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AS LUTAS SOCIAIS NO BRASIL NO ATUAL MOMENTO DO CAPITALISMO:
tendências na rearticulação de forças no movimento dos trabalhadores e popular
Josefa Batista Lopes1
Resumo Aponta movimentos de constituição de tendências das lutas sociais no Brasil no atual momento do capitalismo mundial, apoiada na teoria das classes sociais, fundada na relação capital e trabalho. Considerando estudos teóricos e dados empíricos, analisa a incidência dos movimentos do capital e suas mediações nos avanços da organização autônoma da classe trabalhadora e setores populares no país no ciclo aberto em 1978 com o ressurgimento do movimento operário. Demonstra que o fim desse ciclo coincide com a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao governo central da República, em 2003, em processo marcado pela fragmentação da classe trabalhadora, a derrota e a resistência dos movimentos de esquerda, classistas e populares no mundo. Palavras-chave: Lutas Sociais; classes sociais; autonomia de organização; Partido dos Trabalhadores; resistência de esquerda classista
Abstract It points out movements to set up trends in social struggles in Brazil in the current moment of world capitalism, based on the theory of social classes founded on the relationship between capital and labor. Considering theoretical studies and empirical data, examines the impact of capital’s movements and their mediations in the advances of the country’s working class autonomous organization and popular sectors in the cycle started in 1978 with the resurgence of the labor movement. It demonstrates that the end of this cycle coincides with the rise of the workers party to the central government in 2003, in a process marked by the fragmentation of working class as well as the defeat and resistance of leftist and popular movements in the world.
Keywords: Social struggles; social classes; organization autonomy; workers party; class leftist resistance.
1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão – UFMA. [email protected]
1 – INTRODUÇÃO
Este trabalho resulta das reflexões que venho realizando sobre as lutas sociais e
as lutas de classes na sociedade brasileira e, em particular das reflexões realizada no
âmbito do projeto de pesquisa que desenvolvo no momento, com o apoio do CNPq - “AS
LUTAS SOCIAIS NAS TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: tendências e
incidência no Serviço Social no Brasil”. O referido projeto foi elaborado em um contexto de
comemorações que merecem destaque, considerando o significando histórico de lutas
que elas repõem na memória dos lutadores sociais na história contemporânea: os 40
anos do maio de 1968, na França, e do Festival de Woodstock, realizado em agosto de
1969, duas das principais referências, no mundo, das grandes manifestações do
movimento popular no século XX 2; os 50 anos da vitória da revolução em 1959; os 30
anos da retomada das greves operárias no Brasil e, no âmbito do Serviço Social
brasileiro, os 30 anos da realização do chamado “Congresso da virada”, realizado em
1979.
Os estudos realizados apontam a atualidade da classe e da luta de classes
como categorias centrais no atual momento da sociedade capitalista. Mas também
mostram que as transformações capitalistas ocorridas em todo o globo terrestre, desde as
últimas décadas do século XX, produziram um movimento que metamorfoseou as classes
sociais fundamentais e que esse movimento tem profunda incidência sobre a luta social,
em particular pela fragmentação da classe trabalhadora (ANTUNES, 2000). Neste
aspecto atingindo a universalidade da classe trabalhadora de todo o mundo, mas com
incidência mais dramática nos países de capitalismo periférico.
A análise da realidade mostra que o movimento de administração da crise do
capital, com a reestruturação das relações de produção e do trabalho, operou
2 Realizado em 15 de agosto de 1969 Woodstock, foi mais que um festival de música, como foi apresentado em sua proposta. Com o “maio de 1968” na França, expressa uma tendência das lutas sociais que buscava se diferenciar dos movimentos revolucionários com centralidade no proletariado que se sintetizaram na Revolução Russa de 1917. Para uma análise dessa tendência ver, por exemplo, A sociedade do Espetáculo de Ruy Debord (2007)
significativas transformações no final do século XX e que essas transformações
metamorfosearam a questão social atingindo a luta de classes, a partir de uma
metamorfose das classes sociais fundamentais e seus segmentos; e atingiu mais
profundamente a classe trabalhadora em seu projeto histórico de classe para si, uma
condição essencial no processo de emancipação dessa classe e da humanidade
(MÉSZÁROS, 1993).
