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  • MINISTRIO PBLICO FEDERAL Procuradoria da Repblica no Estado do Paran Procuradoria da Repblica no Municpio de Umuarama Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0xx44) 3621-0800 - email: [email protected]

    EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA a VARA DA SUBSEO JUDICIRIA DE UMUARAMA, SEO JUDICIRIA DO PARAN

    URGENTE

    AO CIVIL PBLICA - Improbidade Administrativa AUTOR: MINISTRIO PBLICO FEDERAL e MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DO PARAN RUS: GERSON MRCIO NEGRISSOLI e outros Referncia: Procedimentos Administrativos n._ do MPF e 003.11.000006-8 do MPPR

    O MINISTRIO PBLICO FEDERAL e o MINISTRIO PBLIO DO ESTADO DO PARAN, em litisconsrcios ativo, pelos seus representantes infra-assinados, no uso de suas atribuies institucionais, vm presena de Vossa Excelncia, com fundamento no art. 129, inciso III, da Constituio Federal, art. 17 da Lei n 8.429/1992 e arts. 5, III, "b" e V, "b" e 6, VII, "b" e XIV, "I", todos da Lei Complementar n. 75/93, na Lei n. 7.347/85, e com base em documentos oriundos do Procedimento Administrativo n. da Procuradoria da Repblica no Municpio de Umuarama e o Procedimento Administrativo n. 003.11.000006-8 da Promotoria de Justia de Alto Piquiri, propor a presente

  • MINISTRIO PBLICO FEDERAL Procuradoria da Repblica no Estado do Paran Procuradoria da Repblica no Municpio de Umuarama Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0xx44) 3621-0800 - email: [email protected]

    IAO CIVIL PBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, CUMULADA COM RESSARCIMENTO AO

    ERRIO, com pedido liminar,

    em desfavor dos corrus

    1. GERSON MRCIO NEGRISSOLI, ex-Prefeito Municipal de Alto PiquirVPR, na gesto 2009 a 2012, brasileiro, mdico, filho de Antnio Natal Negrissoli e Dirce Orminda Negrissoli, nascido em 28/08/1968, portador da cdula de identidade com RG n. 4.450.427-8, SSP/PR e CPF n. 680.328.039-04, residente e domiciliado na Rua Tiradentes, n. 1696, centro, em Alto Piquiri/PR;

    2. ROSILENE APARECIDA TORCHETTI, vulgo "Leninha", ex-Secretria Geral de Administrao de Alto Piquiri/PR, na gesto 2009 a 2012, filha de Valdemar Torchetti e Orides Caobianco Torchetti, portadora do RG n. 3.992.397-1/PR e CPF n. 602.258.589-9, residente e domiciliada na Rua Tiradentes, n. 1696, centro, em Alto Piquiri/PR;

    3. M. BRASSANINI LTDA., pessoa jurdica de direito privado, inscrita no CNPJ n. 09.339.662/0001-65, com sede na Rua Belo Horizonte, n. 1612, Jardim Global, em Umuarama/PR;

    4. MAURO BRASSANINI, por si mesmo e representando a empresa M. Brassanini Ltda., filho de Ivo Brassa ini e Leonirda Estrabelle Brassanini, nascido em 13/07/1966, porta or do

  • MINISTRIO PBLICO FEDERAL Procuradoria da Repblica no Estado do Paran Procuradoria da Repblica no Municpio de Umuarama

    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0zz44) 3621-0800 - email: [email protected]

    RG n. 4.163.532-0/PR e CPF n. 570.601.009-97, residente e domiciliado na Rua Belo Horizonte, n. 1612, Jardim Global, em Umuarama/PR e

    5. MARTA RICHTER CABRAL, brasileira, advogada, Procuradora do Municpio, inscrita no CPF/MF sob n. 675.383.809-06, devidamente inscrita na OAB sob n. 17.186/PR, residente e domiciliada na Rua Tiradentes, s/n, em Alto Piquiri -Paran, podendo ser encontrada na sede da Prefeitura Municipal de Alto Piquiri - Paran, pelas razes de fato e de direito a seguir aduzidas:

    1 - DO OBJETO DA AO:

    A presente ao civil pblica de improbidade administrativa tem por objetivo a condenao dos corrus ao integral ressarcimento do dano causado ao patrimnio pblico da Unio e do Municpio de Alto Piquiri, alm da aplicao a eles das sanes previstas no art. 37, 4, da Constituio Federal e na Lei n 8.429/92, em razo da prtica de atos de improbidade administrativa.

    Os atos de improbidade a serem apurados so a indevida contratao de pessoa jurdica pelo Municpio de Alto Piquiri/PR, para o fim de intermediar a irregular contratao de mdicos para prestar servios de sade pblica, inclusive da Estratgia Sade da Famlia, em evidente terceirizao ilegal de atividade fim do Estado, burlando a exigncia de provimento do cargo por concurso pblico e ultrapassando o limite de remunerao equivalente ao subsdio do Prefeito.

    Alm disso, houve direcionamento do procedimentos licitatrios para contratao e favorecimento a

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    empresa e pagamentos de valores pelo Municpio que superam (em muito) os valores contratados.

    Os atos de improbidade abrangem tambm o percebimento do incentivo de custeio das trs Equipes de Estratgia da Sade da Famlia (ESF) pelo Municpio, sem que houvesse a contraprestao de fornecimento de mdicos com carga horria e atribuies correspondentes.

    2. DA COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL:

    O Municpio de Alto Piquiri mantm cadastros no Ministrio da Sade (CNES) de trs Equipes da Estratgia Sade da Famlia (ESF), cada qual com um profissional mdico com carga horria de 40h. Contudo, os mdicos da rede pblica municipal, concursados ou contratados, cumprem carga horria inferior e no prestam atendimentos domiciliares.

    Depreende-se do Termo de Ajustamento de Conduta formalizado na Promotoria de Justia da Comarca' de Alto Piquiri de fls. 353-361, que o Executivo Municipal reconheceu que os registros do CNES-MS esto desatualizados, inclusive que h registro de mdicos e outros profissionais que no esto prestando os servios.

    Assim sendo, no resta dvida de que a verba de incentivo de custeio da ESF tem sido mal empregada pelo Municpio, em evidente prejuzo ao errio.

    A execuo de Convnio celebrado com a UNIO no apenas o cumprimento de um interesse meramente do Municpio. Antes, trata-se da execuo do interesse da prpria U O (ao lado do interesse do Municpio) que, em cooperao com um nte municipal, busca atingir um objetivo comum e tamb da coletividade.

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    Segundo Jos dos Santos Carvalho Filhos: Consideram-se convnios administrativos os ajustes firmados por pessoas administrativas entre si, ou entre estas e entidades particulares, com vistas a ser alcanado determinado objetivo de interesse pblico. (..) No contrato, os interesses so opostos e diversos; no convnio, so paralelos e comuns. Neste tipo de negcio jurdico, o elemento fundamental a cooperao, e no o lucro, que o almejado pelas partes no contrato. (...)

    Mais importante que o rtulo, porm, o seu contedo, caracterizado pelo intuito dos pactuantes de recproca cooperao, em ordem a ser alcanado determinado fim de seu interesse comum. Tendo a participao de entidade administrativa, fcil concluir que esse objetivo sempre servir, prxima ou mais remotamente, ao interesse coletivo. Oportuno o ensinamento de Maria Sylvia Zanella Di

    Pietro2 : Define-se o convnio como forma de ajuste entre o Poder Pblico e entidades pblicas ou privadas para a realizao de objetivos de interesse comum, mediante mtua colaborao (...) os entes conveniados tm objetivos institucionais comuns e se renem, por meio de convnio, para alcan-los; (..) no contrato, o valor pago a ttulo de remunerao passa a integrar o patrimnio da entidade que o recebeu, sendo irrelevante para o repassador a utilizao que ser feita do mesmo; n convnio, se o conveniado recebe determinado Valor, est

    ' CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23' ed. Rio de Janeiro: L en Juris: Rio de Janeiro, 2010, pp. 243 e 245. 2 DI PIETRO, Maria Sylvia Z. Direito Administrativo. 21 ed. So Paulo: Atlas, 2008, pp. 319-3

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    fica vinculado utilizao prevista no ajuste; assim, se um particular recebe verbas do poder pblico em decorrncia de convnio, esse valor no perde a natureza de dinheiro pblico, s podendo ser utilizado para os fins previstos no convnio; por essa razo, a entidade est obrigada a prestar contas de sua utilizao, no s ao ente repassador, como ao Tribunal de Contas;

    Assim, alm de envolver recursos federais, o interesse a ser atendido tambm da UNIO. Embora haja a disponibilizao de recursos federais ao Municpio, os recursos no deixam de ser federais, at porque o interesse para atingir o objetivo do Convnio tambm da UNIO. Por isso mesmo que compete ao Tribunal de Contas da UNIO "VI - fiscalizar a aplicao de quaisquer recursos repassados pela UNIO mediante convnio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Municpio;" (CF, art. 71, VI).

    Desse modo, fica evidenciada a competncia da Justia Federal de Umuarama para processar e julgar o feito.

    3 - DOS FATOS:

    O ru Gerson Mrcio Negrissoli, na condio de Prefeito de Alto Piquiri, celebrou com a empresa M. Brassanini Ltda (de propriedade do requerido Mauro Brassanini), os seguintes contratos de prestao de servios mdicos, precedidos de licitaes na modalidade de prego:

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    TABELA 01: Prego Presencial n. 08/2009: docs. de fls. 0241; Contrato n. 136/2009, de 17/08/2009 (fls. 4245):

    Vigncia: 17/08/09 a 17/07/10 Custo de R$ Objeto: Prestao de servios mdicos, clnico

    geral e plantonista, num total de 720 horas, pelo 701.937,50 em 11 perodo de 05 meses, pelo valor de RI meses, ou seja,

    mdia de R$ 561.550,00. 1 Termo Aditivo de 17/01/2010 (fls. 4647): 63.812 50 por ms.

