúvida da incompatibilidade do serviço presente no atestado

apresentado e o serviço requerido em edital.

CASTILHO ENGENHARIA E EMPRESNDIMENTOS S/A.

NÃO ATENDIMENTO AO ITEM 5 ALÍNEA B.1 DO TERMO DE REFERÊNCIA DO

EDITAL

A Recorrente alega que:

Item 5. Habilitação:

“b) Capacidade Profissional - A licitante deverá, obrigatoriamente, apresentar relação dos serviços executados por profissionais de nível superior vinculados permanentemente à empresa e constante do seu Registro/Certidão de inscrição no CREA ou Conselho Profissional competente, em nome do profissional, como Responsável Técnico, comprovados mediante atestados e/ou certidões de capacidade técnica por execução de serviços compatíveis com O OBJETO DA LICITAÇÃO, A SEGUIR RELACIONADOS:

SERVIÇOS REQUERIDOS

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ITEM

DESCRIÇÃO QUANT. A UTILIZ NA OBRA

QUANT. A SER COMPROVADA

01 Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica- fornecimento e assentamento

40.000,00

≥ 20.000,00 m³

O2 Recomposição do revestimento primário com adição de 3,5% de cimento e 20 % de areia

89.355,00 m³

≥ 44.677,50 m³

b.1) Comprovação de a LICITANTE ter executado, a qualquer tempo, obras rodoviárias de complexidade equivalente ou superior ao do objeto desta licitação.”

A TESCON ENGENHARIA LTDA. não atendeu ao referido item, pois o atestado de

capacidade técnica apresentado, emitido pela Prefeitura Municipal de Gurupi, que

comprova a execução do serviço “Camada Drenante com Rachão (Material Drenante

Especial)” para possível comprovação de serviço compatível com o requerido pelo

DNIT/AM, qual seja: “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e

compactação mecânica - fornecimento e assentamento”, não pertence a ela.

O atestado de capacidade técnica apresentado pela Recorrida pertence ao engenheiro

civil Carlos Colombo e o serviço foi executado pela Construtora Meirelles Mascarenhas

Ltda. Desta forma a sua apresentação tem o condão de comprovar apenas a habilitação

técnico-profissional, carecendo da habilitação técnico-operacional.

O subitem b.1 é claro ao afirmar que a comprovação da execução de serviço de

complexidade equivalente ou superior ao objeto da licitação deverá ser demonstrada

pela LICITANTE (Pessoa Jurídica), e não apenas por seu Responsável Técnico. Este

entendimento é pacífico e adotado sem exceções pelo DNIT, conforme demonstraremos

no decorrer desta peça.

Sobre a exigência de comprovação de capacidade técnica se faz necessária uma

análise nos dispositivos legais que regulamentam este instituto, vejamos:

Constituição Federal

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Lei 8.666/1993 Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a: [...] II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se responsabilizará pelos trabalhos; § 1o A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo, no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências a: I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos;

Quanto ao objeto da licitação é importante estabelecer a diferença entre objeto lato

sensu, aquele que representa o serviço como um todo (conservação e manutenção

rodoviária) e objeto stricto sensu, serviços correspondentes às parcelas de maior

relevância do objeto (Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e

compactação mecânica - fornecimento e assentamento / recomposição de revestimento

primário).

As exigências de qualificação técnico-operacional devem se ater às parcelas de maior

relevância do objeto do Certame, conforme consta presente nos editais do DNIT, sendo

disciplinado pela Instrução Normativa n° 01/MT, de 04 de outubro de 2007, que

assevera em seu texto:

Art. 8.º As exigências de comprovação de capacitação técnico-operacional por atestado, relativas ao desempenho de atividade anterior pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, limitar-se-ão às parcelas que, cumulativamente, sejam de maior relevância técnica e valor significativo. (grifo nosso). [...] §2º. Para efeito do disposto no caput, o DNIT deverá definir, no edital, com destaque, quais são as parcelas de maior relevância técnica e valor significativo.(grifo nosso).

Neste sentido afirma a SÚMULA 263 da corte de contas:

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Para a comprovação da capacidade técnico-operacional das licitantes, e desde que limitada, simultaneamente, às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto a ser contratado, é legal a exigência de comprovação da execução de quantitativos mínimos em obras ou serviços com características semelhantes, devendo essa exigência guardar proporção com a dimensão e a complexidade do objeto a ser executado.(grifo nosso).

Resta claro que as parcelas de maior relevância do objeto em questão são aquelas

contidas no quadro presente na alínea “b” e portanto o alvo da comprovação da

capacitação técnico-operacional.

Já o quadro 01 constante da alínea “a”, item 5., “ Execução de Serviços de Manutenção

(Conservação/Recuperação) em Rodovia Pavimentada e Não Pavimentada” , expressa

o objeto da licitação lato sensu e considerá-lo como critério de habilitação técnico-

operacional poderá levar a administração pública a uma futura contratação com

empresa que apresente comprovação de capacidade operacional incompatível com a

solução técnica proposta em Edital.

Não poderia a Administração Pública exigir sobre as parcelas mais relevantes do objeto

a ser contratado apenas a qualificação técnica profissional, negligenciando a

operacional. Esta conduta abriria um perigoso precedente, possibilitando que empresas

sem a devida estrutura e capacidade técnica necessárias, contratem profissionais

possuidores de atestados apenas para participar dos certames. Esta conduta importaria

em insegurança técnica indo de encontro aos princípios administrativos da eficiência e

da busca pela proposta mais vantajosa.

Considerar o Atestado apresentado pela Recorrida, em nome do senhor Carlos Colombo

como comprovação de capacidade técnico-operacional contraria a Legislação e a

Jurisprudência do Tribunal de Contas da União, que por meio de Acórdãos veda a

transferência de acervo técnico da pessoa física para pessoa jurídica como podemos

verificar a seguir:

Não se admite a transferência de acervo técnico da pessoa física para pessoa jurídica, para fins de comprovação de qualificação técnica em licitações públicas, pois a capacidade técnico-operacional (art.30, inciso II, da lei 8.666/1993) não se confunde com a capacidade técnico-profissional (art. 30, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/1993), uma vez que a primeira considera aspectos típicos da pessoa jurídica, como instalações, equipamentos e equipe, enquanto a segunda relaciona-se ao profissional que atua na empresa. (Acórdão 2.208/16 – Plenário). A qualificação técnica abrange tanto a experiência empresarial quanto as experiências dos profissionais que irão executar o serviço. A primeira seria a capacidade técnico-operacional, abrangendo atributos próprios da empresa, desenvolvidos a partir do desempenho da atividade empresarial com a conjugação de diferentes fatores econômicos e de uma pluralidade de pessoas. A segunda é denominada capacidade

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técnico-profissional, referindo-se a existência de profissionais com acervo técnico compatível com a obra ou serviço de engenharia a ser licitado. (Acórdão 1.332/06 -Plenário).

Da mesma forma não poderá a douta comissão aceitar o Atestado apresentado pela

Recorrida para comprovação de capacidade técnico-operacional, pois este não diz

respeito ao objeto stricto sensu, e sim ao objeto em sentido amplo. Esta conduta é

contrária à prática adotada pelo DNIT, pois os Editais padrão na Modalidade Pregão

Eletrônico, preveem que a comprovação da capacidade técnico-operacional deve ser

realizada sobre a parcela de maior relevância do objeto e emitido em nome da Licitante.

