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i JUANITA RODRIGUEZ MELO MAPEAMENTO DE MINERAIS DE ALTERAÇÃO HIDROTERMAL APLICANDO TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO E ESPECTROSCOPIA DE REFLECTÂNCIA NA ÁREA SALARES NORTE, CHILE. CAMPINAS 2014

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JUANITA RODRIGUEZ MELO

MAPEAMENTO DE MINERAIS DE ALTERAÇÃO HIDROTERMAL APLICANDO

TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO E ESPECTROSCOPIA DE

REFLECTÂNCIA NA ÁREA SALARES NORTE, CHILE.

CAMPINAS

2014

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NÙMERO: 480/2014

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

JUANITA RODRIGUEZ MELO

“MAPEAMENTO DE MINERAIS DE ALTERAÇÃO HIDROTERMAL APLICANDO

TÉCNICAS DE SENSORIAMENTO REMOTO E ESPECTROSCOPIA DE

REFLECTÂNCIA NA ÁREA SALARES NORTE, CHILE”

ORIENTADOR: PROF. DR. ALVARO PENTEADO CRÓSTA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DA UNICAMP NO PROGRAMA DE GEOCIÊNCIAS NA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO

GEOCIÊNCIAS E RECURSOS NATURAIS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE

MESTRA EM GEOCIÊNCIAS

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE

DEFENDIDA PELA ALUNA JUANITA RODRIGUEZ MELO E

ORIENTADA PELO PROF. DR. ALVARO PENTEADO CRÓSTA

CAMPINAS

2014

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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de CampinasBiblioteca do Instituto de GeociênciasCássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Rodriguez Melo, Juanita, 1986- R618m RodMapeamento de minerais de alteração hidrotermal aplicando técnicas de

sensoriamento remoto e espectroscopia de reflectância na área Salares Norte,Chile / Juanita Rodriguez Melo. – Campinas, SP : [s.n.], 2014.

RodOrientador: Alvaro Penteado Crósta. RodDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Geociências.

Rod1. Sensoriamento Remoto - Chile. 2. Espectroscopia de reflectância. 3. Minas

e recursos minerais - Exploração. I. Crósta, Alvaro Penteado,1954-. II.Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Hydrothermal alteration mapping using remote sensing techniquesand reflectance spectroscopy in the Salares Norte area, Chile.Palavras-chave em inglês:Remote sensing - ChileReflectance spectroscopyMines and mineral resources - ExplorationÁrea de concentração: Geologia e Recursos NaturaisTitulação: Mestra em GeociênciasBanca examinadora:Alvaro Penteado Crósta [Orientador]Emilson Pereira LeiteTeodoro Isnard Ribeiro de AlmeidaData de defesa: 14-03-2014Programa de Pós-Graduação: Geociências

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a meus pais e meus irmãos, por seu valioso amor, apoio,

força, e por sempre ser um exemplo a seguir.

A meus avós, tios e primos por sempre acreditar em mim.

Ao professor Alvaro P. Crósta pela oportunidade de trabalhar com ele, pela disponibilidade,

orientações, conselhos e atenção prestada sempre.

À Gold Fields Chile S.A. por ter me concedido a oportunidade de trabalhar no seu projeto e,

especialmente, aos geólogos Chico Azevedo e Shirley Custodio pelos ensinamentos e apoio em

todo este processo.

Ao CNPq pela bolsa de mestrado.

À Society of Economic Geologists (SEG) e Gold Fields S.A. pelo importante apoio financeiro

que me ajudou no desenvolvimento do projeto.

Aos professores Dr. Roberto P. Xavier, Dr. Emilson P. Leite e Dr. Teodoro R. de Almeida pelas

sugestões na qualificação e na defesa.

À Val, Gorete, Rafael e Valdir por toda sua ajuda e carinho.

A todos meus amigos do IG por seu companheirismo, ensinamentos, risadas e bons momentos.

E à minha família em Campinas, Andersson, pela valiosa ajuda, compreensão, paciência, apoio,

amor, e por sempre ser a melhor companhia. Sem você nada disto seria possível.

GRACIAS A TODOS

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SÚMULA CURRICULAR

Juanita Rodriguez Melo

Nascida em 18 de agosto de 1986, em Bogotá – Colômbia, ingressou no curso de Geologia em

2005 na ‘Universidad Nacional de Colombia’ sede Bogotá.

Obteve o título de Geóloga em abril de 2011, sendo seu Trabalho de Conclusão de Curso

orientado pelo Prof. Msc. Juan Carlos Molano com o título: Caracterização de fluidos no

Complexo Cajamarca através de microtermometría e petrografía na região de Villamaría,

noroeste do Nevado do Ruiz, Colômbia.

Em 2011 trabalhou na empresa Carbones de los Andes S.A em exploração de ouro e cobre no

departamento de Cauca, Colômbia e no Serviço Geológico Colombiano na área de geologia do

departamento de Vichada, Colômbia.

Em 2012, ingressou no Programa de Pós-Graduação em Geociências na modalidade de Mestrado

pela Universidade Estadual de Campinas, com orientação do Prof. Dr. Alvaro Penteado Crósta.

Seus interesses de pesquisa são relacionados à metalogenia e análise de sensoriamento remoto e

geologia espectral para exploração, especialmente de depósitos tipo pórfiro e epitermais.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

MAPEAMENTO DE MINERAIS DE ALTERAÇÃO HIDROTERMAL APLICANDO TÉCNICAS

DE SENSORIAMENTO REMOTO E ESPECTROSCOPIA DE REFLECTÂNCIA NA ÁREA

SALARES NORTE, CHILE

RESUMO

Dissertação de Mestrado

Juanita Rodriguez Melo

O objetivo principal deste trabalho foi avaliar o potencial prospectivo para ouro e metais associados de

uma área localizada no norte do Cinturão de Maricunga, Chile. Análises por espectroscopia de reflectância

foram obtidas na área do prospecto Salares Norte possibilitando o reconhecimento de assembléias de

alteração hidrotermal incluindo minerais como caulinita, esmectita, alunita, ilita e minerais portadores de

sílica. A presença destes minerais foi conferida por análise petrográfica e de microscópio eletrônico de

varredora (MEV).

A análise da distribuição espacial desses minerais foi determinada aplicando as seguintes técnicas de

processamento digital a uma cena do sensor Terra/ASTER: Análise por Principais Componentes (APC),

Spectral Angle Mapper (SAM) e Mixed Tuned Matched Filter (MTMF). A exatidão de cada um dos

mapas foi avaliada tomando como referência os dados de espectroscopia de reflectância. O resultado

indicou a APC como a técnica mais acurada para o mapeamento de minerais de alteração hidrotermal,

com uma exatidão total de 44,34%. Embora este valor de exatidão seja relativamente baixo, os dados de

menor acurácia encontram-se nas regiões onde não é reconhecida alteração e os de maior acurácia

concentram-se nas áreas alteradas e, por conseguinte, as de maior interesse.

Combinando a informação espectro-mineralógica à interpretação de dados geoquímicos (ICP-MS) e

litológicos, foi possível concluir que as assembléias minerais de alteração em Salares Norte se formaram

sob condições epitermais de alta sulfetação, com atual exposição, marcada por

baixo nível de erosão. Os tipos de alteração identificados foram argílica (caulinita±esmectita), argílica

avançada (quartzo+alunita+caulinita) e alteração com sílica no núcleo do sistema. Alteração tardia do tipo

steam-heated foi reconhecida em uma ampla área, sendo que quase em toda a sua extensão se encontra

sobreposta às alterações argílica avançada e silícica. As zonas de alteração exibem uma evidente tendência

estrutural de direção NW-SE coincidente com a disposição de anomalias geoquímicas de Au, Ag e Hg.

Por essa razão, este componente estrutural NW-SE se destaca como possível controle da

alteração/mineralização em Salares Norte. Dentre as unidades litológicas identificadas no prospecto, uma

brecha freato-magmática destaca-se como provável portadora/concentradora da mineralização, pois nela

se encontraram as maiores anomalias de Au, Ag e Hg.

Regionalmente, foram identificadas outras áreas de alteração situadas fora dos perímetros do prospecto

Salares Norte, usando-se a técnica APC (Técnica Crósta) numa imagem ETM+ do satélite Landsat-7, e na

imagem do sensor ASTER. Os resultados obtidos indicam ocorrências de zonas de alteração hidrotermal

em áreas próximas a Salares Norte, com similaridades quanto ao tipo de assembléia mineral hidrotermal e

controle estrutural, indicando estas áreas como alvos potenciais para mineralização de ouro e outros

metais nesta região.

Palavras chaves: Sensoriamento remoto; espectroscopia de reflectância; Cinturão de Maricunga;

exploração mineral.

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UNIVERSITY OF CAMPINAS

INSTITUTE OF GEOSCIENCES

HYDROTHERMAL ALTERATION MAPPING USING REMOTE SENSING TECHNIQUES

AND REFLECTANCE SPECTROSCOPY IN THE SALARES NORTE AREA, CHILE

ABSTRACT

Masters Degree

Juanita Rodriguez Melo

The main objective of the project was to evaluate the prospectivity potential for gold and associated

metals of an area located in the northern part of the Maricunga Belt, Chile. Reflectance spectroscopy was

used in the region of the Salares Norte Prospect to identify hydrothermal alteration mineral assemblages

comprising kaolinite, smectite, alunite, illite and silica-bearing minerals. The presence of these minerals

was confirmed by petrographic and electronic microscope (SEM) analyses.

The spatial distribution of these minerals was determined by applying the following digital processing

techniques to a Terra/ASTER scene: Principal Component Analysis (APC), Spectral Angle Mapper

(SAM) and Mixed Tuned Matched Filter (MTMF). The accuracy of each resulting map was calculated,

using as reference reflectance spectroscopy data obtained. The result showed APC as the most accurate

technique with an overall accuracy of 44.34%. Although this value is relatively low, the less accurate data

were found in regions with no alteration, whereas higher accuracy values were spatially related to altered

regions, thus the ones with more interest.

The spectral-mineralogical information was used together with geochemical (ICP-MS) and lithological

data to analyze alteration assemblages in Salares Norte, showing that they were formed under epithermal

conditions, most specifically in a high sulfidation environment, which currently shows a shallow erosion

level. The alteration types identified in the prospect were argillic (kaolinite±smectite), advanced argillic

(quartz+alunite+kaolinite) and siliceous in the core of the system. A late steam-heated alteration was

recognized in a broad area, overprinting the

advanced argillic and siliceous alteration in almost all its extension. The alteration zones exhibit an

evident structural trend along NW-SE that coincides with Au, Ag and Hg geochemical anomalies. For this

reason, the directional structural component appears to have acted as a possible alteration/mineralization

control in Salares Norte. Within the lithological units identified in the prospect, a phreatomagmatic

breccia stands out as a probable carrier/concentrator of mineralization, since the higher Au, Ag and Hg

geochemical anomalies are associated with this unit.

Other hydrothermally altered areas were identified in the region surrounding Salares Norte prospect using

the APC technique (Crósta Technique) on an Landsat-7/ETM+ image, and also on an ASTER image,

depicting similar aspects regarding the type of alteration assemblage and structural control, indicating

these areas as potential targets for gold and other metals.

Keyword: Remote sensing; reflectance spectroscopy; Maricunga Belt; mineral exploration.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1. Objetivos ...................................................................................................................... 1

1.2. Materiais e Métodos ..................................................................................................... 2

CAPÍTULO 2 – CONTEXTO GEOLÓGICO................................................................................. 5

2.1. Localização da área de estudo ...................................................................................... 5

2.2. Geologia regional ......................................................................................................... 6

2.3. Geologia local ............................................................................................................ 12

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO ESPECTRAL ............................................. 17

CAPITULO 4 – ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ORBITAIS PARA

IDENTIFICAÇÃO MINERAL ..................................................................................................... 27

4.1. Análise de imagem Landsat-7/ETM+ ........................................................................ 28

4.2. Análise de imagem ASTER ....................................................................................... 31

4.2.1. Técnica Crósta .......................................................................................................... 31

4.2.2. Classificação da imagem – SAM ............................................................................. 37

4.2.3. Classificação da imagem – MTMF .......................................................................... 41

4.2.4 Avaliação visual dos mapas temáticos produzidos a partir de imagem do sensor

ASTER ..................................................................................................................... 46

4.2.5 Avaliação estatística da acurácia dos mapas temáticos produzidos a partir de

imagem do sensor ASTER ....................................................................................... 47

4.2.5.1 Exatidão total ‘geral’ ......................................................................................... 48

4.2.5.2 Exatidão total ‘detalhada’ .................................................................................. 49

4.3 Integração de dados geoquímicos .............................................................................. 52

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DE RESULTADOS .......................................................................... 54

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES .................................................................................................. 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 65

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LISTAS DE FIGURAS

Figura 1.1: Fluxograma de métodos aplicados neste trabalho para o mapeamento de

minerais de alteração hidrotermal na região de Salares Norte e na identificação

de novos prospectos em nível regional. ....................................................................... 4

Figura 2.1: Localização do Cinturão de Maricunga no norte do Chile e da área de estudo

(Salares Norte e arredores) em relação a outros cinturões metalogenéticos na

Cordilheira dos Andes. ................................................................................................ 5

Figura 2.2: Mapa geológico regional do Cinturão de Maricunga .................................................. 7

Figura 2.3: Perfil esquemático de zoneamento de alterações hidrotermais típicas de um

sistema de alta sulfetação. ......................................................................................... 10

Figura 2.4: Diagrama de alteração tipo steam-heated: A. Considerando o nível do lençol

freático mais próximo da superfície e o sistema de alta sulfetação inserido logo

abaixo; B. considerando a sobreposição de alteração tipo steam-heated sobre a

argílica avançada, devido à queda no nível do lençol freático.................................. 11

Figura 2.5: Mapa geológico do prospecto Salares Norte. ............................................................ 12

Figura 2.6: Principais litologias na área do prospecto Salares Norte: A. domo-fluxo dacítico

(esquerda), direita o domo andesítico mais fresco; B. testemunho de furo de

sondagem de tufo de lapilli com pumice; C. afloramento de fluxo andesítico

com bandeamento evidente; D. brecha freato-magmática; E. brecha hidrotermal

com matriz rica em alunita ........................................................................................ 13

Figura 2.7: Fotografias das alterações presentes na área de estudo: A. tufo rico em quartzo

alterado a quartzo-alunita; B. alteração silícica produzindo quartzo vuggy; C.

parte do domo-fluxo dacítico com alteração tipo steam-heated; D. afloramento

de alteração do tipo steam-heated com forte caulinização. ...................................... 15