    Soma dos

    empenhos

    referentes ao

    contrato: R$ 698.228,11.

    Prorrogado o prazo de vigncia do contrato n. 136/2009 em mais 06 meses, com aumento do valor do contrato em mais R$ 140.387,50, ou seja, pelo valor total de R$ 701.937,50.

    Prego Presencial n. 30/2010: docs. de fls. 48-91;

    Contrato n. 86/2010, de 30/07/2010 (fls. 92-94):

    Vigncia: 30/07/10 a 30/06/11 Custo de R$ Objeto: Prestao de servios mdicos, clnico

    geral e plantonista, num total de 864 horas, pelo 504.000,00 em 11

    perodo de 05 meses,

    pelo valor de R$ meses, ou seja, mdia de j 45.818 18 por ms.

    504.000,00. 1 Termo Aditivo de 21/12/2010 (fl. 95):

    Soma dos empenhos referentes ao

    contrato: R$ 600.096,95

    Prorrogado o prazo de vigncia do contrato n. 86/2010 em mais 06 meses.

    Prego Presencial n. 38/2011 (fls. 96-153); Vigncia:

    \

    12/07/11 a 12/04/12/ Custo de ,1($

    Contrato n. 91/2011, de 12/07/2011 (fls. 154-156):

    Objeto: Prestao de servios mdicos, clnico

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    geral e plantonista, num total de 720 horas, pelo 695.422,50 em 09 perodo de 06 meses, pelo valor de R$ meses,

    ou seja, mdia de R$ 77.269,16 por ms. Soma dos empenhos

    referentes ao

    contrato:

    R$ 698.213,91.

    556.338,00. 1 Termo Aditivo de 12/01/2012 (fl. 157): Prorrogado o prazo de vigncia do contrato n. 91/2011, em mais 90 dias, com aumento do valor do contrato em mais R$ 139.084,50, ou seja, pelo valor total de R$ 695.422,50.

    Prego Presencial n. 05/2012 (fls. 158-219); Vigncia.

    17/04/12 a 17/12/12 Custo de R$

    Contrato n. 39/2012, de 17/04/2012 (em anexo): Objeto: Prestao de servios mdicos, clnico geral e plantonista, num total de 720 horas, pelo 486.137 50 em 08 perodo de 04 meses,

    pelo valor de R$ meses, ou seja,

    mdia de R$ 388.910,00. 1 Termo Aditivo de 17/08/2012 (em anexo): 60.767 18 por ms.

    Soma dos empenhos

    referentes ao contrato: R$

    Prorrogado o prazo de vigncia do contrato n. 39/2012, em mais 04 meses, com aumento do valor do contrato em mais R$ 97.227,50, ou seja, pelo valor total de R$ 486.137,50.

    499.991,49. Pregol?=1c~0/2012 (fls. 224

    -288); Vigncia: 1W09/2012 a

    11/03/2013

    Custo de R$ 651.630,00, em 06

    meses, ou seja, mdia de

    Contrato n. 82/2012, de 12/09/2012 (289-293): Objeto: Prestao de servios mdicos, clnico geral e plantonista, num total de 720 horas, pelo perodo de 06 meses, pelo valor de R$ 651.630,00, com prazo de vigncia de 12/09/2012 a

    11/03/2013*. 108.605,00 por ms. Soma do empenhos

  • Contrato n. 136/2009 - vigncia de 17/08/09 a 17/07/10:

    MINISTRIO PBLICO FEDERAL Procuradoria da Repblica no Estado do Paran Procuradoria da Repblica no Municpio de Umuarama Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0xx44) 3621-0800 - email: [email protected]

    referentes ao perodo:

    R$ 561.980,25. * O Contrato n. 82/2012 foi rescindido em Janeiro de 2013 pela nova gesto da Prefeitura Municipal, que foi oposio durante a campanha eleitoral de 2012, nada sendo devido empresa a partir de ento (ver documento de fl. 326).

    Comparando as referidas contrataes, em tese, as variaes de custo mensal mdio dos contratos seriam as seguintes:

    GRFICO 01: Valor R$

    120.000 00

    I 100.000,00

    80.000,00

    60.000,00

    40.000,00

    20 000,00

    *Valor R$

    0,00 136/2009 86/2010 91/2011 39/2012 82/2012

    Analisando os relatrios de empenhos fornecidos pela prpria Prefeitura (fls. 334-342), possvel montar a seguinte tabela:

    TABELA 02:

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    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0xx44) 3621-0800 - email: [email protected]

    Ms/Ano Valores pagos pelo Municpio empresa Setembro/2009 R$ 53.650,58 Outubro/2009 R$ 52.366,90 Novembro/2009 R$ 47.115,46 (empenho 4345 anulado em

    parte) Dezembro/2009 R$ 62.603,11 Janeiro/2010 R$ 52.494,07 (empenho 41 anulado) Fevereiro/2010 R$ 56.127,96 Maro/2010 R$ 52.462,88 Abril/2010 R$ 3.792,61 (empenho 1159 anulado em parte) Maio/2010 R$ 53.002,74 Junho/2010 R$ 52.882,77 Julho/2010 R$ 54.432,38 Valores pagos pelo contrato n. 136/2009, aps a sua vigncia: Agosto/2010 R$ 45.936,10 (empenho 2700 anulado em

    parte) Setembro/2010 R$ 45.000,00 (empenho 3040 anulado) Dezembro/2010 R$ 66.360,55 (empenho 3429 anulado) TOTAL: R$ 698.228,11 (por onze meses de trabalho) Mdia mensal: R$ 63.475,28

    Contrato n. 86/2010, com vigncia de 30/07/10 a 30/06/11: Agosto/2010 No houve empenho por este contrato Setembro/2010 No houve empenho por este contrato Outubro/2010 R$ 60.973,55

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    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona 1- Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0xx44) 3621-0800- email: [email protected]

    Novembro/2010 R$ 61.400,64 Dezembro/2010 R$ 98.021,29 Janeiro/2011 R$ 62.920,71 Fevereiro/2011 R$ 63.524,11 Maro/2011 R$ 61.484,62 Abril/2011 R$ 61.088,72 Maio/2011 R$ 64.651,83 Junho/2011 R$ 66.031,48 TOTAL: R$ 600.096,95 (por onze meses de trabalho) Mdia mensal: R$ 54.554,26

    Contrato n. 91/2011, com vigncia de 1W07/11 a 12/04/12 Julho/2011 (*11/07/2011)

    R$ 76.706,82

    Agosto/2011 R$ 74.384,87 Setembro/2011 R$ 70.992,14 Outubro/2011 R$ 72.140,27 Novembro/2011 R$ 73.687,93 Dezembro/2011 R$ 80.017,02 Janeiro/2012 R$ 82.370,73 Fevereiro/2012 R$ 89.947,75 Maro/2012 R$ 77.966,38 TOTAL: R$ 698.213,91 (por nove meses de trabalho) Mdia mensal: R$ 77.579,32

    /

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    Contrato n. 39/2012, com vigncia de 17/04/12 a 17/12/12 Abril/2012 (*17/04/2012)

    R$ 95.819,99

    Maio/2012 R$ 90.972,04 Junho/2012 R$ 98.643,45 Julho/2012 R$ 111.398,40 Agosto/2012 R$ 103.157,61 TOTAL: R$ 499.991,49 (por cinco meses de trabalho) Mdia mensal: R$ 99.998,29

    Contrato n. 82/2012, com vigncia de 1W09/2012 a 11/03/2013 Setembro/2012 (*13/09/2012)

    R$ 115.916,56

    Outubro/2012 R$ 123.549,08 Novembro/2012 R$ 121.559,66 Dezembro/2012 R$ 200.954,95 TOTAL: R$ 561.980,25 (por trs meses e meio de

    trabalho) Mdia mensal: R$ 160.565,78 * Data do primeiro pagamento

  • 180000

    160000

    140000

    120000

    100000

    80000

    60000

    40000

    20000

    o

    oValor contrato

    40Valor pago

    136/2009 86/2010 91/2011 39/2012 82/2012

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    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0xx44) 3621-0800 - email: [email protected]

    GRFICO 02:

    Analisando os empenhos da Prefeitura, possvel observar que o valor mdio mensal pago ultrapassou (em muito) os limites contratados, conforme se visualiza no grfico acima.

    Estes dados sero o ponto de partida para se demonstrar, nos prximos tpicos, os seguintes fatos:

    a) O Municpio no poderia ter feito a contratao de empresa com o fim de intermediar a contratao de mdicos para atender a sade pblica municipal;

    b) Houve ilegalidade e direcionameto das licitaes, especialmente da ltima, alm de irregularidades contratuais e nulidade do ltimo contrato de prestao de servios;

    c) A empresa no garantiu o atendimento mdico conforme contratado, pois os mdicos se limitavam a consultar vinte pacientes, recusando-se a atender os demais, mesmo dentro do seu horrio de atendimento; os mdicos no faziam os atendimentos pel

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    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax .

    (0xx44) 3621-0800 - email: [email protected]

    ESF, sequer cumpriam a carga horria exigida de 40 horas; o Posto de Sade, por algumas vezes ficou sem nenhum profissional mdico, entre outras deficincias.

    d) Os empenhos efetivamente pagos pelo Municpio em favor da empresa superam em muito os valores contratados, o que configura apropriao indevida do dinheiro pblico e descaso completo com a Justia;

    e) Os atos referidos configuram improbidade administrativa, que causaram dano ao errio, a ensejar a responsabilizao solidria dos requeridos e o ressarcimento integral do dano causado.

    4. DA INCONSTITUCIONALIDADE DA CONTRATAO DA EMPRESA PARA PRESTAO DE SERVIOS MDICOS:

    A Constituio Federal, em seus arts. 6, 196 e seguintes, garantiu a sade como direito de toda a sociedade e dever do Estado.

    Estabeleceu, ainda, a Carta Magna de 1988, que as aes e servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e integrada, constituindo um "Sistema nico", ao passo em que assegurou tambm iniciativa privada a prestao de servios sade, sob a regulamentao, fiscalizao e controle do poder pblico.