A fragmentação da classe trabalhadora é, assim, uma das características do
atual momento do capitalismo mundial que com a flexibilidade na reestruturação das
relações de produção e de trabalho, produziu um profundo retrocesso no processo de
organização dessa classe, destacadamente a desarticulação de formas clássicas de
organização, como os sindicatos. E, nesse movimento, a perspectiva de solução da
questão social apresenta uma complexidade maior do que parecia no final do século XIX
e até um pouco mais da metade do século XX, quando ocorreram revoluções populares
vitoriosas ao redor do mundo em um século marcado por profundos contrastes nas lutas
sociais, com movimentos de radicalidade de direita e de esquerda que motivaram Eric
Hobsbawm (1995) a escrever o seu “Era dos Extremos. O breve século XX”.
Na América Latina essa radicalidade tem a marca da revolução cubana e de
movimentos revolucionários expressivos em diversos países do continente, de um lado, e
do outro os golpes e ditaduras militares, com apoio e mesmo intervenção dos Estados
Unidos da América – USA.
2 – O LONGO CICLO DE LUTAS OPERÁRIAS E POPULARES: das greves operárias no
ABC paulista à eleição do PT para o governo da república
O ressurgimento das lutas operárias e populares, no contexto das lutas de
enfrentamento à ditadura militar, em 1978, representa o início do que estou chamando
aqui de um ciclo longo ciclo de lutas operárias e populares no Brasil o qual se esgota com
a ascensão do Partido dos Trabalhadores, o PT, no governo da República, mediante a
eleição e a posse de Luís Inácio da Silva na presidência, em 2003, uma tese que já
apresentei em texto anterior (LOPES, 2005). É um ciclo que compreende dois períodos. O
primeiro período é configurado por dois momentos: um momento em que a resistência
contra o regime ditatorial, a autocracia burguesa na expressão de Florestan Fernandes
(1987:289), aparece como o principal motivo da mobilização das lutas populares e
democráticas, cujo marco inicial é 1978; é o ano marco da irrupção operária na retomada
das greves de caráter massivo que colocou essa classe no primeiro plano político dos
debates sobre a democratização do país (FREDERICO,1991:11), com expressiva
relevância. Vivia-se no país um momento de intensa manifestação dos chamados “novos
movimentos sociais” 3 que também eclodiram nos anos 70, com forte influência da
Teologia da Libertação que na Igreja Católica avançava desde os anos 60 e a incidência,
ainda que tardia, dos movimentos que eclodiram na França de 1968.
Esse movimento avançou e se consolidou na década de 80, com a constituição de
instituições de organização da luta autônoma dos trabalhadores que se confrontavam com
o capital e o governo. Entre essas instituições se destacaram, até porque sustentados na
mesma base social das forças em luta e o incentivo dos setores progressistas da Igreja
Católica: a Central Única dos trabalhadores - CUT e o Movimento dos Sem Terra – MST,
numa articulação cidade e campo; e o Partido dos trabalhadores – PT, fundado com forte
influência do pensamento político de Gramsci (2000) e do Partido Comunista Italiano –
PCI, contando com a sustentação da CUT e do MST.
O segundo momento desse período se constitui com a inflexão em direção ao
Estado com concentração de forças no processo constituinte e na chamada transição
democrática. Instaurada com a eleição para o Congresso (Câmara e Senado), realizada
em 1986, a “Constituinte” galvanizou, de alguma forma, as lutas populares organizadas
durante a ditadura militar e mesmo o movimento operário. Há uma concentração de forças
nesse processo, constituindo um movimento particular na CONSTITUINTE que passou a
ser uma arena de lutas, de confrontos de interesses de classe que, do lado da
organização dos trabalhadores e populares progressistas, combinava o embate e a
negociação com respaldo no movimento de massa organizado. Uma novidade desse
momento foi a “emenda popular” como projeto de iniciativa da sociedade organizada.