Figura 2.8: Contato por falha (linha pontilhada vermelha) entre andesito argilizado e brecha

freato-magmática. ..................................................................................................... 16

Figura 3.1: Imagem IKONOS de Salares Norte mostrando pontos de amostragem de: A.

amostras de rocha e; B. malha de amostras tipo lag com pontos de amostragem

a cada 100 m. ............................................................................................................ 17

Figura 3.2: Ilustração de método para a remoção do contínuo: A. espectro original (linha

sólida) com o cálculo da linha convexa (linha pontilhada) e B. espectro

normalizado resultante pelos métodos de diferença e quociente do continuo. ......... 19

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Figura 3.3: Espectros de reflectância normalizados na faixa do SWIR de minerais quase

puros coletados de amostras de rocha (em verde) e lag (em azul) e sua

comparação com respectivos espectros de minerais provenientes da biblioteca

do USGS (vermelho) ................................................................................................. 20

Figura 3.4: Distribuição de principais minerais de alteração identificados por espectroscopia

de reflectância na região de Salares Norte. ............................................................... 22

Figura 3.5: Espectros de reflectância normalizados da jarosita detectada em Salares Norte

em comparação com espectro proveniente da biblioteca do USGS (vermelho)

na faixa do A. SWIR e B. VNIR. .............................................................................. 24

Figura 3.6: Espectros normalizados de amostras tipo lag da mistura de alunita-caulinita-

esmectita em diferentes proporções (três espectros superiores). Espectros de

referência da biblioteca do USGS são mostrados nos três espectros inferiores

para efeitos de comparação com os minerais puros. ................................................. 25

Figura 3.7: Fotomicrografias de minerais reconhecidos por espectroscopia de reflectância:

A. alunita tabular; B. imagem de MEV de alunita potássico-sódica e valores da

análise semi-quantitativa; C. alteração tipo quartzo-alunita; D. rocha porfirítica

com pseudomorfos de plagioclásio alterados a caulinita; E. calcedônia (mineral

de sílica de baixa temperatura) e; F. quartzo formador de rocha (esquerda) e

completa silicificação de possíveis minerais de plagioclásio ou hornblenda ........... 26

Figura 4.1: Composição em cor real 3,2,1 (RGB) da cena Landsat-7/ETM+ completa. O

quadro azul e o polígono vermelho mostram os recortes das imagens ETM+ e

ASTER, respectivamente, analisados neste trabalho. ............................................... 28

Figura 4.2: Recorte da imagem Landsat-7/ETM+ processada para a identificação de

alteração hidrotermal utilizando a técnica Crósta. As cores claras e vermelhas

indicam presença de alteração e algumas delas são delimitadas nos polígonos

amarelos. Na ampliação é mostrado em detalhe a área de Salares Norte. ................ 30

Figura 4.3: Espectros de reflectância na resolução do sensor ASTER de alunita, caulinita,

caulinita+esmectita e ilita da biblioteca espectral do USGS. ................................... 32

Figura 4.4: Espectros em emitância de quartzo com resolução espectral de laboratório

(linha azul) e re-amostrada para ASTER (linha vermelha)....................................... 34

Figura 4.5: Representação de abundancia de minerais portadores de sílica (em branco)

obtidos da aplicação de APC sobre as bandas termais 10-12-13-14 do sensor

ASTER: A. mostra a cena completa analisada e o quadro vermelho representa a

localização de Salares Norte; B. Detalhe sobre o prospecto Salares Norte. ............. 35

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Figura 4.6: Mapa de minerais de alteração identificados pela técnica Crósta sobre a imagem

ASTER. No fundo banda 3 do sensor ASTER. O quadro A. mostra o detalhe da

área de Salares Norte................................................................................................. 36

Figura 4.7: Representação gráfica do ângulo de diferença (α) calculado entre o espectro de

referência e o espectro desconhecido. ....................................................................... 37

Figura 4.8: Espectros de reflectância de amostras de Salares Norte tomados como referência

para a classificação SAM. À esquerda em resolução espectral do

espectrorradiometro Terraspec e á direita com resolução espectral do sensor

ASTER das bandas 4-9...............................................................................................38

Figura 4.9: Mapa de minerais de alteração identificados pelo método de SAM sobre a

imagem ASTER. No fundo banda 3 do sensor ASTER. O quadro A. mostra o

detalhe da área de Salares Norte ............................................................................... 40

Figura 4.10: Fluxograma de passos realizados pelo aplicativo Spectral Hourglass Wizard

para mapear minerais com o método de MTMF. ................................................... 41

Figura 4.11: A. Visualização de gráfico de dispersão tomando como eixos as bandas MNF

1, 2 e 3. Os círculos representam a localização dos pixels escolhidos como

endmembers para: alunita, MPS, caulinita, ilita e montmorilonita. B.

Assinaturas espectrais de endmembers selecionados da imagem. .......................... 43

Figura 4.12: Representação gráfica do cone MTMF ilustrando o limiar de inviabilidade

(infeasibility threshold) e de MF o valor de mixtura (mixing freedom) para

três pontos X, Y e Z. ............................................................................................... 44

Figura 4.13: A. Diagrama de dispersão formado por valores de escores de MF no eixo x e

de valores de inviabilidade ‘infeasibility’ no eixo y, a partir do qual é feita a

classificação de alunita na área de estudo. Neste exemplo, a seleção manual

de pixels puros para alunita pode ser visualizada no mapa em B. .......................... 44

Figura 4.14: Abundância de minerais de alteração hidrotermal obtida com a técnica MTMF

em bandas do sensor ASTER. Fundo: banda 3 do sensor ASTER. Em detalhe

A. área do projeto Salares Norte ............................................................................. 45

Figura 4.15: Esquerda: mapas de minerais de alteração hidrotermal obtidos a partir de

processamento de bandas do sensor ASTER com os métodos: APC; SAM e

MTMF. Dados de espectroscopia de reflectância tomados como referência

estão sobrepostos. Direita: valores de exatidão total ‘detalhada’ para cada um

destes métodos. ....................................................................................................... 50

Figura 4.16: Distribuição de dados geoquímicos para: A) ouro, B) prata e C) mercúrio na

área do prospecto Salares Norte. ............................................................................ 53

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Figura 5.1: Mapa interpretativo de alterações hidrotermais na região de Salares Norte.

Estruturas obtidas da Gold Fields Chile S.A. (2012). Fundo: Imagem

IKONOS de região.. ............................................................................................... 56

Figura 5.2: Fotomicrografia de MEV de alunita tabular e quartzo de amostra de rocha do

prospecto Salares Norte. ......................................................................................... 57

Figura 5.3: Fotomicrografia de MEV de alunita cúbica de origem steam-heated. .................... 58

Figura 5.4: Fotomicrografia de MEV de alunitas no prospecto Salares Norte indicando

sobreposição da altearção steam-heated na alteração hipógena. ............................ 59

Figura 5.5: Mapa de alterações obtido com a técnica MTMF integrado com interpretação

de lineamentos. A legenda das classes de alteração é a mesma do mapa da

Figura 4.10. ............................................................................................................. 60

Figura 5.6: Mapa de minerais de alteração identificados pela técnica Crósta sobre a

imagem ASTER. No fundo banda 3 do sensor ASTER. Os polígonos 1 e 2 e

os quadros em detalhe A, B e C mostram regiões com assembléias de

minerais de alteração que podem indicar zonas de interesse para exploração.

Quadro SN indica área do projeto Salares Norte. ................................................... 62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1: Bandas espectrais de sensores de ETM+ (Landsat-7) e ASTER (Terra). .......... 27

Tabela 4.2: Matrizes de autovetores da imagem do sensor ETM+ para: minerais com

conteúdo de hidroxila e minerais com conteúdo de óxidos de ferro ................. 29

Tabelas 4.3: Matriz de autovetores das imagens ASTER para A. alunita, B. caulinita, C.

caulinita/esmectita, D. ilita. As PC ressaltadas são as escolhidas para

representar cada mineral, baseando-se nos valores altos e com sinais

opostos, em negrito. .......................................................................................... 32

Tabela 4.4: Matriz de autovetores das bandas 10-12-13-14 da imagem ASTER para

identificação de quartzo/sílica. A PC ressaltada é a escolhida para mapear

este mineral, baseando-se nos valores altos e com sinais opostos, em

negrito. .............................................................................................................. 34

Tabela 4.5: Limiares selecionados para a aplicação do método SAM em radianos. ............ 39

Tabela 4.6: A. Exemplo de valores atribuídos para o cálculo de exatidão ‘geral’. B.

Resultado obtido do cálculo de exatidão total ‘geral’ aos mapas temáticos

gerados com as técnicas APC, SAM e MTMF, tomando-se 373 dados de

referência........................................................................................................... 48

Tabela 4.7: A. Exemplo de valores atribuídos para o cálculo de exatidão total

‘detalhada’. B. Cálculo da exatidão total de ‘detalhada’ dos mapas

temáticos gerados com as técnicas APC, SAM e MTMF, tomando-se 373

dados de referência ........................................................................................... 50

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1

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

O entendimento dos sistemas hidrotermais é relevante em uma grande variedade de

ambientes geológicos, principalmente no estudo e prospecção de depósitos minerais. Sistemas

hidrotermais formados em ambientes vulcânicos têm especial interesse porque podem estar

associados a depósitos epitermais metálicos, produzindo mineralizações de ouro-prata e de

metais base (HEDENQUIST et al., 2000; CROWLEY et al., 2004).

No Chile, o Cinturão de Maricunga é reconhecido por sua grande riqueza em metais

preciosos, que incluem depósitos e prospectos epitermais de ouro-prata, ouro-cobre e pórfiros

ricos em ouro. Neste Cinturão, muitas áreas com alteração hidrotermal são marcadas por uma

proeminente anomalia de cor que, devido ao ambiente desértico nesta região, são evidentes e

identificáveis em superfície (VILA e SILLITOE, 1991).

Embora o Cinturão de Maricunga tenha sido estudado nos últimos anos, principalmente

por Vila e Sillitoe (1991), Sillitoe et al. (1991; 2013), Oviedo et al. (1991), Mpodozis et al.

(1995), Muntain e Einaudi (2000; 2001) entre outros, estes estudos foram desenvolvidos

principalmente na região centro-sul do Cinturão, havendo poucas informações sobre alteração e

mineralização no seu setor norte, em torno da latitude 26°S.

1.1 Objetivos

O objetivo geral desta dissertação de mestrado é identificar e delimitar espacialmente as

principais assembléias de minerais de alteração hidrotermal e contribuir para a compreensão das

características e gênese das mineralizações de ouro na área do prospecto Salares Norte, inserido

na região norte do Cinturão de Maricunga, assim como aplicar esta metodologia de forma eficaz

em áreas próximas, buscando identificar novos prospectos O enfoque é dado através da análise

de dados de espectroscopia de reflectância e imageamento orbital por diferentes plataformas

multiespectrais orbitais de sensoriamento remoto.

A fim de alcançar este objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram

estabelecidos:

Identificar minerais típicos de alterações hidrotermais, tais como alunita, caulinita, ilita,

esmectita e minerais portadores de sílica utilizando-se a técnica de espectroscopia de

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reflectância nas faixas do visível (visible: VIS), infravermelho próximo (near infrared:

NIR) e infravermelho de ondas curtas (short-wave infrared: SWIR) no estudo de

amostras coletadas em campo;

Aplicar métodos de processamento de dados de sensoriamento remoto de média

resolução (sensor Landsat-7/Enhanced Thematic Mapper Plus – ETM+) para reconhecer

áreas alteradas hidrotermalmente, complementado pelo uso do sensor Terra/Advanced

Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer (ASTER), com maior

resolução espectral, para refinar a detecção de associações de minerais de alteração

hidrotermal;

Integrar métodos de espectroscopia de reflectância e de sensoriamento remoto para

mapear as associações mineralógicas das áreas hidrotermalmente alteradas e estabelecer

o zoneamento da alteração que, por sua vez, pode indicar áreas potenciais para

mineralização aurífera;

Complementar os resultados obtidos nas fases anteriores com geoquímica, petrografia e

análise por microscópio eletrônico de varredura (MEV).

1.2 Materiais e Métodos

Para alcançar os objetivos mencionados, foram realizadas as etapas resumidas na Figura

1.1 e descritas a seguir:

1.2.1.1 Revisão bibliográfica, cujo objetivo é entender a geologia regional da área de

estudo, tipos de depósitos presentes no Cinturão de Maricunga e técnicas de análise de

espectroscopia e sensoriamento remoto aplicadas à exploração;

1.2.1.2 Organização e estudo da informação fornecida pela empresa Gold Fields Chile

S.A., que desenvolve atividades de exploração na área, e de trabalhos anteriores

desenvolvidos em Salares Norte tais como mapas, perfis e relatórios;

1.2.1.3 Etapa de campo para reconhecimento da geologia reportada nos mapas e informes

da empresa, e que resultou na coleta de 45 amostras de rocha em afloramentos e de 328

amostras superficiais tipo lag (amostra não consolidada de material superficial de 2 a

4,75 mm de diâmetro) numa malha regular de espaçamento de 100 x 100 m;

1.2.1.4 Medição dos espectros de reflectância das amostras com o equipamento

TerraSpec® Field Spectrometer, fabricado pela Analytical Spectral Devices Inc.;

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1.2.1.5 Análise dos dados espectrais, primeiro com classificação automática para a

identificação mineral no programa The Spectral Geologist – TSG Pro™ 7.0 (CSIRO) e,

posteriormente, aplicação do continuo removido sobre os espectros e corroboração com

análise visual nos softwares Envi© 4.7 e Simis Feature Search© 1.6, comparando-se os

dados coletados com a biblioteca espectral do Serviço Geológico dos Estados Unidos

(United States Geological Survey – USGS) compilada por Clark et al. (2007);

1.2.1.6 Criação da biblioteca espectral da região Salares Norte com espectros

representativos de minerais de alteração hidrotermal;

1.2.1.7 Análise petrográfica de 14 amostras de rocha, a fim de corroborar as informações

fornecidas por espectroscopia, utilizando o microscópio Leica DM-EP acoplado a

câmera fotográfica digital Sony Cybershot, assim como análise por microscópio

eletrônico de varredura (MEV) com o espectrômetro OXFORD Energy-Disperse® e o

microscópio LEO modelo 430I® no Instituto de Geociências da UNICAMP;

1.2.1.8 Uso do software Envi© 4.7 para as etapas de processamento e análise de imagens

orbitais: recorte de uma cena ETM+/Landst-7 para identificação de alteração regional e;

mosaico de 3 cenas ASTER/Terra e posterior recorte para aplicação das técnicas Crósta

(Análise por Principais Componentes-APC), Spectral Angle Mapper (SAM) e Mixture

Tuned Matched Filtering (MTMF) a fim de identificar minerais de altração hidrotermal

de forma regional e detalhada em Salares Norte.

