judeus nos trópicos

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Judeus nos Trópicos da Europa dos anos 20 até o século XXI na Praça XI Documentário Transmídia HD 4 x 30’ (TV) 1 x 60’ (TV) 30 x 5’ (Web) Livro família de imigrantes judeus-romenos na praça onze, Rio de Janeiro, década de 40. Todos falavam o ídiche. (álbum familiar da autora)

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Judeus nos Trópicos

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  • Judeus nos Trpicos da Europa dos anos 20 at o sculo XXI na Praa XI

    Documentrio Transmdia

    HD 4 x 30 (TV) 1 x 60 (TV)

    30 x 5 (Web) Livro

    famlia de imigrantes judeus-romenos na praa onze, Rio de Janeiro, dcada de 40. Todos falavam o diche. (lbum familiar da autora)

  • Sinopse Este documentrio recupera temas importantes como imigrao, identidade tnica, cultura e memria. Atravs de quatro geraes viajaremos por experincias de vida e trajetrias familiares de imigrantes judeus e seus descendentes a partir da dcada de 20 do sculo passado at a 4a. Gerao, no sculo XXI.

    Para que um indivduo tenha identidade necessrio que possua alguma espcie de memria. Pois a sua forma ou essncia de ser s pode ser compreendida na perspectiva do tempo e com referncia a ele; a forma de ser s se concretiza no ser e estar no tempo.1

    Justificativa Nosso guia a msica e a banda Klezmer Rancho Praa XI composta pela primeira gerao j nascida no Brasil nos anos sessenta, que recupera a arte perdida de seus antepassados atravs do Carnaval carioca. Em segundo plano, mas no menos importante, esto presentes tambm outras formas de expresso artstica como o Teatro, a dana e o Cinema. Este bloco faze com que a cultura diche , um idioma nati-morto, renaa com uma mistrura antropofgica caracterstica do Brasil desde tele-novelas como O Dibuk (196...), novela de sucesso com Regina Duarta o filme (1980) at nos dias de hoje com o Carnaval carioca. Em tentativas de no se perder laos com a tradio , o diche luta contra o contra seu extermnio, assim como os judeus que fugiram da Europa e encontraram abrigo no Brasil para estabelecer novas razes. Atravs do depoimento dos componentes da Banda Klezmer Carnavalesca Rancho Praa XI, mergulhamos nesse universo com uma perspectiva ainda pouco conhecido e fechado da comunidade judaica no nosso pas: o idioma diche atravs de quatro famlias e suas quatro geraes: Os Grosman, os Spielman, yyy e zzz retratam um perodo da histria no Rio de Janeiro, at os dias de hoje partindo de uma perspectiva de certo modo original a msica atravs dos tempos

    1 Cludia A.P.Ferreira, Professora Assistente de Lngua e Literatura Hebraica do

    Setor de Hebraico do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ; Doutoranda em Potica na FL/UFRJ; Mestre em Teoria da Literatura na FL/UFRJ; Bacharel e Licenciada em Letras (Portugus-Hebraico) na FL/UFRJ; Licenciada em Histria na UFF; em seu artigo "Tradio e transmisso: a questo da interpretao na tradio judaica" publicado em http://www.estudosjudaicos.com

  • Introduo Entre as duas Grandes Guerras chegaram ao Brasil imigrantes judeus da Europa Oriental cuja lngua materna era o diche. Nas principais cidades do pas, onde se estabeleceram cheios de esperanas e ansiosos por refazer suas vidas, eles reproduziram, como puderam, suas ligaes com o passado. Tudo que representasse um vnculo afetivo com o mundo que deixaram para trs, era vlido, confortador. Mas, alm do idioma e da religio, foram as manifestaes artsticas que se tornaram as mais valiosas formas de expresso desses imigrantes nas diferentes comunidades onde se estabeleceram. Na turbulncia das dcadas de 40 a 60, eles foram ao mesmo tempo participantes e testemunhas de intensas transformaes polticas e sociais na sociedade brasileira, sem esquecer, em momento algum, o elo que os ligava patria comum. De maneira peculiar, pode-se dizer que os judeus europeus experimentaram no Brasil vicissitudes similares s de seus compatriotas em outras partes do mundo, principalmente nos Estados Unidos na virada do sculo XX, aonde surgiram os primeiros indcios do que viria a ser a fbrica de sonhos do cinema mundial: Holywood.

