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Proc. nº. 632.203.124 AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 1 de 13 DECISÃO (Segunda Instância) JR AI nº. 340/SAC-EG/2008 Data: 11/11/2008 Processo nº: 60870.007246/2008-51 Interessado: TAM LINHAS AÉREAS S/A. Crédito de Multa nº. 632.203.124 Nº. ISR/RO Passageiro: ROMGO3SCF00641-09/08 Sra. Jaqueline Souza da Silva Infração: Bagagem Extraviada Enq.: alínea “p” do inciso III do artigo 302 do CBA Nº. Voo: JJ 3751 Horário: 00h25min Data: 06/09/2008 Relator: Sr. Alfredo Eduardo Anastácio de Paula - Analista Administrativo - Matrícula SIAPE:1438735 RELATÓRIO RECURSO TEMPESTIVO. BAGAGEM NÃO ENTREGUE NO MOMENTO DO DESEMBARQUE. ALÍNEA “P” DO INCISO III DO ART. 302 DO CBA. ARTIGO 32 E 35 DAS CONDIÇÕES GERAIS DE TRANSPORTE. NÃO INCIDÊNCIA DE PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Da Introdução Trata-se de Recurso interposto pela empresa TAM LINHAS AÉREAS S.A., contra decisão proferida no Processo Administrativo nº. 60870.007246/2008-51, originado do Auto de Infração nº. 340/SAC-EG/2008, lavrado em 11/11/2008 (fls. 24), infração capitulada na alínea “p”, do inciso III, do artigo 302 da Lei 7.565/1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA), com a seguinte descrição: A empresa TAM Linhas Aéreas S.A descumpriu o contrato de transporte com a Sra. Jaqueline Souza da Silva (localizador MFNXAT) passageira transportada no voo JJ3549 do dia 06/09/2008, trecho MAO-GIG com conexão para o vôo JJ3386 do mesmo dia, trecho GIG-CNF ao deixar de entregar no ponto de destino a bagagem da passageira supracitada”. 2. Da Reclamação do Passageiro A passageira reclama (fls. 01) que seu voo original foi cancelado, sendo transferida para uma conexão diferente daquela originalmente prevista, tendo tido sua bagagem foi extraviada no momento do desembarque. 3. Do Relatório de Fiscalização A fiscalização da ANAC (fls. 05 e 23) constatou que a passageira teve o voo JJ 3751, do dia 06/09/2008, às 00:25h cancelado por motivo de manutenção na aeronave, sendo a reclamante acomodada em voo imediatamente posterior, qual seja: voo JJ 3549, cuja saída se deu às 02:30h. Informa, ainda, que, considerando que o tempo de espera ter sido de duas horas e cinco minutos, foi emitido Auto de Infração somente pelo motivo de extravio de bagagem da passageira,

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Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 1 de 13

DECISÃO

(Segunda Instância) JR

AI nº. 340/SAC-EG/2008 Data: 11/11/2008 Processo nº: 60870.007246/2008-51

Interessado: TAM LINHAS AÉREAS S/A. Crédito de Multa nº. 632.203.124

Nº. ISR/RO – Passageiro: ROMGO3SCF00641-09/08 – Sra. Jaqueline Souza da Silva

Infração: Bagagem Extraviada Enq.: alínea “p” do inciso III do artigo 302 do CBA

Nº. Voo: JJ 3751 Horário: 00h25min Data: 06/09/2008

Relator: Sr. Alfredo Eduardo Anastácio de Paula - Analista Administrativo - Matrícula

SIAPE:1438735

RELATÓRIO

RECURSO TEMPESTIVO. BAGAGEM

NÃO ENTREGUE NO MOMENTO DO

DESEMBARQUE. ALÍNEA “P” DO

INCISO III DO ART. 302 DO CBA.

ARTIGO 32 E 35 DAS CONDIÇÕES

GERAIS DE TRANSPORTE. NÃO

INCIDÊNCIA DE PRESCRIÇÃO

INTERCORRENTE. RECURSO

CONHECIDO E IMPROVIDO.

1. Da Introdução

Trata-se de Recurso interposto pela empresa TAM LINHAS AÉREAS S.A., contra

decisão proferida no Processo Administrativo nº. 60870.007246/2008-51, originado do Auto de

Infração nº. 340/SAC-EG/2008, lavrado em 11/11/2008 (fls. 24), infração capitulada na alínea

“p”, do inciso III, do artigo 302 da Lei 7.565/1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA),

com a seguinte descrição: “A empresa TAM Linhas Aéreas S.A descumpriu o contrato de

transporte com a Sra. Jaqueline Souza da Silva (localizador MFNXAT) passageira

transportada no voo JJ3549 do dia 06/09/2008, trecho MAO-GIG com conexão para o vôo

JJ3386 do mesmo dia, trecho GIG-CNF ao deixar de entregar no ponto de destino a

bagagem da passageira supracitada”.

2. Da Reclamação do Passageiro

A passageira reclama (fls. 01) que seu voo original foi cancelado, sendo transferida para

uma conexão diferente daquela originalmente prevista, tendo tido sua bagagem foi extraviada no

momento do desembarque.