    A Lei n 8.080/90, que dispe sobre as condies para promoo, proteo e recuperao da sade, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes e d outras providncias, estabeleceu em seu art. 4 que o Sistema nico de Sade - SUS constitudo pelo conjunto de aes e servios de sade, prestados po rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais, d

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    administrao direta e indireta e das fundaes mantidas pelo poder pblico.

    A iniciativa privada pode tambm participar do sistema pblico, denominado "SUS", como se pode entrever do pargrafo 1 do art. 199 da Constituio Federal, e art. 4, pargrafo 2, da Lei n 8.080/90, que consignam, ad litteram:

    Art. 199. (..) 1. As instituies privadas podero participar de forma complementar do sistema nico de sade, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito pblico ou convnio, tendo preferncia as entidades filantrpicas e as sem fins lucrativos." Art. 4 (..) 2. A iniciativa privada poder participar do Sistema nico de Sade(SUS), em carter complementar,

    Assim, as instituies privadas podem se habilitar a integrar o sistema pblico, sempre de forma complementar, com estrita observncia das suas diretrizes, tendo preferncia as instituies filantrpicas e as sem fins lucrativos.

    Destarte, importante destacar os objetivos do SUS, aos quais esto sujeitas as instituies acima declinadas, conforme constante no art. 5 da Lei n 8.080/90, in verbis :

    Art. 5. So objetivos do Sistema nico de Sade-SUS: I - a identificao e divulgao dos fatores condicionantes e determinantes da sade;

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    II - a formulao de poltica de sade destinada a

    promover, nos campos econmico e social, a observncia do disposto no 1 do art. 2 desta lei; III

    - a assistncia s pessoas por intermdio de aes de promoo e recuperao da sade, com realizao integrada das aes assistenciais e das atividades preventivas (grifou-se).

    Pois bem: em acordo com as diretrizes traadas constitucionalmente, as instituies privadas integrantes do SUS, com ou sem fins lucrativos, aderem a essas diretrizes, bem como quelas previstas no inciso II do art. 5 da Lei n 8.080/90, comprometendo-se a prestar atendimento universal e gratuito aos pacientes, de forma eficiente e eficaz, produzindo resultados com qualidade.

    Para se abordar, especificamente, a

    inconstitucionalidade e a ilegalidade da parceria ora constatada, que nada mais do que Terceirizao da Sade Pblica, faz-se necessrio visualizar, na inteireza, o Sistema nico de Sade - SUS, como previsto na Constituio de 1988 e na Lei n 8080, de 19 de setembro de 1990, e as implicaes decorrentes em funo da terceirizao.

    O direito vida, como direito humano bsico, o fundamento primeiro de qualquer Constituio que se queira democrtica, pluralista, onde prevalea (ou deva prevalecer) a igualdade e a justia, como valores supremos da sociedade.

    Quando a Constituio de 1988 elege fundamentos como dignidade da pessoa humana e cidadania (incisos II e III, art. 1); sociedade livre, justa e solidria, com erradicao da pobreza (incisos I e III, art. 3), prevalncia dos direitos humanos (incisos II, art. 4) e, finalmen k a t direito vida (art. 5) est ela falando, primordialmente, de sad porque sem esta tais valores seriam, como so, inexistentes.

    Sade bsica, porque , no fundo, tudo. Cond ao primeira para a existncia de qualquer outro direito. Da o fat de a

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    .Or

    Constituio Brasileira estabelecer que sade direito de todos e dever do estado (art. 196). No dizer do art. 2, da Lei n 8080/90: "A sade um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis ao seu pleno exerccio".

    Previu a Constituio um Sistema Pblico de Atendimento Sade da Populao, intitulado Sistema nico de Sade, que de responsabilidade do Estado,

    facultando a prtao de servios de sade tambm iniciativa privada.

    Os servios pblicos de sade, como dever do Estado, so (ou devem ser) garantidos "mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao" (art. 196).

    O referido Sistema, como aes e servios de sade, "integram uma rede regionalizada e hierarquizada", com descentralizao, atendimento integral e participao da comunidade (art. 198, CF), sendo assim definido na Lei n 8080/90:

    Art. 4 - O conjunto de aes e servios de sade, prestados por rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais, da Administrao Direita e Indireta e das fundaes mantidas pelo Poder Pblico, constitui o Sistema nico de Sade - SUS.

    O Sistema financiado com recursos pblicos (Unio - na sua grande parte, Estados e Municpios) sendo facultada iniciativa privada a participao complementar.

    A Constituio e a Lei n 8080/90, ao fixar os parmetros do Sistema de Sade Pblica, facultou que a assistncia sade livre iniciativa privada (art. 199 da CF). Ou seja, se participar do Sistema nico de Sade, do SUS, pode a iniciati a privada, mesmo assim, prestar servios de assistncia sade. T is

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    servios, como lgico, so tambm de relevncia pblica, como definido no art. 197 da Constituio.

    Entretanto, quando a entidade privada, com ou sem fins lucrativos, participa do Sistema nico de Sade - SUS, mediante contrato ou convnio, ela o faz de forma complementar.

    Agora pergunta-se: o que quer dizer essa forma complementar e qual o alcance do disposto no art. 197 da Constituio Federal, que estabelece que a "execuo dos servios de sade pode ser feita diretamente ou atravs de terceiros e, tambm, por pessoa fsica ou jurdica de direito privado"?

    No possvel celebrar contratos visando transferncia para a iniciativa privada de todo o atendimento do SUS, subtraindo-se a prpria municipalidade, na prtica, da prestao direta de servios de sade.

    A interpretao sistemtica da Constituio Federal e da Lei n 8080/90 leva-nos a esse raciocnio:

    1 - o Estado deve prestar servios de sade diretamente; 2 - quando a capacidade instalada das unidades hospitalares do Estado for insuficiente, tais servios podem ser prestados por terceiros, ou seja, pela capacidade instalada de entes privados,

    tendo preferncia entidades filantrpicas e as sem fins lucrativos ( 1, art. 199 CF); 3 - pode prestar tais servios por intermdio de entidades com fins lucrativos, desde que estas se subsumam s regras do SUS. Aqui tambm de forma complementar e para que o Estado possa, no atendimento da Sade pblica, utilizar-se tamb 'm da capacidade instalada destes entes privados.

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    Da porque o art. 24 da Lei n 8080/90 estabelece que "quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial populao de uma determinada rea, o Sistema nico de Sade - SUS poder recorrer aos servios ofertados pela iniciativa privada".

    Previu o Sistema, de conseguinte, que otimizada e em pleno funcionamento a capacidade instalada pblica de prestao de servios de sade, mas sendo esta, em determinada rea, insuficiente, seriam chamados, para participar, de forma complementar, a iniciativa privada com sua capacidade instalada, ou seja, com seus mdicos, instalaes, prdios, equipamentos, etc.

    Ora, no mbito do SUS, quis a Constitui e a Lei n. 8080/90, que a iniciativa privada (com ou sem fins lucrativos) ocupasse o papel de simples coadjuvante do Poder Pblico. Por isso, s excepcionalmente, quando patenteada a insuficincia das disponibilidades estatais, admite-se a participao de entidades privadas na prestao de servios de sade no mbito do SUS, e, mesmo assim, somente para, com sua capacidade instalada, complementar a atividade estatal, nunca para substitu-la completamente, como ocorreu e vem ocorrendo por intermdio das chamadas terceirizaes.

    Eis, no ponto, o que leciona Maria Sylvia Zanella di Pietro 3, ao analisar o art. 199, 1 da CF:

    No entanto, a prpria Constituio faz referncia possibilidade de serem os servios pblicos de sade prestados por terceiros, que no a Administrao Pblica. Com

    efeito, o art. 199, 1, estabelece que "as instituies privadas podero participar de forma complementar do sistema nico de sade, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito pblico ou convnio, tendo preferncia as entidades filantrpicas e as sem fins lucrativos."

    3 in "Parcerias na Administrao Pblica", Ed. Atlas, r ed., pg. 123

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    A Constituio fala em contrato de direito pblico e em convnio. Com

    relao aos contratos, uma vez que forosamente deve ser afastada a concesso de servio pblico, por ser inadequada para esse tipo de atividade, tem-se que entender que a Constituio est permitindo a terceirizao, ou seja, os contratos de prestao de servios dos SUS, mediante remunerao pelos cofres pblicos. Trata-se dos contratos de servios regulamentados pela Lei n 8.666, de 21.6.93, com alteraes introduzidas pela Lei n 8.883, de 8.6.94. Pelo art. 6, inc. II, dessa lei, considera-se servio "toda atividade destinada a obter determinada utilidade de interesse da Administrao, tais como: demolio, conserto, instalao, montagem, operao, conservao, reparao, adaptao, manuteno, transporte, locao de bens, publicidade, seguro ou trabalhos tcnico-profissionais." importante realar que a Constituio, no dispositivo citado (art. 199, 1), permite a participao de instituies privadas "de forma complementar", o que afasta a possibilidade de que o contrato tenha por objeto o prprio servio de sade, como um todo, de tal modo que o particular assuma a gesto de determinado servio. No pode, por exemplo, o Poder Pblico transferir a uma instituio privada toda a administrao e execuo das atividades de sade prestada por um hospital pblico ou por um centro de sade;

    o que pode o Poder Pblico contratar instituies privadas para prestar atividades-meio, como limpeza, vigilncia, contabilidade, ou mesmo determinados servios tcnico-especializados, como os inerentes aos hemocentros, realizao de exames mdicos, consultas, etc.; nesses casos, estar transferindo apenas a execuo material de determinadas atividades ligadas' ao servio de sade,

    mas no sua gesto operacional (grifou-

    se). Ou-

    se).

