juízo

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Um zine mais que daora

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Introdução por Victor Sobolewski (O meu irmãozinho Domo): “Eu, nós ou Ele? Abri os olhos. Sou o despertar do Basso. Estava em uma úmida sexta-feira de manhã. A escuridão do quarto que me engolfava era confortante; levantei-me e admirei o quarto. Incrível como tanta coisa importante se alterou e pequenos detalhes do quarto ficavam ali. Resquícios dos anos anteriores ou sensações há muito esquecidas. Enquanto eu caminhava descalço pelo quarto, cacei pelo breu o interruptor, e divaguei à deriva da água corrente. Piscou os olhos. Era ele. Mas não era. Basso era como chamavam esse aí. Não era só o sobrenome. Era parte dele mesmo. Quisera eu conhecê-lo em breve. Ali estava o amigo dos meus amigos. A chuva fustigava o colete de futebol americano enquanto ele simplesmente ficava de pé, com aquela postura orgulhosa na escadaria de pedra e um sorriso estampado no rosto. Abri os olhos. Deus, como somos diferentes. ... Será que eu vou acabar apresentando essa figura para meus amigos? Para alguém? Só que ele parecia tão distante. Sou a obediência do Basso. Piscou os olhos. Era ele. Mas não era. O sorriso que preenchia a face daquele homem já não estava mais lá. A expressão facial era de apreensão. Acho que era porque ele tinha percebido que a chuva era das pessoas ao redor dele. Das coisas que era obrigado a fazer. Da contradição e a hipocrisia que lutavam contra a felicidade íntegra dele. Mas não dele, do João. Eu sabia que não ia parar de chover. Sou a personalidade perdida do Basso.”

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1. Nada com coisa alguma. (O mar, o mar) Se eu soubesse que agora Eu poderia ficar de fora E perder livremente a hora Eu teria ido embora Agora Eu fui lá fora E perdi três horas Para pagar a conta e ir embora Nesse momento As coisas me parecem tão lisas E cheias de sentimento Aproveitei o momento Me perdi no vasto mar Lá no fundo, você estava a me olhar.

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2. 2 segundos Esse meu intervalo de 2 segundos depois do teu sorriso é para estudar cada milímetro dele e, além de apreciar seus belos lábios, tentar imitá-lo. Não é por querer. Nesses 2 segundos, consigo imaginar mais de mil cenas e histórias que terminam em um breve e descontraído ar de felicidade sua. Quem dera você. Quem? Ah, sim. Sorrir, isso. É estranho não receber um sorriso de volta. Tudo o que eu menos quero agora é que você me ache estranho. Então eu tento imitar a beleza sem igual do seu sorriso. E falho, obviamente. Aí então me perco. É nesse momento em que você me vê. E é nesse momento em que me reduzo cada vez mais até desistir e enfiar minha cabeça na água. Seria interessante se eu mudasse o tanto que disse que iria mudar. O amadurecimento por idade (já meio refletida pelas palavras que solto por aí – e por aqui) é pouco demais. Não é possível que sempre algo deva intervir sobre (ou sob) mim para que eu possa dizer o que penso. De qualquer forma, sorria mais. Deixe minha fantasia rolar, ou algo assim...

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3. Uma costa para outra costa Hoje eu dormi sem camisa Na esperança de você vir Me acordar E dizer que as minhas costas são bonitas.

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4. A rua / Autobiografia não autorizada Eu atravessei a rua e olhei pra cima Você voava e cantava com suas milhões de cores Explodia no ar Uma beleza Aí te acorrentaram E você gritava e implorava por socorro E eu nada podia fazer, já que não posso voar Então eu apenas observei e chorei, quando cheguei em casa Aí eu acordei E foi você mesma quem se acorrentou. / Logo pensei: eu só posso ser muito idiota. Por entre nós e lençóis, "eu te amo"s não dados e sujeira nos olhos, reflito: só posso ser muito idiota. De levar cada tombo e subir mais uma vez, não com vontade de acertar, mas com a intenção de se esfolar de novo. Querendo aparecer e ao mesmo tempo recluindo. De soltar e largar milhões de vezes só pra saber como é estar em perigo. De ter medo de atravessar a casa escura, mas no fundo esperando que um fantasma apareça e me assuste. Eu quero rir quando não é hora. Faço piada quando não vale. Falo mil besteiras para que pelo menos uma faça sentido. Tento te convencer de que a vida é bela e engraçada, mas estou sofrendo pelo olhar. Estouro, perco a calma.