A título ilustrativo trazemos à baila os editas de número 251, 252, 253, 254 e 422, todos

do ano de 2018, desta Superintendência Regional, dos quais reproduzimos a seguir o

item relativo à capacidade técnica, demonstrando que as parcelas de maior relevância

devem ser comprovadas pela Licitante, vejamos:

Edital 251/2018-01 [...]

5.1 ATESTADOS DE CAPACIDADE TÉCNICA

Nos casos de serviços de engenharia em atendimento ao disposto

no §9º do Art. 8º e §2º do Art. 9º da Instrução Normativa nº 01/MT, de 04 de

outubro de 2007, tem-se:

a) Registro/Certidão de inscrição da empresa e do (s) responsável

(is) técnico (s) no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e

Agronomia – CREA ou Conselho Profissional competente, que exija

tal inscrição, da região da sede da empresa.

b) Relação dos serviços executados por profissionais de nível

superior vinculado permanentemente à empresa e constante do

seu Registro/Certidão de inscrição no CREA ou Conselho

Profissional competente, em nome do profissional, como

Responsável Técnico, comprovados mediante atestados e/ou

certidões de capacidade técnica por execução de serviços

compatíveis com o objeto da licitação, a seguir relacionados:

LOTE(s) SERVIÇO(S) REQUERIDO(S)

Único Manutenção (Conservação/Recuperação) Rodoviária

b.1) O (s) atestado (s) e/ou certidão (ões) fornecido (s) por pessoas

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jurídicas de direito público ou privado, somente será (ão) aceito (s)

com a (s) respectiva (s) certidão (es) do CREA.

[...]

c.) Relação de comprovação de A LICITANTE ter executado,

através de certidão e/ou atestado, fornecido (s) por pessoa (s)

jurídica (s) de direito público ou privado, devidamente certificado

pelo CREA.

c.1)A qualquer tempo pelo menos uma Obra de Manutenção

(Conservação/Recuperação) rodoviária contendo, no mínimo, a

seguinte extensão:

LOTE (s) EXTENSÃO (km)

Único 50,60 km

c.2)A qualquer tempo obra de Manutenção

(Conservação/Recuperação) rodoviária, contendo:

Itens a Serem Comprovados Quantidade Total Quantidade a

ser

comprovada

Recomposição do Revestimento Primário

214.620,00 m³ ≥ 107.310,00 m³

Recuperação de Ponte de Madeira de Lei

13.816,00 m ≥ 6.908,00 m

Execução de Bueiros Metálicos 200,00 m ≥ 100,00 m

Recomposição Mecanizada de Aterro

96.000,00 m³ ≥ 48.000,00 m³

c.3)Comprovação de A LICITANTE ter executado, a qualquer

tempo, obras rodoviárias de complexidade equivalente ou superior

ao do objeto desta licitação.

Este exemplo refere-se ao Edital nº 251/2018 porém consta igualmente em todos os

Editais anteriores desta Superintendência Regional, pois o item 5., subitem 5.1, alínea c.

são obrigatórios na minuta padrão de Edital e Termo de Referência, conforme normatiza

a Instrução de Serviços DG nº04/2009, a seguir trasncrita:

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b) Para fins de atendimento do subitem "c", do item 13.4 - Qualificação Técnica, contido no Edital Padrão do DNIT, que dispõe: (grifo nosso). "2) Comprovação de a licitante ter executado, a qualquer tempo, obras rodoviárias de complexidade equivalente ou superior ao do objeto desta licitação, contendo os seguintes quantitativos.", a exigência de comprovação de execução dos quantitativos de serviços relevantes, vedado o somatório de atestados, serão efetuados conforme relação abaixo: b.2) Nas obras de restauração: - execução de base e/ou sub-base; - fresagem; - capa asfáltica; - reciclagem de camadas asfálticas. Parágrafo único. A relação de serviços acima e a vedação de somatório de atestados para sua comprovação decorre da relevância da execução dos mesmos nos empreendimentos rodoviários e, especificamente, a necessidade por parte da Administração de garantir que a vencedora do certame detenha condições operacionais de mobilização, logística e planejamento. Dessa forma, deve-se aferir que a proponente detenha equipamentos e pessoal mínimos para executar o empreendimento de acordo com os prazos estabelecidos no cronograma físico e financeiro da obra. (grifo nosso).

Corroborando a tese até aqui apresentada, trazemos o edital 352/2019 DNIT Sede, cuja

sessão será aberta em 03 de setembro de 2019 e traz em seu item relativo à habilitação

técnica o seguinte comando:

[...] c) Comprovação através de certidão e/ou atestado, fornecido(s) por pessoa(s) jurídica(s) de direito público ou privado, de a licitante ter executado, a qualquer tempo, obras rodoviárias de complexidade equivalente ou superior ao do objeto desta licitação, contendo os seguintes serviços: (grifo nosso) c.1) Serviços nos quais o somatório de atestados é vedado: Serviços Requeridos Quantidade a ser comprovada Micro revestimento a frio 190.000 m2 Correção de defeitos 4.250 m3 Mistura betuminosa usinada a quente 4.750 m Obs.: em atendimento à Instrução Normativa MT nº 01/2007, complementada pelas Instruções de Serviço DG nº 04/2009 e nº 10/2009, os serviços elencados nesta lista foram selecionados por serem serviços típicos e representativos dos contratos de manutenção/recuperação rodoviária, além de apresentarem relevância quanto ao aspecto financeiro contribuindo com valores superiores a 4,0% do orçamento do DNIT.

No exemplo acima verifica-se que o Edital 352/2019, DNIT Sede, especifica as parcelas

de maior relevância e que, portanto, devem ser comprovadas pela licitante(Pessoa

Jurídica). No Edital objeto deste Recurso administrativo está claro que o serviço de

“Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica -

fornecimento e assentamento , é a parcela mais relevante do objeto da licitação, pois o

seu valor supera 13% (treze por cento) do valor total do orçamento.

Uma simples observação dos editais citados como exemplo, bem como dos normativos

apresentados, nos permite constatar que a qualificação técnico-operacional está para a

Empresa assim como a qualificação técnico-profissional está para o Funcionário.

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Diante dos fatos apresentados resta claro que houve equívoco por parte da respeitável

Comissão de Licitação ao declarar a TESCON ENGEHARIA LTDA. vencedora do

presente certame, uma vez que, a Recorrida, conforme demonstrado nessa peça

recursal, não atendeu aos critérios técnicos de habilitação exigidos no instrumento

convocatório.

São princípios administrativos inerentes às licitações públicas a vinculação ao

instrumento convocatório, a Legalidade, Imparcialidade e a Razoabilidade. De acordo

com o princípio da Legalidade as atividades administrativas deverão ficar restritas aos

limites fixados pela lei. Portanto, de acordo com Hely Lopes “a legalidade, como

princípio da Administração, significa que o administrador público está, em toda a sua

atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e

deles não se pode afastar ou desviar (2005, p. 87).

Por sua vez o princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório deve ser observado.

Apesar de não ser um princípio absoluto é notório que no caso em tela não há nenhum

outro que possa lhe contrapor, pelo contrário, ao aplicar o princípio da vinculação ao

instrumento convocatório estará a Administração Pública agindo de acordo com a

legalidade e com a razoabilidade necessária à promoção da eficiência à busca da

proposta mais vantajosa.