1.2.1.9 Avaliação e integração dos resultados obtidos por espectroscopia de reflectância e

produtos derivados de processamento de imagens orbitais utilizando-se os aplicativos de

software Esri® ArcMap™ 10.1 e Envi© 4.7, para a avaliação da acurácia dos métodos

de produção de mapas temáticos selecionados, e para a criação de um mapa de minerais

de alteração hidrotermal para a área específica de Salares Norte;

1.2.1.10 Tratamento estatístico e mapeamento de dados geoquímicos obtidos pela técnica

de extração de água régia e finalização por espectrometria de massa com fonte de

plasma de acoplamento indutivo (ICP-MS) nas 328 amostras tipo lag e;

1.2.1.11 Análise dos resultados derivados do processamento de toda a imagem do sensor

ASTER, procurando-se outras áreas com possível zoneamento de minerais hidrotermais

que possam indicar áreas potenciais para mineralizações de ouro e metais associados.

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4

Figura 1.1 – Fluxograma de métodos aplicados neste trabalho para o mapeamento de minerais de alteração

hidrotermal na região de Salares Norte e na identificação de novos prospectos em nível regional.

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CAPÍTULO 2 – CONTEXTO GEOLÓGICO ...

2.1 Localização da área de estudo

A região de estudo localiza-se no norte do Chile, a aproximadamente 850 km a norte de

Santiago e a 200 km a nordeste de Copiapó, capital da Região de Atacama (Figura 2.1). A região

integra a Cordilheira dos Andes, mais especificamente a cadeia montanhosa chamada Cinturão

de Maricunga, conhecida mundialmente por sua grande riqueza em recursos minerais (VILA e

SILLITOE, 1991; MPODOZIS et al., 1995; MUNTEAN e EINAUDI, 2001).

Figura 2.1 – Localização do Cinturão de Maricunga no norte do Chile e da área de estudo (Salares Norte e arredores)

em relação a outros cinturões metalogenéticos na Cordilheira dos Andes.

Fonte: modificado de Muntean e Einaudi (2000).

Área de estudo

América do Sul

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A área de estudo regional é limitada pelas coordenadas 25°21’22’’S–26°17’13’’S e

68°28’40’’W–69°02’14’’W compreendendo uma área aproximada de 5.460 km2. Por outro lado,

a região específica de Salares Norte, localizada entre o Salar de Pedernales a sul e o Salar de

Aguilar a norte, é delimitada por uma área de 3 x 3 km entre as coordenadas 25°59’54’’S–

26°01’30’’S e 68°54’08’’W–68°52’22’’W sendo a altitude máxima de ~4.600 m.

2.2 Geologia regional

O nome oficial ‘Cinturão de Maricunga’ foi formalizado por Vila e Sillitoe (1991) para a

área alongada em sentido N-S com uma extensão aproximada de 200 x 50 km, inserida entre as

latitudes 26°00’S e 28°00’S, entre 4.000 e 6.000 metros de altitude acima do nível do mar

(Figura 2.1).

Este Cinturão faz parte da Cordilheira dos Andes e é formado por uma cadeia de edifícios

vulcânicos inativos e erodidos. Esta cadeia e seu embasamento são delimitados por um sistema

de falhas inversas que desenvolvem uma série de horsts e grábens, estes últimos controlando

algumas bacias fechadas como o Salar de Maricunga, Laguna do Negro Francisco e Pedernales

na porção mais norte (VILA e SILLITOE, 1991).

A geologia geral do Cinturão de Maricunga é apresentada na Figura 2.2. A formação do

embasamento nesta região inclui rochas sedimentares, principalmente arenitos, e sequências

vulcânicas ácidas do Paleozóico, assim como pórfiros riolíticos e granitóides com direção geral

NNE que afloram como horsts formados entre o Paleozóico Superior e o Triássico (KAY et al.,

1994; MPODOZIS et al., 1995). No Jurássico Inferior foram depositadas unidades de calcários e

arenitos, assim como conglomerados e arenitos continentais de ambiente eólico, evidenciando

ambientes de transgressão e regressão marinha (BELL e SUAREZ, 1989; VILA e SILLITOE,

1991).

As sequências Mesozóicas foram deformadas no Cretáceo Superior por uma compressão

generalizada (AREVALO e MPODOZIS, 1991). Durante todo o Eoceno, episódios vulcânicos

sucessivos formaram domos e caldeiras de composição cálcio-alcalina ao longo de um amplo

sistema de falhas principalmente NW-WNW (MPODOZIS et al., 1995).

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7

3Figura 2.2 – Mapa geológico regional do Cinturão de Maricunga

Fonte: Modificado de Servicio Nacional de Geología y Minería-Chile (2003).

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O magmatismo recente no Cinturão de Maricunga começou há aproximadamente 26 Ma e

compreendeu quatro episódios principais de atividade com variação de composição andesítica a

dacítica. Os dois primeiros, entre 26 e 20 Ma (Oligoceno Superior-Mioceno Inferior) e entre 16 e

11 Ma (Mioceno Médio), formaram numerosas unidades vulcânicas como os estratovulcões

Cerros Bravos, Barros Negros, e os complexos de domos dacíticos Esperanza e La Coipa. No

terceiro e quarto episódios, que datam entre 11 e 7 Ma, e entre 7 e 5 Ma, respectivamente,

(Mioceno Superior e Mioceno Superior-Plioceno Inferior), a atividade vulcânica se concentrou

no sul do Cinturão, principalmente sobre o Complexo Vulcânico Copiapó, formando um sistema

de domos, estratovulcões e extensos fluxos piroclásticos dacíticos que cobre uma área superior

aos 200km2, provenientes principalmente dos vulcões de Coiapó e Jotabeche (KAY et al., 1994;

MPODOZIS et al., 1995; MUNTEAN e EINAUDI, 2000).

O Cinturão de Maricunga compreende um sistema de falhas inversas produzidas em duas

épocas: Cretáceo Médio/Superior e Mioceno Médio. Estas falhas limitam as faixas rochosas com

direção NNE do Paleozóico e Mesozóico. Apesar desta orientação paralela de estruturas nesta

área, uma componente estrutural secundário, mas distintivo, de direção NW é evidente nas áreas

de alteração, e é representado pela orientação das falhas, veios, brechas, diques e anomalias

geoquímicas de solos nesta direção. A intersecção destas duas tendências estruturais

aparentemente controla os focos de alteração/mineralização principais (VILA e SILLITOE,

1991).

A história de exploração no norte de Chile começou nos anos 80. Desde esta época,

algumas empresas chilenas e estrangeiras usaram aeronaves em busca das chamadas “anomalias

de cor” (áreas de cor clara associadas à alteração hidrotermal) possivelmente associadas à

presença de forte alteração a caulinita, alunita ou minerais portadores de sílica na região

desértica e afloramentos silicificados que indicariam alteração hidrotermal. Neste período, foram

encontradas cerca de 200 áreas de interesse e o Cinturão de Maricunga destacou-se por ter alto

potencial em relação à mineração de metais preciosos (VILA e SILLITOE, 1991).

Os eventos de vulcanismo ocorridos entre o Oligoceno Superior e o Mioceno no Cinturão

estão associados a ciclos recorrentes de alteração hidrotermal que produzem importantes

mineralizações do tipo ouro pórfiro, ouro-cobre pórfiro, e epitermal. Em alguns distritos, estas

mineralizações são transicionais (SILLITOE et al., 1991; VILA e SILLITOE, 1991; MPODOZIS

et al., 1995; MUNTEAN e EINAUDI, 2001). Com técnicas de datação radiométrica, as

alterações e mineralizações do Cinturão puderam ser divididas em dois sub-cinturões

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sobrepostos longitudinalmente: um oeste, com idade entre 20 e 25 Ma (Oligoceno Superior-

Mioceno Inferior) e outro leste com idades entre 12,5 e 14 Ma (Mioceno Médio). Estas idades

coincidem com os eventos vulcânicos estudados previamente na região. A migração da atividade

magmática e metalogenética para o leste pode ser atribuída à diminuição do ângulo de

subducção, em evento iniciado há 18-16 Ma (SILLITOE et al., 1991).

Alguns dos depósitos mais conhecidos e estudados do Cinturão de Maricunga estão

indicados na Figura 2.2. Entre eles encontram-se os depósitos do tipo pórfiro de Refugio,

Aldebarán, Marte e Lobo, e os do tipo epitermal de alta sulfetação como La Pepa, Esperanza e

La Coipa (VILA e SILLITOE, 1991). Embora o limite norte do Cinturão seja em torno da

latitude 26°S, os estudos realizados pela maioria de autores remetem especialmente à parte

centro-sul, sendo o depósito de La Copia e La Esperanza (localizados em torno da latitude 27°S)

os mais setentrionais mencionados e analisados em quase todos os estudos da área.

Neste contexto, a área de estudo deste trabalho localiza-se na parte mais a norte do

Cinturão de Maricunga, onde tem sido reconhecidas principalmente mineralizações epitermais de

alta sulfetação. Os depósitos epitermais caracterizam-se por condição de formação em ambiente

raso (entre 1 e 2 km de profundidade), num intervalo de temperatura entre cerca de 150°C e

350°C, estando geralmente associados com domos ou complexos vulcânicos (SILLITOE, 1999;

HEDENQUIST et al., 2000). Eles compreendem principalmente os sistemas de baixa e de alta

sulfetação (WHITE e HEDENQUIST, 1995), sendo o último tipo o foco deste trabalho.

Dependendo da composição do fluido e da profundidade de formação, estes sistemas podem

concentrar principalmente Au, Ag, As, Cu, Hg (HEDENQUIST et al., 2000). As alterações e

mineralizações no ambiente de alta sulfetação são produzidas por fluidos ácidos e oxidados, em

associação com atividades magmático-hidrotermais de vulcões recentes, como os já

reconhecidos no cinturão de Maricunga e em outras regiões da cordilheira dos Andes

(HEDENQUIST e LOWENSTERN, 1994), e também associados a vulcões antigos, como é o

exemplo da província aurífera de Tapajós no Brasil, com uma idade de mineralização de

aproximadamente 1.85 Ga (Juliani et al., 2005). A trajetória e interação destes fluidos com as

rochas hospedeiras geram uma transição de alterações hidrotermais características e de

importante reconhecimento para exploração (Figura 2.3). A sequencia de alteração da região

distal até a central do sistema de alta sulfetação compreende: 1) alteração propilítica (clorita,

calcita e epidoto); 2) alteração argílica (ilita, esmectita, ± caulinita); 3) alteração argílica

avançada (caulinita, alunita, quartzo, ± pirofilita, ± dickita); 4) alteração silícica (quartzo residual

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com cavidades - quartzo vuggy - ou presença de minerais com sílica maciça (ARRIBAS, 1995;

COOKE e SIMMONS, 2000; HEDENQUIST et al., 2000). A alteração silícica coincide com o

núcleo do sistema onde geralmente se precipitam os metais nas últimas etapas da ascensão dos

fluidos.

4Figura 2.3 – Perfil esquemático de zoneamento de alterações hidrotermais típicas de um sistema de alta sulfetação.

Fonte: Arribas (1995).

Nos ambientes epitermais, a alteração argílica avançada também pode ser produzida por

fluidos diferentes aos de origem hipógena, com forte componente magmática. Em ambientes

rasos, fluidos de vapor-aquecido (steam-heated) podem se condensar no contato com o lençol

freático, criando uma alteração com distribuição tabular (Figura 2.4.A). Nestas condições,

minerais como caulinita, alunita, ±calcedônia, ±enxofre nativo, ±esmectita, ±opala e ±cristobalita

podem ser produzidos (SILLITOE, 1999; HEDENQUIST et al., 2000).

Embora essa assembléia mineral seja similar àquela produzida por fluidos hidrotermais, é

possível diferenciá-la pela morfologia e cor da alunita, por exemplo. No ambiente hipógeno, a

alunita apresenta-se em geral por coloração rosa, branca ou creme, e como agregados cristalinos

tabulares, de granulometria fina até grossa; já as alunitas originadas em ambiente steam-heated, e

até mesmo no ambiente supérgeno, possuem coloração branca e cristais de granulometria muito

fina, e formato romboédrico a cúbico (HEDENQUIST et al., 2000).

Durante a atividade hidrotermal, uma queda no nível do lençol freático pode ocorrer,

gerando sobreposição (overprinting) no sistema de alta sulfetação original. Neste processo, os

halos argílicos hidrotermais podem ser rapidamente substituídos pelos minerais de alteração

steam-heated, mas a região central de quartzo vuggy, à qual pode ser associar a mineralização,

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11

A

B

geralmente não tende a ser afetada (Figura 2.4.B). Exemplos deste fenômeno têm sido

reconhecidos em Paradise Peak (Estados Unidos), Pierina (Peru), Pascua Lama (Chile), La Coipa

(Chile) e Tambo (Chile). As alterações de origem steam-heated não têm sido muito estudadas

pelo baixo interesse econômico, mas são reconhecidas como um importante indicador na

exploração mineral, uma vez que geralmente estarem acima do sistema de alta sulfetação

(SILLITOE, 1999).

5Figura 2.4 – Diagrama de alteração tipo steam-heated: A. Considerando o nível do lençol freático mais

próximo da superfície e o sistema de alta sulfetação inserido logo abaixo; B. considerando a sobreposição de

alteração tipo steam-heated sobre a argílica avançada, devido à queda no nível do lençol freático.

Fonte: Sillitoe (1999).

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Outra característica relevante nos ambientes de alta sulfetação é a presença de brechas.

Embora o reconhecimento de sua origem não seja simples, elas são de grande importância visto

que podem servir como um meio permeável concentrador de minério (SILLITOE, 1999;

HEDENQUIST et al., 2000). Depósitos como Yanacocha, La Coipa e Paradise Peak se

caracterizam por uma mistura complexa entre brechas hidrotermais quartzo-cimentadas, quartzo

vuggy e silicificação massiva com minério suficiente para ser aproveitado economicamente.

Adicionalmente, brechas hidrotermais com matriz composta por alunita também podem ser

mineralizadas, a exemplo daquelas encontradas em La Coipa, (SILLITOE, 1999).