3. Do Relatório de Fiscalização

A fiscalização da ANAC (fls. 05 e 23) constatou que a passageira teve o voo JJ 3751, do

dia 06/09/2008, às 00:25h cancelado por motivo de manutenção na aeronave, sendo a reclamante

acomodada em voo imediatamente posterior, qual seja: voo JJ 3549, cuja saída se deu às 02:30h.

Informa, ainda, que, considerando que o tempo de espera ter sido de duas horas e cinco minutos,

foi emitido Auto de Infração somente pelo motivo de extravio de bagagem da passageira,

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constatado no desembarque da mesma, no aeroporto de Confins.

4. Das Informações Preliminares

Instada a apresentar informações preliminares, para fins de apuração dos fatos narrados

pela reclamante (fls.07), a empresa se manifestou à fls. 08/09, informando que o cancelamento do

voo original se deu por questão de manutenção na aeronave, e que disponibilizou as facilidades

pertinentes ao momento, bem como reacomodação no voo imediatamente disponível.

5. Da Defesa da Interessada

A empresa, regularmente cientificada em 11/11/2008 (fls. 24), em que pese a certidão de

decurso do prazo fls. 25, apresentou tempestiva defesa (fls. 28/29), oportunidade na qual

informou que a passageira foi assistida com abertura de Registro de Irregularidade de Bagagem -

RIB.

Alegou, ainda, que devido ao cancelamento e posterior transferência de voo, foi solicitado

a passageira que retirasse seus volumes da esteira e encaminhasse ao check-in, solicitação essa

que não foi atendida, tendo a bagagem sido localizada e restituída à passageira, no aeroporto de

Confins. Junta aos autos recibo de entrega de bagagem, devidamente assinado pela reclamante,

datado de 06/09/2008, do qual não consta o horário de recebimento da bagagem – fls. 31.

6. Da Decisão de Primeira Instância:

O setor competente, em Decisão de primeira instância (fls. 33 a 37) confirmou o ato

infracional, enquadrando a referida infração na alínea “p” do inciso III do artigo 302 do CBA,

combinado com o art. 32 e 35 das Condições Gerais de Transporte, por não ter restituído a

bagagem à passageira no momento do desembarque, aplicando multa no valor médio de

R$ 7.000,00 (sete mil reais), tendo considerado não haver, no caso, o cômputo de circunstâncias

atenuantes ou agravantes.

A empresa foi notificada da Decisão de primeira instância em data de 20/04/2012 (fls. 38 e

43).

7. Das Razões do Recurso

Em grau recursal (fls. 44 a 48), preliminarmente, a empresa alega a incidência da

prescrição intercorrente, com o argumento de que o processo teria permanecido inativo para

efeitos processuais entre 09/03/2009 e 03/08/2011, o que configuraria a perda da pretensão

punitiva por parte da Agência, em virtude do decurso do prazo prescricional de 2 (dois) anos, nos

termos do art. 319 do CBA e do Parecer nº 106/2006/PGF/Procuradoria-ANAC, cuja cópia anexa

aos autos (fls. 53/62), e que a inserção nos autos dos documentos fls. 26/27 não seriam suficientes

para interromper o curso do prazo prescricional.

No mérito, alega que “após as inúmeras tentativas de se encontrar a bagagem extraviada,

a mesma foi encontrada e entregue ao passageiro sem qualquer protesto”; que em decorrência do

cancelamento do voo original, a passageira foi informada para retirar sua bagagem da esteira e

despachá-la novamente, o que não ocorreu, acarretando o extravio. Aduz, ainda, que as

consequências do extravio foram amenizadas pela entrega da bagagem no mesmo dia, de modo

que se aplicaria ao caso a circunstância atenuante prevista no inciso II, do § 1º, do art. 22, da

Resolução ANAC nº 25/2008.

Por fim, requer seja conhecido e provido o recurso, com a declaração da prescrição

intercorrente, e, acaso superada a preliminar arguida, que seja revisada a multa aplicada, a fim de

considerar a circunstância atenuante invocada.

8. Dos Outros Atos Processuais

Despacho de encaminhamento dos autos da Gerência de Fiscalização de Serviços Aéreos -

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GFIS para Gerência Técnica de Análise de Autos de Infração - GTAA/SRE (fls. 26);

Notificação de Decisão (fls.38 e 43);

Despacho desta Junta Recursal sobre a tempestividade do recurso interposto (fls. 63)

É o breve Relatório.

VOTO DO RELATOR – Sr. Alfredo Eduardo Anastácio de Paula – Mat. SIAPE:1438735

1. PRELIMINARMENTE

1.1. Da alegação da Prescrição Intercorrente

Em preliminares, observa-se que a interessada, ora recorrente, alega a incidência do

instituto da prescrição intercorrente, sob o fundamento de que a ação punitiva da ANAC estaria

prescrita, tendo em vista que o processo teria, entre 09/03/2009 e 03/08/2011, permanecido

inativo para efeitos processuais, sem que tenha havido, no período, qualquer ato que tenha

implicado na interrupção do período prescritivo de 2 (dois) anos, nos termos do art. 2º da lei

9873/99, do art. 319 do CBA e do Parecer nº 106/2006/PGF/Procuradoria-ANAC. Aduz, ainda,

que “a mera inserção, nos autos do processo, dos documentos de fls. 26/27 é insuficiente para

interromper o curso do prazo prescricional...”.