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    A Lei n 8080, de 19.9.90, que disciplina o Sistema nico de Sade, prev, nos arts. 24 a 26, a participao complementar, s admitindo-a quando as disponibilidades do SUS "forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial populao de uma determinada rea", hiptese em que a participao complementar "ser formalizada mediante contrato ou convnio, observadas, a respeito, as normas de direito pblico" (entenda-se, especialmente, a Lei n 8.666, pertinente a licitaes e contratos). Isto no significa que o Poder Pblico vai abrir mo da prestao do servio que lhe incumbe para

    transferi-la a terceiros; ou que estes venham a administrar uma entidade pblica prestadora do servio de sade;

    significa que a instituio privada, em suas prprias instalaes e com seus prprios recursos humanos e materiais, vai complementar as aes e servios de sade, mediante contrato ou convnio.

    Os servios e aes de sade, inclusive aqueles prestados pela iniciativa privada fora do mbito do SUS, so de relevncia pblica. Entretanto, os servios pblicos de sade prestados pelo Estado tm natureza especfica de servio pblico. No poderia ser de outro modo, j que dever do Estado prest-lo - art. 196 da Constituio Federal.

    Trata-se, ademais, de um servio pblico, que, em seu substrato material, constitui-se na prestao, aos administrados em geral, de servio de utilidade ou comodidade material que o Estado assume como prpria, por ser reputada imprescindvel, necessria ou apenas correspondente s convenincias bsicas da sociedade em dado tempo histrico. Enquadrando-se no conceito de servio pblico, a atividade reger-se- pelo regime de direito pblico .

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    No dizer de Hely Lopes Meirelles 4 : Servios prprios do Estado so aqueles que se relacionam intimamente com as atribuies do Poder Pblico (segurana, polcia, higiene e sade pblica etc) e para a execuo dos quais a Administrao usa da sua supremacia sobre os administrados. Por esta razo, s devem ser prestados por rgos ou entidades pblicas, sem delegao a particulares. Tais servios, por sua essencialidade, geralmente so gratuitos. Sendo um servio pblico, as aes e a execuo da prestao dos servios de sade, dentro do mbito do SUS, esto sujeitas s regras dos arts. 37 e 175 da Constituio Federal, no que se referem necessidade de prvia licitao, ao recrutamento de pessoal "mediante concurso pblico e ao respeito ao princpio da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. A no ser assim, os tradicionais instrumentos de fiscalizao concebidos para evitar o desvio de recursos pblicos deixaro de ser aplicados, ficando a Unio desguarnecida de mecanismos que possibilitem o controle sobre o uso das verbas do SUS.

    O art. 24 da Lei n 8080/90, ao admitir que o Sistema nico de Sade possa recorrer aos servios ofertados pela iniciativa privada, ou seja, daqueles ofertados pela capacidade instalada desta, prev, no seu pargrafo nico, que a utilizao de tais servios privados "ser formalizada mediante contrato ou convnio, observadas, a respeito, as normas de direito pblico".

    Sendo tais contratos ou convnios de direito pblico, editou o Ministrio da Sade, em 26 de outubro de 1993 (DOU de 03.11.93) a Portaria MS n 1.286, que "dispe sobre a explicitao

    4 in "Direito Administrativo Brasileiro", Ed. RT, 16a ed., pgs. 291/2

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    de clusulas necessrias nos contratos de prestao de servios entre o Estado, o Distrito Federal e o Municpio e pessoas naturais e pessoas jurdicas de direito privado de fins lucrativos ou filantrpicas participantes, complementarmente, do Sistema nico de Sade".

    Nessa Portaria, reconhece-se a necessidade de se recorrer iniciativa privada, "quando suas disponibilidades (do Estado) forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial necessria", e o Anexo I, da mencionada Portaria, a minuta do contrato de prestao de servios, cujo cabealho assevera que o referido "contrato guarda consonncia com os arts. 196 e seguintes da Constituio, as Leis ns. 8080/90 e 8.142/90 e as normas gerais da lei federal de licitaes e contratos administrativos e demais disposies legais e regulamentares". 5

    Por tal contrato, vedada a cobrana por servios mdicos, hospitalares e outros; o pessoal (mdico e de nvel mdio) de responsabilidade exclusiva da contratada; menciona-se que os servios sero "executados pelo HOSPITAL situado na rua do Estado"; prev-se que o contratado " responsvel pela indenizao de dano causado ao paciente, aos rgos do SUS e a terceiros a eles vinculados, decorrentes de ao ou omisso voluntria, ou de negligncia, impercia ou imprudncia praticadas por seus empregados, profissionais ou prepostos, ficando assegurado ao contratado o direito de regresso".

    Dentro desses mesmos parmetros, fixou o Ministrio da Sade, via Portaria n 944, de 12.5.94, publicada no DOU de 13.5.94, as regras para a participao das entidades filantrpicas nos servios do SUS. Pelo art. 2 do referido diploma, nota-se (mais uma vez) a forma complementar de participao dessas entidades, bem como o interesse do Poder Pblico em utilizar a capacidade instalada das mesmas para prestao de servios de sade pblica. Eis o que diz o art. 2:

    5 Anexo I da Portaria n 1.286 do Ministrio da Sade

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    Art. 2 - Depois de esgotada a capacidade de prestao de aes e servios de sade, pelos rgos e entidades da Administrao Pblica direta, indireta e fundacional, a direo do Sistema nico de Sade em cada esfera de governo dar preferncia, para participao complementar no sistema, s entidades filantrpicas e s entidades sem fins lucrativos, com as quais celebrar convnio.

    V-se, portanto, que antes de se falar em organizao social ou terceirizao, o Ministrio da Sade, via dos referidos documentos de direito pblico, j havia previsto, em consonncia com a Constituio e a Lei n 8080/90, os instrumentos adequados, minuta de contrato e convnio - de natureza pblica -mediante os quais a iniciativa privada, com ou sem fins lucrativos, poderia participar, com suas unidades hospitalares, do Sistema nico de Sade.

    Na realidade, a terceirizao/parceria de que trata a presente ao, foi implementada em Alto Piquiri/PR, como contrato de prestao de servios, sem que fossem respeitadas as normas de direito pblico (no exigncia de licitao para compra de material, no exigncia de concurso pblico para contratao de pessoal, etc).

    Assim, a maioria das organizaes sociais, principalmente cooperativas e associaes de mdicos que no dispem de qualquer patrimnio ou estrutura hospitalar, ao celebrarem contratos com a Administrao Pblica, esto atrs de vantagens pessoais para seus associados, que, no mnimo, de servidores pblicos, passam a gestores da coisa pblica (sem licitao ou concurso), obtendo salrios melhores e inmeras outras vantagens, inclusive a possibilidade de se utilizarem da estrutura pblica dos servios de sade para atendimento de client particulares, como pblico e notrio.

    Em sntese, a exegese do art. 199, 1 a

    Constituio Federal, indica que possvel a contratao de um

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    hospital ou clnica para complementar a prestao de, servio ambulatorial necessrio ao servio de incumbncia da ESF, remunerando-se a equipe, conforme convnio ou contrato firmado. Nesse caso, a pessoa jurdica contratada responsvel pela prestao integral do servio, devendo observar os requisitos da poltica pblica nacional, nos termos do contrato firmado, ficando os profissionais de sade a ela vinculados.

    No obstante, essa complementao privada dos servios pblicos de sade no se confunde com a contratao de pessoa jurdica para contratao indireta de mdicos que atuaro como se servidores pblicos fossem.

    No caso em comento, a forma como foi feita a complementao do servio mdico no Municpio de Alto Piquiri indica que houve terceirizao ilegal de atividade fim do Estado.

    Em primeiro lugar, o requerido Gerson, na condio de Prefeito, no esgotou as tentativas de provimento dos cargos via concurso pblico. Durante toda a sua gesto (2009-2012), foi aberto concurso pblico apenas em 27/05/2012, ou seja, no ltimo ano de mandato. No houve interessados inscritos para o cargo de mdico, com carga horria de 40 horas, talvez em virtude da remunerao muito inferior a mdia do mercado (R$ 7.000,00).

    Observa-se que desde o incio da gesto se priorizou a terceirizao da contratao de mdicos. E mesmo no ltimo ano do mandato, ainda que no tenha havido interessados inscritos no certame, seria possvel ao Municpio, por meio de lei, alterar a carga horria dos cargos para 20 ou 30 horas, tendo como norte o subsdio do Prefeito, a fim de garantir a atratividade dos mesmos, e novamente reabrir concurso pblico, o que no foi feito.

    Em segundo lugar, a empresa Brassanini no tinha qualificao tcnica para prestar servios mdicos, mas apenas intermediava (e de fachada) a contratao dos profissionais, que

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    trabalhavam como se servidores pblicos fossem, sem, contudo, se ater ao limite de remunerao equivalente ao subsdio do Prefeito.

    No resta dvida, portanto, de que a contratao da empresa Brassanini inconstitucional, por consistir terceirizao ilegal de atividade fim do Estado e burla ao princpio do concurso pblico e do teto constitucional do Prefeito.

    5. DAS ILEGALIDADES E IRREGULARIDADES NAS LICITAES E NOS CONTRATOS DE PRESTAO DE SERVIOS:

    5.1. Da ausncia de qualificao tcnica da empresa Brassanini:

    Os procedimentos licitatrios utilizados pelo Municpio de Alto Piquiri para escolha do prestador de servio se deram na modalidade de "prego".

    O prego regido pela Lei n. 10.520/2002, que exige "qualificao tcnica" para prestao do servio (art. 4, inc. XIII).

    A "qualificao tcnica" da empresa Brassanini no foi comprovada em nenhum procedimento licitatrio, porquanto no se exigiu registro ou inscrio da empresa ou de seu representante em entidade profissional competente, tampouco comprovao de desempenho das atividades pertinentes e compatveis em caractersticas, quantidades e prazos.

    Estranhamente, o representante da empresa Brassanini contador e possui empresa individual de contadoria, conforme fazem prova os documentos de fls. 327-328. Ou seja, ele no possui qualificao tcnica para prestar servios mdicos.