Paralelo ao princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório está o princípio do

Julgamento Objetivo, que impõe ao administrador o dever de seguir o que foi estipulado

no edital, sendo assim, de acordo com Hely Lopes “julgamento objetivo é o que se

baseia no critério indicado no edital e nos termos específicos das propostas. É princípio

de toda licitação que seu julgamento se apoie em fatores concretos pedidos pela

Administração, em confronto com o ofertado pelos proponentes dentro do permitido no

edital. Visa afastar o discricionaríssimo na escolha das propostas, obrigando os

julgadores a aterem-se ao critério prefixado pela Administração, com o que se reduz e

se delimita a margem de valoração subjetiva, sempre presente em qualquer julgamento

(arts. 44 e 45). ” (2005, p. 272).

Como demostrado a análise de habilitação técnica não suporta discricionariedade, pois o

agente público deve seguir os critérios objetivos traçados no instrumento convocatório

ao passo que não pode se afastar da razoabilidade, seguindo as determinações dos

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órgãos de controle e utilizando-se dos mesmos parâmetros aplicados em análises

anteriores, pois caso contrário a Administração estaria ferindo o princípio da legalidade.

Análise do Mérito

Convém iniciar a análise das presentes razões dispondo o que aduz o inc. I, §1º, art. 30

da Lei 8.666/93, ipsis literis:

Art. 30 - A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:

(...)

II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e

compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da

licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal

técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação,

bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica

que se responsabilizará pelos trabalhos;

(...)

§1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste

artigo, no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita

por atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou

privado, devidamente registrados nas entidades profissionais

competentes, limitadas as exigências a:

I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir

em seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta,

profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela

entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica

por execução de obra ou serviço de características semelhantes,

limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor

significativo do objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades

mínimas ou prazos máximos.

§2º As parcelas de maior relevância técnica e de valor significativo,

mencionadas no parágrafo anterior, serão definidas no instrumento

convocatório (sem grifos no original).

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Perceba-se, então, que as previsões da Lei 8.666/93 sobre o assunto são detalhadas

e esclarecem a diferenciação existente entre a chamada “capacidade técnica

operacional” (relacionada à pessoa jurídica) e a “capacidade técnica profissional”

(relacionada aos profissionais de seu quadro). Neste sentido, seu inc. II somado ao

§1º prevê exigência relativa à capacidade técnica operacional; e seu §1º somado ao

inc. I prevê exigência de capacidade técnica profissional. Relembremos, pois, tais

diferenciações.

Capacidade técnica operacional: é possível compreendê-la, portanto, como a

“estrutura que a empresa possui para realizar o empreendimento (equipamentos,

equipe técnica, conhecimento do problema, fornecedores etc.) e deve ser comprovada

por meio da experiência da empresa na realização de contratos de obras similares”.

Sendo que sua comprovação deverá ser procedida mediante apresentação de: a)

Atestados de Capacidade Técnica “devidamente registrados nas entidades

profissionais competentes”; e, sua análise, para fins habilitatórios, pautar-se-á pelos

quantitativos nela descritos (Lei 8.666/93, art. 30, §1º); b) Relação explícita e da

declaração formal da disponibilidade da disponibilidade das instalações de canteiros,

máquinas e equipamentos considerados essenciais para o cumprimento do objeto da

licitação, sob as penas cabíveis, vedada as exigências de propriedade e de localização

prévia (Lei 8.666/93, art. 30, §6º).

Capacidade técnico-profissional: “está relacionada ao aspecto intelectual dos

profissionais que compõem o quadro permanente da empresa, ou seja, a experiência

que esses profissionais possuem na execução anterior de empreendimentos similares

em complexidade à obra licitada”. Via de regra, essa comprovação dar-se-á por meio

de: a) Indicação da “existência, nos quadros (permanentes) de uma empresa, de

profissionais em cujo acervo técnico constasse a responsabilidade pela execução de

obra similar àquela pretendida pela Administração”; b) Apresentação da relação

explícita do pessoal técnico adequado e disponível para a realização do objeto da

licitação e da declaração formal da sua disponibilidade.

Em suma, a qualificação técnica operacional é um requisito que diz respeito à

empresa que pretende executar a obra ou serviço licitados. Já a qualificação

técnica profissional é requisito pertinente aos profissionais vinculados à

empresa licitante, que integra a comprovação da capacidade técnico-

operacional. Portanto, a definição das parcelas de maior relevância e valor

significativo do objeto é aplicável tanto à capacidade técnica-profissional,

quanto à capacidade técnico-operacional. Neste sentido, veja-se a Súmula 263 do

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Tribunal de Contas da União (TCU), referencialmente: “Para a comprovação da

capacidade técnico-operacional das licitantes, e desde que limitada, simultaneamente,

às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto a ser contratado, é legal

a exigência de comprovação da execução de quantitativos mínimos em obras ou

serviços com características semelhantes, devendo essa exigência guardar proporção

com a dimensão e a complexidade do objeto a ser executado”.

Ademais, observe-se ao Acórdão 1.339/10 – Plenário, também do TCU: “. A

jurisprudência deste Tribunal é unânime em afirmar que as exigências de

qualificação técnica, quer técnico-profissional quer técnico-operacional, devem

recair sobre parcelas que sejam, simultaneamente, de maior relevância e valor

significativo” (sem grifos no original).

O Acórdão supracitado não deixa dúvidas de que ambas as qualificações devem incidir

sobre as parcelas de maior relevância e valor significativo, bem como a Instrução

Normativa n° 01/MT, de 04 de outubro de 2007, citada nos Editais DNIT, que dispõe em

seu texto:

Art. 8.º As exigências de comprovação de capacitação técnico-operacional por atestado, relativas ao desempenho de atividade anterior pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, limitar-se-ão às parcelas que, cumulativamente, sejam de maior relevância técnica e valor significativo. (grifo nosso). [...] §2º. Para efeito do disposto no caput, o DNIT deverá definir, no edital, com destaque, quais são as parcelas de maior relevância técnica e valor significativo.(grifo nosso).

Dito isso, em relação à definição propriamente dita das parcelas de maior relevância e

valor significativo do objeto, conforme constam no item 5., subitem 5.1, alínea “b”

do Termo de Referência, segundo Marçal JUSTEN FILHO, “a Administração deverá

identificar os aspectos mais complexos e diferenciados do objeto licitado, para efeito

da experiência anterior... É indispensável que a Administração identifique, no objeto

licitado, os aspectos mais complexos e as características que o tornam diferenciado.

Não há modo de estabelecer uma solução normativa abstrata delimitadora daquilo que

deverá ser considerado pela Administração, precisamente porque o mundo real

comporta variações muito intensas”.

Após extensa explanação a respeito da diferenciação entre capacidade técnico-

operacional e técnico-profissional no que tange Licitações Públicas, fundamentada na

legislação, doutrina e jurisprudência correlatas, passemos a analisar o mérito

propriamente dito das razões recursais apresentadas.

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O Edital de Licitação, modalidade Pregão Eletrônico de número 215/2019-01 traz de

forma expressa em seu Termo de Referência que a necessidade de comprovação

técnico-operacional por parte dos participantes deverá ser comprovada sobre as

parcelas de maior relevância do objeto licitado. Esta previsão advém do texto

constitucional, que fora replicado pela Lei geral de Licitações e ratificado pela

jurisprudência do Tribunal de Contas da União.

Ao apresentar o Atestado de Capacidade Técnica contido nas fls. 36 de sua

documentação de habilitação a Recorrida comprova apenas a capacidade técnico-

profissional pois, foi emitido em nome do Engenheiro responsável técnico que compõe

os quadros da empresa Recorrida.

Em relação à capacidade técnico-operacional a Recorrida não apresenta atestado

emitido em seu nome como Pessoa Jurídica, pois o serviço executado pelo

responsável técnico foi realizado em nome de outra empresa.