Há de se observar, inicialmente, que o Despacho acostado à fls. 26, datado de 16/04/2010,

ao contrário do que alega a recorrente, movimentou, sim, o processo, visto que encaminhou o

mesmo da então Gerência de Fiscalização para a Gerência Técnica de Análise de Autos de

Infração – GTAA/SRE, em atendimento às mudanças institucionais trazidas pelo Regimento

Interno da Agência, aprovado pela Resolução nº 110/2009, que inovou a estrutura da ANAC,

inclusive com a criação da referida GTAA.

A Lei nº 9.873/99, que estabelece o prazo prescricional para a ação punitiva da

Administração Pública Federal, direta ou indireta, em seu art. 1º, assim dispõe, in verbis:

Lei nº 9.873/99

Art. 1º. Prescreve em cinco anos a ação punitiva da Administração

Pública Federal, direta ou indireta, no exercício do poder de polícia,

objetivando apurar infração à legislação em vigor, contados da data

da prática do ato ou, no caso de infração permanente ou continuada,

do dia em que tiver cessado.

Aponta-se que é pacificado o entendimento desta Junta Recursal de que o Despacho de

fls. 26 impulsionou o processo, com vistas à apuração dos fatos e, que, portanto, configura-se

como causa interruptiva da prescrição intercorrente, conforme é possível depreender a simples

leitura do texto insculpido no § 1º do art. 1º da lei 9.873/99, in verbis:

§ 1º Incide a prescrição no procedimento administrativo paralisado

por mais de três anos, pendente de julgamento ou despacho, cujos

autos serão arquivados de ofício ou mediante requerimento da parte

interessada, sem prejuízo da apuração da responsabilidade funcional

decorrente da paralisação, se for o caso (...).

(grifo e destaque nosso).

Faz-se necessário, ainda, mencionar o art. 2º da mesma Lei, com previsão dos marcos

interruptivos do referido prazo para prescrição:

Art. 2º. Interrompe-se a prescrição:

I- Pela citação do indicado ou acusado, inclusive por meio de edital;

II- por qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato;

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III- pela decisão condenatória recorrível.

(grifo nosso)

Em relação ao Parecer nº 106/2006/PGF/Procuradoria – ANAC, citado pela recorrente, há

de se observar que, ao discorrer sobre o instituto da prescrição administrativa, nos autos do

processo administrativo nº 60800.025925/2010-50 – AI nº 561/ASV/2007, no qual figura como

interessada a empresa OCEANAIR Linhas Aéreas Ltda, por meio da NOTA Nº

132/2014/DDA/PF-ANAC/PGP/AGU, aprovado pelo Despacho nº 277/2014/PF-

ANAC/PGF/AGU, de 20 de março de 2014, a Procuradoria Federal junto a ANAC, expressou o

seguinte entendimento, em síntese:

i) “3. (...)

“2.50. Destarte, harmonizando os preceitos firmados no Parecer nº

103/2008/PROC/ANAC (aplicabilidade da Lei nº 9.873/99 a multas emitidas por

infrações ao CBAer) com aqueles constantes do Parecer AGU-PGF/CGCOB/DICON

nº 05/2008 (fixa distinção entre prazo prescricional para aplicação da multa e prazo

prescricional para execução do crédito dela resultante), concluo que:

2.5.1. O entendimento a ser adotado no âmbito desta Agência é no sentido de que a

Administração Pública possui cinco anos para apurar uma infração ao Código

Aeronáutico Brasileiro e lavrar um auto de infração definitivo (art. lº da Lei nº

9.873/94).

2.5.2. Contudo, se o processo que visa à apuração de infração punível por multa ficar

parado por mais de três anos, sem que haja a incidência de nenhuma das causas

interruptivas de que tratam os incisos do art. 2º, da Lei nº 9873/99 (Interrompe-se a

prescrição: I – citação do indiciado ou acusado, inclusive por meio de edital; II – por

qualquer ato inequívoco, que importe apuração do fato; III – pela decisão

condenatória recorrível), ocorrerá a prescrição intercorrente, de que trata o § 1º, do art.

1º, da mesma Lei.

2.5.3. Sobrevindo uma causa interruptiva, o prazo prescricional de cinco anos volta a

contar do zero, assim como o prazo trienal para verificação da prescrição

intercorrente.

2.5.4. (...) processos onde haja ato administrativo declarando a prescrição,

adotando como razão de decidir o entendimento manifestado no Parecer nº

106/2006 (prazo bienal do art. 319 do CBAer): devem permanecer arquivados, haja

vista que o princípio da segurança jurídica e o art. 2º, XII, da Lei nº 9.784/1999,

vedam a aplicação retroativa de novo entendimento jurídico.