    A empresa Brassanini iniciou suas atividades em Fev/2008, como microempresa individual, tendo por objeto social "atividades e servios pessoais, profissionais de sade, limpeza e

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    manuteno" (fls. 31 e 73). De plano facilmente se observa a vagueza e a generalidade da descrio dos objetos sociais da empresa, que, ademais, no guardam nenhuma relao de similitude ou afinidade entre si.

    A partir da terceira licitao, em 2011, o requerido Mauro transformou a microempresa em empresa limitada, incluindo como scio seu tutelado (menor de idade), que teria direito a cota de 1% do capital social (valor nominal de R$ 1,00) (fls. 124-127).

    De fato, para que a empresa pudesse continuar contratando com o Municpio ela teve que se adequar, porquanto o alto valor repassado pelo Municpio como contraprestao ultrapassava o limite de faturamento da microempresa.

    Dessa forma, verifica-se que a empresa composta to somente pelo requerido Mauro e seu tutelado, menor de idade, ou seja, nenhum dos scios tem qualificao tcnica para prestao dos servios mdicos.

    Alm de todos esses indcios de fraude, causa estranheza que a sede da empresa Brassanini o prprio endereo residencial do requerido Mauro, conforme consta no cadastro nacional de pessoa jurdica e no contrato social de fls. 32 e 124.

    Por fim, impe-se observar que o requerido Mauro, na prtica, no exercia a gerncia na contratao dos mdicos. Segundo consta de suas declaraes prestadas na Promotoria de Justia de Alto Piquiri, a empresa sequer firmava contrato escrito com os mdicos que prestavam servios para o Municpio (fl. 321).

    Em verdade, a Secretria Geral de Administrao, Rosilene Aparecida Torchetti, esposa do requerido Gerson, era quem na prtica intermediava a contratao de mdicos, organizava as escalas de plantes bem como negociava verbalmente com os mdico os valores dos honorrios. Tanto assim que, quando os requerido foram chamados na Promotoria de Justia de Alto Piquiri para presta declaraes, quem demonstrava conhecimento especfico acerca a

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    situao dos mdicos e dos atendimentos via ESF, no eram os requeridos Gerson e Mauro, mas sim a requerida Rosilene (fls. 322-323).

    A ligao do requerido Mauro com os> demais requeridos advm do fato de ele ser irmo do ex Secretrio Municipal de Sade Jos Carlos Brassanini, conforme declarao da prpria requerida Rosilene (fls. 322-323).

    A requerida Rosilene disse expressamente que a escolha por contratar mdico via empresa foi feita porque a remunerao dos profissionais poderia ultrapassar o limite do teto do salrio do Prefeito (que de R$ 8.870,00) e, ainda, porque a Prefeitura no precisaria pagar dcimo terceiro e frias.

    Por todo o exposto, no resta a menor dvida de que a contratao da empresa requerida consistiu terceirizao ilegal de atividade fim do Estado, com o fim nico de burlar a exigncia de provimento dos cargos por meio de concurso pblico e o limite de remunerao equivalente ao subsdio do Prefeito.

    Com efeito, no se contratou um hospital, uma clnica ou uma associao de mdicos para complementao privada dos servios pblicos de sade, mas uma empresa individual de um contador.

    A empresa do requerido Mauro no possua qualificao tcnica para prestar os servios contratados, sequer contava com profissionais prprios ou sede prpria. Em verdade, a contratao de mdicos se dava de forma verbal, no escrita, e a requerida Rosilene era quem usualmente encabeava as tratativas com os mdicos.

    A ausncia de comprovao de habilitao tcnic da empresa do requerido Mauro configura frustrao d procedimento licitatrio, porque era uma exigncia prevista no edita mas que no foi fiscalizada na prtica.

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    5.2. Das irregularidades nos contratos de prestao de servios:

    Todos os contratos entabulados entre as partes descrevem de forma genrica o seu objeto, por meio da seguinte formulao: "prestao de servios mdicos, clnico geral e plantonista, num total de 720 horas, pelo perodo de XX meses,

    pelo valor de R$ XX". Nas contrataes no se menciona o nmero de

    profissionais para prestao do atendimento, o que inviabiliza a Estratgia Sade da Famlia, que exige a vinculao de cada profissional a cada equipe de ESF.

    Alm disso, no se especifica se devem ser descontadas da empresa as horas cobertas por mdico concursado do Municpio.

    Com efeito, analisando a grade horria dos .mdicos fornecida pela Secretaria Municipal de Sade s fls. 302-307, verifica-se que nela estava includo o trabalho do mdico Paulo Vincius Ferreira Oliveira, que era concursado pela carga horria de 40 horas e prestou servios ao Municpio at o ms de maio de 2012.

    A empresa Brassanini recebeu como se tivesse prestado servios 24 horas por dia, ou seja, 720 horas por ms, sem, contudo, descontar as horas trabalhadas pelo mdico concursado que, no entanto, era remunerado pelo Municpio e no pela empresa.

    Ademais, nas contrataes foi fixado o valor global da prestao do servio, mas no esto especificadas a data ou as condies de pagamento Essa omisso dificulta a fiscalizao do contrato.

    Tanto assim que h empenhos pagos antes ou mesmo na data inicial de vigncia do seu contrato correspondente. Ou seja, a omisso permitiu que os requeridos Gerson e Rosilene pagassem quando quisessem e o quanto quisessem empresa do requerido Mauro, facilitando o desvio do dinheiro pblico.

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    Pelo exposto, de se concluir que as contrataes so genricas quanto ao objeto contratado bem como em relao data e s condies de pagamento, o que configura irregularidade contratual.

    No resta dvida de que a generalidade das disposies contratuais proposital, haja vista que foi usada para dificultar a fiscalizao do contratado e encobrir a m prestao do servio mdico alm dos pagamentos feitos a maior e a destempo.

    Especificamente, em relao ao Contrato n. 136/2009 (com vigncia de 17/08/2009 a 17/07/2010), verifia-se que foram feitos pagamentos aps seu prazo de vigncia, em agosto, setembro e dezembro de 2010, alm de terem sido feitas anulaes de empenhos, o que indica mascaramento na contabilidade para tornar os pagamentos compatveis com os valores contratados.

    Em contrapartida, em relao ao Contrato n. 86/2010 (com vigncia de 30/07/2010 a 30/06/2011), no houve pagamentos nos dois primeiros meses de sua vigncia, o que confirma a verso de tentativa de readequao das contas.

    5.3. Da nulidade do Contrato n. 8W2012: Dos dados colacionados na Tabela 02 e documentos

    de fls. 334-342, patente a fraude perpetrada em conluio pelos requeridos, especialmente no que tange ao Contrato n. 82/2012.

    Em primeiro lugar, houve direcionamento nos procedimentos licitatrios, uma vez que antes da contratao da empresa Brassanini ou mesmo antes da prestao do servio, a Administrao empenhou os pagamentos correspondentes.

    Os empenhos devem ser feitos depois que o servio prestado, ou seja, aps a apresentao da nota fiscal correspondente pela empresa.

    Deste modo, o pagamento somente devido aps adimplemento da obrigao a que se refere, sendo esta a normativ

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    estabelecida para o processo de liquidao da despesa pblica (art. 63, 2 da Lei n. 4.320/64).

    pacfica a jurisprudncia do Tribunal de Contas da Unio no sentido de ser indevido o pagamento antecipado por servio, salvo em casos excepcionais, devidamente justificados e para os quais sejam adotadas as garantias necessrias (acrdos 48/207, 1090/2007, 374/2010 e 374/2011).

    No mesmo sentido, dispe a Lei n. 8666/1993, em seu art. 65, inc. II, alnea 'c', que a alterao do contrato possvel, justificadamente:

    Quando necessria modificao na forma de pagamento, por imposio de circunstncias supervenientes, mantido o valor inicial atualizado, vedada antecipao de pagamento, com relao ao cronograma financeiro fixado, sem a correspondente contraprestao de fornecimento de bens, execuo de obra ou servios.

    No Contrato n. 91/2011, assinado em 12/07/2011, a empresa Brassanini recebeu R$ 76.706,82 em 11/07/2011 (empenhos 2605 e 2613 - fls. 346-352). Ou seja, a empresa recebeu pelo contrato antes que mesmo que ele fosse formalizado e antes da prestao do servio (fl. 340).

    No Contrato n. 39/2012, assinado em 17/04/2012, a empresa Brassanini recebeu R$ 95.819,99 em 17/04/2012. Ou seja, a empresa recebeu pelo contrato no mesmo dia da sua formalizao e antes da prestao do servio (fl. 342).

    No Contrato n. 82/2012, assinado em 12/09/2012, a empresa Brassanini recebeu R$ 115.916,56 em 13/09/2012. Ou seja, a empresa recebeu pelo contrato um dia depois de sua formalizao e antes da prestao do servio (fl. 342).

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    Assim, verifica-se que os pagamentos relativos aos referidos contratos foram feitos antes da prestao do servio, o que viola a lei. As benesses referidas no estavam previstas no edital, mas foram concedidas empresa Brassanini, ferindo frontalmente o princpio da isonomia.

    O direcionamento se evidencia tambm porque no se respeitou o limite dos valores contratados, conforme demonstrado na Tabela 2 e Grfico 2. A Administrao efetuou pagamentos a maior, o que indica que tendia a beneficiar a empresa Brassanini, que apresentou proposta de menor preo, mas na prtica faturou o maior preo.

    Um procedimento licitatrio deve, necessariamente, respeitar a possibilidade de que qualquer interessado em contratar com o Municpio participe do certame O objetivo justamente impedir o que ocorreu no presente caso: que um determinado particular seja beneficiado em detrimento de outros possveis interessados em contratar.

    Em segundo lugar, a vigncia do Contrato n. 82/2012 se sobreps ilicitamente vigncia do Contrato n. 39/2012.

    Os requeridos celebraram o Contrato n. 39/2012, em 17/04/2012, para prestao de 720 horas de servios mdicos, pelo perodo de 04 meses, pelo valor de R$ 388.910,00.

    Em 17/08/2012, prorrogaram o Contrato n. 39/2012 por mais 04 meses, aumentando seu valor em 25% (percentagem mxima de aumento), totalizando R$ 486.137,50.