2.3 Geologia local

A região do prospecto Salares Norte abrange uma área de 3 x 3 km e as coordenadas

centrais são aproximadamente 26°00’40’’S e 68°53’00’’W. O contexto geológico da área é

apresentado no mapa da Figura 2.5. A unidade mais antiga compreende um corpo

vulcanossedimentar dacítico caracterizado por níveis de tufos ricos em quartzo que se

intercalam com tufos de lapilli (GIGOLA, 2011) (Figura 2.6.B).

6Figura 2.5 – Mapa geológico do prospecto Salares Norte.

Fonte: Gold Fields Chile S.A. (2012).

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7Figura 2.6 – Principais litologias na área do prospecto Salares Norte: A. domo-fluxo dacítico (esquerda) mostrando

intensa alteração em superfície, e tendo à direita o domo andesítico mais fresco ; B. testemunho de furo de

sondagem de tufo de lapilli com pumice (fonte: Hedenquist, 2011); C. afloramento de fluxo andesítico com

bandeamento evidente; D. brecha freato-magmática com clastos juvenis, aparentemente de andesito, e matriz de

rocha fragmentada e moída; E. brecha hidrotermal com matriz rica em alunita (fonte: Hedenquist, 2011).

A.

B.

C.

D.

E.

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Uma unidade dacítica com textura porfirítica forma uma estrutura dômica de 1,2 km de

diâmetro numa cota altimétrica de 4520 m (Figura 2.6.A), tendo sido denominada de domo-

fluxo dacítico (dacite flow-dome) por Hedenquist (2011). Um domo e fluxos andesíticos

posteriores também são reportados numa extensa área e caracterizados por textura porfirítica,

apresentando localmente bandeamento evidente (clear-cut bedding) (Figura 2.6.C).

Uma brecha-diatrema de origem freato-magmática aflora no interior do domo

andesítico. Compreende brecha polimítica contendo clastos de andesito e púmice, fragmentos

angulares de aparência frágil e clastos de quartzo residual (vuggy). A matriz é porosa, composta

principalmente por fragmentos líticos moídos e cristais fragmentados (GIGOLA, 2011) (Figura

2.6.D). Variações na composição e na abundância dos fragmentos, intrusões de diques e períodos

de fluidização indicam que a brecha foi encaixada durante múltiplas fases (HEDENQUIST,

2011).

Dois tipos de brechas hidrotermais foram reconhecidas: uma com cimento rico em

alunita de origem hipógena (podendo também conter quartzo) (Figura 2.6.E) e outra com

cimento cinza rico em sílica. Essas unidades de brecha cortam principalmente os tufos

(HEDENQUIST, 2011).

Com relação às alterações e mineralizações no prospecto Salares Norte, Hedenquist

(2011) relata a seguinte transição de alteração hipógena: (1) alteração argílica composta por

caulinita, ±montmorillonita, ±ilita intraestratificada alterando fluxos andesíticos e outras

unidades impermeáveis; (2) alteração quatzo-alunita (correspondente à argílica avançada) que

é observada principalmente nas unidades de tufos (Figura 2.7.A) e; (3) silicificação que varia em

intensidade, formando quartzo vuggy e substituindo litologias permeáveis nos tufos e nas brechas

hidrotermais (Figura 2.7.B) (GIGOLA, 2011; HEDENQUIST, 2011).

Outra alteração evidente na área é a alteração do tipo steam-heated, produzida por

vapores aquecidos. Em Salares Norte este tipo de alteração é representado por caulinita e alunita

de granulometria muito fina ocorrendo, localmente, calcedônia ou opala, gipso e enxofre nativo.

Esta alteração produz uma fragilidade na litologia, facilitando a sua erosão e gerando notáveis

anomalias de cor em superfície (Figura 2.7.C e 2.7.D). Ela se encontra sobre o domo-fluxo

dacítico e substituindo tufos, principalmente os ricos em quartzo. Sua distribuição é irregular e

desenvolvida acima dos 4.500 m. Devido à sua extensão, é possível mapear esta alteração steam-

heated (Figura 2.5). Cristas salientes de quartzo, chamados ledges, têm sido reconhecidas no

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prospecto de Salares Norte, principalmente associada com este tipo de alteração

(HEDENQUIST, 2011; GIGOLA, 2011).

8Figura 2.7 – Fotografias das alterações presentes na área de estudo: A. tufo rico em quartzo alterado a quartzo-

alunita(fonte: Gigola, 2011); B. alteração silícica produzindo quartzo vuggy; C. parte do domo-fluxo dacítico com

alteração tipo steam-heated produzindo forte anomalia de cor; D. afloramento de alteração do tipo steam-heated

com forte caulinização.

As principais estruturas documentadas compreendem falhas com direção NW-SE,

majoritariamente inferidas devido à falta de correlação litológica em algumas áreas. Na Figura

2.8 uma destas falhas foi exposta por uma trincheira, representando o contato entre a brecha

freato-magmática e o domo andesítico. Algumas alterações superficiais de cristas de quartzo

também seguem esta direção NW-SE (GIGOLA, 2011).

A. B.

C. D.

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9Figura 2.8 – Contato por falha (linha pontilhada vermelha) entre andesito argilizado e brecha freato-magmática.

Adicionalmente, zonas estruturais com direção NE-SW também são inferidas com base

na orientação local de alteração argílica que afeta o domo andesítico, nas brechas tectônicas rasas

com direção N75E e na presença de lineamentos orientados neste sentido (GIGOLA, 2011).

Mineralizações de ouro e, localmente, de prata têm sido reconhecidas principalmente nas

unidades de quartzo-alunita e quartzo residual. Entretanto, mais estudos na área devem ser

realizados para a delimitação e detalhamento desta região (HEDENQUIST, 2011).

Andesito argilizado

Brecha freato-magmática

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17

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO

ESPECTRAL 3 ...

Em atividades de exploração, as assembléias de minerais de alteração são de grande

importância para o entendimento e avaliação de um prospecto ou depósito hidrotermal. Alguns

destes minerais de alteração não são facilmente reconhecíveis por métodos convencionais, e a

aplicação de técnicas analíticas mais avançadas pode ser de grande ajuda. Espectrorradiômetros

como o PIMA (Portable Infrared Mineral Analyser), o Fieldspec Full Resolution e o Terraspec

Field Spectrometer, por exemplo, têm sido intensamente utilizados na caracterização das

alterações hidrotermais em áreas com algum interesse econômico. A técnica de espectroscopia

de reflectância se baseia no fato de que muitos minerais possuem feições de absorção de energia

eletromagnética que variam em sua forma e posição no espectro, sendo possível identificá-los

por meio destas características únicas. Desta forma, pequenas variações no comprimento de onda

das feições de absorção podem dar informação sobre a composição de um grande conjunto de

minerais (PONTUAL et al., 1997; THOMPSON et al., 1999).

Os dados espectrais de reflectância obtidos de amostras de Salares Norte com o

espectrorradiômetro Terraspec Field Spectrometer (45 dados de rocha e 328 dados de lag),

serviram de base para a identificação de minerais de alteração hidrotermal. A Figura 3.1 mostra a

distribuição da amostragem numa imagem de alta resolução espacial IKONOS em cor real, na

qual pode-se observar uma mudança drástica na coloração da superfície, indicando, em tons

claros, a presença de alteração hidrotermal.

Para a caracterização espectral, os dados foram comparados com a biblioteca espectral do

USGS (CLARK et al., 2007) atentando-se, em especial, à faixa entre 1.300 e 2.500 nanômetros

(nm), que compreende o intervalo principal para discriminação de argilominerais, micas,

sulfatos, entre outros. Os minerais escolhidos para a comparação foram a alunita, caulinita,

dickita, halloysita, esmectita, ilita, muscovita, jarosita, minerais portadores de sílica, pirofilita e

diásporo. Estes minerais foram selecionados devido à sua importância na identificação dos tipos

de alteração hidrotermal, e/ou por terem sido previamente encontrados na área.

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Figura 3.1 – Imagem IKONOS de Salares Norte mostrando pontos de amostragem de: A. amostras de rocha e; B.

malha de amostras tipo lag com pontos de amostragem a cada 100 m. O polígono preto representa o domo-fluxo

dacítico porfirítico, enquanto o polígono verde indica o domo andesítico porfirítico e o polígono azul mostra a

principal área de alteração steam-heated.

Para esta interpretação, todos os espectros foram normalizados pela remoção do contínuo

por meio da técnica do quociente do contínuo (hull quotient). Este método calcula uma linha

convexa que toca o número máximo de pontos da curva de reflectância original, para posterior

razão, a cada comprimento de onda, do valor da reflectância do espectro original pelo respectivo

valor de reflectância da linha convexa (Figura 3.2). A função deste método é a normalização das

curvas espectrais, que facilita a análise dos espectros, pois realça as feições de absorção que, em

muitos minerais, são imperceptíveis no espectro original (PONTUAL et al., 1997).

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Figura 3.2 – Ilustração de método para a remoção do contínuo: A. espectro original (linha sólida) com o cálculo da

linha convexa (linha pontilhada) e B. espectro normalizado resultante pelos métodos de diferença e quociente do

continuo.

Fonte: Pontual et al., (1997).

As características dos espectros, tais como profundidade e forma das feições, assim como

seu comprimento de onda, foram consideradas para identificar ou discriminar os minerais nas

curvas espectrais analisadas, incluindo-se possíveis misturas. Neste procedimento, foi possível

determinar principalmente a presença de alunita, caulinita, esmectita (às vezes com ilita), jarosita

e gipso, sendo que os mesmo geralmente foram encontrados como misturas. A Figura 3.3.A-F

apresenta espectros de amostras de rocha e de lag obtidos na região Salares Norte, que foram

selecionados por serem os mais similares aos espectros da biblioteca espectral do USGS, tomada

como base para a comparação e identificação de minerais.

O mineral identificado em maior abundância por espectroscopia foi alunita, que em

muitas amostras e encontra-se distribuída principalmente sobre o domo-fluxo dacítico (Figura

3.4). A Figura 3.3.A. mostra exemplos de espectros de alunita. Segundo Thompson et al. (1999),

no intervalo de comprimento de onda entre 1.461 e 1.510 nm as feição de absorção dos minerais

do supergrupo da alunita indicam a variação composicional, causadas por vibração de ligações

OH. Uma feição pronunciada em ~1.461 nm indica a presença de amônia (NH4), enquanto a

feição centrada em ~1.478 nm mostra composição rica em potássio (K), e as feições localizadas

em ~1.496 e em ~1.510 nm, respectivamente, indicam composição por sódio (Na) e cálcio (Ca)

(THOMPSON et al., 1999). Na maioria das amostras com alunita reconhecidas em Salares

Norte, as principais feições de absorção concentram-se entre 1.480 e 1.482 nm, indicando uma

A. B.

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composição principalmente potássica. De maneira restrita, aparecem feições de absorção em

1.492 nm que sugerem maior concentração de sódio, além da ocorrência simultânea das feições

localizadas em ~1.480 e 1.492 nm, registrando a série de solução sólida dos membros ricos em K

e Na na alunita.

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Figura 3.3.A-F – Espectros de reflectância normalizados na faixa do SWIR de minerais quase puros coletados

de amostras de rocha (em verde) e lag (em azul) e sua comparação com respectivos espectros de minerais

provenientes da biblioteca do USGS (vermelho) (MPS: minerais portadores de sílica).

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A caulinita foi reconhecida principalmente através de suas feições de absorção duplas em

~1.400-1.412 (vibração da ligação OH) e em 2.162-2.206 nm (vibração da ligação Al-OH). Na

maioria dos casos, a caulinita aparece em mistura, principalmente com esmectita e alunita de

composição potássica (Figura 3.3.B). A caulinita se distribui em quase toda a área amostrada e é

notavelmente ausente como mineral principal na região que coincide com o steam-heated

mapeado por Gold Fields Chile S.A (2012) (Figura 3.4).

Dos minerais do grupo da esmectita, o único reconhecido foi a montmorilonita, cujas

feições de absorção características situam-se em ~1.411 (vibração da ligação OH e de moléculas

de água), ~1.904 (vibração de água molecular) e ~2.208 nm (vibração da ligação Al-OH) (Figura

3.3.C). Sua distribuição segue o padrão da caulinita, ocorrendo em quase toda a malha de

amostragem, exceto na alteração do tipo steam-heated (Figura 3.4). Esse mineral aparece na

maioria das amostras como mineral secundário ou terciário.

13Figura 3.4 – Distribuição de principais minerais de alteração identificados por espectroscopia de reflectância

na região de Salares Norte (MPS: minerais portadores de sílica).

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A esmectita pode ser encontrada com a ilita em diferentes proporções. No caso das

amostras superficiais de Salares Norte, ilita pura não foi encontrada, apenas ilita com esmectita

(Figura 3.3.D). A distribuição espacial desta assembléia mineral tem uma tendência mais

marcada bordejando a parte oeste da alteração do tipo steam-heated, estando também presente na

região do domo andesítico (Figura 3.4).

Em algumas amostras de rocha foram reconhecidos visualmente minerais contendo sílica

de diferentes tipos: em fragmentos de calcedônia, quartzo da litologia original, quartzo residual

(vuggy) ou silicificação afetando a litologia original com graus variados de intensidade.

Analisando os espectros de reflectância destas amostras, ficam evidentes três feições de absorção

notadamente suaves nos mesmos comprimentos de onda que a esmectita (~1.400, ~1.900 e

~2.200 nm) indicando a presença de calcedônia no espectro (PONTUAL et al., 1997; CLARK et

al., 2007). No entanto, como nas amostras de mão foi reconhecido também quartzo, os espectros

com estas características, incluso das amostras de lag, foram interpretados genericamente como

sendo de minerais portadores de sílica (MPS) e são apresentados na Figura 3.3.E.

Espacialmente, nota-se que as amostras caracterizadas por conter estes minerais com

sílica estão distribuídas preferencialmente na parte oeste da alteração steam-heated e apresentam

uma tendência direcional segundo NW-SE (Figura 3.4).

Gipso foi reconhecido espectralmente em algumas amostras. A presença de moléculas de

H2O explica o aparecimento de feições de absorção em aproximadamente 1.444, 1.490, 1.535 e

1.948 nm. Absorções também são visíveis em ~1.750 nm (vibrações de íons OH), além das

feições em 2.170, 2.215 e 2.266 nm, em decorrência da vibração de ligações S-O (PONTUAL et

al., 1997) (Figura 3.3.F). A distribuição regional do gipso em Salares Norte é irregular (Figura

3.4).