Processos onde não haja ato administrativo declarando a prescrição: a análise da

prescrição da ação punitiva deve ser feita com base na Lei nº 9.873/99 (cinco anos

para prescrição geral e três para prescrição intercorrente, contando que não ocorram

as causas interruptivas)...”.

ii) “De se ressaltar, ademais, ter a Coordenação-Geral de Cobrança e Recuperação de

Créditos – CGCOB da Procuradoria-Geral Federal – PGF, por meio da Nota

DIGEVAT/CGCOB/PGF/AGU nº 006/2014, anuído com a proposta de uniformização

de entendimentos jurídicos, elaborada na XI Reunião Técnica dos Procuradores-

Chefes das Agências Reguladoras, nos seguintes termos:

“l.(b) O prazo prescricional trienal (art. 1º, § 1º, da Lei nº

9.783/99, de 23 de novembro de 1999) é interrompido com a

prática de atos que dão impulso ao processo. Deliberação

por unanimidade” (original não sublinhado).

iii) Referido órgão da Procuradoria-Geral Federal – PGF afirmou acerca do instituto da

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prescrição intercorrente, quando da elaboração do Parecer CGCOB/DICON nº

05/2008, que:

“Vale lembrar, a prescrição intercorrente deve ser entendida

como uma forma de sanção imputada à própria

Administração, que, em face da sua inércia, não promoveu os

meios e atos necessários para remover o estado de paralisia

do processo. Consequentemente, para caracterizar a

prescrição intercorrente, é necessária a demonstração de que

a Administração não praticou qualquer ato processual

tendente a apurar a infração”.

iv) Na Nota Técnica nº 043/2009, asseverou, ainda, que:

“Com efeito, paralisado é o mesmo que parado, de modo que

qualquer movimento que se faça para impulsionar o

processo administrativo adiante modifica a condição

anterior de inércia do processo” (original não sublinhado).

v) Destarte, verifica-se ter a Coordenação-Geral de Cobrança e Recuperação de Créditos –

CGCOB da Procuradoria-Geral Federal – PGF consolidado posicionamento

consistente no fato de que apenas atos processuais efetivamente tendentes à apuração

da infração, que sejam imprescindíveis a esta e que impulsionem o avanço do

processo, ou seja, que visam à superação das fases do respectivo procedimento e ao

consequente alcance de sua conclusão, caracterizam a existência de tramitação

qualificada dos autos, capaz de remover o expediente do estado de paralisia.

Assim sendo, não procede a alegação de incidência da prescrição intercorrente, posto que

o Despacho de encaminhamento dos autos da GFIS para a GTAA/SRE, datado de 16 de abril de

2010, em decorrência de mudanças institucionais dispostas pelo Regimento Interno, conforme

demonstrado, impulsionou o processo, modificando a condição anterior do mesmo.

Consoante se observa nos autos, verifica-se:

a) O fato ocorreu em 06/09/2008 (fls. 01);

b) A empresa foi regulamente notificada em 11/11/2008 conforme assinatura

no Auto de Infração (fls. 24);

c) Em decorrência de mudanças institucionais, promovidas por alteração do

Regimento Interno da Agência, ocorreu um Despacho de

Encaminhamento do processo à Gerência Técnica de Análise de Autos de

Infração em 16/04/2010 (fls. 26);

d) Consta ainda uma decisão de primeira instância administrativa (fls. 33 a

37), datada de 22/03/2012.

Portanto, considerados os elementos constantes do processo, através do Despacho

GFIS/SRE, de 16 de abril de 2010 (fls. 26), operou-se nova causa interruptiva do prazo

prescricional da pretensão punitiva, nos termos do inciso II, art. 2º da Lei nº 9.873/99, de modo

que não há dúvidas quanto a não incidência da prescrição, inclusive a intercorrente, no

processamento dos autos, eis que em nenhum marco temporal foi ultrapassado o prazo de 3 (três)

anos sem que tenha havido movimentação do processo tendente a apurar a infração e, entre a data

do fato e a decisão de primeira instância, não foi ultrapassado o prazo de 5 (cinco) anos. Assim,

não merece acolhimento a alegação preliminar do interessado.

Da mesma forma, o Parecer nº 106/2006/PGF/Procuradoria – ANAC não seria vinculativo

em relação às decisões desta Junta Recursal, pois, mesmo que não tivesse parecer posterior, mais

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recente, datado de 20/03/2014, acima citado, que inclusive considera que processos que tenham

adotado como razão de decidir, o entendimento manifestado no Parecer nº 106/2006 (prazo bienal

do art. 319 do CBAer), devem permanecer arquivados, haja vista o princípio da segurança

jurídica, ainda assim há de se observar que Parecer da Procuradoria Federal junto à ANAC, como

no caso, é opinativo, tendo caráter vinculante, no âmbito da ANAC, a interpretação e as

conclusões manifestadas no parecer jurídico aprovado pela Diretoria, conforme se depreende do

art. 7º, § 4º, da Instrução Normativa ANAC nº 17, de 13/01/2009, que dispõe sobre a tramitação

de matérias submetidas ao exame da Procuradoria da ANAC, a seguir transcrito:

Art. 7º No desempenho das atividades de consultoria jurídica,

especialmente sobre questões relacionadas aos setores e atividades

regulados pela ANAC, a Procuradoria da ANAC se manifestará por

meio de pareceres aprovados pelo Procurador-Geral, elaborados em

atendimento à iniciativa, individual ou em conjunto:

(...)

§ 4º A interpretação e as conclusões manifestadas no parecer jurídico

aprovado pela Diretoria terão caráter normativo e vinculante no

âmbito da ANAC, devendo ser observadas por seus órgãos enquanto

não for editada norma sobre a matéria ou revista a decisão da

Diretoria que aprovou o parecer

1.2. Da Regularidade Processual

A interessada foi regularmente notificada quanto à infração a si imputada em 11/11/2008

(fls. 24), apresentando tempestivamente sua defesa (fls. 28/29). Foi, ainda, regularmente

notificada quanto à Decisão de primeira instância em 20/04/2012 (fls. 33/37), apresentando o seu

tempestivo recurso em 02/05/2012 (fls. 44 a 48).