    O que mais me chama ateno o fato de os imigrantes judeus, pobres e sem preparo, possurem um centro na Praa Onze e que tambm, alm disso, realizavam reunies culturais, publicavam jornais e revistas e ainda por cima, faziam um teatro amador, com muita categoria e seriedade.

    A comunidade judaica do Rio de Janeiro constituda por grupos vindos de vrias partes da Europa Ocidental e Oriental, Oriente Mdio, Norte da frica. Aqui chegaram em diferentes momentos e por razes diversas.

    Como um grupo de imigrantes que saiu de uma Europa dizimada por guerras, crises econmicas e intolerncia, sem falar sequer uma palavra de portugus, se reencontra atravs dos tempos com hbitos e crenas de seu mundo de origem atravs de filmes, peas de Teatro, literatura e msica?

  • Episdios para TV (4 x 30)

    Regina Duarte em transe ao incorporar o Diabo, em Dibuk, o Demnio, apresentado no programa Caso Especial da Rede Globo em 1972

    Episdio 1 - retrata o perodo dos anos 20 a 40 do sculo XX, atravs de pesquisa histrica, lbuns de famlia, msica, teatro e cinema recheado de imagens de arquivo , trechos de filmes . A partir do relato dos primeiros sobreviventes que aqui chegaram, atualmente na faixa dos 70/80 anos, mostra tambm o caminho inverso a influncia da cultura judaica nas artes, como a Novela O Dibuk, protagonizada por Regina Duarte no auge de sua carreira.

    A pesquisa completa , fruto de monografia de Cinema na UFF, encontra-se disponvel em http://www.cenacine.com.br/wp-content/uploads/idiche-nos-tropicos-cena1.pdf

    Episdio 2 A reconstruo da Sinagoga de Olaria. Este o ponto de partida para contarmos a histria da primeira gerao, j nascida no Brasil, atravs de uma abordagem de certo modo original , o retorno de parte de moradores judeus que se estabeleceu no Bairro de Olaria, dos anos 50 a 70 para visitar suas antigas moradias sem imaginar que iriam se deparar com a primeira sinagoga que frequentavam quando jovens, Ahavat Shalom (Paz e Amor) .

    J como piloto 50% gravado, o episdio encontra-se em - http://vimeo.com/7866574

    Episdio 3 Anos 80 a 2000 . Agora quarentes, os remanescentes judeus j assimilam quase completamente a cultura Brasileira. Apesar de na infncia terem estudado em escolas religiosas e clubes israelitas como Hebraica em Laranjeiras e Monte Sinai na Tijuca (ainda em funciomamento) muitos se tornam ateus e mantm as tradies atravs da comida e da msica. O casamento misto, antes inimaginvel por uma comunidade sempre fechada, abre novas perspectivas para uma gerao que curtiu o Rock de Cazuza a Paralamas no circo voador, e agora retorna com uma Banda Carnavalesca de msica Klezmer.

  • Episdio 4 Muitos gerao Y, surgida j no sculo XXI, frequenta escolas no judaicas e tm pouca conexo com a Europa como referncia. Apenas uma idia do que foi o passado , muitas vezes atravs das aulas de Histria sobre a 2a. Guerra Mundial, o Holocausto e as novas pesquisas nas reas de cincias, energia, medicina e tecnologia desenvolvidas por Israel. Agora conectados tm , ao seu dispor uma oportunidade de revisitar o passado atravs das novas mdias.

    Webisodes (30 x 5)

    A exemplo do projeto de Steven Spielber - - depoimentos de sobreviventes da 2a. Gerao e seus descendentes, e imagens de arquivo

    Referncias Narrativas

    Buena Vista Social Clube (1999) Win Wenders

    O Homem Urso () dir. Herzog

    Jewish Film Archive- Steven Sielberg - http://www.spielbergfilmarchive.org.il/

    Exemplo de depoimento - Arnaldo Bloch (1908 1995)

    No princpio era uma vila na Praa Onze. No centro, um jardim onde, alm de rvores e frutos, enfileiravam-se tanques de lavar roupa. Seu nome: den. sua volta, sobrados habitados por imigrantes judeus da Europa Oriental, refugiados do ps-guerra, que chegaram em massa ao Rio nos anos 20.