Ao analisar o Recurso em questão a equipe de apoio ao pregão, designada pela

portaria 4840, de 15 de julho de 2019, se pronunciou sobre este tópico por meio do

DOC SEI nº 3946573 da seguinte forma:

A Resolução 317/86 do Confea, expõe:

“Art. 1º- Considera-se Acervo Técnico do profissional toda a experiência por ele adqurida

ao longo de sua vida profissional, compatível com as suas atribuições, desde que

anotada a respectiva responsabilidade técnica nos Conselhos Regionais de Engenharia,

Arquitetura e Agronomia.” ... “Art. 4º- O Acervo Técnico de uma pessoa jurídica é

representado pelos Acervos Técnicos dos profissionais de seu quadro e de seus

consultores técnicos devidamente contratados. Parágrafo único - O acervo técnico de

uma pessoa jurídica variará em função do Acervo Técnico do seu quadro de profissionais

e consultores.”

Registramos a exegese que elucida a questão.

“Quanto a titularidade, porém, há de se verificar, que a legislação autoral e a que regula

a profissão dos engenheiros e arquitetos, ambas preveem claramente que o autor é

pessoa física, não poderia ser diferente, porquanto pessoa jurídica nada cria, e

dependente do intelecto humano para tal criação, mesmo que a obra tenha sido criada

com o auxílio mecânico ou cibernético. Ou seja, autor é sempre a pessoa física que

concebeu o projeto de engenharia ou arquitetura, topografia ou geografia, e não a

empresa na qual trabalha o autor ou do qual é proprietário, quer seja engenheiro,

arquiteto, geógrafo ou topógrafo, como quem ambas as leis.”(cf. Direitos Autorais dos

Engenheiros e Arquitetos, in.www.jurisdoctor.adv.br). Registramos ainda, Carlos Pinto

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Coelho Motta, descorre sobre o tema: “Na verdade, a variação do acervo técnico de uma

empresa, a sua modificação em função da rotatividade e capacitação de seu quadro

técnico, constituem aspectos pacíficos na lei. Uma organização expressa-se através de

seus profissionais.

A Lei 6.496 de 07/12/1977 que instituiu a Anotação de Responsabilidade Técnica – ART,

estabeleceu que todos os contratos referentes à execução dos serviços ou obras de

engenharia deveriam ser objeto de anotação de no respectivo CREA. Dessa forma, a

Responsabilidade técnica por qualquer atividade exercida no campo da engenharia

sempre será do profissional dela encarregado, não podendo em hipótese nenhuma, ser

assumida pela pessoa jurídica (Art. 12 da Resolução nº 336/89).

O entendimento da Área Técnica corrobora o que já foi explanado, pois, a Habilitação

Técnico-Profissional é devida ao profissional e não à pessoa jurídica. Desta forma a

Recorrida atendeu apenas ao requisito de comprovação da capacidade técnico-

profissional.

Entretanto, não pode a Administração Pública interpretar a resolução do CONFEA no

sentido de aceitar que a capacidade profissional supra a operacional. Conforme

massivamente demonstrado, são distintas.

O CONFEA tem a competência de regulação e fiscalização profissional, não podendo

suas Resoluções vincular a própria administração, pois assim sendo, estaria indo de

encontro a Lei Geral de Licitações e aos entendimentos já pacificados pela Corte de

Contas.

Sobre o tema se faz necessário trazer a luz o entendimento do TRIBUNAL DE

CONTAS DA UNIÃO:

Não se admite a transferência de acervo técnico da pessoa física para pessoa jurídica, para fins de comprovação de qualificação técnica em licitações públicas, pois a capacidade técnico-operacional (art.30, inciso II, da lei 8.666/1993) não se confunde com a capacidade técnico-profissional (art. 30, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/1993), uma vez que a primeira considera aspectos típicos da pessoa jurídica, como instalações, equipamentos e equipe, enquanto a segunda relaciona-se ao profissional que atua na empresa. (Acórdão 2.208/16 – Plenário). A qualificação técnica abrange tanto a experiência empresarial quanto as experiências dos profissionais que irão executar o serviço. A primeira seria a capacidade técnico-operacional, abrangendo atributos próprios da empresa, desenvolvidos a partir do desempenho da atividade empresarial com a conjugação de diferentes fatores econômicos e de uma pluralidade de pessoas. A segunda é denominada capacidade técnico-profissional, referindo-se a existência de profissionais com acervo técnico compatível com a obra ou serviço de engenharia a ser licitado. (Acórdão 1.332/06 -Plenário).

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Este é o entendimento adotado pelo DNIT, vejamos o caderno de perguntas e

respostas do Pregão 128/2010 da Superintendência Regional de Mato Grosso:

O atestado constante nas fls. 26 da documentação de habilitação não pode ser

considerado como comprovação da capacidade técnico-operacional, pois, não se

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refere às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto, contrariando o

item 5., subitem, 5.1, alínea b.1 do Termo de Referência do Edital, vejamos:

SERVIÇOS REQUERIDOS

ITEM

DESCRIÇÃO QUANT. A UTILIZ NA OBRA

QUANT. A SER COMPROVADA

01 Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica- fornecimento e assentamento

40.000,00

≥ 20.000,00 m³

O2 Recomposição do revestimento primário com adição de 3,5% de cimento e 20 % de areia

89.355,00 m³

≥ 44.677,50 m³

b.1) Comprovação de a LICITANTE ter executado, a qualquer tempo, obras rodoviárias de complexidade equivalente ou superior ao do objeto desta licitação.”

A alínea b.1 é clara ao afirmar que a comprovação da capacidade sobre as parcelas de

maior relevância do objeto licitado deverá se dar também pela LICITANTE enquanto

pessoa jurídica. Se afastar deste entendimento por meio de uma interpretação

ampliativa fere o princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório e contraria todo

o arcabouço jurídico relativo ao tema, conforme já demonstrado.

Este entendimento não é discricionário, tanto que consta de forma expressa no edital

em comento, pois este, foi elaborado com base na legislação correlata e segue o

modelo padrão estabelecido pelo DNIT SEDE.

De maneira infundada a Recorrida alega em suas contrarrazões :

“A IMPUGNAÇÃO AO EDITAL E O PEDIDO DE ESCLARECIMENTO foi definido na

cláusula 23.1, que estabeleceu a prazo de até 02 (dois) dias úteis antes da data

designada para a abertura da sessão pública, sendo que qualquer pessoa poderia

impugnar este Edital.

O inconformismo da Recorrente fica claro em sua alegação de que o Pregão Eletrônico

Edital Nº 215/2019-01 deveria ter exigido a comprovação de ‘a) Capacidade Operacional’

nos moldes dos editas de número 251, 252, 253, 254 e 422, todos do ano de 2018, desta

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Superintendência Regional, entre outros. Fosse este o caso, por certo, a empresa

TESCON ENGENHARIA LTDA teria comprovado de modo a atender ao exigido.

Não há razoabilidade na solicitação da Recorrente para que as regras sejam alteradas

depois de apresentadas as propostas e as documentações exigidas. Do contrário,

ficaria caracterizado um claro direcionamento para que a habilitação exclusiva da

recorrente.”

Ora, em rápida análise observa-se que as alegações da Recorrente não se

enquadrariam no instituto da IMPUGNAÇÃO. Este é utilizado sempre que o edital não

estiver de acordo com a lei, for omisso ou contiver ilegalidade. No caso em questão não

há omissão ou ilegalidade, pois, a alínea “b.1” do Termo de Referência é clara ao

solicitar também a comprovação técnica operacional por parte da Licitante. Desta forma

a Recorrente pugna pela observância dos princípios administrativos do julgamento

objetivo e da vinculação ao instrumento convocatório.