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Peço desculpas por rir e por chorar. Não ligo. Ligo. Ligo muito. Peco pela experiência. Acho que posso. Tenho medo de tentar, mas tento. Melhor pedir perdão do que permissão. "Você não tem noção do ridículo?", disse ela. Tenho. Choro escondido. Aprendo sozinho. Peço ajuda quando preciso. Ouço a mesma coisa várias vezes, se ainda faz sentido. Mesmo quando não faz. Não sou melhor nem pior. Só não sei. Nunca sei.

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5. Cama Quantas batalhas já travei onde me deito; Quantos sentimentos já soltei onde me deito; Quantos maldizeres já proferi onde me deito; Como ainda posso deitar onde me deito? Volte, não finja que nada aconteceu Suas marcas ainda prevalecem Onde me deito; E todas as noites eu sinto O erro De te deixar partir.

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6. Quem tem * tem medo Tem remédio pra esquecer Remédio pra dormir Remédio pra acordar Remédio pra não sentir Aí você abre o microondas Derruba o remédio Ele se parte no chão E leva embora uma esperança de que tudo vai dar certo Você se ajoelha e agarra com tanta força Como se sua vida dependesse disso A força faz com que cortes se abram em suas mãos E o sangue se espalha sobre o que você mais gostava de fazer Sangrando e se machucando, você chora E lá está, no chão de sua cozinha: Uma poça de esperança de dias melhores Uma poça de sangue E uma poça de lágrimas. Se levanta, engole o choro, arruma a bagunça e retira os cacos de passado da sua mão E então toma um remédio para curar seu descuido; Um para curar sua insanidade; Um pra curar a dor; Um pra não morrer; Um pra parar de chorar; E outro pra esquecer (não vou completar).

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7. O poema mais legal do mundo soaria assim: "Pizza Microondas Amor Mão Eu sei Tristeza Sanduíche Pastel Amo você Tchau Coala"

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8. Dona, eu lembro muito bem daquele dia. A luz acabou e a gente foi correndo pro seu quarto, que mesmo com o sol batendo, estava escuro. Você deixava o copo d'Água em cima da televisão, esperando que as benções dos padres a abençoassem e você melhorasse logo. Pensando bem, você até rezava antes de comer. Mas aí eu te vi naquela cama e me senti tão triste. Você tinha peso nos olhos, mas se divertia com o nosso pavor. Sorria a quase gargalhar, até que disse algo como: "acendam uma vela, então!" Dona, nós éramos crianças mas não tão burros. Era dia. A luz entrava em todos os centímetros daquela casa, menos no seu quarto. E seu quarto era o que mais deveria estar iluminado. Estávamos lá porque queríamos que não se sentisse sozinha. E talvez seu riso tinha sido por isso. Mas a luz voltou. Depois que abandonamos seu quarto, você se sentiu triste? Dona, depois que se foi, seu quarto ficou vazio e trancado. Mas hoje está habitado e continua lindo. Você ficou na minha mente, Dona.

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9. Everybody hates me when they see me but they love me once they meet me

When you're feeling great about yourself, I'm feeling like shit. When you feel like you're the worst person in the entire universe, I feel awesome and proud of everything I've done in my life. And it's not personal. It's just how the universe flows. It's just how we feel. You love to watch those olds photos running trough the screen all night long. This habit makes you feel like your past was the most exciting thing ever, but it also makes you feel bad about your present. You feel bad for the friends that you left behind, feel bad for the things you said and the things you didn't had the courage to say. You're a sad person and that's not bad. Not bad at all. I feel like shit at night. Every fucking night. It feels like every thing around me is a fucking Salvador Dalí painting, where everything is melting and I'm lost at it. I've lost my point. I've lost my connections. I'm a sad person and that's not bad. Not bad at all. I don't like the things you did. I don't know why you felt like doing it, but that's none of my business. My heart always fight with my mind when I remember this kind of stuff. You're nostalgic and pragmatic about some stuff and that's not bad. Not bad at all. Now, I feel jealous and that's bad. That's very very very bad.