A jarosita foi identificada com base nas feições de absorção decorrentes do processo de

vibração da ligação OH (~1.472, ~1.530 e ~1.850 nm) e vibração da ligação Fe-OH (~2270 nm)

(Figura 3.5.A). Este sulfato também pode ser identificado na faixa do visível ao infravermelho

próximo (VNIR), principalmente por sua pronunciada feição de absorção em 434 nm derivada do

processo de transição eletrônica de íon de ferro férrico (Figura 3.5.B) (PONTUAL et al., 1997;

BISHOP e MURAD, 2005). Da mesma forma que o gipso, a jarosita não possui uma distribuição

regular na área estudada (Figura 3.4).

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14Figura 3.5 – Espectros de reflectância normalizados da jarosita detectada em Salares Norte em comparação com

espectro proveniente da biblioteca do USGS (vermelho) na faixa do A. SWIR e B. VNIR.

De todos os espectros medidos e analisados, a maioria apresentara misturas de minerais.

Nestas misturas, os três minerais principais foram identificados, considerando sua

proporcionalidade, a partir da profundidade das feições de absorção. Uma das misturas mais

comum identificada foi a de alunita–caulinita–esmectita, observadas em proporções variáveis

(Figura 3.6).

As amostras com a mistura alunita–caulinta–esmectita apresentam uma tendência

espacial que varia em relação à proporção destes minerais: quando há maior quantidade de

alunita e de caulinita, as amostras se concentram principalmente na parte centro-leste da malha.

Com o predomínio de esmectita, a distribuição torna-se mais aleatória na malha.

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15Figura 3.6 – Espectros normalizados de amostras tipo lag da mistura de alunita-caulinita-esmectita em diferentes

proporções (três espectros superiores). Espectros de referência da biblioteca do USGS são mostrados nos três

espectros inferiores para efeitos de comparação com os minerais puros. Abreviações: alu=alunita, kao=caulinita,

sme=esmectita.

A presença de minerais identificados por espectroscopia de reflectância foi confirmada a

partir de análise petrográfica e por meio da técnica de MEV-EDS. Nas fotomicrografías das

Figuras 3.7.A-C são apresentadas alunita com granulometria e morfologia variada, sendo as

alunita das Figuras 3.7.A e B tabulares e as da Figura 3.7.C distribuídas como agregados e

granulometria mais fina e, neste caso acompanhada de quartzo. A Figura 3.7.D mostra caulinita

substituindo cristais anteriores, possivelmente de plagioclásio. A presença de calcedônia é

confirmada na fotomicrografia 3.7.E. Embora o quartzo não seja reconhecível na faixa VIS, NIR

e SWIR do espectro eletromagnético, este mineral foi identificado em amostras de mão e em

petrografia como é indicado na Figura 3.7.F onde se observa quartzo fazendo parte da assembléia

original (lado esquerdo da fotomicrografia) e silicificação massiva substituindo os minerais

anteriores.

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16Figura 3.7 – Fotomicrografias de minerais reconhecidos por espectroscopia de reflectância: A. alunita tabular (luz

transmitida, nicóis cruzados); B. imagem de MEV de alunita potássico-sódica e valores da análise semi-quantitativa;

C. alteração tipo quartzo-alunita (luz transmitida, nicóis cruzados); D. rocha porfirítica com pseudomorfos de

plagioclásio alterados a caulinita (luz transmitida, nicóis cruzados); E. calcedônia (mineral de sílica de baixa

temperatura) e; F. quartzo formador de rocha (esquerda) e completa silicificação de possíveis minerais de

plagioclásio ou hornblenda (luz transmitida, nicóis cruzados) Abreviações: Alu = alunita; Cha = calcedônia; Kln =

caulinita e Qz = quartzo

Alu Alu

Aln

Qz

Qz

Kln

Kln

Qz

Qz

Qz

Cha

250µm

100µm

1mm

100µm

50µm

100µm

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CAPITULO 4 – ANÁLISES E INTERPRETAÇÃO DE

DADOS ORBITAIS PARA IDENTIFICAÇÃO MINERAL 4 ...

Sensores multiespectrais orbitais como Landsat-7/ETM+ e Terra/ASTER têm sido

amplamente aplicados para múltiplos projetos de exploração pelo mundo todo, obtendo

resultados satisfatórios quanto à identificação de minerais de alteração hidrotermal que podem

indicar regiões de interesse econômico potencial. O sensor ETM+ permite a detecção e

mapeamento genérico de alteração hidrotermal por meio da identificação de minerais de argila e

óxidos/hidróxidos de ferro, enquanto que o sensor ASTER, pela posição estratégica de suas bandas

na faixa do SWIR, permite a diferenciação de alterações como a argílica, argílica avançada,

propilítica e fílica (BEDELL, 2004) (Tabela 4.1).

1Tabela 4.1 – Bandas espectrais de sensores de ETM+ (Landsat-7) e ASTER (Terra).

Fonte: Lillesand et al. (2008).

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4.1 Análise de imagem Landsat-7/ETM+

Para a avaliação regional do potencial prospectivo da área de Salares Norte e das regiões

vizinhas, foi utilizada uma imagem do sensor ETM+ a bordo do satélite Landsat-7, ponto 233 e

órbita 078, tomada no dia 28 de dezembro de 2000. A cena foi recortada a fim de reduzi-la

somente à área de interesse e evitar regiões cobertas por neve, restando uma área aproximada de

11.300 km2 (Figura 4.1). Além disto, foi aplicada uma máscara sobre os salares e glaciares

maiores que, devido ao seu albedo, poderiam interferir notavelmente na estatística da imagem e

prejudicar a análise espectral de minerais.

17Figura 4.1 – Composição em cor real 3,2,1 (RGB) da cena Landsat-7/ETM+ completa. O quadro azul e o

polígono vermelho mostram os recortes das imagens ETM+ e ASTER, respectivamente, analisados neste trabalho.

As imagens do sensor ETM+ têm seis bandas que cobrem a região VNIR-SWIR do

espectro eletromagnético e uma resolução espacial de 30 m (Tabela 4.1). O método de Análise

por Principais Componentes (APC) foi aplicado sobre bandas selecionadas da imagem. Esta é

uma técnica estatística multivariada que seleciona combinações lineares não correlacionadas das

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bandas espectrais, a fim de reduzir a variância da resposta espectral produzida por materiais

superficiais como rochas, solo e vegetação. A Técnica Crósta é uma forma direcionada de aplicar

a APC proposta por Loughlin (1991). Ela foi aplicada separadamente em dois conjuntos de

bandas, 1-4-5-7 e 1-3-4-5, a fim de identificar anomalias de minerais com hidroxila (H) e óxidos

de ferro (F), respectivamente. Esta técnica produz quatro principais componentes (PC), das quais

foi escolhida a PC que melhor representou o contraste entre pares específicos de bandas e, com

isso, os minerais de interesse (Tabelas 4.2.A e 4.2.B.).

2Tabelas 4.2 – Matrizes de autovetores da imagem do sensor ETM+ para: A. minerais com conteúdo de hidroxila

(H) e B. minerais com conteúdo de óxidos de ferro (F). As PCs ressaltadas são as escolhidas para representar cada

classe mineral, baseando-se nos valores contrastantes (altos positivos vs. altos negativos) em negrito.

Para a escolha das PCs que indicam a presença de alteração, são analisadas as PC 3 e 4 do

conjunto 1, 4, 5 e 7, buscando um alto contrate entre os pares de bandas 5 e 7 para identificar os

pixels contendo hidroxila (H), e do conjunto 1, 3, 4 e 5 buscando um alto contrate entre os pares

1 e 3 para identificar os pixels portadores de minerais de ferro (F). Esse alto contrate é expresso

pela PC que tem, para esses dois pares, os valores de autovetores altos, mas com sinais opostos.

No caso da H, foi escolhida a PC4 e sua imagem foi invertida (multiplicada por -1) para que a

abundância de hidroxila fosse representada em tons claros. Para o mapeamento de ferro, a PC3

representou a alteração com valores altos negativos na banda 1 e altos positivos na banda 3, não

sendo necessário portanto a sua inversão.

Tabela 4.2.A - Autovetores das bandas 1457 para realce de minerais com hidroxila

Banda 1 Banda 4 Banda 5 Banda 7

PC 1 0,175881 0,397668 0,673012 0,598315

PC 2 0,722323 0,533661 -0,130756 -0,419950

PC 3 0,604331 -0,484350 -0,343819 0,531016

PC 4 -0,286530 0,567865 -0,641674 0,428584

Tabela 4.2.B - Autovetores das bandas 1345 para realce de minerais com óxidos de ferro

Banda 1 Banda 3 Banda 4 Banda 5

PC 1 -0,208465 -0,518179 -0,443684 -0,700840

PC 2 -0,509661 -0,516123 -0,198785 0,659050

PC 3 -0,825552 0,363123 0,354261 -0,247195

PC 4 -0,123500 0,577277 -0,798829 0,115633

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A imagem resultante é apresentada na Figura 4.2, onde a PC que representa a abundância

de hidroxila é representada na cor vermelha, a de ferro na cor azul e a imagem representando a

soma das duas PC anteriores é apresentada na cor verde. O contraste foi manipulado

manualmente a fim de realçar as regiões mais claras, que representam uma maior similaridade

espectral com os minerais de alteração de interesse (LOUGHLIN, 1991). Nesta composição

colorida, as áreas com pixels brancos representam áreas de alteração hidrotermal com maior

concentração de minerais de hidroxila e de óxidos de ferro, indicando maior potencial para

mineralização. Regionalmente, observa-se uma tendência quase norte-sul das áreas anômalas e,

na parte sul da cena, outra zona com direção preferencial WNW, além de algumas regiões

isoladas. Estas anomalias estão delimitadas nos polígonos amarelos da Figura 4.2.

A alteração em Salares Norte é claramente identificada pela presença predominante de

óxidos de ferro regional (em cor ciano) com um núcleo de alteração de minerais de hidroxila (em

vermelho).

18Figura 4.2 – Recorte da imagem Landsat-7/ETM+ processada para a identificação de alteração hidrotermal

utilizando a técnica Crósta. As cores claras e vermelhas indicam presença de alteração e algumas delas são

delimitadas nos polígonos amarelos. Na ampliação é mostrado em detalhe a área de Salares Norte.

H+F F

H

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4.2 Análise de imagem ASTER

As três cenas ASTER analisadas para a identificação de minerais de alteração hidrotermal

foram obtidas no dia 21 de novembro de 2004 pelo satélite Terra. Estas imagens contêm dados

de reflectância superficial nos comprimentos de onda do VNIR (3 bandas e resolução espacial de

15 m) e do SWIR (6 bandas com resolução espacial de 30 m) (ABRAMS et al., 2002) (Tabela

4.1). Foram também obtidas as respectivas bandas TIR (5 bandas com resolução espacial de

90m) (Tabela 4.1) para as três cenas. Para a identificação de alunita, caulinita, esmectita e ilita,

identificados anteriormente no campo e confirmados nos dados espectroscópicos, os dados do

sensor ASTER foram processados na faixa VNIR e SWIR. As bandas que abrangem o intervalo

do TIR foram utilizadas para a identificação de minerais com sílica.

Inicialmente, foi produzido um mosaico com as três imagens consecutivas. Ele foi

recortado a fim de incluir somente a região de interesse, cobrindo uma área ~5.460 km2

(polígono vermelho da Figura 4.1). Posteriormente, foi aplicada uma máscara sobre os salares e

áreas de glaciares (mais abundantes nesta cena que na ETM+) para que estes alvos não afetassem

a estatística calculada no processamento da imagem.

4.2.1 Técnica Crósta

Análise por Principais Componentes foi realizada na imagem do sensor ASTER para

identificar a abundância de minerais de alteração hidrotermal. Para este caso, Crósta et al. (2003)

propuseram uma adaptação da Técnica Crósta, originalmente proposta por Loughlin (1991) para

as bandas do sensor TM, que utiliza conjuntos específicos de quatro bandas do sensor ASTER

para identificar alunita, caulinita, caulinita/esmectita e ilita. Esses conjuntos são,

respectivamente, 1-3-5-7, 1-4-6-7, 1-4-6-9 e 1-3-5-6, e foram selecionados devido ao contraste

de reflectância e absorção encontrada sobre estas bandas para os diferentes minerais avaliados

(Figura 4.3) As tabelas 4.3.A-D representam as matrizes de autovetores resultantes da aplicação

dessa técnica para realce de cada um destes minerais.

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19Figura 4.3 – Espectros de reflectância na resolução do sensor ASTER de alunita, caulinita,

caulinita+esmectita e ilita da biblioteca espectral do USGS.

3Tabelas 4.3 – Matriz de autovetores das imagens ASTER para A. alunita, B. caulinita, C.

caulinita/esmectita, D. ilita. As PC ressaltadas são as escolhidas para representar cada mineral, baseando-se nos

valores altos e com sinais opostos, em negrito.

Tabela 4.3-A. Autovetores das bandas 1357 para realce de alunita

Banda 1 Banda 3 Banda 5 Banda 7

PC 1 -0,369196 -0,584331 -0,476952 -0,542926

PC 2 -0,614285 -0,428755 0,473920 0,462843

PC 3 -0,695477 0,681250 -0,217868 -0,068878

PC 4 0,051580 -0,103078 -0,707425 0,697326

Tabela 4.3-B. Autovetores das bandas 1467 para realce de caulinita

Banda 1 Banda 4 Banda 6 Banda 7

PC 1 -0,309627 -0,654833 -0,463960 -0,509967

PC 2 -0,891025 -0,050646 0,339155 0,297462

PC 3 -0,331309 0,738548 -0,518605 -0,275373

PC 4 0,020974 -0,152238 -0,633059 0,758696

Tabela 4.3-C. Autovetores das bandas 1469 para realce de caulinita/esmectita

Banda 1 Banda 4 Banda 6 Banda 9

PC 1 -0,311782 -0,660349 -0,472568 -0,493366

PC 2 -0,855246 -0,117404 0,326052 0,385305

PC 3 -0,413579 0,737170 -0,285984 -0,451382

PC 4 -0, 017257 0,082067 -0,767192 0,635912

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As PCs contendo a informação espectral relativa aos minerais de interesse foram

identificadas pelo contraste entre bandas (valores altos positivos contra valores altos negativos)

na mesma PC, que denotam os contrastes espectrais de alta reflectância e absorção (baixa

reflectância) característicos e determinados comprimentos de onda para cada mineral (CRÓSTA

et al., 2003). No caso da alunita (Tabela 4.3-A) e da ilita (Tabela 4.3-D), a PC4 diagnosticou as

informações espectrais destes minerais. Para a caulinita e caulinita-esmectita, tanto a PC3 quanto

a PC4, mapeiam a alteração (Tabela 4.3-B e 4.3-C), motivo pelo qual foi necessário aplicar

novamente a técnica APC sobre ambas e tomar a primeira PC como a representativa

(LOUGHLIN, 1991)

As imagens das PCs escolhidas com base na matriz de autovetores tiveram seus

histogramas manipulados com o intuito de que cada uma delas representasse a abundância de

cada mineral em tons claros e a ausência dos mesmos em preto. No caso da ilita, foi necessário

inverter o histograma, multiplicando a imagem por (-1) para realçar a abundância mineral em

tons claros.