Caso a Administração Pública não houvesse incluído esta cláusula, configuraria sim,

uma ilegalidade, pois a Administração, por meio do Princípio da Legalidade, encontra-

se vinculada à legislação não podendo inovar e promover alterações em Instrumentos

Convocatórios de maneira contrária ao estabelecido na lei e nos modelos adotados

pela própria Autarquia.

Ao contrário do que afirma a Recorrida, TESCON ENGENHARIA LTDA, ignorar a

alínea b.1 do Termo de Referência, como sugere, poderia configurar uma possível

tentativa de DIRECIONAMENTO em seu favor, pois, como já demonstrado, sua

proposta carece de comprovação técnico-operacional em relação ao Serviço

Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação

mecânica- fornecimento e assentamento.

O que não ocorreu, pois, ao confeccionar o Termo de Referência a Coordenação de

Engenharia, de forma acertada, manteve a exigência da comprovação da qualificação

técnico-operacional e técnico-profissional em relação às parcelas de maior relevância

do objeto licitado.

A título ilustrativo trazemos trecho do Edital 041/2018, SUPERINTENDÊNCIA

REGIONAL DO DNIT NO ESTADO DO AMAZONAS (que pode ser acessado na

íntegra através do link: http://www1.dnit.gov.br/anexo/Edital/Edital_edital0041_18-01_0.pdf)

Para confirmar tudo que foi exposto a respeito da necessidade de qualificação

operacional e profissional, vejamos:

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EDITAL 041/2018 HABILITAÇÃO

5.1 ATESTADOS DE CAPACIDADE TÉCNICA

Nos casos de serviços de engenharia em atendimento ao disposto no §9º do Art. 8º e §2º do Art.

9º da Instrução Normativa nº 01/MT, de 04 de outubro de 2007, tem-se:

a) Registro/Certidão de inscrição da empresa e do (s) responsável (is) técnico (s) no Conselho

Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA ou Conselho Profissional competente,

que exija tal inscrição, da região da sede da empresa.

b) Relação dos serviços executados por profissionais de nível superior vinculado

permanentemente à empresa e constante do seu Registro/Certidão de inscrição no CREA ou

Conselho Profissional competente, em nome do profissional, como Responsável Técnico,

comprovados mediante atestados e/ou certidões de capacidade técnica por execução de serviços

compatíveis com o objeto da licitação, a seguir relacionados:

LOTE(s) SERVIÇO(S) REQUERIDO(S)

Único Manutenção (Conservação/Recuperação) Rodoviária

b.1) O (s) atestado (s) e/ou certidão (ões) fornecido (s) por pessoas jurídicas de direito público ou

privado, somente será (ão) aceito (s) com a (s) respectiva (s) certidão (es) do CREA.

b.2) Apresentar somente o (s) atestado (s) e/ou certidão (ões) necessário (s) e suficiente (s) para a

comprovação do exigido, e indicar com marca texto os itens que comprovarão as exigências.

b.3) A comprovação do vínculo empregatício do (s) profissional (is) relacionado na alínea "b",

acima, será feita mediante cópia da Carteira Profissional de Trabalho e da Ficha de Registro de

Empregados (FRE) que demonstrem a identificação do profissional e guia de recolhimento do

FGTS onde conste o (s) nome (s) do (s) profissional (ais).

b.3.1) Será admitida a comprovação do vínculo profissional por meio de contrato de prestação de

serviços, celebrado de acordo com a legislação civil comum.

b.3.2) Quando se tratar de dirigente ou sócio da empresa licitante tal comprovação será feita

através do ato constitutivo da mesma e certidão do CREA ou Conselho Profissional competente,

devidamente atualizada.

b.3.3) Anexar a (s) declaração (ões) individual (is), por escrito do (s) profissional (ais) apresentado

(s) para atendimento às alíneas acima, autorizando sua (s) inclusão (ões) na equipe técnica, e que

irá participar na execução dos trabalhos.

b.4) Deverão ser observadas as seguintes condições na apresentação dos Atestados:

b.4.1) A (s) certidão (ões) e/ou atestado (s) apresentado (s) deverá (ão) conter as seguintes

informações básicas:

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• Nome do contratado e do contratante.

• Identificação do objeto do contrato (tipo ou natureza do serviço).

• Localização do serviço (rodovia, trecho, subtrecho, extensão ou ferrovia, hidrovia).

• Serviços executados (discriminação e quantidades).

b.4.2) – O atestado ou certidão que não atender a todas as características citadas nas condições

acima, não serão considerados pela Comissão de Licitação.

b.5) – Os atestados e/ou certidões de capacidade técnica deverão ter sido emitidos por pessoas

jurídicas de direito público ou privado e devidamente certificados/averbados pelo CREA ou

Conselho Profissional competente, neles constando os contratos, nomes do contratado, do

contratante e discriminação dos serviços.

b.5.1) Quando a certidão e/ou atestado não for emitida pelo contratante principal da obra (órgão

ou ente público), deverá ser juntada à documentação:

b.5.1.1) Declaração formal do contratante principal confirmando que o técnico indicado foi

responsável técnico pela sua execução, ou um de seus responsáveis técnicos, ou;

b.5.1.2) Comprovação por meio de carteira profissional de trabalho e Ficha de Registro de

Empresa – FRE acompanhados do recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,

todos esses com data referente ao período de execução do objeto do atestado/certidão, ou;

b.5.1.3) Contrato de trabalho registrado no Conselho Regional do Profissional à época da

execução do objeto do atestado/certidão.

b.6) A não apresentação de documentação comprobatória prevista na alínea b.5.1 não importará

na inabilitação sumária da licitante, mas a sujeitará à diligência documental pela Comissão. Caso

não sejam confirmadas as informações contidas nos atestados fornecidos por empresas privadas,

a licitante será considerada inabilitada para o certame.

c) Relação de comprovação de a licitante ter executado, através de certidão e/ou atestado,

fornecido (s) por pessoa (s) jurídica (s) de direito público ou privado, devidamente certificado pelo

CREA.

c.1) A qualquer tempo pelo menos uma Obra de Manutenção (Conservação/Recuperação)

rodoviária contendo, no mínimo, a seguinte extensão:

LOTE (s) EXTENSÃO (km)

Único 23,45 km

c.2) A qualquer tempo obra de Manutenção (Conservação/Recuperação) rodoviária, contendo:

Lote Itens a Serem Comprovados

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ÚNICO

Tapa buraco com serra corta piso

Remendo profundo com demolição manual

Micro revestimento a frio com emulsão modificada com polímero de 1,5 cm – brita C.

c.3) Comprovação de a licitante ter executado, a qualquer tempo, obras rodoviárias de

complexidade equivalente ou superior ao do objeto desta licitação.

Verifica-se pois, que a habilitação técnico-operacional incide sobre as parcelas de

maior relevância técnica e valor significativo do objeto e que deverá ser comprovada

juntamente com a capacidade profissional, da mesma forma como consta no EDITAL

215/2019.

A própria Área Técnica da SRDNIT/AM já promoveu a INABILITAÇÃO de licitantes por

não comprovação da CAPACIDADE OPERACIONAL DA EMPRESA, conforme

relatórios técnicos disponíveis nos links abaixo e trechos anexados.