Importante observar que até a presente data a empresa teve a sua inteira disposição o

acesso aos autos do processo, de forma que, em qualquer tempo, pudesse vir a ter ciência de seu

trâmite.

Nesta Decisão, cabe colocar que este Relator, visando a busca da Verdade Real, esta

própria dos procedimentos administrativos sancionadores, bem como não trazer prejuízos para a

Administração Pública, considerou TODOS os atos, documentos e declarações constantes dos

autos na presente data.

Desta forma, aponto a regularidade processual do presente processo, o qual preservou

todos os direitos constitucionais inerentes ao interessado, bem como respeitou, também, aos

princípios da Administração Pública, estando, assim, pronto para, agora, receber uma decisão de

segunda instância administrativa por parte desta Junta Recursal.

2. DO MÉRITO

2.1. Quanto à Fundamentação da Matéria – Bagagem Extraviada

Aponto que a empresa recorrente foi autuada porque “descumpriu o contrato de

transporte com a Sra. Jaqueline Souza da Silva (localizador MFNXAT) passageira

transportada no voo JJ3549 do dia 06/09/2008, trecho MAO-GIG com conexão para o vôo

JJ3386 do mesmo dia, trecho GIG-CNF ao deixar de entregar no ponto de destino a

bagagem da passageira supracitada”, infração capitulada na alínea “p” do inciso III do artigo

302 do Código Brasileiro de Aeronáutica - CBAer, que dispõe o seguinte:

Art. 302. A multa será aplicada pela prática das seguintes infrações:

(...)

III – infrações imputáveis à concessionária ou permissionária de

serviços aéreos:

(...)

Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 7 de 13

p) deixar de transportar passageiro com bilhete marcado ou com

reserva confirmada ou, de qualquer forma, descumprir o contrato de

transporte;

Tendo em vista o entendimento desta Junta Recursal, a bagagem, ao não ser entregue, em

bom estado, ao passageiro no momento do seu desembarque, ou mesmo se entregue, mas com

protesto do passageiro, sujeita a empresa transportadora à penalização administrativa.

A Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, que dispõe o sobre o Código Brasileiro de

Aeronáutica - CBAer, marco regulatório do sistema de aviação civil, estabelece que o perfeito

cumprimento do contrato de transporte aéreo de bagagem prevê a entrega, sem protesto, ao

passageiro no lugar indicado na nota de bagagem, conforme redação do art. 234, que segue:

Art. 234. No contrato de transporte de bagagem, o transportador é

obrigado a entregar ao passageiro a nota individual ou coletiva

correspondente, em 2 (duas) vias, com a indicação do lugar e data de

emissão, pontos de partida e destino, número do bilhete de passagem,

quantidade, peso e valor declarado dos volumes.

§ 1° A execução do contrato inicia-se com a entrega ao passageiro da

respectiva nota e termina com o recebimento da bagagem.

§ 2° Poderá o transportador verificar o conteúdo dos volumes sempre

que haja valor declarado pelo passageiro.

§ 3° Além da bagagem registrada, é facultado ao passageiro conduzir

objetos de uso pessoal, como bagagem de mão.

§ 4° O recebimento da bagagem, sem protesto, faz presumir o seu

bom estado.

§ 5° Procede-se ao protesto, no caso de avaria ou atraso, na forma

determinada na seção relativa ao contrato de carga.

Em adição, complementando a regulamentação da matéria, a Portaria nº 676/GC-5, de

13/11/2000, que aprova as Condições Gerais de Transporte, em seu art. 32, parágrafo único,

dispõe que a execução do contrato inicia-se com a entrega do comprovante do despacho da

bagagem e termina com o recebimento da mesma pelo passageiro, sem protesto, conforme se vê:

Art. 32. No transporte de bagagem, o transportador é obrigado a

entregar ao passageiro o comprovante do despacho com a indicação

do lugar e a data de emissão, os pontos de partida e destino, o

número do bilhete de passagem, a quantidade, o peso e o valor

declarado dos volumes, se houver.

Parágrafo único. A execução do contrato inicia-se com a entrega

deste comprovante e termina com o recebimento da bagagem pelo

passageiro, sem o protesto oportuno.

Ademais, a mesma Portaria assegura que o protesto, em situações de avaria ou atraso, far-

se-á mediante ressalva lançada em documento específico ou por qualquer comunicação escrita,

em seus arts. 33, parágrafo único, e 35, segundo redação, in verbis:

Art. 33. O recebimento da bagagem, sem protesto, faz presumir o seu

bom estado.

Parágrafo único. O protesto, nos casos de avaria ou atraso, far-se-á

mediante ressalva lançada em documento específico ou por qualquer

comunicação escrita encaminhada ao transportador.

Assim, formalizado o protesto por atraso pelo passageiro, fica caracterizado o extravio da

bagagem, que constitui infração administrativa prevista no artigo 302, inciso III, alínea “p”, do

Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 8 de 13

Código Brasileiro de Aeronáutica.