Para mapear quartzo/sílica, foi usada a faixa TIR do espectro eletromagnético que, no

caso do ASTER, se associa com cinco bandas (10 a 14) que foram previamente convertidas para

valores de emitância (Tabela 4.1). A técnica APC aplicada às bandas 10-12-13-14 realçou a

abundância de quartzo ou qualquer outro mineral portador de sílica na região de estudo

particularmente na PC2, onde o gradiente de quartzo é marcado por baixa emitância nas bandas

10 e 12 e alta nas bandas 13 e 14, características representadas na Figura 4.4. A Tabela 4.4

mostra a matriz de autovetores para a identificação de minerais contendo sílica e indica a PC2

como a que representa esta abundancia, marcada pelo alto contraste dos valores da banda 12

contra as bandas 13 e 14.

Tabela 4.3-D. Autovetores das bandas 1356 para realce de ilita

Banda 1 Banda 3 Banda 5 Banda 6

PC 1 -0,380491 -0,599256 -0,489877 -0,506102

PC 2 -0,592948 -0,426395 0,473723 0,492125

PC 3 -0,709557 0,677405 -0,120003 -0,152482

PC 4 -0,012951 0,014237 -0,721946 0,691682

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34

20Figura 4.4 – Espectros em emitância de quartzo com resolução espectral de laboratório (linha azul) e re-amostrada

para ASTER (linha vermelha).

Fonte: Rockwell e Hofstra, 2008.

4Tabela 4.4 – Matriz de autovetores das bandas 10-12-13-14 da imagem ASTER para identificação de

quartzo/sílica. A PC ressaltada é a escolhida para mapear este mineral, baseando-se nos valores altos e com sinais

opostos, em negrito.

As Figuras 4.5.A e B representam a PC2 com aumento de contraste onde as regiões claras

indicam concentração de minerais portadores de sílica. Este resultado pode incluir minerais

produzidos por alteração hidrotermal ou como mineral formador de rocha. Em que pesem a baixa

resolução espacial e a generalização dos minerais e rochas portadoras de sílica, a imagem

produzida permitiu identificar áreas com alteração hidrotermal, tanto regional como localmente

no prospecto Salares Norte.

Banda 10 Banda 12 Banda 13 Banda 14

PC 1 -0.564060 -0.538369 -0.463109 -0.421337

PC 2 0.055149 -0.779292 0.412546 0.468474

PC 3 0.818953 -0.320247 -0.265581 -0.395252

PC 4 0.090060 0.017452 -0.738107 0.668418

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35

21Figura 4.5 – Representação de abundancia de minerais portadores de sílica (em branco) obtidos da aplicação de

APC sobre as bandas termais 10-12-13-14 do sensor ASTER: A. mostra a cena completa analisada e o quadro

vermelho representa a localização de Salares Norte; B. Detalhe sobre o prospecto Salares Norte.

Nas imagens produzidas para cada um dos minerais anteriormente avaliados foi aplicado

um filtro de mediana 3x3 a fim de agrupar os pixels próximos e evitar presença de pixels

isolados. Posteriormente, as imagens geradas para cada mineral foram exportadas e integradas no

programa Esri ® ArcMap™ 10.1. Nos locais onde houve coincidência espacial de dois ou mais

minerais foi assumida a mistura correspondente, gerando assim, um mapa de abundância de

minerais de alteração hidrotermal apresentado, na Figura 4.6. Nesta imagem, pode-se observar

principalmente a abundância de materiais com sílica que nem sempre estão associados a eventos

hidrotermais, podendo corresponder à litologia original.

A.

B.

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22Figura 4.6 – Mapa de minerais de alteração identificados pela técnica Crósta sobre a imagem ASTER. No fundo

banda 3 do sensor ASTER. O quadro A. mostra o detalhe da área de Salares Norte (MPS=minerais portadores de

sílica).

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37

4.2.2 Classificação da imagem – SAM

O método de classificação supervisionada Spectral Angle Mapper (SAM) compara os

espectros de cada pixel com um espectro de referência ou endmember. Para isso, os espectros são

tratados como vetores em um espaço com dimensionalidade igual ao número de bandas e são

calculados os ângulos de diferença (α) entre os endmembers e os espectros de cada pixel (Figura

4.7).

O ângulo α, em radianos, tomado como parâmetro para a identificação dos minerais, é

calculado a partir da equação 1:

, (1)

onde nb = número de bandas, t = espectro desconhecido e r = espectro de referência (KRUSE et

al., 1993).

23Figura 4.7 – Representação gráfica do ângulo de diferença (α) calculado entre o espectro de referência e o

espectro desconhecido.

Fonte: Kruse et al. (1993).

Cabe ao usuário escolher um ângulo limiar (δ), também em radianos, para a geração dos

mapas temáticos, a partir da relação α ≤ δ, que implica que o espectro desconhecido (t) seja

considerado como pertencente ao espectro de referência (r).

Para o presente estudo, os espectros com menor quantidade de mistura identificados a

partir de amostras de Salares Norte foram separados para criar uma biblioteca de referência. Os

minerais avaliados foram: alunita, caulinita, esmectita, ilita e minerais portadores de sílica. As

bandas do sensor ASTER selecionadas para a aplicação do algoritmo foram as do SWIR (bandas

4 a 9), abrangendo o intervalo espectral de 1600 até 2434 nm, uma vez que neste intervalo do

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espectro eletromagnético os minerais de alteração investigados possuem feições de absorção

característicos (PONTUAL et al., 1997).

Antes de se realizar a classificação, a biblioteca espectral foi remostada para a resolução

espectral das bandas 4-9 do sensor ASTER (Figura 4.8).

Figura 4.8 – Espectros de reflectância de amostras de Salares Norte tomados como referência para a classificação

SAM. À esquerda em resolução espectral do espectrorradiometro Terraspec e á direita com resolução espectral do

sensor ASTER das bandas 4-9 (MPS = minerais portadores de sílica).

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Os ângulos limiares (δ) foram determinados para cada classe mineral, conforme

apresentado na Tabela 4.5.

5Tabela 4.5 – Limiares selecionados para a aplicação do método SAM em radianos.

Nas imagens produzidas para cada mineral foi aplicado um filtro de mediana 3x3 para

homogeneização dos pixels, e as classes minerais foram posteriormente combinadas no Esri®

ArcMap™10.1 realizando o mesmo procedimento da técnica Crósta. A Figura 4.9 representa o

mapa temático obtido com o método SAM.

Mineral Limiar (δ)

Alunita 0,076

Caulinita 0,130

Esmectita 0,116

Ilita 0,069

Minerais portadores de sílica (MPS) 0,081

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24Figura 4.9 – Mapa de minerais de alteração identificados pelo método de SAM sobre a imagem ASTER. No

fundo banda 3 do sensor ASTER. O quadro A. mostra o detalhe da área de Salares Norte (MPS=Minerais portadores

de sílica).

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41

4.2.3 Classificação da imagem – MTMF

Para este procedimento, a ferramenta Spectral Hourglass Wizard disponível no Envi©

4.7 foi utilizada a fim de preparar a imagem para a sua classificação e obter endmembers

diretamente da imagem processada. A Figura 4.10 apresenta a sequência de passos realizados

pelo programa com intervenção do usuário.

25Figura 4.10 – Fluxograma de passos realizados pelo aplicativo Spectral Hourglass Wizard para mapear

minerais com o método de MTMF.

Fonte: Kruse et al. (1999)

Primeiramente, na imagem original em reflectância aparente é aplicado o algoritmo

Minimum Noise Fraction (MNF), que reduz o ruído contido na imagem por meio de

transformações baseadas na técnica APC objetivando melhorar os resultados do processo

espectral (KRUSE, 1996). O resultado desta aplicação concentra o ruído nas últimas bandas,

deixando as primeiras sem ruídos e com a maior concentração de informações decorrelacionadas

(DUCART, 2004). Neste ponto, a dimensionalidade dos dados pode ser determinada pelo

usuário, que seleciona o número de bandas de saída, podendo eliminar algumas das últimas

bandas que contém maior proporção de ruído. Particularmente neste trabalho, nenhuma banda foi

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42

eliminada devido à pouca quantidade de bandas originais usadas e por estas ainda concentraram

feições que aparentemente representam informação espectral importante para a classificação,

apesar de que nas duas últimas bandas apareça ruído.

Depois desta etapa, o usuário deve decidir a procedência dos endmembers, os quais

podem ser derivados da imagem de entrada ou fornecidos de uma biblioteca espectral.

Nesta etapa do trabalho, os endmembers foram obtidos da imagem ASTER, tendo que

seguir alguns passos adicionais. Para isto o procedimento consiste na busca dos pixels

‘mais puros possíveis’ (Pixel Purity Index – PPI) na imagem. O software plota

repetidamente gráficos de dispersão sobre projeções n-dimensionais sobre um vetor

unitário aleatório, sendo que ‘n’ é o número de bandas MNF (neste caso 6). Os pixels

mais puros correspondem aos extremos da projeção e eles são registrados. Depois, a

quantidade de vezes em que cada pixel é notado como extremo é reportada. Os pixels

mais reportados são os que encontram-se mais vezes nos extremos da projeção indicando

os mais puros.

A Figura 4.11 representa a visualização da janela n-dimensional dos pixels que têm como

coordenadas a reflectância espectral em cada banda neste espaço com 6 dimensões. Da nuvem

de pixels amostrados na projeção foram escolhidos manualmente 5 pixels que, além de se

encontrarem próximos aos extremos da projeção, suas feições corresponderam aos minerais de

alteração que são de interesse para mapeamento neste trabalho. Estes minerais são alunita,

caulinita, esmectita, ilita e minerais portadores de sílica, que foram os utilizados para a

classificação com a técnica Mixture Tuned Matched Filtering (MTMF) (Figuras 4.11.A e

4.11.B).

A técnica MTMF é um método avançado de classificação de imagens considerada efetiva

na detecção de diferentes materiais superficiais. Ela se baseia principalmente em uma

combinação dos seguintes algoritmos: 1) Matched Filter (MF), que filtra a imagem de entrada a

fim de melhorar a correlação com os endmembers e atenuar os dados de fundo e; 2) Mixture

Tuning (MT), que calcula o valor de inviabilidade de que cada pixel seja classificado como o

alvo investigado (endmember). A aplicação deste algoritmo resulta em: 1) valores de MF, onde

os maiores valores correspondem a uma maior probabilidade de que o pixel corresponda ao alvo,

ou seja, tenha maior similaridade espectral com o mesmo; e 2) valores em sigma da inviabilidade

para cada pixel, onde os menores valores consistem em menores erros da classificação (MUNDT

et al., 2007).

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26Figura 4.11 – A. Visualização de gráfico de dispersão tomando como eixos as bandas MNF 1, 2 e 3. Os círculos

representam a localização dos pixels escolhidos como endmembers para: alunita=magenta, MPS=azul,

caulinita=vermelho, ilita=amarelo e montmorilonita=verde. B. Assinaturas espectrais de endmembers selecionados

da imagem (mesmas cores que 4.10.A) (MPS=Minerais portadores de sílica).

Na Figura 4.12 identificam-se três pontos X, Y e Z. Neste exemplo, X representa um

pixel ideal que contém proporção importante do alvo, e Y e Z são pixels com algum nível de

ruído ou mistura, o que não permite que eles sejam considerados espectralmente similares ao

endmember.

A partir da aplicação da técnica MTMF, um diagrama de dispersão com o eixo x

representando os valores MF e o eixo y os valores de inviabilidade, é utilizado para delimitar os

pixels corretamente classificados, podendo-se escolher manualmente um limiar associado

simultaneamente com um escore MF alto e baixos valores de inviabilidade. A Figura 4.13

apresenta um exemplo deste tipo de diagrama de dispersão e a representação espacial da seleção

de pixels espectralmente similares à alunita na região de Salares Norte.

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27Figura 4.12 – Representação gráfica do cone MTMF ilustrando o limiar de inviabilidade (infeasibility threshold) e

de MF o valor de mixtura (mixing freedom) para três pontos X, Y e Z.

Fonte: Mundt et al. (2007).

28Figura 4.13 – A. Diagrama de dispersão formado por valores de escores de MF no eixo x e de valores de

inviabilidade ‘infeasibility’ no eixo y, a partir do qual é feita a classificação de alunita na área de estudo. Neste

exemplo, a seleção manual de pixels puros para alunita pode ser visualizada no mapa em B.

A aplicação da técnica MTMF e seleção de pixels espectralmente similares usando os

gráficos de dispersão foram realizadas para o mapeamento mineral proposto. Os resultados

foram filtrados com uso de filtro de mediana 3x3 e integrados em ambiente SIG para produzir o

mapa de minerais de alterações da Figura 4.14.

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45

29Figura 4.14 – Abundância de minerais de alteração hidrotermal obtida com a técnica MTMF em bandas do sensor

ASTER. Fundo: banda 3 do sensor ASTER. Em detalhe A. área do projeto Salares Norte (MPS=Minerais portadores

de sílica).

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46

4.2.4 Avaliação visual dos mapas temáticos produzidos a partir de imagem do sensor

ASTER

A partir da comparação visual entre as imagens geradas pelos três métodos de

processamento descritos anteriormente, notam-se coincidências e diferenças importantes no

mapeamento dos minerais de alteração em Salares Norte e adjacências. Para facilitar a análise

visual comparativa, os três mapas de alteração (Figuras 4.6, 4.9 e 4.14) apresentam a mesma

legenda, embora alguns dos minerais de alteração não tenham sido identificados em todos eles.

Nesses mapas temáticos, nota-se que um dos minerais mais abundantes é o quartzo/sílica.

Como foi explicado anteriormente, a ampla presença deste mineral pode ser atribuída à alteração

hidrotermal, mas também pode ser parte da litologia original, muito possível dada a composição

destes corpos vulcânicos. Por esta razão é necessário avaliar a presença destes minerais

portadores de sílica com cuidado, evitando-se assim uma interpretação errada. Para a avaliação

dos mapas gerados a partir da cena ASTER foi considerado como quartzo hidrotermal somente

aquele que se encontra associado ou espacialmente próximo a outros minerais de alteração.