Análise Técnica ARDO CONSTRUTORA E PAVIMENTAÇÃO

(http://www1.dnit.gov.br/anexo/Relat%C3%B3rio/Relat%C3%B3rio_edital0041_18-

01_1.pdf)

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39

Análise Técnica SIGA CONSTRUTORA (

http://www1.dnit.gov.br/anexo/Relat%C3%B3rio/Relat%C3%B3rio_edital0041_18-

01_0.pdf)

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Da observação do Edital 41/2018 e de suas respectivas Análises Técnicas, concluímos

que a Qualificação Técnica Operacional é independente da Profissional, não tendo a

segunda o condão de suprir a primeira. O exemplo dado mostra claramente, pois as

duas empresas atenderam a TÉCNICA PROFISSIONAL, porém, não atenderam a

OPERACIONAL, resultando na inabilitação de ambas.

Portanto, ir contra a decisões pretéritas da mesma área técnica do DNIT/AM configuraria

uma conduta contraditória, sem contar na insegurança jurídica que comprometeria a

lisura das licitações.

NÃO ATENDIMENTO AO ITEM 5 ALÍNEA B.4 DO TERMO DE REFERÊNCIA DO

EDITAL

Alega a recorrente que:

O atestado de capacidade técnica apresentado pela Licitante TESCON ENGENHARIA

LTDA. pertence ao engenheiro civil Carlos Colombo e o serviço foi executado pela

CONSTRUTORA MEIRELLES MASCARENHAS LTDA’. Logo, verifica-se que o

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engenheiro civil Carlos Colombo é responsável técnico pelas duas empresas, assim indo

em desacordo com o item 5 alínea b.4 do Termo de Referência do Edital.

“b.4) Cada Responsável Técnico só poderá representar uma única

empresa, sob pena de inabilitação das Licitantes.”

A TESCON ENGENHARIA LTDA. foi habilitada nos Pregões Eletrônicos 215 e 216 e a

Construtora Meirelles Mascarenhas Ltda. foi habilitada no Pregão 206. Cabe salientar

que ambas possuem o mesmo quadro societário. As três habilitações ocorreram no dia

22/08/2019 e os três pregões eletrônicos são referentes a serviços de manutenção

(conservação/recuperação) na rodovia BR-319/AM, de mesmos objetos e serviços

requeridos para comprovação de capacidade técnica. Nos três pregões eletrônicos as

duas empresas foram habilitadas utilizando o mesmo atestado de capacidade técnica

pertencente ao mesmo engenheiro civil, Carlos Colombo, cujo serviço foi executado pela

CONSTRUTORA MEIRELLES MASCARENHAS LTDA.

Análise do Mérito

Convém observar, que não há qualquer vedação no sentido de que os atestados sejam

emitidos por uma empresa que possua sócios em comum com a empresa licitante. E

nem poderia ser diferente, já que se sabe que o simples fato de duas empresas

estreitarem os laços societários ou quiçá possuírem o mesmo quadro, por si só, não

constitui qualquer vício ou irregularidade. Até porque, não se pode olvidar que cada

empresa conserva sua personalidade jurídica e patrimônio próprio, não existindo,

portanto, qualquer relação entre elas, à exceção da existência de sócios comuns.

Em análise a um caso similar, o Tribunal de Contas da União (TCU) entendeu que:

Sobre os motivos pelos quais considerou insuficiente o atestado de capacidade técnica apresentado pela empresa Connectcom Teleinformática Comércio e Serviços Ltda., a afirmação da Alive de inviabilidade do atestado de capacidade técnica por ter sido emitido por empresa do mesmo grupo econômico não prospera. Em primeiro lugar, porque não há vedação na Lei nº 8.666/93 e nem no edital da licitação. Em segundo lugar, porque o art. 266 da Lei 6.404/76 estabelece que as sociedades (controladora e controlada) conservam a personalidade e patrimônios distintos, além de ser um princípio da contabilidade: o princípio da entidade. Assim, não se misturam transações de uma empresa com as de outra. Mesmo que ambas sejam do mesmo grupo econômico, respeitasse a individualidade de cada uma (sem grifos no original).

Em relação ao presente tópico NÃO assiste razão à Recorrente.

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ATESTADO APRESENTADO INCOMPATÍVEL COM O OBJETO DA LICITAÇÃO.

Alega a Recorrente que:

Em relação ao mesmo atestado de capacidade técnica apresentado pela Recorrida, se

faz necessário observar o Relatório de Análise Nº 1109/2019/SEMAN - COENGE -

AM/COENGE - CAF - AM/SRE – AM, que inabilitou a empresa LCM CONSTRUÇÃO E

COMÉRCIO S.A. no Pregão Eletrônico nº 215/2019-01, sob seguinte argumento:

“Informamos que para o serviço de “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento”, exigido no Termo de Referência - TR, a empresa apresentou Atestado/CAT com o serviço de “Enrocamento de Pedra Jogada”, que não pode ser aceito como serviços compatíveis/semelhantes, tendo em vista as divergências quanto à execução e finalidade, conforme demonstrado: Quanto à execução: o serviço de “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento” apresenta maior complexidade, sendo necessário o uso de dois equipamentos, quais sejam, trator de esteira com lâmina e rolo compactador liso autopropelido vibratório, enquanto o serviço de “Enrocamento de Pedra Jogada” é totalmente manual, portanto de menor complexidade. Quanto à finalidade: o serviço de “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento” poderá ser utilizado como reforço do subleito, executado na plataforma da estrada, fazendo parte da estrutura do pavimento, enquanto o serviço de “Enrocamento de Pedra Jogada” é utilizado para proteger aterros ou estruturas do efeito da erosão. Deste modo, concluímos pela incompatibilidade dos serviços expostos, com fundamento nas composições dos serviços apresentados, disponíveis no SICRO e Manual de Custos Rodoviários. Corroborando com o posicionamento desta equipe de apoio técnico, citamos o Relatório nº 201408580 do Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria Geral da União – CGU.”

Acontece que o serviço comprovado pela Recorrida: “Camada Drenante com Rachão

(Material Drenante Especial)” também não é compatível/semelhante com o serviço

“Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica -

fornecimento e assentamento”, tendo em vista as mesmas divergências quanto à

execução e finalidade, vejamos:

Quanto à execução: “o serviço “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento” apresenta maior complexidade, sendo necessário o uso de dois equipamentos, quais sejam, trator de esteira com lâmina e rolo compactador liso autopropelido vibratório,” (ANÁLISE Nº 1109/2019/SEMAN - COENGE - AM/COENGE - CAF - AM/SRE – AM) enquanto o serviço “Camada Drenante com Rachão (Material Drenante Especial)”, conforme composição de serviço apresentada na documentação de habilitação da Licitante Recorrida, é executado utilizando os equipamentos: carregador frontal pneus mod. 950H e trator de esteira mod. D8R c/ lâmina.

Logo, verifica-se que no serviço “Camada Drenante com Rachão (Material Drenante

Especial)” não há o equipamento rolo compactador liso autopropelido vibratório, tão

pouco outro equipamento equivalente que execute compactação, contrariando o

entendimento já firmado pela equipe de apoio técnico na Análise nº1109/2019/SEMAN.

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Sobre este serviço se faz necessário observar sua definição de acordo com o Manual de

Pavimentação do DNIT:

“Compactação é a operação da qual resulta o aumento da massa específica aparente de um solo (e de outros materiais, como mistura betuminosa, etc), pela aplicação de pressão, impacto ou vibração, o que faz com que as partículas constitutivas do material entrem em contato mais íntimo, pela expulsão do ar; com a redução da percentagem de vazios do ar, consegue-se também reduzir a tendência de variação dos teores de umidade dos materiais integrantes do pavimento, durante a vida do serviço. (MANUAL DE PAVIMENTAÇÃO, DNIT, pág. 41, 2006)”.