Sobre as orientações ao usuário do transporte aéreo, quanto ao extravio nacional de

bagagem, a Instrução de Aviação Civil - IAC nº 2203-0399, de 16/03/1999, prevê:

IAC 2203-0399

EXTRAVIO - NACIONAL:

Caso ocorra extravio de sua bagagem, o Sr(a) deve seguir os

seguintes passos:

a) Procurar a Empresa Aérea, para reclamar sobre sua bagagem.

Lá o Sr(a) deverá preencher o (RIB) REGISTRO DE

IRREGULARIDADE DE BAGAGEM. Se a empresa aérea deixar

de cumprir com as suas obrigações ou, ainda, se o Sr(a) precisar

da ajuda da autoridade aeronáutica, procure o Fiscal de Aviação

Civil do DAC, localizado na Seção de Aviação Civil (SAC), nos

principais aeroportos brasileiros. Se quiser reclamar oficialmente

ao DAC, basta preencher o formulário de Impresso Sugestão e/ou

Reclamação (ISR).

(...)

c) No caso de dano à bagagem, o Sr(a) deverá seguir o mesmo

roteiro do item “a”. O DAC informa ainda que somente serão

considerados, para efeito de indenização, os objetos destruídos ou

avariados.

Com efeito, a Portaria nº 676/GC-5, de 13/11/2000, em seu art. 35, considera bagagem

extraviada aquela não entregue ao passageiro no ponto de destino, e prossegue em seu parágrafo

2º admitindo que a bagagem somente possa permanecer na condição de extraviada por um

período máximo de 30 (trinta) dias, quando, então, deverá a empresa aérea proceder a devida

indenização ao passageiro, conforme a redação do ato normativo que segue:

Art. 35. A bagagem será considerada extraviada se não for entregue

ao passageiro no ponto de destino.

§ 1º A bagagem extraviada, quando encontrada, deverá ser entregue

pelo transportador no local de origem ou de destino do passageiro, de

acordo com o endereço fornecido pelo passageiro.

§ 2º A bagagem só poderá permanecer na condição de extraviada

por um período máximo de 30 (trinta) dias, quando então a empresa

deverá proceder a devida indenização.

(grifos nossos).

Como se observa do fragmento legal supracitado, a bagagem despachada pelo passageiro

pode situar-se em duas condições distintas e subseqüentes, na execução imperfeita do contrato de

transporte, conforme previsão legal: extravio e perda, o que nos remete na análise do presente

processo em atos seqüenciais, que atribui obrigações distintas conforme se encontra o estado da

bagagem: 1ª – O extravio de bagagem: status em que a bagagem não é devolvida ao proprietário

no momento da chegada em seu destino, podendo legalmente ficar nesta condição por 30 (trinta)

dias, período em que a empresa deverá envidar esforços para encontrar e devolver a bagagem ao

seu legítimo dono (Portaria nº 676/GC-5 de 13 de novembro de 2000, art. 35, § 1º); 2ª – A perda

da bagagem: ao transpassar o 30º dia, e ainda não encontrada, a bagagem deixa a condição de

extraviada e passa ser considerada perdida onde, conforme descrito no dispositivo legal

supracitado, obriga a empresa a proceder a devida indenização (Portaria nº 676/GC-5, de 2000,

art. 35, § 2º).

Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 9 de 13

Dessa forma, conforme a legislação vigente, a empresa deve entregar a bagagem

despachada ao passageiro no momento do desembarque no local de destino. Assim, sempre que

for extraviada uma bagagem, independentemente do lapso de tempo em que ela assim se mantém,

há o descumprimento do contrato de transporte aéreo, bem como das normas acima citadas, as

quais dispõem sobre serviços aéreos.

No mesmo sentido, esta Junta Recursal já deliberou sobre a matéria, ao elaborar o

ENUNCIADO Nº. 11/JR/ANAC – 2010, na 105ª Sessão de Julgamento, de 25/11/2011

(http://www2.anac.gov.br/biblioteca/JuntaRecursal/Decisoes/ENUNCIADO%20N%2011.pdf),

conforme abaixo descrito, in verbis:

ENUNCIADO Nº 11/JR/ANAC – 2010

TÍTULO: Extravio de bagagem. Configuração da Infração

Administrativa.

ENUNCIADO: Configura-se a infração administrativa de extravio no

momento em que a bagagem não é restituída ao passageiro no local

do destino, quando do seu desembarque. Sendo assim, eventual

restituição da bagagem no prazo de 30 dias, ou o pagamento da

indenização após este lapso temporal, não excluirá a

responsabilidade administrativa da empresa, somente evitará a

configuração de infração diversa.

(destaque nosso).

Já o ENUNCIADO Nº 06/JR/ANAC – 2009, aprovado na 24ª Sessão de Julgamento da

Junta Recursal, de 25/06/2009

(http://www2.anac.gov.br/biblioteca/AtasJuntaRecursal/ENUNCIADO_N06_-

_extravio_de_bagagem.pdf ), assim dispõe:

ENUNCIADO Nº 06/JR/ANAC – 2009

TÍTULO: Bagagem despachada – Isenção de responsabilidade do

transportador.

ENUNCIADO: Recebendo a bagagem despachada, a empresa aérea

assume o encargo de devolvê-la ao passageiro no estado em que a

recebeu. Qualquer cláusula contratual que impõe ao passageiro a

adesão a termo de isenção de responsabilidade, sob pretexto de

mercadoria frágil ou mal acondicionada, não pode afastar a

responsabilidade administrativa da empresa na aplicação de

disposição legal.