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10. In Promptu Aí está você. Um sorriso belo. Dentes brancos. Há algo diferente nos seus olhos. Uma tristeza sutil; um ar diferente. Eu me envergonho. Chuto pedras. Me recolho. Finjo que não vi. Apresso o passo. Passo reto. Não quero que seus olhos encontrem os meus, pois sei exatamente o que você faria. Iria sorrir para mim, levantar seu braço direito e agitar sua mão bem aberta no ar, me cumprimentando. E aí abaixaria a mão e poria sua face em dúvida ao ver que eu não corresponderia à sua famosa saudação. Não crio alarde. Sigo o meu caminho (já distante do seu...). Talvez você tenha movido seus olhos bonitos – desta vez mais tristes ainda – ao ver alguém parecido comigo. Talvez você tenha desviado a atenção e dito: — Ah, não... É que eu achei que era um amigo meu... E eu respirei profundamente, enquanto negociava com meu coração para fazê-lo bater normalmente. Entenda: vivemos em mundos diferentes. (Mas me desculpe, de qualquer forma.)

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11. E eu que me esforcei tanto em negar.../Abraço/Eu não tenho a intenção de fazer sentido agora/Não durmo de nervosismo

Minhas mãos são desiguais. A cama está suja e vai permanecer assim até amanhã. Ela tem um cheiro desagradável que me remete a amizades agradáveis. Afundo meu rosto no travesseiro e grito porque naquela hora não pude gritar. Fiz uma piada idiota porque naquele momento não a podia fazer. Sou um erro de cálculo. Algo que se sabe o resultado, mas não o método de se chegar a ele. Estava quente. Quente demais. E todo mundo sabia que eu iria escrever e sentir e criar novas coisas a partir disso. Mas está tudo bem, agora. Em menos de cinco minutos você pode tirar umas fotos 3x4 e as distribuir entre seus amigos, se alistar no exército e pensar em qual caminho usar para voltar pra casa. Acontece que não sei qual é o caminho. Não preciso de ajuda, mas seria bom se recebesse um abraço e um ato inusitado por dia. Não de você, nem de você, nem de você... Você, você aí. Isso mesmo. Procurando não fazer sentido Porque sei que se fizesse Não teria metade da graça que tenho. Hoje acordei. Aquele dia doeu Mas doeu menos.

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12. só sei que foi assim{} - ... E é isso. - ... - Diz alguma coisa... - Ah, não, é que, ahn, eu não sei... Sei lá, é isso aí mesmo. Só que você está tão linda hoje... { Passei minha mão direita pelo seu cabelo e empurrei sua cabeça contra meu peito. } - Para, assim vou sentir saudades... - E eu que já estou sentindo? { Rimos um pouco } - Bom, se cuide. Fique bem mesmo. Nunca vou te esquecer. Nunca me esqueça. - Mas é claro que não. Se cuide também... { Dei um beijo em sua testa e me virei para ir embora. Caminhei até o infinito três vezes seguidas. }

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Agradecimentos: "Agradecer? Putz... Tem tanta gente por aí pra agradecer... Mas na real, um muito obrigado pra todo mundo que acredita em mim e realmente gosta das coisas que eu faço. Um obrigado a você, leitor, e um especial para o Zen, que sempre me empolga com essas novas ideias ducaraio. Café Impresso é isso aí."

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Sobre o autor: "João Basso acabou de fazer seus 18 e pra variar não sabe o que fazer da vida. Seu jogo favorito fica entre Ragnarok Online e TWEWY e adora quando as pessoas fazem perguntas engraçadas. Tô me sentindo meio idiota falando de mim em terceira pessoa."

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Café Impresso

Juízo

edição única

Participaram dessa revista: João Basso; Kauanna Nhaia Antoniacomi; Ricardo Zen;

Textos: João Basso Edição e diagramação: Ricardo Zen Revisão: Ricardo Zen Fotos: Kauanna Nhaia Antoniacomi Ilustrações: Ricardo Zen

Contatos: [email protected]

facebook.com/cimpresso avenidainsonia.blogspot.com.br

Julho de 2015

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