3 Trata-se de uma denominação corrente entre intelectuais que tomaram, a partir de 1978/79, as manifestações dos movimentos sociais desse período como tema de estudos, ainda que sob enfoques diferentes. Ver por exemplo os estudos de vários autores publicados em Scherer-Warren, Ilse e Krischke,
Paulo J. (1987); Laranjeira, Sônia (org.) (1990); Moisés, Alvaro (org). (1982) e Sader, Eder (1988).
O segundo período do ciclo já expressa as profundas transformações
contemporâneas e, também como no primeiro, deve ser pensado em dois momentos. O
primeiro momento com início na adesão do governo brasileiro, em 1990, às teses do
projeto neoliberal que sustenta, no plano ideológico e do Estado, a reestruturação das
bases burguesas das relações sociais de produção e de trabalho na administração da
crise do capital no mundo, no final do século XX; e quando ocorre a completa derrocada
da experiência do socialismo real - dois componentes que se associam na formação de
uma profunda crise do movimento operário, do socialismo e da esquerda mundial4. E o
segundo momento, que encerra efetivamente o ciclo, se constitui a partir da ascensão do
PT ao governo da República com a eleição de Luís Inácio da Silva para a Presidência da
República, em 2003. Esse segundo período é de desarticulação das condições objetivas
de organização e luta das classes trabalhadoras e populares e de dispersão e
fragmentação da classe operária e dos movimentos revolucionários em todo o mundo.
Nesse contexto é que se deve acompanhar e analisar o esfarelamento da experiência
revolucionária de Cuba que continua resistindo, mas já avançando para um modelo que
cede lugar a elementos da economia de mercado à luz do que ocorreu na China, com o
movimento de reformas apontado no 6º Congresso do Partido Comunista Cubano
(GRAMMA Internacional), realizado na segunda semana de abril de 2011. E no Brasil,
contraditoriamente, a constituição dessas novas condições conta com uma relevante
participação das duas maiores instituições da organização dos trabalhadores, em uma
perspectiva de luta de classes que, iniciada em 1978 – A CUT e o PT.
3 – LUTA DE CLASSES, CRISE DO CAPITAL E OS MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA
DA REARTICULAÇÃO DE ESQUERDA
Nas indicações de análise sobre a luta de classes na constituição da questão
social, destaco que a luta de classes faz a síntese de um processo que se funda nas
necessidades humanas não satisfeitas, em razão das profundas desigualdades sociais
inerentes às sociedades de classes que ao longo da história dessas sociedades travam
4 É vasta a literatura sobre a crise do movimento operário, do socialismo e da esquerda. Ver, por exemplo, Crise do Socialismo e Movimento Operário de Celso Frederico (1994)
uma luta incessante (LOPES, 2002)5, aprofundada e tornada mais complexas na
sociedade capitalista na qual “as necessidades se repartem sempre em virtude da divisão
do trabalho: o lugar ocupado no seio da divisão do trabalho determina a estrutura da
necessidade ou pelo menos seus limites” (HELLER, 1978, p 23). Desse ponto de vista, é
importante reafirmar que, embora as mais diferentes refrações da questão social, como
aquelas referentes à pobreza e à miséria, às discriminações de raça, etnia e sexo, que a
sociedade de classes produz, não expressam por si mesmas a questão social, como
aparece em grande parte da literatura que a analisa. A luta de classes é a sua síntese nas
diferentes formações sociais, considerando, segundo Marx e Engels (1988, p. 66), que
“A história de toda sociedade até hoje é a história de lutas de classes6. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestres e companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre estiveram em constante oposição uma aos outros, envolvidos em uma luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre ou com uma transformação (Umgestaltung) revolucionária de toda a sociedade, ou com o declínio comum das classes em luta”.
Na análise que esses pensadores fazem da luta de classes na moderna
“sociedade burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal”, eles destacam que a nova
sociedade “não eliminou os antagonismos entre as classes. Apenas estabeleceu novas
classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das antigas”
(MARX E ENGELS, 1988: 69).