Adicionalmente, conforme acima se vê, o § 5º do art. 234 do CBA indica: “procede-se ao

protesto, no caso de avaria ou atraso, na forma determinada na seção relativa ao contrato de

carga”.

Ainda, o art. 244, do mesmo Diploma legal, dispõe:

Art. 244. Presume-se entregue em bom estado e de conformidade com

o documento de transporte a carga que o destinatário haja recebido

sem protesto.

§ 1° O protesto far-se-á mediante ressalva lançada no documento de

transporte ou mediante qualquer comunicação escrita, encaminhada

ao transportador.

(...)

Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 10 de 13

§ 3° O protesto por atraso será feito dentro do prazo de 15 (quinze)

dias a contar da data em que a carga haja sido posta à disposição do

destinatário.

Já o art. 222, dispõe que “pelo contrato de transporte aéreo, obriga-se o empresário a

transportar passageiro, bagagem, carga, encomenda ou mala postal, por meio de aeronave,

mediante pagamento” - grifo nosso, sendo esta obrigação confirmada em diploma legal mais

recente, na Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002, que instituiu o Código Civil:

“Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante

retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou

coisas.”

O contrato de transporte é um contrato bilateral, comutativo, oneroso e consensual. É

obrigação do transportador deslocar contratualmente o passageiro que pagou pelo serviço,

verificando-se que a obrigação é contígua para transportar também a sua bagagem (seus

pertences), visto que esta é acessório do contrato principal, isto é, os contratos acessórios (ou

conexos) são aqueles que para ter existência plena, dependem da existência de um outro contrato

(principal), ou seja, é dependente, subordinado ou conexo com outro;

Atrelada a essa obrigação, uma das principais características de todo contrato de transporte

é a cláusula implícita da incolumidade, o que impõe ao transportador a obrigação objetiva de

resultado, mas também de garantia, ou seja, tem o transportador o dever de zelar tanto pela

incolumidade do passageiro (contrato principal) como de sua bagagem despachada (contrato

acessório), o que sendo uma responsabilidade objetiva insurge ao transportador a obrigação de

indenizar qualquer dano, ao passageiro ou a bagagem, na execução do contrato de transporte.

Nesta obrigação, a transportadora – neste caso empresa aérea –, assume os riscos decorrentes do

empreendimento.

A indenização, para efeitos de saneamento das providências administrativas e

cumprimento das legislações no âmbito do sistema de aviação civil, está devidamente prevista no

CBAer: “Art. 260. A responsabilidade do transportador por dano,

conseqüente da destruição, perda ou avaria da bagagem despachada

ou conservada em mãos do passageiro, ocorrida durante a execução

do contrato de transporte aéreo, limita-se ao valor correspondente a

150 (cento e cinqüenta) Obrigações do Tesouro Nacional (OTN), por

ocasião do pagamento, em relação a cada passageiro

(destaque nosso).

Art. 261. Aplica-se, no que couber, o que está disposto na seção

relativa à responsabilidade por danos à carga aérea (arts. 262 a

266).

Art. 262. No caso de atraso, perda, destruição ou avaria de carga,

ocorrida durante a execução do contrato do transporte aéreo, a

responsabilidade do transportador limita-se ao valor correspondente

a 3 (três) Obrigações do Tesouro Nacional (OTN) por quilo...”.

Ainda, assim dispõe, expressamente, o art. 66, das Condições Gerais de Transporte:

Art. 66. O transportador responde pelos danos ao passageiro,

bagagem e carga, ocorridos durante a execução do contrato de

transporte.

Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 11 de 13

Parágrafo único. É nula toda cláusula tendente a exonerar o

transportador ou que estabeleça limite de indenização inferior ao que

determina o Código Brasileiro de Aeronáutica.

2.2. Quanto às Questões de Fato (quaestio facti)

Observa-se que a passageira reclama (fls. 01) sobre o extravio de sua bagagem. A

fiscalização constata (fls. 05 e 23), e a empresa recorrente reconhece a não entrega no momento

do seu desembarque, confirmando, assim, o ato infracional.

2.3. Quanto às Alegações da Interessada A interessada, devidamente cientificada da infração a si imputada (fls. 24), ofereceu

tempestiva defesa (fls. 28 e 29) oportunidade na qual alegou que devido ao cancelamento e

posterior transferência de voo a passageira foi assistida com abertura do RIB; que a bagagem foi

localizada e restituída à passageira, no aeroporto de Confins, juntando aos autos recibo de entrega

de bagagem, datado de 06/09/2008 – fls. 31.

Em fase recursal (fls. 44 a 48), alegou, preliminarmente, a incidência da prescrição

intercorrente. No mérito, ratificando as informações apresentadas na defesa, alega que devido ao

cancelamento do voo original, a reclamante foi informada para retirar sua bagagem da esteira e

despachá-la novamente, o que não ocorreu, o que teria acarretado o extravio. Entretanto, as

consequências do extravio foram amenizadas pela entrega da bagagem no mesmo dia, requerendo

a aplicação da circunstância atenuante prevista no inciso II, do § 1º, do art. 22, da Resolução

ANAC nº 25/2008.