    - Aqui s tinha idiche - repete, como um bordo, o biscateiro Maurcio Benkes, vulgo Pinduca, de 65 anos, o ltimo judeu daquela gerao que ainda mora na vila. A palavra "idiche" - que, alm de dar nome ao idioma dos ashkenazis na Dispora, significa "judeu" - das poucas de que se recorda este filho de imigrantes russos, morador desde menino da casa 49 da Vila

    Dr. Alberto Siqueira. Tombado pelo Patrimnio, o quadriltero fica entre o quartel da Ceptran e a 6a DP (Cidade Nova), e j teve como moradores a famlia do judeu Senor Abravanel (Slvio Santos) e a Tia Ciata, matriarca do samba carioca.

    - Papai no conversa muito com a gente sobre as suas origens - comenta a recatada Sheiva, cujo nome em homenagem av religiosa soa estrangeiro, ao contrrio da irm, Ana Carla, e do irmo, Mauro Srgio. Talvez por isso leve to a srio a possibilidade de se converter, como confidencia sua me, Celi, que no judia:

    - Quero ajud-la - comenta Celi, tendo ao lado a amiga Airina (nome alemo), que sabe mais de judasmo do que ela e Pinduca:

    - Eram tempos bons. Na pscoa judaica, a gente comia aquelas bolachas deles (o po

  • zimo). Lembro-me do shoichale (o aougueiro) que matava galinhas, e da dona Malke, que fazia a lavagem ritual para os enterros.

    Transportado no tempo, Pinduca cita, como autmato, palavras em idiche. Michigane (maluco), a primeira que vem mente. Schwartze, (negro), a segunda.

    - Aqui no tinha preconceito. Casei com a Celi, que mulata. Uma vez estava com meu pai no barbeiro e chegou um schwartze com um jornal idiche na mo. O pessoal ficou curioso: voc sabe ler isso? O rapaz comeou a ler em voz alta: um idiche perfeito, ficou todo mundo de boca aberta.

    Pinduca nunca vai sinagoga e no tem mais o seu kip(solidu). A nica conexo que mantm com a tradio - alm da circunciso, atestada por Celi - a visita anual ao cemitrio de Vila Rosaly, onde esto sepultados os pais, Pedro e Sheiva. Outra conexo, com a culinria, comea a retomar por vias inesperadas, como explica a mulher:

    - Tenho uma tia, a Isabel, que trabalhou como cozinheira em casa de judeus e hoje tem um buf de comida judaica. Uma das clientes a dona da Rachel Presentes. De vez em quando ela manda varenique, aquela massinha com cebola.

    - Mas da ltima vez estava meio seca... - protesta Pinduca. - Minha me fazia com gordura de galinha, era mais gostoso! - recorda.

    Se Isabel vai bem nos negcios, a sorte sorriu menos para Pinduca e seus oito irmos: contrariando o esteretipo do judeu bom-de-loja, seu pai, um antiqurio, no era negociante dos mais bem aquinhoados:

    - Papai sabia comprar como ningum, mas vender que bom no vendia. E no queria ouvir os outros. Era s algum dar conselho que ele reagia: "o que voc sabe da vida"? - lamenta Pinduca, sentado no terrao do sobrado de Armmio Pereira da Silva, presidente da Associao de Moradores e Amigos da Vila Dr. Alberto Siqueira (Amovas).

    Faz-se um silncio, e todos observam o cair da tarde e os sinais da chuva da ltima quinta-feira. O contorno das runas do den - coberto de casas - est sombrio. Na sexta- feira ser o shabat, dia do descanso semanal, celebrado por judeus religiosos ou tradicionalistas com as rezas do po e do vinho, das quais Pinduca guarda vaga lembrana.

    - Hoje em dia no deve nem ter mais onde comprar o po tranado e aquele vinho doce gostoso, no ?