Áreas com minerais portadores de sílica encontradas distantes de regiões de alteração não foram

considerados para a interpretação, pois eles podem estar mais relacionados à litologia original.

Uma das características que mais chama a atenção e que é coincidente nos três mapas em

Salares Norte é um corpo de minerais com sílica, situado no centro do prospecto, com direção

NW-SE, que também concorda com alguns dos dados espectrais coletados nesta região. Como

este corpo se encontra circundado por minerais de alteração, ele foi interpretado como sendo de

origem hidrotermal.

A distribuição espacial obtida para a alunita e caulinita também é coincidente nos três

mapas, encontrando-se a leste do corpo silícico. Já a distribuição da mistura de alunita+caulinita

mostra distinções em cada mapa, embora com algumas regiões concordantes. Estas últimas

situam-se dentro do corpo alunítico e na parte oeste e noroeste do corpo rico em minerais

portadores de sílica. Duas destas regiões com mistura de alunita+caulinita coincidem com

brechas identificadas pela Gold Fields Chile S.A. (2012) (Figura 2.4).

A montmorilonita não foi identificada no mapeamento com a técnica APC. Já nos

resultados fornecidos pela aplicação das técnicas de classificação SAM e MTMF este mineral foi

identificado, porém com distribuição espacial muito distinta, não sendo, portanto, um resultado

confiável para a interpretação do sistema. A mistura de alunita+sílica e de

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alunita+caulinita+sílica somente foi identificada no mapa produzido com a técnica APC, sendo

estas assembléias reconhecidas no centro do prospecto e coincidindo parcialmente com a

alteração steam-heated do mapa da Gold Fields Chile S.A (2012) (Figura 2.5).

4.2.5 Avaliação estatística da acurácia dos mapas temáticos produzidos a partir de imagem

do sensor ASTER

A necessidade de examinar a acurácia de mapas temáticos produzidos por técnicas de

processamento de imagens de sensoriamento remoto tem sido amplamente reconhecida como

parte integral de qualquer projeto. A quantificação desta acurácia determina a qualidade do

resultado obtido, baseando-se em dados considerados corretos e aceitos como referência (dados

acurados), fornecendo uma ideia significativa de quanto da totalidade do mapa está sendo

corretamente classificada (LUNETTA e LYON, 2004; LILLESSAND et al., 2008;

CONGALTON e GREEN, 2009).

A exatidão total (overall accuracy) compreende o cálculo estatístico mais utilizado para

se avaliar mapas temáticos. Ela é calculada pela razão entre o número de dados corretamente

classificados sobre o número total de dados tomados como referência (CONGALTON, 1991).

Na proposta original desse autor, misturas entre classes não são consideradas, sendo que cada

dado de referência e pixel devem pertencer somente a uma classe. Assim, no cálculo da exatidão

total, os dados que estão corretos são tomados com valor de um (1) e os que estão errados não

são somados (tomando valor de 0). Na situação em que um espectro ou um pixel avaliado não

corresponda a nenhuma das classes do mapa, este dado é nomeado como ‘não classificado’.

Para avaliar os mapas de alteração gerados a partir do processamento da imagem do

sensor ASTER com as técnicas APC (Figura 4.3.A), SAM (Figura 4.9.A) e MTMF (Figura

4.14.A) na região do prospecto Salares Norte, foram determinados como referência todos os

dados espectrais descritos na secção 3.1, totalizando 328 amostras lag e 45 de rocha rotulados

quanto ao conteúdo mineralógico.

Para a avaliação de cada um dos mapas temáticos, foi necessário considerar como ‘não

classificados’ os espectros dos minerais que não foram identificados no mapa correspondente.

Por exemplo, o método SAM não conseguiu reconhecer em Salares Norte a mistura de

alunita+sílica e de alunita+caulinita+sílica (Figura 4.9.A). Desta forma, para a avaliação da

exatidão total deste mapa, os espectros contendo estas misturas entraram na classe denominada

de ‘não classificados’.

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Tanto nos dados espectrais de referência quanto nos mapas temáticos foram

identificadas misturas entre minerais de alteração que são importantes para a interpretação do

sistema hidrotermal. Por esta razão, duas variações do cálculo da exatidão total foram

consideradas para avaliar o mapeamento de Salares Norte, conforme apresentado a seguir.

4.2.5.1 Exatidão total ‘geral’

Para calcular a exatidão total dos mapas temáticos, e considerando-se a existência de

misturas nos pixels e nos espectros de referência, considera-se que um ponto de referência

avaliado seja rotulado como “correto” no caso em que o respectivo pixel do mapa temático

contenha pelo menos um destes minerais da mistura. Para exemplificar, se um espectro de

referência contém alunita+sílica, mas no mapa temático somente foi reconhecida a alunita, então

o ponto avaliado pode ser considerado como correto.

Desta forma, para cada pixel geograficamente correspondente ao dado de referência

(373 no total), foi determinado um valor de 0 (dado errado) ou 1 (pelo menos um mineral do

dado de referência é reconhecido no respectivo pixel do mapa temático), considerando-se a

condição explicada anteriormente.

A tabela 4.6.A mostra um exemplo dos valores considerados para estimar a exatidão

total aqui denominada de “geral”. Após a comparação do rótulo mineral de cada dado de

referência com os respectivos rótulos dos pixels equivalentes, procedeu-se à somatória dos

valores corretamente cartografados e a divisão pelo número total de dados avaliados. Com esta

metodologia, pode-se notar que o mapa de alterações gerado pelo método da APC foi o que

resultou no maior valor de exatidão total ‘geral’, equivalente a 59,26%. Em seguida, aparecem os

mapas temáticos gerados com as classificações MTMF e SAM, com exatidão total,

respectivamente, de 51,21% e 49,60% (Tabela 4.6.B).

6

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49

Tabela 4.6 – A. Exemplo de valores atribuídos para o cálculo de exatidão ‘geral’. Abreviações: A = alunita; C =

caulinita; A+S = mistura de alunita com minerais portadores de sílica; A+C+S = alunita em mistura com

caulinita e minerais portadores de sílica. B. Resultado obtido do cálculo de exatidão total ‘geral’ aos mapas

temáticos gerados com as técnicas APC, SAM e MTMF, tomando-se 373 dados de referência

4.2.5.2 Exatidão total ‘detalhada’

Numa outra abordagem, os três mapas temáticos foram avaliados considerando-se uma

maior restrição no reconhecimento mineralógico. Neste caso, embora os algoritmos de

classificação estejam reconhecendo pelo menos um dos mineras contidos numa mistura, ele

ainda tem um grau de erro, uma vez que não reconheceu todos os minerais indicados pela análise

espectral de referência. Por exemplo, no caso em que o dado de referência indique a presença de

dois minerais e o respectivo pixel do mapa temático apenas classifique um deles, o valor

utilizado para calcular a exatidão total deverá ser equivalente a 0,5. Entende-se, nesta situação,

que a classificação só foi capaz de identificar um dos dois minerais presentes na mistura. Com

base nesta abordagem, a tabela 4.7.A apresenta um exemplo de possíveis condições de

ocorrências de minerais e de misturas, além dos respectivos valores utilizados para o cálculo da

exatidão total.

Os resultados da exatidão ‘detalhada’ são apresentados na Tabela 4.7.B. Assim como no

caso da exatidão total ‘geral’, a técnica APC foi o método que obteve uma maior exatidão,

equivalente a 44,34% e sendo seguida novamente pelo desempenho das técnicas MTMF e SAM

que se caracterizam por uma exatidão de 40,25% e 36,68%, respectivamente.

Dado de

referência

Dado classificado

por SR

Valor

atribuído

A A 1

A C 0

A+S A 1

A+C+S C 1

Método utilizado

APC SAM MTMF

Somatória de valores corretos 221 185 191

Cálculo 221/373 185/373 191/373

Exatidão total ‘geral’ (%) 59,25 49,60 51,21

B.

A.

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50

7Tabela 4.7 – A. Exemplo de valores atribuídos para o cálculo de exatidão total ‘detalhada’. Abreviações: A =

alunita; C = caulinita; A+S = mistura de alunita com minerais portadores de sílica; A+C+S = alunita em mistura com

caulinita e minerais portadores de sílica. B. Cálculo da exatidão total de ‘detalhada’ dos mapas temáticos gerados

com as técnicas APC, SAM e MTMF, tomando-se 373 dados de referência

Espacialmente, foi possível reconhecer que os valores de exatidão para cada ponto de

referência variam notadamente (Figura 4.15). Em particular, os menores valores de exatidão

concentram-se nas bordas da malha de amostragem, enquanto os valores de exatidão próximos à

parte central do prospecto aumentam. Isso indica que, embora a exatidão total não seja tão alta,

ela está considerando uma área importante na borda da malha que diminui bastante a acurácia e

que, se a região a ser avaliada fosse reduzida somente à área alterada, esta exatidão total

aumentaria significativamente.

Adicionalmente, comparando-se os dados resultantes da metodologia da exatidão total

‘geral’ e da ‘detalhada’, elas se mostram concordantes entre sim, pois evidenciam o método APC

com o melhor desempenho para cartografar a alteração na área do prospecto Salares Norte,

seguido, posteriormente, pelo método MTMF e o SAM. Embora a exatidão total ‘detalhada’ seja

menor do que a ‘geral’, esta aplicação mostrou-se como uma forma de avaliação complementar e

adequada.

30

Dado de

referência

Dado classificado

por SR

Valor

atribuído

A A 1

A C 0

A+S A 0,5

A+C+S C 0,33

A+C+S A+C 0,66

Método utilizado

APC SAM MTMF

Somatória de valores corretos 165,38 136,81 150,14

Cálculo 165,38/373 136,81/373 150,14/373

Exatidão total ‘geral’ (%) 44,34 36,68 40,25

A.

B.

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51

Figura 4.15 – Esquerda: mapas de minerais de alteração hidrotermal obtidos a partir de processamento de

bandas do sensor ASTER com os métodos: A. – APC; B. – SAM e C. – MTMF. Dados de espectroscopia de

reflectância tomados como referência estão sobrepostos. Direita: valores de exatidão total ‘detalhada’ para cada um

destes métodos.

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4.3 Integração de dados geoquímicos

A análise de dados geoquímicos realizados em amostras de lag foi feita pelo método de

extração de água régia e finalização por ICP-MS , com limite de detecção 0.001.

Com relação aos dados geoquímicos de amostras de lag, procedeu-se à comparação de

valores de ouro com os elementos denominados de pathfinders, que tendem a ter uma associação

geoquímica alta (Ag, As, Cu, Sb, Bi Zn, Pb, Se, K, Ag/Au Hg, Te, Sn, Pb, Mo, Te/Se) ou baixa

(K, Zn) para um ambiente epitermal, segundo White e Hedenquist (1995).

Para avaliar os dados disponíveis em Salares Norte, foi utilizado o coeficiente de

correlação de Pearson (r), retratado na equação 2:

, (2)

onde x e y equivalem a duas variáveis que estão sendo comparadas.

Este coeficiente requer uma distribuição normal dos dados e os valores de r variam de -1

até 1 indicando correlação negativa e positiva, respectivamente. Valores próximos a 0 não

representam correlação alguma (KUTNER et al., 2005).

Para a análise dos dados geoquímicos da área de Salares Norte, a prata (limite de

detecção 0.002) e o mercúrio (limite de detecção 0.005) foram os elementos que mostraram

maior correlação com ouro. A distribuição espacial dos teores de ouro, prata e mercúrio é

apresentada na Figura 4.16.

É possível identificar uma anomalia de ouro, prata e mercúrio, com direção preferencial

NW-SE, localizada a oeste do corpo silícico identificado nas imagens orbitais e que, segundo os

resultados fornecidos pela espectroscopia de reflectância, correspondem a amostras com alunita,

minerais portadores de sílica, além de misturas de alunita+caulinita e de alunita+sílica.

Comparando estas anomalias de ouro, prata e mercúrio com o mapa geológico do prospecto

(Figura 4.16), a distribuição anômala coincide espacialmente com uma brecha-freatomagmática

reportada pela Gold Fields Chile S.A.

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31Figura 4.16 – Distribuição de dados geoquímicos para: A) ouro, B) prata e C) mercúrio na área do prospecto

Salares Norte. Mapa geológico está ao fundo e a legenda é a mesma da Figura 2.5

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CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DE RESULTADOS

A acurácia calculada para os mapas temáticos de Salares Norte obtidos com os três

métodos de classificação, mostrou resultados acetáveis (Tabelas 4.6.B e 4.7.B). Durante algum

tempo, o valor referencial de 85% de exatidão total foi considerado como limiar para determinar

resultados aceitáveis ou não, seguindo a proposta de Anderson et al. (1976, apud CONGALTON

e GREEN, 2009). No entanto, este valor não tem necessariamente que ser considerado como

regra na avaliação, pois a exatidão dos mapas depende de variados fatores que incluem o nível de

detalhe e a variabilidade nas categorias classificadas (CONGALTON e GREEN, 2009).

Nesse sentido, considera-se como aceitáveis os valores de acurácia dos mapas derivados

das técnicas APC, SAM e MTMF, pois o tamanho de amostragem foi o maior possível,

considerando que todos os dados analisados foram utilizados como referência. Além disso, a

combinação de amostragem irregular e amostragem sistemática pode ser considerada como

aquela que tem o melhor equilíbrio para avaliar a exatidão dos resultados (CONGALTON,

1991).

Neste estudo, os fatores que mais influenciaram na exatidão total foram: 1) as resoluções

espacial e espectral relativamente baixas do sensor ASTER, que podem levar à generalização

e/ou confusão na identificação de minerais; 2) a mistura intrínseca de minerais de alteração, que

pode conduzir à não identificação de alguns dos minerais presentes em menores proporções na

superfície do terreno; 3) os limiares escolhidos para a identificação de minerais em cada um dos

métodos, que podem influenciar sobremaneira os resultados da classificação, sub-estimando ou

identificando erroneamente alguns pixels; isto pode ocorrer na técnica APC por meio da

manipulação dos histogramas de cada imagem, na técnica SAM pela escolha dos limiares

relacionados com os ângulos espectrais (α), e na técnica MTMF por meio da seleção dos pixels

no diagrama de dispersão dos valores MF contra os de inviabilidade.