    Esse deveria ser o gasto mximo do Municpio com a empresa at 17/12/2012.

    No obstante, os requeridos, nos ltimos trs meses de mandato, celebraram o Contrato n. 82/2012, com prazo de vign a de 12/09/2012 a 11/03/2013,

    para prestao de 720 horas de servio mdicos, pelo valor de R$ 651.630,00.

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    Deste modo, possvel concluir que o Contrato n. 82/2012 nulo, porque sobreps sua vigncia do contrato anterior, com o mesmo objeto, sem que este ltimo tivesse sido revogado.

    No h que se cogitar revogao tcita, posto que esta no admitida, haja vista a exigncia de motivao expressa de todos os atos administrativos, sejam eles discricionrios ou vinculados, consoante o princpio da motivao previsto no art. 50 da Lei n. 9.784/1998.

    Ademais, no sobrevieram fatos imprevisveis ou previsveis impedindo a execuo do contrato. Deste modo, no havia razo plausvel para se celebrar o Contrato n. 82/2012, na vigncia do contrato anterior.

    O Contrato n. 82/2012 gerou prejuzos ao Municpio, gerando desequilbrio financeiro, mormente por ter sido celebrado nos ltimos meses de gesto, quando havia conteno de gastos, com prejuzo aos servios pblicos, para fechamento das contas pblicas.

    A nova contratao, assim, no poderia ter sido entabulada, porque tornou mais onerosa a contraprestao do Municpio, havendo desvio de finalidade, j que o administrador deve se nortear pelo princpio do interesse pblico e no pelo interesse privado da empresa.

    Frisa-se, por oportuno, que a empresa se comprometeu no certame que originou o contrato 39/2012, em prestar seus servios pelos valores l estipulados, at dezembro. Caso o valor no fosse razovel, deveria a empresa pedir a resciso contratual, motivando tal fato para Administrao Pblica buscando os fins de direito.

    Em terceiro lugar, a abusividade do Contrato n. 82/2012 patente, tendo em vista que a mdia mensal de s a contraprestao financeira (R$ 108.605,00) supera a mdia do contra o anterior (R$ 60.767,18) em 78%.

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    Tendo por norte os contratos anteriores, no resta dvida de que o contrato n. 82/2012 abusivo. Ainda, tendo por norte o valor mdio do servio, a abusividade tambm evidente. Veja-se:

    Para que a empresa prestasse o servio mdico 720 horas por ms, ou seja, 24 horas por dia, de segunda a domingo, seria necessria a seguinte quantidade de mdicos, com as respectivas cargas horrias:

    SEG TER QUA QUI SEX SAB DOM 7h -13h M1 M1 M1 M1 M1 M5 M5 13h - 19h

    M2 M2 M2 M2 M2

    19h -1h M3 M3 M3 M3 M3 M6 M6 1h -19h M4 M4 M4 M4 M4

    M1 - mdico de 30h (ESF) M2 - mdico de 30h (ESF) M3 - mdico de 30h (plantonista) M4 - mdico de 30h (plantonista) M5- mdico de 24h (plantonista) M6 - mdico de 24h (plantonista) M7 - mdico de 30h (ESF) dos Distritos

    Desta forma, de se concluir que seriam necessrios cinco mdicos de 30h e dois mdicos de 24 horas para cumprir o avenado, em tese.

    Tendo como mdia o teto mximo equivalente ao do Prefeito Municipal, que de R$ 8.870,00 (fl. 293), o gasto total co

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    mdicos seria equivalente a sete vezes este valor, ou seja, R$ 62.090,00 (sessenta e dois mil e noventa reais).

    de se ponderar que esta mdia est supervalorizada, porquanto o salrio do mdico concursado para 40 horas no Municpio corresponde ao valor de R$ 7.000,00. Ademais, de Jan/ 2009 a Jun/2012, o mdico concursado Paulo Vincius prestava servios recebendo diretamente do Municpio e a empresa se beneficiava de sua carga de trabalho. Isso sem mencionar a m qualidade do servio mdico efetivamente prestado pela empresa e as inmeras vezes que o Posto de Sade no contava com mdicos de planto. Nos Distritos os mdicos nunca fizeram carga horria completa, l comparecendo uma vez por semana, conforme comprovam os docs. de fls. 314-318.

    Assim, o valor contratado supera em 74% o valor do servio. flagrante a abusividade e o superfaturamento do Contrato n. 82/2012, que confirma a sua invalidade.

    No prego n. 26/2012, que originou o Contrato n. 82/2012, ao se aceitar o preo muito superior aos correntes no mercado, frustrou-se a licitude do procedimento licitatrio.

    O contrato foi celebrado e pago em valores abusivos, em plena poca em que havia conteno de gastos pelo Municpio, se contrapondo a efetividade, eficincia, probidade administrativa e fugindo do controle oramentrio a qual se encontra um municpio de pequeno porte.

    Sem mencionar que o Consrcio Intermunicipal de Sade - CISA vem mitigando o atendimento sade integral dos muncipes de Alto Piquiri, notadamente na rea de exames consultas e etc, por questes de dvidas que rotineiramente vem se negociando (fls. 361-369).

    Alm disso, inconteste que o Municpio de Alt Piquiri no possui recursos financeiros para adquirir remdios, ne mesmo os de cunho prioritrio referente ateno bsica, tanto o q

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    o Ministrio Pblico Estadual props quatro aes visando compelir o Estado do Paran a suprir a omisso municipal e fornecer os servios (fls. 370-374).

    Outro indicativo da falta de recursos municipais advm das informaes de que o Executivo Municipal no estava efetuando o repasse de verbas ao Asilo Recanto da Amizade, forando, o Ministrio Pblico Estadual, novamente, a ajuizar ao visando regular tal omisso/irregularidade (fl. 375).

    Assim, a contratao superfaturada se choca com as deficincias na prestao dos servios pblicos, que se deram por ausncia de recurso. No resta dvida de que as verbas pblicas foram mal empregadas

    Em quarto lugar, o Contrato n. 39/2012, se tivesse vigido at 17/12/2012, teria como contraprestao mdia mensal o valor de R$ 60.767,18,

    o que estaria dentro da razoabilidade. No obstante, em 11/09/2012, o Municpio j havia

    ultrapassado em R$ 13.853,99 o teto mximo previsto de R$ 486.137,50. Na prtica, o valor da contraprestao mdia do

    Contrato n. 39/2012, que vigeu de 17/04/2012 a 11/09/2012, foi de R$ 99.998,29,

    o que foge da razoabilidade. Destarte, no resta dvida de que os requeridos

    celebraram o Contrato n. 82/2012, com o fim de camuflar o flagrante desrespeito ao Contrato n. 39/2012, j no ms de Setembro/2012, com o fim de desviar verba pblica.

    Por todo o exposto, impe-se que seja reconhecida a nulidade do Contrato n. 82/2012, pois: a) seu pagamento antecipado indica o direcionamento da licitao; b) sua vigncia se sobreps do Contrato n. 39/2012; c) sua abusividade flagrante, pois a mdia mensal da contraprestao financeira supera em 78% a do contrat

    -O\ anterior e em 74% o custo do servio; d) a finalidade de sua celebrao foi encobrir o desrespeito ao Contrato n. 39/2012.

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    6. DAS IRREGULARIDADES NA PRESTAO DO SERVIO:

    A Portaria n. 2.488/GM/MS, de 2011, do Ministrio da Sade prev a Sade da Famlia como estratgia prioritria na Poltica Nacional de Ateno Bsica, mas com requisitos bsicos de formatao, conforme destacado abaixo:

    A Poltica Nacional de Ateno Bsica tem na Sade da Famlia sua estratgia prioritria para expanso e consolidao da ateno bsica. A qualificao da Estratgia de Sade da Famlia e de outras estratgias de organizao da ateno bsica devero seguir as diretrizes da ateno bsica e do SUS configurando um processo progressivo e singular que considera e inclui as especificidades locoregionais. (..) Compete s Secretarias Municipais de Sade e ao Distrito Federal: (..) IV - inserir a estratgia de Sade da Famlia em sua rede de servios como estratgia prioritria de organizao da ateno bsica; VI -prestar apoio institucional s equipes e servios no processo de implantao, acompanhamento, e qualificao da Ateno Bsica e de ampliao e consolidao da estratgia Sade da Famlia; VIII - Desenvolver aes e articular instituies pa formao e garantia de educao permanente a profissionais de sade das equipes de Ateno Bsica e equipes de sade da famlia;

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    (..) So itens necessrios estratgia Sade da Famlia: I - existncia de equipe multiprofissional (equipe sade da famlia) composta por, no mnimo, mdico generalista ou especialista em sade da famlia ou mdico de famlia e comunidade, enfermeiro generalista ou especialista em sade da famlia, auxiliar ou tcnico de enfermagem e agentes comunitrios de sade, podendo acrescentar a esta composio, como parte da equipe multi profissional, os profissionais de sade bucal: cirurgio dentista generalista ou especialista em sade da famlia, auxiliar e/ou tcnico em Sade Bucal; II - o nmero de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da populao cadastrada, com um mximo de 750 pessoas por ACS e de 12 ACS por equipe de Sade da Famlia, no ultrapassando o limite mximo recomendado de pessoas por equipe; III - cada equipe de sade da famlia deve ser responsvel por, no mximo, 4.000 pessoas, sendo a mdia recomendada de 3.000 pessoas, respeitando critrios de equidade para esta definio. Recomenda-se que o nmero de pessoas por equipe considere o grau de vulnerabilidade das famlias daquele territrio, sendo que quanto maior o grau de vulnerabilidade menor dever ser a quantidade de pessoas por equipe; IV - cadastramento de cada profissional de sade em apenas 01 (uma) ESF, exceo feita somente ao profissional mdico que poder atuar em no mximo 02 (duas) ESF e com carga horria total de 40 (quarenta) horas semanais; e V - carga horria de 40 (quarenta) horas semanais para todos os profissionais de sade membros da equipe de sade da famlia, exceo dos profissionais mdicos, cuja jornada descrita no prximo inciso. A jornada de 40 (quarenta) horas deve