Como é sabido nos meios acadêmicos esta é uma análise produzida no século
XIX que os ideólogos do capitalismo combateram desde o seu aparecimento, lutando no
campo econômico e político com a mediação de instituições como o Estado e a Igreja
Católica7. O aparecimento da análise no tempo, em relação às profundas transformações
da época atual, parece ser um significativo ingrediente para a negação da atualidade do
conceito de classe e de luta de classes no debate ideológico das três últimas décadas.
5 Desenvolvi um primeiro esboço dessa hipótese de trabalho no texto que apresentei no Congreso Internacional de Políticas Sociales. Políticas Sociales para un Nuevo Siglo, realizado em Concepción, Chile, de 21 a 24 de novembro de 2000. 6 É necessário ter presente a nota de Engels à Edição inglesa de 1888, destacando que se trata “de toda história escrita”, uma vez que “a organização social anterior à história escrita, era quase desconhecida em 1847”. [nota do tradutor, p 66] 7 Uma referência importante da Igreja Católica é a “Carta Encíclica de sua Santidade o Papa Leão XIII” RERUM NOVARUM (2000), assinada no dia 15 de maio de 1891, sobre “A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS” no marco da repercussão do Manifesto do Partido Comunista, escrito entre fins de 1847 e início de 1848.
Já no início da década de 70 do século XX Florestan Fernandes (1973, p.34)
identificava um ”intenso debate sobre as conseqüências e as implicações das evoluções
recentes do capitalismo, o qual visa por em cheque a utilidade do conceito de classe e a
própria validade da noção de sociedade de classes.” O debate ganhou mais força com a
ideologia do processo de controle da crise do capital, da segunda metade do século XX, o
qual, desde o início de sua formulação no confronto ideológico com a perspectiva real da
alternativa socialista que se colocou com a vitória da Revolução Russa, procurou colocar
em dúvida a existência das classes.
A crise e derrocada da experiência do chamado socialismo real, constituída a
partir dessa revolução, fortaleceu a tese dos ideólogos do “fim da ideologia” a qual
mereceu atenção especial de Mészáros (1993) em texto publicado, originalmente em
1972, mas que ganhou força no movimento real no final da década de 19808. Na base
desta tese encontra-se uma das teses da teoria pós-moderna do “fim das grandes
narrativas”, das quais a mais destacada é a luta de classes. Não é difícil ver que agora
como antes, trata-se, fundamentalmente, da luta ideológica própria da luta de classes, em
um momento particular do desenvolvimento do capitalismo, regido pela flexibilização das
relações de produção e do trabalho, no qual o capital financeiro assume a hegemonia do
capital, produzida em um movimento em que o trabalho e as classes populares saem
derrotados. Também não é difícil ver que os fundamentos da sociedade burguesa estão
mantidos e neles a existência das classes e da luta de classes. Segundo Marx e Engels
(1988, 69)
“A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção e, por conseguinte, as relações de produção, portanto todo o conjunto das relações sociais [...] O contínuo revolucionamento (Umwalzung) da produção o abalo constante de todas as condições sociais, a incerteza e a agitação eternas distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Todas as relações fixas e cristalizadas, com seu séqüito de crenças e opiniões tornadas veneráveis pelo tempo, são dissolvidas, e as novas envelhecem antes mesmo de se consolidarem. Tudo que é sólido se volatiliza, tudo que é sagrado é profanado, e os homens são finalmente obrigados a encarar com sobriedade e sem ilusões sua posição na vida, suas relações recíprocas”.
8 Trata-se aqui de um marco de grande relevância que não se pode perder de vista na análise dos processos sociais atuais e, em particular, da luta de classes.
A pergunta que fazem CHESNAIS, DUMÉNIL, LÉVY e WALLERSTEIN (2003)
no livro “Uma nova fase do capitalismo?” é um indicativo da necessidade urgente que está
colocada para os intelectuais marxista: encarar “com sobriedade e sem ilusões a sua
posição na vida”.
Os estudos realizados na pesquisa mostram, portanto, a atualidade da classe e
da luta de classes como categorias centrais no atual momento da sociedade capitalista.