A preliminar arguida, de incidência da prescrição intercorrente, já foi devidamente

analisada, e afastada, conforme se vê do item 1.1, supra.

Quanto à alegação de que a bagagem extraviada foi localizada e entregue no mesmo dia à

passageira, em nada influencia na responsabilidade administrativa da recorrente, conforme se vê

da fundamentação, posto que caracterizado o extravio ao não ser a bagagem entregue no

momento do desembarque do passageiro no local de destino, de modo que não se aplica ao caso,

também, a circunstância atenuante prevista no inciso II, do § 1º, do art. 22, da Resolução ANAC

nº 25/2008

2.4. Da Análise dos Elementos Processuais Verifica-se, portanto, que é fato punível administrativamente a não entrega da bagagem ao

passageiro, no momento do seu desembarque, posto que a empresa tem o dever de, recebendo a

bagagem, devolvê-la ao passageiro no estado em que a recebeu, restando, pois, configurado o ato

infracional imputado no Auto de Infração.

Ademais, a própria empresa reconhece que não restituiu a bagagem à passageira no

momento do desembarque, caracterizando, assim, o extravio da mesma, ao afirmar à fls. 47:

“após as inúmeras tentativas de se encontrar a bagagem extraviada, a mesma foi encontrada e

entregue ao passageiro sem qualquer protesto”.

Desta forma, as simples alegações da empresa não podem afastar a sanção administrativa

aplicada, estando a Decisão exarada em primeira instância em consonância com as normas legais

aplicáveis, de modo que não procedem as alegações da recorrente, conforme acima demonstrado

3. DA DOSIMETRIA DA SANÇÃO

Verificada a regularidade da ação fiscal, temos que verificar a correção do valor da multa

aplicada como sanção administrativa ao ato infracional imputado.

Cabe ressaltar que o Código Brasileiro de Aeronáutica dispõe, em seu art. 295 que a

multa será imposta de acordo com a gravidade da infração. Nesse sentido, a Resolução nº

25/2008, que dispõe sobre o processo administrativo para a apuração de infrações e aplicação de

Proc. nº. 632.203.124 – AEAP (Estagiária Caroline Goll) Página 12 de 13

penalidades no âmbito da competência da Agência Nacional de Aviação Civil determina em seu

art. 22 que sejam consideradas as circunstâncias agravantes e atenuantes na imposição da

penalidade pecuniária

3.1. Das Condições Atenuantes:

No caso em tela, não poderemos aplicar qualquer condição atenuante, das dispostas no

diversos incisos do § 1º do artigo 22 da Resolução ANAC nº. 25/2008.

3.2. Das Condições Agravantes:

Do mesmo modo, verifica-se que no caso em questão não é possível se aplicar quaisquer

das condições agravantes dispostas nos diversos incisos do § 2º do artigo 22 da Resolução ANAC

nº. 25/2008. 3.3. Da Sanção a Ser Aplicada em Definitivo:

Quanto ao valor da multa aplicada pela Decisão recorrida (R$ 7.000,00), temos que

apontar a sua regularidade quanto à norma vigente por ocasião do ato infracional (Resolução nº.

25, de 25/04/2008, e alterações posteriores), estando, assim, dentro da margem prevista, o que me

leva a votar pela manutenção da sanção aplicada pela Decisão de primeira instância

administrativa.

4. DO VOTO

Desta forma, voto pelo conhecimento e NÃO PROVIMENTO ao Recurso,

MANTENDO, assim, todos os efeitos da decisão prolatada pelo competente setor de primeira

instância administrativa.

É o voto deste Relator.

Brasília, 12 de fevereiro de 2015.

ALFREDO EDUARDO ANASTACIO DE PAULA

Analista Administrativo – SIAPE 1438735

Membro Julgador da Junta Recursal da ANAC

Nomeado pela Portaria ANAC nº 2.218/DIRP, de 2014

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CERTIDÃO

DE JULGAMENTO JR

AUTUAÇÃO

AI nº. 340/SAC-EG/2008 Data: 11/11/2008 Processo nº: 60870.007246/2008-51

Interessado: TAM LINHAS AÉREAS S/A. Crédito de Multa nº. 632.203.124

Nº. ISR/RO – Passageiro: ROMGO3SCF00641-09/08 – Sra. Jaqueline Souza da Silva

Infração: Bagagem Extraviada Enq.: alínea “p” do inc. III do artigo 302 do CBA

Nº. Voo: JJ 3751 Horário: 00h25min Data: 06/09/2008

Relator: Sr. Alfredo Eduardo Anastácio de Paula – Matrícula SIAPE nº. 1438735

Presidente da Sessão: Sr. Sérgio Luís Pereira Santos – Matrícula SIAPE nº. 2438309

CERTIDÃO

Certifico que a Junta Recursal da AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL – ANAC, ao

apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Junta, por unanimidade, NEGOU PROVIMENTO ao recurso, MANTENDO a multa

aplicada pela decisão de primeira instância administrativa, nos termos do voto do Relator.

Os Membros Julgadores, Sr. Sérgio Luís Pereira Santos e Sra. Hildenise Reinert, votaram com o

Relator.

Encaminhe-se à Secretaria desta Junta Recursal para as providências de praxe.

Brasília, 26 de fevereiro de 2015

SÉRGIO LUÍS PEREIRA SANTOS

Presidente da Junta Recursal