Quanto à finalidade verifica-se novamente a incompatibilidade do serviço apresentado,

pois de acordo com a Equipe de Apoio ao Pregão “o serviço de Enrocamento com pedra

de mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e

assentamento” poderá ser utilizado como reforço do subleito, executado na plataforma

da estrada, fazendo parte da estrutura do pavimento” (ANÁLISE Nº 1109/2019/SEMAN -

COENGE - AM/COENGE - CAF - AM/SER-AM).

Por sua vez o serviço “Camada Drenante com Rachão (Material Drenante Especial)”

tem finalidade de drenar as águas, situadas a pequena profundidade do corpo estradal e

não deve ser compactado, conforme foi definido no Relatório TC nº 014.596/2011-3 do

Tribunal de Constas da União (TCU) e pelo Manual de Drenagem de Rodovias do DNIT

abaixo transcritos:

“Ocorre que, neste caso, como o próprio nome do serviço diz, trata-se de camada drenante de rachão, com finalidade de permitir a percolação das águas a serem drenadas e não deve ser compactado. Assim, o volume da "camada drenante com rachão" deveria corresponder ao volume de solo saturado removido. Esse entendimento é reforçado pela literatura técnica a seguir transcrita, da qual se pode inferir que o serviço de camada drenante, independente do material utilizado, não deve ser compactado. Ainda, segundo o Manual de Drenagem de Rodovias IPR/DNIT, páginas 262, 246 e 247. Página 262 5.3 Colchão drenante 5.3.1 Objetivos e características O objetivo das camadas drenantes é drenar as águas, situadas a pequena profundidade do corpo estradal, em que o volume não possa ser drenado pelos drenos "espinha de peixe". Página 247 (...) A função do material drenante é a de captar e ao mesmo tempo conduzir as águas a serem drenadas, devendo apresentar uma granulometria adequada à vazão escoada.”

Segue abaixo também definições do Manual de Drenagem de Rodovias (DNIT, 2006):

Camada drenante - é uma camada de material granular, com granulometria apropriada colocada logo abaixo do revestimento, seja ele asfáltico ou de concreto de cimento, com a finalidade de drenar as águas infiltradas para fora da pista de rolamento. (...) 4.2 CAMADA DRENANTE As bases drenantes, como já foi dito, localizam-se entre o revestimento e a base e se estendem até os drenos rasos longitudinais ou as bordas livres.

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Indo a fundo no Relatório nº 201408580 do Ministério da Transparência, Fiscalização e

Controladoria Geral da União – CGU citado na Análise Nº 1109/2019/SEMAN -

COENGE - AM/COENGE - CAF - AM/SER-AM que inabilitou a empresa LCM

CONSTRUÇÃO E COMÉRCIO S.A, transcrevemos o trecho abaixo:

“A CGU adotou a composição de referência do DER/PR código: 51620 – “Preenchimento rebaixo c/ rachão”, por inexistir composição deste serviço de reforço de subleito com rachão no SICRO 2. Para tanto, foram realizadas duas alterações na composição do DER/PR: 1) para o salário do apontador, utilizou-se o valor do salário do ajudante da mesma forma que o adotado pelo SICRO 2 em suas composições, 2) e adotou-se o coeficiente de consumo de rachão de 1,00 m³, pois, nas medições do DNIT, o volume solto está igual ao compactado. Cabe destacar que a composição da CGU é conservadora, pois prevê o espalhamento com equipamento adequado de esteiras (trator D8) e a compactação do material com rolo liso, enquanto que, no registro fotográfico, pode-se notar que o espalhamento e a compactação foram feitos, ao menos por vezes, com a concha e o peso próprio de uma pá carregadeira. Sendo evidente que a execução registrada pelas fotografias do DNIT tem qualidade inferior à do serviço descrito na composição do DER-Paraná. (...) ...é evidente que os serviços executados foram para aumentar a capacidade de suporte do subleito (revestimento primário), com o lançamento de uma camada de rachão. Sendo evidente também que os serviços executados de forma emergencial para viabilizar o tráfego na rodovia não atendem aos requisitos da NORMA DNIT 138/2010 – ES. Neste sentido, como relatado inicialmente pela CGU, a composição de referência é conservadora, pois leva em conta a compactação com rolos e espalhamento com controle geométrico, o que não foi observado nos serviços emergenciais (no registro fotográfico).”

Logo, verifica-se claramente que é de entendimento da Controladoria Geral da União a

necessidade de compactação da pedra no serviço de “Enrocamento com pedra de mão,

inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento”, pois

afirma em seu relatório que a execução do serviço sem o equipamento de compactação

tem qualidade inferior ao serviço referente a Composição CGU para reforço de subleito.

Foi demonstrado no Relatório nº 201408580 que tanto a execução quanto a finalidade

do serviço composto pela CGU são as mesmas do serviço “Enrocamento com pedra de

mão, inclusive espalhamento e compactação mecânica - fornecimento e assentamento”.

Desta forma resta claro que o atestado de capacidade técnica apresentado pela

Recorrida não atende aos critérios técnicos exigidos em edital para comprovação da

qualificação técnico-operacional.

Os relatórios de Análise Nº 1104/2019 e Nº 1109/2019/SEMAN - COENGE -

AM/COENGE - CAF - AM/SER-AM são enfáticos em apontar a necessidade de

compactação do solo por meio de Rolo Liso autopropelido vibratório durante a execução

do serviço correspondente às parcelas de maior relevância do objeto ora licitado. O que

não foi comprovado por meio do atestado apresentado pela Recorrida.

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Os atestados de capacidade têm a finalidade de comprovar para a Administração

Pública, por intermédio de um documento subscrito por terceiro alheio à disputa

licitatória, de que o licitante já executou o objeto licitado em outra oportunidade e a

referida execução foi a contento, o que gerará confiança e segurança à Administração

licitadora de o aludido licitante possuir expertise técnica.

Marçal Justen Filho enaltece a relevância do atestado ao discorrer que “em todo o tipo

de contratação pode cogitar-se da exigência de experiência anterior do licitante como

requisito de segurança para a contratação administrativa. Aliás até se pode afirmar que

em muitos casos a capacitação técnica operacional se evidencia como a única

manifestação de experiência anterior relevante e pertinente.

Por tudo exposto verifica-se que há total incompatibilidade entre o serviço comprovado

pela Recorrida e o serviço que deverá ser comprovado de acordo com os critérios

técnicos exigidos em Edital. Aceitá-lo importará em descumprimento aos princípios do

julgamento objetivo e da vinculação ao instrumento convocatório, princípios estes,

fundamentais a condução dos Certames Licitatórios.

A vinculação ao instrumento convocatório consubstancia-se em “princípio essencial cuja

inobservância enseja a nulidade do procedimento. Além de mencionado no artigo 3º da

Lei 8.666/93, ainda tem matizes arraigadas no art. 41, segundo o qual: ‘a Administração

não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente

vinculada”( DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20. ed. São Paulo:

Atlas, 2007. p. 381).

Análise do Mérito

O Edital em comento solicita que seja comprovada pela licitante a execução pretérita

dos serviços de “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e

compactação mecânica - fornecimento e assentamento” e “Recomposição do

revestimento primário com adição de 3,5% de cimento e 20 % de areia”. O primeiro, alvo

da presente contenda, apresenta maior complexidade, sendo necessário o uso de dois

equipamentos essenciais para sua execução.