Mas também mostram que as transformações capitalistas ocorridas em todo o globo
terrestre, desde as últimas décadas do século XX, produziram um movimento que
metamorfoseou as classes sociais fundamentais e que esse movimento tem profunda
incidência sobre a luta social, em particular pela fragmentação da classe trabalhadora
(ANTUNES, 2000). Neste aspecto trata-se da universalidade da classe trabalhadora de
todo o mundo, mas com incidência mais dramática nos países de capitalismo periférico
como grande parte dos países da África e da América Latina. Ademais, em que pese a
euforia com que foi divulgado o Relatório do PNUD 2007/2008, sobre os indicadores de
desenvolvimento humano (IRDH) no período de 1981 a 2004, dando que a proporção
mundial de pessoas em extrema pobreza - que vivem com menos de US$ 1 dólar por dia -
caiu pela metade entre 1981 e 2004, passando de 40,6% para 18,4%; de acordo com os
dados, entretanto, na África Subsaariana o número de pobres quase dobrou, passando
de 167 milhões para 298 milhões de pessoas. (BANCO MUNDIAL, 2007).
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fragmentação da classe trabalhadora, acima destacada, como uma das
características do atual momento do capitalismo mundial que conduziu à fragmentação da
organização ou à desarticulação de formas clássicas de sua organização, como os
sindicatos, aponta uma indicação de que no momento atual do capitalismo a luta de
classes apresenta uma complexidade maior do que parecia no final do século XIX e até
metade do século XX, quando ocorreram algumas revoluções vitoriosas ao redor do
mundo. Tem-se um quadro em que, a frase de Rosa Luxemburgo “Socialismo ou
barbárie”, segundo Mészáros (2003), “adquiriu uma urgência dramática. Não existem
rotas conciliatórias de fuga [...] somente uma alternativa radical ao modo estabelecido de
controle da reprodução do metabolismo social pode oferecer uma saída da crise estrutural
do capital”.
Hoje, ao se ultrapassar o final da metade da primeira década do século XXI,
“ainda no marco da modernidade, com avanços preciosos como os da comunicação e a
chamada revolução informacional, verifica-se que a maioria dos segmentos da classe
trabalhadora permanece em uma condição de profunda vulnerabilidade diante das crises
do capital. De toda forma, o fim do ciclo das lutas operárias e populares no Brasil iniciadas
em 1978 não representa o fim do projeto emancipador da classe trabalhadora e da
sociedade brasileira. Os rumos tomados pelo governo e pelo PT de reafirmação do
projeto neoliberal do capital, no âmbito do Estado, vêm aprofundando a inquietação e
incentivando a iniciativa, ainda que tímidas e dispersas, de articulação e organização de
novas tendências e espaços de luta da esquerda, com dissidências no âmbito da CUT e
do PT, das quais a CONLUTAS e o PSOL são as mais expressivas organizações desse
novo ciclo de lutas do pós-governo Lula.
Assim, se em um primeiro momento do controle da crise dos anos de 1970 pelo
capitalismo, e ademais com a derrocada completa da experiência socialista no Leste
Europeu, grande parte dos trabalhadores e de setores da intelectualidade de esquerda no
Brasil, como em todo o mundo, não só ficaram perplexos, passivos e até acreditaram na
vitória do capitalismo; pode-se identificar que se mantém viva a perspectiva de que o
movimento de construção de uma sociedade alternativa ao capitalismo continua em curso
na cotidiana luta de classes, e de que a função histórica dessa construção é da classe
trabalhadora. Neste sentido avança a compreensão de que a luta contra o neoliberalismo
deve ter como alvo o capital; é, portanto, uma luta para além dessa forma de organização
da sociedade que expropria a classe trabalhadora dos meios de produção, e na qual é
obrigada como classe, a, cotidianamente, criar formas próprias de reprodução, de
subsistência e de resistência no enfrentamento incessante com as classes opressoras: a
burguesia moderna ou oligarca, os latifundiários e seus aliados. Repõe, assim, a ofensiva
socialista como atualidade histórica (MÉSZÁROS, 2010)
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