Como já comentado anteriormente, fazendo uma comparação entre os resultados dos dois

tipos de acurácias empregadas, ‘exatidão geral’ e ‘exatidão detalhada’, os mesmos foram

concordantes, indicando que a ordem de acurácia indicou a técnica APC como a mais acurada,

seguida das técnicas MTMF e SAM. Embora a técnica de exatidão ‘detalhada’ tenha menor

valor, ela foi considerada como a mais aceitável, pois avalia as misturas mais estritamente do que

a ‘geral’. Assim, mesmo que a percentagem de exatidão total ‘detalhada’ fosse mais baixa, a

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maior exatidão foi refletida na região com alteração mais ampla (Figura 4.11), indicando que

uma grande parte do erro é gerada nas áreas onde não foi identificada alteração.

De acordo com os resultados obtidos com a técnica de espectroscopia de reflectância,

processamento da imagem ASTER e petrografia, foi possível definir que o prospecto Salares

Norte corresponde a um sistema epitermal de alta sulfetação de nível raso, controlado estrutural e

litologicamente. Esta afirmação é baseada na coincidência de características observadas em

Salares Norte, em comparação com as características propostas por Sillitoe (1999):

Alguns dos depósitos rasos de alta sulfetação como Yanacocha (Peru) e La Coipa

(Chile), expõem misturas complexas de corpos com quartzo vuggy, silicificação

massiva e brechas hidrotermais com cimento de quartzo ou com matriz alunítica,

podendo estas brechas estar mineralizadas; estas características foram observadas pela

autora ou reportadas em relatórios da empresa (GIGOLA, 2011; HEDENQUIST,

2011);

Nestes ambientes, a alteração steam-heated é preservada parcialmente, marcando a

posição do paleo-lençol freático;

O elevado conteúdo de mercúrio nestes sistemas, exemplificado em La Coipa

(OVIEDO, 1991) pode ser devido ao efeito de sobreposição da alteração steam-heated

sobre a alteração de alta sulfetação hipógena;

A correlação positiva de Au em relação à Ag e Hg também confirma a presença de um

ambiente raso de hidrotermalismo em Salares Norte.

A Figura 5.1 apresenta um mapa interpretativo das alterações hidrotermais presentes em

Salares Norte considerando:

Os mapas de alterações hidrotermais produzidos pelas técnicas APC, SAM e MTMF

(dando maior credibilidade ao primeiro, caracterizado por maior exatidão total);

A distribuição de dados de espectroscopia de reflectância, junto com informação

petrográfica, de MEV e geoquímica;

As generalidades de depósitos epitermais já conhecidos e estudados e;

A informação litológica e estrutural, cedida pela empresa Gold Fields Chile S.A.

(2012).

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32Figura 5.1 – Mapa interpretativo de alterações hidrotermais na região de Salares Norte. Estruturas obtidas da Gold

Fields Chile S.A. (2012). Fundo: Imagem IKONOS de região. Abreviações: qz = quartzo; alu = alunita; kao =

caulinita.

No prospecto é possível identificar uma zona central de alteração com minerais

portadores de sílica, com uma clara tendência direcional NW-SE. No setor leste da área ocorre

uma transição de minerais que indica alteração argílica avançada composta por alunita com

quartzo e caulinita. Com o aumento da distancia da zona central, o conteúdo de quartzo diminui.

Na parte mais distal do sistema se identifica caulinita, que em poucas regiões está misturada com

esmectita (possível alteração argílica), também com direção NW-SE. Esta gradação de minerais

é típica dos sistemas de alta sulfetação, descritos por White e Hedenquist (1995) e por Arribas

(1995) (Figura 2.3).

A evidência da origem hipógena da alteração argílica avançada pode ser observada na

Figura 5.2 onde se apresenta em paragênese alunita de morfologia tabular acompanhada de

quartzo, características típicas desta alteração hipógena (HEDENQUIST et al., 2000).

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33Figura 5.2 – Fotomicrografia de MEV de alunita tabular e quartzo de amostra de rocha do prospecto Salares

Norte. Abreviações: Qz = quartzo; Alu = alunita.

Na parte oeste da região composta majoritariamente por com minerais portadores de

sílica, ocorrem corpos com alteração argílica avançada, mas com tendência irregular. Eles

coincidem com as anomalias geoquímicas de Au, Ag e Hg (Figura 4.12). Além disso, uma parte

desta área coincide com a brecha freato-magmática mapeada pela Gold Fields Chile S.A. (2012)

(Figura 2.5). Isso pode indicar que os metais foram transportados e concentrados na matriz

porosa da brecha e que, segundo os resultados deste trabalho, a extensão da brecha poderia ser

maior em comparação com a zona delimitada para este corpo pela empresa Gold Fields Chile

S.A. (2012).

A descontinuidade da sequência de alterações no setor oeste marcado pela presença de

minerais contendo sílica (como deveria acontecer segundo Arribas, 1995 - Figura 2.3),

possivelmente indica a inclinação do sistema, onde a estrutura responsável pelo transporte dos

fluidos hidrotermais mergulha para NE, e a transição de alterações no lado oeste do sistema se

desenvolve em profundidade.

Alu

20µm

Qz

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A linha pontilhada azul da Figura 5.1 indica uma alteração posterior do tipo steam-

heated. Este tipo de alteração produz rochas friáveis e menos resistentes à erosão

(HEDENQUIST et al., 2000). Em Salares Norte, a alteração do tipo steam-heated é reconhecida

amplamente pela forte anomalia de cor clara que, na escala de afloramento, representa intensa

caulinização com adição de alunita, calcedônia e enxofre nativo. A alunita encontrada neste tipo

de alteração se apresenta como cristais cúbicos e muito menores em relação às alunitas

hipógenas (Figura 5.3). Estas características indicam a origem steam-heated que, geralmente,

não está associada à ocorrência de minério. Contudo, sua identificação é importante em

exploração pois indica baixa taxa de erosão e, desta maneira, um possível desenvolvimento de

sistema epitermal em profundidade (HEDENQUIST et al., 2000; SILLITOE, 1999).

34Figura 5.3 – Fotomicrografia de MEV de alunita cúbica de origem steam-heated.

Como foi explicado anteriormente, a sobreposição entre a alteração hipógena e a steam-

heated pode ocorrer num sistema desenvolvido em níveis rasos. No mapa de alterações da Figura

5.1 este fenômeno é representado nas regiões onde a alteração steam-heated coincide com toda a

alteração silícica e uma parte da argílica avançada localizada a oeste. Adicionalmente, a Figura

10µm

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5.4 ilustra cristais de alunita com diferente morfologia: cristais tabulares e grandes de alunita

(origem hipógena), e agregados de cristais de alunita muito menores e de morfologia cúbica

(origem steam-heated) de origem tardia. Por conseguinte, esta é uma evidencia da sobreposição

da alteração steam-heated na alteração hipógena.

35Figura 5.4 – Fotomicrografia de MEV de alunitas no prospecto Salares Norte indicando sobreposição da altearção

steam-heated na alteração hipógena. Abreviação: Alu 1. cristais tabulares de alunita hipógena; Alu 2. agregado de

cristais cúbicos de alunita de ambiente steam-heated. Abreviações: Alu = alunita.

Outro aspecto importante compreende as estruturas mapeadas como falhas inferidas e

cristas de quartzo com direção preferencial NW-SE (Figura 5.1). Esta direção aparentemente

influencia na distribuição do minério, pois coincide notavelmente com a forma alongada das

zonas de alteração anteriormente discutidas e, principalmente, com as anomalias geoquímicas

identificadas na mesma direção. Esta afirmação concorda com Vila e Sillitoe (1991) que indicam

que no Cinturão de Maricunga o componente estrutural NW-SE é distintivo na distribuição das

alterações, e é refletido pela orientação de falhas, brechas, anomalias geoquímicas, entre outros.

Falhas com direção NE-SW a NNE-SSW também são apresentadas na Figura 5.1. A

diferença destas estruturas em relação às supracitadas é que estas, aparentemente, não

influenciam na distribuição das alterações. Nos mapas de alteração hidrotermal obtidos com as

Alu 1

20µm

Alu 2

Alu 2

Alu 2

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técnicas SAM e MTMF (Figuras 4.5.A e 4.10.A), são identificadas regiões onde as alterações

mudam abruptamente de composição, ou são cortadas longitudinalmente por estruturas com

tendência NE-SW (Figura 5.5). Alguns destes lineamentos coincidem com falhas inferidas pela

empresa Gold Fields Chile S.A. (2012), e a interrupção da continuidade das alterações pode

indicar que estas falhas foram posteriores ao desenvolvimento do sistema, e não possuem relação

com a mineralização.

36Figura 5.5 – Mapa de alterações obtido com a técnica MTMF integrado com interpretação de lineamentos. A

legenda das classes de alteração é a mesma do mapa da Figura 4.10.

A intersecção entre os dois trends estruturais NNE e NW é considerado por Vila e Sillitoe

(1991) como um potencial foco de alteração/mineralização na região de Maricunga. Em Salares

Norte uma destas intersecções coincide com a alteração argílica avançada (Figura 5.1), com a

brecha freato-magmática e com a anomalia geoquímica de Au, Ag e Hg. Assim, esta intersecção

em específico pode ser considerada como alvo potencial para mineralização.

No contexto regional, os três mapas resultantes do processamento da imagem ASTER

foram examinados com especial ênfase nas classes temáticas com alguma tendência estrutural

que possam indicar a presença de alteração hidrotermal. Embora a imagem Landsat-7/ETM+ não

permita o mapeamento de minerais específicos de alteração hidrotermal, o realce de áreas de

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alteração contendo minerais portadores do íon hidroxila e óxidos de ferro permite a identificação

de uma tendência de alterações em diferentes direções, que por sua vez, coincide com a

distribuição de minerais hidrotermais classificados na imagem ASTER.

As imagens produzidas pelos métodos de APC, SAM e MTMF (Figuras 4.3, 4.5 e 4.10),

também tiveram suas classes temáticas analisadas regionalmente com o intuito de identificar

regiões com assembléia minerais similares às encontradas em Salares Norte, sugerindo assim

novos alvos exploratórios nesta parte norte do Cinturão de Maricunga. A imagem 5.6 representa

o mapa de minerais de alteração hidrotermal obtido com a técnica APC, com a delimitação de

regiões consideradas como interessantes para futuras atividades de exploração indicadas por

polígonos.

Uma zona de alteração de direção N-S, identificada na parte centro-norte da imagem

ASTER (polígono 1 da Figura 5.6), evidencia a presença de alunita, localmente com caulinita,

minerais portadores de sílica e a mistura de caulinita+sílica. Na parte sul da imagem observa-se

outra zona, com direção WNW-ESE, delimitada pelo polígono 2 (Figura 5.6) e com

aproximadamente 40 km de extensão. Esta zona é caracterizada pela mesma assembléia mineral

descrita no polígono 1.

Por outro lado, as regiões A e B indicadas na Figura 5.6, são marcadas por alunita

disposta na direção NW-SE, além de mistura de alunita e caulita e, localmente, de minerais

portadores de sílica. Esta assembléia mineral pode estar indicando o desenvolvimento de

sistemas hidrotermais similares a Salares Norte e a outros encontrados no Cinturão de

Maricunga, caracterizados por um componente estrutural NW-SE, típicos desta região (VILA e

SILLITOE, 1999). A região C (Figura 5.6) também se destaca como uma região interessante

onde há a presença de um corpo semi-circular de alunita, com porções marcadas por assembléia

de caulinita e minerais com sílica em mistura com alunita.

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37Figura 5.6 – Mapa de minerais de alteração identificados pela técnica Crósta sobre a imagem ASTER. No fundo

banda 3 do sensor ASTER. Os polígonos 1 e 2 e os quadros em detalhe A, B e C mostram regiões com assembléias

de minerais de alteração que podem indicar zonas de interesse para exploração. Quadro SN indica área do projeto

Salares Norte.

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CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES

A partir dos mapas de alterações produzidos com base em técnicas de processamento da

imagem do sensor ASTER, e avaliados tomando-se como referência dados de espectroscopia de

reflectância, o método mais acurado para a identificação de minerais de alteração hidrotermal foi

o de APC, aplicando a Técnica Crósta, seguido dos método MTMF e SAM como menos

acurados. Dos dois tipos de análises de exatidão propostos neste trabalho (exatidão ‘geral’ e

‘detalhada’), considerou-se mais apropriada a ‘detalhada’, marcada por um valor de exatidão

total 44,34% para o mapa gerado com a técnica APC.

Com base na análise e interpretação de dados espectrorradiométricos de imagem do

sensor ASTER, petrográficos e microanálises semi-quantitativas, foi possível confirmar o

desenvolvimento de um sistema epitermal de alta sulfetação de nível raso, controlado litológica e

estruturalmente no prospecto Salares Norte. Foram identificadas alterações do tipo silícica,

argílica avançada e argílica, assim como forte presença de alteração steam-heated produzida nas

últimas etapas da formação do sistema, que em grande parte da região, encontrasse sobreposta à

alteração hipógena.

Relacionando os componentes estruturais com as alterações e com dados geoquímicos,

foi possível determinar a temporalidade das falhas em Salares Norte, sendo que as estruturas

NW-SE são contemporâneas e controlam o desenvolvimento do sistema hidrotermal, enquanto as

estruturas com direção NE-SW são posteriores, cortando as rochas alteradas. O zoneamento das

alterações, típico de um sistema de alta sulfetação, foi evidenciado na parte leste do prospecto,

mas não na parte oeste, possivelmente indicando que o sistema encontra-se inclinado, com

mergulho para NE.

A fusão de técnicas de processamento de imagens de média resolução, espectroscopia de

reflectância e geoquímica na região do prospecto Salares Norte permitiu a identificação de um

zoneamento de minerais de alteração hidrotermal, que favorece o entendimento e delimitação

preliminar de um possível depósito em etapas iniciais de exploração. Estas técnicas podem ser

implementadas de forma similar na avaliação de áreas próximas e com características

semelhantes para a seleção de alvos exploratórios.

A análise de dados geoquímicos auxiliou no zoneamento de áreas relevantes para possível

mineralização de ouro relacionada, de forma direta, com abundância de prata e mercúrio. As

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áreas com maiores anomalias destes elementos se concentram principalmente na zona de brecha

freato-magmática, enfatizando-se o interesse desta área específica.

Este trabalho incrementa o interesse exploratório da região norte do Cinturão de

Maricunga, pois algumas áreas análogas aos padrões de alteração reconhecidos em Salares Norte

também foram observadas, além de mostrarem semelhanças com depósitos próximos que já se

encontram em fase de explotação.

Deste modo, confirma-se neste estudo que a utilização combinada de técnicas de

espectroscopia de reflectância e de processamento de imagens orbitais multiespectrais (sensores

ETM+ e ASTER) é capaz de identificar zoneamentos de minerais de alteração hidrotermal,

auxiliando importantemente na delimitação de novas regiões potenciais à exploração.

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