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    observar a necessidade de dedicao mnima de 32 (trinta e duas) horas da carga horria para atividades na equipe de sade da famlia podendo, conforme deciso e prvia autorizao do gestor, dedicar at 08 (oito) horas do total da carga horria para prestao de servios na rede de urgncia do municpio ou para atividades de especializao em sade da famlia, residncia multiprofissional e/ou de medicina de famlia e de comunidade, bem como atividades de educao permanente e apoio matricial. Sero admitidas tambm, alm da insero integral (40h), as seguintes modalidades de insero dos profissionais mdicos generalistas ou especialistas em sade da famlia ou mdicos de famlia e comunidade nas Equipes de Sade da Famlia, com as respectivas equivalncias de incentivo federal: I - 2 (dois) mdicos integrados a uma nica equipe em uma mesma UBS, cumprindo individualmente carga horria semanal de 30 horas (equivalente a 01 (um) mdico com jornada de 40 horas semanais), com repasse integral do incentivo financeiro referente a uma equipe de sade da famlia; II - 3 (trs) mdicos integrados a uma equipe em uma mesma UBS, cumprindo individualmente carga horria semanal de 30 horas (equivalente a 02 (dois) mdicos com jornada de 40 horas, de duas equipes), com repasse integral do incentivo financeiro referente a duas equipes de sade da famlia; III - 4 (quatro) mdicos integrados a uma equipe em uma mesma UBS, com carga horria semanal de 30 horas (equivalente a 03 (trs) mdicos com jornada de 40 horas semanais, de trs equipes), com repasse integral do incentivo financeiro referente a trs equipes de sade da famlia;

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    IV -2 (dois) mdicos integrados a uma equipe, cumprindo individualmente jornada de 20 horas semanais, e demais profissionais com jornada de 40 horas semanais, com repasse mensal equivalente a 85% do incentivo financeiro referente a uma equipe de sade da famlia; e V - 1 (um) mdico cumprindo jornada de 20 horas semanais e demais profissionais com jornada de 40 horas semanais, com repasse mensal equivalente a 60% do incentivo financeiro referente a uma equipe de sade da famlia. Tendo em vista a presena do mdico em horrio parcial, o gestor municipal deve organizar os protocolos de atuao da equipe, os fluxos e a retaguarda assistencial, para atender a esta especificidade. Alm disso, recomendvel que o nmero de usurios por equipe seja prximo de 2.500 pessoas. As equipes com esta configurao so denominadas Equipes Transitrias, pois, ainda que no tenham tempo mnimo estabelecido de permanncia neste formato, desejvel que o gestor, to logo tenha condies, transite para um dos formatos anteriores que prevem horas de mdico disponveis durante todo o tempo de funcionamento da equipe. A quantidade de Equipes de Sade da Famlia na modalidade transitria ficar condicionada aos seguintes critrios: I - Municpio com at 20 mil habitantes e contando com 01 (uma) a 03 (duas) equipes de Sade da Famlia, poder ter at 2 (duas) equipes na modalidade transitria; II - Municpio com at 20 mil habitantes e com mais de 03 (trs) equipes poder ter at 50% das equipes de Sade da Famlia na modalidade transitria; III - Municpios com populao entre 20 e 50 mil habitantes poder ter at 30% (trinta por cento) das equipes de Sade da Famlia na modalidade transitria;

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    IV - Municpio com populao entre 50 e 100 mil habitantes poder ter at 20% (vinte por cento) das equipes de Sade da Famlia na modalidade transitria; e V -Municpio com populao acima de 100 mil habitantes poder ter at 10% (dez por cento) das equipes de Sade da Famlia na modalidade transitria. Em todas as possibilidades de insero do profissional mdico descritas acima, considerando a importncia de manuteno do vnculo e da longitudinalidade do cuidado, este profissional dever ter usurios adscritos de modo que cada usurio seja obrigatoriamente acompanhando por 1 (um) ACS (Agente Comunitrio de Sade), 1 (um) auxiliar ou tcnico de enfermagem, 01 (um) enfermeiro e 01 (um) mdico e preferencialmente por 1 (um) cirurgio-dentista, 1 (um) auxiliar e/ou tcnico em Sade Bucal, sem que a carga horria diferente de trabalho comprometa o cuidado e/ou processo de trabalho da equipe. Todas as equipes devero ter responsabilidade sanitria por um territrio de referncia, sendo que nos casos previstos nos itens b e c, podero ser constitudas equipes com nmero de profissionais e populao adscrita equivalentes a 2 (duas) e 3 (trs) equipes de sade da famlia, respectivamente. As equipes de sade da famlia devem estar devidamente cadastradas no sistema de cadastro nacional vigente de acordo com conformao e modalidade de insero do profissional mdico.

    Quanto s irregularidades relativas ao ESF detectadas no Municpio de Alto Piquiri/PR, convm precisar, e primeiro lugar, que o atendimento em residncia no feito, m apenas no Posto de Sade da localidade.

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    Tanto no feito que a Promotoria de Justia de Alto Piquiri recebeu reclamaes da Presidente do asilo municipal dando conta de que o Municpio demorou vinte dias para mandar uma ambulncia buscar duas idosas, com problemas de locomoo e obesidade. Esse fato indica que o atendimento mdico no feito sequer para pessoas idosas e que no podem se locomover que dir para os demais casos (fls. 380/381).

    Em segundo lugar, de Outubro a Dezembro de 2012, o Municpio manteve cadastrados no CNES do Ministrio da Sade os seguintes mdicos da ESF, com carga horria de 40 horas: Nildamari Gozalan (fl. 295), Enrico Jarenko Ziliotto (fl. 298) e Luiz Carlos Ferreira de Freitas (fl. 300).

    Essas informaes, contudo, no so verdadeiras, conforme se constata das declaraes da Secretria Municipal de Sade e da prpria requerida Rosilene, s fls. 322-325, corroboradas pelas escalas de mdicos de fls. 302-317.

    Com efeito, os mdicos Nildamari e Luiz Carlos cumpriam to somente a carga horria de 30 horas semanais. O mdico Isael fazia os atendimentos pela ESF nos distritos de Paulistnia e Mirante, s sextas-feiras, das 13h s 19h e o mdico Francisco Ferreira, no distrito de Saltinho do Oeste, s quintas-feiras, das 13h s 17 horas.

    A requerida Rosilene e a Secretria Municipal de Sade confessaram que no mantinham atualizados os dados no CNES, porque o Municpio perderia o auxlio de custeio da Unio.

    Em terceiro lugar, as reclamaes por ausncia de mdicos ou por negativa de atendimento mdico eram constantes, conforme faz prova o abaixo assinado datado de 24 de outubro de 2011 de fls. 319-320.

    Para citar outro exemplo ilustrativo, no ms de Outubro de 2012, algumas pessoas queixaram-se de negativa de

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    atendimento mdico no Posto de Sade local (ex. paciente Cristiane dos Santos - fl. 375/376).

    Nas primeiras reclamaes, o Ministrio Pblico solicitou o atendimento via ofcios bem como requisitou a fiscalizao mais rgida para Secretria Municipal de Sade.

    Aps essas diligncias, ante a reiterao da reclamao, com a vinda da genitora da criana Maycon Lobato Guillen a Promotoria de Justia, foi feita inspeo in loco, com o escopo de se constatar o motivo das constantes reclamaes (fl. 379).

    Durante a inspeo, o mdico Luiz Carlos negou-se a atender a criana Maycon, com 01 ano e 10 meses de idade, que se encontrava h semanas vomitando, com tosse e febre, segundo relato de sua genitora (certido de fl. 378).

    A inspeo ocorreu s 10h3Omin, quando foi constatado que o mdico j havia atendido vinte pacientes, recusando-se a atender as demais pessoas ao argumento de que no eram casos de urgncia, quando seu horrio era at 13h.

    A triagem quanto ao que era considerado caso de urgncia foi delegada enfermeira Cludia, ou seja, o mdico sequer conversou com a genitora da criana a fim de obter informaes mais precisas sobre o quadro de sade da mesma.

    Cumpre ressaltar que o referido mdico no estava prestando qualquer atendimento no horrio da solicitao ministerial, sendo certo que sua contratao se deu para prestar servios por hora de trabalho e no por consulta. Ou seja, a limitao de consultas ilegal, quando h tempo livre dentro do horrio de expediente do mdico e h pessoas (dentre idosos e crianas) agUardando atendimento.

    Tanto os requeridos Mauro e Rosilene quanto a Secretria Municipal de Sade informaram que no deram nenhuma ordem para que o mdico se limitasse a atender apenas vinte pacientes e que as urgncias e emergncias bem como as prioridades (crian

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    idoso, gestante e deficiente) devem ser atendidas imediatamente (fls. 321-325).

    No obstante, a enfermeira Cludia disse que era praxe no Posto de Sade a limitao, tanto que depois do limite de vinte consultas, era ela quem fazia a triagem e j dispensava as pessoas que entendia no ser caso de urgncia (fl. 389).

    Nota-se, destarte, que o mdico estava auferindo remunerao por servios no efetivamente prestados.

    Outra irregularidade apurada, que o mdico Luiz Carlos, segundo tambm se extrai das declaraes da requerida Rosilene e da Secretria Municipal de Sade, realizava pequenas cirurgias no Posto de Sade, como vasectomia, o que vedado, uma vez que o Posto no possui estrutura adequada para tanto. Com

    esse proceder, o mdico colocou em risco sade e segurana dos pacientes.

    Por todo o exposto, estreme de dvida que a empresa Brassanini no garantiu a prestao de servio mdico adequado, sequer cumpriu as exigncias de carga horria da ESF.

    7. DAS IRREGULARIDADADES NOS EMPENHOS:

    Em primeiro lugar, o empenho deve ser devidamente redigido, constando nele a especificao/descrio do bem ou servio de forma pormenorizada, de modo a deixar claro o objeto, o preo unitrio e o valor do empenho, bem como a vinculao a procedimentos licitatrios e contratos.