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O serviço comprovado pela Recorrida, “Camada Drenante com Rachão (Material

Drenante Especial)” não é compatível ou semelhante com o serviço solicitado no Edital

215/2019, pois diverge quanto à execução e finalidade.

Quanto à execução o serviço “Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento

e compactação mecânica - fornecimento e assentamento” deverá ser executado por

meio de trator de esteira com lâmina e rolo compactador liso autopropelido vibratório,

conforme definiu a equipe de apoio ao pregão, composta pela Coordenadora de

Engenharia e Chefe do Serviço de Manutenção, por meio da ANÁLISE Nº

1109/2019/SEMAN - COENGE - AM/COENGE - CAF - AM/SRE – AM.

Por sua vez, o serviço “Camada Drenante com Rachão (Material Drenante Especial)”, é

executado utilizando os equipamentos: carregador frontal pneus mod. 950H e trator de

esteira mod. D8R c/ lâmina. Esta informação consta na composição de serviço

apresentada na documentação de habilitação da Recorrida. Desta forma conclui-se que

o serviço comprovado pela Recorrida é executado de maneira diversa ao solicitado, sem

o emprego do equipamento rolo compactador liso autopropelido vibratório, nem de outro

equipamento equivalente que execute compactação, contrariando o entendimento

firmado pela equipe de apoio técnico.

Quanto à finalidade verifica-se novamente a incompatibilidade do serviço apresentado.

O serviço exigido em edital poderá ser utilizado como reforço do subleito, executado na

plataforma da estrada, fazendo parte da estrutura do pavimento, enquanto o serviço

apresentado pela Recorrida, “Camada Drenante com Rachão (Material Drenante

Especial)” tem finalidade de drenar as águas, situadas a pequena profundidade do corpo

estradal e não deve ser compactado, diferentemente do serviço a ser executado pelo

vencedor da presente Licitação.

Se faz necessário apontar as definições de serviços constantes no Manual de Drenagem

de Rodovias (DNIT, 2006):

Camada drenante - é uma camada de material granular, com granulometria apropriada colocada logo abaixo do revestimento, seja ele asfáltico ou de concreto de cimento, com a finalidade de drenar as águas infiltradas para fora da pista de rolamento. (...) 4.2 CAMADA DRENANTE As bases drenantes, como já foi dito, localizam-se entre o revestimento e a base e se estendem até os drenos rasos longitudinais ou as bordas livres.

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Durante ação de controle realizada pela Controladoria Geral da União – CGU(

relatório nº 201408580), junto ao DNIT tendo como objeto os serviços no âmbito do

Programa CREMA 1ª Etapa na rodovia BR-163/PA, trecho divisa MT/PA – fronteira

Brasil/Suriname, segmentos km 904,8 ao km 1000,60 (pista simples) e km 1000,60 ao

km 1002,80 (pista dupla), com extensão total de 100,20 km, sob a coordenação da

Superintendência Regional no Estado do Pará foram apontadas algumas

irregularidades.

Uma delas diz respeito ao objeto deste recurso. Foi verificado na referida ação que o

serviço de Enrocamento com pedra de mão, inclusive espalhamento e compactação

mecânica - fornecimento e assentamento, não havia sido executado com a utilização

de Rolo Compactador, vejamos:

“A CGU adotou a composição de referência do DER/PR código: 51620 – “Preenchimento rebaixo c/ rachão”, por inexistir composição deste serviço de reforço de subleito com rachão no SICRO 2. Para tanto, foram realizadas duas alterações na composição do DER/PR: 1) para o salário do apontador, utilizou-se o valor do salário do ajudante da mesma forma que o adotado pelo SICRO 2 em suas composições, 2) e adotou-se o coeficiente de consumo de rachão de 1,00 m³, pois, nas medições do DNIT, o volume solto está igual ao compactado. Cabe destacar que a composição da CGU é conservadora, pois prevê o espalhamento com equipamento adequado de esteiras (trator D8) e a compactação do material com rolo liso, enquanto que, no registro fotográfico, pode-se notar que o espalhamento e a compactação foram feitos, ao menos por vezes, com a concha e o peso próprio de uma pá carregadeira. Sendo evidente que a execução registrada pelas fotografias do DNIT tem qualidade inferior à do serviço descrito na composição do DER-Paraná. (...) ...é evidente que os serviços executados foram para aumentar a capacidade de suporte do subleito (revestimento primário), com o lançamento de uma camada de rachão. Sendo evidente também que os serviços executados de forma emergencial para viabilizar o tráfego na rodovia não atendem aos requisitos da NORMA DNIT 138/2010 – ES. Neste sentido, como relatado inicialmente pela CGU, a composição de referência é conservadora, pois leva em conta a compactação com rolos e espalhamento com controle geométrico, o que não foi observado nos serviços emergenciais (no registro fotográfico).”

O citado relatório se enquadra no caso em tela, visto que se trata de serviço similar ao

que deverá ser realizado pela vencedora do presente Certame. Desta forma não pode a

Administração Pública aceitar serviço incompatível e de complexidade inferior ao

solicitado, uma vez que, este tipo de conduta encontra-se reprovada pelo referido Órgão

de Controle Externo.

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Ressaltamos que a Administração Pública através de sua Área Técnica, responsável

pela Elaboração do Termo de Referência, estabeleceu critérios técnicos de habilitação

condizentes com o objeto da licitação e limitados às parcelas de maior relevância técnica

e valor significativo do objeto, visando a contratação da proposta mais vantajosa,

respeitando os princípios administrativos inerentes às Licitações Públicas, portanto, não

há de se falar em rigor excessivo ou violação do princípio da Razoabilidade. Ao solicitar

a comprovação anterior de serviço de complexidade equivalente ou superior ao do

objeto desta licitação a Administração agiu dentro dos preceitos legais, e alinhada ao

recomendado pela CGU e pela Corte de Contas.

Pelo Exposto resta claro que o serviço apresentado pela Recorrida não guarda

similaridade nem tão pouco equivalência ao serviço solicitado no Instrumento

Convocatório.

Portanto, como na Composição de serviço da empresa habilitada (TESCON),

apresentada na Documentação de Habilitação, não consta o equipamento “rolo

compactador liso autopropelido vibratório”, que foi o motivo que culminou na

Inabilitação, após reanálise da área técnica, da empresa LCM CONSTRUÇÕES E

COMÉRCIO S/A no pregão 206/2015, bem como no Pregão alvo deste Recurso,

entendemos que a Recorrida deverá ser também Inabilitada por não cumprir as

exigências do Edital/TR, ou seja, agir de outra forma com relação a essa questão

estaríamos comprometendo a Isonomia entre os Licitantes.

DA CONCLUSÃO

Em face do acima exposto, DEFIRO parcialmente o RECURSO impetrado pela LCM

CONTRUÇÕES S/A, acatando o argumento de que a habilitação da Recorrida,

TESCON ENGENHARIA LTDA., se deu de maneira indevida pelo mesmo motivo que

resultou em sua própria inabilitação, não atendimento aos critérios de habilitação

previstos em Edital; DEFIRO parcialmente o RECURSO impetrado pela CASTILHO

ENGENHARIA E EMPREENDIMENTOS S/A., ao reconhecer que a Recorrida não

atendeu aos critérios de Habilitação exigidos em Edital, devendo ser inabilitada no

presente certame, pelos motivos ora aduzidos.

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Manaus, 04 de setembro de 2019.

Denival Falcão da Hora Junior

Pregoeiro Oficial DNIT/AM