    No presente caso, os empenhos so genricos, 134S no especificam os servios tampouco se foram prestados.

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    Em segundo lugar, como j mencionado, os empenhos devem ser feitos depois que o servio prestado, ou seja, aps a apresentao da nota fiscal correspondente pela empresa.

    Nos Contratos n. 91/2011, 39/2012 e 82/2012, a empresa Brassanini recebeu antes da prestao do servio, quase que simultaneamente formalizao dos respectivos contratos, o que configura evidente irregularidade.

    Em terceiro lugar, como demonstrado na Tabela 02 e Grfico 02, os empenhos superaram os valores contratados.

    A conduta dos corrus, notadamente do requerido Gerson em ordenar ou permitir a realizao de despesa no autorizada, subsume e constitui ato de improbidade administrativa que causa leso ao errio (art.10, IX e XI da Lei 8.429/92).

    O desvio de poder pode ser aferido pela ilegalidade explcita (frontal violao ao texto legal) em seu comportamento censurvel, que se valendo da competncia prpria para atingir a finalidade alheia quela abonada pelo interesse pblico. Pela apreciao dos elementos em anlise, vislumbra-se o mau uso da competncia e da finalidade e despojada esta do superior interesse pblico, tem-se o ato viciado, violando a moralidade administrativa.

    Destarte, a despesa carrega vcio de origem, sendo considerado no autorizado, irregular e lesivo ao patrimnio pblico e seu ordenador pode at mesmo ser enquadrado por crime contra as finanas pblicas (art.359, alnea 'c', Cdigo Penal).

    Em quarto lugar, h indcios de que empenhos anulados eram na prtica efetivamente pagos. A sua anulao possivelmente visava mascarar a contabilidade para que no fosse ultrapassado o valor contratado.

    O empenho 2700/2010, no valor de R$ 16.700,57, po exemplo, consta como anulado parcialmente em R$ 15.764,47 (fls. 33 337). Contudo, h nos autos comprovante de transferncia bancria o valor integral do empenho (R$ 16.700,57) (fls. 357-356).

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    Estranhamente, a caixa de empenhos da Prefeitura, onde constavam as notas fiscais correspondentes, no foi localizada pela atual gesto municipal. Este fato impede a comprovao cabal da fraude na anulao dos empenhos, embora o documento de fls. 357-356 constitua indcio de locupletamento ilcito.

    8. DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:

    O princpio da moralidade administrativa exige honestidade da Administrao Pblica. Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro6, o princpio da moralidade exige da Administrao comportamento no apenas lcito, mas tambm consoante com a moral, os bons costumes, as regras de boa administrao, os princpios de justia e de eqidade, a idia comum de honestidade.

    A Administrao Pblica, ao burlar a exigncia de provimento do cargo de mdico por meio de concurso pblico, ao realizar procedimento licitatrio fraudulento (direcionado) para contratao de empresa para prestar servios mdicos, ao celebrar novo contrato para encobrir o no cumprimento das condies do contrato anterior, ao efetuar pagamentos empresa superiores aos valores contratados, ao anular empenhos que haviam sido pagos, ao no exigir a correta execuo dos servios de sade, inclusive da ESF e no atualizar os dados no CNES, frustrou totalmente seu dever de honestidade ou probidade.

    O princpio da igualdade foi violado no caso em razo de ter sido a licitao direcionada. Isso impediu que outras pessoas pudessem contratar com a Administrao Pblica.

    Maria Sylvia Z. Di Pietro 7 leciona que o princpio da

    igualdade constitui um dos alicerces da licitao, na medida em que esta visa, no apenas permitir Administrao a escolha da melhor 6 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 21'. ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 339.

    7 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 2P. ed. So Paulo: Atlas, 2008, p. 336.

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    proposta, como tambm assegurar igualdade de direitos a todos os interessados em contratar.

    Ao privilegiar um determinado particular em detrimento de outros, violou o princpio da igualdade, pois impediu que outros pudessem concorrer para contratar com a Administrao.

    Um procedimento licitatrio deve, necessariamente, respeitar a possibilidade de que qualquer interessado em contratar com a Administrao participe dele. O objetivo justamente impedir o que ocorreu no presente caso: que um determinado particular seja beneficiado em detrimento de outros possveis interessados em contratar.

    A falta de concorrncia efetiva feriu de morte o postulado fundamental da igualdade no caso. No houve igualdade, mas sim privilgio, totalmente incompatvel com o Estado Democrtico brasileiro.

    Todas as irregularidades tratadas nos tpicos anteriores no deixam dvidas de que houve uma concorrncia de aparncia, um "jogo de cartas marcadas". O procedimento licitatrio foi feito com o objetivo de conferir aparncia de legalidade a uma aquisio fraudulenta.

    Nessa senda, tais fatos, aliados a muitos outros j mencionados nessa exordial, caracterizam atos de improbidade administrativa e do ensejo aplicao das sanes previstas na Lei n. 8.429/92, bem como indenizao pelos prejuzos causados ao errio.

    Assim dispe a Lei n 8.429/92:

    Art. 10, Constitui ato de improbidade administrativa que causa leso ao errio qualquer ao ou omisso, dolosa culposa, que enseje perda patrimonial, desvif,

    apropriao, malbaratamento ou dilapidao dos bens

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    haveres das entidades referidas no art. 1 desta lei, e notadamente:

    (..) VIII - frustrar a licitude de processo licitatrio ou dispens-lo indevidamente; (..) XI - liberar verba pblica sem a estrita observncia das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicao irregular; XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriquea ilicitamente;

    Segundo Waldo Fazzio Jnior 8 : "Frustrar a licitude de processo licitatrio fraud-lo. Fraudar licitao distrair procedimento licitatrio. Consiste em subtrair ao domnio da lei o que lhe deveria estar sujeito".

    Nas lies de Marino Pazzaglini Filho 9 :

    Na etapa de julgamento das propostas dos competidores habilitados, pode frustrar-se a licitude do procedimento licitatrio

    de diversos modos: - escolha de proposta que no atende a todos os requisitos do edital; - aceitao de proposta superestimada (preo oferecido muito superior aos correntes no mercado ou dos

    FAZZIO JNIOR, Waldo. Improbidade administrativa e crimes de prefeitos: de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. 2'. ed. So Paulo: Atlas, 2001, p. 132.

    PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de improbidade administrativa comentada: aspectos constitucionais, administrativos, civis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal; legisla jurisprudncia atualizadas. 3'. ed. So Paulo: Atlas, 2007, pp. 93-94. e

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    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Faz: (0zz44) 3621-0800 - email: [email protected]

    estabelecidos por organismo oficial ou aos constantes de sistema de registro de preos).

    Os procedimentos licitatrios realizados pelo Municpio apenas serviram para conferir aparncia de legalidade fraude de direcionamento. Os vcios indicados anteriormente evidenciam isso, caracterizando atos de improbidade administrativa, porquanto causam prejuzo ao errio.

    Ademais, no resta dvida de que a liberao de pagamentos em valores que superam o contratado causou dano ao errio pblico.

    Assim, os corrus devem ser condenados s sanes previstas no art. 12, inc. II, da Lei n 8.429/92.

    Todavia, hipoteticamente, caso se entenda que as condutas dos corrus no se enquadram nos referidos atos de improbidade administrativa previstos no art. 10 da Lei n 8.429/1992, as condutas, ainda assim, se enquadram nas disposies do art. 11 da referida lei, em razo da violao aos princpios da administrao pblica.

    Segundo Waldo Fazzio Jnior":

    O ato que agride os princpios administrativos no simplesmente ilegal, mas o que carrega a substncia intrnseca da imoralidade. o ato desonesto, no o produto de peculiaridades pessoais negativas, como a inabilidade e o despreparo cultural, que no objetivam enfrentar a lei. A improbidade administrativa, mais que um ato contra a legalidade, deve traduzir, necessariamente, a falta de boa-f. a conduta que "destoa ntida e manifestamente das pautas morais

    I FAZZIO JNIOR, Waldo. Improbidade Administrativa e crimes de prefeitos: de acordo com a lei

    responsabilidade fiscal. r. Ed. So Paulo: Atlas, 2001, pp. 180-181. e

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    Rua Dr. Rui Ferraz de Carvalho, 4322, Zona I - Umuarama/PR - CEP: 87501-250 Fone/Fax: (0M4) 3821-0800 - email: [email protected]

    bsicas transgredindo, assim, os deveres de retido e de lealdade ao interesse pblico.

    No caso em questo, no houve apenas violao ao princpio da legalidade, pois tambm houve grave violao ao dever de honestidade, de imparcialidade (visto que agiram para beneficiar determinado particular) e de lealdade s instituies. Saliente-se que no necessrio que a conduta se enquadre perfeitamente em qualquer dos incisos do art. 11 da Lei n 8.429/92, visto que so eles apenas exemplificativosll

    de condutas que violam os princpios da administrao pblica.

    Desse modo, o direcionamento nas licitaes em questo representa evidente afronta aos princpios da Administrao Pblica. Por isso, devem os corrus, subsidiariamente, ser condenados nas sanes do art. 12, inc III, da Lei n 8.429/92.

    9- DA INDIVIDUALIZAO DAS CONDUTAS

    Cristalina a imprescindibilidade da atuao do requerido Gerson,

    uma vez que a ele coube, como mandatrio maior do Municpio de Alto Piquiri/PR, firmar contrato superfaturado e autorizar/ordenar os pagamentos a maior, alm de homologar procedimentos licitatrios viciados.

    O dolo evidente, at mesmo pelas ordens de pagamentos. Hipoteticamente, caso no se entenda que o ento prefeito agiu com dolo, ao menos agiu culposamente em razo de ua

    PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa: aspectos consti u roais, administrativos, civis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal; legislao e jurisr dncia atualizadas. 38 . ed. So Paulo: Atlas, 2007, p. 114.

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